Prévia do material em texto
SISTEMAS DE PRODUÇÃO Jesmael Grams Manufatura enxuta (lean manufacturing) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir a origem e conceito da manufatura enxuta. � Reconhecer os princípios para implementação de uma metodologia enxuta. � Descrever o sistema enxuto (lean system), o método 5S e o poka-yoke (à prova de erros). Introdução Ao longo dos anos, o método de produção industrial passou por várias transformações. O avanço da tecnologia, o aprimoramento de pessoas, os fluxos produtivos e outros tantos fatores colaboraram para o progresso como um todo. Processos, pessoas e metodologias fizeram com que pro- dutos de boa qualidade pudessem ser comprados por um menor preço. A indústria aprendeu a se reinventar com base na necessidade e desa- fios em situações adversas, como guerras, crises financeiras e momentos em que a própria concorrência forçava a sua evolução natural. Uma das principais metodologias que provocaram essa evolução industrial foi a manufatura enxuta (em inglês: lean manufacturing), que teve suas raízes no sistema Toyota de produção. Neste capítulo, você vai estudar as origens e o conceito da manufatura enxuta. Além disso, analisará os princípios para implementação de uma metodologia enxuta e aprenderá sobre o sistema enxuto (lean system), o método 5S e a metodologia poka-yoke (à prova de erros). Origem e conceito da manufatura enxuta De acordo com Andrade (2006), o Sistema Toyota de Produção (STP) foi criado pela montadora japonesa Toyota em meados de 1940 por Taiichi Ohno e Eiji Toyoda. Como o STP revolucionou a produção industrial no mundo todo, os anos se passaram e a metodologia Toyota passou por atualizações e incrementos. Manteve, porém, sua essência e princípios iniciais. Estas trans- formações resultaram em novas vertentes e nomenclaturas, originando assim, a metodologia enxuta. A expressão manufatura enxuta (lean manufacturing) foi elaborada após uma pesquisa empresarial para denominar aqueles trabalhadores que desem- penhavam suas atividades com o objetivo máximo de “fazer sempre mais com menos”. O precursor dessa pesquisa foi o Massachusetts Institute of Technology (MIT), tendo como resultado em 1992 o livro A máquina que mudou o mundo, de Womack e Jones, cuja distribuição disseminou o pensamento enxuto ao redor do mundo (WOMACK; JONES; ROOS, 1996). A manufatura enxuta também trabalha, assim como o Sistema Toyota de Produção, com o objetivo maior de eliminação de perdas e redução de custos. Na época da criação do STP, a Toyota passava por um período pós-guerra marcado por muitas dificuldades, fazendo com que seu foco estivesse na redução dos custos e otimização dos estoques, evitando perdas. Sabendo que as perdas eram de certa forma inevitáveis, a Toyota propôs mapear os desperdícios, estabelecendo categorias que ficaram conhecidas como “as sete grandes perdas”. De acordo com Shingo (1996), são elas: a) superprodução; b) espera; c) transporte; d) processamento; e) movimentação; f) produtos defeituosos; g) desperdícios de estoques. Definida essa abordagem, a Toyota começou a desenvolver ferramentas para combater o desperdício. Com o passar do tempo, a montadora desenvolveu uma série de conceitos, essas ferramentas foram agrupadas no pensamento Toyota, que foi crucial para o pensamento enxuto. Manufatura enxuta (lean manufacturing)2 O conceito de manufatura enxuta se relaciona diretamente com o Sistema Toyota de Produção adicionando algumas premissas à sua filosofia. Seu con- ceito abrange todas as ações para entregar o máximo de valor ao cliente com a menor quantidade de recursos, valorizando também as pessoas ligadas ao processo produtivo. Dessa forma, a metodologia enxuta, além de ter o objetivo de “fazer mais com menos”, desafia as pessoas envolvidas no trabalho para que se tornem profissionais melhores. Figura 1. Pensamento lean: uma única lâmpada ilumina mais que cinco lâmpadas. Fonte: Planet Lean (c2018). Os cinco princípios da metodologia enxuta A metodologia enxuta conta com uma série de princípios e ferramentas de aplicação. Para Womack e Jones (2003), a aplicação desses princípios resul- tará no ciclo chamado “estado enxuto”. O estado enxuto é originado pela otimização do processo e pela eliminação de perdas. Em suma, os produtos serão desenvolvidos com o mínimo de custos, material, e esforço humano. Vejamos abaixo cada um desses princípios detalhadamente de acordo com Machado (2006). 3Manufatura enxuta (lean manufacturing) O princípio do valor Conhecer as especificações, necessidades e desejos do cliente é primordial. O princípio do valor trabalha na premissa que, se você fabricou um produto que não atende a expectativa do cliente, isso é contabilizado como desperdício. Trabalhar o valor do produto para saciar a necessidade e os desejos do seu cliente é fundamental para a sua marca, para a satisfação do cliente e a sua fidelização. De forma resumida, o objetivo é de ouvir o cliente e produzir um produto que o satisfaça. O princípio do fluxo de valor É o conjunto de atividades para a elaboração de um produto, independente qual for. O princípio do fluxo de valor trabalha de forma sistemática com solução de problemas, gerenciamento de informação e transformação da matéria prima em produto final. O objetivo desse princípio é o mapeamento total de todo fluxo produtivo, descobrindo atividades no meio do processo que geram ou não valor. O princípio do fluxo Após mapear o fluxo de valor e eliminar as atividades que de fato não agregam, a próxima etapa é a de potencializar o rendimento das atividades que criam valor. Essa etapa é desafiadora, pois exige mudanças de pensamento. O ponto chave desse princípio é a inovação nas funções dos trabalhadores, criando maior valor em seus produtos pelo fluxo. Pelo fluxo, a empresa inteira pode remodelar sua forma de trabalho. O objetivo dessa etapa é de criar um fluxo contínuo para que os clientes recebam seus produtos de forma instantânea, com valor agregado e sem desperdícios na linha de produção, gerando economia à empresa. Manufatura enxuta (lean manufacturing)4 O princípio do sistema puxado O pensamento enxuto não só mede valores e necessidades dos clientes, mas também como e quando o produto chega ao cliente. Esse princípio notoriamente se relaciona ao sistema puxado do STP, que se resume em o cliente puxar o produto da empresa quando for necessário. Como os princípios trabalham de forma conjunta, é necessário que o princípio do fluxo seja realizado para que o sistema puxado tenha êxito. Vale ressaltar que o kanban (cartão) e o JIT (Just-In-Time) são importantes nesse fluxo. O princípio da perfeição O último princípio é a busca pela perfeição. Baseia-se na metodologia da melhoria contínua (kaizen) e melhoria radical (kaikaku) no fluxo de valor. Vale ressaltar que os quatro princípios anteriores trabalham de forma conjunta e o quinto princípio funciona como uma “meta traçada”, mostrando os resultados efetivos e fazendo com que o trabalho dos princípios leve ao estágio final, que é a perfeição. Figura 2. Fluxograma da aplicação dos princípios da manufatura enxuta (lean). Fonte: Lean it (2017). Perseguir a PERFEIÇÃO Especi�car VALOR Identi�car e mapear o FLUXO DE VALOR Criar FLUO CONTÍNUO Responder a “puxada” do cliente PRODUÇÃO PUXADA MAXIMIZAR O VALOR 5Manufatura enxuta (lean manufacturing) Fique atento com relação aos termos em inglês e japonês que se encontram nesse capítulo. Sistema enxuto (lean system) Um sistema enxuto trabalha de forma conjunta com todos os princípios men- cionados, e também, com o Método 5S e a metodologia poka yoke (à prova de erros). De acordo com Cardoza e Carpinetti (2005), a base de funcionamento do Sistema Enxuto é o Just-In-Time, que representa o tempo e quantidade propícios (o que for necessário no tempo exato) e a autonomação (automação com toque humano). No sistema de produção enxutoum dos objetivos é produzir e receber lotes pequenos de produtos e insumos. A lógica é que uma área específica só produza para a próxima etapa quando solicitada ou avisada de que os componentes já foram utilizados. Uma empresa que pensa em adotar a metodologia enxuta, resultando em um sistema enxuto completo, deve ter também ferramentas que permitam analisar os dados com exatidão. Um exemplo de ferramenta de análise é o sistema de avaliação de desempenho, conhecido também como balanced scoreboard. Segundo Ohno (1997), um dos maiores problemas em uma linha fabril é que cada área tem sua visão, e a fábrica não consegue andar com um pensamento único. Isso acaba trazendo complicações ao processo de tomada de decisão. Além disso, pode provocar o surgimento de gargalos na produção, e tornar mais difícil a sua identificação e tratamento. Frente a este cenário, o autor defende a implementação de um sistema enxuto como forma de mudar a mentalidade dos trabalhadores, que devem “respirar” o pensamento enxuto e aplicá-lo ao dia a dia, colaborando assim para a mudança do cenário apresentado. A imagem abaixo mostra um comparativo entre o sistema enxuto (repre- sentado pela Toyota) e um sistema de produção tradicional (representado pela Ford), sinalizando os principais benefícios derivados do primeiro. Manufatura enxuta (lean manufacturing)6 Fonte: Adaptado de Shingo (1996). Característica Ford Toyota Benefício Fluxo de peças unitárias Somente na montagem Interligação do processo e montagem � Ciclos curtos � Inventários reduzidos de produtos acabados � Estoque intermediário pequeno Tamanho do lote Grande Pequeno � Redução de estoque intermediário � Produção contra pedido Fluxo do produto Produto único (poucos modelos) Produto misto (muitos modelos) � Redução de estoque intermediário � Ajustes para mudanças � Promoção do equilíbrio de carga Quadro 1. Comparativo entre um sitema enxuto e um sistema com produção tradicional Para saber mais sobre a origem da manufatura enxuta e seus princípios e sistema, leia A máquina que mudou o mundo de Womack, Jones e Roos (1996). Para que a metodologia enxuta seja aplicada com sucesso, é necessário um conjunto de ferramentas que atuem de forma integrada com os cinco princípios já apresentados. Entre estas ferramentas, cabe destacar o sistema 5S e a metodologia poka yoke, que você conhecerá mais a seguir. 7Manufatura enxuta (lean manufacturing) Método 5S O método 5Sfoi o alicerce de implementação da qualidade geral nas empresas, sendo considerado como base de sustentação da manufatura enxuta. Surgiu na década de 1960 no Japão e foi responsável pela recuperação de empresas japonesas no período, despertando interesse do próprio governo japonês. O ponto chave do método 5S é a eliminação do desperdício em cinco fases, que são: 1. Seiri (descarte) – Tenha somente a quantidade certa. Cada trabalhador deve saber diferenciar o que é útil ou não. Descartar o que é desnecessário resulta em maior concentração e eliminação da perda de tempo com coisas que não interessam no momento. O seiri tem como vantagens a redução de necessidades de estoques, otimização da ocupação do espaço e do transporte interno. 2. Seiton (arrumação) – Cada coisa no seu devido lugar. O trabalhador deve saber também que, além de ter somente o necessário para suas funções, seus instrumentos de trabalho devem estar em seu devido lugar e próximo do seu local de trabalho, tendo como vantagem a acessibilidade. 3. Seiso (limpeza) – Todos devem ter a consciência da importância de um ambiente limpo. O seiso preza pelo bom ambiente de trabalho e pela boa imagem da em- presa, além de ter uma vantagem muito importante que é a identificação de pontos de contaminação, como invasão de insetos e outros agentes que podem prejudicar a limpeza do ambiente. 4. Seiketsu (padronização) – Repetição regular de todas as fases anteriores como práticas padrão. Cumpridas todas as fases anteriores, deve ser elaborada uma rotina para que as mesmas ocorram de forma constante. A repetição regular e sistemática faz com que os anteriores tenham êxito e a empresa sempre permaneça com a sua qualidade interna em níveis adequados. Manufatura enxuta (lean manufacturing)8 5. Shitsuke (disciplina) – Que as atividades anteriores se tornem sistêmicas e regulares. Essa fase está relacionada a manutenção sistemática, permitindo que o 5Sse torne um hábito com o passar do tempo. O shitsuke tem maior eficácia quando interligado a outros pensamentos do sistema enxuto, como a utilização dos princípios acima abordados. Um fator importante para o sucesso do 5Sé o estabelecimento de uma equipe de auditoria, com a finalidade de manter a constância do modelo. Sabe-se que toda transformação exige sacrifícios, e a criação de um hábito pode levar muito tempo; assim, uma equipe que audite os setores da empresa é fundamental no início e no andamento do trabalho. Figura 3. Utilização do seiri (descarte): o que for desnecessário deve ser removido do local de trabalho e separado em local adequado para descarte. Fonte: Nortegubisian (2016). Quer expandir seus conhecimentos no assunto? Assista ao vídeo sobre pensamento enxuto em: https://goo.gl/SAhhTM 9Manufatura enxuta (lean manufacturing) Poka yoke (à prova de erros) Segundo Shingo (1996), poka yoke consiste em um mecanismo para detecção de anormalidades no fluxo produtivo, que, interligado à essa operação, impede a execução irregular de uma atividade operante. O poka yoke é uma maneira elaborada de bloquear os principais percalços que podem acontecer no meio de uma produção, podendo até antecipar e detectar possíveis defeitos no produto final. Dessa forma, o percentual de produtos defeituosos a serem entregues aos clientes diminui bruscamente, e os princípio de valor de um sistema enxuto se mantém forte na empresa. Na própria Toyota, os dispositivos poka yoke são utilizados para detectar a raiz de defeitos que tiveram certa recorrência nos dados levantados, va- lendo ressaltar que os próprios dispositivos também são auto avaliados com frequência, para que o próprio nome (à prova de erros) seja válido. De acordo com Ohno (1997), os defeitos ocorrentes são imperfeições, e imperfeições são resultados de erros passados, como por exemplo, simples descuidos por parte do trabalhador de estágios anteriores. Se considerarmos uma montadora — que trabalha em linha contínua — caso um trabalhador venha a cometer um erro em estágio inicial da linha (como aparafusar uma peça de forma errada ou riscar a lataria), e um trabalhador do estágio seguinte cometer outro (como encaixar o farol de forma errônea), e estes erros passarem des- percebidos, como você imagina que ficaria a qualidade do produto final? Certamente estaria bastante comprometida. O mecanismo poka yoke trabalha de duas maneiras: a primeira se relaciona com o método de controle com o qual o sistema é ativado, parando a linha de processamento de acordo com a sua apuração. A segunda se relaciona com a advertência do operador por meio de sinal sonoro e iluminação. Assim, o mecanismo poka yoke se interliga com o conceito da autonomação ( jidoka), elaborado pelo Sistema Toyota de Produção. Manufatura enxuta (lean manufacturing)10 Figura 4. Imagem ilustrativa do método poka yoke: prevenção de pequenos defeitos. Fonte: PDCA Home (2013). Lean Seis Sigma No contexto da manufatura enxuta, a busca pelo aumento da qualidade e pela redução do desperdício, perdas e custos são demandas constantes, que fomentam o desenvolvimento das metodologias existentes e até mesmo o surgimento de novas metodologias adaptadas a novos cenários. Muitas vezes, ocorre também a utilização conjunta de filosofias, metodologias e programas, formando um novo modelo, como é o caso do lean Seis Sigma. O lean Seis Sigma surgiu tendo como pano de fundo o contexto da gestão da qualidade e é formado por um conjunto de ações planejadas e executadas em todoo ciclo produtivo. Essas ações são implantadas nas organizações com a finalidade de garantir a qualidade requerida e planejada, visando garantir a maior satisfação de seus clientes. Atrelado ao conceito de gestão da qualidade está a melhoria contínua (MC). Os programas de MC surgiram a partir de sistemas que se concentravam na linha de produção industrial para reduzir o desperdício e melhorar a qualidade do produto. A partir daí, evoluíram e se transformaram em programas que podem ser aplicados nos mais diversos aspectos de uma organização, do processo ao produto. Entre as iniciativas mais utilizadas pelas organizações na busca pela melhoria contínua da qualidade estão a gestão da qualidade total (também denominada TQM, do inglês total quality management), lean manufacturing, o Seis Sigma e o próprio lean Seis Sigma. Essas iniciativas estão intimamente relacionadas, como é o caso do Seis Sigma, que foi originalmente desenvolvido como parte da TQM (ALVES FILHO et al., 2019; JACOBS; CHASE, 2012). 11Manufatura enxuta (lean manufacturing) Essas quatro iniciativas formam um conjunto chamado mecanismos de apoio da melhoria contínua, que tanto apoiam quanto difundem a MC. O Quadro 2 apresenta um breve resumo das características principais de cada mecanismo, incluindo a informação sobre o ano de surgimento, objetivos, princípios e ferramentas utilizadas. Programas Início Objetivos Princípios Métodos e ferramentas TQM 1950 Melhorar e uniformizar o processo Fazer com que todos estejam comprometidos com a qualidade e o foco no cliente PDCA, ferramentas estatísticas e ferramentas gerenciais Lean manu- facturing 1960 Fornecer alto valor para o cliente e reduzir desperdícios Usar as melhores práticas e proces- sos para aprimorar a eficiência, elimi- nar desperdícios, aumentar o foco no cliente, reduzir custos e acelerar e flexibilizar os processos Mapa de fluxo de valor, 5S, poka-yoke, redução de set up, JIT, kanban, padronização do trabalho, entre outros. Seis Sigma 1980 Aplicar a melhoria de produtos e processos e a minimização da variação Diminuir a variabilidade e erros do processo DMAIC, controle estatístico do processo e ferramentas estatísticas (ANOVA, teste de hipótese, entre outras) Quadro 2. Resumo dos principais programas de suporte (Continua) Manufatura enxuta (lean manufacturing)12 O objetivo central das iniciativas voltadas à MC é essencialmente o mesmo: minimizar o desperdício e utilizar recursos por meio de melhorias, aumen- tando a satisfação do cliente e os resultados financeiros. Contudo, ainda que compartilhem o mesmo objetivo central, possuem definições diferentes, como você verá a seguir (ALVES FILHO et al., 2019; JACOBS; CHASE, 2012; SLACK; BRANDON-JONES; JOHNSTON, 2015). A gestão da qualidade total (TQM) é uma abordagem destinada à pro- moção de mudança organizacional que enfatiza a criação de um ambiente favorável a aspectos como inovação e criatividade e ainda promove a ação conjunta de gerentes, colaboradores e clientes, utilizando soluções participa- tivas de solução de problemas. Assim, a TQM pode ser definida como um sistema estruturado que visa criar a ampla participação e um processo de melhoramento contínuo de modo a exceder as expectativas do cliente. Tem como base a ênfase no controle estatístico do processo, que é fundamentado na análise de variâncias e comportamentos amostrais. Para isso, utiliza ferra- mentas como as sete ferramentas do controle da qualidade, as sete ferramentas gerenciais, gestão à vista e benchmarking, além de utilizar princípios como liderança e satisfação do cliente e também ferramentas estratégicas, como o desdobramento da função qualidade e o planejamento estratégico, conjunto esse que cria uma interface entre o nível corporativo e o operacional. Fonte: Adaptado de Alves Filho et al. (2019). Programas Início Objetivos Princípios Métodos e ferramentas Lean Seis Sigma 2000 Reduzir variação, acelerar a produção e reduzir o desperdício Usar as melhores práticas do lean e do Seis Sigma para aumentar a satis- fação do cliente e diminuir os erros Ferramentas usadas no lean manu- facturing e no Seis Sigma Quadro 2. Resumo dos principais programas de suporte (Continuação) 13Manufatura enxuta (lean manufacturing) A filosofia lean manufacturing ou manufatura enxuta visa a geração de valor para o cliente, empregando práticas como 5S, poka-yoke, mapa de fluxo de valor, manutenção preventiva e kanban. A adoção dessa filosofia não requer necessariamente recursos altamente especializados, permitindo que, com algum treinamento, os seus princípios possam ser incorporados pela organização, proporcionando mudanças incrementais e redução de custos. O “pensamento enxuto” por ela proporcionado é focado na redução do desperdício, com o objetivo de diminuir o esforço humano, assim como estoque, tempo para o desenvolvimento de produtos, movimentação, tempo de espera, espaço, de modo a tornar a operação mais flexível na resposta à demanda, ao mesmo tempo que busca a perfeição. Ou seja, uma metodologia de gestão que otimiza custos e reduz o tempo e os desperdícios de uma empresa associada a uma estratégia de negócios voltada essencialmente à satisfação do cliente. Pode-se dizer que a primeira organização a aplicar a manufatura enxuta foi a Toyota, já que a lean manufacturing surgiu a partir do Sistema Toyota de Produção (STP), um sistema integrado de filosofia e práticas de gestão que foi um divisor de águas da indústria (começando pela automobilística), permitindo uma grande evolução em termos de rapidez e qualidade. O STP deu origem a uma estrutura organizacional focada em integrar pessoas com as tecnologias disponíveis no local do trabalho, tendo como principais objetivos a prevenção de falhas e a eliminação do desperdício (em suas diversas formas). Tendo demonstrado sua valia na indústria automobilística, a manufatura enxuta se espalhou ao contexto geral, passando a ser adotado por diversas empresas, dos mais diversos segmentos e portes. Uma delas é a John Deere, multinacional que aplica lean manufacturing com sucesso no setor de produção de equipamento industriais, máquinas e implementos agrícolas. Para alinhar sua produção com os princípios da filosofia lean, a empresa, que é a maior fabricante de produtos agrícolas do mundo, investiu US$ 100 milhões, transformou seus processos e, principalmente, a mentalidade da equipe de engenharia de fabricação, identificando atividades que não agregavam valor e eliminando-as. O lean manufacturing foi usado para monitorar a produção de cada parte do processo produtivo, permitindo que a empresa passasse a não produzir mais do que o necessário e consumisse recursos de forma mais inteligente no processo. Muitos mecanismos de controle de qualidade foram 100% automatizados, o que resultou em mais peças verificadas quanto a defeitos em um período mais curto, com mais produtos fabricados diariamente e oferecidos ao consumidor por um preço menor. Manufatura enxuta (lean manufacturing)14 O programa Seis Sigma (Six Sigma, em inglês) pode ser definido como uma estratégia gerencial disciplinada e altamente quantitativa que possui o objetivo de aumentar a lucratividade das empresas por meio da melhoria de produtos e processos e, como consequência, aumentar a satisfação dos clientes. Para isso a metodologia tem como princípio central a minimização de defeitos a praticamente zero, o que é feito com a utilização do método DMAIC: � define — definir oportunidades; � measure — medir o desempenho; � analize — analisar as oportunidades; � improve — melhor o desempenho; � Control — controlar o desempenho. O Seis Sigma é um programa de melhoria focado na redução de variabilidade nos processos, o que inclui não apenas aqueles voltados à manufatura, mas também aqueles desempenhados nas áreas administrativas da organização, podendo realizar melhorias tanto incrementais (com focona melhoria) quanto radicais (com foco no redesenho de um processo). A letra grega sigma (δ) é usada para indicar o desvio-padrão de um processo, que possui direta relação com a variação apresentada pelo processo e impacta sobre a qualidade do que é produzido por ele. Um sigma de nível 6 indica que o processo gera menos de 4 defeitos a cada milhão de unidades produzidas, resultando em 99,99966% de conformidade, ou seja, defeito quase zero dadas as proporções. Já sigmas de níveis menores que seis indicam que o processo gera mais defeitos e por isso tem menores índices de conformidade: sigma de nível dois, por exemplo, equivale a 308.537 defeitos por milhão de unidades, gerando uma conformidade de 69,15% (RIBEIRO; TEN CATEN, 2012). Sendo assim, no contexto da qualidade total, deseja-se que faixa de especificação de qualquer parte de um produto ou serviço seja de mais ou menos seis desvios-padrão do processo (sigma nível 6); daí a denominação Seis Sigma. 15Manufatura enxuta (lean manufacturing) O Seis Sigma, assim como o poka-yoke, é um método que busca promover o zero defeito, tendo como característica marcante o foco na qualidade. Porém, o caminho utilizado pelo Seis Sigma para atingir este objetivo é a identifi- cação, controle e eliminação da variabilidade nos processos. Assim, o Seis Sigma corresponde a um conjunto de práticas desenvolvidas para melhorar sistematicamente os processos ao eliminar defeitos, considerando-se que um defeito é definido como a não conformidade de um produto ou serviço com suas especificações. Refere-se a um conjunto de filosofias e métodos que as empresas utilizam para atingir o zero defeito em seus processos e produtos, tendo como base a análise estatística, que auxilia a descrição de um processo em termos de sua variabilidade. Um processo que esteja sobre o controle de nível Seis Sigma normalmente não produz mais do que quatro defeitos em cada milhão de unidades. Nesse ponto, observa-se a importância do conceito poka-yoke (à prova de erros), em que os produtos e processos são projetados de forma a eliminar qualquer possibilidade prevista de defeitos. Entre os aspectos mais essenciais para a eficácia do Seis Sigma se desta- cam o comprometimento da gerência com o programa, dada a necessidade da alocação de recursos para sua implementação e manutenção, e a mudança cultural, visto que a implementação da filosofia Seis Sigma requer ajustes na cultura da organização (alinhando-a à filosofia lean) e uma nova atitude por parte de seus integrantes, que devem se manter motivados para lidar com os desafios e o rigor que o programa impõe, especialmente no que diz respeito à coleta e mensuração dos dados dos processos. A metodologia Seis Sigma tornou-se conhecida no fim da década de 1980, quando a Motorola a introduziu, a fim de controlar e melhorar a qualidade, por meio da utilização de ferramentas estatísticas. A empresa estava apresentando um nível de qualidade abaixo do desejado em seus produtos, que apresentavam elevados índices de defeitos. Para mudar esse cenário, foi traçada a meta de melhorar a qualidade em dez vezes dentro de cinco anos. Os executivos da empresa iniciaram então a elaboração de um programa corporativo que permitisse o atingimento da meta, programa mais tarde batizado de Seis Sigma. Partindo de uma metodologia já conhecida — o PDCA (medir, analisar, melhorar e controlar) —, a Motorola iniciou um programa de documentação Manufatura enxuta (lean manufacturing)16 Como forma de enfatizar os elementos das várias abordagens destinadas ao melhoramento das operações, algumas organizações mesclam duas ou mais abordagens para formar modelos híbridos que combinem suas melhores características. Uma das mais conhecidas dessas combinações é o lean Seis Sigma (também denominado Lean Six Sigma, Seis Sigma enxuto ou Lean- -Sigma). Da combinação do lean manufacturing com o Seis Sigma, surgiu a metodologia do lean Seis Sigma, que consiste na união dos métodos “enxutos” e dos conceitos Seis Sigma: mescla a redução de desperdício da filosofia enxuta com o rigor decorrente do controle da variação de Seis Sigma. Tal combinação ajuda as organizações a maximizarem seu potencial de melhoria, pois no lean Seis Sigma o desperdício pode ser removido de forma rápida: as variações nos processos são percebidas e reduzidas mais facilmente, permitindo focar naquilo que efetivamente representa valor para o cliente e entregar o produto ou serviço com melhor qualidade. Tal condição se torna possível em função de que o lean Seis Sigma combina as ferramentas de implementação e controle de qualidade do Seis Sigma com os conceitos de gestão do lean manufacturing e seu pensamento enxuto. dos processos-chave, alinhamento dos processos com os requisitos fundamentais dos clientes e instalação de sistemas de medição e análise para melhoria contínua dos processos. Com a implementação do programa, a qualidade foi melhorada em cem vezes, ou seja, dez vezes a meta traçada, e a empresa passou a ser reconhecida como referência em qualidade. Com base no sucesso da Motorola, outras empresas passaram a utilizar com êxito o programa e a divulgar enormes ganhos, gerando interesse pela metodologia. O caso de maior notoriedade na aplicação do Seis Sigma foi o da General Eletric (GE), iniciada no final da década de 1990. A implantação da metodologia levou a empresa ao alcance de resultados financeiros expressivos, com ganhos de aproximadamente US$ 2 bilhões após dois anos da implementação. No Brasil, o Seis Sigma foi disseminado a partir de 1997, quando o Grupo Brasmotor introduziu o programa em suas atividades e apurou ganhos de R$ 20 milhões após dois anos. 17Manufatura enxuta (lean manufacturing) O lean Seis Sigma é uma metodologia muito útil no ambiente organizacional, que pode ser aplicada nas mais diversas situações. Atualmente, esses programas e suas ferramentas são utilizadas não somente nas operações de manufatura, mas também em outros diversos processos, como contas a receber, vendas, finanças, sistemas da informação, marketing, jurídico, relações públicas, recursos humanos, pesquisa e desenvolvimento, serviços de proteção ambiental e saúde e segurança de empresas. Pode-se concluir, portanto, que o lean Seis Sigma promove a junção dos objetivos propostos pelo lean “tradicional” e pelo Seis Sigma. Ou seja, no Lean Seis Sigma, busca-se gerar valor para o cliente por meio da qualidade e da redução de desperdícios, mas isso é feito de forma mais ágil, uma vez que o controle e redução da variabilidade nos processos permite identificar e solucionar mais rapidamente as inconsistências que levariam a defeitos. É possível dizer que o que diferencia as duas metodologias (lean e Seis Sigma) é o mesmo que as fazem complementares. Ao mesmo tempo que dividem um objetivo comum, elas se utilizam de meios distintos para identificar as fontes de resíduos processuais e os erros: o lean otimiza o processo enquanto o Seis Sigma elimina desperdícios decorrentes das variações desse processo. Dessa forma, as deficiências da organização são localizadas de maneira mais rápida e eficiente. Tendo isso em conta, percebe-se que a diferença mais básica entre lean “tradicional” e lean Seis Sigma é o fato de que o segundo tem a capacidade de fazer com que os objetivos do primeiro sejam atingidos de forma mais rápida e efetiva. A implementação do lean Seis Sigma A implementação do lean Seis Sigma requer a consideração de algumas recomendações e o cumprimento de algumas etapas. Para começar, é preciso destacar que o Lean Seis Sigma é mais do que uma metodologia de otimiza- ção: é uma forma de pensar. É preciso ainda atenção para evitar que a ânsia por mudança acabe boicotando o projeto: deve-se cuidar para que cada uma das etapas seja efetivamente executada e a seu tempo, sem “pular” nenhuma. A tentativa de apressar o processo ou adaptá-lo demais à empresa pode ser prejudicial ao desempenho já atingido. Além disso, o leanSeis Sigma exige Manufatura enxuta (lean manufacturing)18 a consciência de que todos na empresa têm a capacidade e a responsabilidade de zelar pelo avanço contínuo da organização. Quanto às etapas, a primeira deles, antes mesmo de traçar objetivos e metas, consiste no alinhamento da equipe: para que se possa atingir o resul- tado esperado, é essencial que todos os envolvidos, direta ou indiretamente, entendam a metodologia, para que possam perceber valor no tempo e nos esforços exigidos pelo projeto. Após o estudo aprofundado do método, é feito um diagnóstico inicial, tendo como parâmetro o cenário vigente da empresa, e são traçados objetivos e metas. Neste ponto, é preciso lembrar que a empresa é um organismo, e assim tanto o diagnóstico quanto a implementação do lean Six Sigma deve percorrer todos os seus setores. Com base nesse panorama é que são aplicados os conhecimentos do lean e do Seis Sigma, tomando o cuidado de escolher as técnicas apropriadas para cada necessidade, evitando retrabalho ou até a inadequada interpretação de um problema. Afinal, certos problemas serão mais eficientemente resolvidos com as técnicas de algum dos métodos: em situações menos complexas onde há menor número de variáveis envolvidas, é apropriado um conhecimento mais lean que Seis Sigma, por exemplo. Por fim, com as mudanças já em ação, deve-se proceder com a constante revisão do projeto: esse é o caminho para garantir o sucesso não só no curto como também no longo prazo. Além disso, cabe comentar que a implementação do lean Seis Sigma cos- tuma demandar a utilização combinada de uma série de ferramentas, que formam um conjunto denominado ferramentas da qualidade. Elas consistem em técnicas gráficas específicas bastante úteis na resolução de problemas relativos à qualidade, entre as quais estão fluxograma, cartas de controle, diagrama de causa-efeito (espinha de peixe, ou diagrama de Ishikawa), folhas de verificação, histogramas, gráficos de dispersão e diagrama de Pareto. Para oportunizar a melhor compreensão da metodologia do lean Seis Sigma, nada melhor que a verificação de um caso prático. No artigo “Implantação do lean Seis Sigma em uma indústria de fios têxteis”, publicado na revista digital GEPROS, você pode acompanhar, em detalhes, um exemplo da implantação do lean Seis Sigma em uma organização industrial. 19Manufatura enxuta (lean manufacturing) ANDRADE, G. J. P. O. Um método de diagnóstico do potencial de aplicação da ma- nufatura enxuta na indústria têxtil. 2006. 297 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/88970/236945. pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 24 jan. 2018. ALVES FILHO, A. G. et al. Gestão da produção e operações: abordagem integrada. São Paulo: Atlas, 2019. CARDOZA, E.; CARPINETTI, L. C. R. Indicadores de desempenho para o sistema de produção enxuto. Revista Produção, v. 5, n. 2, 2005. Disponível em: <https://produca- oonline.org.br/rpo/article/viewFile/338/433>. Acesso em: 24 jan. 2018. JACOBS, F. R.; CHASE, R. B. Administração de operações e da cadeia de suprimentos. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. LEAN IT. Lean IT ou TI enxuta! [S.l.]: Unicamp, 2017. Disponível em: <http://www. ft.unicamp.br/liag/leanit/lean-it/>. Acesso em: 24 jan. 2018. MACHADO, M. C. Princípios enxutos no processo de desenvolvimento de produtos: pro- posta de uma metodologia para implementação. 2006. 247 f. Tese (Doutorado em Engenharia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: <http:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3136/tde-19092006-105948/en.php>. Acesso em: 24 jan. 2018. MUNIZ, J. Organização Industrial: aula 03: pensamento enxuto: particularidades brasileiras. São lPaulo: UNIVESP, 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=4SWGkY13E3c>. Acesso em: 24 jan. 2018. 1 vídeo (31 min.), son., color. NORTEGUBISIAN. Implantação do programa de melhoria 5S. Campinas: Nortegubisian, 2016. Disponível em: <http://nortegubisian.com.br/consultoria/gestao-de-operacoes- -e-servicos/implantacao-do-programa-de-melhoria-5s/>. Acesso em: 24 jan. 2018. OHNO, T. O sistema Toyota de produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. PDCA HOME. Poka yoke: a method to create a safe design. [S.l.]: PDCA Home, 2013. Disponível em: <https://pdcahome.com/english/124/poka-yoke-a-method-to-create- -a-safe-design/>. Acesso em: 24 jan. 2018. PLANET LEAN. Five lean practitioners answer the same question #7. [S.l.]: Planet Lean, c2018. Disponível em: <http://planet-lean.com/five-lean-practitioners-answer-the- -same-question-7>. Acesso em: 24 jan. 2018. RIBEIRO, J. L. D.; TEN CATEN, C. S. Controle estatístico do processo: cartas de controle para variáveis, cartas de controle para atributos, função de perda quadrática, análise de sistemas de medição. Porto Alegre: Fundação Empresa Escola de Engenharia da UFRGS, 2012. Manufatura enxuta (lean manufacturing)20 SHINGO, S. O sistema Toyota de produção: do ponto de vista da engenharia de pro- dução. Porto Alegre: Bookman, 1996. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. WOMACK, J. P; JONES, D. T. Lean thinking: banish waste and create wealth in your coroporation. New York: Free Press, 2003. WOMACK, J. P; JONES, D. T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo. Campus: Rio de Janeiro, 1996. Leituras recomendadas FELTRIN, J. A.; HORITA, R. Y. O sistema Toyota de produção e o balanced scorecard. In: SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO, 5., 2015, Lins. Anais... Lins: Unisalesiano, 2015. Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/simposio2015/publicado/ artigo0185.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018. FERREIRA, F. P. Análise da implantação de um sistema de manufatura enxuta em uma em- presa de autopeças. 2004. 178 f. Dissertação (Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional) – Universidade de Taubaté, Taubaté, 2004. Disponível em: <http://www. ppga.com.br/mestrado/2004/ferreira-fernando_pereira.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018. RAMOS, E. M. L. S. ; ALMEIDA, S. S.; ARAÚJO, A. R. Controle estatístico da qualidade. Porto Alegre: Bookman, 2013. SHINGO, S. Sistemas de troca rápida de ferramentas: uma revolução nos sistemas pro- dutivos. Porto Alegre: Bookman, 2000. 21Manufatura enxuta (lean manufacturing) DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE COM METODOLOGIAS ÁGEIS Fabrício Leonard Leopoldino Lean software development (LSD) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar a filosofia lean da Toyota e suas origens. Discutir os princípios da metodologia lean software development (LSD). Demonstrar o uso da metodologia lean no desenvolvimento de software. Introdução Em todo o mundo, gestores estão mudando as formas de gerenciar as suas empresas, com o objetivo de sobreviver em um ambiente cada vez mais competitivo, desde a produção de vassouras até a produção de naves espaciais. Se observarmos ao nosso redor, poderemos perceber diversas mudanças, principalmente, nos grandes centros comerciais, onde antes eram abarrotados de produtos e hoje muitos têm poucos produtos em suas prateleiras ou em seus estoques locais e, em diversas situações, quando buscamos por um determinado produto, somos direcionados aos seus portais na internet. E, com isso, a forma de produzir software também vem mudando, pois esse também é um produto que precisa ser desenvolvido. Com o objetivo de auxiliar nesse processo de mudança, equipes de desenvolvimento estão adotando metodologias que contribuem para o enfrentamento de imprevistos durante o processo de desenvol- vimento de um software, auxiliando o processo de gestão de projetos, que estimula a inspeção e os ajustes frequentes; essas metodologias são conhecidas como ágeis. As metodologias ágeis estimulam as atividades de uma equipe de desenvolvimento, a comunicação,a auto-organização, a atenção focada no cliente e, o melhor de tudo, que cada entrega deve ter valor, e não apenas entregar por entregar. Neste capítulo, estudaremos o sistema lean de produção Toyota, o seu histórico e as suas características, a metodologia lean aplicada ao desenvolvimento de software, os seus princípios básicos, como aplicar a metodologia lean no processo de desenvolvimento de software e a meto- dologia de treinamento para desenvolvimento de software Coding Dojo. 1 Sistema Toyota de Produção Com a necessidade de busca por melhores resultados, a palavra redução vem sendo incluída no dicionário de muitas pessoas ao redor do mundo. É nesse ponto que o Sistema Toyota de Produção, criado entre 1947 e 1975, no qual a sua base consiste na absoluta eliminação do desperdício no processo de produção, tem dois pontos como itens essenciais ao sistema (OHNO, 1988). Just-in-time consiste no processo em que somente as partes necessárias para a montagem correta de um produto são utilizadas, sem a necessidade de fazer estoque de tais partes. Como exemplo, vamos supor que queremos fazer um bolo e a receita pede apenas três ovos. Nessa situação, não é necessário comprar quatro ou mais ovos, sendo que o quarto ovo indica desperdício para a produção desse bolo. Mas leve em conta que para isso funcionar os três ovos devem estar perfeitos. Autonomação consiste no processo de automação com um toque humano, no qual a máquina é acoplada a um dispositivo de parada automática, e quando algum problema é detectado, a máquina para de funcionar, evitando, dessa forma, a produção de produtos defeituosos. Esse sistema recebe o nome de jidoka (controle autônomo de prevenção de defeitos) (POPPENDIECK; PO- PPENDIECK, 2010). O criador desse sistema foi o engenheiro de produção Taiichi Ohno e, segundo ele, o Sistema Toyota de produção não é apenas um sistema de pro- dução, mas um sistema gerencial adaptado à era atual de mercados globais e de sistemas de computadores de informações de alto nível (OHNO, 1988). No Sistema Toyota de Produção, a habilidade individual e o trabalho em equipe são bem valorizados. Buscando uma relação prática com os pilares do sistema just-in-time e da autonomação, podemos fazer uma analogia com uma equipe de desenvolvimento de software ágil, na qual a autonomação corresponde à habilidade e ao talento individual que cada desenvolvedor tem, ao passo que o just-in-time corresponde ao trabalho da equipe envolvida para estabelecer um objetivo comum preestabelecido. Lean software development (LSD)2 Taiichi Ohno nasceu em 12 de fevereiro de 1912, em Dalian, China, e depois frequentou a Escola Técnica de Nagoya. Após a formatura, ele começou a trabalhar na Toyoda Spinning e Automatic Loom Works, uma das primeiras empresas da família Toyoda. Esta família realizou um concurso para criar um novo logotipo para a empresa e o design vencedor usou a palavra Toyota — com o “t” no lugar do “d” — assim nasceu a Toyota Motor Company. Em 1943, Ohno era o engenheiro de produção da Toyota Motor Company. Ele subiu rapidamente entre as fileiras da Toyota. Em 1949, tornou-se gerente de oficina de máquinas e progrediu como diretor em 1954, diretor gerente em 1964, diretor gerente sênior em 1970 e vice-presidente executivo em 1975 (OHNO, 1988). No Sistema Toyota de Produção, o principal objetivo é reduzir custos e, consequentemente, menos custos geram maiores lucros ou podem ser compar- tilhados com os clientes, oferecendo produtos com melhores preços. Mas, para conseguir essa redução, é necessário um sistema de gestão que desenvolva a habilidade humana até a sua mais plena capacidade de produção para melhorar a criatividade e a eficácia na utilização das instalações e dos equipamentos, com o objetivo de eliminar todo o desperdício (OHNO, 1988). Durante o desenvolvimento do Sistema Toyota de Produção, Taiichi Ohno identificou o que ele chamou de “os sete desperdícios” (KEMP, 2018), listados a seguir: 1. tempo de espera sem valor agregado; 2. superprodução — fazendo demais; 3. processamento excessivo ou adição de atividades sem valor; 4. transporte desnecessário; 5. movimentos ou movimentos excessivos; 6. inventário; 7. baixa qualidade e defeitos. 3Lean software development (LSD) Em setembro de 2006, o então diretor sênior de engenharia da Corbis (empresa fundada por Bill Gates), David J. Anderson, decide projetar um sistema kanban que substituiria a então abordagem existente para a atualização de aplicativos baseado no kanban criado pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno (BERNARDO, 2014). O Sistema Toyota de Produção é regido pelas quatro regras implícitas (MARTINS; LAUGENI, 2015) listadas a seguir. Todo trabalho deve ser altamente especificado no seu conteúdo, se- quência, tempo e resultado. Toda relação cliente-fornecedor (interno e externo) deve ser direta, com um canal definido e claro para enviar pedidos e receber respostas. O fluxo de trabalho e processo para todos os produtos e serviços deve ser simples e direto. Qualquer melhoria deve ser feita pelo método científico, sob a coorde- nação de um orientador e no nível mais baixo da organização. O Sistema Toyota de Produção passou a ser chamado de lean production (produção enxuta) e muitas empresas buscaram aplicar essa metodologia; algumas sem sucesso por acharem a metodologia contraintuitiva e outras com grande sucesso. Os princípios pregados pela metodologia lean (enxuta) foram adotados para diversas áreas, como as cadeias de fornecimento, o desenvolvimento de produtos e o desenvolvimento de software. 2 Lean software development Uma metodologia de desenvolvimento de software é um conjunto de atividades que auxiliam no desenvolvimento de um software, em que o resultado dessa atividade é um produto que refl ete a forma como o processo foi conduzido (KOSCIANSKI; SOARES, 2007). As equipes de desenvolvimento devem se preocupar em entregar um software de qualidade no menor tempo possível. Para Sommerville (2011), o processo de produção de software acontece de diferentes formas, seja para novos ou para os já em desenvolvimento, mas Lean software development (LSD)4 sempre as fases de análise de requisitos, projeto, implementação e testes devem estar incluídas (Figura 1). Figura 1. Fases tradicionais de desenvolvimento do ciclo de vida do software. Fonte: Brookshear (2013, p. 267). Uma metodologia de desenvolvimento de software ágil consiste na rea- lização das atividades de levantamento de requisitos, planejamento, projeto, implementação e testes, de fabricação rápida por meio de uma série de incre- mentos de funcionalidades, interações de curtos espaços de tempo e entregas aprovadas pelo cliente. Esse tipo de metodologia é utilizado para produzir, rapidamente, software que entreguem valor ao cliente. Quando se deseja utilizar métodos ágeis no desenvolvimento de um produto de software, a equipe deve ter em mente que o software deverá entregar um software de qualidade no menor tempo possível, reduzindo a burocracia por meio de poucos artefatos e de iterações de execução de atividade em pequenos espaços de tempo, sendo possível realizar as alterações solicitadas pelo cliente, tornando, dessa forma, um projeto leve. Criado no Japão, o Sistema Toyota de Produção, que também pode ser conhecido como lean manufacturing, aplicado na produção de carros, surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial na fábrica da empresa automobilística Toyota. Nessa época, a indústria japonesa tinha uma produtividade muito baixa e sofria com a falta de recursos, o que consequentemente a impedia de adotar o modelo de produção em massa (OHNO, 1988). A filosofia da metodologia 5Lean software development (LSD) lean busca produzir melhor, com redução de recursos e tempo, incorporando maior valor ao cliente. O termo desenvolvimento de software lean originou-se em um livro com o mesmo nome, escrito por Mary Poppendieck e Tom Poppendieck, em 2003. O livro reafirma os princípiosenxutos tradicionais, bem como um conjunto de 22 ferramentas e compara as ferramentas às práticas ágeis correspondentes. O envolvimento dos Poppendiecks na comunidade de desenvolvimento de software agile, incluindo palestras em várias conferências agile, resultou em tais conceitos, sendo mais amplamente aceitos dentro da comunidade agile. A metodologia lean é distribuída em sete princípios (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010): 1. eliminar o desperdício; 2. integrar qualidade; 3. criar conhecimento; 4. adiar comprometimentos; 5. entregar rápido; 6. respeitar as pessoas; 7. otimizar o todo. Princípios são verdades subjacentes que não mudam no tempo ou espaço, enquanto práticas são a aplicação dos princípios a uma situação particular. As práticas podem e devem diferir conforme você muda de um ambiente para o próximo, e elas também mudam à medida que uma situação evolui (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010). Sete princípios do desenvolvimento lean de software Depois de conhecermos a metodologia lean desde o seu histórico até os princípios, fi ca a pergunta: como podemos implementar isso no processo de desenvolvimento de software? Não existe uma fórmula mágica para isso, mas Poppendieck e Poppendieck (2010) sugerem duas formas de começarmos a implementar os princípios do lean: o famoso "aprenda fazendo", no qual esco- lhemos um conjunto de práticas já consolidadas que levarão ao entendimento Lean software development (LSD)6 dos princípios ou o "entenda antes de fazer", em que entendemos primeiro o princípio e, a partir dele, criamos práticas que resolvem melhor o problema dentro de um determinado contexto. Mas, como citado, não existe uma fórmula mágica para isso. Quais das duas abordagens pode apresentar um melhor resultado? Poppendieck e Poppendieck (2010) indicam a junção das duas, pois copiar as práticas sem entender os princípios traz consigo um longo histórico de problemas. Quem nunca tentou copiar uma receita da Internet e no final o produto não condisse com que o estava descrito na receita? No entanto, quando entendemos os princípios, copiar práticas já consolidadas em situações parecidas pode ser o caminho mais eficiente. Então, trazendo isso para o nosso dia a dia, se iniciarmos um novo projeto adotando boas práticas usadas em outro projeto, e as aplicarmos no projeto sem entendermos o porquê aquilo foi feito, certamente dará certo. Além disso, se precisarmos de uma adaptação, é possível que não consigamos fazer. Para podermos implementar o lean com sucesso, precisamos entender um pouco mais sobre os princípios descritos por Poppendieck e Poppendieck (2010). Princípio 1: eliminar o desperdício — no desenvolvimento de software, remova tudo o que não ajuda a entregar valor para o projeto, como, por exemplo, funcionalidades que o usuário não utilizará. Princípio 2: integrar qualidade — evitar o problema e buscar a qualidade durante a produção em vez de procurar erros depois. Para isso, podemos utilizar metodologias de testes como o desenvolvimento guiado por comportamento, que é uma técnica de desenvolvimento ágil que encoraja a colaboração entre desenvolvedores, setores de qualidade e pessoas não técnicas ou de negócios em um projeto de software, relacionando-se com o conceito de verifi cação e validação. Lembre-se: a metodologia lean valoriza as pessoas. Princípio 3: criar conhecimento — garantir que o conhecimento sobre o produto de software seja criado durante o seu desenvolvimento em vez de ter uma lista de requisitos e/ou um layout recomendando como deve ser o resultado da aplicação antes do início de seu desenvolvimento. Segundo Alan MacCormack, professor de Administração de Howard, existem quatro pilares que garantem uma boa aceitação no mercado: releases breves com um conjunto mínimo de funcionalidades para clientes avaliarem e darem feedback; builds diários e feedback rápido de testes de integração; uma equipe e/ou um líder com experiência e instintos para tomar boas decisões; e uma arquitetura modular 7Lean software development (LSD) que dê suporte à habilidade de adicionar facilmente novas funcionalidades (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010). Princípio 4: adiar comprometimentos — comprometimentos são decisões tomadas que, por algum motivo, não podem voltar atrás. São decisões per- manentes que serão adotadas dali para frente, dando certo ou não. Por isso, deve-se tentar trabalhar sempre com decisões planejadas que possibilitem colocar em prática, medir, aprender e validar. Lembre-se: estamos trabalhando com um produto volátil. Contudo, existem três passos básicos para identifi car quando estamos assumindo um comprometimento ou tomando uma decisão planejada: identifi car quando estamos fazendo uma escolha, identifi car se a escolha é reversível e quanto tempo precisamos para voltar atrás da decisão que está sendo tomada. Princípio 5: entregar rápido — precisamos descobrir como entregar tão rápido que nossos clientes não tenham tempo para mudar de ideia. Porém, é importante ressaltar que a velocidade não serve de nada se não andar junto com um nível muito alto de qualidade. Para conseguirmos ter um processo de produção rápido e uma boa disciplina na linha de produção, precisamos nos preocupar com algumas coisas, como: muita organização, planos e processos detalhados, forma de trabalho padronizada, documentação do workfl ow e descrição de trabalho específi co. O objetivo é conseguir ter um projeto tão padronizado que a curva de aprendizado seja mínima quando precisarmos transferir as pessoas para outro projeto, indo ao encontro do princípio criar conhecimento. Princípio 6: respeitar as pessoas — é o principal princípio de todos os sete da metodologia lean, pois sem o respeito às pessoas, nenhum dos outros princípios faz sentido. Respeitar as pessoas não é apenas tratar bem e ser educado com clientes e colaboradores que trabalham ao seu lado, mas deixar o orgulho e o ego fora do ambiente de trabalho. Independentemente do nível técnico de quem esteja propondo uma solução, essa opinião deve ser levada em conta e, se válida, deve ser implementada. Isso envolve não só respeito, mas também confi ança. Se uma pessoa está com alguma responsabilidade em mãos, ela é plenamente capaz de resolver aquilo e é nossa obrigação ajudar e confi ar nas decisões dessa pessoa. Princípio 7: otimizar o todo — a otimização de apenas uma parte do processo pode trazer grandes problemas, como o excesso de responsabilidades ou muito Lean software development (LSD)8 desgaste das áreas responsáveis por parte do processo que estão tentando “otimizar”. O ideal não é olhar apenas para o desenvolvimento (o que muito comumente acontece), mas sim para como aquele pedido está sendo atendido, como ele está sendo detalhado e repassado para entrar em desenvolvimento, etc. Sem a otimização do todo, não é possível funcionar nenhum dos princípios anteriores, por isso, apesar de ser bem fácil o entendimento, é muito importante que esse princípio seja colocado em prática. Agora que sabemos um pouco mais sobre os princípios da metodologia lean de desenvolvimento de software, o grande desafio é aplicar uma metodologia de desenvolvimento de veículos automotivos na produção de software, produtos completamente distintos, mas que atualmente se complementam. 3 Lean no desenvolvimento de software O desenvolvimento de software tem tido cada vez mais importância na vida moderna, com aplicativos e hardwares embutidos, como podemos observar nos smartphones, sendo fundamental para a realização de diversas tarefas, desde assistir a um simples vídeo até pedir comida. Assim, o sistema criado pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno, o lean, pode contribuir no processo de desenvolvimento de software para aumentar a produtividade e a qualidade desse tipo de produto. O casal Mary Poppendieck e Tom Poppendieck, em seu livro Lean Software Development: An Agile Toolkit (2003), identifica sete princípios fundamentais da metodologia lean e os adaptapara o mundo do desenvolvimento de software, com o objetivo de tornar o desenvolvimento melhor, mais barato e rápido. Todavia, deve ficar claro que a aplicação de uma metodologia ágil de desenvolvimento de software na produção de um software requer experiência, disciplina e respeito dos profissionais envolvidos no processo, buscando sem- pre colocar o cliente como coadjuvante do processo. Não existe uma fórmula mágica nem uma receita de bolo de como aplicar a metodologia lean no de- senvolvimento de software. Com base em alguns princípios apresentados por Poppendieck e Poppendieck (2003), vamos apresentar algumas dicas de como preparar a equipe para o uso da metodologia. Dica 1: estude sobre a metodologia. O primeiro passo para aplicar a metodologia lean de desenvolvimento de software foi dado, mas os estudos devem continuar. Sendo assim, busque compreender as suas vantagens e desvantagens. 9Lean software development (LSD) Dica 2: análise de empresas nas quais a metodologia lean foi aplicada. Esta dica pode parecer óbvia demais, mas pesquisar por empresas nas quais uma determinada metodologia foi aplicada irá auxiliar a entender se a metodologia serve para o produto que será desenvolvido. Dica 3: qualifique a sua equipe. No Sistema Toyota de Produção, a habilidade individual e o trabalho em equipe são bem valorizados, e como esse sistema foi o percursor da metodologia lean, essa afirmação é válida, indo diretamente ao encontro dos sete princípios levantados por Mary e Tom. O treinamento pode ser por meio de cursos presenciais ou on-line. Uma sugestão para uma melhor integração da equipe seria utilizar a técnica de aprendizagem de programação Coding Dojo; ela vai ao encontro dos sete princípios da metodologia lean de desenvolvimento de software, direta e indiretamente. Coding Dojo Um Coding Dojo (Dojo de Codifi cação) é uma reunião em que vários desen- volvedores se reúnem para resolver um desafi o de programação (BACHE, c2013), sendo que os principais objetivos são a diversão e o envolvimento de práticas deliberadas de desenvolvimento, a fi m de melhorar as suas habilidades. O Coding Dojo tem as seguintes características: ambiente não competitivo, colaborativo e divertido; todos os níveis de habilidade são bem-vindos; seguro para experimentar novas ideias. Dojo é o local especial onde se treinam artes marciais japonesas. Muito mais do que uma simples área de atividades físicas, o Dojo deve ser respeitado como se fosse um templo. Por isso, é comum ver o praticante fazendo uma reverência antes de entrar e ao sair do Dojo, tal como se faz nos templos japoneses (MENEZES, c2015). As características do Coding Dojo estão de acordo com o sexto princípio da metodologia lean de desenvolvimento de software, respeitar as pessoas, além Lean software development (LSD)10 de fazer uma ótima integração na equipe de desenvolvimento. Os requisitos para que um Coding Dojo seja feito são listados a seguir: um computador conectado a um projetor; uma tela de projeção onde todos possam ver a solução do problema; um piloto, um copiloto e um mestre; mais pessoas que desejem participar; um bom número seria no mínimo cinco e no máximo nove. Com os requisitos organizados, o mestre oferece um desafio ao grupo. O piloto, um dos participantes sentado ao computador, é a única pessoa que pode utilizá-lo para concluir o desafio, enquanto o copiloto permanece ao seu lado, mas somente para observá-lo em ação e oferecer indicações. Todos os demais observam e podem discutir entre si e com o copiloto e o piloto. Qualquer um pode ainda fazer perguntas ao mestre, mas este só pode responder com outra pergunta. Um dos objetivos do Coding Dojo é a interação, por isso ao final de um tempo preestabelecido pelos participantes, em média entre 5 e 7 minutos, é feita uma troca entre um dos participantes da seguinte maneira: o piloto volta para a plateia, o copiloto se torna o próximo piloto e alguém da plateia passa a ser o copiloto, o que vai ao encontro do quarto princípio da metodologia lean, adiar comprometimentos. Ao final do Coding Dojo é feita uma retrospectiva, na qual podem ser utili- zadas diversas técnicas, com o objetivo de responder a três perguntas básicas. 1. O que aprendemos com o Coding Dojo de hoje? 2. O que podemos melhorar para a realização dos próximos Coding Dojos? 3. O que devemos continuar fazendo nos próximos Coding Dojos? Esses são um dos pontos mais altos do Dojo, pois é o momento em que os conhecimentos são apresentados a todos, indo ao encontro do terceiro princípio da metodologia lean, criar conhecimento. 11Lean software development (LSD) No artigo “Coding Dojos como aprendizado interno”, de Vitor Ruiz Leonel (2013), podemos aprender como funciona o uso da técnica de Coding Dojo como ferramenta de aprendizado e de trocas de experiências em uma empresa. No artigo “Coding Dojo 101”, Humberto Rocha (2016) demonstra um vídeo de um Coding Dojo feito na empresa Globo.com. No vídeo “Coding Dojo”, Daniel Cukier (2010) explica os conceitos básicos do Coding Dojo na empresa. Além do ambiente altamente divertido e do espírito de equipe que os Coding Dojos proporcionam, também são ensinadas técnicas de programação que vão ao encontro dos princípios um, cinco e sete da metodologia lean, eliminar desperdícios, entregar rápido e otimizar o todo respectivamente, que são trazidos de outra metodologia ágil, a Extreme programming (TELES, 2014), como as seguintes. Pair programming: programação em par. Passos de bebê: cada etapa para a solução deve ser pequena o suficiente para que todos possam compreender e replicar mais tarde. Refactoring: refatoração de código. Test driven development — TDD: antes de ser escrita uma implemen- tação de código é escrito um teste. Como podemos observar, no desenvolvimento de software, é imprescindível a adoção de uma metodologia de desenvolvimento ágil, com o objetivo de buscar competitividade no mercado, e o interessante é que todas as metodo- logias valorizam o capital intelectual das pessoas, recurso mais precioso em todo o processo. Lean software development (LSD)12 BACHE, E. The Coding Dojo handbook: a practical guide to creating a space where good programmers can become great programmers. [S. l.]: The Author, c2013. BERNARDO, K. Kanban: do início ao fim. Cultura Ágil, 8 dez. 2014. Disponível em: https:// www.culturaagil.com.br/kanban-do-inicio-ao-fim/#. Acesso em: 1 set. 2020. BROOKSHEAR, J. G. Ciência da computação: uma visão abrangente. 11. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. KEMP, A. Taiichi Ohno: hero of the Toyota production system, 2018. Disponível em: https://www.qad.com/blog/2018/03/taiichi-ohno-toyota-production-system. Acesso em: 1 set. 2020. KOSCIANSKI, A.; SOARES, M. S. Qualidade de software: aprenda as metodologias e técnicas mais modernas para o desenvolvimento de software. 2. ed. São Paulo: Novatec, 2007. MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 2015. MENEZES, I. R. (adapt.). O Dojo: o lugar de iluminação. c2015. Disponível em: https:// www.segmentodojo.com.br/o-dojo/o-que-e-dojo/. Acesso em: 1 set. 2020. OHNO, T. Toyota production system: beyond large-scale production. Portland, OR: Productivity Press, 1988. POPPENDIECK, M.; POPPENDIECK, T. Implementando o desenvolvimento Lean de software: do conceito ao dinheiro. Porto Alegre: Bookman, 2010. POPPENDIECK, M.; POPPENDIECK, T. Lean software development: an agile toolkit. Boston, MA: Addison-Wesley Professional, 2003. SOMMERVILLE, I. Engenharia de software. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. TELES, V. M. Extreme programming: aprenda como encantar seus usuários desenvolvendo software com agilidade e alta qualidade. 2. ed. São Paulo: Novatec, 2014. Leituras recomendadas CUKIER, D. Coding Dojo: introdução. [S. l.: s. n.], 2010. 1 vídeo (11 min). Publicado pelo canal TecNoz. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=E-jFKkaAc7k. Acessoem: 1 set. 2020. LEONEL, V. R. Coding Dojos como aprendizado interno. 2013. Disponível em: https:// partiu.loggi.com/coding-dojos-como-aprendizado-interno-203eb5ef8e92. Acesso em: 1 set. 2020. ROCHA, H. Coding Dojo 101, 2016. Disponível em: https://humberto.io/pt-br/blog/ coding-dojo-101/. Acesso em: 1 set. 2020. 13Lean software development (LSD) Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Lean software development (LSD)14 EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO Aguinaldo Ferreira dos Santos Lean startup Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar startup. Caracterizar a metodologia lean startup. Aplicar as principais metodologias ágeis envolvidas na metodologia lean startup. Introdução Com o intuito de evitar desperdícios, surgiu, no mundo empresarial, a metodologia lean startup, que é aplicada em todas as fases do processo de produção para a identificação e resolução de focos de desperdício de custo, tempo e recursos. Neste capítulo, você vai aprender sobre o conceito de lean startup, vendo como se conceitua startup, como se caracteriza, como se gerencia e quais objetivos devem permear essa metodologia. Além disso, vai compreender o que significa lean neste contexto, suas características e aplicações, especialmente no tocante às startups. Por fim, você vai entender quais são os aspectos envolvidos com metodologias ágeis (discutindo essa terminologia, suas características e aplicações) e como se aplicam nas lean startups. O conceito de startup O mundo corporativo, assim como o mundo em que vivemos, passa constante- mente por mudanças de costumes e de formas de ver e entender as coisas. No entanto, nenhuma área ou setor da economia passa por uma mudança de forma tão radical como o mercado de tecnologia da informação, muitas vezes com o intuito de focar em algo mais rápido e prático (TEIXEIRA; LOPES, 2017). Essas mudanças podem ser observadas com o surgimento e a aplicação de diferentes perceptivas e formas de fazer os negócios, como os atuais modelos de negócios. Esses planos, metodologias, modelos, ações e formas de identificar e agir frente a uma ideia que surge são determinados e mesmo associados à atual evolução tecnológica, que muito se deve ao advento da internet de uso comercial em meados dos anos 1990. Novas metodologias organizacionais têm se popularizado, principalmente na internet e em áreas correlatas. Nesse contexto, junto ao canvas, uma das metodologias organizacionais tidas como novas que vem se destacando é a de lean startup (em português, empresa iniciante enxuta). Para Dornelas (2016), o método lean startup foca na prototipação quando se trata de empre- endedorismo, sendo encarado como empreendedorismo efectual, pois propõe uma abordagem prática e rápida, com a intenção e proposta de “testar” um conceito, um produto ou serviço, além de analisar os resultados obtidos com essa prototipação, de modo que seja possível fazer as devidas melhorias ou adaptações e lançar uma nova versão no mercado. A Figura 1, a seguir, demonstra o fluxo considerado ideal para a metodo- logia lean startup. Figura 1. Lean startup. Fonte: Adaptada de (2018). Lean startup2 Lean Segundo Romero e Andery (2016), o lean manufacturing foi criado na fábrica da Toyota, no Japão do pós-guerra, mas, ainda segundo esses mesmos autores, se voltamos um pouco mais no tempo, é importante marcar que, no ano de 1937, Sakichi Toyoda desenvolveu estudos sobre a automação de teares manuais. Com a criação e implementação desse sistema que automatizava os teares, marca-se o surgimento de um dos pilares mais importantes do sistema Toyota de produção, mundialmente conhecido e amplamente utilizado até os dias atuais. No entanto, nem tudo é perfeito, e o sistema criado por Sakichi Toyoda, apesar de trabalhar sem a intervenção humana (já que operava automatica- mente), sempre parava quando se tinha algum problema, como, por exemplo, falta de fio. Essas metodologias do sistema Toyota de produção voltaram a ter evo- luções no Japão do Pós-Guerra, muito devido à devastação em que o país se encontrava, o que influenciou a criação dos sete desperdícios do sistema, listados a seguir. superprodução (Overproduction); estoque (Inventory); espera (Waiting); transporte (Transportation); defeitos (Defects); movimentação nas operações (Staff movement/Excess Motion); processamento (Unnecessary processing/Inappropriate Processing). Assim, considera-se o sistema Toyota de produção como responsável pela definição do termo lean manufacturing, pois esse sistema pregava, desde sua origem, o uso racional dos recursos. De forma clara e resumida, lean significa usar apenas o necessário, mantendo um fluxo contínuo, com fluxo de valor, produção enxuta e busca pela perfeição. Startup Segundo Bortoli Neto et al. (2018), Schumpeter, já na década de 1960, trouxe uma perspectiva em que propunha que o desenvolvimento econômico sempre esteve diretamente ligado ao empreendedorismo e à inovação. Nesse sentido, 3Lean startup esses mesmos autores destacam os aplicativos, e em especial os de transporte individual, como atores que cada vez mais aumentam sua participação e importância no mundo das inovações: Aplicativos criativos desestruturaram o negócio dos taxistas e a forma de atender os passageiros, como o Easy Taxi e o 99. Em seguida veio o Uber e, sem possuir nenhum ativo e com serviços mais baratos e mais sofisticados que o táxi, conseguiu atingir grande parte do público dos taxistas, revolucionando mais uma vez o setor. Foi a vez da entrada de concorrentes internacionais e da adaptação da 99 criando o 99 Black, com carros mais luxuosos e serviços especiais para enfrentar a concorrência. Mais uma vez, o Uber se transformou, criando o serviço compartilhado no qual cada passageiro paga parte da corrida (BORTOLI NETO et al., 2018, p. 144). Mas antes mesmo de tratarmos das startup propriamente ditas, precisamos identificar três termos que comumente são confundidos e classificados como a mesma coisa, são eles: invenção, descoberta e inovação. Inovação: apenas a introdução de uma novidade não determina uma inovação, são necessários alguns requisitos para que uma mudança de inovação agregue valor e seja percebida e aceita pelos clientes. Apesar de o termo ser amplamente utilizado de maneira indiscriminada, segundo Bortoli Neto et al. (2018), o conceito se aplica no âmbito da empresa e de organizações e não é adequado para a vida e realizações individuais (BORTOLI NETO et al., 2018). Invenção: é a criação de algo novo, que ainda não tinha sido usado ou percebido, que tenha ou não relevância econômica — algumas invenções inclusive acabam não indo a cabo pelo fator econômico. As invenções podem ser caracterizadas como uma inovação quando se transformam em uma mercadoria, que ganha valor atribuído e é aceita (comprada) pelos clientes. Descoberta: é “ato ou efeito de descobrir (algo), de retirar a proteção, a cobertura, a capa, o invólucro etc.; e descobrimento da ação, processo ou efeito de patentear ou revelar (o que não se sabia ou se achava escondido)” (HOUAISS, 2009, p. 635). Então, existe uma relação entre esses três termos e as startups? Sim, se- gundo Moreira (2016), essa relação começou durante a época denominada “bolha da internet”. Startup significava um grupo de pessoas trabalhando com uma ideia diferente que, aparentemente, poderia fazer dinheiro. Assim, Lean startup4 sempre foi sinônimo de iniciar uma empresa e colocá-la em funcionamento. Além disso, podemos caracterizar como startuptoda empresa em começo de operação, que está começando (start) seus trabalhos e operações. Mas você sabe qual é a ligação entre startup e tecnologia? É comum pensar em aplicativo quando se pensa em startup, e isso tem uma explicação: a tecnologia, em especial a internet e seus meios de comunicação, permitiu que cada vez mais indivíduos tenham oportunidade de demonstrar suas ideias e a importância e aplicabilidade das suas ideias. Assim, atualmente, temos um fenômeno de espalhamento de ideias e startups por meio dos apli- cativos, sendo que existem para todas as demandas do dia a dia das pessoas (BORTOLI NETO et al., 2018). O conceito de lean startup cada vez mais se expande no mundo do empreendedorismo. Acesse o link a seguir para descobrir como aplicar essa metodologia. https://qrgo.page.link/Y19pV Diferenciando startup e lean startup O conceito de lean startup não é novo, mas fi cou popular no mundo das startups (empresas de inovação geralmente envolvida com tecnologia embarcada) a partir da disseminação do modelo de negócio canvas, que foi seu propulsor. Segundo Oliveira (2018), o canvas pode ser entendido como uma luva para o modelo lean startup, pois apresenta uma representação esquemática visual, em blocos, que resume os principais componentes do modelo de negócio de uma empresa. Como toda startup está em busca de um modelo de negócio sustentável e replicável, o lean startup é uma ferramenta aplicável, pois precisa criar protótipos, testar hipóteses para, então, começar a crescer. Essa é a maior vantagem da ferramenta startup aqui apresentada: o que difere o startup puro e simples do lean startup consiste basicamente nessa saída do modo generalista e na busca pelo foco. Nesse contexto, o pioneiro na discussão sobre esse termo e metodologia foi Eric Ries, em seu livro A startup enxuta (2012). Para o autor, o método lean startup está apoiado em três importantes pilares: 5Lean startup Em primeiro lugar, todo indivíduo que pretende se tornar um empre- endedor precisa estar ciente de que, antes de lançar seu produto, não basta apenas se basear em pesquisa, tendo apenas hipóteses que precisa comprovar. Steve Blank (STEVE BLANK, 2009) sugere que, em vez de fazer um relatório, que pode ser longo e confuso (plano de negócios), a metodologia do lean startup propõe que o empreendedor use o canvas para montar o seu modelo. Em segundo lugar, o candidato a empreendedor precisa testar as suas hipóteses por meio do desenvolvimento com clientes (customer deve- lopment). Nessa etapa, o empreendedor busca contato com usuários, compradores e parceiros para coletar opinião sobre todas as partes do modelo de negócios, incluindo características do produto e preços. Em terceiro lugar, a startup enxuta usa o chamado “desenvolvimento ágil”, que possui uma ligação direta da empresa com os consumidores, dando cada vez respostas mais rápidas às necessidades desses clientes. Nesse desenvolvimento ágil, não há perda de tempo ou de recursos. Resumindo, para Eric Ries (2012), um modelo de criação de ideias e em- presas, para se caracterizar como lean startup (startup enxuta), precisa se enquadrar nesses três passos: utilizar o canvas, por ser mais visual e demo- crático entre todos os usuários, além disso, manter uma proximidade com o cliente e desenvolver o seu produto de acordo com a necessidade do cliente/ consumidor, para então utilizar metodologias ágeis no desenvolvimento da ideia, tornando-a mais dinâmica e flexível (RIES, 2012). Outra contribuição para o mundo dos negócios oriundo do lean startup foi a criação do conceito de MVP (Minimum Viable Product — produto mínimo viável), que se discute na sequência e que é tido como uma das bases sólidas do lean startup. MVP (Minimum Viable Product — produto mínimo viável) Um MVP (do inglês Minimum Viable Product — produto mínimo viável) é como uma versão beta de um produto, praticamente prototipação, que tem a função de ser desenvolvido de forma ágil e econômica, o mais barato possí- vel, para ser apresentada ao seus potencias clientes e receber retornos desses produtos iniciais, de forma a observar como ele se comportou no mercado. Trata-se de uma excelente ferramenta para obter informações sobre o seu mercado e validar premissas. Lean startup6 Assim, inclui testar hipóteses, pegar devolutivas do cliente acerca do pro- duto “lançado” e melhorar o produto antes desse lançamento, o que significa exatamente o contrário da corrente empresarial de meados do século XX, quando se gastava muito para criar e desenvolver um produto e lançá-lo no mercado — caso desse errado, tinha-se grande prejuízo e podia-se fechar a empresa (indiferentemente do seu porte). Assim, o MVP nasceu para ser um instrumento de teste e busca, dentre todas as vantagens que oferece, ajudar a antecipar problemas ou até a reescrever a estratégia do negócio. A seguir, veja alguns pontos que podem ajudar a determinar o MVP do seu produto ou empresa: formule hipóteses para validar; entenda o seu mercado; defina indicadores e estabeleça métricas; pense nas funcionalidades do seu MVP; não desista; não tenha medo de errar. Acessando o link disponível a seguir, você terá acesso ao site de Steve Blank, que apresenta toda a história do autor e fatores relacionados aos temas aqui tratados (lean startup e MVP). https://qrgo.page.link/xH5Wr Aplicabilidade de metodologias ágeis em lean startup O primeiro passo para a determinação uma metodologia ágil é o desenvolvi- mento de uma equipe que seja ao mesmo tempo multidisciplinar e multifuncio- nal, em que cada integrante saiba exatamente o que deve fazer em cada etapa do processo de desenvolvimento do produto ou serviço (OLIVEIRA, 2018). Segundo Oliveira (2018), devemos atentar para alguns aspectos que permitem formar uma equipe considerada com características ágeis, veja-as a seguir. 7Lean startup Busque sempre formar equipes multidisciplinares: formar equipes multidisciplinares consiste em recrutar para equipe os indivíduos com habilidades o mais diversificadas possível. Cada um deve saber o que fazer e principalmente como fazer. Forme equipes autogerenciáveis: equipes autogerenciáveis estão dire- tamente ligadas à capacidade individual da pessoa, pois não existe a necessidade da figura de um gestor detentor das informações. A própria equipe com seus integrantes se autorregula, determina as regras e como se cumpre os prazos. Após a escolha da equipe (multidisciplinar e auto gerenciável), torna- -se necessário determinar qual metodologia ágil se pretende utilizar. Nesse sentido, com maior afinidade com o lean startup, abordaremos 2 vertentes, o XP (Extreme Programming) e o Scrum. XP: nasceu no final da década de 1990 e é uma metodologia ágil, com foco no aumento da qualidade e da produtividade do desen- volvimento de sistemas de informação, com a inclusão de algumas técnicas práticas. Scrum: considerada uma das metodologias ágeis mais conhecidas e utilizadas, apresenta uma aplicabilidade em gestão de projetos e tecnologia da informação didático e de fácil entendimento. Essas são apenas duas entre uma grande variedade de metodologias ágeis no mercado atualmente, que está sempre recebendo atualizações. XP e Scrum, nesse contexto, destacam-se por serem de mais fácil entendimento e aplicação, especialmente no tocante a startups, e ainda mais focado ainda em lean startup, que busca sempre manter o mais enxuto e ágil o processo de desenvolvimento de uma ideia ou empresa. Como mencionado, a metodologia ágil possui uma ligação intrínseca com a metodologia lean startup, pois ambos termos e mesmo a forma de se pensar esses termos se assemelham, buscando: rapidez; agilidade; flexibilidade; envolvimento; Lean startup8 engajamento; multidisciplinaridade; Assim, ambas as metodologias se complementam, cada uma na sua particu- laridade e contribuindo com a outra, de forma que o lean startup fica melhor aplicadocom o Scrum, e o XP pode ser entendido como uso prático do lean process (startup) (Figura 2). Figura 2. Processo Scrum. Fonte: Adaptada de Elaine333/Shutterstock.com. Não se pode pensar em metodologias ágeis sem considerar o manifesto ágil, que surgiu com a ideia de 17 profissionais que se reuniram em um resort de esqui em 2001 para discutir novos métodos focados em construção de softwares que estavam surgindo à época. Esses profissionais deram início ao manifesto ágil com base nos seguintes valores: indivíduos e interações mais que processos e ferramentas; software em funcionamento mais que documentação abrangente; colaboração com o cliente mais que negociação de contratos; responder a mudanças mais que seguir um plano. Segundo Teixeira e Lopes (2017), a principal metodologia aplicada nesse conceito é o Scrum, que tem esse nome a partir do método de reinício de uma 9Lean startup jogada específica do rúgbi, representando inteligência, trabalho em equipe e sincronia, em que o erro de um jogador é sentido por todos. Tendo surgido com o objetivo de tornar o planejamento mais simples e rápido e aumentar o valor entregue para o cliente, as metodologias ágeis se tornaram populares devido à sua simplicidade e à capacidade de abraçar a incerteza e a criatividade. Acessando o link disponível a seguir, você terá acesso a um fluxograma de como elaborar um Scrum de um projeto ou startup de uma ideia ou empresa. Esses 11 passos não são regras sólidas e obrigatórias, já que as metodologias ágeis são cada vez mais flexíveis. Sendo assim, o ideal é seguir as ideias postas nesse fluxo em todos os processos que você pretende realizar no futuro. https://qrgo.page.link/ujEeQ ALMADA, A. MVP: inicie seu negócio com lançamento rápido e menor investimento. 2018. Disponível em: https://www.codus.com.br/blog/2018/08/23/mvp-solucao-para- -o-seu-negocio/. Acesso em: 11 set. 2019. BORTOLI NETO, A. et al. Manual prático para gestão de pequenas e médias empresas. Barueri: Manole, 2018. DORNELAS, J. Plano de negócio: seu guia definitivo: o passo a passo para você planejar e criar um negócio de sucesso. 2. ed. São Paulo: Empreende, 2016. MOREIRA, D. O que é uma startup?. 2016. Disponível em: https://exame.abril.com.br/ pme/o-que-e-uma-startup/. Acesso em: 11 set. 2019. OLIVEIRA, B. S. Métodos ágeis e gestão de serviços em TI: saiba como e por que montar equipes ágeis para gerenciar desenvolvimento, implantação e suporte de seus sistemas como serviço. Rio de Janeiro: Brasport, 2018. RIES, E. A startup enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extremamente bem-sucedidas. São Paulo: Leya, 2012. Lean startup10 ROMERO, F; ANDERY, P. Gestão de megaprojetos: uma abordagem Lean. Rio de Janeiro: Brasport, 2016. TEIXEIRA, T; LOPES, A. M. (Coord.). Startups e inovação: direito no empreendedorismo. Barueri: Manole, 2017. STEVE BLANK. Books for Startups. 2009. Disponível em: https://steveblank.com/books- -for-startups/. Acesso em: 12 set. 2019. Leitura recomendada PEDRO, D. 11 passos essenciais para implantar Scrum no seu projeto. 2015. Disponível em: http://www.mindmaster.com.br/scrum-11-passos/. Acesso em: 11 set. 2019. 11Lean startup SISTEMAS LEAN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Conceituar lean product development process. > Descrever os princípios do lean product development process. > Exemplificar o uso do lean product development process. Introdução Buscando vantagem competitiva frente a seus concorrentes, sobretudo em função dos avanços tecnológicos, muitas empresas investem em processos que possam atender e superar as expectativas de seus clientes. Uma das formas é utilizando os princípios do pensamento enxuto no processo de desenvolvimento de produtos. O processo de desenvolvimento enxuto de produto, do inglês lean product development process (LPDP), é relativamente recente e sua aplicação ainda sofre um pouco de resistência, visto que um processo de desenvolvimento de produto é cheio de incertezas e trabalha, principalmente, com dados no lugar de materiais tangíveis. Neste capítulo, vamos conceituar LPDP, apresentar seus princípios e for- necer alguns exemplos de sua aplicação. Lean product development process (LPDP) Aline Morais da Silveira Introdução ao lean product development process De acordo com Milan, Reis e Costa (2015, documento on-line): Desenvolver produtos, em curtos espaços de tempo, com razoável carga de ino- vação, que contribuam para atender às expectativas dos compradores e, por de- corrência disso, gerando resultados consistentes (volume de vendas, participação de mercado, lucro e rentabilidade), tem se tornado um desafio de complexidade crescente para os gestores. Nesse sentido, muitas empresas perceberam que utilizar a abordagem tradicional no processo de desenvolvimento de produtos apresenta algu- mas limitações, incluindo o grande número de mudanças no projeto, o alto custo devido às mudanças, a possibilidade de não atender às necessidades dos clientes e o atraso no lançamento do produto (DAL FORNO et al., 2008). Ao encontro disso, há os inúmeros desperdícios que estão presentes no desenvolvimento de produtos e que foram divididos em sete categorias por Peralta et al. (2017). Vejamos. 1. Superprodução: dados e informações desnecessárias, disseminação desorganizada da informação e informações empurradas ao longo do processo. 2. Inventário: perda de controle, excesso de informação e informação desatualizada. 3. Transporte: incompatibilidade com o canal de informação e falhas de comunicação e de segurança. 4. Movimentos desnecessários: falta de acesso direto às informações, reformatações e retrabalhos. 5. Espera: atraso de informações e informações enviadas antes da hora. 6. Defeitos de produto: falta de revisões, de testes ou de verificações. 7. Processamento: produção desnecessária, formatação “customizada” desnecessariamente e excesso de interações. Uma das formas de atender às necessidades do desenvolvimento de novos produtos combinando a redução e/ou eliminação de desperdícios é pelo LPDP, ou seja, utilizando os princípios enxutos no processo de desenvolvimento de produtos. O LPDP pode ser definido como “[...] um conjunto de práticas e fluxos de valor operacional que devem ser projetados para executar de forma con- sistente as atividades de desenvolvimento de produto de forma eficaz e Lean product development process (LPDP)2 eficiente, por meio da criação de conhecimento utilizável através da apren- dizagem” (LERMEN et al., 2017). Mas você deve imaginar que, para que o LPDP seja corretamente aplicado, é preciso que processos sejam ajustados, não é mesmo? Isso ocorre por meio de padronização, nivelamento, engenharia simultânea, entre outros meios. Também é preciso que as pessoas envolvidas sejam capacitadas e estejam integradas de forma multifuncional, além do uso de ferramentas e de tecnologias efetivas. No LPDP, busca-se reduzir ou até eliminar desperdícios com esforço humano, equipamentos, tempo e espaço. E você sabe como isso é possível? Para isso, o produto é desenvolvido seguindo a melhor sequência de ações, sem interrupções e em busca de uma melhoria contínua, além de sempre procurar aumentar o valor agregado para todos os stakeholders, ou seja, clientes, acionistas, fornecedores e sociedade. O objetivo principal do LPDP é a integração entre as atividades de de- senvolvimento de produto e o processo de fabricação. Para isso, é preferível que o novo produto use materiais que já fazem parte do inventário atual da fábrica, bem como a mesma base de fornecedores. Também se espera poucos componentes e/ou montagens, fluxo de processo semelhante aos já existentes e que seja possível a produção de pequenos lotes (PINHEIRO; TOLEDO, 2016). Você sabia que o LPDP pode ser comparado à prática de desenvolvimento integrado de produtos? Essa comparação é feita porque os dois incluem as mesmas práticas, mas, no LPDP, há uma visãomais orgânica do processo, pois se busca a máxima simplificação, a diminuição da formalização do processo e a valorização dos trabalhos dos times (ROZENFELD et al., 2006). No LPDP, também há a exploração de múltiplas alternativas nas fases iniciais do projeto, descartando as alternativas inferiores conforme o nível de detalhamento do projeto avança, até que se obtenha a solução final. As decisões de detalhes muito específicos são adiadas e otimizadas somente ao final do projeto. Os benefícios da aplicação do LPDP incluem a melhor comunicação en- tre as equipes envolvidas, a redução no tempo total de desenvolvimento e características como dinamismo e flexibilidade. Quando já existe um LPDP na empresa e se deseja melhorá-lo, pode-se seguir cinco passos específicos (LERMEN et al., 2017).: 1. identificar e avaliar os desperdícios; 2. priorizar os desperdícios; 3. analisar a situação atual a nível de subprocessos; Lean product development process (LPDP) 3 4. analisar as situações críticas dos subprocessos; 5. implementar ações corretivas. Princípios do lean product development process Para que o pensamento lean possa ser implementado no desenvolvimento de produtos, é necessário seguir os seguintes princípios norteadores (MILAN; REIS; COSTA, 2015). 1. Determinar o valor definido pelo cliente para separar o valor agregado de resíduos. 2. Focar a equipe na exploração de alternativas e soluções. 3. Criar um fluxo nivelado no processo. 4. Utilizar padronização rigorosa para reduzir as variações de processo. 5. Definir um engenheiro-chefe para integrar o desenvolvimento do início ao fim. 6. Organizar o equilíbrio funcional, a especialização e a integração multifuncional. 7. Desenvolver uma vasta competência técnica em todo o corpo técnico envolvido. 8. Integrar totalmente os fornecedores ao processo de desenvolvimento. 9. Construir um sistema de melhoria contínua e de aprendizagem. 10. Construir uma cultura de excelência, de suporte e de melhoria. 11. Adaptar a tecnologia para atender aos processos e às pessoas. 12. Alinhar informações por meio de uma comunicação visual simples e sistemática. 13. Padronizar processos, atividades e aprendizagem organizacional. Além desses princípios norteadores, é preciso que alguns antecedentes e elementos já estejam presentes, pois são fatores que afetam de forma positiva o desempenho no processo de desenvolvimento de produto. “Capacidade de liderança e de gestão, a cultura organizacional, as ferramentas utilizadas e o ambiente interno e externo à organização” (MILAN; REIS; COSTA, 2015, do- cumento on-line), bem como a maturidade lean da empresa, a utilização da tecnologia da informação e a capacidade financeira devem estar presentes. Na Figura 1, você pode ver um mapa conceitual para a implementação dos conceitos lean no processo de desenvolvimento de produtos. Lean product development process (LPDP)4 Figura 1. Mapa conceitual para a implementação dos conceitos lean no processo de desen- volvimento de produtos. Fonte: Adaptada de Milan, Reis e Costa (2015). Assim como no pensamento enxuto, no LPDP também são utilizados os mesmos cinco princípios, ou seja, especificar o valor, identificar o fluxo de valor, implantar fluxo contínuo, produção puxada e perfeição, como você verá a seguir. � Especificar o valor: o valor é definido pelo cliente final, então é preciso que o produto atenda às necessidades do cliente a um preço específico em um momento específico. Ou seja, o problema do cliente precisa ser definido, e a ação que resolve esse problema deve ser identificada. � Identificar o fluxo de valor: a empresa deve mapear e enxergar toda a sequência de operações e de atividades que agregam ou não valor ao processo produtivo e ao produto. Deve ser identificado o processo mais rápido, com menor custo e maior qualidade. � Implantar fluxo contínuo: as operações ou atividades que geram des- perdícios devem ser eliminadas, de forma que as demais etapas fluam naturalmente e criem valor. Lean product development process (LPDP) 5 � Produção puxada: é produzido somente o que é necessário e quando é necessário, evitando acúmulo de estoques. A voz do cliente deve ser ouvida durante todo o processo de desenvolvimento. � Perfeição: é um processo contínuo, visto que, quando o valor flui mais rápido, desperdícios ocultos acabam sendo expostos, sendo constantemente eliminados. É indicada a introdução de métodos e de ferramentas de redução de custo. “Quando um produto é modificado para melhorar a percepção de valor, cada alteração necessita de um compromisso de recursos. É importante identificar e perseguir apenas essas alterações, que fornecem uma melhoria máxima na percepção de valor” (PERALTA et al., 2017, documento on-line), pois, se muitas alterações forem realizadas, é possível que algumas delas não agreguem valor ao produto, acarretando desperdício de recursos como tempo e dinheiro. Enquanto, na manufatura, o fluxo é de materiais, no desenvolvi- mento de produtos, ele é de informações. Então, no LPDP, “[...] a informação flui durante o processo, as atividades executadas adicionam valor, transformando os dados brutos iniciais em valor a ser entregue ao cliente, através das dimensões de produto, processo e organização” (DAL FORNO et al., 2008, documento on-line). Ferramentas como kaizen, 5S, mapeamento de processos e outras ferra- mentas básicas da qualidade podem ser adaptadas do lean manufacturing para serem utilizadas no desenvolvimento de produtos. Algumas práticas para um LPDP incluem engenharia simultânea baseada em conjuntos de possíveis soluções, envolvimento dos fornecedores e dos clientes, gestão visual, tra- balho em grupo, times multifuncionais, padronização, redução do tamanho dos relatórios e um líder de projeto, também chamado de engenheiro-chefe (PINHEIRO; TOLEDO, 2016). Você sabia que a presença do engenheiro-chefe (shusa) pode ser considerada a principal ferramenta do LPDP? Isso acontece porque é ele quem define os projetos a serem desenvolvidos, bem como os produtos a serem produzidos e comercializados — ou seja, ele representa o cliente. Lean product development process (LPDP)6 O LPDP proposto por Lermen et al. (2017) é composto por quatro macrofases e nove fases. As fases são as seguintes. 1. Front end (estratégias e portfólio e gestão de projetos). 2. Projeto (necessidades e requisitos, sistema conceitual, projeto deta- lhado e teste e validação). 3. Processo (manufaturar e lançamento do produto). 4. Pós-desenvolvimento (monitorar e descontinuar). Veja, a seguir, algumas das atividades de cada uma dessas fases. � Estratégias e portfólio: selecionar os melhores projetos, avaliar o con- ceito do ciclo de vida do produto, quantificar os impactos ambientais do produto, escolher os melhores projetos a serem desenvolvidos. � Gestão de projetos: identificar o sensei (líder), instalar uma sala obeya, otimizar o fluxo de trabalho, identificar as melhores soluções. � Necessidades e requisitos: mapear os stakeholders e determinar seus desejos e necessidades, agrupar as opiniões e as informações, elaborar uma checklist de coleta de dados, quantificar requisitos que atendam às necessidades do consumidor. � Sistema conceitual: definir a função dos processos internos do sistema, desenvolver conjuntos de alternativas, comparar vários conceitos para escolher o melhor. � Projeto detalhado: detectar possíveis falhas e avaliar seus efeitos no projeto/processo, monitorar e controlar os projetos, reduzir custo, planejar experimentos, desenvolver o protótipo. � Teste e validação: estruturar um experimento, desenhar o processo produtivo, aplicar os conceitos da engenharia de valor, analisar gráficos de interação de cada projeto (o engenheiro-chefe escolhe o melhor projeto). � Manufaturar: o líder (sensei) e toda a equipe frequentam o chão de fábrica para identificar problemas, determinar o que deve ser produ- zido, transportado ou comprado, reduzir o tempo depreparação dos equipamentos, realizar melhoria contínua dos processos por meio de reuniões, aplicar mecanismos para evitar erros, automatizar o processo. � Lançamento do produto: desenvolver processo de vendas e distribuição, promover marketing, lançar produto. Lean product development process (LPDP) 7 � Monitorar e descontinuar: descrever o desempenho do produto, re- gistrar plano de vida do produto, refletir sobre o projeto para admitir os erros, medir o desempenho. Sala obeya é um local de colaboração onde as informações estão disponíveis e são gerenciadas coletivamente por meio de reuniões curtas e periódicas. Exemplos de aplicação De um modo geral, os princípios lean podem ser aplicados em qualquer sistema em que há fluidez de um produto para atender à necessidade do cliente final. Porém, isso ainda ocorre de forma discreta, principalmente se comparado à aplicação dos princípios lean em processos de manufatura e administrativos. A seguir, veremos estudos de diferentes autores referentes à aplicação do LPDP em empresas brasileiras dos mais variados ramos. Uma pesquisa realizada com 47 empresas dos ramos automotivo, de bens de consumo, metalúrgico, químico, alimentício, de higiene e saúde, siderúrgico e aeronáutico que já apresentavam lean manufacturing implantado há pelo menos cinco anos observou que as empresas estão migrando os princípios enxutos para o desenvolvimento de produtos e que, mesmo utilizando fer- ramentas clássicas e já consolidadas, como FMEA (análise do modo e efeito de falha de projeto) e DfX (design for excellence), elas são orientadas por princípios lean (PINHEIRO; TOLEDO, 2016). Além disso, o LPDP pode ser aplicado no setor eletroeletrônico. Um exem- plo é o estudo realizado por Dal Forno et al. (2008), o qual verificou que a filosofia enxuta é utilizada na fase de projeto conceitual (busca, criação, representação e seleção de soluções para o problema de projeto). Devido à necessidade de reduzir o lead-time do processo de desenvolvimento até o lançamento do lote piloto, foram desenvolvidos alguns passos de acordo com os princípios enxutos. Foi realizado um mapeamento de fluxo de valor do “estado atual” e as atividades que não agregavam valor foram eliminadas, permitindo a elaboração do “estado futuro”. Pessoas foram alocadas em pequenos times multidisciplinares e a sistemática enxuta foi utilizada para seleção e desenvolvimento de alternativas para a o projeto, até que a mais compatível com as metas fosse selecionada. Para a realização desse projeto, Lean product development process (LPDP)8 foi necessário o aumento de 66% da equipe, mas isso, em conjunto com os princípios enxutos, resultou em uma redução de dois terços no tempo previsto para desenvolvimento (de 300 para 100 dias). A aplicação do LPDP também foi estudada em uma empresa de pequeno porte que atua no mercado de autopeças. O desenvolvimento do produto acontece sob demanda de clientes específicos, não para o mercado como um todo. Esse tipo de desenvolvimento apresenta, como característica, mudanças mais profundas nas fases iniciais do processo. Foi selecionado um processo de desenvolvimento de produto com fluxo de valor a ser melhorado, defi- nidos os elementos do fluxo de valor e desenhado o mapa do estado atual. Observou-se desperdícios como espera por liberação do projeto, problemas de incompatibilidade, reutilização pobre do conhecimento, reutilização pobre de projetos, deslocamento físico dos funcionários, reutilização pobre do conhecimento, retrabalho, tarefas interrompidas e filas no caminho crítico. Foi proposta a eliminação dos desperdícios e elaborado em mapa futuro com a implementação das melhorias, indicando uma redução de 54,8% no lead-time e 67,2% na eficiência (SALGADO et al., 2009). Adicionalmente, em uma indústria produtora de implementos agrícolas, foi analisada a aplicação do LPDP na engenharia. A aplicação da filosofia lean no processo de desenvolvimento de produto passou pelas seguintes etapas: definição das famílias de produtos, diagnóstico dos principais problemas na engenharia e em sua interface com as áreas comercial e de produção e reestruturação da área de engenharia, criando líderes dedicados para cada família de segmentos e equipes multidisciplinares descentralizadas. Com essas alterações, espera-se redução no ciclo de desenvolvimento de produto, redução dos custos, aumento da capacidade de gerar inovações e aumento do ciclo de vida útil do produto (NAZARENO; JUNQUEIRA; RENTES, 2004). Por fim, na indústria da construção civil o LPDP também pode ser aplicado, desde que observando algumas limitações, visto que a prestação de serviços é feita por várias empresas distintas, com culturas e processos de trabalho diferentes. Com isso, ocorre uma descentralização do processo de projeto, dificultando a implantação de conceitos relacionados à liderança e ao desenvolvimento de fornecedores. Já os princípios atrelados a trabalho colaborativo e entrega de valor são aplicados mais facilmente, e “[...] mesmo nos casos em que as empresas não praticam um processo enxuto, o mercado de edificações, seus clientes e usuários estão buscando uma melhoria do trabalho em equipe que resulte em um melhor produto final” (FRANCO, 2016, documento on-line). Lean product development process (LPDP) 9 Referências DAL FORNO, A. J. et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: integrando a abordagem Lean no projeto conceitual. GEPROS, ano 3, nº 4, p. 45–58, 2008. Disponível em: https:// revista.feb.unesp.br/index.php/gepros/article/view/503/198. Acesso em: 22 dez. 2020. FRANCO, J. V. Referencial para a aplicação do processo enxuto de desenvolvimento de projetos de edificações. 2016. 140 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura, Tecnologia e Cidade) — Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016. Disponível em: http://repositorio.unicamp. br/bitstream/REPOSIP/305379/1/Franco_JessicaValejo_M.pdf. Acesso em: 22 dez. 2020. LERMEN, F. H. et al. Framework baseado em práticas e ferramentas do lean product development: case de elevador com plataforma de acessibilidade. In: CONGRESSO DE SISTEMAS LEAN, 7., 2017, Niterói. Anais eletrônicos [...]. Disponível em: http://www. producao.uff.br/lean7/arquivos/finalizados/artigos/31.pdf. Acesso em: 22 dez. 2020. MILAN, G. S.; REIS, Z. C. dos; COSTA, C. A. A implementação dos conceitos lean no pro- cesso de desenvolvimento de novos produtos (DNP). Revista Qualit@s, v. 17, nº 1, 2015. Disponível em: http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/article/view/2211/1275. Acesso em: 22 dez. 2020. NAZARENO, R. R.; JUNQUEIRA, R. P.; RENTES, A. F. O impacto do sistema lean de de- senvolvimento na estrutura organizacional da área de engenharia: um estudo de caso. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 11., 2004, Bauru. Anais eletrônicos [...]. Disponível em: https://www.hominiss.com.br/es/img/usr/teses-artigos/O_im- pacto_do_Sistema_Lean_de_Desenvolvimento.pdf. Acesso em: 22 dez. 2020. PERALTA, C. B. da L. et al. Princípios lean no processo de desenvolvimento de produto (PDP) – uma abordagem qualitativa. Revista Espacios, v. 38, nº 27, p. 35–50, 2017. Dis- ponível em: https://www.revistaespacios.com/a17v38n27/a17v38n27p36.pdf. Acesso em: 22 dez. 2020. PINHEIRO, L. M. P.; TOLEDO, J. C. de. Aplicação da abordagem lean no processo de desenvolvimento de produto: um survey em empresas industriais brasileiras. Revista Gestão e Produção, v. 23, nº 2, p. 320–332, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/ pdf/gp/v23n2/0104-530X-gp-0104-530X1313-15.pdf. Acesso em: 22 dez. 2020. ROZENFELD, H. et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006. SALGADO, E. G. et al. Análise da aplicação do mapeamento do fluxo de valor na identi- ficação de desperdícios do processo de desenvolvimento de produtos. Revista Gestão e Produção, v. 16, nº 3, p. 344–356, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/gp/v16n3/v16n3a03.pdf. Acesso em: 22 dez. 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Lean product development process (LPDP)10 SISTEMAS LEAN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Comparar táticas e técnicas para a redução do tempo de setup em uma unidade fabril. > Identificar os estágios para implantação do método de troca rápida de ferramentas. > Exemplificar a aplicação de conceitos da troca rápida de ferramentas. Introdução A competição no meio industrial é muito intensa: quem tem o produto mais inova- dor, quem produz mais rápido, com maior qualidade e menor custo de produção ganha. Em função disso, é muito importante o desenvolvimento e a aplicação de técnicas para que conseguir um lugar de destaque nessa disputa. Nesse contexto, o sistema de troca rápida de ferramentas (TRF) foi desenvolvido com o intuito de melhorar a produção em vários aspectos com base na organização das tarefas para redução do tempo de preparação da máquina — esse tempo é conhecido também como tempo de setup. Para que seja possível alcançar resultados positivos, há diferentes técnicas que podem ser aplicadas, sendo necessário seguir algumas etapas na sua implantação. Neste capítulo, você vai conhecer as técnicas que são utilizadas para redução do tempo de preparação das máquinas, as etapas a serem seguidas para imple- mentar o sistema de troca rápida de ferramenta e, ainda, vai ver uma abordagem prática de comparação entre diferentes estudos de caso, de modo a estar apto para aplicar esses conceitos e o sistema de TRF. Troca rápida de ferramentas (TRF) Ricardo Bega de Andrade Táticas e técnicas para a redução do tempo de setup A metodologia de troca rápida de ferramentas (TRF) não se detém apenas em conseguir a redução de tempo de setup, mas, também, busca alcançar os benefícios que essa redução provoca, pois possibilita a produção de lotes menores de produtos, economicamente viáveis, tornando a empresa mais flexível e pronta para se adaptar rapidamente às mudanças do mercado, além de auxiliar na redução dos custos de produção com a diminuição do estoque (FOGLIATTO; FAGUNDES, 2003). De acordo com Harmon e Peterson (1991), com a redução do tempo de setup, geralmente, reduz-se o investimento para produção em função de três fatores: 1. com o custo de setup alto, é necessário que a produção seja realizada em lotes grandes, para ser viável economicamente; com isso, é neces- sário dispor de um grande estoque. 2. com o desenvolvimento de técnicas mais simples e mais rápidas para as trocas das ferramentas, há também a redução da possibilidade de erros advindos da regulagem dos equipamentos. 3. com a redução do tempo de setup, automaticamente, há um aumento de tempo da máquina em operação, o que aumenta, consequentemente, a produção. Na Figura 1, a seguir, você pode conferir a influência do tempo de setup com relação à produção. Figura 1. Volume de produção que deixa de ser produzido para a preparação da máquina. Troca rápida de ferramentas (TRF)2 Segundo Satolo e Calarge (2008), a TRF — originalmente chamada de SMED (do inglês Single Minute Exchange of Die) — foi amplamente difundida a partir da década de 1970 e desenvolvida no Japão por Shigeo Shingo. Foram neces- sários 19 anos de pesquisas e seu desenvolvimento se deu, principalmente, em três plantas de indústrias concorrentes: Mazda, Mitsubishi e Toyota. Shingo (1996, 2000) desenvolveu a metodologia TRF a partir de uma ob- servação estratégica que posteriormente resultou em conceitos e técnicas para a implantação da metodologia. Essa observação estratégica foi dividida em dois grupos: um com a estratégia envolvendo as habilidades e o outro envolvendo o tamanho do lote. As habilidades são advindas do conhecimento do operador sobre a máquina juntamente com a habilidade e a experiência que esse operador possui nas atividades que envolvem o setup. Quando o TRF é aplicado em máquinas mais complexas, há um preparador, que é um operador especialista em preparação das máquinas (FOGLIATTO; FAGUNDES, 2003). A estratégia envolvendo o tamanho do lote está relacionada ao custo do setup, pois, se esse for elevado, a produção de um lote pequeno é inviável; então, com a necessidade de aumentar a produção, há produção antecipada, aumentam-se os gastos com estoque e o risco de defeitos causados pelo desgaste de ferramentas e pela falta de regulagem da máquina (FOGLIATTO; FAGUNDES, 2003). A metodologia TRF proposta por Shingo (2000) implica quatro etapas. A primeira delas inclui a análise da operação e de como ela está sendo realizada. Essa etapa é feita em conjunto com os operadores, mas não há distinção entre setup interno e setup externo (que ocorrem com a máquina parada e com a máquina em funcionamento, respectivamente). Na segunda etapa, é realizada a separação entre o setup interno e o setup externo — essa etapa é considerada a mais importante na implantação do TRF. Na terceira etapa, é analisado o setup visando a possibilidade de que ações que são realizadas no setup interno sejam realizadas no setup externo, com a máquina em fun- cionamento. Na quarta etapa, é realizada a análise de todas as atividades — tanto do setup interno quanto do setup externo —, buscando organizar as operações, eliminar o máximo de ações possível e otimizar o setup. Alguns autores propuseram diferentes pensamentos sobre a TRF, mas todos seguem como base o que foi desenvolvido por Shingo. Monden (1983), por exemplo, também propôs a metodologia TRF com quatro etapas. Nesse modelo, a primeira etapa realiza a diferenciação entre os setups internos e externos; a segunda e a terceira etapa se referem a estudos na fase de projeto do produto — a segunda buscando a padronização de ferramentas e Troca rápida de ferramentas (TRF) 3 a terceira visando a redução ou a eliminação de ajustes —; e a última etapa é a eliminação da troca de ferramenta, o que se dá por meio da utilização da mesma ferramenta para a produção de diferentes peças ou para a fabricação simultânea de várias peças. Black (1998) encara a TRF como uma metodologia científica dividida em sete etapas, em que a primeira é a responsável por determinar o método já existente, realizado por meio do estudo das movimentações e da análise do tempo referente às atividades realizadas no setup. A segunda etapa consiste em separar o setup interno e o setup externo, a terceira etapa é voltada à conversão do setup interno em setup externo e a quarta etapa é eliminar, ou pelo menos reduzir, ações internas — essas três etapas são, basicamente, as etapas intermediárias (segunda e terceira) propostas pro Shingo. As três últimas etapas que Black (1998) propôs podem ser entendidas como a divisão da quarta etapa proposta por Shingo, sendo a quinta etapa realizada junta- mente aos operadores analisando os métodos empregados no setup interno — também é realizado um trabalho de motivação com esses operadores com treinamentos e qualificações visando padronização, multifuncionalidade e prática dos setups. A sexta etapa se refere a eliminar os ajustes e a sétima etapa busca eliminação total do setup ou a sua realização automática, o que já é conseguido, por exemplo, em centros de usinagem mais modernos que possuem um magazine de ferramentas em que o operador pode incluir diversas ferramentas diferentes. Para Moxham e Greatbanks (2001), se a empresa não estiver predisposta a adotar a metodologia TRF, será ineficaz; com isso, além das etapas pro- postas por Shingo, para os autores, deve-se adicionar uma etapa inicial. Ou seja, antes de iniciar a análise do processo, é necessário que haja total comprometimentode toda a equipe, desde a alta gerência, até os operado- res, criando-se afinidade entre os colaboradores, o que auxiliará os demais processos para a implantação da TRF. Com isso, você pode entender que existem várias maneiras de aplicar a metodologia TRF em uma empresa, independentemente do ramo de atuação, basta saber escolher qual proposta de aplicação se adequa melhor ao caso escolhido. Para dar continuidade em seu processo de aprendizagem sobre TRF, a seguir, será detalhada a metodologia utilizada pelos autores Fagundes e Fogliato (2003), escolhida devido à riqueza de detalhes e distinção entre as etapas do processo. Troca rápida de ferramentas (TRF)4 Todos os métodos apresentados para troca rápida de ferramentas (TRF) são derivados da metodologia desenvolvida por Shingo, porém, cada um apresenta sua especificidade. Apesar disso, é importante lembrar que as fases para a implantação da TRF sempre incluem: � observação do processo atual. � separação entre setup interno (com a máquina parada) e setup externo (com a máquina em funcionamento). � análise de ações realizadas no setup interno e transferência dessas ações para o setup externo. análise dos setups para organizar, buscando a máxima otimização do processo por meio da eliminação de ações desnecessárias. Estágios de implantação do método de troca rápida de ferramenta A proposta de metodologia de implantação da TRF de Fagundes e Fogliato (2003) é realizada por quatro estratégias e quinze técnicas. As quatro etapas estratégicas são divididas em estágio estratégico, estágio preparatório, estágio operacional e, por fim, estágio de comprovação. Estágio estratégico A primeira técnica apresentada pelos autores é o convencimento da alta gerência, o que se deve ao alto nível de influência na tomada de decisões que esses cargos possuem. Para iniciar o processo de convencimento, é necessário que você tenha pleno conhecimento das ações que realizará para a implan- tação da TRF e uma noção de quais serão os resultados após a implantação. A etapa seguinte é a definição das metas a serem alcançadas após a implantação da metodologia TRF. Para isso, é necessário ter os dados da situação inicial do setup e, após a análise desses dados, definir o percentual de redução de tempo que é possível conseguir com a aplicação da metodo- logia. Por último, é preciso firmar um cronograma com todas as ações que serão realizadas e o tempo estimado para cada ação, que deverá ser escrita em um formulário-padrão disponibilizado a todos os membros da equipe de implantação. A escolha da equipe de implantação é uma etapa extremamente importante no processo, pois é ela que ficará responsável por definir e acompanhar Troca rápida de ferramentas (TRF) 5 cada ação contida no cronograma, ou seja, essa equipe é responsável pelo andamento da implantação e pelo seu sucesso. Entre algumas caracterís- ticas importantes que essa equipe deve possuir, podemos destacar: “[...] conhecimento dos processos, autonomia, capacidade de liderança, posição de respeito e presença de representantes de todas as áreas da empresa” (FOGLIATTO; FAGUNDES, 2003, p. 167). A próxima etapa é o treinamento da equipe de implantação. A metodo- logia TRF deve ser passada à equipe bem detalhadamente, de uma maneira que todos que a compõem adquiram o conhecimento das etapas e técnicas e ainda sejam capazes de transmitir esse conhecimento. Para aumentar a probabilidade de sucesso na implantação, indica-se a realização de visitas em empresas que já utilizaram a mesma metodologia para redução do setup; se não for possível, deve-se utilizar como exemplos estudos de caso na mesma área, ou em áreas semelhante, de onde será implantado a metodologia. É importante que o número de participantes dessa equipe seja maior que o número de times de implantação, pois cada time de implantação deve conter pelo menos um colaborador da equipe de implantação para repassar o co- nhecimento em caso de dúvidas durante o processo. O treinamento do time de implantação pode ser realizado por membros da equipe de implantação, que tem um enfoque diferente do treinamento da equipe, pois deve priorizar ministrar o conhecimento prático da metodologia, destacando a importân- cia da redução do tempo de setup — os demais conhecimentos podem ser passados de uma maneira mais limitada. A equipe de implantação é composta por colaboradores da empresa em que está sendo realizada a implantação da TRF. Esses colabo- radores receberão um treinamento completo, em que todas as características e possibilidades de implantação da metodologia lhes serão passadas. Já os times de implantação são compostos por colaboradores que atuam em setores específicos e podem ser treinados por membro da equipe — o treinamento dos times tem objetivos exclusivamente práticos. A definição da estratégia de implantação é a última etapa do estágio estratégico. É nessa etapa em que se realiza o planejamento da implanta- ção, identificando as ações a serem realizadas e o que será necessário para se conseguir realizar essas ações. Nessa fase, é definido um coordenador, que controlará e acompanhará as ações do cronograma de implantação. É importante que o coordenador tenha algumas características, como: Troca rápida de ferramentas (TRF)6 [...] conhecimento das estratégicas e técnicas para aplicação da metodologia de TRF; capacidade de liderança; poder e autoridade para tomada de decisões quanto a investimentos e mudanças; e conhecimento de sistemáticas para trabalho em grupos (FOGLIATTO; FAGUNDES, 2003, p. 168). Estágio preparatório A primeira etapa desse estágio é a definição do produto que será inicialmente abordado — a metodologia TRF deve ser aplicada no(s) produto(s) de maior relevância. Se você possui conhecimento da curva ABC de uma determinada empresa, deverá aplicar essa metodologia nos produtos classificados como “A”, pois, assim, o resultado será mais impactante, estimulando a aplicação desta metodologia nos demais produtos. Todos os produtos devem fazer parte da aplicação da metodologia, e a curva ABC ajuda a encontrar a sequência dos produtos mais relevantes, que indicará a sequência de implantação. Curva ABC A curva ABC foi desenvolvida com base no princípio de causa e efeito de Joseph Pareto e determina que 20% das causas geram 80% dos efeitos — por exemplo, em uma indústria, 20% da sua gama de produtos são responsáveis por 80% das vendas. Essa curva ajuda a determinar o grau de importância de cada produto (CAMARGO, 2018). A etapa intermediária do estágio preparatório é a definição do processo a ser inicialmente abordado. Nessa etapa, é definida uma operação piloto, que tem o objetivo de aplicar na prática os conceitos adquiridos teoricamente. Na operação piloto, é possível identificar ações que, na prática, não correspondem como planejado, para corrigir antes que seja aplicado em mais processos. Essa operação deve ser realizada no produto escolhido na etapa anterior. A operação piloto é realizada pela equipe de implantação, que comparará os resultados esperados com os obtidos e apresentará os resultados positivos a toda equipe da empresa com intuito motivacional. A última etapa do estágio preparatório é a definição da operação a ser inicialmente abordada. Essa etapa é realizada para solucionar as possíveis restrições que há na operação, eliminando, assim, a necessidade da compra de novos equipamentos. Essas restrições podem ser solucionadas pela teoria das restrições e, após identificadas, podem ser solucionadas pela aplicação prática da metodologia TRF, que se inicia logo após essa etapa. Troca rápida de ferramentas (TRF) 7 Estágio operacional A primeira etapa desse estágio é a análise da operação a ser inicialmente abordada. Nessa etapa, são listadas todas as atividades realizadas no setup. Devem ser relacionados nessa lista as atividades, os tempos médios de cada atividade e quem as realiza (caso seja realizado por mais de um operador). Comessa lista, realiza-se a identificação e a análise de cada atividade. Para isso, podem ser utilizadas técnicas de análise e soluções de problemas ou, o que é mais recomendado, essa atividade pode ser filmada. Quando você realiza a filmagem tanto do setup antes da aplicação da metodologia quanto após a aplicação da metodologia, é possível utilizar o vídeo como ferramenta motivacional para dar continuidade à implementação da TRF em mais ope- rações. Na Figura 2, você confere 26 itens de uma lista. Figura 2. Lista de atividades realizadas no setup. Fonte: Trombeta et al. (2020, p. 49). Após finalizada, a lista será analisada na etapa de identificação das operações internas e externas do setup e, nessa etapa, são identificados e separados os setups internos e externos. Para obter êxito nessa etapa, Troca rápida de ferramentas (TRF)8 é recomendado utilizar técnicas de análise e solução de problemas e da filmagem da operação de setup. Após realizada a separação entre os setups, é hora de iniciar a próxima etapa, conversão de setup interno em externo, quando são examinadas todas as operações que ocorrem com a máquina parada. Se forem identificadas ações que podem ser realizadas com a máquina parada, essas deverão ser realocadas para serem realizadas com a máquina em funcionamento, e ações que não são necessárias para o setup deverão ser eliminadas. Técnicas de análise e solução de problemas e da filmagem da operação de setup também podem ser utilizadas nessa etapa. Com essas ações, já será possível identificar redução no tempo de setup. Praticar e padronizar a operação de setup é uma etapa que tem como finalidade colocar em prática as alterações realizadas, contabilizando as melhorias obtidas e repetindo a operação de setup até conseguir o melhor resultado. Essa melhoria deve ser divulgada a todos que participam do setup e utilizada nas operações de setup seguintes. A padronização é conseguida quando há sincronia entre a máquina, o operador e os materiais e tem a finalidade de reduzir a troca de ferramentas na operação e no setup. Algumas técnicas são utilizadas para prática e padronização da operação de setup, como uso de dispositivos de fixação rápida (redução do tempo de montagem e desmontagem), padronização das partes necessárias dos equipamentos e ferramentas (ganho de tempo na padronização e menos investimento) e utilização der alguns elementos auxiliares com o objetivo de eliminação de ajustes com a máquina parada (setup interno), que está diretamente ligada à próxima etapa. Essa etapa consiste em eliminação de ajustes e, até que a operação es- teja produzindo peças em conformidade, são necessários pequenos ajustes no início da operação de produção — a geração de peças desconformes, por exemplo, acarreta gastos desnecessários à empresa. Com ajustes bem determinados, há a eliminação, ou pelo menos a redução, dos gastos com tempo e dinheiro. Isso é conseguido por meio do projeto estatístico de ex- perimentos, em que serão identificados os melhores ajustes para o inicio mais rápido do processo. A etapa seguinte é a eliminação do setup, o que segue o conceito ideal do JIT (just-in-time), porém, normalmente, é inviável sua realização. Essa etapa fica restrita a casos nos quais há a intercambialidade de peças e a automatização do processo. A eliminação do setup pode ocorrer na fase de projeto, em que já é planejado comprar equipamentos que realizem o setup automaticamente. Troca rápida de ferramentas (TRF) 9 Estágio de consolidação Esse estágio é composto por apenas uma etapa, que é a consolidação da TRF em todos os processos da empresa. Os esforços de implantação da TRF não devem ser direcionados a processos que estão em fase final, nem aos que receberão investimentos em novas tecnologias e equipamentos — para esses casos, a TRF deve ser aplicada na fase de projeto. A efetiva consolidação pode ser comprovada pela análise de indicadores, que pode ser feita pelo cálculo do lote econômico de produção e a diferença entre o tempo de setup antes e depois da implementação da metodologia TRF, o que é facilmente verificado em todas as fases da implantação. A estabilidade de produção é outro fator importantíssimo após a implantação da TRF, mas, para isso, é imprescindível a calibração e a conservação do equipamento. Para garantir isso, é necessário que a manutenção preventiva e preditiva seja realizada corretamente. Teoria das restrições A teoria das restrições basicamente apresenta que em todo tipo de processo gerenciável há alguma restrição que não permite que a empresa avance, de modo que a melhor forma é identificar as restrições e solucioná-las da melhor maneira possível. Projeto estatístico de experimentos Projeto, ou planejamento, de experimentos busca minimizar o tempo de testes e encontrar os ajustes o quanto antes. Aplicação da implantação da metodologia TRF Neste tópico, revisaremos os conceitos sobre a metodologia TRF aplicados na prática por meio de um estudo de caso realizado por Chiroli et al. (2019) em que o foco é no estágio operacional. Esse estudo foi realizado em uma indústria beneficiadora de sementes de grande porte. A planta estudada possui quatro linhas de recebimento de sementes e é composta por três atividades: o sistema de descargas por correia (SDC), despalhadeiras e secadores. O objetivo do estudo foi a redução do tempo de setup da limpeza dessas linhas de recebimento, que é neces- sária para a eliminação dos resíduos de semente do lote anterior, deixando o equipamento em condições de recebimento de um novo lote de sementes Troca rápida de ferramentas (TRF)10 que será processado. A meta estabelecida antes do início da implantação da metodologia foi de redução de 30% do tempo de setup. Para determinação do tempo de setup, foram realizadas 270 medições. O tempo médio de setup das quatro linhas de recebimento, antes da aplicação da metodologia TRF, é de aproximadamente 2,1 horas. As atividades que compreendem a limpeza no SDC são: � apanhar os equipamentos de proteção individual (EPIs); � limpeza do caminhão; � limpeza onde o caminhão estava estacionado (em frente ao SDC); � soprar ar nos transportadores (TRs) — ao mesmo tempo era realizada a vibração das calhas do WWB (Warm Water Bath). Ao finalizar essas atividades, o procedimento de setup na despalha era iniciado. O tempo médio de setup no SDC resultava em 0,5 horas. A limpeza da despalha envolve as seguintes atividades: � apanhar os EPIs; � soprar ar comprimido na parte superior das despalhadeiras; � remover as espigas presas nos rolos das máquinas — em paralelo, era soprado ar comprimido nas despalhadeiras para remover as sementes restantes; � limpar as mesas de seleção; � soprar ar nos TRs. Após essas atividades, era iniciada a limpeza no secador. O tempo médio de setup na despalhadeira resultava em 1,5 horas. No secador, a sequência de atividades para limpeza era: � apanhar os EPIs; � realizar a limpeza dos TRs; � realizar a limpeza do piso superior. O tempo médio de setup no secador era de 0,3 horas. Todas as atividades descritas no SDC, na despalhadeira e no secador eram realizadas com a máquina parada, resultando na totalidade das atividades realizadas em setup interno; com isso, o tempo necessário para a finalização desse o processo era uma média total de aproximadamente 2,1 horas. A relação Troca rápida de ferramentas (TRF) 11 entre a sequência de atividades para cada equipamento, o tempo de cada atividade e a somatória dos tempos estão descritos no Quadro 1, a seguir. Quadro 1. Relação entre atividades e tempos Equipamento Atividade Tempo (min) Total (horas) SDC Apanhar os EPIs 2 0,0 Limpar o caminhão 5 0,1 Limpar em frente ao SDC 4 0,2 Soprar ar nos TRs 5 0,3 Vibração das calhas (WWB) 6 0,4 Despalhadeira Apanhar os EPIs 6 0,5 Soprar ar comprimido na parte superior da despalhadeira 34 1,0 Remover as espigas 29 1,5 Soprar ar comprimido na despalhadeira Limparas mesas de seleção 10 1,7 Soprar ar nos TRs 8 1,8 Secador Apanhar os EPIs 2 1,9 Realizar a limpeza dos TRs 9 2,0 Limpeza do piso superior 5 2,1 Para efetivação da implantação da metodologia TRF, foram necessárias algumas alterações nos três setores estudados. O líder de produção assume a responsabilidade de avisar todos os setores quando a última carreta for acoplada e os procedimentos para que o setup seja iniciado — quando os operadores recebem esse aviso, um operador deve verificar se todos os EPIs e ferramentas necessárias para a realização do setup estão disponíveis. Melhorando a comunicação entre a equipe, há diminuição da probabilidade de falhas que produzem atrasos. Troca rápida de ferramentas (TRF)12 Setup do sistema de descargas por correia (SDC) No sistema de descargas por correia (SDC), os operadores, quando recebem o aviso, já iniciam a colocação dos EPIs e a pré-limpeza ao redor do SDC, em locais de fácil acesso e ao redor do caminhão que está descarregando ali, adiantando o serviço de limpeza para quando o caminhão sair daquele local. O tempo de descarregamento da carreta foi cronometrado pela equipe de implantação (33 vezes) e, com isso, determinou-se que, quando a carreta está com 30% de sua capacidade, um operador da SDC deverá avisar um operador da despalha que o setup da despalhadeira precisa ser iniciado. Esses 30% representam o tempo de 36 minutos para finalizar a descarga do produto. Quando o nível da carreta chega a 1%, um operador da SDC deverá avisar um operador da despalha o volume da carreta. Em seguida, são tomados alguns cuidados referentes à segurança dos operadores para que dois deles entrem no caminhão e realizem a limpeza interna do caminhão. O caminhão é retirado pelo motorista e, então, realiza-se a retirada do excesso de material que está no chão, joga-se no SDC e outro operador já inicia a limpeza da tampa da moega com um soprador de ar comprimido. O operador que jogou o resto do material no SDC já deve, em sequência, iniciar a limpeza dos TRs e da calha (WWB). Com todos os pontos limpos, o operador que realiza a vistoria preenche um checklist e indica que todos os itens do SDC estão limpos, sem risco de mistura com outros materiais. Setup na despalha Quando o aviso de que o último caminhão está descarregando chega, um operador da despalha verifica se as ferramentas e os EPIs que serão utilizados na limpeza estão disponíveis. Quando avisados sobre o nível da carreta em 30%, um operador inicia a limpeza na parte superior das despalhadeiras e retira o excesso de semente do lado externo dos TRs. Quando chega o aviso de que o nível da carreta chegou a 1% no SDC, o flap que direciona as espigas de sementes direciona todo o fluxo para uma despalhadeira, permitindo que, então, outro operador realize um procedimento de segurança e que tenha início a limpeza das outras três despalhadeiras. Um terceiro operador deve garantir que nenhuma espiga fique nas des- palhadeiras após a sopra de ar comprimido. O primeiro operador deve ficar atendo, pois, assim que o caminhão finalizar o descarregamento, deve iniciar a limpeza nos TRs, localizados na parte superior das despalhadeiras; fina- lizado esse processo, o mesmo operador deve iniciar a limpeza das mesas Troca rápida de ferramentas (TRF) 13 de seleção. Simultaneamente, os operadores das mesas de seleção (dois) devem começar a varrer o chão e recolher as espigas que caíram da mesa. Nesse momento, o quarto operador deve avisar o operador do secador para que inicie a limpeza. Após o primeiro operador finalizar a limpeza das mesas de seleção, terá início a limpeza dos TRs que levam ao secador. Com todos os pontos limpos, o operador que realiza a vistoria preenche um checklist e indica que todos os itens das despalhadeiras estão limpos, sem risco de mistura com outros materiais. O operador do sacador é avisado para que a limpeza no secador tenha continuidade. Setup no secador No momento em que a última carreta é acoplada, o operador que realiza a vistoria final verifica se todos os EPIs e ferramentas necessárias para a limpeza no secador estão disponíveis. Quando avisados de que o setup nas despalhadeiras está na fase final, os operadores já iniciam a vestimenta dos EPIs e posicionam as ferramentas que serão utilizadas na limpeza dos TRs que chegam ao secador. Assim que finalizado o setup das despalhadeiras, o operador inicia a limpeza no TR e, quando finalizada, o operador que realiza a vistoria é chamado para preencher o checklist e indicar que todos os itens estão limpos, podendo, assim, receber outro caminhão com um carregamento diferente do anterior. Ganhos com a aplicação da metodologia TRF No Quadro 2, são apresentadas as alterações de setup para todos os setores. Com essas alterações e com otimização nos processos de setup interno, obteve-se um ganho de tempo expressivo — no SDC, o ganho foi de 0,3 horas; na despalha, de 0,9 horas e, no secador, de 0,2 horas. Troca rápida de ferramentas (TRF)14 Quadro 2. Características das alavancas Equipamento Atividade Antes Depois SDC Apanhar os EPIs Setup interno Setup externo Limpeza do caminhão Setup interno Setup externo Limpeza em frente ao SDC Setup interno Setup externo Soprar ar nos transportadores Setup interno Setup externo Vibração das calhas (WWB) Setup interno Setup externo Despalhadeira Apanhar os EPIs Setup interno Setup externo Soprar ar comprimido na parte superior da despalhadeira Setup interno Setup externo Remoção das espigas Setup interno Setup interno Soprar ar comprimido na despalhadeira Setup interno Setup interno Limpar das mesas de seleção Setup interno Setup interno Soprar ar nos transportadores Setup interno Setup interno Secador Apanhar os EPIs Setup interno Setup externo Realizar a limpeza dos transportadores Setup interno Setup interno Limpeza do piso superior Setup interno Setup externo Na Figura 3, são apresentados os resultados obtidos em cada uma das linhas. Você pode observar que houve uma redução significativa do tempo de setup, o que resultou em 56% do tempo de setup inicial. Troca rápida de ferramentas (TRF) 15 Figura 3. Lista de atividades realizadas no setup. Fonte: Chiroli et al. (2019, p. 9). Na Figura 4, são apresentadas as reduções de tempo de setup para cada um dos setores e fica evidenciado que o setor gargalo do processo era a despalha, onde foi conseguido maior ganho de tempo. Figura 4. Resultados obtidos por setor. Fonte: Chiroli et al. (2019, p. 10). A redução de 56% no tempo total do setup implicou um aumento da dispo- nibilidade diária de 4,9 horas — se esse tempo for utilizado para aumentar a produção, isso leva a um aumento de 6,2% da produção. É importante observar que esse aumento foi resultado da aplicação da TRF apenas com organização e padronização das atividades — nenhum investimento em equipamento Troca rápida de ferramentas (TRF)16 foi realizado —, o que mostra o quão benéfica pode ser a utilização dessa ferramenta em uma indústria. No Quadro 3, são apresentados os indicadores dos resultados e os ganhos obtidos após a aplicação da metodologia TRF. Quadro 3. Alterações de setup interno em setup externo Indicadores Linha 1 Linha 2 Linha 3 Linha 4 Total Média carretas processadas/dia 6,1 6,5 10 8,3 30,9 Peso médio (ton)/carreta 22 22,4 23,1 23,2 90,7 Capacidade produtiva (ton)/dia 150 150 240 200 740 Média carretas/h 0,3 0,32 0,5 0,42 1,54 Média de setups/dia 1 1 1 1 4 Tempo disponibilizado pela metodologia SMED (h) 1,1 1,3 1,3 1,1 4,8 Volume ganho (ton)/dia 7,5 9,4 15,5 10,9 43,3 Disponibilidade ganha em carretas/ dia 0,34 0,42 0,67 0,47 1,9 Volume ganho (ton)/mês 224,4 282,2 464,3 327,1 1298 Disponibilidade ganha em carretas/ mês 10,2 12,7 20,2 14,2 57,3 Fonte: Adaptado de Chiroli et al. (2019). Além disso, foi confeccionado um manual de instruções para cada uma das operações para que, com o passar do tempo, esses ganhos não fossem perdidos. Nessesmanuais, consta um fluxograma do passo a passo que deve ser realizado durante o setup e também o checklist que deve ser preenchido para validação de cada setup. A meta inicial de redução do tempo de setup era de 30% e o resultado obtido foi bem melhor, 56%. Troca rápida de ferramentas (TRF) 17 Referências BLACK, J. T. O projeto da fábrica com futuro. Porto Alegre: Bookman, 1998. CAMARGO, R. F. Como utilizar a curva ABC no planejamento e controle de estoque. 2018. Disponível em: https://www.treasy.com.br/blog/curva-abc/#. Acesso em: 15 dez. 2020. CHIROLI, D. M. G. et al. Aplicação de troca rápida de ferramentas (TRF) em linhas de recebimento: estudo de caso em uma indústria do setor sementeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 9., 2019, Ponta Grossa. Anais [...]. Rio de Janeiro: APREPRO, 2019. FOGLIATTO, F. S.; FAGUNDES, P. R. M. Troca rápida de ferramentas: proposta metodológica e estudo de caso. Gestão & Produção, v. 10, n. 2, p. 163–181, 2003. HARMON, R. L.; PETERSON, L. D. Reinventando a fábrica: conceitos modernos de pro- dutividade aplicados na prática. Rio de Janeiro: Campus, 1991. MONDEN, Y. O sistema Toyota de produção. São Paulo: IMAM, 1983. MOXHAM, C.; GREATBANKS, R. Prerequisites for the implementation of the SMED me- thodology: a study in a textile processing environment. International Journal of Quality & Reliability Management, v. 18, n. 4, p. 404–414, 2001. SATOLO, E. G.; CALARGE, F. A. Troca rápida de ferramentas: estudo de casos em diferentes segmentos industriais. Exacta, v. 6, n. 2, p. 283–296, 2008. Disponível em: https://www. redalyc.org/pdf/810/81011748011.pdf. Acesso em: 15 dez. 2020. SHINGO, S. Sistemas de produção com estoque zero: o sistema shingo para melhorias contínuas. Porto Alegre: Bookman, 1996. SHINGO, S. Sistema de troca rápida de ferramenta. Porto Alegre: Bookman, 2000. TROMBETA, P. et al. Redução do tempo de troca de moldes com smed: single minute exchange of die and tool em uma indústria de calçados. Revista Iberoamericana de Ingeniería Mecánica, v. 24, n. 1, p. 43–58, 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Troca rápida de ferramentas (TRF)18 SISTEMAS LEAN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Conceituar pensamento enxuto. > Descrever a evolução histórica do pensamento enxuto. > Enumerar as diferentes áreas de aplicação do pensamento enxuto. Introdução Devido à evolução dos processos produtivos ao longo dos anos, tornou-se neces- sário reduzir e, até mesmo, eliminar desperdícios, visto que atividades que não agregam valor ao cliente final acabam por onerar o sistema produtivo, diminuindo os ganhos de um negócio. Esses objetivos podem ser alcançados por meio do pensamento enxuto, que visa à melhoria contínua a fim de que o cliente receba um produto de qualidade, dentro do prazo estipulado. Esse pensamento pode ser aplicado nos mais dife- rentes ramos, como na fabricação de produtos, na prestação de serviços, nas atividades administrativas, entre outros. Neste capítulo, você poderá compreender o pensamento enxuto, conhecendo seus princípios, seu funcionamento e sua evolução histórica. Além disso, apresenta- remos aqui algumas áreas que têm se beneficiado com a aplicação do pensamento enxuto em suas atividades. O pensamento enxuto Aline Morais da Silveira Pensamento enxuto: definição e princípios Surgido a partir de uma demanda por melhorias nos sistemas de produção, o pensamento enxuto, ou pensamento lean, “[...] é uma técnica que permite a uma empresa eliminar desperdícios onde quer que eles estejam e fazer com que o cliente receba somente aquilo que deseja, no momento e na quantidade requisitada” (CABRAL; ANDRADE, 1998, p. 2). O pensamento enxuto foi idealizado por Taiichi Ohno e melhorado por James Womack e Daniel Jones, como veremos com maiores detalhes adiante. O termo “pensamento” mostra que esse conceito é abrangente, abarcando ações realizadas não apenas no chão de fábrica, mas também em áreas administrativas e pelos fornecedores, visto que “[...] busca atingir todas as atividades que geram valor ao produto, quer elas sejam realizadas na própria companhia ou em outro local” (CABRAL; ANDRADE, 1998, p. 2). Segundo Azevedo (2020), o pensamento enxuto é pautado nos dois pilares apresentados a seguir. � Melhoria contínua: processo contínuo que ocorre mediante ações que visem à garantia da qualidade dos processos. � Respeito às pessoas: cultivo de um ambiente seguro, em que os tra- balhadores sejam incentivados a dar o seu melhor em cada etapa do processo produtivo. Conforme Lean Blog (O QUE..., 2018), o pensamento enxuto possui cinco princípios: valor, fluxo de valor, fluxo contínuo, produção puxada e kaizen. O valor “[...] é o ponto de partida da mentalidade enxuta”, sendo definido pelo cliente, de acordo com o que ele está disposto a pagar. “Especificar o valor do produto com precisão é o primeiro passo essencial no pensamento enxuto”. Todas as atividades que não agregam valor devem ser minimizadas ou eliminadas (MORO; BRAGHINI JUNIOR, 2016, p. 93). O fluxo de valor pode ser determinado a partir do seu mapeamento. Nele, o processo produtivo é visto de forma macroscópica, de modo a definir a melhor sequência de atividades. O fluxo contínuo, segundo Coutinho (2020), é um dos princípios mais difíceis de serem implementados, pois diz respeito à execução de atividades sem interrupções. Caso sejam necessários retrabalhos ou pausas, o lead time (tempo entre o início e o fim de uma atividade) é afetado. A produção puxada se refere à produção realizada sob demanda, isto é, à produção personalizada para atender às demandas do cliente. O pensamento enxuto2 Já o kaizen é a busca pela melhoria contínua dos processos, das pessoas e dos produtos, visto que o pensamento enxuto considera que sempre há algo a melhorar em busca da perfeição. Você pode encontrar mais detalhes e alguns exemplos práticos a respeito dos cinco princípios do pensamento enxuto em “Os cinco passos do pensamento enxuto (lean thinking)” (2010), de Ricardo Sarmento Costa e Eduardo G. M. Jardim. O material está disponível na internet. Segundo Ballé et al. (2019, documento on-line), para que ocorra uma trans- formação lean, é preciso que exista “[...] uma transformação pessoal no nível da liderança em termos de como pensar sobre a solução de problemas antes que possa ocorrer uma transformação em nível corporativo”. O Quadro 1 apresenta o funcionamento do pensamento lean, de acordo com o qual ini- cialmente (1) se encontram os problemas para, em seguida, (2) enfrentá-los, (3) enquadrá-los em situações dinâmicas e, por fim, (4) desenvolver a solução. Quadro 1. Pensamento lean Pensamento Ação Mente 3. Enquadrar a situação em termos dinâmicos de dimensões de melhoria e mecanismos de resistência. 4. Desenvolver a solução ao promover capacidades e moldá-las no processo ao lado das principais partes interessadas. Mundo 2. Enfrentar os problemas reais ao comprometer-se em medir nossa experiência além dos números existentes para entender o que está acontecendo de fato. 1. Encontrar quais realmente são as questões relacionadas aos clientes, fornecedores e local de trabalho. Fonte: Adaptado de Ballé et al. (2019). As quatro fases do pensamento lean apresentadas no Quadro 1 acontecem não ao mesmo tempo, e sim em forma de um ciclo contínuo. Para Liker e Franz (2013), a alma do pensamento enxuto é o método de solução de problemas plano-execução-verificação-ação (PDCA, do inglês plan-do-check-act), mas, O pensamento enxuto 3 para Ballé et al. (2019, documento on-line), o pensamento enxuto começapela ação, ou seja, por “[...] resolver problemas imediatos para melhor entender as questões mais impactantes”. De acordo com Ballé et al. (2019), até hoje a Toyota considera o PDCA a principal ferramenta de melhoria, julgando que os fatos, e não somente os dados, são a grande fonte de conhecimento. Ballé et al. (2019) destacam que o pensamento enxuto é dinâmico, de modo que as próprias equipes agregam valor para criar mais valor e menos desperdício. Nele, as pessoas trabalham para melhorar imediatamente as situações, encontrando os problemas reais que são enfrentados e medindo os resultados com vistas a uma reflexão profunda e à aplicação de mais melhorias, quando necessárias. No Quadro 2, há uma comparação entre o pensamento lean e o pensamento tradicional. Quadro 2. Comparativo entre pensamento tradicional e pensamento lean Pensamento tradicional Pensamento lean Definir: o líder define a situação ao explicar como as coisas são, como deveriam ser e como pretende remediar a situação usando uma estratégia visionária. Encontrar: o líder encoraja a melhoria para construir relacionamentos e descobrir quais são os problemas reais, de acordo com o que é fácil ou difícil de melhorar. Decidir: o líder compromete sua organização com uma trajetória dentre várias para alcançar os objetivos escolhidos. Enfrentar: ao criar medidas e indicadores pontuais, o líder compartilha os problemas com todos para que possam ver onde estão e se confrontar com a situação. Desempenhar: o líder age por si ou promove as mudanças ao fazer com que sejam realizadas por meio de planos de ação executados pela hierarquia, exigindo lealdade à sua “visão”, recompensando seguidores e superando a resistência. Enquadrar: ao refletir profundamente sobre o que a melhoria revelou sobre a situação e como as pessoas a veem, o líder enquadra a situação em termos de dimensões de melhoria, não um destino, e envolve todos no processo de dar seus próprios passos adiante. Confrontar: o líder lida com as consequências (muitas vezes inesperadas) da sua ação e a reação das condições reais que afetam até mesmo as estratégias mais astutas. Desenvolver: ao expandir as capacidades progressivamente com as próprias pessoas envolvidas ao longo das dimensões de melhoria, o líder molda a nova situação e resultados superiores a partir do desempenho aprimorado. Fonte: Adaptado de Ballé et al. (2019). O pensamento enxuto4 Como você pôde observar no Quadro 2, há nos dois pensamentos a pre- sença constante de uma liderança. Entretanto, a atuação do líder é diferente em cada um dos casos. No pensamento tradicional, o líder é quem toma as decisões e assume as consequências, reduzindo a autonomia dos demais envolvidos. Já no pensamento lean, o líder se faz presente para motivar os demais envolvidos, a fim de que, juntos, possam encontrar e solucionar os problemas. História e formação do pensamento enxuto O pensamento enxuto surgiu após análises e melhorias dos processos produ- tivos. Inicialmente, a construção dos produtos ocorria de forma artesanal e, segundo Dennis (2008), dependia da experiência do artesão, pois não existiam métodos nem padrões. Então, com a Revolução Industrial, foram criadas fábricas que dispunham de trabalhadores especializados e produção em massa, mas careciam de processos, padrões e procedimentos para a correta interação entre homem e máquina (SANTOS, 2016). Depois da Revolução Industrial, começaram a surgir as figuras de geren- tes, coordenadores e engenheiros de produção. Nesse contexto, ao final do século XIX, Frederick Winslow Taylor, um gerente de fundição da Filadélfia, sugeria que os gerentes passassem a estudar e melhorar o trabalho dos funcionários, buscando o aumento da produtividade. No sistema Taylor de produção, também chamado taylorismo, engenheiros determinavam, a partir de estudos sobre tempo e movimento, a melhor forma de realizar o trabalho — estabelecendo uma separação clara entre o planejamento e a mão de obra. Segundo Dennis (2008), o taylorismo possuía algumas inovações e vantagens em relação à produção artesanal, como a padronização do trabalho, a redução no tempo de ciclo, os estudos de tempo e movimento e a melhoria contínua do processo produtivo. No início do século XX, Henry Ford — jovem empresário estadunidense idealizador do fordismo — buscava desenvolver um automóvel que oferecesse facilidade de fabricação e conserto, padronização para intercâmbio entre as peças e, consequentemente, economia. No entanto, colocava-se para ele uma grande dificuldade: coordenar a montagem de modo que não houvesse engarrafamentos na linha de produção. Então, como contorno à situação, foram reduzidas as ações de cada trabalhador e instaladas linhas de montagem em movimento. A partir dessas mudanças, o tempo de produção, que era contado em horas em 1908, passou a durar minutos em 1913 (DENNIS, 2008). O pensamento enxuto 5 Nessa época, também houve um aumento na busca pela qualidade dos produtos. Isso tornou justificáveis a realização de inspeções e o cumprimento de normas, bem como um maior cuidado para evitar que os funcionários cometessem erros durante a execução de suas atividades. Com o crescimento evidente da produção em massa, Alfred Sloan passou a aplicar inovações de gerenciamento e marketing na fábrica da General Motors (GM), descentralizando as operações em divisões automotivas e di- visões de peças, sendo cada uma delas administrada por um gerente geral (DENNIS, 2008). Uma mistura entre o sistema de Taylor, as inovações manufatureiras de Ford e as técnicas administrativas e de marketing de Sloan, a produção em massa tradicional apresentava alguns problemas. Dentre eles, podem-se destacar a alienação dos trabalhadores, que detestavam o sistema e “[...] lutavam constantemente para reduzir as horas de trabalho”, em um ambiente onde existia “[...] um baixíssimo sentimento de parceria entre a empresa e seus funcionários”; a baixa qualidade dos produtos e a alta taxa de defeitos; e uma menor comunicação entre os engenheiros, o que implicava um maior tempo para que um produto saísse do projeto e chegasse à produção (DENNIS, 2008, p. 23–24). Em 1950, o engenheiro japonês Eiji Toyoda visitou uma fábrica da Ford nos Estados Unidos que produzia, em média, 7 mil automóveis por dia. Essa situação era bem diferente da observada na Toyota, fábrica de sua família, que, depois de “[...] treze anos de esforço, [...] conseguira produzir apenas 2.685 automóveis”. Então, após muito estudo, “[...] Eiji e seu gênio de produ- ção, Taiichi Ohno, chegaram à conclusão de que a produção em massa não funcionaria no Japão” (DENNIS, 2008, p. 25). Segundo Dennis (2008), a Toyota teve de enfrentar alguns desafios: o mer- cado interno necessitava de uma grande variedade de veículos, a economia japonesa estava com pouco capital após a Segunda Guerra Mundial e existiam muitas outras fábricas de automóveis que queriam se fixar no Japão. Frente a esse cenário, Taiichi Ohno sabia que o trabalhador era seu recurso mais valioso e, desse modo, desenvolveu atividades de forma que todos os membros da equipe se envolvessem em melhorias. Além disso, foram desenvolvidas máquinas flexíveis e de tamanho adequado e foi criado um sistema de troca rápida entre um produto e outro na linha de produção. O pensamento enxuto6 Os padrões estão presentes no sistema proposto por Taiichi Ohno, mas ele os deixa abertos para que cada trabalhador melhore o seu desempenho. Ademais, esse sistema permite que cada funcionário execute múltiplas atividades dentro da empresa. O sistema Toyota de produção, ou sistema lean de produção, solucionou os problemas da Toyota. Ao final dos anos 1960, diversas inovações haviam sido implementadas na produção, tornando-se necessário que também os fornecedores adotassem esse sistema — o que se estendeu até o final dos anos 1970 (DENNIS, 2008). No início dos anos 1990, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Mas-sachusetts (MIT, do inglês Massachusetts Institute of Technology) alertaram os países ocidentais sobre os métodos de produção que eram adotados em empresas automobilísticas japonesas. Posteriormente, dois desses pesqui- sadores, James Womack e Daniel Jones, “[...] apresentaram uma proposta para empresas de produção em massa se transformarem em enxutas, introduziram alguns elementos que ampliaram a concepção inicial, e desenvolveram um novo conceito denominado Pensamento Enxuto” (CABRAL; ANDRADE, 1998, p. 2). Áreas de aplicação do pensamento enxuto O pensamento enxuto pode ser utilizado por áreas bastante diversas, por “[...] organizações de todos os setores e segmentos”, sendo possível aplicá-lo “[...] tanto em projetos e processos de produtos, quanto em serviços” (AZEVEDO, 2020, documento on-line). A seguir, você poderá conhecer alguns exemplos de áreas de aplicação do pensamento enxuto. Produção enxuta A produção enxuta, ou manufatura enxuta (do inglês lean manufacturing), é a aplicação mais ampla e difundida do pensamento enxuto. Segundo Leão (2020), o seu objetivo é fazer mais com menos, minimizando ou eliminando os desperdícios. Além disso, ela também busca a melhoria contínua, tanto nos processos quanto nos produtos, de forma a encontrar a causa raiz dos problemas para que gastos com perdas e devoluções sejam reduzidos. Ainda, outro objetivo da manufatura enxuta é produzir conforme a demanda do cliente, evitando que produtos fiquem parados à espera da sua venda, o que causa depreciação e ocupação de estoques. O pensamento enxuto 7 Desenvolvimento enxuto de produto Segundo Machado (2006), o processo de desenvolvimento de produtos não é simples, visto que diferentes produtos necessitam de diferentes processos. Além disso, Moro e Braghini Junior (2016, p. 95) destacam que: [...] a competição global acirrada resultou em mudanças rápidas nos ambientes tecnológicos, bem como dos gostos e preferências dos clientes, diminuindo o ciclo de vida do produto e fazendo com que as empresas tenham que introduzir novos produtos constantemente no mercado. Para um desenvolvimento ágil, inédito e com melhores práticas em relação aos concorrentes, fez-se necessário que o desenvolvimento de produtos passasse a se basear nos princípios enxutos. Essa mudança deu origem ao desenvolvimento enxuto de produto (ou, no inglês, lean product development), cujas etapas seguem o princípio LAMDA (do inglês look-ask-model-discuss- -act), descrito a seguir. � Look: olhar o problema. � Ask: perguntar, chegando à causa raiz. � Model: modelagem por meio de análise, simulação, protótipos e modelos. � Discuss: discussão. � Act: ação para testar de forma experimental. De acordo com Moro e Braghini Junior (2016), alguns dos principais bene- fícios oferecidos pelo desenvolvimento de produtos lean são menor tempo de desenvolvimento, menos problemas de qualidade, aumento da inovação, reutilização de peças e sistemas e redução dos custos de desenvolvimento, o que leva, consequentemente, ao aumento da competitividade. Tecnologia da informação enxuta A tecnologia da informação enxuta (lean IT, do inglês lean information tech- nology), tem a função de integrar corretamente a tecnologia da informação (TI) ao negócio, levando valor de forma mais rápida ao cliente. Segundo Lean TI (O QUE..., c2020), a aplicação dos conceitos lean na área de TI busca aproximar essa área dos responsáveis pelos negócios, facilitar as entregas de valor, modificar a forma de execução das tarefas, mudar a forma de resolução dos problemas e promover uma mudança cultural. O pensamento enxuto8 A lean IT pode ser aplicada tanto em empresas de TI quanto em empresas que fazem parte de outros ramos, mas utilizam a TI. Manutenção enxuta Conforme Teles (2018), a manutenção surgiu com a intenção de ser enxuta, mas muitas vezes passa a ser fonte de despesas por problemas de gestão. Ao longo dos anos, a manutenção sofreu algumas evoluções, passando de uma manutenção corretiva para uma preventiva e, posteriormente, preditiva. Com a manutenção enxuta (ou, no inglês, lean maintenance), busca-se reduzir ao máximo ou até mesmo eliminar as fontes de improdutividade, o que melhora a confiabilidade e a disponibilidade dos equipamentos e, con- sequentemente, aumenta a produtividade e os ganhos. Algumas das fontes de improdutividade na manutenção citadas por Teles (2018) são a instrução, a obtenção de ferramentas, o deslocamento até o equipamento, os atrasos, a ociosidade, as interrupções e o excesso de mão de obra. De acordo com Santos (2017), os principais conceitos da manutenção enxuta são os seguintes: proativo, planejado e agendado, manutenção produtiva total (TPM, do inglês total productive maintenance), manutenção centrada em confiabilidade (RCM, do inglês reliability-centered maintenance), equi- pes capacitadas, processo 5S, eventos de melhorias Kaizen, manutenção autônoma, técnico de manutenção multiespecialista, sistema de ordem de serviço, sistema de manutenção gerenciado por computador, gerenciamento de ativos corporativos, armazém distribuído e peças e materiais just-in-time. Teles (2018, documento on-line) destaca que, com a manutenção enxuta, espera-se “Fazer cada vez menos trabalhos de manutenção, porém com maior eficácia. Fazer cada vez menos inspeções e encontrar um número maior de defeitos. Ter cada vez menos estoque de peças de reposição e garantir que seja suficiente”. Logística enxuta A logística enxuta (ou, no inglês, lean logistics), segundo Camelo et al. (2010), objetiva simplificar os mais diversos processos logísticos a partir da identi- ficação do que agrega valor ou não. Então, com a redução ou eliminação de desperdícios, minimizam-se custos e pode-se obter vantagem competitiva em relação aos concorrentes. O pensamento enxuto 9 Como a logística possui clientes internos e externos, não é tão fácil espe- cificar os princípios enxutos. De acordo com Camelo et al. (2010), atividades como transporte, movimentação e estoque são vistas pela produção como desperdício; porém, na logística essas atividades agregam valor. No Quadro 3, há uma comparação entre as perdas na logística enxuta e as perdas na produção enxuta. Quadro 3. Comparativo entre perdas na produção enxuta e na logística enxuta Sete perdas na produção enxuta Sete perdas na logística enxuta Perdas por superprodução Superoferta por quantidade Perdas por transporte Superoferta por antecipação Perdas por processamento Perdas por processamento Produtos defeituosos Perdas por defeitos Perdas por movimentação Perdas por movimentação Perdas por esperas Perdas por esperas Perdas por estoque Perdas P (previsão, planejamento, programação, prazo) Fonte: Adaptado de Camelo et al. (2010). Saúde enxuta A saúde enxuta (ou, no inglês, lean healthcare) visa a “[...] desenhar as ope- rações na perspectiva de geração de valor para o paciente”. Ao eliminar atividades que não geram valor e acarretam desperdícios, o pensamento enxuto aplicado à saúde permite que o paciente percorra “[...] sem interrup- ções, desvios, retornos ou esperas, todo o processo de tratamento” (ARAUJO et al., 2009, p. 4). Alguns desperdícios que devem ser minimizados ou eliminados no ambiente hospitalar são os seguintes (BARBOSA; BARBOSA; SANTOS, 2015). � Defeito: medicamento errado ou administrado na dose errada. � Superprodução: procedimentos, tratamentos e diagnósticos desnecessários. O pensamento enxuto10 � Transporte: movimentação de pacientes ao longo dos corredores para realização de exames. � Espera: esperas para consultas, exames, leitos, resultados, documentos. � Estoques: descarte de medicamentos vencidos. � Movimento: leiaute malplanejado, levando a grande deslocamento de funcionários. � Excesso de processamento: paciente respondendo às mesmas per- guntas diversas vezes. Construção enxuta A construção enxuta (ou, no inglês, lean construction) “[...] expressa um sis- tema de trabalho baseado em qualidade totalcom agregação de valor sobre o produto final, eliminação de desperdícios na execução de projetos e entrega do produto dentro do prazo” (NOVELLI, 2018, documento on-line). De acordo com Lima (2019, documento on-line), a principal diferença entre a construção tradicional e a construção enxuta é que “A construção enxuta considera que só agrega valor ao produto aquilo que o cliente está disposto a pagar. Além disso, para agregar valor, a atividade precisa transformar de alguma maneira o produto e deve ser feita corretamente desde a primeira vez”. Com a construção enxuta, é possível um melhor aproveitamento de ma- teriais, insumos, equipamentos e mão de obra. Ademais, ela pode oferecer redução de custos, otimização de transporte e verificações dos serviços, maximização do valor do produto e sustentabilidade ambiental (NOVELLI, 2018). Alguns dos princípios gerais da construção enxuta são reduzir atividades que não agregam valor, garantir padrão de qualidade da obra, diminuir a variabilidade, otimizar a produção, reduzir etapas, flexibilizar a execução do projeto, manter todos informados de forma transparente, controlar todo o processo, trabalhar com melhoria contínua e praticar o benchmarking (NOVELLI, 2018). Escritório enxuto Diversos conceitos e ferramentas lean passaram a ser utilizados em escritórios e ambientes administrativos, dando origem aos termos “escritório enxuto”, “administração enxuta” ou, no inglês, lean office. Com o lean office, reduz-se o desperdício dentro de um sistema administrativo como um todo, abran- gendo desde os setores comercial e financeiro, até os setores de compras e de qualidade, entre outros. O pensamento enxuto 11 No Quadro 4, pode-se ver um comparativo entre os princípios do pensa- mento enxuto na manufatura e no escritório. Quadro 4. Comparativo entre os princípios enxutos na manufatura e no escritório Manufatura Office Valor Visível em cada passo, sendo objetivo e bem definido Difícil de enxergar e de fácil mutação Fluxo de valor Itens, materiais, componentes Informações e conhecimento Fluxo contínuo Desperdícios atrapalham a fluidez A fluidez depende muito das interações Produção puxada Definida pelo talk time Definida pela necessidade da empresa Zero defeitos Repetição do processo sem erros O processo vai gerar melhoria organizacional Fonte: Adaptado de Coutinho (2018). Em um escritório enxuto, observam-se alguns benefícios, como, por exem- plo, redução no tempo de processamento de atividades, redução de pilhas de papel nas mesas, redução de estoques, reorganização do ambiente de traba- lho, redução de etapas do processo, maior envolvimento dos colaboradores, maior controle das informações, melhor forma de identificação de problemas e maior flexibilidade para as alterações na demanda (COUTINHO, 2018). Referências ARAÚJO, C. A. S. et al. Princípios Enxutos Aplicados em Serviços de Saúde: Cinco Casos Brasileiros. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA, 6., 2009, Resende, RJ. Anais [...]. Resende, RJ: Associação Educacional Dom Bosco, 2009. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos09/131_Enxuta_seget.pdf. Acesso em: 1 dez. 2020. AZEVEDO, G. O que é o pensamento Lean? Blog FM2S Educação e Consultoria, 19 ago. 2020. Disponível em: https://www.fm2s.com.br/o-que-e-o-pensamento-lean/. Acesso em: 30 nov. 2020. O pensamento enxuto12 BALLÉ, M. et al. A estratégia lean: para criar vantagem competitiva, inovar e produzir com crescimento sustentável. Porto Alegre: Bookman, 2019. E-book. BARBOSA, R. M.; BARBOSA, E. M.; SANTOS, S. S. A Metodologia Enxuta Aplicada à Realidade dos Serviços de Saúde. In: CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO, 11., 2015, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro, RJ: FIRJAN, 2015. Disponível em: https://www. inovarse.org/sites/default/files/T_15_498.pdf. Acesso em: 1 dez. 2020. CABRAL, R. H. Q.; ANDRADE, R. S. Aplicabilidade do pensamento enxuto. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 1998, Rio de Janeiro, RJ. Anais [...]. Rio de Janeiro, RJ: ABEPRO, 1998. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/ene- gep1998_art393.pdf. Acesso em: 1 dez. 2020. CAMELO, G. R. et al. Logística enxuta: a abordagem lean na cadeia de suprimentos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 2010, Rio de Janeiro, RJ: Anais [...]. Rio de Janeiro, RJ: ABEPRO, 2010. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/ enegep2010_tn_sto_113_741_14977.pdf. Acesso em: 1 dez. 2020. COSTA R. S.; JARDIM E. G. M. Os cinco passos do pensamento enxuto. Trilha Projetos, 2010. Disponível em: http://trilhaprojetos.com.br/home/sites/default/files/plean.pdf. Acesso em: 30 nov. 2020. COUTINHO, T. Lean Office: como tornar meu escritório enxuto e produtivo? Blog Voitto, 11 jun. 2018. Disponível em: https://www.voitto.com.br/blog/artigo/lean-office. Acesso em: 1 dez. 2020. COUTINHO, T. Pensamento Enxuto e os seus 5 princípios. Blog Voitto, 21 out. 2020. Disponível em: https://www.voitto.com.br/blog/artigo/pensamento-enxuto. Acesso em: 30 out. 2020. DENNIS, P. Produção Lean Simplificada: um guia para entender o sistema de produção mais poderoso do mundo. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. LEÃO, T. Manufatura enxuta: o que é e como colocar em prática na sua fábrica. Nomus Blog Industrial, 10 nov. 2020. Disponível em: https://www.nomus.com.br/blog-industrial/ manufatura-enxuta/. Acesso em: 1 dez. 2020. LIKER, J. K.; FRANZ, J. K. O modelo Toyota de melhoria contínua: estratégia + experiência operacional = desempenho superior. Porto Alegre: Bookman, 2013. LIMA, T. O que é Construção Enxuta e Dicas para Aplicar. Sienge, 30 jan. 2019. Disponível em: https://www.sienge.com.br/blog/o-que-e-construcao-enxuta/. Acesso em: 1 dez. 2020. MACHADO, M. C. Desenvolvimento enxuto de produtos. In: SIMPEP, 13., 2006, Bauru, SP. Anais [...]. Bauru, SP: UNESP, 2006. Disponível em: https://simpep.feb.unesp.br/anais/ anais_13/artigos/344.pdf. Acesso em: 1 dez. 2020. MORO, S. R.; BRAGHINI JÚNIOR, A. Uma revisão das abordagens para o desenvolvimento enxuto de produtos. Journal of Lean Systems, v. 1, n. 3, p. 91–105, 2016. Disponível em: http://leansystem.ufsc.br/index.php/lean/article/view/1243/pdf_22. Acesso em: 1 dez. 2020. NOVELLI, R. P. Conheça as vantagens da construção enxuta. Noves Engenharia, 27 ago. 2018. Disponível em: https://www.novesengenharia.com.br/conheca-as-vantagens- -da-construcao-enxuta/. Acesso em: 1 dez. 2020. O QUE é o Lean Thinking (pensamento enxuto)? Lean Blog, 7 ago. 2018. Disponível em: https://lean.blog.br/lean-thinking/. Acesso em: 30 nov. 2020. O pensamento enxuto 13 O QUE é Lean TI ou Lean IT? Lean TI, c2020. Disponível em: https://www.leanti.com.br/ conceitos/3/o-que-e-lean-ti.aspx. Acesso em: 1 dez. 2020. SANTOS, V. M. O que é a manutenção Lean ou manutenção enxuta? Como funciona? Blog FM2S Educação e Consultoria, 1 maio 2017. Disponível em: https://www.fm2s. com.br/o-que-e-manutencao-lean-ou-manutencao-enxuta-como-funciona/. Acesso em: 1 dez. 2020. SANTOS, V. M. Revolução Industrial até o Seis Sigma. Blog FM2S Educação e Consultoria, 13 maio 2016. Disponível em: https://www.fm2s.com.br/revolucao-industrial/. Acesso em: 1 dez. 2020. TELES, J. Manutenção Enxuta: O que você precisa saber. Engeteles, 21 mar. 2018. Disponí- vel em: https://engeteles.com.br/o-que-e-manutencao-enxuta/. Acesso em: 1 dez. 2020. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. O pensamento enxuto14 SISTEMAS LEAN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Explicar o que é o trabalho padronizado. > Identificar os requisitos para a aplicação do trabalho padronizado. > Apresentar um exemplo práticopara utilização. Introdução Os trabalhadores do setor de produtos e serviços executam muitas atividades, as quais envolvem desde as etapas de produção até os serviços organizacionais. Diante dessa grande variedade, cabe se perguntar se todas as atividades realizadas pelos trabalhadores são de fato necessárias, ou, ainda, se a sequência dessas atividades está sendo executada da melhor maneira possível. Para responder essas perguntas, é preciso entender o trabalho padronizado e a sua aplicação. Neste capítulo, você poderá compreender como a metodologia do trabalho padronizado foi desenvolvida, quais são os seus conceitos relevantes, as ferra- mentas utilizadas para a sua implantação e os benefícios que ela proporciona ao trabalho. Por fim, apresentaremos um estudo de caso realizado em uma empresa de plástico, de modo que você possa entender o processo de implantação do trabalho padronizado. Trabalho padronizado Ricardo Bega de Andrade Trabalho padronizado: origem e definição O trabalho padronizado foi criado com vistas a melhorar os métodos de trabalho, de modo a atingir o menor custo possível e a maior produtividade. Baseando-se nos princípios da engenharia industrial, proposta por Frederick Taylor, essa metodologia começou a ser desenvolvida no final do século XIX (LIKER, 2005; MARTINS; LAUGENI, 2005). Anos mais tarde, já no início do século XX, foi a vez de Henry Ford empregar os princípios do trabalho padronizado, ao idealizar o sistema de produção em série alicerçado na padronização das tarefas (CHIAVENATO, 1983). Em seguida, no ano de 1940, diante da Segunda Guerra Mundial e da necessidade de um aumento expressivo na produção, foi criada a metodologia Training Within Industry (TWI), que influenciou o desenvolvimento do trabalho padronizado mais do que o Taylorismo e o Fordismo. A metodologia TWI inclui os chamados “programas J”, que evoluíram e proporcionaram resultados positivos nas indústrias durante a guerra (HUNTZINGER, 2005). De acordo com Mariz (2012, p. 7), os programas J são os seguintes. • Instrução de Trabalho (Job Instruction) — o objetivo era ensinar os supervisores a desenvolver uma mão de obra bem treinada; • Métodos de Trabalho (Job Methods) — o intuito era fornecer aos supervisores uma técnica para se conseguir melhorias na fábrica usando um método prático em vez de um método técnico; • Relações de Trabalho (Job Relations) — implantadas para suprir a carência dos supervisores em lidar com questões de relações humanas com os trabalhadores, pois os líderes do programa sabiam que relacionamentos problemáticos geravam resultados ruins na produção e bons relacionamentos levavam a bons resultados. Após a Segunda Guerra Mundial, a metodologia TWI foi levada ao Japão, onde se disseminou, sendo empregada até mesmo pela Toyota, que a utiliza para o treinamento dos supervisores de produção. O trabalho padronizado é baseado no programa de instrução do trabalho (job instruction) do TWI (HUNTZINGER, 2005; SMALLEY, 2005). Para conhecer mais detalhes sobre o Taylorismo, o Fordismo e o Toyotismo, os três sistemas de produção que revolucionaram o meio industrial e se tornaram muito importantes para a humanidade, sugerimos a leitura do texto “Qual a diferença entre taylorismo, fordismo e toyotismo?”, publicado no site Diferença. Trabalho padronizado2 Quando se fala a respeito de sistemas lean, é comum que se pense di- retamente em lean manufacturing (em português, “produção enxuta”). Uma das práticas essenciais da produção enxuta é o trabalho padronizado, pois ele é fundamental para garantir o fluxo contínuo de produção. Essa meto- dologia busca garantir que as atividades sejam realizadas sempre na mesma sequência, da mesma forma, em um mesmo intervalo de tempo e com o menor nível de desperdícios, a fim de obter alta produtividade e alta qualidade, mantendo todos esses fatores estáveis (SILVEIRA; COUTINHO, 2008). Além disso, no trabalho padronizado, os desvios devem ser identificados durante a produção e tratados imediatamente, de forma que o processo fique sempre otimizado (FAZINGA; SAFARO, 2012). O trabalho padronizado é, então, uma maneira de otimizar o processo produ- tivo. Ele possibilita que o trabalho seja executado corretamente desde a primeira vez e que as operações tenham repetitividade, o que garante a melhor qualidade possível e otimiza o gerenciamento dos recursos disponíveis. A padronização das operações envolve o estabelecimento, a comunicação, a adesão e a melhoria dos padrões. Entre esses fatores, a adesão se mostra particularmente impor- tante, pois, se os colaboradores apresentarem resistência às mudanças, haverá dificuldades na implantação dessa metodologia (CECCONELLO; HUPPES, 2020). É, portanto, fundamental a participação dos funcionários na implantação do trabalho padronizado, uma vez que são eles as pessoas que realizarão as atividades e que detêm o conhecimento sobre o processo. Ademais, é impor- tante observar que a aplicação das ideias dos funcionários no aprimoramento das instruções de trabalho, além de contribuir efetivamente para a obtenção de bons resultados, estimula a sua adesão às mudanças propostas pela metodologia que está sendo implantada. Fazer os funcionários se sentirem membros participativos de algo importante os motiva, tornando a implantação mais efetiva (LIKER, 2005). De acordo com Nito (2010), os benefícios oferecidos pelo trabalho padro- nizado são os seguintes: � aumento da qualidade dos produtos; � redução do tempo das operações; � redução das falhas; � melhoria do leiaute. A metodologia de trabalho padronizado visa a estabelecer procedimentos para as atividades de cada operador. Apresentam-se como base os três elementos descritos a seguir (CECCONELLO; HUPPES, 2020; O QUE..., [2020]). Trabalho padronizado 3 � Tempo takt: tempo de produção até que o produto esteja acabado para atender às demandas dos clientes. Pode ser definido dividindo-se o tempo total disponível para a produção em um turno pela quantidade demandada pelo cliente. � Sequência: ordem exata das atividades realizadas pelo operador dentro do tempo takt. � Estoque padrão: quantidade mínima de estoque, incluindo os itens nas máquinas necessários para manter o processo produtivo. Nos casos em que, antes da implantação, o tempo de ciclo de operação é maior do que o tempo takt, pode haver gargalo na produção. Com a redução no tempo de ciclo de operação, esse gargalo é solucionado e a espera na operação posterior é reduzida ou eliminada. Antes de seguirmos para a próxima seção, importa salientar que existem va- riadas ferramentas, propostas por diversos autores, que auxiliam na implantação da metodologia de trabalho padronizado, sendo elas complementares ou dire- cionadas para casos específicos. Aqui, no entanto, visamos a uma compreensão generalista tanto dessa metodologia quanto da forma como implantá-la. Aplicação do trabalho padronizado A implantação do trabalho padronizado deve iniciar pela apresentação da metodologia aos operadores da empresa, não necessariamente de todos os setores, mas aos operadores do setor em que será implantado o trabalho padronizado e aos operadores de setores em que seria interessante aplicar essa metodologia, como um estímulo à sua adesão. A maneira como os deta- lhes da metodologia serão comunicados aos operadores ficará a critério de quem estiver responsável pela implantação. Isso poderá ser feito por meio de workshop, palestras, treinamento, etc.; o importante é que seja dinâmico e dê conta de explicar o modo como é implantada a metodologia e quais são os benefícios trazidos por ela (KISHIDA; SILVA; GUERRA, 2006). Após os conceitos do trabalho padronizado serem disseminados para os operários, o tempo takt deverá ser calculado para verificar se o tempo de ciclo dos operadores é suficiente para atender à demanda do cliente. É importante salientar que, se o tempo takt for menor do que o tempo de ciclo do operador, a empresa deverá recorrera horas extras, o que vai gerar um custo excessivo para a produção (KISHIDA; SILVA; GUERRA, 2006). Então, inicia-se a coleta de dados, que é realizada mediante observação ou gravação do trabalho executado. O tempo operacional é anotado e separado Trabalho padronizado4 de acordo com as atividades realizadas no chão de fábrica. Tempos com a máquina em operação e de atividades adicionais (como a caminhada entre um posto de serviço e outro) também devem ser anotados, pois é necessário que todas as atividades sejam identificadas (KISHIDA; SILVA; GUERRA, 2006). Todos esses dados são utilizados para a confecção dos documentos de implantação. Para a criação do trabalho padronizado, três documentos básicos são utilizados pelos engenheiros e supervisores para planejar o processo e pelos operadores para propor melhorias em suas próprias atividades. Esses docu- mentos são o quadro de capacidade do processo, a tabela de combinação do trabalho padronizado e o diagrama de trabalho padronizado, os quais serão apresentados a seguir (O QUE..., [2020]). O quadro de capacidade do processo é um formulário utilizado para cal- cular a capacidade máxima de produção de cada máquina. A partir desse quadro, é possível identificar e eliminar os gargalos do processo produtivo, bem como confirmar a capacidade real da máquina. Na Figura 1, pode-se observar que esse formulário leva em consideração fatores como o tempo de ciclo das máquinas, o tempo de setup e os tempos de trabalhos manuais e automáticos (máquina em funcionamento) (MARIZ, 2012; O QUE..., [2020]). Figura 1. Exemplo de quadro de capacidade do processo. Fonte: O que... ([2020], documento on-line). O passo seguinte é analisar os tempos e realizar as alterações na sequência de trabalho a fim de que a produção seja executada com alta qualidade no menor tempo possível. As atividades avaliadas como desnecessárias ao pro- Trabalho padronizado 5 cesso devem ser eliminadas, e as atividades realizadas com a(s) máquina(s) parada(s) devem ser analisadas para que se identifique a possibilidade de elas serem realizadas enquanto a(s) máquina(s) estiver(em) em funcionamento. Por exemplo, enquanto uma máquina está executando a usinagem de uma peça, o operador pode inspecionar a peça anterior e preparar a que será usinada em seguida. Para facilitar a visualização da sequência de atividades e da possibilidade de atividades em paralelo, confecciona-se a tabela de combinação do trabalho padronizado. Ainda, outro elemento importante é a relação entre as atividades dos operadores e o tempo takt, que constituem a tabela. A tabela de combinação do trabalho padronizado apresenta a combinação de tempos de processamento para cada operador em uma sequência de produção, sendo eles o tempo do trabalho manual, o tempo de caminhada e o tempo de processamento da máquina, conforme apresentado na Figura 2. Com a tabela finalizada, é possível observar as interações entre o operador e a(s) máquina(s), o que permite que se recalculem as atividades referentes ao trabalho do operador, observando se o tempo takt se expande ou se contrai (MARIZ, 2012; O QUE..., [2020]). É interessante que essa tabela seja confeccionada antes e depois da aplicação do trabalho padronizado, de modo que se possam visualizar a situação real anterior à implantação do método e, em um segundo momento, as melhorias acarretadas por essa mudança. Figura 2. Exemplo de tabela de combinação de trabalho. Fonte: Rother e Harris (2002 apud MARIZ, 2012, p. 24). Trabalho padronizado6 Muitas vezes, o leiaute da fábrica deve ser alterado a fim de reduzir o desperdício de tempo ocasionado por caminhadas entre um setor e outro ou entre postos de serviço. Por exemplo, quando uma máquina finaliza a usinagem de uma peça, esta deve ser retirada e guardada, um tarugo deve ser colocado para iniciar a usinagem e, frequentemente, também a ferramenta deve ser alterada. Se o armário com os tarugos e o armário com as ferramentas não estiverem próximos à máquina, será necessário que o operador se desloque para buscar a ferramenta e o tarugo. Esse problema pode ser solucionado com o uso de um armário portátil que fique ao lado da máquina e abrigue todas as ferramentas e os tarugos de que o operador precisa no processo produtivo. Para facilitar a visualização das atividades e movimentações do(s) operador(es) durante a operação, deve ser confeccionado o diagrama de trabalho padronizado. Esse diagrama mostra o leiaute do processo realizado, no qual são discriminadas a localização das máquinas, a movimentação do operador e a localização do material, conforme apresentado na Figura 3. O diagrama também deve conter os três elementos do trabalho padronizado, isto é, o tempo takt atual para o trabalho, a sequência de trabalho e a quantidade de estoque padrão para garantir a operação. Figura 3. Exemplo de diagrama de trabalho padronizado. Fonte: O que... ([2020], documento on-line). Trabalho padronizado 7 Esses diagramas devem ser continuamente revisados e atualizados a cada mínima alteração que ocorrer nas condições da estação de trabalho. Ademais, eles devem ficar expostos nas estações de trabalho, pois são utilizados como uma ferramenta visual para a gestão e para o kaizen (MARIZ, 2012; O QUE..., [2020]). De maneira análoga à tabela de combinação do trabalho padroni- zado, é interessante confeccionar o diagrama antes e depois da aplicação da metodologia, a fim de que seja possível visualizar a situação real, efetuar as alterações das atividades com base no diagrama e, após a implantação do trabalho padronizado, visualizar as melhorias alcançadas. Normalmente essas três ferramentas básicas — o quadro de capacidade de processo, a tabela de combinação do trabalho padronizado e o diagrama de trabalho padronizado — são utilizadas em conjunto com outras duas fer- ramentas: a folha de padrões de trabalho e a folha de instruções de trabalho. A folha de padrões de trabalho resume como fabricar o produto conforme as especificações determinadas pela engenharia, fornecendo requisitos operacionais para garantir a sua qualidade. Já a folha de instruções de tra- balho é utilizada no treinamento de novos operadores, pois nela são listadas detalhadamente as etapas das atividades a serem realizadas, a fim de que o trabalho seja executado com segurança, qualidade e máxima eficiência (O QUE..., [2020]). Além das que apresentamos, diversas outras ferramentas são propostas para o uso na aplicação do trabalho padronizado. Porém, elas normalmente são direcionadas para casos específicos ou para casos mais complexos. Importa salientar que o trabalho padronizado não tornará a operação perfeita na primeira análise realizada. Para otimizar ao máximo as operações, empregam-se ferramentas de controle e melhoria contínua do processo. Duas ferramentas muito utilizadas para dar continuidade ao trabalho padronizado são o kaizen e o ciclo PDCA. Partindo do entendimento de que quem mais conhece a operação é o operador, o kaizen (palavra do japonês que costuma ser traduzida para o português como “melhoria contínua”) é uma técnica que busca a perfeição. Para tanto, essa ferramenta envolve todas as pessoas da empresa no de- senvolvimento de soluções e na aplicação de melhorias. Já o ciclo PDCA (do inglês plan, do, check and act) é, talvez, o ciclo mais utilizado para controle e melhoria contínua de processos e produtos. Trata-se de um circuito composto pelos quatro estágios apresentados a seguir. 1. Planejar (plan): decide-se, a partir de análises, o caminho a ser seguido para alcançar os objetivos. Trabalho padronizado8 2. Executar (do): coloca-se em prática o que foi planejado. 3. Verificar (check): analisam-se indicadores e se realiza uma avaliação sobre a conformidade do que foi executado. 4. Agir (act): padroniza-se o que está pronto, isto é, o que não demanda alterações. Se houver pontos a melhorar, o PDCA deverá ser iniciado novamente. É interessante ressaltar as semelhanças existentesentre a aplicação do trabalho padronizado e o ciclo PDCA. Basicamente, o trabalho padronizado pode ser realizado por meio dessa ferramenta. Na fase de planejamento, são obtidos os dados. Na fase de execução, são analisadas as atividades e realizadas as alterações necessárias por meio das ferramentas. Na fase de verificação, analisam-se os resultados e se observam as melhorias obtidas e os pontos que ainda podem ser melhorados. Por fim, na fase de ação, as melhorias obtidas são padronizadas por meio das ferramentas de padrões e instruções de trabalho, e, em atividades que ainda podem ser melhoradas, implantam-se ações de correção. Como já mencionado, o PDCA é um ciclo que pode ser iniciado novamente de modo a manter a melhoria contínua. Para saber mais sobre o kaizen e o ciclo PDCA, sugerimos, respec- tivamente, os vídeos “Kaizen: o que é o Kaizen? Como funciona o Kaizen?”, do canal Instituto Montanari, e “PDCA NA PRÁTICA - O QUE É PDCA - COMO FUNCIONA O CICLO PDCA”, do canal Brains Desenvolvimento Profissional. Ambos estão disponíveis no YouTube. Trabalho padronizado na prática Para você compreender melhor o processo de implantação do trabalho pa- dronizado, apresentaremos nesta seção um estudo de caso conduzido por Cecconello e Huppes (2020), que utilizaram a metodologia proposta por Mon- den (2015). O estudo foi realizado na região Sul do Brasil, em uma indústria de plásticos, mais especificamente no setor de preparação de matéria-prima. Para a implantação do trabalho padronizado, primeiramente foi realizado o diagnóstico do processo. Em cada turno, há um operador responsável por liberar as cores — exercendo a função chamada “colorista”. Desde o início das operações dessa indústria, nunca havia sido estabelecido um sequencia- mento de atividades para esse colorista. Então, ele foi acompanhado por um Trabalho padronizado 9 período (alguns dias), no qual foram observadas oportunidades de melhora nas suas atividades. Após se estudarem as atividades realizadas pelo operador, elas foram descritas da seguinte maneira. � Deslocamento entre setores para coleta de amostra que deverá passar pela correção de cores: 3 minutos. � Início do processo de correção de cor. Para aprovar a cor, são ne- cessárias em média cinco etapas: homogeneizar a matéria-prima no Drais; prensar; realizar as inspeções de qualidade e de qualidade da produção; e formular a cor. Esse processo dura 1 hora e 15 minutos. � Durante o ciclo de correção de cor, o operador é solicitado para realizar inspeções de cores que estão no processo produtivo, o que dura cerca de 14 minutos. Os tempos discriminados para cada etapa de produção são apresentados na Figura 4. Figura 4. Tempos de operações. Fonte: Cecconello e Huppes (2020, p. 12). Durante essa observação prévia, foram sugeridas duas alterações sim- ples, a curto prazo, ao operador, para reduzir o tempo. A primeira delas diz respeito ao deslocamento do operador ao outro setor para coletar amostra da matéria-prima a ser formulada: sugeriu-se que, no início do seu turno, ele coletasse todas as amostras que seriam formuladas, a fim de eliminar o tempo do deslocamento entre um setor e outro. A outra alteração sugerida foi que o operador realizasse as inspeções enquanto o material estivesse em processamento, seja no homogeneizador Drais ou na prensa, de modo a evitar interrupções do sequenciamento. Trabalho padronizado10 Ainda, foi sugerida outra alteração, mas para ser efetuada a longo prazo. Recomendou-se a criação de um catálogo de cores com amostras de cada cor disponível ao operador para mistura. Nesse momento, a amostra era esco- lhida em formato de grão, o que impossibilita a visualização da tonalidade e da tendência da cor. A criação do catálogo facilitaria o processo de escolha da melhor cor para a formulação da matéria-prima, reduzindo o tempo de formulação. Finalizada a etapa de diagnóstico do processo, tem início a aplicação das etapas do trabalho padronizado. O primeiro passo é determinar o tempo takt. Para o cálculo de tempo, foram coletados os seguintes dados. � Demanda para abastecer a fábrica diariamente: 20 acertos de cores. � Tempo disponível de produção: três turnos, com duas pausas de 60 minutos para refeição, resultando em 22 horas, ou 1.320 minutos. O tempo takt é, então, obtido pela divisão do tempo disponível de produção pela demanda para abastecer a fábrica diariamente, conforme a fórmula a seguir: A etapa seguinte consiste em determinar a capacidade de produção, sendo criada, para isso, a folha de capacidade de produção (Quadro 1). Nessa folha, especificaram-se as principais máquinas utilizadas no processo produtivo, o tempo de ciclo de produção e, por fim, determinou-se a capacidade de produção. Nesse caso, não foram diferenciados os tempos de setup, nem tempo máquina ou tempo homem. Assim, o cálculo se deu por meio do tempo de disponibilidade por operação dividido pelo tempo de produção unitária. Como o valor obtido foi superior a 1, concluiu-se que a capacidade produtiva era suficiente para atender à demanda diária. Trabalho padronizado 11 Quadro 1. Folha de capacidade de produção Folha de capacidade de produção Ordem dos processos Nome do processo Principais máquinas e dispositivos utilizados Tempo de fabricação de uma unidade (min) Capacidade de produção em 66 min 1 Acerto de cor Drais, prensa, espectrofotômetro e balança 41,5 1,59 Fonte: Adaptado de Cecconello e Huppes (2020). A próxima etapa é a determinação da rotina de operações-padrão. Nessa etapa, identificam-se a sequência das atividades e os seus respectivos tempos, que são analisados com relação ao tempo takt, conforme apresentado na Figura 5. Pode-se observar que o tempo de ocupação do operador está distante do tempo takt, o que significa que há um período de ociosidade do operador. Figura 5. Folha de rotina de operações-padrão. Fonte: Cecconello e Huppes (2020, p. 14). A última ferramenta utilizada nesse estudo de caso foi a elaboração da folha de operações-padrão, apresentada na Figura 6. Nessa folha, constam a movimentação do operador, os itens de qualidade e segurança e o leiaute ana- lisado. Essa representação possibilita um melhor entendimento da sequência Trabalho padronizado12 das ações e dos movimentos do operador, além de facilitar a análise das atividades a fim de verificar se estão sendo realizadas da maneira correta. Figura 6. Folha de operações-padrão. Fonte: Cecconello e Huppes (2020, p. 15). Tanto a folha de rotina das operações-padrão quanto a folha de operações- -padrão foram disponibilizadas no setor, juntamente com o documento de procedimentos. Ao final dessas etapas, o trabalho padronizado foi construído e apresen- tado ao operador, ao monitor e ao gestor, e, em seguida, novos tempos foram tomados e analisados. Os resultados obtidos estão apresentados na Figura 7. Figura 7. Cenário atual e cenário proposto. Fonte: Cecconello e Huppes (2020, p. 16). Trabalho padronizado 13 As maiores reduções de tempo ocorreram na formulação de cor, na inspe- ção de qualidade e na disponibilização do padrão para produção (47%, 44% e 46%, respectivamente). Os ganhos de tempo no homogeneizador Drais e na prensa resultam do fato de o operador estar atento ao ciclo do equipamento, e não distraído com outras atividades alheias ao processamento, o que acarretou uma redução de tempo de 23% em cada processo. Isso demonstra que é possível ganhar tempo e reduzir falhas e retrabalho quando se mantém a realização individual de apenas aquelas atividades que realmente favorecem o processo produtivo, convertendo-se as que não o favorecem em atividades a serem realizadas em paralelo com o processamento das máquinas ou a serem eliminadas. O operador se adaptou facilmente à nova sequência de atividades, o que foi auxiliado pela visualização e interpretação da folha de rotina de operações-padrão e da folha de operações-padrão, que ficaram disponíveis para ele. Como programado,seu turno iniciou com a coleta de amostras e seguiu com o acerto das cores. Nos momentos em que foi necessário sair do posto de trabalho para realizar alguma inspeção, isso foi feito quando a interação do operador não era demandada, isto é, quando a máquina estava em funcionamento. Tais ganhos, concluíram Cecconello e Huppes (2020, p. 18), “[...] demonstram o quanto atividades paralelas às funções são prejudiciais a esse processo. A padronização do processo permitiu que as tarefas fossem executadas de forma a produzir um produto de maior qualidade em menor tempo, validando o modelo proposto”. Ainda, segundo os autores, há outros estudos que ob- tiveram resultados semelhantes. Referências CECCONELLO, I.; HUPPES, N. Aplicação de trabalho padronizado em uma empresa do setor plástico. Journal Of Lean Systems, v. 5, n. 2, p. 1–18, 2020. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 3. ed. São Paulo: McGraw- -Hill, 1983. FAZINGA, W. R.; SAFFARO, F. A. Identificação dos elementos do trabalho padronizado na construção civil. Ambiente Construído, v. 12, n. 3, p. 27–44., 2012. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/view/23878. Acesso em: 23 jan. 2021. HUNTZINGER, J. The Roots of Lean: Training Within Industry: the origin of Japanese Management and Kaizen. Lean Enterprise Institute, 14 jun. 2005. Disponível em: https:// www.lean.org/common/display/?o=106. Acesso em: 23 jan. 2021. KISHIDA, M.; SILVA, A. H.; GUERRA, E. Benefícios da implementação do Trabalho Padro- nizado na ThyssenKrupp. Lean Institute Brasil, 2006. Disponível em: https://www.lean. org.br/comunidade/artigos/pdf/artigo_95.pdf. Acesso em: 11 dez. 2020. Trabalho padronizado14 LIKER, J. K. O Modelo Toyota: 14 princípios de gestão do maior fabricante do mundo. Porto Alegre: Bookman, 2005. MARIZ, R. N. Método para aplicação do trabalho padronizado em serviços de construção. 2012. 164 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/258698. Acesso em: 23 jan. 2021. MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da Produção. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. MONDEN, Y. Sistema Toyota de Produção: Uma abordagem integrada ao just-in-time. Porto Alegre: Bookman, 2015. NITO, L. C. Aplicação do trabalho padronizado com foco na produtividade: um estudo de caso em uma empresa do setor automotivo. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/93854. Acesso em: 23 jan. 2021. O QUE é Trabalho Padronizado? Lean Institute Brasil, [2020]. Disponível em: https://www. lean.org.br/conceitos/126/o-que-e-trabalho-padronizado.aspx. Acesso em: 9 dez. 2020. SILVEIRA, A. O.; COUTINHO, H. H. Trabalho Padronizado: A Busca Por Eliminação De Desperdícios. Revista INICIA, n. 8, p. 7–15, 2008. Disponível em: https://fai-mg.br/ portal/download/revista_inicia_2008/pub_dw_artigo_desperdicios.pdf. Acesso em: 9 dez. 2020. SMALLEY, A. The Starting Point For Lean Manufacturing: achieving basic stability. Management Services, v. 49, n. 4, p. 8–12, 2005. Leituras recomendadas KAIZEN: o que é o Kaizen? Como funciona o Kaizen? [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (10 min). Publicado pelo canal: Instituto Montanari. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=9tlMbXohJb0&ab_channel=InstitutoMontanari. Acesso em: 23 jan. 2021. PDCA NA PRÁTICA - O Que É PDCA - Como Funciona O Ciclo PDCA. [S. l.: s. n.], 2020. 1 vídeo (9 min). Publicado pelo canal: Brains Desenvolvimento Profissional. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=h02nyBNMB5U&ab_channel=BrainsDesenvo lvimentoProfissional. Acesso em: 23 jan. 2021. QUAL a diferença entre taylorismo, fordismo e toyotismo? Diferença, c2021. Disponível em: https://www.diferenca.com/taylorismo-fordismo-e-toyotismo/#:~:text=O%20 primeiro%20iniciou%20o%20estudo,um%20novo%20ritmo%20de%20trabalho. Acesso em: 23 jan. 2021. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Trabalho padronizado 15 MODELOS DE NEGÓCIOS Marcia Cristina Alves dos Anjos Almeida Metodologia start-up enxuta (lean start-up) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o Lean Canvas como ferramenta para expressar os modelos de negócios iniciais. Identificar as peças mais arriscadas do plano de negócio. Aplicar testes no plano de negócios a partir da iteration meta-pattern. Introdução O empreendedor leva consigo muita energia, vibração e vontade de colocar em prática sonhos e talentos. No entanto, é preciso colocar os conceitos em prática para que o negócio tenha sucesso. A start-up enxuta apresenta ciência, metodologias e técnicas que certamente reduzirão o desperdício de talento e aumentarão as chances de os empreendimentos atuais darem certo. É importante enfatizar que o que separa as start-ups de sucesso das que não alcançaram o sucesso não é necessariamente o fato de iniciarem com um plano, mas sim o fato de encontrarem um plano que funcione antes de ficarem sem recursos. Assim, o Lean start-up ou start-up enxuta busca no mercado a opi- nião de potenciais clientes sobre os elementos do modelo de negócios, incluindo as peças do Lean Canvas, como características do produto ou serviço, preços, canais de distribuição e estratégias econômicas. O novo negócio cria com rapidez um mínimo produto viável (MVP, do inglês minimum viable product) e busca a opinião dos clientes de forma rápida e prática. Com base nos retornos desses clientes, a empresa busca novas versões e ajustes, até chegar no produto ou serviço ideal. Neste capítulo, você estudará sobre o mundo das start-ups e da ino- vação radical. Além disso, verá a importância de um novo método para a inovação diante da economia moderna. Por fim, conhecerá as peças- -chave do Lean Canvas e como essa metodologia pode expressar os modelos de negócios iniciais, a avaliação de risco de cada componente e o teste do produto ou serviço com os clientes. 1 O Lean Canvas como ferramenta para expressar os modelos de negócios iniciais Segundo Ries (2012, p. 26), “[...] a start-up enxuta é um conjunto de práticas para ajudar os empreendedores a aumentar suas chances de desenvolver uma start-up de sucesso”. Para Maurya (2012), existem muitas técnicas para capturar hipóteses de modelo de negócios. O autor refi nou propostas de outros autores, porém decidiu pelo formato Lean Canvas para visualizar as hipóteses. Segundo ele, comparado a outros formatos para documentar modelos de negócios, como planilhas ou planos de negócios, o Lean Canvas possui algumas vantagens, listadas a seguir. Rapidez: leva-se várias semanas ou meses para se criar um plano de negócios construído basicamente com suposições não testadas, ao passo que, com a ferramenta Lean Canvas, um pode de negócios pode ser construído utilizando uma única tela e em menos tempo, conforme demonstrado nas Figuras 1 e 2 (MAURYA, 2012). Concisão: a tela força o usuário a escolher suas palavras com cuidado e ir direto ao ponto. Essa é uma ótima prática para evidenciar a essência do produto ou serviço. De acordo com Maurya (2012), em relação aos dados de mercado, tem-se, em média, 30 segundos para atrair a atenção de um investidor durante uma conversa e apenas 8 segundos para atrair a atenção de um cliente em uma página de vendas, por exemplo. Portátil: um modelo de negócios de uma página é muito mais fácil de compartilharcom as pessoas interessadas, o que significa que será lido por mais pessoas e poderá ser atualizado com mais frequência. De acordo com Maurya (2012), as peças do modelo de negócios Lean Canvas apresentam uma sequência a ser preenchida, conforme demonstra a numeração ilustrada na Figura 1. Metodologia start-up enxuta (lean start-up)2 Figura 1. Lean Canvas. Fonte: Maurya (2012, p. 17). O Lean Canvas é uma ferramenta visual com o objetivo de ajudar a estruturar o modelo de negócios de uma start-up. A diferença do Canvas para Lean Canvas é que o Canvas consegue construir um modelo que otimiza a estrutura do negócio, ao passo que Lean Canvas otimiza a ideia para a geração de vantagem competitiva (OLIVEIRA, 2018). Peças do Lean Canvas Segundo Maurya (2012), as peças do Lean Canvas envolvem campos rela- cionados com o produto ou serviço e com a operação da empresa, tais como: problema e segmentos de clientes, proposta única de valor, solução, canais, estrutura de custo e fl uxos de receitas, métricas-chave e vantagem injusta. A seguir, confi ra um exemplo de caso prático da empresa Amazon: 3Metodologia start-up enxuta (lean start-up) 1. Problema e segmentos de clientes (problem and customer seg- ments): listar os três principais problemas que devem ser resolvidos. Avaliar como os potenciais clientes estão resolvendo, hoje, os pro- blemas listados. Distinguir quem são os clientes, segmentar o seu mercado e esboçar um cenário para cada segmento. Por exemplo: menor procura por livros físicos/pessoas, empresas e consumo global. 2. Proposta única de valor (unique value proposition): criar um argumento de alto conceito, deixando claro o que é o seu produto ou serviço e para quem ele se destina. Por exemplo: conveniência, preço, vasta seleção e leitura eletrônica. 3. Solução (solution): elaborar três melhores soluções para a lista de problemas definida na peça 1. Por exemplo: tornar on-line a leitura de livros. 4. Canais (channels): pensar no conjunto de organizações interde- pendentes envolvidas no processo de disponibilizar um produto ou serviço para uso ou consumo. Por exemplo: amazon.com, aplicativo, afiliadas. 5. Estrutura de custo e fluxos de receitas (cost structure and revenue streams): envolvem as peças com maior risco dentro do modelo de negócios, pois é preciso garantir a sustentabilidade financeira do negócio. Por exemplo: desenvolvimento de uma infraestrutura de baixo custo, infraestrutura de tecnologia da informação (TI) e aten- dimento, economias de escala/venda de ativos, e-books e conteúdo, comissão sobre vendas do vendedor, taxas mensais de assinaturas e aquisições e investimentos. 6. Métricas-chave (key metrics): escolher as métricas essenciais que definem o negócio. O Lean Canvas deve focar em poucas métricas- -chave fundamentais, focadas, por exemplo, no valor do produto/ serviço apresentado. Por exemplo: número de assinaturas mensais. 7. Vantagem injusta (unfair advantage): esse é o momento de pensar em construir o diferencial de mercado e fazê-lo permanecer depois. Talvez seja a peça mais complexa a ser preenchida. Por exemplo: qualidade dos e-books. Metodologia start-up enxuta (lean start-up)4 Confira, a seguir, exemplos da peça “solução” do Lean Canvas: Problema: os modelos de negócios precisam ser mais portáteis. Solução: use o formato Lean Canvas para capturar hipóteses em uma página. Problema: medir o progresso é um trabalho árduo. Solução: forneça uma maneira simples de fazer experiências no “painel”. Problema: comunicar a aprendizagem é fundamental. Solução: utilize um recurso para facilitar o compartilhamento das lições aprendidas. A vantagem diferencial ou vantagem injusta funciona como uma proteção do sucesso do seu negócio a partir de um determinado grau de maturação da start-up, estando esse campo em branco na maior parte dos Lean Canvas iniciais de um potencial negócio. Assim que uma start-up conquista um relativo sucesso, o surgimento de um ou mais concorrentes, ou até mesmo dos copiadores (copycats), é inevitável. Todavia, o diferencial competitivo poderá fazer a diferença (CASTILHO, 2016). A Figura 2 apresenta o modelo de negócios da empresa Uber, ou melhor, como poderia ter sido preenchido o Lean Canvas quando a Uber estava no período de desenvolvimento. O preenchimento do Lean Canvas deve iniciar com os itens problema e segmentos de clientes. O problema abordado pela empresa é a mobilidade urbana nos grandes centros, problema este evidenciado pela grande circulação de veículos nas cidades, pelos altos preços praticados pelas empresas de táxis e pela falta de transportes alternativos para toda a população. Logo, os segmentos de clientes passam ser os passageiros, que usufruirão do transporte, e os motoristas, responsáveis por levar os passageiros. A proposta única de valor envolve a solicitação de táxi por demanda, a facilidade da não utilização de dinheiro em espécie para pagamento, a praticidade para solicitar o serviço e 5Metodologia start-up enxuta (lean start-up) um curto tempo de espera. A solução apresentada pela empresa é tornar útil o espaço ocioso de carros particulares, ou seja, facilitar o transporte de passageiros, fazendo girar a economia local, empregando pessoas com habilidades para a profissão que possuam veículos e estejam ociosas ou desempregadas. A peça canais da empresa Uber optaria por trabalhar com aplicativo mobile, por meio das mídias sociais e relações públicas. A estrutura de custo envolve o desenvolvimento da plataforma, custos com vendas e marketing, salários e paga- mentos dos motoristas. As fontes de receitas virão pelo pagamento das corridas e podem criar segmentos premium. Um dos indicadores para verificar o sucesso do negócio é a quantidade de motoristas afiliados ao aplicativo. O diferencial de mercado da empresa é a possibilidade de ganhos para os motoristas de até R$ 7.000. Figura 2. Exemplo de preenchimento do Lean Canvas da empresa Uber. Fonte: Castilho (2016, documento on-line). 2 As peças mais arriscadas do plano de negócios Com as hipóteses do modelo de negócios documentadas, a próxima etapa é validá-las sistematicamente. A ordem em que isso é feito é ditada pelo estágio da inicialização (MAURYA, 2012). Os estágios listados a seguir apresentam as peças mais arriscadas do plano de negócios. Metodologia start-up enxuta (lean start-up)6 Estágio 1 – Ajuste do problema/solução: o primeiro estágio é sobre a validação do ajuste do problema/solução. Nesse estágio, a questão-chave é: tenho um problema que vale a pena resolver? Essa questão é resolvida dissociando-se o problema da solução e testando-o por meio de entrevistas com clientes. Testar o problema dessa maneira permite verificar se há um problema que vale a pena resolver em primeiro lugar antes de investir esforços na construção de uma solução. A partir disso, é possível derivar o conjunto mínimo de recursos que soluciona o conjunto correto de pro- blemas — também chamado de mínimo produto viável (MVP). O MVP é o conjunto mínimo de funcionalidades para resolver o conjunto certo de problemas. Segundo Ries (2012, p. 58), “[...] o MVP é aquela versão do produto que permite uma volta completa do ciclo construir-medir-aprender, com o mínimo de esforço e o menor tempo de desenvolvimento”. Estágio 2 – Ajuste do produto/mercado: depois de definido um problema que vale a pena resolver e construído o MVP, será preciso iniciar o processo de aprender com os clientes e testar o quão bem sua solução resolve o problema. As start-ups enxutas ajudam a maximizar esse tipo de aprendizado. Dessa forma, a questão-chave nessa etapa é: criei algo que as pessoas querem? Estágio 3 – Escala: depois de atingir o alinhamento entre produto e mercado, algum nível de sucesso é quase sempre garantido. Nesse estágio, o foco passa a ser crescer ou escalar seu modelo de negócios. O próximo passo é otimizar o modelo de negócios para a escalabilidade, e a principal perguntaé: como acelerar o crescimento? Atingir o alinhamento entre produto e mercado é o primeiro ponto im- portante para uma start-up, pois afeta diretamente a estratégia e as táticas utilizadas. Antes desse alinhamento, a start-up está focada em aprender e pivotar. Depois disso, a concentração passa a ser no crescimento e na otimi- zação, conforme ilustrado na Figura 3. Pivotar é um termo utilizado por Eric Reis para descrever uma mudança de direciona- mento de uma start-up ao mesmo tempo que ela se mantém firmemente enraizada na aprendizagem. A melhor maneira de diferenciar as pivotagens das otimizações é lembrar que pivotagem diz respeito a encontrar um plano que funcione, ao passo que as otimizações se voltam a acelerar esse plano (MAURYA, 2018). 7Metodologia start-up enxuta (lean start-up) Figura 3. Antes e depois do alinhamento entre produto e mercado. Fonte: Maurya (2012, p. 21). Em um experimento de pivotagem, a tentativa é de validar parte das hipóteses do modelo de negócios, a fim de encontrar um plano de funcione, ou seja, fazer as correções da rota. Já em um experimento de otimização, a tentativa é de refinar parte das hipóteses do modelo de negócios, a fim de acelerar um plano que já está funcionando, ou seja, o objetivo é a eficiência (MAURYA, 2012; 2018). Após o alinhamento entre produto e mercado, deve ocorrer maior aporte de financiamento externo. Embora seja preciso levantar parte do financiamento nas etapas iniciais, esse é o momento ideal para isso, pois, nesse estágio, a start-up e os investidores possuem o mesmo objetivo: escalar o negócio. Nesse ponto, os investidores se importam mais com a tração, ou seja, com a medida de engaja- mento do produto com o mercado (MAURYA, 2012; 2018). A Figura 4 ilustra essa relação. É importante entender que, após elaborar um plano de negócios e identificar as partes mais arriscadas dele, tentar vender isso aos investidores sem testes ou validações constitui um desperdício de tempo e dinheiro. Figura 4. Financiamento externo. Fonte: Maurya (2012, p. 31). Metodologia start-up enxuta (lean start-up)8 Diante disso, dois conceitos são fundamentais: runway e bootstrapping. O runway consiste em uma reserva de caixa suficiente para que a start-up possa começar a testar e validar seu modelo de negócios com os clientes. Por exemplo: quanto de dinheiro você precisará se a sua ideia envolve a produção de um protótipo de patinete para testar? Já o bootstrapping “[...] envolve técnicas para criar start-ups de baixo consumo de recursos ao eliminar o desperdício por meio da maximização dos recursos existentes antes de gastar energia na aquisição de recursos novos ou externos” (MAURYA, 2012, p. 33). Segundo Gitahy (2011), bootstrap significa criar sua start-up usando somente recursos próprios, apertando os cintos do time e não recorrendo a investidores externos. Se há alguma entrada de capital, ela necessariamente vem dos primeiros clientes. A metáfora de fazer bootstrapping indica o processo autossustentável de alavancar a si próprio. Os bootstrappers costumam envolver empreendedores com capacidade acima da média, raramente iniciantes, como, por exemplo, a Dell e a Microsoft. 3 Aplicação de testes no plano de negócios a partir da iteration meta-pattern De acordo com Ries (2012, p. 50), no modelo de start-up enxuta: [...] um experimento é mais do que apenas uma pesquisa teórica; também é o primeiro produto. Se esse ou qualquer outro experimento for bem-sucedido, permitirá que o gerente desencadeie sua campanha arrolando os adotantes iniciais, adicionando funcionários para cada novo experimento ou iteração e, no fim, começando a construir um produto. Quando o produto estiver pronto para ser distribuído, já terá tido contato com clientes e solucionado problemas reais, bem como terá especificações detalhadas para o que precisa ser desenvolvido. Uma vez definido o modelo de negócios Lean Canvas e priorizados os riscos iniciais, a start-up estará pronta para iniciar os testes do plano. Em uma start-up enxuta, isso é realizado por meio de uma série de experimentos (MAURYA, 2018). Nesse ponto, faz-se necessário o entendimento de experimento e iteração. Em start-up enxuta, o experimento é um ciclo de aprendizagem vali- dada, bem como um ciclo de feedback construir-medir-aprender. Para Ries (2012), esse ciclo está no centro do modelo, pois é preciso concentrar a energia na minimização do tempo total gasto nesse ciclo de feedback. Nesse momento, é fundamental concentrar energias na aprendizagem validada, a fim de evitar desperdícios e economizar tempo e dinheiro. 9Metodologia start-up enxuta (lean start-up) Segundo Maurya (2018), o ciclo inicia-se na fase construir com um con- junto de ideias ou hipóteses utilizadas para criar algum artefato, com o ob- jetivo de testar uma hipótese. Em seguida, coloca-se esse artefato diante dos clientes e mede-se a reação deles utilizando uma combinação de dados qualitativos e quantitativos. Para Ries (2012, p. 57), “[...] à medida que os clientes interagem com os produtos, geram feedback e dados. O feedback é tanto qualitativo (por exemplo, o que gostam ou não) como quantitativo (por exemplo, quantas pessoas utilizam o produto e consideram que ele tem valor)”. Por fim, os dados são utilizados para aprender, validando ou refu- tando uma hipótese, o que, por sua vez, orienta o próximo grupo de ações. A Figura 5, a seguir, apresenta o processo do ciclo de feedback de três etapas. Figura 5. Ciclo de feedback construir-medir-aprender. Fonte: Ries (2012, p. 57). APRENDER CONSTRUIR PRODUTO MEDIR DADOS IDEIAS Minimizar o tempo total por meio do ciclo CICLO DE FEEDBACK CONSTRUIR-MEDIR-APRENDER Portanto, o experimento auxilia a validar ou invalidar uma hipótese específica sobre o modelo de negócios. A iteração, por sua vez, une muitos experimentos para atingir um objetivo específico, como o alinhamento entre produto e mercado (MAURYA, 2018). Assim, para aplicar o método científico a uma start-up, é preciso identificar quais hipóteses testar. Ries (2012) denomina atos de fé os elementos mais arriscados do plano de uma Metodologia start-up enxuta (lean start-up)10 start-up. As duas suposições mais importantes são a hipótese de valor e a hipótese de crescimento, pois dão origem a variáveis de ajuste, que controlam o motor de crescimento da start-up. Dessa forma, cada iteração é uma tentativa de acionar o motor para verificar seu funcionamento, e, assim, o processo se repete, mas avançando o potencial do produto ou serviço. É como começar com uma ideia de desenvolver um carro e iniciar com um skate, conforme demonstra a evolução do produto da Figura 5. A Figura 6, a seguir, apresenta a iteration meta-pattern, ou seja, as fases do metapadrão de iterações. Figura 6. Iteration meta-pattern. Fonte: Adaptada de Maurya (2018). Portanto, enquanto uma experiência ajuda a validar ou invalidar uma hipótese específica do modelo de negócios, uma iteração reúne várias expe- riências para atingir uma meta específica, como obter o ajuste do produto/ mercado. Na figura 6, é possível observar as etapas do iteration meta-pattern, conforme detalhadas a seguir: Dois primeiros estágios (entender o problema e definir a solução): são sobre como ajustar o problema ou encontrar um que valha a pena resolver. Em seguida, é preciso iterar o ajuste do produto/mercado, testando se a empresa criou algo que as pessoas desejam. Abordagem em dois estágios (validar qualitativamente e verificar quantitativamente): primeiro, qualitativo ou em microescala, ou seja, a quantidade de pessoas é menor em virtude da análise ser mais complexa (o que gosta ou não do produto/serviço). Depois, quantitativo ou em macroescala, ou seja, a quantidade de pessoas que utilizam o produto pode ser maior, pois, para a análise, é indi- ferente ter 50 ou 100 pessoas utilizando o produto (quantas pessoas utilizam o produto/serviço). 11Metodologia start-up enxuta (lean start-up)CASTILHO, T. Construa modelos de negócios para startups. In: HSM EXPERIENCE. [S. l.: s. n.], 2016. Disponível em: https://experience.hsm.com.br/posts/lean-canvas. Acesso em: 6 abr. 2020. GITAHY, Y. O que é boostrapping? [Entrevista cedida a] Daniela Moreira. Exame, jul. 2011. Disponível em: https://exame.abril.com.br/pme/o-que-e-boostrapping/. Acesso em: 6 abr. 2020. MAURYA, A. Comece sua start-up enxuta. São Paulo: Saraiva, 2018. MAURYA, A. Running lean: iterate from plan a to a plan that works. Sebastopol: O’Reilly, 2012. OLIVEIRA, P. Lean canvas: como validar sua startup. 2018. Disponível em: https://ucj. com.br/lean-canvas-business-plan/. Acesso em: 6 abr. 2020. RIES, E. A startup enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extremamente bem-sucedidas. São Paulo: Lua de Papel, 2012. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Para ler um estudo de caso sobre a metodologia Lean start-up para negócios digitais, acesse o site cc.uenf. Aproveite a leitura para verificar uma aplicação dos conceitos do Lean start-up em um empreendimento de tecnologia chamado GoPages. Para ler sobre uma abordagem do estado de arte da metodologia Lean start-up, cuja aplicação prática foi documenta por meio do relato do percurso de uma start-up (a Wishmood) que segue os seus princípios, acesse o site run.unl. Metodologia start-up enxuta (lean start-up)12 SISTEMAS LEAN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir balanceamento de operações. > Descrever o nivelamento de recursos em sistemas produtivos. > Resolver problemas de heijunka. Introdução Neste capítulo, você vai estudar o balanceamento de operações e como é possível aplicá-lo no dia a dia de uma operação produtiva. Você vai compre- ender em que momento do sistema lean pode ser aplicado o balanceamento e com quais outras ferramentas ele pode ser utilizado em conjunto, como o kanban e o kaizen. Você vai aprender que uma produção nivelada, mesmo contando com maio- res setups em uma operação diária, apresenta mais vantagens e resultados em comparação com uma produção com grandes lotes do mesmo produto. Ainda, você vai estudar as ferramentas que auxiliam no balanceamento, como o gráfico de balanceamento das operações (GBO). Por fim, você vai verificar a resolução de alguns exercícios que auxiliam a visualizar a aplicação dos conteúdos teóricos abordados. Balanceamento e nivelamento (heijunka) Giovana Gavioli Ribeiro da Silva Balanceamento de operações A palavra “balancear” tem como sinônimos “equilibrar”, “nivelar”, “reduzir impacto” e “igualar”, que podem ser usadas para descrever o balanceamento das operações produtivas. O objetivo do balanceamento é otimizar o tempo dos operadores e das máquinas ao mesmo tempo em que reduz o lead time (tempo de entrega) do cliente. Ele é atingido quando a produção consegue montar um mix de volumes constantes ao longo do tempo. Antes de nos aprofundarmos no tema, vamos entender onde o balance- amento se encaixa dentro do sistema lean. Existe uma concepção errada de que o sistema lean se relaciona somente com a redução de perdas (muda). Ele também visa a trabalhar outros fatores dentro da produção, entre eles o desnivelamento (mura) e a sobrecarga (muri). Veja como eles se relacionam na Figura 1. Figura 1. Inter-relação entre as perdas, o desnivelamento e a sobrecarga no sistema lean. Fonte: Liker e Ross (2019, p. 89). O balanceamento da produção representa uma nova forma de enxergar como se produz, evitando que ocorram produções de um mesmo produto muito longas, que podem transformar o processo em picos e vales. Balanceamento e nivelamento (heijunka)2 Picos e vales A maior parte das empresas realiza a sua produção a partir de um pedido ou de uma demanda. O sistema de planejamento, programação e controle da produção realiza a programação de forma a completar um pedido único, aproveitando ao máximo os recursos disponíveis e evitando realizar muitos ajustes ou setups de máquina, que poderiam diminuir a eficiência da linha produtiva. No sistema lean, enxerga-se de outra forma a produção. A Figura 2 mostra uma empresa que trabalha como a lebre: possui produ- ções que oscilam conforme o atendimento de pedidos. Em um momento, ela faz grandes lotes de produtos, e em outros, ela faz lotes pequenos, formando picos e vales em uma representação de gráfico de produção. Isso pode levar a problemas de desnivelamento e sobrecarga das estações de trabalho, que acabam resultando em entregas fora do prazo e acúmulo de grandes quantidades de estoque. Figura 2. Produção em picos e vales (lebre) e produção balanceada (tartaruga). Fonte: InkArena ([2020?], documento on-line). 1. A Toyota identificou quatro causas principais para esses problemas (BALLÉ et al., 2019), descritas a seguir. Lotes grandes de produção: se, por um lado, os lotes aumentam a eficiência dos recursos da produção e diminuem o tempo de setups, por outro lado, eles resultam em grandes estoques, pois é preciso armazenar as peças em algum lugar. Caso a Balanceamento e nivelamento (heijunka) 3 produção seja para atender a um pedido já realizado, levará um tempo até que a produção seja concluída e o material possa ser transportado, aumentando o estoque em processo (WIP, do inglês work in progress). Já na produção para atender à previsão de demanda, ela poderá sofrer alterações, e a quantidade pode não se concretizar, fazendo com que a empresa tenha que realizar promoções para escoar itens parados em estoque, reduzindo qualquer vantagem de custo que a eficiência tenha trazido. Especificamente quanto ao tempo de entrega, ele pode sofrer grandes impactos com lotes grandes, já que é necessário um tempo maior de atendimento para um cliente que deseja algo diferente do que se está produzindo no momento. A qualidade também é prejudicada, já que um erro pode se repetir em toda a produção até que seja detectado. 2. Fluxos complexos: cada peça de um determinado pedido percorre um caminho próprio na produção. Assim, pode ser que alguns materiais fiquem prontos antes que outros, adiando a montagem final e tornando difícil terminar tudo dentro do prazo, acumulando WIP em diversos pontos da produção. 3. Falta de sincronização entre produção e vendas: a eficiência produtiva, reflexo dos sistemas tayloristas, visa ao esforço máximo de todos os recursos. Isso pode resultar em acúmulo de peças, materiais ou produtos que simplesmente foram fabricados para aproveitar a janela de produção, sem necessariamente ter um pedido ou uma previsão. Por outro lado, faltam tempo e espaço para produzir peças ou produtos que efetivamente possuem demanda, resultando em um desencontro das necessidades da empresa e do mercado. 4. Problemas de transporte e logística: o sistema lean deve ocorrer em todas as esferas da empresa. De nada adianta reduzir o lotes e realizar setups mais frequentes, se isso não ocorrer também na distribuição da empresa aos seus consumidores. A programação nivelada ou o balanceamento das operações, conhecido na filosofia lean como heijunka, significa transformar uma produção com grandes e pequenos lotes em uma produção contínua, como a linha traçada na Figura 2 pela tartaruga. Isso levaria a empresa a obter ganhos produtivos, de estoque, de aproveitamento de recursos e de lead time. Por isso, muitos autores da área de administração da produção colocam o heijunka dentro do just in time quando falam do sistema lean. Balanceamento e nivelamento (heijunka)4 No Japão, os clientes sabem quando devem vender seus carros, uma vez que os impostos sobre os veículos mais antigos são muitoaltos. Por isso, eles encomendam os seus veículos com antecedência. Sobre essa encomenda, a Toyota realiza o seu planejamento de produção de forma nivelada, combinando a programação de vendas, as operações e as demandas da cadeia de suprimentos. Já nos Estados Unidos, a programação da produção é feita com base em previsões regionais, alocando um mix previsto de veículos para cada área. A partir disso, a produção realiza um mix de produção de forma a criar pequenos estoques-pulmão, fazendo com que as fábricas não precisem produzir exa- tamente o que os clientes querem, na ordem em que compram. Dessa forma, quando o cliente vai procurar o produto, a concessionária tem três opções (LIKER; ROSS, 2019): 1) negociar um veículo similar ao que ele deseja (a maioria das vendas ocorre dessa forma); 2) buscar no estoque de outras concessionárias e trocar com o que o cliente deseja (representa de 25 a 30% das vendas); 3) encomendar o veículo exato (representa de 5 a 10% das vendas). Nesse caso, o cliente se dispõe a esperar o lead time necessário. A partir do exemplo, percebemos que o balanceamento otimiza o tempo de entrega ao consumidor final, já que disponibiliza o produto o tempo inteiro, criando pequenos estoques de todo um mix. Nivelamento de recursos em sistemas produtivos Agora que entendemos o que significa o balanceamento, vamos entender como ele pode ser feito na prática. O primeiro passo é entender a demanda do consumidor. Dennis (2008) determina três fatores essenciais a serem avaliados para definir a demanda do cliente, descritos a seguir. � Volume: como a demanda se modifica ao longo do tempo? Ela sofre algum fator de sazonalidade? Qual é o movimento médio da demanda? O objetivo é identificar um padrão na movimentação. Balanceamento e nivelamento (heijunka) 5 A sazonalidade pode ser identificada por variações grandes de de- manda causadas por eventos específicos, como Dia dos Namorados, Dia das Mães, feriados, estações do ano etc. Dependendo do tipo de produto ou serviço prestado pela empresa, a sua demanda pode variar consideravelmente a partir desses fatores, e isso deve ser adicionado ao planejamento da produção. � Combinação: que produtos ou serviços são comercializados pela em- presa? Quais possuem maior movimentação? Quais possuem maior faturamento? Essa classificação é essencial para determinar quais produtos devem ser priorizados ao se realizar o balanceamento. � Variação: qual é o coeficiente de variância da demanda de cada produto (desvio-padrão dividido pela média)? Uma vez que a empresa tenha mapeado a sua demanda, deve-se então identificar a capacidade dos seus colaboradores. Se eles vão realizar diversas preparações e trocas de máquinas ao longo de um dia, é essencial que eles sejam devidamente treinados para isso, tanto em diferentes máquinas como com diferentes recursos e materiais. É ideal que o processo seja padronizado para que ele possa ser disseminado à maior quantidade de colaboradores possível e não fique atrelado ao conhecimento de um só colaborador. Outro ponto importante é avaliar a capacidade das máquinas, não com relação à quantidade a ser fabricada, mas quanto à flexibilidade de alteração de mix. É necessário avaliar a velocidade e a facilidade com que a mudança pode ser feita, evitando perda de tempo na troca de lotes de fabricação. Em alguns casos, vale o investimento em troca de recursos produtivos, pos- sibilitando essa otimização de mudanças de mix. É necessário realizar uma avaliação financeira para isso. Por fim, a capacidade de fornecimento também deve ser medida. Uma vez que o mix de fabricação será variado, os fornecedores também deverão estar aptos a alterar o seu formato de abastecimento, tornando a entrega de matéria-prima diferenciada e não padronizada, evitando que a empresa mantenha altos estoques de entrada. Balanceamento e nivelamento (heijunka)6 Para exemplificar de forma prática como aplicar o heijunka, vamos con- siderar uma empresa que comercializa quatro tipos de produto (A, B, C e D). Em uma semana, ela teve as seguintes vendas: � Produto A = 10 unidades � Produto B = 20 unidades � Produto C = 25 unidades � Produto D = 15 unidades Identificamos que o produto C foi o que teve maior volume, seguido do produto B, do produto D e do produto A, nessa ordem. Sabendo que a em- presa tem uma capacidade diária de 14 unidades por dia e que ela trabalha de segunda a sexta em horário comercial, a programação tradicional seria representada conforme o Quadro 1. Quadro 1. Exemplo de uma produção tradicional Capacidade = 14 unid./dia C B D A TOTAL/dia Segunda-feira 14 — — — 14 Terça-feira 11 3 — — 14 Quarta-feira — 14 — — 14 Quinta-feira — 3 11 — 14 Sexta-feira — — 4 10 14 TOTAL 25 20 15 10 Para transformar essa produção em uma produção nivelada, ainda priori- zando o item mais vendido, teremos a programação do Quadro 2, considerando a mesma capacidade e horas de produção. Balanceamento e nivelamento (heijunka) 7 Quadro 2. Produção nivelada Capacidade = 14 unid./dia C B D A TOTAL/dia Segunda-feira 5 4 3 2 14 Terça-feira 5 4 3 2 14 Quarta-feira 5 4 3 2 14 Quinta-feira 5 4 3 2 14 Sexta-feira 5 4 3 2 14 TOTAL 25 20 15 10 Perceba que, na segunda-feira, ao final do dia, teremos estoques de todos os produtos com a produção nivelada, o que não acontece com a produção tradicional. Isso servirá para amortecer qualquer alteração na demanda do produto B, por exemplo, que poderá ser atendida parcialmente. Alterações de combinação da demanda — ou seja, se um produto passa a ser mais solicitado do que o outro — também podem ser absorvidas pelo sistema de nivelamento. Suponhamos que de segunda a quarta a demanda permaneceu a mesma, porém, na quinta, o produto B passou a ser o mais vendido, seguido dos produtos D e A. O lote permanece o mesmo, porém, a sequência da produção será diferente. Veja no Quadro 3. Quadro 3. Produção nivelada com alteração de demanda Capacidade = 14 unid./dia C B D A TOTAL/dia Segunda-feira 5 4 3 2 14 Terça-feira 5 4 3 2 14 Quarta-feira 5 4 3 2 14 Alteração de demanda B D A C Quinta-feira 4 3 2 5 14 Sexta-feira 4 3 2 5 14 Balanceamento e nivelamento (heijunka)8 Como existe produção de todos os elementos em todos os dias da semana, quaisquer alterações na demanda serão facilmente absorvidas. Da mesma forma, a negociação com o cliente final também fica mais fácil, uma vez que entregas parciais podem ser realizadas, evitando o acúmulo de estoques de produtos acabados tanto na minha produção como no meu cliente. Entregas mais frequentes também reduzem os custos de frete, pois podem ser utilizados veículos menores, que gastam menos combustível e possuem maior facilidade de acesso aos centros de comércio. Ao praticar o heijunka, a empresa poderá obter os seguintes benefícios (BALLÉ et al., 2019): � redução no lead time; � maior confiabilidade na operação; � menor estoque de produtos em processo (WIP) e produtos finais; � menor desnivelamento e sobrecarga; � equipe com alto conhecimento e treinamento; � parque fabril flexível para maior mix de produtos; � melhor relacionamento com fornecedores; � maior agilidade de atendimento; � valores menores de frete. Ferramentas de controle do balanceamento Existem diversas ferramentas de controle da produção, porém, duas se aplicam exclusivamente ao heijunka. Uma delas é operacional, conhecida como caixa de heijunka. Basicamente, ela consiste em um elemento visual na produção, similar ao objetivo do kanban, e pode ser utilizada em conjunto com ele. Feito o balanceamento, os pedidos programados para a produção são colocados na caixa de heijunka, a partir dos horários e dos operadores definidos. Existem caixas de heijunka prontas para serem utilizadas na pro- dução. Assista ao vídeo “Quadro Heijunka Box | Nivelamento da produção | Gestão à Vista”, do canal ISOFLEX - Soluções para Gestão Visual, no YouTube, para entender melhor como elas funcionam. Balanceamento e nivelamento(heijunka) 9 Outra ferramenta de controle é o GBO. O gráfico pode ser utilizado tanto para controlar e melhorar o balanceamento feito como para executar o ni- velamento em si, uma vez que ele identifica todas as operações e os seus tempos previstos e realizados. Ele oferece um mapeamento da operação, identificando pontos que estejam críticos e que precisam ser solucionados para fazer o balanceamento. A partir do GBO, é possível identificar operações ociosas e operações sobrecarregadas e redistribuí-las de forma que a produção fique nivelada, reduzindo as perdas e, consequentemente, o custo. Ao mesmo tempo, au- menta-se a eficiência das operações e se força a melhoria contínua (kaizen). Para fazer o GBO, são necessários: � o sequenciamento das operações; � o tempo takt (takt time); � os tempos de ciclo das operações. Veja na Figura 3. Figura 3. Exemplo de gráfico de balanceamento das operações. Fonte: Tempo... (2017, documento on-line). Balanceamento e nivelamento (heijunka)10 Segundo Tempo... (2017), o tempo de ciclo deve ficar entre 75% a 90% do takt time. Abaixo de 75%, há perda de eficiência, e acima de 90%, a empresa pode perder em tempo de resposta para mudanças inesperadas e pode haver uma parada de linha. Vemos na figura que o takt time é de 28,5. A etapa 2 possui um tempo de ciclo maior que o takt, por isso, ela deve ser reavaliada e pode ser quebrada em duas, ou ser realizada com dois operadores, para que ela fique abaixo do takt. Já a etapa 4 possui um tempo bem menor, sendo necessário, nesse caso, verificar se a etapa pode ser combinada com alguma outra, a fim de evitar tempo ocioso na produção. Veja na Figura 4 um exemplo de GBO sem balanceamento e outro com balanceamento. Figura 4. Comparativo de gráficos sem e com balanceamento de operações. Fonte: Balanceamento... (2016, documento on-line). Perceba, a partir da Figura 4, que, em vez de diferentes tempos de ciclo entre as etapas, com muito tempo ocioso em algumas delas, como as operações 3, 5 e 8 no GBO à esquerda, elas foram agrupadas em células de trabalho, para que possam ter um resultado o mais próximo possível do takt time previsto. A aplicação do heijunka pode se modificar a partir do sistema puxado da empresa, que pode ser dividido em três tipos. Leia mais sobre isso e as estratégias para cada um dos sistemas na obra Produção lean simplificada — um guia para entender o sistema de produção mais poderoso do mundo, de Pascal Dennis (2008). Balanceamento e nivelamento (heijunka) 11 Problemas de heijunka Existem diversos métodos para balancear a operação, que podem ser aplicados de formas diferentes pelas empresas. A seguir, você vai conhecer dois deles. O primeiro é apresentado por Slack et al. (2002) e descrito a seguir. Suponha que uma empresa possui as seguintes necessidades de material no período de 20 dias: � Produto A: 1.920 � Produto B: 1.200 � Produto C: 960 Assumindo que o dia de trabalho dela é de 8 horas, o tempo de ciclo de cada produto é calculado usando a seguinte fórmula de tempo de ciclo (TC): TC = Tempo de produção/ Quantidade de peças necessárias � Produto A = 20 x 8 x 60 / 1.920 = 5 minutos � Produto B = 20 x 8 x 60 / 1.200 = 8 minutos � Produto C = 20 x 8 x 60 / 960 = 10 minutos Na sequência, encontra-se o mínimo múltiplo comum entre os tempos 5, 8 e 10, que é 40. A produção precisará produzir, portanto: � 8 unidades de A a cada 40 minutos (40/5); � 5 unidades de B a cada 40 minutos (40/8); � 4 unidades de C a cada 40 minutos (40/10). Qualquer sequência de produção que misture 8 unidades de A, 5 uni- dades de B e 4 de C e seja repetida a cada 40 minutos vai gerar a produção necessária ao final dos 20 dias. O mix poderá ser realizado de várias formas diferentes, a partir dos tempos de setup e dos materiais disponíveis; por exemplo: BACABACABACABACAB. Outro exemplo para calcular o balanceamento, dado por Martins e Laugeni (2005), é apresentado por meio do problema a seguir. Vamos considerar a linha de montagem da empresa X, cujos processos estão expressos na Figura 5. Balanceamento e nivelamento (heijunka)12 Figura 5. Linha de montagem da empresa X — os tempos são em minutos por peça. Fonte: Adaptada de Martins e Laugeni (2005). A partir da Figura 5, percebemos que a empresa possui vários processos, e precisamos fazer o seu dimensionamento. Sabendo que desejamos produzir 10 peças por hora, e que cada operador trabalha 45 minutos por hora, vamos determinar: 1. o TC e o número teórico de operadores (N); 2. o número real de operadores (NR) e a divisão de trabalho entre eles; 3. a eficiência do balanceamento (E). Assim, temos: TC = Tempo de produção/Quantidade de peças necessárias TC = 45 / 10 = 4,5 minutos por peça Para calcular N, precisaremos descobrir o Ti, que é o tempo da peça em cada operação. Analisando o diagrama, temos: Ti = 3,0 + 3,5 + 1,0 + 1,7 + 3,0 + 2,8 + 2,5 = 17,5 minutos Assim, N será: N = Soma de Ti / TC = 17,5 / 4,5 = 3,89 operadores, teoricamente Balanceamento e nivelamento (heijunka) 13 Para encontrar o NR, precisamos simular os operadores em cada posto, alocando o menor número possível em cada um deles, ou no limite, para um resultado igual ao TC. Uma das soluções pode ser encontrada no Quadro 4. Quadro 4. Proposta de balanceamento com o número real de operadores Posto 1 2 3 4 5 TC Operações A B + C F + D G E Tempo (T) 3,0 4,5 4,5 2,5 3,0 4,5 min Ocupação (O) 66,7% 100,0% 100,0% 55,6% 66,7% Fonte: Martins e Laugeni (2005, p. 147). Perceba que no tempo (T), o agrupamento das operações teve o cuidado de não ultrapassar o tempo de ciclo de 4,5 minutos. Portanto, temos, no máximo, cinco operadores: � um trabalhando no posto 1, realizando a operação A, produzindo 3 peças por minuto; � um trabalhando no posto 2, realizando as operações B + C, levando 4,5 minutos por peça; � um nas operações F e D, no posto 3, também com 4,5 minutos; � um para a operação G no posto 4, com ociosidade, já que trabalha com 2,5 peças por minuto; e � um operador no posto 5, na atividade E, com 3 peças por minuto. O percentual de ocupação (O) nos ajuda a identificar o grau de ociosidade do balanceamento. Nos postos 1 e 5, temos 66,7% de ocupação (3,0/4,5 min); nos postos 2 e 4, temos 100% de ocupação; e, no posto 4, temos 55,6% de ocupação. Utilizamos essas informações para calcular a eficiência do balan- ceamento (E). Para calcular E, divide-se o número teórico de operadores (N) pelo número real (NR). Assim, temos: E = N/NR = (3,89/5) * 100 = 77,8% Balanceamento e nivelamento (heijunka)14 A partir desse exercício e analisando o balanceamento, teríamos um GBO conforme mostra a Figura 6. Figura 6. Gráfico de balanceamento das operações da linha da empresa X, balanceadas. Vimos, portanto, que a empresa X não consegue trabalhar produzindo 10 peças por hora com somente 3,89 (4) operadores. Ela poderia trabalhar com quatro operadores se ela balanceasse as operações G e E, executadas por somente um operador. Seu resultado ficaria conforme o Quadro 5. Quadro 5. Proposta de balanceamento com o número real de operadores Posto 1 2 3 4 TC Operações A B + C F + D G + E Tempo 3,0 4,5 4,5 5,5 5,5 min Fonte: Martins e Laugeni (2005, p. 147). Com essa alteração, o TC passaria a ser de 5,5 minutos por peça, tendo 10 peças ao final de 55 minutos, 10 a mais do que o trabalho por hora do operador inicialmente previsto. A empresa poderia aumentar o tempo de trabalho do operador, reduzindo tempos de intervalo ou aumentando a carga horária com horas extras, por exemplo. Balanceamento e nivelamento (heijunka) 15 Contudo, como estamos falando de processos lean, é possível fazermos al- gumas considerações que podem melhorar o processo produtivo da empresa X. Olhando para o GBO da Figura 6, vemos que os postos 2 e 3 estão trabalhando com 100% da sua ocupação. É necessário melhorar esses processos, revisando suas atividades e buscando aprimorar o trabalho feito a partir do kaizen, o que resultariaem tempos de ciclo menores e otimizaria o trabalho dos postos e dos operadores. Percebemos que o balanceamento trabalha com uma diversidade de con- ceitos da administração da produção, a partir de uma filosofia lean, tentando sempre equalizar o processo produtivo e otimizá-lo, de forma que ele possa trabalhar de forma contínua, porém, com redução de estoques e melhor lead time ao consumidor final. Esses processos trarão menores custos para a empresa e certamente uma vantagem competitiva. Referências BALANCEAMENTO de linha e takt time. 1 vídeo (24 min). [S. l.: s. n.], 2016. Publicado pelo canal Alexandre Avila. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gZjK2i-mrcA. Acesso em: 29 dez. 2020. BALLÉ, M. et al. A estratégia lean: para criar vantagem competitiva, inovar e produzir com crescimento sustentável. Porto Alegre: Bookman, 2019. DENNIS, P. Produção lean simplificada: um guia para entender o sistema de produção mais poderoso do mundo. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. INKARENA. Pensamentos. In: PINTEREST. [S. l.: s. n., 2020?]. Disponível em: https://www. pinterest.ie/pin/549720698243231579/. Acesso em: 29 dez. 2020. LIKER, J.; ROSS, K. O modelo Toyota de excelência em serviços: a transformação lean em organizações de serviço. Porto Alegre: Bookman, 2019. MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 2005. SLACK, N. et al. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. TEMPO de ciclo. 1 vídeo (3 min). [S. l.: s. n.], 2017. Publicado pelo canal Renato Moura. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Kk6EUD1aOKs. Acesso em: 29 dez. 2020. Leituras recomendadas WOMACK, J. P.; JONES, D. T. A mentalidade enxuta nas empresas lean thinking. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998. WOMACK, J. P.; JONES, D. T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo. 17. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992. Balanceamento e nivelamento (heijunka)16 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Balanceamento e nivelamento (heijunka) 17 PROCESSOS CONSTRUTIVOS Bianca Funk Weimer Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 P963 Processos construtivos / André Luís Abitante ... [et al.] ; [revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 271 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-224-9 1. Engenharia civil. 2. Processos construtivos. CDU 624 Revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi Mestre em Engenharia de Produção Professora do curso de Engenharia Civil Processos construtivos_Impressa.indd 2 06/10/2017 16:28:50 Construção enxuta (lean construction) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as de� nições e os conceitos básicos do modelo de processo da construção enxuta (lean construction), bem como suas diferenças para o modelo de processo tradicional. Elencar os princípios para a gestão de processos da construção enxuta e o conceito de perdas nesse contexto. Identi� car as ferramentas aplicáveis ao planejamento e controle da produção na construção civil. Introdução Nos últimos tempos, ocorreram mudanças significativas na indústria da construção civil, principalmente no que diz respeito ao aumento da competitividade no ambiente empresarial, à elevação das exigências dos clientes e às reivindicações, por parte da mão de obra, de melhores condições de trabalho. Em virtude desses fatos, as empresas têm concen- trado grandes esforços na área de gestão da produção com o intuito de aumentar a eficiência dos processos, reduzindo custos e conquistando o mercado com produtos mais inovadores pela aplicação de uma nova filosofia de produção: a construção enxuta (lean construction). Neste capítulo, você vai conhecer a construção enxuta, quais os seus conceitos básicos e os seus princípios e como essa filosofia gerencial contribui para a melhoria dos processos construtivos. Processos construtivos_U4_C18.indd 255 06/10/2017 14:54:38 Definições e conceitos básicos da construção enxuta (lean construction) A construção enxuta (em inglês, lean construction) é o nome dado a uma fi losofi a que vem sendo aplicada nos processos da construção civil, tanto em nível de projeto e planejamento quanto em nível de execução de obras. O termo faz referência ao sistema de produção enxuta (lean production) e é um paradigma gerencial que passou a ser concebido a partir dos anos 1990 com o intuito de adaptar alguns conceitos da área de Gestão da Produção ao setor de gestão de processos na construção civil. As ideias da produção enxuta surgiram nos anos 1950, no Japão, a partir de duas fi losofi as básicas: TQM (Total Quality Management) JIT (Just in Time) O Sistema Toyota de Produção foi a sua aplicação mais destacada, por- tanto seus conceitos e princípios básicos tiveram origem na própria indústria, especialmente na automotiva. A produção enxuta é baseada na ideia de que a redução do custo é alcançada pela eliminação dos desperdícios — qualquer processo que não agregue valor ao produto final. Contudo, mais recentemente, a produção enxuta vem sendo disseminada para os demais setores de atividades econômicas. Com relação à indústria da construção civil, esse momento foi marcado pela publicação de Lauri Koskela, em 1992, com a posterior criação do IGLC (International Group for Lean Construction), que é o responsável pela difusão da nova filosofia em diversos países. Para saber mais sobre a publicação precursora na disseminação da filosofia da produção enxuta no setor da construção civil, leia o trabalho “Application of the new production philosophy in the construction” (KOSKELA, 1992). As diferenças entre a produção enxuta e a filosofia gerencial tradicional são, substancialmente, conceituais — sendo que a modificação mais importante é a introdução de uma maneira diferente de compreender um processo. Construção enxuta (lean construction)256 Processos construtivos_U4_C18.indd 256 06/10/2017 14:54:39 Modelo de processo tradicional O modelo que domina os processos na construção civil é chamado de modelo de conversão, pois defi ne a produção como um conjunto de ações denominadas atividades de conversão. Tais atividades transformam insumos (materiais, informações etc.) em produtos intermediários (estruturas, alvenaria, revesti- mentos etc.) ou no produto fi nal (edifi cação). Um esquema para o modelo de processo tradicional (modelo de conversão) é mostrado na Figura 1, e suas principais características são apresentadas a seguir: Os processos de produção podem ser subdivididos em mais de um subprocesso; como exemplo, tem-se a execução da estrutura (viga, pilar), que é subdividida em execução de formas, colocação da armadura e concretagem. Os esforços para a minimização do custo total de um processo são focados, usualmente, em esforços de minimização do custo de cada um dos subprocessos envolvidos separadamente. O valor do produto de um subprocesso está vinculado apenas ao valor (custo) de seus insumos (materiais, equipamento, mão de obra etc.); por conseguinte, pode-se melhorar o valor de um produto por meio da utilização de mão de obra mais bem qualificada ou materiais melhores. Figura 1. Modelo de processo tradicional (modelo de conversão). Fonte: Isatto et al. (2000). 257Construção enxuta (lean construction) Processos construtivos_U4_C18.indd 257 06/10/2017 14:54:39 Modelo de processo da construção enxuta O modelo de processo da construção enxuta admite que é por um fl uxo de materiais queum processo é fundamentado. As atividades que compõem esse processo, desde a matéria-prima até o produto fi nal (edifi cação), são de: Transporte Espera Processamento (conversão) Inspeção Pelo fato de as atividades de transporte, espera e inspeção não agregarem valor ao produto final, elas são chamadas de atividades de fluxo. Alguns itens que são definidos em orçamentos e planos de obra possuem atividades de fluxo implícitas, e, caso elas não sejam evidenciadas nos modelos de processos (a exemplo do modelo de conversão), sua percepção fica dificultada, e a gestão da produção é prejudicada. O modelo de processo tradicional apresenta apenas as atividades de conversão ou processamento, ou seja, atividades que agregam valor ao produto. Já no modelo de processo da construção enxuta, são apresentadas tanto atividades de processamento quanto atividades de fluxo (que não agregam valor ao produto). A Figura 2 apresenta um esquema para o modelo de processo da construção enxuta contendo todas as atividades citadas. Construção enxuta (lean construction)258 Processos construtivos_U4_C18.indd 258 06/10/2017 14:54:39 Figura 2. Modelo de processo da construção enxuta. Fonte: Adaptada Koskela (1992, p. 15). Além das atividades de fluxo, há atividades de processamento que também não agregam valor ao produto. Quando as especificações de um dado produto não forem atendidas depois da realização de um processo, por exemplo, é preciso que seja feito o retrabalho, e isso quer dizer que as atividades de processamento que foram previamente realizadas não agregaram valor. Nos processos da construção enxuta, a geração de valor é um aspecto muito importante. O conceito de “valor” está associado à satisfação do cliente, não estando ligado, diretamente, à execução de um processo. Portanto, apenas quando as atividades de processamento transformam matéria-prima em pro- dutos demandados por clientes, diz-se que um processo gera valor. O modelo de processo da construção enxuta da Figura 2 não só é aplicado para o caso de fluxo de processos de produção, em que o caráter é físico (fluxo de materiais), mas também em processos gerenciais, como planejamento e controle, projeto etc., em que o caráter é informativo (fluxo de informações). Além do fluxo de materiais, de informações e de montagem, o fluxo de trabalho demanda atenção especial no gerenciamento, pois ele representa o conjunto de atividades (trabalhos) realizadas no canteiro de obras pelas equipes ou máquinas. É muito importante esclarecer que o modelo de processo tradicional (de conversão) é eficientemente aplicável em sistemas de produção simples, no qual o foco se dá em apenas um processo de conversão. Com o aumento da complexidade nos sistemas de produção, tal modelo tornou-se insuficiente para representá-los de modo apropriado, pois as atividades de fluxo tiveram sua parcela aumentada e necessitaram de maior atenção, tornando o modelo de processo da construção enxuta mais adequado. No entanto, os mercados mais competitivos fazem com que o nível de exigência dos clientes aumente, voltando o foco para a gestão dos processos (atividades de conversão). 259Construção enxuta (lean construction) Processos construtivos_U4_C18.indd 259 06/10/2017 14:54:39 Essa nova filosofia de produção, portanto, concebe os processos como sendo a interação entre as atividades de conversão e as atividades de fluxo, em que se deve aperfeiçoar as primeiras e minimizar (ou eliminar, quando possível) as de fluxo. Construção enxuta: princípios para a gestão de processos A construção enxuta apresenta uma série de princípios que interagem entre si para que seja realizada a gestão de processos e a consequente melhoria no sistema de produção. Os princípios apresentados aqui foram sintetizados com base no trabalho de Koskela (1992): Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor: é um dos princípios fundamentais, o qual infere que a eficiência de um processo é melhorada não só tornando as atividades de conversão mais eficazes, mas também eliminando as atividades de fluxo, já que não agregam valor ao produto final; como exemplo, tem-se a exclusão de atividades de transporte de materiais; deve-se tomar cuidado, pois há muitas atividades de fluxo que são extremamente necessárias à produção, como treinamento da mão de obra, inspeções de qualidade, medidas de segurança etc. Aumentar o valor do produto pela consideração das necessidades dos clientes: com base no conceito de que um processo gera valor, deve-se reconhecer, com precisão, quais são as necessidades dos clientes (internos e externos), pelo mapeamento do processo com a identifica- ção sistemática de clientes e as suas exigências em cada etapa; como exemplo, tem-se a realização de pesquisas de mercado com potenciais compradores do empreendimento e, ainda, a solicitação de avaliações de clientes que já tiveram suas edificações entregues. Reduzir a variabilidade: a variabilidade nos processos produtivos pode estar ligada a: (a) processos anteriores, quando o estado atual depende dos estados precursores (p. ex., blocos com variações dimensionais); (b) o próprio processo, na sua execução (p. ex., duração variada de execu- ção de determinada atividade); e (c) a demanda, com as pretensões dos clientes (p. ex., mudanças de projeto solicitada por clientes). Há duas convenientes razões para que se reduza a variabilidade: (1) um produto uniforme satisfaz mais o cliente, pois sua qualidade está ligada ao que Construção enxuta (lean construction)260 Processos construtivos_U4_C18.indd 260 06/10/2017 14:54:40 foi previamente estabelecido; (2) o aumento da variabilidade irá acrescer o número de atividades que não agregam valor (atividades de fluxo) e o tempo de execução do serviço, pois fluxos de trabalho serão interrom- pidos e não serão tolerados produtos fora das conformidades exigidas pelos clientes; como exemplo, tem-se a utilização de procedimentos padrões, com treinamento dos envolvidos, para a execução de instalações hidrossanitárias com o intuito de minimizar o surgimento de vazamentos. Reduzir o tempo de ciclo: fundamentada na filosofia Just in Time, o tempo de ciclo representa a soma das durações de todas as etapas da produção de um produto (transporte, espera, processamento e inspeção) e a sua redução força a eliminação de atividades de fluxo, além de contribuir para: entrega mais rápida ao cliente, facilitação da gestão dos processos, aumento do efeito de aprendizagem, mais precisão nas estimativas de futuras demandas e menor vulnerabilidade do sistema de produção a mudanças de demanda; como exemplo, tem-se a mais rápida identificação de possíveis erros que, assim que identificados nos primeiros lotes da execução de um empreendimento, podem ser corrigidos nos lotes subsequentes. Simplificar pela redução do número de passos ou partes: quanto maior for o número de partes em um processo, maior será a chance de existirem atividades que não agreguem valor ao produto, geralmente ligadas a tarefas auxiliares de preparação e conclusão de um processo; como exemplo, tem-se a utilização de estruturas pré-moldadas que, diferentemente das moldadas no local, não irão interromper a execução da alvenaria e não resultarão em atividades que não agregam valor. Aumentar a flexibilidade de saída: consiste em alterar as caracterís- ticas dos produtos finais de um processo entregue aos clientes sem que haja a elevação significativa dos custos, mantendo-se a produtividade elevada; como exemplo, tem-se o adiamento da execução das divisó- rias internas de gesso acartonado, flexibilizando o produto final sem comprometer a eficiência do sistema de produção. Aumentar a transparência do processo: com processos mais trans- parentes, os erros ficam mais facilmente visíveis e identificáveis, e as informações se tornam mais disponíveis, o que facilita o trabalho e pode ser um meio de envolver a mão de obra na instauraçãode melhorias; como exemplo, tem-se a retirada de obstáculos visuais no canteiro (tapumes, divisórias), utilização de cartazes (sinalizadores e demarca- dores) e também a exibição dos indicadores de desempenho (nível de produtividade, número de peças rejeitadas). 261Construção enxuta (lean construction) Processos construtivos_U4_C18.indd 261 06/10/2017 14:54:40 Focar o controle no processo global: tem como propósito focar as melhorias nos processos (fluxo de materiais, montagem, informações) para, após, melhorar as operações (tarefas de pessoas e máquinas), já que a execução de uma obra é realizada em processos de produção fragmentados, devendo existir um responsável por realizar o controle do processo como um todo; como exemplo, tem-se a introdução da paletização por parte do fornecedor de blocos e, assim, a redução de custos com carregamento e descarregamento, entregas com hora mar- cada, estoques etc., sendo bem mais vantajosa do que a paletização restrita apenas ao canteiro de obras. Introduzir a melhoria contínua no processo: componente principal das filosofias TQM e JIT, esforços de redução de perdas e aumento do valor agregado na gestão de processos precisam existir continuamente por trabalho em equipe e gestão participativa; como exemplo, tem-se a aplicação de ferramentas da qualidade pela equipe responsável pelos processos de suprimentos, formada por pessoas de vários setores (com- pras, produção, planejamento e financeiro), a qual realiza o mapeamento do processo e coleta dados sobre os problemas, discutindo as causas e propondo correções. Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões: os processos mais complexos sofrem impactos maiores quando há melhorias de fluxo, que requerem investimentos baixos e são indicadas como prioritárias, ao contrário das melhorias nas conversões (processa- mento), que são indicadas para quando há perdas relativas à tecnologia empregada, já que seus efeitos são imediatos; como exemplo, tem-se a execução de paredes de alvenaria com foco na eliminação de perdas nas atividades de fluxo (transporte, inspeção, estoque) para, então, se passar à melhoria nas conversões utilizando, em vez de blocos cerâmicos, divisórias leves ou painéis pré-moldados; volta-se, então, à melhoria nos fluxos, buscando, assim, a melhoria contínua. Fazer benchmarking: o benchmarking nada mais é do que a utilização de boas práticas de outras empresas, trazendo os aprendizados (externos) para dentro da própria empresa que, somados aos esforços de melhoria contínua (internos), tornam a empresa competitiva; como exemplo, tem-se o conhecimento do setor que controla as perdas de materiais de uma empresa, identificando suas boas práticas, bem como os fatores que levaram ao seu desempenho melhorado. Construção enxuta (lean construction)262 Processos construtivos_U4_C18.indd 262 06/10/2017 14:54:40 Perdas na construção civil Na construção civil, o conceito de perdas é motivo de divergências com relação ao seu signifi cado. A defi nição de que perdas são sinônimos de entulhos (resto de madeira, blocos, concreto, argamassa e outros materiais) nem sempre é apropriada. Quando se fala na crescente competição no âmbito da construção, essa defi nição passa a ser limitada. Se as perdas fossem entendidas apenas como todo e qualquer material potencialmente sem valor, seria relativamente simples estimar o custo gerado pelas perdas em uma obra, bastando multiplicar a quantidade de material perdido pelo seu valor unitário. Isso resultaria em uma ideia errônea sobre o potencial de melhorias de uma obra, já que ficaria implícito que uma obra sem entulho é eficiente e não precisa de aperfeiçoamento. Para a construção enxuta, o conceito de perdas tem um sentido bem mais amplo. Perdas estão associadas à agregação de valor, ao consumo de recursos de qualquer natureza (mão de obra, equipamentos, capital) acima da quantidade mínima necessária, não apenas ao consumo demasiado de materiais. Sendo o trabalho dividido em atividades que agregam valor e que não agregam (mas que são essenciais ao processo), diz-se que as perdas são as atividades que não agregam valor e que podem ser eliminadas do processo. Assume-se, assim, que há um nível de perdas que é admissível, podendo apenas ser eliminadas com mudanças importantes na empresa. Classificam-se, portanto, as perdas em: Perdas inevitáveis (naturais): representam o nível aceitável de perdas, verificado quando o investimento necessário à redução da perda é maior do que a economia que será gerada. Perdas evitáveis: representam as perdas que, quando ocorrem, geram custos maiores do que os custos para que sejam evitadas. Planejamento e controle da produção: princípios e ferramentas Muitos estudos vêm sendo realizados com a intenção de que os conceitos e princípios da construção enxuta sejam aplicados em empresas na construção civil. O planejamento e controle da produção é um meio potencial para que sejam implantadas as inovações acerca dessa fi losofi a, pois é nessa etapa que são tomadas as decisões que contribuem para a redução de atividades que não agregam valor aos processos produtivos. O planejamento e controle da produção 263Construção enxuta (lean construction) Processos construtivos_U4_C18.indd 263 06/10/2017 14:54:40 (PCP), portanto, é uma das técnicas capazes de introduzir a construção enxuta em empresas construtoras. Define-se planejamento como um processo gerencial no qual são estabele- cidos os objetivos e os procedimentos básicos para atingi-los. O planejamento só será eficaz se, concomitantemente a ele, for realizado o controle, podendo- -se afirmar, desse modo, que não há função controle sem planejamento e que o planejamento é ineficiente sem o controle. O conceito de planejamento e controle como processo é possível de ser assimilado pelo modelo proposto por Laufer e Tucker (1987), na Figura 3, que possui 5 etapas principais: 1. Preparação do processo de planejamento. 2. Coleta de informações. 3. Elaboração dos planos. 4. Difusão das informações. 5. Avaliação do processo de planejamento. Figura 3. Modelo para o processo de planejamento e controle. Fonte: Laufer e Tucker (1987). Por serem complexos e possuírem variabilidade, os processos construtivos têm o PCP dividido em três níveis hierárquicos, e, para cada um deles, as etapas 2, 3 e 4 serão adaptadas. Os níveis hierárquicos de planejamento são: Longo prazo: planejamento tático para etapa de produção inteira; definem- -se, por exemplo: data de entrega da obra, conclusão das fundações etc. Médio prazo: planejamento tático móvel, que serve de elo entre o longo e o curto prazo, com seu horizonte de planejamento maior do Construção enxuta (lean construction)264 Processos construtivos_U4_C18.indd 264 06/10/2017 14:54:40 que a frequência do replanejamento, ou seja, planejam-se mensalmente decisões para até 3 meses seguintes. Curto prazo: planejamento para o dia a dia da obra, com a definição das atividades que serão realizadas, o momento da execução e os re- cursos necessários. Ferramentas para o controle da produção Algumas das principais ferramentas utilizadas para o controle da produção na construção civil serão apresentadas resumidamente. É importante compreender que uma ferramenta, por si só, não irá gerar resultados caso não seja mane- jada por uma pessoa habilitada e, caso for usada de modo inadequado, pode gerar resultados prejudiciais. Além disso, é necessário conhecer o propósito de cada ferramenta para que o seu uso seja adequado a cada tipo de situação e saber que muitas delas precisam ser usadas simultaneamente para que um determinado objetivo seja atingido. De modo geral, as ferramentas podem pertencer a dois grandes grupos, de acordo com a sua aplicação: Avaliação e diagnóstico: de caráter descritivo, avaliam qualitativa e quantitativamente os tópicos da produção e dos processos (movimenta- ção e armazenamento de materiais,segurança, sequência de atividades, fluxos de pessoas, materiais etc.) e descrevem o contexto dos processos, identificando problemas mais evidentes e as causas prováveis de obs- táculos com relação à eficiência e à eficácia da produção. Acompanhamento da produção: de uso periódico (em intervalos pre- definidos), possibilitam avaliar o desempenho ao longo do tempo pela comparação entre ações e resultados, com identificação de problemas; basicamente, avaliam a eficiência e a eficácia da produção. A eficiência mede a relação entre o valor do produto e o custo dos recursos utilizados para gerá-lo (p. ex., área construída/quantidade de homens-hora gastos). A eficácia está relacionada ao atendimento das metas que foram estabelecidas e é apresentada, comumente, em forma de sequência de tarefas e de prazos das etapas da obra. 265Construção enxuta (lean construction) Processos construtivos_U4_C18.indd 265 06/10/2017 14:54:40 Para cada um desses grupos são apresentadas algumas ferramentas para a melhoria dos processos produtivos. As ferramentas de análise e diagnóstico da produção são: Diagrama de processo: é o registro de como os processos são realiza- dos, permitindo sua visualização e análise, a avaliação da relação entre as atividades de fluxo e o total de atividades do processo e também a quantificação do tempo, distância e número de pessoas envolvidas no processo; a Figura 4 apresenta um exemplo de diagrama de processo para a alvenaria. Figura 4. Exemplo de diagrama de processo para a alvenaria. Fonte: Isatto et al. (2000). Mapofluxograma: representa as atividades de um processo sobre plantas ou croquis, permitindo uma visualização espacial do mesmo, sendo apropriado para estudos de layout; a Figura 5 mostra um exemplo de mapofluxograma para uma central de formas em que é possível visualizar os fluxos de materiais e os seus cruzamentos (a simbologia utilizada é a mesma para o diagrama de processo). Construção enxuta (lean construction)266 Processos construtivos_U4_C18.indd 266 06/10/2017 14:54:41 Figura 5. Exemplo de mapofluxograma para uma central de formas. Fonte: Isatto et al. (2000). Listas de verificação: possibilitam uma avaliação qualitativa imediata acerca dos processos, os quais podem ser verificados pela marcação de uma das 3 colunas existentes (“sim”, “não” e “não se aplica”) ao lado de cada um dos itens que envolve o processo em questão. Registro de imagens do processo: feito por imagens ou vídeos, permite uma avaliação qualitativa dos processos, com a possível identificação de problemas e/ou soluções, complementando as demais ferramentas. As ferramentas de acompanhamento da produção são: Cartão de produção: mede a produção dos operários ou da equipe em um determinado tempo, possibilitando o cálculo da produtividade da mão de obra; como forma de avaliação do progresso físico da obra, pode ser feito de duas maneiras: controle por período (registra a quan- tidade semanal de revestimento de argamassa produzido, por exemplo) e controle por evento (registra o tempo necessário para a montagem de formas de concreto armado de um pavimento, por exemplo). Controle de consumo de materiais: aumenta a transparência dos processos e disponibiliza informações para que se promova a redução de perdas na produção; para cada material, deve haver um registro que controle os estoques no início e no fim de cada etapa, as transferências 267Construção enxuta (lean construction) Processos construtivos_U4_C18.indd 267 06/10/2017 14:54:41 ocorridas (entrada ou saída de materiais da obra) e os desvios para utilização em outros processos; com o consumo de materiais, é possível calcular a eficiência do uso desses recursos. Last planner: de caráter operacional, tem como propósito formalizar os planejamentos de curto prazo por uma planilha que contém os seguintes elementos em cada coluna: o que e onde (quais os serviços e os locais), quem (as equipes responsáveis pela execução), quando (os dias da semana em que cada tarefa será realizada), avaliação da eficácia (se as tarefas foram concluídas ou não) e a razão (causa do não cumprimento da tarefa); o foco do last planner está na eficácia do projeto, não na eficiência, como nas outras ferramentas, por isso sua ênfase está na execução da obra dentro dos prazos, não na otimização dos recursos. 1. Dentre as alternativas, qual delas apresenta a afirmativa correta para o porquê de o modelo de processo da construção enxuta, em comparação ao modelo tradicional, ser mais apropriado para a representação de processos. a) O modelo da construção enxuta contém apenas as atividades de conversão/processamento, por isso se torna mais simples e objetivo de se usar. b) Além das atividades de conversão, o modelo da construção enxuta apresenta também as atividades de fluxo, o que facilita a transparência dos processos e permite que elas sejam minimizadas. c) É possível melhorar o valor de um produto apenas com a melhora dos materiais e da mão de obra envolvida no processo, não sendo necessária a representação das atividades que não agregam valor ao produto (atividades de fluxo). d) Por poder ser subdividida em mais processos, os modelos da construção enxuta permitem que os custos de cada um dos subprocessos sejam diminuídos, o que é mais eficiente do que avaliar o processo como um todo. e) As atividades de conversão e as atividades de fluxo são representadas separadamente no modelo de processo da Construção Enxuta, pois a interação entre elas torna os processos ineficientes. 2. A gestão de processos sob a visão da construção enxuta apresenta alguns princípios que melhoram o sistema de produção se levados em conta. Todas as alternativas apresentam tais princípios, exceto: a) Fazer benchmarking, aumentar a transparência do processo, reduzir a variabilidade. Construção enxuta (lean construction)268 Processos construtivos_U4_C18.indd 268 06/10/2017 14:54:41 b) Reduzir as atividades que não agregam valor, a variabilidade e o tempo de ciclo. c) Introduzir a melhoria contínua, aumentar a transparência do processo e a flexibilidade de saída. d) Focar o controle no processo global, reduzir número de passos/partes, aumentar as atividades de fluxo. e) Aumentar o valor do produto de acordo com as necessidades do cliente, equilibrar melhorias nos fluxos e nas conversões. 3. Com relação às perdas na construção civil, é possível classificá-las em dois tipos: perdas _______, consideradas admissíveis, e perdas _______, que geram custos ________ do que os custos de prevenção. As palavras que preenchem corretamente as lacunas são, respectivamente: a) inevitáveis; evitáveis; menores b) evitáveis; naturais; maiores c) naturais; inevitáveis; menores d) evitáveis; inevitáveis; maiores e) naturais; evitáveis; maiores 4. Os princípios da construção enxuta são adequados para o planejamento e controle da produção, pois é nessa fase que é tomada a maioria das decisões que podem reduzir as atividades que não agregam valor aos processos. Sobre o planejamento e o controle, a afirmativa que melhor define a relação entre eles é: a) Um não pode existir sem o outro. b) A função controle existe sem o planejamento. c) O planejamento será eficaz quando o controle for realizado concomitantemente a ele. d) O controle é um processo gerencial no qual se estabelece o planejamento. e) O planejamento é eficiente sem o controle. 5. Sobre a ferramenta de acompanhamento da produção last planner, é correto afirmar que: a) Permite a visualização espacial de um processo pela representação das atividades sobre croquis e plantas da obra. b) Torna viável a avaliação qualitativa dos processos por meio da marcação de colunas com “sim”, “não” e “não se aplica” ao lado dos itens referentes a eles. c) É representado por uma planilha com uma série de elementos (o que, onde, quem quando etc.) acerca de uma tarefa programada,cujo foco está na eficácia do planejamento e controle da produção. d) Registra a forma que os processos são realizados e permite sua visualização e análise, sendo possível avaliar a importante relação entre as atividades de fluxo e o total de atividades de um processo. e) Promove a redução de perdas na produção pelo aumento da transparência dos processos e contém os registros que controlam os estoques de materiais e os desvios para a utilização em outros processos. 269Construção enxuta (lean construction) Processos construtivos_U4_C18.indd 269 06/10/2017 14:54:42 ISATTO, E. L. et al. Lean construction: diretrizes e ferramentas para o controle de perdas na construção civil. Porto Alegre: SEBRAE/RS, 2000. KOSKELA, L. Application of the new production philosophy to construction. Stanford: Stanford University, 1992. Disponível em: <https://cife.stanford.edu/sites/default/ files/TR072.pdf>. Acesso em: 19 set. 2017. LAUFER, A.; TUCKER, R. L. Is construction planning really doing its job? A critical examination of focus, role and process. Construction Management and Economics, London, v. 5, n. 3, p. 243-266, maio 1987. Leituras recomendadas PÁDUA, R. C. Implementação de práticas de Lean Construction em uma obra residencial em Goiânia: estudo de caso. 2014. 61 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2014. PERETTI, L. C. et al. Aplicação dos princípios da construção enxuta em construtoras verticais: estudo de casos múltiplos na região metropolitana de São Paulo. In: EN- CONTRO NACIONAL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 37. 2013, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2013. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/2013_EnANPAD_GOL681. pdf>. Acesso em: 27 ago. 2017. Construção enxuta (lean construction)270 Processos construtivos_U4_C18.indd 270 06/10/2017 14:54:42 https://cife.stanford.edu/sites/default/ http://www.anpad.org.br/admin/pdf/2013_EnANPAD_GOL681. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Processos construtivos_U4_C18