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LIVRO DO Professor
História da Filosofia e a formação do pensamento crítico 1
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 1PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 1 29/07/2022 11:36:0929/07/2022 11:36:09
© 2023 – SAE DIGITAL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer 
processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
FICHA CATALOGRÁFICA
S132
SAE, ensino médio: 1. série: filosofia: livro do professor : SAE DIGITAL S/A. - 
1. ed. - Curitiba, PR : SAE DIGITAL S/A, 2023. 
120 p. : il. ; 28 cm.
ISBN 978-85-535-1818-0
1. Filosofia  (Ensino médio) - Estudo e ensino. I. Inteligência Educacional e 
Sistemas de Ensino. II. Sistema de Apoio ao Ensino: o passo a frente.
 CDD: 109 
 CDU: 316.7
Todos os direitos reservados.
SAE DIGITAL S/A. 
R. João Domachoski, 5. CEP: 81200-150 
Mossunguê – Curitiba – PR 
0800 725 9797 | Site: sae.digital 
Gerência Executiva Rita Egashira Vanzela
Coordenação Editorial Emanoelle Almeida
Edição Caroline Schlegel, Hector Ribeiro Molina, Maria Victória Ruy
Coordenação de Cotejo e Revisão Fabiana Teixeira Lima
Cotejo e Revisão Anna Karolina de Souza, Brunno Freire, Henrique Luiz Fendrich, Igor Spisila, Juliana 
Basichetti Martins, Ludmilla Borinelli, Marcela Batista Martinhão, Marcela Vidal Machado, 
Pamela de Fátima Leal, Priscila Sousa, Rafaella Ravedutti, Thainara Gabardo, Victor Truccolo
Gerência de Design Tassiane Aparecida Sauerbier
Arte da Capa Cinthia Satoko Fujii de Siqueira, Deny Mayer Machado, Scarllet Gabardo Anderson, Wagner 
de Oliveira Ramari
Especialista em Ilustrações Wagner de Oliveira Ramari
Ilustrações Carlos Morevi, Cinthia Satoko Fujii de Siqueira, Deny Mayer Machado, Scarllet Gabardo 
Anderson
Projeto Gráfico Thiago Figueiredo Venâncio
Iconografia Ana Paula de Jesus Gonçalves Cruz, Paulo Gustavo Costa
Coordenação de Produção Visual Marina Prado Pereira de Mello
Diagramação André Lima, Bruna Aparecida de Andrade, Bruno Gogolla, Diego Vinicius Kloss, Fernanda 
Wolf, Flávia Sousa Gonçalves, Gustavo Ribeiro Vieira, Juliana Adami Santos, Kássio Nery, 
Luana Santos, Luciana Nesello Künzel, Luisa Piechnik Souza, Maisa Leepkaln, Mariana 
Oliveira, Nadiny Silva, Raphaela Candido, Silvia Santos, Tarliny Silva, Thiago Figueiredo 
Venâncio, Vanessa Trevisan Marcon
Supervisão de Processos e 
Qualidade Raul Jungles
Processos e Qualidade Bianca Borba, Camila Radulski, Luana Rosa de Souza, Mariana Chaves, Sheila Roman, Vitor 
Ribeiro
Colaboração Externa Clarice Yumi Yokoi Bogut (Diagramação), Estevam Cezar Maia Goulart (Diagramação)
Autoria Fernanda Tavares Paulino, Josemar Soares
PI_EM23_1_FIL_LU_LP.indd 2PI_EM23_1_FIL_LU_LP.indd 2 30/07/2022 10:15:2630/07/2022 10:15:26
SUMÁRIO
Pilares pedagógicos .............................................................IV
Tecnologia digital relevante – SAE DIGITAL .....................V
Ensino Médio .........................................................................VI
Conhecimentos de Filosofia ............................................VIII
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Pilares pedagógicos
Os pilares pedagógicos do sistema de ensino do SAE Digital vêm ao encontro das habilidades espe-
radas dos aprendizes, expostos a um ambiente que exige leitura plural do mundo, caracterizada por 
constantes mudanças nos campos científico, tecnológico e político.
Os desafios da atualidade preveem uma formação que priorize a capacidade de refletir e in-
terpretar as realidades local e global, bem como agir de acordo com as necessidades coletivas, 
por meio do desenvolvimento da empatia, da resiliência e do senso de cooperação.
Para desenvolver habilidades que atendam a tão complexas necessidades, as estratégias do SAE 
Digital estão fundamentadas em quatro pilares do trabalho pedagógico: protagonismo, rigor concei-
tual e conteúdo relevante, complexidade e saberes múltiplos e transformação da realidade.
Protagonismo
Uma prática pedagógica estruturada no protagonismo considera o estudante como centro do 
processo de sua aprendizagem. Tem como ponto de partida os conhecimentos prévios que ele 
possui para, a partir deles, promover o fortalecimento de sua identidade, a sua autonomia e o de-
senvolvimento das habilidades necessárias à concretização de seu projeto de vida e sua atuação 
na sociedade com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. 
Rigor conceitual e conteúdo relevante
Esse pilar, que abarca duas ideias complementares, corrobora o entendimento de que a edu-
cação deve sempre se pautar em bases conceituais do conhecimento acadêmico e científico. Na 
era da informação, a escola assume o papel de propulsora da pesquisa para a escolha, a apropria-
ção e a produção do conhecimento por parte dos professores e dos estudantes, a fim de garantir 
a sistematização dos processos de ensino e de aprendizagem pautados na relevância do currículo 
e na precisão da cientificidade.
Complexidade e saberes múltiplos
O paradigma atual do conhecimento requer a superação da disposição estanque do currículo 
escolar. Trazemos como proposta para o trabalho pedagógico o pilar complexidade e saberes 
múltiplos visando ao desenvolvimento do pensamento complexo, que só se efetiva por meio de 
um trabalho inter e transdisciplinar. Promover a religação dos saberes com vistas à formação de 
leitores competentes e capazes de atuar em um cenário complexo é um dos compromissos impre-
teríveis dos quais a escola não pode se eximir.
Transformação da realidade
Com base no entendimento da educação como agente transformador da realidade, o sistema 
de ensino do SAE Digital incorpora à sua proposta pedagógica um trabalho sistemático com te-
mas contemporâneos de relevância social que afetam a vida humana em escala local, regional e 
global. Ao promover a consciência dos direitos e deveres de todo ser humano, o exercício pleno da 
cidadania e a tomada de decisões para iniciativas concretas de impacto socioambiental, visamos 
à manutenção do estado democrático de direito e à transformação da realidade. 
Matriz de pilares do SAE
Protagonismo Rigor conceitual e conteúdo relevante
Complexidade e 
múltiplos saberes
Transformação da 
realidade
Meu mundo Mundo da ciência e da tecnologia Mundo revisitado Mundo transformado
Conhecimento de 
mundo Conhecimento científico Pensamento complexo Saberes ressignificados
Conhecimento prévio Currículo escolar Inter e transdisciplinaridade Ações transformadoras
Autonomia Compreensão Reflexão Iniciativa concreta
IV FIL
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Tecnologia digital relevante – SAE DIGITAL
São recursos digitais – livros, atividades, jogos, realidade aumentada, vídeos, animações, apli-
cativos, plataforma adaptativa, avaliações, ferramentas de gestão escolar, de gestão da aprendi-
zagem e de desenvolvimento dos profissionais da Educação – concebidos com intencionalidade 
pedagógica, integração à proposta e aos conteúdos dos materiais impressos e dinâmica eficiente, 
a fim de que cumpram um papel efetivo no processo educativo, seja por meio
a) da interação do aluno com o conteúdo digital, que tenha como propósito contribuir com a sua 
aprendizagem;
b) da sensibilização/motivação do aluno para a aprendizagem;
c) da promoção da apropriação de conceitos ou do desenvolvimento de habilidades e atitudes; 
d) do controle do desempenho e das adaptações e personalizações necessárias a uma aprendizagem 
significativa; 
e) da gestão do desempenho e aprendizagem do aluno;
f ) da formação permanente do professor. 
Outras considerações a 
respeito de tecnologia 
digital relevante
O projeto de Tecnologia Digital Relevante – 
SAE Digital também tem como enfoqueaproxi-
mar a produção do SAE Digital às metodologias 
contemporâneas da aprendizagem:
 ● Por desenvolver o conteúdo digital pro-
duzido em consonância com o material 
impresso pode ser considerado como 
um modelo híbrido de ensino.
 ● Por promover a autonomia do aluno em 
seu processo de aprendizagem, os ob-
jetos digitais podem ser considerados 
como metodologia ativa.
 ● Por promover o uso de diversas mídias 
digitais, os objetos digitais podem con-
tribuir para o letramento digital. 
 ● Por ofertar feedbacks do desempe-
nho dos alunos, pode contribuir com 
a regulação e a autorregulação da 
aprendizagem.
VFIL
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Ensino Médio
Há alguns anos os documentos oficiais que regulam a educação básica preveem o currículo do 
Ensino Médio organizado em quatro grandes áreas do saber: 
 ● linguagem e suas tecnologias;
 ● matemática e suas tecnologias;
 ● ciências da natureza e suas tecnologias; 
 ● ciências humanas e suas tecnologias.
A integração dos componentes curriculares em quatro grandes áreas atende à necessidade 
educacional e social premente de superar a fragmentação do currículo escolar. Outras necessida-
des da sociedade do século XXI também estão presentes no documento da BNCC, como o desen-
volvimento de competências e habilidades e a formação integral dos estudantes.
Essas e outras diretrizes são contempladas nos pilares pedagógicos SAE Digital – Protagonismo; 
Rigor conceitual e conteúdo relevante; Complexidade e saberes múltiplos; Transformação da rea-
lidade – que estão presentes nos livros que compõem a coleção do Ensino Médio. Elas podem 
ser percebidas tanto no que tange à organização curricular integrada proposta pela BNCC, como 
também no que diz respeito aos objetivos de aprendizagem nesse documento, conforme consta 
no texto a seguir:
“O Ensino Médio deve atender às necessidades de formação geral indispensáveis ao exercício 
da cidadania e construir àprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e 
os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea’, como 
definido na Introdução desta BNCC (p. 14; ênfases adicionadas).
Para atingir essa finalidade, é necessário, em primeiro lugar, assumir a firme convicção de 
que todos os estudantes podem aprender e alcançar seus objetivos, independentemente de suas 
características pessoais, seus percursos e suas histórias. Com base nesse compromisso, a escola 
que acolhe as juventudes deve:
 ● favorecer a atribuição de sentido às aprendizagens, por sua vinculação aos desafios da reali-
dade e pela explicitação dos contextos de produção e circulação dos conhecimentos;
 ● garantir o protagonismo dos estudantes em sua aprendizagem e o desenvolvimento de suas 
capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e ação, essenciais à sua auto-
nomia pessoal, profissional, intelectual e política;
 ● valorizar os papéis sociais desempenhados pelos jovens, para além de sua condição de estu-
dante, e qualificar os processos de construção de sua(s) identidade(s) e de seu projeto de vida;
 ● assegurar tempos e espaços para que os estudantes reflitam sobre suas experiências e 
aprendizagens individuais e interpessoais, de modo a valorizarem o conhecimento, confia-
rem em sua capacidade de aprender, e identificarem e utilizarem estratégias mais eficientes 
a seu aprendizado;
 ● promover a aprendizagem colaborativa, desenvolvendo nos estudantes a capacidade de tra-
balharem em equipe e aprenderem com seus pares; e
 ● estimular atitudes cooperativas e propositivas para o enfrentamento dos desafios da comu-
nidade, do mundo do trabalho e da sociedade em geral, alicerçadas no conhecimento e na 
inovação.” (BNCC, 2018).
VI FIL
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VIIFIL
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Conhecimentos de Filosofia 
Desde o seu nascimento com os gregos antigos, a Filosofia tenta responder àquelas perguntas mais profundas que 
fazemos a nós mesmos, por exemplo: De onde as coisas vêm? Qual o sentido da existência? O que é conhecimento? Como 
devo agir? Como devem proceder as ciências? O que é a verdade?
A Filosofia é a aventura fascinante do ser humano de tentar conhecer a si mesmo e ao mundo; e essa é uma aventura 
que já atravessa muitos séculos, exigindo esforços de grandes pensadores, como Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes, 
Kant, Nietzsche, Foucault, Hannah Arendt, entre muitos outros. Este livro propõe um percurso pelas ideias de tais homens 
e mulheres mostrando que o que os move não são interrogações que habitam apenas a mente dos filósofos, mas sim 
questões que são, no fundo, de toda a humanidade.
Estudar Filosofia ajuda a desenvolver nossa capacidade de compreensão do mundo, a qualificar o nosso senso crítico 
e a aplicar o que aprendemos intelectualmente no cotidiano. Tudo isso é essencial para os dias atuais, pois vivemos em 
um período complexo em que a globalização, a internet, o mercado de trabalho, a família, a sociedade e as relações inter-
pessoais são só alguns dos elementos dos quais os jovens têm de dar conta. Entender esses elementos de um modo mais 
profundo certamente é essencial para se construir uma existência mais autônoma, crítica e responsável pelo aprimora-
mento da própria sociedade.
A Filosofia sempre teve implicações na trajetória da história humana. Cada período histórico, com suas grandes re-
voluções, costumes, modos de pensar e de viver, teve como pano de fundo a fundamentação de grandes autores que 
pensavam sua própria época e que por vezes apontavam novos rumos para a história.
Na primeira série, será estudada a origem da Filosofia na Grécia Antiga. A mitologia é o ponto de partida para entender 
o nascimento dessa ciência e, na sequência, estudar os grandes filósofos daquele período: os pré-socráticos, os sofistas, 
Sócrates, Platão e Aristóteles, os mais célebres nomes da Filosofia grega, e, por fim, o helenismo. Serão estudadas as con-
siderações de Platão sobre a origem e o fundamento do conhecimento e a importância da educação para a formação do 
Estado, bem como os principais pontos do pensamento lógico, ético e político de Aristóteles. 
Será estudada, também, a Filosofia Medieval, analisando-se o fortalecimento da moral cristã com a fundamentação 
de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, que tiveram influências diretas de Platão e Aristóteles, respectivamente. 
Por fim, serão estudados o humanismo renascentista e a revolução científica – extraordinário período que rompe com 
uma tradição de mais de mil anos com o surgimento da ciência moderna – abordando pensadores como Leonardo da 
Vinci, Maquiavel, Galileu e Isaac Newton.
Na segunda série, será estudada a Filosofia da Idade Moderna à Contemporânea, iniciando com o estudo do racio-
nalismo e empirismo, com os pensadores Descartes, Spinoza, Bacon, Locke e Hume, para fundamentar as bases de uma 
ciência metódica e objetiva. 
Também serão estudados os filósofos do contrato social, uma vez que muito do que se entende por Estado, por socie-
dade civil, direito e liberdade vem da Idade Moderna, com Hobbes, Locke e Rousseau. As normas e as formas de organi-
zação da sociedade foram defendidas, criticadas e influenciadas por esses brilhantes filósofos modernos. Também serão 
estudados os filósofos do idealismo, Kant e Hegel. 
No período do século XIX, será trabalhado o surgimento de correntes de pensamento, como positivismo, utilitarismo 
e marxismo, e a influência que ainda têm em nosso tempo. Depois, na passagem do século XIX para o século XX serãoestudados filósofos como Schopenhauer, Nietzsche e Bergson. 
Por fim, serão estudados pensadores e ideias da Filosofia Contemporânea, como Husserl, Heidegger, Sartre, Hannah 
Arendt, Foucault, entre outros filósofos contemporâneos, além de pensar em crises ocorridas na atualidade, como as 
duas Guerras Mundiais, a Guerra Fria, os dilemas da globalização etc.
Vive-se uma época conturbada em que se observa a relativização de hábitos e valores que por séculos foram os alicer-
ces do comportamento humano. A razão moderna, as religiões, as ciências e o Estado não foram capazes de evitar tantas 
crises que atingem as esferas social, econômica e política no mundo todo. Estudar o pensamento desses filósofos nos 
faz entender melhor nosso próprio tempo, carregado de antagonismos, diversidade e incertezas. Por fim, será dedicada 
atenção à Filosofia da Ciência, à alguns aspectos da Filosofia da Arte e da Pós-modernidade.
A terceira série tem caráter revisional, sendo abordados os conteúdos da primeira e segunda séries de modo mais 
sucinto, sem perder a característica reflexiva da Filosofia.
VIII FIL
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História da Filosofia e a formação do pensamento crítico 1
Livro Módulo Frente única
1
1 Mitologia e Teatro na Grécia AntigaBusca pelo conhecimento • Poesia épica • Os mitos e a Filosofia
2
Os pré-socráticos: surge a filosofia
Passagem do mythos ao logos: o surgimento da filosofia • Pré-socráticos: explicando a 
natureza e seus fenômenos
2
3 Sofistas e SócratesDo cosmos ao anthropos • Sofistas • Sócrates
4
Platão: o homem e a cidade ideais
Platão • Diálogos platônicos • Dimensões da justiça social em Platão • Papel da educação na
construção da cidade ideal • Justiça e bem: o rei filósofo de Platão
3
5 Filosofia de AristótelesAristóteles: vida e obra • Divisão das ciências • Lógica aristotélica • Ética aristotélica • Política
6 HelenismoContexto histórico
4
7
Filosofia medieval
Santo Agostinho: a Patrística • Santo Tomás de Aquino: a Escolástica • Franciscanos: a crítica à Escolástica 
tradicional
8 Período RenascentistaContexto histórico
IXFIL
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Anotações
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Seção Disciplina & sociedade/arte/cultura/meio ambiente/
tecnologia: nas seções que finalizam a exposição teórica dos módulos 
são propostas atividades que propiciam a aplicação dos conceitos e, 
em muitos casos, a reflexão, a análise e a construção de novos saberes. 
As  propostas podem indicar um trabalho coletivo com o objetivo de 
estimular a interação com a comunidade em que se vive, alinhando-se aos 
pilares de Complexidade e saberes múltiplos e Transformação da realidade.
Atividades: Concluindo a sequência didática dos 
livros, os alunos são apresentados a um grupo de 
questões dos mais relevantes vestibulares e do 
Enem como forma de testar seus conhecimentos 
e como autoavaliação. Elas são organizadas 
em quatro seções: Resolvidos, Praticando, 
Desenvolvendo habilidades e Complementares.
Dentro de cada uma das seções, as questões são 
organizadas por seu grau de dificuldade. Todas 
as seções apresentam questões fáceis, médias 
e difíceis.
Na seção Desenvolvendo habilidades são 
indicadas as competências e habilidades do Enem 
exploradas em cada uma das questões.
Na seção Complementares há um grupo maior de 
questões, dentre as quais encontram-se questões 
desafio, conexões e discursivas.
Ainda na seção de atividades, você irá observar a 
presença de QR Codes nas questões das últimas 
provas do Enem. Esse QR code irá direcionar os 
alunos para um vídeo no qual as questões são 
comentadas.
Por fim, os QR Codes presentes ao final da seção de 
atividades direcionam os alunos e os professores 
aos gabaritos das questões, e os professores a 
comentários de apoio e solucionários.
Desenvolvimento do conteúdo: 
após o momento de sensibilização, 
propomos o desenvolvimento do 
conteúdo por meio de um texto teórico 
construído alinhado aos pilares Rigor 
conceitual e conteúdo relevante e 
Complexidade e saberes múltiplos. 
Arrase no Enem: sempre 
que o módulo trabalhar um 
tema recorrente no Enem, 
estará disponível por meio de 
QR Code uma videoaula do 
curso Arrase no Enem.
Seção Start: As atividades 
propostas nas páginas de 
abertura têm por objetivo 
sensibilizar os alunos a res-
peito do conteúdo a ser ex-
plorado. Nelas são propostas 
leituras, observação de ima-
gens e reflexões que servem 
como ponto de partida para 
a exploração do conteúdo e a 
apreensão de novos saberes 
e, também, para levantar 
os conhecimentos prévios 
dos alunos acerca do tema, 
garantindo o protagonismo 
do aluno em seu processo 
de aprendizagem. 
Terceira coluna: Nas colunas ex-
ternas das páginas encontram-se 
as seções que complementam o 
desenvolvimento do conteúdo. Essa 
ampliação pode acontecer com indi-
cações de filmes, sites e livros, intro-
dução de exemplos, complementos 
e curiosidades, indicação de pontos 
de atenção, explicação de termos e 
conceitos e sugestões de reflexões 
de pesquisas.
Estrutura didática 
Os livros da 1.ª e da 2.ª série apresentam uma organização de conteúdos e propostas de atividade que evidencia a 
sequência didática da coleção e oferece ferramentas para auxiliar a prática dos professores e o estudo dos alunos.
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Seção Disciplina & sociedade/arte/cultura/meio ambiente/
tecnologia: nas seções que finalizam a exposição teórica dos módulos 
são propostas atividades que propiciam a aplicação dos conceitos e, 
em muitos casos, a reflexão, a análise e a construção de novos saberes. 
As  propostas podem indicar um trabalho coletivo com o objetivo de 
estimular a interação com a comunidade em que se vive, alinhando-se aos 
pilares de Complexidade e saberes múltiplos e Transformação da realidade.
Atividades: Concluindo a sequência didática dos 
livros, os alunos são apresentados a um grupo de 
questões dos mais relevantes vestibulares e do 
Enem como forma de testar seus conhecimentos 
e como autoavaliação. Elas são organizadas 
em quatro seções: Resolvidos, Praticando, 
Desenvolvendo habilidades e Complementares.
Dentro de cada uma das seções, as questões são 
organizadas por seu grau de dificuldade. Todas 
as seções apresentam questões fáceis, médias 
e difíceis.
Na seção Desenvolvendo habilidades são 
indicadas as competências e habilidades do Enem 
exploradas em cada uma das questões.
Na seção Complementares há um grupo maior de 
questões, dentre as quais encontram-se questões 
desafio, conexões e discursivas.
Ainda na seção de atividades, você irá observar a 
presença de QR Codes nas questões das últimas 
provas do Enem. Esse QR code irá direcionar os 
alunos para um vídeo no qual as questões são 
comentadas.
Por fim, os QR Codes presentes ao final da seção de 
atividades direcionam os alunos e os professores 
aos gabaritos das questões, e os professores a 
comentários de apoio e solucionários.
Desenvolvimento do conteúdo: 
após o momento de sensibilização, 
propomos o desenvolvimento do 
conteúdo por meio de um texto teórico 
construído alinhado aos pilares Rigor 
conceitual e conteúdo relevante e 
Complexidade e saberes múltiplos. 
Arrase no Enem: sempre 
que o módulo trabalhar um 
tema recorrente no Enem, 
estará disponível por meio de 
QR Code uma videoaula do 
curso Arraseno Enem.
Seção Start: As atividades 
propostas nas páginas de 
abertura têm por objetivo 
sensibilizar os alunos a res-
peito do conteúdo a ser ex-
plorado. Nelas são propostas 
leituras, observação de ima-
gens e reflexões que servem 
como ponto de partida para 
a exploração do conteúdo e a 
apreensão de novos saberes 
e, também, para levantar 
os conhecimentos prévios 
dos alunos acerca do tema, 
garantindo o protagonismo 
do aluno em seu processo 
de aprendizagem. 
Terceira coluna: Nas colunas ex-
ternas das páginas encontram-se 
as seções que complementam o 
desenvolvimento do conteúdo. Essa 
ampliação pode acontecer com indi-
cações de filmes, sites e livros, intro-
dução de exemplos, complementos 
e curiosidades, indicação de pontos 
de atenção, explicação de termos e 
conceitos e sugestões de reflexões 
de pesquisas.
Estrutura didática 
Os livros da 1.ª e da 2.ª série apresentam uma organização de conteúdos e propostas de atividade que evidencia a 
sequência didática da coleção e oferece ferramentas para auxiliar a prática dos professores e o estudo dos alunos.
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 13PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 13 29/07/2022 11:36:2129/07/2022 11:36:21
DIGITAIS
CONHEÇA OS RECURSOS
O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do SAE Digital oferece uma série de ferramentas 
de reforço e acompanhamento do desempenho escolar, como Trilhas Digitais, Arena SAE, Desa-
fios, Simulados e muito mais.
As Trilhas Digitais são conjuntos de questões e videoaulas referentes a cada módulo do li-
vro que podem ser agendadas pelo professor como forma de estudo ou avaliação. O número de 
questões respondidas para cada módulo depende do desempenho obtido em cada uma delas. O 
sistema gera, ainda, relatórios individuais de desempenho que permitem acompanhar a evolução 
dos estudos.
AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA)
A Arena SAE é uma plataforma de avaliação que concentra um banco com mais de 170 mil 
questões, entre questões exclusivas e de domínio público, categorizadas por tipo de questão, 
componente, assunto, banca e ano, e possibilita a disponibilização, realização e correção automa-
tizada de atividades objetivas de maneira online ou impressa.
Avaliações referentes a cada componente e volume dos livros impressos, como provas, listas de 
exercícios, Desafios e Simulados, podem ser agendadas a partir dessa ferramenta. A plataforma gera 
relatórios detalhados de desempenho em cada atividade. Para complementar o estudo, é possível 
gerar uma trilha de questões a partir dos assuntos que apresentaram menor desempenho.
ARENA SAE
O Livro Digital é um recurso que disponibiliza todo o conteúdo do material impresso de for-
ma digital e pode ser acessado de modo online ou offline a partir do computador ou celular. Esse 
recurso permite que o livro esteja sempre à mão e contribui para desenvolver o hábito do estudo 
diário e potencializar o processo de aprendizagem. 
LIVRO DIGITAL
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 14PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 14 29/07/2022 11:36:2529/07/2022 11:36:25
DIGITAIS
CONHEÇA OS RECURSOS
O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do SAE Digital oferece uma série de ferramentas 
de reforço e acompanhamento do desempenho escolar, como Trilhas Digitais, Arena SAE, Desa-
fios, Simulados e muito mais.
As Trilhas Digitais são conjuntos de questões e videoaulas referentes a cada módulo do li-
vro que podem ser agendadas pelo professor como forma de estudo ou avaliação. O número de 
questões respondidas para cada módulo depende do desempenho obtido em cada uma delas. O 
sistema gera, ainda, relatórios individuais de desempenho que permitem acompanhar a evolução 
dos estudos.
AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA)
A Arena SAE é uma plataforma de avaliação que concentra um banco com mais de 170 mil 
questões, entre questões exclusivas e de domínio público, categorizadas por tipo de questão, 
componente, assunto, banca e ano, e possibilita a disponibilização, realização e correção automa-
tizada de atividades objetivas de maneira online ou impressa.
Avaliações referentes a cada componente e volume dos livros impressos, como provas, listas de 
exercícios, Desafios e Simulados, podem ser agendadas a partir dessa ferramenta. A plataforma gera 
relatórios detalhados de desempenho em cada atividade. Para complementar o estudo, é possível 
gerar uma trilha de questões a partir dos assuntos que apresentaram menor desempenho.
ARENA SAE
O Livro Digital é um recurso que disponibiliza todo o conteúdo do material impresso de for-
ma digital e pode ser acessado de modo online ou offline a partir do computador ou celular. Esse 
recurso permite que o livro esteja sempre à mão e contribui para desenvolver o hábito do estudo 
diário e potencializar o processo de aprendizagem. 
LIVRO DIGITAL
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 15PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 15 29/07/2022 11:36:2629/07/2022 11:36:26
Organize seu estudo 
O Ensino Médio é uma importante etapa de sua 
formação escolar e educacional, com a qual o SAE irá 
ajudá-lo a se desenvolver em diferentes dimensões ao 
longo dos três anos que estaremos juntos.
No entanto, vale salientar que nessa fase é muito 
importante desenvolver um método de estudo. As ha-
bilidades a serem desenvolvidas e os conhecimentos a 
serem adquiridos e consolidados serão mais facilmen-
te obtidos com uma metodologia de apoio e uma estra-
tégia de estudo, estabelecidas conforme suas caracte-
rísticas de disponibilidade de tempo, preferências por 
horários, entre outras variáveis.
Há diferentes formas de organizar seu tempo 
para estudar além daquele em que você está na sala 
de aula com seus professores e colegas. Há quem 
prefira estudar assim que chega em casa (ou no am-
biente destinado ao estudo), enquanto outros prefe-
rem ocupar-se com outras atividades e iniciar o estu-
do individual mais tarde. É uma opção pessoal. 
Entretanto, há determinadas atitudes que pode-
rão ajudá-lo, independente de quaisquer variáveis. 
Inicialmente, observe sua postura em sala de aula, du-
rante os trabalhos feitos em classe.
Ao iniciar as aulas, faça um “aquecimento” do con-
teúdo: enquanto o professor prepara o ambiente de 
trabalho, realize uma rápida leitura daquilo que será 
exposto na aula. Isso o ajudará a entender melhor os 
conteúdos e a sequência de ideias. Além disso, reco-
menda-se usar um caderno de anotações. Anotar os 
apontamentos feitos pelo professor é indispensável 
para seu estudo posterior.
Outra etapa essencial para seu estudo autônomo 
ocorre fora da escola: em casa ou em outro ambiente 
destinado a esse fim. Para esses momentos, aconselha-
-se uma série de atitudes que poderão ser ajustadas e 
proporcionarão um aproveitamento ideal do seu tempo 
e energia.
O local de estudo deve ser tranquilo e silencioso. 
Para que a sua concentração e a retenção do que se 
estuda sejam maiores. Evite sons, música, televisão 
ou quaisquer outras distrações. Embora não pareça, 
essas interferências podem atrapalhar, e muito, sua 
concentração.
Para quaisquer áreas do conhecimento, inicie seu 
estudo com uma rápida revisão do que foi desenvol-
vido em sala de aula, tanto recorrendo ao seu mate-
rial do sistema SAE, quanto às anotações feitas em seu 
caderno. Dedique alguns minutos a isso. Em seguida, 
cumpra as atividades passadas pelos professores: as 
pesquisas da seção de fechamento dos capítulos (se 
houver) e, principalmente, os exercícios propostos. 
Procure fazer todas as questões ou atividades, pois a 
quantidade deles é programada para que haja a fixa-
ção dos conteúdos.
O tempo de estudo também é muito importante. 
Procure destinar ao menos meia hora de estudo em 
casa para cada aula dada em sala de aula. Com isso, os 
conteúdos a serem estudados não se acumulam e você 
evita trabalhos mais intensos e desgastantes nas datas 
que antecedem as avaliações.
Lembre-se de que método de estudo é algo desen-volvido individualmente e pode passar por ajustes. 
Contudo nada substitui o trabalho feito pelo aluno so-
mado àquele desenvolvido na escola.
Bom estudo!
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 16PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 16 29/07/2022 11:36:2629/07/2022 11:36:26
SU
M
ÁR
IO
•	 H1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente 
fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
•	 H2 – Analisar a produção da memória pelas sociedades 
humanas.
•	 H3 – Associar as manifestações culturais do presente 
aos seus processos históricos.
•	 H4 – Comparar pontos de vista expressos em diferentes 
fontes sobre determinado aspecto da cultura.
•	 H5 – Identificar as manifestações ou representações 
da diversidade do patrimônio cultural e artístico em 
diferentes sociedades.
•	 H12 – Analisar o papel da justiça como instituição na 
organização das sociedades.
•	 H23 – Analisar a importância dos valores éticos na 
estruturação política das sociedades.
•	 H24 – Relacionar cidadania e democracia na organização 
das sociedades.
Habilidades
10 
Mitologia e Teatro 
na Grécia Antiga
35 
Sofistas e Sócrates
24 
Os pré-socráticos: 
surge a filosofia
47 
Platão: o homem 
e a cidade ideais
61 
Filosofia de 
Aristóteles
83 
Filosofia Medieval
74 
Helenismo
95 
Período 
Renascentista
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Com base no texto e em seus conhecimentos, responda 
às questões.
1. Qual a importância de conhecer?
2. Por que o ser humano busca o conhecimento?
3. Quantos tipos de conhecimento existem?
4. De onde surgiu toda a diversidade de seres que existem no mundo 
e fora dele?Mosaico romano originário da Villa de Sentino. Cerca de 200-250 a.C. Gliptoteca de Munique, 
Alemanha. Neste mosaico antigo é possível observar Urano (céu) e Gaia (terra) com seus filhos. 
Segundo a mitologia grega, a união do céu com a terra deu origem aos primeiros seres a habitar 
o planeta: os titãs e as titânides.
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As perguntas da seção start 
têm o objetivo de introduzir 
algumas das questões que 
sempre intrigaram a hu-
manidade e foram o objeto 
de estudo dos primeiros 
pensadores. Promover uma 
conversa inicial, para diag-
nosticar os conhecimentos 
prévios dos alunos e pre-
pará-los para a abordagem 
inicial da disciplina.
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
(MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 19-20.)
Quando dizemos que o pensamento filosófico-científico surge na Grécia Antiga no século VI a.C., caracteri-
zando-o como uma forma específica de o homem tentar entender o mundo que o cerca, isto não quer dizer que 
anteriormente não houvesse também outras formas de se entender essa realidade. [...]
O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em 
que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens deste povo, 
bem como seus valores básicos. [...]
Por ser parte de uma tradição cultural, o mito configura assim a própria visão de mundo dos indivíduos, a 
sua maneira mesmo de evidenciar esta realidade. [...] Não há discussão do mito porque ele constitui a própria 
visão de mundo dos indivíduos pertencentes a uma determinada sociedade, tendo portanto um caráter global 
que exclui outras perspectivas a partir dos quais ele poderia ser discutido. Ou o indivíduo é parte dessa cultura e 
aceita o mito como visão de mundo, ou não pertence a ela e, nesse caso, o mito não faz sentido para ele, não lhe 
diz nada. A possibilidade de discussão do mito, de distanciamento em relação à visão de mundo que apresenta, 
supõe já uma transformação da própria sociedade e, portanto, do mito como forma reconhecida de se ver o 
mundo nessa sociedade.
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Filosofia
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mód. 01/08
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S T A R T
Mitologia e Teatro 
na Grécia Antiga
Busca pelo conhecimento • Poesia épica • Os mitos e a Filosofia
Filosofia 
grega 
clássica: do 
mito ao logos
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 10PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 10 29/07/2022 11:36:2929/07/2022 11:36:29
Busca pelo conhecimento
A Filosofia não foi a primeira manifestação 
do ser humano em busca do conhecimento. 
Antes mesmo de seu surgimento, os mitos já 
representavam uma tentativa de explicar os 
fenômenos naturais e as condutas humanas. 
Portanto, antes de estudar a Filosofia, é preci-
so compreender os mitos.
Mas afinal, o que é um mito?
A palavra mito origina-se da expressão gre-
ga mythos, que significa narração, conto. É algo 
que se conta, que se fala, é uma informação 
transmitida oralmente de uma pessoa para 
outra, de geração em geração.
Os mitos são histórias que vêm de tem-
pos muito antigos e, em geral, envolvem tan-
to seres humanos quanto seres sobrenatu-
rais, como deuses, gigantes e monstros. Não 
se sabe quem os inventou, pois suas origens 
remotas não permitem determinar um autor 
para essas narrativas. Além disso, diversos 
povos possuem mitologias que, muitas vezes, 
assemelham-se. Além disso, os mitos possuem 
função epistemológica e moral.
 ● Função epistemológica: oferece expli-
cação para um fenômeno ou aconteci-
mento, como uma tempestade ou o sur-
gimento do Universo. 
 ● Função moral: explica a razão de de-
terminadas ações serem consideradas 
corretas e louváveis e outras não. Um 
exemplo de mito com valor moral seria 
uma história que explicasse o valor do 
trabalho.
Os mitos surgiram devido à necessidade 
humana de explicar os fenômenos do mundo. 
Por que o dia se sucede à noite? Por que a lua 
muda de forma ao longo de um período regu-
lar de tempo? De onde vêm as estrelas? Para 
as primeiras sociedades, todos esses aconte-
cimentos só poderiam ter uma origem divina 
e sobrenatural.
O conjunto de vários mitos de determina-
da cultura ou povo chama-se mitologia. Esta 
reflete as principais características de um 
povo, já que fornece as crenças e os valores 
reconhecidos por aquela cultura. Cada mitolo-
gia possui seus mitos envolvendo o surgimen-
to do Universo, do homem, do trabalho, das 
guerras, das tempestades, entre tantas outras 
questões.
Dessa forma, temos a mitologia grega, a 
mitologia egípcia, a mitologia celta, a mitologia 
dos povos orientais e também as mitologias 
dos povos indígenas que ajudaram a formar a 
cultura brasileira. 
Outro ponto muito importante é que 
os mitos não precisavam ser comprovados, 
pois acreditava-se que eram mensagens 
GlossárioGlossário
Epistemológica: que se 
refere a um conhecimento 
organizado e estruturado.
 transmitidas pelos próprios deuses, portanto, 
possuíam um valor de verdade e eram aceitos 
como tal. Além disso, as narrativas mitológicas 
eram consideradas sagradas e, geralmente, 
eram contadas por pessoas que possuíam au-
toridade dentro do grupo, como os sacerdotes. 
Nas narrativas mitológicas, os deuses pos-
suíam atributos humanos, como inveja, raiva, 
piedade, ciúme.
Mitologia grega 
A mitologia grega é uma das mais fasci-
nantes e complexas da história da humanida-
de e influenciou a formação de toda a cultura 
ocidental. Não se sabe ao certo de onde ela 
surgiu, nem como se estruturou, mas o fato é 
que chegou até a atualidade devido aos poetas 
Hesíodo e Homero, os primeiros a registrá-la 
por escrito.
A mitologia grega narra os acontecimen-
tos desde antes da origem do universo até 
sua formação e ordenação. Ela se divide em 
três eras ou gerações: de ouro, de prata, e de 
bronze, além de narrar também a passagem 
do caos para o cosmos, bem como a geração 
dos homens.
Do caos ao cosmos 
Antes do surgimento do universo, reinava o 
caos absoluto, também identificado com o va-
zio ou vácuo. Os primeirosseres que existiam 
eram os deuses primordiais, que surgiram no 
momento da criação, e a partir dos quais toda 
a diversidade de seres e fenômenos do mundo 
passaram a existir. Por esse motivo, Caos é o 
primeiro deus primordial a existir.
Dentre os deuses primordiais, além de 
Caos, estão: Gaia (terra), Urano (céu), Nix (noi-
te), Éter (ar), Tártaro (inferno ou submundo), 
Ananque (destino), Eros (amor) e Tésis (criação).
Os mitos existem porque 
o ser humano possui 
um anseio natural pelo 
conhecimento. O modo ativo 
de pensar, analisar, refletir, 
criar, e assim modificar a 
realidade, coloca os seres 
humanos em uma condição 
de querer entender as 
coisas, compreender os 
fenômenos que os cercam.
ObserveObserve
GlossárioGlossário
Caos (do grego Kaos): 
significa a primeira etapa da 
criação do universo, em que 
tudo já existia, mas estava 
desorganizado e caótico. 
Cosmos (do grego Kosmos): 
significa ordem, harmonia, 
e corresponde ao momento 
em que o caos inicial se 
ordenou harmonicamente 
e passou a existir tal qual 
ele é.
O mundo sempre foi um mistério para a humanidade e, desde o princípio, buscou-se explicar como 
tudo passou a existir.
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PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 11PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 11 29/07/2022 11:36:3029/07/2022 11:36:30
CABOFERRI, Giovan Francesco (sobre o desenho de LOTTO, Lorenzo). 
Magnum Chaos. 1524-1531. Afresco. Basílica de Santa Maria Maior, 
 Bérgamo (Itália).
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Geração de ouro
A primeira geração da mitologia grega é a 
de ouro e corresponde aos filhos dos deuses 
primordiais. Alguns desses filhos foram gera-
dos espontaneamente por um só deus, outros, 
pela união de dois deuses – como Gaia, filha 
apenas do Caos, e Éter, filho de Nix (noite) e 
Érebo (trevas).
Na extensa lista das divindades da geração 
de ouro estão aqueles que correspondem aos 
elementos da natureza, como das montanhas 
e bosques, das pastagens, dos pomares, do 
dia, da noite, assim como as divindades que 
representam estados de espírito, como as da 
tristeza, da violência, dos vícios etc.
BOUGUEREAU, William-Adolphe. A noite. 1883. Museu de Hillwood, 
Washington D.C. (EUA). Dos filhos que Nix gerou sozinha, muitos re-
presentam ações morais boas (prudência, ética, cuidado etc.) ou más 
(inveja, ciúme, fome etc.).
Geração de prata
A segunda geração da mitologia grega é a de prata, corresponde à criação dos titãs (masculino) 
e titânides (feminino) e outros seres monstruosos, como os gigantes e os ciclopes. 
Segundo contam as histórias, Urano (gerado por Gaia) tornou-se marido dela e, juntos, tive-
ram muitos filhos. Urano, então, tornou-se o primeiro senhor do Cosmos e, também, o primeiro 
grande tirano. 
Entre os filhos de Urano e Gaia está o titã Cronos (que representa o tempo e que, mais tarde, 
destronou seu despótico pai).
VASARI, Giorgio. Cronos castrando Urano. 1580. Afresco. Sala di Cosimo, Pallazzo Vechio, Itália.
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GlossárioGlossário
Ciclopes: monstros de 
um olho só, responsáveis 
pela forja dos relâmpagos. 
Foram imortalizados após a 
titanomaquia, empreendida 
mais tarde por Zeus.
Saiba maisSaiba mais
Titãs: Oceano, Ceos, Crio, 
Hiperíon, Jápeto, Cronos.
Titânides: Téia, Réia, Mne-
mósina, Febe, Tétis.
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PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 12PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 12 29/07/2022 11:36:3329/07/2022 11:36:33
Geração de bronze 
A terceira geração da mitologia grega é a de 
bronze e corresponde aos filhos dos titãs. 
Quando o titã Cronos destronou seu pai 
(Urano), tornou-se igualmente despótico, pois 
uma profecia dizia que ele seria destronado 
por um de seus filhos. Temendo que a profecia 
se concretizasse, Cronos, que era casado com 
Reia, passou a devorar os próprios filhos. Sua 
esposa, no entanto, conseguiu salvar um deles 
desse trágico fim, entregando-o às ninfas para 
criá-lo. Esse filho era Zeus. 
Mais tarde, Zeus enfrentou seu temível pai 
e todos os titãs, o que ficou conhecido como 
titanomaquia. Vencidos, os titãs foram apri-
sionados no Tártaro (inferno). Depois de ven-
cer os gigantes, Zeus enfrentou ainda uma das 
mais difíceis batalhas, empreendida contra o 
gigante Tifão (deus dos ventos), vencendo-o e 
tornando-se, então, o novo senhor do cosmos. 
A geração de bronze corresponde aos 
doze deuses do Olimpo, a saber: Zeus, 
Hera, Poseidon, Atena, Ares, Deméter, Apolo, 
Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dioniso.
Estátua de Zeus, o mais importante dos doze deuses do Olimpo.
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Geração dos homens 
A obra Teogonia, do poeta grego Hesíodo, 
narra o surgimento dos deuses e também dos 
seres humanos ou seres mortais. Segundo re-
lata o poeta, os seres humanos passaram por 
cinco grandes eras, que correspondiam às cin-
co raças.
 ● Era de ouro: corresponde ao período 
anterior à luta de Zeus com Cronos. 
Nessa fase, os mortais viviam em plena 
harmonia entre si e com a natureza. Não 
havia fome, velhice ou doenças, nem 
precisavam trabalhar. A morte se asse-
melhava a uma grande noite de sono. 
Nessa era viveu a raça de ouro.
 ● Era de prata: depois que Zeus venceu 
seu pai, Cronos, surgiu a raça de prata, 
caracterizada pela violência, ignorância e 
falta de reverência aos deuses do Olim-
po. Irado, Zeus enviou os homens de 
prata para o Submundo.
GlossárioGlossário
Deuses do olimpo: também 
conhecidos como deuses 
olímpicos, eram aqueles 
que habitavam o Monte 
Olimpo e que compõem o 
panteão grego.
 ● Era de bronze: nesse período, viveu a 
raça de bronze, mais inteligente que a 
anterior, porém eram guerreiros que 
portavam armas e escudos de bronze, 
contudo acabaram matando uns aos 
outros e também foram parar no Sub-
mundo.
 ● Era de ferro: Zeus insistiu em criar mais 
uma raça, a de ferro, que era composta 
por homens que trabalhavam e tinham 
noção do bem e do mal. A raça de ferro 
foi salva pelo titã Prometeu, contra a fú-
ria dos deuses. Então, ele ensinou a raça 
de ferro a arte da medicina e da nave-
gação, bem como o sacrifício de animais 
para reverenciar aos deuses.
 ● Era dos homens: depois de receberem 
o fogo de Prometeu, os seres humanos 
foram amaldiçoados pelos deuses e ex-
pulsos da Terra. Prometeu e sua esposa, 
Mirra, foram pedir ajuda ao oráculo de 
Delfos, onde foram aconselhados a jo-
garem os ossos de seus ancestrais para 
trás das costas. Então, eles pegaram as 
pedras do chão, que vieram de Gaia (a 
deusa mãe), e, para cada pedra lançada, 
surgiu um ser humano.
A partir da explicação desses mitos pode-
mos compreender de maneira mais clara como 
auxiliaram na formação cultural da Grécia 
Antiga. Com isso, podemos sintetizar que os 
mitos foram essenciais no processo de educa-
ção do homem grego. Ou seja, toda a constru-
ção grega posterior envolvendo a literatura, a 
política, o direito e mesmo a Filosofia tem, em 
grande parte, influência do legado mitológico 
deixado por estas narrativas que atravessa-
ram tantos séculos.
FÜGER, Heinrich Friedrich. Prometeu leva o fogo à humanidade. 
1817. Óleo sobre tela.
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Saiba maisSaiba mais
Atlas, filho do titã Jápeto, foi 
condenado por Zeus a carre-
gar o mundo nas costas.
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Poesia épica
Outro aspecto relevante para a influência dos mitos na educação grega foi o registro escrito 
de suas histórias. Como já foi dito, os mitos são narrativas orais que passam de geração em gera-
ção. Contudo, em dado momento, passaram a representar tamanha força na formação do caráter 
grego que as principais histórias começaram a ser registradas. Os responsáveis por esses regis-
tros foram os grandes poetas gregos Homero e Hesíodo, considerados por muitosestudiosos os 
primeiros a registrar por escrito as narrativas que até então eram orais.
A poesia épica, também conhecida como epopeia, é um gênero literário que se caracteriza 
pela narrativa de diversas histórias curtas, dentro de um contexto mais amplo. Essas histórias 
geralmente se relacionam com os feitos de deuses, semideuses e heróis da mitologia. As obras de 
Homero (Ilíada e Odisseia) são consideradas as mais antigas epopeias do Ocidente e chegaram até 
a atualidade praticamente intactas e completas. 
Naquela época, os poetas eram considerados pessoas com dons divinatórios especiais, pois 
acreditava-se que os poemas eram recebidos por uma espécie de iluminação divina, como se 
fossem ditadas pelos deuses. A poesia épica, juntamente com o teatro, teve fundamental impor-
tância no processo de educação na Grécia Antiga, pois, por meio desses cantos, comumente ence-
nados nos teatros, eram passados os valores necessários para tornar as pessoas mais virtuosas.
Homero 
Homero foi um lendário poeta épico que teria vivido na 
Grécia Antiga no século VIII a.C. Escreveu duas das principais 
obras da Antiguidade: Ilíada e Odisseia, que mostravam gran-
de preocupação com a formação ética e espiritual do homem, 
descrevendo as mais diversas situações passadas na vida, 
sempre enfatizando um modo de viver com base nas virtudes 
do homem, usando os mitos como forma de educar o povo.
A primeira grande obra escrita por Homero foi Ilíada, que 
trata de um modelo de vida dentro de um estado de guerra, 
mas sempre tendo em vista a busca pela excelência, que os 
gregos chamavam de Areté. 
Pouco se sabe sobre a vida de Homero, que viveu no sé-
culo VIII a.C. O que se sabe é que ele não foi testemunha dos 
fatos narrados nas suas obras Ilíada e Odisseia, pois estes 
acontecimentos ocorreram cerca de quatro séculos antes de 
sua existência.
Ilíada 
A história narra a guerra cujo es-
topim foi o fato de Páris, príncipe troia-
no, ter raptado a esposa de Menelau, 
monarca grego. Disposto a recuperar 
sua esposa, Menelau pede a ajuda de 
Agamêmnon, seu irmão, e logo os de-
mais reinos gregos se juntam em bata-
lha contra os troianos. Nessa obra sur-
ge a figura do herói, como aquele que 
supera seus limites e é capaz de atos 
grandiosos.
A temática central da obra diz res-
peito à ira de Aquiles, semideus e gran-
de herói da Guerra de Troia. Ele mata 
Heitor, o Príncipe troiano, depois de 
descobrir que Pátroclo, seu primo, havia 
sido assassinado por ele. Aquiles era imortal, mas possuía um ponto vulnerável: o calcanhar, onde 
acabou atingido por uma flecha disparada por Páris.
Quando novo, recebeu uma profecia: viveria eternamente tendo uma vida comum ou, caso 
fosse a uma guerra, iria realizar grandes feitos, mas acabaria morrendo.
Busto de Homero. Século I ou II d.C. Mármore. 
British Museum, Londres (Inglaterra). 
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GlossárioGlossário
Areté: o termo em portu-
guês que mais se aproxima 
de Areté é virtude, a ação 
que busca a perfeição 
e harmonia.
Corpo de Heitor sendo levado de volta à Troia. Cerca de 180-200 d.C. Alto relevo em 
mármore. Museu do Louvre, Paris (França).
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Saiba maisSaiba mais
A questão existencial 
em Aquiles
A história de Aquiles permi-
te-nos compreender melhor 
a ideia de destino para os 
gregos, com a questão da 
responsabilidade de cada 
pessoa perante o próprio 
destino.
Se Aquiles não fosse à guer-
ra, viveria eternamente, mas 
não faria nada de grandioso 
em sua vida. Se fosse à 
guerra, morreria, mas seria 
lembrado eternamente 
como um herói. Aquiles 
enfrenta suas dúvidas e vai 
à Guerra de Troia, ou seja, 
prefere uma vida breve, mas 
repleta de heroísmo e feitos 
extraordinários a uma vida 
longa e sem realizações. 
Para os gregos isso simboli-
zava duas coisas:
Imortalidade: é muito maior 
que uma ideia de viver 
“eternamente” ou “viver 
para sempre”. É imortal o 
homem lembrado eterna-
mente por seus feitos em 
vida. Ou seja, Aquiles, ainda 
que morto, eternizou-se por 
suas façanhas na Guerra 
de Troia. 
Questão do destino: Aquiles 
já tinha seu futuro decre-
tado, mas a forma como 
tudo isso se desenrolaria 
dependeria de sua escolha: 
lutar ou não. Nesse sentido, 
deuses determinavam as 
condições da existência de 
cada um, mas não o final, 
não aquilo que eu faço com 
a vida que recebi, nem todas 
as decisões. 
Aquiles na corte do rei 
 Licomede.
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Odisseia 
Esta obra de Homero narra o retorno de 
Odisseu, um grande guerreiro grego, da Guerra 
de Troia para Ítaca, onde ficava sua casa.
O que impediu o retorno ao seu lar logo de-
pois do fim da guerra foi a arrogância de 
Odisseu diante de Poseidon.
TIEPOLO, Giovanni Domenico. O cavalo de Troia. 1760. Óleo sobre tela. 
The National Gallery, Londres (Inglaterra). Odisseu foi o grande herói 
da Guerra de Troia, devido a estratégia que usou para invadir a cidade: 
construir um cavalo de madeira monumental e oferecer de presente 
para os troianos, mas, dentro do cavalo, estava todo o exército de 
Odisseu, que acabou invadindo e tomando a cidade.
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Odisseu acredita não precisar mais dos deu-
ses para conduzir a sua vida. Por causa disso, 
Poseidon, o deus do mar, atrasou por 20 anos 
a chegada de Odisseu a Ítaca, sua terra natal, 
como punição a este desrespeito. Foi somente 
depois de superar a soberba que Odisseu pôde 
rever sua esposa e seu filho, agora já adulto. 
Perseguidos por Poseidon, Odisseu e sua tri-
pulação passaram por muitas provas para su-
perar a ira do deus dos mares, como enfrentar 
as Sirenas, desvencilhar-se da ninfa Circe e de 
seus ardis e lutar contra o Ciclope. Por meio da 
astúcia e inteligência, Odisseu enfrentou cada 
um dos desafios 
com verdadeira are-
té (virtude), digna de 
um herói. 
Quando venceu 
a soberba, Odisseu 
foi capaz de enten-
der que o homem 
é apenas parte do 
cosmos e que preci-
sa cultivar humilda-
de e respeito diante 
das forças maiores 
da natureza, repre-
sentadas pela figura 
de Poseidon.
Hesíodo
Hesíodo foi um poeta que viveu na Grécia 
no final do século VIII a.C. ou início do século VII 
a.C. Em sua obra, Hesíodo retrata a vivência do 
camponês naquele período histórico. Em sua 
região, a terra era difícil de ser cultivada, de 
Estátua de Poseidon. Cerca de 125-110 
a.C. Mármore. Museu Arqueológico 
Nacional, Atenas (Grécia). Poseidon, 
deus grego que detinha o poder 
sobre os mares e castigou Odisseu 
por sua arrogância. 
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forma que o sustento só poderia ser obtido com 
a luta diária e incessante do trabalho no campo.
O trabalho garantia os alimentos para a so-
brevivência e a possibilidade de aumentar a ri-
queza para ter uma vida confortável. 
Porém, outro fator tornava a situação ainda 
mais complicada: a luta contra a injustiça. Isso 
pode ser evidenciado na própria experiência vi-
venciada pelo poeta. Quando o pai de Hesíodo 
morreu, iniciou-se um confronto judicial entre 
ele e seu irmão, Perses, pela herança. Porém, 
Perses subornou os juízes e venceu o conflito.
O sentimento de inconformismo diante das 
injustiças que aconteciam em sua época, em 
que os mais ricos prevaleciam sobre os mais 
pobres, surgiria em seus poemas em tons dra-
máticos e desafiadores. Hesíodo não aceitava 
as injustiças de seu tempo, e por isso se pôs 
não apenas como poeta, mas como educador 
de seu povo.
Lousi Kato, ao norte de Kastria, Achaia, Grécia. Esta imagem mostra o 
solo grego, difícil para o cultivo.
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Para Hesíodo, em sua época, apenas dois 
bens eram essenciais: trabalho e justiça. Nesse 
contexto, cada indivíduo deveria colocar todo 
esforço para criar uma vida melhor, trabalhan-
do muito e buscando a justiça. 
As duas principais obras de Hesíodo são 
Teogonia eOs Trabalhos e os Dias. A primeira 
trata da origem dos deuses, do mundo e do 
próprio homem. A segunda apresenta a condi-
ção existencial do homem grego no momento 
histórico em que foi escrita. 
Os Trabalhos e os Dias 
A obra está dividida em duas partes 
 principais. Na primeira parte, Hesíodo mostra 
a necessidade da justiça e do trabalho para o 
homem. Constam essas ideias na narrativa das 
duas lutas, no mito de Prometeu e Pandora, no 
mito das cinco raças e na sátira contra os reis, 
iniciada pela fábula do falcão e o rouxinol. Já a 
segunda parte corresponde a conselhos prag-
máticos e calendários relativos à agricultura 
e à navegação, incluindo observações morais 
com caráter de crítica.
Busto de Hesíodo.
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GlossárioGlossário
Sirenas: figuras mitológicas 
que viviam nos mares. 
Eram meio pássaros e meio 
mulheres e enfeitiçavam 
os marinheiros com seu 
canto sedutor, fazendo-os 
caírem no mar e morrerem 
afogados.
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Helena de Troia – paixão 
e guerra
Diretor: John Kent Harrison
Ano: 2003
Mostra as razões do surgi-
mento da Guerra de Troia e 
como o destino influencia a 
vida das pessoas. É excelen-
te para evidenciar as ideias 
do homem grego, como a 
honra e a lealdade a uma 
causa maior.
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A Odisseia
Diretor: Andrei Konchalovski
Ano: 1997
Retrata as dificuldades que 
Odisseu tem que enfrentar 
para conseguir voltar à sua 
terra natal, após o término 
da Guerra de Troia. Esses 
desafios muito se asseme-
lham às batalhas diárias de 
cada pessoa para encontrar 
o caminho de realização.
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PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 15PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 15 29/07/2022 11:36:3929/07/2022 11:36:39
Hesíodo enxergava o trabalho como a forma 
de obter e cultivar a virtude em meio à existên-
cia sofrida destinada ao ser humano. Para ele, o 
trabalho é uma necessidade humana, e a justiça, 
um dever. 
Dentro desta obra há ainda a história das 
cinco idades do mundo, que demonstra cinco 
momentos diferentes na história do homem, 
conforme foi visto anteriormente.
Hesíodo possui um caráter prático. Não bus-
cou tratar de assuntos que não eram de seu 
tempo, ou de falar sobre o belo, o perfeito, o 
melhor. 
Sabendo dos erros e das injustiças de sua 
época, buscou uma maneira de educar o povo 
a fazer diferente. Acreditava que os deuses ti-
nham abandonado os homens porque estes ti-
nham se tornado corruptos, e que a única salva-
ção seria o duro e constante trabalho na terra. 
Nessa luta com a terra, o homem também 
trava uma batalha com suas ideias, pois há mu-
danças de comportamentos e pensamentos, 
que são espelhados nos próprios poemas ao 
se denunciar a corrupção e a injustiça daquele 
tempo.
Os mitos e a Filosofia
O mito não é uma coisa do 
passado, pois ainda hoje 
ele é usado para explicar 
fenômenos que ainda fogem 
da possibilidade de uma 
explicação científica. As len-
das, o folclore regional, os 
milagres etc., são exemplos 
disso.
ObserveObserve Por meio dos mitos buscava-se encontrar explicações para os fenômenos naturais e sociais. 
Em outras palavras, os povos primitivos, e também os gregos, acreditavam que os mitos conti-
nham verdades sobre o mundo e a vida em suas narrativas influenciadas pelos deuses. No en-
tanto, a partir de certo momento, começou-se a pensar que essa “verdade” das coisas não mais 
estaria nos mitos, mas nos próprios fenômenos. Por exemplo, em vez de se tentar explicar o 
surgimento do relâmpago a partir de uma narrativa, é necessário estudar o próprio fenômeno do 
relâmpago. Essa passagem será decisiva para o nascimento da Filosofia como explicação racional 
das coisas. 
Por outro lado, é importante notar que o surgimento da Filosofia não causou a ruptura e o es-
quecimento da mitologia. No decorrer da história da Filosofia, é possível notar que filósofos como 
Platão não pouparam esforços em utilizar mitos para explicar suas ideias. Na obra A República, de 
Platão, podemos encontrar o mito da caverna e o mito de Er, que compõem as ideias de constru-
ção da cidade existentes na obra. 
O mito segue como uma forma de compreensão e interpretação do mundo, e sempre que o 
estudamos podemos identificar uma representação da realidade muito profunda em suas histó-
rias que, por mais fantásticas que pareçam, guardam ensinamentos que nos colocam em contato 
com a origem, a essência e o movimento do universo do qual fazemos parte.
Os mitos no século XX
Hoje em dia, ainda é comum buscar explicações fictícias para fenômenos que não consegui-
mos compreender. Pensemos na figura do boitatá, por exemplo, representado na maioria das 
vezes como uma cobra de fogo que queima todos aqueles que tentam incendiar as matas e flores-
tas. A existência desse mito pode ser explicada pela ciência por meio do fogo-fátuo, que é forma-
do pelos gases inflamáveis que emanam dos pântanos e dos restos mortais de grandes animais. 
Esses gases, vistos de longe, se assemelham ao fogo em movimento.
Além de explicação das coisas, existem ainda hoje mitos que nascem da busca por uma ori-
gem, um passado remoto em que tudo era perfeito. Essa busca pelas origens fez com que, no fim 
do século XIX, surgissem os nacionalismos. O despertar do nacionalismo que buscava as raízes 
de sua nação foi transformado em propaganda política. A figura do arianismo, da raça pura, é um 
exemplo, que foi representado pelos alemães e depois difundido pelo regime nazista. O ariano 
era ao mesmo tempo o herói e o ancestral, seria um ser puro, que precisava ser resgatado para 
que houvesse a reestruturação da sociedade.
GlossárioGlossário
Nacionalismo: é uma exalta-
ção do sentimento nacional, 
a ponto de se criar uma 
preferência significativa por 
tudo aquilo que é da nação 
a qual se pertence. A política 
interna de um Estado nacio-
nalista se volta totalmente 
para o desenvolvimento de 
seu poderio. Ocorre uma 
nacionalização de todas as 
atividades do país, seja a 
indústria seja o comércio.
POLLAIUOLO, Antonio del. Hércules e a Hidra. 1475. Têmpera sobre 
madeira. Galeria Uffizi, Florença (Itália). Hesíodo também escreveu uma 
obra chamada Escudo de Hércules.
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No Brasil, vive-se um momento de ressignificação, de busca por uma verdadeira identidade 
cultural. A herança mitológica deixada pelos indígenas e pelos povos africanos, juntamente com a 
herança cultural trazida pelos imigrantes, como os italianos, os alemães e os japoneses, associa-
ram-se entre si e acabaram por reconfigurar-se, constituindo uma essência única característica 
do povo brasileiro.
O teatro na Grécia Antiga 
Foi observada anteriormente a importância dos mitos na educação do homem grego. Primeiro 
eles eram transmitidos oralmente de geração em geração. Depois, passaram a ser registrados e 
cantados pelos poetas. Posteriormente, os gregos seguiram adiante. 
O período do século VI a.C. ao século IV a.C. é caracterizado pela difusão das grandes peças 
de teatro, a atividade cultural favorita dos gregos antigos. Mas esses espaços não eram apenas de 
diversão, eram sobretudo espaços de educação, pois ajudavam o indivíduo a praticar as virtudes 
e exercer a cidadania plena. Werner Jaeger, um autor alemão importantíssimo por apresentar 
o processo histórico e cultural de formação do homem grego desde as poesias de Homero e 
Hesíodo, descreve o teatro da Grécia Antiga como um espaço de pedagogia para os indivíduos.
Segundo Jaeger, o teatro possui várias dimensões da existência. Destacam-se:
 ● Dimensão psicológica: retratada nos di-
lemas existenciais vividos pelos perso-
nagens e que, inclusive, serão motivo de 
estudo de autores consagrados muitos 
séculos depois. Exemplos de tragédias 
gregas desse tipo são: Édipo Rei, de Sófo-
cles, e Medeia, deEurípedes. 
 ● Dimensão religiosa: seu objetivo era 
 demonstrar que o ser humano é ape-
nas parte do cosmos, e por isso não 
era completamente livre, pois precisava 
aprender a conhecer a força do destino, 
influenciado pelos deuses. Exemplo: a 
obra Prometeu acorrentado, de Ésquilo. 
 ● Dimensão social: as obras mesclam ele-
mentos políticos e jurídicos. O teatro gre-
go servia também para promoção de valores democráticos e do bem comum. A comédia de 
Aristófanes enquadra-se aqui, uma vez que realiza várias críticas sociais, bem como obras de 
Eurípedes, como As suplicantes, na qual a decisão democrática do povo sobre determinado pro-
blema que envolvia a cidade é uma das primeiras obras com teor preponderantemente político.
A origem da palavra “teatro” é alvo de grandes discussões até hoje. Para alguns estudiosos, 
ela significaria “como deus se manifesta diante do povo”. Era como se todos os espectadores dos 
teatros gregos assistissem a uma aula de psicologia e filosofia dos próprios deuses. Por isso di-
ziam que os teatros gregos eram tão emocionantes, pois mexiam com emoções internas que todo 
cidadão experimentava, promovendo na plateia o que se chama catarse. O teatro grego divide-se 
em dois gêneros: a tragédia e a comédia.
Tragédias 
As tragédias situam-se na constante relação entre o homem e o divino. Sempre há um herói 
trágico que recebe indicações dos deuses de como deve agir em sua vida (pode ser por meio de 
uma profecia ou mesmo de uma conversa direta com um deus). Mas esse herói, por algum motivo 
pessoal, decide não seguir a orientação divina, e por isso comete crimes ou erros trágicos que 
trazem sofrimento para ele, sua família e sua cidade.
As grandes tragédias gregas originaram-se das festas em homenagem ao deus do vinho, 
Dionísio. Inclusive os eventos eram acompanhados por procissões e sacrifícios. Com o tempo, os 
festivais foram crescendo tanto em popularidade que se tornaram por si só eventos de grande 
importância cultural para o povo grego.
Os principais autores das tragédias gregas foram: Ésquilo, Sófocles, Eurípedes. 
Ésquilo nasceu em 525 a.C. na cidade de Elêusis, próxima à Atenas. Foi considerado o funda-
dor do estilo poético conhecido como tragédia e suas principais obras são: Os persas, Prometeu 
acorrentado, Agamêmnon, Eumênides e Coéforas. Na obra de Ésquilo, os deuses são personagens 
presentes o tempo inteiro, advertindo as pessoas como devem agir.
O teatro grego era repre-
sentado por atores, todos 
homens, e o coro.
Os atores usavam máscaras, 
feitas de diversos materiais 
e indicavam as caracterís-
ticas do personagem – se 
era trágico ou cômico ou 
mulher. O coro era um grupo 
de atores, sem individuação, 
que comentava coletiva-
mente as ações representa-
das na peça.
O coro era um grupo de 
pessoas localizado em lugar 
à parte do cenário, não 
intervindo diretamente na 
história, mas sempre dialo-
gava com os personagens, 
estimulando-os, criticando-
-os, enaltecendo-os, entre 
outras ações.
Representação de máscara 
teatral grega do deus Dionísio, 
de II a.C.
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ObserveObserve
BiografiaBiografia
Werner Jaeger (1888-1961) 
escreveu o livro Paideia – a 
formação do homem grego, 
em que o foco de estudo é 
o modelo de formação do 
homem grego.
GlossárioGlossário
Catarse: do termo grego 
kathársis, significa purifica-
ção da alma provocada na 
plateia pelo sofrimento vi-
venciado pelos personagens 
teatrais. Era uma espécie 
de estado de êxtase para 
expurgar os sofrimentos 
da vida e renovar as forças 
para enfrentar obstáculos 
futuros.
Busto de Ésquilo.
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JALABERT, Charles. Édipo e Antígona. 1842. Óleo sobre tela. Museu de 
Belas-Artes da Marselha (França). Antígona conduz seu pai Édipo Rei, que 
cegou a si mesmo depois de descobrir que era o assassino de seu pai.
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Busto de Sófocles.
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Teatro de Dionísio, na Grécia. Aqui foram encenadas tragédias 
de Sófocles e Eurípides.
Sófocles nasceu em Atenas, provavelmente em 495 a.C., e morreu 
na mesma cidade, no ano 406 a.C. Escreveu várias peças, porém ape-
nas sete chegaram aos dias atuais: Ajax, Antígona, As Traquíneas, Édipo 
Rei, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono. Sófocles aprofunda os dilemas 
humanos do cotidiano abordados por seu antecessor Ésquilo. Na obra 
de Sófocles, os deuses já não são personagens tão presentes, manifes-
tam-se com mensagens ocultas transmitidas por meio de profecias.
A mensagem divina aparece na forma do destino, isto é, cada pes-
soa possui um caminho antes determinado pelos deuses e é preciso 
conhecê-lo para não cair em sofrimento. As principais obras sobre 
Édipo compõem a Trilogia Tebana: Édipo Rei, Édipo em Colono e 
Antígona.
Eurípedes, considerado o autor que es-
creveu o maior número de obras trágicas 
da Grécia, viveu entre 480 e 406 a.C. Em suas obras predomina a dis-
cussão sobre os dilemas humanos, sociais e políticos dentro da cida-
de. Este é o grande fato que o diferencia dos demais autores de tragé-
dias. Eurípedes reduz a importância das questões divinas, trazidas por 
Ésquilo, e das questões sobre o destino, por Sófocles, para adentrar em 
um novo mundo, onde o homem é o membro da pólis. 
Eurípedes foi considerado o autor que chegou mais perto da rea-
lidade social, ao buscar relatar a situação do cotidiano na sociedade, 
aproximando-se de forma realista de seus problemas e suas dificulda-
des. Em suas obras expunha que nem sempre os nobres e guerreiros 
eram os heróis, mas que um cidadão comum também poderia se tornar um protagonista social.
Outra característica importante nas obras de Eurípedes é o valor conferido às personagens fe-
mininas, sempre apresentadas com bravura e força psicológica, revelando serem por vezes cruéis 
e fascinantes.
Comédias 
As comédias são conhecidas até hoje como aquelas peças que con-
seguem levar o indivíduo ao humor, ao riso. Na Grécia Antiga, a co-
média tinha grande importância, pois possibilitava fazer uma crítica a 
todas as esferas: política, econômica e social. Ninguém estava livre das 
críticas da comédia: nobres, governantes, filósofos e até mesmo deu-
ses, todos eram alvos das comédias.
O maior representante das comédias na Grécia Antiga foi Aristófanes 
(450-385 a.C.), que conseguia total atenção do povo com suas cenas ex-
travagantes e suas sátiras bem elaboradas. Seu objetivo era chamar a 
atenção do público para aquilo que estava acontecendo na política e na 
cultura da cidade, como problemas de corrupção. Permitindo ao povo 
sair da indiferença e começar a questionar a administração pública, as 
guerras e até mesmo os próprios hábitos. Uma de suas grandes comé-
dias chama-se Lisístrata. Essa obra foi escrita na época da Guerra do 
Peloponeso, com intenção de promover de forma humorística a paz entre Atenas e Esparta. Uma 
curiosidade quanto ao nome da personagem principal, que deu o nome à obra, é que no grego 
Lisístrata quer dizer “aquela que dissolve” ou “aquela que separa exércitos”.
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Édipo Rei
Diretor: Pier Paolo Pasolini
Ano: 1967
Apresenta a história de 
Édipo partindo de uma 
relação com a atualidade. 
É excelente para demons-
trar como a história das 
tragédias gregas pode ser 
utilizada para evidenciar 
experiências do cotidiano de 
qualquer pessoa.
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Hamlet
Diretor: Kenneth Branagh
Ano: 1996
Retrata a tragédia de 
Hamlet, de Shakespeare. 
Este filme demonstra como 
as tragédias gregas influen-
ciaram a cultura, a literatura 
e a filosofia depois tantos 
séculos.
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Busto de Eurípides.
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GlossárioGlossário
Pólis: é o termo que 
designava as cidades-Estado 
gregas, pois naquela época, 
diferente de hoje, não 
existiam cidades agrupadasque formavam um Estado, 
mas cada cidade em si era 
autônoma em relação às 
outras, com seu exército, 
política e costumes.
Busto de Aristófanes.
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Atualmente a comédia é 
usada por diversos seg-
mentos, seja no marketing 
para fazer a propaganda 
de determinado produto, 
seja no jornal por meio de 
quadrinhos para fazer uma 
crítica social ou política. 
Encontre uma propaganda 
ou tirinha de jornal em que 
o humor é usado para trans-
mitir alguma informação e 
explique qual a mensagem 
transmitida. Apresente 
essa pesquisa em um breve 
texto, trazendo para sala o 
material pesquisado e, sob 
orientação do professor, 
compartilhe com os colegas.
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Atualmente, os filmes de super-heróis estão em voga no cinema; além da temática despertar 
o interesse de um público bastante diversificado, os avanços tecnológicos permitem que os su-
perpoderes sejam realizados com perfeição, levando a plateia ao delírio. Mas qual será a relação 
dos heróis modernos com a mitologia?
Leia o texto a seguir para responder às questões propostas.
20
th
 Ce
nt
ur
y F
ox
Percy Jackson e o ladrão 
de raios
Diretor: Chris Columbus
Ano: 2010
De modo descontraído, 
demonstra vários aspectos 
da mitologia grega. É uma 
boa indicação para se 
familiarizar com os deuses, 
suas relações entre si e com 
o ser humano.
FilmeFilme
Os heróis e a mitologia
Os gregos chamam-no de Hermes e os romanos de Mercúrio. Nós o chamamos de Flash. Os gregos o cha-
mam-no de Poseidon, os romanos de Netuno. Nós chamamos de Aquaman. A conexão entre os super-heróis 
e a mitologia é fascinante. Muitos veem os super-heróis como os protagonistas na mitologia moderna. Mas 
o que isso exatamente significa?
Um mito é uma maneira de se comunicar, desenvolvida por diversas culturas, por meio de histórias, 
poemas ou até mesmo músicas. Geralmente essas histórias contam fatos sobre a vida dos indivíduos e en-
sinamentos sobre onde estão localizados em meio ao universo. Contudo, é criado um paradoxo: por que 
precisamos de contos fantasiosos para relatar fatos tão simples do nosso cotidiano?
[...]
Na verdade, a gente não PRECISA dessas histórias para conseguir entender temas tão profundos, mas eles 
nos ajudam sem sombra de dúvidas. Os elementos fantásticos encontrados em mitos antigos nos ajudam a 
entendê-las. Em culturas geradas em torno de tradições orais, é mais simples lembrar dessas narrativas e é 
mais fácil passá-las adiante. Para nós, o problema não é a comunicação, mas o compromisso com certeza é. 
Se nós queremos que jovens pensem em poder e responsabilidade, nós podemos só sentar a conversar. Ou 
podemos dá-lo o Homem-Aranha. Na sua opinião, qual é o mais efetivo?
(FRANCISCO, Allan. Os heróis e a mitologia. Disponível em: <http://www.infogeekcorp.
com/2015/08/os-herois-e-mitologia.html>. Acesso em: 20 ago. 2018.)
1. Qual a relação entre os super-heróis modernos e a mitologia?
2. Por que, ainda hoje, os seres humanos necessitam de histórias fantásticas para explicar os fenômenos humanos?
3. Releia o último parágrafo do texto e responda, com suas palavras, à pergunta final presente nele.
4. Qual é o seu super-herói favorito? Preencha a ficha a seguir e apresente sua resposta para a turma.
Cole uma imagem ou 
desenhe seu super-herói 
favorito
 
Nome: Quais são seus superpoderes:
Quando e por quem foi criado: Quem é seu inimigo número 1:
Como obteve seus superpoderes: Quais os atributos humanos 
(positivos e negativos) do seu 
super-herói:
As questões de 1 a 3 podem 
ser debatidas em sala de 
aula antes do registro escrito 
individual. Já a questão 4 
pode ser apresentada por 
voluntários na aula seguinte, 
após pesquisa individual.
Tanto os super-heróis modernos quanto os da mitologia apresentam questões relacionadas à vida humana como um todo, 
possibilitando a reflexão sobre determinadas ações.
Porque as histórias fantásticas despertam o interesse e facilitam a compreensão sobre temas gerais.
Resposta pessoal. O aluno deve apresentar sua opinião sobre a diferença entre uma conversa sobre temas como poder e 
justiça e um filme ou história em quadrinhos que apresente a mesma temática de forma fabulosa. É importante que o aluno 
apresente argumentos bem estruturados e coerentes.
Thor, personagem da mitologia 
nórdica. Outras mitologias tam-
bém influenciaram a criação 
de histórias em quadrinhos 
e filmes
Ma
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19FIL
FILOSOFIA E CULTURA
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PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 19PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 19 29/07/2022 11:36:5029/07/2022 11:36:50
Resolvidos
1. Tentativa de definição do mito
[...]
A definição que a mim, pessoalmente, me parece a menos im-
perfeita, por ser a mais ampla, é a seguinte: o mito conta uma 
história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo 
primordial, o tempo fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o 
mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma 
realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou 
apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um compor-
tamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa 
de uma “criação”: ele relata de que modo algo foi produzido e 
começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do 
que se manifestou plenamente. Os personagens dos mitos são 
os Entes Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo pelo que 
fizeram no tempo prestigioso dos “primórdios”. Os mitos revelam, 
portanto, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou 
simplesmente a “sobrenaturalidade”) de suas obras. Em suma, os 
mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramáticas, irrupções 
do sagrado no Mundo. É essa irrupção do sagrado que realmente 
fundamenta o mundo e o converte no que é hoje. E mais: é em 
razão das intervenções dos Entes Sobrenaturais que o homem é o 
que é hoje, um ser mortal, sexuado e cultural.
[...]
(ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972. p. 9.)
De acordo com o texto lido e com seus conhecimentos sobre os 
mitos, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
a) ( ) Os mitos são histórias fantasiosas que podem ser consi-
deradas de ficção.
b) ( ) Chama-se mitologia aquela que foi inventada na Grécia 
Antiga e disseminada para o restante do mundo.
c) ( ) Segundo o autor, os mitos são tentativas de explicar como 
as coisas passaram a existir e são tais quais a vemos hoje.
d) ( ) Os mitos possuem a mesma definição que a palavra 
religião.
e) ( ) A mitologia revela as irrupções do sagrado no mundo.
 9 Resposta:
a) Falso. Os mitos, apesar de serem histórias fantasiosas, não são 
ficção, porque possuem um caráter de verdade.
b) Falso. Todos os povos, do mundo todo, possuem seus mitos. A 
mitologia grega é apenas uma dentre inúmeras outras.
c) Verdadeiro. Os mitos narram a origem da realidade total, como 
o Cosmo, mas também de fragmentos da realidade, como o sur-
gimento de seres, elementos, fenômenos e atitudes humanas.
d) Falso. Apesar de muitas religiões apresentarem narrativas com 
características mitológicas, mito não é sinônimo de religião.
e) Verdadeiro. A mitologia explica, de forma fantasiosa, a origem 
de tudo o que existe a partir de uma força divina e, portanto, 
sagrada.
2. (UEPB) “Uma das principais expressões da arte grega, o teatro, 
tem suas origens ligadas às Dionisíacas, festas em homenagem a 
Dioniso, deus do vinho.”
(Myriam Mota e Patrícia Braick, História das Cavernas 
ao Terceiro Milênio, 2002. p. 65.)
Dois gêneros clássicos do teatro grego originaram-se destes fes-
tivais, são eles:
a) melodrama e tragédia
b) drama e pantomima
c) tragédia e drama
d) vaudeville e comédia
e) tragédia e comédia
 9 Resposta: E
a) Incorreto, pois o melodrama é um gênero que surgiu noséculo XVII.
b) Incorreto, porque drama é uma forma genérica de nomear 
qualquer peça de caráter grave ou patético; e também porque 
pantomima é um gênero teatral que surgiu posteriormente na 
Roma Antiga.
c) Incorreto apenas pelo drama, conforme foi descrito no item an-
terior, pois a tragédia é um dos gêneros criados na Grécia Antiga.
d) Incorreto apenas pelo vaudeville, que é um gênero de entreteni-
mento surgido nos Estados Unidos no século XIX; a comédia foi 
um dos gêneros criados na Grécia Antiga.
e) Correta, pois ambas, tragédia e comédia, foram criadas na Gré-
cia Antiga.
Praticando
1. O que são os mitos? Quais as razões de seu surgimento?
2. Leia a narrativa a seguir para responder ao que se pede.
Os Guarani contam que o processo de criação do mundo teve 
início com Ñane Ramõi Jusu Papa ou “Nosso Grande Avô Eterno”, 
que se constituiu a si próprio do Jasuka, uma substância originária, 
vital e com qualidades criadoras. Foi quem criou os outros seres 
divinos e sua esposa, Ñande Jari ou “Nossa Avó”, foi alçada do cen-
tro de seu jeguaka (...), o adorno ritual. Criou também a terra que 
então tinha o formato de uma rodela, estendendo-a até a forma 
atual; levantou também o céu e as matas. Viveu sobre a terra por 
pouco tempo, antes que fosse ocupada pelos homens, deixando-a, 
sem morrer, por um desentendimento com a mulher. Tomado de 
profunda raiva causada por ciúmes, quase chegou a destruir sua 
própria criação que foi a terra, sendo impedido, contudo, por Ñande 
Jari com a entoação do primeiro canto sagrado realizado sobre a 
terra, tomando como acompanhamento o takuapu: instrumento 
feminino, feito de taquara, com aproximadamente 1,10m, que é 
golpeado no solo produzindo um som surdo que acompanha os 
Mbaraka masculinos, espécie de chocalho de cabaça e sementes 
específicas.
O filho de Ñane Ramõi, isto é, Ñande Ru Paven (“Nosso Pai de 
Todos”) e sua esposa Ñande Sy (“Nossa Mãe”), ficaram responsá-
veis pela divisão política da terra e o assentamento dos diferentes 
povos em seus respectivos territórios, criando montanhas para 
delimitar o território guarani. Ñande Ru Paven roubou o fogo dos 
corvos e o entregou aos homens; criou a flauta sagrada (mimby 
apyka) e o tabaco (petÿ) para os rituais e foi o primeiro que morreu 
na terra. Da mesma forma que seu pai, decidiu abandonar a terra 
em função de um desentendimento com sua esposa que estava 
grávida de gêmeos. 
[...]
(Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Guarani_
Kaiow%C3%A1#Mitologia_e_rituais>. Acesso em: 20 ago. 2018.)
a) De acordo com a narrativa Guarani-Kaiowá, quem criou o 
mundo?
b) Na narrativa, que outros seres e objetos foram criados?
São histórias que vêm de tempos muito antigos e, em geral, envolvem tanto 
seres humanos quanto seres sobrenaturais, como deuses, gigantes e mons-
tros. Surgiram para oferecer explicação para um fenômeno ou para denotar 
aspectos de comportamento.
A narrativa relata que o criador do mundo foi o “Nosso Grande Avô Eterno”, 
proveniente de uma substância originária, vital e com qualidades criadoras.
A terra, o céu, as matas, as montanhas, a organização política, a divisão dos 
territórios, a flauta sagrada, o tabaco. 
20 FIL
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 20PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 20 29/07/2022 11:36:5029/07/2022 11:36:50
c) Quais os atributos humanos da divindade criadora na mitologia 
Guarani-Kaiowá?
3. Quais são as gerações dos deuses da mitologia grega e quais as 
características de cada uma?
4. Leia a fábula a seguir, contada por Hesíodo.
O falcão e o rouxinol
Certo dia, um falcão capturou em suas 
garras um rouxinol, que passou a gritar 
desesperadamente. Foi então que o falcão 
disse: “Desgraçado, de que te adiantam os 
teus gemidos? Encontras-te na posse de 
quem é mais forte que tu, e 
seguir-me-ás onde qui-
ser levar-te. Depende 
de mim comer-te ou 
deixar-te em paz”.
No contexto da obra 
de Hesíodo, qual o significado da fábula do falcão e do rouxinol?
5. O que é a catarse?
Desenvolvendo Habilidades
1. C1:H4 (UEL)
Texto 1
Eis aqui, portanto, o princípio de quando se decidiu fazer o ho-
mem, e quando se buscou o que devia entrar na carne do homem.
Havia alimentos de todos os tipos. Os animais ensinaram o 
caminho. E moendo então as espigas amarelas e as espigas brancas, 
Ixmucaná fez nove bebidas, e destas provieram a força do homem. 
Isto fizeram os progenitores, Tepeu e Gucumatz, assim chamados.
A seguir decidiram sobre a criação e formação de nossa primei-
ra mãe e pai. De milho amarelo e de milho branco foi feita sua carne; 
de massa de milho foram feitos seus braços e as pernas do homem. 
Unicamente massa de milho entrou na carne de nossos pais.
(Adaptado: SUESS, P. Popol Vuh: Mito dos Quiché da Guatemala sobre sua 
origem do milho e a criação do mundo. In: A conquista espiritual da América 
Espanhola: 200 documentos – Século XVI. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 32-33.) 
OP: Chamar a atenção dos alunos para a questão do roubo do fogo, que apa-
rece na narrativa Guarani-Kaiowá. Comentar que, na mitologia grega, Prometeu 
roubou o fogo dos deuses e entregou-o aos seres humanos, possibilitando que 
estes se desenvolvessem tecnologicamente. Por isso, Prometeu foi punido pe-
los deuses, sendo amarrado no topo de uma montanha, onde, diariamente, te-
ria seu fígado devorado por uma águia. Ressaltar que essas coincidências são 
comuns ao se comparar a mitologia de diversos povos, de lugares e tempos 
distintos. Sobre mais informações sobre a cultura Guarani-Kaiowá, sugere-se o 
site <http://www.maimuseu.com.br/musicais>, onde é possível contemplar os 
instrumentos mencionados no texto e ouvir uma música desse povo.
Raiva e ciúmes. 
A geração de ouro, composta pelos filhos dos deuses primordiais e corres-
pondiam aos elementos da natureza. A geração de prata, que corresponde 
à criação dos titãs, das titânides e de seres monstruosos, muitos deles 
representando as virtudes e os vícios. A geração de bronze, que corresponde 
aos filhos dos titãs e deu origem aos doze deuses do Olimpo.
A fábula de Hesíodo critica a injustiça praticada pelos grandes senhores de 
seu período, que se aproveitavam do poder (seja social ou econômico) para 
brincar com a vida das pessoas comuns. É uma das mais dramáticas repre-
sentações da injustiça na obra de Hesíodo.
É o objetivo e resultado final de todo grande teatro. É o sofrimento que tanto 
os personagens como o público experimentam pelos erros cometidos. Mas 
esse sofrimento é purificador, pois conscientiza a pessoa de que errou e 
agora é preciso mudar de atitude.
Texto 2
Se você é o que você come, e consome comida industrializa-
da, você é milho”, escreveu Michael Pollan no livro O Dilema do 
Onívoro, lançado este ano no Brasil. Ele estima que 25% da comida 
industrializada nos EUA contenha milho de alguma forma: do 
refrigerante, passando pelo Ketchup, até as batatas fritas de uma 
importante cadeia de fast food – isso se não contarmos vacas e 
galinhas que são alimentadas quase exclusivamente com o grão.
O milho foi escolhido como bola da vez ao seu baixo preço no 
mercado e também porque os EUA produzem mais da metade do 
milho distribuído no mundo.
(Adaptado: BURGOS, P. Show do milhão: milho na comida agora vira 
combustível. Super Interessante. Edição 247, 15 dez. 2007, p.33.)
Com base nos textos 1 e 2 e nos conhecimentos sobre as relações 
entre organização social e mito, é correto afirmar.
a) Os deuses maias criaram os homens dotados de livre arbítrio 
para, a partir dos princípios da razão e da liberdade, ordenarem 
igualitariamente a sociedade. 
b) A exemplo das narrativas que predominavam no período 
homérico da Grécia antiga, os mitos expressam uma forma de 
conhecimento científico da realidade. 
c) Na busca de um princípio fundante e ordenador de todas as 
coisas, como ocorre na mitologia grega, a narrativa mítica 
justifica as bases da legitimação de organização política e de 
coesão social. 
d) Assim como nos povos Quiché da Guatemala, tambémos mitos 
gregos procuram explicar a arché, a origem, a partir de um 
elemento originário onde está presente o milho. 
e) Para certas tradições de pensamento, como a da escola de 
Frankfurt, o iluminismo representa a superação completa 
do mito. 
2. C1:H1 (Unicentro) Os poemas homéricos têm por fundamento 
uma visão de mundo clara e coerente. Manifestam-na quase a 
cada verso, pois colocam em relação com ela tudo quanto cantam 
de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação que 
se define seu caráter particular. Nós chamamos de religiosa essa 
cosmovisão, embora ela se distancie muito da religião de outros 
povos e tempos. Essa cosmovisão da poesia homérica é clara e 
coerente. Em parte alguma ela enuncia fórmulas conceituais à 
maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em tudo que 
sucede, em tudo que é dito e pensado. E embora no pormenor 
muitas coisas resultem ambíguas, em termos amplos e no essen-
cial, os testemunhos não se contradizem. É possível, com rigoroso 
método, reuni-los, ordená-los, fazer lhes o cômputo, e assim eles 
nos dão respostas explícitas às questões sobre a vida e a morte, o 
homem e Deus, a liberdade e o destino (...).
(OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. 1ª 
Ed., trad. [e prefácio] de Ordep Serra. – São Paulo: Odysseus Editora, 2005 - p. 11.)
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos 
mitos na Grécia arcaica, assinale a alternativa correta.
a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em nada 
poderiam interferir no destino dos humanos e, assim, a deter-
minação divina (ananque) se colocava em segundo plano, uma 
vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía a 
função de ensinar ao homem o que este deveria escolher no 
momento de sua livre ação. 
b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar 
o homem grego para o pleno exercício da atividade racional 
que surgiria no século VI a.C., uma vez que, de acordo com histo-
riadores e helenistas, não houve uma ruptura na passagem do 
mito para o logos, mas sim um processo gradual e contínuo de 
enraizamento histórico que culminou no advento da filosofia. 
21FIL
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c) Os mitos homéricos serviram de base para a educação, forma-
ção e visão de mundo que o homem grego arcaico possuía. Em 
seus cânticos, Homero justapõe conceitos importantes como 
harmonia, proporção e questionamentos a respeito dos prin-
cípios, das causas e do porquê das coisas. Embora todas essas 
instâncias apresentavam-se como tal, os mitos não deixaram de 
lado o caráter mágico, fictício e fabular em que eram narrados. 
d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poe-
sia, Homero inaugura uma modalidade literária bem singular 
no ocidente. As ações dos deuses e dos homens, por exemplo, 
sempre obedeceram a uma ordem pré-estabelecida, a qual 
sempre revelou uma lógica racional em funcionamento. 
e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação 
do homem grego, pois o caráter teórico e abstrato da cultura 
grega apagou em grande parte os aspectos que se revelariam 
relevantes na poesia grega. 
3. C1:H2 (UFU) (…) Assim, a magia e a mitologia ocupam a imensa 
região exterior do desconhecido, englobando o pequeno campo 
do conhecimento concreto comum. O sobrenatural está em todas 
as partes, dentro ou além do natural; e o conhecimento do sobre-
natural que o homem acredita possuir, não sendo da experiência 
direta comum, parece ser um conhecimento de ordem diferente 
e superior. É uma revelação acessível apenas ao homem inspirado 
ou (como diziam os gregos) ‘divino’ – o mágico e o sacerdote, o 
poeta e o vidente.
(CORNFORD, F.M. Antes e Depois de Sócrates. Trad. Valter Lellis 
Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 2001, pp.14-15.)
A partir do texto acima, é correto afirmar que
a) o campo do conhecimento mítico limita-se ao que se manifesta 
no campo concreto comum.
b) a magia e a mitologia não se confundem com o conhecimento 
concreto comum.
c) o conhecimento no mito, por ser uma revelação, é acessível 
igualmente a todos os homens.
d) o mito não distingue o plano natural do sobrenatural, sendo 
o conhecimento do sobrenatural superior.
4. C3:H11 (UEM-2015) No teatro grego a tragédia e a comédia eram 
os dois principais gêneros teatrais, sobre os quais é correto afirmar: 
(1)	 Nas apresentações das tragédias os atores usavam máscaras 
de couro, pano ou madeira. Além de auxiliar na amplificação 
da voz, a máscara também permitia que o mesmo ator fizes-
se mais de um personagem durante a peça, sem revelar sua 
identidade ao público. 
(2)	 As comédias eram valorizadas pois proporcionavam ao pú-
blico de classe social menos favorecida momentos de diver-
são. Com esse intuito a comédia consagrou dramaturgos 
como Ésquilo, Sófocles e Eurípides. 
(3)	 Nas tragédias, além dos atores, um elemento fundamental 
do espetáculo era o coro, formado por um grupo de pessoas 
que faziam comentários, reflexões ou falas para, inclusive, 
explicar acontecimentos anteriores. 
(4)	 Na tragédia grega a figura do herói é caracterizada por sem-
pre cometer uma falha trágica que desencadeia o fio condu-
tor do espetáculo. Esse recurso objetiva mostrar a falha de 
caráter inerente a todo ser humano. 
(5)	 Tanto na comédia como na tragédia o ponto central era a 
improvisação. Era comum os atores pararem no meio das 
peças para falar diretamente ao público, pedir sua opinião 
e sugerir sua participação nelas.
Soma ( )
Complementares
1. (Uenp) Sobre a religião dos gregos, assinale a alternativa correta.
a) A mitologia está estritamente associada à religião.
b) A religião está associada à vida prática do grego, e transcende 
o ritual para ordenar todos os gestos da existência. 
c) Na vida coletiva, era comum que o grego não fosse religioso.
d) A religião e a política não se misturavam entre os gregos.
e) Os deuses gregos são muito parecidos com os homens (pos-
suem características antropomórficas), por isso o grego não 
se sente inferior a eles.
2. (Uenp) “Dividiu-se em três partes o Universo, e cada qual logrou sua 
dignidade. Coube-me habitar o mar alvacento, quando se tiraram 
as sortes, a Hades couberam as brumosas trevas e coube a Zeus 
o vasto Céu, no éter, e as nuvens. A terra ainda é comum a todos, 
assim como o vasto Olimpo”.
Segundo o texto de Homero, a origem do Universo é explicada 
pela divisão feita por Cronos entre seus três filhos: Poseidon, Hades 
e Zeus. A visão mítica revelada por relatos como esse permeou 
as sociedades gregas e romanas da Antiguidade e atribuiu um 
caráter religioso a seu legado artístico e cultural. As religiões e 
as mitologias são formas de explicar os mistérios do mundo que 
tiveram grande importância para a formação dos povos da Anti-
guidade. A mitologia grega, por exemplo, criou narrativas sobre 
a natureza, os sentimentos humanos presentes no imaginário do 
mundo ocidental.
Dessa perspectiva, analise os enunciados a seguir:
I. O mito de Prometeu continua sendo lembrado na atualidade, 
representando a possibilidade do ser humano de desafiar os 
deuses e construir a cultura.
II. O mito de Édipo tem relação com a ideia de destino e com a 
dificuldade dos seres humanos diante das dificuldades da vida.
III. Os deuses gregos eram poderosos e imortais, não tinham as 
fraquezas humanas e dominavam o mundo com sua astúcia.
IV. Muitas obras da literatura grega se inspiraram nas histórias 
vividas pelos mitos, com destaque especial para as obras de 
Homero.
V. A mitologia grega se desenvolveu sem vínculos com a religião 
da época; os mitos e os deuses eram cultuados de forma total-
mente independente. 
Assinale a alternativa correta:
a) I, II, III são verdadeiras; IV e V são falsas. 
b) apenas V é falsa. 
c) todas são verdadeiras. 
d) todas são falsas. 
e) apenas I é verdadeira. 
3. (Unimontes) O mito é parte integrante da história da humanidade.
Cadaindivíduo deve encontrar um aspecto do mito que se relacione 
com sua própria vida. Os mitos têm basicamente quatro funções. A 
primeira é a função mística – e é disso que venho falando, dando 
conta da maravilha que é o universo, da maravilha que é você, e 
vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o mundo 
para a dimensão do mistério, para a consciência do mistério que 
subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar, você não terá uma 
mitologia. Se o mistério se manifestar através de todas as coisas, 
o universo se tornará, por assim dizer, uma pintura sagrada. Você 
está sempre se dirigindo ao mistério transcendente, através das 
circunstâncias da sua vida verdadeira. A segunda é a dimensão 
cosmológica, a dimensão da qual a ciência se ocupa, mostrando 
qual é a forma do universo, mas fazendo-o de uma tal maneira que 
22 FIL
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 22PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 22 29/07/2022 11:36:5029/07/2022 11:36:50
o mistério, outra vez, se manifeste. Hoje, tendemos a pensar que 
os cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles 
dizem-nos: “Não, não temos todas as respostas. Podemos dizer-lhe 
como a coisa funciona, mas não o que é”. Você risca um fósforo. O 
que é o fogo? Você pode falar de oxidação, mas isso não me dirá 
nada. A terceira função é sociológica – suporte e validação de de-
terminada ordem social. E aqui os mitos variam tremendamente, 
de lugar para lugar. Você tem toda uma mitologia da poligamia, 
toda mitologia da monogamia. Ambas satisfatórias. Depende de 
onde você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu 
a direção do nosso mundo – e está desatualizada. A quarta função 
do mito, aquela, segundo penso, com que todas as pessoas deviam 
tentar se relacionar – a função pedagógica, como viver uma vida hu-
mana sob qualquer circunstância. Os mitos podem ensinar-nos isso.
(CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athenas, 1990. p. 32.)
Podemos afirmar que
a) o mito é uma experiência singular que continua dando sentido 
à existência humana. 
b) os mitos pertencem somente a comunidades pouco evoluídas. 
c) o mito morreu e não diz mais nada para a sociedade. 
d) não necessitamos dos mitos e que eles são ultrapassados. 
4. (Unesp) Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de 
“vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço dos seus 
olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira 
mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que esca-
pam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do 
tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, 
o que ainda não é. 
(Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)
O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre outros 
aspectos,
a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmissão 
oral das tradições, dos mitos e da memória.
b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos 
de seca ou de infertilidade da terra.
c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos 
cultos aos deuses da tradição clássica.
d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da 
península balcânica.
e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isola-
mento e a autonomia em que viviam.
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3. O gabarito deste módulo será exibido em sua tela.
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Observe as imagens e responda às questões.
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1. De onde vem toda a diversidade de seres que existe no mundo?
2. Que fator teria provocado o surgimento da vida?
3. Qual o elemento primordial que originou todo o universo?
4. Que fatores motivaram o surgimento da Filosofia?
Explorar as questões pro-
postas na seção Start numa 
breve roda de conversa. São 
questões introdutórias para 
explicar o surgimento da 
Filosofia e deve-se estimular 
o conhecimento prévio 
dos alunos, mesmo que as 
hipóteses individuais sejam 
ainda mal-estruturadas 
ou ingênuas. Professor, 
pergunte se os alunos já 
tiveram essas dúvidas, se 
buscaram respostas para 
elas e, em caso afirmativo, 
quais seriam elas. Procure 
trazer também explicações 
populares características do 
local em que vivem (uma 
lenda, uma crença, um mito) 
como forma de relacionar as 
questões ao contexto atual. 
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Filosofia
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Os pré-socráticos: 
surge a filosofia
Passagem do mythos ao logos: o surgimento da filosofia • Pré-socráticos: explicando a natureza e seus fenômenos
Os filósofos 
pré-socráticos
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 24PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 24 29/07/2022 11:36:5229/07/2022 11:36:52
Passagem do mythos ao logos: 
o surgimento da filosofia
A filosofia surgiu na Grécia Antiga por volta 
do século VI a.C. devido à transição do pensa-
mento mitológico para o cosmológico, iniciada 
pelos pré-socráticos. 
Vista da cidade de Atenas.
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O poeta Hesíodo, na Teogonia, lança as pri-
meiras sementes que mais tarde originariam 
a filosofia. Essa obra é diferente dos demais 
mitos, porque ela não busca apenas apre-
sentar relatos que serviriam de fundamentos 
epistemológicos ou morais para a cultura gre-
ga, mas, sobretudo, relatar uma história que 
explique como surgiu o mundo, os deuses e 
os homens, ainda que baseada em princípios 
divinos. Hesíodo tentou mostrar a origem das 
coisas, o princípio de tudo, enfim, as causas 
que depois geraram todas as demais coisas. A 
busca por causas e princípios que expliquem 
todas as coisas será justamente a tônica dos 
pré-socráticos.
O estudioso Nicola Abbagnano apresenta a 
inovação que foi a filosofia grega em contra-
posição aos relatos religiosos e míticos. Para 
ele esse é o ponto fundamental que define a 
filosofia como criação grega.
Cosmológico: período em 
que a explicação das coisas 
passa a ser buscada no 
próprio mundo, mais espe-
cificamente na natureza, e 
não mais em algo divino, 
sobrenatural. Em grego, 
cosmos quer dizer ordem e 
logos significa razão, estudo.
Pré-socrático: é o termo 
empregado para se referir 
aos filósofos do período 
cosmológico, o que não 
significa que todos viveram 
necessariamente antes 
de Sócrates. 
Epistemológico: referente 
à epistemologia (estudo 
do conhecimento, seu 
processo de aquisição, seu 
alcance e seus limites, e 
das relações entre o objeto 
do conhecimento e aquele 
que o busca).
GlossárioGlossário
A filosofia grega, ao invés, é pesquisa. Esta 
nasce de um ato fundamental de liberdade 
frente à tradição, ao costume e a toda a cren-
ça aceita como tal. O seu fundamento é que 
o homem não possui a sabedoria, mas deve 
procurá-la: não é sofia mas filosofia, amor da 
sabedoria, perseguição direta no encalço da 
verdade para lá dos costumes, das tradições e 
das aparências.
(ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. 4. ed. 
Tradução de: JARDIM, Conceição; LUCIO, Eduardo; 
VALADAS, Nuno. Lisboa: Presença, 2001.)
A transição do pensamento mítico ao fi-
losófico exigiu ainda um contexto histórico 
específico, que envolve as condições sociais, 
culturais, políticas e econômicas vivenciadas 
naquele período na Grécia.
Contexto histórico
A Grécia Antiga passava por um período 
de transição de uma sociedade rural para ur-
bana. Vários fatores contribuíram para isso: na 
política, a instituição de governos democráti-
cos, concedendo mais direitos e voz ao povo; 
no direito, o início do registro das leis por es-
crito, garantindo que cada indivíduo pudesse 
debater publicamente sobre estas; na econo-
mia, a criação da moeda, acelerando o desen-
volvimento do comércio;e, por fim, a própria 
religião grega, por ser uma “religião pública” e 
naturalista.
Moeda utilizada em Atenas , exibindo a cabeça da deusa Atena e um 
coruja.
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Outro fator importante foram as viagens 
marítimas. A mitologia retratava apenas o ter-
ritório conhecido pelos gregos, de modo que 
as terras mais distantes, inalcançáveis até en-
tão, eram pintadas como repletas de mons-
tros e seres fantásticos. As viagens marítimas 
permitiram aos gregos chegar a esses lugares, 
descobrindo que lá não haviam os monstros 
que contavam os velhos mitos.
Reconstituição computadorizada de uma trirreme grega. A trirreme era 
uma embarcação da antiguidade que possuía três compartimentos para 
remos e remadores. Considerada um grande avanço tecnológico, ela 
possibilitou aos gregos conhecerem povos e culturas distantes, fato que 
contribuiu para o surgimento da Filosofia.
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Sintetizando o período grego do século 
VI  a.C.: era um novo momento, que permitia 
certa liberdade ao cidadão grego. Havia gran-
de identificação entre o Estado e os cidadãos, 
os indivíduos realmente sentiam-se parte da 
cidade (pólis). A liberdade de expressão e de 
pensamento na pólis foi certamente elemento 
determinante para o desenvolvimento da filo-
sofia, uma vez que exige dos indivíduos maior 
reflexão e raciocínio crítico. 
Os pré-socráticos não 
descartam a presença do 
divino. O que eles refutam 
é a explicação das coisas 
com base em alegorias e 
testemunhos religiosos 
ou mitológicos. Para esses 
filósofos, se o ser humano 
é dotado de razão, deve uti-
lizá-la para descobrir por si 
próprio a verdade que, neste 
contexto, está no mundo, na 
natureza.
Os cidadãos se sentiam de 
tal forma parte da pólis que 
os conceitos de pessoa ou 
de propriedade individual 
eram quase inexistentes.
Na pólis os anseios da 
cidade eram os desejos 
do ser humano. A ideia de 
propriedade individual e 
do emprego do vocábulo 
“pessoa” para designar o 
indivíduo só se dará com 
o surgimento do Império 
Romano.
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Esse cenário foi estimulante para o intelecto do povo grego, como afirma o importante estu-
dioso francês Jean-Pierre Vernant:
Jean-Pierre Vernant (1914-
2007) foi um antropólogo 
francês que se especializou 
nos estudos da Grécia Anti-
ga, mais especificamente na 
organização social, mitologia 
e tragédias gregas. Publicou 
mais de quinze livros, como 
As origens do pensamento 
grego e a trilogia Mito e pen-
samento entre os gregos, 
Mito e sociedade na Grécia 
antiga e Mito e religião na 
Grécia antiga.
BiografiaBiografia
No espaço de poucos séculos, a Grécia Antiga conheceu, em sua vida social e intelectual, mutações tão pro-
fundas que foi possível ver nelas o nascimento do homem moderno, o advento do espírito como poder de re-
flexão crítica ou, em outras palavras, foi naquele momento que se teria produzido a passagem do mito à razão.
(VERNANT, Jean-Pierre. Entre Mito e Política. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. p. 55.)
Pré-socráticos: explicando a 
natureza e seus fenômenos
Os pré-socráticos são divididos em várias escolas de pensamento, sendo que cada escola 
mantém uma unidade, certa linha de raciocínio que todos os seus integrantes seguem, ainda que 
discordem em determinados pontos. Porém, para além de todas as escolas, há alguns conceitos 
que estão presentes em toda manifestação da filosofia dos pré-socráticos, pois são conceitos que 
podem muito bem ser considerados o ponto de partida e o de chegada das investigações desses 
ilustres pensadores: phýsis, arché, cosmos e logos. 
Phýsis
O termo phýsis significa natureza. Para os 
pensadores pré-socráticos, a phýsis correspon-
de a tudo o que não foi criado, ou seja, a tudo 
aquilo que possui uma potência autônoma ca-
paz de conter, comunicar e organizar a vida. A 
natureza, portanto, era entendida como a po-
tência material que rege a ordem de um todo 
harmônico. 
De forma geral, os pré-socráticos acredi-
tavam que as respostas para suas dúvidas só 
poderiam estar na natureza, ou seja, na phýsis. 
Para eles, tornou-se urgente, então, investigar 
o mundo físico em busca de respostas para 
suas dúvidas.
Arkhé
Literalmente, o termo arkhé significa “pri-
meiro princípio”. No pensamento dos filósofos 
pré-socráticos, significa dizer que o mundo e a 
realidade possuem um princípio material, en-
contrado na natureza (phýsis), que teria dado a 
origem a tudo o que existe. Cada filósofo des-
se período encontrou um elemento primordial, 
que corresponde à arkhé, como energia gera-
dora do universo: o fogo, a terra, a água, o ar, 
os átomos, o infinito, os números, e assim por 
diante. A arché é a unidade originária que se 
mantém sempre idêntica, independente das 
mudanças das coisas. 
Devido ao nível de abstração 
do conceito de phýsis, 
sugira que alguns alunos 
voluntários mencionem 
algo da natureza que seja 
considerado “incriado”, ou 
seja, que já existe há tanto 
tempo que é impossível que 
um indivíduo finito possa 
determinar sua origem (mui-
tas dessas explicações, na 
atualidade, são oferecidas 
pelas ciências naturais). 
Por exemplo: as pedras, as 
plantas, os seres vivos, os 
quatro elementos, os astros 
etc. Pode ser que haja rela-
tos associados a conceitos 
religiosos, como “foi Deus 
quem criou”. Se houver algu-
ma colocação nesse sentido, 
explique que os pré-socrá-
ticos buscaram justamente 
desvincular a ideia de um 
princípio divino para tudo o 
que existe, porque, segundo 
esses pensadores, essas res-
postas só poderiam estar no 
mundo, na natureza, naquilo 
que é e se manifesta aos 
seres humanos.
Mundo físico: engloba tudo 
aquilo que tem matéria e 
forma e ocupa um lugar no 
espaço. Devido às carac-
terísticas do pensamento 
dos primeiros filósofos, 
eles também são chamados 
de “físicos”. 
GlossárioGlossário
Kósmos
O terceiro conceito é kósmos, ou ordem. É a 
ideia do “todo”, mas não de um “todo” qualquer: 
é a ideia de um “todo” perfeitamente harmônico. 
Cosmos, então, é a ordem, é a harmonia na-
tural que existe no mundo. E é pelo fato de o 
mundo ser harmônico e ordenado que os pré-
-socráticos acreditavam que tudo pode ser ex-
plicado a partir de princípios (arkhé) e da pró-
pria natureza (phýsis) deste mundo. Observa-
se que é da procura dessa ordem natural que 
o período dos pré-socráticos na filosofia ficou 
conhecido como período cosmológico.
Lógos
Por fim, o último conceito importante é o 
lógos, que não possui uma tradução próxima 
em português, pois possui diversos significa-
dos, como discurso, razão, estudo. Em sínte-
se, o lógos seria o próprio discurso racional, a 
tentativa de explicar as coisas a partir da pró-
pria racionalidade humana, e não mediante a 
autoridade religiosa de um sacerdote ou livro 
sagrado. É a partir de nossa própria racionali-
dade que devemos tentar entender o mundo, 
as coisas e nós mesmos.
A grande passagem do pensamento mito-
lógico para o filosófico pode ser sintetizada na 
passagem do mythos ao logos. O primeiro é um 
discurso narrativo e alegórico; o segundo é um 
discurso racional que busca no próprio mundo 
a explicação de como este mundo existe.
A conjunção de todos esses fatores foi determinante para o surgimento dos primeiros filóso-
fos. Esses são justamente os pensadores que se maravilham diante das dúvidas provocadas pela 
observação da natureza, como “qual o princípio da vida?”, e a partir daí não se contentam com as 
respostas oferecidas pelos mitos. Esses filósofos são os pré-socráticos, que decidiram investigar 
por si próprios a natureza e o mundo.
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Escolas pré-socráticasA Grécia antiga (aproximadamente séculos VI e V a.C.) era um conjunto de cidades- Estados autôno-
mas, que se espalhavam por várias regiões dos continentes europeu e asiático. Cada região reunia as 
cidades-Estados que possuíam características semelhantes, como o processo de povoamento, confor-
me mostra o mapa a seguir. 
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Proceda a leitura do mapa, 
indicando a localização 
geográfica das escolas 
pré-socráticas. É importante 
que os alunos compreen-
dam que o território da Gré-
cia antiga era fragmentado 
geográfica e culturalmente, 
devido ao processo de 
povoamento pelo qual 
passou. Nos aspectos geo-
gráficos, enfatize o território 
recortado por muitas ilhas 
e arquipélagos e, também, 
por um relevo igualmente 
irregular, composto por 
montanhas e solo mais 
árido. Quanto aos aspectos 
culturais, enfatize a diver-
sidade de povos presentes 
na formação da Grécia, bem 
como a autonomia política 
das cidades-Estado, que, 
não raro, vivam guerreando 
entre si. Ou seja, não havia 
uma unidade econômica, 
política, cultural e geográfica 
de “país” ou nação como 
entendemos hoje. Os filóso-
fos antigos eram chamados 
pelo primeiro nome, seguido 
do nome da cidade em 
que ele nasceu, como Tales 
de Mileto, que nasceu em 
Mileto, e assim por diante. 
Outros pré-socráticos que 
não se enquadram nas 
escolas mencionadas são 
Empédocles de Agrigento e 
Anaxágoras de Clazômena. 
Por meio da análise do mapa, é possível ve-
rificar o quão fragmentado é o território grego. 
Na verdade, não havia a noção de “país” como 
é entendida hoje. Os fatores que permitiam 
identificar a origem grega dos cidadãos das 
diversas cidades-Estados eram a língua grega 
(mesmo com os diversos dialetos) e a religião.
Um dos primeiros filósofos da história 
é Tales de Mileto; ele vivia em Mileto na Ásia 
menor, território que hoje compreende a atual 
Turquia. Naquela época, essa região era conhe-
cida como Jônica, pois foi fundada pelo povo 
jônio. Por esse motivo, Tales é considerado o 
fundador da Escola Jônica. Depois, outros 
pensadores surgiram na região da atual Itália 
(no sul e na Sicília), fundando as Escolas Eleata 
e Pitagórica e em Abdera, na Trácia (onde 
hoje estão a Grécia, a Bulgária e a Turquia), a 
Escola Atomista. 
Alguns filósofos pré-socráticos são estuda-
dos isolados das escolas, por possuírem carac-
terísticas muito específicas. Esse é o caso de 
Heráclito de Éfeso.
Alguns filósofos são exce-
ção, como Heráclito de Éfe-
so, que nunca fundou nem 
participou de uma escola 
filosófica, tendo construído 
sozinho a sua filosofia, sem 
ter nem mesmo um mestre.
Escola Jônica 
Tales de Mileto, fundador da Escola Jônica, 
é considerado o primeiro filósofo do Ocidente, 
pois é o primeiro pensador a buscar na phýsis a 
explicação para a origem das coisas.
Tales afirmou que a água é o princípio de 
tudo. Ao recorrer a algo físico (a água) para ex-
plicar a origem das coisas, rompe com as expli-
cações de cunho mágico e mitológico. 
Segundo Tales, tudo vem da água, 
tudo se sustenta na água e tudo termi-
na na água, por isso todos os alimen-
tos são úmidos, até mesmo o calor é 
úmido. Um dos caminhos que utilizou 
para chegar a essa conclusão foi ob-
servar um rio inundando a terra nas 
encostas. Notou a partir desse acon-
tecimento que a terra ficava mais fér-
til, permitindo que nascesse mais vida. 
Outro dado relevante foi a obser-
vação de que todas as sementes pos-
suíam natureza úmida.
Tales de Mileto (final do 
século VII a.C. e início do 
século VI a.C.) nasceu em 
Mileto. Além de filósofo, foi 
considerado um dos Sete 
Sábios da Grécia Antiga. 
BiografiaBiografia
Tales de Mileto
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A água, que para Tales era o princípio de todas as coisas.
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Para Tales, a água era o princípio da vida e 
do movimento, por isso estava ligada à ideia 
de alma.
Para os gregos, portanto, a alma é aquilo 
que “anima” a coisa, anima-a a mover-se por si 
própria. Tales percebeu que a água estava pre-
sente em tudo que se movia, então concluiu 
que a água é o que movimenta a vida.
Depois de Tales, a Escola Jônica continuaria 
com o seu discípulo Anaximandro de Mileto, 
e depois com Anaxímenes de Mileto. Para 
Anaximandro, a arkhé de todas as coisas seria 
o apeíron, que pode ser traduzido por indeter-
minado. O apeíron é o indeterminado, indivisí-
vel e infinito que está presente em toda a na-
tureza. O apeíron funcionaria como uma força 
da própria natureza que age gerando e modifi-
cando as coisas.
Por fim, Anaxímenes de Mileto discordaria 
de ambos os predecessores ao afirmar que o 
princípio de todas as coisas é o ar, que inunda 
todo o espaço sustentando o mundo. O ar in-
clusive se transformaria em terra e água por 
condensação, e em fogo por rarefação.
Escola Pitagórica: a divindade 
dos números
Pitágoras em detalhe no quadro Escola de Atenas.
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A Escola Pitagórica é a escola fundada por 
Pitágoras de Samos, uma ilustre figura que se 
tornou quase mística. Como Pitágoras não es-
creveu nada ou pelo menos nenhum de seus es-
critos chegou até nós, muitas histórias fantásti-
cas passaram a ser registradas em torno dele, 
transformando-o em filósofo, líder religioso e 
grande sábio. O filósofo sempre esteve rodea-
do de vários discípulos, chamados pitagóricos.
A escola pitagórica origi-
na-se como um tipo de 
ordem religiosa, organizada 
sob regras precisas de 
comportamento e convivên-
cia. Ela tinha por objetivo 
concretizar um modo de 
vida por meio do qual a 
filosofia e a matemática 
eram consideradas um meio 
de purificar a alma.
As doutrinas pitagóricas 
eram consideradas secretas, 
de modo que somente seus 
adeptos poderiam conhe-
cê-las. Entre as concepções 
abrangidas por Pitágoras 
encontram-se as de imor-
talidade e transmigração 
(metempsicose) da alma.
BRONNIKOV, Fyodor. Pitagóricos 
celebrando o nascer do Sol. 
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Saiba maisSaiba mais
É preciso ter um cuidado ao 
estudar os pitagóricos: para 
nós, os números são ope-
rações mentais, símbolos 
que utilizamos para realizar 
cálculos, contagens etc. 
Já para os pitagóricos, os 
números eram componentes 
da própria realidade, pois 
todas as coisas são unida-
des e o mundo se organiza 
numa ordem harmônica 
e que pode ser estudada 
matematicamente. É com os 
pitagóricos que se consolida 
o entendimento de que o 
universo é cosmos, é ordem. 
E esse cosmos era estudado 
por meio da arché que, para 
os pitagóricos, é o número.
ObservaçãoObservação
Diferente da Escola Jônica, os pitagóricos 
não tentaram identificar o princípio de todas 
as coisas em elementos como a água ou o ar, 
mas fizeram algo realmente surpreendente: 
tentar traduzir a realidade (phýsis) inteira em 
números!
Veja o que Aristóteles pensou sobre os 
pitagóricos:
Os pitagóricos foram os primeiros que se 
dedicaram às matemáticas e as fizeram progre-
dir. Nutridos pelas mesmas, acreditaram que 
os princípios delas fossem os mesmos prin-
cípios de todas as coisas que existem. E, uma 
vez que na matemática os números são, por 
sua natureza, os princípios primeiros, precisa-
mente nos números eles acreditaram ver, mais 
que no fogo, na terra e na água, muitas seme-
lhanças com as coisas que existem e se geram 
[...] e, além disso, como viam que as notas e os 
acordes musicais consistiam em números; e, 
por fim, como todas as outras coisas, em toda a 
realidade, pareciam-lhes serem feitas à imagem 
dos números e que os números fossem aquilo 
que é primeiro em toda a realidade, pensaram 
que os elementos dos números fossem elemen-
tos de todas as coisas, e que todo universo fosse 
harmonia e número.
(ARISTÓTELES. Metafísica: texto grego com tradução 
e comentários de Giovanni Reale. Tradução de: 
PERINE, Marcelo. v.2. São Paulo: Loyola, 2002. p. 27.)
Alémda música, os pitagóricos identifica-
ram leis matemáticas na meteorologia, pois a 
passagem dos dias, estações e anos pode ser 
prevista e estudada matematicamente; tam-
bém na astronomia e na biologia, pois a incu-
bação do feto segue uma regra matemática de 
dias. Enfim, os pitagóricos viam uma ordem 
matemática em qualquer dimensão da vida 
que pudessem observar.
Os números, para Pitágoras, eram a origem de todas as coisas.
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O universo para os pitagóricos é um cos-
mos perfeito, harmônico como uma música 
perfeita, a tal ponto que para eles o universo 
é ritmo, é proporção rítmica. Essa ideia retrata 
a intensidade de veneração que os pitagóricos 
possuíam pela música. Para eles, a música era 
uma forma de purificação da alma, pois sendo 
ela a manifestação da harmonia do universo, 
levaria as pessoas a entrar em contato com a 
natureza das coisas.
Demonstre a presença da 
matemática no mundo. 
As dimensões de uma 
construção civil podem ser 
traduzidas em números, o 
tamanho de nossas roupas 
é um conjunto de medida 
e proporções matemáticas. 
A página que o aluno olha 
neste momento é regida por 
regras matemáticas a fim de 
causar um efeito estético 
e que facilite o estudo. As 
células de nosso corpo 
mudam e se regeneram 
de tempos em tempos de 
acordo com uma lógica que 
pode ser traduzida em nú-
meros. O professor poderá 
também utilizar exemplo da 
Proporção Áurea ou Número 
de Ouro.
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Escola Eleata: Parmênides
Acredita-se que Parmênides tenha vivido 
entre a segunda metade do século VI a.C. e a 
metade do século V a.C., em Eleia, na Grécia. 
Foi fundador da escola chamada eleata, res-
ponsável por ter uma grande influência em 
todo o pensamento grego, pois, para muitos, 
ele é um dos precursores da ontologia.
Parmênides dizia que toda a sua men-
sagem filosófica lhe era passada por meio 
de uma deusa, da qual ele era um profeta e 
 mensageiro. Essa mensagem consistia em uma 
reveladora filosofia que distinguia três vias do 
conhecimento: a da verdade pura, a da falsida-
de absoluta e a da opinião plausível. Ou seja, 
quando o ser humano tenta conhecer a verda-
de, ele pode encontrar a verdade pura, pode 
cair na completa falsidade ou pode situar-se 
na opinião plausível. O objetivo é distinguir o 
conhecimento, a falsidade e a opinião. E essa 
distinção ocorre diante do grande princípio 
parmenidiano: “o ser é e o não-ser não é”.
Parmênides, detalhe do quadro Escola de Atenas.
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Ontologia: do grego onto, 
que significa ser, e logos, 
estudo. É o estudo do ser, 
daquilo que é essencial em 
cada fenômeno. 
É a parte da filosofia que 
estuda a natureza dos seres, 
o ser enquanto ser.
GlossárioGlossário
“O ser é e o não-ser não é”. Em um primei-
ro contato, essa sentença de Parmênides pa-
rece difícil de ser compreendida! O que seria 
o ser e o não-ser?
Como ser podemos identificar a arché de 
Parmênides. O ser é tudo que existe, tudo que é.
Tudo que existe no mundo é algo. Tudo que fa-
lamos, expressamos, ou mesmo pensamos, tam-
bém é algo. O ser é o dado mínimo a qual todas as 
coisas se resumem.
Para Parmênides, o ser e o pensar coincidem, 
pois o pensar já é algo. Mas então tudo é ser? 
Tudo que existe, sim. O não-ser não existe, e não 
pode ser pensado, porque se existisse seria ser. 
Eis o princípio: nada pode ser e não-ser ao mesmo 
tempo.
Algumas conclusões importantes: se o ser 
é, ele deve ser eterno e incriado, pois, se não 
for assim, significa que um dia ele não foi, logo 
o não-ser existiria, o que não faria sentido para 
Parmênides. Também significa que o ser é imóvel, 
pois caso se movimentasse teria que sair do seu 
ser para outro, logo aquele ser se tornaria não-
-ser, o que também é contraditório. Diante disto, 
Parmênides afirma que a natureza é imóvel (tese 
imobilista).
Parmênides certamente ofereceu uma contri-
buição enorme à racionalidade ocidental, pois 
por meio do uso da razão ele demonstrou que é 
possível encontrar a verdade. A nossa própria es-
trutura de pensamento nos permite distinguir o 
real do falso, o ser do não-ser.
Escola atomista
O principal representante da Escola atomista é 
Demócrito de Abdera (c.460 a.C. – 370 a.C.). 
Demócrito concordava com Parmênides, sobre o 
ser e o não-ser, e acreditava que o universo é 
eterno e regido pelo acaso. Para Demócrito, o ser 
corresponde ao átomo e o não-ser, ao vazio. Isso 
significa dizer que o vazio é o espaço entre os cor-
pos que possibilita a existência da multiplicidade, 
do movimento e das mudanças (geração e cor-
rupção dos seres). Já o átomo corresponde à me-
nor partícula formadora dos corpos, sendo invisí-
vel, indivisível e esférica.
Atualmente, o conceito de 
átomo é diferente daquele pos-
tulado por Demócrito, principal-
mente no que diz respeito à sua 
indivisibilidade. Hoje já sabe-se 
que existem partículas menores 
que os átomos (elétrons e nêu-
trons) e também que os átomos 
podem ser quebrados, dividi-
dos. Mesmo assim, a hipótese 
de Demócrito merece reconhe-
cimento, uma vez que ela foi 
postulada apenas teoricamente, 
sem os procedimentos de ob-
servação e experiências, nem 
com uso de ferramentas, como 
é o caso das Ciências atuais. BRUEGGHEN, Hendrick. Demócrito. 1628. Óleo sobre tela.
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Heráclito: a realidade é 
movimento
Heráclito de Éfeso não se enquadra em 
nenhuma das escolas pré-socráticas, não par-
ticipava da vida pública. Viveu uma vida solitá-
ria, não teve mestres diretos, orgulhando-se 
por ter adquirido sozinho seu conhecimento. 
Ficou conhecido como “O Obscuro” devido à 
complexidade de seus textos. Apresentou uma 
ideia diferente, que ficou conhecida como tese 
mobilista.
Heráclito chamou a atenção para a mobili-
dade de todas as coisas, afirmando que nada 
é estável e imóvel, mas tudo se move, muda 
e se renova constantemente. É uma posição 
oposta àquela de Parmênides, que defendia a 
imobilidade.
Heráclito, de Johannes Moreelse (1602-1634).
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Esse constante movimento é marcado pelo 
conflito dos contrários. As coisas frias se aque-
cem, as coisas quentes se esfriam, as coisas 
úmidas secam, as coisas secas umedecem, o 
jovem envelhece, o vivo morre, e assim por 
diante. É na luta dos contrários, no vir a ser, que 
Heráclito busca explicar o princípio de toda a 
realidade. Tudo muda, tudo flui, tudo está em 
constante movimento.
A vida é constante mudança, é um eterno 
devir (vir a ser). A síntese perfeita dessa ideia 
está em sua célebre frase: “é impossível que 
uma pessoa entre no mesmo rio duas vezes, 
porque da segunda vez, nem o rio nem a pes-
soa serão mais os mesmos”.
Eis o vir a ser: eu sou e não sou ao mes-
mo tempo. Para ser agora, preciso deixar de 
ser o que era antes, ou 
seja, aquilo passa a ser o 
não-ser.
Logo, estamos sempre 
em processo de entrar 
em não-ser para ser no-
vamente. E é nesse senti-
do que Heráclito chega à 
conclusão de que o fogo 
é o princípio de todas as 
coisas. E ele compreende 
 Heráclito, detalhe do quadro Escola de Atenas.
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“Um dos aspectos funda-
mentais do saber que se 
constitui nessas primeiras 
escolas de pensamento, 
sobretudo na escola jônica, 
é seu caráter crítico. Isto é, 
as teorias aí formuladas não 
o eram de forma dogmática, 
não eram apresentadas 
como verdades absolutas e 
definitivas, mas como pas-
síveis de serem discutidas, 
de suscitarem divergências 
e discordâncias, de permi-
tirem formulações e pro-
postas alternativas. Como 
se trata de construções do 
pensamento humano, de 
ideias de um filósofo – e não 
de verdades reveladas,de 
caráter divino ou sobrenatu-
ral –, estão sempre abertas 
à discussão, à reformulação, 
a correções. O que pode 
ser ilustrado pelo fato de 
que, na escola de Mileto, os 
dois principais seguidores 
de Tales, Anaxímenes e 
Anaximandro, não aceitaram 
a ideia do mestre de que a 
água seria o elemento pri-
mordial, postulando outros 
elementos, respectivamente 
o ar e o apeiron, como ten-
do essa função. Isso pode 
ser tomado como sinal de 
que nessa escola filosófica 
o debate, a divergência e a 
formulação de novas hipóte-
ses eram estimulados.”
(MARCONDES, Danilo. Iniciação à his-
tória da filosofia: dos pré-socráticos 
a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 
2007. p. 27.)
Saiba maisSaiba mais
Heráclito utiliza o fogo 
porque este está sempre 
mudando de posição – não 
podemos capturá-lo com 
as mãos ou lhe conferir 
uma forma estática. O ser 
humano também é assim: 
se viajarmos para um país, 
e anos depois quisermos 
repetir a viagem, por mais 
que façamos as mesmas 
coisas, a viagem não será a 
mesma, pois nós mudamos 
como pessoa (temos mais 
memórias, conhecimentos, 
experiências), e os lugares 
também mudaram. Mesmo 
em um intervalo de tempo 
menor isso se verifica. Se 
ao final do texto deste 
capítulo quisermos lê-lo de 
novo, ainda assim não será 
a mesma coisa, pois já não 
somos a mesma pessoa que 
leu a primeira vez.
ObserveObserve
O fogo, princípio de todas as 
coisas, segundo Heráclito.
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assim pelo fato de o fogo ser o exemplo claro 
do constante movimento. O fogo para ele não 
é apenas o fogo em seu sentido físico, mas a 
própria ideia que o fogo representa: a do vir a 
ser constante.
Observe as diferenças fundamentais entre 
Parmênides e Heráclito.
PARMÊNIDES X HERÁCLITO
O princípio das coisas 
era o ser.
Simbolizava no fogo o 
princípio das coisas.
O ser é imutável. O ser está em constante mudança.
A verdade está no 
ser, para além dos 
fenômenos.
A verdade está no vir a 
ser, no movimento.
A linguagem exprime 
o ser. Dessa forma o 
logos pode captar a 
verdade.
A linguagem jamais 
pode captar o que é 
a coisa, de forma que 
o logos não exprime 
o ser.
O ser não pode ser 
e não-ser ao mesmo 
tempo.
O ser é e não é ao 
mesmo tempo, pois 
tudo flui conforme a 
luta dos contrários.
Neste capítulo, vimos alguns dos principais 
filósofos pré-socráticos, aqueles pensadores 
que realizaram a essencial passagem do pe-
ríodo mitológico para o cosmológico na Grécia 
Antiga. A filosofia grega, porém, não se encer-
ra neles. Depois de investigar a natureza e ali 
encontrar tantas explicações contrárias, ora a 
água, ora o fogo, ora os números, a filosofia vai 
passar a perguntar-se se não seria mais pru-
dente, antes de investigar o mundo externo, 
conhecer a si mesmo: eis o período antropológi-
co, iniciado pela sofística e depois aprofundado 
por Sócrates.
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1. O surgimento da Filosofia na Grécia antiga foi um dos frutos de um contexto histórico específico. Cite três 
fatores que contribuíram para o nascimento da Filosofia.
2. Os filósofos pré-socráticos buscaram o princípio originário de tudo o que existe e, cada um ao seu modo, 
encontrou um elemento da natureza que teria dado origem à diversidade de seres. Pesquise a importância 
dos seguintes elementos para a existência de vida no planeta Terra.
a) Água: 
b) Ar:
c) Terra: 
d) Fogo: 
3. Complete o quadro a seguir com as informações solicitadas.
Escolas 
pré-socráticas Principal representante Arkhé Principais ideias
Jônica
Pitagórica
Eleata
Atomista
4. Parmênides e Heráclito travaram um dos mais acalorados debates entre suas ideias.
Explique que ideias são essas.
5. Com qual dos filósofos pré-socráticos você concorda: Parmênides ou Heráclito? Escreva um texto argumen-
tativo explicando o seu posicionamento, defendendo-o com argumentos e exemplos.
O aluno deve citar três dos seguintes fatores: revisão dos códigos de lei, surgimento da moeda, retomada da escrita alfabética, 
florescimento urbano.
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Na natureza selvagem
Ano: 2007
Diretor: Sean Penn
Um jovem estudante tem 
um futuro promissor nos 
Estados Unidos. Mas decide 
abandonar tudo que tem 
para realizar uma grande 
aventura rumo à liberdade. 
Com apenas uma mochila 
nas costas, esse jovem rapaz 
irá buscar na natureza a 
explicação das coisas. O 
espírito do protagonista 
desse filme pode ser compa-
rado ao dos pré-socráticos: 
não busca a verdade nas 
instituições ou nas pessoas, 
mas na própria natureza.
FilmeFilme
Esta atividade pode ser feita de forma interdisciplinar com as disciplinas de Biologia (água, ar e terra) e de História (fogo, 
especialmente no que concerne ao desenvolvimento das sociedades humanas). É imprescindível que os alunos percebam que 
os quatro elementos são essenciais à vida na Terra.
Tales de Mileto Água A água é a origem do movimento que move todas as coisas.
Pitágoras de Samos Números
A realidade pode ser explicada 
matematicamente por meio dos 
números. A música é um exemplo 
de organização harmônica dos 
números.
Parmênides de Eleia O ser
Tudo o que existe é ser. O 
não-ser não existe e não pode 
ser pensado.
Demócrito de Abdera Os átomos e o vazio
O vazio (não-ser) é o espaço 
entre os corpos, e estes são com-
postos de minúsculas partículas 
chamadas átomos.
Enquanto Parmênides defende a tese imobilista, em que o movimento e as mudanças são considerados ilusórios, Heráclito 
defende a tese contrária, do mobilismo, ou seja, o movimento, a mudança, a geração e a corrupção dos seres é o eterno devir 
(vir a ser) que possibilita a existência de tudo.
A produção textual deve ser 
entregue em folha avulsa, 
em data previamente agen-
dada. Considere no texto 
dos alunos a consistência 
dos argumentos e exemplos 
utilizados para reforçar o 
posicionamento pessoal. 
Na data da entrega, você 
pode promover uma troca 
de ideias entre alunos que 
concordam com Parmênides 
e os que concordam com 
Heráclito. É possível separar 
a turma em dois grupos, 
considerando também a 
possibilidade de haver ou-
tros posicionamentos (como, 
por exemplo, não concordar 
com nenhum dos dois), de 
forma que os grupos apre-
sentem seus argumentos e 
exemplos, para defender o 
seu posicionamento. Fica 
a seu critério solicitar um 
registro escrito que sintetize 
as ideias debatidas, em que 
o aluno pode comentar se 
ele mantém o ponto de vista 
inicial, se mudou alguma 
coisa ou resolveu mudar 
de ideia.
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FILOSOFIA E CULTURA
 
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Resolvidos
1. (UFSJ-2012) Sobre o princípio básico da filosofia pré-socrática, é 
correto afirmar que:
a) Tales de Mileto, ao buscar um princípio unificador de todos os 
seres, concluiu que a água era a substância primordial, a origem 
única de todas as coisas.
b) Anaximandro, após observar sistematicamente o mundo na-
tural, propôs que não apenas a água poderia ser considerada 
arché desse mundo em si e, por isso mesmo, incluiu mais um 
elemento: o fogo.
c) Anaxímenes fez a união entre os pensamentos que o antecede-
ram e concluiu que o princípio de todas as coisas não pode ser 
afirmado, já que tal princípio não está ao alcance dos sentidos.
d) Heráclito de Éfeso afirmou o movimento e negou terminante-
mente a luta dos contrários como gênese e unidade do mundo, 
como o quis Catão, o antigo.
 9 Resposta: A
A alternativa A é a correta, pois Tales foi o primeiro filósofo da história 
e, para ele, a origem de tudo é a água. A alternativa B é incorreta 
porque Anaximandro defendia que a origem de tudo era o apeiron, 
ou seja, um elemento indeterminado. A alternativa C é incorreta pois, 
apesar de Anaxímenes negar o pensamento de seus predecessores, 
representados nos itens A e B, ele atribuiu a arkhéao ar. A alternativa 
D é incorreta pois, apesar de Heráclito afirmar que o movimento é a 
origem de tudo, ele afirmou também que a luta dos contrários origi-
nava o movimento e a mudança.
2. (UEL) Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro 
a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de 
todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a 
água. Essa proposta é importantíssima... podendo com boa dose 
de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo 
que se costuma chamar civilização ocidental.
(REALE, Giovanni. História da Filosofia: Antiguidade e 
Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filó-
sofos foram os chamados pré-socráticos. De acordo com o texto, 
assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles 
investigado.
a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos cien-
tíficos.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem 
do mundo.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.
 9 Resposta: D
A alternativa A está incorreta, pois a ética passou a ser uma preocu-
pação a partir dos sofistas e de Sócrates, ou seja, posteriormente ao 
período cosmológico. A alternativa B está incorreta, pois a estética 
surge a partir de Platão e Aristóteles, ou seja, posteriormente aos 
pré-socráticos. A alternativa C está incorreta, pois os procedimentos 
científicos, tal qual os conhecemos hoje, surgiu apenas na Idade Mo-
derna, ou seja, muitos séculos depois. A alternativa D está correta, pois 
os primeiros filósofos buscaram explicações racionais para a origem de 
tudo o que existe no universo (kósmos, em grego). A alternativa D está 
incorreta, porque a filosofia política também surgiu posteriormente, 
com Platão e Aristóteles.
Praticando
1. (UEL) Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre 
a totalidade do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os 
homens, a divindade e o mundo formam um universo unificado, 
homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos 
de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as 
mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas 
quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfei-
tamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou 
‘no começo’ de maneira diferente de como o faz ainda, cada dia, 
quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num cri-
vo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 12. ed. 
Tradução de: FONSECA, de Ísis Borges B. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p. 110.)
Com base no texto, assinale a alternativa correta.
a) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreen-
der como a natureza agia “no começo”, ou seja, no momento 
original.
b) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação 
de elementos sobrenaturais.
c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais 
têm uma explicação natural e esta pode ser compreendida 
racionalmente.
d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos natu-
rais, mas a explicação da totalidade dos mesmos está além da 
capacidade humana.
 9 Anotações:
2. (UFU) Parmênides de Eleia, filósofo pré-socrático, sustentava que:
I. o ser é.
II. o não-ser não é.
III. o ser e o não-ser existem ao mesmo tempo.
IV. o ser é pensável e o não-ser é impensável.
Assinale:
a) se apenas I, III e IV estiverem corretas.
b) se apenas I, II e III estiverem corretas.
c) se apenas II, III e IV estiverem corretas.
d) se apenas I, II e IV estiverem corretas.
 9 Anotações:
Os pré-socráticos passaram a indagar além das explicações mitológicas, 
buscando principlamente na natureza o fundamento racional da existência 
da vida.
Parmênides é o filósofo da imobilidade. Defende que o ser é e o não-ser não 
é e não pode ser pensado.
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Desenvolvendo Habilidades
1. C1:H2 (Enem-2017) A representação de Demócrito é 
semelhante à de Anaxágoras, na medida em que um 
infinitamente múltiplo é a origem; mas nele a determi-
nação dos princípios fundamentais aparece de maneira 
tal que contém aquilo que para o que foi formado não é, absolu-
tamente, o aspecto simples em si. Por exemplo, partículas de carne 
e de ouro seriam princípios que, através de sua concentração, 
formam aquilo que aparece como figura.
HEGEL, G. W. F. Crítica moderna. In: SOUZA, J. C. (Org). Os pré-
socráticos: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural, 2000 (adaptado).
O texto faz uma apresentação crítica acerca do pensamento de 
Demócrito, segundo o qual o “princípio constitutivo das coisas” 
estava representado pelo (a)
a) número, que fundamenta a criação dos deuses.
b) devir, que simboliza o constante movimento dos objetos.
c) água, que expressa a causa material da origem do universo.
d) imobilidade, que sustenta a existência do ser atemporal.
e) átomo, que explica o surgimento dos entes.
2. C1:H2 (Enem-2015) A filosofia grega parece começar com 
uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem 
e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário 
deter-nos nela e leva-la a sério? Sim, e por três razões: em 
primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem 
das coisas; em segundo lugar, porque nela, embora apenas em es-
tado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE, Friedrich. Crítica moderna. In: Os pré-
socráticos. São Paulo: Nova Cultural: 1999. 
O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da 
filosofia entre os gregos?
a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elemen-
tos sensíveis em verdades racionais.
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres 
e das coisas.
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira 
das coisas existentes.
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre 
as coisas.
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o 
que existe no real.
3. C1:H1 (UFU-2015) Em nós, manifesta-se sempre uma e a mesma 
coisa, vida e morte, vigília e sono, juventude e velhice. Pois a mu-
dança de um dá o outro e reciprocamente.
Heráclito, fragmento 88. In: BORNHEIM, G. A. (Org.). Os filósofos 
pré-socráticos. São Paulo: Editora Cultrix, 1998. p. 41.
Assinale a alternativa que explica o fragmento de Heráclito.
a) A oposição é a afirmação da força irracional que sustenta o 
mundo e explica a constante mudança de tudo que existe.
b) A oposição dos contrários nada mais é que o equilíbrio das forças, 
pois no mundo tudo é uno e constante, tudo mais é apenas ilusão.
c) A mudança permite afirmar que a constância do mundo das 
ideias é a única realidade, na qual as essências determinam tudo.
d) A oposição é a confirmação de que a realidade é o eterno fluxo 
de mudanças, e da tensão dos contrários nasce a harmonia e 
a unidade do mundo.
4. C1:H3 (UEM-2015) “O nascimento da filosofia pode ser entendido 
como o surgimento de uma nova ordem do pensamento, comple-
mentar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. Uma visão 
de mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas 
de geração a geração [...]. Os mitos apresentavam uma religião 
politeísta, sem doutrina revelada, sem teoria escrita, isto é, um 
sistema religioso, sem corpo sacerdotal e sem livro sagrado, apenas 
concentrada na tradição oral, é isso que se entende por teogonia”. 
(Filosofia / vários autores. Curitiba: SEED-PR, 2006. p. 18.) 
Sobre o surgimento da filosofia, assinale o que for correto.
(1)	 Na Grécia Antiga, o conhecimento dos mitos era transmitido 
pelos padres da Igreja.
(2)	 O livro do Gênesis repete o primeiro capítulo da Teogonia de 
Hesíodo,que trata da criação do mundo.
(3)	 A teogonia visa explicar a genealogia dos deuses e sua rela-
ção com os fenômenos do mundo.
(4)	 A oralidade constitui a forma privilegiada de transmissão do 
pensamento mítico.
(5)	 O mito representa uma forma de pensamento religioso 
contrário à racionalidade filosófica de Platão e dos filósofos 
pré-socráticos.
Soma ( )
Complementares
1. (UEG) A cultura grega marca a origem da civilização ocidental e 
ainda hoje podemos observar sua influência nas ciências, nas artes, 
na política e na ética. Dentre os legados da cultura grega para o 
Ocidente, destaca-se a ideia de que 
a) a natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e 
universais que podem ser plenamente conhecidos pelo nosso 
pensamento. 
b) nosso pensamento também opera obedecendo a emoções e 
sentimentos alheios à razão, mas que nos ajudam a distinguir 
o verdadeiro do falso. 
c) as práticas humanas, a ação moral, política, as técnicas e as 
artes dependem do destino, o que negaria a existência de 
uma vontade livre. 
d) as ações humanas escapam ao controle da razão, uma vez que 
agimos obedecendo aos instintos como mostra hoje a psicanálise. 
2. (UnB) No início do século XX, estudiosos esforçaram-se em mostrar 
a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito e filosofia, opondo-se 
a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade entre ambos.
A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi enten-
dida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger, 
consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e 
das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia 
nascente, dado que os primeiros filósofos haviam suprimido os 
aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos. 
Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando certa continuidade 
entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia 
de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que 
o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em 
relação ao mito foi retomada.
Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre 
o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de 
forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga.
a) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade arcaica, e a fi-
losofia corresponde ao advento da razão liberada da religiosidade.
b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo é apre-
sentada imaginativamente, e a filosofia caracteriza-se como 
explicação racional que retoma questões presentes no mito.
c) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico e irracional, 
e a filosofia, também fundamentada no rito, corresponde ao 
surgimento da razão na Grécia Antiga.
d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a origem do 
ser, e a filosofia descreve a origem do ser a partir do dilema 
insuperável entre caos e medida.
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3. (Unicentro) A passagem do Mito ao Logos na Grécia antiga foi fruto 
de um amadurecimento lento e processual. Por muito tempo, essas 
duas maneiras de explicação do real conviveram sem que se tra-
çasse um corte temporal mais preciso. Com base nessa afirmativa, 
é correto afirmar:
a) O modo de vida fechado do povo grego facilitou a passagem 
do Mito ao Logos.
b) A passagem do Mito ao Logos, na Grécia, foi responsabilidade 
dos tiranos de Siracusa.
c) A economia grega estava baseada na industrialização, e isso 
facilitou a passagem do Mito ao Logos.
d) O povo grego antigo, nas viagens, se encontrava com outros 
povos com as mesmas preocupações e culturas, o que contri-
buiu para a passagem do Mito ao Logos.
e) A atividade comercial e as constantes viagens oportunizaram 
a troca de informações/conhecimentos, a observação/assi-
milação dos modos de vida de outros povos, contribuindo, 
assim, de modo decisivo, para a construção da passagem do 
Mito ao Logos.
4. (Unioeste) O que há em comum entre Tales, Anaximandro e 
Anaxímenes de Mileto, entre Xenófanes de Colofão e Pitágoras 
de Samos? “Todos esses pensadores propõem uma explicação 
racional do mundo, e isso é uma reviravolta decisiva na história 
do pensamento”. 
(Pierre Hadot) 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre as relações entre 
mito e filosofia, seguem as seguintes proposições:
I. Os filósofos pré-socráticos são conhecidos como filósofos da 
physis porque as explicações racionais do mundo por eles 
produzidas apresentam não apenas o início, o princípio, mas 
também o desenvolvimento e o resultado do processo pelo 
qual uma coisa se constitui.
II. Os filósofos pré-socráticos não foram os primeiros a tratarem 
da origem e do desenvolvimento do universo, antes deles já 
existiam cosmogonias, mas estas eram de tipo mítico, des-
creviam a história do mundo como uma luta entre entidades 
personificadas.
III. As explicações racionais do mundo elaboradas pelos pré-so-
cráticos seguem o mesmo esquema ternário que estruturava 
as cosmogonias míticas na medida em que também propõem 
uma teoria da origem do mundo, do homem e da cidade.
IV. O nascimento das explicações racionais do mundo são também 
o surgimento de uma nova ordem do pensamento, comple-
mentar ao mito; em certos momentos decisivos da história da 
filosofia as duas ordens de pensamento chegam a coexistir, 
exemplo disso pode ser encontrado no diálogo platônico Timeu 
quando, na apresentação do “mito mais verossímil”, a figura 
mítica do Demiurgo é introduzida para explicar a produção 
do mundo.
V. Tales de Mileto, um dos Sete Sábios, além de matemático e 
físico é considerado filósofo – o fundador da filosofia, segundo 
Aristóteles – porque em sua proposição “A água é a origem e 
a matriz de todas as coisas” está contida a proposição “Tudo é 
um”, ou seja, a representação de unidade.
Assinale a alternativa correta. 
a) As proposições III e IV estão incorretas. 
b) Somente as proposições I e II estão corretas. 
c) Apenas a proposição IV está incorreta. 
d) Todas as proposições estão incorretas. 
e) Todas as proposições estão corretas. 
5. (UFPE) As reflexões sobre o mundo e as relações sociais fazem parte 
da construção da Filosofia, desde os seus primórdios. Na Grécia, o 
pensamento filosófico foi muito importante para a organização da 
sua sociedade e o estabelecimento de uma visão crítica de suas 
manifestações culturais. Uma das figuras marcantes da Filosofia 
Grega foi Parmênides, que:
a) defendia a concepção de um universo composto pelos quatro 
elementos fundamentais da natureza (a água, o fogo, a terra, 
o ar) em constantes movimentos circulares.
b) seguiu as teorias de Heráclito sobre a permanência do sagrado 
e dos mitos, como princípios básicos da realização religiosa da 
sociedade, em todos os tempos.
c) se posicionou contra as teorias políticas dos mais democratas, 
pois achava a escravidão necessária para se explorar as riquezas 
e facilitar a organização da economia.
d) influenciou em muito o pensamento idealista da filosofia oci-
dental, dando destaque à ideia de permanência e considerando 
o movimento como uma ilusão dos sentidos. 
e) estabeleceu orientações fundamentais para o pensamento de 
Aristóteles, de quem foi mestre, articulando as bases de uma ló-
gica dualista com a concepção de governo monárquico vitalício.
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Sofistas e Sócrates
Do cosmos ao anthropós • Sofistas • Sócrates
1. Leia a tirinha a seguir.
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a) O personagem da tirinha fica frente a frente consigo mesmo, mas uma parte dele não reconhece a 
outra. Vocêacha que uma situação como essa pode acontecer no processo de autoconhecimento? 
Justifique sua resposta.
b) Na sua opinião, o que é necessário para iniciar o processo de autoconhecimento?
 
2. O que é mais importante: a verdade ou a validade de um argumento?
3. Como convencer um público a aceitar determinados argumentos?
Resposta pessoal. O aluno deve considerar a possibilidade de haver um estranhamento de si no processo de 
autoconhecimento.
A atividade pode ser feita 
em casa ou em sala de aula, 
conforme a necessida-
de. Você pode solicitar 
que alguns voluntários 
apresentem suas respostas 
e promover uma troca de 
ideias sobre o processo de 
autoconhecimento como 
Sócrates defendia.
Resposta pessoal. O aluno pode mencionar alguns critérios necessários para o autoconhecimento, como buscar 
entender os próprios sentimentos e pensamentos, desenvolver autoestima, estar ciente de seus desejos e das 
possibilidades de realizá-los etc.
Para o desenvolvimento 
dos itens 2 e 3 organize um 
debate em sala, questio-
nando o que é importante 
e quais aspectos devem ser 
abordados em um debate. 
Além de discutir quais téc-
nicas podem ser utilizadas 
para que seja realizado um 
bom debate. 
Filosofia 
grega 
clássica: 
Sócrates e 
os sofistas
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No início, a Filosofia 
surgiu com a busca in-
cessante por respostas 
sobre a origem do mun-
do e os pré-socráticos, 
os primeiros filósofos da 
Antiguidade, propuse-
ram que essas respostas 
poderiam ser encontra-
das na própria natureza. 
Assim, eles inauguraram 
o período que ficou co-
nhecido como período 
cosmológico.
Com o desenvolvi-
mento urbano crescente 
e o aumento da complexi-
dade das relações sociais, 
outras questões passa-
ram a interessar os filó-
sofos: como viver bem? 
Qual o papel do cidadão 
na pólis? Qual a melhor 
forma de governo? Como 
elaborar um discurso apaixonado para convencer os outros sobre a importância de determinado 
assunto? Onde está a verdade? Quais as virtudes do bom cidadão e do bom governante?
Com estas e outras questões, inaugurou-se um novo período na Filosofia Antiga: o período 
antropológico, em que o foco de estudo não é apenas a natureza, mas o próprio ser humano em 
suas complexas formas de ser e existir; assim, nesse período, prevaleceram as discussões sobre 
ética, política, direito etc.
Os principais representantes deste período são os sofistas e Sócrates. 
Os sofistas eram um grupo heterogêneo de pensadores que viajam de cidade em cidade en-
sinando aos cidadãos a arte da retórica. Foram muito criticados por toda a tradição filosófica, 
mas, atualmente, são vistos como parte importante no processo educativo da Grécia antiga e, 
também, para a Filosofia, por meio dos inúmeros embates de ideias que travaram. 
Sócrates, cidadão ateniense, figura enigmática, amado e odiado na Atenas de seu tempo, nun-
ca deixou nada escrito. Tudo o que sabemos sobre ele, atualmente, se deve aos registros de seus 
alunos Platão e Xenofonte e, também, de alguns de seus críticos, como o comediante Aristófanes. 
Sócrates ficou conhecido por seu método dialógico, em que levava seus interlocutores a descobri-
rem-se na ignorância e a ansiarem pelo saber.
Um dos fatores que in-
fluenciou essa mudança do 
objeto de estudo da filosofia 
foi justamente o crescimen-
to das cidades-Estado. Com 
o aumento populacional, 
começam a surgir mais 
problemas referentes à 
organização social, política e 
econômica, e assim a filoso-
fia passa a ser uma maneira 
de resolver tais conflitos.
ObserveObserve
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Deuses reunidos no Olimpo. A existência de conselhos entre os deuses demonstra como a questão dos 
debates e das discussões públicas é um elemento importante para a cultura grega.
Do cosmos ao anthropós
Sofistas
Os fundamentos da Sofística 
podem ser assim resumidos:
1. O interesse filosófico 
concentra-se no homem 
e em seus problemas, o 
que os sofistas tiveram em 
comum com Sócrates.
2. O conhecimento reduz-se 
à opinião e o bem, à 
utilidade. Consequente-
mente, reconhece-se da 
relatividade da verdade e 
dos valores morais, que 
mudariam segundo o lugar 
e o tempo.
3. Erística: habilidade em 
refutar e sustentar ao 
mesmo tempo teses 
contraditórias.
4. Oposição entre natureza e 
lei; na natureza, prevalece 
o direito do mais forte.
(ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de 
Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 
2003. p. 918.)
ObserveObserve
Com a sofística, o essencial não é investigar os princípios que explicam a origem de todas as 
coisas, mas as dimensões que envolvem a vida humana em sociedade, como a retórica, a ética, 
a política, o direito, a religião, a educação, a oratória, entre outras. Mas como se operou essa mu-
dança? Quem foram os sofistas?
O termo sofista deriva de sophos, que significa sábio, ou ainda especialista do saber. Os sofistas 
tornaram-se célebres por percorrerem as cidades educando membros da aristocracia e cobrando 
por seus ensinamentos, que em geral abordavam questões técnicas e práticas, úteis para a vida 
em sociedade, abordando temas como artes, retórica e política.
A sofística surge em um período de conflitos sociais que tem como origem a crise da aristocra-
cia, a inserção de novos valores e costumes decorrentes do crescimento das cidades e do comér-
cio, e da ampliação da comunicação entre as cidades.
Retórica: é a arte do 
discurso convincente, em 
que o interlocutor deve 
convencer a plateia de suas 
ideias, mesmo que elas 
sejam falsas. O importante é 
usar bons argumentos para 
provocar a persuasão.
GlossárioGlossário
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Os sofistas faziam do seu saber uma profissão. Desse 
modo eles inovaram a abordagem dos problemas educati-
vos, utilizando seus ensinamentos como uma possibilida-
de de ganho financeiro. Eles, como educadores, ensinavam 
aos que estivessem dispostos a pagar, independentemen-
te de classe social, proporcionando uma maior liberdade 
de propagação do conhecimento.
Na atualidade não há registros escritos completos dos 
sofistas, portanto a maioria das informações que possuí-
mos são as que foram transmitidas justamente por seus 
 adversários, como Sócrates e Platão. Sendo assim, torna-
-se mais difícil compreender os verdadeiros propósitos dos 
sofistas.
Os sofistas são responsáveis pela relativização das ver-
dades propostas pelos pré-socráticos, demonstrando que 
o ser humano não pode alcançar toda a verdade pelo lo-
gos. Porém, o que significava, afinal, dizer que a verdade 
é relativa? Se não há qualquer verdade, tudo não passa de 
opinião e visão particular desta ou daquela pessoa? Ou a 
verdade é relativa somente a algo específico? E o que seria 
esse algo? A resposta é difícil, porque nem os principais so-
fistas entraram em consenso sobre isso. Os sofistas mais 
importantes foram:
 ● Protágoras de Abdera (490 a.C. - 415 a.C.), cuja con-
tribuição para o conhecimento foi a relativização da 
verdade.
 ● Górgias (485 a.C. - 380 a.C.), proveniente de Leonti-
nos (atual Sicília, na Itália), contribuiu para inovações 
na arte da retórica.
Protágoras de Abdera
Protágoras é considerado o maior dos sofistas pelos 
estudiosos, e ele dedicou-se a enfrentar o problema que 
se instalara na filosofia. Enquanto Parmênides defendeu 
que o logos, o pensar, é a própria verdade; Heráclito negou 
a possibilidade de o logos poder captar o ser, pois a lingua-
gem jamais conseguiria dizer o que uma coisa é. Criou-se, 
assim, um dilema: afinal, é possível conhecer a verdade?
O sofista Protágoras nasceu em Abdera, viajou para várias 
cidades gregas e alcançou grande prestígio em Atenas. 
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A sofística demonstrou que o ser humano só pode ma-
nifestar seus pensamentos por meio da linguagem. Dessa 
forma, o pensamento e alinguagem, ou seja, o próprio lo-
gos, não são critérios para a verdade, pois são limitados ao 
ponto de vista de cada um. Assim, Protágoras apresenta 
sua grande inovação: se o pensamento se expressa por 
meio da linguagem, então ambos (pensamento e lingua-
gem) só podem ser relativos àquele que pensa e fala. Ou 
seja, a verdade é sempre relativa às experiências de cada 
um. Esse é o sentido da célebre frase de Protágoras: 
“O homem é a medida de todas as coi-
sas, daquelas que são porque são e daque-
las que não são porque não são.” 
Com Protágoras, a verdade deixa de ser entendida 
como significado do saber absoluto e passa a ser percebi-
da como proveniente das experiências de cada um, de seu 
modo particular de ver, interpretar e conhecer o mundo.
Reprodução em alto relevo dos sofistas.
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Ora, se não há verdade absoluta, e tudo é relativo ao 
ser humano, o cidadão grego entenderá que é mais impor-
tante buscar a utilidade das coisas do que suas essências.
Essa busca pela utilidade será revelada na própria pala-
vra. A palavra pode não exprimir verdade, mas certamente 
pode se tornar um elemento fundamental na vida política: 
o discurso bem fundamentado será o critério para definir 
a verdade. Os sofistas defendem que em uma discussão 
será considerada verdadeira aquela opinião que vencer o 
debate de ideias, independente de ela ser verdadeira ou 
falsa. Dessa forma, o indivíduo que desenvolver a melhor 
argumentação acabará por estabelecer a verdade.
Essa elevação da arte retórica contribuiu com o desen-
volvimento da democracia na Grécia Antiga. A preocupa-
ção com o discurso e com as técnicas de argumentação, 
aliada ao espírito crítico propagado por esses filósofos, 
repercutiu na vida social e política da pólis (cada vez mais 
urbana), e com o povo cada vez mais buscando conquistar 
e realizar sua autonomia. A retórica sofística seduziu so-
bretudo os jovens, pois foi elemento importantíssimo para 
todos aqueles que desejavam seguir uma carreira política, 
nas assembleias e nos tribunais, onde a defesa da própria 
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opinião contra os argumentos alheios valia 
tanto ou mais do que uma busca por princípios 
verdadeiros.
O relativismo da verdade, por consequên-
cia, conduzirá ao relativismo moral.
Os sofistas partem da ideia de que a verda-
de é relativa. Sendo a verdade relativa, a moral 
também o será, afinal se não existe uma ver-
dade absoluta, não é possível que exista um 
critério que determine totalmente a moral; a 
partir desse pensamento, os sofistas afirmam 
que o critério que define o que é certo e o que 
é errado deriva de convenções estabelecidas 
pelo ser humano.
Para alguns sofistas, como Protágoras, 
existe uma verdade natural, e assim também 
uma moral natural. Porém, as leis e os costu-
mes seguidos, em geral, não se baseavam nes-
sa verdade natural, mas apenas em criações 
humanas, convenções sociais que os seres hu-
manos julgavam necessárias. Apesar de serem 
convenções, poderiam ser mudadas a qual-
quer momento.
O relativismo dos sofistas foi amplamente 
criticado por Sócrates, o maior expoente do 
período antropológico.
Górgias 
Outro sofista de destaque foi Górgias, con-
siderado o maior orador da Grécia, conhecido 
por trazer a arte retórica da Sicília para Atenas. 
Escreveu diversas obras, que chegaram até os 
dias de hoje, como Encômio e Defesa. 
Em seus ensinamentos, Górgias enfatizava 
o uso da persuasão absurda, ou seja, para ele, 
as palavras tinham a força dos deuses e cau-
savam impactos físicos na plateia, na medida 
em que provocavam fortes emoções. Por isso, 
ensinava técnicas de oratória que beiravam a 
teatralidade. 
Concordou com o relativismo de Protágoras 
ao afirmar “as coisas que são para mim, são 
para mim, as coisas que são para ti, são para 
ti”. Outra característica importante de Górgias 
é o niilismo de suas ideias. Ele negava a pos-
sibilidade de conhecer o ser, afirmando: “O ser 
não existe; se existisse, não pode ser reconheci-
do; mesmo que fosse conhecido, não poderia ser 
comunicado a ninguém”. Costumava defender 
ideias absurdas e impopulares e ficou conheci-
do como um mestre dos paradoxos. 
Foi imortalizado pelo diálogo platônico 
que leva o seu nome, em que ele discute com 
Sócrates a função e a importância da retórica.
Niilismo: ponto de vista que 
considera que as crenças 
e os valores tradicionais 
são infundados e que não 
há qualquer sentido ou 
utilidade na existência.
Paradoxo: pensamento, 
proposição ou argumento 
que contraria os princípios 
básicos e gerais que costu-
mam orientar o pensamento 
humano, ou desafia a 
opinião compartilhada 
pela maioria.
GlossárioGlossário
Nascido em 469 a.C. na cidade de Atenas, 
Sócrates foi emblemático para a história do 
pensamento ocidental. Como Cícero diria mais 
tarde, ele é o homem que trouxe a filosofia do 
céu para a terra. A afirmação de Cícero tem 
uma razão: antes do ateniense, os filósofos 
investigavam a natureza, em busca dos princí-
pios que explicassem todas as coisas. Sócrates, 
por sua vez, dedicou-se a entender como a 
vida humana funcionava em sociedade: quais 
eram os princípios que norteavam as ações hu-
manas, quais eram as virtudes e os vícios das 
pessoas, a participação política do cidadão na 
pólis, bem como questões relacionadas com o 
conhecimento. Ele divulgou a famosa inscrição 
do portal do Oráculo de Delfos: “conhece-te a ti mesmo”, e a transforma no norte de sua filosofia: 
filosofar é ajudar o ser humano no processo de autoconhecimento. Tendo em vista essa necessi-
dade, a ética passa a ocupar lugar central em seu pensamento.
A ética é a disciplina da Fi-
losofia que estuda as ações 
humanas. Por que o ser hu-
mano faz determinadas coi-
sas? Por que o ser humano 
vive em sociedade? O que 
devemos fazer para viver 
bem com outras pessoas? O 
que motiva o ser humano a 
realizar qualquer ação?
A ética é prática – busca en-
tender o ser humano como 
ser vivente em sociedade.
ObserveObserve
Sócrates 
Ruínas do templo de Delfos, aonde as pessoas se dirigiam para consultar o Oráculo.
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Cícero (106  - 43 a.C.) foi 
um importante filósofo, 
linguista, tradutor e político 
romano. Estudioso da filo-
sofia grega, entre outros tra-
balhos foi responsável pela 
criação de um vocabulário 
filosófico em latim. 
BiografiaBiografia
[...] Sócrates teria sido um homem de caráter e inteligência singulares, imbuído de paixão pela honesti-
dade intelectual e de rara integridade moral, em sua época ou em qualquer outra. Com insistência, buscava 
respostas para perguntas que jamais haviam sido feitas, procurava derrubar pressupostos e crenças conven-
cionais para provocar uma reflexão mais cuidadosa sobre as questões éticas; incansavelmente, forçava a si 
próprio e a seus interlocutores a buscar um entendimento mais profundo sobre o que constituísse uma vida 
boa. Suas palavras e feitos incorporavam a permanente convicção de que a autocritica libertaria a mente 
humana das cadeias da falsa opinião. 
(TARNAS, Richard. A epopeia do pensamento ocidental: para compreender as ideias que 
moldaram nossa visão de mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. p. 47.)
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Antes de construir sua própria filosofia, re-
gistros mostram que Sócrates estudou a filo-
sofia da natureza até os seus 30 anos, e a par-
tir dessa idade começou a se sentir insatisfeito 
com a respostas trazidas por ela. 
Platão usa Sócrates como protagonista na 
maioria de seus diálogos. Porém, o Sócrates 
que aparece nos primeiros diálogos escritos 
por Platão não é o mesmo Sócrates dos diálo-
gos posteriores.
O Sócrates dos primeirosdiálogos é “real”, 
pois tratam-se de relatos verdadeiros de episó-
dios envolvendo Sócrates que o jovem Platão 
anotou e transformou em livro, para difundir 
a filosofia do seu mestre. Contudo, posterior-
mente, Platão amadureceu intelectualmente, 
passando a conceber suas próprias ideias. 
Nesses diálogos não está o Sócrates “real”, mas 
o “personagem” Sócrates, que Platão utiliza 
para apresentar sua própria filosofia.
Sócrates era conhecido por participar de 
discussões em praça pública, abordando ques-
tões morais, políticas e epistemológicas. Seu 
gosto pelos questionamentos tinha por obje-
tivo não só chegar à verdade, mas também au-
xiliar o interlocutor a mudar sua forma de pen-
sar e ver o mundo com outros olhos. Para isto 
utilizava-se do método dialético, que por sua 
vez consistia na utilização de duas técnicas: a 
ironia e a maiêutica.
A ironia é utilizada por Sócrates por meio 
de um jogo de perguntas pelo qual ele leva o 
interlocutor a se contradizer, a compreender 
que na verdade ignora aquilo que pensa saber 
e, desse modo, aceitar que não possui o co-
nhecimento sobre o assunto. Sócrates sempre 
inicia o diálogo fingindo não conhecer profun-
damente o tema que quer analisar e engrande-
cendo a capacidade do interlocutor (por isso a 
ironia). Ao fingir não saber, Sócrates exige que 
o interlocutor exponha sua opinião sobre de-
terminado tema.
O reconhecimento de não saber profunda-
mente o assunto tratado é o primeiro passo 
iniciar a busca pelo conhecimento. Daí surge a 
célebre expressão socrática “só sei que nada 
sei”, pois saber que não conhece é a primeira 
coisa que se deve compreender.
A maiêutica é o processo de questionamen-
tos pelo qual Sócrates conduz o interlocutor a 
extrair de si mesmo o conhecimento, e encon-
trar a verdade. Por meio da maiêutica, Sócrates 
procura levar as pessoas a descobrirem os co-
nhecimentos que já possuem dentro de si, os 
quais precisam apenas ser “despertos”, trazi-
dos a luz. A maiêutica também ficou conhecida 
como “parto das ideias”, visto que esse método 
faz os indivíduos trazerem à tona as verdades 
presentes em seu interior por meio de inces-
santes interrogações.
A figura de Sócrates logo se tornou muito 
popular.
Método dialético: é o 
método utilizado por 
Sócrates para provocar 
o autoconhecimento do 
interlocutor. O objetivo 
é interrogar o outro com 
várias perguntas até que o 
interlocutor consiga extrair 
de si o conhecimento.
GlossárioGlossárioA natureza de seus questionamentos en-
cantou os jovens atenienses. Questões como: o 
conceito de justiça, o valor da religião, a virtude 
e a verdade, eram debatidas em seus diálogos.
No entanto, Sócrates despertou inveja e 
raiva as autoridades políticas, o que acarretou 
a abertura de um processo judicial contra o fi-
lósofo, concluído com a sua condenação à 
morte em 399 a.C.
O processo contra Sócrates foi eterniza-
do ao ser registrado numa sequência de qua-
tro diálogos escritos por Platão: Eutífron, que 
traz uma discussão sobre o valor da religião 
e o sentido da religiosidade, pois Sócrates era 
acusado de não acreditar nos deuses gregos 
e introduzir divindades novas; Apologia de 
Sócrates, que apresenta a sua defesa perante 
o Tribunal Ateniense diante das acusações que 
lhe foram feitas; Críton, que se desenrola entre 
o julgamento e sua condenação, quando um 
amigo lhe procura dizendo que possui meios 
para tirá-lo clandestinamente de lá e assim sal-
vá-lo da morte (proposta veementemente re-
cusada pelo filósofo); e Fédon, que traz o último 
diálogo antes de sua morte.
Alma e autoconhecimento 
em Sócrates
Com Sócrates, surge uma nova visão e um 
novo conceito para uma palavra que já era uti-
lizada por vários poetas e escritores, a psyché, 
termo grego que traduzimos por “alma”. Desde 
Homero, passando pelos órficos, pelos físicos 
e poetas, tem-se um significado para a palavra 
“alma”, porém sempre era um elemento inde-
finido. Para Sócrates, a alma é a melhor parte 
do ser humano, ou seja, é o que o diferencia de 
todos os outros seres.
A Morte de Sócrates, de Hernandéz (1872). Sócrates foi condenado à morte por ingestão de cicuta, uma planta muito 
venenosa. Um de seus discípulos armou um plano para que o mestre pudesse escapar, mas este recusou a proposta. 
Sócrates acreditava que se fugisse e desrespeitasse a lei, estaria indo contra tudo o que havia defendido na sua 
filosofia, e sua vida teria sido em vão.
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Sócrates afasta Alcebíades do vício, de 
Américo (1861).
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Órfico: relativo a Orfeu.
GlossárioGlossário
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Para o filósofo, “a alma coincide com a nossa 
consciência pensante e operante, com a nossa 
razão e com a sede da nossa atividade pensante 
e eticamente operante. [...] a alma é o eu cons-
ciente, é a personalidade intelectual e moral.”
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Mosaico romano que retrata animais ouvindo o 
personagem mitológico Orfeu. Existe a lenda de que 
Orfeu retornou do Hades e depois teria fundado um 
movimento chamado orfismo. É do orfismo que vem 
uma das principais concepções gregas sobre a alma, 
o que influenciaria o pensamento filosófico posterior, 
sobretudo em Sócrates.
A obra se passa no encontro entre Eutífron, 
que estava prestes a acusar seu pai por homi-
cídio, e Sócrates, acusado de impiedade.
Sócrates surpreende-se com Eutífron, por 
este ter movido uma ação contra alguém da 
própria família. Eutífron iria acusar seu pai de 
ter assassinado um estrangeiro, devido a este 
ter matado um dos criados da família. O jovem 
Eutífron afirma que fez isso por ser piedoso 
com os deuses, já que para os deuses não há 
diferença entre matar um estranho ou alguém 
da família. Ambos são atos injustos e que de-
vem ser punidos. 
Eutífron complementa que ser piedoso é 
aquilo que agrada aos deuses e aos homens, e 
ímpio é o contrário.
Sócrates discorda, utilizando como exem-
plo a Ilíada, em que uma mesma ação pode 
agradar a um deus e desagradar a outro. Prova 
disso é que alguns deuses apoiavam os gregos 
e outros os troianos. Logo, como podemos di-
zer que podemos agradar aos deuses se nem 
eles são unânimes naquilo que lhes agrada?
Cena de Ilíada, em que Aquiles carrega o corpo de Heitor. Sócrates 
utiliza essa obra homérica para demonstrar que os deuses não têm a 
mesma opinião sobre o valor das coisas. Desse modo, o que é piedade 
para um pode não ser para outro.
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Disso decorre uma crítica importantíssima 
de Sócrates à religião grega, que era retratar os 
deuses como antropomorfos, ou seja, em for-
mas humanas. Para Sócrates, isso significava 
rebaixar uma divindade à imperfeição huma-
na. Por esse motivo, ele recebeu a acusação de 
impiedade, conforme ele mesmo apresenta: 
(REALE, Giovanni. História da Filosofia 
Antiga. São Paulo: Loyola, 2002. p. 258.)
Percebe-se que a alma para 
Sócrates está muito mais ligada à 
consciência, do que a uma concep-
ção religiosa, como a que usamos 
para “espírito”.
A ideia de Sócrates é de que 
a alma é a parte divina no ser hu-
mano, devendo ser cultivada a par-
tir do conhecimento e da verdade. 
Segundo o autor Werner Jaeger, 
corpo e alma devem ser entendi-
dos “como dois aspectos distin-
tos da mesma natureza humana”. 
Nesses “aspectos distintos” surge a 
ordem de valores apresentada por 
Sócrates, na qual a alma aparece no 
grau mais elevado e esta deve domi-
nar o corpo. Portanto, a alma liga-se 
ao corpo, mas é superior a ele.
A filosofia de Sócrates é a filosofia do au-
toconhecimento, que é o mesmo que dizer 
“conhecimento da alma”. Por isso, afirma-se 
que Sócrates trouxe definitivamente a filoso-
fia para dentro do ser humano. Ainda que os 
sofistas tenham inaugurado o período antro-
pológico na filosofia, não buscaram entender o 
ser humano individual, a alma, mas apenasos 
seres humanos em geral, em suas relações so-
ciais, políticas etc. Para Sócrates, não há como 
discutir justiça, virtude, política, sem antes co-
nhecer a si mesmo.
Julgamento e condenação 
de Sócrates
Platão escreveu diálogos que abordavam 
o julgamento, a condenação e a morte de 
Sócrates, três deles serão abordados a seguir.
Eutífron
A obra Eutífron permite entender o porquê 
de Sócrates ter sido processado e condenado, 
pois tudo gira em torno da acusação de impie-
dade, já que para alguns o filósofo era ateu e 
corrompia os jovens a não venerar os deuses 
do panteão grego.
Esse novo sentido dado por 
Sócrates para o vocábulo 
“alma” fará com que o 
termo seja amplamente 
usado pelas religiões e se 
popularize.
Impiedade: descrença, 
irreligiosidade.
GlossárioGlossário Não será essa, Eutífron, a razão pela qual eu 
sou acusado: por que, sempre que alguém diz 
tais coisas sobre os deuses, eu as aceito com 
dificuldade?
(PLATÃO. Eutífron, apologia de Sócrates, Críton. 
4. ed. Tradução de: SANTOS, José Trindade. Lisboa: 
Imprensa nacional – casa da moeda, 1983.)
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De certa forma, Eutífron representa a opi-
nião geral dos gregos da época, que seria viver 
conforme aquilo que mandam fazer os deuses 
por meio dos velhos mitos e histórias.
Durante o diálogo, Sócrates rebate as opi-
niões de Eutífron, que ao final sente que fra-
cassa e se despede, deixando a questão ina-
cabada e o filósofo frustrado. Sócrates levanta 
a hipótese de que as pessoas sentem-se ame-
drontadas a pôr à prova a própria concepção 
do que pensam estar correto:
mundo, dos seres humanos, dos deuses, da 
vida. Assim, aquele que sabe que não sabe é 
certamente mais sábio que aqueles que nada 
sabem e ignoram que não sabem nada. Essa 
é a explicação da célebre frase: “Só sei que 
nada sei”. Para Sócrates, essa sua sabedoria 
é o que despertava ódio em tantos ilustres de 
seu tempo.
Cena do filme Sócrates, que mostra o julgamento do filósofo perante a cidade de Atenas. Sócrates aparece no canto 
inferior esquerdo.
Ve
rsá
til
 H
om
e 
Vid
eo
Que fazes, companheiro? Vais-te embora, 
derrubando-me da minha grande esperança? 
Como aprenderei contigo o que são e o que não 
são as coisas piedosas? Como me irei livrar de 
Meleto? Como mostrarei àquele que, junto de 
Eutífron, me tornei sábio nas coisas divinas e 
que, nem por ignorância improviso, nem ino-
vo acerca das divindades, mas que viverei uma 
outra vida melhor?
(PLATÃO. Eutífron, apologia de Sócrates, Críton. 
4. ed. Tradução de: SANTOS, José Trindade. Lisboa: 
Imprensa nacional – casa da moeda, 1983.)
Essa frase é emblemática, pois o poeta 
Meleto é justamente um dos acusadores de 
Sócrates. A fuga de Eutífron pode muito bem 
simbolizar a fuga da população em geral em 
refletir acerca daquilo que Sócrates trouxe so-
bre os deuses. Em geral, as pessoas temem a 
novidade e preferem permanecer nos hábitos 
e costumes de sempre.
Sócrates carregava uma ideia profunda 
acerca de Deus, uma ideia que ainda não havia 
surgido no mundo grego, a de um Deus puro, 
perfeito e que se encontra no íntimo de cada 
um, em uma parte divina: a alma. Porém, tal 
concepção de Deus não era corroborada pela 
opinião geral dos gregos de seu tempo, e por 
isso Sócrates acabou condenado.
Apologia de Sócrates
A obra Apologia de Sócrates (escrita por 
Platão) traz o embate entre a sua defesa e a 
acusação de seus adversários. O centro da 
obra é a acusação de Sócrates não acreditar 
nos deuses e, assim, corromper os jovens a fa-
zer o mesmo.
Sócrates inicia sua defesa lembrando uma 
frase do Oráculo de Delfos. O Oráculo havia 
afirmado que Sócrates era o homem mais 
sábio de todos. Para Sócrates, a sentença do 
Oráculo possui relação com o fato de ele re-
conhecer que não sabe, enquanto os outros 
pensam que sabem alguma coisa. Ora, pen-
sam, mas na verdade nada sabem acerca do 
É já tempo de partir – eu para morrer e vós 
para viver – qual de nós terá a melhor sorte, só 
o deus pode vê-lo com clareza.
(PLATÃO. Eutífron, apologia de Sócrates, Críton. 
4. ed. Tradução de: SANTOS, José Trindade. Lisboa: 
Imprensa nacional – casa da moeda, 1983.)
A impressão que permanece é que Sócrates 
entendeu ser inútil continuar lutando, pois as 
pessoas estavam resolvidas a condená-lo, as-
sim poderia calar as verdades que vinha tra-
zendo ao público.
Em seguida, inicia-se a defesa sobre a prin-
cipal acusação, a de que Sócrates seria injusto 
por corromper os jovens ao negar a existência 
dos deuses e de tentar criar novas divindades.
Sócrates fez Meleto se contradizer, pois se 
alguém acredita em deuses, ainda que sejam 
outros, não pode ser ateu.
Porém, Sócrates percebeu que não con-
seguia dissuadir os juízes da sua condenação, 
o que de fato aconteceu, com um total de 
280 votos por sua condenação e 230 por sua 
absolvição.
Sócrates deixou o tribunal, com as seguin-
tes palavras: 
Célebre: conhecido ou 
comentado por muitos; 
que tem grande fama (caso 
célebre; artista célebre); afa-
mado; famigerado; famosos. 
Distinto por suas qualidades 
louváveis; ilustre.
GlossárioGlossário
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Essa postura de resignação de Sócrates pode ser melhor entendida em outro diálogo, Críton, 
que ocorre na prisão enquanto o filósofo espera o seu dia final.
Morte de Sócrates, ilustração publicada na Revista Pittoresque em 1840, Paris.
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Críton
Críton é um amigo de Sócrates que o visitou na prisão para explicar que elaborou um plano 
que permitiria ao filósofo fugir daquele local. 
Críton procurou convencer Sócrates de que não era justo o filósofo continuar preso enquanto 
poderia se salvar. Ele preocupava-se com o que a sociedade ateniense pensaria do caso, afirman-
do que os atenienses julgariam a questão de Sócrates como algo conduzido com falta de coragem. 
Para Críton, a condenação de Sócrates era injusta, logo não seria injusta a fuga da condenação. 
Sócrates trouxe a ideia de que não importa apenas viver, mas viver bem, o que seria igual a 
viver com honra e justiça, coisa que não aconteceria com o filósofo se este fugisse da sua conde-
nação. Iniciou-se, assim, uma discussão se o fato de tentar a escapatória seria justo ou injusto, 
falando sobre as leis e o Estado. Deixando Críton sem falas, Sócrates terminou o diálogo descre-
vendo que a voz em sua mente, a voz da lei lembrava-lhe que:
LU
CE
Sócrates
Ano: 1971
Diretor: Roberto Rossellini
Retrata os grandes momen-
tos da vida de Sócrates, 
desde os seus ensinamentos 
nas ruas de Atenas até a 
sua condenação à morte 
por ingestão da cicuta. O 
consagrado diretor Roberto 
Rossellini capta de maneira 
envolvente o cenário de 
Atenas da época e reproduz 
com maestria a maiêutica 
e a ironia de Sócrates. Ex-
celente para se familiarizar 
com o autor.
Un
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Ar
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Doze homens e uma 
sentença
Ano: 1957
Diretor: Sidney Lumet
Um homem está sendo 
julgado pelo suposto as-
sassinato de seu pai. Quase 
todos os jurados estão 
inclinados a condená-lo, 
exceto um, que acha que o 
réu é inocente. Este então 
empreenderá uma batalha, 
valendo-se da retórica e dos 
instrumentos linguísticos 
para tentar provar a verdade 
em que ele acredita. Assim 
como Sócrates, que pro-
curou fazer com que seus 
ouvintes encontrassem a 
verdade dos fatos por meio 
da contradição, o persona-
gem principal deste filme 
tem a tarefa semelhante de 
convencer 11 jurados de que 
eles estão errados.
FilmesFilmes
Esse diálogo é dos mais enigmáticos, pois Sócrates argumenta que não se deve retribuir a 
injustiça da sua condenação com uma injustiça que seria a sua fuga. Se Sócrates traísse suas 
próprias palavras, toda a sua filosofia seria desvalorizada.Fugindo, até conseguiria viver, mas o 
esforço de sua vida inteira teria sido desfeito por apenas um ato. Se aceitasse a condenação, em 
algum momento toda essa história seria revisada, e Sócrates parecia saber que suas palavras 
influenciariam muitas pessoas no futuro.
A morte de Sócrates, de Jacques-
-Louis David (1787).
Se fugires, retribuindo assim o mal com o mal, e fazendo-o por tua vez, violando acordos e tratados que 
fizeste conosco, fazendo mal a esses a quem menos devia fazer, a ti próprio e aos amigos, à pátria e a nós, 
nós te tornaremos a vida dura, e além, as nossas irmãs, no Hades, não te receberão bem, vendo que, por ti, 
intentaste destruir-nos.
(PLATÃO. Eutífron, apologia de Sócrates, Críton. 4. ed. Tradução de: SANTOS, José 
Trindade. Lisboa: Imprensa nacional – casa da moeda, 1983.)
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FILOSOFIA E SOCIEDADE
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Os sofistas surgem exatamente nesse momento de passagem da tirania e da oligarquia para a democracia. 
São mestres da retórica e da oratória, muitas vezes mestres itinerantes, que percorrem as cidades-Estado 
fornecendo seus ensinamentos, sua técnica, suas habilidades aos governantes e aos políticos em geral. Em-
bora sem formar uma escola ou grupo homogêneo, o que os caracteriza é muito mais uma prática ou uma 
atitude comuns do que uma doutrina única. Há portanto uma paideia, um ensinamento, uma formação pela 
qual os sofistas foram responsáveis, consistindo basicamente numa determinada forma de preparação do 
cidadão para a participação na vida política. Sua função nesse contexto foi importantíssima e sua influência 
muito grande, o que se reflete na forte oposição que sofreram por parte de Sócrates, Platão e Aristóteles. Os 
sofistas foram portanto filósofos e educadores, além de mestres de retórica e oratória, embora esse papel 
lhes seja negado, p.ex. por Platão. 
Leia o texto e realize a atividade.
1. Os sofistas foram muito criticados pelos filósofos porque cobravam pagamento em troca de suas aulas e, 
também, porque eles não se preocupavam em buscar a verdade e o conhecimento, mas sim em estabelecer 
um discurso convincente e persuasivo, conhecido como arte retórica. Na retórica, não havia o compromisso 
com a verdade do que é dito, mas com a validade do argumento.
Na atualidade, temos contato com diversos discursos persuasivos, cuja finalidade é convencer o interlocutor 
de uma ideia. Um grande exemplo disso é a propaganda, cuja finalidade é convencer o consumidor de que 
o produto anunciado é o melhor do mercado, oferecendo várias razões interessantes para comprovar essa 
ideia. Siga o roteiro para realizar uma pesquisa.
a) Escolha, em revistas, jornais ou internet, uma propaganda de um produto que você tem interesse em 
adquirir. Recorte ou imprima o anúncio e cole-o no caderno.
b) Responda às questões a seguir.
 • Qual produto anunciado na propaganda você escolheu?
 • Quais argumentos utilizados tornam a propaganda atraente?
 • O que mais chamou sua atenção na propaganda?
c) Escreva um texto argumentativo de 10 linhas complementando a propaganda com outros atributos 
interessantes do produto anunciado e por que ele é o melhor do mercado em sua categoria. Lem-
bre-se: utilize-se das estratégias da retórica para construir seus argumentos.
Essa atividade deve ser 
realizada em casa, com um 
prazo estabelecido para a 
entrega. Orientar os alunos 
a escolherem as propagan-
das que sejam do interesse 
deles para realizar a análise. 
As questões propostas no 
item b servem para orientar 
a análise do aluno, podendo 
ser ampliada a seu critério. 
O importante é que os alu-
nos observem os recursos 
gráficos, visuais e textuais 
em busca dos argumentos 
utilizados na propaganda. Às 
vezes, o texto não é explíci-
to, mas elementos gráficos, 
como imagens, desenhos 
e efeitos visuais deixam 
implícitos vários elemen-
tos persuasivos. Havendo 
possibilidade, essa atividade 
pode ser complementada 
com uma segunda parte 
voltada ao consumo e con-
sumismo, trazendo questões 
sobre o modo de vida da 
atualidade. O texto argu-
mentativo não precisa ter 
compromisso com a verdade 
(mas deve ser verossímil), 
mas com a validade do 
argumento, como na arte 
retórica. Os alunos devem 
oferecer outras razões para 
aquele ser o melhor produto 
do mercado. A produção 
escrita deve ser entregue na 
data estipulada e pode fazer 
parte da avaliação do aluno.
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(MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 42.)
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Resolvidos
1. (UFF-2011) A Apologia de Sócrates é o relato da defesa de Sócrates, 
escrito pelo seu discípulo, Platão, diante do tribunal de Atenas. Um 
dos assuntos abordados nessa obra é a relação entre ignorância e 
conhecimento. Sócrates sentiu-se constrangido quando o oráculo 
de Delfos o proclamou como o “mais sábio de todos os homens”, já 
que ele se achava, ao contrário, muito pouco sábio. Mas, ao con-
versar com pessoas que atribuíam a si mesmas muita sabedoria, 
e ao constatar que elas eram tão ou mais ignorantes que ele, con-
cluiu que devia ser mesmo o mais sábio, pois, ao menos, ele tinha 
consciência de sua própria ignorância. Comente a declaração de 
Sócrates de que a pior ignorância é não ter consciência dela e de 
que o primeiro passo no caminho do conhecimento é reconhecer 
a própria ignorância.
 9 Resolução: 
O enunciado desta questão, com base na Apologia de Sócrates, 
de Platão, está concentrado no tema da busca pelo conhecimento 
propriamente dito. Assim, há diversas alternativas de respostas: o 
estudante poderá fazer o relato da narrativa e exposição de Sócrates, 
poderá apontar suas consequências para a concepção de conheci-
mento associada a Sócrates e/ou a Platão, como poderá desenvolver 
reflexões sobre o tema em geral, sem estar preso ao contexto doutri-
nário e histórico da filosofia grega, cabendo perfeitamente aplicar 
esta reflexão ao mundo contemporâneo.
2. (UEM) Sócrates representa um marco importante da história da 
filosofia; enquanto a filosofia pré-socrática se preocupava com o 
conhecimento da natureza (physis), Sócrates procura o conheci-
mento indagando o homem. Assinale o que for correto.
(1)	 Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante 
dos seus juízes, os princípios éticos da sua filosofia.
(2)	 Discípulo de Sócrates, Platão utilizou, como protagonista da 
maior parte de seus diálogos, o seu mestre.
(3)	 O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutica 
e a ironia.
(4)	 Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro 
pelos seus ensinamentos.
(5)	 Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria, 
com isso, sinalizar a necessidade de adotar uma nova atitu-
de diante do conhecimento.
Soma ( )
 9 Resolução: 
(22) 02 + 04 + 16.
(01) Incorreta. Sócrates morreu justamente por defender os seus princí-
pios, pois, para ele, era preferível “sofrer uma injustiça do que praticá-la”.
(02) Correta. Platão é o discípulo de Sócrates mais famoso, por causa 
de seus diálogos. Outro discípulo de Sócrates que registrou por escrito 
a vivência com o mestre foi Xenofonte.
(04) Correto. O método dialético, na concepção socrática, possui 
duas etapas: a maiêutica, que consiste em levar os interlocutores a 
dar à luz as ideias (parto de ideias); e a ironia, que leva o interlocutor 
a reconhecer a própria ignorância, conduzindo-o ao conhecimento.
(08) Incorreto. A maior crítica dirigida aos sofistas é justamente a 
acusação de serem interesseiros por cobrarem de seus alunos. Sócrates, 
ao contrário, dialogava com as pessoas no espaço público da pólis 
ateniense, sem cobrar nada.
(16) Correta . Reconhecer a própria ignorância, para Sócrates, significa 
o início do aprendizado.Praticando
1. (UFU) O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso 
histórico: no fato de Sócrates ministrar os seus ensinamentos sob 
a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo 
como a forma por excelência do exercício filosófico e o único 
caminho para chegarmos a alguma verdade legítima. De acordo 
com a doutrina socrática,
a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão 
antropocêntrica da filosofia.
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica.
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoco-
nhecimento e é, portanto, de natureza sofística.
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos 
é sanada pelo homem, medida de todas as coisas.
 9 Anotações:
2. (UFU-MG) Leia o trecho abaixo, que se encontra na Apologia de 
Sócrates de Platão e traz algumas das concepções filosóficas de-
fendidas pelo seu mestre.
Com efeito, senhores, temer a morte é o mesmo que se supor sábio 
quem não o é, porque é supor que sabe o que não sabe. Ninguém 
sabe o que é a morte, nem se, porventura, será para o homem o 
maior dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior 
dos males. A ignorância mais condenável não é essa de supor saber 
o que não se sabe?
Platão, A Apologia de Sócrates, 29 a-b, In. HADOT, P. O que é 
a Filosofia Antiga? São Paulo: Ed. Loyola, 1999, p. 61.
Com base no trecho acima e na filosofia de Sócrates, assinale a 
alternativa incorreta.
a) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar a sua missão, qual 
seja: buscar, por meio da filosofia, a verdade, para além da mera 
aparência do saber.
b) Sócrates leva o seu interlocutor a examinar-se, fazendo-o tomar 
consciência das contradições que traz consigo.
c) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos outros que 
nada se sabe. Deve-se evitar a ignorância a todo custo, ainda 
que defendendo uma opinião não devidamente examinada.
d) Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele que, colocado 
diante da própria ignorância, admite que nada sabe. Admitir 
o não-saber, quando não se sabe, define o sábio, segundo a 
concepção socrática.
 9 Anotações:
3. (Unicamp) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no 
século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que 
nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma 
resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. 
Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à 
conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a 
sua própria ignorância. O “sei que nada sei” é um ponto de partida 
para a Filosofia, pois 
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio 
por querer adquirir conhecimentos. 
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do 
passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os 
ensinamentos dos filósofos gregos. 
A importância da figura de Sócrates para a filosofia é justamente por ter sido 
aquele que fez com que o pensamento se direcionasse a ele mesmo.
Para Sócrates, a morte não é o maior dos males. O que prejudica uma vida 
feliz e saudável é viver na ignorância, sem buscar o verdadeiro saber.
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c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o 
saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos 
rigorosos. 
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante 
dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas 
abstratas. 
 9 Anotações:
4. (UFU) Há um abismo imenso que separa esta escala de valores que 
Sócrates proclama com tanta evidência e a escala popular vigente 
entre os gregos e expressa na famosa canção báquica antiga:
O bem supremo do mortal é a saúde;
O segundo, a formosura do corpo;
O terceiro, uma fortuna adquirida sem mácula;
O quarto, desfrutar entre amigos o esplendor da juventude.
JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 1995, pp. 528-529.
Responda:
a) O que é o homem para Sócrates?
b) Qual é a relação entre o que define o homem e a máxima délfica 
“Conhece-te a ti mesmo”?
Desenvolvendo Habilidades
1. C5:H24 (PUC-Campinas) Na Grécia Antiga, um dos mais importantes 
representantes dos sofistas foi Protágoras de Abdera, que afirmava 
que “o homem é a medida de todas as coisas”. No contexto histórico 
que marcou o século V a.C., os sofistas: 
a) forneceram elementos fundamentais para o desenvolvimento 
da democracia, por terem valorizado sobretudo o espírito 
crítico, a palavra e as técnicas de argumentação. 
b) desempenharam um papel importante na difusão das obras 
de Homero, ao reforçarem a importância da mitologia e dos 
deuses como elementos unificadores do povo grego. 
A busca pelo conhecimento é primordial na filosofia. Sócrates defendeu a 
ideia de que reconhecer que nada sabe é o primeiro passo para prosseguir 
nessa busca.
O homem não deve ser caracterizado por seus atributos exteriores 
(saúde, corpo, riqueza ou vigor), mas sim pela sua parte interna, a saber, 
sua alma (psyqué), na medida em que é precisamente sua alma que o 
distingue especificamente de qualquer outra coisa. O homem vivo é a 
sua alma, o corpo é somente o conjunto de instrumentos ou ferramen-
tas das quais a alma se serve na vida. A vida só pode ser bem vivida se 
a alma estiver no controle do corpo. Isso significa pura e simplesmente 
que em uma vida perfeitamente ordenada a alma ou inteligência tem o 
completo controle dos sentidos e das emoções.
Sócrates consegue que Alcibíades esteja de acordo em que para ter êxito 
na vida seja necessário cuidar de si mesmo para melhorar-se ou exer-
citar-se, e chega a demonstrar que não se pode melhorar e cuidar de 
uma coisa a menos que se conheça a sua natureza Nesse sentido, uma 
vida sem reflexão não vale a pena ser vivida. Mas essa reflexão deve ser 
uma aplicação do logos – exercício racional – sobre as próprias virtudes 
que definem o ser humano em sua conduta e em sua relação dialógica 
com as outras pessoas. O conhecimento do “eu” possibilita e instaura o 
conhecimento do “outro”. Assim, na vida, não podemos conseguir uma 
melhora de nós mesmos, a menos que primeiro possamos compreen-
der o que somos. Nosso primeiro dever é obedecer à ordem délfica 
“conhece-te a ti mesmo”, “pois uma vez que nos conheçamos, podemos 
aprender a cuidar de nós” (Alcibíades, 128b-129a).
c) contribuíram para o fortalecimento do sistema monárquico, 
visto que idealizaram um sistema de leis que beneficiou am-
plamente a aristocracia rural, principalmente nas cidades de 
Tebas e Atenas. 
d) foram perseguidos e condenados à morte, uma vez que prega-
vam o monoteísmo e questionavam qualquer tipo de Estado, 
de lei e de autoridade sobre os homens. 
e) exerceram grande influência sobre os legisladores gregos, que 
adotaram medidas drásticas para a unificação do poder político 
e para o desaparecimento das cidades-estado. 
2. C1:H1(Enem-2017) Uma conversação de tal natureza 
transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e 
embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à 
atenção uma direção incomum: os temperamentais, 
como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem 
de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência 
poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a esses jovens, 
muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.
(BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.)
O texto evidencia as características do modo de vida socrático, 
que se baseava na
a) contemplação da tradição mítica.
b) sustentação do método dialético.
c) relativização do saber verdadeiro.
d) valorização da argumentação retórica.
e) investigação dos fundamentos da natureza.
3. C1:H1 (UNCISAL) Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou fa-
moso por interpelar os transeuntes e fazer perguntas aos que se 
achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o 
diálogo, Sócratescolocava o interlocutor em situação delicada, 
levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de 
sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte sob 
a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da 
cidade e desrespeitar certos valores religiosos. Considerando 
essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma 
pela qual seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que 
sua filosofia
a) transmitia conhecimentos de natureza científica. 
b) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade. 
c) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita 
entre a população ateniense. 
d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente 
redigidos pelo filósofo Platão. 
e) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza 
mitológica. 
4. C1:H1 (UEA) O sofista é um diálogo de Platão do qual participam 
Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início 
do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele 
gostaria de recorrer para definir o que é um sofista.
Sócrates: — Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese 
que queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o 
método interrogativo?
Estrangeiro: — Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócra-
tes, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do 
contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo.
(Platão. O sofista, 1970. Adaptado.)
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É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto 
de vista metodológico, adotar
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos.
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores.
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por 
meio dos sentidos.
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova 
de existência de Deus.
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do 
saber humano.
Complementares
1. (UEG) No século V a.C., Atenas vivia o auge de sua democracia. Nesse 
mesmo período, os teatros estavam lotados, afinal, as tragédias 
chamavam cada vez mais a atenção. Outro aspecto importante da 
civilização grega da época eram os discursos proferidos na ágora. 
Para obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deve-
riam conter argumentos sólidos e persuasivos. Nesse caso, alguns 
cidadãos procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar. Isso 
favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos que dominavam 
a arte da oratória. Esses filósofos vinham de diferentes cidades e 
ensinavam sua arte em troca de pagamento. Eles foram duramente 
criticados por Sócrates e são conhecidos como
a) maniqueístas (bem ou mal)
b) hedonistas (busca pelo prazer)
c) epicuristas
d) sofistas
2. (Unimontes)  Lembremos a figura de Sócrates. Dizem que era 
um homem feio, mas, quando falava, exercia estranho fascínio. 
Podemos atribuir a Sócrates duas maneiras de se chegar ao conhe-
cimento. Essas duas maneiras são denominadas de
a) doxa e ironia.
b) ironia e maiêutica.
c) maiêutica e doxa.
d) maiêutica e episteme.
3. (UFU) Em um importante trecho da sua obra Metafísica, Aristóteles 
se refere a Sócrates nos seguintes termos:
Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua 
totalidade, mas buscava o universal no âmbito daquelas questões, 
tendo sido o primeiro a fixar a atenção nas definições.
Aristóteles. Metafísica, A6, 987b 1-3. Tradução de 
Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002.
Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, assinale 
a alternativa correta.
a) O método utilizado por Sócrates consistia em um exercício 
dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor do erro e 
do preconceito − com o prévio reconhecimento da própria 
ignorância −, e levá-lo a formular conceitos de validade uni-
versal (definições).
b) Sócrates era, na verdade, um filósofo da natureza. Para ele, a 
investigação filosófica é a busca pela “Arché”, pelo princípio su-
premo do Cosmos. Por isso, o método socrático era idêntico aos 
utilizados pelos filósofos que o antecederam (Pré-socráticos).
c) O método socrático era empregado simplesmente para ridicu-
larizar os homens, colocando-os diante da própria ignorância. 
Para Sócrates, conceitos universais são inatingíveis para o 
homem; por isso, para ele, as definições são sempre relativas 
e subjetivas, algo que ele confirmou com a máxima “o Homem 
é a medida de todas as coisas”.
d) Sócrates desejava melhorar os seus concidadãos por meio da 
investigação filosófica. Para ele, isso implica não buscar “o que 
é”, mas aperfeiçoar “o que parece ser”. Por isso, diz o filósofo, o 
fundamento da vida moral é, em última instância, o egoísmo, 
ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado momento 
de sua existência.
4. (Unicentro) Sobre o pensamento socrático, analise as afirmativas 
e marque com V, as verdadeiras e com F, as falsas.
( ) Sócrates é autor da obra Ética a Nicômaco.
( ) O pensamento socrático está escrito em hebraico.
( ) A ironia e a maiêutica são as bases de sua filosofia.
( ) Sócrates não criticou o saber dogmático, sendo, por isso, con-
selheiro dos governantes de Atenas.
( ) Os diálogos platônicos são importantes textos filosóficos que 
relatam, na maioria, o pensamento de Sócrates.
A partir da análise dessas afirmativas, a alternativa que indica a 
sequência correta, de cima para baixo, é a
a) F V F V V
b) V F V V F
c) F F V F V 
d) V F F F V
e) F V V V F
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Platão distingue quatro formas ou graus de conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença, opi-
nião, raciocínio e intuição intelectual. Os dois primeiros formam o que ele chama conhecimento sensível; os dois 
últimos, conhecimento inteligível.
A crença é nossa confiança no conhecimento sensorial: cremos que as coisas são tal como as percebemos. A 
opinião é nossa aceitação do que nos ensinaram sobre as coisas ou o que delas pensamos conforme nossas sensa-
ções e lembranças. Esses dois primeiros graus nos oferecem apenas a aparência das coisas ou suas imagens e cor-
respondem à situação dos prisioneiros do Mito da Caverna. Por serem ilusórios, devem ser afastados por quem 
busca o conhecimento verdadeiro; portanto, somente os dois últimos graus devem ser considerados válidos. 
O raciocínio exercita nosso pensamento, purifica-o das sensações e opiniões e o prepara para a intuição in-
telectual, que conhece a essência das coisas, o que Platão denomina ideia. As ideias são a realidade verdadeira e 
conhece-las é ter o conhecimento verdadeiro.
(CHAUI, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2013. p. 136.)
1. Tudo o que existe é real?
2. Tudo o que é real tem matéria?
3. Devemos confiar no conhecimento adquirido pelos cinco sentidos?
4. Onde reside a verdade?
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
O objetivo da atividade é apresentar as ideias de Platão acerca do conhecimento e instigar os alunos a transpor essas ideias à rea-
lidade deles; propondo, assim, uma investigação sobre o que é possível conhecer, como é possível o conhecimento, de que forma 
ele se manifesta no dia a dia, entre outras questões.
Leia o texto, reflita e responda às questões.
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Filosofia
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Platão: o homem 
e a cidade ideais
Platão • Diálogos platônicos • Dimensões da justiça social em Platão Papel da educação na construção da cidade ideal • 
Justiça e bem: o rei filósofo de Platão 
Filosofia 
grega 
clássica: 
a filosofia 
de Platão
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Platão nasceu 
em 427 a.C. e faleceu 
em 347 a.C. Foi um 
filósofo ateniense 
do período clássi-
co da Grécia Antiga, 
sendo discípulo de 
Sócrates e poste-
riormente mestre de 
Aristóteles.
Platão fundou 
a “Academia” em 
Atenas, uma escola 
com o propósito de 
ensinar e desenvol-
ver a filosofia socráti-
ca e, posteriormente, a do próprio Platão.
Além de continuar os ensinamentos de seu 
mestre, Platão criou suas próprias teorias, re-
lacionadas ao conhecimento, à ética, à estéti-
ca, à política, deixando um importante legado 
para a filosofia , fundamentando o pensamen-
to ocidental. 
O nome Platão faz alusão a 
uma característica corpórea 
do filósofo, que possuía os 
ombros largos. Assim, utili-
zou-se a palavra platys, que 
significa espaço largo.
ObserveObserve Platão destaca-se pela vasta quantidade 
de obras que deixou e por ser um dos poucos 
filósofos dessa época de que se tem tantos 
escritos preservados até a atualidade. Em ge-
ral, as obras de Platão foram escritas na forma 
de diálogos entre vários personagens, tendo 
Sócrates como figura principal.
Platão 
Busto de Platão.
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Diálogos platônicos Conhecer a si mesmo 
para Platão, tal como para 
Sócrates, era conhecer a 
própria alma. A alma é 
o instrumento capaz de 
acessar a Ideia, a verdade. 
Por isso, em vez de se lançar 
a investigar desordenada-
mente as coisas externas, 
e aí encontrar apenas 
cópias imperfeitas captadas 
pelos sentidos, o homem 
deve primeiro conhecer a 
sua parte perfeita; depois 
será capaz de investigar a 
essência das outras coisas. 
A argumentação socrática é 
esta: se o homem é ignoran-
te em relação a si mesmo, 
como poderia conhecer 
outras coisas? Isso pode ser 
exemplificado na expressão 
que se tornou célebre: “só 
sei que nada sei”.
ObserveObserve
Há várias propostas de classificações das 
obras de Platão, e entre elas uma que as divide 
em quatro fases, conforme os períodos da vida 
do filósofo. Segundo essa classificação, há os 
diálogos da juventude, de transição, da maturi-
dade e da velhice.
Os diálogos da juventude, ou socráticos, 
são conhecidos por narrarem acontecimentos 
reais da vida de Sócrates. Os diálogos desse 
período se caracterizam por não apresenta-
rem conclusões a respeito dos temas aborda-
dos. Em geral, encerram-se com o protagonis-
ta Sócrates refutando os argumentos de seus 
interlocutores, mas confessando que ele tam-
bém não consegue oferecer uma explicação 
para o tema estudado. A confissão de ignorân-
cia por parte de Sócrates, nesses diálogos, pre-
tende indicar que, antes de se partir em busca 
da verdade em coisas e situações externas, é 
indispensável conhecer a si mesmo.
Os diálogos de transição caracterizam-se 
pelo início da filosofia verdadeiramente platô-
nica, isto é, deixa de apenas registrar vivências 
de seu mestre e passa a desenvolver alguns de 
seus próprios argumentos.
Nos diálogos da maturidade, Platão con-
quista sua autonomia intelectual, passando 
a desenvolver sua própria filosofia. É nesse 
período que são apresentadas obras como A 
República.
Os diálogos da velhice caracterizam-se 
por uma revisão crítica de seu pensamento. 
A obra A República é um 
dos livros mais estudados 
e utilizados de Platão, pois 
apresenta a construção de 
uma cidade ideal, desde os 
princípios que nortearam 
essa construção, passando 
pelas ideias de justiça e 
organização que essa cidade 
deveria ter, até as formas de 
governo adequadas.
ObserveObserve
O filósofo analisa novamente as principais te-
máticas abordadas em obras anteriores e, por 
vezes, inclusive, muda de concepção sobre al-
guns assuntos.
Teoria das ideias
Desde o surgimento da Filosofia, no pe-
ríodo arcaico, com os pré-socráticos, havia a 
preocupação em compreender a realidade, 
considerando as constantes mudanças pelas 
quais ela passava, surgindo a questão, pos-
ta pelo embate de ideias entre Heráclito e 
Parmênides: o que muda e o que permanece 
na realidade que permite aos seres humanos 
construir um conhecimento seguro acerca de 
tudo? 
A maçã, como todo ser sensível, nasce, cresce, se desenvolve e perece 
porque está condicionada às leis materiais. Então, como saber que 
uma maçã é uma maçã, se ela muda a todo instante? A questão entre 
o mobilismo de Heráclito (tudo muda) e o imobilismo de Parmênides 
(nada muda), levou Platão a elaborar a teoria das ideias, que propõe 
uma resposta à essa questão.
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Dessa reflexão, surgiram novas perguntas 
que levaram os pensadores, especialmente 
Platão, a considerarem que existe uma realida-
de sensível, captada pelos cinco sentidos, que 
[...] é natural nascer no espírito dos filósofos 
autênticos certa convicção que os leva a discor-
rer entre eles mais ou menos nos seguintes ter-
mos: há de haver para nós outros algum atalho 
direto, quando o raciocínio nos acompanha 
na pesquisa; porque enquanto tivermos cor-
po e nossa alma se encontrar atolada em sua 
corrupção, jamais poderemos alcançar o que 
almejamos. E o que queremos, declaremo-lo 
de uma vez por todas, é a verdade.
(PLATÃO, Fédon, 66b- 67b)
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é inconstante, instável e fonte de enganos e 
ilusões. Em contrapartida, existe também uma 
realidade suprassensível, ou seja, que está 
além daquilo que captamos pelos sentidos, 
que é constante, eterna, imutável. Essa reali-
dade só poderia ser alcançada pelo intelecto. 
A partir desse ponto, Platão elaborou a fa-
mosa teoria das ideias para explicar como é 
possível passar do conhecimento sensível, fon-
te de enganos e ilusões, para o conhecimento 
inteligível ou das ideias, em que reside a ver-
dade (alétheia). Influenciado por seu mestre, 
Sócrates, Platão defendia que a dialética era 
o caminho para atingir a ascensão do sensível 
para o inteligível.
No diálogo Timeu, escrito no período da 
velhice, Platão utiliza-se de um mito para ex-
plicar como surgiu o mundo sensível. Segundo 
essa alegoria usada por Platão, no início dos 
tempos, existiam apenas as ideias e um artí-
fice sumamente bom e inteligente, chamado 
Demiurgo, criou todas as coisas que existem a 
partir das ideias iniciais. No entanto, a criação 
do Demiurgo não era perfeita como as ideias 
que deram origem a tudo, pois eram apenas có-
pias imperfeitas delas. Assim, segundo Platão, 
surgiram dois mundos: o inteligível (perfeito) e 
o sensível (imperfeito).
Mundo sensível 
O mundo sensível, captado pelos cinco 
sentidos, é o mundo em que vivemos, o mun-
do dos fenômenos, no qual existe uma infini-
dade de seres, crenças e opiniões. Para Platão, 
o mundo sensível está relacionado ao corpo e 
à sua incompletude, pois as paixões e os ape-
tites que regem o funcionamento corporal im-
pedem o acesso às ideias puras, que só podem 
ser contempladas pela alma, ou seja, pelo inte-
lecto. Além disso, o corpo é corruptível porque 
está condicionado às leis da matéria e passa 
por diversas mudanças, do nascimento até sua 
morte e desintegração. A alma, ao contrário, 
é eterna, imutável, indivisível e imaterial, por-
tanto, apenas por meio dela seria possível co-
nhecer as formas puras do mundo inteligível.
Suprassensível: aquilo que 
não pode ser percebido 
pelos sentidos; que não é 
acessível aos sentidos.
GlossárioGlossário
Esta grande questão, 
sobre o que muda e o que 
permanece sempre igual, foi 
a pedra de toque da teoria 
do conhecimento platônico, 
afinal, se tudo muda o 
tempo todo, como seria 
possível conhecer aquilo 
que existe, se no instante 
seguinte não será mais o 
mesmo? Deveria haver algo 
essencial que permitisse 
reconhecer um ser ou 
um objeto em quaisquer 
circunstâncias. Surge, então, 
a ideia de que existealgo 
para além das aparências 
(do que é percebido) que 
corresponderia à essência 
das coisas materiais. Essa 
dicotomia entre mundo ma-
terial –, ligado ao corpo, aos 
sentidos, às paixões e aos 
apetites – e mundo imaterial 
ligado às ideias e, portanto, 
à alma – é de fundamental 
importância para o entendi-
mento da teoria das ideias 
de Platão.
ReflitaReflita
no mundo sensível, é impossível ver um “gato 
em geral”, mas sim gatos singulares. 
Assim, o conhecimento sensível, para 
Platão, não era uma fonte confiável para bus-
car o conhecimento, apesar de ser o ponto de 
partida para tal propósito. 
Mundo inteligível 
O mundo inteligível, para Platão, é o mun-
do das essências e não pode ser captado pelos 
sentidos, porque ele é:
 ● imaterial, ou seja, não tem matéria;
 ● imutável, pois será eternamente idênti-
co a si mesmo, já que não muda com o 
tempo;
 ● indivisível, pois cada ideia é única, e não 
múltipla, como os objetos sensíveis;
 ● e eterno, porque não é gerado nem cor-
rompido, assim como a alma humana. 
No mundo inteligível, residem as ideias ou 
as formas puras (essências), ou seja, a ideia ge-
ral que caracteriza um ser. Por exemplo, quan-
do falamos “gato”, muitos gatos particulares 
vêm à cabeça (branco, malhado, dócil, arisco, 
Gato de Botas etc.). Mas quais são as carac-
terísticas em comum entre todos os gatos do 
mundo (real ou imaginado), que nos permitem 
reconhecê-los como “gato”? Essa ideia geral de 
“gato” seria a essência do “ser gato”. Todos os 
outros gatos do mundo sensível seriam indi-
víduos gatos, com características e atributos 
particulares, como nome, cor, forma, tamanho, 
temperamento, tempo de vida etc. A esses atri-
butos do mundo sensível Platão chamou de 
predicados do sujeito gato, pois são as carac-
terísticas específicas de um gato em particular 
e variam de gato para gato. 
MUNDO SENSÍVEL
Gatos particulares, cópias imperfeitas da 
ideia de “gato”, cujas características são pre-
dicados de um gato em particular
MUNDO INTELIGÍVEL
Ideia ou essência de gato (gato em geral)
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Dessa forma, o mundo sensível 
é uma cópia imperfeita do mundo 
inteligível.
Para facilitar o entendimento, faça esta ati-
vidade: imagine um gato. No mundo, existem 
milhares de gatos: preto, branco, malhado, aris-
co, manso, personagens como Gato de Botas, 
Garfield etc. Mas, quais são as características 
comuns a todos os gatos que existem (no mun-
do real e imaginário), que nos permitem reco-
nhecê-los como tal? Essas características ge-
rais são o que Platão chamava de essência do 
“gato”, ou o “gato em geral”. A questão é que, 
A ideia geral de gato, 
representada por uma 
silhueta, representa os 
atributos essenciais que 
nos permitem identificar um 
gato qualquer do mundo 
sensível (real ou imagina-
do), em contraste com a 
multiplicidade de gatos do 
mundo sensível, inclusive de 
um gato imaginado. Quanto 
à figura do Gato de Botas, 
ele é cópia da cópia da ideia 
de gato, sendo, portanto, um 
simulacro. Para Platão, as 
artes se enquadram nessa 
categoria do simulacro 
(cópia da cópia, portanto, 
muito menos perfeita que 
a ideia original) e, por isso 
mesmo, foram tão criticadas 
por ele.
ObserveObserve
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Para se chegar ao mundo inteligível, é necessário superar os enganos sensíveis, provenientes 
dos sentidos, das opiniões e das crenças, em busca do raciocínio, até chegar ao inteligível, por 
meio da contemplação.
Do sensível ao inteligível
Se no mundo sensível existe uma multiplicidade de seres particulares, então como seria pos-
sível conhecer as ideias puras ou essências de todos esses seres? 
Platão, então, propõe duas respostas a essa questão: na primeira, ele estabelece um cami-
nho, um método, para essa ascensão do sensível ao inteligível: a dialética; na segunda, as ideias 
puras residem na alma de cada pessoa e são relembradas no processo de conhecimento, fato que 
ele chamou de reminiscência.
Dialética 
Como visto anteriormente, Sócrates praticava a dialética nos diálogos que travava com seus 
interlocutores, levando-os ao conhecimento de algo por meio da ironia e da maiêutica. Platão 
trouxe a dialética socrática para a sua teoria das ideias, propondo que, para ascender ao conhe-
cimento inteligível seria necessário o diálogo, em que os interlocutores apresentam suas ideias, 
em geral contrárias, para se formar um novo conhecimento. Assim, a cada par de ideias opostas, 
surgia um novo conhecimento em direção ascendente às ideias puras.
O esquema a seguir apresenta as etapas da ascensão dialética do sensível ao inteligível, por 
meio da análise de um triângulo. Ele deve ser lido de baixo para cima.
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Imagem das coisas 
sensíveis, cópias 
das ideias
Imagem:
visão
Crenças e 
opiniões; coisas 
sensíveis
Nome: 
triângulo
Raciocínio, ou 
pensamento discursivo
Conceito: 
triângulo é um 
polígono formado 
por três lados.
Intuição 
intelectual 
ou ideia
Ideia: junção de todos 
os critérios anteriores 
em forma de intuição.a
lm
a
Reminiscência 
Ao contrário do corpo, a alma é eterna e imutável para Platão. Isso significa que ela 
não foi criada e nem será destruída. Sendo eterna, ela viverá para sempre, encarnando 
em diferentes corpos materiais, mas permanecendo sempre idêntica a si mesma. Nela, 
estão contidas as ideias puras, que deverão ser relembradas (anamnesis) a cada reen-
carnação. Assim, Platão, na obra A República, recorreu a outra alegoria para explicar 
esse processo: a alegoria de Er.
Conta-se que o pastor Er foi para o Hades, como fazem os adivinhos e poetas. 
Chegando lá, ele encontrou as almas dos mortos contemplando as ideias. Como as al-
mas devem reencarnar, elas são livres para escolher a forma de vida que querem viver 
e, antes de voltar ao mundo sensível, elas passam por uma planície onde existem dois 
Explique o processo dialé-
tico ascendente do sensível 
ao inteligível, representado 
no esquema, mostrando 
aos alunos que da imagem 
de algo triangular – pois, 
no mundo sensível, nunca 
vemos um triângulo em 
si, apenas seres triangu-
lares – chega-se ao nome 
que pertence à esfera das 
crenças e opiniões. Portanto, 
pode variar de acordo com 
a língua, por exemplo, até 
o conceito, que, apesar de 
pertencer ao mundo inteli-
gível, é inferior à ideia pura, 
pois o raciocínio é a ligação 
entre sensível e inteligível. 
A essência do triângulo não 
mudará jamais, indepen-
dentemente da época, do 
lugar e das opiniões. Reforce 
também a imaterialidade 
da ideia, pois ela só pode 
ser pensada, intuída, jamais 
vista ou tocada. 
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Na obra 
A República, 
Platão entrela-
ça a teoria da 
reminiscência, 
a dualidade 
sensível e inte-
ligível, a oposi-
ção entre mun-
do sensível e 
mundo das 
ideias, a defesa 
da imortalida-
de da alma, a 
formação pelas 
virtudes e as análises das questões políticas, 
tais como das formas de governo. Nessa obra, 
Platão expõe o modelo de cidade ideal, que 
deveria ser governada por um rei filósofo.
A cidade se forma com os cidadãos e sua 
prosperidade depende da ação destes, sendo 
necessário para seu progresso que as pessoas 
se guiem por suas almas, ou seja, pela faculda-
de intelectiva que possibilita o acesso às ideias 
rios, dos quais deve-se escolher um para beber 
de suas águas: o rio Léthe, responsável pelo es-
quecimento e o rio Alétheia, responsável pelo 
não esquecimento, ou seja, pela lembrança das 
ideias contempladas pela alma. Quem beber a 
água do primeiro,não se lembrará das ideias 
puras, mas quem beber da água do segundo, 
lembrará em vida dessas ideias por meio da 
educação e do aprendizado. 
Assim, a alétheia, que significa verdade, 
está presente na alma dos seres humanos 
desde sempre, como ideias inatas, mas preci-
sa ser relembrada pelo processo de educação 
(dialética).
A alegoria da caverna nos permite muitas 
interpretações. Primeiro se apresentará uma 
abordagem existencial, para depois se relacio-
nar às dualidades doxa (opinião) e epísteme 
(conhecimento), respectivamente mundo sen-
sível e mundo das ideias. Quem seriam aque-
las pessoas aprisionadas em uma realidade 
obscura, as quais apenas conseguem enxergar 
sombras e ainda imaginam que essas sombras 
são a realidade? Uma premissa importante: 
Platão é discípulo de Sócrates e, tal como o 
mestre, nunca perde o horizonte da busca pelo 
autoconhecimento.
Sim, as pessoas aprisionadas na caverna 
representam todos nós! Será que aquilo que 
conhecemos e vivemos é de fato a realidade, 
ou não passa de sombra?
Mas, afinal, o que significa a tal sombra nas 
cavernas? A sombra, para aqueles habitantes 
da caverna, era a única coisa que conheciam, 
O termo alétheia (verdade) 
é o negativo de léthe (que 
significa esquecimento). 
Sendo assim, a verdade é 
o não esquecimento, ou 
a lembrança das ideias 
puras. Para Platão, as ideias 
puras eram inatas. Será 
que já nascemos com as 
ideias prontas, precisando 
relembrá-las? Ou todas as 
nossas ideias advêm das 
experiências sensíveis? 
Observe a obra de arte e o 
título dela, de autoria de 
René Magritte.
MAGRITTE, René. Isto não é uma 
maçã. Óleo sobre tela. 141 cm 
x 100,8cm. Galeria Bruxelas 
(Bélgica). 
Qual a relação da obra de 
arte e do título com a teoria 
das ideias de Platão?
Essa questão pode ser de-
batida em sala de aula, para 
os alunos poderem expor 
seus pensamentos acerca 
da relação solicitada. A seu 
critério, a conclusão do de-
bate pode ser registrada em 
forma de texto argumenta-
tivo e apresentado em data 
previamente estipulada.
ReflitaReflitasendo que existe uma infinidade de outras coi-
sas fora da caverna. E quanto a nós, qual é a 
nossa sombra? Ver apenas sombras é ver ape-
nas uma perspectiva da realidade.
Todos nós, na infância, fomos educados a 
gostar de algumas coisas, não gostar de ou-
tras, buscar algumas preferências e detestar 
outras. Ou seja, fomos ensinados a ver apenas 
uma parcela da realidade, e não a realidade 
completa.
Assim, durante o restante da vida, sempre 
seguimos procurando as mesmas coisas e fu-
gindo de outras. Na verdade, em grande parte 
do tempo nos guiamos apenas pela memória. 
Isso é bastante complexo – pode-se citar um 
exemplo envolvendo padrões culturais.
A questão não é discutir quem tem razão, 
mas que emitimos opinião, agimos e vivemos 
sempre limitados à nossa formação cultural e 
às experiências passadas – vivemos pela me-
mória. Por que um jardineiro consegue ver 
tantas belezas nas flores enquanto outras pes-
soas que nunca tiveram contato com o jardim 
simplesmente não veem beleza alguma? Esse 
mesmo jardineiro talvez não consiga ver bele-
za na construção de uma casa, enquanto um 
arquiteto ficará maravilhado. E a questão não 
é que vemos a casa e pensamos “ela não é bo-
nita” ou “ela é bonita”, mas que nós simples-
mente não postulamos tal reflexão! Nós vemos 
a casa e nada pensamos sobre ela! O indivíduo 
é condicionado e limitado a pensar e agir de 
acordo com as opiniões que constrói ou repro-
duz dos outros.
puras, tornando a cidade reflexo da alma de 
seus cidadãos. 
A construção da cidade ideal tem como 
ponto de partida os Livros I e II de A República, 
dedicados à discussão sobre o que é a justiça. 
Isso porque a cidade ideal precisaria ser, acima 
de tudo, uma cidade justa. Mas como seria pos-
sível construir uma cidade justa sem antes sa-
ber o que é justiça? Quando há escândalos de 
corrupção envolvendo políticos, quando não 
estamos satisfeitos com uma decisão proferi-
da pelo juiz em um processo judicial, sempre 
exclamamos: “Não foi justo!”. Parece que, de 
algum modo, as pessoas concordam que a jus-
tiça é a base da organização social e do Estado, 
que sem ela as coisas não podem ir bem.
Justiça e o corpo social
O Livro I de A República traz Sócrates, o 
personagem principal, dialogando com alguns 
sofistas, Céfalo, Polemarco e Trasímaco, acerca 
daquilo que estes entendiam por justiça.
Platão tomou seu mestre 
Sócrates como personagem 
da maioria de seus escritos 
e, portanto, sempre resta 
a dúvida: o que Sócrates 
dizia era proveniente do 
verdadeiro Sócrates ou do 
personagem criado por 
Platão? Podemos responder 
a essa dúvida observando 
a cronologia das obras de 
Platão. As obras de sua 
juventude trazem com maior 
ênfase as ideias de Sócrates, 
como a necessidade de au-
toconhecimento. Já as obras 
da maturidade e da velhice 
trazem em sua maioria as 
ideias do próprio Platão, 
que nesse caso usa Sócrates 
mais como um personagem 
para a reprodução de seus 
pensamentos. Em A Repúbli-
ca, os estudiosos entendem 
que Sócrates é o persona-
gem e não o Sócrates real. 
Saiba maisSaiba mais
Dimensões da justiça social em Platão 
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Pintura em vaso grego representando um 
jovem escrevendo em sua tábua. A educa-
ção é ponto fundamental para a construção 
do Estado ideal.
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Cabeça
Corresponde à alma racional 
Classe social: governantes
Função: administrar e governar a cidade
Virtude: sabedoria
Peito
Corresponde à alma irascível 
Classe social: guerreiros
Função: proteger a cidade
Virtude: coragem
Baixo ventre
Corresponde à alma apetitiva 
Classe social: artesãos e 
comerciantes
Função: suprir as necessidades 
da cidade e dos cidadãos
Virtude: temperança
Temperança, coragem e sabedoria são três 
das quatro virtudes que, juntas, possibilitam a 
construção do Estado ideal. A quarta virtude 
é a justiça. Cada uma das três corresponde a 
uma classe (uma parte do corpo que é a cida-
de). A justiça corresponde ao exercício correto 
da virtude da classe à qual a pessoa pertence, 
ou seja, se for artesão ou comerciante, deverá 
ser temperante; se for guerreiro, corajoso; se 
for governante, sábio.
O corpo humano só está em perfeita con-
dição quando todas as partes estão saudáveis. 
Da mesma forma, para a cidade ser justa, cada 
classe deve realizar aquilo que lhe cabe. Com 
isso, entende-se a justiça como a mais impor-
tante das quatro virtudes. 
A justiça representa o domínio da parte 
racional da alma perante as partes irascível 
e apetitiva. Por isso, uma cidade justa repre-
sentaria também uma cidade em que a alma 
racional prevalece sobre as demais. Isso não 
significa que as outras partes não sejam im-
portantes, mas que, para serem utilizadas ade-
quadamente, precisam estar ordenadas pela 
alma racional.
De nada adiantaria o 
governante ser sábio se 
os guerreiros não fossem 
corajosos ou os comercian-
tes e artesãos temperantes, 
pois em algum momento 
a cidade seria derrotada 
militarmente por outro 
povo, ou haveria problemas 
na economia (citando um 
exemplo para o caso dos 
comerciantes). A parte racio-
nal da alma é a mais nobre 
entre as três, bem como o 
governante ocupa a função 
de maior responsabilidade 
perante o bem comum entre 
todas as classes. Por isso, 
é necessário que a alma 
racional e o governante 
dominem as demais.
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Visão panorâmica da Acrópolis de Atenas, Grécia.
Céfalo afirma que a justiça consiste em 
“proferir a verdade e devolver o que se tomou 
de alguém”. 
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Themis, deusa da Justiça, sentada em uma pedra, aconselha Zeus 
no trono. A pedra é provavelmente o centro de Delfos, lugar onde o 
oráculo profetizava. A justiçapara os gregos era tão importante que 
até mesmo Zeus, o maior dos deuses, ouvia os aconselhamentos 
de Themis.
Em seguida, Polemarco segue a discussão 
definindo que a justiça consiste em “fazer bem 
aos amigos, e mal aos inimigos”, conceito re-
futado por Sócrates, ao afirmar que em ne-
nhum caso é justo fazer mal a alguém, pois, 
não é possível saber realmente quem é amigo 
e quem é inimigo. Os amigos são aqueles que 
nos ajudam, e os inimigos aqueles que nos pre-
judicam? Conhecemos realmente as pessoas a 
ponto de podermos fazer essa divisão?
Já Trasímaco afirma que a justiça “é sim-
plesmente o interesse do mais forte”, concep-
ção que possibilita a identificação de alguém 
ser considerado justo apenas pelo fato de es-
tar no poder, como é o caso dos governantes. 
O problema desse argumento é que ele jus-
tifica a violência de um tirano contra o povo. 
Sócrates contesta demonstrando que toda 
ciência é produzida para servir a quem está 
em posição inferior, como é o exemplo da me-
dicina, que serve ao doente e não ao médico. 
Assim, a política deve servir aos governados e 
não aos governantes.
Após refutar os conceitos propostos, os in-
terlocutores interpelam Sócrates, exigindo-lhe 
que dê, então, um conceito apropriado para 
justiça. É aqui que o filósofo afirma que, para 
descobrir o que é a justiça, seria necessário 
primeiro entender o que é a cidade, o Estado, 
bem como seus cidadãos, pois a justiça certa-
mente serve a eles. Sem limitar-se a estudar 
esta ou aquela cidade, pois elas não necessa-
riamente são justas! É preciso, então, desco-
brir o que é a verdadeira justiça, a qual só será 
encontrada em uma cidade perfeita, pois esta 
necessariamente seria formada por cidadãos 
perfeitos.
Para comprovar sua tese, Platão propõe 
um desafio: planejar racionalmente a cidade 
perfeita, desde a sua origem. Surge então o 
primeiro problema: por que os homens cons-
troem as cidades? Se deseja-se descobrir a ci-
dade perfeita, é preciso saber com que escopo 
os homens decidem conviver em cidades. 
A primeira resposta é: para atender a ne-
cessidades básicas. Ninguém é capaz de dar 
conta de todas as atividades que a vida exige. 
Assim, não há como alguém fazer sapatos, rou-
pas, bem como plantar, criar animais, e ainda 
fabricar tantas outras coisas. Mas vivendo em 
coletividade, todas essas necessidades podem 
ser supridas facilmente. Dessa forma, cada 
pessoa se dedica a uma função, e, por meio de 
trocas e negócios, todos atendem aos interes-
ses e necessidades de todos. Ora, essa conclu-
são já levanta uma premissa fundamental: se a 
cidade se faz por meio da relação entre as pes-
soas, então a formação da cidade se faz não 
somente na esfera individual, mas no aspecto 
das relações sociais. É a partir da cooperação 
entre os cidadãos que podemos aprimorar a 
cidade.
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Nas imagens, podemos observar o trabalho de um ferreiro, um ce-
ramista e uma artesão. Todos têm sua importância, pois vivendo em 
comunidade cada um pode se beneficiar do produto dos outros.
É preciso pensar a cidade como um corpo 
só, onde cada cidadão é parte desse corpo. 
Logo, o sucesso desse corpo único depende 
do sucesso daqueles que a compõem. Se uma 
parte não está bem, o corpo nunca estará, em 
sua totalidade, bem. Platão comparou a ciência 
política com a medicina, pois para ele há mui-
tas semelhanças entre a saúde social e a saúde 
biológica. O corpo nunca estará completamen-
te saudável se um órgão estiver doente.
Essa relação da totalidade com as partes 
que a compõem é de tal forma importante 
para Platão que nos leva à discussão sobre a 
Alma, pois, para o filósofo, os cidadãos podem 
muito bem ser identificados como a “alma” da 
cidade. Agora é importante relacionar essa 
questão com a construção do Estado ideal.
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Platão idealizava a cidade perfeita, com os comerciantes e artesãos 
agindo com temperança, os soldados com coragem e os governantes 
com sabedoria.
Em A República, Platão afirma que a alma 
é dividida em três partes: racional, irascível e 
apetitiva. Cada uma corresponde a uma das 
classes de pessoas que compõem a comunida-
de. Veja, no esquema a seguir, a relação entre 
as virtudes da alma e a divisão de classes da 
cidade ideal de Platão.
A parte racional da alma, por ser a par-
te que representa as atividades intelectuais 
puras, situa-se na parte superior do corpo, a 
cabeça. Essa parte corresponde à primeira 
das classes: aos governantes (ou guardiões). 
O governante é o indivíduo que cultiva uma 
formação diferenciada, tornando-se apto a ad-
ministrar a cidade. Por isso, a virtude da alma 
racional é a sabedoria.
A parte irascível situa-se na parte mediana 
do corpo humano (peito) e, por isso, se rela-
ciona às paixões e emoções. A parte irascível 
corresponde à classe dos guerreiros, os “guar-
diões da cidade”. A virtude da parte irascível é 
a coragem. Os militares, por serem responsá-
veis pela proteção da cidade, precisam superar 
seus medos e agir sempre com coragem.
A parte apetitiva vincula-se à parte inferior 
(baixo-ventre), e está ligada aos apetites (tais 
como os instintos), correspondendo aos co-
merciantes, artesãos e ao povo em geral. A vir-
tude dessa parte é a temperança, pois, para se 
utilizar adequadamente os instintos, é preciso 
dominá-los interiormente.
Dessa forma, se os artesãos e comercian-
tes dominarem seus apetites, a cidade será 
temperante; se os guerreiros enfrentarem os 
perigos e medos, a cidade será corajosa; e se 
o governante administrar tendo em vista a ra-
zão, a verdade e o bem, a cidade será sábia.
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Corresponde à alma racional 
Classe social: governantes
Função: administrar e governar a cidade
Virtude: sabedoria
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Corresponde à alma irascível 
Classe social: guerreiros
Função: proteger a cidade
Virtude: coragem
Baixo ventre
Corresponde à alma apetitiva 
Classe social: artesãos e 
comerciantes
Função: suprir as necessidades 
da cidade e dos cidadãos
Virtude: temperança
Temperança, coragem e sabedoria são três 
das quatro virtudes que, juntas, possibilitam a 
construção do Estado ideal. A quarta virtude 
é a justiça. Cada uma das três corresponde a 
uma classe (uma parte do corpo que é a cida-
de). A justiça corresponde ao exercício correto 
da virtude da classe à qual a pessoa pertence, 
ou seja, se for artesão ou comerciante, deverá 
ser temperante; se for guerreiro, corajoso; se 
for governante, sábio.
O corpo humano só está em perfeita con-
dição quando todas as partes estão saudáveis. 
Da mesma forma, para a cidade ser justa, cada 
classe deve realizar aquilo que lhe cabe. Com 
isso, entende-se a justiça como a mais impor-
tante das quatro virtudes. 
A justiça representa o domínio da parte 
racional da alma perante as partes irascível 
e apetitiva. Por isso, uma cidade justa repre-
sentaria também uma cidade em que a alma 
racional prevalece sobre as demais. Isso não 
significa que as outras partes não sejam im-
portantes, mas que, para serem utilizadas ade-
quadamente, precisam estar ordenadas pela 
alma racional.
De nada adiantaria o 
governante ser sábio se 
os guerreiros não fossem 
corajosos ou os comercian-
tes e artesãos temperantes, 
pois em algum momento 
a cidade seria derrotada 
militarmente por outro 
povo, ou haveria problemas 
na economia (citando um 
exemplo para o caso dos 
comerciantes). A parte racio-
nal da alma é a mais nobre 
entre as três, bem como o 
governante ocupa a função 
de maior responsabilidade 
perante o bem comum entre 
todas as classes. Por isso, 
é necessário que a alma 
racional e o governante 
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Visão panorâmica da Acrópolis de Atenas, Grécia.
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Papel da educação na construção 
da cidade ideal 
O Estado ideal para Platão seria formado por três classes: os artesãos, que são aqueles res-
ponsáveis pelas tarefas referentes às primeiras necessidades da vida, tais como o suprimento 
da alimentação e vestuário; os militares, que devem zelar pela segurança da cidade dos perigos 
externos; e os governantes, que devem administrar e conduzir a cidade segundo a alma racional, 
de modo a torná-la o mais virtuosa possível.
Cada indivíduo deve praticar a sua função dentro da classe que integra, sem interferir no tra-
balho dos outros. Este é um dos pilares da construção da cidade ideal, pois responsabiliza cada 
cidadão a realizar o melhor que lhe cabe, sem prejudicar atividades alheias. Para que o coletivo se 
realize com excelência, é preciso antes fazer a própria atividade individual com excelência. 
Para Hesíodo, o trabalho era, sobretudo, uma questão de formação moral, que buscava evitar 
que o indivíduo escolhesse o caminho dos vícios. Platão não exclui essa dimensão, mas também 
demonstra que o trabalho integra o valor do indivíduo em contribuir com o bem comum. 
Contudo, para que cada indivíduo cumpra bem a sua tarefa, é necessária uma educação con-
sistente. Assim, todos deveriam passar por uma educação geral, sendo formados nas variadas 
virtudes, tornando-se aptos a servirem a cidade de modo adequado.
A justiça só pode ser alcançada a partir de um processo educativo em que a parte racional da 
alma prevaleça sobre as partes irascível e apetitiva.
O desenvolvimento da alma racional é atribuído, especificamente, aos governantes, que, para 
Platão, precisam ser filósofos. 
O filósofo é o indivíduo mais preparado para governar, pois, em seu processo de formação, 
é obrigado a educar-se na matemática, na ginástica, na música, na dialética, aprender a técnica 
dos artesãos e inclusive defender a cidade por um determinado tempo como militar. O filósofo, 
portanto, é o único capaz de ver a cidade como um todo e em suas várias dimensões.
A formação pelas virtudes exigiria uma vida de aprimoramento, a qual envolveria o aprendi-
zado por meio da ginástica e da música. Esses elementos eram importantes porque a ginástica 
preparava o corpo, de modo a auxiliar a pessoa em relação à conservação da saúde orgânica e a 
ter disciplina; e a música, envolvendo literatura e poesia, era importante para o preparo da alma, 
trazendo uma formação regida pela ideia de estética. 
Alunos em uma competição esportiva e na biblioteca. Por meio do ensino, o cidadão grego poderia aprender as quatro virtudes para a construção 
da cidade perfeita.
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Chegamos, afinal, através de inúmeros obstáculos penosamente superados, a estabelecer que existem, 
na cidade e na alma do indivíduo, princípios correspondentes e iguais em número. [...] E que a cidade seja 
corajosa pelo mesmo princípio e do mesmo modo que o indivíduo? [...] Enfim, que tudo o que diz respeito 
à virtude se encontre igualmente numa e noutro? [...]. Então, amigo Glauco, afirmaremos que a justiça tem 
no indivíduo o mesmo caráter que na cidade.
(PLATÃO. A República. Tradução de: PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.)
A alma deve ser bem-educada, pois o corpo (irascível e apetitivo) é insaciável, e sobressai-se 
diante da parte racional. Com uma educação disciplinada com base no estudo da música e da 
ginástica, a alma conseguiria desviar dos desejos e prazeres do corpo. 
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Concluindo, o Estado ideal de Platão abrange uma estrutura que permite aos cidadãos se 
educarem tanto no sentido cívico quanto no estabelecimento de um contato com a própria alma, 
de modo a buscar a sabedoria.
Quando a sabedoria, que representa a parte racional, governar as demais partes, torna-se 
possível construir uma cidade justa.
Formas de governo
Depois de estruturar em classes e apresentar a formação necessária para a cidade ideal, é 
importante apresentar a crítica platônica às formas de governo. O intuito é evidenciar a distinção 
entre a cidade ideal e as cidades existentes. 
Platão não se limita a dar conselhos ao Estado a partir da premissa de uma determinada forma de governo 
ou, como os sofistas, a estabelecer polêmica sobre o valor das diferentes formas de Estado, mas aborda o 
assunto de forma radical, tomando como ponto de partida o problema genérico da justiça.
(JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2001.)
Platão, ao analisar as cidades de sua época, apresenta quatro formas de governo: a timocra-
cia, a oligarquia, a democracia e a tirania. Cada uma representa um estágio da imperfeição do 
Estado ideal; sendo assim, a timocracia é a mais próxima da cidade perfeita, enquanto a tirania é 
a mais distante. Cada passagem para uma forma de governo inferior se dá em um tipo de pertur-
bação na harmonia entre as partes da alma (racional, irascível e apetitiva). A crítica platônica re-
velará o ponto fraco de cada uma dessas formas de governo, demonstrando que o seu Estado 
ideal as superaria.
 ● Timocracia (do grego timés, que significa 
honra, e kratos, poder) é inspirada no mo-
delo da cidade de Esparta, voltada prin-
cipalmente à formação do cidadão guer-
reiro, que cultiva a virtude da coragem 
e anseio por honra e glória. O governo 
timocrático possui traços importantes, 
como o respeito à autoridade, o cuidado 
com a virtude guerreira por meio da gi-
nástica e a abstenção de toda atividade 
lucrativa por parte da classe dominante. 
O que abala a timocracia é a avareza, in-
citando os indivíduos a fingirem se preo-
cupar com o bem comum, quando na 
verdade apenas guardam o luxo de forma privada. Além disso, a ausência de uma formação 
pela música também não contribui com a harmonia da alma;
 ● Oligarquia é a forma de governo em que há pessoas com grande número de riquezas (as 
quais controlam o poder), porém outras na completa miséria. A separação entre ricos e 
pobres facilita a prática de crimes, como o roubo, pois na ânsia pela riqueza pode-se recor-
rer a delitos. Na oligarquia, o vício, induzido pelas más ações, é a cobiça. Sem harmonia na 
alma, a parte apetitiva não será controlada, abrindo espaço à busca desenfreada por tentar 
satisfazer os mais variados impulsos. Além disso, o acúmulo de dinheiro facilita a satisfação 
dos instintos;
 ● Democracia é o governo do povo, em que os cidadãos participavam das decisões políticas. 
Como Platão se decepcionou com a democracia ateniense depois da condenação de Sócra-
tes, tornou-se o maior crítico desse sistema de governo. Para ele, a liberdade extremada e 
desregrada levará o homem democrático a ora dedicar-se à política, ora ao esporte, ora às 
artes, e assim por diante. Não há ordem e benefício nessas decisões, apenas uma vida apa-
rentemente livre, mas que no fundo não traz realização; 
 ● Tirania decorrente da democracia, pois, para Platão, em algum momento, o povo colocará 
no poder um representante seu, que, por ser despreparado em relação às virtudes, fingirá 
governar para o povo, quando na verdade pensa apenas em si próprio. Com o tempo, virá 
resistência contra ele, que então se verá forçado a recorrer ao uso da violência física, dando 
início ao governo tirano. O tirano nasce dos apetites contrários à lei, que não são dominados 
pela parte racional da alma.
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Ilustração da Guerra do Peloponeso, que envolveu Atenas e Esparta na 
disputa pela hegemonia do poder grego. Antes da guerra, Atenas era 
uma sólida democracia. Durante a guerra, tornou-se uma Oligarquia por 
meio da tomadade poder do governo dos Trinta Tiranos (muitos dos 
quais eram parentes e amigos de Platão). A alternância de formas de 
governo evidenciada por Platão pode ser percebida na história de várias 
cidades e Estados, como é o caso da Grécia.
Quanto maior a riqueza, mais fácil é satisfazer os prazeres do corpo.
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Justiça e bem: o rei filósofo de Platão 
Provavelmente não encontraremos nenhum exemplar do rei filósofo proposto por Platão em nossa história. Porém, 
muitos tentaram unir o preparo filosófico com a capacidade política, como é o caso do imperador romano Marco 
Aurélio (121-180). No quadro, de Vien, Marco Aurélio aparece distribuindo pão à população.
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s A apresentação das formas de governo, 
que denunciam o fato de todos os Estados se-
rem governos imperfeitos, nos conduz a uma 
reflexão final: Como deve ser o governo? Quem 
deve governar? A resposta de Platão é emble-
mática e polêmica: o filósofo.
Mas como o filósofo pode ser o governan-
te? Ora, se a parte mais nobre da alma é a parte 
racional, e se aquele que cultiva a alma racional 
de modo mais profundo é o filósofo, e se o filó-
sofo é aquele que se dedica a procurar o bem 
e a verdade acima de tudo, tal definição já não 
deveria causar tanto espanto.
Para Platão, os filósofos precisam se tornar 
governantes ou os governantes se tornarem 
filósofos. Em outras palavras, aquele que está 
no poder deve se portar como filósofo. 
O filósofo contempla a cidade em sua tota-
lidade. Ele teve uma formação que o obrigou 
a aprender as variadas artes e ciências, a ter 
um cultivo estético, a dominar a arte militar e 
a combater como um verdadeiro soldado, se 
fosse necessário. O filósofo teve muitos anos 
da vida dedicados à oportunidade de se tornar 
governante. 
O rei filósofo é o indivíduo que se aprimorou tendo em vista a verdade e o bem. 
A cidade ideal é dialética com as cidades reais. Sendo assim, nenhum indivíduo é capaz de 
entender tão adequadamente a cidade perfeita como o filósofo, de forma que ele pode fazer a 
transformação da realidade existente para o modelo de Estado ideal. 
Para facilitar o entendi-
mento desses parágrafos: 
o homem democrático é o 
antigo cidadão pobre que 
lutou contra os ricos no 
governo oligárquico. Depois 
que alcança o poder e ins-
titui a democracia, tentará 
satisfazer os seus impulsos. 
Assim, o cidadão se lançará 
a uma vida apenas na busca 
por paixões. Como esse 
cidadão não é preparado de 
modo virtuoso, fará tudo de 
modo desordenado e nunca 
será feliz. E o fato de não 
ser preparado facilitará que 
alguém que se aprimorou o 
domine. 
Estátuas de Platão e Sócrates em frente ao edifício da Academia de Artes de Atenas, na Grécia.
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No Livro VII da obra A República, Platão narra a famosa alegoria da caverna, em que descreve a 
ascensão do mundo sensível para o inteligível. É possível estabelecer uma relação entre a alegoria 
da caverna e o filme Matrix de 1999.
A alegoria da caverna pode ser relacionada com o filme Matrix (1999). Em Matrix, temos as pes-
soas que vivem em um ambiente virtual, acreditando que este é o verdadeiro mundo. Na realida-
de, essas pessoas estão dormindo e a energia de seus corpos serve para alimentar as máquinas, 
que dominam o mundo real e projetam esse ambiente virtual na mente das pessoas. O mundo 
virtual pode ser comparado ao mundo das sombras. O que se vê no mundo virtual são apenas 
projeções das verdadeiras pessoas, mesma ideia das sombras na parede da caverna de Platão. 
O personagem principal, Neo, encontra dificuldades em se adaptar ao mundo real quando seu 
corpo é “acordado”. É a mesma relação na alegoria da caverna quando o homem se depara com a 
luz solar. Outro personagem, Morpheus, alerta Neo de que muitas pessoas não estão preparadas 
para sair do mundo virtual, e que a maioria delas inclusive defende aquele mundo. É a mesma 
relação entre o prisioneiro liberto, mas que encontrou o mundo real e tenta convencer os outros 
aprisionados de que eles veem apenas uma ilusão.
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Matrix
Ano: 1999
Diretor: Irmãs Wachowski
Sinopse: no mundo de 
Matrix, todas as pessoas 
permanecem adormecidas 
e servem de bateria para 
dar energia ao mundo das 
máquinas, que escravizou 
a raça humana. Para se 
assegurar que ninguém 
acorde, as máquinas criaram 
um mundo virtual, a matrix, 
em que as pessoas vivem 
normalmente, acreditando 
estarem na realidade, 
quando na verdade sua 
consciência permanece em 
estado de sono profundo. 
Alguns homens descobriram 
essa situação, e lutam para 
se livrar da hegemonia das 
máquinas. Esse filme serve 
para ilustrar a situação des-
crita por Platão no mito da 
caverna, em que o homem 
vive um estado de profunda 
ignorância sobre si mesmo.
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A origem
Ano: 2010
Diretor: Christopher Nolan
Sinopse: Don Cobb, o prota-
gonista do filme, tem uma 
profissão inusitada: rouba 
informações de outras pes-
soas invadindo seus sonhos. 
É possível sonhar dentro 
do sonho inúmeras vezes, e 
quanto mais isso se repete, 
mais a pessoa fica vulnerá-
vel a não mais distinguir a 
realidade do sonho. O filme 
nos provoca a pensar: o que 
é verdade e o que é ilusão? 
O que é o verdadeiro e como 
o classificamos? Assim como 
em Matrix, pode-se fazer 
uma relação com as ideias 
da alegoria da caverna, 
em que buscamos sair do 
mundo das sombras para o 
mundo das ideias.
FilmesFilmes
Alegoria da caverna
Tanto a alegoria de Platão como [o filme] Matrix levantam a questão da felicidade, com a estrutura mais 
ampla da relação entre nossa experiência ou estado de espírito subjetivo e a realidade. É uma tese platônica 
que a verdadeira liberdade e a felicidade dependem do conhecimento do que é real; segundo essa visão, uma 
pessoa pode ter a ilusão de ser livre e feliz, mas ser de fato um escravo e infeliz. Essa mesma pessoa pode 
estar completamente enganada ao atribuir a si própria a felicidade, usando a frase: “Sou feliz”. A felicidade 
deve ser semelhante ao conceito de saudável; também pode estar enganado quem diz “sou saudável”, ainda 
que se sinta, pelo menos no momento, extremamente saudável, e não tem consciência [...] de um câncer 
detectado. A tese é que a felicidade, a reflexão sobre o “eu” próprio e o mundo objetivo são inseparáveis. De 
modo semelhante, Matrix obviamente tem muito a ver com a questão do relacionamento entre nosso senso 
subjetivo do “eu” (eu sou livre, sou feliz) e a “realidade” das experiências que estamos vivendo. 
1. Assista ao filme Matrix e estabeleça relações com os seguintes elementos da alegoria da caverna:
 • interior da caverna: 
 • prisioneiros acorrentados: 
 • sombras dos objetos na parede da caverna: 
 • prisioneiro liberto: 
 • subida da caverna para o mundo exterior: 
 • Sol: 
 • O mundo fora da caverna: 
2. Na atualidade, o que significa “viver na caverna”? Escreva um texto explicando essa situação aplicada a um 
acontecimento rotineiro.
mundo sensível
pessoas ignorantes, sem conhecimento
objetos do mundo sensível
filósofo
educação e aprendizado pela dialética
verdade
mundo inteligível
A produção escrita deve apresentar alguma situação da atualidade que remeta à alegoria da caverna. A seu critério, o texto 
pode ser entregue em data previamente estipulada e compor a avaliação processual do aluno. 
(GRISWOLD JR., Charles L. Felicidade e escolha de Cypher: a ignorância é felicidade? In: IRWIN, William 
(Org.). Matrix: bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Madras, 2002. p. 158-159.)
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FILOSOFIA E CULTURA
 
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Resolvidos
1. (Enem) 
No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando 
para o alto. Esse gesto significa que o conhecimento se encontra 
em uma instância na qual o homem descobre a:
a) suspensão do juízo como reveladora da verdade.
b) realidade inteligível por meio do método dialético.
c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus.
d) essência das coisas sensíveis do intelecto divino.
e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade.
 9 Resposta: B
a) Incorreto. Não há suspensão do juízo para se chegar à verdade.
b) Correto. O método dialético promove a ascensão do sensível ao 
inteligível.
c) Incorreto. Para Platão, não é possível aos humanos tornarem-se 
imortais por causa do corpo corruptível. Apenas a alma é eterna.
d) Incorreto. As essências estão na alma de cada um, sendo neces-
sário praticar a dialética para ascender a elas.
e) Incorreto. Para Platão, o mundo sensível era uma cópia imper-
feita do inteligível, logo essa ordem intrínseca reside no mundo 
inteligível.
2. (UEL) Você está acompanhando, Sofia? E agora vem Platão. Ele se 
interessava tanto pelo que é eterno e imutável na natureza quanto 
pelo que é eterno e imutável na moral e na sociedade. Sim... para 
Platão tratava-se, em ambos os casos, de uma mesma coisa. Ele 
tentava entender uma “realidade” que fosse eterna e imutável. E, 
para ser franco, é para isto que os filósofos existem. Eles não estão 
preocupados em eleger a mulher mais bonita do ano, ou os toma-
tes mais baratos da feira. (E exatamente por isso nem sempre são 
vistos com bons olhos). Os filósofos não se interessam muito por 
essas coisas efêmeras e cotidianas. Eles tentam mostrar o que é 
“eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom”.
(GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Tradução de: AZENHA 
JÚNIOR, João. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 98.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias 
de Platão, assinale a alternativa correta.
a) Para Platão, o mundo das ideias é o mundo do “eternamente 
verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” e é dis-
tinto do mundo sensível no qual vivemos.
b) Platão considerava que tudo aquilo que pode ser percebido 
diretamente pelos sentidos constitui a própria realidade das 
coisas.
c) Platão considerava impossível que o homem pudesse ter ideias 
verdadeiras sobre qualquer coisa, seja sobre a natureza, a moral 
ou a sociedade, porque tudo é sonho e ilusão.
d) Para Platão, as ideias sobre a natureza, a moral e a sociedade po-
dem ser explicadas a partir das diferentes opiniões das pessoas.
e) De acordo com Platão, o filósofo deve preocupar-se com as 
coisas efêmeras e cotidianas do mundo, tidas por ele como as 
mais importantes.
 9 Resposta: A
a) Correto. No mundo das ideias estão as essências de tudo o que 
existe.
b) Incorreto. O conhecimento sensível, captado pelos sentidos, é 
considerado por Platão a fonte dos enganos e das ilusões.
c) Incorreto. Apesar de o conhecimento sensível não ser confiável, 
ainda assim é possível aos humanos conhecerem as essências 
ou ideias.
d) Incorreto. Não basta expor ideias diferentes, é necessário cons-
truir novas ideias que mesclem as ideias opostas originais.
e) Incorreto. Os filósofos devem viver em conformidade com as 
ações virtuosas e não para os prazeres do mundo sensível.
Praticando
1. (Unesp) O que é terrível na escrita é sua semelhança com a pintura. 
As produções da pintura apresentam-se como seres vivos, mas se 
lhes perguntarmos algo, mantêm o mais solene silêncio.
O mesmo ocorre com os escritos: poderíamos imaginar que falam 
como se pensassem, mas se os interrogarmos sobre o que dizem 
[...] dão a entender somente uma coisa, sempre a mesma [...]. E 
quando são maltratados e insultados, injustamente, têm sempre 
a necessidade do auxílio de seu autor porque são incapazes de se 
defenderem, de assistirem a si mesmos.
(Platão, Fedro ou Da Beleza.)
Nesse fragmento, Platão compara o texto escrito com a pintura, 
contrapondo-os à sua concepção de filosofia. Assinale a alternativa 
que permite concluir, com apoio do fragmento apresentado, uma 
das principais características do platonismo.
a) Platão constrói o conhecimento filosófico por meio de peque-
nas sentenças com sentido completo, as quais, no seu entender, 
esgotam o conhecimento acerca do mundo.
b) A forma de exposição da filosofia platônica é o diálogo, e o 
conhecimento funda-se no rigor interno das argumentações, 
produzido e comprovado pela confrontação dos discursos.
c) O platonismo se vale da oratória política, sem compromisso 
filosófico com a busca da verdade, mas dirigida ao convenci-
mento dos governantes das cidades.
d) A poesia rimada é o veículo de difusão das ideias platônicas, 
sendo a filosofia uma sabedoria alcançada na velhice e ensi-
nada pelos mestres aos discípulos.
e) O discurso platônico tem a mesma natureza do discurso reli-
gioso, pois o conhecimento filosófico modifica-se segundo as 
habilidades e a argúcia dos filósofos.
 9 Anotações
2. (UEL) Leia o texto, de Platão, a seguir: 
“Logo, desde o nascimento, tanto os homens como os animais têm 
o poder de captar as impressões que atingem a alma por intermédio 
do corpo. Porém relacioná-las com a essência e considerar a sua 
utilidade, é o que só com tempo, trabalho e estudo conseguem os 
raros a quem é dada semelhante faculdade. Naquelas impressões, 
por conseguinte, não é que reside o conhecimento, mas no racio-
cínio a seu respeito; é o único caminho, ao que parece, para atingir 
a essência e a verdade; de outra forma é impossível.”
(PLATÃO. Teeteto. Tradução de: NUNES, Carlos Alberto. 
Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 80.)
A filosofia de Platão desenvolveu-se influenciada pelo método de seu mestre 
Sócrates, por isso propõe sempre a discussão das ideias.
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Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria do conhe-
cimento de Platão, considere as afirmativas a seguir.
I. Homens e animais podem confiar nas impressões que recebem 
do mundo sensível, e assim atingem a verdade.
II. As impressões são comuns a homens e animais, mas apenas 
os homens têm a capacidade de formar, a partir delas, o co-
nhecimento.
III. As impressões não constituem o conhecimento sensível, mas 
são consideradas como núcleo do conhecimento inteligível.
IV. O raciocínio a respeito das impressões constitui a base para se 
chegar ao conhecimento verdadeiro.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
 9 Anotações
Desenvolvendo Habilidades
1. C1:H1 (UEM) Sócrates: Imaginemos que existam pessoas morando 
numa caverna. Pela entrada dessa caverna entra a luz vinda de 
uma fogueira situada sobre uma pequena elevação que existe na 
frente dela. Os seus habitantes estão lá dentro desde a infância, 
algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de modo que 
não conseguem mover-se nem olhar para trás, e só podem ver 
o que ocorre à sua frente. [...] Naquela situação, você acha que 
os habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos outros, 
consigam ver outra coisa além das sombras que o fogo projeta na 
parede ao fundo da caverna?
(PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo 
Perine]. São Paulo: Scipione, 2002. p. 83.)
Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele 
representa, assinale o que for correto.
(1)	 No mito da caverna, Platão pretende descrever os primór-
dios da existência humana, relatando como eram a vida e a 
organização social dos homens no princípio de seu proces-
so evolutivo, quando habitavam em cavernas.
(2)	 O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, 
isto é, realidade e aparência, que marca o pensamentofilo-
sófico desde sua origem, e que é assumido por Platão em 
sua famosa teoria das Ideias.
(3)	 O mito da caverna simboliza o processo de emancipação 
espiritual que o exercício da filosofia é capaz de promover, 
libertando o indivíduo das sombras da ignorância e dos 
preconceitos.
(4)	 É uma característica essencial da filosofia de Platão a distin-
ção entre mundo inteligível e mundo sensível; o primeiro 
ocupado pelas Ideias perfeitas, o segundo pelos objetos 
físicos, que participam daquelas Ideias ou são suas cópias 
imperfeitas.
(5)	 No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla 
a realidade fora da caverna, devendo voltar à caverna para 
libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na 
concepção platônica, conhecedor do Bem e da Verdade, é o 
mais apto a governar a cidade.
Soma ( ) 
Para Platão, o conhecimento verdadeiro está posto no mundo das ideias. 
Porém, para alcançá-lo é preciso pensar racionalmente sobre as impressões 
e o mundo.
2. C1:H1 (UEL) — Mas a cidade pareceu-nos justa, quando existiam 
dentro dela três espécies de naturezas, que executavam cada 
uma a tarefa de que lhe era própria; e, por sua vez, temperante, 
corajosa e sábia, devido a outras disposições e qualidades dessas 
mesmas espécies.
— É verdade.
— Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo, que tiver 
na sua alma estas mesmas espécies, merece bem, devido a essas 
mesmas qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que cidade.
(PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 
7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p.190.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a justiça em Platão 
é correto afirmar:
a) As pessoas justas agem movidas por interesses ou por bene-
fícios pessoais, havendo a possibilidade de ficarem invisíveis 
aos olhos dos outros.
b) A justiça consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe é de 
direito, conforme o princípio universal de igualdade entre todos 
os seres humanos, homens e mulheres.
c) A verdadeira justiça corresponde ao poder do mais forte, o qual, 
quando ocupa cargos políticos, faz as leis de acordo com seus 
interesses e pune aquele que lhe desobedece.
d) A justiça deve ser vista como uma virtude que tem sua origem 
na alma, isto é, deve habitar o interior do homem, sendo inde-
pendente das circunstâncias externas.
e) Ser justo equivale a pagar dívidas contraídas e restituir aos de-
mais aquilo que se tomou emprestado, atitudes que garantem 
uma velhice feliz.
3. C1:H1 (Enem) Suponha homens numa morada subterrânea, em 
forma de caverna, cuja entrada, aberta à luz, se estende sobre 
todo o comprimento da fachada; eles estão lá desde a infância, 
as pernas e o pescoço presos por correntes, de tal sorte que não 
podem trocar de lugar e só podem olhar para frente, pois os gri-
lhões os impedem de voltar a cabeça; a luz de uma fogueira acesa 
ao longe, numa elevada do terreno, brilha por detrás deles; entre 
a fogueira e os prisioneiros, há um caminho ascendente; ao longo 
do caminho, imagine um pequeno muro, semelhante aos tapumes 
que os manipuladores de marionetes armam entre eles e o público 
e sobre os quais exibem seus prestígios.
(PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.)
Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação cultural 
do pensamento grego antigo, cuja ideia central, do ponto de vista 
filosófico, evidendia o(a)
a) caráter antropológico, descrevendo as origens do homem 
primitivo.
b) sistema penal da época, criticando o sistema carcerário da 
sociedade ateniense.
c) vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trágicos e 
cômicos gregos.
d) sistema político elitista, provindo do surgimento da pólis e da 
democracia ateniense.
e) teoria do conhecimento, expondo a passagem do mundo 
ilusório para o mundo das ideias.
4. C1:H1 (Enem) Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os 
seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante. 
Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam 
no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer 
às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam 
de invenções humanas.
(RACHELS, J. O problema da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.)
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O sofista, Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A 
República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e 
ética é resultado de 
a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana.
b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses 
sociais.
c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições 
antigas.
d) convenções sociais resultantes de interesses humanos con-
tingentes.
e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes 
humanas.
Complementares
1. (UEM) — Logo, a arte de imitar está muito afastada da verdade, 
sendo que por isso mesmo dá a impressão de poder fazer tudo, 
por só atingir parte mínima de cada coisa, simples simulacro. O 
pintor, digamos, é capaz de pintar um sapateiro, um carpinteiro 
ou qualquer outro artesão, sem conhecer absolutamente nada 
das respectivas profissões. No entanto, se for bom pintor, com o 
retrato de um carpinteiro, mostrado de longe, conseguirá enganar 
pelo menos crianças ou pessoas simples e levá-las a imaginar que 
se trata de um carpinteiro de verdade.
— Como não?
— Mas a meu ver, amigo, o que devemos pensar dessa gente é o 
seguinte: quando alguém nos anuncia que encontrou um indiví-
duo conhecedor de todas as profissões e de tudo o que se pode 
saber, e isso com a proficiência dos maiores especialistas, seremos 
levados a suspeitar que falamos com um tipo ingênuo e vítima, sem 
dúvida, de algum charlatão e imitador, e que se o tomou por sábio 
universal foi apenas pelo fato de ser incapaz de fazer a distinção 
entre o conhecimento, a ignorância e a imitação.
(PLATÃO. A República, Livro X. In: MARÇAL, J. Antologia de 
textos filosóficos. Curitiba: SEED, 2009. p. 557-558.)
A partir do trecho citado e dos conhecimentos sobre a filosofia de 
Platão, assinale o que for correto.
(1)	 Para Platão, a reprodução de algo não comporta a Verdade 
desse algo, sua essência verdadeira.
(2)	 Para Platão, conhecer um objeto sensível implica tomar con-
tato apenas com o simulacro dele.
(3)	 Para Platão, a reprodução de algo espelha uma parte do ser 
e não o que ele é verdadeiramente.
(4)	 Para Platão, a verdade de algo está para além de sua mani-
festação sensível.
(5)	 Para Platão, é impossível haver conhecimento de qualquer 
coisa.
Soma ( )
2. (UFMG) A educação, disse eu, seria uma arte da reviravolta, uma 
arte que sabe como fazer o olho mudar de orientação do modo 
mais fácil e mais eficaz possível; não a arte de produzir nele o poder 
de ver, pois ele já o possui, sem ser corretamente orientado e sem 
olhar na direção que deveria, mas a arte de encontrar o meio para 
reorientá-lo.
(Platão. A República, Livro VIII. 518 D.)
Na imagem proposta por Platão, sair da caverna representa a 
educação como uma reviravolta. Com base na leitura desse trecho 
e em outras informações presentes nessa obra, explique o que 
significa essa reviravolta.
3. (Unesp) Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira 
– fonte da luz de onde projetam as sombras – e alguns homens 
que carregam objetos por cima de um muro, como num teatro de 
 fantoches, e são desses objetos as sombras que se projetam no 
fundo da caverna e as vozes desses homens que os prisioneiros 
atribuem às sombras. Temos um efeito como num cinema em que 
olhamos para a tela e não prestamos atenção ao projetor nem às 
caixas de som, mas percebemos o som como proveniente das 
figuras na tela.
(MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia, 2001.)
Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de Platão, 
comentando sua importância para a distinção entre aparência e 
essência.
4. (UFF) Em seu diálogo A República, Platãodescreve na célebre 
Alegoria da Caverna a situação de homens aprisionados desde a 
infância no fundo de uma caverna e de tal forma que só podem 
olhar para uma parede em frente sobre a qual se projetam as 
sombras de bonecos colocados atrás destes homens. Um destes 
homens se liberta, sai da caverna e aos poucos se acostuma com 
a luminosidade externa, começa a distinguir as coisas e por fim 
descobre o Sol como a fonte da luz. Ele se dá conta, então, da ilusão 
representada pelas sombras que ele e os outros tomavam como 
realidade. Exultante com sua descoberta, ele retorna à caverna para 
relatar sua experiência, que é assim narrada por Sócrates:
“Suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu anti-
go lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos 
ofuscados, ao vir diretamente do Sol? E se ele tivesse que emitir 
de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com 
os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua 
vista ainda está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, 
enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se 
com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam 
que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que 
não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os 
seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo 
e executá-lo, não o matariam?”.
Platão parece estar descrevendo a situação do “filósofo” quando 
este pretende esclarecer os demais seres humanos sobre o que 
ele pensa ser a verdade.
A partir desta narrativa de Platão, discorra sobre qual o papel do 
“filósofo” no mundo contemporâneo.
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Todos os homens por natureza desejam saber. O prazer causado pelas sensações é a prova disto, pois, mesmo 
fora de qualquer utilidade, elas nos agradam por elas mesmas, e, mais do que todas as outras, as sensações vi-
suais. De fato, não só para agir, mas mesmo quando não nos propomos nenhuma ação, a vista é, por assim dizer, 
o que preferimos a todo o resto. A causa disto é que a vista é, de todos os sentidos, o que nos faz adquirir mais 
conhecimentos e nos mostra o maior número de diferenças. 
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Leia o trecho de abertura 
da obra Metafísica e abra 
espaço para interpretações. 
Em seguida, aborde as ques-
tões propostas, desafiando 
os alunos a pensarem sobre 
algumas das questões 
que intrigaram Aristóteles. 
Essas questões envolvem 
o conhecimento sensível 
que, para Aristóteles, eram 
imprescindíveis para chegar 
ao conhecimento inteligível.
1. O conhecimento sensível é importante para saber sobre o mundo?
2. A visão é a sensação mais prazerosa? Por quê?
3. Somos naturalmente sociáveis ou devemos aprender a ser sociáveis?
Leia o trecho a seguir da obra de Aristóteles e responda às questões.
 
(ARISTÓTELES. Metafísica, Livro 1.)
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Filosofia
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mód. 05/08
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Filosofia de 
Aristóteles
Aristóteles: vida e obra • Divisão das ciências • Lógica aristotélica • Ética aristotélica • Política
Filosofia de 
Aristóteles
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Aristóteles: vida e obra 
Busto de Aristóteles 
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sAristóteles foi um dos maiores pensadores da história da filosofia. 
Ele inaugurou uma nova forma de filosofar. Se Sócrates e Platão foram 
os mestres que auxiliavam o discípulo a despertar dentro de si a verdade 
por meio do diálogo, Aristóteles foi o professor incansável, observador da 
natureza, catalogador dos fenômenos, sistematizador das observações.
A sistematização e organização do conhecimento com objetivo cientí-
fico é um dos grandes diferenciais do filósofo, em relação aos pensado-
res que o antecederam.
Aristóteles nasceu em Estagira (384/383 a.C. - 322 a.C.), na Macedônia. 
Sua trajetória como filósofo pode ser dividida em três fases: 
 ● Primeira fase: período que vai dos 18 aos 36 anos, quando ele in-
gressa na Academia de Platão, em Atenas, tornando-se seu discí-
pulo; 
 ● Segunda fase: inicia-se com a morte do mestre, Platão, em 347 a.C., quando Aristóteles reti-
ra-se da Academia e passa a viajar para outras localidades, conhecendo outros pensadores e 
observando sistematicamente vários fenômenos naturais, políticos etc. Em 342 a.C., o rei da 
Macedônia convida o filósofo para ser o responsável pela educação de seu filho Alexandre, 
que viria a ser um dos maiores conquistadores e políticos de todos os tempos; 
 ● Terceira fase: a partir de 334-335 a.C., quando o filósofo retorna a Atenas para fundar sua 
escola filosófica, chamada Liceu.
As obras aristotélicas podem ser divididas entre “exotéricas” e “esotéricas”.
 ● Obras exotéricas: em geral, compostas na forma de diálogo, e escritas visando ao público 
geral, aos não iniciados na Filosofia, ou seja, quem não era aluno do Liceu. Concentram-se 
os escritos sobre retórica, política e literatura;
 ● Obras esotéricas: são tratados filosóficos abordando as mais variadas temáticas, caracte-
rizando-se como resultados de estudos sistemáticos. Essas obras eram dirigidas aos alunos 
do Liceu, portanto, eram mais profundas e complexas. Concentram-se os escritos sobre ló-
gica, física e metafísica. A classificação e sistematização das obras aristotélicas esotéricas 
é ainda alvo de grandes discussões entre os estudiosos. A seguir, tem-se um resumo da 
organização mais comum. O conjunto das obras esotéricas ficou conhecido como Corpus 
aristotelicus, que era composto pelo conjunto de obras:
 ● Órganon: são os tratados de lógica, Categorias, De Interpretatione, Analíticos primeiros, 
Analíticos segundos, Tópicos e refutações sofísticas. Aqui são estudadas questões como as 
características do raciocínio verdadeiro e falso, a forma de se pensar corretamente etc;
 ● Obras de física e filosofia natural: Física, Do céu, Da geração e da corrupção e Meteoro-
logia, História dos animais, Das partes dos animais, Do movimento dos animais e Da geração 
dos animais;
 ● Obras de psicologia: De anima e vários textos menores sobre a alma;
 ● Metafísica: obra mais importante, que reúne 14 livros sobre as causas e princípios pri-
meiros de toda a realidade e, por isso, podemos considerá-la o trabalho mais importante 
de Aristóteles;
 ● Obras de ética e política: Ética a Nicômaco, Grande ética, Ética a Eudemo e Política;
 ● Obras sobre artes e história: Arte Retórica e Arte Poética.
O Liceu possuía a maior 
biblioteca do mundo antigo, 
que serviu de modelo para 
a construção da maior 
biblioteca da história: a 
Biblioteca de Alexandria. 
Além da compilação de 
muitas obras antigas, a 
biblioteca do Liceu possuía 
os mais variados objetos 
para os estudos de ciências 
naturais, como protóti-
pos de plantas e animais 
exóticos, trazidos para ele 
por Alexandre, o Grande, dos 
locais por onde ele passava 
em suas conquistas. Depois 
da derrubada do império 
macedônico, Aristóteles 
foi visto como traidor em 
Atenas e foi processado por 
impiedade (mesma conde-
nação de Sócrates). Mas, 
ao contrário de Sócrates, 
Aristóteles optou por fugir, 
pois acreditava que sua 
condenação era tão injusta 
quanto a de Sócrates. Ele foi 
para a ilha de Eubeia, onde 
morreu um ano depois e o 
Liceu ficou sob responsabi-
lidade de Teofrasto (até o 
ano de 287 a.C., quando veio 
a falecer). Até aproxima-
damente 143 a.C., o Liceu 
passou por vários dirigentes 
e foi saqueado diversas 
vezes até que, no ano de 
529 da nossa era, deixou de 
existir por ordem de Justi-
niano, imperadorbizantino 
que instaurou o cristianismo 
como religião oficial do 
império romano. Em 146 a.C., 
o império Romano invadiu a 
Grécia. Os romanos, então, 
se apropriaram das obras 
e as levaram para Roma 
e de lá, para a Biblioteca 
de Alexandria. Aristóteles 
quase caiu no esquecimento 
na Europa fragmentada do 
início da era cristã e foi vee-
mentemente recusado pela 
Igreja Católica no Período 
Medieval por dois motivos: 
o primeiro é que os pensa-
dores da Antiguidade grega 
eram vistos como pagãos e, 
consequentemente, hereges; 
e segundo, porque as obras 
de Aristóteles que retorna-
vam à Europa eram advindas 
dos estudos, comentários e 
das traduções para o árabe, 
o que não era aceito pela 
Igreja. Foi só com Tomás 
de Aquino (século XIII d.C.) 
que Aristóteles finalmente 
retornou ao cenário do 
conhecimento, mas, ainda 
assim, “cristianizado” pela 
Escolástica.
Saiba maisSaiba mais
Divisão das ciências 
Aristóteles buscou uma forma de organizar todo o conhecimento possível em três grandes 
grupos.
 ● Ciências teoréticas: estudam tudo aquilo que existe independentemente da vontade e das 
ações humanas, como os fenômenos naturais, a geração e corrupção dos seres, o ser em ge-
ral. São elas: a metafísica, a física e a matemática. Elas são consideradas ciências superiores, 
por não estarem limitadas a um escopo específico, sendo a metafísica a mais importante de 
todas as ciências, pois é a investigação das causas e dos princípios primeiros;
 ● Ciências práticas: investigam as ações humanas, consideradas individual e coletivamente. 
São elas: a ética (na esfera individual) e a política (na esfera coletiva);
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 ● Ciências poiéticas ou produtivas: visam à ação fabricadora, ou seja, orientam as ações hu-
manas no sentido de produzir uma obra. São consideradas ciências produtivas a navegação, 
a economia, a medicina, a poesia, a tecelagem, a metalurgia, ou seja, os inúmeros ofícios. Para os gregos, “ciência” era considerada o conhecimen-
to teórico das coisas por 
meio do raciocínio. Para 
Aristóteles, ciência é o co-
nhecimento pelo raciocínio, 
investigação científica. A 
palavra grega usada nessa 
acepção é epistéme. 
ObserveObserve
Metafísica
A obra Metafísica é formada por 14 livros, 
escritos em diferentes períodos da vida de 
Aristóteles. Pelo fato de não ser pensada como 
um bloco de textos encadeados, pode apre-
sentar dificuldades de compreensão. A reu-
nião desses escritos em uma mesma obra não 
foi realizada por Aristóteles, mas por estudio-
sos posteriores de sua obra. Eles perceberam 
que os 14 livros possuíam em comum o estudo 
da realidade que “está para além da física”, da 
matéria, ou seja, a realidade metafísica. 
Pode-se sintetizar a investigação metafísi-
ca com as seguintes perguntas: quais são as 
causas e os princípios primeiros que geraram 
toda a multiplicidade de seres que existem? O 
que é e como estudar o “ser enquanto ser”? 
Qual a substância primeira do ser?
A obra Metafísica inicia-se com a frase: 
Todos os homens por natureza desejam 
 conhecer. 
Mas Aristóteles afirma que não basta dese-
jar o conhecimento; é necessário delimitá-lo, 
discriminá-lo, diferenciá-lo e reuni-lo. Ou seja, 
é necessário adotar uma atitude filosófica ca-
paz de ordenar os objetos do conhecimento 
segundo critérios determinados. O ponto de 
partida desta investigação é a definição do es-
copo da metafísica: “o estudo do ser enquan-
to ser”, ou, em outras palavras, a investigação 
daquilo que torna um ser aquilo que ele é. 
Aristóteles afirmou que esse estudo é o estudo 
da substância ou essência como princípio da 
multiplicidade, da mudança, da unidade e de 
sua inteligibilidade. 
Substância, para Aristóteles, é o suporte 
que recebe atributos, ou seja, o sujeito que re-
cebe predicados.
Os quatro princípios buscados por 
Aristóteles para empreender a investigação 
metafísica são: conhecer os primeiros princí-
pios (arkhé), as causas primeiras (aitía), o su-
jeito (substrato, em grego hypokeímenon) e a 
essência (ousía).
Primeiros princípios (arkhé) 
Assim como os pré-socráticos, Aristóteles 
também buscou o princípio de tudo o que 
existe (arkhé), mas diferentemente daqueles, 
propôs que esse princípio primordial seria a 
substância porque ela possui os seguintes 
princípios:
A palavra “metafísica” foi 
empregada pela primeira 
vez por Andrônico de 
Rodes. “Metafísica” vem 
do grego metà tà physiká, 
que significa “aquilo que 
está para além da física”. A 
ciência metafísica estuda 
aquilo que está para além 
do mundo material.
ObserveObserve
A metafísica caracteriza-
-se pelos aspectos lógico 
(estrutura da realidade e 
do pensamento, conside-
rando o ser como verbo 
de ligação), ontológico (a 
substância como princípio 
do ser enquanto ser) e 
epistemológico (por meio da 
investigação da substância, 
é possível desenvolver o co-
nhecimento científico, pois 
só há ciência do universal).
Saiba maisSaiba mais
 ● Princípio ontológico: é a partir da subs-
tância que se pode ser alguma coisa;
 ● Princípio lógico: a substância é a condi-
ção lógica para se falar sobre o ser;
 ● Princípio epistemológico: a substância 
é fundamento da realidade e do conhe-
cimento.
Causas primeiras (aitíta) 
Como a metafísica é a ciência que investiga 
as causas primeiras, Aristóteles concluiu que 
existem quatro causas necessárias que dão 
origem à realidade e à possibilidade de conhe-
cê-la. São elas:
Causa 
aristotélica Definição Exemplo
Causa 
formal
É a forma, isto 
é, a essência 
do objeto. 
Resposta à 
pergunta “o 
que é?”. Cadeira.
Causa 
material
É o material do 
qual o objeto é 
feito. Resposta 
à pergunta “do 
que é feito?”. Madeira.
Causa 
eficiente
É o que 
deu origem 
ao objeto. 
Resposta 
à pergunta 
“quem?”. Marceneiro.
Causa final
É a finalidade 
daquele 
objeto. 
Resposta à 
pergunta “para 
quê?”.
Peça de 
mobília que 
serve para as 
pessoas se 
sentarem.
Sujeito (hypokeímenon) 
Sujeito ou substrato é a tradução do termo 
grego hypokeímenon que, na metafísica, significa 
o suporte que recebe as propriedades essen-
ciais do ser. Simplificando, é o sujeito que rece-
be predicados, mas que não é um predicado em 
si. Qualquer coisa que exista como sujeito está 
condicionada à dez categorias de predicação:
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 ● substância: nome ou substantivo, sobre 
o qual recai o verbo (homem, cavalo);
 ● quantidade: quantos (três bolas, dois 
metros);
 ● qualidade: adjetivos (azul, inteligente, 
sonolento) ou modos verbais (indicativo, 
subjuntivo etc.);
 ● relação: comparação (maior que, mais 
perto de);
 ● lugar: onde (na praça, em casa, no mer-
cado);
 ● tempo: quando (ontem, pela manhã, 
agora);
 ● estado: situação (sentado, correndo, 
doente, saudável);
 ● hábito: características que costuma 
apresentar (usa sapatos, penteado, rou-
pas coloridas);
 ● ação: ato do sujeito (amar, cortar, criar);
 ● paixão: o que sofre a ação (amado, cor-
tado, criado).
Essência (ousía)
Nesse estudo, Aristóteles afasta-se da teo-
ria das ideias de seu mestre, Platão, afirmando 
que a essência de cada coisa reside na própria 
coisa, e não em um mundo separado, imaterial 
e perfeito, como o mundo das ideias platôni-
co. Logo, Aristóteles propõe a investigação das 
coisas como elas são, enquanto substância, ou 
seja, compostas de matéria e forma. 
Exemplo: a substância “escultura” é 
composta de matéria (mármore, madei-
ra, barro etc.) e de forma (projeto do es-
cultor – que pode ser um corpo humano, 
um animal, um objetoetc.).
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Substância (estátua) Matéria
(mármore)
Forma
(definida pelo escultor, 
no exemplo, forma de 
cavalo)
Para Aristóteles, a matéria não sofre mu-
danças, ao contrário da forma, que pode mu-
dar de acordo com as circunstâncias. Uma vela 
é feita de cera (matéria) moldada na forma de 
“vela”, mas quando ela derrete com o calor do 
O sentido de “paixão” 
para os filósofos gregos é 
diferente do sentido atual: 
não se trata de amor como 
é entendido hoje, mas 
trata-se daquele que sofre 
uma ação, que é passivo, 
paciente.
ObserveObserve
fogo, perde sua forma e preserva sua matéria 
(a cera derretida ainda é cera, mas não é mais 
uma vela). 
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A substância “vela” é o resultado da junção entre matéria (cera) e 
forma (formato de vela). A matéria não sofre mudança, pois continua 
sendo cera, mesmo que derretida, mas a forma é mutável (a cera 
derretida não é mais uma vela).
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Potência e ato
Até agora, Aristóteles definiu a causa mate-
rial dos seres (matéria) e a causa formal deles 
(forma). Ainda falta definir a causa eficiente 
(como a forma se imprime na matéria?) e a cau-
sa final (para que serve cada coisa que existe?).
Sabe-se que a forma muda com o tempo, 
ou seja, se transforma: a semente vira árvore, 
a árvore vira madeira, a madeira vira casa, o 
botão vira flor, a noite vira dia. Ou seja, tudo 
está em constante movimento (devir) e, segun-
do Aristóteles, os seres compostos de matéria 
e forma estão sujeitos a esse ciclo constante 
de mudanças, que podem ser de dois tipos:
 ● Mudança radical: quando a matéria per-
de a forma ou recebe outra diferente. 
Exemplo: quando a vela derrete, deixa 
de ser vela e passa a ser cera derretida;
 ● Mudança de desenvolvimento: quando 
ocorre um desdobramento da forma 
contida na matéria. Exemplo: uma se-
mente que vira árvore, um embrião que 
vira uma pessoa. 
Aristóteles se preocupou em compreender 
a relação entre o ser e o movimento – o devir 
ou vir a ser. Pois bem, para Aristóteles, existe 
uma condição necessária para que a causa 
eficiente imprima a forma na matéria, e essa 
condição é que todo o ser muda porque tende 
a realizar plenamente a sua essência. Ou seja, 
os seres buscam encontrar a finalidade, ou a 
causa final, de sua existência. Pode-se impri-
mir a forma de mesa na madeira, mas não no 
fogo ou na água, porque a madeira contém em 
si o potencial de ser mesa; uma semente pode 
vir a ser uma árvore, mas nunca um peixe ou 
um gato. Logo, cada coisa que existe possui em 
si mesmo a tendência a se realizar plenamente, 
ou seja, a buscar sua finalidade última. 
Outro aspecto importante postulado por 
Aristóteles é que a forma corresponde ao que 
Ao afirmar que todos os 
seres tendem a realizar sua 
causa final, ou seja, tendem 
a atingir sua plenitude e 
perfeição, Aristóteles está 
afirmando que os seres 
possuem uma finalidade 
(thélos) específica. Esse pen-
samento é chamado, pelos 
estudiosos, de teleologia 
(thélos – fim, finalidade; 
logos – estudo do fim ou da 
finalidade, ou seja, estudo 
da finalidade dos seres).
CuriosidadeCuriosidade
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o ser é, em ato – ao que ele é na atualidade; 
a matéria corresponde ao que ele pode vir a 
ser, ou o que ele é em potência. Acompanhe o 
exemplo a seguir:
Semente:
em ato é a própria 
semente;
em potência, a 
semente poderá vir a 
ser uma árvore. 
Árvore:
em ato é a própria 
árvore;
em potência, a 
árvore poderá vir a ser 
mesa, cadeira, casa... 
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DEVIR
Teologia
Foi visto anteriormente, que a substância é 
a forma, que é suprassensível e informa o sen-
sível. Porém, de onde vem a forma? Isto é, a 
forma modela a matéria, mas quem modela a 
forma? E esse algo que modela a forma apenas 
pode ser suprassensível, pois a matéria não 
pode definir a forma. Nisso surge o argumen-
to aristotélico para provar a existência de uma 
causa primeira para todas as coisas. Ora, tudo 
Para retomar as quatro 
causas, podemos aplicá-las 
ao exemplo da semente e da 
árvore e dos artefatos pro-
duzidos pelo agente. Para 
que seja possível a potência 
se atualizar, depende de 
inúmeros fatos acidentais, 
por exemplo, a semente 
poderá não atualizar seu 
potencial “árvore” se cair 
num solo infértil ou se não 
receber água, luz e nutrien-
tes suficientes para se de-
senvolver. Da mesma forma, 
a madeira da árvore pode 
ou não atualizar sua potên-
cia “mesa”, “cadeira”, “casa” 
dependendo da maneira 
que será apropriada por 
um agente. Nesse exemplo, 
estamos falando da causa 
eficiente, que pode ou não 
atualizar a potência da se-
mente e da madeira. A causa 
eficiente da semente são as 
condições propícias para ela 
germinar; a causa eficiente 
da madeira é o lenhador ou 
carpinteiro ou marceneiro 
que vai beneficiar a matéria-
-prima “madeira”. 
RelembrandoRelembrando
que existe é efeito de uma causa, ou seja, se 
existe é porque foi gerado ou transformado 
por outro. E esse outro foi gerado por outro. 
Mas não podemos ir até o infinito, porque seria 
necessária uma nova causa para explicar um 
efeito. Então, deve haver uma primeira causa 
que não é causada, que seria o primeiro prin-
cípio, que depois geraria vários efeitos que 
se tornariam causas de outros efeitos. Esse 
primeiro princípio é Deus. Deus é o primeiro 
motor imóvel, que gera e move todos os ou-
tros seres, mas ele mesmo é imóvel, eterno 
e imutável. 
A metafísica é também uma ciência que en-
caminha o ser humano a Deus, pois o permite 
conhecer as verdades mais elevadas. Por isso, 
encerra-se esse estudo sobre a metafísica aris-
totélica citando este trecho:
Essa passagem influenciará decisivamente 
a construção da filosofia medieval, pois se tra-
ta da fundamentação lógica mais avançada até 
então para explicar a necessidade da existên-
cia de Deus. Sem Deus, não haveria princípio 
primeiro, e sem o princípio primeiro não tería-
mos uma primeira causa, logo tudo nos levaria 
apenas a um efeito. Além da metafísica, outro 
estudo de Aristóteles influenciaria de modo in-
tenso a história do pensamento ocidental: a ló-
gica, disciplina que se encontra distribuída nas 
várias obras do Órganon.
Lógica aristotélica
Quais são as regras que definem a forma 
correta de se elaborar um raciocínio? A disci-
plina que trabalha com essa e outras questões 
referentes à maneira correta de raciocinar é a 
lógica, e Aristóteles foi seu fundador. O objeti-
vo é oferecer uma base sólida para a própria 
possibilidade do conhecimento. Como pensar 
corretamente?
Nos Analíticos Primeiros, o filósofo aborda 
o que ele entende por proposição, os enun-
ciados compostos de sujeito e predicado, que 
afirmam ou negam algo, ou seja, dizem se algo 
é verdadeiro ou falso. Aristóteles lança as ba-
ses da lógica ocidental, criando inclusive o uso 
de letras nas formulações de enunciados.
Toda proposição precisa enunciar um pre-
dicado referente a um sujeito, por exemplo, 
“todos os pássaros são animais”. Nisso, elas se 
dividem em:
 ● proposições universais: referem à tota-
lidade de sujeitos, como “todos os pássa-
ros são animais”; 
 ● proposições particulares: ocorrem 
quando se referem a apenas uma parte 
dos sujeitos. Exemplo: “alguns animais 
são pássaros”. Nisso está implícito que 
há animais que não são pássaros, en-
quanto nas afirmações universais não 
há como dizer que existem pássaros que 
não sejam animais.
Outra importante parte da lógica aristoté-
lica é o estudo dos silogismos, que seriam in-
ferências dedutivas, que depois pressupõem 
outras inferências. Exemplo: 
Todos os homens 
são mortais. ←	Primeira premissa
Sócrates é 
homem. ←	Segunda premissa
Logo,Sócrates é 
mortal. ←	Conclusão
Duas premissas verdadeiras levam a uma 
conclusão verdadeira.
Depois, Aristóteles articulará ainda a lógica 
dos axiomas nos Analíticos Segundos. Os axio-
mas são os princípios que devem ser adquiri-
dos por aqueles que querem aprender alguma 
coisa. Portanto, essa parte da lógica é direcio-
nada ao estudo da natureza do conhecimento. 
Para Aristóteles, conhecer um objeto é desco-
brir sua causa, e também que não é possível 
que determinada coisa seja de outra maneira. 
Essas duas condições são fundamentais. 
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O cientista, por exemplo, precisa saber por 
que o ser humano é bípede e por que não pode-
ria ser de outra forma. Contudo, isso apresenta 
novos problemas. Quando conheço a causa de 
um fenômeno, precisaria saber a causa dessa 
causa, e depois dessa, e assim por diante, mas 
dessa forma iríamos ao infinito. Nunca encon-
traríamos, então, a causa primeira de um fato? 
Aristóteles afirma que existem causas que se 
justificariam por si mesmas, sem necessidade 
de outras causas. Essas seriam as definições, 
enunciados que alcançam a essência do fenô-
meno, a natureza do objeto.
Para concluir, poderiam ser trazidos outros 
estudos aristotélicos, como a física, a biologia 
e a meteorologia. São todos estudos pioneiros, 
em parte foram superados por estudiosos pos-
teriores, por outro lado são a semente da pró-
pria ciência ocidental.
A metafísica e a lógica lançaram inúmeras 
bases para o conhecimento que se solidifica-
ria nos séculos seguintes. As raízes do saber 
científico ocidental são: causa e efeito, sendo 
que conhecer é conhecer a causa; ato e potên-
cia; essência e acidente; entender os princípios 
do fenômeno; entender por que isto é deste 
modo e não de outro. São conceitos que se tor-
nariam atemporais e universais, de tal forma 
que os filósofos posteriores continuam a falar 
de causas, de efeitos, de ato e potência, de es-
sência, de acidente. 
Aristóteles, portanto, mais do que o último 
dos grandes filósofos gregos, é o fundador da 
ciência ocidental como entendemos hoje. E 
essa influência não se resume à busca pelo co-
nhecimento, mas também à vida prática. 
Ética aristotélica
A influência da filosofia aristotélica no pen-
samento ocidental não se resume às investi-
gações sobre a teoria do conhecimento, mas 
também sobre a filosofia prática, que não bus-
ca postular como o ser humano pode conhecer 
ou pensar, mas como deve agir, como alcançar 
a própria realização na existência.
A filosofia prática aristotélica divide-se em 
ética e política, sendo que cada uma é trabalha-
da em obra própria, diferentemente do mestre 
Platão, que articulava ambas simultaneamente 
em várias obras. Assim, A República abordava 
tanto questões éticas (o conceito de justiça e a 
formação pelas virtudes) como assuntos polí-
ticos, tais como a crítica às formas de governo 
existentes. A ética de Aristóteles é desenvolvi-
da em três obras: Ética Eudêmia, Grande Ética e 
Ética a Nicômaco. A mais importante é a última, 
ficando célebre como a ética aristotélica. 
Ética a Nicômaco 
A ética aristotélica busca compreender 
como o ser humano pode viver melhor e isso 
significa, para Aristóteles, realizar a causa final 
da existência humana. Mas qual é a causa final, 
ou a finalidade, da existência humana? A reali-
zação do máximo bem, ou seja, alcançar a coi-
sa mais importante da vida humana. E qual é 
esse máximo bem? Ou, ainda, o que é um bem?
O bem é aquilo para o qual tendem as 
ações humanas. Toda ação humana é realizada 
tendo em vista vários bens que, em última ins-
tância, resultam na felicidade, pois tudo que 
se faça é para buscar aquilo que se imagina ser 
uma vida melhor. Surge, então, a necessidade 
de definir o que é a felicidade. Aristóteles parte 
de opiniões gerais de seu tempo sobre o que 
seria a felicidade e encontra três sentidos dife-
rentes para defini-la: 
 ● vida prazerosa: quando a felicidade é 
entendida como a satisfação de praze-
res. No entanto, para Aristóteles, viver 
em busca da realização dos prazeres 
iguala a existência humana à existência 
animal, pois estes também vivem para 
satisfazer os prazeres do corpo. Sendo 
o ser humano um animal racional, mais 
elevado que os demais, não pode redu-
zir a felicidade a uma vida prazerosa;
 ● vida política: felicidade está na vida po-
lítica e consiste na conquista da honra e 
do reconhecimento. O problema é que a 
honra é algo sempre conferido por ou-
tros, tratando-se, portanto, de um bem 
externo; 
 ● vida contemplativa: seria viver confor-
me o que é característico do ser huma-
no: a razão e a atividade da alma confor-
me a razão. Para ser feliz, o ser humano 
deve realizar a obra à qual tende, qual 
seja, viver a vida conforme a virtude.
Descartando as duas primeiras opiniões 
sobre o que é a felicidade, Aristóteles defen-
de a terceira, que afirma que a realização da 
vida feliz está na prática habitual das virtudes 
racionais. O ser humano que vive pelas virtu-
des obtém o prazer em si mesmo, pela própria 
construção da vida, e não prazeres específicos 
ligados a determinadas atividades. E também 
o ser humano virtuoso se sente feliz por aquilo 
que ele mesmo faz, e não por uma gratificação 
externa, como seria na vida política. Contudo, 
Aristóteles afirma que as virtudes apenas não 
são suficientes para uma vida feliz, mas tam-
bém os bens exteriores, pois parece difícil rea-
lizar grandes ações sem a ajuda de riqueza, 
amigos, objetos, poder político etc.
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Aristóteles divide as virtudes em dois 
grupos:
 ● virtudes éticas: ligadas ao controle das 
paixões e aos impulsos do corpo. São 
numerosas e devem ser aprendidas pelo 
hábito. É na repetição constante de um 
ato virtuoso que a virtude se internali-
za no ser humano. Aquele que pratica 
habitualmente atos corajosos, torna-se 
corajoso;
 ● virtudes intelectuais: são puramente 
racionais. Também chamadas de “dia-
noéticas”, são ligadas à parte mais eleva-
da da alma, a alma racional. Porém esta, 
por sua vez, possui duas partes, a razão 
prática e a razão teorética. A virtude da 
primeira é a sabedoria (phrónesis) e a da 
segunda é a sapiência (sophia). A sabe-
doria é a correta condução da vida pelo 
ser humano, que aprende a distinguir o 
bem do mal, o certo do errado, e assim 
descobre os melhores caminhos para al-
cançar os escopos pretendidos.
A virtude, para Aristóteles, é a jus-
ta medida (mediania) de uma ação, sem 
falta nem excesso. 
As virtudes, para Aristóteles, são a justa medida, a exata 
proporção ou o meio-termo entre os impulsos da paixão 
e a atividade racional do ser humano.
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Aristóteles enfatiza que a virtude nunca 
existe na falta ou no excesso dos impulsos, 
mas sim na justa medida que equilibra a falta 
e o excesso deles, pois toda atitude extrema, 
seja pela falta, seja pelo excesso, é considerada 
um vício.
Observe a classificação das virtudes na ta-
bela a seguir.
MEIO-TERMO 
VÍCIO POR FALTA VIRTUDE VÍCIO PELO EXCESSO
Covardia Coragem Temeridade 
Insensibilidade Temperança Intemperança 
Avareza Prodigalidade Esbanjamento
Modéstia Respeito próprio Vaidade
Descrédito próprio Veracidade Orgulho 
Moleza Prudência Ambição 
Enfado Amizade Condescendência 
Malevolência Justa indignação Inveja 
Por meio da virtude ética, o ser humano 
sabe o que é correto fazer, e por meio da sabe-
doria, sabe como alcançar esse fim. A outra vir-
tude intelectual é a sapiência, que consiste não 
em deliberar sobre ações do cotidiano, mas em 
conhecer as coisas mais elevadas do universo, 
que estão acima do ser humano. A máxima 
felicidade situa-se justamente no exercício da 
sapiênciaque, por conhecer verdades maiores 
que o ser humano, o aproxima de Deus e das 
verdades eternas. A forma de vida mais eleva-
da, para Aristóteles, é a vida contemplativa.
Contudo, para alcançar essa máxima felici-
dade, a vida dedicada apenas à contemplação 
não é suficiente. É preciso realizar também os 
atos virtuosos conforme a perfeição. Embora 
o cume esteja na vida contemplativa, é ne-
cessário passar pela vida ativa. Esta, porém, 
apresenta outras dificuldades, pois está con-
dicionada ao agir. A ação moral começa com a 
distinção entre dois tipos de ação:
 ● ações voluntárias: são aquelas em que 
o princípio da ação está no próprio agen-
te e este conhece as circunstâncias em 
que a ação se desenvolve. Em outras pa-
lavras, as ações voluntárias são aquelas 
que estão condicionadas a uma escolha, 
a uma decisão no momento de agir;
 ● ações involuntárias: são aquelas em 
que o indivíduo é coagido a agir de de-
terminada forma ou age ignorando as 
circunstâncias que envolvem a ação.
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A justiça é outra virtude estudada por 
Aristóteles, que a divide em:
 ● justiça distributiva: a exata proporção 
na divisão dos bens da pólis;
 ● justiça corretiva: busca a justa repar-
tição pelo mérito individual. A justiça 
corretiva deve se valer do mérito de 
cada pessoa, pois parte do fato de que 
as pessoas não são iguais. A justiça se-
ria então a distribuição de coisas iguais 
às pessoas iguais. Não se trata de uma 
desigualdade forçada às pessoas, como 
se uns naturalmente fossem melhores 
que os outros, mas de uma questão de 
mérito pessoal.
A ligação entre justiça e meio-termo é esta-
belecida também na fixação da lei, que acaba 
por ser uma proporcionalidade que define o 
que é justo e o que é injusto em determinada 
cidade, o que é certo e o que é errado. Bem 
diferente é a justiça natural, que não está res-
trita àquilo que está escrito em leis, e que, 
portanto, só pode ser aplicada a determinado 
povo. A justiça legal é mutável, pois, para ser 
alterada, basta modificar a lei. A justiça natural 
é imutável, pois vem desde sempre. A justiça 
natural consistiria em um conjunto de princí-
pios ditados pelos deuses, pela própria nature-
za e pela razão humana, e por isso devem ser 
obedecidos por todos os povos.
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A justiça é até hoje representada por uma figura 
feminina de olhos vendados que segura uma balança. 
A venda nos olhos significa que a justiça é cega, ou 
seja, não julga pelas aparências, e a balança repre-
senta a justa medida ou a mediania na hora de tomar 
decisões.
O elemento fundamental para a adequada 
aplicação da justiça legal é a equidade. A pro-
blemática da lei está em sua aplicação de modo 
justo a cada caso particular, pois ela não pode 
prever todas as possibilidades que as relações 
humanas venham a produzir. A equidade apa-
rece como uma forma de justiça superior à 
justiça legal, pois visa a dar a melhor solução 
aos conflitos que a lei escrita se vê incapaz de 
resolver. 
Para concluir a exposição sobre a Ética a 
Nicômaco, os livros VIII e IX tratam da amiza-
de, e o livro X dos prazeres, ambas condições 
fundamentais para o ser humano alcançar a 
felicidade.
A amizade é tão importante para a vida 
que, segundo Aristóteles, quando ela é verda-
deira, não é necessária a justiça, pois esta se-
ria, em certo modo, uma disposição amistosa. 
Há três espécies de amizade: 
 ● pelo prazer: quando as pessoas se apro-
ximam para obter prazer juntas, como 
aqueles amigos que só vemos quando 
vamos às festas; 
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 ● pela utilidade: quando as pessoas se 
aproximam para realizar uma tarefa, 
como os colegas de trabalho. 
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 ● perfeita: quando as pessoas se unem 
pelo amor fraternal, importando-se real-
mente pelo que o outro pensa, fala, sen-
te e faz.
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Política 
A obra Política é um dos primeiros tratados 
sistemáticos sobre as relações políticas, de po-
der etc. Se a ética aristotélica visa a levar o indi-
víduo à felicidade individual, a política tem por 
finalidade alcançar o bem comum, isto é, gerar 
felicidade e desenvolvimento a todos.
A origem do Estado está na necessidade na-
tural do ser humano em se associar com seus 
semelhantes. A comunidade mais primitiva é a 
família, na qual alguns indivíduos se unem para 
facilitar as atividades básicas de sobrevivên-
cia. Quando várias famílias se unem, forma-se 
uma aldeia e a união de várias aldeias conduz à 
criação do Estado. Com isso, Aristóteles afirma 
que é errado entender o Estado como criação 
artificial do ser humano, mas sim como uma 
necessidade natural, pois somente no Estado o 
ser humano pode ser realmente feliz, somente 
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ali pode desenvolver todas as suas potencia-
lidades. Isso é de tal forma importante que, 
para o filósofo, o ser humano é um “animal po-
lítico” – além de animal racional –, e o indivíduo 
que não vive em comunidade ou é uma besta 
ou um deus, pois ou está muito abaixo das po-
tencialidades humanas ou muito acima delas.
Aristóteles também critica Platão e sua no-
ção de Estado ideal. Para o estagirita, o Estado 
ideal, ainda que fosse possível de ser alcan-
çado, não era em sua totalidade desenhado 
como previra Platão. Entre as várias críticas é 
possível citar a rejeição de Platão à proprie-
dade privada. Para Aristóteles, elas são fontes 
de prazeres, pois são obtidas com o labor e a 
dedicação do cidadão. De qualquer forma, con-
corda que deve haver uma educação a incenti-
var os indivíduos a não procurarem de modo 
excessivo a riqueza.
Assim, a política de Aristóteles reveste-se 
do mesmo realismo que se revela no restan-
te da filosofia aristotélica. Diferentemente de 
Platão, Aristóteles está sempre mais preocu-
pado não em realizar o ideal, a perfeição, mas 
o melhor possível, aquilo que está acessível 
ao ser humano aqui e agora. Mais válido que 
arquitetar um Estado ideal é analisar os vários 
Estados reais existentes e, a partir daí, pensar 
formas de aprimorá-los.
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e.
A ágora de Atenas, local onde havia os debates políticos sobre o 
destino da cidade.
Os livros VII e VIII da Ética a Nicômaco apre-
sentam a exposição de Aristóteles sobre como 
deveria ser o Estado. O Estado precisa ser po-
puloso o suficiente para garantir que todos 
possam satisfazer suas necessidades, mas não 
tão populoso a ponto de ameaçar a ordem e o 
bom governo.
Em dimensões territoriais, o Estado não 
pode ser tão pequeno nem tão grande. Se 
muito pequeno, haveria poucas possibilida-
des de os cidadãos desfrutarem de cultura e 
outras artes, pois existiria pouca disponibili-
dade; se muito grande, incentivaria a busca 
pelo luxo excessivo.
A educação seria elemento fundamental 
no Estado aristotélico, tal como já era no pla-
tônico e também deveria ser encarregada pelo 
Estado. A educação se iniciaria pelo corpo, de-
pois passaria pelos apetites e, por fim, culmi-
naria nas atividades da razão. As faculdades 
do corpo e apetitivas deveriam ser guiadas a 
servirem a razão e, por isso, a educação aris-
totélica é, sobretudo, uma educação moral. O 
cidadão deveria ser formado para ser primeiro 
guerreiro, depois magistrado ou governante. A 
obra Política não foi preservada em sua totali-
dade, tendo sido perdidas as análises sobre a 
educação científica e tecnológica.
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Pintura de Jean Leon Gerome Ferris (1895), onde Aristóteles aparece 
ensinando Alexandre.
De qualquer forma, parece evidente que 
essas educações não seriam direcionadas 
ao preparo somente tecnicista, mas à for-mação de valores elevados para a alma. 
Para Aristóteles, a felicidade do cidadão e do 
Estado é indissociável. Não há Estado justo e 
feliz sem cidadãos prosperando. Os indivíduos 
não são preparados para fazerem funcionar a 
máquina do Estado, mas para aprimorarem 
a cidade e, assim, fazerem o mesmo com as 
próprias vidas.
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[...]
Vivemos numa época que requer abertura de horizontes. A ideia não é nova. Aristóteles começa a Metafí-
sica falando a respeito de sensações e memórias, e sua teoria da ciência tem isso por base. Como ele também 
diz, filosofa-se a partir da admiração surgida quando se presta atenção no modo de ser das coisas. Hoje, é 
espantoso pensar que uma porção de matéria cinzenta sinta e pense, imagine e ame, e então produza filoso-
fias e obras de arte, por exemplo, ou ainda seja capaz de pensar a respeito de si própria.
O homem se surpreende com a incomensurabilidade da diagonal, mas, se é preciso, como Aristóteles diz, 
terminar no estado oposto e melhor, para o homem que sabe Geometria nada poderia causar mais espanto 
do que a diagonal tornar-se comensurável. Disso, surgiam novas questões e impasses, e assim a Geometria 
grega foi levada adiante. Agora, diante de um órgão excepcionalmente complexo como o cérebro, certas 
questões não mais surpreendem, mas o caminho a percorrer é tão vasto que fará a surpresa do geômetra 
parecer pequena, embora ela esteja na origem da Filosofia.
1. O texto inicia-se com uma menção à obra Metafísica, de Aristóteles, comentando que a “ideia não é nova”. 
Que ideia é essa e como ela influencia a Neurociência, na atualidade?
2. Segundo o texto, como a Geometria grega foi levada à diante?
3. Por que, diante das descobertas sobre o cérebro humano, “a surpresa do geômetra” parecerá pequena?
 
A ideia refere-se à abertura de novos horizontes, necessária para a construção do conhecimento. Essa ideia de Aristóteles 
continua válida na atualidade, pois, para conhecer, é preciso estar aberto a novas ideias.
Diante de novas questões e impasses. O objetivo dessa questão é mostrar como o conhecimento é construído ao longo do tem-
po, sempre dialogando com pensamentos anteriores e atuais, criando ideias e impasses que impulsionam outras descobertas. 
Esse é o processo dialético.
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Porque o estudo do cérebro revelará muitas descobertas que ainda nem podemos imaginar, ou seja, promoverá uma verdadeira 
abertura de novos horizontes. 
Leia o texto a seguir, sobre a relação entre o pensamento de Aristóteles e a Neurociência.
Pensamento de Aristóteles 
segue influente no mundo 
contemporâneo
Filósofo grego pensou da 
biologia à lógica, passando 
pela metafísica
Estética, ética, metafísica, 
astronomia, biologia e 
filosofia foram alguns dos 
temas e dos campos de 
interesse do pensador 
grego Aristóteles, ainda 
no século IV a.C.  Muitas 
de suas reflexões foram 
pioneiras e serviram como 
ponto de partida para os 
conhecimentos atuais. 
Outras, porém, permanecem 
relevantes, seja porque são 
obras clássicas e merecem 
a leitura, seja porque ainda 
permanecem atuais.
“A influência do pensamen-
to de Aristóteles nos dias 
de hoje é muito maior do 
que imaginamos. A nossa 
forma de compreender o 
mundo é influenciada pelo 
pensamento de Aristóteles. 
A própria forma como estru-
turamos o nosso raciocínio é 
profundamente influenciada 
por Aristóteles, inclusive 
quando consideramos que 
estamos tirando uma con-
clusão. Isso que chamamos 
hoje de raciocínio lógico tem 
uma forte influência de Aris-
tóteles”, diz a doutora em 
Filosofia pela Universidade 
Federal do Rio de Janeiro 
(UFRJ) Cíntia Martins Dias.
O raciocínio lógico a que 
Cíntia se refere está relacio-
nado ao que ficou conhecido 
como lógica aristotélica, por 
meio da qual é possível se 
tirar conclusões a partir de 
premissas verdadeiras, den-
tre outras leis que permiti-
riam a dedução. Aristóteles 
não foi apenas o pioneiro 
no estudo da lógica, como 
suas reflexões nesta área 
continuam válidas. 
(Disponível em: <http://redeglobo.glo-
bo.com/globociencia/noticia/2011/10/
pensamento-de-aristoteles-segue-in-
fluente-no-mundo-contemporaneo.
html>. Acesso em: 29 jun. 2018.)
ObserveObserve
(KICKHÖFEL, Eduardo. As neurociências: questões filosóficas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014. p. 51-52.)
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FILOSOFIA E CIÊNCIA
 
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 70PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 70 29/07/2022 11:37:5329/07/2022 11:37:53
1. O texto inicia-se com uma menção à obra Metafísica, de Aristóteles, comentando que a “ideia não é nova”. 
Que ideia é essa e como ela influencia a Neurociência, na atualidade?
2. Segundo o texto, como a Geometria grega foi levada à diante?
3. Por que, diante das descobertas sobre o cérebro humano, “a surpresa do geômetra” parecerá pequena?
 
A ideia refere-se à abertura de novos horizontes, necessária para a construção do conhecimento. Essa ideia de Aristóteles 
continua válida na atualidade, pois, para conhecer, é preciso estar aberto a novas ideias.
Diante de novas questões e impasses. O objetivo dessa questão é mostrar como o conhecimento é construído ao longo do tem-
po, sempre dialogando com pensamentos anteriores e atuais, criando ideias e impasses que impulsionam outras descobertas. 
Esse é o processo dialético.
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Porque o estudo do cérebro revelará muitas descobertas que ainda nem podemos imaginar, ou seja, promoverá uma verdadeira 
abertura de novos horizontes. 
Resolvidos
1. (UFU) Aristóteles rejeitou a dicotomia estabelecida por Platão entre 
mundo sensível e mundo inteligível. No entanto, acabou fundindo 
os dois conceitos em um só. Esse conceito é
a) a forma, aquilo que faz com que algo seja o que é. É o princípio 
de inteligibilidade das coisas.
b) a matéria, enquanto princípio indeterminado de que o mundo 
físico é composto, e aquilo de que algo é feito.
c) a substância, enquanto aquilo que é em si mesmo e enquanto 
é suporte dos atributos.
d) o Ato Puro ou Primeiro Motor Imóvel, causa incausada e causa 
primeira e necessária de todas as coisas.
 9 Resposta: C
O item A está incorreto, pois a forma, para Platão, era a ideia. O item 
B está incorreto, pois a matéria é um princípio determinável. O item 
C está correto, pois a substância, como substrato (Hypokheimenón) 
é o suporte dos atributos, pois ela é o composto de matéria e forma. 
O item D está incorreto, porque a teoria do Primeiro Motor Imóvel foi 
elaborada por Aristóteles.
2. (UEL) A busca da ética é a busca de um “fim”, a saber, o do homem. 
E o empreendimento humano como um todo envolve a busca 
de um “fim”: “Toda arte e todo método, assim como toda ação e 
escolha, parece tender para um certo bem; por isto se tem dito, 
com acerto, que o bem é aquilo para que todas as coisas tendem”. 
Nesse passo inicial de a Ética a Nicômaco está delineado o pensa-
mento fundamental da Ética. Toda atividade possui seu fim, ou em 
si mesma, ou em outra coisa, e o valor de cada atividade deriva 
da sua proximidade ou distância em relação ao seu próprio fim.
(PAIXÃO, Márcio Petrocelli. O problema da felicidade em Aristóteles: 
a passagem da ética à dianoética aristotélica no problema da 
felicidade. Rio de Janeiro: Pós-Moderno, 2002. p. 33-34.)
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a ética em Aristó-
teles, considere as afirmativas a seguir.
I. O “fim” último da ação humana consiste na felicidade alcançada 
mediante a aquisição de honrarias oriundas da vida política.
II. A ética é o estudo relativo à excelência ou à virtude própria do 
homem, isto é, do “fim” da vida humana.
III. Todas as coisas têm uma tendência para realizar algo, e nessa 
tendência encontramos seu valor, sua virtude, que é o “fim” 
de cada coisa.
IV. Uma ação virtuosa é aquela que está em acordo com o dever, 
independentemente dos seus “fins”.
Estãocorretas apenas as afirmativas:
a) I e IV.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II e IV.
 9 Resposta: B
O item I está incorreto, pois as honras dependem sempre da aprovação 
dos outros. O item II está correto, pois a ética aristotélica estabelece a 
causa final da existência humana, ou seja, a felicidade. O item III está 
correto, pois as virtudes são o fim último das ações humanas. O item IV 
está incorreto, pois, para Aristóteles, a virtude não deve ser imposta de 
fora, mas deve partir da consciência de cada um em praticar o bem.
Praticando
1. (UEM-2015) “É pois com direito que a filosofia é também chamada 
a ciência da verdade: o fim da [ciência] especulativa é, com efeito, 
a verdade, e o da [ciência] prática, a ação; porque, se os práticos 
consideram o como, não consideram o eterno, mas o relativo e o pre-
sente. E nós não conhecemos o verdadeiro sem [conhecer] a causa.”
(ARISTÓTELES. Metafísica (L. II, cap. 1). Coleção Os 
Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 39-40.)
A partir do texto citado, assinale o que for correto.
(1)	 Para Aristóteles, a verdade deve ser eterna e imutável.
(2)	 Segundo Aristóteles, a filosofia é a única ciência verdadeira. 
(3)	 Conhecer a causa de uma ação é conhecer a sua verdade. 
(4)	 Para Aristóteles, a verdade de algo se conhece por meio das 
causas desse algo. 
(5)	 Para Aristóteles, a ciência prática volta suas atenções para 
como as coisas estão dispostas e não para as causas destas. 
Soma ( )
 9 Anotações
2. (UFU) No livro V da Metafísica, Aristóteles serviu-se das seguintes 
palavras para definir acidente:
Acidente significa: (1) o que adere a uma coisa e dela pode ser 
afirmado com verdade, porém não necessariamente, nem habitual-
mente; por exemplo, se alguém ao cavar um buraco para plantar 
uma árvore, encontra um tesouro. Esse fato – o encontro do tesou-
ro – é um acidente para o homem que cavou o buraco, pois nem 
uma coisa provém necessariamente da outra ou vem depois dela, 
nem é habitual descobrir tesouros quando se planta uma árvore.
(ARISTÓTELES. Metafísica [livro V, 30, 1025a 1-25] Trad. de 
Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969, p. 140.)
Com base na descrição de Aristóteles apresentada, explique qual 
é a causa responsável pelo acidente.
3. (UEM-2012) Na Metafísica, Aristóteles afirma: “O ser se diz de muitos 
modos, mas se diz em relação a um termo único e única natureza 
e não de modo equívoco. [...] uns são ditos ser porque são subs-
tâncias, outros porque são afecções de substâncias, outros porque 
são um caminho para a substância, ou destruições, privações, 
qualidades, causas produtivas ou geradoras para a substância ou 
do que é dito relativamente da substância, ou são negações de 
uma delas ou da substância; por esta razão dizemos inclusive que 
o não ser é não ser”.
(ARISTÓTELES. Metafísica, livro IV, cap. 2. In: FIGUEIREDO, V. Filósofos na 
sala de aula. Volume 3. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2008. p. 33-34.) 
A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
(1)	 Um ser pode ser a negação de uma substância.
(2)	 Do ser pode-se gerar uma substância, sem que isso que a 
gerou seja necessariamente uma substância.
25 (01 + 08 + 16)
Aristóteles concluiu que existem quatro causas necessárias que dão origem à 
realidade e à possibilidade de conhecê-la.
O estudante deverá argumentar sobre o que é efêmero e transitório, sobre o 
inesperado que é o acidente. Mas que, em si, não afeta a essência do que se 
quer. O acidente é o que transcorre em um percurso e que não é esperado, 
mas que, ainda assim, não altera a essência da ação que se quereria praticar.
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(3)	 A substância é anterior e prioritária ao ser.
(4)	 A substância é necessariamente um ser.
(5)	 Uma das exigências da definição de ser é que ela seja 
unívoca.
Soma ( )
 9 Anotações
4. (Enem) Quanto à deliberação, deliberam as pessoas sobre tudo? 
São todas as coisas objetos de possíveis deliberações? Ou será a 
deliberação impossível no que tange a algumas coisas? Ninguém 
delibera sobre coisas eternas e imutáveis, tais como a ordem do 
universo; tampouco sobre coisas mutáveis como os fenômenos dos 
solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas pode ser produzida 
por nossa ação.
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007. Adaptado.)
O conceito de deliberação tratado por Aristóteles é importante 
para entender a dimensão da responsabilidade humana. A partir 
do texto, considera-se que é possível ao homem deliberar sobre
a) coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre os acon-
tecimentos da natureza.
b) ações humanas, ciente da influência e da determinação dos 
astros sobre as mesmas.
c) fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob 
seu controle.
d) fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte dela.
coisas eternas, já que ele é por essência um ser religioso.
 9 Anotações
Desenvolvendo Habilidades
1. C1:H4 (Enem-2012) Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar 
crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se desprezar 
as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles, 
nenhum homem honesto pode ignorar que uma outra atitude 
intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em 
razões e evidências e questionar tudo o mais a fim de descobrir 
seu sentido último.
(ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da 
filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002.)
Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do 
pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado importante aspecto 
filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais, refere-se à
a) adoção da experiência do senso comum como critério de 
verdade.
b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante 
de evidências empíricas.
c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade.
d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se 
pensar a verdade.
e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente.
2. C1:H1 (Enem) Ao falar do caráter de um homem não dizemos que 
ele é sábio ou que possui entendimento, mas que é calmo ou tem-
perante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-se ao 
hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtude.
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1973.).
27 (01 + 02 + 08+ 16)
A metafísica de Aristóteles afirma a substância ou essência como princípio 
da multiplicidade, da mudança, da unidade e de sua inteligibilidade. Subs-
tância, para Aristóteles, é o suporte que recebe atributos, ou seja, o sujeito 
que recebe predicados.
Uma das virtudes definidas por Aristóteles é a virtude intelectual, denomina-
da sapiência, que consiste não em deliberar sobre ações do cotidiano, mas 
em conhecer as coisas mais elevadas do universo, que estão acima do ser 
humano.
Em Aristóteles, o conceito de virtude ética expressa a
a) excelência de atividades praticadas em consonância com o 
bem comum.
b) concretização utilitária de ações que revelam a manifestação 
de propósitos privados.
c) concordância das ações humanas aos preceitos emanados 
da divindade.
d) realização de ações que permitem a configuração da paz 
interior.
e) manifestação de ações estéticas, coroadas de adorno e beleza.
3. C1:H1 (Enem-2014) 
TEXTO I
Olhamos o homem alheio às atividades públicas não 
como alguém que cuida apenas de seus próprios inte-
resses, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, decidimos as 
questões públicas por nós mesmos na crença de que não é o debate 
que é empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido 
pelo debate antes de chegar a hora da ação.
(TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. 
Brasília: UnB, 1987. Adaptado.)
TEXTO II
Um cidadão integral pode ser definido por nada mais nada menos 
que pelo direito de administrar justiça e exercer funções públicas; 
algumas destas, todavia, sãolimitadas quanto ao tempo de exer-
cício, de tal modo que não podem de forma alguma ser exercidas 
duas vezes pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo depois 
de certos intervalos de tempo prefixados.
(ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985.) 
Comparando os textos I e II, tanto para Tucídides (no século V a.C.) 
quanto para Aristóteles (no século IV a.C.), a cidadania era definida 
pelo(a)
a) prestígio social.
b) acúmulo de riqueza.
c) participação política.
d) local de nascimento.
e) grupo de parentesco.
4. C1:H1 (Enem-2013) A felicidade é, portanto, a melhor, 
a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses 
atributos não devem estar separados como na inscrição 
existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais 
justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. 
Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes ativida-
des, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade.
(ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.)
Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atribu-
tos, Aristóteles a identifica como
a) busca por bens materiais e títulos de nobreza.
b) plenitude espiritual e ascese pessoal.
c) finalidade das ações e condutas humanas.
d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas.
e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público.
Complementares
1. (UEM-2012) Na Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma: “Então, quan-
do a amizade é por prazer ou por interesse mesmo, duas pessoas 
más podem ser amigas, ou então uma pessoa boa e outra má, ou 
uma pessoa que não é nem boa nem má pode ser amiga de outra 
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qualquer espécie; mas pelo que são em si mesmas é óbvio que 
somente pessoas boas podem ser amigas. Na verdade, pessoas 
más não gostam uma da outra a não ser que obtenham algum 
proveito recíproco” 
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Filosofia. Vários 
autores. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 123.) 
A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).
(1)	 A amizade comporta uma esfera de interesses particulares.
(2)	 A amizade, em alguns casos, é consequência de condicio-
nantes pessoais dos amigos.
(3)	 As amizades desinteressadas não existem, visto que alguém 
sempre tem a ganhar na relação.
(4)	 A amizade interessada entre pessoas más também é 
amizade.
(5)	 A amizade é falsa quando não há interesse ou prazer na 
relação.
Soma ( )
2. (UFPA) Tendemos a concordar que a distribuição isonômica do que 
cabe a cada um no estado de direito é o que permite, do ponto 
de vista formal e legal, dar estabilidade às várias modalidades de 
organizações instituídas no interior de uma sociedade. Isso leva 
Aristóteles a afirmar que a justiça é “uma virtude completa, porém 
não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo”
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 332.)
De acordo com essa caracterização, é correto dizer que a função 
própria e universal atribuída à justiça, no estado de direito, é
a) conceber e aplicar, de forma incondicional, ideias racionais com 
poder normativo positivo e irrestrito.
b) instituir um ideal de liberdade moral que não existiria se não 
fossem os mecanismos contidos nos sistemas jurídicos.
c) determinar, para as relações sociais, critérios legais tão univer-
sais e independentes que possam valer por si mesmos.
d) promover, por meio de leis gerais, a reciprocidade entre as 
necessidades do Estado e as de cada cidadão individualmente.
e) estabelecer a regência na relação mútua entre os homens, na 
medida em que isso seja possível por meio de leis.
3. (Unioeste-2013) “... a função própria do homem é um certo modo 
de vida, e este é constituído de uma atividade ou de ações da alma 
que pressupõem o uso da razão, e a função própria de um homem 
bom é o bom e nobilitante exercício desta atividade ou a prática 
destas ações [...] o bem para o homem vem a ser o exercício ativo 
das faculdade da alma de conformidade com a excelência, e se há 
mais de uma excelência, em conformidade com a melhor e a mais 
completa entre elas. Mas devemos acrescentar que tal exercício ati-
vo deve estender-se por toda a vida, pois uma andorinha só não faz 
verão (nem o faz um dia quente); da mesma forma um dia só, ou um 
curto lapso de tempo, não faz um homem bem-aventurado e feliz”.
Aristóteles.
Considerando o texto citado e o pensamento ético de Aristóteles, 
seguem as afirmativas abaixo:
I. O bem mais elevado que o ser humano pode almejar é a 
 eudaimonia (felicidade), havendo uma concordância geral que 
o bem supremo para o homem é a felicidade, e que bem viver 
e bem agir equivale a ser feliz.
II. A eudaimonia (felicidade) é sempre buscada por si mesma e 
não em função de outra coisa, pois o ser humano escolhe o 
viver bem como a mais elevada finalidade e por nada além do 
próprio viver bem.
III. Definindo a eudaimonia (felicidade) a partir da função própria 
da alma racional e do exercício ativo das faculdades da alma 
em conformidade com a excelência (virtude) conclui-se que, 
aos seres humanos, só é possível levar uma vida constituída 
por momentos de felicidade decorrentes da satisfação dos 
desejos e paixões que não se subordinam à atividade racional.
IV. A eudaimonia (felicidade) é um certo modo de vida constituído 
de uma atividade ou de ações por via da razão e conforme 
a ela, sendo o bem melhor para o homem o exercício ativo 
das faculdades da alma em conformidade com a excelência 
(virtude) que deve estender-se por toda a vida.
V. A excelência (virtude) humana, como realização excelente da 
tarefa humana, reside no exercício ativo da racionalidade, pois 
a função própria de um homem bom é o bom e nobilitante 
exercício desta atividade ou na prática destas ações em con-
formidade com a virtude, sendo este o bem humano supremo 
e a última finalidade desiderativa humana.
Das afirmativas feitas acima
a) somente a afirmação I está incorreta.
b) somente a afirmação III está incorreta.
c) as afirmações III e V estão corretas.
d) as afirmações I e III estão corretas.
e) as afirmações II, III e IV estão corretas.
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“Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões 
em que evitamos muitos prazeres, quando deles advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que 
consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos 
essas dores por muito tempo.
Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhi-
dos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser evitadas. Convém, portanto, avaliar todos 
os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos 
um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem”.
Epicuro foi um filósofo grego do período 
helenístico e desenvolveu uma corrente 
filosófica que tinha como premissa a bus-
ca pela felicidade. Essa corrente filosófica 
ficou conhecida como epicurismo.
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A partir das ideias do texto e das suas reflexões, responda às questões.
1. Na sua vida, há prazeres dos quais você abre mão por entender que este sacrifício 
vale a pena? Quais?
2. Como deve se dar, segundo Epicuro, a relação entre a vida e o prazer?
 
Resposta pessoal.
O prazer, para Epicuro, é o elemento central da vida humana. Contudo, a busca pelo 
prazer não se dá de forma inconsequente, uma vez que o pensamentoepicurista 
defende que os prazeres e os sofrimentos cumprem diferentes funções em diferentes 
momentos, trazendo benefícios e danos, a depender do modo como são buscados.
Epicuro. Carta a Meneceu.
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Helenismo
Contexto histórico
Helenismo
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O Helenismo é o período da Filosofia que 
se estende do ano 323 a.C., com a morte de 
Alexandre, o Grande, até o fim da república 
romana, em 27 a.C. Isso significa que a pólis 
antiga, a democracia ateniense, a filosofia e o 
ideal do homem grego passaram por profun-
das transformações – a pólis e a democracia, 
por exemplo, deixaram de existir, embora a 
hegemonia cultural grega tenha assumido no-
vos contornos, ganhado território e recebido 
influências do oriente. 
Alexandre, o Grande: filho 
e sucessor de Filipe II, rei 
da Macedônia, e o mais 
ilustre discípulo de Aristó-
teles. Empreendeu a maior 
campanha expansionista da 
Antiguidade.
BiografiaBiografia
Segundo Marilena Chaui, 
novos estudos indicam 
que o Período Helenístico 
perdurou até o século V 
d.C., incluindo pensadores 
romanos (Cícero, Sêneca, 
Lucrécio e Marco Aurélio) e 
obras escritas em latim. No 
entanto, para o livro didá-
tico, optamos por abordar 
as escolas mais conhecidas 
do período, a saber, o 
ceticismo, estoicismo e 
epicurismo.
O fim do período clássico da Filosofia – o 
período de Sócrates, Platão e Aristóteles – 
deixou uma impressão negativa sobre o hele-
nismo e muitos estudiosos o viam com maus 
olhos. Somado a essa ideia, pouquíssimo 
material desse período resistiu ao tempo e o 
que conhecemos, hoje, são raros fragmentos 
e doxografias sobre os autores helenísticos. 
Novas descobertas e pesquisas têm valoriza-
do o helenismo, desfazendo muitos desses 
preconceitos.
Doxografia: compilado de 
interpretações sobre as 
ideias de um determina-
do autor.
GlossárioGlossário
Acompanhe a linha do tempo a seguir, para entender as profundas mudanças pelas quais a 
Grécia passou do final do período clássico até o início do helenismo.
Guerra do Peloponeso 
(431 a.C. – 404 a.C.)
Conflito armado entre 
as duas principais cidades-
-Estados da Grécia antiga, 
que disputavam a hege-
monia: Atenas, que era o 
centro cultural e a maior 
potência naval da época, 
e Esparta, que era uma 
potência militar de costu-
mes mais austeros. Após 
27 anos de uma guerra 
sangrenta, assolada pela 
fome e pela peste, Esparta 
venceu Atenas, pondo fim 
à democracia ateniense. 
Os espartanos apoiaram 
um golpe da oligarquia 
em Atenas, que ficou co-
nhecido como Tirania 
dos Trinta. Nesse mesmo 
período, as colônias gre-
gas da Ásia menor foram 
entregues aos persas por 
Esparta, em troca de ouro 
para financiar a guerra.
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Tirania dos Trinta: governo 
oligárquico que substituiu a 
democracia de Atenas, após 
a perda da Guerra do Pelo-
poneso. Alguns dos tiranos 
eram parentes e amigos de 
Platão, que pertencia à mais 
alta aristocracia ateniense 
da época.
GlossárioGlossário
Filipe II 
(382 a.C. – 336 a.C.)
O rei Filipe II da 
Macedônia vence Atenas 
e outras cidades-Estados 
gregas, passando a gover-
ná-las e uni-las para lutar 
contra os persas e outros 
povos bárbaros. Inicia-se 
um período de expansão 
macedônica e Atenas vol-
ta a prosperar, apesar de 
perder a liberdade políti-
ca da qual fora exemplo 
em outras épocas. Filipe II 
empreende um ambicio-
so projeto de expansão 
dos domínios macedôni-
cos, difundindo a cultura 
grega pelos territórios 
conquistados.
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Alexandre, o Grande 
(336 a.C. – 323 a.C.)
Após o assassina-
to de Filipe II, o seu filho 
Alexandre Magno assume 
o poder com apenas 20 
anos de idade. Alexandre, 
o Grande, como ficou co-
nhecido, dá continuidade 
ao expansionismo de seu 
pai e torna-se o maior 
conquistador de terras da 
Antiguidade, chegando 
até o leste asiático e o nor-
deste africano. Por onde 
passou, fundou importan-
tes cidades, sendo a mais 
importante Alexandria, 
no Egito. Além disso, 
Alexandre difundiu a cultu-
ra grega por onde passou, 
assim como absorveu ele-
mentos da cultura orien-
tal. Morreu em batalha, 
invicto, na Babilônia, em 
323 a.C. Após a sua morte, 
seu reino passou por inú-
meras guerras civis até ser 
dissolvido em pequenos 
estados.
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Contexto histórico
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Alexandre, o Grande, ao longo de suas conquistas expansionistas, promoveu uma verdadeira 
expansão da cultura grega e iniciou um processo de fusão com a cultura dos povos conquistados, 
uma vez que ele tinha uma política de tolerância, seguindo os princípios de:
 ● respeito à religião e às instituições políticas dos povos conquistados;
 ● incentivo a casamentos entre vencedores e vencidos;
 ● abertura à participação militar de persas em seus exércitos;
 ● combate à desigualdade entre os povos.
Como consequência do expansionismo de Alexandre, surgiu a cultura helenística.
Características gerais do Helenismo 
A política expansionista de Alexandre, o Grande, favoreceu a formação da chamada cultura 
helenística, que consiste na mescla do pensamento grego com o oriental. O território que com-
preendia a Grécia antiga era chamado Hélade e, consequentemente, os gregos se autodenomina-
vam helenos, por isso se fala em helenismo ou cultura helenística. 
Diferentemente do período clássico, que era influenciado pela vida pública e política, o pe-
ríodo helenístico passou, gradativamente, a se preocupar com a vida privada e individual. Novas 
questões surgiram e modificaram o pensamento filosófico, que passou a investigar como ter 
uma vida plena e feliz, apesar das intempéries e disputas políticas. Surgiram diversas escolas, 
cada qual com suas próprias características, como o ceticismo, o estoicismo e o epicurismo. Em 
geral, as escolas helenísticas dialogavam com os clássicos da Filosofia, especialmente Platão e 
Aristóteles, ainda que os criticando e propondo novas ideias a partir das deles. 
De maneira geral, o Helenismo possui as seguintes características:
 ● Áreas de estudo – a filosofia helenística dividiu seus estudos de acordo com a proposta de 
Xenócrates, dirigente da Academia de Platão, em: lógica (estudo do raciocínio e do discurso 
racional), física (estudo da natureza e da ontologia) e ética (estudo da natureza humana, da 
vida plena e feliz).
 ● Naturalismo ético – ao contrário de Platão e Aristóteles, os helenistas entendiam a lógica, a 
física e a ética como áreas correlacionadas. Isso significa dizer que não é possível haver uma 
ética sem uma física nem uma física sem a lógica. Assim, surgiu o que ficou conhecido como 
naturalismo ético, ou seja, a ideia de que os princípios fundamentais da ação humana são 
determinados pela natureza. Nesse sentido, a ética era a mais importante das três áreas de 
estudo, pois ela conduziria à sophía (sabedoria).
 ● Materialismo – diferentemente do platonismo e aristotelismo, a filosofia helenística recusa 
a existência de entidades imateriais, como as Ideias de Platão ou o Intelecto de Aristóteles, 
consideradas desnecessárias para compreender as estruturas e os fenômenos da natureza. 
Nesse sentido, preocupavam-se muito mais com a vida prática do que com a vida contem-
plativa.
 ● Sistemas ou doutrinas – como as três áreas de estudo dos filósofos helenísticos são corre-
lacionadas, o conteúdo da sua filosofia passa a ser organizado em sistemas ou doutrinas de 
acordo com a orientação teórica que possuíam.
 ● Fundação de escolas – os pensadores helenísticos se caracterizaram pela fundação de 
escolas onde suas doutrinas seriam ensinadas.As escolas helenísticas se identificavam de 
acordo com a posição teórica que defendiam, pois entendiam esse posicionamento como 
uma questão de preferência por uma maneira específica de viver, ou seja, por uma questão 
de escolha sobre o bem viver.
Sendo assim, a Filosofia Helenística se ocupou basicamente em definir regras racionais e uni-
versais para a conduta humana, cujo exemplo máximo seria a figura do filósofo como sábio ou 
homem virtuoso, que está acima dos infortúnios da vida e em constante busca pela felicidade. 
Para esses filósofos, a felicidade é uma espécie de sabedoria de vida. A Filosofia, nesse contex-
to, passa a ser medicina da alma, uma terapia para o bem viver.
A seguir, veremos as principais escolas helenísticas e suas características, a saber: ceticismo, 
epicurismo e estoicismo.
A escultura Grupo de Laocoonte 
dos escultores Agesandro, 
Atenodoro e Polidoro, data 
aproximadamente de 40 a.C. e 
está localizada no Museu do 
Vaticano. É um grande exemplo 
da arte helenística.
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Ceticismo 
Do grego skepsis, que significa exame, o 
ceticismo defendia a ideia de que não havia 
possibilidade de se formar um conhecimento 
seguro sobre a realidade. Pirro de Élida (365-
275 a.C.), fundador da escola cética, participou 
da campanha de Alexandre, o Grande, na Ásia, 
onde teve contato com os gimnosofistas, com 
os quais aprendeu a praticar ativamente a in-
diferença (adiaphoría) perante os tumultos da 
vida humana. Por isso, o ceticismo também é 
conhecido como pirronismo.
Assim como Sócrates, Pirro não deixou 
nada escrito, sendo que o que se conhece 
sobre ele provém dos registros de seu aluno, 
Tímon de Flionte (320-230 a.C.). 
O ceticismo rejeitava o pensamento de 
Platão sobre o mundo inteligível em vez disso, 
concebia os objetos captados pela percepção 
sensível como fenômenos, ou seja, como aqui-
lo que aparece aos sentidos sem uma essência 
anterior que os definam. Rejeitou, também, a 
distinção que Parmênides fez entre o ser e o 
não-ser, deixando essa questão afastada de 
suas investigações (no processo conhecido 
como epoché, como será visto a seguir). 
Veja como Pirro e os céticos abordaram as áreas de estudo do helenismo:
 ● Física: definir a natureza das coisas. Para os céticos, as coisas não possuíam uma origem es-
tável, como as ideias platônicas; ao contrário, essa origem é instável, incerta e indeterminada 
e, por isso mesmo, não é possível distinguir o verdadeiro do falso a respeito dela.
 ● Lógica: neutralização do juízo e indiferença. Devido à instabilidade e incerteza da origem das 
coisas, o melhor a fazer é abster-se do julgamento (epoché, que, em grego, significa suspen-
são do juízo), ou seja, manter-se sem opinião (indiferente).
 ● Ética: silêncio, ausência de paixão e tranquilidade da alma. A aphasía (silêncio) é a recusa de 
definições sobre o que é ou não é, é a suspensão do juízo afirmativo e negativo. A apatheia 
(ausência de paixão) é o estado imperturbável, em que se abstém de classificar os aconteci-
mentos como bons ou maus. Por fim, a ataraxia (tranquilidade da alma) é o estado em que 
se vive o momento presente, sem se preocupar com o passado ou com o futuro, alcançando 
o silêncio interior. Esse estado de tranquilidade da alma é a felicidade do sábio.
Epicurismo
Linha de pensamento fundada por Epicuro (341-270 a.C.), pensador ateniense que elevou o 
prazer ao nível da sabedoria – o que gerou muita polêmica ao redor dessa escola.
Epicuro, assim como Pirro, dizia ser necessário buscar 
a felicidade, praticando a aponia (ausência de dor física) e a 
ataraxia (ausência de dor na alma, ou tranquilidade da alma). 
Para Epicuro, existem quatro males que dão origem ao so-
frimento humano: o medo dos deuses, o medo da morte, o 
medo do sofrimento e o medo da dor – todos eles alimenta-
dos por crenças infundadas, que, por sua vez, geram paixões 
insensatas. Então, é necessário enfrentar esses medos para 
evitar o sofrimento e se aproximar da felicidade, pois, para 
Epicuro, a arte de viver consiste numa sabedoria prática, 
que conduz ao sumo bem: o prazer – não o prazer sensual, 
mas aqueles prazeres que afastam a insatisfação e a insta-
bilidade constantes. Ele dizia, ainda, que era necessário fugir 
dos prazeres desnecessários, como beber uma taça de vinho.
Pirro de Élida, inaugurador da escola cética, defendia a impossibili-
dade do conhecimento.
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Gimnosofistas: ascetas hin-
dus que viviam em estado 
contemplativo, completa-
mente nus, sobrevivendo 
com o que a natureza lhes 
oferecesse. Desprezavam 
os bens materiais porque 
acreditavam que eles 
prejudicavam a pureza do 
pensamento.
GlossárioGlossário
Para Epicuro, o sentido da 
vida é o prazer e a finalida-
de do ser humano é atingir 
a felicidade (eudaimonia). 
Para isto, a Filosofia surge 
como instrumento prático 
cujo papel é assegurar 
a tranquilidade de alma 
(ataraxia) e a ausência da 
dor corporal (aponía), além 
de libertar o homem de 
seus maiores medos. Dessa 
forma, no epicurismo, a fe-
licidade encontra-se dentro 
do próprio homem, e sua 
aquisição depende apenas 
dele. Esse estado de alma 
pode ser alcançado através 
de condutas específicas que 
Epicuro postulou e transmi-
tiu aos seus alunos.
O prazer é visto como um 
bem supremo e último 
para o qual devem estar 
direcionadas todas as ações 
de um indivíduo. Assim, este 
fim consiste numa forma 
de livrar a alma humana da 
dor e dos sofrimentos, por 
isso, deve ser mediado, e 
jamais descontrolado ou em 
excesso. Conforme Botelho 
menciona (2015, p. 128): 
“Epicuro, de fato, afirmava 
que o prazer é a fonte de 
todo bem; mas acrescentava 
que a busca de prazeres 
excessivos geralmente leva 
ao sofrimento. Sua doutrina 
pregava o autodomínio 
humano e a apreciação má-
xima das pequenas alegrias 
da vida”.
(Disponível em: <http://www.acervofi-
losofico.com/o-prazer-na-filosofia-de-
-epicuro>. Acesso em: 31 ago. 2018.)
Saiba maisSaiba mais
Ressaltar a abordagem 
tipicamente helenística das 
três áreas de estudo (física, 
lógica e ética) e da correla-
ção entre elas. Enfatizar que 
a ética é superior às demais. 
Outro aspecto importante é 
sobre o conceito de epoché, 
que seria retomado no final 
do século XIX e início do 
XX, pelos fenomenologistas 
(especialmente Edmund 
Husserl).
Busto de Epicuro
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“a lucidez sobre o destino e a prática da temperança proporcionam ao homem um quádruplo remédio: os 
deuses não devem ser temidos; a morte não nos diz respeito; o sofrimento e a dor são suportáveis (senão, 
perdemos a consciência); a felicidade é acessível”.
Epicuro comparou os seres humanos aos animais e concluiu que ambos buscavam o prazer e 
afastavam a dor. Assim, as próprias sensações são a fonte do conhecimento e as interpretações 
que fazemos delas são a causa do engano. Afastou, também, a ideia da existência de uma causa fi-
nal para tudo o que existe, como dizia Aristóteles, retomando a hipótese de Leucipo e Demócrito: 
tudo o que existe é feito de átomos e de vazio, o que dá origem ao movimento.
O maior medo de todos, o medo da morte, é para Epicuro infundado, pois a morte não é nada 
em relação ao homem “ou ela existe e ele não existe, ou ele existe e ela não existe”, ou seja, não 
há motivos para temer a morte, porque ela é ausência de sensação. Os únicos bens imortais para 
os humanos são aqueles que não podem ser desvinculados deles, como a amizade.
Resumindo o pensamento epicurista em seu caráter terapêutico, pode-se dizer que:
Os estoicos dizem que o 
mundo é uma unidade 
que contém em si todos 
os seres; dizemque ele é 
governado por uma natureza 
viva, racional e inteligente, 
e que esse governo dos 
seres que possui é eterno e 
procede por certa sequência 
e ordem, já que coisas 
anteriores se tornam causas 
para as que ocorrem depois.
Desse modo, tudo está 
ligado e não há nenhum 
evento no mundo do qual 
não se siga outro, como sua 
consequência; e um evento 
posterior não pode estar 
desassociado de eventos 
anteriores, a ponto de não 
ser uma consequência de 
um deles. Mas de tudo que 
acontece se segue alguma 
outra coisa, que dela neces-
sariamente depende como 
de uma causa, e tudo que 
acontece tem algo anterior 
de que depende, como de 
uma causa.
Pois nada no mundo existe 
e acontece sem uma causa, 
porque nada nele está 
desvinculado e separado de 
tudo o que aconteceu antes. 
Pois o mundo, eles dizem, 
seria desarticulado e dividi-
do, e não mais permanece-
ria uma unidade, governado 
sempre conforme uma única 
ordem e organização, se 
nele fosse introduzida uma 
mudança sem causa [...]
Eles dizem, com efeito, que 
ocorrer algo sem uma causa 
é tão impossível quanto algo 
ocorrer a partir do que não 
existe. Sendo de tal forma, 
o governo da totalidade dos 
seres ocorre infinitamente, 
de modo evidente e sem 
cessar [...]
Eles dizem que o próprio 
destino, a natureza e a razão 
de acordo com o qual o todo 
é governado, é deus, e que 
está em todos os seres e 
acontecimentos, assim uti-
lizando a natureza própria 
de todos os seres para o 
governo do todo.
(AFRODÍSIA, Alexandre de. Sobre o 
destino, 191, 30 – 192, 28. In: FIGUEIRE-
DO, Vinicius de (org.). Filosofia: temas 
e percursos. São Paulo: Berlendis & 
Vertecchia, 2016. p. 228-229.)
Saiba maisSaiba mais
Estoicismo
Fundada por Zenão de Cítio (336-264 a.C.), a Escola Estoica perdurou por quase cinco séculos, 
até o século II d.C., com pensadores romanos, como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. O nome es-
toicismo provém de stoá, que em grego significa pórtico; como Zenão era estrangeiro em Atenas, 
não podia adquirir imóveis na cidade e, portanto, ele ensinava sob um pórtico que havia na ágora, 
em que qualquer pessoa podia passar.
Em linhas gerais, o estoicismo buscava a sabedoria pela harmonia do 
homem com o divino. Zenão de Cítio, no campo da física, acredita-
va que o mundo é um Todo uno, pleno e totalmente determinado, 
como um grande organismo animado – o que corresponderia ao 
divino. Por isso, o estoicismo é determinista. O cosmo, para ele, 
é um logos universal ou alma de deus. Tudo para ele é corpo, 
exceto os quatro incorpóreos: o vazio, o tempo, o lugar e o 
discurso, que seriam espécies de pseudorrealidades que 
afetam apenas a superfície dos corpos, mas não sua pro-
fundidade. Em outras palavras, os quatro incorpóreos são 
passageiros, enquanto o mundo é eternamente o mesmo.
Outra ideia importante do estoicismo é o pensamento 
chamado de inatismo, ou seja, não existe conhecimento 
antes da experiência sensível, ou seja, os conceitos deri-
vam da experiência vivida – conceito que seria retomado 
com os empiristas, no início da Idade Moderna. Na lógica 
estoica, o juízo de fato toma lugar de proposições formais, 
pois ela é consequencialista, ou seja, as implicações são 
a manifestação dos acontecimentos (se é dia, há claridade 
por exemplo). 
Por fim, no campo da ética, os estoicos defendiam 
uma vida o mais próxima possível da natureza, por isso 
ficou conhecida como ética naturalista. Como o ser hu-
mano é dotado de razão e de paixão, é necessário de-
senvolver o autocontrole para expurgar as emoções 
destrutivas e, assim, compreender o logos universal 
ou a alma divina. Para isso, é necessário atingir a ata-
raxia, ou seja, a tranquilidade da alma, aceitando os 
infortúnios da vida como inevitáveis e se conforman-
do com o destino para alcançar a liberdade. É na von-
tade de fazer o bem que cada um se torna coerente 
consigo mesmo.
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Busto de Zenão de Cítio, fundador da Escola Estoica.
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(BARAQUIN, Noëlla; LAFFITTE, Jacqueline. Dicionário universitário dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 95.)
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Leia um trecho da música Get up, Stand Up, de Bob Marley, um dos maiores expoentes do 
Reggae jamaicano.
Get up, stand up: stand up for your rights!
Get up, stand up: stand up for your rights!
[...]
You can fool some people sometimes
But you can’t fool all the people all the time
So now we see the light
We’re gonna stand up for our rights! 
Levante, resista: lute pelos seus direitos!
Levante, resista: lute pelos seus direitos!
[...]
Vocês podem enganar algumas pessoas algumas 
vezes
Mas não podem enganar a todos o tempo todo
Então agora nós vemos a luz
E vamos lutar por nossos direitos!
A partir da interpretação da música e do que você estudou no capítulo, responda às questões.
1. A música de Bob Marley sugere que as pessoas adotem uma determinada postura de vida com relação ao 
mundo e ao seu entorno. A concepção contida na música se assemelha ou se distancia da concepção da 
filosofia cética sobre o mundo?
2. Ao analisar os pensamentos contidos na música e aqueles propostos pelo Ceticismo, qual você acha que 
contribui mais para a vida em sociedade? Por quê?
 
Bob Marley (1945-1981) é o músico de 
Reggae mais conhecido da história e 
um dos principais artistas da música 
do século XX. Seu engajamento com 
relação aos problemas sociais fez com 
que ele popularizasse o Reggae e o 
movimento rastafári, que tinham como 
base a busca pela paz, a igualdade 
social e a liberdade.
Apesar de a resposta ser relativamente pessoal em virtude do caráter interpretativo, espera-se que o aluno consiga captar 
a grande diferença que há entre a concepção contida na música e o Ceticismo. Este está pautado na indiferença e na 
neutralidade frente ao caos do mundo, ao passo que há na música um chamado à ação, isto é, ao posicionamento crítico 
frente ao mundo.
Resposta pessoal.
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FILOSOFIA E CULTURA
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Resolvidos
1. (Unioeste-2011) No final do último século antes da era cristã, 
assistimos ao fortalecimento romano e sua política de expansão 
territorial, para regiões do chamado crescente fértil. Percebemos, 
nessas conquistas, uma forte presença da cultura grega. Isso se deve
a) à colonização grega, realizada nessas regiões à semelhança do 
que ocorreu na Magna Grécia.
b) à forte presença do helenismo, depois das conquistas realizadas 
por Alexandre da Macedônia.
c) ao esforço romano em ampliar a cultura grega para a referida 
região.
d) à intensa dominação persa em território grego durante os 
reinados de Xerxes e Dario.
e) à influência das instituições políticas gregas em diversos terri-
tórios tanto no Oriente quanto no Ocidente.
 9 Resposta: B
O item A está incorreto, porque a colonização grega na Magna 
Grécia ocorreu ainda no período arcaico e antigo, portanto anterior 
ao último século antes da era cristã. O item B está correto, o texto 
se refere ao expansionismo empreendido por Alexandre, o Grande, 
que difundiu a cultura grega em regiões da Ásia e da África. O item 
C está incorreto, porque os romanos incorporaram a cultura grega, 
oferecendo-lhe uma nova roupagem. O item D está incorreto, porque 
os persas Xerxes e Dario não chegaram a dominar o território grego 
em sua totalidade – apenas na Ásia Menor. O item E está incorreto, 
porque as instituições políticas gregas acabaram sendo extintas com 
o império macedônico. 
2. (UEG-2011) Em meados do século IV a.C., Alexandre Magno assumiu 
o trono da Macedônia e iniciou uma série de conquistas e, a partir 
daí, construiu um vasto império que incluía, entre outros territó-
rios, a Grécia. Essa dominação só teve fimcom o desenvolvimento 
de outro império, o romano. Esse período ficou conhecido como 
helenístico e representou uma transformação radical na cultura 
grega. Nessa época, um pensador nascido em Élis, chamado Pirro, 
defendia os fundamentos do ceticismo. Ele fundou uma escola 
filosófica que pregava a ideia de que:
a) seria impossível conhecer a verdade.
b) seria inadmissível permanecer na mera opinião.
c) os princípios morais devem ser inferidos da natureza.
d) os princípios morais devem basear-se na busca pelo prazer.
 9 Resposta: A
O item A está correto, pois os céticos acreditavam na impossibilidade 
do conhecimento. O item B está incorreto, apesar de os céticos busca-
rem transcender as crenças e opiniões, para eles era uma questão de 
escolha a pessoa viver ou não na mera opinião. O item C está incorreto, 
pois essa postura era dos estoicos. O item D está incorreto, pois essa 
postura remete-se ao Epicurismo.
Praticando
1. (UENP-2011) Julgue as afirmações sobre a filosofia helenista.
I. É o último período da filosofia antiga, quando a  polis grega 
desaparece em razão de invasões sucessivas, por persas e roma-
nos, sendo substituída pela cosmopolis, categoria de referência 
que altera a percepção de mundo do grego, principalmente no 
tocante à dimensão política.
II. É um período constituído por grandes sistemas e doutrinas que 
apresentam explicações totalizantes da natureza, do homem, 
concentrando suas especulações no campo da filosofia prática, 
principalmente da ética.
III. Surgem nesse período a filosofia estoica, o epicurismo, o ceti-
cismo e o neoplatonismo.
Estão corretas as afirmativas:
a) Todas elas.
b) Apenas I e II.
c) Apenas III.
d) Apenas II e III.
e) Apenas I.
 9 Anotações:
2. (UFSJ-2011) Sobre o ceticismo, é correto afirmar que
a) os céticos buscaram uma mediação entre “o ser” e o “poder-ser”.
b) o ceticismo relativo tem no subjetivismo e no relativismo 
doutrinas manifestamente apoiadas em seu princípio maior: 
toda interatividade possível.
c) Protágoras (séc. V a.C.), relativista, afirmou que “o Homem só 
entende a natureza porque o conhecimento emana dela e 
nela se instala”.
d) Górgias (485-380 a.C.) e Pirro (365-275 a.C.) são apontados 
como possíveis fundadores do ceticismo.
 9 Anotações:
3. (UEM-2013) “Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é 
nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a 
morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara 
de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição 
da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e 
eliminando o desejo de imortalidade. Não existe nada de terrível 
na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há 
nada de terrível em deixar de viver. É tolo, portanto, quem diz ter 
medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, 
mas porque o aflige a própria espera.”
(Epicuro, Carta sobre a felicidade [a Meneceu]. São Paulo: ed. Unesp, 2002, 
p. 27. In: COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. SP: Saraiva, 2006, p. 97.)
A partir do trecho citado, é correto afirmar que
(1)	 a morte, por ser um estado de ausência de sensação, não é 
nem boa, nem má.
(2)	 a vida deve ser considerada em função da morte certa.
(3)	 o tolo não espera a morte, mas vive apoiado nas suas sensa-
ções e nos seus prazeres.
(4)	 a certeza da morte torna a vida terrível.
(5)	 a espera da morte é um sofrimento tolo para aquele que a 
espera.
Soma ( )
 9 Anotações:
A filosofia helenista compreende o último período da filosofia clássica, com 
as correntes: Estoicismo, Epicurismo e Ceticismo.
O ceticismo defendia a ideia de que não havia possibilidade de se formar um 
conhecimento seguro sobre a realidade. São considerados seus fundadores: 
Górgias e Pirro.
17 (01 + 16)
Para Epicuro, é necessário enfrentar os medos para evitar o sofrimento e se 
aproximar da felicidade, pois a arte de viver consiste numa sabedoria prática, 
que conduz ao sumo bem: o prazer. O medo da morte é infundado, pois ela é 
a ausência de sensação.
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Desenvolvendo Habilidades
1. C1:H1 (Enem-2016) Pirro afirmava que nada é nobre 
nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma 
maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que 
os homens agem apenas segundo a lei e o costume, 
nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo 
com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do 
que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, pre-
cipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.
(LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.)
O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:
a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade.
b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida 
feliz.
c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma 
certeza.
d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança trans-
cendente.
e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem 
bom e belo.
2. C1:H1 (Enem-2014) Alguns dos desejos são naturais e 
necessários; outros, naturais e não necessários; outros, 
nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã 
opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não sa-
tisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmen-
te desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem gera-
dores de dano.
(EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V. F. 
Textos de Filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.) 
No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim
a) alcançar o prazer moderado e a felicidade.
b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.
d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.
e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber. 
3. C1:H3 (UFF) 
Filosofia
O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia.
Noel Rosa
Assinale a sentença do filósofo grego Epicuro cujo significado é 
o mais próximo da letra da canção “Filosofia”, composta em 1933 
por Noel Rosa, em parceria com André Filho.
a) É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que 
apreendemos pela intuição mental.
b) Para sermos felizes, o essencial é o que se passa em nosso 
interior, pois é deste que nós somos donos.
c) Para se explicar os fenômenos naturais, não se deve recorrer 
nunca à divindade, mas se deve deixá-la livre de todo encargo, 
em sua completa felicidade.
d) As leis existem para os sábios, não para impedir que cometam 
injustiças, mas para impedir que as sofram.
e) A natureza é a mesma para todos os seres, por isso ela não 
fez os seres humanos nobres ou ignóbeis, e, sim suas ações 
e intenções.
Complementares
1. (UFSM-2013) A economia verde contém os seguintes princípios 
para o consumo ético de produtos: a matéria-prima dos produtos 
deve ser proveniente de fontes limpas e não deve haver desperdício 
dos produtos. O Estado, entretanto, não impõe, até o presente mo-
mento, sanções àqueles cidadãos que não seguem esses princípios.
Considere as seguintes afirmações:
I. Esses princípios são juízos de fato.
II. Esses princípios são, atualmente, uma questão de moralidade, 
mas não de legalidade.
III. A ética epicurista, a exemplo da economia verde, propõe uma 
vida mais moderada.
Está(ão) correta(s)a) apenas I.
b) apenas I e II.
c) apenas III.
d) apenas II e III.
e) I, II e III.
2. (UEM-2013) “O prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com 
efeito, nós o identificamos com o bem primeiro e inerente ao ser 
humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa e 
a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção 
entre prazer e dor. Embora o prazer seja nosso bem primeiro e 
inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em 
que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o 
mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos 
sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier 
depois de suportarmos essas dores por muito tempo”.
(EPICURO. Carta sobre a felicidade. In: ARANHA, M. Filosofar com textos: 
temas e história da filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p. 330.)
A partir do trecho citado, assinale o que for correto.
(1)	 Todos os seres humanos buscam prazer sempre e em tudo, 
evitando toda e qualquer dor.
(2)	 Os prazeres imediatos anulam as dores que podem decorrer 
desses.
(3)	 Dor e prazer não são contraditórios, pois de atos dolorosos 
podem advir situações prazerosas e vice-versa.
(4)	 A noção de prazer não está ligada somente à sensação 
imediata, mas aos efeitos que uma ação pode gerar no ser 
humano.
(5)	 A busca da felicidade na vida não se restringe a escolhas 
prazerosas, mas a ações que geram prazer, apesar de essas 
conterem, às vezes, algumas doses de sacrifício.
Soma ( )
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3. (UEM-2014) A lógica megárico-estoica distingue o válido (do ponto 
de vista lógico) e o verdadeiro (do ponto de vista empírico), isto é, 
distingue a “apresentação formal” do enunciado e a “significação 
material” de um argumento. Com base nessa distinção e nos co-
nhecimentos sobre o silogismo, assinale o que for correto.
(1)	 A utilização de letras do alfabeto para a formulação de pre-
missas leva em conta o teor formal do enunciado.
(2)	 A lógica formal não trata da semântica ou do significado 
proposicional de uma inferência.
(3)	 Enunciados verdadeiros estão classificados como válidos. 
Enunciados falsos estão classificados como inválidos.
(4)	 O silogismo leva em conta a concatenação ou o encadea-
mento entre premissas que permitem inferir uma determi-
nada conclusão.
(5)	 A validade de um enunciado lógico não pode ser determi-
nada, pois os estoicos defendiam o ceticismo.
Soma ( )
4. (UEM-2015) “O prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com 
efeito, nós o identificamos com o bem primeiro e inerente ao ser 
humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e 
a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção 
entre prazer e dor. Embora o prazer seja nosso bem primeiro e 
inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em 
que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o 
mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos 
sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier 
depois de suportarmos essas dores por muito tempo.” 
(EPICURO. Carta sobre a felicidade. In ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, 
M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009, p. 251.) 
A partir desta citação de Epicuro, assinale o que for correto.
(1)	 Felicidade e infelicidade são estabelecidas pelos efeitos do 
prazer e da dor.
(2)	 O sentimento de prazer é inato à natureza humana.
(3)	 Epicuro defende o prazer sem medidas.
(4)	 O prazer corporal é um mal causado pelo pecado original.
(5)	 O hedonismo de Epicuro não é imediatista, mas moderado.
Soma ( )
5. (UEM) As considerações científicas da antiguidade, com o desenvol-
vimento da matemática, da geometria, da astronomia, da medicina, 
da física mecânica etc., representam o gênio e a capacidade humana 
de compreender e explicar os fenômenos da natureza. Sobre a 
ciência na antiguidade, assinale o que for correto.
(1)	 No pensamento pré-socrático, ciência e Filosofia estão uni-
das, pois o estudo da arché, princípio de todas as coisas, 
envolve a consideração de questões que, hoje, poderíamos 
chamar de científicas.
(2)	 No Egito e na Grécia antiga, o desenvolvimento da mate-
mática e da geometria está ligado ao conhecimento prá-
tico, cujo exemplo pode ser encontrado no teorema de 
Pitágoras: “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos 
quadrados dos catetos”, que representa a possibilidade de 
calcular a altura de uma pirâmide.
(3)	 O “juramento hipocrático”, que homenageia o pai da medici-
na, Hipócrates de Cós (século V a.C.), manifesta a prática de 
concepções mágicas e supersticiosas com o corpo humano, 
na origem da ciência médica.
(4)	 Entre os antigos, destaca-se um período de desinteresse dos ro-
manos pela ciência. Os romanos eram notáveis como civilização 
essencialmente prática e pouco dada a especulações teóricas.
(5)	 Após a morte de Alexandre, o Grande, a ciência matemática 
de Euclides, preocupada com o tao da física e o quantum da 
matéria, ocupa um lugar de destaque na cidade de Alexandria.
Soma ( )
6. (UNISC-2012) Nas suas Meditações, o filósofo estoico Marco Aurélio 
escreveu:
“Na vida de um homem, sua duração é um ponto, sua essência, um 
fluxo, seus sentidos, um turbilhão, todo o seu corpo, algo pronto a 
apodrecer, sua alma, inquietude, seu destino, obscuro, e sua fama, 
duvidosa. Em resumo, tudo o que é relativo ao corpo é como o fluxo 
de um rio, e, quanto à alma, sonhos e fluidos, a vida é uma luta, uma 
breve estadia numa terra estranha, e a reputação, esquecimento. O 
que pode, portanto, ter o poder de guiar nossos passos? Somente 
uma única coisa: a Filosofia. Ela consiste em abster-nos de contrariar e 
ofender o espírito divino que habita em nós, em transcender o prazer 
e a dor, não fazer nada sem propósito, evitar a falsidade e a dissimula-
ção, não depender das ações dos outros, aceitar o que acontece, pois 
tudo provém de uma mesma fonte e, sobretudo, aguardar a morte 
com calma e resignação, pois ela nada mais é que a dissolução dos 
elementos pelos quais são formados todos os seres vivos. Se não há 
nada de terrível para esses elementos em sua contínua transformação, 
por que, então, temer as mudanças e a dissolução do todo?”
Considere as seguintes afirmativas sobre esse texto:
I. Marco Aurélio nos diz que a morte é um grande mal.
II. Segundo Marco Aurélio, devemos buscar a fama, a riqueza e 
o prazer.
III. Segundo Marco Aurélio, conseguindo fama, podemos trans-
cender a finitude da vida humana.
IV. Para Marco Aurélio, a filosofia é valiosa porque nos permite 
compreender que a morte é parte de um processo da natureza 
e assim evita que nos angustiemos por ela.
V. Para Marco Aurélio, só a fé em Deus e em Cristo pode libertar 
o homem do temor da morte.
VI. Para Marco Aurélio, o homem participa de uma realidade divina.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e V estão corretas.
b) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
c) Somente as afirmativas IV e VI estão corretas.
d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) Somente a afirmativa IV está correta.
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Santo Agostinho
1. Fé e razão podem contribuir para o conhecimento?
2. O conhecimento é uma construção humana ou iluminação divina?
3. É possível provar racionalmente a existência de Deus?
A filosofia medieval surge da 
necessidade da fundamen-
tação do cristianismo para 
seu fortalecimento diante 
das doutrinas pagãs. Com a 
Patrística e, posteriormente, 
com Santo Agostinho, tem-
-se o início da absorção de 
conceitosda filosofia para o 
campo da teologia.
O período medieval é marcado pela oposição entre fé e razão. Leia a frase de Santo Agostinho 
e responda às questões.
“Aqueles que chegam a descobrir as verdades divinas não as conseguem senão após diuturna investigação. 
Tal acontece devido às profundezas das mesmas, pois somente um longo trabalho torna o intelecto apto a 
compreendê-las por via da razão natural.”
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Filosofia Medieval
Santo Agostinho: a Patrística • Santo Tomás de Aquino: a Escolástica • Franciscanos: a crítica à Escolástica tradicional
Filosofia 
Medieval: 
Santo 
Agostinho e 
Santo Tomás 
de Aquino
PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 83PG23LP335SDW1_MIOLO_EM23_1_FIL_LU_LP.indb 83 29/07/2022 11:38:3029/07/2022 11:38:30
Santo Agostinho: a Patrística
A Patrística foi um movimento que perdu-
rou do século I ao VII d.C. e que tinha como 
 objetivo principal promover a filosofia cristã 
diante do domínio da antiga filosofia greco-ro-
mana e outras filosofias de origem pagã.
Os principais intelectuais deste período fi-
caram conhecidos justamente como os “pais 
da Igreja”, pois suas ideias, conceitos e refle-
xões influenciaram a construção da tradição 
católica que se mantém até a atualidade. Esses 
pensadores fizeram o trabalho de relacionar a 
fé e a tradição cristã com a razão e a filosofia 
grega, construindo o caminho para a comuni-
cação entre a fé e a razão. Os pensamentos 
de Platão e Aristóteles foram decisivos para 
a construção da filosofia cristã, pois as ideias 
dos principais representantes da filosofia me-
dieval foram fundamentadas justamente nos 
dois maiores nomes da filosofia grega.
Santo Agostinho nasceu em 13 de novem-
bro de 354 d.C., na cidade de Tagaste, província 
romana localizada no norte da África. Desde 
criança foi alegre, inquieto, travesso e não gos-
tava dos estudos. Ao chegar à adolescência, 
decidiu entregar-se aos estudos e aprender 
toda a ciência da sua época. Tornou-se profes-
sor de retórica em Milão, Roma e Cartago e, 
com o tempo, tornou-se aberto para encontrar 
a “graça” pelo caminho da interioridade.
GOZZOLI. Batismo de Santo Agostinho por Santo 
Ambrósio de Milão, século XV.
Santo Agostinho registrou sua autobiogra-
fia em uma de suas principais obras: Confissões. 
Seus primeiros estudos não eram cristãos, 
O cristianismo deu o nome 
de pagãs a todas as doutri-
nas de origem não cristã.
O maniqueísmo foi uma 
doutrina dualista, pois divi-
dia o mundo em bem e mal, 
tinha o objetivo de levar a 
doutrina cristã à perfeição. 
A junção do reino das trevas 
com o reino da luz teria 
gerado o mundo material, 
que por essência é mau. 
Caberia, então, aos homens 
se salvarem buscando o 
caminho da luz.
GlossárioGlossário
Retórica é a arte de 
persuadir valendo-se de 
instrumentos linguísticos.
GlossárioGlossário
mas maniqueístas, uma linha religiosa muito 
difundida na época.
Agostinho não se converteu ao cristianis-
mo por considerar esta religião melhor do 
que o maniqueísmo, mas por ser sua verda-
deira experiência espiritual. Ele sentiu em sua 
alma que no cristianismo havia encontrado a 
verdade.
O autor deixou cerca de 113 obras regis-
tradas, entre elas tratados filosóficos e teoló-
gicos, comentários sobre a Bíblia, sermões e 
cartas. Suas principais obras são: Confissões e 
A Cidade de Deus.
GOZZOLI. Santo Agostinho lendo a epístola de São 
Paulo, século XV. 
Em sua obra Confissões, Agostinho traz a 
ideia de Deus como criador de todos os tem-
pos, pois precede todo o passado e domina 
todo o futuro. Os anos para Deus existem si-
multaneamente, todos os seus anos são como 
um só eterno dia, ao contrário do que ocorre 
para os homens, que vivem os anos apenas du-
rante o tempo em que existem.
Teologia
Agostinho buscou apresentar a prova da 
existência de Deus na obra O Livre-Arbítrio. 
O ser humano conhece pela razão, que por 
ser intelectiva é capaz de investigar, pensar, 
analisar e refletir. Enfim, ele observa o mundo 
externo e com sua atividade intelectual é ca-
paz de descobrir quando algo é verdadeiro ou 
não é. Agostinho pergunta: “O que significa di-
zer que algo é verdadeiro?”
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Com essa pergunta, Agostinho está admi-
tindo que essa verdade já existe e que nós ape-
nas a descobrimos. Isto é, o homem não cria a 
verdade, mas a encontra.
Se essa verdade já existe, significa que al-
guém a criou. Com isso Agostinho tentou pro-
var que a razão humana pode, no máximo, 
descobrir verdades que já existem além do 
homem. Essa realidade além do homem e que 
é certamente criada por alguma entidade inte-
ligente, decorrendo daí a necessidade da exis-
tência de Deus.
BOTTICELLI, Sandro. Santo Agostinho, 1480. 
Afresco, 152 x 112 cm.
Para poder dizer o que seria Deus é neces-
sária uma experiência espiritual e existencial, 
pois isso precisa ser vivenciado e não apenas 
raciocinado intelectualmente.
Sendo assim, a graça é a salvação concedi-
da por Deus aos homens, livrando-os do peca-
do pela iluminação. Bastante célebre é a frase 
de Agostinho: “Senhor, livrai-me dos desejos da 
carne, mas não ainda!”. O homem é pecador e 
por isso precisa da graça divina para se salvar. 
Na frase, notamos a ideia de que mesmo a sal-
vação possui um tempo para ser concretizada.
O homem pecador em Agostinho também 
pode ser representado na frase: “fallor, ergo 
sum”, que traduzida ficaria: “engano-me, logo 
existo”. Se o homem se engana, é porque dese-
ja conhecer, e se deseja conhecer, precisa estar 
vivo. É importante perceber que essa frase an-
tecipa-se em muitos séculos à famosa frase do 
filósofo francês René Descartes: “cogito, ergo 
sum” (Penso, logo existo).
Antropologia
Para Agostinho o ser humano é uma uni-
dade substancial de corpo e alma, tal como 
os animais. Mas como então diferenciar o 
ser humano do animal? A diferença está na 
René Descartes (1596-1650) 
foi um filósofo francês 
que inaugurou a filosofia 
moderna. 
BiografiaBiografia
consciência de que se vive. O animal vive, mas 
não sabe que vive, já o homem vive e sabe que 
vive. O homem possui uma alma intelectiva, di-
ferente do animal. A alma possui também na-
tureza divina, sendo, assim, superior ao corpo.
MICHELANGELO. A criação de Adão, 1511. Detalhe da obra demonstra a 
ligação do homem com Deus.
Aqui surge outra indagação importante: 
se a natureza divina está presente no ser hu-
mano, por que ele não vive sempre pela razão 
dada por Deus? Ou seja, como pode o homem 
errar e pecar se nele há participação de Deus?
Isso se responde pela questão do livre-ar-
bítrio, que é a capacidade que Deus conferiu 
ao ser humano de fazer aquilo que deseja. Por 
outro lado, o fato de ter liberdade para agir re-
sulta em responsabilidade de cada indivíduo 
perante suas ações. Deus conferiu a todos os 
homens a razão divina, porém, por vontade 
própria, o homem pode escolher ir contra essa 
vontade divina.
Concluímos, então, que o homem possui 
dentro de si uma razão divina que lhe indica 
o modo correto de agir, porém por opção pró-
pria muitas vezes prefere agir contra a própria 
natureza, em desacordo com sua razão, princí-
pios morais etc. 
Conhecimento
A teoria do conhecimento de Santo 
Agostinho é elaborada numa forma de condu-
ção do homem a Deus. O conhecimento sensível 
consiste na sensação provocada pelo contato 
de um dos sentidos com um objeto corporal. 
Assim a visão conhece cores, o olfato conhece 
odores, o tato conhece a textura de um objeto, 
e assim por diante.
O conhecimento se faz pelos sentidos cor-
póreos, mas a sensação provocada é operada 
pela alma. Ou seja, a impressão que temos do 
odor, do contato, da visão, e que se processa 
em nossa mente é uma atividade da alma. O 
estímulo ao conhecimento vem de fora, mas o 
verdadeiro conhecimento se faz dentro. 
O verdadeiroconhecimento é aquele no 
qual sentimos em nosso interior a evidência da 
verdade. Ou seja, não é que alguém externo ou 
alguma coisa nos ensina algo, o externo ape-
nas nos estimula a descobrir a verdade. Essa é 
a ideia do mestre interior.
Na filosofia medieval 
definida por Agostinho, 
assim como na pintura de 
Michelangelo, Deus é quem 
cria e tem as respostas. 
Na pintura, Adão parece 
entregue e quase sem vida 
que só será energizada ou 
revigorada com o toque 
de Deus.
ObserveObserve
Vil
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Cena do filme Matrix (1999) 
em que Morpheus oferece 
duas pílulas a Neo, uma 
vermelha, que lhe mostrará 
toda a verdade sobre o 
mundo virtual em que vive, 
caso ele a tome, ou a azul, 
que fará com que ele retor-
ne a um estado de completa 
ignorância. Mesmo que para 
o espectador pareça óbvia a 
escolha a ser feita por Neo, 
essa escolha deve partir 
dele: a decisão de querer 
ir em busca da verdade. 
Isso significa que Neo tem 
o livre-arbítrio para decidir 
seu futuro.
ObserveObserve
O café tem um odor bastante 
particular que podemos per-
ceber pelo nosso olfato. Reco-
nhecer algo com esse sentido 
é o que podemos chamar de 
conhecimento sensível.
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Para Agostinho, todos os seres humanos 
têm um mestre interior na alma, que nos 
acompanha sempre. Podemos sentir sua 
presença quando evidenciamos que algo é 
verdade, quando não é, qual o nosso cami-
nho etc.
Então, o meio que o ser humano utiliza 
para conhecer é a alma, que por sua partici-
pação na essência divina conhece a verdade. 
Mas aqui cabe outra indagação: pode o ho-
mem conhecer tudo? Não, porque o homem 
é criatura de Deus, e somente Deus conhece 
todas as coisas. Ora, o homem é um ser tem-
poral e mutável, e a verdade é eterna e imu-
tável. Como então pode o homem conhecê-la? 
Para Agostinho, o contato com Deus ilumina o 
homem e sua racionalidade possibilitando que 
ele conheça a verdade.
Com isso chegamos à relação entre fé e 
razão em Agostinho. Para o filósofo ambas 
são importantes, porque é preciso “crer para 
conhecer” e “conhecer para crer”. É possível 
conhecer por meio da razão, mas sem a fé em 
Deus não se pode conhecer a verdade divina 
imutável, por meio da iluminação. Por outro 
lado, somente com a fé o homem não poderá 
compreender a iluminação de Deus, porque 
lhe faltará a razão para compreender intelec-
tualmente a revelação divina.
Ética: a Cidade dos 
Homens e a Cidade de 
Deus
A Cidade de Deus é a obra em que Agostinho 
sistematiza sua célebre ideia de que existem 
dois mundos: a cidade dos homens e a cidade 
de Deus.
A cidade dos homens é a civilização em que 
vivemos, na qual seguimos as leis temporais, 
feitas pelo Estado. A Cidade de Deus é o lugar 
ideal, ao qual devem se voltar os corações de 
todos os cristãos. 
A Cidade de Deus, de Agostinho, 354-430 d.C.
A cidade dos homens existe em qualquer 
período histórico. Embora Agostinho analise, 
na obra, o Império Romano, a análise vale para 
qualquer sociedade, inclusive a de hoje. Na ci-
dade dos homens, as leis e os valores são mu-
táveis e temporários, o que é certo hoje pode 
ser errado amanhã. Além disso, é imperfeita, 
pois é completamente humana, logo está su-
jeita aos mais variados vícios.
Já a cidade de Deus é a cidade perfeita onde 
vigoram apenas os valores e virtudes procla-
mados por Deus, sendo essa a verdadeira pá-
tria dos cristãos. Isso significa que apenas a 
cidade de Deus é importante?
Com toda certeza, não. Pois construir da 
melhor maneira possível a cidade dos homens 
é tarefa essencial de toda pessoa. Agostinho 
ensina que a história também esconde desíg-
nios divinos, de forma que viver o presente e 
melhorar a sociedade em que se vive é tam-
bém seguir as leis divinas.
A cidade de Deus representa os valores di-
vinos, aquelas virtudes que toda pessoa deve 
cultivar no dia a dia. Eis a dupla moral: viver na 
cidade dos homens, desenvolvendo-a, sem se 
esquecer que a verdade não está nas socieda-
des e leis temporais, mas na cidade de Deus, 
que representa o ideal de valores e virtudes 
emanadas de Deus.
A ideia de cidade dos 
homens e cidade de Deus 
possui semelhança com a 
teoria de Platão do mundo 
das ideias e do mundo 
das sombras.
RelembrandoRelembrando
“[...] a verdade é que, se o homem não serve 
a Deus, a alma não pode com justiça imperar 
com o corpo, nem a razão sobre as paixões. E, 
se no homem individualmente considerado 
não há justiça alguma, que justiça pode haver 
em associação de homens composta de indiví-
duos semelhantes?”
(AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus: contra os 
pagãos. Tradução de: LEME, Oscar Paes. Bragança 
Paulista: Universitária São Francisco, 2003.)
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Santo Tomás de Aquino: a Escolástica
Santo Tomás de Aquino, ou Doutor Angélico, como 
também ficou conhecido. Detalhe da obra de Carlo 
Crivelli (1476).
A Escolástica ocorreu entre os séculos IX 
e XVI, período em que se desenvolveram os 
estudos e disciplinas que eram ensinados 
em monastérios e catedrais e, mais tarde, 
nas escolas medievais. O objetivo principal 
da filosofia escolástica era harmonizar a fé 
com a razão. O principal representante da 
Escolástica foi Santo Tomás de Aquino.
Tomás de Aquino nasceu no castelo de 
Roccasecca, perto de Aquino, em 1225, 
iniciando seus estudos no Mosteiro de 
Monte Cassino. Continuou sua formação 
na Universidade de Nápoles e depois na 
Universidade de Paris, tornando-se profes-
sor e ensinando em diversas escolas. Foi um 
intelectual importantíssimo por harmonizar 
a filosofia de Aristóteles com a fé cristã. Da 
vasta produção de Tomás de Aquino se so-
bressaem Comentários sobre As Sentenças, Os 
Princípios, O Ente e A Essência, A Suma Teológica 
e também os comentários às principais obras 
de Aristóteles.
Pintura de Laurentius de Voltolina que representa o ensino na Idade 
Média.
Para Tomás de Aquino, a teologia não 
substitui a filosofia, ambas são modos de se 
alcançar uma realidade única. A razão apa-
rece como uma natureza criada por Deus e a 
fé como a revelação de Deus. A teologia é de 
O triunfo de Santo Tomás de 
Aquino sobre Averroes. Benozzo 
Gozzoli. Essa pintura demonstra 
a superação do pensamento 
árabe de Averróis (embaixo) por 
Santo Tomás de Aquino (centro), 
ao seu redor encontram-se 
Platão (direita) e Aristóteles 
(esquerda).
Averróis (1126-1198) foi um 
jurista, médico e influente 
filósofo árabe, grande 
comentador de Aristóteles, 
responsável por integrar o 
ideal islâmico com o pen-
samento grego. Influenciou 
Tomás de Aquino, porém 
vários pontos de sua tese 
foram refutados pelo santo.
GlossárioGlossário
ObserveObserve
grande importância para a filosofia, por haver 
muitas verdades que, embora acessíveis à ra-
zão, necessitam primeiramente serem aceitas 
pela fé. Essas são as verdades elementares, 
como a existência de Deus.
Por outro lado, a filosofia é de grande im-
portância para a teologia, pois a razão asse-
gura os fundamentos da fé, ao evidenciar que 
esta pode ser demonstrada racionalmente. 
Uma das verdades elementares que influencia 
de maneira contundente a teologia cristã é a 
prova da existência de Deus, demonstrada por 
Tomás de Aquino por meio de cinco vias:
1.ª Constata-se que no Universo existe 
movimento. Considerando a relação entre 
causa e efeito, onde tudo que é movido é por 
causa da ação de outro, existiria um primeiro 
movente que deu causa ao primeiro movi-
mento e não foi movido por nenhum outro. 
Este primeiro motor imóvel é o que chamam 
de Deus.
2.ª Considera que o mundo é ligado a uma 
relação de causas eficientes, onde a todo 
efeito é atribuída uma causa. Sendoassim, 
faz-se necessária a existência de uma causa 
eficiente primeira, a qual seria Deus.
3.ª Aparentemente, todas as coisas podem 
não existir, assim, haveria um tempo em que 
nenhuma existia, mas, nesse caso, não exis-
tiria nada até hoje, pois do nada, nada vem. 
Por isso teria de haver um primeiro ser ne-
cessário que possa ser a causa dos outros. 
Esse ser necessário seria Deus.
4.ª Observando todas as coisas da nature-
za percebemos que elas possuem diferentes 
graus de perfeição. Os animais são superio-
res às plantas e os homens são superiores 
aos animais. Seguindo essa hierarquia, deve 
haver um ser que tenha perfeição em grau 
máximo. Esse ser seria Deus.
5.ª Fundamenta-se na ordem das coisas 
trazida pelo finalismo de Aristóteles, na qual 
tudo que acontece no Universo acontece por 
uma razão, havendo um ser inteligente res-
ponsável pela ordem universal, que opera a 
finalidade dada às coisas existentes, esse ser 
responsável seria Deus.
Essas cinco vias, mesmo sendo diferentes, 
seguem uma linha uniforme, todas elas per-
tencem a uma realidade concreta, e todas em-
pregam o princípio de causalidade, que consiste 
no fato de um ente ser causado pela ação de 
outro. Verifica-se que é impossível compreen-
der completamente este mundo, sem admitir, 
acima dele, um princípio realmente existente 
e atuante, que lhe fundamente a existência: 
Deus.
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O que se conclui deste ponto é que tanto 
a fé quanto a razão levam ao mesmo ponto, à 
verdade, porém, por métodos diferentes. A fi-
losofia extrai seus argumentos das essências 
das coisas, enquanto a teologia parte sempre 
da verdade revelada por Deus.
Na filosofia tomista, Deus é também o fun-
damento principal da teoria política e jurídica, 
como veremos a seguir com a apresentação 
das “quatro leis”.
As quatro leis
Para Tomás de Aquino, quatro leis regem o 
Universo: a lei divina (lex divina), a lei natural 
(lex naturalis), a lei humana (lex humana) e, aci-
ma de todas, a lei eterna (lex aeterna).
 ● Lei divina é a lei revelada por Deus aos 
homens por meio das Sagradas Escritu-
ras.
 ● Lei natural é a referência para a vida 
dos homens e dos animais. É a lei da na-
tureza.
 ● Lei humana é toda lei criada pelo ho-
mem, como as leis do Estado, por exem-
plo.
 ● Lei eterna é a lei que provem da ra-
cionalidade de Deus e poucos homens 
bem-aventurados podem conhecê-la, 
entre eles Jesus Cristo, Moisés e os pro-
fetas. É a lei máxima porque tem Deus 
como legislador. 
O Direito é a lei humana, tendo como 
função coibir o mal por meio da força e do 
medo. As leis humanas são necessárias de-
vido à própria natureza humana, sociável e 
naturalmente destinada à ordem política.
Ética
Para Tomás de Aquino, todo ser humano 
existe para um determinado fim, e além de 
tender a este fim, pode também conhecê-lo. 
Quando o ser humano realiza a sua finalidade, 
alcança a beatitude. O conhecimento e busca 
desse fim nas ações humanas é o estudo da éti-
ca de Tomás de Aquino. Para se chegar à beati-
tude é fundamental a prática das virtudes.
A virtude é a disposição para agir confor-
me a razão. A virtude é uma perfeição do ato 
humano. Como o homem não é puro intelecto, 
Aristóteles também divide 
as virtudes em intelectuais 
e morais na obra Ética a 
Nicômaco, porém Tomás 
de Aquino não as segue de 
maneira idêntica.
ObserveObserve
Beatitude é um sentimento 
de extremo bem-estar, de 
felicidade contemplativa em 
proximidade com o divino.
GlossárioGlossário
ao agir necessita tanto do pensar quanto do 
querer. Tomás de Aquino divide as virtudes 
em intelectuais: intelecto, ciência, sabedoria 
e prudência; e morais: justiça, temperança e 
fortaleza.
A ciência é o hábito das conclusões dedu-
tíveis dos princípios, que depende do intelec-
to, que é o conhecimento dos princípios, das 
formas. Ambos dependem da sabedoria, que 
julga convenientemente todas as coisas, se-
gundo as razões e princípios supremos. Já a 
prudência diz respeito ao domínio prático, pois 
não adianta saber o que é certo, é necessário 
saber aplicá-lo às circunstâncias concretas. A 
justiça regula o teor e a natureza dos atos ex-
ternos, a temperança regula a conduta interna 
do homem e a fortaleza combate as paixões 
que dificultam a ação. 
BAYEU y SUBÍAS, Francisco. Tomás de Aquino Vencendo os Hereges.
Tomás de Aquino retoma 
a sua influência platônica, 
sendo forma o mesmo 
conceito que ideia, como 
essência inteligível de cada 
coisa. Assim, o intelecto é 
a virtude que possibilita ao 
homem conhecer a essência 
do objeto.
ObserveObserve
“Na ciência do mestre está contido o que ele 
gera na alma do discípulo, o conhecimento dos 
princípios naturalmente evidentes é gerado 
em nós por Deus e estes princípios estão tam-
bém contidos na soberania divina e tudo que 
é contrário a eles contraria a sabedoria divina 
e não pode estar em Deus. Logo, as verdades 
recebidas pela revelação divina não podem ser 
contrárias ao conhecimento natural.”
(AQUINO, Tomás de. Suma Contra os Gentios. Tradução 
de: MOURA, Odilão. Porto Alegre: Sulina, 1990.)
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Os séculos XI e XII viram despertar uma 
nova realidade na Idade Média. Foi um período 
de decadência dos costumes, inclusive dentro 
da Igreja. Várias pessoas criticavam as autori-
dades religiosas, acusando-as de se aprovei-
tarem do poder dado pelo Clero ao acumular 
riquezas e pouco praticar os Mandamentos do 
Evangelho.
Diante dessa decadência, vários movi-
mentos populares se rebelavam contra a au-
toridade da Igreja e, entre eles, sobressai-se 
a figura de São Francisco de Assis, que defen-
dia a vida humilde e despojada de bens parti-
culares. O resultado da vida de pregações de 
São Francisco é fantástico: de sua obra surge 
uma série de seguidores, denominados fran-
ciscanos, que nos séculos seguintes passaram 
a discutir racionalmente com a autoridade da 
Igreja, ameaçando antigos dogmas e abrindo 
portas para uma nova concepção religiosa.
SASSETTA, Êxtase de São Francisco, 1437-1444.
São Francisco de Assis (1182-1226) nasceu 
na cidade de Assis, na Itália, e teve uma juven-
tude confortável, já que seu pai era um comer-
ciante de tecidos. Tentou seguir a carreira do 
pai e serviu também ao Exército, mas foi quan-
do recebeu o chamado divino, em um sonho, 
a partir do qual São Francisco encontrou seu 
caminho na religiosidade.
Acreditava na vida simples e desapegada 
dos bens materiais, baseando-se na humildade 
e simplicidade que havia sido propagada por 
Jesus Cristo. Disseminou suas ideias de forma 
itinerante, destoando do costume da época, 
em que os religiosos comumente se organiza-
vam em mosteiros.
GOZZOLI, Benozzo. Pregação de São Francisco aos Animais e aos 
Homens, 1452. 
A identificação com São Francisco foi ta-
manha que em pouco tempo o número de 
fiéis cresceu rapidamente, dando corpo ao 
que depois se tornaria a ordem dos francis-
canos. Passados dois anos de sua morte, São 
Francisco foi canonizado pela Igreja Católica.
A filosofia franciscana é importantíssima 
para entendermos a passagem da Idade Média 
para a Moderna, passando pelo Renascimento, 
pois ela é o primeiro embate racional contra os 
grandes dogmas da Igreja Católica, como ve-
remos agora ao apresentar brevemente seus 
dois principais representantes: Duns Scott e 
Guilherme de Ockham.
Van GENT, Duns Scott. 
Duns Scott (1265-1308), escocês, lecionou na 
Universidade de Paris e em Oxford. Sua obra foi 
amplamente utilizada pelas escolas no século XVII 
e sua doutrina é constantemente utilizada para 
confrontar as ideias de Tomás de Aquino. Scott foi 
beatificado em 1993 pelo Papa João Paulo II.
Franciscanos: a crítica à Escolástica tradicional

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