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SIMULAÇÃO DE SISTEMAS PRODUTIVOS Gabriela Fonseca Parreira Gregorio Verificação e validação de modelos de simulação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar os conceitos de verificação e validação. Descrever as técnicas de verificação em modelos de simulação. Aplicar as técnicas de validação de modelos de simulação. Introdução Os resultados gerados pelos projetos de modelagem e simulação têm papel fundamental nas organizações, uma vez que constituem a base para a condução de novas deliberações. Assim, os modelos precisam ser devidamente elaborados e representar de forma adequada o compor- tamento do sistema real. Para saber o quão adequado é um modelo, algumas atividades são necessárias, como a verificação e a validação. Elas buscam identificar potenciais problemas com o modelo conceitual e com o modelo com- putacional. Esses problemas podem estar relacionados a erros de mode- lagem computacional ou à representação inadequada do sistema real. Neste capítulo, você vai ver quais são as diferenças entre a verificação e a validação em simulação. Também vai conhecer algumas técnicas de verificação em modelos de simulação. Além disso, vai acompanhar a aplicação de técnicas de validação. Conceitos de verificação e validação O desenvolvimento de projetos de modelagem e simulação possibilita o teste de sistemas produtivos em vários cenários, o que contribui com o processo decisório das organizações. Conceber esses projetos por meio de etapas estrutu- radas pode aumentar a confi abilidade e a assertividade dos resultados obtidos. Chwif e Medina (2013) definem seis passos importantes para o desen- volvimento de um projeto de simulação. São eles: formulação do problema e dos objetivos do projeto, representação do modelo conceitual, implantação do modelo computacional, verificação e validação do modelo, experimentação ou testes e análise dos resultados. Como você pode notar, após elaborar o modelo e imputá-lo na ferramenta computacional selecionada pela empresa, duas atividades se destacam: a verificação e a validação do modelo. Segundo Chwif e Medina (2013), ve- rificar consiste em confirmar se o modelo conceitual foi transformado em modelo computacional de forma adequada e assertiva. Já validar consiste em analisar se o modelo computacional representa o sistema real em relação ao seu comportamento e ao seu funcionamento. De acordo com Pimentel (2015), a verificação tem início após a definição do modelo em um software de simulação. Para a autora, nessa etapa, deve-se observar se todas as entradas e saídas dos processamentos estão corretas. Segundo Gavira (2003), a verificação do programa computacional serve para a eliminação de erros. Deve-se questionar, nessa etapa, se o programa é adequado para o modelo e se este funciona de forma correta. Para Correia (2010), verificar consiste em averiguar se as simplificações feitas ao representar o sistema real por meio de um modelo conceitual e os pressupostos foram implantados corretamente no modelo computacional. O autor compara a verificação com a retirada de bugs do programa e com a identificação de erros de sintaxe e/ou lógica. Por outro lado, a validação é feita ao comparar o sistema real com o sistema simulado (PIMENTEL, 2015). Gavira (2003) propõe duas validações ao longo do processo de modelagem e simulação. Veja a seguir. Validação do modelo conceitual: promove uma análise estruturada do modelo conceitual. Objetiva avaliar que as suposições do modelo estão cor- retas, possibilitar o domínio do modelo e evitar reprogramações posteriores. Validação do modelo programado: identifica que o modelo é uma representação adequada do sistema real. Consiste na calibração do modelo até que as divergências sejam identificadas e a confiabilidade aceitável seja alcançada. Trata-se de um processo interativo de com- paração entre o modelo e o comportamento do sistema real (BANKS et al., 1996 apud GAVIRA, 2003). A validação, segundo Correia (2010), deve envolver os analistas e clientes. Eles precisam avaliar se o modelo computacional pode ser utilizado. Assim, Verificação e validação de modelos de simulação2 validar implica avaliar o quão bem o modelo representa o sistema real. O modelo só é validado se tiver determinado grau de confiabilidade. A seguir, veja a relação entre a validação do modelo conceitual, a verificação e a validação do modelo computacional (GAVIRA, 2003). Validação do modelo conceitual: avalia suposições, possibilita domínio do modelo, evita reprogramações. Verificação: elimina erros, compara modelo computacional com modelo conceitual. Validação do modelo programado: avalia se o modelo representa ade- quadamente o sistema real. Diante do modelo conceitual definido, é importante fazer a primeira va- lidação. Ela serve para familiarizar a equipe com o modelo. Além disso, permite a identificação de potenciais problemas antes da inserção do modelo no software de simulação. Após a inserção no programa, ocorre a etapa de verificação, que objetiva eliminar erros ao comparar o modelo conceitual com o modelo computacional. Em seguida, parte-se para a validação do modelo já programado, que busca garantir que ele represente bem o sistema real. Após a validação, o sistema pode ser testado ou experimentado. Diferentemente de Gavira (2003), a maior parte dos autores considera apenas uma etapa de validação. A grande diferença entre a verificação e a validação é que, enquanto a primeira busca identificar erros entre o modelo conceitual e o modelo programado, a segunda busca comparar o modelo programado com o sistema real, avaliando se o primeiro representa de forma confiável o segundo. A verificação ocorre antes da validação do modelo programado. Técnicas de verificação A etapa de verifi cação é fundamental. Ela busca garantir que o modelo com- putacional não contém erros e pode ser utilizado para dar sequência às ativi- dades de modelagem e simulação. Inúmeras são as vantagens da utilização de ferramentas computacionais para simulação. No entanto, caso o modelo computacional não seja isento de erros, as consequências atingirão a confi a- bilidade dos resultados gerados. Existem algumas formas distintas de verificar se existem erros no modelo computacional, considerando o modelo conceitual já elaborado. Cabe à equipe 3Verificação e validação de modelos de simulação avaliar as técnicas mais adequadas ao modelo conceitual. Chwif e Medina (2006) apresentam as técnicas de verificação listadas a seguir. Implementação modular ou verificação modular: divisão do mo- delo em módulos para que cada um deles possa ser averiguado em relação aos erros. A modularização busca simplificar a análise das características. Valores constantes/simplificados e cálculos manuais: consideram-se os valores médios de cada distribuição como valores determinísticos. Utilização do debugger (trace): consiste em usar outras ferramentas computacionais a fim de encontrar erros no programa. Animação gráfica: consiste no uso de animação gráfica para verificar se existem erros. Revisão em grupo: implica constituir um grupo, de preferência mul- tidisciplinar, para verificar se o modelo computacional está adequado. Segundo Pimentel (2015), algumas técnicas de verificação são: utilizar indicadores no processo de simulação para verificar se a quanti- dade de peças no processo tem relação com a realidade e para averiguar o caminho percorrido por elas; utilizar gráficos que representem as atividades das ferramentas e dos equipamentos do modelo; testar o modelo em velocidade reduzida a fim de visualizar as entidades ao longo dele. Complementando as técnicas citadas, Freitas Filho (2001 apud FONTOURA JÚNIOR et al., 2010) apresenta outras três técnicas de verificação: variações nos dados de entrada; teste de degenerescência; teste de independência em relação às sementes geradorasde números aleatórios. A técnica de provocar variações nos dados de entrada promove alterações nos dados imputados no modelo a fim de verificar se ele gera respostas adequadas. Afinal, alterações nos dados de entrada devem gerar alterações condizentes nas saídas. O uso do teste de degenerescência averigua o com- portamento do modelo sob valores extremos, ou seja, maiores e menores Verificação e validação de modelos de simulação4 do que os permitidos. Por fim, o teste de independência em relação às sementes geradoras de números aleatórios verifica se os resultados foram impactados de forma significativa pelo uso de diferentes sementes, o que não deveria ocorrer. Agora, veja uma síntese das principais técnicas para verificação de um modelo de simulação: revisão por duas ou mais pessoas; animação gráfica; variações de dados; verificação por meio de módulos; debug. Diante de tantas técnicas de verificação, as empresas precisam selecionar aquela mais adequada ao seu problema, aos objetivos do projeto e aos dados e recursos disponíveis. Acesse o link a seguir para conhecer a técnica de verificação utilizada em um modelo de simulação aplicado à programação da produção de um frigorífico de peixe. https://is.gd/xd9GBi Aplicação das técnicas de validação Após a verifi cação, é importante conferir se o modelo representa adequada- mente o sistema real, ou seja, validar o modelo. Segundo Chwif e Medina (2006), não é possível validar um modelo na íntegra, no entanto é possível majorar a confi ança com que ele retrata a realidade. A seguir, veja algumas técnicas de validação (SARGENT, 2004 apud CHWIF; MEDINA, 2006). Teste de Turing ou validação black-box: os dados gerados pelo mo- delo e os dados do sistema real, após representados por meio de um mesmo padrão, são apresentados a especialistas. Se os profissionais não perceberem diferenças, considera-se que o modelo está validado. Comparação com modelos anteriores: avalia o comportamento do modelo atual em relação ao comportamento de modelos anteriores. 5Verificação e validação de modelos de simulação Análise de sensibilidade: avalia a sensibilidade dos dados de saída em função de alterações dos dados de entrada. Validação face a face: consiste em questionar pessoas com conheci- mento aprofundado sobre o sistema se o modelo e o seu funcionamento encontram-se satisfatórios. A existência de históricos que permitem comparações e de especialistas com profundo conhecimento sobre o funcionamento do sistema real é importante para o uso dessas técnicas de validação. Além das técnicas citadas, existem os testes estatísticos. A aplicação de testes estatísticos tem o objetivo de identificar se a hipótese de que o modelo computacional representa adequadamente o sistema real é verdadeira ou falsa. A escolha do teste depende do conhecimento da distribuição de probabilidade dos dados. No Quadro 1, você pode ver a validação de um modelo por meio da comparação entre o sistema real e o simulado. O exemplo compara a quantidade de caixas produzidas ao longo de determinado período (FERROS, 2014 apud PIMENTEL, 2015). Você pode ver a produção de caixas que realmente aconteceu no sistema (produção real) e a produção por meio do modelo elaborado (produção virtual). Foi feita também uma análise da aderência para avaliar quão adequado é o modelo. Fonte: Adaptado de Ferros (2014 apud PIMENTEL, 2015). Dias Produção real (caixas) Produção virtual (caixas) Aderência (%) Primeiro 3.272 3.180 97,2 Segundo 3.353 3.402 98,5 Terceiro 3.679 3.618 98,3 Quarto 2.723 2.815 96,7 Quinto 2.918 3.014 96,8 TOTAL 15.945 16.029 99,5 Quadro 1. Exemplo de validação: comparação sistema real × simulado Montevechi et al. (2007) utilizaram várias técnicas para a validação do modelo de uma célula de manufatura numa indústria do setor automotivo: Verificação e validação de modelos de simulação6 teste de aderência à distribuição normal, teste de hipótese e validação face a face. Assim, foram utilizadas mais de uma técnica para a validação do modelo. Primeiramente, eles utilizaram o teste de aderência para avaliar se a distri- buição normal era adequada para representar os dados. Por meio desse teste, verificaram que a distribuição normal não era adequada. Assim, fizeram um teste de hipótese que constatou que o modelo estava validado para a variável total de peças produzidas por dia na célula. Em seguida, ainda utilizaram a técnica de validação face a face, apresentando o modelo a especialistas. Muitas vezes, a validação de um modelo pode recorrer à aplicação de diversas técnicas. Existem técnicas mais subjetivas, como a validação face a face ou o teste de Turing, e outras quantitativas e objetivas, como os testes estatísticos. A escolha das técnicas é uma decisão situacional e depende dos dados disponíveis, do conhecimento da equipe, da disponibilidade de espe- cialistas no sistema real, entre outros aspectos. CHWIF, L.; MEDINA, A. C. Modelagem e simulação de eventos discretos: teoria e aplicações. São Paulo: Bravarte, 2006. CHWIF, L.; MEDINA, A. C. Modelagem e simulação de eventos discretos: teoria e prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. CORREIA, A. R. Introdução à simulação. [2010]. Disponível em: www2.ita.br/~correia/ MB-761/aula_1.pptx. Acesso em: 25 abr. 2019. FONTOURA JÚNIOR, J. A. S. et al. Verificação e calibração do modelo de simulação do desempenho reprodutivo de vacas de corte baseado no escore de condição corporal avaliação interna. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 39, n. 12, p. 2769–2779, dez. 2010. GAVIRA, M. O. Simulação computacional como ferramenta de aquisição de conhecimento. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Escola de Engenharia, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003. MONTEVECHI, J. A. B. et al. Application of design of experiments on the simulation of a process in an automotive industry. In: WINTER SIMULATION CONFERENCE, 1., 2007, Washington. Anais [...]. Washington: [s. n.], 2007. PIMENTEL, C. A. Aplicação da simulação como ferramenta de apoio à tomada de decisão gerencial em uma célula de manufatura. 2015. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção, Faculdade de Engenharia Arquitetura e Urbanismo, Universidade Metodista de Piracibaba, Santa Bárbara D’Oeste, 2015. 7Verificação e validação de modelos de simulação Leituras recomendada GUIMARÃES, A. M. C. Simulação computacional: um modelo de maturidade e de se- leção para uso dos softwares em manufatura. 2015. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. PEREIRA, C. R.; COSTA, M. A. B. Um modelo de simulação de sistemas aplicado à pro- gramação da produção de um frigorífico de peixe. Produção Online, Piracicaba, v. 12, n. 4, p. 972–1001, out./dez. 2012. Verificação e validação de modelos de simulação8