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Psicologia Social
Cultura e Psicologia Social
Desenvolvimento do material
Patricia Castro de Oliveira e Silva
1ª Edição
Copyright © 2022, Afya.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, 
transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, 
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia 
autorização, por escrito, da Afya.
Sumário
Cultura e Psicologia Social
Para início de conversa… ................................................................................ 3
Objetivo .................................................................................................... 3
1. Cultura e Subjetividade ........................................................................ 4
2. Aspectos Transculturais dos 
Fenômenos Psicossociais ......................................................................... 7
3. História, Cultura e Sociedades Indígenas 
no Brasil .................................................................................................... 9
Referências .................................................................................................... 13
Para início de conversa…
Você já se pegou pensando que o mundo como você conhece não é o 
único? Que existem diferentes maneiras de pensar, sentir e estar no 
mundo e que elas não devem ser classificadas em termos dicotômicos, 
como certo ou errado? O mundo em que você vive é constituído, desde 
sempre, por diferentes povos que têm diferentes atitudes, hábitos, 
valores, normas e regras de convivência. Isto é, a vida se forma em meio 
a diversidade cultural. 
A cultura é um conceito polissêmico, ou seja, pode ser definido de 
diferentes formas, com base em diferentes áreas do conhecimento. De 
todo modo, o importante é ter claro que se trata de um aspecto que 
constitui o ser humano, estando diretamente relacionado à sua maneira 
de estar, sentir e ver o mundo.
Nesse sentido, existem diferentes maneiras de ver a diversidade cultural: 
uma seria a partir da perspectiva etnocêntrica; e a outra por meio da 
relativização cultural. Neste capítulo, falaremos sobre como o conceito 
de cultura é capaz de contribuir para a construção do conhecimento das 
sociedades e de que forma a história das culturas e dos povos pode ou 
não estar enviesada por determinadas visões dominantes. 
Objetivo
Compreender o conceito de cultura à luz da Psicologia Social.
Psicologia Social 3
1. Cultura e Subjetividade 
O homem é um ser biopsicossocial e cultural. O comportamento de todos 
está, também, diretamente relacionado à cultura na qual se constituem 
enquanto pessoas, em que são socializados e inseridos cotidianamente. 
Os estudos sobre cultura para a psicologia estão centrados na influência 
cultural, não apenas sobre o comportamento, mas acerca do pensar e 
sentir de cada um em perspectiva com o contexto histórico e social. 
Nesse sentido, Miranda e Hedler (2011), apoiados em Fink e Mayrhofer 
(2001), afirmam que a comunicação entre os grupos e indivíduos é um 
objeto de estudo privilegiado quando se pensa nas contribuições da 
psicologia social em relação à cultura.
Bonin (1998) nos coloca que a perspectiva histórico-cultural, na 
psicologia social, entende que o ser humano nasce com determinados 
comportamentos referentes à sua estrutura biológica. Porém, ao longo de 
seu desenvolvimento, nos processos de socialização, os comportamentos 
se constituem pela influência da cultura de outras pessoas com as 
quais ele interage. As pessoas, ao nascerem, já encontram um sistema 
de códigos, normas e instituições que vem se constituindo ao longo da 
história da humanidade, assim, começam a interagir com as instâncias 
encontradas, passando, também, a exercer a função de constituintes 
dessa sociedade. Elias (1994-1995 apud 1998, p.58) expõe que:
‘‘ Cada indivíduo pode ser considerado como um nó em uma extensa rede de inter-
relações em movimento. O ser humano desenvolve, através dessas relações, 
um ‘eu’ ou pessoa (Self), isto é, um auto-controle “egóico’”, que é um aspecto do 
‘eu’ no qual o indivíduo se controla pela auto-instrução falada, de acordo com 
sua auto-imagem ou imagem de si próprio. É um ser que tendo ‘instintos’ ou 
comportamentos pré-programados passa através da vida social a adquirir a fala 
e planejar e controlar sua atividade e a de outrem, através das representações 
mentais.’’ 
O conceito “eu” diz respeito ao sujeito ativo que toma decisões 
e se orienta no mundo e, por outro lado, se refere à autoestima/
autoimagem, em uma referência à noção de “me” ou “mim” em George 
Mead (1972). É na interação com cuidadores primários – na relação 
interpessoal – que a criança vai construir as noções sobre como deve 
se comportar, vai adquirir um controle intrapessoal (BONIN, 1998). 
Nessa perspectiva, o indivíduo parte de uma relação interpessoal – do 
processo de socialização primária e secundária (LUCKMANN; BERGER, 
1998) – para se auto-regular e planejar suas atividades. Bonin (1998), 
apoiado em Vygotsky (1984 apud BONIN, 1998) afirma que isso se torna 
possível pela existência da linguagem. Assim, esta,enquanto expoente e 
constituinte da cultura, é fundamental para a compreensão do indivíduo 
na perspectiva da psicologia cultural. 
O conceito de cultura, para a psicologia social, ajuda na compreensão 
de como as subjetividades se constituem nas relações coletivas e 
Psicologia Social 4
institucionais, que estão fundamentadas em normas e regras que se 
manifestam de diferentes maneiras em diferentes épocas e contextos 
sócio-históricos e promovem processos de inclusão e exclusão de 
determinados grupos e pessoas (NORIEGA et al., 2011). Na literatura, 
existe uma diversidade de conceituações sobre cultura, mas a 
perspectiva antropológica parece ser a mais usada. Assim, ela poderia 
ser “definida como o modo de pensar, sentir e agir em determinado 
grupo de indivíduos” (MIRANDA; HEDLER, 2011, p.314). Bonin (1998) nos 
coloca que a cultura também pode ser compreendida como um conjunto 
de hábitos, instrumentos forjados, manifestações artísticas, maneiras de 
relações interpessoais, regras sociais e instituições de um determinado 
grupo. 
Abordando as diferentes perspectivas para estudar a relação indivíduo-
cultura na psicologia social, Bonin (1998) nos apresenta quatro 
possibilidades. O autor coloca que a primeira seria a cultura entendida 
como uma variável independente, em que cultura e mente seriam 
entendidas separadamente; na segunda, a cultura seria a mente como 
inserida nas práticas e atividades culturais; na terceira, a cultura é tida 
como a descrição das atividades e práticas de um grupo, ou seja, a cultura 
na mente; na quarta seu pensamento afirma: “a cultura e a pessoa, ou 
seja, a pessoa como agente intencional em mundo que é constituído de 
interpretações e objetos culturais.” (BONIN, 1998, p.61)
Os termos “variável dependente” e “variável independente” são utilizados 
originalmente pela área da estatística, mas absorvidos pela pesquisa 
científica de maneira ampla, em especial, nas pesquisas de cunho 
experimental, como algumas vertentes da psicologia social. Por exemplo: 
um estudo de caso sobre o consumo de álcool e risco para câncer de 
fígado. A variável dependente seria a ocorrência ou não de câncer de 
fígado, e a variável independente seria o consumo de álcool. De maneira 
bastante resumida, pode-se dizer que a variável independente se refere 
à causa primeira, à origem e aos antecedentes dos eventos em estudo; 
e a variável dependente diz respeito às consequências relacionadas à 
variável dependente.
Entre as décadas de 1960 e 1970, a cultura era fundamentalmente 
pensada como separada da mente, em uma perspectiva dicotômica e 
dualista: mente X cultura. A mente era entendida como uma espécie 
de processador da cultura, sendo externamente afetada por esta. A 
maneira de estudá-la nessa perspectiva era, de modo geral, o método 
experimental. Nos estudos interculturais dessa época, não se levava em 
conta o contexto histórico-culturalda pessoa, que trabalha com uma 
perspectiva mais ativa de sujeito na sociedade – sujeito que constrói a 
cultura, mas, apenas como receptáculo da mesma. Nesse sentido, vale 
lembrar que George Mead já havia, desde a Escola de Chicago, proposto 
Psicologia Social 5
pensar a pessoa na sociedade para além de um binômio, como instâncias 
separadas que se sobrepunham uma à outra, mas de maneira dialética, 
instâncias que se constituíam na interação de forças dos contextos 
psico-sócio-histórico e culturais. 
Em um momento posterior, cultura e mente deixaram de ser pensadas 
como variáveis independentes. A mente passou a ser concebida como 
inserida nas práticas e atividades de um grupo cultural. Nesse sentido, a 
cognição se tornou um objeto privilegiado de estudo, especialmente, a 
partir das diferentes formas de escrita na cultura (BONIN, 1998). 
Nessa perspectiva, a cultura é entendida como práticas coletivas e 
normativas que passam a ser apropriadas pelas crianças na interação 
com os adultos. A cognição é estudada como uma habilidade prática 
da vida cotidiana. A tradição cultural, assim, “se faz através de ações e 
interpretações nas práticas cotidianas que são transmitidas através da 
história de um grupo”. (BONIN, 1998, p.63) No entanto, a participação 
dos menos experientes nesse processo não é passiva, mas participativa 
nas atividades do grupo. As pessoas vão aprendendo aos poucos e, em 
diferentes processos, vão se apropriando da cultura.
Na terceira maneira de se pensar a cultura em psicologia social, Bonin 
(1998) afirma que os processos cognitivos não são mais trabalhados 
como unidades de análise, mas sim como um conjunto de narrativas 
(interpretações) das atividades das pessoas no cotidiano. Logo, a relação 
indivíduo-cultura é pensada como uma descrição sobre os modos de 
agir e pensar das pessoas. Para além das categorias cognitivas, como 
memória, percepção, linguagem etc., nesse momento, se refere a pensar 
a vida, com base em uma perspectiva da psicologia do cotidiano, que 
leva a cultura a ser vista como sistema simbólico de classificação e 
interpretação da atividade humana. O autor ainda nos dá como exemplo 
o fato de que se ingerimos algo, é porque esse algo já teria sido 
classificado como um alimento (BONIN, 1998). Por outro lado, isso não 
impede que esse alimento seja pensado em outras possibilidades de 
utilização para a vida humana por alguém, sem que tenha sido ensinado 
por outrem. Dessa forma, nem tudo necessita de uma interpretação 
prévia. A questão de fundo, nessa perspectiva, está na possibilidade 
de aprendizagem com ou sem a ajuda do outro, ou seja, aprendizagem 
mediada e não mediada pela fala. 
A última forma de se pensar a cultura como objeto de estudo de 
psicologia social ou psicologia cultural – como um tipo de psicologia 
social – seria a cultura na pessoa, em que o sujeito cria e seleciona suas 
ações, em um continuum de aceitação e rejeição da interferência do 
outro no seu percurso cotidiano. Essa corrente propõe que a sociedade 
é criada individual e coletivamente, de modo a revelar uma intenção do 
produtor. Os objetos, muitas vezes, são criados para que você se lembre 
da intenção de autorregulação na sociedade. Por exemplo, bilhetes 
que você escreve para você mesmo com a intenção de se lembrar de 
Psicologia Social 6
compromissos, ou mesmo o despertador que você coloca para te acordar 
para o trabalho. Nessa perspectiva, “a pessoa é entendida como um 
agente intencional em um mundo de objetos culturais e que o mundo 
é constituído de interpretações” (BONIN, 1998, p.64). Desse modo, as 
relações interpessoais revelam, também, intenções e ironias sobre 
as próprias intenções, através de gestos significativos que vão além 
da fala. Por exemplo, uma pessoa pode estar falando com uma sobre 
determinado assunto, mas com uma piscadela pode comunicar a outra 
que isso que está falando não é tão verossímil assim, indicando que 
fala uma coisa, mas com a piscadela, indica a flexibilização da própria 
fala, ou ironiza a mesma para uma outra pessoa. Isto é, o ser humano é 
capaz de enganar simbolicamente, pois consegue se colocar no lugar do 
outro e consegue pressupor suas ações e possíveis consequências das 
mesmas. Características próprias do ser humano enquanto sujeito social 
e cultural. 
Dentre os psicólogos sociais pioneiros que se dedicaram a pensar a 
construção da subjetividade em perspectiva com a cultura, está Lev 
Vygotsky com sua psicologia sócio-histórica ou psicologia histórico-
cultural. Vygotsky é conhecido como o primeiro psicólogo social a 
sistematizar os mecanismos pelos quais a cultura constitui o indivíduo, 
tendo logrado explicar a transformação dos processos psicológicos 
elementares em processos complexos dentro da história. 
2. Aspectos Transculturais dos 
Fenômenos Psicossociais 
Uma das abordagens usadas para investigar a cultura é feita por meio das 
diferenças no modo de pensar, sentir e agir de um determinado grupo de 
indivíduos e em diferentes contextos e territórios. Para Hofstede (1980), 
o estudo das diferenças entre grupos e sociedades envolve questões de 
relativismo cultural (apud MIRANDA; HEDGEL, 2011). O “eu” é construído 
pela conversação de gestos em determinados grupos sociais (BONIN, 
1998). Essa concepção do “eu” está fundamentada na premissa de um 
sujeito ativo, um “eu” que decide sobre suas ações e em um “me”, como 
em Mead, que diz respeito à autoestima e à autoimagem. A sociedade 
ocidental atual está centrada no “eu” e não na coletividade cultural. 
Nesse sentido, como exemplo, Bonin (1998) apresenta estudos que 
comparam as culturas japonesa e norte-americana. Na cultura norte-
americana, são valorizadas a independência e a autonomia, as pessoas 
se vêem como únicas e agem conforme valores e atributos internos. Já 
na cultura japonesa, o “eu” se faz na interação com o outro, não tem esse 
caráter individualista, o “eu” é parte integrante e constituinte da família 
ou grupo. A cultura japonesa traz uma visão que prioriza o contexto 
relacional em que outras pessoas participam e compõem a definição de 
si. Assim, pode-se dizer que os japoneses agem conforme as expectativas 
Psicologia Social 7
dos outros, não se colocando em primeiro lugar, mas “procurando 
harmonizar seus desejos e atributos pessoais com os de outrem (BONIN, 
1998, p.67), isso indica uma interpretação do “eu” interdependente. Já 
nos EUA, os estudos sobre psicologia cultural revelam uma concepção 
do eu independente. 
As dimensões culturais entre o individualismo e o coletivismo têm sido 
área de grande interesse teórico-conceitual, seja no âmbito da análise 
individual ou no da análise social. Miranda e Hedgel (2011) indicam 
que essas dimensões têm se destacado nos estudos sobre a cultura em 
função do crescente número de pesquisas transculturais, mas também 
têm sido um aspecto relevante nas investigações entre indivíduos de 
uma mesma cultura (MIRANDA, 2001 apud MIRANDA; HEDGEL, 2011).
Além disso, teóricos sugerem que as dimensões de individualismo 
e coletivismo podem representar importantes aspectos da cultura 
organizacional. Noriega et al. (2011) apontam que as pesquisas 
transculturais na busca de traços universais do ser humano e na análise 
da influência cultural no comportamento têm contribuído para uma 
produção importante sobre a diversidade cultural. Como exemplo, os 
autores citam os estudos do psicólogo social Geert Hofstede, que, em sua 
série de estudos transculturais, afirma a existência de quatro dimensões 
culturais como universais: a desigualdade de poder, a evitação da 
incerteza e as dicotomias individualismo-coletivismo; masculinidade-
feminilidade. 
a. Distância de poder ou distância hierárquica: Refere-se à forma como as 
diferentes sociedades lidam com as desigualdades entre as pessoas. 
Nas sociedades com baixo nível de desigualdade, as pessoas têm os 
mesmos direitos, as hierarquias ocorrem por conveniência e as pessoas 
são tratadas socialmente de maneiraigual. As mudanças ocorrem 
natural e gradativamente. Nas culturas com alto índice de hierarquia de 
poder, a desigualdade é tomada como natural e aceita, as hierarquias 
são tomadas como necessárias e as pessoas com mais poder atuam 
sobre as outras, desfrutando de privilégios. Mudanças estruturais 
nessas sociedades acontecem por meio de revoluções. 
b. Evitação da incerteza: Diz respeito ao grau de desconforto que as 
pessoas de uma determinada sociedade sentem diante de situações 
incertas ou desconhecidas. Culturas com baixa evitação de incerteza 
apresentam pessoas com baixos níveis de estresse quanto às 
incertezas. Esta incerteza é tomada como parte da vida, diferentes 
opiniões são aceitas e as pessoas se sentem bem, mesmo correndo 
riscos. Culturas com alta evitação de incerteza têm altos níveis de 
estresse diante de situações de incerteza. Na vida, a incerteza é 
percebida e sentida como uma ameaça contínua a ser combatida, 
evita-se o fracasso e os consensos na sociedade são procurados. 
c. Individualismo-coletivismo: Relaciona-se com o nível em que as 
pessoas na sociedade pensam a vida a partir de si mesmas e de seus 
próprios projetos (cultura individualista) em perspectiva com culturas 
onde o si mesmo é reconhecido como produto das inter-relações 
em que a pessoa se pensa em relação ao coletivo (conforme visto 
Psicologia Social 8
acima). Nas culturas coletivistas, o foco social é no “nós” e não no 
“eu”. Os relacionamentos são mais importantes do que as tarefas. 
Nessas culturas, o cumprimento das tarefas coletivas e a manutenção 
da harmonia no grupo, com evitação de enfrentamentos diretos, são 
tidos como um objetivo. 
d. Masculinidade-feminilidade: Refere-se ao nível, em uma cultura, de 
características associadas normativamente à identidade de gênero 
masculina ou feminina. A prevalência da agressividade, atividade, 
competitividade e busca por bens materiais e a resolução de 
conflitos pela imposição dos mais fortes sobre os mais fracos seriam 
características de uma cultura masculina. Características comuns das 
culturas femininas, por outro lado, são percebidas por Hofstede como 
focadas em qualidade de vida, em que a vida é percebida nas coisas 
pequenas e agradáveis do cotidiano, pela solidariedade com os menos 
abastados, onde os conflitos são resolvidos por meio do compromisso 
e da negociação. A análise de masculinidade e feminilidade, em uma 
sociedade e/ou grupo, também diz respeito à análise do grau em que 
as pessoas valorizam os relacionamentos e mostram sensibilidade 
e preocupação com o bem-estar dos outros. Sendo as que mais 
valorizam esses aspectos consideradas culturas mais femininas.
Os estudos de Hofstede demonstraram a existência de grupos culturais 
nacionais, internacionais e regionais capazes de afetar o comportamento 
de sociedades e organizações, persistindo e resistindo através do tempo.
No entanto, é importante observar que esses achados precisam ser 
relativizados à luz das várias intraculturas existentes em todos os países. 
Estes podem ser lidos culturalmente como tendo características gerais 
predominantes, que se sobressaltam em função de um jogo de forças, no 
qual determinados valores e normas acabam se sobrepondo a outros. No 
entanto, em todas as nações, grupos humanos, localidades e territórios, 
há diversas culturas. A predominância de determinados aspectos em uma 
cultura não significa a não existência de outras. Isso pode ser observado 
em processos de colonização, por exemplo, em que o colonizador busca, 
por meio de um processo de aculturação imposto/direto, eliminar as 
culturas dos povos locais e sobrepor o seu modo de pensar e agir. Porém, 
a história da humanidade tem demonstrado que, apesar ou por causa 
de processos e jogos de forças como esses, a diversidade cultural existe 
e resiste. A história dos índios brasileiros na chegada dos portugueses 
ao Brasil e a dos negros escravizados/as em território brasileiro são um 
exemplo dessa resistência e da diversidade cultural. 
3. História, Cultura e Sociedades Indígenas 
no Brasil
No Brasil, estima-se a existência de cinco milhões de indígenas à época 
da chegada dos colonizadores europeus. O genocídio dessa população 
se deu em função das doenças que também chegaram e pelas guerras de 
Psicologia Social 9
extermínio e escravização ocorridas no processo de colonização. Dados 
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) indicam 
que, atualmente, a população indígena brasileira corresponde a, apenas, 
0,4% da população total, sendo equivalente a 896.917 pessoas. Ainda 
conforme o IBGE (2012 apud FERRAZ; DOMINGUES, 2016), existem, no 
país, 305 etnias que falam mais de 274 línguas. 
Somente a partir de meados do século XIX, a historiografia indígena 
começou a ser (re)construída de forma mais ampla e baseada em 
diferentes perspectivas, pois, até então, essa temática era considerada 
como área exclusiva da antropologia evolucionista. Toda ciência é 
construída sobre um determinado recorte. Na antropologia, no final do 
século XIX, prevalecia uma perspectiva evolucionista e etnocêntrica. 
Isto é, uma maneira de pensar todos os povos a partir do referencial 
cultural ocidental e europeu, em que a evolução seguiria em direção a 
esse referencial, e as singularidades culturais eram compreendidas como 
estágios ou etapas para se atingir esse padrão ocidental, europeu, de 
etnia branca e das elites econômicas e intelectuais. Nessas proposições 
científicas, são encontradas as justificativas para as chamadas missões 
civilizatórias, onde caberia aos povos ocidentais a aculturação de povos 
tidos como “primitivos”, com objetivo de que estes evoluíssem em direção 
a um modelo civilizatório, tido como padrão de evolução da humanidade. 
Essa linha antropológica teve como maiores opositores Franz Boas e 
Bronislaw Malinowski, que, em seus estudos, romperam com o modelo 
evolucionista de análise das diferentes culturas.
No modelo fundamentado no evolucionismo, a concepção de cultura 
é uma concepção universalista, baseada numa proposição de unidade 
psíquica da humanidade. Expoentes dessa corrente, como Edward Taylor, 
baseavam suas ideias no darwinismo. Boas e Malinowski se opuseram 
a esse modelo de estágios culturais rumo a evolução para uma cultura 
mais civilizada e superior, e propuseram uma perspectiva particularista 
que entendia cada cultura como única, sem compará-las.
Esses antropólogos propunham que hábitos, costumes, valores e regras 
sociais deveriam ser analisadas a partir da função que desempenham 
em cada sociedade. No início do século XX, os trabalhos de Boas e 
Malinowski se tornaram emblemáticos em uma nova proposição para 
os estudos sobre cultura, que é o relativismo cultural, que combate 
o etnocentrismo, por meio do qual as culturas não dominantes são 
marginalizadas e estigmatizadas.
No Brasil, a história de extermínio das populações indígenas está, em 
muito, relacionada ao etnocentrismo. No processo de colonização 
europeu vivido aqui, a partir do século XVI, bem como nas políticas 
de Estado que se seguiram ao longo da modernidade, é possível 
identificar um projeto genocida e etnocida, no sentido de extermínio das 
populações indígenas e de suas culturas. No decorrer da história do país, 
indígenas, de maneira geral, foram perseguidos, assassinados retirados 
de suas terras e destituídos de quaisquer direitos, inclusive, sobre a 
própria cultura. 
Psicologia Social 10
Ferraz e Domingues (2016) ressaltam que o projeto genocida e etnocida 
do Estado brasileiro contra as populações indígenas adentraram o 
século XX. As autoras, apoiadas em Maldos (2010), referem a existência 
de um plano oficial no período ditatorial brasileiro de aniquilamento da 
população indígena. Apontam como uma das fontes para essa colocação 
o Relatório Figueiredo (documento elaborado entre 1967-1968, que traz 
denúncias de tortura e práticas de extermínio executadas pelo Serviço 
de Proteção ao Índio (SPI), órgão oficial do governoque antecedeu a 
FUNAI). As autoras colocam, ainda, que: 
‘‘ O relatório final elaborado pela Comissão Nacional da Verdade, que apurou as violações dos direitos humanos que ocorreram durante o período de ditadura 
militar no Brasil, traz um capítulo específico sobre as violações de direitos dos 
povos indígenas e mostra que estas violações por parte do Estado foram tanto 
violência direta quanto omissão. No período (entre 1946 e 1988) investigado pela 
comissão, ao menos 8.350 indígenas foram mortos pela ação direta do Estado 
ou por sua omissão, povos indígenas tiveram suas terras usurpadas, sofreram 
com transferências forçadas e tentativas de extermínio com oferta de alimentos 
envenenados, contágios propositais e massacre com armas de fogo. (BRASIL, 
2014 apud FERRAZ, 2016, p.684)’’
Outro dado que reflete o etnocentrismo na cultura brasileira é o fato 
de que, apenas em 2008, o ensino da história e das culturas negra e 
indígena tornou-se obrigatório nos currículos escolares. Isso se deu 
pela Lei n° 11.645/08. Para Ferraz e Domingues (2016), essa inclusão 
tardia no processo educacional reflete a própria inclusão tardia dos 
indígenas na historiografia brasileira.
Em verdade, a historiografia nacional e os estudos culturais, onde se 
incluem as contribuições da psicologia social, têm evidenciado que 
a cultura brasileira se constitui na diversidade de culturas e povos. 
Felizmente, a maioria dos estudos na atualidade tendem a ter como 
perspectiva teórico-conceitual o relativismo cultural. A seguir, veremos 
mais algumas contribuições da psicologia nos estudos e ações em 
relação à população indígena. 
A reconstrução de uma história dos saberes psicológicos no universo da 
cultura em perspectiva com as populações indígenas pode contribuir ao 
debate mais amplo acerca das relações entre psicologia e cultura. Essa 
área de estudos históricos é capaz de contribuir para a compreensão das 
relações entre processos psicológicos, enquanto objeto privilegiado de 
estudo da psicologia, e fenômenos culturais, enquanto expressões das 
diversas culturas humanas, objeto de estudo de diferentes áreas do 
conhecimento.
Ferraz e Domingues (2016), em artigo de revisão sobre os estudos 
de Psicologia e povos indígenas, indicam a realização, em 2004, do 
seminário “Subjetividade e Povos Indígenas” como um marco da 
aproximação da psicologia brasileira com os povos indígenas de nosso 
país. O evento foi realizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e 
teve como objetivo contribuir tanto para o trabalho do psicólogo junto 
a essa população, quanto pensar estratégias capazes de atender às 
demandas das comunidades indígenas, em especial, no que concerne à 
Psicologia Social 11
dívida histórica que a psicologia, de modo geral, possui com os povos 
indígenas no Brasil.
Os estudos sobre culturas realizados a partir de uma perspectiva não 
etnocêntrica são capazes de contribuir para a construção de novas 
subjetividades e o estabelecimento de relações sociais capazes de 
superar ideologias etnocentradas e predatórias com outros povos e 
com a própria natureza. É fundamental reconhecer a potência das 
contribuições que minorias, como os povos indígenas, têm no sentido 
da construção de uma relação mais harmônica com o mundo e com o 
outro. Logo, é fundamental que se veja na diversidade cultural de nosso 
país e do mundo o potencial para mudanças necessárias nas relações 
sociais, de modo que esses povos que, muitas vezes, são considerados 
“primitivos” ou do passado, sejam vistos em sua grande capacidade de 
contribuição para toda população brasileira. 
A cultura é um aspecto estruturante de todo ser humano. Como tal, 
constitui, influencia, (des)constrói atitudes e comportamentos das 
pessoas e das sociedades de maneira geral. O conceito de cultura para a 
psicologia social contribui para a compreensão sobre a constituição das 
subjetividades nas relações coletivas e institucionais, no sentido de que 
tais subjetividades são forjadas sob normas e regras que se manifestam 
de diferentes maneiras, em diferentes épocas e contextos sócio-
históricos e promovem processos de inclusão e exclusão nas sociedades. 
Inicialmente, os estudos sobre cultura eram tomados como área da 
antropologia evolucionista e, nesse sentido, eram etnocêntricos, ou seja, 
pensavam as culturas a partir do referencial ocidental europeu. Essa 
perspectiva esteve na base do extermínio de povos e culturas, como o 
caso da população indígena brasileira, ocorrido desde o processo de 
colonização até a modernidade.
Na construção do conhecimento sobre culturas, em oposição ao 
etnocentrismo, surgiu o relativismo cultural, contrário à ideia de que uma 
cultura se sobrepõe à outra, mas, sim, busca compreender os aspectos 
culturais contextualizados em sua historicidade, funcionalidade, 
cotidianidade e importância para cada sociedade. A grande importância 
dos estudos sobre cultura que valorizam a diversidade cultural está 
em sua capacidade de contribuir para desconstrução de preconceitos, 
marginalizações e processos de exclusão, com base no reconhecimento 
de diferentes experiências e visões de mundo que não são consideradas 
nem boas, nem más; certas ou erradas, mas, apenas, diferentes. 
Psicologia Social 12
Referências
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sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1998. 
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social: principais temas e vertentes. Porto Alegre: Artmed, 2011. [Minha 
Biblioteca]
Psicologia Social 13
	Cultura e Psicologia Social
	Para início de conversa…
	Objetivo
	1. Cultura e Subjetividade 
	2. Aspectos Transculturais dos 
Fenômenos Psicossociais 
	3. História, Cultura e Sociedades Indígenas 
no Brasil
	Referências

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