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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA INFLUÊNCIA DO TIPO DE ORDENHA E DO TEMPERAMENTO DE BOVINOS DA RAÇA GIR E BUBALINOS DA RAÇA MURRAH SOBRE PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE PAULYANNA MEDEIROS DE ARAÚJO NATAL - 2018 i PAULYANNA MEDEIROS DE ARAÚJO INFLUÊNCIA DO TIPO DE ORDENHA E DO TEMPERAMENTO DE BOVINOS DA RAÇA GIR E BUBALINOS DA RAÇA MURRAH SOBRE PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Psicobiologia. Orientação: Profª. Drª. Fívia de Araújo Lopes Natal-RN 2018 Araújo, Paulyanna Medeiros de. Influência do tipo ordenha e do temperamento de bovinos da raça Gir e bubalinos da raça Murrah sobre produção e composição do leite / Paulyanna Medeiros de Araújo. - Natal, 2019. 123f.: il. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia. Orientadora: Profa. Dra. Fívia de Araújo Lopes. 1. Bovino - Tese. 2. Bubalino - Tese. 3. Produção - Tese. 4. Leite - Tese. 5. Bem-estar - Tese. I. Lopes, Fívia de Araújo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE-CB CDU 636.2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 ii Título: “Influência do tipo de ordenha e do temperamento de bovinos da raça Gir e bubalinos da raça Murrah sobre produção e composição do leite”. Autor (a): Paulyanna Medeiros de Araújo Data da defesa: 27/12/2018 Banca Examinadora: Profª. Drª. Fívia de Araújo Lopes Universidade Federal do Rio Grande do Norte Profª. Maria de Fátima Arruda de Miranda Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Ebson Pereira Cândido Universidade Federal Rural da Amazônia Profª. Drª. Viviane da Silva Medeiros Universidade Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Victor Kenji Medeiros Shiramizu Universidade Federal do Rio Grande do Norte iii Dedico este trabalho a Deus e aos meus pais, Doralice e Valfre. iv AGRADECIMENTOS Sempre achei esta a melhor parte da tese para escrever, talvez porque a vida não se coloca em análise estatística e não é pelo valor p que descobrimos a significância das pessoas na nossa trajetória. Diante da minha dificuldade em entender o que a estatística quer dizer, e da incrível paciência da Professora Fívia em me fazer compreendê-la, facilmente entendo, em contrapartida, o que as pessoas representam para mim e o que elas foram capazes de plantar em minha vida. Primeiro de tudo, gostaria de agradecer a Deus por me guiar, iluminar e me dar tranquilidade e discernimento para seguir em frente com os meus objetivos e não desanimar com as dificuldades. Esse cuidado divino faz toda a diferença em minha vida. Agradeço aos meus pais Doralice e Valfre, que sempre me motivaram, entenderam as minhas faltas e momentos de afastamento e reclusão e me mostraram o quanto era importante estudar, mesmo não tendo eles a mesma oportunidade no passado. Meus pais me mantiveram de pé mesmo quando não havia forças dentro de mim. Agradeço à minha irmã Anna Paula, por ser uma companheira em todos os momentos, e por sempre desejar que a paz e a felicidade esteja em meu coração. Agradeço ao meu marido, Rafael, com quem eu sei que passarei por muitos momentos de felicidade e por ser um companheiro nas horas boas e ruins, é ele quem fica sentado me ouvindo falar como foi o meu dia, e que todas as manhãs faz o nosso café. Ele me ensina a ser mais calma e a acreditar que no final tudo dará certo. Agradeço as minhas amigas Thaís, Emiliana e Rhebecca, por todo apoio e sinceridade, por serem luz quando eu só via escuridão, por me levantarem quando eu estava no pó, e por não medirem esforços para ajudar aos que as rodeiam. Agradeço muito a Professora Fívia. Resumi-la a minha orientadora é muito pouco e tenho certeza de que ela sente a importância que teve e tem para mim não só na condução do trabalho, mas também como conselheira até nas horas em que parece que nada está dando certo e que preciso não só de um consolo, mas de um colo. Ela foi minha mãe, minha amiga e orientadora ao mesmo tempo. Agradeço a todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia, pelos ensinamentos que me passaram, os quais foram, são e serão muito importantes para mim e para a minha vida profissional, em especial agradeço aos Professores Felipe Nalon e Victor Shiramizu, por toda a paciência e colaboração nos dados estatísticos desse trabalho. Agradeço aos funcionários, que fazem com que tudo v funcione da melhor maneira possível. Em especial, agradeço a Jória e Viviany, duas amigas que a vida acadêmica me deu. Elas compartilham muito mais do que a academia comigo, compartilham o dia-a- dia. Obrigada por tanto apoio, por torcerem e sempre desejarem o meu melhor. Agradeço à CAPES pelo apoio financeiro desta pesquisa, agradeço também a EMPARN e ao senhor Francisco Veloso (Fazenda Tapuio) por permitir que a coleta de dados fosse realizada. vi “Confie no Eterno do fundo do seu coração; não tente resolver tudo sozinho. Ouça a voz do Eterno em tudo que fizer, aonde for. Ele manterá você no melhor caminho. Não pense que você sabe tudo. Corra para o Eterno! Fuja do mal!” Provérbios 3:5-7 vii RESUMO GERAL Os estudos referentes ao comportamento animal têm aumentado muito nos últimos anos e são importantes, pois permitem melhor compreensão das causas que norteiam as ações dos animais e permitem um melhor planejamento na implantação de sistemas de produção mais eficientes. Somando-se a isso, o bem-estar animal vem recebendo crescente atenção nos meios técnico, científico e acadêmico. Os principais motivos que levam as pessoas a se preocuparem com o bem-estar de animais de fazenda são inquietações de origem ética, o efeito potencial que este possa ter na produtividade e na qualidade dos alimentos e as conexões entre bem-estar animal e comercialização internacional de seus produtos de origem animal. O estudo do bem-estar mostra-se complexo visto que contempla diferentes aspectos relacionados à saúde e ao comportamento animal, bem como as interações que ocorrem entre esses aspectos. A pecuária leiteira é um setor da produção animal no qual a interação homem-animal é de fundamental importância devido ao contato que se estabelece diariamente na execução das atividades de rotina. Dentre os fatores que afetam o comportamento dos bovinos e bubalinos, destacam-se a alimentação, o clima e o sistema de produção e manejo adotado. Para animais em lactação, o número de ordenhas, a produção e o horário das ordenhas são condições determinantes em seus padrões de comportamento. Atualmente, o Gir leiteiro é a segunda raça em controle leiteiro oficial no Brasil, sendo a primeira raça leiteira brasileira e zebu do mundo. A raça Gir se consolidou como raça adaptada às condições do Brasil tropical, com bons resultados produtivos. A raça Gir, assim como as demais raças zebuínas, tolera temperaturas ambientais mais altas, podendo ser manejadas em regiões que apresentam estas temperaturas sem grande comprometimento da produção leiteira. Em relação aos bubalinos, um dos principais pontos a se destacar destes animais é o fato de que o custo de produção em modo geralnão se distancia tanto do custo com bovinos, além da grande adaptabilidade a praticamente qualquer tipo de clima. No Brasil são reconhecidas quatro raças, sendo a raça Murrah utilizada nesta pesquisa. Os bubalinos Murrah podem ser criados nas mais diversas condições climáticas, muitas vezes apresentando-se como uma opção para o aproveitamento de áreas da propriedade às quais os bovinos não se adaptam. O leite bubalino possui uma composição diferenciada em relação ao leite bovino, e proporciona uma produção de derivados com alto valor comercial. Neste trabalho, 20 bovinos Gir e 20 bubalinos Murrah foram expostos a dois tipos de ordenhas distintas, ordenha manual e posteriormente ordenha mecânica tandem para o Gir, e ordenha mecânica espinha de peixe e posteriormente ordenha mecânica carrossel para o bubalino Murrah. O objetivo deste trabalho foi descrever a expressão comportamental durante a rotina de ordenha em vacas leiteiras da raça Gir e em búfalas leiteiras da raça Murrah e identificar possíveis alterações nas características produtivas e nutricionais do leite. A alteração na rotina de ordenha e a mudança no tipo de ordenha utilizada pode trazer alterações comportamentais, com influência na produtividade. No entanto, as duas raças apresentaram, comportamentalmente, extrema docilidade que se refletiu numa fácil adaptação ao novo sistema de ordenha proposto, sem comprometer os aspectos produtivos. Palavras-chave: Bovino, bubalino, leite, ordenha, comportamento, produção viii ABSTRACT The studies related to animal behavior have increased in recent years, and are important because they allow better understanding of the causes that guide the actions of the animals and allow for better planning in the implementation of more efficient production systems. Adding to this, the animal welfare has received increasing attention in the technical, scientific and academic means. The main reasons that lead people to be concerned with the farm animals welfare are concerns of ethnic origin, the potential effect it may have on productivity and quality of food and the links between animal welfare and international trade its products of animal origin. The study of the welfare is shown as complex and includes different aspects related to health and animal behavior and interactions that occur between these aspects. The dairy farming is a sector of animal production in which the human-animal interaction is of fundamental importance because of contact that establishes daily in carrying out routine activities. Among the factors that affect the behavior of cattle and buffaloes, stand out food, the weather and the adopted production system. For lactating animals, the number of milkings, production and time of milkings are key conditions in their behavior patterns. Currently, the dairy Gir is the second breed in official milk control in Brazil, the first Brazilian zebu and dairy breed in the world. The Gir has established itself as breed adapted to the conditions of tropical Brazil, with good productive results. The Gir, as well as other Zebu breeds, tolerate higher ambient temperatures and can be managed in regions with these temperatures without severe impairment of milk production. Regarding the buffalo, one of the main points stand out these animals is the fact that the cost of production in general is not far from both the cost of cattle, as well as great adaptability to almost any kind of weather. In Brazil four breeds are recognized, and the Murrah used in this research. The Murrah buffalos can be created in various weather conditions, often presenting as an option for the areas of use of the property to which the cattle do not fit. The buffalo milk has a different composition compared to cow's milk, and provides an output of oil products with high commercial value. In this work, the Gir cattle and Murrah buffaloes were exposed to two different types of milking, manual milking and subsequently mechanical tandem milking for Gir and mechanical "espinha de peixe" milking and then milking carousel for Murrah buffalo. The aim of this study is to describe the behavioral expression during routine milking in dairy cows of Gir and dairy buffaloes of Murrah and identify possible changes in the productive and nutritional characteristics of milk. The change in the milking routine and change the type of used milking can bring behavioral changes with influence on productivity. However, the two races presented behaviorally extreme docility that was reflected in an easy adaptation to the new proposed milking system, without compromising the productive aspects. Keywords: Cattle, buffalo, milk, milking, behavior, production. ix SUMÁRIO 1- APRESENTAÇÃO 01 2- ARTIGO TEÓRICO 1 02 3- ARTIGO TEÓRICO 2 29 4- ARTIGO TEÓRICO 3 22 5- ARTIGO TEÓRICO 4 32 6- OBJETIVOS 45 7- HIPÓTESES E PREDIÇÕES 46 8- MÉTODO GERAL 48 9- ARTIGO EMPÍRICO 1 66 10- ARTIGO EMPÍRICO 2 83 11- CONCLUSÕES GERAIS 98 12- ANEXOS 99 x LISTA DE ILUSTRAÇÕES ARTIGO TEÓRICO 1 Figura 1. Exemplo de ordenha mecânica balde-ao-pé. ........................................................................................................................................................... 15 Figura 2. Exemplo de ordenha mecânica tipo espinha-de-peixe. ........................................................................................................................................................... 16 Figura 3. Exemplo de ordenha mecânica tipo tandem. ........................................................................................................................................................... 16 Figura 4. Exemplo de ordenha mecânica tipo lado-a-lado. ........................................................................................................................................................... 17 Figura 5. Exemplo de ordenha mecânica tipo carrossel em propriedade da Nova Zelândia. ........................................................................................................................................................... 17 MÉTODO GERAL Figura 6. Mapa de acesso rodoviária Natal – São Gonçalo do Amarante. .................................................................................................................................................... 49 Figura 7. Exemplar bovino da raça Gir. .................................................................................................................................................... 50 Figura 8. Marcação dos animais no brete de contensão. .................................................................................................................................................... 50 Figura 9. Pastagem native da Fazenda Rockfeller. .................................................................................................................................................... 51 Figura 10. Sala de ordenha mecânica tipo tandem. .................................................................................................................................................... 53 Tabela 1. Descrição dos eventos comportamentais no ambiente de ordenha manual e mecânica. .................................................................................................................................................... 55 Figura 11. Mapa de acesso rodoviária Natal – Taipu. .................................................................................................................................................... 57 Figura 12. Exemplar bubalino da raça Murrah. ....................................................................................................................................................58 Figura 13. Marcação dos animais no final da ordenha. .................................................................................................................................................... 59 Figura 14. Matrizes soltas no campo. .................................................................................................................................................... 60 Figura 15. Medidor de leite utilizado na ordenha mecânica tipo espinha de peixe. .................................................................................................................................................... 60 Figura 16. Búfalas sendo ordenhadas na ordenha mecânica tipo espinha-de-peixe. .................................................................................................................................................... 62 xi ARTIGO EMPÍRICO 1 Tabela 1. Descrição dos eventos comportamentais no ambiente de ordenha manual e mecânica. .................................................................................................................................................... 72 Figura 1. Frequência comportamental por dia de observação na ordenha manual (a) e na ordenha mecânica (b). ............................................................................................................................................................ 75 Figura 2. Gráfico de dispersão das médias e boxplot das diferenças das médias da produção de leite na ordenha manual e mecânica. .................................................................................................................................................... 77 Figura 3. Gráfico da dispersão dos logaritmos do desvio-padrão. .................................................................................................................................................... 77 ARTIGO EMPÍRICO 2 Tabela 1. Descrição dos eventos comportamentais no ambiente de ordenha manual e mecânica. .................................................................................................................................................... 89 Figura 1. Frequência comportamental por dia de observação na ordenha mecânica espinha-de-peixe (a) e ordenha tipo carrossel (b). ............................................................................................................................................................ 92 Figura 2. Medianas de comparação entre parâmetros produtivos na ordenha espinha-de-peixe e a ordenha carrossel. .................................................................................................................................................... 93 1 APRESENTAÇÃO A tese foi construída em formato já bastante utilizado em programas de Pós-Graduação do Brasil, o que facilita o entendimento intelectual, através da confecção dos artigos científicos e as futuras publicações dos mesmos. O conjunto dos produtos aqui apresentados refere-se dois projetos de pesquisa desenvolvidos e executados pela autora com contribuições científicas da professora orientadora do Programa de Pós- Graduação em Psicobiologia. Tais produtos abordam e discutem todos os dados obtidos nesta pesquisa. A tese consta de 4 artigos teóricos e 2 artigos empíricos. Os estudos empíricos compartilham os mesmos procedimentos de coleta de dados, os instrumentos utilizados e os animais participantes mudam de acordo com a disponibilidade da fazenda. Inicialmente, serão apresentados os artigos teóricos, que abordam os temas investigados pelos diferentes estudos que compõe o todo da tese. Em seguida, serão descritos os objetivos gerais e específicos que foram estabelecidos e foram desenvolvidos em cada um dos estudos, bem como as hipóteses e predições correspondentes. Em seguida, serão expostos o método geral e os artigos empíricos realizados, a saber: Artigo 1 - “Influência da implementação da ordenha mecânica no bem-estar e produção de leite de vacas Gir.” Artigo 2 - “Influência da implementação de um novo sistema de ordenha robotizada (ordenha mecânica carrossel) no bem-estar e produção de leite de búfalas da raça Murrah.” Os mesmos foram organizados de modo independente, com suas respectivas seções de Introdução, Material e Métodos, Resultados, Conclusões e Referências Bibliográficas, podendo, inclusive, ser lidos de forma independente. Finalizando a tese, será apresentada uma seção de Considerações Finais. 2 Artigo teórico 1 A importância do estudo do comportamento de animais de produção frente a alterações no manejo e a influência do estresse animal na pecuária leiteira de bovinos no Brasil Araújo, P.M.1; Lopes, F.A. 2 1 Programa de Pós-graduação em Psicobiologia – UFRN 2 Programa de Pós-graduação em Psicobiologia – UFRN RESUMO O estresse é o principal fator que influencia no bem-estar animal. Situações de estresse são comuns em animais com aptidão leiteira e fatores como temperatura ambiente inadequada, manejo e alimentação têm sérios efeitos negativos sobre a saúde, produtividade e conforto desses animais. O impacto do distress nos animais de produção pode ser entendido considerando-se três diferentes componentes: a percepção do animal quanto a origem do estresse, a sua resposta fisiológica e as consequências de curto e longo prazo da resposta do animal. Com relação à origem do estresse deve-se lembrar que o mais importante é a percepção do animal e não necessariamente a natureza da causa do estresse; por exemplo, um animal que é isolado dos demais ou inserido em um novo grupo pode apresentar reações negativas. Assim, alterações no manejo podem desencadear reações estressantes ao animal e, com a crescente demanda de proteína animal para a alimentação humana e com o encarecimento dos recursos produtivos na agricultura, criadores e técnicos vêm buscando, cada vez mais, melhores níveis de produtividade. Contudo, a realidade de muitas fazendas no Brasil mostra a falta de entendimento quanto ao uso de técnicas para evitar o estresse nos animais. E devido à intensificação nos sistemas de produção animal, os estudos referentes ao comportamento animal, nesses sistemas de criação, têm aumentado muito nos últimos anos. Esses estudos são importantes, pois permitem melhor compreensão das causas que norteiam as ações dos animais e permitem um melhor planejamento na implantação de sistemas de produção mais eficientes. O estudo do comportamento animal (Etologia) é considerado uma ferramenta útil para determinar o que é mais adequado para os animais em sistemas de 3 criação, além de ser um método não invasivo para indicar como os animais respondem aos estímulos do ambiente. As medidas comportamentais podem ser utilizadas para avaliar condições de bem-estar animal, por exemplo, reações positivas em relação ao ambiente que podem ser observadas através de testes de satisfação e preferências dos animais (Dawkins, 2004). A intenção do nosso estudo consiste em apresentar fatores que podem intensificar o estresse animal em propriedades leiteiras, O conhecimento desses fatores oferece ao produtor a oportunidade de minimizar os danos causados pelo estresse. Palavras-chaves: Leite, estresse, produção, bem-estar, comportamento, animal. Estresse e produção animal O termo “estresse” foi utilizado pela primeira vez por Hans Selye, em 1936, que o definiu como o estado do organismo, o qual, após a atuação de agentes ambientais de qualquer natureza, responde com uma série de reações não específicas de adaptação (Selye, 1936; Encarnação, 1992). Estresse é uma resposta não específica do corpo a qualquer alostase demandada, seja ela causada por ou resultando em condições favoráveis ou desfavoráveis. A alostase é o processo de alcançar a estabilidade, através de mudanças fisiológicas ou comportamentais. Segundo Barbosa Silveira (2005),o estresse age sobre o organismo como resposta neuroendócrina clássica, varia grandemente entre indivíduos. Magalhães (1998), explica que o estímulo estressor é uma ameaça perceptível capaz de romper a homeostase e causar uma alteração abrupta e contínua da atividade autonômica e da secreção de hormônios. O termo “percepção” merece atenção, pois justifica porque um mesmo estímulo pode induzir uma resposta num indivíduo e em outro não, podendo cada indivíduo reagir diferentemente para um determinado evento ou situação, dependente do seu estado físico, de experiências anteriores, entre outros fatores. Portanto, o estresse representa uma resposta fisiológica diante de um desvio do esperado, capaz de perturbar o equilíbrio homeostático. Conforme os estudos de Selye (1936), o estresse pode ser dividido em três fases: alerta, resistência e exaustão. A fase de alerta ocorre quando os estímulos estressores iniciam e há resposta rápida do organismo como preparo para luta ou fuga. Esta fase termina com a restauração da homeostase, porém este estado de alerta não pode ser 4 mantido por muito tempo. A fase de resistência, aparecem as primeiras consequências mentais, físicas e emocionais, pois o organismo tenta restabelecer o equilíbrio interno para resistir ao estressor. Nesta fase, o organismo pode ficar mais desgastado e mais suscetível a doenças, tendo um desgaste generalizado e dificuldades de memória. O indivíduo, humano ou não humano, precisa utilizar mecanismos para controle do estresse a fim de conseguir sair desta fase; caso isso não ocorra, o estresse pode chegar a sua fase crítica. Por fim, temos a fase de exaustão, que é quando começam os sintomas de irritabilidade, dificuldades para relaxar, isolamento social, alterações do sono, dificuldades sexuais, queda de cabelo/pelo, baixa autoestima em humanos, aumento da glicose circulante e colesterol. Com a permanência dessa fase, podem aparecer patologias mais graves como úlceras gástricas, doenças cardiovasculares, depressão, entre outras (Gomes & Silva, 2010). Ainda, o estresse prolongado pode afetar o crescimento corporal e o metabolismo dos animais, pode causar depressão da atividade da glândula tireoide e redução da função reprodutiva, incluindo distúrbios do ciclo estral. Também influencia nos aspectos motivacionais e cognitivos da aprendizagem (Chrousos & Gold, 1992). Práticas zootécnicas, apesar de eficazes, podem causar demasiado desconforto ao animal, em detrimento de sua produção e saúde. Segundo Moberg (2000), o estresse é causador de efeitos negativos na produtividade, bem como atrasos no crescimento e desenvolvimento. Quando um animal está sob estímulos estressores, fazem-se necessários ajustes anormais ou extremos em sua fisiologia ou comportamento para adaptá-lo a aspectos adversos do seu ambiente e manejo. Essa adaptação envolve uma série de respostas neuroendócrinas, fisiológicas e comportamentais que funcionam para tentar manter a homeostase, o equilíbrio de suas funções e a integração desses três sistemas (Borell, 1995). Desafios impostos pelo ambiente social, físico ou ambos de maneira inesperada, continua ultrapassando os limites de intensidade, previsibilidade e duração, são ativados os sistemas regulatórios que passam a regular a homeostase em níveis mais elevados de demandas, definindo a alostasia, e os respectivos mecanismos alostáticos. Observa-se, portanto, que o conceito de alostase amplia e adequa o conceito de homeostase aos conhecimentos recentes da fisiologia, levando a uma nova visão também sobre a resposta ao estresse. Segundo Borell (1995), o mecanismo responsável pelos efeitos adversos do alto nível de medo dos animais pelos humanos surgiu da resposta a um estresse crônico, que resultou na queda de produtividade. Isto ocorre devido à elevação nas concentrações 5 basais do cortisol (hormônio do estresse), aumento das glândulas adrenais, redução no crescimento e queda no desempenho reprodutivo e produtivo. Os agentes estressores podem ser de natureza mecânica (traumatismos, cirurgias ou não, contenção), físicos (calor, frio, eletricidade, som), químicos (drogas), biológicos (estados de nutrição, agentes infecciosos) e psicológicos (exposição a um ambiente novo, manuseio) (Baccari Jr., 2001). A situação de estresse tem influência no desenvolvimento de processos fisiológicos normais do organismo, como o processo da descida do leite nos bovinos durante a ordenha. Situações estressantes que podem ocorrer antes ou mesmo durante a ordenha, induzem a secreção de adrenalina pela glândula suprarrenal, e esta tem ação contrária da ocitocina e prolactina, promovendo, assim, a retenção do leite, predispondo, então, a ocorrência de quadros de mastite, associada à proliferação de microorganismos no leite retido (Breazile, 1988, apud Souza, 2007). A explicação para o efeito do estresse na lactação reside, primeiramente, no fato das reações por ele provocadas alterarem todo o complexo endócrino responsável pela lactação. Tanto o início da secreção de leite quanto sua manutenção, e até mesmo o desenvolvimento da glândula mamária, são gontrolados pelo sinergismo de um complexo de hormônios da adeno-hipófise e de outros órgãos estimulados por aqueles hormônios. Um fenômeno interessante que acontece na produção leiteira, e extremamente susceptível ao estresse, é o reflexo de ejeção do leite. Estímulos acústicos (ruído de preparativos para ordenha), visuais (aproximação do bezerro) ou mesmo estímulos provenientes de receptores sensíveis à temperatura ou ao tato (mamada do bezerro), seguem através de vias nervosas até o hipotálamo e de lá à neuro-hipófise, provocando uma descarga do hormônio ocitocina na corrente sanguínea. Estimulada pela ocitocina ocorre a contração do mioepitélio impelindo o leite dos alvéolos e canalículos até as cavidades maiores da glândula mamária. Este mecanismo pode ser anulado ou diminuído em sua atividade se as vacas, antes ou durante a ordenha, sofrerem dores, distúrbios emocionais ou outros fatores de desconforto (Faber & Haid, 1976). Vários recursos e estímulos são necessários para que os animais de produção se encontrem em situação de bem-estar, como: o espaço em si, permitindo que os animais mantenham suas atividades em um contexto social equilibrado; os abrigos, para que possam se proteger dos rigores do clima; os alimentos, incluindo as forragens, a água e os suplementos (Paranhos da Costa, 2001). Webster (2001) ressalta que vacas necessitam 6 de instalações limpas e confortáveis, de fácil acesso, nas quais possam se deitar e levantar com facilidade, além de manter o contato social com outras vacas. Comportamento Animal A expressão comportamental de um indivíduo pode ser considerada um aspecto do fenótipo do animal. Tal expressão envolve a presença ou não de atividades motoras definidas, vocalização e produção de odores, os quais conduzem às ações diárias de sobrevivência do animal e às interações sociais. Como qualquer outra característica fenotípica, o comportamento é determinado por fatores ambientais e genéticos, podendo ser visto como processo dinâmico e sensível às variações físicas do meio e a estímulos sociais (Banks, 1982; Peters, 2008), sendo possível observar padrões básicos para cada espécie. Segundo Carneiro (2007), o temperamento, definido pelo estado fisiológico característico de um indivíduo e que condiciona suas reações psicológicas, uma referência quanto à reatividade do animal aos diferentes fatores ambientais, é um elemento sempre presente nas avaliações das expressões comportamentais. Na produção animal, estudos visam entender melhor essa característica de forma a melhorar as condições, assim contribuindo para o bem-estar animal, aperfeiçoar técnicas e estruturas de manejo e maximizar a eficiência produtiva pelo uso de animais adequados ao sistema de produção (Carneiro,2007). Animais classificados como de pior temperamento são mais excitáveis, não se adaptam facilmente a novas situações, ingerem menor quantidade de alimentos, são mais difíceis de manejar, são mais agitados e apresentam maiores riscos de acidentes com os trabalhadores (Barbosa Silveira et al., 2008). O manejo e tratamento zootécnico devem respeitar os requisitos biológicos básicos do animal. Precisamos ter conhecimento sobre o espaço, a ventilação, a proteção térmica, a nutrição, o comportamento do animal. É importante compreender como um animal de produção percebe e detecta acontecimentos em seu ambiente, como eles assimilam o significado destes e consequentemente como eles agem (Souza, 2007). Os bovinos e os bubalinos apresentam comportamento social semelhantes, são animais herbívoros de manada, ou seja, apresentam comportamento gregário, como os cavalos e ovelhas, e isso parece ser tão importante que os indivíduos isolados do rebanho 7 se tornam mais estressados (Cavallinna et al., 2008). Apresentam uma série de padrões de organização social, que definem como serão as interações entre grupos e entre animais do mesmo grupo, contribuindo para minimizar os efeitos negativos da competição. O conhecimento destes padrões de organização social é imprescindível para o manejo adequado (Paranhos da Costa et al., 2000). Entretanto, nos sistemas de criação convencionais, a formação dos grupos sociais, contrariando muitas vezes o comportamento natural, é induzida pelo homem visando a formação de lotes conforme o interesse da criação, embora essa intervenção muitas vezes traga prejuízos nas relações sociais e até mesmo econômicas para o criador. Portanto, são necessários o entendimento de como se estabelece a hierarquia, a dominância, a interação materno-filial e sexual, que irão reduzir os prejuízos e determinar o sucesso na intervenção do humano no agrupamento dos animais (Neto et al., 2009). O medo os move a estarem permanentemente vigilantes para escapar dos predadores, sendo um grande fator de estresse, podendo elevar os hormônios associados com o estresse a concentração mais altos do que muitos fatores físicos adversos, como as instalações (Grandin, 1997). Quando são submetidos a situações que provocam dor, isolamento social, ruídos súbitos, medo, estes animais apresentam sinais de estresse e reagem a essas situações aversivas, modificando o seu comportamento, podendo aumentar a sua movimentação ou tentativa de fuga (Barbosa Silveira et al., 2006). Para se comunicar, os ruminantes utilizam vários canais de comunicação, mas é através do cheiro e da visão, que percebem melhor o ambiente ao seu redor, pois naturalmente são presas, por isso são na maioria das vezes motivados pelo medo. Com isso são estimulados para se organizar socialmente em grupos com o objetivo de se defender contra predadores. Em relação à audição, são muito sensíveis aos sons de alta frequência, com sensibilidade até 21000 Hz (Algers, 1984). Heffner e Heffner (1992) constataram que tanto os bovinos como os caprinos apresentam uma menor capacidade para localizar sons do que os bubalinos, equinos e ovinos. Esses autores sugerem que, dada a sua melhor visão, a qual cobre quase toda a totalidade do horizonte, não necessitam identificar os sons com tanta precisão. No entanto, ruídos, gritos, ou assobios de pessoas provocam estresse nesses animais. Bem-estar animal 8 Para Broom (1986), bem-estar é uma qualidade inerente aos animais e se refere ao estado do indivíduo em relação às suas tentativas de se adaptar ao ambiente, podendo ser medido cientificamente através de características biológicas do animal, como produtividade, sucesso reprodutivo, taxa de mortalidade, comportamentos anômalos, atividade adrenal, grau de imunossupressão e incidência ou severidade de ferimentos e doenças. Ainda, segundo esse autor, o bem-estar pode ser empobrecido quando os animais são expostos a situações que possam gerar frustração, medo, dor, solidão e aborrecimento. Dessa forma, bem-estar está geralmente associado a sensação de conforto. A sensação é construída pelo cérebro, envolvendo, pelo menos, a consciência perceptiva, a qual está associada a um sistema de regulação da vida, que é reconhecido pelo indivíduo quando esta se repete e pode mudar o comportamento ou modo de agir como um reforço na aprendizagem (Broom, 1998). O sofrimento ocorre quando um ou mais sentimentos negativos continuam por mais de alguns segundos (Broom, 1998). Na bovinocultura leiteira, e nos demais sistemas de produção, um conceito bastante explorado é o de que na ausência de bem-estar, o animal não produz de acordo com o seu potencial (Souza, 2007). Por exemplo, em se tratando de animais produtores de leite, o tempo decorrido entre o preparo da vaca ou búfala até o início da ordenha é fator de extrema importância na eficiência do processo (Bruckmaier, 2001). A ordenha é dependente da ejeção do leite, também chamada descida do leite, que é determinada por fatores hormonais resultantes, entre outros fatores, do manejo ao qual é submetida a matriz durante a ordenha (Silva et al., 2002). O bem-estar animal pode ser considerado como uma demanda, pois os mercados consumidores, especialmente aqueles dos países desenvolvidos, tornaram-se cada vez mais exigentes no que diz respeito à qualidade do produto final. Desde a década de 1970, os cientistas têm tentado definir ou conceituar o bem-estar dos animais. Uma definição de bem-estar bastante utilizada atualmente foi estabelecida pela FAWC (Farm Animal Welfare Council) na Inglaterra, mediante o reconhecimento das cinco liberdades inerentes aos animais (Becker, 2006): 1) A liberdade fisiológica (livre de fome e de sede); 2) A liberdade ambiental (livre de desconforto); 3) A liberdade sanitária (livre de dor, injúrias e doenças); 4) A liberdade comportamental (livre para expressar padrões normais de comportamento); e 5) A liberdade psicológica (livre de medo e estresse). O tema bem- estar animal vem recebendo crescente atenção nos meios técnico, científico e acadêmico, 9 juntamente com as questões ambientais e a segurança alimentar. Em 1965, era questionada a avaliação de um sistema de manejo apenas através de parâmetros como produção ou produtividade, pois o processo criatório precisa ser ambientalmente benéfico, eticamente defensável, socialmente aceitável e relevante aos objetivos, necessidades e recursos da comunidade para o qual foi projetado (Fraser, 1985). O alto nível de bem-estar de animais leiteiros é alcançado quando suas necessidades são atendidas (Curtis, 1993). A exigência diária em nutrientes e energia pelo animal é determinada pelo seu nível de produção, pelo seu peso corporal, seu estágio fisiológico e pela interação com o ambiente (ambiente climático, instalações e equipamentos, manejo, tipo de alimento, etc.). Os veículos que utilizamos para suprir as referidas necessidades são os diversos recursos alimentares disponíveis, normalmente classificados segundo suas características qualitativas, em alimentos volumosos, concentrados e suplementos vitamínicos e minerais (Damasceno et al., 2003). A quebra da rotina diária e a impossibilidade de os animais exercerem suas necessidades (fisiológicas, alimentares) podem causar desconforto (Hopster et al., 1998; Rosa, 2002). Com a modernização dos sistemas de criação ocorreu uma redução substancial no tempo de contato entre os tratadores e os animais, perdendo-se então a oportunidade de interagir positivamente com os animais. Entretanto, ações de manejo negativas permaneceram devido à ausência de alternativas que substituam o humano na execução destas, as quais levam os animais a experiências negativas, causando reações de medo em relação a presença humana, com sérias consequências sobre a produtividade e o bem- estar animal (Peters, 2008). O rápido crescimento da bubalinoculturaleiteira está resultando na implantação cada vez mais intensiva de técnicas mecanizadas, muitas vezes inspiradas pelo gado leiteiro (Cavallina et al., 2008). Essa exposição da espécie a técnicas de criação cada vez mais intensivas traz alterações no bem-estar e consequentemente na qualidade dos produtos. O equipamento de ordenha pode ser considerado um ponto crítico. O processo de ordenha é repetido pelo menos duas vezes por dia, envolvendo estressores físicos e psicológicos como: configurações e manutenção da máquina, novo ambiente, a separação dos bezerros e o contato com humanos, que representam fonte potencial de estresse crônico (Van Reenen et al., 2002; Saltalamacchia et al., 2007). Cavallina et al. (2008) ao observarem a resposta comportamental de búfalas Murrah, submetidas a ordenha mecânica, verificaram que os comportamentos indicadores de estresse, como coices, 10 defecação, micção e derrubadas de teteira foram mais frequentes em fêmeas primíparas, evidenciando a necessidade de períodos de adaptação ao procedimento e monitoramento atento do produtor. A produção animal moderna caracteriza-se por um ambiente de criação controlado, animais de elevado potencial genético e alternativas alimentares mais eficientes tanto do ponto de vista econômico como produtivo. Somando-se a isso, o bem- estar animal vem recebendo crescente atenção nos meios técnico, científico e acadêmico, junto das questões ambientais e a segurança alimentar. Os principais motivos que levam as pessoas a se preocuparem com o bem-estar de animais de fazenda são inquietações de origem ética, o efeito potencial que este possa ter na produtividade e na qualidade dos alimentos e as conexões entre bem-estar animal e comercialização internacional de seus produtos de origem animal (Souza, 2007). No entanto, o estudo do bem-estar animal mostra-se complexo visto que contempla diferentes aspectos relacionados à saúde e ao comportamento animal, bem como as interações que ocorrem entre esses aspectos (Gomes, 2008). Fatores ambientais e sua relação com o estresse O ambiente é composto por um complexo de fatores, que cercam determinada espécie de ser vivo podendo ser favorável ou desfavorável ao seu desenvolvimento biológico, produtivo e reprodutivo. Caracterizam-se como fatores ambientais o ar, a água, o calor, as chuvas, os ventos, a luz, a temperatura, a umidade, o solo e a presença de outras espécies de seres vivos. Ao ambiente são inerentes o clima e as condições do tempo (Baccari Jr., 2001). A vulnerabilidade dos animais ao ambiente está bem documentada. O desempenho e mesmo a sobrevivência são fortemente influenciadas pelos efeitos diretos das condições climáticas (Hahn, 1981). O clima é um dos componentes ambientais que exerce efeito mais pronunciado sobre o bem-estar animal e por consequência, sobre a produção e produtividade. Representa um conjunto de fenômenos meteorológicos, de natureza complexa e que, atuando isolada ou conjuntamente, constitui-se em componente decisivo no comportamento animal (Pereira, 2005). Para desempenhar com eficiência suas atividades fisiológicas, a vaca em lactação deve encontrar no ambiente uma temperatura que esteja em torno de 18ºC a 24ºC; fora desse limite terá as suas funções produtivas prejudicadas 11 em favor da sua sobrevivência, a raça escolhida para a pecuária leiteira tem influência na qualidade e volume do produção final (Neiva, 1998). O autor reportou ainda, que deve- se manter a produção de leite do rebanho em ambientes que não ultrapassem a temperatura de 24ºC e umidade relativa de 50%, para que se possa conseguir maior eficiência produtiva. Temperaturas excedentes influenciarão o processo produtivo pela redução no consumo e aproveitamento alimentar (Neiva, 1998). No entanto, algumas especificidades precisam ser consideradas conforme as raças. A zona de termoneutralidade para a produção de leite está entre: 5ºC e 21ºC para vacas Holandesas, sendo ligeiramente maior, 24ºC para raças Jersey, e raças tropicais, esse limite atinge 29ºC (Souza, 2007). Para animais de origem zebuína, como a raça Gir, estudos recentes têm indicado a zona de termoneutralidade até a temperatura de 35°C. A bovinocultura de leite se desenvolveu inicialmente em regiões temperadas. Nas regiões tropicais os animais se apresentavam com menor capacidade produtiva, com isso procurou-se introduzir nessas regiões animais de raças de clima temperado na tentativa de melhorar os índices zootécnicos através de cruzamentos com animais nativos ou mesmo da criação de raças puras (Marques, 2001). Aproximadamente 64% do rebanho bovino mundial são criados em regiões tropicais (Azevedo et al., 2005). Dois terços do território brasileiro estão situados na região tropical, onde há predominância de temperaturas elevadas, consequentes da alta incidência de radiação solar. Observa-se nos trópicos um problema na adaptação de raças leiteiras de origem europeia ao clima, que por sua alta produtividade sofrem com problemas fisiológicos e comportamentais causados pelo estresse térmico diminuindo sua produção (Silva et al., 2002). O estresse térmico afeta negativamente em vários aspectos a produção leiteira, a diminuição da produção de leite e as perdas reprodutivas causam um impacto significativo no potencial econômico das granjas produtoras de leite (Bilby et al., 2009). Este fato gera uma diminuição na produção leiteira devido à redução na ingestão de alimentos. Além da temperatura ambiente, a umidade relativa do ar elevada compromete a capacidade da vaca de dissipar calor para o ambiente influenciando diretamente na diminuição da produção (Dahl, 2010). 12 Relação humano-animal e níveis de estresse O humano provavelmente iniciou atividades de manutenção de animais para produção há cerca de dez mil anos (Zeder & Hesse, 2000), embora essa interação humano-animal ocorra há centenas de milhares de anos (Boivin et al. 1992). Os bovinos foram domesticados há cerca de seis mil anos (Boivin et al. 1992; Gregory, 2003) e, em vida livre, são animais que vivem em áreas de pasto, sem território fixo e com comportamento de grupo fortemente desenvolvido (Gregory, 2003). A bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial. O Brasil é dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. Além disso, desde 2004, assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em mais de 180 países, sendo que o rebanho bovino brasileiro proporciona o desenvolvimento de dois segmentos lucrativos: as cadeias produtivas da carne e leite. A população de bovinos no Brasil segue em 217.749.364 (MAPA, 2017). Na produção de leite, o país ocupa hoje a sétima posição no ranking mundial, com um volume aproximado de 34,9 bilhões de litros em 2017. A pecuária leiteira é um setor da produção animal no qual a interação homem- animal é de fundamental importância devido ao contato que se estabelece diariamente na execução das atividades de rotina. Dessa forma, a saúde e o bem-estar dos animais pode ser fortemente influenciada pela relação com os humanos, construída pelas interações entre os mesmos (Lewis & Hurnik, 1998). No entanto, a interação homem-animal ainda não é considerada como um fator que afete significativamente os índices produtivos nos sistemas de produção, pois muitos produtores desconhecem os reais efeitos de se manejar os animais de forma agressiva, com gritos e agressões físicas, ou de maneira positiva, executando ações como conversar, tatear e toques suaves (Peters, 2008). O manejo positivo resultará em benefícios produtivos, sem elevação dos custos de produção, ou seja, é uma ferramenta de conduta com os animais, a partir da qual a resposta será visualizada na produção, aumentando a rentabilidade, além de melhorar o bem-estardos animais e das pessoas na atividade (Peters, 2008). O início de uma boa relação humano-animal depende, entre outros fatores, do interesse da pessoa que desenvolverá a atividade. Comumente, em propriedades de pecuária, os trabalhadores são considerados como inexperientes, embora a eles sejam 13 confiados a produtividade e o bem-estar dos animais, o que ressalta a importância da descrição do emprego que será oferecido e a checagem das habilidades e conhecimentos da pessoa que almeja a função (Hemsworth & Coleman, 1998). Um bom tratador sempre deverá estar atento ao comportamento e às necessidades fisiológicas, de segurança e comportamentais dos animais que estão sob sua responsabilidade. Os bovinos são animais que gostam de rotina e que possuem boa memória. São capazes de discriminar as pessoas envolvidas nas interações, apresentando reações específicas a cada uma delas em função do tipo de experiência vivida. Várias pesquisas têm registrado a associação dos animais para as ações de manejo e as pessoas que as desenvolvem (Lewis & Hurnik, 1998). Na bovinocultura leiteira existe intensa interação entre humanos e animais, pois, em qualquer sistema de criação para produção de leite, tratadores e animais interagem diariamente por um longo período, durante o desenvolvimento de atividades de rotina, como ordenha, alimentação, cuidados sanitários e outras práticas zootécnicas (Hemsworth & Coleman, 1998). Grande parte dos contatos entre a pessoa que trata e seus animais está relacionada a estímulos negativos como vacinações, tratamento veterinário ou transporte. No gado leiteiro existe ainda o contato diário devido à ordenha, que pode ser positivo ou negativo, dependendo do ambiente da ordenha, incluindo aí o tratador. Vários estudos demonstraram uma correlação negativa entre medo de humanos e aspectos da produtividade de bovinos leiteiros, como produção de leite ou a taxa de concepção após inseminação artificial (Honorato, 2006). De acordo com Seabrook (1994) e Peters (2008), bons ordenhadores foram descritos como confiantes, introvertidos, reservados, pacientes e consistentes nas suas ações. De maneira geral, bons ordenhadores devem ser pessoas perceptivas as condições do meio, corrigindo problemas e mantendo a organização. Os resultados obtidos por Hemsworth et al. (2000) mostraram que a interação negativa (retireiro e animal), durante a ordenha, foi significativa e negativamente correlacionada com a produção de leite, teores de proteína e gordura, e foi significativa e positivamente correlacionada com a concentração de cortisol, o que indica a possibilidade de aumentar a produtividade da vaca através de interação positiva retireiro-animal (Breuer et al., 2000). O trato do ordenhador na sala de ordenha, o apalpamento ou carícia com as mãos pode encorajar os animais a entrarem mais facilmente naquele espaço e apresentarem 14 menos estresse, o que por sua vez reduz a inibição da ejeção de leite. O uso da voz também influencia a produção da vaca. Tem-se observado que rebanhos de alta produção contam geralmente com funcionários que "falam" muito mais com as vacas, comparado a rebanhos de baixa produção (Rosa et al., 2009). Alterações na rotina de manejo e suas relações com a produtividade animal Os resultados de pesquisas podem descrever os principais problemas que limitam a produtividade e o bem-estar animal de vacas lactantes e podem ser utilizados para orientar extensionistas, pesquisadores e formuladores de políticas públicas. Dessa forma, medidas nutricionais ou de manejo podem ser aplicadas na melhoria produtiva nos sistemas de produção a pasto, tanto de explorações de corte como de leite (Veit et al., 2018). Para animais familiarizados com a ordenha convencional (manual), em que são ordenhadas na companhia de outras fêmeas do rebanho e na presença direta do ordenhador, a mudança para ordenha mecânica pode causar desconforto (barulho da bomba, colocação das teteiras) e ser estressante. A especulação sobre os efeitos negativos que a ordenha mecânica pode causar sobre o bem-estar da vaca leiteira, eleva as preocupações dos consumidores, podendo reduzir a aceitação pública de produtos lácteos de vacas ordenhadas mecanicamente (Hopster et al., 2002). A ordenha pode ser realizada de forma manual ou mecanizada. A escolha do tipo de ordenha depende de vários fatores, dentre eles: número de vacas em lactação, capacidade de investimento do produtor, disponibilidade de pessoas capacitadas para realizar a ordenha e, por fim, o nível de produção dos animais. A ordenha manual é o sistema mais antigo de ordenha, sendo ainda muito frequente, principalmente em pequenos rebanhos. O investimento em equipamentos é baixo, mas exige maior esforço do ordenhador. A estrutura para realizar a ordenha manual geralmente é bastante simples, podendo ser feita em um piquete, no curral ou em um galpão. Há situações em que os animais ficam soltos, sem nenhum tipo de contenção e, outras, em que ficam presas com correntes ou com canzis. É comum “peiar as vacas” (amarrar as patas traseiras na altura do jarreto) no momento da ordenha manual (Rosa et al., 2009). A desvantagem do sistema é que o ordenhador precisa carregar baldes, o que 15 dificulta e prejudica a rotina de ordenha, fazendo perder a qualidade do leite pelo fato do maior contato com o mesmo. O transporte do leite do latão ou do balde para o tanque refrigerador pode aumentar os riscos de contaminação e aumentar o tempo de ordenha para que se inicie a ordenha do segundo turno (Pinto et al., 2014). Já a ordenha mecanizada possibilita uma maior rapidez na extração do leite e com menor risco de contaminação. A ordenha mecânica ou mecanizada geralmente é feita em um local específico, a sala de ordenha, que pode variar tanto no tipo quanto na dimensão (Rosa et al., 2009). Existem diversos tipos de ordenhas mecanizadas, ordenha com balde- ao-pé (Figura 1), ordenha tipo espinha-de-peixe (Figura 2), ordenha tipo tandem (Figura 3), ordenha tipo lado-a-lado (Figura 4), e a ordenha carrossel (Figura 5). Figura 1. Exemplo de ordenha mecânica balde-ao-pé. Fonte: Rosa, 2009. 16 Figura 2. Exemplo de ordenha mecânica tipo espinha-de-peixe. Fonte: Rosa, 2009. Figura 3. Exemplo de ordenha mecânica tipo tandem. Fonte: Rosa, 2009. 17 Figura 4. Exemplo de ordenha mecânica tipo lado-a-lado. Fonte: Rosa, 2009. Figura 5. Exemplo de ordenha mecânica tipo carrossel em propriedade da Nova Zelândia. Fonte: Gepecorte, 2012. Na sala de ordenha tipo tandem (fila indiana), as vacas ficam dispostas uma à frente da outra, em posição paralela ao fosso. É o único modelo que possibilita a ordenha mecanizada com bezerro ao pé. Nesse tipo de sala de ordenha, as vacas ocupam espaço maior na lateral do fosso, o que torna difícil adotá-lo em rebanhos grandes, pois exige uma sala muito comprida, que dificulta o trabalho do ordenhador. Já o tipo de ordenha 18 carrossel apesar de mais moderno é mais caro para implantar do que os tipos descritos anteriormente. O sistema de ordenha mecanizada tipo carrossel é ainda raro no Brasil, poucas propriedades utilizam esse método em bovinos devido ao seu alto custo, e ainda não foi utilizada em búfalas no nosso país. É recomendado para um plantel acima de 500 animais (Campos, 2007). A mudança de um sistema de ordenha manual para o sistema balde ao pé pode promover vantagens como: ordenha mais rápida, rotina mais consistente, maior rendimento por operador, reduzir a incidência de doenças, facilitar o manejo dos animais, menor custo operacional e, como consequência, pode apresentar melhor qualidade do leite (Nussio, 2005; Laperuta et al., 2009). A bomba ou fonte de vácuo é responsável por extrair continuamente quantidade de ar necessário para manter o vácuo parcial ao nível de 50 Kpa (Quilopascal). Na bomba, há um vacuômetro que indica o nível de vácuo no sistema, devendo ser posicionado de tal modo que permita fácil visualização ao operador (Neiva, 1998). O princípio do equipamento de ordenha difere do princípio da ordenha manual ou de sucção. Durante a ordenha manual, o leite é pressionado para fora, enquanto que na sucção o leite é principalmente pressionado e até certo ponto sugado. Na ordenha com a ordenhadeira mecânica, o leite é sugado para fora por uma diferença de pressão entre a parede interna do úbere e o insuflador (Souza, 2007). A manutenção do nível de vácuo constante é feita pelo regulador de vácuo. Este deve apresentar capacidade de captar qualquer entrada de ar no sistema e agir com rapidez, admitindo a quantidade exata de ar para a continuidade da operação de ordenha. A variação nos níveis de vácuo reduz o desempenho do equipamento alterando as pulsações, provocando na vaca uma sensação de desconforto e comprometendo a saúde do quarto mamário. Se a teta é exposta a uma sucção constante, teremos um acúmulo de sangue. Por isto, a ordenhadeira mecânica é construída de tal forma que a sucção é interrompida por movimentos rítmicos (abertura e fechamento) do insuflador. A consequência disto é que a teta recebe massagem e evita-se a lesão do esfíncter (Souza, 2007). Recomenda-se a colocação da teteira logo após o estímulo (aproximadamente um minuto após o início da preparação das vacas) (Neiva, 1998). 19 Considerações finais A produtividade leiteira de bovinos no Brasil, medida em quilos/vaca/ano, varia consideravelmente com a raça, região fisiográfica e nível de manejo. No 2º trimestre de 2018 foram adquiridos, pelas indústrias processadoras de leite, 5,47 bilhões de litros do produto, indicativo de queda de 3,2% em relação à quantidade adquirida no 2º trimestre de 2017. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, esse volume foi 8,9% menor (IBGE, 2018). Dos genótipos adaptados à produção de leite em grande parte do território brasileiro, a raça Gir, dentre as raças zebuínas, vem apresentando resposta favorável à seleção para produção de leite (Balieiro, 2000). Dentre os fatores que afetam o comportamento dos bovinos, destacam-se a alimentação, o clima e o sistema de produção adotado. Para animais em lactação, o número de ordenhas, a produção e o horário das ordenhas são condições determinantes em seus padrões de comportamento (Grant & Albright, 1995). Situações de estresse são comuns em vacas leiteiras e têm sérios efeitos negativos sobre a sua saúde, produtividade e conforto. O bem-estar dos animais de produção é determinado na prática pelo sistema de criação e manejo que por sua vez é determinado largamente pelos sinais econômicos que os produtores recebem do mercado. As teorias econômicas demonstram que os sinais de mercado tendem a conduzir a padrões de bem-estar abaixo das normas consideradas desejáveis por algumas sociedades (McInerney, 2004). No entanto, para conhecer de maneira científica o grau de bem-estar animal é necessário o desenvolvimento de técnicas de diagnóstico. Nos procedimentos de diagnóstico centrados no animal, os indicadores mais utilizados são as respostas fisiológicas e comportamentais e a sua condição sanitária (Leeb et al. 2004). Em vista dos argumentos apresentados, o bem-estar animal influência nos sistemas produtivos pecuários, existindo a necessidade de avaliação abrangente sobre os pontos críticos na produção de bovinos. O sistema de manejo deve fornecer ao animal condições de conforto, neutralizando as atividades de intenso estresse, favorecendo a sanidade e a produtividade. As questões éticas, as cinco liberdades, e as avaliações multidisciplinares são fundamentais e importantes, devendo ser executadas e conhecidas nas propriedades rurais, para evitar o sofrimento dos animais utilizados para a produção de alimentos. Todas as ferramentas já existentes podem ser combinadas em protocolos que permitam diagnosticar o bem-estar dos animais de maneira prática, eficiente e fidedigna à realidade das diferentes propriedades. 20 Os produtores de leite que adotam sistemas de produção mais sofisticados, do ponto de vista tecnológico, produzem leite a menor custo e dentro dos padrões requeridos pelas agroindústrias, em geral, são devidamente recompensados, tendo em vista a melhor qualidade do leite e a redução de mão de obra. Os produtores de leite que conduzem suas atividades a partir dos padrões tradicionais possuem um rendimento menor, isso porque requer maior mão de obra (Pinto et al., 2014). Levando em consideração esses aspectos, para o produtor de leite, ficam algumas evidências sobre as vantagens que o sistema de ordenha mecânica pode oferecer, além de ser um investimento com retorno satisfatório, especialmente para produtores que prezam pela qualidade do leite. Aliando a qualidade à alta produtividade, a instalação da ordenha mecânica favorece o produtor na economia da contratação de mão de obra, maior facilidade de operação e manejo, e maior qualidade do leite. Referências ALGERS, B. A note on responses of farm animals to ultra sound. Applied Animal Behaviour Science, v.12, p.387-391, 1984. AZEVEDO, M.; PIRES, M. F. A.; STURNINO, H. M.; LANA, A. M. Q.; SAMPAIO I. B.; MONTEIRO J. B. N.; MORATO, L. E. Estimativa de níveis críticos superiores do índice de temperatura e umidade para vacas leiteiras 1/2, 3/4 e 7/8 holandês – Zebu em lactação. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 6, p. 2000-2008, 2005. BACCARI JÚNIOR, F. Manejo ambiental da vaca leiteira em climas quentes. Londrina, UEL, Editora Eduel, 142p., 2001. BALIEIRO, S.; PEREIRA, J. C. C.; VALENTE, J.; VERNEQUE, R. S.; BALIEIRO, J. C. C.; FERREIRA, W. J. 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Araújo, P.M.1; Lopes, F.A. 2 1 Programa de Pós-graduação em Psicobiologia – UFRN 2 Programa de Pós-graduação em Psicobiologia – UFRN RESUMO O gado bovino está presente no Brasil desde os primeiros anos da invasão portuguesa. A pecuária bovina é a principal atividade econômica no país e ocupa grande extensão de terra para a criação do gado. O Brasil possui o segundo maior rebanho bovino do mundo, se destacando no cenário mundial do agronegócio. A lucratividade vem em dois segmentos: cadeia produtiva de carne e cadeia produtiva de leite. No que diz respeito a produção de leite, a raça zebuína Gir destaca-se quanto à rusticidade e produção, sendo capaz de adaptar-se a climas com temperaturas elevadas, como no semi-árido brasileiro, apresentando bons índices produtivos para carne e leite. A criação de búfalos vem crescendo em todo o mundo. A participação dos bubalinos na produção de alimento nas áreas tropicais e subtropicais aumenta consideravelmente e a criação destaca-se por ser uma atividade capaz de incluir pequenos produtores no cenário produtivo, já que estes animais apresentam capacidade de sobreviver em locais inóspitos aos bovinos. Rebanhos bubalinos para produção de carne e leite apresentam índices zootécnicos superiores àqueles normalmente encontrados em rebanhos bovinos com objetivo semelhante. A região Nordeste do Brasil vem sendo destaque nacional quanto à produção de búfalos, o que tem contribuído totalmente ou parcialmente com a renda de muitos produtores. Diante do potencial da bovinocultura e bubalinocultura na economia mundial, objetivou-se, a partir desse trabalho, apresentar alguns aspectos da introdução desses animais no Brasil, especificamente a criação da raça bovina Gir e da raça bubalina Murrah. Palavras-chaves: Bovinocultura, Bubalinocultura, leite, Gir, Murrah. Bovinocultura e pecuária leiteira O gado doméstico descende do auroque na Europa e do gauro na Ásia. Sua domesticação teve início entre 5000 e 6000 anos atrás. Os bovinos domesticados tinham várias utilidades para o ser humano: como animal de carga e a produção de leite em vida 30 e carne/couro após a morte. Era incomum a criação de gado para alimentação, a carne do animal era consumida apenas se ele morresse (Egito, 2007). A espécie bovina foi trazida ao continente Sul Americano no ciclo das Grandes Navegações. O gado Vacum chegou com os exploradores portugueses e holandeses, trazidos em viagens marítimas que partiram da Península Ibérica e da Ilha de Cabo Verde. A maioria era gado europeu (Bos taurus), embora já houvesse mestiços de gado zebu (Bos indicus). No Brasil, a criação de gado foi iniciada tão logo foram implantados os primeiros engenhos de açúcar, na primeira metade do século XVI. Serviam para abastecer de leite e carne as pessoas que se estabeleciam na área de influência de cada engenho. Uma vez que as áreas de pastagem para o gado concorriam com as de plantações de cana, os criadores foram cada vez mais se dirigindo para o interior. Ao longo do caminho foram sendo estabelecidas pequenas povoações que posteriormente se transformaram em vilas e cidades (Abrantes et al., 2016). A pecuária leiteira permaneceu insignificante por mais de três séculos, mas, a partir da década de 1870, com a decadência do café, o cenário político brasileiro favoreceu a vocação agrária e permitiu a modernização das fazendas, momento propício para desenvolver a pecuária. Na pecuária bovina, os animais de origem europeia, como o Caracu e o Holandês, eram predominantes e ofereciam certas limitações com relação à adaptação ao clima tropical do País. Porém, foi em 1888, com a abolição da escravidão, que a pecuária se expandiu do Sul ao Nordeste nos arredores dos grandes centros consumidores. Contudo, até a década de 1950 a atividade caminhou morosamente, sem grandes evoluções tecnológicas (Vilela et al., 2017). Nos anos 80 sustentou-se o processo de modernização na agropecuária, aprofundando sua integração com os capitais industriais, comerciais e financeiros. Surge, então, uma divisão de elite, um efetivo de poucos grandes produtores, que alcançaram padrões internacionais de produtividade e qualidade. Marcando a exclusão de uma quantidade ainda maior de pequenos agricultores da pecuária leiteira (Furtado, 2002). Hoje em dia os bovinos são os principais destaques na indústria de produção de carne e leite. Assim, os criadores de gado bovino viram-se obrigados a procurar outras áreas e iniciaram um movimento de migração para o interior do país, inicialmente no sertão nordestino. É nesta região, segundo Prado Júnior (1987), que se desenvolveu a pecuária que abasteceu os núcleos povoados do litoral norte, do Maranhão até a Bahia. As características edafoclimáticas desfavoráveis para a atividade pecuária encontradas no 31 sertão nordestino acarretaram num baixo índice de produtividade. Apesar disso, as fazendas de gado bovino se multiplicaram rapidamente, estendendo-se de forma esparsa por grandes áreas, sendo Bahia e Pernambuco os seus centros de irradiação. O Brasil é hoje considerado o Celeiro do Mundo e em mais de uma década alcançou muitos avanços na produção agropecuária, que hoje servem de exemplo aos países ditos desenvolvidos (Abrantes et al., 2016). Atualmente, possui cerca de 217 milhões de cabeças de gado bovino (distribuídos em aptidão para carne, para leite e dupla aptidão), possuindo sua maior concentração na região centro oeste do país (IBGE, 2016). Em nosso país, o leite é um dos seis produtos mais importantes da agropecuária brasileira, sendo essencial no suprimento de alimentos e na geração de emprego e renda para a população (Embrapa, 2016). Corrêa et al. (2010) e Souza et al. (2009) afirmam que desde o início da década de 90, a atividade leiteira tem passado por grandes transformações no nosso país, buscando tornar-se competitivo e inovador no mercado global, focando na produção em escala com qualidade, agregação de valor e industrialização de produtos diferenciados. Como característica peculiar, a produção leiteira nacional conta com grande diversidade estrutural. Essa diferença demonstra-se tanto nos sistemas de produção quanto à aspectos ligadosa alimentação do rebanho e qualidade do leite (Souza et al., 2009; Corrêa et al., 2010). A elevada diversidade socioeconômica, cultural e climática que caracteriza os sistemas de produção gera a necessidade de estudos regionais sobre a produção leiteira, colaborando com isso o fato de que a pecuária desse segmento se evidencia em mais de 80% dos municípios brasileiros. Assim, novos estudos sobre este setor são necessários para se obter uma caracterização da produção leiteira no Brasil e suas particularidades (Jung & Junior, 2016). O desempenho produtivo e reprodutivo de vacas leiteiras, criadas em países de clima tropical e subtropical, como o Brasil, ainda é baixo, principalmente quando comparado aos países de clima temperado, como os Estados Unidos, Holanda e Canadá. Muitas vezes esses baixos valores são causados pela falta de conhecimento dos produtores rurais e de alguns técnicos quanto à exigência nutricional, sanitária, climática, entre outras, dos animais, tornando-se comum encontrar vacas leiteiras com alto potencial produtivo, porém, produzindo aquém de sua capacidade (Ferro, 2011). De acordo com Keffer (2000), as principais raças de bovinos criadas no Brasil são a subespécie Bos taurus taurus e as raças oriundas da subespécie Bos taurus indicus. Segundo o autor acima citado, existem também as raças "sintéticas" brasileiras, frutos de 32 cruzamentos entre as demais raças cujo objetivo, é usufruir da heterose, em que o ganho genético decorrente da combinação de características extremas entre as raças, bem como da complementaridade das características produtivas levam ao ganho em qualidade. A bovinocultura brasileira é desenvolvida em todos os Estados e ecossistemas do país, apresenta uma ampla gama de sistemas de produção, variando desde uma pecuária extensiva, suportada por pastagens nativas e cultivadas de baixa produtividade e pouco uso de insumos, até uma pecuária dita intensiva, com pastagens de alta produtividade, suplementação alimentar em pasto e confinamento (Cezar et al., 2005). A raça bovina Gir Dentre as várias opções de raças e cruzamentos para a produção de leite estão os zebuínos leiteiros e seus cruzamentos com raças europeias, com destaque para a raça Gir e suas cruzas, que são predominantes nos rebanhos leiteiros brasileiros (Madalena et al., 2012). Isto se deve, provavelmente, a boa capacidade de adaptação ao ambiente tropical e bom potencial para a produção de leite. Entretanto, há a expectativa de que a ordenha de vacas zebuínas e cruzadas seja mais difícil de ser realizada, se comparada à de vacas de raças europeias especializadas, particularmente quando se utiliza a ordenha mecanizada exclusiva, sem bezerro ao pé (Paranhos da Costa et al., 2016). A história do Gir no Brasil teve início no século passado, via importação direta da Índia, no ano de 1911. Embora o maior interesse pela raça tenha surgido após o auge da formação do Indubrasil, em que essa raça Zebu brasileira é composta por três graus de sangue: Nelore, Guzerá e Gir. A difusão da raça Gir em território nacional foi muito rápida. A partir do Triângulo Mineiro, o Gir alcançou o Brasil Central e regiões do Nordeste, decorrente de características intrínsecas de rusticidade que se adaptaram às condições de criação do país (Vita, 2005). A pecuária leiteira no Brasil é caracterizada pelo uso de sistemas extensivos ou semi-intensivos de produção, com predomínio da criação de animais de origem zebuína, principalmente da raça Gir e suas cruzas. Se, por um lado, a genética zebuína confere vantagens quanto à adaptação ao clima tropical em função da maior tolerância ao calor, resistência a ectoparasitas e maior capacidade de digerir forragens com alto teor de fibra, por outro, a maturidade sexual mais tardia, maior dificuldade de ordenha e pior temperamento são alguns dos aspectos a ser trabalhados nas raças Zebuínas Leiteiras. (Paranhos da Costa et al., 2016). 33 Na década de 1930, quando a raça Gir teve grande valorização, parte dos criadores iniciaram o trabalho de seleção de animais para aptidão leiteira. Essa vertente ganhou apoio oficial de setores da pesquisa, como a Fazenda Experimental de Umbuzeiro, na Paraíba, e a Fazenda Experimental Getúlio Vargas/EPAMIG, em Uberaba. Era o embrião do Gir leiteiro, perpetuado por criadores em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro a partir do gado originalmente importado da Índia em 1906, 1919, 1930, 1960 e 1962 (Teixeira, 2008). O primeiro relato sobre uma prova de avaliação da produção de leite aconteceu em 1921, na Fazenda Regional de Criação de João Pessoa, em Umbuzeiro (PB). A estação foi a pioneira na seleção do Gir com aptidão leiteira, tendo iniciado seus trabalhos de controle leiteiro em 1938 (Vita, 2005). A raça Gir linhagem leiteira, apresenta produção de leite em média 3.233 kg/305 dias de lactação. Os animais de boa genética chegam a 15 litros/dia. Com a vantagem, de que o leite da vaca Gir provoca menos alergia, pois tem uma prevalência no seu leite de uma proteína chamada beta caseína A2, uma fração da beta caseína, que é menos alergênica ao consumo humano, para aquelas pessoas que possuem alergia ao leite (Embrapa, 2017). Nas análises dos índices zootécnicos a idade ao primeiro parto está em torno dos 40 meses; já para fazendas com um bom manejo nutricional esta idade ao primeiro parto cai para 31 meses. Outra característica importante da raça é a longevidade, sendo comum animais com 10 crias em atividade produtiva. A raça Gir, assim como as demais raças zebuínas, tolera temperaturas mais altas (33ºC), podendo ser manejadas em regiões que apresentam estas temperaturas sem grande comprometimento da produção leiteira (Fernandes et al., 2005; Vita, 2005). Bubalinocultutra A domesticação do búfalo (Bubalus bubalis) se deu entre 2500 e 1400 a.C., particularmente na Índia e na China. Foi levado para África, e posteriormente introduzido na Europa e continente americano. Isso remonta a uma longa história de relação com o humano. Desde então, a criação de bubalinos espalhou-se pelo mundo, gerando fontes de alimentação de alto valor biológico, como leite e carne, e força de trabalho, principalmente para populações de países pobres e em desenvolvimento (Cockrill, 1984; Russo, 1986; Marques & Cardoso, 1997; Oliveira, 2002). A espécie Bubalus bubalis, o búfalo doméstico, apresenta características como rusticidade, prolificidade, adaptabilidade, vida produtiva (até 15 anos), precocidade, alta taxa de produtividade de carne e leite, trabalho, taxas de natalidade superiores a 80% e de 34 mortalidade inferiores a 3% ao ano, destacando-se como uma das mais importantes na produção animal. Adapta-se em todas as latitudes e longitudes, nas mais variadas condições climáticas, do frio da Europa Oriental aos desertos da África, nos trópicos, como a Amazônia e sertões nordestinos, em diferentes altitudes, desde planícies às áreas montanhosas que, normalmente são inadequadas para a criação de bovinos e outros ruminantes (Russo, 1986; Marques & Cardoso, 1997). O gênero bubalino é considerado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação (FAO) como o animal doméstico de produção mais dócil do planeta quando domesticados (Silva, 2002; FAO, 2014). Estes animais são versáteis sob condições de pastejo extensivo e por terem essa característica de serem criados nas mais diversas condições climáticas, muitas vezes, apresentam-se como uma alternativa para o aproveitamento de áreas de produção, às quais os bovinos não se adaptam. A preferência por regiões alagadas ou áreas pantanosas é bastante peculiar para a espécie; isto ocorre porque os búfalos possuem um menor número de glândulas sudoríparas em relação aos bovinos e sua pele escura apresenta uma espessa camada de epiderme, fazendo com que eles sejam menos eficientes na termorregulação corpórea. Assim, eles procurama água para se refrescarem e para se protegerem do ataque de insetos e parasitos, motivo pelo qual, o Bubalus bubalis também é chamado de búfalo aquático (Damascena, 2010). O gênero Bubalus está dividido em dois grandes grupos: os Bubalus bubalis bubalis, com número de cromossomos igual a 2n = 50, conhecidos como búfalos de rio (river buffalos) e Bubalus bubalis kerebau, com número de cromossomos igual a 2n = 48, sendo estes conhecidos como búfalos do pântano (swamp buffalos) (Carroll, 1988). Segundo Guimarães et al. (2001), os bubalinos apresentam a zona de termoneutralidade até temperatura de 34,5ºC e com base nas condições experimentais os bubalinos submetidos à temperatura ambiente de 36ºC entraram em estresse calórico mesmo utilizando com eficiência o seu sistema termorregulador, a fim de manter o equilíbrio térmico. Os primeiros búfalos chegaram no Brasil a partir do século XIX, contendo lotes com poucos animais advindos da Europa (Itália), Ásia e Caribe com o objetivo de exposição por serem animais exóticos. Inicialmente, foram introduzidos na ilha de Marajó, no Pará, porém sua importância como produtor de carne e leite no país é fenômeno recente. Segundo estimativas, o rebanho brasileiro é o maior rebanho bubalino das Américas (ABCB, 2010). Além da grande adaptabilidade a praticamente qualquer tipo de clima, o búfalo possui uma alta fertilidade e consegue manter a vida reprodutiva por muito tempo 35 (Bernardes, 2007). No Brasil, são reconhecidas quatro raças pela Associação Brasileira de Criadores de Búfalos: o Mediterrâneo, Murrah, Jafarabadi e raça Carabao. A criação de búfalos no Brasil visa, além da produção de carne, a produção de leite que apresenta maior valor nutritivo, altos níveis de gordura, proteínas e minerais (em especial o cálcio) quando comparado ao leite de vaca. O leite é consumido in natura ou no mercado de derivados (Rocha, 2007; Revista Rural, 2008). Atualmente o Brasil possui cerca de 1,37 milhões de cabeças, representando o maior rebanho bubalino entre os países ocidentais. A Região Norte concentra 66,2% da criação de búfalos nacional, enquanto o restante do efetivo está distribuído entre as Regiões Sudeste (12,7%), Nordeste (9,5%), Sul (7,4%) e Centro-Oeste (4,4%). Na região nordeste do país, o destaque está no do Maranhão (IBGE, 2017). Apesar da região Norte ser a maior produtora de búfalos do Brasil, a sua produção é voltada para o mercado de produção de carne, diferente da região Sudeste e Nordeste, que privilegia a produção de leite (Dadario et al., 2018). O aumento da população bubalina no Brasil está diretamente relacionado a algumas peculiaridades do leite destes indivíduos em relação ao das demais espécies domésticas. Os búfalos são economicamente superiores aos zebuínos, pois cada litro de leite produzido apresenta um custo reduzido, quando comparado ao dos bovinos, devido ao fato de serem bastante rústicos (Verruma-Bernardi, 2006). O leite bubalino possui uma composição diferenciada em relação ao leite bovino, e proporciona uma produção de derivados com alto valor comercial (Bernardes, 2007). Tem excelentes qualidades físicoquímicas devido à alta concentração de seus componentes (Rosati & Van Vleck, 2002; Aspilcueta-Borquis et al., 2010; Tonhati et al., 2011). O leite bubalino possui elevada concentração de sólidos totais, gordura, proteína, cálcio e fósforo, que aumentam o rendimento na elaboração de queijos, produtos fermentados, leite em pó, manteiga, doce de leite e sorvete (FAO, 1991). As propriedades físico-químicas e microbiológicas do leite de búfala possuem uma superioridade nutricional do mesmo em relação ao leite bovino, independentemente do fator ambiental envolvido. Tanto o leite quanto a carne bubalina possuem em sua composição química, percentuais de nutrientes que atendem as exigências estabelecidas para o consumo humano (Malhado et al., 2008). Huhn (1986) afirmou que o leite de búfala possui 33% menos colesterol, 48% a mais de proteína, 59% de cálcio e 47% de fósforo do que o leite bovino. Sousa (2002) relata ainda que o rendimento industrial do leite bubalino é 40% superior ao leite bovino, sendo de extrema importância no total aproveitamento da fabricação de derivados lácteos. Lira et al., 36 (2009), revelaram que o soro de leite de búfala apresentou teores médios de proteína, gordura e lactose acima das médias encontradas no soro de leite de vaca. Enquanto 3 litros de leite de búfala são suficientes para produzir 1 quilo de queijo frescal (tipo fresco, o conhecido queijo de Minas), se for utilizado o leite bovino são necessários pelo menos 6 litros. Esta é uma razão que resulta em maior estabilidade para o setor (Brito, 2010). Os bubalinos exibem produtividade leiteira economicamente superior aos zebuínos. Isto é, cada litro de leite é produzido a menor custo, não só por apresentar frequentemente maior produção por animal, maior número de fêmeas em lactação por ano, mas também evidenciar, sobretudo, rusticidade extraordinária, aproveitando melhor forragem de qualidade inferior e resistindo às mais adversas condições climáticas, com marcante resistência às doenças (Nascimento & Carvalho, 1993), além de vantagens relacionadas a longa vida produtiva e reprodutiva dentro do rebanho (Malhado et al., 2008). Principalmente a partir dos anos 90, observou-se uma significativa expansão de unidades industriais dedicadas à produção de derivados de leite de búfalas que, pelo maior rendimento industrial e produção de produtos de maior valor agregado lhes tem permitido remunerar a matéria prima a preços cerca de duas vezes maiores que aqueles pagos ao leite bovino e, diversamente deste, de uma forma geralmente uniforme durante o ano, estimulando de forma pronunciada a expansão de propriedades dedicadas à sua exploração, particularmente no Sudeste do país e/ou junto aos maiores centros consumidores (Bernardes, 2007). A raça bubalina Murrah A raça bubalina Murrah é originária do Noroeste da Índia, difundindo-se no Norte do país e no Paquistão. A raça é considerada a melhor produtora de leite dentre as raças bubalinas (Andrade & Garcia, 2005). Os bubalinos da raça Murrah podem ser criados nas mais diversas condições climáticas. Assim, eles procuram a água para se refrescarem e para se protegerem do ataque de insetos e parasitos. A pelagem tem forte correlação entre a cor dos pêlos e da pele em todo o corpo, sendo pretos os pelos e a pele. A coloração preta estende-se também aos chifres, cascos, espelho nasal e mucosas aparentes. A vassoura da cauda é branca, preta ou, ainda, mesclada. A raça Murrah, nos rebanhos mais fechados, apresenta-se com a morfologia corporal “melhor acabada” em conformação com pouca variabilidade de forma (ABCB, 2014). 37 Do ponto de vista reprodutivo os búfalos Murrah se assemelham aos bovinos, entretanto apresentam características inerentes à espécie, como por exemplo algumas particularidades do ciclo estral da búfala e a possibilidade de sazonalidade reprodutiva, variável de acordo com a região. Possuem temperamento bastante dócil, o que facilita sua criação e manejo, e são muito rústicos, adaptando-se bem às mais variadas condições ambientais (ABCB, 2010). No Brasil a raça Murrah tem uma distribuição uniforme por diversas regiões, principalmente nos sistemas de criação mais intensivos ou controlados, adaptados ao hábito mais calmo desses animais. O nome Murrah vem do Hindu e significa caracol, sendo este termo referente ao formato espiralado dos chifres nesta raça (Mano Filho, 1985). Esta raça foi padronizada no Brasil pela ABCB sendo descritos da seguinte forma: cabeça na posição fronto-nasal, com perfil craniano retilíneo ou levemente sub-convexo e chanfro de retilíneo a sub-côncavo. O peso médio dos machos é de 450 a 900 kg e as fêmeas na faixa de 350 até 700 kg (ABCB, 2014). Os primeiros rebanhos bubalinosdessa raça no Brasil tiveram uma base genética bastante estreita, o que é demonstrado pelas poucas importações realizadas; contudo, em muitos casos, foi ampliada pela introdução de genes da raça Mediterrâneo, que confere uma variabilidade que muitas vezes é observada na conformação corporal desses animais, caracterizando-se como uma variedade distinta. Quando fechado, o conjunto gênico Murrah apresenta muitos problemas congênitos tais como: atresias, paralizações, espasmos, dentre outros, resultado da endogamia, sendo reflexo direto da pouca variabilidade existente na base genética do rebanho Murrah brasileiro (Costa, 2015). Algumas novas introduções, denominadas de “nova opção”, aumentaram esta base e, consequentemente, a variabilidade da raça. No entanto, não se conhece a procedência desses germoplasma, dificultando uma análise mais profunda e concreta das gerações futuras (ABCB, 2014). Apesar da raça Murrah ser criada sem problemas em sistemas extensivos e de conviver tranquilamente em ambientes naturais, esta é mais adaptada aos sistemas com maior controle de pastagens cultivadas em terra firme e de boa qualidade, para maior aproveitamento de sua aptidão leiteira. Tal fato é facilitado pelo temperamento dócil dos animais (Lourenço, 2000). A região Nordeste do Brasil compreende nove estados ocupando uma área de aproximadamente 1,64 milhões de km², correspondendo a aproximadamente 20% do território nacional. Essa região vem sendo destaque nacional quanto à produção de búfalos, o que tem contribuído com a renda de muitos produtores (Almeida et al., 2013). 38 Em conseguinte, a região Nordeste apresentou crescimento de 28,9%, constituindo o segundo maior crescimento, sendo a terceira região com maior número desses animais. O crescimento da bubalinocultura no Nordeste pode ser explicado pelo avanço do conhecimento por parte dos pecuaristas, que estão reconhecendo que os búfalos são animais que apresentam alta rusticidade, resistência a doenças e adaptabilidade a solos e climas nordestinos (Silva et al., 2012). Como já mencionado, o Maranhão é disparadamente o estado com maior efetivo de búfalos da região Nordeste, contudo, a bubalinocultura na Bahia e Pernambuco também é significativa. No início dos anos 2000, os bubalinos ganharam espaço no estado do Rio Grande do Norte. A Fazenda Tapuio, localizada no município de Taipu, abriu as portas para a criação da espécie. Buscando melhorar a rentabilidade da pecuária, foi introduzida a bubalinocultura leiteira em plena região semiárida do estado do Rio Grande do Norte. Hoje em dia, a Fazenda Tapuio apresenta um lote com mais de 1300 animais e é a única autorizada no Brasil a exportar derivados do leite de búfala. Considerações finais Atualmente, o Gir leiteiro é a segunda raça em controle leiteiro oficial no Brasil (4000 vacas controladas por ano), sendo a primeira raça zebu explorada no Brasil com touros aprovados em teste de progênie. A raça Gir leiteiro se consolidou como raça adaptada às condições do Brasil tropical, com bons resultados produtivos, sendo realizados cruzamentos principalmente com bovinos da raça Holandesa. Esta ampla utilização da raça Gir tem levado a intensos trabalhos genéticos (melhoramento e clonagem), tanto em relação ao meio científico como em relação ao mercado de leite (Teixeira, 2008). Pela observação dos aspectos analisados, a raça Gir apresenta dupla aptidão e boa adaptabilidade ao clima do Nordeste brasileiro. A bubalinocultura é uma forma viável de produção, gerando renda e promovendo produtos de qualidade. Entretanto, para que seja rentável, o conhecimento das exigências nutricionais, comportamentais e de manejo devem ser exploradas. O Brasil se encontra em posição bastante privilegiada com relação à bubalinocultura, uma vez que dispõe de bons exemplares para produtividade leiteira e no segmento de corte, bem como dispõe de animais com performances bem mais expressivas que as existentes nos países de origem onde a atividade é relativamente pouco explorada. Zootecnicamente os bubalinos já demonstraram que tem espaço garantido como opção pecuária relevante. No que se refere a seus produtos (carne, leite e derivados), não 39 resta dúvidas sobre sua excelente qualidade, propriedades sensoriais, nutricionais e mesmo funcionais (Bernardes 2007). Referências ABCB. Associação Brasileira dos Criadores de Búfalo, http://www.bufalo.com.br/abcd, 2010. ABCB. Associação Brasileira dos Criadores de Búfalo, http://www.bufalo.com.br/abcd 2014. ABRANTES, R. S. X.; SOUZA, K. A.; SANTOS, C. L. A.; SOARES, D. M. A.; SANTOS, V. C.; LOIOLA, M. V. C.; LIMA, P. M. F.; SANTOS, E. L. A. 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Objetivos específicos - Verificar a relação entre a expressão comportamental e as características produtivas, contagem de células somáticas, incidência de mastite e características nutricionais do leite - Identificar as características produtivas e nutricionais do leite; - Identificar eventuais modificações comportamentais associadas ao tipo de ordenha (manual e mecânica); 46 HIPÓTESES E PREDIÇÕES Levantamos algumas hipóteses quanto às relações entre a expressão comportamental e o desempenho produtivos dos animais: H1 – A implantação de um tipo de ordenha diferente aos que os animais estão condicionados interfere na produção do leite. (Artigos empíricos 1 e 2) P1: Haverá redução na produção do leite no novo sistema de ordenha implantado, tanto para vacas quanto para búfalas, quando comparado ao sistema de ordenha anterior; Justificativa: O desconforto causa estresse aos animais e, nas vacas e búfalas, por pressões ambientais ou por características individuais, provoca diminuição na produção de leite. Em estudo de Hemsworth et al., (2002), um aumento significativo na produção de leite foi verificado em vacas que receberam uma intervenção no tratamento, através de melhorias nas atitudes e comportamento dos tratadores para com os animais. Resultados similares foram observados na proteína e gordura do leite. H2 - O nível de bem-estar animal pode ser avaliado por meio de indicadores comportamentais e indicadores fisiológicos. (Artigos empíricos 1 e 2) P2: Vacas e búfalas sob estresse crônico apresentam aumento na frequência de suas respostas fisiológicas de micção e defecação, também se mostram mais agitadas com movimentação da cauda, cabeça, patas e abertura das narinas. Justificativa: De acordo com outros estudos, foi observada alteração nos parâmetros anteriormente descritos. Rosa (2004) observou que a frequência de 47 micção na sala de ordenha foi maior quando os comportamentos positivos do tratador exerciam maior influência no comportamento da vaca (interação aconselhável) do que quando os comportamentos negativos do tratador exerciam maior influência no comportamento da vaca (interação desaconselhável). Ou seja, as vacas urinaram mais quando estavam sobre uma situação de manejo positivo, demonstrando complexidade nas respostas dos animais. Também Cavallina et al. (2008) demonstraram que em búfalas da raça Murrah, submetidas a ordenha mecânica os comportamentos indicadores de estresse, como coices, defecação, micção e derrubadas de teteira foram mais frequentes em fêmeas primíparas (ou seja, que não estavam adaptada à condição de ordenha). H3 – Os valores nutritivos do leite sofrem influência da fase de estresse dos animais. (Artigos empíricos 1 e 2) P3: Haverá redução da qualidade do leite no novo sistema de ordenha implantado, tanto para vacas quanto para búfalas, quando comparado ao sistema de ordenha anterior. Justificativa: Animais que permanecem calmos e tranquilos se alimentam melhor, por isso apresentamíndices mais favoráveis na bioquímica do leite (proteína, contagem de células somáticas, gordura, sólidos totais). 48 MÉTODO GERAL Aspectos éticos Os requerimentos éticos para a realização dos estudos empíricos foram atendidos para ambos os experimentos. No entanto, é importante salientar que para realização do Experimento 1 (bovino), quando a coleta de dados foi realizada não havia a exigência de aprovação específica de um comitê de ética para uso de animais em pesquisa. Ressaltamos que seguimos, neste caso as orientações previstas na “Diretriz brasileira para o cuidado e a utilização de animais para fins científicos e didáticos” (DBCA, 2013), exemplificadas no item 6.1.10 da seção VI. Responsabilidades dos pesquisadores e professores, bem como item 7.5.3.2. que versa que os procedimentos rotineiros em animais de produção para fins de pesquisa ou ensino devem seguir as boas práticas de manejo. Atestamos que não houve nenhum tipo de procedimento invasivo para com os animais utilizados e foi respeitada a rotina de manejo da EMPARN (descrita posteriormente). Para realização do Experimento 2 (bubalino), a coleta foi realizada após a aprovação do protocolo ético para uso de animais em pesquisa. No Anexo 1 segue o protocolo preenchido. O número do protocolo é 005/2018 e o certificado de aprovação nº 076.005/2018. EXPERIMENTO 1 – Bovino Local e Período do Experimento Os dados coletados para a execução do trabalho foram provenientes da Fazenda Felipe Camarão, localizada no município de São Gonçalo do Amarante (RN). O município situa-se na mesorregião Leste Potiguar e na microrregião Macaíba, limitando-se com os municípios de Ceará-Mirim, Extremoz, Natal, Macaíba e Ielmo Marinho, abrangendo uma área de 261 km². A região apresenta clima tropical chuvoso com verão seco. A sede do município tem uma altitude média de 15 m e apresenta coordenadas 05°47’34,8” de latitude sul e 35°19’44,4” de longitude oeste, distando da capital cerca de 16 km, sendo seu acesso, a partir de Natal, efetuado através da rodovia pavimentada RN-160 (Figura 6). A fazenda 49 pertence à EMPARN (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte), e recebeu o nome de Fazenda RockFeller. Figura 6. Mapa de acesso rodoviária Natal – São Gonçalo do Amarante. O período experimental para coleta de dados comportamentais dos animais na ordenha manual iniciou dia 16 de abril de 2013 e finalizou dia 30 de abril de 2014. A coleta de dados na ordenha mecânica tipo tandem iniciou dia 25 de junho de 2013 e finalizou dia 16 de maio de 2014. Os dados foram coletados pelo mesmo observador. A variação e duração prolongada durante o período de coletas se deu pelo fato de os animais saírem constantemente para exposições agropecuárias e devido a troca de funcionários da propriedade, o que impossibilitou que o observador pudesse coletar de forma continuada. Animais Foram utilizadas 20 vacas da raça Gir, com idade até 16 anos, que passaram pela ordenha manual e posteriormente pela ordenha mecânica tipo tandem. Os animais encontravam-se saudáveis e em diferentes estágios de lactação (Figura 7). 50 Figura 7. Exemplar bovino da raça Gir. Identificação dos animais As vacas foram encaminhadas ao brete e, após serem contidas, realizamos a marcação através de numeração partindo no número 0 (zero). Os animais foram marcados na região do tórax e na garupa (Figura 8). Foi utilizada tinta atóxica a base d’água (Figura 9). Não foi feita diluição da tinta e, para melhorar a fixação, adicionamos 30 ml de óleo de milho à tinta; a mesma foi aplicada com uso de pincéis. Figura 8. Marcação dos animais no tronco de contensão. 51 Sistema de produção e manejo da fazenda O sistema adotado para produção de leite é o extensivo, no qual as matrizes são soltas a campo, recebendo suplementação apenas na hora da ordenha. A pastagem é nativa, como mostra a Figura 9. São destinados 150ha para área de pastejo. O sal mineral e a água são ofertados ad libitum. Figura 9. Pastagem nativa da Fazenda Rockfeller. 52 Procedimentos de ordenha Ordenha Manual Durante o período de ordenha manual, as vacas foram ordenhadas às 4:30h e às 15h, o manejo de ordenha seguiu a sequência: entrada dos animais na sala de ordenha, lavagem dos tetos com água, secagem dos tetos com papel toalha e início da ordenha manual. O bezerro foi levado para junto da mãe a fim de estimular a descida do leite na vaca. Ao fim da ordenha, foi realizado a imersão dos tetos em solução iodada, esse processo de desinfecção chama-se pós-dipping. Na fazenda não se usa o manejo de pré-dipping (imersão direta de todos os tetos em solução clorada 750 ppm, deixar agir por 30 segundos e secar com papel toalha) na ordenha manual. Antes do início da ordenha os animais permaneceram em uma área de espera sombreada, com ventilação natural com acesso à água. Foi ofertado concentrado aos animais durante o período da ordenha manual. Ordenha Mecânica O tipo de ordenha mecânica utilizada na fazenda é o tandem. No período de ordenha mecânica, as vacas foram ordenhadas às 6:00h da manhã e às 16:30h da tarde, o manejo de ordenha seguiu a sequência: entrada dos animais na sala de ordenha, lavagem dos tetos com água, pré-dipping, secagem dos tetos com papel toalha e acoplamento das teteiras, retirada do conjunto, pós-dipping e saída dos animais. Só foi ofertado concentrado aos animais quando os mesmos estavam na sala de ordenha mecânica. A sala de ordenha mecânica é representada na Figura 10. 53 Figura 10. Sala de ordenha mecânica tipo tandem. Produção diária de leite A produção de leite foi medida mensalmente e individualmente nas ordenhas da manhã e tarde através de medidor graduado acoplado em cada unidade de ordenha e obedecendo à rotina da propriedade. O leite foi coletado de todos os animais que não se encontravam em período colostral, em fase de secagem, e aqueles em tratamento contra alguma enfermidade. A ordenha foi realizada manualmente até que houvesse a instalação da sala de ordenha mecânica tipo tandem, o leite foi colocado em baldes, e com o auxílio de conchas plásticas desinfetadas com álcool 70%, foram retiradas amostras de aproximadamente 25 ml de leite, na ordenha da tarde, e colocadas em frascos estéreis de 70 ml, contendo o conservante (2-bromo-2-nitropropano-1,3-diol). Os frascos foram identificados com o nome do animal e mantidos em refrigeração, até a segunda coleta do leite, realizada pela manhã, em que foram coletados mais 25 ml de leite, e posteriormente misturados a terceira coleta de leite da ordenha da tarde, em que foram coletados 20 ml de leite formando um conteúdo homogêneo de 70 ml. As amostras foram colocadas em caixas isotérmicas contendo gelo, e enviadas para análise, no prazo máximo de 72h, para Laboratório de Qualidade do Leite, da EMBRAPA, em Juiz de Fora/MG, onde foram realizadas as seguintes análises: determinação dos teores de proteína, lactose, gordura, 54 extrato seco, extrato seco desengordurado e contagem de células somáticas (CCS). A CCS expressa a situação da saúde do animal, a CBT reflete a situação das condições sanitárias das instalações, como também a higiene (pessoal e coletiva) e manutenção da mesma por parte dos funcionários. Observação da resposta comportamental no ambiente de ordenha Manual - As observações comportamentais no ambiente de ordenha manual foram realizadas três vezes na semana pelo mesmo observador, durante seis meses consecutivos após o parto através de planilha de observações previamente elaboradas (Anexo 2). As vacas estavam em diferentes estágios de lactação, havendo primíparas e multíparas. Foram ordenhadas duas vacas por vez, por dois ordenadores. O método de observação comportamental foi o focal (que ocorreu simultaneamente para os ordenhadores).A duração da ordenha foi em média de 7 minutos por animal. O procedimento de ordenha foi dividido em pré-ordenha (que compreendeu a entrada dos animais e limpeza dos tetos), ordenha manual até que o fluxo de leite cesse, e pós-ordenha (pós- dipping até a saída dos animais). Para as etapas durante a ordenha manual, usamos as respostas comportamentais descritas na Tabela 1. 55 Tabela 1. Descrição dos eventos comportamentais no ambiente de ordenha manual e mecânica. Escore Descrição dos eventos 01-Dócil Apoja rápido, calma, rumina, movimenta-se pouco, não dá coice 02-Levemente agitado Comportamento vigilante: parado olhar fixo, movimenta orelha em direção ao ruído/movimento de pessoas 03-Agitado Movimentação da cauda, patas e abertura das narinas durante manipulação, observação e ordenha. Urina e defeca 04-Muito agitado Resiste ao toque, urina e defeca, entra na sala de espera após ser forçada, não permanece muito tempo na mesma posição, movendo-se continuamente, movimenta a cauda, sapateia durante manipulação e observação; movimentos respiratórios marcantes (tórax e narinas) 05-Violento Comportamento do Escore 04, mais reação de violência ao toque (cabeçada, coice, mordida, vocalização) Mecânica - As observações comportamentais no ambiente de ordenha mecânica foram realizadas três vezes na semana pelo mesmo observador, durante seis meses consecutivos após o parto através de planilha de observações previamente elaborada (Anexo 2). Algumas vacas do lote participaram apenas da ordenha mecânica, devido serem inseridas ao lote no período de funcionamento da sala de ordenha mecânica. Foram ordenhadas quatro vacas por vez, o método de observação comportamental foi o focal (com simultaneidade para os quatro animais). A duração da ordenha foi em média de 4 minutos por animal. O procedimento de ordenha foi dividido em pré-ordenha (que compreendeu a entrada dos animais, limpeza dos tetos e pré- dipping), ordenha mecânica até que o fluxo de leite cesse, e pós-ordenha (desde a retirada das teteiras, pós-dipping até a saída dos animais). Para as etapas durante a ordenha mecânica, usamos as respostas comportamentais descritas na Tabela 1. Período de adaptação dos animais à sala de ordenha mecânica As vacas que estavam em lactação foram conduzidas para a sala de espera, no período 56 da tarde, e permaneceram por 20 minutos no local. A sala de espera caracteriza-se como um espaço a céu aberto que antecede o galpão da ordenha mecânica. Nesse espaço, as vacas ficaram sem acesso a água e comida. Para adaptação à sala de ordenha mecânica, após a permanência na sala de espera, na primeira semana os animais passaram pela sala de ordenha sem parar ou permanecer nela; na segunda semana as vacas foram contidas na sala de ordenha; e na terceira semana elas foram peadas e suas tetas manipuladas e em seguida conduzidas para a ordenha no galpão de arroçoamento. Análise dos dados Inicialmente, com base nos registros das categorias comportamentais apresentados na Tabela 1, foi definido o escore de temperamento/reatividade (ET) por animal para cada um dos tipos de ordenha (manual e mecânica), sendo a vaca classificada como dócil, levemente agitada, agitada, muito agitada, violenta. Em seguida, os dados foram caracterizados quanto à normalidade (teste de Shapiro Wilk), e para a comparação do ET dos animais utilizamos o teste de Mann-Whitney. No que se refere à produção, para identificar a influência do tipo de ordenha (manual e mecânica tipo tandem), através de cálculos no programa R, criamos um vetor de médias englobando a respectiva média de cada vaca em um tipo de ordenha. Assim, foram criados dois vetores, um vetor com as médias das 20 vacas na ordenha mecânica e outro vetor com as médias das 20 vacas na ordenha manual e, posteriormente realizamos um Teste t pareado. A partir da noção dessa variação individual, calculamos os desvios-padrão de cada vaca em cada ordenha e depois aplicamos o logaritmo e comparamos a produção em cada tipo de ordenha através do Teste t pareado. Além disso, testamos se as variâncias do vetor seriam iguais (usando o teste F de comparação de variâncias). Procedemos com o cálculo dos Logaritmos (na base e) dos desvios padrões (DP) para analisarmos como os dados estavam variando, com o objetivo de testar a variabilidade das ordenhas. Para todas análises consideramos o nível de p < 0,05 para verificação da significância. 57 EXPERIMENTO 2 – Bubalino Local e Período do Experimento Os dados coletados para a execução do trabalho foram provenientes da Fazenda Tapuio, localizada no município de Taipu (RN). O município de Taipu situa-se entre a microrregião Leste Potiguar e a microrregião Litoral Nordeste. Possui um clima do tipo tropical chuvoso, com verão seco e estação das águas bem próxima do outono, correspondendo no intervalo dos meses de abril a junho, dista da capital cerca de 60 km, sendo seu acesso, a partir de Natal, efetuado através da rodovia pavimentada BR- 406 (Figura 11). A temperatura anual varia perto dos 25,3°C com uma umidade relativa anual por volta de 80% (Prefeitura de Taipu, 2015). Com cerca de 48 metros de altitude possui as seguintes coordenadas geográficas: latitude: 5° 37’ 20” Sul e Longitude: 35° 35’ 43” Oeste (IBGE, 2010). Figura 11. Mapa de acesso rodoviária Natal – Taipu. O período experimental para coleta de dados comportamentais dos animais na ordenha mecânica tipo espinha-de-peixe compreendeu os dias 10 de novembro a 12 de dezembro de 2015 totalizando cinco semanas. Os dados foram coletados durante 5 dias de cada semana, no período da manhã e à tarde até atingir 20 coletas. A segunda fase da coleta dos dados foi realizada no meses de maio e junho de 2016, em que a ordenha mecânica tipo carrossel foi instalada na Fazenda Tapuio. 58 Animais Foram observadas20 búlafas da raça Murrah (Figura 12), com idade até 15 anos, que passaram pela ordenha mecânica tipo espinha-de-peixe e posteriormente foram ordenhadas pela ordenha mecânica tipo carrossel. Os animais encontravam-se saudáveis e em diferentes estágios de lactação. A escolha dos animais se deu através do lote de produção, os animais que estavam no lote de maior produção de leite (acima de 12 litros de leite por dia) foram selecionados. Figura 12. Exemplar bubalino da raça Murrah. Identificação dos animais Após o término da ordenha, antes dos animais serem liberados, foi realizada a marcação através de numeração partindo do número 1 (um). Os animais foram marcados na região do tórax e na garupa (Figura 13). Foi utilizada tinta branca a base d’água. Foi feita diluição da tinta na proporção de 1:1; a mesma foi aplicada com uso de pincéis. 59 Figura 13. Marcação dos animais no final da ordenha. Sistema de produção e manejo da fazenda O sistema adotado para produção de leite é o extensivo, no qual as matrizes eram soltas a campo (Figura 14), recebendo suplementação apenas na hora da ordenha, sistema de lotação intermitente. Os animais lactantes eram mantidos em pastejo rotacionado em pastos formados de sua quase totalidade por capim Massai, híbrido natural de Panicum maximum, cultivar bastante adaptado a região. O restante do pasto é composto por Brachiaria brizantha, cultivar Marandu. Durante a ordenha as matrizes recebem concentrado a base de caroço de algodão e farelo de girassol juntamente com ureia e sal mineral. Ainda eram fornecidos suplementos a base de cana de açúcar e palma, em períodos com pouca disponibilidade de pasto em função da época seca. O sal mineral e a água eram ofertados ad libitum. 60 Figura 14. Matrizes soltas no campo. Aspectos produtivos Produção diária de leite A produção de leite foi medida semanal e individualmente nas ordenhas da manhã e tarde atravésde medidor graduado (Figura 15) acoplado em cada unidade de ordenha e obedecendo à rotina da propriedade. Figura 15. Medidor de leite utilizado na ordenha mecânica tipo espinha de peixe. Análise físico-química do leite Semanalmente ocorreu a pesagem do leite nos dois turnos da ordenha, manhã e tarde, cada animal tinha seu volume de leite diário contabilizado, obtendo assim, a 61 separação/reorganização dos animais por lote de produção. Este manejo é muito importante para a fazenda, uma vez que a mensuração do leite determina a passagem do animal de um lote para o outro, e consequentemente a determinação do consumo de matéria seca (CMS) por grupo. Mensalmente eram enviadas amostras de leite das búfalas em lactação para o PROGENE - Programa de Gerenciamento dos Rebanhos Leiteiros do Nordeste, com o objetivo de ter uma noção mais precisa sobre a composição do leite (determinação dos teores de proteína, lactose, gordura, extrato seco, extrato seco desengordurado) além da contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT). As amostras foram coletadas em copo coletor acoplado a cada unidade de ordenha, após ter sido homogeneizado, e acondicionadas em frascos específicos de 10 ml, contendo conservantes (Bronopol), devidamente identificados. As amostras foram colocadas em caixas isotérmicas contendo gelo e posteriormente foram enviadas ao laboratório PROGENE em Recife/PE. A CCS expressa a situação da saúde do animal, a CBT reflete a situação das condições sanitárias das instalações, como também a higiene (pessoal e coletiva) e manutenção da mesma por parte dos funcionários. Procedimentos de ordenha Ordenha Mecânica tipo espinha-de-peixe A ordenha era feita diariamente em dois turnos, de manhã iniciando às 05:00h e com término por volta de 12:00h. O turno da tarde se iniciava às 15:00h e terminava em torno das 22:00h. O sistema de ordenha tipo espinha-de-peixe estava organizado em duas linhas paralelas de 20 postos cada, no qual as búfalas eram ordenhadas sem a presença do bezerro (Figura 16). Antes de colocar as teteiras era feita a higienização dos tetos (pré- dipping), com solução de ação antisséptica, primordial para evitar contaminação e/ou proliferação bacteriana. Devido as características comportamentais dos búfalos em geral, é comum os animais chegarem para ordenha com o úbere e tetos um pouco sujos de lama ou fezes, então era feita uma lavagem com água corrente e posteriormente secos com papel toalha e bastante cuidado. Ao fim da ordenha, foi realizada a imersão dos tetos em solução iodada (pós- dipping). 62 Antes do início da ordenha os animais permaneceram em uma sala de espera sombreada, com ventilação natural e com acesso à água. Foi ofertado concentrado aos animais durante o período da ordenha. Figura 16. Búfalas sendo ordenhadas na ordenha mecânica tipo espinha-de-peixe. 63 Ordenha Mecânica tipo carrossel A utilização da ordenha mecânica carrossel foi inicida no mês de maio de 2016. Os horários das ordenhas foram às 5:00h e às 15:00h, seguindo o mesmo processo da ordenha mecânica tipo espinha-de-peixe, incluindo o descanso dos animais na sala de espera e a higiene utilizada na sala de ordenha. Após saírem da sala de espera, os animais permaneciam 10 minutos no primeiro galpão que antecede a ordenha. Neste local as búfalas eram molhadas por chuveiros, o que contribuia para diminuição da temperatura corporal. Após o tempo estabelecido, os animais eram direcionados para o segundo galpão que antecede a ordenha. Neste ambiente havia ventiladores que secavam o corpo do animal. Em seguida, as búfalas entravam na ordenha carrossel. Observação da resposta comportamental no ambiente de ordenha Mecânica espinha-de-peixe - As observações comportamentais no ambiente de ordenha mecânica espinha-de-peixe foram realizadas 5 vezes na semana por um observador treinado, durante os meses de novembro e dezembro de 2015 através da planilha de observações previamente elaboradas (Anexo 2). As búfalas estavam inseridas no lote ponteiro, lote que representa os animais que estão acima da média de produção, com búfalas produzindo a partir de 12 litros de leite por dia. Eram ordenhadas 40 búfalas por vez, com 20 indivíduos participando da observação. O método de observação comportamental foi o behaviour sampling (amostragem comportamental). A duração da ordenha foi em média de 5 minutos por animal. O procedimento de ordenha foi dividido em pré-ordenha (que compreendeu a entrada dos animais, limpeza dos tetos e pré- dipping), ordenha mecânica até que o fluxo de leite cesse, e pós-ordenha (desde a retirada das teteiras, pós-dipping até a saída dos animais). Para as etapas durante a ordenha mecânica, usamos as respostas comportamentais descritas na Tabela 1. Este etograma foi utilizado para os bovinos e também se adequou nas análises comportamentais dos bubalinos. Mecânica tipo carrossel - As observações comportamentais no ambiente de ordenha mecânica tipo carrossel foram realizadas 5 vezes na semana por um observador, durante 30 dias, através de planilha de observações previamente elaborada (Anexo 2). Foi avaliado o comportamento dos animais participantes do mesmo lote da ordenha espinha-de-peixe (Lote 64 Ponteiro). Foram ordenhadas 40 búfalas por vez, com 20 indivíduos participando da observação comportamental pelo método behavior sampling. Foi registrado o período de duração da ordenha. O procedimento de ordenha foi dividido em pré-ordenha (que compreendeu a entrada dos animais para o banho nos chuveiros, galpão de ventilação, limpeza dos tetos e pré-dipping), ordenha mecânica até que o fluxo de leite cesse, e pós-ordenha (desde a retirada das teteiras, pós- dipping e saída dos animais). Para as etapas durante a ordenha mecânica, usamos as respostas comportamentais descritas na Tabela 1. Período de adaptação dos animais à sala de ordenha mecânica carrossel As búfalas que estavam em lactação foram conduzidas para a sala de espera, e permaneceram por 20 minutos no local. A sala de espera caracteriza-se como um espaço coberto que antecede o galpão da ordenha mecânica. Nesse espaço, as búfalas ficam com acesso a água. No período de adaptação a nova ordenha, após a permanência na sala de espera, na primeira semana os animais iniciaram a adaptação a sala de ordenha mecânica carrossel. As búfalas entraram no carrossel, foi realizado o giro do carrossel, e as búfalas foram liberadas. Na segunda semana, adicionado ao giro do carrossel, foram ligadas as bombas. Na terceira semana de adaptação, foi iniciada a colocação das teteiras. Não houve necessidade de prorrogar o período de adaptação. Análise dos dados Com base nos registros das categorias acima foi definido o escore de temperamento/reatividade (ET) nas duas fases de ordenha (mecânica tipo espinha-de- peixe e mecânica tipo carrossel). Depois de efetuadas as análises do leite, os resultados foram submetidos à análise estatística descritiva para agrupar os dados. Em seguida, os mesmos foram caracterizados quanto à esfericidade e normalidade para escolha dos testes (paramétricos ou não paramétrico). Foi realizado o Teste de Kolmogorov-Smirnov para verificação da normalidade dos dados. Foi verificada a influência do escore comportamental dos animais 65 (dócil, levemente agitada, agitada, muito agitada, violenta) e da alteração do tipo de ordenha na composição química do leite, quanto aos índices de gordura, proteína, sólidos totais e contagem de células somáticas. Para a comparação do temperamento dos animais, utilizamos o teste de Mann-Whitney. 66 Artigo empírico 1 Influência da implementação da ordenha mecânica no bem-estar e produção de leite de vacas Gir. Araújo, P.M.1; Lopes, F.A.2 1 Programa de Pós-graduação em Psicobiologia – UFRN 2 Programa de Pós-graduaçãoem Psicobiologia – UFRN RESUMO A quebra da rotina diária e a impossibilidade das vacas exercerem suas necessidades podem causar desconforto. Devido à intensificação nos sistemas de produção animal, os estudos referentes ao comportamento animal têm aumentado muito nos últimos anos. A ordenha manual é o sistema mais antigo de ordenha, sendo ainda muito frequente, principalmente em pequenos rebanhos. A ordenha mecanizada possibilita a extração do leite de forma mais rápida do que a ordenha manual e, quando bem realizada, tem menor risco de contaminação. A especulação sobre os efeitos negativos que a ordenha mecânica pode causar sobre o bem-estar da vaca leiteira, eleva as preocupações dos consumidores, podendo reduzir a aceitação pública de produtos lácteos de vacas ordenhadas mecanicamente. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da implantação de uma ordenha mecanizada, e identificar eventuais diferenças comportamentais e produtivas associadas ao novo sistema de ordenha adotado em um rebanho Gir. Foram acompanhadas 20 vacas, que passaram pela transição de ordenha manual para ordenha mecânica. De modo geral, os resultados mostram que não houve alterações na produção considerando a transição entre os tipos de ordenhas. Porém, foram verificadas variações produtivas ao nível individual. Podemos considerar que a substituição da ordenha manual pela ordenha mecânica mostrou resultados satisfatórios. Apesar de não aumentar significativamente a produção, a ordenha mecânica não causou prejuízo aos índices produtivos e pode reduzir consideravelmente o tempo das ordenhas bem como a necessidade de mão-de-obra. Palavras-chave: Bovinocultura, ordenha, produção, leite, Gir. 67 INTRODUÇÃO Na bovinocultura leiteira, bem como nos demais sistemas de produção, um fator bastante explorado é o de que na ausência de bem-estar, o animal não produz de acordo com o seu potencial (Souza, 2007). Nesse sentido, o bem-estar satisfatório das vacas leiteiras é alcançado quando suas necessidades são atendidas (Curtis, 1993). Por sua vez, a exigência diária em nutrientes e energia pelo animal é determinada pelo seu nível de produção, pelo seu peso corporal, seu estágio fisiológico e pela interação com o ambiente (ambiente climático, instalações e equipamentos, manejo, tipo de alimento, etc.). Os veículos que utilizamos para suprir as referidas necessidades são os diversos recursos alimentares disponíveis, normalmente classificados segundo suas características qualitativas, em alimentos volumosos, concentrados e suplementos vitamínicos e minerais (Damasceno et al., 2003). A ordenha manual é o sistema mais antigo de ordenha, sendo ainda muito frequente, principalmente em pequenos rebanhos. O investimento em equipamentos é baixo, mas exige maior esforço do ordenhador. A estrutura para realizar a ordenha manual geralmente é bastante simples, podendo ser feita em um piquete, no curral ou em um galpão. Há situações em que as vacas ficam soltas, sem nenhum tipo de contenção, e outras em que as vacas ficam presas com correntes ou com canzis. É comum “peiar as vacas” (amarrar as pernas traseiras) no momento da ordenha manual (Rosa et al., 2009). Por outro lado, a ordenha mecânica ou mecanizada possibilita a extração do leite de forma mais rápida do que a ordenha manual e, quando bem realizada, tem menor risco de contaminação. Geralmente, é feita em um local específico, a sala de ordenha, que pode variar tanto no tipo quanto na dimensão. O Brasil possui um contingente de 212.798.000 de bovinos (ANUALPEC, 2017) e aumentar a produção do leite com higiene e qualidade é o que deve almejar todo pecuarista. Nesse sentido, a ordenha mecânica pode ajudar neste processo, aliada à eficiência produtiva de uma fazenda de leite. Esta técnica possui vantagens em relação ao método convencional de ordenha, no qual o produtor enfrenta problemas com tempo, higiene e outros, que refletem na qualidade final do produto (Laperuta et al., 2009). Soma-se a isso o fato de que a indústria leiteira, visando melhorar o rendimento de seus produtos e a qualidade desses tem sido cada vez mais exigente com seus fornecedores de matéria-prima. 68 A escala de produção tem influência decisiva na maximização do lucro, visto que o produtor trabalha com pequena margem de lucro por litro de leite (Laperuta et al., 2009). A substituição da ordenha manual pela mecanizada pode acarretar menores custos com mão-de-obra, aumentar a qualidade do leite, reduzir a incidência de doenças e facilitar o manejo dos animais. Por outro lado, Ribeiro e Carvalho (2009) consideram que a ordenha malfeita e o uso incorreto da ordenhadeira podem diminuir significativamente a produtividade e a rentabilidade da exploração leiteira, resultando em menos leite, pior qualidade, aumento da incidência de mastite, bem como do custo de produção. A raça Gir A adaptação das raças bovinas leiteiras especializadas às condições de clima e de manejo prevalentes em regiões tropicais constitui um dos maiores problemas na produtividade do rebanho em algumas regiões brasileiras. Logo, em consequência da grande extensão territorial do país e da sua adversidade climática, as raças zebuínas têm se destacado progressivamente na da atividade leiteira, seja como raça pura, ou em utilização nos diversos sistemas de cruzamento (Cobuci et al., 2000; Leme et al., 2005; Façanha et al., 2010). A raça Gir é considerada por alguns pesquisadores como a mais antiga e talvez a mais pura das raças bovinas, uma vez que não se tem conhecimento de seus antepassados (Santos, 1994). É originária da península de Kathiawar, localizada no estado indiano de Gujarat, a oeste do país, na divisa com o Paquistão (Gaur et al., 2003). Na década de 30, alguns criadores identificaram em diferentes plantéis, exemplares Gir que se destacavam por sua capacidade leiteira. O Gir Leiteiro é resultado da seleção efetuada por entidades governamentais (em Umbuzeiro, na Paraíba, e em Uberaba, Minas Gerais, na Fazenda Getúlio Vargas) e por criadores particulares nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que fundamentaram seu trabalho dando ênfase na seleção para leite. O Gir Leiteiro se destaca por sua rusticidade, longevidade produtiva e reprodutiva, docilidade, baixo custo de mantença, facilidade de parto, produção de leite a pasto (excelente conversão alimentar) e versatilidade nos cruzamentos (ACGZ, 2012). 69 Produção e bem-estar animal Historicamente o bem-estar dos animais de produção foi ocultado pela busca intensiva de melhores índices zootécnicos, que ignorava as condições em que o animal estava imerso. Contudo a sociedade vem tornando-se cada vez mais sensível à dor e ao sofrimento animal (Amaral & Trevisan, 2017). Neste contexto, devido à intensificação nos sistemas de produção, os estudos referentes ao comportamento animal têm aumentado muito nos últimos anos. Esses estudos são importantes, pois permitem melhor compreensão das causas que norteiam as ações dos animais e permitem um melhor planejamento na implantação de sistemas de produção mais eficientes. A quebra da rotina diária (como alterações nos horários de ordenha, mudança de ordenhador, contenção no brete para exames e vacinação, alterações realizadas na dieta, presença de pessoas não conhecidas pelos animais durante o manejo, entre outros) e a impossibilidade de as vacas exercerem suas necessidades (fisiológicas, alimentares) podem causar desconforto (Hopster et al., 1998; Rosa, 2002). Em bovinos, os níveis de excitação estão relacionados com a lateralização de seus movimentos corporais, podendo indicar que o animal está com medo ou com sinais de ansiedade diante de situações que causem risco ou incômodo (Goma et al., 2018). Nesse sentido, a reatividade do animal às condições de manejo faz com que o temperamento seja uma dascaracterísticas comportamentais mais estudadas nos últimos anos (Peixoto et al., 2011) por trazer implicações diretas para o sistema de manejo. Para vacas familiarizadas com a ordenha convencional (manual), em que são ordenhadas na companhia de outras vacas do rebanho e na presença direta do ordenhador, a mudança para ordenha mecânica pode causar desconforto (ruído da bomba, colocação das teteiras) e ser estressante. A especulação sobre os efeitos negativos que a ordenha mecânica pode causar sobre o bem-estar da vaca leiteira, eleva as preocupações dos consumidores, podendo reduzir a aceitação pública de produtos lácteos de vacas ordenhadas mecanicamente (Hopster et al., 2002). De acordo com Bond et al. (2012) é interessante o desenvolvimento de pesquisas na área de diagnóstico de bem-estar, para que se possa subsidiar a elaboração de leis e o controle do bem-estar animal nos sistemas produtivos brasileiros 70 para bovinos. Por esta razão, torna-se importante quantificar o período de tempo necessário para a transição e adaptação das vacas ao novo sistema de ordenha, medindo a influência dessa mudança na produção do leite. O período de adaptação dos animais ao novo sistema de ordenha varia de acordo com a raça, idade e o manejo dos animais na propriedade. Jago e Kerrisk (2011), analisaram 29 vacas e novilhas Holandesas, Jersey e mestiças, na Nova Zelândia, e observaram que, em quatro semanas de adaptação em um sistema de ordenha robotizada à pasto, 91% das novilhas e 81% das vacas já estavam adaptadas à ordenha mecânica. Esse estudo mostrou que novilhas se adaptam mais facilmente ao sistema de ordenha mecanizada, sendo indicado o condicionamento desses animais antes mesmo da ocorrência do primeiro parto. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos comportamentais da implantação de uma ordenha mecanizada em animais da raça Gir, e identificar eventuais diferenças produtivas associadas ao novo sistema de ordenha adotado. MATERIAL E MÉTODOS Local e Período do Experimento Os dados coletados para a execução do trabalho foram provenientes da Fazenda Felipe Camarão, localizada no município de São Gonçalo do Amarante (RN). O município situa-se na mesorregião Leste Potiguar e na microrregião Macaíba, limitando-se com os municípios de Ceará-Mirim, Extremoz, Natal, Macaíba e Ielmo Marinho, abrangendo uma área de 261 km². A região apresenta clima tropical chuvoso com verão seco. A sede do município tem uma altitude média de 15m e apresenta coordenadas 05°47’34,8” de latitude sul e 35°19’44,4” de longitude oeste, distando da capital cerca de 16 km, sendo seu acesso, a partir de Natal, efetuado através da rodovia pavimentada RN-160. A fazenda pertence à EMPARN (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte), onde recebeu o nome de Fazenda RockFeller. Aspectos éticos Para realização da pesquisa, não foi realizado nenhum procedimento invasivo com os animais, sendo seguida a rotina de manejo proposta pela EMPARN. 71 Animais Foram utilizadas 20 vacas da raça Gir, com idade até 16 anos, que passaram pela transição de ordenha manual para ordenha mecânica. Os animais encontravam- se saudáveis e em diferentes estágios de lactação. Identificação dos animais As vacas foram encaminhadas ao brete e, após serem contidas, realizamos a marcação através de numeração partindo no número 0 (zero). Os animais foram marcados na região do tórax e na garupa. Foi utilizada tinta atóxica a base d’água, sem diluição da tinta. A aplicação foi realizada com uso de pincéis, sendo adicionados 30 ml de óleo de milho na tinta para melhorar a fixação. Sistema de produção e manejo da fazenda O sistema adotado para produção de leite é o extensivo, no qual as matrizes são soltas a campo, recebendo suplementação apenas na hora da ordenha. A pastagem é nativa (vegetação espontânea que possui algum tipo de valor forrageiro). São destinados 150ha para área de pastejo. O sal mineral e a água são ofertados ad libitum. O leite foi coletado de todos os animais que não se encontravam em período colostral, em fase de secagem, e aqueles em tratamento contra alguma enfermidade. A ordenha foi realizada manualmente até que houvesse a instalação da sala de ordenha mecânica tipo tandem. Procedimentos de ordenha Ordenha Manual Durante o período de ordenha manual, as vacas foram ordenhadas às 4h30min e às 15h00min e o manejo de ordenha seguiu a sequência: entrada dos animais na sala de ordenha, lavagem dos tetos com água, secagem dos tetos com papel toalha e início da ordenha manual. Na fazenda não é realizado o manejo de pré-dipping na ordenha manual. O bezerro foi levado para junto da mãe a fim de estimular a descida do leite 72 na vaca. Ao fim da ordenha, foi realizada a imersão dos tetos em solução iodada (processo de pós-dipping). Antes do início da ordenha os animais permaneceram em uma área de espera sombreada, com ventilação natural com acesso à água. Foi ofertado concentrado aos animais durante o período da ordenha manual. Ordenha Mecânica tipo tandem No período de ordenha mecânica, as vacas foram ordenhadas às 6h00min e às 16h30min e o manejo de ordenha seguiu a sequência: entrada dos animais na sala de ordenha, lavagem dos tetos com água, pré-dipping, secagem dos tetos com papel toalha e acoplamento das teteiras, retirada do conjunto, pós-dipping e saída dos animais. Só foi ofertado concentrado aos animais quando os mesmos ainda estavam na sala de ordenha mecânica. Para as etapas durante a ordenha manual e mecânica, usamos as medidas comportamentais descritas na Tabela 1. Tabela 1. Descrição dos eventos comportamentais no ambiente de ordenha manual e mecânica. Escore Descrição dos eventos 01-Dócil Apoja rápido, calma, rumina, movimenta-se pouco, não dá coice 02-Levemente agitado Comportamento vigilante: parado olhar fixo, movimenta orelha em direção ao ruído/movimento de pessoas 03-Agitado Movimentação da cauda, patas e abertura das narinas durante manipulação, observação e ordenha. Urina e defeca 04-Muito agitado Resiste ao toque, urina e defeca, entra na sala de espera após ser forçada, não permanece muito tempo na mesma posição, movendo-se continuamente, movimenta a cauda, sapateia durante manipulação e observação; movimentos respiratórios marcantes (tórax e narinas) 05-Violento Comportamento do Escore 04, mais reação de violência ao toque (cabeçada, coice, mordida, vocalização) Medidas de produção A produção de leite foi medida mensalmente e individualmente nas ordenhas da manhã e tarde através de medidor graduado acoplado em cada unidade de ordenha e 73 obedecendo à rotina da propriedade. Em ambas as ordenhas, manual e mecânica, foram retiradas amostras de aproximadamente 25 ml de leite, na ordenha da tarde, e colocadas em frascos estéreis de 70 ml, contendo o conservante (2-bromo-2-nitropropano-1,3-diol). Os frascos foram identificados com o nome do animal e mantidos em refrigeração, até a segunda coleta do leite, realizada pela manhã, em que foram coletados mais 25ml de leite, e posteriormente misturados à terceira coleta de leite da ordenha da tarde, em que foram coletados 20 ml de leite formando um conteúdo homogêneo de 70 ml. Período de adaptação dos animais à sala de ordenha mecânica As vacas que estavam em lactação foram conduzidas para a sala de espera, no período da tarde, e permaneceram por 20 minutos no local. A sala de espera caracteriza- se como um espaço a céu aberto que antecede o galpão da ordenha mecânica. Nesse espaço, as vacas ficaram sem acesso a água e comida. Após a permanência na sala de espera, na primeira semana os animais passaram pela sala de ordenha sem parar; na segunda semana as vacas foram contidas na sala de ordenha, e a bomba da ordenha acionada; e na terceira semana elas foram peadas e suas tetas manipuladase em seguida conduzidas para a ordenha no galpão de arroçoamento. Análise dos dados Inicialmente, com base nos registros das categorias comportamentais apresentados na Tabela 1, foi definido o escore de temperamento/reatividade (ET) por animal para cada um dos tipos de ordenha (manual e mecânica), sendo a vaca classificada como dócil, levemente agitada, agitada, muito agitada, violenta. Em seguida, os dados foram caracterizados quanto à esfericidade e normalidade (teste de Shapiro Wilk), e para a comparação do ET dos animais utilizamos o teste de Mann- Whitney. No que se refere à produção, para identificar a influência do tipo de ordenha (manual e mecânica tipo tandem), através de cálculos no programa R, criamos um vetor de médias englobando a respectiva média de cada vaca em um tipo de ordenha. Assim, foram criados dois vetores, um vetor com as médias das 20 vacas na ordenha mecânica e outro vetor com as médias das 20 vacas na ordenha manual e, 74 posteriormente realizamos um Teste t pareado. A partir da noção dessa variação individual, calculamos os desvios-padrão de cada vaca em cada ordenha e depois aplicamos o logaritmo e comparamos a produção em cada tipo de ordenha através do Teste t pareado. Além disso, testamos se as variâncias do vetor seriam iguais (usando o teste F de comparação de variâncias). Procedemos com o cálculo dos Logaritmos (na base e) dos desvios padrões (DP) para analisarmos como os dados estavam variando, com o objetivo de testar a variabilidade das ordenhas. Para todas análises consideramos o nível de p < 0,05 para verificação da significância. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na primeira e segunda semana de adaptação dos animais à sala de ordenha mecânica, as vacas vocalizavam, defecavam e urinavam frequentemente sugerindo desconforto ou estresse com o novo ambiente de ordenha. Incidências de vocalização, defecação e micção são indicadores de estresse agudo ou medo em bovinos (Grandin, 1998). Na terceira semana de adaptação os incidentes quase desapareceram. A rápida diminuição desses comportamentos relacionados com o estresse pode ser devido as vacas estarem mais confortáveis com a sala ordenha. A Figura 1 apresenta o percentual da frequência comportamental expresso durante os procedimentos de ordenha manual (a) e após a instalação da ordenha mecânica (b). Nota-se que a maior parte dos animais permanece na categoria dócil. Acreditamos que tal padrão tenha sido resultado de uma adaptação adequada aliada ao manejo e docilidade da raça. 75 Figura 1. Frequência comportamental por dia de observação na ordenha manual (a) e na ordenha mecânica (b). Na Figura 2a vemos que os pontos estão bem dispersos e as médias de produção de leite a partir da ordenha mecânica e manual estão próximas, ou seja, não 76 há grandes diferenças quanto à quantidade de leite produzido entre as ordenhas. Ao analisarmos a Figura 2b, notamos que a diferença das médias se aproximam de zero, levando ao entendimento que não houve grande diferença entre os dois tipos de ordenha. Contudo, ao retornarmos nossa atenção ao gráfico de dispersão das médias (Figura 2a), neste gráfico podemos também observar a dispersão individual, e olhando sempre verticalmente, notamos que as médias vão se alternando, ou seja, em algumas vacas a média da ordenha mecânica é maior do que a ordenha manual, ou vice- versa, não há um padrão único observado. Para algumas fêmeas, isso é um indicativo ques tiveram um bom ajuste às novas práticas de manejo, estabelecendo uma relação de confiança com os trabalhadores e com o ambiente de ordenha (Pajor et al., 2000; Kilgour et al., 2006; Petherick et al., 2009). No entanto, para outros animais, o ponto da ordenha mecânica não apareceu no gráfico, significando que o animal zerou a produção de leite com o novo método. Ambientes novos têm sido associados ao aumento dos níveis de tensão dos bovinos (Grandin, 1997). Quando as vacas são ordenhadas a partir de um sistema convencional (manual) e passam para uma sala de ordenha mecânica elas são expostas a um ambiente desconhecido. Os zebuínos são considerados de temperamento ruim pelos trabalhadores rurais brasileiros, pois apresentam dificuldade de manejo, aumento dos riscos de acidentes aos trabalhadores rurais e perdas produtivas (Maffei et al., 2006). De acordo com Grandin (2007), boas condições de criação e experiências precoces e positivas de manipulação têm forte impacto sobre o temperamento e a produção do gado leiteiro. Em seu trabalho, Grandin constatou que vacas leiteiras, da raça Red Angus, obtiveram uma rápida adaptação quando foram previamente treinadas para uma nova rotina na sala de ordenha. 77 (a) (b) Figura 2. Gráfico de dispersão das médias e boxplot das diferenças das médias da produção de leite na ordenha manual e mecânica. Figura 3. Gráfico da dispersão dos logaritmos do desvio-padrão Outro resultado importante é que a variabilidade dos dados é maior na ordenha mecânica do que na ordenha manual. Na Figura 3 visualizamos que os pontos da 78 ordenha mecânica na maioria das vacas se encontram acima da ordenha manual, mostrando que há uma maior variabilidade na ordenha mecânica. Ao testarmos o log dos desvios-padrão observamos que houve diferença significativa na variação da produção de leite (as vacas, quando consideradas individualmente, tiveram maior variação de produção na ordenha mecânica) (t(18) = 0,562, p < 0,005). Estes resultados apoiam os de Weiss et al. (2004), que relataram uma variação individual na produção de leite durante os primeiros eventos de ordenha mecânica quando há uma transição de uma ordenha manual. É possível que o estágio de lactação e a estação do ano tenham influenciado diretamente nesses índices. Os animais estavam em categorias de produção diferentes, alguns já se encontravam no estágio final da lactação, sabemos que o estágio de lactação afeta diretamente os índices produtivos e a composição química do leite (Rosa, 2016). De modo geral, os resultados obtidos mostram que não houve indícios estatísticos de que algum tipo de ordenha se sobressai sobre a outra, ou seja, através de testes realizados vimos que não há diferenças significativas entre a produção média de leite na ordenha mecânica e manual. As vacas apresentaram rápida adaptação, que favoreceu a postura comportamental desses animais diante da ordenha mecanizada, resultando em níveis de produção satisfatórios. Porém, quando consideradas individualmente, as vacas ordenhadas mecanicamente obtiveram uma maior variação na produção de leite. Resultados semelhantes foram encontrados por Jacobs e Siegford (2012), quando submeteram vacas holandesas ao sistema de ordenha mecânica, em que houve rápida adaptação ao novo sistema de ordenha com a média de produção mantidas. O presente estudo apresentou algumas limitações devido à rotatividade de animais (compra/venda) na fazenda, interferindo na permanência dos animais no local do experimento. Outro fator limitante durante o período experimental foi a falta de dados referente ao estágio de lactação e peso dos animais. O estudo atual pode proporcionar aos agricultores expectativas realistas para suas vacas durante o período de transição da ordenha manual para a mecânica. Através do presente estudo podemos definir os padrões comportamentais dos animais e notificar os indicativos de desconforto que pode ocasionar na não adaptação de vacas a novos sistemas de ordenha, interferindo diretamente a produção. 79 CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização de indicadores comportamentais na avaliação de bem-estar em vacas leiteiras é uma ferramenta muito valiosa, considerando a dificuldade da utilização de indicadores fisiológicos e imunológicos, quer pelo inconveniente de recolha de amostras, como pelos custos inerentes. Atravésda observação das medidas comportamentais é possível constatar a frequência de comportamentos, sinalizando se o animal encontra-se confortável ou não quando inserido em um novo manejo. Através da adaptação e manejo adequado, os animais deste estudo se adaptaram ao novo sistema de ordenha mecânica implantado na fazenda, apresentando comportamento dócil. Os resultados deste estudo ressaltam a importância de tomar decisões acertadas sobre o manejo e adaptação dos animais diante de uma troca de rotina, com foco no comportamento, a fim de se obter animais adaptados que resultem em bons índices produtividade. A substituição da ordenha manual pela ordenha mecânica mostrou resultados satisfatórios. Apesar de não aumentar significativamente a produção, a ordenha mecânica pode reduzir consideravelmente o tempo das ordenhas e a necessidade de mão-de-obra. As vacas Gir obtiveram bom desempenho na ordenha mecânica, tendo o seu temperamento e rusticidade como ponto a favor no processo de adaptação. O processo de adaptação à sala de ordenha se mostrou eficiente e efetivo. REFERÊNCIAS ACGZ – Associação dos Criadores Gaúchos de Zebu - Gir Leiteiro, 2012. AMARAL, J. B.; TREVISAN, G. Aspectos da dor e sofrimento no bem-estar de bovinos leiteiros acometidos por podopatias. Pubvet, v. 11, n. 11, p. 1074 – 1084, 2017. ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira, 20th edn. Instituto FNP, São Paulo, 2017. BOND, G. B.; ALMEIDA, R.; OSTRENSKY, A.; MOLENTO, C. F. M. Métodos de 80 diagnóstico e pontos críticos de bem-estar de bovinos leiteiros. Ciência Rural, Santa Maria, v. 42, n. 7, p. 1286-1293, 2012. COBUCI, J. A.; EUCLYDES, R. F.; VERNEQUE, R. S. Curva de lactação na raça Guzerá. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, n. 5, p. 1332-1339, 2000. CURTIS, S.E. Animal well-being and animal care. The veterinary clinics of North America. 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A exploração dos bubalinos para a produção de leite e elaboração de seus derivados é uma atividade que tem crescido nos últimos anos no Brasil. Aordenha mecanizada possibilita a extração do leite de forma rápida e segura, favorecendo a qualidade do produto. No Brasil, a ordenha mecânica tipo espinhadepeixe é uma das mais utilizadas; em contrapartida, a ordenha carrossel é pouco utilizada devido ao alto investimento. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da implantação do sistema de ordenha carrossel, e identificar eventuais diferenças produtivas e comportamentais associadas ao novo sistema de ordenha adotado em um rebanho bubalino da raça Murrah. Foram utilizadas 20 búlafas da raça Murrah, que passaram pela ordenha mecânica tipo espinhade peixe e posteriormente foram ordenhadas pela ordenha mecânica tipo carrossel. Verificouse que a transição entre os dois tipos de ordenha, de modo geral, não alterou os índices produtivos da fazenda. Através do manejo adequado, os animais se adaptaram ao novo sistema, não havendo alterações comportamentais e produtivas. Palavras chave: Bemestar, búfalo, produção, Murrah. 84 INTRODUÇÃO A longevidade produtiva, a significativa adaptabilidade a variadas condições ambientais e a alta fertilidade permitiram que em pouco mais de 100 anos, a bubalinocultura no país apresentasse evolução expressiva e relevante importância para diversos criadores que encontraram nessa atividade uma forma de explorar terras impróprias para outros animais de produção (Almeida et al., 2013). A pecuária bubalina vem sendo praticada e apresentando excelente desempenho, sendo os produtos diferenciados os pontos altos da exploração. A grande demanda da classe produtora de búfalos de todo o país é por animais provados e ou testados, para a produção de carne e leite. Os bubalinos são animais polivalentes criados principalmente para fins de extração de laticínios (Borghese, 2005). Em comparação com o conjunto de animais bovino, eles são relativamente resistentes a doenças e altamente adaptáveis a diferentes ambientes onde o gado não pode fornecer produtividade semelhante (De la Cruz et al., 2014). Os búfalos são frequentemente considerados como grandes animais dóceis (Desta, 2012) que são geralmente mais curiosos que os bovinos (Napolitano et al., 2013). No entanto, observações de Hoogesteijn e Hoogesteijn (2008) sugerem que búfalos exibam comportamento defensivo contra predadores. Para o gado, os seres humanos podem frequentemente ser associados como potenciais predadores, evocando o medo, especialmente se não estiverem habituados à presença de pessoas e mudança no ambiente de manejo (De la Cruz et al., 2018). Dessa forma, os búfalos podem mudar o comportamento, após a domesticação, para a condição selvagem. Isso pode ocorrer se não forem gerenciados de acordo com a rotina de manejo adequada (Hoogesteijn & Hoogesteijn, 2008). Quando isso acontece, os manipuladores tendem a confiar mais nas práticas coercitivas e no uso da força, especialmente se não forem qualificados (Ahsan et al., 2014; Napolitano et al., 2017). A produção de leite de búfalas retrata uma atividade de imensurável importância em muitos países do mundo, dos quais os países asiáticos e a Itália se destacam. O búfalo tem despertado o interesse crescente dos criadores e dos órgãos de pesquisa no Brasil, não obstante a sua recente introdução, e com o rebanho ainda em formação como nova alternativa para a pecuária leiteira (Jorge et al., 2002). Os bubalinocultores brasileiros estão interessados em aumentar a quantidade e qualidade de búfalos com foco na produção de leite, o que tem promovido aumento na produção de búfalos em 85 diferentes regiões do país. Os produtos lácteos de leite bubalino são importantes opções disponíveis nas prateleiras dos supermercados para consumidores que estão à procura de um produto diferenciado, não só pelo seu sabor especial e característico, mas também por um produto de alta qualidade e segurança sanitária (Araújo et al.,2012). A pecuária leiteira é economicamente muito importante no cenário mundial. O leite é um dos principais alimentos consumidos em todo o mundo e, por essa razão, milhões de pessoas se empregam direta ou indiretamente nesta atividade. A diminuição do número de propriedades rurais é a tendência do cenário mundial da produção leiteira, com um elevado aumento da quantidade de animais (Maculan & Lopes, 2016). Esse novo perfil demanda alta qualidade e quantidade de mãodeobra humana, que está escassa e com custos elevados devido, dentre outros fatores, ao êxodo rural. Tem sido preconizado o uso de equipamentos que minimizem ao máximo a mão deobra humana, mantendo a eficiência e a qualidade do produto final (Hansen, 2015). Segundo Lopes (1997), as tecnologias favorecem a vida dos produtores, facilitando o trabalho, como também aumenta a produtividade na atividade leiteira. Entretanto, notase que os produtores não utilizam a maioria das tecnologias disponíveis no mercado, seja por falta de conhecimento ou por falta de investimento. Os robôs ordenhadores são uma das tecnologias inovadoras e que tenta ganhar espaço no mercado atual. A ordenha robotizada consiste em um braço mecânico que realiza todos os processos da ordenha, sem a intervenção direta do homem. Tal tecnologia foi implantada em 1992 na Holanda (Koning, 2010) e, devido aos altos custos de implantação, este tipo de ordenha é encontrada mais facilmente em países desenvolvidos, principalmente na Europa, que deve possuir, atualmente, mais de 10.000 rebanhos utilizando esse sistema (Holloway et al., 2014). Apesar dos custos elevados, a ordenha mecânica ou robotizada pode gerar benefícios para o pecuarista e para os animais submetidos a esse sistema. Durante o processo de implantação do sistema de ordenha mecânica, e mesmo após o estabelecimento da rotina na ordenha, alguns animais podem demonstrar agressividade com coices e movimentos excessivos e, diante disso, é de grande importância realizar a adaptação dos animais que serão introduzidos em um novo tipo de ordenha, evitando maiores danos aos produtores. Em todo o mundo o número de estudos sobre comportamento animal tem aumentado. Devese salientar que, atualmente, a preocupação com o bemestar animal tem determinado a aceitabilidade dos produtos de origem animal pelos consumidores 86 nos países desenvolvidos, com implicações na elaboração de leis e políticas públicas e no mercado global, constituindo as polêmicas barreiras não tarifárias (Blokhuis et al., 2000; Boissy et al., 2002; Bowles et al., 2005). O estudo do comportamento dos animais é de fundamental importância na pecuária leiteira, pois de acordo com a sua natureza serão atingidos maiores ou menores níveis de estresse, com efeitos no bemestar e na produtividade animal. As relações entre humanoanimal têm recebido mais atenção, pois as búfalas em lactação estão em contato com humanos a maior parte do dia, fazendo com que esse aspecto seja relevante na produção. Sob o ponto de vista da produção animal, a importância deste estudo está na possibilidade de associações entre atitudes comportamentais e características de interesse zootécnico, tais como a produção leiteira. Em toda a cadeia de produção animal, existe um alto risco de comprometimento do bemestar animal, que pode ser causado por desvios de regulamentos e diretrizes e práticas impróprias de manejo/manejo. Vários estudos identificaram essas questões e indicaram como os danos ao bemestar animal podem ser minimizados. Grande parte desse conhecimento já foi implementado em códigos legislativos, diretrizes voluntárias, práticas da indústria e procedimentos operacionais padrão. No entanto, apesar dos esforços neste campo, ainda existem riscos significativos para o bemestar animal, e isso é especialmente verdadeiro para o búfalo. Nesta espécie, apesar do rápido crescimento na indústria, há uma pesquisa limitada sobre o bemestar relacionado ao manuseio, transporte, ordenhae abate (De la Cruz et al. 2018). Este trabalho objetivou avaliar o comportamento de búfalas da raça Murrah na sala de ordenha sob a influência de diferentes tipos de ordenha robotizada (mecânica) verificando sua interferência no desempenho produtivo. MATERIAL E MÉTODOS Local e Período do Experimento Os dados coletados para a execução do trabalho foram provenientes da Fazenda Tapuio, localizada no município de Taipu (RN). O município de Taipu situase entre a microrregião Leste Potiguar e a microrregião Litoral Nordeste, distando da capital cerca de 60 km, sendo seu acesso, a partir de Natal, efetuado 87 através da rodovia pavimentada BR 406. Possui um clima do tipo tropical chuvoso, com verão seco e estação das águas bem próxima do outono, correspondendo no intervalo dos meses de abril a junho. A temperatura anual varia perto dos 25,3°C com uma umidade relativa anual por volta de 80% (Prefeitura de Taipu, 2015). Com cerca de 48m de altitude, possui as seguintes coordenadas geográficas: latitude: 5° 37’ 20” Sul e Longitude: 35° 35’ 43” Oeste (IBGE, 2010). Animais Foram observadas 20 búlafas da raça Murrah, com idade até 15 anos, que passaram pela ordenha mecânica tipo espinhadepeixe e posteriormente foram ordenhadas pela ordenha mecânica tipo carrossel. Os animais encontravamse saudáveis e em diferentes estágios de lactação. A escolha dos animais se deu através do lote de produção, os animais que estavam no lote de maior produção de leite (acima de 12 litros de leite por dia) foram selecionados. Identificação dos animais Após o término da ordenha, antes dos animais serem liberados, foi realizada a marcação através de numeração partindo do número 1 (um). Os animais foram marcados na região do tórax e na garupa. Foi utilizada tinta branca a base d’água. Foi feita diluição da tinta na proporção de 1:1; a mesma foi aplicada com uso de pincéis. Sistema de produção e manejo da fazenda O sistema adotado para produção de leite é o extensivo, no qual as matrizes são soltas a campo, recebendo suplementação apenas na hora da ordenha. Os animais lactantes são mantidos em pastejo rotacionado em pastos formados de sua quase totalidade por capim Massai, híbrido natural de Panicum maximum, cultivar bastante adaptado a região. O restante do pasto é composto por Brachiaria brizantha, cultivar Marandu. Durante a ordenha as matrizes recebem concentrado a base de caroço de algodão e farelo de girassol juntamente com ureia e sal mineral. Ainda são fornecidos suplementos a base de cana de açúcar e palma, em períodos com disponibilidade de pasto em função da época seca. O sal mineral e a água são ofertados ad libitum. 88 Aspectos produtivos Análise físico-química do leite Semanalmente ocorre a pesagem do leite nos dois turnos da ordenha, manhã e tarde, cada animal tem seu volume de leite diário contabilizado, obtendo assim, a separação/reorganização dos animais por lote de produção. Este manejo é muito importante para a fazenda, uma vez que a mensuração do leite determina a passagem do animal de um lote para o outro, e consequentemente a determinação do consumo de matéria seca (CMS) por grupo. Mensalmente são enviadas amostras de leite das búfalas em lactação para o PROGENE, com o objetivo de ter uma noção mais precisa sobre a composição do leite (determinação dos teores de proteína, lactose, gordura, extrato seco, extrato seco desengordurado) além da contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT). Procedimentos de ordenha Horários da ordenha A ordenha era realizada diariamente em dois turnos, de manhã iniciando às cinco horas da manhã e com término por volta de 12:00 horas. O turno da tarde se inicianda às 15:00 horas e com término em torno das 22:00 horas. O sistema de ordenha é mecânico, tipo espinhadepeixe com duas linhas paralelas de 20 postos cada, no qual as búfalas são ordenhadas sem a presença do bezerro e também o sistema de ordenha tipo carrossel, com os mesmos 40 postos. É realizado o pré- dipping e o pós-dipping. Observação da resposta comportamental no ambiente de ordenha Mecânica espinha-de-peixe As observações comportamentais no ambiente de ordenha mecânica espinhadepeixe foram realizadas 5 vezes na semana por um observador, durante os meses de novembro e dezembro de 2015 através da planilha de observações previamente elaboradas. As búfalas estavam inseridas no lote ponteiro, este lote representa os animais que estão acima da média de produção, com búfalas produzindo a partir de 12 litros de leite por dia. Eram ordenhadas 40 búfalas por vez, com 20 indivíduos sendo observados por vez. O método de observação comportamental foi o Behaviour sampling (amostragem comportamental). A duração da ordenha foi em média de 5 minutos por animal. 89 Mecânica tipo carrossel - As observações comportamentais no ambiente de ordenha mecânica tipo carrossel foram realizadas 5 vezes na semana por um observador, durante 20 dias, através de planilha de observações previamente elaborada. Foi avaliado o comportamento dos animais participantes do lote ponteiro. Foram ordenhadas 40 búfalas por vez, com 20 indivíduos sendo observados comportamentalmente pelo método Behaviour sampling. Os registros comportamentais respeitaram as categorias apresentadas na Tabela 1. Tabela 1. Descrição dos eventos comportamentais no ambiente de ordenha manual e mecânica. Escore Descrição dos eventos 01Dócil Apoja rápido, calma, rumina, movimentase pouco, não dá coice 02Levemente agitado Comportamento vigilante: parado olhar fixo, movimenta orelha em direção ao ruído/movimento de pessoas 03Agitado Movimentação da cauda, patas e abertura das narinas durante manipulação, observação e ordenha. Urina e defeca 04Muito agitado Resiste ao toque, urina e defeca, entra na sala de espera após ser forçada, não permanece muito tempo na mesma posição, movendose continuamente, movimenta a cauda, sapateia durante manipulação e observação; movimentos respiratórios marcantes (tórax e narinas) 05Violento Comportamento do Escore 04, mais reação de violência ao toque (cabeçada, coice, mordida, vocalização) Período de adaptação dos animais à sala de ordenha mecânica carrossel As búfalas que estavam em lactação foram conduzidas para a sala de espera, e permaneceram por 20 minutos no local. A sala de espera caracterizase como um espaço coberto que antecede o galpão da ordenha mecânica. Nesse espaço, as búfalas ficaram com acesso a água. No período de adaptação a nova ordenha, após a permanência na sala de espera, na primeira semana os animais iniciaram a adaptação a sala de ordenha mecânica carrossel. As búfalas entraram no carrossel, foi realizado o giro do carrossel, e as búfalas foram liberadas. Na segunda semana, adicionado ao giro do carrossel, foram ligadas as bombas. Na terceira semana de adaptação foi iniciada a colocação das teteiras. Não houve necessidade de 90 prorrogação do período de adaptação. Análise dos dados Com base nos registros das categorias da Tabela 1, foi definido o escore de temperamento/reatividade (ET) nas duas fases de ordenha (mecânica tipo espinha de peixe e mecânica tipo carrossel). Depois de efetuadas as análises do leite, os resultados foram submetidos à análise estatística descritiva para agrupar os dados. Em seguida, foi realizado o Teste de KolmogorovSmirnov para verificação da normalidade dos dados. Uma vez que os dados não apresentaram uma distribuição normal (KS ≥ 0,104 ≤ 0,390; p ≤ 0,042), foi o utilizado o teste de Mann Whitney para a comparação dos índices produtivos para cada tipo de ordenha. Foi verificada a influência do escore comportamental dos animais (dócil, levemente agitada, agitada, muito agitada, violenta) e da alteração do tipo de ordenha na composição química do leite,quanto aos índices de gordura, proteína, sólidos totais e contagem de células somáticas. Para todas as análises consideramos o nível de p < 0,05 para verificação da significância. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os búfalos têm se destacado como animais dóceis, com excelente adaptabilidade aos diversos ambientes (Couto, 2012). Grandin (1998) observou que animais altamente reativos se tornarão mais agitados e medrosos quando confrontados por novidade. A bubalinocultura é uma atividade que vêm ganhando destaque no Brasil devido à sua capacidade de trabalho animal, como também de produção de carne e leite (Santini et al., 2013). No Rio Grande do Norte, a Fazenda Tapuio é pioneira nesse ramo e investe em tecnologia para otimizar os índices produtivos. As variáveis analisadas para verificar a influência no processo de adoção do novo sistema de ordenha mecânica carrossel fornecem ao produtor um diagnóstico de como o animal reage e as consequências do comportamento dos animais sobre a produção. Nas semanas de adaptação dos animais à sala de ordenha carrossel, as búfalas permaneceram atentas. Vocalização, micção e defecação foram observadas durante o período em frequências muito baixas, contudo, não houve resistência dos animais para 91 realizar o processo de entrada e saída do carrossel. A vocalização, defecação e micção são respostas apresentadas pelo animal perante uma ação de estresse e representa uma tentativa de restabelecer o equilíbrio orgânico, a olostase (Bristow & Holmes, 2007). Na terceira semana de adaptação, essas ocorrências diminuíram devido os animais estarem mais familiarizados ao novo ambiente de ordenha. A Figura 1 apresenta o percentual da frequência comportamental na ordenha mecânica espinhadepeixe, antes da instalação da ordenha carrossel (a); e após a instalação da ordenha carrossel (b). Notase que a maior parte dos animais permanece na categoria dócil durante a ordenha espinhadepeixe (Figura 1a). Estes resultados provavelmente se devem à maior docilidade dos bubalinos, o que leva a um menor estresse (Jorge et al., 2006). A Figura 1b apresenta o percentual da frequência comportamental após a instalação da ordenha carrossel. Podemos observar que, apesar da alteração da rotina dos animais, as búfalas Murrah reagiram bem à instalação da nova sala de ordenha. Sabemos que o período de adaptação e o manejo não aversivo na fazenda contribuíram para que os animais se sentissem confortável no novo ambiente de ordenha. Foi observado que os recursos como o banho e a ventilação na sala de espera, também contribuíram para deixar os animais mais calmos. 92 Figura 1. Frequência comportamental por dia de observação na ordenha mecânica espinhadepeixe (a) e ordenha tipo carrossel (b). Por ser um método de ordenha inovador, a ordenha carrossel ainda não está facilmente implementada em fazendas de produção bubalina. Sendo a fazenda Tapuio a única do país a oferecer esse tipo de ordenha para produção de leite bubalino. Artigos e trabalhos na área de adaptação bubalina ao sistema de ordenha mecânica não são facilmente encontrados. A Figura 2 apresenta as medianas de comparação entre a ordenha espinha depeixe (antes) e a ordenha carrossel (depois). Observase que, considerando os dois tratamentos, não foram observadas diferenças significativas para a produção (U = 795,000; Z = 1,758; p = 0,79) (Figura 2a). Para alguns dos componentes produtivos, a saber, gordura (U = 999,000; Z = 0,170; p = 0,8650), lactose (U = 869,000; Z = 1,074; p = 0,283) e contagem de sólidos (U = 893,500; Z = 0,957; p = 0,339), bem com para a contagem de células somáticas (CCS U = 475,500; Z = 0,640; p = 0,522), também não foram observadas diferenças significativas entre os dois tipos de ordenha (Figuras 2b, 2d, 2e, 2f). No entanto, para os índices de proteína no leite, estes se apresentaram significativamente mais elevados após a implementação da ordenha carrossel (proteína U = 556,500; Z = 3,677; p < 93 0,001) (Figura 2c). Os teores de proteína são influenciados por fatores ambientais e nutricionais (Yang et al., 2006; Zen, et al., 2006). Os meses em que foi realizada a coleta de dados na ordenha carrossel foram maio e junho, meses que compreende o período de chuvas na região. As pastagens apresentamse mais verdes e mais fartas, isso influencia a ingestão do pasto e, consequentemente, na qualidade final do leite (Figueiredo et al., 2010). Figura 2. Medianas de comparação entre parâmetros produtivos na ordenha espinhadepeixe e a ordenha carrossel. 94 O búfalo é uma espécie com excelentes características zootécnicas. Como resultado do aumento constante no consumo de subprodutos de origem bubalina, as fazendas enfrentam necessidade de aumentar o número de animais criados e aperfeiçoar o manejo. Neste sentido, resultados produtivos e comportamentais foram alcançados de forma satisfatória diante da troca do sistema de manejo da fazenda, principalmente devido ao processo de adaptação que favoreceu positivamente o bemestar dos animais. Em termos de produção e qualidade do leite, a ordenha mecânica carrossel pode ser uma alternativa adequada à ordenhas mecânicas convencionais para búfalos. Sannino et al. (2018), constataram rápida adaptabilidade de bubalinos da raça Mediterrâneo mediante troca de manejo de ordenha manual para ordenha mecânica, não havendo perdas produtivas e alterações comportamentais. CONSIDERAÇÕES FINAIS A observação comportamental no ambiente de ordenha é um instrumento de suma importância para a determinação do escore temperamental do animal que por sua vez é imprescindível para determinar o nível de bemestar e o condicionamento diante dessa atividade, minimizando assim, problemas e consequências negativas para os tratadores, animais e produtor. Por sua vez, a adoção de novas tecnologias é fundamental para o desenvolvimento agropecuário. Os sistemas de ordenha mecânica permitem uma produção eficiente de leite, através da automatização completa do processo de ordenha, levando em consideração o bemestar animal e menos esforço humano. O sistema de ordenha carrossel possibilita rapidez e segurança durante a ordenha dos animais. As búfalas, como qualquer animal, se adaptam rápido a tudo aquilo que lhes dá conforto. Assumese, portanto, que ordenha mecânica carrossel de búfalas é possível sem a necessidade perdas na produtividade e desconforto dos animais. Tal conclusão é pautada na comparação realizada no presente trabalho, em que acompanhamos o período de adaptação gradativa para implantação da ordenha carrossel da fazenda. Portanto, após uma adaptação eficiente e bons índices produtivos como resultado, pode se dizer que as búfalas se adaptaram bem à ordenha mecânica carrossel. 95 REFERÊNCIAS AHSAN, M.; HASAN, B.; ALGOTSSON, M.; SARENBO, S. Handling and Welfare of Bovine Livestock at Local Abattoirs in Bangladesh. 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Evidenciou-se na tese que a qualidade e produtividade do leite de bovinos e bubalinos está ligada às boas práticas de manejo, que também envolve o conhecimento do perfil comportamental desses animais. Os resultados deste estudo ressaltam a importância de tomar decisões acertadas sobre o manejo e adaptação dos animais diante de uma troca de rotina. Através dos resultados obtidos verifica-se que a troca do sistema de ordenha não causou danos produtivos e comportamentais aos bovinos da raça Gir e aos bubalinos da raça Murrah. Esses resultados não corroboraram com as hipóteses e predições H1 e H3, em que foi enunciado que a implantação de um tipo de ordenha diferente aos que os animais estão condicionados iria interferir na produção do leite e nos valores produtivos. Os animais apresentaram uma resposta clara ao período de adaptação ao novo ambiente, o que favoreceu a uma maior adaptabilidade. Apesar de não ter corroborado com as hipóteses iniciais, este estudo apresenta informações valiosas aos produtores rurais, indicando a importância de manter o bem- estar animal diante de trocas bruscas no manejo. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS – CEUA Av. Salgado Filho, S/N – CEP: 59072-970 – Natal / RN Fone: (84) 9229-6491 / e-mail: ceua@reitoria.ufrn.br CERTIFICADO Natal (RN), 27 de fevereiro de 2018. Certificamos que a proposta intitulada “Influência do temperamento de bubalinos da raça Murrah sobre produção e composição do leite”, protocolo 005/2018, CERTIFICADO nº 076.005/2018, sob a responsabilidade de Fívia de Araújo Lopes - que envolve a produção, manutenção e/ou utilização de animais pertencentes ao filo Chordata, subfilo Vertebrata (exceto o homem), para fins de pesquisa científica (ou ensino) - encontra-se de acordo com os preceitos da Lei n.º 11.794, de 8 de outubro de 2008, do Decreto n.º 6.899, de 15 de julho de 2009, e com as normas editadas pelo Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal (CONCEA), foi aprovada pela COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CEUA/UFRN. Vigência do Projeto Setembro 2021 RELATÓRIO OUTUBRO 2021 Espécie/Linhagem Bubalus bubalis Número de Animais 340 Idade/Peso 1-16 anos / 300-550kg Sexo Fêmeas Origem Fazenda de Búfalo Tapuio – Taipu – RN Manutenção Fazenda de Búfalo Tapuio – Taipu – RN Informamos ainda que, segundo o Cap. 2, Art. 13, do Regimento Interno desta CEUA, é função do professor/pesquisador responsável pelo projeto a elaboração de relatório de acompanhamento que deverá ser entregue tão logo a pesquisa seja concluída. O descumprimento desta norma poderá inviabilizar a submissão de projetos futuros. José de Castro Souza Neto Júnior Coordenador da CEUA-UFRN www.ceua.propesq.ufrn.br mailto:ceua@reitoria.ufrn.br MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS – CEUA Av. Salgado Filho, S/N – CEP: 59072-970 – Natal / RN Fone: (84) 9229-6491 / e-mail: ceua@reitoria.ufrn.br PARECER CONSUBSTANCIADO DE PROJETO DE PESQUISA 1) PROTOCOLO Nº : 005-2018 (apenas para identificação na CEUA) 2) TÍTULO DO PROJETO: Influência do temperamento de bubalinos da raça Murrah sobre produção e composição do leite 3) PESQUISADOR RESPONSÁVEL: Fívia de Araújo Lopes 4) DATA DO PARECER: 27 fevereiro 5) RESUMO DO PROJETO: Os principais motivos que levam as pessoas a se preocuparem com o bem-estar de animais de fazenda são inquietações de origem ética, o efeito potencial que este possa ter na produtividade e na qualidade dos alimentos e as conexões entre bem-estar animal e comercialização internacional de seus produtos de origem animal. A pecuária leiteira é um setor da produção animal no qual a interação homem-animal é de fundamental importância devido ao contato que se estabelece diariamente na execução das atividades de rotina.Dentre os fatores que afetam o comportamento dos bovinos e bubalinos, destacam-se a alimentação, o clima e o sistema de produção adotado. No Brasil são reconhecidas quatro raças bubalinas, sendo a raça Murrah utilizada nesta pesquisa. Os bubalinos Murrah podem ser criados nas mais diversas condições climáticas, muitas vezes apresentando-se como uma opção para o aproveitamento de áreas da propriedade às quais os bovinos não se adaptam. O leite bubalino possui uma composição diferenciada em relação ao leite bovino, e proporciona uma produção de derivados com alto valor comercial. Neste trabalho, os bubalinos Murrah foram expostos a dois tipos de ordenhas distintas, ordenha mecânica espinha de peixe e posteriormente ordenha mecânica carrossel. A alteração na rotina de ordenha e a mudança no tipo de ordenha utilizada pode trazer alterações comportamentais, com influência na produtividade 6) OBJETIVOS DO PROJETO: Objetivos Gerais: Descrever a expressão comportamental durante a rotina de ordenha em búfalas leiteiras da raça Murrah. Objetivos específicos: Identificar as características produtivas e nutricionais do leite;Identificar eventuais modificações comportamentais associadas ao tipo de Ordenha;Verificar a relação entre a expressão comportamental e as características produtivas, contagem de células somáticas, incidência de mastite e características nutricionais do leite 7) FINALIDADE DO PROJETO: Ensino x Pesquisa 8) ITENS METODOLÓGICOS E ÉTICOS: Título x Adequado Comentários Objetivos x Adequados Comentários Introdução e Justificativa x Adequadas Comentários Cronograma para execução da pesquisa Adequado x Comentários Na primeira folha do formulário, o campo INICIO E TERMINO não se refere ao tempo em que os animais serão usados. Deve estar de acordo com o cronograma (detalhado) apresentado no projeto, com início APENAS após a aprovação da CEUA e término em 3,5 anos. No caso: Inicio em março de 2018 e Término em setembro de 2021. Orçamento e fonte financiadora x Adequados Comentários www.ceua.propesq.ufrn.br mailto:ceua@reitoria.ufrn.br MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS – CEUA Av. Salgado Filho, S/N – CEP: 59072-970 – Natal / RN Fone: (84) 9229-6491 / e-mail: ceua@reitoria.ufrn.br Referências Bibliográficas x Adequadas Comentários 9) O PROJETO DESTA PESQUISA ESTA ADEQUADO À LEGISLAÇÃO VIGENTE: Adequado Comentários 10) INFORMAÇÕES RELATIVAS AOS ANIMAIS: Grau de severidade: x Brando Médio Elevado Espécie: Bufalas Número Amostral: 340 Redução Amostral: Sim x Não Substituição de Metodologia: Sim x Não Aprimoramento da Metodologia: Sim x Não Acomodação e manutenção dos animais: x Adequado Inadequado Manipulação dos animais: x Adequado Inadequado Analgesia dos animais (se aplicável): Adequado Inadequado Anestesia dos animais (se aplicável): Adequado Inadequado Eutanásia dos animais (se aplicável): Adequado Inadequado Justificativa: Não se aplica 11) PARECER: x Aprovado Recomendações Pendência Não aprovado www.ceua.propesq.ufrn.br mailto:ceua@reitoria.ufrn.br 110 ANEXO 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DOUTORADO EM PSICOBIOLOGIA ETOGRAMA DE VACAS GIR E BÚFALAS MURRAH ORDENHADAS À MÃO E MECANICAMENTE Observador: Local: Data: ESCORE IDENTIFICAÇÃO Dócil Levemente agitada Agitada Muito agitada Violenta T.A.