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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA MARCOS VINICIUS DA SILVA DANTAS FERNANDES A TECNOMORFOLOGIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE: A CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL DA INFOVIA POTIGUAR NATAL-RN 2022 MARCOS VINICIUS DA SILVA DANTAS FERNANDES A TECNOMORFOLOGIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE: A CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL DA INFOVIA POTIGUAR Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como pré-requisito para o título de Mestre em Geografia, na área de concentração Dinâmica Socioambiental e Reestruturação do Território. Linha de Pesquisa: Território, Estado e Planejamento. Orientador: Prof. Dr. Raimundo Nonato Junior. NATAL-RN 2022 Fernandes, Marcos Vinicius da Silva Dantas. A tecnomorfologia do estado do Rio Grande do Norte : a configuração territorial da Infovia Potiguar / Marcos Vinicius da Silva Dantas Fernandes. - Natal, 2022. 343 f.: il. Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2022. Orientador: Prof. Dr. Raimundo Nonato Junior. 1. Tecnomorfologia - Dissertação. 2. Configuração territorial - Dissertação. 3. Rede - Dissertação. 4. Sistema de indicadores - Dissertação. 5. Infovia Potiguar - Dissertação. I. Junior, Raimundo Nonato. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 908:004.7(813.2) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Elaborado por Raphael Lorenzo Lopes Ramos Fagundes - CRB-15 912 MARCOS VINICIUS DA SILVA DANTAS FERNANDES A TECNOMORFOLOGIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE: A CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL DA INFOVIA POTIGUAR Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como pré-requisito para o título de Mestre em Geografia, na área de concentração Dinâmica Socioambiental e Reestruturação do Território. Linha de Pesquisa: Território, Estado e Planejamento. Aprovado em: 29 de agosto de 2022. ____________________________________________________ Prof. Dr. Raimundo Nonato Junior Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRN Orientador – UFRN ____________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Fransualdo de Azevedo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRN Examinador Interno – UFRN ____________________________________________________ Prof. Dr. Sergio Vianna Fialho Assessor Técnico e Professor (aposentado) da UFRN Examinador Externo ao Programa ____________________________________________________ Profa. Dra. Kelly Kalynka Cruz Faculdade de Comunicação da UFPA Examinadora Externa à Instituição DEDICATÓRIA À dona Valéria (in memoriam). AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais, Alexandre e Tereza, pela participação no meu processo de formação e pelo amor incondicionalmente compartilhado. Aos meus sogros, Edivan e Valéria, pelo mesmo sentimento, além de todos os momentos que compartilhamos. Agradeço também à minha esposa, Yasmin (meu passarinho), principalmente, nos momentos mais duros de escrita, por todo amor, perseverança e força que me deu para superar cada dificuldade. Aos meus irmãos, Victor, e à sua respectiva Handrya, e Felipe, e às cunhadas, Yana e Yngrid, e aos seus respectivos, Wendell e Pedro Paulo, pela amizade e momentos de descontração. Ao grande Dr. e Mestre, o professor Raimundo, por todas as orientações, conversas e sábias palavras de incentivo e inspiração. Agradeço também à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo investimento na minha pesquisa, bem como ao Programa de Pós- Graduação em Geografia (PPGe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. À coordenação e aos técnicos do Ponto de Presença da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa no Rio Grande do Norte (PoP-RN), pela paciência que eles juntos tiveram em me auxiliar a entender mais sobre as redes, especificamente a Infovia Potiguar. Aos meus queridos amigos de mestrado, Katarina e Victor, que se tornaram excelentes companheiros da academia e da vida. À minha amiga Sônia, pelas trocas e conversas com um bom café da tarde. Aos coordenadores de TI dos IFRN de Ceará-Mirim e de João Câmara, e do administrador de rede da Secretaria de Estado Saúde Pública (Sesap) do Rio Grande do Norte e da secretária de TI da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) de Natal/RN pela disponibilidade em dialogar sobre o meu objeto de estudo. EPÍGRAFE “A terra toda é uma ilha, se eu ligo meu radinho de pilha”. (Belchior). RESUMO A discussão sobre tecnomorfologia do território do Rio Grande do Norte, considerando a implantação da Infovia Potiguar pelo Núcleo de Redes Avançadas (NuRA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que hospeda o Ponto de Presença da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa no Rio Grande do Norte (PoP-RN), consiste na compreensão de diferentes infraestruturas técnicas presentes neste território, algumas preexistentes e outras sendo criadas para compor a configuração territorial dessa rede de informação de alta capacidade no estado. Esta rede pretende fornecer acesso de qualidade à Internet para o estado através da rede acadêmica, da rede de governo e da distribuição do acesso para as empresas parceiras, que consequentemente permitirão esse acesso à população em geral. Assim, sabendo-se das diferenciações do território do RN que possui diferentes níveis de densidades referentes às redes de informação, sobretudo em termos de qualidade, esta pesquisa objetiva a compreensão da configuração territorial da Infovia Potiguar e os consequentes usos do território imbricados a essa materialidade no estado. Isto inclui como objetivos evidenciar as redes técnicas e de serviços que estão inclusas nesse projeto, analisar a regionalização da informação e os usos por diferentes agentes do território e as oportunidades e desafios de melhor gestão do território permitidas por esse empreendimento no estado. Para isso, a pesquisa tem como base a teoria geográfica de espaço, enquanto totalidade, de Milton Santos; a discussão teórica sobre a tecnomorfologia de Mauss; os conceitos da Geografia, como território, região, rede e lugar; o Método da Análise Regional, com destaque para o complexo geográfico de Pierre Monbeig; e as categorias de análise, sendo estas a paisagem, a configuração territorial, o uso e a gestão do território, além da região como fato e como ferramenta permitindo analisar o objeto de pesquisa. No que se refere aos procedimentos metodológicos, a pesquisa bibliográfica serviu para compor o corpo teórico-conceitual e o método da pesquisa, bem como para investigar discussões sobre as redes de informação, inclusive à Internet, numa perspectiva histórica e técnica, no mundo, no Brasil e no estado do RN. A pesquisa documental também foi elencada e serviu para um levantamento especificamente voltado para a regulação das telecomunicações, da Internet e da RNP no Brasil e do PoP-RN no estado do RN. Finalmente, a pesquisa utilizou da atividade de campo para a obtenção de dados, informações e registros empíricos e também a pesquisa de laboratório para a elaboração do sistemade indicadores, denominado de Sistema de Indicadores para Gestão da Informação pela Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte (SIGIP-RN) e de produtos cartográficos de modo a gerar resultados que foram discutidos e analisados. Palavras-chave: Tecnomorfologia. Configuração Territorial. Rede. Sistema de Indicadores. Infovia Potiguar. ABSTRACT The discussion on the technomorphology of the territory of Rio Grande do Norte, considering the implementation of Infovia Potiguar by the Center for Advanced Networks (NuRA) of the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN), which hosts the Point of Presence of the National Education and Research in Rio Grande do Norte (PoP-RN) consists of understanding different technical infrastructures present in this territory, some preexisting and others being created to compose the territorial configuration of this high- capacity information network in the state. This network intends to provide quality access to the Internet for the state through the academic network, the government network and the distribution of access to partner companies, which will consequently allow this access to the general population. Thus, knowing the differences in the territory of RN that has different levels of densities referring to information networks, especially in terms of quality, this research aims to understand the territorial configuration of Infovia Potiguar and the consequent uses of the territory intertwined with this materiality in the state. This includes as objectives to highlight the technical and service networks that are included in this project, analyze the regionalization of information and uses by different agents of the territory and the opportunities and challenges of better management of the territory allowed by this enterprise in the state. For this, the research is based on the geographic theory of space, as a totality, by Milton Santos; the theoretical discussion on technomorphology by Mauss; the concepts of Geography, such as territory, region, network and place; the Regional Analysis Method, with highlighting the geographic complex of Pierre Monbeig; and the categories of analysis, which are the landscape, the territorial configuration, the use and management of the territory, in addition to the region as a fact and as a tool allowing the analysis of the research object. With regard to methodological procedures, the bibliographic research served to compose the theoretical- conceptual body and the research method, as well as to investigate discussions about information networks, including the Internet, in a historical and technical perspective, in the world, in the Brazil and in the state of RN. The documentary research was also listed and served for a survey specifically focused on the regulation of telecommunications, the Internet and RNP in Brazil and PoP-RN in the state of RN. Finally, the research used the field activity to obtain data, information and empirical records and also the laboratory research for the elaboration of the indicator system, called Indicator System for Information Management by Infovia Potiguar in Rio Grande do Norte (SIGIP-RN) and cartographic products in order to generate results that were discussed and analyzed. Keywords: Technomorphology. Territorial Configuration. Network. Indicator System. Infovia Potiguar. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa do Sistema RNP (Conexão Atual) ...................................................... 29 Figura 2 – Sistema RNP em números ............................................................................. 29 Figura 3 – Mapa da Rede Veredas no estado do Rio Grande do Norte .......................... 31 Figura 4 – Conexões pretendidas com a Redecomep ao sistema RNP .......................... 32 Figura 5 – Mapa da distribuição da Redecomep no Brasil ............................................. 32 Figura 6 – Instituições incialmente atendidas pela RGN ............................................... 33 Figura 7 – Instituições atendidas pela RGN (2017) ....................................................... 34 Figura 8 – RGN e sua extensão concluída ...................................................................... 34 Figura 9 – Fases de Implantação da Infovia Potiguar .................................................... 37 Figura 10 – Esquema referente ao Espaço (totalidade), Território e Rede (mediação), e o Lugar (realização) ........................................................................................................... 51 Figura 11 – Categorias de análise centrais da pesquisa .................................................. 56 Figura 12 – Sistema de Indicadores para a Gestão da Informação pela Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte (SIGIP-RN) ............................................................................. 57 Figura 13 – Pesquisa Documental (os principais documentos elencados) ..................... 59 Figura 14 - Tabela exemplificando o indicador de Conectividade de Caicó .................. 61 Figura 15 – Topologia das Redes ................................................................................... 66 Figura 16 – Esquema de MAN ....................................................................................... 67 Figura 17 – Esquema de WMAN ................................................................................... 67 Figura 18 – Esquema de WAN conectando duas LANs ................................................ 69 Figura 19 – Esquema das três camadas básicas da Internet ........................................... 70 Figura 20 – Características do Sistema Autônomo ........................................................ 72 Figura 21 – O núcleo e as extremidades da Internet....................................................... 72 Figura 22 – IoT em Cidades Inteligentes........................................................................ 76 Figura 23 – Mapa mostrando as linhas de telégrafo, em operação, contratadas e contempladas para completar o circuito do globo (1855) .............................................. 79 Figura 24 – Experimento de Loomis, 1866 .................................................................... 81 Figura 25 – N. Tesla, patente de Nº. 1119732: Aparelho de transmissão elétrica de energia (wireless) ............................................................................................................ 82 Figura 26 – Informativo sobre Guglielmo Marconi, localizado em French Cable Station Museum, Orleans, nos EUA ........................................................................................... 83 Figura 27 – Informativo sobre a Estação Transatlântica de Guglielmo Marconi, localizado em French Cable Station Museum, Orleans, nos EUA ................................. 83 Figura 28 – “O Mundo do Entretenimento”: Mapa promocional das estações da Philips Radio (1930-1940) .......................................................................................................... 84 Figura 29 – Tipos de redes de comunicação................................................................... 87 Figura 30 – Contribuições da equipe do CERN para que os primeiros sítios da web fossem criados. ............................................................................................................... 89 Figura 31 – Mapa de Cabos Submarinos (2019) ............................................................ 91 Figura 32 – O surgimento do IoT: o número de dispositivos conectados em relação à população mundial .......................................................................................................... 94 Figura 33 – Gráfico dos membros IPv4 e IPv6 por RIRs ............................................... 97 Figura 34 – Cartografia dos Telegráfos naAmérica do Sul (1910) ............................... 99 Figura 35 – Tabela do número de assinantes e usuários dos provedores de acesso à Internet no Brasil, durante a segunda metade da década de 1990 ................................ 104 Figura 36 – Mapa das Redes de Informação do Brasil ................................................. 105 Figura 37 – Ações da PNBL ......................................................................................... 109 Figura 38 – Rede da Telebras (2017) ........................................................................... 112 Figura 39 – Esquema de lançamento do SGCD ........................................................... 113 Figura 40 – Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) ...................................................................................................................................... 114 Figura 41 – Mapa da Rede Nacional da Telebras em operação e em planejamento .... 118 Figura 42 – Conexões de linhas alugadas na rede brasileira, 1991 .............................. 121 Figura 43 – Backbone da Rede Nacional de Pesquisa em 1992 ................................... 123 Figura 44 – Backbone da RNP em 1995 ...................................................................... 125 Figura 45 – Backbone da RNP em 1997 ...................................................................... 126 Figura 46 – Backbone da RNP em 2002 ...................................................................... 126 Figura 47 – Backbone da RNP em 2005 ...................................................................... 128 Figura 48 – Backbone da RNP em 2011 ...................................................................... 129 Figura 49 – “Gigatização” da RNP............................................................................... 130 Figura 50 – As primeiras conexões de alta capacidade (100Gb/s) da RNP ................. 130 Figura 51 – Mapa da Integração Eletroenergética da Chesf, na Região Nordeste ....... 132 Figura 52 – Redes OPGW do Sistema Eletrobras ........................................................ 133 Figura 53 – Mapa do Programa Norte Conectado ........................................................ 134 Figura 54 – Mapa da Rede Clara .................................................................................. 135 Figura 55 – Mapa das conexões intercontinentais entre a RNP, AmLight e TENET & SANReN ....................................................................................................................... 136 Figura 56 – Mapa do novo sistema submarino entre a RedCLARA e GÉANT ........... 137 Figura 57 – Rede Acadêmica da UFRN (2005) ........................................................... 140 Figura 58 – Rede Giga Natal (backbone físico, 2008) ................................................. 141 Figura 59 – A Rede GigaNatal (original e suas extensões) .......................................... 142 Figura 60 – Escolas atendidas pela extensão da Rede GigaNatal ................................ 143 Figura 61 – Uso da Rede GigaNatal pela Sesap, Caern e Sesed .................................. 144 Figura 62 – Rede Integrada do Governo do Estado ...................................................... 145 Figura 63 - Esquema Ethernet de O'Regan ................................................................... 148 Figura 64 – Rede da Infovia Potiguar com base na tecnologia DWDM ...................... 153 Figura 65 – Redes Passivas na Infovia Potiguar........................................................... 154 Figura 66 – Rede Metropolitana de Ceará-Mirim ........................................................ 158 Figura 67 – Tabela das unidades de Ceará-Mirim ........................................................ 160 Figura 68 – Rede Metropolitana de João Câmara ........................................................ 161 Figura 69 – Tabela das unidades de João Câmara ........................................................ 163 Figura 70 – Rede Metropolitana de São Gonçalo do Amarante ................................... 164 Figura 71 – Tabela das unidades de São Gonçalo do Amarante .................................. 165 Figura 72 – Subestação Paraíso (Chesf): onde terá a abertura da Chesf, em Santa Cruz. ...................................................................................................................................... 168 Figura 73 – Rede Metropolitana de Caicó .................................................................... 169 Figura 74 – Tabela das unidades de Caicó ................................................................... 170 Figura 75 – Tabela das unidades de Currais Novos ..................................................... 173 Figura 76 – Rede Metropolitana de Currais Novos ...................................................... 174 Figura 77 – Rede Metropolitana de Santa Cruz ........................................................... 178 Figura 78 – Tabela das unidades de Santa Cruz ........................................................... 179 Figura 79 – Rede Metropolitana de Pau dos Ferros ..................................................... 182 Figura 80 – Tabela das unidades de Pau dos Ferros ..................................................... 183 Figura 81 – Rede Metropolitana de Mossoró ............................................................... 185 Figura 82 – Tabela das unidades de Mossoró............................................................... 186 Figura 83 – Tabela das unidades de Açu/Ipanguaçu .................................................... 189 Figura 84 – Rede Metropolitana de Açu/Ipanguaçu ..................................................... 190 Figura 85 – Mapa do Parque Tecnológico Metrópole Digital, no município de Natal-RN ...................................................................................................................................... 196 Figura 86 – Tabela das unidades cogitadas para o município de Angicos ................... 201 Figura 87 - Tabela das unidades cogitadas para o município de Apodi ....................... 202 Figura 88 - Tabela das unidades cogitadas para o município de Canguaretama .......... 203 Figura 89 - Tabela das unidades cogitadas para o município de Caraúbas .................. 203 Figura 90 – Tabela das unidades cogitadas para o município de Macau ..................... 204 Figura 91 – Tabela das unidades cogitadas para o município de Nova Cruz ............... 205 Figura 92 – Tabela das unidades cogitadas para o município de São José de Mipibu . 206 Figura 93 – Tabela das unidades cogitadas para o município de São Paulo do Potengi ...................................................................................................................................... 207 Figura 94 – Tabela das unidades cogitadas para o município de Lajes ........................ 207 Figura 95 – Sistemas fixos e celulares no Rio Grande do Norte (início dos anos 2000). ...................................................................................................................................... 211 Figura 96 – SIGIP-RN (esquema de indicadores, grupos de indicadores e variáveis) . 212 Figura 97 – SIGIP-RN .................................................................................................. 215 Figura 98 – Gráficos do tipo radar (meramente ilustrativos) utilizados para representar o SIGIP-RN ..................................................................................................................... 216 Figura 99 – Gráficos SIGIP-RN: Extremoz ................................................................. 220 Figura 100 – Gráficos SIGIP-RN: Macaíba ................................................................. 221 Figura 101 – Gráficos SIGIP-RN: Monte Alegre .........................................................222 Figura 102 – Gráficos SIGIP-RN: Natal ...................................................................... 223 Figura 103 – Gráficos SIGIP-RN: Parnamirim ............................................................ 224 Figura 104 – Gráficos SIGIP-RN: São José de Mipibu................................................ 225 Figura 105 – Gráficos SIGIP-RN: Vera Cruz .............................................................. 226 Figura 106 – Gráficos SIGIP-RN: São Gonçalo do Amarante ..................................... 227 Figura 107 - Gráficos SIGIP-RN: Ceará-Mirim ........................................................... 243 Figura 108 – Gráficos SIGIP-RN: João Câmara .......................................................... 244 Figura 109 – Gráficos SIGIP-RN: Santa Cruz ............................................................. 245 Figura 110 – Gráficos SIGIP-RN: Currais Novos ........................................................ 246 Figura 111 – Gráficos SIGIP-RN: Caicó ...................................................................... 247 Figura 112 – Gráficos SIGIP-RN: Açu ........................................................................ 248 Figura 113 – Gráficos SIGIP-RN: Ipanguaçu .............................................................. 249 Figura 114 – Gráficos SIGIP-RN: Mossoró ................................................................. 250 Figura 115 – Gráficos SIGIP-RN: Pau dos Ferros ....................................................... 251 Figura 116 – Gráficos SIGIP-RN: Canguaretama ........................................................ 252 Figura 117 – Gráficos SIGIP-RN: Nova Cruz.............................................................. 253 Figura 118 – Gráficos SIGIP-RN: São Paulo do Potengi ............................................. 254 Figura 119 – Gráficos SIGIP-RN: Lajes ...................................................................... 255 Figura 120 – Gráficos SIGIP-RN: Angicos .................................................................. 256 Figura 121 – Gráficos SIGIP-RN: Parelhas ................................................................. 257 Figura 122 – Gráficos SIGIP-RN: Macau .................................................................... 258 Figura 123 – Gráficos SIGIP-RN: Jucurutu ................................................................. 259 Figura 124 – Gráficos SIGIP-RN: Caraúbas ................................................................ 260 Figura 125 – Gráficos SIGIP-RN: Apodi ..................................................................... 261 Figura 126 – Campus do IFRN de Ceará-Mirim (NOC local do município) ............... 309 Figura 127 – Instalações do NOC de Ceará-Mirim 309 Figura 128 – Solar dos Antunes: sede da prefeitura municipal de Ceará-Mirim/RN... 311 Figura 129 – Trecho do anel óptico pela Infovia Potiguar da rede metropolitana de Ceará-Mirim/RN ........................................................................................................... 311 Figura 130 – Campus do IFRN de João Câmara/RN (NOC local do município) ........ 314 Figura 131 – Instalações do NOC de João Câmara ...................................................... 315 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Número de dispositivos IoT ........................................................................ 95 Gráfico 2 – Porcentagem de usuários individuais de Internet no Brasil (2000-2010) . 106 Gráfico 3 – Porcentagem de usuários individuais de Internet no Brasil (2010-2019) . 110 Gráfico 4 – SIGIP-RN: gráfico síntese de Conectividade (banda larga) ...................... 281 Gráfico 5 – SIGIP-RN: gráfico síntese de Conectividade (telefonia móvel) ............... 282 Gráfico 6 – SIGIP-RN: gráfico síntese de Economia (PIB) ......................................... 286 Gráfico 7 - SIGIP-RN: gráfico síntese de Economia (IDHm, Unidades Locais, população total ocupada e salários médios mensais) .................................................... 287 Gráfico 8 – SIGIP-RN: gráfico síntese de População .................................................. 288 Gráfico 9 - SIGIP-RN: gráfico síntese de Atendimento Institucional .......................... 296 LISTA DE MAPAS Mapa 1 – RGN e Infovia Potiguar .................................................................................. 36 Mapa 2 – Uso Individual de Internet no Mundo (2015) ................................................. 92 Mapa 3 – Os Registros Regionais de Internet no Mundo ............................................... 96 Mapa 4 – Mapa da porcentagem de domicílios particulares permanentes com acesso à Internet, em 2005 .......................................................................................................... 107 Mapa 5 – Mapa da porcentagem de domicílios particulares permanentes com acesso à Internet, em 2011 .......................................................................................................... 108 Mapa 6 – Situação do acesso à Internet no Brasil, por região (2019) .......................... 116 Mapa 7 – A RMN e a expansão da Rede GigaNatal .................................................... 147 Mapa 8 – Setor Leste/Agreste da Infovia Potiguar ....................................................... 156 Mapa 9 – Rede Metropolitana de Ceará-Mirim............................................................ 159 Mapa 10 – Rede Metropolitana de João Câmara .......................................................... 162 Mapa 11 – Rede Metropolitana de São Gonçalo do Amarante .................................... 166 Mapa 12 – Setor Seridó da Infovia Potiguar ................................................................ 168 Mapa 13 – Rede metropolitana de Caicó/RN ............................................................... 172 Mapa 14 – Rede Metropolitana de Currais Novos/RN................................................. 175 Mapa 15 – Mapa dos solos do Estado do Rio Grande do Norte, com destaque para os municípios do Setor Seridó da Infovia Potiguar ........................................................... 177 Mapa 16 – Rede Metropolitana de Santa Cruz ............................................................. 180 Mapa 17 – Setor Oeste da Infovia Potiguar .................................................................. 181 Mapa 18 – Rede metropolitana de Pau dos Ferros ....................................................... 184 Mapa 19 – Rede Metropolitana de Mossoró ................................................................ 188 Mapa 20 – Rede Metropolitana de Açu-Ipanguaçu ...................................................... 191 Mapa 21 – Micro e Mesorregiões do Rio Grande do Norte com as RGN/RGM e Infovia Potiguar ......................................................................................................................... 194 Mapa 22 – Rede GigaNatal e os municípios exclusivamente das Fases (1 e 2) da Infovia Potiguar ......................................................................................................................... 200 Mapa 23 – RGN e RGM: Velocidade do acesso .......................................................... 230 Mapa 24 - RGN e RGM: Meio do acesso .................................................................... 231 Mapa 25 – RGN e RGM: Acessos por geração de telefonia móvel ............................. 232 Mapa 26 – RGN e RGM: Combinação dos subindicadores de População .................. 235 Mapa 27 – RGN e RGM: Relação entre o IDHm e o IDHm Renda ............................ 236 Mapa 28 – RGN e RGM: Total de unidades locais das empresas e outras organizações atuantes;na área de informação e comunicação; e em atividades profissionais, científicas e técnicas ..................................................................................................... 237 Mapa 29 – RGN e RGM: O valor do Produto Interno Bruto (PIB) e a fração correspondente desse valor por setor da economia ...................................................... 238 Mapa 30 – RGN e RGM: População total ocupada e o salário médio mensal (por salários mínimos) .......................................................................................................... 239 Mapa 31 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Relação entre o total de acessos banda larga e o meio empregado ........................................................................................................ 263 Mapa 32 - Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Relação entre o total de acessos banda larga e a velocidade correspondente ......................................................................................... 264 Mapa 33 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Relação entre o total de acessos em telefonia móvel com a geração da telefonia móvel utilizada....................................................... 266 Mapa 34 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): População total estimada (2021) ............... 268 Mapa 35 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Densidade demográfica e a porcentagem da população urbana; entre 15 a 49 anos; e com ensino superior completo ..................... 269 Mapa 36 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): IDHm ........................................................ 270 Mapa 37 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): IDHm Renda ............................................. 271 Mapa 38 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Total de unidades locais das empresas e outras organizações atuantes; na área de informação e comunicação; e em atividades profissionais, científicas e técnicas ............................................................................... 272 Mapa 39 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): O valor do Produto Interno Bruto (PIB) e a fração correspondente desse valor por setor da economia ........................................... 273 Mapa 40 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): População total ocupada e o salário médio mensal (por salários mínimos) ...................................................................................... 274 Mapa 41 – Atendimento Institucional da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) ..................... 279 Mapa 42 – A RGN e RGM e a Infovia Potiguar (Fases 1, 2 e 3) ................................. 306 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Escala/Abrangência das Redes ..................................................................... 64 Tabela 2 – Dados de Conectividade dos municípios elencados para o projeto da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e da Rede GigaNatal ................................................................ 217 Tabela 3 - Dados de Economia dos municípios elencados para o projeto da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e da Rede GigaNatal ................................................................. 218 Tabela 4 - Dados de População dos municípios elencados para o projeto da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e da Rede GigaNatal ................................................................. 218 Tabela 5 - Dados de Atendimento Institucional dos municípios elencados para o projeto da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e da Rede GigaNatal ................................................ 219 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Objeto, Questões e Objetivos da Pesquisa................................................... 41 Quadro 2 – Tipologia das Redes: métodos de transmissão ............................................ 63 Quadro 3 – Sistema RNP e os serviços e aplicações .................................................... 138 Quadro 4 – Incubadoras do Estado do RN (IES e campi correspondentes) ................. 320 LISTA DE SIGLAS, ACRÔNIMOS E ABREVIATURAS ADSL – Asymmetric Digital Subscriber Line AEB – Agência Espacial Brasileira AFRINIC – African Network Information Centre AIRDATA – Serviço Internacional de Comunicação de Dados Aeroviários AMLightPaths – Americas Lightpaths Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações Andifes – Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Superior APNIC – Asia-Pacific Network Information Centre ARIN – American Registry Internet Numbers ARPA – Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas AS – Autonomous System ASN – Autonomous System Number ATM – Asynchronous Transfer Mode B2B – Be-to-Be B2M – Be-to-Machine BBS – Bulletin Board Systems BELLA – Built the Europe Link to Latin America BGP – Border Gateway Protocol Bit – binary digit BPM – Batalhão de Polícia Militar Caern – Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte CAFe – Comunidade Acadêmica Federada CBM – Corpo de Bombeiros Militar CBT – Código Brasileiro de Telecomunicações CCS – Centro de Ciências da Saúde CDMA – Code Division Multiple Access CEMPRE – Cadastro de Central de Empresas CERES – Centro de Ensino Superior do Seridó CERN – Centrée Européen pour Recherche Nuclaire CGI.br – Comitê Gestor de Internet no Brasil Chesf – Companhia Hidroelétrica do São Francisco Ciosp – Centro Integrado de Operações em Segurança Pública CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Conif – Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica CONSUNI – Conselho Universitário CONTEL – Conselho Nacional de Telecomunicações COPE-P – Centros de Operações Espaciais Principal COPE-S – Centros de Operações Espaciais Secundário Cosern – Companhia Energética do Rio Grande do Norte COVID-19 – Doença do Novo Coronavírus CTGAS-ER – Tecnologias do Gás e Energias Renováveis DEC – Digital Equipament Corporation DNS – Domain Name System DURAMAZ – Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia DWDM – Dense Wavelength Division Multiplexing EMCM-UFRN – Escola Multicampi de Ciências Médicas da UFRN ESA – European Space Agency Facisa – Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi FACS – Faculdade de Ciência da Saúde FAEN – Faculdade de Enfermagem FAPERJ – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo Fermilab – Fermi National Accelerator Laboratory FINDATA – Serviço Internacional de Acesso a Informações Financeiras FIU – Universidade Internacional da Flórida FO – Fibra Óptica FR – Frame Relay FTTH – Fiber To The Home Funttel – Fundo para o desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações do Ministério das Comunicações GÉANT – Rede Pan-europeia de pesquisa e educação GPON – Giga Passive Optical Network HEPNET – High Energy Physics Network Huab – Hospital Universitário Ana Bezerra HTML – Hypertext Markup Language HTTP – Hypertext Transfer Protocol Hz – Hertz IANA – Internet Assigned Numbers Authority IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICANN – Internet Corporation for Assigned Names and Numbers ICPEdu – Infraestrutura de Chaves Públicas para Ensino e Pesquisa IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers IES – Instituto de Ensino Superior IFRN – Instituto Federal do Rio Grande do Norte IMD – Instituto Metrópole Digital Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INTERDATA – Serviço Internacional de Comunicação de Dados IoT – Internet of ThingsIPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano ISD – Instituto Santos Dummont ISP – Internet Service Provider Itep – Instituto Técnico-científico de Perícia ITIV – Imposto de Transmissão de Bens Imóveis Intervivos ITU – International Telecommunication Union KM – Quilômetro LACNIC – Registro de Endereços da Internet para América Latina e Caribe LAN – Local Area Networks LGT – Lei Geral das Telecomunicações LNCC – Laboratório Nacional de Computação Científica M2M – Machine-to-Machine MAN – Metropolitan Area Networks MC – Ministério das Comunicações MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MD – Ministério da Defesa MEC – Ministério da Educação MIT – Instituto de Tecnologia de Massachussets MS – Ministério da Saúde MT – Ministério do Turismo National Research and Education Network (NREN) NIC – Network Information Center NIR – National Internet Registry NOC – Network Operation Center NPJ – Núcleo Prática Jurídica NREN – National Research and Education Network NRO – Number Resource Organization NSF – National Science Foundation OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ODN – Rede de distribuição óptica OLT – Terminal de Linha Óptica ONT – Terminal de Rede Óptica ONU – Optical Network Unit ONU – Organizações das Nações Unidas OPGW – Optical Ground Wire OS – Organização Social OSI – Open Systems Interconnection P&D – Pesquisa e Desenvolvimento PAX – Parque Científico e Tecnológico Augusto Severo PC – Personal Computer PGE – Procuradoria Geral do Estado PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNBL – Programa Nacional de Banda Larga PNOT – Política Nacional de Ordenamento Territorial PON – Passive Optical Network PoP – Ponto de Presença PoP-RN – Ponto de Presença da RNP no Rio Grande do Norte PPT – Ponto de Troca de Tráfego PRORNP – Programa Interministerial da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa RedClara – Rede de Cooperação Latino-Americana de Redes Avançadas Redecomep – Rede Metropolitana Comunitária Remavs – Redes Metropolitanas de Alta Velocidade RENPAC – Rede Nacional de Comunicação de Dados por Comutação de Pacotes RGM – Rede GigaMetrópole RGN – Rede GigaNatal RIPE NCC – Reséux IP – Européens Network Coordination Centre RIR – Regional Internet Registry RMN – Região Metropolitana de Natal RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa SCM Serviço de Comunicação Multimídia SDH – synchronous digital hierarchy Seec – Secretaria Estadual de Educação Sejuc – Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania Sesap – Secretaria de Estado de Saúde Pública Sesed – Secretaria de Segurança e Pública e da Defesa Social Sethas – Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social SGDC – Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas SIGIP-RN – Sistema de Indicadores para a Gestão da Informação pela Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte SIRGAS – Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas SITA – Société Internationale de Télécommunications Aéronautique SNT – Sistema Nacional de Telecomunicações SWIFT – Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT) TCP/IP – Protocolo de Transmissão de Controle/Protocolo de Internet Telebras – Telecomunicações Brasileiras S.A TENET & SANReN – Redes de Educação e Pesquisa da África do Sul TI – Tecnologia da Informação TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação TIM – Telecom Itália TRANSDATA – Serviço Digital de Transmissão de Dados TSL – Transport Layer Security TVA – Tennessee Valley Authority UCLA – Universidade de Califórnia UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UFERSA – Universidade Federal Rural do Semiárido UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte URL – Uniform Resource Locator Ursap – Unidade Regional de Saúde Pública USGS – United States Geological Survey VoIP – Voz sobre IP WAN – Wide Area Networks WDM – Wave Division Multiplexing Wi-Fi – Wireless Fidelity WLAN – Wireless LAN WMAN – Wireless MAN WWW – World Wide Web SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 26 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA ........................................ 44 2.1 O corpo teórico-conceitual da pesquisa ........................................................................ 45 2.1.1 Do Espaço (totalidade) ao Lugar ............................................................................... 45 2.1.2 O Método da Análise Regional e as categorias de análise centrais da pesquisa: entre o Complexo Geográfico e a Configuração, Uso e Gestão do Território ................................ 52 2.1.3 Procedimentos Metodológicos ................................................................................... 56 2.2 A dimensão técnica e geográfica da Internet: “cabeças” nas nuvens e “pés” no chão ............................................................................................................................................... 62 2.3 O meio técnico-científico-informacional: dos precursores da transmissão de dados ao surgimento da Internet ........................................................................................................ 77 2.3.1 Os primórdios da transmissão da informação: do meio natural ao meio técnico........ 77 2.3.2 A Revolução da Informação: o meio técnico-científico-informacional ..................... 85 2.3.3 O Bandeirantismo Tecnológico: a incorporação da Internet no território brasileiro .. 98 2.3.3.1. As telecomunicações no Brasil: técnica e regulação .............................................. 98 2.3.3.2 A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa: A Rede IPÊ ............................................ 120 3 O DESENHO DA REDE DA INFOVIA POTIGUAR NO TERRITÓRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE .............................................................. 140 3.1 Setor Leste/Agreste....................................................................................................... 156 3.1.1 Rede metropolitana de Ceará-Mirim ....................................................................... 158 3.1.2 Rede Metropolitana de João Câmara ....................................................................... 161 3.1.3 Rede Metropolitana de São Gonçalo do Amarante .................................................. 164 3.2 Setor Seridó................................................................................................................... 167 3.2.1 Rede Metropolitana de Caicó .................................................................................. 169 3.2.2 Rede Metropolitana de Currais Novos ..................................................................... 173 3.2.3 Rede Metropolitana de Santa Cruz .......................................................................... 178 3.3 Setor Oeste .................................................................................................................... 181 3.3.1 Rede Metropolitana de Pau dos Ferros .................................................................... 182 3.3.2 Rede Metropolitana de Mossoró .............................................................................. 185 3.3.3 Rede Metropolitana de Açu-Ipanguaçu ................................................................... 189 3.4 A Infovia Potiguar e a Configuração Territorial do Rio Grande do Norte .............. 192 4 A INFORMATIZAÇÃO E AS DISPARIDADES REGIONAIS DO TERRITÓRIO DO RN: O SIGIP-RN ...................................................................... 209 4.1 O processo de Informatização do Território do Rio Grande do Norte..................... 209 4.2 As disparidadesregionais e o Sistema de Indicadores para a Gestão da Informação pela Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte (SIGIP-RN) ........................................... 212 5 GESTÃO DO TERRITÓRIO E DA INFORMAÇÃO PELA INFOVIA POTIGUAR: DA TOTALIDADE AO LUGAR ...................................................... 299 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 322 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 328 APÊNDICES ............................................................................................................... 341 P á g i n a | 26 1 INTRODUÇÃO Dentre os desafios da ciência geográfica contemporânea, sobretudo com o advento da globalização, está a constante necessidade de compreensão dos conteúdos técnicos, científicos e informacionais que se instalam no (e intermedeiam os usos do) território. No entanto, essa preocupação não é atual. As relações entre a técnica e a sua base material inspiraram inclusive a construção de uma área do saber chamada de tecnomorfologia, proposta por Marcel Mauss, já na primeira metade do século XX. Para ele a tecnomorfologia é: “l'ensemble des rapports entre la technique et le sol, entre le sol et les techniques. On observera en fonction des techniques la base géographique de la vie sociale: mer, montagne, fleuve, lagune...” (MAUSS, 2002, p. 19)1. Essa relação entre a “técnica” e o “solo” na fala de Mauss se aproxima bastante da ciência geográfica, que por sua vez tem muito a contribuir nesse campo, pois, de acordo com a concepção de meio técnico-científico-informacional de Milton Santos a “ciência, a tecnologia e a informação estão na base mesma de todas as formas de utilização e funcionamento do espaço, da mesma forma que participam da criação de novos processos vitais e da produção de novas espécies (animais e vegetais) (SANTOS, 1994, p. 51)”. Assim, os equipamentos (objetos) construídos de ciência, tecnologia e informação são o alicerce da produção, da utilização e do funcionamento do espaço e tendem a constituir o seu substrato (SANTOS, 2014a, grifo nosso). Com destaque para a informação, podemos dizer que não está presente apenas nos objetos técnicos, que formam o espaço, como é necessária à ação realizada sobre tais objetos, sendo vetor fundamental do processo social e, dessa maneira, os territórios são equipados para promover a sua circulação (SANTOS, 2014a, grifos nossos). Introduzir sobre essa inseparabilidade entre materialidade e ação ao se discutir a Internet, enquanto um conjunto de redes interconectadas de computadores através de enlaces físicos e protocolos padronizados, é essencial, pois: […]. De fato, a Internet tem uma geografia própria, uma geografia feita de redes e nós que processam fluxos de informação gerados e administrados a partir de lugares. Como a unidade é a rede, a arquitetura e a dinâmica de múltiplas redes são as fontes de significado e função para cada lugar. O espaço 1Todas as relações entre técnica e solo, entre solo e técnicas. Observamos em função das técnicas a base geográfica da vida social: mar, montanha, rio, lagoa... (tradução livre). P á g i n a | 27 de fluxos resultante é uma nova forma de espaço, característico da Era da Informação, mas não é desprovida de lugar: conecta lugares por redes de computadores telecomunicadas e sistemas de transporte computadorizados. Redefine distâncias, mas não cancela a geografia. Novas configurações territoriais emergem de processos simultâneos de concentração, descentralização e conexão espaciais, incessantemente elaborados pela geometria variável dos fluxos de informação global (CASTELLS, 2003, p. 213). Inclusive, a Internet se deve ao desenvolvimento das tecnologias de integração de computadores em rede acompanhado do avanço nas telecomunicações, tais como cabos submarinos, satélites, micro-ondas terrestres, cabos coaxiais e de fibras ópticas, culminando numa solidariedade entre sistemas técnicos. Tais redes de informação desempenham um “papel cada vez mais importante na estruturação do território em todos os países do mundo” (THÉRY e MELLO-THÉRY, 2014, p.231). No caso do Brasil, o desenvolvimento das telecomunicações se deu, sobretudo nos anos 1970, durante o Regime Militar, estando fortemente associado a um assunto de Estado, com o intuito de promover a segurança e o desenvolvimento da integração nacional, para em seguida, com o processo de informatização do território brasileiro e um conjunto de normas, permitir o acesso ao uso comercial da Internet. Em âmbito acadêmico, as primeiras iniciativas se deram no final dos anos 1980, a partir do então Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), com a instituição da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que, em 1992, inaugurou os primeiros enlaces para a conexão nacional em âmbito acadêmico de Internet pública. Atualmente, a RNP tem firmado parcerias públicas e privadas para promover o uso inovador de redes avançadas e prover a integração global da comunidade acadêmica brasileira, objetivando contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e da pesquisa e colaborar com o desenvolvimento tecnológico, social e econômico do país. Neste sentido, a RNP está instituída pela Portaria Interministerial — pois está vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e mantida por este em conjunto com os ministérios da Educação (MEC), Comunicações (MC), Saúde (MS), Defesa (MD) e Turismo (MT) — de nº 3.825, de 12 de dezembro de 2018 que a define como Programa Interministerial da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (PRORNP), qualificada como Organização Social (OS), que tem por objetivos “planejar e executar atividades de desenvolvimento tecnológico, inovação, operações de meios e serviços, envolvendo tecnologias de informação e comunicação para a educação, a ciência, a P á g i n a | 28 tecnologia e a inovação, e suas aplicações em políticas públicas setoriais” (BRASIL, 2018, p.1). Quanto aos componentes do Sistema RNP, a referida lei destaca como os principais: a rede nacional lpê, o backbone2, e seus Pontos de Presença e Pontos de Agregação nas Unidades da Federação; as Redes Metropolitanas Comunitárias (Redecomep), baseadas em um modelo associativo das Organizações Usuárias; as Organizações Usuárias, públicas ou privadas; e as Redes de Colaboração de Comunidades (BRASIL, 2018). Grosso modo, o Sistema RNP oferece, a partir da Rede IPÊ, acesso à Internet de qualidade, bem como suporte a transmissão de grandes volumes de dados, para projetos científicos e desenvolvimento de novas tecnologias. A infraestrutura da Rede IPÊ engloba 27 Pontos de Presença (PoPs), — que permitem conexões em alta velocidade, serviços avançados de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e oportunidades de capacitação — um em cada unidade da federação, além de ramificações para atender milhares de campi e unidades de instituições de ensino, pesquisa e saúde em todo o país, beneficiando milhões de usuários. 2 Backbone (espinha dorsal) de uma rede é uma via principal de alta capacidade de transmissão de dados que concentra o tráfego de redes locais e o leva até redes de hierarquia superior. Sabendo-se que “a internet é formada pela interligação de inúmeras redes locais dispersas, os backbones são responsáveis pelas conexões de longa distância entre elas” (Mota, 2012, p. 23). P á g i n a | 29 Figura 1 – Mapa do Sistema RNP (Conexão Atual) Fonte: RNP, [202?]. Figura 2 – Sistema RNP em números Fonte: RNP, [202?]. Nesse contexto, o Núcleo de Redes Avançadas (NuRA) da UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte (UFRN), que hospeda o Ponto de Presença da RNP no estado do Rio Grande do Norte (PoP-RN), é o responsável pela elaboração do projeto da Infovia Potiguar, que está em processo de implantação e corresponde a uma infraestrutura capaz P á g i n a | 30 de levar ciência e tecnologia, através da implementação de uma rede de dados banda larga de alta capacidade (100Gb/s), suportada pelo cabeamento de fibra óptica, permitindo o acesso de qualidade à Internet em âmbito estadual. Para isso, o PoP/RN conta com o acordo firmado, em 2016, entre a RNP com a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), que pretende o compartilhamento de infraestrutura óptica em toda região Nordeste, tendo como suporte as linhas de transmissão da Chesf. Segundo a RNP (2016), este acordo permitirá acelerar a oferta de infraestrutura de alto desempenho para educação e pesquisa, promovendo o acesso à Internet em alta velocidade à comunidade acadêmica, incluindo centros de pesquisa, faculdades, institutos superiores, hospitais de ensino e centros de educação tecnológica. Além disso, a Chesf se beneficia com o avanço na sua infraestrutura de telecomunicações, garantindo maior confiabilidade para atendimento à operação e à manutenção do seu sistema elétrico, que é formado por uma malha de linhas de transmissão que alcança 20 mil km (RNP, 2016). Desse modo, o backbone inicial da Infovia Potiguar corresponde à rede da Chesf no estado do RN, elaborada a partir de uma tecnologia chamada OPGW (Optical Ground Wire), que faz uso de “cabos para-raios de cobertura, utilizados especialmente em linhas aéreas de transmissão de energia elétrica, construídos de modo a abrigar, em seu interior, fibras ópticas capazes de transmitir altas taxas de dados” (BORDUCHI, 2013 p. 17). Para Borduchi (2013), a utilização desses cabos tem por objetivos a proteção das linhas aéreas de transmissão contra descargas elétricas atmosféricas e a conexão de qualidade e de alta velocidade nas transmissões de dados. Assim, torna-se bastante conveniente para a Infovia Potiguar dispor desta parceria, uma vez que o acordo entre a Chesf e a RNP estabelece que a operação e manutenção de sua rede é de responsabilidade exclusiva da Chesf, que ainda garante o excelente índice de disponibilidade de 99,98% por ponto de acesso e 99% por rota (PoP-RN, 2017). No entanto, não são em todos os municípios elencados pela Infovia Potiguar, que a rede da Chesf se incorpora, sendo necessário elencar outras parcerias para a instalação de redes de longa distância a serem construídas, considerando financiamento existente em outras iniciativas da RNP no estado do RN. Nesse sentido, uma dessas iniciativas corresponde ao programa Veredas Novas nos estados, que, desde 2012, a partir da ação conjunta entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério da Educação (MEC) e o Ministério das Comunicações (MC), em parceria com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Superior (Andifes) e com o Conselho Nacional das P á g i n a | 31 Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), visa conectar, em alta velocidade, todos os campi no interior de universidades e institutos tecnológicos à RNP. Nesta iniciativa a conexão é feita por operadoras contratadas pela RNP, conforme viabilidade técnica das operadoras para cada região. Figura 3 – Mapa da Rede Veredas no estado do Rio Grande do Norte Fonte: PoP-RN [s.d]. Além dessa, uma outra iniciativa da RNP presente no RN corresponde às Redes Comunitárias de Educação e Pesquisa (Redecomep), que por sua vez, realiza, desde 2005, a implantação de redes de alta velocidade nas regiões metropolitanas do país conectadas por Pontos de Presença (PoPs) da RNP e em cidades do interior com duas ou mais instituições federais de ensino e pesquisa. Trata-se de uma rede com a finalidade de conectar instituições ao sistema RNP, garantido acesso a uma plataforma digital para educação, pesquisa e inovação, havendo uma relação direta entre institutos de educação superior, agências de fomento à pesquisa, empresas inovadoras, estabelecimentos de saúde com ensino e pesquisa, museus e instituições culturais no Brasil e no mundo. P á g i n a | 32 Figura 4 – Conexões pretendidas com a Redecomep ao sistema RNP Fonte: RNP, [202?]. Figura 5 – Mapa da distribuição da Redecomep no Brasil Fonte: RNP, [202?]. No tocante ao estado do RN, a Redecomep pode ser representada pela Rede GigaNatal (RGN), em operação desde 2008, incialmente contando com uma extensão de P á g i n a | 33 40 km de cabeamento óptico instalado no município e que havia recebido uma ampliação expressiva, através de recursos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estendendo seu backbone para 260 km de cabeamento óptico, que passa agora por nove municípios da Grande Natal: Natal, Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante, Vera Cruz, Monte Alegre, São José de Mipibu, Extremoz e Ceará-Mirim. Desse modo, o que diferencia a Rede Veredas da RGN, no momento, é a infraestrutura. Figura 6 – Instituições incialmente atendidas pela RGN Fonte: PoP-RN, [s.d .] P á g i n a | 34 Figura 7 – Instituições atendidas pela RGN (2017) Fonte: RNP, [202?]. Figura 8 – RGN e sua extensão concluída P á g i n a | 35 Fonte: PoP-RN, [s.d]. Além disso, uma rede óptica (de aproximadamente 280 km) de acesso foi implementada, interligando 350 escolas públicas em 4 dos municípios atendidos, sendo: Natal, Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante. Isso se deu por meio da parceria entre a UFRN e a Secretaria Estadual de Educação (Seec). Essas expansões da RGN para a Região Metropolitana de Natal resultaram na Rede GigaMetrópole (RGM), que desde a sua concepção passou a ser utilizada para interligar outras unidades de interesse público de diferentes setores. Tendo em vista o caráter sustentável da RGN e de sua extensão, que atuam sob um modelo de gestão que mantém a operação e manutenção em nível de excelência por meio de acordos entre UFRN (através do Centro de Operações da RGN, abrigado pelo Núcleo de Redes Avançadas) e as instituições parceiras que colaboram com o projeto, considerou-se esse modelo pelo qual se deseja replicar nas novas redes metropolitanas a serem implantadas no contexto da Infovia Potiguar (PoP-RN, 2017). No tocante a isso, a Infovia Potiguar estabeleceu como critérios para a sua expansão: selecionar os municípios do RN que contam com instituições que possam dar suporte à implementação de uma iniciativa local para operação e manutenção das redes, considerando também o número instituições de ensino superior e de habitantes e a quantidade de escolas públicas beneficiadas, além de outros setores governamentais de interesse, bem como outras iniciativas de implementação de redes metropolitanas em cidades do RN (PoP-RN, 2017). Foram, então, deliberados três “setores” (conforme Mapa 2) da Infovia Potiguar a serem instalados — Seridó: Caicó, Currais Novos e Santa Cruz; Oeste: Mossoró, Pau dos Ferros, e Açu unido a Ipanguaçu; Agreste/Leste: João Câmara, Ceará-Mirim e São Gonçalo do Amarante. Além disso, o projeto tem como objetivo compartilhar da responsabilidade de gestão da Infovia pelos principais interessados em seu bom funcionamento a fim de conquistar uma governança mais ágil, mais adaptada às condições locais de cada região e, portanto, mais apta a enfrentar os desafios da operação cotidiana deste empreendimento (PoP-RN, 2017). P á g i n a | 36 Mapa 1 – RGN e Infovia Potiguar Fonte: Elaborado pelo Laboratório Processamento de Dados e Gestão Territorial (LAPROTER, 2021), a partir da atuação do autor como bolsista, sobre dados do PoP-RN. Nota: a RGN destacadano mapa inclui sua extensão, a Rede GigaMetrópole. P á g i n a | 37 Desse modo, para a implantação do projeto da Infovia Potiguar outras parcerias além da Chesf foram pensadas, tanto do setor público como do setor privado, partilhando- se dos custos da construção, bem como a capacidade da infraestrutura a ser instalada. Assim, por um lado, a Infovia Potiguar conta com o financiamento da RNP (através de recursos repassados por setores do Governo Federal por intercessão do contrato de gestão mantido entre estes setores e a RNP) para a compra da fibra óptica, dos novos postes necessários à implantação do cabeamento óptico, além de promover o gerenciamento da rede, buscando parcerias com a Companhia Energética do Rio Grande do Norte (Cosern) e o Governo do Estado do RN, enquanto que por outro, as empresas provedoras parceiras fornecem a mão de obra para a instalação de equipamentos, sendo estas a Interjato, Inovanet, MOB Telecom e a Wirelink Telecom (esta última que atualmente substituiu a Online Telecom). Assim, as empresas envolvidas na construção têm seus negócios alavancados, podendo prestar serviços de qualidade para a população em geral ou outras empresas, pois parte da fibra óptica instalada fica à disposição das provedoras parceiras, enquanto que do lado público, o Governo estadual passa a contar com uma rede corporativa capaz de oferecer serviços digitais para esta mesma população. É nesse sentido que a Infovia Potiguar vem se incorporando e pretende se expandir pelo estado do RN. As fases dessa implantação da Infovia Potiguar são as seguintes: Figura 9 – Fases de Implantação da Infovia Potiguar Fonte: Adaptado do Infovia Potiguar [s.d]. P á g i n a | 38 Sobre a situação das condições das redes de serviço de comunicação e acesso à Internet no estado do RN foi verificado, através do material técnico cedido pelo PoP-RN intitulado Infovia Potiguar: uma rede de dados de banda larga e de alta capacidade para o Rio Grande do Norte (2020), que alguma das maiores redes existentes são de uso restrito e de propriedade de companhias (como a própria Chesf, Petrobras, etc.). O documento identificou também, com base em dados de 2019 obtidos no Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que as redes de uso geral utilizam tecnologias de baixa capacidade para sua construção, a exemplo de redes de rádio (sem fio), o que restringe a sua utilização em grande escala (PoP-RN, 2020). Também foi constatado neste documento que quando essas redes utilizam tecnologia de fibras ópticas, no geral, são mal instaladas, devido à celeridade com que as empresas responsáveis realizam sua construção, geralmente contribuindo para baixos índices de disponibilidade dos serviços de comunicação quando estas redes entram em operação (PoP-RN, 2020). Além disso, este documento declara que os serviços de conectividade são de custo elevado para clientes com uma grande demanda, a exemplo do próprio Governo do Estado, comprometendo um volume significativo dos recursos por serviços de baixa capacidade e disponibilidade sofrível (PoP-RN, 2020). Finalmente, foi verificado nesse documento que o atendimento a municípios com baixa densidade populacional e baixa renda não atrai investimentos do setor privado, pois o retorno financeiro pode não corresponder aos investimentos necessários à implantação de uma infraestrutura de comunicações ópticas (PoP-RN, 2020). Essas constatações aludem ao que advertiram Santos e Silveira (2001) em relação a existências paralelas entre um território bem informado, um território pouco informado e um conjunto de situações intermediárias, sendo necessário compreender as qualidades da informação, reconhecer quais os seus produtores e possuidores e decodificar os seus usos (SANTOS e SILVEIRA, 2001). Assim, devido à desigual distribuição das redes de fibras ópticas no território do RN, postula-se, de acordo com o Documento Base para uma proposta de uma Política Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT), que as infraestruturas de transmissão da informação “têm um papel cada vez maior para permitir — ou não — a inclusão digital de regiões periféricas” (BRASIL, 2006, p. 56). Nessa perspectiva, considerando a estrutura territorial observada no Mapa 1 e o descrito até o momento sobre o papel tecnomorfológico que a Infovia Potiguar tem na modelagem territorial do estado do Rio Grande do Norte, o objeto de estudo desta P á g i n a | 39 pesquisa é: a compreensão da configuração territorial da Infovia Potiguar no estado do Rio Grande do Norte, considerando as materialidades (estruturas, equipamentos) e a transformação dos usos territoriais permitidos pela implantação dessa rede. Na verdade, há de se considerar que uma estrutura em redes pode tornar mais fluídas e eficazes as colaborações intersetoriais (J. RODRIGUES e F. MOSCARELLI, 2015), inclusive a Infovia Potiguar, na medida em que se expande, visa em seu próprio escopo a implantação da Rede de Governo, unidades administrativas, sobre sua infraestrutura que objetiva melhorar a gestão do Estado, assim como a implantação de “Redes Temáticas”, como Rede de Educação, Rede de Saúde, Rede de Segurança, de Tributação, de Atendimento ao Público (PoP-RN, 2020). Desse modo, apesar da Infovia Potiguar já ter sido analisada em diferentes dimensões, do ponto de vista técnico e pelas demandas por sua implantação, demandas estas que são inerentes do território, este trabalho se justifica pelo fato de ainda não haver, até o momento, uma análise sobre sua atuação na configuração territorial do estado, apresentando as mudanças na organização da informação no território do Rio Grande do Norte, que aponte onde exatamente o acesso é mais precário ou praticamente inexistente (por uma série de fatores) correlacionando com a posição e situação de onde a estrutura técnica e de serviços desse empreendimento vai se dar. Ademais, a justificativa desta pesquisa consiste também no fato do estado do Rio Grande do Norte ter sido um dos primeiros estados no Brasil a ser contemplado com enlaces de alta capacidade de conexão, 100Gb/s, pela RNP, em função da parceria com a Chesf, e do interesse do Núcleo de Redes Avançadas/PoP-RN em expandir a instalação da Infovia Potiguar afim de potencializar uma melhor gestão do estado do Rio Grande do Norte, através da promoção de ações mais integradas entre diferentes setores e uma governança mais ágil. Assim, este estudo parte da hipótese de que a instalação da Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte potencializa usos de sua rede que reduzem as desigualdades não apenas referentes ao acesso à Internet, mas também aos serviços, contribuindo para uma gestão mais eficaz da informação e do território no RN. No entanto, sabendo-se que as redes se instalam sobre uma realidade complexa, onde certamente impactarão, mas, onde igualmente receberão a marca (DIAS, 2000), o questionamento central da pesquisa é: Qual a configuração territorial da Infovia Potiguar no estado do Rio Grande do Norte? Como questões específicas, temos as seguintes: P á g i n a | 40 Em que perspectiva a citada configuração territorial apresenta oportunidades (fluidez) e desafios (viscosidades) para a gestão da informação no território potiguar? De que maneira a configuração territorial da Infovia Potiguar induz a regionalização da informação no estado do Rio Grande do Norte? Quais os usos do território que podem ser viabilizados a partir da instalação da Infovia Potiguar? Quais materialidades (estruturas/equipamentos) são articuladas no território do RN a partir da instalação da Infovia Potiguar? Em resposta à problemática da pesquisa e em paralelo à hipótese levantada, o objetivo central deste estudo corresponde em: analisar a configuração territorial da Infovia Potiguar e os consequentesusos do território no estado do Rio Grande do Norte, discutindo as transformações territoriais em seu meio técnico-científico- informacional. Desse modo, como objetivos específicos, temos os seguintes: Evidenciar as redes técnicas e de serviços do RN que estão inclusas no (ou que podem ser incorporadas ao) projeto da Infovia Potiguar; Identificar a regionalização da informação dos municípios elencados pela Infovia Potiguar, a partir da distribuição atual dos acessos de diferentes níveis técnicos e as hierarquias que serão estabelecidas com esta rede; Analisar a relação entre a implantação da Infovia Potiguar no estado e o uso da informação pelos diferentes agentes do território; Inferir as potencialidades de integração e de gestão do território do RN com a incorporação da Infovia Potiguar a partir dos equipamentos territoriais analisados. P á g i n a | 41 De tal modo, este trabalho está estruturado quanto ao objeto, às questões e aos objetivos da seguinte maneira: Quadro 1 – Objeto, Questões e Objetivos da Pesquisa Objeto Questão Geral Questões Específicas Objetivo Geral Objetivos Específicos A configuração territorial da rede de informação da Infovia Potiguar no território do Rio Grande do Norte Qual a configuração territorial da Infovia Potiguar? De que modo essa configuração apresenta oportunidades e desafios para a gestão da informação no território potiguar? Analisar a configuração territorial da Infovia Potiguar e os consequentes usos do território do RN Evidenciar as redes técnicas e de serviços do RN que estão ou podem ser inclusas à Infovia Potiguar Como que essa configuração induz a regionalização da informação no território? Identificar a regionalização da informação nos municípios elencados pela Infovia Potiguar Quais os usos do território permitidos por essa configuração? Analisar a relação entre a implantação da Infovia Potiguar e o uso da informação pelos diferentes agentes do território Quais materialidades (estruturas/equipamentos) articuladas no território a partir dessa configuração? Inferir as potencialidades de integração e de gestão do território a partir dos equipamentos territoriais analisados Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Esta pesquisa, está dividida em mais quatro seções, além desta seção introdutória, em que se apresentou o objeto/problema da pesquisa, justificativa, hipótese e se elencou os seus objetivos. Essas seções que se seguem correspondem à fundamentação teórico- metodológica e, na sequência, outras as seções intituladas: O desenho da rede da Infovia Potiguar no território do estado do Rio Grande do Norte; A informatização e as disparidades regionais do território do RN: o SIGIP-RN; Gestão do território e da informação pela Infovia Potiguar: da totalidade ao lugar; e, por fim, as Considerações Finais. Quanto à fundamentação teórico-metodológica, é apresentado, num primeiro momento, o corpo conceitual e teórico do trabalho, com destaque para Santos (1978; P á g i n a | 42 1985; 1994; 1996 e 2005), Mauss (1926), Santos e Silveira (2001), Lencioni (1999), Paasi; Harrison; e Jones (2018), Becker (1991, 2005), Haesbaert (2004) e Ribeiro (2004), sobretudo quanto: à teoria do espaço, à discussão teórica sobre a tecnomorfologia, e aos conceitos de território, rede, região e lugar e às categorias de análise da geografia, uso e gestão do território e a configuração territorial. Além disso, se discute o método da Análise Regional, através da concepção de complexo geográfico, evidenciando Monbeig (1957), e outros mais contemporâneos como Dantas (2009) e Nonato Júnior (2016). Tanto a teoria como o método da pesquisa, os conceitos e categorias de análise foram elencados, pois, permeiam os elementos que surgem no nosso objeto de estudo, conforme veremos. Sobre os procedimentos metodológicos da pesquisa, destacamos a abordagem quanti-qualitativa, a tipologia referente ao sistema de indicadores, com ênfase em Le Tourneau e Marchand (2010), mas também em Nonato Júnior (2016) e Oliveira (2019) e os procedimentos de pesquisa (documental, bibliográfica, campo e laboratório). Apresentamos as ferramentas elencadas para o desenvolvimento desta pesquisa, a exemplo da tabulação dos dados e representação destes através de tabelas e gráficos por planilha eletrônica, software de geoprocessamento e de cartomática. Ainda sobre esse capítulo, há uma introdução sobre a consistência da Internet, de um ponto de vista técnico e geográfico, seguido de uma contextualização sobre os precursores históricos da transmissão da informação no mundo em paralelo à formação do meio técnico-científico-informacional e uma discussão sobre o desenvolvimento das telecomunicações no Brasil até o advento da Internet, considerando o papel da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa para a sua inserção no território brasileiro, em âmbito acadêmico. Quanto ao capítulo seguinte, O desenho da rede da Infovia Potiguar no território do estado do Rio Grande do Norte, há uma discussão sobre a incorporação desta infraestrutura no território do Rio Grande do Norte. Nessa discussão, boa parte das análises se devem aos dados e informações obtidos com os técnicos do NuRA/PoP-RN, por meio de conversas espontâneas que foram realizadas ao longo da pesquisa e que nos permitiu realizar representações cartográficas, identificando as tecnologias utilizadas, ou que serão incorporadas ao projeto da Infovia Potiguar, mas que ainda estão em andamento, e também algumas das dinâmicas territoriais já passíveis de serem percebidas em função da atual fase de materialização da Infovia Potiguar relacionada à configuração territorial preexistente no território do RN. P á g i n a | 43 No capítulo seguinte, intitulado A informatização e as disparidades regionais do território do RN: o SIGIP-RN apresentamos uma introdução sobre o processo de informatização do estado do Rio Grande do Norte, seguido das análises dos dados oriundos do nosso sistema de indicadores. Desse modo, fizemos uma análise qualitativa da configuração territorial do estado do Rio Grande do Norte no que tange à distribuição da informação no estado, e de como ela se apresenta como um reflexo às disparidades regionais e discutimos os dados do sistema de indicadores e os produtos cartográficos elaborados a partir destes dados, de modo a obter uma análise síntese e transversal de como a implantação da Infovia Potiguar está relacionada ao fortalecimento e imposição de novas regionalizações. Isso é discutido no capítulo em questão, a partir dos resultados sobre a atual distribuição de acessos de diferentes níveis técnicos, além de outros indicadores, e as hierarquias que tendem a ser estabelecidas com a implantação da Infovia Potiguar. Finalmente, no último capítulo, a Gestão do território e da informação pela Infovia Potiguar: da totalidade ao lugar, trouxemos as entrevistas semiestruturadas realizadas com a coordenação do PoP-RN, com o administrador de rede da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap) do RN e com a secretária de Tecnologia da Informação (TI) da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) de Natal, as quais foram discutidas a questão da gestão territorial e quais os principais obstáculos e desafios para a implantação da rede da Infovia Potiguar com esse propósito. Destacamos também nesse capítulo, os casos percebidos na última escala das redes, ou seja, os lugares, onde realizamos conversas espontâneas, sem roteiro, com a coordenação de TI do IFRN de Ceará-Mirim e do IFRN de João Câmara, em visita a esses municípios, acerca da concretização da rede nesses dois pontos que são praticamente os primeiros da Infovia Potiguar a serem inaugurados. P á g i n a | 442 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA Ao se discutir tecnomorfologia, Marcel Mauss (2002) considera, em seu Manuel d’ethnographie (obra de 1926), que duas alternativas surgem juntas, a primeira de que o homem tem necessidades especiais e por isso se adapta de tal maneira ao terreno, muitas vezes buscando condições que atendam a tais necessidades, enquanto que por outro lado, os homens estão em certo solo, sendo que por isso aqueles tiveram de se adaptar a este. Isso remete e clareia uma discussão que surge já no início da ciência geográfica, o determinismo com Ratzel e o possibilismo com La Blache, que conforme bem analisado por Santos (2012a) o primeiro não anula a segundo, mas pelo contrário o reforça, pois, “[…]. O reino do possível não é o mesmo do aleatório, mas o da conjunção de determinações que juntas se realizam a um dado tempo e lugar” (SANTOS, 2012a p.44). Assim, considerando o atual reino do possível com as novas conjunções de determinações em função do atual período técnico-científico-informacional, é necessário discutir um conjunto de sistemas técnicos para que compreendamos como que a combinação desses sistemas compõe a tecnomorfologia de um dado território. O termo tecnomorfologia, aqui proposto, pode ser, então, desmembrado em tecno, técnica, que inclui, dentro do grande tema desta pesquisa, o fato de que o desenvolvimento das telecomunicações, do telégrafo à Internet, “participou vigorosamente do jogo entre separação material das atividades e unificação organizacional dos comandos” (SANTOS E SILVEIRA, 2001, p.73), de modo que O meio de vida do homem, seu entorno, não é mais o que, há alguns decênios ainda, geógrafos, sociólogos e historiadores chamaram de meio técnico. O meio técnico-científico-informacional é um meio geográfico onde o território inclui obrigatoriamente ciência, tecnologia e informação (SANTOS, 1994, p.44). Desse modo, a ciência, a tecnologia e a informação estão na mesma base de todas as formas de utilização e funcionamento do espaço (SANTOS, 1994). Considerando que a informação “é o vetor fundamental do processo social e os territórios são, desse modo, equipados para facilitar a sua circulação” (SANTOS, 2014a, p. 239). É desse modo, que a outra parte do termo, a morfo, ou seja, a forma, corresponde às mudanças na topologia e na modelagem do território, os diferentes usos e fluxos de circulação que o desenham em função do emprego da técnica diante do atual período técnico-científico- informacional. P á g i n a | 45 No entanto, há de se considerar que: “como as formas geográficas contêm frações do social, elas não são apenas formas, mas formas-conteúdos. Por isso, estão sempre mudando de significação na medida em que o movimento social lhes atribui, a cada momento, frações diferentes do todo social” (SANTOS, 2014b, p.12-13). Assim, a discussão sobre a técnica que propomos neste capítulo corresponde à sua incorporação no espaço, ou seja, seu valor relacional. Para isso, este capítulo se divide no corpo conceitual-teórico, em que será discutido o campo conceitual e teórico da pesquisa, com destaque para a teoria de espaço de Milton Santos, além dos conceitos de território, rede, região e lugar e as categorias de análise, com ênfase no complexo geográfico e na discussão do uso do território, da paisagem, da configuração territorial, da regionalização como fato e ferramenta e da gestão do território, que fundamentarão a análise do nosso objeto. Bem como, os procedimentos metodológicos e técnicos adotados nesta pesquisa. Em seguida, apresentamos uma discussão técnica e geográfica sobre a Internet, além dos precursores históricos com relação aos principais avanços nas telecomunicações e na computação que culminaram na sua difusão no mundo em paralelo a formação do meio técnico-científico-informacional. Finalmente, encerramos o capítulo com o processo de incorporação da Internet em território brasileiro, destacando a normatização e a infraestrutura, a questão da inclusão digital e o papel da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. 2.1 O corpo teórico-conceitual da pesquisa 2.1.1 Do Espaço (totalidade) ao Lugar A pesquisa está centrada na teoria do espaço de Milton Santos, concebido enquanto totalidade, a exemplo da própria sociedade que lhe dá vida, e, assim, sendo considerada como uma instância da sociedade, que, bem como a instância econômica e a instância cultural-ideológica, contém e é contido pelas demais instâncias, do mesmo modo que cada uma delas o contém e por ele é contida (SANTOS, 2014b). Nesse sentido, o espaço não é constituído apenas pelos “objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto nos dá a Natureza” (SANTOS, 2014b, p. 12). O espaço é a natureza mais a sociedade que a anima, portanto, cada fração da natureza vai corresponder também a uma fração da sociedade. Essa relação está presente na concepção de espaço que Santos propõe, sendo “formado por um conjunto P á g i n a | 46 indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” (SANTOS, 2014a, p. 63). Sobre esses sistemas, consideramos a seguinte interação: “de um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma” (SANTOS, 2014a, p. 63). Essa dinamicidade e transformação do espaço resulta numa nova totalidade, que por sua vez também se modificará. Trata-se de uma totalidade em constante processo de totalização. Desse modo, a análise dessa totalidade consiste numa forma de fragmentação do todo, de modo que após a sua conclusão, permitirá uma reconstituição desse todo (SANTOS, 2014a). Santos (2014b) recomenda que a divisão do espaço pode ser feita por uma série de critérios, uma dessas formas de divisão corresponde aos seus elementos, os homens, as firmas, as instituições, o meio ecológico e as infraestruturas, que são redutíveis e intercambiáveis uns aos outros e também podem ser consideradas como variáveis quantitativas e qualitativas (SANTOS, 2014b). Dentro desta pesquisa, foram identificados como os homens, a população em geral, que terá o atendimento, mas cuja conexão depende, em certa medida, da condição de renda e ocupação, dentre outras características que podem indicar transformações mais ou menos expressivas com a introdução da infraestrutura da Infovia Potiguar, como se há uma população urbana considerável ou com ensino superior, ou mesmo de faixa etária que faz mais uso à Internet; sobre as firmas, temos as empresas parceiras, as empresas de servidores de acesso que podem contratar o seu serviço, e demais empresas clientes que atuam nos mais diversas setores; as instituições são as Instituições de Ensino Superior (IES), instituições de governo, o próprio PoP-RN, que por sua vez está hospedado no NuRA/UFRN; o meio ecológico e a infraestrutura correspondem às instalações preexistentes representadas pela conectividade da população por diferentes meios (satélite, rádio, fibra óptica, etc.), a rede já operada pelo NuRA/PoP-RN, a RGN e a RGM, e a que está para ser implantada, a Infovia Potiguar, considerando infraestruturas já existentes e as que estão e serão implantadas dentro do seu escopo (a rede da Chesf, as redes de longa distância intermunicipais e as redes metropolitanas) distribuídas sob o substrato ds mais diferentes regiões do estado do RN. Além disso, para a compreensão da organização espacial e de sua evolução, Milton Santos destaca que só se torna possível mediante a acurada interpretação dos P á g i n a | 47 processos dialéticos entre formas, o aspecto visível de uma coisa, que corresponde ao arranjo ordenado de objetos,a um padrão; função, que sugere uma tarefa ou atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa; estrutura, que implica a inter-relação de todas as partes de um todo, o modo de organização ou construção; e o processo, que pode ser definido como uma ação contínua desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando conceitos de tempo (continuidade) e mudança (SANTOS, 2014b). No contexto da Infovia Potiguar, a forma condiz com as unidades atendidas de instituições acadêmicas e de governo (enquanto clientes), os Gigapops, que permitem o acesso, as redes passivas, anel óptico, as redes de distribuição óptica, as redes de longa distância e da Chesf. A função, consiste no fato desse arranjo de objetos permitir o acesso à Internet em alta velocidade, para as redes acadêmicas, ancorando projetos e iniciativas de ensino e pesquisa, além de interligar unidades dispersas no território do Rio Grande do Norte. Ainda sobre a função, essa interligação de unidades também pode se dar na rede de governo, assim como ancorar projetos de inovação nos serviços oferecidos por essas unidades. Finalmente, sobre o acesso para as empresas parceiras, podemos dizer que também é função da Infovia Potiguar, de certa maneira, a conexão de alta qualidade à população em geral, possibilitando que provedores de acesso possam se instalar e permitir uma melhor distribuição da informação no território potiguar. No que se refere à estrutura, a inter-relação de todas as partes de um todo, no contexto da Infovia Potiguar, seria representada pela interligação entre os munícipios elencados e suas redes metropolitanas e passivas pelos trechos da Chesf e de longa distâncias a serem construídos, isto é, o somatório das formas, suas respectivas funções e os processos que a elas estão inclusas. Sobre esses processos, ou seja, a ação contínua se desenvolvendo em direção a um resultado e implicando a continuidade e mudança (SANTOS, 2014b), consiste, grosso modo, no próprio processo de instalação da Infovia Potiguar para prover acesso de qualidade à Internet em âmbito estadual, tendo em vista, que os municípios elencados, sobretudo os da Fase 1, que são os polos do estado, mas alguns da Fase 2 também, já apresentam uma certa regionalização de seus serviços, que tende a se fortalecer com essa implantação dessa rede ou mesmo estabelecer novas regionalizações, na medida em que, sobre esta rede, novas relações poderão se dar entre os municípios. No entanto, claro que a distribuição pode sofrer fluidez ou resistências diante da maneira com que densidades e rarefações se apresentam no território potiguar, pois, enquanto que o espaço “reúne a todos, com suas múltiplas possibilidades, que são P á g i n a | 48 possibilidades diferentes de uso do espaço (do território) relacionadas com possibilidades diferentes de uso do tempo” (SANTOS, 2014a, p. 160), o território consiste num “espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder” (RAFESTTIN, 1993, p. 144, grifo nosso). Além disso, a concepção de Milton Santos (1994), que é com a qual o trabalho consiste, entende o território como uma superposição de sistemas de engenharia diferentemente datados, e usados, hoje, segundo tempos diversos (SANTOS, 1994). A Infovia Potiguar faz jus a essa afirmativa, pois seu backbone se baseia numa infraestrutura preexistente, a rede da Chesf, cuja operação consiste em promover a transmissão de eletricidade e informação pelas torres treliçadas. Além disso, sobre as linhas de transmissão de longo alcance a serem construídas ainda na Fase 1, percebe-se também que o traçado dos postes de transmissão de dados segue trechos de algumas das principais rodovias do estado do RN (BR 405, BR 427, BR226 e BR 406) (ver novamente o Mapa 1). Isso corresponde ao que Santos chama de revanche das formas, isto é: “as formas criadas e que se tornam criadoras” (SANTOS, 1994, p.72). Isso ocorre, pois, conforme explica Toledo Júnior (2003), É grande a facilidade de implantação das fibras ópticas junto a infraestruturas em rede já presentes no território, o que tem implicações geográficas importantes para as áreas onde é utilizada nas cidades, marcadas pela presença e sobreposição de diversos tipos de redes. A implantação e a adaptação de redes de fibra óptica nesses lugares é mais fácil onde já exista algum tipo de infraestrutura, não somente de telecomunicação, mas de qualquer outro tipo que possibilite a passagem dos cabos, como, por exemplo, as redes elétricas ou as redes do metrô ou de trens urbanos (TOLEDO JÚNIOR, 2003, p. 103, grifos nossos). Sobre isso, podemos dizer que a materialidade é fator e condicionante da ação, de modo que quanto mais adequados forem os objetos, maior será a eficácia da ação (SANTOS, 2014a). Assim, “acréscimos de ciência, tecnologia e informação ao território são, ao mesmo tempo, produto e condição para o desenvolvimento de um trabalho material e de um trabalho intelectual, este tornado indispensável, já que antecede a produção” (SANTOS E SILVEIRA, 2001, p. 101). Além disso, a relação entre materialidade e ação no território corresponde ao seu uso, conforme é destacado: O território são formas, mas o território usado são objetos e ações, sinônimo de espaço humano, espaço habitado. Mesmo a análise da fluidez posta ao P á g i n a | 49 serviço da competividade, que hoje rege as relações econômicas, passa por aí. De um lado, temos uma fluidez virtual, oferecida por objetos criados para facilitar essa fluidez e que são, cada vez mais, objetos técnicos. Mas os objetos não nos dão senão uma fluidez virtual, porque a real vem das ações humanas, que são cada vez mais ações informadas, ações normatizadas (SANTOS, 2012b, p. 138). Desse modo, a incorporação da Infovia Potiguar no estado do RN — a partir do acréscimo de objetos técnicos que compõem a sua rede no território, como a rede OPGW e as subestações da Chesf, as redes de fibra óptica que estão sendo implantadas, caixas de emenda, núcleo de redes avançadas, etc. — potencializa uma maior fluidez virtual no estado, sendo que a fluidez real só poderá ocorrer se de fato essa infraestrutura corresponder às ações humanas, isto é, a partir de uma conformidade entre materialidade e ação. Para Antas Jr. (2005, p. 61, grifos nossos): Indivíduos, grupos e/ou populações têm seus comportamentos constantemente submetidos a enquadramentos geradores de resultados “socialmente desejáveis”. Essa coação produzida externamente aos sujeitos pode ter sua fonte numa materialidade apenas aparentemente inerte, uma vez que os conjuntos de objetos artificiais e humanizados que a constituem arranjam-se intencionalmente, de modo a obstaculizar dadas ações ou, ao contrário, a promover-lhes a fluência. Essa situação alude à afirmativa de que “o território condiciona a localização dos atores, pois as ações que sobre ele se operam dependem da sua própria constituição” (SANTOS e SILVEIRA, 2001, p. 22). Aqui temos uma relação entre o que Toledo Júnior (2003) chama de rede-infraestrutura (ou rede-suporte) e rede-serviço para os serviços que podem ser realizados com o auxílio dessa rede. Para este autor, Entendemos que a existência das redes-suporte está diretamente relacionada com as redes serviços, e sua localização evidencia a existência ou não de serviços que dependem da existência de redes. A concentração das redes em determinados pontos do território normalmente irá indicar lugares que são bem servidos por diversos tipos de infraestruturas, que se dão através de investimentos públicos ou privados, mas que servirão preferencialmente a determinadas parcelas do território e da sociedade (TOLEDO JÚNIOR, 2003, p. 95). Sobre as redes, é preciso considerar não apenas a informação, mas a norma,pois, de acordo com Haesbaert (2004, p. 268, grifo do autor), “o poder via novas tecnologias da informação faz com que se possa exercer ‘controle’ sobre territórios muito distantes, e a descontinuidade de nossos territórios se torna muito mais corriqueira”. Nesse sentido, P á g i n a | 50 temos os recortes do território descritos por Santos (2012): as horizontalidades, que se aproximam dos lugares contíguos e as verticalidades, dos lugares em rede. Sobre as horizontalidades, Santos destaca que corresponde “ao domínio de um cotidiano territorialmente partilhado com tendência a criar suas próprias normas fundadas na similitude ou na complementaridade das produções e no exercício de uma existência solidária” (SANTOS, 1994, p.55). Enquanto que as verticalidades estão associadas aos processos de cooperação, cuja escala geográfica geralmente ultrapassa ao do processo direto da produção (SANTOS, 1994), ou seja, há a primazia da rede. Para Santos (2014a, p. 270), “as redes são um veículo de um movimento dialético que, de uma parte, ao Mundo opõe o território e o lugar; e, de outra parte, confronta o lugar ao território tomado como um todo”. Inclusive, o autor afirma que: O mundo aparece como a primeira totalidade, empiricizada por intermédio das redes. […]. A segunda totalidade é o território, um país e um Estado – uma formação socioespacial -, totalidade resultante de um contrato e limitada por fronteiras. Mas a mundialização das redes enfraquece as fronteiras e compromete o contrato, mesmo se ainda restam aos Estados numerosas formas de regulação e controle das redes. O lugar é a terceira totalidade, onde fragmentos da rede ganham uma dimensão única e socialmente concreta, graças à ocorrência, na contiguidade, de fenômenos sociais agregados, baseados num acontecer solidário, que é fruto da diversidade e num acontecer repetitivo, que não exclui a surpresa” (SANTOS, 2014a, p. 270, grifo nosso). Sobre esse acontecer, Santos destaca que “se dá malgrado todas as formas de diferença, entre pessoas, entre lugares, se apresenta sob três formas no território atual: um acontecer homólogo, um acontecer complementar e um acontecer hierárquico” (SANTOS, 2014a, p. 166). Numa região agrícola, ou numa mesma cidade, dominada por uma mesma produção industrial, esse acontecer é homólogo, enquanto que nas relações entre a cidade e o campo, ele é complementar como também, nas relações interurbanas (SANTOS, 2014a). Finalmente, o acontecer hierárquico3, “resultante das ordens e da informação provenientes de um lugar e realizando-se em um outro, como trabalho” (SANTOS, 2014a, p. 167). 3 É a outra cara do sistema urbano. Não é que haja um lugar comandando um outro, senão como metáfora. Mas os limites à escolha de comportamentos num lugar podem ser devidos a interesses sediados em um outro (SANTOS, 2014a, p. 167). P á g i n a | 51 Figura 10 – Esquema referente ao Espaço (totalidade), Território e Rede (mediação), e o Lugar (realização) Fonte: Elaborado pelo autor, 2020. Concepção: Milton Santos (1994). Assim, a infraestrutura da rede da Infovia Potiguar, que corresponde ao que Toledo Júnior (2003) entende por rede técnica, não “se refere diretamente aos fluxos, à circulação que ocorre nas redes em geral, mas à presença física de um conjunto de linhas e pontos” (TOLEDO JÚNIOR, 2003, p. 95). De tal forma, essa presença física se dá no território estabelecendo um conjunto de conexões que não necessariamente ocorrem em todos os pontos por onde a rede passa, como é percebido na Infovia Potiguar. Sob tais condições, os arranjos espaciais não ocorrem como as regiões do passado, “figuras formadas de pontos contínuos e contíguos. Hoje, também, ao lado dessas manchas e sobre essas manchas, ou por sobre essas manchas, há, também, constelações de pontos descontínuos, mas interligados, que definem um espaço de fluxos reguladores” (SANTOS, 1994, p. 104). Assim, há um novo conteúdo à região, que é, segundo Santos (1994) além de um espaço das horizontalidades, pois sua constituição não mais corresponde à solidariedade orgânica criada localmente, e sim, a uma solidariedade organizacional literalmente teleguiada. Desse modo, a região é suporte e condição das relações globais, que contribuem para solidariedades organizacionais baseadas em racionalidades de origens distantes, mas que passam a constituir os fundamentos da sua existência e definição (SANTOS, 2014a). Inclusive, para Santos (2014a) tanto a região como o lugar se definem por um acontecer P á g i n a | 52 solidário, além de corresponderem a funcionalização do mundo, de tal modo que é por eles que o mundo é percebido empiricamente. Portanto, ao falar em região e lugar é necessário sempre fazer referência à totalidade. 2.1.2 O Método da Análise Regional e as categorias de análise centrais da pesquisa: entre o Complexo Geográfico e a Configuração, Uso e Gestão do Território O método elencado para a pesquisa corresponde ao da Análise Regional, cujo núcleo concerne ao gênero de vida de Vidal de La Blache, “que se define como o resultado das definições físicas, históricas e sociais, presentes nas relações do homem com o meio” (LENCIONI, 1999, p. 103). Além disso, consideramos a contribuição a tal método a partir do complexo geográfico, desenvolvido por Pierre Monbeig, que pode ser entendido como os complexos de fatos que se localizam e implicam ações recíprocas mutáveis do meio natural e humano, expresso antes de tudo pela paisagem, sendo este o ponto de partida, mas não o fim de qualquer pesquisa geográfica (MONBEIG, 1957). Para Monbeig (1957), a extensão do complexo geográfico se confunde com o meio regional (fator de origens diversas, que associados o formam) sendo o que caracteriza uma região. O complexo geográfico corresponde a um instrumental científico potente diante dos atuais processos de regionalização, pois, segundo Nonato Júnior (2016a), corresponde a uma noção vanguardista da concepção de região enquanto “rede”, “articulação” e “relação” entre diferentes atores e ações geográficas. Ainda para o autor, os elementos que compõem esta rede são oriundos da própria realidade física e social, em que incluem “as transformações na paisagem, a produção do espaço, os elementos simbólicos ligados ao lugar, a tensão entre espaço geral e específico, as vias de circulação entre a região e seu entorno e as representações ligadas ao espaço” (NONATO JÚNIOR, 2016a, p. 166). O complexo geográfico foi a base para o desenvolvimento do método da Análise Regional, que, conforme Nonato Júnior (2016a) constatou, permite refletir sobre a materialização das práticas sociais através de funções e sentidos dados à edificação — algo que se aproxima da concepção de Paasi, Harrison e Jones (2018) sobre as regiões, que devem ser entendidas como um construto social, baseado na prática social e no discurso, sendo a verdadeira base para avaliar as suas funções. Além disso, o complexo geográfico, segundo Dantas (2009), permite refletir sobre o modo com que os agrupamentos humanos se organizam para tirar da natureza os recursos. P á g i n a | 53 Desse modo, compreendendo a natureza como aquela já transformada pelo homem e a informação entendida como recurso, o complexo geográfico permite uma reflexão sobre a distribuição da informação pela Infovia Potiguar no território do Rio Grande do Norte. Além disso, a forma com que outros sistemas técnicos estão distribuídos territorialmente poderá ou não indicar frações do território mais ou menos informatizados. De tal forma, a paisagem, considerando o método elencado e a observação desses diferentes níveis de informatização no território, torna-se essencial, tendo em vista sua concepção como o resultado cumulativo dos diferentes tempos e do uso de novastécnicas, cuja acumulação decorre das adaptações verificadas no nível regional e local (SANTOS, 2014b). Assim, por meio da paisagem, poderemos verificar as materialidades técnicas da Infovia Potiguar sendo incorporadas ao território do RN e o rebatimento dessas cristalizações do ponto de vista empírico. No entanto, obviamente, que essa compreensão será dada parcialmente, sabendo- se que a paisagem corresponde “a maneira com que os objetos se dão aos nossos olhos na sua continuidade visível” (SANTOS, 2014b, p.12), ou seja, corresponde a uma fração do conjunto de objetos geográficos distribuídos sobre o território, sendo necessário considerar este conjunto, que, por sua vez, definirá o próprio território, ou seja, sua configuração geográfica ou sua configuração espacial, ou mesmo configuração territorial. Segundo Santos (1994), estes objetos são cada vez mais carregados de informação, de tal maneira, que a diferenciação entre eles “é tanto a da informação necessária a trabalhá-los, mas também a diferenciação da informação que eles próprios contêm, pela sua própria realidade física” (SANTOS, 1994, p. 140). Ainda para o autor, a configuração territorial é […] formada pelo conjunto de sistemas de engenharia que o homem vai superpondo à natureza, verdadeiras próteses, de maneira a permitir que se criem as condições de trabalho próprias de cada época. O desenvolvimento da configuração territorial na fase atual vem com um desenvolvimento exponencial do sistema de transportes e do sistema de telecomunicações (SANTOS, 1994, p. 141). Desse modo, o uso do território nos permite entender o processo de incorporação do sistema de engenharia da Infovia Potiguar no território do Rio Grande do Norte que sobrepõe e se relaciona com um conjunto de outros objetos geográficos diferentemente datados com diversos usos e tempos, e que, assim, permitirá o uso também diverso da P á g i n a | 54 informação por uma série de atores. Para Santos e Silveira (2001), o uso do território pode ser definido pela implantação de infraestruturas, ou os sistemas de engenharia, assim como pelo dinamismo da economia e da sociedade, além de apontar “para a necessidade de um esforço destinado a analisar sistematicamente a constituição do território” (SANTOS e SILVEIRA, 2001, p. 20). Para verificar esses usos, reforça-se a escolha da paisagem enquanto categoria de análise, considerando-a como o resultado cumulativo dos diferentes tempos e do uso de novas técnicas, cuja acumulação decorre das adaptações verificadas no nível local e regional (SANTOS, 2014b, grifo nosso). Desse modo, a regionalização como fato e a regionalização como ferramenta também se somam como categorias de análise da pesquisa, pois permitem embasar a compreensão de como as desigualdades do território do RN condicionam a incorporação da Infovia Potiguar. No primeiro caso, refere-se à “expressiva gênese e estruturação de regiões e depende da reconstrução histórica dos múltiplos processos que movimentaram e limitaram a ação hegemônica” (RIBEIRO, 2004, p. 194). No que tange à Infovia Potiguar, a regionalização como fato consiste na abrangência dos municípios abarcados pela incorporação de tal empreendimento. Pois, os limites, intrinsecamente relacionados à técnica, estabelecem as fronteiras e apresentam a natureza dos projetos que conduziram [e conduzem] a ação hegemônica, em seu confronto com outras ações (seja dos agentes que disputaram seus conteúdos ou que se opuseram à sua afirmação) (RIBEIRO, 2004). Para Haesbaert, a região como fato ou realidade pode ser concebida “seja no âmbito materialista, a partir de um arranjo de relações materiais ou mesmo naturais do espaço, seja na perspectiva idealista das representações e símbolos que através dele são construídos e partilhados” (HAESBAERT, 2010, p. 94). Dessa forma, os objetos da rede da Infovia Potiguar nos diferentes pontos onde se materializam vão estabelecer relações materiais (ou até mesmo, ideológicas e simbólicas) que agregarão um novo conteúdo regional. No segundo caso, a regionalização como ferramenta consiste na sua utilização pelos agentes hegemônicos, considerando a atual conjuntura, a qual é “marcada pela transformação da eficácia em meta política; pela mutação da cultura em mercadoria; pela imposição do agir instrumental e estratégico e pelo desvendamento contínuo de contextos de inovação” (RIBEIRO, 2004, p. 197). A região como ferramenta é pleiteada pelo Estado, as corporações e movimentos sociais, uma concepção que se aproxima da região como artifício, que por sua vez é um “mecanismo social-intelectual, necessário para o P á g i n a | 55 entendimento e, de forma mais ampla e pragmática, para a própria produção de uma nova realidade” (HAESBAERT, 2010, p. 94). Neste ponto, no âmbito do nosso objeto, corresponde à própria regionalização da Infovia Potiguar pelo NuRA/PoP-RN, que almeja promover uma melhor distribuição da informação, enquanto recurso, no território do Rio Grande do Norte. De tal modo, é preciso considerar que “a relevância da regionalização como ferramenta depende do conhecimento da regionalização como fato, já que desta advém recursos essenciais” (RIBEIRO, 2004, p. 197). Desse modo, para Ribeiro (2004), o ato de regionalizar envolve espaço-tempo-ação social (sujeitos e conflitos sociais), de modo que compreende a institucionalização de fronteiras e limites, mirando a implementação de uma determinada ação (analítica, política, econômica, enfim, social), exigindo a definição do cenário, contexto e escala correspondente aos objetivos dessa ação. Considerando os vínculos entre a regionalização e ação estratégica, vemos na abordagem regional, uma pujante forma de compreender a potencial contribuição da Infovia Potiguar para a Gestão do Território, que por sua vez corresponde a uma “prática estratégica científico-tecnológica do poder no espaço-tempo” (BECKER, 2012, p. 129), no estado do Rio Grande do Norte. Isso se deve ao fato da Infovia Potiguar ter como uma das finalidades permitir ações mais integradas entre diferentes setores de governo no estado. Em paralelo a isso, pode-se dizer que a técnica é o: […] modo pelo qual homens se relacionam com a natureza (natural e recriada), atribuindo à materialidade intencionalidades condicionadoras das ações. Em outros termos, a partir de uma dada configuração dos objetos técnicos, intencionalmente estabelecida, decorre a repetição de um certo conjunto de ações (embora não impossibilite ações inusitadas) (ANTAS JR, 2005, p. 67). Desse modo, as instituições de governo, como secretarias e unidades de segurança pública, educação, saúde, etc., diferentemente distribuídas e adensadas nas municipalidades elencadas pela Infovia Potiguar, poderão compartilhar informações, realizar ações conjuntas, fortalecendo relações regionais ou mesmo permitindo novas interações no estado. Essa situação se inclina à Gestão do Território, como o “conjunto de práticas que visa, no plano imediato, à criação e ao controle da organização espacial” (CORREA, 1992, p. 115). De outra maneira, a gestão do território se trata da criação e do controle das formas espaciais, suas funções e distribuição no espaço, além de, determinados processos P á g i n a | 56 (concentração e dispersão espaciais), que conformam a organização do espaço em sua origem e dinâmica, contribuindo para a criação e manutenção das diferenças espaciais através das quais diferenças econômicas e sociais se realizam, legitimam e se reproduzem (CORREA, 1992). Figura 11 – Categorias de análise centrais da pesquisa Fonte: Elaborado pelo autor, 2020. Quanto aos níveis escalares da gestão do território, Becker acrescenta que são: o nível nacional, aquele da regulação, seleção e estímulo de atividades e espaços, enquanto que o nível regional e local, ode espaços convivenciais, nos quais é prioritária para a gestão “a participação da população e do saber local na formulação e na execução das estratégias, táticas e técnicas a serem utilizadas” (BECKER, 1991, p. 179). Embasando- se nisso, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, corresponde ao nível nacional, enquanto que o NURA/PoP-RN estabelece a mediação deste com o nível regional e local. Portanto, antes de avançar na discussão teórica mais associada ao objeto de estudo, seguem, no próximo tópico, os procedimentos metodológicos elencados para a realização desta pesquisa. 2.1.3 Procedimentos Metodológicos A pesquisa tem como abordagem a quanti-qualitativa, ou seja, consiste na organização e classificação de dados quantitativos, de forma associada à análise qualitativa. Além disso, a tipologia consiste na Análise por Sistema de Indicadores, tendo em vista, que este permite simplificar, esclarecer e disponibilizar informações agregadas •Paisagem •Configuração Territorial •Uso do Território •Regionalização como fato/ferramenta •Gestão do Território Complexo GeográficoTeoria e método P á g i n a | 57 de modo que seja possível, no ponto de vista do planejamento, ajudar a incorporar o conhecimento na tomada de decisões, auxiliando na mensuração do progresso em direção às metas de desenvolvimento (ONU, 2007). Como referência ao nosso sistema de indicadores, baseamo-nos no DURAMAZ, que é um Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia desenvolvido por Le Tourneau e Marchand (2010), que consideram como base para a qualidade dos indicadores a sua comparabilidade, robustez, relevância, transparência e mensurabilidade. Para isso, a pesquisa também se baseou em adaptações desse sistema de indicadores realizadas por Nonato Júnior (2016) e Júlia Oliveira (2019) em suas respectivas pesquisas. Para a nossa pesquisa, pensamos no Sistema de Indicadores para a Gestão da Informação pela Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte (SIGIP-RN). Segue abaixo, a fonte de dados para a construção do nosso sistema de indicadores (ver melhor os critérios no capítulo 4 desta dissertação): Figura 12 – Sistema de Indicadores para a Gestão da Informação pela Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte (SIGIP-RN) Fonte: Elaborado pelo autor, 2022. Quanto aos procedimentos, elencamos a pesquisa bibliográfica, a partir do levantamento teórico das obras de geógrafos, como Santos (1978; 1985; 1994; 1996 e P á g i n a | 58 2005), Santos e Silveira (2001), Lencioni (1999), Paasi; Harrison; e Jones (2018), Becker (1991, 2005) e Haesbaert (2010) e Ribeiro (2004) sobre: a teoria do espaço, os conceitos de território, rede, região e lugar e as categorias de análise da geografia, paisagem, configuração territorial, uso do território, regionalização como fato e ferramenta e a gestão do território. Também consiste num levantamento sobre o método da Análise Regional, através da concepção de complexo geográfico, como Monbeig (1957), e outros mais contemporâneos como Dantas (2009) e Nonato Júnior (2016). Além disso, a seleção de textos que tratem da tipologia da pesquisa, ou seja, do sistema de indicadores, tais como Tourneau e Marchand (2010), além de Nonato Júnior (2016) e Oliveira (2019) para servirem de base para a estruturação do SIGIP-RN. Finalmente, um levantamento de obras que contemplem o tema, sobretudo, quanto à Internet e a informatização no mundo, como Tanenbaum (2003), Morais, Lima e Franco (2012), Castells (1999; 2003), Graham, Zook e Sabbata (2015) e mais precisamente sobre a temática no Brasil, a exemplo de Toledo Júnior (2003), Carvalho (2006), Motta (2012), Silva (2019) e Girardi (2013; 2015). Para algo mais voltado à pesquisa e a contextualização histórica da Internet no mundo, Brasil e no Rio Grande do Norte, além da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, foi feita uma pesquisa documental que coletou informações da legislação federal, estadual, documentos sobre órgãos gestores da Internet no mundo e no Brasil, além de documentos específicos sobre a Telebrás no que tange à rede nacional para identificar a situação das infraestruturas de acesso à Internet no país, e mais especificamente da RNP, sobretudo os seus termos de usos, bem como outros documentos específicos sobre o projeto da Infovia Potiguar disponibilizados pelo PoP-RN (Ponto de Presença da RNP no RN). Desse modo, no esquema abaixo, seguem os principais documentos para compreensão da Internet no Brasil; a atuação da RNP; e a incorporação da Infovia Potiguar: P á g i n a | 59 Figura 13 – Pesquisa Documental (os principais documentos elencados) Fonte: Elaborado pelo autor, 2021. Também se recorreu ao portal de notícias da RNP para mais informações sobre o projeto, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além de consulta de dados abertos do Serviço de Comunicação Multimídia (2021), da Anatel, com informações sobre conectividade, como total de acessos, velocidade, tipologia (banda larga fixa ou móvel) e meio empregado (rádio, fibra óptica, cabo metálico, etc.), consulta de dados socioeconômicos e demográficos do IBGE, pelo Censo Demográfico (2010), Cadastro Central de Empresas CEMPRE (2019), — considerando a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) das unidades locais especificadas —, para o SIGIP-RN e para a elaboração cartográfica. Elencamos também o campo como um dos procedimentos, em função do método elencado. No entanto, devido à pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19), foi necessária uma adaptação para a obtenção de dados empíricos sobre os polos ou setores de expansão definidos pelo projeto da Infovia Potiguar. Dessa forma, o levantamento de informações e dados sobre a rede, considerando os pontos e trechos dos munícipios que compõem ou que podem compor os setores de expansão do projeto da Infovia Potiguar se deu através de diálogos espontâneos4 com os técnicos do NuRA/PoP-RN, mas também 4 Conversas espontâneas que se deram sem roteiro ao longo da pesquisa. P á g i n a | 60 realizamos entrevistas semiestruturadas (ver o roteiro em Apêndices) com a coordenação do PoP-RN, a secretária adjunta de TI da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) de Natal e o administrador de rede da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) sobre as contribuições dessa rede para a melhoria do acesso no estado, dos serviços e da gestão. Esses dialógos e entrevistas se deram por meio das plataformas do google meet, microsoft teams, whatsapp e pela ConferênciaWEB (da RNP). No entanto, na etapa de campo, também obtivemos registros nossos nos municípios através de fotografias e diálogos a fim de complementar os resultados e análises permitidos pelo sistema de indicadores. Porém, dentre todos os municípios elencados pela Infovia Potiguar, visitamos dois da Fase 1, que foram Ceará-Mirim e João Câmara, situados no setor Leste/Agreste, onde houve um avanço maior, tendo sido entregue o primeiro trecho de longa distância e também onde foi inaugurada a primeira conexão do estado pela Infovia Potiguar, no IFRN de Ceará-Mirim, que está diretamente interligado ao IFRN de João Câmara, justamente por este trecho de longa distância. Assim, conversamos de forma espontânea, ou seja, sem roteiro definido, com os coordenadores de TI de cada um destes IFRN sobre as possibilidades de mudanças para tais institutos e os respectivos municípios com a implantação desta rede. Finalmente, a pesquisa de laboratório foi elencada para a construção e representação do sistema de indicadores, o SIGIP-RN, que foram utilizadas planilhas eletrônicas para tabulação dos dados obtidos nas fontes mencionadas acima (disponíveis nos sites do IBGE, Anatel, Atlas do Brasil) além de dados (em arquivos nos formatos de planilhas e KMZ) queforam obtidos com a equipe técnica do NuRA/PoP-RN. Após o tratamento e a organização deste material, foi possível posterior entrecruzamento de modo a serem representados no formato de tabelas e gráficos (do tipo radar), em que foi atribuído uma pontuação através de uma escala de 1 a 5, em que isolamos o menor e o maior valor nas extremidades dessa escala, enquanto se estabeleceu uma pontuação de 2 a 4 com os valores intermediários (ver o exemplo da imagem abaixo). P á g i n a | 61 Figura 14 - Tabela exemplificando o indicador de Conectividade de Caicó Fonte: Elaborado pelo autor (2021) No entanto, é preciso ponderar algumas informações geradas pelo sistema de indicadores, pois, tomando este caso de Caicó como exemplo, a variável Fibra Óptica a nota da escala foi “4”, ou seja, um intervalo entre 100.001 a 1.000.000 acessos, no entanto, a variável Indeterminado, que foi também a nota “4”, o intervalo é de 1.001 a 5.000 acessos. Em outras palavras, essas variáveis não tem o mesmo peso, porém, indica, neste caso de Conectividade, que o município de Caicó teve um maior volume de acessos naquelas duas tecnologias em relação aos demais municípios, que tiraram uma pontuação menor, ou seja, estabelece uma comparação quase que imediata entre os municípios elencados para cada uma dessas variáveis. Além disso, permite estabelecer uma comparação e uma relação quase que imediata entre os indicadores, por isso o agrupamento lado a lado, conforme veremos. De todo modo, sugerimos que antes de se atentar para os gráficos do SIGIP-RN, seja feita uma leitura dos valores apresentados nas tabelas que alimentam o sistema de indicadores e do esquema que sintetiza tal sistema, conforme ainda veremos e aprofundaremos no quarto capítulo desta dissertação. Vale destacar também que foi feita a elaboração cartográfica para a representação das redes e também para representar espacialmente os dados colhidos para o nosso sistema de indicadores, sobretudo para complementar a análise daqueles pontos que indicam uma certa distorção. Esses mapas P á g i n a | 62 são temáticos, coropléticos e foram feitos com recursos de cores contrastantes para indicar uma situação melhor ou pior, e também, em alguns casos utilizamos gráficos de pizza para melhor representar a proporcionalidade. Outro uso por meio de software de geoprocessamento foi feito para tratar das imagens de satélite referentes aos municípios elencados pela Fase 1 da Infovia Potiguar da série Landsat 8 colhidas no portal do United States Geological Survey (USGS), sendo selecionada a camada pancromática com resolução espacial de 15 metros (m). Em seguida, atribuímos como sistema de coordenadas geográficas o Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS) 2000 às imagens colhidas e depois adicionamos sobre elas as outras camadas, como anel óptico, clientes do PoP-RN, GigaPoPs, rede passiva, caixas de emenda, subestações, todas obtidas com os técnicos do NuRA/PoP-RN para representar as redes metropolitanas desses municípios e suas redes passivas de acesso. Essas camadas obtidas junto ao NuRA/PoP-RN passaram por uma conversão do formato KMZ para shapefile, e foram atribuídas também a estas o sistema de coordenadas geográfica SIRGAS 2000. Sendo assim, antes de avançarmos mais na discussão da materialização da Infovia Potiguar, pelo NuRA/PoP-RN, trataremos a seguir da dimensão técnica e geográfica acerca da Internet, dos seus precursores históricos sobre o desenvolvimento das tecnologias de transmissão de informação no mundo, sobretudo, considerando o advento da Internet e o processo de formação do meio técnico-científico-informacional, e o seu rebatimento no Brasil. 2.2 A dimensão técnica e geográfica da Internet: “cabeças” nas nuvens e “pés” no chão Este tópico consiste no esforço de nos aprofundarmos um pouco mais no que corresponde à definição e estrutura da Internet de um ponto de vista técnico e geográfico. Na verdade, a Internet, é um exemplo de Inter Rede, isto é, não corresponde a uma única rede de computadores apenas, mas sim, conforme Tanenbaum (2003), a um vasto conjunto de redes diferentes que utilizam de certos protocolos comuns, fornecendo também determinados serviços comuns aos usuários. O acesso a tais serviços ocorre por meio da interconexão dos diversos dispositivos de computação ao redor do mundo, dos chamados usuários finais. O conjunto de redes de computadores que formam a Internet, pode ser concebido pela ligação entre dois ou mais computadores e dispositivos complementares agregados P á g i n a | 63 por meio de “recursos de comunicação, geograficamente distribuídos, permitindo a troca de dados entre estas unidades através de um sistema de comunicação e otimizando recursos de hardware e software” (MORAIS, DE LIMA e FRANCO, 2012, p. 13). Essa troca de dados ou transmissão se dá por uma tecnologia conhecida como comutação de pacotes, que divide a informação em vários e pequenos pedaços de dados e depois a encaminha para o destino endereçado. Tanenbaum (2003); Morais, Lima e Franco (2012), estabelecem as seguintes dimensões pelo método de transmissão: Quadro 2 – Tipologia das Redes: métodos de transmissão Redes de Difusão Redes Ponto a Ponto Há apenas um canal de comunicação, que é compartilhado por todas as máquinas da rede. Correspondem a mensagens, que em determinados contextos são chamados pacotes, enviadas por uma das máquinas e são recebidas por todas as outras. Um campo de endereço dentro do pacote especifica o destinatário pretendido. Quando recebe um pacote, uma máquina verifica o campo de endereço. Se o pacote se destinar à máquina receptora, ela o processará; se for destinado a alguma outra máquina, o pacote será simplesmente ignorado. Além disso, os sistemas de difusão também oferecem a possibilidade de endereçamento de um pacote a todos os destinos por meio de um endereço especial. Quando um pacote com esse endereço é transmitido, ele é recebido e processado por todos os computadores da rede. Esse modo de operação é chamado de difusão (broadcast). Alguns sistemas de difusão também suportam transmissão para um subconjunto de computadores, conhecido como multidifusão (multicasting). Há várias conexões entre pares de máquinas individuais. Para ir da origem ao destino, um pacote provavelmente tenha de visitar antes uma ou mais máquinas intermediárias. Como geralmente é possível haver várias rotas com diferentes tamanhos, encontrar boas rotas é crucial em redes ponto a ponto. A transmissão ponto a ponto com um transmissor e um receptor é ocasionalmente chamada unidifusão (unicasting). Fonte: Adaptado de Tanenbaum (2003); Morais, Lima e Franco (2012) Além disso, embora com exceções, é bastante comum redes menores geograficamente localizadas utilizarem a rede difusão, enquanto redes maiores, de um P á g i n a | 64 modo geral, os sistemas de redes ponto a ponto. Sendo assim, outra dimensão das redes de computadores consiste na escala ou abrangência (ver quadro abaixo). Tabela 1 – Escala/Abrangência das Redes Fonte: Adaptado de Tanenbaum (2003). Claro que essa dimensão é apenas simbólica, pois há países que possuem uma área menor que a de uma cidade, a exemplo de Tuvalu, localizado na Oceania com apenas 26 km², enquanto que a cidade de São Paulo tem uma área de 1.521,110 km². No entanto, é uma classificação que já nos permite ter uma noção de que, mesmo numa perspectiva técnica, o espaço e as redes, inclusive a Internet, estão relacionados. Para Tanenbaum (2003), as Redes Pessoais correspondem a conexões de dispositivos para serem utilizados por uma pessoa em um pequeno espaço, em torno de um metro, como uma rede sem fio conectando o computador com o teclado, mouse, fone ou a impressora. Quanto às Redes Locais, ou Local Area Networks(LAN), consistem em redes privativas contidas em um único prédio ou um campus. Tanenbaum (2003) afirma ser necessário considerar sobre as LAN’s, o tamanho restrito de sua abrangência, sua tecnologia de transmissão, e sua topologia. Na verdade, as topologias mais comuns de uma LAN são: rede de barramento; rede em anel; e rede em estrela. A rede de barramento (cabo linear), consiste no fato de quem em qualquer instante, no máximo uma máquina desempenha a função de mestre e pode realizar uma transmissão (TANENBAUM, 2003). A partir de então, as outras máquinas serão impedidas de enviar qualquer tipo de mensagem, sendo preciso criar um mecanismo de arbitragem para resolver conflitos quando duas ou mais máquinas quiserem fazer uma transmissão simultânea (TANENBAUM, 2003). DISTÂNCIA DO INTERPROCESSADOR PROCESADORES LOCALIZADOS NO MESMO TIPO DE REDE 1m m² Rede Pessoal 10 m Sala Rede Local 100 m Prédio 1 km Campus 10 km Cidade Rede Metropolitana 100 km País Rede geograficamente distribuída 1.000 km Continente 10.000 km Planeta Internet P á g i n a | 65 Desse modo, o mecanismo de arbitragem pode ser centralizado ou distribuído. Inclusive, Tanenbaum (2003) cita o padrão do IEEE5 802.3, mais conhecido como Ethernet, que é uma rede de difusão de barramento com controle descentralizado, em geral operando em velocidades de 10 Mbps a 10Gbps. A partir desse mecanismo, os computadores podem transmitir sempre que almejem, e se dois ou mais pacotes colidirem, cada computador aguardará um tempo aleatório e fará uma nova tentativa mais tarde (TANENBAUM, 2003). A rede em anel, no qual cada bit, ou seja, binary digit, ou ainda menor unidade de informação a ser transmitida ou armazenada, propaga-se de modo independente, sem esperar pelo restante do pacote ao qual pertence. Em geral, cada bit percorre todo o anel no intervalo de tempo em que são enviados alguns bits, frequentemente até mesmo antes de o pacote ter sido inteiramente transmitido (TANENBAUM, 2003). Para isso, assim como ocorre em todos os outros sistemas de difusão, existe a necessidade de se definir alguma regra para arbitrar os acessos simultâneos ao anel, a exemplo do IEE 802.5,6 fazendo com que as máquinas adotem turnos. Finalmente, sobre as topologias, existe também a estrela em que há um nó central ou um dispositivo “concentrador”, podendo ser um hub, que por sua vez replica todo o tráfego que recebe para todas as suas portas, ou um switch, que encaminha apenas para o destino. A topologia estrela também é bastante comum em LANs sem fio, ou WLAN (Wireless LAN ou LAN sem fio) por meio da tecnologia, cujo padrão é o IEEE 802.11, o Wi-Fi (do inglês, Wireless Fidelity, ou fidelidade sem fio), tendo em vista que esta é mais adequada para conexões de curto alcance (SILVA e SOARES, 2009). No entanto, no que tange à conexão com fios, pode-se dizer que o tamanho da topologia estrela vai depender “do comprimento máximo do cabo entre o nó central e uma estação” (MORAIS, LIMA e FRANCO, 2012, p. 19). Além disso, o número de estações, isto é, de dispositivos de computação, é limitado pelo nó central. É importante destacar que, caso ocorra uma falha em uma estação ou no elo de ligação com o nó central, apenas esta estação ficará fora de operação, mas se a falha ocorrer no concentrador, todo o sistema ficará fora do ar. 5 O Institute of Electrical and Electronics Engineers, ou Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos, é uma organização profissional sem fins lucrativos fundada na década de 1960, nos Estados Unidos da América, que atua, dentre outras coisas, no estabelecimento de padrões tecnológicos internacionais. 6 Também conhecida como rede Token Ring da IBM, corresponde a uma rede local baseada em anel (TANENBAUM, 2003). P á g i n a | 66 Figura 15 – Topologia das Redes Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre imagens vetoriais do www.pixabay.com. Além da LAN, existe a Rede Metropolitana, ou Metropolitan Area Networks (MAN), que “consiste numa rede local ampliada, ou seja, que abrange uma área geograficamente específica, como uma cidade ou uma região metropolitana” (MORAIS, LIMA e FRANCO, 2012, p. 16). É o caso da Rede GigaNatal ou das redes metropolitanas, estas últimas que estão em processo de implantação ou que serão implantadas nos municípios elencados no contexto da Infovia Potiguar. Na verdade, embora com exceções, na medida em que a escala de abrangência de uma rede aumenta, podem ocorrer topologias mistas ou híbridas. No esquema abaixo é possível identificar diferentes topologias de redes interligadas numa MAN, que podem ocorrer pelas tecnologias semelhantes das que foram tratadas em LANs ou WLAN. Para estabelecer a conexão com a Internet, essa MAN contará com um provedor intermediário, que possui seu próprio backbone, a exemplo das Redecomeps que se conectam a uma rede maior através dos PoPs estaduais e estes à Rede IPÊ da RNP. P á g i n a | 67 Figura 16 – Esquema de MAN Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre imagens vetoriais do www.pixabay.com. No esquema seguinte (Figura 16), temos a Wireless MAN (WMAN), utilizando uma tecnologia bastante comum nesse tipo de rede, a WiMax (padrão IEEE 802.16), que segundo Silva e Soares (2009), é semelhante ao Wi-Fi, mas com capacidade de transmissão maior, em torno de quilômetros (km), que se dá geralmente por uma Estação Rádio Base (ERB) que, como na MAN, interliga-se a uma rede mais abrangente e este, por sua vez, à Internet. Figura 17 – Esquema de WMAN Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre imagens vetoriais do www.pixabay.com. P á g i n a | 68 Assim, avançamos na escala de abrangência das redes e chegamos as Redes Geograficamente Distribuídas, ou Wide Area Networks (WAN), na qual exige uma estrutura de maior custo e complexidade e possui interconexão de várias sub-redes de comunicação. A WAN abrange uma grande área, podendo chegar a um grande país ou a um continente como é o caso da Rede IPÊ da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa no Brasil. A WAN é composta por um conjunto de máquinas, chamadas de hosts, cuja finalidade é executar os programas, isto é, aplicações ao usuário. Os hosts são os dispositivos de computação, que estão conectados por uma sub-rede de comunicação, que por sua vez, em geral, pertence e é operada pelo provedor de serviços da Internet (TANENBAUM, 2003). O autor ainda conclui que: Na maioria das redes geograficamente distribuídas, a sub-rede consiste em dois componentes distintos: linhas de transmissão e elementos de comutação. As linhas de transmissão transportam os bits entre as máquinas. Elas podem ser formadas por fios de cobre, fibra óptica, ou mesmo enlaces de rádio. Os elementos de comutação são computadores especializados que conectam três ou mais linhas de transmissão. Quando os dados chegam a uma linha de entrada, o elemento de comutação deve escolher uma linha de saída para encaminhá-los. Esses computadores de comutação receberam diversos nomes no passado; o nome roteador é agora o mais comumente usado (TANENBAUM, 2003, p. 31). Assim, as linhas de transmissão correspondem à infraestrutura física, ao tráfego de informação através dessa infraestrutura propriamente dita, enquanto que os elementos de comutação correspondem à rede lógica, onde os protocolos padrões de transmissão permitem o endereçamento dessa informação da origem ao destino por meio dos dispositivos de roteamento. No esquema abaixo é possível visualizar o funcionamento de um tipo de WAN, com a presença dos roteadores que formam uma sub-rede cuja topologia neste caso é do tipo mesh (malha), de modo a fazer com que hajam opções de rotas, pois, caso haja alguma falha num dos roteadores, a informação buscará outro equipamento parapoder seguir até o seu destino. Além disso, os hosts das duas LANs estão divididos apenas fisicamente, mas logicamente falando é como se formassem uma rede só. P á g i n a | 69 Figura 18 – Esquema de WAN conectando duas LANs Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre imagens vetoriais do www.pixabay.com. Nesse sentido, finalmente, temos a última escala de abrangência da rede de computadores, que consiste na inter-rede, isto é, um conjunto de redes “pertencentes a diferentes organizações e conectadas por uma WAN, cuja abrangência é mundial. Um exemplo de inter-rede seria a Internet” (MORAIS; LIMA e FRANCO, 2012, p.17). Para Tanenbaum (2003), a inter-rede ou internet (com “i” minúsculo) são termos usados em um sentido genérico, em contraste com a Internet mundial (uma inter-rede específica), que sempre será representada com inicial maiúscula. Em outras palavras, a internet (genérica) é formada quando há a conexão de redes distintas e quase sempre incompatíveis “às vezes por meio de máquinas chamadas de gateways, que estabelecem a conexão e fazem a conversão necessária, tanto em termos de hardware quanto de software” (TANENBAUM, 2003, p. 36). Essas redes podem ser de escalas de abrangência diferentes, a exemplo de uma conexão entre uma LAN a uma WAN ou entre duas LANs. Por outro lado, a Internet consiste […] numa rede mundial de computadores ou terminais ligados entre si, que tem em comum um conjunto de protocolos e serviços, de uma forma que os usuários conectados possam usufruir de serviços de informação e comunicação de alcance mundial através de linhas telefônicas comuns, linhas de comunicação privadas, satélites e outros serviços de telecomunicações (MORAIS; LIMA e FRANCO, 2012, p.42). Isso remete à arquitetura da Internet, que “é formada, sumariamente, por três camadas: a infraestrutura de telecomunicações (camada da rede física), a infraestrutura P á g i n a | 70 de internet (camada da rede de transporte) e os padrões de aplicação (camada da rede de aplicação)” (GIRARDI, 2015, p. 7). Sobre essas camadas, Girardi (2015) afirma que a camada da rede física corresponde à infraestrutura de telecomunicações fixada nos territórios pela qual passa todo o tráfego de dados, que podem ser transmitidos por um conjunto de redes, como fios telefônicos, fibra óptica, satélites, micro-ondas. A segunda camada é a dos padrões e serviços técnicos formadores da linguagem que faz a Internet funcionar e tomar forma, entre os principais estão o Transmission Control Protocol/Internet Protocol, isto é Protocolo de Transmissão de Controle/Protocolo de Internet (TCP/IP), o Sistema de Nome de Domínios, ou Domain Name System (DNS) e Segurança de Camada de Transporte, ou Transport Layer Security (TSL). Finalmente, a última camada corresponde à rede de aplicação e de serviços, refere- se aos conteúdos e padrões de aplicação, que são as próprias linguagens gráficas da Web, que, por sua vez, “é a interface que transforma informações que fluem pela Internet em algo utilizável” (EVANS, 2011, p.5). Figura 19 – Esquema das três camadas básicas da Internet Fonte: Kurbalija, 2014. Grosso modo, o backbone, que representa a rede física da Internet, é composta por redes de cabos de fibras ópticas instaladas por firmas de telecomunicações e outras organizações, que se estendem por milhares de quilômetros, o que atribui o caráter global P á g i n a | 71 da Internet (MOTTA, 2012). Quanto à rede informacional, considera-se o TCP/IP, como protocolo que identifica cada dispositivo na rede por um código numérico atribuído a este dispositivo ao se conectar, além de dividir as informações em diversos pacotes etiquetados que são enviados e recebidos a partir dos respectivos endereços IP de origem e destino. Isso corresponde à comutação de pacotes, que já havíamos discutido, e é utilizada em praticamente qualquer tecnologia de comunicações, permitindo que diversas redes possam ser interligadas. A Internet também é composta pelas redes independentes, que são denominadas de Sistemas Autônomos, proveniente de Autonomous System (AS), podendo ter um ou mais blocos de endereços IP próprios, geralmente administrada por uma mesma organização tanto do ponto de vista técnico como legal, mas que podem ter abaixo dela outras redes dependentes administradas por outras organizações, a exemplo das redes de clientes. Os ASs geralmente são os provedores de Internet, podendo ser também as universidades, bancos, órgãos de governo, entre outros. Além disso, essas redes usam padrões ou um conjunto de regras próprias, que, para se conectam entre si, utilizam o Protocolo de Roteamento de Borda, Border Gateway Protocol (BGP). Essa conexão ocorre pelo Número do Sistema Autônomo, Autonomous System Number (ASN), que ao lado dos IPs são gerenciados globalmente pela Autoridade de Alocação de Números da Internet (IANA – Internet Assigned Numbers Authority), por um Registro Regional de Internet, Regional Internet Registry (RIR), ou então por um Registro Nacional de Internet, National Internet Registry (NIR) — conforme ainda veremos com mais detalhes no tópico a seguir — que os identificam de forma única no sistema de roteamento BGP. Portanto, da mesma maneira que não pode haver dois dispositivos utilizando o mesmo IP na Internet global, não podem haver duas redes utilizando o mesmo ASN no BGP (MOREIRAS e PATARAS, 2018). Essa identificação, tanto das ASs como dos dispositivos IPs que as compõem, permite traçar melhores rotas para se chegar a um determinado destino na Internet. Inclusive, é comum que cada AS tenha um “mapa de toda a Internet, que sabe quais blocos de endereços IP são vinculados a cada um dos outros ASs na rede, bem como o melhor caminho para alcançar cada destino na Internet. Esse mapa é construído de forma dinâmica pelo BGP” (MOREIRAS E PATARAS, 2018, p. 13). Além disso, os ASs se interligam entre si por pontos da infraestrutura da Internet, denominada de Pontos de Troca de Tráfego (PPT), conforme verificado no esquema abaixo. P á g i n a | 72 Figura 20 – Características do Sistema Autônomo Fonte: Adaptado de Moreiras e Pataras (2018). Entre os ASs existem os provedores de acesso, os provedores de trânsito e os provedores de serviço. Enquanto os provedores de trânsito correspondem a imensas redes presentes em diversos países, formando o núcleo (backbone) da Internet, outras redes situadas nas extremidades desse núcleo correspondem aos serviços de conteúdo e aplicações, assim como os usuários. Desse modo, os serviços e aplicações estão presentes nos computadores e servidores das pessoas e das empresas e não no core da Internet. Figura 21 – O núcleo e as extremidades da Internet Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre imagens vetoriais do www.pixabay.com. P á g i n a | 73 Esquematicamente, os provedores de acesso correspondem a uma empresa contratada pelos usuários para o provimento da Internet, sendo que para isso, esses provedores contratam outros provedores, chamados de provedores de trânsito, que possuem redes extensas, o dito backbone ou núcleo da Internet. Sobre este núcleo, é preciso que seja bastante simples e neutro de modo a permitir que a rede seja escalável, ou seja, que permita a inclusão de novos usuários e aplicações sem impactar no funcionamento de toda a rede. Portanto, tecnicamente, este núcleo apenas realiza a comutação de pacotes entre os dispositivos dos usuários aos serviços e conteúdos utilizados, como sites, e-mail, redes sociais, jogos entre outros. Segundo Girardi (2015, p. 7): O nível mais básico da internet é o backbone, formado essencialmente de ligações de fibra ótica, uma rede bem localizada no espaço, por onde o fluxo informacional circula. O backbone possui uma lógica hierarquizada de interconexão, que privilegia osnós centrais e metropolitanos. Anexadas a essa estrutura-base, outras redes de transmissão distribuem até os usuários (a “última milha”) os pacotes de dados, entre as quais a rede telefônica. O que permite essa interconexão é justamente o backbone, na medida em que diversas redes de longa distância se conectam entre si e com as redes locais, realizando trocas de tráfego de dados. Além disso, para Motta, o backbone pode ser entendido como “um conjunto de caminhos entre as redes que, por agregar a maior parte do tráfego, empregam as maiores velocidades e capacidades de transmissão do conjunto” (MOTTA, 2012, p. 23). Quanto às tecnologias de conexão “última milha” — nome dado a conexão entre o Provedor de Serviço de Internet (ISP-Internet Service Provider) e os usuários (Kurbalija, 2014) —, como rede telefônica, Wi-Fi, o Asymmetric Digital Subscriber Line (ADSL), ou Linha Digital Assimétrica para Assinante, satélite, etc., “constituem-se em sub-redes ‘na ponta’, interligando os usuários individuais localizados quer nas cidades, quer de forma dispersa, recebendo a infraestrutura de sua conexão de maneira capilar, nos bairros, ruas e aglomerações rurais” (MOTTA, 2012. p. 23). Segundo Silva (2015), quem estabelece a conexão entre o núcleo da rede, backbones e as sub-redes periféricas, são os backhauls infovias de alta capacidade que consistem em ligamentos secundários (conforme visto nos esquemas de MAN ou WMAN). Nesse caso, o papel do backbone é, portanto, agregar o tráfego destas sub-redes, direcionando a grandes distâncias e em grande volume, gerando informações, ou tendo P á g i n a | 74 as sub-redes como destino, que passarão necessariamente pelos backbones, que lhes são hierarquicamente superiores (MOTTA, 2012). Além disso, conforme vimos, e segundo Morais; Lima; e Franco (2012), a topologia de uma rede (seja esta LAN, MAN, WAN ou inter-rede) é como um mapa ou layout físico, onde os dispositivos/equipamentos estão arranjados, com nós situados no backbone que delimitam onde os roteadores estão instalados para realizar a comutação de pacotes de modo a traçar as melhores rotas entre a origem e o destino. Assim, a circulação lógica de dados entre usuários e os serviços e conteúdo disponíveis na Internet se dá por meio da comutação de pacotes através do protocolo IP, sendo necessárias infraestruturas físicas instaladas nos territórios para permitir essa circulação, como o backbone da Internet, as sub-redes, e as redes locais. Dessa maneira, o core da espacialidade territorial da Internet reside não apenas no backbone, mas também nos protocolos de interconexão que permitem a integração dos equipamentos (GIRARDI, 2015). Sendo assim, embora os diferentes dispositivos dos usuários, como notebooks, smartphones, tablets, etc, sejam móveis, é sobre aquelas infraestruturas que a informação vai percorrer, de tal modo, que a conexão entre tais dispositivos à rede global se dá sempre em algum lugar da superfície terrestre, baseada em “equipamentos” devidamente instalados nos territórios, o que de forma alguma anula a maneira como a Internet se espacializa. Além disso, não são apenas as pessoas que se conectam à Internet, pois, a Internet das Coisas, ou Internet of Things (IoT), consiste numa extensão da Internet atual, que proporciona aos objetos, com capacidade computacional e de comunicação, se conectarem à Internet (Santos et al. 2016). Essa conexão permite aos usuários controlar os objetos remotamente e/ou torná-los provedores de serviços. A IoT pode ser entendida pela “progressiva automatização de setores inteiros da economia e da vida social com base na comunicação máquina-máquina: logística, agricultura, transporte de pessoas, saúde, produção industrial e muitos outros” (MARTINHÃO, 2018, p. 16). Para Magrini (2018), é: […] como um ambiente de objetos físicos interconectados com a internet por meio de sensores pequenos e embutidos, criando um ecossistema de computação onipresente (ubíqua), voltado para a facilitação do cotidiano das pessoas, introduzindo soluções funcionais nos processos do dia a dia. O que todas as definições de IoT têm em comum é que elas se concentram em como computadores, sensores e objetos interagem uns com os outros e processam informações/dados em um contexto de hiperconectividade (MAGRINI, 2018, p. 20). P á g i n a | 75 Na verdade, segundo Rayes e Salam (2018), “coisas” podem ser “qualquer coisa” e “tudo”, de eletrodomésticos a edifícios, carros, pessoas, animais, plantas, entre outros, sendo a IoT, em sua forma mais simples, considerada como a interseção da Internet, coisas e dados. Os objetos, things, são elementos que possuem capacidade de comunicação e/ou de processamento aliados a sensores e não apenas computadores convencionais, mas também (smart) TVs, notebooks, automóveis, smartphones, webcams, equipamentos industriais, sensores ou qualquer dispositivo que possua uma forma de conexão à rede. A IoT permite um conjunto de aplicações, inclusive nas chamadas Cidades Inteligentes (conforme a figura abaixo), cuja definição varia em países e instituições da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ao redor do mundo, mas em todas envolvem iniciativas com base em inovação digital para tornar serviços urbanos mais eficientes (OCDE, 2019). Além disso, de acordo com a OCDE (2019), embora a inovação digital continue a ser fundamental para o conceito de cidade inteligente, uma questão chave é se o investimento em tecnologias inteligentes e inovações digitais contribuem para melhorar o bem-estar dos cidadãos. Trata-se de um viés humanista e social das Cidades Inteligentes, cujo paradigma prevê uma forma mais integrada as perspectivas humana, tecnológica e de sustentabilidade (BRASIL, 2021). P á g i n a | 76 Figura 22 – IoT em Cidades Inteligentes Fonte: SENAI, 2021. Nesse sentido, é possível traçar um paralelo entre a Internet e o cerne da geografia, isto é, o Espaço Geográfico, pessoas/ações e coisas/objetos, não tomados isoladamente, mas, sim, como um conjunto de sistemas indissociáveis, sendo que quanto mais eficazes esses objetos, mais eficazes se darão as ações sobre eles realizados (SANTOS, 2014a). Além disso, considerando a teoria sobre a qual esta pesquisa está centrada, a de Espaço, enquanto totalidade em constante processo de totalização, ou seja, considerando esse conjunto de sistemas indissociáveis num quadro único no qual a história se dá, no tópico a seguir será feita uma devida contextualização dos precursores históricos da Internet em paralelo ao estabelecimento do meio técnico-científico-informacional. P á g i n a | 77 2.3 O meio técnico-científico-informacional: dos precursores da transmissão de dados ao surgimento da Internet O meio geográfico está intimamente ligado à noção de técnica. Grosso modo, Santos (2014a) o divide historicamente em três etapas: o meio natural; meio técnico; e meio técnico-científico-informacional. Neste item, veremos como a transmissão de informação evolui em cada uma dessas etapas até atingir seu ápice, com o advento da Internet, e como esta se insere no território brasileiro. 2.3.1 Os primórdios da transmissão da informação: do meio natural ao meio técnico No primeiro momento do meio geográfico, embora denominado meio natural, não há ausência de técnica, no entanto, tanto a técnica como o trabalho são casados com as dádivas da natureza com as quais se relacionavam sem outra mediação e, assim, poucas eram as transformações nesse meio pelo homem. Nesse sentido, durante essa etapa do meio geográfico, a informação era essencialmente expressa através da linguagem e escrita. Na verdade, na medida em que sociedades mais complexas começam a surgir após a revolução agrícola, começa a haver à necessidade dos humanos armazenarem informações além dopróprio cérebro para tratar de assuntos comuns à sociedade, principalmente administrativos (impostos, posses, etc.). Sendo assim, a escrita é desenvolvida no sul da Mesopotâmia, onde, segundo Harari (2018, p. 170) “entre os anos 3.500 e 3.000 a.C., alguns gênios sumérios desconhecidos inventaram um sistema para armazenar e processar informações fora do cérebro concebido especialmente para lidar com grandes quantidades de dados matemáticos”. No entanto, no que tange à transmissão da informação, podemos dizer, que esteve diretamente associada ao transporte de pessoas, pois, trata-se da concepção de Raffestin (1993) de que a rede de circulação (material) e a rede de comunicação (de sinal/informação) formavam uma coisa só, ou quase, pelo menos, até que a tecnologia moderna acabasse por dissociá-las. Essa ruptura — embora até hoje não seja completa, pois, ainda há comunicação associada à circulação de pessoas — deu seus primeiros sinais a partir do século XIX, na emergência do espaço mecanizado, ou seja, no meio técnico. Ao contrário da fase anterior, nesta etapa do meio geográfico, os instrumentos não são P á g i n a | 78 apenas extensões do corpo humano, mas, sim, do território, ou seja, verdadeiras próteses. De acordo com Santos (1994), No começo da história do homem, a configuração territorial é simplesmente o conjunto de complexos naturais. À medida que a história vai se fazendo, a configuração territorial, é dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades, etc. Cria-se uma configuração territorial que é cada vez mais o resultado de uma produção histórica e tende a uma negação da natureza natural, substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada (SANTOS, 1994, p. 110-111). Nesse sentido, um dos primeiros passos para tal condição, no que tange às telecomunicações, deu-se com o inventor Samuel F. B. Morse, que, em 1844, foi responsável por ter enviado sua histórica mensagem telegráfica, no então Capitólio dos Estados Unidos da América, em Washington D.C., a seu assistente Albert Vail no depósito de Mount Clair em Baltimore, no estado de Maryland. A partir de então, uma complexa rede de linhas telegráficas começou a conectar o globo terrestre (Mapa 8). P á g i n a | 79 Figura 23 – Mapa mostrando as linhas de telégrafo, em operação, contratadas e contempladas para completar o circuito do globo (1855) Fonte: Banks, 1871. Legenda: as linhas em operação (marcadas em verde), as contratadas para construção (em vermelho); e as linhas projetadas (em azul) para completar o circuito. P á g i n a | 80 Além disso, emerge uma série de estudos e experimentos no campo do eletromagnetismo, permitindo avançar na transmissão de dados sem fio. Apesar dos avanços nesse campo terem se dado durante muitos séculos, desde a antiguidade7, a eletricidade e o magnetismo foram estudados separadamente até meados do século XIX. Essa retomada se deve ao físico dinamarquês Hans Christian Oersted, que realizou um experimento, constatando que uma corrente elétrica poderia rotacionar a agulha de uma bússola. Desde então, Ampere, Gauss, Henry, and Faraday discovered and analyzed different interactions, for which James Clerk Maxwell provided a unified formulation in 1864 – postulating the existence of a displacement current. The set of Maxwell’s equations forms the basis of electromagnetism (GARDIOL, 2011, p. 391, grifo nosso)8. Isso foi importante para o avanço das telecomunicações de uma certa maneira, pois as equações de onda derivadas das equações de Maxwell, contribuíam para a possibilidade de que ondas eletromagnéticas poderiam existir e se propagar. Desse modo, vários pesquisadores notaram efeitos que de alguma maneira se relacionavam com a propagação de ondas eletromagnéticas, o que possibilitou transmitir informação por meio de um sistema sem fio que considerava a propagação de tais ondas. Em 20 de fevereiro de 1864, Mahlon Loomis, um dentista estadunidense e inventor amador, escreveu em seu diário9: “I have been for years trying to study out a process by which telegraphic communications may be made across the ocean without any wires, and also from point to point on the earth, dispensing with wires”. Dois anos e meio depois, Loomis faria exatamente isso entre duas montanhas no Condado de Loudoun, no estado da Virgínia (ver Figura 24). Em outubro de 1866, ele demonstrou com sucesso o que chamou de “telegrafia sem fio”. De acordo com Gardiol, o experimento conseguiu transmitir alguns bits de informação por uma distância equivalente a 29 km (GARDIOL, 2011). Esse experimento 7 A exemplo do uso da bússola pelos chineses, que remota o ano 2637 a.C., bem como observações intrigantes realizadas pelos gregos sobre as propriedades de atração exibidas por alguns materiais, que cunhou termos utilizados atualmente, como elétron, que significa âmbar, e “Magnésia”, — uma cidade na Ásia Menor, onde foram descobertas incríveis propriedades da magnetita (GARDIOL, 2011). 8 Ampere, Gauss, Henry e Faraday descobriram e analisaram interações diferentes, pelas quais James Clerk Maxwell forneceu uma formulação unificada em 1864 - postulando a existência de uma corrente de deslocamento. O conjunto das equações de Maxwell forma a base do eletromagnetismo (tradução livre). 9 Estou há anos tentando estudar um processo pelo qual as comunicações telegráficas podem ser feitas através do oceano sem fios, e também de um ponto a outro na terra, dispensando fios (tradução livre). Diponível em: www.loc.gov/exhibits/treasures/tr22c.html#obj13. Acesso em: 29 de jun. de 2020. P á g i n a | 81 foi um dos precursores da tentativa de transmitir informação por meio de ondas eletromagnéticas. Figura 24 – Experimento de Loomis, 1866 Fonte: Loomis, 1866. Loomis conseguiu fazer um medidor conectado a uma pipa movesse outra, marcando o primeiro exemplo conhecido de comunicação aérea sem fio. Posteriormente, houve no campo científico o experimento para produzir ondas eletromagnéticas pelo físico alemão Heinrich Hertz, em 1886, na tentativa exitosa de comprovar a teoria de Maxwell de que as ondas se propagavam na mesma velocidade que a velocidade da luz, no entanto, foi externo ao ambiente acadêmico que diversos inventores buscavam aplicar e incorporar teorias relacionadas ao campo eletromagnético em seus protótipos com a finalidade de transmitir informação, incorporando, consequentemente e posteriormente, tais arquétipos tecnológicos ao espaço geográfico. Dentre eles, destaca-se Nikola Tesla, que não só ambicionava transmitir informação, mas, sobretudo, energia wireless [sem fio] de um canto a outro do planeta. Seu empreendimento correspondia na aplicação de suas invenções para criar um sistema mundial de transmissão sem fio. Sobre esse sistema mundial, Tesla afirmava possibilitar a transmissão sem fio instantânea e precisa de qualquer tipo de sinal, mensagem ou caractere para todas as partes do mundo, e também “a interconexão das estações P á g i n a | 82 transmissoras de telégrafo, telefone e outros sinais, sem qualquer mudança em seu equipamento atual” (TESLA, 2012, p.82). Figura 25 – N. Tesla, patente de Nº. 1119732: Aparelho de transmissão elétrica de energia (wireless) Fonte: Tesla, 1914. De acordo com Gardiol (2011), Tesla considerava o planeta Terra como um capacitor esférico, então, seria possível carregá-lo, perturbando a sua condição eletrostática ou magnética, de tal maneira que a energia assim como os sinais pudessem ser capturados em qualquer ponto do planeta. No entanto, devido ao atraso nas pesquisas de Tesla principalmente por um incêndio em seu laboratório fez com que o protagonismo da transmissão wireless de sinais tivesse sido assumido pelo italiano GuglielmoMarconi, que, em 1901, demonstrou a primeira transmissão sem fio transatlântica, entre St. Jonhs, na província de Terra Nova, Canadá, e Poldhu, no sul da Cornualha, Inglaterra. P á g i n a | 83 Figura 26 – Informativo sobre Guglielmo Marconi, localizado em French Cable Station Museum, Orleans, nos EUA Fonte: ERB, 2013. Figura 27 – Informativo sobre a Estação Transatlântica de Guglielmo Marconi, localizado em French Cable Station Museum, Orleans, nos EUA Fonte: ERB, 2013. P á g i n a | 84 Desse modo, Marconi foi consagrado o inventor do rádio, e, embora existam reivindicações10 ao título, Gardiol considera que tal fama “it is not because he was the first one to transmit a message or to obtain some patent, but because he took wireless out of the lab and into the wide world”11 (GARDIOL, 2011, p. 396). Figura 28 – “O Mundo do Entretenimento”: Mapa promocional das estações da Philips Radio (1930-1940) Fonte: Ensak, [s.d]. Assim, a transmissão de informação sem fio pelo rádio passou a se inserir efetivamente no espaço geográfico, ou seja, além das linhas de transmissão, as antenas passaram a compor o sistema técnico da transmissão de sinais. Isso permitiu um acréscimo ao meio geográfico de técnica, ciência e informação, que tornou a base de diferentes formas de comunicação de “última milha” baseada no campo eletromagnético pela frequência de rádio, tais como a telefonia móvel, o Wi-Fi, WiMax, entre outros. 10 No Brasil, o pai do rádio é o padre e inventor Roberto Landell de Moura. 11 Se Marconi se tornou tão famoso, não é porque ele foi o primeiro a transmitir uma mensagem ou obter alguma patente, mas porque ele tirou a conexão sem fio do laboratório e entrou no mundo amplo (tradução livre). P á g i n a | 85 2.3.2 A Revolução da Informação: o meio técnico-científico-informacional Embora já existissem tecnologias com base na microeletrônica, — tendo como exemplo o próprio rádio de Marconi, assim como outras invenções, inclusive antecessoras a esta, como o telefone de Graham Bell, em 1876 — as descobertas tecnológicas baseadas em eletrônica, sobretudo com o primeiro computador programável e o transistor, representaram durante a Segunda Guerra Mundial e no período seguinte “o verdadeiro cerne da revolução da tecnologia da informação no século XX” (CASTELLS, 1999, p.76). Na verdade, com o transistor foi possível desenvolver sistemas digitais extremamente pequenos, o microprocessador. Seu advento se deu em 1971 pelo engenheiro da Intel, Ted Hoff, permitindo incluir um incluir uma unidade Central de Processamento de Dados (CPU) em um único chip. Sendo assim, fez com que surgissem os primeiros microcomputadores, como o Altair, em 1975, pelo engenheiro Ed Roberts, que inclusive inspirou a Apple Computers, de Stevie Wozniack e Steve Jobs, a lançar o Apple I, e posteriormente o primeiro microcomputador comercial de sucesso, o Apple II. Mas a difusão dos microcomputadores se deve ao desenvolvimento de um software adaptado a suas operações. O primeiro foi o BASIC, que foi adaptado ao Altair por Bill Gates e Paul Allen, cujo potencial fez com que os dois fundassem a Microsoft, que por sua vez deixou de “ter predomínio em software de sistemas operacionais para ter predomínio em software para o mercado de microcomputadores” (CASTELLS, 1999, p.80). Essa propagação também se deve ao surgimento de uma nova uma versão de microcomputadores lançada pela IBM, em 1981, chamada de Computador Pessoal, ou Personal Computer (PC), que, relacionado ao fato de terem sido desenvolvidos por grupos terceiros, tornaram-se bastante susceptíveis à clonagem, eliminando a exclusividade da marca. Devido a isso, o termo PC passou a ser o nome genérico dado aos microcomputadores. Mas é preciso considerar, conforme Silva (2019), que a expansão do PC se retroalimentava do crescimento das redes de computadores e da Internet. Desse modo, além do surgimento e difusão do computador, a revolução da tecnologia da informação ao qual Castells (1999) se refere, também está associada ao advento da Internet, cuja origem remota a de um projeto do Departamento de Defesa dos EUA, conhecido como Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas (ARPA). P á g i n a | 86 Fundado em 1958, o projeto mobilizava recursos de pesquisas, particularmente do mundo universitário e tinha como objetivo alcançar superioridade tecnológica em relação à antiga URSS12 no contexto da Guerra Fria. Esse projeto foi responsável pela primeira rede de computadores, a ARPANET, em 1969, cujos primeiros nós dessa rede eram: Universidade da Califórnia em Los Angeles, o Instituto de Pesquisa de Stanford; a Universidade da Califórnia, em Santa Barbara; e a Universidade de Utah. Essa rede se baseava na tecnologia de comutação de pacotes13 desenvolvida por Paul Baran da RAND Corporation14, cuja proposta correspondia ao uso de redes de comunicação descentralizadas com flexibilidade de comutação de pequenos blocos de mensagens. Segundo Carvalho (2006), A ideia era de uma rede de pontos automáticos (não comandados), pela qual passariam os pacotes, de um ponto para outro, até que chegassem ao seu destino final. Esses pontos, ou nós, utilizariam um processo que Baran chamou de Hot Potato Routing (roteamento batata quente), ou seja, quando um nó recebesse um pacote, o guardaria, determinaria a melhor rota para o seu destino e o enviaria para o próximo nó no caminho. Ao usar computadores digitais como nós, isto seria feito a alta velocidade, permitindo essencialmente transmissões em tempo real. Os computadores poderiam utilizar estatísticas, atualizadas constantemente, acerca da rede e de cada um dos seus nós, para determinar qual a melhor rota em dado momento. Este método de usar informações constantemente atualizadas sobre a rede chama-se roteamento dinâmico (CARVALHO, 2006, p. 10). 12 À despeito do lançamento do satélite soviético, Sputinik, em 1957. 13 “Nas redes de computadores baseadas nessa técnica, a informação é dividida em pequenas partes (pacotes) antes de ser enviada. Cada pacote carrega o endereço de origem e o de destino, sendo que os pacotes viajam pela rede como unidades independentes de informação, podendo tomar rotas diferentes até o computador de destino, onde são reordenados e checados e a informação é então reconstituída. A comutação de pacotes permite que diversos usuários compartilhem um mesmo canal de comunicação” (CARVALHO, 2006, p. 11). 14 Operava a pedido da Força Aérea dos EUA, em um projeto de comunicação mínima essencial e tinha como objetivo manter uma estrutura que pudesse, em um momento de ataque bélico inimigo, permitir alguma comunicação que viabilizasse disparar uma operação de contra-ataque (CARVALHO, 2006). P á g i n a | 87 Figura 29 – Tipos de redes de comunicação Fonte: Paul Baran, 1964. (A) centralizado (hierarquizado); (B) descentralizado; e (C) distribuído (malha). Além disso, na tentativa de estabelecer a conexão entre as redes de computadores foi necessário desenvolver protocolos de comunicação padronizados. Portanto, em 1973, durante um seminário em Stanford, um grupo orquestrado por Vint Cerf (da Universidade de Stantford), Gerard Lelann (do Cyclades, um grupo de pesquisa francês) e Robert Metcalfe (da então Xerox PARC) elaborou o projeto do protocolo de controle de transmissão (TCP) (CASTELLS, 2003). Em 1978, a TCP foi dividida em duas partes, acrescentando um Protocolo de Internet (IP), o que gerou o protocolo TCP/IP, o padrão segundo o qual a Internet ainda opera atualmente. Além disso, no mesmo ano, dois estudantes de Chicago, Ward Christensen e Randy Suess criaram o Computer Bulletin Board System, que permitia aos computadores armazenare transmitir mensagens, tendo já sido criado o MODEM, que possibilitava a transferência de arquivos entre seus computadores pessoais. Em 1979, divulgaram o protocolo xModem, que liberou a transferência direta de arquivos, sem passar por um sistema principal. Apesar disso, foi preciso que houvesse uma adaptação do TCP/IP ao sistema operacional UNIX15, que por sua vez viabilizava o acesso de um computador para outro, para que os computadores se comunicassem entre si. Essa adaptação obteve sucesso com 15 Desenvolvido pelos Laboratórios Bell em 1969. P á g i n a | 88 os pesquisadores de Berkeley (financiados pela ARPANET) em 1983, e passou a ser amplamente utilizada logo em seguida. Apesar disso, já em 1979, alunos da Universidade de Duke e da Carolina do Norte (não inclusas na ARPANET) elaboraram uma versão modificada do protocolo UNIX, possibilitando interligar redes de comunicação entre computadores, via linha telefônica comum (CASTELLS, 1999). Os alunos ainda criaram um fórum online de conversas sobre informática, a Usenet, que rapidamente se tornou um dos primeiros sistemas de conversas eletrônicas em larga escala, e os inventores da Usenet News também divulgaram gratuitamente seu software. Por intermédio de um modem e de um software especial que permitia aos computadores se comunicarem com um PC, equipado com essa tecnologia de interface, em 1983, Tom Jennings, criou um programa de quadro de avisos, ou bulletin board systems (BBS), conhecida como a FIDONET. Diante desse cenário, foi ampliada a prática da comunicação entre computadores fora do backbone da ARPANET, culminando naquilo que viria a ser a Internet. Além disso, o Departamento de Defesa dos EUA criou a MILNET, uma rede independente para usos militares específicos, enquanto que a ARPANET se tornou a ARPA-INTERNET, dedicada à pesquisa. Em 1984, a National Science Foundation (NSF) montou a NSFNET, sua própria rede de comunicações entre computadores, e em 1988 passou a utilizar a ARPA-INTERNET como seu backbone. Em 1990, a ARPANET foi retirada de operação e, desde então, libertou a Internet de seu ambiente militar e, em outras palavras, a sua administração ficou a cargo da NSF. No entanto, esse controle pouco durou, pois, a tecnologia de redes de computadores no domínio público e as telecomunicações plenamente desreguladas possibilitaram a privatização da Internet, tendo ocorrido, em 1995, com a extinção da NSFNET. Segundo Castells: No início da década de 1990 muitos provedores de serviços da Internet montaram suas próprias redes e estabeleceram suas próprias portas de comunicação em bases comerciais. A partir de então, a Internet cresceu rapidamente como uma rede global de redes de computadores. O que tornou isso possível foi o projeto original da Arpanet, baseado numa arquitetura em múltiplas camadas, descentralizada, e protocolos de comunicação abertos (CASTELLS, 2003, p. 18). A ampliação da internet também teve a contribuição Berners-Lee que, em colaboração com Robert Cailliau, pelo grupo de pesquisa Centrée Européen pour P á g i n a | 89 Recherche Nuclaire16 (CERN), construiu um programa navegador/editor em 1990, e chamou esse sistema de hipertexto de World Wide Web (WWW), ou rede mundial. A partir deste software, que foi lançando em 1991, muitos hackers do mundo inteiro a partir de então buscaram desenvolver seus próprios navegadores. Figura 30 – Contribuições da equipe do CERN para que os primeiros sítios da web fossem criados. Fonte: Adaptado de Castells (1999). Além disso, Silva (2019) destaca que o WWW tem o objetivo de facilitar a navegabilidade entre as diversas páginas elaboradas na internet, o HTPP de converter um texto em um acesso à outra página da rede de computadores e o HTML de delinear a página de forma a se adequar ao protocolo HTTP. Sobre o URL, Castells (1999) afirma que permite se relacionar com uma série de protocolos de transferência, além do HTTP, facilitando a interface geral. Dessa maneira, observou-se uma “promoção de interfaces mais simples para a navegação entre páginas de internet, conectando de forma mais direta usuários e servidores” (SILVA, 2019, p. 48). Assim, nasce a Internet para a sociedade em geral graças ao desenvolvimento das tecnologias de integração de computadores em rede aliado ao avanço nas telecomunicações, que foram revolucionadas pelas tecnologias de “nós”17 e as novas tecnologias de transmissão. 16 Centro Europeu de Pesquisa Nuclear. 17 Roteadores e comutadores. Linguagem de marcação hipertexto (hypertext markup language - HTML) Protocolo de transferência de hipertexto (hypertext transfer protocol - HTTP) Localizador uniforme de recursos (uniform resource locator - URL) • Permite que computadores adaptem suas linguagens específicas dentro desse formato compartilhado, incluindo essa formatação ao protocolo TCP/IP • orienta a comunicação entre programas navegadores e servidores de www • combina as informações sobre o protocolo de aplicativo e sobre o endereço do computador que possui as informações solicitadas P á g i n a | 90 De acordo com Castells: Formas diferentes de utilização do espectro de radiodifusão (transmissão tradicional, transmissão direta via satélite, microondas, telefonia celular digital) assim como cabos coaxiais e fibras óticas, oferecem uma diversidade e versatilidade de tecnologias de transmissão, que estão sendo adaptadas a uma série de usos e possibilitam a comunicação ubíqua entre usuários de unidades móveis" (CASTELLS, 1999, p.81-82). Essa relação entre redes de computadores, inclusive não tradicionais, e o avanço de telecomunicações foi significativo a ponto de Castells considerar que a revolução da informação se deu durante a década de 1970, pois foi a partir de então que essas novas tecnologias se difundiram amplamente, “acelerando seu desenvolvimento sinérgico e convergindo num novo paradigma” (CASTELLS, 1999, p.76). Este novo paradigma, no que corresponde ao aspecto geográfico, está associado ao meio técnico-científico- informacional. Para Santos (2014a) há, nesse momento, uma profunda interação entre ciência e técnica, e também afirma que: Nesse período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnico e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. Já que hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas decorrentes de novos progressos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico-científico-informacional (SANTOS, 2014a, p. 238). Nesse novo patamar do meio geográfico, “cabos, redes hertzianas e satélites garantem ligações instantâneas entre todos os pontos da superfície terrestre” (CLAVAL, 2014, p.129), de modo a estarmos diante de uma tendência ao universal, ou seja, diferente dos estágios anteriores, a “lógica global acaba por se impor a todos os territórios e a cada território como um todo” (SANTOS, 2014a, p. 239). Porém, essa tendência a superposição do meio técnico-científico-informacional a todos os lugares não se dá uniformemente e, nesse sentido, há uma estreita ligação à afirmativa de Castells de que o “backbone da Internet é global em seu alcance, mas territorialmente desigual, em termos de capacidade, em seu traçado” (CASTELLS, 2003, p. 213) (ver os mapas a seguir). P á g i n a | 91 Figura 31 – Mapa de Cabos Submarinos (2019) Fonte: Telegeography, 2019. P á g i n a | 92 Mapa 2 – Uso Individual de Internet no Mundo (2015) Fonte: Elaborado pelo autor (2020). P á g i n a |93 Ademais, mesmo que a tecnologia moderna acabasse por dissociar a rede de circulação de pessoas da rede de comunicação, como tratou Raffestin (1993), é necessário considerar mais do que nunca a importância da materialidade, pois, sem a infraestrutura física, o backbone, Estação Rádio Base (ERB), satélites, etc., não haveria a rede informacional, ou seja, não haveria a integração entre os sujeitos por meio de seus objetos técnicos informacionais, como PC’s; tablets, smartphones, etc. Ainda sobre essa condição, Graham; Sabbat; e Zook (2015) afirmam que: “information has always had geography. It is from somewhere; about somewhere; it evolves and is transformed somewhere; it is mediated by networks, infrastructures, and technologies: all of which exist in physical, material places (GRAHAM; SABBATA; ZOOK, 2015, p.88)18. Como vimos, essas infraestruturas correspondem a primeira camada da Internet, sendo que é na última camada, a de aplicação, que inúmeros serviços são oferecidos. Dentre estes, destacam-se as “redes sociais”, sobretudo às empresas fundadas a partir dos anos 2000, como Facebook, Twitter, Instagram, dentre outras, que se tornaram famosas e rentáveis ao permitir que pessoas se comuniquem, conectem e compartilhem informações, textos, fotos e vídeos, sobre si mesmos com amigos, família e colegas (EVANS, 2011). Isso se intensifica com o desenvolvimento da telefonia móvel, — que começou a se difundir no mundo na década de 1960, na sua 1ª geração (1G), para permitir a mobilidade da comunicação, inicialmente como uma tecnologia de serviços apenas analógica e que oferecia somente o serviço de voz, tendo havido um aprimoramento durante os anos 1990, quando tivemos a Segunda Geração (2G), com a mudança da tecnologia de serviços de analógico para digital, que além de voz era capaz de enviar mensagens de texto, que novamente foi aprimorada —, sobretudo no início dos anos 2000, com a Terceira Geração19 (3G), que além de corresponder a uma tecnologia de serviços digital, possuía também aplicativos, redes sociais e a possibilidade de navegar em sites e a realização de videoconferências (MOTA et al, 2019). Porém, além de pessoas conectadas, cada vez mais, novos dispositivos não tradicionais de computação têm adquirido capacidade de conexão à rede mundial, que tem se intensificado ainda mais com o advento da Internet das Coisas (IoT), pois, além 18 A informação sempre teve geografia. É de algum lugar; sobre algum lugar; desenvolve e é transformado em algum lugar; é mediado por redes, infraestruturas e tecnologias: tudo o que existe no físico, lugares materiais (tradução livre). 19 “Esses aparelhos passam a ser conhecidos como smartphones devido à presença de sistema operacional para gerenciamento de sua capacidade” (MOTA et al, 2019, p. 160). P á g i n a | 94 das redes de pessoas, redes de objetos ou coisas vêm aumentando, tendo não somente mais redes do tipo pessoa para pessoa Be-to-Be (B2B), ou pessoa para máquina, Be-to- Machine (B2M), mas também máquina para máquina, Machine-to-Machine (M2M). Isso inclusive se intensifica com o desenvolvimento da telefonia móvel, pois, desde os anos 2010, que a 4ª Geração (4G) de telefonia móvel busca alcançar maiores taxas, baseada em tecnologia IP, com prioridade no tráfego de dados, com serviço de acesso à Internet em velocidades de até 200Mbps, podendo ser ampliada para mais de 1Gbps, com o desenvolvimento recente da 5ª Geração (5G) (MOTA et al, 2019). Apesar de recente, o termo IoT foi cunhado pelo pesquisador Kevin Ashton, do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), em 1999, mas, segundo Evans (2011), a Cisco estima que a IoT, de fato, surgiu entre os anos 2008 e 2009, quando o número de dispositivos conectados à Internet superou a população mundial, conforme é possível verificar na imagem abaixo. Figura 32 – O surgimento do IoT: o número de dispositivos conectados em relação à população mundial Fonte: Elaborado por Evans, sobre dados da Cisco IBSG (2011). Conforme vimos, o endereçamento de dispositivos conectados à Internet se dá pelo protocolo IP, mas este recurso é finito. Desse modo, com o aumento desses dispositivos, a versão do endereçamento de IP, o IPv4, acabou ficando sem endereços em 2010, em função da sua capacidade de endereçar ser pouco maior do que 4 bilhões de P á g i n a | 95 dispositivos (DAVES, 2011), o que ameaça o progresso da IoT, pois os possíveis bilhões de novos sensores exigirão mais endereços IP. Gráfico 1 – Número de dispositivos IoT Fonte: Adaptado de Transforma Insisghts (2022). Devido a isso, tem se adotado o IPv6, que além de maior capacidade de endereçamento, segundo Daves (2011, p. 10) “facilita o gerenciamento de redes devido a recursos de autoconfiguração e oferece recursos de segurança aprimorados”. Conforme explicam Moreiras e Pataras (2018), o IPv4 especifica um espaço de 32 bits para os endereços, o que significa que são possíveis 2³² endereços, dando ao IPv4 a capacidade de endereçar pouco mais do que 4 bilhões de dispositivos na rede, por isso que, a prática, ele está globalmente esgotado. Para os autores, o IPv6, por outro lado reserva um espaço de 128 bits para os endereços, fazendo com que o uso do IPv6 esteja crescendo rapidamente na Internet global e o tornando um dos fatores que permitirá a continuidade da sua expansão com a inclusão digital, a Internet das Coisas e outras inovações (MOREIRAS E PATARAS, 2018). Dessa maneira, do mesmo modo que cada dispositivo possui seu protocolo IP, cada um dos Sistemas Autônomos (AS), ou redes de provedores de Internet, empresas, governos, etc., também possuem seu próprio ASN (Autonomous System Number), exigindo que sejam gerenciados por alguma organização, pois ambos são finitos. Na verdade, isso se dá globalmente pela IANA (Internet Assigned Numbers Authority), fundada no final da década 1980, e que foi incorporada dez anos depois ao Internet 8,6 9,7 11,3 13,1 15,1 17,1 19,1 21,1 23,1 25,2 27,3 29,4 0 5 10 15 20 25 30 35 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 N Ú M E R O D E D I S P O S I T I VO S I O T C O N EC TA D O S À R E D E M U N D I A L ( 2 0 1 9 - 2 0 3 0 ) Dispositivos conectados em bilhões P á g i n a | 96 Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), que também conta com organizações regionais, o Registro Regional de Internet, Regional Internet Registry (RIR), e nacionais, o Registro Nacional de Internet, National Internet Registry (NIR). Quanto aos RIRs, temos: o African Network Information Centre, tradução livre para Centro de Rede de Informação Africano (AFRINIC); o Asia-Pacific Network Information Centre (APNIC), que inclui o sul, leste e sudeste asiático e a Oceania; para os EUA, Canadá e algumas ilhas do caribe, o Registro Americano de Números da Internet, tradução livre de American Registry Internet Numbers (ARIN), o Registro de Endereços da Internet para América Latina e Caribe (LACNIC); e para a Europa e partes da Ásia, incluindo a Ásia Central e o Oriente-Médio, o Reséux IP – Européens Network Coordination Centre, tradução livre do RIPE NCC, ou Rede IP – Centro de Coordenação da Rede Europeia. Mapa 3 – Os Registros Regionais de Internet no Mundo Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Estas organizações conjuntamente formam a Number Resource Organization (NRO), por meio da qual coordenam ações conjuntas com o objetivo de proteger o espaço ainda não usado de endereços, promover e defender o desenvolvimento de políticas abertas e participativas; auxiliar a coordenação dos Registros Regionais em temas de interesse comum; além de atuar como intermediário entre os RIRs e a comunidade da Internet em geral. Algumas das funções da NRO, corresponde a divulgação estatísticas sobre a distribuiçãodos recursos (conforme é possível verificar na imagem abaixo). P á g i n a | 97 Figura 33 – Gráfico dos membros IPv4 e IPv6 por RIRs Fonte: NRO, 2021. No que tange aos NIRs, por sua vez, correspondem aos Centros de Rede de Informação, tradução livre para Network Information Center, (NIC), de diversas nacionalidades: NIC.br, Brasil; NIC México; APJII20, Indonésia; CNNIC, China; JPNIC, Japão; KRNIC, Coréia; VNNIC, Vietnã; TWNIC, Taiwan. No que diz respeito ao NIR brasileiro, o NIC.br ou Registro.br, Moreiras e Pataras (2018) comentam que: [...]. A existência de um NIR no país é justificada principalmente por razões históricas. A Internet chegou ao Brasil bem no seu início, antes mesmo de ser aberta para uso comercial. O Registro.br já existia e distribuia IPs e ASNs antes da criação do LACNIC. Além disso, há no Brasil uma diferença de idioma em relação aos demais países da região, além de processos complexos para pagamentos efetuados a entidades no exterior. A manutenção da distribuição de blocos IP e ASNs pelo Registro.br facilita todo o processo de atribuição desses recursos para os provedores Internet e outras redes brasileiras. (MOREIRAS e PATARAS, 2018, p.22). Diante desse quadro da Internet no contexto global, podemos concordar com Silva (2019) ao afirmar que, se as técnicas de informação, que se hegemonizaram como base estruturante da Internet, forneceram por um lado um padrão técnico global para seu pleno 20 Asosiasi Penyelenggara Jasa Internet Indonesia, tradução livre do indonésio para Associação de Provedores de Serviços de Internet da Indonésia. P á g i n a | 98 funcionamento, por outro, exigiram a construção de um sistema organizacional transnacional (Silva, 2019). Dessa maneira, veremos a seguir a forma com que a Internet se desenvolve, institucionaliza e é incorporada no Brasil, inicialmente como assunto de Estado, pelo desenvolvimento das telecomunicações e depois a abertura comercial, considerando o papel da Telebras para a universalização do acesso e finalmente e o papel da comunidade acadêmica nacional, destacando um tópico à parte sobre a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. 2.3.3 O Bandeirantismo Tecnológico: a incorporação da Internet no território brasileiro 2.3.3.1. As telecomunicações no Brasil: técnica e regulação Desde 1852, durante o império, que o telégrafo esteve presente no Brasil, mas ganhou maior difusão, sobretudo a partir das expedições do marechal Rondon, durante a primeira república, que teve como uma das primeiras missões a de “trabalhar na integração do litoral ao interior, através da construção de linhas telegráficas, símbolo do progresso e da modernidade” (RODRIGUES, 2017, p. 123). No mapa, abaixo é possível verificar as comunicações telegráficas entres os países da América do Sul e algumas conexões já existentes entre estes com outras partes do mundo. P á g i n a | 99 Figura 34 – Cartografia dos Telegráfos na América do Sul (1910) Fonte: MORNROCQ FRÉRES, 1910. Apesar disso, as telecomunicações no Brasil avançaram de forma muito tímida até a década de 1950, quando o presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) declarou a necessidade de um sistema nacional de telecomunicações em seu Plano de Metas objetivando a sonhada integração nacional (CARVALHO, 2006). Em seguida, no governo de Jânio Quadros (1961) foi criado Conselho Nacional de Telecomunicações (CONTEL), pelo decreto nº 50.666, com a finalidade de “estudar e definir o problema nacional das telecomunicações e suas ligações no âmbito internacional” (BRASIL, 1961, p.1). Na sucessão, João Goulart (1961-1964) aprova e regulamenta o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), constituída pela lei nº 4.117, de 1962, que estabelece como P á g i n a | 100 competência privativa à União o ato de manter e explorar diretamente “os serviços públicos de telégrafos, de telefones interestaduais e de radiocomunicações, ressalvadas as exceções constantes desta lei, inclusive quanto aos de radiodifusão e ao serviço internacional” (BRASIL, 1962, p. 3). Desse modo, as telecomunicações, no Brasil, surgem inicialmente como um assunto de Estado, cujo fortalecimento da sua infraestrutura foi, durante o Regime Militar, um objetivo para garantir a segurança e o desenvolvimento da integração nacional. Tendo isso em vista, os militares impulsionaram a implantação do CBT, a estruturação da CONTEL, e a constituição da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), no ano de 1965, “que passou a adquirir o controle das concessionárias privadas e assumir os serviços nacionais e internacionais prestados pelas multinacionais” (CARVALHO, 2006, p. 52). Ainda durante o regime militar, em 1967, houve a substituição da CONTEL pelo Ministério das Comunicações, que, além da elevação do status político, estabeleceu as normas de operação do Sistema Nacional de Telecomunicações (SNT). Dentre outras medidas, a SNT tornou as telecomunicações parte do monopólio das empresas estatais estaduais e federais, mas, apesar disso, a radiodifusão permaneceu sob comando da iniciativa privada. No que tange à base material das telecomunicações no Brasil, em 1973, a Embratel implanta a Rede Nacional de Telex, que corresponde a um aparelho capaz de transmitir a palavra escrita, o que, segundo Santos e Silveira (2001), devido à velocidade da transmissão, assegura um impulso às operações comerciais. Inicialmente, essa rede contava com mil terminais em São Paulo e 855 no Rio de Janeiro, que se difunde pelo território brasileiro, cuja expansão permite a comunicação com 145 países, chegando, em 1986, a um somatório de 26.532 terminais em Brasília e regiões metropolitanas (SANTOS e SILVEIRA, 2001). Além disso, a Embratel cria a Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras), em 1972, que aumenta consideravelmente o número de terminais telefônicos em serviço no Brasil. Segundo Santos e Silveira (2001), o número absoluto de telefones aumentou de 7.417.527, em 1980, para 19.552.481, em 1996, assim como a densidade, cuja a ampliação era de um telefone para 16,33 habitantes, em 1980, e em 1996 passou a ser de um telefone para 8,03 habitantes. Embora a ampliação tenha se dado para o telefone, o mesmo não aconteceu com os terminais de telex, na década de 1990, que passou a ter significativa queda, com a P á g i n a | 101 desativação de 64.410 terminais de telex entre os anos de 1992 e 1996. Isso se deu, principalmente, conforme Santos e Silveira (2001) identificaram com a adesão das empresas de formas mais modernas de telecomunicações, como a comunicação de dados, e posteriormente a Internet. De acordo com Michael Stanton (1993), Since 1970 the telecommunications infrastructure has been greatly expanded and modernized both at the local level and for long distance traffic. On account of the size of the country it is instructive to look more closely at the long distance infrastructure installed by Embratel. The eastern half of the country which is much more populous is served by a network of more than 23.000 km of microwave trunks of which an increasing number are being converted to digital transmission. Most of the remainder of the country which includes the vast Amazon region is served by domestic satellite communication betwen more than 50 ground stations. […]. Embratel also provides international telecommunications through the INTELSAT and INMARSAT systems through three submarine cables (two to Europe and one to the US) and through terrestrial links to neighbouring countries to the south and the southwest (STATON, 1993, p.2, grifos nossos)21. Sobre esse processo de conversão dos troncos de micro-ondas à transmissão digital, corresponde ao momento que Cilene Gomes (2001) chama de convergência das telecomunicaçõescom os sistemas de informática. Inclusive, devido ao aumento dos equipamentos de informática no início dos anos 1970, o Ministério das Comunicações passou a se preocupar com a transmissão eletrônica de dados, utilizando das redes de telefonia e de telex para tal finalidade, cujo objetivo consistia em rentabilizar os custos então muito elevados dos computadores (BENAKOUCHE, 1997). Para isso, verificou-se a viabilidade de se ampliar o número de usuários de uma unidade central, através da disseminação de terminais ligados a uma mesma unidade. No entanto, devido às limitações das redes clássicas em garantir um serviço de qualidade, os órgãos responsáveis pela administração do setor de telecomunicações, em vários países, sentiram a necessidade de providenciar a instalação de novas redes destinadas exclusivamente à transmissão de dados. No Brasil, a Embratel recebeu a incumbência de 21 Desde 1970, a infraestrutura de telecomunicações tem sido amplamente expandida e modernizada tanto em nível local quanto pelo tráfego de longa distância. Por causa do tamanho do país, é instrutivo olhar mais de perto a infraestrutura de longa distância instalada pela Embratel. A metade oriental do país que é muito mais populoso é servido por uma rede de mais de 23.000 km de troncos de micro-ondas dos quais um número crescente está sendo convertido para transmissão digital. A maior parte do restante do país que inclui a vasta região Amazônica é servida pela comunicação de satélite doméstico entre mais de 50 estações terrestres. A Embratel também fornece telecomunicações internacionais através dos sistemas INTELSAT e INMARSAT através de três cabos submarinos (dois para a Europa e um para os EUA) e através de ligações terrestres para países vizinhos ao sul e sudoeste (tradução livre). P á g i n a | 102 instalar e explorar uma rede nacional de transmissão de dados (BENEKOUCHE, 1997). Devido a isso, desde o final dos anos 1970 os serviços de comunicação de dados no país permaneceram em expansão constante. As duas modalidades básicas desse transporte de dados entre dois ou mais pontos devidamente equipados foram os seguintes sistemas: Serviço Digital de Transmissão de Dados via terrestre (TRANSDATA), formada por circuitos privados do tipo ponto-a- ponto (não comutados), alugados a preços fixos e organizada hierarquicamente em função de Centros de Transmissão e Centros Remotos, e a Rede Nacional de Comunicação de Dados por Comutação de Pacotes (RENPAC), uma rede pública de transmissão com treze centros de comutação e treze centros de concentração distribuídos pelo território nacional, além de um centro de supervisão e controle que coleta as informações referentes às condições de operação dos nós e concentradores (BENEKOUCHE, 1997). “Em ambos os casos, o usuário deveria providenciar, além do seu equipamento (microcomputador, modem, software de acesso, etc.), sua assinatura junto à Embratel” (BENEKOUCHE, 1997, 129). Quanto à comunicação de dados internacional, a Embratel lançou o Serviço Internacional de Comunicação de Dados Aeroviários (AIRDATA), em 1981, o Serviço Internacional de Comunicação de Dados (INTERDATA), em 1982, e o Serviço Internacional de Acesso a Informações Financeiras (FINDATA), em 1983. Somente no final da década 80, que a Embratel implementou também o acesso internacional à RENPAC, comunicando-a, através do nó internacional da rede INTERDATA, com as redes de dados de outros países (CARVALHO, 2006). De acordo com Stanton (1998), do ponto de vista jurídico, o monopólio estatal das telecomunicações foi interpretado como restritivo, dificultando a criação de redes de comunicação de dados para servir a diferentes comunidades. Inclusive, esse monopólio permaneceria até a regulamentação da privatização do serviço de Internet diretamente ao usuário pela portaria do Ministério das Comunicações de nº 148 de 1995, com a aprovação da norma nº. 004/1995. Até então, as únicas exceções concedidas pela Embratel foram à Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (SWIFT), à Société Internationale de Télécommunications Aéronautique (SITA) para reservas aéreas, e, por fim à rede acadêmica e de pesquisa. Uma das consequências com a quebra do monopólio estatal, foi o fato da Internet comercial no Brasil ter chegado ao ano de 1996 sem uma infraestrutura capaz de atender à demanda dos novos provedores de acesso comercial e, principalmente, dos seus usuários. “Com isso, mesmo que alguns provedores conseguissem acesso a algum P á g i n a | 103 backbone Internet e a respectiva rede de suporte para a transmissão de dados, não havia linhas telefônicas disponíveis para atender às chamadas dos (computadores de) seus clientes” (CARVALHO, 2006, p. 144). Além disso, os primeiros provedores de acesso comerciais que se deram com a privatização da Internet eram verticalizados, ou seja, faziam todos os serviços da cadeia de valor a partir do nível do envio e recepção de dados, desde roteamento de pacotes, acesso por linha telefônica, hospedagem de servidores e de aplicações de clientes, além de produção e disseminação de conteúdo (CARVALHO, 2006). Enquanto isso, as empresas de telecomunicações deveriam fornecer os circuitos físicos e manter os sinais básicos para garantir o seu funcionamento, assim como, oferecer as linhas telefônicas em ambas as pontas, isto é, do usuário e do provedor. Em seguida, o marco da privatização do setor das telecomunicações foi estabelecido com a Lei Geral das Telecomunicações (LGT) nº 9.472, de 16 de julho de 1997, que designou à União a organização da exploração dos serviços de telecomunicações. Entre outros aspectos, esta organização consiste no “disciplinamento e a fiscalização da execução, comercialização e uso dos serviços e da implantação e funcionamento de redes de telecomunicações, bem como da utilização dos recursos de órbita e espectro de radiofrequências” (BRASIL, 1997, p. 1). Conforme assinalou Toledo Júnior (2003), essa lei definiu os princípios do novo modelo institucional do setor, criando e difundindo o papel da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), os princípios do novo modelo tarifário, Plano de Outorgas e Concessões e das diretrizes para modelagem e venda das empresas estatais. Foi a partir de então, que as vendas do sistema Telebrás culminaram na implementação da “maior infraestrutura de backbone Internet da América Latina” (CARVALHO, 2006, p. 145), impactando no aumento do número de usuários no país. P á g i n a | 104 Figura 35 – Tabela do número de assinantes e usuários dos provedores de acesso à Internet no Brasil, durante a segunda metade da década de 1990 Fonte: Elaborado por PANTOJA e FERREIRA (2000), sobre os dados da ABRANET22. No entanto, além do aumento dos acessos, uma outra consequência com a privatização foi que: Após a alteração da forma de atuação do Estado no setor de telecomunicações, em 1998, pela legitimação da política neoliberal no país num setor cuja tradição era a de serviços públicos não mercantilizados, as empresas concessionárias passaram a ser responsáveis pela distribuição dos acessos da internet, mas sem o compromisso de organizar o território, papel destinado à agência reguladora. Isto decorreu na falta de investimento em lugares pouco lucrativos, descontrole das tarifas e a falta de garantia de qualidade do acesso, pois não há suficiente concorrência que force melhoras (GIRARDI, 2013, p. 90). Ademais, embora o número de usuários no Brasil evidentemente tenha crescido em função da abertura comercial da Internet, no final dos anos 1990, é necessário considerar um outro fator para a nova expansão ocorrida a partir dos anos 2000, com a introdução da banda larga. Para Silva, a banda larga significou, em escala global, importantes transformaçõestécnicas e econômicas, pois permitiu o aumento do volume de transações de dados às empresas, ampliando exponencialmente os fluxos de informações possíveis de serem gerenciadas de forma automatizada (SILVA, 2019). Isso, inclusive condiz com Silveira (2005), ao considerar o fato de que a atividade corporativa se realiza por intermédio das empresas-rede, e assim “sua influência se estende à totalidade ou as partes do território, por meio das redes de infraestruturas, informação e comunicação” (SILVEIRA, 2005, p. 175). Assim, a seletividade dos lugares que apresentem as melhores condições para incorporação dessas empresas-redes, acentuando ainda mais competição entre estes, devido à necessidade de estarem 22 Associação Brasileira de Internet. P á g i n a | 105 conectadas com a matriz de maneira eficiente, acabando por reforçar ainda mais a concentração das redes de informação em determinadas regiões. Segundo Théry e Mello-Théry (2014), o litoral brasileiro corresponde ao eixo principal do país, pois há a presença de todas as redes de informação. Além disso, no que concerne especificamente ao desenho da rede de fibras ópticas, os autores afirmam que “por mais moderno que seja, reproduz o desenho do mais antigo dos meios de transporte brasileiros, a cabotagem23 costeira” (THÉRY e MELLO-THÉRY, 2014, p. 232). Figura 36 – Mapa das Redes de Informação do Brasil Fonte: Elaborado por Théry e Mello-Théry (2014), sobre dados do INGEO e Consórcio Brasiliana. Devido a essa concentração de infraestrutura no que corresponde ao cidadão comum, apesar de ter aumentado os usuários de Internet no início dos anos 2000 (ver 23 Tipo de navegação de grande importância, que entre os séculos XIX e XX, pois exercia a interligação entre as cidades originadas do ciclo do açúcar, do ouro e do café, posicionadas na costa brasileira. Segundo Contel (2001), esse subsistema de movimento também exercia o papel de transporte “longitudinal” de passageiros e foi predominante até a década de 1950, quando outros tipos de atribuições passaram a ser exercidas, a exemplo do transporte de petróleo (e seus derivados) e de determinados tipos de alimentos. P á g i n a | 106 Gráfico 2), sobre dados do International Telecommunication Union (ITU), bem como de domicílios particulares permanentes com acesso à Internet no país, este que segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, saltou de 7.245 (13,7%), em 2005, para 22.395 (36,5%), em 2011, é possível evidenciar grande desigualdade regional da sua difusão no território brasileiro (ver Mapa 4 e 5). Gráfico 2 – Porcentagem de usuários individuais de Internet no Brasil (2000-2010) Fonte: Adaptado do ITU (2021). Essa desigualdade é reflexo da organização da Internet no território brasileiro, que, segundo Girardi (2015, p. 19), “é marcada pela deformidade no acesso, disperso e rarefeito nas áreas rurais e periféricas das cidades, a não ser em lugares cuja economia atraiu as novas exigências de especialização em informática no contexto da reestruturação produtiva do capital”. 2,87 4,53 9,15 13,21 19,07 21,02 28,18 30,88 33,83 39,22 40,65 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Usuários Individuais de Internet no Brasil (%) P á g i n a | 107 Mapa 4 – Mapa da porcentagem de domicílios particulares permanentes com acesso à Internet, em 2005 Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre os dados da PNAD. P á g i n a | 108 Mapa 5 – Mapa da porcentagem de domicílios particulares permanentes com acesso à Internet, em 2011 Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre os dados da PNAD. P á g i n a | 109 Desse modo, é possível perceber nos mapas acima, a concentração de domicílios com acesso à Internet nos estados da Região Concentrada24, sobretudo São Paulo. Mediante a esse cenário, em 2010, foi instituído pelo decreto nº 7.175, o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), com intuito de difundir e fomentar o uso e o fornecimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Dentre outras coisas, a PNBL busca massificar o acesso a serviços de conexão à Internet em banda larga, acelerar o desenvolvimento econômico e social, promover a inclusão digital, diminuir as desigualdades social e regional, promover a geração de emprego e renda, além de ampliar os serviços de Governo Eletrônico e facilitar o uso dos serviços do Estado (BRASIL, 2010). Para isso, o documento base do PNBL estabeleceu as seguintes ações: Figura 37 – Ações da PNBL Fonte: Adaptado da PNBL (BRASIL, 2010). 24 Abrangendo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a região concentrada se caracteriza pela implantação mais consolidada dos dados da ciência, da técnica e da informação (SANTOS e SILVEIRA, 2001). P á g i n a | 110 A massificação, de fato, ocorreu, aumentando os usuários individuais de Internet no país, ao longo dos anos 2010 (ver Gráfico 3), atingindo a marca de 73,91% da população brasileira, em 2019. Gráfico 3 – Porcentagem de usuários individuais de Internet no Brasil (2010-2019) Fonte: Adaptado de ITU (2021). No entanto, massificação não é o mesmo que universalização, conforme assinala Silva (2015, p. 161, grifos nossos), […]. O acesso massificado consiste em uma expansão do serviço para uma grande quantidade de pessoas, extrapolando os limites de classes e grupos de especialistas, indo para o cotidiano e uso do cidadão comum, ainda que nem todos estejam incluídos. […]. Já o acesso universal pressupõe que todos têm o direito de obter determinado serviço por ser considerado imprescindível devido à sua importância e papel social, devendo ser disponibilizado ao universo de todos os cidadãos a preços acessíveis, sem distinção de classe econômica, condições sociais ou localização geográfica. Nesse sentido, pode-se dizer que a proposta da PNBL para garantir a universalidade do acesso se embasava na instituição da Rede Nacional, tendo como prioridades a estruturação de uma rede corporativa federal nas capitais, o atendimento a pontos de governo e de interesse público e a oferta de capacidade em localidades, onde há falta de prestadores de serviço de comunicação, com preço elevado ou mesmo baixa atratividade econômica, bem como em áreas de baixa renda nas regiões metropolitanas (BRASIL, 2010). 45,69 48,56 51,04 54,55 58,33 60,87 67,47 70,43 73,91 0 10 20 30 40 50 60 70 80 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Usuários Individuais de Internet no Brasil (%) P á g i n a | 111 O intuito de atingir a universalidade com a operação desta rede ficou a cargo da Telebras, que havia saído de operação com a privatização em 1997, mas foi reativada com o PNBL. O objetivo da Telebras era cumprir a meta de atingir 4.278 municípios até 2014, o que não ocorreu, pois, o Relatório de avaliação do Programa Nacional de Banda Larga25 (2014) constatou investimento insuficiente nos projetos executados pela Telebras, que por sua vez, havia declarado que, ao final do prazo, sua rede teria atingido somente 612 municípios, sendo 360 por oferta direta e 252 por meio de parceiros (BRASIL, 2014a). Apesar disso, houve avanços no que se refere a ações complementares que sucederam o PNBL. É o caso dos acordos firmados entre o Ministério das Comunicações e a Anatel com as concessionárias de telefonia fixa para oferecer um serviço nos moldes do PNBL, denominado de “banda larga popular”. “Conforme dados divulgados pelo Ministério das Comunicações, em maio de 2014, o serviço era oferecido em 4.912municípios brasileiros, atendendo a aproximadamente 2,6 milhões de residências” (BRASIL, 2014a, p. 18). Outros avanços também foram alcançados com as novas regras estabelecidas pela Anatel, centralizadas na qualidade do serviço, à proteção do consumidor e à competição (com aumento contínuo da concentração no setor). A Anatel também realizou licitações para as faixas de radiofrequência de 450 MHz, 700 MHz e 2,5 GHz, que tiveram o objetivo de permitir a oferta de serviços de comunicações móveis de quarta geração (4G), sem lançar mão da necessária cobertura dos serviços nas áreas rurais (BRASIL, 2014a). Além disso, apesar da falta de êxito do PNBL em atingir a meta de cobertura até 2014, a Telebras, segundo seu relatório de gestão do exercício de 2017, implantou entre os anos de 2010 a 2017 um backbone com aproximadamente 26.000 km de extensão, “com capacidade de até 1,6 Tbps, com trechos modernizados com capacidade de até 3.2Tbps, 80% desta rede está sobre linhas de transmissão de energia em cabos OPGW e em gasodutos” (TELEBRAS, 2018, p.23). Segundo o mesmo documento, a Telebrás expandiu em 2017 o atendimento ao PNBL para 1.524 municípios, representando um crescimento de 137% de municípios atendidos, além de 586% no número de municípios atendidos por parceiros, que havia saído em 2016 de 180 para 1.055 em 2017 (TELEBRAS, 2018). 25 Elaborado por senadores membros da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática. P á g i n a | 112 Figura 38 – Rede da Telebras (2017) Fonte: TELEBRAS, 2018. Ademais, o Governo Federal, por meio do Decreto nº 7.769, de 28 de junho de 2012, estabeleceu a gestão do planejamento, da construção e do lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), tendo a Telebras, o Ministério de Defesa, Agência Espacial Brasileira (AEB), Ministério das Comunicações (MC) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no grupo executivo do projeto (BRASIL, 2012). Para a sua execução, foi firmado um acordo, em 2013, entre a Telebras e a Visiona Tecnologia Espacial S.A. para o empreendimento conjunto entre esta e a Embraer. Frente aos desafios do PNBL, este projeto foi significativo para a cobertura da Telebras, devido à “possibilidade de integração, para vasta parcela da população, aos meios de comunicações continuados, com qualidade e modicidade, bem como a de franquear meios seguros de comunicação para o Estado, preservando sua soberania” (TELEBRAS, 2018, p. 26). O satélite foi lançado em Kourou, na Guiana Francesa, em 04 de maio de 2017, pelo foguete Ariane V, que por sua vez foi desenvolvido pela European Space Agency (ESA), ou Agência Espacial Europeia. A operação do SGCD foi definida da seguinte forma: P á g i n a | 113 Sua carga útil em Banda X já se encontra em operação tendo como cliente o Ministério da Defesa. Sua banda Ka, que conta com 58 Gbps de capacidade, está destinada ao atendimento de banda larga, especialmente em localidades remotas e programas de governo. Sua cobertura atinge todo território nacional, incluindo Fernando de Noronha e 200 milhas náuticas na região da Amazônia Azul26 (TELEBRÁS, 2018, p. 23). De acordo com o site oficial da Telebras, [s.d], o projeto vem viabilizando a conexão de escolas públicas, hospitais, unidades de saúde, comunidades indígenas e quilombolas que até então não contavam com esse acesso, tendo o potencial de propiciar a consciência cidadã, bem como a igualdade e justiça social, mediante a inclusão digital e social, além de ter o objetivo de expandir o empreendimento com outros programas sociais, otimizando sua capacidade de atendimento. Figura 39 – Esquema de lançamento do SGCD Fonte: Adaptado da Visiona Tecnologia Espacial S.A, c2021. 26 Amazônia Azul corresponde ao território marítimo brasileiro ou sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE). P á g i n a | 114 Figura 40 – Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) Fonte: TELEBRAS, 2018. Esse sistema de comunicação, conforme documento publicado pela Telebras, inclui os Centros de Operações Espaciais (COPE-P, principal em Brasília, e COPE-S, secundário no Rio de Janeiro) que coordenam, utilizando informações de posicionamento de outros satélites em órbita e de lixo espacial, o posicionamento correto visando a segurança do SGDC no espaço (TELEBRAS, 2021). Também fazem parte desse sistema, as Estações de Monitoramento e Controle27, que são responsáveis por auxiliar no monitoramento dos parâmetros do satélite para que eles sejam integrados com as informações do COPE-P e do COPES para prover o controle e a telemetria de todo o sistema. O acesso ao satélite se dá por meio dos terminais de usuário, que correspondem às estações de pequeno porte instalados nas localidades remotas, enviando e recebendo dados do SGDC, que retransmite as informações às estações de acesso. Essas estações de acesso as que permitem a comunicação entre os elementos da rede em terra e o satélite, tendo a função “de monitorar, analisar e orientar as estações terrenas dentro dos padrões adequados para a transmissão de dados, bem como controlar as configurações do satélite, a fim de otimizar os recursos em função das demandas dos usuários” (TELEBRAS, 2021, p. 55). 27 Presentes em Rondônia, Acre, Piauí, Roraima, Campo Grande, Santa Catarina, Paraíba, Brasília, São Paulo, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro P á g i n a | 115 Essas estações de acesso estão localizadas nas cidades de Campo Grande/MS, Florianópolis/SC e Salvador/BA, além dos COPE-P, em Brasília, e no COPE-S, no Rio de Janeiro que também funcionam como estações de acesso. Além disso, estas estações são geograficamente distribuídas, pois buscam melhor utilização das frequências de comunicação. Quanto ao restante da comunicação, completa-se através da Rede Nacional de Banda Larga da Telebras (TELEBRAS, 2021). Esse avanço da infraestrutura da Telebras, bem como as ações complementares de outros órgãos, converge com o PNBL e com o Marco Civil da Internet, estabelecido pela Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, este que por sua vez trata em seu Art. 4º que a disciplina do uso da Internet no Brasil deve promover o seu acesso como um direito de todos (BRASIL, 2014b). Entre avanços e retrocessos, no que tange a universalidade dos acessos à banda larga no Brasil, em 2019 (ver Mapa 6), há a seguinte situação para as regiões brasileiras, segundo dados do Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br). P á g i n a | 116 Mapa 6 – Situação do acesso à Internet no Brasil, por região (2019) Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre os dados do CGI.br/NIC.br, Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros - TIC Domicílios 2019. P á g i n a | 117 Desse modo, é evidente que com esses avanços técnicos se instalando no país o número de usuários à Internet se torna maior, porém, ainda há desigualdades gritantes, principalmente, em relação a mais da metade dos domicílios rurais brasileiros sem acesso à banda larga, enquanto que os domicílios na área urbana sem esse acesso correspondem a menos de 40%. Às disparidades regionais sobre essa falta de acesso também foi evidenciada, sendo a região Sul (29%) e Sudeste (35%) com os menores índices nesse quesito, enquanto que a região Norte (61%) dispara na falta de acesso. Além disso, apesar da região Nordeste (43%) e Centro-Oeste (42%) apresentarem quase o mesmo percentual de domicílios sem acesso à Internet, no que se refere ao quesito velocidade,a região Centro-Oeste se mantém maior a partir do intervalo de 9Mbps até 50Mbps, só voltando a empatar com a região Nordeste, neste quesito, em velocidade superior a 51Mbps. Ainda sobre tal quesito, além da região Centro-Oeste, destacam-se as regiões Sul e Sudeste com velocidades muito superiores as demais regiões, sobretudo no intervalo de 21 a 50Mbps e superior à 51Mbps, diferentemente da região Norte que apresenta os piores índices de velocidade. Essa situação da qualidade do acesso pela velocidade condiz com os sistemas técnicos que se instalam nas diferentes regiões do território brasileiro, que por sua vez, segundo Théry e Mello-Théry (2014), requerem configurações diferentes em função do funcionamento de cada um desses sistemas, não oferecendo as mesmas possibilidades e nem as mesmas limitações, além de terem sido implantadas em diferentes períodos. Os autores dão como exemplo o caso da Amazônia, que apesar do satélite ser uma tecnologia vantajosa por permitir a cobertura de uma vasta superfície com um mínimo de cobertura do solo, explicando a sua difusão na região, há, ainda assim, fortes eixos onde os investimentos são favoráveis e outros onde as rarefações tornariam as implantações problemáticas (THÉRY e MELLO-THÉRY, 2014). Em busca de diminuir ainda mais essas desigualdades, de acordo com o relatório de administração do exercício do ano de 2020 da Telebras, está sendo projetado ou implantado pela empresa atualmente um total de 3.611 km de novos trechos de fibra óptica, com a perspectiva de utilização de linhas do sistema Eletrobras (TELEBRAS, 2021). O documento também destaca que “esses totais não incluem os trechos de última milha contratados de fornecedores diversos nos pontos atendidos pela Telebras em que não dispõe de rede metropolitana” (TELEBRAS, 2021, p. 52). Em operação, a Telebras possui atualmente um backbone nacional de aproximadamente 28.880 km de fibras ópticas, sendo 2.433,5 km de fibras próprias; P á g i n a | 118 17.623,7 km do sistema Eletronorte; 2.229,5 km da Petrobras; e 6.593,5 km de outras parcerias ou de swap28, que percorrem todas as regiões do país para a prestação de seus serviços de conectividade (TELEBRAS, 2021). Sobre essas fibras, destaca-se que, a sua maioria, estão em cabos OPGW existentes nas linhas de transmissão das concessionárias de energia, gasodutos e rodovias estaduais e federais Abaixo é possível visualizar o mapa da rede nacional em operação e o planejamento para ampliação desta rede nos anos de 2019 a 2022: Figura 41 – Mapa da Rede Nacional da Telebras em operação e em planejamento Fonte: TELEBRAS, 2021. Legenda: Linha azul é o backbone em operação enquanto que a linha vermelha corresponde aos trechos em planejamento. Além disso, foi iniciada a implantação do Projeto 100Gbps que consiste em implantar dois canais de 100 Gbps em diversos trechos da rede Dense Wavelength Division Multiplexing (DWDM), que é um sistema que multiplexa múltiplos comprimentos de onda a serem transmitidos através de uma única fibra óptica, permitindo aumentar a sua capacidade de transmissão (PINTO et al., 2002). Este Projeto foi viabilizado através de uma parceria com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e, inclusive, já foram finalizados os trechos entre Manaus-Macapá e Macapá-Belém, e iniciada a implantação do trecho Belém-Brasília (TELEBRAS, 2021). 28 Corresponde a uma operação de derivativos pela qual as partes efetuam uma troca de rentabilidade de ativos financeiros predefinidos. P á g i n a | 119 Não é a primeira vez que a Telebras e a RNP contribuem entre si, tendo, já no contexto do PNBL, em 201129, ocorrido uma parceria para execução de um projeto piloto com o objetivo de integrar os campi dos estados de Tocantins e Goiás. Para o primeiro, essa integração foi entre a Universidade Federal do Tocantins (UFT) e o Instituto Federal de Tocantins (IFTO), localizados em Gurupi, ao PoP-TO, localizado na UFT, em Palmas, enquanto que para o segundo, foi entre o campus do Instituto Federal de Goiás (IFG), em Anápolis, ao PoP-GO, localizado na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (RNP, 2011). Segundo a RNP (2011), para a Telebras, esse acordo poderia acelerar a implantação de suas estações de transmissão nos municípios no interior, favorecendo o atendimento de outros clientes nessas localidades, no contexto do PNBL. Enquanto que à RNP, o acordo visava ampliar a infraestrutura de backhaul nas localidades com campi no interior de forma a permitir a conexão em maior velocidade das instituições de educação e pesquisa à Rede IPÊ. Atualmente a RNP, é regido pelo Programa Interministerial da Rede Nacional de Pesquisa (PRORNP), que, conforme instituído na Portaria Interministerial nº 3.825, objetiva, dentre outras coisas, “promover e fomentar a cooperação com a comunidade científica nacional e internacional, órgãos ou entidades da administração pública, como empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias, e empresas privadas” (BRASIL, 2018, p.1). Assim, tendo sido evidenciado o processo de incorporação da Internet no Brasil e sua Rede Nacional, que obedece aos preceitos de uma regulação que define como direito de todo cidadão o acesso à Internet, em função das desigualdades regionais e sociais existentes, trataremos a seguir do processo incorporação da RNP no território brasileiro para finalmente tratar da implantação da Infovia Potiguar, iniciativa dessa organização no estado do Rio Grande do Norte. 29 Até tal momento, a RNP interligava cerca de 800 organizações usuárias, entre universidades, institutos federais, hospitais de ensino e museus através de Pontos de Presença (PoPs) estaduais. Além disso, as conexões aos campi do interior, limitadas em abrangência e velocidade, constituem o alvo inicial do acordo de cooperação com a Telebras, e representam cerca de 350 instituições (RNP, 2011). P á g i n a | 120 2.3.3.2 A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa: A Rede IPÊ Conforme visto, o processo de informatização do território brasileiro partiu do desenvolvimento das telecomunicações, que convergiu com os equipamentos de informática e permitiu o acesso ao que conhecemos hoje como a Internet. De acordo com Gomes (2001), o sistema Internet no Brasil, apoiado em certas plataformas de telecomunicações, inicia o seu processo de expansão desde o final dos anos 1980 “graças às iniciativas da comunidade acadêmica e do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) na instituição da Rede Nacional de Pesquisa (RNP)” (C. GOMES, 2001, p. 349). No entanto, antes mesmo da elaboração da RNP, algumas inciativas de origem acadêmica já se deram nesse sentido. Inclusive, a primeira conexão estabelecida se deu na faixa de 9.600 bps à rede BITNET entre o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no Rio de Janeiro, à Universidade de Maryland, nos EUA, objetivando abrir acesso amplo à BITNET através do acesso discado ao LNCC por qualquer membro da comunidade nacional de pesquisa, considerado formalmente um pesquisador do CNPq (STANTON, 1993). A segunda conexão internacional se deu em 1988, inicialmente operando na faixa de 4.800 bps entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (FAPESP) e o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab) em Chicago, prevendo o atendimento do sistema de universidades e de pesquisa do Estado de São Paulo de modo a evitar as restrições legais sobre tráfego de terceiros que era imposto pela Embratel. De acordo com Stanton (1993), esta conexão usava a tecnologia DECnet30, e permitia acesso à HEPNET (High Energy Physics Network), e à BITNET. Uma terceira conexãoindependente à BITNET, também em 4.800 bps, foi instalada em 1989, entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de Califórnia, em Los Angeles (UCLA). Na figura abaixo é possível visualizar a constelação de conexões com o acréscimo de várias instituições adicionais que passaram a ter o acesso à rede usando acesso discado ou comutação por pacotes, principalmente ao nó da FAPESP em São Paulo. A grande maioria das conexões ilustradas eram da rede BITNET, mas algumas instituições mantinham ligações DECnet, e integrava também a HEPNET. Ainda segundo 30 A DECnet corresponde a uma família de protocolos desenvolvida pela Digital Equipament Corporation, em 1975, para fornecer a comunicação entre seus computadores. P á g i n a | 121 Stanton (1993), nesse estágio é seguro afirmar que o único serviço disponível nacionalmente era o correio eletrônico, pois apenas algumas poucas instituições já faziam parte da Internet, apesar do uso de enlaces de velocidade baixíssima. Figura 42 – Conexões de linhas alugadas na rede brasileira, 1991 Fonte: Stanton, 1998. Devido a isso, o anseio, sobretudo no âmbito acadêmico a um acesso mais interativo e veloz, contribuiu para alavancar o projeto de uma Rede Nacional de Pesquisa. No entanto, pelo fato da rede demandar uma pesada e cara infraestrutura para operar com uma topologia em malha foi preciso uma estrutura administrativa própria. Desse modo, foi essencial o reconhecimento do governo para a necessidade de investir em comunicações de dados, de modo “a envolver (e comprometer) os vários atores de pesquisa e desenvolvimento em atividades cooperativas que, assim, viessem a contribuir de forma mais efetiva para o desenvolvimento nacional nessa área” (CARVALHO, 2006, p.90). Desse modo, teria que ser adotada uma estratégia, a qual se buscaria financiamento pelo governo à provisão inicial (pelo menos) de infraestrutura da rede. Esta estratégia foi adotada e executada pela equipe orquestrada pelo CNPq, sob a coordenação P á g i n a | 122 de Tadao Takahashi, baseada numa arquitetura de rede que correspondesse à organização administrativa do País. Esta arquitetura é semelhante à usada pela NSF nos EUA, com uma estrutura de três camadas, o backbone nacional, as redes regionais e as redes institucionais (STANTON, 1993). No caso do Brasil, O backbone nacional seria um projeto do governo federal, enquanto as redes regionais seriam de responsabilidade dos governos dos estados (individual ou coletivamente). Em termos funcionais, a rede regional interligaria as redes institucionais numa determinada região, e o backbone nacional proveria serviços de interconexão entre as redes regionais, assim como as conexões internacionais (CARVALHO, 2006, p.91). O protocolo da nova rede nacional caminhava em direção ao TCP/IP, mesmo assim, o backbone nacional e as redes regionais deveriam utilizar roteadores multiprotocolares, devido ao forte interesse da Secretaria Especial de Informática (SEI)31 do MCT, no modelo Open Systems Interconnection (OSI)32 no campo de comunicação entre computadores. No entanto, em 1990, pela primeira vez, houve apoio oficial a um projeto de rede utilizando a tecnologia da Internet. O projeto correspondia a uma rede regional ligada à Internet para o estado do Rio de Janeiro financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). De acordo com Stanton (1998), embora a instalação desse projeto tenha levado quase dois anos, essa experiência serviu de modelo para diversos outros estados, e para a reformulação do projeto da rede nacional. Sendo assim, os trabalhos de implantação da RNP iniciaram, “começando pelos backbones estaduais que, por sua vez, estavam avançando de forma independente do projeto nacional” (CARVALHO, 2006, p. 93). Finalmente, a primeira infraestrutura brasileira de linhas físicas (enlaces) para a conexão nacional de redes estaduais, com utilização do protocolo IP, foi montada pela RNP e posto em operação ao longo do ano de 1991. 31 A polêmica em relação ao interesse protocolo OSI por parte da SEI, correspondia ao fato desta possuir amplos poderes para determinar as tecnologias de computação e comunicações a serem usadas na comunidade acadêmica e de pesquisa, financiadas em grande parte pelo governo, e também determinava e executava a política industrial do governo para a informática. 32 Baseia-se em uma proposta desenvolvida pela ISO (International Standards Organization) como uma proposta à padronização internacional dos protocolos empregados nas diversas camadas. P á g i n a | 123 Figura 43 – Backbone da Rede Nacional de Pesquisa em 1992 Fonte: RNP, [202?]. Em 1993, houve a ampliação das ramificações do backbone da RNP em onze estados, com enlaces girando em torno de 9.600 bps a 64 Kbps, ampliando novamente no ano seguinte, com conexões em 2 Mbps, entre o Rio de Janeiro e de São Paulo. Até 1995, a RNP era a única infraestrutura de serviços de rede de abrangência nacional, quando surgiram outras redes que resultaram da introdução do uso de aplicações comerciais na internet no Brasil. Mesmo com a introdução de novas redes, a RNP se destacava, sobretudo com a ampliação relacionada à melhoria na infraestrutura do seu backbone e evolução da Internet pública, que permitiu a elaboração de projetos para a implementação das 11 Redes Metropolitanas de Alta Velocidade (ReMAVs), em 1997, denominada de RNP2. Na verdade, isso correspondeu a uma das primeiras iniciativas de Cidades Inteligentes no Brasil, tendo em vista o intuito criar uma infraestrutura de conectividade para promoção de serviços em redes. Este projeto foi resultado de um investimento de R$ 200 milhões, valores da época, do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Educação, que resultou na implantação do backbone de alta capacidade e velocidade de Internet RNP2, de acordo com o documento de estudos estratégicos da Câmara dos Deputados sobre as Cidades Inteligentes (BRASIL, 2021). P á g i n a | 124 Esse documento também afirma que essa infraestrutura tinha o intuito de estabelecer a conexão de todas as redes metropolitanas existentes em uma grande rede nacional e que as ReMAVs foram pensadas para oferecer “serviços de bibliotecas digitais, educação a distância, sistemas de informação geográfica, teleconferência, telemedicina e vídeo sob demanda” (BRASIL, 2021, p.25). Além disso, até o final dos anos 90, surgiram os primeiros enlaces tecnológicos internacionais com os EUA de até 8 Mbps e no início dos anos 2000, foram implementados os enlaces internacionais baseados em tecnologias de transmissão Asynchronous Transfer Mode (ATM), que permite a transmissão de qualquer tipo de informação (dado, voz, imagem e vídeo) em redes de computadores com taxas de velocidade que podem variar entre 2Mbps até a faixa dos Gigabits, e Frame Relay (FR), que basicamente é uma rede orientada a conexões sem controle de erros e nenhum controle de fluxo. Finalmente, com a inauguração do novo link internacional entre o RNP2 e a America’s Path Network (Ampath), com capacidade de 155 Mbps. Esta conexão, permitiu a conexão inicial do RNP2, em 2001, à Internet2, que por sua vez, foi um consórcio desenvolvido nos EUA que veio a ser criado para desenvolver e implantar novas tecnologias e aplicações de redes avançadas, com o intuito de acelerar o desenvolvimento da Internet no futuro. “A Internet2, de certa forma, representa uma ‘volta às origens’, pois recriou a parceria (entre a academia, empresas e governos) que possibilitou o desenvolvimento e a expansão da Internet” (CARVALHO, 2006, 147). Desse modo, podemos destacar sobre a RNP2, assim como o documento da Câmara dos Deputadossobre as Cidades Inteligentes, que […]. Houve a consolidação de uma rede nacional, extremamente bem desenvolvida, conectando as instituições federais de ensino. Entretanto, não houve, com o projeto, um legado robusto de aplicações a serem utilizadas pelos concidadãos. Pode-se dizer, portanto, que o projeto não contribuiu para conectar as cidades propriamente ditas, mas como indicação do caminho a seguir: a necessidade e as vantagens de se ter, em primeiro lugar, uma rede com capilaridade e velocidade suficientes para a troca de informações por todos os envolvidos (BRASIL, 2021, p. 25). Nesse sentido, sentiu-se a exigência de acordos com governos, parcerias privadas, e outras organizações para o desenvolvimento desses novos caminhos. Portanto, a partir do decreto de nº 4.077, de 2002, em seu Art. 1º, a Associação Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) passou a ser qualificada como Organização Social (OS), tendo por objetivo “a execução de atividades de pesquisas tecnológicas em redes, de P á g i n a | 125 desenvolvimento e operação de meios e serviços de redes avançadas e do desenvolvimento tecnológico na área de redes” (BRASIL, 2002, p.1). Isso foi importante para permitir, a partir de então, recursos orçamentários e bens públicos, necessários ao cumprimento do contrato de gestão, destinados à RNP, conforme é estabelecido no Art. 12 da Lei nº 9.63733 de 1998, que, por sua vez, dispõe sobre as OS. Figura 44 – Backbone da RNP em 1995 Fonte: RNP, [202?]. 33 A Lei nº 9.637, de 1998, estabelece que organizações sociais podem ser qualificadas pelo Executivo como pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos desta lei, que dentre alguns destes, é necessário comprovar o registro do seu ato constitutivo no que dispõem a natureza social de seus objetivos relativos à respectiva área de atuação, a finalidade não-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes financeiros no desenvolvimento das próprias atividades, dentre outras disposições (BRASIL, 1998). P á g i n a | 126 Figura 45 – Backbone da RNP em 1997 Fonte: RNP, [202?]. Figura 46 – Backbone da RNP em 2002 Fonte: RNP, [202?]. P á g i n a | 127 De acordo com Pires (2010), o período entre 2004 e 2005, houve um aumento significativo da capacidade do enlace, variando de 2 Mbps até 622 Mbps, em 2004 para 4Mbps até 10Gbps, em 2005. Esse período coincide com o início do processo de financiamento proveniente do Fundo para o desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações do Ministério das Comunicações (Funttel), do projeto Rede Giga em 2002. De acordo com o portal online da RNP, consiste na implementação e uso de uma rede óptica experimental voltada para o desenvolvimento de tecnologias de rede óptica, aplicações e serviços de telecomunicação associados a tecnologia IP e banda larga. Também prevê a transferência de tecnologia a empresas brasileiras, significando um aumento da capacidade para a população em geral. Sobre a tecnologia usada no Projeto Giga, consiste na multiplexação óptica por comprimento de onda, ou wave division multiplexing technology (WDM), que associa sinais ópticos a diferentes frequências de luz (comprimentos de onda ou lambdas), o que permite separar, dentro de um mesmo meio físico (a fibra óptica), canais diversos para tráfego de dados. Segundo PINTO et al (2002, p.7) “os sinais que transportam a informação, em diferentes comprimentos de onda, são combinados em um multiplexador óptico e transportados através de um único par de fibras, com o objetivo de aumentar a capacidade de transmissão”. Também foi nesse período que houve a inauguração do novo link internacional, com capacidade de até 622 Mbps, entre a RNP2 e a Rede de Cooperação Latino- Americana de Redes Avançadas (RedClara), que é a rede regional de pesquisa e educação da América Latina, e esta, por sua vez, permitiu à RNP2 a conexão com a rede européia Geánt, em 2004. Além das conexões internacionais, os links interestaduais também chegaram a 622 Mbps com a alteração dos enlaces ATM e FR do backbone RNP2 por enlaces synchronous digital hierarchy (SDH), ou hierarquia digital síncrona, que permitiu o empacotamento dos dados diretamente sobre este protocolo, o que não ocorria com a tecnologia ATM, possibilitando, na prática, mais dados em um canal com, teoricamente, a mesma capacidade (RNP, 2009). Um outro salto na velocidade se deu com a implantação do backbone do RNP+ ou Rede Giga (2 Gbps) de alto desempenho, que interligaria as principais Instituições de Ensino e Pesquisa. De acordo com as informações colhidas no site da RNP, nesse intuito de melhorar ainda mais a infraestrutura de redes em níveis nacional, metropolitano e local, surge uma nova iniciativa, a Nova RNP, no ano de 2005, com o objetivo também de atender, com aplicações e serviços inovadores, as demandas de comunidades específicas, como P á g i n a | 128 telemedicina, biodiversidade, astronomia dentre outros e promover a capacitação de recursos humanos em TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação). É neste contexto que surge a Rede IPÊ, que além da oferta de aplicações e serviços, possui enlaces ópticos e tecnologia de comprimentos de onda, operando a múltiplos gigabits por segundo (ver Figura 47), e também o Programa Redes Comunitárias de Ensino e Pesquisa (Redecomep), que por sua vez corresponde a construção das próprias redes metropolitanas em fibra óptica, para prover acesso entre cada Ponto de Presença (PoP) e os campi das organizações usuárias na mesma cidade. Figura 47 – Backbone da RNP em 2005 Fonte: RNP, [202?]. Entre os anos de 2010 e 2011, há um grande avanço em termos de ampliação da capacidade da Rede IPÊ, devido a um acordo de cooperação com a empresa de telecomunicações Oi e a Anatel, que, para aprovar a compra da Brasil Telecom pela empresa, estabeleceu que a nova companhia resultante da fusão teria de investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D), nos próximos 10 anos, os valores correspondentes a P á g i n a | 129 100% do recolhimento feito anualmente ao Funtel. Pelo convênio, a Oi ficou incumbida de disponibilizar a infraestrutura de capacidade de transmissão em fibras ópticas, para uso não comercial pela RNP, além de operar e realizar a manutenção dos sistemas (RNP, 2010). Assim, já em 2010, a Rede IPÊ amplia sua capacidade em 280%, o que a elevou ao patamar das redes acadêmicas mais avançadas do mundo, e em 2011 (ver Figura 48), a rede atingiu um grande salto qualitativo com capacidade de 213,2 Gb/s, um aumento de 244% (RNP, [202?]). Figura 48 – Backbone da RNP em 2011 Fonte: RNP, [202?]. Ainda sobre a capacidade da rede, transformações importantes se evidenciaram, como a “Gigatização” completa, em que os Pontos de Presença (PoPs) da RNP passaram a ser atendidos na capacidade Gb/s. Além disso, a Rede IPÊ recebe as primeiras conexões de alta velocidade, com 100 Gb/s, em 2018. É possível constatar essas transformações da rede nas Figuras 49 e 50. P á g i n a | 130 Figura 49 – “Gigatização” da RNP Fonte: RNP, [202?]. Figura 50 – As primeiras conexões de alta capacidade (100Gb/s) da RNP Fonte: RNP, [202?]. P á g i n a | 131 Com o término dos 10 anos de compromisso com a Oi, a RNP passou a buscar novas parcerias para o backbone nacional (a Rede IPÊ), que culminaram na ampliação do processo de gigatização desta rede (conforme é possível verificar na Figura 49). Isso se deu com os acordos firmados entre a RNP com as companhias elétricas, sendo o primeiro acordobem-sucedido com a Chesf, em 2016, que resultou nos primeiros enlaces de 100Gbs da RNP. Estes enlaces estão em funcionamento desde 2018, na região Nordeste, contemplando, inclusive, a nossa área de estudo, o estado do Rio Grande do Norte. Segundo o portal de notícias da RNP, isso é resultado da parceria firmada ente a RNP e a Chesf, que iniciaram as conexões pela rota Fortaleza-Natal-Campina Grande-Recife- Salvador e, mais recentemente, o circuito Fortaleza-Salvador, fechando o anel no Nordeste (RNP, 2020a). Este acordo consiste no programa Nordeste Conectado, que pretende com essa estrutura permitir o fluxo de dados para escolas e centros de saúde, e disponibilizar para provedores de serviço de acesso à Internet e criar um atrativo para que essas empresas tragam serviços para a região. O acordo entre a RNP e a Chesf foi mutuamente favorável, tendo em vista que a empresa fica exclusivamente responsável pela operação e manutenção de sua rede de cabos OPGW, que garante à RNP o excelente índice de disponibilidade de 99,98% por ponto de acesso e 99% por rota, enquanto que a Chesf, conforme assinalado por Pontes (2018), beneficia-se com a parceria através da modernização de sua infraestrutura de telecomunicações, além de planejar o uso avançado de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs) no acompanhamento e controle do seu sistema. Além de possuir uma boa infraestrutura física, oferecer uma rede de alta capacidade, significa também a necessidade de disponibilizar para a maior parte dos circuitos um tráfego de 100 Gbps (PONTES, 2018). Nesse sentido, além da rede de cabos OPGW ser segura e já estabelecida em operações e manutenção, os principais motivos para a escolha da Chesf correspondem ao alcance geográfico da sua infraestrutura, que cobre toda a região Nordeste, abarcando, assim, todos os pontos de interesse da RNP; o potencial para aumento da capacidade da fibra óptica; e a oportunidades de negócios e serviços com empresas de rede elétrica, que permite assim fazer um núcleo da Rede entre as cidades de Fortaleza até Porto Alegre34 (PONTES, 2018). 34 Algo similar ao verificado no backbone da Rede Nacional da Telebras, que além das próprias fibras, conta também com o sistema Eletronorte, Petrobras, e de outras parcerias ou de swap que percorrem todas as regiões do país para a prestação de seus serviços de conectividade. Inclusive, boa parte dessas fibras estão em cabos OPGW existentes nas linhas de transmissão das concessionárias de energia, gasodutos, entre outros. P á g i n a | 132 Sobre este último ponto, considera-se o fato da Chesf ser uma subsidiária do sistema Eletrobras, que possibilita, portanto, a interligação com outras redes OPGW desse sistema. Essa interligação é viável, por meio de acordos similares ao RNP-Chesf, firmado posteriormente com as outras subsidiárias do sistema Eletrobras, a Furnas e a Eletrosul, que pretendem ampliar os enlaces de 100Gbps para as demais regiões do país, primeiramente por São Paulo e Rio de Janeiro, para depois alcançar outras rotas atendidas pelo anel Sudeste, que contempla os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso, Distrito Federal, Goiás, Paraná e Tocantins, além de ampliar outros enlaces a 100G no sul do país e no Mato Grosso do Sul, com conexões internacionais nas fronteiras com a Argentina, Paraguai e Uruguai. Figura 51 – Mapa da Integração Eletroenergética da Chesf, na Região Nordeste Fonte: Chesf, 2019. P á g i n a | 133 Figura 52 – Redes OPGW do Sistema Eletrobras Fonte: ALVES, 2016. Legenda: Furnas (em azul); Eletronorte (laranja); Chesf (verde); e Eletrosul (vermelho); Previsão (tracejado). Devido à falta de infraestruturas OPGW na região Norte, o Amapá recebeu conexões a 100 Gb/s, por meio de acordo com a Telebras ligando em 2020, Macapá a Manaus e a Belém (RNP, 2020a). A RNP lançou também o programa Norte Conectado, em 2018, que atualmente é um programa do Ministério das Comunicações (MC), cuja finalidade consiste na expansão de infraestrutura de comunicações na região “por meio de diversas iniciativas, entre elas, a implantação de uma rede óptica de alta capacidade e baixa latência, majoritariamente subfluvial, baseada em cabos ópticos lançados no leito dos rios da Amazônia” (RNP, 2021a, p.4). O projeto piloto desse programa, a Infovia 00, está em implantação e ligará a capital do Amapá, Macapá, às cidades paraenses Almeirim, Monte Alegre, Santarém e Alenquer. De acordo com a RNP (2021b): “Entre os objetivos do Programa Norte Conectado estão desenvolver o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Bacia Amazônica, tornar a região um polo tecnológico e promover integração com os países vizinhos que compõem a Pan Amazônia — Peru, Colômbia e Guiana Francesa”. Além disso, após totalizado, o programa proverá uma cobertura de cerca de 10.000 km com base nos leitos dos rios amazônicos (Negro, Solimões, Madeira, Purus, Juruá e Branco) e P á g i n a | 134 interligará 59 municípios, atendendo uma população aproximada de 9.2 milhões de habitantes (RNP, 2021b). Figura 53 – Mapa do Programa Norte Conectado Fonte: RNP, 2021a. P á g i n a | 135 Em relação a conexões internacionais, a RNP, conforme mencionamos, está inserida na RedClara, que interliga as Redes Nacionais de Pesquisa e Educação, tradução para National Research and Education Network (NREN), da América Latina. Figura 54 – Mapa da Rede Clara Fonte: RedCLARA, 2017. Visando obter novas conexões intercontinentais de alta velocidade, em parceria com a Universidade Internacional da Flórida (FIU), do projeto AmLight (Americas Lightpaths), nos Estados Unidos, a RedCLARA e as Redes de Educação e Pesquisa da África do Sul (TENET & SANReN) ativaram, em 2020, a rota digital entre as Américas e a África, utilizando o cabo submarino SACs operado pela Angola Cables. Esta conexão se dá entre Fortaleza à Luanda, em Angola, com capacidade de 100Gbps, chegando depois a Cape Town, na África do Sul, por outro cabo, o WACS. A rota que interconecta as redes científicas dos Estados Unidos, África do Sul e também da América Latina pela RNP “tem como objetivo promover a colaboração entre redes científicas e acadêmicas em nível intercontinental” (RNP, 2020b). P á g i n a | 136 Figura 55 – Mapa das conexões intercontinentais entre a RNP, AmLight e TENET & SANReN Fonte: RNP, 2020b. Com relação à conexão com a Europa, visando obter alta velocidade sem os problemas de latência causados pela rota de conexão, via América do Norte, a RedCLARA, junto a Rede Pan-europeia de pesquisa e educação (GÉANT) estabelecem parceria no Consórcio Building the Europe Link to Latin America (BELLA), cuja tradução livre é Construindo a Ligação entre a Europa à América Latina que inclui as NRENs do Chile, Colômbia, Equador, França, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha, além da RNP, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil. Esse consórcio consiste na criação do recém-inaugurado sistema de cabo submarino direto entre Brasil e Portugal, em parceria com a empresa EllaLink, capaz de reduzir a distância atual de conexão, via América do Norte, e consequentemente os custos de conectividade. De acordo com informações obtidas no portal do BELLA, a conexão inicial foi prevista em 100 Gbps entre RedCLARA e GÉANT, mas além de velocidade, a latência, ou seja, o atraso entre o navegador e o servidor, será bastante reduzido, como resultado da distância de conexão muito mais curta fornecida pela BELLA. P á g i n a | 137 Figura 56 – Mapa do novo sistema submarino entre a RedCLARA e GÉANT Fonte: BELLA, 2020. Desse modo, fazer parte da RNP representa às instituições clientes,a possibilidade de conexão em alta velocidade, baixa latência pela interligação com redes acadêmicas internacionais, mas também, um conjunto de serviços e aplicações, conforme é possível identificar no quadro abaixo. P á g i n a | 138 Quadro 3 – Sistema RNP e os serviços e aplicações Sistema RNP (serviços e aplicações) Descrição CAFe (Comunidade Acadêmica Federada) Plataforma da RNP, em que os usuários utilizam a federação CAFe sempre que acessam um serviço web da RNP ou disponibilizado por esta, a exemplo do portal de Periódicos da Capes/MEC, que é solicitado, no momento em que entram, login e senha de cada usuário. Na verdade, sempre que um usuário acessar um serviço web da RNP (ou disponibilizado pela RNP) que pergunta pelo nome da sua instituição de origem, a CAFe já está sendo acessada. Após a indicação da instituição de origem, a autenticação é redirecionada para esta instituição que, em seguida, informa se o usuário está habilitado ou não a prosseguir. ConferênciaWeb Videoconferências com agendamento, gravação e defesas, para reunir um grupo de usuários com um objetivo em comum, como um projeto, ideia ou trabalho específico. Dispõe de funcionalidade para bancas remotas, fácil agendamento e disparo de convites, possibilitando gravação, reuniões de Grupos de Trabalho e até defesas de tese. Não há investimento em equipamentos e a instituição poderá utilizar até 40 salas virtuais de modo simultâneo. Eduroam Rede Wi-Fi exclusiva para a comunidade acadêmica. Trata-se da rede de acesso sem fio operada no Brasil pela RNP. Ter essa funcionalidade para a instituição, trazendo mais mobilidade para seus alunos, seu corpo funcional e seus visitantes, já que há mais de 2.300 pontos de acesso no Brasil e outros milhares em 90 países. No mundo, está disponível em universidades, centros de pesquisa, praças públicas, aeroportos e até cafeterias. Para usá-lo, basta configurar uma máquina virtual da sua instituição e os access points que ela já possui. FileSender@RNP Permite a troca de arquivos grandes, de maneira confiável, possibilitando que o destinatário tenha garantia sobre quem os enviou. Os arquivos enviados podem ser de até 300 GB, que ficam disponíveis por até 7 dias, facilitando o dia a dia de alunos e pesquisadores, sem nenhum investimento para sua equipe de TI. Vídeos, transmissões ao vivo, canais de TV e rádio A instituição consegue compartilhar conteúdo audiovisual de modo gratuito e seguro, em qualquer lugar, a qualquer hora. A plataforma reúne quase 30 mil vídeos relacionados a ensino, pesquisa, saúde e cultura, com acesso gratuito e que permite transmissões ao vivo, streaming de eventos e que permite transmissões ao vivo, streaming de eventos e transmissões de sinal de TV e de rádio. Fone RNP Pela tecnologia VoIP, permite realizar chamadas telefônicas gratuitas entre universidades e instituições de pesquisa. Pode ser necessário investimento em equipamento no valor de R$ 15 mil, mas, com isso, é possível um número ilimitado de ramais virtuais para sua instituição e pode reduzir os custos com telefonia em cerca de 30%. Infraestrutura de Chaves Públicas para Ensino e Pesquisa (ICPEdu) É o serviço que viabiliza a emissão de certificados digitais do tipo SSL (Secure Sockets Layer), com emissão gratuita para pessoas, de forma rápida e automatizada. Não há investimento envolvido no uso do ICPEdu - Certificado Pessoal, apenas configurações necessárias, que serão orientadas pelo time de especialistas da RNP. Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados da RNP. P á g i n a | 139 Portanto, tendo em vista a constituição do backbone de alta velocidade da RNP, a Rede IPÊ, que está em processo de aumento da capacidade de seus enlaces para 100Gbps por todo o país, permitindo para as instituições clientes a possibilidade de conectividade em alta velocidade, em diferentes escalas, considerando a alta velocidade também das interligações internacionais, possibilitando o compartilhamento cada vez maior e instantâneo da produção técnica e científica entre as Redecomep do país, e entre o sistema RNP, como um todo, com as NRENs de diversas partes do mundo. Além disso, as parcerias entre as instituições para projetos e programas de pesquisa e ensino, auxiliadas pelo Sistema RNP, sobretudo com relação aos serviços e aplicações de videoconferências para promoção de eventos, workshops, o compartilhamento de dados e arquivos pesados com baixa latência para auxiliar em pesquisa e estudos em diferentes áreas, dentre outras vantagens. Tendo isso em vista, trataremos no capítulo seguinte, do processo de implantação da Infovia Potiguar pelo NuRA/UFRN, que hospeda o PoP da RNP no estado do Rio Grande do Norte, o PoP-RN, de modo que veremos especificamente a configuração da topologia da rede da Infovia Potiguar e a maneira com que ela se funde a configuração do território do estado. P á g i n a | 140 3 O DESENHO DA REDE DA INFOVIA POTIGUAR NO TERRITÓRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Neste capítulo trataremos do objetivo primeiro da dissertação, que é evidenciar as redes técnicas e de serviços do RN que estão inclusas no (ou que podem ser incorporadas ao) projeto da Infovia Potiguar. Na verdade, a topologia da rede da Infovia Potiguar no território do RN inicia seus primeiros traços a partir de outras iniciativas da RNP, bem como de regulação e infraestruturas preexistentes no estado. Nesse sentido, destaca-se que, desde 1996 o PoP-RN, está presente no estado com o incentivo da UFRN, que cedeu espaço físico e funcionários da instituição para auxiliar no funcionamento dessa iniciativa, contando também com o apoio do governo do estado (MELO, 2019). Assim, tendo sido lançada a Redecomep pela RNP, em 2005, a adesão pela UFRN foi imediata, tendo em vista que a instituição já tinha implantado uma rede acadêmica em Natal. No entanto, foi preciso buscar financiamento para aquisição de equipamentos que permitissem interligar outras instituições federais (FIALHO e SILVA NETO, 2017). Figura 57 – Rede Acadêmica da UFRN (2005) Fonte: Fialho e Silva Neto, 2017. O resultado desse investimento foi a implantação da Rede GigaNatal (RGN), interligando inicialmente o centro de redes avançadas, o PoP-RN, — localizado no campus da UFRN — com diversas unidades acadêmicas por meio dos equipamentos de acesso, GigaPoPs, presentes no próprio PoP-RN, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), P á g i n a | 141 na Faculdade de Odontologia, no Museu Câmara Cascudo e no atual Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER). Figura 58 – Rede Giga Natal (backbone físico, 2008) Fonte: Fialho e Silva Neto (2017) Essa rede contava com 40km de fibra óptica inicialmente, mas através de recursos da UFRN expandiu sua espinha dorsal para 260 km de cabeamento óptico, abrangendo, além de Natal, os municípios de Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Vera Cruz, Monte Alegre, São José de Mipibu, Extremoz e Ceará-Mirim. P á g i n a | 142 Figura 59 – A Rede GigaNatal (original e suas extensões) Fonte: PoP-RN, 2020. Além desta expansão do backbone, houve a instalação de uma rede óptica de acesso, com extensão aproximada de 280 km para conectar escolas (estaduais e municipais), por meio de acordos firmados entre a UFRN e a Secretaria Estadual de Educação (Seec). Isso se deu a partir de um estudo realizado em 2012, pelo Instituto Metrópole Digital35 (IMD/UFRN), em parceria com o PoP-RN em relação à situação de conectividade das escolas públicas da região metropolitana de Natal, revelando que das 630 escolas visitadas, aproximadamente a metade não possuía qualquer acesso à rede, e, dentre as escolas conectadas, uma porcentagem mínimaconsiderava satisfatória a velocidade de acesso, cuja média era 370 kbps (ASCOM, 2017) O acordo entre a UFRN e a Seec permitiu então a interligação de 350 escolas públicas situadas em Natal, Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante à Internet com largura de banda variando entre 5Mbps a 60Mbps. Apesar da Rede Giga Metrópole, nome dado a ampliação da Rede GigaNatal, de ter sido oficialmente inaugurada em 19 de junho de 2017, de acordo com o PoP-RN (2020), tanto as extensões da Rede GigaNatal como a rede de acesso estão concluídas e totalmente em operação desde dezembro de 2016. 35 Unidade acadêmica da UFRN especializada em Tecnologia da Informação. P á g i n a | 143 Nesse sentido, a partir de então, no escopo do atendimento às demandas de conectividade do Governo estadual, UFRN busca manter acordos com outras secretarias de estado e provê serviços de conectividade para diversas unidades de interesse da Secretaria de Segurança e Pública e da Defesa Social (Sesed), a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sesap), Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) e a Procuradoria Geral do Estado (PGE) através da infraestrutura da Rede GigaNatal juntamente com a Rede Giga Metrópole. Assim, está em processo uma iniciativa com o intuito de “prover conectividade a todos as unidades de Governo situadas na região metropolitana de Natal, demonstrando o relacionamento já existente entre a UFRN e o Governo de Estado no provimento de soluções de conectividade para as unidades sob administração estadual” (PoP-RN, 2020, p. 10). Figura 60 – Escolas atendidas pela extensão da Rede GigaNatal Fonte: PoP-RN (2019). Legenda: localização das escolas públicas de Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Macaíba, contempladas pelo acordo entre a UFRN-Seec. P á g i n a | 144 Figura 61 – Uso da Rede GigaNatal pela Sesap, Caern e Sesed Fonte: PoP-RN (2019). P á g i n a | 145 Figura 62 – Rede Integrada do Governo do Estado Fonte: PoP-RN (2019). P á g i n a | 146 Do ponto de vista técnico, a RGN é uma rede Metro Ethernet, implantando uma camada de transporte a partir dos switches Gigabit Ethernet, que são ligados ao cabeamento de fibra óptica de diversas capacidades, atingindo até 10Gbps. Os pontos de acesso à rede são os GigaPoPs e estão localizados em diferentes pontos da Região Metropolitana de Natal (RMN), permitindo o acesso para diversas instituições de ensino, pesquisa e inovação. Além disso, a rede conta com dois anéis ópticos de interligação para prover a redundância de operação à rede, caso um dos anéis apresente falhas. Além de contemplar às demandas de conectividade física das unidades dos Governos estadual e municipais na Região Metropolitana de Natal, o atendimento de acesso à Internet através da Rede IPÊ para as demais organizações do estado segue a política de uso definida pela RNP, que estabelece como Organização Usuária do sistema RNP as instituições das seguintes classes: Instituições de educação superior e pesquisa; agências de fomento à pesquisa; Estabelecimentos de Saúde com Ensino e Pesquisa; museus e institutos culturais; ambientes promotores de inovação (parques e polos tecnológicos); empresas inovadoras, que necessitem participar do Sistema RNP para uso de serviços avançados, acesso a centros de pesquisa, laboratórios, dispositivos de hardware e plataformas de software, colaboração com grupos de pesquisa e, participação em projetos multi-institucionais (RNP, 2019). Portanto, para obter qualificação como Organização Usuária dos serviços de conectividade da Rede GigaNatal e suas extensões é preciso uma solicitação institucional ao Comitê Gestor da Rede GigaNatal. Após aprovado seu ingresso, a Organização Usuária passa a ter direito de integrar o Comitê Gestor, através da designação de um representante, de forma a participar da cogestão da rede e também passa a ser uma importante colaboradora das iniciativas desta rede metropolitana. Em outras palavras, o Núcleo de Redes Avançadas (NuRA) da UFRN, que é a instituição abrigo do PoP-RN, também hospeda o Network Operation Center (NOC), ou centro de operação da rede, das Redes GigaNatal e GigaMetrópole, realizando o monitoramento dos ativos de rede; o acompanhamento do estado de configuração dos roteadores e dos enlaces dos usuários, através de ferramentas apropriadas; a execução de procedimentos para recuperação dos incidentes de forma adequada, além de gerar de informações para a equipe de infraestrutura e criação de relatórios estatísticos e de disponibilidade dos ativos e enlaces (FIALHO e SILVA NETO, 2017). Desse modo, além de prover o espaço físico para o NOC e realizar parte da manutenção, a UFRN, através do NuRA, também dispõe de parte do pessoal para a operação da rede. P á g i n a | 147 Mapa 7 – A RMN36 e a expansão da Rede GigaNatal Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. 36 De acordo com a Lei complementar nº 648, de 30 de abril de 2019, que inclui o município de Bom Jesus à RMN (RIO GRANDE DO NORTE, 2019). P á g i n a | 148 São de dois tipos os serviços de conectividade física providos pela Rede GigaNatal: o serviço E-LAN, que permite interligar diversas unidades de uma mesma instituição, que se encontram geograficamente dispersas, criando uma “rede corporativa” da instituição, a exemplo do que acontece com a própria UFRN, o IFRN, Seec e outras; e o serviço E-Line, através do qual as instituições clientes podem interligar uma de suas unidades a uma unidade de outra instituição. Este último serviço permitiria, por exemplo, interligar o Centro de Processamento de Dados (CPD) de uma Organização Usuária a um provedor de serviços, a exemplo de um provedor de serviços de armazenamento de dados ou um provedor de acesso à Internet (ISP), como o próprio PoP-RN ou outro provedor comercial. De acordo com O’Regan et al (2004), o serviço de Metro Ethernet E-Lan oferece conexão multipoint-to-multipoint (multiponto a multiponto), enquanto que o E-Line oferece conexão point-to-point (ponto a ponto), conforme ilustra o esquema abaixo: Figura 63 - Esquema Ethernet de O'Regan Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre O’Regan (2004). O acesso à Internet para as instituições atendidas pela RGN pode ser realizado através de diversos provedores, que também estão conectados a esta rede. Além disso, as instituições podem ser qualificadas como Organizações Usuárias do sistema RNP, conforme já descrito anteriormente, havendo a necessidade de uma solicitação institucional ao Comitê Gestor da RNP, que, uma vez aprovada, estas instituições podem P á g i n a | 149 acessar a Internet através do PoP-RN, que atua como provedor de acesso conectado ao backbone da RNP, à Rede IPÊ. Enquanto que as demais instituições, podem utilizar do serviço de acesso disponibilizado por diversos provedores comerciais de acesso à Internet, através do Ponto de Troca de Tráfego (PTT) implantado na RGN. Desse modo, o acesso à Internet para as instituições atendidas pela RGN pode ser realizado através de diversos provedores, que fazem o uso da estrutura física dessa rede. Porém, as instituições autorizadas pela RNP, em geral, instituições de ensino superior e pesquisa, museus etc., podem acessar a Internet a partir do PoP-RN, enquanto provedor, que está conectado ao backbone da RNP, a Rede IPÊ, o que significa também o acesso aos outros serviços avançados de rede oferecidos pela RNP. Sobre as instituições da rede de governo, a Coordenadoria de Tecnologia, Informação e Comunicação (Cotic) do RN, situada no Centro Administrativo do estado, auxilia no processo de interligação de novos pontos de interesse do governo estadual junto aoNuRA/PoP-RN. Sobre a parceria com o setor privado, é importante destacar que a UFRN, através do seu NuRA, adotou algumas estratégias para garantir a sustentabilidade da RGN, que envolve a celebração de acordos com empresas com a intenção de reduzir os custos recorrentes de manutenção da rede. Neste sentido, foi firmado um acordo com a Cosern, que estabelece a cessão de uso de dois pares de fibra óptica do cabeamento da RGN em troca da cessão de uso dos postes utilizados na implantação deste cabeamento, evitando os custos de aluguel destes postes. Da mesma forma, conforme mencionado, foi celebrado um outro acordo com a empresa Interjato, que estabelece a cessão de uso de um par de fibras ópticas do mesmo cabeamento em troca do serviço de manutenção preventiva e corretiva do cabeamento instalado. É, então, sob este modelo de gestão sustentável que o NuRA/PoP-RN propõe a implantação das redes metropolitanas que estão sendo instaladas no contexto da Infovia Potiguar, de modo a criar uma rede óptica de abrangência estadual. Assim, sobre a infraestrutura óptica instalada no estado, prevê-se a implantação das seguintes redes lógicas: Rede de Governo estadual interligando as unidades da administração estadual; Rede de Ciência e Tecnologia, interligando os campi das universidades públicas federais e estaduais; Rede RN Conectado, interligando as redes metropolitanas operadas pelos grupos locais atendendo as prefeituras e; por fim, as redes comerciais, operada por provedores com a finalidade de atender ao público em geral (PoP-RN, 2019). Na concepção do projeto original da Infovia Potiguar, além das soluções adotadas na Redecomep de Natal, a RGN, foi preciso considerar uma outra iniciativa da RNP, que P á g i n a | 150 consiste no Programa Veredas Novas nos estados, iniciado em 2012, e que segue nos esforços de interiorização da RNP, em função das dificuldades de acesso vistas anteriormente, devido à desigual distribuição de infraestruturas de acesso à Internet. No caso do RN, as redes existentes no estado são de uso restrito (proprietárias de companhias), tecnologias de baixa capacidade (sem fio), quando não, são mal instaladas (baixa disponibilidade) e prestam serviços custosos pela baixa concorrência e em áreas restritas, apenas onde há o retorno financeiro (PoP-RN, 2019). Desse modo, o Programa Veredas Novas no estado do Rio Grande do Norte, oferece a possibilidade de conexão das instituições acadêmicas do interior do RN até o PoP-RN, sendo possível acesso aos serviços oferecidos pelas instituições sede sem precisar necessariamente de acesso à Internet. De acordo com o portal do PoP-RN37 os clientes da Rede Veredas têm acesso, também, ao Backbone da RNP, portanto, acesso em alta velocidade à Internet e outros serviços oferecidos pela RNP, tais como salas de videoconferência, Voz sobre IP (VoIP), acesso ao Portal de Periódicos Capes pela Rede CAFe, etc. A diferença entre a Rede Veredas e a RGN está na infraestrutura, isto é, na interligação entre o cliente e o PoP-RN. A conexão na Rede Veredas se dá através das operadoras contratadas pela RNP, conforme viabilidade técnica dessas operadoras para a região em que os clientes estão situados. Assim que o circuito é entregue, a RNP envia um equipamento para o local e o PoP-RN realiza testes para garantir que o circuito esteja dentro dos padrões da contratação, incluindo circuito simétrico, estável e banda atingindo o valor contratado. Quando o resultado dos testes é satisfatório, o enlace é disponibilizado para a instituição cliente. No entanto, pelo fato do Programa Veredas Novas não possuir uma infraestrutura própria, como é o caso da RGN, e em função da realidade referente à baixa qualidade e escassez do acesso Internet no estado, a implantação da rede da Infovia Potiguar se torna uma solução para a conectividade e interligação em alta capacidade e de qualidade dos campi do interior, reduzindo os custos da RNP na contratação de provedores comerciais, que até então são os responsáveis da interligação física entre as unidades do interior e o PoP-RN. Para a implantação da Infovia Potiguar, a RNP adotou uma estratégia de construção em parceria com provedores comerciais, que reduziria o orçamento inicial do projeto. 37 PoP-RN, [s.d]. P á g i n a | 151 Isso se dá da seguinte forma: através do contrato firmado entre a RNP e os provedores, os custos de construção da infraestrutura física é rateado entre as partes e, da mesma forma, a capacidade dos cabos ópticos instalados (em geral se utilizam cabos de 48 fibras ópticas) passa também a ser dividida entre as partes. Além disso, o provedor parceiro fica responsável pela manutenção de todo o cabeamento que ele instalou, durante o prazo de 10 (dez) anos, a partir da ativação dos trechos de rede construídos. Dessa maneira, os provedores parceiros realizam a construção e assumem os custos da manutenção, e em troca esses provedores podem fazer uso da rede física para oferecer o serviço de Internet, o que acaba por beneficiar a população em geral. O uso da rede física pelos provedores, geralmente ocorre pelas fibras situadas nas caixas de emenda. Desse modo, a Infovia Potiguar mantém o modelo de sustentabilidade de gestão da RGN, que também inclui um acordo firmado entre a RNP e a Cosern pela troca de postes por pares de fibras instaladas. No entanto, conforme vimos, é sobre uma infraestrutura preexistente que consiste a espinha dorsal da Infovia Potiguar, trata-se do trecho da rede da Chesf presente no estado, interligando este com outros estados da região Nordeste a enlaces de 100Gbps. Inclusive, a Chesf foi a primeira empresa pública de eletricidade do país e, desde sua criação, em 1945, pretendia trazer o desenvolvimento do Nordeste, com o intuito de deter o acelerado desequilíbrio entre esta região e o Sudeste, cujo plano original previa aproveitamento múltiplo das águas do São Francisco, associando a produção de energia aos projetos de irrigação e navegação, como vinha ocorrendo nos EUA pela Tennessee Valley Authority (TVA)38. Assim, como falamos sobre a revanche das formas, essa rede já cristalizada no território possibilita o mesmo objetivo de desenvolvimento de outrora, mas com um conteúdo novo, uma nova funcionalidade, correspondendo a atual fase do meio geográfico. Assim, parte da rede da Chesf que corta o estado do RN somada aos trechos de longa distância que estão em implantação pela Infovia Potiguar e as redes metropolitanas compõem o que seria a configuração territorial da Infovia Potiguar no estado do Rio Grande do Norte, dando-se da seguinte forma: dois canais de 100 Gbps em uma fibra da Rede da Chesf, entre Mossoró a Natal; quatro trechos de longa distância, partindo de alguns pontos da Rede da Chesf e da RGN, que estão em processo de construção em parceria com os provedores privados (Interjato, Inovanet, MOB Telecom, 38 BRANDI (c2009). P á g i n a | 152 WireLink Telecom); e nove redes metropolitanas, também sendo construídas em municípios selecionados na primeira etapa (conforme apresentado no Mapa 1, durante a Introdução). Sobre a tecnologia a ser utilizada, na Chesf e nos trechos de longa distância a serem implementados, corresponde à Multiplexação por Divisão Densa de Comprimentos de Onda, ou Dense Wavelength Division Multiplexing (DWDM), com exceção do setor Leste/Agreste (nesta, será utilizada a Metro/Ethernet). O sistema DWDM multiplexa múltiplos comprimentos de onda, que serão transmitidos através de uma única fibra óptica, conforme visto na seção anterior. Para Pinto et al. (2002, p. 6) o DWDM “é um sistema que utiliza um canal comum para transmitir outros pequenos canais de comunicação de uma ponta a outra. Cada comprimento de onda é umcanal separado, que multiplica a capacidade de transmissão da fibra”. Esta tecnologia se baseia na Multiplexação por Divisão de Comprimento de Ondas, ou Wavelenght Division Multiplexing39 (WDM), mas o número de comprimentos de onda transmitido é bem maior, devido ao menor espaçamento entre eles. Para a Infovia Potiguar, o DWDM se trata de uma tecnologia vantajosa, tendo em vista a alta capacidade de transmissão e pelo maior alcance, sendo possível interligar redes em longa distância, apesar de exigir um custo mais elevado somado a um maior consumo de energia. Na Figura 64, disponibilizada pelo PoP-RN é possível visualizar melhor como que foi esquematizada a estrutura lógica de interligação dos nós da Infovia Potiguar, considerando o uso da tecnologia DWDM na transmissão de dados a longa distância: 39 “Os sinais que transportam a informação, em diferentes comprimentos de onda, são combinados em um multiplexador óptico e transportados através de um único par de fibras, com o objetivo de aumentar a capacidade de transmissão e, consequentemente, usar a largura de banda da fibra óptica de uma maneira mais adequada. Os sistemas que utilizam esta tecnologia, em conjunto com amplificadores ópticos, podem aumentar significativamente a capacidade de transmissão de uma rota sem a necessidade de se aumentar o número de fibras” (Pinto et. al, 2002, p. 7). P á g i n a | 153 Figura 64 – Rede da Infovia Potiguar com base na tecnologia DWDM Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. MSR (Mossoró); ACR (Açu); CNV (Currais Novos); e NTL (Natal) correspondem ao trecho derivado da Chesf, formando um anel com os NOC’s das cidades correspondentes. Também está presente neste esquema a rede de longa distância que permitirá a interligação entre as cidades por onde a CHESF não passa. Considerando justamente a questão dos custos dessa tecnologia, inicialmente foi pensada uma distribuição de 100Gbits entre os municípios nos trechos de longa a serem construídos, mas, conforme conversado com os técnicos do NuRA/PoP-RN40, houve uma redução dessa capacidade para 40Gbits, em decorrência da alta no preço do dólar, que impactou na compra de fibras ópticas e de equipamentos, sendo estes da empresa Huawei. Apesar disso, ainda se trata de uma alta capacidade de transmissão da rede, que, devido ao longo alcance do tráfego de dados permite também conexões em alta capacidade nas redes metropolitanas contempladas na primeira fase da Infovia Potiguar. Outra mudança realizada quanto à ligação da Chesf, que foi apontada em dialógos por uma técnica41 do NuRA/PoP-RN que acompanha a Infovia Potiguar, a Técnica X (2022), foi referente ao fato de que a abertura antes prevista no município de Currais Novos, como mostra a figura acima, foi alterada, pois, a subestação da Chesf está fechando neste município, restando ao PoP-RN fazer a abertura em Santa Cruz, conforme analisaremos melhor. 40 Em diálogos espontâneos, portanto, sem roteiro, que foram realizados ao longo da pesquisa com a equipe técnica do NuRA/PoP-RN. 41 Conversa realizada com a técnica do NuRA/PoP-RN, que faz o acompanhamento da Infovia Potiguar, em 30 de junho de 2022 (sem roteiro definido, apenas diálogos espontâneos sobre o andamento da rede). P á g i n a | 154 Quanto às conexões dentro dos municípios, estas se darão nos municípios por Anéis Metropolitanos, através do padrão MetroEthernet (visto na RGN), e pela derivação desta rede principal através de redes ópticas passivas, mais conhecida como Passive Optical Network (PON), — que se trata de uma evolução na arquitetura de rede ponto- multiponto, pelo fato de utilizar equipamentos passivos (não alimentados por energia elétrica) na transmissão dos sinais de dados através da rede —, mais especificamente, a Gigabit PON (GPON), que permite o permite o estabelecimento de conexões entre pontos de rede com um alcance físico de até 20 km, sendo possível atender melhor uma demanda exponencial, através da obtenção de maiores taxas de transmissão (PICIN e GIMENEZ, 2015). Os elementos de uma rede GPON são constituídos de: […] um terminal de linha óptico (OLT) situado no lado da operadora da rede e uma série de terminais de rede óptica associados, situados nas instalações do cliente (ONT) ou em armário de rua (ONU). A ligação entre estes terminais é suportada por uma rede óptica composta por fibras e dispositivos passivos (splitters) que dividem a potência do sinal óptico (PICIN e GIMENEZ, 2015, p.3). No contexto da Infovia Potiguar, o esquema a seguir representa como que se dará a rede GPON, juntamente às redes metropolitanas: Figura 65 – Redes Passivas na Infovia Potiguar Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. Obs.: Somente São Gonçalo do Amarante, Caicó e Mossoró têm redes passivas sem redundância, os demais municípios serão com redundância dessas redes. P á g i n a | 155 A sequência do esquema se dá, conforme conta o NuRA/PoP-RN, da seguinte forma: da OLT (Terminal de Linha Óptica), presentes nos NOC’s de cada um dos municípios elencados, sairá o sinal óptico transmitido através do backbone da rede metropolitana (cabos de 48 fibras), chegando até os “splitters” (separadores) passivos. Os “splitters” reproduzem o mesmo sinal recebido em todas as suas saídas. Estes sinais ópticos são transmitidos então através das fibras da rede de acesso, chegando até os ONT (Terminais de Rede Óptica), localizados nas várias unidades interligadas pela rede metropolitana. A ONT filtra então os pacotes de dados a ela endereçados e os entrega à rede interna da unidade. Inclusive, conforme informado pelos técnicos do NuRA/PoP-RN, o modelo utilizado para a rede passiva no contexto da Infovia Potiguar, foi o de Fiber To The Home (FTTH), ou “fibra até a casa”, que nada mais é que a fibra até os clientes interligados através da rede passiva. O percurso desta fibra entre a OLT até as ONT corresponde à Optical Distribution Network (ODN), ou rede de distribuição óptica, que, conforme apresentado no esquema e explicado pelos técnicos, ocorrerá por “splitters” de primeiro nível 2:2, que promoverão a redundância à rede passiva, enquanto que os splitters 1:N, de segundo nível, que corresponde à última etapa de capilaridade da rede, farão o atendimento até “N” clientes. Isso ocorrerá em quase todos os municípios da Fase 1, com exceção de Mossoró, Caicó e São Gonçalo do Amarante, que, por questões técnicas, as redes passivas destes municípios são apenas splitters 1:2. No entanto, todos os outros terão redundância no que corresponde ao backbone municipal, ou seja, ao anel óptico do município, redundância essa que também foi pensada nível estadual, conforme veremos. Sabendo-se que as redes passivas permitem o atendimento melhor à uma demanda crescente, um dos impactos territoriais com a incorporação da tecnologia GPON nos municípios elencados da Infovia Potiguar corresponde justamente à possibilidade de expansão do atendimento, abrindo novas conexões em unidades acadêmicas, de governo ou mesmo sedes de empresas parceiras que possam ser construídas. De modo a perceber melhor as dinâmicas territoriais proporcionadas pela Infovia Potiguar em âmbito estadual, veremos ainda nesta seção, como que se dá o processo de implantação da rede de longo alcance e a utilização da rede derivada da Chesf, além de abordarmos como que, em cada município, as redes metropolitanas estão organizadas pelos setores elencados na primeira fase dessa rede. P á g i n a | 156 3.1 Setor Leste/Agreste O setor Leste/Agreste é composto pelos municípios de São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim e João Câmara (ver mapa 8), sendo que os dois primeiros estão na RMN, na mesorregiãoLeste do estado, e o último está no Agreste. Sobre o atendimento, apenas São Gonçalo do Amarante tem parte de suas instituições municipais e de governo, além de um Instituto Federal (IF) cobertos pela RGN, enquanto que o segundo e o terceiro foram elencados para serem exclusivamente atendidos pela Infovia Potiguar Fase 1. Sobre a conexão de longa distância, a única do setor Leste/Agreste, corresponde à fibra de longa distância que precisou ser construída entre João Câmara e Ceará-Mirim, enquanto que São Gonçalo do Amarante tem seu enlace físico baseado na rede preexistente da RGN. A proximidade com a RGN também foi um fator estratégico para a ligação da rede metropolitana da cidade de João Câmara à Infovia Potiguar, onde foram pensadas duas alternativas. Uma correspondente à abertura da Rede Chesf na estação localizada próxima à cidade e a outra pela interligação entre João Câmara com a RGN pelo acesso que ocorreria entre Extremoz até Ceará-Mirim, e deste até João Câmara. Mapa 8 – Setor Leste/Agreste da Infovia Potiguar Fonte: Elaborado pelo autor, 2021, sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 157 Sobre a primeira alternativa, seria necessária a compra e instalação de mais um equipamento DWDM, além da construção do acesso da estação da Chesf ao anel óptico instalado na cidade. Também há o fato de a estação não ficar muito próxima à cidade, fazendo com que uma primeira estimativa para este acesso tivesse que corresponder ao lançamento de 40 km de cabeamento óptico. De acordo com o documento cedido pelo PoP-RN, nesta primeira alternativa, o acesso da rede de João Câmara já se daria a uma velocidade de 100 Gbps (PoP-RN, 2020). No que tange à segunda alternativa, só exigiria o lançamento de 56 km de cabeamento óptico entre o anel óptico na cidade e um ponto de acesso à Rede GigaNatal em Ceará-Mirim, vindo de Extremoz, além da instalação de interfaces adequadas nos equipamentos já existentes. Quanto ao acesso de João Câmara, inicialmente, seria a uma velocidade de 10 Gbps, mas com possibilidade de atualização para velocidades superiores, em função da necessidade futura da rede. Analisando a relação custo/benefício entre as duas alternativas, optou-se pela segunda solução, por ser significativamente mais barata. Além disso, pelo fato de representar uma expansão da infraestrutura instalada na região, que pode vir a ser um insumo de valor no estabelecimento de parcerias com outras instituições, reduzindo custos futuros de manutenção da rede instalada. Sobre o atual processo de implantação da Infovia Potiguar, o setor Leste/Agreste é um dos setores mais avançados no tocante à construção do trecho de longa distância, pois foi o primeiro a ser recentemente concluído. No entanto, segundo fala a técnica do NuRA/PoP-RN, a Técnica X (2022), é necessário que haja alguns ajustes, pois para início da construção de todos os trechos de longa distância é requerido uma autorização do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), sendo que para esse trecho específico o que se teve foi uma autorização intermediária do órgão, ou seja, ainda se aguarda que o órgão gere uma autorização final para que todos os tramites referentes a esta obra estejam concluídos. Apesar disso, tal trecho já foi inaugurado e permite a interligação de dois pontos pela Infovia Potiguar, são os IFs de Ceará-Mirim e de João Câmara, inclusive a Técnica X (2022), relata que o setor Leste/Agreste foi o primeiro a entrar em operação pela Infovia Potiguar, conectando o primeiro ponto desta rede, o IFRN de Ceará-Mirim. Quanto à conexão do IFRN de João Câmara, apesar de ainda não ter sido inaugurada, pelo menos até a útlima conversa com o NuRA/PoP-RN, em 30 de junho de 2022, a Técnica X (2022) informou que está numa situação iminente de entrega, devido a interligação existente com o IFRN de Ceará-Mirim, que por sua vez, conforme mencionado, foi inaugurado. P á g i n a | 158 3.1.1 Rede metropolitana de Ceará-Mirim Ceará-Mirim, conforme mencionado, tem um ponto de acesso da RGN, que se dá através de uma interligação com um ponto localizado em Extremoz (ver esquema abaixo), no entanto, diferente de São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim recebe o acesso direto da Infovia Potiguar. Vale destacar que não há uma rede acadêmica em Ceará-Mirim, pois o município conta com apenas um Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), elencado como NOC local. No entanto, há um conjunto de instituições estaduais que serão atendidas pela rede de governo do projeto, a partir do GigaPOP localizada na Central do Cidadão. Figura 66 – Rede Metropolitana de Ceará-Mirim Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. Nota: assim como nos esquemas seguintes para os demais municípios, os switches em cinza claro correspondem aos clientes e em azul correspondem aos GigaPoPs, que permitem expansões futuras. No esquema acima é possível visualizar o atendimento da cidade de Ceará-Mirim, que vem de um ponto, oriundo do município de Extremoz, atendido pela RGN, em paralelo ao anel óptico da cidade pela Infovia Potiguar, com o Terminal de Linha Óptica, ou Optical Line Terminal (OLT) localizado no NOC IFRN, permitindo ao longo do anel as derivações da rede passiva, conforme melhor detalhado no mapa abaixo. P á g i n a | 159 Mapa 9 – Rede Metropolitana de Ceará-Mirim Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 160 As unidades são: Figura 67 – Tabela das unidades de Ceará-Mirim Fonte: Elaborado pelo PoP-RN (2021). Sobre a rede passiva, que corresponde ao acesso pela tecnologia GPON, foram elencados as Unidades de Rede Óptica, ou ONT (Optical Network Termnial), de modo a conectar cada um dos clientes estaduais, que são a prioridade do projeto, como também os clientes municipais. No município de Ceará-Mirim, inclusive, há um caso interessante sobre o Centro de Detenção Provisória (CDP), atualmente desativado, mas que permite ao governo do estado atribuir uma nova unidade de governo, considerando e mantendo o acesso existente nesta unidade. Vale destacar que a rede de Ceará-Mirim, tanto o anel óptico como a rede passiva já foram entregues, sendo necessários apenas alguns ajustes na sua rede passiva, inclusive, conforme informado pela técnica do NuRA/PoP-RN, a Técnica X (2022), o IFRN de Ceará-Mirim já funciona pela Infovia Potiguar. Além disso, o 5º Diretório Regional de Educação (Dired) remete ao papel reforçar regionalizações que a Infovia Potiguar proporciona para o estado. P á g i n a | 161 3.1.2 Rede Metropolitana de João Câmara No caso de João Câmara, como vimos, a conexão entre a sua rede metropolitana e a Infovia Potiguar ocorrerá pela interligação de longa distância com o município de Ceará-Mirim, que já foi concluído. Essa interligação ocorre entre o campus do IFRN de João Câmara com o campus do IFRN de Ceará-Mirim, que por sua vez já se encontra operacionalizado pela Infovia Potiguar. O IFRN de João Câmara está para iniciar a qualquer momento, conforme mencionamos, inclusive, na figura abaixo é possível verificar a forma como está esquematizada essa interligação de João Câmara à Infovia Potiguar. Figura 68 – Rede Metropolitana de João Câmara Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do Núcleo de Redes Avançadas da UFRN. Com relação à rede MetroEthernet, em João Câmara, há um GigaPoP (o switch em azul) no Hospital Regional, que permite a expansão futura para a rede de governo. Além disso, também se propõe a instalação de uma rede óptica de acesso com tecnologia GPON por células de acesso no município, interligando 8 órgãos estaduais e um municipal. P á g i n a | 162 Mapa 10 – Rede Metropolitana de João Câmara Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN P á g i n a | 163 Asunidades são: Figura 69 – Tabela das unidades de João Câmara Fonte: Elaborado pelo PoP-RN (2021). Em termos de equipamentos para iluminar estas fibras, no caso de João Câmara, além dos switches, serão necessárias ONTs para cada um dos clientes na rede passiva (GPON) e 1 OLT para o NOC, o IFRN de João Câmara. Sobre a entrega da rede de João Câmara ainda não foi concluída, nem do anel óptico, nem da rede passiva, inclusive a obra está temporariamente parada. Porém, independente da entrega da sua rede metropolitana, o IFRN do município, como é diretamente interligado pela rede de longa distância ao IFRN de Ceará-Mirim, que já está em operação, pode ter sua ativação pela Infovia Potiguar. Inclusive, essa ativação do IFRN de João Câmara pode se dar a qualquer momento, de acordo com a conversa com a técnica do NuRA/PoP-RN, a Técnica X (2022). Conforme visto em Ceará-Mirim, unidades regionais, como delegacia de polícia e hospital, além da 3ª Unidade Regional Saúde Pública (Ursap), reforçam a oportunidade de melhoria no processo de gestão e regionalização do território do RN. P á g i n a | 164 3.1.3 Rede Metropolitana de São Gonçalo do Amarante O município de São Gonçalo do Amarante, como vimos, é beneficiado pela Rede GigaNatal, de tal modo, que algumas unidades como o IFRN, e também de governo estadual já estão sendo atendidas por tal rede, tendo na Infovia Potiguar uma forma de atender a outros pontos que ainda não são atendidos atualmente. Além disso, embora, tenha o IFRN como “NOC”, será feita apenas a instalação dos equipamentos, mas não será essa instituição que fará o gerenciamento da rede de fato, mas sim a equipe do PoP- RN, localizada na UFRN (campus central), que efetivamente será o NOC de São Gonçalo do Amarante. Figura 70 – Rede Metropolitana de São Gonçalo do Amarante Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. P á g i n a | 165 As unidades são: Figura 71 – Tabela das unidades de São Gonçalo do Amarante Fonte: Elaborado pelo NuRA/PoP-RN (2021). Quanto à rede óptica de acesso, o projeto pensou em uma OLT, localizada no campus do IFRN de São Gonçalo do Amarante. Em termos de equipamentos para iluminar estas fibras, serão necessárias 1 OLT (IFRN) e 5 ONTs (para cada um dos clientes estaduais), contemplando os clientes municipais elencados, serão necessárias mais 19 ONTs para atendê-los, o que totaliza 24 ONTs. Sobre essa instalação, de acordo com a técnica do NuRA/PoP-RN, a Técnica X (2022), a fase de obra da Rede Metropolitana está quase concluída, faltando apenas uma vistoria final para garantir que a rede esteja possibilitada para entrar em operação. Inclusive, alguns equipamentos já foram instalados para permitir os acessos para os clientes elencados, faltando somente mais alguns para, após essa vistoria final, permitir que a rede entre na fase de operação. P á g i n a | 166 Mapa 11 – Rede Metropolitana de São Gonçalo do Amarante Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 167 3.2 Setor Seridó Nesta região, os municípios contemplados para a primeira fase da Infovia Potiguar são Caicó, sob responsabilidade da Interjato e Currais Novos e Santa Cruz, com a MOB Telecom. As interligações são: Caicó-Currais Novos e Currais Novos-Santa Cruz. A primeira consiste em integrar à rede metropolitana que a RNP já está implantando em Caicó ao restante da rede, por meio da cidade de Currais Novos, onde deverá ser feita uma derivação da Rede RNP/Chesf. Este trecho, de 118 km de extensão, que contorna a BR-427 também passa por diversos municípios menores, que, como veremos, poderão se integrar a rede, na Fase 2 do projeto. Quanto à segunda interligação, Currais Novos e Santa Cruz, cogitou-se inicialmente uma derivação da rede RNP/Chesf no município de Santa Cruz, considerando que a Chesf também possui presença neste município. Entretanto, a fim de reduzir os custos da Infovia Potiguar, preferiu-se fazer a derivação da rede da RNP/Chesf somente na cidade de Currais Novos para essa região (PoP-RN, 2020). Dessa forma, foi projetada uma rede de longa distância entre a cidade de Currais Novos e Santa Cruz, até mesmo para fazer uma redundância do sinal óptico, caso haja algum problema quanto ao trecho da Chesf. No entanto, é importante destacar que a rede da Chesf não irá mais abrir em Currais Novos, isso quer dizer que o sinal que vem de Santa Cruz pela rede de longa distância a ser construída seguirá diretamente de Santa Cruz para Currais Novos e de Santa Cruz para Caicó, sem que haja um entreposto de Currais Novos à Caicó. O trecho proposto vai ser atendido por um cabeamento óptico de 75 km de extensão, instalada ao longo da estrada BR-226. Em relação ao andamento dos trechos neste setor, segundo conversas espontâneas com os técnicos do NuRA/PoP-RN, ainda não se iniciou, principalmente por questões orçamentárias, que se agravaram com o aumento do preço do dólar, acentuadas sobretudo durante a crise sanitária do novo coronavírus (COVID-19), o que acabou inviabilizando a compra dos equipamentos, mas que se deu também por revisão do projeto que foi solicitada pela Cosern, inclusive, a Técnica X (2022) conta em conversa que ainda se aguarda um retorno da empresa, e a autorização final do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), tanto que atualmente, o que se tem para esses trechos do setor Seridó são apenas as bobinas de fibra, pois, nem o processo de compra de postes está resolvido ainda. Porém, no âmbito das redes metropolitanas dos municípios P á g i n a | 168 elencados já estão se dando independentemente da rede de longa distância, sendo Currais Novos e Caicó as situações mais avançadas. Figura 72 – Subestação Paraíso (Chesf): onde terá a abertura da Chesf, em Santa Cruz Fonte: Elaborado pelo autor (2022). Mapa 12 – Setor Seridó da Infovia Potiguar Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 169 3.2.1 Rede Metropolitana de Caicó O município de Caicó conta com o Programa “Veredas Novas nos Estados”, conforme vimos, é uma outra iniciativa da RNP no estado, que tem o apoio do MCTI, e que já disponibiliza recursos para a implantação da sua rede metropolitana. Considerando as inciativas preexistentes como essa, a Infovia Potiguar pretende a interligação da rede metropolitana de Caicó à Infovia Potiguar por meio do trecho de longa distância a ser construído entre Caicó e Currais Novos, “tendo em vista que a rede de Caicó estaria a princípio isolada, pois a Rede Chesf não passa por aquela cidade” (PoP-RN, 2017, p.4) (ver no mapa acima). No entanto, conforme comentamos, apesar da longa distância entre Caicó e Currais Novos, Caicó receberá o acesso vindo diretamente de Santa Cruz, ou seja, Currais Novos servirá somente como um by pass para permitir a conexão de Caicó. Figura 73 – Rede Metropolitana de Caicó Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. Considerando a sua rede metropolitana, é possível verificar no esquema acima que Caicó possui dois anéis ópticos em cada um dos anéis acadêmico e de governo, com o NOC local no Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) da UFRN, campus Caicó. Além disso, do lado acadêmico há a conexão de outras instituições como IFRN e a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), enquanto que do lado do P á g i n a | 170 governo, destaca-se o fato de ter sido elencado o Hemocentro como GigaPoP para expansões futuras da rede de governo. As unidades de Caicó podem ser vistas na figura abaixo: Figura 74 – Tabela das unidades de Caicó Fonte: Elaborado pelo NuRA/PoP-RN, 2021. Caicó foi o único ponto onde foi feito o “stack” (pilha) entre os switches, conforme visto na figuraacima, devido à demanda por mais portas de saída de acesso de 10Gbps, pois um só mais robusto seria mais caro para o projeto, conforme contam os técnicos do NuRA/PoP-RN. Ao todo serão 30 ONTs para os clientes estaduais e municipais conectados pelas redes passivas. Quanto à OLT para permitir o acesso a rede P á g i n a | 171 passiva, a saída será pelo NOC local, o Centro de Ensino Superior do Seridó CERES- UFRN. Além da tecnologia GPON, Caicó também conta com dois anéis ópticos via interligações Metro Ethernet, uma para a rede acadêmica, tendo 4 unidades acadêmicas pela RNP, incluindo o Ceres-UFRN, a Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM- UFRN), o Museu do Seridó (UFRN) e o IFRN, e a outra para a rede de governo, que inclui unidades da Sesap, como o Hospital Regional de Caicó, Hemocentro, Hospital do Seridó; do Seec, a UERN e uma Clínica Odontológica da UERN; e do Sesed o Instituto Técnico-científico de Perícia (Itep), um Corpo de Bombeiros Militar (CBM); além da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (Sejuc), que é a Penitenciária Estadual do Seridó. Sobre a rede de Caicó, segundo a fala da técnica do NuRA/PoP-RN que faz o acompanhamento da Infovia Potiguar, a Técnica X (2022), esteve paralisada por um impasse quanto a um trajeto da rede metropolitana que precisava passar pelo centro histórico da cidade, que é uma área conhecida também pelas festividades locais, como carnaval, festas juninas e religiosas, com destaque para a secular festa de Sant’Ana, onde não é permitida nenhuma construção ou qualquer tipo de reforma que descaracterize a área. Tal impasse foi solucionado somente em maio de 2022, pois a prefeitura autorizou que fossem utilizados postes de iluminação do seu centro histórico, no lugar dos postes novos a serem instalados. Isso fez com que os postes que acabaram sobrando fossem aproveitados, juntamente com os postes de Santa Cruz, na rede metropolitana de Mossoró, conforme analisaremos mais à frente. Além disso, em função do tradicional carnaval de Caicó, a prefeitura também havia solicitado que em alguns trechos, houvesse a implantação de postes mais altos para que não atrapalhassem a passagem de trios elétricos. Essas situações dizem muito sobre como as redes deformam, mas também são deformadas pelos lugares onde se inserem, além das formas criadas, mas também criadoras, conforme levantamos no início da pesquisa com base em Dias (2000) e Santos (1994). P á g i n a | 172 Mapa 13 – Rede metropolitana de Caicó/RN Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 173 3.2.2 Rede Metropolitana de Currais Novos O estudo realizado para Currais Novos propõe a instalação de um anel óptico, interligando diretamente 4 pontos pela rede Metro Ethernet, sendo que 2 são da rede acadêmica pela RNP, que inclui a UFRN e o IFRN, e outros dois da Sesap pela rede de governo, o Hospital Regional Dr. Mariano Coelho e o Hemocentro. Além disso, o projeto também propõe a instalação de uma rede óptica de acesso por meio da tecnologia GPON, interligando 19 órgãos, sendo 16 estaduais e 3 municipais. Conforme é possível verificar abaixo: Figura 75 – Tabela das unidades de Currais Novos Fonte: Elaborado pelo NuRA/PoP-RN, 2021. P á g i n a | 174 Figura 76 – Rede Metropolitana de Currais Novos Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. Desse modo, além dos switches para o anel óptico, serão necessários para rede óptica de acesso passivo 19 ONTs (para cada cliente estadual e municipal da rede GPON) e 1 OLT para o NOC, o IFRN. Na verdade, a implantação da rede de Currais Novos foi aceita, ou seja, a obra já foi concluída e passou pelos testes, falta apenas uma vistoria final pela equipe da RNP para iniciar a fase de operação, inclusive alguns equipamentos já estão configurados, faltando apenas pouca coisa para a sua instalação (TÉCNICA X, 2022). P á g i n a | 175 Mapa 14 – Rede Metropolitana de Currais Novos/RN Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 176 Segundo conta a Técnica X (2022), do NuRA/PoP-RN, a grande dificuldade para a conclusão da obra em Currais Novos se deu pelo tipo do solo, que segundo ela “era tudo pedra”, o que dificultou bastante a implantação de postes. Inclusive ela prevê o mesmo para Caicó, e para toda a região do Seridó, o que inclui a rede de longa distância, que quanto mais atrasa, menor é a previsão para sanar o problema do isolamento de Caicó, pois conforme vimos, o trecho de longa distância a ser construído entre Santa Cruz, Currais Novos e Caicó serve justamente para incluir Caicó à Infovia Potiguar, pelo fato de não haver a rede da Chesf neste município. Na verdade, o solo de Currais Novos, conforme é possível visualizar no mapa abaixo, baseado em dados da Embrapa (2011) corresponde ao Neossolo Litólico Eutrófico (RLe1) e o Neossolo Litólico Eutrófico com Afloramento de Rochas (RLe10), enquanto que em Caicó, há a presença de Luvissolos Crômicos Órticos, com Neossolos Litólicos Eutróficos e Planossolos Nártricos Órticos (TCo10), finalmente em Santa Cruz há predominantemente o Luvissolo Crômico Pálico, com Latossolos Vermelho-Amarelo Eutróficos e Argissolos Vermelhos-Amarelos Eutróficos (TCp2) e o Planossolo Haplico Eutrófico, com Argissolos Vermelho-Amarelo Distrófico e Neossolos Litólicos Eutróficos (SXe15). Sobre Currais Novos, pode-se dizer que são solos com contato lítico ou lítico fragmentário dentro de 50 cm a partir da superfície, portanto poucos evoluídos e representados por um horizonte A assente diretamente sobre a rocha ou sobre um horizonte C ou Cr ou sobre material com 90% (por volume) ou mais de sua massa constituída por fragmentos grosseiros, portanto, apresenta-se como um solo rochoso e pedregoso; em Caicó, os solos são, sobretudo, pedregosos com textura médio/argilosa e também pouco profundos; Enquanto que em Santa Cruz, onde temos a presença de dois tipos de solos, sendo o TCp2 o que mais importa para a Infovia Potiguar, pois é sobre ele que a rede metropolitana de Santa Cruz será implantada e onde uma parte pequena do trecho de longa distância passará, valendo destacar que este último possui espessura um pouco maior que os demais, ou seja, superior a 80 cm (IBGE, 2021; Embrapa, 2018). P á g i n a | 177 Mapa 15 – Mapa dos solos do Estado do Rio Grande do Norte, com destaque para os municípios do Setor Seridó da Infovia Potiguar Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 178 Como o trecho de longa distância do Seridó tem sua extensão em maior medida nos municípios de Currais Novos e Caicó, então os solos destes municípios por serem mais pedregosos com a presença de afloramentos rochosos, serão um obstáculo maior para este trecho. Portanto, as preocupações da técnica do NuRA/PoP-RN referentes ao tempo de conclusão do trecho estão corretas, tendo em vista que será necessário mais trabalho para fazer a implantação desses postes. 3.2.3 Rede Metropolitana de Santa Cruz Para Santa Cruz, o estudo realizado propõe a instalação do anel óptico, interligando diretamente os pontos da RNP e de governo, onde se propõe a instalação de uma rede óptica de acesso com tecnologia GPON composta por um órgão federal, a residência universitária da UFRN no município, 14 órgãos estaduais, contando com a 5ª Unidade Regional de Saúde Pública (Ursap), que, no momento aguarda definição para saber se fará parte em função da alteração do local, e 4 unidades municipais. Figura 77 – Rede Metropolitana de Santa Cruz Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. Quanto ao atendimento, temos as seguintes unidades: P á g i n a | 179 Figura 78 – Tabela das unidades de Santa Cruz Fonte: Elaborado pelo NuRA/PoP-RN, 2021.De acordo com informações obtidas com os técnicos do PoP-RN, o acesso pela rede de governo, via MetroEthernet ocorrerá pelos switches da Central do Cidadão, da Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas) e do Hospital Regional Aluízio Bezerra (Sesap), enquanto que o switch em azul, na UERN, corresponde ao GigaPoP, funcionando para expansões futuras desta rede. Ainda sobre a MetroEthernet, a interligação que ocorrerá entre os pontos da RNP serão o IFRN, a Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA) da UFRN, o Hospital Universitário Ana Bezerra (Huab), o Anexo I da FACISA da UFRN/Anexo I do Huab da UFRN. No que diz respeito aos equipamentos necessários para a rede óptica de acesso foi pensada em 1 OLT localizada na FACISA-UFRN, além dos switches para o anel, e as 19 ONTs para cada uma das unidades na rede passiva (contando com a Ursap). No momento, a implantação da rede metropolitana em Santa Cruz está aguardando a implantação dos postes, pois estes foram cedidos para suprir uma demanda que surgiu em Mossoró (TÉCNICA X, 2022). Porém, caso haja a implantação dos postes em Santa Cruz, há fibras para esse município para serem lançados. P á g i n a | 180 Mapa 16 – Rede Metropolitana de Santa Cruz Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 181 3.3 Setor Oeste Com relação a região Oeste, foram contemplados Pau dos Ferros, Mossoró e Açu- Ipanguaçu (pelo fato do IFRN de Ipanguaçu está localizado na zona rural, entre as duas cidades). As empresas responsáveis por esse setor são: a Online Telecom para Pau dos Ferros e Açu-Ipanguaçu, enquanto que a Interjato ficou com Mossoró. Quanto à proposta de interligação da cidade de Pau dos Ferros à Infovia Potiguar, considerou-se o intermédio na cidade de Mossoró, onde também deverá ser feita uma derivação da Rede RNP/Chesf, considerando que este percurso se encontra dentro do Estado em toda a sua extensão (PoP-RN, 2020). Desta forma, este trecho de 192 km, que contorna a BR 405, pode vir a beneficiar outros municípios do Estado, a exemplo de Apodi (contemplada para a Fase 2 da Infovia Potiguar) onde existe uma unidade do IFRN. Esta interligação via cabo óptico também é bastante relevante, considerando que não existe infraestrutura óptica instalada, interligando Pau dos Ferros a outro município do estado, para atender à demanda local. Mapa 17 – Setor Oeste da Infovia Potiguar Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 182 3.3.1 Rede Metropolitana de Pau dos Ferros Para o município de Pau dos Ferros, foi proposto no estudo a instalação de um anel óptico, no centro da cidade, interligado diretamente dois trechos radiais que chegam até as unidades do IFRN e da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) localizadas nas suas imediações, por meio da rede Metro Ethernet. Além disso, o trecho radial que interliga o anel óptico ao IFRN também deve interligar diretamente o campus da UERN, da Seec, e o Hospital Regional e 6ª Ursap, da Sesap, além das unidades do Sesed correspondentes ao CBM e ao 7º Batalhão de Polícia Militar (BPM), onde neste está instalado o GigaPoP para expansões futuras da rede de governo. Figura 79 – Rede Metropolitana de Pau dos Ferros Fonte: Elaborado por Seigler (2020), NuRA/PoP-RN da UFRN. Também buscou associar a esta rede, a interligação de outra unidade do IFRN localizada no município de Apodi, que, conforme mencionado, está situada entre a interligação Pau dos Ferros-Mossoró. Essa interligação corresponde ao trecho de longa distância a ser construído, que segundo afirma a técnica a Técnica X (2022), o trecho está com mais da metade concluído, cuja extensão total é de 192 km. Finalmente, propõe-se a instalação de um anel óptico que vai atender a uma rede acadêmica e uma rede de P á g i n a | 183 governo, enquanto que as instituições com a tecnologia GPON, que totalizam 16 órgãos de governo e 1 cliente municipal serão atendidos pela rede passiva. Figura 80 – Tabela das unidades de Pau dos Ferros Fonte: Elaborado pelo NuRA/PoP-RN, 2021. A rede óptica de acesso então será composta por 1 OLT localizada no NOC local, o IFRN. Em termos de equipamentos para iluminar estas fibras, serão necessários os switches para o anel óptico, além de mais um em Apodi para realizar a interligação do trecho Pau dos Ferros-Mossoró, e das ONTs para os 17 clientes na rede passiva (composta por 16 clientes estaduais e apenas 1 municipal). Sobre a atual fase de entrega da rede de Pau dos Ferros, tanto o anel como a rede passiva foram entregues, no entanto, o que dificulta a operação é justamente o fato de que o trecho de longa distância, entre Pau dos Ferros a Mossoró, ainda não foi finalizado, estando este trecho entre Apodi e Mossoró (TÉCNICA X, 2022). P á g i n a | 184 Mapa 18 – Rede metropolitana de Pau dos Ferros Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 185 3.3.2 Rede Metropolitana de Mossoró O município de Mossoró (assim como Caicó) já conta com outra iniciativa da RNP, além da Infovia Potiguar, que é o programa Veredas Novas nos Estados, que tem o apoio do MCTI e já disponibiliza recursos para a implantação de sua rede metropolitana. Além disso, a interligação da rede de Mossoró ao backbone da Infovia Potiguar já estaria atendida pela “abertura” da Rede RNP/Chesf no município, que como vimos levaria a interligação para Pau dos Ferros (ver esquema abaixo). Figura 81 – Rede Metropolitana de Mossoró Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. As duas redes, a acadêmica e de governo, partem do NOC local, localizada no campus da UFERSA de Mossoró. A interligação por tecnologia MetroEthernet na rede acadêmica ocorrerá entre o IFRN e a UFERSA, além das demais unidades da UERN que também compõem o anel acadêmico como clientes. Sobre essa rede MetroEthernet de Mossoró, fazem parte da rede acadêmica, especificamente, a UFERSA, o campus central da UERN e as suas unidades (a reitoria, a Unidade de Controle Interno, que é o edifício Epílogo de Campos, a Faculdade de Enfermagem, a Faculdade de Ciência da Saúde e um Núcleo Prática Jurídica). Além disso, tem também as unidades de governo do outro lado P á g i n a | 186 do anel, que são: as unidades da Sesap, o Hemocentro de Mossoró e o Hospital Regional Tarcísio Maia, bem como da Sesed, o CBM, o Itep, o 2º BPM, Centro Clínico da Polícia Militar e o Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp). Além dessas unidades, os demais acessos se darão com a tecnologia GPON, inclusive Mossoró possui duas OLTs, uma localizada no NOC local, da UFERSA, e outra na FACS da UERN. Figura 82 – Tabela das unidades de Mossoró Fonte: Elaborado pelo NuRA/PoP-RN, 2021. No momento, Mossoró está na fase da implantação dos postes para depois realizar o lançamento da fibra, no entanto, devido ao número elevado de postes correspondente a quantidade de clientes, foi dividida internamente em duas etapas: a do anel óptico e da rede passiva. A primeira, que passa pelas instituições situadas na rede de governo e acadêmica, já está concluída. Enquanto qua a segunda, a da rede passiva, ainda não está finalizada, mas, conforme conta a técnica do NuRA/PoP-RN, a Técnica X (2022), houve recentemente uma prioridade em sua conclusão pelo Ministério das Comunicações (MC), que demandou os postes que estavam previstos para iniciar a obra em Santa Cruz e os que estavam sobrando de Caicó. Além disso, a rede passiva de Mossoró ainda está precisando passar por alguns ajustes, devido ao tamanho da rede em função do número elevado de clientes, mas que poderão contar com os postes que foram cedidos pelos municípios de Caicó e Santa Cruz. De acordo com o que reportaa técnica do NuRA/PoP-RN, a Técnica X (2022), há uma P á g i n a | 187 grande dificuldade evidenciada neste município referente à questão dos postes, em função de uma sobrecarga de cabos de empresas de telecomunicações nos postes da cidade. De toda forma, a Técnica X (2022) conta que o anel óptico de Mossoró está finalizado, faltando apenas uma visita da equipe da RNP, que esteve prevista para realizar o aceite e então iniciar a fase de operação do anel principal, faltando, então, apenas a rede passiva, conforme dito, mas que já conta com os postes. P á g i n a | 188 Mapa 19 – Rede Metropolitana de Mossoró Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 189 3.3.3 Rede Metropolitana de Açu-Ipanguaçu Em Açu, inicialmente se pensou no IFRN de Ipanguaçu como instituição responsável por garantir a operação da rede, pois este IF se encontra na zona rural de Ipanguaçu, nas proximidades da Açu. Em função disso, o NOC seria compartilhado entre os dois municípios. Além disso, como há uma demanda da Secretaria de Segurança do Estado de interligar dois pontos na cidade da Ipanguaçu, acabou por favorecer a interligação entre as duas cidades. De modo a contemplar tal demanda, foi proposto a interligação destes pontos, com um estudo realizado que propôs a instalação de um anel óptico, de 7,42 km na cidade de Açu, interligando diretamente dois pontos, a UERN e Hospital Regional. A solução incluía a interligação da rede de Açu às instalações do IFRN (percurso de 22,21 km), seguindo mais 3,91 km até uma Delegacia de Polícia Civil em Ipanguaçu. Além disso, também se propõe a instalação de uma rede óptica de acesso com tecnologia GPON, a rede passiva, composta pelas ONT para interligar 11 órgãos, todos estaduais. Figura 83 – Tabela das unidades de Açu/Ipanguaçu Fonte: Elaborado pelo NuRA/PoP-RN, 2021. Em termos de equipamentos foram cogitados 11 ONTs e 1 OLT. Para a rede MetroEthernet na rede acadêmica, elencou-se a UERN e o IFRN de Ipanguaçu e uma rede P á g i n a | 190 de governo composta pela Escola Estadual Manoel de Melo Montenegro e a Escola Estadual Coronel Ovídio Montenegro, ambas em Ipanguaçu, além da Delegacia de Polícia Civil de Ipanguaçu e o 10º BPM de Açu, o Hospital Regional da Sesap (ver o esquema da figura e o mapa abaixo). Figura 84 – Rede Metropolitana de Açu/Ipanguaçu Fonte: Elaborado por Seigler (2020), do NuRA/PoP-RN da UFRN. P á g i n a | 191 Mapa 20 – Rede Metropolitana de Açu-Ipanguaçu Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 192 Foi proposta, então, a rede óptica de acesso a ser composta por 1 OLT, tendo sido cogitado sua posição na UERN, interligada em anel, porém, conforme o esquema acima, ainda não tinha sido definido o local exato onde a OLT estaria situada. Recentemente, o projeto foi aceito e conta com a OLT no IFRN de Ipanguaçu, conforme informa a equipe técnica do NuRA/PoP-RN. A equipe também conta, nas conversas espontâneas realizadas ao longo da pesquisa, que além do projeto para instalação em Açu-Ipanguaçu ter passado por uma reavaliação da Cosern, houve também a suspensão das atividades neste ponto pelo aumento nos preços dos equipamentos com a alta do dólar, em função da pandemia. Desse modo, apesar do projeto ter sido aprovado pela Cosern, segue como a rede metropolitana mais atrasada da Infovia Potiguar. Além disso, sobre o redesenho da rede, a Técnica X (2022) nos atualiza que Ipanguaçu permaneceu com o IFRN, que é NOC da rede, e que com a UERN de Açu compõem à rede acadêmica, enquanto que da rede de governo, Ipanguaçu permaneceu apenas com a Delegacia de Polícia Civil, tendo perdido os outros pontos que foram considerados antes, correspondentes às escolas estaduais. No entanto, vale considerar aqueles pontos, no caso de haver uma expansão da rede de Ipanguaçu. 3.4 A Infovia Potiguar e a Configuração Territorial do Rio Grande do Norte A rede da Infovia Potiguar, incluindo as redes metropolitanas da primeira fase que foram apresentadas na anterioremente, incorporam-se a uma configuração preexistente no estado, a partir de um conjunto de objetos geográficos que irão compor esta rede, permitindo uma série de interligações entre diversos municípios por estarem a dividir o mesmo backbone estadual. Isso permite que as redes setoriais de governo, possam cooperar entre si por meio de ações conjuntas de forma mais ágil, fomento às atividades acadêmicas, inovação, divulgação científica, além do benefício à população em geral no que se refere ao acesso, tendo em vista a participação dos provedores comerciais enquanto parceiros de implantação e manutenção da rede. Desse modo, a configuração territorial da Infovia Potiguar pode ser representada pela rede criada com o projeto, mas, além disso, a própria configuração preexistente do território do Rio Grande do Norte, onde a Infovia Potiguar está se inserindo também condiciona a forma com que essa rede está se configurando. Trata-se justamente da afirmação de Dias (2000), no início desta dissertação, de que tanto as redes impactam como recebem o impacto do território onde se inserem. Se mirarmos mais uma vez o P á g i n a | 193 mapa das RGN, incluindo sua expansão, e a Infovia Potiguar, mas desta vez sobrepostas às mesos e microrregiões do Rio Grande do Norte, como no Mapa 21, podemos inferir, a partir do conhecimento sobre essas micro e mesorregiões do IBGE, para as desigualdades de densidades técnicas, de economia, de educação, e trabalho, etc., existentes no estado. De outra maneira, temos aqui a discussão feita em nossa fundamentação teórica sobre a região como fato e ferramenta, sendo as microrregiões e mesorregiões do IBGE as regiões como ferramenta, de cunho científico, mas que, conforme vimos em Ribeiro (2004) e Haesbaest (2010), estas utilizam de critérios para serem estabelecidas que partem da região como fato, ou seja, de um conjunto de materialidades, a partir de um arranjo de relações materiais ou mesmo naturais do espaço e um conjunto de representações e símbolos que através dele são partilhados e construídos. De outro modo, a região como ferramenta consiste, para os autores, no mecanismo para a transformação de uma realidade, a partir da imposição do agir instrumental e estratégico e pelo desvendamento contínuo de contextos de inovação (RIBEIRO, 2004; e HAESBAERT, 2010), conforme foi adotado pela Infovia Potiguar ao selecionar os setores da Fase 1 do projeto. Nesse sentido, para pensar na região como ferramenta é preciso ter em mente o conhecimento sobre a região como fato. P á g i n a | 194 Mapa 21 – Micro e Mesorregiões do Rio Grande do Norte com as RGN/RGM e Infovia Potiguar Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do PoP-RN. P á g i n a | 195 Nessa perspectiva, sabendo-se do processo de ocupação42 do estado, que se deu no sentido litoral-interior, a mesorregião Leste é a que apresenta o processo de povoamento mais antigo desde o período colonial, onde se desenvolveu a cultura da cana- de-açúcar direcionada para fins de exportação. Nessa região, destaca-se a Região Metropolitana de Natal, sobretudo os municípios de Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Extremoz pela “diversidade de funções urbanas capazes de atrair mão de obra e, consequentemente, um efetivo populacional” (LOCATEL, 2019, p. 276). Segundo Locatel (2019), na condição de capital do estado, Natal se destaca por sua posição de centralidade política e econômica no espaço regional, e se apresenta, historicamente, como espaço de maior concentração e de maior capacidade produtiva, apresentando uma dinamicidade no que se refere aos setores da economia, mas com um destaque para o setor de comércio e serviços. Tal dinamicidade “nas funções urbanasde Natal confere ao município um forte poder de polarização sobre os outros municípios do estado e, consequentemente, influencia no crescimento econômico e populacional dos municípios que compõe a região metropolitana” (LOCATEL, 2019, p. 280). Isso também atribui centralidade tecnológica e científica à Natal em relação à sua região metropolitana e aos demais municípios do estado, tendo em vista a maior concentração de recursos e densidades técnicas que possibilitaram a atuação do próprio PoP-RN e o pioneirismo da primeira rede de informação de alta capacidade do estado, mas também de outras iniciativas da UFRN na capital. Tais iniciativas podem ser presentadas pelo Parque Tecnológico Metrópole Digital no município de Natal, que corresponde a uma concentração geográfica de empresas, instituições de ensino, incubadoras de negócios, centros de pesquisa e laboratórios, de modo a possibilitar um ambiente favorável à inovação tecnológica, produzindo benefícios econômicos em comum destinados à comunidade. Este parque foi criado pelo Conselho Universitário (CONSUNI) da UFRN implantando em 2 agosto de 2017 pelo Instituto Metrópole Digital e objetiva fomentar, apoiar e desenvolver atividades relacionadas à ciência, tecnologia, empreendedorismo e inovação, integrando a sinergia entre Academia, Governo e Empresas, por meio de atividades orientadas para a geração e/ou uso intensivo de Ciência e de Tecnologia da Informação e Comunicação. 42 Embora já existisse a ocupação indígena, tanto no litoral como no interior, a ocupação em questão, a europeia, deu-se num primeiro momento no litoral, no séc. XV e no interior, sobretudo no século XIX. P á g i n a | 196 Figura 85 – Mapa do Parque Tecnológico Metrópole Digital, no município de Natal-RN Fonte: Instituto Metrópole Digital (UFRN), [s.d]. A condução do processo se deu com a Lei Complementar nº 167, de 18 de jul. de 2017, da Legislação Municipal de Natal, que concedeu às empresas instaladas no Parque Tecnológico diversos incentivos como redução do valor relativo ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) incidente sobre o imóvel de propriedade da empresa, no caso das atividades serem exercidas neles de forma exclusiva, sobre a alíquota para a cobrança do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis Intervivos (ITIV) e isenção de taxa de licença de localização (NATAL, 2017). Inclusive, faz parte desse Parque Tecnológico, a Incubadora Inova Metrópole, sediada no IMD, que tem como objetivo o fomento do empreendedorismo potiguar, à promoção do crescimento sustentável de novos negócios, fornecendo apoio a empreendedores que possuam ideias ou empresas de base tecnológica e que estejam desenvolvendo ações inovadoras. Sua missão é a promoção da criação e da consolidação de empreendimentos inovadores em TI no Estado do RN. P á g i n a | 197 De acordo com Melo (2019, p. 246): Essa exclusiva localização em Natal deve-se, além das características de concentração de atividades no município, pela localização da sua majoritária fonte financiadora e parceira: a UFRN. No caso do parque e Inova, essas infraestruturas necessitam do apoio do Instituto Metrópole Digital, tanto no acesso às dependências físicas do Instituto quanto dos funcionários e redes de acesso à Internet e datacenter. Além disso, o PoP RN, parceira do IMD, instalou capilaridades para que o parque tivesse acesso à sua rede, ancorando essa iniciativa aos serviços do PoP RN. Nesse sentido, com a expansão da RGN, é possível promover o mesmo apoio para outros municípios da Região Metropolitana de Natal, a exemplo do Parque Científico e Tecnológico Augusto Severo (PAX), no município de Macaíba, que foi idealizado em 2013, mas que está em processo de implantação e poderá estar devidamente pronto em 202243 num prédio da UFRN, vizinho ao Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra, no Campus do Cérebro, fundada em 2007, gerido pelo Instituto Santos Dummont (ISD) e que já é atendido pela Rede GigaMetrópole. Isso evidencia, ainda mais a importância de expansão da Infovia Potiguar, coordenado pelo NuRA/PoP- RN, na medida em que iniciativas como estas podem, ancoradas nesta rede, promover desenvolvimento tecnológico, científico e inovação para o estado. Para Girardi (2013, p. 99), Apesar da concentração de recursos na RMN, novas áreas dinâmicas do Estado sinalizam para uma leve desconcentração espacial do Produto Interno Bruto (PIB), com empreendimentos em direção a outras localidades, como Mossoró, que polariza municípios vizinhos devido à exploração petroleira e à carcinicultura, a criação de camarão em cativeiro, que se estende por toda a costa potiguar, desde Mossoró ao litoral norte e até o litoral sul do Estado. A indústria de laticínios e a mineração no Seridó potiguar configuram também dinâmicas recentes no Estado, centralizado pelos municípios de Caicó e Currais Novos. Além de Mossoró, entre os municípios de maior relevância para a economia regional da mesorregião Oeste, encontra-se Pau dos Ferros, onde se concentra a maior parte dos serviços de educação superior, de saúde e de serviços bancários, no extremo oeste do estado (LOCATEL, 2019). Além disso, Locatel (2019) acrescenta sobre o sul da mesorregião central, que Caicó exerce centralidade urbana em todo o Seridó (microrregião Seridó ocidental e oriental), sobretudo com atividades de comércio, 43 Segundo a Tribuna do Norte (2021). P á g i n a | 198 indústria e serviços básicos (saúde e educação). No caso da Infovia Potiguar, o Setor Seridó, corresponde aos dois polos regionais Caicó e Currais Novos, além de um outro município que corresponde à microrregião da Borborema potiguar, na mesorregião Agreste, trata-se de Santa Cruz. Sobre esta mesorregião, com exceção de Santa Cruz e Nova Cruz, que exercem maior complexidade nas suas funções urbanas, há o maior número de municípios com grande percentual de população rural, sobretudo em função do seu processo de formação econômica e territorial, tendo em vista que, historicamente, configurou-se como um espaço de produção de alimentos no sistema de agricultura familiar para abastecer outras localidades do estado (LOCATEL, 2019). Isso sugere que os municípios desta mesorregião, que inclui também João Câmara, além de outros que foram elencados para as demais fases de implantação da Infovia Potiguar, poderão se beneficiar bastante com o projeto do ponto de vista da inclusão digital, pois, conforme vimos, as áreas rurais são as mais carentes no que corresponde ao acesso à Internet, em função da falta de investimento por parte dos provedores para essas áreas. No entanto, o que corresponde ao Setor Leste/Agreste da Infovia Potiguar, apenas João Câmara de fato corresponde à mesorregião Agreste, pois São Gonçalo do Amarante e Ceará-Mirim estão situados na mesorregião Leste, sobrepostos pela RMN, que, conforme vimos é pela RGN e sua extensão que o acesso está ocorrendo. Sendo assim, de modo a obter mais informações sobre a sobreposição da Infovia Potiguar no território do RN, considera-se a afirmação de Girardi (2013), que estabelece que a distribuição do conjunto de redes no território é determinada “pela qualidade do meio geográfico onde vai se instalar, da pré-existência de formas e dos usos do território que auxiliam ou impedem a implantação de sistemas de telecomunicação” (GIRARDI, 2013, p. 90-91). Desse modo, é necessário compreender a capilaridade, isto é, até onde as redes se estendem no estado, considerando também a velocidade, quantidade de acessos e os meios de acesso, nos municípios elencados pela primeira fase do projeto da Infovia Potiguar, nos setores Leste/Agreste, Seridó e Oeste, além da expansãodo projeto, o que inclui a Fase 2, correlacionando com o perfil socioeconômico e demográfico dos municípios elencados bem como o atendimento institucional por esse acesso. P á g i n a | 199 Inclusive, vale destacar que juntas, a RGN e sua expansão, a RGM, além da Fase 1 da Infovia Potiguar correspondem a uma população de 2.139.04744, ou seja, 60,07% da população total do estado do Rio Grande do Norte, que é de 3.560.90345, além de corresponder aos municípios mais produtivos do estado. Além disso, de modo a ampliar ainda mais o atendimento, foi pensado na Fase 2 da rede, a partir da consolidação Fase 1, que permitirá a interligação dos seguintes municípios: Angicos, Apodi, Canguaretama, Caraúbas, Jucurutu, Lajes, Macau, Parelhas, São José de Mipibu e São Paulo do Potengi. Isso aponta para um fortalecimento e até mesmo para novas centralidades e regionalizações, conforme é possível visualizar no mapa abaixo, inclusive para localidades, onde a capilaridade das atuais redes no território potiguar são mais rarefeitas, conforme veremos melhor com o nosso sistema de indicadores. Além disso, é importante destacar que, do ponto de vista técnico, além da Fase 2 da Infovia Potiguar permitir a ampliação na interligação de mais municípios do estado, permite também uma melhor gestão da informação, no sentido de que, se houver uma queda num trecho da rede de longa distância projetada pela Fase 1, ou no cabeamento da Chesf, por algum acidente ou motivo excepcional, a rede projetada para a Fase 2 permite uma redundância do sinal óptico, pois a informação será transmitida por um trecho alternativo, até que o problema no outro trajeto seja reparado. 44 Segundo estimativa populacional do IBGE (2021) para os municípios que compõem tais redes. 45 Segundo estimativa populacional do IBGE (2021) para o estado. P á g i n a | 200 Mapa 22 – Rede GigaNatal e os municípios exclusivamente das Fases (1 e 2) da Infovia Potiguar Fonte: Elaborado pelo autor (2022). Obs.: Neste mapa, São Gonçalo do Amarante (Fase 1) e São José de Mipibu (Fase 2) entraram pelo atendimento atual pela RGN. P á g i n a | 201 Por estarem em fase de anteprojetos, não fizemos os mapas das redes metropolitanas dos municípios da Fase 2, como fizemos da Fase 1, mas segue, nas tabelas abaixo, as instituições cogitadas que podem compor as redes dos municípios elencados para a segunda fase da Infovia Potiguar, com exceção de Jucurutu e Parelhas, que até tal momento foram elencados apenas os seus respectivos IFRN. Figura 86 – Tabela das unidades cogitadas para o município de Angicos Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021 P á g i n a | 202 Figura 87 - Tabela das unidades cogitadas para o município de Apodi Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021. Assim como nas demais tabelas, percebemos que os Institutos de Ensino Superior (IES) são os focos da fase de expansão da Infovia Potiguar, assim como ocorre com a Fase 1, mas também percebemos unidades federais que não foram elencadas pela primeira fase, como Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Procuradoria de Justiça etc. P á g i n a | 203 Figura 88 - Tabela das unidades cogitadas para o município de Canguaretama Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021. Figura 89 - Tabela das unidades cogitadas para o município de Caraúbas Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021. P á g i n a | 204 Figura 90 – Tabela das unidades cogitadas para o município de Macau Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021. Percebemos que mesmo se afastando mais da região metropolitana de Natal e de sua centralidade política, os municípios elencados para a Fase 2, como Macau e Apodi apresentam um fortalecimento do atendimento institucional da rede de governo, devido a um número considerável das instituições de governo sediadas em seus territórios. Isso aponta para uma maior regionalização dos serviços públicos, inclusive com a presença de órgãos como Diretórios Regionais de Educação (Dired) e Unidades Regionais de Saúde Pública (Ursap), conforme também foi verificado na Fase 1 da Infovia Potiguar. P á g i n a | 205 Figura 91 – Tabela das unidades cogitadas para o município de Nova Cruz Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021. P á g i n a | 206 Figura 92 – Tabela das unidades cogitadas para o município de São José de Mipibu Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021. Vale destacar que São José de Mipibu não possui nenhum IES, no entanto, por já ser atendido pela RGN e RGM, esse município foi cogitado para a Infovia Potiguar (Fase 2). Além disso, percebemos um número considerável das unidades municipais dos municípios que foram elencados para a Fase 2 da Infovia Potiguar, promovendo um fortalecimento institucional dos serviços públicos oferecidos nessas localidades. P á g i n a | 207 Figura 93 – Tabela das unidades cogitadas para o município de São Paulo do Potengi Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021. Figura 94 – Tabela das unidades cogitadas para o município de Lajes Fonte: NuRA/PoP-RN, 2021. P á g i n a | 208 Portanto, verificamos as redes técnicas e de serviços do RN que estão inclusas no (ou que podem ser incorporadas ao) projeto da Infovia Potiguar, sobretudo com a expansão da rede em sua Fase 2, fazendo inclusive algumas reflexões sobre o objetivo da pesquisa de identificar a regionalização da informação dos municípios elencados pela Infovia Potiguar. No entanto, completaremos este objetivo no capítulo seguinte, em que trataremos brevemente do processo de informatização do território do Rio Grande do Norte, seguida da análise do sistema de indicadores para os municípios da RGN e RGM e a Infovia Potiguar (Fases 1 e 2). P á g i n a | 209 4 A INFORMATIZAÇÃO E AS DISPARIDADES REGIONAIS DO TERRITÓRIO DO RN: O SIGIP-RN Nesta seção discutiremos o objetivo de identificar a regionalização da informação dos municípios elencados pela Infovia Potiguar a partir da distribuição dos acessos existentes de diferentes níveis técnicos e as hierarquias que serão estabelecidas com a implantação da Infovia Potiguar. Além disso, contemplamos também neste capítulo o objetivo de analisar a relação entre a implantação da Infovia Potiguar no estado e o uso da informação pelos diferentes agentes do território a partir de outras variáveis, além da conectividade, que foram elencadas pelo nosso sistema de indicadores, o Sistema de Indicadores para a Gestão da Informação pela Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte (SIGIP-RN) que corresponde também à economia, à população e ao atendimento institucional. 4.1 O processo de Informatização do Território do Rio Grande do Norte O meio técnico-científico-informacional do território do Rio Grande do Norte começa a se manifestar com maior intensidade a partir dos anos 1970, sobretudo com a sua integração às redes de fluxos econômicos globais, principalmente a partir de uma série de investimentos nas principais atividades econômicas do RN, por meio de programas de desenvolvimento de diferentes escalas de origem, que fomentaram a inserção do estado no mercado internacional, correspondendo principalmente ao turismo, tendo Natal como destaque, mas também em menor medida, outras cidades do litoral potiguar (oriental e setentrional), bem como cidades interioranas; a carcinicultura, praticamente em toda a costa potiguar, mas envolvendo também cidades não litorâneas como Mossoró, Açu, Ipanguaçu; a fruticultura irrigada, principalmente na região de Mossoró e no Vale do Açu; e a atividade petrolífera terrestre, com destaque para Mossoró, Açu e cidades próximas, e marítima, com destaque para Areia Branca, Porto do Mangue,Macau, e Guamaré (FELIPE; CARVALHO E ROCHA, 2004). No que tange a informação propriamente dita, segundo Girardi (2013, p. 97-98): A região Nordeste e o Rio Grande do Norte passaram por substanciais transformações a partir da década de 1960, quando a ação pública federal atuou na região através da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), incentivando o desenvolvimento industrial em acréscimo à política mercantil que até então vigorava. Nesse contexto foi inaugurada, em 1963, a TELERN, Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte, empresa P á g i n a | 210 originalmente estadual cujos objetivos principais eram ampliar a telefonia na capital e implantar a comunicação interurbana entre as principais cidades do interior do Estado. Com a privatização das telecomunicações no Brasil, a partir da LGT de 1997, a Telern que era subsidiária do sistema Telebras foi comprada pelo consórcio formado na época pelas Organizações Globo, Banco Bradesco e a Telecom Itália (TIM), sendo absorvida pela Tele Norte Leste S/A, Telemar, que depois passou a se chamar Oi S/A. Desse modo, como a Telern detinha a totalidade dos clientes no estado, a compra acabou por transferir o monopólio estatal para o monopólio privado. De tal maneira, que, em 2006, a Telemar era a principal empresa operadora da telefonia fixa e de Internet no estado, abrangendo mais de 80% dos terminais, tendo suas principais áreas de numeração centradas em Natal, com Centrais trânsito mistas nos bairros de Cidade Alta e Alecrim), Mossoró (central Trânsito Mista conectada com toda região Oeste, região Salineira e parte da região Central), Currais Novos (Seridó), além das regiões Agreste, Litorânea, Mato Grande e cidades próximas, tendo suas centrais locais conectadas à central Natal Centro (DEE, 2007; Girardi, 2013). Quanto as tecnologias de transmissão da Telemar, o sistema de transmissão que interliga a região Oeste (Mossoró) com Natal é composto por cabos ópticos enterrados ao longo da margem da rodovia correspondente, enquanto que na região do Seridó tem seu sistema de transmissão em direção à Natal, partindo de Currais Novos até Santa Maria por rádio enlaces de micro-ondas em visibilidade (distâncias entre estações menores que 50 km) de alta capacidade, sendo que a partir de Santa Maria até Natal o sistema adota a fibra óptica como meio de transmissão (DEE, 2007). P á g i n a | 211 Figura 95 – Sistemas fixos e celulares no Rio Grande do Norte (início dos anos 2000). Fonte: DEE (2007). Além disso, segundo o DEE (2007), já em 2007, todas as centrais telefônicas da Telemar, Embratel, Oi, Claro e TIM no RN eram digitais, destacando-se também atuação da Embratel-Vésper em Natal com sistema Wireless, telefonia sem fio, adotando o padrão CDMA (Code Division Multiple Access). Ademais, conforme é possível verificar na imagem acima, os principais nós se concentram na RMN, na Região Oeste e na Região do Seridó. Isso se dá, pois, conforme discutimos, em função das diferenciações do território por diferentes processos históricos, econômicos, sociais e políticos, acabaram por atrair investimentos maiores das empresas de telecomunicações nos lugares que puderam oferecer um retorno financeiro correspondente. Dessa maneira, veremos a seguir o resultado dessa relação a partir da atual configuração do acesso à Internet no estado por diferentes tecnologias, que vieram a se difundir, para relacionar as demandas no estado por acesso, a partir de áreas de maiores densidades e rarefações, com a instalação da Infovia Potiguar. Isso será feito a partir do nosso Sistema de Indicadores, em que relacionaremos os dados de acesso à Internet (total, velocidade, tecnologia) da Anatel com outros índices socioeconômicos, demográficos e institucionais dos municípios atendidos pela Infovia Potiguar, tendo em vista que esta rede provê uma melhoria na qualidade do acesso no estado seja para as instituições de ensino superior (neste caso, tendo o PoP-RN como provedor), as empresas parceiras e P á g i n a | 212 instituições de governo, mas também a população em geral, além de outras empresas que poderão se beneficiar com essa infraestrutura. 4.2 As disparidades regionais e o Sistema de Indicadores para a Gestão da Informação pela Infovia Potiguar no Rio Grande do Norte (SIGIP-RN) Os dados que foram elencados para o nosso sistema de indicadores estão embasados em boa parte dos questionamentos tratados nesta pesquisa, desde a fundamentação teórica, principalmente na contextualização que fizemos ao tratar do advento da Internet no mundo e no Brasil sobre a difusão do acesso e as desigualdades existentes, os termos de usos da RNP, os critérios de implantação da Infovia Potiguar, os problemas ligados às conexões no estado do Rio Grande do Norte em função a sua configuração territorial, dentre outros. No esquema abaixo é possível verificar a estrutura do nosso sistema de indicadores: Figura 96 – SIGIP-RN (esquema de indicadores, grupos de indicadores e variáveis) Fonte: Elaborado pelo autor (2022). Obs.: Serviços 1 corresponde aos serviços, excluindo administração, defesa, escola e saúde públicas, e previdência social, enquanto que Serviços 2 correspondem apenas a estes serviços. P á g i n a | 213 Nesse sentido, considerando as necessidades por acesso no estado, o que devidamente justifica a incorporação da Infovia Potiguar, elencamos como um dos indicadores a Conectividade, apresentando os dados do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) da Anatel para os acessos de banda larga e de telefonia móvel por município. Sobre a banda larga, elencamos os acessos, o meio e o intervalo de velocidade do acesso para cada um dos municípios elencados, correspondendo a todo o ano de 2021, enquanto que da telefonia móvel se considerou a geração/tecnologia do acesso, mas o período de referência foi o segundo semestre de 2021, pois o primeiro estava incompleto. Outro indicador que elencamos foi o de População, considerando a população total estimada pelo IBGE para o ano de 2021, tendo em vista que contribui e, consequentemente, relaciona-se com o volume de acessos. Enquanto que em população entre 15 a 49 anos, filtramos a faixa etária da população que mais faz uso à Internet, considerando o intervalo próximo ao grupo de idade apontado em estudo do IBGEeduca, [s.d], sobre dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), para 2018- 2019, que por sua vez verificou que, no Brasil, o uso de Internet é superior a 80% da população situada entre 14 a 49 anos. Sobre a população urbana, tendo em vista que é um parâmetro utilizado pelo IBGE que considera a porcentagem da população vivendo em perímetro urbano, consideramos o fato de que é onde concentra a maioria dos órgãos públicos, vias públicas, infraestruturas urbanas etc. — embora consideremos a advertência de Locatel (2019) com relação ao parâmetros utilizados no Brasil para definir o grau de urbanização, que não resultam em dados condizentes com a realidade, tendo em vista que a urbanização é um processo e, portanto, não permite uma análise linear para estabelecer uma fronteira fixa entre áreas totalmente urbanas ou totalmente rurais. Elencamos também a porcentagem da população com ensino superior completo do último censo demográfico do IBGE (2010), cujo cálculo é a razão de pessoas com 25 anos ou mais com tal nível de instrução, o que pode demandar mais por acesso à Internet como também contribui para que o município tenha mais mão-de-obra especializada potencialmente atuando em diferentes setores. Finalmente da mesma fonte, o censo demográfico do IBGE (2010), colhemos a densidade demográfica, que corresponde ao número de habitantes por km², que indica acessos em municípios mais ou menos adensados, além do interesse das empresas de telecomunicaçõesem áreas adensadas. Em Economia, elencamos o Índice de Desenvolvimento Humano municipal (IDHm) e o IDHm, que são indicadores relacionados à qualidade de vida da população, P á g i n a | 214 já que o primeiro considera as variáveis de longevidade, educação e renda e o segundo apenas as variáveis de renda, fazendo uma média entre todos os rendimentos pela quantidade de pessoas residentes. Estes são indicadores do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mas que colhemos do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo IBGE, afim de estabelecer uma correlação entre a qualidade de vida com a conectividade. A mensuração do IDHm e IDHm de renda, dá-se numa escala de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 0, pior a situação, e de 1, melhor. Além desses dados, colhemos também do IBGE (2019) o valor do Produto Interno Bruto (PIB), por mil reais, dos municípios, que são fator de atratividade para empresas de telecomunicações se instalarem. Sobre essa variável, colhemos também a porcentagem em relação à participação no PIB por setor agropecuária, indústria e de serviços, excluindo administração, defesa, educação e saúde públicas, e seguridade social, e outra variável apenas com estes serviços, de modo a inferir quais setores são mais estratégicos para a economia de cada município. Finalmente, do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do IBGE (2019), pegamos o total das unidades locais das empresas e de outras organizações; a quantidade dessas unidades que estão voltadas para informação e comunicação; e na área de atividades profissionais, científicas e técnicas, conforme a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Isso ocorreu de modo a identificar a distribuição de empresas no estado para apurar a demanda por acesso, do ponto de vista empresarial, assim como, unidades empresariais em áreas mais específicas e intimamente ligadas à redes de informação, além do salário médio mensal (por salário mínimo) e a população total ocupada para ter uma noção entre condições de renda com a capacidade de contratar serviços de telecomunicações de qualidade pela população. Por fim, em Atendimento Institucional, aqui correspondeu às redes de governo, como secretarias, corporação de bombeiros, delegacia de polícia, etc., além de sociedades de economia mista, como a Caern, e autarquias públicas, fundações etc., e a rede acadêmica, sendo as unidades das Instituições de Ensino Superior (IES), de pesquisa, museus, etc., e por fim, outros, que incluem as unidades da Chesf, Cosern, mas também unidades federais que não sejam acadêmicas, empresas públicas etc. Além disso, considerando a expansão da Infovia Potiguar, elencamos não apenas os municípios da Rede GigaNatal, da Rede GigaMetrópole e da Fase 1 da Infovia Potiguar, como também da Fase 2 do projeto para a elaboração do Sistema de Indicadores. P á g i n a | 215 Figura 97 – SIGIP-RN Fonte: Elaborado pelo autor (2021), sobre dados do ANATEL (2021); IBGE (2010, 2019); PoP-RN (2021). P á g i n a | 216 Figura 98 – Gráficos do tipo radar (meramente ilustrativos) utilizados para representar o SIGIP-RN Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 217 Ademais, na sequência de tabelas abaixo, apresentamos os dados colhidos referentes a cada um desses municípios da RGN e RGM e da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e a cada uma das variáveis elencadas para o nosso sistema indicadores: Tabela 2 – Dados de Conectividade dos municípios elencados para o projeto da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e da Rede GigaNatal Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados da Anatel referentes ao ano de 2021. Obs.: Como a tecnologia 5G teve ocorrência apenas no município de Natal, ela foi utilizada somente para compor a soma do total de acessos em telefonia móvel neste município, mas não como uma variável. P á g i n a | 218 Tabela 3 - Dados de Economia dos municípios elencados para o projeto da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e da Rede GigaNatal Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2010; 2019). Tabela 4 - Dados de População dos municípios elencados para o projeto da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e da Rede GigaNatal Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2010; 2022). P á g i n a | 219 Tabela 5 - Dados de Atendimento Institucional dos municípios elencados para o projeto da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) e da Rede GigaNatal Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do PoP-RN (2021-2022). Obs.: Neste item, consideramos para os municípios de São Gonçalo do Amarante (Fase 1) e de São José de Mipibu (Fase 2), os dados referentes ao atendimento pela Infovia Potiguar, em suas respectivas fases, mesmo que já exista o atendimento pela RGN para esses municípios. A fim de organizar melhor a análise acerca dos dados levantados, falaremos primeiro dos municípios que compõem a Rede GigaNatal e a Rede GigaMetrópole, tendo em vista que alguns deles também foram elencados para a primeira e a segunda fase da Infovia Potiguar (como São Gonçalo do Amarante e São José de Mipibu), bem como, considerando que, conforme vimos, na RGN e sua extensão, a RGM, há pontes de interligação para alguns dos municípios elencados para a Infovia Potiguar. Desse modo, os municípios que compõem a RGN e a RGM apresentaram a seguinte configuração do SIGIP-RN: P á g i n a | 220 Figura 99 – Gráficos SIGIP-RN: Extremoz Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 221 Figura 100 – Gráficos SIGIP-RN: Macaíba Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 222 Figura 101 – Gráficos SIGIP-RN: Monte Alegre Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 223 Figura 102 – Gráficos SIGIP-RN: Natal Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 224 Figura 103 – Gráficos SIGIP-RN: Parnamirim Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 225 Figura 104 – Gráficos SIGIP-RN: São José de Mipibu Fonte: Elaborado pelo autor (2022). Obs.: No item Atendimento Institucional, consideramos os dados referentes à Fase 2 da Infovia Potiguar. P á g i n a | 226 Figura 105 – Gráficos SIGIP-RN: Vera Cruz Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 227 Figura 106 – Gráficos SIGIP-RN: São Gonçalo do Amarante Fonte: Elaborado pelo autor (2022). Obs.: No item Atendimento Institucional, consideramos os dados referentes à Fase 1 da Infovia Potiguar. P á g i n a | 228 Estes municípios são os que possuem os maiores números de acessos em banda larga e telefonia móvel, com maior destaque para os municípios de Natal, com mais de 1 milhão de acessos, sendo especificamente 2.596.717 em banda larga e 8.243.473 em telefonia móvel; Parnamirim, com 921.147 acessos em banda larga e 1.645.084 acessos em telefonia móvel; e São Gonçalo do Amarante, com 240.501 acessos em banda larga e 439.524 em telefonia móvel. Pouco atrás desses municípios temos Extremoz e Macaíba, que apresentam respectivamente 139.436 e 115.908 em banda larga e 383.918 e 281.534 em telefonia móvel. Finalmente, São José de Mipibu, Monte Alegre e Vera Cruz apresentaram quantidades de acesso em banda larga abaixo dos 100.000, sendo respectivamente: 92.593, 27.663 e 14.215. Enquanto que em telefonia móvel o valor foi de 204.248 para São José de Mipibu, 84.928 para Vera Cruz e 69.040 para Monte Alegre. Ainda no item Conectividade do nosso sistema de indicadores, é possível perceber que há uma forte relação entre o meio de acesso à Internet banda larga com a velocidade destes acessos, sendo o município de Natal com uma maior diversidade de meios de acesso, com a nota “5” na escala do SIGIP-RN para todos os meios, com a exceção desatélite e indeterminado, que obtiveram a nota “4”, o que reflete também nas velocidades de acesso, sendo a nota “5” para todos os intervalos de velocidade, o que coorresponde a diferentes níveis técnicos. No caso de Parnamirim, que teve como nota “5” apenas rádio e cabo coaxial, mas a nota “4” para as demais, com a exceção de indeterminado, que foi “2”, percebemos que os intervalos de velocidade de acesso obtiveram a nota 4. Por outro lado, São Gonçalo do Amarante, que obteve a nota “4” em fibra óptica e igual ou abaixo de “3” para os demais meios, apresentou velocidades nos intervalos entre 12 a 34 Mbps e mais de 34Mbps com a nota “4”, o que pode indicar uma correspondência ao meio de acesso utilizado. Porém, Extremoz que apresentou uma nota “4” em fibra óptica e em rádio, teve uma nota “3 no intervalo entre 12 a 34 Mbps e “4” para mais de 34Mbps. Macaíba, por sua vez, obteve “4” em cabo metálico, fibra óptica e satélite, no entanto, os acessos em termos de velocidade ficaram com nota “3” nos intervalos entre 2Mbps a 12Mbps, entre 12Mbps a 34Mbps e acima de 34Mbps, com destaque para uma nota “4” no intervalo entre 512Kbps a 2Mbps. Quanto aos demais municípios: São José de Mipibu obteve “4” no meio indeterminado e nota “3” para fibra óptica, rádio e satélite; Monte Alegre, “3” para fibra, satélite e o meio indeterminado; e Vera Cruz com a maior nota sendo “3” para o meio indeterminado. No quesito velocidade, São José de Mipibu, obteve uma uniformidade P á g i n a | 229 nos intervalos entre 512Kbps a 2Mbps, 2Mbps a 12Mbps, 12Mbps a 34Mbps e acima de 34 Mbps, sendo nota “3” para estes intervalos. Por outro lado, Monte Alegre obteve “3” apenas no intervalo de 34Mbps, sendo a sua maior nota, enquanto que Vera Cruz não passou da nota “2” no quesito velocidade do acesso, sendo esta a nota no intervalo de 512Kbps a 2 Mbps, de 12Mbps a 34Mbps e mais de 34Mbps. Vale salientar, que conforme falamos ao descrever nossos dados, a telefonia móvel utilizou dados de um intervalo de tempo menor que o de banda larga, pois o primeiro foi apenas para o segundo semestre do ano de 2021, enquanto que o segundo contemplou o ano todo. Porém, mesmo assim, o volume do total de acessos em telefonia móvel foi maior que de banda larga em todos os municípios. Nos mapas abaixo, é possível verificar as porcentagens correspondentes aos meios e velocidades de acessos em banda larga e as tecnologias responsáveis pelo acesso em telefonia móvel para cada um desses municípios: P á g i n a | 230 Mapa 23 – RGN e RGM: Velocidade do acesso Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados da Anatel (2021). P á g i n a | 231 Mapa 24 - RGN e RGM: Meio do acesso Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados da Anatel (2021). P á g i n a | 232 Mapa 25 – RGN e RGM: Acessos por geração de telefonia móvel Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados da Anatel (2021). P á g i n a | 233 Verificamos que apenas três municípios apresentam uma porcentagem acima de 90% do total de acessos permitidos por meio de fibra óptica, que são Extremoz, Monte Alegre e São Gonçalo do Amarante (este com quase 100%, precisamente 96,61%), porém, as velocidades acima de 34Mbps estão num intervalo de 80 a 90% nesses municípios. Além disso, nos municípios de Macaíba, Vera Cruz e São José de Mipibu, entre 80 a 90% dos acessos são permitidos por meio da fibra óptica, no entanto, dentre estes municípios, apenas Macaíba apresenta uma correspondência de 80% do seu total de acessos em velocidade superior a 34Mbps, pois, a mesma correspondência, em Vera Cruz, é de 61,62% e, em São José de Mipibu, é de 76,48%. Por outro lado, tanto em Natal e como em Parnamirim, que apresentam uma divisão dos acessos quase que pela metade entre o meio do tipo cabo coaxial e do tipo fibra óptica, atingem uma porcentagem significativa dos acessos em velocidades acima de 34Mbps, sendo, respectivamente, 88,51% e 92,55%. Essa correlação pode indicar que nestes dois últimos municípios a qualidade no processo de instalação das redes de acesso à Internet é melhor que em relação aos demais, havendo uma situação intermediária entre os municípios de Macaíba, Extremoz, Monte Alegre e São Gonçalo do Amarante. Porém, Vera Cruz e São José de Mipibu são os casos mais críticos, que indicam o quadro apontado na introdução, de que muitas empresas se instalam de qualquer forma em lugares onde não há o retorno financeiro ou, pelo menos, onde este não é tão vantajoso. Esse comportamento é similar nos indicadores de telefonia móvel, sendo a nota “5” para o total de acessos em telefonia móvel nos municípios de Natal e Parnamirim, sendo que Natal possui também a nota “5” para todas as gerações de telefonia móvel, enquanto que em Parnamirim, o gráfico faz um tipo de arco, sendo a nota “5” apenas para o 4G, enquanto o 2G e o 3G a nota foi “4”. Além disso, Natal foi o único município que apresentou valores referentes a 5ª geração de telefonia móvel, motivo pelo qual, o 5G não entrou no sistema de indicadores. Em São Gonçalo do Amarante e Macaíba, o comportamento foi similar com nota “4” para o total de acessos em telefonia móvel, mas com destaque para a geração 2G e 4G, com nota “4”, enquanto que o 3G nesses dois municípios apresentou a nota “3”. São José de Mipibu e Extremoz apresentaram a nota “3” no total de acessos em telefonia móvel, no entanto, enquanto que o primeiro obteve “3” para todas as gerações (2G, 3G e 4G), o segundo obteve a mesma pontuação, com exceção do 4G, cuja nota foi “4”. Finalmente, Monte Alegre e Vera Cruz apresentaram os piores indicadores de total de P á g i n a | 234 acessos em telefonia móvel, com nota “2”, sendo a mesma nota para todas as gerações dos dois municípios, com a exceção do 2G em Vera Cruz, que foi nota “3”. Inclusive, vale salientar que dentre estes municípios, somente Vera Cruz apresentou uma porcentagem de menos de 80% dos acessos na tecnologia 4G. É importante destacar que a materialidade desses meios de acesso no território é, conforme adverte Antas Júnior (2005), apenas aparentemente inerte, pois, os conjuntos de objetos artificiais e humanizados que constituem tal materialidade estão arranjados intencionalmente, a fim de obstaculizar dadas ações ou, contrariamente, promover-lhes a fluência. Ademais, o comportamento do indicador de Conectividade e seus subindicadores se relacionam com os outros indicadores do sistema, sobretudo o indicador de Economia e de População, tendo em vista que os maiores e melhores acessos acompanham as economias mais produtivas do estado, além das melhores condições de renda, junto com maior adensamento populacional e nível de escolarização elevado, dentre outras variáveis, conforme é possível identificar nos gráficos do SIGIP-RN. De modo a complementar essas interações, é possível visualizar estes outros indicadores na sequência de mapas abaixo. P á g i n a | 235 Mapa 26 – RGN e RGM: Combinação dos subindicadores de População Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2010; 2021). P á g i n a | 236 Mapa 27 – RGN e RGM: Relação entre o IDHm e o IDHm Renda Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2010). P á g i n a | 237 Mapa 28 – RGN e RGM: Total de unidades locais das empresas e outras organizações atuantes; na área de informação e comunicação; e em atividades profissionais, científicas e técnicas Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2019). P á g i n a | 238 Mapa 29 – RGN e RGM: O valor do Produto Interno Bruto (PIB) e a fração correspondente desse valor por setor da economia Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre osdados do IBGE (2019). Obs.: Serviços 1 corresponde aos serviços, excluindo administração, defesa, escola e saúde públicas, e previdência social, enquanto que Serviços 2 correspondem apenas a estes serviços. P á g i n a | 239 Mapa 30 – RGN e RGM: População total ocupada e o salário médio mensal (por salários mínimos) Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2019). P á g i n a | 240 Conforme verificado na sequência de mapas acima foi possível identificar que os municípios da RGN e RGM, sobretudo Natal, Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante são os que apresentam o maior quantitativo populacional, com destaque para Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante para a questão da densidade demográfica. Além disso, estes três municípios também se destacaram na porcentagem da população urbana, sendo Natal e Parnamirim considerados 100% urbanos pelo IBGE e São Gonçalo do Amarante com uma porcentagem de 84,52% em relação ao total de sua população. Ainda sobre o quesito de população urbana, Macaíba e Extremoz estão pouco acima dos 60%, e Vera Cruz e São José de Mipibu estão abaixo dos 50%. O aspecto urbano, além de contribuir para a concentração, também indica ser um fator importante para diferentes meios de acesso, conforme é possível verificar nesses municípios, isso aponta para a reflexão de Girardi (2013), ao afirmar que: […]. Cada lugar possui uma configuração espacial particular do par densidade/diversidade. Quanto mais a diversidade e a densidade são fortes e mais suas interações espaciais são grandes, mais a “urbanidade” da cidade é importante. A localização dos espaços com mais densidade e diversidade de redes de internet é onde mais ocorre a produção de lógicas de valorização da urbanidade das cidades (GIRARDI, 2013, p. 91). Além disso, identificamos também a porcentagem da população com ensino superior completo, que é uma variável que indica sobretudo uma maior qualificação da população que fará uso dessa rede, que foi mais significativa em Natal e Parnamirim, acima de 10%, conforme esperado, mas com destaque também para outros municípios como São José de Mipibu (com 4,54%) e Extremoz (com 4,34%) — mas, principalmente o primeiro, tendo em vista o contingente populacional total e urbano, além de outras variáveis, principalmente econômicas, conforme é possível verificar nos mapas — com porcentagem superior ao que foi verificado em São Gonçalo do Amarante e Macaíba. Sobre a porcentagem da população entre 15 a 49 anos, onde a demanda por acesso é maior, foi mais considerável nos municípios de Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, coincidindo com os maiores acessos em banda larga e telefonia móvel, conforme mencionamos. No entanto, as variáveis econômicas também são essenciais para complementar a análise. Desse modo, elencamos o Índice de Desenvolvimento Humano municipal (IDHm), que mensura a qualidade de vida a partir das variáveis de educação, renda e longevidade, e o próprio IDHm de Renda, que por sua vez, está mais diretamente ligado P á g i n a | 241 ao padrão de vida, e é medido pela renda municipal per capita, a soma da renda de todos os residentes, dividida pelo número de pessoas que moram no município (inclusive crianças e pessoas sem registro de renda). Sendo assim, temos um IDHm mais elevado nos municípios de Natal e Parnamirim, próximo de 0,80 para estes municípios, mas com destaque também para São Gonçalo do Amarante e Extremoz. Apenas Vera Cruz apresentou um IDHm abaixo de 0,60. Isso é similar ao IDHM de Renda, que igualmente é mais elevado em Natal e Parnamirim, também com valores próximos de 0,80, seguido por Extremoz, com 0,64, enquanto que os demais orbitam 0,60 para mais e para menos. Na verdade, três municípios, Vera Cruz, Monte Alegre e São José de Mipibu apresentam os piores valores de IDHm de renda, abaixo de 0,60. Isso pode apontar para onde a conectividade parece contribuir mais ou menos na qualidade de vida e nos rendimentos da população. Além disso, verificamos também a concentração do total de unidades locais das empresas e outras organizações atuantes, destacando também as que atuam na área de informação e comunicação e em atividades profissionais, científicas e técnicas. É possível destacar a concentração dessas unidades em Natal, seguido de Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Macaíba, que coincide com os PIB mais elevados dos municípios que compõem a RGN e a RGM, além dos melhores acessos. Destes municípios se destacam os setores de serviços e indústria, enquanto que agropecuária, embora que ainda seja uma porcentagem pequena, está mais presente nos demais municípios. Ademais, a variável de população total ocupada também apresenta maior destaque para Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e Macaíba, no entanto, o comportamento do salário médio mensal (por salário mínimo) se deu de forma diferenciada, com destaque sobretudo de Natal (com 3 salários mínimos), mas seguido de Extremoz (com 2), Macaíba (com 1,9) e Monte Alegre (com 1,8). Dentre estes municípios apresentados nestas duas variáveis econômicas, apenas Monte Alegre não corresponde aos maiores e melhores acessos à Internet, o que sugere uma íntima relação entre estas variáveis com o indicador de Conectividade, e que junto de Vera Cruz e São José de Mipibu apresentaram valores abaixo de 100.000 acessos em banda larga. Porém, quanto à telefonia móvel, São José de Mipibu se diferencia destes dois por possuir mais de 200.000 acessos, que pode estar ligado ao fato de tal município ter uma população total ocupada maior em relação aos outros dois, porém com salário médio mensal similar de 1,7 (mais precisamente), o que infere que seja mais viável a compra de um smartphone para acessar à Internet do que um notebook ou desktop, por P á g i n a | 242 exemplo (mesmo que a telefonia móvel possa também ser utilizada para o acesso de todos esses equipamentos, mas que, geralmente está mais vinculada ao smartphone). Finalmente, em relação ao Atendimento Institucional da RGN e RGM, percebemos pelos gráficos do SIGIP-RN, a nota “5” para o município de Natal em todas as variáveis, que conforme já analisamos concentra a maior parte das instituições. Sobre os clientes municipais, Natal é seguido por Parnamirim, com nota “4”, tendo São Gonçalo do Amarante, Macaíba e São José de Mipibu na sequência com nota “3”. Ainda sobre os clientes municipais, destaca-se o município de Monte Alegre, com a nota “2”, que foi considerado como parte da RGN e RGM dentro do SIGIP por possuir uma única unidade correspondente a um prédio da prefeitura, que a equipe técnica do NuRA/PoP-RN informou haver uma fibra derivando para este prédio, mas que nunca foi ativada, podendo ser, caso surgisse a necessidade de abrir um ponto novo, em Monte Alegre, pois, bastaria então interligar tal ponto por meio dessa derivação. Sobre a rede de governo de Parnamirim e Macaíba empatam, com nota “3”, mas Macaíba, no fim das contas, tem mais instituições na rede de governo, sendo dezoito deste e quatorze daquele. Macaíba também apresenta a segunda maior nota no SIGIP-RN em rede acadêmica, com Instituto Santos Dumont e a Escola Agrícola de Jundiaí, com o total de cinco prédios interligados, incluindo o Campus do Cérebro. Ainda sobre a rede acadêmica, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante possuem nota “2”, devido ao fato destes municípios possuírem um IFRN cada, enquanto que os demais municípios por não possuírem nenhuma Instituição de Ensino Superior (IES) interligada receberam a nota “1”. Por último, sobre a variável Outros, além de Natal, destaca-se São José de Mipibu em relação aos demais, com nota “3”, em função de duas unidades que não compõem os clientes municipais, a rede de governo, nem a rede acadêmica, sendo uma do Instituto Nacional de Seguro Social(INSS) e um cartório eleitoral. Vale salientar que os dados de São José de Mipibu de Atendimento Institucional, mesmo este município já possuindo atendimento pela RGN e RGM com a cobertura de uma unidade da Sesed e outra da Sesap, foram considerados os dados da Infovia Fase 2 para o SIGIP-RN (conforme ainda veremos nesta seção). Do mesmo modo, São Gonçalo do Amarante foi analisado a partir da Infovia Potiguar na Fase 1, mesmo tal município possuindo pela RGN e RGM o atendimento a um IF, três escolas estaduais e a quatro unidades da Sesed. Inclusive sobre a Infovia Fases 1 e 2, seguem os demais gráficos do SIGIP-RN: P á g i n a | 243 Figura 107 - Gráficos SIGIP-RN: Ceará-Mirim Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 244 Figura 108 – Gráficos SIGIP-RN: João Câmara Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 245 Figura 109 – Gráficos SIGIP-RN: Santa Cruz Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 246 Figura 110 – Gráficos SIGIP-RN: Currais Novos Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 247 Figura 111 – Gráficos SIGIP-RN: Caicó Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 248 Figura 112 – Gráficos SIGIP-RN: Açu Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 249 Figura 113 – Gráficos SIGIP-RN: Ipanguaçu Fonte: Elaborado pelo autor (2022). Obs.: Mesmo Ipanguaçu só tendo o acesso do seu IFRN e de uma Delegacia da Polícia Civil, conforme vimos, consideramos as outras instituições de governo que tinham sido pensadas antes da aprovação do projeto, na medida em que já foram cogitadas e que a rede metropolitana do município tende a se expandir. P á g i n a | 250 Figura 114 – Gráficos SIGIP-RN: Mossoró Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 251 Figura 115 – Gráficos SIGIP-RN: Pau dos Ferros Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 252 Figura 116 – Gráficos SIGIP-RN: Canguaretama Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 253 Figura 117 – Gráficos SIGIP-RN: Nova Cruz Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 254 Figura 118 – Gráficos SIGIP-RN: São Paulo do Potengi Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 255 Figura 119 – Gráficos SIGIP-RN: Lajes Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 256 Figura 120 – Gráficos SIGIP-RN: Angicos Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 257 Figura 121 – Gráficos SIGIP-RN: Parelhas Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 258 Figura 122 – Gráficos SIGIP-RN: Macau Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 259 Figura 123 – Gráficos SIGIP-RN: Jucurutu Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 260 Figura 124 – Gráficos SIGIP-RN: Caraúbas Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 261 Figura 125 – Gráficos SIGIP-RN: Apodi Fonte: Elaborado pelo autor (2022). P á g i n a | 262 Sobre o indicador Conectividade dos municípios da Fase 1 da Infovia Potiguar, é possível verificar que nenhum atingiu em total de acessos em banda larga do SIGIP-RN a nota máxima do sistema, “5”, que corresponde a mais de 1 milhão de acessos, conforme foi possível visualizar na RGN. A maior pontuação, neste quesito, para os municípios da Fase 1 foi “4”, que se deu nos polos de cada setor, sendo: Ceará-Mirim (Leste-Agreste), em quarto, com 104.272 acessos; Açu (Oeste), em terceiro, com 150.273; Caicó (Seridó), em segundo, com 153.208; e Mossoró (Oeste), em primeiro com 687.492. Em seguida, aparecem Currais Novos, com 85.334 acessos, e Pau dos Ferros, com 84.896, que apresentaram a nota, “3”, esta que por sua vez foi a maior nota dentre os municípios da Fase 2 da Infovia Potiguar, correspondendo apenas ao município de Macau, com 59.680 acessos. Além disso, somente João Câmara, da Fase 1, e todos os demais municípios da Fase 2, com a exceção de Lajes, apresentaram a nota “2”, intervalo entre 15.001 a 50.000 acessos. Finalmente, Ipanguaçu, Santa Cruz e Lajes ficaram com a nota “1”, que se refere a um número de acessos inferior a 15.000. Isso pode indicar a necessidade e importância dessa rede se concretizar e se expandir, tendo em vista a quantidade de municípios elencados pelo projeto com pouquíssimos acessos à Internet banda larga. Além disso, por muitos desses municípios estarem em regiões remotas do estado, é possível verificar uma diminuição dos acessos permitidos por meios mais eficientes, como a fibra óptica, o que também vai impactar na velocidade. Apenas Mossoró, Açu e Caicó apresentaram a nota “4” em fibra óptica, enquanto que da Fase 2, nenhum município a atingiu. No entanto, outros meios de acesso banda larga começam a apresentar notas “5”, sendo apenas na primeira fase da Infovia Potiguar, com destaque para o satélite, sobretudo em João Câmara, que é o município com o maior número de acessos banda larga por este meio, 2.488, e o rádio, com destaque para Mossoró, sendo também o maior número de acessos por este meio dentre todos os municípios, são 36.589 acessos. No que tange à velocidade dos acessos, novamente, apenas Mossoró, Açu e Caicó apresentam nota “4” em velocidades acima de 34Mbps, enquanto que Pau dos Ferros, Ceará-Mirim, Currais Novos e João Câmara, além de alguns municípios da Fase 2, como Macau, Parelhas, Canguaretama e Apodi, apresentaram a nota “3”. Na sequência de mapas a seguir, é possível visualizar melhor uma representação espacial dos dados de acesso banda larga para todos esses municípios. P á g i n a | 263 Mapa 31 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Relação entre o total de acessos banda larga e o meio empregado Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados da Anatel (2021). P á g i n a | 264 Mapa 32 - Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Relação entre o total de acessos banda larga e a velocidade correspondente Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados da Anatel (2021). P á g i n a | 265 Nos mapas acima, é possível estabelecer uma relação de proporção entre os meios de acessos para cada município, com a velocidade destes acessos, o que sugere uma espacialização da qualidade. Santa Cruz, por exemplo, tem pouco metade de seus acessos em fibra óptica, enquanto que os demais se dão por outras tecnologias, de tal modo, que a velocidade acima de 34Mbps é também pouco superior a metade. Outro caso, bastante evidente é o de São Paulo do Potengi, com uma proporção significativa dos acessos pelo rádio (inclusive com nota “4” no SIGIP-RN), sendo que as velocidades superiores a 34Mbps estão numa proporção bem menor em relação aos demais intervalos. Há também casos críticos, como em Ipanguaçu, Angicos e Lajes que apresentam uma quantidade significativa de acessos por fibra óptica, mas com velocidades dos acessos em intervalos inferiores a 34Mbps em maior proporção, o que indica a péssima qualidade da instalação de fibras por partes das empresas nesses municípios e em outros menos evidentes, mas que também é possível notar, como Caraúbas e Apodi. Sobre total de acessos em telefonia móvel (ver mapa abaixo), destaca-se o município de Mossoró o único, dentre os demais municípios das Fases 1 e 2, com nota “5”, ou seja, mais de 1 milhão de acessos, sendo a mesma nota para o 4G. Caicó, Ceará- Mirim e Açu também se destacaram com nota “4” para o total e também para o 4G. Destaca-se ainda da Fase 1, os municípios de Currais Novos, Santa Cruz, João Câmara e Pau dos Ferros, com nota “3”, tendo todos a mesma nota no 4G. Quanto à Ipanguaçu, todas as notas em telefonia móvel foi “1”. No caso da fase 2, a melhor nota foi “3” para o total de acessos por telefoniamóvel, com Nova Cruz, Apodi e Macau. Quanto aos demais municípios, Canguaretama, Parelhas, Jucurutu, Angicos e São Paulo do Potengi obtiveram nota “2” e apenas Lajes obteve “1”. P á g i n a | 266 Mapa 33 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Relação entre o total de acessos em telefonia móvel com a geração da telefonia móvel utilizada Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados da Anatel (2021). P á g i n a | 267 Pelo que é possível notar no mapa, Lajes, São Paulo do Potengi, Angicos e Ipanguaçu são as piores situações, totalmente contrastantes com a situação de Mossoró, Caicó, Ceará-Mirim e Açu, e um conjunto de situações intermediárias para mais e para menos conforme analisamos no SIGIP-RN. No entanto, sobre a tecnologia LTE do 4G, percebemos uma certa predominância, em todos os municípios, em relação às outras gerações de telefonia móvel (2G e 3G). Sobre estas outras gerações de telefonia móvel, destaca-se o município de Jucurutu com quase 20% do seu total de acessos em telefonia móvel na tecnologia GSM do 2G, enquanto que os demais municípios apresentaram valores abaixo dos 15% para esta tecnologia de telefonia móvel. Destaca-se também que todos os municípios das Fases 1 e 2 apresentam acessos inferiores a 15% do total, em telefonia móvel, na tecnologia WCDMA do 3G. Na verdade, conforme comenta Santos (1994), o território se apresenta como uma superposição de sistemas de engenharia diferentemente datados e que são usados hoje segundo tempos diversos, algo que pode ser percebido tanto nos mapas de conectividade dos municípios da Infovia Potiguar como da RGN, tendo em vista que aponta para a utilização de diferentes gerações de telefonia móvel, do 2G ao 4G. Além disso, notamos também nesses mapas de conectividade, diferentes meios de acesso banda larga, como satélite e rádio, que foram soluções, em determinadas porções do território, e ainda são, em outras, utilizadas para superar a ausência de uma infraestrutura cabeada, coexistindo com meios de conectividade potencialmente mais velozes, como a fibra óptica, que tende, por sua vez, a substituir cabos metálicos e coaxiais em infraestruturas preexistentes, pois são cabos de capacidade inferior à fibra óptica. Apesar desta coexistência, percebemos, grosso modo, que há uma tendência para que as tecnologias de telefonia móvel e de acesso banda larga fixa de menor capacidade sejam menos utilizadas do que as tecnologias mais modernas e velozes. Além disso, do mesmo modo que induzimos e verificamos na RGN e RGM, o comportamento do indicador de Conectividade e seus subindicadores se relacionam com os outros indicadores do SIGIP-RN, tendo em vista que as quantidades e qualidades dos acessos estão ligados aos outros indicadores, sobretudo de Economia e de População, dos municípios. De modo a complementar essas interações para os municípios da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2), segue abaixo uma sequência de produtos cartográficos com a combinação dessas variáveis espacializadas. P á g i n a | 268 Mapa 34 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): População total estimada (2021) Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2021). P á g i n a | 269 Mapa 35 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Densidade demográfica e a porcentagem da população urbana; entre 15 a 49 anos; e com ensino superior completo Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2010). P á g i n a | 270 Mapa 36 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): IDHm Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2010). P á g i n a | 271 Mapa 37 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): IDHm Renda Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2010). P á g i n a | 272 Mapa 38 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): Total de unidades locais das empresas e outras organizações atuantes; na área de informação e comunicação; e em atividades profissionais, científicas e técnicas Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2019). P á g i n a | 273 Mapa 39 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): O valor do Produto Interno Bruto (PIB) e a fração correspondente desse valor por setor da economia Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2019). P á g i n a | 274 Mapa 40 – Infovia Potiguar (Fases 1 e 2): População total ocupada e o salário médio mensal (por salários mínimos) Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do IBGE (2019). P á g i n a | 275 É possível perceber que o mais populoso município da Fase 1 é Mossoró, sendo o segundo mais populoso de todo o estado, com 303.792 habitantes, pouco acima da população de Parnamirim, que tem a terceira maior população do estado. Em seguida, os municípios de Ceará-Mirim, Caicó e Açu se apresentam como situações intermediárias, próximas de São Gonçalo do Amarante e Macaíba da RGN e RGM, sendo todos estes municípios com nota “4” no sistema de indicadores, que se refere ao intervalo entre 50.001 a 500.000 habitantes. Os demais da Fase 1, bem como a totalidade absoluta da Fase 2, apresentam uma população inferior a 50.000 habitantes. Além disso, sobre a densidade demográfica, Nova Cruz e Canguaretama apresentaram os maiores resultados, respectivamente 127,82 e 125,98, seguidos por Mossoró, Pau dos Ferros e Ceará-Mirim. No entanto, predominam municípios com pouco adensamento populacional, devido a grandes extensões territoriais com poucas pessoas as ocupando, os vazios demográficos, é o caso de Apodi, Caraúbas, Lajes, Jucurutu e Angicos. Sobre a porcentagem da população urbana em relação ao total, Pau dos Ferros, Mossoró, Caicó, Currais Novos e Santa Cruz apresentam nota “4”, ou seja, com população urbana destes municípios acima de 85,01%. Da Fase 2, apenas Angicos e Parelhas apresentaram valores similares. Sobre a população com ensino superior completo, apenas três da Fase 1 apresentam valores próximos a 10% em relação ao total, sendo Mossoró, Pau dos Ferros e Caicó, enquanto que da Fase 2 nenhum município atinge 6%. Finalmente, sobre a população destes municípios, a porcentagem referente as pessoas na faixa etária entre 15 a 49 anos foi bastante homogênea, mas com destaque para Mossoró, Macau, Açu, Caicó, Apodi e Pau dos Ferros que foram os que mais se aproximaram de 60%. Ademais, o IDHm, que pode indicar uma melhor qualidade de vida dos habitantes, foi mais significativo nos municípios da Fase 1, como Mossoró e Caicó, ambos acima de 0,70, enquanto que abaixo disso, mas acima de 0,65, aparecem Currais Novos, Pau dos Ferros e Açu. Na Fase 2, apenas Parelhas e Macau apresentam valores superiores a 0,65. Os valores abaixo de 0,60 que se deram nos municípios das Fases 1 e 2 foram somente em João Câmara e Canguaretama, respectivamente. Sobre o total das unidades locais das empresas e outras organizações atuantes, vemos que o padrão se repete, com Mossoró e Caicó liderando a maior concentração dessas unidades, seguidos por Currais Novos, Açu e Ceará-Mirim. Vale destacar que apenas Mossoró, em relação aos municípios das Fases 1 e 2, obteve a nota “4” no SIGIP- RN, em função das suas 6.873 unidades locais, enquanto que na RGN e RGM a maior P á g i n a | 276 quantidade de unidades locais é superior a 25.000 unidades, mais precisamente no município de Natal, com nota “5”. Ademais, a nota “3” foi obtida por todas as unidades da Fase 1, com exceção de Ipanguaçu, enquanto que na Fase 2, somente foi obtida pelo município de Parelhas, havendo diversas situações com a nota “2”. Quanto à área de atuação dessas empresas nos municípios das Fases 1 e 2, verificamos assim como no total dessas unidades, um número bem menor do que o que foi verificado anteriormente na RGN e RGM. Novamente, Mossoró e Caicó apresentam os melhores resultados,sobretudo o primeiro com mais de 300 unidades em atividades profissionais, científicas e técnicas, seguido por Caicó, com 77 unidades nessa área de atuação, o que sugere que os demais municípios possuem menos 80 unidades em tal área. Em informação e comunicação, os mesmos dois municípios se destacam, sendo Mossoró, o primeiro, com 87 unidades, e Caicó, o segundo, com 30 unidades, enquanto que todos os demais estão abaixo de 25 unidades. Inclusive, todos os municípios da Fase 2 estão abaixo de 10 unidades em informação e comunicação, somente Nova Cruz que se destaca com 11. Em relação ao PIB a preços correntes (mil reais), vemos que há quatro grandes economias do estado, como Mossoró, 6.926.042, seguido por Caicó, Açu e João Câmara com pouco mais 1.000.000 cada um, no entanto, é possível perceber a quantidade de municípios com o PIB muito baixo, inferior a 250.000, principalmente na Fase 2, o que sugere a importância dessa rede para uma maior capilaridade do acesso de qualidade à Internet no estado, tendo em vista que as provedoras de acesso não consideram investir em localidades não rentáveis, que inclusive aponta para a restrição sobre a qualidade dos acessos à Internet analisados com base no SIGIP-RN e nos mapas de conectividade. Desse modo, pode-se inferir que a Infovia Potiguar permite que haja uma maior democratização em função da expansão da capilaridade de conexões de qualidade gerada por esta rede. No entanto, também gera uma preocupação referente ao fato de que como há uma parceria com as empresas parceiras e serão estas quem de fato prestaram o serviço à população em geral, se de fato esse acesso será permitido em função das condições econômicas da população para arcar com a aquisição desse serviço de Internet, que terá um maior valor atribuído em função da alta qualidade da rede. Isso nos leva a análise do último mapa referente à população total ocupada e o salário médio mensal, no qual temos a seguinte configuração: Mossoró, em primeiro lugar, seguido por Caicó, em segundo, com respectivamente 66.820 pessoas ocupadas e 11.876, ambos com nota “4” (intervalo entre 10.001 a 100.000) no SIGIP-RN. Em P á g i n a | 277 seguida, aparecem Ceará-Mirim, Açu e Currais Novos, que apresentaram nota “3” no sistema, que corresponde a população entre 3.501 a 10.000 pessoas ocupadas. Em relação ao salário, a situação foi um pouco diferente, tendo Mossoró e João Câmara as melhores situações da Fase 1 com, respectivamente, 2,4 e 2,3 salários médios mensais. Na Fase 2, Macau e Angicos apresentaram salários médios mensais de 1,9 como melhores resultados, seguidos por São Paulo do Potengi, Nova Cruz e Lajes, com 1,8, superior aos demais municípios da Fase 1, que apresentaram médias de salários de 1,7, com a exceção de Ipanguaçu, que foi 1,6, este que por sua vez foi igual aos demais municípios da Fase 2. Isso acentua ainda mais a preocupação quanto ao benefício dos acessos de qualidade à Internet para a população desses municípios com menor ocupação e salários, se efetivamente ocorrerá. Retomando a questão do PIB, percebemos também que há muitas situações em que a agropecuária tem uma participação maior em alguns municípios, sobretudo na Fase 2, com Apodi e Jucurutu, apresentando pouco mais de 10%, enquanto que Canguaretama se diferencia em relação a todos os municípios com quase 40% do PIB relativo a esse setor, sobretudo vinculada à cana-de-açúcar, banana, pesca e produção de camarão. Na Fase 1, apenas Ipanguaçu apresentou pouco mais de 10% do PIB para a agropecuária, enquanto que quase todos os outros municípios das Fases 1 e 2 tiveram os serviços como setor que mais contribuiu no valor do PIB. Apenas em João Câmara, que a indústria é o setor que mais contribui com o valor do PIB municipal, com 51,94%, que está muito relacionado ao processo de industrialização deste município, — que se inicia timidamente durante a década de 1920 e 1930 com o algodão primeiramente, e depois, na década de 1970, com a indústria do sisal se torna dos principais produtores do estado para a confecção de fibras, principalmente (TAVARES, 2011). Dentre os municípios da Fase 2, Macau e Parelhas apresentam as maiores porcentagens referentes à indústria em relação ao valor total dos seus respectivos PIB, com 39,50% para o primeiro e 21,69% para o segundo. Esses valores estão relacionados principalmente a indústria do sal em Macau, um dos maiores produtores de sal do Brasil, e da cerâmica em Parelhas, a principal produtora do estado, conhecida também como Capital da Telha. Desse modo, a Infovia Potiguar pode proporcionar uma modernização tecnológica ainda maior para os potenciais produtivos do estado, pois as empresas parceiras provedoras de acesso podem fornecer para os empreendimentos uma rede de alta qualidade, sendo possível cogitar uma inserção de soluções tecnológicas avançadas como equipamentos com base em IoT (Internet das Coisas), inteligência artificial, P á g i n a | 278 computação na nuvem etc., nos diferentes setores da economia e nas mais diversas localidades do estado. Do ponto de vista do Atendimento Institucional, os municípios da Fase 1 já foram analisados em seções anteriores, quando discutimos os projetos das redes metropolitanas destes municípios. Algo que se deu de forma mais geral nos municípios da Fase 2, pois, estão na fase de anteprojeto, conforme mencionado, ou seja, não há nada definitivo sobre como que as redes serão. De toda, maneira, segue o resultado cartográfico referente a esse indicador para os municípios das Fases 1 e 2 da Infovia Potiguar: P á g i n a | 279 Mapa 41 – Atendimento Institucional da Infovia Potiguar (Fases 1 e 2) Fonte: Fonte: Elaborado pelo autor (2022), sobre os dados do PoP-RN (2021). P á g i n a | 280 Percebemos que a rede acadêmica do estado de um modo geral terá um grande benefício com a implantação da Infovia Potiguar, principalmente considerando os IES, museus e centros acadêmicos que serão atendidos, sobretudo em Mossoró, Caicó, Santa Cruz, Pau dos Ferros, Macau e Currais Novos. As unidades de governo também têm maior presença nestes municípios, mas com destaque para outros, como Açu, Apodi e Ceará- Mirim. Esses municípios são as melhores pontuações no SIGIP-RN para a rede de governo e rede acadêmica, do indicador elencado, mas também para outros, já analisados como População, Economia e Conectividade, pois são os principais polos do estado. No entanto, sobre os clientes municipais, há maior destaque dos municípios da Fase 2 da Infovia Potiguar, sobretudo Apodi, Angicos, Caraúbas, Lajes, Nova Cruz, Canguaretama e o maior de todos São Paulo do Potengi, com 19 unidades de clientes municipais, enquanto que da Fase 1, apenas Ceará-Mirim e Mossoró se destacaram. Do subindicador Outros, os maiores destaques foram em São Paulo do Potengi, Mossoró, Caraúbas e Angicos, no entanto, três destes quatro são da Fase 2. Isso ocorre, pelo fato, de nestas redes terem sido cogitadas instituições federais que não fazem parte da rede acadêmica, como Ministério Público, INSS, Zonas Eleitorais etc., até mesmo porque há menor presença de unidades de governo e acadêmicas. Desse modo, percebemos que alguns municípios da Fase 1, como Mossoró, Caicó, Açu, Currais Novos, assim como da Fase 2, como Apodi, Pau dos Ferros, e Macau, poderão fortalecer ainda mais a regionalização já exercidas por eles nas regiões Agreste, Central e Oeste potiguar, bem como criar outras regionalizações em função da implantação da Infovia Potiguar. Portanto, para obter uma análise mais precisa do ponto de vista territorial dos dados descritos nesta seção, segue uma análise dedicada aos gráficos sínteses dos indicadores do SIGIP-RN, identificando e inferindo as principais tendências do territóriodo Rio Grande do Norte. No que tange à Conectividade (Gráficos 4 e 5), percebemos a distribuição dos acessos, o meio e a velocidade empregada, bem como na mobilidade da conexão para todos os municípios da RGN e da Infovia Potiguar. Imediatamente, notamos o destaque de Natal em relação aos demais, em praticamente todos os quesitos, algo que era esperado, devido a sua centralidade econômica, sobretudo no setor de comércio e de serviços, conforme vimos. P á g i n a | 281 Gráfico 4 – SIGIP-RN: gráfico síntese de Conectividade (banda larga) Fonte: Elaborado pelo autor (2022). 0 1 2 3 4 5 Açu Caicó Ceará-Mirim Currais Novos Ipanguaçu João Câmara Mossoró Pau dos Ferros Santa Cruz Extremoz Macaíba Monte Alegre Natal ParnamirimSão Gonçalo do Amarante São José de Mipibu Vera Cruz Angicos Apodi Canguaretama Caraúbas Jucurutu Lajes Macau Nova Cruz Parelhas São Paulo do Potengi Total de acessos (banda larga) Mais de 34Mbps Fibra Óptica Rádio Satélite Cabo coaxial Cabo metálico P á g i n a | 282 Gráfico 5 – SIGIP-RN: gráfico síntese de Conectividade (telefonia móvel) Fonte: Elaborado pelo autor (2022). 0 1 2 3 4 5 Açu Caicó Ceará-Mirim Currais Novos Ipanguaçu João Câmara Mossoró Pau dos Ferros Santa Cruz Extremoz Macaíba Monte Alegre Natal ParnamirimSão Gonçalo do Amarante São José de Mipibu Vera Cruz Angicos Apodi Canguaretama Caraúbas Jucurutu Lajes Macau Nova Cruz Parelhas São Paulo do Potengi Total de acessos (telefonia móvel) 4G (LTE) P á g i n a | 283 Essa hegemonia de Natal se dá com maior ênfase no total de acessos de banda larga, no emprego da fibra óptica e nos acessos com velocidades superiores a 34Mbps. No entanto, compartilha com Parnamirim e Mossoró acessos elevados em rádio e cabo coaxial, sobretudo em Parnamirim, havendo uma queda em Mossoró para cabo coaxial. São municípios que no geral concentram acessos elevados em praticamente todos os meios, isso aponta para o fato de que são os municípios mais desenvolvidos do ponto de vista econômico, com o PIB mais elevado, com uma maior atuação na área de serviços, com um certo destaque também para a indústria. Contraditoriamente isso também aponta para as desigualdades dentro desses municípios, pois, na medida em que há diferentes meios acessos, coexistem diferentes níveis técnicos responsáveis pelo acesso, os quais pessoas de diferentes condições socioeconômicas fazem uso desses meios, além, das instituições, empresas etc. Ademais, há uma certa tendência para que haja a concentração de cabos, seja eles metálicos, coaxiais ou de fibras ópticas nos municípios da RGN e RGM, sobretudo em Natal e Parnamirim. No que tange somente à fibra óptica, além desses municípios, se destacam também São Gonçalo do Amarante, Extremoz, Macaíba e outros, de outras regiões, como Mossoró, Caicó e Açu, que são os principais polos do estado. Inclusive, isso aponta para dois fatores: o primeiro é a qualidade dos acessos, tendo em vista que velocidades acima de 34Mbps parecem acompanhar a fibra óptica em praticamente todos os pontos; e o segundo aponta para uma maior densidade de infraestruturas para que tais cabos sejam instalados, este é menos restrito à fibra óptica, abrangendo também outros tipos de meio de acesso por cabos, coaxial e metálico, que inclusive podem ser substituídos pela fibra, conforme verificado em Toledo Júnior (2003), melhorando ainda mais a velocidade dos acessos nos municípios. Por outro lado, percebemos uma queda do total de acessos banda larga e dos meios de acessos cabeados nos municípios mais distantes da capital, mas ainda dentro da sua região metropolitana, como São José de Mipibu, que fica numa situação intermediária, com “3” no SIGIP-RN, mas de forma mais acentuada em Monte Alegre e Vera Cruz. Isso pode indicar que a conurbação (isto é, a união das cidades em função da expansão de suas malhas urbanas) interfere para o compartilhamento das infraestruturas de telecomunicações, sobretudo as cabeadas, tendo em vista, a ocorrência desse fenômeno urbano entre Natal, Parnamirim, Macaíba, Extremoz e São Gonçalo do Amarante, o que indica um fator para que estes municípios convirjam mais entre si, em termos de acessos, P á g i n a | 284 do que aqueles outros municípios mais distantes de Natal, mas ainda dentro de sua região metropolitana. Ainda sobre a RMN, um caso curioso destacado no gráfico, corresponde ao fato de Ceará-Mirim (elencado para a Fase 1 da Infovia Potiguar) possuir um total de acessos banda larga elevado, semelhante a São Gonçalo do Amarante, Parnamirim e Mossoró, no entanto, esses acessos se dão em grande parte por meio do rádio e cabo metálico, com uma redução na fibra óptica em relação aos outros municípios, o que impactou na velocidade acima de 34Mbps, que também apresentou uma queda. Aliás, é possível verificar um comportamento similar para todos os municípios a velocidade superior a 34Mbps parece acompanhar os acessos por meio de fibra óptica. Além disso, o caso particular de Ceará-Mirim, de uma certa forma, contradiz o fato de que os municípios mais distantes da capital (mas ainda na sua região metropolitana) parecem ter menos acessos, pois há outros fatores a se considerar, sobretudo, econômicos e populacionais, enquanto que, ao mesmo tempo, confirma o fato de que as infraestruturas compartilhadas parecem ter uma outra configuração das evidenciadas nos municípios mais próximos da capital, sobretudo devido a menor presença de acessos por fibra óptica em Ceará-Mirim. Além disso, percebemos que os municípios da Fase 1 da Infovia Potiguar, como Pau dos Ferros e Currais Novos, assim como da Fase 2, como Macau apresentam uma situação intermediária semelhante a evidenciada em São José de Mipibu, da RGN e RGM, que também foi elencado para Fase 2 da Infovia Potiguar, no que corresponde ao total de acessos banda larga. Quanto a esses municípios, é possível perceber uma certa semelhança do ponto de vista econômico e populacional, que contribui para isso, com a exceção de São José de Mipibu, que parece estar muito mais vinculado à proximidade com Natal. Quanto aos demais municípios tanto da Fase 1 como da Fase 2 da Infovia Potiguar, percebemos que o total de acessos banda larga é muito inferior, entre “1” e “2”, no SIGIP- RN, algo muito similar a Vera Cruz e Monte Alegre da RGN, inclusive destacam-se tecnologias como o rádio em Apodi, São Paulo do Potengi e Parelhas, com nota “4”, e satélite, em João Câmara, com nota ‘5”, além de Santa Cruz e Jucurutu, com nota “4”. Isso pode não parecer tão considerável, tendo em vista que o rádio com nota “4” no SIGIP-RN está entre 6.001 a 25.000 acessos, enquanto que satélite, nota “4” está entre 751 a 2.000, e “5”, com pouco mais 2.000 acessos, no entanto são municípios de no máximo 50.000 acessos totais em banda larga, o que parece corresponder a um valor P á g i n a | 285 relativamente considerável em tecnologias bastante instáveis. Inclusive, essas tecnologias são mais utilizadas em áreas mais isoladas, que podem inclusive corresponder a habitantes situados nas zonas rurais desses municípios que dependem mais desses tipos de acessos pela falta de infraestruturas cabeadas. Ainda sobre a conectividade, no que tange à telefonia móvel, percebemos que não há um isolamento de destaque para Natal no total de acessos como ocorreu com a banda larga, pois Mossoró e Parnamirim também apresentam a nota “5” no SIGIP-RN. Essa convergência também se dá na tecnologia 4G. Quanto aos demais municípios, o gráfico síntese de telefonia móvel apresenta algumas similaridades com o que foi verificado em banda larga, no que corresponde ao total de acessos, com a exceção de alguns pontos, como Santa Cruz, Apodi, Canguaretama, João Câmara e Nova Cruz. Vale destacar que o 4G apresenta conexões de até