GELLI TUR
mês passado
Lélia Gonzalez, ao introduzir o conceito de amefricanidade, analisa como as interseções de raça, gênero e classe estruturam as desigualdades nas Américas, com especial foco na experiência das mulheres negras. Ela denuncia a falsa harmonia racial brasileira e destaca que a cultura nacional foi formada por apagamento e resistência. Um exemplo dessa dinâmica é o papel social da mulher negra no pós-abolição:
“No período que imediatamente se sucedeu à abolição, nos primeiros tempos de 'cidadãos iguais perante a lei', coube à mulher negra arcar com a posição de viga mestra de sua comunidade. Foi o sustento moral e a subsistência dos demais membros da família. Isso significou que seu trabalho físico foi decuplicado, uma vez que era obrigada a se dividir entre o trabalho duro na casa da patroa e as suas obrigações familiares. Antes de ir para o trabalho, havia que buscar água na bica comum da favela, preparar o mínimo de alimento para os familiares, lavar, passar e distribuir as tarefas das filhas mais velhas no cuidado dos mais novos. Acordar às três ou quatro horas da madrugada para ‘adiantar os serviços caseiros’ e estar às sete ou oito horas na casa da patroa até a noite, após ter servido o jantar e deixado tudo limpo. Nos dias atuais, a situação não é muito diferente” (Gonzalez, 2020, p. 33).
Com base na citação e no conceito de amefricanidade, como se expressa a interseção entre raça, gênero e classe na trajetória histórica das mulheres negras brasileiras?
A.
A superexploração da mulher negra se explica majoritariamente por sua condição de classe, sendo possível superá-la com acesso a emprego e renda, independentemente da raça ou do gênero.
B.
O papel da mulher negra no pós-abolição reflete a autonomia conquistada com a cidadania, já que o trabalho doméstico voluntário era uma forma de garantir a dignidade familiar.
C.
O texto mostra como a abolição permitiu novas oportunidades às mulheres negras, mas suas dificuldades atuais decorrem da ausência de políticas públicas contemporâneas, e não de heranças coloniais.
D.
Ao assumir funções maternas e laborais, a mulher negra rompe com o ciclo de exclusão, sendo reconhecida pela sociedade como figura de equilíbrio e justiça social.
E.
A mulher negra é central na manutenção das comunidades, mas seu trabalho é invisibilizado e desvalorizado, revelando como a desigualdade social é sustentada pela sobrecarga racializada e de gênero.
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