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DESCRIÇÃO Abordagem dos efeitos da imersão associados à cinesioterapia na Reabilitação Aquática, das técnicas e dos acessórios específicos e do tratamento em um setor aquático adaptado. PROPÓSITO Conhecer a relação entre as propriedades físicas da água e os efeitos da imersão associados à cinesioterapia na Reabilitação Aquática, apresentando os fatores a serem considerados para elaborar um bom programa de tratamento através das técnicas de reabilitação, empregadas em diferentes grupos e patologias. OBJETIVOS MÓDULO 1 Conhecer os fatores considerados para a elaboração das sessões de Fisioterapia Aquática usando materiais apropriados e os princípios e propriedades físicas da água na Reabilitação Aquática MÓDULO 2 Reconhecer a Reabilitação Aquática e a sua aplicação em diversas patologias passíveis da sua utilização como abordagem de tratamento Fisioterapêutico INTRODUÇÃO A Fisioterapia Aquática vem cada vez mais desenvolvendo técnicas e filosofias de trabalho e conquistando um lugar especial na reabilitação, o que a levou em 2014 a se tornar uma especialidade da Fisioterapia, e não mais um recurso aplicado, passando a ser uma forma independente de intervenção. A definição estabelecida pelo COFFITO do que seria compreendido pelo termo Fisioterapia Aquática é muito abrangente, incluindo o uso de turbilhão, gelo, compressas, entre outras. Uma das formas de o fisioterapeuta atuar nesta área é por meio da hidrocinesioterapia (terapia através de movimentos realizados na água), que será o nosso objeto de estudo neste módulo. COFFITO Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, que tem a função de regulamentar e fiscalizar a profissão. Portanto, quando falarmos em hidrocinesioterapia, estamos, na verdade, abordando uma das possibilidades de intervenção em Fisioterapia Aquática, qual seja o uso do conhecimento das propriedades físicas da água somado ao movimento corporal. Quem não se lembra de na infância ter sido pego por uma chuva inesperada e de como essa lembrança nos traz alegria? Ou como é agradável ficar um tempo em uma banheira de hidromassagem, ou até mesmo tomar um banho após um dia de trabalho? javascript:void(0) Muitas vezes, essas sensações agradáveis já são um excelente atrativo para a escolha da Reabilitação Aquática e um aliado neste processo, ajudando a amenizar o que, certas vezes, pode ser doloroso e difícil para o paciente, pelo próprio processo da doença instalada, ou pela lesão sofrida. A sessão de Reabilitação Aquática pode ser um dos melhores momentos do dia deste paciente. Isso porque a realização de exercícios gera liberação de substâncias químicas relacionadas ao prazer, como a endorfina. Além disso, em um ambiente aquático, conseguimos realizar diversos movimentos que, em solo, são impossíveis quando sujeitos à ação da gravidade. Na água, com a redução do peso corporal, conseguimos ser “livres” das amarras de um corpo limitado por comprometimentos físicos instalados. ENDORFINA É um dos hormônios do corpo denominado de “hormônio do prazer”, produzido pela hipófise. Portanto, a utilização da água aquecida em um ambiente acolhedor e adaptado que considere as individualidades do paciente e sua história tem muito com que contribuir para a sua evolução. Para melhor compreensão das formas de intervenção, vamos iniciar pelo que chamamos de Reabilitação Aquática geral, apresentando as técnicas e as diferenças quanto às formas de execução dos movimentos em solo e na água e, por fim, os grupos que consideramos especiais para o tratamento na piscina. MÓDULO 1 Conhecer os fatores considerados para a elaboração das sessões de Fisioterapia Aquática usando materiais apropriados e os princípios e propriedades físicas da água na Reabilitação Aquática FATORES QUE DEVEM SER CONSIDERADOS NO PLANEJAMENTO DA SESSÃO DE FISIOTERAPIA AQUÁTICA javascript:void(0) Quando o paciente tem dificuldade de caminhar, sobrepeso, dores, restrições articulares ou, até mesmo, incapacidade de se manter em pé, a ação da gravidade sobre o seu corpo passa a ser um grande inimigo, sendo a opção pelo tratamento em um ambiente aquático, muitas vezes, a melhor indicação. Isso porque estes fatores dificultam, ou até mesmo impedem, o tratamento Fisioterapêutico em solo. Ao associarmos a flutuação com a água aquecida, temos como resultado a redução da sobrecarga articular, reduzindo a dor e o tônus muscular, o que aumenta consequentemente a capacidade de movimentação. Devemos sempre lembrar que o ambiente aquático é bastante diferente do terrestre, e isso se reflete nos tipos de contrações musculares e no esforço necessário para cada tipo de exercício. Outro fator importante é a consideração das propriedades físicas da água, seus efeitos e suas interferências nos movimentos, estando estes fatores relacionados também com as indicações e contraindicações para a reabilitação em ambiente aquático. ATENÇÃO O equipamento aquático escolhido deve estar de acordo com o objetivo do tratamento –flutuação, resistência, amplitude de movimento, propriocepção, deslizamento, deslocamento na água – além do método a ser aplicado. Além dos equipamentos, dependendo do objetivo, devemos considerar a profundidade da piscina e a temperatura da água. Ainda temos que atender a segurança e o conforto, sendo necessário evitar equipamentos que não tenham um bom ajuste no paciente para a execução dos movimento. Em sequência, vamos analisar os fatores que devem ser considerados no planejamento de uma sessão de Reabilitação Aquática. TIPOS DE CONTRAÇÕES MUSCULARES Na água, o empuxo, que é uma força vertical de baixo para cima exercida no corpo pelo líquido, interfere nos tipos de contrações musculares, sendo um fator determinante para a diferença de análise do tipo de contração. O mesmo movimento realizado no solo sofrerá tipos de contrações e demandas musculares diferentes do exercício realizado na água. Podemos utilizar como exemplo o músculo bíceps braquial. Durante a flexão do cotovelo, este músculo atua concentricamente (contração com encurtamento) e, no retorno da flexão até a posição inicial, ocorre a contração excêntrica (contração com tensão) quando realizado o movimento em solo, com um halter nas mãos, por exemplo. Fonte: Shutterstock Figura 1: Exercício de flexão da articulação do cotovelo. Fonte: Shutterstock Figura 2: Halter flutuante confeccionado em E.V.A. O exercício executado na piscina será facilitado no momento da flexão do cotovelo pelo empuxo e, no retorno, quando é realizada a extensão da articulação, terá maior resistência para vencer o empuxo ocorrendo uma contração concêntrica do músculo tríceps braquial, sendo maximizado este efeito se for utilizado um halter aquático. Neste caso, quando utilizamos halter aquático, a resistência não se dá pelo peso do halter, mas, sim, pela flutuação, turbulência e área de arrasto. Na figura abaixo, podemos verificar que, quando é realizado o movimento de abdução do ombro (A), a flutuação auxilia o deslocamento do membro superior, enquanto, no retorno, ou seja, no movimento de adução (B), existe uma maior resistência a ser vencida, que é gerada pelo empuxo, associada aos halteres flutuadores. Fonte: Shutterstock Figura 3: Na figura A, ocorre solicitação dos músculos abdutores; na figura B, ocorre solicitação dos músculos adutores. Primeira imagem (A) Os músculos deltoide e supraespinhal atuam concentricamente, porém, com auxílio da flutuação, já no retorno, figura B, os músculos adutores, como latíssimo do dorso, redondo maior e peitoral maior (parte esternal), agem concentricamente para vencer a força de empuxo. Fonte: Shutterstock Figura 3: Na figura A, ocorre solicitação dos músculos abdutores; na figura B, ocorre solicitação dos músculos adutores. Segunda imagem (B) Os músculos deltoide e supraespinhal atuam concentricamente, porém, com auxílio da flutuação, já no retorno, figura B, os músculos adutores, como latíssimo do dorso, redondo maior epeitoral maior (parte esternal), agem concentricamente para vencer a força de empuxo. Ocorre raciocínio diferente quando são utilizados halteres para realizar exercícios em solo, onde teríamos a contração concêntrica dos músculos deltoide e supraespinhal na abdução e, no retorno à posição inicial (adução), a contração seria excêntrica dos mesmos músculos. Fonte: Shutterstock Figura 4: Abdução e retorno da abdução em solo. PROPRIEDADES FÍSICAS DA ÁGUA E SUA RELEVÂNCIA NOS EXERCÍCIOS O empuxo, que é uma força de sentido contrário ao da gravidade, isto é, de baixo para cima, é um fator determinante para a redução do peso corporal, facilitando a prática de exercícios quando o paciente apresenta dificuldade de suporte corporal por lesões, dor ou limitações físicas. O empuxo também é utilizado como resistência quando fazemos movimentos em sentido contrário (de cima para baixo), permitindo fortalecimento com redução da sobrecarga articular. Fonte: Shutterstock Figura 5: Pós-operatório da articulação do joelho sendo um fator limitante para a marcha. ATENÇÃO Os diferentes níveis de imersão estão diretamente relacionados ao suporte de peso. Quando o corpo está imerso até os ombros, ocorre uma redução de 90% do peso corporal, ou seja, uma pessoa de 60 Kg sustentará somente 6 Kg do peso corporal, o que reduz a sobrecarga articular e facilita a realização dos exercícios propostos. Conforme a redução do quadro álgico e o aumento progressivo da resistência muscular e cardiorrespiratória, podemos reduzir o nível de imersão, aumentando o suporte do peso corporal pelo paciente, preparando-o para atividades funcionais com sobrecarga mais próxima da vivenciada em solo. Figura 6: Corpo imerso na altura dos ombros gera 90% de redução do peso corporal. Figura 7: Corpo imerso na altura da cintura gera entre 75% a 60% de redução do peso corporal. A pressão hidrostática, que é a pressão exercida pelo meio líquido no corpo que está submerso, é outra propriedade física relevante. Quanto mais profunda a imersão, maior será a pressão hidrostática, ou seja, quando o paciente está em posição ortostática (em pé) na piscina, os membros inferiores receberão uma maior pressão do que a região do tórax, por exemplo, sendo uma excelente indicação para redução de edemas. Além de a pressão hidrostática proporcionar analgesia (Teoria das Comportas) e reduzir edemas por facilitação do retorno venoso, outro efeito positivo se dá em relação à função respiratória, pois gera resistência na caixa torácica, de forma a fortalecer os músculos da inspiração e auxiliar na expiração. TEORIA DAS COMPORTAS Entendimento de que, na comunicação da dor com os centros nervosos superiores, há uma espécie de “portão” que pode se abrir ou fechar para o estímulo doloroso passar. A teoria do controle da comporta, que é baseada na teoria de que os impulsos de dor passam através de uma “comporta” para chegar ao sistema espino-talâmico lateral. Os estímulos de dor são transmitidos por fibras nervosas de grande e de pequeno calibre. A estimulação das fibras de grande calibre não permite que os estímulos emitidos por fibras de pequeno calibre sejam reconhecidos. Em um indivíduo com dor aguda, o estímulo das fibras de maior calibre é capaz de suprimir a sensação de dor. Fonte: Shutterstock Figura 8: Edema de membro inferior esquerdo por redução de movimentação, e membro inferior direito com prótese. javascript:void(0) A viscosidade é a força de atrito entre as moléculas da água, gerando resistência ao fluxo. A partir desta propriedade, para aumentar a resistência ao movimento, basta aumentar a sua velocidade, ocasionando a turbulência (que consiste no fluxo aleatório das moléculas de água). Sabemos que, quanto maior a velocidade do movimento, maior a resistência. Também podemos usar a turbulência para realizar trabalhos quando objetivamos alcançar melhora no nível de equilíbrio estático e dinâmico, e para gerar o que chamamos de esteira, que facilita o deslocamento do paciente na água. O efeito de esteira ocorre quando o fisioterapeuta se coloca na frente vencendo a resistência da água. A esteira ocorre quando um objeto se move na água, criando uma diferença de pressão, que fica maior na frente (o fisioterapeuta, por exemplo) e menor atrás desse objeto (o paciente). EQUILÍBRIO ESTÁTICO A capacidade de nos mantermos em pé em oposição à ação da gravidade. EQUILÍBRIO DINÂMICO Durante a marcha, quando deslocamos o nosso centro de gravidade de uma base estável para outra base estável, temos um exemplo de equilíbrio dinâmico. Podemos comparar com a facilitação gerada pela mãe pata aos seus patinhos. Quando ela nada, gera uma pressão negativa, facilitando o deslocamento dos filhotes na água. Fonte: Shutterstock Figura 9: Esteira formada pela turbulência facilitando o deslocamento dos filhotes. INDICAÇÕES, CONTRAINDICAÇÕES E CONDIÇÕES QUE REQUEREM CUIDADO javascript:void(0) javascript:void(0) Para melhor visualização, vamos listar os efeitos terapêuticos que justificam a indicação da Reabilitação Aquática em piscina aquecida: REDUÇÃO DO QUADRO ÁLGICO Em uma análise bioquímica, podemos dizer que, durante a imersão, ocorre o aumento do limiar de dor, devido à diminuição de catecolaminas (epinefrina e norepinefrina), e bloqueio das terminações nervosas e, em uma perspectiva mecânica, temos a pressão hidrostática gerando estímulos táteis, aplicando-se, neste caso, a Teoria das Comportas. REDUÇÃO DE ESPASMOS E DA RIGIDEZ MUSCULAR A temperatura da água aquecida, associada ao empuxo, com redução da ação da gravidade são os principais fatores neste sentido. TRABALHO DE FORTALECIMENTO MUSCULAR, ALONGAMENTO E RESISTÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA O empuxo gera redução do peso corporal, diminuição da dor e redução do tônus muscular. Com isso, criamos a possibilidade de realizar exercícios e movimentos que, em solo, não seriam possíveis, acelerando, portanto, o processo de reabilitação através de uma intervenção precoce, quando ainda a lesão está em fase aguda, sem indicação de descarga do peso corporal, por exemplo. Como decorrência lógica dos benefícios listados acima, podemos concluir que a hidrocinesioterapia é um excelente recurso para aumento da amplitude articular, recuperação das atividades funcionais, independência funcional e consequente aumento da autoestima e bem-estar. REDUÇÃO DE EDEMAS A pressão hidrostática e o empuxo são as propriedades físicas que estabelecem relação direta com este efeito, principalmente, em membros inferiores, uma vez que a pressão que as moléculas de água exercem sobre o corpo tem uma relação direta com a profundidade. Aliado a isso, há redução da ação da gravidade devido ao empuxo, facilitando o retorno venoso e o retorno linfático. EQUILÍBRIO E PROPRIOCEPÇÃO O equilíbrio tem seu trabalho estimulado desde a entrada do paciente na água, por se encontrar em um ambiente diferente do vivenciado, gerando a necessidade de ajustes posturais. O deslocamento, principalmente, em posição ortostática, gera o movimento aleatório das moléculas de água (turbulência), sendo necessário que o paciente busque ficar estável nestes deslocamentos. Em uma fase adiantada da reabilitação, podemos focar em exercícios proprioceptivos, com equipamentos específicos, mas sem esquecer que a propriocepção também vem sendo estimulada desde o início do tratamento. INTERAÇÃO SOCIAL Muitas vezes, aquele paciente que está em casa, isolado, com limitações físicas, quando vai para uma sessão de Reabilitação Aquática, experimenta um rompimento deste isolamento, tendo contato com pessoas diferentes, seja o fisioterapeuta, seja outros pacientes, sendo a piscina um local onde é possível dividir e interagir com situações semelhantes. Existem limitações que impedem o paciente de andar ou até mesmo de ficar em pé em solo. Porém, quando imersos em água aquecida, são capazes de executar essas ações, o que facilita a interação social. Por este motivo,podemos ter um atendimento individualizado, porém, organizado de forma que possa ser atendido mais de um paciente ao mesmo tempo, com a presença de um ou dois fisioterapeutas e um estagiário na piscina, por exemplo. Além disso, podemos planejar atendimentos em grupo para pacientes que apresentem a mesma indicação terapêutica. Todo este movimento em prol da socialização pode um ser um fator crucial para incentivar a continuidade do tratamento, o que acaba transformando este ambiente em um local acolhedor e motivador. Contraindicações Embora a hidrocinesioterapia seja uma excelente indicação para as mais diversas patologias, existem contraindicações para o tratamento em água, muitas vezes, por condições físicas do paciente associadas às propriedades físicas da água. As contraindicações podem ser divididas em: Contraindicações absolutas Condições que requerem cuidado As contraindicações absolutas são aquelas que o paciente não pode ser submetido à Fisioterapia Aquática, como fístulas cutâneas, feridas abertas, processos infecciosos ou inflamatórios do trato respiratório, otites, conjuntivite, náusea ou vômito, doenças infecto contagiosas, como tuberculose, micose, muita debilidade física, doenças cardíacas graves, hipotensão e hipertensão descontrolada, incontinência urinária e fecal, convulsões e epilepsias não controladas, menorragia, menstruação sem proteção interna, capacidade vital significativamente limitada (inferior a 1.500 ml) insuficiência renal grave e febre. FÍSTULA É a comunicação entre a pele e um órgão interno, como a fístula traqueocutânea, que é uma comunicação entre a traqueia e a pele. MENORRAGIA Aumento excessivo da quantidade do fluxo menstrual. CAPACIDADE VITAL A capacidade vital é mensurada pelo espirômetro, ao realizar uma inspiração forçada e, em seguida, uma expiração também forçada, o volume de ar expelido pode chegar a cerca de 4,5 ou 5 litros. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Infecções bacterianas como a tuberculose e infecções virais como gripe e pneumonia, geralmente, são acompanhadas de grande astenia (perda ou diminuição da força), febre e mal-estar, portanto, exercícios seriam totalmente inapropriados neste momento, ainda mais em um ambiente aquecido, além do risco de transmissão. Nestes casos, o tratamento deve ser médico. As pequenas feridas abertas podem ser uma contraindicação relativa se não estiverem infectadas e as suas características permitirem a utilização de proteção impermeável como o tegaderm, sendo exemplo de uma condição que requer cuidado. No pós-operatório, é recomendado que os exercícios em piscina sejam feitos após a retirada dos pontos e com a pele já cicatrizada, para evitar o risco de infecções. ATENÇÃO A pressão hidrostática gera resistência à expansão do tórax e consequente redução da complacência pulmonar. Caso seja eleito o tratamento em piscina para pacientes com capacidade vital de 1,5 ml, deve ser feita uma cuidadosa avaliação, e considerar que doenças degenerativas progressivas com a evolução da doença afetam a capacidade vital, devendo estar sempre atento ao planejamento da conduta. A osteoporose não é uma contraindicação, uma vez que geramos sobrecarga nos exercícios realizados na piscina e sem o risco da queda, porém, quando temos pacientes com quadros mais severos, passa a ser uma condição que requer cuidado, principalmente na entrada e saída da piscina e nos espaços do setor. EQUIPAMENTO AQUÁTICO O paciente recebe um diagnóstico cinético-funcional, para então ser traçado o plano de tratamento, lembrando que esta avaliação deve ser em solo e na água. Solo - Para avaliar as verdadeiras demandas para as atividades da vida diária (AVDs), as capacidades motoras e cognitivas, e entender o contexto psicossocial em que vive, como se tem algum cuidador, se tem escadas em casa, apoio da família, ou seja, o contexto ambiental para contribuirmos com o nosso atendimento. Água - A avaliação na água também é muito importante, pois, quando entramos com o paciente neste ambiente, percebemos a sua adaptação ao meio líquido. É neste momento que entram os equipamentos, tanto os externos, como elevador de transferência, rampas ou escadas, corrimãos, quanto os equipamentos que serão utilizados dentro da piscina. A escolha do equipamento dependerá do objetivo do tratamento e do método a ser empregado. Se queremos trabalhar com o paciente em decúbito dorsal para promover o seu deslizamento na água, alongamento, tração ou até mesmo fortalecimento, devemos utilizar colete cervical, colete lombar, caneleira em E.V.A flutuantes ou hidro tubo (macarrão). Fonte: Shutterstock Figura 10: Paciente com flutuadores possibilitando deslizamento e trações. Fonte: Shutterstock Figura 11: Nadadeiras utilizadas para aumentar a resistência em exercícios dos membros inferiores. Quando o objetivo é o fortalecimento com o paciente em pé, podemos utilizar halteres e caneleiras em E.V.A. ou em material plástico, de diferentes formatos e tamanhos, considerando que a resistência estará relacionada à área de arrasto da água, à velocidade e à turbulência gerada pelo equipamento ao ser movido na água. As nadadeiras são uma excelente opção para gerar grande resistência, quando trabalhamos com atletas, por exemplo, na fase final da reabilitação. Se o objetivo for realizar um trabalho proprioceptivo, podemos utilizar pranchas de natação, ou equipamentos adaptados para esta finalidade. O step especialmente projetado para ser utilizado em piscinas é indicado quando queremos simular degraus, ou realizar um trabalho com o paciente mais elevado na piscina, para reduzir o efeito da flutuação, por exemplo. Bicicletas e esteiras subaquáticas feitas em aço inoxidável podem ser uma ótima opção, se não comprometerem o espaço da piscina, para a realização de trabalhos aeróbicos e de resistência, com a vantagem de redução da sobrecarga articular. Temos ainda brinquedos que podem ser fixados na parede da piscina, e os que flutuam para realização de atividades lúdicas infantis. Existem métodos desenvolvidos especificamente para estimular o desenvolvimento psicomotor infantil, como o Hallwick, que foi criado para ensinar crianças com paralisia cerebral a nadar. HALLWICK O Método Halliwick foi criado por James McMillan, em 1949, na cidade de Londres. Realizado em ambiente aquático, onde sua filosofia como abordagem terapêutica busca a promoção do bem- estar de estruturas físicas e função corporal, o que melhorará o aprendizado motor e a independência funcional. ATENÇÃO Os benefícios gerados para as crianças são inúmeros, como alívio da dor no pós-operatório da articulação do quadril, realização de posturas que, muitas vezes, não são possíveis de serem realizadas em solo, preparação para aquisição da marcha e da postura ortostática. Pode ainda auxiliar na adequação do tônus postural, principalmente, na redução da hipertonia, pelo somatório do aquecimento da água com a flutuação. Quando atendemos o público infantil, é importante adaptar o ambiente com cores, e objetos estimulantes para a idade. javascript:void(0) Podemos utilizar ainda em nossas sessões os grandes colchões flutuantes que facilitam a estabilização de gestantes, quando não é adequado o uso do cinto flutuador e, para crianças, quando realizadas atividades em grupo. As sapatilhas com sola antiderrapante são uma boa alternativa para pacientes que possam sentir alguma instabilidade e insegurança, facilitando as atividades realizadas em pé na piscina, como a marcha e a corrida. PROFUNDIDADE DA PISCINA E TEMPERATURA DA ÁGUA A melhor profundidade na reabilitação é algo que dependerá muito do método escolhido. Por exemplo, nos exercícios que usam flutuadores e o fisioterapeuta auxilia na execução, devendo para tal permanecer com os pés afastados para ter uma base mais estável, o ideal é que tenha uma profundidade em torno de 0,90 a 1,20m (FORNAZARI, 2012). Segundo Biasoli e Machado (2006), a profundidadede 1,35 m é ideal para grande parte dos tipos de terapia, considerando que a água estando na altura do processo xifoide gera uma redução do peso corporal em até 70%, o que já é significativo para a redução das sobrecargas articulares e consequente facilitação dos exercícios. Não podemos nos esquecer da pressão hidrostática sobre o tórax, com o nível da água na altura dos ombros, por exemplo, que ocasiona uma resistência para os movimentos inspiratórios, podendo dificultar a respiração e gerar desconforto ao paciente. ATENÇÃO A temperatura ideal para a piscina com finalidade terapêutica oscila entre 32 e 34 oC, mas dependendo do método empregado, como os que propõem relaxamento com movimentos passivos, o aquecimento da água pode chegar a 36 °C. No tratamento voltado para o paciente com diagnóstico de esclerose múltipla e síndrome de Down, a temperatura deve ser mais amena, para não haver uma diminuição, ainda maior, do tônus muscular nesses pacientes. SEGURANÇA E CONFORTO Quando avaliamos, devemos considerar qual a relação do paciente com o meio aquático, se já existe uma adaptação ou uma fobia a este ambiente. Caso o paciente não tenha uma boa relação com piscinas, devemos deixar claro que ele terá todo o suporte pelo fisioterapeuta e que passará por uma fase de adaptação inicial. É importante neste momento manter o contato físico e visual com o paciente. Quando optamos por utilizar equipamentos, como flutuadores, estes devem garantir uma posição confortável durante a execução do movimento. Obviamente, além da segurança e do conforto na piscina, todo o setor deve ser planejado ou adaptado, de forma a permitir o deslocamento do paciente e seu possível acompanhante, com pisos antiderrapantes, corrimãos no acesso à piscina e no seu interior e banheiros adaptados. Fatores como a adaptação do setor aquático, a avaliação em solo, a percepção da desenvoltura do paciente na água, e ainda as suas capacidades de deslocamento e de flutuação fazem parte do atendimento, e não somente a execução dos exercícios na piscina. Não podemos nos esquecer da atenção para a higiene, uma vez que trabalhamos com temperatura mais elevada, o que colabora para a proliferação de micro-organismos e fungos, tanto na piscina quanto nos equipamentos. RECOMENDAÇÃO O uso do ozônio para tratar a água das piscinas pode ser uma opção, sendo um gás natural com amplo espectro de ação sobre vários micro-organismos e que, a princípio, não irrita os olhos, a pele ou a mucosa dos usuários. DURAÇÃO DA SESSÃO A duração da sessão indicada é entre 20 e 50 minutos, pois devemos considerar se já existe uma adaptação ao ambiente aquático, a condição clínica do paciente e como ele poderá reagir aos efeitos fisiológicos da imersão. Devemos também considerar que, na água, ocorre uma maior excreção de sódio e potássio, o que pode levar a uma desidratação. Uma imersão muito prolongada aumenta a necessidade de urinar, e a pressão hidrostática sobre o tórax pode, inicialmente, gerar dificuldade para os movimentos inspiratórios, ocorrendo desconforto e ansiedade. ELABORANDO UMA SESSÃO DE HIDROCINESIOTERAPIA Todo paciente encaminhado para a hidroterapia deve passar por uma avaliação em solo e na água, pois sabemos que avaliar é fundamental para traçar os objetivos a curto e a longo prazo. O fisioterapeuta deve verificar se as contraindicações estão excluídas e se existe alguma condição que requer cuidado. No entanto, quando falamos em avaliação, devemos dar uma abordagem mais ampla que a física, motora, indicações e contraindicações. É preciso lembrar que vivemos inseridos em um ambiente e que o meio pode influenciar positiva ou negativamente a doença. Sabendo da importância da Reabilitação Aquática para pacientes seriamente comprometidos e de todos os benefícios trazidos para o seu aspecto motor, psicológico e de socialização, seria um erro pensar na Fisioterapia Aquática como uma opção de reabilitação somente para os que podem pagar pelo atendimento. É sempre uma grande vitória quando conseguimos inserir centros de reabilitação aquáticos em serviços de saúde voltados à comunidade, oportunizando a todos o contato com a piscina terapêutica. Dentro desta evolução da Fisioterapia, na abordagem social, devemos saber que o fisioterapeuta deve adotar a Classificação Internacional de Funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF), segundo recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme determinação da Resolução nº 370 do COFFITO de 2009. SAIBA MAIS O CIF é um instrumento de avaliação biopsicossocial e não somente biomédico. Deixamos de ter um foco nas alterações físicas e funcionais, ou seja, na doença em si, e passamos a considerar fatores como a execução de tarefas pelo indivíduo, como tomar banho, a sua participação como a inclusão, aceitação e acesso a recursos, e ainda os fatores ambientais que constituem o ambiente físico e social em que o paciente vive. Portanto, devemos incluir na avaliação os conceitos da CIF para um atendimento eficaz e que faça diferença na vida do paciente e de sua família, possibilitando ainda através dos dados coletados a sua utilização como uma ferramenta clínica, de pesquisa e de políticas públicas, como apontar a dificuldade de acesso por falta de transporte até a necessidade real de ampliação do atendimento Fisioterapêutico. Já em uma abordagem física, podemos aplicar diversos modelos de avaliações. Os critérios como idade e patologia vão influenciar diretamente na escolha do teste a ser aplicado. Outro fator que deve ser considerado é a indicação da conciliação da terapia em solo com a terapia aquática, para adaptar o paciente às atividades diárias com as sobrecargas geradas pela ação da gravidade. Veremos a seguir um roteiro de avaliações proposto por Barbosa et al. (2006), que traz adaptações para sua aplicação na Fisioterapia Aquática, sendo um modelo exemplificativo do que pode ser utilizado na prática clínica. AVALIAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA AQUÁTICA Data: ___/___/___ * * dado fundamental, sendo muito útil como parâmetro para a reavaliação. Avaliador:___________Supervisão: ________ O avaliador pode ser um estagiário sob supervisão e orientação do fisioterapeuta. Diagnóstico clínico:___________ (pode ser o CID, por exemplo: CID 10 - Q90 que corresponde ao código alfanumérico da síndrome de Down) Diagnóstico Fisioterapêutico:______________ I PARTE: SOLO DADOS PESSOAIS: Nome:_____________________ Nome social: ____________________ NOME SOCIAL Pode ser que o paciente tenha identificação com nome e gênero diverso do descrito em documento de identificação. Neste caso, o nome social deve ser utilizado. 2. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) Prefiro não responder ( ) javascript:void(0) Outros ( ) Idade:____________(relevante para a escolha do teste de avaliação mais indicado, informação útil para a aderência do paciente em atividades em grupo, como de idosos e crianças). Profissão:________________ (a que realmente se ocupa, não somente a que tem formação, para identificar as sobrecargas vivenciadas no contexto laborativo). Estado Civil: Endereço.:_____________ Telefone.: ____________ Tel. para emergência:_______________ Médico:___________(se existe algum acompanhamento médico ou algum indicado para situação de emergência) Especialidade:________ Tel.:______________ Cirurgias prévias: _____________(importante para identificar se existem condições que requerem cuidados, como uma cirurgia cardíaca, ou movimentos que devem ser evitados ou mais controlados, como a abdução do quadril após artroplastia) Uso de medicamento: ( ) Não ( ) Sim Qual?____________ Muitas vezes, é relatado câimbra após a utilização do medicamento ou fraqueza muscular, o que pode comprometer a execução dos exercícios, devendo esta condição ser levada ao médico para reavaliação. História da doença atual (HDA): ___________ Registro da doença, com seus sintomas, quando iniciou e se houve evolução ou períodos de remissão. História MédicaPregressa ou História Patológica Pregressa (HMP ou HPP): ________ Informações sobre a história médica do paciente, mesmo das condições que aparentemente não estejam relacionadas com a doença atual. Essas informações fornecidas no roteiro permitem um raciocínio sobre possíveis relações com os sintomas apresentados, como alguma cirurgia que deixou no corpo uma grande cicatriz que pode ter gerado resistência tecidual, restrição de movimento e consequente dor. Dados vitais: Pressão arterial Frequência cardíaca Peso Altura Fonte: Shutterstock Figura 12: Avaliação postural no plano frontal. Avaliação postural: A avaliação postural é fundamental para que se possa traçar um plano de intervenção. Podemos dividir esta avaliação em estática e dinâmica. A avaliação estática pode ser realizada no plano frontal e sagital para identificação de desvios posturais. Fonte: Shutterstock Figura 13: Avaliação da marcha. A avaliação dinâmica é realizada para observação dos ciclos da marcha, como fase de apoio e de balanço. Avaliação segundo Escala de Oxford adaptada 0 - Ausência de contração 1 - Tremulação de contração 2 - Movimento com a gravidade contrabalançada 3 - Movimento contra a gravidade 4 - Movimento contra a gravidade e resistência 5 - Normal Fonte: Shutterstock Figura 14: Avaliação da amplitude articular da articulação do ombro. Mobilidade articular: Pode ser através de uma observação subjetiva visual, conforme apresentada na figura, podendo ser validada essa observação de forma objetiva através do emprego do goniômetro. GONIÔMETRO Aparelho específico para a mensuração dos ângulos de movimentações das articulações. javascript:void(0) Fonte: Shutterstock Figura 15: Medida do perímetro do braço. Testes especiais: Avaliar sensibilidade, testes palpatórios, de rigidez ou resistência muscular durante os movimentos, causados por alteração de tônus, e a perimetria (medidas da circunferência das segmentos corporais), podendo indicar uma hipotrofia de um membro em relação ao outro, sendo uma consequência após prolongado tempo de imobilização ou desuso. As imobilizações podem ser ativas e passivas. As imobilizações passivas são aquelas feitas por gesso, tala, ou qualquer dispositivo que imobilize o segmento corporal, já as imobilizações ativas são as realizadas pelo próprio paciente, que, por sentir dor durante o movimento, prefere não mover o membro, criando uma postura antálgica (alteração postural como forma de adaptação à dor). Fonte: Shutterstock Figura 16: Exemplo de imobilização passiva. Fonte: Shutterstock Figura 17: Exemplo de imobilização ativa, quando vemos que a dor restringe a movimentação normal. Em ambas as situações, se a imobilização permanecer por longo tempo, as consequências são prejudiciais como aderências teciduais, hipotrofia (redução da massa muscular), redução da força, má- nutrição articular, com consequente encurtamento e redução da capacidade funcional. Avaliação da intensidade da dor: A dor é um sintoma, ou seja, um dado subjetivo variando sua percepção individualmente em função de experiências culturais, fatores emocionais e ambientais. Podemos sugerir o emprego de duas escalas: Escala visual-numérica: O paciente localiza espacialmente a intensidade da sua dor marcando um X. Ex: 0__1__2__3__4__5__6__7__8__9__10 CLASSIFICAÇÃO DA DOR Zero (0) = Ausência de dor Um a três (1 a 3) = Dor de fraca intensidade Quatro a seis (4 a 6) = Dor de intensidade moderada Sete a nove (7 a 9) = Dor de forte intensidade Dez (10) = Dor de intensidade insuportável Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Escala comportamental: É atribuída uma nota ao comportamento da dor, questionando ao paciente a sua lembrança da dor em relação às suas atividades da vida diária. Nota Zero Dor ausente ou sem dor. Nota Três Dor presente, havendo períodos em que é esquecida. Nota Seis A dor não é esquecida, mas não impede exercer atividades da vida diária. Nota oito A dor não é esquecida e atrapalha todas as atividades da vida diária, exceto alimentação e higiene. Nota Dez A dor persiste mesmo em repouso, está presente e não pode ser ignorada, sendo o repouso imperativo. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal II PARTE: AQUÁTICA Tipo de entrada na piscina: ( ) Independente pela escada / rampa ( ) Com auxílio pela escada / rampa ( ) Com cadeira de rodas pela rampa ( ) Elevador de transferência ( ) Pela borda com auxílio do fisioterapeuta Fonte: Shutterstock Figura 18: Elevador de transferência. Medo de entrar na água: ( ) Sim ( ) Não ATENÇÃO Quando o paciente tem receio de estar na água, ou até mesmo fobia (medo exagerado), pode ser usada técnicas para entrada e de adaptações mentais em meio aquático. Avaliação de habilidades dentro da água Verificar a capacidade de flutuabilidade, marcha e corrida, por exemplo, estas habilidades devem ser avaliadas para auxiliar no planejamento dos exercícios de acordo com as capacidades pré-existentes, servindo de parâmetro para a reavaliação. Força muscular: Avaliar segundo Escala de Oxford adaptada 1 Contração com a flutuação auxiliando 2 Contração com a flutuação contrabalançada 2+ Contração contra a flutuação 3 Contração contra a flutuação com velocidade 4 Contração contra a flutuação + pequeno flutuador 5 Contração contra a flutuação + grande flutuador Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Recomenda-se que solicite a máxima velocidade possível para o paciente na execução do movimento. Avaliação da intensidade da dor após imersão: Ex: 0__1__2__3__4__5__6__7__8__9__10 CLASSIFICAÇÃO DA DOR Zero (0) = Ausência de dor Um a três (1 a 3) = Dor de fraca intensidade Quatro a seis (4 a 6) = Dor de intensidade moderada Sete a nove (7 a 9) = Dor de forte intensidade Dez (10) = Dor de intensidade insuportável Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Após a avaliação, passamos para a elaboração da sessão de hidrocinesioterapia, considerando os dados colhidos e os objetivos traçados em conjunto com o paciente e o cuidador. A avaliação é uma fase extremamente necessária para a construção de um plano de atendimento, tomando conhecimento dos facilitadores e das barreiras enfrentadas pelo paciente e cuidador, fazendo uma abordagem em que haja uma transferência real do trabalho realizado na Reabilitação Aquática para a vida do paciente. É preciso pensar no mecanismo gerador da dor, como, por exemplo, saber se a dor é irradiada, em que momentos do dia mais incomoda, se alivia com algum movimento, ou seja, a classificação da dor ajuda a pensar no diagnóstico e no tratamento, sendo importante na decisão terapêutica. EXECUÇÃO DE EXERCÍCIOS NA ÁGUA Embora os exercícios realizados na piscina apresentem uma demanda muscular diferente dos exercícios executados no solo, os tipos de movimentos realizados na água seguem o mesmo raciocínio do atendimento em solo, podendo ser: Passivo Ativo Ativo-assistido É importante considerar as propriedades físicas da água, as condições fisiológicas e estruturais do paciente, a sua ambientação aquática e os equipamentos a serem utilizados. A sequência dos exercícios em uma sessão de hidrocinesioterapia pode ser exemplificada da seguinte forma: 5 a 10 minutos de aquecimento 20 a 30 minutos de alongamento, fortalecimento, condicionamento cardiorrespiratório e exercícios proprioceptivoso 5 a 10 minutos de relaxamento As séries e as repetições vão sendo acrescidas conforme a evolução do paciente, o mesmo ocorre com a duração das sessões, que vão sendo adequadas conforme o caso clínico. Vamos verificar a seguir alguns exemplos de atividades. Figura 19: Observar a base látero-lateral que gera maior estabilidade para a realização de exercícios realizados em posição ortostática. Figura 20: É necessário que os halteres estejam submersos paraaproveitarmos ao máximo as propriedades físicas da água. Figura 21: Exercício proprioceptivo na prancha. Figura 22: Exercício realizado em grupo é indicado para atividades preventivas com indicações clínicas afins e idades semelhantes. EXERCÍCIOS SUGERIDOS PARA TRATAMENTO DE ARTRITE REUMATOIDE EM IDOSOS (PIRES E MEJIA, S.D.). Fonte: Adaptado de Pires, 2017 Figura 23: Exercício de controle respiratório. Exercício 1 – Controle respiratório (adaptação ao meio aquático) Posição semissentada sem apoio posterior, com imersão no nível dos ombros. Com os ombros flexionados à 90º e cotovelos em extensão. Atividade: Expirar lenta e prolongadamente pela boca sobre a água, com boca imersa e posteriormente com boca e nariz imersos. Fonte: Adaptado de Pires, 2017 Figura 24: Exercício de alongamento dos músculos isquiotibiais. Exercício 2 – Alongamento dos músculos isquiotibiais Em posição ortostática com as costas apoiadas na parede.Atividade: Elevar um dos membros inferiores, manter extensão do joelho e flexão dorsal do tornozelo. Este movimento também pode ser utilizado para fortalecimento dos músculos reto femoral, tensor da fáscia lata e iliopsoas na flexão do quadril e, no retorno (extensão), glúteo máximo e isquiostibiais, e ainda uma contração isométrica do músculo quadríceps para manutenção do joelho em extensão. O exercício pode ser potencializado com a colocação de uma caneleira flutuadora na parte distal da perna (tornozelo). Fonte: Adaptado de Pires, 2017 Figura 25: Exercício de alongamento dos músculos tríceps da perna e iliopsoas. Exercício 3 - Alongamento dos músculos tríceps da perna e iliopsoas Em posição ortostática, com as mãos apoiadas na borda da piscina. Atividade: Realizar um passo largo à frente, manter o joelho da perna da frente em flexão, e o joelho da perna de trás em extensão, mantendo os pés em contato com o chão da piscina. Fonte: Adaptado de Pires, 2017 Figura 26: Exercício para equilíbrio estático e dinâmico e força muscular. Exercício 4 - Exercícios para equilíbrio estáticos e dinâmicos e força muscular Atividade: Marcha para frente, impulsionando os membros inferiores com vigor. Os exercícios da marcha na água possuem uma mecânica muscular diferente da executada em solo, porém, são extremamente válidos por envolver músculos e transferências dinâmicas que também são solicitadas em solo. Fonte: Adaptado de Pires, 2017 Figura 27: Exercício de marcha para trás. Exercício 5 – Marcha para trás No estudo da neurociência, sabemos que as diversificações nos exercícios e de ambientes são altamente estimulantes para a neuroplasticidade cerebral e, nesta atividade, temos essas duas variáveis envolvidas: marcha para trás gerando um estímulo não usual e o ambiente aquático. NEUROPLASTICIDADE CEREBRAL Novas sinapses que ocorrem a partir de estímulos. A plasticidade neural é um objetivo nas reabilitações. Fonte: Adaptado de Pires, 2017 Figura 28: Exercício marcha lateral com passos largos. Exercício 6 – Marcha lateral com passos largos javascript:void(0) Com este exercício, trabalhamos os músculos adutores e abdutores de quadril, o equilíbrio e o controle do tronco. Fonte: Adaptado de Pires, 2017 Figura 29: Flexão e extensão de ombros bilateral. Exercício 7 – Flexão e extensão de ombros bilateral Em posição semissentada. Atividade: Realizar flexão e extensão de ombros mantendo cotovelos em extensão. Iniciar em hiperextensão máxima dos ombros até flexão a 90°. Fonte: Adaptado de Pires, 2017 Figura 30: Exercício de adução e abdução dos ombros bilaterais. Exercício 8 – Adução e abdução dos ombros bilaterais Em posição semissentada, ombros fletidos a 90º, cotovelos estendidos. Atividade: Iniciar em adução até 90º de abdução horizontal. É importante observar que os ombros devem estar submersos para aproveitar os benefícios proporcionados pelas propriedades físicas da água. FATORES QUE DEVEM SER CONSIDERADOS NO PLANEJAMENTO DA REABILITAÇÃO AQUÁTICA VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COM RELAÇÃO ÀS INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES EM HIDROCINESIOTERAPIA, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Pacientes com febre alta, alterações cutâneas e descompensações cardíacas devem utilizar a água para melhora da condição. B) Pacientes com dor, limitação de arco de movimento, diminuição de força muscular e edema podem obter melhora através dos efeitos produzidos pelo exercício na água. C) Pacientes com alterações neurológicas só devem utilizar a piscina se apresentarem boa condição cognitiva. D) Pacientes com alterações reumáticas beneficiam-se dos exercícios aquáticos pelo maior atrito articular gerado pela imersão das articulações. E) Pacientes com alterações respiratórias não devem fazer exercícios na piscina já que o ambiente aquático sempre dificulta o trabalho respiratório. 2. OS EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NAS SESSÕES DE HIDROTERAPIA ACENTUAM OS EFEITOS DAS PROPRIEDADES FÍSICAS DA ÁGUA, AUXILIAM NA SUSTENTAÇÃO DO PACIENTE E PODEM TORNAR A TERAPIA MAIS LÚDICA. NO QUADRO ABAIXO, ESTÃO DESCRITOS ALGUNS DESSES EQUIPAMENTOS. TIPO 1 TIPO 2 TIPO 3 TIPO 4 ESCADAS COLAR CERVICAL HIDROTONE ESTEIRA SUBAQUÁTICA RAMPAS HIDROTUBO (MACARRÃO) PÉS-DE-PATO (NADADEIRAS) BICICLETA SUBAQUÁTICAS ELEVADORES DE TRANSFERÊNCIA COLETE PÉLVICO PALMAR STEP (DEGRAUS) ATENÇÃO! PARA VISUALIZAÇÃO COMPLETA DA TABELA UTILIZE A ROLAGEM HORIZONTAL BASEANDO-SE NO QUADRO ACIMA, RELACIONE RESPECTIVAMENTE AS COLUNAS 1, 2, 3 E 4 COM AS ALTERNATIVAS ABAIXO, REFERENTES AOS TIPOS DE EQUIPAMENTOS AQUÁTICOS, ASSINALANDO UMA ALTERNATIVA CORRETA: A) Equipamentos de acesso, equipamentos de flutuação, equipamentos recreativos e equipamentos de estações submersas. B) Equipamentos de acesso, equipamentos de resistência, equipamentos de flutuação e equipamentos de estações submersas. C) Equipamentos de flutuação, equipamentos de acesso, equipamentos de estações submersas e equipamentos recreativos. D) Equipamentos de acesso, equipamentos de flutuação, equipamentos de resistência e equipamentos de estações submersas. E) Equipamentos de flutuação, equipamentos de resistência, equipamentos de acesso e equipamentos de estações submersas. GABARITO 1. Com relação às indicações e contraindicações em hidrocinesioterapia, marque a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. A redução da força muscular por uma imobilização, seja ativa (o próprio paciente protege o segmento corporal não realizando movimentos), seja passiva (como gesso e talas), gera rigidez e consequente redução de amplitude, prejudicando as atividades diárias e, certamente, causando mais dor. Para quebrar esse ciclo vicioso, de dor → redução de movimentos → fraqueza muscular → redução da amplitude articular → e aumento da dor, devemos estimular a realização de exercícios que, neste caso, a piscina terapêutica seria uma excelente indicação, pela facilitação proporcionada por suas propriedades físicas. 2. Os equipamentos utilizados nas sessões de hidroterapia acentuam os efeitos das propriedades físicas da água, auxiliam na sustentação do paciente e podem tornar a terapia mais lúdica. No quadro abaixo, estão descritos alguns desses equipamentos. Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Escadas Colar cervical Hidrotone Esteira subaquática Rampas Hidrotubo (macarrão) Pés-de-pato (nadadeiras) Bicicleta subaquáticas Elevadores de transferência Colete pélvico Palmar Step (degraus) Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Baseando-se no quadro acima, relacione respectivamente as colunas 1, 2, 3 e 4 com as alternativas abaixo, referentes aos tipos de equipamentos aquáticos, assinalando uma alternativa correta: A alternativa "D " está correta. Os equipamentos são fundamentais para otimizar as propriedades físicas da água, como gerar maior resistência, flutuação, realização de atividades lúdicas, além de facilitar a entrada e saída dapiscina. Podemos citar os elevadores de transferência para acesso, coletes para flutuação, hidrotone gerando resistência e esteira subaquática para exercícios aeróbicos. MÓDULO 2 Reconhecer a Reabilitação Aquática e a sua aplicação em diversas patologias passíveis da sua utilização como abordagem de tratamento Fisioterapêutico ABORDAGENS DE TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO A hidrocinesioterapia é uma especialidade da fisioterapia que utiliza os efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos advindos da imersão em piscina aquecida. De acordo com o efeito desejado, podemos optar por diversas formas de intervenção na água, sempre com a redução de sobrecarga, facilitação da manipulação do paciente, redução da espasticidade e redução da dor. Por todos esses fatores, a eleição da Reabilitação Aquática é uma excelente opção de tratamento e prevenção nas mais diversas patologias, quadros clínicos e faixas etárias. A intervenção, muitas vezes, ocorre no pós-operatório, porém, o pré-operatório é um momento em que a fisioterapia pode trazer inúmeros benefícios, como preparar uma melhor condição física com redução de edema e dor, com consequente movimentação facilitada. É necessário envolver a família e os cuidadores no pré-operatório, para evitar a síndrome do imobilismo, que se caracteriza por um receio de se movimentar e de sentir dor. ATENÇÃO Lembrando que a mesma patologia pode se manifestar de formas diferentes entre dois indivíduos, devido ao contexto social, às experiências anteriores à lesão, ao suporte familiar e até mesmo às questões psicológicas frente à doença. Por isso, o atendimento, a avaliação e os objetivos devem ser sempre individualizados, mesmo para atividades em grupo. A hidrocinesioterapia pode ser usada em diversas áreas, abordando atualizações trazidas pelo III Congresso Brasileiro de Fisioterapia Aquática (2018). ABORDAGENS DIFERENCIADAS DA HIDROCINESIOTERAPIA EM DIVERSAS ÁREAS EXERCÍCIOS AQUÁTICOS NA DOR NEUROPÁTICA A dor neuropática é aquela causada por lesão ou doença do tecido nervoso, como as lesões traumáticas de nervos periféricos, como o membro fantasma e a dor do coto. Porém, embora estes pacientes apresentem a dor por causa neuropática, eles podem também apresentar a dor nociceptiva, em decorrência da fraqueza muscular, espasticidade (que aumenta tensão nos tendões e nas enteses), desequilíbrios de forças musculares e hipomobilidade. DOR NOCICEPTIVA Dor proveniente de tecidos não nervosos, como músculos e articulações. ENTESES Local de fixação dos tendões no osso. javascript:void(0) javascript:void(0) COMENTÁRIO O mesmo movimento deficitário por questões neurológicas pode ser suficiente para gerar um processo de cronificação da dor. A inatividade física é um fator por si só facilitador da dor. Precisamos de um paciente ativo e engajado, sendo uma grande estratégia para a diminuição da dor através da utilização do movimento. Não podemos esperar a dor passar, para iniciar o trabalho de movimento, por isso, a água aquecida com todo mecanismo de redução da dor é uma grande aliada no tratamento do paciente neurológico. O benefício do efeito térmico, que é o resultado do calor, merece destaque atuando na vasodilatação, elevação dos níveis de beta-endorfina e relaxamento muscular. BETA-ENDORFINA Seus efeitos principais, ao serem lançados na corrente sanguínea, são diminuição da sensação dolorosa, e facilitação de sensações de relaxamento e bem-estar. Foi observado efeito positivo no tratamento da sintomatologia dolorosa nos pacientes com fibromialgia, hérnia de disco e dor lombar e síndromes dolorosas pós-afecções do sistema nervoso periférico e sistema nervoso central. FISIOTERAPIA AQUÁTICA POSTURAL As fibras musculares responsáveis pela manutenção postural atuam constantemente para nos equilibrar contra a ação da gravidade, ou seja, para nos manter eretos, por isso, é necessário um trabalho constante de alongamento e fortalecimento, a fim de favorecer o equilíbrio entre as cadeias musculares. VOCÊ SABIA javascript:void(0) A teoria de que os nossos músculos são interligados por fáscias, formando grandes cadeias mestras, como a cadeia posterior que tem a função de oposição à ação da gravidade, teve origem na França, sendo revelada por Françoise Mézières na década de 60. Atualmente, temos várias teorias e escolas que seguem o raciocínio de Mézières, principalmente quando falamos em trabalhos posturais. Quando pensamos na Reabilitação Aquática, podemos empregar este conhecimento, tanto para a avaliação, quanto para o tratamento. O ambiente aquático torna-se excelente para a promoção da saúde postural, pois o empuxo alivia o peso corporal, a redução de sobrecarga sobre a cadeia muscular antigravitacional, a liberação miofascial e ainda possibilita a tração da coluna vertebral quando posicionamos o paciente com flutuadores fazendo deslizamentos na água. É de extrema importância que o fisioterapeuta faça orientações posturais para que o paciente tenha consciência nas suas atividades diárias, pois precisamos de um paciente colaborador para que se obtenha eficácia no tratamento. Fonte: Shutterstock Figura 31: Orientações posturais quanto à forma de sentar-se, essencial para pacientes que passam horas sentados no posto de trabalho. FISIOTERAPIA AQUÁTICA EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN A Síndrome de Down pode gerar uma alteração das funções cognitivas e das habilidades motoras, que se manifestam por características estruturais cerebrais e alterações de maturação, levando a comprometimentos psicomotores. Consequentemente, conforme o acometimento da área encefálica afetada, a criança pode apresentar hipotonia, distúrbios de equilíbrio e dificuldades para a coordenação dos movimentos. HIPOTONIA O termo hipotonia refere-se a uma diminuição do tônus muscular, sendo considerado, na grande maioria dos casos, um sintoma de disfunção neurológica. javascript:void(0) VOCÊ SABIA O tratamento na piscina terapêutica já foi por muitos anos uma contraindicação no tratamento da criança com Síndrome de Down, devido ao aquecimento da água e ao relaxamento proporcionado, o que poderia exacerbar a hipotonia, uma característica da síndrome. Atualmente, o entendimento foi alterado, pois a despeito da temperatura aquecida, a capacidade de movimentação gerada pelo ambiente aquático supera a hipotonia, sendo observado em estudos que crianças e adolescentes têm uma melhora com esta abordagem de tratamento, inclusive no que diz respeito ao tônus. É necessário enfatizar a abordagem sensorial e motora buscando movimentos através de um trabalho lúdico, postural e cognitivo. Deve ser facilitado o controle postural de tronco, e habilidades dos membros, buscando assim a maior autonomia possível. Considerando as propriedades físicas da água, como pressão hidrostática, empuxo e viscosidade, temos condições ideais para a estimulação sensório-motora deste paciente, além de estarmos em um ambiente agradável e lúdico. Pode ser uma opção o atendimento coletivo, com a participação de pacientes com a mesma faixa etária e indicações clínicas semelhantes, passando a ser um fator motivacional e de integração social. ATENÇÃO A hipotonia e a lassidão ligamentar geram dificuldade de vencer a ação da gravidade e adquirir as etapas relacionadas ao desenvolvimento motor, sendo a piscina uma facilitadora destes movimentos. A indicação da piscina terapêutica alcança todas as etapas da vida, beneficiando crianças, adolescentes e adultos que apresentam a síndrome de Down, favorecendo o trabalho de equilíbrio com uso da viscosidade e turbulência. Além desses benefícios, podemos apontar ainda os efeitos sobre o trato respiratório, através da pressão hidrostática, a redução de sobrecarga articular e o controle postural, fatores que auxiliam na qualidade de vida do Down. Devemos atuar de forma preventiva para minimizar as complicações ortopédicas ou, quando já instaladas, realizar um trabalho de redução da dor e melhoralinhamento corporal. As alterações podem se manifestar através da: Escoliose Instabilidade da articulação do quadril Luxação ou subluxação patelar Pés planos e instabilidade de tornozelo, causados por lassidões ligamentares Hipotonia Sedentarismo Fonte: Shutterstock Figura 32: As etapas do desenvolvimento motor infantil precisam ser conhecidas pelo fisioterapeuta para o atendimento pediátrico. O fisioterapeuta deve ter um sólido conhecimento do desenvolvimento psicomotor para a elaboração de um planejamento adequado de condutas, e ainda conscientizar a importância do apoio familiar neste processo. As doenças cardíacas podem cursar muitas vezes com a síndrome, havendo diversas formas clínicas de manifestação, porém, quando se apresentam da forma mais leve e controlada, não caracterizam uma contraindicação. Dentre as condições que requerem cuidado, temos a instabilidade atlanto-axial, que acomete aproximadamente 15% das crianças com síndrome de Down, sendo um movimento maior que o usual entre a primeira e a segunda vértebra cervical. Na maioria das vezes, é detectada em radiografias após os três anos de idade. Por isso, devemos ter cuidado nos movimentos que envolvam a região cervical ou no manuseio dos flutuadores cervicais, principalmente, em bebês, quando ainda não há o diagnóstico. Fonte: Shutterstock Figura 33: Exercício com suporte de flutuadores com paciente posicionado em prona, estimulando a sustentação do tronco, controle postural, e facilitando a movimentação dos membros inferiores. Fonte: Shutterstock Figura 34: Articulação atlanto-axial que pode apresentar instabilidade na síndrome de Down. FISIOTERAPIA AQUÁTICA PARA DEFICIENTES VISUAIS A autonomia, a possibilidade de locomoção e a independência funcional devem ser os principais objetivos na abordagem com deficientes visuais, sendo necessário desenvolver um sistema de localização e direção através da utilização dos sentidos remanescentes, como o tato e a audição. A visão é promotora de integração entre as atividades perceptivas, mentais, motoras e cognitivas, sendo uma consequência da sua deficiência um comprometimento de orientação espacial, do controle postural, da deambulação e de aquisições motoras na infância. A atuação da fisioterapia aquática será no sentido da promoção do desenvolvimento psicomotor, ou da reabilitação quando já instalados comprometimentos e ainda na prevenção de desajustes posturais. As complicações que podem surgir pela redução da mobilidade são a obesidade, o diabetes, a hipertensão e o risco de quedas, sendo uma função do fisioterapeuta orientar o paciente e a família quanto a hábitos saudáveis, estimulando a prática das atividades físicas, deixando claro que essas mudanças impactarão positivamente nas habilidades motoras do paciente. Os exercícios em ambiente aquático podem ser lúdicos e tridimensionais, ou seja, movimentos que se aproximem da vida diária, e ainda sendo feitos de forma segura, uma vez que a viscosidade enquanto propriedade física da água gera um tempo de reação maior para recuperar o equilíbrio e retomar a posição. Como sugestão de atividades objetivando o equilíbrio e o controle postural, podemos utilizar a turbulência e a transposição de obstáculos com uso de steps, por exemplo. Em relação ao condicionamento cardiorrespiratório, uma indicação pode ser a corrida, a bicicleta aquática e ainda acrescentar o uso de caneleiras aquáticas para aumentar a resistência durante as atividades aeróbicas. Essas atividades podem ser realizadas em profundidades menores para aproximar os exercícios das atividades realizadas em solo, proporcionando múltiplas experiências corporais. Fonte: Shutterstock Figura 35: Exercício de condicionamento físico em bicicleta aquática, sendo executado de forma segura e com redução de sobrecarga. Marques et al. (2015) avaliaram os benefícios da Fisioterapia Aquática nos sistemas musculoesquelético, cardiorrespiratório e no índice de qualidade de vida em um estudo de caso, empregando um protocolo de exercícios com comandos áudio-táteis, realizados em 24 sessões, com duração de 50 minutos cada e frequência de 2 vezes por semana. ATENÇÃO Como resultado do estudo, foi verificado aumento da força muscular em membros superiores e inferiores e ganho de flexibilidade. Estes ganhos refletiram na melhora no teste de velocidade da marcha, na capacidade inspiratória e da qualidade de vida, concluindo que um protocolo adaptado para deficientes visuais pode ser um aliado nas capacidades funcionais do deficiente visual. FISIOTERAPIA AQUÁTICA NA QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS Por definição da Organização Mundial de Saúde, é considerado idoso o indivíduo a partir dos 60 anos de idade. Segundo dados de IBGE (2019), o Brasil tem mais de 28 milhões de pessoas nessa faixa etária, o que representa 13% da população do país. A perspectiva é que esse percentual dobre nas próximas décadas. Macedo et al. (2019) realizaram um estudo sobre idosos com fratura do fêmur que utilizaram o serviço de saúde pública, entre 2007 e 2016, em todas as regiões do país e seus respectivos estados. Verificaram um gasto médio anual de R$ 85.839.680,38, sendo claramente um problema de saúde pública que onera o Estado e gera consequências danosas para os pacientes, ou até a morte. As quedas em idosos podem causar diversas comorbidades, como a síndrome do imobilismo, restrições de movimento e dependência para as atividades diárias, podendo levar ao comprometimento da autonomia e à consequente redução na qualidade de vida. A hidrocinesioterapia apresenta-se como um excelente recurso, tanto na prevenção, manutenção da saúde e reabilitação nas disfunções físicas relacionadas ao envelhecimento. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS As propriedades físicas da água como empuxo, reduzindo as sobrecargas sobre as articulações por redução de peso corporal, e a viscosidade que reduz o medo da queda vão permitir a execução de movimentos e exercícios que não poderiam ser feitos em solo. Sabemos que os exercícios são uma forma de intervenção não farmacológica que atua no sistema imunológico, metabólico, cardiocirculatório, melhorando o funcionamento ósteo-mio- articular, auxiliando ainda no metabolismo ósseo, controle do peso corporal e melhora nas reações de equilíbrio. Por todos esses motivos, devemos sempre incentivar a prática de atividade física, independentemente da faixa etária e, principalmente, em idosos, fazendo um trabalho de promoção de saúde e prevenção do risco de quedas. Ainda, temos o benefício da socialização, podendo ser uma excelente opção as atividades realizadas em grupo. Fonte: Shutterstock Figura 36: Idosos realizando atividade em grupo. FISIOTERAPIA AQUÁTICA NA DOENÇA DE PARKINSON Na doença de Parkinson, temos uma classe de sintomas que podem gerar menor repercussão para o movimento como o tremor, rigidez e a postura flexionada, e alguns que geram maior dificuldade para a execução dos movimentos como a bradicinesia (Lentidão na execução do movimento) , o congelamento e as perdas dos reflexos posturais. ATENÇÃO No programa de reabilitação do movimento funcional, devemos pensar nestes sintomas e como eles podem gerar interferência nas atividades musculoesqueléticas e no equilíbrio. Podemos planejar algumas intervenções específicas, como a que denominamos de “balance”, que consiste em respostas posturais antecipatórias que foram desenvolvidas ao longo da vida através de uma reserva cognitiva e motora, para se antecipar às situações que poderiam levar ao desequilíbrio. Para facilitar as respostas de equilíbrio, podemos pensar em exercícios de fortalecimento para membros inferiores realizados através de agachamentos, por exemplo, e atividades do músculo tríceps da perna que podem agir de forma estratégica nos ajustes posturais. Devemos ainda trabalhar exercícios de marcha na piscina, obstáculos e de propriocepção, em pranchas que gerem desequilíbrio, criando estratégiasde movimentos para que se possa interagir com o ambiente. É importante estimular as respostas antecipatórias para que se tenha maior confiança e habilidades nas atividades diárias. Estes objetivos são facilitados na água aquecida, por possibilitarem a redução do tônus muscular, atenuação do tremor e, consequentemente, rigidez. O funcionamento dos núcleos da base é afetado, o que gera um comprometimento do automatismo, e movimentos como a marcha passa a necessitar de um maior esforço e, consequentemente, ocorre uma ativação do córtex frontal, relacionado ao cognitivo, para auxiliar em tarefas que antes eram feitas de forma automática (FLORIANO et al., 2015). O cérebro passa a se ocupar com tarefas que antes eram realizadas de forma automática, levando a um prejuízo no desempenho da função cognitiva. Como resultado, ocorre uma dificuldade para a execução de duplas tarefas, como andar e atender o celular, devendo no programa de reabilitação criar situações que exijam dupla tarefa, com toda a segurança e facilitação do movimento proporcionado pela água. É importante planejar uma sessão para este paciente com obstáculos, como steps, gerar desequilíbrio com turbulência e, enquanto ele busca o equilíbrio para permanecer em pé, fazemos com que ele realize lançamentos e recepções de bolas com as mãos (dupla tarefa). É interessante solicitar marcha para trás e fazer perguntas simples para que ele responda enquanto se exercita (estímulo cognitivo e motor). PERGUNTAS SIMPLES Podemos perguntar nomes de bichos, nomes de pessoas, exemplos de bichos que sejam do mar, e outras mais, para estimular o componente cognitivo enquanto executa os movimentos. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS javascript:void(0) Podemos ainda fazer movimentos de rotação de tronco e membros superiores de forma geral para gerar instabilidade, para que, nas atividades diárias, ao utilizar os membros superiores, ele não se desequilibre. Uma forma de facilitar a execução dos exercícios quando associamos vários componentes motores é segmentar os movimentos, iniciando com a marcha para frente, para trás e para os lados, depois, acrescentar à marcha movimentos dos membros superiores para então trocar de lados (girar). As solicitações de tarefas motoras que exigem uma concentração e direcionamento cognitivo devem ser propostas, durante os exercícios, como pegar objetos de determinadas cores que estão flutuando na água, fazer determinados movimentos de membros superiores enquanto se desloca, entre outros, permitindo que as reações motoras passem a ter um caráter mais automático. Os exercícios orientados de forma a facilitar e ampliar as possibilidades de movimentos através de técnicas adequadas geram mudanças funcionais e estruturais do sistema nervoso, estimulando desta forma a plasticidade neural positiva. A doença de Parkinson, que é uma doença neurodegenerativa, é acompanhada de uma perda da neuroplasticidade, sendo os exercícios físicos uma das melhores formas de retardar esse processo. EXERCÍCIOS AQUÁTICOS NA SAÚDE DA MULHER Os exercícios aquáticos na saúde da mulher são indicados para gestantes, alterações ginecológicas, incontinências urinárias e mastectomia. ATENÇÃO A hidrocinesioterapia em relação à mulher gestante pode ser extremamente benéfica. Atua na prevenção do excesso de peso, na prevenção da lombalgia, redução das queixas relacionadas às varizes e aos edemas de membros inferiores, facilitando ainda o trabalho do parto e pós-parto. Algumas desordens também podem ser evitadas, como a diabetes gestacional, tudo isto facilitado pelas propriedades físicas da água, como o empuxo, reduzindo as sobrecargas articulares e a pressão hidrostática auxiliando no retorno venoso (REBESCO et al., 2016). As restrições de movimento causadas pela lombalgia, edemas de membros inferiores e sobrepeso podem ser prevenidas se iniciarmos um programa de exercícios na água precocemente, ainda no início da gestação. Na piscina, os músculos do assoalho pélvico também podem ser treinados em ambiente aquático no tratamento de patologias que repercutem nesta musculatura, como a incontinência urinária de esforço, as disfunções sexuais e a dor crônica pélvica, muitas vezes, causada por desequilíbrio nos músculos de sustentação do assoalho pélvico. Fonte: Shutterstock Figura 37: Músculos do assoalho pélvico. É importante trabalhar a consciência da musculatura do assoalho pélvico e, a partir desta consciência, podemos exercitar a força e a resistência desta musculatura, sendo etapas de um processo pedagógico do movimento, tendo a temperatura aquecida como um facilitador para estas etapas na redução do quadro álgico. São interessantes exercícios sentados sobre a bola suíça (deve ser enchida com água também para que não flutue) dentro da piscina trabalhando a consciência perineal, de forma que a mulher possa perceber a musculatura que deve ser exercitada com movimentos de anteroversão, retroversão e percepção dos ísquios. Os mesmos exercícios podem ser realizados com o suporte do flutuador de espuma (macarrão). EXEMPLO Temos ainda a mulher atleta que tem um histórico, desde a Grécia antiga, de dificuldades e luta para sua inserção no esporte, mas que tem cada vez mais se envolvido e destacado em práticas desportivas. Porém, muitas vezes, os acessórios utilizados no esporte não se adaptam ao corpo feminino, passando por diversas situações que geram impacto negativo como o selim de bicicletas, afetando a saúde pélvica da mulher ciclista. Merecendo ainda um olhar específico para questões relacionadas à incontinência urinária e às disfunções do assoalho pélvico em relação às atletas de forma geral. OS BENEFÍCIOS DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA PARA CRIANÇAS PORTADORAS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA O autismo é caracterizado como um transtorno do neurodesenvolvimento, sendo necessário identificar prejuízos clinicamente significativos em três áreas: Interação social Comunicação Linguagem Na comunicação social, que é ampla, pode-se envolver a capacidade da fala, dificuldade em iniciar amizade e sustentá-la, além de expressar emoções e dificuldade de reconhecer a emoção do outro. Há interesses fixos e estereotipados sem função, a criança só faz uma coisa o dia inteiro, hipo ou hiper-reatividade a fatos e circunstâncias. O distúrbio afeta a comunicação, a capacidade de aprendizado e adaptação da criança em meio social, o que não podemos esquecer no planejamento da conduta de Reabilitação Aquática. Temos um histórico de modelo de atendimento em que o físico vinha em primeiro lugar, utilizando métodos especializados para tratar as dores e a fadiga. Porém, ao analisar a relação que o terapeuta estabelece com o paciente na água, percebemos que vai além do tratamento físico, pela relação de proximidade e confiança desenvolvida em um ambiente aconchegante, passando o tratamento a ser entendido como algo que deve ir além das técnicas e dos objetivos físicos, sendo importante respeitar o momento do paciente, e não agir, neste caso, de forma cartesiana, devendo abordar o paciente em todas as dimensões. CARTESIANA Quem se pauta exclusivamente pela razão, que é exageradamente metódico e sistemático. Durante o atendimento, é possível tratar os componentes motores, cognitivos e sensoriais. Com o tempo, o atendimento da Fisioterapia Aquática alcançou as crianças, nos ensinando a trabalhar com o comportamento, que é uma característica da espontaneidade infantil. O meio aquático é um ambiente ideal, pois é capaz de permitir várias sensações e ações à medida que favorece a percepção sensorial e ambiental como a motora, com emprego de atividades lúdicas em um ambiente aconchegante e, na maioria das vezes, atraente para as crianças. ATENÇÃO javascript:void(0) Quando traçamos a conduta de intervenção, devemos pensar onde essa criança pode apresentar maior déficit, por exemplo: coordenação motora global e fina, equilíbrio do tronco, e prejuízo da integração verbal e não verbalda fala. Sabemos que a falta de vivências motoras gera exclusão, por isso, as funções motoras estão correlacionadas com a interação social. Diversos estudos mostram que exercícios físicos de intensidade moderada e atividades aeróbicas podem contribuir para a diminuição das estereotipias e melhorar as funções cognitivas. Portanto, estes tipos de exercícios devem ser inseridos no programa de tratamento. ESTEREOTIPIAS Ações repetitivas sem função, realizadas através de movimentos, postura ou fala. As atividades aquáticas, muitas vezes, são realizadas com maior facilidade do que em solo. Com isso é possível extrapolar os ganhos motores e contribuir para a sociabilidade, mudanças comportamentais e cognitivas. Técnicas com água evidenciam melhora motora, comportamental, nas habilidades aquáticas, diminuição das estereotipias, aumento da força muscular, melhora do equilíbrio, ganho de velocidade e de resistência cardiorrespiratória (BORGES et al., 2016). O fisioterapeuta deve ser inserido nas atividades multidisciplinares e interdisciplinares na abordagem da criança com o espectro autista, sempre lembrando que as atividades realizadas em água devem ser associadas às atividades em solo, de forma a contribuir para a totalidade do desenvolvimento. FISIOTERAPIA AQUÁTICA NA MIELOMENINGOCELE Trata-se de uma patologia relacionada à má-formação congênita do tubo neural, estando a medula, as raízes nervosas e as meninges expostas, o que leva a uma paralisia flácida e à alteração sensitiva abaixo do nível da lesão. Pode ser descoberta no período intrauterino, havendo a possibilidade de um procedimento cirúrgico corretivo enquanto ainda está na barriga da mãe, ou logo nos primeiros meses de vida. As alterações apresentadas podem ser ortopédicas, urológicas e neurológicas. Fonte: Shutterstock javascript:void(0) Figura 38: Bebê com mielomeningocele. As crianças podem chegar ao serviço de reabilitação com atraso psicomotor, mas, muitas vezes, não pela gravidade da lesão, e sim por falta de estímulo, até por uma proteção da família pelo processo cirúrgico que a criança foi submetida. Por isso, é extremamente necessária a orientação da família. ATENÇÃO As crianças com mielomeningocele apresentam predisposição para alergia ao látex, por estarem em contato desde bebês com sondas, luvas e outros materiais, devendo o fisioterapeuta estar atento na escolha dos brinquedos utilizados nas atividades. A incontinência urinária e fecal pode gerar a necessidade de usar fralda. Logo, as mães devem ser orientadas a realizarem o esvaziamento antes da entrada na piscina. Se a criança estiver passando por tratamento infeccioso urinário, a reabilitação aquática é contraindicada. Devem ser verificadas quais as possibilidades de movimentos da criança e em que fase do desenvolvimento psicomotor ela se encontra. Por exemplo, avaliando se a criança em prono já eleva a cabeça, faz apoio de antebraço e, se colocada em supino, consegue rolar. Podemos ainda aplicar o teste de Thomas para avaliar o encurtamento dos flexores do quadril, bem como o teste Galeazzi, que é empregado para verificar se há diferença de comprimento nos membros inferiores, se há uma luxação ou subluxação de quadril por alteração da força dos músculos da articulação do quadril, avaliando também as alterações de coluna vertebral e se há comprometimento do pé. Fonte: Adaptado de questoesdefisiocomentadas Figura 39: Teste de Thomas para avaliar se o paciente tem encurtamento do músculo iliopsoas. Fonte: Adaptado de msdmanuals Figura 40: Teste de Galeazzi. É possível haver outras alterações associadas que devem ser observadas dentro e fora da piscina, a fim de acompanhar a evolução do tratamento. A partir da avaliação do que a criança apresenta de habilidades motoras, podemos traçar um plano de intervenção. Lembrando que a avaliação deve ser feita primeiramente em solo, para depois entrar com a criança na água. ATENÇÃO A entrada das crianças na água deve receber uma atenção especial, uma vez que, geralmente, iniciam o tratamento ainda muito pequenas, podendo apresentar uma resistência à entrada na piscina, que é um ambiente novo, e com uma pessoa ainda desconhecida. Uma pequena banheira ao lado da piscina pode ser colocada para estabelecer o vínculo com o fisioterapeuta, ou até mesmo a mãe ou o cuidador do paciente pode entrar na piscina nesta fase inicial de adaptação. Os objetivos do tratamento são fortalecer e estimular a musculatura que está preservada, de acordo com o nível da lesão, pois, dependendo do segmento da coluna vertebral afetado, a criança pode apresentar maior comprometimento na locomoção, de forma a necessitar do uso de cadeira de rodas em lesão na região torácica, ou deambular, quando afetada a lombar baixa ou sacral. Fonte: Wikimedia Figura 41: Pé torto congênito, deformidade ortopédica que pode estar associada à mielomeningocele. Quando a lesão ocorre a nível torácico, gerando menor controle muscular do tronco para baixo, devemos estimular o controle cervical, rolar, transferências de decúbito para sentado e vice- versa, até o arrastar como forma de deslocamento. Quando crianças maiores tentam o controle de tronco para uma possível manutenção da postura sentada, permite a liberação dos membros superiores. Algumas habilidades podem ser limitadas, como a postura de gato, que pode ser executada pela criança, mas sem força de sustentação pelos músculos do quadril e de forma compensatória, o que acaba não sendo um movimento funcional. Devemos ainda evitar contraturas e deformidades ortopédicas, pois, uma vez instaladas, essas alterações podem levar a novas cirurgias de correções. O atendimento da criança com mielomeningocele deve ser multidisciplinar, com médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, entre outros, com objetivo de gerar maior autonomia possível e independência funcional. ATUAÇÃO DA HIDROCINESIOTERAPIA EM DIVERSAS ÁREAS Os exercícios em ambiente aquático também são indicados para a reabilitação imediata após lesão em atletas, acelerando o seu retorno e na prevenção de lesões, evitando o seu afastamento e todos os gastos envolvidos nesse processo. Pós-operatório A reabilitação em piscina é uma excelente opção por permitir movimentos com redução de sobrecarga muscular, facilitados pelo empuxo, auxiliando na regressão de edemas por atuação da pressão hidrostática e com redução do medo de se movimentar, o que é comum após procedimentos cirúrgicos, associado ainda à melhor vascularização tecidual pela água aquecida e redução da dor. Pré-operatório Sempre que possível é indicada a fisioterapia, preparando os sistemas cardiovasculares, equilíbrio, fortalecimento muscular e mobilidade, facilitando a reabilitação no pós-operatório. O ambiente aquático favorece a movimentação precoce, permitindo uma recuperação funcional em menor tempo que a realizada em solo, reduzindo a formação de aderências teciduais e de atrofias causadas pelo desuso prolongado. Não podemos esquecer as lesões neurológicas, principalmente as que causam espasticidade, como a paralisia cerebral e o acidente vascular encefálico. A água propicia uma redução significativa do tônus muscular, permitindo mobilizações e realização de movimentos que, em solo, não seriam possíveis. Existe uma gama de indicações para diversas patologias, sendo os limitadores as contraindicações fisiológicas por se tratar de um ambiente aquático. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EXISTEM EFEITOS TERAPÊUTICOS E FISIOLÓGICOS DOS EXERCÍCIOS REALIZADOS NA PISCINA AQUECIDA QUE TRAZEM GRANDES BENEFÍCIOS PARA O TRATAMENTO DO PACIENTE COM DOENÇA DE PARKINSON, EXCETO: A) Redução da sobrecarga articular. B) Estímulo do aumento da rigidez muscular. C) Aumento do trabalho respiratório, devido à compressão da caixa torácica. D) Aumento do fluxo sanguíneo muscular. E) Facilitação do ortostatismo. 2. A FISIOTERAPIA AQUÁTICA UTILIZA AS PROPRIEDADES FÍSICAS DO MEIO AQUÁTICO PARA QUE INDIVÍDUOSCOM LIMITAÇÕES E INCAPACIDADES FUNCIONAIS ALCANCEM SEUS OBJETIVOS TERAPÊUTICOS. SOBRE A HIDROTERAPIA, É CORRETO AFIRMAR: A) A flutuabilidade é umas das propriedades da água que pode ser manipulada conforme o quadro apresentado pelo paciente, tornando o exercício mais ou menos fácil. Por exemplo, quanto maior o comprimento do braço de alavanca, o exercício sempre será mais difícil. B) A hipotonia e a lassidão ligamentar geram uma dificuldade de vencer a ação da gravidade e adquirir as etapas relacionadas ao desenvolvimento motor, sendo a piscina uma facilitadora destes movimentos quando falamos dos bebês com Síndrome de Down. C) A profundidade da imersão do corpo afeta o funcionamento do sistema cardiovascular, por isso não é recomendado treinamento aeróbico ou a admissão de pacientes com doenças cardíacas na hidroterapia. D) A viscosidade da água é responsável pela resistência encontrada ao se caminhar no meio aquático. Quanto maior a área da superfície e a velocidade do movimento realizado, menor será a resistência. E) A redução da carga imposta aos membros inferiores e coluna vertebral na água favorece o treino de marcha, por exemplo. A flutuabilidade trabalha em direção oposta à gravidade, portanto movimentos realizados em terra contra a gravidade serão mais dificultados quando executados em meio aquático, por isso devem ser evitados nesse meio. GABARITO 1. Existem efeitos terapêuticos e fisiológicos dos exercícios realizados na piscina aquecida que trazem grandes benefícios para o tratamento do paciente com doença de Parkinson, EXCETO: A alternativa "B " está correta. A água aquecida, associada à pressão hidrostática e ao empuxo, causa relaxamento muscular, redução da ação gravidade e consequente redução da rigidez muscular, facilitando as realizações de atividades funcionais. 2. A Fisioterapia Aquática utiliza as propriedades físicas do meio aquático para que indivíduos com limitações e incapacidades funcionais alcancem seus objetivos terapêuticos. Sobre a hidroterapia, é correto afirmar: A alternativa "B " está correta. A hidrocinesioterapia foi por muito tempo contraindicada para o tratamento de pessoas com Síndrome de Down, porque era entendido que a água aquecida reduziria um tônus que já se apresenta hipotônico, porém, atualmente, sabemos que os benefícios dos exercícios facilitados pelo ambiente aquático superam esta questão. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos que os exercícios realizados fora da piscina podem, em sua maioria, ser praticados no ambiente aquático. Porém, há determinadas vantagens criadas pelas propriedades físicas da água, como: redução do peso corporal, aumento do tempo de reação para o equilíbrio, minimização do medo da queda, além da água aquecida, proporcionando um ambiente acolhedor e aumentando a vascularização tecidual. Estímulos táteis causados pela pressão hidrostática também ajudam a reduzir a informação dolorosa. A água facilita ainda o manuseio do terapeuta com o paciente na água, porém, não podemos desconsiderar que um ambiente aquecido e úmido é propício para a proliferação de bactérias. Por isso é importante estarmos atentos às contraindicações, como no caso dos processos infeciosos. As condições renais e do sistema cardiorrespiratório merecem atenção e cuidado devido às adaptações fisiológicas causadas pela imersão. A temperatura da água, a profundidade da imersão, a velocidade dos movimentos, bem como os equipamentos utilizados durante a realização dos exercícios, são elementos fundamentais para o planejamento da sessão fisioterapêutica. A hidrocinesioterapia é uma aliada na prevenção e tratamento de forma individualizada ou em grupo, permitindo a socialização, bem como a atuação em diversas especialidades, como pediatria, ortopedia, reumatologia, neurologia, saúde da mulher e idosos. Vimos que avaliações devem ser feitas em solo, e os objetivos devem ser traçados para permitir a transferência das habilidades adquiridas na água para as atividades diárias do paciente, sendo a água um ambiente facilitador para a promoção da saúde em toda a sua amplitude, como cognitivo, motor, cardiorrespiratório e, especialmente, humano. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BARBOSA, A. D.; CAMARGO, C. R.; ARRUDA, E. S.; ISRAEL, V. L. Avaliação Fisioterapêutica Aquática. v. 19, n. 2, p. 135-147. 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