Prévia do material em texto
Doença renal do diabetes Interna: Caroline Leão Preceptora: Gabrielly Magalhães A doença renal diabética é definida por albuminúria (≥3.4 mg/mmol [30 mg/g]) e redução progressiva na taxa de filtração glomerular (TFG) quando o diabetes for de longa duração (>10 anos de duração do diabetes do tipo 1; pode estar presente no diagnóstico do diabetes do tipo 2) e tipicamente associado à retinopatia. Definição: Epidemiologia: 20% a 40% dos pacientes com diabetes mellitus do tipo 1 ou tipo 2 desenvolvem doença renal diabética. A prevalência de doença renal diabética está aumentando e reflete o aumento na prevalência do diabetes no mundo inteiro. 20% a 30% apresentarão albuminúria moderadamente elevada após a duração média de 15 anos do diabetes mellitus. O diabetes mellitus é a causa mais comum de doença renal crônica (DRC) em todo o mundo. Fisiopatologia: Fase precoce: Devido a hiperglicemia, há aumento da filtração glomerular de glicose. Aumento da reabsorção tubular proximal desse carboidrato, através do cotransportador de sódio e glicose SGLT tipo 1 e 2. Por causa da reabsorção de sódio por esse cotransportador, ocorre a diminuição desse elemento no túbulo distal e na mácula densa. Ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), com consequente dilatação da arteríola eferente e constrição da arteríola aferente. Resultando no aumento da pressão arterial (PA) e na hiperfiltração glomerular. Fisiopatologia: Fase tardia O aumento da PA e da filtração glomerular provoca hipertrofia renal. Na sua evolução para glomeruloesclerose e atrofia tubular. A hiperglicemia persistente também provoca lesão do endotélio glomerular. Isso contribui para o surgimento de um processo inflamatório que cursa com lesão e apoptose dos podócitos. Tendo essa célula importante função na manutenção da barreira de filtração glomerular. Devido a esse processo inflamatório, há também o recrutamento de células imunológicas, que liberam citocinas e quimiocinas. Isso provoca um remodelamento tecidual, contribuindo para a atrofia e fibrose do parênquima renal. Fisiopatologia: A fase precoce é caracterizada por alterações hemodinâmicas e metabólicas, e a fase tardia por alterações celulares e remodelação celular. Hiperglicemia Sustentada Hipertensão História familiar de hipertensão e/ou doença renal Obesidade Tabagismo ingestão elevada de sódio, gordura e proteína Fatores de risco: A doença renal diabética geralmente é um diagnóstico clínico em um paciente com diabetes de longa duração (>10 anos) com albuminúria e/ou taxa de filtração glomerular (TFGe) estimada reduzida na ausência de sinais ou sintomas de outras causas primárias de dano renal. Diagnóstico: Anamnese: Os pacientes têm diabetes mal controlado e história familiar de hipertensão e/ou doença renal. Hipertensão, particularmente hipertensão noturna (non-dippers). Os pacientes podem não desenvolver sintomas até estágios avançados de doença renal diabética. Em estágios avançados, os sintomas iniciais podem incluir fadiga e anorexia. À medida que os pacientes se tornam clinicamente urêmicos, podem ocorrer anorexia, encefalopatia, náuseas e vômitos, disgeusia (alteração do paladar), sangramento, mioclonia e pericardite. Os sintomas de dormência nas pernas, a visão prejudicada e a dor nas pernas são típicos de diabetes mellitus avançado e devem conduzir a avaliações adicionais para doença renal diabética. Exame físico: Nos estágios iniciais da doença, o exame físico pode estar normal. O exame físico deve avaliar achados de doença renal diabética, incluindo hipertensão e edema periférico. Complicações microvasculares do diabetes mellitus: • Retinopatia: visão diminuída, achados na retina incluindo pontos e manchas hemorrágicos, microaneurismas (retinopatia de base) e/ou neovascularização (retinopatia proliferativa) • Neuropatia: sensibilidade diminuída nos membros inferiores em padrão "de meias", úlceras nos pés, articulações de Charcot (neuropatia periférica) e/ou hipotensão ortostática sem aumento na frequência cardíaca (neuropatia autonômica). Exame físico: O exame físico deve avaliar complicações macrovasculares, incluindo hipertensão, sopros vasculares, pulsos diminuídos nos membros e úlceras isquêmicas. Outros achados de diabetes mal controlado e/ou de longa duração podem estar evidentes, incluindo: • Alterações de pele como xerose (ressecamento anormal da pele), hiperpigmentação, necrobiose lipoide e acantose nigricans • Sensibilidade costovertebral devido à glicosúria e possível tendência para infecções do trato urinário • Atrofia muscular • Palidez, que pode significar anemia. Exame físico: Em pacientes urêmicos, atritos pericárdicos ou pleurais, asterixis (flapping) e/ou mioclonia podem estar evidentes. Pode haver um distúrbio plaquetário, que se manifesta como tendência a sangramentos. A acidose metabólica, decorrente de comprometimento da amoniagênese e do acúmulo de fosfatos, sulfatos e hipuratos, pode estar acompanhada de respirações de Kussmaul. Exames diagnósticos: (BMJ- Doença renal diabética- 2021 Exames diagnósticos: (BMJ- Doença renal diabética- 2021 - Razão para o rastreamento de doença renal diabética: • A detecção de albuminúria moderadamente elevada (anteriormente conhecida como microalbuminúria) é importante, pois intervenções como a inibição do sistema renina-angiotensina e inibidores da proteína cotransportadora de sódio e glicose 2 (SGLT2) podem impedir a progressão para albuminúria gravemente elevada. • A doença renal diabética avançada é mais resistente ao tratamento, está associada a maior morbidade e mortalidade por doença cardiovascular e tem maior probabilidade de evoluir para DRET e diálise. - Populações para o rastreamento de doença renal diabética: • Pacientes com diabetes do tipo 1 - 5 anos após o diagnóstico. • Pacientes com diabetes do tipo 2 - à época do diagnóstico. Rastreamento: - Exames de rastreamento de doença renal diabética: • A relação entre albumina e creatinina (RAC) anualmente em pacientes com diabetes do tipo 1 com duração ≥5 anos e em todos os pacientes com diabetes do tipo 2. • Pacientes com albumina urinária >300 mg/g de creatinina e/ou TFGe 30-60 mL/min/1.73 m² devem ser monitorados duas vezes ao ano. • Quando a taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) for <60 mL/min/1.73 m², indica-se o rastreamento de complicações da DRC (por exemplo, hipertensão, sobrecarga de volume, desequilíbrio eletrolítico, anemia, doença óssea metabólica). • A doença renal diabética avançada está frequentementeassociada com retinopatia diabética por causa da doença microvascular. Nos EUA, o rastreamento de retinopatia diabética é recomendado dentro de 5 anos após o diagnóstico inicial de diabetes em adultos com diabetes do tipo 1, e em diagnósticos de adultos com diabetes do tipo 2, e daí em diante a cada 1-2 anos caso não haja evidência de retinopatia. Rastreamento: Referências Bibliográficas: VILAR, Lucio. et al. Endocrinologia Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda, 2020. BMJ – Best Pratice - Doença Renal Diabética. British Medical Association Publishing Group. Maio 2021.