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Unidade 1 Livro Didático Digital Mariana Martins Garcia Política de Saúde Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autora MARIANA MARTINS GARCIA Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS MARIANA MARTINS GARCIA Olá! Meu nome é Mariana Martins Garcia. Fiz a faculdade de Farmácia na Universidade Federal do Paraná, e mestrado em Ciências Farmacêuticas na mesma instituição, também fiz pós-graduação em Gestão Estratégica de Organizações de Saúde pela UNICESUMAR. Já atuei como farmacêutica em farmácia de dispensação, farmácia hospitalar, prática clínica e manipulação de nutrição parenteral e quimioterapia e como palestrante em uma indústria de dermocosméticos. Trabalhei em empresas como Droga Raia, Hospital da Policia Militar, CEQNEP e Stiefel. Atualmente sou professora do Instituto Equilibra e professora convidada na Universidade Positivo, além disso, atuo como conteudista para diversas instituições como a Inspirar, Telesapiens, São Braz, Uniandrade e UniBrasil. Amo estudar e adquirir novos conhecimentos! Também sou apaixonada por ensinar, por isso estou aqui. Conte comigo no que eu puder ajudar e vamos aprender cada vez mais juntos! A AUTORA Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: ICONOGRÁFICOS INTRODUÇÃO: para o início do desen- volvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessida- de de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações es- critas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e inda- gações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoaprendi- zagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Compreender sobre os conceitos de saúde durante a história ............................................................................. 12 Conceitos de Saúde durante a História .............................. 12 Saúde nas civilizações antigas .................................. 13 Saúde e a Idade Média ............................................. 14 O Renascimento e a evolução do conhecimento ....... 16 Iluminismo ............................................................... 17 A Teoria Bacteriológica ............................................ 18 Modelo Multicausal.................................................. 19 Determinante e Condicionantes Sociais de Saúde ..... 20 Conceito atual de saúde ............................................ 22 Conhecer história da Previdência Social e da saúde coletiva ............................................................................. 24 Saúde Coletiva .................................................................. 24 História da proteção social ................................................ 27 Proteção social no Brasil ................................................... 30 Compreender história das políticas públicas de saúde no Brasil ................................................................................ 36 Condição de vida no Brasil durante o período de colônia .. 36 Da Proclamação da República até 1930 ............................. 38 Era Vargas ......................................................................... 40 Da ditadura militar à VIII Conferência Nacional de Saúde 43 Conhecer a história dos sistemas de saúde de outros países ................................................................................ 47 Sistema de Saúde .............................................................. 47 Modelo universalista ................................................ 48 Modelo Seguro Social .............................................. 49 Sistema de Saúde na Inglaterra ................................. 49 Sistema de Saúde na Alemanha ......................................... 51 Sistema de Saúde em Cuba ............................................... 52 Sistema de Saúde nos Estados Unidos da América ............ 53 Sistema de Saúde no Canadá ............................................. 56 Política de Saúde 9 UNIDADE 01 LIVRO DIDÁTICO DIGITAL Política de Saúde10 Olá aluno! Nesta produção vamos compreender os conceitos de saúde e sua evolução com o momento histórico da humanidade e das civilizações. Vamos ver que a saúde vai muito além de acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, necessita de uma visão holística analisando os determinantes sociais de saúde. Além disso, você vai entender que a evolução do conceito de saúde coletiva e de proteção social, caminharam de forma integrada, pois o foco em todos os casos é o cuidado do indivíduo como pessoa e pertencente ao coletivo. Vamos ver também os principais acontecimentos históricos relacionados à proteção social fundamentais para a elaboração das Políticas de Saúde até a entrada da saúde na Constituição como “direito de todos e dever do estado”. Por fim, entendendo que Sistema de Saúde é definido pela OMS como “o conjunto de atividades cujo propósito primeiro é promover, restaurar e manter a saúde de uma população” vamos compreender como surgiram e como funcionam os Sistemas de Saúde em outros países. Ao longo deste material letivo você vai mergulhar neste universo! INTRODUÇÃO Política de Saúde 11 Olá. Seja muito bem-vindo. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender sobre os conceitos de saúde durante a história. 2. Conhecer história da previdência social e da saúde coletiva. 3. Compreender a história das políticas públicas de saúde no Brasil. 4. Conhecer a história dos sistemas de saúde de outros países. Então? Preparado para adquirir conhecimento sobre um assunto fascinante e inovador como esse? Vamos lá! OBJETIVOS Política de Saúde12 Compreender sobre os conceitos de saúde durante a história INTRODUÇÃO: Neste material, você irá compreender os conceitos de saúde de acordo com o momento histórico da humanidade e das civilizações, bem como a importância dos movimentos sanitaristas para essa evolução de conceito. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Conceitos de Saúde durante a História Nas primeiras civilizações a saúde era vista como natural, não havendo necessidade de explicação, enquanto a doença era entendida de duas formas: provocada por uma situação claramente identificada como uma queda ataque de animal entre outras ou possuía uma causa sobrenatural, não identificada. Essa visão sobrenatural era devida às limitações em relação a conhecimentos e recursos tecnológicos e eram tratadas pelos sacerdotes, muitas vezes pela fé através da “remissão dos pecados” e pelo isolamento da sociedade. Mesmo com essa crença no sobrenatural, as civilizações primitivas possuíam hábitos de proteção contra o adoecimento como enterrar os dejetos, utilizar água limpa, se abrigar do frio e do calor intenso, isso através da observação da natureza e da influência dela sobre as pessoas (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018). Por serem ligadas à religião, as doenças eram tratadas pelos sacerdotes queajudavam os doentes a encontrar a cura, muitas vezes pela fé através da “remissão dos pecados” e pelo isolamento da sociedade. Mesmo com essa crença no sobrenatural, as civilizações primitivas possuíam hábitos de proteção contra o adoecimento como enterrar os dejetos, utilizar água limpa, se abrigar do frio e do calor intenso, isso através da observação da natureza e da influência dela sobre as pessoas. Vale ressaltar que essa visão mágica foi suficiente para Política de Saúde 13 explicar as doenças por muitos séculos, como base para as causas do adoecimento do indivíduo em diversas civilizações, mas com variações de acordo com a cultura e os costumes (SOLHA, 2014). Saúde nas civilizações antigas Por exemplo, na Grécia, a saúde e a doença eram explicadas a partir da conclusão após observação atenta do homem, de seus costumes e sua relação com a natureza. Podemos destacar os estudos de Hipócrates (Figura 1), maior representante dessa prática, ele era médico e filósofo que viveu entre os séculos IV e V a.C. quem escreveu o livro “Ares, Águas e Lugares” no qual ele relacionava o modo de vida da população e sua relação com a natureza como resultado de uma vida saudável ou do adoecimento, além disso, orientava, de modo prático, como os indivíduos deveriam viver para evitar o adoecimento: com moderação! Ele defendia que a saúde era resultado do equilíbrio entre o homem e o meio em que vivia. Figura 1 - Hipócrates Fonte: Wikimedia Política de Saúde14 REFLITA: Atualmente, vemos que a saúde vai além da ausência de doença, e compreendemos que há influência de outros fatores como ambientais e sociais. Percebe como os conceitos de Hipócrates se enquadram nos conceitos atuais de saúde? A partir de suas observações sobre o papel da natureza, Hipócrates influenciou, não apenas a civilização grega, após serem assimilados pelo Império Romano, dominaram grande parte Europa entre os séculos I e V a.C. garantindo a salubridade como podemos observar nas construções que perduram até hoje (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018). Em outra parte do mundo, mais precisamente no Oriente, os conceitos de saúde, de doença e de seus cuidados seguiu em paralelo à Europa, mas não muito diferente. Na Pérsia (atual Irã), por exemplo, existiam hospitais que separavam os pacientes de acordo com os sintomas e o cuidado com a alimentação e a higiene eram considerados de extrema importância, sendo realizados por pessoas treinadas para a função. Da mesma forma que na Grécia, as medidas preventivas como uso de água potável, escoamento de esgoto (separação dos dejetos) eram comuns nas grandes cidades. Saúde e a Idade Média O conhecimento científico que começou a surgir teve seu momento de “reclusão” durante a Idade Média, quando a Igreja se tonou soberana e dominou esse conhecimento de forma que toda e qualquer teoria que explicasse sobre qualquer tema da vida sem referenciar Deus era considerada blasfêmia (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018). Nessa época a organização da população era em feudos, onde havia um dono da terra, o senhor feudal, e a população que nela habitava, trabalhava e devia sua vida a esse senhor. O crescimento dessa população e das cidades foi desordenado com aglomerações, Política de Saúde 15 IMPORTANTE: Lembre-se que, nessa época, a doença ainda era considerada castigo divino resultante da desobediência às regras da Igreja ou da impureza da alma, e a cura só era possível se fosse da vontade de Deus. Um exemplo típico são as doenças mentais que eram consideradas como possessão demoníaca e essas pessoas eram queimadas em praça pública para a “purificação” de suas almas (SOLHA, 2014; MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018). No final da Idade Média, algumas medidas sanitárias começaram a ser tomadas com o objetivo de melhorar a saúde da população. Nessa época começou a ser estudada a “Teoria dos Miasmas”, a qual relacionava a transmissão de doenças aos “maus ares”, ou seja, as doenças eram transmitidas por gases e pelo ar, levando os pesquisadores a buscar alternativas para eliminar a disseminação das doenças (SOLHA, 2014; MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018). SAIBA MAIS: A peste bubônica é uma doença transmitida pela pulga do rato e causou a morte de milhares de pessoas na Idade Média, mas pela Teoria dos Miasmas, a medicina utilizava os recursos que considerava corretos. Na visita aos doentes os médicos utilizavam vestimentas especiais que cobriam todo o corpo e uma máscara com um longo “bico” com ervas aromáticas para purificar o ar considerado contaminado e um bastam para verificar se o paciente estava vivo. sem mecanismos mínimos para garantir a higiene o que possibilitou a proliferação de doenças transmissíveis e das doenças epidêmicas como a peste bubônica, a varíola e o tifo. Política de Saúde16 Figura 2 - Vestimenta dos médicos na Idade Média Fonte: Freepik O Renascimento e a evolução do conhecimento Esses paradigmas da Igreja foram rompidos a partir do século XV com a separação da religião e do poder político, levando a grandes e importantes mudanças para a sociedade ocidental incluindo a evolução dos conhecimentos científicos. Essa parte da história é estudada como “O Renascimento”, a partir da descoberta de novas civilizações e povos indígenas, a arte e a ciência evoluíram e os estudos sobre a biologia humana começaram a se desenvolver rapidamente. Um grande avanço para a saúde e para a biologia foi a possibilidade de estudiosos realizarem a dissecação de corpos humanos sem ser considerado pecado, além do resgate de vários estudos gregos e islâmicos possibilitando aos estudiosos da época o conhecimento sobre os órgãos do corpo humano. IMPORTANTE: Nessa época se comparava o funcionamento do corpo humano a algumas máquinas o que fez surgir a ideia de que a doença é um “defeito” da máquina humana, inicialmente sem relação com o meio externo. Política de Saúde 17 A Teoria dos Miasmas ainda permanecia e foi aprofundada levando a implementação de códigos sanitários, mas ainda havia controvérsias sobre a origem da doença, pois alguns estudiosos acreditavam que a doença era transmitida apenas por contato e outros que acreditavam que o ambiente social era um dos principais causadores. Essa divergência de opinião foi importante para os avanços do conhecimento, pois levou os estudiosos a buscarem de forma ampla a realidade sobre a saúde e a doença. Perceba que a Teoria dos Miasmas permanecia forte da mesma forma que os conceitos de saúde de Hipócrates tomavam forma nesse novo conceito de civilização. Iluminismo Na segunda metade do século XVIII, mais precisamente a partir da Revolução Industrial na Inglaterra, nasceu uma nova forma de produção de bens de consumo, baseada na produção em larga escala, uso de tecnologia e emprego de uma grande quantidade de trabalhadores, deslocando a força de trabalho do meio rural para as cidades de modo desorganizado. Essa época é caracterizada por grandes lucros para os empregadores e péssimas condições de vida para o empregado. IMPORTANTE: Nesse contexto começou a se relacionar o adoecimento com as condições de vida do indivíduo, indo além da medicina, cujo foco era a cura, tendo como intervenções a moradia e melhor alimentação dos trabalhadores. Nesse cenário que se desenvolve a Medicina Social, a qual relacionava o processo de adoecimento com as condições de vida dos indivíduos e passou a propor formas de atuação para o controle das doenças e da mortalidade extrapolando a prática médica e inserindo intervenções sobre a moradia, alimentação e medidas sanitárias. A partir do contraponto superprodução e melhores condições de trabalho é quando se inicia os protestos e movimentos relacionados ao Política de Saúde18 trabalho digno, melhores moradias e melhores condições de cuidado da saúde. Mas esse tema vamos abordar melhor mais adiante! A Teoria Bacteriológica Apesar dejá se conhecer sobre os “germes” antes do século XIX pouco se podia provar, por isso, muitos pesquisados estudaram buscando relacioná-los a algumas doenças. Dentre esses pesquisadores e seus podemos destacar: • Robert Koch: comprovou a transmissão do antraz. • Louis Pasteur: junto com sua equipe, descobriram mecanismos de infecção e formas de prevenção. • Edward Jenner: desenvolveu a vacina contra a varíola. • Joseph Lister: propôs uso de fenol como antisséptico antes das cirurgias. • Ignaz Semmelweis: associou a febre puerperal ao fato de os estudantes de medicina saírem das salas de anatomia para a sala de parto sem lavarem as mãos ou trocarem de roupa, e recomendou esse procedimento como estratégia para evitar a infecção. • Florence Nightingale: recomendou que o ambiente hospitalar fosse limpo, ventilado e salubre para proporcionar a recuperação dos pacientes. Figura 3 – Florence Nightingale Fonte: Wikimedia Política de Saúde 19 Florence Nightingale ficou conhecida como “A Dama da Lamparina” porque andava pelos corredores do hospital com uma lamparina para cuidar dos seus pacientes. Era apaixonada por gráficos e trouxe os estudos estatísticos para a saúde, utilizando o que chamamos hoje de gráficos de pizza. Florence é um exemplo da força, da inteligência e da coragem de todas as mulheres! Essas teorias foram inicialmente contestadas por outros profissionais e pela própria medicina o que levou esses estudiosos a buscar comprovações de suas teorias para que pudessem ser aceitas e, principalmente, que fossem todas as devidas precauções. Nesse momento nasceu outra explicação sobre o processo saúde- doença: a Teoria Bacteriológica colocando a infecção como única causa das doenças. Essa visão ajudou a identificar vários agentes patogênicos e a forma de controle e prevenção, porém, restringiu o olhar sobre o adoecimento desconsiderando os demais fatores como os psicossociais e os ambientais. Modelo Multicausal Outras teorias começam a surgir quando se percebeu que a Teoria Bacteriológica não era suficiente para explicar a complexidade do adoecimento, por isso, em meados do século XX, outras teorias começaram a surgir, muitas baseadas na multicausalidade do processo de adoecimentos. A mais conhecida e utilizada até hoje é a “História Natural da Doença” proposta por Leavell e Clark, em 1965, pesquisadores americanos, a qual divide o processo do adoecimento em duas fases a pré-patogênica (antes do adoecimento) e patogênese (momento que a doença se instala) (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018). Esse modelo passou a considerar a interação entre agentes, fatores ambientais e do indivíduo como partes do processo de adoecimento. Com esse novo conceito os estudos passaram buscar compreender de que forma os outros fatores podem influenciar no adoecimento, chegando até os determinantes e condicionantes sociais de saúde. Política de Saúde20 Determinante e Condicionantes Sociais de Saúde Na década de 60, alguns pesquisadores resgataram a teoria da Medicina Social inserindo o papel da sociedade e do Estado na saúde desenvolvendo a “Teoria dos Determinantes Sociais” ou “Teoria da Determinação Social do Processo Saúde-Doença”. A partir dessa teoria começam a propor modificações das estruturas sociais, econômicas e políticas como melhores condições de transporte, acesso aos serviços de saúde, melhores salários, entre outras, por observarem a relação dessas com as condições de saúde. REFLITA: Segundo a OMS, os determinantes de saúde são fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. Você consegue observar como os determinantes sociais podem influenciar na saúde do indivíduo? Esses não podem ser avaliados somente pelas doenças geradas porque influenciam todas as dimensões do processo de saúde. Dentre esses fatores estão determinantes da condição de saúde estão: • Condicionantes biológicos: idade, sexo, características pessoais, herança genética. • Meio físico: condições geográficas, características da ocupação humano, fonte de água para consumo, qualidade dos alimentos e sua disponibilidade, condições de habitação. • Meio socioeconômico e cultura: níveis de ocupação e renda, acesso à educação, ao lazer, graus de liberdade, relacionamentos interpessoais, acesso aos serviços voltados para a promoção e recuperação da saúde, bem como a qualidade dos mesmos. Política de Saúde 21 Figura 4 – Qualidade de vida em família – uma das formas de cuidar dos determinantes sociais Fonte: Pixabay SAIBA MAIS: Outro termo que Solha (2014) traz é a expressão “Condicionantes de Saúde” que condiciona uma situação a um determinado fator, por exemplo, apenas homens podem ter câncer de próstata, por isso sexo é um fator condicionante para essa doença entre humanos. Mas isso não quer dizer que todo homem terá câncer de próstata, lembre-se a doença é multicausal, ou seja, há outros fatores que a influenciam. Segundo Moreira et al (2018), os valores e os determinantes e condicionantes da saúde expressam as tendências e conformações dos hábitos sociais de acordo com diversos aspectos da sociedade. Compreendendo que a saúde é multicausal e vem do bem- estar biopsicossocial, uma forma de avaliar as condições de saúde do indivíduo é através da avaliação da sua qualidade de vida que envolve o bem espiritual, físico, psicológico, emocional, relacionamentos sociais, saúde, educação, poder de compra, habitação, saneamento básico entre outras circunstancias da vida. Avaliar os diversos domínios da vida das pessoas auxilia os pesquisadores a melhorar a vida da população e, consequentemente, sua condição de saúde. Política de Saúde22 Conceito atual de saúde Não tem como falar sobre saúde sem citar a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), pois essa é a mais abrangente, definindo que saúde “é o completo bem-estar físico, social e mental, e não apenas a ausência de doenças”. Perceba que nesse conceito se insere três dimensões: • Bem-estar físico: não há apenas a saúde de um órgão, mas sim do todo, do sistema completo. • Bem-estar social: é o ajuste às exigências do meio, fundamentalmente das condições socioeconômicas, do local onde se vive, da distribuição de riquezas e das oportunidades oferecidas ao indivíduo. • Bem-estar mental: o ser humano precisa estar bem ajustado às condições de vida dentro do seu ambiente, com entendimento, equilíbrio, tolerância e compreensão dos indivíduos, ou seja, a saúde mental são as respostas psíquicas ajustadas com boa adaptação. Após o surgimento de todas essas teorias para explicar o processo saúde-doença, os pesquisadores perceberam que não é possível observar apenas um ponto de vista por ser um tema muito complexo. Essa nova visão do processo saúde-doença, com o olhar holístico, sobre o todo, necessita de mudanças nos serviços de atenção à saúde o que, em muitos países, encontra dificuldades devido aos conceitos instalados nos profissionais, gestores, políticos e da própria população na qual o médico ainda é visto como principal detentor dos conhecimentos para a cura. Esse novo modelo é chamado de “Conceito Ampliado de Saúde”. REFLITA: Lembra quando falamos no começo sobre os cuidados de saúde na antiguidade? Os sacerdotes eram detentores do conhecimento de cura, com sua base Divina e de fé, eram os únicos capazes de cuidar dos pacientes, certo? Agora eu te faço uma pergunta para você pensar: qual a real diferença entre esse modelo que coloca o sacerdote como responsável pela cura e o modelo biomédico que centra essa responsabilidade no médico? Política de Saúde 23 No Brasil, o movimento de saúde a partir da década de 80, teve a participação da sociedade nas discussões sobre diversas áreas, entre elas a saúde, e na VIII Conferência Nacional de Saúde a saúde foi definidada seguinte forma: Em sentido amplo, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. Sendo assim é principalmente resultado das formas de organização social, de produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida (BRASIL, 1986, p. 4). Perceba que essa definição corrobora o “conceito ampliado de saúde” o qual compreende que para se alcançar a saúde deve-se existir integração entre os diferentes setores da sociedade de forma que se articulem políticas amplas não restritas apenas aos serviços de saúde, como unidades básicas, hospitais entre outros. RESUMINDO: E então? Conseguiu compreender sobre os conceitos de saúde e sua evolução? Neste tópico conhecemos a evolução do conceito de saúde, além de compreendermos que esses conceitos estão vinculados ao momento da humanidade de das civilizações. Pudemos observar, também, que a saúde vai muito além de acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, necessita de uma visão holística analisando os determinantes sociais de saúde o que permite realizar intervenções no sentido de ampliar políticas públicas que possam reduzir as iniquidades e avançar para políticas de saúde com mais equidade. Política de Saúde24 Conhecer história da Previdência Social e da saúde coletiva INTRODUÇÃO: Historicamente a evolução do conceito de saúde coletiva e de proteção social caminharam de forma integrada, pois o foco em todos os casos é o cuidado do indivíduo como pessoa e pertencente ao coletivo. Por isso, neste tópico vamos conhecer sobre a história da saúde coletiva e evolução da previdência social que tem início com a proteção social. Pronto para começar? Bons estudos! Saúde Coletiva A saúde coletiva é a integração entre as ciências sociais e as políticas públicas de saúde identificando as variáveis sociais, econômicas e ambientais que possam influenciar nos cenários de epidemia de determinada região, através de estudos, análises e projeções dos dados epidemiológicos e socioeconômicos, sendo possível observar as necessidades da população e elaborar políticas para prevenção. O estudo da saúde coletiva como ciência busca ampliar os conhecimentos sobre a saúde, a partir de investigações históricas, sociológicas, antropológicas e epistemológicas. SAIBA MAIS: É muito comum encontrar em algumas literaturas o conceito de saúde coletiva e de saúde pública como sinônimos, mas esses conceitos são diferentes. O primeiro é resultado do movimento sanitarista, enquanto o segundo está relacionado com o direito individual e coletivo à manutenção da saúde. Política de Saúde 25 O surgimento da saúde coletiva teve início a partir do momento em que a população passa a ser cuidada pelo poder público o qual contabiliza a população, coleta dados sobre suas condições de vida e acompanha as taxas de natalidade e mortalidade, bem como, utiliza as políticas públicas desenvolvidas pelo Estado para assegurar direito e cidadania a partir de planos, programas, ações e atividades (BARROS, 1996). No Brasil a saúde coletiva começou na luta contra a ditadura estruturando-se com apoio de universidades, movimentos sindicais, entre outros, tendo como seu primeiro grande resultado a criação do Sistema Único de Saúde, cujo objetivo está no auxílio da identificação de variáveis sociais, econômicas e ambientais que possam influenciar nas epidemias regionais (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018). Esse movimento sanitarista teve início na década de 70 cuja ideologia buscava a reforma sanitária brasileira de forma que a saúde deixasse de ser apenas uma questão médica, mas passasse a ser também uma questão social e política. IMPORTANTE: A Saúde Coletiva está envolvida com lutas políticas, ideológicas, teóricas e paradigmáticas que repercutiram na saúde como um todo, não apenas em seu conceito, mas nas práticas relacionadas a ela de forma individual e coletiva de acordo com suas necessidades, direitos humanos e a democratização da vida social. Observe que o conceito de Saúde Coletiva vai além da dimensão do corpo individual, passa-se a observar o indivíduo como cidadão com direitos e com capacidade de reflexão crítica sobre como leva a sua vida. Política de Saúde26 Figura 5 – Saúde Coletiva, cuidado do todo! Fonte: Pixabay O objetivo é evitar a doença e prolongar a vida, melhorar a qualidade de vida, o exercício da liberdade humana e a busca da felicidade usando as informações de epidemiologia social, ciências sociais e desigualdade em saúde, conceitualmente relacionados as tarefas da saúde pública. Na saúde pública envolve ações e serviços de caráter sanitário que tem como objetivo combater e prevenir doenças ou riscos à saúde da população utilizando os conhecimentos de saúde e ciências sociais para organizar os serviços de saúde e o sistema atuando nos fatores do processo saúde/doença com o intuito de controlar a incidência de doenças através da vigilância sanitária. Consegue perceber como a Saúde Coletiva e a Saúde Pública se desenvolveram e atuam em conjunto para buscar o bem estar físico, social e psicológico do indivíduo? Os desafios da saúde pública dentro da saúde coletiva são imensos como resolver questões mais complexas relacionadas a saúde como a fome, o meio ambiente, a violência como um modo social de viver (contra mulher, criança, homossexual, entre outros), desemprego, instabilidade, competição individual pelo direito de trabalho como gerador de sofrimentos e de doenças individuais e coletivas. Política de Saúde 27 História da proteção social A busca pelo cuidado da saúde acontece desde o momento que o homem observa a necessidade de proteger sua saúde e tratar as suas doenças. Dessa forma, o cuidado consigo e com os demais faz com que o ser humano busque mais conhecimento sobre as doenças e as formas de prevenção e tratamento. A busca do ser humano pela proteção social é muito antiga, originada na Grécia e a Roma antigas. Nessas civilizações a proteção social tinha a característica de pater familiae, ou seja, o patriarca como principal responsável pela proteção dos seus familiares. VOCÊ SABIA? Hoje pensamos em família como a pequena instituição de pais e filhos, mas naquela época, a constituição familiar era bem mais ampla, muitas vezes, dentro da mesma casa moravam avós, irmão, pais, filhos, sobrinhos e os cônjuges de cada um desses indivíduos, sendo todos comandados pelo homem mais velho com vigor físico. Os indivíduos que não tinha essa proteção familiar e não tinham condições de se sustentar dependiam de ajuda através da caridade praticada pelos mais ricos. Figura 6 - Proteção familiar Fonte: Pixabay Política de Saúde28 O marco em relação a assistência social, foi a Lei dos Pobres (Poor Relief Act), em 1601, na Inglaterra. Essa Lei regulamentava a instituição de auxílios e socorros públicos aos que deles necessitavam, incluindo a cobrança de impostos de caridade, pago pelos que possuíam terras, repassando esses valores, por meio dos inspetores nomeados pelos juízes, para as paróquias da região que passaria, que repassavam para os mais necessitados (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018). Essa tendência de cuidado do menos favorecido, chegou a França com a Convenção Nacional francesa de 1793 na qual foi elaborada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Em seu artigo 21 estava escrito sobre o auxílio público como uma dívida sagrada sendo obrigação da sociedade o amparo aos cidadãos infelizes sendo obrigação ajudá-los disponibilizando trabalho aos que poderiam trabalhar e assistência aos incapacitados. IMPORTANTE: Percebam que, com o passar do tempo, a proteção social e assistencial deixa de ser apenas uma questão de princípio do ser humano e passa a ser institucionalizada. O fortalecimento das indústriasem busca de lucros e o abuso desses sob a mão de obra, explorando a necessidade da população que precisava e se submetia a péssimas condições de trabalho, levou os empregados a lutarem por melhores condições de vida e, consequentemente de saúde (SOLHA, 2014). Alguns empresários buscavam garantir cobertura dos principais riscos e necessidades de seus empregados, em alguns casos com moradia e educação mínima para os filhos dos trabalhadores, mas esses cuidados eram voltados a manter esses indivíduos em condições mínimas para conseguir subordiná-los ao sistema de trabalho existente. Política de Saúde 29 Figura 7 – Cidade durante Revolução Industrial Fonte: Wikimédia Por isso o Estado passou a ter a responsabilidade pela gestão e organização da proteção social, a partir da iniciativa de trabalhadores independentes que não aceitavam essa supremacia das indústrias sobre sua existência. Com a cobertura dos riscos relacionados ao trabalho nas indústrias, esse trabalho passou a ser mais atraente e população sem renda começou a se tornar assalariada, o que levou parte da população rural buscar oportunidade de “crescimento” nas grandes cidades, tendo como consequência um crescimento desordenado e precário em relação a condições de limpeza e moradia. Em cada país essas mudanças aconteceram em momentos e características diferentes, de acordo com os regimes de governo existentes. Mas em todos o Estado acaba tomando parte desse cuidado social em amparo a sua população, mesmo que por um período de adaptação. VOCÊ SABIA? A proteção social cujo empregados e empregadores contribuem e apenas eles recebem os benefícios é chamado por alguns autores de sistema Bismarckiano de previdência, já o sistema denominado Beveridgiano tem como característica a universalidade destinado a todos os cidadãos. Política de Saúde30 No final da II Guerra Mundial, a cobertura estatal passou a ser mais abrangente, vai além da assistência à saúde os empregados conquistaram renda durante a velhice, nos casos de doença e necessidade de afastamento, benefícios para as gestantes, entre outras. A inclusão da garantia de renda em caso de desemprego, e, em alguns países, a inclusão do cuidado com as crianças, habitação e até reciclagem da mão de obra desempregada. Em geral o custeio dessa proteção era tripartite, ou seja, dividida entre as três partes envolvidas: empregado, empregador e governo. Figura 8 – II Guerra Mundial Fonte: Pixabay Proteção social no Brasil Entendemos como foi a evolução da proteção social no mundo, no Brasil não foi muito diferente. Vamos voltar um pouco na história para compreender a proteção social no Brasil No período colonial vai de 1500 até 1821, com a exploração do pau-brasil e, posteriormente, o início do ciclo da cana-de-açúcar não havia saúde pública, pois os escravos eram considerados mão de obra barata, de fácil substituição, na verdade nem eram considerados “gente”. Com essa visão de seres inferiores, os senhores e donos de escravos não gastavam tempo nem dinheiro com o tratamento de Política de Saúde 31 doenças, uma vez que era mais rentável deixá-los morrer e comprar outro para substituí-lo do que investir em tratamento para esses indivíduos. Além disso, o Brasil era colônia de Portugal e não recebia investimentos para garantir a saúde dos que aqui moravam, pois, para a família real, moravam no Brasil apenas índios, escravos negros, aventureiros e deportados. Vale lembrar que, naquela época, a cura das doenças e enfermidades era realizada com base nos conhecimentos empíricos e nos curandeiros, sendo realizada por pajés, jesuítas e pelos boticários que percorriam o Brasil, para os indivíduos capazes de pagar, alguns médicos vindos de Portugal era suficiente para suprir essa demanda. Após alguns anos do descobrimento, surgiram as primeiras Santas Casas de Misericórdia, criadas para suprir essa necessidade assistencial do país (FREIRE & ARAÚJO, 2015). Com a chegada da família real e o agravamento de doenças na população, as famílias mais ricas recebiam assistência de agentes europeus, e os pobres continuavam sendo isolados e recebendo apenas cuidados paliativos (MOREIRA, ARCARI, & COUTINHO, 2018).A proteção social iniciou com as Santas Casas de Misericórdia fundada pelo padre jesuíta José de Anchieta e administrada pela igreja Católica. Em 1795, foi criado o plano Oficial da Marinha para os órfãos e viúvas, podendo ser considerado a introdução do conceito de pensão por morte. Nos anos de 1800, foi o início do pensamento sobre aposentadoria com o Montepio (1808) e a Mongeral (1835), ambos organizados por servidores públicos e em 1821, Dom Pedro de Alcântara, publicou um decreto que concedeu aos mestres e professores a possibilidade de se aposentar, desde que completassem 30 (trinta) anos de serviço. IMPORTANTE: Era o início de uma previdência privada, assim, os indivíduos podiam se associar e contribuir para um fundo comum, o qual realizava pagamento de benefícios em casos de morte e invalidez, mas eram exclusivos aos funcionários públicos. Política de Saúde32 As primeiras medidas sanitárias surgiram no Brasil em 1902, após a proclamação da República (1889) para resolver os problemas das doenças que se espalhavam rapidamente como malária, febre-amarela, varíola, peste bubônica, com a nomeação do médico Oswaldo Cruz para realizar essas medidas. Dentre as ações, Oswaldo Cruz convocou pessoas para realizar as ações que previam invadir as residências e queimar roupas e colchões sem qualquer explicação, bem como a vacinação da população. Essas medidas levaram à população para as ruas o que ficou conhecida como a Revolta da Vacina. Figura 9 – Revolta da Vacina Fonte: Wikimedia Mesmo com toda a controvérsia sobre a forma como foi feito, em poucos anos ele foi conhecido como figura importante para a saúde brasileira. Osvaldo Cruz foi responsável pela criação do Departamento Nacional de Saúde, embrião do Ministério da Saúde e do Instituto Manguinhos, cujas pesquisas eram voltadas para a saúde pública, mas esse é um tema para o próximo tópico (SOLHAb, 2014). Esse movimento foi importante para dar início a luta da população pelos seus direitos em relação ao cuidado da saúde e seus direitos trabalhistas Política de Saúde 33 Por isso podemos dizer que o marco da proteção social e da previdência no Brasil, aconteceu com Lei Eloy Chaves em 1923. Nesse Decreto Legislativo foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP) para os empregados das empresas ferroviárias. A partir dessa, surgem outras leis previdenciárias para outros setores existindo um CAP para cada empresa a qual administrava e organizava a participação de seus empregados. No governo de Getúlio Vargas houve o desenvolvimento industrial com uma série de medidas de incentivo o qual trouxe efeitos positivos como a geração de empregos com melhores condições de trabalhos, com melhorias na organização dos trabalhadores, criação de sindicatos, além de avanços em estruturas públicas como transporte, infraestrutura e iluminação. É no Governo Vargas, em 1930 que aconteceu a unificação de várias CAPs criando diversos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP) de acordo com o tipo de trabalho (marítimos, comerciários, bancários, entre outros) com a participação do governo na contribuição e administração pública desses fundos (MARQUES, PIOLA, & ROA, 2016). Nessa situação os IAPs já estavam vinculados a autarquias públicas de âmbito nacional e com a Constituição Federal de 1934, o custeio passou a ser tripartite, inserindo a participação do Estado além do empregado e do empregador. Mas foi apenas na Constituição de 1946 que se destacou a cobertura em casos de invalidez, morte, velhice, maternidade e doença, e foi inserida a expressão Previdência Social na história e legislação do país. Em 1966, aconteceu a unificação dosIAPs com o Decreto-Lei n. 72, de 21 de novembro, fato que deu origem ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Perceba que até aqui a movimentação social estava focada na proteção social relacionada a emprego e suas garantias, pois foi o que iniciou o movimento de proteção social, não apenas no Brasil, mas no mundo. Mas nessa mesma época as dificuldades em relação a assistência médica começaram a ficar evidentes principalmente após a V Conferência Política de Saúde34 Nacional de Saúde, o que levou a elaboração da Lei nº 6.229/75 que criou o Sistema Nacional de Saúde (CNS) definindo as responsabilidades das várias instituições, deixado para a Previdência Social a assistência individual e curativa, enquanto os cuidados preventivos e de ação coletiva eram responsabilidade do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Dessa forma o INPS foi desmembrado ocorrendo a separação da previdência social, que ficou sob responsabilidade do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Instituto Nacional de Assistência Medica da Previdência Social (INAMPS), criado para se responsabilizar pela assistência médica ambulatorial e hospitalar. O fim da ditadura militar é um importante marco para a história do Brasil, tanto na questão política da liberdade de expressão quando nos avanços de conceitos e conhecimentos em diversas áreas como saúde e educação. Com a eleição de Tancredo Neves em 1984, quando ocorrem grandes alterações e restruturação com a reforma sanitária e a criação do Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS). Os serviços médicos privados, que se beneficiaram durante o militarismo, receberam recursos do governo e foram financiados com grandes valores. Isso porque em meados da década de 70, o setor público entrou em crise e o setor privado começou perceber que prestar serviços apenas para o governo era desvantajoso, passando por uma reformulação e reestruturação. O modelo de atenção à saúde ainda direcionado para uma parcela da população (classe média e assalariados) procurando organizar uma nova base estrutural por meio da poupança desses setores sociais. Assim é organizado um subsistema de Atenção Médica Suplementar composta por cinco modalidades assistenciais: medicina de grupo, cooperativas médicas, autogestão, seguro-saúde e plano de administração baseadas em contribuições mensais dos beneficiários tendo como contrapartida a prestação de determinados serviços. Esse é o início de planos de saúde rudimentar, mas com diversos problemas como serviços e benefícios predeterminados, com prazos de Política de Saúde 35 carência, além de determinadas exclusões como, por exemplo, a não cobertura do tratamento de doenças infecciosas. Nessa época a assistência à saúde era exclusiva aos trabalhadores e seus dependentes, e a população que não tinha emprego era amparada pelas casas de caridade. Foi apenas com a Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Saúde que essa situação começou a mudar. Mas, essas mudanças veremos mais adiante! RESUMINDO: Neste tópico vimos sobre a história da saúde coletiva, na qual ou o indivíduo tinha condições de pagar pelo cuidado ou esperava a caridade, e como ocorreu a luta e a criação de legislações para a proteção da saúde dos trabalhadores os quais começaram a buscar melhores condições de trabalho e de cuidados da sua saúde. E aí? O que está achando de conhecer sobre a história da Previdência Social? Ela que dá início à busca por melhores condições de saúde e exige do Estado legislações e atitudes. Mas esse tema ficará para o próximo tópico. Política de Saúde36 Compreender história das políticas públicas de saúde no Brasil INTRODUÇÃO: Até aqui vimos a evolução de conceitos e marcos históricos importantes relacionados à proteção social. Mas ainda não acabou, precisamos compreender os acontecimentos que levaram a elaboração das Políticas de Saúde. Esses acontecimentos aconteceram junto com os fatos relacionados à previdência social, por isso, vamos voltar à época da colônia no Brasil... Condição de vida no Brasil durante o período de colônia Durante o período que o Brasil foi colônia de Portugal, nosso país foi explorado sem infraestrutura e a população vivia em condições precárias. A economia era pautada no extrativismo, por isso, era necessária uma estrutura mínima para os portos para que acontecesse o escoamento da matéria-prima. Por isso o início as políticas de Saúde Pública no Brasil ficavam restritas ao controle de doenças nos portos. Figura 10 – Pau-brasil Fonte: Pixabay Política de Saúde 37 Lembre-se que, nessa época, o perfil de adoecimento do país era de doenças transmissíveis, tanto as originais do país quanto as importadas de outros países como os europeus e africanos, as quais dizimaram milhares de indígenas em várias regiões do país. Além disso, não existia assistência à saúde, quem tinha condições trazia médicos da Europa para se tratar, quem não tinha, procurava a medicina popular, utilizando ervas e/ou cuidando do espírito, como era o cuidado tradicional da época e cultural entre os indígenas e escravos africanos. Nesse contexto que as Santas Casas de Misericórdia entram em cena. Diferente de como conhecemos hoje, elas não tinham caráter de hospital, apenas abrigavam os pobres e doentes mentais, mas não havia um cuidado médico apropriado. VOCÊ SABIA? A primeira Santa Casa foi inaugurada no Brasil em 1543 na cidade de Santos, São Paulo, com o decorrer dos anos outras foram abertas em outras cidades e eram administradas pela Irmandade de Misericórdia. A preocupação com a saúde começou mesmo em 1808 com a vinda da família real portuguesa e sua comitiva para o Brasil. Cerca de 15 mil pessoas vieram para o Brasil nessa comitiva. Eles se espantaram com as condições de higiene e de vida nas grandes cidades brasileiras. A vinda dos nobres portugueses e da família real trouxe grandes melhorias para o Brasil em relação à saúde, com criação de diversos órgãos públicos a as Escolas de Cirurgia, sendo a primeira em Salvador e a segunda no Rio de Janeiro. SAIBA MAIS: A família real portuguesa veio para o Brasil para fugir de Napoleão Bonaparte, imperador francês, que ameaçava invadir Portugal, dessa forma conseguiram se manter independentes, com apoio da Inglaterra que os ajudou a expulsar as tropas napoleônicas de Portugal. Política de Saúde38 A Proclamação da República aconteceu em 1889, o que tornou o Brasil uma república federativa, com a derrubada da monarquia e a aclamando Marechal Deodoro da Fonseca, um dos líderes do Movimento Republicano, como presidente do Brasil. Da Proclamação da República até 1930 A abolição da escravidão em 1888, estimulou a imigração, principalmente de europeus pela necessidade de mão de obra nas fazendas. Nessa época, a cafeicultura era o que sustentava a economia brasileira junto com produção de leite, por isso a República, recém instaurada, foi denominada “Café com Leite”, devido o apoio dos políticos aos grandes fazendeiros. O Brasil sofria com epidemias como varíola, febre amarela, peste, entre outras, o que ameaçava a economia. Lembre-se que com o foco na exportação de café e outros produtos nacionais, todos por via marítima. Mas como escoar essa produção se os navios estrangeiros estavam com medo dessas doenças epidêmicas matarem as tripulações? Nesse momento entram em cena Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro e Emílio Ribas em São Paulo. Médicos, com conhecimentos baseados na Teoria Bacteriológica, desenvolveram um modelo de intervenção chamado de Campanhista. Apesar dos abusos nas práticas de saúde, essa intervenção obteve resultados contra as epidemias presentes no Brasil. Entre as medidas tomadas estavam: • Vacinação obrigatória contra varíola. • Controle dos ratos. • Controle dos locais de procriação de mosquitos. VOCÊ SABIA? Como já dito, as medidas não eram asmais adequadas, você sabe quais eram as intervenções? Por serem doenças transmissíveis o foco era eliminar os pontos de contaminação, por isso foram destruídos cortiços e casas do centro da cidade, o que deixou a população sem abrigo, as quais foram para os morros nascendo, então, as favelas cariocas. Política de Saúde 39 Figura 11 – Favela Fonte: Pixabay As medidas violentas levam a uma forte reação da população carioca, sob liderança de militares de oposição do governo, o que iniciou a “Revolta da Vacina”, em 1904, mas ela foi reprimida com grande violência e teve eu fim em menos de 48 horas, mas foi tempo suficiente para entrar para a história da Saúde Pública. Mas as atividades e ações não foram apenas essas destacadas. Foram realizadas outras ações importantes como: • Registro demográfico, para conhecer a composição e os fatos vitais de importância da população. • Introdução do laboratório como auxiliar o diagnóstico etiológico. • Fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em massa. VOCÊ SABIA? Sabe por que essas intervenções foram chamadas de Campanhistas? Até a década de 1930, a saúde pública era baseada em campanhas com o apoio da polícia sanitária por isso foi conhecida como Campanhista, as quais eram voltadas para problemas de saúde que afetavam a população, porém motivadas pelos interesses econômicos. Política de Saúde40 Mas a saúde individual ainda era parecida com o Brasil colônia, ou seja, os médicos atendiam as pessoas que podiam pagar e os curandeiros e Santas Casas para os pobres. Haviam muitos imigrantes o que levou a uma discreta mudança, pois esses eram trabalhadores que atuavam politicamente em seus países e compreendiam a importância da sua união para garantir os seus direitos básicos como acesso à moradia e à saúde. Essa organização dos trabalhadores resultou em diversas greves entre 1915 e 1920 reivindicando trabalho com carga horária pré-determinada, salário justo, assistência à saúde e condições de trabalho salubres. Foi a partir da união de muitas categorias que levou a formação de fundos financeiros mútuos os quais começaram a ser utilizados para garantir a assistência médica individual dos trabalhadores e seus familiares e pensões, em caso de morte e invalidez, com regras determinadas pelos próprios trabalhadores em assembleias. A criação das Caixa de Aposentadoria e Pensão (CAP) foi determinada pela Lei Elói Chaves, em 1923, a qual inovou e melhorou os fundos mútuos. Ela determinou que o empregador também contribuísse com uma porcentagem nesse fundo, por isso foi considerada como o embrião da Previdência Social no país. Aconteceram muitas mudanças no mundo no final dos anos 1920, como a crise econômica como a quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929, o que levou a desvalorização da exportação de café, base da economia da época, o que culminou na Revolução de 1930 no Brasil com o poder provisório nas mãos de Getúlio Vargas. Essa revolução aconteceu devido a insatisfação de outros estados brasileiros diante do governo federal pelo sentimento de exclusão em relação as tomadas de decisão do Estado, pois, como já vimos, a “República Café com Leite” beneficiava apenas uma pequena parte da elite brasileira. Era Vargas Entre 1930 e 1945, Getúlio Vargas governou o Brasil de modo centralizador, ele fechou o Congresso Nacional, perseguir inimigos políticos e fez alianças com países estrangeiros para deportar presos políticos. Política de Saúde 41 Figura 12 – Visita de Getúlio Vargas e Juarez Távora a Salvador após Revolução de 1930 Fonte: Wikimedia Mesmo assim ficou conhecido como “Pai dos Pobres” pois sua política populista promulgou a Consolidação das Leis do Trabalho, desenvolvida pela equipe do governo sem a participação da sociedade, mas com medidas sociais, mesmo assim os historiadores descrevem que essas ações eram uma forma de mascarar e justificar o sistema autoritário que estava instalado no país. Lembra-se que os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) que foram criados a partir da unificação das Caixas de Aposentadorias e Pensão? Pois bem, o Estado passou a contribuir financeiramente e, por isso, passou a administrá-los, o que reduziu a liberdade dos trabalhadores nas tomadas de decisão. Seus recursos passaram a financiar grandes obras públicas além de empréstimos para grupos privados de saúde, com a justificativa de estar sendo utilizado para a saúde. IMPORTANTE: Perceba que, até esse momento, a assistência à saúde era de direito somente aos trabalhadores participantes dos IAPs e seus familiares, o restante da população dependia da assistência particular ou hospitais filantrópicos quando não podiam pagar. O foco do cuidado e da Saúde Pública nesse período era a preservação da força de trabalho garantindo o crescimento industrial no País. Política de Saúde42 O Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) foi criado a partir de um convênio com os EUA, durante a Segunda Guerra Mundial, sendo moldado no modelo norte-americano, com foco em prevenção e atuando nas áreas onde não havia cobertura dos serviços tradicionais como a Amazônia. REFLITA: Nessa época, em plena Segunda Guerra Mundial, a Indonésia era a principal fornecedora de látex para os EUA, porém se encontrava em uma região constantemente atacada pelos países que formavam o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) os quais lutavam contra os EUA e seus Aliados (Inglaterra URSS e França). A segunda maior produtora de látex do mundo era a Amazônia, esse material era essencial para a indústria e para o esforço de guerra. Agora eu te pergunto: você acredita que esse convênio do Brasil com os EUA liberando acesso à Amazônia para esse país teve apenas seu fundamento no cuidado e na Saúde Pública? A fase final do governo Vargas foi denominada como “desenvolvimentista”, na qual o grande objetivo era a modernização do país fortalecendo as indústrias e a construção de estradas para o escoamento dessa produção nacional. IMPORTANTE: As desigualdades sociais continuaram crescendo no mesmo ritmo que as indústrias e as grandes cidades, principalmente pela vinda de trabalhadores do campo para as grandes obras do governo Vargas. Mas o direito à saúde ainda era um privilégio para os ricos e os trabalhadores com carteira de trabalho assinada. Política de Saúde 43 Houve um breve período de liberdade para a discussão sobre as políticas sociais, mas a assistência à saúde ainda era focada nas campanhas para os problemas coletivos e a assistência curativa individual liga aos IAP, ou seja, o foco na mão de obra da produção e os pobres ainda dependiam da assistência filantrópica. Até a década de 60 a assistência à saúde teve como característica o modelo médico-sanitário com duas vertentes importantes e distintas: • Epidemiológica: preocupada em controlar as doenças em escala coletiva. • Clínica: baseada na necessidade de recuperar a força de trabalho, com direito aos cuidados médicos somente para quem fizesse parte do sistema previdenciário. Um marco importante desta época foi a 3ª Conferência Nacional de Saúde, no final de 1963, a qual desenvolveu vários estudos para a criação de um sistema de saúde. Nessas discussões dois pontos importantes apareceram: necessidade de um sistema de saúde para todos os cidadãos, não apenas para os trabalhadores e a organização descentralizada com autonomia dos municípios. Em contrapartida, o governo abriu mais espaço para os grupos estrangeiros, incluindo na área da saúde o que levou a entrada de grupos de medicina privada na administração de diversos hospitais que foram construídos e equipados com o dinheiro do Estado. Além disso, o avanço do comunismo no mundo e as manifestações por direitos sociais levou a criação de um ambiente propício para o golpe militar em 1964 com a posse de João Goulart na presidência e as reformas voltadas para as políticas sociais.Da ditadura militar à VIII Conferência Nacional de Saúde Com início em março de 1963 e nos anos que seguiram, esse governo concentrou as decisões de forma autoritária, realizando alianças e investimentos com instâncias privadas do País. A Saúde Pública teve baixo investimento, e o foco estava na aquisição de tecnologias de ponta, tornando a intervenção em saúde altamente especializada, medicalizada, curativa, individualizada e, portanto, elitizada. Política de Saúde44 Enquanto isso, na saúde, os empréstimos a “fundos perdidos” feitos para a construção de hospitais, dessa forma o governo pagava duas vezes primeiro ao “emprestar” o dinheiro que não receberia de volta (por isso fundos perdidos) e, depois, ao pagar pela assistência prestada à população. A exclusão de determinados segmentos sociais no atendimento público de saúde e a crise começaram a tomar proporções em conjunto com as outras crises decorrentes do sistema ditador marcada por dificuldades em vários setores como econômicos, sociais e da saúde. Essa crise levou os profissionais de saúde a se mobilizarem a favor de uma assistência à população que não recebiam acesso e se uniram com profissionais de outros setores como políticos, intelectuais, sindicalistas e lideranças populares com um movimento crítico, elaborando propostas de novas modalidades de cuidado em saúde, bem como uma nova concepção do pensar e fazer saúde, mais humana e universal que poderia ser alcançada através de uma ampla reforma sanitária. O intenso êxodo rural devido às condições precárias do trabalho no campo com violência e até escravidão continuou a inflar as grandes cidades piorando as condições de vida, arrochos salariais, inflação descontrolada e os serviços de saúde voltados para poucos. ACESSE: a Declaração de Alma-ata foi formulada por ocasião da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de saúde, entre os dias 6 e 12 de setembro de 1978, afirmando o conceito: “Saúde é um direito humano fundamental” e sua garantia deveria ser meta mundial. O que é reforçado em 1986 com a Primeira Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde, em Ottawa no Canadá com a Carta de Intenções que buscou atingir a “Saúde para todos no ano de 2000”. Quer compreender melhor essas e outras cartas e conferências importantes que influenciaram a saúde pública no Brasil? O Ministério da Saúde publicou o livro “As Cartas da Promoção da Saúde” que você pode encontrar no link: http://bit.ly/2SftRqI. Acesso em: 10 fev. 2020. Vale a leitura desse material! http://bit.ly/2SftRqI Política de Saúde 45 Durante esse período ocorreu a unificação dos IAPs, em 1966 com o Decreto-Lei n. 72, de 21 de novembro, dando origem ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Até aqui a movimentação social estava focada na proteção social relacionada a emprego e suas garantias, mas começaram a perceber as dificuldades em relação a assistência médica, por isso, em 1977, foi criado o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) e o INPS é modificado e se torna o atual Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).O fim da ditadura foi marcado pelo movimento das “Diretas Já” e pela eleição presidencial de Tancredo Neves, em 1984, o que levou o setor da saúde sofreu grandes alterações e restruturações com a reforma sanitária e a criação do Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS). Os serviços médicos privados, antes beneficiados pelo militarismo, passaram a receber recursos públicos e foram financiados por grandes valores neste período. Figura 13 – Movimentos sociais pela liberdade Fonte: Pixabay Mas foi apenas em 1986, na VIII Conferência Nacional de Saúde, que essa proposta foi aceita, inserindo o tema “saúde como direito de todos” convocando a sociedade, os pensadores e os profissionais para a discussão. A qual deu base para a Constituição Federal de 1988 e dentre várias mudanças está o tema saúde que teve uma seção exclusiva. Nessa época a Saúde Pública e o conhecimento sobre o processo saúde-doença estavam sendo estudados em todo o mundo, incluindo na América Latina, o que serviu como base para as discussões sobre Política de Saúde46 reforma sanitária e a luta pela modificação do modelo de saúde brasileiro com a participação comunitária, regionalização dos serviços existentes, integração do sistema público-privado e atenção primária como porta de entrada no sistema de saúde. Mas foi apenas em 1986, na VIII Conferência Nacional de Saúde, que essa proposta foi aceita, inserindo o tema “Saúde como direito de todos” convocando a sociedade, os pensadores e os profissionais para a discussão. RESUMINDO: Nossa! Muitos acontecimentos importantes na história brasileira e mundial e nem chegamos à criação do SUS! Mas, como você pode perceber, todos eles construíram a base de conceitos e mudanças importantes para a saúde, desde a vinda da família real, financiamentos desenfreados para o setor privado, até a entrada da saúde na Constituição como “direito de todos e dever do estado”. Gostou de conhecer essa história? Espero que sim... Política de Saúde 47 Conhecer a história dos sistemas de saúde de outros países INTRODUÇÃO: Até aqui vimos vários acontecimentos que levam a constrição das políticas de saúde, mas vamos dar uma pausa nela para compreender como surgiram e como funcionam os Sistemas de Saúde em outros países. Pronto para essa jornada? Sistema de Saúde Como já ficou claro, a evolução do conceito de saúde coletiva, de saúde pública e de proteção social caminharam de forma integrada, pois o foco em todos os casos é o cuidado do indivíduo como pessoa e pertencente ao coletivo. Dentre os diversos movimentos importantes no mundo podemos citar, a criação do Conselho de Saúde de Londres por William Petty, em 1687, e a Política Médica sob liderança de V. Ludwig Seckendorf (1655), W. Thomas Rau (1764) e J. Peter Frank (1779), na Alemanha. Já na França esse movimento começou na primeira metade do século XIX com a institucionalização da Higiene o qual deu origem à Medicina Social, inspirada no socialismo. Enquanto na Inglaterra a industrialização agravou as condições de saúde dos trabalhadores dando início ao Movimento Sanitarista ou Saúde Pública. O que inspirou, em 1879, os EUA a criarem um Departamento Nacional de Saúde, desenvolvendo ações de saneamento para controle de doenças infecciosas. Vale ressaltar que todos esses movimentos levam à ideia de saúde coletiva pois observavam as questões sociais, não apenas a doença e o foco na promoção da saúde. A partir desse movimento a luta por sistemas de serviços de saúde levou os governos a desenvolverem sistemas de saúde para atender a sua população. A definição de Sistemas de Saúde, segundo a Organização Mundial de saúde é “o conjunto de atividades cujo propósito primeiro é promover, Política de Saúde48 restaurar e manter a saúde de uma população”. Independentemente do tipo os sistemas de saúde têm como objetivos: o alcance de um nível ótimo de saúde, distribuído de forma equitativa; • a garantia de uma proteção adequada dos riscos para os cidadãos; • o acolhimento humanizado dos cidadãos; • a garantia da prestação de serviços efetivos e de qualidade; • a garantia da prestação de serviços com eficiência. Os sistemas de saúde são estruturas de atenção à saúde, auxiliando a identificar as estruturas de saúde com objetivo de nortear os investimentos, bem como garantir a prevenção de doenças, e oferta de cuidado aos indivíduos. Segundo Moreira (2018), os principais componentes dos sistemas de saúde são: financiamento; força de trabalho; rede de serviços; insumos e tecnologias; organizações. Em cada país, a evolução dos sistemas de saúde está diretamente relacionada com a evolução da proteção social. Dessa forma, cada país tem seu sistema de saúde, organizado de acordo com a modalidade de intervenção do governo no financiamento,na condução da regulação dos setores assistenciais e na prestação dos serviços de saúde. Vamos conhecer melhor cada modelo e quais países utilizam. Modelo universalista Esse modelo tem caráter universal sendo financiado por impostos e é baseado no princípio da cidadania, o qual garante acesso a todos os indivíduos incluindo os que não têm renda. Não há contribuição de empregadores e empregados de forma separada, apenas impostos pagos por empresas e população. A prestação dos serviços de saúde fica sob responsabilidade do Estado, o qual é proprietário da grande maioria dos hospitais e ambulatórios e os funcionários tem cargo público. Quando esses sistemas são bem estabelecidos, os serviços privados, que podem existir, acabam sendo contratados pelo próprio serviço público regulamentando e Política de Saúde 49 controlando os custos desse setor. Dentre os países que possuem esse sistema de saúde estão o Reino Unido, Espanha, entre outros, incluindo o Brasil. SAIBA MAIS: Nos países socialistas, os sistemas de saúde também são financiados e centralizados no Estado com acesso universal, mas não há o setor privado, por isso, apesar das características semelhantes ao modelo universalista não é possível compará- lo. Modelo Seguro Social Sustentado pela contribuição dos empregadores e dos empregados, pode também, em alguns casos, contar com recursos de impostos. Tem origem nas Caixas organizadas pelos profissionais, assim, a assistência médica fica diretamente relacionada à capacidade financeira do indivíduo. REFLITA: Quando se fala em assistência à saúde apenas para pessoas empregadas, o que passa pela sua cabeça? Parece desigual? Esse perfil de Sistema de Saúde é comum em países desenvolvidos como a Alemanha, nos quais praticamente toda a população está empregada, ou seja, a grande maioria da população está coberta pelo sistema. E agora, continua parecendo desigual? Sistema de Saúde na Inglaterra O sistema de saúde britânico foi criado em 1948, cujo modelo é o universalista com atuação preventiva e curativa semelhante ao SUS do Brasil, foi pioneiro na universalização do acesso a serviços de saúde e tem como base os princípios de equidade e integralidade, mas Política de Saúde50 não tem atendimento dental, oftalmológico e alguns medicamentos (GUIMARÃES, 2013; FILIPPON, 2016). Esse sistema originalmente é centrado no médico da atenção primária (General Practitioner – GP) os quais recebiam por número de pacientes atendidos. Esses médicos atuavam nos serviços de ambulatório que atuavam como porta de entrada para a assistência não emergencial. O financiamento do sistema de saúde britânico advém principalmente do setor público, basicamente de impostos, e uma pequena contribuição do sistema de Seguridade Social sendo calculado de maneira per capita. REFLITA: Percebe semelhança com o SUS? A atenção primária como centro da rede de atenção e porta de entrada para a assistência e o financiamento vindo basicamente de impostos faz você comparar o sistema desse país com o SUS? Exatamente, é um padrão muito comum dos modelos de sistema de saúde universalistas. Figura 14 – Hospital da Santa Cruz (“St. Cross Hospital”), Winchester, Inglaterra Fonte: 14 Política de Saúde 51 Sistema de Saúde na Alemanha Na Alemanha há um sistema de saúde corporativo, baseado em Caixas de Saúde gerenciadas e financiadas por trabalhadores e empregadores. Nesse sistema é estipulado um valor máximo aos preços dos medicamentos. VOCÊ SABIA? Nesse país uma parcela do imposto sobre cigarros é direcionada à saúde, o que gerou, entre 2004 e 2008, uma média de 2,34 bilhões de euros ao ano (FERREIRA & MENDES, 2018). O seguro social garante quase a cobertura plena dos indivíduos, porém, em 2006 havia entre 80 a 300 mil alemães sem qualquer tipo de cobertura, por isso a adesão a algum tipo de seguro se tornou obrigatório, podendo ser privado ou social (FERREIRA & MENDES, 2018). Apesar de existir um subsistema privado, o setor público cobre quase 90% da população que reside no país, não só dentro do sistema de financiamento de saúde, mas também na política sanitária alemã. Essa importância não vem apenas da cobertura da população em relação aos serviços de saúde, mas também como entidade de planeamento, condução e controle do sistema de saúde desse país. Como vimos, o sistema de proteção social de saúde da Alemanha está baseado na cobertura obrigatória fundamentado na contribuição para o seguro social, por isso esse sistema operacionaliza o princípio de solidariedade: pelo menos para os indivíduos com rendimentos inferiores ou médios. Política de Saúde52 Figura 15 – Knappschaftskrankenhaus, hospital em Dortmund-Brackel, Alemanha Fonte: Wikimedia Sistema de Saúde em Cuba O primeiro sistema de saúde de cobertura universal e integral das Américas foi criado em Cuba. Ele é regulado, financiado e administrado exclusivamente pelo Estado. Com princípios humanistas e de solidariedade, busca a acessibilidade e serviços gratuitos baseado na prevenção e promoção da saúde (ROLLO & WEBER, 2018). Como no Brasil, esse país começa sua história de mudança com uma assistência à saúde insuficiente. Após a Revolução de 1959 a saúde passou a ser uma prioridade para o governo com a criação do Sistema Nacional de Saúde (SNS) na década de 60. Segundo Rollo & Weber (2018, p. 18), atualmente esse sistema alcançou altos níveis de equidade na distribuição dos serviços, com total cobertura da população com destaque para a formação de recursos humanos e a apresentação dos custos com os serviços de saúde aos usuários através de cartazes com o título: “Teu serviço de saúde é gratuito... mas custa”. Com a finalidade de conscientizar a população sobre os custos e incentivar a valorização dos serviços. Política de Saúde 53 Figura 16 – Monumento Antonio Maceo em frente a um hospital em Cuba Fonte: Pixabay Sistema de Saúde nos Estados Unidos da América Costa, 2013 p.158, descreve que em 2010 os custos desse país com saúde formam mais baixos que de países como Portugal e França, quando se faz a avaliação per capita. Esse autor relata ainda que os indicadores de saúde não são bons, por exemplo quando se observa a taxa de mortalidade infantil, dentro dos piores índices quando comparados com países desenvolvidos. Por ter se baseado no modelo de seguro privado muitos estudiosos tem uma visão de “amor e ódio” com o sistema desse país. Consegue imaginar por que? Perceba que nos Estados Unidos são utilizadas tecnologia avançada para o cuidado da saúde, porém, a ineficiência, não universalidade e gastos excessivos e muitas vezes inútil por parte do Estado. Esses extremos levam muitos estudiosos de Saúde e Políticas Públicas terem uma posição contra o sistema, mas Política de Saúde54 compreendendo que há o uso de inovações na assistência à saúde o que estimula o estudo e a utilização de tecnologias em saúde em todo o mundo. Para compreender a instalação desse sistema temos que compreender a história desse país. Lembre-se que é um país que lutou pela liberdade e a utiliza em todos os setores como política, produção e comércio, o que refletiu na forma de estruturação do sistema de saúde: liberdade de escolha. Vale ressaltar que essa mesma liberdade leva a autonomia dos estados, por isso, é possível observar alguns como Havaí e Califórnia, iniciaram experiências para melhorar os níveis de universalidade e acessibilidade, porém, sem o resultado esperado. Não pense que a população ignora completamente a necessidade do sistema de saúde universal, muito pelo contrário! Já na grande depressão (1929) existe a luta pela mudança desse sistema, muitos presidentes já tentaram realizar essa mudança, porém, sem muito êxito. O mais recente foi o presidente Obama que, em março de 2010, após aprovação do Congresso americano, sancionou a lei que se prevê aumento substancial da coberturada população e redução da tendência para crescimento dos custos com a Saúde. O projeto para a Saúde de Barack Obama e Joe Biden apela à redução dos custos para que o sistema de saúde trabalhe para as pessoas e para as empresas – e não apenas para as companhias de seguros. As melhorias ao nível da acessibilidade e da universalidade assentam em diversos princípios, dos quais se destacam a garantia da elegibilidade (pelas companhias de seguros) dos cidadãos, independentemente do seu historial de saúde, a garantia da cobertura em cuidados de saúde para todas as crianças, a atribuição de incentivos fiscais a quem subscreva seguros de saúde e o alargamento da elegibilidade no âmbito do Medicaid (COSTA, 2013, p.160). O projeto inicial previa a criação de um Seguro Nacional de Saúde alternativo, porém, foi retirado da votação com a finalidade de facilitar sua aprovação. Seriam grandes mudanças e, por consequência, grandes Política de Saúde 55 dificuldades de implantação e aceitação de políticos e até de uma parcela da população. REFLITA: Uma cultura baseada na democracia e na meritocracia, que preza pela liberdade e individualidade, como inserir um sistema de saúde que faça o indivíduo dar parte do seu (dinheiro) para cuidar do outro? Com certeza essa não é uma mudança fácil, mas, com certeza, essa pequena mudança é um grande passo para a população do país. • Com essa reforma, Segundo Costa, 2013 p.160, os principais aspectos que mudam são • Extensão da cobertura. • Redução do défice (nem todos concordam que isto seja possível). • Maior atenção dada à promoção da saúde e prevenção da doença. • Eliminação dos copagamentos por parte dos utilizadores dos subsistemas públicos e incentivo aos privados para seguirem a mesma orientação. • Melhoria da eficiência. • Melhoria da qualidade dos cuidados de saúde prestados. • Reforço da regulação do Estado. • Melhoria da integração dos subsistemas públicos e privados. • Colocação do doente no centro do sistema. Além disso, outra mudança da reforma está na criação dos benefits exchanges, que é a organização do mercado de venda de planos de saúde (National Health Insurance Exchange), o que levou a baixa dos preços, acessibilidade de pequenas empresas e cidadãos com rendimentos baixos mas que não são elegíveis para os programas públicos, portabilidade do seguro e impedir a rejeição de pessoas com risco de saúde pré-existentes. Política de Saúde56 VOCÊ SABIA? Antes de ter sido aprovada a reforma Obama, cerca de 40 milhões de americanos não tinham qualquer cobertura para efeitos de saúde. Essa reforma foi de extrema importância, mas é importante destacar que é uma reforma social o que não altera a essência da organização do modelo do sistema de saúde atual. Figura 17 – Lawrence General Hospital em Lawrence Massachusetts EUA Fonte: Wikimedia Sistema de Saúde no Canadá Apesar de ser considerado um sistema universal nem todos os serviços de saúde são cobertos, como saúde bucal, medicamentos extra-hospitalar e outros profissionais da saúde como psicólogos, fisioterapeutas, entre outros, de acordo com a província (estado) (BRANDÃO, 2019). A atenção básica também é o centro do sistema e porta de entrada no mesmo, com o profissional médico especialista em família e enfermeiros atuando diretamente com a população e com acesso Política de Saúde 57 ao médico. Porém a atuação do médico com os outros profissionais acontece apenas nos hospitais. O seguro privado atua como complementar ao cuidado da saúde e atualmente cerca de 80% da população possui algum tipo de cobertura adicional para quartos privados, despesas com medicamentos, tratamento odontológico, ou seja, amplia os cuidados que o próprio sistema de saúde não atende. Vale ressaltar que a luta por incluir medicamentos de maneira mais universal no sistema é antiga e, segundo Brandão 2019 p.3, está se aproximando da realidade. REFLITA: Nosso país tem um modelo universalista que abrange mais serviços de saúde que o canadense, porém o acesso e a infraestrutura ainda são precários. Então pense, é possível comparar esses dois sistemas? Ter uma posição de qual é realmente melhor? Figura 18 – Royal Jubilee Hospital, Victoria, Canadá Fonte: Wikimedia Política de Saúde58 RESUMINDO: Neste tópico, vimos que sistema de saúde é definido pela OMS como “o conjunto de atividades cujo propósito primeiro é promover, restaurar e manter a saúde de uma população”. Vimos também os tipos de sistemas existentes no mundo, que vão desde assistência universal até o modelo privado, mas perceba que em todos há, pelo menos de forma indireta, a atuação do Estado. E aí? Gostou de saber sobre os cuidados em saúde no mundo? Política de Saúde 59 Política de Saúde60 BIBLIOGRAFIA BARROS, E (1996). Política de saúde no Brasil: a universalização tardia como possibilidade de construção do novo. Ciência & Saúde Coletiva, 1(1), pp. 5-17. Disponível em: http://bit.ly/3bqaoLf. Acesso em: 10 fev. 2020. BRANDÃO, J. (2019). A atenção primária à saúde no Canadá: realidade e desafios atuais. Cadernos de Saúde Pública, 35, p. 1-4. Disponível em: http://bit. ly/37jstaH. Acesso em 11 de fev. de 2020. BRASIL (1986). Ministério da Saúde. VIII Conferência Nacional de Saúde. Brasília: (Anais). Disponível em: http://bit.ly/3bqtzET. Acesso em: 10 fev. 2020. COSTA, J. (2013). A reforma Obama e o Sistema de Saúde dos EUA. Arquivos de Medicina, p. 158-167. Disponível em: http://bit.ly/2P3jkNp. Acesso em 11 de fev. de 2020. FERREIRA, M., & MENDES, A (2018). Reformas nos sistemas de saúde Alemão, Francês e Britânico. Rev. Bras. Promoç. Saúde, 31(4), pp. 1-10. Disponível em: http://bit.ly/2wej8nX. Acesso em: 10 fev. 2020. 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Mariana Martins Garcia Política de Saúde Compreender sobre os conceitos de saúde durante a história Conceitos de Saúde durante a História Saúde nas civilizações antigas Saúde e a Idade Média O Renascimento e a evolução do conhecimento Iluminismo A Teoria Bacteriológica Modelo Multicausal Determinante e Condicionantes Sociais de Saúde Conceito atual de saúde Conhecer história da Previdência Social e da saúde coletiva Saúde Coletiva História da proteção social Proteção social no Brasil Compreender história das políticas públicas de saúde no Brasil Condição de vida no Brasil durante o período de colônia Da Proclamação da República até 1930 Era Vargas Da ditadura militar à VIII Conferência Nacional de Saúde Conhecer a história dos sistemas de saúde de outros países Sistema de Saúde Modelo universalista Modelo Seguro Social Sistema de Saúde na Inglaterra Sistema de Saúde na Alemanha Sistema deSaúde em Cuba Sistema de Saúde nos Estados Unidos da América Sistema de Saúde no Canadá