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ECONOMIA NO SETOR PÚBLICO AULA 1 Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, você descobrirá como ocorre uma intervenção de Estado na economia ao longo do tempo e como esse envolvimento é interpretado pelas diferentes teorias da economia e da ciência política. TEMA 1 – A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO E A INTERVENÇÃO DO ESTADO Uma questão que deve ser levantada em nossa disciplina é: o Estado sempre participou da história? Podemos antecipar a resposta ao questionamento, afirmando que nem sempre o Estado cumpriu com as funções que exerce hoje. Isso porque nem sempre ele esteve organizado do modo como o conhecemos atualmente; além disso, em muitos momentos, seu envolvimento na economia foi criticado. A concepção de Estado-nação surgiu a partir da assinatura do Tratado de Westfália, em 1648. Esse documento estabeleceu que o Estado deveria ter as seguintes características: ter território, população e um governo. Ou seja, não se mencionava as atividades econômicas do Estado. Depois, surgiram os Estados modernos na Inglaterra e na França, assentados em monarquias, que realizavam atividades econômicas, como recolhimento de impostos e emissão de moeda (Bresser-Pereira, 2017). A primeira forma de atuação do Estado na economia esteve vinculada às despesas militares. Para financiar guerras, os Estados recolhiam impostos e pagavam soldados e armamentos. Como guerras sempre fizeram parte da humanidade, podemos suspeitar que essa forma de financiá-las existe desde o período greco-romano (Bresser-Pereira, 2017). O setor público foi evoluindo na história, passando por diversas fases. Na Antiguidade, a economia não era muito desenvolvida, e a busca pela sobrevivência era a base das ações conduzidas, ou seja, os indivíduos caçavam, colhiam, plantavam e não existia comércio desenvolvido, moeda ou impostos. O capitalismo, então, ainda não tinha sido criado, pois não havia a lógica de lucro ou acumulação. Aquilo que era produzido a mais (excedentes) era trocado por meio de escambo, sem que houvesse um mercado estruturado. Nessa conjuntura não havia envolvimento de agentes públicos nessas 3 atividades, pois as formas de organização política e social eram muito rudimentares (Vasconcellos, 2008). A sociedade da Grécia antiga apresentava sinais maiores de progresso em termos econômicos, políticos e filosóficos, especialmente com o surgimento de alguns estudos sobre as questões econômicas, como a obra Os econômicos de Xenofonte. Contudo, a economia representava uma atividade pouco importante para os indivíduos da sociedade grega, cujos esforços eram concentrados na vida política e na democracia. Nessa civilização, os escravos compunham a maior parte da população, mas o trabalho braçal era visto como algo desonroso e deixado apenas aos homens sem propriedades. No Império Romano, o governo concentrava-se em garantir a expansão territorial e a dominação política, sendo a riqueza utilizada para essa finalidade. Tanto na Grécia quanto no Império Romano, o governo participava discretamente da economia, recolhendo impostos e encarregando-se de atividades militares na busca por conquistar territórios e expandir o comércio (Vasconcellos, 2008). Durante a Idade Média, a sociedade estava estruturada em feudos que desenvolviam atividades agrícolas, com algumas trocas. A Igreja Católica era muito forte e exercia a função de Estado ao recolher impostos. Com o fim do feudalismo, surgiu a primeira escola de pensamento econômico, o mercantilismo, que buscava explicar o período das monarquias (Vasconcellos, 2008). O mercantilismo defendia a intervenção do Estado na economia, em uma visão nacionalista, para proteger a nação. Segundo o mercantilismo, para que o Estado adquirisse riqueza e poder, deveria participar do comércio internacional, apresentando uma balança comercial favorável – exportando mais do que importando para ter mais metais. Os metais preciosos eram sinônimo de riqueza, o que induziu à procura por ouro e prata nas Américas e em outros continentes. O Estado, para permitir a balança comercial favorável, estabeleceu impostos às importações (barreiras protecionistas), o que é considerado um dos primeiros instrumentos econômicos do Estado moderno. O Estado reduziu os juros para aumentar os investimentos produtivos e o comércio, e para contribuir com o crescimento econômico dos países (Vasconcellos, 2008). 4 TEMA 2 – A TEORIA LIBERAL E A NEGAÇÃO DO ESTADO COMO ATOR ECONÔMICO A teoria liberal se baseia na fisiocracia, que foi uma escola que defendeu o não envolvimento do Estado na economia. Adam Smith é reconhecido como o criador do liberalismo e o pai da economia política, e defendia a autorregulação do mercado – o que ele chamava de mão invisível –, que conduziria a economia de maneira automática, sem falhas. O equilíbrio automático é resultado da Lei de Say, que estabelece que a oferta cria a sua própria demanda, isto é, quando um produto é ofertado na economia são pagas as remunerações aos fatores de produção (terra, capital e trabalho), o que provoca a criação de consumidores para esse bem. Segundo a teoria de Smith, se o Estado não intervir na economia provocando falhas de mercado, a economia não entrará em crise (Smith, 1983). Smith indicou, então, as vantagens de uma sociedade livre economicamente e do capitalismo funcionando sem entraves. O indivíduo, para Smith, é racional, e ao buscar a prosperidade individual, promove a prosperidade da coletividade. Para o autor, o trabalho é a única fonte de riqueza, isto é: o valor de um produto é determinado pela quantidade de trabalho investida nele, que corresponde ao tempo de trabalho gasto para a produção desse bem (Smith, 1983, p. 39). Ainda segundo Smith, o Estado deveria executar apenas três funções: 1. assegurar a ordem e a segurança interna; 2. garantir os direitos de propriedade por meio da aplicação da justiça; 3. ofertar serviços de saúde e educação. Desse modo, as atividades do Estado se resumem a essas três, não envolvendo a economia, o que, para o liberalismo, atrapalharia o bom funcionamento do mercado. Outro importante teórico liberal clássico foi David Ricardo, que também defendia que a economia seria capaz de se autoadministrar, sem necessidade de intervenção por parte do Estado. A participação do Estado, para Ricardo, seria um “entrave ao processo natural de acumulação de capital” (Riani, 2014, p. 3), na medida em que, se o Estado retira recursos da sociedade por meio do recolhimento de impostos, ocorre uma diminuição da capacidade de investimento privado. 5 TEMA 3 – A TEORIA KEYNESIANA E O ENVOLVIMENTO DO ESTADO A teoria keynesiana se consolidou com a primeira grande crise do capitalismo: a quebra da Bolsa de Nova York em 1929. Essa foi uma crise considerada de superprodução, resultante de uma perspectiva de que a oferta geraria sua própria demanda e de que o Estado não deveria intervir. Após a crise, o pensamento liberal perdeu força, dando lugar à visão de Keynes (1996), que defendia que os mercados não se ajustam sozinhos e que seria fundamental a intervenção do Estado na economia para incentivar o crescimento da demanda. Keynes (1996) aponta que o sistema capitalista é instável e concentrador, o que não permite o equilíbrio automático. Ele afirma ainda que nas crises o envolvimento do Estado pode induzir um crescimento de demanda por meio de gastos. Para ele, o emprego depende da demanda efetiva da economia, que é a parte da renda utilizada no consumo das famílias, nos investimentos das empresas, nos gastos públicos e nas relações comerciais internacionais (exportação menos importações). O Estado precisaria expandir a demanda quando ela estivesse baixa, realizando dispêndios por meio da construção de escolas, hospitais e pontes.Essa medida promoveria um aumento da renda na economia, fazendo crescer a demanda. A teoria keynesiana inspirou mudanças nas políticas econômicas dos países europeus e dos Estados Unidos a partir da década de 1950 e, de fato, houve um incremento da participação do Estado na economia. A ideia Estado de bem-estar social, ou seja, de Estado provedor, que foi aplicada na maioria dos países da Europa surgiu a partir do pensamento keynesiano. De acordo com Keynes (1996), o Estado deveria prestar serviços que expandissem o bem-estar geral da população, assegurando o que ele chamou de “uma socialização dos investimentos”. Isso porque, nessas áreas, a iniciativa privada não tem interesse em atuar. Para Keynes (1996), as políticas macroeconômica fiscal, monetária e cambial precisariam ser expansionista com vistas a acelerar o crescimento da demanda reprimida, garantindo assim a distribuição de renda e o pleno emprego dos fatores. É importante que você entenda que a corrente keynesiana defende que a intervenção do Estado na economia não só oferece efeitos positivos, mas 6 também é necessária para fazer crescer a demanda e permitir o crescimento econômico do país. TEMA 4 – O MARXISMO E O ESTADO COMO INSTRUMENTO DO CAPITALISMO Marx (1988) realizou uma severa crítica ao capitalismo, indicando que ele separaria os trabalhadores de seus meios de produção, colocando-os, dessa forma, em uma posição de submissão aos burgueses, que seriam os donos do capital e exploradores da classe proletária. De acordo com Marx (1988), a história da humanidade se basearia no constante conflito entre as classes sociais. O capitalismo só sobrevive devido ao crescimento do lucro, que é a parte da jornada de trabalho que os trabalhadores executam e pela qual não recebem: a chamada mais-valia. Segundo Marx (1988), no momento em que a classe trabalhadora criar consciência da exploração à qual está submetida, haverá uma revolução socialista que destruirá o capitalismo. O capitalismo também está ameaçado por suas próprias características intrínsecas, que seria a tendência constante à queda da taxa de lucro, o que coloca os capitalistas uns contra os outros na disputa pelo controle do capital. E para que serve o Estado? De acordo com Marx, o Estado é utilizado como uma ferramenta na defesa dos interesses dos capitalistas, mantendo o sistema atuante a partir da exploração do proletariado. O Estado assegura que os trabalhadores continuem submissos e que a taxa de lucro não decline. Riani (2014, p. 5) aponta que, de acordo com o marxismo: “as funções do Estado são vistas sem nenhum objetivo transformador, mas sim de manutenção da classe dominante”. Para diminuir o potencial conflito entre as classes, o Estado oferece alguns serviços, como saúde e educação, para conformar os trabalhadores que são submetidos a salários baixos e a condições de trabalho precárias. Contudo, Marx (1996) argumenta que, em algum momento, os trabalhadores se conscientizarão dessa exploração e juntos eliminarão o sistema. Porém, quando isso ocorrer, o Estado tentará salvar o sistema capitalista usando a força contra os trabalhadores. Portanto, a única forma de superar a dominação, segundo Marx, seria eliminando o Estado, que é apenas um instrumento da classe burguesa. 7 TEMA 5 – AVANÇO E CRESCIMENTO DA ECONOMIA MODERNA DO SETOR PÚBLICO A temática da intervenção do Estado na economia divide opiniões e é bastante polêmica. Contudo, não há nenhuma economia que não tenha envolvimento do Estado, inclusive aquelas consideradas mais liberais, como os Estados Unidos e os países europeus, que têm um forte respaldo estatal na economia. Ou seja, nos dias atuais é inconcebível pensarmos uma economia que não sofra impacto do Estado em diversas esferas. Há quem defenda que o funcionalismo público deve ser reduzido; outros dizem que os governos, por serem corruptos, não conseguem desempenhar suas funções econômicas; e há, ainda, aqueles que consideram que o Estado deveria atuar de modo mais eficiente na economia. É importante que você conheça a história do avanço do setor público na economia. Até os anos 1930, o Estado quase não participava, pois o pensamento liberal, que você já estudou nesta aula, era o dominante. Após o fim da Segunda Guerra, os Estados passaram a adotar políticas econômicas baseadas em seu envolvimento direto na economia, o chamado Estado de bem-estar social. Observou-se uma prosperidade econômica grande entre os anos 1950 a 1970 em quase todas as economias, até ocorrerem os choques internacionais, a Crise do Dólar (1971) e as Crises do Petróleo (1973 e 1978). A partir dessas crises, que resultaram em grandes endividamentos das economias ricas e das mais pobres, passou-se a questionar o papel do Estado na economia. O pensamento em defesa da não intervenção do Estado, denominado de neoliberalismo, ganhou força, provocando privatizações e desregulamentação da economia (Di Toni, 2009, p. 7). O resultado do neoliberalismo foi o empobrecimento das economias menos desenvolvidas, a concentração de renda e o aumento da dependência externa devido à abertura abrupta das economias subdesenvolvidas ao mercado externo. Atualmente, vivemos um cenário em que há envolvimento do Estado, mas no qual também sempre há crítica sobre essa participação. O que podemos afirmar é que, independentemente do pensamento, que defende ou pode criticar a participação dos Estados, estes são ativos na economia. Nesse sentido, Di Toni (2009, p. 8) afirma que: “a economia moderna é um sistema complexo onde o setor público e privado interagem constantemente”. 8 NA PRÁTICA CAPITALISM: A LOVE STORY. Direção: Michael Moore. EUA: Overture Films, 2009. 127 minutos. Esse documentário faz uma crítica ao capitalismo, e aos moldes do pensamento marxista e da ideia do Estado atuante na economia para salvar o sistema. O cineasta Michael Moore estuda os eventos que culminaram na crise imobiliária de 2008, causando desemprego e miséria no mundo todo. A atuação do governo norte-americano é criticada, pois, na visão de Moore, o Estado atua para defender os interesses das grandes corporações em detrimento dos trabalhadores. FINALIZANDO Nesta aula, pudemos investigar o avanço prático e teórico da intervenção do Estado na economia. No primeiro tema, você pôde entender como evoluiu o papel do Estado desde a Antiguidade até o mercantilismo, quando o governo ganhou mais funções, incluindo atividades na economia. No segundo, desvendamos o pensamento liberal, que considera que a interferência do Estado na economia é prejudicial ao livre mercado. O terceiro tema mostrou porque Keynes considera necessária a atuação do Estado na economia para incentivar o crescimento da demanda. No quarto, você conheceu a teoria marxista, que argumenta que o Estado serve apenas de instrumento dos interesses capitalistas e permite a exploração da mão de obra. Por fim, no quinto e último tema, apresentamos como avançou, na prática, desde a crise de 1929, a participação do Estado, indo desde Estado de Bem-Estar Social até o neoliberalismo e a falha desse pensamento, que provocou mais dependência e pobreza. 9 REFERÊNCIAS BRESSER-PEREIRA, L. Estado, Estado-nação e formas de intermediação política. Lua Nova, São Paulo, n. 100, p. 155-185, jan. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 64452017000100155&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 16 jul. 2018. DI TONI, J. Economia do setor público: texto de apoio. Maio, 2008. KEYNES, J. M. A teoria geral do emprego do juro e da moeda. São Paulo: Nova Cultura, 1996. MARX, K. O capital. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. V. 1. MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. Riode Janeiro: LTC, 2014. SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo: Abril Cultural, 1983. VASCONCELLOS, M. A. S. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 2008. ECONOMIA NO SETOR PÚBLICO AULA 2 Profª Pollyanna Gondin 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, você se familiarizará com as funções econômicas principais do governo e com as políticas econômicas realizadas por ele. Primeiro, você conhecerá as funções clássicas do Estado: alocativa, distributiva e estabilizadora. Na sequência, entenderá o que é uma política econômica e quais são os seus diferentes tipos. Destacaremos aqui a política monetária, a política cambial e a política fiscal, indicando seus principais instrumentos. TEMA 1 – FUNÇÕES ECONÔMICAS DO ESTADO E FUNÇÃO ALOCATIVA O governo atua de formas variadas na economia, podendo recolher impostos; fazer compras governamentais; controlar o sistema bancário e o mercado financeiro; construir estradas, pontes, aeroportos, escolas e hospitais; regular a concorrência e os diferentes setores da economia por meio de suas agências reguladoras; entre outras (Riani, 2014). A forma como o Estado se organiza se modifica ao longo do tempo, e o governo passa a receber novas atribuições. O crescimento do capitalismo aumenta as responsabilidades do Estado, o que incrementa gastos e torna necessário o aumento das receitas. Isso gera um debate sobre em quais atividades o Estado deve ou não atuar. O Estado participa da economia não somente recolhendo impostos e gastando, mas por meio da política monetária, com a determinação de juros e a emissão de moeda, ou, ainda, com o controle de preços e salários, a fiscalização da concorrência nos mercados etc. Há um crescimento significativo das funções do Estado, que podem ser divididas em: função alocativa, função distributiva, e função estabilizadora (Riani, 2014). A função alocativa é a mais importante delas, e vincula-se à necessidade de oferta de bens que o setor privado não oferece, ou por serem caros ou por apresentarem um retorno baixo, mas que a sociedade demanda, como saúde e educação. O governo financia essa função por meio de tributos que recolhe e gerando dívida pública. Em geral, esses bens e serviços expandem o bem-estar da população (Machado, 2004). O Estado busca corrigir as falhas de mercado complementando a iniciativa privada em alguns setores. As falhas de mercado mais importantes que 3 ocorrem são: as externalidades; as economias de escala; os bens públicos; as falhas de informação; os mercados incompletos; o desemprego; e a inflação. TEMA 2 – FUNÇÃO DISTRIBUTIVA E FUNÇÃO ESTABILIZADORA A segunda função do Estado é a distributiva, que está vinculada à atividade de “arrecadar impostos – reduzir a renda – de determinadas classes sociais ou regiões, para transferi-la a outras” (Machado, 2004, p. 40). Essa é uma função importante, tendo em conta que pode garantir que todos os cidadãos possam ter atendidas suas necessidades básicas, já que o capitalismo é concentrador e algumas pessoas não recebem nem o mínimo para sobreviver. Em algumas economias com menos oportunidades, ocorre uma desigualdade grande de renda, sendo o governo o responsável por minimizar os efeitos dessa desigualdade, transferindo recursos das classes com mais recursos para as classes mais necessitadas. O governo realiza essa distribuição para promover justiça social e mais equidade. Há muita polêmica a respeito dos programas de distribuição de renda, pois pensa-se que desestimularão o trabalho. Porém, estudos comprovam que, com os programas de renda mínima como o Bolsa Família e o de cotas, o Estado gera um crescimento de renda que impede a ocorrência de recessão na economia e desincentivo ao traballho (Machado, 2004). A terceira função do Estado é a estabilizadora, que está relacionada a atender os objetivos centrais da economia, que seriam o controle da inflação e o crescimento econômico. Para tanto, o governo deve utilizar instrumentos de política econômica. Ou seja, por meio da política macroeconômica (fiscal, cambial e monetária) o Estado exerce sua função estabilizadora. O governo busca manipular os indicadores macroeconômicos – gastos públicos, juros, oferta de moeda e desemprego – utilizando políticas recessivas ou expansionistas, dependendo da finalidade buscada. O orçamento público é um mecanismo importante para garantir o impacto do Estado sobre a economia (Riani, 2014). TEMA 3 – POLÍTICA ECONÔMICA A política econômica está inserida como uma política pública, que é vista por Dye (citado por Clark, 2008, p. 206) como “o que o governo escolhe fazer ou 4 não fazer”. A política econômica engloba as ações econômicas que o Estado escolhe fazer para atingir seus objetivos econômicos. As políticas econômicas, para Clark (2008, p. 207), “podem ser desenvolvidas tanto pelos poderes públicos quanto pela iniciativa privada”. O Estado estabelece as diretrizes da política, mas os atores privados, como os bancos, auxiliam na execução dessa política. Existem entendimentos diversos sobre o que vem a ser a política econômica; na concepção clássica, trata-se somente de políticas macroeconômicas, isto é, de políticas monetária, cambial e fiscal. Todavia, existem autores que defendem que existem outras ações do Estado, que são setoriais, como a política industrial, agrícola, de regulação, de comércio exterior, entre outras (Morais; Saad Filho, 2011). As políticas setoriais são as seguintes: agrícola, industrial, de transportes (rodovias, ferrovias, aéreo ou hidrovias), de infraestrutura (energia, telecomunicações e portos), de comércio (interno ou externo), de educação, de turismo, de construção civil e de habitação. Nessas áreas, o governo escolhe o que fará com base nas necessidades de cada setor. Já as políticas macroeconômicas são as seguintes: monetária, fiscal, cambial, de regime de trabalho, de controles, de regulação e institucional. As três primeiras são as mais conhecidas e serão estudadas nos próximos temas. A política macroeconômica é uma ferramenta central para o planejamento econômico, pois permite que o Estado atinja suas metas. A política econômica é direcionada aos objetivos econômicos do governo, que são inúmeros, mas os mais importantes são: crescimento econômico (combate ao desemprego) e controle de preços (combate à inflação). Para atingir essas metas, o governo elege quais políticas aplicará, podendo utilizar as expansionistas (para crescimento) ou as restritivas (para controle da inflação). TEMA 4 – POLÍTICA MONETÁRIA A política monetária, associada à moeda e à concessão de crédito, é uma das mais centrais, determinada no Brasil pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo Comitê de Política Monetária (COPOM). Executam a política monetária o Banco Central e o Ministério da Fazenda (Vasconcellos, 2008). A oferta de moeda da economia corresponde à soma da moeda manual, o papel-moeda e as moedas metálicas, assim como a moeda escritural, que são 5 os depósitos realizados à vista (conta corrente) nos bancos comerciais. Já a base monetária da economia engloba toda a moeda manual e escritural, somadas aos ativos monetários que estão nos caixas dos bancos comerciais, como poupanças, previdências, ações, bem como depósitos voluntários e obrigatórios que os bancos precisam fazer às autoridades monetárias. Esses conceitos são centrais para que você compreenda de que forma o governo pode impactar a economia, modificando a oferta de moeda à disposição das pessoas, diminuindo a liquidez da economia (que é a capacidade de compra das pessoas) ou aumentando a liquidez, se for necessário (Vasconcellos, 2008). Os instrumentos de política monetária são muitos, sendo que os mais importantes são a emissão de moeda e a definição da taxa de juros. Os jurossão o valor da moeda, isto é, quanto alguém que empresta uma quantidade de moeda deve pagar para o proprietário desse ativo. Outros mecanismos importantes são: o compulsório bancário: recolhimento de depósitos que o Banco Central faz dos bancos comerciais para garantir a solvência dos bancos; o mercado aberto: compra e venda de títulos públicos que o governo utiliza para expandir ou diminuir a moeda na economia; a taxa de redesconto bancário: taxa de juros que o Banco Central cobra para emprestar dinheiro aos bancos comerciais; financiamento e crédito a pessoas jurídicas, que o governo pode aumentar ou diminuir; vendas a prazo a pessoas físicas, as quais o Estado pode facilitar ou dificultar; o cartão de crédito, que pode ter seus limites alterados; os empréstimos ao exterior, que podem ser controlados pelo governo. TEMA 5 – POLÍTICA CAMBIAL E POLÍTICA FISCAL A política cambial vincula-se ao controle sobre as operações monetárias com outros países. Seu mecanismo central é a administração das taxas de câmbio, por meio da determinação, pelas autoridades monetárias, da cotação cambial da moeda nacional em relação a moedas do exterior. A taxa de câmbio representa o preço da moeda estrangeira em moeda nacional. 6 O governo decide se a moeda será valorizada (ficará mais forte em relação ao dólar) ou desvalorizada (ficará mais fraca em relação dólar) a partir das necessidades do país e das pressões dos exportadores e importadores. A Esse processo ainda depende do padrão cambial vigente no país, que pode ser fixo (definido pelo governo), flutuante (que flutua a partir da oferta e da demanda de moeda estrangeira/divisas no mercado) e flutuante sujo (o câmbio depende do mercado, mas o governo pode alterá-lo se necessário). Além da determinação da taxa de câmbio, o governo também controla o estoque de divisas, comprando ou vendendo moeda ou títulos públicos e limitando a liberação de divisas para alguns setores. A terceira medida de política cambial é o controle sobre as operações de câmbio para evitar ataques especulativos (Vasconcellos, 2009). A política fiscal será tratada em uma aula específica e, portanto, temos apresentadas neste momento apenas as linhas gerais. A política fiscal é uma das políticas econômicas mais utilizadas pelos diferentes níveis do governo. A política fiscal relaciona-se aos gastos (despesas) e receitas do governo. As políticas fiscais podem ser (Vasconcellos, 2008): restritivas, buscando o controle dos preços por meio do aumento dos impostos e da redução das despesas públicas; expansionistas, para incentivar o crescimento com a diminuição dos tributos e o aumento dos gastos do governo. Os mecanismos centrais de política fiscal são: a diminuição da carga tributária (uma política expansionista) ou a expansão dos impostos (uma política restritiva); o aumento do prazo de recolhimento dos impostos (política expansionista) ou a diminuição do prazo de recolhimento (política restritiva); o incremento dos gastos públicos (política expansionista) ou a contração ou adiamento dos gastos (política restritiva); o aumento dos subsídios (política expansionista) ou a redução dos subsídios (política restritiva). NA PRÁTICA MARINHO, E.; LINHARES, F.; CAMPELLO, G. Os programas de transferência de renda do governo impactam a pobreza no Brasil? Revista Brasileira de 7 Economia, Rio de Janeiro, v. 65, n. 3, p. 267-288, jul./set. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 71402011000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 jul. 2018. Leia o artigo e identifique se esses programas promovem um efeito distributivo na economia brasileira. FINALIZANDO Nesta aula, você conheceu as principais funções econômicas do Estado, que explicam a participação desse ator na economia. Você pôde entender que a função alocativa é uma das mais centrais, e refere-se à necessidade de o Estado ofertar certos bens e serviços, os quais não são produzidos pelo mercado. Depois você pôde conhecer a função distributiva, que está vinculada à capacidade do Estado de garantir uma distribuição de renda mais justa. Na sequência, explicamos a função estabilizadora do governo, que é a ideia de o Estado alcançar certos objetivos, como o controle de preços na economia e o aumento do nível de emprego. Também apresentamos o conceito de política econômica, que é uma política pública e está relacionada a atividades como emissão de moeda, controle de crédito, entre outras. Para finalizar, discriminamos as três políticas macroeconômicas mais centrais: a política monetária, associada à moeda e ao crédito na economia; a política cambial, relacionada à oferta de moeda estrangeira e à taxa de câmbio; e a política fiscal, referente a gastos e receitas do governo. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71402011000300003&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71402011000300003&lng=en&nrm=iso 8 REFERÊNCIAS CLARK, G. Política econômica e Estado. Estudos Avançados, São Paulo, n. 22, v. 62, jan./abr. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 40142008000100014>. Acesso em: 16 jul. 2018. DI TONI, J. Economia do setor público: texto de apoio. Maio, 2008. MACHADO, M. F. A introdução da Lei de responsabilidade fiscal no contexto da reforma do Estado: uma análise dos resultados dos governos estaduais. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, 2004. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/87268/210278.pdf?seq uence=1>. Acesso em: 16 jul. 2018. MARINHO, E.; LINHARES, F.; CAMPELLO, G. Os programas de transferência de renda do governo impactam a pobreza no Brasil? Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 65, n. 3, p. 267-288, jul./set. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 71402011000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16 jul. 2018. MORAIS, L.; SAAD FILHO, A. Da economia política à política econômica: o novo- desenvolvimentismo e o governo Lula. Revista de Economia Política, v. 31, n. 4, p. 507-527, out./dez, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rep/v31n4/01.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2018. RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. Rio de Janeiro: LTC, 2014. SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, v. 8, n. 16, p. 20-45, jul./dez. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517- 45222006000200003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 16 jul. 2018. VASCONCELLOS, M. A. S. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 2008. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71402011000300003&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71402011000300003&lng=en&nrm=iso ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO AULA 3 Profª Pollyanna Gondin Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 CONVERSA INICIAL Nessa aula, você se familiarizará com a política fiscal do governo, entendendo o que representam os gastos e as fontes de financiamento públicas. Primeiramente, conhecerá os gastos públicos, seus conceitos e classificações. Na sequência, entenderá as principais teorias de Musgrave, Heber e Rostow, que verificam uma tendência ao crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo. Depois, conhecerá os conceitos de tributos e as principais formas de financiamento do governo, bem como a forma como o governo demonstra suas receitas. Na sequência, conhecerá os princípios de tributação para um sistema tributário mais adequado e, por fim, estudará as principais categorias de tributos, impostos diretos e indiretos,progressivos e regressivos, assim como sobre a renda, sobre o patrimônio e sobre as vendas. TEMA 1 – GASTOS DO GOVERNO: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES Os gastos públicos são entendidos da seguinte forma: “uma escolha política dos governos no que se refere aos diversos serviços que prestam à sociedade” (Riani, 2014, p. 54). Para alcançar certas metas como o crescimento do emprego o Estado deve considerar os custos dos serviços que presta. Há uma distinção entre gastos governamentais, que são as despesas das unidades que compõem o governo, como os munícipios e estados e suas autarquias (ministérios e bancos) e fundações, e gastos públicos, que seriam mais abrangentes, incluindo os gastos das empresas públicas. Por sua vez, os gastos agregados podem ser classificados em: i) despesas agregadas; ii) despesas por categorias econômicas; e iii) despesas por funções. As despesas agregadas fornecessem uma ideia geral dos gastos públicos, apontando os gastos totais de casa esfera governamental (Riani, 2014). As despesas por categorias econômicas apontam todos os gastos de cada unidade. Esses gastos são classificados em correntes e de capital. Nas despesas correntes, estão gastos fixos, como a prestação de serviços estatais e o transporte, e gastos administrativos, como os gastos com salários. Os gastos de capital englobam os investimentos que o governo realiza para ampliar a capacidade de produção, como na construção de portos, hidroelétricas, rodovias, escolas e hospitais. 3 As despesas por funções estão associadas às áreas que o governo determina para orientar seus gastos e prioridades. A classificação em funções ocorre nos seguintes setores: i) legislativo; ii) judiciário; iii) administração e planejamento; iv) trabalho; v) agricultura; vi) transportes; vii) indústria; comércio e serviços; viii) desenvolvimento regional, ix) defesa nacional e segurança pública; x) educação e cultura; xi) habitação e urbanismo; xii) saúde e saneamento; xiii) assistência e previdência; xiv) energia e recursos minerais; e xv) comunicações. TEMA 2 – CRESCIMENTO DOS GASTOS DO GOVERNO AO LONGO DO TEMPO Verificou-se nas últimas décadas uma ampliação dos gastos do governo, que é explicada por várias razões e uma série de teorias (Riani, 2014). Uma das teorias que visa explicar a expansão das atividades do Estado é a lei de Wagner (Wagner, 1958). Wagner concluiu que “os gastos cresceriam inevitavelmente mais rápido do que a renda nacional em qualquer Estado progressista” (Riani, 2014, p. 58). Wagner (1958) assinalou que as sociedades que visam ampliar o bem-estar social de sua população incluem mais o Estado na economia, com mais gastos em educação, tecnologia e saúde. Outra visão que buscou entender as causas do aumento das despesas do governo foi a de Peacock e Wiseman. Esses autores relacionavam o aumento dos gastos públicos com os “distúrbios sociais”, como guerras e crises. Conforme Riani (2014, p. 60), os autores “notaram que os gastos governamentais aumentaram significativamente nos períodos das guerras”. O estudo dos autores vincula uma aceitação maior dos gastos públicos por parte da sociedade em situações de desvios, para combater injustiças que eram produto dos conflitos e distúrbios sociais. Outras perspectivas importantes sobre os gastos são as de Musgrave (1974), Rostow (1960) e Heber, que relacionam o crescimento dos gastos com os estágios de desenvolvimento da nação. Segundo Musgrave (1974), nas primeiras etapas de desenvolvimento, a formação bruta de capital fixo cumpre papel central, fazendo com que os investimentos públicos sejam consideráveis nesses estágios iniciais. Nas etapas seguintes, o papel do Estado é limitando, se tornando um complemento dos investimentos privados. Nas etapas finais de crescimento econômico, os investimentos públicos aumentam novamente, 4 porque haverá necessidades de investimentos que exigem muito capital (Riani, 2014). Rostow formula uma teoria sobre o crescimento em etapas. Conforme Rostow, na última etapa de desenvolvimento de uma economia, que se chama “a era do consumo em massa”, a renda da economia já atende às necessidades de oferecer um bom padrão de vida à maior parte da população. Os investimentos passam a ser concentrados no bem-estar social e não mais no progresso técnico, expandindo os gastos públicos com políticas sociais. Heber (citado por Riani, 2014) estuda o aumento dos gastos governamentais a partir do processo de industrialização, de forma parecida com Musgrave. Segundo Heber, em períodos pré-industriais o Estado deve gastar mais para oferecer a infraestrutura necessária para a industrialização. Quando o país alcança um nível de maturidade em termos de industrialização, as despesas do governo se manteriam estáveis. Já nas etapas estágios finais, o Estado deve novamente retomar os gastos. TEMA 3 – FINANCIMENTO DO GOVERNO: CONCEITOS DE TRIBUTAÇÃO E DEMONSTRATIVO DAS RECEITAS DO GOVERNO Para que o Estado possa realizar atividades ele necessita de fontes de financiamento de seus gastos. Para tanto, tem algumas opções, que são: i) emissão de moeda; ii) venda de títulos públicos no mercado financeiro; iii) empréstimos bancários (internos e externos); e iv) por meio da tributação (Riani, 2014, p. 99). A mais adotada é o recolhimento de impostos. Porém, a tarefa de elaborar um sistema tributário adequado e justo não é fácil. Conforme Giambiagi e Além (2002, p. 37), o governo deve levar em conta algumas questões para determinar a carga tributária: i) a equidade, que é a ideia de que o ônus da tributação deve recair sobre todos os cidadãos que se beneficiam dos serviços públicos; ii) a progressividade, que se baseia em cobrar mais impostos de quem pode pagar mais e vice-versa; iii) a neutralidade, calcada na ideia de que os tributos não devem impedir a eficiência da economia; e iv) a simplicidade, que defende que o sistema tributário deve ser de fácil aplicação para o governo e de compreensão simples para os contribuintes. Dentro da ideia de tributos, estão incluídos: 5 Os impostos, “que são tributos cuja arrecadação não tem destinação obrigatória predeterminada” (De Toni, 2008, p. 53), como IPTU e IPVA. As taxas, que estão vinculadas com algum serviço que será oferecido pelo governo, como as taxas de iluminação ou recolhimento de lixo. As contribuições de melhoria, que são um tributo resultado da valorização imobiliária em virtude de uma obra governamental. As contribuições sociais, que são impostos com um destino definido, como os tributos da seguridade social. Os instrumentos de financiamento do governo, sobretudo os impostos, geram efeitos na sociedade, positivos e negativos, expandindo ou reduzindo o consumo da população e os investimentos. Por isso, o governo deve respeitar os conceitos de equidade, neutralidade, simplicidade e progressividade. Riani (2014) assinala que existe um certo padrão na forma como as fontes de financiamento do governo são apresentadas, uma vez que respeitam os princípios contábeis. A estrutura contábil das receitas é separada em correntes e de capital. As receitas correntes são oriundas, em sua maioria, das receitas dos impostos, que representam as receitas próprias de cada nível do governo mais as receitas que provem da transferência fiscal de outras unidades governamentais. Por sua vez, as receitas de capital são os recursos conseguidos a partir da contração de empréstimos mais as vendas de certos ativos financeiros. TEMA 4 – PRINCÍPIOS DE TRIBUTAÇÃO O sistema tributário deve basear-se se no princípio dos benefícios e no princípio da habilidade de pagamento, que buscam determinar como o valor dos tributos será definido. De acordo com Riani (2014, p. 102): “O princípio do benefício estabelece que cada indivíduo na sociedade pagará tributos de acordo com o montante debenefícios que recebe”. Portanto, as pessoas que recebem mais benefícios, pagariam mais impostos. Cada indivíduo deveria fazer a contribuição de forma proporcional ao benefício que o serviço do governo gerou a ela. Porém, é difícil a tarefa de medir o grau de benefício de cada pessoa, o que impede a aplicação plena desse princípio. As preferências dos indivíduos variam por aspectos que não podem ser mensurados, como questões culturais, 6 religiosas, classe socioeconômica, grau de instrução, entre outros, e é raro o momento em que essas preferências são demonstradas. Esse princípio não contribui para a distribuição de renda, pois gera ônus às classes de menor renda. Se o sistema tributário fosse baseado exclusivamente no princípio do benefício, algumas pessoas que não teriam renda para pagar por certos serviços públicos seriam excluídas das suas vantagens, o que faria com que o governo não cumprisse sua função alocativa e distributiva. Por isso, De Toni (2008) aponta que o princípio do benefício não é suficiente; somente alguns tipos de tributos, como o sobre o álcool e sobre o tabaco, poderiam ser definidos a partir dele. Para que o sistema tributário seja mais justo, é preciso complementar o princípio do benefício com outro, que é o princípio da habilidade de pagamento. O princípio da capacidade ou habilidade de pagamento defende que “a carga do tributo deve ser tal que os contribuintes com a mesma capacidade de pagamento devem pagar o mesmo nível de impostos (equidade horizontal)” (De Toni, 2008, p. 54). Com base nesse princípio, cada pessoa contribuiria de forma diferenciada para o Sistema tributário, com base em sua renda. A capacidade de pagamento é medida, em geral, a partir da renda e da riqueza do indivíduo. Nesse sentido, adota-se a renda como referência para definir a habilidade de pagamento, e não o consumo de um indivíduo, porque uma parte da renda pode ser aplicada em poupança e não consumida em sua totalidade. A definição do sistema tributário de um país envolve análises relacionadas ao perfil dos contribuintes e às necessidades de cada economia, associadas aos princípios que o governo deve respeitar na definição da carga tributária e suas regras. TEMA 5 – CATEGORIAS DE TRIBUTOS Existem diferentes categorias de impostos, considerando que a principal diferença é entre tributos diretos e indiretos. Os impostos diretos são aqueles em que “o ônus da tributação recai sobre quem deve pagar o imposto” (De Toni, 2008, p. 54), em outras palavras, os impostos que o contribuinte paga diretamente, como por exemplo o imposto de renda de pessoa física e jurídica, o IPTU (imposto predial e territorial urbano), o IPVA (imposto de propriedade de veículo automotor). As contribuições sociais também são tributos diretos, como 7 PIS-PASEP e Previdência social. Os impostos diretos estão associados à capacidade de pagamento de cada pessoa, sendo assim mais justos. Os impostos indiretos “são aqueles nos quais não necessariamente o ônus da tributação recai sobre quem deve pagar o imposto, ou seja, é possível uma transferência da carga tributária” (De Toni, 2008, p. 54). Os impostos indiretos não são pagos pelo proprietário, mas por todos os consumidores. Esses impostos são cobrados quando há compra de mercadorias e serviços, como o ISS (imposto sobre serviço) e o ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços). Existe ainda a distinção entre impostos progressivos ou regressivos. Os progressivos estão vinculados ao aumento da alíquota em proporção à renda e estão baseados no princípio da equidade (os mais ricos pagam mais). Já os impostos regressivos vão ter um ônus maior sobre a população mais pobre, ou seja, não aumentam quanto maior a renda. Os impostos indiretos, em geral, são regressivos. Os impostos podem ser separados em impostos sobre a renda, sobre o patrimônio e sobre as vendas. Os tributos sobre a renda são cobrados com base na renda gerada no mercado. De acordo De Toni (2008, p. 58), “a renda tributável é o resultado da renda total do contribuinte, deduzida de abatimentos como despesas médicas ou educacionais”. O imposto sobre a renda é uma das mais importantes fontes de financiamento, representando aproximadamente 50% do total de receitas do governo (Riani, 2014). Os tributos sobre o patrimônio ou sobre a riqueza são cobrados com base na posse de um ativo. Os exemplos mais famosos desses impostos são o IPTU, que é cobrado sobre a posse de um imóvel e fica na esfera municipal, e o IPVA, que é tributado sobre os proprietários de veículos automotores e é de nível estadual. Já os tributos sobre a venda de bens e serviços impactam a oferta e a demanda no mercado. O imposto sobre as vendas é uma forma importante de arrecadar receitas para o governo, sendo um tipo de imposto indireto, pago pelo comprador (Riani, 2014). Segundo Riani (2014, p. 106), “a tributação sobre os bens e serviços pode ser feita mediante duas sistemáticas. Ela pode ser aplicada sobre a unidade do produto ou sobre seu valor. Isso dá origem aos impostos unitários e aos ad valorem”. 8 NA PRÁTICA Leia o artigo de Nelson Paes e identifique se houve um aumento dos gastos do governo brasileiro entre 2006 e 2011 nessas áreas, e se isso provocou melhorias nesses serviços. PAES, N. Os gastos tributários e seus impactos sobre o desempenho da saúde e da educação. Ciênc. Saúde coletiva, v. 19, n. 4, 2014. FINALIZANDO Nesta aula, você conheceu os elementos associados à política fiscal, com ênfase sobre as despesas e as receitas do governo. Primeiramente, você se familiarizou com os conceitos e classificações das despesas do governo, que são os gastos por categorias, por funções e agregados. Na sequência, você pôde verificar que se observa um crescimento dos gastos públicos na economia ao longo do tempo, a partir das teorias de Wagner, Musgrave (1974), Peacock e Wiseman, Rostow (1960) e Heber. Essas visões relacionam as despesas governamentais com as etapas de desenvolvimento econômico em que se encontra uma nação, apontando que, quanto maior o PIB de um país, maiores os gastos do governo. Depois, analisamos os tributos e seus conceitos. Foram explicados os tipos de tributos e os elementos centrais da carga tributária, que são a equidade, a neutralidade, a simplicidade e a progressividade, assim como a forma como o governo demonstra de forma contábil as suas receitas. Para entender como o Sistema tributário é determinado, foram explicados os princípios dos benefícios e da capacidade de pagamento. Na sequência, estudamos a diferença entre impostos diretos e indiretos, progressivos e regressivos, e as principais categorias de impostos: os impostos sobre a renda, sobre o patrimônio (riqueza) e sobre as vendas. 9 REFERÊNCIAS DE TONI, J. Economia do setor público. Maio 2008. Texto de apoio. GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C. Finanças públicas: Teoria e Prática no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002. MUSGRAVE, R. Teoria das finanças públicas. São Paulo: Atlas, 1974. RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. Rio de Janeiro: LTC, 2014. ROSTOW, W. As etapas do crescimento. Cambridge: Universidade de Cambridge, 1960. WAGNER, A. Three extracts on public finance. In MUGRAVE, R.; PEACOCK, A.T. (Org.). Classics in the theory of public finance, London: Macmillan, 1958. ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO AULA 4 Profª Pollyanna Gondin Profª Ludmila Andrzejewski Culpi 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, serão tratados os diferentes estágios dos gastos orçamentários do governo, que são o planejamento, a aprovação, a execução e a avaliação do uso das receitas públicas. Primeiramente, você conhecerá os conceitos de planejamento econômico e as suas relações com a gestãopública. Na sequência, você compreenderá o processo político da definição do orçamento e estudará as definições o de orçamento, seus princípios e a evolução histórica do orçamento. Depois, conhecerá os diferentes tipos de orçamento e entender[a a legislação orçamentária e como se dá o processo legislativo orçamento. Para finalizar, você irá compreender os indicadores de avaliação das despesas públicas, com ênfase especial sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal e seus resultados. TEMA 1 – PLANEJAMENTO ECONÔMICO, GESTÃO PÚBLICA E PROCESSO POLÍTICO As unidades organizacionais, ou organizações públicas, são entidades que formulam as políticas públicas por meio de um planejamento, uma tomada de decisão e uma execução (Ribeiro, 2013). As principais funções administrativas dos órgãos públicos são investigar, prever, planejar, organizar e controlar (Ribeiro, 2013). A tomada de decisão do orçamento envolve todas essas ações, com ênfase sobre o planejamento das ações do governo. O planejamento, de acordo com Albuquerque (1977), “é um processo constituído de uma sequência contínua de atos ou eventos motivados por uma certa imagem idealizada da realidade, imagem esta que se visa atingir”. Assim, são adotadas decisões de modo organizado por parte de um agente, que nesse caso é o governo, para atingir certos objetivos econômicos. O planejamento refere-se a uma análise completa do que deve ser realizado para alcançar um objetivo. Existem tipos diferentes de planejamento econômico de governo: o administrativo, o funcional e o estrutural. O planejamento administrativo tem como objetivo tornar mais eficiente uma política ou atitude do governo, ou seja, são pequenas ações que visam atender a alguma meta, sem necessariamente estarem embasadas em um método de planejamento. Por sua vez, o planejamento funcional busca expandir a eficiência do sistema como um todo, com vistas a aprimorar esse sistema. Já o 3 planejamento estrutural visa reformar e modificar alguns elementos do sistema e sua estrutura. O planejamento é uma etapa da formulação das políticas públicas. A formulação de uma política pública envolve algumas fases: a definição da agenda, a identificação das alternativas, a avaliação das opções, a seleção das opções, a execução da política e a avaliação dos resultados. Albuquerque (1977) argumenta que, nos países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, tende-se a iniciar o planejamento a partir de planos setoriais, por exemplo, orientados para a agricultura ou a indústria. Essa forma de planejamento tem suas restrições, pois é do tipo funcional, baseada no know how dos gestores e formuladores de políticas públicas, mas não necessariamente provoca mudanças nas estruturas, que devem ser alteradas para promover mais desenvolvimento econômico. Sobre os tipos de planejamento, Lopes (1990, citado por Justen; Frota, 2014) identifica uma série de modelos que planejamento do governo, quais sejam: i) o modelo socialista soviético, no qual o planejamento faz parte de toda a economia, de modo centralizado e autoritário; ii) o modelo dos países em desenvolvimento, que utilizaram essa ferramenta para superar o atraso na industrialização de suas economias; e iii) o modelo usado pelos Estados mais ricos, que “utiliza o planejamento indicativo onde, ao invés da substituição do mercado e mecanismo de formação de preços, busca-se garantir maior eficiência do setor econômico através da redução do nível de incerteza” (Justen; Frota, 2014, p. 6). O planejamento é um processo político e não apenas técnico, realizado por especialistas; ou seja, não existe uma neutralidade política no ato de planejar, pois certos interesses a nível político são relevantes na tomada de decisão das ações estatais (Albuquerque, 1977). Em geral, os parlamentares tomam decisões para atender aos interesses dos seus eleitores medianos, com vistas a se manterem nos poderes. Para conseguir a maioria para aprovar seus projetos, os senadores e deputados formam coalizões. Existe ainda a atuação dos lobbies, ou grupos de pressão, que impactam a tomada de decisão a respeito do serviços e bens oferecidos pelo governo (De Toni, 2008). 4 TEMA 2 – ORÇAMENTO: CONCEITOS, PRINCÍPIOS E HISTÓRIA O orçamento público é uma ferramenta para gerir a administração estatal e uma estimativa das fontes de financiamento e dos gastos que o governo efetuará (Ávila, 2012). O orçamento representa um sinalizador de como funcionará a economia, sendo que mais gastos públicos podem aquecer a economia e menos gastos podem desacelerar o crescimento. De acordo com Arruda e Araújo (2009, p. 65): “O processo orçamentário pode ser definido como o conjunto das funções a serem cumpridas pelo governo em termos de planejamento, controle gerencial e controle operacional”. O governo adota o orçamento como instrumento para alcançar as funções econômicas (alocativa, distributiva e regulatória) que precisa desempenhar. O orçamento serve para administrar as atividades do governo, direcionando para onde irão as receitas. No Brasil, existem certas regras e princípios para determinar o orçamento. Há uma Lei “onde se estima a receita e se fixa a despesa para um exercício vindouro” (De Toni, 2008, p. 26). Para que o orçamento seja aprovado, deve respeitar certos princípios, como a transparência, a unidade, a anuidade e universalidade (Ávila, 2012). São muitos os princípios orçamentários, como o da unidade, que prevê que o orçamento seja único, e o princípio da universalidade, que estabelece que o orçamento inclua todos os recursos e gastos de das esferas governamentais. O princípio da anualidade firma um período para a previsão dos dispêndios e receitas, que é de um ano fiscal. O princípio da exclusividade estabelece que o orçamento deve tratar apenas sobre assuntos relacionados ao orçamento. O princípio da programação associa-se a ideia de meios, os instrumentos à disposição do governo e os fins, que são os objetivos ou serviços a serem oferecidos. O princípio do equilíbrio prevê “que as despesas fixadas não devem ultrapassar as receitas previstas para o exercício financeiro” (Ávila, 2012, p. 103). O princípio da legalidade dispõe que só devem ser realizadas ações orçamentárias que respeitem os auspícios lei. O princípio da exatidão determina que o orçamento deve refletir de modo claro e preciso as demandas a serem atendidas. O princípio da publicidade afirma que os documentos relacionados ao orçamento devem estar acessíveis ao público, a partir dos princípios de 5 transparência. O princípio da clareza exige que o orçamento seja bem organizado e claro para atender à sua finalidade administrativa. Já o princípio da flexibilidade estabelece que o orçamento possa se adequar às necessidades do programa, não sendo excessivamente rígido. O princípio da especificação firma que cada dispêndio do governo seja discriminado. O princípio da não vinculação da receita descreve que nenhum tributo deve ser associado a um nível de governo ou organismo, com exceção do que está previsto na Constituição (Ávila, 2012). O orçamento público é elaborado pelo Poder Executivo em cada nível governamental, tentando atender às seguintes características: i) levantar as prioridades da sociedade; ii) realizar um planejamento com a determinação de objetivos, metas e diretrizes a seguir; iii) analisar as receitas à disposição; iv) formular uma proposta de orçamento que deve ser submetida à apreciação do Poder Legislativo; e v) implementar as ações previstas depois do orçamento ter sido apreciado (Ávila, 2012). O orçamento surgiu, em termos históricos, para controlar o poder dos monarcas, em 1217, no Reino Unido. A ideia era a impedir que os tributos fossem definidos de maneira unilateral e que passassem a ser determinados pelo Conselho Comum, aumentando a legitimidade do documento(De Toni, 2008). No século XIX, alguns Estados tinham um orçamento semelhante ao que é adotado hoje, como era o caso da Inglaterra, que foi a primeira a adotar o modelo de Relatório de Receitas e Despesas. Em 1921, os EUA já utilizavam o orçamento público. TEMA 3 – TIPOS DE ORÇAMENTO Existem inúmeras técnicas para a formulação do orçamento, e elas serão expostas neste tema. O orçamento tradicional ou clássico é limitado a prever as fontes de financiamento do governo para pagar as despesas, sem a realização de qualquer pesquisa para verificar a viabilidade e as demandas da população. O objetivo desse orçamento era detalhar gastos e receitas, ignorando as metas econômicas do Estado e a ideia de programas. Esse tipo orçamentário foi aplicado no Brasil até 1964, quando houve uma mudança no método. No segundo tipo de orçamento, chamado de orçamento de realizações ou de desempenho, busca-se indicar de que maneira o governo pode intervir na 6 economia e fornecer serviços com mais qualidade e eficiência, assinalando onde os tributos serão utilizados. A terceira forma de realizar o orçamento é denominada de orçamento programa, que é adotado até hoje no Brasil, desde 1967. Esse orçamento funciona como um “roteiro à execução coordenadora do programa anual do governo” (De Toni, 2008, p. 28). e detalha cada etapa do Plano Plurianual. Esse orçamento é um instrumento central para o planejamento econômico do governo e para orientar as ações públicas. Existe nesse tipo de orçamento um vínculo evidente entre o orçamento, a gestão das receitas e das despesas e o planejamento governamental. Segundo De Toni (2008), esse tipo de orçamento tem uma série benefícios em comparação a outras formas, como: i) aprimoramento do planejamento, assegurando uma eficiência maior da gestão pública; ii) transferência sobre a administração financeira do Estado e a diminuição das despesas; iii) mecanismos de fiscalização mais avançados; e iv) identificação do real impacto do dispêndio público e não apenas o seu controle. No Brasil, o orçamento programa passou a ser utilizado no final dos anos 1970, com o objetivo de tornar o planejamento mais detalhado, com a possibilidade de verificar as metas e analisar os resultados (Polo, 2009). Uma nova forma de gestão orçamentária é o orçamento participativo, que já foi aplicado em mais de 2800 localidades no mundo todo, em diferentes esferas do governo. De acordo com Oliveira (2013, p. 44), o orçamento participativo é “uma política pública destinada a incluir a sociedade no processo de alocação do orçamento público”. O orçamento participativo é uma técnica considerada inovadora, por incorporar a população na tomada de decisão sobre os recursos públicos. A vantagem dessa modalidade é que permite maior legitimidade e participação democrática, reduzindo a chance de desvio dos recursos públicos, a partir do monitoramento e da fiscalização. No orçamento participativo, quem elabora e executa formalmente o orçamento ainda são os poderes executivo e legislativo, porém a eleição das prioridades de ação é discutida junto com a sociedade, que participa em consultas públicas, apenas sendo consultada no processo. O caso do orçamento participativo de Porto Alegre é um exemplo exitoso, porque, conforme Graham (2009), aproximadamente 18 mil pessoas participaram dos debates, destinando-se, como resultado, mais recursos para as 7 regiões mais pobres. Essa inovação orçamentária em Porto Alegre passou a influenciar outras cidades brasileiras e outras partes do mundo a adotarem essa técnica. O modelo passou a ser emulado e copiado (Graham, 2009). TEMA 4 – LEGISLAÇÃO E PROCESSO LEGISLATIVO ORÇAMENTÁRIO A maneira como o Estado se planeja, a previsão das fontes de financiamento e a fixação dos dispêndios respeitam as diretrizes da legislação orçamentária, que, a partir de uma proposta do Poder Executivo, definirão o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). Esses documentos são aprovados e se tornarão leis que orientarão os gastos do governo (Silva, 2007). No Plano Plurianual (PPA) são destacadas as metas e programas para o mandato de quatro anos do Executivo, que fixa suas prioridades e os objetivos mais gerais a serem alcançados. Esse documento assinala os programas a serem realizados durante todo o mandato do presidente. A lei que determina e rege sobre o Plano Plurianual é realizada anualmente e executada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Silva, 2007). A Lei de Diretrizes Orçamentárias estipula as metas e as diretrizes da administração pública, destacando as regras e as normas para a elaboração e a execução do orçamento anual. Já a Lei Orçamentária Anual (LOA) determina o limite dos gastos públicos e o planejamento operacional dessas despesas. A LOA é formulada com base na Lei de Diretrizes Orçamentárias (Silva, 2007). Essas leis são elaboradas pelo governo federal e encaminhadas à aprovação do Senado Federal (poder legislativo), que pode fazer emendas e aprovar o orçamento, que retorna para a aprovação final (sanção) do presidente. O presidente pode vetar a Lei (parcial ou totalmente), que retorna ao congresso, que pode aceitar o veto ou não em sessão plenária. O Plano Plurianual (PPA) estabelece, em termos regionais, as metas e diretrizes para a gestão pública federal em relação aos gastos de capital e a outras despesas relacionadas aos programas previstos. Já as despesas de capital são relacionadas a investimentos para a construção de alguma obra. O PPA é formulado no primeiro ano e durará os quatro anos do mandato. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LOA) é remetida ao Congresso para apreciação quando faltam 8 meses para conclusão do ano fiscal, e fixa as 8 mudanças na legislação tributária. A LOA engloba os orçamentos fiscal, de seguridade e social e de investimento nas empresas públicas. A Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, estabeleceu a novas finalidades associadas à manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas, buscando controlar o endividamento público. Essa lei determina também princípios para a apresentação do orçamento e das contas públicas, como a transparência na difusão dos documentos, assegurando acesso a toda população, por meio da apresentação, de dois em dois meses, de relatórios da execução do orçamento, e de relatórios de gestão fiscal de 4 em 4 meses (De Toni, 2008). Um aspecto incorporado pela Lei de Responsabilidade Fiscal é a “divulgação mensal por parte do Ministério da Fazenda, meio eletrônico, da relação de entes que ultrapassaram limites máximos para a dívida” (De Toni, 2008, p. 31). O principal propósito dessa lei é permitir uma fiscalização sobre os gastos, penalizando os entes que gastarem acima do previsto com sanções, como a interrupção das transferências voluntárias e das operações de crédito. No Congresso Nacional, que tem como uma de suas atribuições dispor sobre tributação, existe uma Comissão Mista de Orçamento. Essa Comissão deve legislar sobre tributação, arrecadação, distribuição de rendas etc. A Comissão Mista de Orçamento tem como competências matérias orçamentárias, em geral, análise de indícios de gastos irregulares, avaliação do cumprimento das metas fiscais e de política monetária, como o controle da inflação, além da elaboração de um parecer sobre as contas da União e da deliberação sobre obras e serviços com sinais de irregularidades. TEMA 5 – INDICADORES DE AVALIAÇÃO FINANCEIRA DOS GASTOS Os indicadores financeiros têm a finalidade de avaliar os gastos e impedir que haja descontrole fiscal. A construção desses indicadores é feita a partir de uma série de variáveis e são aplicados aos gastos de cada esfera do governo, a partir dos relatórios enviados por municípios, estados e pela União. Os principais indicadoresadotados são o de ajuste fiscal, baseado no cumprimento das metas do governo, e a da Lei de Responsabilidade Fiscal. Para controlar as despesas dos estados, foi feito um acordo com a União que estimava que certas metas deveriam ser obedecidas, o que seria uma condição para a concessão de crédito para municípios e estados (Riani, 2014). 9 São diversas as metas, sendo que a primeira foi relacionada ao estoque da dívida financeira, a partir da receita líquida real de cada unidade. O cálculo realizado é a redução da receita com os valores relacionados a transferências da União, alienação de bens e ganhos financeiros de aplicações. Ao determinar- se o quando a unidade gastou, fixa-se uma meta para a redução desse gasto. Um outro indicador é o de resultado primário, por meio do qual determina- se qual o valor financeiro que deve ser alcançado para pagar o serviço da dívida, ou seja, os juros e o principal. Outra forma de indicador é a comparação entre a receita real líquida e os gastos com pessoal (Riani, 2014). O quarto indicador é o da receita de arrecadação própria, que estabelece o valor a ser captado por meio de receitas próprias por cada esfera. Um quinto indicador é o de despesas de capital ou investimento, e sua proporção em comparação à receita total. Já o último indicador de ajuste fiscal está ligado à ideia de o governo estabelecer medidas para que as metas sejam viáveis. Conforme Riani (2014), os esforços para controlar os gastos acabam sobrecarregando os estados e municípios, para que evitem os encargos da dívida de modo intenso, o que pode representar menos serviços oferecidos à população. A Lei de Responsabilidade Fiscal fixou procedimentos fiscais e orçamentários, buscando determinar padrões para que as informações sobre gastos e recursos, assim como sobre endividamento das esferas do governo, fossem apresentadas da mesma forma. A lei prevê também vários limitantes à dívida dos governos, como a ideia de “despesa continuada”, que só pode ocorrer caso seja definida de antemão a fonte de financiamento desse gasto. A respeito dos índices, essa Lei formulou dois indicadores: um associado às despesas com pessoal e outro vinculado ao estoque da dívida pública. No que tange aos gastos com pessoal, foram construídos indicadores vinculados à receita líquida dos poderes e dos níveis de governo (Riani, 2014). O limite de gastos com pessoal no nível estadual é de 60% sobre o total de receitas, que deve ser dividido da seguinte forma: 49% com o Executivo, 6% com o Judiciário, 3% com o Legislativo e o Tribunal de Contas do estado e 2% com o Ministério Público. Já no nível municipal, o limite com pessoal é de 60% sobre as receitas totais, que devem ser gastos da seguinte forma: 54% com o Executivo e 6% com o Legislativo e o Tribunal de Contas do município. Na esfera da União, o limite é menor, de 50% da receita total destinada a gastos com 10 pessoal, da seguinte forma: 40,9% com o Executivo, 6% com o Judiciário, 2,5% com o Legislativo e 0,6% com o Ministério Público (Riani, 2014). Uma análise crítica da LRF é a de que é elevada a proporção do orçamento destinada aos gastos com funcionários, o que está associado ao inchaço do Estado e aos salários elevados de vários cargos públicos. NA PRÁTICA Leia o artigo de Ribeiro, que explica o orçamento programa, indicando as vantagens dessa ferramenta para uma gestão púbica mais eficiente. Faça um paralelo desse modelo de orçamento com o orçamento participativo, comparando-os. RIBEIRO, D. O Orçamento-Programa Como Instrumento de Gestão Pública, Cadernos IPARDES, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 1-24, jul./dez. 2013. FINALIZANDO Nesta aula, você conheceu o processo político, administrativo e jurídico que envolve a fixação dos gastos públicos. Em primeiro lugar, foi estudada a relação entre planejamento, que é uma etapa importante da gestão pública, e administração pública. Nessa mesma seção, foi possível entender o entrelaçamento entre questões políticas e administrativas, entendendo que quem elabora e emenda o orçamento são os gestores públicos e congressistas, o que transforma a elaboração do orçamento em um ato político, que pode envolver barganhas e a atuação de grupos de pressão. Na sequência, foram apresentados os conceitos de orçamento, que é uma ferramenta central no gerenciamento das receitas e dispêndios do governo nas suas diferentes esferas. Conhecemos, também, os princípios que regem o orçamento, que devem ser observados pelo governo no momento de sua elaboração. Depois, foram assinalados os tipos de orçamento, que são o tradicional, o de realizações, o programa e o participativo, com suas características principais. No tema seguinte, foram evidenciadas as legislações e o processo legislativo que caracteriza a aprovação do orçamento pelo governo. As normativas centrais sobre o orçamento, que orientam o governo em sua 11 formulação, são o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Ordinária Anual. Depois, discutimos a questão dos indicadores de avaliação financeira, que indicam se as contas públicas estão saudáveis. O principal indicador de gestão financeira dos gastos públicos é a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, que assinala os limites para a distribuição dos gastos entre as esferas e em cada área, com vistas a controlar os gastos e o endividamento público. 12 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, M. C. C. de O processo de planejamento: uma classificação e sua aplicação nos países subdesenvolvidos. Revista de Administração de empresas, São Paulo, v. 17, n. 4, ago. 1977. ARRUDA, D. G.; ARAÚJO, I. P. S. Contabilidade pública: da teoria à prática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. ÁVILA, C. Orçamento Público. Curitiba: Instituto Federal do Paraná, 2012. DE TONI, J. Economia do setor público. Maio 2008. Texto de apoio. GRAHAM, S. Democratic Innovations: designing institutions for citizens participations. New Yorl: Cambridge University Press, 2009. JUSTEN, A.; FROTA, M. Planejamento e Políticas Públicas: Apontamentos sobre as Limitações em Países em Desenvolvimento. SIMPÓSIO IBEROAMERICANO EM COMÉRCIO INTERNACIONAL, DESENVOLVIMENTO E INTEGRAÇÃO, 8., 2014, Cerro Largo. Anais... Disponível em: <http://docplayer.com.br/66404704-Planejamento-e-politicas-publicas- apontamentos-sobre-as-limitacoes-em-paises-em-desenvolvimento.html>. Acesso em: 30 jul. 2018. OLIVEIRA, O. A dimensão internacional do Orçamento Participativo: uma análise da interação entre elites e instituições no processo de difusão. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. POLO, L. Planejamento e orçamento no setor público brasileiro. São Paulo: FUNDAP, 2009. RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. Rio de Janeiro: LTC, 2014. RIBEIRO, D. O Orçamento-Programa Como Instrumento de Gestão Pública, Cadernos IPARDES, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 1-24, jul./dez. 2013. SILVA, B. Economia do Setor Público. Palhoça: UnisulVirtual: 2007. ECONOMIA NO SETOR PÚBLICO AULA 5 Profª Pollyanna Gondin 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula você irá investigar as principais características do envolvimento do Estado na economia brasileira, destacando-se a baixa interferência no período colonial e durante as repúblicas velhas, até os anos 1930, quando o Estado se torna um ator mais importante na economia brasileira, com forte planejamento estatal entre os anos 1950 e 1980. Na sequência, você irá conhecer a política econômica dos anos 1990, que sustentava uma premissa neoliberal, com a diminuição do papel do Estado na economia, por meio de privatizações e desregulamentação da economia. Depois, você entenderá as medidas adotadas entre os anos 2003 a 2016. Nesses anos, houve um forte envolvimentodo Estado na economia, contudo sem alterar a política macroeconômica neoliberal implementada nos anos 1990. Posteriormente, irá verificar os conceitos referentes ao déficit e à dívida pública e o avanço da dívida pública no Brasil, demonstrando-se qual o real problema das nossas contas públicas. TEMA 1 – A PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA BRASILEIRA DURANTE O PERÍODO COLONIAL ATÉ OS ANOS 1930 Conforme Furtado (1991), o Brasil passou as primeiras três décadas depois do “Descobrimento” em abandono, porque não se encontraram ouro e metais preciosos na colônia, como ocorreu nas colônias espanholas, o que não justificaria a exploração do território brasileiro. Apenas quando outras metrópoles demonstraram interesse no território é que Portugal passou a protegê-lo, utilizando as rendas oriundas da empresa açucareira para garantir a defesa do território. O Brasil se torna o maior produtor de açúcar do mundo. Com a experiência que Portugal já possuía na produção da cana-de-açúcar, o uso da mão de obra escrava africana e os recursos financeiros e o apoio comercial da nação aliada Holanda, a empresa açucareira no Brasil se tornou um êxito até aparecer a competição com as Antilhas (Furtado, 1991). No início do século XVIII, foi encontrado ouro no Brasil, porém esse ciclo durou muito pouco, com a decadência da mineração, pois havia pouco ouro e a exploração foi muito intensa. Novamente, o Brasil deixou de ser interessante para Portugal, que só retoma interesse pela colônia quando a Corte portuguesa 3 é transferida para o Brasil às pressas, escapando da invasão napoleônica (Furtado, 1991). A vinda da Família Real ao Brasil implicou algumas transformações econômicas, com a construção de bancos, universidades, portos e a constituição de um mercado consumidor interno. Todavia, depois da independência, adquirimos uma dívida grande com Portugal, pela indenização da independência, e tivemos que permitir a abertura dos portos, mantendo relações comerciais exclusivas e preferenciais com a Inglaterra, que passou a ser a nossa dominadora. A independência política em 1822 não eliminou a dependência econômica, que passava de Portugal para a Inglaterra. Somente no final do século XIX, com a Proclamação da República e a abolição da escravidão, o Brasil adquiriu maior autonomia. Contudo, ainda éramos um país essencialmente agrícola, cujo único artigo de cultivo mais importante era o café, que teve uma redução do seu preço e procura na crise de 1929 (Furtado, 1991). Para proteger a economia brasileira e evitar o colapso da estrutura cafeeira, o governo, nos anos 1930, realizou uma série de medidas que podem ser consideradas a primeira atuação do Estado brasileiro na economia, de fato, que foram a compra do café, seu estoque e queima, cuja finalidade era impedir a diminuição brusca do preço do item, já que o preço internacional havia caído muito, por meio do controle da oferta. O preço do café ia se reduzindo paulatinamente, induzindo os cafeicultores a buscarem outra atividade econômica mais lucrativa, que era a indústria, sem a falência completa desses agentes que mantinham a economia brasileira saudável. Foi uma medida contraditória, mas elogiada por muitos, porque o governo impediu que a crise fosse ainda mais grave e contribuiu para a industrialização do país (Furtado, 1991). A crise internacional de 1929, que foi de superprodução, gerou uma ruptura na economia brasileira, que foi se industrializando por meio de uma política de substituição de importações (PSI). Pela primeira vez, houve uma forte intervenção do Estado, porque o PSI envolvia o protecionismo, a moeda desvalorizada, o controle das importações, tudo com vistas a incentivar a indústria nacional. Porém, esse processo de industrialização foi incompleto, pois a indústria de bens de capital (tecnologia) não se expandiu (Lacerda et al., 2000). 4 Os gastos públicos representavam, em 1929, 15% do total do nosso produto interno bruto (PIB), enquanto entre 1930 a 1934, com a entrada de Getúlio Vargas, isso se expandiu para 18,8%, ficando relativamente estável até 1945. TEMA 2 – PLANEJAMENTO ECONÔMICO NO BRASIL E POLÍTICA ECONÔMICA A PARTIR DOS ANOS 1930 ATÉ A DÉCADA DE 1980 Em 1945, Dutra adotou uma política fiscal e cambial mais liberal, com menor influência do Estado. Quando Vargas retornou à presidência, em 1950, ele aplicou novamente uma PSI, gerando um envolvimento central do governo na economia. O objetivo de Vargas era instaurar a indústria de base no país. Para tanto, fundou a Petrobrás e a Eletrobrás e também restringiu a participação do capital externo na economia brasileira (Lacerda et al., 2000). Com a PSI, o Estado possuía as seguintes funções: adequar as instituições à indústria; promover a criação de uma infraestrutura básica, com a construção de portos, ferrovias e estradas; oferecer insumos básicos e captar e distribuir a poupança. O financiamento do governo era feito mediante tributos, poupanças compulsórias e ganhos no mercado de câmbio, por intermédio do câmbio múltiplo (com diversas taxas de câmbio) (Lacerda et al., 2000). Juscelino Kubistchek implementou o Plano de Metas, cujo objetivo era inaugurar o planejamento estatal no Brasil. O Plano de Metas tinha como slogan “50 anos de progresso em 5 anos de realizações”, tendo sido considerado um exemplo bem-sucedido de planejamento econômico. Foram realizados alguns projetos estatais de infraestrutura, com financiamento externo, o que expandiu nossa dívida com o resto do mundo, tendo uma participação reduzida do capital nacional nos investimentos (Lacerda et al., 2000). Foram identificados, a partir da Comissão Mista Brasil-EUA e do Grupo Misto BNDE-Cepal, o que eram definidos como pontos de estrangulamento da economia brasileira, ou seja, setores com baixa demanda, como foi o caso do setor de bens de consumo duráveis. A solução para essa questão era investir nos pontos de germinação, como a expansão do setor automobilístico. Foram fixadas metas para os setores de energia, transportes, alimentação, indústria de base, educação e a meta-síntese, que era a construção de uma nova capital no centro do país, Brasília (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Jr., 2004). 5 A maioria das metas foi alcançada, mesmo que não totalmente, logrando o plano um bom resultado, com transformações estruturais e crescimento econômico; porém, houve expansão da dívida e da dependência externa, o que foi pago anos mais tarde, e geração de concentração de renda (Lacerda et al., 2000). Durante os primeiros anos do regime militar, foi implementado o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), com o objetivo de adotar um conjunto de transformações institucionais, com reformas bancária, tributária e monetária que tiveram como resultado o controle da inflação. Essa política econômica forneceu as bases para o crescimento acelerado que se verificou nos anos seguintes na ditadura militar, o chamado milagre econômico. Durante o "milagre" econômico brasileiro ocorreram taxas extraordinárias de crescimento do PIB, de cerca de 11% ao ano. Uma das causas do crescimento acelerado foi o excelente momento que vivia a sociedade internacional, com taxas de juros baixas. Contudo, na década de 1970, após a crise do dólar e os choques do petróleo, as taxas de juros internacionais se expandiram e nossa dívida externa atingiu níveis muito altos. Em função disso, tivemos a década perdida, em 1980, em toda a América Latina. Entre os anos de 1981 a 1983, a diminuição do crescimento foi associada às tentativas de pagar a dívida externa e os juros. Já entre os anos de 1984 a 1986, a balança comercial foi reequilibrada, o que provocou uma retomada do crescimento. Mas, a partir de 1984, o controle da inflação se tornou a maior necessidade da economia e não mais o ajuste da balança comercial. Foi diagnosticadana economia uma inflação inercial, que aumentava pela herança da inflação passada. A solução adotada pelos planos econômicos que se sucederam na década de 1980 foram os choques heterodoxos, que, com congelamento de preços e salários, tentaram controlar a inflação, sem sucesso. Com o fracasso do Plano Cruzado e a declaração da moratória da dívida externa, a crise se tornou mais intensa, provocando uma hiperinflação, no ano de 1989, que chega a 2.200% e gera uma recessão profunda na economia. O Plano Collor tentou novamente congelar a economia e realizou o confisco das poupanças, o que, somado a escândalos de corrupção, levou o presidente ao impeachment. 6 TEMA 3 – O NEOLIBERALISMO NA ECONOMIA BRASILEIRA NOS ANOS 1990 E A POLÍTICA ECONÔMICA NOS GOVERNOS LULA E DILMA Em 1990, a inflação caiu um pouco, a 20% ao mês até 1993, quando voltou a subir e ficou próxima de 50% ao mês. O Plano Real, implementado em 1994, atingiu seu objetivo de controlar a inflação. Nesse sentido, o Plano Real foi bem-sucedido porque levou em conta os dois lados da inflação, a oferta e a demanda. Aquele plano foi adotado em um cenário de abertura da economia, de privatizações e de desregulamentação financeira, baseados no neoliberalismo. O real permitiu a expansão do PIB, que cresceu 5,67% em 1994. A partir de 1995, o governo reduziu seus dispêndios, limitando o crescimento. Ademais, houve várias crises financeiras que provocaram fuga de capital em países em desenvolvimento, como na Rússia, no Sudeste Asiático e no México, e que também impactaram o Brasil, aumentando a dívida do governo. Em 2002, havia uma insegurança sobre os rumos da economia, com a preocupação de que o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) modificasse a política econômica neoliberal vigente, o que não ocorreu. Isso porque, desde o primeiro mandato do PT até o ano de 2016, a base da política macroeconômica é a mesma, com a manutenção do tripé neoliberal (metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário). Essa combinação limita o crescimento econômico, porque, para atingir as metas de inflação, as taxas de juros devem ser elevadas para captar capital externo, o que aumenta o valor do crédito e desestimula os investimentos produtivos. Entre os anos de 2003 e 2008 verificou-se a ampliação do PIB em cerca de 4,2% ao ano. O ano de 2009 foi atípico, com um PIB de somente 0,6%, produto da crise econômica internacional. A recuperação da crise se deu no ano seguinte, com 7% de expansão do PIB em 2010. Embora o Brasil tenha tido superávits comerciais externos no governo Lula, devido à grande compra de minérios e soja por parte da China, ainda não se verificava um aumento das exportações que fosse superior ao nível do crescimento do PIB (Curado, 2011). As políticas sociais adotadas nos últimos anos, no Brasil, tiveram como meta distribuir renda na economia, por meio da sua transferência de setores 7 mais ricos a setores mais pobres, como nos programas Bolsa Família e Fome Zero. Os efeitos dessas políticas sociais, assim como do crescimento econômico e da expansão do crédito ao consumidor, foram significativos, pois a taxa externa de pobreza reduziu-se de 11,5% em 2005 para 7,28% em 2009. Ademais, conforme Curado (2011), a taxa de pobreza total passou de 30,82% em 2005 para 21,42% em 2009. Essas políticas tiraram milhões de famílias da pobreza extrema, mas não foram suficientes para assegurar melhoria da qualidade de vida da população, bem como não promoveram aumento de investimentos e consequente expansão do emprego e da oferta. No que tange aos gastos públicos, nos anos 2000 foi adotado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com frutos limitados, devido aos poucos recursos fixados em comparação às necessidades do país, especialmente em infraestrutura. O programa visou retomar “o papel do Estado na realização de investimentos em setores estratégicos para o desenvolvimento. A lógica do Estado coordenador/regulador é completada pelo Estado investidor em setores estratégicos” (Curado, 2011, p. 98). Há elementos negativos no governo Lula, a exemplo dos déficits recorrentes no balanço de pagamentos, consequentes da valorização do real, devido à guerra cambial com os EUA, o que restringiu a competitividade das nossas exportações. Outro aspecto que prejudicou a economia brasileira foi a desaceleração do crescimento chinês a partir de 2013, o que diminuiu muito os superávits na balança comercial e limitaram o ingresso de dólares na economia. Ademais, a crise política vivenciada entre 2015 a 2018, com os escândalos de corrupção e os esquemas que provocaram a saída da presidente Dilma, em 2016, colocaram o Brasil em uma situação econômica delicada, com estagnação do crescimento, moeda cada vez mais depreciada, inflação e redução da qualidade de vida e dos gastos públicos no governo Temer, em 2018. TEMA 4 – DÍVIDA PÚBLICA: CONCEITOS É fundamental que você compreenda que há uma distinção entre os conceitos de déficit e de dívida. De acordo com Silva (2007, p. 110), o “déficit é gerado pelo desequilíbrio entre as receitas efetivamente arrecadadas e as despesas realizadas em um determinado período”. O déficit em si pode não representar um problema, porém os juros da dívida contraída para pagá-lo, 8 sim. Os principais beneficiários dessa situação são os bancos e os especuladores, que irão lucrar com os juros elevados da economia. Por sua vez, a dívida pública é o total utilizado para cobrir o déficit, isto é, quando se gasta mais do que os recursos do governo. A dívida pública é realizada também em dólares, quando emprestamos de outro país, por isso devemos acompanhar o comportamento do câmbio para medir o quanto essa dívida vale em reais, pois, quando o câmbio se deprecia, a dívida cresce. As medidas para um país cobrir o seu déficit podem ser emissão de moeda (gerando inflação na economia), lançamento de títulos públicos (que são uma forma de o governo arrecadar dinheiro no mercado financeiro, mas que promovem uma dívida para o Estado) ou aumento da carga tributária (promovendo redução da qualidade de vida da população) (Silva, 2007). O déficit primário existe quando há mais despesas do que as receitas que não são financeiras, não associadas aos juros da dívida. Por sua vez, o déficit nominal é a somatória do déficit primário com os juros nominais do estoque da dívida pública. Portanto, o déficit nominal é maior que o primário. Para que os títulos do governo sejam atraentes, os juros devem ser altos, expandindo a rentabilidade desse investimento, mas aumentando a dívida pública. Ademais, o governo precisa ter um nível de confiabilidade alto, que ateste que a dívida será por ele honrada. Para mensurarmos essa confiabilidade, utilizamos o risco-país como referência, posto que ele mede a confiança de uma economia. Outros elementos que têm efeito sobre a confiabilidade são o histórico do país e o clima político e social que vivencia a nação. Quando os investidores desconfiam de uma economia e da capacidade de honrar o pagamento da dívida, essa economia pode sofrer um ataque especulativo. Se o governo for vulnerável, isto é, se ele não tiver reservas suficientes em moeda estrangeira (divisas) para impedir a desvalorização da moeda, terá que contrair empréstimos externos (Toni, 2008). Não é somente o montante da dívida que importa, mas de que modo ela é composta, ou seja, se é uma dívida com investidores nacionais ou internacionais, quais seus prazos de pagamento e seus juros. Uma dívida com prazos de pagamento curtos e juros altos compromete o crescimento econômico de um país, pois deixa o governo de mãos atadas e sem poder realizar gastos fundamentais à economia, em saúde, educação e infraestrutura. 9 TEMA 5 – EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA NO BRASIL E O PROBLEMA DAS CONTAS PÚBLICAS BRASILEIRAS (JUROS) Arespeito do avanço da dívida pública brasileira, entre os anos de 1981 e 1984, ocorreram déficits fiscais significativos, resultados do pagamento dos juros da dívida externa e da depreciação do real. A dívida saiu de 20% para 50% em relação ao PIB (Silva, 2007, p. 112). Já entre 1987 a 1989, a dívida pública diminuiu um pouco, porque houve uma recuperação da economia. A partir de 1990 o déficit público foi inexistente e havia um financiamento monetário mais alto, em função da hiperinflação, que gerou uma queda na proporção da dívida em relação ao PIB. Em 1995, por sua vez, houve uma expansão da proporção da dívida sobre o PIB. Entre 1990 a 1994 houve uma alteração na composição da dívida, reduzindo a parcela da dívida externa sobre a dívida total. A partir de 1994 observou-se um aumento da dívida como consequência do crescimento dos gastos públicos e da expansão da relevância da dívida dos estados e municípios, que passou de 17% do total da dívida em 1990 a 38% em 1994 e a 42% em 1997 (Silva, 2007). Em 2018, uma maior parcela da dívida, cerca de 90%, é de dívida nacional. Isso ocorreu devido a um processo de mudança da composição da dívida, sendo que o estoque da dívida interna se tornou maior. A questão da dívida do governo gera debates acalorados; porém, de acordo com Riani (2014), esse assunto tem sido mal interpretado. Entre as diversas razões da dívida alta e da baixa oferta de serviços públicos de qualidade, apontam-se os desvios, ou seja, a corrupção e a má gestão dos recursos públicos, como as mais graves. Porém, em muitos momentos, apontam-se causas inverídicas. Atribui-se à previdência o causador da dívida elevada no Brasil, porém isso não é comprovado pelos dados (Riani, 2014, p. 224). No que tange aos gastos públicos prioritários à população, existe uma insuficiência desses gastos por parte do governo brasileiro. Defendemos que a culpa do aumento do endividamento do governo não é da previdência ou dos elevados gastos governamentais, mas dos pesados encargos da dívida. Nesse sentido, entre 1995 e 2007, aproximadamente 1,2 trilhão de reais foram usados somente para pagar juros da dívida pública. Ou seja, apenas 10 com juros nós pagamos um valor semelhante à dívida que temos atualmente, o que é um dado bastante alarmante. Podemos argumentar que são os juros da dívida a principal causa da carga tributária elevada no Brasil e não a previdência ou os gastos do governo. A atual carga tributária é de 34% do PIB e 30% dessa carga é direcionada apenas para pagar os juros da dívida (Riani, 2014). NA PRÁTICA Leia o artigo indicado a seguir, sobre a necessidade de uma reforma tributária no Brasil. Você concorda com a reforma do sistema tributário brasileiro? Em quais aspectos julga que essa reforma seja necessária? MACHADO, C.; BALTHAZAR, U. Reforma tributária como instrumento de efetivação da justiça distributiva: uma abordagem histórica. Sequência, Florianópolis, n. 77, p. 221-252, nov. 2017. FINALIZANDO Nesta aula, você conheceu melhor como se deu a evolução do processo de participação do Estado na economia brasileira. Primeiramente, foi destacado como se comportou Portugal diante do Brasil durante o período colonial, demonstrando-se que, apesar da exploração econômica realizada, poucos foram os benefícios trazidos a nossa economia pela Coroa Portuguesa. Na segunda parte da aula, você conheceu a participação do Estado e os exemplos de planejamento estatal adotados a partir de 1930 até a década de 1980. Foi dada ênfase às gestões de Getúlio Vargas, que comprava café atuando como um consumidor para proteger o setor; de Juscelino Kubitschek, que realizou o Plano de Metas, com forte atuação do Estado; e ao período militar, no qual houve o milagre econômico, consequência das mudanças causadas pelo PAEG. No terceiro tema, você se familiarizou com a participação do Estado na década de 1990, quando houve um fortalecimento do neoliberalismo e a limitação do papel do Estado na economia. Nos anos 2000, por sua vez, houve forte atuação do Estado, com políticas sociais redistributivas, mas ainda com uma política econômica idêntica à dos governos anteriores e sem uma política de gastos públicos efetiva. 11 No quarto tema você conheceu os conceitos centrais de déficit e dívida e como se comporta a dívida de uma economia, verificando como o Estado pode financiar essa dívida e como a composição da dívida importa. Por fim, foi possível entender o avanço da dívida pública no Brasil, que vem crescendo desde os anos 1980. Ademais, você pôde entender que o real problema das finanças públicas no Brasil é os juros da dívida pública. 12 REFERÊNCIAS CURADO, M. Uma avaliação da economia brasileira no Governo Lula. Economia & Tecnologia, v. 1, n. 7, 2011. FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1991. GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S.; TONETO JR., R. Economia brasileira contemporânea. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004. LACERDA, A. C. et al. Economia brasileira. São Paulo: Saraiva, 2000. RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. Rio de Janeiro: LTC, 2014. SILVA, B. J. Economia do setor público. Palhoça: UnisulVirtual, 2007. TONI, J. de. Economia do setor público: texto de apoio. Maio 2009. Disponível em: <https://jacksondetoni.files.wordpress.com/2012/04/detoni- econ-set-publico-20083.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2018. ECONOMIA NO SETOR PÚBLICO AULA 6 Profª Pollyanna Gondin 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, você irá investigar como avançou o sistema tributário no Brasil ao longo dos anos. Depois da implementação do novo sistema tributário pela Constituição democrática de 1988, houve um aumento considerável nos tributos, no Brasil. Apesar do crescimento da carga tributária a partir dos anos 1990 no Brasil, não foram observados aumentos dos gastos públicos, mas sua redução. Podemos concluir que uma grande parte dos tributos não estão sendo destinados aos serviços que o governo presta, mas ao pagamento dos encargos financeiros da dívida pública, o que foi verificado na aula 5. Primeiramente, você irá conhecer os antecedentes da reforma tributária de 1966 e as consequências desse sistema tributário. Na sequência, irá verificar o sistema tributário atual, adotado em 1988 pela Constituição Federal (Brasil, 1988), bem como suas características. Depois, será avaliado o debate conhecido no Brasil a respeito da necessidade da realização de uma reforma tributária no país, com base nos ajustes realizados nos anos 2000, e identificados os principais temas incluídos na agenda da reforma tributária. No quarto tópico, será discutida a ideia de política de incentivos fiscais e seus impactos sobre a economia. Por fim, investigaremos os programas de incentivo fiscal cidadão, que buscam engajar os indivíduos na fiscalização do pagamento de impostos por parte de empresas e pessoas. TEMA 1 – O SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO DESDE O SÉCULO XIX ATÉ A REFORMA TRIBUTÁRIA DE 1966 O sistema tributário brasileiro inicialmente era centrado quase que exclusivamente sobre os tributos do comércio exterior. No período imperial, a principal fonte de arrecadação do governo eram os impostos sobre importação, que representavam 70% da fonte de renda pública (Toni, 2008). A Constituição brasileira de 1891 distribuiu os tributos entre as esferas de governo (União e estados federados). A União ficou encarregada dos tributos sobre importação, taxas de telégrafos e correios, saída e entrada de navios nos portos brasileiros. Já os estados eram encarregados de recolher os impostos sobre exportação, sobre imóveis urbanos e rurais, sobre transmissão de propriedade e sobre profissões e indústrias (Toni, 2008). 3 Nos anos 1930, os estados receberam autorização para elaborar tributos sobrevendas. Os estados perderam a atribuição de impostos interestaduais sobre exportações acima de 10%. Os municípios ganharam mais liberdade também para elaborar novos impostos (Toni, 2008). Uma alteração feita pela Constituição de 1937 no sistema tributário brasileiro foi a retirada da alçada dos estados do imposto sobre propriedades rurais. A Constituição de 1946 implementou mudanças substanciais sobre a carga tributária, com expansão do número de tributos a nível municipal, como o sobre profissões e indústria. Aumentou, também, a participação dos municípios sobre o imposto de renda (15%) e sobre o consumo (10%) (Toni, 2008). De acordo com Riani (2014), o sistema tributário orquestrado em 1966 buscava oferecer ao governo recursos suficientes para coordenar o processo de expansão do produto nacional bruto. Para tanto, esse sistema teve como características o aumento substancial da carga tributária e a priorização do capital, que seria a fonte de investimentos para o país, em contraposição ao interesse do trabalhador, que sofria com mais impostos. Segundo Machado e Balthazar (2017, p. 233), a reforma tributária de 1966 “é considerada por muitos juristas a mais ampla e profunda reforma tributária já realizada na história do constitucionalismo pátrio, descortinando um sistema tributário moderno, enxuto e eficiente”. Um dos aspectos mais notáveis do sistema tributário de 1966 foi a expansão substancial do número de contribuintes ao imposto de renda, que até então não assegurava uma arrecadação suficiente. Entre 1965 e 1969 o número de pessoas que contribuíam com o imposto de renda passou de 400 mil para 1,5 milhão. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM) foi alterado e passou a ser adotado sobre o valor adicionado na produção, sendo que todas as mercadorias pagariam a mesma taxa. Até 1966 cada estado cobrava taxas diferentes, que variavam de 1,25% a 10%, provocando diferenças regionais consideráveis. Um dos elementos mais criticados do sistema tributário de 1966 foi a mudança da distribuição dos tributos entre as esferas do governo. Ocorreu uma centralização dos recursos na esfera federal, o que expandiu a dependência de transferência do nível federal para os níveis estaduais e municipais, reduzindo a margem de atuação a nível regional e local (Riani, 2014). 4 A Constituição que entrou em vigor em 1967 (Brasil, 1967) definiu os tributos para cada nível governamental. Para o governo federal ficaram os tributos sobre: i) importação; ii) exportação; iiii) propriedade territorial urbana; iv) renda e proventos de naturezas variadas; v) produtos industrializados; vi) operações de crédito, seguros, câmbio, valores imobiliários e títulos; vii) serviços de comunicações e transportes; viii) lubrificantes e combustíveis; ix) energia elétrica e x) minerais. Aos estados foram destinados apenas os impostos sobre transmissão de bens imóveis e sobre operações relativas à circulação de mercadorias. Já para os municípios foram destinados somente os tributos sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) e os serviços variados (ISS). Esses dados evidenciam a centralização das fontes de receita na União (Riani, 2014, p. 191). Uma consequência central do sistema tributário de 1966 foi a diminuição da arrecadação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Esse fenômeno foi consequência das crises pelas quais o Brasil passou desde os anos 1980. Na década de 1980 o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) também teve sua participação reduzida no total de impostos, tendo representado 5% do total da carga tributária em 1989, sendo que, antes de 1966, era o terceiro principal imposto do governo (Riani, 2014). TEMA 2 – A CARGA TRIBUTÁRIA NO BRASIL A PARTIR DE 1988 E AS CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO O sistema tributário brasileiro foi reformulado em 1988, após a aprovação da nova Constituição. Buscou-se corrigir os problemas apontados no sistema anterior, porém isso foi feito de modo restrito. Uma das prioridades da reforma realizada em 1988 era buscar uma maior descentralização de impostos entre os três níveis de governo (Brasil, 1988). No contexto de mudança política, os estados e municípios se articularam para aumentar sua participação na distribuição de recursos. A mudança foi significativa, aumentando o número de tributos destinados a estados e municípios, que passaram a ser oito, enquanto a União ficou com sete impostos. Os tributos que ficaram a cargo da União foram: i) importação; ii) exportação; iii) propriedade territorial rural; iv) renda e proventos de naturezas variadas; v) produtos industrializados; vi) operações de crédito, seguros, 5 câmbio, valores imobiliários e títulos e vii) grandes fortunas. A União ficou encarregada também das seguintes contribuições sociais: i) contribuições para o financiamento da seguridade social; ii) contribuições para o Programa de Integração social e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público; iii) contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas e iv) contribuição sobre a folha de pagamento (empregado e empregador). (Riani, 2014, p. 202) Já os estados (incluindo o Distrito Federal) ficaram responsáveis por recolher os seguintes tributos: i) transmissão causa mortis e doação de bens ou direitos; ii) operação sobre circulação de mercadorias e serviços, transportes interestaduais e intermunicipais e de comunicação (ICMS); iii) propriedade de veículos automotores (IPVA); iv) adicional do pagamento à União sobre renda e outros proventos, incidindo sobre ganhos, rendimentos de capital e lucros. (Riani, 2014, p. 203) Os municípios recolheriam os seguintes impostos: i) propriedade territorial e urbana (IPTU); ii) transmissão inter vivos, por ato oneroso de bens imóveis e de direitos reais sobre imóveis; iii) vendas de combustíveis gasosos e líquidos; iv) serviços de todas as naturezas (Riani, 2014, p. 203). Os estados passaram a recolher o adicional do imposto de renda, além de receberem os tributos únicos dentro do ICMS (que é o antigo ICM). Porém, tiveram que conceder aos municípios os impostos sobre transmissão de bens intervivos, que fazia parte do tributo sobre transmissão de bens (Riani, 2014). O ICMS passou a ser variável, com alíquotas diferenciadas para algumas regiões, sendo menores para Norte e Nordeste, com o objetivo de reduzir as desigualdades regionais. Essa decisão aumentou a receita sobre o ICMS para os estados mais pobres, reduzindo a concentração das receitas. Após a mudança no sistema tributário em 1988, houve uma descentralização dos impostos, sendo que a União diminuiu sua participação na arrecadação total de 75% em 1988 para 67% em 1998. Todavia, a partir de 1996, houve novamente um processo de centralização de tributos a nível federal. Isso foi resultado de vários fenômenos, entre eles o aumento das contribuições sociais, que são recolhidas pela União. Outra causa foi a diminuição do recolhimento do ICMS pelos estados, devido à isenção sobre produtos primários exportados. Ademais, houve aumento de receitas federais que não são divididas com outros níveis de governo, como a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que foi criada 6 para financiar a saúde e extinta em 2007 e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) (Riani, 2014, p. 219). Concluímos que, embora tenha havido um aumento da carga tributária após 1988, este não foi consequência de mudanças nos tributos, sendo que houve alterações na distribuição desses impostos entre os níveis de governo. Ou seja, a reforma não alterou as características do sistema tributário e nem promoveu sua simplificação, que seria necessária. Surge um debate sobre a necessidade de uma nova reforma no sistema tributário vigente, que pudesse combater a alta regressividade do sistemade tributação brasileiro, isto é, a situação em que as pessoas de classes mais baixas pagam mais impostos em proporção a sua renda do que as de classes mais altas. TEMA 3 – O DEBATE SOBRE A REFORMA TRIBUTÁRIA NO BRASIL A partir dos anos 1990 surge um debate, marcado pelo neoliberalismo, sobre como deve ser um sistema tributário ideal. Nos países mais ricos, houve uma preferência por impostos diretos, que incidem sobre a renda e a riqueza dos indivíduos e rendas, que promovem menos distorções e uma equidade maior na economia. Os tributos indiretos tendem a sobrecarregar mais as classes mais baixas, pois não há distinção entre pessoas com mais ou menos renda: todos pagam a mesma alíquota (Brami-Celentano; Carvalho, 2007). Já para os países em desenvolvimento, o preceito neoliberal defendia um sistema tributário baseado na neutralidade, ou seja, na composição de um sistema não centrado em nenhum dos dois tipos de imposto, pois os indiretos promovem concentração de renda e desigualdade social e os diretos reduzem o incentivo à produção, por incidirem sobre o lucro (Brami-Celentano; Carvalho, 2007). A partir dos anos 2000 as propostas de uma reforma tributária foram baseadas na seguinte visão: focados em promover geração de tributos para garantir a estabilidade de preços na economia, solucionar as disputas entre os estados federados e reduzir a importância do imposto de renda (Brami- Celentano; Carvalho, 2007). O sistema tributário vigente no Brasil é regressivo, se concentrando sobretudo nos impostos indiretos. Nos anos 2000, não houve muitas mudanças em relação às propostas de reforma de governos de direita, mantendo a regressividade do sistema. Para assegurar a progressividade do sistema, foram 7 adotados “programas de transferência de renda, os quais são financiados basicamente pela tributação indireta que afeta os mais pobres” (Brami- Celentano; Carvalho, 2007, p. 47). A reforma tributária realizada em 2003 não expandiu a equidade e a justiça social do sistema e não tocou em dois pontos centrais, que são a reforma do ICMS e do federalismo fiscal. Não houve outro debate importante, que costuma emergir na agenda dos governos mais à esquerda, como a tributação sobre grandes fortunas (renda e patrimônio), a diminuição dos tributos sobre consumo de bens essenciais à população e a redução dos impostos sobre a folha de pagamento (salários). Desse modo, a reforma realizada por Lula reafirmou a ideia neoliberal de neutralidade e não combateu a lógica de onerar as classes mais baixas e as médias com tributação indireta e sobre salários (Brami-Celentano; Carvalho, 2007). Conforme indicam Machado e Balthazar (2017, p. 223), apesar da utilização da expressão reforma tributária não ser nova, “a reforma tributária tem sido frequentemente invocada e simbolizada como a solução de muitas das mazelas da sociedade brasileira na atualidade”. Conforme Carvalho (2010 citado por Machado; Balthazar, 2017), o sistema tributário brasileiro não é falho, pois o recolhimento de impostos ocorre corretamente e é eficiente, porém isso não significa que ele esteja baseado nos princípios adequados. Por outro lado, há analistas, como Bernard Appy, que defendem que o sistema tributário precisa ser reformado de forma urgente, pois o sistema atual impede o crescimento do produto interno bruto (PIB), por sua complexidade e carga tributária elevada. Rezende (2016, citado por Machado; Balthazar, 2017) também sustenta a necessidade de uma reforma no sistema tributário nacional, que deveria ser baseado nos seguintes princípios: a simplicidade, a flexibilidade e a eficiência. Para o autor, além da arrecadação exagerada no Brasil, existem outras fragilidades ainda mais graves no sistema, como o número excessivo de impostos, a falta de transparência, a insegurança jurídica e o não respeito aos direitos do contribuinte (Resende, 2016, citado por Machado; Balthazar, 2017). Embora não haja um consenso sobre a necessidade ou não de uma reforma ampla no sistema de tributação brasileiro, é unânime o pensamento de que é preciso adequar alguns elementos desse sistema, a fim de auxiliar no 8 processo de redução da desigualdade socioeconômica no Brasil (Machado; Balthazar, 2017). Machado e Balthazar (2017) pontuam que reformar representaria reestruturar, demandando uma emenda constitucional para promover as mudanças necessárias na tributação. Podemos destacar que “o problema mais alardeado quando se fala em reforma fiscal no Brasil é, sem sombra de dúvidas, o da tributação sobre os bens e serviços” (Machado; Balthazar, 2017, p. 241). De acordo com Machado e Balthazar (2017), há muitas alternativas para a reforma do sistema tributário brasileiro, mas com pouca vontade política para realizá-la. Uma das propostas mais discutidas na atualidade sobre a reforma tributária é a apresenta pelo deputado Luís Carlos Hauly, que se baseia em um parâmetro europeu, estabelecendo um tributo federal, outro sobre valor agregado e um tributo seletivo por estado e, por fim, impostos municipais sobre o patrimônio. Essa proposta afetaria os poderes do governo federal. Sempre haverá grupos que irão ser prejudicados com a reforma. É preciso pensar em um sistema tributário mais eficiente e igualitário, porém há muitos interesses em jogo e normalmente os dos mais poderosos predominam. Embora haja dificuldade em promover uma reforma profunda e ampla no sistema de tributação, conforme Machado e Balthazar (2017, p. 244), é imprescindível promover mudanças pontuais, como reduzir a regressividade do sistema. Temos um dos sistemas tributários que mais penaliza os mais pobres e privilegia os mais ricos. Esse é um ponto pouco tocado no debate, o do aumento da progressividade, pois se fala muito de “redução do tamanho da carga, e não da melhor distribuição entre as suas bases de incidência” (Machado; Balthazar, 2017, p. 245). De acordo com esses autores, o Brasil “é o paraíso fiscal dos super-ricos”, devido à “isenção de tributos sobre os lucros e dividendos, concedida no ano 1995, durante o Governo do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso” (Machado; Balthazar, 2017, p. 245). TEMA 4 – POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS ÀS EMPRESAS Uma das políticas mais adotadas como instrumento de estímulo à indústria na economia é a de concessão de incentivos fiscais. Por meio da isenção de impostos a empresas e indústrias o governo pode promover a geração de renda e também de emprego. Contudo, para poder garantir esses 9 incentivos, isto é, para que eles sejam autorizados, o Estado precisa provar que essas isenções não irão afetar os recursos disponíveis para fornecer os demais serviços à sociedade. As políticas de incentivos fiscais “praticadas pelos Estados são uma característica do sistema federativo, a qual tem como forma de organização territorial de poder a dupla soberania, em um único Estado. Os incentivos ocorrem independentemente da existência de mecanismos que presumem sua regulamentação” (Goularti, 2014, p. 12). Existe uma série de conceitos na lógica de incentivos fiscais, que são: “isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia” (Silva, 2007, p. 126). Segundo Silva (2007, p. 126), o primeiro deles e mais conhecido são as isenções, que são “estímulos concedidos pelo governo com intuito de assegurar regularidade na cobrança dos tributos e/ou viabilizar o desenvolvimento do setor econômico”. Na primeira reforma tributária brasileira, em 1966, foram desenvolvidos incentivos fiscais relacionados ao imposto de renda e ao imposto sobre produtos industrializados, que eram bastante abrangentes. Para compensar essa situação de excesso de incentivos fiscais, a partir da segunda reforma tributária, em 1988, foram criadas contribuições como o Programa de Integração Social (PIS), que é recolhidodas empresas. Em 1988, como visto nesta aula, o sistema tributário se tornou mais descentralizado, aumentando a autonomia dos municípios e estados em relação às políticas de incentivos fiscais. Isso gerou uma competição entre estados para atrair empresas, que é a denominada guerra fiscal (Goularti, 2014). Na década de 1990, com a política neoliberal e de abertura de mercado, houve uma expansão das competições entre os estados para atrair empresas, sobretudo multinacionais do mercado automobilístico, a exemplo de Peugeot, Renault, Volkswagen e BMW (Goularti, 2014). Em 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (Brasil, 2000) teve como um de seus objetivos evitar a guerra fiscal entre as unidades da federação, que só poderiam fazer incentivos, ou seja, abrir mão de parte da arrecadação, se criassem mecanismos para compensar a perda da receita com esses impostos isentos. Lembramos que uma política de incentivo fiscal é uma forma de transferir receita do setor público para o privado e, por isso, deve ser 10 compensada de alguma forma, para que o governo não se endivide para pagar o incentivo. Contudo, a maioria dos estados não deu importância a essa decisão, não estabelecendo compensação mediante aumento de alíquotas (Goularti, 2014). Assim, as políticas de incentivos fiscais, sobretudo as isenções, fazem parte de todo regime federativo, assim como as guerras fiscais entre estados federados, que servem, entre outros motivos, para aumentar a renda de certa região, mediante atração de empresas ao território do estado (Goularti, 2014). TEMA 5 – PROGRAMAS DE INCENTIVO À CIDADANIA FISCAL Além do incentivo fiscal, no sentido de concessão de isenções e abonos às empresas, existem programas que buscam engajar mais os contribuintes no trato com os impostos e no controle sobre o pagamento de impostos, os chamados programas de incentivo à cidadania fiscal. Esses programas de incentivo à fiscalização por parte da população sustentam-se na ideia de “uma resposta das autoridades fiscais a uma nova percepção dos contribuintes como clientes que precisavam de serviços” (Mattos; Rocha; Toporcov, 2013, p. 100). Dessa forma, o governo busca incorporar os contribuintes como parceiros no momento de fiscalizar o pagamento de impostos e para controlar a evasão fiscal, que é altíssima no Brasil. Para tanto, são fornecidos incentivos financeiros, prêmios, bem como a realização de campanhas, demonstrando as vantagens do pagamento dos impostos e evidenciando os malefícios do não pagamento de tributos (Mattos; Rocha; Toporcov, 2013). Para garantir mais transparência e menos evasão fiscal, em 2004 foi implementada a nota fiscal eletrônica, com o objetivo de substituir as notas em papel, que eram de difícil controle. A partir disso, o estado passou a controlar mais o pagamento do ICMS e do IPI e reduzir a sonegação de impostos por parte das empresas. O programa de incentivo à cidadania fiscal pioneiro na concessão de auxílios financeiros ao contribuinte, que passa a exigir a nota das empresas, foi o Nota Paulista, implementado em 2006, o qual devolve 30% do ICMS pago ao contribuinte que tiver identificado na nota seu CPF ou CNPJ. Esse programa foi copiado e transferido para outros estados, a exemplo do Paraná, onde se chama Nota Paraná e engaja o consumidor no controle sobre a emissão de notas fiscais. No Distrito Federal esse programa foi 11 adotado em 2008 e chama-se Nota Legal, enquanto no Tocantins chama-se Tô Legal e foi iniciado em 2017. Os programas implementados depois foram inspirados no primeiro, o Nota Paulista, com base em sua experiência bem- sucedida. O contribuinte concorre também a prêmios e sorteios em dinheiro, o que é mais um incentivo ao controle por parte do cidadão. Assim, esse tipo de programa “corresponde a um mecanismo de incentivo para que os consumidores peçam ao estabelecimento comercial o documento fiscal no momento em que realizam as compras” (Mattos; Rocha; Toporcov, 2013, p. 101). O que podemos verificar com os programas já implementados até o momento é que, à medida que o consumidor se sente beneficiado, ao receber um valor financeiro de retorno do imposto e até prêmios, ele se engaja mais na solicitação de notas, tornando o sistema tributário e de declaração de impostos mais transparente e coibindo a evasão fiscal. NA PRÁTICA Leia o artigo a seguir, sobre os programas de incentivo fiscal cidadão, que estuda de modo específico os efeitos do Nota Paulista. A partir da leitura, você considera que esses tipos de programas, como o Nota Paraná, promovem uma redução da sonegação fiscal? Você já participou de algum desses programas? MATTOS, E.; ROCHA, F.; TOPORCOV, P. Programas de incentivos fiscais são eficazes? Evidência a partir da avaliação do impacto do programa Nota Fiscal Paulista sobre a arrecadação de ICMS. RBE, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p. 97- 120, jan./mar. 2013. FINALIZANDO Nesta aula você pôde conhecer a evolução do sistema tributário brasileiro, desde as primeiras Constituições. Antes de 1966 não podemos dizer que existia um sistema tributário consolidado, porque a carga tributária era concentrada essencialmente nos impostos sobre o comércio exterior. Na primeira parte da aula, estudamos os aspectos relacionados ao sistema tributário antes de 1966 e após a reforma instituída pela Constituição 12 de 1967 (Brasil, 1967). Esse novo sistema tributário buscou suprir o Estado de mais recursos para o financiamento de suas atividades. Foi considerado exitoso nesse objetivo, ao expandir a arrecadação e formular um sistema tributário eficiente. Contudo, provocou a centralização da arrecadação a nível federal. Na segunda parte da aula analisamos as mudanças geradas pela reforma tributária de 1988, que se concentraram em combater os erros do sistema anterior. Foram reduzidos os impostos da União e distribuídos entre as outras esferas de governo, o que contribuiu para uma maior descentralização tributária. Verificou-se que a reforma de 1988 não expandiu o número de impostos, mas também não contribuiu para simplificar o sistema ou torná-lo menos regressivo. No Tema 3 da aula foi discutido o debate atual sobre a necessidade de uma nova reforma no sistema tributário. A reforma feita nos anos 2000 não combateu os erros da carga tributária, mantendo a regressividade e onerando os mais pobres. Os temas que continuam aparecendo de modo central no debate pela reforma do sistema tributário são: a busca por uma maior progressividade e a questão da tributação sobre bens e serviços. Verificamos que, embora haja alternativas para a reforma sendo discutidas no Legislativo, há baixa vontade política para realizá-la. Na quarta seção foi investigada a política de incentivos fiscais implementada pelos governos, especialmente a nível estadual, por meio da adoção de isenções fiscais e subsídios com vistas a atrair empresas para suas regiões. O principal impacto dessas iniciativas é a redução dos recursos do governo, que poderiam ser usados para oferecer melhores serviços públicos. Por fim, no Tema 5, apresentamos a discussão sobre os inovadores programas de incentivo à cidadania fiscal, que buscam engajar o cidadão na fiscalização do pagamento de impostos, com o objetivo de diminuir a evasão fiscal. Pudemos verificar que a iniciativa pioneira foi a Nota Paulista, que, aos poucos foi sendo copiada por outros estados e teve bons resultados, ao devolver uma parte do imposto ao cidadão, fazendo-o concorrer a prêmios quando inclui seu CPF nas notas fiscais. 13 REFERÊNCIAS BRAMI-CELENTANO, A.; CARVALHO, C. E. A reforma tributária do governo Lula: continuidade e injustiça fiscal. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 44-53, jan./jun. 2007. BRASIL. Constituição de 1967. Diário Oficial da União, Brasília, seção 1, p. 953, 24 jan. 1967. Disponível em:<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1960-1969/constituicao-1967-24- janeiro-1967-365194-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 25 jul. 2018. _____. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, seção 1, p. 1, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1988/constituicao-1988-5-outubro- 1988-322142-publicacaooriginal-1-pl.html>. 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