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Introdução Atualmente, a humanidade apresenta forte preocupação corn as questões ambientais, NO sentido restrito, utilizamos o termo "arnbiente" para nos referir Imos aos aspectos da natureza, corno a água, as plantas, os "animais"; mas conside a '*sociedade" corno algo à parte, corno se não houvesse um elo entre ambos- Qual rmotivo, porém, para inserimos aspas nos respectivos termos? Porque sornos educados, ou doutrinados, a restringi-los ern seus significados. Quando abordamos a palavra "animais", em certo ponto, inferiorizamos as dernais espécies por serrnos seres pensantes — mas, nisso, fracassamos. Nós nos consideramos inteligentes; porém, não sabemos respeitar o meio em que vivemos. Somos definidos conno sociais; todavia, negligenciamos o respeito à opinião, a escolha, ao status social do outro. Nessa direçäo, chegar-nos ao limite: da abundância de recursos naturais, mas tambérn do preconceito, iniciando unna corrida contra o tempo para equilibrar a balança, e alcançarrnos a harmonia. Podemos afirmar que a humanidade formou subgrupos. Diferentemen— te de outras espécies, na nossa, um subgrupo procura sobressair-se ao outro, fazendo corn que se estruture urna pirâmide social (Figura 1), o que, ern determinados momentos, acarreta discriminação. NO entanto, por qual motivo falamos de ser hurnano e sociedade, se a temática é ambiente? Essa pergunta poderá ser respondida corm outra: afinal, sorri os tarnbém arnbiente? Se a resposta for positiva, o que nos levaria a pensar que questões sociais não são discutidas na ternática ambiental? O primeiro exercício necessário é a reflexão de que não existe diferença entre sociedade e armbiente: ser humano e o seu meio constituem a Igo mútuo e unitário. A cornpreensão é aparentemente simples, mas torna-se complexa ao tentarrmos colocá-la em prática. Uma reflexão importante é sobre o que nos leva atualmente a abordar esse discurso socioambiental corn afinco. Talvez seja a busca pela sensibilização social, não se restringindo à conscientização. Sensibilizar a população às questões socioambientais procura estimular seu engajamento e trabalho efetivo, corn a finalidade de u rm ambiente de melhor convívio. Deve-se, por sinal, compreender que a palavra trabalho não está restrita às relações de emprego, mas a toda e qualquer atividade socioarnbiental realizada. Para melhor compreensão, pode-se afirmar que a produção do conhecimento e o desligamento histórico entre sociedade e ambiente são formas de trabalho. Dessa forrna, o trabalho é o produto dos fenómenos e da relação entre sociedade e natureza, que procura atingir alguma meta ou objetivo. Essa finalidade é denominada teleologia- CONTEXTUALIZANDO A concepção de trabalho foi estudada pelo cientista Sergio Lessa para elaboração da sua tese de doutorado, que resultou no livro Mundo dos homens: trabalho e ser social. O enredo da obra baseia-se na concepção de trabalho como processo de complexidade do ser social e no trabalho abstrato (força produtiva). A abordagem da obra é de cunho filosófico e sociológico, e convida-nos a conhecer e ampliar a visão sobre o tema (LESSA, 2012). Nesse enredo filosófico, podemos pensar na relação de trabalho que temos com o nosso meio e em ambas as questões, físicas e sociais que o envolvem. Compreender esse relacionamento socioambiental exige conhecimento de diversas áreas — humanidades, sociais aplicadas, exatas e saúde. Cada qual traz uma forma de construção de conhecimento — nem sempre convergente —, e essa contradição, ou contraposição de ideias tem a capacidade de formar novos conhecimentos. É o que se denomina dialética. Esse debate de ideias é importante para a formação de conhecimento, pois o ambiente se constitui na interdisciplinaridade. Dessa maneira, a implementação do método cartesiano como forma de compreender melhor os fenômenos que nos rodeiam acarretou alguns problemas: com o formato de fragmentação do conhecimento, precisamos, agora, unir as diversas ciências, algo de suma importância para compreendermos o ambientalismo. Leandro Konder tratou da dialética em sua obra O que é a dialética, publicada pela primeira vez em 1981. 0 livro, que faz uma abordagem estrutural histórica, filosófica e sociológica sobre o tema, traz a seguinte definição de dialética pelo autor: "0 modo de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação" (KONDER, 2008, p. 8). A crescente demanda por uma soberania económica dos países implica sérios problemas ambientais. Para movimentar a "máquina" financeira e se tornarem concorrentes, as grandes empresas buscaram o lucro e se ausentaram das questões do ser humano e seu meio. E complexo afirmar que os governos são responsáveis pelo desenvolvimento regional, pois, durante o processo histórico, em especial após a Segunda Guerra Mundial, as grandes corporações, as multinacionais, iniciaram uma espécie de regência econômica global. Em geral, torna-se perceptível a necessidade das indústrias e do setor de serviços para a manutenção de empregos, geração de rendas e afins. Uma indústria multinacional, ao se instalar, por exemplo, em determinada cidade, ocasiona o surgimento de outras pequenas empresas que lhe darão suporte produtivo (peças, tecidos ou qualquer tipo de matéria-prima). Também ocorrerá a ampliação do comércio e outros meios de serviços, devido à chegada de novos moradores ou visitantes, ampliando a abertura de hotéis, restaurantes, entre outros. Além disso, os gestores regionais procuram melhorar os serviços básicos, principalmente aqueles relacionados ao transporte, o que facilita a locomoção. Isso demonstra a formação de uma cadeia que, com o passar dos anos, gera maior engajamento. Aparentemente, todo esse processo parece positivo; contudo, há, também, um lado obscuro. A falta de preocupação com o meio fíSico ocasionou a devastação de florestas, ameaçando a sobrevivência de espécies. Essa remoção de cobertura vegetal também ocasionou a degradação dos solos, bem essencial à manutenção da vida, assim como dos recursos hídricos, que fOram poluídos o— em ambos os casos, com consequências consideradas irreversíveis. A exploração de bens minerais tornou-se altamente crescente, mas a manutenção dos recursos não pôde acompanhar a demanda. Além disso, o fenômeno da urbanização ocasionou aumento demasiado na geração de resíduos sólidos e efluentes, bem como a constante emissão de particulados atmosféricos (orgânicos e inorgânicos), por meio dos gases emitidos por indústrias, transportes e pela realização de queimadas (Figura 2). Não somente as questões relacionadas ao meio físico, porém, registraram impactos. A necessidade de mão de obra acarretou a busca por pessoas de outras regiões que aceitassem empregos exploratórios, sujeitando-se a uma elevada carga de trabalho e a baixos salários. Os resultados desse processo foram xenofobia e inferiorização do trabalho feminino, e o preconceito contra raça e gênero tornou-se crescente. O status social e profissional paira sobre o ambiente, dando margem à inferiorização. Mesmo assim, os subgrupos, comentados anteriormente, foram incorporados socialmente e ganharam força, mas sabemos que esses problemas ainda se encontram presentes, embora as legislações e os movimentos para mudanças se encontrem ativos e tenham obtido resultados positivos. Todavia, muito ainda precisa ser feito. CURIOSIDADE A história de Marie Curie é inspiradora. Nascida em 1867, na Polônia, desafiou todos os preconceitos existentes quanto à inferiorização social da mulher. Realizou um trabalho crucial sobre a radioatividade, sendo a primeira mulher, e a única pessoa no mundo, a ganhar o Prêmio Nobel duas vezes em categorias científicas distintas, química e física. Lutou contra toda forma de discriminação e preconceito, e seu legado científico é reconhecido e aplicado até os dias atuais, principalmente nas áreas de física, química e na medicina. É importanteperceber que as atividades relacionadas à economia estarão sempre interligadas aos problemas socioambientais. A empregabilidade e a necessidade de circulação financeira elevam as relações no interior da sociedade e o meio físico. A educação é uma ferramenta "libertadora" para a erradicação dos problemas apresentados; entretanto, as falhas nesse processo são enormes. O esquecimento de que educar é a principal ferramenta para a formação de cidadãos é uma das principais delas. A realização de mudanças deve ser iniciada a qualquer momento, por mais simples que seja a atitude; porém, a educação será crucial e terá impactos na construção de um novo futuro. As questões relatadas implicam sérias consequências para um bom desenvolvimento socioambiental. A saúde humana é a principal impactada e motivo de estudos em diversos países. Um dos temas trabalhados em países desenvolvidos é a influência das questões socioambientais na população, pois é per- procura por psicólogos e psiquiatras devido a problemas de relacionamento etc. - e isso influencia a qualidade de vida e bem-estar do ser humano. As melhorias surgirão primeiramente da sensibilização, e posteriormente no trabalho para modificação — formas de ação denominadas práxis. DICA A práxis é o processo da junção entre teoria e prática. A explanação desse conceito foi realizada no trabalho realizado por Pereira e colaboradores (2016), chamado: "O conceito de práxis e a formação docente como ciência da educação". Mesmo com uma abordagem mais voltada à pedagogia, os autores procuram apresentar os princípios fundamentais do conceito, A interdisciplinaridade nas questões ambientais Os meios de comunicação facilitaram nossa percepção sobre o sistema causa-efeito dos problemas ambientais. Todavia, é importante relembrá- los para fixá-los em nosso cotidiano. Podemos classificá-los em: I . Discriminação por questões de classe, gênero, raça e etnia; 2. Exploração irregular de recursos naturais; 3. Abuso de autoritarismo por status social, empregatício ou acadêmico; 4. Despejo de rejeitos em locais e formas indevidas; 5. Desmatamento e caça predatória; 6. Exploração de mão de obra; 7. Emissão constantes de poluentes atmosféricos; 8. Ausência de aprendizado sobre deveres sociais éticos. As causas dessas questões acarretam uma conjuntura de reuniões, debates e movimentos sociais, para o despertar da sensibilização. A academia, como principal membro estrutural de discussão dos problemas socioambientais, tem o compromisso de trabalhar esses temas e propor soluções. Entretanto, uma única ciência não é capaz de ter a totalidade de conhecimentos necessários para essa finalidade. Um sociólogo, por exemplo, não tem competência, em sua formação, para imolementar tecnologias industriais de recuoeracão de áreas degradadas — mas varam à degradação do local. Um administrador não tem, em seu perfil profissional, qualificação para análises químicas de despejo de efluentes em rios — mas pode trabalhar em conjunto com um especialista na área ambiental para propor uma gestão sustentável de resíduos. Esses exemplos demonstram a importância do trabalho conjunto das diferentes áreas. No decorrer do processo de construção do conhecimento, podemos subdividir esse trabalho conjunto em três aspectos: Multidisciplinar: cada área contribui com seu conhecimento, sem modificações; há uma espécie de ponto de vista; 2. Interdisciplinar: as áreas do conhecimento adentram-se umas nas outras e formam uma interligação de conhecimentos; 3. Transdisciplinar: não existem áreas de conhecimento. Tudo é contínuo, sem ocasionar espécie alguma de divisão ou interrupção. Este último aspecto é considerado, por diversos cientistas, uma utopia, devido à complexidade de um único ser lidar com todo tipo de área existente. No caráter multidisciplinar, a falta da construção de novos pensamentos não apresentará eficácia quando em comparação com a interdisciplinaridade. Já a interdisciplinaridade recebe contribuições em diferentes áreas, e ocorre um engajamento, com a construção de novas formas de pensamentos aplicadas em diferentes contextos. Nesse caminho, o discurso socioambiental apresenta sua formação. Atualmente, praticamente todos os cursos de formação profissional e tecnológica (técnico, graduação ou pós-graduação) trazem alguma disciplina, ou assuntos dentro de sua ementa, que abordam a temática ambiental. Nesse sentido, os projetos ambientalistas, por abarcarem diferentes áreas do conhecimento, demonstram robustez de elaboração e execução, uma vez que sua construção exige diferentes pontos de vistas, que são interligados e contextualizados. No Brasil, os cursos de pós-graduações stricto sensu (mestrado e doutorado) inseridos na área de ciências ambientais da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) apresentam a interdisciplinaridade de áreas questões sociais, inclusive, devem ser contempladas na problemática da pesquisa, pois, em sua maioria, os programas têm o objetivo de formar recursos humanos capazes de compreender e solucionar problemas relacionados ao ambiente. Um convite para repensar o amanhã Nossas formas de agir, sejam elas positivas ou negativas, implicarão no futuro. Como forma de refletir sobre a exposição anteriormente realizada, percebe-se que o ambiental é algo mais abrangente do que os elementos físicos. Compreender a natureza e suas interligações é um processo complexo; contudo, em um primeiro momento, talvez seja primordial respeitarmos os elementos que nos rodeiam. Somos todos os dias convidados a refazer um novo amanhã, e repensá-lo significa transformar nossas atitudes e propor ações de melhoria. Procuremos deixar o pensamento focado no dinheiro, as atitudes de soberba, a ganância para passarmos a conviver em harmonia. A teoria ética que aprendemos no período escolar é sempre necessária de ser colocada em prática, sensibilizando-nos com o meio em que estamos e que vivenciamos. Diferentemente das demais espécies, somos seres pensantes — e, ao realizarmos escolhas e ponderarmos nossas atitudes, conhecemos as consequências das nossas ações. Portanto, ao prejudicarmos o meio em que vivemos, temos conhecimento dos impactos que causaremos a nós mesmos. As gerações futuras agradecerão as transformações positivas que nos propusermos fazer hoje, e deverão dar continuidade a elas, pois este é um trabalho constante, ininterrupto e inacabável: a manutenção do nosso meio é fundamental para melhorar exponencialmente a qualidade de vida e, consequentemente, nossa felicidade. Numa sociedade harmonizada, todos têm bons lucros em ambos os aspectos, financeiro e moral — pois passarnos a refletir sobre o coletivo, e não somente sobre as questões individuais. Procuremos, portanto, sempre fazer esse exercício de pensar no próximo, sobre as coisas que nos rodeiam e sobre o amanhã. Antes de iniciarmos este tópico, é importante pensarmos que o conhecimento é construtivo. A academia exige constantes reflexões sobre suas teorias, pois é dela a responsabilidade de formar novos conhecimentos. Como acadêmicos, devemos lembrar que o conhecimento deve ser por nós construído, e não simplesmente recebido e reproduzido. Algumas pessoas se perguntam por qual motivo existe a necessidade de constantes e diferentes fOrmas de leituras - livros, notas, artigos, comunicações curtas —, e essas questões dúbias são erradicadas quando entendemos o verdadeiro sentido de sermos acadêmicos. Neste tópico, serão tratados alguns conceitos e definições utilizados frequentemente na temática socioambiental. Todavia, é importante lembrar que eles são passíveis de mudanças, uma vez que a academia é dinâmica e se encontra em constantes transformações. As práxis implementadas são responsáveis pelo surgimento de novas formas de visão, já que a prática é crucial na efetivação do pensamento teórico. Socioambiental/ambiental Como abordado, compreende-se como socioambientais (ou ambientais) as relações existenciaisentre sociedade e natureza. É algo inseparável, que tem como produto o trabalho. Não há, nessa relação, superioridade ou inferioridade entre as partes, mas um equilíbrio. Torna-se importante a fixação dessa "balança equilibrada", pois durante séculos existiu uma discussão acerca de uma superioridade entre as partes: orar a sociedade é responsável pela regência do seu meio; ora, a gerência ocorre no sentido inverso. Essa discussão de questões de meio físico e social foi fundamental para o surgimento de determinadas ciências, como a Geografia. A ideia de que o meio físico era superior ao homem fez com que surgisse o conceito de espaço vital, de que o homem necessitava explorar os recursos para que ocorresse um equilíbrio. Essa forma de pensamento, denominada determinista, foi elaborada por Friedrich Ratzel e largamente incorporada nas ideologias de Hitler para o nazismo, sendo esse um dos pri- Termo usualmente empregado nos estudos voltados às ciências ambientais. Entretanto, há cientistas que iniciaram uma espécie de desuso, pois, ao inserirmos a palavra "meio", estaríamos abordando a metade de algo, e, devido à interligação existente, não se deve realizar essa inferência. Por muitos anos, as questões ambientais foram abordadas nos seus aspectos físicos. Contudo, o papel social tem apresentado uma inserção gradativa e abrangente na discussão. Por termos sido acostumados (ou até mesmo doutrinados) a dividirmos o conhecimento para melhor compreensão, esse termo pode ser usualmente empregado para o estudo das questões físicas ambientais. Áreas degradadas Umas das maiores problemáticas ambientais existentes atualmente é a degradação ambiental. O termo é empregado principalmente para estudos de solos e ecossistemas. As atividades humanas, principalmente de industrialização, agricultura, pecuária, e mineração, destacam-se no desmatamento e improdutividade do solo, por meio do lançamento de rejeitos, como elementos químicos tóxicos. Ao dizermos que uma área é degradada, ocorre uma referência àquelas que se encontram altamente poluídas e requerem regeneração, a partir de tecnologias sustentáveis para melhoramento de so10s, afluentes e refloresta mento, No meio acadêmico, pesquisas voltadas à recuperação dessas áreas são constantes. O avanço nas ciências dos materiais possibilitou a aplicação de nanopartículas, hidrogéis e estruturas poliméricas que auxiliam, com sucesso, a recuperaçäo de solos e rios. Atualmente, empresas propõem o financiamento de pesquisas ou compra de patentes para solucionar tais problemas, o que implica na inserção de uma série A desertificação adentra os temas globais em discussão na Organizações das Nações Unidas (ONU). A utilização de recursos naturais de forma inapropriada, somada às mudanças climáticas e aspectos físicos naturais, ocasiona uma degradação de tal forma que torna impossível a regeneração dos locais explorados, fazendo surgir áreas áridas e semiáridas. Esse debate foi iniciado devido a problemas existentes no continente africano, alvo de grandes preocupações. Por envolver aspectos de auxílio financeirot países como os Estados Unidos entraram na "corrida", com o intuito de adquirir lucros, contestando a existência de áreas em processo de desertificação em seu território. No entanto, atualmente existe um mapeamento e acompanhamento dos países com tendências ao processo de desertificação, que podem ser encontrados nas Américas, Africa e Europa. No Brasil, as áreas susceptíveis à desertificação são encontradas na Região Nordeste. Um dos núcleos de estudos é o município de Cabrobó, Pernambuco, que se encontra em processo avançado (Figura 3). A utilização das técnicas de agriAs problemáticas não se restringem aos aspectos físicos, pois os fatores sociais são duramente afetados. Ao tornar o solo improdutivo, ocorre um impacto direto na produção de alimentos, bem como o abandono dos locais pelos moradores. Nesse processo, há uma queda na arrecadação econômica. Sendo a região responsável por produzir alimentos para outros municípios, estados e afins, o processo ocasionará desabastecimento e prejudicará milhares de famílias. Fatores como esses ressaltam a preocupação das entidades governamentais sobre o tema. Efluentes Umas das temáticas mais trabalhadas pelas empresas no setor ambiental são os efluentes. A água é um bem precioso, utilizado corriqueiramente em nossas atividades do cotidiano. O processo de "chegada, recebimento" da água é denominado afluente; e a "saída", denominada efluente. Devido à mistura com outros compostos, orgânicos e inorgânicos, como gorduras, pesticidas, metais e afins, os efluentes tornaram-se uma temática de grande discussão. Dois o destino, em sua maioria. são os rios. Ao serem lanca- dos em aquíferos, um dos principais problemas é a carga microbiana existente no material, que ocasiona sequestro de oxigênio e impede o desenvolvimento e manutenção da vida aquática. Os metais são outro exemplo de grandes preocupações, devido à capacidade de se acumular nos organismos. Os acúmulos podem acontecer em seres humanos, por meio da ingestão, acarretando sérios problemas de saúde. ASSISTA A série Aruanas, produzida pela Rede Globo, demonstra com clareza os problemas causados pelo não tratamento de efluentes. O enredo concentra-se nos impactos socioambientais causados pela mineração na região amazônica. O despejo irregular dos efluentes, com altas concentrações de metais como chumbo e mercúrio, ocasiona problemas de saúde nos moradores da região devido à ingestão por meio do consumo de peixes. Em algumas cenas, é demonstrada a morte gradativa dessas pessoas. Pesquisas nessa temática registram grandes avanços, principalmente pela aplicação de carvões ativados como adsorventes. Outros buscam a utilização de organismos vivos, como plantas aquáticas, para realização de tratamentos. O propósito, porém, vai além do tratamento, e busca a reutilização para fins de serviços gerais ou alguma etapa de processo produtivo. No Brasil, a importância do tema renete-se na construção de linhas de pesquisas em cursos de mestrado e doutorado, que se propõem a estudar o problema e buscar soluções. Bioenergia As preocupações do petróleo e carvão mineral como bens finitos acarretaram mudanças energéticas globais. A busca por fontes alternativas de energia tornou-se crescente, a fim de evitar um colapso energético futuro. Não somente a falta, mas também a intenção dos países em melhorar suas condições ambientais proporcionaram o avanço de pesquisas e implementação de fontes limpas e renováveis. É de suma importância saber que qualquer forma de energia trará algum nível de impacto: o que se diferencia é o grau implicado. Petróleo e carvão mineral, além de considerados bens finitos, emitem particulados e compostos orgânicos quando em combustão, como os hidrocarbonetos polissacarídeos aromáticos, altamente prejudiciais à saúde. Estudos apontam positividade em sua substituição por outras fontes, mais sustentáveis, com tendência mundialmente crescente; porém, são necessárias uma constante atenção e acompanhamento. A utilização de biomassa pode ocasionar uma competição entre produção de energia e alimentos. Entre as matérias-primas utilizadas, os óleos derivados da soja e do milho são os principais, mas são eles também fontes nutricionais importantes. Pesquisas que procuram avaliar os impactos ambientais da energia solar e eólica apontaram dois sérios problemas: elevação da morte de animais, principalmente de aves, e erosão. A devastação de áreas para implementação desses modais energéticos também é outra problemática- Compreender tais problemas é importante para entendermos quer mesmo em se tratando de uma energia sustentável, há alguma forma de impacto. Economia verde Devido às preocupações com as questões ambientais, as empresas iniciaram um processo de mudança e implementaram tecnologias em seu processo de trabalho para proporcionar menos impactos ao ambiente. Seu propósitosustenta-se em menores emissões de poluentes, bem como na criação de produtos biodegradáveis. Esse novo formato produtivo é denominado de economia verde e tem demonstrado adesão crescente por parte de empreendimentos do setor público e privado. Essa adesão não se encontra restrita à diminuição de impactos ambientais, mas também abrange mais lucratividade, com diminuição de custos. Essa nova visão econômica encontra-se presente em grandes debates e participa da agenda da ONU. Os empreendimentos estão gradativamente reestruturando suas linhas produti- de cooperação sobre diminuições da poluição ambiental. São mudanças que de vem atingir de forma positiva a sociedade, possibilitando e garantindo seu bem -estar, ser-n ocorrência de danos. Padrões de consurno Vivemos numa sociedade ern que sornos "forçados" ao constante consumo, e essa atividade é de surrna importância para manutenção econômica. Por quaisquer produtos util izados necessitar, em seu processo, de alguma matéria-prima originada do ambiente, preocupações ambientalistas foram iniciadas. O consumismo dernasiado poderá ocasionar, em breve, a escassez de recursos naturais. Daí, o debate visando à mudança. Ao se mencionar sobre padrões de consurno, estamos nos referindo à fOrma corno a sociedade adquire e descarta seus bens — roupas, eletrodomésticos, calçados e afins. O desafio atual encontra-se na sensibilização social para o consumo consciente, urna atividade de alto grau de dificuldade. Em um meio em que se aprendeu que o comprar pode ser uma ferramenta de felicidade, ocasionar urna mudança nessa forma de pensar é complexo. Contudo, não ocorre a existência de uma alternativa sem ser por meio de mudança de atitudes - e a realidade atual é a falta de recursos naturais no futuro, já que a demanda é superior se comparada à oferta. Como consequência, poderá ocorrer uma queda no bem-estar da população, assim como a falta de atendimento para questões básicas e essenciais de manutenção diária. Mudanças climáticas Para compreensão desse tema, uma primeira definição precisa ser esclarecida, que é a diferença entre clima e tempo. O tempo é algo mutável - um dia poderá ser de sol, e o outro é de chuva. Já o clima é uma observação das modificações do tempo numa faixa mínima de 30 anos. Quando falamos de mudanças climáticas, a referência é uma grande modificação no clima em escala regional ou global. Essa mudança pode apresentar As constantes emissões de poluentes são as principais causadoras da problemática, uma vez que podem provocar reações com o ozônio atmosférico e ocasionar aumento na destruição de filtragem dos raios ultravioletas, Esse processo é denominado aquecimento global. Ocorrem grandes discussões na comunidade acadêmica sobre essa temática. Alguns estudiosos afirmam que a Terra se encontra em um processo de aquecimento natural, com tendências futuras de ocorrer um resfriamento, já que, no contexto histórico de formação do planeta, existem evidências de processos de glaciação e deglaciação. Entretanto, a maior quantidade de pesquisas aponta que os impactos ocasionados ao ambiente, principalmente pela emissão de gases tóxicos no ar, são os principais responsáveis por esse processo atualmente. Desenvolvimento sustentável Entende-se por desenvolvimento sustentável o emprego de tecnologias que ocasionem menores níveis de agressão ao ambiente, como a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera. A terminologia tecnologias limpas também é usualmente empregada nessa temática. A substituição dos combustíveis fósseis (petróleo) por energia de biomassa é considerada urna forma de desenvolvimento sustentável. As inovações tecnológicas sustentáveis também devem ter um custo acessível, para beneficiar todas as classes sociais. A questão social também se encontra inclusa no discurso dessa temática, devido à necessidade de melhorar a qualidade de vida da população, em uma tentativa de diminuir as desigualdades. Os limites de recursos naturais devem ser respeitados, e são necessários altos investimentos em pesquisas que busquem fontes alternativas em substituição parcial, ou total. Atividades que contribuam para a extinção de espécies devem ser imediatamente interrompidas e reelaboradas, por poderem provocar um desequilíbrio no sistema ecológico. Essas novas visões e perspectivas estão sendo gradativamente postas em práticas, principalmente por países europeus; entretanto, muito ainda precisa ser realizado. Preservação e conservação Esses termos. diferentemente do Densamento comum. têm si£nificados to- trata de conservação, poderá ocorrer a exploração de forma racional, não fomentando indícios de qualquer tipo de impacto ao ambiente. O Brasil conta com legislações que garantem e delimitam áreas preservadas e conservadas, tendo como punição de descumprimento multas erou prisões. O desrespeito a essas áreas, porém, é uma problemática existente e difícil de ser erradicada. As fraudes sobre as legislações ambientais, o descompromisso de empreendimentos, tentativas de subornos e trabalho exploratório e ilegal, são situações encontradas na exploração de bens naturais: em muitos casos, as áreas protegidas têm riquezas minerais, como ouro, ferro, grafeno, estanho e afins, cobiçadas por grandes empresas devido às diversas aplicações. Uma face esquecida é a riqueza da biodiversidade na fauna e flora existente nessas áreas, em alguns casos, pouco conhecidas e estudadas. Pesquisas constantes em áreas protegidas demonstram a descoberta de novas espécies, bem como melhor compreensão das dinâmicas ecológicas. Os estudos de base (aqueles que dão margem a outras pesquisas) apontam que há muito que ser descoberto. São fatores como esses que demonstram a importância de proteção das respectivas áreas, especialmente em um contexto em que, em muitos casos, ocorre negligência para atender anseios econômicos. Ecologia, ecossistemas e biomas A procura pela compreensão dos aspectos de interrelação dos seres vivos com seu ambiente é denominado ecologia. Entre seus campos de pesquisa, busca-se o entendimento dos padrões e diversidades de espécies, modificações fisiológicas ou genéticas, ciclos biogeoquímicos e afins. São assuntos de extrerna complexidade que envolvem, em determinados casos, anos de pesquisas para obtenção de resultados. O bioma é compreendido pela delimitação de urna região com características (climáticas, fisiológicas, geomorfológicas, entre outros aspectos) bem definidas. No território brasi leiro há seis biomas: Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa. Denomina-se ecossistema a interação dos fatores bióticos e abióticos, e se propõe estudar suas respectivas influências. Recentemente, o termo ecossistemas de inovação tem ganhado espaço nos debates. Seu objetivo é uma parceria sólida entre entidades governamentais, empresas e instituições universitárias, visando à construção e implementação de parques tecnológicos. Os temas que têm foco são aqueles voltados ao campo das engenharias, informática e outros que envolvem a tecnologia da informação. Equidade social A busca por uma sociedade mais justa é urna das lutas ambientais atuais. A questão de justiça não deve se restringir aos aspectos do ser humano em sua relação com o meio físico, mas abranger também a relação entre seres sociais. O termo igualdade adentra este século para realizar reparos, consertar e evitar erros relacionados à justiça social. Contudo, outro termo tem tido sua aplicação ampliada: a equidade, Diferentemente da igualdade, que busca realizar uma avaliação, julgamento e afins e é aplicada igualitariamente a todos, a equidade busca estudar 0 caso, ocasionando uma restruturação de regra, mas sem perda alguma da ética e da justiça (Figura S). mos produtivos e disponibilidade de alimentos, a serem elaboradas pelas entidades governamentais, é denominada soberania alimentar. A temática da segurança alimentar envolve diversos temas: todos aqueles voltados à disponibilidadede terra, água e fertilizantes. O contexto também está relacionado à aquisição de alimentos saudáveis para a população. Temáticas como obesidade e doenças causadas pelo consumo alimentício inadequado também são relacionadas à segurança alimentar. Resíduos sólidos Esse tema é definido como qualquer tipo de material ou bem adquirido e descartado pela sociedade. Em sua maioria, os materiais podem ser reciclados elou reutilizados. Contudo, o descarte inadequado apresenta um dos principais problemas ambientais atuais. No Brasil, em 2010, instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei no 12.305/10): o Ministério do Meio Ambiente (2010) aborda políticas de gestão, responsabilidade sobre o ciclo de vida, viabilização de coleta seletiva e sistema de informações sobre o gerenciamento de resíduos. Contudo, falhas envolvendo aspectos financeiros inviabilizam um trabalho efetivo, especialmente as diversas falhas no gerenciamento de resíduos. Nossas atitudes como cidadãos são importantes pois a separação dos resíduos ainda é algo pouco executado na sociedade. Racismo estrutural Vivemos em uma sociedade diversificada. Contudo, as políticas étnicas e de respeito ao próximo, em alguns casos, não são implementadas. No histórico de desenvolvimento humano, a ascensão de um determinado grupo social e inferiorização de outro é algo ainda encontrado neste século. Essa trajetória histórica, que põe em prática uma cultura que atinge diferentes grupos sociais de forma negativa, sem respeito à ética civil, é denominada racismo estrutural. Os debates sociais sobre as responsabilidades e valores éticos ocorrem todos os dias. As mesas redondas e eventos científicos são constantes no mundo inteiro, sendo eles responsáveis por traçar e fomentar a compreensão do hoje e promover ações que terão efeitos significativos em curto ou longo prazo. Os meios acadêmicos e as universidades são os principais pol os desses debates, destacando-se as Ciências Humanas, embora não sejam exclusivas nessas mesas. Uma visão de aspecto mundial O debate sobre a reponsabilidade social tem seu principal início marcado pela Revolução Industrial no século XVIII. A situação precária de trabalho, em maioria exploratórios, fez diversos teóricos debaterem a problemática. Entre as teorias realizadas, urna se encontra em debate até os dias atuais: Karl Marx elabora as primeiras formulações sobre o capitalismo. A corrente de pensamento de Marx era utma dura crítica à exploração exacerbada da classe operária, e, em contrapartida, aos lucros e à concentração de renda que estavam nas mãos dos grandes donos de empreendimentos. Além disso, as teorias de Marx também contemplavam questões ambientais devido aos altos níveis de poluição que se a lastravam pela Europa. As problemáticas relacionadas ao trabalho exploratório fizeram a classe operária procurar lutar por alguma forma de garantia de direitos. Esse fator estava atrelado, também, à constante modernização fabril, que diminuiu a dependência de mão de obra e fez com que antigos artesões se tornassem desempregados. Essas perspectivas levaram os operários a lutar e a construir os sindicatos, reconhecidos pelo parlamento inglês após várias lutas, que também resultaram no surgimento de movimentos grevistas. Outro ponto está atrelado ao engajamento dos setores públicos nas temáticas ambientais. A preocupação com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida social foi peça-chave para o surgimento de encontros que buscassem propor soluções de mitigação. Reuniões que anteriormente eram realizadas para atender às preocupações com as perspectivas econômicas passaram a ser substituídas pelas pautas ambientalistas. O movimento hippie, ocorrido nos anos 1960, também faz parte de uma importante conjuntura dos debates sociais. Iniciado com a luta contra o uso de armas nucleares, incorporou temáticas importantes em seu discurso, como o respeito à natureza, homossexualidade, preconceito racial e consumo consciente, dando margem a outros debates pouco comentados naquele período. Outro ponto está atrelado ao engajamento dos setores públicos nas temáticas ambientais. A preocupação com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida social foi peça-chave para o surgimento de encontros que buscassem propor soluções de mitigação. Reuniões que anteriormente eram realizadas para atender às preocupaçöes com as perspectivas econômicas passaram a ser substituídas pelas pautas ambientalistas. O movimento hippie, ocorrido nos anos 1960, também faz parte de uma importante conjuntura dos debates sociais. Iniciado com a luta contra o uso de armas nucleares, incorporou temáticas importantes em seu discurso, como o respeito à natureza, homossexualidade, preconceito racial e consumo consciente, dando margem a outros debates pouco comentados naquele período. Outro ponto está atrelado ao engajamento dos setores públicos nas temáticas ambientais. A preocupação com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida social foi peça-chave para o surgimento de encontros que buscassem propor soluções de mitigação. Reuniões que anteriormente eram realizadas para atender às preocupações com as perspectivas econômicas passaram a ser substituídas pelas pautas ambientalistas. O movimento hippie, ocorrido nos anos 1960, também faz parte de uma importante conjuntura dos debates sociais. Iniciado com a luta contra o uso de armas nucleares, incorporou temáticas importantes em seu discurso, como o respeito à natureza, homossexualidade, preconceito racial e consumo consciente, dando margem a outros debates pouco comentados naquele período. A Segunda Guerra Mundial teve fim no ano de 1945 e deixou consequências graves para humanidade. O mundo precisava reestruturar-se fisicamente e economicamente. Além da morte de milhares de pessoas. outro grande grupo ficou sem acesso a alimentos e suprimentos de necessidades básicas. Fatores como esses impulsionaram o problema da fome existente em diversos países do mundo, mesmo anteriormente à guerra, e fizeram com que surgisse uma visão agrícola denominada Revolução Verde. Entre os períodos de 1960 e 1970, países como Estados Unidos e México procuraram implementar tecnologias que ace- A Segunda Guerra Mundial teve fim no ano de 1945 e deixou consequências graves para humanidade. O mundo precisava reestruturar- se fisicamente e economicamente. Além da morte de milhares de pessoas, outro grande grupo ficou sem acesso a alimentos e suprimentos de necessidades básicas. Fatores como esses impulsionaram o problema da fome existente em diversos países do mundo, mesmo anteriormente à guerra, e fizeram com que surgisse uma visão agrícola denominada Revolução Verde. Entre os períodos de 1960 e 1970, países como Estados Unidos e México procuraram implementar tecnologias que acelerassem a produção agrícola. Por outro lado, a utilização desenfreada de pesticidas trouxe problemas ambientais. O uso de produtos químicos como fertilizantes era algo corriquei- ro. Todavia, estudos de monitoramento do meio físico e saúde humana, bem como avaliações de riscos, não eram realizados com frequência, e não existiam protocolos seguros de utilização e afins. Estudos que fossem contra e apresentassem divergências de pensamentos eram duramente criticados: um deles realizado por Rachel Carson em 1962, denominado Primavera silenciosa. A obra, que buscava explicar os impactos da utilização inadequada de pesticidas no desenvolvimento vegetal, biodiversidade de espécies e saúde humana, foi considerada livro célebre pelo movimento ambientalista moderno. Mesmo sendo duramente criticado na época, ele demonstrou com clareza os impactos desse modelo de produção e foi crucial para o processo de mudança, que, obviamente, não foi rápido. Atualmente, o avanço científico possibilita o desenvolvimento de novas perspectivas e tecnologias no campo agrícola, com níveis mais baixos de impactos ambientais. Conferência de Estocolmo O fim da Segunda Guerra também ocasionououtras preocupações ambientais. O relatório produzido pelo Clube de Roma em 1972 apontou um problema de crescimento rápido da população e que os recursos naturais não conseguiriam suprir as necessidades. Naquele mesmo ano, a ONU decidiu realizar a primeira reunião com chefes de Estado que procurassem tratar dos problemas ambientais, denominada Conferência Mundial do Homem e do Meio Ambiente, popularmente conhecida corno Conferência de Estocolmo (Figura 6). de Estocolrno. Fonte: FEITOSA. 20-1 8 _ Problemas corno catástrofes naturais, mudanças climáticas, possível escassez de recursos naturais e modificações econômicas e sociais forarxn debatidas no encontro, que resultou na Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, também denominada Declaração de Estocolmo, que promovia ações ambientais. A importância dessa reunião é pautada por ser a primei ra vez que as entidades governamentais se preocuparam, oficialmente, com os aspectos ambientais. A criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (I PCC) As mudanças globais do clima despertaram grande interesse das instituições governamentais e seus respectivos gestores, o que culminou na criação do IPCC — Intergovernmenta/ Pane/ on Climate Change, em 1988. A intenção do Painel é voltada à junção e difusão de dados relacionados a mudanças climáticas, com a proposta de conhecimento sobre seus aspectos fundamentais, formas de solução e efeitos na sociedade (pessoas e questões econômicas). Protocolo de Quioto Os relatórios de IPCC foram fundamentais para, em 1997, ser construído o Protocolo de Quioto. A entrada em vigor do Protocolo, porém, foi realizada apenas no ano de 2005. Sua finalidade tem um significado importante para a manutenção da vida no planeta, pois o intuito foi o estabelecimento do controle na emissão de gases do efeito estufa (GEE) pelas atividades industriais na atmosfera. Figura 6. Notícia de Jornal brasileiro sobre a Conferência Os países assinaram um compromisso para diminuição das emissões de C02, e o protocolo também deu margem para o surgimento do termo créditos de carbono, em que uma tonelada de dióxido de carbono geraria um crédito em forma de certificado. Essas certificações poderiam ser negociadas no mercado internacional. Eco 92 e Rio + 20 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92, foi uma das principais reuniões mundiais a tratar dos ternas ambientais, com um significativo envolvimento de diversos países (176) de todo o planeta. Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a conferência procurava definir um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, e tornou- se o início da ascensão global das discussões sobre os problemas ambientais, tendo como foco a busca por alternativas de solução (Figura 7). Assim como o relatório do IPCC, a Eco 92 foi fundamental para elaboração do Protocolo de Quioto. A Ri0+20, por sua vez, foi realizada 20 anos depois e teve por objetivo a reafirmação dos compromissos adotados na Eco 92. A conferência também teve como foco a observação e discussão de problemas ainda existentes e buscou formas de soluções futuras. um grande diferencial do encontro foi a intensificação dos debates voltados à implementação da economia verde. Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável Esse importante evento ocorreu na cidade de Nova York, Estados Unidos, com o objetivo de direcionar o planejamento para o desenvolvimento sustentável até o ano de 2030. Foram traçados 17 objetivos, denominados ODS (Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável), como demonstra a Figura 8. No encontro, também foram discutidas as ações propostas durante a Rio +20. O primeiro registro da institucionalização da educação ambiental no Brasil ocorreu em 1973, com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA). A SEMA pode ser considerada o início do processo de conscientização da sociedade brasileira sobre a necessidade de preservação do meio ambiente para a manutenção e melhoria da qualidade de vida. Com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) pela Lei Federal n. 6.938/81, foram explicitados conceitos relacionados à conscientização ambiental e à promoção da educação ambiental em diferentes níveis de ensino e setores da sociedade (art. 20 , caput, X). Assim, podemos considerar que a PNMA foi o primeiro marco da educação ambiental formal no País. Art 20 - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes X- educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a edu cação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981 , n.p.). A Constituição do Brasil de 1988 reforça a consolidação da EA no País ao definir, no artigo 225, o direito de todos ao acesso de um ambiente ecologicamente equilibrado e, em seu inciso VI, a necessidade de promoção da EA ao menos no contexto educacional ou formal: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. S IO Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente Note que temos em nossa Constituição Federal, portanto, explicitamente a definição de que a promoção da educação ambiental deve ser responsabilidade do poder público. Porém, vale observar que a obrigatoriedade do Estado em estabelecer as bases da EA no contexto formal não dispensa a participação social no processo de conservação e proteção ambiental. A Conferência, Earth Summit, ou Eco-92, possibilitou a adoção do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Já a Agenda 21 refOrça a perspectiva de atribuição de poder aos grupos comunitários e, com o apoio do Ministério da Educação na Rio-92, foi produzida a Carta Brasileira para Educação Ambiental, que, entre outras coisas, reconhece ser a educação ambiental um dos instrumentos para viabilizar a sustentabilidade como estratégia de sobrevivência do planeta e da manutenção da vida humana. Infelizmente, a Carta já admitia a existência da lentidão de produção de conhecimentos e a falta de comprometimento dos gestores públicos em relação à fiscalização da legislação de um modelo A Agenda 21, definida pela ONU na Eco-92, reafirma, dentre outros princípios básicos, a reorientação da educação a um desenvolvimento ambientalmente sustentável e o aprofundamento da cons— cientização pública. Em consonância com esta, em 2015 criou-se a Agenda 2030, um plano de reafirmação das metas estabelecidas em 1992 que também dá continuidade aos esforços das agora 192 nações que fazem parte do tratado. Posteriormente, a Lei n. 9.795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental no País. Em urna análise inicial, podemos perceber que a P NEA é resultado de inúmeras ideias debatidas ern diversos eventos nacionais e internacionais acerca das questões ambientais. Em especial, pode ser percebida em seu texto a adoção de conceitos apresentados pela Carta de Belgrado. Assim, a determinação da responsabilidade do poder público se dá de forma concorrente (nas esferas de poder federal, estadual e municipal), também com o intuito de incentivar a ampla participação das organizações não governamentais (ONGs) e de toda a sociedade na elaboração e execução de programas de educação ambiental. Ressalta-se que, na prática, não há uma ocorrência que seja mais importante, sendo todas as ações e todos os projetos necessáriospara que seja possível atingir os objetivos coletivos com o desenvolvimento da consciência ambiental a partir da criticidade dos cidadãos. No próximo tópico, analisaremos alguns dos principais conceitos da educação ambiental. Primeiramente, para definir as bases conceituais da educação ambiental, é necessário ressaltar que ao longo do aprimoramento dessa ferramenta percebeu-se que o público a ser considerado, na realidade, é toda a sociedade. Assim, enfatizamos que a EA é considerada formal quando aplicada em qualquer nível da educação formal (estudantes, professores e funcionários de escolas, universidades e institutos). Adicionalmente, a educação não formal engloba campanhas, projetos e outras atividades práticas que envolvem diferentes grupos populacionais (trabalhadores, gestores públicos e agricultores, por exemplo). Assim, a PNEA definiu a educação ambiental e destacou a importância do desenvolvimento de práticas educativas voltadas à sensibilização e à organização da coletividade sobre questões ambientais. No art. 10 da PNEA, a definição de educação ambiental é apresentada: Art I o. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, n.p.). No art. 20, a PNEA complementa que a educação ambiental é "um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal" (BRASIL, 1999, n.p.). Por fim, a PNEA define como princípios básicos da EA: Art. 49 São princípios básicos da educação ambiental: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e oermanência do orocesso educativo: VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural (BRASIL, 1 999, n.p.). Assim, a Lei n. 9795/1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), apresentando conceitos e definições, Desta fórma, podemos sintetizar que o público-alvo da EA são tanto os integrantes da educação formal quanto os da não formal. Ressalta-se que os objetivos de ensino em ambientes formais são construir conhecimento científico e desenvolver a relação dos alunos com a natureza por meio de pedagogias de aprendizagem ativa, como trabalho de campo e experiências ao ar livre (PARRA et al., 2020). Assim, mais do que se informar sobre processos que envolvem nossa vida socioeconômica, é necessário priorizar o desenvolvimento da EA como ferramenta de participação social e crítica. No Quadro 1, há uma síntese das principais difè- Observe que a informação ambiental deve possuir qualidade e não ser tendenciosa em sua tra nsmissao; mas é a EA que define como essencial o aumento da consciência pública ambiental a partir de ensinamentos contínuos de pensamento crítico, reforçando as habilidades individuais e a análise de fatos utilizando o raciocínio lógico. Outra distinção que cabe em urna breve análise é acerca da educação de forma mais ampla e sua comparação com a E.A. É consenso que a educação, além de instruir, já traz em si o conceito de propiciar o desenvolvimento da capacidade crítica e o senso de responsabilidade. Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Oprimido, enfatiza que a educação é um processo complexo de conscientização coletiva. Hoje, compreendemos que a educação ambiental faz parte desse processo. De fato, podemos considerar que ambientalismo não é uma opção, mas uma responsabilidade e um aspecto fundamental para a construção de uma sociedade coesa e que respeita as leis de proteçäo do ambiente que ocupa (SAM LAN; BLUMSTEIN, 2011). Isso se refere às responsabilidades de proteção ambiental, mas também ern compreender minimamente corno os ciclos ocorrem: na ex tração de recursos naturais, na geração de resíduos, na produção agrária elou industrial, entre outros. Tendo ern vista o desenvolvimento necessário para sociedades mais sustentáveis, os cidadãos precisam ser apoiados e ensinados a superar quaisquer Iacunas ou desafios importantes para integrar esta sociedade sustentável (PARRA et al., 2020). Assim, a educação ambiental se concentra na promoção do conhecimento ambiental e no aprimoramento de atitudes e valores ecologicamente corretas, bem corno na conquista da cidadania e das habilidades cognitivas de alto nível necessárias para promover urn estilo de vida ecologicamente correto. A educação para a cidadania ambiental deve auxiliar os alunos a compreenderem a complexidade dos sistemas socioecológicos e a identificar as causas estruturais da degradação ambiental. Com isso erm rmente, a educação para a cidadania ambiental amplia a perspectiva do aspecto local para 0 global e enfatiza as interrelaçöes e interdependências. Além disso, a aprendizagem da sustentabilidade é um conceito multinível que ocorre tanto no nível individual quanto no nível dos agregados sociais, grupos, organizações e a sociedade como um todo (PARRA et al., 2020). O conhecimento de como mudar democraticamente uma sociedade e os efeitos da justiça social dessas mudanças local e globalmente não foram, pelo menos no início, suficientemente enfatizados na educação para a sustentabilidade, posto que suas raízes estão na educação ambiental e possuem foco mais estreito na proteção ambiental e conservação de recursos (PARRA et al., 2020). DICA •r-if . Você sabe o que significa uma educação ambiental crítica? Para compreender melhor o processo emancipatório da educação sobre o qual a EA vem sendo discutida e desenvolvida, sugerimos a leitura dos seguintes textos: "Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da educação", escrito por Isabel Cristina de Moura Carvalho, e "Educação ambiental crítica" estruturado por Mauro Guimarães. A política nacional brasileira para a educação ambiental O termo educação ambiental (EA) é muito utilizado, apesar de muitas pessoas não saberem sua definição. Assim, algumas distorções podem ocorrer, e a prática da EA pode ser prejudicada. Nesse sentido, Silva Junior et al. (2018, n. p.) destacam que a democratização e a divulgação das formas que ternos para interagir com o meio ambiente de maneira responsável ainda é muito frágil, em uma sociedade que não exerce, no cotidiano, hábitos que favorecem o fortalecimento da temática em questão. Dessa forma, corneçamos esse tópico destacando que urna maior preocupação com o meio ambiente é necessária, bem como o reconhecimento do papel crucial da educação para melhorar a relação do ser humano com o meio. Para isso, é preciso que haja em todas as bases da sociedade ferramentas para traçar diretrizes para o surgimento de mais iniciativas de conscientização ambiental. A escola é um espaço em que os estudantes podem se tornar pessoas mais atentas quanto à importância da conservação e restauração do meio ambiente, fomentando a proteção também da biodiversidade, de um modo geral (SILVA JUNIOR et ai., 2018). A educação é um processo contínuo, de elevada relevância e, por isso, se fa- zem necessários planejamentos complexos para que possamos obter resultados satisfatórios, colaborando para as reflexões de ensino e aprendizagem que ultrapassem as salas de aula. Cada vez mais, precisamos de nos formar como cidadãos,críticos e responsáveis pela preservação dos recursos naturais. A educação ambiental não deve ser entendida como um tipo especial de educação, mas corno uma série de etapas contínuas ao longo processo de aprendizagem, em que coexiste a filosofia da contribuição participativa em que todos (família, escola e comunidade) devem estar envolvidos (SILVA JUNIOR et al., 2018). Por esse motivo, a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) brasileira visou traçar diretrizes não apenas para a EA formal, que ocorre nas escolas, mas também para a EA não formal, englobando a diversidade de atores sociais e a importância de todos construirmos coletivamente uma preocupação que paute Uma questão importante dentro do sistema educacional superior é propiciar a especialização na área de formação e também em áreas científicas semelhantes ou relacionadas. A relevância se dá, justamente, pelas conexões interdisciplinares e pela transferência teórico-conceitual decorrente de novos resultados científicos. Nesse contexto, é importante que cada país explicite em sua política de educação ambiental a importância de toda a sociedade para a conservação ambiental e os possíveis papéis das mais diversas áreas de formação técnica nessa conservação, Assim, os atores socioeducativos envolvidos nas atividades de EA devem assumir as ações em termos de aumento do conhecimento científico, e também possibilitar a existência e qualidade de vida das próximas gerações. Desse modo, ao nível da consciência humana, é visível um peso científico-axiológico, segundo o qual são estabelecidas conexões entre diferentes níveis de realidade (COSTEL, 2015). Para tanto, Costel (2015, n. p.) explicita que para se tornar pragmático um sistema social deve ser construído, antes de mais nada, sobre a educação espontâneav Em segundo lugar, acreditamos que uma perspectiva de política social efetiva envolve uma abordagem específica sobre a educação ambiental. Portanto, as correspondências sociais e metodológicas transpõem em plano operacional às finalidades inscritas na diligência educacional. Nas últimas duas décadas, no entanto, inúmeras pessoas ao redor do mundo se preocuparam (e continuam se preocupando) com as questões interligadas de meio ambiente e desenvolvimento ambientalmente sustentável. Desta forma, temos nos tornado cada vez mais conscientes da necessidade de mudanças nas escolhas de hábitos e nos padrões nacionais e globais de desenvolvimento, consumo e comércio. Portanto, poderíamos considerar um erro pensar que apenas a educação ambiental nas escolas seria suficiente para a transição para a sustentabilidade, a menos que grandes reformas educacionais pudessem ser implementadas e que projetos em consonância com outros setores da sociedade fOssem executados. Nesse momento, destacamos que a educação ambiental está prevista na Constituição Federal, em seu artigo 2250 (Inciso VI), que estabelece que é dever do Estado e de todos de "promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino, e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente" (BRASIL, 1988). A Política Nacional de Educação Ambiental, instituída pela Lei n. 9.795, em seu artigo 30, determina que, como parte de um processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo: I - Ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituiçäo Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; II - Às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III - Aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; IV - Aos meios de co— municaçäo de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio arn— biente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V - Às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à rnelhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de tra— balho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio arnbiente; VI - À sociedade corno um todo, manter atenção piciem a atuaçäo individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais (BRASIL, 1999). Assim, percebemos que a EA é uma questão que precisa ser incentivada e fomentada simultaneamente pelo Estado e por muitos outros setores da sociedade. Em seu artigo 40 (Inciso VII), a PNEA valoriza a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais e nacionais. Enquanto isso, em seu artigo 80 (Incisos IV e V) há um evidente incentivo à busca de alternativas curriculares e metodológicas na capacitação da área ambiental e as iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo com o contexto social em questão (BRASIL, 1999). Em seu artigo 9 0 , a PNEA também define que se entende por educação ambiental, na educação escolar, aquela que é desenvolvida no âmbito dos currícu10s das instituições de ensino públicas e privadas, englobando (BRASIL, 1999): l. Educação básica: a. Educação infantil; b. Ensino fundamental; c. Ensino médio. II. Educação superior; III. Educação especial; IV. Educação profissional; V. Educação de jovens e adultos. Vale destacar que devido ao próprio dinamismo da sociedade, o despertar para a questão ambiental no processo educativo deve começar desde a infância (SOUZA et ai., 2018). Ainda que a EA seja prevista em toda a idade escolar e a PNEA tenha sido instituída em 1999, atualmente, os educadores ainda encontram dificuldades e desafios para implementar a educação ambiental no cotidiano escolar. Por isso, mantém-se a discus- são sobre a maneira que a temática ambiental vem sendo trabalhada pelos professores que a desenvolvem nas escolas. Quando pensamos na educação ambiental, devemos inserir atividades práticas em todos os níveis da educação formal e informal, de modo que trabalhemos as aplicações de EA diariamente. Isso é uma proposição fundamental, pois colabora para que haja envolvimento dos educandos em questões sobre as problemáticas do meio ambiente, e propicia um sentimento importante de pertencimento e transformação, em que cada um tem responsabilidades e pode colaborar para a construção de um mundo melhor. De maneira geral, a escola pode ser um dos locais mais propícios para a realizaçäo de iniciativas de educação ambiental, por propiciar a inovação de costumes que não se limitam apenas aos conceitos ambientais, podendo ainda englobar questões culturais e sociais. Acredita-se que, assim, poderíamos alcançar um resultado mais efetivo e promissor diante das situações vivenciadas no contexto socioambiental,e que englobam o descarte do lixo de forma incorreta, os Impac tos am bientais e biodiversidade e, também, o tipo de interação ecológica que há nas relações hunnanas corn a natureza. No artigo 100 da PNEA, se especifica que a educação ambiental deve ser desenvolvida corno uma prática educativa integrada, contínua e permanente, em todos os níveis e modalidades do ensino formal: S I o A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino; § 2 0 Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica; S 30 Nos cursos de formação e especialização técnico- profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas (BRASIL, 1999). Nesse sentido, sabendo que a educação ambiental é urn processopermanente e contínuo, não deveríamos limitá-la ao espaço escolar; pois é importante tê-la como hábito no ensino do educando (SOUZA et al., 2018). Assim, podemos entender que a EA formal continuará a ser aprimorada com a incorporação de no- vos significados sociais e científicos em relação ao meio ambiente e às dinâmicas que possuímos com o local que ocupamos. Justamente devido a esse dinamismo da sociedade, a questão ambiental no processo educativo deveria começar na infância, corroborando para a formação de gerações mais conscientes e preocupadas com pautas ambientais, tais como a proteção da biodiversidade e o enfrentamento das mudanças climáticas. Ficou especificado que a dimensão ambiental precisa constar nos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. Além disso, "os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental" (BRASIL, 1999). Souza et al. (201 8, n. p.) destacam a dúvida de como a EA está sendo conduzida no ensino da educação ambiental no cotidiano da sala de aula. A abrangência das atividades dos docentes engloba a participação e gestão dos sistemas de ensino. Dessa forma, os professores podem incluir escolhas metodológicas distintas, visando fomentar pontos de análise e valorização da consciência da diversidade, respeitando as diferenças ecológicas, étnico- raciais, de classes sociais, de necessidades especiais e de gênero. As diretrizes de ensino de EA são muito diversificadas e podem servir como ferramenta, aproximando conceitos complexos das comunidades de atuaçäo. Em seu trabalho de análise, Silva e Almeida (2018, n. p.) notaram que os principais desafios das açöes práticas de EA nas escolas estão vinculados a questoes de: espaço da escola, número de estudantes e de professores com disposição para passar por processos de formação continuada na área em questão, participação e dedicação da direção da escola, melhor participação do governo estadual, dentre muitos outros problemas. Com isso, algumas barreiras poderiam surgir, limitando as práticas de EA e tornando as atividades pontuais. Em contextos em que a prática de EA ainda não ocorre de forma contínua, uma alternativa é proceder visitas em centros especializados que possam instruir educandos e educadores e mostrar um caminho a ser percorrido. Nesse contexto, há no Brasil um tipo especial de centro de educação ambiental, relacionado com as fazendas e florestas. A Escola da Floresta é um exemplo desses centros. Nela, há variedade de possibilidades a serem explorados por pessoas de todas as idades. A Figura 2 mostra a realização de uma trilha dos sentidos com crianças de uma escola em visita. Note que atividades como essa podem ser adaptadas à realidade de muitas escolas brasileiras. Uma das maiores dificuldades para que o currículo escolar possa abranger a EA de forma habitual e com a profundidade de discussão que se desejaria, pode ser uma consequência do modelo adotado pelo nosso sistema escolar. As atuais preocupações da educação se concentram em notas, desempenho, competição, esforço individual, sucesso pessoal e padrões hierárquicos de relacionamentos pessoais. O ensino de EA deve ser pensado de forma coletiva, emancipatória, crítica e transversal a muitas diferentes áreas de aprendizagem. Apesar de tais observações fazerem parte de muitas realidades, Souza et al. (2018, n. p.) afirmam que, nos últimos anos, foi possíùel observar uma expansão da educação ambiental no ensino formal das escolas brasileiras. Em contraste a essas pontuações, Silva e Almeida (201 8, n. p.) destacam que, de modo geral, professores de todas as modalidades de ensino, na maioria das vezes, não possuem orientação e nem material para esse trabalho de construção da E.A. Mesmo que essa temática tenha se tornado uma realidade no ensino formal em muitas localidades do Brasil, sabe-se das dificuldades e desafios que a educação ambiental ainda tem que enfrentar no cotidiano escolar e na heterogeneidade de oportunidade entre nossas cidades. Silva e Almeida (2018, n. p.) destacam que a temática ambiental dificilmente está presente nos cursos de formação dos professores, uma vez que os cursos de formação continuada, geralmente, são destinados aos professores de ensino fundamental e médio, bem como os materiais produzidos e disponibilizados. No âmbito da aplicação da EA nas escolas, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sancionada em 1997, já delineava a educação ambiental como tema transversal. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Biologia, por exemplo, explicitam que a EA precisa de ser trabalhada de forma interdisciplinar e em consonância com o contexto social e econômico. Para que sejam realizados trabalhos de qualidade em EA se faz necessário um comprometimento dos sistemas governamentais e das políticas públicas direcionadas à temática ambiental, proporcionando aos professores uma formação adequada para o desenvolvimento de projetos, com a qualificação para o trabalho em consonância à PNEA. Contudo, em alguns casos, tal política não está presente e, muitas vezes, cabe ao professor buscar uma formação continuada, de maneira independente, dispondo de seus próprios recursos (SILVA; ALMEIDA, 2018). De forma complementar, analisou-se que rodas de educação, escuta e narrativas ficcionais são destacadas como traços e atividades fundamentais para os processos de formação de professores que estão se tornando educadores ambientais (GALIAZZI et al., 2018). Galiazzi et al. (2018, n. p.) explicam que os professores de uma comunidade de aprendizagem organizada em rodas de educação e comprometidos com os princípios do diálogo, da escuta, do compartilhamento de saberes e açöes podem se tornar educadores ambientais experientes em processos educativos em que as relações de saber são processos horizontais e contínuos. Como educadores e professores ambien- tais, eles podem ensinar o valor de ouvir e aceitar diferentes pontos de vista. Sendo assim, diante das adversidades e situações locais enfrentadas, as práticas pedagógicas cotidianas como a aplicação de projetos de educação ambiental, envolvendo as escolas, os educandos, suas famílias e entorno, poderão figurar como local de reflexão. Essa reflexão pode ser mais efetiva se focada na construção coletiva de alternativas e, diante das necessidades observadas em cada realidade, propiciar que intervenções socioambientais possam ser propostas. A construção fora dos ambientes escolares, por sua vez, se refere à educação ambiental não formal, que estudaremos no próximo tópico. um exemplo muito comum de prática de educação ambiental no Brasil são as hortas escolares. Devemos valorizar tais açöes e observar que os ensinos vão além das práticas de EA formal. Em muitos contextos, a horta da escola possibilita uma interação da comunidade do entorno, fomentando a coletividade das ações realizadas. Silva Junior et al. (2018, n. p.) definem que a educação ambiental é um campo de conhecimento que se encontra em construção e gera desenvolvimentos à medida que tenhamos a prática cotidiana dos envolvidos nesse processo. O engajamento público significativo e a responsabilidade exigem um entendimento comum do que esperar e demandar das partes envolvidas nos projetos de educação ambiental. A Conferência de Tbilisi (1 977), dentre seus princípios básicos, já considerava que a educação ambiental deve ser um processo contínuo e permanente, começando pelo pré-escolar e continuando ao longo de todas as fases do ensino formal e não-formal, com aplicação interdisciplinar, de modo que se adquira uma perspectiva global e equilibrada. Curiosamente, as perspectivas dos praticantes e dos participantes sobre os resultados da educação ambiental são pouco estudadas, particularmente porque urna compreensão das aspiraçõesdos participantes para a educação ambiental é complexa, apesar de essencial, para garantir que ela atenda às suas necessidades e que eles continuem se engajando. É particularmente importante compreender os benefícios que os participantes de projetos não formais de educação ambiental podem obter com a participação nos projetos (VVEST, 2015). No contexto da educação ambiental não formal, há linhas de ações destinadas ao planejamento, gestão, monitoramento e avaliação de programas e políticas ambientais nas três esferas de governo, em sintonia com os setores sociais. Esse sistema fortalece o diálogo da escola corn a comunidade e movimentos sociais (BADR et ai.. 2017). A PNEA, em seu artigo 130, definiu a educação ambiental não formal corno sendo as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Nesse sentido, o Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará: I - A difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II - A ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-governamentais na formulação e execução de prograrnas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal; III - A participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não-governamentais; IV - A sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; V - A sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de conservação; VI - A sensibilização ambiental dos agricultores; VII - O ecoturismo (BRASIL, 1999). Educação ambiental não formal Este aspecto não formal da EA é de extrema relevância para que os diferentes atores da sociedade possam construir inúmeras práticas colaborativas em formato de projetos e programas, aprimorando as abordagens pautadas em políticas públicas, mas também com parcerias com setores não-governamentais, como empresas e ONGS. Conceitos e objetivos da educação ambiental A educação ambiental é um campo multidisciplinar que integra diversos ramos de estudo, como química, física, ciências humanas, ciências médicas, ciências biológicas, agricultura, saúde pública e engenharia sanitária. Dessa maneira, a EA coloca em pauta a importância da proteção e conservação do meio ambiente. O fato de a sociedade ter falhado em aceitar sua responsabilidade socioambiental resultou no ato de nos colocarmos no centro de nossas relações, afastando-nos do meio natural do qual fazemos parte e acreditando que devemos dominar nosso ambiente. Infelizmente, a situação em que nos encontramos atualmente, pautada pelo conceito de que o ser humano pode controlar o meio ambiente sem respeitar ciclos naturais, está na raiz de grande parte do que é ensinado nas escolas. A criação de educandos ambientalmente conscientes em uma sociedade que não reconhece a gravidade dos problemas ambientais que enfrenta provavelmente não terá muito impacto sobre esses problemas (SAYLAN; BLUMSTEIN, 2011). Isso porque existe uma desconexão fundamental entre o que aprendemos na escola e como nos comportamos em nosso meio social, pelo menos no que diz respeito à educação ambiental. Embora essas variações possuam difícil medição, essa desconexão é facilmente percebida e precisa ser encarada como uma necessidade a ser superada. Fazer isso exige resiliência, criatividade, sensibilidade e esforço de todas as classes sociais e econômicas. Não é errado pensarmos a EA como uma adjetivação da educação, urna vez que tornar esta última apta à educação ambiental é uma necessidade de nosso presente, e isso se justifica devido ao fato de a EA enfatizar aspectos da educação que muitas vezes foram e sao marginalizados, mal interpretados e podem causar uma diversidade de impactos em muitas esferas da sociedade. Os componentes principais da educação ambiental são: l) conscientização e sensibilidade em relação aos desafios ambientais; II) compreensão das dinâmicas relacionadas ao meio ambiente; III) atitudes de preocupação e motivacão para melhorar ou manter a qualidade ambiental; IV) habilidades para identificar e ajudar a resolver problemas; V) participação em atividades para resoluções coletivas. Nesse contexto, a Resolução n. 422/2010 estabeleceu "diretrizes para conteúdos e procedimentos em ações, projetos, campanhas e programas de informação, comunicação e educação ambiental no âmbito da educação formal e não-formal, realizadas por instituições públicas, privadas e da sociedade civil" (CONAMA, 2012, p. 1088). A educação para a cidadania ambiental é definida como o tipo de educação que cultiva aptidões, valores, atitudes e competências necessárias que um cidadão deve possuir para ser capaz de agir e participar da sociedade como agente de mudança em escala local, nacional e global (HADJICHAMBIS; REIS, 2020). Essa abordagem é importante para capacitar os cidadãos a praticarem seus direitos e deveres ambientais, bem como para identificar as causas estruturais subjacentes aos problemas ambientais, levando em consideração a justiça inter e intrageracional (ENEC, 2018a). um dos objetivos da EA é que a sociedade compreenda a relação de interdependência entre os ecossistemas naturais e as interações sociais humanas. Assim, podemos adquirir conhecimento à medida que desenvolvemos competências para conservar e preservar o meio ambiente. Diante disso, torna-se imprescindível que os atuais padrões de conduta individual sejam alterados e modificados para outros mais coletivos e ambientalmente adequados. Dessa forma, é possível destacar que são objetivos específicos da educação ambiental: • Conhecimento acerca das diferentes questões ambientais: compreender a multiplicidade de interações ambientais e sociais entre os elementos que compoern tais sistemas; • Desenvolvin'ento da conscientização prover ferramentas para que os grupos sociais compreendam diferentes problernas, sensibilizando -os para que atuem na resolução dessas questões; • Arrmpliação das habilidades socioarnbientais: desenvolver valores sociais para que haja fortalecimento da motivação relacionada à conservação do meio ambiente, berT1 corno à recuperação de áreas já afetadas por irnpactos negativos devido a atividades antrópicas; • de cornpetências: incentivar habilidades específicas que possibilitem a operacionalização dos conhecimentos e das atitudes coletivas desenvolvidas, tornando-as ações arnbientais concretas; • Participação social: proporcionar oportunidades e o ensejo de que todo cidadão participe de atividades e projetos na solução de questões arnbientais de variada complexidade e em diferentes contextos. Ressalta-se que o desenvolvimento da consciência arnbiental passa obrigatoriamente pela análise crítica do meio dades que temos e quais ações podemos empregar para que tenhamos participação (prática). A participação social é, portanto, uma peça-chave para não apenas atuarmos de forma corretiva (em relação aos problemas já existentes) como também para agirmos de forma preventiva, protegendo os diferentes sistemas ambientais e prevenindo que novos problemas se tornem inevitáveis e/OU irreversíveis. Assim, observe que a EA se relaciona ao contínuo processo educativo formal e não formal, de forma a adquirir conhecimentos teóricos e práticos sobre o ambiente e em consonância com a adaptação do comportamento social frente às mudanças ambientais observadas. Metodologicamente, é fundamental que a análise das interrelações sociais e ambientais seja bem embasada para que toda a sociedade se torne apta a compreender os problemas ambientais e as potenciais soluções a serem implementadas. De certa forma, tanto no campo de atuação formal quanto no não formal, a sociedade precisaser participativa, a fim de que a integração seja voltada à solidariedade com as futuras gerações, como previsto na Constituição Brasileira em seu artigo 225. Nos últimos séculos, o ser humano passou a interferir cada vez mais nos processos naturais. Ao longo do século xx, inúmeros avanços tecnológicos e crescimento econômico foram obtidos. Com o aprimoramento tecnológico e inúmeras descobertas em todas as áreas do conhecimento, passamos a controlar os elementos da natureza e a aumentar sua capacidade de produção. Muitos desses avanços visaram à produção e o consumo sem avaliar questões de risco ambiental e social. O crescimento populacional no pós-guerra .com conseq uente aumento pela demanda por combustíveis fósseis, alimentos e tecnologia) resultou em um fluxo enérgico desequilibrado ecossistemicamente, Há muitos anos estamos sendo alertados sobre a insustentabilidade dos hábitos de consumo resultantes da economia capitalista. Atualmente, as sociedades tornaram-se cada vez mais complexas e conectadas. Desenvolveu-se o modo globalizado de vida, sendo que padrões de consumo adotados em escala mundial resultam em perdas progressivas de características geográficas. regionais e culturais. bem como na contaminacão ambiental, que resulta em perda de diversidade de fauna e flora. Nesse mesmo contexto, surge o termo responsabilidade socioambiental. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2020), a responsabilidade socioambiental está ligada a açöes que respeitam o meio ambiente e políticas que tenham entre seus principais objetivos a sustentabilidade. Responsabilidade socioambiental também pode ser compreendida cormo um conjunto de práticas exercidas por cidadãos, governos e empresas públicas e privadas que têm por objetivo providenciarem a inclusão social (responsabilidade social) e o cuidado com o meio ambiente (responsabilidade ambiental). Se de um lado temos observado diversas atividades que causarm degradação socioambiental e colocam em risco a qualidade de vida e a sobrevivência das futuras gerações, do outro há diversas organizações se mobilizando para nos conscientizar da necessidade de mudança para que o plane- Nos últimos 250 anos, os impactos causados pelas diversas mudanças decorrentes do desenvolvimento industrial ainda não estão totalmente desenhados e são debatidos por diversas organizações e meios de comunicação. Nos dias de hoje, podemos dizer que a máxima do desenvolvimento industrial é a globalização. Para chegarmos ao mundo como conhecemos hoje, o mundo globalizado, alguns momentos históricos foram cruciais. A Revolução Industrial intensificou o uso e a pressão sobre os recursos naturais renováveis e não renováveis para atender à intensificação da produção industrial em escala. Com a maior demanda por trabalhadores nas indústrias e em busca de *'uma vida melhor" — aos moldes capitalistas —, muitas pessoas saíram do campo para morar nas cidades, processo que culminou na urbanização. A revolução verde levou ao campo das tecnologias nunca vistas, permitindo incrementos anuais na produtividade de vegetais e carnes, comercializados para atender a demanda interna e externa das redes de mercado global. Recursos naturais renováveis são aqueles que possuem maior capacidade de manutenção e não se esgotam facilmente, são exemplos: água, solo, matéria orgânica e vento. Os recursos naturais não renováveis são aqueles que se esgotam quando usados sem práticas sustentáveis e seu tempo de reposição não é comparado à cronologia de vida humana, são exemplos: petróleo, carvão mineral, gás natural, xisto betuminoso e energia nuclear. Com exceçäo à energia nuclear, todos os exemplos citados são de origem fóssil. Estas transformações foram e são acompanhadas pelos impactos negativos ao meio ambiente e à perda de características sociais: há aumento das áreas desmatadas, da poluição atmosférica, do solo e hídrica, perda de biodiversidade, os produtos consumidos não são corretamente descartados, há aumento da desigualdade social, entre outros (Figura 2). Nos dias de hoje, uma vez que é indiscutível que diversas fronteiras ecológicas mundiais foram ultrapassadas, o mundo globalizado vem exigindo continuamente modelos de produção de bens e serviços obtidos por meio de tecnologias que repensem questões de competitividade e que considerem formas de mitigação do impacto social e ambiental. A importância da avaliação dos danos que a produção e os processos têm sobre o ambiente e a sociedade toma forma neste contexto. Além da avaliação, ações de gestão que contribuam para o desenvolvimento ambiental e para o despertar da responsa bilidade socioa mbiental devem ser propostas por governos, empresas e cidadãos. da modernidade Assistimos em noticiários, nas redes sociais e vivemos diretamente as questões ambientais. Comumente, ouvimos falar sobre responsabilidade socioam biental. Isso vem acontecendo porque o mundo moderno se deu conta de que os impactos dos nossos hábitos de produção e consumo não estão alinhados com o poder de resiliência do planeta, uma vez que seus recursos são limitados. A responsabilidade socioambiental como compromisso Por esse motivo, instituições públicas e privadas, organizações governamentais e não governamentais têm se dedicado cada vez mais a programas de implementação de práticas socioambientais e de conscientização da população. A ideia consiste em identificar, eliminar ou, ao menos, reduzir o impacto negativo que urna determinada atividade possa causar. Diversas organizações governamentais e não governamentais se dedicam à causa socioambiental. Veja alguns exemplos a seguir: • Plano nacional de juventude e meio ambiente (PNJMA); • Agenda ambiental na administração pública; • Instituto de pesquisas socioambientais (IPESA)• • Instituto socioambiental (ISA); • Fundo casa socioambiental; • Verdejar socioambiental; • Instituto Ethos. Uma vez que elas já existem e não se mostraram totalmente efetivas, as práticas de responsabilidade socioambiental vão além de Leis. Atualmente, os programas devem fomentar e inserir a responsabilidade socioambiental como um compromisso diário a ser adotado pela sociedade, de forma a garantir a existência de um mundo melhor para as futuras gerações. Lembrando que se trata de urna vertente global, diversas ações podem ser adotadas a fim de inserir as práticas de responsabilidade socioambiental no dia a dia pessoal e profissional. Hoje, a sociedade sabe identificar cidadãos, instituições, organizações e empresas que investem em políticas e na cultura organizacional sustentável, posicionando-se de forma ética e responsável. cidadã e empresarial Todos são responsáveis pela elaboração, difusão e aplicação das práticas de responsabilidade socioambiental; entre seus agentes, estão os governos, as cidades e as empresas. O governo atua na pauta socioambiental, formulando leis e ações de conscientização que atingem a sociedade civil e empresarial. Para que os cidadãos se tornem cientes, possam exigir e exercer a responsabilidade socioambiental, o governo deve encontrar meios para que as políticas públicas estejam próximas dos cidadãos, divulgando-as nos meios de comunicação e redes sociais, adequando currículos escolares e financiando instituições de pesquisa. Além disso, a gestão socioambiental deve ouvir os cidadãos por meio de seus representantes municipais e estaduais. bem como a iniciativa privada e as organizaçöes não governamentais. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e suas esferas são responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas que tenham como objetivo promover a produção e o consumo sustentáveis. Além disso, também é responsabilidade do governo promover o crescimento do País adotando práticas de desenvolvimento sustentável, ou seja, grandes obras de interesse social devem fazer uso de práticas sustentáveis e serem baseadas em estudos de impacto ambiental. As cidades e seus cidadãos têm o compromisso de exercer as práticasde responsabilidade socioambiental. Para isso, como mostra o Quadro 1, existem diversas ações que podem ser adotadas no nosso dia a dia. De vernos exigir dos governantes, p011tlcas que tornentem tal temática e dar preferência ao consurmo de produtos e serviços de empresas atuantes na causa socioarmbiental- DESEN VOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DIREITOS INDIVIDUAIS Quando nos colocarmos corno agentes ativos das práticas de responsabilidade socioambiental, estar-nos indiretamente praticando assistencialisrno, inclusão social, inclusão digital e educação ambiental! Envolver-se nessas ações nos torna cidadãos participativos e responsáveis, além disso, as questões socioambientais se tornando cada vez mais importantes e moldando-se corno urn dever de todos- Os cidadãos exercem a responsabilidade socioambiental individual. Ela consiste em atitudes individuais reiteradas para uma maior preservação do ambiente a nossa volta. Devemos pensar que ela deve ser praticada individualmente, mas por todos nós, resultando em uma ação coletiva e de grande poder ambiental. São exemplos de responsabilidade socioambiental individual: • Evitar usar sacolas e embalagens plásticas; • Não desperdiçar alimentos; • Separar e reciclar o lixo; • Armazenar e destinar corretamente o óleo de cozinha; • Economizar água e energia elétrica, usando de forma racional; • Adquirir eletrodomésticos com baixo consumo de energia. As empresas que aderem à responsabilidade socioambiental buscam conhecer as características regionais, ouvir seus colaboradores e possuem processos elou serviços ambientalmente corretos. Elas reconhecem a sua responsabilidade socioambiental e assumem voluntaria mente compromissos que vão para além dos requisitos reguladores convencionais, aos quais estão necessariamente vinculadas. Procuram elevar o grau de exigência das normas relacionadas com a proteção ambiental, com o desenvolvimento social e com o respeito aos direitos fundamentais, adotando uma cultura organizacional aberta em que interesses de todas as esferas se conciliam em direção a uma abordagem global da qualidade de vida e do desenvolvimento sustentável. Como podemos observar na Figura 3, adotando as práticas de responsabilidade socioambiental e estratégias de marketing, além dos benefícios sociais e ao meio ambiente, as empresas também melhoram sua imagem corporativa e aumentam seus lucros. Ocorre ainda a valorização da marca, maior fidelização Empresas podem adotar práticas de responsabilidade socioambiental por meio da adoção de programas e projetos de inclusão social ou digital, de direitos das mulheres e inserção no mercado do trabalho de maneira igualitária, por programas de alfabetização, reciclagem, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas e destinação elou liberação correta de resíduos industriais (efluentes ou gasosos). A responsabilidade socioambiental governamental, No que diz respeito às leis de responsabilidade socioambiental, podese dizer que o Brasil possui urna das legislações mais complexas e avançadas do mundo. O cumprimento das leis socioambientais nacionais é, em sua grande parte, de aspecto jurídico, mas também podem ser aplicáveis às pessoas físicas. A Constituição Federal de 1988 prevê que toda pessoa, física ou jurídica, que apresentar conduta ou atividade que ca use dano ao meio ambiente esta rá passível de sanções penais administrativas, que serão aplicadas independentemente da obrigatoriedade de recuperar o dano causado. O poluidor é a pessoa jurídica ou física responsável, direta ou indiretamente, pelo dano causado. O sujeito se responsabilizará pelo dano ambiental real e potencial, que será estipulado por entidades da área. Uma vez que o meio ambiente é um direito da atualidade e das gerações futuras, os prejuízos e dimensões do dano são de interesse mundial, o que torna a ação jurídica de extrema relevância. Contudo, há grande dificuldade na comprovação da escala do dano causado, devido à complexidade de mensuração, assim, a responsabilidade deverá ser objetiva. O Estado, uma vez que é o responsável pela saúde pública, também pode ser responsabilizado pelo dano causado ao meio ambiente quando há omissão de sua responsabilidade legal. A Constituição Federal, alicerçada nos valores da solidariedade, dignidade humana e justiça social, instituiu o "estado social", que deve orientar as relações sociais e econômicas. Para que cidadãos, governos e empresas exerçam práticas de responsabilidade socioambiental, devemos ter em mente que, antes de qualquer coisa, há necessidade da regulação das políticas e dos direitos sociais, entre eles, educação, saúde, habitação e assistência social. Uma vez que há urna forte tendência de mudança com relação à adoção de uma postura ambientalmente correta, a responsabilidade socioambiental associada às penalidades legais e exercida pelas leis, normas e infrações devem ser conhecidas e praticadas pela sociedade civil, governos e empresas. Nas empresas, há a responsabilidade socioambiental empresarial, que tem natureza de resoonsabilidade iurídica caracterizada como encargos sociais aue. quando não cumpridos, resultam em multas elou penalidades. Os encargos sociais têm origem na Consolidação das Leis de Trabalho (CCT). Eles são os custos pagos pelo empregador sobre a folha de pagamento de salário dos colaboradores. Leis socioambientais brasileiras O Quadro 2 lista algumas das leis ambientais mais importantes no País. Existem também as leis estudais e municipais, bem como os órgãos que se certificam de que elas estão sendo cumpridas, como o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA). A Lei 5.452 é uma das principais leis sociais brasileiras; ela rege os direitos dos trabalhadores. Nela, são discutidas questões sobre registro em carteira de trabalho e rescisão contratual, vale-transporte, descanso semanal remunerado, pagamento de salário, férias, fundo de garantia do tempo de serviço (FGTS), décimo terceiro salário, hora extra, adicional noturno, aviso prévio, licença maternidade e paternidade. A responsabilidade social empresarial aborda questões que vão além das regulamentadas por lei. Ela trabalha a igualdade de oportunidades. Deve considerar os critérios de promoção dos funcionários, igualdade de gênero e pessoas com deficiência, acidentes de trabalho, capacitação continuada para o aprimoramento do nível do conhecimento do colaborador, além da relação ética entre os colaboradores. Quando uma empresa ou organização segue leis de cunho socioambiental ou normas determinadas por lei, ela está exercendo seu papel como pessoa jurídi ca, ou seja, a empresa está somente seguindo os aspectos jurídicos inerentes ao seu setor. Ser uma empresa social e ambientalmente responsável vai além das obrigações legais e econômicas: significa que ela se posiciona e atua no combate aos problemas, buscando o desenvolvimento socioambiental sustentável. A série ISO (International Organization for Standardization — organização internacional para padronização) estabelece sistemas de gestão na cultura orga nizacional de empresas. As séries ISO são compostas por normas que vão além das exigências legais e algumas podem se tornar tão importantes que passam a ser exigidas em lei. As normas ISO no Brasil são controladas pela ABNT NBR (Associação Brasileira de Normas Técnicas). A série ISO 14001 possui normas de gestão ambiental que permitem que a empresa pratique ideias de mitigação dos possíveis danos ambientais decorrentes de sua atividade, objetivando tornar-se sustentável no curto e no longo prazo. A norma estabelece algumas práticas: • Implementação de um sistema de gestão ambiental; • Rotulagem ambiental; • Análise de desempenho ambiental; • Análise de ciclo de vida; • Integração de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos; • Comunicação ambiental; • Mitigação das mudanças climáticas. A adoção das normas também pode trazer benefícios, como: • Reduçãode custos devido ao uso de matéria-prima, água e energia de forma consciente; • Captação de novos clientes, devido à inserção no mercado ambiental; • Melhoria dos processos inter e intra setoriais, bem como, da cultura organizacional; • Menor risco de falência; • Abertura a patrocínios e boa visão internacional; • Possível diversificação setorial; • Adesão de novos grupos de clientes; Aspectos legais • Maior qualidade e controle dos produtos, serviços e processos. A série ISO 9000 fornece meios para implementação e monitoramento contínuo de técnicas para otimização de processos pela implementação de um sistema de gestão da qualidade. As normas que compõem a série ISO 9000 estao sempre sendo atualizadas e sao conhecidas e desejadas por empresas do mundo todo. Aderir às normas ISO 9000 traz uma série de benefícios: • Aumento da produtividade; • Redução de custos; • Produtos e serviços de maior qualidade; • Credibilidade e reconhecimento interno e externo; • Visão mais ampla do fluxo de trabalho; • Segurança nos procedimentos internos; • Colaboradores engajados e integrados. A série ISO 45001 irnplementa urn sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional com foco na melhoria do desempenho das empresas em termos de saúde e segurança do trabalho. Segundo a própria norma, unna organização é responsável pela saúde e segurança ocupacional dos trabalhadores e outros que podem ser afetados por suas atividades. Esta responsabilidade inclui promover e proteger sua saúde física e mental. Podem ser citadas cormo benefícios da implementação da norrna ISO 45001 erm urna empresa: • Gerenciamento de risco e acidentes de trabalho; • Redução de afastamentos por acidente de trabalho; • Maior qualidade de vida e melhor relacionamento empregador x empregado; • Redução dos prejuízos financeiros devido a processos trabalhistas. A ISO 50001 tem objetivo de melhorar a eficiência enérgica das empresas. lmplementando urn sistema de gestão de energética, a empresa tem cormo be nefícios: • Uso de tecnologias modernas e eficientes; • Redução dos custos com energia; • Redução da emissão de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas. A adoção das norrT1as ISO atesta a responsabilidade no desenvolvimento das atividades de urma ernpresa. Para sua obtenção e manutenção, são realizadas auditorias periódicas por urna empresa certificadora, que deve ser credenciada e reconhecida por órgãos nacionais e internacionais. Organizações que aderem às norrnas ISO possuem sistema de manejo integrado e se colocam no mercado como responsáveis socioambientalmente. O crescimento econômico no século XX se desenvolveu nos moldes capitalistas, passando a depender do consumo cada vez maior de energia e recursos naturais (recursos renováveis e não renováveis). Atrelado a isto, da década de 1950 em diante, a preocupação com uma eminente explosão demográfica global resultante do crescimento dos países pobres causou um interesse global pelos temas populacionais. Iniciaram-se diversos movimentos para controlar a fecundidade dos países pobres. Na Conferência Mundial de População, realizada pela ONU em Bucareste, 1974, de um lado, os países desenvolvidos articulavam que, para reduzir a pobreza, deveriam haver programas de estímulo à redução do crescimento da população por meio de redução da taxa de natalidade, do outro, os países pobres e em desenvolvimento defendiam que políticas de desenvolvimento eram necessárias. Após longos períodos de debates, constatou-se que os moldes de desenvolvimento até então adotados poderiam ser insustentáveis, e novos meios de produção e consurno deveriam ser adotados uma vez que a disponibilidade dos recursos era finita. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a produção sustentável baseia-se na incorporação, ao longo do ciclo de vida de bens e serviços, de medidas que minimizem os custos ambientais e sociais resultantes da ação humana. Sobre consurno sustentável, entende-se como o uso de bens e serviços suficientes para atender às necessidades básicas, proporcionando melhor qualidade de vida. enquanto reduz o uso de recursos naturais e materiais tóxicos, a geração de resíduos e a emissão de poluentes. De acordo com o Relatório de Brundtland, os principais objetivos das políticas de desenvolvimento sustentável seriam os seguintes: • Retomar o crescimento; • Alterar a qualidade do desenvolvimento; • Atender às necessidades essenciais do ernprego, educação, alimentação, saúde, energia, água e saneamento; • Manter um nível populacional sustentável; • Conservar e melhorar, por meio da tecnologia, as bases dos recursos; • ncluir o meio ambiente e a economia nas decisões que afetem a sociedade. Para atingir tais objetivos de produção e consurno, a modificação das organizaçoes deveria ser contínua, contar com o apoio da ciência e manter-se dinamicamente equilibrada. Práticas produtivas exploratórias, predatórias e que visassem o lucro deveriam dar espaço para relações sociais justas e para bem-estar dos seres vivos. Em um primeiro momento, a busca pelo desenvolvimento sustentável das nações parece limitar seu potencial de desenvolvimento. Na realidade, deve-se Desenvolvimento sustentável entender o desenvolvimento sustentável como um conjunto de práticas que não limite o desenvolvimento econômico, mas que considere que os recursos naturais são finitos e devem ser usados sob um viés conservacionista, Assim, se estabelece um paradigma que consiste em diminuir o consumo e a exploração dos recursos renováveis e não renováveis pe- 10s países desenvolvidos, garantindo que países industrializados — em desenvolvimento — possam se modernizar, proporcionando qualidade de vida às suas populações em sinergia corn o meio ambiente. Muito se discute sobre desenvolvimento sustentável; às vezes, há consenso entre as atitudes a serem adotadas, às vezes, não há. De fato, diversas ações foram tomadas e cada vez fica mais evidente que ainda há muito a ser feito. ASSISTA A Organização das Nações Unidas vem se posicionando como uma grande difusora das ideias de desenvolvimento sustentável no mundo todo. Assista ao vídeo da Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2015. Ações globais rumo ao desenvolvimento sustentável Chegamos a um ponto em que assuntos relacionados aos impactos da ação humana, bem como sobre a necessidade das práticas de responsabilidade social são vistos diariamente nos meios de comunicação. Cada dia mais é exigido que a sociedade adote uma postura de mudança diante de seus meios de produção e de suas opções de consurno. As consequências do desenvolvimento em condições de insustentabilidade fizeram com que diversos cientistas discutissem a transgressão das fronteiras pla netárias. As fronteiras planetárias se referem ao poder de fOrnecimento de recursos e da resiliência do planeta diante dos hábitos e moldes de produção e consumo. O conceito pode ajudar a sociedade civil e o poder público na definição de modelos de produção seguros para a humanidade e a vida na Terra. As nove fronteiras planetárias, segundo Martine e Alves, são: mudanças climáticas; mudança na integridade da biosfera (perda de biodiversidade e extinção de espécies); depleção da camada de ozônio estratosférico; acidificação dos oceanos; fluxos biogeoquímicos (ciclos de fósforo e nitrogênio); mudança no uso da terra; uso global de água doce; concentração de aerossóis atmosféricos; e introdução de poluentes orgânicos, materiais radioativos, nanomateriais e microplásticos. Das nove, quatro já foram ultrapassadas: mudanças climáticas, perda da integridade da biosfera, mudança no uso da terra e fluxos biogeoquímicas (MARTINE; ALVES, 2015, p. 445). Sobre o aquecimento global e mudanças climáticas, devemos considerar duas situações. A primeira trata do efeito estufa natural, que consiste na absorção, pelos gases do efeito estufa, dos raios infravermelhos emitidos pela superfície terrestre.Este processo permite que a superfície terrestre se mantenha em temperaturas ideais para os seres vivos. A segunda situação aborda o efeito estufa antrópico, no qual o aumento da concentração atmosférica dos gases do efeito estufa, causados pelo uso excessivo de recursos não renováveis — como os combustíveis fósseis —, resulta no aumento da temperatura da superfície terrestre, chamado de aquecimento global (Figura 4). A sociedade vem discutindo ativa mente as consequências do segundo caso, bem corno as formas de mitigar as emissoes reduzindo a velocidade das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. Os cientistas relatam que, caso nenhuma ação seja tomada, eventos extremos podem começar a acontecer; como: aumento da temperatura dos oceanos, ondas de calor, alteração dos regimes pluviométricos, desertificação, derretimento das calotas polares, redução da diversidade de fauna e flora, entre outros. O termo "pegada de carbono" refere-se ao consumo individual diante das práticas de responsabilidade ambiental, ou seja, o quanto os hábitos de uma pessoa podem impactar o desenvolvimento sustentável do planeta. A pegada de carbono pode ser calculada, tornando-se um índice, geralmente, expresso em emissão de dióxido de carbono — um dos principais gases do efeito estufa causado pelo homem — que quantifica o efeito da utilização dos recursos sobre a bioesfera- Estes dados individuais podem ser extrapolados para medir os efeitos da atividade humana, servindo como base para elaboração de políticas públicas e desenvolvimento de novos produtos. CURIOSIDADE Você pode calcular a sua pegada de carbono pessoal ou simplesmente saber mais sobre a pegada de carbono na sua região. Fornecendo informações sobre sua dieta, seus hábitos de transporte e consumo de energia, uma calculadora especializada fará os cálculos e você poderá comparar sua pegada com a de pessoas de outros países. Sem dúvida, não podemos conceber um mundo sem uso de fontes energéticas. Porém, existem diversas alternativas sendo disponibilizadas e aprimoradas pela ciência. Diante desse contexto, abordamos a ideia de energia limpa Ela vem de fontes de energia renováveis (Figura 5), e quando optamos por utilizá-las, estamos reduzindo a emissão de gases do efeito estufa para a atmos- Empresas que reduzem as emissões de gases do efeito estufa er-n seus processos produtivos podem comercializar créditos de carbono. Esse mercado internacional cresce anualmente. Os créditos baseiam-se na quantidade de gás não emitido para a atmosfera, sendo que cada crédito se refere a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (t coze). Não somente o dióxido de carbono é contabilizado, outros gases causadores do aquecimento global também, mas seus valores são calculados considerando sua equivalência em moléculas de dióxido de carbono. Os consumidores estão se tornando cada vez mais exigentes e conscientes em relação à produção e à origem dos alimentos. Nesse sentido, a agricultura intensiva vem avançando lentamente na busca de tecnologias e processos que minimizem problemas de poluição e degradação dos recursos naturais e que ofereçam produtos seguros ao consumidor final. Podemos citar o zoneamento econômico-ecológico, a agricultura de precisão, a fixação biológica de nitrogênio, as práticas de co ntrole da erosão do solo. os sistemas de plantio direto e o manejo integrado de pragas. Além disso, a produção orgânica será decisiva como a agricultura do futuro, assim como os sistemas agroflorestais, a agricultura sintrópica e o consumo local. Cada vez mais, os consumidores buscam opções de produtos originários do modelo orgânico de produção. Tais sistemas resultam em sustentabilidade no curto e no longo prazo, uma vez que são baseados em práticas de responsabilidade socioambientais com abordagens integradas. Os processos produtivos nesses sistemas são baseados nos mecanismos e processos naturais que eliminam o uso dos agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. A responsabilidade socioambiental é alcançada por meio da adoção de práticas de desenvolvimento sustentável por empresas, por políticas governamentais e pela atuação do cidadão. Ela se concretiza sob o emprego das três dimensões da sustentabilidade, como mostrado na Figura 6. A esfera social, sob uma perspectiva sustentável de produção e consumo, deve considerar a qualidade de vida dos seres humanos tendo em vista a diversidade cultural, étnica, religiosa e de gênero, bem como questões regionais da comunidade. Do ponto de vista econômico, deve-se considerar o papel da sociedade na rentabilidade e a viabilidade empresarial por meio de ações ganha-ganha, de forma que haja retorno, na forma de lucro, ao investimento realizado pelo capital privado e qualidade de vida aos colaboradores. Na esfera ambiental da sustentabilidade, os processos de produção e consumo deverão considerar a adoção de práticas ambientalmente corretas. Termos como ecoeficiência, pegada de carbono, energia limpa e sete R's proporcionarão uma cultura organizacional ambiental nas empresas, residências e espaços públicos, uma vez que conduzem ao desenvolvimento do perfil de responsabilidade socioambiental. Em 1972, a ONU convoca a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Estocolmo, e a pauta ambiental começa a ser debatida oficialmente, resultando no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Após alguns anos depois da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente de 1983, nasce um grande marco da pauta ambiental elaborado pela Comissão de Brundtland, o relatório nomeado como Nosso futuro comum. Após a Conferência, diversos outros eventos discutiram os ideais e os meios de conduzir o desenvolvimento mundial para os moldes do desenvolvimento sustentável. Em 1988, uma união entre a ONU Meio Ambiente e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) resultou na criação do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), sendo que os resultados de pesquisas sobre mudanças climáticas realizadas no mundo todo são reunidas e relatórios e planos de ação são publicados periodicamente. A famosa Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi um marco de sua década, pois discutiu a importância de se agregar os componentes sociais, económicos e ambientais nas buscas pelo desenvolvimento sustentável e finalizou a protocolo ae Kyoto, aeA99 metas onrlgatonas ae redução das emissoes de gases de efeito estufa nos 37 países signatários. Em 2000, a Cúpula do Milênio das Nações Unidas definiu oito objetivos concretos e mensuráveis, que foram acompanhados em escala nacional, regional e global. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) foram resultado de urna série de cúpulas multilaterais realizadas na década de 90 sobre as condições do desenvolvirnento humano. A formulação dos O DM contou com especialistas renomados de diversas áreas que estiveram focados na redução da pobreza extrema observada, principalrnente, nos países pobres e ern desenvolvirnento. Todos os países signatários da época aderiram ao acordo, comprometendo-se em inserir em suas políticas, ações para alcançar os objetivos. Os oito objetivos do milênio foram definidos conforme o Quadro 3. Eles deveriam ser atingidos até 2015, quando seriam então discutidos novamente. Em 2002, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na Africa do Sul, discutiu os compromissos e metas da Agenda 21 e analisou suas conquistas, para então conceber urna Agenda 21 reformulada, com ações concretas e tangíveis em relação àquelas estabelecidas em 1992. Em 2015, foi definida urna nova agenda, a Agenda 2030. Ela foi desenvolvida em um trabalho conjunto entre governos, entidades e sociedade civil. Entre outros, foram definidos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS's), que tiveram como base os ODM's. Os ODS's são o que se tem de mais atual com relaçao às metas em direção a um mundo mais sustentável. A Cúpula da Terra, também conhecida conno Eco-92 ou Rio92, realizou-se no Rio de Janeiro, em 1992, e finalizou a Agenda 21. Nela, determinou-se a relevância dos países em parceria com empresas, organizações governamentais e não governamentais em se comprometerem com estudos para avaliar e combater os problemas socioambientais. Desde a sua finalização, a Agenda 21 foi aprimorada e adaptada a condições mais palpáveis para os níveis de desenvolvimento de cada País. É importante lembrar que cada País desenvolveu sua Agenda 21, inclusive o Brasil. Ela discutiu assuntos de extrema relevância socioambiental. como: combate à pobreza, mudança nos padrões de consumo, cooperação internacional, proteção e promoção da saúde humana, proteção da atmosfera e de ecossistemas, proteção da biodiversidade, proteção da infância, desenvolvimento rural, Dia da Mulher, fortalecimento das populações indígenas, dos trabalhadores, dos agricultores, do comércio e da indústria etc. CONTEXTUALIZANDO A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) finalizou a Agenda 21, um documento dividido em 40 capítulos que aborda os meios para que seja adotado em escala planetária um padrão de desenvolvimento sustentável. No total, 192 países acordaram e assinaram a Agenda 21. A partir da Agenda 21, pôde-se refletir sobre a ação humana segundo os moldes industriais e capitalistas. De forma sinérgica, buscou-se (e busca-se até os dias atuais) promover a qualidade de vida e não apenas o crescimento individual estimulado pela produção e consurno injustificado. Em 2015, durante uma Assembleia Geral da ONU que ocorreu nos Estados Unidos, elaborou-se um plano guia para a ação da comunidade internacional, que elencava os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, considerando os parâmetros sustentáveis de uso dos recursos naturais. Agenda 21 Agenda Os objetivos e metas definidos na reunião devem ser inseridos na realidade de cada País signatário, considerando suas prioridades internast mas voltandose para um desenvolvimento global. Eles são integrados e indivisíveis, e mesclam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Atualmente, a população brasileira é de, aproximadamente, 212 milhões de pessoas distribuídas ao longo das 27 unidades federativas que compõem nosso País. Um dos principais indicadores que revela a riqueza de um País é o seu Produto Interno Bruto (PIB), que calcula o valor de toda a riqueza produzida por um País considerando 0 desempenho dos três setores que compõem a economia. Em 2019, o PIB do Brasil foi de R$ 7,3 trilhões e a ordem de participação dos setores neste resultado foi: serviços, indústria e agropecuária (IBGE, 2020). Com este resultado, o País ficou Em contraponto, é o segundo País em área florestal no mundo com, aproximadamente, 12% do território coberto por florestas. Apesar de usarmos mais fontes de energia não renováveis do que renováveis (56,5%), usamos mais fontes renováveis do que o resto do mundo. Além disso, há riqueza de fauna e flora, biomas diversificados e uma imensa diversidade étnico-cultural. Uma vez que possui relevância econômica e ambiental e que há contínuo fortalecimento de um perfil mundial voltado à questão da responsabilidade socioambiental, o País posiciona-se em um contexto estratégico, no sentido de que as organizações brasileiras podem se destacar mundialmente de maneira positiva na geração de ambientes sustentáveis de produção e consumo. Nesse sentido, há destaque para organizações alicerçadas em atitudes concretas, que adotam não somente ideologias, mas que praticam roti neiramente as pautas mais atuais do desenvolvimento sustentável, como ecoeficiência e os 7'Rs. Para isso, elas aprimora m-se e se reposicionam, utilizando a tecnologia, a diversidade e os recursos sociais e ambientais do nosso País, garantindo credi- sidades das pessoas. Produtos ecoeficientes devem focar no uso consciente de rmatéria-prima renovável er-n processos produtivos que minirnizem a geração de resíduos, além disso, devem apresentar elevada produtividade sem deixar de lado a qualidade. Basicarnente, significa produzir corn rnenos. O conceito envolve a sociedade corno urn todo, urna vez que o governo deve incentivar esse tipo de produção (fornentando pesquisas, subsidiando e divulgando) e as ernpresas devem adaptar seus processos e procedirT1entos operacionais. sistema pode ser chan-uado de ecoeficiente se conseguir produzir de acordo corn oito elernentos fundarmentais: • Mininnizando o uso de Imateriais dos bens e serviços; • Minirnizando o uso de energia na produção de bens e serviços; • Minirnizando a dispersão de tóxicos; • Fomentando a reciclabilidade dos Imateriais; • Maximizando a utilização sustentável de recursos renováveis; • Estendendo a durabilidade dos produtos; • Prornovendo a educação dos consunnidores para urn uso rT1ais racional dos recursos naturais e energéticos. Algumas perguntas podem ser feitas pelos consumidores para analisar a ecoeficiência do produto: • Ele minimiza o uso de fontes energéticas e maximiza a utilização sustentável de recursos renováveis? • Ele utiliza em sua composição materiais tóxicos? • Ele descarta materiais tóxicos em seu processo produtivo? • Os materiais utilizados são recicláveis ou biodegradáveis? • O produto promove seu uso racional? • A marca adota a ideia de desenvolvimento sustentável? Os 7 R is são um conjunto de práticas de educação ambiental para garantir a mudança de hábitos em prol do desenvolvimento sustentável. A questão central é a de repensar costumes e hábitos, reduzindo o consumo e o desperdício. Os 7 R's são verbos que nos passam a sensação de ação. Observe a Figura 7. Repense seus hábitos, consuma o que é realmente necessário. Recuse produtos e serviços de origem insustentável, conheça a origem da matéria- prima. Reduza o lixo gerado e, assim, o gasto energético no processo. Repare seus produtos quebrados ern vez de comprar novos. Reintegre, por exemplo, corT'postando o lixo orgânico. Recicle o lixo, separe-o e leve para reciclagem. Se não pode reciclar, reutilize, dando funções novas e sustentáveis aos produtos. O foco está ern pensar que não existe jogar fora! Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestão No mundo globalizado, as empresas têm se mostrado respo nsáveis pelo direcionamento da economia dos países ou de conjuntos de países. Entretanto, por muitos anos, o setor empresarial viveu uma realidade própria, em geral, desvinculada das questões sociais e ecológicas. Os modelos de produção não estavam em sintonia com as necessidades sociais e ambientais. No passado, uma das maiores dificuldades para que as empresas adotassem a gestão ambiental se baseava em urna ideia distorcida de que o investimento em meio ambiente não atraía lucros, fazendo com que os custos fossem repassados aos consumidores, resultando no aumento dos preços (COMINI et al., 2013). Em um contexto de intensas discussões sobre moral, ética e justiça, diversos paradigmas vêm sendo quebrados. Se a situação vem mudando, os resultados positivos podem ser entendidos, em grande parte, como consequência da intensa atuação das políticas sociais e ambientais formuladas a partir de dados científicos e apoiadas pela população. A aderência aos pressu postos das ações de responsabilidade socioambiental também resulta da percepção de que, ao investir no compromisso voluntário de um futuro sustentável, está-se agindo coerentemente com o mercado que migra em direção ao desenvolvimento sustentável e ao contínuo aumento de sua rentabilidade. Atualmente, sabe-se que as empresas que adotam práticas de responsabilidade socioambiental possuem benefícios como: redução dos custos, valorização da marca, transparência nas atividades, mais fidelização de clientes, melhor comunicação externa, mel hor desem penho dos processos e dos empregados.A responsabilidade socioambiental empresarial se refere às ferramentas de gestão que analisam o cumprimento dos temas e que conduzem a empresa ao desenvolvimento sustentável. Empresas comprometidas com essa questão atendem a itens como: • TransfOrmação em desempenho positivo das leis, regulamentos e normas de adesão voluntária às quais está sujeita; • Conhecimento e promoção voluntária e proativa de ações de desenvolvimento sustentável regional, nacional e internacional; • Possíveis danos ao meio ambiente e os impactos sociais causados por seus produtos, processos e instalações são previamente identificados; • Conhecimento antecipado de treinamentos e planos de evacuação em casos de emergência ambiental; • Conhecimento dos métodos de resposta em casos de prevenção ou mitigação dos imoactos adversos: • Ciência. por parte da população local, do segmento da empresa e dos impactos, positivos e negativos, decorrentes da sua atuação na região; • Acessibilidade aos produtos e instalações. Paradigma econômico, social e ambiental As instituições públicas zelam pelo que é de interesse coletivo da população por meio de normas, valores e regras. As instituições particulares possuem caráter privado uma vez que guardam os interesses individuais. Apesar das distinções entre instituições públicas e privadas, o meio armbiente, pelo fornecimento de recursos, e a sociedade, por meio da sua força de trabalho, além de estarern intimarnente relacionados e possuírem caráter público, são as bases para a existência empresarial. Assim, pode-se dizer que as empresas se colocam corno instituições públicas com função social, pois lidam subjetiva e materialmente corn a sociedade e corn o meio ambiente, que são de extrema importância para a humanidade e pauta internacional. Consequentemente, espera-se que as empresas possuam uma postura compromissada, que deve se espelhar nas questões econômicas, sociais e ambientais. Desse modo, devem exercer suas atividades corn base nas três dimensões da sustentabilidade para que trabalhem erri equilíbrio com as questoes económicas, sociais e ambientais. Por muitos anos, na economia capitalista, a obtenção de lucro se mostrou um dos principais meios para se estirnar 0 sucesso empresarial. Decorre disso o fato de que, muitas vezes, as empresas se esquecem da ética e agem a partir de atos oportunistas. Os países se diferem quanto às leis sociais e ambientais que possuem, geralmente, refletindo seu grau de desenvolvimento. Um país em desenvolvimento pode se tornar menos atrativo para a permanência de empresas devido às leis sociais, fiscais ou ambientais que venham a promulgar. Diversas vezes é possível constatar que agir de acordo com o que as leis preconizam pode não ser suficiente para atender às expectativas da sociedade em relação às empresas. As relações entre países e instituições públicas e privadas devem ser fortalecidas para garantir a tra nsparência das atividades empresariais. Diversas são as partes interessadas (stakeholders) que afétam e são afetadas, influenciam e são influenciadas pelas empresas e que, muitas vezes, possuem interesses conflitantes entre si e em relação à empresa (Diagrama 1). É importante entender que buscar o melhor para si não resulta em atingir o melhor para todos, então, as partes interessadas devem atuar de modo que se equilibrem, considerando os três pilares da sustentabilidade. Atualmente, sabe-se a importância do desenvolvimento sustentável para garantir melhor qualidade de vida para a população e urm futuro sustentável para as gerações seguintes. A atuação empresarial, nesse contexto, deve agir ativamente e em articulação com projetos que evitem a crise social e ética de paradigmas econômicos, sociais e ambientais. Segundo Carroll (1979), a responsabilidade social das empresas compreende as expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade tem em relação às organizações em um determinado período. Uma empresa responsável socioambientalmente deve ter como objetivo o desenvolvimento sustentável e, por meio dele, exercer, em suas relações internas e externas, o cumprimento das questões legais e o posicionamento ético de modo integrado, considerando todas as expectativas das partes interessadas. Sempre haverá dificuldades para implantar as práticas de responsabilidade socioarnbiental, já que envolvem uma diversidade de questões que se traduzem em direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos, internos e externos à empresa (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2016). Todavia, no Brasil, a Constituição Federal definiu que as empresas devem observar os seguintes princípios: • Soberania nacional; • Propriedade privada; • Função social da propriedade; • Livre concorrência; • Defesa do consumidor; • Defesa do meio ambiente; • Redução das desigualdades regionais e sociais; • Busca do pleno emprego; • Tratamento favorecido para empresas de pequeno porte que tenham sua sede e administração no País. Desse modo, a Constituição Federal brasileira traz à tona a ideia de desenvolvimento sustentável, colocando-o corno urna das razões para a limitação da atuação de urna empresa quando ameaça o uso racional dos recursos. Ernpresas sustentáveis não esperam que leis sejam elaboradas pelos países, e sim pensam globalmente e agern localmente, adotando as três dimensões da sustentabilidade er-n suas atividades (Diagrarna 2). Essas três dimensoes abrangem a sustentabilidade social e arnbiental, mas também abarca questões de: Empresa sustentável • Sustentabilidade espacial: referente a urna configuração rural-urbana equilibrada, que avalia soluções para os assentamentos humanos; • Sustentabilidade cultural: referente ao respeito pela pluralidade apropriada à cultura local; • Sustentabilidade política: ressalta a necessidade de processos democráticos consolidados; • Sustentabilidade institucional: relacionada O triple bottom line (resultado triplo) é um modelo de gestão empresarial criado a partir das dimensões da sustentabilidade, e possui como pressuposto básico que a responsabilidade social das empresas deve contribuir para a superação das crises socioambientais. Esse modelo propõe uma abordagem em que todas as formas de capital sejam favorecidas ao longo do tempo por meio de uma gestão econômica, social e ambiental responsável. No modelo tradicional, as empresas obtêm aumento de valor de mercado com geração de lucro líquido e consequente aumento da riqueza dos acionistas. Na esfera econômica do tripé da sustentabilidade. as empresas também obtêm desempenho financeiro positivo, mas consideram os custos sociais e ambientais envolvidos em seus processos. Na esfera social, o capital social que estão construindo deve ser considerado e seu conhecimento vislumbrado como fator de competitividade. Na esfera ambiental, o diferencial desse modelo está na obtenção de lucro líquido ambiental por meio da adoção do conceito de capital natural baseado no modo como a empresa lida com a manutenção dos recursos naturais e os serviços ambientais. A partir do modelo triple bottom line, desenvolveram-se os 3 Ps — profit, people e planet (lucro, pessoas e planeta), cuja aplicação está restrita às empresas, à medida que se associa a dimensão economica ao lucro, conforme ilustra a A sobrevivência e o sucesso de uma organização estão diretamente relacionados à sua capacidade de atender às necessidades e expectativas dos proprietários, dos clientes e da sociedade. De acordo com a ABNT (2012), uma vez que as decisões e atividades têm impacto ambiental, ações entre organizações públicas ou privadas e o meio ambiente devem atuar no sentido de reduzi-los, sendo conveniente que a organização adote urma abordagem integrada que considere as implicações econômicas, sociais, na saúde e no meio ambiente de suas decisões e atividades, direta e indiretamente. Muito se tem trabalhado ao longo das últimas décadas para garantir que as práticas de responsabilidade socioambientalsejam exercidas pelas empresas e para que estejam alinhadas ao conceito de desenvolvimento sustentável. As práticas de responsabilidade socioambiental reestruturam a cultura organizacional das empresas, influenciando as diversas instâncias da gestão presarial, tais como: a gestão financeira, o marketing, a produção, a gestão de pessoas, a logística e o desenvolvimento de produtos. Desse modo, é importante entender melhor os indicadores, certificaçoes, tecnologias e instrumentos de gestão que podem ser adota dos pelas empresas er-n busca de urn desempenho ambiental eficiente. O ciclo PDCA (plan, do, check, act, ou seja, planejar, fazer, verificar e agir) busca a melhoria contínua dos processos das organizações (Diagrama 3). Questões sobre corno adotar novos ou como fazer a melhoria de processos já existentes buscando Esse ciclo garante dois tipos de ações corretivas: • Ação corretiva temporária: busca a resolução do problerna já instaurado; • Ação corretiva permanente: consiste na investigação e eliminação das causas e, portanto, visa a sustentabilidade do processo. A ideia do ciclo PDCA é realizar o planejamento, estabelecendo claramente os objetivos e as metas para que as ações sejam programadas com embasamento. Além disso, descreve os processos que envolvem o problema para entendê-lo e para identificar as áreas para melhorias. Para isso, a utilização de fluxogramas e mapas dos processos é importante. Muitas ferramentas estão disponíveis para coletar e interpretar dados, como histogramas, gráficos de execução, de dispersão e de controle. Compreendido o cená rio atuai, deve-se irnplementar o prograrna estabelecido, promovendo a organização e o treinamento de fun cionários elou parceiros. As soluções decididas devem ser implementadas individualmente. E importante que os responsáveis se certifiquem de que todas as etapas foram totalmente compreendidas. A fase de verificação é caracterizada por uma aprendizagem significativa. Há a oportunidade de desenvolver planos atual izados, elevando o processo a novos patamares, em vez de simplesmente consertar o que deu errado na fase anterior. Se os resultados forem negativos, o trabalho de melhoria deve recomeçar na fase de planejamento, pois, caso contrário, as soluções testadas passam para a fase de ação. A verificação deve ser feita continuamente pelo monitoramento e elaboração de relatórios que evidenciem com clareza os resultados alcançados. A atuação deve promover a melhoria contínua. Uma vez que o ciclo atingiu essa etapa, as soluções são preparadas para implementação final e, possivelmente, para adoção por outros setores da organização. Nessa etapa, deve-se adotar normas e certificações para reconhecimento nacional e internacional das melhorias realizadas, e, para manter a melhoria, é preciso repetir o ciclo continuamente. A obtenção de certificados pelo atendimento de padrões técnicos sobre produtos, processos produtivos, métodos e ensaios é um grande diferencial para as presas. Em alguns casos, a norma que fórnece o certificado é tão importante que se torna urna lei. Criada ern 1947 e mais conhecida por sua sigla ISO, a principal organização de normalização é a International Organization for Standardization. Fontes de orientação estratégica Norma 26000 O objetivo da ISO é desenvolver padrões e atividades para facilitar as trocas de bens e serviços no mercado internacional e promover a cooperação entre os países nas esferas científicas, tecnológicas e produtivas (BARBIERI; CAJAZEI RA, 2016). As norrnas de gestão da ISO se aplicam a qualquer organização, pois não são norrnas de conteúdo, mas de procedimentos que podem se adequar ao segrnento da ernpresa que a adota. Todas elas adotar-n o ciclo PDCA para melhoria contínua dos processos. A certificação requer auditorias periódicas de avaliação. A ISO possui normas adotadas mundialmente, entre as mais importantes estão as séries ISO 9000, de gestão da qualidade, e a ISO 14000, sobre sistemas de gestão ambiental. A norma ISO 26000 foi desenvolvida para organizações que querem adotar um sistema de gestão focado em responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Por fazer uso de termos como "pode" ou "convém que" em seu texto, pode-se dizer que é uma norma-guia não certificável que busca, por meio de suas diretrizes, mais fazer indicações e recomendações do que exigir ou tornar algo obrigatório. A norma ISO 26000 aborda sete temas centrais voltados para a responsabilidade social das organizações: • Governança organizacional; • Direitos humanos; • Práticas de trabalho; • Meio ambiente; • Práticas leais de operação; • Questões relativas aos consumidores; • Envolvimento e desenvolvimento da comunidade. Essa norma elenca princípios específicos associados ao meio ambiente, que discutem quatro questões centrais definidas por uma descrição de expectativas relacionadas ao desenvolvimento sustentável, sendo eles: • Princípio da responsabilidade ambiental: além de cumprir leis vigentes, convém que a organização assuma a responsabilidade pelos impactos ambientais causados por suas atividades ao meio ambiente em geral: convém que não deixe de atuar em busca de desempenho positivo, mas que, para isso, reconheça seus limites ecológicos; • Princípio da precaução: onde houver ameaças de danos graves ou irreversíveis ao meio ambiente ou à saúde humana, convém que não se utilize da falta de certeza científica para postergar o uso de medidas eficazes que impeçam a degradação ambiental ou danos à saúde humana em função dos custos. Convém que a organização considere os custos e benefícios de longo prazo e não somente os custos de curto prazo de uma medida; • Gestão de risco ambiental: convém que programas sejam utilizados pelas organizações a partir de uma perspectiva baseada em riscos e na sustentabilidade, para avaliar, evitar, reduzir e mitigar riscos e impactos ambientais de suas atividades. Convém que sejam elaboradas e aplicadas atividades de conscientização, além de procedimentos de resposta a emergências, bem corno meios de divulgar informações sobre incidentes ambientais e para reduzir e mitigar impactos ambientais na saúde e na segurança, causados por acidentes; • Poluidor pagador: de acordo com a extensão do impacto ambiental na sociedade, convém que a organização arque com os custos da poluição causada por suas atividades e providencie as ações corretivas, totalmente ou à medida que a poluição se adeque aos níveis permitidos. O custo da poluição e a quantificação dos benefícios econômicos e ambientais da prevenção devem ser internalizados pelas organizações. Desse modo, as empresas devem considerar o emprego da gestão ambiental seguindo abordagens estratégicas, como: ciclo de vida de produtos, avaliação de impacto ambiental, produção mais limpa e ecoeficiência, abordagem por sistemas de produto-serviço, uso de tecnologias e práticas ambientalmente saudáveis, práticas de compras sustentáveis (priorizar produtos ou serviços com impactos minimizados e fazer uso de sistemas de rotulagem confiáveis) e aprendiŽagem e conscientização. O Quadro 2 destaca as principais questões abordadas pela ISO 26000. Se a organização elaborou e mantém um sistema de gestão ambiental seguindo os requisitos da norma ISO 14001, deve haver grandes chances dos princípios da norma ISO 26000 terem sido atendidos, principalmente o princípio da gestão do risco ambiental. A série ISO 14001 possui normas de gestão ambiental que permitem que a empresa pratique ideias de mitigação dos possíveis danos ambientais decorrentes de sua atividader objetivando se tornar sustentável no curto e no longo prazo. A norma ISO 14001 estabelece práticas de responsabilidade ambiental, como: • Implementação de um sistema de gestão ambiental; • Rotulagem ambiental; • Análise de desempenho ambiental; • Análise de ciclo de vida; • Integração de aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de produtos; • Comunicação ambiental; • Mitigaçãodas mudanças climáticas. Indicadores e índices de sustentabilidade Os indicadores e índices podem ser usados para avaliar o desempenho em relação aos objetivos do desenvolvimento sustentável e compará-lo entre cidadest países, blocos econômicos e organizações públicas e privadas; estimam se as instituições estão crescendo econômica e ambientalmente de acordo corm o objetivo proposto. Os indicadores são compostos por parâmetros ou valores, analisados em grupos ou isoladamente a partir de estratégias de gestão definidas antecipadamente. A partir dos indicadores são avaliadas as condições do sistema de gestão e se a estratégia adotada previamente está gerando resultados. Desse modo, são Importantes por Informarem as partes Interessadas sobre o desempenho positivo ou negativo ern urna determinada questão. Nesse sentido, indicadores que avaliam os resultados das ações de responsabilidade socioambiental empresarial capturam e antecipam tendências para informar os tomadores de decisao, assim conno orientam o desenvolvimento e o monitorarnento de políticas e estratégias. Os indicadores do desenvolvirnento sustentável (ind icadores de sustentabilidade) infOrmam se o desempenho da empresa está ocorrendo em harmonia corn o meio ambiente e têm papel importante no monitoramento, na avaliação e na efetivação do desenvolvimento sustentável. Os indicadores de sustentabilidade analisam se o impacto ambiental gerado por urna empresa permite que o planeta seja resiliente. Os indicadores ambientais devem ser: • Con•mparáveis: devem permitir compa rações e mostrar as mudanças ocorridas; • Equilibrados: devem distinguir o mau e o bom desempenho; • Contínuos: devem ser formulados a partir de critérios sirnilares e considerar períodos comparáveis; • Temporais: devem ser revistos regularmente para permitir o uso de medidas atualizadas; • Claros: devem ser de fácil compreensão. Os indicadores de desenvolvimento sustentável do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são exemplos importantes para mostrar o grau de desenvolvimento sustentável no Brasil. O IBGE analisa indicadores de sustentabilidade considerando as três dimensões da sustentabilidade, dos quais destacam- se: • Concentrações de poluentes no ar e em áreas urbanas; • Queimadas e incêndios florestais; • População residente em áreas costeiras; • Acesso a tratarnento de esgoto; • Espécies extintas ou em risco; • Crescimento populacional; • Mortalidade infantil; • Consumo de energia per capita. DICA No Brasil, a construção de indicadores de desenvolvimento sustentável se integra ao conjunto de esforços para concretização das ideias e princípios formulados na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992. É importante conhecer as diversas informações sobre como estamos trabalhando rumo ao desenvolvimento sustentável. O documento é interativo e de acesso gratuito. Para a formulação de indicadores de desenvolvimento sustentável empresarial, pode-se citar os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis, criados pelo Instituto Ethos. A ferramenta elabora indicadores a partir de um questionário e tem como foco avaliar o grau de incorporação da sustentabilidade e da responsabilidade social aos negócios, auxiliando na definição de estratégias, políticas e processos. Trata-se de uma ferramenta gratuita de aprendizagem, avaliação e monitoramento das ações de responsabilidade socioambiental, estruturada em temas e subtemas com um questionário agrupado em dimensões baseadas na norma ISO 26000. Os indicadores são diferentes dos índices. Os índices são feitos da junção de um conjunto de indicadores e são instrumentos de tomada de decisão e previsão, pois permitem conhecer o endividamento e os riscos associados para os investimento e funcionam como um retrato das condições da empresa, refletindo sua saúde econômica, social e ambiental. Como exemplo, pode-se citar o Indice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), que é uma ferramenta de análise comparativa do desempenho das ações de sustentabilidade das empresas constantes nas listas da B3 (Brasil Bolsa Balcão) sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. O ISE B3 está fundamentado na eficiência econômica e na equidade ambiental, além de possuir transparência em seus processos, uma vez que também possui fundamentos na governança coorporativa e na promoção da justiça social. Atualmente, o ISE B3 se caracteriza como um norteador para os fundos de investimento e valoriza as empresas de capital aberto ao lidar com uma questão tão demandada pela sociedade atual. DICA Entenda o que é, conheça sua missão, fundamentos, objetivos estratégicos e a versão atual do Questionário ISE B3. Muitas empresas prestadoras de serviços estratégicos fazem a análise dos índices de sustentabilidade por meio de softwares de gestão de indicadores ambientais, por plataformas de análise de vulnerabilidade e licenciamento ambiental, auxiliando na adoção de programas e selos ambientais. Infelizmente, na maioria das vezes, tais serviços estão disponíveis somente para empresas de grande porte devido ao seu alto custo. Tecnologias resultantes da gestão ambiental A adoção de práticas de responsabilidade socioambiental nas estratégias de gestão empresarial tem permitido, se não exigido, o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, tanto na produção de bens quanto na prevenção de impactos negativos ao meio ambiente. Tais tecnologias estão disponíveis em diversos segmentos empresariais e, em geral, são resultado de demandas dos clientes. Pode-se afirmar que, na atualidade, para ser considerado urn bom processo ou produto não basta ser eficiente industrialmente, também há a necessidade de ser eficiente ambientalmente. Tecnologias industriais que resultam na redução do consumo de água ou da queima de biomassa, que reduzam a geração de resíduos ou que aumentem a eficiência dos processos de tratamento de efluentes, bem como que resultam em produtos com menor utilização de elementos tóxicos ou de fontes não renováveis têm sido foco dos setores de pesquisa e desenvolvimento de empresas e de instituições de pesquisa, pois trazem benefícios econômicos e ambientais. O marketing ambiental ou marketing verde é uma estratégia adotada para promover a divulgação e aumentar as vendas de produtos e serviços que tenham bases ambientalmente corretas. Por meio dele é possível vincular uma marca, produto ou serviço a imagem ecologicamente correta. Os produtos e serviços passíveis do marketing ambiental devem ser resultado de um impacto ambiental mínimo, tanto ao se considerar os elementos que compõem o produto quanto os que estão relacionados ao seu processo produtivo. Diante da crescente demanda por práticas de sustentabilidade, o marketing ambiental pode trazer às empresas vantagens competitivas, o recrutamento de novos clientes e a garantia de sua sobrevivência no mercado. Existem quatro pilares elaborados para que as empresas possam aplicar o marketing ambiental em seus produtos ou serviços de modo sustentável: • Ser ecologicamente correto; • Ser economicamente viável; • Ser socialmente justo; • Ser culturalmente aceito. Tendências mundiais sobre o perfil do consumidor Na maioria dos países, a preocupação com o meio ambiente cresceu. Questoes sobre o uso de fontes de energia renováveis, sobre o desmatamento, as mudanças climáticas e a poluição atmosférica são apontadas como os maiores problemas ambientais da atualidade. Os consumidores, de modo geral, consideram importante comprar produtos e serviços de empresas que respeitam o meio ambiente, mas quando são questionadas sobre o que é importante para decidir consumir de uma empresa, preocupações básicas relacionadas a custo-benefício são listadas antes de questões sobre responsabilidade socioambiental e produtos ambientalmente corretos. Preçobom, qualidade, confiabilidade e atendimento ao cliente estão entre os atributos empresariais mais importantes entre os consumidores. Essas respostas indicam que, de acordo com o posicionamento dos clientes, as empresas não devem sacrificar os funda mentos da marca para as questões ambientais, entretanto, devem manter um equilíbrio entre os atributos desejados e o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Em geral, consumidores estão dispostos a comprar mais produtos ambientalmente corretos e a pagar até 10% a mais para produtos ecológicos, mas muitos relatam problemas que prejudicam a compra, como a rotulagem confusa ou não confiável, preço muito discrepante em comparação aos produtos não verdes, falta de disponibilidade e pouca variedade. Os consumidores de produtos arnbientalmente corretos procurar-n produtos que usenn menos embalagens plásticas, e sim biodegradáveis ou recicláveis; além disso, apoiam-se nas informaçoes presentes nas embalagens e er-n certificações para decidir sobre qual produto comprar. Iniciativas de marketing ambiental É necessário que as empresas realizem a divulgação de ações de marketing ambiental aos seus clientes somente depois de realmente adotarem uma postura ambientalmente correta em sua cultura organizacional, por meio de ações de responsabilidade socioambiental. Para fazer propagandas sobre essa postura ambientalmente correta, as pequenas e grandes empresas podem: • Adotar os 3 RS da sustentabilidade: red uzir, reutilizar e reciclar; • Incorporar os 4 Ss: aceitação social, satisfação do consumidor, segurança e sustentabilidade; • Usar selos verdes (certificação ambiental) para legitimar o posicionamento da empresa; • Participar de programas de promoção dos três pilares da sustentabilidade; • Escolher fornecedores e parceiros ecologicamente corretos. Empresas conhecidas no mundo todo têm adotado iniciativas ambientais e divulgado suas ações em todos os meios de comunicação disponíveis, sendo exemplos de destaque: • Microsoft:já foi eleita a empresa mais sustentável do mundo. Desenvolveu, por exemplo, um sistema de inteligência artificial para combater o aquecimento global; Marketing ambiental • Coca-cola: em 2012, mudou a cor das latas e rótulos para conscientizar a sociedade sobre a necessidade proteção dos ursos polares, um dos personagens símbolos da marca; • Nike: criou o Making App para inspirar designers de moda a trabalhar com materiais ecológicos a par• tir de seus produtos; • Toyota: desenvolveu o Prius, o primeiro veículo híbrido do mundo. A criação de grupos de trabalho pode auxiliar na construção de urna importa nte ferrarnenta de coordenação e efetivação das práti cas de responsabilidade socioambiental, ao possibilitarem a construção compartilhada de projetos de cooperação, articulação e promoção do desenvolvirmento sustentável, que dão direção cornun-l e estratégica às questões econômicas, sociais e ambientais. Tais ferramentas são os meios para superar as hierarquias institucionais e as relações de poder entre setores, políticas e segmentos sociais. Dentro dos pressupostos do desenvolvimento sustentável de propor, estimular, promover e monitorar as ações de responsabilidade socioambiental e a rminirnização dos irnpactos negativos sociais e ambientais, a adoção destas ferramentas acabará por: • Estimular discussões sobre responsabilidade socioambiental nas organizações e divulgar legislações e normas; • Potencializar o resultado de ações de capacitação; • Construir e organizar con hecimento e objetivos de aprendizagem; • Propiciar o uso racional de matéria-prima, equipamento, força de trabalho, imóveis, infraestrutura e contratos; • Aperfeiçoar o uso de recursos orçamentários; • Aumentar as colaborações entre as instituições de ensino e pesquisa e as organizações públicas e privadas; • Realizar o intercâmbio de experiências entre os signatários. A construção de espaços para comunicação e troca de experiências permite o estabelecimento de conceitos, objetivos e direçöes comuns, propiciando condições para o planejamento participativo de ações que exijam contribuições de diferentes setores. Apesar de ser uma importante estratégia na busca pelo desenvolvimento sUstentável, o diálogo intersetorial não é simples. Ao praticá-lo será preciso lidar com diferentes pontos de vista e culturas organizacionais para a tomada de decisão e para encontrar a solução de problemas. O trabalho cooperado e intersetorial é um instrumento relevante para a operacionalização do conceito e de ações de responsabilidade socioambientalr com base nos pressupostos teóricos e metodológicos da promoção da sustentabilidade. Atualmente, a promoção da cooperação e da articulação intersetorial pode ser considerada componente central das políticas de responsabilidade socioambiental. Elas objetivam a mudança de postura e a quebra de paradigmas, representando uma nova forma de gerenciamento que transcende a fragmentação das políticas públicas e promove a gestão participativa. O sistema cooperativista e a responsabilidade socioambiental Podemos estabelecer algumas conexões entre a gestão das cooperativas e as ações de responsabilidade socioambiental, seguindo o conceito dos três pilares da sustentabilidade. O (l) contexto econômico permite a dinamização da economia em micro e macroescala, seja por meio da interação com o mercado, ou pela política equitativa distribuição de renda baseada na produção do coope rado. O (II) contexto social das cooperativas propicia a distribuição regional da renda em termos equitativos, levando em consideração a geração de emprego e desenvolvimento de pequenas localidades, o que permite a distribuição do capital financeiro regionalmente e homogeneamente. O (l II) contexto ambiental fundamenta-se na ideia de que as bases cooperativistas estruturam-se considerando o estabelecimento de relações de equilíbrio com o meio ambiente. O conceito de unidade e trabalho em equipe das cooperativas permeiam as ideias de parceria, cooperação e colaboração de trabalho. O cooperativismo está apoiado em cinco valores, sendo eles: equidade, solidariedade, justiça social, liberdade e democracia (CHAVES et al., 2009). Ao preo cupar-se com o bem-estar social, o cooperativismo contempla ações de gestão voltadas para a responsabilidade socioambiental. Nesse sentido, responsabilidasociais e ambientais, atuam em prol de uma sociedade mais justa hoje e no futuro. A atuação responsável socioambientalmente nas comunidades não é algo novo para as cooperativas, na realidade, elas foram criadas com o objetivo de resolver reclamações e problemas comuns de um grupo de pessoas. Assim, sempre estiveram fundamentadas na comunidade que as criou. Pode-se dizer que a responsabilidade socioambiental compõe a essência do cooperativismo. Analisando os princípios cooperativistas, ficam claras as relações entre cooperativismo e responsabilidade socioambiental: • Adesão livre: as cooperativas SEO organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como cooperadas, sem discriminações sociais, raciais, políticasr rel giosas ou de género; • Gestão democrática livre: as cooperat vvas são organizações democráticas, controladas por seus cooperados, que participam ativamente na formulação das suas porticas e nas tomadas de decisões: • Distribuição dos lucros: os cooperados contribuem equitativamente e controlar-n dernocraticamente o capital de suas cooperativas; • Autonomia e independência: as cooperativas são organizações autônornas, de ajuda mútua, controladas pelos cooperados; • Promoção da educação, formação dos 'Tlembros e aprimoramento social: as cooperativas promovem a educação e a formação cie seus cooperados, dos representantes eleitos, dos gerentes e de seus funcionários, de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento da cooperativa; • Promoção do capital social: as cooperativastrabalham para o desenvolvimento sustentado das suas cor-nunidades, através de políticas aprovadas pelos cooperados; • Cooperaçao entre as cooperativas: para as cooperativas prestarem rmelhores serviços a seus cooperados e agregarem força Cooperlínea Caisp O cooperativismo é gerido pela vontade coletiva e concretizado após a conivência de todos os sócios cooperados. Ainda assim, as cooperativas necessitam de uma gestão flexível para que possam se adaptar às tendências e exigências do mercado globalizado, sem deixar de conservar seus valores e princípios como organização social. Os cooperados possuem responsabilidades perante a sociedade, a comunidade e, principalmente, os próprios cooperados. Quando adequadamente implementada, a cooperativa pode melhorar a imagem da organização e consolidar uma identidade organizacional positiva economicamente. socialmente e ambientalmente. Cooperativa fundada em 1963. no Paraná, fornece assistência técnica e implementos agrícolas aos seus associados, comercializa aves e produtos agrícolas nos mercados nacional e internacional, fabrica rações e desenvolve pesquisas económicas. Como exemplo de açäo de responsabilidade socioambiental, desenvolveu Copacol diversos programas, entre eles estão os programas Volta às Aulas e Programa de Profissionalização do Produtor Rural, destinados a aumentar a autoestima dos funcionários, associados e pessoas da comunidade que não puderam concluir o Ensino Fundamental. Foi a primeira empresa do setor agroindustrial do País a aderir aos Objetjvos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Cooperativa fundada em 2003, em São Paulo, tem como Objetivo a reciclagem. a separação, a destinação correta e a venda dos resíduos orgânicos e inorgânicos. Além disso. presta serviços. ministra palestras de conscientização e educação ambiental, de normatização e de cooperativismo ambiental. Conquistou, em 2004, a Certificação de Responsabilidade Social ISO 14001. A educação ambiental está presente na Constituição Federal, em seu artigo 225, inciso VI, que estabelece que promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente é dever do Estado e de todos. Sobre educação ambiental entendem-se os processos por meio dos quais o indivíduo coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, at'tudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sUstentabi idade (BRASIL, 2018, p. 43). Tal conceito n faz refletir sobre o fato de que a ed u cação a rnbiental r-mac::) exclui o desenvolvirnento. r-nas o reali— za levando consideração a capaci— dade de resiliência do planeta- Poder-nos inferir que a educaçao a abarca o dire ito jurídico, pois é instru de efetivação do direito e cia necessidade dos seres h u— ao desenvolvir-nernto ar-nbiental equilibrado, içao indispensável à dignidade de vida das gerações vivem— tes e das futuras- Sornem te inter— r-nédio da e ducaçao. a h urnar-vidade será c aŒDaz de cor-npreencier- a relevân— cia das questões ar-nbientais e sua in— ter-relação com o meio ambiente. As discussões sobre educação ambiental remetem a um antigo e amplo histórico nacional e internacional. Durante a Rio-92, um evento realizado no Rio de Janeiro que foi marco das discussões sobre meio ambiente, foi elaborado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Nele, foram estabelecidos princípios, diretrizes e planos de ação fundamentais para a promoção da educação para as sociedades sustentáveis. Eles enfatizaram a importância do pensamento e das atitudes críticas, coletivas e solidárias, da interdisciplinaridade, da multiplicidade e da valorização da diversidade. No Quadro 5, vamos conhecer os dezesseis princípios da educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade global. Dezesseis princípios da educação para sociedades sustentáveis e responsabilidade global 1. A educação é um direito de todos; 2. A educação ambiental deve ter base o pensannento crítico e inovador. prornovendo a transformação e a construção da sociedade; 3. A educaçä0 ambiental tern o propósito de forn•ar cidadãos com consciência local e planetária, que respeiter-n a autodeterrninaçäo dos povos e a soberania das nações; 4. A educação ambiental não é neutra. e sim ideológica. constituindo-se como ato político; 5. A educação arnbiental deve envolver urna perspectiva holística, com enfoque interdisciplinar na relação entre ser humano, natureza e universo; 6. A educaçäo ambiental deve estimular a solidariedade. a igualdade e o respeito aos direitos humanos; 7. A educaçäo annbiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-relaçöes em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico; 8. A educação ambiental deve facilitar a cooperação mútua e equitativa nos processos de decisão, enn todos os níveis e etapas; 9. A educação ambiental deve recuperar. reconhecer. respeitar. refletir e utilizar a história indígena e culturas locais. assim corno promover a diversidade cultural. linguística e ecológica; IO. A educação armbiental deve estimular e potencializar o poder das diversas populações, promovendo oportunidades para as mudanças democráticas de base. que estimulem os setores populares da sociedade. Isto implica que as comunidades dever-n retomar a condução I I. A educação ambiental valoriza as diferentes formas de conhecirnento; 12. A educação arribiental deve ser planejada para capacitar as pessoas para trabalharern conflitos de forrna justa e hurnana: 13. A educação arnbiental deve promover a cooperação e o diálogo entre indivíduos e instituições. visando criar novos modos de vida que atendam às necessidades básicas de todos: 14. A educação requer a dermocratização dos rneios de em 'massa. que devem se comprometer com o interesse de toda a sociedade; IS. A educação ambiental deve integrar conhecimentos. aptidões. valores. atitudes e ações; 16. A educação ambiental deve contribuir para o desenvolvirnento de uma consciência ética sobre todas as formas de vida, com as quais compartilhamos este planeta, respeitando seus ciclos vitais e irnpondo lirnites à exploração das demais forrnas de vida pelos hurnanos. Fonte: BRASIL. [s.d.lc. A partir daí, diversos programas foram emoldurados na busca do desenvolvirnento de urna sociedade que compreenda a importância do meio ambiente. Não obstante, quando se trata dos meios para a implementação da educação ambiental, é possível identificar uma grande diversidade de concepções. Existem diversas correntes sobre a concepção de meio ambiente que se enca ixam em diferentes perspectivas teóricas. Porém, é importante que, ape sar das diferenças, se mantenha o foco na problemática do assunto e na busca por soluções condizentes com a realidade e a aplicabilidade dos grupos socia is. Existem quinze correntes de educação ambiental divididas em dois grupos, que apresentam urna pluralidade de proposições inerentes a cada contexto (Quadro 6). Todas possuem em comum a preocupação com o meio ambiente e o reconhecimento da importância da educação para promover o equilibro ambiental. QUADRO 6. CORRENTES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Grupo Corrente Enfoque Tradicional Centrada nas relações com a natureza. Naturalista Objetiva a reconstrução da ligação entre os seres humanos e a natureza. Desenvolver urna abordagern sistêrnica para a Científica Associar o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades à solução dos problemas arnbientais. Considera as conexões entre natureza. sociedade Humanista e processos históricos. Enfatiza o desenvolvimento ambiental a partir Moral 'ética do cognitivo. afetivo e rnoral- Sistêmica cornpreensão das realidades arnbientais. Cunho analítico e racional das realidades e dos Holística problemias arnbientais atuais. Aderem à concepção de"pensar global e agir Bio r regionalista 21. local" da Agenda Práxica Aprender para a açäo e pela açäo. Crítica social Reesta belecirnento de relações harrnô nicas corn Feminista a natureza no que tange às práticas de dominação masculina. Prática de educação ambiental de acordo corn a Etnográ fica realidade cultural de cada grupo. Todas as correntes citadas possuem em comum a preocupação com o meio ambiente e o reconhecimento da importância da educação para promover o equilibro ambiental. Independentemente da corrente, a educação ambiental deve promover um ambiente de transformação individual e coletiva das atuações humanas que causam a crise socioambiental. O objetivo é que, por meio da educação ambiental, entenda-se que o arnbiente pode ser utilizado para benefício econômico e social da humanidade, desde que ela seja capaz de usufruir dos recursos naturais sem causar impactos negativos significantes (ALENCASTRO; SOUZA-LIMA, 2015). Até aqui a educação ambiental foi abordada como meio de promover o desenvolvimento a partir de um viés ambiental. Discutimos seus conceitos, sua importância e suas diversas correntes. Agora, vamos conhecer um pouco sobre as políticas, os programas, as açöes e os projetos governamentais que estão em vigor no Brasil e são voltados para essa pauta. No Brasil, existe a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) que é coordenada por um órgão gestor que atua em articulação com o Ministério da Educação e o Ministério do Meio Ambiente. O PNEA subsidia e qualifica ações capazes de promover a educação ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino, seja em caráter formal ou não formal. A partir das políticas do PNEA, foi lançado o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), em 2003. O ProNEA apresenta diretrizes, princípios, visão, missão, objetivos, público e linhas de ação que orientam a educação ambiental no Brasil, assegurando, de forma integrada e articulada, o estímulo aos processos de mobilização, formação, participação e controle social das políticas públicas ambientais. Como podemos observar, o Pro NEA atua em articulação intersetorial com as demais políticas federais, estaduais e municipais, incluindo IBAMA, SISNAMA, PNUMA etc. A missão do ProNEA é: promover educação que contribua para um projeto de sociedade que integre os saberes nas dimensões ambiental, ética, cultura , espiritual, sociáIÃ)0 itiCá e económica, mpulsionando a dignidade, o cuidado, o bem viver e a valoração de toda forma de vida no planeta (BRASIL, 2018, p. 26). o ProNEA tem como eixo orientador a perspectiva da sustentabilidade com base no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e define como diretrizes do programa: o Transversalidade, transdisc w plinaridade e complexidade; o Descentralização e articulação espacial e instituciona , com base na perspectiva territorial; o Sustentabilidade soc'oambiental; o Democracia, mobil'zaçäo e part'cipaçao socia ; o Aperfeiçoamento e Fortalecimento dos Sstemas de Educação (formal, não fOrrnal e informa ), Meio Ambiente e outros que tenham interface com a educação ambiental; o Planejamento e atuação integrada entre os diversos atores no território (BRASIL, 2018, p, 23), A partir do ProNEA o governo vem desenvolvendo diversas linhas de açöes estratégicas, como as observadas no Quadro 7. QUADRO 7. LINHAS DE AÇöES ESTRATÉGICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PRONEA Recentem Analisa as dinârnicas sociais de base observadas nas arnbientais. Reúne vídeos com conteúdo socioambiental para serem exibidos em todo território nacional e em algumas localidades fora do país. Promove o incentivo à implantação de espaços socioambientais para atuarem como potenciais centros de informação e formação ambiental. É uma ferramenta digital que tem o objetivo de divulgar açôes que ajudem a enfrentar os desafios da implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Concurso de Redaçäo da copa verde É uma iniciativa que busca levar o futebol até as regiões pouco exploradas pelas grandes competições, aliando aos eventos o conceito de sustentabilidade. Iniciamos mais uma etapa para juntos pensar a questão ética nas relações humanas. Em nosso debate e apendizado teremos muitos temas para abordar; como: diversidade cultural, étnica e religiosa e de gênero; bem como debater as questões éticas e as relações com os princípios de cidadania na sociedade tecnológica; distinguir e conhecer questões vinculadas ao debate sobre intolerância, racismo e xenofobia; como também demostrar a importância do ensino da ética nas instituições. Falamos tanto em considerar o bem comum, em construir uma cidadania de liberdade e respeito ao outro e, agora, chegamos ao momento de saber se estamos entendendo sobre como estão e como devemos considerar as relações humanas do ponto de vista moral. Será que ser de uma religião ou cultura diferente nos faz tratar nossos vizinhos, parentes e amigos de forma hostil ou segregadora? Vamos estudar e conhecer mais estas realidades, como também entender nossa origem, nossas raízes históricas, e apostar no conceito de ética que nos trouxe até aqui. Agora vamos entender as raízes de nosso povo! Somos miscigenados! E esse fato ocorreu em razão da mistura de diversos grupos humanos que aconteceu no país antes e, principalmente depois da coIonização. São inúmeras as raças que favoreceram a fOrmação do povo brasileiro. Segundo Freitas (2021), os principais grupos foram os povos indígenas, africanos, imigrantes europeus e asiáticos. • Povos indígenas: antes do descobrimento do Brasil, o território já era habitado por povos nativos, nesse caso, os índios. Existem diversos grupos indígenas no país, entre os principais estão: Karajá, Bororo, Kaigang e Yanomani. No passado, a população desses índios era de quase 2 milhões de pessoas. • Povos africanos: grupo humano que sofreu uma migração involuntária, pois foram capturados e trazidos para o Brasil, especialmente entre os séculos XVI e XIX. Nesse período, desembarcaram no Brasil milhões de negros africanos, que vieram para o trabalho escravo. Os escravos trabalharam especialmente no cultivo da cana-de-açúcar e do café. • Imigrantes europeus e asiáticos: os primeiros europeus a chegarem ao Brasil foram os portugueses. Mais tarde, por volta do século XIX, o governo brasileiro promoveu a entrada de muitos imigra ntes europeus e também asiáticos. Na primeira metade do século XX, pelo menos quatro milhões de imigrantes desembarcaram no Brasil. Dentre os principais grupos humanos europeus, destacam-se: portugueses, espanhóis, italianos e alemães. Em relação aos povos asiáticos, podemos destacar japoneses, sírios e libaneses. Darcy Ribeiro (1995), em seus estudos sobre uma visão etnográfica da sociedade brasileira em épocas remotas se destacou ao escrever sobre a sociedade brasileira, ressaltando as influências que recebemos das matrizes pelas quais o Brasil é formado e sobre os estragos causados pelos europeus, como a peste, a disputa por território e a escravização dos índios. Dessa forma, o referido autor afirma que nesse momento surgia uma nova etnia, segundo e e, "era o bras le ro que surgia cons truído com os tijolos dessas matrizes à medida que e as iam sendo desfeitas." (RIBEIRO, 1995, p. 30). O Brasil, por ser um país onde a miscigenação é aflorada, carrega consigo benefícios e malefícios. O benefício da miscigenação ocorrida no Brasil se deve a diversidade de raças, culturas e etnias, que resultou numa grande riqueza cultural distribuída de forma diversa pelas regiões do país. Por esse motivo, encontramos inúmeras manifestações culturais, costumes, pratos típicos, entre outros aspectos, no entanto, o tipo de colonização e a forma como se deu a miscigenação também traz o peso da herança cultural muito rica, mas muito marcada por uma série de situações que ainda prevalecem na população racismo, xenofobia e preconceito I (ARAÚJO E SOUZA,2013). Nada mais oportuno do que entender cultura e diversidade cultural após termos debatido muito as demandas do conceito de ética. Assim, vamos iniciar tecendo a definição de cultura. Lembrando logo de início que cada um tem a sua e a vida segue rica e bem fecunda porque somos diferentes, mas podemos comunicar nossas diferenças e construir novas possibilidades de viver. Coleciona Circuito Tela Verde Projeto Salas Verdes É o fichário da educação ambiental. Fornece informações, textos, experiências e açöes na área de educaçäo ambiental. Plataforma Educares Geertz (1989) ao abordar os estudos sobre cultura refere que a atividade do antropólogo é interpretar, cada cultura pode ser entendida como um texto. Cada texto é uma interpretação. Para ele, a cultura constitui-se como formas de ações significativas, simbólicas. A cultura parece estar oculta na mente dos homens e se expressa em suas açöes. Ele afirma que é possível enxergar a cultura de um povo porque ela está expressa em suas relações sociais. O autor mostra que a cultura se revela a partir de uma descrição densa, pois são as ações produzidas, percebidas e interpretadas que a definem. Geertz (1989) está, então, atrás da teia de significados de cada sociedade. Ele não defende a ideia de ter que "se tornar um nativo" para conhecer a fundo uma cultura, mas sim estar familiarizado com o grupo que se pretende compreender. É importante o destaque trazido pelo antropólogo sobre a cultura ser compreendida pela teia de significados, isso porque se as relações se traçam com interligações de valores e símbolos e tradições, tudo o que dá sentido dinâmico à cultura vemos com olhos de necessidade de compreensão do que vem a ser a diversidade cultural. O autor mostra que o ponto de vista do nativo é sempre uma construção cultural que se dá após a pesquisa. Cada cultura define o que é "ser humano". O antropólogo só tem acesso a isso a partir desses símbolos. Para Geertz (1989), as situações universais são sempre descritas de forma singular, seu enfoque privilegia as situações particulares. Dessa forma, a cultura é única para cada grupo e singular em cada indivíduo. No mundo existem milhares de trações culturais, símbolos, pensamentos, manifestações e identidades culturais, tal diversidade enriquece nosso mundo social. Para Cuche (201 2), o conceito de identidade ganha destaque com o nascimento do multiculturalismo, o qual nos mostra a face de que os imigrantes e as diversas minorias buscam o direito da diterença, o direito de ter uma identidade própria digna de respeito. Por outro lado, os grupos maioritários colocam em debate tal pretensão, temendo, entre a expansão de múltiplas identidades que competiriam para enfraquecer e fragmentar a identidade nacional, a própria sustentação do Estado, Para Bergamaschi (2008), a diversidade cultural e a presença de inúmeros povos indígenas com suas tradições e línguas marcar-n nossa diversidade étnica e cultural. Alves e Barros (2009) definem que a diversidade cultural está relacionada aos aspectos distintivos de uma cultura para outra, urna riqueza dada pela capacidade dos humanos de criar e transformar o legado que receberam. As identidades culturais aparecem a partir das manifestações culturais. O debate sobre a questão da diversidade cultural, que abre para todo um feixe de outros debates importa ntíssimos, nos faz pensar que com a educação podemos formar indivíd uos que entendam que ser diferente é poder trazer algo novo na troca cultural. A fundamentação do respeito da ética está no bojo dessa compreensão. Em meio aos pensamentos sobre a diversidade, podemos pensar também a diversidade étnica, religiosa e de gênero. Quanto a diversidade étnica, ternos muito a comernorar desde que superar-nos a explicação da existência de diferentes culturas pelo conceito de raça, para o conceito de etnia. U ma vez que se concluiu que falar em raça é apontar diferenças puramente biológicas. físicas. sem considerar as auestões de fundo cultural Dara a corn- Gomes (2004) mostra que o uso de etnia se ampliou para referências a povos diferentes como judeus, índios, negros, entre outros, enfatizando seus processos históricos e cu Iturais. No Brasil, o termo relações étnico-raciais é muito utilizado para debater as questöes de relações raciais e étnicas, que estão muito além da cor da pele e das origens culturais. Há um misto desses olhares na aloca ção e interpretação dos lugares sociais que os ind ivíduos ocupam na sociedade. Portanto, falar de raça ou de etnia em nossa cultura vai trazer um apanhado de significações de quem fala, como fala e por que fala, o chamado "lugar de fala". E também com estas construções que nascem conceitos e alocações culturais denominadas de racismo, preconceito e discriminação. Estes podem ser de raça ou etnia, mas tendem a ser explicados pela questão racial. Enquanto o preconceito é definido como uma percepção sobre as coisas, muitas vezes herdada por conta da socialização recebida, a discriminação é a própria prática do preconceito. Assim, o racismo trata-se de uma construção ideológica de que existem raças diferentes e que estão submetidas a uma hierarquia de classificação A diversidade étnico-racial deve ser pensada por toda a comunidade escolar, pe10s gestores educacionais que são importantes na formação dos indivíduos. Compreender que negros e brancos têm sua importância e valor cultural é colaborar para o entendimento da diversidade cultural e étnica. É irnportante saber que a cultura afro-brasileira compõe nossa trajetória de formação de nação. Não é possível falar de diversidade étnica sern considerar que o Brasil, após a abolição, atravessou grandes lutas pelo reconhecimento desta cultura que inclui as lutas sociais, a miscigenação, a discriminação, o sincretismo. Entretanto, ainda assim as ligações íntimas com pessoas de cor não são vistas com bons olhos. Os mulatos passam por menor discriminação que os negros, mas também são discriminados e sofrem preconceito. Constantemente presenciamos discussões que envolvem o preconceito racial e a discriminação étnica dos indivíduos, com falas como: "Você é negro", "você é indígena", *'por isso não conseguiram obter êxito em nada...". Por aí vai. A discriminação e o preconceito ocorrem também em relação as questões religiosas, normalmente há uma perseguição e preconceito com as religiões de matrizes africanas. Incrível que normalmente entendemos que a religião deve trazer coisas boas aos indivíduos, pois nelas os mesmos depositam sua fé espiritual e dedicam-se professando. No entanto, por ignorância, ou mesmo maldade, muitos indivíduos constroem guerras, matam e perseguem religiões diferentes das suas. O etnocentrismo predomina nesses casos e faz com que a religião de uma pessoa seja considera- A superação deste fenômeno de pejoração negativa das diferentes religiões só acontece quando os indivíduos estão disponíveis para conhecer a diversidade religiosa. Conhecer é importante para melhor conviver, Isto não significa converter-se. Quando estudamos um pouco, vemos que o catolicismo tradicional também teve influência africana no culto de santos de origem africana como: São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio do Categeró ou Santo Antônio Etíope); no culto de santos também há aqueles que podem ser associados aos orixás africanos como São Cosme e Damião. O próprio São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro), Santa Bárbara (Iansã), além daqueles oriundos da criação de santos populares como a Escrava Anastácia. É comum ver que igrejas pentecostais do Brasil, que são contra as religiões de origem africana, na realidade têm várias influências destas, como se nota em práticas como o batismo do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entida- des espirituais (vistas como maléficas). O Catolicismo nega a existência de orixás e guias, já as igrejas pentecostais os denominam como demônios. A ideiade sincretismo religioso, a transculturação das religiões, como ocorre na umbanda, por exemplo, tem origem nos fatores histórico-culturais da história do Brasil. Por isso, é preciso compreender que a diversidade religiosa existe e precisa ser respeitada. No cenário relativo a compreensão das relações de gênero e sua diversidade também não encontramos eco no respeito. Pois na atualidade vemos que a conceituação que acrescenta nessa polêmica é a de que orientação sexual e identidade de gênero são diferentes e precisam ser compreendidas. EXPLICANDO Orientação Sexual refere-se à atração sexual e à afetividade que um indivíduo sente por outro. Diversidade de gênero refere-se ao gênero com o qual o indivíduo se identifica que pode ter, ou não, relação com seu sexo biológico. Gonçalves (1999) fala, em seus estudos, a respeito de como a sociedade Paresí, do grupo indígena denominado Aruak, localizado no Estado de Mato Grosso, constrói simbólica e culturalmente o dimorfismo sexual tendo como foco de análise sua mitologia e seu complexo ritual. Ele demonstra como a categoria diferença é algo construído, tal qual nos indica a ideia de gênero sobre os indivíduos na vida social. Em outros termos, analisa-se a diferença e a construção de gênero como fenômeno englobado por um pensamento geral sobre o que significa a diferença no mundo. TABELA 1. SOBRE ORIENTAÇÃO SEXUAL. Assim, segundo o autor, a diferença de gênero informa ao mesmo tempo que produz e é produzida por esta ideia da diferença que não é universal e sim construída culturalmente. Dessa forma, são as posições culturais construídas por homens e mulheres, a partir do olhar que eles têm do compromisso com suas escolhas pautadas na orientação sexual e na diversidade de gênero, que dão sentido às suas histórias e lugares nessa discussão. É importante entender como os indivíduos tem se referenciado, a partir desse olhan Indivíduo que oscila entre masculino e feminino. Por exemPIO. uma mulher que se identifica com o gênero masculino. mas nä0 realiza procedimentos de readequação física (apenas assume um comportamento condizente com seu gênero). Fonte: Criaçao da autora de acordo com https•V/bit./y/2SR109m. Esses conhecimentos são importantes pois levam ao combate de práticas de preconceito e discriminação, fundamentados em ideologias homofóbicas e de vio- Iniciaremos agora toda uma reflexão e conceituação sobre a relação ética e a sociedade tecnológica que estamos vivendo. Morin (2000) nos apresenta às demandas da educação e da sociedade do conhecimento em tempos atuais, mostrando que esta impõe aos indivíduos uma escola que lhes faça sentido, que lhes seja capaz de resgatar a formação do ser completo. Em sua visão, a escola de hoje deve oferecer aos indivíduos além do ensino básico com cálculos, língua escrita e falada, precisa trazer também as interfaces com as ferramentas e inovações tecnológicas trazidas pela era da comunicação e informação. É importante marcar que o conhecimento e a informação estão no centro do mundo atual. O perfil de indivíduo que se exige, mediante estas demandas, é de quem consegue ser flexível, polivalente, empreendedor e altamente adaptável. Alguém que é criativo, inovador e está sempre sendo desafiado por questões profissionais e pessoais. um mundo em que se fala o tempo todo a respeito de busca de soluções viá veis. Os próprios modelos educacionais voltam-se para esta perspectiva. Isto significa que o aluno a ser formado tem que ser preparado para enfrentar este aparato de necessidades impostas pela sociedade do conhecimento e da informação. Figura 6: Saciedade do Conhecimento. Fonte: Freepik- Nesta sociedade digital, educar urn indivíduo para desenvolver sua cidadania plena também envolve construir valores de respeito, responsabilidade e Indivíduo tem uma identidade diferente do seu sexo biológico. Transexuais - um homem que se enxerga como mulher ou uma mulher que se enxerga como homem. Transgênero - deve assumir definitivamente o corpo com o qual se identifica e. em muitos casos, pode desejar atravessar procedimentos de redesignação sexual ou terapias hormonais. TABELA 2. SOBRE DIVERSIDADE DE GÉNERO. Assistimos a urna era em que a tecnologia está no bojo de todas as coisas que realizamos no mundo social. Levy (1999) traz à cena os conceitos de cibercultura e ciberespaço para mostrar a amplitude de nossas trocas de conhecimento e aprendizagem na era digital. Nesse sentido, o autor ainda produz associado ao pensamento de Kerckhove (1995), o conceito de inteligência coletiva, constituindo-se em inteligências conectadas, isto é, o uso colaborativo das várias inteligências mediante processos de comunicação e tecnologias ern rede. Este novo desenho pedagógico de formação dos indivíduos propõe uma revisão da forma tradicional de ensinar e aprender, a construção de saberes e as trocas comunicacionais ganham urrna dimensão mais personalizada. EXPLICANDO Cibercultura: cultura que emerge com o advento das trocas comunicacionais advindas do computador. Conhecimentos, valores, informações e saberes que se constroem a partir do mundo virtual. Ciberespaço é o virtual, as redes de conexão. O que precisamos entender é como funcionam, nesse caso, os princípios da ética e cidadania ern urT1 contexto de valorização da comunicação virtual. Com o exposto acima, focamos em mostrar que a ética passa a ser uma questão central no contexto das trocas e construções virtuais, tanto no âmbito da vida pública como na vida privada. Nesse sentido, ser ético é pensar no que fazemos, na medida de nossas ações, considerando quem sornos e com quem nos relacionamos. Além da ênfase na reflexão sobre o outro e o planeta em que habitamos. Para Dewey (1979) é a partir da reflexão que emerge a dúvida, a perplexidade, o ato de pensar. Ela também envolve o ato de pesquisar, para resolver a dúvida e esclarecer a tal perplexidade. Dessa forma, o autor nos aponta o caminho para nossas questões éticas contemporâneas. Além dele, também Castoriadis (1979) diz que a reflexão deve sinalizar o conhecimento para investigar, explicitar e questionar os conteúdos sociais e culturais. ASSISTA Para saber mais assista ao vídeo Renato Janine Ribeiro debate ética, política e os desafios da Educação no link. Olivé (2000), em seus estudos, colabora com nossa reflexão sobre deveres morais do cientista e do tecnólogo em nossos tempos. Para ele, cientistas devem ter a consciência da responsabilidade e das consequências do trabalho que realizam. Esta responsabilidade inclui informar a sociedade com precisão sobre seus experimentos e resultados. Também, os tecnólogos devem avaliar com cautela e serie- O autor ainda ressalta que os cidadãos, a grosso modo, também têm responsabilidade na avaliação das tecnologias e em sua aceitação e propagação. Assim, eles devem buscar informações adequadas sobre a natureza da ciência e da tecnologia, que estão propagando bem como de seu uso e consequências. DICA Para saber mais leia a reportagem O dilema ético dos bebês geneticamente modificados no link e assista ao vídeo A Engenharia Genética mudará tudo para sempre. Com tantas discussões no terreno da ética, é preciso focar que ser cidadão é estar situado na ordem social de forma participativa, mas considerando que apesar da evolução tecnológica é preciso pontuar nossas ações locais e globais, pre- É muito comum, diante do que vimos até aqui, presenciarmos na sociedade globalizada e tecnológica, sentimentos de exclusão social, violência e intolerâ n ci a. No ano de 2001, realizou-se a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa na cidade de Durban, África do Sul. Esta conferência foi um culminar das demandas mundiais para o enfrentamento de um cenário sociopolítico extremamente grave em nível mundial: o combate ao racismo e intolerância. Trata-se de compreender que indivíduos, povos e nações estavam cadavez mais praticando e incentivando realidades de exclusão e segregação social, que em muitos casos levam ao extermínio. Mesmo diante de outros instrumentos legais e históricos para esse fim, foi necessário organizar a Conferência de 2001. Listamos aqui alguns dos instrumentos que foram implementados sob a égide das Nações Unidas com intuito de promover a igualdade e combater a intolerância: • Implementação de um sistema de gestão ambiental; • Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948); • Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966); • Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); • Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979); • Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). Apesar do aparato legal acima referido, os dados mundiais seguiram apontando que seres humanos ainda são vítimas de ideologias e tratamento racista e segregacionista, principalmente com o surgimento de novas tecnologias e o advento da globalização, que trouxeram próprios de seus campos. Por isso a urgência de novas medidas e esforços focados em nível nacional e internacional. EXPLICANDO Racismo: significa preconceito e discriminação de indivíduos e grupos fundamentados em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Xenofobia: sentimento de desconfiança, antipatia, receio de pessoas que não são familiares ao meio de quem julga. ou ainda daqueles que não são do país de quem julga. Intolerância: capacidade mental de não desejar reconhecer e respeitar diferentes valores, sentimentos, opiniões de grupos e pessoas que não pertencem a quem avalia. Para seu melhor entendimento, vamos pensar a seguinte situação: em uma sala de aula de uma escola particular, com alunos brasileiros, encontramos um aluno muçulmano, que se veste tal qual sua cultura, um aluno com autismo e apenas duas crianças negras, Todos os dias as crianças negras são isoladas das brancas, mas a convivência se dá de forma regular. Ao observar essa situação, uma professora de Sociologia começou a incentivar a integração desses alunos, crianças de 12 a 14 anos. Então, em conversa com uma do grupo de crianças brancas, a mesma falou que não gostaria de sentar com seus colegas negros para fazer trabalho de grupo porque seus pais disseram que os negros são menos competentes que os brancos. A professora teve que fazer toda uma explicação sobre a história dos negros no Brasil e as teorias racistas para seus alunos, pois estava diante de um caso de racismo. Mas não parou por aí, a professora ainda observou o tratamento de exclusão que aquela turma dava ao aluno muçulmano, não satisfeita com aquela situação, chamou um grupo de alunos que praticavam a segregaçäo do aluno muçulmano para uma conversa. Então, descobriu falas sobre a ideia de que os estrangeiros que vem do oriente médio podem ser homens bombas e, ainda, que "vem tirar onda aqui no nosso País", fala de uma criança durante a conversa com a professora. Nesse caso, a referida professora estava diante de xenofobismo, intolerância. Assim, ela tratou de construir as suas próximas aulas baseadas em vídeos e textos que pudessem ensinar sobre a cultura oriental, a respeito de convivência e respeito. Finalmente, não precisamos dizer que o aluno autista era ali um invisível, nenhum aluno preocupava-se com sua presença. Fato este que levou a mesma professora a organizar atividades em que ele pudesse ser incluído nas relações sociais daqueles alunos. Além disso, a professora escreveu um projeto e propôs à Escola a realização de oficinas e reuniões que incluíssem as temáticas apresentadas, com os pais. Diante de tal conceituação, podemos avaliar o peso negativo destas atitudes e práticas em nossa sociedade. Daí a necessidade de sabermos que importantes decisoes saíram da Conferência de Durban, que em linhas gerais foram: • Problemas enfrentados pelas vítimas de tais flagelos .com particular destaque para as mulheres, pessoas de origem africana e asiática, povos indígenas, migrantes, refugiados e minorias nacionais) e medidas específicas para aliviar o seu sofrimento; • Problema da discriminação múltipla; • Importância da educação e sensibilização pública no combate ao racismo; • Problemas particulares colocados pela globalização; • Aspectos positivos e negativos das novas tecnologias; • Importância da recolha de dados, da pesquisa e do desenvolvimento de indicadores no domínio da discriminação; • Previsão de medidas destinadas para garantir a igualdade nas áreas do emprego, da saúde e do ambiente; • Importância de garantir o acesso das vítimas às vias de recurso eficazes e Ainda temos muito a saber sobre os conceitos de racismo e xenofobia que são processados de forma estrutural, fundamentando guerras santas e étnicas, como ocorre no Oriente Médio na atualidade. Tal situação de desumanidade tem tirado a vida de muitas famílias, mulheres, homens, jovens e crianças. DICA para saber mais leia o texto Combates à xenofobia, ao racismo e à intolerância e a reportagem A história por trás da foto do menino sírio que chocou o mundo no link. Santos (2016) ao descrever motivos pelos quais se pratica o xenofobismo, mostra que o migrante é visto como "de fora" em um território que é dominado por alguém que acredita "ser seu", o que leva a imputar ao migrante a aceitação de suas práticas e sua submissão a seu modo de vida. Caso isso não venha a ocorrer, ou seja, quan ao o migrante se perceoe e Dusca estaoelecer-se como um ser ae direitos, o qual estando presente naquela comunidade sente o desejo de participar das decisões da vida política, social etc., o dominante começa a se sentir incomodado e busca nas práticas racistas e xenofóbicas uma forma de coação e reação a esse migrante. Fanon (2008), sobre o entendimento do racismo, colabora com a ideia de que uma sociedade tende a ser racista como um todo, pois, em seu olhar, não existem "meios racismos". Pode ter; também, uma parte da sociedade mais racista que a outra. De fato, ainda existem muitas pessoas que pensam que o migrante que chega em outra terra, isso vale para o Brasil também, consiste em uma ameaça para o trabalhador no mundo do trabalho local, o que pode reforçar a xenofobia reproduzida pela população. De qualquer forma, é preciso que através da educação e da formação de valores morais e éticos, os indivíduos possam receber o antídoto para este mal do século XXI: a segregação de pessoas, que se redefine como uma realidade de afastamento, isolamento. Para que alcancemos a proposta que abordamos acima, uma formação educacional em nível local e global, que alcance a tolerância das diferenças cul- turais, das perspectivas de fluxo migratório, da liberdade de se exercer como ser humano portador de direitos em qualquer região do planeta, é importante consolidar matrizes curriculares que incluam conceitos e ensinamentos sobre ética, sobretudo, abordagens práticas de vida que possibilitem a reflexão com base na moral e na ética. Chauí (2004) destaca a importância de ensinar ética por conta da convivência em espaços grupais. Para Carvalho (1999), nas organizações ensinar e aprender sobre ética fundamenta a regulação e garante qualidade nas relações humanas, servindo também como indicativo do desenvolvimento organizacional. Olhando mais de perto a inserção da ética nos currículos da educação superior, vemos que nos anos 70, no Brasil, ela passa a fazer parte do currículo de Administração e negócios, um momento em que se inicia uma ampla iniciativa social e educacional para discussão de responsabilidade social, trocas internacionais e desafios éticos regiona is do ponto de vista de estratégias econômicas. DICA Para saber mais leia o texto Etica, Instituições e Desenvolvimento. Capra (2002) destaca que as instituições universitárias precisam reformular currículos que contemplem a formação ética pois, segundo ele, elas têm o papelde formar os novos profissionais. Já Sequeiros (2000), prima pelo ensino da ética da solidariedade na educação como um todo, pois acredita que a criança desde cedo deve conhecer a consciência ética. No entanto, Vallaeys (2003) infere que os valores dominantes das universidades atuais são o individualismo, a posse, a competência e a dominação. A partir da década de 90 e a massificação da educação superior, uma grande amplitude de oportunidades de Cursos e Disciplinas com ênfase mercadológica, muitas Instituições viram a possibilidade de agregar à sua missão, através da propaganda, os valores de formação ética e responsabilidade social. conforme nos mostra Calderon (2005). Em uma sociedade capitalista selvagem, em que muitos comportamentos não prezam as relações éticas, é muito comum ouvirmos várias reclamações de fálta de ética na política e na sociedade como um todo. Nesse caso, a inclusão da ética nos currículos, sobretudo universitários, torna-se uma urgência acadêmica, para que continue a se constituir como um elemento fundamental nas relações humanas. Cuvillier (1947) marcou os seguintes pontos a serem observados na formaçäo ética dos profissionais: a. Através da profissão o indivíduo se realiza plenamente, provando sua capacidade, habilidade, sabedoria, inteligência e formando sua personalidade para vencer obstáculos; b. O nível moral dos homens é elevado pelo seu exercício profissional; c. Na profissão os homens mostram sua utilidade à comunidade. Você sabia que existe uma importante forma de tratar da questão racial nas escolas? Esse tipo de conteúdo relacionado a origem do Brasil e a relevância que deve ser dada aos povos originários e introduzidos é trabalhado na educação das relações étnico-raciais. Essa temática começou a ser introduzida, em âmbito legal, na Lei de Diretrizes e bases da educação em 1961 - LDB/1961, ondejá se verificava a coibição de tratamento diferencial na escola baseado na raça (NEGREIROS, 2017). Segundo Negreiros (2017), O processo de constituição da educação das relações étnico-raciais como política públ'ca é completamente paralelo à composição das polít icas de promoção da igualdade racial, como observado no capítulo anterior, É possível afirmar que o ponto de afluência dessa polít ca é a aprovação da Lei 10.639/2003, ocorrida no mesmo período de diversas legislações que estabelecem e organ•zam as políticas de promoção da igualdade racial no Brasil. Contudo, no contexto das políticas educacionais, essas ações relativas à temática étnico-racial são recentes (NEGREIROS, 2017, p. 66). Foi só com a Constituição de 1988, a educação como política social universal, com o objetivo de formar os estudantes pa ra a vida e para o mercado de trabalho. Nessa mesma constituição, dita cidadã, foram ratificados o princípio da igualdade, do padrão de qualidade e do respeito à diversidade (NEGREIROS, 2017). Com a atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a educação é compreendida como um sistema que engloba: • Educação Infantil • Educação I nfantil • Educação Básica • Educação de Jovens e Adultos • Educação Profissional • Educação Superior • Educação Especial. Nessa lei a educação é classificada corno dever do Estado, corn igualdade de acesso e condiçoes de perrnanên— cia aos estudantes, essa condição está diretarnen— te relacionada corn o respeito à diversidade cul— tu rale social e étnica- E irnporta nte que você saiba, caro(a) aluno(a) que. ainda segundo a LC)B 9394/96. o currículo escolar deve ter uma base comum que condiga com os valores culturais do País e o respeito às características regionais no currículo específico de cada região. Então se durante seus estudos na educação básica e no ensino médio você estudou sobre questões culturais, sociais e étnicas regionais e nacionais saiba que esse estudo é fundamental para que você tenha conhecimento sobre nosso país! Essa mesma lei indicava a necessidade do ensino da história do Brasil que inclua e contemple a participação de pessoas negras e indígenas em sua formação, o que é, de fato, extremamente relevante como um compromisso do Estado brasileiro para diminuir as desigualdades e a reparação histórica com índios e negros. (NEGREIROS, 2017) Assim a lei deixa claros quais são os objetivos que escolas e como se deve dar a formação de pessoas sobre a questão das relações étnico-raciais no país. Os objetivos são: • Possibilitar o reconhecimento de pessoas negras na cultura brasileira a partir de seu próprio ponto de vista; • Promover o conhecimento da população brasileira sobre a história do Brasil com a visão de mundo da população negra; • Formar os professores para ministrarem disciplinas que contemplem a perspectiva negra na história, cultura e sociabilidade do País assim como que saibam combater e discutir sobre o racismo e seus efeitos (dentro e fora do ambiente escolar); • Propiciar a reeducação para relações étnico-raciais plurais e diversas. (NEGREIROS, 2017) É importante que você saiba que, independente de sua formação, você precisa saber sobre a sua origem e a origem de seu povo e só por meio da educação que é possível você respeitar a etnia do outro, conhecer o seu país e sua formação e entender de cultura, diversidade e da riqueza do seu país. Entendemos a pouco sobre a L BD 9394/96 e a importância que deve ser dada a questão étnica e racial, mas essa lei ainda ficava subjetiva em algumas questões, assim foi criada a Lei 10.639/2003 que veio especificar, detalhar e obrigar o ensino de História e Cultura-BrasiIeira e Africana na Educação Básica, alterando a L DB a fim de: • Promover um currículo escolar antirracista e valorativo da população negra; • Promover a inserção da história e cultura africana e afro- brasileira, porém sem estabelecer um limite temporal para a sua implementação, nem o mínimo dessa inserção no currículo. Essa lei acabou traçando um caminho de um maior entendimento em relação a educação das relações étnico-raciais, primeiro por que contempla integralmente a proposição expressa pelo MNU na Convenção do Negro na Constituinte em 1986, que indicava: "É obrigatória a inclusão nos currículos escolares de 10 e 20 graus, do ensino de História da África e da História do Negro no Brasil." (Convenção do Negro na Constituinte, 1986). Segundo porque estabelece que o ensino de história deva considerar as matrizes africanas, indígenas e europeias da formação do Brasil. Para Dias (2005) essa inclusão é muito pouco, "diante de toda a produção existente sobre a tensão no Brasil no que se refere à raça e, em especial, às condições da população negra, mas representa um avanço, se considerada a total omissão no projeto apresentado pelas entidades dos professores". CONTEXTUALIZANDO Por meio dessa lei foram criados o Parecer CNE/CP 03/2004, de IO de março de 2004 que trata das diretrizes curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e nara n Fnsinn de História e Cultura Afrn-Rrasileira