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Área do Refúgio Ecológico Caiman, em Miranda, MS Aula 4 – Bem vindos PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO SÉCULO XX E XXI Salesforce Park, San Francisco, CA. PWP Landscape Arc. No século XX os jardins representavam uma tentativa de uma resposta coerente aos novos pressupostos da arquitetura moderna. Esta relação que é bastante evidente no paisagismo moderno, também se apresenta na relação entre a arquitetura e o paisagismo contemporâneo, ensejando uma investigação sobre a gênese da arquitetura contemporânea. O marco da ruptura com o pensamento moderno se deu com a publicação do livro de Robert Venturi, Complexidade e Contradição na Arquitetura, de 1966, que relatava o desgaste sofrido pelo movimento moderno pela sua absorção do “vocabulário inevitável”, por empreendedores e instituições, e sua repetição infinita, em contextos nem sempre adequados, trouxeram grandes descontentamentos, expressos pela primeira vez em forma de livro através de Robert Venturi e Denise Scott-Brown. Os arquitetos não podem mais se deixar intimidar pela linguagem puritanamente moralista das arquitetura moderna ortodoxa. Prefiro os elementos híbridos aos puros, os que aceitam compromisso aos limpos, os distorcidos aos óbvios, os ambíguos aos articulados, os deturpados que ao mesmo tempo são impessoais aos tediosos que ao mesmo tempo são interessantes, os convencionais aos projetados, os que buscam acordo aos excludentes, os redundantes aos simples, os que nos falam do passado aos que são inovadores, os inconsistentes e equívocos aos diretos e claros. Defendo a vitalidade confusa ante a necessidade óbvia (...) proclamo a dualidade. Sou a favor da riqueza de significados (...) das funções inexplícitas (...) Uma arquitetura valide conhece muitos níveis de significado e diversos focos: seu espaço e seus elementos se lêem e funcionam de diversas formas ao mesmo tempo. Porém uma arquitetura de complexidade e contradição tem uma especial obrigação para com o todo: sua verdade desse estar na totalidade ou nas suas implicações. A arquitetura deve incorporar a difícil unidade da inclusão, mais do que assumir a fácil unidade do exclusivo. Mais não é menos. VENTURI, 1995. A principal crítica dos pós-modernistas era com relação ao contexto, a multifuncionalidade e a transmissão de significados, claros ou não. Junto a isso, observa-se uma reavaliação do papel da história na arquitetura, o retorno da ornamentação e as cores contrastantes em oposição ao movimento anterior. Destacam-se: Aldo Rossi, Charles Moore, Michael Graves, Philip Johnson e Ricardo Bofill. Photo aérienne du Viaduc et des Arcades du Lac (1980) Philip Johnson, Glass House Michael GravesCharles Moore, Piazza D’Itália Aldo Rossi, San Cataldo Cemetery 1984 Observa-se um grande esvaziamento conceitual na pós-modernidade, a repetição excessiva de frontões e outros elementos, de padrões e cores, transformou essa arquitetura e paisagismo em mercadoria na sociedade do espetáculo. Robert Venturi – Filadélfia e Washington Franklin Court, Filadélfia, 1976 e Western Plaza, Washington, 1980 CONCEITOS PÓS-MODERNOS Colisão: colagens de fragmentos do passado e utopias Fragmentação: distorção e explosão do real PETER EISENMEN – A INVENÇÃO DO CONTEXTO Eisenman não propõe uma volta ao passado, ele quer uma linguagem autônoma para a arquitetura. A linguagem da sobreposição, do deslocamento, da simetria, dos recortes, da distinção entre cheios e vazios... A geometria como alternativa à figura, à imagem (...) o abstrato – o ponto, a linha e o plano – são utilizados como elementos notacionais mínimos que permitem o surgimento de categorias citadas que, dga-se de passagem, logo se transformam em mecanismos de projeto, adquirindo, dessa forma, uma condição instrumental e operativa MONEO, 2008. Valor do lugar e do solo Canarregio, Veneza, Eisenman A utilização de malhas de referência será a partir dessa experiência, uma constante no seu trabalho, seja horizontal quanto vertical Jardim do museu de Castelvecchio, Verona, 2003. Projeto do museu de Carlo Scarpa. Eisenman projeta o jardim reagindo ao projeto de Scarpa. Inventa uma espécie de escavação que descobre os eixos da estrutura interna do museu, interseccionando com a estrutura pré-existente. Reinventa um local de memória entre a ficção e a realidade. BERNARD TSCHUMI – EVENTO, ESPAÇO E MOVIMENTO Desenvolve o conceito de disjunção – discrepância entre uso, forma e valores sociais na arquitetura, e considera este elemento como uma situação altamente arquitetural. Arquitetura não é simplesmente a respeito de espaço e forma, mas também sobre eventos, ação e o que acontece no espaço (...) a arquitetura contemporânea deveria projetar as condições ao invés de condicionar os espaços. TCHUMI apud RENNÓ, 2006. DESCONSTRUTIVISMO NA ARQUITETURA Assim como o pós-modernismo situa-se em oposição à racionalidade ordenada do modernismo, assume uma postura de confrontação com a arquitetura e a história arquitetônica, rejeitando também o uso de ornamento, trabalha a geometria aplicada aos aspectos funcionais, estruturais e espaciais das construções, aprofundando ideias postuladas por Eisenman e Tschumi. PARC DE LA VILETTE – NOVOS PARADIGMAS PARA O PAISAGISMO Concurso realizado em 1976 sem um vencedor definido graças aos projetos “pseudo- paisagísticos ou pseudo-organicistas”. La Vilette, situado a noroeste da cidade de Paris, é uma região de antigos matadouros e galpões napoleônicos do século XIX em ferro e vidro. Em 1982 resolve-se convocar outro concurso, sob o lema: um parque urbano para o século XXI, no qual, Roberto Burle Marx é convidado para presidir o júri internacional com Vittorio Gregotti, Renzo Piano e Arata Isozaki. Bernard Tschumi ganha o primeiro lugar. 3 primeiros: Bernard Tschumi, OMA (Rem Koolhaas) e Zara Hadid. O PROJETO DE ZARA HADID Inspirado na obra de Wassily Kandinsky O parque de Hadid era uma paisagem de linhas tensionadas, a ponto de iniciar um movimento – uma implantação formal ou conceitual – a ponto de serem lançadas, como flechas de um arco pintado pelo mestre russo. ÁVARES, 2007 Inspiração no traçado da cidade, no contexto, no entorno imediato, na desordem, na cidade tradicional. A arquitetura “decompõe o caos da cidade. Para reconstruí-lo de novo e articulá-lo como um ballet arquitetônico”. Hadid propôs uma série de jardins elevados que deslizavam sobre esteiras mecânicas, modificando através das estações do ano. Uma galáxia virtual de quiosques, áreas de piqueniques, restaurantes e jardins. A natureza se torna uma construção artificial e mecanizada, e a paisagem um laboratório de experimentações. O PROJETO DE REM KOOLHAAS - OMA Relaciona-se com o projeto de Bernard Tschumi. O uso de sistemas de tramas sobrepostas como estratégia de projeto parece remeter ao desconstrutivismo. O projeto estabelece 5 níveis de intervenção que sobrepostos comporiam o parque: as faixas, a trama de pontos, as vias de acesso e circulações, o nível final de conexões e elaborações. As faixas eram os elementos principais do sistema e funcionavam como os pavimentos de um arranha céu, proposta conceitual desenvolvida por Koolhaas em Nova York Delirante (1978). As faixas ocupam o parque em sua totalidade e acolhem os eventos e funções: jardins, jogos, espetáculos, etc... Assim como o arranha-céu, cada faixa é autônoma. Koolhaas trabalha a vegetação de forma ativa, criando cortinas de separações entre as faixas, criando profundidade – geometria e ordenamento – racionalidade. A trama e os pontos representam pequenas arquiteturas: quiosques, ponto de bebidas, banheiros, cada um em uma cor. As vias de circulação se dividem em 2: mail e promenade MAIL: uma faixa de 25 metros de largura que atravessa todo o parque de norte a sul – conexão da cidade. PROMENADE: conecta todo o parque ao mail O nível final é composto por elementos de grande escala: museu, geoda, a grandeHalle, cidade da música, a rotonda, pavilhões, a pirâmide, as estufas, etc... Conecta-se a linha de metrô, o teleférico, etc... BERNARD TSCHUMI – VENCEDOR Paisagismo em 3 níveis de concepção: o evento, o espaço e o movimento. Fortemente influenciado por Peter Eisenman com clara relação com o construtivismo russo. Vladimir Tátlin Torre de Tátlin, 1919 Na composição do parque, Tschumi propõe 3 operações: 1. Desconstrução do programa estabelecido; 2. Criação de objetos que abriguem estes acontecimentos, as folies; 3. Sugestão do movimento por meio de circulações mediante o uso de linhas curvas. Sobreposição de 3 layers conceituais: 1. Superfície – água e vegetação 2. Linhas – circulações e vias 3. Pontos – folies O objetivo é criar uma estrutura sem centro ou hierarquia, uma estrutura que negaria a relação entre programa e a arquitetura, uma grelha abstrata de folies. Outro elemento importante que está na base do projeto é a interpretação de Kevin Lynch sobre A imagem da cidade, com seu estabelecimento de 5 referenciais geométricos básicas na percepção que os habitantes têm da cidade fronteiras, limites, bairros, nós e marcos. No entanto, o fato de que um parque popular deva ser a recriação das tensões e frustrações próprias da metrópole e não um espaço alternativo ao artificial, um lugar orgânico de alegria e repouso, suscita sérias dúvidas. Isto nos obriga a formular a questão de como deve ser um parque ao final do século XX MONTANER, 2001. O parque foi concebido como algo totalmente artificial, não natural, um laboratório de experiências, uma obra aberta. Nos jardins, novas experiências foram realizadas dando suporte e complemento ao parque, com destaque para os jardins de bambus de Alexandre Chemetoff. O concurso do Parc de La Villette estabeleceu novos paradigmas no paisagismo contemporâneo. No paisagismo moderno a utilização de molduras como forma de dominar e artificializar a paisagem são comparáveis a utilização de malhas ou grelhas estruturantes da composição, já não como forma de dominar a natureza, mas constatando que se está projetando uma outra paisagem, uma paisagem de arquitetura. Nesta outra paisagem a natureza entra como um dos elementos da composição e paradoxalmente contribui para enfatizar o caráter artificial do espaço. O tratamento da paisagem como arquitetura, uso de marquises, passarelas metálicas,randes esculturas, solo como suporte para arte, land art, etc... Gerry Barry BARCELONA: A VOLTA DA PRAÇA COMO TEMA DE PROJETO DE ARQUITETURA Requalificação de espaços públicos em Barcelona. O processo se inicia a partir de 1978, redemocratização. Ápice: Barcelona 1992 – olimpíadas 3 características de unidade na experiência na catalunha 1. Localização dos projetos em áreas consolidadas; 2. Espaços públicos tratados como arquitetura; 3. Ter uma impostação ideológica precisa – governo socialista posterior a uma ditadura fascista e o foco no público – praças e ruas. Oriol Bohigas, arq. catalão contratado para liderar a equipe. Desenvolveu uma política que enfatizava mais as intervenções pontuais que projetos urbanos mais gerais e complexos, por uma questão prática, de que os projetos mostram à população uma visão de progresso imediato. Cada quarteirão deveria possuir sua própria sala de estar e cada distrito seu parque, evidenciando a interlocução entre espaço urbano e o novo regime democrático que pressupõe espaços onde as pessoas possam se reunir. PLAZA DELS PAISOS CATALANS (1983) Helio Piñon e Albert Viaplana – projeto construído em frente a uma estação ferroviária, antigo estacionamento de carros – ruptura em relação ao desenho de espaços públicos. Entorno agressivo, carros, pessoas, trânsito, movimentação. A praça é abstrata, com o espírito formal do modernismo, utilizando elementos esculturais de forma poética. A praça estrutura-se através de uma grande cobertura ondulada que divide a praça em 2, como uma copa de árvore. É uma praça seca com piso em granito e mobiliário incomuns: bancos, fontes, iluminação, etc... PARC ESTACIÓ DEL NORTE Colaboração entre Oriol Bohigas, Andreu Arriola e Carmen Fiol, e a escultora norte americana, Beverly pepper com a land art. A obra faz referência as estações do ano, materializada em 2 áreas principais, o céu de inverno e a área do sol. PARC DEL CLOT Daniel Freixes e Vincence Miranda – recuperação de uma antigo espaço industrial para convertê-lo em jardim arquitetônico de sistemas geométricos em colisão. O parque apresenta uma interessante conjunção de parque e praça recreativa, sendo que os aspectos de preservação de um pequeno bosque e das ruínas de uma antiga estação ferroviária tornam o parque peculiar. Nesse parque/praça o caráter contemporâneo estabelecido em La Villette se suaviza pela menor escala, mas consta os elementos de velocidade, colisão e colagem presentes no anterior, compondo a poética contemporânea do paisagismo. Funcionalidade, circulação arte, preservação histórica e ambiental, uso de vegetação existente. Como síntese: No paisagismo moderno, a estratégia de dominar o natural, através de emolduramento e da construção de marcos que representavam o domínio do construído sobre a natureza, evolui no contemporâneo com a utilização das malhas conceituais sobre o terreno. Como comenta Eisenman, já não é a tentativa de dominar a natureza, pois que a tecnologia já a esmagou, mas de estabelecer uma paisagem de arquitetura, onde os elementos naturais e construídos têm o mesmo valor num jogo compositivo de invenção de uma outra paisagem, A questão ecológica torna-se crucial, a partir da década de 1980, com a crise do petróleo a as preocupações com o aquecimento global. Os projetos passam a incorporar essas preocupações com a utilização de materiais recicláveis e uma nova visão sobre os objetos. FORMAS DE ENTENDIMENTO DA PAISAGEM: MAPAS DE FIGURA- FUNDO E DIVISÃO EM LAYERS ALGUNS PROJETOS EXEMPLARES CONTEMPORÂNEOS Salesforce Transit Center & Park PWP Landscape Architecture e Pelli Clarke Pelli Architects – São Francisco Salesforce Park Winter Hours (through April 30, 2020) Opens at 6 a.m. Closes at 8 p.m. Revitalização Peavey Plaza O Peavey Plaza, projetado por M. Paul Friedberg, de Minneapolis, acabou de emergir de uma revitalização liderada pela Coen + Partners que viu a restauração de suas fontes modernistas para atender à acessibilidade e outros requisitos. Los Angeles Music Center Plaza Em Los Angeles, o Rios Clementi Hale Studios fez alterações cuidadosas na praça do Music Center, que incluem um elegante pavimento geométrico. O Los Angeles Times observa: “O redesenho é menos uma releitura e mais uma intervenção cirúrgica cuidadosa. O objetivo é tornar o Music Center mais flexível e funcional” Obama Presidential Center O Obama Presidential Center, de Tod Williams Billie Tsien Architects e Interactive Design, propôs cerca de vinte acres no histórico Jackson Park, projetado por Frederick Law Olmsted, em Chicago. O projeto arquitetônico do Centro inclui estruturas por toda parte, com a inserção de uma torre de 71 metros de altura e vários edifícios menores no parque. James Rose Residence & Innisfree A residência de James Rose em Nova Jersey, agora um centro de pesquisa e design arquitetônico. A integração de salas internas e externas, juntamente com o esfumaçamento dos limites entre as formas construídas e as naturais, reflete a influência do design japonês no trabalho de Rose. A 140 quilômetros ao norte de Nova York está a magnum opus de Lester Collins, Innisfree, uma obra-prima da influência oriental em uma paisagem distintamente americana. Museu Hirshhorn e Jardim das Esculturas O jardim de esculturas de Lester Collins, no Museu Hirshhorn e no Jardim de Esculturas, em Washington está agora ameaçado. O terreno original de 1974, projetado pelo arquiteto Gordon Bunshaft, recebeucríticas severas. Uma proposta de reformulação do jardim de esculturas pelo artista Hiroshi Sugimoto está sendo examinada. Requalificação da Colina do Senhor do Bonfim / Sotero Arquitetos A requalificação urbana e paisagística da Colina Sagrada do Senhor do Bonfim envolveu o redesenho de uma das mais importantes áreas da cidade de Salvador. Ela é composta por três praças: Praça Teodósio Rodrigues de Faria, Largo do Bonfim e Praça Eusébio de Matos, totalizando 36.050,00m² de intervenção. Sua conformação topográfica, com diferença de nível de 22 metros, sugere usos diferentes das diversas cotas. Assim como os elementos arquitetônicos que compõe e conformam o espaço construído – piso, paredes e teto, os elementos vegetais também são capazes de conformar espaços livres, atuando como estruturadores espaciais. O paisagismo é a única expressão artística em que participam os cinco sentidos do ser humano. Enquanto a arquitetura, a pintura, a escultura e as demais artes plásticas usam e abusam apenas da visão, o paisagismo envolve também o olfato, a audição, o paladar e o tato, o que proporciona uma rica vivência sensorial, ao somar as mais diversas e completas experiências perceptivas. Quanto mais um jardim consegue aguçar todos os sentidos, melhor cumpre seu papel. ABBUD, 2006. REFERÊNCIAS: • ABBUD, Benedito. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. São Paulo: Editora Senac, 2006. • ÁLVARES, Dário. El jardín en la arquitectura del siglo XX. Barcelona: Editorial Reverté AS, 2007. • BERGANIMI, Cláudio Estevão. Paisagismo contemporâneo: estratégia para o projeto de praças. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas, 2009. • CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. Lisboa: edições 70 lda, 1996. • MONEO, Rafael. Inquietação teórica e estratégia projetual na obra de oito arquitetos contemporâneos. São Paulo: Cosac Naify, 2008. • MONTANER, Josep Maria. As formas do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. • VENTURI, Robert. Complexidade e contradição na arquitetura. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. • ARCHDAILY BR: https://www.archdaily.com.br/br/889576/elementos-chave-de-paisagismo-planos-clareiras-e-disposicao-de- arvores https://www.archdaily.com.br/br/889576/elementos-chave-de-paisagismo-planos-clareiras-e-disposicao-de-arvores