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Nome do professor Sobre o autor Pietro Valdo Rostagno O autor do caderno de estudos de Obras Hidráulicas é o Professor Pietro Valdo Rostagno, bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) em 27 de novembro de 2002, casado com Adriana Trocilo Picanço Rostagno e pai de Gabriella e Pietra. É Especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Redentor, em março de 2007 e Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Faculdade Integrada de Jacarepaguá, em outubro de 2009. Também atua como Engenheiro Civil da Prefeitura Municipal de São José de Ubá – RJ desde agosto de 2011. No campo da docência, atua ativamente desde novembro de 1999 ministrando aulas de matemática e física para o ensino médio, bem como no ensino superior em Engenharia Civil, qual tem larga experiência nas disciplinas de Cálculo 0, Probabilidade e Estatística, Topografia I e II, Hidrologia Aplicada, Estradas I e II, Obras Hidráulicas (Barragens), Portos, Aeroportos e Hidrovias, Tópicos de Planejamento em Engenharia Civil e Engenharia de Trânsito. No âmbito de ensino à distância atua como professor desde fevereiro de 2015, nos cursos de Engenharia Civil e Engenharia de Produção do Centro Universitário Redentor. Apresentação Olá querido aluno (a), seja muito bem-vindo (a)! Passado o ciclo básico do curso de Engenharia Civil, que corresponde aos 04 (quatro) primeiros períodos, bem como as disciplinas iniciais do ciclo profissionalizante, 5º, 6º, 7 e 8º períodos, você está na fase de formação final do curso. A partir de agora as disciplinas são de formação no campo da Engenharia Civil e requer atenção especial do aluno, pois são muitas informações ao mesmo tempo. No ciclo básico sua formação em Engenharia abordou conhecimentos importantes para sua vida profissional, como os cálculos, as físicas e os desenhos, quais são fundamentais para a formação do Engenheiro Civil. A disciplina OBRAS HIDRÁULICAS abordará diversos conceitos aprendidos nestas disciplinas do ciclo básico, assim como a Mecânica dos Solos I e II, Sustentabilidade, Hidrologia e Concreto I, quais você já cursou, por isso, é necessário o entendimento de todas elas, pois certos conceitos serão abordados no entendimento de que o aluno já sabe e domina o que foi ensinado até aqui. A disciplina de Obras Hidráulicas será dividida em 16 (dezesseis) aulas, onde ao final de cada uma teremos exercícios para serem feitos, cujos mesmos são importantíssimos para a realização da avaliações e atividades práticas supervisionadas (APS’s), bem como as complementares. Procure sempre estar com seus estudos em dia, conforme já dito aqui são muitas informações e caso fique acumulada com outras disciplinas, ocorrerá um acumulo imenso de estudos, que irá requerer do aluno muito tempo para realizá-lo, pois este tempo é muito precisos na vida acadêmica do estudante de Engenharia Civil, bem como na correria do dia-a-dia deve-se organizar para tê-lo em dia. A disciplina irá tornar o aluno a entender, compreender e saber sobre barragens, sejam de terra, concreto ou enrocamento, suas escolhas de acordo com a topografia, geologia, bem como o tipo de solo da fundação existente. Também irá aprender sobre os desvios de rios e ensecadeiras e otimização de suas seções. Quanto ao material de estudos é importantíssimo o aluno ter sempre em mãos: muito papel A4 branco ou reciclado, lápis ou lapiseira (0,5 mm ou 0,7 mm – marca Pentel), borracha branca sintética, calculadora científica (Cassio FX-82 MS ou HP 10s, pois tem as funções que precisamos) e muita disposição para os estudos. E sempre lembrando do seguinte lema: “Aqui é Engenharia Colega…”. Objetivos OBJETIVO GERAL DE OBRAS HIDRÁULICAS Permitir ao aluno a aquisição de conhecimentos básicos de Obras Hidráulicas, visando a sua aplicação maior no campo da engenharia civil. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE OBRAS HIDRÁULICAS Proporcionar ao aluno noções adequadas para o conhecimento sobre o estudo de barragens de terra e concreto, sendo de fundamental importância o aprendizado de técnicas construtivas e a avaliação de situações complexas em obra. Sumário AULA 1 - TIPOS DE BARRAGENS 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 15 1.1 Tipos de barragens ..................................................................................... 15 1.1.1 Barragens de terra ...................................................................................... 15 1.1.2 Barragem de terra homogênea ............................................................... 18 1.1.3 Barragem zoneada .................................................................................... 19 1.1.4 Trincheira de vedação e núcleo .............................................................. 21 1.2 Barragens de enrocamento ...................................................................... 23 1.3 Barragens de concreto .............................................................................. 25 1.3.1 Metodologias construtivas ......................................................................... 25 1.3.2 Objetivos básicos das construções de barragens de concreto ............ 26 AULA 2 - ESCOLHA DO TIPO 2 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 33 2.1 Arranjo dos aproveitamentos .................................................................... 33 2.2 Definição do tipo de barragem ................................................................ 37 AULA 3 - INVESTIGAÇÃO DAS FUNDAÇÕES 3 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 47 3.1 Investigação geológico-geotécnica ....................................................... 48 3.2 Previsão das condições executivas ......................................................... 50 AULA 4 - TRATAMENTO DAS FUNDAÇÕES 4 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 60 4.1 Tratamento superficial ................................................................................ 61 4.1.1 Remoção de materiais indesejáveis ......................................................... 62 4.1.2 Regularização da fundação ..................................................................... 62 4.1.3 Limpeza ....................................................................................................... 63 4.1.4 Recobrimento superficial ........................................................................... 63 4.1.5 Drenagem superficial ................................................................................. 64 4.1.6 Injeções localizadas ................................................................................... 64 4.2 Tratamentos profundos ............................................................................... 65 4.2.1 Projeto geotécnico .................................................................................... 65 4.2.2 Consolidação da fundação ..................................................................... 66 4.2.3 Injeção profunda das fundações ............................................................. 66 4.2.4 Drenagem profunda das fundações em rocha ...................................... 68 4.2.5 Drenagem profunda das fundações em solo ......................................... 70 4.3 Critérios para liberação das fundações ................................................... 70 AULA 5 - DESVIOS DE RIOS 5 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 78 5.1 Desvio através de estrangulamentoparcial do rio ................................. 78 5.2 Desvio através de túnel .............................................................................. 79 5.3 Desvio de rio através de galerias ou adufas ............................................ 81 5.4 Fechamento do rio ..................................................................................... 82 AULA 6 - ENSECADERIAS 6 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 90 6.1 Construção das ensecadeiras .................................................................. 92 6.2 Materiais ...................................................................................................... 95 6.3 Equipamentos ............................................................................................. 95 6.3.1 Execução .................................................................................................... 95 6.3.2 Manejo ambiental ...................................................................................... 95 6.3.3 Controle e aceitação ................................................................................ 96 AULA 7 - IMPERMEABILIZAÇÃO DO RESERVATÓRIO 7 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 20 7.1 Métodos construtivos de barragens de rejeito ........................................ 21 7.1.1 Método de alteamento para montante .................................................. 22 7.1.2 Método de alteamento para jusante ...................................................... 23 7.1.3 Método de alteamento por linha de centro ........................................... 25 7.2 Disposição de rejeitos por aterro hidráulico ............................................ 25 7.2.1 Segregação hidráulica .............................................................................. 27 7.2.2 Densidades dos rejeitos .............................................................................. 28 7.3 Sistemas de impermeabilização ............................................................... 29 7.3.1 Geomembrana de polietileno de alta densidade – PEAD .................... 29 7.3.2 Geocompostos bentonítico ...................................................................... 30 7.3.3 Mantas impregnadas com betume ......................................................... 32 AULA 8 - FILTROS E TRANSIÇÕES 8 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 41 8.1 Conceito de filtro ........................................................................................ 41 8.1.1 Filtros – drenagem interna.......................................................................... 41 8.1.2 Critérios para filtros ..................................................................................... 45 8.2 Conceito de transições .............................................................................. 49 8.2.1 Materiais para filtros e transições .............................................................. 49 AULA 9 - OTIMIZAÇÃO DAS SEÇÕES DAS BARRAGENS 9 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 58 9.1 Fatores que influenciam a escolha da seção ......................................... 59 9.1.1 Características dos materiais .................................................................... 59 9.1.2 Disponibilidade e economicidade dos materiais .................................... 60 9.1.3 Condições climáticas e trabalhabilidade ............................................... 60 9.1.4 Cronograma de construção ..................................................................... 61 9.1.5 Esquema de desvio .................................................................................... 61 9.1.6 Características geológico-geotécnicas e topográficas da fundação 62 9.1.7 Integração ao arranjo geral ...................................................................... 62 9.2 Barragem de seção homogênea ............................................................. 62 9.3 Barragem de terra-enrocamento ............................................................. 63 9.4 Barragens de enrocamento com face de concreto ............................... 64 AULA 10 - PROTEÇÃO DOS TALUDES 10 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 71 10.1 Proteção dos taludes para barragens homogêneas .............................. 74 10.1.1 Enrocamento .............................................................................................. 75 10.1.2 Alvenaria de pedra ou laje de concreto ................................................. 76 10.1.3 Proteção vegetal ....................................................................................... 78 10.1.4 Proteção com brita, pedregulhos e/ou bica corrida ............................. 79 10.2 Barragens mistas ......................................................................................... 80 10.3 Barragens de enrocamento ...................................................................... 80 10.4 Detalhes construtivos - equipamentos ..................................................... 80 10.5 Proteção inadequado de taludes ............................................................. 81 AULA 11 - NOÇÕES DE INSTRUMENTAÇÃO DE BARRAGENS 11 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 89 11.1 Instrumentação - conceito ........................................................................ 89 11.2 Grandezas a serem monitoradas .............................................................. 89 11.3 Seleção dos blocos ou seções “chave” .................................................. 92 11.4 Quantidade de instrumentos ..................................................................... 93 11.5 Seleção dos tipos de instrumentos ........................................................... 93 11.6 Instrumentação de barragens de pequeno porte .................................. 96 11.7 Codificação do instrumentos e simbologia ............................................. 96 AULA 12 - CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETO DE BARRAGENS DE TERRA DE ENROCAMENTO 12 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 105 12.1 Fase de viabilidade .................................................................................. 105 12.2 Fase de projeto básico ............................................................................ 106 12.2.1 Requisitos básicos de projeto e método de análise ............................. 106 12.2.2 Dos requisitos básicos – interpretação conjunta ................................... 107 12.2.3 Dos métodos de cálculo – interpretação conjunta .............................. 108 12.2.4 Exemplos de concepção conjunta maciço – fundação ..................... 109 12.2.5 Outros exemplos de concepção de projeto ......................................... 110 AULA 13 - CONSTRUÇÃO DE PEQUENAS BARRAGENS DE TERRA 13 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 118 13.1 Marcação do local de construção ........................................................ 118 13.2 Ativos fixos tangíveis ................................................................................ 120 13.3 Equipamento e técnicas de compactação .......................................... 122 13.3.1 Rolos pé-de-carneiro ................................................................................ 124 13.3.2 Rolos vibradores ........................................................................................ 125 13.3.3 Compactadores depressão ................................................................... 126 13.3.4 Rolos compactadores .............................................................................. 126 13.4 Limpeza e preparação do local ............................................................. 127 13.4.1 A base da barragem ............................................................................... 127 13.4.2 Áreas de empréstimo ............................................................................... 127 13.5 Assentamento ........................................................................................... 128 13.6 Descarregador / vertedor ........................................................................ 128 13.7 Construção do aterro ............................................................................... 129 13.7.1 Núcleo / trincheira de vedação ............................................................. 129 13.7.2 Aterro ......................................................................................................... 131 AULA 14 - CANAL EXTRAVASOR DE SUPERFÍCIE 14 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 140 14.1 Descarregador de fundo ......................................................................... 142 AULA 15 - EXERCÍCIOS DE REVISÃO 15 EXERCÍCIOS ............................................................................................... 151 AULA 16 - CONSIDERAÇÕES SOBRE A UHE ROSAL – ES/RJ 16 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 157 16.1 Localização ............................................................................................... 157 16.2 O empreendimento .................................................................................. 158 16.3 Barragem de concreto............................................................................. 160 16.4 Extravasores .............................................................................................. 161 16.5 Sistema de adução .................................................................................. 161 16.6 Casa de força e edifício de controle ..................................................... 163 Iconografia Tipos de barragens Aula 1 APRESENTAÇÃO DA AULA As barragens são utilizadas em larga escala no Brasil, seja para aproveitamento hidrelétrico, seja para reservarão de água ou algum tipo de rejeito mineral. Os tipos mais comuns são: terra, concreto e enrocamento. Estes tipos serão aqui estudados e será feita abordagem sobre suas funções e técnicas executivas no campo da engenharia civil. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Quais são os tipos de barragens; ➢ As características de cada tipo; ➢ Como evitar infiltrações; ➢ Tipos de barragens com drenagem; ➢ Objetivos básicos nas construções de barragens. P á g i n a | 15 1 INTRODUÇÃO 1.1 Tipos de barragens Os tipos de barragens são variáveis e influenciados por condicionantes locais. Os mais comumente usados são: ✓ Barragem de terra com seção homogênea; ✓ Barragem de enrocamento com núcleo impermeável, face de concreto, face de concreto asfáltico e núcleo asfáltico; ✓ Barragem de concerto tipo gravidade, barragem em arco ou barragem de concreto compactado a rolo (CCR). As soluções tecnicamente viáveis são diversas e a escolha da seção deverá ser feita em um processo iterativo pelo critério de menor custo global. As barragens de interligação com as estruturas de concreto, através dos muros de abraço ou de encosto, são de enrocamento com núcleo que, com seus taludes mais íngremes, possibilitam reduzir os comprimentos dos muros e consequentemente, os custos.1 1.1.1 Barragens de terra As barragens de terras (figuras 01 e 02) têm sido usadas, desde os tempos mais remotos, para aprisionar e desviar água. São simplesmente estruturas compactadas que dependem da sua massa para resistir ao deslizamento e tombamento e são o tipo de barragem mais comum encontrado em todo o Mundo. Métodos modernos de transporte e desenvolvimentos no campo da mecânica dos solos desde o Século XIX, aumentaram consideravelmente a segurança e vida destas estruturas. As principais vantagens envolvidas na construção de pequenas barragens de terra são: ✓ São utilizados materiais naturais locais; ✓ Os procedimentos do projeto são simples. ✓ Comparativamente, são necessários pequenos ativos fixos tangíveis. 1 PEREIRA, G. M. Projeto de usinas hidrelétricas passo a passo. São Paulo: Oficina de Textos, 2015, p. 186. P á g i n a | 16 ✓ Os requisitos para as fundações são menos exigentes do que para outro tipo de barragens. A base larga duma barragem de terra distribui a carga nas fundações. ✓ Barragens de terra resistem ao assentamento e movimentos melhor do que estruturas mais rígidas e podem ser mais adequadas para áreas onde os movimentos do solo são comuns. No entanto, também existem desvantagens e estas são: ✓ Uma barragem de terra é mais fácil de ser danificada ou destruída pela água corrente, passando sobre ou batendo contra ela. Assim, um descarregador/vertedor e proteção adequada a montante são essenciais para qualquer barragem. ✓ Projetar e construir descarregadores/vertedores adequados é normalmente a parte tecnicamente mais difícil de qualquer trabalho de construção duma barragem. Qualquer local com má qualidade de descarga não deverá ser usado. ✓ Durante a construção, se não for adequadamente compactada, a barragem apresentará uma integridade estrutural fraca, apresentando pontos preferenciais de infiltração. ✓ As barragens de terra requerem manutenção contínua de forma a evitar erosão, crescimento de árvores, sedimentação, infiltração e danos provocados por insetos e animais. Os primeiros aterros a ser construídos tinham como princípio uma parede de terra sólida, impermeável ou não, transversal a um rio ou ribeiro. Quando corretamente construídos, tais aterros homogéneos podem ser baratos e seguros. São, no entanto, geralmente inferiores em relação aos métodos modernos de construção zonada em que um aterro é construído em três seções: ✓ Seção a montante relativamente impermeável; ✓ Núcleo central de materiais altamente impermeáveis (os quais, com uma trincheira de vedação abaixo do nível de superfície, selará eficazmente a barragem contra Infiltrações); P á g i n a | 17 ✓ Seção a jusante de materiais grosseiros e pobres, permitindo uma drenagem mais livre da estrutura e a qual, pelo seu peso, escora o aterro às suas fundações evitando o seu escorregamento e outros movimentos.2 Figura 1: Barragem de Terra. Fonte: Barragem Odelouca Dam, Portugal, LCW (2009) Figura 2: Barragem de Terra. Fonte: Barragem SEINFRA/PI, Brasil (2012) 2 STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p.13. P á g i n a | 18 1.1.2 Barragem de terra homogênea Com este tipo de barragem mais antigo, o acumular de demasiada pressão nos poros no interior do aterro e a ocorrência de percolação poderão ser um problema, especialmente para reservatórios com um nível alto ou com rápidas flutuações de nível de água por longos períodos de tempo; ou para uma barragem com fundações impermeáveis. Se a percolação for excessiva, isto poderá levar a instabilidade e eventualmente a falha de toda ou parte da face a jusante. Figura 3: Barragem de terra homogênea. Fonte: STEPHENS (1991) Quer um pé em pedra queruma camada de drenagem (manta) de cascalho miúdo/gravilha ou material similar, ajudará a reduzir o problema de infiltração para as áreas a jusante de um aterro com fundações impermeáveis. O pé em pedra deverá ser coberto por areia grosseira e cascalho miúdo/gravilha de forma a evitar que materiais do aterro sejam arrastados para o seu interior, situação que poderia, em última instância, reduzir a permeabilidade do pé e causar subsidência da barragem. Em fundações mais permeáveis (o que ocorre frequentemente quando as barragens são construídas no leito) o expor uma camada natural de drenagem poderá ter o mesmo efeito na redução de infiltrações que uma manta artificial de cascalho miúdo/gravilha ou uma camada de drenagem. Qualquer estrutura para a redução de percolação deverá apenas estar subjacente à seção jusante da barragem e não se deverá estender para áreas do aterro que poderiam permitir percolação ou infiltração diretamente de montante. De uma maneira geral, barragens homogêneas deverão ter taludes/vertentes relativamente planos (1:3 a montante e 1:2 a jusante) como segurança contra possível P á g i n a | 19 instabilidade. Um talude menos inclinado a montante, obrigatório para todas as barragens de terra, permite que a secção saturada abaixo do nível de água resista ao abatimento. Também, o peso da água armazenada acima deste exerce uma pressão de cima para baixo que, quando combinado com o peso da barragem, iguala ou excede a pressão horizontal exercida pela altura da água contra o aterro. Note-se que esta última depende da altura, não do volume de água, e que a pressão horizontal aumenta na razão do quadrado da altura da água. Assim, ao construir barragens mais altas este assunto torna-se mais crítico, já que, por exemplo, duplicando a altura da água duma barragem de 2 m para 4 m se quadruplicaria a pressão. Não se deve permitir que os níveis de água desçam ou subam demasiado rápido, principalmente se o material do aterro é impermeável. Este cuidado é necessário já que uma rápida descida do nível do reservatório pode causar o abatimento da face de montante ou, se se permitir que a parede seque, uma rápida subida de nível pode causar erosão através de rachaduras e fissuras. Ambas podem eventualmente resultar em erosão, perda de material e, no pior dos casos, numa ruptura/rompimento.3 1.1.3 Barragem zoneada Esta é uma melhor alternativa, particularmente para barragens maiores que facilmente permitem a utilização de maquinaria de construção. Com este tipo de barragem, possíveis perigos de infiltração são reduzidos ao mínimo. Comparadas com barragens de aterro homogéneo, os custos são susceptíveis de ser mais altos, principalmente porque o material de terraplanagem é dividido em três categorias: permeável para a face jusante, impermeável para o núcleo e semi-impermeável para a secção a montante, sendo todas elas escavadas de áreas de empréstimo diferentes (de preferência dentro da área do reservatório), logo aumentando os custos de escavação e transporte. Os taludes, no entanto, podem ser reduzidos para à volta de 1:2 a montante e 1:1,75 a jusante (ou 1:2,25 a montante e 1:2 a jusante para locais onde apenas estão disponíveis materiais de relativa má qualidade) e o material escavado na construção do núcleo pode ser utilizado no aterro, economizando assim em terraplanagens. A figura 04 ilustra um exemplo ideal de uma barragem zonada. 3 STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p.14 e 15. P á g i n a | 20 Especial atenção deverá ser tida quanto ao pé, que poderá ser necessário para conferir estabilidade e para drenar a seção a jusante (poderá ser necessário drenos de cascalho miúdo/gravilha) e ao enrocamento de pedra na face de montante que, neste caso, é necessário para proteção da parede contra a ação das ondas. Quando corretamente feito, o enrocamento de pedra (a figura 05 dá um exemplo) fornece um meio barato (se disponível localmente) e eficiente de proteção, mas não deverá ser usado nas extremidades dos aterros e nas ombreiras nem ao longo dos lados dos descarregadores/vertedores. Estas áreas das barragens são extremamente sensíveis à erosão e poderá ser necessário betoná-las ou protegê-las com gabiões para máxima proteção. A publicação da FAO sobre pequenas barragens e açudes em terra e gabiões (FAO, 2001) proporciona diretrizes sobre esta matéria. Materiais impermeáveis artificiais, tais como película de plástico grosso, têm sido usados com sucesso em muitas partes do Mundo como alternativa a núcleos de argila. Nos trópicos, no entanto, estes materiais têm-se mostrado suscetíveis de atrair roedores, que têm sido esburacados por animais e não tem resistido ao assentamento dos aterros depois da construção. Onde material adequado para o núcleo não esteja disponível a preços acessíveis, estes materiais poderão ter que ser usados, mas, se possível, terão de ser analisados; bem “mortos” antes de escavados e tratados na altura da instalação.4 Anotações do Aluno: 4 STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p.15 e 16. P á g i n a | 21 Figura 4: Barragem Zoneada Típica. Fonte: STEPHEN (1991) Figura 5: Barragem de Enrocamento. Fonte: STEPHEN (1991) 1.1.4 Trincheira de vedação e núcleo Muitas das barragens, homogéneas ou zonadas, podem beneficiar da construção de uma trincheira de vedação na fundação. Uma trincheira de vedação reduz percolação e melhora a estabilidade. Quando argila estabilizada, ou outro material, é usado, a trincheira de vedação deverá ser escavada a uma profundidade que minimize toda a possível percolação. Idealmente, a trincheira de vedação deverá ser escavada até à rocha sólida que se prolonga para grandes profundidades. Se a rocha subjacente está fissurada ou é irregular, poderá ser limpa e betonada de forma a oferecer uma boa superfície sobre a qual poderá ser colocada a argila. Para maiores irregularidades ou fendas, deverá P á g i n a | 22 ser usada uma calda de cimento, que é uma pasta espessa, mistura de cimento e água, que é despejada e varrida para dentro das fendas maiores e fissuras antes do concreto ser espalhado para encher as restantes irregularidades e para oferecer uma superfície quase plana. Para superfícies mais regulares com fendas menores, uma aguada de cimento (uma mistura fraca de cimento e água para formar uma textura cremosa) pode ser escovada ao longo duma superfície para selá-la e, de novo, oferecer uma superfície quase plana. O material da trincheira de vedação deverá ser colocado em camadas com um máximo de 50-75 mm de espessura com uma largura mínima de 1 m para pequenas barragens e camadas de 75-150 mm de espessura e 2-3 m de largura para barragens maiores. Cada camada deverá ser bem compactada e se todo o comprimento da barragem não poder ser acabado duma só vez, cada secção deverá ser bem introduzida e ligada à secção seguinte dado que a trincheira de vedação e núcleo são projetados como uma unidade homogênea para evitar percolação e problemas estruturais. A compactação deverá ser feita à mão ou com maquinaria (rolos ou vibradores), ou uma combinação dos dois. Se forem usados tratores agrícolas, os pneus podem ser cheios com água e, se for seguido um itinerário irregular através da largura da trincheira de vedação na altura de fazer o aterro, poder-se-á poupar muito tempo na compactação. Uma rega ligeira na área de empréstimo algumas horas antes da escavação, pode ajudar na remoção e carregamento do material, desde que não esteja demasiado molhado. A chuva pode causarproblemas e uma argila demasiado molhada torna-se muito difícil de compactar. Neste caso, será melhor esperar para que o solo seque antes de continuar a construção. É aconselhado uma contínua, ou pelo menos frequente monitoração da qualidade do material do núcleo, teor de humidade e procedimentos de assentamento das camadas, principalmente quando se emprega pessoal inexperiente. Nunca é demasiado realçar a importância de uma correta construção do núcleo. Não executar corretamente estes procedimentos comparativamente baratos pode levar, mais tarde, a problemas caros que medidas de remediação raramente resolverão completamente. Se o núcleo e a trincheira de vedação não forem assentes numa fundação firme, e feita em camadas finas e suficientemente úmidas para permitir a P á g i n a | 23 compactação, será demasiado tarde para introduzir medidas de correção depois da construção. 5 1.2 Barragens de enrocamento Para selecionar uma barragem de enrocamento, o local considerado adequado devera possuir as seguintes características: ✓ A disponibilidade de material rochoso em quantidade suficiente. Normalmente é necessário desmontar 100 m3 de rocha para cada 130 m3 lançados no corpo da barragem. As pedreiras devem estar localizadas preferencialmente em cotas superiores as da área de construção da barragem, visando facilitar o transporte de materiais; ✓ A possibilidade de utilização direta do material independente da fonte seja proveniente da escavação das fundações ou das outras estruturas, ou das pedreiras; ✓ A largura do vale, na cota da crista da barragem, deve ser a mais estreita no trecho aproveitável do rio, visando reduzir o volume da barragem; ✓ As fundações e as ombreiras devem ser resistentes e estanques; ✓ Deve haver facilidade para construção e acessos. Nas barragens de enrocamento (figura 06) o aterro e feito com fragmentos de rocha ou cascalho, compactado em camadas. Devem possuir uma zona impermeável, formada por solos e filtros de material granular. Geralmente, uma barragem de enrocamento apresenta mais de 50% de material permeável compactado ou descarregado. As mais comuns são as de núcleo interno de argila, existindo algumas com face de concreto e, mais recentemente, barragens de enrocamento com núcleo de asfalto, sendo que no Brasil encontramos duas barragens deste tipo: nas usinas hidrelétricas Foz do Chapeco e Jirau. A estabilidade da obra e resultante do seu peso e da imbricação das partículas dos diferentes materiais que constituem a barragem.6 5 STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p.17. 6 MEIRELLES, F. S. C. Curso de Segurança de Barragens. Rio Grande do Sul, 2013, p. 15. P á g i n a | 24 Figura 6: Barragem de Enrocamento Serro do Lobo. Fonte: Portugal TPF (2005) Figura 7: Barragem de Enrocamento Serro do Lobo – Usina Hidrelétrica de Antônio Dias – MG. Fonte: MM Projetos & Consultoria (2010) P á g i n a | 25 1.3 Barragens de concreto 1.3.1 Metodologias construtivas Historicamente, as técnicas para construção de barragens de concreto podem ser agrupadas em cinco alternativas básicas, ao longo de seu desenvolvimento: ✓ Pedra argamassada; ✓ Concreto ciclópico; ✓ Concreto convencional em blocos; ✓ Concreto convencional em camada estendida; ✓ Concreto compactado com rolo – CCR. As duas primeiras alternativas de metodologias construtivas (pedra argamassada e concreto ciclópico) estão ultrapassadas e abandonadas. As demais opções são atuais e a decisão por uma delas depende de fatores que envolvem: ✓ Concepção estrutural; ✓ Dimensão da estrutura; ✓ Custos comparativos. Deve ficar entendido que, para algumas estruturas, ou parte delas, como por exemplo nas casas de força e no vertedouro, o uso de concretos e de métodos convencionais é um imperativo. As metodologias que são discutidas a seguir levam em consideração a possibilidade de poderem ser concorrentes entre si e também com barragens de terra ou enrocamento. De uma forma simples e objetiva pode-se resumir a tecnologia convencional de construção de barragens como: ✓ Uso de concreto convencional, com trabalhabilidade e consistência adequadas para se amoldar às formas e envolver embutidos mediante o emprego de vibradores de imersão; ✓ Uso de caçambas, caminhões, correias transportadoras, cabos aéreos, bombas etc. para o transporte do concreto até seu ponto final (bloco). P á g i n a | 26 1.3.2 Objetivos básicos das construções de barragens de concreto ✓ Diminuir a área de fôrma; ✓ Aumentar a velocidade dos lançamentos; ✓ Diminuir a mão-de-obra e aumentar mecanização; ✓ Diminuir as juntas de contração; ✓ Aumentar a competitividade com barragens de concreto, com barragens de terra e enrocamento. Figura 8: Forças atuantes em uma barragem de concreto. Fonte: ROSTAGNO (2011) Figura 9: Forças atuantes em uma barragem de concreto. Fonte: ROSTAGNO (2011) Resumo Nesta aula, abordamos: Barragens de Terra: Neste tópico abordou-se os tipos de barragens de terra como a homogênea, a zoneada e o a trincheira de vedação e núcleo. Este tipo de barragem é importantíssimo principalmente para a reserva de rejeitos de extração mineral. Barragens de Enrocamento: Tipo de barragem que exerce papel de contenção, podendo seu núcleo ser de terra compactada (argila) ou mesmo concreto. Também é utilizada como “píer” "de praia. Seu método executivo deve exigir o cuidado em assentar “pedra sobre pedra”, qual é encaixada, para que a obra tenha funcionalidade. Barragens de Concreto: Barragem do tipo rígida, que pode ser de gravidade, abóboda, contraforte ou compactada a rolo. O material utilizado pode ser o concreto simples ou concreto armado, qual a técnica a ser utilizada depende da fundação, da topografia e da geologia/geotecnia do local da construção. É um tipo de barragem largamente utilizado para a reservação de água para geração de energia elétrica ou mesmo abastecimento urbano de água potável. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre o tipo de barragem, principalmente quanto a sua estrutura e tipo de material de construção empregado. Referências Bibliografia da aula 01: MEIRELLES, F. S. C. Curso de segurança de barragens. Rio Grande do Sul, 2013. PEREIRA, G. M. PROJETO de usinas hidrelétricas passo a passo. São Paulo: Oficina de Textos, 2015. STEPHENS, T. Manual sobre pequenas barragens de terra. organização das nações unidas para a alimentação e a agricultura. Roma – Itália, 2011. AULA 1 Exercícios 1) Descreva o que é uma barragem zoneada de terra, citando suas características internas e externas. 2) Na praia de Marataízes - ES foram feitas obras de contenção das marés executando-se “piers”. O que são estes “piers” e quais foram os métodos construtivos desta obra? 3) Em uma pequena comunidade rural foi construída pequena barragem para reservação de água para abastecimento. Escreva, com suas próprias palavras, a importância deste tipo de obra, e, na sua opinião, qual a melhor técnica construtiva deverá ser adotada? 4) Adaptada do ENADE 2008 - Após a construção de uma barragem detectou- se a presença de uma camada permeável de espessura uniforme igual a 20 m e que se estende ao longo de toda a barragem, cuja seção transversalestá ilustrada abaixo. Essa camada provoca, por infiltração, a perda de volume de água armazenada. Sabe- se que, sob condições de fluxo laminar, a velocidade de fluxo aparente da água através de um meio poroso pode ser calculada pela Lei de Darcy, que estabelece que essa velocidade é igual ao produto do coeficiente de permeabilidade do meio pelo gradiente hidráulico — perda de carga hidráulica por unidade de comprimento percorrido pelo fluido, ou seja, 𝛥ℎ 𝑙 . A vazão de água através do meio é o produto da velocidade de fluxo pela área da seção atravessada pela água, normal à direção do fluxo. Suponha que o coeficiente de permeabilidade da camada permeável seja igual a 10−4 m/s, que ocorram perdas de carga hidráulica somente no trecho percorrido pela água dentro dessa camada e que a barragem e as demais camadas presentes sejam impermeáveis. Sob essas condições, a vazão (Q) por unidade de comprimento ao longo da extensão da barragem é: OBS.: Este exercício depende de conhecimentos de cálculo 0. Anotações do Aluno: Escolha do tipo Aula 2 APRESENTAÇÃO DA AULA A escolha do tipo de uma barragem depende de vários fatores como: topografia, geologia, solo da fundação, sitio a construir, material de construção empregado, maquinário utilizado, ferramentas, experiência da construtora, mão-de-obra empregada, bem como outros tantos diversos fatores a serem avaliados durante a fase de planejamento do empreendimento. O fator hidrológico também é importantíssimo pois abrange o regime de chuvas na região da obra e também as cheias futuras, sendo estas para 100, 1.000 e 10.000 anos. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Definir a barragem a ser construída de acordo com a topografia; ➢ Escolher o melhor local pela forma do curso d’água existente no local; ➢ Definir o tipo de material de construção a empregar na construção da barragem; ➢ Escolher a melhor técnica construtiva de acordo com o sítio a ser situada a barragem; ➢ Entender o perfil geotécnico para a confecção da fundação da barragem. P á g i n a | 33 2 INTRODUÇÃO 2.1 Arranjo dos aproveitamentos Os arranjos dos aproveitamentos são estudados para cada local, considerando- se principalmente as condições topográficas locais, o provável apoio logístico em fase de construção, a possibilidade de evacuação de cheias durante a construção, a provável disponibilidade de materiais de construção, as condições gerais do ponto de vista geológico e geotécnico, a potência instalada calculada para o aproveitamento, a descarga calculada para o vertedouro e os resultados dos estudos especiais. O arranjo de um aproveitamento hidrelétrico é muito influenciado pelo tipo de vale, podendo este ser este encaixado e estreito, semi-encaixado ou aberto. Em vales encaixados e estreitos é usual a execução de barragens de concreto do tipo arco, como mostrado na 10. No caso de vales semi-encaixados pode-se optar por barragens do tipo gravidade, com contrafortes, conforme a figura 11, ou mesmo barragens de enrocamento. Quando se têm vales muito abertos, recomenda-se barragens do tipo gravidade de concreto convencional ou concreto compactado com rolo (CCR) e barragens de terra. As Figuras de 12 a 14 ilustram arranjos típicos para os três tipos de vales citados anteriormente.7 Anotações do Aluno: 7 ASSIS, A. P.; HERNANDEZ, H. M.; COLMANETTI, J. P. Apostila de barragens. Brasília-DF: UNB, 2006, p.8. P á g i n a | 34 Figura 10: UHE Funil, Itatiaia, RJ. Fonte: FURNAS (2001) Figura 11: UHE Três Marias, MG. Fonte: CEMIG (2015) P á g i n a | 35 Figura 12: Arranjo típico em vale estreito – UHE Yoshida. Fonte: UNB (2006) P á g i n a | 36 Figura 13: Arranjo típico em vale medianamente encaixado – UHE Foz da Areia/PR. Fonte: UNB (2006) P á g i n a | 37 Figura 14: Arranjo típico em vale aberto – UHE Tucuruí/PA. Fonte: UNB (2006) 2.2 Definição do tipo de barragem A escolha do tipo de barragem dependerá, principalmente, da existência de material qualificado para sua construção, dos aspectos geológicos e geotécnicos, e da conformação topográfica do local da obra. Outros fatores igualmente importantes para a seleção são: ✓ Disponibilidade de solo ou rocha: proveniente de escavações requeridas, disponíveis em quantidade e qualidade adequadas, segundo um fluxo compatível com a construção do arranjo proposto; ✓ Natureza das fundações: barragens de enrocamento e de concreto somente deverão ser colocadas sobre fundação em rocha, enquanto que as de terra poderão ser colocadas em solo; e ✓ Condições climáticas: a existência de períodos chuvosos razoavelmente prolongados onera exageradamente a construção de aterro de solo compactado ou núcleos de argila porque condiciona o progresso da construção. Um local poderá ser considerado propício para construção de barragem de terra homogênea, conforme figura 15, quando o reconhecimento de campo indicar que a rocha se encontra a grandes profundidades na área em consideração. Esse tipo de P á g i n a | 38 barragem exige menor declividade nos paramentos de montante e jusante e, portanto, resultando em maiores volumes. Por isso, é utilizado para pequenas e médias alturas.8 Figura 15: Seção típica de barragem de terra homogênea. Fonte: UNB (2006) O local poderá ser considerado propício para construção de barragem de enrocamento com núcleo de argila, conforme figuras 16 e 17, ou com face de concreto, conforme figura 18, se o reconhecimento de campo indicar, na área selecionada, a existência de rocha sã e de boa qualidade ao longo do eixo, a pequena profundidade. Esse tipo de barragem não necessita de condições especiais de fundação. Grandes volumes de escavação em rocha na casa de força, em canais e vertedouros são um bom indicativo para a utilização deste tipo de barragem. Além disso, se existirem períodos chuvosos ou excessiva umidade que prejudique a execução de núcleos de argila, ou a dificuldade na obtenção de material adequado para o núcleo, a solução com face de concreto é a mais indicada. Um local poderá ser considerado propício para construção de barragem de concreto, conforme figura 19, quando o reconhecimento de campo indicar, na área selecionada, a existência de rocha sã e com compressibilidade pequena ao longo de todo o eixo já que estas exercem maiores pressões nas fundações, a pequena profundidade. A estabilidade é garantida principalmente pelos esforços de gravidade. 8 ASSIS, A. P.; HERNANDEZ, H. M.; COLMANETTI, J. P. Apostila de Barragens. Brasília-DF: UNB, 2006, p.11 e 12. P á g i n a | 39 A não ser em casos excepcionais, somente deverão ser consideradas barragens de concreto tipo gravidade maciça. Figura 16: Seção típica de barragem de enrocamento com núcleo de argila vertical. Fonte: UNB (2006) Figura 17: Seção típica de barragem de enrocamento com núcleo de argila inclinado. Fonte: UNB (2006) P á g i n a | 40 Figura 18: Seção típica de barragem de enrocamento com face de concreto. Fonte: UNB (2006) Figura 19: Seção típica de barragem de concreto convencional a gravidade. Fonte: UNB (2006) Resumo Nesta aula, abordamos: O arranjo dos aproveitamentos: São estudados para cada local, considerando-se principalmente as condições topográficas locais, o provável apoio logístico em fase de construção, a possibilidade de evacuação de cheias durante a construção, a provável disponibilidadede materiais de construção, as condições gerais do ponto de vista geológico e geotécnico, a potência instalada calculada para o aproveitamento, a descarga calculada para o vertedouro e os resultados dos estudos especiais. Definição do tipo de barragem: Dependerá, principalmente, da existência de material qualificado para sua construção, dos aspectos geológicos e geotécnicos, e da conformação topográfica do local da obra. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre o a escolha do tipo de barragem, principalmente quanto ao estudo do topográfico e geológico. Referências Bibliografia da aula 02: ASSIS, A. P.; HERNANDEZ, H. M.; COLMANETTI, J. P. Apostila de barragens. Brasília-DF: UNB, 2006. BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Furnas Centrais Elétricas S/A. Itatiaia, 2011; GOVERNO DE MINAS GERAIS. Centrais Elétricas Minas Gerais (CEMIG). Três Marias, 2015. AULA 2 Exercícios 1) As barragens são construídas pelo tipo de função a exercer. Com isso, temos diversos tipos de técnicas executivas, bem como podemos saber com qual material irá ser construída, se há material disponível na praça, etc. Sendo assim, qual o tipo de barragem a ser construída em cursos d’água com pequena profundidade e grande largura, sendo a obra para a reserva de rejeitos de atividade de extração mineral. 2) A topografia local para a construção de barragens é fator fundamental para a escolha do tipo, bem como saber os tipos de investigação geotécnica a executar e também o tipo de técnica executiva para se ter sucesso na execução do projeto executivo da obra. Escreva, as características técnicas para a escolha do tipo de barragem a ser adotada em uma situação valem do tipo médio e topografia acidentada nas encostas. 3) Escreva as características técnicas para a escolha do tipo de barragem a ser adotada em uma situação vale do tipo médio. 4) Conforme comentado em sala de aula, explique porque no município de Marataízes-ES foram realizadas obras de enrocamento/espigões (piers)? 5) Adaptada TRE/AM 2010 - Uma barragem de terra foi construída de acordo com o projeto esquemático representado a seguir. P á g i n a | 45 Após 2 meses da execução dos últimos detalhes da obra e há 1 mês do preenchimento do reservatório, foram notadas trincas em certas áreas da barragem, de acordo com a vista superior esquemática abaixo. Em relação ao corte (1) indicado é correto afirmar que: a) O geotêxtil deve envolver o enrocamento por completo. b) Deve existir enrocamento em ambos os lados da barragem. c) A faixa de argila compactada deve envolver o enrocamento. d) i% não pode ser maior que I%. e) O enrocamento dever ser instalado em ambos os lados da barragem. Investigação das fundações Aula 3 APRESENTAÇÃO DA AULA As investigações de fundações de barragens têm grande importância, pois servem como base para saber que tipo de maciço pode ser construído no sitio escolhido, bem como as alternativas de construtivas a serem realizadas. É importante salientar que este estudo tem conceitos que vem da disciplina de fundações e mecânica dos solos I e II, por isso o entendimento destas disciplinas é fundamental. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Quais são os elementos de campo para a execução do levantamento topográfico; ➢ Quais são os elementos de campo para a execução do levantamento geológico e geotécnico; ➢ Utilizar técnicas de investigação de uma fundação; ➢ Entender as execuções dos diversos tipos de sondagens, como as diretas e as indiretas. P á g i n a | 47 3 INTRODUÇÃO As áreas primárias de preocupação geológica são as bordas do reservatório, a estabilidade dos encontros, a percolação e os riscos de deslizamentos de terra. A análise geológica necessita, muitas vezes, localizar ou estabelecer conhecimento em pormenores, da estrutura da rocha, da sismicidade induzida e dos efeitos relacionados com sismos, e das propriedades geofísicas das barragens de terra e/ou de enrocamentos e fundações. A análise consistirá de uma revisão de dados geofísicos, instrumentação, registros e relatórios de percolações passadas, movimentos de lençóis freáticos, estudo das propriedades dos materiais e estruturas, e interpretações de fotografia aérea por sensoriamento remoto. Todos os dados de instrumentação disponíveis devem ser revistos durante a avaliação. Se não há dados ou se os dados disponíveis são limitados uma determinação é feita quanto à necessidade de instrumentação adicional para avaliar um problema potencial de segurança de barragem. A estabilidade estática da barragem e da fundação será analisada quanto ao recalque, deslocamento e umedecimento excessivo. Dados tais como mapas geológicos, registros de perfuração, ensaios de laboratório, superfície freática e métodos de construção devem ser usados, quando disponíveis. Hipóteses de resistência baseadas nos tipos, gradações e ao cisalhamento, para análise, métodos de compactação dos materiais pressupõem que uma condição de resistência a longo prazo, consolidada e drenada, tenha sido atingida. Superfícies freáticas são estimadas, utilizando dados piezométricos, quando disponíveis, ou são estabelecidas, baseadas na zonificação da barragem e na configuração do talude. Análises de estabilidade devem ser normalmente executadas para uma condição de percolação estacionária. A estabilidade à percolação de uma barragem e fundação é focalizada em itens tais como o aumento da percolação com o tempo, a presença de sumidouros, cavidades ou bolhas de areia, e utilizará registros de informações na avaliação. Análises de percolação, como as por gradientes críticos, por construção de redes de escoamento e por elementos finitos, são executadas quando necessárias e quando dados suficientes estão disponíveis. A integridade de controle da percolação dos filtros, drenos, coberturas e materiais de zonas de transição é também analisada. Rever mapeamentos geológicos, plantas e seções transversais, mostrando todos os elementos da exploração e resumindo interpretações dos perfis de P á g i n a | 48 sondagem e geológicos, incluindo pelo menos a barragem, estruturas associadas, fontes de material e, se disponível, a geologia do reservatório. Deve ser dada especial atenção aos aspectos geológicos que influenciem considerações de projeto, tais como: zonas de cisalhamento, falhas, fraturas abertas; camadas, juntas, fissuras ou cavernas; deslizamentos de terra; variabilidade de formações; materiais compressíveis ou liquefatíveis; planos de estratificação fracos etc. Rever registros pormenorizados de exploração, inclusive condições litológicas e físicas dos materiais encontrados, dados de ensaio da água, resultados dos ensaios de penetração normal e outros ensaios de resistência, e frequência e tipos das amostras obtidas dos ensaios de laboratório. Rever dados geofísicos. Rever estudos petrográficos ou químicos dos materiais da fundação e dos materiais naturais de construção. Rever as partes geológicas de todos os relatórios relevantes do local, desde estudos preliminares de reconhecimento até os registros finais de como-construído. Rever fotografias aéreas do local e do reservatório. Rever estudos geológicos regionais, publicados ou não, que sejam relevantes paraa locação da barragem e do reservatório. Examinar as características pertinentes da geologia da área nos locais da barragem e associados, locais de empréstimos e de bota-fora, e, na medida do possível, na bacia do reservatório. Examinar núcleos representativos recuperados da exploração do local, particularmente das zonas indicadas nas testemunhas como sendo severamente quebradas, desgastadas pelo tempo ou altamente permeáveis.9 3.1 Investigação geológico-geotécnica O programa de investigações geológico-geotécnicas deverá ser tal a fornecer as informações necessárias para se elaborar o projeto de escavação, levando em consideração o modelo geológico-geotécnico de cada local e a fase dos estudos. A investigação geológica básica engloba o mapeamento de superfície e as sondagens mecânicas (percussão, rotativa e trado). Essa investigação pode ser complementada por poços, galerias, amostragens especiais e ensaios in-situ. A elaboração de um modelo geológico para a área do projeto é o passo inicial e fundamental para toda a programação das investigações e para a concepção do projeto. O Projeto definirá este modelo em função da composição litológica e estrutural 9 BRASIL. Manual de Segurança e Inspeção de Barragens – Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2002, p. 73 e 74. P á g i n a | 49 do local, procurando identificar suas principais características que possam influenciar o desenvolvimento das obras. A experiência com maciços similares, no Brasil bem como no exterior, deve ser usada na previsão de eventuais feições geológicas usualmente encontradas e que condicionaram comportamentos adversos em outros projetos. A previsão dos volumes e dos tipos de materiais muitas vezes torna aconselhável ou mesmo exige, que complementarmente às sondagens mecânicas, outros métodos de investigação, como a geofísica (sísmica de refração e reflexão, eletrorresistividade, GPR etc....) sejam usados para permitir uma melhor elaboração do modelo geológico-geotécnico. Toda importância deverá ser dada à caracterização geomecânica dos materiais envolvidos. Para isto, serão usados os procedimentos correntes de caracterização de maciços rochosos, entre eles, aqueles desenvolvidos pela ABGE/IPT e ISRM. As condições hidrogeotécnicas do maciço devem ser avaliadas com segurança através de ensaios de perda d’água, infiltração, bombeamento, instalação de medidores de nível d’água, piezômetros, etc.... O estado de tensões do maciço deve ser avaliado apenas quando necessário, principalmente no caso de se prever a escavação de obras subterrâneas de grande porte e/ou quando se antecipam condições muito anômalas de tensões. Nesses casos, os métodos mais usados são o fraturamento hidráulico, sobrefuraçáo, etc. Entretanto, mesmo sendo realizados ensaios, a observação do comportamento do maciço de campo é de fundamental importância e deve ser sistematicamente feita, principalmente quando suportada por retroanálise e monitoramento e pode, algumas vezes, permitir aferir resultados de ensaios. Caso necessário, quando ocorrerem materiais pouco conhecidos ou em condições pouco usuais, dever-se-á obter amostras dos materiais para ensaios de laboratório ou in-situ que complementem as informações obtidas.10 10 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 222 e 223. P á g i n a | 50 3.2 Previsão das condições executivas Com base nas investigações geológico-geotécnicas e no estudo do arranjo será feita a previsão das condições executivas que são esperadas e ainda definidos os estudos e análises que se fizerem necessários. ✓ Classificação geomecânica dos materiais Os maciços rochosos serão classificados usando um dos procedimentos usuais. Deverá ser feita a previsão dos tipos de material a ser escavados e sua classificação de acordo com a categoria de escavação. A previsão implica na avaliação dos volumes envolvidos e sua distribuição ao longo da escavação, complementado preferencialmente por seções e mapas que fornecerão uma visualização adequada para o planejamento executivo. Os seguintes materiais serão diferenciados: ➢ Material comum, inclui todos os materiais que possam ser escavados sem a necessidade do uso de bico de lâmina ou escarificador de trator pesado (tipo D8), e que não estejam saturados. ➢ Material escarificável, inclui todos os materiais que exijam o uso sistemático de bico de lâmina e escarificador de trator pesado e eventual uso de fogacho. ➢ Rocha, inclui os materiais que só podem ser escavados com detonação de explosivos. ➢ Materiais de Difícil Escavação, inclui solos com matacões, solos moles e/ou expansivos, saturados, permanentemente submersos, etc., deverão ser avaliados, localizados e cubados de modo a permitir o planejamento de sua remoção. ✓ Influências da Água Subterrânea A posição da água subterrânea tem sido reconhecida como um dos fatores mais importantes na estabilidade de taludes e na escavabilidade dos materiais. No caso de barragens é imprescindível ter-se em conta sua posição antes e depois de cheio o reservatório. No primeiro caso a influência no método de escavação e na estabilidade dos taludes mesmo provisórios tem que ser considerada. No segundo caso são principalmente os taludes definitivos os mais afetados. Especial atenção deverá ser dada, em maciços heterogêneos, à possibilidade de ocorrência de aquíferos P á g i n a | 51 artesianos e suspensos. A existência da água deve ser sempre definida juntamente com as características de permeabilidade e erodibilidade dos materiais associados, de modo que os tratamentos eventualmente necessários possam ser adequadamente dimensionados. ✓ Estabilidade de Taludes A garantia de estabilidade dos taludes será em princípio, e sempre que possível, obtida através da definição de uma inclinação adequada para cada um dos horizontes ocorrentes. Quando tal não for possível, os tratamentos e reforços necessários terão que ser previstos e dimensionados. Como diretriz geral, para taludes não condicionantes às feições geológicas são indicadas as inclinações dos taludes de escavações para os diversos materiais. Tabela 1: Proporção máxima de taludes em barragens de acordo com o solo. Fonte: ELETROBRÁS (2003) Outra questão que deverá ser considerada é a adoção de bermas de segurança ao longo do talude. O estudo geotécnico deve fornecer os dados necessários para definir os tipos de ruptura possível (ruptura circular, planar, cunha, etc.) o que permitirá escolher o método de análise utilizável. Neste estudo o problema terá que ser enfocado sempre na escala dos fenômenos superficiais, que afetam pequenos volumes, em geral entre bermas, e a estabilidade global do talude. As feições geológico-geotécnicas que controlam cada caso são diferentes, bem como os parâmetros a serem adotados e as análises a serem elaboradas. P á g i n a | 52 A definição dos parâmetros para análises poderá ser feita com base em estudos estatísticos de materiais semelhantes em obras conhecidas ou da própria obra durante as escavações parciais. Ensaios poderão ser feitos para materiais pouco convencionais ou quando for necessária uma análise muito pormenorizada da estabilidade do talude. Métodos empíricos para definição de parâmetros de maciços rochosos (Hoek e Brown) e de descontinuidades de rochas (Barton e Choubey) poderão ser utilizados. ✓ Proteção Superficial Os materiais escavados deverão ser estudados também com a finalidade de se definir sua desagregabilidade e erodibilidade, principalmente junto à superfície de escavação final prevista. Estas informações permitirão prever os tratamentos superficiais a serem aplicados para cada caso e tendo em conta a importânciadas fundações e dos taludes, provisórios ou permanentes. ✓ Necessidade de Controle de Vibrações A execução de detonações próximas às estruturas existentes ou em construção pode exigir um projeto de escavação que limite adequadamente as vibrações produzidas e/ou o lançamento de fragmentos. Muitas vezes as próprias superfícies escavadas e os tratamentos nelas executados precisam ser protegidos. São indicadas a seguir os limites usuais de velocidades de partículas: ➢ Para concretos com idade maior que 24h e distâncias maiores que 9 m Vmax = 15 cm/s; ➢ Para concretos com idade menor que 24h e distâncias maiores que 20 m Vmax = 5 cm/s; ➢ Para distâncias menores que 9m e idades maiores que 24h limitar as deformações a 0,6 mm; ➢ Para superfícies finais acabadas escavadas em rocha, limitar a velocidade em 30 cm/s; ➢ 2,5 cm/s para proteção de equipamentos eletromecânicos. P á g i n a | 53 A minimização de danos aos materiais remanescentes, quando necessária, exigirá um projeto de escavação específico incluindo métodos especiais de fogo (de contorno, pré-fissuramento etc....) e limitação das cargas adjacentes. ✓ Acabamentos das Superfícies de Escavação Em função do acabamento que se pretende obter nas superfícies escavadas serão limitadas as sobre-escavações (over-breaks) e as sub-escavações (under- breaks) para cada superfície. No caso das superfícies hidráulicas, principalmente túneis de desvio, tais limitações devem traduzir os critérios adotados na definição das rugosidades admitidas. Serão, então, indicadas no projeto, para cada situação, duas linhas limites: qualquer saliência aquém da linha mais externa (em relação ao maciço) terá que ser removida e qualquer depressão além da linha mais interna terá que ser preenchido com material a ser especificado. ✓ Acompanhamento Executivo O projeto de escavação deverá, obrigatoriamente, contemplar um programa de acompanhamento executivo, de modo a caracterizar as condições geológico- geotécnicas encontradas e sugerir adaptações, eventualmente necessárias, visto que as previsões feitas durante o projeto estão sujeitas às inevitáveis variações em função dos imprevistos durante a construção.11 11 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 223 a 226. Resumo Nesta aula, abordamos: Investigação geológico-geotécnica: O programa de investigações geológico-geotécnicas deverá ser tal a fornecer as informações necessárias para se elaborar o projeto de escavação, levando em consideração o modelo geológico- geotécnico de cada local e a fase dos estudos. Previsão das condições executivas: Com base nas investigações geológico- geotécnicas e no estudo do arranjo será feita a previsão das condições executivas que são esperadas e ainda definidos os estudos e análises que se fizerem necessários: classificação geomecânica dos materiais; influências da Água Subterrânea; estabilidade de taludes; proteção superficial; necessidade de controle de vibrações; acabamentos da superfície de escavação; acompanhamento executivo. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre a investigação das fundações, principalmente quanto ao estudo geológico-geotécnico. Referências Bibliografia da aula 03: BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003. BRASIL. Manual de Segurança e Inspeção de Barragens. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2002. AULA 3 Exercícios 1) Adaptada Concurso Apiacá-ES 2007 – O estudo dos lençóis freáticos próximo a barragens, ou mesmo a construção de barragens é importante porque os mesmos podem ser imensamente prejudiciais ao maciço e sua operação. Técnicas de rebaixamento de lençóis podem ajudar e muito a manter a barragem segura e funcional. Escreva, porque o “pipping” é prejudicial para as fundações de barragens, principalmente de terra. 2) Sondagens são essenciais para o planejamento construtivo de barragens. Podem ser do tipo indireta ou mesmo diretas e estão relacionadas com a investigação geotécnica da praça de construção. Descreva, para que servem as sondagens do tipo diretas e como são feitas as suas explorações em campo. 3) Descreva, a importância das sondagens indiretas na construção de barragens, abordando seus procedimentos e finalidades. 4) Quando fazemos as devidas investigações para a escolha do tipo de fundações de barragens, temos que verificar alguns elementos necessários no levantamento topográfico de campo. Cite 04 (quatro) desses elementos Anotações do Aluno: 5) Adaptada do ENADE 2008 - Após a construção de uma barragem detectou- se a presença de uma camada permeável de espessura uniforme igual a 20 m e que se estende ao longo de toda a barragem, cuja seção transversal está ilustrada abaixo. Essa camada provoca, por infiltração, a perda de volume de água armazenada. Sabe- se que, sob condições de fluxo laminar, a velocidade de fluxo aparente da água P á g i n a | 58 através de um meio poroso pode ser calculada pela Lei de Darcy, que estabelece que essa velocidade é igual ao produto do coeficiente de permeabilidade do meio pelo gradiente hidráulico — perda de carga hidráulica por unidade de comprimento percorrido pelo fluido, ou seja, Δh/l. A vazão de água através do meio é o produto da velocidade de fluxo pela área da seção atravessada pela água, normal à direção do fluxo. Suponha que o coeficiente de permeabilidade da camada permeável seja igual a 10^−4 m/s, que ocorram perdas de carga hidráulica somente no trecho percorrido pela água dentro dessa camada e que a barragem e as demais camadas presentes sejam impermeáveis. Sob essas condições, a vazão (Q) por unidade de comprimento ao longo da extensão da barragem é: OBS.: Este exercício depende de conhecimentos de cálculo 0. Tratamento das fundações Aula 4 APRESENTAÇÃO DA AULA Os tratamentos das fundações de barragens têm grande importância, pois servem como base para saber que tipo técnica executiva será utilizada para receber as obras do maciço, seja ele de terra, enrocamento ou mesmo de concreto, bem como estruturas mistas como enrocamento-terra ou enrocamento-concreto. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Quais são os principais problemas a erem enfrentados antes do tratamento das fundações; ➢ Os critérios para o tratamento das fundações; ➢ Medidas de tratamento; ➢ Métodos de tratamento; ➢ Medidas preventivas e suas técnicas executivas. P á g i n a | 60 4 INTRODUÇÃO São considerados os tratamentos superficiais e profundos rotineiros e alguns métodos especiais. A seleção de cada método deve levar em consideração as características da fundação a ser tratada, o tipo de projeto e os custos envolvidos. São considerados ainda os critérios de liberação de fundações que devem ser utilizados com a finalidade de aprovar os serviços de tratamento executados. Os objetivos principais dos tratamentos são: ➢ Melhorar e garantir as condições de contato do material a ser lançado com a sua fundação; ➢ Melhorar as qualidades mecânicas do maciço, seja de resistência ou de deformabilidade; ➢ Redução da permeabilidade da fundação e/ou homogeneizaçãode fluxos pela fundação; ➢ Controle das sub-pressões; ➢ Evitar o carreamento de solos pela fundação. É importante que o Projeto defina claramente o objetivo que justifica o tratamento ou seja seu custo/benefício e os parâmetros que serão usados para controle dos resultados. Quando da análise crítica dos processos de tratamento de fundação possíveis resultar conveniente a remoção dos materiais. O modelo geológico-geotécnico incluindo o hidrogeológico (modelo hidrogeotécnico) deve ser o principal instrumento de análise das condições dos maciços de solo e/ou rocha a serem tratados, levando em conta os requisitos de fundação de cada estrutura. Em função desses dados o tipo e extensão dos tratamentos são definidos. A justificativa econômica deverá ser sempre apresentada na definição da necessidade real dos tratamentos a serem executados na fundação da estrutura. Deverá ser sempre demonstrada a necessidade dos tratamentos com base na segurança da obra, justificada através de memória de cálculo que indique claramente os objetivos a serem atingidos com os métodos propostos. Após a definição da necessidade de tratamentos da fundação, o projeto deverá verificar qual o tipo de tratamento a ser executado vinculado principalmente à maior eficiência dentro do P á g i n a | 61 menor custo considerando inclusive a possibilidade de remoção dos materiais em lugar de seu tratamento. Deverá ser feita uma análise comparativa de custos entre os métodos de tratamentos adequados a cada caso. Deverão ser utilizadas principalmente técnicas convencionais de tratamento disponíveis no mercado nacional e que tenham sido utilizadas, aferidas e aceitas em outras obras similares. Para qualquer tratamento que deva ser feito por exigência do projeto utilizando técnicas não convencionais ou não disponíveis no mercado nacional, deverão ser demonstradas sua aplicabilidade e eficiência. Para o caso proposto, poderão ser solicitados testes de campo no local de implantação da obra para aferição do método e equipamentos propostos para cada tratamento. Os métodos deverão ser propostos, inicialmente, pela Projetista, podendo ser discutidos e questionados pelo Construtor ou Responsável pelo Empreendimento, com vistas à sua adequação ou para a utilização de métodos alternativos que resultem numa solução técnica ou econômica mais favorável.12 4.1 Tratamento superficial O tratamento superficial tem por objetivo preparar a superfície da fundação para receber o material que lhe será sobreposto. Deverão ser considerados aqui apenas os trabalhos realizados diretamente na superfície do terreno. Tratamentos sub- superficiais, mesmo rasos, desde que sistemáticos, deverão ser abordados como tratamento profundo. Apenas se deve considerar aqui tratamentos localizados para feições específicas. A sequência de tratamentos superficiais é similar para os diversos tipos de interface estrutura-fundação, sendo estes tratamentos diferenciados em função de sua intensidade de aplicação e dos materiais envolvidos. Deverão ser diferenciadas as condições de fundação em solo e em rocha e os materiais que cobrirão a fundação: concreto e aterro, solo ou enrocamento. Nestes critérios as várias fases são descritas sequencialmente independentemente do tipo de fundação e estrutura.13 12 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 237 e 238. 13 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 239. P á g i n a | 62 4.1.1 Remoção de materiais indesejáveis O projeto de fundação de cada estrutura definirá os tipos de materiais adequados para a fundação da estrutura em consideração. O projeto deverá definir limites aceitáveis para a permanência de cada material em cada estrutura, quando for possível. Entretanto, pode ser de interesse analisar comparativamente a remoção de tais materiais e os tratamentos ou reforços necessários. O projeto de tratamento superficial se inicia, portanto pela consideração da possibilidade e/ou interesse na remoção de materiais indesejáveis ainda remanescentes na fundação. Caso se defina pela remoção, os critérios para controle deverão ser informados de forma objetiva com base nas características visuais dos materiais ou as características de resistência, deformabilidade e permeabilidade pretendidas, indicando a forma de aferição das mesmas e o procedimento de acompanhamento geotécnico.14 4.1.2 Regularização da fundação As irregularidades topográficas existentes na fundação podem causar problemas de concentração de tensão nas estruturas e/ou dificuldades executivas, o que pode justificar sua eliminação. O projeto definirá qual o tratamento a ser realizado, se remoção por escavação, retaludamento ou regularização com material adequado, em geral concretagem, e se de maneira localizada ou generalizada. Deverá ser feita justificativa quanto à solução adequada analisando-a não só no aspecto técnico-econômico como também de cronograma executivo. Taludes de altura significativa, muito íngremes ou mesmo negativos, para determinados materiais e alturas da barragem, podem ter que ser suavizados para garantir uma melhor distribuição de tensão dentro da estrutura. O projeto definirá a posição em que eles terão que ser tratados, o ângulo máximo de inclinação aceitável, a conformação que deve ser dada ao terreno e também o método de escavação 14 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 239. P á g i n a | 63 exigido. Sempre se procurará definir um método de escavação que minimize abalos no material remanescente.15 4.1.3 Limpeza A limpeza é a remoção de todo material solto na fundação. O projeto deverá considerar a execução da limpeza em duas fases: a limpeza grossa e a fina, esta última incluindo a lavagem. Serão definidas as limitações quanto ao uso de equipamentos em cada fase e quanto à pressão de água e/ou ar do processo de lavagem. Estes processos serão definidos levando em conta a erodibilidade e desagregabilidade dos materiais da fundação e o rigor necessário. Descontinuidades geológicas individuais que pela sua extensão e/ou abertura justifiquem tratamentos localizados terão tais tratamentos projetados de acordo com o objetivo a ser alcançado, envolvendo remoção parcial do material de preenchimento e substituição por outros adequados, em função do material que será lançado.16 4.1.4 Recobrimento superficial A necessidade de A necessidade de recobrimento superficial da fundação será definida em função da possibilidade de ocorrer carreamento do material do aterro para feições da fundação ou do material da fundação para dentro do aterro. O projeto definirá o material a ser usado e sua espessura e terá em conta a compatibilidade de deformação entre ele, o material a ser lançado sobre ele e a fundação. Os materiais a serem considerados são os filtros granulares, o concreto poroso, argamassa, concreto lançado, concreto varrido (slush grouting), emulsão asfáltica, etc. O emprego eventual de Geossintéticos e de emulsões asfálticas deverá ser avaliado de forma criteriosa, em particular para o caso dos Geossintéticos, com atenção para sua durabilidade e manutenção de características físicas ao longo da vida da obra (filtração, impermeabilização, possibilidades de colmatação, etc.). 15 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 240. 16 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 240. P á g i n a | 64O recobrimento superficial poderá também ser necessário para proteção de materiais com características de desagregação intempérica, o que terá que ser estudado economicamente frente à possibilidade de protelar um certo tempo a escavação dos materiais até a época do lançamento da estrutura.17 4.1.5 Drenagem superficial O tratamento superficial deverá considerar a necessidade de controle de surgências durante o lançamento dos materiais, e que terão função puramente executiva. Entretanto, tais drenagens podem ser associadas às drenagens definitivas colocadas sobre a fundação. Materiais granulares em tapete ou drenos franceses e meias canas de concreto deverão ser considerados prioritariamente. Sua definição será feita pelo projeto da estrutura, desde que seu objetivo principal seja o controle de subpressão. No caso de fundações em rocha para assentamento de zonas de vedação de barragens de terra ou de terra-enrocamento, os eventuais drenos deverão ser convenientemente dispostos de forma a permitir sua posterior injeção, após a subida do aterro. 4.1.6 Injeções localizadas São consideradas aqui apenas aquelas de pequena profundidade com o objetivo de vedar zonas abaladas pela detonação, contatos do concreto de regularização com a fundação, drenos provisórios, descontinuidades geológicas específicas, etc. Deverão ser definidos os tipos de furação, sua orientação e profundidade, em função das feições a serem injetadas. Os materiais e critérios de injeção são os mesmos da injeção profunda.18 17 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 241. 18 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 241. P á g i n a | 65 4.2 Tratamentos profundos O tratamento profundo da fundação tem por objetivo melhorar as propriedades do maciço em seus aspectos de resistência, deformabilidade e permeabilidade ou prover meios para sua melhor drenagem. A redução de permeabilidade não tem efeito direto na estabilidade, mas contribui para a diminuição do fluxo afluente ao sistema de drenagem. A intensidade do programa de injeções depende do interesse de cada projeto. Em geral existe um limite prático de efetividade da injeção, não sendo possível obter uma estanqueidade total, o que é função da dimensão dos vazios a serem preenchidos. Em geral, no Brasil, não há necessidade de o projeto contemplar impermeabilização absoluta do maciço, para não incorrer em altos custos com poucos ganhos em eficiência. Outra justificativa que pode levar à injeção é a necessidade de homogeneizar a fundação eliminando zonas de grande concentração de fluxo, principalmente quando há risco de erosão interna.19 4.2.1 Projeto geotécnico Os tratamentos profundos têm sido normalmente dimensionados em bases puramente empíricas, usando a experiência adquirida em outros projetos. Usa-se sempre o conceito que o projeto corresponde apenas a um pré-dimensionamento e que as decisões finais devem ser tomadas no campo, durante a execução, em função das condições reais encontradas. Sem tirar o valor da experiência prévia nem das inevitáveis adaptações durante a execução, o projeto dos tratamentos profundos deverá ser executado utilizando análise da sua necessidade e dos objetivos a serem alcançados. Os tratamentos profundos terão que ser objeto de um projeto geotécnico de dimensionamento, justificado técnica e economicamente. Em alguns casos justifica-se um teste de injeção na área de modo a melhor dimensionar o projeto. 19 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 242. P á g i n a | 66 4.2.2 Consolidação da fundação A necessidade da consolidação de uma fundação será função dos requisitos estruturais e da impossibilidade de atendê-los com os materiais existentes ou quando for mais econômico ou conveniente o tratamento do que a remoção. A análise terá que conter a avaliação das condições existentes, um estudo da possibilidade de tratamento com base na experiência existente e nos métodos disponíveis e a avaliação técnico-econômica para o caso específico. O método mais comum e que deve ser considerado em primeiro lugar é a consolidação por injeção de calda de cimento. A finalidade das injeções de consolidação é melhorar a resistência e/ou deformabilidade e a homogeneidade da parte superior da rocha de fundação, quando excessivamente fraturada ou quando eventualmente for abalada pelas detonações. O projeto incluirá a definição da região do maciço a ser tratada, tipo de perfuração, malha inicial, tipo de injeção, uso de obturadores especiais, tipo de calda, critérios de fechamento de malha e alteração de calda, etc. Critérios para verificação direta do produto acabado deverão ser estabelecidos e não apenas com base nos resultados da injeção. Métodos indiretos como os geofísicos ou diretos como medição de deformabilidade in-situ poderão ser considerados.20 4.2.3 Injeção profunda das fundações O processo de injeção considerado será o de argamassa ou calda de cimento executada através de furos dispostos ao longo de linhas, formando uma cortina. O objetivo será diminuir a percolação pelas fundações reduzindo o fluxo afluente aos sistemas de drenagem. Outra questão que pode justificar as injeções é a existência de altas permeabilidades associadas a material erodível. Entretanto, em geral o objetivo principal das injeções é homogeneizar o maciço da fundação, eliminando zonas de concentração de fluxos muito elevados diminuindo os riscos de erosão e melhorando a representatividade das análises teóricas. 20 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 243. P á g i n a | 67 O objetivo da injeção e as metas a serem atingidas terão que ser bem definidos, de modo a orientar o projeto. O projeto de injeção deverá abordar os seguintes pontos: ➢ Modelos hidrogeotécnicos da fundação, com base no resultado das investigações e ensaios; ➢ Definição da posição da (s) cortina (s), número de linhas, diâmetro dos furos, inclinação dos furos, profundidades. A orientação e profundidade dos furos devem ser definidas tanto quanto possível em função do modelo hidrogeotécnico, e em segundo lugar em função da altura da barragem; ➢ Espaçamento dos furos primários e critérios para fechamento da malha, sequência da injeção; ➢ Definição das caldas a serem usadas, aditivos, argilas, critérios para engrossamento de calda, ensaios de controle de campo e as pressões de injeção a elas associadas; ➢ Ensaios de verificação dos resultados e critérios para aceitação do tratamento. ➢ Durabilidade da cortina a longo prazo, principalmente levando em conta a possibilidade de lixiviação da calda em condições agressivas da água de percolação. Na definição dos pontos acima, deverão ser efetuadas as seguintes considerações: ➢ Todo o esforço deve ser feito para se concentrar o trabalho de injeção da cortina em uma única linha. Um maior número de linhas pode se justificar junto à superfície em áreas muito desconfinadas e com grande número de juntas abertas. Neste caso o confinamento superficial com laje de concreto suficientemente espessa para acomodar o obturador deve ser considerado; ➢ O critério para definição da profundidade da cortina deve ser sempre que possível geológico; ➢ A orientação dos furos deve ser selecionada de modo a atender à posição e atitude das descontinuidades geológicas principais; ➢ As pressões de injeção devem ser definidas com base em ensaios de “macaqueamento hidráulico”, havendo interesse em usar pressões asmais altas possíveis de modo a melhorar a eficiência das injeções. O critério de P á g i n a | 68 limitação da pressão a 0,25 H/m (pressão efetiva em kg/cm2 e H em metros, sendo H a profundidade média do trecho em injeção) só deve ser considerado em princípio para rochas fraturadas horizontalmente e próximo à superfície; ➢ Os fatores A/C (em peso) das caldas devem ser determinados com base em ensaios específicos. Caldas ralas (A/C>2), reconhecidamente instáveis, devem ser evitadas; ➢ O posicionamento das cortinas será função das necessidades de estabilidade do projeto, tendo em conta posição das cortinas de drenagem e o modelo hidrogeotécnico. O posicionamento não precisa se restringir aos limites das estruturas propriamente ditas, admitindo-se a construção de uma extensão da estrutura para montante, sob a qual as cortinas possam ser localizadas, o que pode também se justificar no aspecto executivo.21 4.2.4 Drenagem profunda das fundações em rocha A drenagem das fundações de uma barragem tem o objetivo de controlar as subpressões nas estruturas e, portanto, tem uma grande influência na sua estabilidade. Mesmo que complementada por drenagem colocada ao longo da fundação, o sistema de drenagem principal é obtido através de furos (roto percussivos ou rotativas), em geral descarregando em galerias de drenagem dentro das estruturas de concreto. A possibilidade de implantação de galerias ou poços dentro da própria rocha deve ser considerada, sempre com a preferência para drenagem por gravidade. As galerias devem ser projetadas de modo a poderem ser sempre mantidas drenadas, preferencialmente por gravidade ou mesmo por bombeamento. Galerias inundadas só devem ser adotadas em caso especial. Os túneis de desvio podem ser integrados ao sistema drenante do projeto. Em princípio, cada cortina de drenagem deve consistir de apenas uma linha de furos. Linhas adicionais podem ser requeridas em áreas específicas de afluxo exagerado. O 21 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 243 a 245. P á g i n a | 69 espaçamento será definido em função da permeabilidade do maciço, podendo ser definido de maneira sistemática ou função das condições hidrogeotécnicas do maciço. A profundidade será compatível com a profundidade da cortina de injeção adjacente, admitindo-se um valor inicial para a drenagem de 80% da injeção, devendo sempre atravessar o trecho fissurado superficial. O projeto de drenagem profunda incluirá: ➢ Disposição das linhas de drenagem, diâmetro dos furos, espaçamento, profundidade, inclinação, tipo de perfuração; ➢ Critérios para verificação da drenabilidade do furo antes e após enchimento do reservatório e a necessidade de submetê-lo a processos de limpeza ou de substituição por outro; ➢ Análise da necessidade de filtro e de proteção contra colmatação. Levar em conta os fenômenos de carreamento físico como também químico-biológico; ➢ Critérios para verificação da eficiência da drenagem e necessidade de ampliação do sistema, a serem executados já na fase de enchimento. ➢ Sempre que possível, a instalação do sistema de drenagem deve passar por uma fase de verificação intermediária, por exemplo, quando o reservatório atinge o nível da soleira do vertedouro ou mesmo em etapas intermediárias de desvio do rio quando as estruturas principais sofrem algum tipo de solicitação por carga hidráulica. ➢ Esta verificação deverá estar baseada em observações de instrumentação apropriada, de medição de vazões de infiltração, observações visuais, etc.; ➢ Apesar de separados em itens diferentes deve ficar claro que os dispositivos de injeção e drenagem têm que ser analisados conjuntamente; ➢ Nas fundações em que o fluxo é controlado predominantemente pelas descontinuidades do maciço rochoso, o diâmetro dos furos tem pouca influência na eficiência da drenagem não sendo necessário adotar diâmetros acima dos disponíveis nas sondagens convencionais (máx. - 10 cm). Perfurações a roto-percussão são em geral aceitáveis; ➢ Considerando a importância da eficiência do sistema de drenagem profunda em rocha para a estabilidade da estrutura sobre ela apoiada, a mesma deve ser mantida e acompanhada com vistas à preservação de suas características. A drenagem profunda deverá estar diretamente associada à instrumentação de auscultação da estrutura, seja pela medição direta das P á g i n a | 70 vazões coletadas pelo sistema, seja pelos níveis de subpressão resultantes na fundação já que são dela diretamente dependentes; ➢ Sempre que a responsabilidade da obra o exigir, o projeto deverá prever rotinas para o monitoramento do sistema de drenagem profunda na fase de implantação e em etapas intermediárias da obra em que a estrutura é solicitada hidraulicamente (medição de níveis freáticos ou de vazões jorrantes). Tais dados serão de valia para comparações futuras quando da operação normal da estrutura, servindo de base para a programação de eventuais intervenções de manutenção.22 4.2.5 Drenagem profunda das fundações em solo A drenagem profunda das fundações em solo é normalmente executada nos casos onde ocorrem camadas superficiais e de baixa permeabilidade a jusante que exercem um bloqueio da saída do fluxo, elevando as subpressões nessa região da barragem e comprometendo sua estabilidade ou mesmo criando condições para a ocorrência de fluxos de saída concentrados. Deverão ser verificadas as possibilidades de drenagem através de poços de alívio ou de trincheiras drenantes, dependendo das condições geotécnicas, hidrogeológicas e metodologia executiva.23 4.3 Critérios para liberação das fundações Definem-se como critérios para liberação de fundações o conjunto de regras que permitam julgar sobre a adequabilidade da fundação ao exigido pelo projeto. As recomendações específicas devem ser referentes ao aspecto da superfície final (rugosidade, umidade, presença de cavidades, desníveis topográficos, etc.), e a qualidade geomecânica do maciço (bolsões de material decomposto, presença de descontinuidade com atitudes desfavoráveis, zonas fraturadas, etc.). Estas recomendações devem variar caso a caso em função da estabilidade do conjunto fundação/estrutura. 22 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 245 a 247. 23 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 247. P á g i n a | 71 Antes da liberação final, o projeto deverá exigir o cuidadoso mapeamento geológico estrutural da superfície da fundação em escala compatível com a escala da obra onde sejam indicadas as litologias existentes, os sistemas de descontinuidades mais importantes, os graus de fraturamento, de decomposição e de consistência do maciço rochoso, ocorrência de infiltrações, eventuais ensaios e investigações realizadas e outras informações julgadas de interesse para uma posterior análise do comportamento da estrutura quando a obra estiver em operação. A liberação da fundação deve ser feita imediatamente antes da implantação da estrutura e qualquer atraso que permita a possibilidade de modificação das condições exigidas implicará na necessidade de nova liberação.24 Anotações do Aluno: 24 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 247. Resumo Nesta aula, abordamos: Tratamento Superficial: O tratamento superficial tem por objetivo preparar a superfície da fundação para receber o material que lhe será sobreposto. Deverão ser consideradosaqui apenas os trabalhos realizados diretamente na superfície do terreno. Tratamentos sub-superficiais, mesmo rasos, desde que sistemáticos, deverão ser abordados como tratamento profundo. Apenas se deve considerar aqui tratamentos localizados para feições específicas. Tratamento Profundo: O tratamento profundo da fundação tem por objetivo melhorar as propriedades do maciço em seus aspectos de resistência, deformabilidade e permeabilidade ou prover meios para sua melhor drenagem. A redução de permeabilidade não tem efeito direto na estabilidade, mas contribui para a diminuição do fluxo afluente ao sistema de drenagem. Critérios para liberação das fundações: Definem-se como critérios para liberação de fundações o conjunto de regras que permitam julgar sobre a adequabilidade da fundação ao exigido pelo projeto. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre o tratamento das fundações, principalmente quanto ao estudo geológico-geotécnico, bem como as técnicas executivas de cada tipo de tratamento. Referências Bibliografia da aula 04: BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003. AULA 4 Exercícios 1) Escreva as etapas de tratamento de fundações de barragens utilizando o método da injeção de calda de cimento. 2) Por que a raspagem da camada superficial é importantíssima para o assentamento dos maciços após o tratamento da fundação com este tipo de técnica executiva. 3) Quais as diferenças das drenagens profundas em solo e em rocha? 4) Uma técnica muito utilizada para o tratamento de fundações é o muro de concreto para barragens de terra. Descreva como é realizada esta técnica executiva? Adaptada ENADE 2008 - O esquema da figura abaixo mostra uma escadaria hidráulica sem colchão d’água que deverá ser usada num talude de uma estrada. Admita que a mesma funcione, patamar por patamar, como vertedouro de soleira espessa, que a vazão seja de 340 L/s, que a largura (L) da escada seja de 80 cm, que a dimensão (b) do espelho seja igual à carga hidráulica do vertedouro (h), e que o comprimento do degrau (a) adotado seja a ≥ 10.b. OBS.: Este exercício depende de conhecimentos de cálculo 0. P á g i n a | 76 Desvios de rios Aula 5 APRESENTAÇÃO DA AULA Os desvios de rios são largamente utilizados para a construção de barragens, pois como a água é corrente nos cursos d’água é impossível realizar qualquer tipo de obra deste porte sem que se tenha um desvio, seja por túnel, galeria a céu aberto, manilhas, tubos, etc. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Como é feito um desvio através de estrangulamento parcial de rio; ➢ Como é feito um desvio através de túnel; ➢ Como é feito um desvio através de galerias; ➢ Como é feito o fechamento do rio. P á g i n a | 78 5 INTRODUÇÃO O manejo do rio durante a construção depende do relevo local e das particularidades do projeto. O desvio poderá ser efetuado em diversas fases ou em uma fase única em função das características do vale. Em vales abertos, a operação de desvio poderá ser feita através do estrangulamento parcial do rio, que permanecerá na calha natural, e, após o fechamento da seção, através da própria estrutura principal. Nos vales mais estreitos, as águas poderão ser desviadas através de túneis, galerias, estruturas rebaixadas ou adufas. 5.1 Desvio através de estrangulamento parcial do rio O estrangulamento parcial do rio é caracterizado pela restrição parcial da calha do rio pela ensecadeira, com o fluxo direcionado para uma das margens. Poderá, em casos particulares, ser efetuado em diversas etapas. O perfil da linha de água ao longo do desenvolvimento da ensecadeira deverá ser calculado pelo método das diferenças finitas "Standard Step Method" para a vazão de desvio resultante das análises de risco. O coeficiente de rugosidade será estimado a partir do resultado da calibragem do leito natural do rio realizada para o trecho em questão, com base em perfis ou níveis de água medidos para condições de vazão conhecidas. Na impossibilidade de se obter esta estimativa através da calibragem, deverão ser adotados os valores fornecidos na tabela 02. O controle a jusante será definido pelas observações linimétricas no campo. O eventual estabelecimento de controle hidráulico pela própria ensecadeira deverá ser particularmente verificado e levado em consideração. Serão definidos os níveis máximos de água ao longo da ensecadeira e as velocidades máximas do fluxo para avaliação das obras de impermeabilização e/ou proteção da ensecadeira. A prática tem demonstrado que a velocidade média no trecho estrangulado deve ser de até 6 m/s.25 25 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 25. P á g i n a | 79 Tabela 2: Coeficiente de Rugosidade. Fonte: ELETROBRÁS (2003) 5.2 Desvio através de túnel ✓ Dimensionamento Sempre que as condições geológicas forem favoráveis, pode-se adotar para o túnel a seção arco retângulo. Caso contrário, deverá ser adotada seção ferradura, que apresenta maior estabilidade estrutural. A definição quanto ao número de túneis e o diâmetro a ser adotado será feita com base em um estudo econômico, levando-se em consideração o custo da estrutura e a altura resultante da ensecadeira de montante. As estruturas de tomada e controle utilizadas para o fechamento final serão compactas, aceitando-se variações de formas mais abruptas e curvaturas mais pronunciadas do que em tomadas de água convencionais. Nos túneis sem revestimento, a velocidade de escoamento máxima admissível será definida em função da resistência da rocha à erosão, não devendo ultrapassar os valores da tabela 03. Tabela 3: Tempo de recorrência x Velocidade máxima admissível de escoamento. Fonte: ELETROBRÁS (2003) P á g i n a | 80 ✓ Controle do fluxo após o desvio Para o desvio através de túneis, as curvas de descarga serão definidas em função da natureza do controle hidráulico: soleira, canal livre ou conduto sob pressão, com ou sem submergência a jusante. Serão admitidas pressões negativas ao longo dos contornos sólidos até um limite de -6,0 m de coluna de água, a serem verificadas em modelo hidráulico reduzido. A cota da plataforma de manejo das comportas será definida em função do tempo disponível para a inspeção da estrutura de desvio após o fechamento e a remoção do equipamento de manobra, para as condições de vazão previstas. ✓ Perda de Carga As perdas de carga contínuas no túnel serão calculadas através da equação de Manning-Strickler: ℎ𝑓 = 𝐿 𝑥 ( 𝑛 𝑥 𝑉 𝑅 2 3⁄ )2 ou da fórmula de Darcy-Weisbach: ℎ𝑓 = 𝑓 𝑥 𝐿 4 𝑥 𝑅 𝑥 𝑉2 2 𝑥 𝑔 onde: hf = perda de carga contínua, em m; V = velocidade média na seção, em m/s; L = comprimento do conduto, em m; n = coeficiente de rugosidade, obtido na tabela 02; R = raio hidráulico = 𝐴 𝑃 , em m; A = área da seção molhada do túnel, em m²; P = perímetro da seção molhada do túnel, em m; f = coeficiente de perda de carga; g = aceleração da gravidade, em m/s². P á g i n a | 81 O coeficientede rugosidade (n) será definido com base na tabela 02, especificamente para as paredes, piso e abóbada do túnel, dependendo do revestimento adotado. Os diferentes valores (n1, n2, etc.) deverão ser combinados em uma média ponderada, considerando o perímetro da superfície correspondente, da seguinte forma: 𝑛 = ∑ 𝑛𝑖 𝑥 𝑃𝑖𝑁𝑖=1 ∑ 𝑃𝑖𝑁𝑖=1 onde: n = coeficiente de rugosidade; P = perímetro da superfície correspondente, em m. As perdas localizadas serão obtidas através da equação: ℎ𝑙 = ∑ 𝐾 𝑥 𝑉² 2 𝑥 𝑔 onde: hl = soma das perdas localizadas, em m; K = coeficiente de perda de carga; V = velocidade média do escoamento na seção, em m/s; g = aceleração da gravidade, em m/s² 5.3 Desvio de rio através de galerias ou adufas Normalmente, as galerias serão dimensionadas para uma velocidade máxima admissível de 15 m/s. A ocorrência de velocidades superiores deverá ser justificada. Analogamente ao caso dos túneis, as curvas de descarga serão definidas em função da natureza do controle hidráulico: soleira, canal livre ou conduto sob pressão, com ou sem submergência a jusante. Adufas operando a plena seção serão tratadas como bocais ou como galerias de desvio, dependendo das condições particulares do projeto. P á g i n a | 82 No caso de existir canal de acesso à galeria, o remanso correspondente será calculado conforme descrito no item 5.2. As perdas de carga contínua e localizadas serão calculadas como descrito no item 5.3. ✓ Seções Rebaixadas – Adufas O escoamento sobre blocos rebaixados de maciços de concreto ou através de adufas em seção parcial poderá ser tratado como o escoamento sobre vertedouros de parede espessa, através da seguinte expressão: 𝑄 = 𝐶𝑓 𝑥 (𝐿 − 2 𝑥 𝐾 𝑥 𝐻)𝑥 𝐻 3 2⁄ onde: Q = Vazão, em m3/s L = largura útil da(s) adufa(s), em m; H = carga sobre a soleira, em m; Cf = coeficiente de descarga, que varia entre 1,5 e 1,9 em função das características particulares do projeto e das proporções da soleira; K = coeficiente de contração, geralmente tomado igual a 0,1, para uma abertura abrupta. 5.4 Fechamento do rio A cota de implantação das obras de desvio, túneis, galerias, seções de concreto rebaixadas ou adufas será definida de modo a limitar o desnível, por ocasião do fechamento do rio, em um valor compatível com o método de fechamento previsto. Para fechamento por diques de enrocamento em ponta de aterro, serão consideradas a disponibilidade do material natural (diâmetro máximo, volume) e a divisão possível do desnível total entre montante e jusante. Em princípio, o desnível em cada dique não deverá ser superior a 3,0 m no fechamento. O diâmetro do material a ser utilizado na fase de fechamento do rio poderá ser estimado pela expressão: 𝐷 = 0,30 𝑋 𝛥𝐻 P á g i n a | 83 onde: D = diâmetro médio do material, em m; 𝛥H = diferença de nível de água entre montante e jusante da ensecadeira, após o fechamento, em m. É recomendável que o fechamento do rio seja verificado em ensaios em modelo reduzido. Resumo Nesta aula, abordamos: Desvio através de estrangulamento parcial do rio: O estrangulamento parcial do rio é caracterizado pela restrição parcial da calha do rio pela ensecadeira, com o fluxo direcionado para uma das margens. Poderá, em casos particulares, ser efetuado em diversas etapas. Desvio através de túnel: Dimensionamento: Sempre que as condições geológicas forem favoráveis, pode-se adotar para o túnel a seção arco retângulo. Caso contrário, deverá ser adotada seção ferradura, que apresenta maior estabilidade estrutural. Controle do fluxo após o desvio: Para o desvio através de túneis, as curvas de descarga serão definidas em função da natureza do controle hidráulico: soleira, canal livre ou conduto sob pressão, com ou sem submergência a jusante. Perda de Carga: As perdas de carga contínuas no túnel serão calculadas através da equação de Manning-Strickler ou Darcy-Weisbach. Desvio de rio através de galerias ou adufas: Normalmente, as galerias serão dimensionadas para uma velocidade máxima admissível de 15 m/s. A ocorrência de velocidades superiores deverá ser justificada. Seções Rebaixadas – Adufas: O escoamento sobre blocos rebaixados de maciços de concreto ou através de adufas em seção parcial poderá ser tratado como o escoamento sobre vertedouros de parede espessa. Fechamento do rio: A cota de implantação das obras de desvio, túneis, galerias, seções de concreto rebaixadas ou adufas será definida de modo a limitar o desnível, por ocasião do fechamento do rio, em um valor compatível com o método de fechamento previsto. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre os desvios de rios, principalmente quanto tipo de desvios, bem como as técnicas executivas de cada tipo. Referências Bibliografia da aula 05: BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. ENADE, 2011. AULA 5 Exercícios 1) Explique como se procede o desvio de um rio em duas fases, citando os aspectos técnicos executivos. 2) Calcule a perda de carga para um desvio de túnel sabendo que seu comprimento tem 5,5 Km, escavado em rocha em nível máximo, velocidade média na seção é de 5,2 m/s, perímetro 18,85 m, área 113,10 m². 3) Qual é a vazão de um desvio de rio onde o coeficiente de segurança é de 1,5, largura de 3,0 metros e a carga sobre a soleira é de 1,12 metros. 4) Calcule o diâmetro de fechamento de um rio onde o desnível de jusante e montante é de 23,43 metros. 5) Adaptada ENADE 2011 - Uma solução plausível para drenar pequenas bacias, devido às chuvas de grande intensidade, é o uso de barragens. A altura da crista da barragem é igual à soma da altura da lâmina de água normal (Hn = z) com a altura da lâmina de água do ladrão (H1), acrescida da folga (F), como ilustrado na figura a seguir. O valor de H1 pode ser assumido igual a 1,0 m e recomenda-se que F corresponda a, no mínimo, 0,5 m. Calcule o valor de H. Demonstre os cálculos. P á g i n a | 88 O gráfico abaixo apresenta o volume acumulado para as cotas da bacia em m³ (x10^6). Considere o volume da barragem igual a 65.106 m³. Anotações do Aluno: Ensecaderias Aula 6 APRESENTAÇÃO DA AULA As ensecadeiras são executadas em obras hidráulicas, principalmente quando há um desvio de rio, ou seja, deseja-se executar áreas secas, para que tais obras sejam efetivamente concluídas, sem o prejuízo da presença da água no local da construção. É uma técnica construtiva importantíssima em obras hidráulicas, pois tornam o trabalho executivo mais dinâmico OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ O que é uma ensecadeira e seus tipos de material de construção; ➢ Como é feito uma ensecadeira para um desvio de rio em uma ou mais fases; ➢ Sobre as ensecadeiras em pranchões de estaca-prancha e seus métodos executivos; ➢ Como é feito o fechamento da área ensecada. P á g i n a | 90 6 INTRODUÇÃO Ensecadeiras são estruturas provisórias e desmontáveis, destinadas a conter a água, ou a água e terreno, durante a execução dos serviços de escavação, podendo ser formadas pôr paredes simplesou duplas. Também é destinada a desviar as águas do leito do rio, total ou parcialmente, com o objetivo de permitir o tratamento das fundações nessas áreas e, às vezes, nas áreas das planícies de inundação, possibilitando a construção em seco dos diques de terras ou estrutura de concreto. As ensecadeiras mais comuns são aquelas construídas com terras e blocos de rocha. Em alguns casos, é necessária a utilização de chapas metálicas ou diafragmas impermeáveis.26 Quando se constrói uma ensecadeira, uma parte do reservatório e inundada, sendo necessário verificar se as áreas de empréstimo de material irão ficar disponíveis. Se for necessário construir uma ensecadeira de grandes dimensões, pode ser lucrativo incorporá-la no corpo da barragem. Durante a construção deve ser prevista a situação de galgamento das ensecadeiras, como o apresentado nas Figuras 20, 21 e 22. Podemos observar o núcleo de argila compactado em camadas e o vertedor lateral em concreto.27 Figura 20: Ensecadeira em estaca-prancha. Fonte: IST (2012) 26 MARANGON, M. Barragens de Terra e Enrocamento. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004, p. 2. 27 MEIRELLES, F. S. C. Curso de Segurança de Barragens. Rio Grande do Sul, 2013, p. 34. P á g i n a | 91 Figura 21: Ensecadeira em estaca-prancha. Fonte: IST (2012) Figura 22: Ensecadeira em jet-grouting. Fonte: IST (2012) P á g i n a | 92 6.1 Construção das ensecadeiras A proteção das obras usualmente e realizada por meio de ensecadeiras construídas com aterro, que poderão ou não ser incorporadas no maciço definitivo. A altura da ensecadeira deve ser tal que não seja ultrapassada uma cheia com um tempo de recorrência compatível com o tempo de recorrência utilizado para o cálculo do vertedor. Para obras de médio e grande porte, tempos de recorrência de 100 anos são suficientes para garantir um nível de risco baixo. Concluída a obra de desvio, as ensecadeiras são removidas e o curso d’agua passa a correr de forma dirigida por dentro da estrutura, liberando a área para o trabalho no maciço. A figura 23 nos mostra a construção da ensecadeira da UHE Belo Monte, iniciada em 2012. Nos vales abertos, o maciço pode ser construído em duas partes no sentido longitudinal, sendo que a primeira deve abrigar a tomada d’agua, pois a mesma servira para o desvio do rio na fase seguinte. Uma ensecadeira construída na direção de montante para jusante pode separar a parte que será construída da ação do curso d’agua. Concluída a tomada d’agua e estando o maciço em cota igual ou superior à da ensecadeira, podemos proceder ao desvio do curso d’agua para a tomada d’agua ou descarregador de fundo, construindo outras ensecadeiras que agora irão proteger a construção da outra parte. Quando as duas estiverem acima da cota das ensecadeiras e com as proteções dos taludes já implantadas, as ensecadeiras deixam de ser necessárias. A ligação entre as duas partes do maciço exigira a escarificarão do aterro já construído e uma compactação cuidadosa desta seção, sendo necessário muitas vezes realizar um trabalho manual de apiloamento ou utilizar equipamentos compactadores de pequenas dimensões, como os sapos, para evitar deixar uma porção de solo sem a consistência necessária. É importante observar que nestes casos há normalmente um superdimensionamento destas estruturas, pois deverão ser capazes de conduzir uma cheia com tempo de recorrência razoavelmente alto, enquanto que as vazões derivadas na fase de operação usualmente são bem menores que a vazão média do curso d’agua na seção da barragem. Por isso, e essencial observar as condições climáticas dos locais de construção de barragens. Se há uma estação seca bem definida e os recursos de solo para P á g i n a | 93 construção estão disponíveis a distancias que permitam o bom desempenho dos equipamentos que serão mobilizados para a construção do maciço, a estrutura de desvio do rio poderá ter um uso em um curto espaço de tempo, permitindo assumir um risco mais elevado para a obra. A área que estará situada sob a barragem deve ser limpa, incluindo o desmatamento, o destocamento e a remoção da terra vegetal até a profundidade que for necessária. Pedras com mais de 15 cm de diâmetro também devem ser removidas do local do maciço. Esta área deve ter uma largura igual a base da seção transversal da barragem, mais 5 metros para montante e jusante. O material removido da operação de limpeza deve ser transportado para locais fora da área das obras ou do futuro lago. A área do futuro lago também deve ser limpa, com a retirada de arvores, arbustos e raspagem da camada superficial do solo para a retirada do material orgânico existente. A limpeza da área normalmente e bastante onerosa, mas a sua não realização contribui para infiltrações e rupturas de pequenas barragens (CARVALHO, 2008). Após a limpeza, o terreno deverá ser regularizado e compactado com trator de esteiras, que deverá executar dez passadas por toda a área de fundação e ombreiras. Após limpa e preparada a fundação, caso se verifique a existência de algum olho d’agua, devido a infiltração pela fundação, este deverá ser convenientemente drenado ou desviado, o que é possível com a utilização de manilhas de concreto ou cerâmica preenchidas com brita e uma terminação com pasta de cimento.28 28 MEIRELLES, F. S. C. Curso de Segurança de Barragens. Rio Grande do Sul, 2013, p. 34, 35, 63 a 65. P á g i n a | 94 Figura 23: Ensecadeira da UHE Belo Monte. Fonte: MME (2012) Figura 24: Execução de uma barragem em duas fases com ensecadeira. Fonte: ROSTAGNO (2011) P á g i n a | 95 6.2 Materiais ✓ Pranchões de 5,0 ou 7,5 cm de espessura; ✓ Madeira roliça 10 cm de diâmetro; ✓ Admite-se o reaproveitamento de 40% dos pranchões utilizados. 6.3 Equipamentos A natureza, capacidade e quantidade do equipamento a ser utilizado dependerão do tipo e dimensão do serviço. A Executante deve apresentar a relação detalhada do equipamento a ser utilizado na obra, previamente ao início da mesma. 6.3.1 Execução As Ensecadeiras, que podem ser de madeira ou metálicas, devem possuir dimensões internas suficientes para a manipulação das fôrmas e o eventual bombeamento da água do seu interior. Quando possível, devem ser projetadas de modo a permitir a retirada do contraventamento durante o processamento de concretagem das fundações. Em caso contrário, os contraventamentos que ficarem incorporados na massa do concreto devem ser de aço. Depois de completa a estrutura, os contraventamentos expostos devem ser cortados, pelos menos 5 centímetros para dentro da face da fundação, e as cavidades resultantes devem ser preenchidas com argamassa de cimento e areia de traço 1:4, no mínimo, em volume. Nas ensecadeiras duplas, o enchimento entre paredes deve ser de material argiloso. 6.3.2 Manejo ambiental Observar os cuidados visando à preservação do meio ambiente, no decorrer das operações destinadas à execução de ensecadeiras, relacionados a seguir: ✓ As estradas de acesso devem seguir as recomendações da especificação de Terraplenagem – Caminhos de Serviços; ✓ Não realizar barragens ou desvios de curso d’água que alterem em definitivo os leitos dos rios; ✓ Não devem ser realizados serviços em área de preservação ambiental; P á g i n a | 96 ✓ São vedados os lançamentos do refugo de materiais usados na faixa de domínio, nas áreas lindeiras, no leito dos rios e em qualquer outro lugar onde possam causar prejuízos ambientais; ✓ A área afetada pelas operações de construção e execução deve ser recuperada, mediante a limpeza do canteiro de obras devendo também ser efetuada a recomposição ambiental. 6.3.3 Controle e aceitaçãoSomente a Executante deve responder pela segurança das ensecadeiras. Em casos especiais, a Fiscalização pode solicitar demonstrativo de estabilidade, não isentando com isto qualquer responsabilidade da executante, em eventual desmoronamento ou insucesso.29 29 ROSTAGNO, P.V. Apostila de Obras Hidráulicas. Faculdade Redentor, 2011. Resumo Nesta aula, abordamos: Construção das ensecadeiras: A proteção das obras usualmente e realizada por meio de ensecadeiras construídas com aterro, que poderão ou não ser incorporadas no maciço definitivo. A altura da ensecadeira deve ser tal que não seja ultrapassada uma cheia com um tempo de recorrência compatível com o tempo de recorrência utilizado para o cálculo do vertedor. Para obras de médio e grande porte, tempos de recorrência de 100 anos são suficientes para garantir um nível de risco baixo Equipamentos: A natureza, capacidade e quantidade do equipamento a ser utilizado dependerão do tipo e dimensão do serviço. Execução: As Ensecadeiras, que podem ser de madeira ou metálicas, devem possuir dimensões internas suficientes para a manipulação das fôrmas e o eventual bombeamento da água do seu interior. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre as ensecadeiras, suas técnicas executivas e tipos de execução. Referências Bibliografia da aula 06: BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. ENADE, 2008. MARANGON, M. Barragens de Terra e enrocamento. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004. MEIRELLES, F. S. C. Curso de segurança de barragens. Rio Grande do Sul, 2013. ROSTAGNO, P. V. Apostila de obras hidráulicas. Itaperuna: Faculdade Redentor, 2011. AULA 6 Exercícios 1) Qual é a importância técnica construtiva da execução de uma ensecadeira para a construção de um muro de arrimo no leito de um rio? 2) Descreva como é feito o desvio de rio em duas fases utilizando ensecadeira de terra (argila). 3) Para ensecadeiras metálicas o quede ser observado para as estruturas provisórias após a concretagem dos serviços na face voltada para os taludes. 4) Como é executada uma ensecadeira provisória de concreto e o que deve ser feito com a estrutura provisória após a execução total da estrutura definitiva? 5) Adaptada ENADE 2008 – Explique, com suas próprias palavras, o que deve ser feito no ponto R quando o NA estiver conforme a figura abaixo. Figura 25: Exercício. Fonte: ENADE (2008) Anotações do Aluno: Impermeabilização do reservatório Aula 7 APRESENTAÇÃO DA AULA A impermeabilização dos reservatórios de uma barragem se dispõem principalmente em estruturas de terra, geralmente em barragens que absorvem rejeitos minerais oriundos de sua extração. A impermeabilização serve para evitar que os rejeitos tenham contato com o maciço e evite a infiltração. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Quais são os métodos construtivos para barragens de rejeitos; ➢ Onde é feita a disposição de rejeitos por aterro hidráulico; ➢ Quais são os sistemas de impermeabilização dos reservatórios. P á g i n a | 20 7 INTRODUÇÃO Rejeitos são partículas sólidas oriundas da concentração de minérios, as quais não possuem valor econômico ou mesmo tecnologia disponível para seu beneficiamento. Estes materiais podem exibir características mineralógicas, geotécnicas e físico-químicas variáveis, dependendo do processo de beneficiamento e do tipo de minério que os originam (ABRÃO, 1987). No Brasil, a maior parte dos rejeitos é descartada das Unidades de Concentração na forma de polpa (sólido + água), uma mistura de água e sólidos, e armazenados por uma barragem ou dique. Estes materiais apresentam basicamente três tipos de comportamento: líquido sobrenadante, com tendência à floculação das partículas de menor tamanho; rejeito em processo de sedimentação apresentando comportamento semilíquido a sem viscoso; e rejeito em processo de adensamento comportando-se como um material particulado. As barragens de rejeitos são construídas, em alguns casos, com a utilização do próprio rejeito, com um dique de partida normalmente construído em solo compactado. Os principais métodos construtivos empregados são: método de alteamento para montante, método de alteamento para jusante e método de alteamento por linha de centro. Dentre estas alternativas, o alteamento para montante tende a ser o mais econômico sendo, no entanto, o mais susceptível a problemas de controle de qualidade e de segurança. Os principais fatores a serem analisados para a escolha do método construtivo mais adequado são: a natureza do processo de mineração, as condições geológicas e topográficas da região, as propriedades mecânicas dos materiais e a composição química do rejeito. Segundo Vick (1983), existem casos que as características químicas dos rejeitos podem ser determinantes na definição as melhores formas de disposição. A construção das barragens de rejeito é geralmente realizada em várias etapas, sendo que a primeira consiste na construção do dique de partida, o qual é constituído de solo ou enrocamento compactado. As demais etapas correspondem à operação contínua da estrutura, as quais acontecem em conjunto com as atividades de mineração, por meio de alteamentos consecutivos executados com solos compactados ou com a fração grossa dos rejeitos gerados. Os alteamentos devem ocorrer de forma a disponibilizar capacidade de armazenamento no reservatório e para evitar que o lago se aproxime P á g i n a | 21 da barragem e venha a causar a elevação da linha freática e uma possível instabilidade do maciço. Os sistemas de disposição de rejeito devem ser projetados para resíduos classificados como: inertes, não inertes e perigosos, de acordo com a norma NBR 10004 (ABNT, 2004). No projeto de disposição dos resíduos que se enquadram nas duas últimas classificações, é necessária a utilização de sistemas de impermeabilização. Dentre as alternativas comumente adotadas para camadas de proteção, destacam-se as camadas de argila compactada e a utilização de geossintéticos, como geomembranas e/ou geocompostos. No lançamento dos rejeitos em barragens, o processo convencionalmente adotado é a técnica de disposição em aterros hidráulicos, com os rejeitos sob a forma de polpa. O grande problema da adoção da disposição por aterro hidráulico é a ocorrência da segregação, fenômeno que se trata de uma seleção de grãos em função do tamanho, da forma e da densidade das partículas. O fluxo de polpa faz com que as partículas se depositem gradualmente ao longo de sua trajetória, provocando uma variabilidade estrutural de forma a alterar, significativamente, as características de deposição do material. Por isso, o conhecimento do comportamento da segregação do rejeito é fundamental para a avaliação da possibilidade de otimização da capacidade de estocagem do reservatório.30 7.1 Métodos construtivos de barragens de rejeito A forma mais comum de contenção de rejeitos em polpa é a de lançamento direto em vales fechados ou interceptados por maciços de terra, construídos por diferentes técnicas de alteamento. Os procedimentos de construção dos aterros são os mesmos adotados para estruturas com finalidade de acumulação de água.30 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 6 e 7. P á g i n a | 22 7.1.1 Método de alteamento para montante O método de alteamento para montante (Figura 2.1) consiste na tecnologia mais antiga e simples para a construção de barragens, sendo considerado como uma evolução natural do processo empírico de disposição de rejeitos. A primeira etapa deste método é a construção de um dique de partida, normalmente construído de solo ou enrocamento compactado. Após o final desta fase, o rejeito é lançado por espigões ou hidrociclones a partir da crista do dique, formando uma praia de deposição próxima do aterro, a qual será utilizada como fundação para a próxima etapa de construção. Os alteamentos subsequentes ocorrem sempre que necessário, seguindo a mesma metodologia, até a altura final prevista em projeto. Figura 26: Alteamento para montante. Fonte: GOMES (2006) As principais vantagens do método de montante são o baixo custo de construção, pequena quantidade de material para a construção dos diques (redução de áreas de empréstimo) e a velocidade de execução do alteamento. Segundo Klohn (1981), a ciclonagem do rejeito acelera a velocidade de construção do dique e mostra que a formação de uma praia entre a crista e o reservatório é importante e vantajosa. A formação de uma praia de lama (rejeitos finos) entre o lago e o talude de montante é um requisito adicional de segurança operacional para as estruturas, pois abate a linha freática, reduzindo a percolação e os riscos de pipping (CHAMMAS, 1989). A desvantagem relacionada à adoção do método de montante consiste no fato de que os alteamentos utilizam os próprios rejeitos como fundação, e estes materiais por terem sido depositados em curto intervalo de tempo, ainda não estão consolidados. Neste sentido, em condição saturada e estado de compacidade fofo, P á g i n a | 23 estes rejeitos tendem a possuir baixa resistência ao cisalhamento e susceptibilidade à liquefação quando submetidos a carregamentos estáticos e dinâmicos. Além disso, a dificuldade de construir um sistema de drenagem interna para controlar o fluxo de água através do maciço é um problema adicional, com reflexos diretos na estabilidade e riscos de ocorrência de pipping no talude de jusante (GOMES, 2006). Na adoção do método de montante, é essencial que se faça um controle construtivo e operacional da disposição dos rejeitos, com monitoramentos constantes das características dos materiais depositados logo a montante dos diques de contenção, bem como das poropressões geradas no interior do maciço de rejeitos.31 7.1.2 Método de alteamento para jusante O método de alteamento para jusante representa um desenvolvimento relativamente recente, como alternativa ao procedimento anterior. Esta metodologia surgiu em virtude de alguns tipos de rejeitos não possuírem características geotécnicas adequadas para serem utilizados como fundação. Este processo exige grandes volumes de solo, pois os alteamentos são executados para a jusante, e também consideráveis áreas para a implantação do maciço. Atualmente, podem ser encontradas duas metodologias de construção para o alteamento de jusante. Na primeira, é construído um dique de partida com a etapa inicial da drenagem interna (dreno vertical e horizontal) e, em cada alteamento subsequente, é dada a continuidade da drenagem vertical e horizontal (figura 26). A metodologia alternativa é aquela em que a drenagem interna horizontal é construída na primeira etapa da obra e nos alteamentos subsequentes, dando-se continuidade apenas no filtro vertical (figura 27). 31 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 8 e 9. P á g i n a | 24 Figura 27: Alteamento para a jusante. Fonte: GOMES (2006) Figura 28: Alteamento para a jusante com preparação da fundação na 1ª etapa. Fonte: GOMES (2006) Segundo Klohn (1981), as principais vantagens dos maciços alteados para a jusante são que não possuem restrições de altura e que suas estruturas são totalmente independentes dos rejeitos. Outro benefício associado ao método de jusante é a possibilidade de redução significativa das dimensões do vertedor de cheias, com a criação da bacia de amortecimento no interior do reservatório (GOMES, 2006). Em se tratando de desvantagem, esta metodologia apresenta elevados custos de implantação e necessita de grandes áreas de empréstimo para a construção do maciço. Além disso, exige um amplo espaço a jusante para que as etapas seguintes possam ser executadas, sem que a drenagem interna seja prejudicada.32 32 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 9 a 11. P á g i n a | 25 7.1.3 Método de alteamento por linha de centro A construção de barragens de rejeito pelo método de linha de centro (figura 28) constitui essencialmente uma variação do método para a jusante. Esta metodologia consiste basicamente em um alteamento contínuo, no qual a posição do eixo original é mantida invariável até o final da obra. Figura 29: Alteamento por linha de centro. Fonte: GOMES (2006) Na construção deste tipo de barramento, a parte de montante do aterro é apoiada sobre o rejeito e o talude de jusante tem como fundação, o alteamento anterior e o terreno natural. As vantagens do método alteamento por linha de centro são a possibilidade de redução do volume de material de empréstimo necessário para a construção do aterro e também a construção do sistema de drenagem interna em todas as etapas da obra. Por outro lado, nesta metodologia é necessária a formação da praia de rejeitos próxima ao aterro, pois esta afasta o lago do barramento e, assim, torna-se possível controlar a superfície freática no maciço. Como parte do aterro está construída sobre o rejeito, um eventual aumento do nível de água poderia causar uma alteração nas condições de acomodação do rejeito e então, deformações no talude de montante da barragem. 7.2 Disposição de rejeitos por aterro hidráulico Aterros hidráulicos são depósitos formados através da hidromecanização, a qual é definida como o conjunto de procedimentos que envolvem o transporte e a disposição de um solo com o auxílio de água (CRUZ, 1996). Segundo Silva (2010), no século XVII, os holandeses já aplicavam a técnica, através da utilização de P á g i n a | 26 dispositivos de hidromecanização rudimentares, com o objetivo de remover os sedimentos de portos e canais e ainda, recuperar áreas abaixo do nível do mar. Além disso, entre os anos 40 e 70, na antiga União Soviética, estruturas para fins hidroelétricos foram construídas através de procedimentos de aterro hidráulico. Os aterros hidráulicos podem ser utilizados para a construção de estruturas como barragens para acumulação de água, ilhas artificiais e barragens de rejeito, devido às vantagens econômicas e a praticidade de execução. Dentre estas vantagens, podem ser citadas: alta taxa de construção (mais de 200.000 m³/dia), possibilidade de implantação em ambiente submerso, simplicidade dos mecanismos utilizados, menos trabalho humano e baixo custo unitário (GRISHIN, 1982). Potenciais desvantagens referem-se às maiores exigências em relação ao solo utilizado no aterro, cuidados especiais nos casos em que a polpa é transportada em tubulações com fluxo pressurizado e maior necessidade de inspeções e manutenções nos dispositivos de transporte, pois estes estão sujeitos ao desgaste devido à abrasão dos materiais. Nos reservatórios de acumulação, o modelo deposicionaldo rejeito é considerado como um aterro hidráulico, pois a polpa (fração sólida + água) é lançada no reservatório e as partículas vão sedimentando ao longo da praia, à medida que a energia do fluxo de água não consegue mais arrastar os grãos. Para avaliar a qualidade destes aterros, é necessário identificar os parâmetros relevantes do processo de deposição hidráulica, com o intuito de identificar as variações que ocorrem ao longo da praia em função do fluxo da polpa. Diante isso, é possível identificar os principais parâmetros associados ao processo de formação dos aterros hidráulicos que são: segregação hidráulica e densidade. O escoamento e a infiltração de água ao longo do depósito de materiais acumulados, forma a chamada ‘praia de rejeitos’, na qual a geometria e as características estão diretamente relacionadas às variáveis da deposição e à dinâmica bastante complexa do processo de fluxo.33 33 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 12. P á g i n a | 27 7.2.1 Segregação hidráulica A segregação hidráulica é um fenômeno comum e importante que ocorre nos aterros hidráulicos e trata-se da tendência da fração sólida ou parte dela sedimentar, em função do tamanho, da forma, da densidade das partículas sólidas e das condições do fluxo. À medida que a polpa percorre a praia, as partículas sólidas sedimentam em diferentes locais, gerando assim uma grande diversidade estrutural, fato que provoca uma alteração significativa das características geotécnicas do aterro. Portanto, o entendimento da segregação hidráulica é de suma importância para avaliar as condições de ocupação de um reservatório. Segundo Moretti e Cruz (1996), o rejeito ao escoar ao longo da praia de deposição, perde velocidade e, consequentemente, também a sua capacidade de arraste, limitando então, um transporte hidráulico associado diretamente às frações granulométricas dos resíduos lançados. Geralmente, as frações mais grossas do rejeito tendem a depositar-se próximo ao ponto de lançamento e as mais finas nas regiões mais distantes. No entanto, pode-se observar que para alguns tipos de rejeito, existe a deposição de partículas finas próximas ao ponto de lançamento, fato que está diretamente relacionado com a composição mineralógica dos grãos. Nos estudos realizados por Santos (2004) com rejeitos de ferro, a segregação hidráulica é condicionada pela densidade e pelo tamanho das partículas. Este fenômeno interfere nas características geotécnicas do aterro, principalmente na condutividade hidráulica, a qual tende a se apresentar mais baixa próxima aos pontos de lançamento, aumentando em uma zona intermediária e tornando-se a reduzir nos pontos mais distantes do lançamento. A segregação hidráulica nem sempre ocorre e depósitos que armazenam materiais com esta característica, ou seja, não segregáveis, formam praias mais íngremes, com granulometria constante e densidades relativamente baixas. Por outro lado, os reservatórios de polpas que segregam tendem a ser mais suaves, com densidades maiores e distribuição granulométrica média, variando com a distância do ponto de lançamento (ESPÓSITO, 2000). Neste sentido, verifica-se que uma grande variabilidade granulométrica do reservatório pode ser gerada devido às condições de deposição e do próprio rejeito. Estes depósitos podem apresentar, portanto, grande diversidade das características P á g i n a | 28 geotécnicas em função principalmente das diferenças de densidade, granulometria e composição química e mineralógica dos rejeitos.34 7.2.2 Densidades dos rejeitos Existem diversas variáveis que devem ser consideradas para avaliar a ocupação do reservatório de uma barragem de rejeitos; no entanto, a principal é a densidade do material depositado. A obtenção de uma densidade elevada é essencial para uma otimização da capacidade de estocagem de materiais em uma bacia de contenção de rejeitos. A densidade é uma medida indireta da estrutura dos solos e, consequentemente, dos parâmetros geotécnicos, sendo imprescindível ter um procedimento adequado para projetar a disposição de modo a maximizar o valor da densidade. Reservatórios de barragens de rejeito e depósitos de material dragado, apresentando densidades elevadas, significam um ganho em sua capacidade de armazenamento e consequentemente, em sua vida útil (RIBEIRO, 2000). Em aterros convencionais, a densidade pode ser estimada já na fase de projetos, por meio de ensaios de compactação realizados em laboratório. Este dado permite a escolha da melhor metodologia construtiva para o empreendimento, de forma a manter as premissas de projeto. No caso dos aterros hidráulicos, mesmo conhecendo as características iniciais do material utilizado, as variáveis do processo de deposição (segregação hidráulica e perda de finos) fazem com que o aterro se comporte de maneira bastante diferente. O solo apresenta alterações estruturais provocadas pelas diferentes velocidades de fluxo e taxa de transporte de sedimentos, variáveis praticamente impossíveis de serem determinadas em laboratórios convencionais de mecânica dos solos. Visando aprimorar este conhecimento, estudos realizados têm-se baseado na simulação do processo de deposição hidráulica em laboratórios ou em modelos reduzidos, mediante a adoção de condições similares às existentes nas barragens.35 34 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 13 e 14. 35 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 14 e 15. P á g i n a | 29 7.3 Sistemas de impermeabilização Dispositivos de impermeabilização são utilizados em obras de engenharia para diversas aplicações, como por exemplo, impedir a passagem de umidade, vapor, conter água e diferentes efluentes, e evitar o contato de rejeitos ou resíduos das mais variadas origens com o solo ou água subterrânea. As impermeabilizações são adotadas em várias situações e em diversos tipos de obras ou estruturas, tais como: aterros de resíduos domésticos e industriais, revestimento de túneis, reservatórios de contenção e de tratamento de resíduos industriais, canais de adução e irrigação, bases encapsuladas de estradas e depósitos subterrâneos. Usualmente, as barreiras de impermeabilização têm sido implantadas com diversos tipos de matérias, como camadas de argila compactada, concreto, mantas impregnadas com diversas substâncias (exemplo betume impregnado a um geotêxtil), geocompostos argilosos (GCL), geomembranas de polietileno de alta densidade (PEAD) e polivinil clorado (PVC). Cada uma das diferentes opções apresenta vantagens e desvantagens, em detrimento de uma série de requisitos necessários em determinada aplicação. Na escolha do tipo de impermeabilização é importante conhecer as características de resistência e durabilidade frente às solicitações de natureza química, física e mecânica; disponibilidade do material; facilidade e custo de implantação. Em seguida, serão apresentadas as características gerais das geomembranas de PEAD, dos geocompostos bentoníticos e mantas impregnadas com betume, bem como as principais vantagens e desvantagens para cada um destes tipos de sistema de impermeabilização.36 7.3.1 Geomembrana de polietileno de alta densidade – PEAD As geomembranas de PEAD (Figura 2.5) consistem em mantas poliméricas flexíveis que apresentam permeabilidades extremamente baixas (da ordem de 10-12 cm/s) e que são utilizadas como barreiras para líquidos e vapores. São fabricadas industrialmente, normalmente em forma de bobinas,que são transportadas até a obra, onde são lançadas e soldadas por meio de termofusão (BUENO et al., 2004). 36 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 15. P á g i n a | 30 Figura 30: Geomembrana de PEAD. Fonte: BUENO et al., (2004) As propriedades e o comportamento deste material apresentam variações em função da resina e dos aditivos que eventualmente as compõem. As geomembranas são comumente fabricadas com larguras entre 5 e 10 metros, comprimentos de até 100 metros e espessuras entre 1,0 e 2,5 milímetros. As principais vantagens deste tipo de geomembrana são a excelente resistência a produtos químicos e ataques biológicos, alta resistência aos raios solares, baixa incrustação, atóxica, alta resistência ao impacto e à tração, e boa resistência mecânica. Por outro lado, as desvantagens são a formação de rugas, necessidade de criteriosa conformação ao terreno para sua aplicação e possibilidade de formação de trincas sob tensão.37 7.3.2 Geocompostos bentonítico Os geocompostos bentoníticos (figura 30) são comumente conhecidos com geosynthetic clay liners (GCL) e consistem basicamente em um produto industrializado à base de bentonita natural, sódica ou cálcica, o qual é formado por uma fina camada de argila expansiva disposta entre dois geotêxteis ou colada a uma geomembrana (LUKIANTCHKI, 2007). De forma geral e quando corretamente 37 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 16. P á g i n a | 31 instalados, são materiais que apresentam baixa permeabilidade (entre 10-10 e 10-8 cm/s), coeficiente diretamente influenciado pelas tensões confinantes. São manufaturados com dimensões da ordem de 5 metros de largura, por 50 metros de comprimento e espessuras da ordem de um centímetro, sendo a fração de bentonita com umidade entre 5 e 20% e massa de 5 kg/m² (BUENO et al., 2004). Uma característica bastante importante destes produtos é a sua capacidade de autocicatrização, em função da elevada capacidade de expansão da bentonita. A união entre elementos é realizada apenas pela sobreposição de mantas adjacentes. Segundo Vilar (2003), os geocompostos bentoníticos podem ser classificados em dois diferentes tipos, que são os reforçados e não reforçados. No caso dos elementos reforçados, as camadas externas dos geossintéticos são mecanicamente unidas, utilizando-se costuras ou agulhamento, enquanto nós não reforçados são utilizados adesivos. A figura 31 ilustra os diferentes tipos de geocompostos bentoníticos. Figura 31: Geocompostos bentoníticos. Fonte: BUENO et al., (2004) P á g i n a | 32 Figura 32: Tipos de geocompostos bentoníticos. Fonte: VILAR (2003) As principais vantagens deste sistema são a rápida instalação, baixo custo, baixa permeabilidade quando corretamente instalados, alta capacidade de suporte de recalques, excelentes características de autocicatrização e facilidade de execução de reparos. No entanto, suas principais desvantagens são a possibilidade de perda da bentonita durante a instalação, permeabilidade a gases nos casos de bentonita levemente úmidas, aumento da permeabilidade devido a compressibilidade do GCL sob tensões de compressão e incompatibilidade com certos efluentes.38 7.3.3 Mantas impregnadas com betume As mantas impregnadas com betume ou simplesmente geomembranas betuminosas (figura 32) são constituídas por misturas de hidrocarbonetos de alto peso molecular, obtidos de depósitos naturais ou pelo beneficiamento do petróleo. Elas apresentam um comportamento visco-elástico, ou seja, sua deformação não é somente influenciada pela carga aplicada, mas também pela duração e temperatura (COLMANETTI, 2006). Sua permeabilidade, assim como os outros dispositivos de impermeabilização apresentados, é extremamente baixa e da ordem de 10-11 cm/s. 38 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 17 e 18. P á g i n a | 33 Figura 33: Geomembrana betuminosa. Fonte: COLMANETT (2006) A instalação deste tipo de material requer uma preparação prévia do terreno, com a remoção de pedras e vegetação, seguida do lançamento da manta e com sobreposição de 20 centímetros para a realização da soldadura. A solda é realizada pela fusão do betume das duas mantas, seguida da compressão do material mole com um rolo metálico. É imprescindível que ocorra uma sobra de betume na parte externa da solda (figura 33). P á g i n a | 34 Figura 34: Solda da geomembrana betuminosa. Fonte: COLMANETTI (2006) A geomembrana betuminosa é fabricada em rolos de 5 metros de largura, com até 90 metros de comprimento e espessura variando de 3,5 a 5,6 milímetros. Este produto é constituído por 5 camadas de materiais, sendo estas de: areia, betume, geotêxtil não tecido, lã de vidro e filme anti-raiz (figura 34). Este tipo de impermeabilização apresenta elevada resistência mecânica, possibilidade de instalação em baixas temperaturas, facilidade de aderência em estruturas de concreto, boa resistência química e biológica, excelentes características de autocicatrização e resistência à penetração de raízes. Por outro lado, este material apresenta elevada densidade, necessitando de equipamentos mecânicos durante a instalação e uma boa preparação do terreno antes de sua aplicação.39 Anotações do Aluno: 39 JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a Avaliação da Capacidade de Reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012, p. 18 a 20. P á g i n a | 35 Figura 35: Camadas de formação da geomembrana betuminosa. Fonte: COLMANETTI (2006) Anotações do Aluno: Resumo Nesta aula, abordamos: Métodos construtivos de barragens de rejeito: A forma mais comum de contenção de rejeitos em polpa é a de lançamento direto em vales fechados ou interceptados por maciços de terra, construídos por diferentes técnicas de alteamento. Os procedimentos de construção dos aterros são os mesmos adotados para estruturas com finalidade de acumulação de água. Disposição de rejeitos por aterro hidráulico: Aterros hidráulicos são depósitos formados através da hidromecanização, a qual é definida como o conjunto de procedimentos que envolvem o transporte e a disposição de um solo com o auxílio de água. Sistemas de impermeabilização: Dispositivos de impermeabilização são utilizados em obras de engenharia para diversas aplicações, como por exemplo, impedir a passagem de umidade, vapor, conter água e diferentes efluentes, e evitar o contato de rejeitos ou resíduos das mais variadas origens com o solo ou água subterrânea. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre a impermeabilização do reservatório, principalmente quanto ao estudo geológico-geotécnico, bem como as técnicas executivas de cada tipo de impermeabilização. Referências Bibliografia da aula 07: JÚNIOR. M. A. L. Estudos para a avaliação da capacidade de reservatório de rejeitos de Nióbio. Universidade Federal de Outro Preto/MG – UFOP, 2012.ROSTAGNO, P. V. Apostila de obras hidráulicas. Itaperuna: Faculdade Redentor, 2010. AULA 7 Exercícios 1) Por que os reservatórios, principalmente para barragens de terra devem ser impermeabilizados? 2) Qual é o proceimento de alteamento a jusante? 3) Qual é o procedimento de de alteamneto a montante? 4) Qual é o procedimento de alteamento por linha de centro? 5) Adaptada Concurso MPE/SP – VUNESP – 2016: Em relação às barragens de rejeito de mineração, é correto afirmar que: a) barragens convencionais são normalmente menos seguras, porém os custos são menores. b) o método de alteamento de jusante apresenta geralmente os menores custos, porém menor segurança. c) o processo de alteamento de montante é considerado o menos seguro, embora seja o mais empregado. d) deve-se evitar o lançamento dos resíduos próximo à crista das barragens, principalmente em materiais mais arenosos. e) a principal vantagem do método de alteamento de montante é a possibilidade de ampliação dos dispositivos de drenagem durante o alteamento. Anotações do Aluno: Filtros e transições Aula 8 APRESENTAÇÃO DA AULA Os filtros e transições são importantes elementos construtivos em barragens de terra. Os filtros fazem toda a drenagem interna do maciço, fazendo com que a água infiltrada no maciço seja toda, ou quase toda, escoada para a jusante. Já a transição são camadas entre o maciço e o material drenante, para que não ocorra erosão por conta da drenagem dos filtros. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ O conceito de filtro; ➢ O conceito de transição; ➢ Os materiais empregados nos filtros e transições. P á g i n a | 41 8 INTRODUÇÃO 8.1 Conceito de filtro Filtro é o material através do qual é possível percolar um fluxo de água sem, contudo, permitir a passagem das partículas em suspensão. Caso haja a erosão destas partículas e o movimento das mesmas, o filtro tem a finalidade de retê-las em seu interior ou em sua interface com o solo de onde se originam tais partículas. Assim, o filtro previne a ocorrência de pipping ao mesmo tempo que não impede a passagem da água, o que poderia conduzir a um aumento das poropressões (ICOLD, 1994).40 8.1.1 Filtros – drenagem interna O sistema de drenagem interna de uma barragem de terra é geralmente constituído de um tapete drenante e um filtro em chaminé. Os tapetes drenantes, geralmente ficam apoiados sobre a superfície de fundação e são constituídos de camadas múltiplas de materiais, com elevada permeabilidade, para permitir o escoamento das águas drenadas através da fundação e do maciço de barragem. Quando a superfície da fundação é horizontal, ou pouco inclinada, o tapete é construído em camadas e compactado por meio de rolos vibratórios ou tratores de esteira, imediatamente após intensa irrigação. Quando a fundação é mais inclinada (ombreira) a construção do tapete é conduzida juntamente com o aterro, em pequenos lances, sendo a sua compactação feita por meio de rolo pneumático ou placa vibratória. Os filtros em chaminé podem ser verticais ou inclinados e geralmente são constituídos de um único material, na maioria das barragens, de areia natural. Sua espessura é da ondem de 1 metro, geralmente estabelecida em função da mínima dimensão requerida para a sua construção. Pode ser construído em camadas finas, de espessura igual a uma ou duas vezes a espessura do aterro, lançadas antes e compactadas juntamente com as camadas deste, através do rolo vibratório ou pneumático; ou pode ser construído após o aterro ter atingido uma certa espessura (1 a 2 metros), por escavação deste e substituição por material de filtro, sendo compactado em camadas por meio de placa vibratória, conforme figuras 35 e 36. No 40 FILHO, M. A. P. Análise da erosão interna de solos em barragens com base na distribuição de vazios. Universidade federal de Minas Gerais – UFMG, 2013, p. 7. P á g i n a | 42 primeiro caso o consumo do material de filtro é maior, pois a geometria final do filtro construído fica constituída de seções trapezoidais superpostas, de altura igual à espessura da camada e a largura no topo igual à dimensão mínima do projeto. Para a construção dessas camadas são utilizados equipamentos, que preenchidos por material de filtro e puxados por um trator fazem o lançamento da camada com espessura e largura desejada. No segundo caso, quando o filtro é inclinado, também há necessidade de maior consumo de material, para se observar a dimensão mínima do projeto. Quanto maior a espessura do aterro escavado para substituição, maior o excesso de consumo de material de filtro. Figura 36: Filtro de chaminé - construído concomitantemente com o aterro. Fonte: MARANGON (2004) P á g i n a | 43 Figura 37: Filtro em chaminé - construído por escavação do aterro. Fonte: MARANGON (2004) 8.1.1.1 Filtro e drenos Os filtros são caros e não são normalmente necessários para barragens pequenas. O objetivo dos drenos de “filtro” de percolação é o de baixar a superfície freática (a ‘linha de percolação’) no interior do aterro para evitar que a água emerja da face de jusante onde fluxos erosivos e de absorção podem causar o abatimento do material e pôr em perigo toda a estrutura. Trincheiras escavadas, na altura da construção, até ao subsolo debaixo da face e pé de jusante e cheias com pedras e cascalho (este último ajuda a limitar o movimento de materiais finos do aterro para dentro dos drenos) e continuando para uma rede de drenos coletores pelo menos a 3-5 m abaixo da linha do pé, podem, em segurança, baixar as linhas de infiltração permitindo o fluxo para o exterior de debaixo do aterro. A configuração das zonas filtro, no entanto, dependerá do tipo do aterro: ✓ Numa barragem homogênea modificada, o filtro é geralmente colocado como um tapete de areia (nunca inferior a 500 mm de espessura) e gravilha fina na área da fundação a jusante, estendendo-se da borda da trincheira de vedação/núcleo até à borda do pé de jusante e daí descarregada em segurança pelos drenos do pé; ✓ Numa barragem zonada, o filtro é colocado entre o núcleo e o aterro de jusante. Um dreno ‘chaminé longitudinal de material de gravilha que recolhe o fluxo de infiltração e que o leva para a base da chaminé e, através de um ou mais drenos P á g i n a | 44 transversais, transporta a água para os drenos do pé, fora do aterro. Estes drenos são essenciais quando os riscos de percolação são considerados altos – por exemplo, material de enchimento de jusante de relativamente baixa permeabilidade, ou uma barragem homogénea sobre uma fundação impermeável, terá sempre necessidade de drenos de percolação. Uma área saturada a jusante pode levar a instabilidade e deslizamento. Se isto for significativo poderá diminuir o volume do enchimento ao ponto de que o peso é insuficiente para resistir às forças exercidas sobre o aterro pela pressão da água no reservatório e por debaixo da barragem. Pode então acontecer o desmoronamento completo ou parcial. Outras medidas para reduzir infiltrações são tapetes de material impermeável (300 mm de espessura para uma barragem até 3 m de altura, 500 mm de espessura para barragens e 3-5 m de altura e 750-1 000 mm de espessura para barragens de 5- 8 m de altura) colocados na face de montante e um pé em pedra construído para adicionar peso à estrutura (e ajudar a aliviar a pressão intersticial na secção jusante do aterro). A Figura 37 ilustra um tapete de argila típico, colocado, com uma nova trincheira de vedação, na face montante de uma barragem já existente ou, possivelmente, duma nova barragem com uma fundaçãode má qualidade. Os tapetes de argila podem ser dispendiosos para grandes barragens e a opção pelos talvez menos custosos filtros e drenos, para, em segurança, afastar a infiltração da barragem e aliviar altas pressões de água no interior do aterro, deverá ser considerada em relação às perdas de água, antes de instalar um tapete de argila. Em barragens já estabelecidas, drenos de percolação podem ser escavados no maciço de jusante para aliviar problemas de água, mas os resultados são sempre menos satisfatórios do que os drenos instalados na altura da construção. Mais pormenores sobre percolação e contramedidas podem ser encontrados nas diretrizes da FAO sobre pequenas barragens e açudes em terra e gabiões (FAO, 2001). É sempre recomendado a procura de conselho dum especialista em drenagem dado que a capacidade e espaçamento dos drenos e a relação entre materiais finos e grossos nos filtros pode ser importante.41 Anotações do Aluno: 41 STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p. 55 e 56. P á g i n a | 45 Figura 38: Tapete de argila e nova trincheira de vedação. Fonte: STEPHENS (1991) 8.1.2 Critérios para filtros Considerando a impossibilidade de evitar que a água percorra o interior dos aterros compactados e alcance o talude de jusante, consagrou-se na prática de projetos adotar aterros com sistemas de filtro vertical e horizontal. Três funções principais são resposta desses sistemas: ✓ Disciplinar a vazão forçando o fluxo para uma direção determinada, e com isso aumentando o controle sobre as poropressões desenvolvidas; ✓ Impedir a remoção de partículas sólidas proveniente do fluxo de água pelo material do aterro e/ou das fundações prevenindo ocorrência de erosão interna; ✓ Exercer a função de dreno, disciplinando a água interceptada e a conduzindo para fora do aterro, podendo assim ser medida e analisada. Para o adequado funcionamento desse sistema, com base em uma grande quantidade de ensaios realizada por Sherard et. al., (1984) e experiência em projetos, demonstrou-se que a eficiência dos filtros está relacionada ao tamanho do D15 obtido a partir das curvas granulométricas do material do filtro. Dessa forma, um filtro dreno P á g i n a | 46 deve ao mesmo tempo reter os finos e possuir alto coeficiente de permeabilidade para diminuir o gradiente hidráulico, onde: 𝐷15 𝑓𝑖𝑙𝑡𝑟𝑜 𝐷85 𝑠𝑜𝑙𝑜 ≤ 5 Onde D15 equivale ao percentual de 15% passante na curva granulométrica do material mais grosseiro, e D85 corresponde a 85% passante na curva granulométrica do material mais fino. Esse critério limita o tamanho dos finos do filtro de forma a evitar a passagem dos grãos de solo. É importante notar, que em se tratando de um material drenante em contato com solo compactado, é possível aceitar margens maiores a esse critério, desde que o solo compactado apresente coesão. No entanto, no contato entre areia e pedrisco, o fluxo de água também aumenta e os cuidados na adoção de critérios com valores superiores ao estabelecido não estão claramente comprovados. Para o caso da UHE Colíder, tem-se o agravante da barragem margem direita estar, em seu trecho de jusante, apoiada em cascalho composto de areia média a grossa com presença de pedregulhos, também significativamente permeáveis. Imediatamente abaixo deste trecho, encontram-se os arenitos feldspáticos da Formação Dardanelos, com baixa a média resistência e permeabilidade após as injeções de fundação, da ordem de 𝐾 = 10−4 cm / s. Para garantir a inexistência de gradientes elevados, foi projetado um sistema de drenagem com filtro vertical de 80 centímetros, e tapete drenante horizontal do tipo sanduíche, com 1,2 metros de espessura. A Figura 38 mostra uma seção esquemática do filtro horizontal sanduíche implantado na barragem da UHE Colíder.42 42 PIROLLI, C.; VENDRAMIN, R. T. Avaliação de critérios de filtro em barragens de terra estudo de caso da uhe colíder. XXX Seminário Nacional de Grandes Barragens. Foz do Iguaçu, 2015, p. 10 e 11. P á g i n a | 47 Anotações do Aluno: Figura 39: Desenho esquemático do filtro horizontal. Fonte: VLB Engenharia (2010) P á g i n a | 48 Tabela 4: Resumo com descrição de alguns critérios de filtros estabelecidos desde os estudos conduzidos por Terzaghi na década de 1920. P á g i n a | 49 8.2 Conceito de transições As transições entre enrocamento e aterros são construídas com técnicas semelhantes às utilizadas na execução dos filtros em chaminé, em camadas concomitantes, apoiadas sobre a face do aterro ou do enrocamento. Junto as transições é importante que o enrocamento contenha certo teor de pedras miúdas e finos, e que seja empalhado com a lâmina do trator movimentando-se no sentido em que se afasta da transição, conduzindo as pedras maiores para longe desta. Os materiais de transição são compactados com rolos pneumáticos ou vibratórios, tomando-se cuidado especial para que o aterro adjacente à transição não fique sem compactação.43 8.2.1 Materiais para filtros e transições ✓ Definições: ➢ Materiais naturais São considerados como naturais os materiais obtidos através de escavações convencionais mecanizadas, dragagem ou mesmo escavações com o uso de explosivos e aplicados na obra, sem necessidade de qualquer tipo de beneficiamento; ➢ Materiais processados São aqueles materiais produzidos artificialmente pelo beneficiamento de materiais naturais. Os tipos de beneficiamentos mais utilizados são: lavagem, peneiramento ou britagem. ✓ Materiais Naturais - Areias e Cascalhos ➢ Programa de investigações de campo Para a caracterização dos materiais naturais existentes, serão realizadas investigações de campo através de varejão, sondagens com amostragem e eventualmente dragagem. O espaçamento entre os pontos de investigação será fixado em função do modelo geológico, da homogeneidade dos materiais presentes, da fase dos estudos e do volume dos depósitos. 43 MARANGON, M. Barragens de Terra e Enrocamento. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004, p. 24. P á g i n a | 50 ➢ Caracterização de volumes disponíveis Para a caracterização dos volumes disponíveis em jazidas situadas no leito do rio, será considerada a necessidade de verificação das alterações anuais durante o período de cheias, que tendem a alterar tanto os volumes como as granulometrias presentes. Também o esquema de desvio do rio poderá trazer alterações nos volumes das jazidas em determinadas etapas da obra. Para as fases iniciais de projeto, os volumes a serem pesquisados para zonas drenantes da barragem deverão envolver pelo menos o dobro do volume necessário. A pesquisa de areias poderá ser feita em uma mesma campanha para utilização tanto em concreto como para a barragem de terra e de terra-enrocamento. Deve ser definido o contorno geométrico dos volumes disponíveis em cada jazida. ➢ Caracterização geológico – geotécnica A caracterização geológica deverá compreender a descrição dos tipos de materiais existentes, a mineralogia, origem, espessura dos depósitos, a alternância textural, a posição do lençol freático e características do capeamento estéril. A caracterização geotécnica deverá compreender a descrição da homogeneidade granulométrica das areias, as necessidades de beneficiamento dos materiais por peneiramento e/ou lavagem, a forma dos grãos, a permeabilidade e outras informações julgadas de interesse. Estes dados deverão ser apresentados na forma de perfis, seções e plantas complementados por um texto descritivo. ➢ Tipos de ensaios Na definição dos tipos e quantidade de ensaios, serásempre considerada a experiência obtida com utilização de materiais similares utilizados em outras obras, a possibilidade de definição dos parâmetros através da análise táctil-visual e os locais previstos para sua utilização. Em seguida estão relacionados os ensaios a serem executados nas areias e cascalhos: ❖ Análise mineralógica; ❖ Granulometria; ❖ Permeabilidade; ❖ Compacidade (densidade máxima, mínima e natural); ❖ Teores de matéria orgânica e torrões de argila; ❖ Densidade dos grãos; ❖ Índice de forma. P á g i n a | 51 Deverão ser estimados parâmetros de resistência e deformabilidade das areias. As areias deverão atender aos critérios de filtro e de dreno. Além disso, deverão ser investigadas características específicas das areias que possam influir no desempenho dos filtros e transições dos maciços. ✓ Materiais Processados Os materiais processados poderão ser aplicados quando sua economicidade superar a dos materiais naturais ou no caso destes não atenderem às características requeridas ou não estiverem disponíveis em quantidades suficientes. ➢ Fontes de materiais As principais fontes de materiais processados, não naturais, são os materiais de escavação obrigatória ou os obtidos de pedreiras. Estes podem contribuir como fonte de materiais para filtros e transições na forma de areia artificial, britas, “bica corrida” separada por “grizzly” ou “bica corrida” do britador primário. ➢ Balanceamento de materiais A identificação de disponibilidade de materiais processados deve ser verificada através de estudo de balanceamento dos materiais de escavação. Os volumes correspondentes deverão ser estimados considerando os fatores usuais de perdas e relação de volumes corte/aterro. Preliminarmente o fator a considerar para rochas duras é de 1,3 vezes o volume no corte para obtenção do volume do material processado colocado no maciço. ➢ Amostragem e ensaios A amostragem para ensaios de materiais processados deverá ser feita por coleta em sondagens, das escavações ou das pilhas de estoque, de modo a possibilitar a execução de ensaios de análise mineralógica, permeabilidade, densidade, absorção e ciclagem natural e acelerada. Para obtenção de dados sobre a proporção a ser obtida, de cada graduação de britas, para o balanceamento, deverão ser utilizadas curvas de britagem obtidas de obras com materiais semelhantes e da própria obra. Nos casos em que é importante a definição de características do material britado, tanto em proporção como em caracterização tecnológica, poderão ser utilizados ensaios de britagem, providenciando-se um desmonte de rocha no local e transportando-se o material para um local onde exista uma central de britagem em funcionamento. Esta providência pode ser adotada quando o programa de estudos de tecnologia de concreto também necessita de um grande volume de amostras de rocha para britagem. P á g i n a | 52 ➢ Seleção de parâmetros de projeto Os parâmetros de projeto correspondentes aos materiais processados para filtros e transições deverão ser obtidos de obras de condições semelhantes e comprovados no decorrer da própria obra.44 44 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 174 a 177. Resumo Nesta aula, abordamos: Conceito de filtro: Filtro é o material através do qual é possível percolar um fluxo de água sem, contudo, permitir a passagem das partículas em suspensão. Conceito de transições: As transições entre enrocamento e aterros são construídas com técnicas semelhantes às utilizadas na execução dos filtros em chaminé, em camadas concomitantes, apoiadas sobre a face do aterro ou do enrocamento. Materiais para filtros e transições: São: Materiais Naturais - Areias e Cascalhos e os Materiais Processados. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre os filtros e transições, suas características e execução. Referências Bibliografia da aula 08: BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003. FILHO, M. A. P. Análise da erosão interna de solos em barragens com base na distribuição de vazios. Universidade federal de Minas Gerais – UFMG, 2013. MARANGON, M. Barragens de Terra e enrocamento. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2004. PIROLLI, C.; VENDRAMIN, R. T. Avaliação de critérios de filtro em barragens de terra estudo de caso da UHE Colíder. XXX Seminário Nacional de Grandes Barragens. Foz do Iguaçu. STEPHENS, T. Manual sobre pequenas barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011. AULA 8 Exercícios 1) Qual a diferença entre um filtro e uma transição? 2) Quais os tipos de materiais utilizados nos filtros em barragens tipo enrocamento? 3) Quais os tipos de materiais utilizados nas transições em barragens tipo terra? 4) Em uma barragem tipo tulipa com filtro temos 1000 kg de material a ser filtrado, sendo 40% grosso e 60% fino. Calcule a eficiência do filtro. 5) Adaptada Concurso CEMIG 2017 - Os filtros são elementos essenciais para o controle de percolação e estabilidade dos barramentos. Sobre este tema, NÃO está correto o que se afirmar em: a) Os filtros ajudam a controlar a erosão interna. b) Os filtros são dimensionados com base apenas na condição de filtragem. c) Os materiais da base vão influenciar no dimensionamento do filtro. d) Por segurança, os filtros são geralmente superdimensionados em sua seção. Otimização das Seções das Barragens Aula 9 APRESENTAÇÃO DA AULA As barragens têm seu dimensionamento executado para montante e também para jusante, quais serão estudados nesta aula. Estes dimensionamentos são importantíssimos para a estabilidade do maciço e também para se conhecer os materiais de construção empregados, bem como a técnica executiva utilizada nas otimizações. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Os fatores que influenciam a escolha da seção; ➢ A otimização da barragem de seção homogênea; ➢ A otimização da barragem de terra-enrocamento; ➢ A otimização de barragens de enrocamento com face de concreto. P á g i n a | 58 9 INTRODUÇÃO Uma vez que todas as pesquisas preliminares tenham sido feitas e um local adequado tenha sido encontrado, o próximo passo é realizar um levantamento pormenorizado do vale e da área do reservatório para permitir estimativas mais exatas de quantidades e para fornecer os dados necessários para realizar o projeto. O objetivo de tal levantamento é apresentar, em papel, um mapa com curvas de nível do reservatório até, e excedendo, o nível de cheia máxima e dar pormenores sobre a localização do aterro, descarregador/vertedor e outras estruturas de descarga. A partir do mapa com curvas de nível, a capacidade do reservatório pode ser avaliada para diferentes alturas da barragem. Uma curva cota x volume pode então ser elaborada de forma a fornecer um método fácil e rápido para o projetista da barragem escolher a cota máxima ótima. Um exemplo simplificado duma curva cota x volume é mostrado na figura 39. Com frequência, a curva cota x área (normalmente com uma escala invertida) é adicionada aos gráficos.4545 STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 201, p.43. P á g i n a | 59 Figura 40: Curva de profundidade-capacidade típica. Fonte: STEPHENS (1991) 9.1 Fatores que influenciam a escolha da seção A escolha da seção mais adequada será feita com base nos aspectos de: ✓ Características dos materiais; ✓ Disponibilidade e economicidade dos materiais’; ✓ Condições climáticas e trabalhabilidade; ✓ Cronograma de construção; ✓ Esquema de desvio; ✓ Características geológicas e topográficas da fundação; ✓ Integração ao arranjo geral. 9.1.1 Características dos materiais A princípio todos os materiais disponíveis deverão ser considerados como potencialmente utilizáveis na seção da barragem. O projeto deverá prever um adequado zoneamento de modo a garantir a estabilidade com economia. P á g i n a | 60 Eventualmente, caso qualquer material não apresente características tecnológicas e de trabalhabilidade adequadas, poderá ser lançado em áreas de bota- fora desde que não possam ser aplicados mesmo em aterros provisórios e/ou auxiliares. 9.1.2 Disponibilidade e economicidade dos materiais Como os materiais provenientes de escavação, com possibilidade de aplicação direta na Barragem, são em geral os mais econômicos, estes serão os primeiros a serem considerados para a seção transversal da Barragem. Os materiais de empréstimo a serem considerados, terão preferência pela sua localização, sendo em princípio, os mais próximos da barragem os que deverão apresentar maiores vantagens. Serão levados em conta ainda a posição das jazidas, etapa de exploração e cota em relação à da Barragem. A declividade dos taludes tem uma influência preponderante no custo, razão pela qual nestes casos os materiais que possibilitam taludes mais íngremes podem ser os mais indicados, mesmo em confronto com outros situados em posição mais próxima dos locais de lançamento, ou até mesmo aqueles extraídos de escavação comum obrigatória.46 9.1.3 Condições climáticas e trabalhabilidade As condições climáticas do local serão levadas em consideração na escolha das seções das barragens já que em regiões de chuvas intensas a produtividade cai e o número menor de dias trabalháveis poderão exigir maior intensidade de uso de equipamento, tornando mais alto o custo unitário de aterro compactado. Nestes casos os materiais que não exijam tempo seco para lançamento serão considerados por serem mais competitivos em custo. A condição “In situ” dos materiais será considerada pela sua influência na trabalhabilidade. Materiais muito úmidos, ou muito secos exigirão correção de umidade que poderão colocá-los em desvantagem econômica e de prazos de 46 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 180 e 181. P á g i n a | 61 execução na comparação com outros materiais alternativos. Dificuldades maiores de escavação e transporte também serão levados em consideração nesta comparação. 9.1.4 Cronograma de construção O tempo requerido para construção deverá ser levado em consideração de acordo com os vários aspectos das etapas de construção, reaproveitamento de materiais, necessidade de estoques intermediários, etc. Esta comparação deverá ser feita mediante o desenvolvimento de um estudo completo de arranjo geral, sequência construtiva, prazo de construção, balanço de materiais, desembolso, vantagens financeiras de antecipações, de redução de prazos e/ou adiantamento de desembolsos. A comparação de custos globais indicará o cronograma e metodologia executiva mais vantajosa.47 9.1.5 Esquema de desvio A influência do tipo de barragem no esquema de desvio será considerada levando em conta as facilidades que certos tipos de barragens introduzem por permitirem maior risco e, portanto, esquemas de desvio mais econômicos. A etapa de construção da barragem associada ao problema da travessia do rio, poderá tornar mais caro o reaproveitamento de materiais de escavação pela necessidade de pilhas de estoque intermediárias. Assim, o esquema de desvio levará em consideração a possibilidade de aplicação direta dos materiais e eventualmente será adaptado à obtenção de uma barragem mais econômica. Reciprocamente a seleção da seção transversal da barragem deverá levar em consideração as condicionantes de etapas de construção introduzidas pelo esquema de desvio. 47 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 181 e 182. P á g i n a | 62 9.1.6 Características geológico-geotécnicas e topográficas da fundação A seleção econômica das seções das barragens será feita com base nas características geológicas da fundação, considerando principalmente o aspecto resistência que poderá condicionar a declividade dos taludes da barragem. A utilização de taludes mais íngremes, possibilitada pelo uso de enrocamentos, exigirá melhores características de resistência dos materiais de fundação. Aspectos de deformalidade e permeabilidade também poderão influenciar a escolha já que a barragem de seção homogênea impõe menor grau de exigência também nestes dois aspectos. Também os aspectos topográficos poderão ter influência na escolha das seções das barragens, já que grandes irregularidades poderão favorecer a escolha da seção que melhor convive com os efeitos destas irregularidades.48 9.1.7 Integração ao arranjo geral As seções das barragens serão selecionadas considerando a sua integração à disposição das demais estruturas. O custo das interligações entre estruturas diversas deverá ser minimizado. A escolha das seções deverá ser feita considerando soluções que permitam o máximo aproveitamento das estruturas para as diversas finalidades da obra e a possibilidade de redução de volumes de escavações dos circuitos hidráulicos. Uma vez que existirão várias soluções tecnicamente viáveis a definição das seções será feita pelo critério do menor custo global, de todas as estruturas. O processo de seleção da melhor alternativa deve ser iterativo, iniciando-se pela consideração das diversas soluções possíveis e por eliminação chega-se à solução mais viável a ser adotada. 9.2 Barragem de seção homogênea A barragem de seção homogênea terá como características principais: 48 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 182. P á g i n a | 63 ✓ Seção em solo compactado. Zoneamento da seção aproveitando-se os materiais mais permeáveis nos espaldares devidamente protegidos principalmente contra o efeito de erosões superficiais e os menos permeáveis na zona central. Deverão ser considerados, para definição do zoneamento dos materiais, suas características tecnológicas, a sua sequência e época de escavação e de aproveitamento; ✓ O sistema de drenagem interna deverá prever filtro vertical ou inclinado, tapete drenante junto à fundação e dreno de pé; ✓ A necessidade de introdução de juntas de construção deverá ser determinada em função do planejamento da obra. O número e posição das juntas serão obtidos por um lado pela necessidade de minimizá-las e por outro pela necessidade de distribuir os volumes lançados de modo a obter um histograma mais homogêneo de produção que levará a mobilização de um menor número de equipamentos resultando em menores custos de construção; ✓ A largura da crista é função da segurança e do processo construtivo, devendo ser adotada de maneira geral a mínima necessária para o tráfego de veículos nos dois sentidos. Como critério básico, deverá ser adotada a largura de 10 m. Para diques,deverá ser adotada uma largura mínima de 7 m; ✓ A declividade dos taludes deve ser definida considerando a variação do nível do reservatório e também em função das características tecnológicas dos materiais de construção dos aterros e das fundações; ✓ Como a barragem de seção homogênea tem taludes mais brandos o nível de solicitação da fundação é menor, sendo o tipo de barragem que mais facilmente se adapta a qualquer tipo de fundação, com os menores custos.49 9.3 Barragem de terra-enrocamento Os fatores que concorrerão para a escolha de uma barragem de seção mista terra e enrocamento serão: ✓ Disponibilidade de enrocamento proveniente de escavações obrigatórias; 49 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 183. P á g i n a | 64 ✓ Fundações de boa resistência para garantir a estabilidade de taludes mais íngremes da barragem; ✓ Seções de maiores alturas da barragem permitirão grandes reduções dos volumes totais em função da declividade dos taludes. A disposição dos diversos materiais na seção deverá ser feita de modo a concorrer para uma melhor compatibilização de deformações entre o núcleo, as transições e enrocamento dos espaldares. A largura da crista deverá ser de no mínimo 10 m para atender, além da segurança, a viabilização dos processos construtivos que envolvem uma diversidade de materiais de filtros, transições etc.... A largura mínima do núcleo impermeável deverá ser de 0,3 H, onde H corresponde à altura da carga hidráulica do reservatório. No topo da barragem, essa largura deverá ser de no mínimo 3,0 m, em função de aspectos construtivos.50 9.4 Barragens de enrocamento com face de concreto Estas barragens devem ser encaradas como estruturas com grandes vantagens de custo, principalmente quando se trata de um vale encaixado e em regiões de alta pluviosidade, condições de fundações boas, e principalmente, no caso em que as escavações requeridas, para as estruturas de concreto e de desvio, passam a produzir o volume de enrocamento necessário para a execução da barragem. Outras circunstâncias favoráveis a este tipo de barragem são: ✓ Ausência ou escassez de solos argilosos para execução de um núcleo impermeável; ✓ Jazidas de solos argilosos muito distantes do local de implantação da barragem, tornando a mesma antieconômica; ✓ Jazidas de solos argilosos com teores de umidade natural muito elevados. Para este tipo de barragem, o ponto mais importante da fundação será a linha de projeção do talude de montante onde repousa o plinto ou laje “cut-off”, que em 50 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 184. P á g i n a | 65 conjunto com a laje do paramento de montante, serão responsáveis pelo barramento d’água. Em termos econômicos, a escolha entre uma barragem de enrocamento com núcleo argiloso e uma com face de concreto deverá levar em consideração numerosos fatores: ✓ Volume dos enrocamentos; ✓ Eventual redução das obras de desvio, etc.; ✓ Elementos de vedação; ✓ Eventual redução do prazo de construção no caso de uma barragem com face de concreto. As evoluções das técnicas de projeto bem como dos equipamentos de compactação pesados têm tornado as barragens de enrocamento com face de concreto extremamente competitivas com relação às de núcleo argiloso impermeável. A qualidade do enrocamento depende de vários fatores sendo os principais: a qualidade da rocha, a granulometria do enrocamento e o método de compactação. Portanto, para obter o mais alto módulo de deformabilidade possível, deve-se escolher uma rocha sã e resistente bem como adotar processos de construção que forneçam enrocamentos bem graduados e compactados.51 51 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p. 185. Resumo Nesta aula, abordamos: Fatores que influenciam a escolha da seção: são: características dos materiais; disponibilidade e economicidade dos materiais’; condições climáticas e trabalhabilidade; cronograma de construção; esquema de desvio; características geológicas e topográficas da fundação; integração ao arranjo geral. Barragem de seção homogênea: a largura da crista é função da segurança e do processo construtivo, devendo ser adotada de maneira geral a mínima necessária para o tráfego de veículos nos dois sentidos. Como critério básico, deverá ser adotada a largura de 10 m. Para diques, deverá ser adotada uma largura mínima de 7 m; Barragem de terra-enrocamento: a largura mínima do núcleo impermeável deverá ser de 0,3 H, onde H corresponde à altura da carga hidráulica do reservatório. No topo da barragem, essa largura deverá ser de no mínimo 3,0 m, em função de aspectos construtivos; Barragens de enrocamento com face de concreto: para este tipo de barragem, o ponto mais importante da fundação será a linha de projeção do talude de montante onde repousa o plinto ou laje “cut-off”, que em conjunto com a laje do paramento de montante, serão responsáveis pelo barramento d’água. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre as otimizações das seções das barragens, principalmente quanto ao projeto de execução. Referências Bibliografia da aula 09: BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003. STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011. AULA 9 Exercícios 1) De acordo com a figura 39, explique por que quanto maior o volume da barragem, maior a sua profundidade? 2) Explique por que em barragens de terra a largura da crista é maior do que diques? 3) Calcule a largura de uma barragem de enrocamento cuja altura total é de 6,60 metros? 4) Nas barragens de enrocamento com face de concreto, explique o que é o “cut-off”. 5) Adaptada Concurso CEMIG 2017 - A rede de fluxo de uma barragem é de extrema importância para o engenheiro geotécnico. Com a rede de fluxo, é possível obter uma série de dados e parâmetros. Com relação a este tema, NÃO está correto o que se afirma: a) A face montante do barramento homogêneo tem carga total igual à elevação do lago. b) A rede de fluxo é composta por linhas de fluxo e equipotenciais. c) A vazão que passa por um canal de fluxo é a mesma em toda a sua extensão. d) Quanto menor a razão entre o número de canais de fluxo e as quedas de potencial, maior a vazão. Proteção dos Taludes Aula 10 APRESENTAÇÃO DA AULA As barragens têm seu dimensionamento executado para montante e também para jusante, quais serão estudados nesta aula. Estes dimensionamentos são importantíssimos para a estabilidade do maciço e também para se conhecer os materiais de construção empregados, bem como a técnica executiva utilizada nas otimizações. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ As técnicas de proteção de taludes a montante; ➢ As técnicas de proteção de taludes a jusante; ➢ Proteção em barragens homogêneas de terra; ➢ Proteção de barragens de enrocamento; ➢ Proteçãode barragens mistas; ➢ Detalhes construtivos; ➢ Proteção inadequada de taludes. P á g i n a | 71 10 INTRODUÇÃO O talude de montante das barragens de terra homogêneas deverá ser protegido contra a ação de ondas e contra a variação do nível d’água do reservatório (se houver). A proteção deverá ser executada com materiais granulares, rocha proveniente das escavações obrigatórias ou cascalho, se disponível na região, cujas dimensões mínimas são mostradas no detalhe apresentado na figura 40. Essa proteção deverá ser executada acompanhando o alteamento do aterro. Evidentemente, o diâmetro de cada material deverá ser menor que a espessura da camada, medida normalmente ao talude, a qual poderá variar de acordo com o material disponível (proveniente de pedreira, escavação obrigatória ou da central de britagem). Figura 41: Proteção do talude de montante. Fonte: ROSTAGNO (2011) O talude de jusante deverá ser protegido contra a flutuação do nível d’água de jusante (se houver) e contra a ação de chuvas. A proteção deverá ser igual à do talude de montante até uma altura mínima de h/3, sendo h a profundidade de água do reservatório. Se o NA de jusante ultrapassar essa altura, a proteção deverá ser executada até a elevação correspondente. Acima dessa altura, o talude deverá ser protegido, sempre que possível, através do plantio de grama. Os detalhes dessa proteção são mostrados na figura 41, a seguir. P á g i n a | 72 Figura 42: Proteção do talude de jusante. Fonte: ROSTAGNO (2011) Caso não existam materiais granulares em abundância na região, o talude de montante deverá ser protegido com uma camada de solo-cimento, com 1,0 m de espessura, medido normal ao talude, obedecendo à dosagem especificada na tabela 5, a seguir. Tabela 5: Dosagem do solo-cimento. MATERIAL DO ATERRO TEOR DE CIMENTO Cascalho, Areia Grossa/Fina 6 a 9 % em peso Solo Arenoso 7 a 9 % em peso Solo Argiloso 10 a 12 % em peso Fonte: ROSTAGNO (2011) P á g i n a | 73 O método de execução deverá acompanhar o alteamento do aterro da barragem. Após o lançamento, a camada de solo-cimento deverá ser compactada com, no mínimo, 4 passadas do equipamento de compactação. O trabalho deverá estar finalizado até 60 minutos após o lançamento. Durante a elevação do aterro, deverão ser tomados cuidados com a umidade adequada para a cura das camadas executadas anteriormente. A mistura de cimento com o solo deverá ser realizada em betoneiras ou no próprio local. Poderá ser adicionada água à mistura, se necessário, para melhorar a trabalhabilidade. O talude de jusante deverá ser protegido como especificado anteriormente. A figura 42, a seguir, apresenta os detalhes da proteção e do alteamento de solo- cimento.52 52 ROSTAGNO, P. V. Apostila de Obras Hidráulicas. Faculdade redentor, 2011, p. 1 a 3. P á g i n a | 74 Figura 43: Sequência de alteamento para proteção de solo-cimento. m1 1 SEQUÊNCIA DE ALTEAMENTO camadas de proteção de solo-cimento talude da barragem camadas compactadas da barragem linha de escavação do talude para junção das camadas 0,20 1,00 1,00 aterro compactado camada de solo-cimento nota: dimensões em metro Fonte: ROSTAGNO (2011) 10.1 Proteção dos taludes para barragens homogêneas Os taludes das barragens homogêneas deverão ser protegidos contra a ação das ondas, da variação do nível da água e das chuvas. A proteção dos taludes existe para prevenir a erosão dos mesmos. P á g i n a | 75 10.1.1 Enrocamento Basicamente é utilizado na proteção dos taludes de montante e é formado por duas camadas de materiais: ✓ Camada interna: filtro ou transição, formado por areias e pedregulhos de granulometrias controladas para prevenir a perda de solo do maciço através dos vazios do enrocamento; ✓ Camada externa: formada por pedras de tamanhos suficientes para não serem carreadas pelas ondas do reservatório, ou ocasionalmente escombros de concreto de construção e pavimentação de demolição. É usada para proteger o aterro da erosão, absorvendo-a, e para desviar o impacto de uma onda antes que ela atinja o solo compactado. O enrocamento comum é acomodado pelo impacto dinâmico, obtido pela simples rolagem das pedras largadas a partir da parte mais alta da barragem. Podemos também efetuar a distribuição das pedras com o uso da pá carregadeira, como mostrado na figura 43. Figura 44: Lançamento de Rochas sobre Talude e Distribuição por Pá Carregadeira. Fonte: MEIRELLES (2013) O dimensionamento do enrocamento pode ser realizado pela energia das ondas previstas, o que determinará o peso de pedras necessário e a espessura do enrocamento. Espessuras mínimas de enrocamento situam-se entre 0,45 m e 0,9 m, de acordo com a tabela 6. P á g i n a | 76 Tabela 6: Espessuras mínimas de enrocamento. Fonte: MEIRELLES (2013) O peso específico médio das rochas mais comuns assume valores de 2,4 kgf/m³ para o arenito não friável, 2,65 kgf/m³ para o calcário, 2,7 kgf/m³ para granito e gnaisse e 2,85 kgf/m³ para o basalto. A figura 44 mostra o enrocamento de uma pequena barragem de terra e as ondas formadas no lago.53 Figura 45: Enrocamento do Talude de Montante, Barragem em Barra do Ribeiro, RS. Fonte: MEIRELLES (2013) 10.1.2 Alvenaria de pedra ou laje de concreto Alvenaria de pedra, laje de concreto ou solo – cimento – são alternativas de proteção do talude de montante para regiões onde a quantidade ou a qualidade das pedras forem restritivas. Têm uma manutenção cara e exigem monitoramento, tanto das placas como das juntas entre elas. A constante ação das ondas pode resultar em: 53 MEIRELLES, F. S. C. Curso de Segurança de Barragens. Rio Grande do Sul, 2013, p. 73 e 74. P á g i n a | 77 ✓ Processo de formação de praias no pé do talude pela deposição do material subjacente à proteção, carreado por vazios ou trincas na laje de alvenaria ou concreto. Pode provocar a remoção/trincamento ou afundamento da proteção. A continuidade do processo pode abater o talude; levar ao aumento da percolação e à instabilidade do talude. ✓ Degradação da proteção do talude pelo trincamento e quebra da proteção devido ao desgaste. Figura 46: Placas de Concreto no Talude de Montante do Açude Jaibaras – CE. Fonte: MEIRELLES (2013) No caso do uso do solo-cimento, o talude de montante deverá ser protegido com uma camada de solo-cimento com aproximadamente 1 metro de espessura. Após a compactação da cada camada de solo, será lançada a camada de solo-cimento que será compactada com um mínimo 4 passadas do equipamento adotado ou por apiloamento manual, devendo este trabalho ser finalizado 60 minutos após o espalhamento. Sucessivamente serão executadas as camadas superiores de compactação e de proteção, tomando-se o cuidado de manter a umidade adequada para cura nas camadas anteriormente executadas. Poderá ser adicionada água à mistura, caso seja necessário dar condições de trabalhabilidade. A mistura de cimento ao solo poderá P á g i n a | 78 ser realizada em betoneiras ou no próprio local, obedecendo aos teores de cimento conforme a tabela 07.54 Tabela 7: Composição da mistura solo-cimento. Fonte: MEIRELLES (2013) 10.1.3 Proteção vegetal A proteção vegetal só é possível para barragens de terra e não é recomendada para regiões áridas. Falhas na proteção do talude podem gerar erosões estreitas e profundas que deverão ser prontamente reparadas. A proteção vegetal favorece o crescimento de árvores e arbustos, o que é indesejado pelas seguintes razões: ✓ Dificulta o levantamento e inspeção dasestruturas e áreas adjacentes na observação da percolação, da existência e evolução de trincas, afundamentos, deflexões, mal funcionamento do sistema de drenagem e outros sinais de perigo; ✓ Dificulta o acesso adequado às atividades de operação normal e de emergência e manutenção; ✓ Gera danos às estruturas devido ao crescimento das raízes, tais como encurtamento do caminho de percolação; vazios no maciço pela decomposição de raízes ou extração de árvores; expansão de juntas nos muros de concreto, canais ou tubulações, entupimento de tubos perfurados de drenagem; ✓ Atrai animais ruminantes, o que pode gerar caminhos preferenciais de trânsito e posterior erosão nestes caminhos e dificulta o fluxo livre de água.55 54 MEIRELLES, F. S. C. Curso de Segurança de Barragens. Rio Grande do Sul, 2013, p. 75 e 76. 55 MEIRELLES, F. S. C. Curso de Segurança de Barragens. Rio Grande do Sul, 2013, p. 77. P á g i n a | 79 10.1.4 Proteção com brita, pedregulhos e/ou bica corrida No caso de existência de muito material rochoso, o talude de jusante também pode ser protegido por enrocamento, mas, neste caso, a espessura da camada pode ser reduzida. A proteção do coroamento visa resguardar a barragem da ação dos elementos naturais, como a chuva (impacto direto das gotas e escorrimento superficial), ventos (erosão eólica), pisoteio de animais e tráfego de veículos. Para pequenas barragens uma camada de brita, pedrisco ou piçarra, com espessura de 0,30 m e compactada é suficiente. Deve ser dada uma declividade de 1% a partir do eixo na direção dos taludes para favorecer a drenagem superficial. A figura 46 mostra uma barragem de terra com seus dois taludes protegidos, sendo o de montante com enrocamento e o de jusante com leivas de grama. Figura 47: Proteção dos Dois Taludes em Barragem de Terra. Fonte: MEIRELLES (2013) Para barragens maiores, se houver a passagem de estrada, devem ser previstas obras acessórias para a sua utilização, como pavimentação, meio-fio e guarda-corpo.56 56 MEIRELLES, F. S. C. Curso de Segurança de Barragens. Rio Grande do Sul, 2013, p. 78. P á g i n a | 80 10.2 Barragens mistas A proteção do talude de montante das barragens mistas será realizada com o uso de enrocamento, como descrito anteriormente. O talude de jusante será protegido por uma camada de areia, com a finalidade de evitar a saída do solo do corpo da barragem através dos espaços entre as pedras de mão da zona permeável. É executada internamente à zona permeável de jusante em uma altura mínima de ¾ h, sendo h a profundidade da água do reservatório. A execução desta proteção será realizada junto com o alteamento da zona impermeável mínima. 10.3 Barragens de enrocamento São naturalmente protegidas contra a erosão pela própria natureza do material utilizado. 10.4 Detalhes construtivos - equipamentos Além das informações já apresentadas, a construção de barragens de terra exige o entendimento da capacidade dos equipamentos usualmente empregados. Os serviços envolvidos na construção da barragem envolvem equipamentos como retroescavadeira, trator de esteiras, trator de pneus, motoniveladoras, scraper, arados, grades, rolos compactadores, caminhão basculante e caminhão pipa. Os tratores de esteira são de grande potência e muito versáteis para os serviços de terraplenagem, limpeza de terreno, destocamento, retirada de pedras, escarificação e transporte de materiais a distâncias pequenas, além de tração de scraper. Normalmente são equipados com lâmina frontal para escavação (Bull-dozer), podendo ser dotados de escarificadores. As motoniveladoras são máquinas dotadas de uma lâmina que pode trabalhar na horizontal, na vertical ou em ângulo. São indicadas para raspagens superficiais e espalhamento do solo. Podem ser rebocáveis ou motorizadas. Motoscrapers são máquinas que escavam o solo, armazenam, transportam e descarregam o solo no local de compactação. São formados por duas partes, o cavalo ou trator e a caçamba. Possuem grande capacidade de carga, uma velocidade alta em relação a outros equipamentos e um grande raio de ação. Podem ser P á g i n a | 81 convencionais ou do tipo push-pull, quando terão tração em todas as rodas. Scrapers isolados podem ser de pequeno porte, quando serão puxados por tratores agrícolas. Neste caso, também são conhecidos como caixotes ou mariposas. Os rolos compactadores são equipamentos rebocados ou motorizados, vibratórios ou estáticos, leves ou pesados, utilizados para a compactação do solo. Os rolos pé de carneiro são indicados para solos argilosos e siltosos, enquanto que solos arenosos e materiais de drenos são compactados por rolos lisos. O número de passadas do rolo varia usualmente entre 3 e 5 (CARVALHO, 2008), mas podem ser definidas por ensaios no próprio local da obra nas condições de operação. Um número excessivo de passadas irá prejudicar por produzir uma supercompactação na superfície ou por destruir o aterro que já havia sido consolidado. Além do número de passadas, a compactação também depende da velocidade do rolo, que deve variar de acordo com o tipo de rolo: pneumáticos entre 10 e 15 km/h, pé de carneiro entre 5 e 10 km/h e vibratórios entre 3 e 4 km/h. Os escarificadores são utilizados no tratamento da superfície e subsuperfície, remoção de rochas soltas e raízes e na escavação do material de 2ª categoria, quando precedem o trabalho de outros equipamentos. Os reboques e caminhões são utilizados para transporte de solos e pedras. Caminhões basculantes são utilizados em conjunto com pás carregadeiras na carga e transporte de solo em distâncias geralmente superiores a 5 km. Os rendimentos destas máquinas são medidos em função do volume escavado, transportado e compactado, sendo uma função basicamente do tipo de solo (resistência à escavação e condição de drenagem), condições climáticas e da distância de transporte, são influenciados secundariamente pelas condições da máquina e a habilidade do operador. Para regiões com precipitações anuais elevadas, o uso de equipamentos com pneus não é aconselhável na época das chuvas.57 10.5 Proteção inadequado de taludes As proteções existem para prevenir que ocorra erosão provocada pela chuva, ressecamento de solo, vento e outras situações. Essas proteções podem ser do tipo 57 MEIRELLES, F. S. C. Curso de Segurança de Barragens. Rio Grande do Sul, 2013, p. 79 a 81. P á g i n a | 82 rip-rap, alvenaria de pedra ou laje de concreto, proteção vegetal ou proteção com brita, pedregulho e/ou bica corrida. Rip-rap: É uma proteção formada normalmente por duas camadas, onde a camada externa é de pedras maiores que protegem o talude, principalmente da força das ondas. Já a camada interna é formada por pedras menores, com função de evitar que a água que passa pela camada exterior carregue partículas do solo do talude. Figura 48: Proteção de talude bem executado. Fonte: GOVERNO DO MS (2016) A seguir, exemplo onde camada de Rip-rap não foi bem realizada. Observa-se o deslocamento das pedras e a erosão concentrada no local.58 58 GOVERNO DO MATO GROSSO DO SUL. Guia Prático: inspeção e manutenção de barragens de terra, 2016, p.9 e 10. P á g i n a | 83 Figura 49: Proteção de talude mal executado. Fonte: GOVERNO DO MS (2016) Resumo Nesta aula, abordamos: Proteção dos taludes para barragens homogêneas: Os taludes das barragens homogêneas deverão ser protegidos contra a ação das ondas, da variação do nível da água e das chuvas. A proteção dos taludes existe para prevenir a erosão dos mesmos. Barragens mistas: A proteçãodo talude de montante das barragens mistas será realizada com o uso de enrocamento. Proteção inadequada de taludes: as proteções existem para prevenir que ocorra erosão provocada pela chuva, ressecamento de solo, vento e outras situações. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre a proteção de taludes, principalmente quanto ao estudo geológico- geotécnico, bem como as técnicas executivas de cada tipo de proteção. Referências Bibliografia da aula 10: GOVERNO DO MATO GROSSO DO SUL. Guia prático: inspeção e manutenção de barragens de terra, 2016. MEIRELLES, F. S. C. Curso de segurança de barragens. Rio Grande do Sul, 2013. ROSTAGNO, P. V. Apostila de obras hidráulicas. Itaperuna: Faculdade Redentor, 2011. AULA 10 Exercícios 1) Explique por que o talude de montante tem um tipo de proteção e o talude de jusante outro tipo? 2) Qual a função da grama para a proteção dos taludes no que diz respeito a estabilidade do maciço? 3) Qual é a técnica mais adequada para a execução de um talude de montante para barragens de enrocamento? 4) Qual a maior consequência de um talude mal feito, no que diz respeito a funcionalidade da barragem? 5) Adaptada Concurso SES-PR 2016 - As barragens de terra foram construídas com a finalidade de armazenar água para irrigação. Estas barragens são as mais elementares obras de barragens e normalmente se prestam para qualquer tipo de fundação, desde a rocha compacta, até terrenos construídos de materiais inconsolidados. Assinale a alternativa correta: a) A barragem de terra do tipo homogênea é representada por um núcleo central impermeável, envolvido por zonas de materiais consideravelmente impermeáveis, envolvido por zonas de materiais consideravelmente mais permeáveis, zonas estas que suportam e protegem o núcleo. b) A barragem de terra do tipo homogênea é composta por uma única espécie de material, excluindo-se a proteção dos taludes. Neste caso, o material necessita ser suficientemente impermeável, para formar uma barreira adequada contra a água, e o taludes precisam ser relativamente suaves, para uma estabilidade adequada. c) A barragem de terra do tipo homogênea é composta por uma única espécie de material impermeável, envolvido por zonas de materiais consideravelmente impermeáveis, envolvido por zonas de materiais consideravelmente mais permeáveis, zonas esta que suportam e protegem o núcleo. d) A barragem de terra do tipo homogênea apresenta um núcleo central impermeável, envolto por taludes, sendo estes materiais impermeáveis e que apresentam uma barreira adequada contra a água, sendo os taludes relativamente suaves, para sua estabilização. Noções de instrumentação de barragens Aula 11 APRESENTAÇÃO DA AULA As barragens têm seu funcionamento adequado graças a instrumentação diária que é feita para “vigiar” o seu pleno funcionamento. É uma atividade extremamente técnica que assume um papel importantíssimo na operação de uma barragem, seja ela de concreto, terra ou enrocamento. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ O conceito de instrumentação; ➢ As grandezas a serem monitoradas; ➢ A seleção dos blocos ou seções chave; ➢ A quantidade de instrumentos; ➢ A seleção dos tipos de instrumentos; ➢ A instrumentação de barragens de pequeno porte; ➢ A codificação dos instrumentos e sua simbologia. P á g i n a | 89 11 INTRODUÇÃO 11.1 Instrumentação - Conceito Refere-se ao conjunto de dispositivos instalados nas estruturas e em suas fundações objetivando monitorar seu desempenho através de medições de parâmetros, cujos resultados, devidamente analisados e interpretados, servirão para avaliar suas condições de segurança. Como pode-se depreender das definições acima, o conceito de Auscultação é mais abrangente, pois engloba desde o plano de instrumentação, com a especificação dos instrumentos a serem instalados, cuidados a serem tomados na instalação, metodologia de leitura e manutenção dos instrumentos, frequências de leituras, etc., passando pela definição de valores de referência para futura comparação com os valores medidos, e definição das rotinas e frequência das inspeções visuais. Apresentam-se os critérios de projeto, com algumas diretrizes gerais para nortear a implementação do plano de auscultação das obras civis de um empreendimento hidrelétrico. Neste, são contempladas as estruturas de barramento, compreendendo barragem, vertedouro, estruturas de geração, diques e obras auxiliares, assim como suas fundações. Deve-se sempre ter em mente que um dos objetivos principais do plano de auscultação é a supervisão das condições de segurança estrutural do empreendimento, durante toda sua vida útil, procurando-se detectar antecipadamente qualquer eventual anomalia que possa comprometer o seu desempenho ou ameaçar a sua estabilidade, aferindo as hipóteses de projeto e a supervisão do desempenho das obras de reparo que venham, eventualmente, a ser implementadas.59 11.2 Grandezas a serem monitoradas As grandezas a serem medidas são basicamente as seguintes: subpressões na fundação, deslocamentos na fundação, deslocamentos da barragem, tensões internas e vazões de infiltração. Para as barragens de concreto, a observação das temperaturas máximas do concreto, em decorrência do calor de hidratação do cimento 59 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p.249. P á g i n a | 90 e da possibilidade de ocorrerem fissuras de origem térmica, é também de grande importância. Medidas de variações de níveis d’água a montante e a jusante das estruturas, precipitação pluviométrica e de temperatura ambiente na área do projeto também devem ser efetuadas, pois serão de grande utilidade para auxiliar na análise e interpretação dos resultados da instrumentação. As grandezas a serem medidas estão essencialmente condicionadas à fatores tais como o tipo de estrutura, conforme descrito abaixo, condicionantes geológico- geotécnicos, existência de Reatividade Álcali-Agregado (RAA), etapas construtivas, entre outros. ✓ Tipo de Estrutura O projeto de instrumentação de uma barragem está diretamente condicionado ao tipo de estrutura. Nas barragens de concreto, por exemplo, há interesse na observação do comportamento térmico do concreto, enquanto que nas barragens de terra, há normalmente interesse na observação das pressões neutras no interior do aterro. As principais grandezas a serem monitoradas em barragens estão resumidas nas tabelas a seguir: Tabela 8: Grandezas a serem monitoradas. Fonte: ELETROBRÁS (2003) P á g i n a | 91 Tabela 9: Grandezas a serem monitoradas. Fonte: ELETROBRÁS (2003) ✓ Sismicidade Induzida A localização sismotectônica do Brasil e sua história sísmica (interior de uma placa e uma sismicidade natural relativamente baixa) apresentam condições adequadas para a manifestação da SIR - Sismicidade Induzida por Reservatório. A literatura técnica tem registrado em algumas barragens o aparecimento de sismos provocados pelo enchimento do reservatório em regiões aparentemente assísmicas. Este tipo de risco é considerado maior para barragens com mais de 100 m de altura e reservatório com volume superior a 109 m3. A possibilidade de atividade sísmica, apesar de remota, deve ser consideradanos critérios de projeto, para as condições de carregamento excepcional e limite. Em função da localização e do vulto do empreendimento, recomenda-se realizar cuidadosos estudos sismológicos para detectar atividades sísmicas antes e depois da implantação do lago para verificar possíveis fenômenos de sismicidade induzida. Este efeito pode ser provocado pelo peso d’água do reservatório (aumento das tensões máximas) ou pelo efeito lubrificante e de aumento de pressão neutra em camadas profundas ou em falhas presentes na crosta terrestre, influenciado pelo reservatório. No que se refere à instrumentação sísmica, tem constituído prática rotineira a instalação de uma rede de sismógrafos nas circunvizinhanças dos grandes reservatórios e, circunstancialmente, de alguns acelerógrafos nas barragens, objetivando detectar possíveis sismos P á g i n a | 92 induzidos pelo enchimento do reservatório. Os acelerógrafos devem ser instalados na crista, na fundação e à meia altura. Às vezes, em galerias no concreto ou na rocha. É boa prática instalar-se pelo menos um sismógrafo bem antes (cerca de 2 anos) do início do enchimento do reservatório, com o objetivo de caracterizar a sismicidade natural da região, antes de qualquer influência do reservatório. Como critérios básicos de projeto para a rede sismográfica, recomenda-se: ✓ Capacidade de detectar pelo menos sismos de magnitude igual ou superior a 1 na escala Richter; ✓ O sistema de transmissão da rede de sismógrafos deve ser telemétrico; ✓ A transmissão deve ser por um sistema multiplex para poder adicionar eventuais estações móveis; ✓ O registro dos dados deve poder ser efetuado por dois sistemas distintos para que um cubra as eventuais falhas do outro; ✓ Equipamento portátil deve ser tão preciso quanto as estações permanentes.60 11.3 Seleção dos blocos ou seções “chave” O plano de instrumentação da barragem inicia-se pela seleção de alguns blocos “chave” ou seções “chave”, ou seja, blocos ou seções representativas do comportamento típico de um determinado trecho da barragem, levando-se em consideração basicamente o tipo de fundação e as características geométricas da estrutura, que recebem uma instrumentação mais completa. O primeiro bloco “chave” a ser instrumentado em uma barragem de concreto, ou a seção “chave” em uma barragem de terra/enrocamento, deve ser aquele de maior altura ou condição peculiar de fundação, sendo os demais selecionados a partir deste. Na seleção dos demais deve-se levar em consideração a altura da barragem, o tipo de estrutura e as características geológicas da fundação. Ocorrendo uma mudança na litologia, na topografia, ou nas características de deformabilidade ou 60 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p.252. P á g i n a | 93 permeabilidade da fundação, deve-se selecionar blocos ou seções com alturas similares situados sobre fundações geologicamente distintas.61 11.4 Quantidade de instrumentos A quantidade de instrumentos de auscultação a ser instalado em uma barragem está condicionada principalmente aos seguintes aspectos básicos: comprimento da barragem, altura máxima, características geológicas da fundação, características dos materiais utilizados no corpo da barragem, e etapas construtivas. É, portanto, inviável o estabelecimento de regras pré-determinadas definindo a quantidade de instrumentos a serem instalados em uma barragem, devendo-se contemplar e atender a estes vários condicionantes locais. Os blocos de concreto de uma barragem com 50 m de altura, receberão uma quantidade de instrumentos de auscultação bem inferior ao de uma barragem de mesmo tipo com 150 m de altura máxima. Barragens com características geológicas da fundação muito complexas, envolvendo litologias muito variadas, rochas muito fraturadas ou permeáveis, deverão, evidentemente, receber uma quantidade de instrumentos bem superior àquela de barragens similares, sobre fundações com rochas resistentes e pouco permeáveis, pois a possibilidade de ocorrência de comportamento anômalo será muito distinta em ambos os casos.62 11.5 Seleção dos tipos de instrumentos Ao se proceder a seleção dos tipos de instrumentos a instalar, o primeiro item a ser analisado é a determinação prévia da compatibilidade entre a ordem de grandeza do parâmetro a ser medido e a precisão do instrumento a ser escolhido. Por exemplo, para deslocamentos a serem medidos da ordem de 1,0 a 2,0 mm, deve-se selecionar instrumentos com uma sensibilidade de + 0,01 mm, não sendo adequado um instrumento com + 0,5 mm de sensibilidade. 61 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p.253. 62 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p.254. P á g i n a | 94 O campo de leitura dos instrumentos também é de fundamental importância, pois se a grandeza a ser medida ultrapassar o campo de leitura do instrumento o mesmo será danificado. É, pois, de fundamental importância uma estimativa precisa da ordem de grandeza do valor a ser medido, para que se possa proceder à seleção de instrumentos com um campo de leitura superior em 50% a 100% deste valor, para não haver risco de perda do instrumento. Outro fator de relevante importância é a robustez do aparelho, principalmente para instrumentos eletrônicos, que devem ter proteções adequadas para operar em ambientes úmidos, como os existentes na galeria de drenagem de uma barragem. Os instrumentos selecionados deverão preferencialmente ter sido testados previamente em laboratório e em outras barragens, para que se possa ter certeza de seu desempenho real, pois entre a concepção de um instrumento e ter-se o mesmo construído, testado e aperfeiçoado em condições reais de campo, tem-se um intervalo de pelo menos 5 (cinco) anos. Particularmente os instrumentos eletrônicos, que são normalmente empregados em sistemas automatizados de instrumentação, onde os sensores devem permitir a leitura remota dos instrumentos de auscultação de uma barragem, devem ter sido testados sob condições reais de campo, devendo assegurar uma vida útil de pelo menos duas décadas. Este é o tempo de vida útil dos bons sensores de corda vibrante. Considerando-se que as barragens são concebidas e construídas para operar ao longo de 50 anos ou mais, é de relevante importância a seleção de instrumentos robustos, que possam assegurar uma vida útil desta ordem. Para tal, portanto, destacam-se os instrumentos de concepção mecânica, confeccionados em aço inox, fibra de vidro, plásticos ou outros materiais duráveis, para assegurar uma longa vida útil. Os quadros 01 e 02, mostrados a seguir, nos quais apresenta-se uma correlação entre os tipos de instrumentos usualmente empregados na auscultação de barragens, conjuntamente com as inspeções visuais e os principais tipos de deterioração.63 63 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p.255. P á g i n a | 95 Quadro 1: Instrumentos de barragens de concreto. Fonte: ELETROBRÁS (2003) Quadro 2: Instrumentos de barragens de terra-enrocamento. Fonte: ELETROBRÁS (2003) P á g i n a | 96 11.6 Instrumentação de barragens de pequeno porte A instrumentação destas barragens é tão importante quanto a das grandes barragens, pois se de um lado os danos materiais são normalmente menores, em caso de acidente os danos ao meio ambiente podem ser também de grande proporção. Mostra-se que, dependendo das condições geológicas da fundação, as pequenas e médias centrais hidrelétricas,normalmente dotadas de barragens de pequeno porte, podem ser monitoradas com cerca de 10 a 20 instrumentos apenas, enquanto que barragens de médio porte podem ser razoavelmente bem instrumentadas com cerca de 30 a 70 instrumentos, dependendo também das características geológicas da fundação. Para barragens com condições geológicas mais complexas ou dotadas de dispositivos especiais, tais como tapete impermeável a montante, bermas de estabilização, parede diafragma na fundação, etc., uma quantidade maior de instrumentos de auscultação é sempre recomendável. As medições de vazão são sempre de relevante importância, recomendando- se que sejam sempre medidas separadamente as infiltrações através do concreto (juntas de contração entre blocos, fissuras) daquelas através do sistema de drenagem da fundação.64 11.7 Codificação do instrumentos e simbologia É importante que, já na fase de projeto da instrumentação, seja definido um critério para codificação e representação gráfica de cada instrumento a ser instalado nas estruturas e em suas fundações, de modo a permitir fácil identificação de suas características, tais como: tipo de instrumento, bloco ou seção instrumentada, cota de instalação, etc. Objetivando uma uniformidade de linguagem e representação, recomenda-se a adoção da simbologia e nomenclatura dos instrumentos sugerida pelo CBDB, apresentada a seguir:65 64 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p.256. 65 BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003, p.257. P á g i n a | 97 Quadro 3: Simbologia e nomenclatura para os instrumentos de auscultação. Fonte: ELETROBRÁS (2003) P á g i n a | 98 Quadro 4: Simbologia e nomenclatura para os instrumentos de auscultação. Fonte: ELETROBRÁS (2003) Resumo Nesta aula, abordamos: O conceito de instrumentação: Refere-se ao conjunto de dispositivos instalados nas estruturas e em suas fundações objetivando monitorar seu desempenho através de medições de parâmetros, cujos resultados, devidamente analisados e interpretados, servirão para avaliar suas condições de segurança. As grandezas a serem monitoradas: As grandezas a serem medidas são basicamente as seguintes: subpressões na fundação, deslocamentos na fundação, deslocamentos da barragem, tensões internas e vazões de infiltração. A seleção dos blocos ou seções chave: O plano de instrumentação da barragem inicia-se pela seleção de alguns blocos “chave” ou seções “chave”, ou seja, blocos ou seções representativas do comportamento típico de um determinado trecho da barragem, levando-se em consideração basicamente o tipo de fundação e as características geométricas da estrutura, que recebem uma instrumentação mais completa. A quantidade de instrumentos: A quantidade de instrumentos de auscultação a ser instalado em uma barragem está condicionada principalmente aos seguintes aspectos básicos: comprimento da barragem, altura máxima, características geológicas da fundação, características dos materiais utilizados no corpo da barragem, e etapas construtivas. A seleção dos tipos de instrumentos: Os instrumentos selecionados deverão preferencialmente ter sido testados previamente em laboratório e em outras barragens, para que se possa ter certeza de seu desempenho real, pois entre a concepção de um instrumento e ter-se o mesmo construído, testado e aperfeiçoado em condições reais de campo, tem-se um intervalo de pelo menos 5 (cinco) anos. A instrumentação de barragens de pequeno porte: A instrumentação destas barragens é tão importante quanto a das grandes barragens, pois se de um lado os danos materiais são normalmente menores, em caso de acidente os danos ao meio ambiente podem ser também de grande proporção. P á g i n a | 100 A codificação dos instrumentos e sua simbologia: É importante que, já na fase de projeto da instrumentação, seja definido um critério para codificação e representação gráfica de cada instrumento a ser instalado nas estruturas e em suas fundações. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre noções de instrumentação de barragens, as técnicas executivas e para que serve cada tipo de instrumentação. Referências Bibliografia da aula 11: BRASIL. Centrais Elétricas Brasileiras S/A - Eletrobrás. Critério de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas, 2003. AULA 11 Exercícios 1) Qual é o procedimento adequado para a instrumentação do nível do lençol freático na fundação da barragem: 2) Qual é o procedimento adequado para a instrumentação das ombreiras da barragem? 3) Qual é o procedimento adequado para a instrumentação do pé de jusante da barragem? 4) Como se faz a instrumentação de barragem de pequeno porte? 5) Existe uma grande variedade de estruturas hidráulicas que podem ser construídas para atender a diversas finalidades. Entre as estruturas hidráulicas, podem ser citadas vertedores, barragens, bueiros etc. Analise as afirmativas abaixo relacionadas com as barragens por gravidade (barragem de peso). I - A força de empuxo vertical enfraquece a fundação e tende a fazer tombar a barragem. II - A componente vertical da força hidrostática deve ser considerada na análise de estabilidade, na qual contribui para o tombamento da barragem. III - A maior força de estabilidade é o peso da barragem, o qual depende da dimensão e do material empregado na construção dessa barragem. IV - Além da força hidrostática, peso da barragem e empuxo, também atuam, na barragem, as forças sísmicas e a força devido à sedimentação. Estão corretas as afirmativas: a) II, III e IV. b) I, III e IV. c) I e III d) I e II, apenas Considerações sobre projeto de barragens de Terra de Enrocamento Aula 12 APRESENTAÇÃO DA AULA A aula 12 apresenta algumas considerações de projeto para barragens de terra, no que diz respeito aos estudos de viabilidade, bem como ao projeto básico, que servirá de base para os projeto executivo e seus complementares, considerando as técnicas que serão utilizadas na execução da obra. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ O que fazer durante a fase de viabilidade técnica construtiva da barragem de terra; ➢ Os elementos para a fase de projeto básico da barragem de terra. P á g i n a | 105 12 INTRODUÇÃO Esta aula visa servir de elo de ligação entre as considerações sintéticas sobre o arranjo geral de um barramento, a interdependência entre o projeto de barragem de terra com as demais estruturas do barramento, com os aspectos relativos aos dados básicos para o projeto de uma barragem e o enfoque do projeto propriamente dito, suas concepções e seus métodos de cálculo. Desta forma será apresentada a interdependência entre as diversas concepções específicas de projeto. De fato, a premissa básica entre a concepção de uma barragem de terra, sua seção transversal e respectivo tratamento de fundação, é que a introdução de cada detalhe, beneficie o projeto como um todo. Por exemplo a introdução de um “cut-off” na fundação de uma barragem visa controlar a percolação, com a redução de perda d’água pela fundação e dos gradientes de saída, como consequente controle contra “piping”, bem como, otimizar o taludede jusante, aumentando a estabilidade ao deslizamento pela fundação através da redução da subpressão na fundação. Outro aspecto interessante a abordar neste capítulo é o referente a distinção entre projeto e cálculo. Na realidade a engenharia consiste em projetar primeiro e analisar em segundo lugar. O projeto, ou a concepção, constitui a verdadeira arte da engenharia, não existindo, portanto, diretrizes, regras ou metodologias para o seu estabelecimento. Entretanto, a partir dos dados básicos referentes à fundação e aos materiais de construção, procuraremos mostrar alguns exemplos usuais de concepção e respectivas vantagens técnicas.66 12.1 Fase de viabilidade Na fase de viabilidade de uma barragem é estabelecido o arranjo geral do aproveitamento, incluindo a disposição das estruturas, seções transversais típicas com respectivos tratamentos de fundação, sequência construtiva e cronograma das obras. Deste modo, quando existente, o projeto da barragem de terra, sua localização, seção transversal, tratamento de fundação, é estabelecido visando o custo mínimo do 66 ASSIS, A. P.; HERNANDEZ, H. M.; COLMANETTI, J. P. Apostila de barragens. Universidade de Brasília – UNB, 2006, p. 77. P á g i n a | 106 aproveitamento como um todo, o que não é necessariamente a locação, seção transversal, tratamento de fundação que resultariam em custo mínimo para a barragem de terra, isoladamente. Por exemplo, a locação da barragem de terra é em geral ditada pela escolha da melhor localização das estruturas de concreto, no que se refere às condições geotécnicas para fundação e condições hidráulicas - operacionais. De fato, uma premissa básica no estabelecimento do arranjo geral é favorecer as estruturas de concreto com os melhores locais de fundação, sob o ponto de vista geológico – geotécnico.67 12.2 Fase de projeto básico Na fase de projeto básico, além do estabelecimento da seção típica e do tratamento de fundação, são quantificados e especificados os referidos projetos, de um modo a possibilitar a licitação da obra. Com os novos dados obtidos nesta fase, através de investigações complementares, são otimizados, inicialmente, o maciço e o tratamento de fundação de forma conjunta. Numa segunda etapa, o maciço e o tratamento de fundação são otimizados separadamente, mantendo-se as diretrizes estabelecidas anteriormente. 12.2.1 Requisitos básicos de projeto e método de análise Nos Estados Unidos, por exemplo, estabelecem-se os seguintes requisitos básicos que deve satisfazer uma barragem para que apresente segurança satisfatória. ✓ Os taludes da barragem devem ser estáveis durante a construção e todas as fases de operação, incluindo a de rebaixamento rápido; ✓ O maciço não deve impor tensões excessivas à fundação; ✓ A percolação através do maciço, fundação e ombreiras devem ser controladas de tal modo que não ocorra “piping” ou remoção de material por solução. Adicionalmente, a quantidade d’água perdida por percolação deve ser compatível com a finalidade do projeto; 67 ASSIS, A. P.; HERNANDEZ, H. M.; COLMANETTI, J. P. Apostila de barragens. Universidade de Brasília – UNB, 2006, p. 78. P á g i n a | 107 ✓ A crista da barragem deve ter uma elevação segura quanto ao transbordamento por efeitos de ondas, bem como uma folga adicional referente aos recalques após construção; ✓ A capacidade de vazão do vertedouro deve ser de tal ordem a impedir o transbordamento do reservatório sobre a barragem de terra. Excluindo-se o último tópico anterior, os demais itens pertencem ao campo da engenharia geotécnica, que, por sua vez, subdivide os problemas em três grupos. ✓ Análise de tensões e deformações, no maciço e fundação, na condição de equilíbrio limite; ✓ Análise de tensão e deformação em regime elástico, linear ou não; ✓ Estudos de percolação. A análise superficial é isolada dos critérios acima, bem como a divisão usual dos métodos de cálculo geotécnicos, tem conduzido a graves erros de projeto. Nos itens subsequentes é apresentada uma interpretação conjunta dos mesmos e sua interdependência. 12.2.2 Dos requisitos básicos – interpretação conjunta Deve-se considerar inicialmente, o que está implícito na sua formulação, que os cinco critérios devem ser atendidos simultaneamente. A análise de estabilidade do maciço e fundação, no regime de equilíbrio limite, não considera as deformações cisalhantes necessárias à mobilização da resistência ao cisalhamento. Deste modo, embora um talude possa apresentar uma segurança global ao deslizamento, suas deformações podem não ser compatíveis com a segurança da obra. O terceiro item do tópico 12.3.1 é onde ocorrem, com mais frequência, interpretações erradas, associando segurança ao “piping”, somente à redução dos gradientes de percolação. A análise de segurança ao “piping”, de modo correta, deve contemplar a comparação entre forças de percolação com forças de gravidade. Logo, o estudo correto de “piping” envolve o estabelecimento do estado de tensões no maciço durante as fases de operação da barragem, uma vez que, tanto a P á g i n a | 108 força atuante de percolação, quanto a resistência, de gravidade, é função do estado de tensões. De fato, a existência de zonas fraturadas no maciço ou de fraturas abertas devido à percolação (fraturamento hidráulico) governa a distribuição da permeabilidade no maciço e, consequentemente, a configuração dos gradientes hidráulicos. Quanto ao quarto item do tópico 12.3.1, os recalques do maciço e da fundação, provocam distribuição de tensões no interior do maciço, com possíveis aberturas de trincas, que devem ser levadas em consideração na análise do critério de projeto. Em síntese, as observações acima servem para mostrar a interdependência entre os diversos critérios de projeto. 12.2.3 Dos métodos de cálculo – interpretação conjunta A engenharia geotécnica envolve a estimativa das tensões e deformações tanto nas obras de terra como nas fundações. A fim de obter esta estimativa de modo correto é necessário o conhecimento das equações constitutivas dos solos, bem como a distribuição geométrica dos diversos tipos de solos. Devido à impossibilidade da aplicação do procedimento correto acima exposto, a engenharia geotécnica subdividiu o problema geral de tensões e deformações no solo em dois grupos: um associado à deformação e o outro referente a máxima tensão que poder ser imposta a uma massa de solo, estado de ruptura. Na realidade, o solo deforma de modo contínuo, desde seu estado inicial de tensões até a ruptura. Muitos problemas têm ocorrido em projetos de barragem devido à separação artificial e simplificada, do comportamento do solo, em estudos de deformação, sem consideração de rupturas localizadas e estudos de ruptura, sem consideração das deformações necessárias para a massa de solo atingir o estado de ruptura. A exposição anterior procura mostrar a interdependência real entre os problemas de deformações e rupturas, bem como os riscos devido à aplicação indiscriminada da referida subdivisão. P á g i n a | 109 12.2.4 Exemplos de concepção conjunta maciço – fundação As barragens de terra – enrocamento são constituídas por um núcleo de material terroso impermeável, contido por espaldares de enrocamento, e com zonas de filtro e transição entre o núcleo e o enrocamento. A posição do núcleo varia desde extremamente inclinado, coincidindo com o talude de montante, até a posição central, simétrica. Sob o ponto de vista de estabilidade dos taludes, de fraturamento hidráulico do núcleo e eficiência no contato núcleo-fundação, de um modo geral, função das características de resistência e deformabilidade do material do núcleo e do enrocamento, o núcleo moderadamente inclinado para montante constitui a posiçãootimizada. De forma livre a “inclinação moderada” se refere a inclinação 0,4 H: 1 V a 0,6 H:1,0 V para a interface de jusante do núcleo de enrocamento, e 0,9 H:1,0 V a 1,0 H:1,0 V para a interface de montante. O núcleo inclinado também apresenta vantagens de cronograma, em locais de alta pluviosidade, por possibilitar construção de maior volume do enrocamento de jusante, independente do núcleo. Entretanto, condições específicas de determinados projetos podem levar a utilização de outras seções típicas. Como pode ser a utilização do núcleo pouco inclinado ou central visando a incorporação total da ensecadeira de montante. Ou a utilização do núcleo extremamente inclinado devido às condições geológicas da fundação, e/ou condições topográficas mais favoráveis. Na figura 49 é apresentada a evolução dos projetos de barragens de terra e respectivos sistemas de drenagem. O estágio atual de projeto impõe a necessidade de septo drenante total, a fim de evitar fluxo emergente no talude de jusante. Deve-se observar as condições ideais de percolação, implícitas no conceito de rede fluxo, e as condições reais, associadas a camadas mal compactadas, ao estado de tensões do maciço e zonas fissuradas no maciço. P á g i n a | 110 Figura 50: Evolução do projeto de barragens de terra e seu sistema de drenagem interna. Fonte: ASSIS; HERNANDEZ; COLMANETTI (2006) 12.2.5 Outros exemplos de concepção de projeto 12.2.5.1 Regularização de fundação rochosa É comum a existência de grandes irregularidades topográficas da superfície rochosa no leito do rio, associadas a zonas de maior fraturamento da rocha, uma vez que o rio “procura” as zonas de fraquezas estruturais da rocha para estabelecer o seu leito. Projetos de barragens de terra e/ou enrocamento em tais regiões, caracterizadas por variações abruptas da superfície rochosa, exigem uma análise detalhada das zonas potenciais de fissuras no maciço, devido às deformações diferenciais impostas por estas irregularidades topográficas. Nestes casos, concepções de projeto envolvem em geral uma ou mais das seguintes medidas: ✓ Regularização da topografia da fundação, através da suavização das irregularidades; P á g i n a | 111 ✓ Fixação da sequência construtiva de modo a reduzir os recalques diferenciais; ✓ Adequação dos materiais do maciço e/ou respectivas especificações, de modo a reduzir os recalques diferenciais, ou provir maior plasticidade ao solo nas zonas solicitadas a tração; ✓ Ampliação do sistema de drenagem interna nas zonas de fissuramento potencial. A verificação e adequação das medidas de projeto acima indicadas são feitas pelo método dos elementos finitos de forma paramétrica, ou seja, variando os diversos parâmetros intervenientes. 12.2.5.2 Fundações em solos argilosos saturados moles – soluções normalmente adotadas Estes materiais caracterizam-se por baixa resistência ao cisalhamento, elevada compressibilidade e baixa permeabilidade. Quando ao aspecto de resistência ao cisalhamento tem sido adotado um ou mais dos seguintes procedimentos: ✓ Remoção parcial ou total do material; ✓ Aumento da resistência ao cisalhamento utilizando o procedimento da construção por etapas associada ou não a aceleração do adensamento através de drenos verticais de areia; ✓ Diminuição da solicitação cisalhante da fundação mediante a adaptação da seção transversal do maciço através da suavização dos taludes e/ou com emprego de bermas de equilíbrio. Quanto ao aspecto de elevada deformabilidade deve-se distinguir os casos de recalques quase absolutos e de recalques diferenciais. O primeiro tipo de recalque pouco frequente, interfere no projeto somente no que refere a diminuição do bordo livre, necessitando, portanto, de uma sobre elevação da cota da crista da barragem correspondente aos recalques após a construção. Quanto aos recalques diferenciais, as soluções de projeto tem sido a adaptação de sequência construtiva visando uma redução dos recalques diferenciais e/ou projeto de sistema de drenagem mais P á g i n a | 112 rigoroso, a espessura dos drenos deve ser de tal ordem que não sejam secionados devido aos recalques diferenciais.68 68 ASSIS, A. P.; HERNANDEZ, H. M.; COLMANETTI, J. P. Apostila de barragens. Universidade de Brasília – UNB, 2006, p. 79 a 84. Resumo Nesta aula, abordamos: Fase de viabilidade: Na fase de viabilidade de uma barragem é estabelecido o arranjo geral do aproveitamento, incluindo a disposição das estruturas, seções transversais típicas com respectivos tratamentos de fundação, sequência construtiva e cronograma das obras. Fase de projeto básico: Na fase de projeto básico, além do estabelecimento da seção típica e do tratamento de fundação, são quantificados e especificados os referidos projetos, de um modo a possibilitar a licitação da obra. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre as considerações sobre projetos de barragens de terra e enrocamento, principalmente quanto ao projeto executivo. Referências Bibliografia da aula 12: ASSIS, A. P.; HERNANDEZ, H. M.; COLMANETTI, J. P. Apostila de barragens. Universidade de Brasília – UNB, 2006. AULA 12 Exercícios 1) Na fase de viabilidade quais são os elementos a levantar em um levantamento expedito para a construção da barragem de terra? 2) Na fase de viabilidade, quais são os estudos ambientais que deverão ser realizados para a verificação de condição ambiental da barragem de terra? 3) Na fase de projeto básico, quais são os elementos que o projetista deve desenvolver para efetuar um bom projeto? 4) Na fase de projeto básico, como é feita a análise de alteamento do maciço? 5) Adaptada Concurso ELETROSUL 2010 - Durante o projeto de uma barragem de terra deve-se garantir a sua estabilidade em cada uma das seguintes etapas de serviço ou operação da obra, EXCETO. a) Final da construção. b) Rebaixamento rápido com nível de água máximo. c) Rebaixamento rápido com nível de água mínimo. d) Regime permanente de operação. e) Enchimento rápido. Construção de pequenas barragens de Terra Aula 13 APRESENTAÇÃO DA AULA A construção de pequenas barragens de terra para acumulação de água, tem a função de garantir o abastecimento para irrigação e criação de gado, por exemplo. Este tipo de obra requer uma atenção especial principalmente ao solo que será executado o maciço, observando as técnicas de execução construtiva. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Como se faz a marcação do local da construção de uma barragem de terra; ➢ Quais são os equipamento e técnicas de compactação do maciço; ➢ Como estabelecer o descarregador / vertedor; ➢ Como é feita a construção do aterro. P á g i n a | 118 13 INTRODUÇÃO 13.1 Marcação do local de construção A marcação deve ser concluída imediatamente antes do início da construção para evitar limpezas de solo desnecessárias e a perda de estacas e de marcos de referência. No caso em que se percam as estacas de levantamento originais, o eixo da barragem deverá ser de novo estabelecido com estacas de referência adicionais e em número substancial, instaladas nas extremidades do eixo, a uma boa distância de onde ocorrerá a construção. Se o (s) marco (s) dereferência originais não forem satisfatórios, outro (s) deverão (á) ser estabelecido num local permanente e a uma distância de fácil referência. As estacas do eixo deverão ser instaladas nas extremidades do aterro e a cada variação de elevação. Para cada variação em elevação, uma estaca correspondente (estaca par), conforme figura 50, deverá ser estabelecida com nível ou GPS no lado oposto do vale, mas ainda no eixo. A cada estaca no eixo do aterro, são calculadas as distâncias das estacas de pé de montante e de jusante, colocadas em ângulos retos como na figura 50. A não ser que seja uma barragem muito pequena, é aconselhável permitir uma margem extra de 10 por cento na altura do aterro para futuro assentamento. Se isto não for feito nesta fase, o processo poderá tornar-se fastidioso e lento, dado que as estacas terão de ser deslocadas desde a estaca do pé ou eixo, a todos as cotas de construção. Para barragens muito pequenas (menos de 5 m de altura) é normal adicionar uma margem de assentamento ao topo do aterro no final da construção. As distâncias de desvio da estaca do pé do eixo são calculadas usando a fórmula: Distância de desvio (m) = S x H + 0,5 x Cw Onde: S é o valor do declive; H é a altura do aterro (m) incluindo uma margem de 10 por cento; Cw é a largura do coroamento ou crista/soleira (m). P á g i n a | 119 Figura 51: Disposição das estacas de uma barragem de terra. Fonte: STEPHENS (1991) P á g i n a | 120 Serão necessárias estacas para indicar o núcleo e o coroamento ou crista/soleira. Se o núcleo for central e tem a mesma largura do coroamento ou crista/soleira, as estacas servirão esta dupla função. No lado do descarregador/vertedor, as estacas são postas onde começa e acaba o corte do descarregador/vertedor (se existente) e estacas adicionais são colocadas em arco ao longo dos lados do canal do descarregador/vertedor, conforme figura 50. É desejável um intervalo de 15 m entre estacas e cada uma deve indicar a profundidade de escavação necessária, fazendo nota do declive dentro do próprio descarregador/vertedor (normalmente 1:500), necessário para levar o caudal de cheia a fluir para fora do muro-guia e do sopé do aterro. Quando todas as estacas tiverem sido colocadas, e estiver feito um croqui da posição das estacas, todas as ramificações do projeto podem ser discutidas com o cliente e/ou o operador de máquinas para que qualquer risco de erro e mal entendidos sejam minimizados e maximizadas a utilização e eficiência do equipamento.69 13.2 Ativos fixos tangíveis Considerações sobre que ativos fixos tangíveis estão disponíveis, as condições operativas e distâncias a que os materiais têm que ser transportados, assim como tamanho e tipo da barragem a ser construída, são os fatores mais importantes para determinar os ativos fixos tangíveis a usar. Bulldozers não são geralmente recomendados pois dificultam conseguir os níveis de compactação e de estratificação essenciais em qualquer barragem de terra. Barragens muito pequenas construídas com material impermeável, até a uma altura de 2 m, podem ser construídas com sucesso por Bulldozers (exigindo uma margem de assentamento até 20 por cento). Deverá fazer-se referência à Secção 8.6 para informação mais detalhada sobre isto. Maquinaria pesada de remoção de terras – tais como scraper autocarregável e scraper conjugado não são necessários para pequenas barragens a não ser que o tempo seja um fator importante, estejam envolvidas pequenas distâncias e os preços de construção sejam particularmente económicos. Para a maioria das barragens agrícolas, a construção por trator de rodas ou pá carregadora de lagartas será 69 STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p. 61. P á g i n a | 121 suficiente e, onde ativos fixos tangíveis e combustível não estejam disponíveis, poderá ser usada uma pá com tração animal para a construção do aterro. Esta última é muito adequada para pequenas barragens e, apesar de contribuírem para um progresso relativamente lento, os custos são minimizados e é obtido um excelente grau de compactação com o movimento do gado através do núcleo e do aterro. Mesmo pás rebocadas por trator são lentas e o elemento tempo de construção deverá ser considerado antes de ser tomada a decisão de construir uma barragem. As pás variam em capacidade de 0,5 m³ a 2 m³, sendo a mais popular a de 1 m³ e requer um trator com cerca de 40 KW no mínimo para as puxar. Considerando um local típico com um tempo de rotação de quatro minutos, uma unidade transportaria cerca de 15 m³/hora. Trabalhando uma média de oito horas por dia, uma unidade levaria então 83 dias de trabalho em condições ideais para transportar o material envolvido na construção duma barragem com 10.000 m³ de terraplanagem. Portanto, quando seja necessário utilizar equipamento agrícola no local duma barragem, a calendarização é da máxima importância se a barragem é para ser construída dentro do limite de tempo estipulado (frequentemente antes da próxima época das chuvas) sem interferir com outras atividades agrícolas tais como a preparação de terras e sementeiras.70 70 STEPHENS, T. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p. 63. P á g i n a | 122 Figura 52: Bulldozer – escavadeira. Fonte: BRITANNICA (2018) 13.3 Equipamento e técnicas de compactação A compactação do solo é essencial para aumentar a resistência ao cisalhamento dum material para atingir altos níveis de estabilidade do aterro. Um alto grau de compactação aumentará a densidade do solo por aperto das partículas do solo e expulsão do ar. Comparando a resistência ao cisalhamento com o teor de humidade para um determinado nível de compactação, encontra-se que a maior resistência ao cisalhamento é geralmente obtida com teores de humidade abaixo da saturação. Se o solo está demasiado molhado, o material torna-se demasiado mole e as tensões de cisalhamento impostas sobre o solo durante compactação são superiores à resistência do solo ao cisalhamento, de modo que a energia de compactação é largamente dissipada no cisalhamento sem apreciável aumento de densidade. Se o solo está demasiado seco, o material compactado nestas condições terá uma maior percentagem de bolsas de ar do que um solo comparável compactado molhado. Absorverá humidade mais facilmente e tornar-se-á mais próximo da saturação com a subsequente perda de força e impermeabilidade. P á g i n a | 123 Um solo húmido, apropriadamente estratificado e compactado com um mínimo de bolsas de ar também reduz a tendência para o assentamento sob carga constante e repetida. Na construção de barragens, seguir as técnicas de compactação corretas é provavelmente tão importante como a escolha dos materiais corretos. Quando não estiverem disponíveis análises laboratoriais as seguintes diretrizes deverão ser seguidas: ✓ O solo para ser compactado deve estar húmido, mas não demasiado molhado e deverá ser estratificado ao longo de todo o comprimento do aterro em espessuras apropriadas ao equipamento utilizado. Maquinaria agrícola (pneus de tratores cheios com água seguindo um trajeto irregular ou pequenos rolos) e métodos manuais são normalmente suficientes para compactar com êxito camadas de apenas 75-100 mm de espessura. Equipamento pesado como rolos pé-de-carneiro (ideais para solos argilosos), e cilindros (rolos) vibradores e compactadores (ideais para terrenos arenosos) podem trabalhar com camadas até 200 mm de espessura e obviamente são preferíveis quando é necessário compactar grandesquantidades e larguras; ✓ Quando o teor de humidade do solo for baixo, a rega da área de empréstimo tem como resultado uma mais uniforme distribuição da água no solo a ser compactado. É também mais económico do que adicionar água à superfície de construção e, com frequência, ajuda o trabalho das escavadoras. Poupa- se tempo no aterro evitando ter que molhar a superfície entre camadas. Um planeamento cuidadoso com ripagem e lavoura da área de empréstimo antes de regar e deixando a água infiltrar-se durante um ou mais dias (dependendo do clima, tipo de solo e quantidade de água utilizada) antes da escavação, permitirá um teor de humidade uniforme nos materiais de aterro. ✓ Adopte sempre técnicas de compactação que reduzam a espessura bruta de qualquer camada em pelo menos 25 por cento.71 71 STEPHENS, Tim. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p. 63 e 64. P á g i n a | 124 Figura 53: Rolo liso compactando barragem de terra. Fonte: CAMARGO CÔRREA (2010) 13.3.1 Rolos pé-de-carneiro Pode compactar camadas de solo até 200 mm de espessura bruta (cerca de 150 mm depois da compactação) e densidades satisfatórias podem normalmente ser obtidas com 6-12 passagens a uma velocidade de 3-6 km/h quando o teor de humidade do solo é adequado. É importante manter estes rolos limpos dado que o solo que se agarra entre os pés reduz a capacidade de compactação. Rolos pé-de- carneiro são mais eficientes do que outros rolos a compactar argila seca (mas necessitarão de mais passagens) e irão mexer e misturar o solo, o que é útil para a distribuição da água na superfície de construção quando não for possível regar a área de empréstimo. P á g i n a | 125 Figura 54: Rolo pé-de-carneiro. Fonte: GUIMARÃES (2018) 13.3.2 Rolos vibradores São mais adequados para a compactação de solos arenosos e quando são necessárias altas densidades. A sua utilidade na construção de barragens é normalmente limitada a trabalhos de pequena dimensão tais como compactação de trincheiras de vedação estreitas, valas e outros. Figura 55: Rolo compactador vibratório. Fonte: SOMONACH (2018) P á g i n a | 126 13.3.3 Compactadores de pressão Compactadores de pressão e placas vibradoras têm aplicações muito semelhantes e são usados onde o espaço é limitado e em trabalhos especializados como trincheiras e atrás e ao redor de tubagem. Figura 56: Compactador de placa vibratória. Fonte: ENGEMAC (2018) 13.3.4 Rolos compactadores São mais eficientes a reduzir bolsas de ar e continuar a compactação de camadas inferiores do aterro através de novas camadas em maior medida do que rolos de pé-de-carneiro comparáveis. Em camadas de espessura semelhante, e à mesma velocidade, um rolo compactador possivelmente necessitaria um pouco menos de passagens para obter densidades de solo semelhantes quando comparado com um rolo de pé-de-carneiro. No entanto, este último é, na maior parte das vezes, mais apropriado para usar na construção de barragens pois, o seu peso mais reduzido e versatilidade, permite-lhe ser rebocado por maquinaria agrícola numa variedade de superfícies. Em solos argilosos, rolos os compactadores podem formar canais de infiltração entre as camadas de solo depostas no aterro. Se um rolo de pé-de-carneiro não está disponível para compactar este tipo de solos, as camadas de argila deverão ser P á g i n a | 127 reduzidas na sua espessura bruta e as superfícies finais enrugadas para permitir uma boa adesão entre as camadas compactadas.72 13.4 Limpeza e preparação do local 13.4.1 A base da barragem Todas as árvores e raízes, erva (capim), raízes de erva (capim) e solo superficial têm que ser removidos. Uma vez removidas as árvores (normalmente à mão), a pá niveladora ou pá de arrasto poderá ser usada para remover cerca de 100 mm da camada superficial do solo que poderá ser deixada num local do qual mais tarde possa ser retirada e usada para cobrir o aterro concluído ou outras áreas disturbadas 13.4.2 Áreas de empréstimo As áreas de empréstimo deverão ter sido demarcadas, de acordo com a sua utilidade, algum tempo antes do início da construção com, se possível, análises de amostras do solo feitas por um laboratório local. Para barragens mais pequenas, uma avaliação visual ou uma avaliação física superficial poderá ser suficiente. A camada superficial com alta percentagem de matéria orgânica tem de ser removida e posta de lado para ser usada mais tarde. Embora seja desejável que as áreas de empréstimo se situem dentro da área proposta para o reservatório, deve ter- se o cuidado de assegurar que camadas permeáveis não são expostas pela remoção de solo impermeável acima, dado que este processo, se levado a cabo perto do aterro, poderia levar mais tarde a problemas de percolação. Também, não se deverão fazer escavações a menos de 10 m do pé do aterro. O solo escavado (da área de empréstimo) deverá ser frequentemente monitorizado para verificar que a sua qualidade e teor de humidade não mudaram e que ainda é apropriado para ser utilizado no aterro. O núcleo e a trincheira de vedação requerem argila de boa qualidade, o maciço de jusante materiais mais grosseiros e de 72 STEPHENS, Tim. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p. 64. P á g i n a | 128 menor qualidade (a drenagem é importante) e o maciço de montante solo argiloso com alguma impermeabilidade. A compactação do núcleo e da trincheira de vedação é importante e a compactação necessária em todas as secções varia de local para local de acordo com a qualidade do solo. Geralmente, solos mais secos e com menor percentagem de argila requerem mais compactação e vice-versa. Solos com cerca de 20-30 por cento de argila são ideais como material de núcleo e aqueles com menor percentagem de argila, para o maciço de montante.73 13.5 Assentamento À medida que a barragem assenta, o coroamento ou crista/soleira deverá ficar perto da horizontal. É importante verificar isto por inspeção a cada poucos meses durante os primeiros anos de funcionamento para assegurar que não se verifica sobre assentamento ou assentamento desigual. Se isto ocorrer, serão necessárias medidas de remediação (enchimento com solo superficial e erva (capim) normalmente é suficiente) para restaurar o coroamento ou crista/soleira ao seu nível de projeto. Se são utilizados solos de menor qualidade ou mais grosseiros, poderá ser necessário dar uma margem para assentamento maior do que a prevista na fase de projeto. Na maioria dos casos este aumento não deverá ser maior do que 15 por cento no total.74 13.6 Descarregador / vertedor Descarregadores/vertedores naturais são geralmente a melhor opção para uma barragem de terra, mas frequentemente será necessário um certo grau de escavação para obter a necessária inclinação de projeto. Em todos os casos, o movimento de maquinaria sobre a área do descarregador/vertedor deverá ser minimizado para evitar sobre-compactação do solo, provocando trilhos (que mais tarde pode levar a erosão) 73 STEPHENS, Tim. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p. 65. 74 STEPHENS, Tim. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p. 65. P á g i n a | 129 e destruindo a cobertura de erva (capim). Onde seja necessária uma escavação, esta deverá ser mantida ao mínimo e, a não ser que seja inevitável, não deverá envolver a remoçãototal do solo superficial. Se isto ocorrer, será necessário escavar mais profundamente, sendo a profundidade adicional necessária porque solo de boa qualidade e cobertura com erva (capim) terão de ser instalados logo que obtenha o perfil desejado. Qualquer escavação de grande volume em descarregadores/vertedores deverá ser feita numa altura em que o material escavado (se adequado) possa ser incluído juntamente com o material trazido para a construção do aterro ou reservado para o enchimento de áreas de empréstimo. Volumes mais pequenos de material do corte podem normalmente ser incluídos nos muros-guia. Figura 57: À esquerda o vertedouro da barragem de terra de Oledouca, Portugal. Fonte: LCW (2009) 13.7 Construção do aterro 13.7.1 Núcleo / trincheira de vedação Dado que isto é a parte mais importante de qualquer aterro, é necessário grande cuidado na escavação, enchimento e utilização de material. P á g i n a | 130 A largura e a profundidade deverão ter sido decididas na fase de projeto. A largura (2 m mínimo) dependerá frequentemente do equipamento utilizado na escavação e também do tamanho da barragem. A profundidade mínima necessária dependerá das condições do local, mas em todas as escavações a trincheira de vedação deverá ser levada até encontrar material impermeável de boa qualidade tal como argila ou rocha sólida ou até a um mínimo de três-quartos da altura do coroamento ou crista/soleira da barragem. Se é encontrada rocha e esta é geralmente boa, é admissível encher rachas ou fissuras com argila compactada ou argamassa, desde que possam ser completamente limpas e localizáveis para assegurar que mais tarde não se desenvolverão canais de infiltração. Se uma camada impermeável suficientemente espessa não for alcançada e a profundidade da trincheira tiver de ser 0,75 H, a escavação da trincheira de vedação apenas pode parar se o material encontrado não for de natureza grosseira ou gravilha (como é frequente em leitos fluviais). Se é encontrado material permeável é vital que a trincheira de vedação seja levada através dele até a uma profundidade suficiente para encontrar material mais impermeável. Antes do aterro, a escavação deverá ser controlada para assegurar que as condições acima são respeitadas. Cortar caminho nesta fase pode custar caro mais tarde e a infiltração através do aterro pode tornar-se excessiva se não forem respeitados as profundidades e o material correto. É normalmente vantajoso tomar mais cuidado e levar um pouco mais de tempo na escavação do núcleo. Outros requisitos tais como ensecadeiras, compactação especial, equipamento de drenagem e disposições de segurança na trincheira deverão ser considerados antes do início da escavação para permitir que o trabalho seja executado eficientemente. Uma avaliação das condições do local na fase de projeto, por exemplo para determinar níveis de águas subterrâneas, permitirá que tais requisitos especiais sejam incluídos nas estimativas de custos. Uma vez que a escavação tenha sido vistoriada e considerada satisfatória, pode começar-se a aterrar. O melhor solo argiloso deverá ser usado e compactado em camadas não mais espessas do que 75-100 mm (50-75 mm) em todo o comprimento da trincheira. Apesar de que a compactação pode ser conseguida seguindo um trajeto irregular (se são usados tratores, encha os pneus com água), poderá ser mais desejável usar trabalho braçal e dispositivos de calcamento (são normalmente suficientes maças de madeira com 75-100 mm de diâmetro), ou P á g i n a | 131 equipamento rebocado (onde camadas mais espessas são admissíveis), para obter os altos níveis de compactação necessários. Para núcleos mais largos, rolos pé-de- carneiro, ou rolos vibradores poderão ser mais económicos. Tanques de água (cisternas) ou equipamento de rega poderá ser útil e ajudar na compactação. Materiais de formigueiro não são recomendáveis para enchimento do núcleo mas se o primeiro for usado deverá ser tratado quimicamente e em todos os casos mantidos, tanto quanto possível, abaixo das seções superficiais do núcleo (que deverão manter-se molhadas durante todo o ano).75 Figura 58: Núcleo impermeável da barragem de terra. Fonte: RMW (2010) 13.7.2 Aterro Uma vez que a trincheira de vedação tenha atingido o nível do solo, o aterro poderá ser construído. Se necessário, e normalmente por causa de limitações de tempo, poderá ser prudente construir a trincheira de vedação algum tempo antes do resto da barragem (durante a estação seca anterior assegurando-se que os trabalhos são protegidos da erosão). 75 STEPHENS, Tim. Manual sobre Pequenas Barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011, p. 66 a 68. P á g i n a | 132 O aterro pode prosseguir com monitorização cuidadosa e continuada dos tipos de solo a serem usados para verificar que o topo de solo correto é colocado na secção apropriada. O núcleo é continuado através do centro da parede à medida que as outras secções são colocadas. Por causa da largura envolvida, poderá não ser possível realizar uma compactação manual e terão de ser usados outros métodos. Como já mencionado, nenhuma camada deverá exceder a espessura recomendada e, se o trator/pá de arrasto em operação não for capaz de manter tal padrão, poderá ser necessária uma niveladora ou trabalhadores com pás e ancinhos. A remoção de solo das áreas de empréstimo poderá ser ajudada por ripagem ou regando as áreas envolvidas (evite regar demasiado o que poderia levar a problemas de tração). Este último é especialmente desejável para o núcleo e secção montante onde o solo, se usado molhado, será mais facilmente compatível. Em fases determinadas pelo responsável pelo projeto/supervisor, o aterro à medida que for sendo construído deverá ser examinado para verificar se os taludes estão em conformidade com os limites do projeto. Se houver qualquer variação, serão necessárias medidas de remediação: ✓ Se os taludes são muito planos, pode ser construída uma banqueta de aterro para permitir uma inclinação geral mais próxima do projeto; ✓ Se os taludes são demasiado inclinados, a retificação é mais difícil, pois, antes que a terra possa ser colocada para aplanar os taludes, são necessárias chavetas na face já existente para reduzir a formação de superfícies escorregadias entre o material novo e o velho. Neste último caso, apesar de que o talude possa ser corrigido desta maneira, a estabilidade da barragem nunca será tão boa como o que deveria ser, pois é difícil obter os mesmos níveis de compactação e coesão como os da estrutura original. É melhor, portanto, evitar tais problemas com uma cuidadosa e frequente monitoração das estruturas à medida que vão tomando forma, especialmente no início do trabalho quando operadores e outros trabalhadores estão mais propensos a fazer erros. Moldes e estacas poderão ajudar nesta fase com os moldes cortados nos ângulos certos para serem aplicados ao talude com nível de bolha de ar ou fio-de-prumo para indicar a horizontal ou vertical. P á g i n a | 133 Quando o aterro estiver à altura correta deverá ser vistoriado para verificar em particular se o coroamento ou crista/soleira foi construído ligeiramente convexo com mais solo colocado no centro onde terá lugar um maior assentamento. O coroamento ou crista/soleira deverá ter uma ligeira inclinação (transversal) para o lado montante do aterro para permitir a drenagem segura da água da chuva para o reservatório em vez de para o talude de jusante. Durante os próximos meses, e finalmente depois de um ano, o aterro deverá ser novamente monitorizado para avaliar o assentamento e para permitir colocar solo em qualquer secção que assente a nível inferior ao da horizontal. O descarregador/vertedor deverá ser monitorizadopara verificar que a inclinação prevista no projeto foi respeitada. Se ocorrem grandes caudais de cheia, ou se é esperado que ocorram, poderá ser necessário o enrocamento de pedra arrumada ou betonagem da base do aterro e de um ou dos dois lados do canal do descarregador/vertedor, para reduzir o risco de erosão. É muito importante que uma boa cobertura de erva (capim), preferivelmente do tipo rastejante, seja instalada no aterro e no descarregador/vertedor antes da possibilidade de ocorrerem chuvas fortes. Isto poderia dizer construir a maior parte do descarregador/vertedor antes do trabalho do aterro propriamente dito começar, de forma ideal no fim da precedente estação das chuvas quando haverá disponibilidade de água para o estabelecimento da relva. De qualquer forma, as últimas camadas de solo a serem colocadas no aterro, e em qualquer das secções cortadas do descarregador/vertedor, deverão ser de solo superficial de boa qualidade de forma a estimular um rápido e denso crescimento de erva (capim). Rega e estrumação poderão ser benéficas. Para minimizar a erosão causada por pessoas e animais, o aterro deverá ser vedado e, em alguns casos, deverão ser previstas passagens especiais protegidas para dessedentar gado de forma a manter os animais fora de áreas sensíveis. Se ocorrer erosão, principalmente nas fases iniciais, muito tempo e trabalho poderá ser poupado com uma rápida ação de remediação. Depois de uma chuvada tempestuosa a barragem deve ser inspecionada e todos os sulcos e ravinas (voçoroca, boçoroca) deverão ser tapados e replantados com erva (capim) antes que a situação piore. Onde a cobertura com solo e erva (capim) são difíceis de implantar, a colocação de torrões nos buracos que se formem e a cobertura do solo superficial e da vegetação com uma rede, poderão ajudar a regenerar o coberto. P á g i n a | 134 Figura 59: Execução do aterro do futuro núcleo da barragem de terra. Fonte: CALIARI (2016) Resumo Nesta aula, abordamos: Marcação do local da construção: A marcação deve ser concluída imediatamente antes do início da construção para evitar limpezas de solo desnecessárias e a perda de estacas e de marcos de referência; Equipamento e técnicas de compactação: A compactação do solo é essencial para aumentar a resistência ao cisalhamento dum material para atingir altos níveis de estabilidade do aterro; Descarregador / vertedor: Descarregadores/vertedores naturais são geralmente a melhor opção para uma barragem de terra, mas frequentemente será necessário um certo grau de escavação para obter a necessária inclinação de projeto; Construção do aterro: Uma vez que a trincheira de vedação tenha atingido o nível do solo, o aterro poderá ser construído. Se necessário, e normalmente por causa de limitações de tempo, poderá ser prudente construir a trincheira de vedação algum tempo antes do resto da barragem (durante a estação seca anterior assegurando-se que os trabalhos são protegidos da erosão). Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre a Construção de Pequenas Barragens de Terra, principalmente quanto ao estudo geológico-geotécnico, bem como as técnicas executivas da obra. Referências Bibliografia da aula 13: ROSTAGNO, P.V. Apostila de obras hidráulicas. Itaperuna: Faculdade Redentor, 2011. STEPHENS, T. Manual sobre pequenas barragens de Terra. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Roma – Itália, 2011. AULA 13 Exercícios 1) Para a compactação de aterros de barragens, quando usamos equipamentos mais pesados e quando usamos equipamentos mais leves? 2) Como se faz o alteamento em camadas de solo compactado de uma barragem de terra? 3) Como é feito o estaqueamento de uma barragem de terra? 4) Explique como se procede a execução do núcleo impermeável e como deve ser observada sua compactação? 5) Adaptada Concurso PROCEMPA 2014 - Com relação aos princípios gerais de projeto de uma barragem de terra, analise as afirmativas a seguir. I. A estabilidade do conjunto barragem-fundação e dos taludes deve atender aos requisitos básicos de segurança estabelecidos em função do tipo da obra e das diversas condições de carregamento. II. Todo o esforço deve ser concentrado no sentido de vedar ao máximo a barragem e sua fundação à jusante do eixo, introduzindo todos os sistemas de vedação necessários para o controle do fluxo de água. III. As zonas externas ou espaldares da barragem devem ter características de resistência que garantam a estabilidade dos taludes e devem ser compatibilizadas com os materiais de fundação. Assinale: a) Se somente a afirmativa I estiver correta. b) Se somente a afirmativa II estiver correta. c) Se somente a afirmativa III estiver correta. d) Se somente as afirmativas I e II estiverem corretas. e) Se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. Canal extravasor de superfície Aula 14 APRESENTAÇÃO DA AULA As barragens possuem seus extravasares para controlarem as vazões de montante para jusante do maciço. Nesta aula será visto todos os detalhes técnicos construtivos de um canal extravasor de superfície, suas características e desempenho na operação da barragem. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ O que é um canal extravasor e as suas características técnicas; ➢ O que é um descarregador de fundo e suas características técnicas. P á g i n a | 140 14 INTRODUÇÃO A partir das definições do vertedor, do “rápido”, da bacia de dissipação de energia e do canal de restituição são mostradas as figuras 59 e 60, que apresentam planta e perfil longitudinal do canal extravasor acompanhados de algumas seções transversais.76 Figura 60: Planta e cortes do canal extravasor de superfície. Fonte: DAEE (2005) 76 SECRETARIA DE ESTADO DE ENERGIA, RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO. Departamento de Águas e energia Elétrica. Guia prático para projetos de pequenas obras hidráulicas. São Paulo: DAEE, 2005, p. 93 e 94. P á g i n a | 141 Figura 61: Perfil longitudinal do canal do vertedor – pelo eixo do canal. Fonte: DAEE (2005) P á g i n a | 142 Tabela 10: Dimensões dos canais extravasores. Fonte: DAEE (2005) 14.1 Descarregador de fundo O descarregador de fundo é importante tanto na fase de execução da barragem, quando é utilizado como estrutura de desvio, quanto posteriormente, por possibilitar a operação do reservatório se necessário. As Figuras 60, 61 e 62, mostram plantas, cortes e detalhes do descarregador de fundo, constituído de duas partes: galeria de 22,5 m de comprimento, com 15 tubos de concreto de 1,5 m de comprimento e 0,80 m de diâmetro com 0,5% de declividade, e torre de seção retangular, construída em estrutura de concreto armado e alvenaria, com 1,6 m x 1,2 m de medidas internas, laje de fundo na cota 138,0 m e arremate superior na cota 142,7 m (20 cm acima do N.A. máx.). A parede frontal da torre terá uma abertura de 0,5 m, em toda sua altura (4,7 m), com canaletas de metal para a fixação de pranchas de madeira sobrepostas (stop- logs). Esse sistema de pranchas, encaixadas entre si e nas canaletas verticais, permitirá o fechamento do desvio da água do córrego pela galeria, possibilitando o enchimento do reservatório. Se necessário, com a finalidadede reduzir o nível da represa, a qualquer momento as pranchas podem ser retiradas uma a uma, de cima para baixo, para reforma ou manutenção do maciço, do canal do vertedor, ou do próprio descarregador de fundo.77 77 SECRETARIA DE ESTADO DE ENERGIA, RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO. Departamento de Águas e energia Elétrica. Guia prático para projetos de pequenas obras hidráulicas. São Paulo: DAEE, 2005, p. 93 e 94. P á g i n a | 143 Figura 62: Detalhe do descarregador de fundo. 144 Figura 63: Tomada d’água do descarregador de fundo. Fonte: DAEE (2005) P á g i n a | 145 Figura 64: Emboque e desemboque do descarregador de fundo. Fonte: DAEE (2005) Resumo Nesta aula, abordamos: Canal extravasor: que serve para a extravasão de água oriunda de montante da barragem; Descarregador de fundo: o descarregador de fundo é importante tanto na fase de execução da barragem, quando é utilizado como estrutura de desvio, quanto posteriormente, por possibilitar a operação do reservatório se necessário. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda sobre o canal extravasor de superfície, quando utilizado e sua execução de obra. Referências Bibliografia da aula 14: SECRETARIA DE ESTADO DE ENERGIA, RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO. DEPARTAMENTO DE ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA. Guia prático para projetos de pequenas obras hidráulicas. São Paulo: DAEE, 2005. AULA 14 Exercícios 1) Canais extravasores podem ser construídos para a extravasão de água de montante da barragem, mas as comportas de fundo não, por que? 2) Para que serve a vazão de um canal extravasor? 3) Qual a finalidade do descarregador de fundo para barragens de terra? 4) Qual a relação do descarregador de fundo no controle de enchentes? 5) Adaptada Concurso TCE-SE – 2011 - Os extravasores atuam como dispositivos de segurança quando a vazão assumir valores que tornem perigosa a estabilidade da barragem ou para impedir o nível da água acima de uma determinada cota. Sobre os extravasores, é correto afirmar: a) O extravasor tipo Creager, isto é, de soleira arredondada e face de jusante concordando com a face inferior da veia líquida correspondente à mínima vazão, é o tipo de extravasor de menor emprego. b) O extravasor do tipo tulipa ou cálice é empregado para valores elevados de vazão onde a água escoa através de um canal paralelo à soleira do dispositivo. c) O extravasor com canal lateral é muito utilizado em barragens de terra ou pedra solta construídas em vales estreitos, em locais onde o escoamento direto não é possível ou permitido e onde o espaço disponível para o extravasor colocado na estrutura da barragem é insuficiente. d) O canal extravasor é um conduto fechado que liga o reservatório ao canal inferior. Tem declividade e seção transversal variável, sendo muito utilizado em barragens de terra onde não existe espaço disponível para tais dispositivos. e) Os extravasores sifões são utilizados apenas onde o espaço disponível seja grande, porém, não possuem regulagem automática do nível de água. Entram em funcionamento com 50% da vazão de sua máxima capacidade. Exercícios de Revisão Aula 15 APRESENTAÇÃO DA AULA Nesta aula serão feitos exercícios de revisão de todas as aulas anteriores, visto que esta revisão é muito importante para a fixação do conteúdo e aprendizado do aluno, pois são exercícios teóricos que mostram como um todo o conhecimento da disciplina. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Realizar os exercícios de revisão; ➢ Acompanhar na videoaula nº 15 a explicação por parte do professor. P á g i n a | 151 15 EXERCÍCIOS 1) Para a geração de energia elétrica, geralmente utilizamos barragens de concreto. Explique, a diferença entre a geração de energia na barragem e a geração de energia em usina fora da barragem. 2) Nos vales fechados, geralmente construímos barragens de concreto, devido à altura ser bem maior que a largura da mesma, bem como o concreto é capaz de suportar a enorme pressão hidrostática que o maciço sofrerá. No entanto, é percebido que algumas destas barragens são construídas em arco, por que? 3) Quando realizamos as investigações geotécnicas para saber tipo de solo a ser encontrado, e também que tipo de fundação será adotada para a barragem, nos deparamos, às vezes, com grandes quantidades de água formando lençol freático. Qual a providência a ser tomada com relação ao lençol freático? 4) Durante a execução da fundação das barragens é necessário realizar o tratamento da fundação. Seja qual for o tipo o tratamento tem o mesmo objetivo. Qual? 5) Quando se constroem barragens de acumulação para contenção de enchentes, também se constroem desvios de rios em partes, ora canais abertos, ora em túneis. Porque este desvio é feito desta maneira? 6) Quando utilizamos o vertedouro de uma barragem para o desvio de um rio? 7) Como se determina a capacidade de um reservatório (volume) e a altura da água no mesmo? Resumo Nesta aula, abordamos: Exercícios de revisão geral do conteúdo; Exercícios práticos que podem ser dispostos em prova; Exercícios estilo concurso público/ENADE para conhecimento geral do aluno sobre o assunto abordado. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina. Referências Bibliografia da aula 15: Exercícios propostos pelo professor, estilo concurso público/ENADE. AULA 15 Exercícios 1) Qual a importância dos filtros nas barragens? 2) Como é feita a proteção a montante de uma barragem de terra? 3) Como é feita a proteção a jusante em uma barragem de terra? 4) Qual é a importância de termos um cuidado maior na execução do pé a jusante de uma barragem de concreto? 5) Por que a instrumentação de uma barragem de concreto deve ser feita rotineiramente? Considerações sobre a UHE Rosal – ES/RJ Aula 16 APRESENTAÇÃO DA AULA Nesta aula será abordada a Usina Hidroelétrica Rosal (UHE), que fica no Rio Itabapoana entre os estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. A UHE é visitada todos os semestres por alunos da Uniredentor que frequentam as aulas da disciplina Obras Hidráulicas. OBJETIVOS DA AULA Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: ➢ Onde é a localização da UHE Rosal; ➢ Características técnicas da barragem; ➢ Características técnicas do túnel de adução; ➢ Caraterísticas técnicas da Usina e turbinas geradoras de energia elétrica. P á g i n a | 157 16 INTRODUÇÃO 16.1 Localização O Aproveitamento Hidrelétrico de Rosal localiza-se no rio Itabapoana, divisa dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, abrangendo áreas dos municípios de Guaçuí e São José do Calçado (ES) e Bom Jesus de Itabapoana (RJ), distante cerca de 430 km de Belo Horizonte. O nome Rosal provém da localidade em que se situaa usina, denominada Rosal, distrito de Bom Jesus de Itabapoana. O acesso a partir de Belo Horizonte faz-se pela BR 262 até a cidade de Manhuaçu. A partir daí segue-se no sentido Manhumirim / Carangola até o trevo para Espera Feliz. Nesse trevo, faz-se conversão à esquerda, seguindo em direção a Guaçuí. Em Guaçuí, segue-se em direção a São José do Calçado, percorrendo-se 18 km em estrada pavimentada e 12 km em estrada não-pavimentada. Figura 65: Localização da UHE Rosal. Fonte: CEMIG (2008) P á g i n a | 158 16.2 O empreendimento A UHE Rosal compõe-se de uma barragem de concreto gravidade em compactado a rolo (CCR) com vertedouro de crista livre no vão central. A adução das vazões é realizada por um túnel de 4,69 km de extensão, escorado em rocha, indo desde a tomada de água (margem esquerda do reservatório) até a casa de força, a jusante do trecho encachoeirado. A casa de força abriga dois grupos geradores com potência nominal instalada de 55 MW. Figura 66: Configuração da barragem, túnel de adução e usina. Fonte: CEMIG (2008) P á g i n a | 159 A área está inserida em terrenos Pré-Cambrianos, pertencentes à Associação Paraíba do Sul. Nessa Associação são separadas quatro unidades, de acordo com a predominância de uma litologia particular, quais sejam: Complexo gnáissico- migatatítico, Complexo charnockítico, gnaisses graníticos ou granitoides e quartzitos. Pode-se destacar, ainda, outra unidade constituída pelos sedimentos aluviais recentes. Na área da UHE Rosal, o relevo moderadamente acidentado, com altitudes entre 400 e 950 m, é suportado por rochas charnockíticas e gnáissicas. Predominam morros de forma arredondada, com topos abaulados, com um manto de intemperismo pouco a bem desenvolvido. As vertentes apresentam perfis convexos com declividade alcançando 35º em alguns trechos. As amplitudes são em torno de 15 0 m. A Serra dos Aguiares se destaca como acidente geográfico, com 946 m de altitude, ao longo do qual se desenvolve grande parte do túnel de adução. No local indicado para implantação da barragem, o vale se apresenta retilíneo e relativamente apertado. A jusante do barramento, o rio desenvolve uma grande curva com acentuada declividade, formando um extenso trecho encachoeirado, até as imediações do local da casa de força. Figura 67: Vista aérea da UHE Rosal. Fonte: CEMIG (2008) P á g i n a | 160 16.3 Barragem de concreto Tabela 11: Características da UHE Rosal. Fonte: CEMIG (2008) O sistema de instrumentação no corpo do barramento é constituído por: ✓ 17 piezômetros de fundação; ✓ 5 extensômetros de fundação; ✓ 4 medidores triortogonais de juntas no concreto; ✓ 8 marcos topográficos na crista da barragem; ✓ 4 coletores de água (com medição de vazão); · Além disso, foram instalados nas ombreiras da barragem: ✓ 22 medidores de nível d’água; ✓ 42 drenos horizontais profundos (DHPs, com medição de vazão) na ombreira esquerda. Figura 68: Vista da ombreira esquerda. Fonte: CEMIG (2008) P á g i n a | 161 16.4 Extravasores O sistema extravasor faz parte da estrutura de barramento, construída em concreto compactado com rolo, consistindo em vertedouro em degraus, com cerca de 60 m de largura, com direção de escoamento coincidente com a calha original do rio. Já o extravasor auxiliar é a mínima vazão do curso d’água na época da estiagem, pois a água, às vezes, não verte pelo vertedouro principal. O extravasor auxiliar tem uma vazão de 2.1 m³ / s. Figura 69: Extravasores vistos à jusante. Fonte: CEMIG (2008) 16.5 Sistema de adução A adução das vazões é efetuada a partir da tomada d e água, através de túnel adutor, com pouco menos de 4,7 km de extensão, até o túnel de pressão. O sistema dispõe, ainda, de chaminé de equilíbrio e túneis intermediário e auxiliar. O trecho final do túnel, com cerca de 170,0 m de extensão, é blindado e, após transição, também blindada, bifurca-se, para chegar à Casa de Força. P á g i n a | 162 Figura 70: Tomada de água na margem esquerda do reservatório. Fonte: CEMIG (2008) Figura 71: Chaminé de equilíbrio. Fonte: CEMIG (2008) P á g i n a | 163 16.6 Casa de força e edifício de controle A Casa de Força abriga duas turbinas (Francis), em bloco único, com 23,65 m de largura; anexa a ela e fazendo parte do mesmo arranjo estrutural encontra-se a Área de Montagem, perfazendo conjunto com 32,80 m de comprimento. O Edifício de Controle, contíguo à Área de Montagem, a montante, concentra, basicamente, a sala de baterias no pavimento inferior e as salas de comando e de chefia no pavimento superior. Os transformadores principais, contíguos ao Edifício de Controle, situam-se a montante do corpo da Área de Montagem.78 Figura 72: Usina. Fonte: CEMIG (2008) 78 CEMIG. Rosal Energia S/A. Inspeção formal de geologia de engenharia da barragem, estruturas civis e taludes da UHE Rosal, 2008, p. 1 a 9. P á g i n a | 164 Figura 73: Subestação. Fonte: ROSTAGNO (2011) Tabela 12: Percentuais das áreas inundadas pelo reservatório da UHE Rosal. Fonte: CEMIG (2008) Resumo Nesta aula, abordamos: Localização do empreendimento: situa-se na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, abrangendo áreas dos municípios de Guaçuí e São José do Calçado (ES) e Bom Jesus de Itabapoana (RJ), distante cerca de 430 km de Belo Horizonte; O empreendimento: a UHE Rosal compõe-se de uma barragem de concreto gravidade em compactado a rolo (CCR) com vertedouro de crista livre no vão central; Extravasor principal: o sistema extravasor faz parte da estrutura de barramento, construída em concreto compactado com rolo, consistindo em vertedouro em degraus, com cerca de 60 m de largura, com direção de escoamento coincidente com a calha original do rio; Sistema de adução: a adução das vazões é efetuada a partir da tomada d e água, através de túnel adutor, com pouco menos de 4,7 km de extensão, até o túnel de pressão; Casa de força e edifício de controle: a Casa de Força abriga duas turbinas (Francis), em bloco único, com 23,65 m de largura; anexa a ela e fazendo parte do mesmo arranjo estrutural encontra-se a Área de Montagem, perfazendo conjunto com 32,80 m de comprimento. Complementar Para enriquecer seu conhecimento é importante que você: Revise a aula através do material complementar sugerido pelo professor; Execute a APS para os assuntos abordados nesta aula; Assista por completo os vídeos apresentados pelo professor, quais estão inseridos em “Aulas” na Plataforma Blackboard na página da disciplina; Aprenda mais sobre a UHE Rosal, participando da visita técnica entre as avaliações V1 e V2. Referências Bibliografia da aula 16: CEMIG. Rosal Energia S/A. Inspeção formal de geologia de engenharia da barragem, estruturas civis e taludes da UHE Rosal. 2008, p. 1 a 9. ROSTAGNO, P. V. Apostila de obras hidráulicas. Itaperuna: Faculdade Redentor, 2011. AULA 16 Exercícios 1) Na UHE Rosal, explique para que serve a chaminé de equilíbrio? 2) Porque existe o vertedouro auxiliar? 3) Por que a casa de força fica tão longe da barragem? 4) As turbinas geradoras de energia elétrica poderiam ficar internamente na barragem? 5) Para construção de uma barragem de terra, é previsto um volume de 400.000 m³ de terra com um índice de vazios de 0,8. Dispõem-se de 3 jazidas, designadaspor A, B e C. O índice de vazios do solo de cada uma delas está no quadro a seguir, bem como a estimativa de custo do movimento de terra. Assinale a alternativa correta. a) A é a jazida economicamente mais viável. b) B é a jazida economicamente mais viável. c) C é a jazida economicamente mais viável. d) As jazidas A e B têm o mesmo custo. e) As jazidas A e C têm o mesmo custo. AULAS Gabarito Resposta dos exercícios propostos no conteúdo da aula 15 Questão 1.: Tal fator depende muito da altura da barragem. Caso a mesma tenha altura elevada, é possível instalar os geradores no interior do maciço, ou mesmo em contrafortes. Caso contrário é necessário se construir uma usina para abrigar os geradores Questão 2.: Porque as barragens em arco, apesar de utilizarem aço para combaterem os esforços de flexão na parte curva da mesma, há uma economia de fôrma, e consequentemente há uma economia no volume e concreto produzido. Este tipo de barragem tem estrutura que pode suportar pressões hidrostáticas bem maiores que as barragens de concreto convencional. Questão 3.: Deve-se esgotar o lençol o mais rápido possível, para evitar o contato da água com a fundação durante a execução da obra. Caso o lençol seja de grande proporção, deve-se procurar outro local para construir a barragem. Após a obra concluída, a mesma deve prever dispositivos para o rebaixamento do lençol, ou mesmo soluções para o desvio/quebra do lençol freático. Questão 4.: O tratamento da fundação é realizado quando se quer desviar o lençol para evitar o contato maciço-lenço, evitando assim, o pipping. Também é feito tratamento para enrijecer a fundação, adicionando mais carga de suporte a mesma, ou seja, a fundação terá maior resistência, podendo até suportar maciços de maior porte. Questão 5.: Devido a concepção de projeto e devido à topografia local. As galerias são obras que menor custo, contudo, às vezes, é necessário se construir túneis, pois o relevo a transpor por galeria é tão extenso que o custo de um túnel pode ficar menos oneroso dando maior economicidade à obra. P á g i n a | 170 Questão 6.: Na realidade o vertedouro já estará funcionando, pois a barragens quando executada em duas fases, neste caso específico, não há desvio do curso d’água, mas sim o uso do vertedouro para extravasar. Na primeira fase já é construído o vertedouro, bem como na segunda fase será construída a outra metade do maciço. Com isso, como não há o desvio do rio, o vertedouro faz a função do próprio desvio. Questão 7.: Através de um mapa topográfico com curvas de nível, é possível estimar o volume do reservatório e a sua cota de água, determinar o nível de cheia máxima e saber qual será a cota do vertedouro. Com esta relação é possível também saber qual será a altura da barragem.