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Unidade 1 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 
 
1 
 
Apresentação 
 A saúde coletiva, como uma área de atuação 
interdisciplinar e multiprofissional, possui o desafio 
de desenvolver soluções que integrem diferentes 
profissionais com a mesma premissa: a de considerar 
sempre o ser humano além de sua doença, 
analisando cada indivíduo como um ser único e 
especial, o qual está conectado a aspectos familiares, 
econômicos, culturais e sociais. Agora, lhe convido a 
estudar e compreender melhor essa área tão 
importante para a sociedade que é a saúde coletiva. 
 
Introdução e alguns conceitos básicos 
 O sistema de saúde brasileiro vem passando, 
como era de se esperar, por mudanças e 
readequações. Estas transformações foram e são 
essenciais para que seja possível enfrentar os 
desafios que surgem continuamente e que 
acompanham o crescimento populacional e o 
desenvolvimento do país. 
 É importante ressaltar que a definição de 
saúde, um termo que inicialmente configurava-se 
como sinônimo da ausência de doença, passou a 
ser mais ampla, levando também em consideração 
aspectos relacionados ao bem-estar físico, 
psíquico e social de cada indivíduo. 
 Um dos grandes marcos na história da 
construção política da saúde pública brasileira foi a 
criação do Sistema Único de Saúde, o SUS, em 
1988. O SUS é um sistema reconhecido 
internacionalmente como um dos programas de saúde 
pública mais completos a nível global, uma vez que 
suas diretrizes asseguram o acesso a saúde a todos 
os cidadãos (princípio da universalidade), nos 
diferentes níveis de atenção e complexidade 
(princípio da integralidade). 
 Embora o SUS tenha ampliado o acesso à 
saúde, muitos problemas ainda persistem, e um dos 
desafios enfrentados atualmente pelo país é o de 
desenvolver programas de intervenção em saúde 
que sejam sensíveis e efetivos no que tange à 
realidade das diversas categorias populacionais. 
É importante ressaltar que o Brasil possui um vasto 
território, fortemente marcado por contrastes 
econômicos e pela presença de grande desigualdade 
social. 
 Frente às características, deficiências e 
necessidades da saúde brasileira, destaca-se o 
desenvolvimento dos programas em saúde coletiva. 
Para melhor compreensão da situação atual do 
sistema de saúde vigente, assim como dos programas 
de saúde coletiva, é necessário retroceder e levar em 
consideração as mudanças que ocorreram na maneira 
da sociedade pensar e conceituar o processo saúde-
doença. Para isso, é importante revisitar alguns 
aspectos significativos e que remetem à época do 
Brasil colonial. 
 
História das políticas públicas de saúde no Brasil 
 As políticas de saúde no Brasil foram 
desenvolvidas em consonância com o momento 
histórico e a situação econômica do país. Durante o 
período colonial, os cuidados com a saúde, de modo 
geral, eram muito limitados, e quando alguém 
necessitava de assistência, esta restringia-se à 
indivíduos sem formação profissional específica, 
como curandeiros que utilizavam ervas, crenças 
religiosas e técnicas empíricas como forma de 
tratamento. Foi somente em 1808, com a vinda da 
família real, que as primeiras mudanças nesse sentido 
começaram a ocorrer. 
 A chegada da família real ao Brasil suscitou a 
necessidade da implantação de uma estrutura 
sanitária básica, capaz de atender a corte que se 
instalava no Rio de Janeiro. A falta de saneamento 
representava um risco à saúde e vida da família real, 
uma vez que as más condições sanitárias da cidade 
propiciavam o desenvolvimento e o contágio de 
pestes e doenças graves, como a malária e a varíola, 
por exemplo. 
 Foi no mesmo ano da chegada da família real 
que se instituiu a primeira faculdade de medicina 
do Brasil; fato este que contribuiu para que a 
medicina empírica fosse lentamente substituída por 
uma medicina baseada na ciência. Todavia, apesar do 
crescente número de profissionais da área médica 
que o país ganhava, o acesso à saúde nessa época 
se restringia à parcela da população que possuía 
condições financeiras superiores. Os demais 
contavam apenas com filantropia e hospitais de 
caridade, mantidos na maioria das vezes pela Igreja. 
 É importante ressaltar que a assistência 
relacionada à saúde nessa época restringia-se ao 
tratamento de doenças. Não havia, até então, 
programas de saúde coletiva, campanhas de 
educação em saúde para conscientizar a população 
sobre a prática de hábitos saudáveis e, tampouco, 
ações de promoção à saúde e de prevenção de 
doenças. Esse fato pode ser explicado pelo conceito 
simplista vigente nessa época, que definia saúde 
como a mera ausência de doença, sem levar em 
consideração aspectos psíquicos, sociais, 
culturais e econômicos, conforme afirma Lopes em 
seu livro Políticas de saúde pública, de 2017. 
 
Educação em saúde: da prevenção à promoção 
 Durante muito tempo, o sistema de saúde 
brasileiro se preocupou apenas em tratar e curar 
doenças. 
Unidade 1 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 
 
2 
 
 Expressões como prevenção, promoção e 
educação em saúde simplesmente não faziam parte 
das pautas de políticas públicas. A chamada Revolta 
da Vacina (Figura 1) é considerada um marco de 
transição entre uma medicina exclusivamente 
curativa para a implementação de uma medicina 
preocupada em garantir a saúde da população 
como um todo. 
 O termo "prevenção" pode ser entendido como 
uma ação prévia que tem como objetivo impedir o 
desenvolvimento e evolução de determinada doença. 
Uma das primeiras ações de caráter preventivo no 
Brasil foi a vacinação em massa da população 
contra a varíola, em 1904. O responsável por 
coordenar essa ação foi o médico Oswaldo Cruz, 
que, embora tenha tido boas intenções ao propor a 
imunização da população, não foi bem-visto pela 
sociedade na época. Um dos motivos para isto foi o 
fato de que nenhuma campanha educativa sobre os 
benefícios da vacinação foi realizada, o que 
culminou em um grande movimento popular: a Revolta 
da Vacina. 
 Oswaldo Cruz criou também o serviço de 
profilaxia da febre amarela, além da inspetoria de 
isolamento e desinfecção de residências. Todas 
essas medidas preventivas foram impostas sob um 
caráter bastante autoritário, fazendo com que as 
campanhas de saúde se equiparassem a campanhas 
militares, uma vez que se fazia uso da força e do 
encarceramento para obrigar a população a aderir às 
medidas. Ademais, a ausência de um programa de 
educação em saúde limitou os resultados positivos 
dessas ações, visto que o círculo vicioso de hábitos 
da população não foi modificado. Dessa forma, as 
residências voltaram a apresentar más condições 
sanitárias pouco tempo após a desinfecção. 
 Posto isso, os programas de educação em 
saúde constituem-se como um conjunto de práticas de 
ensino e aprendizagem que têm como finalidade 
promover mudanças comportamentais, além de 
incentivar a aderência de hábitos e atitudes 
saudáveis. Ambos são considerados pré-requisitos 
necessários tanto para a prevenção de doenças 
quanto para a promoção da saúde individual e 
coletiva. 
 Assim sendo, a promoção da saúde é definida 
como o conjunto de condutas que permeiam a 
transformação das condições de vida e trabalho 
associadas aos problemas de saúde subjacentes. 
Deste modo, pode-se inferir que as ações de 
educação, promoção de saúde e prevenção de 
doença caminham juntas e se complementam. Para 
elucidar de forma mais contundente a diferença 
existente entre promoção de saúde e prevenção de 
doenças, observe atentamente a Tabela 1. 
 
 Um aspecto importante da promoção da saúde 
é que esta segue o princípio da responsabilização 
múltipla, enfatizando uma abordagem ativa e 
intersetorial que envolve ações do Estado, do 
sistema de saúde e da população, cujo foco é relativo 
aos determinantes de saúde e ao fomento do bem-
estar e melhora da qualidade de vida. 
 
Níveis de prevenção 
 Agora que o significado de prevenção foi 
elucidado, é pertinente apresentar os níveis de 
prevenção existentes.As ações de prevenção podem 
ser classificadas em três níveis diferentes: primário, 
secundário e terciário. A fim de elucidar esse 
sistema de classificação, observe atentamente a 
Figura 4. 
 
 A prevenção primária representa o conjunto 
de ações que visa evitar determinada doença na 
população ao remover fatores causais. Ou seja, 
esse tipo de prevenção objetiva reduzir a incidência 
da doença. Nesse nível, atua-se no período pré-
patogênico, o período das relações entre o ambiente 
e o que é suscetível, até que se chegue a uma 
condição favorável. São exemplos de prevenção 
primária: 
a) Vacinação – imunoprofiláxia; 
b) Tratamento da água para consumo; 
c) Medidas de desinfecção e desinfestação; 
d) Ações de educação e promoção em saúde. 
 A prevenção secundária compreende o 
conjunto de medidas que objetivam identificar e 
corrigir o mais precocemente possível qualquer 
Unidade 1 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 
 
3 
 
desvio da normalidade, de modo a colocar o 
indivíduo imediatamente em situação saudável. Ou 
seja, esse tipo de prevenção tem como objetivo a 
diminuição da prevalência da doença. Esse nível é 
colocado em prática no caso de doenças infecciosas, 
por exemplo, uma vez que estas são doenças que 
podem ser curadas. 
 Todavia, este nível de prevenção não é viável 
na Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), 
por exemplo, posto que esta é uma doença que ainda 
não possui cura. O foco da prevenção secundária é no 
período patogênico, que é o período que inicia-se 
com a interação hospedeiro-agente, no começo das 
alterações fisiopatológicas no indivíduo. Um 
exemplo da atuação profissional deste nível de 
prevenção é a realização de inquéritos para a 
descoberta precoce de pacientes com tuberculose em 
determinada comunidade assistida. 
 Já a prevenção terciária representa as ações 
que visam reduzir incapacidades, a fim de permitir 
uma rápida melhora e melhor reintegração do 
indivíduo à sociedade, aproveitando suas 
capacidades remanescentes. É um nível de 
prevenção que também atua no período patogênico. 
Como exemplo, é possível citar a reintegração de um 
trabalhador que sofreu um acidente em sua empresa. 
Isso ocorreria caso, em decorrência do acidente, esse 
trabalhador não mais pudesse exercer o mesmo tipo 
de atividade devido a suas condições de saúde. Posto 
isso, é importante esclarecer os conceitos de 
incidência e prevalência empregados nas definições 
dos níveis de prevenção. 
 Incidência é a fração ou proporção de um 
grupo de pessoas inicialmente livres do desfecho de 
interesse e que o desenvolvem durante 
determinado período de tempo. A incidência se 
refere, então, a novos casos de uma doença que 
ocorre em uma população a princípio livre da 
mesma ou a novos desfechos, como sintomas ou 
complicações em pacientes com a doença que 
inicialmente não experenciavam esse problema. 
 A prevalência é a proporção de um grupo de 
pessoas que possui determinada condição ou 
desfecho clínico em um dado ponto no tempo. Ela é 
medida através do levantamento de uma população 
definida, na qual se averigua quem tem ou não a 
condição de interesse. 
 
Apresentação 
 As discussões sobre o processo saúde-doença 
sempre estiveram presentes na vida humana, e cada 
era da civilização explica a existência dessa relação 
de acordo com o momento histórico vivido e os 
recursos tecnológicos e científicos disponíveis à 
época. 
 Ao longo dos séculos, os conceitos de saúde e 
doença foram permeados de diversos significados, 
atribuídos à relação que o homem mantinha com o 
ambiente, a natureza, o corpo, o espírito e a religião. 
 Entre as teorias desenvolvidas para explicar a 
relação do homem com seus conceitos de saúde, 
destacam-se três: 
1. Mágica - Relaciona o desencadeamento de 
doenças ao misticismo, demônios, castigos de deuses 
e prática de magia. Praticamente todos os 
acontecimentos que o homem não podia explicar em 
virtude de suas limitações técnico-científicas eram 
atribuídos a fenômenos sobrenaturais. Curandeiros, 
sacerdotes e indivíduos tidos como bruxos eram 
figuras consideradas importantes em casos de 
adoecimento e morte. Já a saúde era entendida 
como uma condição natural da vida, o que significa 
que não havia motivo para ser elucidada, e a ideia 
prevalecente era a de que a saúde era algo que 
ocorria espontaneamente. 
2. Ingênua – considera que a saúde, a doença 
e a morte devem ser aceitas pela população, uma vez 
que estas são inerentes e fazem parte do ciclo vital. 
Dentro dessa ideologia, os aspectos sociais, psíquicos 
e culturais eram considerados apartados dos fatores 
envolvidos no processo saúde-doença. 
3. Crítica - Caracteriza-se como um novo modo 
de pensar, no qual surgem dúvidas e críticas sobre os 
conceitos de saúde e doença. Diferentes profissionais 
e estudiosos passam a refletir a respeito do processo 
saúde-doença até estabelecer um modelo de causa e 
efeito. Esse modelo passa a relacionar agentes 
etiológicos, condições de trabalho e hábitos de vida 
com a presença de saúde e o desencadeamento de 
doenças. Dentro desse contexto de multicausalidade, 
segmenta-se o adoecimento em dois momentos: a 
pré-patogênese (momento prévio ao 
desenvolvimento da doença) e a patogênese 
(momento que a doença já está estabelecida). Com 
essa divisão, começa-se a designar estratégias 
voltadas à prevenção de doenças. 
 Conhecendo essas três teorias, fica evidente 
que saúde e doença não são termos designados por 
um conceito imutável, estando as definições sujeitas a 
constantes readequações e mudanças. Deve-se 
enfatizar que, mesmo nos dias de hoje, há certa 
dificuldade no meio científico em definir com exatidão 
as ideias de saúde, uma vez que o que é considerado 
normal para um indivíduo pode não ser para outro. 
 A doença, nesse caso, pode ser considerada 
uma condição que provoca distúrbios das funções 
físicas e mentais e que pode ser causada por fatores 
exógenos, externos ao organismo, ou endógenos, 
internos ao próprio organismo. Desde que o processo 
saúde-doença passou a ser rastreado 
estatisticamente, os ambientes de assistência à saúde 
Unidade 1 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 
 
4 
 
também passaram a atuar como locais de elaboração 
de conhecimento e ensino, contribuindo na 
identificação de indicadores de saúde. 
 
O conceito ampliado de saúde 
 Há muito tempo que o conceito de saúde tem 
sido pauta de amplos debates entre especialistas de 
diversas áreas de atuação profissional. Levando em 
consideração a complexidade desse tema, a 
Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou em 
1946 o chamado conceito ampliado de saúde, que 
afirma que saúde é um estado de completo bem-
estar físico, mental e social, e não apenas a 
ausência de doenças e enfermidades. 
 Desta forma, é possível compreender que o 
conceito ampliado de saúde leva em consideração a 
integração de diferentes aspectos da vida e da 
sociedade, como economia, lazer, educação, 
segurança e trabalho. Observe o Diagrama 1, a fim de 
obter uma contextualização mais adequada desse 
conceito. 
 
 Analisando-se o conceito de saúde elaborado 
pela OMS, é possível identificar três princípios: 
1. O bem-estar físico: relaciona-se à ideia de 
que não há saúde de apenas um órgão ou sistema do 
corpo, mas sim de um todo, de modo integral. 
2. O bem-estar social: refere-se aos ajustes das 
exigências, local de moradia, distribuição de renda e 
oportunidades oferecidas a cada pessoa. 
3. O bem-estar mental: relacionado a um estado 
de equilíbrio, entendimento e tolerância consigo 
mesmo e com os outros. Relaciona-se a saber lidar e 
conduzir as diferentes emoções. 
 Embora a definição da OMS seja aceita e 
utilizada como parâmetro pelos sistemas de saúde em 
praticamente todo o mundo, ela vem sofrendo críticas 
de muitos pesquisadores nos últimos anos. O 
argumento utilizado pelos críticos é que esse conceito 
de saúde é utópico e inatingível, uma vez que alguns 
creem que o ser humano jamais será um sercompleto 
em todos os aspectos e sentidos da vida. 
 
O conceito ampliado de saúde 
 A compreensão dos conceitos e definições do 
processo saúde-doença é fundamental para todos os 
profissionais da área da saúde, e seu domínio 
possibilita uma atuação mais efetiva e ativa frente aos 
pacientes e a comunidade. Posto isso, para 
prosseguirmos nessa jornada de construção do 
conhecimento, é imprescindível que estejam claras a 
definição e diferenciação dos termos saúde pública e 
saúde coletiva. 
 Saúde pública e saúde coletiva são áreas 
frequentemente concebidas como sinônimos. 
Todavia, elas possuem algumas distinções. Assim 
sendo, a saúde pública pode ser entendida como o 
conjunto de ações exercidas pelo governo em prol 
do bem-estar físico, mental e social da população, 
configurando-se como um direito constitucional que 
engloba as mais diversas áreas e níveis de atenção à 
saúde. 
 Já a saúde coletiva é uma ciência que 
engloba aspectos sociais e biomédicos através de 
diversas perspectivas organizacionais. É, também, 
uma área de atuação profissional que faz parte dos 
programas de saúde pública. Paim e Almeida Filho 
afirmam que: 
Enquanto campo de conhecimento, a saúde 
coletiva contribui com o estudo do fenômeno 
saúde/doença em populações. Enquanto processo 
social investiga a produção e distribuição das 
doenças na sociedade, analisando as práticas de 
saúde (processo de trabalho) na sua articulação 
com as demais práticas sociais, procurando 
compreender as formas com que a sociedade 
identifica suas necessidades e problemas de 
saúde, buscando sua explicação e se organizando 
para enfrentá-los (1998, p. 309). 
 A saúde coletiva busca ampliar a 
compreensão da população sobre a saúde, 
acrescentando análises sociológicas, antropológicas 
e históricas. A sua criação parte das ações de um 
movimento sanitarista e tem como propósito auxiliar 
no reconhecimento de variáveis econômicas, 
ambientais e sociais que possam ocasionar o 
desenvolvimento de doenças. 
 O movimento sanitarista que propiciou a 
criação da saúde coletiva teve início na década de 
1970. A filosofia desse movimento preconizava a 
saúde não como um problema a ser solucionado pelos 
então serviços médicos, mas sim como uma questão 
política e social. 
 Desde seu surgimento, a saúde coletiva 
envolve-se com questões políticas, sociais e 
ideológicas, trazendo repercussões para a saúde 
como um todo em sua delimitação, e identificando 
meios que possibilitem tornar a saúde coletiva um 
campo cada vez mais aberto a novos paradigmas 
Unidade 1 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 
 
5 
 
diante das necessidades de saúde, democratização 
da vida social e direitos humanos. 
 As diretrizes dos programas de saúde coletiva 
enfatizam a importância da comunicação e da atuação 
conjunta de equipes interdisciplinares e 
multiprofissionais, sendo estas compostas por 
médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais, 
psicólogos, biólogos, enfermeiros, dentistas, entre 
outros. 
 Entre os instrumentos utilizados pelos 
programas de saúde coletiva, destaca-se o uso da 
epidemiologia social, que possibilita conhecer o 
perfil dos problemas de saúde e das doenças 
apresentadas em determinada população assistida. O 
emprego da epidemiologia permite a criação de 
indicadores de saúde que, por sua vez, possuem 
dados referentes a condições sanitárias e 
socioeconômicas que otimizam o 
desenvolvimento de intervenções e de medidas de 
prevenção e promoção a saúde coletiva. 
 Deve-se ficar explícito que toda saúde 
pública é coletiva, mas nem toda saúde coletiva é 
pública, posto que no Brasil a saúde é considerada 
livre à iniciativa privada. Ao ter que atuar por meio do 
Sistema Único de Saúde, a saúde coletiva encontra 
muitos desafios, e o principal deles é conseguir 
oferecer um serviço eficiente em um sistema no qual 
o usuário corresponde à totalidade dos brasileiros. 
 
Saúde como débito 
 A mudança conceitual do processo saúde-
doença pela população brasileira é um dos fatores que 
contribuiu para que o governo implementasse políticas 
públicas de saúde mais abrangentes, não se 
restringindo unicamente ao tratamento e à cura de 
doenças. 
 No Brasil, o acesso à saúde foi por muitos anos 
limitado à parcela da população que detinha 
condições financeiras para contratar assistência 
particular, e posteriormente àqueles que contribuíam 
com a previdência social, em sua maioria 
trabalhadores com carteira assinada. Essa realidade 
começou a mudar somente a partir de 1988, com a 
aprovação da nova Constituição da República 
Federativa do Brasil, vigente até os dias atuais, que 
considera a saúde como um direito de toda a 
população, independentemente de qualquer 
condição e fator externo. 
 A seção II, art. 196, capítulo I da constituição 
da república federativa afirma que: “A saúde de todos 
é dever do Estado, garantindo mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de 
doenças e de outros agravos e ao acesso universal 
e igualitário às ações e serviços para a sua 
promoção, proteção e recuperação. 
 Além de ter explicitado o direito do acesso à 
saúde, a Constituição de 1988 enfatizou o dever e 
a responsabilidade do estado de promover a 
mesma, além de proteger a sociedade contra as 
doenças. 
 
Apresentação 
 Os determinantes e condicionantes de saúde 
são definidos pelo 3º artigo da Lei número 8.080/90, 
conhecida como Lei Orgânica da Saúde. Esta lei 
afirma que: 
Os níveis de saúde expressam a organização social 
e econômica do País, tendo a saúde como 
determinantes e condicionantes, entre outros, a 
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o 
meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a 
atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos 
bens e serviços essenciais (BRASIL, 1990). 
 Portanto, os determinantes de saúde podem 
ser definidos como os fatores que influenciam 
diretamente a saúde de forma positiva ou 
negativa, podendo estes ser modificados por 
decisões e escolhas dos envolvidos ou por condições 
externas a eles. Os condicionantes de saúde, por 
sua vez, instituem limites a determinadas 
circunstâncias e representam condições que não são 
passíveis de modificações, por serem intrínsecas ao 
indivíduo em questão. 
 Um exemplo clássico de condicionante de 
saúde é a gravidez, uma vez que apenas pessoas do 
sexo feminino podem engravidar. Consequentemente, 
o sexo é um fator condicionante para a ocorrência da 
gestação entre os seres humanos. Para entender 
melhor a diferença entre determinantes e 
condicionantes de saúde, observe os exemplos 
expostos na Tabela 2. 
 
 Os determinantes de saúde abrangem, 
portanto, tanto aspectos que são de controle próprio, 
Unidade 1 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 
 
6 
 
como os hábitos de vida, quanto aspectos que são 
condicionados ao ambiente, meio social e políticas 
públicas. É importante enfatizar que as ações de 
promoção da saúde têm como um de seus objetivos a 
educação da população, posto que, através da 
educação em saúde, é possível modificar os 
determinantes da saúde em favor da qualidade de 
vida. 
 
Classificação dos determinantes de saúde 
 Comumente, os determinantes de saúde são 
divididos em categorias que variam em número e 
são designadas pela presença de características 
semelhantes. É importante ressaltar que o 
agrupamento dos determinantes favorece seu 
entendimento e compreensão. Na literatura, as 
classificações mais frequentes dividem os 
determinantes em: econômicos, ambientais, 
biológicos, sociais e de estilo de vida. 
 Para entender melhor esse sistema de 
categorização, observe a seguir alguns exemplos que 
fazem parte de cada grupo, conforme atestado por 
Carrapato et al. em seu artigo "Determinante da saúde 
no Brasil: a procura da equidade na saúde", de 2017: 
1. Econômicos: Tipo de habitação, renda e 
ocupação desempenhada. Também pode relacionar-
se à manutenção de hábitos saudáveis; 
2. Ambientais: Gestão de resíduos, poluição,preservação da natureza e política energética; 
3. Biológicos: Sexo, idade e fatores genéticos; 
4. Estilo de vida: Alimentação, atividade física, 
tabagismo e comportamento sexual; 
5. Sociais: Cultura, educação e lazer. 
 Essas cinco categorias influenciam a saúde de 
diferentes modos. A seguir, aprofundaremos o 
conhecimento sobre os determinantes sociais, visto 
que estes estão mais comumente associados à saúde 
coletiva, além de serem vastamente discutidos na 
literatura. 
 
Determinantes sociais da saúde 
 Acredita-se que a origem das discussões 
relativas aos determinantes sociais da saúde estejam 
relacionadas à mudança de paradigmas do processo 
saúde-doença, em que o papel do governo e da 
população sobre a saúde foi reformulado. Instituiu-se, 
então, um modelo de determinantes sociais que 
foca, sobretudo, nas condições de trabalho e vida da 
sociedade moderna. Instituiu-se, então, um modelo de 
determinantes sociais que foca, sobretudo, nas 
condições de trabalho e vida da sociedade moderna. 
 Esse modelo sugere alterações políticas, 
sociais e econômicas como pontos-chave para que 
se possa proporcionar condições de saúde ideais à 
sociedade. Entre as propostas defendidas estão a 
melhoria da infraestrutura das cidades, do 
transporte público, da distribuição de renda e do 
acesso equitativo à saúde. Em termos práticos, esse 
modelo tem como objetivo correlacionar 
determinantes sociais e saúde. Todavia, este é um 
árduo e complexo desafio. 
 Agora, observe estes dois aspectos, 
responsáveis por tornar o modelo supracitado um 
desafio laborioso: 
1. Os fatores econômicos, políticos e sociais 
podem afetar de modo distinto a condição de 
saúde de uma população, não seguindo um 
único padrão; 
2. Não é completamente elucidada a diferença 
entre os determinantes sociais de saúde de 
indivíduos e de grupos, postos que aspectos 
relevantes para a saúde individual podem não 
esclarecer as diferenças existentes entre os 
grupos de uma população. 
 Sendo assim, é possível questionar-se de que 
forma os determinantes sociais influenciam a saúde. 
Bem, para esta questão não existe uma única 
resposta, mas sim um conjunto de diferentes 
abordagens explicativas, uma vez que estabelecer 
com exatidão a influência que cada determinante 
tem sobre a saúde é extremamente complexo. 
Segundo Rocha, em seu livro Manual de saúde 
pública e saúde coletiva no Brasil, de 2012, e 
Bassinello, em Saúde coletiva, de 2014, as principais 
abordagens descritas na literatura são: 
1. Aspectos físicos-materiais - Essa 
abordagem afirma que as diferenças de renda da 
população condicionam a saúde, visto que envolvem 
fatores econômicos e políticos que ocasionam a 
carência de recursos individuais e a falta de 
investimentos em saneamento básico, educação, 
moradia, entre outros; 
2. Fatores psicossociais - Foca nas 
concepções psicobiológicas e na desigualdade social, 
atestando que a saúde é afetada pelas tensões 
ocasionadas por situações de desigualdade social; 
3. Enfoques multiníveis e ecossociais – 
Abordam fatores sociais, biológicos, individuais e 
grupais sob uma visão ecológica, dinâmica e 
histórica. 
4. Relações entre saúde, desigualdade e a 
associação entre indivíduos e grupos de pessoa – 
aborda a presença da confiança e solidariedade entre 
a sociedade. Afirma que as populações com maior 
coesão social e maior índice de igualdade são as mais 
saudáveis. 
 Muitos autores criaram esquemas para ilustrar 
as relações entre os determinantes de saúde, e o mais 
aceito e empregado no meio científico é o modelo de 
diferentes camadas, desenvolvido por Dahlgren e 
Whitehead. 
Unidade 1 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 
 
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 Este modelo é designado da seguinte forma: 
1. A primeira camada, entendida como o centro 
do modelo, representa o individuo e seus 
condicionantes de saúde; 
2. A segunda camada engloba aspectos 
comportamentais e hábitos de vida individuais; 
3. A terceira camada compreende as redes 
comunitárias e do apoio social; 
4. A quarta camada apresenta aspectos 
relacionados às condições de trabalho e vida, o 
alcance de serviços fundamentais e a alimentação; 
5. A quinta e última camada inclui 
macrodeterminantes, como fatores culturais, 
condições econômicas e ambientais. Os aspectos 
dessa camada exercem muito influencia sob as 
anteriores. 
 É indiscutível a forte influência que os 
determinantes sociais exercem nas condições de 
saúde da sociedade. Segundo Geib, em seu artigo 
"Determinantes sociais da saúde do idoso", de 2012, 
“a equidade requer ação sobre os determinantes 
sociais da saúde na perspectiva do curso da vida, com 
ações multissetoriais em todas as etapas do ciclo vital, 
já que o estado de saúde individual é um marcador de 
suas posições sociais no passado” (p. 131). 
 As circunstâncias em que um indivíduo nasce, 
vive, trabalha e envelhece estão diretamente 
relacionadas à manutenção da sua saúde ao longo da 
vida. Conhecer esses aspectos e compreender os 
determinantes sociais aqui discutidos permite ao 
profissional da área da saúde desenvolver estratégias 
de intervenção mais adequadas aos diferentes perfis 
de pacientes.

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