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G R A D U A Ç Ã O ME. LUIS HENRIQUE DE SOUZA Ciências dos Materiais Híbrido GRADUAÇÃO Ciências dos Materiais Me. Luis Henrique de Souza Coordenador de Conteúdo Crislaine Rodrigues Galan e Fabio Augusto Gentilin. Designer Educacional Janaína de Souza Pontes e Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Revisão Textual Érica Fernanda Ortega e Cíntia Prezoto Ferreira. Editoração Bruna Stefane Martins Marconato. Ilustração Mateus Calmon, Marcelo Goto e Natalia de Souza Scalassara. Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SOUZA, Luis Henrique de. Ciências dos Materiais. Luis Henrique de Souza. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. 288 p. “Graduação - EAD”. 1. Ciências. 2. Materiais. 3. Engenharia. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1983-4 CDD - 22 ed. 620 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Prezado(a) aluno(a), este livro foi elaborado para um curso inicial sobre Ciências dos Materiais e, no decorrer do estudo dessa disciplina, utilizando esse material, percorreremos um trajeto que nos dará conhecimento sobre os sólidos, suas estruturas e defeitos estruturais, suas propriedades, falhas, diagramas de transformações e aplicações usuais das classes de materiais. Iniciaremos esse trajeto na Unidade 1, em que será realizada uma intro- dução aos materiais, seguida de uma explicaçãobreve sobre a classificação dos materiais e terminando com o estudo das suas estruturas cristalinas. Na Unidade 2, veremos como é realizada a determinação de pontos, direções e planos na célula unitária de um sólido cristalino, definiremos materiais amorfos e cristalinos e estudaremos as imperfeições estruturais. A difusão em sólidos, os mecanismos de difusão, a lei de Fick e os parâ- metros que influenciam no processo de difusão serão abordados e aplicados em exemplos na Unidade 3. Já na Unidade 4, você irá conhecer as proprieda- des mecânicas dos materiais, tais como dureza, limite de resistência à tração e ductilidade, que serão trabalhadas após uma conceituação básica para lhe deixar mais confortável com o assunto. Continuando, na Unidade 5, você vai conhecer as falhas típicas que ocorrem em projetos envolvendo mate- riais, sendo elas a fratura, fadiga e fluência, e os mecanismos usuais delas. Na Unidade 6, você vai estudar um tópico muito importante nas ciências dos materiais, denominado diagrama de fases, e vai aprender a determinar fases presentes em um sistema, quantidades relativas e composição dessas fases aplicando esses conhecimentos no diagrama ferro-carbono. Nas Uni- dades 7 e 8 serão abordadas outras propriedades dos materiais; na Unidade 7, você verá as propriedades elétricas, condução elétrica nos condutores e isolantes, e as propriedades térmicas, condutividade térmica, expansão térmica e capacidade calorífica. Já na Unidade 8, você vai conhecer as pro- priedades ópticas, como a reflexão, absorção e refração; as propriedades magnéticas, como o diamagnetismo e ferromagnetismo; e, concluindo a unidade, você vai conhecer os tipos de corrosão que ocorrem em materiais metálicos e a degradação em materiais poliméricos. Concluiremos os nossos estudos da disciplina de Ciências dos Materiais com a Unidade 9, na qual serão abordadas as classes dos metais, cerâmicas, polímeros e compósitos, e onde você vai conhecer um pouco mais de cada umas dessas classes apresentadas na Unidade 1 e mencionadas nas demais unidades. Aqui, veremos alguns métodos de produção, materiais específicos de cada uma dessas classes e aplicações deles. Desejo a você uma ótima leitura. CURRÍCULO DOS PROFESSORES Me. Luís Henrique de Souza Possui mestrado em Engenharia Química na área de modelagem e simulação de processos fotocatalíticos pela Universidade Estadual de Maringá (2016) e graduação em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Maringá (2013). Tem experiência na área de Engenha- ria Química, em Modelagem e simulação de reatores fotocatalíticos, síntese e avaliação do desempenho de catalisadores bifuncionais e enzimáticos, tratamento de efluentes utilizando processos oxidativos avançados e programação em Matlab; também tem experiência no Ensino Superior nas disciplinas de Modelagem Matemática, Cálculo Numérico, Saneamento Urbano, Programação para Engenharia e Física I. Atualmente, doutorando em Engenharia Química na Universidade Estadual de Maringá. Currículo Lattes disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4499456E7 Introdução a Ciências dos Materiais 13 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos 41 Difusão em Sólidos 71 Propriedades Mecânicas Falhas em Materiais Sólidos 101 131 Diagrama de Fases 159 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais 223 Classes de Materiais e Aplicações 253 193 29 Redes de Bravais 58 Discordância sem sólidos cristalinos Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Luis Henrique de Souza • Conhecer a importância dos materiais em nossas vidas e na evolução da humanidade e ter uma visão geral do ramo das ciências dos materiais. • Apresentar as principais classes dos materiais e suas ca- racterísticas gerais. • Introduzir a ideia de materiais cristalinos, sistemas crista- linos e redes de Bravais. Perspectiva Histórica Classificação dos Materiais Estruturas Cristalinas dos Materiais Introdução a Ciências dos Materiais Perspectiva Histórica Antes de iniciarmos a nossa aventura no mundo dos materiais, é importante que você tenha uma perspectiva histórica sobre as ciências dos mate- riais, essa perspectiva será apresentada a seguir, no decorrer deste tópico. Além disso, vamos definir o que são as ciências dos materiais, para deixá-lo(a) mais confortável com o assunto. Desde o início das civilizações, os materiais e a energia são utilizados para melhorar a vida dos seres humanos; por essa razão, eles estão in- timamente ligados à existência e à evolução da humanidade e acompanharam essas civilizações no decorrer de todo o seu desenvolvimento desde a pré-história, na Idade da Pedra, quando nossos ancestrais lascavam pedras para produzir armas de caça; passando pela Idade do Bronze, na qual foi desenvolvida a base da metalurgia com as ligas de cobre e estanho na produção de armas superiores; até os dias atuais, com a produção de superligas, grafeno, entre outros (SHACKELFORD, 2013). 15UNIDADE 1 Para que você possa perceber a importância dos materiais para a humanidade, imagine a sua vida sem alguns deles, por exemplo, o plástico, o cimento, o vidro, o alumínio e o papel. É impossível imagi- nar tal situação, não é? Isso deixa claro que os materiais estão presentes em todos os setores de nossas vidas, seja na habitação, transporte, comunicação, indústria ou, ainda, no lazer. A produção e a transformação desses materiais em bens acabados representa uma das atividades mais importantes da economia moderna. Todo o conhecimento adquirido ao longo da nossa evolução acerca dos materiais tornou possível o desenvolvimento de uma variedade enorme de materiais e moldagem das propriedades desses materiais de acordo com o interesse e a necessidade da sociedade (SMITH; ROSA, 1998; CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Ciência e Engenharia dos Materiais O estudo da estrutura de um material pode ser realizado em quatro níveis diferentes. O primeiro é o nível subatômico que estuda o átomo indi- vidualmente e o comportamento de seu núcleo e elétrons. O segundo nível é o nível atômico, que estuda a interação entre vários átomos e a formação de ligações e moléculas. O terceiro nível é o microscópico, que corresponde aos ar- ranjos atômicos e moleculares e a formação de estruturas cristalinas, moleculares e amorfas. Por fim, o nível macroscópico relacionado ao com- portamento do material em serviço. Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013). A ciência e engenharia de materiais é um cam- po de conhecimento interdisciplinar, que trata do estudo e manipulação da composição e es- trutura dos materiais, com o intuito de controlar as propriedades destes por meio da síntese e do processamento para a produção de bens de uso e consumo. A ciência dos materiais tem como obje- tivo o estudo da estrutura interna, das proprieda- des e do processamento dos materiais, enquanto a engenharia dos materiais dedica-se à aplicação destes conhecimentos de modo a transformar os materiais em produtos úteis e/ou necessários à sociedade; entretanto, não existe uma linha es- tritamente definida separando esses dois ramos (SMITH; ROSA, 1998). Neste livro, serão abor- dados tanto aspectos da ciência quanto da enge- nharia dos materiais. Na ciência e engenharia dos materiais, o termo composição refere-se à constituição química do material, ou seja, aos átomos, moléculas ou íons que constituem esse material. Já o termo estrutura refere-se à forma como esses átomos, moléculas ou íons se organizam (arranjam) para a formação do material. Outros termos utilizados nesse âmbito são: o termo síntese, que se refere ao modo e às subs- tâncias químicas necessárias para a produção de um material específico, e o termo processamento, que remete ao modo comoos materiais sintetizados são transformados em bens de uso e consumo com propriedades adequadas a cada finalidade (ASKELAND; WRIGHT, 2015). 16 Introdução a Ciências dos Materiais É importante saber que, quando falamos de ma- teriais, devemos ter em mente que toda matéria é um material em potencial, dependendo apenas que suas propriedades (ópticas, mecânicas, elétricas etc.) confiram-lhe alguma função especifica (ZAR- BIN, 2007). Além disso, o desempenho do material em uma aplicação é um fator determinante em projetos. Portanto, pode-se notar que a ciência dos materiais está embasada em quatro pilares: a sín- tese e processamento; a composição e estrutura; as propriedades; e o desempenho (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Em resumo, a partir da ciência e engenharia dos materiais, é possível compreender a natureza dos materiais e aplicar conceitos fundamentais e empíricos que possibilitam relacionar a estrutu- ra dos materiais, suas diversas propriedades e o seu comportamento para a transformação desses materiais em produtos. 17UNIDADE 1 Os materiais, por razões de conveniência, são se- parados em classes com base na sua constituição, arranjo de seus átomos e suas propriedades. Essas classes, ou grupos, são: • Metais ou materiais metálicos. • Cerâmicas ou materiais cerâmicos. • Polímeros ou materiais poliméricos. • Compósitos ou materiais compósitos. Cada uma dessas classes possui materiais com estruturas e propriedades diferentes das outras classes. A seguir, vamos conhecê-las e entender suas características gerais. Metais Os materiais pertencentes à classe dos metais são substâncias inorgânicas, constituídos por um ou mais elementos químicos metálicos, podendo con- ter elementos não metálicos em sua composição. Dentre os materiais metálicos mais usuais estão o aço, o ferro, o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o titânio, o ouro etc. Além disso, dentro da Classificação dos Materiais 18 Introdução a Ciências dos Materiais classe dos materiais metálicos, também existem as ligas metálicas, que são formadas pela mistura de um metal com um ou mais metais ou não metais, alguns exemplos de materiais não metálicos que podem estar presentes em ligas metálicas são o carbono, nitrogênio e oxigênio (ASKELAND; WRIGHT, 2015). A ligação do tipo iônica é uma ligação que ocorre entre dois íons de cargas opostas, um cátion e um ânion, enquanto a ligação covalente é um tipo de ligação em que ocorre o compartilhamento de elétrons entre os átomos envolvidos. Por fim, a ligação metálica é aquela que ocorre entre dois átomos de metais e, nessa ligação, todos os átomos envolvidos perdem elétrons de suas camadas mais externas, e esses elétrons se deslocam com grande mobilidade entre essas camadas, formando uma nuvem eletrônica (também conhecida como “mar de elétrons”). Fonte: adaptado Callister Jr. e Rethwisch (2013). Alguns exemplos comuns, feitos de materiais metálicos, presentes no nosso dia a dia, podem ser vistos na Figura 1. Figura 1 - Objetos comuns feitos de metal e ligas metálicas Eles possuem alto nível de organização espacial no arranjo de seus átomos, definido pelo termo “es- trutura cristalina”. Em função dessa estrutura atômica organizada, os metais possuem boa resistência mecânica, ductilidade, alta rigidez, resistência a choques e podem ser deformados sob a ação de forças externas. Além disso, são bons condutores de eletricidade e de calor, devido às suas ligações metálicas. Apesar dos metais puros serem pouco utilizados, as ligas possuem diversas aplicações, uma vez que elas permitem combinações de propriedades melhores que os metais puros. Na fabricação de joias, por exemplo, o ouro puro não é utilizado, pois ele é um material muito macio; para resolver esse problema, os ourives misturam o ouro com cobre, com a finalidade de melhorar a sua resistência mecânica para que a joia não seja danificada facilmente (ASKELAND; WRIGHT, 2015). 19UNIDADE 1 Cerâmicas A palavra cerâmica, na linguagem do dia a dia, tem um significado diferente do que tem nas Ciências dos Materiais. Na linguagem popular, cerâmicas são os objetos feitos de porcelana ou louça; no âmbito das Ciências dos Materiais, a palavra “cerâmicas” tem uma abrangência muito maior. As cerâmicas são constituídas por elementos químicos metálicos e não metálicos que se ligam por meio de ligações covalentes e iô- nicas. O óxido de alumínio, ou alumina, é um exemplo de material cerâmico composto por alumínio, que é um metal, juntamente com o oxigênio, um não metal, cuja fórmula química é Al2O3. Outros exemplos de materiais cerâmicos comuns são o dióxido de silício (ou sílica, SiO2), dióxido de zircônio (ou zircônia, ZrO2), carbeto de silício (SiC) e nitreto de silício (Si3N4). Na Figura 2, podemos ver alguns objetos feitos de materiais cerâmicos. Figura 2 - Objetos comuns feitos de materiais cerâmicos Os materiais cerâmicos são duros, possuem rigidez e resistência comparadas às dos metais, entretanto, são frágeis, ou seja, apresentam baixa resistência a esforços de tração, torção, flexão etc. Contudo, as cerâmicas são mais resistentes a altas temperaturas e ambientes severos do que os polímeros e os me- tais, e são materiais tipicamente isolantes térmicos e elétricos (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). No âmbito de ciência dos materiais, dureza é a uma das características dos materiais que está inti- mamente vinculado com a ligação dos átomos que formam esse material. A grosso modo, a dureza pode ser entendida como a facilidade que um material tem de riscar ou penetrar em outro. Fonte: Durocontrol (2016, on-line)1. Os usos mais comuns das cerâmicas são na produção de tijolos, vasos sanitários, refratários, entre outros. Já as cerâmicas avançadas são aplicadas na produção das estruturas de chips de computadores, capacitores, velas de ignição de automóveis, indutores elétricos etc. (ASKELAND; WRIGHT, 2015). A indústria moderna é altamente dependente dos metais, uma vez que seu uso ocorre em uma excep- cional diversidade de segmentos, desde a indústria automotiva à microeletrônica. 20 Introdução a Ciências dos Materiais Polímeros A classe dos polímeros é um ramo de produtos da química orgânica, formados, principalmente, por carbono e hidrogênio, podendo conter outros elementos não metálicos. O processo de produção dos polímeros é conhecido como polimerização. Os polímeros são moléculas de cadeia longa, for- mados pela união de várias (poli) unidades me- nores (meros). O polietileno (C2H4)n é um exem- plo de polímero formado apenas por carbono e hidrogênio, pela união de 100 até 1000 moléculas de etileno (C2H4). Entretanto, além do carbono e hidrogênio, os polímeros podem conter oxigê- nio, como o acrílico, nitrogênio, poliamidas ou náilons, flúor, fluorocarbonos, silício e silicones. A seguir, são apresentados, na Figura 3, alguns objetos feitos de polímeros. Em geral, os materiais poliméricos possuem grande ductilidade e tem baixa densidade. Além disso, esses materiais são isolantes elétricos, não magnéticos e, alguns polímeros, são altamente resistentes a produtos químicos corrosivos. Suas desvantagens estão no fato de serem menos resistentes a defor- mações que os metais, e de amolecer e/ou se decompor em temperaturas moderadas; contudo, mesmo com essas limitações, eles ainda são uma opção altamente versátil e útil. O avanço das tecnologias, na última década, no desenvolvimento de compostos poliméricos, tem permitido a produção de polímeros com resistência e rigidez altas o suficiente para substituir alguns metais em aplicações estruturais comuns em projetos (SHACKELFORD, 2013). Compósitos Os compósitos são formados pela combinação entre os materiais das classes apresentadas anteriormente (metais, cerâmicas e polímeros). Essa união conduz a um material com propriedades superiores aos dos componentes separadamente. Existem vários tipos de compósitos, formados por diferentes combinações entre metais, cerâmicas e polímeros,a maior parte deles e feita pelo homem; contudo, alguns materiais de ocorrência natural também são considerados compósitos, como é o caso do osso e da madeira. Um dos compósitos mais famosos é a fibra de vidro, constituída de pequenas fibras de vidro em- butidas no interior de uma matriz polimérica. A união das fibras de vidro, material resistente e rígido (porém frágil) com a matriz polimérica, material dúctil e flexível (porém fraco) resulta em um material compósito flexível, dúctil, resistente e relativamente rígido (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Figura 3 - Objetos comuns feitos de polímeros 21UNIDADE 1 A partir dos compósitos, é possível obtermos materiais leves, robustos, dúcteis e resistentes a altas temperaturas ou mesmo produzirmos ferramentas de corte, duras e resistentes a choques, que fratu- rariam se fossem feitas com outros materiais (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Na Tabela 1, pode-se observar alguns exemplos de materiais pertencentes aos grupos apresentados anteriormente, suas aplicações e suas propriedades. Tabela 1 - Aplicações e propriedades dos materiais Classes Exemplos de aplicações Propriedades Metais e Ligas Cobre Fios elétricos Alta condutividade elétrica, boa conformabilidade Ferro fundido cinzento Blocos de motores para automóveis Fundibilidade, usinabilidade, amor-tecimento de vibrações Aços especiais Ferramentas, chassis de automóveis Endurecibilidade por tratamento térmico Cerâmicas e vidros SiO2-Na2O-CaO Vidro para janelas Transparência ótica, isolamento térmico Al2O3, MgO, SiO2 Refratários (revestimento resistente ao calor para fornos de fusão) Isolamento térmico, refratarieda- de, inércia química Titanato de bário Capacitores para microeletrônica Grande capacidade de armazena-mento de cargas elétricas Sílica Fibras óticas para a tecnologia da informação Índice de refração adequado, bai- xas perdas óticas Polímeros Polietileno Embalagens para alimentos Facilidade de ser moldado para produzir filmes finos, flexibilidade e hermetismo Resinas de epóxi reforçada com fibras de carbono Encapsulamento de circuitos inte- grados Isolante elétrico e resistência à umidade Resinas fenólicas Adesivos para união de camadas de compensado Resistência mecânica e à umidade Compósitos Resina epóxi reforçada com fibras de carbono Componentes para aviação Elevada razão resistência-peso Metal duro (liga de cobalto reforçada com carbeto de tungstênio) Ferramentas de corte para usina- gem Elevada dureza conjugada com boa resistência a choques Aço revestido com titânio Vasos para reatores Baixo custo e associação de alta resistência do aço com a elevada resistência à corrosão do titânio Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015). 22 Introdução a Ciências dos Materiais Materiais avançados Os materiais avançados são materiais que são aplicados na produção de componentes ou dis- positivos de alta tecnologia, cujo funcionamento possui princípios intrincados ou sofisticados. Os materiais dessa categoria pertencem às classifica- ções descritas anteriormente e devemos entender o termo “alta tecnologia” como sendo relacionado a produtos e dispositivos, por exemplo, equipa- mentos eletrônicos, computadores, aeronaves, sistemas de fibras ópticas, equipamentos médi- cos etc. Semicondutores Os semicondutores são materiais com proprieda- des elétricas intermediárias entre os condutores (metais) e os isolantes (polímeros e cerâmicas). Além disso, as propriedades elétricas desses ma- teriais são extremamente sensíveis a pequenas concentrações de átomos de impurezas presentes em sua composição. O controle das concentrações de impurezas em regiões definidas do material permite con- trolar a condutividade elétrica nessas regiões do material, possibilitando sua aplicação em compo- nentes como, por exemplo, circuitos eletrônicos integrados. Os semicondutores são, geralmente, feitos de silício, germânio e arsenato de gálio. Ao longo das últimas décadas, os semicondutores revoluciona- ram a indústria de eletrônicos e de computadores, em decorrência de suas propriedades elétricas diferenciadas (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Voltaremos a falar sobre os materiais semi- condutores mais adiante, na Unidade 7. Biomateriais Os biomateriais são materiais pertencentes às classes de materiais anteriores (metais, polímeros, cerâmicas e semicondutores). Esses materiais são utilizados na área da saúde para as mais diversas finalidades, entre elas dispositivos biomédicos (biosensores, tubos de circulação, sistemas de he- modiálise), materiais implantáveis (suturas, subs- titutos ósseos, lentes, dentes, válvulas cardíacas), órgãos artificiais (pulmões, coração, rim, pele), curativos, dentre outros. Devido à finalidade desses materiais, eles de- vem ser materiais não tóxicos, pois eles entram em contato com sistemas biológicos. Além disso, eles devem ser compatíveis com os tecidos do corpo, uma vez que muitos deles são implanta- dos como substitutos a órgãos e tecidos danifi- cados do corpo humano (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). Dentre os materiais metálicos, o titânio e suas ligas, por exemplo, têm sido usado por décadas na fixação de fraturas e reconstrução de articulações por ser resistente à corrosão, biocompatível e pela indução do crescimento ósseo (bioadesão). Além disso, alguns tipos de ligas de cobre são aplicados para artroplastia total de quadril, que consistem em uma haste femoral conectada a uma cabeça modular sujeita à articulação com o componente acetabular. Já os materiais cerâmicos bioinertes possuem aplicações biomédicas, principalmente nas áreas de ortopedia e odontologia, com grande represen- tatividade de compostos, como a alumina (Al2O3), zircônia (ZrO2) e zircônia estabilizada com óxido de ítrio (ZrO2(Y2O3)), devido à sua capacidade de não reagir com o tecido adjacente, resistência à corrosão, grande resistência ao desgaste e alta re- sistência mecânica (BIOFABRIS, [2019], on-line)2. 23UNIDADE 1 Magnéticos A palavra magnetismo está associada ao fenômeno de atração que um material exerce sobre outro material. Sendo assim, os materiais magnéticos são materiais com a capacidade de exercer uma força de atração ou repulsão sobre outros materiais. Alguns materiais são capazes de se manterem magnetizados mesmo na ausência de um campo magnético, eles são chamados de ferromagnéticos; outros materiais apresentam propriedades mag- néticas apenas na presença de um campo magnético atuante. Um exemplo de material ferromagnético é o imã em barra, apresentado na Figura 4a, que exibe dois polos identificados (norte-sul); para um imã reto e um imã em formato de U, na Figura 4b, são visuali- zadas as linhas de campo formadas pela limalha de ferro quando submetida a esses dois tipos de imãs. Ímã de barra Ímã em ferradura a) b) Figura 4 - a) Representação das linhas de campo de um imã; b) O efeito do imã sobre a limalha de ferro 24 Introdução a Ciências dos Materiais Os materiais magnéticos possuem aplicações variadas, desde pequenos imãs para fechar portas de armários, até componentes sofisticados utilizados na indústria de eletrônicos (RODRIGUEZ, 1998). Os materiais magnéticos serão vistos com maior detalhamento na Unidade 8. Nanotecnológicos Os materiais nanotecnológicos são diferenciados em relação ao seu tamanho a nível nano, ou seja, suas partículas possuem dimensões da ordem de nanômetros (10-9 metros). O estudo desses ma- teriais é chamado de nanotecnologia. Eles são de grande expectativa tecnológica, devido às suas características fascinantes e, por essa razão, ga- nharam significativa importância a partir do final do século XX, com aplicações em nichos, como eletrônica, biomedicina, esportes, produção de energia, entre muitos outros. As propriedades dos materiais que conhece- mos são fortemente dependentes do tamanho das partículas que compõem esses materiais; dessa forma, podemos modificar as propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho eda forma de suas partículas cons- tituintes e, com isso, obter novas possibilidades de aplicação para o mesmo material. Portanto, a partir da nanotecnologia, materiais opacos podem se tornar transparentes em escala nanométrica, alguns sólidos tornam-se líquidos, isolantes elétricos tornam-se condutores etc. Então, tornou-se possível modificar propriedades físicas e químicas dos materiais pertencentes a todas as classes de materiais (metais, cerâmicas, polímeros, compósitos) somente controlando o tamanho e o formato de suas partículas, sem a necessidade de alterar sua composição química (ZARBIN, 2007). A Figura 5, a seguir, mostra a estrutura dos nanotubos de carbono produzidos a partir da na- notecnologia aplicada aos materiais. Esse material possui um vasto campo de aplicações, por exemplo, na fabricação de suportes para catalisadores, puri- ficação e descontaminação de águas, em baterias de íons de lítio, sensores e biosensores, entre muitas outras aplicações (ZARBIN; OLIVEIRA, 2013). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Figura 5 - Representação tridimensional da estrutura de um nanotubo de carbono https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/539 25UNIDADE 1 É fundamental conhecer o arranjo estrutural dos átomos na formação dos materiais, uma vez que esse arranjo determina muitas das propriedades desses materiais. Para melhor aproveitamento deste conteúdo, vamos introduzir alguns concei- tos importantes, como o de estrutura cristalina, rede cristalina e célula unitária. Além disso, devemos saber que os átomos são formados por um núcleo, com prótons e nêutrons, cercado por elétrons que circulam ao redor desse núcleo. Para a finalidade de descrever os arranjos nos sólidos, adotaremos um sistema no qual os átomos que compõem um material serão considerados esferas rígidas, como bolas de pingue-pongue. • Rede cristalina: é um conceito matemá- tico e infinito em extensão. Em outras pa- lavras, uma rede cristalina é um conjunto de pontos dispostos de acordo com um padrão periódico, ou seja, um arranjo tri- dimensional de pontos cuja vizinhança é idêntica. Portanto, essas redes são os esque- letos sobre os quais as estruturas cristalinas dos materiais são formadas e os átomos ou grupo de átomos estão posicionados nos pontos dessa rede ou próximos a eles. Estruturas Cristalinas dos Materiais 26 Introdução a Ciências dos Materiais • Estrutura cristalina: é a estrutura forma- da pelo arranjo dos átomos, íons ou mo- léculas quando se organizam na formação de um material. Os cristais formados nesse processo podem ter as mais variadas for- mas, desde estruturas mais simples – para os metais – até estruturas complexas – para algumas cerâmicas e polímeros. • Célula unitária: nos sólidos cristalinos, pe- quenos grupos de átomos se organizam de maneira periódica na formação da estrutura cristalina de um material; por essa razão, é conveniente e prático dividir a estrutura cris- talina nessas unidades menores e repetitivas, que são denominadas células unitárias. A célula unitária é o bloco estrutural básico, ou bloco construtivo da estrutura cristalina, que ainda mantém as características gerais da rede, portanto é possível descrever a estrutura cris- talina de um sólido cristalino conhecendo sua célula unitária. As células unitárias são, na maioria das vezes, paralelepípedos ou prismas. Na Figura 6, a seguir, podemos observar a célula unitária na forma de esferas reduzidas para alguns materiais comuns, que são o sal de cozinha, o diamante, o gelo seco e o ferro metálico, todos com estrutura cúbica. Iônico Sal de Cozinha – NaCl Atômico Diamante – C Molecular Gelo seco – CO Metálico Ferro metálico - Fe2 Figura 6 - Células unitárias de alguns materiais comuns 27UNIDADE 1 Sistemas Cristalinos Como existem diversas estruturas cristalinas diferentes, é conveniente agrupá-las de acordo com a configuração de suas células unitárias. O enfoque mais utilizado é fundamentado somen- te na geometria da célula unitária, sem levar em consideração as posições dos átomos nela. Além disso, para que seja possível a aplicação desse enfoque, definimos um sistema de coorde- nadas cartesianas xyz, com a origem posicionada em um dos vértices da célula unitária, e com cada um dos eixos, x, y e z, coincidindo com uma das arestas do paralelepípedo e estendendo-se a partir do vértice de origem. A Figura 7 representa uma célula unitária ge- nérica de um material qualquer; nela, os parâme- tros a, b, c, α, β e γ apresentados são denominados parâmetros de rede cristalina ou simplesmente parâmetros de rede, onde a, b e c são os compri- mentos das arestas que compõem a célula unitá- ria e α, β e γ são os ângulos formados entre essas arestas. Por convenção, o eixo x está relacionado com a aresta de comprimento a, o eixo γ está rela- cionado com a aresta de comprimento b, e o eixo z está relacionado com a aresta de comprimento c, como mostrado na Figura 7. bx y z a c β α γ Existem sete combinações possíveis para os parâmetros a, b, c, α, β e γ, cada combinação dá origem a uma geometria diferente para a célula unitária. Essas geometrias são denominadas sistemas cristalinos. Os sete sistemas cristalinos são os sistemas cúbico, tetragonal, hexagonal, ortorrômbico, romboédrico, monoclínico e triclínico. Na Figura 8, podemos verificar as relações para os parâmetros de rede, assim como as representações para as células unitárias de cada um dos sete sistemas cristalinos. Figura 7 - Esquematização de uma célula unitária genérica e seus parâmetros de rede Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). 28 Introdução a Ciências dos Materiais a a a a a a c c a a c a b a a a b β a c b β a c α γ Cúbico a = b = c a = b ≠ c a = b ≠ c a = b = c a ≠ b ≠ c a ≠ b ≠ c a ≠ b ≠ c α = β = γ = 90° α = β = 90°, γ = 120° α = β = γ = 90° α = β = γ ≠ 90° α = β = γ = 90° α = γ = 90° ≠ β° α ≠ β ≠ γ ≠ 90° Hexagonal Tetragonal Ortorrômbico Romboédrico (Trigonal) Monoclínico Triclínico b β a c α γγγ a ≠ b ≠ c α ≠ β ≠ γ ≠ 90°Triclínico c a b a ≠ b ≠ c α = β = γ = 90°Ortorrômbico c a a a = b ≠ c α = β = γ = 90°Tetragonal a a a Cúbico a = b = c α = β = γ = 90° Sistema Cristalino Relações Axiais Ângulos entre os Eixos Geometria da Célula Unitária Figura 8 - Representação e caracterização dos parâmetros da célula unitária para os sete sistemas cristalinos Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). 29UNIDADE 1 Dentro dos sete sistemas cristalinos, as estruturas cristalinas podem se organizar em 14 formas únicas de arranjo dos pontos em sua rede cristalina. Esses arranjos tridimensionais únicos dos pontos da rede cristalina são denominados redes de Bravais – nome concedido em homenagem ao cristalógrafo francês Auguste Bravais (1811-1863). A seguir, podemos visualizar as 14 redes de Bravais na Figura 9 (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). a a a de face centrada de face centrada de corpo centrado Cúbico Tetragonal Hexagonal Ortorrômbico Monoclínico Triclínico Romboédrico a a a c c a b � � � α b βc α γ de corpo centrado a a a b β a c β a Figura 9 - Representação das 14 redes de Bravais Fonte: adaptada de Centro de Informação Metal Mecânica ([2019], on-line)3. Redes de Bravais 30 Introdução a Ciências dos Materiais Polimorfismo e alotropia Quando estudamos os materiais, não podemos deixar de mencionar um fenômeno conhecido como polimorfismo; esse fenômeno ocorre, principalmente, em metais e alguns ametais. O polimorfismo acontece quando um material possui mais do que uma estrutura cristalina, e esta que prevalece é depen- dente da temperatura e pressão às quais o material é submetido. Em sólidos elementares, ou seja, em um material formado apenas por um elemento químico, o mesmo fenômeno recebe o nome de alotropia. Na Figura 10, a seguir, vemos quatro formas alotrópicas do carbono, ou seja,quatro arranjos cris- talinos diferentes dos átomos de carbono e, por consequência, quatro compostos com propriedades distintas, formados somente por carbono. Geralmente, as transformações polimórficas são acompanhadas de mudanças nas propriedades físicas do material, por exemplo, na massa específica. Um outro exemplo de alotropia acontece com o estanho branco, que possui uma estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado nas condições ambiente; porém, quando submetido à temperatura de 13,2 °C, transforma-se em estanho cinza, que possui uma estrutura cristalina cúbica (semelhante à do diamante). A velocidade com que a transfor- Gra�te Diamante Fulereno Grafeno Gra�te Diamante Fulereno Grafeno Figura 10 - Exemplos de compostos alotrópicos do carbono 31UNIDADE 1 mação ocorre é extremamente lenta, contudo, e conforme a temperatura diminui abaixo de 13,2 °C, mais rapidamente a transformação acontecerá (Callister JR.; RETHWISCH, 2013). Nesta primeira unidade do nosso livro da disciplina de Ciências dos Materiais, apresentamos a você, caro(a) aluno(a), uma breve perspectiva histórica sobre as ciências dos materiais para que pudéssemos entender qual a importância desta disciplina no desenvolvimento da humanidade, desde os tempos antigos até a atualidade. Além disso, foram abordados conceitos importantes sobre o que são as ciências dos materiais e, em seguida, foi introduzida a classificação dos materiais em metais, cerâmicas, polímeros e compósitos, além de uma abordagem dos materiais avançados, semicondutores, nanomateriais, magnéticos e bio- materiais, apontando suas características principais e exemplos mais comuns de cada classe. Encerramos a Unidade 1 com uma introdução à estrutura cristalina dos materiais, onde vimos que os átomos, molécula ou íons que formam os materiais podem se arranjar de várias formas, dando origem aos sistemas cristalinos. Gra�te Diamante Fulereno Grafeno Gra�te Diamante Fulereno Grafeno 32 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A rede cristalina é o arranjo cristalino in- finito, tridimensional de pontos, no qual cada ponto possui vizinhanças idênti- cas. Também sabe-se que essa rede cristalina possui os pontos chamados de nós, que podem estar arranjados de 14 diferentes formas, conhecidas como redes de Bravais. A seguir, é apresen- tada a célula unitária do enxofre; com base nos conhecimentos sobre siste- mas cristalinos e redes de Bravais, jul- gue as afirmativas apresentadas sobre o sistema cristalino e o nome da estrutura para a célula unitária apresentada. Sabendo que os parâmetros de rede são: a = 1 nm; b = 1,3 nm; c = 2,4 nm; α = β = γ = 90°, analise as afirmativas a seguir: I) Sistema ortorrômbico. II) Estrutura tetraédrica de corpo centrado. III) A célula unitária possui todas as arestas iguais. IV) Sistema hexagonal. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) III e IV. c) I e III. d) Apenas I. e) Apenas III. bx y z a c β α γ 33 2. Os materiais sólidos podem ser classificados em quatro grandes grupos, são eles: metais, cerâmicas, polímeros e compósitos. A classificação destes mate- riais é, principalmente, baseada na estrutura atômica e em suas composições químicas; sendo assim, os materiais pertencentes a um grupo possuem cons- tituintes e propriedades diferentes em relação aos materiais pertencentes aos demais grupos. Com base nas características estruturais e nas propriedades dos materiais, analise as afirmações a seguir. I) As propriedades dos materiais sólidos dependem da sua estrutura cristali- na, ou seja, da maneira pela qual os átomos, moléculas ou íons se arranjam espacialmente. II) Os materiais metálicos e alguns materiais cerâmicos formam cristais quando se solidificam, ou seja, seus átomos se arranjam em um modelo ordenado e repetitivo chamado estrutura cristalina. III) Os metais e suas ligas são substâncias inorgânicas constituídas apenas por elementos químicos metálicos. Dentre os materiais metálicos mais usuais, estão o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o titânio, o ouro, o aço, o ferro, entre outros. IV) Os metais e suas ligas (como, por exemplo, o aço e o latão) são bons condu- tores de eletricidade e de calor, resistentes e, em determinadas condições, deformáveis, enquanto os materiais cerâmicos (porcelana, cimento) são duros e quebradiços. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) I, II e IV. e) II, III e IV. 34 3. Os materiais avançados são materiais de alto desempenho, sintetizados ou cujas características foram aprimoradas por alguma técnica de processamento. São materiais que podem pertencer à classe dos metais, cerâmica, polímeros ou compósitos e são utilizados em aplicações de alta tecnologia. Tomando como base os materiais avançados, avalie as afirmativas a seguir. I) Biomateriais são empregados em componentes para implantes de partes em seres humanos, por essa razão, esses materiais não devem produzir substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com o tecido humano. II) Os semicondutores são, geralmente, feitos de silício, germânio e arsenato de gálio, são materiais com propriedades elétricas intermediárias entre os condutores e os isolantes; além disso, as propriedades elétricas desses ma- teriais são extremamente sensíveis a pequenas concentrações de átomos de impurezas presentes em sua composição. III) Nenhum material possui comportamento magnético naturalmente, esse comportamento magnético envolve a capacidade de exercer uma força de atração ou repulsão sobre outros materiais. IV) A nanotecnologia aplicada as ciências dos materiais possibilita modificar as propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho e da forma de suas partículas constituintes, contudo, isso não possibilita novas aplicações para o mesmo material. Estão corretas as alternativas: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas III e IV. d) Apenas II e IV. e) Apenas I e IV. 35 O material complementar apresenta uma breve discussão a respeito do grafeno, alótropo de carbono. Neste material, são apontadas algumas das características promissoras desse material, os desafios envolvidos no processo e os centros de pesquisas que trabalham no seu desenvolvimento. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB 36 ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. PIRES, A. L. R.; BIERHALZ, A. C. K.; MORAES, Â. M. Biomateriais: tipos, aplicações e mercado. Química nova, On-line, v. 38, n. 7, p. 957-971, 2015. Disponível em: http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=6262. Acesso em: 1 abr. 2019. RODRIGUEZ, G. J. B. O porque de estudarmos os materiais magnéticos. Revista Brasileira de Ensino de Fısi- ca, On-line, v. 20, n. 4, p. 315, 1998. Disponível em: http://www.ifba.edu.br/PROFESSORES/lissandro/arquivos/ importancia_magnetismo.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013. SMITH, W. F.; ROSA, M. Princípios de ciência e engenharia de materiais. 3. ed. Portugal: Editora McGra- w-Hill, 1998. ZARBIN, A. J. G. Química de (nano) materiais. Química Nova, On-line, v. 30, n. 6, p. 1469, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/qn/v30n6/a16v30n6.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019. ZARBIN, A. J. G.; OLIVEIRA, M. M. Nanoestruturas de carbono (nanotubos, grafeno): Quo Vadis. Química Nova, São Paulo, v. 36, n. 10, p. 1533-1539, 2013. REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: http://www.durocontrol.com.br/blog/dureza/. Acesso em: 28 maio 2019. 2Em: http://biofabris.com.br/pt/biomateriais/. Acesso em: 28 maio 2019. 3Em: https://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6414-empacotamen-to-atomico-dos-cristais-intro- ducao#.W43_pM4zqpp. Acesso em: 28 maio 2019. 37 1. D. A partir dos parâmetrosda célula unitária, temos: a ≠ b ≠ c ; γ = β = α = 90° Na Figura 8, esses parâmetros representam um Sistema Ortorrômbico. A afirmativa II está incorreta porque a estrutura é ortorrômbica, contudo, não há como determinar a estrutura ortorrômbica dentre as quatro possibilidades, pois nessa representação não temos os átomos apresentados. A afirmativa III está incorreta porque a célula unitária não possui nenhuma aresta igual. E a afirmativa IV está incorreta porque o sistema é ortorrômbico. 2. D. A afirmativa III está incorreta, pois os metais e suas ligas são substâncias inorgânicas constituídas por elementos químicos metálicos e podendo conter elementos não metálicos como o carbono, por exemplo. Dentre os materiais metálicos mais usuais estão o magnésio, o cobre, o alumínio, a prata, o bronze, o titânio, o ouro, o aço, o ferro entre outros. 3. A. A afirmativa III está incorreta, pois alguns materiais possuem comportamento magnético naturalmente; esse comportamento magnético envolve a capacidade de exercer uma força de atração ou repulsão sobre outros materiais A alternativa IV também está incorreta, pois a nanotecnologia aplicada as ciências dos materiais possibilita modificar as propriedades de um determinado material por meio do controle do tamanho e da forma de suas partículas constituintes e com isso obter novas possibilidades de aplicação para o mesmo material. 38 39 40 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Aprender o que são e como determinar pontos, direções e planos cristalográficos nas células unitárias. • Diferenciar materiais cristalinos e materiais não cristalinos. • Conhecer a técnica de difração de raios X. • Conhecer os tipos de defeitos em materiais cristalinos e entender a importância deles nesses materiais. Pontos, direções e planos cristalográficos Materiais cristalinos e não cristalinos Imperfeições nos materiais cristalinos Me. Luis Henrique de Souza Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Pontos, Direções e Planos Cristalográficas Caro(a) aluno(a), na Unidade 2, daremos continui- dade ao assunto de estrutura cristalina dos mate- riais introduzido na Unidade 1. Nesta unidade, es- tabeleceremos a diferença entre material cristalino e material amorfo (não cristalino), aprenderemos a determinar as coordenadas de pontos, direções e planos dentro das células unitárias e finalizaremos a unidade com uma abordagem sobre os defeitos cristalinos dos materiais. Como vimos na Unidade I, os materiais cris- talinos possuem uma organização regular e repe- titiva dos átomos, moléculas ou íons que os com- põem, cuja menor unidade representativa dessa organização é chamada de célula unitária. Para que se possa trabalhar com materiais cristalinos, é interessante e necessário convencionar algumas informações para as células unitárias. As convenções tomadas em relação às células unitárias dos materiais cristalinos estabelecem um sistema de coordenadas cartesiano para essas células unitárias, no qual a origem está localizada em um dos vértices de uma célula unitária ar- bitraria, e os eixos x, y e z coincidem com cada aresta que parte desse vértice (origem), o sistema descrito na Figura 1. 43UNIDADE 2 c � z x a y αβ γ Figura 1 - Esquematização de uma célula unitária genérica e seus parâmetros de rede Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). A partir desse sistema cartesiano, empregam-se três números (índices) para determinar as posições de pontos, direções e planos dentro da célula unitá- ria de um material cristalino. Então, o que vamos estudar agora é o significado desses índices e a me- todologia para a determinação de cada um deles. Coordenadas dos pontos Quando estudamos as estruturas cristalinas dos materiais, vez ou outra, é necessário localizarmos pontos, como a posição de um átomo nas células unitárias desses materiais. Podemos localizar esses pontos dentro de uma célula unitária, especifi- cando suas coordenadas na forma de frações ou múltiplos dos comprimentos das arestas a, b e c que formam essa célula, baseando-se no sistema cartesiano estipulado para ela. Dessa forma, um ponto que esteja exatamente no centro da célula unitária seria representado por ½ ½ ½, ou ½, ½, ½, uma vez que esse ponto se encontra na metade (½) do comprimento da aresta a em x; na metade (½) da aresta b em y; e na metade (½) da aresta c em z. Como você pode perceber, a posição de um ponto na célula unitária possui a forma geral de três números separados por um espaço entre eles, ou seja, as coordenadas de um ponto na cé- lula unitária são q r s. Obs.: as coordenadas de um ponto podem, também, serem apresentadas separadas entre vírgulas: q, r, s. Na Figura 2, considere o ponto P, localizado no interior da célula unitária. Podemos determinar a posição de P a partir do sistema cartesiano for- mado pelos eixos x, y e z, cuja origem foi estabe- lecida no vértice indicado em laranja, utilizando as coordenadas genéricas, q, r e s. Dessa forma, vemos que o ponto P se encontra a uma distância qa da origem em relação ao eixo x; rb em relação ao eixo y; e sc em relação ao eixo z. Portanto, as coordenadas desse ponto serão q r s. z b a c x yqa rb sc P q r s Figura 2 - Esquematização da determinação de um ponto P utilizando um sistema cartesiano em uma célula unitária Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 47). Para que você possa entender melhor, vejamos um exemplo mais prático: desejamos localizar um ponto P de coordenadas q, r e s iguais a, respec- tivamente, ¼ 1 ½ na célula unitária apresentada na Figura 3. 44 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Primeiramente, devemos determinar os valores dos parâmetros de rede a, b e c. Sabemos que a é a aresta que sai da origem e tem a mesma direção do eixo x e, portanto, a vale 0,48 nm. De forma similar, as arestas b e c são as arestas que partem da origem e tem a mesma direção, respectivamente, dos eixos y e z, então temos que b = 0,46 nm e c = 0,40 nm. A partir das coordenadas informadas sobre o ponto P, sabemos que q = ¼ , r = 1 e s = ½ e, ao multiplicarmos cada um desses valores, respec- tivamente, pelo comprimento das arestas a, b e c, obtemos as distâncias, qa, rb e sc desse ponto em relação a origem do sistema cartesiano dessa célula unitária. Calculando as distâncias qa, rb e sc obtemos: • qa = (¼)(0,48) = 0,12 nm • rb = (1)(0,46) = 0,46 nm • sc = (½)(0,40) = 0,20 nm Finalmente, com esses resultados, podemos en- contrar a posição do ponto P na célula unitária; o processo esquematizado é apresentado na Figura 4. Para começar, devemos partir da origem (ponto M) e caminharmos no sentido positivo do eixo x, uma distância qa = 0,12 nm, chegando ao ponto N. Em seguida, caminhamos na direção positiva do eixo y, uma distância rb = 0,46 nm, chegando ao ponto O. E, por fim, caminhamos na direção positiva do eixo z, uma distância sc = 0,20 nm, chegando à posição exata do ponto P. Direções cristalográficas As direções cristalográficas são vetores, definidos por linhas que ligam dois pontos da rede cristalina, portanto, esses vetores indicam direções específicas dentro da célula unitária de um material cristalino. O conhecimento dessas direções é importan- te na determinação de algumas propriedades de materiais cristalinos e, para determinarmos os índices direcionais, devemos executar os seguintes passos (ASKELAND; WRIGHT, 2015): • A partir do sistema de coordenadas da célula unitária (Figura 1), são necessários dois pon- tos para definir uma direção cristalográfica. Tome esses dois pontos em termos de suas coordenadas q, r e s. Figura 3 - Exemplo da determinação de pontos em células unitárias Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 48). z 0,46mm 0,4 8m m 0,40mm x y z x y P O M0,12nm N 0,46nm 0,20 nm 1 4 1 2 —,1,— Figura 4 - Resolução do exemplo de determinação de pontos em células unitárias Fonte: Callister Jr. e Rethwisch(2013, p. 48). 45UNIDADE 2 • Subtraia, coordenada a coordenada, o ponto final do ponto inicial. O resultado obtido será um conjunto com três números que representam os parâmetros de deslocamento em cada eixo do sistema de coordenadas. • Caso o resultado obtido no passo anterior tenha algum valor fracionário ou o conjunto obtido possa ser reduzido a números inteiros menores, multiplique ou divida os valores obtidos, a fim de obter os menores números inteiros para esses parâmetros. • Coloque os números obtidos entre colchetes e sem espaçamento entre eles, da seguinte forma [uvw], onde u, v e w correspondem às projeções da direção nos eixos x, y e z, respectivamente. Obs: caso algum dos números obtidos seja negativo, retire o sinal negativo desse número e inclua uma barra sobre ele. Como você pode notar, as direções cristalográficas são sempre um conjunto de números menores inteiros delimitado por colchetes. A Figura 5 apresenta uma célula unitária genérica, na qual são indi- cadas três direções cristalográficas: a direção [111], em vermelho, a direção [110], em azul, e a direção [100], em verde. Para que você entenda melhor o processo de determinação das direções cristalográficas, vamos resolver um exemplo. A Figura 6 apresenta uma célula unitária com três direções indicadas e os seus respectivos pontos iniciais e finais. Seguindo a sequência de passos estipulados anteriormente, vamos determinar os índices direcionais da direção A. [111] [110] z y x [100] Figura 5 - Representação de uma célula unitária com as direções cristalográficas Fonte: Callister Jr. e Rethwish (2013, p. 49). Figura 6 - Exemplo de determinação das direções crista- lográfica Fonte: o autor. � 0, 0, 1 1, 1, 1 1, 1, 0 , 1, 0 0, 0, 0 1, 0, 0 � � A B C 1 2 46 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos A partir da Figura 6, podemos observar que o ponto inicial da direção A possui coordenadas ½ 1 0 (ou ½, 1, 0) e o ponto final 1 0 0 (ou 1, 0, 0). Com essas informações em mão, o primeiro passo já está completo. No segundo passo, devemos subtrair o ponto final do ponto inicial, então: Pinicial - Pfinal = [1, 0, 0] - [½, 1, 0] = [½, -1, 0] Agora, o resultado ½, -1, 0 deve ser analisado para verificar se existe possibilidade de simplificação. Como você pode observar, existe uma fração, ½, então devemos multiplicar todo o resultado por um valor que transforme essa fração eu um nú- mero inteiro, nesse caso o número é 2 e ele será multiplicado por cada um dos números obtidos no resultado anterior, ½, -1, 0. 2 1 2 2 0 = 1 -2 0 O resultado 1, -2, 0 é o conjunto de menores in- teiros possíveis, portanto, basta colocarmos esse resultado entre colchetes para termos os índices direcionais da direção A, lembrando que para o índice -1 deve-se retirar o sinal negativo e incluir uma barra sobre o número. Dessa forma, os índi- ces direcionais de A são: [1 2 0] O procedimento de determinação dos índices direcionais da direção A pode ser resumido na Tabela 1, apresentada a seguir. Tabela 1 - Resumo do exemplo de determinação dos índices da direção A Eixo x y z Coordenadas ponto final 1 0 0 Coordenadas ponto inicial ½ 1 0 Subtração 1 -1 0 Simplificação ½ -1 2(0) 1 -2 0 Índices Direcionais [uvw] [1 2 0] Fonte: o autor. Faça você a determinação das direções B e C, o resultado esperado é 111�� �� para a direção B e 111� � para a direção C. Planos Cristalográficos Os materiais cristalinos possuem planos de áto- mos denominados planos cristalográficos e es- tes têm como base o mesmo sistema cartesiano da célula unitária, mencionado anteriormente, para os pontos e as direções cristalográficas. Eles são planos que cortam a célula unitária e suas orienta- ções também são dadas por meio de índices. Com exceção dos sistemas cristalinos hexagonais, que não serão contemplados nesse tópico, os planos cristalográficos são especificados por três índices, conhecidos como índices de Miller, e representa- dos por (hkl). Um fato importante a ser mencionado é que quaisquer dois planos paralelos entre si são planos equivalentes e possuem índices idênticos. 47UNIDADE 2 Para a determinação dos índices de um plano cristalográfico (índices de Miller) em uma célula unitária, os seguintes passos devem ser seguidos: • Caso o plano analisado passe pela origem do sistema de coordenadas da célula uni- tária (ponto 0 0 0), devemos selecionar um outro plano que seja equivalente (parale- lo) ao primeiro, ou seja, deve-se deslocar o plano para que ele não contenha o ponto referente à origem do sistema cartesiano. • Após verificado o passo anterior, o plano analisado (que não passe pela origem) po- derá ser paralelo a um ou dois eixos e in- terceptar o(s) restante(s), ou poderá não ser paralelo a nenhum dos eixos e interceptar cada um deles. O intercepto do plano com cada um dos eixos deve ser determinado. Obs.: para os eixos que forem paralelos ao plano, o intercepto ocorre no infinito (∞). • Para cada valor de intercepto obtido no passo anterior, deve ser invertido (1/valor do intercepto). Obs.: o inverso do ∞ é zero. • Caso algum resultado obtido seja fracioná- rio ou o conjunto obtido possa ser reduzi- do a números inteiros menores, multipli- que ou divida os valores obtidos por um fator, a fim de se obter os menores números inteiros para esses parâmetros. • Coloque os resultados menores inteiros obtidos entre parênteses e sem espaça- mento algum entre eles, da seguinte forma (hkl), na qual h, k e l são os índices de Mil- ler referentes aos eixos x, y e z, respectiva- mente. Obs.: no caso de algum dos índices obtidos ser negativo, retire o sinal negativo desse número e inclua uma barra sobre ele (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Vamos exemplificar os passos para a determina- ção dos índices de Miller do plano A, apresentado na Figura 7, para uma célula unitária genérica. x A y z Figura 7 - Exemplo da determinação dos índices de Miller para um plano Fonte: o autor. Analisando o plano A, percebemos que ele é para- lelo aos eixos x e z e, além disso, esse plano passa pela origem do sistema cartesiano estabelecido. O primeiro passo do procedimento de determi- nação dos índices de Miller para esse plano é es- colher um plano equivalente ao plano A, que não passe pela origem; uma escolha simples é o plano B, indicado na Figura 8. Uma vez que, os planos A e B são equivalentes, se determinarmos os índices de Miller do plano B, os índices de Miller do plano A serão os mesmos. É importante lembrar que as coordenadas dos pontos da célula unitária são sempre frações que variam de 0 a 1, começando em 0 na origem e alcançando o valor 1 no extremo oposto da célula unitária em relação a cada eixo, como visto na Figura 8. 48 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos x A B y z 101 100 110 111 001 000 010 011 Figura 8 - Exemplo da determinação dos índices de Miller para um plano Fonte: o autor. O próximo passo é determinar os interceptos do plano B com os eixos x, y e z, que, nesse caso, são ∞ para o eixo x e para o eixo z, pois o plano é paralelo a ambos eixos, e 1 para o eixo y. Agora, devemos tomar o inverso de cada um dos interceptos (1/ valor do intercepto). • Para o eixo x: 1/∞ = 0 • Para o eixo y: 1/1 = 1 • Para o eixo z: 1/∞ = 0 Na sequência, devemos verificar se é possível simplificar os resultados obtidos, mas, como podemos observar, esses valores já são os menores inteiros possíveis, por essa razão, não há necessidade de nenhuma ope- ração para reduzi-los. Portanto, a representação dos índices de Miller para o plano B e, por consequência, para o plano A, é (010). O processo de determinação dos índices de Miller do plano B (e A) está sintetizado na Tabela 2. Tabela 2 - Resumo do exemplo de determinação dos índices de Miller do plano B (e A) Eixo x y z Interceptos ∞ 1 ∞ Inverso do intercepto 1/∞ 1/1 1/∞ 0 1 0 Simplificação - - - - - - Índices de Miller (hkl) 010� � Fonte: o autor. 49UNIDADE 2Na Unidade 1, começamos a falar de materiais cristalinos e introduzimos a ideia de célula unitá- ria, sistemas cristalinos e redes de Bravais. Entre- tanto, não foi, ainda, passado com formalidade a você o que são os materiais ou sólidos cristalinos, e tão importante quanto conhecer os materiais cristalinos é saber que existem materiais não cris- talinos. Neste tópico, vamos entender quais são os materiais cristalinos e quais são os não cristalinos e as diferenças entre eles. Materiais Cristalinos Os materiais cristalinos são sólidos que apresen- tam um arranjo regular dos átomos que os com- põem, ou seja, são materiais nos quais os átomos estão dispostos de forma ordenada e repetitiva ao longo de grandes distâncias atômicas. Quando esse arranjo ordenado e repetitivo se estende por todo o material, sem interrupções, dizemos que o material é monocristalino ou um monocristal. Nos monocristais, todas as células unitárias se ligam da mesma maneira e possuem a mesma orientação. Materiais Cristalinos e não Cristalinos 50 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Os monocristais acontecem naturalmente, como pode ser visto na Figura 9 (um monocristal de andra- dita laranja), e também podem ser sintetizados pelo homem; contudo, essa síntese é um processo muito delicado e requer um ambiente cuidadosamente controlado. Além disso, é interessante saber que a forma de um monocristal é um indício da estrutura cristalina do material (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Figura 9 - Fotografia de um monocristal de andradita laranja encontrado na Grécia Nos últimos anos, os monocristais se tornaram muito importantes, principalmente no setor da tecno- logia para a produção de microcircuitos eletrônicos a partir de microcristais de silício. Entretanto, a maioria dos materiais cristalinos não é formada apenas por um cristal perfeito, mas sim por vários cristais menores, os quais são chamados de grãos. Esses materiais formados por vários cristais são denominados policristalinos. Isso ocorre durante a solidificação desses materiais, na qual se formam pequenos cristais de orientação cristalográfica aleatória, e conforme a solidificação avança, esses pequenos cristais vão crescendo pela adição sucessiva de átomos que passam da fase líquida para a sólida. As superfícies planas dos cristais de algumas pedras preciosas são manifestações macroscó- picas de seus arranjos cristalinos internos, pois são monocristais. Além disso, esses arranjos cristalinos se mantêm intactos mesmo que as superfícies externas desses materiais sejam mo- dificadas. Um exemplo disso é o quartzo, que preserva sua estrutura cristalina mesmo quando se transforma em areia. Fonte: adaptado de Van Vlack (1970). Quando a solidificação se aproxima do fim, os grãos formados durante o processo são forçados uns contra os outros. No entanto, as regiões de encontro desses grãos não são uniformes e cons- tituem um “defeito” na perfeição do cristal. Dessa forma, os materiais policristalinos são formados pela união de vários monocristais que não con- seguiram se encaixar perfeitamente durante a sua formação, existindo entre eles regiões de imper- feições chamadas de contornos de grão. Para entendermos melhor a formação de um material policristalino, imagine que a Figura 10(a) representa a formação dos primeiros cristais du- rante a solidificação de material cristalino, na qual os quadrados representam as células unitárias desse material. 51UNIDADE 2 Em seguida, esses cristais vão crescendo com a adição de mais átomos que passam da fase líquida para a fase sólida (Figura 10(b)). Quando a solidificação se aproxima do fim, os cristais crescidos (grãos) aproximam-se uns dos outros para a conclusão da solidifi- cação; entretanto, como podemos notar na Figura 10(c), o “encaixe” entre esses grãos não é perfeito, formando, assim, os contornos de grãos (Figura 10(d)). (a) (c) (b) (d) Figura 10 - Esquematização dos estágios na solidificação de um material poli- cristalino Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 63). Em monocristais, as direções e planos cristalográficos estão sempre ordenados por toda a extensão do material. Já em materiais policris- talinos, essas direções e planos cristalográficos são aleatórios, pois os grãos (monocristais) que formam esses materiais não estão com suas orientações alinhadas entre si, como podemos ver na Figura 10(c). Certas propriedades físicas de monocristais dependem da direção cristalográfica na qual elas são medidas, por exemplo, o módulo de elasticidade, condutividade elétrica e índice de refração. Esse tipo de comportamento é chamado de anisotropia. No caso das propriedades não dependerem da direção de medição, o material é dito isotrópico. Difração de raios X Antes de falarmos dos raios X, é necessário entender o fenômeno da difração, que ocorre quando uma onda encontra uma série de obstáculos com a capacida- de de dispersar essa onda. Tal fenômeno está relacionado com as fases de duas ou mais ondas dispersas pelos obstáculos, que possuem espaçamentos com magnitudes comparáveis às do comprimento dessa onda. Para que você possa enten- der, vamos observar a Figura 11(a), na qual temos duas ondas em fase, que possuem a mesma amplitude A e o mesmo com- primento de onda λ (ondas 1 e 2); após sofrerem o efeito de dispersão, elas continuam em fase, com a mesma amplitude A e o mesmo comprimento de onda λ (ondas 1’ e 2’). A onda resultante desse pro- cesso é uma onda de compri- mento λ, com uma amplitude 2A, que é a soma das ondas 1’ e 2’, caracterizando uma inter- ferência construtiva. Esse tipo de comportamento é uma ma- nifestação da difração, ou seja, a formação de uma onda resul- tante composta por um grande número de ondas dispersas que se reforçam mutuamente. Na Figura 11(b), temos duas ondas em fase, com a mesma amplitude A e o mesmo compri- mento de onda λ (ondas 3 e 4). 52 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Após sofrerem o efeito de dispersão, elas ficam fora de fase, mas permanecem com a mesma amplitude A e o mesmo comprimento de onda λ (ondas 3’ e 4’). Nesse caso, não existe uma onda resultante, pois, no processo, a onda 3’ cancela mutuamente a onda 4’, caracterizando uma interferência destrutiva. Por- tanto, nesse caso, não ocorre a difração. As situações apresentadas na Figura 11 são dois extremos do fenômeno de dispersão; existem situa- ções intermediárias entre esses dois extremos nas quais a onda resultante sofre apenas um reforço parcial. + Onda 2’ Onda 1’ Onda 2 A m pl itu de Onda 1 A AA O’ O Posição Evento de dispersão (a) A 2A λ λ λ λ λ + Onda 4’ Onda 3’ Onda 4 A m pl itu de Onda 3 A A AA P’ P Posição Evento de dispersão (b) λ λ λ λ Figura 11 - Demonstração do efeito de dispersão entre duas ondas de mesmo comprimento de onda Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 64). 53UNIDADE 2 A lei de Bragg Um indicativo para sabermos se acontecerão in- terferências construtivas, pode ser dado utilizan- do a lei de Bragg: n d senhklλ θ� �2 em que n é um inteiro positivo que representa a ordem da reflexão (geralmente n = 1), λ é o com- primento de onda dos raios X em Angstrom (Å), dhkl é a distância entre os planos cristalográficos adjacentes e θ é o ângulo de incidência do feixe de raios X. Caso a lei de Bragg não seja satisfeita, a interferência será não construtiva, gerando um feixe difratado de intensidade muito baixa. Na Figura 12, temos representados os planos cristalográficos de um material cristalino e sobre esse material está incidindo um feixe de raios X de mesmo comprimento de onda (λ), distância interplanar (d=dhkl) e ângulo de incidência (θ). Ambos em fase d 2θ θ sin θ = λ 2d Feixe incidente Fe ixe dif rat ad o θ Figura 12 - Esquematização da difração de raios X pelos planos de átomos de um material Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 80). A distância interplanar (dhkl) é uma função direta dos índicesde Miller para o plano; para o caso de um sistema cúbico, o espaçamento entre os planos pode ser determinado pela seguinte relação: d a h k lhkl = + +2 2 2 Onde a é o tamanho da aresta da célula unitária cúbica e os parâmetros h, k e l são os índices de Miller para o plano cristalográfico. Existem rela- ções similares a essa para cada um dos outros seis sistemas cristalinos, mas essas relações não serão tratadas neste material. A técnica de difração de raios X A difração de raios X é uma das técnicas de análise estrutural mais empregadas para identificar dife- rentes materiais cristalinos. Essa técnica se baseia na presença de uma rede cristalina e na periodi- cidade do arranjo atômico, portanto, a técnica de difração de raios X é aplicada em sólidos que pos- suem algum nível de cristalinidade e não se aplica a materiais sólidos totalmente amorfos, como os vidros e polímeros de cristalinidade muito baixa. Os raios X, utilizados na técnica, é um tipo de radiação eletromagnética com altas quantidades de energia e de comprimentos de onda pequenos (de 10 nm a 0,1 nm), que são da ordem de grande- za dos espaçamentos atômicos, possibilitando sua aplicação na avaliação de estruturas cristalinas. A partir desse tipo de análise, é possível determinar a estrutura cristalina de um material e até mesmo a geometria e o tamanho de sua célula unitária. 54 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos A análise se baseia no princí- pio de que quando um feixe de raios X, com um mesmo com- primento de onda λ, incide sobre um sólido cristalino, os planos de átomos que compõem esse material dispersam uma fração desse feixe em todas as direções; nessa dispersão, poderão ocor- rer interferências construtivas ou destrutivas. No caso de ocorrer uma dispersão com interferência construtiva, dizemos que ocor- reu uma difração de raios X. A amostra que será analisa- da por difração de raios X deve ser inserida no equipamento na forma de sólido pulverizado, composta por partículas muito pequenas. Essas partículas são submetidas a um feixe de raios X monocromáticos e, como cada partícula (grão) dessa amostra possui um grande número de orientações aleatórias, isso ga- rante que algumas dessas partí- culas estão orientadas de maneira correta e, por essa razão, possuem planos cristalográficos disponí- veis para difração desses raios X. O aparelho utilizado para esse tipo de análise chama-se difratômetro e sua esquematiza- ção está representada na Figura 13 a seguir. Primeiramente, a amostra de sólido pulverizado deve ser colocada em um suporte plano, de modo a formar um pequeno filme uniforme de amostra nesse suporte. Em seguida, o feixe de raios X é emitido da fonte T em direção à amostra, e as intensidades dos raios difratados são captadas no detector C. A amostra, o emissor de raios X e receptor estão todos no mesmo plano; além disso, o equipamento permite rotações ao redor do seu próprio eixo. 0º0º 2θ θ O C T S 20º 40º 60º 80º 100º 120 º 14 0º 16 0º Figura 13 - Esquematização do funcionamento de um difratômetro de raios X Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 66). O suporte e o detector estão acoplados mecanicamente de forma que uma variação no ângulo de incidência θ do suporte é acompa- nhada de uma variação de 2θ, conhecido como ângulo de difração, no ângulo do detector, para garantir que os ângulos de incidência e reflexão sejam iguais entre si. Os resultados da análise são obtidos conforme o detector se move a uma velocidade angular constante e um registrador plota automaticamente os valores da intensidade do feixe difratado em função do valor 2θ. Um exemplo de difratograma de raios X para uma amostra de chumbo pode ser visto na Figura 14. 55UNIDADE 2 Os picos observados no difratograma da amostra de chumbo, apresentada na Figura 14, são resul- tado da difração realizada por planos cristalinos, cuja condição da lei de Bragg foi satisfeita. Os índices acima de cada pico são os índices de Miller dos planos cristalinos responsáveis pela difração. O tamanho e a geometria da célula unitária podem ser determinados a partir das posições dos picos de difração em relação ao ângulo de difração 2θ; já a forma como os átomos estão ar- ranjados está relacionada à intensidade relativa dos picos difratados (CALLISTER JR.; RETH- WISCH, 2013). Materiais não Cristalinos ou Amorfos Os materiais amorfos são caracterizados por possuírem estruturas que não formam arranjos atômicos periódicos ao longo de grandes distâncias atômicas; portanto, não existe uma célula unitária definida que possa produzir a estrutura completa desses materiais. Dentre os materiais amorfos mais comuns, estão os vidros inorgânicos e muitos plásticos. Um exemplo de material cerâmico que pode existir nos dois estados, cristalino e não cristalino, é o dióxido de silício (SiO2). Na Figura 15(a), podemos perceber um padrão de repetição na forma como se organizam espacialmente os átomos formadores do dióxido de silício. Na Figura 15(b), não é possível identificar um padrão de repetição em toda a estrutura, pois a estrutura do material é formada de maneira irregular e desordenada (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). 0.0 10.0 20.0 30.0 (111) (200) (220) (311) (222) (400) (331) (420) (422) 40.0 50.0 Ângulo de difração 2θ In te ns id ad e (r el at iv a) 60.0 70.0 80.0 90.0 100.0 Figura 14 - Difratograma de raios X para uma amostra de chumbo pulverizada Fonte: Callister Jr. e Rethwish (2007, p. 70). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/540 56 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Os materiais não cristalinos são formados quando a estrutura atômica aleatória no estado líquido não consegue se organizar durante o processo de solidificação do material, dando origem a um sólido cuja estrutura não possui um padrão or- denado, ou seja, amorfo. Os metais e ligas metálicas tendem a formar sólidos cristalinos facilmente, enquanto os ma- teriais cerâmicos podem exibir comportamen- to cristalino ou amorfo. Já os polímeros exibem graus de cristalinidade, ou seja, porções de sua estrutura são cristalinas e outras são amorfas. Átomo de silício Atomo de oxigênio (a) (b) Átomo de silício Atomo de oxigênio (a) (b) Figura 15 - Representação bidimensional das estruturas da (a) sílica cristalina e (b) sílica não-cristalina Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 68). 57UNIDADE 2 Até o dado momento, nós tratamos os materiais cris- talinos como estruturas cuja repetição do padrão de átomos que os formam fosse perfeita; neste tópico, vamos ver que os arranjos atômicos e iônicos dos materiais apresentam imperfeições (defeitos) e, além disso, essas imperfeições, geralmente, influenciam as propriedades dos materiais cristalinos. Vamos estudar brevemente os três tipos bási- cos de imperfeições nos sólidos cristalinos, são eles: os defeitos pontuais, defeitos lineares (tam- bém conhecidos como discordâncias) e defeitos superficiais. Vale ressaltar que, apesar da utiliza- ção do termo “defeito”, tais imperfeições são consi- deradas muito úteis no ponto de vista tecnológico e abrem diversas possibilidades de aplicações no campo dos materiais, sendo, muitas vezes, cria- das intencionalmente com o intuito de produzir propriedades magnéticas, ópticas e mecânicas de interesse (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Imperfeições nos Materiais Cristalinos 58 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos Defeitos pontuais Os defeitos pontuais são caracterizados por des- continuidades localizadas nos arranjos dos áto- mos ou íons na estrutura cristalina do material, envolvendo, normalmente: • A falta de um átomo ou íon em um ou mais pontos da rede cristalina, chamado de la- cuna ou vacância. • A substituição de um átomo ou íon da rede cristalina por um tipo diferente de átomo ou íon, denominado impureza substitu- cional.• A adição de um átomo ou íon pequeno nos interstícios da rede cristalina, denominada impureza intersticial. Mesmo que esses defeitos sejam pontuais, essas im- perfeições afetam uma grande região ao redor delas. Os defeitos pontuais nos sólidos podem ser originados por um aumento de energia provoca- do pelo aquecimento do material durante o seu processamento ou, ainda, pela adição, intencional ou não, de impurezas a esse material. Dentre os defeitos pontuais, temos as lacunas, que são formadas quando existe a falta de um átomo ou íon em alguns pontos da rede cristalina do material. A falta desse átomo ou íon causa um aumento da entropia global do sistema, acarre- tando no aumento da estabilidade termodinâmica do material cristalino. É comum a formação de lacunas em metais e ligas metálicas por meio de radiação ou solidificação a altas temperaturas, sendo importantes no processo de difusão nesses materiais. Na Figura 16, a seguir, é apresentada uma es- trutura cristalina bidimensional genérica. Nela podemos observar que a lacuna causa um efeito de distorção na rede cristalina próxima a ela. Figura 16 - Representação de uma lacuna em uma estrutura cristalina bidimensional Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 92). O termo impureza em materiais representa elementos, geralmente átomos, estranhos ao arranjo cristalino do material; e as impurezas presentes nos materiais são, geralmente, prove- nientes das matérias-primas utilizadas e/ou das etapas do processamento do material. Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015). Discordância em sólidos cristalinos 59UNIDADE 2 Outro defeito pontual comum é o defeito intersticial, que acontece quando um átomo ou íon ocupa uma região intersticial (regiões entre os átomos que formam a estrutura) do material. Esses áto- mos ou íons que ocupam os interstícios da estrutura cristalina são, geralmente, menores que os átomos que ocupam os pontos da rede cristalina e são denominados impurezas intersticiais. Entre- tanto, essas impurezas podem ser maiores do que os interstícios da estrutura cristalina e, por essa razão, eles geram distorções na rede cristalina próxima a eles ao adentrar esses interstícios. Em alguns materiais, átomos pequenos, como o hidrogênio, podem estar presentes naturalmente como impurezas intersticiais. Em outros casos, impurezas intersticiais, como o carbono, por exemplo, são introduzidas propositalmente em pequenas quan- tidades para melhorar a resistência mecânica de alguns metais, como é o caso do ferro. Na Figura 17, vemos o efeito causado pela inserção de um átomo no interstício (defeito intersticial) da estrutura cristalina bidimensional de um material genérico. Como você pode notar, a impureza intersticial é menor que os átomos que compõem a rede cristalina, ainda assim, essa impureza causa uma distorção na rede ao redor dela. Por fim, vamos conhecer o defeito substitucional, que ocorre quando um átomo ou íon original da rede cristalina é substituído por um outro átomo ou íon diferente (impureza substitucional). No defeito substitucional, os átomos substitutos ocupam posições da rede, e não os interstícios dela. Os átomos ou íons substitutos podem ser maiores ou menores que os da rede cristalina e, em ambos os casos, eles perturbam a organização da estrutura cristalina (ASKELAND; WRIGHT, 2015), como podemos observar na Figura 18, que mostra uma representação do defeito substitucional em uma estrutura cristalina bidimensional de um material genérico, causado por um átomo menor (Figura 18(a)) e por um átomo maior do que os átomos da rede cristalina (Figura 18(b)); note que, em todos os tipos de defeitos pontuais apresentados, podemos observar que a rede cristalina do material sofre uma alteração na região próxima ao defeito. Figura 17 - Representação de um defeito intersticial em uma estrutura cristalina bidimensional Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 92). Figura 18 - Representação de um defeito substitucional em uma estrutura cristalina bidimensional Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 92). a) b) 60 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos O fósforo e o boro podem ser adicionados ao silício como impurezas substitucionais, a fim de lhe ajustar propriedades elétricas para aplicações em eletrônica; esse processo é conhecido como dopagem. Defeitos Lineares ou Discordâncias Linha de discordância Vetor de Burgers (a) C b As discordâncias são defeitos unidimensionais (defeitos linea- res) em torno dos quais os áto- mos estão desalinhados, que são, geralmente, formadas durante o processo de solidificação do ma- terial ou quando o material sofre uma deformação permanente. Existem três tipos de discordân- cias, são elas: em espiral (ou héli- ce), em aresta e mista. A discordância em espiral é caracterizada por um deslo- camento parcial dentro da es- trutura cristalina, equivalente a uma distância atômica. Na Figura 19, vemos a representação da discordância em espiral, na qual podemos observar que houve um deslocamento parcial da porção superior da rede cristalina em relação à parte inferior no cristal, equivalente a uma distância atômica. O vetor de Burgers, b, representa o comprimento necessário para completar uma volta no plano onde ocorreu a discordância, ou seja, representa o deslocamento da porção superior em relação à por- ção inferior do cristal do material. A linha ao redor da qual traçamos a volta no plano onde ocorreu a discordância em espiral é chamada de linha de discordância. Outro tipo de defeito linear é a discordância em aresta, que ocorre quando existe um semiplano adicional de átomos que termina no interior do cristal (grão) e, por essa razão, causa um deslocamento (distorção) na rede cristalina do material. Podemos observar, na Figura 20, uma representação da dis- cordância em aresta de uma estrutura cristalina tridimensional; nela, a linha sobre a qual o semiplano extra de átomos está centralizado é conhecida como linha de discordância e é representada por ⊥. Note que o vetor de Burgers, b, está presente mais uma vez, indicando o deslocamento necessário para completar uma volta no plano onde ocorreu a discordância, dessa vez, em aresta. Figura 19 - Representação de uma discordância em espiral em uma estrutura cristalina tridimensional Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwish (2013, p. 86). 61UNIDADE 2 Podemos observar que a rede cristalina sofre uma distorção próxima à linha de discordân- cia, em que os átomos localiza- dos acima da linha de discor- dância estão comprimidos uns contra os outros, enquanto os átomos abaixo dela estão afas- tados, e esse comportamento conduz à ligeira curvatura dos planos verticais de átomos, ob- servada na Figura 20. Quanto mais afastado o plano vertical de átomos estiver em relação à linha de discordância, menor será esse efeito de distorção. Além dos dois tipos de dis- cordância mencionados, temos um terceiro tipo, que é a união dos dois tipos anteriores, conhe- cida como discordância mista. Esse é o tipo mais comum que ocorre em materiais e possui componentes da discordância em aresta e da discordância em espiral, com uma transição gra- dual entre elas. Podemos ver um exemplo de discordância mista na Figura 21. Nela, vemos, na face à esquerda, a ocorrência de uma discordân- cia em espiral; ao mesmo tem- po, verificamos a existência de uma discordância em aresta na face à direita. Linha de discordância aresta Vetor de Burgers b Figura 20 - Representação de uma discordância em aresta em uma estrutura cristalina tridimensional Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwish (2013, p. 85). Figura 21 - Representação de uma discordância mista em uma estrutura cris- talina tridimensional Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015). b A C b B A transição entre as duas discordâncias ocorre de forma gradual e observamos, também, em ambos os casos, a presença do vetor de Burgers e das linhas de discordância em espiral e em arestano centro da volta nas faces à esquerda e à direita, respectivamente. 62 Estruturas e Imperfeições nos Sólidos Cristalinos As discordâncias são muito importantes, principalmente para os metais e ligas metálicas, uma vez que oferecem um mecanismo para a deformação plástica nesses materiais. Defeitos Superficiais O último tipo de imperfeições são os defeitos superficiais. Esses defeitos acontecem nos contornos de grãos que separam regiões do material que possuem direções cristalográficas diferentes ou na superfície externa do material. O que acontece é que as estruturas de muitos materiais, principalmente metais e cerâmica, são com- postas de muitos grãos (materiais policristalinos); nesses grãos, o arranjo dos átomos é praticamente o mesmo, como já mencionado anteriormente, sendo monocristais. Contudo, a orientação da estrutura cristalina é diferente para cada grão que compõe o material policristalino, pois nas regiões de encontro desses grãos, o “encaixe” não é perfeito, e a esse tipo de imperfeição damos o nome de contorno de grão. Na Figura 22, podemos observar a região de contorno de grão de um material. Note que o arranjo de cada um dos grãos é o mesmo; contudo, quando nos aproximamos das fronteiras, percebemos que esses grãos não estão alinhados (orientados na mesma direção) entre si, isso leva a um defeito de superfície. Contorno de grãos Figura 22 - Representação do contorno de grãos em uma estrutura cristalina Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015, p. 111). O controle dos tamanhos de grãos que formam o material é um processo muito utilizado no controle das propriedades de um metal ou liga metálica, pois uma diminuição nos tamanhos de grãos de um metal gera um aumento na quantidade total dos contornos de grãos e isso limita a movimentação de dis- cordâncias nesses materiais, visto que elas irão se mover so- mente até encontrar um contor- no de grão. Além dos contornos de grãos, a superfície externa também é um defeito superfi- cial, pois é onde o cristal ter- mina subitamente e, por essa razão, os átomos da superfície externa têm suas ligações rom- pidas e não possuem o número de coordenação característico de sua estrutura. Além disso, as superfícies externas podem ser muito rugosas e, ainda, conter entalhes, sendo, em geral, mais quimicamente reativa que o in- terior do material. A superfície externa de al- guns materiais é muito im- portante, como na produção de catalisadores para refino de petróleo e outros processos industriais. Esses catalisadores devem possuir uma alta área superficial externa, a fim de aumentar as taxas de reação química desses processos. 63UNIDADE 2 Voltaremos a mencionar os defeitos dos só- lidos nas próximas unidades, em que esses con- ceitos serão necessários para o entendimento dos conteúdos. É importante que tenha ficado claro que os defeitos pontuais, lineares e superficiais influenciam fortemente as propriedades mecâni- cas, elétricas, ópticas e magnéticas dos materiais e isso pode ser utilizado para o melhoramento dos materiais (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Nesta unidade, você, caro(a) aluno(a), pôde entender as diferenças entre os materiais cristali- nos e não cristalinos e viu que as células unitárias possuem pontos, direções e planos em seu inte- rior e estes podem ser determinados por meio de índices. Tivemos, também, uma discussão sobre a téc- nica de difração de raios X, que é uma técnica muito utilizada na avaliação da cristalinidade em materiais sólidos em projetos de pesquisa na área da tecnologia. Além disso, tivemos uma bre- ve discussão sobre as imperfeições que ocorrem nas estruturas dos sólidos cristalinos e como elas podem ser utilizadas para o aprimoramento das propriedades dos materiais. Muitos dos temas abordados nesta unidade são necessários para o entendimento das próximas unidades, nas quais você verá uma abordagem das propriedades, transformações e aplicações dos materiais. 64 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. O estudo de planos e direções cristalográficas são importantes para a deter- minação da estrutura cristalina, o entendimento de muitas das propriedades do material e também para determinar os parâmetros estruturais e analisar o comportamento da deformação plástica de um material cristalino. Sobre esse assunto, considere as afirmações apresentadas a seguir: I) Num sistema cúbico, um plano e uma direção que tenham índices de mesmo valor são perpendiculares. II) Quando o índice direcional de uma direção é igual a zero, essa direção é paralela ao eixo correspondente a esse índice. III) Quando o índice de Miller de um plano é igual a zero, esse plano é paralelo ao eixo cristalográfico correspondente a esse índice. IV) Num sistema cúbico, dois planos que tenham índices de mesmo valor são perpendiculares. Pode-se dizer que: a) As afirmações I, II e III estão corretas. b) As afirmações I, II e IV estão corretas. c) As afirmações I e III estão corretas. d) As afirmações II e III estão corretas. e) As afirmações II e IV estão corretas. 65 2. A difração de raios X (DRX) é uma técnica utilizada para determinar a estrutura de um cristal. Nessa análise, os átomos de planos cristalinos fazem com que um feixe de raios X incidentes difrate em direções específicas e o feixe resultante seja captado pelo sensor do equipamento. Sabe-se que a análise por difração de raios X não é adequada para materiais amorfos, pois nesses materiais não ocorrem interferências construtivas do feixe de raios X difratado. Por que tal fato ocorre? a) Porque os raios X são absorvidos pelos átomos em um material amorfo, não havendo nenhuma dispersão desses raios. b) Porque o tamanho dos átomos de um material amorfo é maior que o compri- mento de onda dos raios X. c) Porque o espaçamento atômico de um material amorfo é maior que o compri- mento de onda dos raios X. d) Porque em um material amorfo não existe um ordenamento atômico regular e repetitivo. e) Porque os raios X são espalhados em todas as direções, produzindo um feixe difratado reforçado. 66 3. Numa estrutura cristalina é, por vezes, necessário fazer referência a determina- dos planos de átomos ou, ainda, pode haver interesse em conhecer a orientação cristalográfica de um plano ou conjunto de planos de uma rede cristalina. Por essa razão foram definidos índices, conhecidos como índices de Miller, para identificar planos específicos dentro de uma célula unitária. A figura a seguir apresenta uma célula unitária cúbica na qual são apresentados dois planos, A e B. A respeito dos planos cristalográficos, julgue as afirmativas a seguir. �� �� A 1 3 B �� 1 2 1 2 1 2 1 2 I) Ambos os plano A e B interceptam o eixo x em ½. II) Os índices de Miller do plano A são (322). III) Os índices de Miller do plano B são (101). IV) O plano A intercepta o eixo y em ½, enquanto o plano B é paralelo ao eixo y. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II. b) II, III e IV. c) I, III e IV. d) II e IV. e) I, II e IV. 67 Neste site, é possível uma visualização de parte do conteúdo trabalhado nesta unidade, em que constam muitas imagens e teoria simples e objetiva acerca dos seguintes tópicos: noção de estrutura cristalina, coordenadas, direções e planos cristalinos, monocristais e policristais e defeitos em cristais. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/630 68 ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Materials Science and Engineering: An Introduction. 7. ed. USA: Editora John Wiley & Sons, 2007. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. VAN VLACK, L. H. Princípios de ciência dos materiais. Trad. Ferrão, L. P. C. São Paulo: Edgard Blücher, 1970. 69 1. C. A alternativa IIestá incorreta, pois quando o índice direcional de uma direção é igual a zero, essa direção é perpendicular ao eixo correspondente a esse índice. A alternativa IV está incorreta, pois num sistema cúbico, dois planos que tenham índices de mesmo valor são paralelos. 2. D. Para que um feixe incidente de raios X seja difratado, ou seja, sofra uma interferência construtiva, é ne- cessário que o material analisado tenha um ordenamento regular e repetitivo, característica dos materiais cristalinos. 3. B. Plano A. Os interceptos são 1/3, 1/2 e 1/2 em x, y e z, respectivamente. Os inversos das interseções são: 1/(1/3) , 1/(1/2), 1/(1/2) = 3, 2, 2 Esses valores já são os menores inteiros possíveis. Os índices desse plano cristalográfico são (322). Plano B. Os interceptos são 1/2, ∞ e 1/2 em x, y e z, respectivamente. Os inversos das interseções são: 1/(1/2) , 1/(∞), 1/(1/2) = 2, 0, 2 Dividimos por 2 para determinar os menores inteiros possíveis. 2/2, 0/2, 2/2 = 1, 0, 1 Os índices desse plano cristalográfico são (101). 70 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Entender o que é a difusão e conhecer os mecanismos pelos quais esse fenômeno ocorre. • Aprender a calcular o fluxo difusivo em regime estacionário e em regime transiente. • Conhecer os parâmetros que influenciam no processo difusivo e algumas aplicações da difusão na Ciência dos Materiais. Mecanismos de difusão Taxa de difusão e a Lei de Fick Parâmetros que influenciam na difusão Me. Luis Henrique de Souza Difusão em Sólidos Mecanismos de Difusão Tratamentos térmicos são utilizados para o me- lhoramento das propriedades dos materiais e, geralmente, envolvem um fenômeno conhecido como difusão, que é o fenômeno de transporte de matéria (átomos, íons e moléculas). Um exemplo de processo que envolve a difusão em sólidos é a técnica de carbonetação, que consiste na inserção de átomos de carbono na superfície de aços para enrijecer essas superfícies. Esse transporte de matéria envolve um fluxo de átomos, íons ou moléculas de uma região de maior concentração para uma região de menor concentração dessas espécies. A tecnologia no processamento de alguns materiais é altamente dependente da taxa de difusão, de tal forma que o sucesso, nesses processos, está intimamente ligado ao controle da difusão. Estudando o fenômeno de difusão, somos ca- pazes de aplicar conceitos matemáticos e físicos para estimar o tempo dos tratamentos térmicos e as taxas de resfriamento e aquecimento desses processos. Vimos, na unidade anterior, que as imperfei- ções estão presentes em todos os materiais e que elas ocorrem naturalmente, mas também podem 73UNIDADE 3 ser introduzidas intencionalmente. Além disso, é bom que você tenha em mente que tanto essas imperfeições quanto os átomos, íons ou moléculas que compõem o material estão em constante mo- vimento devido à energia térmica que possuem. Como resultado disso, os átomos podem se mover dentro da rede cristalina, ocupando uma lacuna próxima a eles ou, ainda, ocupando interstícios dessa rede próximos a eles, e devido à difusão, esses átomos podem saltar contornos de grãos causando o deslocando das fronteiras destes de- feitos superficiais (ASKELAND; WRIGHT, 2015). O fenômeno de difusão acontece com mate- riais metálicos, poliméricos e também em mate- riais cerâmicos, contudo, é mais complexo nesses últimos devido às suas ligações do tipo iônicas. Nos sólidos, a difusão consiste na migração passo a passo dos átomos, íons ou moléculas, de uma po- sição para outra, dentro da estrutura do material. O processo difusivo pode ocorrer entre átomos do mesmo tipo que os átomos da rede cristalina; nesse caso, chamamos o processo de autodifu- são. Por exemplo, dentro da estrutura cristalina de uma barra de ouro puro existem lacunas e inters- tícios, em que os átomos de ouro podem migrar o tempo todo. Essa migração dos átomos de ouro dentro da sua estrutura cristalina caracteriza uma autodifusão, uma vez que nenhum átomo diferen- te do ouro está envolvido. Entretanto, quando a difusão ocorre entre áto- mos de diferentes tipos, chamamos o processo de interdifusão. Esse processo pode ser exem- plificado colocando-se em contato duas barras metálicas, uma de cobre puro e outra de níquel puro, como representado na Figura 1(a), a uma temperatura elevada menor que a temperatura de fusão desses metais. Como podemos observar na Figura 1(b), a placa da esquerda possui apenas átomos de cobre (círculos azul-claros), e a placa da direita possui apenas átomos de níquel (círculos azul-escuros). Na Figura 1(c), observamos que, após decorri- do um certo tempo de difusão, se resfriarmos as placas e fizermos uma análise química, observa- remos que alguns átomos de cobre migraram para a região da placa de níquel e, em contrapartida, alguns átomos de níquel migraram para a região da placa de cobre; podemos dizer, então, que, nesse caso, ocorreu uma interdifusão (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Cobre Cu Níquel Ni (a) (b) (c) Figura 1 - Representação da interdifusão entre uma placa de cobre e uma placa de níquel Fonte: o autor. Difusão por Lacunas Como vimos na Unidade 2, os materiais sólidos possuem lacunas em suas estruturas cristalinas. Essas lacunas permitem que os átomos transitem 74 Difusão em Sólidos de um ponto da rede cristalina para um ponto vazio dessa rede (lacuna), e quando esse átomo da rede cristalina migra (difunde) para uma lacuna, ele deixa para trás uma lacuna em sua posição original. A esse tipo de processo dá-se o nome de difusão por lacunas, e nota-se que a sua ocorrência está diretamente ligada à existência de lacunas na rede cristalina do material. A difusão por lacunas pode ocorrer por autodifusão, ou seja, os átomos que difundem são do mesmo tipo que os átomos da rede, como no caso dos átomos de ouro difundindo entre as lacunas da rede cristalina em uma barra de ouro puro. Contudo, a modalidade mais interessante para nós é a difusão por lacunas, que ocorre por interdifusão, na qual as lacunas são ocupadas por átomos de impureza (átomos diferentes dos átomos da rede), gerando um defeito substitucional. Na Figura 2(a), podemos observar a representação de uma autodifusão por lacunas, uma vez que a lacuna do material será ocupada por um átomo do mesmo tipo que os átomos da rede cristalina. Esse processo ocorre pela migração de um átomo vizinho a essa lacuna, saindo de sua posição inicial e ocupando a lacuna, e, como consequência, é formada uma nova lacuna na posição que esse átomo ocupava anteriormente. Na Figura 2(b), temos a representação de uma interdifusão por lacunas, pois o átomo que ocupará a lacuna é um átomo de impureza, ou seja, é um átomo diferente dos átomos originais da rede. Esse átomo de impureza tem a possibilidade de ocupar a lacuna vizinha e, com isso, formar uma lacuna na posição que ele ocupava anteriormente. Migração de um átomo do mesmo tipo Migração de um átomo de impureza da rede Lacuna Lacuna Lacuna Lacuna (b) (a) Figura 2 - Representação do mecanismo de difusão por lacunas Fonte: o autor. 75UNIDADE 3 Difusão Intersticial Além da difusão por lacunas, o processo difusivo em sólidos pode ocorrer por meio dos espaços vazios entre os átomos que compõem a rede cristalina do material, chamados interstícios. A esse processo de difusão, damos o nome de difusão intersticial. Átomo de impureza alojado no interstício da rede cristalina Átomo de impureza após a difusão Átomo de impureza alojado no interstício da rede cristalina Átomo de impureza após a difusão Figura 3 - Representação do meca- nismo de difusão intersticial para um átomo de impureza Fonte: o autor. Como esses interstícios são pequenos em relação ao tamanho dos átomos da rede cristalina, os átomos que difundem em seu interior devem ser átomos pequenos o suficiente para se encaixarem nessas posições intersticiais, geralmente hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio. Devido a essa limitaçãode tamanho, os átomos hospedeiros (átomos originais da rede) e de impurezas substitucionais (átomos de impureza que substituem os átomos hospedeiros e têm a mesma ordem de grandeza deles) raramente se difundem por meio dos interstícios. A difusão intersticial ocorre com muito mais frequência que a difusão por lacunas. Esse comportamento acontece por duas razões, primeiro porque o número de interstícios é muito maior que o número de lacunas nas estruturas cristalinas e, dessa forma, a probabilidade da difusão intersticial é muito maior que da difusão por lacunas. Em segundo lugar, os átomos envolvidos na difusão intersticial são menores e, por isso, têm uma maior mobilidade na rede, facilitando a difusão intersticial. Na Figura 3, a seguir, temos a representação do processo de difusão intersticial de um átomo de impureza na rede cristalina de um material genérico. Ainda nessa figura, podemos observar que o átomo de impureza já ocupa um interstício da rede cristalina do material; na sequência, esse átomo migra (difunde) para um interstício vazio adjacente, ca- racterizando uma difusão intersticial (ASKELAND; WRIGHT, 2015). O processo de endurecimento superficial de engrenagens de aço utilizadas nas transmissões de automóveis é realizado por um tratamento térmico desses componentes, geralmente por cemen- tação, no qual átomos de carbono se difundem na superfície da engrenagem de aço e essa in- serção de átomos de carbono da engrenagem melhora a resistência superficial desses materiais. 76 Difusão em Sólidos Produção de Lacunas Os defeitos pontuais surgem como resultado das vibrações térmicas dos átomos que formam o material. Dessa forma, quando a temperatura do material aumenta, a intensidade das vibrações térmicas aumenta, e isso aumenta também a pro- babilidade de ocorrer o rompimento estrutural e o aparecimento de defeitos pontuais nesse material. Em determinada temperatura, uma certa fra- ção dos átomos de um material possui energia térmica suficiente para a produção de defeitos do tipo lacunas (ou vacâncias) e essa fração de áto- mos aumenta exponencialmente com o aumento da temperatura do material. A relação entre o nú- mero de defeitos com a temperatura é: N N ev sítios Q kTv� �( )/ em que Nv/Nsítios é a razão entre a quantidade de defeitos do tipo lacuna e a quantidade total de sítios da rede cristalina do material com Nv e Nsítios dados em nº de lacunas, ou nº de posições da rede, por m³; Qv é a energia necessária para a formação de uma lacuna na estrutura cristalina do material dada em J/átomo ou em eV/átomo; k é a constante de Boltzmann (1,38 ∙ 10-23 J/átomo ∙ K ou 8,62 ∙ 10-5 e V/átomo ∙ K); e T é a temperatura absoluta dada em K (Kelvin) (SHACKELFORD, 2013). 77UNIDADE 3 A difusão é um processo dependente do tempo, ou seja, a quantidade de massa transportada por difusão dentro de um material é função do tempo. Por essa razão, a difusão é equacionada na forma de uma taxa, e isso dá origem ao chamado fluxo difusi- vo, que é definido como mostra a equação a seguir. J M At = Nessa equação, J é o fluxo difusivo; M é a massa; A é a área de seção transversal atravessada na difu- são; e t é o tempo decorrido da difusão. O termo J representa a quantidade de massa, mols, átomos, íons ou moléculas que atravessam uma área uni- tária de seção transversal por unidade de tempo. Suas unidades são, geralmente, kg/m² ⋅ s, átomos/ m² ⋅ s, íons/m² ⋅ s ou mesmo moléculas/m² ⋅ s. A unidade de M pode ser dada em quilogra- mas (kg), átomos, íons ou moléculas, e as uni- dades de A e t no SI (sistema internacional de unidades) devem ser, respectivamente, m² e s. Tomando-se a forma diferencial da equação de fluxo, obtemos J A dM dt = 1 Taxa de Difusão e a Lei de Fick 78 Difusão em Sólidos cujas unidades dos parâmetros são as mesmas da equação anterior: J em kg/m² ⋅ s, átomos/m² ⋅ s, íons/m² ⋅ s ou mesmo moléculas/m² ⋅ s; M em qui- logramas (kg), átomos, íons ou moléculas; A em m² e t em s. Essas equações podem ser utilizadas para determinar o fluxo difusivo de uma espécie quando conhecemos os parâmetros A, M e t ou a relação de M com t. No entanto, é comum trabalharmos com si- tuações nas quais o fluxo difusivo independe do tempo. Nessas situações, dizemos que a difusão ocorre em regime estacionário ou estado esta- cionário; um exemplo dessa situação é a difusão de um gás por meio de uma placa metálica e cujas concentrações desse gás sejam mantidas constantes em ambas as superfícies da placa. Dessa forma, a concentração da espécie em difusão é uma função da posição, x, em relação ao interior do sólido. A partir disso, obtemos o perfil de concen- tração da espécie em difusão, que é uma curva na qual a concentração da espécie em difusão é apresentada no eixo y, e a posição em relação ao interior do sólido é apresentado no eixo x. Além disso, podemos definir o gradiente de concen- tração no sólido, que é dado pela inclinação em um ponto do perfil de concentração (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). gradiente de concentração = dC dx Muitas vezes, é possível aproximar o perfil de con- centração para linear e, dessa forma, o gradiente de concentração pode ser calculado pela relação a seguir. = ∆ ∆ = − − C x C C x x a b a b gradiente de concentração As concentrações Ca e Cb são da espécie em difu- são nas posições xa e xb, respectivamente. Agora que já sabemos o que é o perfil de con- centração e como calcular o gradiente de concen- tração, podemos introduzir a equação do fluxo difusivo, conhecida como a Primeira Lei de Fick: J D dC dx � � Na Primeira Lei de Fick, o termo D é um coe- ficiente de proporcionalidade, conhecido como difusividade ou coeficiente de difusividade (m²/s), e dC/dx é o gradiente de concentração (mol/m³ ⋅ m ou átomos/m³ ⋅ m). Em alguns ca- sos, a concentração pode ser expressa em por- centagem mássica, porcentagem molar, fração de átomos ou, ainda, fração molar e, com isso, as unidades do gradiente de concentração e do fluxo mudam de forma correspondente com a unidade da concentração. O gradiente de concentração é a força motriz termodinâmica para o processo de difusão. Esse gradiente de concentração normalmente é gerado quando dois materiais de composições diferentes são colocados em contato ou quando um fluido (gás ou líquido) está em contato com um material sólido. O fluxo difusivo a uma determinada tempe- ratura será constante, caso o gradiente de con- centração também seja constante. Entretanto, é comum a variação das concentrações do processo difusivo com o decorrer da migração (difusão) das espécies, e isso acaba também alterando o fluxo difusivo J. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 79UNIDADE 3 Comumente, observamos que os processos difusivos começam com um fluxo elevado, que diminui conforme o gradiente de concentração diminui com o avanço da difusão. Para deixar isso mais claro, vamos ver o exemplo da situação apresentada na Figura 4(a), em que temos novamente uma placa de cobre e outra de níquel. Essas placas estão em contato entre si e, antes do início da difusão, a placa da esquerda possuía apenas átomos de cobre, e a placa da direita possuía apenas átomos de níquel (Figura 4(b)). Cobre Cu Níquel Ni (a) (c) Interface dos materiais Distância, x Co nc en tr aç ão , c Cobre Níquel (d)(b) Figura 4 - Representação do mecanismo de difusão para duas placas metálicas Fonte: o autor. Após algum tempo de contato, podemos observar que alguns átomos de níquel migraram para a placa de cobre e, em contrapartida, alguns áto- mos de cobre migraram para a placa de níquel (Figura 4(c)). O resultado desse processo pode ser observado na Figura 4(d), na qual temos os perfis de concentração de ambas as placas. Na Figura 4(d), podemos ver que a concentração de cobre é máxima na lateral esquerda da placa e diminui conforme caminhamos em direção à lateral direi- ta dela. Um comportamentosemelhante acontece com o níquel, que tem sua concentração máxima na lateral direita da placa, que diminui conforme caminhamos para a esquerda dela. É importante termos sempre em mente que um par de difusão é sempre constituído pela espécie química que compõe a rede do material, mate- rial hospedeiro, e pela espécie química que está migrando, espécie em difusão. Essas espécies químicas podem ser átomos, íons ou moléculas. Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013). 80 Difusão em Sólidos Difusão em Regime Estacionário Primeiramente, vamos tratar da difusão em regime estacionário que, como foi mencionada anterior- mente, trata-se do processo difusivo, independentemente do tempo. Para essa abordagem, utilizamos a Primeira Lei de Fick, que é válida para processos em regimes estacionários e unidirecionais (uma única direção, x), na qual o fluxo difusivo é proporcional ao gradiente de concentração na direção de x. Um exemplo prático de aplicação da primeira Lei de Fick pode ser visualizado na purificação do gás hidrogênio, utilizando uma lâmina fina do metal paládio. Um dos lados da lâmina do metal é exposto ao gás “sujo” (com impurezas), cuja composição contém oxigênio, nitrogênio, vapor d’água etc. A lâmina de paládio é seletiva ao hidrogênio; dessa forma, ele consegue se difundir entre ela, mas os outros gases não. O resultado desse processo é o gás hidrogênio livre de impurezas do outro lado da placa metálica de paládio (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Vamos entender como calcular o fluxo difusivo em regime estacionário no exemplo a seguir. 01 EXEMPLO Suponha uma placa de ferro separando duas atmosferas, uma rica em carbono e a outra com baixa concentração de car- bono. Considerando que a condição de regime estacionário foi atingida, calcule o fluxo difusivo do carbono por meio da placa de ferro, sabendo que as concen- trações de carbono em a = 3 mm e b = 7 mm são, respectivamente, 1,3 e 0,7 kg/ m³ e a difusividade D = 3 ⋅ 10-11 m²/s. Resolução Essa é uma situação na qual podemos utilizar a Primeira Lei de Fick, pois trata-se de um processo difusivo em uma única direção (x), em regime permanente. J D dC dx � � Nesse caso, o perfil de concentração é linear, então, podemos aproximar o gradiente de concentração por uma diferença simples entre as concentrações em a e b da seguinte forma. dC dt C x C C x x C C a b a b a b a b� � � � � � � � � Portanto, a Primeira Lei de Fick para esse processo toma a forma: J D C C a b a b� � � � Placa metálica de ferro Gás com maior concentração de carbono Gás com menor concentração de carbono Áre a, A � � Figura 5 - Esquematização do exemplo 1 Fonte: o autor. 81UNIDADE 3 Devemos converter as unidades de a e b de milímetros (mm) para metros (m), para ficarem coe- rentes com as unidades de D e C. 1 1000 1 1000 3 m mm m mm a mm � � � b � � � � � � 7 1000 1 3 1000 1 mm a a �� � � 7 3 1000 3 1000 a b a �� �0 003 0 007, ,m b m Substituindo as informações dadas no exemplo na equação anterior, obtemos: J m s kg m m J m � � � � � � � � � � ( / ) ( , , ) / ( , , ) ( / 3 10 1 3 0 7 0 003 0 007 3 10 11 2 3 11 2 ss kg m m J s kg m ) ( , , ) / ( , , ) ( / ) ( , , ) / 1 3 0 7 0 003 0 007 3 10 1 3 0 7 3 11 � � � � � �� (( , , ) ( / ) ( , , ) ( , , ) 0 003 0 007 3 10 1 3 0 7 0 003 0 007 4 11 2 � � � � � � � � m J s kg m J ,,5 10 9 2� � � kg m s Portanto, o fluxo difusional de carbono, nesse exemplo, é de 4 5 10 9 2, � �� kg m s . Difusão em Regime não Estacionário Vimos, no tópico anterior, a difusão em regime estacionário, porém a maioria dos processos difusionais em sólidos acontece em regime não estacionário. Isso significa dizer que a difusão é função do tempo; em outras palavras, tanto o fluxo difusivo quanto o gradiente de concentração em um ponto específico dentro do sólido variam com o tempo e, em decorrência disso, ocorre um acúmulo ou um esgotamento da espécie em difusão. Quando trabalhamos com a difusão em regime não estacionário, utilizamos a equação diferencial mostrada a seguir. � � � � � � � � � � � � � C t x D C x 82 Difusão em Sólidos Essa equação é conhecida como segunda Lei de Fick e é válida para processos difusivos unidirecionais, em regime não estacionário. Contudo, existem situações em que podemos considerar a difusividade, independentemente da concentração (C) e, dessa forma, a difusividade (D) pode ser tirada de dentro da derivada e a equação se torna: � � � � � � � �� � � �� C t D C x 2 2 A resolução dessa equação diferencial depende das condições de contorno de cada situação. Para o caso particular de um sólido semi-infinito, no qual a concentração na superfície é mantida constante, a solução particular é: C C C C erf x Dt s x s � � � � � � � � � 0 2 na qual Cs é a concentração da espécie em difusão na superfície do material, C0 é a concentração inicial uniforme da espécie em difusão dentro do material e Cx é a concentração da espécie em difusão na posição x do material após decorrido um tempo t. As seguintes hipóteses foram feitas para a determinação dessa solução: • Um sólido pode ser considerado semi-infinito quando nenhum dos átomos em difusão alcança a extremi- dade desse sólido ao longo do tempo de difusão avaliado. Na prática, o comprimento da barra L deve ser: L Dt> 10 • O valor da coordenada x é zero na superfície do sólido e aumenta conforme se caminha em direção ao interior do sólido. • Antes da difusão ter início, todos os átomos da espécie em difusão que estiverem dentro do sólido estão homogeneamente distribuídos por toda a extensão desse sólido. • O tempo t = 0, é tomado exatamente no instante anterior ao início da difusão. A função erf é denominada função erro de Gauss e seus valores são obtidos a partir de tabelas, como a Tabela 1, entrando com o valor do argumento x Dt2 � � � � � � para se obter o valor da função erro de Gauss erf x Dt2 � � � � � � para esse argumento. A interpolação deve ser realizada para situações nas quais os argumentos sejam valores inter- mediários dos valores da Tabela 1. Para valores fora dos extremos da Tabela 1, pode ser realizada a extrapolação dos dados, contudo é aconselhável procurar uma tabela com uma maior amplitude de dados nesses casos. 83UNIDADE 3 Tabela 1 - Dados para determinação do valor da função erro de Gauss Argumento 0,00 0,0000 0,1125 0,2227 0,3286 0,4284 0,5205 0,6039 0,6778 0,7421 0,7969 0,8427 0,9661 0,9953 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00 1,50 2,00 Valor da função erro de Gaus � � � �� � ��( )��� Fonte: o autor. Vamos resolver um exemplo para a aplicação des- sa solução particular da difusão em regime não estacionário. 02 EXEMPLO Considere uma barra de liga metálica (composta por ferro e carbono), que contém uma concentra- ção inicial uniforme de carbono de 0,30%p. Caso a concentração na superfície seja aumentada e mantida em 1,10%p, qual será o tempo necessário para que essa placa alcance uma concentração de 0,75%p, em uma posição x = 0,4 mm? O processo é realizado a 950 °C, e o coeficiente de difusão do carbono no ferro nessas condições é igual a 1,6 ⋅ 10-11 m²/s. Considere que a peça metálica seja semi-infinita. Resolução Esse processo é uma difusão em regime não esta- cionário, pois, como foi dito no enunciado, a con- centração de carbono varia com o passar do tempo em uma mesma posição de x. Além disso, a con- centração de carbono na barra antes da difusão é uniforme, e a barra pode ser considerada um sólido semi-infinito, então, a equação que iremos utilizar é a solução particular da segunda lei de Fick: C C C C erf x Dt s x s � � � � � � � � � 0 2 Dados do exemplo: • C0 = 0,30%p • Cs = 1,10%p • Cx = 0,75%p • x = 0,4 mm • D = 1,6 ⋅ 10-11 m²/s Substituindo esses valores na equação, obtemos: ( , , )% ( , , )% 1 100 75 1 10 0 30 2 � � � � � � � � � p p erf x Dt O valor de x não foi substituído ainda, porque, primeiramente, nós vamos determinar o valor do argumento x Dt/ 2 , para isso, vamos calcular o termo à esquerda da equação anterior: ( , , ) % ( , , ) % 1 10 0 75 1 10 0 30 2 � � � � � � � � � p p erf x Dt 0 4375 2 , � � � � � � �erf x Dt Isto é, sabemos o valor da função erro de Gauss, que é de erf x Dt( / ) ,2 0 4375= , e com esse va- lor é possível determinar o valor do argumento x Dt/ 2 a partir da Tabela 1. Como esta não possui esse valor (mas ele está contido entre os va- lores da tabela), devemos interpolar tal valor para encontrarmos o valor aproximado de x Dt/ 2 . 84 Difusão em Sólidos Na Tabela 1, vemos que o valor de erf x Dt( / ) ,2 0 4375= está entre 0,4284 e 0,5205, cujos valores de x Dt/ 2 são, respec- tivamente, 0,40 e 0,50. Fazendo a interpolação linear, obtemos: 8 31, J mol K⋅ Tabela 2 - Dados para interpolação linear do exemplo 2 0,40 0,4284 0,4375 0,5205 zz 0,50 � � � �� � ��( )��� Fonte: o autor z � � � � � 0 40 0 50 0 40 0 4375 0 4284 0 5205 0 4284 , , , , , , , z � 0 4099, Assim sendo, x Dt z x Dt 2 2 0 4099 / / , = = Substituindo os valores de D e x (convertido em metros, 0,4 mm = 0,0004 m), temos: 0 0004 2 1 6 10 0 4099 14879 4 1 11 , / , , , � � � � � � t t s h O tempo necessário para que a concentração de carbono na posição x = 0,4 mm seja 0,75%p é de 4,1 horas. Difusão em Materiais Poliméricos Em materiais poliméricos, a difusão envolve, em geral, a movimentação de moléculas externas, como, por exemplo, O2, H2O, CO2, CH4 etc., entre as ca- deias moleculares do polímero, diferentemente dos metais e das cerâmicas, nos quais a difusão envolve a migração de átomos ou íons em sua rede cristalina. Em razão dessa diferença do processo de difu- são, a difusão nos polímeros é tratada em termos da permeabilidade e absorção, em vez de coefi- ciente de difusão. Tanto a permeabilidade quanto a absorção estão relacionadas com a capacidade de moléculas externas difundirem no polímero, conduzindo a um inchamento e/ou reações quí- micas com as moléculas que formam o polímero. Vimos, na Unidade 1, que os polímeros, em ge- ral, possuem uma estrutura parcialmente cristalina, contendo regiões de cristalinidade e regiões amorfas em suas estruturas. As taxas de difusão por meio das regiões amorfas dos polímeros são maiores que as taxas de difusão nas regiões cristalinas. Outro ponto importante a se destacar é que a difusão nos políme- ros ocorre de forma análoga à difusão intersticial, ou seja, as moléculas migram por meio dos pequenos vazios presentes nas cadeias poliméricas. A taxa de difusão é maior para moléculas pe- quenas e também para moléculas quimicamente inertes, difundindo em polímeros. O fluxo difusi- vo em membranas poliméricas pode ser calculado pela lei de Fick, escrita em termos do coeficiente de permeabilidade, PM. J P P xM � � � 85UNIDADE 3 Na expressão apresentada, J é o fluxo difusivo por meio da mem- brana (cm³/cm² ∙ s); PM é o coeficiente de permeabilidade; x∆ é a espessura da membrana; e P∆ é a diferença de pressão por meio da membrana (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Em polímeros não vítreos, com moléculas pequenas difundindo por meio deles, a permeabilidade pode ser aproximada por: P DSM = Em que D é a difusividade e S é a solubilidade da molécula em difusão no polímero. Na Tabela 3, vemos os valores dos coeficientes de permea- bilidade para algumas moléculas comuns difundindo em polímeros. Tabela 3 - Coeficientes de permeabilidade a 25 °C para algumas moléculas di- fundindo em polímeros PM [× 10-13 (cm³ CNTP)(cm)/(cm² ⋅ sPa)] Polímero Acrônimo O2 N2 CO2 H2O Polietileno (baixa massa específica) LDPE 2,2 0,73 9,5 68 Polietileno (alta massa específica) HDPE 0,30 0,11 0,27 9,0 Polipropileno PP 1,2 0,22 5,4 38 Cloreto de polivinila PVC 0,034 0,0089 0,012 206 Poliestireno PS 2,0 0,59 7,9 840 Cloreto de polivinilideno PVDC 0,0025 0,00044 0,015 7,0 Poli(etileno tereftalato) PET 0,044 0,011 0,23 - Poli(etil meta- crilato) PEMA 0,89 0,17 3,8 2380 Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 478). 86 Difusão em Sólidos No processo de difusão, a magnitude do coefi- ciente de difusão, D, é um importante indicativo da taxa de difusão das espécies em um material, e essa magnitude depende tanto da espécie em difusão quanto do material hospedeiro, que é o material no qual essa espécie será difundida. Na Tabela 4, podemos observar valores do coeficiente de difusão, ou difusividade, para alguns pares de espécie em difusão e material hospedeiro. Parâmetros que Influenciam na Difusão 87UNIDADE 3 Tipo do Mecanismo de Difusão A partir da Tabela 4, podemos perceber que, a 500 °C, o coeficiente de difusão do cobre (Cu) difundindo em cobre (4,2 ⋅ 10-19 m²/s) é, aproximadamente, dez vezes menos do que a difusividade do zinco (Zn) di- fundindo em cobre (4,0 ⋅ 10-18 m²/s). Ambos os casos são exemplos de difusão por lacunas; no primeiro caso do cobre difundindo em cobre, temos uma autodifusão por lacunas e, no segundo caso, zinco difun- dindo em cobre, temos uma interdifusão por lacunas. Outra situação observada é a do ferro (Fe) difundindo em ferro-alfa a �� �Fe , cujo coeficiente de difusão é 3,0 ⋅ 10-21 m²/s a 500 °C, enquanto para o carbono (C) difundindo em ferro-alfa a �� �Fe , o coeficiente de difusão vale 2,4 ⋅ 10-12 m²/s a 500 °C, quase um milhão de vezes maior. Esse contraste se deve ao fato do mecanismo de difusão do ferro (Fe) no ferro-alfa a �� �Fe ser por lacunas, enquanto para o carbono (C) difundindo em ferro-alfa a �� �Fe ser intersticial, ou seja, entre os interstícios da rede cristalina. Fonte: adaptado de Callister Jr. e Rethwisch (2013). Tabela 4 - Dados de difusividade Espécoe em difusão Material hospedeiro Energia de Ativação, Qd D0(m 2/s) kJ/mol eV/átomo T(oC) D(m2/s) Fe Fe C C Cu Cu -Fe -Fe 2,8 x 10-4 2,7 x 10-5 1,2 x 10-4 5,0 x 10-5 6,2 x 10-7 6,5 x 10-5 2,3 x 10-5 2,4 x 10-5 2,3 x 10-4 7,8 x 10-5 -Fe -Fe CuZn Al Al Al Al NiCu Cu Mg (BCC) (FCC) 251 2,60 500 3,0 x 10-21 1,8 x 10-15 1,1 x 10-17 1,9 x 10-13 1,3 x 10-22 7,8 x 10-16 2,4 x 10-12 1,7 x 10-10 5,9 x 10-12 5,3 x 10-11 4,2 x 10-19 4,2 x 10-14 4,1 x 10-14 4,0 x 10-18 500 500 500 500 500 500 900 500 900 900 1100 900 1100 2,94 0,83 1,53 2,19 1,96 1,49 1,41 1,35 2,65 284 148 211 189 144 136 131 256 80 88 Difusão em Sólidos Temperatura do Processo Outro fator importante que influencia no valor do coeficiente de difusão é a temperatura, na qual o processo de difusão acontece. Isso pode ser observado na Tabela 4, na qual vemos que a difusividade do ferro (Fe) em ferro-alfa a �� �Fe é 3,0 ⋅ 10-21 m²/s, a 500 °C, enquanto a difusividade do mesmo par espécie em difusão-material hospedeiro, ferro (Fe)-ferro-alfa a �� �Fe , a 900 °C, é 1,8 ⋅ 10-15, ou seja, o aumento da temperatura de 500 °C para 900 °C ocasionou um aumento do coeficiente de difusão de, aproximadamente, 35 mil vezes. A dependência do coeficiente de difusão em relação à temperatura é dada pela equação a seguir: D D Q RT d� �� � � � � �0 exp Na qual D0 é o termo pré-exponencial (m²/s); Qd é a energia de ativação para o par de difusão (J/mol ou eV/átomo); R é a constante dos gases (J/mol ∙ K ou e V/átomo ∙ K); e T é a temperatura absoluta (K). Os valores de D0 e Qd podem ser obtidos em tabelas, como a Tabela 4, por exemplo. A constante dos gases R vale: R J mol K R eV átomo K� � � �8 31 8 62, / , / Para que você se familiarize com a utilização da equação da difusividade em função da temperatura, vamos exercitar o uso dela em um exemplo. 03 EXEMPLO Em um processo de difusão, no qual o magnésio está difundindo em alumínio, calcule o coeficiente de difusão, D, sabendo que o processo ocorre a 600 °C. Os dados adicionais devem ser extraídos da Tabela 4. Resolução Da Tabela 4 para magnésio (Mg)difundindo em alumínio (Al), vemos que não existe o valor da difusividade para a temperatura de 600 °C, então é necessário utilizar a correlação da difusividade com a temperatura para calcularmos o valor de D a 600 °C. Na Tabela 4, para o par de difusão Mg difundindo em Al, temos: • D0 = 1,2 ⋅ 10 -4 m²/s • Qd = 131 kJ/mol =131.000 J/mol (foi realizada a conversão de kJ para J, onde 1kJ = 1000 J). A constante R nessas unidades vale 8 31, J mol K⋅ . A temperatura utilizada na equação deve estar sempre em Kelvin; nesse caso, a temperatura absoluta (em Kelvin) é T = (600+273) = 873 K. Para determinar o coeficiente de difusão D a T= 600 °C, utilizaremos a equação, D D Q RT d� �� � � � � �0 exp 89UNIDADE 3 Substituindo, na equação anterior, os valores determinados, obtemos: D m s J mol J mol K K D � � � � � � � � � � �( , / ) exp . / ( , / )( ) 1 2 10 131 000 8 31 873 4 2 �� � � � � � � � � � �( , / ) exp . / ( , / )( ) 1 2 10 131 000 8 31 873 4 2m s J mol J mol K K D �� � �� � � � � � � � � � ( , / ) exp . ( , )( ) ( , / 1 2 10 131 000 8 31 873 1 2 10 4 2 4 2 m s D m ss D m s D m ) exp , ( , / ) , , / �� � � � � � � � � � � 18 057 1 2 10 1 4386 10 1 73 10 4 2 8 12 2 ss A migração de espécies na difusão pode ocorrer por três caminhos, o primeiro deles é a difusão em volume, que consiste no tipo mais genérico; em outras palavras, essa é a difusão que ocorre no inte- rior dos cristais que formam o material. O segundo tipo é a difusão pelos contornos de grãos; nesse caso, a migração acontece na interface entre os cristais do material e ocorre mais facilmente que a difusão em volume. Finalmente, o terceiro caminho é a difusão superficial; essa última é a mais fácil de ocorrer, uma vez que a superfície externa do material possui menos restrições à movimentação. Fonte: adaptado de Ciência dos Materiais ([2019], on-line)1. Aplicações da Difusão Uma das aplicações mais utilizada da difusão é a cementação. Essa técnica é utilizada para endure- cimento de superfícies metálicas de peças que rodam ou escorregam, como rodas dentadas e engre- nagens de aço, nas quais não é necessário o endurecimento da peça toda. A produção de uma peça de aço cementada se inicia com a usinagem dessa peça e, após essa usinagem, a peça passa para a etapa de cementação, que consiste na inserção de carbono por difusão na superfície da peça. As fontes de carbono para o processo são pó de grafite ou uma fase gasosa rica em carbono (SMITH, 1998). 90 Difusão em Sólidos Alguns componentes, como cilindros, pinos e rotores, funcionam com risco de desgaste por atrito permanente e apresentam rupturas com facilidade; por essa razão, eles devem possuir alta resistência ao desgaste a uma temperatura relativamente alta para essas aplicações mais exigentes. O processo termoquímico, chamado nitretação, proporciona a esses, e outros tipos de componentes, uma maior dureza das suas superfícies externas, maior resis- tência à fadiga externa e também à fricção, além de uma maior resistência à corrosão e ao calor. A nitretação é realizada por meio da difusão de nitrogênio na superfície externa do material, que pode ser conduzida em uma atmosfera gasosa rica em nitrogênio ou por banho em uma solução de sais fundidos contendo nitrogênio. Outra típica aplicação da difusão está no re- vestimento de barreira térmica para palhetas térmicas em turbinas. Nesse processo, as palhetas de turbinas de motores de aeronaves são revestidas com óxidos cerâmicos, como a zircônia estabili- zada por ítrio (YSZ). Estas palhetas são feitas de superligas de níquel e os revestimentos cerâmicos têm a função de protegê-las de temperaturas eleva- das. A difusão de oxigênio por meio deste revesti- mento cerâmico nas palhetas determina a vida útil desses componentes, visto que o oxigênio oxida a superliga ao entrar em contato com ela. Portanto, é imprescindível o conhecimento da difusão para a determinação da durabilidade dessas turbinas (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Nesta unidade, vimos que os materiais sólidos também sofrem o fenômeno da difusão de espé- cies, assim como os fluidos; contudo, os mecanis- mos para a difusão em sólidos dependem das la- cunas e interstícios presentes no arranjo estrutural desses materiais. Vimos, também, que os átomos que se difundem podem ser átomos diferentes dos átomos constituintes da rede, interdifusão ou difusão de impurezas e também podem ser átomos iguais aos átomos que compõem a rede, autodifusão. Definimos o que é o fluxo difusivo J e aprende- mos a utilizar a lei de Fick para calcular esse fluxo. Conhecemos a constante de proporcionalidade da lei de Fick, chamada de difusividade ou coefi- ciente de difusão. Além disso, vimos que a força motriz para o processo difusivo é o gradiente de concentração, ou seja, a diferença de concentração de uma espécie entre regiões do material. Vimos que, em certas situações, o processo difusivo pode ser considerado independente do tempo (regime estacionário), enquanto em outras o tempo é uma variável indispensável (regime não estacionário). Para finalizar, vimos que al- guns fatores, como o mecanismo de difusão e a temperatura, influenciam no processo difusivo, e algumas das aplicações mais comuns da difusão na produção e processamento de materiais. Espe- ro que você tenha entendido bem os conceitos e cálculos envolvidos na difusão em materiais. Nos encontraremos na Unidade 4, até breve. 91 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Os materiais, assim como os fluidos, sofrem o fenômeno de difusão, contudo, os mecanismos de difusão nos sólidos são diferentes dos mecanismos de di- fusão em fluidos. Nos materiais, a difusão pode ocorrer por meio das lacunas (difusão por lacunas) ou por meio dos interstícios da rede do material (difusão intersticial). A respeito desse assunto, cite duas diferenças entre os mecanismos de difusão por lacunas e difusão intersticial. 2. Uma barra constituída por uma liga de ferro-carbono é submetida a um processo de carbonetação, com o intuito de se atingir uma concentração de carbono de 0,45%p a 2 mm da superfície. Sabe-se que, inicialmente, essa liga contém uma concentração de carbono de 0,20%p e, durante o processo, a temperatura é constante e vale 1000 °C e a superfície externa do material é mantida a uma concentração de carbono de 1,30%p. Considerando os dados de difusão da Ta- bela 4 para o Fe γ, o tempo necessário para que se finalize esse processo é de: a) 19,7 h. b) 18,0 h. c) 15,5 h. d) 21,8 h. e) 16,9 h. 92 3. A adição de nitrogênio aos aços austeníticos promove um aumento, simultâneo da vida em fadiga, da resistência mecânica, da resistência ao desgaste e à cor- rosão. Por essa razão, os aços inoxidáveis de alto teor de nitrogênio constituem uma classe promissora de materiais de engenharia atualmente. Deseja-se inserir nitrogênio em uma chapa de aço para melhorar suas proprie- dades. Nesse processo, a chapa de aço será exposta a uma atmosfera concen- trada com nitrogênio (N2) a 1200 °C, fornecendo uma concentração constante de nitrogênio igual a 3,5 kg/m³ na superfície dessa chapa. Considerando que o processo ocorra em regime estacionário e o fluxo difusivo seja igual a 1,1 · 10-7 kg/m², qual a profundidade, b, dessa chapa, na qual a concentração de nitrogê- nio será de 1,5 kg/m³ ? A difusividade do nitrogênio no aço a essa temperatura é 6 · 10-11 m²/s. a) b = 1,58 mm. b) b = 1,08 mm. c) b = 2,08 mm. d) b = 1,20 mm. e) b = 0,58 mm. 93 Esse site disponibiliza um texto explicativo sobre o processo de nitretação de componentes. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB Este link leva a um artigo científico relacionado ao estudo da aplicação da técnica de nitretação a plasma para proteção contra corrosão de aços de baixo teor de carbono. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/631 https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/632 94ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013. SMITH, W. F. Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais. Lisboa: MacGraw-Hill, 1998. REFERÊNCIA ON-LINE 1Em: <http://www.cienciadosmateriais.org/index.php?acao=exibir&cap=19&top=79>. Acesso em: 06 jun. 2019. 95 1. A difusão por lacunas ocorre pela migração de espécies químicas (átomos, íons ou moléculas) pelas lacunas, que são defeitos pontuais dos materiais. Os átomos em difusão possuem tamanhos próximos ao tamanho dos átomos originais da rede. A difusão intersticial ocorre pela migração de espécies químicas (átomos, íons ou moléculas) por meio dos interstícios presentes na rede cristalina. Os átomos em difusão possuem tamanhos muito menores em relação ao tamanho dos átomos originais da rede. 2. A. Esse processo é uma difusão em regime não estacionário, pois, como foi dito no enunciado, a concentração de carbono varia com o passar do tempo. Além disso, a concentração de carbono na liga antes da difusão é uniforme e vale 0,20%p. Para a resolução, utilizaremos a equação a seguir, que é solução particular da segunda lei de Fick: C C C C erf x Dt s x s � � � � � � � � � 0 2 Dados do exercício: C0 = 0,20%p Cs = 1,30%p Cx = 0,45%p x = 2 mm = 0,002 m A difusividade deve ser calculada para a temperatura de 1000 °C. D D Q RT d� �� � � � � �0 exp Os dados necessários foram retirados da Tabela 4 para o ferro gama (Fe γ): D0 = 2,3 · 10 -5 m/s² Qd = 148 kJ/mol = 148.000 J/mol (a energia de ativação deve ser convertida para J/mol). R = 8,31 J/mol · K T = 1000 °C = 1273 K (a temperatura tem que ser convertida para kelvin). 96 Substituindo esses valores na equação, temos: D m s J mol J mol K K � � � � � � � � � � �( , / ) exp . / ( , / )( ) 2 3 10 148 000 8 31 1273 5 2 DD m s� � �1 9308 10 11 2, / Substituindo esses valores na segunda lei de Fick, obtemos ( , , )% ( , , )% , 1 30 0 45 1 30 0 20 2 0 7727 2 � � � � � � � � � � � � � � p p erf x Dt erf x Dt ��� � � � � � � � ou erf x Dt2 0 7727, O valor de x não foi substituído ainda, porque, primeiramente, nós vamos determinar o valor do argumen- to x Dt2 ; para isso, vamos utilizar o termo erf x Dt2 0 7727� � � � � � � , calculado acima. Agora que sabemos que o valor da função erro de Gauss é erf x Dt2 0 7727� � � � � � � , , é possível determinar o valor do argumento x Dt2 a partir da Tabela 1. Como essa tabela não possui esse valor, mas ele está contido entre os extremos da tabela, devemos interpolar tal valor para encontrarmos o valor aproximado de x Dt2 . Na Tabela 1, vemos que o valor de erf x Dt2 0 7727� � � � � � � , está entre 0,7421 e 0,7969, cujos valores de x Dt2 são, respectivamente, 0,80 e 0,90. Fazendo a interpolação linear destes valores, obtemos: 0,80 0,7421 0,7727 0,7969 zz 0,90 � � � �� � ��( )��� Assim sendo, x Dt z x Dt 2 2 0 8558 = = , z z � � � � � � 0 8 0 90 0 8 0 7727 0 7421 0 7969 0 7421 0 8558 , , , , , , , , 97 Substituindo os valores de D e x (convertido em metros, 2 mm = 0,002 m), temos: 0 002 2 1 9308 10 0 8558 0 8558 2 1 9308 10 11 11 , ( , )( ) , , ( , m m /s m 2 2 � � � � � � t //s m m /s m s 2 )( ) , ( , )( ) , t t t � � � � � � � � 0 002 1 9308 10 1 1688 10 70779 1 11 3 99 7, h O tempo necessário para que a concentração de carbono na posição x = 2 mm seja 0,45%p é de 19,7 horas. 3. B. Esquematização: 1200 ºC � � N2 ����� �������������³ ����� �������������³ � � Ch ap a d e A ço • Perfil de concentração linear • Regime estacionário • Material: aço Dados: D = 6 ∙ 10 -11 m2/s J = 1,1 ∙ 10-7 kg/m² ∙ s a = 0 ca = 3,5 kg/m³ cb = 1,5 kg/m³ 98 Cálculos: Equação da difusão em regime estacionário J D C C x x D C C a b a b a b a b� � � � � � � � Isolar a variável b b a D C C J a b� � � Substituindo os valores b b � � � � � � � � � � � � 0 6 10 3 5 1 5 1 1 10 0 6 10 11 7( ) ( , , ) ( , ) ( m /s kg/m kg/m s 2 3 2 111 7 11 3 5 1 5 1 1 10 6 10 1 8 1 m / s kg / m kg / m s m 2 3 2 ) ( , , ) ( , ) ( ) ( , � � � � � � � � �b 00 1 08 10 1 08 7 3 ) , ,b � � �� m mm 99 100 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir alguns conceitos básicos necessários ao estudo das propriedades mecânicas dos sólidos. • Estudar a deformação elástica nos materiais e aplicar a Lei de Hooke. • Estudar a deformação plástica nos materiais e as proprie- dades mecânicas relacionadas a ela. Conceituação básica Deformação elástica e Lei de Hooke Deformação plástica Me. Luis Henrique de Souza Propriedades Mecânicas Conceituação Básica Na Unidade 4, veremos as propriedades mecâni- cas dos materiais, que são parâmetros importantes na produção e destinação dos materiais para pro- jetos de engenharia, a fim de garantir a eficácia, a segurança e a funcionalidade desejada nesses projetos. Começaremos com uma abordagem da conceituação básica necessária para o entendi- mento das propriedades mecânicas, e isso envol- ve os termos: deformação elástica, deformação plástica, tensão de tração, tensão de cisalhamento, entre outros. Será explicado o ensaio de tração, sua im- portância e todas as informações que podem ser extraídas dessa técnica. Além disso, serão deta- lhados os processos de deformação elástica e de deformação plástica dos materiais, juntamente com suas curvas de tensão-deformação. Finalmente, conheceremos os parâmetros me- cânicos mais importantes nos projetos estruturais, como limite de escoamento, limite de resistência à tração, ductilidade, tenacidade e dureza. As pro- priedades mecânicas são fundamentais em mui- tas tecnologias atuais e tradicionais, por exemplo na produção de ligas de alumínio ou mesmo de 103UNIDADE 4 compósitos reforçados com carbono usados em componentes aeronáuticos que precisam ser leves, resistentes e capazes de suportar cargas mecânicas cíclicas (ASKELAND; WRIGHT, 2015). As propriedades mecânicas de um material dependem da sua composição química e da sua estru- tura, incluindo os defeitos na sua estrutura cristalina. Como os materiais utilizados em projetos são, quase sempre, submetidos a cargas, ou forças, é indispensável sabermos quais são as propriedades importantes para certificar que o material escolhido atenda às necessidades mecânicas de um projeto de engenharia. Neste tópico, vamos nos preocupar em aprender sobre a conceituação básica envolvida no estudo das propriedades mecânicas. Conheceremos os tipos de cargas, ou forças, que podem agir sobre um material e esclareceremos o que é deformação plástica, deformação elástica, taxa de deformação e tensão. Começaremos a nossa conceituação básica trazendo os conceitos de deformação elástica e de- formação plástica, mas para entender esses conceitos, precisamos introduzir e definir os termos tensão e deformação. Primeiramente, vamos definir o que é deformação do ponto de vista de materiais. Sempre que uma força aplicada em um material mudar a forma ou o tamanho desse material, dizemos que ele sofreu uma deformação, e esta pode ser altamente notável, mas também pode ser imperceptível, necessitando de um equipamento para medi-la precisamente. Uma tira de borracha sofrerá uma grande deformação quando for esticada, já os elementos estruturais de um edifício sofrem deformações pequenas quando há muitas pessoas dentro dele. Em ciências dos materiais, tratamos a deformação como sendo a variação do comprimento, dividida pelo comprimento inicial (antes da deformação) do material; portanto, a deformação é uma quantidade adimensional (sem unidades) (HIBBELER, 2010). As deformações são causadas por cargas mecânicas, denominadas tensões,que agem sobre a uni- dade de área do material no qual estão sendo aplicadas. As tensões mecânicas podem ser de tração, compressão ou de cisalhamento e a unidade da tensão mecânica no SI é Pa (pascal). Na Figura 1, podemos observar quatro tipos de esforços que podem atuar nos materiais. Os esforços de tração (Figura 1(a)) e compressão (Figura 1(b)) são tensões normais ao plano de atuação, ou seja, perpendiculares à área sobre a qual atuam. A tensão de tração causa um alongamento do material na direção do eixo no qual atua a força F e um estreitamento na direção dos outros eixos (Figura 1(a)). Já no caso de uma tensão de compressão, o material sofre uma diminuição no comprimento na direção do eixo no qual atua a força F e um alargamento na direção dos outros eixos (Figura 1(b)). Quando a tensão atuante é do tipo cisalhante, a força F tem direção paralela à área na qual ela atua e, por essa razão, ela causa um escorregamento do material na direção da força aplicada, formando, assim, um ângulo de deformação θ, como podemos observar na Figura 1(c). Por fim, na Figura 1(d), vemos a torção de um material, ocasionada pela aplicação de um torque T; nesse caso, ocorre o giro do eixo longitudinal do material em uma das extremidades em relação à outra, com uma amplitude de φ. É importante salientar que a magnitude dos esforços citados (tração, compressão, cisalhamento e torção) podem ser constantes ou variar continuamente com o tempo. 104 Propriedades Mecânicas Figura 1 - Representação do efeito de uma carga de (a) tração, (b) compressão, (c) cisalhante e (d) de torção Fonte: o autor. Tensão e Deformação de Engenharia Agora, vamos introduzir formalmente os conceitos de tensão de engenharia e deformação de enge- nharia. Na Figura 2(a), vemos a esquematização de uma barra feita de um material genérico livre de qualquer esforço externo, e cujo comprimento inicial é l0. Imagine, agora, que essa barra seja submetida a uma força F (Figura 2(b)). A aplicação dessa força gera um aumento do comprimento dessa barra equivalente a Δl (Figura 2(c)), dessa forma, o comprimento total da barra com a aplicação da força F é de li = l0 + Δl. (a) (b) A0 (c) (d) T T F 105UNIDADE 4 A partir disso, podemos definir a deformação de engenharia ∈ como: = ∈ = ∆ = −l l l l l i 0 0 0 Deformação de engenharia Onde l0 é o comprimento original da barra; li é o comprimento instantâneo da barra quando uma tensão é aplicada sobre o material; e Δl é a variação do comprimento do corpo de prova ocasionada pela tensão aplicada. No SI (Sistema Internacional), a unidade de l0, li e Δl é m (metros), portanto, a deformação é adimensional (sem unidades). Na Figura 3(a), temos a mesma barra apresentada na Figura 2, agora vamos observar o corte trans- versal dessa barra; a área de seção transversal dessa barra, representada por A0, é importante para definirmos a tensão de engenharia σ. = =σ F A0 Tensão de engenharia Onde F é a força (carga) perpendicular aplicada à área de seção transversal da barra A0. No SI, as uni- dades de F é N (newton), de A0 é m² e, portanto, a unidade da tensão σ é N/m² ou Pa (pascal). a) b) c) �0 �0 �0 �0���������Δ�� ∆�� � � � Figura 2 - Esquematização de uma barra sendo deformada pela ação de uma força Fonte: o autor. 106 Propriedades Mecânicas Nas Figura 3(b), 3(c) e 3(d) vemos, respectiva- mente, as áreas de seção transversal circular, qua- drada e retangular e as equações de cálculo de A0 para cada uma dessas geometrias, que são as mais usuais. Deformação Elástica e Deformação Plástica A deformação elástica é uma deformação rever- sível resultante da aplicação de uma tensão. Essa deformação ocorre simultaneamente à aplicação de uma tensão, de forma que o material volta à for- ma (tamanho) original assim que essa tensão cessa. Praticamente todos os materiais apresentam um certo grau de deformação elástica; entretanto, estas costumam ser muito pequenas e impercep- tíveis. Um exemplo da aplicação desse tipo de deformação são as molas rígidas feitas de metais que, quando submetidas a tensões, sofrem uma deformação, porém voltam rapidamente ao es- tado inicial quando essa tensão deixa de existir. Na deformação elástica não há quebra das li- gações químicas, ocorre apenas um alongamento dessas ligações, decorrente da presença de uma carga (tensão) adicional que se soma às forças eletrostáticas existentes em equilíbrio no material, e por essa razão o material não sofre nenhuma deformação permanente, pois, assim que a car- ga adicional é removida, essas forças do material retornam ao equilíbrio original. Quando a deformação de um material é per- manente, dizemos que esse material sofreu uma deformação plástica, ou seja, quando a tensão é removida, o material não retorna a sua forma original. Como podemos perceber, o termo “de- formação plástica”, nesse contexto, não se refere à deformação de um material polimérico, mas sim à deformação permanente de qualquer tipo de material. Um exemplo de deformação plástica é o amassado na panela, resultado de uma queda. � Seção circular Seção quadrada ������ ������ Seção retangular ������ a) b) c) d) � � � � � � � Figura 3 - Esquematização das área de seção transversal de uma barra Fonte: o autor. 107UNIDADE 4 Ensaio de Tração A resistência de um material depende da sua capacidade de suportar cargas (tensões) sem sofrer deformações excessivas ou fratura. Essa e outras pro- priedades mecânicas são ine- rentes ao material e devem ser determinadas experimental- mente (HIBBELER, 2010). O ensaio de tração é uma técnica experimental bastante difundida, utilizada para de- terminação dos parâmetros de tensão-deformação. Nesse en- saio, é medida a resistência de um material a uma força (carga) de tração aplicada gradualmen- te em um único eixo. Esse tipo de ensaio é mui- to utilizado em metais, ligas metálicas e polímeros. Para as cerâmicas, não é aconselhá- vel devido à fragilidade desses materiais. Os resultados obtidos nos ensaios de tração permitem a determinação de muitas pro- priedades mecânicas importan- tes, utilizados nos mais variados projetos de engenharia. O processo consiste basica- mente no tracionamento, até a ruptura, de um corpo de prova. O corpo de prova é colocado no equipamento de teste, no qual ele é tracionado por uma força F que aumenta gradualmente. Essa força (ou carga) F é apli- cada pelo equipamento sobre a área de seção transversal inicial do corpo de prova, A0. No corpo de prova, são marcados dois pontos de referência, a distância entre esses pontos é chamada de comprimento original e é simbolizada por l0. Conforme se inicia a aplicação da força F no corpo de prova, o material começa a sofrer um aumento no seu comprimento. Essa variação do comprimento sofrida pelo material é simbolizada por Δl (CALLISTER JR.; RETHWISH, 2013). O ensaio segue com o aumento gradual da intensidade da carga F e, consequentemente, um aumento no valor de Δl, chegando ao fim quando o material sofre a fratura (rompe-se). Os dados de F, A0 l0 e Δl obtidos no ensaio são convertidos para tensão de engenharia σ e deformação de engenharia ∈ pelo próprio equipamento, de acordo com as relações: = =σ F A0 Tensão de engenharia =∈= ∆ = −l l l l l i 0 0 0 Deformação de engenharia O resultado é, então, dado na forma gráfica de uma curva de σ-∈ (tensão versus deformação), da qual são obtidas as propriedades mecânicas do material analisado. A seguir, é apresentado um dia- grama de tensão-deformação genérico na Figura 4. Te ns ão Deformação Região plásticaRegião elástica A B C D Figura 4 - Diagrama de tensão-deformação Fonte: o autor. 108 Propriedades Mecânicas Várias propriedades mecânicas são determina- das a partir de um diagrama tensão-deformação do material. Na Figura 4, a tensão no ponto A cor- responde ao limite de proporcionalidade; a tensão no ponto B é o limite de escoamento; a tensão no ponto C é o limite de resistênciaà tração do mate- rial; por fim, no ponto D, ocorre a ruptura do ma- terial. Além disso, é importante ter em mente que, primeiramente, ocorre uma deformação elástica do material (região elástica) e somente depois se inicia a deformação plástica (região plástica) que dura até a ruptura do material (JAMES, 2003). Essas e outras propriedades mecânicas serão explicadas com detalhes nos próximos tópicos. Na Figura 5, vemos as curvas de tensão-defor- mação para alguns tipos de materiais, lembrando que esses diagramas não seguem a mesma escala, eles são simplesmente uma representação comum do comportamento tensão-deformação para esses tipos de materiais. Metais Elastômeros (polímeros) Polímeros termoplásticos acima da transição vítrea Cerâmicas, vidros e concreto (a) (b) (c) (d) Deformação Deformação Deformação Te ns ão Te ns ão Te ns ão Te ns ão Deformação Figura 5 - Curvas de tensão-deformação para alguns tipos de materiais Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015). Nos metais (Figura 5(a)), vemos que ocorre uma deformação elástica seguida de uma deformação plástica até a ruptura do material, a tensão suportada por esses materiais é alta e, por essa razão, esses materiais são bons materiais estruturais. Para os polímeros termoplásticos (Figura 5(b)), vemos que a tensão máxima suportada é bem menor em relação aos metais, entretanto, esses materiais sofrem uma grande deformação plástica antes de fraturar. Os polímeros do tipo elastômeros (Figura 5(c)) exibem uma grande deformação do tipo elástica (reversível) e suportam tensões maiores do que os termoplásticos antes de fraturar. Finalmente, as cerâmicas (Figura 5(d)) apresentam uma pequena deformação elástica e pouca, ou nenhuma, defor- mação plástica antes de fraturar. 109UNIDADE 4 Ensaio de Cisalhamento Da mesma forma que definimos a tensão de tração no ensaio de tração, podemos definir a tensão cisalhante no ensaio de torção, calculada a partir da relação a seguir: de cisalhamento = =τ F A0 Tensão No entanto, a força F, nesse caso, atua paralelamente à área de seção transversal do corpo de prova (A0), ou seja, o corpo de prova sofre escorregamento ao longo da direção da força F (Figura 6). �� F Figura 6 - Representação de uma tensão (carga) de cisalhamento sobre um material Fonte: o autor. A deformação cisalhante, representada por γ, é definida como a tangente do ângulo de deformação (θ). de cisalhamento = =γ θtg( )Deformação Em materiais frágeis, é comum a utilização de ensaios de flexão para a determinação das propriedades mecânicas. A forma mais simples desse ensaio consiste na aplicação de uma força no centro de um corpo de prova apoiado em dois pontos, a fim de fazer esse corpo flexionar até a fratura. 110 Propriedades Mecânicas Quando estudamos as propriedades mecânicas dos materiais, devemos ter em mente que a defor- mação observada em um material é dependente da tensão aplicada a ele. Na maioria dos materiais metálicos, a deformação e a tensão de tração (ou compressão) são proporcionais entre si, para va- lores de tensão relativamente baixos e dentro da região elástica (faixa linear de deformação). Módulo de Elasticidade A proporcionalidade entre a tração e a deforma- ção de engenharia é descrita pela Lei de Hooke. s � �E A partir dessa relação, podemos perceber que a tensão de engenharia s é igual à deformação de engenharia ∈ multiplicada por E, que é a cons- tante de proporcionalidade, conhecida como mó- dulo de elasticidade ou módulo de Young, cuja unidade no SI é GPa (gigapascal). A determinação do módulo de elasticidade pode ser feita a partir da curva de s-∈ do mate- rial, calculando-se a inclinação da curva na região elástica (inclinação da reta). Deformação Elástica e Lei de Hooke E � � s 111UNIDADE 4 Na Figura 7, vemos a região elástica da curva de s-∈ para um material genérico, o módulo de elas- ticidade é determinado dividindo-se a tensão pela deformação, ou seja, o módulo de elasticidade do material é o coeficiente angular da reta que repre- senta a região elástica do material na curva s-∈ . Inclinação = E Deformação Te ns ão Figura 7 - Região elástica da curva de tensão versus de- formação Fonte: o autor. O módulo de elasticidade E é uma propriedade mecânica estritamente ligada às energias de liga- ção atômicas do material, por essa razão, materiais com elevadas forças de ligação geralmente pos- suem valores elevados de módulo de elasticidade. Nos metais e ligas metálicas, o tamanho de grão e outras características microestruturais têm pouca influência no módulo de elasticidade, por- tanto o módulo de elasticidade nesses materiais é considerado insensível à microestrutura. Em contrapartida, o módulo de elasticidade nas ce- râmicas é fortemente dependente da porosidade de sua estrutura. O módulo de elasticidade diminui com o au- mento da temperatura. Para os metais e para as cerâmicas, os valores do módulo de elasticidade são próximos, já os polímeros possuem valores bem menores. Além disso, a rigidez de um componente está relacionada com seu módulo de elasticidade e tam- bém com as dimensões desse componente. Isso significa que um componente feito de um material com elevado módulo de elasticidade apresentará uma deformação menor quando submetido a uma tensão que cause somente deformações elásticas, do que um material com um módulo de elasticida- de menor (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Os valores do módulo de elasticidade para al- guns metais à temperatura ambiente podem ser encontrados na Tabela 1, dados em GPa e em psi, outra unidade muito utilizada. Liga MetálicaLiga Metálica Alumínio Latão Cobre Magnésio Níquel Aço Titânio Tungstênio 69 97 110 45 207 207 107 407 25 37 46 17 76 83 45 160 3,6 5,4 6,7 2,5 11,0 12,0 6,5 23,2 0,33 0,34 0,34 0,29 0,31 0,30 0,34 0,28 10,0 14,0 16,0 6,5 30,0 30,0 15,5 59,0 Módulo de ElasticidadeMódulo de Elasticidade Módulo de CisalhamentoMódulo de Cisalhamento Coe cienteCoe ciente de Poissonde PoissonGGpapa 101066 psipsi 10106 6 psipsiGGpapa Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwish (2013). Tabela 1 - Módulo de elasticidade e de cisalhamento e coeficiente de Poisson para alguns metais à temperatura ambiente Conversão: 1 GPa = 109 Pa 112 Propriedades Mecânicas 01 EXEMPLO Calcule a variação de comprimento (Δl) sofri- da por uma peça de titânio, com comprimento original de 300 mm, submetida a uma tensão de tração com intensidade 200 ⋅ 106 Pa. Considere a deformação completamente elástica. Resolução Uma vez que a deformação é elástica e o material deformado é um metal, podemos utilizar a Lei de Hooke para solucionar esse problema. s � �E Além disso, sabemos que a deformação é dada por: �� �l l0 E, relacionando essas equações, obtemos: s � �E l l0 Isolando o termo Δl, temos? � �l l E s 0 Os valores do comprimento original (l0) e da ten- são de tração (σ) foram dados no enunciado do problema. O valor do módulo de elasticidade para o titânio é obtido na Tabela 1, e vale: E = =107 107 109 GPa Pa. Substituindo esses dados na equação de l∆ : � � � � � l l E l s 0 6 9 6 200 10 300 107 10 200 10 300 ( . )( ) ( . ) ( . )( Pa mm Pa Pa mm Pa mm mm ) ( . ) ( . )( ) ( . ) , 107 10 200 10 300 107 10 0 56 9 6 9� � � � l l Para uma tensão de cisalhamento, um comporta- mento similar é observado. Nesse caso, a deforma- ção cisalhante é proporcional à tensão cisalhante aplicada dentro da região de deformação elástica. A relação que descreve esse comportamento é similar a Lei de Hooke. τ γ= G Na relação acima, G é o módulo de cisalha- mento, que é a inclinação (coeficiente angular) do gráfico de tensão cisalhante por deformação cisalhante. Os valores para G para alguns metais podem ser encontrados na Tabela 1. Até o dado momento, consideramos que a de- formação elástica ocorre instantaneamente, ou seja, a tensão aplicada deforma o material ime- diatamente após ser aplicada e da mesma formao material volta à sua forma original imediata- mente após essa tensão ser retirada. Contudo, em muitos casos, ao retirarmos a tensão que causou a deformação elástica em um material, este leva um certo tempo para retornar a sua forma original. Esse comportamento recebe o nome de anelasticidade. 113UNIDADE 4 Coeficiente de Poisson Até esse ponto, consideramos que a aplicação de uma tensão (de tração ou compressão) em um material causa uma variação do comprimento (estiramento ou compressão) apenas na direção de aplicação dessa tensão. Entretanto, quando uma tensão, seja de tração ou compressão, é aplicada em um material, este sofre variações nas demais direções, além da direção da tensão. Então, uma barra submetida a uma tensão de tração sofre um aumento de suas dimensões na direção dessa tensão e, em contrapartida, sofre uma diminuição de suas dimensões nas demais di- reções. No caso de uma tensão de compressão, a barra sofre uma diminuição na direção da tensão e um aumento nas demais direções. Esse comportamento é melhor definido em termos da deformação; nesse âmbito, dividimos o material estudado nas direções dos eixos x, y e z. Assim, temos as respectivas deformações ∈x, ∈y e ∈z. As deformações ∈x e ∈y nas direções de x e y podem ser determinadas se o material for isotrópico e a tensão aplicada for uniaxial (somente na direção de z). Nesse caso ∈x = ∈y, pode-se definir um parâmetro adimensional denominado coeficiente de Poisson. Coeficiente de Poisson � � � � � n lateral longitudinal Ou, em termos dos eixos x e y: n n� � � � � � � � x z y z Relações para a deformação em cada eixo � � � Є� ��� ��� � Є� ��� ��� � Є� ��� ��� � ��� ��� � ���� ��� Figura 8 - Representação da deformação elástica causada por uma tensão de tração Fonte: o autor. Os sinais negativos estão incluí- dos nas fórmulas, pois as defor- mações transversais (laterais) possuem sinais opostos às de- formações longitudinais; dessa forma, um material se contrai lateralmente quando sofre uma tensão de tração longitudinal e se expande transversalmente quan- do sofre uma tensão de compres- são longitudinal. Na Tabela 1, temos o valor do coeficiente de Poisson para alguns metais. Na Figura 8, podemos ver o efeito de constrição causado por uma tensão de tração σ na di- reção do eixo z em um material de seção transversal retangular. 114 Propriedades Mecânicas Nesse caso, há um alongamento do material no sentido do eixo z equivalente a Δlz e a compressão do material no sentido dos eixos x e y, equivalentes a Δlx e Δly, respectivamente. As relações para o cálculo das deformações do material na direção de cada eixo encontram-se descritas na Figura 8. 02 EXEMPLO Determine a força necessária para produzir uma mudança de 3.10-3 mm no diâmetro de um cilindro de cobre, cujo diâmetro original mede 9 mm. Sabe-se que a tensão de tração aplicada é perpendicular à área de seção transversal circular do cilindro e a deformação gerada é totalmente elástica. Resolução A representação da situação é a seguinte: ��� ��� ������ z x Antes da aplicação de tensão de tração Após a aplicação de tensão de tração Figura 9 - Esquematização do Exemplo 2 Fonte: o autor. z x Є� � - - � ��� ��� Δ�� ��� ��� ��� ��� Є� � ���� ��� Δ�� ��� ������ ��� Figura 10 - Esquematização do Exemplo 2 Fonte: o autor. Antes da aplicação da tensão de tração, o cilindro possui um diâ- metro l0 x=9 mm. Com a aplica- ção de uma força F no sentido do eixo z, o cilindro se expande no mesmo sentido e se contrai no sentido do eixo x (direção radial). As deformações nos senti- dos dos eixos x e z podem ser determinadas a partir das rela- ções apresentadas na Figura 10. 115UNIDADE 4 Do enunciado do problema, temos que: l l x x 0 3 9 3 10 � � � � � mm mmD Observa-se que o valor de Dlx é negativo, pois a barra está sofrendo uma constrição no eixo x, ocasio- nada pela tensão de tração aplicada no eixo z. Com essas informações, primeiramente, vamos calcular a deformação na direção de x: ∈ = ∆ = − ∈ = − ∈ = − − − − x x x x x l l0 3 3 4 3 10 9 3 10 9 3 33 10 . . , . mm mm mm mm xDeformação no eixo O sinal de negativo na deformação significa que ocorre uma constrição na direção do eixo x. Considerando que o material seja isotrópico, podemos determinar a deformação na direção de z a partir do coeficiente de Poisson, cujo valor para o cobre é ν = 0,34, obtido da Tabela 1. Da definição de ν, temos: n � � � � x z Isolando o termo da deformação em z e substituindo os dados encontrados: ∈ = − ∈ = − − ∈ = − − z x z ν ( , . ) , , . 3 33 10 0 34 9 79 10 4 4 zDeformação no eixo Com o valor da deformação na direção de z e com o módulo de elasticidade E, podemos calcular o valor da tensão de tração necessária a esse processo a partir da Lei de Hooke. O valor do módulo de elasticidade E pode ser encontrado na Tabela 1, e para o cobre vale E = 110 GPa = 110.109 Pa. σ σ σ = ∈ = = − E z ( . )( , . ) , . 110 10 9 79 10 107 69 10 9 4 6 Pa Pa Tensão de tração na direção de z 116 Propriedades Mecânicas E, finalmente, com o valor da tensão de tração na direção de z, podemos determinar a força F ne- cessária para causar a constrição desse cilindro a partir da definição de tensão de engenharia: s s� � � F A F A 0 0 A área de seção transversal é circular, portanto, A r l x 0 2 0 2 2 � � � � � � � �p p , então F A l F x= = = − σ σπ0 0 2 6 3 2 107 69 10 3 1416 9 10 2 ( , . )( , ) . Pa m = 2 6107 69 10 3 14 Pa equivale a N/m N/mF ( , . )( , 116 9 10 2 107 69 10 3 1416 2 025 10 3 2 6 ) . ( , . )( , )( , . − = m N/ m2F −− = = 5 6850 9 6851 m2 N que pode ser arredondado para, N ) ,F F 2 2 Os módulos de elasticidade E e de cisalhamento G podem ser relacionados entre si e com o coeficiente de Poisson, em materiais isotrópicos, pela equação a seguir. E G� �2 1( )n Os polímeros de estrutura amorfa, quando submetidos a cargas (tensões), podem se comportar, em temperaturas baixas, como um vidro e, em temperaturas elevadas, como um líquido viscoso. Já em condições intermediárias de temperatura (acima da transição vítrea), esses materiais apresen- tam uma deformação elástica instantânea quando uma tensão é aplicada ou liberada subitamente. Em contraste a isso, caso a tensão seja aplicada gradualmente, a deformação observada no material é do tipo viscosa, o material parece um líquido altamente viscoso escoando. Esses materiais são chamados de viscoelásticos. Fonte: adaptado de Callister Jr. e Rethwish (2013). 117UNIDADE 4 Neste tópico, aprofundaremos nossos estudos, conhecendo as propriedades mecânicas relacio- nadas à deformação plástica dos materiais. Inicia- remos o tópico com uma breve discussão sobre a deformação plástica em materiais, seguindo com os estudos do limite de resistência, ductilidade, tenacidade e as demais propriedades mecânicas envolvidas com a deformação plástica. Os materiais metálicos e poliméricos sofrem deformação elástica até um certo ponto; os me- tais, por exemplo, sofrem deformação elástica até valores de aproximadamente 0,005. Conforme es- ses materiais ultrapassam a região de deformação elástica, a Lei de Hooke não é mais válida, e a par- tir desse ponto eles sofrem uma deformação irre- versível, ou seja, uma deformação plástica. Nessa situação, mesmo que a tensão que deu origem a essa deformação cesse, o material não voltará a sua forma original. Já os materiais cerâmicos, quase sempre, fraturam antes mesmo de começarem a sofrer uma deformação plástica. Atomicamente, durante uma deformação plástica, as ligações entre os átomos vizinhos que formam o material são quebradas, em seguida, são formadas novas ligações com novos átomos vizinhos, conforme ocorre a movimentaçãodos Deformação Plástica 118 Propriedades Mecânicas átomos em relação uns com os outros. Dessa for- ma, mesmo que a tensão seja removida, os átomos não voltarão a suas posições originais, consequen- temente, o material permanecerá deformado. O mecanismo da deformação plástica para materiais cristalinos é baseado no processo de escorregamento; em outras palavras, na movi- mentação das discordâncias do material. Já para os materiais amorfos (não cristalinos), o mecanis- mo de deformação plástica envolve o escoamento viscoso desse material. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Limite de Escoamento Durante o planejamento de projetos de engenharia, é importante assegurar que as estruturas projetadas sofram apenas deformações elásticas quando elas forem submetidas a cargas (tensões). Isso porque as estruturas podem não funcionar da forma adequada como foram projetadas, caso sofram deformações plásticas. Por essa razão, é importante conhecermos o limite entre a deformação elástica e a deforma- ção plástica dos materiais utilizados em um projeto; em outras palavras, devemos saber qual é a carga máxima que o material suporta sem sofrer uma deformação plástica (irreversível). Em outros casos, a deformação plástica pode ser desejada, como é o caso da fabricação do chassi de um automóvel, na qual é necessário a aplicação de tensões altas o suficiente para deformar perma- nentemente as chapas metálicas que formarão o chassi desse automóvel. Ao valor crítico de tensão necessário para causar a deformação plástica em um material dá-se o nome de limite elástico. Estruturalmente, essa é a tensão necessária para dar início à movimentação das primeiras discordâncias em materiais metálicos; enquanto nos materiais poliméricos, essa é a tensão responsável pelo desembaraço das cadeias de moléculas poliméricas ou deslizamento dessas cadeias, iniciando uma deformação plástica. Outro termo comumente aplicado é o termo limite de proporcionalidade, que representa o valor de tensão acima do qual a relação entre tensão e deformação não é mais linear. Para muitos materiais, os valores do limite elástico e do limite de proporcionalidade são muito próximos; entretanto, ambos os parâmetros são difíceis de serem determinados. Para superar essas dificuldades, foi convencionado um outro parâmetro para definir o limite entre a deformação elástica e a deformação plástica em materiais. Esse parâmetro é chamado de limite de escoamento, representado por σe e determinado pela intersecção entre a curva de tensão por defor- mação do material e uma reta paralela a ela na região elástica com origem no ponto (0,002, 0), como representado na Figura 11, na qual podemos ver também o limite de proporcionalidade (tensão no ponto P) e a deformação no limite de escoamento ∈e. https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/542 119UNIDADE 4 Alguns materiais, por exemplo os aços de baixo teor de carbo- no, apresentam uma transição marcante entre a região elástica e a região plástica. Nesses casos, o material apresenta dois limites de escoamento, um superior e um inferior. O que ocorre é que esses materiais deveriam se deformar plasticamente na tensão do limite de escoamento inferior; entretanto, a existência de pequenos átomos ao redor das discordâncias atrapalham o deslizamento e, por conse- quência, aumentam o limite de escoamento do material (limite de escoamento superior) (AS- KELAND; WRIGHT, 2015). Deformação Te ns ão 0 0 0,002 σ� Retas com a mesma inclinação Linear P Não linear Limite de escoamento Є� Figura 11 - Representação do comportamento elástico e plástico de um material Fonte: o autor. Limite de Resistência a Tração O limite de resistência à tração é a tensão máxima na curva de tensão-deformação do material representado por LRT. Esse limite representa o valor máximo de tensão de tração suportada pelo material, e caso uma tensão com essa intensidade seja aplicada e mantida sobre o material, ocorrerá a fratura dele. Materiais com altos valores de limite de resistência à tração são ditos materiais resistentes. Na maioria dos materiais dúcteis, a deformação não é uniforme, ocorrendo uma deformação maior em uma região do que em outras, causando uma diminuição da área transversal do material a partir do LRT. Esse fenômeno de formação de “pescoço” no material é conhecido como estricção ou empes- coçamento. Como a força necessária para continuar a deformação diminui, devido à área transversal do corpo de prova sofrer uma redução, e a área transversal A0 da tensão de engenharia ser constante, a tensão de engenharia também diminui após o ponto do LRT. Ductilidade A ductilidade é uma propriedade mecânica muito importante. Ela é a medida do grau de deformação plástica suportado por um material antes da fratura. Sua importância se dá principalmente em projetos de componentes que devem suportar esforços mecânicos, como no caso do processamento de barras, fios, placas, vigas etc. 120 Propriedades Mecânicas Duas formas comuns de medir a ductilidade são utilizadas, sendo uma delas o alongamento percentual, que quantifica a deformação plástica sofrida pelo material até ocorrer a fratura, descon- siderando a deformação elástica. Para esse cálculo, são utilizados os valores das distâncias de referên- cia do corpo de prova antes da aplicação da tensão de tração (l0) e depois da fratura do corpo de prova. O cálculo do alongamento percentual pode ser escrito como % %Alongamento � � �� � � � � � �Al l l l f 0 0 100 onde lf é a distância máxima entre os pontos de referência do corpo de prova imediatamente antes da fratura. Outra forma comum de medida da ductilidade é a redução percentual de área, que descreve a redução percentual da área de seção transversal do corpo de prova antes da aplicação da tensão e imediatamente antes da fratura. A equação para o cálculo da redução percentual de área é: = = − ⋅RA A A A f0 0 100%%Redução de Área onde A0 é a área de seção transversal do corpo de prova antes do alongamento e Af é a área de se- ção transversal do corpo de prova imediatamente antes da fratura. Os materiais que sofrem uma deformação plástica muito pequena ou nenhuma deformação plástica antes da fratura são denominados frágeis. O limite de escoamento, limite de resistência à tração e ductilidade são propriedades sensíveis à presença de impurezas, deformações anteriores e tratamentos térmicos aos quais o material tenha sido submetido. Quanto à temperatura, o limite de escoamento, limite de resistência à tração e o mó- dulo de elasticidade diminuem com o aumento da temperatura, enquanto a ductilidade aumenta com o aumento da temperatura. Resiliência A resiliência é a capacidade de um material per- mitir a recuperação da energia absorvida durante o processo de deformação elástica, após a remo- ção da carga. Essa propriedade está associada ao módulo de resiliência, simbolizado por Er, que é definido como a energia de deformação por unidade de volume necessária para tensionar o material desde um estado livre da aplicação de cargas (tensões) até o seu limite de escoamento. O cálculo do módulo de resiliência pode ser realizado para um corpo de prova submetido a uma carga de tração uniaxial (ensaio de tração), utilizando a seguinte equação E dr e� � � � s0 Assumindo a região de deformação elástica com- pletamente linear, a relação fica da seguinte forma Er e e� � 1 2 s Nas quais σe e ∈e são, respectivamente, a tensão de tração e a deformação no limite de escoamento (Figura 11). As unidades de Er no SI são J/m³, ou seja, energia por volume. Substituindo a Lei de Hooke na relação anterior, obtemos: E E Er e e e e e� � � � � � � � � � 1 2 1 2 2 2 s s s s Com esse resultado, vemos que os materiais re- silientes são aqueles que possuem módulos de elasticidade baixos e limite de escoamento altos. Um exemplo do emprego de materiais resilientes,como algumas ligas metálicas, é a mola. 121UNIDADE 4 Tenacidade A tenacidade, conhecida também como energia de fratura, representa a quantidade de energia ab- sorvida por um material antes dele fraturar; dessa forma, em uma curva de tensão-deformação, po- demos determinar a tenacidade calculando a área sob essa curva até o ponto de ruptura (fratura). É uma das principais propriedades para os materiais estruturais e suas unidades da resiliência, energia por volume (J/m³). Para que um material seja te- naz, ele deve ser resistente (módulo de elasticidade elevado) e dúctil ao mesmo tempo. Na Figura 12, podemos ver a curva de ten- são-deformação para um material frágil e para um material dúctil. Nesse caso, o material frágil apresenta um maior limite de escoamento e limite de resistência à tração. Entretanto, a área abaixo da curva para o material dúctil (área rosa) é maior do que a área abaixo da curva para o material frágil (área roxa), portanto a tenacidade do material dúctil é maior do que a tenacidade do material frágil. Deformação Te ns ão Material Frágil Material Dúctil Figura 12 - Curvas de tensão-deformação para dois mate- riais distintos Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 143). Dureza A última propriedade mecânica que iremos estu- dar nesta unidade é a dureza. Essa propriedade é a medida da resistência de um material a uma deformação plástica localizada, por exemplo, ris- cos em um material. Diferentemente das propriedades anteriores, a avaliação da dureza de um material é feita por meio de ensaios de dureza, que consistem na ava- liação da resistência da superfície de um material à penetração por um objeto rígido. Existem vários ensaios de dureza, cada um possui uma metodo- logia diferente de análise e escalas próprias de dureza. Por essa razão, os valores de dureza obti- dos para cada ensaio são relativos. Os dois mais populares são os ensaios de Brinell e de Rockwell, que são durezas do tipo penetração; existe ainda dureza do tipo risco e dureza do tipo choque ou ressalto, que não serão abordadas neste material. No ensaio de Brinell, uma esfera rígida de aço endurecido (ou carbeto de tungstênio) é forçada sobre a superfície do material que se deseja de- terminar a dureza. A esfera de aço possui elevada dureza (muito superior a 800 HB) e um diâmetro D de 10 mm. O diâmetro da impressão (Di) cau- sada pela esfera no material é medido, e a dureza pode ser calculada a partir da equação: HB F D D D Di � � �� �� � �� 2 2 2p Na qual F é a carga utilizada no ensaio dada em quilogramas (kg), D é o diâmetro da esfera de aço em milímetros (mm) e Di é o diâmetro da impressão na superfície do material em milíme- tros (mm). Portanto, a dureza de Brinell, HB, tem unidades kg/mm². A Figura 13(a) mostra onde são medidos os diâmetros D, da esfera de aço, e Di, da impressão na superfície do material. 122 Propriedades Mecânicas Para o ensaio de Rockwell, é utilizado, como material penetrador, uma esfera de aço para os materiais mais macios e um cone de diamante para os materiais mais duros. A esfera de aço, ou o cone de diamante, são pressionados pela aplicação de uma determina- da carga contra a superfície do material que se de- seja medir a dureza. Um esquema representativo do ensaio de Rockwell pode ser visto na Figura 13(b). A dureza do material é determinada pelo equi- pamento de teste de acordo com a profundidade atingida pelo material penetrador no corpo de teste. A dureza de Rockwell é adimensional, ou seja, não possui unidades. A dureza de um material reflete bem sua resis- tência ao desgaste superficial, e dentre as classes de materiais, os polímeros são os materiais menos duros (mais macios), os metais são intermediários na dureza e as cerâmicas são extremamente duras. A propriedade dureza é especialmente importan- te em casos nos quais o material empregado na fabri- cação de um componente ou equipamento necessita resistir ao desgaste causado durante sua operação, por exemplo um moinho de grãos, um triturador de minérios ou, ainda, os dentes de uma engrenagem que precisam resistir ao seu uso constante. Concluímos aqui nossa Unidade 4, na qual foram abordadas as propriedades mecânicas dos materiais. Pudemos observar que quase todos os equipamentos, estruturas e componentes proje- tados são submetidos a cargas, e que o ensaio de tração é um dos testes mais importantes no que diz respeito a dados para projetos estruturais. Dele são retiradas muitas informações sobre as pro- priedades mecânicas de um material. Vimos que um material, quando submetido a uma carga, sofre uma deformação, que pode ser temporária e cessar ao se retirar a carga que a originou, deformação elástica, ou pode ser per- manente, persistindo mesmo após a retirada da carga que a originou, deformação plástica. A partir desse embasamento, conseguimos de- finir, entender e calcular as propriedades mecâ- nicas mais importantes para projetos estruturais, são elas: limite de escoamento, limite de resistên- cia à tração, ductilidade, resiliência e tenacidade e dureza. Espero que você tenha aproveitado esse conteúdo, aguardo você na nossa próxima unidade. �� � � (a) (b) Superfície do material testado � � Profundidade Profundidade Figura 13 - Representação da superfície de um material e dos penetradores para o (a) ensaio de Brinell e (b) ensaio de Rockwell Fonte: o autor. 123 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. (Adaptada de ENADE – 2011) Os ensaios mecânicos, como o ensaio de tração, fornecem informações sobre as propriedades mecânicas dos materiais, quando submetidos a esforços externos, expressos na forma de tensões e deformações. Basicamente, o comportamento mecânico dos materiais depende da composição química, da microestrutura, da temperatura e das condições de carregamento. Tais informações são fundamentais para que o engenheiro projetista possa selecionar os materiais que contemplem as especificações mecânicas estabe- lecidas no projeto. Considerando o exposto, analise as afirmações a seguir: I) O módulo de tenacidade é uma medida da energia requerida para causar a ruptura de um material. II) A partir do ponto do limite de escoamento, o material entra em colapso e deforma-se permanentemente, terminando com a fratura desse material. III) O limite de resistência à tração é caracterizado como a tensão máxima na curva de tensão-deformação do material, e caso uma tensão com essa in- tensidade, ou superior, seja aplicada e mantida sobre o material, ocorrerá a fratura dele. IV) A capacidade de um material recuperar a energia absorvida, durante o pro- cesso de deformação elástica, após a remoção da carga que gerou essa deformação, é denominado ductilidade. São corretas apenas as afirmativas: a) I, II e III. b) I, II e IV. c) III e IV. d) I e IV. e) I, III e IV. 124 2. A dureza é uma propriedade importante na metalurgia, utilizada na especificação, na comparação e nos estudos dos materiais. A respeito da propriedade dureza, avalie as afirmativas a seguir. I) Para o ensaio de dureza Rockwell, são utilizados dois penetradores; uma esfera de aço para os materiais mais macios e um cone de diamante para os materiais mais duros, que são pressionados contra a superfície do material avaliado. II) Tanto a dureza Rockwell quanto a dureza Brinell são determinadas pelo equipamento de teste de acordo com a profundidade atingida pelo material penetrador no corpo de teste. III) A dureza é a medida da resistência de um material a uma deformação plástica localizada, por exemplo, riscos em um material, e ela é avaliada com ensaios de dureza, que consistem na avaliação da resistência da superfície de um material à penetração por um objeto rígido. IV) No ensaio de dureza de Brinell, uma esfera rígida de aço é forçada sobre a superfície do material que se deseja determinar a dureza e a dureza é cal- culada de acordo com o diâmetro de impressão deixado por essa esfera na superfíciedo material. São corretas apenas as afirmativas a) I, II e III. b) I, II, IV. c) II, III e IV. d) I, III e IV. e) I, II, III e IV. 125 3. Quando estudamos as propriedades mecânicas dos materiais, devemos ter em mente que a deformação observada em um material é dependente da tensão aplicada a esse material; na maioria dos materiais metálicos, por exemplo, a deformação e a tensão de tração são proporcionais, entre si, para valores de tensão relativamente baixos. Sabendo disso, qual seria a variação de comprimen- to (Δl) sofrida por uma peça de cobre, com comprimento original de 400 mm, causada por uma tensão de tração com intensidade 150 ⋅ 106 Pa, considerando a deformação totalmente elástica? a) 0,75 mm. b) 0,54 mm. c) 0,35 mm. d) 0,64 mm. e) 0,44 mm. 126 Esse site traz informações sobre o ensaio de tração e as propriedades mecânicas obtidas a partir desse ensaio. Além disso, o site disponibiliza um vídeo de um ensaio de tração sendo realizado em um metal. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/getlinkidapp/3/633 127 ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Pearson, 2010. JAMES, M. G. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Editora Pioneira Thompson Learning, 2003. 128 1. A. A alternativa IV está incorreta, pois a capacidade de um material de recuperar a energia absorvida, durante o processo de deformação elástica, após a remoção da carga que gerou essa deformação, é denominado resiliência. 2. D. A alternativa II está incorreta, pois a dureza Rockwell é determinada pelo equipamento de teste de acordo com a profundidade atingida pelo material penetrador no corpo de teste. 3. B. Uma vez que a deformação é elástica e o material deformado é um metal, podemos utilizar a Lei de Hooke para solucionar esse problema. s � �E e �� �l l0 Então s � �E l l0 Isolando Δl: � �l l E s 0 O módulo de elasticidade (E) do cobre pode ser encontrado na Tabela 1, e os demais dados foram forne- cidos no enunciado do exercício: E l � � � � � 110 400 150 9 0 6 GPa =110 10 Pa mm 10 Pas Substituindo na equação, obtemos: � � � � � � � � l l E l s 0 6 9 6 150 400 150 40 ( ( ( 10 Pa)( mm) 110 10 Pa) 10 Pa )( 00 0 54 9 mm) 110 10 Pa ) mm ( , � � �l 129 130 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Entender o que é a falha nos materiais, bem como apre- sentar os tipos de fratura e a mecânica envolvida neles. • Estudar a falha por fadiga e o mecanismo pela qual essa falha ocorre. • Entender o que é o mecanismo pelo qual ocorre a falha por fluência em materiais. Fratura Fadiga Fluência Me. Luis Henrique de Souza Falhas em Materiais Sólidos Fratura Nesta unidade, será abordado o tema de falhas dos materiais. Começaremos estudando o tópico rela- cionado à fratura, no qual entenderemos o que é uma fratura frágil e uma fratura dúctil, quais são os fundamentos envolvidos nesses tipos de falhas que podem ocorrer tanto em materiais frágeis quanto dúcteis. Veremos que a existência de defeitos nos materiais pode acabar concentrando tensões nes- ses materiais e, dessa forma, ocasionar sua fratura. Aprenderemos a determinar a tenacidade à fratura em deformação plana e entender sua re- lação com a temperatura, taxa de deformação e tamanho dos grãos que compõem o material. Quando mencionamos a palavra “falha”, enten- demos que um evento ruim aconteceu. Na ciência dos materiais, as falhas são eventos indesejáveis, por razões como vidas humanas colocadas em risco, prejuízo econômico e a interferência da dis- ponibilidade de serviços e produtos. Muitas vezes, o comportamento dos materiais e as causas das falhas são conhecidas, mesmo as- sim a prevenção contra elas é difícil de ser garan- tida. Geralmente, as falhas estão relacionadas ao processamento incorreto do material, a escolha 133UNIDADE 5 errada de materiais para um determinado projeto, a projetos mal elaborados ou, ainda, a má utiliza- ção de um componente. Além disso, os compo- nentes estruturais de um projeto podem sofrer danos durante a operação, que comprometam a sua integridade, por essa razão, é importante a inspeção regular e o reparo ou substituição desses componentes para a segurança do projeto. Como engenheiros, somos responsáveis pela segurança durante toda a vida útil de um projeto; sendo assim, devemos antecipar e considerar as possíveis falhas que possam ocorrer e, caso ocor- ram, devemos avaliar a sua causa e tomar as devidas medidas de prevenção contra futuros incidentes. Fundamentos da Fratura A fratura de um material consiste na separação de um corpo em duas ou mais partes como resultado da aplicação de uma tensão contínua e de intensi- dade constante, ou por uma tensão contínua com uma intensidade que varia lentamente ao longo do tempo. Além disso, a fratura pode ser resultado, também, da fadiga do material, ou da fluência, ambos serão estudados ainda nesta unidade. Apesar das tensões de tração, compressão, ci- salhamento e as torções serem capazes de originar fraturas, concentraremos nossos estudos apenas nas fraturas que ocorrem devido a tensões de tra- ção que atuam em apenas um eixo (uniaxiais). Dois modos de fraturas são possíveis nessas con- dições: a fratura dúctil e a fratura frágil. Na fratura frágil, o material sofre pouca ou nenhuma deforma- ção plástica antes de romper. Já na fratura dúctil, há uma deformação plástica significativa unida a uma grande absorção de energia antes da fratura. Os processos de fratura envolvem duas etapas: uma etapa de formação de trincas no material e outra etapa de propagação dessas trincas. Ambas as etapas resultam da aplicação de uma tensão so- bre o material, e o tipo de fratura está fortemente relacionado com o mecanismo de propagação das trincas. Na fratura dúctil, é observada uma grande deformação plástica na região de propagação de uma trinca, que prossegue lentamente conforme o comprimento da trinca aumenta. Ela é, muitas vezes, chamada de estável, pois resiste a qualquer aumento adicional, desde que não seja aumentada a tensão. Na fratura frágil, por outro lado, a propagação das trincas ocorre rapidamente e com pouca ou nenhuma deformação plástica. Além disso, após formadas as trincas, elas se propagam continua- mente mesmo que a tensão não seja aumentada. Portanto, as fraturas dúcteis são preferíveis em relação às fraturas frágeis, pois uma fratura frá- gil ocorre repentinamente, sem sinais de aviso, e quase sempre seus resultados são catastróficos, ao passo que nas fraturas dúcteis a deformação plástica observada serve de alerta para uma pos- sível fratura, permitindo que medidas preventivas sejam tomadas. Os materiais que sofrem fratura dúctil sob a ação de uma tensão de tração são os metais e suas ligas. As cerâmicas são materiais tipicamente frágeis, e os polímeros podem apresentar vários comportamentos durante a fratura (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Fratura Dúctil Quando tratamos de fraturas dúcteis, existem dois perfis macroscópicos para a superfície do material fraturado, ambos apresentados na Figura 1. Materiais extremamente dúcteis, por exemplo metais puros, como o ouro e o chumbo, apresen- tam no pescoço uma diminuição da área de seção transversal de até 100%, alcançando uma fratura pontual, como podemos ver na Figura 1(a). 134 Falhas em Materiais Sólidos A Figura 1(b) apresenta o perfil mais comum de fratura dúctil, na qual uma quantidade moderada de empescoçamento é observada antes da fratura. Durante o início do processo de empescoçamento, várias cavidades se formam na seção transversal. Na sequência, essas cavidades aumentam de tamanho e se encontram umas com as ou- tras, formandouma trinca elíptica, cujo maior raio é perpendicular à direção de atuação da tensão. A trinca continua crescendo con- forme novas cavidades a alcançam e, por fim, a fratura ocorre pela propagação da trinca ao redor do perímetro externo do pescoço. (a) (b) (c) Figura 1 - Representação do comportamento macroscópico de um material sob fratura Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 202). Para um melhor detalhamento sobre o mecanismo de fratura de um material, deve-se recorrer a análises fractográficas, utilizando um microscópio eletrônico de varredura, nas quais é possível obter as particularidades topográficas das superfícies de fratura. Fratura Frágil Como foi mencionado anteriormente, a fratura frágil ocorre sem uma deformação plástica considerável do material; além disso, ela ocorre pela rápida propagação de uma trinca. O aumento da trinca é praticamente perpendicular à direção da tensão aplicada, e a super- fície produzida na fratura frágil é relativamente plana, como po- demos observar na Figura 1(c), na qual não há nenhuma defor- mação plástica apreciável nem empescoçamento. Na maioria dos materiais cristalinos frágeis, a propagação da trinca é resultado da quebra sucessiva e repetida de ligações atômicas ao longo dos planos cristalográficos no pescoço do material; a esse processo dá-se o nome de clivagem. Como as trin- cas da fratura passam por meio dos grãos que formam o material, essa fratura é chamada de trans- granular ou transcristalina. Em outros materiais, a pro- pagação das trincas ocorre ao longo dos contornos de grãos, e esse processo recebe o nome de intergranular e acontece, geralmente, com materiais que sofreram algum processo que causou a baixa da resistência ou a fragilização das regiões dos contornos de grão. Na temperatura ambiente, tanto as cerâmicas cristalinas quanto as não cristalinas, quase sempre fraturam antes de sofrer qualquer deformação plástica (fratura frágil) quando subme- tidas a uma tensão de tração. Os polímeros termofixos, no geral, também sofrem fratura frágil, e sua resistência à fratura é menor em relação aos mate- riais cerâmicos e metálicos. Já nos polímeros termoplásticos, é 135UNIDADE 5 possível a ocorrência de fratura dúctil e também de fratura frágil. Alguns fatores que favorecem a fratura frágil nos polímeros termoplásticos são a redução da temperatura, aumento da taxa de deformação, pre- sença de entalhe afilado e modificações que aumentam a temperatura de transição vítrea do polímero (CALLISTER, JR.; RETHWISCH, 2012). A fratura frágil é tão perigosa que, certa vez, um navio-tanque fraturou ao meio como resultado da ação da turbulência do mar sobre um pequeno entalhe no casco do navio. As tensões causadas pela turbulência do mar foram amplificadas nas extremidades desse entalhe, o que gerou uma pequena trinca que foi propagada rapidamente pelo casco e resultou na fratura completa do navio ao meio. Fonte: adaptado Callister Jr. e Rethwisch (2013). Mecânica da Fratura A necessidade de compreender o mecanismo da fratura, para que se possa prever falhas e evitar aci- dentes, é a motivação do campo da ciência dos materiais, denominado mecânica da fratura, que é o campo que trata do comportamento dos materiais que contêm trincas, pequenos poros ou microtrin- cas. Apesar dessas imperfeições estarem presentes nos materiais utilizados em engenharia, isso não impede a utilização desses materiais. Vale salientar que as imperfeições mencionadas não se referem aos defeitos dos materiais, como lacunas, discordâncias etc. A partir da mecânica da fratura, é possível quantificar as relações entre as propriedades dos materiais, níveis de tensão, presença de imperfeições que possam gerar trincas e entender os mecanismos pelos quais elas se propagam. Então, durante o planejamento e execução de um projeto, seremos capazes de antecipar e, dessa forma, prevenir falhas estruturais. Neste tópico, aprenderemos a calcular a tensão máxima que um material pode suportar caso ele tenha imperfeições de tamanho e geometria conhecidas (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Concentração de tensões Quando trabalhamos com materiais, podemos observar que a resistência à fratura teórica calculada é sempre maior do que a resistência à fratura medida efetivamente (real). Isso se deve ao fato de que, na superfície e no interior de todos os materiais, existem cavidades ou trincas microscópicas, e elas contribuem para a diminuição da resistência à fratura do material, visto que uma tensão aplicada sobre esse material pode acabar amplificada ou mesmo se concentrando na extremidade delas. 136 Falhas em Materiais Sólidos Esses defeitos (microcavidades e microtrincas) são, muitas vezes, chamados de concentradores de tensão, já que são capazes de amplificar uma ten- são aplicada sobre eles. Contudo, a amplificação de tensões não acontece somente nesses defeitos microscópicos, ela também ocorre em desconti- nuidades internas do material, como vazios ou inclusões, em fendas, entalhes, arranhões etc. O efeito de um concentrador de tensões é mais efetivo em materiais frágeis do que nos materiais dúcteis, pois em materiais dúcteis, a deformação plástica começa apenas quando o limite de escoa- mento é ultrapassado, ocasionando uma distribui- ção de tensões mais uniforme na vizinhança do concentrador de tensões, diminuindo o efeito dos concentradores de tensão em materiais dúcteis. Esse efeito não ocorre em materiais frágeis em nenhuma extensão apreciável; por essa razão, os concentrado- res de tensão têm uma maior influência nos mate- riais frágeis (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Tenacidade à fratura A tenacidade à fratura é uma propriedade que mede a resistência de um material a uma fratura quando uma trinca está presente. Ela é calculada pela relação K Y ac c= σ π na qual Kc é a tenacidade à fratura; Y é um fator geométrico que depende do tamanho, da geome- tria e da localização da trinca em relação à super- fície do material; σc é a tensão crítica necessária para a propagação de uma trinca; e α é o tamanho da trinca, que é a metade do diâmetro maior da trinca, como podemos observar na Figura 2. As unidade de Kc são MPa/ m ; Y é adimensional; e α possui unidade de m no SI. Na Figura 2, podemos verificar uma placa pla- na com uma trinca no seu interior e uma trinca na sua superfície. �� ������� ������� � σ σ Figura 2 - Representação dos parâmetros de trincas em um material. Fonte: o autor. O fator geométrico Y vale 1,0 para o caso do material ser uma placa plana contendo trincas de comprimentos muito menores que a largura da placa. Já para o caso de uma trinca localiza- da na borda (superfície) da placa, o valor de Y é aproximadamente 1,1. Além disso, existem várias fórmulas complexas para o cálculo do fator geo- métrico Y, que dependem da geometria da trinca e do material em questão, contudo não vamos nos aprofundar nesse assunto. Para o caso particular de placas cuja espessura é muito maior que as dimensões da trinca, o pa- râmetro Kc é independente da espessura da placa; essa condição recebe o nome de deformação pla- na. Nesse caso, quando uma tensão atua em uma trinca, da forma como está representado na Figura 137UNIDADE 5 2, não existe nenhum componente de deformação perpendicular às faces, posterior e anterior da placa, e o valor de Kc é conhecido como tenacidade à fratura em deformação plana, representado por KIc e calculado por: K Y aIc = σ π O subscrito I (“um” em algarismos romanos) indica que o modo de deslocamento da trinca é de abertura ou tração (Figura 3(a)). Além desse modo de deslocamento, existe o deslocamento II, modo de cisalhamento (Figura 3(b)), e o deslocamento III, modo de rasga- mento (Figura 3(c)). Os valores de KIc são baixos para materiais frágeis, uma vez que eles não apresentam uma deformação plástica apreciável frente a uma trinca em propagação e, por essa razão, eles são mais suscetí- veis a falhas catastróficas. Em contrapartida, os materiaisdúcteis apresentam valores de KIc relativamente grandes. A mecânica da fratura é especialmente importante para prever falhas catastróficas em casos em que o material possui uma ductilidade intermediária. Os valores de tenacidade à fratura em deformação plana para alguns materiais são apresentados na Tabela 1. (a) (b) (c) (a) (b) (c) (a) (b) (c) Figura 3 - Tipos de deslocamento da superfície de uma trinca Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 209). Tabela 1 - Dados de tenacidade à fratura em deformação plana e limite de escoamento para alguns materiais à temperatura ambiente Material KIc Limite de escoamento Liga de alumínio (7075-T651) 24 495 Liga de alumínio (2024-T3) 44 345 Liga de titânio (Ti-6Al-4V) 55 910 Aço-liga (4340 revenido a 260°C) 50,0 1640 Aço-liga (4340 revenido a 425°C) 87,4 1420 Concreto 0,2-1,4 - Vidro a base de cal e soda 0,7-0,8 - Óxido de alumínio 2,7-5,0 - Poliestireno (PS) 0,7-1,1 25,0-69,0 Poli(metil metacrilato) (PMMA) 0,7-1,6 53,8-73,1 Policarbonato (PC) 2,2 62,1 Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). 138 Falhas em Materiais Sólidos A tenacidade à fratura em deformação plana, KIc, é um parâmetro fundamental dos materiais, especialmente em projetos estruturais, e ela de- pende de muitos fatores, dentre eles, os de maior influência são a temperatura, a taxa de deforma- ção e a microestrutura do material. O valor de KIc: • Diminui com a diminuição da tempe- ratura. • Diminui com o aumento da taxa de de- formação. • Aumenta com a diminuição do tamanho dos grãos que formam o material, desde que as demais propriedades microestru- turais sejam mantidas constantes. De acordo com o que vimos até agora sobre a mecânica da fratura, pudemos perceber que a te- nacidade à fratura (Kc) ou tenacidade à fratura em deformação plana (KIc), a tensão aplicada (σ) e o tamanho da trinca (α) são variáveis fundamentais para projetos estruturais. Então, assumindo que o valor de Y já tenha sido determinado, é importante definir quais das variáveis apresentam restrições à sua aplicação e quais serão controladas pelo projeto. Por exemplo, os valores de KIc (ou Kc) dependem dos materiais selecionados para o projeto que, por sua vez, são escolhidos de acordo com fatores, como a massa específica, para aplicações que exigem baixo peso; e resistência à corrosão, para situações em que o material ficará exposto a um ambiente severo etc. Além disso, o tamanho da trinca, α, do material a ser estipulado ou medido. Nessa situação, na qual dois parâmetros são definidos, como os valores de KIc e α, o terceiro parâmetro, nesse caso a tensão aplicada σ, é de- pendente deles e obtido das equações K Y aIc = σ π Então, isolando-se o parâmetro que deve ser calculado, nesse caso a tensão aplicada σ, obtemos σ π = K Y a Ic Seguindo o mesmo raciocínio, se a tensão apli- cada σ e a tenacidade à fratura em deformação plana KIc forem definidos no projeto, o tamanho máximo da trinca admissível para esse projeto pode ser calculada pela relação a K Y Ic� � � � � � � 1 2 π σ Devido à importância do estudo sobre fraturas, principalmente na manutenção de equipamen- tos já em serviço, muitas técnicas não destrutivas de avaliação de defeitos (trincas), tanto internos quanto superficiais, foram desenvolvidas. A partir delas, é possível analisar componentes estruturais que estão em serviço, na busca por defeitos que possam ocasionar uma falha prematura. Algumas dessas técnicas devem ser realizadas em laborató- rio, contudo, muitas delas podem ser conduzidas no próprio ambiente em que o componente en- contra-se operando. A seguir, vamos ver um exemplo da aplicação da equação da tenacidade à fratura em deforma- ção plana para a determinação do tamanho má- ximo da trinca para que o material não frature (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013; SHAC- KELFORD, 2013). 01 EXEMPLO Uma chapa plana, de grandes dimensões, feita de aço, será utilizada para a montagem de um reator nuclear. Sabe-se que ela deverá suportar uma ten- são de tração operacional igual a 310 MPa. Deter- mine o tamanho limite da trinca na superfície da chapa para que o material não frature, sabendo que a tenacidade à fratura em deformação plana para essa chapa vale 87,9 MPa. Resolução Como foi dito, a chapa de aço possui grandes di- mensões, e a trinca está localizada na superfície dessa chapa, portanto, podemos assumir o parâ- metro Y = 1,1. Então, utilizaremos a relação a K Y Ic� � � � � � � 1 2 π σ Substituindo os valores do enunciado na equação, obtemos a a � � � �� � � �� � 1 87 9 310 1 1 1 87 9 310 2 p p , ( )( , ) , ( ) MPa m MPa MPa m MPa (( , ) , ( )( , ) , 1 1 1 87 9 310 1 1 1 0 2578 2 2 � � �� � � �� � � � �� � � �� � � � a a p p m m 22 0 021a � , m = 21 mm Portanto, o tamanho máximo que uma trinca lo- calizada na superfície dessa placa pode ter é a = 21 mm . 140 Falhas em Materiais Sólidos Nos projetos estruturais, podem ocorrer falhas (fraturas) devido a outros fenômenos, por exem- plo, a fadiga. A falha por fadiga pode ocorrer em níveis de tensão consideravelmente inferiores ao limite de resistência à tração do material, pois o componente é submetido a esforços repetitivos ou mesmo cíclicos por um longo período de tempo e, dessa forma, a durabilidade desse componente fica seriamente comprometida. Formalizando, dá-se o nome de fadiga à falha de um componente devido à aplicação repetitiva de tensões dinâmicas e variáveis, que podem ser maiores ou menores que o limite de escoamento desse material. Esse tipo de falha acontece, geral- mente, em componentes sujeitos a carregamentos dinâmicos, como em aviões, molas, virabrequins, pás de turbinas, implantes biomédicos e até mesmo sapatos. Todos esses componentes estão constante- mente sujeitos a tensões repetitivas, como tensões de tração, compressão e cisalhamento, flexão, vi- Fadiga 141UNIDADE 5 bração, dilatação térmica (veremos em outra uni- dade) etc. Geralmente, essas tensões estão abaixo do limite de escoamento do material, porém quan- do se repetem um número de vezes suficiente, elas são capazes de causar a fratura do material por fadiga (BEER; JOHNSTON JR., 2009). A falha por fadiga ocorre em três etapas. Na primeira etapa, surge uma pequena trinca na superfície do material após um longo período de aplicação da tensão. Elas surgem em locais de descontinuidade da superfície, como entalhes ou poros e, até mesmo, em contornos de grãos. Na segunda etapa, essas trincas começam a se propagar gradualmente, a cada novo carrega- mento ao qual o componente é submetido. Por fim, na terceira etapa, ocorre a fratura súbita do componente quando a seção resistente está muito reduzida para suportar mais um carregamento do ciclo. Dessa forma, os componentes podem fraturar por fadiga, pois mesmo que a tensão total aplicada não supere o limite de escoamento do material, essa tensão pode superar pontualmente a resistência à tração do material devido à con- centração de tensões. O fenômeno da fadiga é mais comum em materiais metálicos e poliméricos. Entretanto, o mecanismo de fadiga nos polímeros difere do mecanismo de fadiga observado nos metais, pois à medida que os polímeros são submetidos a ten- sões cíclicas, eles experimentam um aquecimento nas pontas das trincas, e esse aquecimento esti- mula a ocorrência de outro fenômeno conhecido como fluência, que veremos adiante. A fadiga é praticamente desconsiderada nos materiais cerâmicos, uma vez que esses materiais, geralmente, falham em decorrência da sua baixa tenacidade à fratura. Por essa razão, as cerâmicas são, normalmente, projetadas para suportar car- gas estáticas, e não cíclicas. Tensões Cíclicas As tensões aplicadas podem ser de natureza axial (tração ou compressão), de torção ou de flexão (do- bramento). Além disso, existem, basicamente, três tipos de ciclos de tensão aos quais um componente pode estar sujeito. Na Figura 4, são apresentadasas curvas de tensão de tração/compressão por tempo para cada um dos três tipos de ciclos de tensão. Na Figura 4(a), vemos o ciclo de tensões al- ternadas, cuja representação segue uma função senoidal. Nesse tipo de ciclo, as tensões máximas, por exemplo, um tracionamento, e mínimas, como uma compressão, são iguais em magnitude; além disso, elas se alternam uniforme e repetidamen- te, formando ciclos de tensões alternadas. Grafi- camente, observamos esse comportamento em curvas de tensão por tempo, cujas amplitudes de máximo e mínimo são simétricas em relação ao nível zero de tensão. Uma situação semelhante é visualizada na Fi- gura 4(b), na qual temos um ciclo de tensões repetidas; nesse caso, as tensões máximas e mí- nimas se alternam uniforme e repetidamente, mas suas magnitudes não são iguais. Portanto, são formados ciclos cuja tensão de tração tem uma magnitude diferente da tensão de compres- são. Esse tipo de ciclo é identificado como uma curva cujas amplitudes máximas e mínimas são assimétricas em relação ao zero de tensão. 142 Falhas em Materiais Sólidos σ��� 0 σ��� Tempo (a) Te ns ão Co m pr es sã o Tr aç ão + - σ� σ� σ� 0 Tempo (b) Te ns ão Co m pr es sã o Tr aç ão + - Tempo (c) Te ns ão Co m pr es sã o Tr aç ão + - σ��� σ��� Figura 4 - Gráficos das curvas de tensão por tempo Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 219). Por fim, na Figura 4(c), podemos ver o último tipo de ciclo que é o ciclo de tensões aleatórias; neste podemos ver que as tensões de máximo e mínimo variam de forma não regular o tempo todo a cada ciclo, não mantendo padrão algum. O estudo desse tipo de ciclo é complexo devido ao seu caráter totalmente aleatório. Especificamente para o ciclo de tensões repetidas (Figura 4(b)), alguns parâmetros são definidos: o primeiro deles é a tensão média σm que é a média entre a tensão máxima, smáx , e a tensão mínima, smín , do ciclo. s s s m máx mín� � 2 Além disso, temos o intervalo de tensões, simbolizado por σi, que é a diferença entre a tensão má- xima e a tensão mínima, ou seja s s si máx mín� � A amplitude de tensão, σa, que equivale à metade do in- tervalo de tensões σi. s s s s a i máx mín� � � 2 2 E, por fim, temos a razão de ten- sões, R, definida como a razão en- tre as tensões máxima e mínima. R máx mín = s s Por convenção, as tensões de tração são sempre positivas, e as tensões de compressão são sempre negativas, o que resulta em uma razão de tensões R = -1 para ciclos de tensões alternadas. Ensaio de fadiga A resistência à fadiga, assim como outras propriedades me- cânicas, pode ser determinada a partir de ensaios de laboratório, nos quais o aparato de laborató- rio utilizado simula as condições de tensão em serviço nas quais o componente será submetido quando estiver em operação. A avaliação do material con- siste em uma série de ensaios 143UNIDADE 5 em que um corpo de teste, feito do material que se deseja avaliar, é submetido a um ciclo de tensões, com uma amplitude máxima de tensão (σmáx), geralmente, na ordem de dois terços do limite de resistência à tração do material, até que esse corpo de prova falhe, então, o número de ciclos para a falha é contado. Esse processo de avaliação é repetido utilizando-se outros corpos de prova idênticos e aplicando-se uma amplitude máxima de tensão gradativamente menor, novamente contando a quantidade de ciclos até a falha. Com os dados de tensão e do número de ciclos até a falha obtidos nos ensaios, são plotadas as curvas, conhecidas como curvas S-N, para o material. Nessas curvas S-N, o S é a tensão; geralmente utiliza-se o valor da amplitude de tensão σa (podendo, em algumas situações, ser utilizadas as tensões máximas σmáx ou mínimas σmín), e o N é o logaritmo do número de ciclos até a falha do material. As curvas S-N indicam que quanto maior a magnitude da ten- são, menor é o número de ciclos que o material suportará antes de fraturar. Na Figura 4, estão representados dois tipos comuns de comportamento para as curvas S-N. O primeiro tipo de comportamento é de um material que apre- senta um limite de resistência à fadiga (Figura 5(a)). Para esses ma- teriais, existe uma tensão limite, denominada limite de resistência à fadiga, e para tensões abaixo desse valor, a falha por fadiga do material não acontecerá, mesmo após um número, praticamente, in- finito de ciclos. Acima desse limite, o número de ciclos antes da falha (vida em fadiga) diminui com o aumento da magnitude da tensão. Já na Figura 5(b), vemos o comportamento de um material que não possui um limite de resistência à fadiga, ou seja, independen- temente da magnitude do ciclo de tensão, após um determinado intervalo de tempo, ocorrerá a falha por fadiga do material. Nesse caso, conforme a amplitude de tensão aumenta, o número de ciclos do material até a falha diminui, e para esses materiais, definimos a resistência à fadiga, Sf, que é o nível de tensão no qual a falha do componente ocorrerá quando alcançar um número de ciclos especí- ficos. Além disso, podemos também caracterizar a vida em fadiga, Nf, de um material, que é o número de ciclos que o material suportará até a sua falha, quando submetido a um certo nível de tensão. Ainda na Figura 5(b), observamos dois pontos na curva S-N, para o primeiro ponto dizemos que a resistência à fadiga do ma- terial em N1 ciclos é igual a S1, e para o segundo ponto dizemos que a vida em fadiga do material sob uma tensão de S2 é igual a N2 (CALLISTER, JR.; RETHWISCH, 2012; SHACKELFORD, 2013). 144 Falhas em Materiais Sólidos Normalmente, na literatura, as curvas S-N são valores médios, pois a dispersão de dados em ensaios de fadiga é muito grande. Para corpos de prova idênticos sob o mesmo nível de tensão, os valores de N podem variar amplamente, devido a vários fatores, como a fabricação do corpo de teste, variáveis metalúrgicas, alinhamento do corpo de prova no equipamento de teste, entre outros. Por essa razão, são utilizados dados médios para as curvas S-N. 103 Limite de resistência à fadiga Ciclos até a falha, N (a) A m pl itu de d e te ns ão , S 104 105 106 107 108 109 1010 103 S1 S2 N2N1 Ciclos até a falha, N (b) A m pl itu de d e te ns ão , S 104 105 106 107 108 109 1010 103 Limite de resistência à fadiga Ciclos até a falha, N (a) A m pl itu de d e te ns ão , S 104 105 106 107 108 109 1010 103 S1 S2 N2N1 Ciclos até a falha, N (b) A m pl itu de d e te ns ão , S 104 105 106 107 108 109 1010 Figura 5 - Representação dos dois tipos de curvas S-N Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). Efeitos do Ambiente O ambiente ao qual o componente está inserido influencia na vida em fadiga desse material. Nesse âmbito, temos a chamada fadiga térmica, que é ocasionada por tensões oriundas de variações térmicas no ambiente ao qual o componente está inserido. Essas tensões são o resultado de restri- ções às expansões e contrações que o componente deveria sofrer quando submetido a variações na temperatura, relacionadas ao coeficiente de ex- pansão térmica αl do material. A tensão térmica sT , ocasionada por uma variação de temperatura ∆T , pode ser calculada pela relação a seguir σ αT l E T� � Uma maneira de se evitar a fadiga térmica é eli- minar as restrições que possam existir à dilatação térmica do material; dessa forma, o material pode- rá sofrer expansões e/ou contrações sem que nada impeça esse movimento. Veremos mais sobre esse assunto na Unidade 7. Outra falha muito comum que pode ocorrer relacionada ao ambiente é a fadiga associada à corrosão, que é uma falha resultante da ação de uma tensão cíclica aliada a um ataque químico. Componentes expostos a ambientes corrosivos acabam tendo suas vidas em fadiga reduzidas, pois esses ambientes favorecem a formação de pequenos furos no componente devido a reações químicas que acontecem entre o ambiente e o material. Esses furos, por sua vez, terão o papelde concentradores de tensões e, por consequência, formarão trincas. Além disso, o contato da trinca com o ambiente corrosivo favorece sua propagação, diminuindo ainda mais a vida em fadiga desses componentes. A fadiga associada à corrosão pode ser preve- nida por diversas técnicas, entre elas com o uso de revestimentos de proteção na superfície do componente, seleção de materiais mais resistentes à corrosão e, em alguns casos, até mesmo diminuir a corrosividade do ambiente. 145UNIDADE 5 Quando um componente opera em temperaturas elevadas, mas abaixo da temperatura de fusão do material, durante longos períodos de tempo, ele pode sofrer uma deformação permanente devido a uma tensão de magnitude abaixo do limite de escoa- mento desse material. Essa deformação permanente é dependente do tempo de exposição do material; a essa tensão é dada o nome de fluência. Muitas das situações de falha de componentes, que operam a altas temperaturas, são resultado do fenômeno de fluência, ou de uma combinação de fluência e fadiga. Ensaio de Fluência Uma forma simples de ensaio de fluência consiste em submeter um corpo de prova a uma carga ou tensão constante e a uma temperatura elevada cons- tante ao mesmo tempo. Dessa forma, é avaliada, en- tão, a deformação produzida no corpo de prova em relação ao tempo decorrido do ensaio. Para a maio- ria dos materiais metálicos, é comum os ensaios de fluência serem conduzidos sob uma tensão de tração uniaxial, com corpos de prova semelhantes aos dos ensaios de tração mencionados na Unidade 4. Já para materiais frágeis, é mais apropriado a utilização de ensaios de fluência de compressão uniaxial, com corpos de prova cilíndricos ou paralelepípedos. Fluência 146 Falhas em Materiais Sólidos A Figura 6 mostra o comporta- mento de um metal em fluên- cia. Primeiramente, é observada uma deformação instantânea, totalmente elástica, do material, causada no instante inicial de aplicação da carga. Em seguida, inicia-se o fenômeno da fluência, cujo primeiro estágio, conhecido como fluência primária ou tran- siente, é caracterizado por uma diminuição na taxa de deforma- ção, ou seja, uma diminuição na inclinação da curva com o passar do tempo, o que sugere que o ma- terial está aumentando sua resis- tência à fluência (encruamento). O segundo estágio da fluên- cia, conhecido como fluência secundária ou fluência esta- cionária, é o estágio de maior duração; nesse intervalo, a taxa de deformação do material é constante (comportamento li- Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Encruamento ou endurecimento é o fenômeno no qual um metal dúctil torna-se mais duro e resis- tente conforme é deformado plasticamente. A maioria dos metais encrua a temperatura ambiente. Recuperação é o processo no qual o material libera uma parcela da energia armazenada durante a deformação (encruamento), tem a sua dureza reduzida e retém a sua habilidade de sofrer deformação. near da curva de deformação por tempo). A constância da taxa de deformação é resultado de um equilíbrio entre os processos concorrentes de encruamento e recuperação. ∆ э D ef or m aç ão p or fl uê nc ia , Tempo, � Ruptura Primária Terciária Secundária Deformação instantânea x �� ∆t э Figura 6 - Representação do comportamento típico de fluência para um material sob a ação de uma tensão constante a uma temperatura elevada Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). Por fim, temos a fluência terciária, que é o estágio caracterizado por uma aceleração na taxa de deformação (aumento da inclinação da curva) do material, seguida da sua falha (ruptura). Esse compor- tamento se deve a alterações microestruturais e/ou metalúrgicas, como separação de contornos de grãos e formação de trincas, ca- vidades e vazios internos. 147UNIDADE 5 A inclinação da curva na região de fluência secundária (Δ∈/Δt), conhecida como taxa de fluência estacionária ou taxa de fluência mínima e simbolizada por ∈r, é um parâmetro muito importante utili- zado em projetos de engenharia, que levam em consideração aplicações do componente a longo prazo, por exemplo um componente para uma usina de energia nuclear que é projetado para operar por várias décadas. Em outras situações, o tempo para a ruptura ou tempo de vida até a ruptura, tr (Figura 6), é o fator predominante no projeto, como na fabricação de palhetas de turbinas em aeronaves. Efeito da Tensão e Temperatura No fenômeno da fluência, podemos observar que tanto a temperatura quanto a tensão (carga) apli- cada ao material influenciam no processo; dessa forma, um aumento da temperatura ou da tensão acarretará: • Um aumento na deformação instantânea (deformação elástica) resultante da aplicação da tensão. • Um aumento na taxa de fluência estacionária (Δ∈/Δt). • Uma diminuição no tempo de vida até a ruptura por fluência. Esses efeitos podem ser observados na Figura 7 a seguir, que apresenta o efeito da temperatura e da tensão sobre o comportamento das curvas deformação por tempo para o fenômeno de fluência. σ� � � x x x � � < << << 0.4� � ou ou ou Tempo D ef or m aç ão p or � uê nc ia σ σ� σ� � � � � �� � � σ� �� σ� Figura 7 - Representação dos efeitos da temperatura e tensão sobre o comportamento de fluência de um material Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 229). Os resultados dos ensaios de fluência são comumente apresentados na forma de gráficos do logaritmo da tensão por logaritmo do tempo de vida até a ruptura. Na Figura 8, temos três curvas do logaritmo da tensão por logaritmo do tempo de vida até a ruptura de uma liga de carbono e níquel, para as tem- peraturas de 427 °C, 538 °C e 649 °C. 148 Falhas em Materiais Sólidos Tendo em mão essas curvas (como a da Figura 8) para o material que se deseja utilizar, podemos determinar o tempo de vida até a ruptura em uma determinada temperatura quando submetido a uma determinada tensão. Nesta unidade, nós iniciamos os nossos traba- lhos a partir do estudo das falhas em componen- tes, onde aprendemos a diferenciar uma fratura frágil de uma fratura dúctil. Além disso, vimos que alguns fatores, como microtrincas, podem acarretar a concentração de tensão aplicadas em componentes. Vimos, também, os fenômenos da fadiga e da fluência. Em relação à falha por fadiga, vimos que a falha de um componente pode acontecer, mesmo quando o seu limite de escoamento não é ultrapas- sado, caso esse componente seja submetido a uma aplicação repetitiva de tensões dinâmicas e variáveis. Por fim, na falha por fluência, temos que um componente operando a altas temperaturas pode sofrer deformações permanentes quando subme- tido a uma tensão, mesmo que essa tensão seja inferior ao limite de escoamento desse material. Todos esses tipos de falhas são importantes durante o projeto de componentes, especialmente no projeto de componentes estruturais. Essas fa- lhas devem ser evitadas a todo custo, devido aos diversos prejuízos que elas podem causar. 104 105102 400 300 200 100 80 60 60 40 30 20 10 427ºC (800ºF) 538ºC (1000ºF) 649ºC (1200ºF) 8 6 4 3 2 40 30 20 103 Tempo de vida até a ruptura (h) Te ns ão (M Pa ) Te ns ão (1 03 p si ) Figura 8 - Gráfico da tensão (em escala logarítmica) em função do tempo de vida até a ruptura (em escala logarítmica) para uma liga de carbono e níquel Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 229). A fluência deve ser considerada em projetos de reatores, caldeiras, motores e outros componentes que operam a altas temperaturas por longos períodos de tempo. Contudo, materiais como o aço e o concreto sofrem uma ligeira fluência mesmo em temperaturas próximas a ambiente. Fonte: James (2003, p. 17). 149 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. As falhas em componentes são sempre situações indesejáveis devido a diversos motivos, entre eles as vidas humanas colocadas em risco. A respeito das falhaspor fadiga e fluência em materiais, avalie as alternativas: I) A fadiga é a falha de um componente devido à aplicação repetitiva de tensões dinâmicas e variáveis, mesmo que essa tensão não ultrapasse o limite de escoamento desse material. II) O ciclo de tensões alternadas é caracterizado por um ciclo de tensões má- ximas e mínimas, iguais em magnitude, e que se alternam uniforme e repe- tidamente. III) Um aumento na temperatura do material acarretará uma diminuição na taxa de fluência estacionária (Δ∈/Δt). IV) A inclinação da fase de fluência secundária (Δ∈/Δt), conhecida como taxa de fluência estacionária, é um parâmetro importante utilizado em projetos de engenharia, que levam em consideração aplicações em longo prazo. Assinale a alternativa cujos itens estão todos corretos: a) I, II e III, apenas. b) I, III e IV, apenas. c) II e IV, apenas. d) III e IV, apenas. e) I, II e IV, apenas. 150 2. A fadiga é um tipo de falha que pode ocorrer nos materiais quando são subme- tidos a esforços cíclicos. Sob essas condições, é possível que ocorra a fratura do material mesmo que ele esteja submetido a uma tensão inferior ao seu limite de escoamento. A capacidade de resistir a esse tipo de falha é dada em termos do parâmetro resistência à fadiga, que, por sua vez, dependente de algumas variáveis. Sobre a falha por fadiga e a resistência à fadiga de um material, avalie as afirmações a seguir: I) A primeira etapa da falha por fadiga é o surgimento de uma pequena trinca na superfície do material logo após o componente ser posto em serviço. II) Na segunda etapa, as trincas formadas na primeira etapa começam a se pro- pagar, gradualmente, a cada novo ciclo, ao qual o componente é submetido. III) A trincas surgem em locais de descontinuidade da superfície do material, como, por exemplo, em entalhes, poros e, até mesmo, em contornos de grãos. IV) A terceira etapa da falha por fadiga corresponde à fratura súbita do com- ponente, isso ocorre quando a seção resistente está muito reduzida para suportar mais um ciclo de carregamento. São corretas apenas as afirmativas: a) I, II e III, apenas. b) I, II, IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I e III, apenas. e) III e IV, apenas. 151 3. A fratura é um tipo de falha que ocorre nos materiais sólidos e consiste na se- paração do componente em duas ou mais partes como resultado da aplicação de uma tensão contínua, cuja intensidade pode ser constante ou variável. Com relação à teoria de falhas por fratura ocasionadas por uma tensão de tração, leia as afirmativas a seguir. I) Na fratura dúctil de um material, há uma deformação plástica significativa antes do material fraturar. II) Na fratura frágil de um material, há pouca, ou nenhuma, deformação plástica antes do material fraturar. III) Em materiais que sofrem fratura frágil, a deformação plástica observada serve de alerta, permitindo medidas preventivas. IV) Em materiais que sofrem fratura dúctil, após formadas as trincas, elas se propagam continuamente mesmo que a tensão de tração que as gerou não seja aumentada. É correto apenas o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) III e IV, apenas. d) I e III, apenas. e) II e IV, apenas. 152 Resistência dos Materiais Autor: R. C. Hibbeler Editora: Pearson; Edição: 7ª (2009) Sinopse: esse tópico sugerido é uma leitura adicional sobre o conteúdo abor- dado nesta unidade, trazendo o mesmo assunto com a abordagem de um outro autor. Comentário: Indico a leitura do tópico “Falha de materiais devida à fluência e à fadiga”, página 76. LIVRO 153 ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. BEER, F. P.; JOHNSTON JR. E. R. Resistência dos materiais. 7. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2009. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. JAMES, M. G. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Editora Pioneira Thompson Learning, 2003. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013. 154 1. E. A alternativa III está incorreta, pois um aumento na temperatura do material acarretará um aumento na taxa de fluência estacionária (Δ∈/Δt). 2. C. A alternativa I está incorreta, pois a falha por fadiga ocorre em três etapas, sendo a primeira etapa o sur- gimento de uma pequena trinca na superfície do material após um longo período de aplicação cíclica de tensões. 3. A. A alternativa III está incorreta, pois em materiais que sofrem fratura dúctil, a deformação plástica observada serve de alerta, permitindo medidas preventivas. A alternativa IV também está incorreta, pois materiais que sofrem fratura frágil, após formadas as trincas, propagam-se continuamente mesmo que a tensão de tração que as gerou não seja aumentada. 155 156 157 158 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir os termos comuns utilizados no estudo de diagra- mas de fases. • Estudar os diagramas de fases para sistemas isomorfos e eutéticos e aprender a determinar as fases, suas quan- tidades relativas e suas composições. • Conhecer o diagrama de fases do sistema ferro-carbeto de ferro e identificar as transformações de fases que ocorrem nesse sistema. Conceituação básica Diagrama de fases binário Sistema ferro-carbono Me. Luis Henrique de Souza Diagrama de Fases Conceituação Básica Nesta unidade, vamos nos dedicar ao estudo das soluções sólidas e, para isso, é fundamental entendermos o que são e como funcionam os diagramas de fases dos componentes envolvidos nessas soluções sólidas. Os diagramas de fases estão relacionados às microestruturas (apresen- tadas na Unidade 1) e propriedades mecânicas (estudadas na Unidade 4) dos materiais. Além disso, os diagramas de fases fornecem importan- tes informações sobre os fenômenos de fusão, fundição e cristalização, entre outros. Vimos, nas unidades anteriores, que as pro- priedades dos materiais são um reflexo de suas microestruturas e, por essa razão, é importante sabermos em quais condições elas são desenvol- vidas, ou seja, estudar os diagramas de fases dos materiais. Para que possamos entender melhor o assunto, nesse tópico, faremos uma introdução aos conceitos básicos que serão amplamente uti- lizados nos estudos dos diagramas de fases. Sistema: possui duas definições: pode se refe- rir a um corpo específico feito de um determinado material ou, então, pode referir-se ao conjunto das possíveis fases formadas pelos mesmos compo- nentes que estão sendo analisadas. 161UNIDADE 6 Fase: porção homogênea de um sistema que apresenta propriedades químicas e físicas uniformes. São consideradas fases todo material puro e também todas as soluções homogêneas, sejam no estado sólido, líquido ou gasoso. A água pura, por exemplo, pode apresentar as seguintes fases: sólida, líquida e gasosa. Além disso, uma solução de água com açúcar também é uma fase, assim como o açúcar puro constitui outra fase distinta. Toda fase apresenta as seguintes características: • A mesma microestrutura (arranjo atômico). • A mesma composição química e propriedades físicas. • Uma interface de separação entre a fase e as fases da vizinhança (fronteira entre as fases). Quanto à definição dos sistemas, dizemos que um sistema é homogêneo caso esse sistema seja com- posto por apenas uma fase. Da mesma forma, um sistema é dito heterogêneo caso ele seja formado por duas ou mais fases. Componente: substância química distinta que forma a fase. Por exemplo, a fase água líquida pura é formada apenas por um componente, a água; já a fase água com açúcar é formada por dois com- ponentes, a água e o açúcar. Esses conceitos de fase se estendem aos sólidos; para uma barra de liga cobre-níquel, por exemplo, temos uma única fase que é composta pelos componentes cobre e níquel. Solubilidade ilimitada: para alguns sistemas, por exemplo níquel fundido (líquido) e cobre fundido (líquido)ou água e álcool, para qualquer concentração de um componente no outro – níquel fundido em cobre fundido ou água em álcool –, o sistema sempre apresentará apenas uma fase. Isso ocorre porque a solubilidade do níquel em cobre e do álcool em água é ilimitada, ou seja, independente das quantidades de um componente misturadas no outro, o sistema resultante apresentará apenas uma fase, desde que os componentes envolvidos sejam completamente solúveis um no outro. Para o caso de solidificação de componentes com solubilidade ilimitada (solidificação do sistema níquel e cobre, por exemplo), o sólido formado constitui uma solução sólida, cujas propriedades físicas, a estrutura e a composição são uniformes por toda a fase sólida formada. Solubilidade limitada: entretanto, na maioria dos casos, a solubilidade de um componente em outro não é ilimitada. Nesses casos, existe um limite de solubilidade de um componente no outro. Se misturarmos esses componentes em concentrações que não ultrapassem esse limite de solubilidade, ocorrerá a formação de apenas uma fase. Entretanto, quando a adição de um dos componentes ultra- passa o limite de solubilidade, ocorre a formação de uma nova fase. Um exemplo desse comportamento é a mistura dos componentes água e sal. Se adicionarmos uma pequena quantidade de sal em água e agitarmos, o sistema formado possuirá apenas uma fase, água salgada. Entretanto, se continuarmos a adicionar sal a esse sistema, após uma determinada quantidade, ocorrerá a formação de uma nova fase nesse sistema, uma fase de sal sólido. Todo o sal que formou essa nova fase do sistema é o sal excedente ao limite de solubilidade do sal em água. Sendo assim, todo sistema formado por componentes de solubilidade limitada possui um limite de solubilidade definido, que depende dos componentes que o formam. Além disso, o limite de solu- bilidade é dependente da temperatura, ou seja, ele varia conforme a temperatura varia (ASKELAND; WRIGHT, 2015). 162 Diagrama de Fases Equilíbrio de Fases Um sistema é dito em equilíbrio quando sua energia livre é mínima para uma combinação específica de temperatura, pressão e composição. Essa energia livre é uma função termodinâmica relacionada à energia interna do sistema e ao grau de desordem dos seus átomos ou moléculas constituintes (entropia). Macroscopicamente, observa-se, em um sistema em equilíbrio, que as características desse sistema não mudam ao longo do tempo, isto é, elas permanecem as mesmas indefinidamente, o sistema é estável. Contudo, qualquer alteração, seja na temperatura, pressão ou composição desse sistema em equilíbrio, resultará num aumento na energia livre e o sistema buscará um novo estado de equilíbrio. Os sistemas trabalhados quase sempre são constituídos de duas ou mais fases (sistemas heterogê- neos) e, nesse âmbito, empregamos o termo equilíbrio de fases para nos referirmos ao equilíbrio entre as diversas fases que constituem um sistema a uma temperatura, pressão e composição determinadas. Pense em um sistema formado por açúcar dissolvido em água e, também, açúcar sólido como corpo de fundo devido ao limite de solubilidade ter sido ultrapassado. Esse sistema possui duas fases distintas, açúcar + água e açúcar sólido no fundo, que estão em equilíbrio a uma certa temperatura, pressão e composição (concentração). Caso seja aumentada a temperatura desse sistema, este sairá do estado de equilíbrio, pois esse aumento da temperatura aumentará o limite de solubilidade do açúcar na água e, consequentemente, uma quantidade maior de açúcar pode ser dissolvida na água. Em decorrência dessa perturbação do equilíbrio, o sistema buscará um novo estado de equilíbrio que será alcançado quando parte do açúcar sólido do fundo se dissolver na fase água + açúcar, até que o novo limite de solubilidade, nessa nova temperatura, seja alcançado. Esse exemplo ilustra bem o princípio do equilíbrio de fases para sistemas líquido-sólido. Já em sis- temas metalúrgicos e de outros materiais, o estado de equilíbrio do sistema é também um reflexo das microestruturas envolvidas, ou seja, dos arranjos espaciais dos átomos e quantidades relativas das fases. O equilíbrio de fases para sistemas sólidos é dito metaestável, pois, muitas vezes, o equilíbrio propria- mente dito nunca é alcançado. Contudo, esse equilíbrio metaestável pode persistir por um período de tempo longo o suficiente para que as alterações do sistema sejam praticamente imperceptíveis durante a vida útil da peça ou componente. Além disso, em muitos casos, as estruturas metaestáveis são mais importantes que estruturas em equilíbrio, como é o caso de alguns tipos de aço e ligas de alumínio nos quais suas resistências dependem do desenvolvimento de estruturas metaestáveis em tratamentos térmicos cuidadosamente projetados. Portanto, além do conhecimento dos estados de equilíbrio e das estruturas, é importante sabermos também da velocidade (taxa) com a qual essas estruturas são estabelecidas e os fatores que influenciam essa velocidade (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). 163UNIDADE 6 Diagrama de Fases de um Componente Veremos, nesta unidade, os dia- gramas de fases, que são repre- sentações gráficas (curvas) que relacionam variáveis de estado (temperatura, pressão, compo- sições etc.) e as microestruturas de um sistema por meio da re- gra de fases de Gibbs (SHAC- KELFORD, 2013). O diagrama de fases é uma ferramenta extremamente útil quando se trabalha com o con- trole de estruturas de um sis- tema para a produção de um material. Como vimos anterior- mente, o estado de equilíbrio de um sistema é definido para uma combinação de temperatura, pressão e composição; dessa forma, os diagramas de fases são mapas construídos a partir de várias combinações desses parâmetros uns com os outros na forma de diagramas. Neste tópico, iniciaremos os estudos dos diagramas de fases, começando pelo diagrama de fases de um componente. 1.000 100 10 1 0,1 0,01 0,0001 -20 0 20 40 60 80 100 120 2 A B � � O 3 Gás (Vapor d’água) Temperatura (ºC) Pr es sã o (a tm ) Líquido (Água) Sólido (Gelo) � DC Figura 1 - Diagrama de fases pressão-temperatura para a água pura Fonte: adaptada de Callister Jr. e Rethwisch (2013). Na Figura 1, podemos observar o diagrama de fases da água pura. Esse tipo de diagrama é o mais simples, pois envolve apenas um componente e é chamado de diagrama de fases unário. Em um diagrama de fases unário, a composição é cons- tante (só existe um componente, então esse com- ponente representa 100% do sistema), as variáveis de equilíbrio são apenas a temperatura e a pressão, por essa razão, podemos também chamá-lo de diagrama pressão-temperatura. No diagrama de fases da água pura (Figura 1), vemos três regiões definidas: a região de água sólida, a região de água líquida e a região de água gasosa, delimitadas pelas curvas do diagrama. Para cada par de variáveis pressão-temperatu- ra, podemos marcar um ponto no diagrama, e a posição desse ponto define a(s) fase(s) presente(s) nessas condições de pressão e temperatura. Assim sendo, se tivermos um sistema constituído por água pura à pressão de 1 atm e à temperatura de 20 °C, a partir do ponto referente a essas coordenadas no diagrama (ponto A na Figura 1) saberemos que esse sistema possui apenas a fase líquida (água). Além disso, para qualquer ponto sob as curvas do diagrama, coexistem as duas fases separadas por essa curva. No sistema representado pelo ponto B (Figura 1) a 10 atm e 0 °C, por exemplo, coexistem em equilíbrio as fases sólida (gelo) e líquida (água). Quando cruzamos uma fronteira (uma curva do diagrama), seja por uma variação na temperatura, pressão ou uma combinação de ambas, uma fase se transforma em outra. Por exemplo, caso o nosso sistema esteja a -20 °C e 1 atm (ponto C na Figura 1), teremos água na fase sólida, se aquecermos esse sistema até 110 °C, mantendo a sua pressão cons- tante de 1 atm. Primeiramente, vamos verificar oau- mento da temperatura até pouco antes de 0 °C sem 164 Diagrama de Fases qualquer mudança de fase. Quando alcançamos a temperatura de 0 °C (fronteira entre a fase sólida e líquida), inicia-se a transformação da água da fase sólida para fase líquida, e durante esse processo a temperatura permanece constante em 0 °C. Após toda a água passar da fase sólida para a fase líquida, a temperatura dessa água na fase líqui- da volta a subir até 100 °C. Nesse ponto, ela toca a curva de equilíbrio entre a fase líquida e a fase ga- sosa e, novamente, acontece uma mudança de fase, agora, da água na fase líquida para a água na fase gasosa, à temperatura constante de 100 °C. Após toda a água da fase líquida ter se transformado em água na fase gasosa, a temperatura do sistema volta a subir até alcançar os 110 °C à 1 atm, ponto D (Figura 1), no qual existe água na fase gasosa (vapor d’água). Um fato interessante mostrado no diagrama é o ponto de intersecção das três curvas, chamado de ponto triplo (ponto O na Figura 1). No ponto tri- plo, as três fases – sólida, líquida e gasosa – coexis- tem em equilíbrio. Esse ponto é invariável e fixado por valores definidos de pressão e temperatura. A temperatura da água pura em uma panela comum no fogão aumenta até 100 °C, quando a água ferve (a 1 atm), e essa temperatura se mantém constante, mesmo com a chama do fo- gão acesa, enquanto houver água na panela. Já em uma panela de pressão, a água pode atingir valores entre 1,44 e 2,0 atm de pressão, e esse aumento na pressão conduz a temperaturas de ebulição entre 110 °C e 120 ºC. Por essa razão, os alimentos cozinham muito mais rápido em uma panela de pressão do que em uma panela comum. 165UNIDADE 6 Por uma questão prática, os diagramas mais uti- lizados por engenheiros em ciência dos materiais são os diagramas de fases binários, que represen- tam sistemas compostos por dois componentes, no qual as variáveis de estado são a temperatura e a composição. A pressão é mantida constante nesses diagramas, geralmente em 1 atm. Esse tipo de diagrama é uma ferramenta im- portante para prever as transformações de fases e as microestruturas resultantes dessas transfor- mações (SHACKELFORD, 2013). Sistemas Isomorfos Binários Para compreendermos o que são os sistemas isomorfos binários, vamos estudar o diagrama binário do sistema cobre-níquel, como podemos ver na Figura 2(a). O diagrama de fases binário é composto pela temperatura no eixo das ordenadas e pela concentração em porcentagem de peso para o níquel (%p Ni) no eixo das abcissas que repre- senta a composição do sistema (liga metálica). Diagrama de Fases Binário 166 Diagrama de Fases É importante lembrarmos que todos os dia- gramas binários estão relacionados a sistemas com apenas dois componentes, e o eixo das ab- cissas (eixo horizontal, ou eixo x) sempre estará relacionado a um dos componentes. Na Figura 2, por exemplo, o sistema é composto por cobre e níquel, entretanto, o eixo horizontal diz respeito à concentração de níquel (de 0%p Ni até 100%p Ni) no sistema. Uma vez que os sistemas binários são sempre compostos por apenas dois componentes, a soma das concentrações dos dois componentes tem, obrigatoriamente, que ser 100%, então, um sistema cobre-níquel com uma concentração de 40%p Ni, necessariamente, terá uma concentração de 60%p Cu, cuja soma dá 100%. Os sistemas isomorfos são caracterizados de- vido ao fato da completa solubilidade dos seus componentes entre si (solubilidade ilimitada) nos estados líquido e sólido. Esse comportamento é resultado desses componentes terem a mesma estrutura cristalina, possuírem raio atômico e ele- tronegatividade praticamente iguais e valências semelhantes. No diagrama de cobre-níquel (Figura 2), po- demos ver claramente três regiões distintas: a re- gião superior, que é a região de líquido (L); a re- gião entre as curvas, que é uma região bifásica (duas fases) de coexistência da fase sólida alfa e da fase líquida (a+L); e a região inferior, que é a região da fase sólida alfa (a ). 0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100 2800 2600 2400 2200 2000 1600 1500 1400 1300 1200 1100 1000 Linha SolidusLinha Liquidus 1085 ºC 1453 ºCLíquido Composição %p Ni Te m pe ra tu ra (º F) Te m pe ra tu ra (º C) Composição %p Ni(Cu) (Ni) � � α α + � Figura 2 - Diagrama de fases binário para o sistema isomorfo cobre-níquel à pressão de 1 atm Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 246). 167UNIDADE 6 A fase líquida (L) é composta por uma solução líquida homogênea de cobre e níquel, enquanto a fase sólida alfa (a ) é composta por uma solução sólida substitucional, que contém átomos de cobre e ní- quel em sua estrutura cristalina do tipo CFC (cúbica de face centrada). É comum a utilização de letras gregas (a ,b ,g etc.) para a designação das fases sólidas em ligas metálicas. A curva que separa a região da fase L da região da fase a+L é chamada de linha liquidus (curva superior), e a curva que separa a região da fase a+L da região da fase a é chamada de linha solidus (curva inferior). As linhas liquidus e solidus se interceptam nas duas extremidades da composição, ou seja, quando o sistema é composto por cobre puro (0%p Ni) e quando o sistema é composto por níquel puro (100%p Ni). As temperaturas desses interceptos são também as temperaturas de fusão do cobre puro (1085 °C) e do níquel puro (1453 °C). Quando o sistema for composto por uma mistura de cobre e níquel, a fusão dessa liga ocorrerá no intervalo vertical de temperatura entre as linhas liquidus e solidus para a composição da liga. Portanto, para uma liga no estado sólido contendo 40%p/p Ni e 60%p/p Cu, a fusão tem início em uma tem- peratura de, aproximadamente, 1230 °C, e se completa em uma temperatura de, aproximadamente, 1270 °C. Conforme a temperatura aumenta, de 1230 °C até 1270 °C, há uma diminuição gradual da quantidade da fase sólida a e, por consequência, um aumento gradual na quantidade da fase líquida L, até que toda fase a seja transformada na fase L a 1270 °C. Interpretação do Diagrama de Fases Em um sistema binário em equilíbrio, ou seja, a uma temperatura e composição global definidas, é possível extrair, do diagrama de fases desse sistema, as seguintes informações: • As fases presentes no sistema. • As composições de cada uma dessas fases. • As porcentagens de cada fase no sistema. Fases presentes no sistema Para determinar quais fases estão presentes, devemos, primeiramente, localizar no diagrama de fases o ponto de estado referente à temperatura e composição do sistema estudado e observar em qual região encontra-se esse ponto. Em sistemas formados por cobre e níquel (diagrama da Figura 3(a)), pontos acima da linha liquidus representam sistemas formados somente pela fase líquida (L), da mesma forma que pontos abaixo da linha solidus representam sistemas formados somente pela a fase sólida alfa (a ). Por exemplo, para um sistema de composição 60%p Ni - 40%p Cu, a 1100 °C, representado pelo ponto A no diagrama de fases (Figura 3(a)), vemos que o ponto se encontra abaixo da linha solidus no diagrama; portanto, esse sistema apresenta apenas uma fase, a fase sólidaa . Para pontos localizados entre as linhas liquidus e solidus, coexistirão, em equilíbrio no sistema, ambas as fases que circundam a região a+L, ou seja, a fase sólida alfa e a fase líquida. 168 Diagrama de Fases Quantidades relativas de cada fase Quando o sistema estudado cai nas regiões de uma única fase (monofásica), as quantidades re- lativas são sempre 100% da fase, assim, se o pon- to que representa o sistema está localizado na região de líquido (L), esse sistema possui uma quantidade relativa de 100% da fase L. Da mesma forma, se o ponto que representa o sistema está localizado na região sólida a , esse sistema possui uma quantidade relativa de 100% da fase a . Contudo, quando o ponto estiver na região entre as curvas (regiãoa+ L), vimos que existi- rão ambas asfases, a e L, em equilíbrio. Nesse caso, é importante determinarmos as quantidades relativas de cada uma dessas fases em equilíbrio. Esse cálculo pode ser realizado a partir do dia- grama de fases dos componentes. Para os pontos na região bifásica, devemos utilizar a regra da ala- vanca para determinar as quantidades relativas de cada fase. Supondo que o sistema em estudo seja o representado pelo ponto B (Figura 3(b)), cuja temperatura é 1250 °C, e a composição global do sistema (ou simplesmente composição do siste- ma) é de 35%p Ni, os passos para a utilização da regra da alavanca são: • Passo 1: marcar no diagrama o ponto que representa o sistema analisado. No caso do ponto B, as coordenadas são 1250 °C e 35%p Ni. • Passo 2: criar uma linha horizontal, cha- mada linha de amarração, que liga o ponto marcado no passo anterior às curvas mais próximas a ele. Essa linha de amarração é uma isoterma (linha de temperatura cons- tante) cuja temperatura é a temperatura do sistema. Nesse caso, a linha de amarração liga o ponto às linhas liquidus e solidus. • Passo 3: dividir a linha de amarração em duas exatamente no ponto que representa o sistema. A parte à direita chamará S e a parte à esquerda chamará R, como pode- mos ver na Figura 3(b), e os valores de S e R são calculados: S = C - C R = C - C S 0 0 R S + R = C - CS R • Passo 4: a quantidade relativa (em fração) da fase à esquerda, Wesquerda, (para o ponto B, a fase líquida L) é calculada dividindo o com- primento S pelo comprimento total da linha de amarração, ou seja, S+R. E a quantidade relativa (em fração) da fase à direita, Wdireita (para o ponto B, a fase a ) é calculada divi- dindo o comprimento R pelo comprimento total da linha de amarração S+R. W W S S R R S R esquerda direita = = C - C C - C = = C - C C - C S 0 S R 0 R S R + + • Passo 5: as quantidades relativas em por- centagem de cada fase são obtidas pela multiplicação das frações das fases por 100. % = = C - C C - C % da fase à esquerda S 0 S R da fase Wesquerda × ×100 100 à direita 0 R S R = = C - C C - C Wdireita × ×100 100 As linhas de amarração não são utilizadas em re- giões monofásicas, pois, não existem duas fases para serem unidas. 169UNIDADE 6 0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100 2800 2600 2400 2200 2000 1600 1500 1400 1300 1200 1100 1000 Linha SolidusLinha Liquidus 1085 C 1453 CLíquido Composição %p Ni Te m pe ra tu ra (º F) Te m pe ra tu ra (º C) Composição %p Ni(Cu) (Ni) � � (a) Líquido 20 1300 Linha de amarração + Líquido � � � �� �� �� Composição %p Ni (b) Te m pe ra tu ra (º C) 30 40 50 1200 α α + Líquidoα α α α + � o o Figura 3 - Diagrama com pontos representando sistemas cobre-níquel à pressão de 1 atm Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 246). 170 Diagrama de Fases Na Figura 3(b), temos o exemplo de uma liga de composição global 35%p Ni- 65%p Cu a 1250 °C (Passo 1), cujo ponto que representa essas coordenadas é o ponto B, que se encontra na região entre as linhas liquidus e solidus (região bifásica a+L); portanto, esse sistema possui duas fases, a fase líquida L e a fase a , em equilíbrio. Para a determinação das quantidades relativas de cada fase para esse exemplo, devemos utilizar a regra da alavanca. Então (Passo 2), traçamos a linha de amarração ligando o ponto B às linhas liquidus e solidus, na temperatura do sistema (1250 °C). Na sequência (Passo 3), dividimos a linha de amarração em duas partes, R e S, separadas pelo ponto B. Os valores de R, S e R+S são: S = C - C = 43 - 35 R = C - CS 0 0 R �� � � � 35 31 43 31 S + R = C - CS R Então, S = 8 R = 4 S + R = 12 (Passo 4) Para o sistema representado pelo ponto B, a fase à esquerda é a fase líquida L, e a fase à direita é a fase sólida a, então: W W S S R R S R esquerda direita L=W = =W = � � � � 8 12 4 12a Portanto, as frações de cada fase são: W = W = L S S R R S R � � � � 0 6667 0 3333 , ,a Os comprimentos R e S utilizados na regra da alavanca (passo 3) podem, também, ser determinados medindo-se as linhas R e S no diagrama de fases com uma régua. E esses valores obtidos podem ser utilizados para calcular as frações Wesquerda e Wdireita do sistema. 171UNIDADE 6 (Passo 5) Em porcentagem: % , , % % , , % L LW W � � � � � � � � � � 100 0 6667 100 66 67 100 0 3333 100 33 33a a Esse resultado indica que o sistema representado pelo ponto B possui duas fases, e 66,67% desse sis- tema está na fase líquida L e os 33,33% estão na fase sólida a . Composição das fases Além das quantidades relativas das fases, é importante determinarmos a composição dessas fases, ou seja, a concentração ou porcentagem de cada componente dentro de cada fase. Para que isso seja possível, primeiramente, devemos encontrar o ponto temperatura-composição, no diagrama de fases, que representa o sistema analisado. Caso esse ponto esteja localizado em uma região monofásica, a composição ou porcentagem dos componentes na fase são determinados pela concentração global C0, para o sistema representado pelo ponto A na Figura 3(a), por exemplo, a C0 é lida diretamente no ponto A e vale 60%p Ni. Portanto, a composição da fase sólida a para o ponto A é a própria composição global do sistema, que é 60%p Ni. E como só temos dois componentes constituindo esse sistema (níquel e cobre), o restante será cobre, ou seja, 40%p Cu. Já para um ponto localizado em uma região bifásica, a determinação da composição das fases é feita utilizando os interceptos da linha de amarração criada no Passo 2 descrito anteriormente. O intercepto da linha de amarração com a curva à direita fornece a concentração CS e o intercepto da linha de amarração com a curva à esquerda fornece a concentração CR. Essas concentrações CS e CR são, respectivamente, as composições das fases à direita e à esquerda. Para o sistema representado pelo ponto B, na Figura 3(b), CS=43%p Ni é a composição de níquel na fase sólida a (à direita), e CR=31%p Ni é a composição de níquel na fase líquida L (à esquerda). Então, para o ponto B, dizemos que a composição da fase a é 43%p Ni – 57%p Cu e a composição da fase líquida L é 31%p Ni – 69%p Cu. Sistemas Eutéticos Binários O diagrama de fases eutético binário é outro tipo de diagrama de fases binário muito comum, cuja característica principal é que os componentes do sistema possuem solubilidade limitada na fase sólida. O sistema cobre-prata (Figura 4) representa bem o comportamento eutético. 172 Diagrama de Fases Esse diagrama é um pouco mais complexo, pois nele existem três regiões monofásicas e três regiões bifásicas. As regiões monofásicas são as regiões das fases sólidas a e b e a região da fase líquida L. A fase a é uma fase sólida rica em cobre de estrutura CFC, contendo prata como soluto. Já a fase b é rica em prata, com estrutura CFC também, e cobre como soluto. Além disso, a fase a pode ser constituída puramente de cobre (0%p Ag) e a fase b puramente de prata (0%p Cu). A última região monofásica é a região da fase líquida L, na qual o sistema prata-cobre encontra-se fundido. As três regiões de coexistência de duas fases em equilíbrio (bifásicas) são as regiões a+L (fase a e fase líquida), b +L (fase b e fase líquida) e a+b (fase a e fase b ). As quantidades relativas das fases e as composições dessas fases podem ser determinadas utilizando os mesmos procedimentos descritos para os diagramas de fases isomorfos. No diagrama eutético do cobre-prata (Figura 4), a curva AB que separa a fase a da fase a+L é chamada de linha solidus, assim como a linha FG que separa a fase b da fase b +L. As linhas BC e GH que separam, respectivamente, as fases a da fase a+b e a fase b da fase a+b são denomina- das linhas solvus. Por fim, temos aslinhas liquidus, AE e EF, que separam a fase líquida L da fase a +L e a fase líquida da fase b +L. As linhas liquidus se encontram no ponto E, conhecido como ponto invariante e determinado pelas coordenadas de temperatura TE e composição CE, que para o sistema cobre-prata valem, respectivamente, 779 °C e 71,9%p/p Ag. 0 20 40 60 80 100 22001200 1000 � � � Te m pe ra tu ra (º F) Te m pe ra tu ra (º C) 800 600 400 200 (Cu) (Ag) 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 Composição (%p Ag) Solvus (��) 779 ºC (��) (�α�) (�β�) β+� α+β α+� α β �� � 71,98,0 91,2 � Líquido �Liquidus Solidus Figura 4 - Diagrama de fases binário cobre-prata à pressão de 1atm Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 254). 173UNIDADE 6 No ponto E ocorre uma importante reação quando uma liga com composição CE sofre uma alteração na sua temperatura, passando por TE. Essa reação é escrita como L C C CE resfriamento aquecimento E E ( ) ( ) ( )� ������ ����� �α βα β na qual, CaE e Cb E são as concentrações respectivas das a e b na temperatura TE. Em uma reação eutética, um sistema de composição CE, na fase líquida, transforma-se em um sistema com duas fases sólidas α e β ; conforme é resfriado abaixo da temperatura eutética TE, o processo pode ser revertido pelo aquecimento do sistema. A reação eutética, no sentido do resfriamento, ocorre à temperatura constante TE até que toda a fase líquida se solidifique (assim como em componentes puros), e o sólido formado é sempre com- posto por duas fases. Fonte: adaptado de Shackelford (2013). A reação eutética para o sistema cobre-prata (Figura 4) segue a reação: L resfriamento aquecimento ( , % ) ( , % )71 9 8 0p Ag p Ag� ������ ����� α �� β( , % )91 2 p Ag Outra característica interessante dos sistemas eutéticos é que, ao longo de toda a curva BEG (chamada de isoterma eutética), as três fases (a ,b e L) coexistirão em equilíbrio no sistema (CALLISTER JR.; RETHWISCH, 2013). Os sistemas eutéticos existem, também, nos materiais cerâmicos e são muito importantes nesses materiais; a sílica (SiO2) e a alumina (Al2O3), por exemplo, constituem um sistema com uma reação eutética à temperatura de 1587 °C. A partir do diagrama Al2O3- SiO2, é possível a fabricação de produtos como os vidros VycorTM e Pyrex®. Regra de Fases de Gibbs Os diagramas de fases e os princípios que regem o equilíbrio entre as fases é ditado pelas leis da ter- modinâmica. Para o nosso estudo, é importante conhecer uma dessas leis, em especial, a regra de fases de Gibbs, que dita o número de fases que podem coexistir em um sistema em equilíbrio. A regra de fases de Gibbs é matematicamente expressa pela equação N C F P� � � 174 Diagrama de Fases em que P representa o número de fases presentes, F é o número de graus de liberdade (número de variáveis controladas externamente, por exemplo temperatura, pressão e composição), C é a quanti- dade de componentes que compõem o sistema, e N é o número de variáveis que não são relacionadas à composição, por exemplo, temperatura e pressão. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Vamos analisar o diagrama de fases binário mos- trado na Figura 4, nele sabemos que a pressão é constante e vale 1 atm, portanto, a única variável, independente da composição, é a temperatura, nesse caso N = 1. O número de componentes no diagrama binário é dois; no nosso caso, a prata e o cobre, então C = 2. Para as regiões monofásicas do diagrama bi- nário cobre-prata (Figura 4), P vale 1, pois temos apenas uma fase, logo N C F P F F � � � � � � � 2 1 1 2 Isso significa dizer que, nessas condições, o sistema (a liga) é completamente especificado utilizando dois parâmetros: a temperatura e a composição global. Imagine uma liga na fase L, com composi- ção de 60%p Ag, somente com essas informações o sistema ainda não estará completamente definido, pois essa liga poderá estar, por exemplo, a 1000 °C, 1100 °C etc. e ainda estar na região de líquido (L). Portanto, para que esse sistema esteja completa- mente definido, é necessário estabelecermos, além da composição global, a sua temperatura. Para as regiões bifásicas do diagrama binário cobre-prata (Figura 4), P vale 2, pois em cada uma delas coexistem duas fases em equilíbrio, logo N C F P F F � � � � � � � 2 1 2 1 Portanto, nesse caso, o sistema (a liga) é com- pletamente especificado utilizando apenas um parâmetro, que pode ser a temperatura ou a com- posição de uma das fases. Por exemplo, para uma liga a 900 °C na região bifásica a+L. Sabendo a temperatura (900 °C, por exemplo), as compo- sições estarão estabelecidas pela linha de amar- ração nessa temperatura e, aplicando os passos ensinados anteriormente, poderemos determinar que as composições da fase a são, aproximada- mente, 8%p Ag - 92%p Cu, e da fase L são 42%p Ag - 58%p Cu. Vamos imaginar, agora, um sistema trifásico, contendo as fases L, a eb , isso só ocorre sobre a linha BEG do diagrama (isoterma eutética) da Figura 4. Na isoterma eutética, a temperatura já está definida e, no nosso exemplo, vale 779 °C (além da pressão constante do diagrama, 1 atm); portanto o valor de N é igual a 1, pois a única variável do diagrama que não depende da compo- sição continua sendo a temperatura. Já sabemos que a quantidade de fases presentes é três, então o valor de P é 3 e a quantidade de componentes continua sendo C = 2 (cobre e prata). Com essas informações, temos: N C F P F F � � � � � � � 2 1 3 0 175UNIDADE 6 Esse resultado mostra que não existem graus de liberdade para uma liga trifásica no diagrama de fases binário; em outras palavras, significa dizer que, para qualquer sistema localizado sobre a isoterma eutética, as composições das fases a ,b e L, e a temperatura já estão todas fixadas e, no caso do sistema cobre-prata (Figura 4), valem, respectivamente, CaE = 8%p Ag, CaE = 91,2%p Ag, CLE = 71,9%p Ag e TE = 779 °C. Endurecimento por Solução Sólida Em materiais metálicos, existe um comportamento importante, chamado de endurecimento por solução sólida. Esse comportamento é caracterizado pelo aumento da resistência mecânica como consequência do aumento da restrição à movimentação de discordâncias do material. Essa é a razão pela qual o latão, liga de cobre e zinco, é mais resistente do que o cobre puro. Outro exemplo de aplicação desse compor- tamento é feito pelos joalheiros, que não fabricam joias com ouro e prata puros, pois são metais muito macios e se deformam facilmente, contudo a adição de cobre ao ouro ou à prata eleva a resistência mecâ- nica dessas ligas e permite a produção de joias de alta durabilidade. A intensidade do endurecimento por solução sólida depende de dois fatores: o primeiro é a diferença de tamanho dos átomos do metal de base (metal original da rede) e o metal adicionado (soluto); nesse caso, quanto maior a diferença de tamanho, maior o efeito de endurecimen- to, pois, grandes diferenças criam uma distorção elástica na estrutura cristalina do material e dificulta o deslizamento das discordâncias (Figura 5). O segundo fator é a quantidade do elemento de liga, quanto maior for a quantidade desse elemento, maior será o endurecimento. Na Figura 5, podemos observar que o cobre com 20%p Zn é mais resistente do que o cobre com 10%p Zn. 0 0 10 20 30 276 207 138 69 �� �� �� �� �� �� Porcentagem do elemento de liga Li m ite d e es co am en to (M Pa ) Figura 5 - Efeito de endurecimento por solução sólida no cobre para vários elementos de liga Fonte: adaptada de Askeland e Wright (2015). 176 Diagrama de Fases Os efeitos do endurecimento por solução sólida nas propriedades mecânicas dos metais são descritos a seguir. O limite de escoamento, limite de resistência à tração e à dureza das ligas metálicas são maiores do que dos metais puros. Esse é um dos motivos pelos quais é frequente o uso de ligas metálicas em vez do metal puro. Na fabricaçãode latas de alumínio para bebidas, por exemplo, são utilizadas pequenas quantidades de magnésio (Mg) para aumentar a resistência dessas latas. A ductilidade é, quase sempre, reduzida pelo endurecimento por solução sólida. Contudo, exis- tem exceções, como é o caso das ligas de cobre-zinco, que têm sua resistência mecânica e ductilidade aumentadas pelo endurecimento por solução sólida. A condutividade elétrica (assunto que será tratado na Unidade 7) dos metais puros é muito maior do que a da liga. Esse comportamento é explicado pelo fato dos elétrons serem mais espalhados pelos átomos de elementos de liga do que pelos átomos da matriz (átomos originais da rede). Por último, a resistência à fluência, de ligas é maior do que em metais puros, ou seja, ela aumenta devido ao endurecimento por solução sólida. Este é um dos motivos da seleção de materiais utilizados em altas temperaturas: levar em consideração a possibilidade de endurecimento por solução sólida. Nos materiais cerâmicos, a formação de uma solução sólida não tem um efeito significativo no aumento da resistência, uma vez que a resistência mecânica nesses materiais se deve, principalmente, à distribuição de defeitos na estrutura do material e não pela propagação e interação de linhas de discordâncias (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Quando a adição de elementos de liga, de maior ou de menor tamanho, ultrapassa o limite de solu- bilidade, ocorre o endurecimento do material, chamado de endurecimento por dispersão. Nesse mecanismo, a interface entre a fase de maior quantidade, chamada de matriz, e a fase de reforço, chamada de precipitada ou fase dispersa, atua como uma barreira que dificulta a movimentação das discordâncias e, consequentemente, aumenta a resistência mecânica da liga. Na maioria das ligas, esse endurecimento é alcançado por transformações de fase, como as reações eutéticas e as reações eutetoides. Fonte: adaptado de Askeland e Wright (2015). 177UNIDADE 6 Dentre as diversas possibilidades de diagramas de fases que podemos estudar, devido à restrição de tempo e ao objetivo deste material, vamos nos ater ao estudo do sistema ferro-carbono que é, inclu- sive, um dos mais importantes dentre os sistemas de ligas binárias. A gama de materiais compostos por ferro e carbono vai desde os aços até os ferros fundidos, que estão entre os principais materiais estruturais da nossa cultura. Diagrama de Fases Ferro-Carbeto de Ferro Para o estudo deste tópico, vamos utilizar parte do diagrama ferro-carbono, representado na Figura 6, conhecido como diagrama do ferro-carbeto de ferro. Neste diagrama, vemos que o ferro puro passa por duas transformações da sua estrutura cristalina antes da fusão a 1538 °C (eixo vertical à esquerda do diagrama). À temperatura ambiente, encontramos a primeira fase cristalina do ferro que é chamada de ferrita ou ferro a , cuja estru- tura é do tipo CCC (cúbica de corpo centrado) e se mantém até uma temperatura 912 °C. Quando Sistema Ferro-Carbono 178 Diagrama de Fases essa temperatura é alcançada, o ferro a sofre uma transformação polimórfica da estrutura cristalina CCC para uma estrutura cristalina CFC (cúbica de face centrada), chamada de austenita ou ferro g . A estrutura do ferro g persiste até a tempera- tura de 1394 °C, a partir da qual o ferro g sofre outra transformação em sua estrutura e volta a ter estrutura cristalina CCC chamada de ferrita d que persiste até a temperatura de 1538 °C, quando, finalmente, sofre a fusão (torna-se líquido). No diagrama da Figura 6, vemos que a con- centração de carbono (eixo horizontal) estende- -se até um máximo de concentração de 6,7%p C, na qual forma-se um composto intermediário chamado carbeto de ferro ou cementita (Fe3C), representado por uma linha vertical no diagra- ma de fases (eixo vertical à direita do diagrama). Apesar do diagrama completo do ferro-carbono estender-se além da composição de 6,7%p C, até 2500 2000 1500 1000 6,706543210 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1538 ºC 1493 ºC 1394 ºC 2,14 4,30 1147 ºC 727 ºC � + Fe3C 912 ºC 0,76 0.022 Composição(%p/pC) Cementita (Fe3C) Austenita�, Ferrita ,Fe3c (Fe) Te m pe ra tu ra (º C) Te m pe ra tu ra (º F) α, α + � α + � + � �δ fases ricas em carbono, vamos nos ater à parte do diagrama mostrada na Figura 6 (diagrama fer- ro-carbeto de ferro), uma vez que todos os aços e ferros fundidos possuem teores de carbono inferiores a 6,7%p C. O carbono é uma impureza intersticial no ferro e forma soluções sólidas com as fases a , g e d . Observamos que as fases a e d existem apenas em baixas concentrações de carbono (máximo de 0,022%p C para o ferro a a 727 °C e 0,025%p C para a ferrita d à 1493 °C). Isso se deve ao fato de que as posições intersticiais na estrutura CCC são pequenas e dificultam a acomodação dos átomos de carbono. Embora as concentrações de carbo- no no ferro a e na ferrita d sejam baixas, elas influenciam fortemente nas propriedades mecâ- nicas desses materiais, a fase a , por exemplo, é relativamente macia e pode ser transformada em magnética em temperaturas inferiores a 768 °C. Figura 6 - Diagrama ferro-carbeto de ferro Fonte: Callister Jr. e Rethwisch (2013, p. 272). 179UNIDADE 6 Na austenita (ferro d ), a concentração máxima de carbono é de 2,14%p C a uma temperatura de 1147 °C, praticamente 100 vezes maior do que o ferro a , devido aos interstícios maiores da estrutura CFC. Finalmente, a cementita (Fe3C) é um material muito duro e frágil e sua presença aumenta a resis- tência em alguns tipos de aços. Ela é formada quando o limite de solubilidade do carbono no ferro a é excedido abaixo de 727 °C ou quando o limite de solubilidade do carbono no ferro g é excedido entre as temperaturas de 727 °C e 1147 °C. Os nomes, símbolos, estrutura cristalina, porcentagem máxima de carbono e temperatura na solubilidade máxima de cada fase estão dispostos na Tabela 1. Tabela 1 - Informações sobre as fases do sistema ferro-carbeto de ferro Símbolo (fase) Nome da fase Estrutura Cristalina Porcentagem máxima (%p C) Temperatura na solubilidade máxima (°C) a Ferrita ou Ferro alfa CCC 0,022 727 g Austenita ou Ferro gama CFC 2,14 1147 d Ferro delta ou Ferrita delta CCC 0,10 1493 Fe3C Cementita ou Carbeto de ferro Ortorrômbica 6,70 - Fonte: o autor. No diagrama ferro-carbeto de ferro, vemos também a ocorrência de uma reação eutética (assim como nos sistemas eutéticos) na concentração 4,3%p C a 1147 °C, na qual há a transformação da fase líqui- da L nas fases sólidas ferro g e cementita, representada a seguir. L Fe C resfriamento aquecimento � ������ ����� �g 3 Existe uma reação eutetoide nesse diagrama, de extrema importância para os tratamentos térmicos dos aços, ela ocorre em 0,76%p C, e a 727 °C a transformação pode ser representada por γ α( , ) ( ,0 76 0 022%p C %p C) resfriamento aquecimento � ������ ����� �� Fe C3 6 7( , )%p C na qual vemos que o resfriamento do ferro g conduz a formação do ferro a e da cementita (Fe3C). Quanto à classificação das ligas ferrosas, temos três tipos: • Ferro: possui concentrações de carbono inferiores a 0,008%p. • Aço: possui concentrações de carbono entre 0,008%p e 2,14%p. • Ferro fundido: possui concentrações de carbono entre 2,14%p e 6,7%p. Embora essas sejam as classificações das ligas ferrosas, os aços, na prática, raramente ultrapassam con- centrações 1,0%p C, e os ferros fundidos comerciais geralmente possuem concentrações de carbono inferiores a 4,5%p. 180 Diagrama de Fases Microestruturas em Ligas de Ferro-Carbono Como foi dito anteriormente, a reação eutetoide nas ligas de ferro-carbono, que ocorre em 0,76%p C a 727 °C, é muito importante, pois representa as transformações de fases que acontecem nos tratamentos térmicos de aços. Por essa razão, vamos tratar das reações resultantes do resfriamento lento dos aços, considerando que o equilíbrio é mantido constantemente durante todo o processo. Apesar da simplicidadeda reação eutetoide, as mudanças de fases que ocorrem durante esse processo são relativamente complexas. Tomemos como exemplo uma liga de composição eutetoide 0,76%p C a uma temperatura inicial de 850 °C; nessas condições, existe somente a fase austenita em equilíbrio no sistema. Essa liga é, então, resfriada lentamente, mantendo-se a sua composição constante. Durante o resfriamento até a temperatura de 727 °C, não há mudança de fase na liga, ou seja, a fase austenita se mantém até o sistema alcançar a temperatura eutética de 727 °C. Nessa temperatura, então, o sistema sofre a transformação de acordo com a reação eutetoide. γ α( , ) ( ,0 76 0 022%p C %p C) resfriamento aquecimento � ������ ����� �� Fe C3 6 7( , )%p C A transformação da austenita (g ), pelo resfriamento lento, dá origem a uma microestrutura formada por camadas alternadas das duas fases presentes (a fase a e a fase Fe3C) abaixo da isoterma eutética de 727 °C, e essa microestrutura formada recebe o nome de perlita. A perlita apresenta propriedades mecânicas intermediárias entre o ferro a e a cementita (Fe3C), ou seja, é um intermediário entre a maciez e a ductilidade do ferro a e a dureza e fragilidade da cementita. Ligas hipoeutetoides No resfriamento lento de ligas de ferro-carbono fora da composição eutetoide (em concentrações diferentes de 0,76%p C), temos duas situações: as ligas hipoeutetoides, as quais possuem a composi- ção abaixo da composição eutetoide (menores que 0,76%p C), e as ligas hipereutetoides, nas quais a concentração de carbono está acima da composição eutetoide (maiores que 0,76%p C). Vamos considerar, primeiramente, uma liga hipoeutetoide (concentração de carbono entre 0,022%p e 0,76%p) a uma temperatura de 1000 °C e com uma composição de 0,38%p C, nessas condições, temos somente a fase austenita. Essa liga é, então, resfriada lentamente, mantendo-se sua composição global constante (0,38%p C), o que é representado no diagrama por uma reta vertical com sentido para baixo. Abaixo de 800 °C, essa reta cruza a curva do diagrama e, nesse momento, a liga entra numa região bifásica (a+g ), onde parte da austenita começa a se transformar em ferro a . A determinação das quantidades e das composições das fases a e g para qualquer temperatura dentro da região bifásica a+g pode ser feita utilizando a metodologia estudada no tópico quantidades relativas de cada fase. Se continuarmos o resfriamento dessa liga dentro da região bifásica a+g , ocorrerá uma diminui- ção da quantidade da fase g e, por consequência, um aumento da quantidade da fase a ; além disso, a 181UNIDADE 6 composição de ambas as fases sofre um aumento na concentração de carbono, sutil para a fase a e mais intenso na fase g ; entretanto a composição global permanece constante. Se o resfriamento prosseguir até que seja cru- zada a isoterma eutetoide (a 727 °C), ocorrerá a transformação de toda a fase g em perlita, e nesse momento teremos uma fase a originada antes da temperatura eutetoide, chamada ferrita proeute- toide, e outra fase a formada junto com a perlita na temperatura eutetoide, chamada ferrita eute- toide. Portanto, em todas as ligas hipoeutetoides de ferro-carbono, resfriadas lentamente abaixo da temperatura eutetoide, estarão presentes a perlita e a ferrita proeutetoide. Ligas hipereutetoides De maneira análoga, existem as transformações das ligas hipereutetoides, cuja concentração de carbono do sistema está entre 0,76%p até 2,14%p, que acontecem quando essas ligas são resfriadas lentamente, a partir da região monofásica da fase g (austenita) até abaixo da temperatura eutetoide. Vamos considerar uma liga hipereutetoide a 1000 °C, cuja composição global é 1,5%p C. Nes- sas condições, a liga apresenta somente a fase g ; ao resfriarmos essa liga, lentamente, até ela alcan- çar a região bifásica g +Fe3C observaremos que parte da fase g se transformará em cementita (Fe3C), denominada cementita proeutetoide, uma vez que é formada antes da temperatura eutetoide. Conforme o resfriamento da liga prossegue na região bifásica, é observada uma diminuição gradual na quantidade da fase g e, em contra- partida, um aumento na quantidade da fase Fe3C. Além disso, a concentração de carbono na fase g diminui durante esse resfriamento, porém a concentração de carbono na cementita permane- ce constante em 6,7%p durante todo o processo. Quando a temperatura da liga cruza a isoterma eutética, toda a fase g restante transforma-se em perlita. Portanto, essa liga abaixo da temperatura eutética é composta de perlita e cementita proeu- tetoide. As transformações envolvendo ferro e carbono são muitas, contudo o intuito do nosso curso é fornecer apenas uma introdução a esse assunto, por essa razão, vamos encerrar os nossos estudos dos diagramas de fases por aqui. Caro(a) aluno(a), nesta unidade, entramos na discussão sobre diagramas de fases, começando com uma conceituação básica sobre os termos importantes envolvidos neles. Em seguida, foi apresentado o diagrama de fases unário da água pura, no qual pudemos observar as três fases da água, sólida, líquida e gasosa, as interfaces entre elas e também o seu ponto triplo. Aprofundamos os estudos com os diagramas de fases binários, começando pelo estudo dos sistemas isomorfos, onde identificamos as fases presentes, líquida e sólida alfa, as linhas solidus e liquidus, e também aprendemos a calcular as quantidades presentes de cada fase e a composi- ção dessas fases em um sistema. Vimos o diagrama de fases binário para siste- mas eutéticos, no qual observamos a existência de três regiões monofásicas e três regiões bifásicas. Além disso, vimos que existe uma isoterma eu- tética nesse diagrama, onde ocorre uma reação importante para esses sistemas. Finalizamos a unidade com uma abordagem introdutória do diagrama de fases do ferro-car- beto de ferro, na qual estudamos algumas mi- croestruturas e transformações importantes desse sistema. Espero que você tenha entendido o assunto e aproveitado esse tempo de estudo. Nos vemos na próxima unidade, até breve. 182 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Os diagramas de fases binários são curvas que representam as relações entre a temperatura e as composições, bem como a quantidade de fases em equilíbrio para uma liga binária. A seguir, é apresentado o diagrama binário eutético para cobre-prata. 0 20 40 60 80 100 22001200 1000 � � � Te m pe ra tu ra (º F) Te m pe ra tu ra (º C) 800 600 400 200 (Cu) (Ag) 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 Composição (%p Ag) Solvus (��) 779 ºC (��) (�α�) (�β�) β+� α+β α+� α β �� � 71,98,0 91,2 � Líquido �Liquidus Solidus Em relação ao diagrama cobre-prata, assinale a opção correta. a) Na composição de 71,9% em peso de prata, o ponto eutetoide ocorre a 780 °C e é caracterizado pela transformação em duas fases sólidas durante o resfriamento. b) A curva CBA estabelece o limite de solubilidade da solução sólida rica em cobre. c) A linha BEG também pode ser considerada uma curva liquidus e representa a temperatura mais baixa, em que o líquido pode existir para quaisquer das concentrações. d) Na construção dos diagramas binários, as regiões monofásicas estão sempre separadas umas das outras por outra região monofásica. e) A curva HGF delimita a região da solução sólida rica em cobre. 183 2. O diagrama de fases Fe-Fe3C (ferro – cementita) é a base dos estudos de trata- mentos térmicos para ligas ferrosas como os aços. A seguir, é apresentado um diagrama ferro – cementita. 2500 2000 1500 1000 6,706543210 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1538 ºC 1493 ºC 1394 ºC 2,14 4,30 1147 ºC 727 ºC 912 ºC 0,76 0.022 Composição(%p/pC) Cementita (Fe3C) Austenita Ferrita ,Fe3c (Fe) Te m pe ra tu ra (º C) Te m pe ra tu ra (º F) α, α + � �� � + � � �, δ Com base no diagrama de fases do Fe-Fe3C apresentado, assinale a alternativa correta. a)Um ponto localizado na região I corresponde a um sistema monofásico. b) O diagrama apresenta uma transformação de fases em 727 °C, denominada eutetoide, com o sólido ferro-gama decompondo-se em ferro-alfa e cementita, por resfriamento. c) Um ponto localizado na região II corresponde a um sistema bifásico composto por ferrita + cementita. d) A quantidade máxima de carbono na fase ferrita é superior à quantidade má- xima de carbono na fase austenita. e) Durante o aquecimento do ferro puro, da temperatura ambiente até a tempe- ratura de 1600 °C, o ferro sofrerá as seguintes transformações: ferro-alfa → ferro-delta e de ferro-delta → ferro-gama. 184 3. Os diagramas de fases são mapas termodinâmicos em que se podem prever quais são fases que coexistem em condições de equilíbrio termodinâmico. Esses diagramas também auxiliam na previsão dos mecanismos de endurecimento permitidos. A figura a seguir apresenta o diagrama de fases em equilíbrio do sistema Cu-Ni. te m pe ra tu ra (º C) 1500.0 1450.0 1400.0 1350.0 1300.0 1250.0 1200.0 1150.0 1100.0 1050.0 1000.0 0.0 20.0 40.0 Composição (wt%)Cu Ni 60.0 80.0 100.0 α �� � + α Considerando o resfriamento em condições de equilíbrio de uma liga Cu-40%p Ni no estado líquido, conclui-se que: a) O primeiro sólido terá composição em massa maior que 40%p Ni e o último terá composição de 40%p Ni. b) O primeiro sólido terá composição em massa maior que 40%p Ni e o último terá composição maior que 40%p Ni. c) O primeiro sólido terá composição em massa menor que 40%p Ni e o último terá composição maior que 40%p Ni. d) O primeiro sólido terá composição em massa menor que 40%p Ni e o último terá composição menor que 40%p Ni. e) O primeiro e o último sólido terão composição em massa de 40%p Ni. 185 Princípios de Ciência dos Materiais Autor: Lawrence H. Van Vlack Editora: Blucher Sinopse: material suplementar para o estudo dos sistemas e diagramas de fases. Comentário: indico a leitura do capítulo 09 “Materiais Polifásicos e Relações de Equilíbrio”. LIVRO 186 ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013. 187 1. B. A alternativa (a) está incorreta, pois na composição de 71,9% em peso de prata, o ponto eutetoide ocorre a 779 °C e é caracterizado pela transformação em duas fases sólidas durante o resfriamento. A alternativa (c) está incorreta, pois a linha BEG também pode ser considerada uma curva solidus e repre- senta a temperatura mais baixa em que o líquido pode existir para quaisquer das concentrações. A alternativa (d) também está incorreta, pois, na construção dos diagramas binários, as regiões monofásicas estão sempre separadas umas das outras por regiões bifásicas. E a alternativa (e) está incorreta, pois a curva HGF delimita a região da solução sólida rica em prata. 2. B. A alternativa (a) está incorreta, pois um ponto localizado na região I corresponde a um sistema bifásico, ferro-alfa + ferro-gama. A alternativa (c) está incorreta, pois um ponto localizado na região II corresponde a um sistema bifásico composto por Austenita (ou ferro-gama) + cementita. A alternativa (d) está incorreta, pois a quantidade máxima de carbono na fase ferrita (0,022%) é inferior à quantidade máxima de carbono na fase austenita (2,14%). E a alternativa (e) está incorreta, pois, durante o aquecimento do ferro puro, da temperatura ambiente até a temperatura de 1600 °C, o ferro sofrerá as seguintes transformações: ferro-alfa → ferro-gama e de ferro-gama → ferro-delta. 188 3. A. Como o primeiro sólido formado aparece imediatamente quando toca a curva liquidus, a concentração de Ni na fase L é 40%p (ponto amarelo) e na fase sólida é 54%p (ponto verde), ou seja, maior que 40%p. te m pe ra tu ra (º C) 1500.0 1450.0 1400.0 1350.0 1300.0 1250.0 1200.0 1150.0 1100.0 1050.0 1000.0 0.0 20.0 40.0 Composição (wt%)Cu Ni 60.0 80.0 100.0 α � � + αR es fr ia m em to Primeiro sólido formado Já o último sólido formado aparece imediatamente quando toca a curva solidus, a concentração de Ni na fase L é 26%p (ponto amarelo) e na fase sólida alfa será exatamente 40%p. Te m pe ra tu ra (º C) 1500.0 1450.0 1400.0 1350.0 1300.0 1250.0 1200.0 1150.0 1100.0 1050.0 1000.0 0.0 20.0 40.0 Composição (wt%)Cu Ni 60.0 80.0 100.0 α �� � + α Re sf ria m em to Último sólido formado 189 190 191 192 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Estudar a condução elétrica nos materiais condutores e entender como funciona o mecanismo da condução. • Apresentar os materiais dielétricos e suas características. • Conhecer os materiais condutores poliméricos e saber o que é polarização. • Compreender o que é e a importância da capacidade calorífica e da expansão térmica em sólidos. • Entender como funciona o mecanismo de condução tér- mica nos materiais. Propriedades elétricas - condução elétrica em metais Propriedades elétricas - condução elétrica em cerâmicas e polímeros Propriedades térmicas - condutividade térmica Propriedades térmicas - capacidade calorífica e expansão térmica Me. Luis Henrique de Souza Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais Propriedades Elétricas - Condução Elétrica em Metais Caro(a) aluno(a), nesta unidade, exploraremos outras propriedades importantes nos projetos de engenharia, diferentes das propriedades mecâni- cas que foram abordadas na Unidade 4. Começa- remos o nosso estudo pelas propriedades elétricas, onde veremos o que é condutividade elétrica e como ela se aplica em materiais, que podem se comportar como condutores, isolantes ou semi- condutores. Dentre os materiais semicondutores, estudaremos os do tipo p e do tipo n para diferen- ciarmos o funcionamento de cada um, além disso, será discutido um tópico sobre o comportamento dielétrico de materiais isolantes. Após o estudo das propriedades elétricas, dare- mos continuidade com o estudo das propriedades dos materiais envolvidas com a temperatura. A pri- meira delas será a capacidade calorífica, relaciona- da à energia térmica absorvida por um corpo; em seguida, veremos a expansividade térmica que trata das variações de volume sentidas pelos materiais quando submetidos ao aumento ou à diminuição de temperatura. Finalizaremos a unidade com o estudo da condução térmica, que consiste na transferência da energia térmica realizada pelo material. Desejo a você uma ótima experiência de aprendizado. 195UNIDADE 7 Condução Elétrica Quando trabalharmos com materiais sólidos, uma das mais importantes propriedades elétricas a ser avaliada é a condutividade elétrica, que consiste na facilidade com que o material conduz eletricidade. Essa condução elétrica está relacionada ao movimento de espécies individuais do material em escala atômica, chamadas portadores de carga. O tipo mais simples de portador de carga é o elétron, cuja carga é negativa e equivale a -1,6.10-19 C (coulombs). Um conceito um pouco mais abstrato e de fundamental importância, principalmente nos semicondutores, é o de lacuna eletrônica, que é formada pela ausência de um elétron na nuvem eletrônica. Essa ausência do elétron, carregado negativamente, concede à lacuna uma carga positiva efetiva de 1,6 ⋅ 10-19 C, em relação à sua vizinhança. Em materiais iônicos, os cátions e os ânions são portadores de carga, e a movimentação deles pode gerar o fenômeno denominado condução iônica (SHACKELFORD, 2013). Essa facilidade em conduzir a corrente elétrica é representada pela equação conhecida como Lei de Ohm, apresentada a seguir: V IR= Nela V é a diferença de potencial elétrico (tensão elétrica), cuja unidade é volts (V); I é a intensidade de corrente elétrica (ou taxa de passagem decargas ao longo do tempo), cuja unidade é ampère (A); e R é a resistência elétrica do material, cuja unidade é ohm (Ω). A unidade ampère equivale a coulombs por segundo (1 A = 1 C/s). O valor da resistência R de um material depende da geometria da amostra analisada. Para um fio no formato cilíndrico, por exemplo (Figura 1), a resistência aumenta com o aumento do comprimento do fio, l, e diminui com o aumento da área de seção transversal, A, essa relação é conhecida como 2ª lei de Ohm. R l A = r Com a 2ª lei de Ohm, definimos uma propriedade elétrica importante, chamada de resistividade elétrica (ou simplesmente resistividade), ρ, cujas unidades são Ω ∙ m. Diferentemente da resistência R, a resistividade elétrica ρ, é uma propriedade independente da geo- metria da amostra analisada. A resistividade elétrica depende somente do tipo do material utilizado. 196 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais Relacionando a 1ª e a 2ª lei de Ohm, temos: 1ª lei de Ohm: 2ª lei de Ohm: Isolando V IR R V I R l R= → = = ρ AA RA l Isolando ρ ρ → = Se substituirmos a equação obtida de R na equa- ção para ρ, obtemos: R V I RA l R V I� � ��������� �substituindo por em / r r � VA Il A última equação relaciona a resistividade elétrica de uma amostra de material com a tensão elétrica e com a corrente elétrica. A partir da resistividade elétrica, podemos de- finir outra propriedade importante, a condutivi- dade elétrica, σ, que é simplesmente o inverso da resistividade elétrica. Assim como a resistividade elétrica, a condutividade elétrica não depende da geometria da amostra, depende somente do tipo de material utilizado. σ ρ = 1 Ela representa a facilidade em conduzir corrente elétrica que um material específico possui e é o parâmetro utilizado na classificação elétrica dos materiais. As unidades de σ são Ω-1 ∙ m-1 ou (Ω ∙ m)-1. � � � Figura 1 - Representação da condução elétrica em um material de formato cilíndrico Fonte: o autor. A partir dos valores de condutividade elétrica dos materiais, eles são classificados como: Condutores: possuem condutividades entre 104 e 107 (Ω ∙ m)-1, por exemplo a maioria dos metais. Semicondutores: possuem condutividades intermediárias, entre 10-7 e 104 (Ω ∙ m)-1. Isolantes: possuem condutividades entre 10-20 e 10-10 (Ω ∙ m)-1, como acontece com a maioria das cerâmicas e polímeros. Bandas de Energia nos Sólidos Apesar dos íons também serem condutores de corrente, nos materiais condutores, semicon- dutores e na maioria dos materiais isolantes, a corrente é conduzida majoritariamente a partir dos elétrons nesses materiais. Contudo, devemos entender que nem todos os elétrons que formam o material estão disponíveis para a condução de corrente elétrica. Para a formação de um material sólido, é ne- cessário o agrupamento de um número muito grande de átomos, conduzindo a formação da estrutura cristalina desse material. Esse grande número de átomos, próximos uns aos outros, cau- sam uma interferência nos elétrons de um átomo pelos elétrons e núcleos dos átomos vizinhos a ele. 197UNIDADE 7 Essa interferência leva à formação de estados eletrônicos espaçados, mas próximos entre si, formando o que são denominadas bandas de energia eletrônica. Em cada banda eletrônica, existe um estado de energia, e a diferença entre estados adjacentes é muito pequena. As propriedades eletrônicas de um material são um reflexo das bandas de energia eletrônicas desse material. Na temperatura 0 K (-273,15 °C), existem quatro diferentes tipos de bandas possíveis representados na Figura 2: a) Banda mais externa, parcialmente preenchida com elétrons. Característica de alguns metais (condutores), em particular de metais com apenas um elétron de valência, por exemplo o cobre. b) Superposição de uma banda vazia com uma banda preenchida. Também característica em metais (condutores), como é o caso do magnésio. c) Banda de valência, completamente preenchida com elétrons, separada de uma banda de condução vazia. Essas bandas são separadas por um espaçamento entre as bandas de energia de grande magnitude. Os materiais isolantes apresentam esse comportamento. d) Banda de valência, completamente preenchida com elétrons, separada de uma banda de con- dução vazia. Essas bandas são separadas por um espaçamento entre as bandas de energia de pequena magnitude. Os materiais semicondutores apresentam esse comportamento. Banda vazia Banda vazia Banda de condução vazia Banda de condução vazia Espaçamento entre as bandas Espaçamento entre as bandas Banda preenchida Banda de valência preenchida Banda de valência preenchida Espaçamento entre as bandas Estados vazios Estados preenchidos a) b) c) d) Figura 2 - Tipos de bandas eletrônicas nos sólidos Fonte: adaptada Callister e Rethwisch (2013). O estudo aprofundado desses conceitos foge do escopo da nossa disciplina, contudo, devemos saber que somente elétrons livres participam do processo de condução elétrica. Para que um elétron se torne livre, ele deve ser excitado ou promovido para uma das bandas de energia vazias, ou seja, o elétron deve migrar para uma banda vazia ou estado vazio, no caso da Figura 2(a). Além disso, em materiais isolantes e semicondutores, as lacunas eletrônicas também participam da condução elétrica. Inclusive, a diferença entre os semicondutores e os isolantes reside na quantidade dos elétrons livres e das vacâncias presentes nesses materiais, devido à diferença do espaçamento entre as bandas desses dois tipos de materiais (CALLISTER; RETHWISCH 2013). 198 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais Condutores (Metais) Os metais são os materiais que melhor representam a classe dos condutores, pois pouca ou nenhuma energia é necessária para promover um elétron do estado ou banda preenchido para um estado ou banda vazio adjacente nos condutores; geralmente, a energia térmica do material já é o suficiente para a promoção de elétrons livres nesses materiais. Por essa razão, a quantidade de elétrons livres é, relati- vamente, alta, sendo assim, a condutividade elétrica desses materiais também é alta. Isolantes e semicondutores Quando se trata de isolantes e semicondutores, não existem estados vazios adjacentes para que o elétron possa migrar facilmente. As bandas de valência desses materiais são totalmente preenchi- das e, além disso, a banda de condução é separada da sua banda de valência por um espaçamento entre bandas. Para que um elétron seja promovido a elétron livre, ele deve receber energia suficien- te para migrar da banda de valência até a banda de condução, na qual ele terá a mobilidade para conduzir corrente elétrica. A energia necessária para essa promoção é, geralmente, de uma fonte térmica ou de uma fonte luminosa. Nos materiais isolantes, o espaçamento entre as bandas de valência e de condução é relativa- mente grande, portanto, a energia necessária para a promoção do elétron da banda de valência para a banda de condução também é muito grande, e esse material dificilmente possuirá elétrons livres para a condução de corrente elétrica. Em materiais semicondutores, a distância en- tre as bandas de valência e de condução é menor, o que significa que a energia para a promoção de elétrons livres é menor em relação aos materiais isolantes. Por essa razão, os semicondutores pos- suem uma quantidade de elétrons livres muito maior que os isolantes, nas mesmas condições energéticas, ou seja, eles possuem condutivida- des elétricas intermediárias entre os isolantes e os condutores. Mobilidade dos elétrons Quando um material, que contenha elétrons livres, é submetido a um campo elétrico, esses elétrons livres são acelerados na direção oposta desse campo devido a suas cargas negativas. Dessa forma, os elétrons livres acelerados dão origem a um fluxo ordenado de elétrons; entretanto, apesar destes serem acelerados, a corrente elétrica geradanesse processo não aumenta com o decorrer do tempo. Esse comportamento se deve ao fato de que existem forças que se contrapõem a essa ace- leração (forças de fricção), mantendo a magnitude da corrente elétrica constante. As forças de fricção são resultado das imper- feições presentes na rede cristalina do material, como lacunas, átomos de impureza, discordân- cias, átomos intersticiais e também das vibrações térmicas dos próprios átomos da rede. A esse fluxo de elétrons constante, resultante de todos os fatores mencionados, de direção opos- ta ao campo elétrico aplicado, é dado o nome de corrente elétrica (I). Visto que os defeitos na estrutura cristalina do material interferem negativamente na magnitude da corrente elétrica que passa por ele, podemos analisar a resistividade elétrica com base nesses defeitos. Para os metais, por exemplo, a resistivi- dade elétrica total pode ser escrita como: r r r rtotal t i d� � � 199UNIDADE 7 Onde, • ρt representa a resistividade resultante das vibrações térmicas do material. • ρi representa a resistividade resultante das impurezas presentes no material. • ρd representa a resistividade resultante da deformação plástica. Semicondutividade Os condutores possuem uma condutividade mui- to superior aos semicondutores, contudo, outras características elétricas fazem dos semicondutores materiais de extrema importância, principalmen- te no âmbito tecnológico. Uma dessas caracterís- ticas é a sensibilidade elétrica a impurezas, mes- mo em concentrações muito pequenas. A seguir, abordaremos os semicondutores intrínsecos e os semicondutores extrínsecos. Semicondutor intrínseco O comportamento elétrico dos semicondutores intrínsecos se deve à estrutura eletrônica inerente do material puro. Como foi dito anteriormente, os semicondutores são constituídos por uma banda de valência totalmente preenchida e separada de uma banda de condução por um espaçamento relativamente pequeno. Nos semicondutores in- trínsecos, cada elétron promovido para a banda de condução deixa para trás uma lacuna (buraco) nas ligações covalentes do material. Essa lacuna pode ser tratada como uma partí- cula carregada positivamente de mesma magni- tude que o elétron, porém de sinal oposto. Então, na presença de um campo elétrico, os elétrons excitados (promovidos para a banda de condu- ção) e as lacunas movem-se em direções opostas. Em um semicondutor intrínseco, a condução elétrica depende tanto dos elétrons promovidos quanto dos buracos produzidos nessa promoção. Semicondutor extrínseco Os semicondutores comercializados são, geral- mente, extrínsecos, fabricados para utilizações es- pecíficas, geralmente em dispositivos eletrônicos que operam à temperatura ambiente e possuem condutividades elétricas altas nessas condições. Nos semicondutores extrínsecos, o compor- tamento elétrico do material é ditado por áto- mos de impurezas presentes nesses materiais, que mesmo em concentrações pequenas, conduzem a um excesso de elétrons e lacunas. Existem dois tipos de semicondutores extrínsecos, os do tipo n e os do tipo p. No primeiro, os elétrons são os responsáveis pela condução da corrente elétrica; no segundo, são os buracos que desempenham o papel de condutores de corrente elétrica. A dopagem é o processo no qual pequenas quantidades de impurezas, com propriedades adequadas, são adicionadas propositalmente e de forma controlada ao cristal intrínseco do material semicondutor, de forma que o com- portamento elétrico deste seja modificado da maneira desejada. Existem elementos dopantes receptores, como boro, alumínio, gálio, índio e tá- lio, permitindo a constituição de semicondutores do tipo p, e dopantes doadores, como o fósforo, arsênio, antimônio e bismuto, permitindo a cons- tituição de semicondutores do tipo n. Doadores e receptores dão origem, respectiva- mente, a semicondutores tipo n e tipo p. 200 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais Semicondutor do tipo n Para entendermos como funciona um semicondutor do tipo n, vamos tomar o exemplo do silício puro (Si). Os átomos de silício se ligam a partir de quatro ligações covalentes (quatro elétrons de valência), nas quais cada átomo de silício compartilha um elétron com o átomo de silício vizinho. Caso seja in- troduzido um átomo de impureza substitucional, contendo cinco elétrons de valência, por exemplo o fósforo (P), somente quatro elétrons desse átomo de fósforo poderão participar das ligações covalentes com os átomos de silício adjacentes. Dessa forma, o elétron de valência do fósforo, que não está ligado aos átomos de silício vizinhos, ficará fracamente preso ao redor desse átomo de fósforo e, por essa ra- zão, ele pode ser facilmente promovido para a banda de condução, ou seja, tornar-se um elétron livre. A impureza, nesses casos, é denominada doadora, pois fornece elétrons que podem ser facilmente promovidos a elétrons livres e, geralmente, a energia térmica à temperatura ambiente é o suficiente para a promoção de vários desses elétrons das impurezas doadoras. Além disso, é importante notar que a promoção dos elétrons dessas impurezas não deixa um buraco para trás na banda de valência, como nos semicondutores intrínsecos. Semicondutor do tipo p Para entendermos os semicondutores extrínsecos do tipo p, vamos voltar ao exemplo do silício puro (Si), mas, dessa vez, vamos introduzir um átomo de impureza substitucional contendo três elétrons de valência, por exemplo, o alumínio (Al). Os três elétrons desse átomo de alumínio poderão participar das ligações covalentes com três átomos de silício adjacentes, faltando um elétron para completar a ligação com o quarto átomo de silício. Esse déficit de elétron pode ser visto como um buraco, que está fracamente ligado ao átomo de alumínio. Portanto, esse buraco pode migrar facilmente para outras posições da rede, simplesmente pela transferência de um elétron de ligações adjacentes ao buraco. Esses buracos em movimento são considerados em estado excitado e conduzem corrente elétrica. As impurezas desse tipo são denominadas receptoras, pois são capazes de receber elétrons da banda de valência, deixando para trás um buraco, contudo, não são criados elétrons livres nesse processo. O processo de produção de materiais semicondutores extrínsecos p ou n, denominado dopagem, é realizado utilizando-se materiais com purezas extremamente elevadas, contendo concentrações de átomos de impurezas da ordem de 10-7%. A esses materiais de pureza elevada, são introduzidos átomos de impureza, em concentrações controladas, utilizando diferentes técnicas. Dispositivos semicondutores O estudo das propriedades elétricas dos materiais permitiu o desenvolvimento de dispositivos que desempenham funções eletrônicas fundamentais nos dias atuais. Alguns exemplos desses dispositivos são os diodos e os transistores, que têm dimensões pequenas, consomem pouca energia e praticamente não aquecem em comparação à tecnologia utilizada antes desses dispositivos. Por essas e outras razões, os semicondutores promoveram o desenvolvimento acelerado da tecnologia nas últimas décadas. 201UNIDADE 7 Um diodo (ou retificador) é um dispositivo eletrônico que per- mite que a corrente elétrica passe em apenas uma direção, ou seja, ele é capaz de transformar uma corrente alternada em corrente contínua. Os diodos são constituídos de um material cujo um lado é dopado em um semicondutor do tipo n, e o outro lado é dopado em um semicondutor do tipo p. Nos circuitos microeletrônicos, um dispositivo extremamente importante é o transistor. Ele é capaz de amplificar um sinal elétrico e, além disso, eles também servem de “interruptores” em computa- dores com o intuito de processar e armazenar informações. Os diodos e os transistores são amplamente utilizados em com- putadores para a realização das lógicas e aritméticas, além do arma- zenamento de informações. Os computadores funcionam no sistema binário, ou seja, os números são escritosna base 2, sendo cada nú- mero uma série de 0 e 1. Os transistores e diodos funcionam como interruptores e possuem duas funções atribuídas por esses números no sistema binário: 0, desligado (não conduz); 1, ligado (conduz). Uma das tecnologias de armazenamento mais populares é a memória flash. Ela pode ser programada e apagada eletricamente, além disso, ela é não volátil, ou seja, não necessita de energia para manter as informações armazenadas. A memória flash é muito durável e capaz de suportar grandes variações de temperatura e, até mesmo, a imersão em água. O último dispositivo eletrônico importante que vamos men- cionar são os circuitos eletrônicos. Eles estão presentes em vários equipamentos utilizados em nossas vidas, desde uma simples cal- culadora até os computadores de bordo de aviões mais sofisticados. Atualmente, já possuímos tecnologia para criar circuitos eletrônicos cada vez menores e com eficiência melhores. Os circuitos eletrô- nicos são produzidos a partir do silício de alta pureza em proces- sos de difusão controlada de impurezas nesses materiais, criando regiões localizadas do tipo n e do tipo p nessas placas de circuito (CALLISTER; RETHWISCH, 2013). Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. A maioria dos materiais poliméricos e cerâmicos iônicos são isolantes, ou seja, a banda de valência é separada da banda de condução por grandes espa- çamentos, produzindo poucos elétrons livres para a condução de corrente elétrica em condições am- biente, e por essa razão esses materiais apresentam valores baixos de condutividade elétrica. Condução Iônica (cerâmicas) Os íons (cátions e ânions) presentes nos materiais iônicos são capazes de conduzir corrente elétrica, assim como os elétrons nos condutores. Na presen- ça de um campo elétrico, cátions e ânions migram em direções opostas, gerando uma corrente elétri- ca, que é adicional à corrente gerada pela migração de elétrons, como mostra a equação a seguir s s stotal eletrônica iônica� � Podemos verificar que a condutividade elétrica total (stotal ) em um material iônico é composta de uma parcela de condutividade devido aos elé- trons livres (seletrônica ) e outra parcela devido à movimentação dos íons nesse material (siônica ). Propriedades Elétricas - Condução Elétrica em Cerâmicas e Polímeros 203UNIDADE 7 Entretanto, apesar das duas contribuições para a condutividade elétrica, a maioria dos materiais iônicos permanece isolante mesmo em altas temperaturas. Condução em Polímeros Apesar dos polímeros, em sua maioria, serem materiais isolantes, existem alguns materiais poliméricos sintetizados que possuem condutividades elétricas próximas às dos metais. Estes são denominados polímeros condutores e são produzidos pelo processo de dopagem com impurezas apropriadas. Assim como nos semicondutores dopados, os polímeros condutores podem ser do tipo p ou do tipo n, dependendo apenas da impureza utilizada na dopagem; entretanto, essas impurezas não substituem nem repõem nenhum dos átomos do polímero. Os polímeros condutores têm potencial para serem utilizados em um vasto campo de aplicações, uma vez que apresentam baixa massa específica, alta flexibilidade e são facilmente produzidos. Eles já são utilizados na fabricação de baterias recarregáveis, eletrodos poliméricos, diodos e transistores e, até mesmo, na fiação de aeronaves. Comportamento dielétrico Um dielétrico é um material isolante que exibe um dipolo elétrico, ou seja, ele apresenta, a nível mo- lecular ou atômico, uma separação entre as entidades com cargas positivas e negativas do material. Nesse âmbito, vamos definir uma propriedade muito utilizada em eletrônica, chamado capacitância. Quando uma diferença de potencial V é aplicada por meio de um capacitor (Figura 3), uma placa fica carregada positivamente, enquanto a outra fica carregada negativamente. O campo elétrico corresponden- te tem direção da carga positiva para a carga negativa. Nessas condições, a capacitância está relacionada à quantidade de cargas armazenadas, Q, em cada uma das placas, de acordo com a equação a seguir: C Q V = na qual V é a diferença de potencial entre as placas (diferença de potencial do capacitor). A unidade da quantidade de cargas, Q, é coulomb (C), e da diferença de potencial V é volts (V), portanto as unidades da capacitância, C, são coulomb por volt (C/V) ou farad (F). Para um capacitor de placas separadas por vácuo, como o apresentado na Figura 3(a), vemos que a capacitância depende da área das placas, A, e da distância entre elas, l, de acordo com a relação C A l ��0 Onde ∈0 é a permissividade do vácuo, que vale 8,85 ∙ 10-12 F/m (farad por metro). 204 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais = �� � � �0 = є0 (a) Dielétrico Vácuo (b) � � EE �0 = є0EE EE EE + � Figura 3 - (a) Capacitor de placas separadas por vácuos; (b) Capacitor de placas separadas por um material dielétrico Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 646). Caso seja introduzido um material dielétrico (isolante) no espaço entre as placas do capacitor (Figura 3(b)), a relação para o cálculo da capaci- tância fica da seguinte forma: C A l �� Onde ∈ é a permissividade do meio dielétrico em farad por metro (F/m). A permissividade do meio dielétrico, ∈ , é sempre maior que a permis- sividade no vácuo, ∈0 . A razão entre a permissividade do meio dielé- trico e a permissividade no vácuo é definida pela constante dielétrica, ∈r , mostrada na equação a seguir. � � � �r 0 A constante dielétrica é o principal parâmetro no projeto de capacitores e seus valores podem ser encontrados em tabelas, para uma ampla gama de materiais dielétricos (CALLISTER; RETH- WISCH, 2013). Polarização Outro comportamento elétrico importante verifi- cado em alguns materiais é a polarização. Quando falamos em polarização, estamos nos referindo ao alinhamento dos momentos de dipolo atômicos ou moleculares que ocorrem quando um campo elétrico externo a esse material é aplicado sobre ele, sendo esses momentos de dipolos induzidos ou permanentes. Todos os materiais dielétricos possuem, pelo menos, um tipo de polarização, podendo ser ele- trônica, iônica ou de orientação, dependendo ape- nas do material e do modo como o campo elétrico externo é aplicado. A polarização eletrônica acontece quando a aplicação de um campo elétrico faz com que o centro da nuvem eletrônica, carregada nega- tivamente, desloque-se em relação ao núcleo do átomo, carregado positivamente. Esse tipo de po- larização pode ser induzida em qualquer átomo e é muito encontrada em materiais dielétricos. Os efeitos dessa polarização duram somente enquan- to o campo elétrico estiver ativo. Quando um campo elétrico é aplicado sobre materiais iônicos, acontece a polarização iônica desses materiais, em que os íons (cátions e ânions) deslocam-se em sentidos opostos, gerando um momento de dipolo resultante. Por fim, existe, ainda, a polarização de orien- tação, que é encontrada somente em materiais que apresentam momentos de dipolo permanen- tes. Esse tipo de polarização se dá pela rotação dos momentos de dipolo permanentes do material na direção do campo elétrico aplicado. A orga- nização destes sofre interferência negativa das vibrações térmicas do material, ou seja, a orien- tação dos dipolos tende a ser menor, conforme a temperatura do material aumenta. 205UNIDADE 7 Um material pode sofrer mais de um efeito de polarização simultâneo, dessa forma, a polarização total, P, experimentada por um material quando submetido a um campo elétrico, é dada por: P P P Pe i o� � � Onde Pe, Pi e Po são, respectivamente, as componentes de polarização eletrônica, iônica e de orientação. Os materiais dielétricos possuem um limite de campo elétrico que eles podem suportar sem sofrer danos; esse limite é avaliado em termos da resistência dielétrica, e quando esse campo elétrico tem magnitude igual ou superior aessa resistência dielétrica, um número muito grande de elétrons pode ser excitado para a banda de condução e, assim, a corrente dentro do dielétrico aumenta drasticamente, levando a uma fusão, queima ou vaporização localizada e danificando permanentemente o material dielétrico, ou mesmo causando a falha dele. Em termos de aplicação dos materiais cerâmicos dielétricos, podemos dizer que eles são aplicados em isolamento elétrico, linhas de transmissão de energia, bocais de lâmpadas, bases de interruptores, na produção de capacitores etc. Dentre as cerâmicas dielétricas, temos o vidro, a porcelana, a steadita e a mica, que apresentam constantes dielétricas altas, além de uma boa resistência mecânica. Já dentre os polímeros dielétricos, temos o náilon 6,6, o poliestireno, o polietileno, o politetrafluo- retileno, entre outros, com aplicações em isolamento de fios, cabos, motores e geradores, por exemplo. Ferroeletricidade e Piezoeletricidade Um grupo de materiais dielétricos apresenta uma característica elétrica interessante: eles são capazes de sofrer polarização espontânea na ausência de um campo elétrico; esses materiais são denomina- dos ferroelétricos. Eles possuem um dipolo elétrico permanente, que interagem entre si alinhando-se mutuamente, todos na mesma direção. As constantes dielétricas desses materiais são, em geral, muito grandes, por essa razão eles costumam ser utilizados para a produção de capacitores de tamanho re- duzido, em relação aos capacitores produzidos com os outros materiais dielétricos. Esses materiais ferroelétricos são capazes de armazenar carga, possibilitando aplicações na forma de filmes de espessura muito pequena em dispositivos de memória não volátil. Alguns exemplos de materiais ferroelétricos são o dihidrogenofosfato de potássio (KH2PO4), niobato de potássio (KNbO3), titanato de bário (BaTiO3) e o zirconato-titanato de chumbo (Pb[ZrO3, TiO3]). Outra característica elétrica interessante e muito importante do ponto de vista tecnológico é a piezoeletricidade, que é observada em uma pequena gama de materiais cerâmicos. Os materiais pie- zoelétricos, quando submetidos a tensões, sofrem uma polarização e estabelecem um campo elétrico. Caso a tensão aplicada mude de sinal, ou seja, tração para compressão, por exemplo, o campo elétrico também terá sua direção invertida. Componentes cuja função é receber um sinal elétrico e transformá-lo em deformações mecânicas (transdutores) utilizam materiais piezoelétricos. Além dos transdutores, os materiais piezoelétricos são utilizados em microfones, alto-falantes, alarmes sonoros etc. A piezoeletricidade é observada em materiais que possuem uma estrutura cristalina complexa e com baixo grau de simetria. Quando falamos em propriedades térmicas dos materiais, estamos nos referindo ao comporta- mento observado quando esse material recebe ou perde calor. Por exemplo, uma barra metálica, quando recebe calor, tem suas dimensões e sua temperatura aumentadas devido a essa energia térmica recebida. Neste tópico, discutiremos sobre a capacidade calorífica e a expansão térmica. Capacidade Calorífica Quando aquecemos um material sólido, estamos fornecendo energia a ele na forma de calor. Essa energia é absorvida pelo material, fazendo com que a sua temperatura aumente. A propriedade que mede a quantidade de energia que certo material absorve de sua vizinhança é a capacidade calorífica, C, que é definida como a quantidade de energia necessária para aumentar em um grau a tempe- ratura de um material, Matematicamente, temos: C Q T = D Propriedades Térmicas - Capacidade Calorífica e Expansão Térmica 207UNIDADE 7 onde Q é a energia necessária para produzir uma variação igual a ΔT na temperatura do material. As unidades de Q são J/mol, de ΔT é K, consequentemente C é dado em J/mol ∙ K no SI. Nesse caso, a quantidade de energia Q está relacionada à quantidade do material em mols. Em situações nas quais o calor está relacionado com a quantidade do material em massa (kg por exemplo), a capacidade calorífica é representada por c e suas unidades são J/kg ∙ K e, nesse caso, Q é dado em J/kg, contudo a equação é a mesma apresentada anteriormente. c Q T = D Existem duas formas de mensurar a capacidade calorífica de materiais, uma delas é avaliando o pro- cesso a volume constante e, dessa forma, obtemos Cv. A outra forma é avaliando o processo da pressão constante, onde obtemos Cp. Entretanto, para materiais sólidos em temperaturas próxima ou inferiores ao ambiente, a diferença entre Cv e Cp é muito pequena. Os átomos que compõem os materiais sólidos estão vibrando constantemente, em frequências altas, porém com amplitudes baixas. A forma mais comum de absorção de energia térmica por materiais sólidos é o aumento dessa energia vibracional dos átomos constituintes. Como os átomos que formam o material estão ligados entre si, esse aumento na energia vibracional do material gera vibrações coor- denadas na forma de ondas (às vezes chamadas de fônons), que se propagam pela rede cristalina do material. Essas ondas são responsáveis pelo espalhamento térmico dos elétrons durante a condução elétrica e também pelo transporte de energia durante a condução térmica. A capacidade calorífica a volume constante, Cv, é igual para sólidos cristalinos relativamente simples a 0 K, entretanto, ela aumenta rapidamente com o aumento da temperatura para temperaturas baixas (próximas a 0 K). Contudo, para a maioria dos materiais sólidos, a capacidade calorífica a volume constante, Cv, estabiliza-se antes da temperatura ambiente (25 °C ou 298 K), podendo ser considerado independentemente da temperatura, para temperaturas próximas e acima de 25 °C. Como, geralmente, trabalhamos com materiais à pressão constante atmosférica (1 atm), utilizare- mos os valores da capacidade calorífica à pressão constante, Cp. Os valores de Cp para vários materiais sólidos à temperatura ambiente podem ser encontrados tabelados, inclusive em alguns dos materiais referenciados neste livro. Expansão Térmica O comportamento térmico observado na maioria dos materiais quando submetidos ao aquecimento é a expansão em suas dimensões. De forma análoga, os materiais sofrem uma contração em suas dimensões quando submetidos a um resfriamento. A esse comportamento térmico, damos o nome de expansão térmica. A variação de comprimento (variação unidirecional), l, de um material é dada por: l l l T Tf l f � � �0 0 0a ( ) 208 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais na qual lf e l0 são, respectivamente, os comprimentos final (depois da expansão) e inicial (antes da expansão) do material; Tf e T0 são, respectivamente, as temperaturas final e inicial do processo; e αl é o coeficiente linear de expansão térmica, que é uma propriedade específica do material, cuja unidade no SI é (°C)-1. Sejam: D Dl l l T T Tf f� � � �0 0 e A equação da expansão linear pode ser escrita da seguinte forma: D D l l Tl 0 = a ( ) Além disso, sabemos que a expansão térmica não ocorre apenas em uma dimensão do material sólido, mas sim em todo o volume desse sólido; por essa razão, definimos também a equação para o cálculo da variação de volume sofrida por esse material devido à sua expansão térmica. D D V V TV 0 = a ( ) Com D DV V V T T Tf f� � � �0 0 e Nas equações citadas Vf e V0 são, respectivamente, os volumes final (depois da expansão térmica) e inicial (antes da expansão térmica) do material. O parâmetroaV é o coeficiente volumétrico de expansão térmica, que também é uma propriedade específica do material, cujas unidades no SI são (°C)-1. Para materiais isotrópicos, o valor de aV é, aproximadamente, igual a 3al . A expansão térmica observada nos materiais sólidos é um reflexo do aumento das distâncias médias entre os átomos que formam esse material a um nível muito aprofundado do conteúdo, que não é o objetivo deste material. Vamos verificar a expansão térmica para cada classe de materiais,começando pela classe dos metais, cujos coeficientes lineares de expansão térmica variam entre 5 ∙10-6 (°C)-1 e 25 ∙ 10-6 (°C)-1. Entretanto, já foram desenvolvidas algumas ligas metálicas, com baixos coeficientes de expansão térmica, para serem utilizadas em situações em que não é desejável variações das dimensões devido à temperatura. Na classe das cerâmicas, o comportamento térmico de expansão é bem variado. Os coeficientes de ex- pansão térmica são relativamente menores nas cerâmicas, variando entre 0,5 ∙ 10-6 (°C)-1 e 15 ∙ 10-6 (°C)-1, isso se deve ao fato de que as forças interatômicas (entre os átomos que compõem o material), na maioria das cerâmicas, são relativamente fortes. Outro comportamento interessante é observado nas cerâmicas anisotrópicas (não isotrópicas), as quais, quando aquecidas, podem sofrer expansão em uma de suas direções cristalográficas e contrair- -se nas demais. Além disso, os vidros inorgânicos possuem um coeficiente de expansão térmica que 209UNIDADE 7 dependente de sua composição, a sílica fundida (vidro constituído praticamente de sílica pura), por exemplo, apresenta um coeficiente de expan- são de 0,4 ∙ 10-6 (°C)-1. Contudo, para as cerâmicas não cristalinas e as cristalinas de estrutura cúbica, o coeficiente αl é isotrópico. Em projetos de componentes que devem su- portar mudanças acentuadas de temperatura, de- ve-se buscar cerâmicas com coeficientes de ex- pansão térmica, pequenos e isotrópicos, para que se possa evitar a ocorrência do choque térmico, que é a fratura do componente devido a variações não uniformes de suas dimensões. Por fim, na classe dos polímeros, encontra- mos coeficientes de expansão térmica muito grandes, variando entre 50 ∙ 10-6 (°C)-1 e 400 ∙ 10-6 (°C)-1. Termômetros são instrumentos usados para me- dir a temperatura, seja a temperatura corporal ou mesmo a temperatura em um ambiente. O princípio de funcionamento dos termômetros de mercúrio é a expansão térmica volumétrica. Quando o termômetro está em um ambiente quente, o mercúrio aquecido se expande devido ao calor recebido e sobe no tubo, de forma aná- loga; em ambientes frios, o mercúrio se contrai e desce no tubo. Para sabermos a temperatura correta, o termômetro é calibrado e, dessa for- ma, são feitas marcações em várias alturas do tubo para que se possa ler a temperatura. Neste tópico final, concluiremos a unidade es- tudando a condutividade térmica nos materiais. Condutividade térmica O fenômeno da condutividade térmica nos sóli- dos é análogo ao fenômeno da difusão em sólidos, estudado na Unidade 3. Em ambos os casos, exis- te uma força motriz que causa o transporte. Na difusão, a diferença de concentrações (gradiente de concentração, dc/dx) causa o transporte de espécies no material, e na condução térmica, a di- ferença de temperaturas (gradiente de temperatu- ras, dT/dx) causa o transporte de energia térmica. Portanto, a condução térmica é o processo de transferência de calor de uma região de maior temperatura para uma região de menor tempe- ratura; para um processo que ocorre em regime estacionário (o fluxo de calor não varia com o tempo), esse fenômeno é equacionado como: q k dT dx � � Propriedades Térmicas - Condutividade Térmica 211UNIDADE 7 onde q é o fluxo de calor (quantidade de calor transportado por tempo por unidade de área); dT/dx é o gradiente de temperatura através do meio de condução; e k é a condutividade térmica. As unidades de q são W/m2, k são W/m ⋅ K, dessa forma, o gradiente de temperatura dT/dx deve ser dado em °C/m ou K/m, uma vez que a variação de 1 °C é igual a variação de 1 K. Mecanismos da condução de calor A condução de calor em materiais sólidos se dá a partir de dois mecanismos, por meio das ondas de vibração da rede (fônons) e por meio dos elétrons livres no material. Portanto, a condutividade térmica total, k, para um material, é dada por: k k kr e� � Onde kr e ke são, respectivamente, as condutivida- des térmicas devido às ondas de vibração da rede e devido aos elétrons livres. A predominância de uma em relação à outra depende do material. A contribuição kr é devido ao movimento das on- das de vibração das regiões de altas temperaturas para as regiões de baixas temperaturas por meio do material. Já a contribuição ke é devido aos elétrons livres que, conforme recebem energia térmica, aumen- tam sua energia cinética e migram para regiões mais frias, onde transferem parte dessa energia cinética para os átomos dessas regiões por meio de colisões. Portanto, conforme aumenta o número de elétrons livres, maior é a contribuição ke na condutividade térmica global do material. Em metais de alta pureza, a condutividade térmica, devido aos elétrons livres, é muito mais efetiva que a condutividade térmica referente aos fônons, uma vez que os elétrons se encontram em grandes quantidades nesses materiais. Além disso, os elétrons livres têm velocidades maiores que os fônons, deixando o processo de condução mais rápido. Por essas razões, os metais possuem condutividades térmicas altas, entre 20 W/m∙K e 400 W/m ∙ K à temperatura ambiente. Já nas ligas, formadas pela adição de impu- rezas aos metais puros, a condutividade térmica diminui devido ao fato dos átomos de impureza atuarem como centros de espalhamento que re- duzem a eficiência dos elétrons livres responsáveis pela condução de calor. Nas cerâmicas, a condutividade térmica é mui- to baixa, são geralmente isolantes térmicos, devido à quantidade pequena de elétrons livres para a condução de calor. Nesses materiais, os fônons são o principal mecanismo que contribui para a condutividade térmica (kr>>ke), e os fônons não são tão eficientes quanto os elétrons livres no transporte de calor. Por essas razões, os materiais cerâmicos exibem condutividades térmicas entre 2 W/m ∙ K e 50 W/m ∙ K à temperatura ambiente. Quanto às temperaturas relativamente bai- xas, é observado que a condutividade térmica da maioria das cerâmicas diminui com o aumento da temperatura. Entretanto, ela começa a aumentar em temperaturas elevadas, contudo, esse compor- tamento se deve ao calor transferido por radiação por meio do material cerâmico, pois a eficiência do processo de transporte de calor por radiação aumenta com o aumento da temperatura. Outro fator determinante na condutividade térmica das cerâmicas é a porosidade do material, ou seja, a quantidade de espaços vazios dentro do material. Esses volumes dos poros dificultam a condução de calor por meio do material, resul- 212 Propriedades Elétricas e Propriedades Térmicas dos Materiais tando na diminuição da sua condutividade tér- mica. Inclusive, muitos dos materiais cerâmicos utilizados como isolantes térmicos são porosos, pois esses poros contêm ar estagnado que possui uma condutividade térmica extremamente baixa. Para a maioria dos polímeros, as condutivi- dades térmicas são da ordem de 0,3 W/m ∙ K, as mais baixas dentre as classes de materiais. Isso acontece porque a condução de calor nesses ma- teriais é devido à rotação e vibração das molécu- las que formam a cadeia do polímero. Polímeros que apresentam cristalinidade elevada e ordenada possuem condutividade térmica maior que polí- meros amorfos, uma vez que a vibração coorde- nada das moléculas é mais eficiente em cadeias moleculares cristalinas. Devido à sua baixa condutividade térmica, os polímeros são, geralmente, utilizados como isolantes térmicos e podem ter sua condutividade térmica ainda mais reduzida com a inserção de poros em sua estrutura, assim como acontece com as cerâmicas; um exemplo muito comum é o poliestireno expan- dido (isopor), que é utilizado em caixas térmicas para armazenamento de bebidas e alimentos. Tensões Térmicas As variações de temperaturas experimentadas pelos materiais podem acabar causando tensões neles. Essas tensões térmicas precisam ser leva- das em conta, uma vez que podem causar uma deformação plástica indesejável ou, até mesmo, a fratura de um componente.Podemos ter tensões resultantes da restrição à expansão ou contração térmica de um compo- nente. Vamos exemplificar essa situação: imagine uma barra sólida homogênea e isotrópica. Se ele- varmos a temperatura dessa barra, ela sofrerá uma expansão térmica em todas as direções e, caso ela esteja livre para sofrer a expansão, nenhum dano será causado a ela. Entretanto, caso algo restrinja a expansão térmica da barra, por exemplo, suportes rígidos nas suas extremidades, tensões térmicas se formarão nela. A magnitude dessas tensões tér- micas pode ser calculada pela equação a seguir: σ α α� � �E T T E Tl f l( )0 D na qual, E e αl são, respectivamente, o módulo de elasticidade e o coeficiente linear de expansão térmica do material da barra. Quando a barra for aquecida T0 < Tf, então a tensão resultante σ é com- pressiva (σ <0), quando a barra é resfriada Tf < T0, então a tensão resultante σ é trativa (σ >0). Outra situação que podemos encontrar é a de tensões resultantes de gradientes de temperatura. Para entendermos esse tipo de tensões, vamos imaginar um prato de cerâmica, cujo centro está sendo aquecido sobre uma chama; após pouco tempo sobre a chama, o prato se rompe. Esse com- portamento ocorre, pois, no prato de cerâmica, aquecido rapidamente apenas na região central, são gerados gradientes de temperatura que geram tensões térmicas ao longo do prato. Essas tensões são resultado de uma maior expansão na região aquecida (região central do prato) em relação à parte mais externa do material (as bordas do pra- to) que está fria, então são induzidas tensões de compressão no centro do prato e tensões de tração nas bordas do prato. Por último, podemos também observar a fratu- ra de um componente devido ao choque térmico. Esse comportamento é observado em materiais frágeis, cuja distribuição não uniforme da tempe- ratura gera uma dilatação pontual que acarreta a formação de tensões internas no material, e a falta de ductilidade desses materiais conduz à fratura. 213UNIDADE 7 Concluímos nossos estudos da Unidade 7, na qual conhecemos muitas propriedades importantes dos materiais, começamos pelas propriedades elétricas, em que estudamos a condutividade elétrica e definimos o que são materiais condutores, isolantes e também semicondutores. Vimos que muitas cerâmicas apresentam comportamento dielétrico e, com isso, definimos o parâmetro permissividade elétrica. Além disso, conhecemos os materiais piezoelétricos, que exibem o comportamento interessante de sofrer polarização quando submetidos a tensões de tração ou compressão. Seguimos o nosso estudo pelas propriedades térmicas, iniciando pela capacidade calorífica, que mede a quantidade de energia necessária para que um componente tenha sua temperatura variada em um grau. Vimos que os materiais, quando aquecidos ou resfriados, sofrem um aumento ou diminuição nas suas dimensões, e a grandeza relacionada a esse processo é o coeficiente linear de expansão térmica. Finalizamos com a abordagem da propriedade térmica da expansão térmica. Condução Átomos 214 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Os fenômenos ligados às propriedades elétricas dos materiais, como condução elétrica, resistência elétrica, semicondutividade, entre outras, são muito impor- tantes para determinar as aplicações dos materiais em projetos envolvendo o comportamento elétrico. A respeito desse assunto, leia as afirmativas a seguir. I) A condução elétrica está relacionada ao movimento das partículas neutras do material. II) O módulo (valor) da corrente elétrica pode ser calculado pela Lei de Ohm, conhecendo-se o valor da resistência elétrica e a tensão elétrica. III) Os metais são bons condutores de corrente elétrica, pois pouca energia é necessária para a promoção de elétrons livres nesses materiais. IV) Nos materiais isolantes, a energia necessária para a promoção do elétron é muito grande, portanto, esses materiais dificilmente possuirão elétrons livres para a condução de corrente elétrica. É correto, apenas o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) II, III e IV, apenas. c) I, II e IV, apenas. d) III e IV, apenas. e) I e IV, apenas. 215 2. Uma das características elétricas mais importantes dos materiais é a facilidade com que esse material transmite corrente elétrica. A lei de Ohm relaciona a corrente elétrica e a tensão elétrica aplicada sobre um material. Com o conhe- cimento sobre o comportamento elétrico dos materiais, analise as afirmativas a seguir. I) Um fio de cobre de resistividade elétrica igual a 1,7.10−6 Ω ⋅ cm, comprimen- to de 20 m e um diâmetro de 0,2 cm possui uma resistência elétrica igual a 0,108 Ω. II) A corrente elétrica em um fio de cobre, cuja diferença de potencial é de 3 volts e a resistência elétrica é de 0,100 Ω, é igual a 30 amperes. III) Os condutores possuem os maiores valores de condutividade elétrica, en- quanto os semicondutores possuem os menores valores de condutividade elétrica, e os isolantes, por sua vez, possuem condutividades intermediarias. IV) A condutividade elétrica do ouro é 4,3.107 (Ω·m)-1 e a da prata é 6,8.107 (Ω·m)-1, portanto o ouro possui uma maior resistividade elétrica do que a prata. É correto, apenas o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) II, III e IV, apenas. c) I, II e IV, apenas. d) III e IV, apenas. e) I e IV, apenas. 216 3. A capacidade térmica, expansão térmica e condutividade térmica são proprie- dades dos materiais. As propriedades térmicas estão relacionadas ao compor- tamento dos materiais quando submetidos a estímulos térmicos, por exemplo, receber ou perder calor. Em relação a isso, avalie as afirmações a seguir. I) A capacidade calorífica de um material é a propriedade relacionada à quan- tidade de energia que esse material absorve para se fundir. II) A expansão térmica é observada como sendo o comportamento térmico no qual os materiais, quando submetidos ao aquecimento, sofrem uma retração de suas dimensões, e quando resfriados, não modificam suas dimensões. III) A condução térmica é o processo de transferência de calor em um com- ponente de uma região de maior temperatura para uma região de menor temperatura, cuja força motriz é o gradiente de temperatura. IV) A falta de ductilidade em alguns materiais pode ocasionar o choque térmico, que é a fratura frágil do material devido a tensão térmicas originadas por um aquecimento ou resfriamento muito rápido desse material. É correto, apenas, o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) II, III e IV, apenas. c) I, II e IV, apenas. d) III e IV, apenas. e) I e IV, apenas. 217 Fundamentos da Moderna Engenharia e Ciência dos Materiais Autor: James Newell Editora: LTC Sinopse: livro sobre ciência dos materiais que trata o conteúdo com forte aplica- ção em engenharia. O conteúdo indicado é uma abordagem do conteúdo tratado nesta unidade, com alguns pontos mais aprofundados, caso seja o interesse do aluno entender mais a fundo as propriedades elétricas dos materiais. Comentário: Leitura do capítulo 8, do tópico 8.1 até o 8.10. LIVRO 218 CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013. 219 1. B. A afirmativa I está incorreta, pois a condução elétrica está relacionada ao movimento dos elétrons ou íons do material. 2. C. Correta: I - Um fio de cobre de resistividade elétrica igual a 1,7 · 10−6 Ω · cm, comprimento de 20 m e um diâmetro de 0,2 cm possui uma resistência elétrica igual a 0,108 Ω. A resistência elétrica, em termos da resistividade elétrica, é dada por: R = ρ · l/A Devemos converter o comprimento de metros para centímetros para que seja compatível com a uni- dade da resistividade elétrica. 1 m = 100 cm 20 m = 2000 cm Cálculo da área transversal A: A = π · (d/2)2 = A = π · (0,2/2)2 = A = π · (0,1)2 = A = π · 0,01 A = 0,0314 cm2 Então, R= ρ · l/A R = (1,7 · 10−6 Ω · cm)(2000 cm)/( 0,0314 cm2) R = (3,4 · 10−3 Ω)/( 0,0314) R = 0,108 Ω Correta: II – A corrente elétrica em um fio de cobre, cuja diferença de potencial é de 3 volts e a resistência elétrica é de 0,100 Ω, é igual a 30 amperes. Obs.: o símbolo V (itálico) é relativo à variável diferença de potencial (tensão elétrica). Já o símbolo V é relativo à unidade da diferença de potencial, ou seja, V equivale a volts. A resistência elétrica é dada pela Lei de Ohm: V = I · R Então, isolando a corrente elétrica I, obtemos: I = V/R = (3 V)/(0,100 Ω) 220 Como Ω = V/A, temos que a relação anterior pode ser reescrita como: I = V/R = (3 V)/(0,100 V/A) I = 30 A. Errada III, Correta seria: Os condutores possuem os maiores valores de condutividade elétrica, enquanto os isolan- tes possuem os menores valores de condutividade elétrica, e os semicondutores, por sua vez, possuem condutividades intermediárias. Correta: IV – A condutividade elétrica do ouro é 4,3 · 107 (Ω · m)-1 e a da prata é 6,8 · 107 (Ω · m)-1, portanto o ouro possui uma maior resistividade elétrica do que a prata. A relação entre a condutividade elétrica σ e a resistividade elétrica ρ é: σ = 1/ρ Isolando ρ, temos ρ = 1/σ Para o ouro (símbolo Au): ρAu = 1/(4,3 · 107 (Ω·m)-1) ρAu = 2,325 · 10-8 Ω · m Para a prata (símbolo Ag): ρAg = 1/(6,8 · 107 (Ω · m)-1) ρAg = 1,470 · 10-8 Ω · m Então: ρAu = 2,325·10-8 Ω · m > ρAg = 1,470 · 10-8 Ω · m Isto é, a resistividade elétrica do ouro é maior que a resistividade elétrica da prata. 3. D. A afirmativa I está incorreta, pois a capacidade calorífica de um material é a propriedade relacionada à quantidade de energia que esse material absorve de sua vizinhança para variar a sua temperatura. A afirmativa II também está incorreta, pois a expansão térmica é observada como sendo o comportamento térmico no qual os materiais, quando submetidos ao aquecimento, sofrem uma expansão de suas dimen- sões, e quando resfriados, sofrem uma contração em suas dimensões. 221 222 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Estudar as propriedades da refração, reflexão, transmis- são, absorção, cor e luminescência nos materiais. • Aprender sobre magnetismo nos materiais e conhecer aplicações das propriedades magnéticas. • Conhecer os tipos de corrosão que ocorrem em metais e alguns métodos de prevenção. Estudar a degradação que atinge materiais poliméricos. Me. Luis Henrique de Souza Propriedades ópticas Propriedades magnéticas Corrosão Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais Propriedades Ópticas Iniciaremos esta unidade com uma abordagem a respeito do comportamento óptico dos materiais frente à luz visível (radiação eletromagnética). Neste tópico, veremos alguns fenômenos da luz, como é o caso da refração, no qual a luz é desvia- da de sua orientação; a absorção; a reflexão; e a transmissão. Além disso, faremos uma aborda- gem sobre como são formadas as cores que vemos nos corpos. Será abordado, também, o fenômeno da luminescência, no qual alguns materiais ab- sorvem energia e emitem luz. Finalizaremos a unidade com uma discussão introdutória sobre a tecnologia de transmissão de dados por meio de fibras óticas. Continuaremos nossos estudos com as pro- priedades magnéticas, as quais são muito im- portantes em dispositivos de armazenamento de dados, como os HDDs e as fitas magnéticas. Veremos o fenômeno da magnetização e que os materiais podem exibir uma magnetização fraca e temporária, como é o caso dos materiais pa- ramagnéticos e diamagnéticos ou, então, exibir uma magnetização forte e que persiste mesmo na ausência de campos externos, como é o caso dos materiais ferromagnéticos. 225UNIDADE 8 Fecharemos a unidade com o estudo da corrosão e degradação dos materiais. A corrosão é um fenômeno que ocorre com os materiais metálicos; enquanto a degradação afeta os materiais poliméricos. Neste primeiro tópico, abordaremos as propriedades ópticas dos materiais, as quais são a resposta de um material quando submetidos a uma radiação eletromagnética, dentre elas, especialmente a luz visível. Portanto, discutiremos alguns conceitos básicos importantes para esse estudo e veremos as propriedades ópticas da refração, reflexão, absorção, cor, entre outras. Refração Quando a luz incide na superfície de um material transparente e é, então, transmitida para o seu interior, ela sofre uma diminuição em sua velocidade e é desviada em relação à sua direção de incidência. Esse fenômeno de desvio da luz observado na interface do material com o meio externo, ou outro material diferente, é chamado de refração. A intensidade do fenômeno de refração em um material é dada em termos do índice de refração, simbolizado por n, que é definido como a razão entre a velocidade da luz no vácuo, c = 3.108 m/s, e a velocidade da luz no meio (material), v, conforme mostra a equação: n c v = Feixe incidente Feixe refratado Vidro Vácuo (ou ar) θ� θ� O índice de refração n também tem relação com a fração da luz incidente que é refletida na superfí- cie, além de mudar a trajetória da luz incidente. A intensidade da refração está relacionada, também, com o tamanho dos átomos e íons que constituem o material refrator e, quanto maior forem esses átomos ou íons, maior será a redução da veloci- dade da luz quando atravessar a interface e, con- sequentemente, maior será o índice de refração (CALLISTER; RETHWISCH, 2013). O índice de refração pode ser escrito em fun- ção do seno dos ângulos de incidência e de refra- ção, representados, respectivamente por θi e θr : n sen sen i r � � � A partir dessa equação, é possível determinar o ân- gulo de refração da luz em um material específico, conhecendo-se o índice de refração desse material e o ângulo de incidência da luz sobre ele (Figura 1). Figura 1 - Esquematização da refração da luz na interface de dois meios distintos: vácuo e o vidro Fonte: Shackelford (2013, p. 374). 226 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais Na Tabela 1, são fornecidos os índices de refração de alguns materiais cerâmicos e poliméricos. Os materiais metálicos são opacos à luz visível, por- tanto, a luz não atravessa esses materiais. MaterialMaterial Índice deÍndice de refração médiorefração médio Quartzo (SiO2) 1,55 1,64 1,525 1,529 1,76 1,74 1,72 1,458 1,47 1,51-1,52 1,51 1,49 1,545 1,51 1,54-1,55 1,47 1,59 1,46-1,50 1,53 1,35-1,38 1,47-1,50 1,5-1,6 1,55-1,60 1,53 1,52 1,55-1,56 Mulita ( 3Al2O3 2SiO2) Ortoclásio (KAlSi3O8) Albita (NaAlSi3O8) Coríndon (Al2O3) Periclásio (MgO) Espinélio (MgO Al2O3) Vidro de sílica (SiO2) Vidro de borossilicato Vidro de sílica de cal de soda Vidro de ortoclase Vidro de albita Polímeros termoplásticos Polietileno Cloreto de polivinila Polipropileno Poliestireno Celuloses Poliamidas (náilon 66) Politetra�uoretileno (Te�on) Polímeros termo�xos Elastômeros Copolímero de polibutadieno/ poliestireno Poliisopreno (borracha natural) Policloropreno Fenólicos (fenol-formaldeído) Uretanos Epóxis Alta densidade Baixa densidade Tabela 1 - Índices de refração n para alguns materiais cerâ- micos e alguns materiais poliméricos Fonte: Shackelford (2013, p. 374 e 375). O “brilho” característico de diamantes e obras de arte feitas de vidro é devido ao alto índice de refração desses materiais que permite múlti- plas reflexões da luz no interior desses materiais (SHACKELFORD, 2013). Reflexão Nem toda a luz que incide sobre um material transparente é refratada. Quando a luz incide em uma interface entre dois meios, cujos índices de refração são diferentes, e parte dessa radiação lu- minosa é dispersa (refrata) na interface dos meios e uma parcela é refletida nessa interface, o fenô- meno é conhecido como reflexão. A fração da luz incidente que é refletida é cha- mada de refletividade (ou refletância) R, e pode ser calculada pela seguinte relação: R I I R= 0 Na qual IR é a intensidadedo feixe de luz refletido e I0 é a intensidade do feixe de luz incidente. Para o caso particular da luz incidir perpen- dicularmente na superfície (normal à superfície) �i � 0 , então a refletividade pode ser calculada utilizando-se a equação: R n n n n � � � � � � � � �2 1 2 1 2 Na qual n1 e n2 são, respectivamente, os índices de refração dos meios 1 e 2 envolvidos na reflexão. Se a luz estiver sendo transmitida do vácuo ou do ar (meio 1) para um material sólido (meio 2), considerando que o índice de refração do ar é praticamente igual a 1, a relação fica simplificada, conhecida como fórmula de Fresnel: R n n S S � � � � � � � � � 1 1 2 Em que ns é o índice de refração do material sóli- do. Analisando essa equação, podemos perceber que a refletividade é maior para materiais sólidos com índices de refração grandes, e menor para materiais que apresentam índices de refração pe- quenos (CALLISTER; RETHWISCH, 2013). 227UNIDADE 8 Absorção Dentre as cerâmicas e os polímeros, existem materiais opacos e materiais transparentes à luz visível. Os materiais transparentes, geralmente, exibem uma aparência colorida. Esse comportamento se deve a absorção da luz visível na forma de energia (fóton de luz) que pode ocorrer devido à promoção de um elétron da banda de valência do átomo para a banda de condução, dessa forma, são criados elétrons livres na banda de condução e, consequentemente, buracos positivos na banda de valência, como podemos observar na Figura 2. ΔE ΔEEg En er gi a (a) (b) Buraco Fóton Emitido Fóton absorvido Elétron excitado (livre) Ba nd a de co nd uç ão Es pa ça m en to en tr e as ba nd as Ba nd a de va lê nc ia Ba nd a de co nd uç ão Es pa ça m en to en tr e as ba nd as Ba nd a de va lê nc ia Figura 2 - Representação do mecanismo de absorção de fótons e promoção de elétrons em materiais Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013). Entretanto, para que essa promoção aconteça, a energia dos fótons deve ser maior que a energia Eg que separa as bandas de valência e de condução desse material. Isto é, a condição para que haja a promoção de elétrons da banda de valência para a banda de condução é que hv Eg> Onde hv é a quantidade de energia do fóton; v é a velocidade da luz no material e h é a constante de Planck, que vale 4,13.10-15 eV∙s (elétron-Volt-segundo). A equação anterior pode ser escrita em termos do comprimento de onda λ da radiação luminosa. hc Egl > No espectro eletromagnético, o comprimento de onda mínimo para a luz visível é de, aproximada- mente, λ = 0,4 μm (400 nm) e o máximo é de λ = 0,7 μm (700 nm), como podemos ver na Figura 3. 228 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais Comprimento de ondaComprimento de onda LuzLuz visívelvisível Ondas deOndas de radioradio Micro-ondasMicro-ondas InfravermelhoInfravermelho UltravioletaUltravioleta Raios XRaios X Raios gamaRaios gama Figura 3 - Espectro com os comprimentos de onda da luz visível Nessas condições, a energia máxima e mínima dos fótons da luz visível são, respectivamente: hc mínl( ) ( , . )( . ) . ,� � � � � 4 13 10 3 10 4 10 3 1 15 8 7 eV s m/s m eV e hc máxl( ) ( , . )( . ) . ,� � � � � 4 13 10 3 10 7 10 1 8 15 8 7 eV s m/s m eV Dessa forma, materiais não metálicos (polímeros e cerâmicas) com Eg maiores que 3,1 eV não absor- vem nenhum fóton de energia do espectro de luz visível e, portanto, esses materiais, se tiverem pureza elevada, serão visivelmente transparentes e incolores. De forma similar, em materiais cuja energia entre as bandas, Eg, é menor que 1,8 eV, toda a energia da radiação luminosa é absorvida pelo material, e esses materiais são visualmente opacos. Finalmente, para materiais com energia entre as bandas, Eg, entre 1,8 eV e 3,1 eV, apenas uma parte do espectro visível é absorvida e, portanto, esses materiais são coloridos. Apesar dessa abordagem simples sobre absorção de energia ser verdade, existem outros fatores e mecanismos que ocorrem em muitos materiais envolvendo a energia fornecida pela luz, mas essa abordagem mais aprofundada não será tratada nesse material (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Transmissão Muitas cerâmicas, vidros e polímeros são materiais nos quais a luz pode atravessar de forma eficaz. O grau de atravessamento da luz é indicado pelos termos: • Transparência: capacidade de transmitir uma imagem clara através do material. • Translucidez: transmissão de uma imagem difusa através do material. • Opacidade: nenhuma transmissão de imagem através do material. 229UNIDADE 8 A transmissão é o fenômeno observado quando a luz atinge um sólido e atravessa toda a extensão desse sólido. Esse fenômeno está relacionado com os fenômenos da reflexão e absorção, vistos anteriormente. Para um feixe de luz, de intensidade I0, que incide sobre um material transparente de comprimento l, como mostrado na Figura 4, a intensidade do feixe transmitido, IT, é dada por I I R eT l� � �0 21( ) b Onde R é a refletividade da luz na interface e β é o coeficiente de absorção que depende do material específico e varia com o comprimento de onda incidente. Feixe incidente Feixe transmitido Feixe re�etido �� ������R ���������R������β� I Figura 4 - Esquematização do fenômeno de transmissão da radiação luminosa através de um material sólido Fonte: adaptada de Callister e Rethwisch (2013). Os painéis solares de geração de energia (painéis fotovoltaicos) funcionam a partir do princípio de absorção da energia luminosa do Sol por meio de painéis feitos normalmente de silício. Material que, ao absorver essa energia, promove elétrons da banda de valência para a banda de condução, deixando buracos positivos para trás e, como consequência, esses elétrons e esses buracos dão origem a uma corrente elétrica. Conforme podemos observar na Figura 4, a in- tensidade de luz transmitida em um material transparente depende das quantidades perdidas por reflexão e por absorção. Podemos definir a absortividade A e a transmissividade T do mate- rial, que representam, respectivamente, a fração da radiação incidente que foi absorvida e a que foi transmitida. Sendo assim: A I I T I I A T= = 0 0 Onde IA é a intensidade de luz absorvida pelo ma- terial e, dessa forma, a soma das frações de radia- ção luminosa refletidas, absorvidas e transmitidas tem que ser igual a 1 (unidade) (CALLISTER; RETHWISCH, 2013). R A T� � �1 230 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais Cor As cores que enxergamos nos materiais transparentes são resultado da absorção seletiva de compri- mentos de onda específicos da luz, o que significa dizer que a cor é o resultado da combinação dos comprimentos de onda transmitidos através do material. Por essa razão, os materiais como diamante e os vidros inorgânicos são incolores, pois eles absorvem igualmente todos os comprimentos de onda da luz visível. Já o sulfeto de cádmio, por exemplo, possui um Eg de 2,4 eV, então ele só absorve comprimentos de onda com energias superiores a 2,4 eV, ou seja, da luz visível ele não absorve os comprimentos de onda correspondentes à faixa de energia que vai de 1,8 eV até 2,4 eV, e nessa faixa de comprimentos de ondas estão as cores amarelo, laranja e vermelho. Portanto, o sulfeto de cádmio apresenta coloração amarelo alaranjado, que representa a composição de comprimentos de onda do feixe de luz transmitido por esse material. Os vidros coloridos são o resultado da inserção de íons de impureza ao vidro ainda no estado fun- dido. São eles: íons de Cu2+ (dão coloração azul esverdeado), Co2+ (dão coloração azul violeta), Mn2+ (dão coloração amarela) entre outros mais. Luminescência Uma característica muito interessante que alguns materiais apresentam é a capacidade de absorver energia e, então, reemitir essa energia na forma de radiação luminosa. A essa característica, damos o nome de luminescência. O queacontece nos materiais luminescentes é que eles absorvem a energia do fóton e, com isso, ocorre a promoção do elétron da banda de valência (estado fundamental) para a banda de condução (estado excitado). Quando esse elétron promovido sofre um decaimento para um estado de menor energia (estado fundamental), ele libera um fóton de energia. Se esse fóton liberado possuir energia entre 1,8 eV e 3,1 eV (energia dos fótons da luz visível), ele será visível. A energia absorvida pelos materiais luminescentes para a excitação dos elétrons pode ser de origem eletromagnética (luz, ultravioleta etc.) ou pode ser de outras fontes, como energia térmica, mecânica, química etc. Os materiais luminescentes são classificados com relação ao tempo de resposta, como: • Fluorescentes: são os materiais luminescentes nos quais o intervalo entre a absorção e a ree- missão dos fótons é muito curto, geralmente menores que 10 nanosegundos (praticamente instantâneo). • Fosforescentes: são os materiais luminescentes nos quais o intervalo entre a absorção e a ree- missão dos fótons são maiores. Dentre as aplicações mais comuns da luminescência estão as lâmpadas fluorescentes, detecção de radiações X e γ, pois certos materiais são fosforescentes quando submetidos a essas radiações (ASKE- LAND; WRIGHT, 2015). 231UNIDADE 8 Fibras óticas Certamente uma das maiores revoluções no campo das comunicações foi a utilização das fibras óticas para a transmissão de dados. Enquanto a transmis- são de dados por meio de condutores, como fios de cobre, dá-se por meio da condução elétrica (por elétrons), a transferência de dados nas fibras óticas acontece por transporte eletromagnético (fótons) que é um processo muito mais veloz. Com isso, os sistemas de comunicação e transmissão de dados experimentaram uma melhora enorme na veloci- dade e na densidade das informações transmitidas após a implantação das fibras óticas. O processo de transmissão de informações por fibra ótica se inicia com as informações alimenta- das, sendo transformadas em um sinal eletrônico em bits (“zeros” e “uns”) por um codificador. Em seguida, esse sinal elétrico é convertido em um sinal óptico (fótons), utilizando um conversor elé- trico óptico. A saída do conversor elétrico óptico são pulsos de luz, de alta potência para os “uns” e de baixa potência para os “zeros”. Esses pulsos são transportados pelos cabos de fibra ótica até o seu destino final, em que são convertidos novamente em sinais eletrônicos e, então, decodificados. As fibras óticas têm como função guiar os pul- sos de luz ao longo de distâncias enormes sem que haja perda da qualidade desses pulsos, ou seja, as fibras ópticas devem manter a potência dos pulsos e não podem distorcê-los. Para garantir a potência do sinal em longas distâncias, muitas vezes, são utilizados repetidores que amplificam e regeneram o sinal transmitido. Quanto à constituição, as fibras óticas são forma- das por um núcleo por onde os pulsos de luz viajam, um recobrimento em torno do núcleo limita a traje- tória dos pulsos dentro do núcleo, e um revestimen- to externo, que protege o núcleo e o recobrimento contra os possíveis danos que o cabo possa sofrer, como podemos ver na Figura 5, a seguir. Recobrimento Núcleo Revestimento Figura 5 - representação do corte transversal de um cabo de fibra ótica Fonte: Callister e Rethwisch (2013). As fibras óticas são feitas de vidro de sílica de pureza extremamente elevada, além disso, o diâ- metro dessas fibras é muito pequeno para garan- tir a produção de fibras isentas de defeitos e, por consequência, altamente resistentes. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. Magnetismo é o fenômeno no qual os materiais, ditos magnéticos, exercem uma força ou influên- cia de atração ou repulsão sobre outros materiais. Alguns exemplos de materiais magnéticos natu- rais são: o ferro, alguns tipos de aço e a magnetita. É importante o estudo do magnetismo, uma vez que muito dos dispositivos que utilizamos nos dias atuais advêm da aplicação de materiais mag- néticos. Neste tópico, abordaremos o que é campo magnético, os parâmetros magnéticos, além de alguns fenômenos envolvendo esses materiais. Conceitos básicos As forças magnéticas têm sua origem no movi- mento de partículas carregadas eletricamente. Essas forças magnéticas são melhores entendidas como sendo linhas de força que formam um cam- po, e essas linhas de força (linhas de fluxo magné- tico) são traçadas indicando a direção dessa força magnética nas vizinhanças da fonte do campo. Nos materiais magnéticos, encontramos dipo- los magnéticos, que são compostos por um polo norte e um polo sul, como podemos observar na representação do dipolo norte-sul da Figura 6. Os Propriedades Magnéticas 233UNIDADE 8 dipolos magnéticos são afetados por campos mag- néticos, assim como os dipolos elétricos são afe- tados por campos elétricos. Dentro de um campo magnético, a própria força desse campo exerce um torque que tende a orientar os dipolos em relação a ele. A bússola é um exemplo desse efeito, onde a agulha alinha-se com o campo magnético da Terra. O campo magnético é caracterizado, em dire- ção e magnitude em qualquer ponto próximo a esse campo magnético, pela grandeza vetorial H, denominada intensidade do campo magnético, definida para uma bobina cilíndrica (solenoide) como sendo: H NI l = Onde N é o número de espiras com espaçamento compacto e l é o comprimento total em metros (m), que conduz uma corrente de intensidade igual a I, em ampères (A), portanto H é dado em ampère/metro (A/m) (CALLISTER; RETHWIS- CH, 2013). S N Figura 6 - Representação das linhas de força de um campo magnético em um ímã Na região ao redor de um gerador de campo mag- nético, podemos definir a indução magnética ou densidade do fluxo magnético, simbolizada por B, definida como: B H=µ onde μ é o parâmetro chamado permeabilidade, que é uma propriedade do meio específico no qual o campo H passa e onde B é medido. As unidades de μ são H/m (henry por metro) e de B é o T (tesla) que equivale a Wb/m2 (weber por metro-quadra- do), ou seja, 1 T = 1 Wb/m2. Caso o meio seja o vácuo, utiliza-se a permeabilidade do vácuo μ0, que é igual a 4.10-7 H/m (ou 1,257.10-6 H/m). Lembrando que um Henry (1 H) é equivalente a um weber por ampère (H = Wb/A). A relação en- tre a permeabilidade de um meio μ e a permeabili- dade do vácuo μ0 é denominada permeabilidade relativa μr, que pode ser conveniente, uma vez que é uma grandeza adimensional (sem unidades). µ µ µr = 0 Diamagnetismo e Paramagnetismo Os materiais sólidos altamente condutores, como os metais ouro e cobre, possuem permeabilidades relativas (μr) menores, porém muito próximas, ao valor unitário (1), por volta de 0,99995. Esses materiais são chamados de diamagnéticos, que é uma forma de magnetismo, não permanente, que persiste apenas enquanto um campo magnético está sendo aplicado. Os materiais diamagnéticos, em geral, são constituídos de átomos cujas camadas eletrônicas são fechadas, dessa forma, não há momento de di- polo magnético atômico resultante. Todos os ma- teriais apresentam comportamento diamagnético, uma vez que os átomos que os compõem sempre terão camadas eletrônicas fechadas. Contudo, de- vido à fraca intensidade do sinal diamagnético, esse efeito só será dominante em sistemas que não possuam átomos com momento de dipolo magnético permanente. 234 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais O diamagnetismo é uma forma muito fraca de magnetismo, que ocorre quando um campo magnético causa uma mudança no movimento do orbital dos elétrons do material, gerando um pequeno campo oposto. A magnitude da indução magnética B em materiais diamagnéticos é menor que no vácuo, e quando esses materiais são coloca- dos entre os polos de um eletroímã forte, eles são atraídos para as regiões onde o campo é mais fraco. Por outrolado, existem materiais com permea- bilidades relativas maiores, mas também muito próximas à unidade, variando entre 1,00 e 1,01, e esses materiais apresentam momentos de dipolo permanentes, os quais, na ausência de um campo magnético externo, orientam-se de forma aleatória. Entretanto, quando é aplicado um campo magnético externo nesses materiais, os momentos de dipolo permanentes se alinham de acordo com esse campo, esses materiais são chamados de paramagnéticos. Ambos os comportamentos diamagnéticos e paramagnéticos são representados na Figura 7. � = 0 � = 0 � � (a) (b) Figura 7 - Disposição dos dipolos magnéticos na ausência e na presença de um campo magnético externo Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 687). A Figura 7(a) representa o comportamento de um material diamagnético, na qual podemos observar que, na ausência de um campo magnético, não apresenta dipolos. Já na presença de um campo magnético, há a geração de dipolos e a orientação deles no sentido oposto a esse campo. Na Figura 7(b), vemos o comportamento de um material paramagnético, que na ausência de um campo exibe dipolos magnéticos, porém es- ses dipolos são orientados aleatoriamente. Quan- do esse material é colocado sobre a ação de um campo magnético, os dipolos são orientados na direção desse campo. Entretanto, tanto os materiais diamagnéti- cos quanto os paramagnéticos só apresentam magnetização quando submetidos a um campo magnético externo, ambos são considerados não magnéticos, além de que a densidade de fluxo magnético B presente nesses materiais é quase a mesma que existiria no vácuo. Ferromagnetismo Os materiais ferromagnéticos são caracterizados por exibirem magnetizações muito grandes, es- pontâneas e que persistem mesmo na ausência de um campo magnético, diferente das substâncias paramagnéticas que só apresentam magnetização enquanto um campo magnético estiver presente. Os materiais que exibem comportamento fer- romagnético são materiais magnéticos. Alguns exemplos são os metais de transição, como o ferro, o cobalto, o níquel e outros materiais (CALLIS- TER; RETHWISCH, 2013). Armazenamento magnético A importância dos materiais magnéticos se dá, também, pela sua aplicação como componentes de armazenamento de informações. É notável a importância dos dispositivos de armazenamento magnético no setor da tecnologia; a partir des- 235UNIDADE 8 ses dispositivos, foi possível o desenvolvimento de aparelhos, como iPods, reprodutores de mp3, HDD (drives de disco rígido), os cartões de crédito de tiras magnéticas (precursores dos que utilizam chips), entre muitas outras aplicações. Apesar dos semicondutores apresentarem uma velocidade muito superior para o armazenamento e leitura de informações, os dispositivos de armazenamento magnéticos podem armazenar quantidades de informações bem maiores que os semicondutores e com um custo muito menor. O processo de armazenamento magnético funciona da seguinte forma: os sons e as imagens são gravados magneticamente, na forma de sinais elétricos, em pedaços pequenos do disco ou fita magnética. Vamos, agora, conhecer dois disposi- tivos de armazenamento magnético: os drives de disco rígido e as fitas magnéticas. Drivers de Disco Rígido (HDD) Esses dispositivos são compostos por discos magné- ticos rígidos circulares com diâmetros entre 65 mm a 95 mm. Quando os drives de disco rígido estão em processo de gravação ou leitura de informações, eles costumam alcançar velocidades de rotação de até 5400 rpm ou 7200 rpm. É possível alcançar densidades de armaze- namento incrivelmente altas nos HDDs, e esse armazenamento é realizado por meio de um ca- beçote de gravação indutivo. O armazenamen- to digital das informações, em sistema binário (conjunto de “zeros” e “uns”), é feito em uma pequena região do disco magnético, na qual o padrão de “zeros” e “uns” dessas informações, por meio da presença ou ausência de inversões na direção magnética entre pontos adjacentes, é induzido pelo cabeçote de gravação. Já a leitura é realizada por outro cabeçote, que “sente” o campo magnético do disco e, com isso, gera variações na resistência elétrica. Esses sinais elétricos são, então, processados e convertidos nas informa- ções originais, de som e imagem. Atualmente, com o desenvolvimento dos dis- positivos de armazenamento SSD (solid-state drive), os drives discos rígidos vêm tornando-se menos utilizados. Isso se deve ao fato de que os SSDs utilizam a memória flash que possui veloci- dades de armazenamento e leitura muito superio- res aos HDD; além disso, os SSD são muito mais resistentes que os HDDs. No entanto, as unidades de armazenamento SSD ainda apresentam custo elevado em relação aos HDDs, e além disso pos- suem capacidades de armazenamento menores. Fitas magnéticas As fitas magnéticas são as precursoras dos discos magnéticos que mencionamos no tópico anterior. Elas possuem capacidades de armazenamento bem menores que os discos magnéticos; contudo, o ar- mazenamento em fitas magnéticas é mais barato que o armazenamento em disco magnético. Essas fitas possuem dimensões padrões de 12,7 mm de largura e longos comprimentos (alguns modelos de até 1000 m), enrolados na forma de carretéis com proteção externa para preservação. A gravação e a leitura dessas fitas são realizadas por meio de um sistema contendo dois carretéis conectados à fita. Quando estão em operação, a fita é desenrolada de um carretel e enrolada em outro com velocidades de até 10 m/s. Entre os carretéis, a fita passa por um sistema de cabeçotes, semelhantes ao dos discos magnéticos, de grava- ção/leitura para a transcrição das informações. Supercondutividade A supercondutividade é um fenômeno elétrico que ocorre em um estado supercondutor que pode ser alcançado por alguns materiais. O que 236 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais acontece é que a resistividade elétrica da maioria dos metais puros (condutores) diminui gradual- mente, conforme sua temperatura é reduzida, até alcançar um valor finito muito baixo, que é carac- terístico para cada metal, na temperatura de 0 K. No entanto, existem materiais que, quando têm sua temperatura reduzida a valores muito baixos, têm sua resistividade elétrica reduzida de valores finitos até, aproximadamente, zero, permanecen- do nesse valor conforme a temperatura continua a diminuir. A esses materiais específicos, damos o nome de supercondutores quando atingem a temperatura TC, denominada temperatura crítica, na qual a sua resistividade elétrica é, aproximada- mente, zero. Para uma melhor compreensão do comportamento dos semicondutores frente aos condutores comuns, podemos observar o gráfico de resistividade em função da temperatura (Figu- ra 8) para esses dois tipos de materiais. Supercondutor Re si st iv id ad e el ét ric a Metal Normal 0 0 TC Temperatura (K) Figura 8 - Dependência da resistividade elétrica com a tem- peratura para materiais condutores para supercondutores Fonte: Callister e Rethwisch (2013, p. 707). O estado supercondutor pode ser explicado como sendo o resultado das interações de atração entre os pares de elétrons livres (elétrons condutores), cuja movimentação torna-se ordenada e, dessa forma, os defeitos por átomos de impurezas e as vibrações térmicas não causam mais dispersões significativas nesse transporte elétrico, portanto, a dispersão dos elétrons é nula e a condutividade é máxima. Algumas cerâmicas isolantes elétricas nas condições ambientes foram descobertas como supercondutoras a temperaturas críticas TC rela- tivamente elevadas. Entre elas está o óxido de ítrio, bário e cobre (YBa2Cu3O7), cuja temperatura críti- ca é de, aproximadamente, 92 K. Do ponto de vista tecnológico, esses materiais são fantásticos, pois uma vez que eles possuem temperaturas críticas acima de 77 K, podem ser utilizados como super- condutores, cujo resfriamento é feito utilizando o nitrogênio líquido, queé muito mais barato que utilizar o hidrogênio líquido ou mesmo o hélio líquido. Contudo, os supercondutores cerâmicos têm a desvantagem de serem frágeis, o que difi- culta a sua aplicação em componentes como em cabos de instalações elétricas. Esses tipos de materiais têm um amplo campo de aplicações, já são aplicados em aparelhos de ressonância magnética no campo da medicina, em aparelhos de espectroscopia de ressonância magnética no campo da química, além de outras diversas aplicações, como em ímãs de acelera- dores de partículas, trens de ultra velocidades, utilizando levitação magnética, transmissão de energia elétrica praticamente sem perdas etc. O obstáculo para essas e muitas outras aplicações é o alto custo para manter as temperaturas extrema- mente baixas, necessárias desses supercondutores. Para superar esse problema, estão sendo estuda- dos materiais que possam ser supercondutores a temperaturas razoavelmente mais elevadas. 237UNIDADE 8 O conhecimento dos tipos de corrosão, a com- preensão dos mecanismos e as causas da corro- são e da degradação de materiais constituem o instrumento para a prevenção desses fenômenos. Essa prevenção pode ser realizada alterando-se a natureza do ambiente de utilização do material, se- lecionando materiais adequados (não reativos) ou, ainda, proteção do material contra a deterioração. Corrosão em Metais Nos metais, a corrosão é um ataque eletroquímico destrutivo que se inicia na superfície do material. É extremamente importante que esse aspecto seja levado em consideração, pois, segundo Callister e Rethwisch (2013), em uma nação industrializada são gastos aproximadamente 5% das receitas em prevenção, manutenção ou substituição de com- ponentes devido ao fenômeno da corrosão. Alguns exemplos familiares de corrosão em metais são a ferrugem em carrocerias, radiadores e exaustores de automóveis (CALLISTER; RETHWISCH, 2013). Corrosão 238 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais Reações eletroquímicas A corrosão em materiais metálicos é um processo eletroquímico, ou seja, consiste em reações quími- cas nas quais há transferências de elétrons entre espécies químicas. Nessas reações, os metais são os que cedem elétrons (doadores) e esse processo é chamado de reação de oxidação. Uma reação de oxidação genérica é mostrada a seguir. M M nen� �� � Onde M é um metal qualquer, Mn+ é o cátion me- tálico (íon carregado positivamente) de carga n+ formado na oxidação, n é o número de elétrons cedidos pelo metal e e- é o elétron cedido. O local onde ocorre a reação de oxidação é chamado de ânodo, e cada metal possui um nú- mero característico de elétrons que ele pode doar na reação de oxidação. O ferro e o alumínio, por exemplo, possuem quantidades diferentes de elétrons a serem doados, como podemos ver nas reações a seguir. Fe Fe e� �� �2 2 Al Al e� �� �3 3 Quando os metais perdem (doam) seus elétrons, outra espécie química deve receber esses elétrons, esse processo de recebimento de elétrons é cha- mado de reação de redução. Então, se um metal sofrer oxidação em solução ácida, com concentra- ções altas de H+, os íons H+ receberão os elétrons doados pelo metal como na reação: 2 2 2H e H � �� � A reação de redução depende do meio ao qual o metal está exposto, então, existem muitas reações de redução, além da redução em solução ácida mostrada anteriormente. Em soluções aquosas neutras ou alcalinas (básicas) com oxigênio dis- solvido, por exemplo, a reação de redução seria: O H O e OH2 22 4 4� � � � �( ) Além disso, é importante sabermos que qualquer íon metálico presente em uma solução pode sofrer redução e retornar ao seu estado neutro: M ne Mn� �� � Como mencionamos, o local onde ocorre a reação de oxidação é chamado de ânodo; já o local onde ocorre a reação de redução é chamado de cátodo. Tanto as reações de oxidação como as reações de redução são denominadas semirreações, e a rea- ção eletroquímica global é sempre constituída de, pelo menos, uma reação de oxidação e uma reação de redução. Além disso, na reação eletroquímica global, não pode existir qualquer acúmulo de cargas, ou seja, todos os elétrons gerados na reação (ou semirreação) de oxidação devem ser consu- midos na reação (ou semirreação) de redução. Um exemplo de reação eletroquímica global é apresentado na equação dada: Zn H Zn H gás� � �� �2 2 2 ( ) Essa reação química ocorre quando uma barra de zinco é mergulhada em uma solução ácida contendo íons H+. A barra de zinco é o ânodo e sofrerá oxidação (corrosão) segundo a reação de oxidação: Zn Zn e� �� �2 2 239UNIDADE 8 Os elétrons gerados nessa oxidação serão consumidos pelos íons H+ (cátodo) segundo a reação de redução: 2 2 2H e H gás � �� � ( ) Sendo essas as únicas reações de oxidação e redução que ocorrem no processo, o balanço global (soma das reações) dá origem à reação eletroquímica global do zinco em solução ácida apresentada anteriormente. Zn Zn e H e H gás Zn H Zn H � � � � � � � � � � � � � 2 2 2 2 2 2 2 2 ( ) (ggás) Outro exemplo comum de corrosão ocorre com o ferro na água (que contém oxigênio dissolvido), dan- do origem à ferrugem. Esse processo ocorre em duas etapas, na primeira o ferro metálico Fe é oxidado a ferro Fe2+ cuja forma é Fe(OH)2. Na segunda etapa, o Fe(OH)2 é oxidado novamente e transforma-se na conhecida ferrugem de fórmula Fe(OH)3, cujo íon ferro é Fe 3+. Primeira etapa: Segund Fe O H O Fe OH Fe OH� � � � �� �1 2 22 2 2 2( ) aa etapa: 2 1 2 22 2 2 3Fe OH O H O Fe OH( ) ( )� � � Taxas de corrosão Em sistemas reais, a corrosão é um processo que não está no equilíbrio, afortunadamente, na perspec- tiva da engenharia, e estamos interessados em estimar as taxas nas quais os componentes corroem. Essa taxa de corrosão é consequência da ação química e é um parâmetro importante de engenharia. Podemos expressar a taxa como sendo a taxa de penetração da corrosão (TPC) ou a perda de espessura do material por unidade de tempo. TPC KW At = r Onde W é a perda de peso, em miligramas (mg), após um tempo de exposição t em horas (h), ρ é a massa específica em gramas por centímetro cúbico (g/cm³), A é a área exposta da amostra em cen- tímetros quadrados (cm²) e K é uma constante. Para uma TPC dada em milímetros por ano (mm/ ano), a constante K é igual a 87,6. Uma estimativa aceitável de TPC em projetos é que ela seja menor que 0,50 mm/ano. 240 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais Além disso, pode-se definir a taxa de corrosão em termos da corrente elétrica como mostra a relação: r i nF = A taxa r é dada em mols por metro quadrado (mol/m²), i é a corrente elétrica dada em ampe- res (A), n é o número de mols associados à ioni- zação de cada átomo metálico e F é a constante de Faraday que vale 96500 C/mol (ASKELAND; WRIGHT, 2015). Passividade A passividade é um fenômeno exibido por metais, como o cromo, ferro, níquel, titânio e muitas ligas desses metais. Esse fenômeno é caracterizado pela perda da reatividade química exibida por alguns materiais em alguns ambientes específicos. Esse comportamento é, possivelmente, devido à formação de um filme de óxido muito fino e aderente sobre a superfície do metal, e esse filme funciona como uma barreira que protege esse metal contra uma corrosão adicional. Os aços inoxidáveis são exemplos de ligas metálicas ex- tremamente resistentes à corrosão em diversos ambientes devido ao fenômeno da passividade. Formas de corrosão Neste tópico, vamos elencar algumas formas de corrosão em materiais metálicos de acordo com a maneira pela qual ocorrem. As causas e os meios de prevenção desses tipos de corrosão serão dis- cutidos sucintamente. O primeiro tipo de corrosão discutido é o ataque uniforme, que consiste na corrosão que ocorre com intensidade equivalente ao longo de toda a superfície exposta do material, geralmente formando um depósito ou incrustaçãonessa su- perfície. A ferrugem generalizada em aços e no ferro, e também o escurecimento de pratarias, são exemplos de corrosão por ataque uniforme. Em situações nas quais dois metais ou ligas de composições diferentes são colocadas juntas e em contato com um eletrólito, pode ocorrer a corrosão galvânica. Nesse tipo de corrosão, o metal mais reativo sofrerá oxidação (corrosão), enquanto o metal menos reativo estará protegi- do da corrosão. Em ambientes marinhos (água salgada é o eletrólito), parafusos de aço (ânodo) correm em contato com latão (cátodo) devido à corrosão galvânica. Além disso, a taxa de corro- são galvânica aumenta conforme a razão entre a área do cátodo e do ânodo aumenta, ou seja, para uma dada área do cátodo conforme a área do ânodo diminui (aumentando a razão), maior será a corrosão. A corrosão galvânica pode ser reduzida sig- nificativamente: • Escolhendo metais (os ligas) próximos na série galvânica para produção de junções. • Utilizando uma área do ânodo tão grande quanto o possível. • Isolando eletricamente metais (ou ligas) diferentes. O termo eletrólito refere-se a uma solução capaz de conduzir energia elétrica, ou seja, elétrons, que trafegam na forma de íons, de uma região doadora de elétrons até uma região receptora de elétrons. Uma solução de cloreto de sódio (sal de cozinha) é um eletrólito. 241UNIDADE 8 • Conectando eletricamente um terceiro metal com características anódicas, em relação aos outros dois, para servir de proteção catódica. A corrosão pode ocorrer na forma de pites, uma forma muito localizada de ataque corrosivo que for- ma pequenos buracos no material. Os pites podem ter origem em um defeito superficial, como um arranhão ou mesmo uma pequena variação na composição. Esse tipo de corrosão é muito traiçoeira, muitas vezes não detectada, e que acarreta pequenas perdas do material e posterior falha. Os aços inoxidáveis são razoavelmente susceptíveis a pites, entretanto, a resistência a esse tipo de corrosão aumenta significativamente com uma adição de, aproximadamente, 2% de molibdênio a esses aços. Outro tipo de corrosão muito comum é a erosão-corrosão, uma ação combinada de um ataque químico e da abrasão mecânica causada pelo movimento de um fluido. No geral, todas as ligas metálicas são susceptíveis, em maior ou menor grau, a esse tipo de corrosão. Em ligas passivadas, o revestimento protetor pode ser erodido pela ação abrasiva do fluido e, caso essa barreira não seja recomposta rapi- damente pelo material, a corrosão pode ser severa. A erosão-corrosão é frequentemente encontrada em tubulações, principalmente em curvas, cotovelos e em grandes mudanças de diâmetro, rotores, válvulas, bombas e palhetas de turbinas, que são situações onde há um escoamento turbulento e colisão do fluido. Por essa razão, uma das formas de reduzir a erosão-corrosão é modificar o projeto para reduzir ou eliminar efeitos da turbulência e a colisão do fluido. A escolha de um material resistente à erosão e à remoção de bolhas e partículas do fluido, redu- zindo sua capacidade de erosão, é outra forma de reduzir a erosão-corrosão. Ambientes corrosivos e prevenção à corrosão Dentre os ambientes ditos corrosivos estão a atmosfera (ar úmido contendo oxigênio dissolvido), so- luções aquosas, solos, ácidos, base, solventes inorgânicos, metais líquidos, sais fundidos e, até mesmo, o corpo humano. A escolha do material adequado depende do ambiente ao qual ele será exposto, a seguir são mencionados alguns materiais comumente aplicados a alguns tipos de ambientes: • Atmosfera: ligas de alumínio e de cobre e aço galvanizado. • Água doce: ferro fundido, aço, alumínio, cobre, latão e alguns aços inoxidáveis. • Água salgada: titânio, latão, alguns bronzes, ligas de cobre-níquel e ligas de cobre-cromo-mo- libdênio. • Solos: ferro fundido e aços-carbono comuns. Existem diversas formas de lidar com a corrosão, sendo a mais simples a seleção criteriosa do material utilizado no projeto, após o detalhamento do ambiente ao qual ele será inserido. Entretanto, o fator econômico, algumas vezes, pode ser determinante e o material “ideal” seja economicamente inviável ao projeto. Nesses casos, deve-se empregar outras medidas para lidar com a corrosão. 242 Propriedades Ópticas, Propriedades Magnéticas e Corrosão dos Materiais Caso seja possível, a mudança do ambiente, como a diminuição da temperatura do fluido ou da sua velocidade, pode reduzir efeitos de corro- são. Além disso, é muito comum a adição de subs- tâncias em concentrações relativamente baixas ao ambiente para diminuir a corrosividade desse ambiente. Essas substâncias são denominadas inibidores, e sua escolha depende tanto da liga metálica quanto do ambiente. Alguns inibidores funcionam eliminando uma espécie quimicamente ativa do ambiente, outros fixam-se na superfície que está sendo corroída e a protegem. Sua utilização se dá, principalmen- te, em sistemas fechados, como em caldeiras de vapor ou radiadores de automóveis. Um dos meios mais eficaz de proteção contra os diversos tipos de corrosão é a proteção catódi- ca. Esse tipo de proteção consiste em fornecer um suprimento de elétrons, por uma fonte externa, ao metal que se deseja proteger, transformando esse metal em um cátodo. Outra forma de proteção catódica é acoplar um metal mais reativo ao metal que se deseja pro- teger. O metal mais reativo funcionará como um ânodo de sacrifício, e será oxidado no lugar do outro metal. O magnésio e o zinco são os metais mais utilizados como ânodo de sacrifício devido aos seus altos potenciais de oxidação. Um exemplo de proteção catódica muito conhecido é a galva- nização, que consiste na aplicação de uma cama- da de zinco na superfície do aço, com a finalidade de proteger o aço contra a corrosão. Corrosão em Cerâmicas Os materiais cerâmicos são extremamente imunes à corrosão em quase todos os ambientes. Quando ocorre nesses tipos de materiais, é uma simples dissolução química, diferente dos processos ele- troquímicos que ocorrem na corrosão dos metais. Em virtude dessa resistência extrema à cor- rosão, os materiais cerâmicos possuem diversas aplicações, como em recipientes de vidro para armazenamento de líquidos, cerâmicas refratárias em aplicações onde é necessário um isolamento térmico e, ainda, resistência a ataques em tempe- raturas elevadas ou em aplicações em ambientes corrosivos e pressões acima da atmosférica. Os materiais cerâmicos são muito mais recomen- dados que os metais para suportar a maioria dos ambientes corrosivos por longos períodos. Degradação dos Polímeros Assim como os materiais metálicos, os polímeros também sofrem deterioração devido à interação com o ambiente. Entretanto, o modo como essa interação ocorre é diferente: nos metais, ocorre um processo eletroquímico, enquanto nos po- límeros os fenômenos são físico-químicos, por essa razão, a deterioração nos polímeros devido ao ambiente é chamada de degradação. Em geral, os polímeros podem deteriorar-se por inchamento, dissolução ou por ruptura de suas ligações covalentes. Entretanto, devido à complexidade química da classe dos polímeros, os seus mecanismos de degradação não são com- pletamente entendidos. O inchamento ocorre quando um polímero, exposto a um líquido, absorve esse líquido, ou um soluto desse líquido, e as pequenas moléculas absorvidas ajustam-se no interior do polímero e forçam a separação das suas macromoléculas, resultando em uma redução das forças de liga- ção intermoleculares e, consequentemente, em uma redução da resistência e um aumento da ductilidade do polímero. Pode, ainda, ocorrer a diminuição da temperatura de transição vítrea do polímero, e caso essa temperatura seja menor que a temperatura ambiente, o material, que antes era 243UNIDADE 8 resistente, pode perder essa resistência e tornar- -se borrachoso. Já a dissolução ocorre quando o polímero é completamente solúvel no líquido ao qual ele está exposto, podendo ser consideradauma continuação do inchamento. Os polímeros podem também sofrer degra- dação devido à ruptura de ligações em suas cadeias moleculares, causando uma diminuição do tamanho das moléculas e da massa molar do polímero. A massa molar é um fator determinante nas propriedades dos polímeros, como resistência mecânica e resistência a ataques químicos, então, variações na massa molar acarretam variações nas propriedades dos polímeros. A ruptura de ligações em polímeros pode ser resultante da exposição à radiação, ao calor ou, ainda, devido a reações químicas (CALLISTER; RETHWISCH, 2013). Muitos materiais poliméricos utilizados em apli- cações em ambientes externos sofrem um tipo de degradação denominado intemperismo, que pode ser uma combinação de vários processos distintos. A principal causa dessa deterioração é a oxidação iniciada pela radiação ultravioleta do sol. Além disso, alguns polímeros absorvem água, reduzindo, assim, sua dureza e rigidez, como é o caso do náilon e da celulose. Entretanto, alguns polímeros como os fluorocarbonos são, pratica- mente, inertes ao intemperismo. Fonte: Callister e Rethwisch (2013). Concluímos a Unidade 8 falando sobre as pro- priedades óticas dos materiais, ou seja, do com- portamento de alguns materiais frente à radiação luminosa (luz visível). Dentre essas propriedades, estudamos a refração, que é a mudança da direção da luz quando muda de meio, a absorção da ener- gia luminosa pelos materiais, a transmissão, que é observada quando a luz consegue atravessar um material mesmo que com perdas de energia, entre outras. Foi abordado, também, de forma introdu- tória, as fibras óticas e como as suas propriedades são revolucionárias para o setor de comunicação. Além disso, vimos que alguns materiais, quan- do submetidos a um campo externo, sofrem uma magnetização fraca que dura apenas enquanto esse campo estiver presente; esses materiais são denominados diamagnéticos. Por outro lado, te- mos os materiais paramagnéticos que apresentam dipolos permanentes e também sofrem uma mag- netização fraca quando submetidos a um cam- po externo. Já os materiais ferromagnéticos são materiais magnéticos que apresentam uma forte magnetização quando submetidos a um campo externo, que se mantém mesmo que o campo ces- se. Fechamos esta unidade conhecendo algumas aplicações de materiais magnéticos no nosso dia a dia, como os HDDs e as fitas magnéticas. Fechamos a unidade com uma abordagem dos tipos de corrosão em materiais metálicos e dos métodos de prevenção deles, além disso, vimos que os materiais poliméricos sofrem degradação em alguns ambientes e essa degradação pode comprometer seriamente a funcionalidade des- ses materiais. 244 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. O magnetismo é uma característica importante observada em alguns materiais, uma vez que muitos dos dispositivos modernos aplicam materiais magnéticos em sua construção. O fenômeno do magnetismo é observado como sendo uma força ou influência de atração ou repulsão que um material exerce sobre outros materiais. Com base nos conhecimentos sobre as propriedades magnéticas dos materiais, leia as afirmativas a seguir. I) Nos materiais magnéticos, são encontrados dipolos magnéticos, compostos por um polo norte e um polo sul, em vez de cargas elétricas positivas e ne- gativas. II) O ferro (na forma ferrita α), o cobalto e o níquel exibem comportamento diamagnético, ou seja, exibem momento magnético permanente mesmo na ausência de um campo magnético externo. III) A importância dos materiais magnéticos se dá, também, pela sua aplicação como componentes de armazenamento de informações, sons e imagens por exemplo, na forma de sinais elétricos em discos ou fitas magnéticas. IV) Existem materiais, que, quando têm sua temperatura reduzida a valores muito baixos, têm sua resistividade elétrica reduzida até, aproximadamente, zero; nessas condições, esses materiais são chamados de supercondutores. É correto o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) I, II e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II e IV, apenas. e) III e IV, apenas. 245 2. Vimos, neste tópico, as propriedades ópticas dos materiais, as quais são a respos- ta de um material quando submetidos a uma radiação eletromagnética, dentre elas, especialmente, a luz visível. Portanto, discutimos alguns conceitos básicos importantes e vimos as propriedades ópticas da refração, reflexão, absorção, cor, entre outras. Analise as afirmativas a seguir. I) O fenômeno no qual a luz incide na superfície de um material transparente e é transmitida para o seu interior, sofrendo uma modificação da sua direção de propagação em relação à direção de incidência, é chamado de refração. II) O fenômeno da reflexão acontece quando a luz incide em uma interface entre dois meios, cujos índices de refração são diferentes, e parte dessa radiação luminosa é refletida nessa interface, ou seja, parte da radiação luminosa toca a interface e é devolvida. III) Uma parcela da luz incidente em um material sólido transparente atravessa completamente o material; esse fenômeno é chamado de cor e está relacio- nado com o fenômeno da reflexão. IV) Os materiais fluorescentes e fosforescentes possuem a capacidade de ab- sorver a energia que incide sobre eles e reemitir essa energia na forma de fótons (energia luminosa). É correto o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) I, II e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II e IV, apenas. e) III e IV, apenas. 3. A deterioração nos metais é um processo eletroquímico, no qual pode ou não ocorrer a formação de produtos sólidos (óxidos, sulfetos, hidróxidos). Esse fenômeno é denominado corrosão e causa grandes transtornos em compo- nentes metálicos. Sobre a corrosão em materiais metálicos, cite duas formas de prevenção que podem ser adotadas contra a corrosão nesse tipo de materiais. 246 Texto sobre uma forma de magnetização da matéria utilizando a luz de forma instantânea. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB 247 ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 3. ed. São Paulo: Editora Cengage Learning, 2015. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma Introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2013. SHACKELFORD, J. F. Ciência dos Materiais. 6. ed. São Paulo: Editora Pearson, 2013. 248 1. C. A afirmativa II está incorreta, pois o ferro (na forma ferrita α), o cobalto e o níquel exibem comportamento ferromagnético, ou seja, exibem momento magnético permanente mesmo na ausência de um campo magnético externo. 2. B. A afirmativa III está incorreta, pois uma parcela da luz incidente em um material sólido transparente atra- vessa completamente o material; esse fenômeno é chamado de transmissão e está relacionado com os fenômenos da reflexão e absorção. 3. Prevenção de corrosão em metais: • Seleção criteriosa do material adequado, conhecendo-se o ambiente ao qual ele será inserido. • Proteção catódica ou Galvanização. • Diminuição da corrosividade do ambiente, como diminuição da temperatura do fluido ou da sua velocidade. • A adição de inibidores para diminuir a corrosividade do ambiente. 249 250 251 252 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Luis Henrique de Souza • Conhecer os tipos de ligas metálicas e as aplicações comuns de cada uma delas. • Aprender sobre as classes dos materiais cerâmicos e as aplicações delas. • Abordar e aprender sobre a classificação dos polímeros de acordo com as suas finalidades. • Estudar os materiais compósitos e entender as funções da matriz e da fase reforço nesses materiais. Metais e ligas metálicas Cerâmicas Compósitos Polímeros Classes de Materiais e Aplicações Metais e Ligas Metálicas Seja bem-vindo à Unidade 9. Nesta unidade final, você vai concluir a sua trajetória na ciência dos materiais. Começaremos estudando os materiais metálicos e as ligas formadas por eles, que têm uma grandeimportância na área dos materiais estruturais. Vamos estudar as ligas ferrosas, que são as ligas metálicas cujo ferro é o componente principal da liga, e dentro desse grupo de ligas, temos os aços, que são compostos por ferro com adição de concentrações muito baixas de carbo- no. Além dos aços, temos os ferros fundidos que, assim como os aços, são formados por ferro com adição de concentrações baixas de carbono e pos- suem ponto de fusão menor que os aços. Veremos as ligas não ferrosas, que são as ligas formadas por outros metais diferentes do ferro, dentre elas, temos as ligas de cobre, as ligas de alumínio, as ligas de titânio, superligas e os metais refratários. Na sequência, estudaremos as cerâmicas e fala- remos sobre os vidros inorgânicos e as vidrocerâ- micas, suas aplicações e propriedades. Saberemos sobre a importância dos materiais refratários e como a porosidade influencia as características desses materiais. Também temos os materiais abrasivos, que são utilizados para processos de lixamento e polimento de outros materiais, as ce- 255UNIDADE 9 râmicas de argila, que são tão comuns em nossas casas na forma de louças ou mesmo nos tijolos das paredes. Finalizaremos falando das cerâmicas avançadas, que são tão importantes do ponto de vista tecnológico. Partindo para os polímeros, que são os mate- riais formados por moléculas cuja cadeia molecu- lar é muito grande, estudaremos os plásticos que são os materiais mais versáteis dentre essa classe, podendo ser usados nas mais diversas aplicações. Além deles, temos os elastômeros (borrachas), que exibem uma excepcional elasticidade, e as fibras, que são polímeros cujo comprimento é muito maior do que o seu raio, e por essa e outras razões essas fibras (fios) são muito utilizadas na indústria têxtil. Finalizaremos o tópico com os polímeros avançados, entre eles estão os cristais líquidos po- liméricos, que encontramos nas telas dos relógios digitais, celulares, televisores e computadores. Finalizaremos a Unidade 9 falando sobre a classe dos compósitos, que são os materiais multifásicos formados pela união de materiais pertencentes às classes dos metais, cerâmicas e polímeros. Dentro da classe dos compósitos, serão abordados os compósitos reforçados com partículas, reforçados com fibras e também os compósitos estruturais. Veremos cada um deles e suas aplicações mais usuais. Conforme vimos na Unidade 1, os metais pu- ros e, principalmente, as ligas metálicas desempe- nham um papel fundamental na engenharia e na tecnologia. Contudo, os metais são, geralmente, utilizados na forma de ligas metálicas, que são misturas de dois ou mais elementos químicos dos quais pelo menos um é metal. A seleção desses e de outros tipos de materiais é muito importante, pois dentro de uma mesma classe de materiais en- contramos, muitas vezes, propriedades distintas. Portanto, é fundamental que o engenheiro tenha conhecimento de algumas das opções disponíveis para um dado projeto. Neste primeiro tópico, veremos algumas ligas metálicas importantes, como aço e ferro fundido, ligas de alumínio, ligas de cobre, suas aplicações usuais e suas limitações. Desejo a você bons estudos. Tipos de Ligas Metálicas Classificamos as ligas metálicas em duas catego- rias: as ligas metálicas ferrosas – são aquelas nas quais o constituinte principal é o ferro, sendo elas os aços e ferros fundidos, já mencionados na Unidade 6 – e as ligas metálicas não ferrosas – não têm sua composição baseada no ferro. Quando estudamos ligas metálicas, um con- ceito importante que devemos conhecer é o de elementos de liga, que são elementos químicos adicionados a uma matriz visando à formação de ligas metálicas. A adição de elementos de liga a uma matriz tem como objetivo promover mudan- ças na microestrutura do material, aprimorando propriedades macroscópicas físicas e mecânicas, permitindo aplicações específicas desse material. Ligas ferrosas As ligas ferrosas são ligas cujo constituinte princi- pal é o ferro, elas integram mais de 90% em peso dos materiais metálicos usados pelos seres huma- nos, a própria história do homem é marcada pela importância desses materiais e é devido a essa importância que existe um período denominado idade do ferro. No âmbito da engenharia, as ligas ferrosas têm especial importância devido a três fatores, são eles: • Os compostos de onde se extrai o ferro são abundantes na crosta terrestre. • As técnicas de extração, beneficiamento e fabricação do ferro metálico e de ligas de aço são pouco onerosas. 256 Classes de Materiais e Aplicações • As propriedades físicas e mecânicas dos variados tipos de ligas de ferro são muito variadas, o que faz com que essas ligas sejam muito versáteis em aplicações de engenharia. Muitas dessas ligas ferrosas, no entanto, têm a desvantagem de serem mais suscetíveis à corrosão (tra- tada na Unidade 8). A seguir, conheceremos os dois tipos de ligas ferrosas: os aços e os ferros fundidos. Para tornar mais simples a utilização das ligas ferrosas e não ferrosas, visto que existem tantas, foi feita a indexação dessas ligas em um sistema de numeração unificado (UNS - unified numbering system). A classificação de cada liga específica é responsabilidade da AISI (American Iron and Steel Institute), SAE (Society of Automotive Engineers) e da ASTM (American Society for Testing and Materials). O número AISI/SAE para aços comuns e aços liga é formado por quatro dígitos: • 10xx - aços-carbono. • 11xx - aços-carbono com muito enxofre e pouco fósforo. • 12xx - aços-carbono com muito enxofre e muito fósforo. • 13xx - manganês (1,75%). • 23xx - níquel (3,5%). • 25xx - níquel (5%). • 31xx - níquel (1,5%), cromo (0,6%). • 33xx - níquel (3,5%), cromo (1,5%). • 40xx - molibdênio (0,2 ou 0,25%). • 41xx - cromo (0,5; 0,8 ou 0,95%), molibdênio (0,12; 0,2 ou 0,3%). • 43xx - níquel (1,83%), cromo (0,5 ou 0,8%), molibdênio (0,25%). • 44xx - molibdênio (0,53%). • 46xx - níquel (0,85 ou 1,83%), molibdênio (0,2 ou 0,25%). • 47xx - níquel (1,05%), cromo (0,45%), molibdênio (0,25%). • 48xx - níquel (3,50%), molibdênio (0,25%). • 50xx - cromo (0,28% ou 0,40%). • 51xx - cromo (0,80, 0,90, 0,95, 1,00 ou 1,05%). • 61xx - cromo (0,80 ou 0,95%), vanádio (0,10 ou 0,15%). • 86xx - níquel (0,55%), cromo (0,50 ou 0,65%), molibdênio (0,20%). • 87xx - níquel (0,55%), cromo (0,50%), molibdênio (0,25%). • 92xx - manganês (0,85%), silício (2,00%). • 93xx - níquel (3,25%), cromo (1,20%), molibdênio (0,12%). • 94xx - manganês (1,00%), níquel (0,45%), cromo (0,40%), molibdênio (0,12%). • 97xx - níquel (0,55%), cromo (0,17%), molibdênio (0,20%). • 98xx - níquel (1,00%), cromo (0,80%), molibdênio (0,25%). Os dois últimos dígitos (xx) indicam a concentração (porcentagem em peso multiplicada por 100) de carbono da liga. Exemplo: o aço 1060 é um aço carbono comum com concentração de 0,60%p de carbono. 257UNIDADE 9 A codificação dada pelo sistema de numeração unificado (UNS) para aços é composta por uma única letra seguida por um número composto por cinco dígitos. A letra simboliza a família de metais à qual a liga pertence; essa letra, para os aços, é G. Os quatro primeiros dígitos é o número AISI/SAE do aço e o quinto digito é 0 para aços comuns e aços liga. Dessa forma, o número UNS do aço 1060 (aço carbono comum com concentração de 0,60%p de carbono) é G10600. Aços Os aços são produzidos essencialmente de duas maneiras, a partir da redução de minérios de ferro ou pela reciclagem de sucata de aço. Os aços são ligas ferrosas que, na teoria, contêm concentrações de carbono entre 0,08%p e 2,14%p, entretanto, na prática são quase sempre inferiores a 1%p C. As propriedades mecânicas dos aços são sensíveis a variações na concentração de carbono dessas ligas. Existem milhares de ligas de aço, podendo conter quantidades significativas de outros diferentes elementos de liga, com composições e tratamentos térmicos distintos. Na Figura 1, a seguir, vemos a utilização do aço na produção de barras extremamente