Prévia do material em texto
Brasília-DF. Medicina de MaMíferos Elaboração Rafael Prange Bonorino Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS .......................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 EXAME GERAL E CURIOSIDADES ............................................................................................ 11 CAPÍTULO 2 CONTENÇÃO FÍSICA E ESTRESSE ............................................................................................. 15 UNIDADE II MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS ................................................................................ 19 CAPÍTULO 1 MARSUPIAIS ........................................................................................................................... 19 CAPÍTULO 2 CANÍDEOS ............................................................................................................................. 28 CAPÍTULO 3 FELÍDEO1 ............................................................................................................................... 34 UNIDADE III MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS ............................................ 47 CAPÍTULO 1 ROEDORES ........................................................................................................................... 47 CAPÍTULO 2 CLÍNICA ................................................................................................................................. 51 CAPÍTULO 3 LAGOMORPHOS ................................................................................................................... 68 UNIDADE IV MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS ..................................................................................................... 81 CAPÍTULO 1 BIOLOGIA E MANEJO ............................................................................................................. 81 CAPÍTULO 2 CLÍNICA E CIRURGIA ............................................................................................................. 86 UNIDADE V RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES ............. 91 CAPÍTULO 1 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES ................................................................................ 91 CAPÍTULO 2 CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES .............................................................. 104 UNIDADE VI MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS ..................................................................................... 123 CAPÍTULO1 ELEFANTES ........................................................................................................................... 123 CAPÍTULO 2 GIRAFAS .............................................................................................................................. 129 CAPÍTULO 3 MEDICINA DE RINOCERONTES E HIPOPÓTAMOS ................................................................... 133 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 142 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Os animais silvestres vêm ganhando espaço nas residências como pets e, por essa razão, a disciplina de animais silvestres vem crescendo nos cursos de medicina veterinária pelo país. As possibilidades na área são inúmeras; não somente em zoológicos, outros locais também necessitam de profissionais veterinários, tais como centros de triagem, biotérios, criadores conservacionistas, comerciais e científicos. É, pois, fato que o mercado de animais silvestres e exóticos com finalidade pet expandiu-se nos últimos anos. Nesse universo amplo de espécies, temos os animais silvestres, (provenientes da fauna brasileira) e os exóticos (provenientes da fauna exótica), os quais, dependendo da espécie, podem ser comercializados ou não. Entre as os comercializados (alguns legalizadas, outras não), há os pequenos primatas, por exemplo, o mico-estrela e o macaco-prego; o ouriço pigmeu africano (hedge hog); os roedores de pequeno porte (cobaias, hamster, mercol, topolino etc.), coelhos e muitos outros. Neste módulo, algumas espécies serão tratadas como animais de zoológicos, dada a impossibilidade de criação fora desses ambientes. No presente trabalho, vamos nos ater aos mamíferos silvestres ou exóticos e suas particularidades: manejo, semiologia, clínica e cirurgia. O nosso intuito é não esgotar o assunto no tocante às inúmeras espécies de mamíferos. É, na verdade, concentrar-nos nas espécies mais comuns e prováveis de serematendidas nas clínicas. Para isso, o presente texto traz informações de um compilado de inúmeros artigos e livros dos principais profissionais da área de mamíferos silvestres, além da experiência vivida pelo autor em zoológico. Bons estudos! Objetivos Esta apostila tem o objetivo de: » Demonstrar que a realidade de animais silvestres e exóticos não está restrita aos zoológicos e centros de triagem. 9 » Atualizar o clínico veterinário em uma disciplina que teve, nos últimos anos, uma demanda expressiva nas clinicas veterinárias. » Abordar de forma direta, prática e objetiva, as principais enfermidades clínico-cirúrgicas, apontando aspectos anatômicos e fisiológicos, particularidades e curiosidades das espécies abordadas. » Apresentar as enfermidades de várias espécies de mamíferos silvestres e exóticos, ressaltando as patologias mais corriqueiras dos animais e possíveis tratamentos. » Estudar as espécies mamíferas mais atendidas nas clínicas como: coelhos, roedores de pequeno porte, além de animais criados em zoológicos como megamamíferos, canídeos e felídeos, ente outros. 10 11 UNIDADE I ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS O objetivo desta unidade é apresentar as particularidades da anatomia e fisiologia dos animais silvestres correlacionando-os aos domésticos CAPÍTULO 1 Exame geral e curiosidades Biologia Os mamíferos são estimados em 6000 spp. O que os difere das outras classes são algumas características como presença de pelos e glândulas mamárias. Estão presentes em todo o planeta. São sociáveis e apresentam a endotermia, assim como as aves, ou seja, mantêm sua temperatura corporal independentemente de pequenas oscilações térmicas do ambiente. Habitam regiões terrestres, aquáticas e aéreas. Sem aprofundar-nos em grupos taxonômicos, os mamíferos são separados em um primeiro grupo: os dos prototérios (monotremados), como o ornitorrinco e a équidna, animais primitivos que têm alguma semelhança com as aves, como oviparidade, ausência de gl. mamárias, bico com dentes e endorquidismo. No segundo grupo, temos os metatherias, como os marsupiais, que, como o nome diz, apresentam o marsúpio sem placenta, animais que nascem ainda em fase embrionária; neste grupo também pouco evoluído e como representante brasileiro, temos o saruê, animal cosmopolita presente em grandes cidades e que, em alguns casos, se torna dócil, sendo criado como animal pet. O último grupo é mais evoluído e com o maior número de espécies: os eutherias, (placentados), vivíparos e placentados. Este último será o foco de nosso estudo. Outras características são: 1. sistema cardiovascular composto de coração tetracavitário, as hemácias são anucleadas; 12 UNIDADE I │ ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS 2. presença de diafragma e, consequentemente, subdivisão em cavidade abdominal e cavidade torácica com pressão negativa, auxiliando na respiração (única classe a apresentar o diafragma); 3. esqueleto bem desenvolvido com quatro membros para locomoção e sempre sete vértebras cervicais; 4. presença de arcada dentária bem desenvolvida, com exceção de alguns edentatas (tamanduás). Anamnese Na anamnese, o ideal é realizar: » perguntas relacionadas com o responsável pelo animal e o ambiente/ local no qual está o recinto/gaiola do animal; » perguntas referentes ao recinto do animal; » perguntas referentes ao animal; » perguntas referentes à população; » alimentação e mudanças de atividade do animal. É importante alertar ao proprietário que, em uma população, em caso de suspeita de alguma doença infecciosa, deve-se isolar esse animal dos outros até que se chegue ao diagnóstico. Uma curiosidade: Muitas das patologias têm o manejo nutricional ou ambiental como causador; por isso, na anamnese, perguntas relacionadas a isso não podem ser negligenciadas. Por exemplo: excesso de couve, pode levar a cálculos renais em roedores. Muitos clientes acreditam que todos os animais são comedores de ração, o que não é verdade para os coelhos, que têm como base alimentar principalmente o material verde, como o feno, e verdes escuros. Ainda em relação aos coelhos, é normal eles produzirem acidose lática pós-captura. Na experiência deste autor que lhes fala, é comum relatos de animais da casa como cães perseguirem esses herbívoros, o que lhes causas essa síndrome que lhes praticamente fatal, cujo sintomas são torcicolo, olhar perdido, estado semicomatoso. Por isso, a própria contenção deve ser rápida com pouco e estresse; caso contrário, produzirá os mesmos efeitos da perseguição comentada. 13 ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS │ UNIDADE I Assim como nas aves, o ideal é realizar várias contenções, se for preciso, em vez de uma contenção prolongada. Isso é válido para as aves, coelhos e animais de zoológico, como cervídeos. Vacinação geral em mamíferos Quanto ao questionamento sobre a prática vacinal em mamíferos silvestres, isso praticamente não é realizado. Ao longo dessa apostila, observar-se-ão os porquês: 1o A indústria não produz vacinas para esse grupo de mamíferos, com raras exceções, como para o coelho (seu calendário profilático com vacinas contra hemorragia viral e mixomatose não é encontrado facilmente no Brasil). Mesmo a vacina para a raiva, que pode afetar qualquer mamífero, não se aplica em outros animais senão os domésticos. 2o Vacinas como cinomose para canídeos e tríplice felina para felídeos silvestres ainda são polêmicas por causa da possível não produção de anticorpos, ou pior, por poder induzir a doença no animal que se pretende proteger, ou mesmo lhes causar a morte! Poderíamos pensar que, perante esse cenário, teríamos uma epidemia, o que não é verdade. Embora doenças infectocontagiosas circulem entre animais domésticos e silvestres, não se encontram com facilidade nesses últimos. Isso pode ser confirmado em Centros de Triagem de Animais Silvestres e Zoológicos que atendem animais de vida livre. Inspeção local Em casos de populações, realizar visita ao recinto dos animais é fundamental para esclarecer e complementar a anamnese que possa ter sido incompleta pelo relato do proprietário. Inspecionar in locu: as grades, telas, pontos de fuga, piso do recinto, bebedouro e comedouro (é comum a entrada de aves sinantrópicas, que causam patologias aos animais cativos). Inspecionar os outros animais e a alimentação, animais segregados, além de observação do animal à distância. Observação quanto ao comportamento, interação ao ambiente; para isso, deixar o animal à vontade. Estado nutricional e qualidade do pelo (uma das causas de pelo ruim têm origem na má nutrição ou alimentação pouco variada). 14 UNIDADE I │ ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS Características dos pets estudados Tem crescido a demanda nas clínicas veterinárias pelo atendimento de roedores em geral, como hamster e porquinho da índia. Esses são animais de baixa expectativa de vida e com metabolismo acelerado. O futuro especialista de silvestres se espantará com a questão da farmacodinâmica e os cálculos dos fármacos especificamente quanto às altas doses aplicadas a esse grupo de animais. Acompanham essa dinâmica as aves de pequeno e médio porte. Curiosamente, embora os pequenos roedores tenham metabolismo mais alto se comparado aos mamíferos de porte médio, eles têm temperatura corporal mais baixa, algo em torno de 35.5–37ºC. A indústria de rações, que cresceu muito nos últimos anos, tem buscado captar o mercado de pets exóticos e silvestres. Portanto, já temos ração para todos os roedores e lagomorphos herbívoros (como a chinchila, coelho e hamster); onívoros, como os ratos e camundongo. Também já se encontram ração para primatas, como macaco prego e mico-estrela, que estão sendo comercializados de forma legal (e ilegal!). Legislação Mencionamos somente os animais legalizado... e os ilegais? Estes aumentam a variedade de espécies atendidas nas clínicas. Os clientes ficam temerosos pela denúncia. E qual o papel do médicoveterinário neste caso? Atender! Segundo a Resolução no 829 de 25/4/2006 do CFMV, disciplina o atendimento médico veterinário a animais silvestres/selvagens, em seu artigo 1o diz: “Os animais silvestres/ selvagens devem receber assistência médica veterinária independente de sua origem.” (Seja legal ou não.) O que é obrigatório ao profissional é elaborar o prontuário de atendimento, contendo informações de identificação do animal e seu tutor. A normativa respalda o veterinário e percebe que a prioridade é o atendimento do animal, sem necessidade de denúncia posterior (o que não faria sentido!). Porém, para o tutor do animal ilegal, é diferente: ele responde por posse ilegal e outros artigos, segundo a Lei no 9605/1998 sobre Crimes Ambientais. 15 CAPÍTULO 2 Contenção física e estresse Objetivos Os métodos de contenção física são os mais variados e têm a finalidade não só de proteger a equipe envolvida, mas também o paciente de injúrias que o animal se inflige ao tentar livrar-se da condição de captura, evento que desencadeia o estresse e a miopatia de captura, fatal para muitos animais. O evento estressor pode ocorrer em situações agudas e perdurar de forma crônica até o desfecho letal. Orsini e Bondan (2006) citam em seus estudos três formas com as quais o organismo animal pode responder aos agentes estressores: pelo sistema motor voluntário, no qual o agente estressor causa impulsos nervosos que são transmitidos ao sistema nervoso central e serão assimilados, gerando uma resposta por parte do animal que as expressa com postura de fuga, defesa ou proteção. Pelo sistema nervoso autônomo, em que o agente estressor age de modo a causar impulsos no sistema nervoso autônomo simpático e este libera catecolaminas no sangue que atingirão órgãos alvo levando os animais a um estado de alerta e os preparando para possíveis danos físicos. Outro mecanismo é o do sistema neuroendócrino, empregado em situações de estresse crônico, em que o hipotálamo é estimulado pelo agente estressor levando-o à síntese de corticotropinam que atua sobre a adeno-hipofise, induzindo à liberação de adrenocorticotrópico, hormônio que atua sobre o córtex adrenal intensificando, à liberação de cortisol e corticosterona de modo a preparar o organismo a uma possível agressão. Equipamentos de contenção física Na contenção física, os equipamentos são: luvas raspa de couro, puçás, redes, cambão, pau de couro, tubos de pvc ou transparentes, além do cambeamento e da gaiola com grade móvel. 16 UNIDADE I │ ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS Figura 1. Luvas de raspa de couro. Fonte: Arquivo pessoal. As luvas de raspa de couro são ideais para pequenos mamíferos e, em alguns casos, amenizam a injúria. Figura 2. Puçás, ideais para pequenos mamíferos. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 3. Cambão, usados para canídeos, tamanduás. Fonte: Cubas, 2014. 17 ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS │ UNIDADE I Figura 4. redes, usadas para cervídeos. Fonte: Arquivo pessoal. As redes são usadas para cervídeos e outros animais que não permitem aproximação. Cuidado! Não usar pau de couro/cambão para felídeos, pois podem fraturar a cervical do animal! Figura 5. Contenção com ouriço caixeiro em tubo. Fonte: Cubas, 2014. Figura 6. Caixa de transporte e puçá. Fonte: Cubas, 2014. 18 UNIDADE I │ ANATOMIA E SEMIOLOGIA DE MAMÍFEROS Uso de puçá e caixa de transporte madeira com porta em guilhotina, a tendência é o animal entrar de forma tranquila para a caixa. O padrão das caixas de transporte e a entrada de cambeamento são feitos com portas em guilhotina. Figura 7. Gaiola com grade móvel, ideal para mamífeosferais de porte médio a grande. O sistema de manivela movimenta a grade e restringe o movimento dos animais. Fonte: Arquivo pessoal. 19 UNIDADE II MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS A presente unidade tem a finalidade de apresentar a biologia e medicina dos marsupiais, particularmente o saruê, animal comum em centros urbanos. CAPÍTULO 1 Marsupiais Biologia Os marsupiais neotropicais ocupam os mais diversos nichos e estão bem distribuídos, desempenhando um papel importante no ecossistema. Ocupam biomas de florestas, cerrado e a caatinga brasileira. Os representantes desse grupo, além do conhecido canguru australiano: é a cuíca-de-quatro-olhos, as catitas e os saruês, estes últimos bastante comuns nas cidades brasileiras. (EMMONS, 1997). Em relação aos mamíferos, há algumas poucas diferenças, como os ossos epibúbicos, que se projetam anteriormente à articulação do púbis e à musculatura ventral abdominal, sendo os músculos oblíquos internos e externos aderidos a ele (DAWSON, 1989). São pentadáctilos, o que facilita a escalada em árvores e obstáculos. Movimentam-se por quadrupedalismo tanto terrestre como arborícola. Quanto à alimentação são frugívoros/onívoros, sendo os saruês também predadores, cosmopolitas e sinantrópicos. 20 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Figura 8. Dedos pentadáctilos – Adaptados à escalada. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 9. Ossos epipúbicos de gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita), visualizados em radiografia lateral. Fonte: Cubas, 2014. Figura 10. Gambá de orelha preta (Didelphis aurita). Fonte: Cubas, 2014. 21 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Figura 11. Cauda longa, preênsil e desnuda de cuíca lanosa (Calluromys philander). Fonte: Cubas, 2014. Reprodução Uma das curiosidades nesse grupo que destoa dos mamíferos clássicos está na sua reprodução. A gestação é dividida em 2 fases; a primeira etapa ocorre no útero do animal; a final, no marsúpio, onde o feto termina seu desenvolvimento. Nos machos, o pênis é bifurcado e a bolsa escrotal está localizada na frente do pênis. (GONÇALVES, 2009). Figura 12. Pênis duplo de gambá de orelha preta (Didelphis aurita) posicionado caudalmente à bolsa escrotal. Fonte: Arquivo pessoal. Os marsupiais evolutivamente adotaram uma estratégia reprodutiva diferenciada dos outros mamíferos: priorizaram a lactação, em vez da gestação prolongada. O gasto energético durante a gestação é menor se comparado ao gasto energético da lactação e da criação dos filhotes. Desse modo, é possível gerar um maior número de descendentes, em um menor tempo e com gasto reduzido de energia. No caso de abortamento e morte dos filhotes, a fêmea rapidamente poderá iniciar nova gestação. Gestação: +/- 14 dias, maturidade sexual: 6-8 meses, poliestrais, 7 ciclos/ano em média (HURLEY, 2000). 22 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Após o parto, ainda imaturos, os fetos deslocam-se para a bolsa onde se grudam aos mamilos. Aos 50 dias saem da bolsa e com 80 dias alimentam-se de sólidos e andam nas costas da mãe. Longevidade de 3- 5 anos. Figura 13. Filhotes no marsúpio de uma fêmea de Gambá de orelha preta (Didelphis aurita). Prole numerosa. Fonte: Cubas, 2014. Nutrição Sistema digestório O sistema digestório dos marsupiais varia de acordo com a dieta. Nos carnívoros, não há ceco; o trato gastrintestinal é curto e simples, o que proporciona um trânsito alimentar rápido pelo intestino. Já os animais com hábitos onívoros apresentam glândulas salivares proeminentes, o ceco e cólon bastante desenvolvidos, com grande lubrificação e microbiota bacteriana exuberante. (DAWSON, 1989). Dieta Sua dieta é bastante variada: desde frutos, flores, néctar até carniça e predação. Além do cativeiro, deve levar-se em consideração a taxa metabólica basal baixa nessas espécies, razão por que se evita a alimentação hipercalórica. O gasto ocorre para as necessidades reprodutivas e termorregulação. Essa adaptação torna possível ao animal reservar energia para sobreviver em condições adversas; desse modo, como exigem uma baixa demanda alimentar, consequentemente exibem uma tolerância ambiental maior. Algumas espécies podem entrar em estado de torpor para preservar energia (DAWSON, 1989). Um exemplo de dieta recomendada: 70%(1 parte de ração de gato, 1 parte de vegetais frescos, 1/4 de iogurte), 20% de frutas variadas e 10% de proteínas diversas (frango, codorna, peixe, ovos cozidos, iogurte, fígado de frango cozido). Devem ser oferecidos insetos vivos. 23 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Instalações Segundo Ibama, IN 3/2002 e IN 169/2008, as instalações para o Didelphis devem ser pelo menos 4 m2, com altura de 2 m e piso de terra. Deve conter tanques de água e uma toca para o animal esconder-se, repousar e procriar. Esta deve estar em local alto. Para as espécies com hábito semiaquático, deve haver espelho d´água. Para as espécies terrestres, a toca deve estar no substrato e ter no recinto troncos e galhos. Para evitar a monotonia e o estresse do cativeiro, o enriquecimento ambiental deve ser utilizado. Com filhotes recém-nascidos, utiliza-se uma fórmula 1 gema de ovo crua, 100 ml de leite (sucedâneo comercial de cães e gatos) e 1 colher (café) de mel. Para os filhotes mais velhos, acrescenta-se ração de filhotes de gatos. Quanto aos filhotes pouco desenvolvidos, é necessário amamentá-los com uma frequência inicial a cada hora, aumentando o intervalo à medida que o animal cresce. Quando o filhote apresenta a dentição, podem ser oferecidos os itens da dieta de um indivíduo adulto, intercalados com a amamentação. Figura 14. Filhote de gambá de orelha preta (Didelphis aurita) mamando em uma seringa com scalp adaptado. Fonte: Cubas, 2014. Clínica de marsupiais A maioria dos marsupiais pode ser contida manualmente, embora também se utilizem luvas e toalhas. Conter os animais pela cauda não é indicado, pois eles conseguem flexionar seu corpo, alcançando a mão de quem os segura. Os animais maiores, principalmente os do gênero Didelphis, podem ser capturados com puçá ou cambão e contidos manualmente utilizando-se luvas de raspa de couro. Apoiar a mão na base da cabeça e do pescoço. 24 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Figura15. Contenção de marsupial. Fonte: Cubas, 2014. Anestesiologia Quanto ao protocolo anestésico, os tranquilizantes fenotiazínicos têm baixa metabolização em marsupiais e seus efeitos podem durar de dois a três dias. Por essa razão, os tranquilizantes benzodiazepínicos, como o midazolam (0,2 mg/kg/ pela via intramuscular – IM), são considerados uma classe farmacológica segura para a tranquilização dos animais; esses tranquilizantes podem ainda ser associados ao cloridrato de cetamina. Alternativamente para procedimentos não dolorosos, podemos utilizar cloridrato de cetamina (20 mg/kg/IM) ou tiletamina/zolazepam (5 a 10 mg/kg/IM) ou a associação de cloridrato de cetamina (20 a 25 mg/kg/IM), fentanila (0,75 a 1 mg/kg/IM) e droperidol (20 mg/kg/IM) (CARPENTER, 2007). Os didelfídeos são seguramente anestesiados com isoflurano (5% na indução e 1% a 3% na manutenção) e sevoflurano. Os animais podem ser anestesiados diretamente com câmara anestésica ou com máscara. Outros protocolos para anestesia em procedimentos cirúrgicos são a associação de cloridrato de cetamina (20 a 30 mg/kg/IM) e cloridrato de xilazina (5 mg/kg/IM) e alfaloxona-alfadolona (3 a 6 mg/kg/IM ou 1 a 2 mg/kg/pela via intravenosa – IV. (CARPENTER, 2007). Semiologia e anamnese Ao levar em consideração a baixa taxa metabólica, alguns de seus parâmetros fisiológicos também acompanham essa queda, por isso a frequência cardíaca deve estar entre 70 e 25 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II 100 bpm; a frequência respiratória, entre 25 e 40 movimentos respiratórios por minuto e a temperatura corporal, entre 32,5 e 35°C. O volume sanguíneo é de 5,7% do peso corporal. Diagnóstico Para a colheita de sangue, a veia de predileção é a veia lateral caudal. Outros locais de acesso: artéria coccígea ventral, veia e artéria femorais, veia metatársica medial (safena), veia cefálica, veia jugular, sendo essas pouco frequentes. Figura 16. Acesso venoso pela veia lateral coccígea em gambá da orelha preta (Didelphis aurita). Fonte: Cubas, 2014. Quadro 1. Valores de referência hematológica e bioquímica de gambá de orelha branca (Didelphis albiventris). Hematologia Eritrócitos (x 10 6/ mm3) 4,16 (+/-1) Hematócrito 24,35 (+/-7,8) Hemoglobina 10,3(+/-2,35) Leucócitos (x 10 3/ mm3) 9,48( +/- 2,2) Bastonetes (%) 4,6 (+/-3,1) Segmentados (%) 47,4(+/-14,8) Linfócitos (%) 41,5 (+/-5,5) Eosinófilos (%) 3,5 (+/- 0,8) Monócitos (%) 3,2 (+/- 2,8) Basófilos (%) 1 (+/- 0,56) Bioquímicos Albumina (g/dl) 2,75 (+/- 0,2) AST (U/l) 83 (+/- 26,5) Colesterol (mg/ dl) 213 (+/- 55,9) Creatinina (mg/ dl) 0,5 (+/- 0,1) Fosfatase alcalina (U/l) 11,9 (+/-4,2) Glicose (mg/dl) 57,6 Fonte: Malta e Luppi, adaptado, 2007. 26 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Clínica Terapêutica As afecções não infecciosas mais comuns são: os traumas, atropelamentos e ataques por outros predadores como os cães, quando os marsupiais invadem seus territórios. O protocolo terapêutico praticamente não difere dos carnívoros. São utilizados fármacos como meloxican, tramadol e antibióticos nas mesmas doses. Considera-se que o atendimento dos animais nessas condições elencadas, urgem cuidados de estabilização. Aquecimento com bolsas de água quente, controle da temperatura e cuidados com choque hipovolêmico são prioritários. A manutenção de um acesso para fluidoterapia não é fácil; pode-se usar a veia coccígea, outro acesso muito utilizado em aves e que funciona em todas as espécies é o intraósseo, tão eficiente quanto o venoso. Praticamente todos os fármacos de uso venoso, exceto os mielotóxicos, podem ser introduzidos por essa via. E em caso de choque, uma abordagem interessante é a fluidoterapia morna glicosada que ajuda a restabelecer a temperatura. O protocolo ABC (airbreathcirculation): vias respiratórias, respiração, alteração da circulação e controle da hemorragia, déficit neurológico, avaliação da dor e realização de exames complementares. Enfermidades Entre as doenças metabólicas mais comuns está a obesidade. Esses animais costumam aceitar guloseimas dos seus tutores, quando criados como animais pets, assim como síndromes de stress de cativeiro. Osteodistrofias fibrosas também são patologias comuns a essas e outras várias espécies carnívoras, principalmente quando a alimentação é prioritariamente a base de carne muscular ou visceral, o que pode levar ao desbalanceamento de Ca: P. Essa patologia leva a deficiências hormonais e renais, fazendo o tecido ósseo ser substituído por material fibroso, o que pode ser presenciado em animais com “mandíbula de borracha”, ossos valgos, entortamento de coluna e estreitamento de pelve dificultando a evacuação (LONG, 1975). Em relação a doenças infecciosas e parasitárias, essa espécie (D. albiventris) é o mais sinantrópico entre os marsupiais criados como animal de estimação na América do Sul, podendo albergar alguns vírus, como: pseudorraiva, encefalomiocardite, estomatite 27 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II vesicular e várias outras encefalites. Inacreditavelmente, são resistentes ao vírus da raiva. Quanto às doenças bacterianas, são portadores assintomáticos da salmonella e podem ter boa resistência à leptospira (FARIAS, 2008). Os gambás podem albergar tanto os agentes da leishmaniose tegumentar como os agentes da leishmaniose visceral, sendo potenciais reservatórios da doença. Os gambás são considerados os mais comuns e antigos reservatórios selvagens conhecidos para T. cruzi. O agente pode desenvolver, além das formas amastigotas no sangue, formas epimastigotas nas glândulas anais ou acessórias de gambás -Didelphis spp (DEANNE, 1984). Uma gama de doenças parasitárias ecto e endoparasitas são atribuídas a essas espécies diversas protozooses, como a toxoplasmose e muitos nematódeos. Vias de administração As vias escolhidas para administração de medicamentos são intramuscular, intraperitoneal, subcutânea,oral e intraóssea, sendo essa última muito comum em mamíferos pequenos eleves, dada a facilidade de atingir a cavidade medular de ossos longos. O local da administração pela via intramuscular é na região glútea, entre os músculos semimembranoso e semitendinoso, e na região do tríceps, com volume de até 1 ml nas espécies maiores e de 0,1 a 0,2 para as espécies menores. Pela via intraperitoneal podem ser administrados de 10 a 20 ml nos gambás (Didelphis spp.) e 5 ml nos animais com mais de 100 g. Pela via subcutânea podem ser administrados medicamentos na região escapular e na área do flanco, entre 100 e 200 ml nas espécies maiores e de 6 a 10 ml nas espécies menores. A via endovenosa mais fácil é a ventral da cauda e a via intraóssea é usada quando não se consegue acesso vascular, por exemplo, em casos de desidratação extrema. Essa via faz com que o fluido alcance os sinusoides e condutos venosos medulares, apresentando rapidamente a dispersão do fluido ou fármaco. O acesso melhor são os ossos longos como tuberosidade da tíbia, fossa trocantérica do fêmur, asa do ílio e tuberosidade maior do úmero. Alguns autores utilizam as dosagens de cães e gatos para os marsupiais, porém levando- se em consideração que seu metabolismo é mais baixo em relação aos outros mamíferos, com T.retal de 37,7º, FC de 205 Bpm e FR 37 movimentos/m e longevidade de até 5 anos. 28 CAPÍTULO 2 Canídeos Biologia Há no Brasil seis espécies de canídeos silvestres, que serão chamados neste capítulo de canídeos silvestres brasileiros, apesar de algumas delas viverem também em outros países da América do Sul (BRASIL, 2003). O cachorro vinagre (Speothos venaticus), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e o cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus microtis) são considerados pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) quase ameaçados de extinção. Por estarem na mesma família do cão doméstico, apresentam muitas semelhanças, não só físicas mas também em relação a doenças infecciosas que se intercambiam, valores de referência hematológicas e bioquímicas e dosagens equivalentes de medicamentos. Por isso, a conduta no tratamento de enfermidades é equivalente à que é realizada nos cães domésticos, assim como as agentes infecciosos: cinomose, leptospirose, hepatite e leishmaniose podem ocorrer com alto grau de morbidade e letalidade. Figura 17. Lobo-guará. Fonte: https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/lobo-guara-e-destaque-em-tividades-do-zoologico-de-curitiba/53057. Animais como esses, eventualmente são avistados em regiões urbanas do Cerrado brasileiro, sendo vítimas frequentes de atropelamento, ataques de cães, incêndios e doenças infecciosas dos cães domésticos como a cinomose, fatal para essa espécie. Em sua maioria, são onívoros e têm uma alimentação variada de insetos, frutas e pequenos vertebrados. Assim como nos canídeos domésticos, os neotropicais selvagens apresentam a mesma fórmula dentária I 3/3, C 1/1, P 4/4 e M 3/3 e têm cinco dedos nas patas dos membros 29 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II torácicos e quatro dedos nas patas dos membros pélvicos. As unhas não são retráteis. Alguns estão em florestas como o cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus microtis) e outros também no cerrado brasileiro como o cachorro-do mato (Cerdocyon thous) (CUBAS, 2014). Figura 18. Cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus microtis) obtida em armadilha fotográfica. Fonte: Cubas, 2014. Figura19. Raposa-do-campo (Lycalopex vetulus). Fonte: Cubas, 2014. Algumas outras características da ordem carnívora são: corpo longo, orelhas retas, o que lhes confere uma excelente audição, e osso peniano. Hábitos crepusculares, em sua maioria, e furtivos. Com expectativa de vida superior aos 10 anos são muito comuns em zoológicos brasileiros, cuja intenção é estudá-los. Sua manutenção em cativeiro tem o objetivo evitar a extinção de uma determinada espécie em seu meio, ou se ocorrer uma drástica diminuição populacional. Por isso, há programas de reintrodução de indivíduos criados em cativeiro com o objetivo de restabelecer populações viáveis in situ. Para planejar e administrar os cruzamentos de animais em cativeiro, especialmente de espécies ameaçadas de extinção, foram criados os Planos de Manejo de Fauna em Cativeiro. Eles contêm recomendações de manejo reprodutivo baseadas no registro 30 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS genealógico dos animais mantidos em cativeiro, denominado registro genealógico ou Studbooks (CHIEREGATTO, 2006). Essas informações são atualizadas periodicamente com os dados fornecidos pelas instituições mantenedoras, por meio de questionários. Apenas com elas é possível determinar quais indivíduos devem ou não ser reproduzidos e quais devem ser os pareamentos. De modo geral, existem Studbooks internacionais, que incluem indivíduos de determinada espécie mantidos em zoológicos do mundo todo, e Studbooks regionais, que incluem a população de cativeiro de determinada região ou país. Lobos guarás e cachorros vinagres têm Studbooks com informações de indivíduos dessas espécies em zoológicos e criadouros brasileiros. (CHIEREGATTO, 2006). Dieta e nutrição Segundo Lima (2009), os canídeos silvestres brasileiros têm hábitos onívoros, com exceção do cachorro-vinagre, classificado como exclusivamente carnívoro. A dieta do lobo guará tem maior predominância de itens vegetais, além de frutas com os da lobeira (ALLEN, 1995). Em cativeiro, alguns canídeos silvestres podem adquirir cistinúria, devido a uma dieta com elevado teor de proteína animal, principalmente em lobos- guarás, o que lhes compromete o sistema urinário com cálculos vesicais e uretrais, causando obstrução nos machos em sua uretra peniana. Por isso, a dieta dessa espécie é de moderada proteína animal, em torno de 20/25%, sendo as rações caninas cada vez mais frequente no cardápio, além de uma boa oferta de frutas (MUSSART, 1999). Contenção e anestesia Na maioria das vezes, em recintos fechados, é suficiente o uso de cambão ou pau de couro visto que o animal não costuma atacar o ser humano ao sentir-se acuado. Já a contenção química, eventualmente é necessária em casos de animais que estejam em espaço aberto em distâncias que não permitem a aproximação. Os dardos podem ser disparados com armas adaptadas, rifles, pistolas ou zarabatanas, sendo os dois últimos os mais indicados por causarem menos traumas nos animais. Os equipamentos utilizados e os fármacos serão abordados no capítulo VIII, sobre contenção química. 31 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Clínica Exame físico e anamnese O exame clínico externo em canídeos silvestres é bastante semelhante ao de cães domésticos, com trº de 38/39º, FC de 70/100 Bpm e FR 35/45 min. As patologias orais são comuns e envolvem: fraturas dentárias e cálculos periodontais. Os valores de referência para hemograma e bioquímicos são semelhantes aos usados em cães domésticos Doenças infecciosas mais frequentes Cinomose Como já mencionado, a cinomose afeta os canídeos neotropicais de forma agressiva, também podendo acometer outros mamíferos, como felídeos exóticos, mustelídeos como o ferrets, furões e ariranhas e procionídeos como o quati e o guaxinim. É uma enfermidade que tem o cão doméstico o seu principal disseminador, e que permite classificá-la como uma das mais preocupantes enfermidades para a conservação das populações de vida livre e de cativeiro. Lembre! O vírus da cinomose é transmitido pela via oronasal por meio de aerossóis ou pelo contato com secreção ocular, respiratória ou genital. Os sinais, assim como ocorre nos cães domésticos, são: depressão, secreção mucopurulenta oculonasal, dermatites e hiperqueratose dos coxins, febre, anorexia, vômitos e diarreia. Como o vírus tem neurotropismo, rapidamente pode evoluir para encefalite, convulsões, ataxia, paralisia, mioclonias, trismo mandibular e outros sinais neurológicos (notado autor). A vacinação em canídeos neotropicais com vacinas de cães domésticos apresentou resultados variáveis, desde: reações vacinais, baixas taxas de imunidade até produção de anticorpos. Na prática, pela inexistência de vacinas para animais silvestres, circulação de cães errantes em zoológicos e o alto grau de letalidade da doença, usa-se com cautela. O tratamento para essas espécies baseia-se no uso de fluidos, antibióticos, anticonvulsivantes e tratamento de suporte (nota do autor). Outras doenças infectocontagiosas Outras enfermidades infecciosas são: a parvovirose e a raiva com a mesma sintomatologia e letalidade conhecidas nos animais domésticos. 32 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Uma patologia emergente, tanto em canídeos domésticos quanto os silvestres neotropicais, é a leishmania visceral (LV), causada pelo protozoário Leishmania chagasi (também conhecido como L. infantum), transmitido pela picada do mosquito palha (Lutzomyia longipalpis). O principal reservatório é o cão doméstico. Até pouco tempo, o programa de controle era baseado na eutanásia de cães soropositivos e na aplicação de inseticidas de efeito residual; porém com a não obrigatoriedade de eutanásia associada a um tratamento que não cura e ainda mantém portadores assintomáticos, o protozoário torna-se um problema para os canídeos silvestres (COURTENAY, 2002). Pela circulação de cães errantes associada à proximidade das matas, alguns zoológicos têm relatado canídeos soropositivos à doença, os quais desenvolveram sintomas clínicos, o que os levou a óbito. A notificação ao serviço de saúde oficial de diagnóstico positivo de canídeos silvestres de cativeiro para infecção por Leishmania chagasi é compulsória, segundo o Decreto 123 no 51.838, de 1963; sendo assim, deve-se estabelecer a comunicação com o Ministério da Saúde e com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CENAP/ICMBio) para que o caso seja avaliado e as decisões sejam tomadas em conjunto. Assim como nos animais domésticos, o protocolo é feito com milteforan, alopurinol e cetoconazol, com resultados variáveis. Doenças parasitárias Os ectoparasitos são de grande importância, principalmente em animais de cativeiro, como sarna sarcóptica e pulgas, muito frequentes em lobos guarás. Na experiência deste autor, em zoológicos do Cerrado, em época de seca, é muito comum esses animais encontrarem-se excessivamente infestados por esses parasitas. Em muitos casos, os animais necessitam de transfusão sanguínea, antibióticos contra hematozoários, além de tratamento convencional com parasiticidas orais e tópicos, vaso sanitário nos recintos, uso de cal virgem e vassoura de fogo. Profilaxia Quarentena de pelo menos 30 dias para animais recém-chegados, exames clínicos, sorologia para leishmaniose, vermifugação, exame dentário e de sangue como hemograma e bioquímicos. 33 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II A vacinação, como mencionado, tem efeitos variáveis, sendo ideal a utilização de vacinas monovalentes recomendados pelos protocolos internacionais; no entanto, em geral, essas vacinas não estão comercialmente disponíveis no Brasil, por não atenderem aos interesses comerciais das empresas que as produzem, as quais são voltadas ao mercado de proprietários de cães domésticos. Uma vacina polivalente contendo vírus da cinomose atenuado por passagens em ovos embrionados de galinha e parvovírus vivo modificado, que imuniza também contra leptospirose, hepatite e raiva (Eurican®), foi testada em lobos-guará em zoológicos brasileiros. A vacina foi considerada segura para todos os agentes e imunogênica para os vírus da cinomose e parvovírus (MAIA, 1999). O protocolo de vacinação recomendado para canídeos em geral é: filhotes devem receber três doses da vacina com intervalos de 21 a 30 dias, iniciando o protocolo em animais com idade entre 45 e 60 dias; em adultos que não foram vacinados, devem ser aplicadas duas doses com intervalo de 21 a 30 dias; adultos vacinados anteriormente, devem receber anualmente uma dose da vacina; em fêmeas, deve-se aplicar a vacina no período pré-cobertura para maximizar a chance de proteção passiva aos filhotes (MAIA, 1999). 34 CAPÍTULO 3 Felídeo1 Biologia Na Taxomomia, a família Felidae compreende 2 subfamílias (felinae e pantherinae), 13 gêneros e 36 espécies. Das 10 espécies neotropicais, 8 encontram-se no Brasil; são eles: Quadro 2. Felídeos neotropicais brasileiros. Gênero Leopardus Leopardus pardalis Jaguatirica Leopardus wiedii Gato-maracajá Leopardus tigrinus Gato-do-mato-pequeno Leopardus geoffroyi Gato-do-mato-grande Leopardus colocolo Gato-palheiro Gênero Puma Puma yagouaroundi Gato-mourisco Puma concolor Suçuarana Gênero Panthera Panthera onça Onça-pintada Fonte: arquivo pessoal. OBS.: No Gênero Panthera, estão incluídos os exóticos: leão (Panthera leo) e tigre Panthera tigris). Entre a maioria dos neotropicais, o gato-mourisco é o único que não se encontra em extinção. As justificativas são várias, desde: o Declínio na natureza, ameaça de extinção com a fragmentação do seu habitat, em consequência do desenvolvimento agropecuário, mineração, hidrelétricas, além do tráfico ilegal. Consequentemente a diminuição da variabilidade genética- endogamia (NASCIMENTO, 2010). Esses animais têm pesagens que variam desde 1,5 até 300 Kg. Outra característica dos felídeos é a presença das doenças infecto parasitárias com a aproximação dos animais domésticos. Atualmente, há bancos genéticos in vitro p/ a manutenção das espécies ameaçadas como em alguns zoológicos brasileiros que mantém convênios com órgãos como a Embrapa. 35 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Jaguatirica Esse animal, que pode pesar entre 7 a 16 Kg, tem pelagem em rosetas que se unem na lateral do corpo, formando listras horizontais, correndo em cadeias paralelas. Animal solitário e noturno, são escaladores. Expectativa de vida de 21 anos em cativeiro. Estão localizados em todos os países da América Central e do Sul, ocupando cerrados, caatinga, pantanal, pampas, florestas tropicais e subtropicais e matas ciliares (OLIVEIRA, 2005). Gato-maracajá Encontra-se no mesmo grupo da jaguatirica, sendo semelhante a ela. De menor porte, com peso médio de 3,3 kg, cauda comprida, focinho saliente, patas e olhos grandes. Tem a pelagem muito parecida com à da jaguatirica e à do gato-do-mato-pequeno, com coloração amarelo-dourada com rosetas escuras dispostas principalmente nas laterais do corpo. No dorso as rosetas se fundem formando listras que vão do topo dos olhos à base da cauda (CUBAS, 2014). Suçuarana Segunda maior espécie de felídeo no Brasil. Peso entre 34 a 72 Kg, coloração marrom acinzentado claro ao marrom avermelhado. Adaptadas em vários ambientes e climas, diurnas e noturnas, vivem acima dos 20 anos em cativeiro. Presentes em toda a América. Figura 20. Suçuarana. Fonte: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/sussuarana.htm. 36 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Maturidade sexual de 2 para 3 anos. Gestação de 90 a 96 dias. Números de filhotes: de 01 a 04, nascem pintados com manchas escuras no corpo. Hábitos: Crepuscular, noturno, arborícola e terrestre. Hábitos alimentares carnívoros e ictiófago. Habitat: campo, floresta e montanha. Comportamento solitário em par e sedentário. Seu pelo é em geral bege rosado, mais pode ser cinza, marrom ou cor de ferrugem. O comprimento do pelo varia conforme o habitat, vai de curto a muito longo. Categoria/Critério: Espécie ameaçada de extinção de acordo com a lista oficial do IBAMA. Apêndice I da CITES. Ameaçada criticamente em perigo-destruição de habitat, caça, populações pequenas, isoladas e em declínio (CUBAS, 2014). Gato-do-mato-pequeno É o menor gato selvagem da América do Sul. A pelagem é similar à da jaguatirica e à dogato-maracajá com presença de estrias transversais escuras circulares na porção lateral do corpo. São consideradas altamente ameaçadas devido à perda de habitat e à captura ilegal para a comercialização de peles; apresenta-se como um animal solitário, noturno, que se alimenta de pequenos roedores e aves, caçados preferencialmente durante a noite. Utilizam como abrigo tronco de árvores caídas. O período de gestação dura entre 70 a 74 dias, tendo ninhadas de 2 a 4 filhotes. (CUBAS, 2014). Onça-pintada Figura 21. Onça-pintada. Fonte: https://jornaldebrasilia.com.br/nahorah/cenas-fortes-peao-e-atacado-por-onca-pintada/. 37 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Maior felídeo neotropical; a característica marcante dessa espécie é ela não miar como os felinos. Emite uma série de roncos muito fortes que são chamados esturro. Suas presas naturais consistem de animais silvestres como catetos, capivaras, peixes, queixadas, jacarés, veados, tatus. (OLIVEIRA, 2005). A fêmea pode ter de dois a quatro filhotes, que nascem cegos e só abrem os olhos depois de 13 dias. Filhotes permanecem com a mãe até 2,5 anos de idade e a maturidade sexual é alcançada mais cedo pelas fêmeas (2 a 2,5 anos). Machos estão sexualmente maduros entre três e quatro anos. Esses animais têm hábitos noturnos. Na onça-pintada, ocorre também o fenômeno do melanismo, comum aos leopardos asiáticos (pantera-negra) e outros felinos. A coloração amarela, nesse caso, é substituída por uma pelagem preta ou quase preta. Dependendo da incidência da luz, percebe-se o mesmo tipo de manchas oceladas encontradas nas onças comuns. O animal na forma melânica é chamado de onça-preta e em tupi-guarani recebe o nome de Jaguará-pichuna. O melanismo é herdado por um gene dominante, o albinismo também é relatado. Pela sua raridade, a onça-preta é animal que desperta grande procura por parte dos zoológicos de todo o mundo (OLIVEIRA, 2005). Figura 23. melanismo em onça pintada. São a mesma espécie, muda a quantidade de melanina. Fonte: esquerda: https://detvsites-ibama.webnode.com.br/products/on%C3%A7a-preta%20/; e direita: https https://www. infoescola.com/wp-content/uploads/2008/05/onca-pintada-591459416.jpg. Gato-palheiro (Leopardus colocolo) Tem pelagem longa com coloração variando geograficamente do vermelho-alaranjado ao cinza com listras irregulares nas laterais do corpo e das patas. Apresenta uma faixa https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2008/05/onca-pintada-591459416.jpg https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2008/05/onca-pintada-591459416.jpg 38 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS de pelos mais longos que vai da cabeça à base da cauda, que se eriça quando o animal se sente ameaçado. É usualmente associado a habitats com vegetação aberta, mas também pode ser encontrado em ambientes florestados. Tem hábitos crepusculares e noturnos. Jaguarundi (Puma yagouaroundi) Seu corpo é delgado e alongado. A cabeça é pequena e achatada, as orelhas curtas e arredondadas, as pernas curtas e a cauda muito longa. Tem coloração variando do preto ou castanho escuro ao avermelhado. Os indivíduos de coloração mais escura estão comumente associados a florestas, enquanto que os mais claros são encontrados em ambientes mais secos (OLIVEIRA, 2005). Obs.: Em praticamente todos os seus representantes, o pouco conhecimento sobre a biologia das espécies limita a possibilidade de estratégias de conservação eficazes. Muitos são classificados pelo IBAMA como ameaçado de extinção. A destruição de hábitats costuma ser a principal causa de ameaça desses animais. (ADANIA, 2005). Características gerais/Manejo nutricional Manejo nutricional é importante; oferecer a carne misturada a ração de gatos e presas inteiras: cobaias, coelhos. Evitar oferecer animais abatidos sem inspeção: risco de Toxoplama gondii. Oferta de presas vivas: enriquecimento e equilíbrio Ca:P, também vitaminas e minerais. OBS: Carne: muito P e pouco Ca: osteodistrofia e fraturas espontâneas, oferecer cálcio extra. Ainda oferecer algum tipo de capimevita a liberação de bolas de pelo, a êmese. Vivem longos anos em cativeiro, muitos chegam da natureza e abarrotam os zoos (CUBAS, 2014). Resumindo: » maneira geral: aves, répteis, capim, insetos, anfíbios; » quanto maior o felídeo, maior o animal ingerido; » onça-pintada: antas, jacarés, queixada, veados; » capins ingeridos: pé de galinha, fino, napiê e marmelada; » êmese: liberação de pelos. 39 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Felídeos de porte grande alimentam-se a cada 2 dias; felídeos de porte médio e pequeno, diariamente. Filhotes (1–20 dias) criados na mão, suscedâneo de leite Royal Canin na mamadeira, após inserir carne com cálcio e banhos de sol. Em alguns casos, há constipação: dar óleo mineral, caminhadas p/ estimular a evacuação, além de probióticos. Mamadas a cada 2 horas nos 1os 10 dias, 20 – 40 ml/Kg. (CUBAS, 2014). Em cativeiro: carne de gado, pintos, pescoço de frango. Ideal oferecer ração de gatos (com melhores valores nutricionais), acostumar desde filhote. Animais de vida livre inseridos ou não em cativeiro, não aceitam a ração. Misturar a ração – 30 a 40 % com carne moída e suplemento de cálcio. As carnes devem ser congeladas em pequenos pedaços por pelo menos 5 dias a 12° C negativos. Optar pela variedade: material vegetal, evitar osteodistrofia e fraturas espontâneas (NOTA DO AUTOR). Filhotes: durante a mamada, manter o animal em posição quadrúpede. Em seguida, massagear o abdômen e ânus p/estimular a defecação. Com 1 mês, observar o desenvolvimento motor e a dentição p/começar a inserir a dieta sólida (CUBAS, 2014). Alimentação para filhotes: » Pet milk®, Cálcio de ostra oscal® Aminomix®; » 2 meses: coração bovino, aminomix, cálcio. Exames sorológicos Coleta de sangue: Toxoplasmose, Retrovirus (FIV e FELV), hemograma, ureia, creatinina e perfil hepático. Instalações 1. Animais grandes: fosso com cambeamento de grade móvel individual, árvores de porte médio no centro do recinto, vegetação, tocas, cocho de alimentação, piscinas com peixes para enriquecimento. Piso pouco abrasivo, areia, troncos área de sombra e ponto de fuga. 2. Animais de porte médio e pequenos, os mesmos itens não precisando manter em fossos: podem ficar em recintos envidraçados no horizonte do visitante. 40 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Figura 24. Cama feita de mangueira de bombeiro. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 25. Fosso para grandes felinos/Zoo de Brasília. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 26. Recinto envidraçado para pequenos felídeos. Fonte: Arquivo pessoal. 41 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Figura 27. Gaiola de restrição com grade móvel. Fonte: Arquivo pessoal. A grade móvel de restrição com portas tipo guilhotina localizam-se embaixo do fosso, longe do público. Com isso, alguns exames clínicos podem ser feitos sem a necessidade de anestesia, como também a coleta de sangue pela veia lateral da cauda. Figura 28. Retirada de miíase em pálpebra superior em leão de 22 anos. . Fonte: Arquivo pessoal. Medicina preventiva Quarentena: 30 dias para adaptação, vermifugação, vacinação, aclimatação, biometria, marcação, (microchip ou tatuagem). Coleta de material biológico. Exames sorológicos FIV/ FELV. 42 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Controle parasitário: exames coproparasitológico e vermífugo a cada 6 meses, cuidar ectoparasitos (NOTA DO AUTOR). Programa de vacinação: » tríplice felina (fel- o – vax, Fort Dodge) – panleucopenia, calicivirose e rinotraqueíte felina, 3 doses em filhotes e uma dose anual - 45, 75, 105 dias; » raiva anual (acima de 4 meses de idade); vacinar em áreas endêmicas – vacinas inativadas; » Felv – evitar vacinar. Quadro 3. Características reprodutivas dos felídeos neotropicais brasileiros. Parâmetros/ Espécie jaguatirica Gato maracajáGato do mato pequeno Gato do mato grande Gato palheiro Gato mourisco Suçuarana onça Longevidade (a) 20 13 20 - - - 20 22 Início da vida Reprodutiva Macho –meses 30 24-36 - 24 18-24 24-36 36 36- 48 Início vida Reprodutiva Fêmea – meses 18-22 24-36 18-24 18 18-24 24-36 30 24- 36 Maturidade Sexual 2- 3 anos 11 m 12-15 m 36 m 36-48 m Estro – dias 32- 36 16,4 +-1,2 20 55 28 22-65 Gestação ( dias) 70-85 81-84 73-78 72-76 80-85 72-75 84-98 90-111 Ninhada 1-2(1,5) 1-2 1-4(1,1) 1-3 1-3 1-4 1-6 1-4 Peso ao nascer 160-170 90-130 90-120 130 220-440 850 Abertura dos olhos 12 14 Desmame –semanas 3-9 7-8 5-7 8-10 3-4 6meses 5-6m Fonte: Cubas, 2014. Contenção física e química Marcação de felinos, com tinta de impressora e microship interescapular em mamíferos. 43 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Figura 29. microchip, aplicador e leitor. Fonte: http://www.animalltag.com.br/includes/exibeProduto.php?item=8&language=pt-br. Figura 30. Contenção de gato maracajá em puçá. Fonte: Cubas, 2014. Puçá: Enrolar o animal. Usado para animais com o porte limite de uma jaguatirica. Obs.: Não se usam puçás para animais maiores, e sim a anestesia em gaiolas de restrição ou dardo à distância. Evitar o uso de cambão ou pau de couro em felídeos menores, risco de traumas com fratura de pescoço. O assunto referente à anestesia será abordado em capítulo próprio. Estresse e itens de enriquecimento Estresse: conjuntos de reações de um organismo em face de estímulos externos de ordem física, psíquica, infecciosa ou outras capazes de perturbar a homeostase; esse é um fenômeno adaptativo, cumulativo, resultante da interação do organismo como meio por meio de receptores. 44 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS Comportamentos estereotipados: andar em rotas fixas, arrancar os próprios pelos, lamber excessivamente as patas e cauda, automutilação (CUBAS, 2014). Itens de enriquecimento: picolé de carne, ração espalhada, trilhas de odores, estímulo olfativo com pimenta ou canela, caixa com algum conteúdo, animais vivos, cama de capim, cama feita com mangueira de bombeiro etc. Análises de cortisol: resposta ao estresse em felídeos selvagens em cativeiro a partir da análise dos metabólitos em amostras do plasma sanguíneo e amostras fecais. Alguns estudos com saliva em pedaços de pano (CUBAS, 2014). Clínica Locais de punção de sangue jugular, safena, cefálica, cauda. Esta última é usada em grandes felídeos quando contidos em gaiolas de restrição. Temperatura retal, em média de 38-39 ºC, sendo maior em felídeos menores e maior em felídeos menores. Doença periodontal em felídeos Patofisiologia: » formação da placa bacteriana; » gengivite; » mineralização da placa bacteriana; » afecção do ligamento periodontal e do osso alveolar; » exfoliação dentária. Doenças infecciosas em felinos neotropicais Virais » Rinotraqueíte: contagiosa, infecção respiratória. Sinais: rinite, úlceras orais, conjuntivite, traqueíte, salivação, espirros e febre. 45 MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS │ UNIDADE II Evolução: geralmente autolimitante, raramente evolui para pneumonia e peritonite. Trat: antibiótico, fluidoterapia. O gato doméstico é transmissor. » Panleucopenia Vacinação felina protege. Doença semelhante à parvovirose canina, com rápida desidratação. Propicia infecção bacteriana secundária Sinais: vômitos, diarreia hemorrágica, desidratação Trat: sintomático: fluidoterapia, atbs, suporte nutricional. » Retrovirus: FIV e FELV (vírus da imunodeficiência felina e vírus da leucemia felina. » Transmissão: saliva, mordidas. Leões de circo/gatos domésticos › Fiv: distúrbios neurológicos e hematológicos. › Diagnóstico: PCR, sorológico sangue/teste rápido, hemograma e bioquímicos. › Sem vacinação. Cuidar com fômites. Felv: Manifestações neoplásicas (linfomas). Prevenção: vacinação – Tetra felina (com ag felv). Trat: cirúrgia? Eutanásia? Diag: PCR, sorológico, hemograma e bioquímicos. Prevenção: cuidar com fômites. Outros vírus: cinomose, raiva, peritonite infecciosa felina, calicivirose. Bacterianas: Salmonelose, leptospirose. O vírus da cinomose afetou felídeos em zoológicos norte-americanos (tigres, leões, leopardos e onças-pintadas). Esses animais manifestaram os mesmos sintomas dos canídeos. (KENNEDY STOSKOPF, 1999) Doença não infecciosas Osteometabólica Comum em animais em crescimento principalmente carnívoros que se alimentam basicamente de tecido muscular e visceral. Neles, estão presentes altas quantidades de 46 UNIDADE II │ MEDICINA DE MARSUPIAIS,CANÍDEOS E FELÍDEOS fósforo, podendo produzir uma desproporção de CA:P no sangue, quando o normal é de 2 :1. Para compensar, haverá retirada de cálcio do osso para equilíbrio sanguíneo, o que tornará os ossos frágeis, tortos e fraturáveis com aumento de volume das articulações. O diagnóstico é radiográfico, sendo que valores sanguíneos deCA:P podem estar normais. O tratamento está na correção alimentar ofertando presas inteiras, aporte de cálcio e radiação solar para a conversão da vitamina D. Figura 31. Ossos valgos em felídeo com doença osteometabólica. Fonte: Arquivo pessoal. intussuscepção Outra patologia comumente relatada em felídeos de zoológicos é a intussuscepção; suas causas são inúmeras: a dieta normalmente constipativa a base de tecidos musculares e ossos, pouco exercício, típico de animais cativos, em espécies maiores como o leão e tigre, além das habituais lambeduras e ingestão de pelos e, por fim, recintos pequenos e inadequados sem enriquecimento ambiental. Os sinais variam desde vômitos, inapetência a constipação. O tratamento é com óleo mineral e correção da causa. Ofertar ração e material verde misturados à carne. Aumentar o espaço, o que muitas vezes é difícil em muitos zoos. Em alguns pontos do recinto, poderá ser plantado capins que são costumeiramente ingeridos pelos animais como: napiê, marmelada e pé de galinha. Em alguns casos, é necessária cirurgia de gastro/enterotomia. Piometra e insuficiência renal também ocorrem com certa frequência em razão da idade avançada que esses animais atingem. 47 UNIDADE III MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS CAPÍTULO 1 Roedores Características São os mamíferos de pequeno porte como as cobaias (porquinho da Índia), chinchilas, ambos cavimorfos e os mimimorfos: os ratos (mercol), camundongos, gerbil e hamster de várias espécies. Esses roedores exóticos foram utilizados há muito tempo como animais em laboratório ou em criações comerciais, tendo sido consequência natural deste vínculo o surgimento de laços de afetividade entre pessoas e animais. Essa popularização dos roedores exóticos de companhia trouxe demanda para as clínicas veterinárias. Os cavimorfos têm as seguintes características: são espécies originárias das planícies elevadas do deserto andino. Apresentam longo período de gestação em relação aos outros roedores. Suas crias são recobertas de pelos e nascem com os olhos abertos. Os dentes incisivos, molares e pré-molares têm crescimento contínuo. Frequentemente são sujeitos à patologia dentária (QUINTON, 2005). Anatomia e fisiologia A capacidade de abertura da boca é restrita na maioria dos pequenos roedores de estimação, particularmente na chinchila e no porquinho da índia. Esta capacidade é limitada devido às pregas grossas de mucosa que invadem a cavidade oral e que são a continuação dos lábios inferior e superior: por isso a entubação traqueal para anestesia ou emergências torna-se muito difícil. 48 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Os dentes incisivos, características que os define, têm crescimento contínuo, o que os faz procurar sempre uma superfície para desgaste, portanto não existem nessas espécies dentes decíduos, além de terem diastema, ou seja, um espaço entre os incisivos e os molares. Este espaço é perceptívele grande o suficiente a ponto de possibilitar a movimentação das bochechas dentro dele e efetivamente fechar a porção caudal da cavidade oral. Isso torna possível que mastiguem sem consumir o material que estão roendo. Ainda nesse espaço, alguns roedores iniciam uma pré-fermentação dos alimentos. Fisiologia digestiva Os caviomorfos são herbívoros estritos que praticam cecotrofagia; isso é comum nas espécies exóticas e possibilita a absorção de vitaminas do complexo B e aumenta a digestibilidade da dieta. Apresentam trato digestivo muito longo, comparado ao de outros roedores (cerca de 2,5m, na cobaia!). O trânsito digestivo é lento (de 13h a 30h, em média; eventualmente pode demorar até uma semana). É adaptado à digestão de alimentos pouco energéticos e ricos em celulose. Um aporte insuficiente de celulose na alimentação desses animais causa, rapidamente, estase intestinal (QUINTON, 2005). Mamíferos herbívoros têm intestinos mais comprido do que os carnívoros; quanto aos onívoros, apresentam tamanho intermediário. O ceco, muito volumoso, é o principal órgão de digestão da celulose. A microbiota digestiva é composta principalmente por bactérias anaeróbicas Gram-positivas (cocos e Lactobacillus spp.). A população de bacilos Gram-negativos, como E. coli, é muito pequena. (QUINTON, 2005). Essa flora cecal faz toda a diferença na decisão de ministrar antibióticos orais que possam comprometer essa flora e provocar enterites. O mesmo acontece nos coelhos, que serão estudados na próxima unidade. 49 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Quadro 4. Em anexo, dados biomédicos mais importantes das espécies de roedores exóticos. Preá chinchila Camundongo Rato hamster Gerbil Expectativa de vida 3-8 8-10 1-3 2-4 Síro:3 Chinês:2 2- 5 Peso adulto (g) F:600/900 M:400/500 F:400/600 400/500 20/40 400 800 S: 80/150 C:35/40 F: 55/100 m: 65/120 FC (bat/min) 230/300 100/150 300/750 250/450 300/600 200/360 FR (mov/min) 70/ 130 40/80 100/250 70/150 75 90/140 TRº (C) 38,5 38 37,5 38 36/37.5 38 Vol. Sangue(ml) 24 a 45 24 a 45 2,5 a 3 25 a 35 7 7 Maturidade Sexual F:2 a 3 m M:3 a 4 m 7 a 9 m 6 a 7 semanas 6 a 10 semanas 45 a 75 dias F:12/14 s M:10/12s Ciclo (dias) 16 24 a 45 4 a 5 4 a 5 3 a 4 4 a 6 Cio (horas) 50 1 a 2 12 12 6 12 a18 1o cio pós-parto < 24 h 24 a 48 h 18 a 24 h 18 a 24 h 4 a 6 dias 24 a 48 h Idade limite p/ reproduzir 3 anos 10 anos 12 a 18 meses 12 a 16 meses 10 a 18 meses F: 18 m M; 24 m Gestação (d) 63 a 68 105 a 111 19 a 21 21 a 24 Sírio:15/17 C:21 24 a 26 42(cio pós-parto) No filhotes 2 a 4 1 a 4 4 a 12 6 a 14 4 a 12 4 a 7 Peso ao nascer 70 a 100 30 a 40 1 a 2 5 a 10 2 a 5 1 a 3 Abertura de olhos (d) _ _ 12 a 14 10 a 16 10 a 14 10 a 12 Desmame 21 a 45 d 6 a 8 sem. 20 dias 20 a 30 d 20 a 25 d 21 a 28 d Fonte: Banks, 2010. 50 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Figura 32. Espécies de roedores exóticos mantidos como animais de estimação. O Camundongo (Mus musculus). B. Rato (Rattus rattus). C.Hamste rsírio(Mesocricetus auratus). D. Hamster chinês (Cricetulus griseus). E. Gerbilo (Meriones unguiculatus). F. Porquinho-da-índia (Cavia porcellus). G. Chinchila (Chinchilla lanigera). Fonte: Pessoa, 2014. *Obs.: Nota-se claramente uma elasticidade muito grande entre os valores mínimos máximos de muitas enzimas. É provável que o número de amostras analisadas tenha sido pequeno, o que comprometeu o valor final. Esse quadro serve apenas de referência para o clínico (NOTA DO AUTOR). 51 CAPÍTULO 2 Clínica Valores biológicos Bioquímica sanguínea Na cobaia, há discreta atividade de ALT nos hepatócitos. Portanto, essa enzima não é considerada um indicador de lesão hepática nessa espécie. Como nos outros roedores, os constituintes do sangue dos caviomorfos diferem daqueles de carnívoros pela predominância da população de linfócitos. Quanto à urina, essa se apresenta com pH alto entre 8,5 a 9 nos roedores herbívoros e mais neutro nos roedores onívoros (QUINTON, 2005). Quadro 5. Parâmetros hematológicos e bioquímicos. Preá Chinchila camundongo Rato Hamster gerbil Hematócrito % 32 a 50 25 a 54 42 a 44 39 a 55 45 a 50 35 a 45 Hemáceas 106/mm3 3.2 a 8 6.6 a 10,7 8,7 a 12 ,5 6 a 10 5.5 a 9 7.5 a 9 Hemoglobina 10 a 17 11.7 a 13,5 10 a 16.2 11 a 19,5 14.5 a 18 13 a 15 Leucócitos 10 6/mm3 5, 5 a 17,5 7,6 a 11.5 5 a 12 6 a 15 6 a 10 9 a 12 Neutrófilos% 22 a 48 23 a 45 7 a 40 * 9 a 34 * 18 a 40 20 a 25 Linfócitos % 39 a 72 51 a 73 55 a 95 65 a 85 56 a 80 75 Monócitos% 1 a 10 1 a 4 0,1 a 3, 5 0 a 4 1,4 a 2,5 0 a 4 Eosinófilos% 0 a 7 0 a 3 0 a 4 0 a 3 0 a 1 0 a 3 Basófilos % 0 a 3 0 a 1 0 a 1,5 0 a 1,2 0 a 1 0 a 1 Plaquetas (103/mm3) 260 a 740* 254 a 298 100 a 1000* 500 a 1300 300 a 500 400 a 600 Glicose (mg/dl) 60 a 125 60 a 125 73 a 183 80 a 300* 60 a 160 47 a 135 Uréia(mg/dl) 9 a 31,5 10 a 40 18 a 31 15 a 21 14 a 27 17 a 31 Creatinina Mg/dl 0,6 a 2,2 0,8 a 2,3 0,48 a 1.1 0,2 a 0,8 0,4 a 1 0,5 1.4 ALT (ul/l) 25 a 99 10 a 35 44 a 87 17 a 224 * 21 a 134 _ AST(ul/l) 26 a 68 15 a 100 55 a 251 39 a 92 53 a 124 -- Prot total (g/dl) 4.2 a 6.8 5 a 8 42 a 103 5,6 a 7,6 5.5 a 7.2 4.3 a 14 Fonte: Quinton, 2005. *Obs.: Nota-se claramente uma elasticidade muito grande entre os valores mínimos máximos de muitas enzimas. É provável que o número de amostras analisadas tenha 52 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS sido pequeno, o que comprometeu o valor final. Esse quadro serve apenas de referência para o clínico (NOTA DO AUTOR). Alimentação Cobaia/porquinho-da-índia As cobaias não têm enzima necessária para a síntese de vitamina C.A carência dessa vitamina é responsável por afecções dentárias, musculares e cutâneas. Mesmo nas rações destes animais, a vit C é volátil no processo de produção e armazenamento do pacote de ração, por isso a necessidade de suplementar com vit, pode ser ofertada em gotas na água de beber ou direto na boca do animal. Também pode-se colocar de 50 a 100 mg/kg na água de bebida (GIRLING, 2003). Dieta: 3 a 4 colheres de sopa de ração para cobaia (20% de proteínas e 16% de fibras), Quantidade generosa de verduras e legumes, feno de boa qualidade, à vontade, pois é o alimento que mais ingere e água fresca em bebedouro adaptado (tipo niple). O vegetal grosseiro (feno) faz gastar o dente, mantém a flora mutualística gastro/ intestinal viva e funcional e é a base da alimentação de roedores herbívoros. Outros verdes ofertados, (inclusive para outros roedores herbívoros) como o coelho e hamster são: espinafre, salsinha, cebolinha, cenoura, chicória e outros verdes escuros. Chinchila É um pouco semelhante à alimentação das cobaias: evita-se verduras frescas, porém se mantém a ração e o feno. O excesso de proteína para esse animal provoca alteração do pelame da chinchila, que se torna fraco e ondulado (síndrome do pelame de algodão). As fibras grosseiras estimulam o peristaltismo e auxiliam na prevenção de disfunções digestivas, como amolecimento de fezes, acúmulo de tricobezoares no estômago e estase intestinal (GIRLING, 2003). Ratos e camundongos São onívoros, ração peletizada específica, frutas, verduras e legumes. A importância da fibra para os roedores herbívoros é porque ela é essencial para estímulo da motilidade intestinal. Essas espécies são fermentadoras intestinais e dependem de microbiota, que auxilia na quebra da celulose. A fibra é convertida 53 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III pela microbiota em ácidos graxos voláteis, que diminuem o pH do ceco e do intestino grosso, prevenindo a superpopulação de bactérias indesejáveis e minimizando os problemas de enterite. Sem a quantidade suficiente de fibras, as espécies que têm ceco fermentador desenvolvem enteropatia mucoide com constipação intestinal intermitente, diarreia e cólica (CUBAS, 2014). Contenção física Toalhas e luvas como materiaispara contenção são desejados, pois diminuem o estresse, amplia a área de captura e evita mordidas indesejadas. Camundongos e ratos podem morder quando não familiarizados. Os camundongos devem ser inicialmente seguros pela cauda, próximo à sua inserção, e então são posicionados em uma superfície não escorregadia. Enquanto se segura a cauda, a prega do pescoço é contida firmemente entre o polegar e o indicador da mesma mão. Figura 33. Contenção física de camundongo (Mus musculus). Após suspender o animal pela base da cauda, ele pode ser colocado sobre uma superfície não escorregadia. Fonte: Pessoa, 2014. Já os ratos são contidos adequadamente se forem segurados ao redor do peito, imediatamente atrás dos braços com o polegar e o indicador de uma das mãos e suportando os membros pélvicos com a outra mão. Ratos mais agressivos podem ser contidos temporariamente segurando a prega do pescoço com o polegar e o indicador e a base da cauda com a outra mão. Sob nenhuma circunstância ratos e camundongos devem ser contidos pela ponta da cauda, pois lesão e avulsão podem ocorrer. 54 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Se o hamster for relativamente dócil, pode-se formar uma concha com a mão e colocá- lo na palma da mão. Alguns animais são mais agressivos e, neste caso, recomenda-se colocar o animal em superfície lisa e firme e com pressão gentil, mas firme, segurar a prega do pescoço com o polegar e o indicador. Deve-se ter cuidado ao segurar apenas a prega da pele, pois hamsters podem ter os globos oculares prolapsados. Outra maneira é conter o animal com uma das mãos, pondo os dedos indicador e médio atrás de cada lado da cabeça e apoiando o dorso do animal na palma da mesma mão. Figura 34. Contenção física de hamster sírio (Mesocricetus auratus). O animal é suspenso pela prega do pescoço entre o indicador e o polegar do manipulador. Fonte: Pessoa, 2014. Figura 35. Contenção física de gerbilo (Meriones unguiculatus). Fonte: Cubas, 2014. As chinchilas podem estressar-se com facilidade e a redução da luz e do barulho facilitam a captura. Não devem ser contidas pela prega da nuca, pois pode ocorrer perda de pelos, que levam semanas para crescer. As chinchilas perdem pelos durante o estresse da contenção, mesmo que não sejam seguras pela pele. 55 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Figura 36. Contenção física de porquinho-da-índia (Cavia porcellus). Fonte: Pessoa, 2014. Figura 37. Contenção física de chinchila (Chinchilla lanigera). Fonte: Cubas, 2014. Observações: 1. A maioria desses roedores respira pelas narinas com os palatos moles permanentemente fechados ao redor da epiglote. Dessa maneira, se o paciente estiver com as narinas obstruídas por secreção, sangue ou tumor, pode ocorrer parada respiratória. 2. Esses pequenos mamíferos são propensos à hipotermia durante o procedimento anestésico. Os gases anestésicos reduzem a temperatura corporal e a atividade muscular, aumentando o risco anestésico para o paciente que se apresenta hipotérmico (QUINTON, 2005). 56 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Contenção química A contenção química pode ser necessária para colheita de amostras (citologia, biopsia, sangue e urina), realização de procedimentos (diagnóstico por imagem e cirurgias) e exame clínico (até mesmo da cavidade oral). A pesagem é fundamental para cálculos farmacológicos e, principalmente, anestésicos, uma vez que erros de pesagens podem ser fatais aos animais Diferentemente dos mamíferos de porte médio, o jejum pré-anestésico é curto. Para porquinhos da índia e chinchilas, recomenda-se jejum de 3h a 6h antes da cirurgia. Para gerbilos e hamsters, o tempo de 45min costuma ser suficiente. A indução pode ser realizada por fármacos injetáveis ou em câmaras anestésicas com anestesia inalatória, usando-se principalmente o isoflurano. A colocação de um tubo endotraqueal requer prática. Abaixo, uma lista de pré- anestésicos e anestésicos mais utilizados (TEIXEIRA, 2014). Quadro 6. Doses anestésicas usados para pequenos roedores de estimação em mg/kg. Preá Chinchila camundongo Rato hamster Gerbil Acepramo Mazina 0,5 a 1,5 0,5 a 1 0,05 a 2,5 0,5 a2,5 0,5 a 5 Não usar Diazepan 1 a 5 2,5 3 a 5 3 a 5 3 a 5 3 a 5 Meperidina 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20 10 a 20 Xilazina 1 a 5 2 a 10 10 a15 10 a 15 8 a 10 5 a 10 Acepram+ Cetamina 0,5 +20/40 0,5 +20/40 5 + 150 2,5 a 5 +50 /150 2,5 a 5 +50 /150 Não usar Diazepan+ cetamina 3 a 5 +20/40 1 a 5 +20/40 2 + 70 3 a 5 + 40/100 5 + 40/150 3 a 5+ 40/150 Xilazina + Cetamina 3 a 5 + 20 /40 4 a 8 + 30/ 40 10 + 200 5 a 10 +50 /150 5 a 10 50/150 2 a 3 +50/70 Tiletamina +zolazepan 20 a 40 20 a 40 50 a 80 50 a 80 50 a 80 50 a 80 Fonte: Quinton, 2005. Obs.: Notam-se as altas doses de alguns fármacos, como a cetamina, xilazina e a tiletamina /zolazepan em função do alto metabolismo desses animais. Alguns cuidados devem-se ter em relação à anestesia, pois os gases anestésicos esfriam o paciente rapidamente pelas mucosas orais e respiratórias, efeito que é agravado em procedimentos prolongados, aumentando assim, a hipotermia, por isso algumas sugestões a serem tomadas: 57 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III 1. realizar antissepsia sem molhar excessivamente o animal; 2. depilar apenas a área da cirurgia e não usar álcool, que causa rápido esfriamento da pele; 3. manter a temperatura da sala confortavelmente aquecida; 4. posicionar o paciente sobre um colchão aquecido ou improvisado com luvas de látex ou garrafas e bolsas cheias de água morna, mas evitar contato direto com a pele, pois se a água estiver muito quente pode provocar queimadura; 5. o uso de papel laminado ou plástico bolha para enrolar o paciente inibe a perda de temperatura; 6. administrar fluidos isotônicos aquecidos por via subcutânea antes e durante a cirurgia. (TEIXEIRA, 2014). A reposição hidroeletrolítica pré, trans e pós-cirúrgica é muito importante em pequenos mamíferos, mesmo para cirurgias de rotina, e a razão entre área de pele e volume corporal favorece uma rápida desidratação. A administração de fluidos de manutenção para pequenos mamíferos durante ou imediatamente após a cirurgia de rotina aumenta os níveis de segurança da anestesia. Em função de pequeno tamanho e os aparelhos que mensuram a função cardiovascular em animais de porte médio não servirem a esses animais, lança-se mão de algumas sugestões: Acompanhamento da função cardiovascular pode ser feito de maneira convencional, com estetoscópio e avaliação do pulso femoral. Como em cães e gatos, o aumento da frequência cardíaca e respiratória pode indicar superficialização do plano anestésico. Equipamentos mais sofisticados, como oxímetros de pulso, podem ser usados para monitorar a frequência cardíaca e a saturação da hemoglobina. Sondas lineares podem ser usadas no aspecto ventral da cauda, quando possível. Outras maneiras incluem eletrocardiograma, adaptado para minimizar o traumatismo com pinças, que são substituídas por agulhas. Um aparelho de monitoramento extremamente útil é o doppler, que pode detectar o fluxo de sangue em vasos menores. Caso seja necessário o uso de doxapram, a dose preconizada é 10 mg/kg em hamster (RICHARDSON, 2003). 58 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Exame físico Temperatura retal em torno de 37-38 ºC para a maioria das espécies, estetoscópio neonatal, de preferência, sendo para essas espécies a FR entre 60/70 movimentos respiratórios e FC entre 180/250 BPM. Alguns animais utiliza-se uma caixa para pesagem. Examina-se a cavidade oral, pois, em muitas vezes, a inapetência tem como causa dentes quebrados. O uso de otoscópio auxilia a visualizar os molares dos animais. Abscessos são comuns na cavidade oral devido à cama e ao alimento que pode ter inoculado alguma bactéria. Qualidadeda pelagem é muito importante e suas falhas têm como causas distúrbios nutricionais ou doenças sistêmicas quando essas vêm acompanhada de outras sintomatologias. Coleta de sangue A coleta de sangue em pequenos roedores é um pouco trabalhosa, sendo o local mais indicado as veias laterais da cauda. Em ratos, pode ser tentado a veia femural. Para acesso da veia jugular, em função do pequeno espaço e profundidade da veia, o animal deve ser sedado, para evitar o estresse de uma contenção demorada. A veia safena lateral pode ser usada em porquinhos da índia e chinchilas. O volume de retirada sanguínea é calculado de acordo com o peso do animal, podendo retirar-se de 1 a 2 % de volume deste peso (LYON, 2010; HUDSON, 2010). Figura 38. Pesagem do animal, descontando-se a caixa. Fonte: Teixeira, 2014. 59 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Figura 39. Coleta de sangue pela veia safena lateral em chinchila (Chinchilla lanígera). Fonte: Cubas, 2014. Lembre! Vias de administração de fármacos (TEIXEIRA, 2014). » Via oral: via útil para a maioria das medicações administradas, particularmente fácil em chinchilas que aceitam ingerir espontaneamente a maioria dos medicamentos. » Via subcutânea: é a principal via de administração de fármacos e fluidos, pois suporta grandes volumes. » Via intramuscular: a musculatura dos membros pélvicos e torácicos suporta pequenos volumes injetados. É muito frequente ocorrer dor após a aplicação e necrose muscular após a administração de fármacos irritantes como enrofloxacino, sulfa e tetraciclina. » Via intravenosa: são usadas as veias safena e cefálica, principalmente após contenção química. O acesso intravenoso pode ser muito difícil em animais hipotensos. » Via intraperitoneal: é usado o quadrante caudal esquerdo, com risco de perfuração de vísceras. » Via intraóssea: com as mesmas características da via intravenosa, são usados o fêmur ou a crista da tíbia. Fluidoterapia A perda de líquidos pelo suor é pouco evidente porque os roedores têm poucas ou nenhuma glândula sudorípara e não conseguem ofegar. O equilíbrio hidroeletrolítico está relacionado com as altas taxas metabólicas e, consequentemente, com a alta taxa 60 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS de filtração glomerular. Como os roedores de companhia são pequenos e têm grande superfície pulmonar em relação ao volume corporal, grandes quantidades de fluidos são perdidas durante a respiração. Essas características fazem com que as necessidades diárias de fluido por quilograma sejam próximas do dobro do indicado para animais maiores (QUINTON, 2014). Quadro 8. terapêutica em roedores (mg/kg). Preá chinchila camundongo Rato Hamster gerbil Amicacina 10a 15 1xdia 2 3x dia 10 2x dia 2 a 5 2x dia 5 a 10 2 x dia 5 a 10 1 x dia ampicilina Não usar Não usar 20 a 50 3 x dia 50 a 150 Não usar Não usar Cloranfenicol 50 2 x dia 50 2 x dia 50 a 200 2 x dia 50a 200 2 x dia 50a 200 2 x dia 50a 200 2 x dia Doxiciclina 2,5 2 x dia 50 2 xdia 5 2 x dia 5 2 x dia 2,5 2 x dia 2,5 2 x dia Enrofloxacina 5 a 15 2 x dia 2.5 a 15 2 x dia 5 a 10 2 x dia 2.5 a 10 2 x dia 5 a 15 2 x dia 5 a 10 Gentamicina 5 a 8 1x dia 2 a 4 3 x dia 5 a 10 2 x dia 5 a 8 1x dia 3 a 5 3 x dia 5 1 x dia metronidazol 20 2 x dia 10 a 25 2 x dia 10 a 40 1 xdia 20 a 60 20 a 60 20 a 60 2 xdia Fonte: Quinton, 2005. Obs.: Para pesquisa de outros fármacos, consultar o Guia Bretas, disponível em: https:// www.vetarq.com.br/2017/05/pdf-guia-terapeutico-veterinario.html. Enfermidades Em cobaias, um motivo de consulta comum é a anorexia, sintoma com frequência relacionado à má oclusão bucal ou à estase digestiva. A vida do animal corre risco a partir do momento em que ele para de alimentar-se, pois, nessa condição, a lipidose hepática instala-se rapidamente. As infecções pulmonares requerem tratamento de longa duração e, no caso de cobaias, o prognóstico é sempre reservado. Com frequência, as cobaias estão sujeitas à dermatofitose e, em geral, são parasitadas por um parasita específico, o Trixacarus caviae. Hipovitaminose C Como mencionado, as cobaias e hamster não sintetizam a enzima que permite a transformação de glicose em ácido ascórbico. Sem o ácido ascórbico, torna-se impossível 61 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III a síntese de colágeno pelo organismo. O colágeno é indispensável para a formação e manutenção da integridade dos vasos sanguíneos. Ele participa na formação dos ligamentos das articulações e dos ligamentos que mantêm os dentes presos à gengiva. Portanto, carência de ácido ascórbico na dieta ocasiona desorganização progressiva dessas estruturas. Em animais jovens, ocorre uma dificuldade de deambular devido às articulações estarem doloridas e edemaciadas. Além disso, os dentes podem amolecer e a abertura da boca pode ser dolorosa. Já os sintomas em animais adultos são mais inespecíficos. É possível notar animais letárgicos, com anorexia e secreção ocular e nasal. As fezes podem estar amolecidas e fétidas em razão da deficiência de ácidos biliares. Má oclusão dentária e pododermatite também são sintomas de carência de vitamina C. O tratamento consiste na administração diária de 50 a 100mg/kg de vitamina C (VO ou SC), durante 7 dias e manter em doses menores diariamente ad eternun (RICHARDSON, 2003). Patologias respiratórias São comuns e têm como fatores predisponentes: épocas de seca, quedas na temperatura, superpopulação, má ventilação uso de maravalha ou serragem e excesso de amônia no substrato. As bactérias mais comumente descritas são: Streptococcus spp., Mycoplasma, Pseudomonas e Pasteurella. Os sinais respiratórios são espirros, rinite e conjuntivite que pode evoluir para pneumonia quando apresenta dispneia, sibilos, corrimento muco purulento, letargia e inapetência (QUINTON, 2014). O tratamento consiste em antibióticos orais ou injetáveis e tratamento de suporte. Uma alternativa é usar um nebulizador ultrassônico com antibiótico geralmente enrofloxacina. Coloca-se o animal em uma caixa de tupperware e o nebulizador dentro, ou na gaiola, veda-se com plástico e fixa-se a máscara do aparelho, com isso, a fumaça de nebulização se espalha pelo interior do ambiente fechado. O animal costuma não se incomodar com essa terapia (NOTA DO AUTOR). Limpeza das narinas com solução fisiológica e oxinenoterapia são necessárias. Quanto à inapetência, deverá ser usada alimentação forçada, um alimento de fácil assimilação, digestão e administração são os queijos pettit suisse, que passam com facilidade na seringa e são aceitos pelos animais. Para os roedores herbívoros ainda podem ser administrados papinha de bebês sem carne; no caso dos roedores onívoros, a mesma papinha com carne (NOTA DO AUTOR). As cobaias são muito sensíveis às infecções respiratórias causadas por Bordetella bronchiseptica e Streptococcus pneumoniae. O coelho, com o qual acobaia costuma coabitar, em geral é portador sadio da Bordetella. O prognóstico sempre é 62 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS reservado; o tratamento é demorado e nem sempre é efetivo. Sintomas de anorexia, dispneia, sibilos respiratórios, secreção naso-ocular. Antibióticos mais utilizados: oxitetraciclina (50mg/kg, VO, duas vezes ao dia), tetraciclina (10 a 20mg/kg, VO, duas vezes ao dia) – medicamentos geralmente eficazes, porém podem induzir enterotoxemia em cobaias –, fluoroquinolonas (por exemplo, 2 a 5mg/kg/dia de marbofloxacina), sulfonamida-trimetoprim (30mg/kg, VO, duas vezes ao dia), tilosina (10mg/kg, duas vezes ao dia). E, em alguns casos, usa-se medicamentos em aparelhos de nebulização com razoáveis resultados (RICHARDSON, 2003). Dermatologia Dermatite Uma das lesões mais comuns em roedores é pododermatite, que não costuma ser uma doença bacteriana primária de pele. Aumentosde volume ocorrem nos calcanhares de animais mais velhos, comprometendo o suprimento sanguíneo para os locais de pressão e possibilitando infecção bacteriana secundária. As causas incluem osteoartrite, obesidade e substrato inadequado, particularmente em ambientes com higiene precária, além de deficiência de vitamina C. Gaiolas com grades podem lesionar os calcanhares de porquinhos da índia; Um ou mais membros podem estar afetados, sendo mais comum nos membros pélvicos. As superfícies palmares e plantares tornam-se inicialmente eritematosas, podendo evoluir para edema, ulceração, sangramento e necrose dos tecidos moles das extremidades dos membros. Se o processo evoluir pela persistência dos fatores predisponentes, aliados à infecção bacteriana, haverá a complicação óssea e articular (GIRLING, 2003). A patologia não fica restrita à pele, podendo tornar-se crônica responsável por amiloidose e falência de múltiplos órgãos, tais como fígado: rins, adrenais e pâncreas. As bactérias mais comuns são: E. coli, Staphylococcus aureus e Streptococcus spp. O tratamento consiste em mudar o substrato das gaiolas com fundo macio, sólido, sem grades, sem substrato abrasivo e com boa higienização (TEIXEIRA, 2014). Em casos graves de pododermatite, nos quais a terapia com a mudança do ambiente e antissépticos tópicos não surte efeito, o desbridamento cirúrgico pode ser necessário, além de analgesia (meloxicam ou carprofeno), gel hidratante e melhoria das condições higiênicas da gaiola e dos substratos. A forma inflamatória e não ulcerada pode ser tratada com uma pomada que associe antibióticos e corticóides (Cortanmycetine pomada, por exemplo). Pode-se instaurar antibioticoterapia parenteral (por exemplo, 10mg/kg de tilosina, VO, duas vezes ao dia). A perda de peso é recomendável em animais obesos. O prognóstico é reservado, em especial quando há ulceração (HUDSON, 2010). 63 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Figura 40. Lesões na superfície palmar de um porquinho da índia (Cavia porcellus) com pododermatite, mostrando calosidade e necrose de tecidos. Fonte: Teixeira, 2014. Lembre! Uma das causas mais comuns de pododermatite é o piso gradeado ou sujo. Alopecia Alopecia não pruriginosa pode ter, essencialmente, duas origens: » Comportamental: › os animais dominados são obrigados a comer os pelos por seus congêneres dominantes; › os filhotes não desmamados tendem a engolir os pelos de sua mãe; › o animal ansioso pode ter um comportamento de automutilação. » Hormonal: › Alopecia transitória em fêmeas no final da gestação. - Alopecia bilateral simétrica em fêmea idosa, secundária ao hiperestrogenismo induzido por cistos ovarianos. Indica-se ovariectomia. Também é possível aplicar duas injeções de HCG (1.000UI, IM), com intervalo de 7 dias, ou administrar acetato de clormadinona -10mg/kg de Luteran, VO, a cada 6 meses (QUINTON, 2014). Dermatofitose Trichophyton mentagrophytes é o fungo mais comum; o Microsporum canis também pode ser isolado. A dermatofitose é uma infecção frequente em porquinhos da índia jovens mantidos em condições ambientais inadequadas. Em geral, as lesões iniciam- se na cabeça e nas orelhas, na forma de pequenas áreas de alopecia, com escamas e 64 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS crostas. Complicações como hipersensibilidade e infecções bacterianas secundárias são frequentes; nesses casos, as lesões tornam-se pruriginosas. Diagnóstico por citologia ou cultura para identificação do agente. O tratamento consiste em griseofulvina (25mg/kg/dia, VO, durante 3 semanas). O lufenuron (Program) é uma alternativa interessante. Pode ser utilizado por via oral, na dose de 80 a 100mg/kg, durante 3 dias consecutivos e, em seguida, com intervalos de 15 dias. O itraconazol tem sido usado com êxito, na dose de 5 mg/kg, 1 vez/dia durante 30 dias (JEPSON, 2010). As chinchilas podem apresentar os pelos roídos por contactantes ou por automutilação. Esse fenômeno é mais comum em animais estressados e agitados, e os locais mais afetados são áreas atrás dos ombros e na lateral do corpo. Os pelos ficam com aspecto quebrado e pode haver áreas de exposição de pele. As causas não são completamente elucidadas, porém considera-se um componente hereditário relacionado com o comportamento mais estressado dos animais. Quando não se consegue descobrir a causa, considera-se que seja vício ou comportamento obsessivo compulsivo. Como prevenção, deve-se cuidar do ambiente para reduzir o estresse, possibilitando o exercício, oferecendo esconderijo, manutenção do ciclo circadiano, temperatura e umidade em níveis aceitáveis para a espécie, além de oferecer dieta adequada com altos níveis de fibra. Se for constatado que o problema é comportamental, sugere-se terapia com fluoxetina na dose de 5 a 10 mg/kg, 1 vez/ dia até o crescimento dos pelos, porém pode haver necessidade de terapia contínua. (RICHARDSON, 2003). Ácaros e outros ectoparasitas A sarna é um dos principais ectoparasitas em roedores, atingindo pescoço e escápulas, abdome e pernas. Ocorre prurido intenso e o animal pode causar lesões traumáticas pela coceira, e, em cobaias, a intensidade do prurido pode provocar-lhes convulsões. No raspado de pele, eventualmente não são encontrados os agentes, pela profundidade em que se encontram. O tratamento consiste em ivermectina (0,5 mg/kg, SC) ou selamectina na forma de spot-on. A doramectina também pode ser usada. Piolhos e pulgas também podem ser visualizadas e o tratamento é o mesmo (QUINTON, 2014). Doenças do trato digestório São muito frequentes as causas que produzem afecções digestórias. As doenças dentárias são mais comuns em chinchilas e raras nos outros roedores. Nas chinchilas, o problema 65 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III está relacionado com a má oclusão dos dentes posteriores, que ocorre principalmente pela falta de alimentos abrasivos na dieta e possivelmente combinado com a falta de cálcio e vitamina D3 durante o crescimento. Esse quadro é conhecido como síndrome da doença dentária progressiva adquirida - SDDPA (RIGGS, 2009). O alongamento das coroas dos dentes maxilares ocorre lateralmente e eles penetram na mucosa das bochechas, com as coroas dos dentes mandibulares se alongando medialmente formando uma ponte sobre a língua. O diagnóstico desses problemas pode ser realizado pelos sinais clínicos e radiografia. Clinicamente, a chinchila é vista com salivação e pode apresentar anorexia, perda de peso e preferência por alimentos mais macios. É necessário alterar a dieta para verduras abrasivas e desgastar os molares a cada 6 a 8 semanas, sob anestesia. Tratar as infecções orais com base na sensibilidade da cultura. Analgesia com meloxicam (0,1 mg/kg, por via oral, 1 vez/dia durante no máximo 3 dias) ou tramadol (7,5 mg/kg por via oral ou injetável, 3 vezes/dia) (TEIXEIRA, 2014). Figura 41. Ponte sobre a língua de um porquinho da índia (Cavia porcellus) causada pelo alongamento coronal dos dentes posteriores em consequência da SDDPA. Fonte: Teixeira, 2014. 66 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Figura 42. Vista ventral da cavidade abdominal de rato aberta. 1. fígado, 2. estômago, 3. ceco, 4. baço, 5. pâncreas, 6. Jejuno. Fonte: https://pt.slideshare.net/gustavofarias562114/atlas-de-anatomiadorato. Figura 43. Radiografia lateral do crânio de uma chinchila (Chinchilla lanigera) com SDDPA. Alongamento dos ápices dos dentes posteriores mandibulares e maxilares, ultrapassando a linha da tábua óssea da mandíbula e dos seios nasais; contato entre os ápices dos dentes posteriores com os tecidos oculares; perda da linha oclusal entre os dentes posteriores; afastamento entre a mandíbula e maxila pelo alongamento das coroas de reserva e perda do ângulo oclusal dos incisivos inferiores. Fonte: Teixeira, 2014. Deve-se ter cuidado em estabelecera antibioticoterapia oral em roedores. Flora bacteriana é composta de bactérias gram-positivas e, uma vez administrados antibióticos orais contra essas bactérias como eritromicina, penicilina, lincomicina, cefalosporina e estreptomicina, poderá alterar a microbiota intestinal possibilitando a proliferação de Clostridium difficile; haverá, assim, redução de pH, enterite fatal e diarreia e consequentemente absorção de enterotoxinas e o animal pode entrar em choque e óbito (RICHARDSON, 2003). Por isso, o ideal para uso oral são os antibióticos de amplo espectro como enrofloxacino, tetraciclina, metronidazol e neomicina. Quando se usa antibióticos, recomenda-se a administração de probióticos e vitamina B. Nesses casos, fluidoterapia e carvão ativado (HEATLEY, 2009). 67 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Neuropatias Quanto às doenças neurológicas nos roedores, algumas particularidades: O gerbil tem uma predisposição genética à epilepsia com tratamento à base de fenobarbital e a síndrome vestibular do rato geralmente está relacionada à infecção da bolha timpânica por micoplasma. Síndrome vestibular geralmente está relacionada à infecção do ouvido interno (infecções da bolha timpânica por micoplasma são frequentes em ratos) (QUINTON, 2014). 68 CAPÍTULO 3 Lagomorphos Características Coelhos, lebres, tapitis e lebres assobiadoras pertencem à família Leporidade, ordem Lagomorpha. O coelho doméstico (Oryctolagus cuniculus) teve seus ancestrais provenientes do oeste da Europa e nordeste da África. Existem mais de 50 raças de coelho (ALVES, 2008). Diferentemente dos roedores, que contam com um par superior de incisivos e outro par inferior, os lagomorfos têm dois pares de incisivos superiores (PESSOA, 2008). Os leporídeos têm 28 dentes (2× I 2/1, C 0/0, P 3/2, M 3/3). Além da função óbvia das orelhas na captação de sons emitidos por predadores, desempenham função importante no controle térmico corpóreo, graças à vasodilatação e vasoconstrição periférica. Portanto, o animal não deve ser segurado pelas orelhas, que não devem ser obstruídas durante a contenção física. Comparando-se a massa óssea de um coelho com a de um gato, a do coelho é consideravelmente menor, o que o torna mais predisposto a fraturas. (PESSOA, 2014). Figura 44. Toca natural (a). Gaiola inadequada o piso gradeado - Provoca pododermatite severa (b). a b Fonte: Pessoa, 2014. Diferenças entre roedores e lagomorfos: (QUINTON, 2014). » Dois incisivos superpostos em cada hemiarcada superior nos Lagomorfos; um único incisivo por hemiarcada nos Roedores. 69 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III » Maxilar mais largo que a mandíbula, nos Lagomorfos (o crânio do coelho pode lembrar o de um cavalo miniatura); maxilar menos largo que a mandíbula, nos Roedores. » Movimento látero-lateral natural dos maxilares, nos Lagomorfos; movimento anteroposterior dos maxilares, nos Roedores. Figura 45. Coelhos 2 pares de dentes incisivos superiores. Fonte: Cubas, 2007. Fisiologia A expectativa de vida dos coelhos, em média, é de 6 a 8 anos. Os recordes de longevidade não ultrapassam 12 anos. Um adulto de raça anã pesa de 1 a 2kg, sendo a variedade anã do coelho Belier ligeiramente mais pesada (2 a 3kg). As raças gigantes (Belier, Gigante de Flandres) podem facilmente atingir 6kg. Quadro 9. Constantes fisiológicas dos coelhos. Temperatura corporal (°C) 37,8 – 39,5 Freqüência cardíaca (batimentos/min) 180 – 300 Freqüência respiratória (movimentos/min) 30-60 Volume sanguíneo total (ml/kg) 55-70 Número de cromossomos 44 Longevidade 6–13 anos Receptividade sexual 14–16 dias Gestação 30–33 dias Ninhada 4–10 filhotes Desmame 4/6 semanas Puberdade 4/8 meses Fonte: Arquivo pessoal. 70 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Há três glândulas odoríferas: submentonianas, perianais e inguinais, situadas nas pregas cutâneas de ambos os lados do orifício genital. Algumas particularidades anatômicas como: » O esqueleto do coelho é frágil, mas sua massa muscular é vigorosa. Durante um exame, o coelho pode fraturar a coluna vertebral cravando violentamente seus membros posteriores na mesa. » O timo persiste por toda a vida do animal. » O coelho é monogástrico; o órgão digestivo mais volumoso é o ceco. » O útero tem dois cornos e dois colos bem distintos. » A conformação anatômica do coelho o obriga a respirar apenas pelo nariz. Um coelho que tenta respirar pela boca apresenta uma patologia respiratória cujo prognóstico é, em geral, reservado. » A audição e o olfato são bem desenvolvidos. As orelhas também auxiliam na termorregulação (QUINTON, 2014). Em lagomorfos e roedores, o sistema urinário está envolto no metabolismo do cálcio. Nessas ordens, o cálcio sérico está diretamente relacionado com o cálcio existente na dieta, não sendo regulado pela vitamina D ou pelo paratormônio. O sistema urinário faz a excreção de cálcio e magnésio, o que torna a vesícula urinária e os rins órgãos favoráveis à formação de cálculo. Por isso, dietas com altos teores de cálcio podem causar calcificação ou mineralização do arco aórtico e da aorta torácica (MITCHELL, 2009). Como exemplo, excesso de couve. O coelho produz tanto as fezes quanto os cecotrófos (alimentos processados no ceco a partir da celulose). A microbiota cecal, formada por Bacteroides sp., estreptococos, colibacilos, Clostridium perfringens, protozoários ciliados e Cyniclomydes guttulatulus, é responsável pela fermentação da ingesta. Os cecótrofos são ricos em nutrientes essenciais como ácido fólico, vitaminas C, B e K e aminoácidos. A cecotrofagia é necessária, pois a síntese bacteriana desses nutrientes ocorre nas porções finais do intestino, local com pouca absorção de nutrientes. Por outro lado, as fezes são o subproduto da digestão e absorção dos nutrientes e não é o mesmo que cecótrofos. (QUINTON, 2014). 71 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Portanto, lagomorfos realizam cecotrofagia e não coprofagia! Figura 46. fezes à esquerda e cecotrófos à direita. Fonte: http://coelhomaniajlle.blogspot.com/2012/08/cecotrofia_16.html. Nutrição Verduras escuras devem compor o cardápio principal, grande quantidade de grama (capim elefante, pangola etc.), ração peletizada de excelente qualidade (1% a 2% do peso vivo/dia). Frutas devem ser fornecidas apenas como petiscos, pois a frutose pode causar disbiose. Lembre! A ração em excesso pode ser prejudicial a flora cecal e provocar diarreias Instalações Podem ser criados em ambiente interno ou externo. Utiliza-se como recintos caixas plásticas grandes; os aquários grandes têm o inconveniente de ter ventilação inadequada. As gaiolas com piso telado podem causar pododermatites, por isso usar cama de feno ou chapa metálica como fundo. Animais territorialistas agem agressivamente à introdução de outros animais. Substrato para cama: feno, palha, jornal grama sintética, evitar serragem e maravalha pelo risco de problemas respiratórios e ingestão causando obstrução. 72 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Figura 48. Sistema de criação interno com gaiolas (D) e a coelheira (A), suspensa do chão para evitar ataques de predador. Fonte: Pessoa, 2014. Figura 49. Contenção dos coelhos. Contenção ideal de coelho Fonte: Cubas, 2007. Figura 50. Outras formas de contenção A. Por “hipnose”, mantendo a cabeça fora da mesa B. Contenção pela região lombar. D. Apoiando os membros pélvicos, torácicos e cabeça no antebraço do manipulador. E. “Hipnose” com a cabeça apoiada sobre a mesa. Fonte: Pessoa, 2014. 73 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Nunca tentar segurar os membros pélvicos, risco de fraturas e luxações! Os coelhos têm ossos de cortical fina! Deve-se ter cuidado, pois os coelhos são extremamente sensíveis ao estresse,sendo relatado problemas até em animais que são banhados em pet shops. Nessa situação, inicialmente há liberação de catecolaminas, com reações fisiológicas que podem ser deletérias ao paciente, em que os animais se mostram em estado de estupor, tomam a posição de decúbito lateral, olhos “vidrados” e torcicolo evidenciando um prognóstico desfavorável apesar da terapêutica instituída (NOTA DO AUTOR). Clínica Imunoprofilaxia Vacinam-se os coelhos contra doença hemorrágica viral (VHD) e mixomatose, vacina mista contra as duas doenças, (Dercunimix, 0,2mL, ID) na prega da orelha somente para coelhos com acesso a ambientes externos. Na prática, para coelhos criados em ambientes internos, não se vacina, pois é rara a incidência da doença; além disso, a referida vacina é pouco encontrada no Brasil (QUINTON, 2014). Vermifugação com mebendazol 10 mg/kg 1 x dia por 5 dias (BRETAS, 2007). Anestesia Dependendo do estado de ansiedade do animal, a contenção química é necessária para evitar o estresse e fraturas por contenção inadequada e realizar exame físico criterioso e cavidade oral. O piloro muito estreito não permite que o coelho vomite. Realiza-se jejum de 4h a 5h, mantém-se um pouco de feno porque o ceco não pode ficar totalmente vazio de alimentos. O coelho, assim como os roedores, é muito sensível à hipotermia durante a cirurgia; por isso, o aquecimento é fundamental, usando luvas, colchão térmico e salas com temperatura amena. O aquecimento pode ser atingido via fluidoterapia aquecida. 74 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Quadro 9. Fármacos anestésicos mais utilizados em coelhos. Fármaco Dose (mg/ kg) Frequência acepromazina 0,5 a 2 Sc -- Butorfanol 0,1 a 1 A cada 4h Carporfeno 2 a 4 1 a 2 x dia Cetamina 0 a 50 --- Cetamina + diazepan 20 a 40 + 1 a 5 --- Cetamina + medetomidina 5 + 0,25 ou 25 + 0,5 __ Cetamina + xilazina 0 a 50 + 3 a 10 -- Cetprofeno 1 a 3 1 a 2 x dia Diazepan 0,5 a 10 --- Flunixin meglumine 1 a 2 2 x dia por 3 dias Haloperidol* 0,2 a 0,2 2 x dia Tiletamina +zolazepan 10 -- Fonte: Pessoa, 2014. *Obs.: O haloperidol, além de tranquilizante préoperatório, também é usado para animais com distúrbios psicopáticos, como agressões gratuitas, automutilação e outras psicopatias. Intubação Pela comissura labial ser estreita, a intubação é difícil, devendo ser utilizados em alguns casos, um videoendoscópio para acessar a traqueia. Em alguns casos, pode se proceder a aplicação de anestésico intranasal. Pelo porte pequeno, é possível utilizar o sistema de baraka para anestesia volátil (PESSOA, 2014). Coleita de sangue Acesso pelas veias: marginal da orelha (a mais utilizada), jugular – difícil; o animal deve ser sedado. A cefálica tem calibre pequeno e a safena lateral. O mesmo não se procede para fluidoterapia, visto que não se consegue manter um cateter nesses locais, com exceção da veia auricular. 75 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Figura 51. Colheita de sangue na veia marginal da orelha. Fonte: Arquivo pessoal. Exame clínico Particularidades » O coelho respira obrigatoriamente pelo nariz; qualquer movimento respiratório oriundo da boca é patológico. » O estado de hidratação não se avalia pelo beliscamento da prega cutânea, mas sim pelo grau de retração do globo ocular na órbita. » Não há reflexo ocular de piscar frente a uma ameaça. » Assim como nos gatos, a anorexia leva a lipidose. Para aplicação de injeções: » Via subcutânea: Entre a escapula ou sobre o flanco. » Via muscular: O local de preferência são os músculos lombares. Na coxa, risco de lesão do ciático. » Via intraperitoneal; para filhotes, 1cm acima do umbigo. » Via venosa: Veia marginal da orelha. » Via intraóssea: Em emergência, animais debilitados. 76 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Clínica e Terapêutica Para reidratação, usa-se o ringer lactato na dose de 75 a 150mL/kg. A medicação oral usa-se por suspenção, bem aceita pelos coelhos. Se precisar de alimentação forçada: papinhas de legumes para bebês e purê de abobrinha cozida no forno de micro-ondas 10mL, três vezes ao dia. A antibioticoterapia em coelhos deve ser feita com cautela, pois os coelhos têm ceco e uma flora bacteriana presente e importante; assim como em alguns roedores, o uso de determinados antibióticos pode levar a enterotoxemia fatal pela morte bacteriana, como os betalactâmicos que são absorvidos pelo ceco. Os fármacos orais tolerados são os mesmos usados para roedores: fluorquinolonas, sulfas, metronidazol. Não há restrição para o uso de qualquer antibiótico injetável. Abscessos Odontopatias, subnutrição, animais criados de maneira intensiva (corte), ventilação inadequada, substrato impróprio, condições sanitárias insatisfatórias e feridas traumáticas são os principais fatores predisponentes. Abscessos internos podem ser diagnosticados como massas abdominais (palpáveis), torácicas ou faciais (retrobulbar). Muitas vezes, pode ser necessário realizar uma incisão para drenar a abscessos caseoso. As bactérias envolvidas são as Pasturelas e Bordertelas (JEPSON, 2010). Má oclusão As causas são múltiplas e associadas. Têm origem genética, traumática, alimentar e metabólica. Uma das causas mais comuns é o desgaste insuficiente dos dentes: a dieta que privilegia mistura de grãos e ração granulada, em detrimento ao feno e à verdura fresca, induz à rápida sensação de saciedade que não incita o coelho a mastigar continuamente,como é necessário para o desgaste dos dentes. O Desgaste incorreto dos dentes: os movimentos mastigatórios efetuados para ingerir as rações são incompletos em relação aos necessários para a ingestão de alimentos fibrosos. O tratamento é cirúrgico, desgastando ou retirando o dente problemático (QUINTON, 2014). 77 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Figura 51. Exame de cavidade oral, mostrando dentes incisivos disformes e não gastos. Fonte: Pessoa, 2014. Ácaros em ouvido de coelhos – otite externa por ectoparasitos Psoroptes Cuniculi é o ectoparasito mais comum em coelho. Lesões confinam-se à superfície epitelial interna das orelhas. Começam na concha auditiva e estendem-se p/ a superfície interna do pavilhão auricular com Crostas espessas, secas floculentas de coloração cinza e castanho e pruriginosas. Normalmente não têm infecção secundária. Os animais balançam a cabeça e coçam com os pés. O diagnóstico é por exame direto ao microscópio. Tratamento é realizado com: ivermectina 1% 0,2 – 0,4 mg/kg semanal. Parar quando houver remissão das lesões. Limpeza das orelhas com substâncias otológicas: neomicina e dexametasona e soro. No local: vassoura de fogo, limpeza e higienização dos fômites. Figura 52. Lesões crostosas, floculentas. O ácaro é visível a olho nu treinado - Psoroptes Cuniculi. Fonte: Á esquerda: Cubas, 2007, à direita; http://www.vevet.com.br/2014/02/psoroptes-cuniculi-em-coelhos.html. 78 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS Figura 53. Ácaro ao microscópio. Fonte: Cubas, 2007. Enfermidades virais Mixomatose Causada por um Mixomavirus, a mixomatose é endêmica em lagomorfos em países da América do Sul. É uma doença fatal para o coelho europeu. A transmissão ocorre principalmente por insetos hematófagos. O tempo de incubação da doença em coelhos varia de 5 a 14 dias. Na forma aguda, os animais apresentam formações edematosas ao redor dos olhos, na base das orelhas e áreas genitais; blefaroconjuntivite, que progride para cegueira, hiporexia progressiva até anorexia e infecção secundária concomitante, ocorrendo a morte. Na forma crônica ou nodular, podem aparecer pseudo-tumores, principalmente nas orelhas, nariz e patas, 15 dias após a infecção, podendo haver resolução espontânea. Os sinais clínicos incluem nódulos cutâneos, sem edema palpebral. Tais pacientes respondem bem ao tratamento desuporte e à antibioticoterapia, podendo levar até 10 semanas para a completa recuperação. O diagnóstico é feito pelos sinais clínicos, microscopia eletrônica, ELISA, fixação de complemento e PCR. Em surtos graves, a taxa de mortalidade pode chegar a 100%, e nas formas graves deve-se entrar com tratamento de suporte intensivo e antibióticos para o controle de infecções secundárias (experiência do autor). Okerman, (1988) recomenda que coelhos infectados sejam submetidos à eutanásia para eliminar a fonte de infecção. O prognóstico é ruim, pois não há tratamento específico, portanto tratamento conservativo ou eutanásia são as opções indicadas. A vacina confere boa imunidade, a 1a dose é feita a partir de 6 semanas (RICHARDSON, 2000). 79 MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS │ UNIDADE III Figura 54. Mixomatose em coelhos: blefaroconjuntivite e edema de face. Fonte: Cubas, 2007. Quadro 10. Dosagens de alguns antibióticos em coelhos. Antibiótico Doses (mg/ kg) Frequência Amicacina 10 2/3 x dia Cefalexina 15 /20 1 x dia Cefalotina 13 4 x dia Ciprofloxacina 40/ 50 3 x dia Doxiciclina 2,5 2 x dia Enrofloxacina 5/ 10 1/2 x dia Metronidazol 20 2 x dia Oxitetraciclina 15/ 30 1 3 x dia Peniclina procaínica 40.000/60.000ui/kg A cada 7 dias Sulfadiazina+ trimetropim 40 2 x dia Sulfadimetoxina 12.5 a 100 1/ 2 x dia Tetraciclina 20 2 x dia Tilosina 10 2 x dia Vancomicina 50 3 x dia Fonte; Bretas, 2014. Obs.: Para pesquisa de outros fármacos, consultar o Guia Bretas, disponível em: https:// www.vetarq.com.br/2017/05/pdf-guia-terapeutico-veterinario.html. Procedimentos cirúrgicos Orquiectomia e histerectomia O acesso aos testículos pode ser pela bolsa escrotal caudal, medial ou cranial e por acesso abdominal. A técnica pode ser aberta ou fechada; a síntese pode ser com fio não absorvível monofilamentar, absorvível ou com grampo vascular (hemoclip); e a sutura 80 UNIDADE III │ MEDICINA E MANEJO DE ROEDORES DE COMPANHIA E LAGOMORPHOS de pele é feita em um, dois ou mais planos, com pontos simples interrompidos, sutura contínua ou intradérmica (PESSOA, 2014). A ovariosalpingo – histerectomia segue o padrão das gatas. Recomenda-se não colocar bandagem; a coelha pode ingeri-la, automutilar-se e tornar-se incomodada. É preferível, por segurança, efetuar um padrão de sutura intradérmica com fio absorvível e, em seguida, utilizar pontos simples separados cutâneos, externamente (JEPSON, 2010). Outros procedimentos Outra possibilidade cirúrgica é a produção de urólitos pela não metabolização adequada do cálcio que podem ser renais ou vesicais. Problemas ortopédicos também podem ocorrer como fraturas de membros pélvicos, muito comuns pela fragilidade óssea já relatada. Há relatos do estresse associado à má contenção produzirem lesões de coluna cujo tratamento é cirúrgico. Obs.: Coelhos não costumam permitir roupas cirúrgica, o mesmo acontece com implantes ortopédicos externos como fixadores, o que torna o tratamento muitas vezes um desafio (NOTA DO AUTOR). Figura 55. Visualização do ceco nos coelhos. Fonte: Pessoa, 2014. 81 UNIDADE IV MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS CAPÍTULO 1 Biologia e manejo Características Existem 2 grupos principais de primatas: os platirrinos, ou primatas neotropicais, e os catarrinos, ou velho mundo. Os primeiros são animais de porte pequeno a médio, apresentam as narinas voltadas para baixo em um focinho longo e cauda preênsil, ou não; os platirrinos apresentam as narinas voltadas para os lados, em um focinho mais curto, sem cauda como os: babuínos, gorilas, chipanzés, mandris, orangotangos (LOOMIS, 2003). Os platirrinos, que serão estudados neste capítulo, são animais em que há interesse pelos programas de conservação in situ e ex situ visto a sua vulnerabilidade e status no meio ambiente; como o exemplo, a conservação do mico-leão-dourado. Atualmente, é permitido o comércio legal em alguns locais, mas é necessário consultar a secretaria do meio ambiente estadual e conferir quais são os estabelecimentos e espécies autorizados. Esses animais são separados, entre outras, em 2 famílias, segundo alguns autores: os cebidae e os callitrichidae. Nos primeiros, temos p macaco-prego e o saimiris; nos segundos, os micos, o callimico, o aotus e outros (BECK, 1972). Aspectos biológicos » maior volume cerebral; » visão estereoscópica; » habilidade de uso com as mãos e pés; » cauda preênsil; » maior movimentação com os braços com a braquiação. 82 UNIDADE IV │ MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS Assim como peso altura entre as famílias cebidae e caliitriquidae podem variar os parâmetros biológicos também o podem. Quadro 11. parâmetros fisiológicos de pequenos primatas. Callithrix jacchus Leontopithecus Sp Saguinus sp Cebus Sp Allouatta Sp Ateles Sp Peso Médio (g) 261/323 600 a 800 510 a 450 1200 a 4500 3500 a 11100 5800 a 8000 TRº 35,4 a 39,7 37.2 a 39.6 39.3 a 40.1 37 a 38.5 37 a 38 36 a 39.4 F.C 240 a 350 180 a 260 __ 165 a 225 __ 160 a 210 F.R 20 a 50 20 a 50 __ 30 a 50 __ 18 a 30 Estimativa de vida(anos) 12 17 13 46 15 20 Fonte: Verona, 2014 (adaptado). Obs.: Nota-se, no quadro, a alta expectativa dos macacos pregos. Como representantes dos primatas, temos: o callithrix (mico-estrela ou sagui ), ateles (macaco-aranha), alouatta (bugio) cebus (macaco-prego). Quadro 12. Parâmetros reprodutivos de primatas neotropicais. Gestação(d) Peso ao Nascer (g) Desmame (Meses) Maturidade Sexual (m) Cebuella 140 15 2 18 a 24 Callithrix 125 a 130 30 2 14 a 18 Saguinus 130 a 135 40 a 45 2 a 3 16 a 20 Leontopithecus 125 a 130 40 a 55 2 a 3 16 a 20 Callimico 155 50 3 14 Aotus 126 a 133 90 a 105 5 a 12 24 Callicebus 136 70 5 36 a 60 Saimiri 152 a 172 72 a 144 5 a 10 36 a 60 Cebus 180 220 10 36(f)48(m) Pithecia 163 a 176 120 4 a 6 48(f)84(m) Chiropotes 150 115 6 a 12 48 Cacajao 160 90 13 a 22 36(f)72(m) Alouatta 190 125 18 a 24 60(f)84(m) Ateles 210 a 225 340 18 a 25 48 a 60 Lagothrix 207 a 211 125 12 48 a 60 Brachyteles 230 320 12 48 a 60 Fonte: Verona, 2014 (adaptado). 83 MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS │ UNIDADE IV Nutrição A alimentação em cativeiro de primatas ainda deixa a desejar, em razão do desconhecimento e da variedade alimentar de cada espécie. Enquanto os calitrichideos necessitam de uma dieta rica em proteína, os cebídeos e atelideos alimentam-de de uma variedade de formas vegetais maduras. Já os bugios (Alouatta sp.) são animais folívoros e frugívoros. Os pequenos primatas como os Sanguinus, Leontopithecus, Callithrix e Cebuella tendem à predação além de buscar vários tipos de alimentos como gomas e exsudatos como alimento (LOWENSTINE, 1992). Em termos práticos, os zoológicos brasileiros oferecem uma variedade de alimentos, mantendo um aporte maior de proteína para os pequenos, como também frutas e verduras para os bugios e macaco aranhas: tubérculos, verduras, frutas com alguma proteína animal. Atualmente, temos ração para primatas herbívoros de cativeiro (macaco-prego, guariba, macaco-aranha). Instalações Para os primatas, devido a seu alto grau de complexidade, o recinto deve mimetizar o ambiente, com: troncos, folhagens, arbustos, casinhas, cordas giral, árvores etc. O risco do estresse de cativeiro deve ser minimizado com enriquecimento ambiental seja com garrafas de plástico com alimento escondido, brinquedos dos mais diversos que despertam a curiosidade dos animais. O estresse ou o tédio de cativeiro podem ser notados por brigas, apatia, falta de interesse em interagir, inapetência, automutilação, coprofagia e muitas outras formas. Essas manifestações podem ter como consequências: gastrite, úlceras e óbito de forma crônica (NOTA DO AUTOR). Lembrando que a própria visitação é um fator estressante, que pode ser atenuado com algumas recomendações: » colocar janelas para a visualização dos recintos em locais altos, de modo que apenas a cabeça e ombro dos visitantes possam ser visíveis pelosanimais; » aumentar a altura das paredes dos recintos e, desse modo, a arrumação interna dos poleiros, de modo a simular condição arbórea; » colocação de passagens dos visitantes em posições bem baixas, de modo que pareçam pequenos para os primatas (VERONA, 2014). 84 UNIDADE IV │ MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS Figura 56. Recinto para pequenos primatas (micário): cordas, mangueira, casinhas, rede, troncos. Fonte: Arquivo pessoal. Pequenos primatas podem-se ser colocados em micários, conforme o da figura acima, onde há aproximação de pessoas e o risco de fuga é baixo. Para animais de porte médio, existe a opção das ilhas, pois, em regra, os primatas não nadam. Isso já foi contestado em alguns zoológicos brasileiros onde ocorreram fugas a nado em lagos onde o animal consegue ficar em pé; portanto, ao pensar em colocar primatas em ilhas, o lago deve ser profundo. Para animais grandes como gorilas e chipanzés, o ideal é o fosso, o mesmo onde se colocam os grandes felinos, devido ao risco da segurança pública ser maior. Figura 57. Ilhas para primatas de porte médio no Zoo de Brasilia. Fonte: Arquivo pessoal. Deve-se evitar colocar animais sozinhos porque os primatas são muito sociais, embora eventualmente haja o isolamento de algum membro do bando. Também se deve instalar cordas, galhos, giral para a escalada dos animais. 85 MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS │ UNIDADE IV Figura 58. Corredor de segurança é fundamental para evitar fugas de animais. Fonte: Arquivo pessoal. Em animais criados em casa como o sagui ou macaco-prego, legalizado ou não, o ideal é a colocação desses animais em viveiros adaptados para pássaros. 86 CAPÍTULO 2 Clínica e cirurgia Captura, contenção e anestesia Indivíduos em vida livre são capturados por armadilhas (modelo Tomahawk); os decativeiro, com puçás, redes e luvas. Já os maiores, pelo risco de agressão, com zarabatanas, pistolas e rifles anestésicos. Em alguns casos, a gaiola de contenção poderá ser usada, porém há um risco grande de estresse e lesões a esse equipamento (VERONA, 2014). Lembrar que o local de aplicação do dardo só poderá ser feito na musculatura da coxa e escápula; visto que os primatas são muito ágeis e rápidos, isso se torna uma tarefa às vezes difícil e perigosa para esses animais. Não são incomuns aplicações erradas no tórax e abdome causando lesões severas e até a morte. Há relatos de primatas que conseguem retirar o dardo de sua musculatura antes do medicamento ser inoculado (NOTA DO AUTOR). Figura 59. Contenção física em pequenos primatas. Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-25- Contencao-fisica-de-primatas-de-medio-porte_fig11_305562039. Coleta de material biológico e exame clínico A coleta de sangue nos primatas é realizada geralmente no plexo arteriovenoso, inguinal, sendo, muitas vezes, de difícil visualização; normalmente o animal precisa https://www.researchgate.net/figure/Figura-25-Contencao-fisica-de-primatas-de-medio-porte_fig11_305562039 87 MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS │ UNIDADE IV estar sedado. É conveniente lembrar da regra do 1% do peso vivo para coleta de sangue, ou seja, em um animal de 150 g, pode-se retirar tranquilamente, sem risco de choque, 1,5 ml de sangue. Quarentena A quarentena para animais recém-chegados é fundamental. Entre outros exames, como os de sangue para hemograma e bioquímicos, o exame de cavidade oral pode ser revelador. Primatas padecem com doenças periodontais, cáries, fraturas e má oclusão. Outra patologia oral, relevante zoonótica e fatal, é a herpes. Teste de tuberculina também deve ser realizado na chegada dos animais ao novo cativeiro, visto ela ser, assim como a herpes, fatal ao primata, além de zoonótica. O teste é feito com aplicação de tuberculina ppd (aviária e bovina) intradermopalpebral com resultados entre 24/72 horas. O resultado positivo revela edemaciamento e rubor de pálpebras, além de necrose, corrimento purulento e febre. Não há vacinação, pois a vacina humana confere poucos meses de imunidade, além de anular a tuberculinização. Os animais podem ser tratados com isoniaziada por até 2 anos, ou eutanasiados, o que normalmente acontece. As lesões podem atingir: pulmão, fígado, baço, rins e mesentério. Figura 60. Colheita de sangue artéria femoral. Fonte: Cubas, 2014. 88 UNIDADE IV │ MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS Figura 61. (A) Bugio após aplicação intradermopalpebral e chipanzé no momento da aplicação (B). A B Fonte: A (arquivo pessoal), B ( Cubas, 2014). Figura 62. Animal positivo à tuberculização: edema palpebral (A), intestinais mesentéricas (B), lesões esplênicas(C) E intestinais (D). A B C D Fonte: Cubas, 2014. Contenção anestésica e cirurgias O diazepam é utilizado na forma oral, oferecido em suco de laranja, o que é aceito pelos primatas e, assim, facilita manejos sem estresse. A cetamina é o neuroléptico mais 89 MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS │ UNIDADE IV utilizado, visto que pode ser usada por qualquer via, assim como a tiletamina-zolazepan (VERONA, 2014). Procedimentos cirúrgicos mais corriqueiros são as vasectomias, que reduzem a população e mantêm a liderança do macho alfa sem o risco de reprodução indesejada. É importante lembrar que as suturas de pele, de preferência, devem ser invaginantes ou intradérmicas, uma vez que, na curiosidade, o animal poderá soltar os pontos (Nota do autor). Quadro 11. Doses de fármacos mais usados em primatas do novo mundo. Nome genérico Doses Via de administração Aminofilina 25 a 100/mg animal v.o Atropina 0 2 a 0,05 mg/ kg IM, SC, IV aptopril 1 mg/kg VO Carporfeno 2 a 4 mg/ kg VO dexametasona até 2 mg/kg IV Furosemida 2 mg/kg VO ibuprorfeno 20 mg/ Kg VO Cetoporfeno 5 mg/kg IM prednisolona 1 a 15 mg/kg VO Fonte: Verona, 2014 (adaptado). Obs.: Para pesquisa de outros fármacos, consultar o Guia Bretas, disponível em: https://www.vetarq.com.br/2017/05/pdf-guia-terapeutico-veterinario.html. Enfermidades As mais frequentes enfermidades em primatas de pequeno porte de cativeiro são as orais: cáries, cálculos, fraturas dentais, má oclusão, entre outras, algo que não costuma ocorrer com animais de vida livre. Isso ocorre justamente pela oferta de alimentação errada, doces e outras guloseimas que são aceitas pelos animais e acabam funcionando como uma premiação. Esses animais padecem de vários parasitas protozoários, como a malária, a tripanossoma e a toxoplasmose, além de doenças infecciosas humanas como: febre amarela, raiva, sarampo e herpes. A febre amarela tem impacto importante, causando mortalidade em animais de vida livre, assim como é endêmica em zoológicos brasileiros principalmente quando eles estão próximos à mata, causando-lhes perda de alguns indivíduos. Os animais do velho mundo são imunes ao agente viral. Ela é causada por um flavivirus, sendo carreada 90 UNIDADE IV │ MANEJO E MEDICINA DE PRIMATAS pelo aedes aegypti. Os gêneros Alouatta, Callithrix e Ateles são muito sensíveis ao vírus e apresentam taxa de letalidade elevada, porém o gênero Cebus, apesar de infectar- se facilmente, apresenta baixa taxa de letalidade e geralmente desenvolve imunidade. Para humanos, existe a vacinação obrigatório, para os primatas não. Netes, ocorre CID, icterícia, esteatose hepática e hepatite necrótica. Não há tratamento. As medidas são preventivas com o uso de tela nos recintos e de forma empírica; alguns veterinários estão usando os repelentes top spot como vectra®. sob a pele. A vacinação de antígenos utilizados em seres humanos não confere imunidade aos primatas (KALTER, 1971). Quanto à toxoplasmose, esta também grassa de forma intermitente em primatas, sendoesses sensíveis ao agente, o que não ocorre na maioria dos animais e no homem. Nas infecções em que a imunidade não é adequada, os taquizoítas continuam a multiplicar-se destruindo um número excessivo de células e produzindo lesões em múltiplos órgãos, sendo a pneumonia, a hepatite e encefalite as principais causas dadoença e morte. Em zoológicos, alguns desses animais tiveram morte súbita sem sinais clínicos. Os achados post-mortem mais comuns foram congestão e edema pulmonares, esplenomegalia e linfadenite mesentérica. Os achados histopatológicos mais comuns foram hepatite necrótica multifocal, linfadenite, pneumonia intersticial e esplenite necrótica (CATÃO DIAS, 2013). Os ectoparasitas são raros nessas espécies por conta de os animais terem o hábito da catação. 91 UNIDADE V RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES CAPÍTULO 1 Radiologia de mamíferos silvestres Particularidades Diferente de répteis e aves de porte não muito grandes, na maioria das vezes, as tomadas radiológicas em mamíferos são restritas a algumas partes dos animais, havendo a possibilidade de realizar imagens radiológicas em todo o seu corpo, o que só é possível em animais de porte médio/pequeno. Projeções em grandes animais se restringem aos dedos, como no caso dos elefantes. Figura 63. Tomada radiológica de falanges de elefante. Fonte: Reprodução / Wildlife SOShttps://noticias.r7.com/internacional/fotos/india-inaugura-seu-primeiro-hospital-veterinario- para-elefantes-18112018. https://noticias.r7.com/internacional/fotos/india-inaugura-seu-primeiro-hospital-veterinario-para-elefantes-18112018 92 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES As necessidades de radiografias nos dedos desses animais devem-se às possibilidades de pododermatite por problemas de piso em zoológicos como também o não casqueamento periódico, o que leva às ostoemielites nas falanges. Essas lesões de pododermatites também ocorrem em porquinhos da índia e coelhos por causa de pisos úmidos e sujos, assim como pisos gradeados. Em Ferrets, o abdome é maior e a visualização das estruturas abdominais é mais fácil. O baço apresenta-se também visualizável com tamanho maior se comparado a outros roedores. A radiologia em mamíferos silvestres e exóticos, além das espécies de zoológicos, popularizou-se entre os roedores, lagomorphos e os mustelídeos como os ferrets, que eventualmente são comercializados no Brasil. Radiografias em roedores e lagomorphos Para podermos interpretar uma imagem, devemos conhecer da anatomia radiológica do grupo que a espécie pertence. Por exemplo, nos roedores, o tórax apresenta-se largo, mas curto no seu eixo craniocaudal, com silhueta cardíaca globosa e larga em comparação à largura do tórax (diferente do que vemos em felídeos e canídeos, que têm silhueta cardíaca piriformes). Margem cranial da silhueta cardíaca, bem como parte do mediastino cranial, sofrem a sobreposição da musculatura dos membros torácicos, e o ápice cardíaco sobrepõe-se ao diafragma (SILVERMAN, 1993, p. 1287). O abdômen oferece-se pobre quanto a detalhes radiográficos. Na maioria, o estômago apresenta uma quantidade de gás, a depender da espécie estudada. Lembre! Em espécies como coelhos e outros animais que têm ceco, haverá uma produção de gás maior do que o normalmente conhecido. Em espécies monogástricas e sem o ceco, é aceitável fisiologicamente encontrar na imagem uma quantidade de gás gastrointestinal em torno de 15- 20% (NOTA DO AUTOR). Outra particularidade anatomo-radiológica está na chinchila e seu crânio, cujas bulas timpânicas apresentarem-se de 4 a 5 vezes maiores se comparadas às de outros roedores como hamster e porquinho-da-índia. Lembre-se de que a visualização de bula timpânica permite a percepção de otite média interna devido à opacidade que esta apresenta; além de espessamento da parede, opacificação e mineralização, eventualmente essa infecção pode estender-se para os ossos do crânio, mandíbulas e maxilas, estendendo a infecção nesses ossos, produzindo um aspecto lítico com reação periostal exuberante (SILVERMAN, 1993). 93 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V Figura 64. Radiografias em projeções laterolateral (A) e dorsoventral (B) de um coelho (Oryctolagus cuniculus), verificando-sereação osteolítica e osteo proliferativa expansiva com aumento de volume de tecidos moles em região mediorrostral do corpo da mandíbula esquerda, sugestivos de osteomielite. Fonte: Cubas, 2014. Devido às frequentes patologias respiratórias, digestórias e ortopédicas em coelhos e roedores, as tomadas radiológicas são fundamentais para diagnóstico e prognóstico das enfermidades. Figura 65. Fixador externo em coelho. Fonte: Quinton, 2005. 94 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Em coelhos e chinchilas, em função de terem ossos com cortical fina, é comum ocorrerem fraturas de membros que podem ocorrer também na contenção inadequada ao segurar os animais pelos membros pélvicos. Essa mesma contenção poderá provocar traumas irreversíveis de coluna. Figura 66. Radiografia em projeção laterolateral da coluna torácica de um porquinho-da-índia (Cavia porcellus), na qual se observa fratura/luxação entre T8T9, com deslocamento dorsal de T8 em relação à T9. Fonte: Cubas, 2014. Figura 67. Íleo cecal em coelhos. Fonte: Quinton, 2005. Como mencionado, os coelhos padecem com certa frequência de alterações digestórias que lhes ocasionam diarreia. As causas são variadas, sendo as mais comuns não as infecto-parasitárias como se imagina, mas sim as de origem metabólica, entre elas: excesso de ração, antibióticos orais, que matam flora gram-positiva, e alface como dieta principal. É comum, de forma inadvertida, proprietários ministrarem antibióticos orais sem conhecimento dessas espécies, o que lhes provoca íleo cecal paralítico com alta produção de gases como mostra a figura 5. As dilatações de alças intestinais por gases são 95 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V aspectos radiográficos que costumam caracterizar um processo obstrutivo ou enterite, independentemente da espécie avaliada; todavia, tendo em vista a grande variação de aspectos associados a processos não obstrutivos em mamíferos de porte intermediário, às vezes é impossível a diferenciação entre doença gastrintestinal obstrutiva e não obstrutiva, devendo, para tanto, ser realizado exame contrastado. O ceco, quando se apresenta distendido de forma significativa, ocupa a maior parte da porção ventral direita do abdome. Deve-se suspeitar de processo obstrutivo intestinal quando se vê, ao exame radiográfico, dilatação de alças e ceco ou cólon sem dilatação (SILVERMAN, 1993). Quanto a imagens abdominais em roedores, em cobaias, os rins são observados de forma incompleta, enquanto o estômago e segmentos das alças intestinais exibem moderada a pequena quantidade de gás, respectivamente. Os coelhos mostram uma variedade muito grande de aspectos radiográficos normais para a cavidade abdominal, por exemplo, um tricobezoar gástrico pode ser considerado normal em coelhos saudáveis (SILVERMAN, 1993). Roedores em função do crescimento de seus dentes de forma contínua podem produzir diversas lesões orais como; má oclusão, fraturas dentárias, abscessos dentários o que os leva a parar de se alimentar e se tornarem prostrados. Radiografias de crânio são essenciais para examinar o plano oclusal. Autores propõem, por meio das projeções laterolateral e dorsoventral, o uso de linhas de referência anatômica para a determinação da extensão de más oclusões em pequenos mamíferos. (BOEHMER, 2009, pp. 250/260). 96 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Figura 68. Radiografias em projeção laterolateral (A e B) do crânio de chinchilas (Chinchilla laniger). Nota-se alteração de oclusão dentária devido ao crescimento exagerado dos dentes. Fonte: Cubas, 2014. Figura 69. Radiografia de ferret sadio; notar coração globoso e deitado Tórax estreito. Animal sem alteração radiológica. Fonte: Quinton, 2005. 97 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROSSILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V Figura 70. Osso epipúbico em marsupiais. Fonte: Arquivo pessoal. Curiosidades! O saruê (marsupial) apresenta ossos epipúbicos que sustentam as musculatura e pregas de pele do marsúpio, como visto na figura 70. Figura 71. Membro torácico de macaco prego, sem alteração. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 72. Imagem de tatu peba; nota-se ao fundo as placas dérmicas. Fonte: Arquivo pessoal. 98 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Em Alguns animais, é interessante realizar uma sedação leve ou relaxante muscular para proceder às imagens radiológicas, evitando fraturas ou estresse, muito comuns em coelhos. Neles, pode ocorrer fraturas da 7a vértebra torácica ao segurá-lo de forma errada. Patologias radiológicas Doença osteometabólica Com grande frequência, doenças osteometabólicas, que afetam inúmeras espécies em seu crescimento, são observáveis com maior nitidez no exame radiológico. Avalia-se, nesses casos, a quantidade de fraturas espontâneas, assim como desvios de coluna e entortamento de pelve que leva à dificuldade de eliminação das fezes. As alterações radiográficas abrangem: » diminuição generalizada da radiopacidade óssea; » adelgaçamento de corticais ósseos; » deformidades angulares de ossos longos ou, mais raramente, de costelas e coluna vertebral, e/ou fraturas patológicas das metáfises (SILVERMAN, 1993). Pode-se observar a perda da radiopacidade ao comparar-se a densidade de tecidos moles ao tecido ósseo. Figura 73. Doença osteometabólica em mustelídeo, entortamento de ossos longos; nota-se ossos valgos. Fonte: Arquivo pessoal. 99 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V Figura 74. Doença osteometabólica em mustelídeo, entortamento de coluna vertebral. Fonte: Arquivo pessoal (Zoológico de Brasília). Artrites Nas artrites, que podem ocorrer em qualquer animal, principalmente com o avançar da idade, o exame se revela: » fase aguda; pouca evidência radiográfica de artrite: Efusão articular; » fase crônica: diminuição da interlinha articular, osteólise e reação do periósteo nas regiões epifisária e metafisária, esclerose subcondral e aumento de volume de tecidos moles. Osteomielite » Pode atingir diversos ossos do sistema esquelético, sendo mais frequente nas extremidades dos membros. » Ossos do crânio: resultado infecções crônicas localizadas no trato respiratório superior, como rinite e sinusite. » Rx: Aumento de radiopacidade nas cavidades nasais e seios infraorbitários estágio avançado: reação osteolítica nos ossos adjacentes. Figura 75. Fratura em maxilar de lobo-guará. Fonte; Arquivo pessoal. 100 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Figura 76. Fratura de cabeça de fêmur em cachorro do mato. Fonte; Arquivo pessoal. Diferente dos cães, em que se mensura as dimensões cardíacas pelo exame radiológico, com as dimensões das cervicais, nos mamíferos silvestres, essa avaliação é muito subjetiva, uma vez que existem animais de diferentes ordens com diferentes tamanhos e particularidades. Porém, para canídeos e felídeos silvestres, pode-se extrapolar essa avaliação, pelo o que se conhece da radiologia de cães e gatos domésticos. Para espécies multíparas, a avaliação radiológica é melhor que a ultrassonográfica para observação de quantitativo fetal; uma vez que algumas espécies como roedores costuma conceber ninhada numerosa, o exame radiológico permite dizer a quantidade de fetos. Em casos de morte fetal, a radiologia também é útil, pois há produção de gases em volta do feto morto. Ainda como possibilidades radiológicas: piometra, comum em coelhas, canídeos e felídeos, testículos ectópicos, massas sugestivas de neoplasias; em coelhas, os carcinomas uterinos podem estar mineralizados, com visibilidade ao RX (FEENEY, 2003). Em alguns lagomorfos, é possível observar o hemipênis em projeção dorsoventral, como duas estruturas calcificadas localizadas caudalmente à pelve, uma de cada lado da coluna vertebral (SILVERMAN, 1993). Lembre-se de que, assim como em cães e gatos, os cálculos da vesícula urinária, também presentes em porquinhos-da-índia, têm sua radiopacidade observada por imagem radiológica. (FARROW, 2009). O exame radiográfico auxilia em muito a avaliação do sistema digestório, oferecendo informações importantes sobre localização, radiopacidade, dimensões do lúmen, conteúdo, distribuição das alças intestinais etc. A indicação a animais exóticos dá- se especialmente para pesquisa de corpos estranhos, dilatações gástricas, enterites e processos intestinais obstrutivos ou para exclusão de envolvimento do trato digestório (SILVERMAN, 1999). 101 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V Radiologia odontológica em mamíferos Indicações Entre as indicações para confecção de radiológicas: avaliação geral, fratura dentária, doença periodontal, troca dentária, crescimento dentário, abscesso periapical, endodontia, exodontia, neoplasia, edema facial e fraturas mandibulares e maxilares (GIOSO, 2007). Os procedimentos odontológicos em animais selvagens são sempre realizados com os animais anestesiados ou sedados, para que permaneçam imóveis e para assegurar a segurança do paciente e da equipe veterinária. Os aparelhos usados para confecção da radiologia odontológica são os mesmos usados em odontologia humana: aparelhos com 70 kV e 7, 10 ou 15 mA, com capacidade de variação no tempo de exposição. Os modelos atuais têm seus comandos em mostrador digital, no qual o operador determina o ajuste conforme o objeto a ser radiografado. (GIOSO, FECCHIO, MARTINEZ, 2014). Com braços articulados possibilitando angular em todas as direções, os equipamentos podem ser de dois tipos: analógicos e digitais, permitindo estes últimos uma melhor visualização e qualidade da imagem. Figura 77. Aparelho de radiografia odontológica fixado à parede sendo usado em chimpanzé (Pan troglodytes). Fonte: Cubas, 2014. Laboratório de Odontologia Comparada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. 102 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Filmes e técnica intraoral Os filmes intraorais têm diferentes tamanhos: periapical (nos 0, 1, 2), interproximal (no 3) e oclusal (no 4). Os mais utilizados na prática veterinária são os periapicais número 0 (odontopediatria), indicados para pequenos felídeos e pequenos primatas; o número 2, utilizados em animais de médio porte, como canídeos e felídeos de porte médio; e o número 4 (oclusal), adequados para grandes felídeos e ursídeos (LASCALA, 2006). Figura 78. Imagem radiográfica de pré-molares e molares mandibulares de bugio (Alouatta caraya). Note as setas indicando lise óssea alveolar decorrente de doença periodontal. Lise Óssea. Fonte, Gioso, Fecchio, Martinez, 2014. Lembrete! Respeitar técnicas de projeção e posicionamento. 1. Paralelismo: O filme é posicionado paralelamente ao eixo longitudinal do dente e o feixe de raios X incide em sentido perpendicular ao longo eixo do dente e ao filme, possibilitando uma imagem radiográfica isométrica do dente radiografado Ângulo da bissetriz Devido à forma do crânio nos carnívoros, não é possível, para a maioria dos dentes, o posicionamento do filme em paralelo ao seu eixo longitudinal. Recorre-se, então, à imagem que se forma no eixo da bissetriz do ângulo entre o longo eixo do dente e o plano do filme. A fonte de raios X deve ser posicionada perpendicularmente à linha da 103 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V bissetriz (ângulo médio entre o longo eixo do dente e o plano do filme odontológico) para obter-se uma imagem isométrica do dente. (NIEMIEC, 2004). Figura 79. Técnica radiográfica dabissetriz. Plano do dente (a), plano do filme (b) e a bissetriz (c), ilustrados em crânio de cão (Canis familiaris). Note que o feixe de raios X é perpendicular (90°) à bissetriz. Fonte: Gioso, Fecchio, Martinez, 2014. 104 CAPÍTULO 2 Contenção química de mamíferos silvestres Analgésicos em silvestres Reconhecimento da dor em pequenos mamíferos Há um desconhecimento sobre a terapêutica analgésica em pequenos animais se comparados aos cães e gatos. Leva-se em consideração a elevada taxa metabólica dos pequenos animais em relação aos grandes, o que os faz receber maiores dosagens de fármacos, e, por sua vez, anestésicos por kg/peso vivo. Atenção! Pequenos animais, maiores taxas metabólicas, maiores dosagens de fármacos! A avaliação da dor em animais é cercada de um grau de subjetividade e conta com diferenças de espécies e tamanhos e particularidades individuais, o que exige experiência e tempo para reconhecimento. Alguns sinais clínicos são associados à dor são universais em quaisquer animais, tais como: alterações de temperamento (tanto agressivo como passivo), agitação, redução da mobilidade ou relutância em ficar de pé, letargia, posicionamento arqueado, constipação intestinal/redução na defecação, estase gastrintestinal, aumento da frequência respiratória e claudicação. Redução no consumo de alimentos e/ou de água pode ocorrer em animais com dor. Coelhos, furões e alguns roedores muitas vezes rangem os dentes quando apresentam dor abdominal. Como acontece com outras espécies, animais exóticos podem apresentar tensão abdominal, ficando em posição curvada ou arqueada quando apresentam dor abdominal (HAWKIN, 2014). Ainda naqueles que costumam se assear arrumando os pelos, diminuem essa atividade o que provoca uma pelagem sem brilho e gordurosa. Analgésicos Opioides Esses fármacos são mais utilizados nos animais para dor moderada a grave e nas situações ortopédicas. São usados para todos os animais levando-se em consideração 105 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V dosagens maiores para pequenos animais. Efeitos adversos foram relatados como depressão cardiorrespiratória, constipação ou diminuição da motilidade intestinal, o que pode ser evidenciado pela produção exacerbada de gás principalmente em espécies com ceco como o coelho e o porquinho-da-índia, que produzem timpanismo pela diminuição de trânsito (HAWKIN, 2014). Os efeitos dos opioides podem variar entre as espécies; efeitos melhores ocorrem quando ministrados parenteralmente, pois, por via oral, para esses medicamentos ainda não se tem conhecimento dos efeitos para espécies silvestres. Na dúvida, prefira administrar medicamentos por via injetável. Para aprofundamento, consulte o guia terapêutico veterinário Bretas. Em furões, estudos com buprenorfina mostraram resultados razoáveis, como hidromorfona e oximorfona, os quais também foram usados em coelhos. Esses opioides são muito eficazes para dor pós-operatória -, porém em furões podem produzir sedação profunda. Deve-se monitorar o apetite pois é comum episódios de inapetência pelo uso de opioides em alguns animais (JOHNSTON, 2005). Fentanil Esse fármaco tem ação curta quando aplicado de forma intravenosa, por isso seu uso é melhor em infusão contínua durante o transoperatório e, nesse caso, é preciso manter acesso seguro das vias respiratórias pela possibilidade de depressão respiratória que pode ocorrer na aplicação deste fármaco. O uso de fentanila transdérmica por adesivos também foi testada mantendo animais sedados (FOLEY, 2001). Tramadol Recentes estudos apontam doses acima de 4 mg/kg para cães para um melhor efeito analgésico a depender da intensidade da dor. Seguindo essa linha raciocínio, os pequenos silvestres exigem doses maiores para suprimir suas dores. Houve relatos em que dose de 10 mg/kg de tramadol VO não proporcionou analgesia suficiente para ratos após incisão cirúrgica (MCKEON, 2011). Em ratos, o tramadol promoveu analgesia em casos de osteoartrite, o que, porém, não ocorreu em casos de dor aguda. 106 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Quadro 12. dosagens de analgésicos em pequenos mamíferos exóticos (doses em mg/kg). Fármaco Coelho Ferret Cobaia Chinchila Rato Camundongo Comentários Carpro Feno 1,5 a 5 12 ou 24h 2 a 5 12 ou 24h 2 a 5 12 ou 24 h 2 a 5 12 ou 24 h 2 a 5 12 ou 24 h 2 a 5 12 ou 24 h - Cetoprofeno 1 a 3 12 ou 24 h 1 a 3 12 24 h 1 a 2 12 ou 24 h 1 a 2 12 ou 24 h 2 a 5 12 ou 24 h 2 a 5 12 ou 24 h - Meloxican 0,1 a 0,3 24h 0,1 a 0,3 24h 0,1 a 0,3 24h 0,1 a 0,3 24h 0,5 a 2 24 h 1 a 5 24 h - Bubrenorfina 0,01 a 0,05 6 a 12h 0,01 a 0,03 6 a 12h 0,01 a 0,05 6 a 12h 0,01 a 0,05 6 a 12h 0,05 a 0,1 6 a 12h 0,05 a 0,1 6 a 12h - Butorfanol 0,2 a 2 2 a 4 h 0,05 a 0,4 2 a 4 h 0,2 a 0,5 a 4 h 0,2 a 2 2 a 4 h 1 a 2 2 a 4 h 1 a 2 2 a 4 h - Fentanil - - - - - 0,025 a 0,2 - Hidromorfona 0,025 a 0,2 6 a 8 h 0,1 a 0,2 6 a 8 h 0,2 a 0,5 6 a 8 h 0,2 a 0,5 6 a 8 h 0,2 a 0,5 6 a 8 h 0,2 a 0,5 6 a 8 h Morfina 0,2 a 2 4 h 0,2 a 2 2 h 2 a 5 2 a 4 h 2 a 5 4 h 2 a 5 4 h 2 a 10 4 h Usada como dose única Nalbufina 1 a 2 2 a 4 h 0,5 a 1,5 2 a 4 h 1 a 2 2 a 4 h - 1 a 2 2 a 4 h 2 a 4 2 a 4 h - Naloxona 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1 0,001 a 0,1 Oximorfona 0,05 a 0,2 6 a 8h 0,05 a 0,2 6 a 8h 0,2 a 0,5 6 a 8h 0,2 a 0,5 6 a 8h 1,2 a 1,5 0,2 a 4 Tramadol 2 a 5 4 a 8 h - - - 5 a 20 5 a 40 Fonte: Hawkin, 2014. Buprenorfina Tem ação prolongada e de eleição para analgesia pós-operatória. Efeitos adversos no TGI são os mais comumente relatados com a buprenorfina. Hábito alimentar pervertido (pica) pode ocorrer quando ratos são alojados em ambientes com certos tipos de substratos, particularmente maravalha e madeira. A buprenorfina transmucosa oral é usada em gatos e empiricamente em furões. A buprenorfina administrada como pré-anestésico pode não fornecer analgesia adequada para procedimentos cirúrgicos e pode prolongar a recuperação; assim, é geralmente administrada para tratar a dor pós-operatória (SHARP, 2003). Butorfanol É comumente utilizado em pequenos mamíferos para contornar distúrbios gastrintestinais potenciais e, geralmente, não produz depressão respiratória 107 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V dose-dependente. Em coelhos, 0,4 mg/kg de butorfanol por via SC prolongou a anestesia cetamina/medetomidina. (HEDENQVIST, 2002). Também podem ser usados com infusão continua. Aines (anti-inflamatório não esteroidal) Efeitos adversos são relatados como úlceras gastrointestinais e lesões renais em todas as espécies de mamíferos estudadas, sendo o meloxican o anti-inflamatório universal para todas as espécies com menores efeitos adversos. Esse AINE e outros podem ser manipulados visando a ministrar doses orais por cápsulas ou comprimidos. É possível que as doses tenham que ser ajustadas caso a caso devido à insuficiência de estudos e variações individuais entre as espécies, portanto não é incomum o aumento de doses para determinadas situações. Analgesia epidural Muito comum para mamíferos de grande porte, diminui a dose de anestésicos gerais e assim aumenta a segurança e custo dos procedimentos anestésicos gerais. Atualmente, popularizou-se em mamíferos pequenos, embora com um certo grau de dificuldade como também de experiência (MORIMOTO, 2001). O local de junção lombossacral é o mais comumente utilizado e a técnica de administração é semelhante às realizadas em cães e gatos. A morfina é o opioide mais utilizado, pois apresenta elevado potencial de ação e efeito de longa duração analgésica (18 a 24 h); no entanto, a oximorfona e a buprenorfina apresentam efeitos e durações semelhantes. Bupivacaína epidural em ratos promoveupotentes efeitos antinociceptivos por apenas 20 a 30 min. Bupivacaína epidural em ratos promoveu potentes efeitos antinociceptivos por apenas 20 a 30 min (MORIMOTO, 2001). Há um sinergismo do espaço epidural entre analgésicos locais e opioides: a combinação dos medicamentos reduz as doses e minimiza os efeitos adversos potenciais de cada medicamento. Infusão contínua Microdoses de cetamina já foram usadas produzindo uma boa analgesia, além de opioides como a fentanila, que pode ser usada em associação com a cetamina. Alguns veterinários usam o butorfanol, embora não haja relatos científicos, e o propofol, muito 108 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES comum em infusões contínuas em cães e gatos, já foram relatados óbitos em coelhos (ROZANSKA, 2009). Anestesia injetável e inalatória Farmacodinâmica Anestésicos dissociativos, como cetamina e tiletamina, devem ser usados com cautela, pois são eliminados por via renal de forma inalterada; portanto, em pacientes nefropatas, poderá provocar períodos longos de recuperação anestésica, ou mesmo a morte deste. Uma boa anestesia propicia: inconsciência ou hipnose, relaxamento muscular e analgesia. Para uma breve contenção, sem produção de dor, a analgesia pode ser suprimida do protocolo anestésico. Os anestésicos podem ser aplicados sem associações, o que não é o mais indicado, ou vir acompanhado por fármacos que promovam tranquilização ou sedação, possibilitando uma série de procedimentos médicos e de manejo, principalmente em animais pequenos. Quando associados a anestésicos, incrementam a qualidade da contenção química ou anestesia (VILANI, 2014). Em alguns animais doentes, idosos ou neonatais, alfa2 agonistas (xilazina), fenotiazínicos (acepromazina) e butirofenonas (azaperona) devem, preferencialmente, ser substituídos por benzodiazepínicos (midazolam), que promovem menos efeitos adversos. Benzodiazepínicos Agem modulando a neurotransmissão mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA), o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central (SNC). A ativação dos receptores benzodiazepínicos promove tranquilização ou sedação, conforme a espécie. Produzem uma pequena alteração no comportamento e na ansiedade, sendo indicada no estresse de captura, além de promover um razoável efeito de relaxamento muscular e agem como anticonvulsivantes (TANELIAN, 1993). Pouco indicados para nefropatas, aumentando o tempo de anestesia, porém são raros os efeitos adversos. No universo veterinário, temos: diazepam, midazolam e zolazepam. O diazepam é muitas vezes associado à cetamina, ao propofol, ao etomidato e a opioides para indução anestésica. Midazolam tem efeitos mais interessantes para ser 109 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V introduzido em protocolos anestésicos para animais selvagens. Tem potência para promover analgesia superior ao diazepam, além de não ter efeito irritante quando administrado por via intramuscular, ser absorvido mais rapidamente e ter duração menor. O zolazepan é geralmente associado com outros anestésicos e tem o mesmo efeito do midazolan (VILANI, 2014). Curiosidades! Tanto o midazolan quanto o zolazepan podem ser concentrados em estufa, sem perder sua eficácia anestésica, com o propósito de aumentar suas concentrações e assim poderem ser aplicados em poucos dardos em animais de grande porte. Mais detalhes sobre concentração, neste capítulo! Fenotiazínicos e butirofenonas Em doses terapêuticas, promovem tranquilização, efeito ansiolítico e relaxamento muscular, observando-se também efeitos antiarrítmicos cardíacos e anti-histamínicos. Pode promover hipotensão e hipotermia pela perda do controle termorregulatório. Também podem facilitar convulsão em animais predispostos (REDMAN, 1973). O tempo de duração dependerá do fármaco, no caso, a acepromazina tem efeito curto de 1 hora, já o azaperona e o lactato de haloperidol apresentam ação normalmente maior que 6 h. Com o decanoato de haloperidol, a diminuição da ansiedade e a tranquilização podem perdurar por 30 dias. Tal fármaco é muito usado em animais com comportamento maníaco – compulsivo que se automutilam ou que têm graves distúrbios mentais. A acepromazina é normalmente utilizada com anestésicos, o que reduz a dose desses para indução a anestesia. Haverá redução da pressão arterial. Assim, a acepromazina deve ser evitada em pacientes com grave comprometimento hemodinâmico e não deve ser aplicada isoladamente em procedimentos dolorosos. A azaperona é uma butirofenona ainda pouco utilizada na anestesia de animais selvagens no Brasil, porém bastante difundida em outros países. Tem efeitos cardiovasculares e respiratórios semelhantes quando comparados à acepromazina (LEMKE, 2007). α - 2 agonistas adrenérgicos São os adjuvantes anestésicos mais utilizados na medicina veterinária de selvagens. Eles inibem a liberação de catecolaminas na fenda sináptica e a neurotransmissão. Apesar 110 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES de seu interessante efeito clínico, promovem acentuada hipotensão por bradicardia e inotropismo negativo, depressão respiratória e hipotermia. Fármacos deste grupo: Xilazina, detomidina e medetomidina podem ser utilizadas isoladamente para promover sedação ou então associadas à anestesia dissociativa, incrementando o grau de inconsciência e conferindo analgesia e relaxamento muscular. Para procedimentos de uma única aplicação, não costumam causar problemas, o que não ocorre em procedimentos prolongados quando usados em doses repetidas o que leva a uma insuficiência renal aguda. Esses fármacos, por terem afinidade por receptores α1, podendo promover excitação, hipertensão, aumento da atividade motora e convulsão. Pacientes estressados, com grande liberação de catecolaminas, podem ser refratários ao efeito sedativo, como relata o autor desta apostila, que, ao aplicar dardos com xilazina em um cervídeo com alto nível de estresse, não conseguiu atingir o resultado, o que o levou a mudar protocolo anestésico (LEMKE, 2007). A medetomidina, ainda indisponível no mercado brasileiro, e a detomidina são mais potentes que a xilazina, promovendo efeito analgésico mais prolongado. São mais indicadas para uso em carnívoros e perissodátilos, respectivamente. Uma vantagem do uso dos α - 2 agonistas é a possibilidade de reversão dos seus efeitos com a tolazolina e a ioimbina já o atipamezol é indicado para a medetomidina. O único comercializado no Brasil por manipulação é a ioimbina. Opioides Podem ser utilizados na pré-anestesia ou com anestesia dissociativa para promover analgesia e potencializar o efeito sedativo de outros medicamentos, como por infusão contínua intravenosa transoperatória. Promovem analgesia, sedação, efeito ansiolítico, sensação de bem-estar e depressão respiratória. Alguns opioides, como morfina, podem ainda ter efeito emético e induzir liberação de histamina. Entre os opioides, temos: a morfina, a meperidina, a metadona e o butorfanol. Os opioides utilizados na anestesia intravenosa total são fentanila e seus derivados alfentanila, sufentanila e remifentanila. 111 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V A morfina, entre os outros opioides, tem grande potência analgésica e duração, atuando por 4 -6 h, diferente da meperidina, que atua por 2 horas e tem potência menor, porém produz melhor sedação e diminuição dos vômitos, comum no uso da morfina. A metadona é cada vez mais utilizada em animais selvagens devido à sua longa duração, potência analgésica e capacidade de sedação adequada, porém, como a maioria dos opioides, produz bradicardia e hipotensão (VILANI, 2014). O butorfanol é uma alternativa para aves, além de produzir pouca alteração respiratória, obtém pequeno efeito analgésico, e com curta duração, porémboa sedação Etorfina e carfentanila são muito usados em megamamíferos zoológicos de fora do Brasil, com relevante sedação e em volumes muito baixos, mas com efeitos cardiorrespiratórios relevantes e por isso seu uso está proibido no Brasil. O antagonista dos opioides é a naloxona. A anestesia dissociativa São as mais empregadas para contenção de animais selvagens e muitas vezes usadas na manutenção anestésicas em bolus ou em infusão quando não se disponibiliza de anestésicos inalatórios. Os fármacos mais usados, dada a sua facilidade em encontrar no mercado, é cetamina e tiletamina, ambas podem ser associadas com outros fármacos na mesma seringa ou dardo disparado por arma quando se deseja aplicar por via muscular. Outra vantagem, já mencionada, é a possibilidade de concentrar o sal (cloridrato) quando colocados em estufa de secagem ou micro-ondas, transformando as apresentações comerciais de 100 mg/ml em 250 mg/ml, sem perder sua eficácia (experiência do autor). Tanto cetamina quanto tiletamina nunca podem ser usadas sozinhas, em razão da possibilidade de não produzir uma boa sedação e relaxamento. Curiosidades! Anestésicos/sedativos que têm o sal como cloridratos como: xilazina, midazolan, tiletamina e cetamina; podem ser desidratados até a formação do sal puro, o que eleva a sua concentração sem perda de efeito anestésico e, assim, pode-se diminuir o volume para uso em poucos dardos. 112 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES A dissociação anestésica promove inconsciência e analgesia e rápido início de ação. Catalepxia com olhos abertos e fixos. Sua ação ocorre por depressão seletiva da função neuronal do eixo neocórticotalâmico e do núcleo central do tálamo, com estimulação concomitante de partes seletivas do sistema límbico, incluindo o hipocampo. A utilização de cetamina em infusão intravenosa, além da aplicação intramuscular, é amplamente utilizada. Em bolus, pode provocar convulsão, principalmente em animais com histórico convulsivo (LIN, 2007). Anestesia inalatória Normalmente usada como manutenção após a indução anestésica por fármacos dissociativos. Promovem a inconsciência, analgesia e relaxamento muscular sendo dose-dependente. Como os anestésicos inalatórios, necessitam ser administrados de forma contínua, conferem maior praticidade na manutenção do plano anestésico, podendo ser superficializado ou aprofundado rapidamente conforme necessário, sendo, portanto, agentes seguros e objetivos. Várias espécies podem usar dos agentes voláteis inalatórios como indução anestésica, sendo por máscara ou caixas transparentes (câmaras anestésicas) em pequenos roedores, por exemplo. As vantagens da anestesia inalatória na rápida recuperação anestésica devem-se às características farmacocinéticas. O anestésico, após ser inspirado, alcança concentrações alveolares, é absorvido por vasos sanguíneos e atinge o SNC, promovendo seu início de ação. Após a interrupção da administração, o anestésico atinge novamente os alvéolos e é eliminado pela expiração. Os fármacos mais utilizados são: halotano, isoflurano, sevoflurano e óxido nitroso. Esse último não promove inconsciência e devem ser usados sempre associado com outro fármaco halogenado. Quanto a esses, o isoflurano, tem substituído o halotano, por esse fármaco ser potencialmente hepatotóxico, promotor de arritmias cardíacas e redutor de pressão arterial (STEFFEY, 2007). O sevoflurano é mais caro do que o isoflurano e confere maior consumo pela baixa potência anestésica. Em face desses fatos, o isoflurano popularizou-se pelo custo benefício e pela experiência de vários anestesistas. Tem menor capacidade de propiciar arritmias quando comparado ao halotano e boa estabilidade cardiovascular em concentrações adequadas, sendo um fármaco relativamente seguro (REILLY, 1985). Técnicas de bloqueio de membros, anestesia local ou quando associados a uso de opioides diminuem em muito o uso de anestésicos voláteis/dissociativos o que interessante pela diminuição de custo e do risco. 113 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V Anestesia intravenosa total A administração contínua dos medicamentos por via intravenosa é realizada por meio de bombas de infusão. Apesar de ser possível seu uso por diluição em frascos de fluidos, há muitas situações que podem variar a velocidade de infusão, não sendo aconselhável essa forma de administração. A cateterização venosa é necessária para manutenção, seja por aplicação em bolus anestésico, que não é muito indicada, seja por infusão contínua de fármaco. Em particular aos mamíferos, animais como a roedores, ou outro animal muito pequeno, a via intraóssea é uma opção de manutenção de fluido e aplicação de fármaco. Propofol Pode-se usar pela via intraóssea o propofol, embora sua indicação inicial seja por uso venoso. Sua natureza lipofílica confere rápido início de ação. A duração de seu efeito é curta após uma única aplicação em bolus e a recuperação é rápida e suave. O retorno anestésico, que na maioria dos mamíferos acontece entre 12 e 15 min após sua administração, ocorre pela redistribuição do medicamento para outros tecidos. Pode ser observado apneia transitória e diminuição da pressão arterial por vasodilatação periférica (MURPHY, 1992). Em procedimentos cirúrgicos prolongados, após medicação pré-anestésica constituída de um opioide, como morfina ou meperidina, associada a um medicamento neuroléptico (fenotiazínico, butirofenona ou benzodiazepínico) ou então, após captura com anestesia dissociativa, a anestesia pode ser induzida e mantida, respectivamente, com bolus e infusão contínua de propofol. Ele não promove analgesia o que torna necessário o uso de um opioide (ENGELHARD, 2004). Anestesia em mamíferos Felídeos A anestesia nesse grupo pode ser administrada tendo como base o gato doméstico com os mesmos resultados. Há de se considerar os diferentes tamanhos (1.5 kg-300kg) e por isso é fundamental que se aumente as doses nos pequenos e se diminua nos grandes. Leva-se em consideração, por questões óbvias, que pelo risco de segurança, os animais grandes devem estar profundamente anestesiados. 114 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Normalmente, os menores são inicialmente capturados com um puçá para posterior aplicação por seringa intramuscular; já os grandes estarão cambeados por gaiola de restrição e a aplicação poderá ser intramuscular ou intravenosa na cauda. Nesses, também são disparados dardos à distância por rifles ou pistola própria. Associações mais usadas: grandes: cetamina 6- 8 mg/kg + xilazina 1-1.5 mg/kg, cetamina 6- 8 mg/kg + midazolan 1mg/kg ou detomidina a 0,5 mg/kg. Felídeos toleram bem jejum de 12h a 24h. Alguns autores, por experiência própria, usam uma associação de cetamina 10 mg/kg + midazolan 1 mg/kg por via oral para animais irascíveis, produzindo uma leve sedação, o que facilita uma captura, porém não indicado para grandes animais, preferindo para estes a aplicação parenteral. Figura 80. Captura de leão (Panthera leo) com anestesia dissociativa por meio de dardo anestésico artesanal. Fonte: Cubas, 2014. Associações farmacológicas Cetamina + α - 2 agonistas A cetamina isolada não é uma boa alternativa, pois promove efeito cataléptico com rigidez muscular, além de excessiva salivação, possibilidade de convulsão e recuperação traumática, ela deve ser sempre associada a benzodiazepínicos, α2 agonistas adrenérgicos ou opioides (VILANI, 2014). A associação mais comum, como já mencionado: cetamina + xilazina. A primeira nas doses que podem variar de 3 a 10 mg/ kg e a segunda oscilando de 0,3 a 1.5 mg/ kg a depender do tamanho, idade e condições de saúde, como doenças renais e hepáticas prévias. 115 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V Lembre! Animais maistranquilos recebem doses menores, o que lhes confere uma boa profundidade anestésica e analgesia. Figura 81. Dardo caseiro: há uma câmara de ar/ gás pressurizado (G) e uma câmara com medicamento (H). Fonte: Arquivo pessoal. Legenda: A – êmbolo fixo; B – estabilizador de voo; C – êmbolo móvel; D – orifício lateral da agulha; E – capa para orifício lateral; F – ponta da agulha obstruída; G – câmara de ar; H – câmara de medicamentos. Como se observa na figura 3, o bisel da agulha é lacrado (F), ex: cola epóxi abre-se com uma lima pequena e triangular, um orifício lateral (D), coloca-se uma borracha, apertada na agulha (E). No corpo da seringa de 3/ 5 ml, usam-se duas borrachas do êmbolo (C e A). Fixa-se a borracha (A) com agulhas atravessadas em cruz para fixá-la, enquanto a borracha (C) está livre. Coloca-se o anestésico/fármaco na câmara (H). Acopla a agulha com a borracha (E) sobre o orifício (D). instila-se ar ou gás comprimido de isqueiro na câmara (G). Com isso, o fármaco estará sobre pressão. Penachos em fio de lã serão colocados na parte posterior do dardo (NOTA DO AUTOR). 116 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES O dardo penetrará na musculatura do animal, a borracha se deslocará e liberará o conteúdo da câmara (H). Existem os dardos prontos que são comercializados. A xilazina vem sendo substituída pela medetomidina (difícil encontrar no Brasil) promovendo indução e recuperação mais suaves, com menor volume de aplicação e contenção mais prolongada, porém mantendo os efeitos adversos, com doses que podem variar de 0,02 a 0,08 mg/kg, a depender do porte do felídeo. Associação com midazolan (pode-se colocar os 3 fármacos no mesmo dardo/ seringa), são usadas para minimizar os efeitos convulsivos e a depressão causada pela xilazina (GUNKEL, 2007). A romifidina, costumeiramente usada para equinos, também já foi usado em felídeos e antílopes (PACHALY, 2006). Tanto a romifidina quanto a xilazina, ambas α - 2 agonistas adrenérgicos, podem ser revertidas pela ioimbina, atipamezol e tolazolina. Doses de 0,1 e 0,15 mg/kg de ioimbina foram utilizadas com sucesso para reverter a ação da xilazina na associação cetamina e xilazina em grandes felídeos. Flumazenil pode ser utilizado na dose de 0,01 a 0,2 mg/kg para reverter benzodiazepínicos e para opioides a naloxona (0,002 a 0,04 mg/kg), porém reverte os efeitos desejáveis da analgesia. Tiletamina/zolazepan Ambas vêm associadas; O período de metabolização dos dois medicamentos é maior, conferindo tempo de recuperação mais prolongado. São utilizadas doses de 2 a 5 mg/kg para grandes felídeos e 5 a 12 mg/kg para pequenos (GRASSMAN, 2004). Em tigres, há uma polêmica no uso deste fármaco, o que causaria convulsões e mioclonias, porém outros estudos mostraram que os efeitos adversos estão na mesma intensidade que em outros felídeos (KREEGER, 2010). Canídeos Segue a mesma regra dos cães domésticos; nesse caso, a oscilação de dose é menor se comparado aos felídeos, dada a diferença entre os portes não serem tão grandes. Contudo, o uso de dardos é restrito quando se quer capturar à distância, sendo que, na maioria das vezes, a contenção é realizada por puçás ou pau-de-couro. Os mesmos fármacos e associações de felídeos podem ser utilizados em canídeos, além do uso da acepromazina para efeito sedativo na dose de 0,05 mg a 0,1 mg / kg. Há casos de hipertermia pelo uso desse fármaco. 117 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V As associações também são as mesmas, porém com um aumento das doses de xilazina, (pode chegar a 3 mg/kg), lembrando de seus efeitos deletérios cardiorrespiratórios. Tiletamia-zolazepan nas doses que variam de 4 a 8 mg/Kg. Cetamina (3 /10mg/ kg) + xilazina (0,5 /1 mg/ kg) propiciam um bom efeito anestésico-relaxante (experiência do autor). Mustelídeos (Furão, ferret, ariranha, lontras) e procionídeos (guaxinim, quati, jupará) Protocolos com acepromazina (0,1 mg/kg) e morfina (0,5 mg/kg), meperidina (2 a 5mg/kg) ou butorfanol (0,2mg/kg) promove sedação suficiente para cateterização da veia cefálica. A veia da cauda é outra alternativa. Quanto à anestesia dissociativa, usam-se as mesmas doses e associação dos felídeos (VILANI, 2014). Resumindo: Carnívoros (felídeos, canídeos, procionídeos, mustelídeos) têm basicamente o mesmo protocolo anestésico, tanto em relação a doses quanto a associações. Primatas Considerações anestésicas Restrição alimentar de 6h a12h para grandes e de 3 horas para pequenos. Uma grande preocupação para a anestesia de grandes primatas é o nível de estresse a que o indivíduo está submetido antes do procedimento. O animal deve ser avaliado previamente e o procedimento planejado no dia anterior à contenção. A administração de tranquilizantes, especialmente benzodiazepínicos, por via oral, antes da indução diminui, a ansiedade, facilita a administração do agente indutor por via intramuscular e promove amnésia. Isso impede que o animal reconheça a equipe médica como agressora, o que facilita contenções futuras. Em alguns casos, quando possível, o animal vem sendo tranquilizado com haloperidol dias antes da anestesia. Primatas de médio e pequeno porte podem ser capturados fisicamente com rede ou puçá para administração intramuscular direta. Anestesia dissociativa aplicada por via intramuscular é uma opção para a contenção (VILANI, 2009). Medicação pré-anestésica Diferentemente do uso em cães e gatos, em que pouco ou nenhum efeito tranquilizante é observado, os benzodiazepínicos em primatas chegam a produzir sedação ou até sono leve. Promovem também grande relaxamento muscular com mínimas alterações nas 118 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES funções cardiovascular e respiratória. Diazepam (0,2 mg/kg) e midazolam (0,2 a 0,4 mg/kg) são administrados para grandes primatas previamente à captura. Xilazina também pode ser utilizada, na dose de 0,25 a 0,5 mg/kg (VILANI, 2009). Dissociativos Tiletamina–zolazepan de 4 a 6mg/kg para procedimentos clínicos e entre 8 e 15 mg/kg para planos anestésicos profundos (VILANI, 2009). Essa dose aumenta para 20 mg/kg para primatas pequenos. Cetamina (10 a 15 mg/kg) e diazepam (0,2 a 0,36 mg/kg) ou midazolam (0,6 mg/kg) possibilitam contenção de primatas de pequeno e médio portes, suficientes para procedimentos clínicos e colheita de material biológico, com curta duração ou indução anestésica. Importante! Ao levar o animal para viveiro para retorno anestésico, retirar cordas e outros objetos altos que possa estimular o animal escalar e manter o animal afastado dos outros e deixá-los em ambiente quieto. Figura 82. Anestesia intravenosa total com infusão contínua de propofol em exemplares de macaco verde africano (Chlorocebus aethiops) (A) e mico de cheiro (Saimiri sciureus) (B) e com uso de máscara facial. A B Fonte: Vilani, 2014. Para animais menores que 2 kg, a capnometria para avaliação do estado ventilatório pode ser dificultada assim como a possibilidade de hipotermia, por isso o uso de bolsa de água quente, colchões térmicos e fluido aquecido. 119 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V Roedores e lagomorphos Considerações Animais com alta taxa metabólica e grande consumo de oxigênio. Jejum máximo de 30 minutos. Lembrar de retirar os alimentos que permanecem na cavidade oral em suas bochechas para evitar aspiração na anestesia. Procedimentos longos podem promover hipoglicemia, por isso o controle transoperatório (aplicações durante a anestesia/ cirurgia são recomendáveis). Essa aplicação pode ser por via endovenosa ou mucosa oral (HEARD, 2007). Obs. 1: A hipotermia também é relatada nesse grupo e deve ser monitorada, mantendo a sala aquecida ou uso de colchões aquecidos. Obs. 2: A fluidoterapia aquecida é muito benéfica! Anestesiadissociativa Em roedores, Cetamina (50 mg/kg) + xilazina (5 mg/kg) são razoáveis para indução anestésica – embora alguns autores prefiram doses maiores! Em coelhos essas doses são menores, em torno de 20/40 mg/kg de cetamina e 3/5 mg/ kg xilazina. Podem ser associados também o midazolan – 2 mg/kg e o butorfanol (0.5 a 2 mg/kg). A tiletamina zolazepan também pode ser usada nesse grupo, com doses que variam de 10 mg/ kg para os ratos, cobaias e hamster - a 50/80 mg/kg, chinchila 20/40 mg/kg (Bretas, 2007). Anestesia inalatória A dificuldade da intubação pode ocorrer pela pequena abertura de boca musculatura mandibular desenvolvida, excesso de secreção salivar e respiratória, por isso muitos anestesistas preferem o uso da máscara ao traqueotubo. A visualização direta da glote pela laringoscopia só é possível em animais grandes roedores. Caso se prefira entubar pequenos roedores e coelhos, pode-se usar sonda uretrais e às cegas, entubar o animal – ao tato, sentir se o tubo embaça à respiração e se o mesmo não está percorrendo o esôfago; são métodos que auxiliam na rotina (HEARD, 2007). 120 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Marsupiais Gambá e cuíca são os mais comuns. Esses animais apresentam temperatura corporal mais baixa e menor habilidade termorregulatória. Eles não têm capacidade de produzir calor pela gordura, mas tremendo o corpo. Podem perder temperatura com respiração ofegante e lambendo o corpo. Assim, deve-se dar atenção especial para a manutenção da temperatura corporal e o controle da temperatura ambiente. Hipotermia pode prolongar desastrosamente a duração da anestesia. Associação de cetamina (10 a 40 mg/kg) e xilazina (5 a 10 mg/kg) ou medetomidina (0,1 mg/kg) (NUNES, 2007). Assim como tiletamina/ zolazepan na dose de 15 mg/kg. A anestesia inalatória, nessas espécies, também com bons resultados (HOLZ, 2007). Equipamentos para contenção farmacológica Equipamentos Para aplicação a uma certa distância, pode-se utilizar de zarabatanas, pistolas ou rifles anestésicos. As zarabatanas produzem menor potência, maior segurança e alcançam curtas distâncias (5 a 8 m). No mercado (zoottech®), já existem zarabatanas pneumáticas com manômetros e acopladas a uma bomba de bicicleta, o que aumentam o alcance do dardo. Indicado para animais menores, porém o disparo pode ser impreciso, daí a sugestão que seja realizado de perto do animal. Pistolas e rifles são fabricados no mercado com intuito de projetar os dardos; eles alcançam distâncias mais longas, com maior pressão e precisão de disparo, porém têm menor segurança e são normalmente usados para animais maiores, devido à força de penetração do dardo. Dependendo da pressão calculada no dardo – pela possibilidade de regular o manômetro, pode-se infligir danos teciduais e ósseos, além de necrose, principalmente quando o dardo não foi autoclavável, uma vez que eles são reutilizados. Poucos são os locais de aplicação, sendo restrito à musculatura da coxa, braços e alguns animais maiores, como antílopes, pode-se aplicar no pescoço e glúteos. 121 RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES │ UNIDADE V Figura 83. Zarabatana pneumática, manômetro Bomba de pedal, dardo, líquido de isqueiro e gatilho. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 84. Rifle anestésico: dardo duralumínio, cápsulas de gás. Fonte: Arquivo pessoal. Conforme se observa na figura 5, há outro tipo de dardo, mais resistente de duralumínio, normalmente usado para grandes mamíferos. Nesse dardo, a eliminação do conteúdo líquido é feita mediante uma pequena explosão que ocorre internamente no dardo, por uma cápsula de pólvora. À frente da cápsula, um anel de borracha que empurrará o liquido para fora. Não há uma pressão prévia como ocorre no dardo de plástico. Monitoração do paciente anestesiado a campo: Registro anestésico, frequência cardíaca. Frequência respiratória. Temperatura corporal Resposta a estímulos Mucosas e tpc. Outros: estetoscópios, ECG, pressão sanguínea. 122 UNIDADE V │ RADIOLOGIA DE MAMÍFEROS SILVESTRES E CONTENÇÃO QUÍMICA DE MAMÍFEROS SILVESTRES Lembrando! Reversores Atropina » prevenção de bradicardia e hipotensão; » evita sialorreia e excesso de secreção em nível pulmonar; » preventivo na bradicardia colinérgica (estresse de captura); » pode ser usado no mesmo dardo/injeção com outras drogas; » doses: mamíferos 0,05 mg/kg. Antagonistas Flumazenil (Antagoniza efeitos dos benzodiazepínicos) » can/fel: 0,1 mg/kg ev; » equ: 0,005- 0,015 mg/ kg ev; » pri: 0,025 mg/Kg EV. » 12.2 Lombina (Reversor dos efeitos da xilazina, detomidina e amitraz) » can: 0,11 mg/kg ev; » equ: 0,075 mg/kg ev; » fel: 0,25 – 0,5 mg/ kg ev; » rum: 0,125 mg/kg ev. 123 UNIDADE VI MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS CAPÍTULO1 Elefantes Introdução Ao falar de megamíferos, incluímos os elefantes (asiáticos e africanos), rinocerontes, girafas e hipopótamos. Todos os animais, de particular interesse em alguns zoológicos que os mantém. É uma clínica muito peculiar e de pouco conhecimento entre os veterinários de silvestres/exóticos pela dificuldade de acesso, assim como os desafios de se realizar um exame clínico adequado. Muitos zoos não têm um sistema de contenção/bretes adequados a essas espécies, o que torna o exame arriscado. Em particular, os elefantes estão em risco de extinção na natureza, devido à sua pequena distribuição africana, associada à rivalidade de tribos humanas, assim como o tráfico pelo marfim que dizima muito essa espécie. A dificuldade ainda é maior quando se trata do elefante africano, animal não domesticado, imprevisíveis e extremamente perigoso ao homem, o que lhes deu a pecha de ser o animal de cativeiro que mais matou seres humanos. Quanto ao elefante asiático, esse se torna mais calmo e semidomesticado (FOWLER, 1993). Anatomia e fisiologia Os elefantes são proboscídeos, ou seja, o músculo da narina estende-se e assim se torna um meio de sucção e apreensão de objetos. A ponta da tromba do elefante asiático tem uma única projeção (funciona como um dedo). Já o elefante africano tem duas projeções na tromba, o que lhes permite apreender objetos muito pequenos (FOWLER, 1993). 124 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS Os marfins, presentes nos machos de ambos grupos (africano e asiático) e na fêmea africana, são dentes modificados compostos de dentina sem o esmalte. Os dentes crescem na parte caudal da maxila e vão migrando no sentido cranial, substituindo esses. Elefantes são paquidermes (pele grossa) e seu estômago é simples e a fermentação ocorre no ceco e cólon. Problemas de dilatação gástrica são frequentes em animais de zoo! As causas são: cambeamento prolongado e alimentos excessivamente fermentativos. Têm pés com dígitos e com base solar cornificada, flexível e macia (coxim), o que faz amortecer seu grande peso. Problemas relacionados a seus pés são relevantes, devido à possibilidade de pododermatites. O elefante asiático (Elephas maximus) pode atingir 4 ou 5 toneladas nos machos e fêmeas até 4t, enquanto nos africanos (Loxodonta africana) são maiores, machos passando de 6t e fêmeas até 4t. Existe um terceiro membro, o elefante africano da floresta (Loxodonta cyclotis). Com gestação que pode durar 22 meses, o elefante macho pode produzir o musth, que é uma modificação de comportamento quando manifesta agressividade e hipersecreção de glândulas nas têmporas, gotejamento de urina, e vocalização intensa. Mesmo em animais de cativeiro, quando os animais estão sob esse efeito, há relatos de ataques aos tratadores com os quais estão acostumados (LENHARD, 2006). Para um adulto, a alimentação desse animal fermentador é composta por 50kg feno, tubérculos, frutas e ração de equinos em pequena quantidade. Cuidar com a ração, pois é comum episódios de cólica, assim como vegetais que possam produzir gases. Esse fenômeno também estápresente em animais que ficam estabulados por muito tempo (FOWLER, 2014). As instalações compreendem um espaço de terra, com fosso ao redor de 3m profundidade X 3m largura, piscinas e ambiente com lama, árvores, cabeamento com barras de vigas de trem. A caça predatória diminui consideravelmente a população: africanos: pelo marfim; asiáticos: adestramento, turismo, zoológicos, lazer, atividades circenses. 125 MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI Exame clínico Pulso arterial em artéria de orelha, tr 36/37ºC. Essa mensuração pode ser feita por intermédio da inserção do termômetro em bolo fecal recém-eliminado. A colheita sanguínea é feita pela orelha ou veia safena, bem pronunciada nos membros pélvicos. Contenção física e farmacológica Física Evita-se ao máximo o contato direto entre os profissionais e o elefante, mesmo que se conheçam. Elefantes asiáticos são mais previsíveis e o acesso é mais tranquilo, porém em relação aos africanos, como já mencionado, deve-se ter uma barreira entre animal e o tratador ou veterinário. Esse aprendizado deve ser iniciado na infância por meio de técnicas de condicionamento, em que se estimula o reforço positivo. Visto que se trata de um animal com uma memória extraordinária e uma capacidade de aprendizado muito superior a muitos animais, o convívio com o animal se torna facilitado, assim como seu exame clínico. Figura 85. Elefante condicionado a mostrar o pé para exame e aparamento de unhas. Fonte: Fowler, 2014. Ainda como forma de contenção, temos o comando de voz, útil quando o animal já se acostumou ao treinamento/condicionamento e também a corrente presa a membros superiores. Outra forma de contenção é a ERD, (elephant restraint device), este é um tronco de imobilização que mantém o animal suspenso por um elevador hidráulico apresenta várias janelas de acesso ao animal (OLSON, 2005). 126 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS Contenção química Grandes animais sempre são mais arriscados de anestesiar. O tempo de anestesia, associado ao decúbito, faz com que o animal produza isquemia do órgão pressionado. Por isso, a decisão de ministrar anestésicos gerais em megamamíferos deve ser consensual entre todos os envolvidos. Algumas particularidades devem ser observadas, como: pele grossa (6 a 8 cm), necessita de dardos compridos. Esses serão aplicados nos membros pélvicos e toráxicos. Abaixo a tabela de doses anestésicas: Quadro 13. Fármacos empregados para sedação em pé em elefantes. Fármacos Dose/via Acepromazina 30 mg em adultos 10/20 mg em jovens (total) Azaperone 0,017/0,09 mg /kg Haloperidol Asiático 40/100 mg (dose total) Africano 40/120mg Butorfanol 0,01 a 0,12 mg/kg Xilazina 0,04 a 0,08 mg/ kg Medetomidina 0,005 mg/kg Detomidina 0,0055mg/kg Fonte: Fowler, 2006. Quadro 14. Fármacos usados para imobilização de elefantes. Etorfina Asiático: 0,002/0,004 mg/ kg Africano: 0,0015/0,003 mg/ kg Carfentanila Mesma dose etorfina Xilazina + quetamina Asiático 0,12 +0,12 mg/kg Africano 0,2 mg/kg + 1 mg/kg Medetomidina + cetamina 0,005 mg/kg + 1 mg/kg Fonte: Fowler, 2006. Quadro 15. Fármacos reversores. Narcóticos opioides Diprenorfina 2 x dose de etorfina Naloxona - Naltraxeno 15 x dose de etorfina Antagonistas a 2 – agonistas Loimbina 0,2 mg/kg Tolazolina 2 mg por mg de xilazina Atipamezol 0,1 mg por mg de xilazina Benzodiazepínicos Flumazenil - Fonte: Fowler, 2006. 127 MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI OBS.: Notam-se as baixas doses de fármacos quando comparados aos mamíferos de porte médio em virtude de uma relação de uma pequena superfície corpórea com uma grande massa corporal. Etorfina: opiáceo analgésico 10.000 vezes mais potente que a morfina. Fármaco perigoso! Cuidado ao manipular, provoca depressão dos centros respiratórios! Cirurgia Procedimentos cirúrgicos são raramente descritos em elefantes. Os poucos relatos mencionam a necessidade de instrumental em equinos, assim como um padrão de sutura similar como as suturas de tensão como as de colchoeiro vertical e horizontal para aproximar as margens da grossa epiderme (FOWLER, 2006). Em elefantes, procedimentos cirúrgicos como: castração, problemas dentais, abscessos, pododermatite. Sendo essas últimas as mais comuns por piso não adequado que gera rachaduras nas unhas, falanges infeccionadas, abscessos nos coxins. Nos problemas dentais, ocorre a pulpite no marfim. Nos procedimentos em que seja necessário manter o animal em decúbito prolongado (de 1 a 3 h), é necessário colocar um colchão sob a cabeça, o corpo e os membros. Camas de água devem ser confeccionadas exclusivamente para elefantes. O animal deve ser treinado para ficar de pé em uma cama de água vazia e então deitar-se. Quando a anestesia é iniciada, o colchão é inflado com água de rede hidráulica doméstica (FOWLER, 2014). Terapêutica Medicamentos orais são facilmente aceitos por meio de frutas como melão e mamão e calculados por alometria. O enriquecimento facilita manejo e procedimentos clínicos e indolores. Patologia Doenças por bactérias gram, como pasteurelose, salmonelose e colibacilose já forma relatadas em filhotes de elefantes. Além de outras como o botulismo, leptospirose e 128 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS tuberculose. Observa-se que patologias comuns aos equinos e aos ruminantes também grassam nos paquidermes, como o tétano, aftosa, raiva, carbúnculo hemático, e outras que afetam muitos animais de sangue quente como a encefalomiocardite, sendo essa uma doença viral que pode causar morte súbita em várias espécies de animais de zoológico (FOWLER, 2006). Tuberculose Relatos dessa patologia em animais de cativeiro, sendo isolados os M. tuberculosis, M. bovis, M. africanum. A transmissão da TB entre elefantes é feita por aerossóis de secreções respiratórias, que são produzidos durante a vocalização ou quando borrifam água uns nos outros ou quando se cumprimentam. Apesar de não tossirem, os elefantes apresentam espirros, roncos, grunhidos e respiração ofegante. Os animais apresentam a perda de peso como sintoma mais comum. Diagnóstico por injeção intradérmica de tuberculina não é confiável nos elefantes. O método primário de diagnóstico é por isolamento do organismo em secreção do trato respiratório colhido da tromba. A amostra é enviada a um laboratório para cultura por técnica microbiológica padrão (MIKOTA, 2006). Assim como em outros animais (ex., primatas), o tratamento pode levar de meses a anos. Com isoniazida 4/5 mg/kg e rifampicina 10 mg/kg. Não há um protocolo de vacinação para essa espécie (FOWLER, 2014). 129 CAPÍTULO 2 Girafas Introdução Os quatro grandes: hipopótamos, girafas, rinocerontes e elefantes. Para qualquer um desses, o desafio cirúrgico – anestésico ainda requer cuidados, em face da dificuldade de conseguir os fármacos (proibido no Brasil), seja pelo risco em manter-se animais desse porte deitados por mais de 40 minutos sem comprometimento de sua saúde. Biologia Mamíferos artiodáctilos (dedos pares, pisam no 3o e 4o dedos), as girafas pertencem à subordem ruminantia; é de vital importância conhecer sua alimentação, fisiologia e patologias muito similares aos dos ruminantes domésticos. Embora altos, os machos não passam dos 1000 KG; quanto as fêmeas, 700 kg. A frequência cardíaca varia de 40 a 50 bpm, a frequência respiratória de 12 a 20 rpm, e a temperatura retal de 38 a 38,8°C. A longevidade em zoológicos alcança os 30 anos. As girafas, como a maioria dos mamíferos, apresentam sete vértebras cervicais, porém muito longas, compondo o longo pescoço do animal. Em função do comprimento do pescoço, as girafas têm pressão sanguínea carotídea elevada, na faixa de 300 mm/Hg. A ocorrência de isquemia cerebral é evitada por valvas localizadas na veia jugular, da mesma forma que valvas na artéria carótida evitam hipertensão cerebral quando o animal baixa a cabeça. Tanto os machos quanto asfêmeas apresentam projeções ósseas cranianas cobertas de pele. As manchas pardas têm um padrão único para cada indivíduo e o auxilia a se mimetizar por entre as sombras das árvores onde habita. Essas manchas também concentram, debaixo da pele, vasos sanguíneos e são responsáveis pela manutenção da temperatura corporal adequada das girafas (PACHALY; LANGE, 2014). 130 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS Figura 86. Projeção corneana óssea, dentição semelhante às dos ruminantes domésticos. Fonte: Pachaly, 2014. Curiosidades: O pescoço longo da girafa apresenta 7 vértebras cervicais. As fêmeas têm gestação de 420/568 dias. Nutrição Se alimentam de folhas e brotos de leguminosas arbóreas; devem receber feno de alfafa como complemento alimentar. Os alimentos devem ficar suspensos no alto, em posição elevada mimetizando o ambiente natural. Figura 87. Comedouros e bebedouros Suspensos. Fonte: Pachaly, 2014. Contenção e anestesia O condicionamento desses animais em bretes costuma ser fácil, desde que iniciados na infância, o que facilita para procedimentos simples como exame clínico, coleta de sangue, apara de casco e pequenas intervenções sem necessidade de anestesia geral. 131 MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI Na experiência do autor, foi realizada lavagem com tergenvet ® e curetagem uterina pós-aborto natural e retenção de placenta. No procedimento, foi aplicado somente xilazina em doses alométricas. As associações anestésicas usadas são as mesmas dos elefantes, com doses um pouco maiores, visto o seu menor peso. Dada a frequência de óbitos dos grandes animais pelo uso de anestesia, é sempre recomendado usar aqueles que tenham o reversor como os opioides, α 2 agonistas e benzodiazepínicos (Pachaly, 2000). Patologias Transtornos podais, fraturas de ossos longos e distocias. Relatos de morte súbita em zoológicos brasileiros. A tuberculose, assim como nos elefantes, afeta as girafas e o exame realizado é o de tuberculinização. Pestivírus e aftosa já foram isolados (PACHALY; LANGE, 2014). Para animais domésticos, não há permissão de tratamento para tuberculose, porém, em animais selvagens, o IBAMA não produziu regulamentação específica para essa e para outras doenças zoonóticas. Para raiva e clostridioses, aplicam-se vacinas de ruminantes de forma empírica, sem comprovação científica. Figura 88. Lesão de casco em girafa. Fonte: Cubas, 2014. 132 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS Figura 89. Lesão traumática na articulação metatársica falangeana e tratamento com unguento. Fonte: Cubas, 2014. 133 CAPÍTULO 3 Medicina de rinocerontes e hipopótamos Rinocerontes São perissodáctilos, que têm 1 dígito (equídeos) ou 3 (rinocerontes e antas). A família Rhinocerothidae tem cinco espécies, sendo duas africanas e três asiáticas. As africanas são rinocerontes pretos (Diceros bicornis) e brancos (Ceratotherium simum). As asiáticas são rinocerontes indianos (Rhinoceros unicornis), de Java (Rhinoceros sondaicus) e de Sumatra (Dicerorhinus sumatrensis) (NOWAK, 1999). As populações estão ameaçadas pela pressão de caça, pouca proteção e área inadequada, o que fez diminuir drasticamente suas populações. Estima-se que haja 25.000 destes animais e 1250 em cativeiro. (I.R.F, 2019). Sendo 18.000 para os rinocerontes-branco, preto :4240, para os indianos: 2800, os de Sumatra:200 e de 40 a 50 indivíduos de Java. Anatomia e fisiologia Animais com corno atípico e ausência de núcleo córneo na região frontal, derivado de base epidérmica composta por células queratinizadas embebidas em matriz amorfa. Essas células crescem a partir de uma camada germinativa, o stratum germinativum; e após a queratinização completa, as células morrem, portanto todo o crescimento ocorre na direção da base para o ápice (HIERONYMUS, 2006). Essa estrutura justaposta queratinizada e com presença de pelos, dá uma aparência óssea e dura. Embora pertença ao mesmo grupo dos equídeos, os rinocerontes têm ceco reduzido praticamente afuncional, ou seja, sem funcionalidade fermentativa (ENDO, 1999). Reprodução Os rinocerontes são monomórficos e poligâmicos. Normalmente dão à luz apenas um filhote após 15 a 16 meses de gestação e acredita-se que a vida reprodutiva vá até os 30 a 35 anos e que vivam dos 30 aos 50 anos, conforme a espécie. O ciclo reprodutivo das fêmeas dura em média 25 dias, podendo variar em alguns indivíduos. De maneira geral, o estro dura 24 h. O filhote recém-nascido pesa em média 134 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS 35kg, desmama por volta dos 2 anos de idade e pode permanecer com a mãe até os 3 ou 4 anos de idade, quando normalmente nasce outro filhote (MALTA, 2014). Nutrição Em vida livre, esses animais consomem uma grande quantidade de material vegetal, o que muitas vezes é difícil oferecer em cativeiro. Os rinocerontes são herbívoros monogástricos, com intestino grosso, especialmente cólon, bem desenvolvido, portanto, sua digestão baseia-se em fermentação posterior (MILLER, 2003). O modelo baseado para equinos domésticos é válido para os rinocerontes que se alimentam de gramíneas, como os rinocerontes brancos e indianos. Entretanto, as demais espécies de rinocerontes alimentam-se exclusivamente de arbustos, folhas e ramos, e por isso, são chamados de browsers (MALTA, 2014). Instalações Segundo o IBAMA, o recinto deve ter no mínimo 600 m2 com tanque e lamaçal para o animal proteger-se de ectoparasitos e controle de temperatura. Área de cambeamento. Piso de terra e grama e outra vegetação que mimetize o ambiente savânico. Vegetação arbórea para sombra e como ponto de fuga do animal. Os rinocerontes são animais que aceitam o condicionamento, o que facilita procedimentos simples sem necessidade de contenção. Para isso, usa-se brete de ferro com janelas para ter acesso ao animal com segurança. Figura 90. Recinto amplo e adequado para rinocerontes, no Zooparque Itatiba/SP. Note a existência de tanque d’água, apreciado pelos animais para banhos. Fonte: Cubas, 2014. 135 MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI Figura 91. Área de abrigo e cambiamento para rinocerontes no Zooparque Itatiba/SP. Note que as estruturas de construção devem ser sólidas para suportar a força e o peso dos animais. Fonte: Cubas, 2014. Há relatos sobre a sensibilidade à luz pelo rinoceronte-de-Sumatra, podendo- lhes ocasionar cegueira e, por isso, esses animais devem ter local bem sombreado (KRETZSCHMAR, 2009). Contenção e anestesia Contenção Existe a preocupação de evitar contenção em dias com temperaturas acima de 30°C, já que a hipertemia é uma condição comum em animais induzidos com opioides. Nesses casos, banhos e/ou enemas com grandes quantidades de água fria serão necessários para equilibrar a temperatura corporal. Alguns animais podem passar por uma fase de excitação durante a indução anestésica, por isso é recomendado que as pessoas se afastem no momento de aplicação de anestesia. A sugestão é que se treine o animal conforme mencionado para aceitar perfurações por agulhas, uma vez que a aplicação de dardos à distância poderá irritar o animal. Jejum hídrico de 12 h, pois há relatos de regurgitação e 24h dos sólidos. Como todo megamamífero, evitar o decúbito prolongado, em função da miosite e compressão de órgãos. 136 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS Fármacos Como já mencionado, fármacos como etorfina são proibidos no Brasil, porém associações como tartarato de butorfanol (52 a 80 mg/kg) e o azaperone (70 a 107 mg/kg), foram bem razoáveis. O butorfanol é um opioide 3 a 5 vezes mais potente que a morfina, com efeitos cardiorrespiratórios colaterais menos pronunciados que outros opioides. Para a manutenção dessa sedação, infusão contínua intravenosa de tartarato de butorfanol (0,6 a 18 mg/min) pode ser utilizada de acordo com a reposta do animal. O tartarato de butorfanol (120 mg) com detomidina (80 mg) é amplamente utilizado quandose almeja sedação em estação (RADCLIFFE, 2000). Clínica Nos rinocerontes, a colheita de sangue pode ser feita pela punção das veias auricular, coccígea, cefálica, radial ou metatársica dorsal. A colheita deve ser feita de preferência realizada em brete. Doenças virais como cowpox, que causam lesões pustulares em zoológicos fora do Brasil. Entre as bacterianas: salmonela, leptospira e tuberculose. Babésia e theileria já foram associados à morte de rinocerontes-pretos, causando-lhes hemoglobinúria (NIJHOF, 2003). Entre as doenças não infecciosas nesses animais, já foi observado dermatopatia vesicular e ulcerativa, além de pododermatite. Vacinação Entre as doenças cuja vacinação pode ser recomendada na região e na ocasião, estão: tétano, raiva, herpesvírus equino tipo1, antraz, clostridiose, leptospirose, influenza equina, encefalomielite equina, garrotilho, botulismo, encefalite equina oriental e ocidental (MALTA, 2014). Lembrar que a vacina usada em animais silvestres tem efeitos variados nos silvestres! 137 MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI Figura 92. Punção da veia metatársica dorsal esquerda em rinoceronte branco. A. Evidenciação dos vasos (seta). B. Punção venosa com agulha hipodérmica 40 × 12 (18G 1 1/2), com o animal no brete de contenção. C. Colheita por gotejamento em tubo seco. Fonte: Cubas, 2014. Cirurgia Descorna do chifre é um procedimento comum para evitar traumas por brigas ou fraturas. O procedimento é realizado por serra em arco ou moto serra com a devida anestesia (KOCK, 1993). Úlceras de córnea costumam ser frequente, assim como o prolapso da glândula de Hardner vem sendo tratado com terapia conservativa no Zoológico de Brasília (nota do autor). Medicina de hipopótamos Introdução A família Hippopotamidae compreende duas espécies: o hipopótamo comum (Hippotamus amphibius, também chamado de hipopótamo do Nilo, e o hipopótamo pigmeu (Hexaprotodon liberiensis), bem menor e muito raro. São mamíferos artiodátilos não ruminantes da família Hippopotamidae, que a classificação zoológica tradicional agrupa na subordem Suiformes, juntamente com as famílias Suidae e Tayassuidae (PACHALY, 2014). 138 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS Anatomia e Fisiologia Animais que nascem entre 27 e 50 kg e atingem até 2 toneladas para machos e 1700 Kg nas fêmeas. Sua longevidade atinge os 40 anos. Fórmula dentária: 2 × (I 2/2, C 1/1, PM 3 a 4/3 a 4, M 3/3) = 36 a 40. Os dentes incisivos e caninos têm crescimento contínuo o que torna um problema em zoológicos porque obriga a serem cortados periodicamente, quando os animais não conseguem desgastá-los naturalmente. As extremidades dos membros dos hipopótamos são providas de quatro dedos, finalizados por unhas em vez de cascos, com coxins palmares e plantares macios. A Temperatura retal é baixa e varia entre 35 a 35.8°C. Sua epiderme é composta de uma espessa camada de gordura que atua como isolante térmico. Os animais têm hábito semiaquáticos e precisam ficar boa parte do dia dentro da água para evitar a dessecação. Figura 93. (A) Extremidade do membro torácico e (B) Extremidade do membro pélvico. Fonte: Pachaly, 2000. Os hipopótamos não têm glândulas sebáceas como outros mamíferos, mas têm glândulas profundas que liberam uma secreção viscosa de tonalidade marrom avermelhada, com propriedade bactericida e fungicida, e atua na termorregulação e na proteção da pele contra os efeitos do sol. O estômago desses animais é compartimentado em quatro câmaras, sendo duas anteriores habitadas por microbiota diversificada, em que ocorre fermentação, uma câmara média, e uma câmara final, glandular, em que acontece a digestão química. Por isso, são elevados à categoria de pseudorruminantes, o que justifica a grande ingestão de material vegetal (HASHIMOTO, 2007). 139 MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI Figura 94. Área da orelha direita de um hipopótamo adulto com a secreção. Fonte: Cubas, 2014. Instalações O tanque deve ser grande e o bastante para o animal submergir. Se possível de uma fonte corrente, uma vez que os animais os usam para evacuar e urinar. Uma rampa deve dar acesso a água. Contenção e anestesia Hipopótamos podem ser sedados em estação pelo uso isolado de xilazina ou detomidina, azaperone ou butorfanol, pela associação de dois desses fármacos ou de todos. Uma indicação bastante comum na literatura para a sedação suave em estação é o uso isolado de azaperone, em doses totais de 400 a 800mg para um animal adulto. Assim como associação de cetamina e xilazina (ou midazolan), sempre por alometria. Alguns cuidados devem ser tomados durante o procedimento anestésico, pois deve-se distanciá-lo do tanque de água para evitar afogamentos, assim como: o dardo, caso seja aplicado para anestesia, deve ser longo, pois o fármaco deve penetrar a musculatura, caso contrário, a indução poderá levar mais de 30 minutos. Preferencialmente uma duração anestésica curta em função dos efeitos de esmagamento, típico dos grandes animais, da hipertermia e do ressecamento pelo sol (o procedimento anestésico-cirúrgico deve ser realizado em local sombreado). Por isso, panos molhados e banhos deverão ser ministrados enquanto o animal estiver deitado (PACHALY, 2014). 140 UNIDADE VI │ MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS Figura 95. Hipopótamo adulto apresentando três dardos metálicos cravados na face externa do membro torácico direito durante procedimento de contenção farmacológica. Fonte: Pachaly, 2000. Clínica e cirurgia Os mesmos pontos de colheita de sangue dos rinocerontes, servem para os hipopótamos, sendo as veias da cauda, face caudal do carpo e femural direita as mais utilizadas. Problemas dentais são os mais comuns, sendo o crescimento exacerbado do canino, o que obriga, na maioria das vezes, o corte com anestesia. Figura 96. Colheita de sangue em hipopótamo adulto na linha média ventral da cauda. Fonte: Pachaly, 2000. 141 MANEJO E MEDICINA DE MEGAMAMÍFEROS │ UNIDADE VI Figura 97. (A) animal com dentição normal (B) canino inferior esquerdo. Nota-se o crescimento excessivo do dente e seu trajeto em direção à perfuração do lábio superior ipsilateral. Fonte: Pachaly, 2000. 142 Referências ADANIA, C. H. et al. Studbook dos grandes felinos brasileiros: Registro genealógico da onça-pintada (Panthera onca) e suçuarana (Puma concolor) em cativeiro. Jundiaí: Conceito, 2005. 80 p. ALLEN, M. E. Maned wolf nutritional management. In: FLETCHALL, N. B.; RODDEN, M.; TAYLOR, S. Husbandry manual for the maned wolf Chrysocyon brachyurus. Silver Spring: American Association of Zoos and Aquariums, 1995. ALVES, P. C.; FERRAND, N.; HACKLANDER, K. Lagomorph biology – evolution, ecology, and conservation. Berlim: Springer Verlag, 2008. 413p. BANKS, R. E.; SHARP, J. M.; DOSS, S. D. et al. Exotic small mammal – care and husbandry. Ames: Wiley Black well, 2010. BECK, C. C.; DRESNER, A. J. Vetalar (ketamine HCL): a cataleptoid anesthetic agent for primate species. Vet. Med. S. Anim. Clin., v. 67, n. 10, p. 1.082-1.084, 1972. BOEHMER, E.; CROSSLEY, D. Objective interpretation of dental disease in rabbits, guinea pigs and chinchillas. Tierärztliche Praxis, v. 37, n. 4, p. 250-260, 2009. BRETAS, F. A. Guia terapêutico veterinário. 2a edição. São Paulo: Ed. CEM, 2007. 528 p. BRASIL. M. M. A. Lista nacional das espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. Diário Oficial da União, 2003. Disponível em: http://www.mma.gov.br/ estruturas/179/_arquivos/179_05122008034002.pdf. Acesso em: 17 nov. 2019. CARPENTER, R. C.; BRUNSON, C. A. Exotic and zoo animal species. In: TRANQUILLI, W. J.; THRUMON, J. C.; GRIM, K. A. Lumb & Jones – Veterinary anesthesia and analgesia. 4. ed. Iowa: Blackwell Publishing, p. 800-801, 2007. CATÃO DIAS, J. L.; EPIPHANIO, S.; KIERULFF, M. C. M. Neotropical primates and their susceptibility to Toxoplasma gondii: new insights for an old problem. In: BRINKWORTH, J. F.; PECHENKINA, K. (eds.). Primates,pathogens and evolution. New York: Springer, 2013. p. 253-289. CHIEREGATTO, C. A. F. D. S.; PESSUTTI, C.; RAMOSJR, V. D. A. et al. Planos de manejo regionais: papel na conservação e prioridades brasileiras. In: MORATO, R. G.; RODRIGUES, F. H. G.; EIZIRIK, E. et al. Manejo e conservação de carnívoros neotropicais. São Paulo: IBAMA, pp. 326-349, 2006. 143 REFERÊNCIAS COURTENAY, O.; QUINNELL, R. J.; DYE, C. et al. Low infectiousness of a wildlife host of leishmania infantum: The crabeating fox is not important for transmission. Parasitology, v. 125, n. 5, pp. 407-414, 2002. CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; CATÃO-DIAS, J.L. Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária. 2a edição, v. 1 e 2. [s.l: s.n.]. Ed. Roca, 2014. DAWSON, T. J.; FINCH, E.; FREEDMAN, L. et al. Morphology and physiology of the Methateria. In: WALTON, D. W.; RICHARDSON, B. J. Fauna of Australia 1. B. AGPS, 1989. 314 p. DEANE, M. P.; JANSEN, A. M.; LENZI, H. L. Trypanosoma cruzi: Vertebrate and invertebrate cycles in the same mammal host, the opossum Didelphis marsupialis. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 79, n. 4, p. 513-515, 1984. E. S.; JORGE, R. S. P.; DALPONTE, J. C. Habitat use and diet of bush dogs, Speothos venaticus, in the Northern Pantanal, Mato Grosso, Brazil. Mammalia, v. 73, pp. 13-19, 2009. EMMONS, L. H.; FEER, F. Neotropical rainforest mammals – A field guide. 2. ed. Chicago: The University of Chicago Press, 1997. 307p. ENDO, T. et al. Morphology of the intestinal tract in the white rhinoceros (Ceratotherium simum). Anatomia, Histologia, Embryologia, v. 28, [s. n], p. 303-305, 1999. ENGELHARD, K.; WERNER, C.; EBERSPACHER, E. et al. Influence of propofol on neuronal damage and apoptotic factors afterin complete cerebral ischemia and reperfusion in rats: a longterm observation. Anesthesiology, v. 101, n. 4, p. 912-917, 2004. FARIAS, R. C.; SIQUEIRA, D. B.; ALESSIO, F. M. et al. Primeira descrição da ocorrência de aglutininas antiLeptospira spp em gambás de orelha branca (Didelphis albiventris Lund, 1840) na Mata Atlântica do Estado de Pernambuco, Brasil. XI Congresso e XVII Encontro da Associação de Veterinários de Animais Selvagens – ABRAVAS, 2008, Santos. In: Anais do XI Congresso e XVII Encontro da Associação de Veterinários de Animais Selvagens – ABRAVAS. São Paulo: ABRAVAS, 2008. p. 23. FARROW, C. S. Veterinary diagnostic imaging: birds, exotic pets and wildlife. St. Louis: Mosby Elsevier, 2009. pp. 237-258,275-281, 291- 318. 144 REFERÊNCIAS FEENEY, D. A.; JOHNSTON, R. G. The uterus, ovaries and testes. In: Thrall, D. E. (ed.). Textbook of veterinary diagnostic radiology. 5. ed. Missouri: Saunders Elsevier, pp. 738-749, 2007. FOLEY, P. L.; HENDERSON, A. L.; BISSONETTE, E. A. et al. Evaluation of fentanyl transdermal patches in rabbits: blood concentrations and physiologic response. Comp Med, v. 51, n. 3, pp. 239-244, 2001. FOWLER, M. E.; MIKOTA, S. K. Chemical restraint and anesthesia in elephants. In: FOWLER, M. E.; MIKOTA, S. K. (eds.). Biology, medicine and surgery of elephants. Ames: Blackwell Publishing, 2006. pp. 91-109. FOWLER, M. E. Surgery and surgical procedures. In: FOWLER, M. E.; MIKOTA, S. K. (eds.). Biology, medicine and surgery of elephants. Ames: WileyBlackwell, 2006. pp. 119-130. FOWLER, M. Proboscidea (elefantes). In: Selvagens, Cubas, Z, Catão, J. Tratado de animais Selvagens, São Paulo: Roca. cap 45; 2a ed. 2014. pp. 1083-1095. GIOSO, M. A. Odontologia veterinária para o clínico de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, p. 133, 2007. GIOSO, M. A; FECCHIO, R. S; MARTINEZ, L.A.V. Radiologia odontológica in: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens – Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, pp. 1849-1866, 2014. GIRLING, S. Veterinary nursing of exotic pets. Oxford: Blackwell, 2003. GONÇALVES, N. N.; MAÇANARES, C. A. F.; MIGLINO, M. A. et al. Aspectos morfológicos dos órgãos genitais femininos do gambá (Didelphis sp). Braz. J. Vet. Anim. Sci. São Paulo, v. 46, n. 4, pp. 332-338, 2009. GRASSMAN, L. I. JR.; AUSTIN, S. C.; TEWES, M. E. et al. Comparative immobilization of wild felids in Thailand. J Wildl Dis, v. 40, n. 3, pp. 575-578, 2004. GRIMM, K. A. (eds.). Lumb & Jones’ veterinary anesthesia and analgesia. 4. ed. Ames: Blackwell Publishing, pp. 301-353, 2007. GUNKEL, C.; LAFORTUNE, M. Felids. In: WEST, G.; HEARD, D.; CAULKETT, N. (eds.). Zoo animal & wild life immobilization and anesthesia. 1.ed. Iowa: Blackwell Publishing, 2007. pp. 443-457. HARCOURT BROWN, F. Textbook of rabbit medicine. Oxônia: Butterworth- Heinemann, 2002. 410 p. 145 REFERÊNCIAS HASHIMOTO, K.; SAIKAWA, Y.; NAKATA, M. Studies on the red sweat of the Hippopotamus amphibius. Pure and Applied Chemistry, v. 79, n. 4, pp. 507-517, 2007. HAWKIN, M ; PASCOE,P. Analagsia em pequenos mamaíferos exóticos. In: Cubas, Z; Catão, J. Tratado de animais Selvagens, Ed. Roca. cap 97; 2. ed. 2014. pp. 1994- 2000. HEARD, D. J. Rodents. In: WEST, G.; HEARD, D.; CAULKETT, N. (eds.). Zoo animal & wildlife immobilization and anesthesia. Ames: Blackwell Publishing, 2007. pp. 655-663. HEDENQVIST, P.; ORR, H. E.; ROUGHAN, J. V. et al. Anaesthesia with ketamine/ medetomidine in the rabbit: influence of route of administration and the effect of combination with butorphanol. Vet Anaesth Analg, v. 29, n. 1, pp. 1.419, 2002. HEATLEY, J. J.; HARRIS, M. C. Hamsters and gerbils. In: MITCHELL, M. A.; TULLY JR., T. N. Manual of exotic pet practice. St.Louis: Saunders Elsevier, 2009. pp. 406-432. HIERONYMUS, T. L.; WITMER, L. M.; RIDGELY, R. Structure of white rhinoceros (Ceratotherium simum) horn investigated by x ray computed tomography and histology with implications for growth and external form. Journal of Morphology, v. 267, n. 10, pp. 1172-1176, 2006. HOLZ, P. Marsupials. In: WEST, G.; HEARD, D.; CAULKETT, N. (eds.). Zoo animal & wildlife immobilization and anesthesia. Ames: Blackwell Publishing, 2007. pp. 341-346. HUDSON, A.; CRANE, M. Guinea pigs. In: BALLARD, B.; CHEEK, R. Exotic animal medicine for the veterinary technician. 2. ed. Ames: 2010. p. 319325. HUDSON, A.; ROMAGNANO, A. Mice, rats, gerbils and hamsters. In: BALLARD, B.; CHEEK, R. Exotic animal medicine for the veterinary technician. 2. ed. Ames: Wiley Blackwell, 2010. p. 293310. JEPSON, L. Clínica de animais exóticos – Eferência rápida. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. JOHNSTON, M. S. Clinical approaches to analgesia in ferrets and rabbits. Seminars in Avian Exotic Pet Medicine, v. 14, n. 4, pp. 229-235, 2005. KALTER, S. S.; HABERLING, R. L. Yellow fever serology in nonhuman primates. Primate Zoonoses Surveil. Rep., v. 5, n. 2, pp. 1.314, 1971. 146 REFERÊNCIAS KENNEDY STOSKOPF, S. Emerging viral infections in large cats. In: FOWLER, M. E.; MILLER, R. E. (Ed.). Zoo & wild animal medicine – current therapy. 4. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1999. cap. 54, pp. 401-410. KOCK, M. D.; MORKEL, P. Capture and translocation of the free ranging black rhinoceros: medical and management problems. In: FOWLER, M. E. (ed.) Zoo and Wild Animal Medicine (Current Therapy 3). 3. ed. Denver: W.B. Saunders Company, 1993. pp. 466-475. KREEGER, T. J.; ARMSTRONG, D. L. Tigers and telazol: the unintended evolution of caution to contraindication. Journal of Wildlife Management, v. 74, n. 6, pp.1.183- 1.185, 2010. KRETZSCHMAR, P.; SIPANGKUI, R.; SCHAFFER, N. Eye disorders in captive Sumatran rhinoceros (Dicerorhinus sumatrensis) in Sabah, Malaysia.Proceeding of International Conference of Disease Zoo Wild Animal, pp. 236-242, 2009. LASCALA, C. A.; MOSCA, R. C. Filmes e processamento radiográfico. In: LASCALA, C. A. et al. (ed.) Fundamentos de odontologia, radiologia odontológica e imagenologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, pp. 113-131c, 2006. LEMKE, K. A. Anticholinergics and sedatives. In: TRANQUILLI, W. J.; THURMON, J. C.; GRIMM, K. A.(eds.). Lumb & Jones’ veterinary anestesia and analgesia. 4. ed. Ames: Blackwell Publishing, 2007.pp. 203-240. LENHARD, T. J. Elephant husbandry. In: FOWLER, M. E.; MIKOTA, S. K. (eds.). Biology, medicine and surgery of elephants. Ames: Wiley Blackwell, 2006. pp. 45-55. LIN, H. C. Dissociative anesthetics. In: TRANQUILLI, W. J.; THURMON J. C.; LONG, G.; STOOKEY, J. L. Fibrous osteodistrophy in an opossum. J. of Wild. Dis., v. 11, n. 2, pp. 221-223, 1975. LOOMIS, M. R. Great apes. In: FOWLER, M. E.; MILLER, R. E. Zoo and wild animal medicine. 5. ed. Saint Louis: W. B. Saunders, 2003. cap. 39, pp. 381-397. LYON, T.; BALLARD, B. Chinchillas. In: BALLARD, B.; CHEEK, R. Exotic animal medicine for the veterinary technician. 2. ed. Ames: Wiley Black well, 2010. pp. 311-318. LOWENSTINE, L. J. Medical primatology VMD413 (several authors). Spring Quarter: University of California/Davis, 1992. 147 REFERÊNCIAS MAIA, O. B.; GOUVEIA, A. M. G.; SOUZA, A. M. et al. Avaliação pósvacinal de lobos guarás Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1811) contra os vírus da cinomose e parvovirose caninas. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 51, n. 5, pp. 415-420, 1999. MALTA, C. C.; LUPPI, M. M. Marsupialia – Didelphimorphia (Gambá, Cuíca). In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens – Medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014. cap. 23, pp. 340-357. MALTA, C. C.; LUPPI, M. M.; TINOCO, H.P. Perissodactyla – Equidae e rhinocerotidae (zebras e rinocerontes) –In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens – Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2014. cap. 46, pp. 1097-1116. MCKEON, G. P.; PACHARINSAK, C.; LONG, C. T. et al. Analgesic effects of tramadol, tramadol gabapentin,and buprenorphine in an incisional model of pain in rats (Rattus norvegicus). J Am Assoc Lab Anim Sci, v. 50, n. 2, pp. 192-197, 2011. MIKOTA, S. K. Elephant tuberculosis. In: FOWLER, M. E.; MIKOTA, S. K. (eds.). Biology, medicine and surgery of elephants. Ames: Wiley Blackwell, 2006. pp. 138-139. MILLER, R. E. Rhinoceridae (Rhinoceroses). In: FOWLER, M. E.; MILLER, R. E. (ed.) Zoo and wild animal medicine. 5.ed. Philadelphia: W.B. Saunder Company, pp. 558-569, 2003. MITCHELL, M.; THOMAS, J. R. Manual of exotic pet practice. St. Louis: Saunders Elsevier, 2009. 552 p. MORIMOTO, K.; NISHIMURA, R.; MATSUNAGA, S. et al. Epidural analgesia with a combination of bupivacaine and buprenorphine in rats. J Vet Med A Physiol PatholClin Med, v. 48, n. 5, pp. 303-312, 2001. MURPHY, P. G.; MYERS, D. S.; DAVIES, M. J. et al. The antioxidant potential of propofol (2,6diisopropylphenol). Br J Anaesth, v. 68, n. 6, pp. 613-618, 1992. MUSSART, N. B.; COPPO, J. A. Cystine nephrolithiasis in an endangered canid, Chrysocyon brachyurus (Carnivora: Canidae). Revista de Biologia Tropical, v. 47, n. 3, pp. 623-625, 1999. NASCIMENTO, F. O. Revisão taxonômica do gênero Leopardus Gray, 1842 (Carnivora, Felidae). 2010. 317 p. Tese (Doutorado) – Instituto de Biociências. Departamento de Zoologia. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. 148 REFERÊNCIAS NIEMIEC, B. A.; GILBERT, T.; SABATINO, D. Equipment and basic geometry of dental radiography. NICHEPUBS. Journal of Veterinary Dentistry, v. 21, n. 1, pp. 48-52, mar. 2004. NIJHOF, A. M.; PENZHORN, B. L.; LYNEN, G. et al. Babesia bicornis sp. nov. and Theileria bicornis sp. nov.: Tick borne parasites associated with mortality in the black rhinoceros (Diceros bicornis). Journal of Clínical Microbiology, v. 41, n. 5, pp. 2.249-2.254, 2003. NOWAK, R. M. Rhinoceroses. In: NOWAK, R. M. Walker´s mamals of the world. 6. ed. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1991, v. 2. pp. 1.028-1.041. NUNES, A. L. V.; CRUZ, M. L.; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesiologia. In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO DIAS, J. L. (eds.). Tratado de animais selvagens – medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014. pp. 1040-1067. OKERMAN, L. Diseases of domestic rabbits. Massachusetts: Blackwell Scientific Publications, 1988. 113p. OLIVEIRA, T. G.; CASSARO, K. Guia de campo dos felinos do Brasil. São Paulo: Instituto Pró Carnívoros, Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Sociedade de Zoológicos do Brasil, Pró Vida Brasil, 2005. 80 p. OLSON, D. (ed.) The elephant husbandry resource guide. Axle: The International Elephant Foundation, 2005. ORSINI H, BONDAN EF. Fisiopatologia do estresse em animais selvagens em cativeiro e suas implicações no comportamento e bem-estar animal – revisão da literatura. Rev. Inst. Ciênc. Saúde, v. 24, n. 1, pp. 7-13, 2006. PACHALY, J. R. Principais drogas empregadas na contenção farmacológica de animais selvagens. Arq. Ciên. Vet. Zool. UNIPAR, v. 3, n. 1, pp. 87-94, 2000. PACHALY, J. R.; DELGADO, L. E. S.; LANGE, R. R. et al. Romifidine HCl as adjuvant to dissociative anesthesia in big wild felids. AAZV Annual Conference, p. 112, 2006. PACHALY, J. R. Terapêutica por extrapolação alométrica. In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃODIAS, J. L. Tratado de animais selvagens – Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2007. pp. 1215-1223. PACHALY, J. R; LANGE, R,R. Artiodactyla giraffidae ( girafas ) . In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃODIAS, J. L. Tratado de animais selvagens – Medicina Veterinária. São Paulo: Roca. 2014, pp. 1187- 1203. 149 REFERÊNCIAS PACHALY, J. R ; MONTEIRO, L.P.D. Artiodactyla- Hippopotamidae (Hipopótamos) In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO DIAS, J. L. (eds.). Tratado de animais selvagens – medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014. pp. 1243- 1260. PESSOA, C. A.; FECCHIO, R. R. S.; SOUZA, P. C. Exodontia de incisivos em coelho (Oryctolagus cuniculus): utilização de agulhas hipodérmicas como luxadores periodontais. Revista da Anclivepa, São Paulo, 2008. p. 67. PESSOA, C. A.Lagomorpha (coelho, lebre e tapiti): In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J.C.R.;CATÃO DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens – Medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014. Cap. 56, pp.1.335-1.364. RADCLIFFE, R. M.; HENDRICKSON, D. A.; RICHARDSON, G. L. et al. Standing laparoscopic guide duterine biopsy in a southern white rhinoceros (Ceratotherium simum simum). Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v. 31, n. 2, pp. 201-207, 2000. REILLY, C. S.; WOOD, A. J.; KOSHAKJI, R. P. et al. The effect of halothane on drug disposition: contribution of changes in intrinsic drug metabolizing capacity and hepatic blood flow. Anesthesiology, v. 63, n. 1, pp. 70-76, 1985. RIGGS, S.; MITCHELL, M. A. Chinchillas. In: MITCHELL, M. A.; TULLY JR., T. N. Manual of exotic pet practice. St. Louis: Saunders Elsevier, 2009. pp.474- 492. QUINTON, J. F. Novos animais de estimação – pequenos mamíferos. São Paulo: Roca, 2005. p. 50. REDMAN, H. C.; WILSON, G. L.; HOGAN, J. E. Effect of chlorpromazine combined with intermittent light stimulation on the electroencephalogram and clinical response of the Beagle dog. Am J Vet Res, v. 34, n. 7, pp. 929-936, 1973. RICHARDSON, V. C. G. Diseases of small domestic rodents. 2. ed. Oxford: Blackwell, 2003. ROZANSKA, D. Evaluation of medetomidine-midazolam-atropine (MeMiA) anesthesia maintained with propofol infusion in New Zealand White rabbits. Pol J Vet Sci, v. 12, n. 2, pp. 209-216, 2009. SHARP, J.; ZAMMIT, T.; AZAR, T. et al. Recovery of male rats from major abdominal surgery after treatment with various analgesics. Contemp Top Lab Animal Sci, v. 42, n. 6, pp. 22-27, 2003. 150 REFERÊNCIAS SILVERMAN, S. Diagnostic imaging of exotic pets. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 23, n. 6, pp. 1287-1299, 1993. STEFFEY, E. P.; MAMA, K. R. Inhalation anesthetics. In: TRANQUILLI, W. J.; THURMON, J. C.; GRIMM, K. A. (eds.). Lumb & Jones’ veterinary anesthesia and analgesia. 4. ed. Ames: Blackwell Publishing, 2007. pp. 355-395. TANELIAN, D. L.; KOSEK, P.; MODY, I. et al. The role of the GABAA receptor/chloride channel complex in anesthesia. Anesthesiology, v. 78, n. 4, pp. 757-776, 1993. TEIXEIRA, V. N. Rodentia – Roedores exóticos. Cap 55. In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃODIAS, J. L. (eds.). Tratado de animais selvagens – medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014. p 1295-1334. VERONA, C.E. Primates - Primatas do novo mundo. Cap 34. In: CUBAS Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO DIAS, J. L. (eds.). Tratado de animais selvagens – medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014. p 807-846. VILANI, R. G. D. O. C. Contenção química e anestesia em primatas não humanos. In: KINDLOVITS, A.; KINDLOVITS, L. M. (eds.). Clínica e terapêutica em primatas neotropicais. Rio de Janeiro: L.F. Livros, 2009. pp. 297-310. VILANI, R. G. D. O. C. Anestesia injetável e inalatória. Cap. 97 In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J.C.R.;CATÃO DIAS, J.L. Tratado de animais selvagens – Medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2014. pp. 2002-2036. Site COELHOMANIAJLLE. Cecotrofia de Coelhos. Coelhomania, 2012. Disponível em: http://coelhomaniajlle.blogspot.com/2012/08/cecotrofia_16.html. Acesso em: 13 jul. 2020. CURITIBA. Prefeitura Municipal de Curitiba. Notícias. Lobo-guará é destaque em atividades do Zoológico de Curitiba. Prefeitura Municipal de Curitiba, 2019. Disponível em: https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/lobo-guara-e-destaque-em- atividades-do-zoologico-de-curitiba/53057. Acesso em: 12 jul. 2020. IBAMA. Onça Preta. IBAMA, 2011. Disponível em: https://detvsites-ibama.webnode. com.br/products/on%C3%A7a-preta%20/. Acesso em: 12 jul. 2020. 151 REFERÊNCIAS FLEURY, F. Índia inaugura seu primeiro hospital veterinário para elefantes. R7 Notícias, 2018. Disponível em: https://noticias.r7.com/internacional/fotos/ india-inaugura-seu-primeiro-hospital-veterinario-para-elefantes-18112018. Acesso em: 14 jul. 2020. FIOCRUZ. Sistema de Informação em Biossegurança. Felis concolor. Família Felidae. Nome popular: sussuarana, onça-parda. Fiocruz, 2018. Disponível em: http://www. fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/sussuarana.htm. Acesso em: 12 jul. 2020. RESEARCH GATE. Contenção física de primatas de médio porte. Research Gate, 2017. Disponível em: https://www.researchgate.net/figure/Figura-25-Contencao- fisica-de-primatas-de-medio-porte_fig11_305562039. Acesso em: 14 jul. 2020. ROCHA, A. Cenas fortes: peão é atacado por onça-pintada. Jornal Brasília, 2019. Disponível em: https://jornaldebrasilia.com.br/nahorah/cenas-fortes-peao-e- atacado-por-onca-pintada/. Acesso em: 12 jul. 2020. VEVET. Vevet, 2014. Disponível em: http://www.vevet.com.br/2014/02/psoroptes- cuniculi-em-coelhos.html. Acesso em: 13 jul. 2020. VIEIRA, C. A. Onça Pintada. Infoescola, 2018. Disponível em: https://www.infoescola. com/mamiferos/onca-pintada/. Acesso em: 12 jul. 2020. Apresentação Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Introdução Unidade I Anatomia e Semiologia de Mamíferos Capítulo 1 Exame geral e curiosidades Capítulo 2 Contenção física e estresse Unidade II Medicina de marsupiais,canÍdeos e felÍdeos Capítulo 1 Marsupiais Capítulo 2 Canídeos Capítulo 3 Felídeo1 Unidade III Medicina e manejo de roedores de companhia e lagomorphos Capítulo 1 Roedores Capítulo 2 Clínica Capítulo 3 Lagomorphos Unidade IV Manejo e Medicina de primatas Capítulo 1 Biologia e manejo Capítulo 2 Clínica e cirurgia Unidade V Radiologia de Mamíferos silvestres e Contenção química de mamíferos silvestres Capítulo 1 Radiologia de Mamíferos silvestres Capítulo 2 Contenção química de mamíferos silvestres Unidade VI Manejo e Medicina de Megamamíferos Capítulo1 Elefantes Capítulo 2 Girafas Capítulo 3 Medicina de rinocerontes e hipopótamos Referências