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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Jair Messias Bolsonaro
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
Anderson Gustavo Torres
SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA
Ana Cristina Melo Santiago
DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA
Roberto Glaydson Ferreira Leite
COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO
Juliana Antunes Barros Amorim
COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA
Juliana Antunes Barros Amorim
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Gisele Matos Gervásio
COORDENAÇÃO DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA APLICADA
Alessandra Veríssimo Lima Santos
CONTEUDISTA
Cristiano Israel Caetano
Diego de Oliveira Nogueira
Pedro Paulo Porto de Sampaio
REVISÃO TÉCNICA
Marcos Cesar Silva Valverde
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Itamar Arantes
REVISÃO PEDAGÓGICA
Ardmon dos Santos Barbosa
Joyce Cristine da Silva Carvalho
PRODUÇÃO (APOIO)
Danilo Bruno Moreira
PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO
Renato Antunes dos Santos
DESIGNER
Vinícius Alves de Sousa
Renato Antunes dos Santos
DESIGNER INSTRUCIONAL
Vinícius Alves de Sousa
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Sumário
Apresentação do Curso .................................................................................... 5
Objetivos do Curso ........................................................................................... 6
OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 6
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................. 6
Estrutura do Curso ............................................................................................ 7
Módulo 1 – Conceitos Introdutórios, Agenda e Formulação ............................. 8
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO ............................................................................ 8
OBJETIVOS DO MÓDULO ................................................................................... 8
ESTRUTURA DO MÓDULO .................................................................................. 8
AULA 1 – REVISÃO DE CONCEITOS GERAIS DA POLÍTICA PÚBLICA .......................... 9
1.1 Problematização .................................................................................. 9
1.2 Breve percurso histórico das políticas públicas ................................... 9
1.3 Conceitos fundamentais: políticas públicas e o problema público ..... 13
1.4 A participação dos stakeholders ........................................................ 16
1.5 A importância das práticas de benchmarking .................................... 17
1.6 Contextualização do ciclo de formação da política ............................ 19
AULA 2 - CICLO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS (DEFINIÇÃO DE AGENDA) ..................... 23
2.1 Perspectivas de mudanças em políticas públicas .............................. 28
2.1.1 Ocorrência de crises ................................................................... 30
2.1.2 Características especiais que se destacam sobre problemas
gerais .............................................................................................................. 32
2.1.3 Atenção em geral do público ....................................................... 32
2.2 Teoria do equilíbrio pontuado ............................................................ 34
2.3 Feedbacks Negativos ........................................................................ 35
2.4 Feedbacks Positivos .......................................................................... 36
2.4.1 Eventos focalizadores ................................................................. 36
2.4.2 Policy entrepreneurs (empreendedores de política) .................... 37
2.4.3 Mudanças de indicadores ........................................................... 37
AULA 3 - CICLO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS (FORMULAÇÃO) ................................ 42
3.1 Fontes de informação em políticas públicas ...................................... 44
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3.2 Atores participantes na formulação da política pública ...................... 45
3.3 Processo de formulação da política e desenho da política ................ 46
3.4 Desenho da Política ........................................................................... 48
3.5 Análise ex ante e Modelo Lógico no desenho da política .................. 56
3.6 O Modelo Lógico do MJSP ................................................................ 58
3.7 Instrumentos de Planejamento e Orçamento .................................... 67
FINALIZANDO ................................................................................................. 69
Módulo 2 – Ciclo das Políticas Públicas (Tomada de Decisão, Implementação
e Avaliação) ............................................................................................................... 73
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .......................................................................... 73
OBJETIVOS DO MÓDULO ................................................................................. 73
ESTRUTURA DO MÓDULO ................................................................................ 73
AULA 1 - CICLO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS (TOMADA DE DECISÃO) ..................... 74
AULA 2 - CICLO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS (IMPLEMENTAÇÃO) ............................. 81
2.1 - História e Modelos ........................................................................... 82
2.2 - Modelos para a segurança pública .................................................. 86
2.3 - Elementos, Fatores e Pressupostos ................................................ 87
2.4 - Benchmarking .................................................................................. 91
AULA 3 - CICLO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS (AVALIAÇÃO) ..................................... 98
3.1 - Tipos de avaliação de políticas públicas ......................................... 99
3.2 Objetivos, Indicadores e Metas ........................................................ 101
3.3 Avaliação de impacto das ações de policiamento com base nas
ferramentas de qualidade ................................................................................. 105
3.3.1 Avaliação de resultado .............................................................. 105
3.3.2 Avaliação de impacto ................................................................ 106
3.3.3 Políticas Públicas para Segurança Pública ............................... 107
FINALIZANDO ............................................................................................... 110
Referências ................................................................................................... 113
Nota de fim ................................................................................................... 119
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Apresentação do Curso
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) ao curso de Políticas Públicas de Segurança: da
Definição da Agenda à Avaliação.
Em 2021, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou
pesquisa que trata do "uso e o não uso de evidências científicas nas políticas
públicas". Os resultados indicaram que 54% dos servidores públicos federais
entrevistados nunca ou raramente utilizam pesquisas científicas na formulação de
políticas públicas federais (IPEA, 2021).
Em 76% dos casos, esses profissionais consultados apontam que buscam
evidências científicas no google ou outras ferramentas de busca; em 53,2% dos
casos, os servidores realizam pesquisas na imprensa, sendo que pouco mais de
30% deles se utilizam de informações de periódicos e bancos de teses ou estudos
acadêmicos (IPEA, 2021).
Esse mesmo trabalho apontou que "ações de capacitação dos servidores
foram reconhecidas como um importante meio para acesso a pesquisas e
conhecimentos científicos" (IPEA, 2021, p. 3).
Apesar de se tratar de um estudo que abrangeu um universo limitado de
agentes do Estado, esses resultados nos dão um indicativo de quehá espaço no
serviço público, e de maneira particular no campo da segurança, para um uso mais
intenso de Políticas Baseadas em Evidências (PPBEs), em pesquisas e
conhecimentos científicos (PINHEIRO, 2020).
Desse modo, buscamos compreender o processo de formação das políticas
públicas (PPs) de segurança de uma forma analítica e baseada em evidências
científicas. A presente proposta reforça a constatação do Ipea de que as
capacitações são os melhores instrumentos para oferecer esses referenciais,
afastando-se, assim, as políticas públicas impulsionadas pelo "achismo", improviso,
imitação e autointeresse (SECCHI, 2019).
Em nosso curso anterior, de Políticas Públicas de Segurança: noções
introdutórias, apresentamos substancial arcabouço teórico, para que o profissional
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do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) tivesse um primeiro contato e
conhecesse os elementos doutrinários essenciais da política pública.
Agora, no curso Políticas Públicas de Segurança: da definição da agenda
à avaliação, nosso objetivo é capacitar o profissional da área a formular programas,
projetos e ações estatais baseadas em evidências, além de levá-lo a uma reflexão
crítica quanto à forma como as políticas públicas de segurança têm sido formuladas
e implementadas em nosso país.
Faremos o resgate de elementos conceituais e apresentaremos outras visões
da literatura; entretanto, focaremos muito mais em conhecimentos e ações do
cotidiano, para que o profissional possa aliar teoria e prática, sem nunca esquecer o
ensinamento de Kurt Lewin (1965, p. 191): “Não há nada melhor do que uma boa
teoria para resolver um problema prático.”
Objetivos do Curso
Objetivo Geral
O presente curso tem por objetivo geral resgatar alguns dos elementos
apresentados no Curso de Políticas Públicas: noções introdutórias. Ao mesmo
tempo, desenvolver os elementos que tratam do ciclo da política pública, desde a
definição da agenda até a avaliação.
Essa construção está ligada à nossa proposta, que busca tratar de forma
analítica o ciclo de formação da política pública, começando pela definição do
problema e inserção na agenda, percorrendo as demais etapas da formulação da
política, da tomada de decisão, da implementação e da avaliação dos resultados e
impactos.
Objetivos Específicos
● Adquirir conhecimentos voltados à atuação do profissional de
segurança pública e defesa social em todas as fases desse ciclo;
● Resgatar conhecimentos teóricos sobre políticas públicas (PPs);
● Reconhecer o ciclo de formação da política pública;
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● Levar o profissional a uma reflexão crítica quanto à forma como as
políticas públicas de segurança têm sido formuladas e implementadas
em nosso país; e
● Possibilitar que o profissional do Susp possa formular programas,
projetos e ações estatais baseadas em evidências.
Estrutura do Curso
Este curso possui uma carga horária de 30 horas-aula e compreende os
seguintes módulos:
Módulo 1 – Conceitos introdutórios, Agenda e Formulação; e
Módulo 2 – Ciclo das Políticas Públicas (Tomada de decisão, Implementação
e Avaliação).
Bons estudos!
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Módulo 1 – Conceitos Introdutórios, Agenda e Formulação
Apresentação do módulo
Em nosso módulo 1 vamos resgatar alguns dos elementos teóricos discutidos
no Curso de Políticas Públicas: noções introdutórias, como o surgimento do
campo, o conceito, o problema público e a noção de ciclo da política pública.
Esses conhecimentos serão necessários para nossa etapa inicial, em que
abordaremos a definição de agenda e a formulação da política pública.
Objetivos do módulo
Este módulo tem por objetivos:
● Identificar os elementos fundamentais da política pública, como o
surgimento do campo, o conceito de política pública e do problema
público;
● Compreender a ideia de ciclo, e como influencia o ciclo de formação da
política pública [policycycle];
● Reconhecer como os problemas entram na agenda dos governos; e
● Identificar como ocorre a formulação da política pública.
Estrutura do módulo
Este módulo compreende as seguintes aulas:
Aula 1 - Revisão de conceitos gerais da política pública.
Aula 2 - Ciclo das Políticas Públicas (Definição de agenda).
Aula 3 - Ciclo das Políticas Públicas (Formulação).
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Aula 1 – Revisão de conceitos gerais da política pública
Se você fez o curso inicial denominado Políticas Públicas de Segurança:
noções introdutórias, já absorveu os conceitos básicos de políticas públicas, os
quais facilitam a compreensão do presente curso.
No entanto, caso não tenha realizado o primeiro curso ou ainda tenha
dificuldades de recordar todos os temas desenvolvidos, não se preocupe. Nesta
primeira aula, nosso objetivo será relembrar alguns conceitos gerais para que você
possa se situar adequadamente no estudo de políticas públicas.
1.1 Problematização
O século XX foi marcado por profundas modificações sociais, políticas e
econômicas diante do aumento de demandas da sociedade, cujos impactos
repercutiram na reformulação do papel do Estado.
No entanto, Cavalcante, et al. (2017), observam a necessidade de o Estado
se reinventar, de forma a atender a complexidade de suas novas funções, bem como
ser reconhecido e valorizado pela sociedade, é um desafio que ainda se impõe.
Como conceito essencial desse desafio presente destacamos a inovação,
definida por Cavalcante et al. (2017. p. 15) como "o processo de geração e
implementação de novas ideias com vistas à criação de valor para a sociedade, com
foco interno ou externo à administração pública".
Conforme os autores Secchi, Coelho e Pires (2020) a multiplicidade de
funções atribuídas ao Estado exige a constante tomada de decisão diante de
problemas públicos. Para uma boa decisão, o gestor precisa de informações
precisas e confiáveis, além de utilizar ferramentas de análise, tendo como base
princípios e valores reconhecidos.
Nesse sentido, o estudo e a formulação de políticas públicas, com base em
evidências, é a condição necessária para a obtenção de resultados que tragam
efeitos mais favoráveis à coletividade.
1.2 Breve percurso histórico das políticas públicas
Richard Hofstadter, em sua obra The Age of Reform (1955), relata que o
estudo de políticas públicas começa nos Estados Unidos da América (EUA) entre o
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fim do século XIX e início do século XX, quando se evidenciava a necessidade de
uma maior participação do poder público, principalmente diante dos efeitos causados
pela concentração dos mercados. O escritor destaca que, nesse primeiro momento,
o Estado passou a interagir nas relações de mercado, estabelecendo critérios de
regulação de monopólios e monopsôniosi, como uma resposta aos conflitos
decorrentes das novas tecnologias, os quais começaram a ser compreendidos como
problemas públicos (MINTROM; WILLIAMS, 2013).
Os efeitos da crise de 1929 e o plano de recuperação econômica do New
Deal potencializaram, então, o surgimento do campo de políticas públicas. Os
principais marcos derivam da década de 1930, a partir do trabalho de Harold D.
Lasswell, em 1936 (s/p), com a obra Politics: who gets what, when, how (Política:
quem ganha, o que, quando e como).
Segundo Souza (2007), juntamente com outros autores da área, chamados
de "pais fundadores" (Herbert Alexander Simon, Charles Edward Lindblom e David
Easton), surgiu nos EUA o campo de "políticas públicas", como um recorte da
ciência política.
Nas décadas seguintes houve uma expansão da área, principalmente na II
Guerra Mundial, período caracterizado por uma maior participação do Estado
regulando preços e mobilizando os esforços industriais. Dessa época surge, então, o
uso da terminologia think tanks.
SAIBA MAIS!
De acordo com Hauck (2011, p. 11) e conforme os autores Weaver e McGann
(2002, p. 2) e Medvetz (2013, p. 118), o termo think tank, só foi introduzidonos EUA
durante a II Guerra Mundial para caracterizar o ambiente seguro no qual os
especialistas militares e civis se situavam para poder desenvolver planos de invasão
e estratégias militares. Após a guerra, o termo foi aplicado a organizações que
passaram a realizar pesquisas encomendadas sob regime de contrato, como a Rand
Corporation. O uso do termo foi expandido nos anos 1960 para descrever outros
grupos de especialistas, preocupados com o estudo de relações internacionais e
questões estratégicas do Estado. Já por volta de 1970, segundo esses autores, o
termo think tank foi aplicado a instituições focadas não somente em política externa
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e estratégia de defesa, mas também em questões políticas, econômicas e sociais
correntes".
No Brasil, podemos relacionar como think tanks o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), a Escola Nacional de Administração Pública (Enap), a
Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP),
as universidades e outros centros de excelência voltados à discussão, reflexão e
produção científica para diversos temas do cotidiano, como educação, saúde,
economia, segurança pública e demais órgãos de interesse social.
O surgimento do estudo de políticas públicas no Brasil ocorre na década de
1930, com o Estado Nacional-Desenvolvimentista, passando pela reforma
burocrática de 1936 (criação em 1938 do Departamento de Administrativo do Serviço
Público -Dasp). Anos mais tarde, em 1967, o campo teve novo avanço, com o
Decreto-Lei n. 200, norma que regulamentou o serviço público e instalou o modelo
burocrático no país.
Farah et al. (2016) afirmam que a Constituição Federal de 1988 representou
mais um marco em termos de políticas públicas, à medida em que inseriu princípios
e elementos estruturantes da Administração Pública.
Posteriormente, entre 1995 e 1998, o governo federal promoveu reformas na
administração pública brasileira, seguindo a corrente da denominada New Public
Management (nova gestão pública). O movimento foi inicialmente influenciado pelos
princípios de gestão da década de 1980, dos governos liberais da primeira-ministra
britânica Margaret Thatcher e do presidente norte-americano Ronald Reagan.
Na década de 1990, a obra Reinventing Government: How the Entrepreneurial
Spirit is Transforming the Public Sector (1992) (Reinventando o Governo: como o
espírito empreendedor está transformando o setor público) inspirou modificações no
governo dos EUA, do presidente Bill Clinton, conceitos esses que impulsionaram
mudanças no Brasil a partir de 1995, até a Reforma Administrativa aprovada pela
Emenda Constitucional n. 19/98.
Conheça os detalhes sobre a Reforma Administrativa de
1998 (EC 19/98) clicando aqui.
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/1998/emendaconstitucional-19-4-junho-1998-372816-norma-pl.html
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Esse movimento da “nova gestão pública”, no fim da década de 1990,
buscava substituir o modelo burocrático weberiano por um modelo gerencial, o qual
se amparava em três fundamentos (ABRUCIO, 1997):
1) Gerencialismo puro: controle de gastos do estado;
2) Consumerismo: satisfação das demandas coletivas; e
3) Orientação para o serviço público: transparência, prestação de contas,
participação social, justiça e equidade.
Perceba que, atualmente, vivemos um período de consolidação do modelo de
gestão gerencial, havendo ainda várias manifestações e práticas do modelo de
gestão burocrática e, inclusive, de modelo patrimonialista.
Abrucio (1997), Maximiano e Nohara (2017), Lotta (2016), dentre outros, o
modelo gerencial se pauta, a partir de elementos de governança, na avaliação de
desempenho, controle de gastos e do orçamento, aperfeiçoamento de serviços
oferecidos à população, profissionalização do servidor, transparência das ações, e
melhoria de fluxos administrativos e operacionais. Para saber mais sobre o tema,
sugere-se a leitura do texto de Fernando Luiz Abrucio, “O impacto do modelo
gerencial na Administração Pública: um breve estudo sobre a experiência
internacional recente” (ENAP, 1997).
Nesse contexto, o estabelecimento de ciclos e modelos lógicos de formação
de políticas públicas, com o aproveitamento racional de recursos e a potencialização
de resultados, vai ao encontro das práticas gerenciais contemporâneas, o que
reforça a necessidade de nosso estudo.
SAIBA MAIS!
O modelo burocrático foi concebido pelo sociólogo alemão Max Weber
(1982), em substituição ao modelo patrimonialista, que se caracterizava pela
confusão entre as questões públicas e privadas, levando aos administradores a
usarem o patrimônio público como pessoal.
Caetano e Sampaio (2016), afirmam que em razão disso, apesar de hoje
utilizarmos o termo "burocrático" para representar uma administração morosa e
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ultrapassada, a ideia inicial de Weber era justamente afastar a concepção
patrimonialista, em prol de uma administração pautada pela impessoalidade,
padronização de processos e controle do poder.
1.3 Conceitos fundamentais: políticas públicas e o problema público
O estudo da política pública está associado à ideia de problema público, que
pode ser conceituado como a distância existente entre a situação vigente (status
quo) e a situação ideal possível, dentro de uma percepção de realidade pública
(SJOBOM, 1984).
Para Secchi (2019), o problema público só existe se representa foco de
insatisfação de um grupo considerável de atores sociais. Apenas é possível afirmar
que existe um problema público se ele apresenta obstáculos, interfere, ou atinge um
número considerável de pessoas, quantitativa ou qualitativamente.
Relacionado com o conceito de problema público, é possível concluir que
política pública é a resposta do Estado a um problema público, ou, nas palavras de
Secchi (2019): "é uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público".
Desse modo, o problema público "trata do fim ou da intenção de resolução"; já
a política pública "trata do meio ou mecanismo para levar a cabo essa solução".
Enquanto o problema público é a doença, a política pública é o
remédio, mas, para que um problema (situação inadequada) se
torne público, é necessário que atinja a coletividade de forma
relevante. (SECCHI; COELHO; PIRES; 2020)
Como exemplos de problemas públicos, podemos citar aqueles típicos das
áreas de fronteira do país, cujos impactos podem ser observados no subsistema
de segurança pública a partir de uma série de condutas que envolvem: contrabando,
descaminho, tráfico internacional de drogas e armas, crimes ambientais, e tráfico de
pessoas.
A partir dessa constatação, caberá ao Estado desenvolver um conjunto de
políticas públicas voltadas à solução ou à minimização dos problemas, buscando,
assim, a situação ideal possível.
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Nesse caso específico, como medida de enfrentamento de problemas
públicos nas fronteiras, podemos citar o Programa Nacional de Segurança nas
Fronteiras de Divisas, conhecido pela sigla V.I.G.I.A. (Vigilância, Integração,
Governança, Interoperabilidade e Autonomia).
Desenvolvido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por
intermédio da Secretaria de Operações Integradas (Seopi), o programa tem como
objetivo o enfrentamento aos crimes transnacionais, com a atuação integrada da
Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícias Civis, Polícias Militares, Força
Nacional de Segurança Pública, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa),
Instituto Nacional do Meio Ambiente (Ibama), Receita Federal do Brasil, Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), Exército Brasileiro, Força Aérea Brasileira e Marinha
do Brasil (BRASIL, 2021).
Figura 1: Apreensões Operação Hórus (V.I.G.I.A.)
Fonte: MJSP (2021, online).
15
O V.I.G.I.A. está estruturado em três vertentes:
I) Operações Hórus;
II) Aquisição de equipamentos; e
II) Capacitações.Até o momento (novembro/2021), o programa está presente em 12 estados
(Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Rio
Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins) (BRASIL, 2021).
Figura 2: Estatística Negativa - Operação Hórus (V.I.G.I.A.)
Fonte: MJSP (2021, online).
SAIBA MAIS!
Sobre o Programa V.I.G.I.A:
• VIGIA: Programa Nacional de Segurança nas Fronteiras e Divisas do MJSP
completa um ano de atuação
• PROJETO VIGIA - Saiba mais
https://www.youtube.com/watch?v=ZLuRjxC9QRU
https://www.youtube.com/watch?v=ZLuRjxC9QRU
https://www.youtube.com/watch?v=hxyRthWCxnA
16
Capacitações:
• Policiais que atuam com cães de faro em áreas de fronteiras são capacitados
pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública
Aquisições:
• Ministério da Justiça e Segurança Pública faz aquisição inédita de binóculos
de tecnologia avançada para policiais do Programa VIGIA
Operações Hórus:
• Com dois anos de atuação no Mato Grosso do Sul, programa VIGIA já causou
prejuízo de R$ 1,8 bilhão ao crime organizado
• Ministério da Justiça e Segurança Pública registra apreensão recorde de
cocaína em Mato Grosso
1.4 A participação dos stakeholders
Os estudiosos Secchi, Coelho e Pires (2020), uma política pública ganha
corpo por meio de um conjunto de instrumentos, a exemplo de projetos, leis,
campanhas publicitárias, esclarecimentos públicos, inovações tecnológicas e
organizacionais, subsídios governamentais, rotinas administrativas, decisões
judiciais, coordenação de ações com redes de atores, gasto público direto, contratos
formais e informais com stakeholders, entre outros.
Stakeholders ou Atores Políticos (policy actors): são
definidos como as "partes interessadas" ou intervenientes.
Freeman (2015) ao tratar dos stakeholders no âmbito
empresarial, argumenta que existem várias partes envolvidas
que não apenas aquelas atingidas diretamente (proprietários, e
acionistas), incluindo órgãos governamentais, grupos políticos,
associações comerciais, sindicatos, comunidades,
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/policiais-que-atuam-com-caes-de-faro-em-areas-de-fronteiras-sao-capacitados-pelo-ministerio-da-justica-e-seguranca-publica
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/policiais-que-atuam-com-caes-de-faro-em-areas-de-fronteiras-sao-capacitados-pelo-ministerio-da-justica-e-seguranca-publica
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-justica-e-seguranca-publica-faz-aquisicao-inedita-de-binoculos-de-tecnologia-avancada-para-policiais-do-programa-vigia
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-justica-e-seguranca-publica-faz-aquisicao-inedita-de-binoculos-de-tecnologia-avancada-para-policiais-do-programa-vigia
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/com-dois-anos-de-atuacao-no-mato-grosso-do-sul-programa-vigia-ja-causou-prejuizo-de-r-1-8-bilhao-ao-crime-organizado
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/com-dois-anos-de-atuacao-no-mato-grosso-do-sul-programa-vigia-ja-causou-prejuizo-de-r-1-8-bilhao-ao-crime-organizado
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-justica-e-seguranca-publica-registra-apreensao-recorde-de-cocaina-em-mato-grosso
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-justica-e-seguranca-publica-registra-apreensao-recorde-de-cocaina-em-mato-grosso
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financiadores, fornecedores, funcionários e clientes. Às vezes,
até mesmo os concorrentes são contados como stakerholders -
seu status é derivado de sua capacidade de afetar a empresa
ou outros projetos que tenham interesse.
No âmbito da segurança pública, stakeholders são todas
as partes envolvidas, como as polícias, os bombeiros, as
guardas municipais, os agentes de trânsito, a vigilância privada,
as associações de moradores, o poder público nos três níveis
(União, Estados e Municípios), representantes de grupos
diversos (comerciais, industriais, associações, representantes
de segmentos da sociedade), órgãos públicos em geral. Enfim,
todo e qualquer grupo atingido direta ou indiretamente por um
problema público ou pela implementação de uma política é um
stakeholder. Segundo Secchi, Coelho e Pires (2020), os atores
na arena política podem ser classificados em governamentais,
nesse incluindo políticos, burocratas, juízes, e não-
governamentais, em que se encontram os think tanks,
partidos políticos, grupos de interesse e os destinatários das
políticas públicas, conhecidos como policytakers.
1.5 A importância das práticas de benchmarking
Perceba que é bem possível que determinado problema público já tenha sido
enfrentado por outros gestores, existindo assim políticas públicas que foram
consideradas (ou não) bem-sucedidas; soluções já testadas na prática e exitosas
que podem ser reaproveitadas por outras organizações, denominadas de
benchmark. A partir das melhores práticas, é possível comparar os resultados
alcançados pela sua organização e adaptar suas políticas públicas para o que está
produzindo resultados positivos em outros lugares.
Spedolini (1993, p. 10) conceitua benchmarking como "um processo
contínuo e sistemático para avaliar produtos e processos de trabalho de
organizações que são reconhecidas como representantes das melhores práticas,
com a finalidade de melhoria organizacional."
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Segundo Madeira (1999) o conceito ganhou força nas décadas de 70 e 80
com a Xerox, no chamado Benchmarking Competitivo, em que a empresa identificou
que os custos para produção de seus produtos eram iguais ao preço de venda de
seus concorrentes, o que motivou a busca por maior eficiência em seus processos.
Para tanto, a Xerox adquiria equipamentos dos concorrentes, desmontava e
verificava materiais utilizados, peças, forma de fabricação etc.
Um exemplo muito comum que pode colaborar com os gestores das forças de
segurança é a padronização de procedimentos, que podem ser avaliados, sendo
replicados se exitosos. Por meio de Procedimento Operacional Padrão (POP) é
possível orientar de forma objetiva e prática uma organização a padronizar
processos de seus diversos setores, reduzindo custos e facilitando avaliações.
Sobre benchmarking, abordaremos mais o conceito na
etapa de formulação da política pública.
SAIBA MAIS!
Para se aprofundar no estudo sobre benchmarking clique aqui e acesse o
sítio eletrônico da IBC-International Benchmarking Clearinghouse e APQC-American
Productivity &Quality Center.
Ainda, recomendam-se as seguintes leituras:
• AMARAL JÚNIOR, Geraldo. Benchmarking: a arte de vencer com o acerto
dos outros e vencer a competição. Enfoque, São Paulo, v.3, ano XX, p. 8-11, jul.
/set., 1993.
• CAMP, Robert C. Benchmarking: identificando, analisando e adaptando as
melhores práticas da administração que levam à maximização da performance
empresarial: o caminho da qualidade total. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1998.
• SILVA, C.F. Gestão estratégica nas polícias militares: um estudo sobre a
polícia militar de Minas Gerais e a brigada militar. Dissertação. Programa de Pós-
https://www.apqc.org/
19
graduação em Gestão de Organizações Públicas. Universidade Federal de Santa
Maria. 2017. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/14534
• SPJELKAVIK. I. et al. Benchmarking applications in public sector principal-
agent relation ships. In: Benchmarking An International Journal15(6):723-723-
741. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/233862765_Benchmarking_Applications_in
_Public_Sector_Principal-Agent_Relationships
• WYNN-WILLIAMS, K. Performance assessment and benchmarking in the
public sector: Na Exemple from New Zealand. In: Benchmarking An International
Journal, 12(5), 2005. DOI:10.1108/14635770510619393
1.6 Contextualização do ciclo de formação da política
Destaca o Ipea (2018), que para a elaboração de uma política pública, os
formuladores[policymakers] inicialmente realizam um diagnóstico (identificação da
causa do problema público) e com isso definem o objetivo da ação pública.
Independente de qual tipologia é adotada, o policymaker segue um processo de
formação da política, a partir da ideia de ciclo.
Portanto, para os autores Secchi et al. (2013), o trajeto que se percorre para a
construção de políticas públicas é denominado pela literatura como policy-making
process (processo de formação da política); diversos autores do campo também
reconhecem o termo policy cycle (ciclo de políticas públicas).
Diante disso, os autores Wu; Ramesh; Howlett; Fritzen (2014) afirmam que
não há um padrão pré-formatado ou único para o policy cycle; no entanto, um dos
mais reconhecidos no âmbito da literatura é o modelo da Escola Nacional de
Administração Pública (ENAP).
Em nosso curso Políticas Públicas de Segurança: Noções Introdutórias,
apresentamos essa estruturação da Enap, que é composta das seguintes fases,
etapas ou momentos:
https://repositorio.ufsm.br/handle/1/14534
https://www.researchgate.net/publication/233862765_Benchmarking_Applications_in_Public_Sector_Principal-Agent_Relationships
https://www.researchgate.net/publication/233862765_Benchmarking_Applications_in_Public_Sector_Principal-Agent_Relationships
http://dx.doi.org/10.1108/14635770510619393
20
Figura 3: Ciclo de Políticas Públicas
Fonte: Enap (2014).
Apesar de ser apresentado com um formato exato, lógico e sequencial, a
ilustração serve para permitir uma melhor noção desta trajetória; contudo, algumas
dessas etapas ou estágios podem ser aglutinados, suprimidos ou até invertidos.
Conforme o Ipea (2018), a fase de tomada de decisão, por exemplo, pode ser
executada antes da definição do problema.
As ideias apresentadas pelos autores Kingdon (2014), Capella e Brasil (2018),
para que um problema se torne uma política pública, é essencial que ingresse no
foco de atenção dos governos. Nesse sentido, há uma infinidade de demandas que
são apresentadas pelos policy actors, mas, nem todas serão atendidas pelo poder
público. A disputa entre os vários atores para que a sua questão seja reconhecida
como um problema público, e passe a pautar o policymaker, é chamada de agenda-
setting.
A definição mais aprofundada de agenda, os conflitos de interesses
envolvidos, as razões para definições de problemas, fluxos para definição,
21
burocracia pública, janela de oportunidade entre outras condicionantes e conceitos
em torno da agenda serão estudados na Aula 2 deste módulo 1.
Para Sampaio (2018), uma vez reconhecido um problema como público e
tendo ingressado na agenda, cabe aos policymakers estudar as alternativas para
resolvê-lo em definitivo ou tentar mitigar seus efeitos. A investigação dessas
possíveis soluções passa pelo desenho da política, mediante a definição de
objetivos, metas e indicadores, no segundo momento do ciclo da política pública,
denominado formulação de políticas públicas.
Portanto, as alternativas aceitas e rejeitadas, as opções aceitáveis e viáveis, o
diagnóstico, as abordagens, as fontes de informação, atores que participam da
formação, sistemas, processos e outros assuntos cruciais para a formulação das
políticas públicas serão analisados na Aula 3 deste módulo 1.
Lasswell et at. (1956) afirmam que no terceiro passo do ciclo encontramos a
tomada de decisão. Trata-se de um dos momentos mais complexos do ciclo da
política pública, uma vez que envolve um processo de decisão baseado na
combinação de evidências, dados, informações e decisões políticas.
Os modelos existentes para tomada de decisão (garbagecan, incremental,
racional), as técnicas, as respostas aos questionamentos (Quem? Como? Para
quem? Por quê?), a análise de variáveis e consequências, entre outros temas de
relevância para o terceiro estágio do ciclo, serão estudados na Aula 1 do módulo 2.
Os autores Hill e Varone (2016) entendem como quarta fase do ciclo - a
implementação da política pública, como o momento em que os planos se
materializam na prática. É a etapa que depende fortemente da ação de burocratas e
dos instrumentos de ação estatal. Em outras palavras, procura compreender as
diferenças entre aquilo que foi formulado e o que foi posto em prática, sua execução;
além disto, o papel que os diferentes agentes tiveram nesse processo de
transformação das políticas públicas.
Assim, essas técnicas de planejamento, as diferenças entre os métodos
chamados top-down [de cima para baixo] e bottom-up [de baixo para cima, a
participação dos atores (burocratas de nível médio e burocratas de nível de rua),
entre outros temas de implementação da política, serão apresentados na Aula 2 do
módulo 2.
Por derradeiro, na última parte do ciclo, a avaliação de políticas públicas é
descrita como:
22
Aquela em que os resultados das políticas públicas serão mensurados. As
análises sobre essa fase buscam compreender os diferentes instrumentos
de avaliação utilizados, os resultados alcançados em suas várias dimensões
(eficiência, eficácia, efetividade etc.), os atores envolvidos na avaliação,
mecanismos de feedback etc. (LOTTA, 2019, p. 13).
Na fase de avaliação, a revisão ou não da política pública deve ser objeto de
análise; a classificação quanto aos critérios, indicadores, padrões, eficiência,
eficácia, efetividade, processos e impactos, monitoramento, entre outros temas
vinculados, os quais serão debatidos na aula 3 do módulo 2.
SAIBA MAIS!
O ciclo de formação da política pública está associado aos instrumentos de
planejamento e orçamento: Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA).
Você já teve a curiosidade de verificar o PPA, a LDO e a LOA da União, do
seu Estado, Distrito Federal ou Município, e de que maneira interligam problemas
públicos identificados e políticas públicas formuladas? A busca é possível nos
respectivos portais da transparência.
O MJSP possui um Planejamento Estratégico que, associado ao PPA do
Governo Federal, constituiu o Mapa Estratégico (2023) da pasta. Os produtos do
MJSP integram um conjunto de ações previstas na Carteira de Projetos
Estratégicos.
Para conhecer mais detalhes sobre ações e programas do MJSP clique aqui.
Na aula 3 deste módulo discutiremos mais sobre os instrumentos de
programação orçamentária.
https://www.gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas
23
Aula 2 - Ciclo das políticas públicas (definição de agenda)
Após a revisão dos conceitos e elementos gerais sobre políticas públicas,
voltaremos à estruturação proposta em nosso curso Políticas Públicas de
Segurança: noções introdutórias.
Para os autores Wu; Ramesh; Howlett e Fritzen (2014), o ciclo de formação
apresentado pela Escola Nacional de Administração Pública – Enap, concebe a
política pública de acordo com as seguintes fases:
• Definição de agenda;
• Formulação de políticas públicas;
• Tomada de decisão;
• Implementação de políticas públicas; e
• Avaliação de políticas públicas;
Cabe relembrar a discussão do curso de "noções introdutórias" acerca da
inexistência de um modelo único e padronizado que represente o desenho da
política pública. Essas etapas, fases ou momentos da política poderão variar
conforme a literatura adotada, muito embora vários dos modelos existentes
apresentem elementos comuns.
Nesse contexto, os principais estudos sobre o policy cycle (ciclo de políticas
públicas) começam com a discussão do problema e a inserção na agenda, depois
passam pela formulação de alternativas e a tomada de decisão. A seguir, ocorre a
implementação da política, sua avaliação e, quando cabível, a extinção.
Optamos em nosso curso por seguir o modelo da Enap, dado o seu caráter
didático, e pelo fato de caminhar no mesmo sentido da literatura majoritária. Assim,
caso o profissional do Suspqueira aprofundar seus estudos, irá localizar vasta
doutrina nacional e estrangeira que adota, com alterações pontuais, do modelo aqui
apresentado.
Em razão da característica ainda incipiente dos estudos teóricos sobre o ciclo
de formação da política, nosso objetivo é oferecer instrumentos ao profissional do
Susp para que reconheça esse processo encadeado e estruturado, independente do
modelo seguido por sua organização ou pelo ente federativo a que pertença.
24
Desse modo, o MJSP (2021) especifica que, apesar dessa escolha
metodológica, ao longo do curso iremos abordar outras construções teóricas,
especialmente o modelo lógico do Ministério da Justiça e Segurança Pública,
que orienta a construção das políticas públicas previstas no Plano Nacional de
Segurança Pública e Defesa Social 2021-2030.
Apesar de contar como uma estruturação própria, o modelo lógico do MJSP
apresenta elementos totalmente compatíveis com o modelo da Enap, de maneira
que ambas as abordagens se complementam.
A imagem abaixo representa o ciclo da política pública proposto pela Enap:
Figura 4: Ciclo com as abordagens política, técnica e organizacional
Fonte: Wu, Ramesh, Howlett, Fritzen (2014, p. 21).
Nessa estrutura do ciclo da política pública, o primeiro momento observado é
a Definição da Agenda.
Diante disso, ao iniciarmos o estudo desse ciclo, a análise sobre a agenda
provoca algumas reflexões que fazem parte do cotidiano das pessoas: Como as
políticas mudam ou surgem? Quais assuntos têm maiores tendências ou chances de
ocupar a atenção dos governos? De que maneira esses assuntos ingressam no rol
de preocupações do Estado?
25
Essas e outras perguntas orientam o que a literatura conceitua como agenda-
setting (definição da agenda).
Wu, Ramesh, Howlett e Fritzen (2014, p. 29) descrevem Agenda como "[...]
uma lista de questões ou problemas aos quais agentes governamentais e outros
membros na comunidade de política pública estão atentando em certo momento".
Ainda para os autores, dois defeitos essenciais levam os governos a não
responderem às necessidades públicas, cujas origens se dão na definição da
agenda:
1. Muitos problemas públicos críticos não chegam às agendas de políticas
oficiais, enquanto muitas preocupações relativamente menores chegam; e
2. O mau enquadramento dos problemas públicos leva à preocupação com
soluções ineficazes e/ou inúteis, que impedem a consideração de soluções
alternativas com potencial para resolver o problema.
Desses elementos iniciais, podemos concluir que a Agenda está associada à
ideia de determinados assuntos que tornam as questões públicas, passando,
assim, a ser alvo de atenção dos governos, e que dependerão de circunstâncias
econômicas, sociais, de tempo e lugar (WU; RAMESH; HOWLETT; FRITZEN, 2014).
Esses mesmos autores alertam que, alguns problemas públicos, apesar de
relevantes, não recebem assento no rol de preocupações dos governos, enquanto
outros, de menor relevância, obtêm esse status. Por outro lado, a análise e a
identificação ineficiente do problema podem conduzir a política a resultados não
aptos a solucionar os problemas públicos. Por essas razões que o estudo da política
pública começa pela compreensão da agenda.
Sobre o estudo de agenda, Capella (2018) destaca que Cobb e Elder foram
os pioneiros em sua investigação científica.
O termo agenda é usado para se referir a um “conjunto
geral de controvérsias políticas que serão vistas como
pertencentes a um rol de preocupações legítimas que merecem
a atenção dos governos” (COBB; ELDER, 1971, p. 905,
tradução nossa).
26
Seguindo a linha de Dearing e Rogers (1996) e de Birkland (2016), Capella
(2018) aponta que a agenda está ligada a um processo competitivo, com a
participação de diversos atores e grupos de pressão.
Esses grupos promovem questões que os identificam, e tentam se
sobressair sobre diversas outras pautas. Desse modo, os grupos atuam "[...]
compartilhando o espaço limitado na agenda, ou se [preparando] para o momento
em que uma crise torne sua questão mais provável de ocupar um espaço mais
proeminente" (BIRKLAND, 2016, p. 123).
Assim, a definição da agenda acaba sendo uma competição contínua entre
os diversos participantes desse processo, os quais buscam ganhar atenção da
mídia, do público em geral e das altas estruturas políticas.
Perceba que essa realidade é muito presente nas casas legislativas de todos
os entes federativos, onde diversos grupos competem pela inclusão de temas na
agenda.
Essas disputas buscam viabilizar políticas públicas alinhadas aos interesses
defendidos por determinado grupo. Trata-se de processo inerente ao nosso regime
constitucional, em que a disputa de ideias, por excelência, é o que alimenta e
aperfeiçoa a democracia.
SAIBA MAIS!
A inserção do tema Inovação na agenda dos Governos
Um aspecto relevante no estudo sobre agenda é sua associação com a ideia
de inovação. Na obra Inovação do Setor Público: teoria, tendência e casos no
Brasil, da Enap e do Ipea (2017), Bruno Queiroz Cunha destaca que visões mais
tradicionais de gestão tendem a compreender governos como pouco dinâmicos e
anti-inovadores.
Apesar das críticas, o autor aponta tendências crescentes da inserção do
tema de inovação na agenda do setor público. Cunha destaca fatores, a partir de
estudos de Bekkers, Edelenbos e Steijn (2011), que têm intensificado a tendência de
inovação no setor público:
27
• Wicked problems: problemas contemporâneos abrangentes e de respostas
difíceis, como o aquecimento global, a pobreza extrema, o terrorismo e os
movimentos migratórios em razão de guerras civis.
• Problemas públicos tradicionais e perenes: são aqueles problemas do
cotidiano, mas que tomam contornos distintos em razão das mudanças sociais.
Esses problemas exigem respostas constantemente atualizadas, como as demandas
prementes em educação, p. ex. as novas tecnologias como o ensino a distância;
saúde, p. ex. surgimento de doenças e novos tratamentos para doenças antigas;
segurança pública, p. ex. as tecnologias de georreferenciamento e mapeamento
criminal; a geotecnologia, p. ex. o uso do banco de perfis genéticos, e as “body
cams”), e os gastos públicos, p. ex. o "teto" de gastos e a lei de responsabilidade
fiscal; ao mesmo tempo em que há uma demanda por prestações estatais,
aumentam-se as despesas do governo).
• Democracia participativa ou democracia representativa (em
substituição): aquela em que a sociedade reivindica de forma contínua e, até
mesmo contundente, espaços de participação, como a exigência de realização de
audiências públicas, ou do orçamento participativo. No caso da segurança pública,
podemos citar a mobilização popular em associações de bairro e em conselhos
comunitários de segurança. Essas conexões demonstram uma tendência de
inovação e de novos campos de interação entre polícia e sociedade.
• Modelos muito tecnocráticos e fechados de gestão pública: tais modelos
se revelam ineficazes em razão do crescente dinamismo e fluidez dos desafios
contemporâneos. Assim, surgem tendências voltadas à administração gerencial,
com foco na "entrega" de resultados alinhados às expectativas sociais.
• Ambientes de restrição orçamentária: impõem ao gestor uma realidade de
aprimoramento na qualidade do gasto público. Os custos são otimizados,
potencializando-se a racionalização do uso dos ativos das organizações. Assim,
observa-se uma crescente preocupação com a eficiência na aplicação de recursos
humanos, logísticos e financeiros.
Sobre o uso da geotecnologia, e sua inserção na agenda como política
pública, conheça o Programa Brasil M.A.I.S (Meio Ambiente Integrado e Seguro).
28
Figura 5: Programa Brasil M.A.I.S
Fonte: MJSP (2021, online).
O programa oferece ferramentas que são utilizadas para apoiar perícias,
investigaçõese operações da Polícia Federal e das forças de segurança estaduais.
Segundo o MJSP (2021, online), "com a disponibilização de informações de
satélite relacionadas às detecções de mudanças em áreas de atuação do crime e
alertas de indícios de diferentes tipos de ilícitos por meio da geotecnologia", dezenas
de operações de enfrentamento ao crime organizado, em especial aos crimes contra
o meio ambiente, foram desencadeadas.
Conheça mais sobre o programa clicando aqui.
2.1 Perspectivas de mudanças em políticas públicas
Um dos precursores no estudo de mudanças em políticas públicas foi John
Kingdon (2014). O autor desenvolve o tema da agenda a partir do Modelo dos
Múltiplos Fluxos multiple streams e destaca que determinadas questões passam a
integrar a chamada agenda governamental quando despertam o interesse dos
formuladores de políticas públicas.
Entretanto, somente parte desses assuntos passa de fato à agenda
decisória, quando se demonstram opções viáveis a serem adotadas pelos
tomadores de decisão.
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/programa-brasil-m-a-i-s-tecnologia-adquirida-pelo-governo-federal-auxilia-forcas-de-seguranca-no-combate-ao-crime-organizado
29
Junto com as agendas governamental e decisória, Kingdon (2014) também
apresenta a agenda especializada, que trata de temas mais específicos dentro de
subsistemas de políticas como de transporte, saúde e segurança pública. A
formulação de políticas é geralmente atribuída a esses subsistemas, que se
encarregam de desenvolver políticas públicas, caracterizando assim a natureza
setorial do processo de formação das políticas (CAPELLA, 2007; BOUSHEY,
2013).
De Toni (2021, p. 31) esclarece que o modelo dos múltiplos fluxos indica
que "a participação dos indivíduos na vida institucional é fluida e instável, sujeita
permanentemente à rotatividade e alternâncias de grupos no poder." Assim, para a
definição da agenda, seria necessária a convergência de três processos (ou três
fluxos): os problemas, as soluções e o fluxo político.
O modelo dos Múltiplos Fluxos de Kingdon (2014) é assim representado:
Figura 6: Representação do modelo dos múltiplos fluxos
Fonte: Modelo de Kingdon dos múltiplos fluxos (apud CAPELLA, 2007, p. 98; 2018, p. 45).
30
Desse modo, adaptando o modelo de Kingdon, a inserção de problemas na
agenda, segundo Birkland e Deyoung (2013), ocorre em contextos típicos, como:
● Ocorrência de crises;
● Características especiais que se destacam sobre problemas gerais; e
● Atenção em geral do público.
2.1.1 Ocorrência de crises
Um grande evento direciona o problema para a agenda, de maneira que o
tema não pode mais ser ignorado. As crises podem ser de diversas ordens como de
saúde, segurança pública ou do sistema político.
Esses problemas têm como fatores cruciais, que determinam o nível de
resposta estatal, os seguintes:
➔ Gravidade;
➔ Urgência; e
➔ Tendência.
Conforme o MJSP (2021, p. 20), no campo da segurança pública e defesa
social podemos destacar alguns eventos que motivaram um conjunto de respostas
dos governos. Como exemplo, as crises no sistema prisional pelo país, ilustram
como o poder público precisou adotar ações voltadas a "soluções que permitam a
redução da superlotação carcerária, a melhoria das condições de cumprimento de
pena e a redução da reincidência criminal".
Segundo o MJSP (2021), os problemas do sistema prisional ingressaram na
agenda, conforme prevê o Grupo 4 das Metas de Resultado do Plano Nacional de
Segurança Pública e Defesa Social 2021-2030. O plano identifica o problema, o
caracterizando como "uma das questões mais complexas da realidade social
brasileira, desafiador tanto para a justiça penal quanto para as políticas criminais,
penitenciárias e de segurança pública" (MJSP, 2021, p. 20).
Outro exemplo de crise que ingressou na agenda nos últimos anos é o
denominado de "novo cangaço". Trata-se de ações violentas, praticadas por
organizações criminosas, tendo como alvo preferencial estabelecimentos bancários
31
de pequenos municípios do país. Esses crimes têm exigido das forças policiais
respostas não rotineiras, além da constituição de grupos especiais e forças-tarefa
para investigação e desestruturação dessas organizações.
Também podem ser ilustrados como crises os desastres ambientais e os
acidentes de grandes proporções. Tais eventos têm provocado um conjunto de
ações de prevenção, desde o fortalecimento dos mecanismos de treinamento e o
estabelecimento de protocolos, com o necessário investimento em recursos
tecnológicos. Aliado a isso, observa-se um esforço na definição de marcos legais,
garantindo aos Corpos de Bombeiros Militares o exercício do poder de polícia
administrativa, como a Lei n. 13.425, de 30 de março de 2017 ("Lei Kiss"), e outras
aprovadas pelos demais entes federativos.
Todos esses acontecimentos, compreendidos como crises no sistema de
segurança pública e defesa social, acabam por impulsionar ações estatais, uma vez
que esses problemas não podem mais ser afastados da agenda. A partir disso, o
que inicialmente seria uma agenda governamental, passa a integrar a agenda
decisória.
SAIBA MAIS!
O Plano Nacional de Segurança Pública 2021-2030 estabelece Metas de
Resultado para as organizações integrantes do Susp.
A partir de 5 grupos, esses temas ingressaram na agenda decisória do
governo federal, tendo por escopo materializar políticas públicas essencialmente
voltadas ao enfrentamento dos seguintes problemas:
Grupo 1 – Mortes Violentas;
Grupo 2 – Proteção dos Profissionais de Segurança Pública;
Grupo 3 – Roubo e Furto de Veículos;
Grupo 4 – Sistema Prisional; e
Grupo 5 – Ações de prevenção de desastres e acidentes.
Conheça o plano clicando aqui.
https://www.gov.br/mj/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/planos/plano_nac-_de_seguranca_publica_e_def-_soc-_2021___2030.pdf
32
Figura 7: Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social 2021-2030
Fonte: MJSP (2021, online).
2.1.2 Características especiais que se destacam sobre problemas gerais
Outro processo que justifica a entrada de temas na agenda é quando os fatos
adquirem características especiais que os diferenciam de problemas gerais.
Como exemplo, podemos destacar políticas públicas decorrentes do crime de
homicídio contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, inserido no
Código Penal pela Lei n. 13.104/2015. Assim, dá-se uma qualidade especial
(qualificadora) ao crime de homicídio, sendo que do problema geral (homicídio),
parte-se para o problema específico (feminicídio).
2.1.3 Atenção em geral do público
Dentro de um subsistema de política pública existem diversas questões.
Algumas se notabilizam diante da atenção que recebem do público ou de suas
potenciais repercussões. No caso da segurança, diversos crimes, como homicídios,
33
furtos e roubos são objeto de constante atuação estatal por meio da definição de
indicadores e metas de resultado. No entanto, alguns eventos focalizadores
destacam-se, fazendo-os então ingressar na agenda dos governos.
Atenção: Sobre os eventos focalizadores, os
estudaremos melhor ao tratar dos feedbacks positivos.
O problema também entra na agenda quando provoca reações emotivas e
chama a atenção da mídia. Como exemplo, podemos citar um acidente de grandes
proporções, com muitas vítimas, em que se questionam os procedimentos relativos à
segurança, e às posturas de incêndio e pânico do estabelecimento privado ou
público. O problema de segurança eventualmente já existia, no entanto, quando há a
atenção do público, a questão passa a ser alvo de discussão e inserção na agenda.
Birkland (2016, p. 125) alerta que, mesmo quando um problema ingressa na
agenda, pode haver considerável dose de controvérsia e competição entre diferentes
grupos interessados. São discutidas questõesdesde a definição do que é o
problema efetivamente, quais são suas potenciais causas e que políticas
possivelmente o solucionariam.
O autor relata o caso do tiroteio na Columbine High School, nos EUA, no
ano de 1999 e que após o evento diversos debates surgiram no país. Assim, se
tentou enfrentar o problema de forma multidisciplinar, abordando a participação de
familiares na vida escolar de crianças e adolescentes, o porte e acesso a armas de
fogo, bem como a influência da televisão, filmes e videogames nos jovens.
Entretanto, o que recebeu maior atenção do público, diante de sua posição
central, foi a competição "[...] sobre o motivo do tiroteio em Columbine e o que
poderia ser feito para evitar futuros tiroteios em escolas [...]" (BIRKLAND, 2016, p.
125). A partir disso, uma série de medidas foram tomadas, fortalecendo mecanismos
de segurança nos ambientes escolares. Pesquisas apontam que esse episódio traria
à agenda pública o problema e as repercussões do bullyingii nas escolas.
Conheça o caso da Columbine High School em:
Massacre de Columbine, nos EUA, completa 20 anos em abril; e
Columbine: o massacre que apresentou o Bullying ao mundo.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/03/13/massacre-em-columbine-nos-eua-completa-20-anos-em-abril-relembre.ghtml
https://canalcienciascriminais.com.br/columbine-massacre-bullying/
34
No Brasil, em 2011, o ataque na Escola Municipal Tasso da Silveira iii em
Realengo, no município do Rio de Janeiro (RJ), e, em 2019, na Escola Estadual Raul
Brasiliv, em Suzano (SP), provocaram debates semelhantes, além de impulsionar
para a agenda pública a necessidade de adoção de políticas públicas para que
eventos dessa natureza possam ser evitados.
SAIBA MAIS!
Em 2019, no Estado do Paraná, foi implementada política pública voltada à
proteção escolar. O Programa Escola Segura funciona com a participação da
Polícia Militar, Secretaria de Estado da Educação e Esporte, além da Coordenadoria
Estadual de Defesa Civil. "O objetivo é trazer mais segurança e integrar a
comunidade escolar com a PM. O projeto prevê integração entre o corpo pedagógico
das escolas e os policiais com foco na mediação de conflitos" (PARANÁ, 2019,
online).
Além dos objetivos voltados à segurança da escola e seu entorno, o programa
também conta com a participação da Defesa Civil, mediante o "treinamento e
prevenção de situações de crise e calamidade" (PARANÁ, 2019, online).
Conheça o programa:
Escola Segura; e
CMEIV - Escola Segura.
Sugestão de leitura:
Violência nas Escolas e Políticas Públicas, de Eric Debarbieux e Catherine
Blaya (Orgs.) editado pela Unesco (2002), clicando aqui.
2.2 Teoria do equilíbrio pontuado
Na definição da agenda, um dos maiores objetos de estudo é tentar
compreender a dinâmica da entrada de temas no foco e, consequentemente, na
atuação da Administração Pública.
https://www.educacao.pr.gov.br/Escola-Segura
https://www.pmpr.pr.gov.br/Pagina/CMEIV-Escola-Segura
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000128720
35
Joan Subirats (1989, p. 52, tradução nossa), destaca que "[...] muitas vezes a
consideração de uma questão depende de uma batalha prévia para a definição do
problema entre os diferentes atores presentes".
Subirats (1989) registra que uma série de fatores determinam como alguns
assuntos ocupam (ou não) os espaços de programas e projetos de governo. Trata-
se de limites à inclusão de políticas, como a falta de recursos humanos e
orçamentários/financeiros, a omissão de regras legais, a falta de interesse político ou
mesmo a não atuação de grupos de pressão e demais atores interessados.
A fim de compreender essa estabilidade, e como as mudanças ocorrem nas
agendas, Baumgartner e Jones, em 1993, publicaram a primeira edição da obra
Agendas and instability in American Politics, concebendo, assim, o que se chamou
de Teoria do Equilíbrio Pontuado.
Paul Sabatier (2007) esclarece a ideia de Equilíbrio Pontuado,
argumentando que a formulação de políticas públicas se caracteriza por longos
períodos de estabilidade e mudanças incrementais, marcados por breves períodos
de grandes mudanças.
Boushey (2013) destaca que as políticas públicas tendem a ser estáveis
sofrendo lentas e graduais mudanças. Essas pequenas alterações, mantendo a linha
geral da política, são denominadas de "incrementais".
Perceba que, no campo da segurança pública e defesa social, por vezes são
observadas mudanças incrementais, na medida em que políticas públicas já
existentes são apenas "remodeladas". Mantém-se assim a linha central da política,
que permanece intocada, havendo apenas mudanças periféricas.
2.3 Feedbacks Negativos
Sobre o tema, Boushey (2013, p. 140, tradução nossa) destaca o papel dos
feedbacksv negativos, os quais exercem a função de manutenção sistêmica, diante
da "[...] estabilidade dos participantes envolvidos nos subsistemas de políticas."
Eugene Bardach (2006, p. 341, tradução nossa) relata que os feedbacks
negativos, também conhecidos como "de equilíbrio", partem da lógica das
oscilações naturais, "as quais ocorrem dentro de definidos, porém mutáveis, limites".
Boushey (2013) retrata que, nas políticas públicas, todos os dias os policy-
makers são desafiados a um razoável grau de incerteza quanto aos rumos a
36
tomar, em face de soluções mais adequadas, e dos resultados potenciais dessas
intervenções.
A partir dessa constatação, os responsáveis pela formulação de políticas
públicas acabam, na prática, adotando abordagens mais conservadoras,
avessas ao risco de eventuais mudanças.
Conforme esse autor são realizadas "[...]mudanças graduais nas políticas
existentes por meio de comparações sucessivas e limitadas, em vez de correr o
risco de falhar em grande escala".
2.4 Feedbacks Positivos
Para superar essa ideia, a literatura aponta a existência dos feedbacks
positivos, que são aqueles que provocam mudanças em políticas, as quais se
mantinham estáveis pelos feedbacks negativos.
Segundo Boushey (2013, p. 139, tradução nossa), "os ciclos de feedback
positivo ocorrem quando a atenção política de massa concentra o foco de todo o
sistema em uma nova dimensão de um problema de política." Os feedbacks
positivos são causados principalmente por:
● Eventos focalizadores;
● Ação dos policy entrepreneurs; e
● Mudança de indicadores.
2.4.1 Eventos focalizadores
Para Boushey (2013), os eventos focalizadores são acontecimentos que
chamam a atenção dos atores que têm o controle da definição da agenda. Esses
eventos, em regra, encerram períodos de estabilidade e de políticas incrementais,
provocando mudanças substanciais nas políticas públicas.
Na segurança pública e defesa social, um evento focalizador é aquele que
gera repercussão social ou exploração dos meios de comunicação. São atraídos o
público, os governos e os policy-makers.
37
2.4.2 Policy entrepreneurs (empreendedores de política)
As políticas públicas também são influenciadas pela ação dos policy
entrepreneurs. Consoante em Page (2006), os "empreendedores de política" tentam
convencer outros atores, encaminhando seus assuntos, e dando-lhes destaque,
antes que saiam do foco.
Segundo Carney (2012, p. 237, tradução nossa), "essa ênfase em 'soluções
que perseguem problemas'" é essencial "para a aceitação de novas ideias dentro de
uma 'janela de oportunidade'." Ou seja, o empreendedor de políticas públicas é
aquele que, ao notar que um problema ganhou visibilidade social, aproveita o que
Kingdon (2014) chamou de oportunidade de mudança ou janela de oportunidade
[policy window], para então inserir a questão na agenda decisória, valendo-se da
convergência dos três fluxos [multiple streams].
Esses empreendedores podem ser lideranças comunitárias, que têm voz
perante as autoridades constituídas, ou mesmo lideranças políticas, como
parlamentares que promovem projetosde lei voltados a determinado subsistema de
política pública. Nas casas legislativas tal realidade é bastante presente, a partir de
bancadas temáticas que defendem interesses de diversos setores, a exemplo de
grupos que atuam em favor do agronegócio ou da segurança pública.
2.4.3 Mudanças de indicadores
Os feedbacks positivos também estão associados às mudanças de
indicadores, principalmente aqueles mais visíveis, como a taxa de desemprego ou,
no caso da segurança pública, taxas de crimes violentos como os homicídios
dolosos.
Há nesses casos uma maior atenção da mídia e de atores políticos,
provocando assim uma resposta estatal. A partir desses indicadores se faz pressão
sobre a agenda, para que determinada ação ocorra.
A literatura indica que, em geral, mudanças repentinas e fortes de certos
indicadores impulsionam a entrada de temas na agenda. Como exemplo, a
elevação de crimes patrimoniais numa região vai direcionar o problema para a
agenda, de maneira que as forças de segurança serão instadas a promover ações
de policiamento preventivo e investigação criminal.
38
Baumgartner e Jones (2009) indicam que mudanças de indicadores levam
à pontuação, uma vez que se tem um sistema estável da política pública e, de
repente, chama-se a atenção para um assunto.
Em geral se analisa a mudança ao longo do tempo, num grande intervalo.
Além disso, há uma preocupação com o conjunto dessas modificações, para se
demonstrar a evolução gradual (incremental) e as pontuações que ocorrem em
momentos específicos.
Cerqueira et al. (2021, p. 11) apresentam estudos do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP) e do Ipea que demonstram a evolução da mortalidade
violenta em longos intervalos de tempo, orientando assim os governos na adoção de
políticas públicas. O gráfico abaixo, retirado do Atlas da Violência 2021, retrata a
evolução do número e da taxa de homicídios no país entre 2009 e 2019. Esses
dados, atualizados ano a ano, foram determinantes para a inserção do problema na
agenda dos governos, uma vez que o homicídio é um dos principais indicadores de
violência diante de sua baixa subnotificação.
Gráfico 1: Número e Taxa de Homicídios no Brasil (2009 a 2019)
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2021, p. 11).
O Atlas da Violência 2021 indica ainda que no período entre 2018 e 2019
houve uma diminuição de 22,1% na taxa de homicídios, compreendida como o
principal indicador de violência no Brasil (CERQUEIRA et al, 2021).
Conheça o Atlas da Violência 2021 clicando aqui.
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes/212/atlas-da-violencia-2021
39
Essa preocupação com mortes violentas integra o Plano Nacional de
Segurança Pública e Defesa Social 2021-2030, no Grupo 1 (Mortes Violentas), que
se desdobra nas seguintes metas:
➔ Meta 1 – Homicídios;
➔ Meta 2 – Lesão corporal seguida de morte;
➔ Meta 3 – Latrocínio;
➔ Meta 4 – Mortes violentas de mulheres; e
➔ Meta 5 – Mortes no trânsito.
(MJSP, 2021)
Em Secchi (2019), a figura a seguir, chamada de árvore do problema, é uma
ferramenta de gestão mediante a qual podem ser estabelecidas as relações entre
causa, problema e consequência.
Construída pelo corpo técnico do MJSP, a partir do software gratuito The
Brain (desenvolvido pela The Brain Technologies), a árvore representa, neste caso
concreto, um mapa mental do problema do "Alto índice de criminalidade violenta"
(MJSP, 2021).
No nível essencial identificamos a raiz, que é a causa do problema. No nível
intermediário, identificamos o tronco, que é o problema central a ser enfrentado; no
nível superficial identificamos os ramos, que são as consequências do problema
(SECCHI, 2019).
40
Figura 8: Árvore do Problema “Alto índice de criminalidade violenta”
Fonte: MJSP (2021, p. 62).
SAIBA MAIS!
Agenda Estratégica e Planejamento Estratégico Governamental
De Toni (2021, p. 19) aponta o que chama de “agenda estratégica”, como "[...]
uma situação em que o núcleo da alta direção do governo [...] elabora uma visão de
futuro consistente que corporifica um projeto de médio e longo prazo”.
O autor associa essa ideia de agenda como ponto de partida para o que
denomina de Planejamento Estratégico Governamental, consistente na:
[...] materialização instrumental e operacional dessa agenda, transformando
e processando uma determinada visão de futuro do país em um sistema de
planejamento concreto, com instituições, organizações, burocracia,
recursos, macroprocessos, cadeia de valor público, indicadores nacionais
de performance etc (DE TONI, 2021, p. 19).
Conforme alertam Wu, Ramesh, Howlett e Fritzen (2014), dos diversos
problemas enfrentados pela sociedade, apenas pequena parcela é absorvida,
tornando-se objeto de políticas públicas. Segundo os autores, os gestores públicos
têm sido subestimados nessa área, diante do destaque conferido a formuladores das
altas cúpulas dos Poderes Executivo e Legislativo. Além disso, há o consistente e
reiterado papel da mídia e dos grupos interessados, limitando assim a participação
do corpo técnico dos diversos subsistemas de política.
41
Tal fato se dá em parte diante dos potenciais riscos decorrentes dos
processos de inovação na política, em que muitos gestores optam por mudanças
incrementais, com poucas alterações significativas, revelando uma tendência
conservadora e de evitação do fracasso.
Nesse contexto, a compreensão de como ocorrem os processos de definição
da agenda é essencial para que o gestor identifique os feedbacks negativos e os
feedbacks positivos, e quais assuntos têm maiores chances de ocupar a atenção
dos governos.
Como uma última ressalva, é importante esclarecer que as políticas
incrementais não se revelam necessariamente inadequadas. Segundo alerta
Sampaio (2018, p. 108), “as eventuais distorções residem na adoção unilateral de
modelos, já superados ou derivados de outros segmentos e organizações policiais,
que nem sempre são adaptáveis" à realidade local, mas que de alguma forma
acabam ocupando a agenda dos governos e se tornando políticas públicas.
42
Aula 3 - Ciclo das Políticas Públicas (formulação)
Para além dos processos que fazem parte da rotina do gestor público,
podemos inferir a existência de uma área estratégica, que pensa e reflete os
problemas da sociedade, concebendo a formulação ou elaboração das políticas
públicas, com base em determinado planejamento.
Assim, a formulação é o momento no qual são definidos o objetivo da
política, as metas almejadas, os indicadores para monitoramento, o desenho dos
programas a serem desenvolvidos para implementação.
Por outro lado, é também nesse momento em que são rejeitadas outras
alternativas postas na mesa de discussão.
Segundo Wu; Ramesh; Howlett; Fritzen (2014, p. 51) a promessa de governos
com a resolução de problemas só se converte em conquistas mensuráveis com o
desenvolvimento de duas condições, em determinada janela de oportunidade, uma
vez que elas devem ser:
• Politicamente aceitáveis pelo grupo político que consagra a maioria e a
sociedade; e
• Viáveis do ponto de vista administrativo e técnico.
Na fase de formulação, busca-se, portanto, a resposta para determinadas
necessidades da população, sendo o objetivo geral da política a solução ou
minimização do problema ou conjuntos de problemas postos em evidência em
determinado momento (IPEA, 2018).
Nesse processo estratégico o planejamento, aparentemente racional e neutro,
realizado pelo Estado, se depara com as ações de atores políticos, que visam a
defesa de interesses e valores de determinado segmento da sociedade muitas vezes
conflitantes com outros interesses e valores de igual peso.
Para a contribuição no processo, os gestores devem converter as
estatísticas em informações relevantes para os problemas e analisar as
preferênciasde todos os atores envolvidos na demanda (apontando as viabilidades
técnica, legal, financeira e política).
43
Além disso, devem agir baseados no conhecimento pretérito, mas estar
abertos a novas propostas metodológicas, apontando, ainda, os riscos que cada
alternativa possui, comparando-as e medindo-as.
A coerente identificação da fonte ou causa do problema ou conjuntos de
problemas, por meio da realização de um bom diagnóstico, deve ser a base de
atuação do gestor público formulador da política [policymaker].
Um diagnóstico adequado possibilitará a convergência na definição do
objetivo da política pública, dificultando a anulação de critérios técnicos quando
da tomada de decisão pelo alto escalão e agentes políticos.
O investimento no capital intelectual das organizações, mediante o preparo
dos gestores públicos, diminui o risco de opções por políticas que sofram de
deficiências perceptíveis, dissonantes das já existentes, ou mesmo pela opção da
não realização da política pública.
Conforme Ipea (2021), as capacitações, incentivos e estratégias
organizacionais são eficientes para dar acesso aos servidores ao conhecimento
científico e essenciais na formulação de políticas públicas.
O incremento no nível de qualificação dos servidores contribui para a
longevidade das opções escolhidas pelo tomador de decisão, perfazendo
sustentabilidade.
SAIBA MAIS!
A sustentabilidade enquanto princípio constitucional:
Determina, independentemente de regulamentação legal, a
responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do
desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e
equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de
assegurar, preferencialmente de modo produtivo e precavido, no presente e
no futuro, o direito ao bem-estar físico, psíquico e espiritual, em
consonância homeostática com o bem de todos” (FREITAS, 2011, p. 41).
Segundo Nogueira (2018, apud RICCIO, 2017), a educação superior traz aos
profissionais de segurança pública maior profissionalismo, accountability e
legitimação, e passa a ser veículo de estímulo à pesquisa. E a institucionalização da
pesquisa nas organizações policiais altera a cultura policial.
44
3.1 Fontes de informação em políticas públicas
Recente pesquisa divulgada pelo Ipea (2021) revela que a maioria dos
servidores públicos federais (64,5%) se valem sempre ou frequentemente de sua
experiência pessoal na produção de políticas públicas, e nunca ou raramente fazem
uso de relatórios de pesquisas científicas (53,8%) nesta etapa. Além disso, as fontes
da sociedade - como opiniões dos beneficiários das políticas - têm uso inexpressivo
pela administração pública.
Tabela 1: Tipos de informações utilizadas pelos servidores federais para a produção de políticas
Fonte: Ipea (2021, p. 2).
Podemos, portanto, dividir as principais de fontes de informação utilizadas
pelos agentes públicos na produção de políticas públicas em quatro tipos.
Figura 9: Fontes de informação utilizadas na produção de políticas públicas
Fonte: Ipea (2021, p. 2).
45
3.2 Atores participantes na formulação da política pública
Na formulação da política pública um importante elemento diz respeito à
compreensão pelo gestor público acerca das características das comunidades de
atores envolvidos. Esses agrupamentos poderão representar coalizões de defesa
no direcionamento de determinada política ou mesmo na manutenção do status quo.
Nesse contexto, conforme explicitam Wu, Ramesh, Howlett e Fritzen (2014, p. 52-
54), poderão estar envolvidos, em regra:
• Um pequeno grupo dirigente, com proeminência visível, liderando os
órgãos governamentais e participando de comissões e grupos de trabalhos
interinstitucionais de alto nível;
• Os legisladores, por vezes restringidos por posições políticas partidárias e
por próprias ambições pessoais;
• Integrantes de órgãos governamentais do setor discutido, com
considerável acúmulo de conhecimento e experiência em determinada área.
Embora essa expertise seja importante, por vezes a ausência de uma visão
holística, que transcenda suas tarefas rotineiras, pode ser um obstáculo para
a concepção de opções criativas no enfrentamento de crises e problemas
crônicos. Assim, determinados agentes públicos podem não estar motivados
em relação às alternativas políticas que envolvam mudanças significativas
no status quo; e
• Grupos de interesse, como associações, grupos da sociedade civil,
sindicatos, e grupos técnicos, como universidades e think tanks. Tais
grupos participam indiretamente do processo, pressionando as classes
políticas para a visibilidade e resolução de determinadas questões.
A busca de sinergia entre esses atores, para viabilidade das propostas,
geralmente recai em gerentes de nível intermediário. Esses profissionais podem
alinhar o projeto político com a viabilidade operacional e a capacidade do
órgão responsável, possibilitando que o planejamento torne a implementação mais
fácil e eficaz.
Conforme Wu et al. (2014, p. 54) a formulação é a fase que oferece aos
gestores a melhor chance “de moldar os contornos e conteúdos das políticas;
46
caso contrário, eles estarão envolvidos, em grande parte, na implementação e
avaliação de políticas idealizadas por outros”.
Quando a comunidade é receptiva a novas ideias e a novos atores, tem-se
um sistema aberto, com possibilidade de reforma de políticas de forma abrangente.
Por outro lado, se há resistência na inclusão desses personagens, mas não a novas
ideias, tem-se que programas já existentes podem ser reformados (Sistema
contestado).
Os autores Wu, Ramesh, Howlett e Fritzen (2014, p. 60) afirmam que
invertendo a receptividade, o sistema avesso apenas a novas ideias, mas permeável
a novos atores, considerado resistente, é suscetível à experimentação de políticas.
Já o sistema é considerado fechado, tornando-se possível mudanças apenas
incrementais, quando novos atores e novas políticas são constantemente refutados.
A tabela abaixo representa, de forma estruturada, as características das
comunidades de políticas públicas, e como repercutem na recepção de novas ideias
na etapa de formulação.
Tabela 2: Características das comunidades de políticas públicas e tipos de mudanças de políticas
Fonte: Wu, Ramesh, Howlett, Fritzen (2014, p. 60).
3.3 Processo de formulação da política e desenho da política
Para Capella (2018, p. 9), o processo de formulação de políticas públicas
compreende dois elementos principais, a definição da agenda, já abordado na
aula anterior, que envolve o direcionamento da atenção em torno de questões ou
problemas, e a definição de alternativas, que se evidencia na exploração do cerne
dos problemas e no desenho de um plano possível de ação.
Na definição das alternativas também serão estimados os custos e os efeitos
que orientarão os debates durante o processo decisório, influenciando diretamente
fases subsequentes, de implementação e de avaliação.
47
Considerado “o instrumento supremo de poder” Schattschneider (1960, apud
CAPELLA, 2018, p. 71) dada a diversidade de alternativas possíveis, sempre haverá
um mecanismo de seleção para as propostas e soluções possíveis. O ato de torná-
las proeminentes à consideração daqueles que têm autoridade para a tomada de
decisão dentro do governo é tarefa dos empreendedores de políticas [policy
entrepreneurs].
Esse momento do ciclo da política pública” envolve a identificação e a
determinação das possíveis soluções para os problemas [...]” ou, “[...] a
exploração das várias opções ou cursos alternativos de ação disponíveis para
enfrentá-los" (JONES, 1984, p. 7; HOWLETT; RAMESH; PERL, 2020, p. 132-133,
tradução nossa).
Conforme Kingdon (2014), no processo de formulação, os empreendedores
de políticas públicas têm um papel relevante,de conectar soluções e problemas,
uma vez que esses elementos são definidos pelas pessoas de formas distintas. No
campo das políticas públicas, por vezes as pessoas geram soluções e,
posteriormente, procuram problemas que a elas tenham adesão.
Percebe-se que as soluções, além de ferramentas, instrumentos e técnicas,
devem ser encaradas como construções sociais, envolvendo diferentes pontos de
vista e interesses em disputa, conforme assinala Capella (2018, p. 73). As soluções
estão relacionadas com as consequências futuras que se esperam obter. Além
disso, envolvem instrumentalização (indicação de medidas concretas e
procedimentos formais, a exemplo de criação de leis, previsões e alterações
orçamentárias, estabelecimento de programas, dentre outros) e precisam de um
problema significativo, revelando-se como “um discurso de legitimação da ação
governamental esperada”.
Portanto, a fase de formulação não é permeada apenas por questões
técnicas, envolvendo a elaboração de métricas e custos toleráveis. Para além de um
processo racional e utilitarista, revela conflitos e dissensos, percepções e interesses
dos atores, sendo o fluxo político importante de ser identificado.
O gestor público, entretanto, deve possuir um rol de soluções pré-concebidas
e consonantes com outras políticas já em curso, aptas a competir no debate público,
quando um problema surgir na agenda. Para auxiliar esse processo, uma das
ferramentas para formulação é a de desenho da política.
48
3.4 Desenho da Política
De acordo com o Ipea (2018, p. 71), o Desenho da Política [Policy Design]
“envolve um esforço de sistematizar ações eficientes e eficazes, com a aplicação de
conhecimento de meios políticos para a adoção de instrumentos que permitam o
atingimento de objetivos, resultados e metas dentro de contextos políticos
específicos”.
Trata-se de um tema que tem ganhado destaque no estudo da formulação de
políticas públicas, sendo que um dos autores clássicos do campo é Jan Tinbergen,
que foi o primeiro ganhador do prêmio nobel de Economia, em 1969vi.
Na obra The design of development (1958), o Tinbergen observa a
elaboração de políticas, principalmente nas perspectivas do desenvolvimento e
políticas econômicas, ao mesmo tempo em que avalia quais são os aspectos
problemáticos que precisam da atenção do planejador.
A partir das concepções clássicas de Tinbergen, o estudo contemporâneo de
Bobrow (2006, p. 80, tradução nossa) chama a atenção para as condições a serem
consideradas no desenvolvimento de políticas:
● Instrumentos de política do governo como meios: devem ser conhecidos
os instrumentos de política, uma vez que os governos podem (ou não) dispor
deles. Na perspectiva administrativa-organizacional, deve ser avaliado o que
o governo consegue ou não fazer, que são as chamadas Capacidades
Estatais. Note que os governos dispõem de recursos distintos em termos
financeiros e de pessoal qualificado para políticas públicas. Assim, a
depender da natureza da política, determinados entes federativos terão um
espectro de atuação mais limitado. Desse modo, "altos níveis de
capacidades estatais estão ligados a produtos e resultados de política
superiores, enquanto déficits de capacidade são vistos como a principal
causa de falha de política e resultados abaixo do ideal" (WU; RAMESH;
HOWLETT, 2018, p. 1, tradução nossa);
● Reconhecimento de alternativas e seus possíveis resultados: discute
quais são os resultados possivelmente obtidos em razão de diferentes
alternativas. As respostas possibilitam a comparação desses resultados;
49
● Diagnóstico situacional: busca identificar em qual contexto está se
formulando a política;
● Presença de incerteza: há muita incerteza em termos de políticas públicas,
a exemplo de informações básicas de que administração não dispõe; e
● Necessidade de flexibilidade para futuras revisões: possibilidade de
adaptações ou correções no curso da política.
Bobrow (2006, p. 80, tradução nossa), também deixa claro que um grande
conjunto de fatores e atores precisam ser levados em conta, isto inclui o setor
privado, as atitudes gerais da população, os órgãos de governo e suas inclinações
(órgãos e agentes públicos têm as suas inclinações e reivindicações), a estrutura
econômica atual, os recursos naturais, a situação geográfica e o tamanho das
entidades envolvidas.
Além disso, o autor aponta como influência na formulação a existência de
“lapsos de tempo” entre uma política ser proposta, planejada, implementada e
produzir os efeitos esperados. Assim, segundo o autor, é comum em políticas
públicas que, diante desse decurso de tempo, os objetivos inicialmente propostos
precisem ser reformulados em razão de novos contextos fáticos.
SAIBA MAIS!
Conheça o trabalho da Enap sobre Capacidades Estatais para produção de
políticas públicas clicando aqui.
Amadurecendo os elementos conceituais trazidos por Tinbergen, Bobrow
(2006, p. 90-92) enuncia um conjunto de comandos, a partir de 10 "máximas" ou
mandamentos, que precisam ser pensados ao se desenhar uma política pública:
https://www.enap.gov.br/pt/acontece/noticias/download-capacidades-estatais-para-producao-de-politicas-publicas-resultados-do-survey-sobre-o-servico-civil-no-brasil
50
Tabela 3: Desenho das políticas públicas (10 mandamentos)
Fonte: Tinbergen, Bobrow (2006, p. 90-92).
1. Abordagem Interdisciplinar
Essa abordagem interdisciplinar é relevante, porque reforça a ideia de que a
teoria que se parte não vai responder tudo; ou seja, não terá todas as respostas.
Uma área do conhecimento se torna mais robusta quanto mais aberta ela
estiver para receber outras áreas, uma vez que nenhum campo consegue todas as
respostas. Ao buscar informações em outros segmentos, é possível preencher as
lacunas. Como exemplo, a economia comportamental é usada em diversos campos
do conhecimento, influenciando políticas, como ocorre na técnica Nudge.
Nesse contexto, as políticas públicas de segurança serão mais bem
qualificadas quando utilizarem a contribuição de outros campos, a exemplo da
chamada "arquitetura contra o crime" ou "prevenção do crime através do desenho
urbano" no enfrentamento a crimes patrimoniais.
SAIBA MAIS!
Com base na economia comportamental, a técnica Nudge foi criada por
Thaler e Sustein (2008), tendo por finalidade criar estímulos leves voltados à
modificação de comportamentos humanos.
51
No campo da segurança pública, pode ser utilizada para o enfrentamento de
problemas do cotidiano, como a vitimização repetida e a prevenção situacional
do crime.
Conheça a Revista Brasileira de Políticas Públicas, do Programa de
Mestrado e Doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília.
Em seu vol. 8, n. 2, ago. 2018, estão disponíveis diversos artigos sobre a
aplicação prática da técnica Nudge. Clique aqui e veja.
2. Estabelecer condições mínimas a serem satisfeitas nas políticas
Condições mínimas que as políticas devem proporcionar. Se não ocorrerem, a
política provavelmente não vai funcionar, porque vai gerar conflitos, como os
decorrentes de limitações de governo ou econômicas. Por exemplo, determinadas
políticas de segurança precisam de um contingente mínimo de pessoal e recursos
logísticos. Sem esses meios, a política pública terá poucas chances de êxito.
3. Salvaguardas
Uma política sempre vai ter partes afetadas; algumas vezes, essas partes são
mais difusas, o que facilitará o seu funcionamento. No entanto, às vezes as
repercussões são mais localizadas, o que exigirá salvaguardas contra os impactos
às partes afetadas.
Nesse contexto, como se lidam com as partes afetadas? Quais serão os
compromissos firmados com as pessoas, para que fiquem menos resistentes com o
que vai acontecer? Como exemplo, podemos citar a construção de um
estabelecimento penal numa pequena cidade,o que pode gerar elevada dose de
controvérsia.
4. Contextualização
Deve ser considerada a história e os antecedentes de um subsistema de
política pública. Assim, a contextualização da atuação histórica das organizações
policiais e como vêm se desenhando as políticas públicas de segurança numa região
possibilitam uma melhor compreensão de mundo, e um melhor ponto de partida para
novas formulações de políticas.
https://www.publicacoes.uniceub.br/RBPP/issue/view/244
52
SAIBA MAIS!
Conheça na Biblioteca Digital do MJSP a pesquisa de Sampaio (2018), o
qual faz um resgate histórico de 40 anos nas políticas públicas de segurança, no
Estado do Paraná clicando aqui.
5. Análise de oposições
No planejamento público deve-se levar em consideração os vários atores e
pensar na cadeia de causação - se colocando no lugar das pessoas afetadas, dos
beneficiários, dos profissionais que irão implementar a política. Assim, na formulação
precisam ser avaliadas as eventuais restrições que podem ser apresentadas à
política pública.
6. Melhores práticas e empréstimos
Conhecer melhores práticas, deter melhor repertório das políticas públicas do
subsistema que se pretende desenvolver. Nesse contexto, identificamos as práticas
de benchmarking, tema já explorado na aula 1 deste módulo.
Perceba que o profissional de segurança pública e defesa social precisa
estar atualizado e conhecer as melhores práticas da sua área de atuação,
participando de cursos e eventos, ou mesmo pesquisando nas mais variadas
bibliotecas digitais em segurança pública, como o Repositório da Biblioteca Digital do
MJSP.
Conheça também a Revista do Sistema Único de Segurança
Pública clicando aqui.
7. Ajuste fino
Muitas vezes, a partir de práticas de benchmarking, são adotadas políticas
públicas já implementadas por outras organizações ou em locais distintos. O ajuste
fino consiste em adaptar as políticas públicas ao próprio contexto. Note que a
reprodução pura e simples, sem os ajustes necessários, poderá redundar no
https://dspace.mj.gov.br/handle/1/4430
https://dspace.mj.gov.br/
https://dspace.mj.gov.br/
https://dspace.mj.gov.br/handle/1/4028
53
fracasso da política. Como exemplo, programas de policiamento exitosos num
determinado lugar poderão sofrer restrições em outro, motivo pelo qual algumas
vezes precisam ser adaptados à realidade local.
8 e 9. Mapeamentos para trás e para frente
Na formulação, é importante pensar no objetivo, no impacto final e "tencionar"
a cadeia de causação. "Tencionar" no sentido de se certificar se o produto leva ao
impacto e, se o produto intermediário leva ao resultado. A cadeia de causação age
assim para que os produtos realmente atinjam o impacto desejado.
São feitos dois mapeamentos, em ambos os sentidos, sendo que se esses
mapeamentos não se confirmarem, a Teoria da Mudança possivelmente não é a
mais adequada.
SAIBA MAIS!
Conforme Mafra (2016, p. 78) a Teoria da Mudança é utilizada para
projetar e avaliar iniciativas que visam a promover mudanças sociais. Trata-se de
uma representação de como uma implementação de uma política leva aos
resultados e impactos esperados.
Nessa construção, os gestores públicos devem:
(1) descrever os insumos necessários à política, as atividades que eles
devem suportar, os produtos que se pretendem obter, assim como resultados e
impactos esperados;
(2) identificar eventos ou condições afetas à obtenção do resultado, bem
como as relações de causa-efeito que a política está assumindo, para depois avaliá-
las; e
(3) embasar-se em conhecimentos científicos (MORRA-IMAS; RIST, 2009,
p. 151; MAFRA, 2016, p. 78).
54
A Teoria da Mudança agrega aos componentes da política informações
relacionadas às influências externas e aos pressupostos que sustentam as relações
de causa e efeito.
Chiavenato (2020) infere que as mudanças realizadas pelos agentes
podem ser observadas na estrutura, na tecnologia, nos produtos/serviços e na
cultura organizacional, alterando assim o desempenho da organização em
diferentes formas e aspectos.
A ilustração a seguir representa o Desempenho Organizacional
Melhorado, fruto do processo de mudança (CHIAVENATO, 2020, p. 198).
Figura 10: Diferentes tipos de mudanças organizacionais.
Fonte: Chiavenato (2020, p. 198).
A Teoria da Mudança é, portanto, um modelo teórico que dá suporte às
intervenções, avaliando seu desenho, verificando sua consistência e coerência
interna.
Conforme o Ipea (2018, p. 139), sua utilização pode facilitar a identificação
de erros ou falhas, propondo mudanças para que a política alcance seus objetivos.
Uma vez em vigor, outros insights podem ocorrer, sendo necessária nova reflexão
sobre quais insumos, processos ou produtos alternativos podem ser eficazes para
alcançar os resultados e impactos almejados.
55
O modelo lógico, que abordaremos a seguir, é uma ferramenta qualitativa
que organiza de forma racional a sequência para atingir os resultados e impactos
propostos. Diante disso, Teoria da Mudança e modelo lógico devem ser estudados
conjuntamente.
10. Ajustes para vieses cognitivos
Inicialmente, trata do viés de disponibilidade (1), em que geralmente são
reproduzidas (copiadas) as políticas públicas que estão mais disponíveis. Assim,
nem sempre há um grande repertório à disposição do policymaker, motivo pelo qual
é importante sua ampliação. Por essa razão, em políticas públicas de segurança há
um maior viés de disponibilidade de modelos tradicionais reativos de policiamento,
voltados a respostas a incidentes.
Ainda, observa-se um viés de confirmação (2), na medida em que tendemos a
buscar exemplos de políticas já existentes e que estejam alinhados às nossas
percepções e julgamentos; ou seja, naquilo que acreditamos e já conhecemos. Esse
viés de confirmação pode criar barreiras para novos entendimentos sobre políticas
públicas.
Nos vieses cognitivos ainda se destacam as correlações ilusórias (3), ou seja,
relações de causa e efeito que não se confirmam, uma vez que integram nosso
imaginário, mas não apresentam robustez técnica ou fática. Por vezes, são lançados
programas de policiamento embasados em percepções particulares de agentes
públicos, mas que não encontram respaldo em estatísticas ou outros estudos mais
estruturados.
Por fim, os vieses também podem se basear em ancoragens (4), que
condicionam a política, de acordo com o seu ponto de partida. A forma como é feita
uma pergunta em política pública vai ancorar (condicionar) o modelo de resolução.
Assim, após começar a planejar a política, a adoção de um outro ponto de
vista, mudando os rumos iniciais, nem sempre é fácil. Por esse motivo, o
planejamento deve sempre levar em conta a perspectiva de outras partes
interessadas e dos setores técnicos envolvidos.
56
3.5 Análise ex ante e Modelo Lógico no desenho da política
O MJSP (2021, p. 58), na revisão do Plano Nacional de Segurança Pública e
Defesa Social visualiza-se um exemplo de abordagem criteriosa e uso de
metodologia para o enfrentamento de problemas ligados à segurança. São utilizados
dois recursos complementares, quais sejam: a análise ex antevii e os modelos
lógicos de política.
Na análise ex ante, o estudo do desenho da política confere maior
racionalização ao processo inicial de implantação, além de otimizar a aplicação de
recursos públicos. Assim, essa análise orienta a decisão da alta gestão para a
escolha de alternativas mais efetivas, eficazes e eficientes.
O MJSP (2021, p. 58) aponta que objetivos e metas são definidos com
clareza, detalhando-se o passo a passo, para que sejam transformados em
produtos. Esses produtos conduzirão a resultados que, a médio e longo prazo, se
converterão em impactos positivos na qualidade de vida da sociedade.
Nesta fase, cabe ao gestor a observação do que o Tribunal de Contas daUnião (TCU) denomina, a partir da obra "Dez Passos para a Boa Governança”
(TCU, 2021, p. 12), de mecanismos organizacionais de governança pública:
• Liderança: integridade e competência são atributos que auxiliam na
construção desta habilidade;
• Estratégia: planejamento, que alinhe objetivos de Estado com os de
governo; e
• Controle: revelados em instrumentos como transparência, accountability
[prestação de contas] e auditoria interna, postos em prática para avaliar,
direcionar e monitorar a atuação da gestão para conduzir a política pública e
a prestação de serviços aos interesses da sociedade.
A ilustração abaixo, retirada de outra obra do Tribunal de Contas da União -
TCU), Referencial Básico de Governança Aplicável a Organizações Públicas e
outros entes jurisdicionados ao TCU, representa a estrutura da Governança
Organizacional Pública (TCU, 2020, p. 52):
57
Figura 11: Governança Organizacional Pública
Fonte: TCU (2020, p. 52).
SAIBA MAIS!
Dentre os Dez Passos para a Boa Governança do TCU, a governança
envolve atividades de avaliar o ambiente, cenários, alternativas e resultados atuais e
almejados, para direcionar a preparação e coordenação de políticas e planos,
alinhando funções organizacionais às necessidades das partes interessadas,
monitorando os resultados, desempenhos e o efetivo cumprimento de políticas e
planos, confrontando-os com as metas estabelecidas (TCU, 2021, p. 12).
Na fase de monitoramento, é importante atentar para a implantação de
indicadores de desempenho, estabelecendo-se rotinas e relatórios padrões e
periódicos para o levantamento de informações sobre as metas definidas,
publicando-se o resultado para conhecimento das partes interessadas (TCU, 2021,
p. 33).
58
Como atividades básicas, nesta percepção estratégica, estão: (1) o
planejamento das operações, devendo ser definido prioridades e objetivos da
política; (2) a execução dos planos, visando à geração dos resultados esperados
com as políticas; (3) o controle de desempenho, amenizando riscos, e avaliando
índices e metas. (TCU, 2021, p. 12).
Mais sobre o assunto poderá ser pesquisado na 3.ª edição do Referencial
Básico de Governança Organizacional do TCU (2020), clicando aqui.
Conheça, ainda, a Lei n. 13.640/2017 (que regulamenta o art. 37, §3.º, I, da
CF) que dispõe sobre participação, proteção e defesa dos direitos do usuário dos
serviços públicos da administração pública.
Esta lei estabelece um conjunto de ações para o alinhamento da prestação
dos serviços às efetivas necessidades da sociedade, sendo a pesquisa de satisfação
dos usuários uma ferramenta de análise.
3.6 O Modelo Lógico do MJSP
O Inep (2018, p. 94) explica o modelo lógico da seguinte forma:
Não existe impacto efetivo nem resultados palpáveis para políticas sem
objetivos claros e sem uma teoria do programa, ou seja, sem uma ideia
explícita das consequências de uma possível ação que intervenha sobre um
problema. Uma teoria clara é aquela que consegue ser expressa, de forma
objetiva, em resumo narrativo (uma frase ou um parágrafo) que expresse
como o programa incide sobre as causas do problema, projetando seus
resultados e impactos de longo prazo. Sugere-se que a teoria seja descrita
informando: se (descreva o desenho do programa), então (descreva os
resultados), o que então levará a (descreva os impactos). Tal passo é
importante para que se verifique, antes de mais nada, a consistência lógica
do que se pretende fazer, de modo que fique absolutamente claro em que
medida os recursos e os processos a serem despendidos e realizados
podem ser tomados como diretamente responsáveis por produzir o que se
vislumbra como resultado e se vislumbra como impacto.
No desenvolvimento do modelo lógico (ML), uma reflexão se faz necessária:
Para que é desenhada uma política pública?
Segundo Pinheiro (2020, p. 22), a política é voltada para a consecução de
objetivos coletivos, “por meio de um cálculo racional de escolhas entre distintas
https://portal.tcu.gov.br/governanca/governancapublica/governanca-no-setor-publico/publicacoes.htm
59
alternativas de ação (racionalidade instrumental)”, sendo, neste contexto,
fundamental que seus objetivos e suas avaliações sejam claros.
Conforme o Ipea (2018, p. 74-75), o objetivo principal de qualquer ação
pública é, portanto, atender de maneira efetiva a demanda envolvida em um
problema identificado, podendo ser utilizadas algumas diretrizes, para facilitar um
conjunto de escolhas de políticas plausíveis, a exemplo:
(1) aplicação eficiente dos recursos disponíveis;
(2) minimização dos custos envolvidos; e
(3) maximização dos resultados ou benefícios sociais.
Figura 12: Etapas de caracterização da política pública
Fonte: Ipea (2018, p. 72).
60
Para a formulação de política uma metodologia útil para identificação e
descrição dos diversos componentes do desenho é a matriz do modelo lógico. O
primeiro passo consiste em delimitar qual problema se visa atenuar ou resolver com
a intervenção pública, partindo-se daí a busca de soluções, e não o contrário. Nesse
momento serão identificadas as suas causas e selecionadas as mais críticas, sendo
organizada a construção de um modelo lógico.
O Ipea (2018) aponta que o gestor e sua equipe devem refletir e responder
algumas questões, apresentando dados quantitativos e estudos qualitativos, como:
● Quando o problema ocorre ou desde quando vem ocorrendo?
● Quais razões (normativas e econômicas) justificam a intervenção estatal?
● Onde o problema ocorre e sobre quais atores?
● Afeta diferentes regiões e grupos da população?
● Quais indicadores caracterizam o problema?
● Existem pesquisas, estudos ou políticas pretéritas relacionadas ao tema?
Conforme MJSP (2021, p. 58), neste viés, o modelo lógico, como instrumento
de construção de políticas públicas, apresenta, de forma simples e visual, como
recursos e atividades públicas geram propostas, que podem ser transformadas em
produtos resultados e impactos esperados.
Segundo o Ipea (2018, p. 96-99), percebe-se que no modelo lógico há
componentes comuns, insumos, atividades, produtos, resultados e impactos, porém,
não existe um formato ou uma estrutura padronizada para sua elaboração.
Como já informamos no início de nosso curso, o modelo lógico concebido pelo
Ipea (2018) e aplicado pelo MJSP se adequa perfeitamente ao ciclo desenvolvido
pela Enap, de maneira que as informações trazidas por Wu, Ramesh, Howlett e
Fritzen (2014) colaboram, de forma analítica, com o caminho de formação da
política.
A ilustração a seguir representa o ciclo de construção do modelo lógico
adotado pelo MJSP (2021, p. 58):
61
Figura 13: Modelo Lógico MJSP
Fonte: MJSP (2021, p. 58).
Conforme o MJSP (2021, p. 60) os elementos de um modelo lógico se
encadeiam a partir de:
Insumos
Recursos (financeiros, físicos, humanos) necessários para a sua execução.
Ex. a contratação ou movimentação de pessoal, aquisição de equipamentos,
viaturas.
Atividades:
Ações ou serviços rotineiros realizados na política pública. Ex. investigação
policial, atividades de polícia ostensiva, atividades periciais.
Produtos (outputs)
Frutos diretos e quantificáveis da atividade política. Ex. programas e projetos
de policiamento específicos para a política que se pretende implantar, como ações
62
estruturadas voltadas à redução de determinados índices como furtos e roubos,
perturbação do sossego etc.
Resultados (out comes)
Mudanças perceptíveis em curto prazo. Ex. prisões de infratores, apreensões
de armas e drogas ilícitas, redução dos índices de crimes alvo da política, redução
do número de ocorrências de perturbação do sossego.
Impactos
Mudanças de médio e longo prazo, perspectiva futura dos beneficiários. Ex.
redução sustentável e perene de indicadoresde criminalidade, fortalecimento da
relação de confiança entre polícia e sociedade.
Exemplos das principais "entregas" (de produtos e serviços) podem ser
observadas na Carteira de Políticas Públicas do MJSP (2020-2023, online),
acesse clicando aqui.
Figura 14: Carteira de Políticas Públicas
Fonte: MJSP (2022, online).
A Carteira de Políticas Públicas contempla uma lista
exaustiva de todas as políticas que o Ministério da Justiça e
Segurança Pública - MJSP, atua, sendo organizada de forma
https://www.gov.br/mj/pt-br/acesso-a-informacao/governanca/carteira/revisao-da-carteira-de-politicas-publicas-mjsp-consolidado-v15-publicacao.pdf
63
setorial, ou seja, vinculadas à cada unidade finalística no
âmbito da estrutura organizacional do Ministério. Ela contém
uma série de informações, como: nome da política e unidades
responsáveis; descrição e produtos/serviços das políticas e a
sua forma de implementação; vinculação com o Planejamento
Estratégico do MJSP; e outras de cunho orçamentário.
Com esta ferramenta as decisões alocativas de recursos passam a ser
orientadas por critérios mais claros e transparentes, baseados em uma análise
técnica mais robusta.
A criação ganha consistência na formulação inicial, sendo que a expansão ou
o aperfeiçoamento de uma política passam a contemplar etapas objetivas,
aprimorando a alocação de recursos, a eficiência dos gastos e a efetividade na
prestação de serviços.
Conforme o MJSP (2021, p. 59), o modelo lógico permite:
(1) O registro de mudanças, podendo ser constantemente revisado;
(2) Comunicar de forma visual e clara a lógica do plano para os agentes
envolvidos;
(3) Ressaltar os principais aspectos a serem monitorados pela equipe de
implementação; e
(4) Subsidiar pesquisadores no desenho e posterior avaliação, além de
propiciar aos gestores mais clareza nas perguntas que querem ver
respondidas.
Neste modelo, consoante com o MJSP (2021, p. 60), o gestor forma um
encadeamento estruturado de forma razoável e lógica “entre o problema que se quer
atacar, as atividades a serem executadas e os produtos elaborados, de modo a
alcançar os resultados e impactos esperados.
A seguir se apresenta a exposição de cada um dos conceitos de forma
visualmente orientada:
64
Figura 15: Estruturação do Modelo Lógico MJSP
Fonte: MJSP (2021, p. 60).
Para cada resultado pretendido devem ser estabelecidos indicadores
suficientes de verificação de desempenho (compromisso de execução desejável e
exequível).
Pelo modelo lógico, é possível construir os seguintes indicadores (IPEA, 2018,
p. 103):
• Eficiência: dizem em que medida os recursos utilizados para gerar um
produto estão sendo bem utilizados pela aplicação de insumos e
processos;
• Eficácia: demonstram que os prazos de entregas do produto estão sendo
cumpridos; e
• Efetividade: são os que inferem que os resultados mais importantes estão
sendo realizados e em que prazos, sendo mensurados, em regra por dados
qualitativos, em termos de satisfação, confiança e qualidade dos serviços.
65
Figura 16: Estruturação de indicadores de eficácia, eficiência e efetividade
Fonte: Ipea (2018, p. 103).
De TONI (2021) ao definir o objetivo da política pública o policymaker deve
aplicar o mínimo de recursos possível com a obtenção do máximo de resultados, o
que exige a elaboração de um Plano Estratégico Governamental associado ao
domínio acerca dos instrumentos de programação (Lei de Diretrizes Orçamentárias,
Lei Orçamentária Anual e Plano Plurianual).
O Manual Técnico de Orçamento - MTO 2022 explica que para
compreender o orçamento público é necessário reconhecer sua estrutura e
classificação, portanto, uma visão de como está organizado o orçamento público.
Atualmente, a estrutura do orçamento público registra programações
orçamentárias as quais estão organizadas em programas de trabalho, que
contêm informações qualitativas e quantitativas, sejam físicas ou financeiras
(SOF, 2021, online).
No quadro abaixo é apresentada a classificação qualitativa de um programa
de trabalho:
66
Figura 17: Programa de Trabalho - Classificação Qualitativa
Fonte: Secretaria de Orçamento Federal - SOF (2021, online).
No quadro abaixo é apresentada a classificação quantitativa de um
programa de trabalho:
67
Figura 18: Programa de Trabalho - Classificação Quantitativa
Fonte: Secretaria de Orçamento Federal - SOF (2021, online).
3.7 Instrumentos de Planejamento e Orçamento
Plano Plurianual (PPA)
O PPA é o instrumento de planejamento de médio prazo do Governo
Federal, que estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes, os objetivos
e as metas da Administração Pública Federal para as despesas de capital e
outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração
continuada” (SOF, 2021). “Deve ser enviado pelo Executivo ao Congresso
até o dia 31 de agosto. O PPA é encaminhado pelo presidente da República
no primeiro ano do governo e corresponde ao período que vai do segundo
ano de sua administração até o primeiro ano do mandato de seu sucessor
(SENADO FEDERAL, 2021).
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
Instituída pela CF/88, a LDO é o instrumento norteador da elaboração da
LOA na medida em que dispõe, para cada exercício financeiro sobre:
- As prioridades e metas da Administração Pública Federal;
- A estrutura e organização dos orçamentos;
68
- As diretrizes para elaboração e execução dos orçamentos da União e suas
alterações;
- A dívida pública federal;
- As despesas da União com pessoal e encargos sociais;
- A política de aplicação dos recursos das agências financeiras oficiais de
fomento;
- As alterações na legislação tributária da União; e
- A fiscalização pelo Poder Legislativo sobre as obras e os serviços com
indícios de irregularidades graves (SOF, 2021).
Também fixa limites para os orçamentos do Legislativo, Judiciário e
Ministério Público e dispõe sobre gastos com pessoal e política fiscal, entre
outros temas. Tem que ser enviada pelo Executivo ao Congresso até 15 de
abril e aprovada pelo Legislativo até 30 de junho. Se não for aprovada
nesse período, o Congresso não pode ter recesso em julho (SENADO
FEDERAL, 2021).
Lei Orçamentária Anual (LOA)
É o orçamento anual enviado pelo Executivo ao Congresso que estima a
receita e fixa a despesa do exercício financeiro, ou seja, aponta como o
governo vai arrecadar e gastar os recursos públicos. Contém os orçamentos
fiscal, da seguridade social e de investimento das estatais. O projeto de lei
que trata do orçamento anual deve ser enviado pelo Executivo ao
Congresso até o dia 31 de agosto. Pode ser aprovado até dezembro, mas
essa prática não é obrigatória (SENADO FEDERAL, 2021).
ATENÇÃO
Apesar da análise focar na administração pública federal,
os instrumentos de programação (PPA, LDO e LOA) se aplicam
a todos os entes federativos.
Assim, Estados, Distrito Federal e Municípios devem
respeitar esses mesmos instrumentos, sendo regidos
cumulativamente pela Constituição Federal e por suas
respectivas Constituições Estaduais ou Leis Orgânicas.
69
Finalizando
Neste módulo, você aprendeu que:
• No século XX o estado precisou se reinventar para atender funções mais
complexas da sociedade, o que se denominou inovação;
• O problema público só existe se representa foco de insatisfação de um
grupo considerável de atores sociais;
• A visão estadocêntrica insere o estado exclusivamente como propulsor
das políticas públicas enquanto a posição multicêntrica estende a outros
atores;
• Stakeholders são grupos de interessados em políticas públicas;
• Os grupos de interessados em determinada política pública são
conhecidos como policytakers;
• O MJSP desenvolveu o Programa Nacional de Segurança nas Fronteiras
de Divisas, conhecidopela sigla V.I.G.I.A. (Vigilância, Integração,
Governança, Interoperabilidade e Autonomia), sendo um exemplo de
política pública;
• Um banco de boas práticas é denominado benchmark; um padrão ouro,
uma referência;
• A obra de Hofstadter, denominada The Age of Reform (1955),
apresentou a necessidade de maior intervenção do poder público na
regulação dos mercados;
• Monopólio e Monopsônio são geradores de falhas de mercado;
• Policymakers são os responsáveis por tomar as decisões, elaborar as
políticas públicas e/ou implementar;
• Think Tanks são especialistas que fornecem informações aos
policymakers;
• O Brasil passou por transformações em sua história, com o Estado
Nacional-Desenvolvimentista na década de 30, com o Decreto-Lei n. 200
em 1967 (modelo burocrático) e o Plano Bresser entre 1995 e 1998;
• O New Public Management (nova gestão pública) seguiu os princípios
da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e do presidente norte-
70
americano Ronald Reagan, na tentativa de substituir o modelo
burocrático por um modelo gerencial;
• Não há um padrão pré-formatado para o ciclo de políticas públicas
sendo um dos mais reconhecidos o modelo da Enap: 1) definição da
agenda; 2) formulação de políticas públicas; 3) tomada de decisão; 4)
implementação de políticas públicas; 5) Avaliação de políticas públicas;
• A disputa entre os vários atores para que o seu fato seja reconhecido
como um problema público e passe a pautar o policymaker é chamado
de agenda-setting;
• Após ingressar na agenda ocorre o estudo das possíveis soluções
técnicas passando pela definição de objetivos, metas e indicadores,
sendo o segundo momento do ciclo de políticas públicas, denominado
formulação de políticas públicas;
• O terceiro momento do ciclo de políticas públicas é a tomada de decisão,
sendo os modelos existentes para tomada de decisão conhecidos como
garbage can, incremental e racional;
• Na fase da implementação da política pública é importante reconhecer
as técnicas de planejamento, as diferenças entre os métodos chamadas
top-down (de cima para baixo) e bottom-up (de baixo para cima), a
participação dos atores (burocratas de nível médio e burocratas de nível
de rua);
• Na fase de avaliação das políticas públicas, entre outros, deve ser
verificado a necessidade ou não de revisão, a classificação quanto ao
timing, posição, natureza, critérios, indicadores, padrões, análise quanto
à eficiência, eficácia, efetividade, avaliação de processos e impactos,
instrumentos de avaliação, monitoramento, índices e indicadores;
• Não existe um modelo único e padronizado que represente o desenho
da política pública. As etapas, fases ou momentos da política poderão
variar diante da literatura adotada, muito embora vários dos modelos
existentes apresentem elementos comuns;
• A Agenda está associada à ideia de determinados assuntos que tornam
as questões públicas;
71
• A agenda representa um processo competitivo, com a participação de
diversos atores e grupos de pressão, os quais promovem questões que
os identificam;
• A inovação na agenda do setor público tem se intensificado a partir de:
Wicked problems (problemas contemporâneos abrangentes e de
respostas difíceis), Problemas públicos tradicionais e perenes,
Democracia participativa ou Democracia representativa, Modelos muito
tecnocráticos e fechados de gestão pública e Ambientes de restrição
orçamentária;
• Kingdon (2014) indica a existência da 'agenda governamental', quando
desperta o interesse dos formuladores de políticas públicas, a 'agenda
decisória', quando opção se torna viável a ser adotada pelos tomadores
de decisão, além da 'agenda especializada', de subsistemas
específicos de políticas públicas;
• Sobre as perspectivas de mudanças em políticas públicas, Kingdon
(2014) concebeu o modelo dos múltiplos fluxos em que, para a
definição da agenda, seria necessária a convergência de três processos
(ou três fluxos): os problemas, as soluções e o fluxo político;
• A partir do modelo de Kingdon (2014), Birkland e Deyoung (2013)
indicam que a mudança de políticas ocorre em contextos típicos de:
ocorrência de crises, características especiais que se destacam sobre
problemas gerais; em razão da atenção em geral do público;
• Com o fim de compreender a estabilidade de políticas públicas, e como
as mudanças ocorrem nas agendas, Baumgartner e Jones, em 1993,
conceberam a Teoria do Equilíbrio Pontuado;
• O Equilíbrio Pontuado argumenta que a formulação de políticas
públicas se caracteriza por longos períodos de estabilidade e mudanças
incrementais, caracterizados por períodos breves de grandes mudanças;
• As políticas públicas são influenciadas pelos feedbacks negativos
(medidas conservadoras, que mantêm a estabilidades das políticas), e
os feedbacks positivos (que impulsionam a entrada de temas na agenda,
como: eventos focalizadores, ação dos policy entrepreneurs
[empreendedores de políticas] e mudança de indicadores;
72
• A árvore do problema é uma ferramenta de gestão útil em políticas
públicas, mediante a qual podem ser estabelecidas as relações entre
causa, problema e consequência (SECCHI, 2019);
• A formulação de política é a fase em que se definem o objetivo da
política, as metas almejadas, os indicadores para monitoramento, o
desenho dos programas a serem desenvolvidos para implementação;
• Estatísticas são convertidas em informações relevantes para resolução
dos problemas e análise das preferências dos atores envolvidos na
demanda (apontando as viabilidades técnica, legal, financeira e política);
• O gestor público deve possuir um rol de soluções aptas a competir no
debate público, quando um problema surgir na agenda;
• Para avaliar a consistência e coerência interna do desenho, poderá ser
utilizado modelo teórico Teoria da Mudança, que facilita a identificação
de erros ou falhas na aplicação de insumos, processo ou produtos para
o alcance de resultados e impactos almejados; e
• Como ferramenta qualitativa, o modelo lógico organiza de forma racional
a sequência insumo, atividades, produtos, resultados e impactos,
colaborando na avaliação constante de um desenho, por meio de
indicadores de eficiência, eficácia e efetividade.
73
Módulo 2 – Ciclo das Políticas Públicas (Tomada de Decisão, Implementação e
Avaliação)
Apresentação do módulo
Concluída a primeira etapa de nosso curso, em que resgatamos elementos
conceituais da política pública, discutimos como os problemas entram na agenda
dos governos e como são formuladas as políticas, nosso próximo passo é
reconhecer as etapas da tomada de decisão, implementação e avaliação da política.
Nesse módulo 2 iremos discutir como políticas públicas de fato são
promovidas, e como avaliar os resultados e impactos gerados, nas etapas definidas
como:
• Tomada de decisão;
• Implementação de Políticas Públicas; e
• Avaliação de Políticas Públicas.
Objetivos do módulo
Este módulo tem por objetivos:
• Compreender os mecanismos de avaliação de resultado e de impactos em
políticas públicas;
• Reconhecer o processo de tomada de decisão política; e
• Identificar os mecanismos e lacunas no processo de implementação da
política.
Estrutura do módulo
Este módulo compreende as seguintes aulas:
Aula 1 – Ciclo das Políticas Públicas (Tomada de decisão).
Aula 2 – Ciclo das Políticas Públicas (Implementação).
Aula 3 – Ciclo das Políticas Públicas (Avaliação).
74
Aula 1 - Ciclo das Políticas Públicas (Tomada de Decisão)
“We choose to go to the Moon”, John F. Kennedy (1962)
"Nós escolhemos ir para a Lua", John F. Kennedy (1962)
Essa é uma famosa frase presente em um discurso realizado pelo presidente
estadunidense em 12 de setembro de 1962, diante de uma grande multidão no
Estádio Rice, em Houston no Texas.
Após compreender a forma pela qualos temas públicos passam a ocupar a
atenção da comunidade, entrando assim na agenda dos governos, e de que maneira
as opções de políticas públicas serão efetivamente formuladas pelos técnicos, o
momento seguinte do ciclo é a tomada de decisão. Ela envolve um diminuto grupo
de indivíduos ou grupos oficialmente autorizados e legitimados (em Estados
democráticos), que decidem escolher determinado curso de ação, dentre inúmeras
opções, inclusive manter a situação vigente.
Wu et al. (2014, p. 23 e 95) é, portanto, a fase mais política, envolvendo
agentes seniores nomeados e eleitos, sendo necessário aos gestores um julgamento
político perspicaz e análise sólida de evidências.
Enfrentar a necessidade de fazer escolhas, alocando recursos cada vez mais
escassos em demandas mais numerosas e diversas é tarefa comum ao gestor
público que exerce funções de direção e chefia, dependendo do tipo de organização
em que trabalha. Até a não ação da administração pública (entendida como
manutenção do status quo) demonstra, de certo modo, uma escolha, que repercute
nas políticas públicas.
Os autores Howlwtt, Ramesh e Perl (2013, p. 157) ressaltam que é o
momento “em que uma ou mais, ou nenhuma, das opções que foram debatidas e
examinadas durante os dois estágios anteriores do ciclo político é aprovada como
curso oficial de ação”.
Ademais, para Wu et al. (2014, p. 23) são esses responsáveis por
departamentos ou divisões que desenvolvem e planejam as soluções, assessoram e
recomendam decisões (possuem voz nas deliberações). Já os agentes seniores
dividem a responsabilidade na tomada de escolha com os líderes políticos a que
estão vinculados. Nesta dimensão os burocratas de rua podem auxiliar no
75
fornecimento de expectativas e impressões sobre a viabilidade fática da política
pública, critério que auxilia sobremaneira na tomada de decisão.
De acordo com Rua (2014, p. 17) a tomada de decisão, embora altamente
política, difere da mera decisão política “que corresponde a uma escolha dentre
um conjunto de possíveis alternativas, conforme a hierarquia da preferência dos
atores envolvidos”; ou seja, uma adequação entre os fins pretendidos e os meios
disponíveis.
Segundo Nutt (1993) no processo decisório estratégico do gestor, as ideias
emergem de diferentes fontes, a exemplo de crenças, visão de mundo, nível e
origem educacional, opiniões de pessoas chaves e propostas do staff, sendo que a
forma como é conduzida pode afetar o sucesso do projeto ou programa.
Os autores Wu et al. (2014, p. 77) afirmam que o contexto em que se opera
também interfere na tomada de decisão. Arranjos institucionais (legislações,
organizações, procedimentos operacionais, costumes) impactam diretamente sobre
o processo decisório. São elementos que conferem estrutura, continuidade e
elementos de previsibilidade às escolhas e seleções.
SAIBA MAIS!
Partindo das ideias apresentadas pelos autores March e Olsen (2008, p. 127),
podemos considerar as instituições como verdadeiros atores políticos em si,
influenciando a tomada de decisões, já que afetam os desempenhos das
organizações, moldando as expectativas, os comportamentos e as interações de
todos os atores no processo decisório.
As instituições são tidas como “as regras do jogo em uma sociedade ou (...)
as restrições criadas pelos homens que dão forma à interação humana” (NORTH,
1990, p. 3; PESSALI e DALTO, 2010, p. 13); estruturas com estabilidade e um grau
de inércia que permitem mudanças, mas graduais e paulatinas (VEBLEN, 1919;
PESSALI e DALTO, 2010, p. 20).
Os autores March e Olsen (2008, p. 128) entendem que a ocupação de
determinado cargo dentro de uma organização, por exemplo, provê direitos de
participação e altera a distribuição de poder e de acesso, bem como as alternativas
dos líderes são definidas pelas estruturas já existentes. “Os resultados do processo
76
político modificam as reputações de poder, as quais, por sua vez, modificam os
resultados políticos”.
Para Pessali e Dalto (2010, p.12), as instituições, portanto, acabam por
moldar as escolhas políticas podendo ser engrenagens vitais para impulsão do
desenvolvimento, ou para o obsoletismo.
Dentro da sua organização e no seu campo de atuação, reflita sobre
oportunidades de mudança. Essa mudança traria desenvolvimento e melhoria dos
serviços públicos prestados?
Os autores Wu et al. (2014, p. 78), afirmam que soluções preconcebidas e
limitações nas pesquisas podem levar a maus resultados, sendo, portanto, a tomada
de decisão uma das fases mais importantes da política pública, já que por
vezes, “criam vencedores ou perdedores”, e por isso é importante que seja mais
técnica do que política.
Para a tomada de decisão relevante, o gestor deve considerar o tripé abaixo,
apresentado por Wu; Ramesh; Howlett; Fritzen (2014, p. 25-26):
Político
É importante durante o processo identificar os principais atores na mesa de
discussão, compreender suas ideologias e interesses, bem como a relação entre
eles e a compreensão da necessidade de acordos políticos para a construção de um
determinado curso de ação.
Técnico
Deve-se pensar analítica e sistematicamente sobre as causas e
consequências das necessidades políticas. A escolha de metodologias sólidas
auxilia no processo.
Organizacional
A ciência sobre a disponibilidade de recursos humanos, financeiros, sociais e
materiais é fundamental para a resposta aos desafios apresentados. Conhecer o
organograma, os fluxogramas administrativos e as linhas possíveis de mudanças
77
também revelam inteligência situacional que facilitam estar na arena de discussão
para o desenvolvimento de políticas.
Conforme Rua (2014), deste modo, mais do que uma escolha isolada e
solitária, requer-se diversas ações estrategicamente selecionadas para implementar
as decisões tomadas. O autor Souza (2006, p. 26) aponta que a tomada de decisão
pode ser resumida como o campo do conhecimento que busca “colocar o governo
em ação”, analisando concomitantemente a decisão tomada e podendo propor
mudanças durante seu curso.
De acordo com Rua (2014), em problemas pouco conflituosos, nos quais o
consenso é possível, o núcleo da política geralmente fica abrangente, reunindo
decisões sobre diversos aspectos. Quando, ao contrário, são diversos os pontos
conflitivos, e as questões são demasiadamente complexas e requerem grande
profundidade de conhecimento, a decisão tende a cobrir um pequeno número de
aspectos, já que muitos deles têm a decisão adiada para a fase de implementação
se é que ela venha a ocorrer.
1.1 Modelos de tomada de decisão
O gestor público pode aplicar alguns modelos de tomada de decisão, cada um
adequado a determinada situação fática. Destacam-se os modelos, como o
racional, o incremental e o garbage can.
1.1.1 O Modelo Racional
Para Wu et al. (2014), neste modelo hipotético o tomador de decisão conhece
as consequências de cada opção com antecedência, escolhendo a alternativa que
maximiza o alcance do objetivo da política pública. É necessário, portanto, uma
quantidade e qualidade de informações sobre os impactos da decisão, inferindo
disponibilidade de tempo para a tomada segura da decisão.
Rua (2014) afirma que cada alternativa é analisada de forma abrangente e
detalhada, verificando-se custos e benefícios e as consequências.
Conforme Wu et al. (2014) apontam que daí emergem as críticas ao modelo,
já que o tempo para a tomada de decisão geralmente é curto, as consequências de
78
diversas ações são desconhecidas, e a decisão pública é tomada por mais de um
indivíduo, e cada um possui seus interesses.
1.1.2 O Modelo Incremental
Segundo com Rua (2014) a tentativa de solucionar determinado problema
ocorre de forma gradual, evolutiva, sem a introdução de modificações substanciais
nas situações postas, não provocando rupturas,portanto, de forma não
revolucionária, conservadora.
Entende-se o processo decisório como restrito em tempo e informação, no
qual “conflitos, negociações e compromisso entre os tomadores de decisão com
interesses próprios” são a regra. A lógica não é a maximização do alcance dos
objetivos, mas a realização do politicamente possível, buscando satisfazer os
interesses dos diversos participantes (processo de negociação), nem sempre o
tecnicamente desejável. O resultado é, portanto, uma mudança “marginal” ou
“incremental” do status quo (WU; RAMESH; HOWLETT; FRITZEN, 2014, p. 81).
Secchi (2014, p. 53) aponta que três características são essenciais ao
modelo: (1) os problemas e as soluções são definidas, revisadas e redefinidas em
vários momentos da tomada de decisão; (2) as decisões atuais são consideradas
dependentes das decisões passadas e os limites impostos pelas instituições são
barreiras à tomada de decisão; (3) as decisões são dependentes dos interesses dos
atores envolvidos no processo de elaboração da política pública e, por isso, muitas
vezes a solução não é a melhor opção, mas sim aquela que foi possível em um
processo de construção de consensos de ajuste mútuo de interesses.
Segundo Rua (2014, p. 85-86), a melhor decisão é “aquela que oferece
menos dificuldade e assegura o melhor acordo entre o interesse dos envolvidos”.
Resta evidente para este modelo que as decisões envolvem relações de poder,
sendo que uma decisão perfeita tecnicamente pode ser politicamente inviável. É um
modelo que pode ser usado estrategicamente em políticas conflitivas ou que
implicam em falta de conhecimentos técnicos.
Secchi (2014, p. 54) ressalta que em situações complexas o elemento político
acaba falando mais alto que o elemento técnico.
79
1.2 O Modelo Garbage Can (lata de lixo)
Opera aqui o princípio da satisfação, em que as decisões refletem meramente
os desejos temporários de quem domina, mesmo que de forma transitória, o
processo de tomada de decisão. O grupo decisor avalia uma pequena gama de
opções de alternativas tidas como aceitáveis para resolução de um determinado
problema e escolhe, deixando de lado outras escolhas (até então desconhecidas)
que podem ter resultados potencialmente melhores. Só se buscam alternativas
quando as que estão em curso não produzem resultados satisfatórios, conforme as
ideias dos autores Wu; Ramesh; Howlett; Fritzen (2014, p. 82-83).
Para Souza (2006, p. 30-31) o modelo foi desenvolvido por Cohen, March e
Olsen (1972) e infere que as escolhas do tomador de decisão “são feitas como se as
alternativas estivessem em uma ‘lata de lixo’ (...) existem vários problemas e poucas
soluções” e a compreensão é limitada. Opera-se em um sistema de tentativa e erro.
Segundo Capella (2004), consideram-se as organizações como “anarquias
organizadas”, destacando-se três características: (1) rotatividade alta dos membros
envolvidos no processo decisório e engajamento variável; (2) difícil conciliação entre
as preferências, que nem sempre são definidas previamente, e; (3) nem todos os
processos organizacionais são conhecidos e claros a todos, sendo que a preferência
pela tentativa e erro é mais usual do que o planejamento estratégico.
O processo decisório neste modelo é produzido por quatro fluxos: problemas,
soluções, potenciais participantes e oportunidades de escolha.
Pontos de atenção na tomada de decisão
Conforme Wu et al. (2014, p. 87-89), o tomador de decisão deve, além dos
objetivos imediatos da política, definir critérios de decisão explícitos e específicos
que ajudem a esclarecer esses objetivos, propondo normas práticas, mensuráveis,
sustentáveis e interligadas com políticas de diferentes setores. Os mais comuns são
a “eficiência, eficácia, equidade, viabilidade, e aceitabilidade política, bem como,
cada vez mais frequente, sustentabilidade.
Importante o decisor partir de um exercício mental, compilando informações
sobre:
● Condições atuais (ou status quo);
● Tendências atuais e esperadas;
● Efeitos das políticas públicas que já estão sendo implementadas; e
80
● Efeitos de outras políticas ou programas previstos.
Esta reflexão inicial auxilia na concepção das políticas públicas e
implementação, bem como fixa um marco para avaliação posterior.
Reflexão
Os autores Pessali e Dalto, 2010, p. 20-22), ressaltam
que o desenvolvimento decorre de mudanças institucionais, é
um processo de ruptura com padrões postos. Ao desenvolver a
capacidade de resolver determinado problema, a instituição
gera um padrão distributivo de quem arca com os custos e
quem dela se beneficia, e novas demandas de redistribuição
implicam na possibilidade de revisão coletiva dos modelos,
dando início a renegociações, inércia, resistência e oposição. O
processo de mudança é, nesse sentido, um processo de
“corrosão criadora”.
Os custos de uma mudança institucional envolve três
frentes: (1) mobilidade e persuasão coletiva (de grupos de
pressão, como lobbies políticos, associações, usuários; de
grupos legítimos para condução da mudança, como poder
legislativo, líderes de grupos sociais, conselhos; de indivíduos
influentes em certas esferas sociais de interesse); (2) gastos
com a negociação (reuniões, concessões, permutas, pareceres
e batalhas jurídicas); (3) custos com a confecção de
alternativas à forma institucional vigente e com eventuais
consequências da tomada de decisão.
Os profissionais do Susp devem estudar os problemas
da área de segurança pública e as soluções possíveis de forma
abrangente e detalhada, verificando-se custos-benefícios e as
consequências de aplicação de determinadas políticas. Porém,
devem estar cientes da plausibilidade política de cada opção
em determinado contexto.
81
O conhecimento das disponibilidades de recursos
humanos, orçamentários, materiais e os limites da área de
competência de atuação de cada órgão são imprescindíveis.
Aula 2 - Ciclo das políticas públicas (implementação)
A implementação pode ser explicada como o momento em que as decisões
se traduzem em ações efetivas. Considerada umas das etapas mais críticas, pois
neste momento as fragilidades são expostas ao público externo e o gestor é
submetido ao escrutínio público, razão pela qual conhecer as nuances dessa fase é
essencial.
Na concepção de Lotta et al. (2019) apesar de ser um estágio de extrema
importância do ciclo de políticas públicas, a maioria dos escritos relacionados não
encontram escopo acadêmico, sendo tratados apenas de forma metafórica como um
sinônimo de execução, ou seja, não desenvolvem uma teoria, não estipulam um
formato. Neste momento irá se verificar uma forte atuação dos burocratas e dos
instrumentos estatais.
Adotando as palavras de Brasil (2018, p. 2):
"A implementação eficiente das políticas e dos programas, focada em garantir
o máximo retorno possível à sociedade, deve ser objetivo permanente do gestor
público. A própria Constituição Federal elenca a eficiência como um dos princípios a
serem seguidos pela administração pública em sua atuação."
Um conceito retirado da obra de Wu et al. (2014) é de que a implementação
de políticas públicas é um processo, contudo esse rito é "dinâmico e não linear" pois
irá depender de elementos que são extraídos das fases anteriores. Somando a isto,
a implementação também é "política" criando vencedores e perdedores, reafirmando
o fato de que é um estágio em que se corre "riscos". Há uma disputa entre os vários
órgãos, divisões, departamentos públicos e entidades privadas na busca de espaço
e principalmente de recursos públicos gerando tensão entre eles.
82
Com uma percepção mais prática CGU (2015) entende que a implementação
de políticas públicas consiste nos esforços de execução da ação governamental,
incluída a alocação de recursos e o desenvolvimento dos processosprevistos para
isso.
2.1 - História e Modelos
Lotta et al. (2019), ressaltam que historicamente, os estudos sobre
implementação passaram por quatro momentos diferentes, durante suas 4 décadas
de pesquisas. No início da década de 70, diversas pesquisas, especialmente as
norte-americanas se ocupavam em entender as razões pelas quais, as políticas
públicas após serem colocadas em execução, desviavam dos resultados
inicialmente estabelecidos pelos políticos eleitos. Inspirados nos ideais weberianos
defendiam que, por questões democráticas, apenas as decisões proferidas pelos
agentes políticos eleitos seriam válidas e, desta forma, a participação de atores
burocráticos não deveria alterá-las. Ou seja, medidas que modificassem os
objetivos, atividades, tarefas desenhadas por aqueles (agentes escolhidos por meio
do voto), seriam entendidas como subversão e atentatória contra a própria
democracia.
Esta forma de encarar a implementação de políticas públicas passou a ser
denominada top-down (olhar de cima para baixo), que basicamente seria corrigir os
rumos e identificar os gaps. A apreciação neste modelo está inteiramente voltada a
apreciar a legitimidade da decisão. A linha acadêmica entende que as falhas na
implementação da política decorrem devido a elaboração de objetivos muito
genéricos, abstratos ou porque há muitos atores envolvidos na implementação,
razão pela qual, a solução seria definir objetivos muitos bem delineados, claros e
exercer forte controle sobre os responsáveis pela execução, portanto, uma visão
totalmente prescritiva e normativa.
No campo da segurança pública não é diferente. A construção de metas,
objetivos genéricos e a tentativa de implantar enunciados vazios, de pouca clareza
prática é uma grave deficiência. A qualificação do assunto realizada por Silva (2003,
p. 275 e 276) explica esse quadro no palco da segurança pública:
Diferentemente do que ocorre no setor privado, contudo, não é comum no
serviço público que os objetivos e metas sejam estabelecidos e
especificados com clareza, o que talvez explique o fato de também não se
83
dar a atenção devida a uma das mais importantes funções gerenciais: a
avaliação.
Faz sentido: como verificar se os objetivos e metas estão sendo atingidos se
não sabemos quais sejam eles de forma especificada? no caso da
segurança pública, esse problema é sobremaneira agravado, pois se trata
de um bem difuso, de difícil mensuração em termos objetivos, mas que
interessa a todos, independentemente de classe social, idade, local de
moradia, grau de instrução etc. Em face dessa indeterminação, é difícil que,
no estabelecimento dos objetivos, os formuladores das políticas consigam ir
além de enunciados genéricos, os quais, apesar de óbvios, nada dizem:
"reduzir/controlar a criminalidade e a violência"; "proporcionar segurança e
tranquilidade à população"; "infundir uma sensação de segurança"; "manter
a criminalidade e a violência em níveis aceitáveis".
O desafio que se coloca então aos planejadores públicos é transformar
essas obviedades em enunciados específicos, fixando, na medida do
possível, metas pontuais, para o que seria necessário responder a
perguntas tais como as seguintes: reduzir de quanto para quanto? Reduzir o
que: os homicídios, os sequestros, os assaltos, os roubos de automóveis, os
roubos em ônibus? Reduzir a criminalidade de rua ou o crime organizado?
Reduzir em todos os lugares? Proporcionar segurança e tranquilidade onde
e quando: na rua, no bar, na estrada, à noite, de dia, de madrugada?
Infundir sensação de segurança em quem: nos pertencentes às classes
mais altas e/ou às classes mais baixas? Onde e em que concentrar mais
esforços e recursos? É possível alcançar os objetivos gerais e as metas
pontuais com os recursos orçamentários alocados? Os recursos disponíveis
estão sendo aplicados racionalmente, sem desperdício? Aqui não caberiam
respostas evasivas nem bravatas, do tipo: "Reduzir tudo!" "Proporcionar
segurança a todos, em todo lugar, a qualquer hora"; ou "O importante não é
a quantidade, mas a qualidade". Na realidade, com respostas deste tipo, tão
ao gosto das autoridades da segurança pública, volta-se à estaca zero e a
indefinição permanece, devendo-se sublinhar que este estado de coisas só
é possível em razão de um conhecido vezo da administração pública
brasileira: o descompromisso com resultados e custos (SILVA, 2003, p. 275-
276).
Lotta et al. (2019) afirmam que com ideia diversa do top-down, uma segunda
linha de pensadores entre a década de 70 e 80, estabeleceu que a implementação
não se trata de erros, falhas e sim que a política pública é algo complexo, dinâmico e
formado por uma multiplicidade de processos dos quais se exigem decisões
constantes. A ideia básica é de que não é possível controlar tudo, é impossível
prever todas as consequências. Em síntese, para esta literatura, a análise deve ser
realizada de baixo para cima ou bottom-up. A partir da implementação da política
pública deve se identificar o que acontece, como se comporta, perceber os
resultados, e a partir da realidade vivenciada na prática, como ela é, as decisões vão
sendo tomadas, as adaptações, ajustes, aperfeiçoamento dos processos são
implementados por intermédio de uma série de decisões.
84
Segundo Najberg (2006) uma das pesquisas que revolucionou foi o estudo
envolvendo o caso de Pressman e Wildavsky (1984) quando foi implementado um
programa de criação de empregos na cidade norte-americana de Oakland, estado da
Califórnia. Segundo a autora, em 1966 a Economic Development Administration,
(órgão público federal), disponibilizou subsídios no importe de 23 milhões de dólares
a diversas empresas de Oakland com a expectativa de criar 3.000 empregos.
Todavia, passados três anos desde o início do programa, só haviam sido gastos
quatro milhões de dólares, associado ao surgimento de tão somente 68 novos
empregos.
A investigação conduzida por Pressman e Wildavsky, segundo Najberg
(2006), foi importante para revelar que apesar da decisão ser realizada no nível
central, durante a execução do programa diversas dificuldades foram identificadas
no nível local, uma contraposição às linhas de pesquisa anteriores (top-down) as
quais destacavam que a implementação se limitava ao cumprimento da política, com
o entendimento de que a ordem da autoridade seria automaticamente cumprida.
Secchi (2013, p. 56) sintetiza a obra informando que a implementação de
políticas públicas não pode ser reduzida a dificuldades de ordem técnica ou barreiras
burocráticas, e sim, uma complexidade, um emaranhado de elementos políticos que
levam ao fracasso, mesmo para o mais bem intencionado dos gestores. Para o
autor, "são muitos os exemplos brasileiros de leis que não pegam, programas que
não vingam ou projetos de solução de problemas públicos que acabam sendo
totalmente desvirtuados no momento da implementação".
Para demonstrar um exemplo, o autor relembra o caso da Medida Provisória
lançada em 2008 que tinha por objetivo reduzir o número de acidentes nas estradas.
A regra proibia o comércio de bebidas alcoólicas ao longo das rodovias federais.
Apesar da notória boa intenção da norma, ela provocou descontentamento nos
comerciantes que ingressaram com uma ação no Supremo Tribunal Federal, além
disso, os policiais rodoviários federais reclamavam da dificuldade em manter
controle sobre as rodovias, e os políticos que passaram a se posicionaram contra a
medida e a favor dos comerciantes. Na tentativa de corrigir os rumos, a Medida
Provisória transformou em lei, porém, vedava a venda de bebidas alcoólicas tão
somente em rodovias federais localizadas em áreas rurais. A norma não vingou,
nunca foi respeitada, e os municípios aprovaram leis locais ampliando as áreas
urbanas para atender os comerciantes.
85
Na dimensão bottom-up o foco central não está na formalidade, na restrita
legitimidade,no mero cumprimento das decisões adotadas pelos políticos, ou ainda,
em normatizar todas as ações. Os adeptos desta linha enxergam e estudam os
atores envolvidos na implementação, se dedicam a entender as ações dos atores
não eleitos os quais, na década de 80, passaram a ser chamados street-level
bureaucrats – burocratas de nível de rua.
Segundo a obra clássica denominada The policy process, de Michael Hill a
implementação no processo de política pública ocorre a partir destas duas
abordagens típicas: de cima para baixo (top-down) e de baixo para cima
(bottom-up).
Ingressando na década de 90, novos modelos surgem como alternativas ao
binômio top-down e bottom-up, com abordagens que apontam ambiguidade de
objetivos, dificuldades de coordenação intergovernamental, limitação de recursos e
informação escassa. A etapa também é encarada como um jogo em que há
disputas, negociações e barganhas por recursos, ou ainda, vista como uma política
que evolui (se adapta) durante sua implementação. Com outras percepções, a
implementação está ligada a uma visão estratégica adicionando pontos críticos (por
exemplo se é viável politicamente e/ou problemas de coordenação). Segundo
Najberg (2006) nestas novas abordagens, a implementação não é compreendida
como uma etapa subsequente a formulação de maneira "linear" e "racional"
concluindo a autora:
Pelo contrário, nesta nova perspectiva, a implementação é entendida como
um processo autônomo, onde decisões são tomadas e não só executadas.
Conflitos interinstitucionais, brechas e ambiguidades legais, omissão de
normas operacionais, entre outros fatores, permitem que os
implementadores tomem decisões relevantes para o sucesso da política.
Ao incorporar a tomada de decisões, a implementação torna-se fonte de
informações para a formulação de políticas. Neste sentido, a implementação
pode ser considerada como um processo de aprendizagem que fornece,
inclusive, subsídios para avaliação da gestão pública.
(...)
Subrats (1994) reforça esta ideia ao reconhecer que o conceito de rede é o
mais apropriado para captar toda a riqueza dos atores, seus intercâmbios,
pressões e negociações. A concepção da implementação como processo
que envolve políticos, burocratas e grupos de interesse de maneira
estanque é por demais reducionista. MAYNTZ (1978) refere-se às redes de
atores sociais por policy-network ou policy- community e afirma que a
estrutura destas redes e as interações entre seus atores influenciam a
natureza da política aplicada e a efetividade de sua implementação.
86
As vantagens derivadas da utilização do conceito de policy-network não se
limitam a uma maior inclusão e tratamento da extensa variedade de
relações existentes em todo o processo de elaboração e de implementação
de políticas públicas. A concepção de rede também comporta uma visão
mais aberta do centro decisório, não o encarando como um todo
homogêneo ou como uma relação exclusivamente top-down, mas admitindo
que os atores locais podem influenciar as políticas nacionais. Outra
vantagem da concepção da policy-network é a consideração das relações
intergovernamentais, tanto aquelas que se dão num mesmo nível territorial,
como as que se desenvolvem entre o nível nacional e os níveis regional e
local (NAJBERG, 2006, p.42).
2.2 - Modelos para a segurança pública
No âmbito da segurança pública os conceitos de implementação de cima para
baixo (top-down) ou de baixo para cima (bottom-up), encarados isoladamente,
podem conduzir ao fracasso. Segundo entendimento de Sampaio (2018, p. 69), a
participação popular é essencial na implementação de políticas públicas voltadas
para a segurança pública. Assim, o modelo de participação exige que os cidadãos e
lideranças comunitárias efetivamente identifiquem se os programas são ou não
efetivos, quais são mais adequados ou dependem de adaptação. A participação se
efetiva por intermédio da possibilidade de apresentar queixas, críticas, proposições,
abertura de conferências, conselhos, orçamentos participativos, dentre outros
instrumentos de democratização ou de "governança democrática".
Assiste razão ao pesquisador, na medida em que se o destinatário da
segurança pública é o cidadão, cabe a ele participar do processo, informando aos
demais atores ou rede de atores se os resultados da implementação de determinada
política pública está ou não surtindo o efeito esperado, e de que forma pode ser
aperfeiçoada. Análise que deve ser realizada de forma regionalizada, pois é na
cidade, no bairro, na vila, na rua em que se vivencia na prática se a política pública
atinge ou não o cidadão.
Para o autor um dos órgãos de participação popular por excelência no âmbito
da segurança pública são os Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEGs), já
que:
As cidades são organizadas em áreas naturais, por meio de processos
contínuos de competição, invasão e sucessão, revelando-se heterogêneas
em termos de tamanho, população e densidade demográfica. Nas cidades,
o principal núcleo urbano é o bairro, que talvez seja o maior centro de
confluência de interesses de uma comunidade.
87
(...)
Nesse contexto, é a partir dessa relação entre cidade e bairro que se
exterioriza a necessidade de reunir pessoas mediante conselhos, comitês
ou associações, para discutir e analisar problemas comuns como os de
segurança, propondo soluções, desenvolvendo programas e campanhas,
estreitando, assim, laços de cooperação (SAMPAIO, 2018, p. 74 e 75).
2.3 - Elementos, Fatores e Pressupostos
Secchi (2013) trata sobre o que ele denomina "elementos básicos" para
análise de políticas públicas, listando-os:
1) Pessoas e organizações com interesses e competências difusas; e
2) Relações entre pessoas, instituições, dinheiro, materiais e políticos
(capacidade de influência).
Para o autor, a apreciação da implementação pode ocorrer de duas formas:
Tabela 4: Formas de apreciação da implementação
Fonte: Secchi (2013).
Najberg (2006) ao estudar fatores que de alguma forma afetam a
implementação de políticas públicas dividiu em relação a natureza do problema,
88
influência na implementação e o que favorece o processo, bem como realizou uma
análise sistemática dos estudos de Van Meter e Van Horn, 1975; Hogwood e Gunn,
1984; Pressman e Wildavsky, 1984; Meny e Thoenig, 1992 e Howlett e Ramesh,
1995, cujo resumo é verificado no quadro abaixo:
89
Tabela 5: Fatores que afetam a implementação das PPs
Fonte: Sistematizado pelos autores com base em Najberg (2006).
Os estudos mais clássicos e/ou mais modernos quanto à implementação de
políticas públicas, apresentam divergências entre si. Todavia, alguns pontos
90
deixaram de ser discutidos pelas linhas de pesquisa, por serem compreendidos por
todos como superados ou entendidos como pacíficos.
Lotta et al. (2019) reuniram esses pontos de convergência e passaram a
denominar "pressupostos'', ou seja: aqueles elementos que são fundamentais na
implementação de uma política pública segundo a doutrina quase unânime sobre a
matéria. Dessa forma foram organizados 5 (cinco) pressupostos pelos autores, os
quais são apresentados abaixo:
I. Formulação e implementação não são fases distintas: segundo os
autores, as duas etapas são sequências de processos decisórios, realizados
em fluxos contínuos, por atores diversos em camadas igualmente diferentes,
podendo ou não existir subordinação entre eles. Destarte, não se trata de
uma simples divisão entre quem decide (formula) e quem executa
(implementa) e sim quem decide com quem sobre o quê. E quais decisões
são passíveis de serem questionadas, alteradas e “redecididas”;
II. Processos decisórios são complexos: sob diferentes nuances podem
ocorrer, em geral, sob dois formatos:
Sistema multi-layering (múltiplas camadas), a exemplo das decisões
realizadas pelas unidades federativasem que não há uma relação de
subordinação entre elas, existindo autonomia, razão pela qual decisões neste
formato envolvem negociações para serem executadas em conjunto.
Um segundo sistema é o multi-level (múltiplos níveis), este é composto
por múltiplas camadas, existindo relação de subordinação, quando então cabe
a supervisão, fiscalização, controle do superior hierárquico para com o
subordinado;
III. Processo de implementação é altamente interativo: os modelos de
decisão em uma mesma política pública pode ser multi-layeringe multi-level,
envolver atores internos, externos, formais, informais, públicos, privados,
todos eles com diferentes objetivos e valores, razão pela qual estudar essa
interação entre eles é fundamental;
IV. Multiplicidade de fatores interferindo e influenciando na
implementação: a influência decorre desde o modelo de estado, até
91
questões envolvendo cultura, valores sociais, crenças etc., o que significa
dizer que as normas e regras são importantes, contudo, não devem ser
consideradas de forma isoladas ou suficientes; e
V. Entender a "política como ela é": não se trata de enxergar a política
pública como está disposta no papel, ou como foi concebida em suas regras,
e sim, a partir de um olhar pragmático, não condenatório, porém analítico,
capaz de verificar a atuação dos burocratas, analisar práticas, interações,
comportamentos, e, como eles geram diferentes resultados.
2.4 - Benchmarking
A concepção mais moderna de que a implementação é um processo
dinâmico, cercado por decisões complexas, com aprendizagem contínua,
comparação, envolvendo uma rede de atores com intensa interação (incluindo a
participação popular), está intimamente vinculada à ideia de benchmarking.
Ao decidir pela implementação de determinada política pública o
representante eleito (legítimo representante do povo), pode optar por dois
caminhos:
➢ Ou implementa algo totalmente inovador, sem precedentes; e
➢ Ou importa/adapta ações, projetos, protocolos de sucesso implantados em
outras regiões.
O risco de constituir algo totalmente novo são os problemas que surgem
durante a implantação, exigindo uma atuação mais forte, maior número de decisões
e adaptações ao longo da etapa de implantação. Por outro lado, caso a política
pública seja um sucesso, os dividendos serão inúmeros. Por outra vertente, se a
decisão for importar algo já existente, haverá maior segurança, estabilidade, sendo
possível aprender com os erros e acertos de algo que já foi incorporado por outros,
utilizando essa experiência de terceiros como fator de redução de riscos da sua
política pública. Além disto, não estará vinculado em simplesmente copiar uma
determinada prática, sendo possível misturar várias delas, captando o que há de
melhor.
92
Para Madeira (1999, p. 364 e 365) existem quatro tipos de benchmarking:
▪ Benchmarking Interno;
▪ Competitivo;
▪ funcional ou operacional ou genérico; e
▪ Estratégico.
Benchmarking interno:
Método de comparar internamente, entre unidades operacionais e funcionais,
as práticas dentro da mesma organização. Parte do princípio de que na própria
Instituição, existem unidades ou divisões mais eficientes que outras, o que justifica o
esforço de aprendizagem. Uma forma de aplicar esse método para a realidade da
segurança pública, é verificar dentro das divisões da Polícia Civil àquela que alcança
maiores índices de resolução de crimes ou ainda, dentre as Companhias de um
Batalhão da Polícia Militar qual apresenta menores incidências criminais e, a partir
disto identificar quais práticas conduziram a melhores resultados.
Benchmarking competitivo
Comparação de produtos, serviços e processos de trabalho com os
concorrentes diretos. Participam vários órgãos do mesmo ramo que permite
identificar a eficiência com o que existe no mercado. Não obstante, o conceito estar
voltado para o ambiente empresarial, é possível a adaptação para realidade dos
órgãos públicos.
No sistema de segurança pública não há "concorrentes" no sentido de
adversários, pois as instituições caminham em prol de um objetivo único que é o
bem comum. Desta feita, a Polícia Penal de um determinado estado, por exemplo,
pode buscar as experiências bem-sucedidas quanto a índices de reiteração criminal
dos egressos de outro estado. É possível ir além, pois o Corpo de Bombeiro Militar
pode, ilustrativamente, buscar ações de prevenção e preparação para desastres que
fazem sucesso em outros países, estados ou municípios.
Em uma boa demonstração de benchmarking, identifica-se o caso da
Universidade Federal do Ceará (UFC), a qual desenvolveu e aplicou ferramentas
tecnológicas de Big Data e Inteligência Artificial visando combate ao crime
93
organizado naquele estado. A iniciativa deu certo, apresentando bons resultados
como a redução de furtos e roubos de veículos, aumento na recuperação de
automóveis, além da redução de crimes violentos letais e intencionais. Aproveitando
dessa experiência de sucesso, o MJSP em parceria com a UFC passou a implantar
o Sinesp Big Data, uma plataforma que busca a integração de dados entre todos os
estados, de forma a ajudar no desenvolvimento de políticas públicas no combate ao
crime. A ideia é que agentes de segurança pública possam acessar informações,
fichas criminais de suspeitos, acompanhar ocorrências, dentre outros dados
relevantes. O Sinesp Big Data está assim estruturado:
Sinesp Big Data
Base dos sistemas da Sinesp, com tecnologias e soluções para execução em
larga escala;
Big Data - Geo inteligência
Georreferenciamento das ocorrências em relação ao tempo e o espaço em
que registrada. Será possível, por exemplo, visualizar rotas de policiamento e
mapas de calor com os locais onde mais acontecem crimes e em quais horários;
Big Data - Tempo real
Monitoramento inteligente para rápida intervenção, acompanhamento de
ocorrências criminais, detecção por sensores, câmeras de segurança, viaturas e
agentes e pessoas com restrição de liberdade que fazem uso de tornozeleiras
eletrônicas; e
Big Data - Busca
Permitirá a busca de informações em boletins de ocorrência de outros estados
e municípios, além de pesquisas sobre dados de pessoas, objetos e documentos.
Seu Estado já está integrado ao Sinesp Big Data?
94
Verifique em sua unidade da federação e discuta com
seus colegas, quais são as vantagens e funcionalidades
práticas de acessar as ferramentas tecnológicas do MJSP?
Benchmarking funcional ou operacional ou genérico
Identificar as melhores práticas de qualquer tipo de organização, que tenham
reputação de excelência profissional na função sujeita ao benchmarking.
A grande sacada do benchmarking genérico é estender a busca para todo e
qualquer órgão, ainda que não seja do ramo da segurança pública. Para ilustrar, um
órgão de perícia na busca de melhorar seus critérios técnicos não precisa,
necessariamente, se restringir a órgãos públicos, sendo viável identificar em
empresas privadas de alto padrão, equipamentos, tecnologias, softwares, que sejam
plenamente utilizados e aplicados para qualificação de seus laudos periciais.
Benchmarking estratégico
É uma espécie de Benchmarking competitivo cujo principal objetivo é
estabelecer uma mudança organizacional ou determinada ação estratégica.
No Brasil, algumas iniciativas buscaram reunir essas propostas, projetos e
programas. São bancos de boas práticas em que os gestores têm acesso ao que
estados e municípios estão implementando em suas regiões, uma oportunidade de
trocar experiências. O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) nos traz um
exemplo de criação de banco de boas práticas:
95
Figura 19: Banco de Boas Práticas – Ministério do Desenvolvimento Regional
Fonte: MDR (2021).
O Banco de Boas Práticas em Ações de Proteção e Defesa Civil foi lançadopelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) inicialmente com uma lista
contendo 78 iniciativas, práticas consideradas de sucesso promovidas na área da
defesa civil em todo o País.
Para organizar o Banco de Dados (as técnicas identificadas como as
melhores para realização de uma tarefa) tais práticas foram organizadas e divididas
em 8 grandes grupos, a dizer: 1) Capacitação; 2) Gestão Sistêmica; 3) Mapeamento
de Áreas de Risco; 4) Núcleos Comunitários; 5) Defesa Civil na Escola; 6)
Monitoramento e Alerta; 7) Iniciativas para as Comunidades e 8) Planos de
Contingência. O banco foi regulamentado pela Portaria n. 182 de 1º de fevereiro de
2021.
96
Figura 20: Técnicas identificadas como as melhores para realização de uma tarefa
Fonte: MDR (2021).
SAIBA MAIS!
Se você atua no campo da Defesa Civil, conhece, estuda ou simplesmente
tem curiosidade, clique aqui para conhecer as práticas que estão sendo
desenvolvidas na área em nosso país.
Na área da Segurança Pública, um banco de boas práticas igualmente foi
criado pelo MJSP, envolvendo projetos de vários estados do Brasil, para acessar
clique aqui.
https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/protecao-e-defesa-civil/boas-praticas
https://dspace.mj.gov.br/handle/1/3617
97
Por último e não menos importante, existem os Guias. Ao contrário do banco
de boas práticas em que há uma exposição de vários projetos, propostas e
processos implementados, no Guia há uma linha única. São medidas, protocolos,
procedimentos pré-estabelecidos e considerados de sucesso uma vez implantados.
Normalmente tratam de algum assunto específico, e oferecem aos interessados
modelos e formatos pré-concebidos. Para ilustrar, cita-se o Guia de boas práticas e
orientações para a implementação de medidas de combate a pirataria pelos
provedores de Serviços de Pagamentos (PSP).
Figura 21: Guia de Boas práticas no combate à pirataria
Fonte: MJSP (2021).
O MJSP (2021) explica que o Guia além de servir aos PSP também é útil para
integrantes do poder público, titulares de direitos e associações, de forma a enfrentar
práticas ilegais, coibindo ou prevenindo o recebimento de valores originários do
comércio de serviços, bens e dispositivos que violam a propriedade intelectual. Os
interessados, após acessar o Guia, podem realizar a adesão formal e entrar em
contato com o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos de Propriedade
Intelectual (CNCP).
98
SABER MAIS!
Para entender como funciona um Guia clique aqui para acessar o Guia de
boas práticas e orientações para a implementação de medidas de combate à
pirataria pelos provedores de Serviços de Pagamentos.
Aula 3 - Ciclo das políticas públicas (avaliação)
Estudo desenvolvido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),
juntamente com o Banco Mundial, Gertler et al. (2018, p. 3), indica que "programas e
políticas de desenvolvimento, geralmente, são elaborados para alterar resultados
como, por exemplo, aumentar a renda, melhorar o aprendizado ou reduzir doenças."
Na pesquisa, os autores apontam que a questão crucial em avaliação consiste em
responder se as mudanças planejadas foram realmente alcançadas ou não.
Para Gertler et al. (2018), os gestores de programas habitualmente se
concentram na medição de insumos e produtos imediatos de um programa - como
os gastos totais ou o número de pessoas atingidas pela política - não avaliando
assim "se os programas atingiram os objetivos pretendidos [...]". No mesmo sentido,
Howlett, Ramesh e Perl apontam que a avaliação de políticas (2020, s/p., tradução
nossa) "se refere ao estágio do processo em que se determina como uma política de
fato está funcionando na prática." Assim, a avaliação envolve os meios que são
empregados e os objetivos que são atendidos.
Knill e Tosun (2012) indicam que a avaliação trata essencialmente de gerar
informações, cujos propósitos de uso podem ser distintos, como melhorar a
qualidade das políticas públicas, ou mesmo apoiar opiniões de propositores, críticos
ou, ainda, responder a pressões políticas.
A avaliação possibilita que o problema identificado e as suas soluções
possam ser repensadas, sendo "[...] possível ou mesmo desejável que um novo ciclo
https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/mjsp-lanca-guia-de-boas-praticas-e-orientacoes-para-combate-a-pirataria-nos-meios-de-pagamento/GuiaMeiosdePagamentoatualizado04nov.pdf
99
de políticas seja iniciado se o veredicto geral for que a política pública avaliada não
atende aos seus objetivos" (KNILL; TOSUN, 2012, p. 175, tradução nossa).
3.1 - Tipos de avaliação de políticas públicas
A literatura atual Ipea (2018); Secchi (2013); Secchi (2020) expõe diversas
abordagens quanto à avaliação em políticas públicas, as quais serão apresentadas
em quatro tipos principais:
● Análise ex-ante: também denominada de Policy appraisal (TURNPENNY;
ADELLE; JORDAN, 2013; BRASIL, 2018). Trata-se de uma avaliação
vinculada ao momento da formulação ou desenho da política, servindo como
fundamento para a elaboração de modelos lógicos, em que são identificadas
as alternativas para a sua formação, e que se projetam os possíveis
resultados;
● Análise ex-post: destinada à avaliação do alcance dos propósitos de uma
política. Como abordaremos a seguir, também é chamada de avaliação de
impacto (BRASIL, 2018b; GERTLER et al., 2018). Em nosso estudo,
faremos a distinção da avaliação de impacto à avaliação de resultado;
● A avaliação in itinere, que trata do monitoramento, destinando-se à
avaliação na fase de implementação; e
● Avaliação de resultados: chamados de "outcomes", diz respeito às
mudanças de curto prazo havidas em razão da intervenção da política. Essa
avaliação observa os indicadores quantitativos, de metodologias
quantitativas exploratórias, ou do levantamento quanto à percepção da
política, na visão dos usuários.
O monitoramento e a avaliação favorecem a investigação sobre a formulação
de políticas, com base em evidências. No estudo conduzido por Gertler et al. (2018,
p. 4), avaliação e monitoramento podem ser usados “para verificar e melhorar a
qualidade, eficácia e efetividade das políticas e dos programas nas várias etapas da
implementação – ou, em outras palavras, para focar em resultados”.
Gertler et al. (2018) ressaltam que as políticas geralmente são desenvolvidas
para promover mudanças efetivas, com a produção de resultados, que gerem
impacto na vida das pessoas, a exemplo de melhorias de aprendizagem
100
educacional, diminuição de desemprego e aumento de renda, ou, no caso da
segurança pública, redução de diversos índices criminais.
Desta feita, em sintonia com estudo do Ipea e da Casa Civil da Presidência da
República, Brasil (2018), podem ser identificados dois tipos de avaliação: de
resultado (outcomes) e de impacto (impacts), que serão tratados nas próximas
seções.
O doutrinador Brasil (2021) relata que, a avaliação e o monitoramento dos
resultados são tratados na obra “Dez Passos para a Boa Governança”, do Tribunal
de Contas da União. No ponto, o TCU, o monitoramento dos resultados busca
garantir a execução da estratégia, mediante “[...] o alcance de metas, para tratar as
situações de não alcance de metas e para relatar às partes interessadas os
resultados alcançados”.
Ambrozewicz (2015, p. 165, grifo nosso) aponta que a nova gestão pública
tem grande parte de suas ações voltadas à gestão por resultados. Nesse sentido,
autor expõe que “a formulação da política pública deve se caracterizar na tradução
dos objetivos em resultados”.
Porém, para que esses resultados ocorram, há a necessidade de uma série
de medidas que envolvem supervisão, padronização, além do desenvolvimento de
competências, que hoje são largamente impulsionadas pelas Learning
Organization [Organizações de Aprendizagem].Chiavenato (2020) descreve que as chamadas Organizações de
Aprendizagem são aquelas que investem em capital intelectual, cujo ativo, de
natureza intangível, se mostra uma forma de desenvolver potencialidades,
garantindo o desempenho.
Desse modo, o capital intelectual se baseia no conhecimento que, para
Chiavenato (2020, p. 341), representa:
“[...] informação estruturada que tem valor para uma organização. O
conhecimento conduz a novas formas de trabalho e de comunicação, a novas
estruturas e tecnologias e a novas formas de interação humana.”
Chiavenato (2020, p. 341) frisa que as organizações que incentivam pessoas
para que aprendam e “apliquem seus conhecimentos na solução dos problemas” são
focadas na gestão do conhecimento, que representa “um processo integrado
destinado a criar, organizar, disseminar, intensificar e aplicar o conhecimento para
melhorar o desempenho global da organização.”
101
Assim, a gestão do conhecimento busca identificar e ampliar as
competências de indivíduos, a partir da combinação de conhecimentos,
habilidades e atitudes, ou como a literatura denomina – método CHA, que para
Oliveira (2017, p. 146), se traduz em:
Conhecimentos – informações que o indivíduo tem sobre a sua área de
atuação. São o conjunto de saberes da pessoa, sua bagagem teórico-cognitiva, sua
formação.
Habilidades – técnica, capacidade de atuação do indivíduo. São a aplicação
prática dos seus conhecimentos como, negociação, planejamento, práticas de
trabalho.
Atitudes – a proatividade, determinação do indivíduo na execução de suas
atribuições. São os valores da pessoa, seus princípios, seu comportamento.
Oliveira (2017, p. 146, grifo nosso), portanto, sintetiza esse “conjunto de
conhecimentos, habilidades e atitudes que determinam o desempenho de um
indivíduo em sua área de atuação.”
Toledo et al. (2013, p. 351) ratificam a linha de Oliveira (2017), no sentido de
que o termo "desempenho varia conforme a perspectiva pelo qual é observado. Para
os autores, rendimento quer dizer “durabilidade, ou retorno sobre investimento, em
relação a certas metas”.
Assim, compreendido o papel das Learning Organization [Organizações de
Aprendizagem] como fomentadoras do capital intelectual, que se traduz em
competências voltadas ao desempenho de indivíduos, é fundamental a
compreensão de objetivos, indicadores e metas, que representam os marcos para a
aferição ou avaliação desse desempenho.
3.2 Objetivos, Indicadores e Metas
Chiavenato (2020) destaca que organizações são entidades, compostas de
pessoas, e que em trabalho conjunto e de forma estruturada buscam atingir
objetivos definidos.
102
Segundo Oliveira (2020), tais objetivos representam um alvo a ser atingido, de
acordo com a natureza do negócio desenvolvido e com a ambiência que cerca a
organização. Chiavenato (2020, p. 128) sintetiza o objetivo como “um estado futuro
desejado que se pretende tornar realidade.”
Já a meta representa um objetivo específico, com quantidade determinada e
prazo definido, associada a resultados ou entregas de um projeto. Perceba que, se
não houver metas claras, não há como monitorar e avaliar programas e o impacto de
programas e projetos.
Por sua vez, para Jackson De Toni (2016, p. 373), indicador é uma “variável
ou relação entre variáveis (índice é um valor de um indicador) que funciona como
uma métrica para avaliar o desempenho de um processo, produto ou resultado”.
No Estado do Paraná, o Plano Plurianual 2020 – 2023, aprovado pela Lei n.
20.077, de 18 de dezembro de 2019, tem como seus objetivos específicos
(PARANÁ, 2019, p. 220-221) os seguintes:
• Inovar e aprimorar os procedimentos de segurança que permitam uma atuação
mais efetiva quanto à prevenção e repressão de ilícitos;
• Aprimorar a integração entre as organizações da Secretaria de Segurança
Pública com órgãos federais, estaduais, municipais e com outras agências e
segmentos com afinidades com a segurança pública;
• Integrar sistemas de inteligência para a produção do conhecimento a fim de
melhorar a consciência situacional na condução das operações de segurança
pública;
• Manter os programas de assistência aos egressos do sistema penitenciário,
garantido, ainda, ações de alternativas penais, visando a redução do
encarceramento;
• Adotar ações sistêmicas para a implantação da cultura de gestão estratégica
objetivando eficácia, eficiência e efetividade das funções de polícia investigativa
e polícia judiciária; e
• Aumentar a confiança da população, investindo na qualidade dos serviços
prestados, fortalecendo a imagem institucional.
103
A partir dos objetivos específicos do PPA 2020 – 2023, as planilhas abaixo
definem indicadores (crimes violentos intencionais; furtos e roubos de veículos;
ocorrências envolvendo tráfico de drogas) e metas (índices de referência-2018 e
previsão-2023) da segurança pública para o planejamento governamental do Estado
do Paraná:
Figura 22: Indicadores e metas (objetivos específicos do PPA 2020 – 2023)
104
Fonte: (PARANÁ, 2019, p. 220-221).
SABIA MAIS!
Que a Lei Federal n. 13.675/2018, a qual instituiu o Sistema Único de
Segurança Pública (Susp) e criou a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa
Social (PNSPDS), definiu parâmetros para a aferição anual de metas?
Segundo o artigo 12 da lei os parâmetros a serem observados pelos
órgãos do sistema de segurança pública são:
I - As atividades de polícia judiciária e de apuração das infrações penais serão
aferidas, entre outros fatores, pelos índices de elucidação dos delitos, a partir dos
registros de ocorrências policiais, especialmente os de crimes dolosos com resultado
em morte e de roubo, pela identificação, prisão dos autores e cumprimento de
mandados de prisão de condenados a crimes com penas de reclusão, e pela
recuperação do produto de crime em determinada circunscrição;
II - As atividades periciais serão aferidas mediante critérios técnicos emitidos
pelo órgão responsável pela coordenação das perícias oficiais, considerando os
laudos periciais e o resultado na produção qualificada das provas relevantes à
instrução criminal;
III - As atividades de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública
serão aferidas, entre outros fatores, pela maior ou menor incidência de infrações
penais e administrativas em determinada área, seguindo os parâmetros do Sinesp;
IV – As atividades dos corpos de bombeiros militares serão aferidas, entre
outros fatores, pelas ações de prevenção, preparação para emergências e
desastres, índices de tempo de resposta aos desastres e de recuperação de locais
atingidos, considerando-se áreas determinadas;
105
V - A eficiência do sistema prisional será aferida com base nos seguintes
fatores, entre outros:
a) O número de vagas ofertadas no sistema;
b) A relação existente entre o número de presos e a quantidade de vagas
ofertadas;
c) O índice de reiteração criminal dos egressos;
d) A quantidade de presos condenados atendidos de acordo com os
parâmetros estabelecidos pelos incisos do caput deste artigo, com observância de
critérios objetivos e transparentes.
Além disso, a norma define que para a aferição das metas devem ser
considerados aspectos relativos à estrutura de trabalho físico, equipamentos, bem
como de efetivo.
Por fim, a lei determina que para aferição das metas das atividades de
atividades de polícia judiciária e de apuração das infrações penais deverá distinguir
as autorias definidas em razão de prisão em flagrante das autorias resultantes de
diligências investigatórias.
Para discutir com seus colegas: o ente federativo em que você trabalha já
definiu as metas anuais? Quais são elas? Foram alcançadas?
3.3 Avaliação de impacto das ações de policiamento com base nas
ferramentas de qualidade
3.3.1 Avaliaçãode resultado
Segundo Brasil (2018) o Ipea e a Casa Civil da Presidência da República, a
avaliação de resultado (outcome) significam mudanças de curto prazo,
decorrentes da intervenção da política, a partir da observação de indicadores
106
quantitativos, de metodologias quantitativas exploratórias, ou do levantamento
quanto à percepção da política, na visão dos usuários.
Conforme Brasil (2018), o Ipea e a Casa Civil da Presidência da República
estabelecem um guia para avaliação, partindo da identificação dos resultados
esperados; em seguida, o mesmo documento planeja a avaliação desses resultados
a partir de perguntas a serem respondidas. Por fim, define o método para a coleta de
dados, aplicando-se então essa metodologia à avaliação, encerrando-se então o
percurso com as recomendações, cujo foco é direcionado à melhoria.
A partir desse referencial teórico, e seguindo um exemplo de nossa seção
anterior, um dos indicadores do “Programa Segurança com Integração, Inovação
e Inteligência”, do PPA 2020 – 2023, é a quantidade anual de Furtos e Roubos de
Veículos. Nesse contexto, o PPA estipula a referência inicial de 25.421 unidades, no
ano de 2018, com meta de redução para 23.448 unidades (para o ano de 2023),
sendo que os índices obtidos durante o desenrolar de programas e projetos
representam os resultados das políticas implementadas.
Outra ilustração sobre o impacto da política segundo Brasil (2018) é
apresentada pelo Ipea e Casa Civil da Presidência da República, em estudo sobre
campanha publicitária para conscientização da segurança no trânsito. A partir de
política pública baseada em campanha voltada à mudança de comportamento
dos motoristas, a pesquisa destaca que os resultados poderão ser a diminuição
de acidentes e a diminuição de velocidade média, reforçando assim, em termos
quantitativos, o que se chama de resultado da política.
3.3.2 Avaliação de impacto
De acordo com Brasil (2018, p.241), o Ipea e a Casa Civil da Presidência da
República os impactos [impacts] representam as “mudanças de mais longo prazo
promovidas sobre o aspecto ou a perspectiva futura de seus beneficiários ou grupo
que se inserem”. Desse modo, os impactos são os “resultados dos resultados”.
A análise de impactos representa uma tendência global, que passa da mera
análise de insumos, direcionando-se para a observação de resultados. Essa
tendência tem provocado significativas mudanças em gestão e governança pública,
calcada na ideia de formulação de políticas públicas baseadas em evidências.
107
Enquanto a avaliação de resultados observa perspectivas quantitativas, a
avaliação de impacto estima os efeitos causais da política. Será pela avaliação
de impacto que se verificará se a política está produzindo os resultados e as
mudanças econômicas e sociais esperadas.
Portanto, segundo Brasil (2018), o Ipea e a Casa Civil da Presidência da
República, a avaliação de impacto se alinha ao ciclo da política pública, garantindo
solidez e perenidade da política em diferentes conjunturas econômicas e políticas.
A avaliação de impacto vai responder a algumas perguntas, dentre as quais:
● Existiram, entre os destinatários das políticas, grupos mais afetados em
comparação a outros segmentos sociais?
● Os insumos e componentes da política são correspondentes para se atingir o
impacto esperado?
● Qual é o efeito esperado da política no decorrer do tempo?
Cabe destacar que diversos são os desafios para se estabelecer uma
adequada avaliação de impacto, a exemplo da insuficiência ou inadequação de
dados. Por essa razão, se possível, a avaliação de impacto deve ser realizada antes
da implementação da política, a exemplo de um programa piloto, em que se segue a
lógica de uma análise ex ante (durante a formulação da política, vislumbrando-se
potenciais resultados e impactos).
Entretanto, nem sempre é possível essa fase preparatória, havendo apenas a
avaliação ex post, quando então serão apurados os efeitos políticos, econômicos e
sociais que política gerou, e se essa ação estatal tem condições de produzir efeitos
de longo prazo.
3.3.3 Políticas Públicas para Segurança Pública
Para o professor Silva (2003), ao tratar da elaboração e execução das
políticas de segurança pública, alerta quanto a necessidade de não ser influenciado
por ideologias, bem como para não se limitar apenas ao aspecto reativo,
especialmente contaminados por emoções, paixões e “ondas de violência”.
108
Com esta linha de raciocínio, Silva (2003, p. 103-105), apresenta
pressupostos fundamentais para políticas públicas racionais:
a) O crime e a violência são fenômenos sócio-políticos, presentes em qualquer
sociedade, e não uma patologia a ser extirpada a qualquer custo. O seu
enfrentamento há de ser feito em conjunto pelo poder público e pela sociedade
civil;
b) Mantidos imutáveis os elementos que condicionam a criminalidade nos grandes
centros brasileiros, como a concentração de renda, o desemprego, a
discriminação etc., esta tenderá sempre a aumentar, por mais eficientes que
sejam os esforços do sistema de justiça e segurança;
c) É perfeitamente possível conciliar o respeito aos direitos humanos com os
rigores da repressão penal. Ignorá-los é cooptar a violência. Tentar aplicá-los
seletivamente é instituir a discriminação policial-penal;
d) O aumento do grau de democracia aumenta a consciência política da população
e diminui a sua ignorância, fazendo crescer a indignação popular contra o uso
indiscriminado da força por parte da polícia, e debilitando com isto a autoridade
do poder público;
e) Quanto menores as camadas altas e médias da sociedade; e quanto maiores os
contingentes pobres, tanto maior a tendencia a se recorrer ao emprego da força
da polícia para manter a desigualdade;
f) O sistema de justiça e segurança trabalha para o atingimento dos fins
estabelecidos a priori pelas políticas públicas. Não estando claros os fins, cai-se
no círculo vicioso da repressão pela repressão, da pena pela pena, sem
qualquer efeito prático;
g) Os desacertos no trato da questão da segurança pública têm sido fruto de
indiferença e/ou incompetência, e não o resultado de planos competentes de
alguém que deseje a continuidade da insegurança ou que vise a atender
interesses insondáveis; e
h) O sistema de justiça e segurança brasileiro consagra a injustiça criminal e a
desigualdade, o que implica dizer que quanto mais eficiente for – mantidos os
mesmos valores e ideologia – maior será o aprofundamento dessa injustiça e,
consequentemente, do descontrole.
109
Conclui o autor que a prevenção e repressão da criminalidade é do interesse
da coletividade, contudo, de que o enfrentamento não depende apenas da polícia,
exercendo a sociedade um papel importante nas políticas de prevenção. O conceito
de prevenção, aumenta o papel do Estado no processo, sendo ele um coordenador
dos esforços de toda sociedade. Assim, independente da repressão policial-penal é
necessário que haja atuação para evitar que os jovens sejam atraídos pelo crime;
que o número de criminosos aumente, sendo necessários descobrir as melhores
ferramentas de enfrentamento da criminalidade, utilizando o exemplo de outros
locais, entender como políticas eficientes já foram aplicadas; avaliar como as
populações se comportam diante da insegurança.
110
Finalizando
Neste módulo, você aprendeu que:
● A tomada de decisão é a fase mais política do ciclo, envolvendo agentes
seniores nomeados e eleitos, sendo importante um julgamento político
perspicaz e análise sólida de evidências;
● No processo decisório o gestor deve ter ciência que suas crenças, visão
de mundo, nível e origem educacional, interagem com o contexto vigente
(legislações, organizações, procedimentos operacionais, costumes);
● Para a tomada de decisão o gestor público pode aplicar algunsmodelos
de tomada de decisão, cada um adequado a determinada situação
fática. Destacam-se alguns principais modelos, como o racional, o
incremental e o garbage can;
● No modelo racional o tomador de decisão conhece as consequências de
cada opção com antecedência, escolhendo a opção que maximiza o
alcance do objetivo da política pública;
● Para o modelo incremental, entende-se o processo decisório como
restrito em tempo e informação; conflitos, negociações e compromisso
entre os tomadores de decisão são a regra;
● No modelo garbage can, opera-se um sistema de tentativa e erro;
● A implementação pode ser explicada como o momento em que as
decisões se traduzem em ações efetivas. Considerada umas das etapas
mais críticas, pois neste momento as fragilidades são expostas ao
público externo e o gestor é submetido ao escrutínio público;
● A CGU (2015) entende que a implementação de políticas públicas
consiste nos esforços de execução da ação governamental, incluída a
alocação de recursos e o desenvolvimento dos processos previstos para
isso;
● Historicamente, os estudos sobre implementação passaram por 4
momentos diferentes, durante suas 4 décadas de pesquisas;
● A implementação de políticas públicas denominada top-down (olhar de
cima para baixo), basicamente visa corrigir os rumos e identificar os
gaps, o modelo está inteiramente voltada a apreciar a legitimidade da
decisão;
111
● A implementação realizada de baixo para cima ou bottom-up, prescreve
que deve se identificar o que acontece, como se comporta, perceber os
resultados, e a partir da realidade vivenciada na prática, as decisões vão
sendo tomadas, as adaptações, e o aperfeiçoamento dos processos são
implementados por intermédio de uma série de decisões;
● Um estudo revolucionário na implementação de políticas públicas foi
capitaneado por Pressman e Wildavsky (1984) os quais realizaram
estudos quanto ao fracasso na implementação de um programa de
criação de empregos na cidade norte-americana de Oakland, estado da
Califórnia;
● Secchi (2013) sintetiza a obra informando que a implementação de
políticas públicas não pode ser reduzida a dificuldades de ordem técnica
ou barreiras burocráticas;
● Na década de 90, novos modelos surgem como alternativas ao binômio
top-down e bottom-up, com abordagens que apontam ambiguidade de
objetivos, dificuldades de coordenação intergovernamental, limitação de
recursos e informação escassa;
● Estudamos que a participação popular é essencial na implementação de
políticas públicas voltadas para a segurança pública;
● A apreciação da implementação pode ocorrer de duas formas: 1)
implementation research: pesquisa sobre implementação a qual se
ocupa de analisar o processo em si, sua forma, seus contornos, sua
descrição e 2) evaluation research: pesquisa avaliativa a qual busca
compreender os erros e os acertos, ou seja, a praticidade;
● Denominamos os pontos de convergência nos estudos de
implementação como "pressupostos'';
● Os cinco pressupostos da implementação segundo Lotta et al. (2019)
são: 1) Formulação e implementação não são fases distintas; 2)
Processos decisórios são complexos; 3) Processo de implementação é
altamente interativo; 4) Multiplicidade de fatores interferindo e
influenciando na implementação e 5) Entender a "política como ela é";
● Identificamos a existência quatro tipos de benchmarking, sendo eles: 1)
Benchmarking interno; 2) Benchmarking competitivo; 3) Benchmarking
funcional ou operacional ou genérico; e 4) Benchmarking estratégico;
112
● A literatura apresenta quatro tipos principais de avaliação de políticas
públicas: 1) Análise ex-ante: também chamada de Policy appraisal; 2)
Análise ex-post: também chamada de avaliação de impacto; 3)
Avaliação in itinere; e 4) Avaliação de resultados;
● Brasil (2018) em sintonia com estudo do Ipea e da Casa Civil da
Presidência da República, podem ser identificados dois tipos de
avaliação: de resultado (outcomes) e de impacto (impacts);
● A nova gestão pública tem grande parte de suas ações voltadas à
gestão por resultados;
● As chamadas Organizações de Aprendizagem são aquelas que
investem em capital intelectual, cujo ativo, de natureza intangível, se
mostra uma forma de desenvolver potencialidades, garantindo o
desempenho;
● A gestão do conhecimento busca identificar e ampliar as competências
de indivíduos, a partir da combinação de conhecimentos, habilidades e
atitudes – método CHA;
● Chiavenato (2020, p. 128) sintetiza o objetivo como “um estado futuro
desejado que se pretende tornar realidade”;
● Meta representa um objetivo específico, com quantidade determinada e
prazo definido, associada a resultados ou entregas de um projeto;
● Para Jackson De Toni (2016, p. 373), indicador é uma “variável ou
relação entre variáveis (índice é um valor de um indicador) que funciona
como uma métrica para avaliar o desempenho de um processo, produto
ou resultado”;
● A Lei Federal n. 13.675/2018, instituiu o Sistema Único de Segurança
Pública (Susp) e criou a Política Nacional de Segurança Pública e
Defesa Social (PNSPDS), definindo parâmetros para a aferição anual de
metas;
● De acordo com Brasil (2018), o Ipea e a Casa Civil da Presidência da
República estabeleceram um guia para avaliação das políticas públicas;
● Segundo Brasil (2018, p. 241) o Ipea e a Casa Civil da Presidência da
República os impactos [impacts] representam as “mudanças de mais
longo prazo promovidas sobre o aspecto ou a perspectiva futura de seus
beneficiários ou grupo que se inserem”.
113
REFERÊNCIAS
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Breve Estudo sobre a Experiência Internacional Recente. Brasília: Enap, 1997.
(Cadernos ENAP; n. 10)
AMBROZEWICZ, P. H. L. Gestão da Qualidade na Administração pública. Editora
Atlas, 2015.
BAUMGARTNER, F. R.; JONES, B. D. Agendas and Instability in American Politics.
2. ed. Chicago: University of Chicago Press, 2009.
BOBROW, Davis B. Policy Design: Ubiquitous, Necessary and Difficult. In: Handbook
of Public Policy. B. Guy Peters; Jon Pierre (ed.). London: Sage Publications, 2006.
BRASIL, F. G.; CAPELLA, A. C. N. Os estudos das políticas públicas no Brasil:
passado, presente e caminhos futuros da pesquisa sobre análise de políticas.
Revista Política Hoje, v. 25, n. 1, p. 71-90, 2016.
__________. Avaliação de Políticas Públicas: Guia Prático de Análise Ex Post,
volume 2/ Casa Civil da Presidência da República [et al.]. Brasília: Casa Civil da
Presidência da República, 2018.v. 2 (301 p.).
__________. Casa Civil da Presidência da República, Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada. Avaliação de políticas públicas: guia prático de análise ex ante.
v. 1. Brasília: Ipea, 2018a.
___________. Casa Civil da Presidência da República. Avaliação de políticas
públicas: guia prático de análise ex post. Brasília: Casa Civil da Presidência da
República, 2018. v. 2.
___________. Ministério da Economia. Secretaria de Orçamento Federal - SOF.
Manual Técnico de Orçamento - MTO 2022. Brasília: Secretaria de Orçamento
Federal - SOF, 2021. Disponível em:
https://www1.siop.planejamento.gov.br/mto/lib/exe/fetch.php/mto2022:mto2022-
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119
Nota de Fim
i No monopólio, um indivíduo ou uma corporação detém de forma exclusiva e
sem concorrência o acesso e a produção a determinado produto ou serviço; já o
monopsônio é uma estrutura de mercado em que existe apenas um comprador de
uma mercadoria (em geral, matéria-prima ou produto primário), sendo os preços
definidos pelo comprador de matéria-prima (SANDRONI, 2016, p. 2261). São
distorções do mercado que prejudicam as inovações e podem causar relações
humanas de severa dependência (a exemplo da escravidão).
ii São "situações de assédio moral, coação psicológica e violência emocional,
uma severa forma de estresse psicológico resultante de comunicações hostis ou
atos dirigidos de forma sistemática a um indivíduo com dificuldade de se defender"
(LUZ, 2014, p. 73).
iii https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56657419.
iv https://veja.abril.com.br/brasil/tiroteio-deixa-feridos-em-escola-estadual-de-
suzano/
v A retroalimentação ou feedback é uma ferramenta informativa de um
processo que potencializa intervenções em situações em que o parâmetro normal é
alterado, geralmente utilizado como insumo para ajustes no processo (UEMG, 2012).
vi https://www.nobelprize.org/prizes/economic-sciences/1969/tinbergen/facts/.
vii A palavra vem do latim e significa “antes dos fatos”. A terminologia é
utilizada em estudos envolvendo políticas públicas, quando o gestor visa determinar
impactos futuros e detectar erros, adotando a alternativa que seja mais efetiva,
eficaz e eficiente.