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Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 87
Tópico Especial
A Professor Assistente Doutor da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) e
Responsável pelo Setor de Ortodontia do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de
São Paulo (HRAC-USP), Bauru-SP.
B Ortodontistas do HRAC-USP, Bauru-SP.
Unitermos:
Straight-wire;
Individualização;
Prescrição de bra-
quetes.
te de um conceito para tratamento orto-
dôntico denominado Straight-Wire
10
, foi
rápida e incontestavelmente adotado pela
maioria dos ortodontistas americanos
21
.
Introduzido no Brasil no começo da dé-
cada de 80 principalmente pela ação de
TREVISI, foi progressivamente cativan-
do os profissionais da nossa ortodontia,
apesar das dificuldades que a época im-
punha para se trabalhar com material
importado. Esta inerência temporal, fez
imperioso adotar como opção apenas os
braquetes padrão dentre os do vasto le-
que introduzido originalmente por
ANDREWS
10
. O tempo, com sua ação ine-
xorável, introduziu mudanças positivas
e significativas nos conceitos de norma-
lidade em ortodontia e no comportamento
da economia brasileira, que exigem e per-
mitem uma revisão nesta posição adota-
da nos primórdios do Straight-Wire em
nosso meio. O escopo deste artigo é a
apresentação de um método para ado-
ção de um processo de individualização
dos braquetes programados, de acordo
com as características da má-oclusão, do
tratamento a ser adotado e do prognós-
tico para finalização.
Individualização de Braquetes na Técnica
de Straight-Wire: Revisão de Conceitos e
Sugestão de Indicações para Uso
Brackets Individualization in Straight-Wire Technique: Concepts
Review and Suggestions for Prescribed Use
Leopoldino Capelozza FilhoA
Omar Gabriel da Silva FilhoB
Terumi Okada OzawaB
Arlete de Oliveira CavassanB
Resumo
A técnica de Straight-wire faz uso de
braquetes programados, ou construídos
individualmente para cada dente, com o
objetivo de posicioná-los idealmente ao
final do tratamento. Desde a sua intro-
dução, a proposta original de ANDREWS
previa, além dos braquetes padrão que
se aplicam a um grande número de pa-
cientes, a necessidade do uso de diferen-
tes prescrições que considerassem o tipo
de má-oclusão, o tratamento a ser ado-
tado e o posicionamento desejado ou pos-
sível para os dentes ao final do tratamen-
to. Em outras palavras, a individualiza-
ção do aparelho. Os conceitos de nor-
malidade e as possibilidades da ortodontia
foram redefinidos desde a década de 70,
quando estes preceitos foram formulados
e merecem uma revisão, o que será obje-
tivo deste artigo.
Introdução
O advento dos braquetes programa-
dos foi sem dúvida uma das grandes evo-
luções da Ortodontia na segunda metade
deste século. Gerado pelo gênio brilhante
de LAWRENCE F. ANDREWS como par-
Leopoldino
Capelozza Filho
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 88
Considerações Gerais
O primeiro passo para o desenvol-
vimento do aparelho totalmente pro-
gramado foi a definição do que seria o
ideal. O artigo “As seis chaves da
oclusão normal” publicado por
ANDREWS em 1972
8
 e que se torna-
ria um clássico, definiu a partir do exa-
me da coroa clínica dos dentes de por-
tadores de oclusão normal, os objeti-
vos que deveriam ser buscados para
a obtenção de um oclusão ótima. A
partir daí, o aparelho foi pensado como
uma interface que permitiria aos den-
tes assumirem estas posições deseja-
das, através do uso de arcos contí-
nuos, sem dobras de nenhuma ordem.
Seria muito interessante que todos
aqueles que trabalham com este re-
curso definido como braquetes progra-
mados do Straight-wire, buscassem na
fonte original, o livro “Straight-Wire -
The Concept and Appliance”
10
 ou na
sua tradução
9
, entender este e outros
conceitos básicos através do qual o
aparelho foi desenvolvido. Sem des-
merecer todos os outros autores que
contribuíram com suas idéias e opi-
niões para a disseminação desta téc-
nica, ficaria muito claro que o inova-
dor, o conceito e a forma e inclusive
muitas das alterações que são conti-
nuamente introduzidas e descritas
como novas, estão em essência pre-
sentes na proposta original.
A partir da definição dos objetivos
a serem buscados e com o ideal de
permitir sua obtenção usando arcos
sem dobras de ordem nenhuma,
ANDREWS imaginou e projetou os bra-
quetes totalmente programados. É
fundamental atentar para os pontos
básicos utilizados na concepção dos
braquetes para fazer uso correto de-
les. Os comentários a seguir são fei-
tos com este objetivo. Os braquetes
foram concebidos e construídos de tal
modo que quando os dentes estives-
sem idealmente posicionados as
canaletas estariam coincidentes com
o plano de ANDREWS
3
 (superfície
com a qual o plano médio transverso
de cada coroa coincidirá, quando os
dentes estiverem idealmente posicio-
nados). Deste modo o ponto EV (eixo
vestibular), ponto médio do eixo ves-
tibular da coroa clínica, de cada dente
idealmente posicionado, coincidira com
o plano de ANDREWS
2
. Os braquetes
foram desenhados para cada dente,
tendo o ponto alvo da canaleta (pon-
to central da canaleta) coincidente com
o ponto EV, porque foi em relação a
este ponto que os valores considera-
dos como ideais a partir da amostra
utilizada no artigo “As seis chaves para
oclusão normal
8
, foram definidos. As
angulações foram tomadas a partir do
ângulo formado no sentido mésio
distal
2
 entre o eixo vestibular da coroa
clínica e uma linha perpendicular ao
plano de ANDREWS (ambos passan-
do pelo ponto EV). As inclinações ide-
ais foram, do mesmo modo, definidas
a partir de valores obtidos a partir do
ângulo formado no sentido vestíbulo
lingual entre o eixo vestibular da co-
roa clínica e uma linha perpendicular
ao plano de ANDREWS
2
 (ambos pas-
sando pelo ponto EV). As variações
para dentro e para fora no posiciona-
mento das coroas dentárias no senti-
do vestíbulo lingual, foram definidas
a partir da proeminência das coroas,
medidas a partir da linha da ameia
(linha imaginária ao nível do plano
médio transverso da coroa, que liga
as porções mais vestibulares das áre-
as de contato dos dentes posteriores e
caninos e o ângulo inciso lingual dos
dentes anteriores). A linha da ameia
projetada vestibularmente até
tangenciar as maiores proeminênci-
as, que são a dos molares, deveria co-
incidir com o ponto alvo da canaleta
dos braquetes, que como já vimos é
coincidente com o ponto EV. Os
braquetes tiveram na sua base dese-
nho adequado para permitir que a
canaleta, ao receber um fio sem do-
bra introduza em cada dente angula-
ção, inclinação e posicionamento para
dentro e para fora adequado, desde
que o ponto alvo da canaleta esteja
coincidente com o ponto EV.
Considerando estes preceitos, con-
seguirá se extrair dos braquetes pro-
gramados a sua expressão máxima,
sempre que em cada dente o braquete
for colocado com o ponto alvo da
canaleta coincidente com o ponto EV
(eixo vestibular ou ponto médio da co-
roa clínica) e a forma do arcos de ni-
velamento a serem utilizados no tra-
tamento, melhor representar a linha
da ameia, ampliada até tangenciar a
proeminência vestibular dos molares.
Posicionar os braquetes adequadamen-
te e definir a linha da ameia correta
ou desejável para um paciente com
má-oclusão pode não ser simples, mas
deve ser sempre o objetivo a ser bus-
cado. Em síntese: considerando o pre-
ceito do braquete totalmente progra-
mado ser a interface geralmente ade-
quada para posicionar o dente perfei-
tamente, arcos adequados em forma
e braquetes bem posicionados nos
dentes são a fórmula ideal.
1 - Individualização dos Braque-
tes Programados
A simplificação na abordagem do
conceito de uniformização determina-
do pela filosofia da técnica de Straight-
wire, tem provocado manifestações de
credo absoluto na possibilidade de tra-
tar todos os pacientes sem nunca co-
locar dobras para individualização e,
ao mesmo tempo, descrédito absoluto
por parte de outros profissionaisque
julgam, até mesmo em hipótese, des-
cabida esta intenção. Nem tanto ao
mar, nem tanto a terra. O equilíbrio e
a isenção que permite aos homens a
escolha de meios mais adequados aos
seus propósitos, nem sempre tem sido
fator primário na avaliação, indicação
e mesmo julgamento dos inúmeros
procedimentos técnicos que são
adotados para tratamento das más-
oclusões. Postura a ser estimulada,
difundida e imitada foi a postulada por
um dos ícones da mecânica ortodôn-
tica, Professor BURSTONE, ao respon-
der a uma pergunta em entrevista que
concedeu à revista Dental Press
13
. Per-
guntado sobre em que técnica a apli-
cação de força seria melhor controla-
da, respondeu: “Para se alcançar os
objetivos do tratamento, o fundamen-
tal é produzir o sistema de força pla-
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 89
nejado. Algumas vezes, isto pode ser
feito com um arco contínuo, outras
vezes com um arco segmentado. Não
é o arco, é o tipo de ativação coloca-
da no arco ou no fio. É verdade que
é difícil um arco contínuo produzir um
sistema de força correto e previsível,
uma vez que temos interfaces
braquete/fio produzindo um sistema
de força em cada braquete. Como afir-
mamos anteriormente, não devemos
pensar em técnicas. As técnicas se
referem ao passado da ortodontia
quando ela era puramente uma arte.
Hoje devemos imaginar onde quere-
mos que os dentes fiquem e planejar
o aparelho adequado para oferecer o
sistema de força correto para fazê-
lo. Colocar cegamente segmentos de
fios ou fios contínuos certamente não
é olhar para o futuro”.
Em outras palavras está dito que
o melhor tratamento a ser adotada
para a correção de uma má-oclusão,
incluindo aí a mecânica a ser desen-
volvida, dependeria: do tipo de má-
oclusão a ser tratada e dos objetivos
definidos pelo tratamento. Analisa-
da sob as perspectivas de localiza-
ção, gravidade e etiologia e das ca-
racterísticas individuais de seu por-
tador, com destaque a idade e queixa
ou aspiração do paciente com o tra-
tamento, plano e metas seriam defi-
nidas. Resumindo, plano de trata-
mento individualizado, aparelho e
mecânica individualizada. Isto certa-
mente é olhar para o futuro.
Os braquetes programados, con-
forme já citamos na introdução deste
artigo, provaram sua eficiência com a
chancela a eles fornecida por seu ex-
tenso uso na ortodontia mundial
21
.
Eles tem sido usados por ortodontis-
tas que utilizam diferentes recursos
mecânicos e não apenas o conceito
de trabalhar unicamente com fios sem
dobras. O que estamos discutindo nes-
te artigo é a individualização de bra-
quetes para posicionarmos os dentes
de nossos pacientes adequadamente
ao final do tratamento, independente
de outros recursos que precisem ser
utilizados durante o tratamento.
Um dos conceitos básicos dos bra-
quetes programados é que cada bra-
quete foi desenhado individualmente
para cada dente, considerando a po-
sição que eles deverão idealmente ocu-
par ao final do tratamento. Nesta pers-
pectiva, “imaginar usar braquetes pro-
gramados de prescrição única sem
aceitar a necessidade de individuali-
zar os arcos, implica em aceitar a pos-
sibilidade de terminar todos os casos
iguais, independente da má-oclusão
original, das características faciais de
seu portador e da mecânica exigida
para seu tratamento. Muito menos já
seria considerado mágica”
14
. O uso
apenas dos braquetes padrão para to-
dos os pacientes, prática largamente
utilizada em nosso meio, implica ne-
cessariamente estar aberto para ado-
ção de dobras de todas as ordens, sem-
pre que isto for necessário para dar à
oclusão características individuais que
permitam uma finalização adequada.
A proposta original do straight-wire
considerava esta limitação e, no in-
tuito de utilizar arcos sem dobras, con-
tinha, além dos braquetes padrão,
opções para individualizar consideran-
do a posição final dos dentes
4
 e a me-
cânica que sobre eles seria exercida
para tratamento da má-oclusão
5
. Esta
individualização proposta original-
mente para os braquetes foi aceita,
negada, discutida e ou modificada
através dos anos de uso dos braque-
tes programados e do acúmulo de ex-
periência de vários autores
7, 12, 27, 34
, mas
me parece lógica e tanto mais inevitá-
vel quanto maior for nossa aspiração
em tratar nossos pacientes sem intro-
duzir dobras nos arcos a serem utili-
zados. A individualização deveria ser
classificada, de acordo com sua inten-
ção, em individualização para movi-
mentação e em individualização para
finalização.
1.1. - Individualização para
Movimentação
Esta individualização pressupõe
colocar nos braquetes dos dentes en-
volvidos na movimentação, caracte-
rísticas capazes de responder às exi-
gências da mecânica a ser adotada,
preservando imediatamente ao final
do movimento as características de
posicionamento consideradas ideais.
A proposta original de Andrews
5
preconizava, por exemplo, braquetes
individualizados para dentes envolvi-
dos em movimento de translação
(TAB.1 e 2). Assim em casos de ex-
tração onde caninos, premolares e
molares estão envolvidos em movi-
mento de translação, os braquetes de-
veriam ser escolhidos de acordo com
este movimento, sua direção e mag-
nitude. Os caninos que seriam dista-
lados, tenderiam a perder angulação
distal e a sofrer rotação disto-lingual.
Para evitar isto, a angulação presente
no braquete do canino deveria ser
maior, com este aumento variando de
3º (11º + 3º = 14º) a 4º (11º + 4º = 15º)
dependendo da magnitude de movi-
mento planejada(média ou máxima).
Para evitar rotação disto-lingual, a mesial
TABELA 1
Prescrição de Andrews para braquetes de dentes superiores envolvidos em movimentos de translação.
ARCO SUPERIOR
Caninos 1º Pré-molar 2º Pré-molar 1º Molar 2º Molar
Translação
Angulação
Rotação
Inclinação
Média
14º
4º
-7º
Máxima
15º
6º
-7º
Média
5º
4º
-7º
Mínima
0º
2º
-7º
Média
-1º
4º
-7º
Máxima
-2º
6º
-7º
Mínima
3º
12º
-13º
Média
2º
14º
-14º
Máxima
1º
16º
-15º
Mínima
3º
12º
-13º
Média
2º
14º
-14º
Máxima
1º
16º
-15º
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 90
do braquete teria maior espessura, cri-
ando uma antirotação variando de 4º
a 6º, dependendo da magnitude de
movimento planejada. Os segundos
premolares, que seriam impelidos em
direção mesial, apresentariam tendên-
cia inversa aos caninos, ou seja, ten-
deriam a inclinar para mesial e a so-
frer rotação mésio-lingual. Para evi-
tar esta inclinação para mesial, a an-
gulação presente no braquete do
premolar seria menor (TAB.1), com
esta diminuição variando de –2º (2º -
2º = 0º) a –4º (2º - 4º = -2º) depen-
dendo da magnitude de movimento
planejado (mínima, média ou máxi-
ma).Para evitar a rotação mésio-lin-
gual, a distal do braquete teria maior
espessura, criando uma antirotação
variando de 2º a 6º, dependendo da
magnitude de movimento planejada.
Os molares teriam a mesma tendên-
cia dos segundos premolares e rece-
beriam ajustes de natureza similar, re-
cebendo acessório com menor angu-
lação e com espessura maior na distal
para maior rotação. Além disso, teria
maior torque lingual para impedir in-
clinação vestibular.
Mais recentemente, MCLAUGHLIN,
BENNETT E TREVISI, propuseram na
prescrição do MBT
12,27
,que estas alte-
rações nas características dos braque-
tes para movimentos de translação não
são necessárias. Justificam esta afirma-
ção baseados no fato de que, em suas
experiências, a extensa área de conta-
to gerada entre fio e braquete no senti-
do anteroposterior é suficiente para con-
trolar a angulação das coroas. Na mi-
nha opinião, embora durante a mecâ-
nica possa haver perda da angulação
do canino e aumento da angulação
mesial do premolar, o período obriga-
tório de presença do arco retangular
para liberação dos torques, reorgani-
zação do tecido na área da extração e
finalização do caso, vai acabar por
reintroduzir nos dentes diretamente
envolvidos no movimento de transla-
ção o posicionamento ideal perdido no
ato do movimento.Desta forma pare-
ce bastante razoável abdicar do uso de
individualização para movimentação de
translação.
Ainda na introdução do MBT
12,27
,
os autores alteram as prescrições dos
braquetes para incisivos superiores e
inferiores (TAB.3), numa flagrante in-
dividualização para movimentação.
Novamente a justificativa baseada na
vasta e reconhecida experiência dos
autores, parece acertada: o contato
entre a canaleta do braquete e o fio
retangular (.019” x.025”), responsá-
vel pela introdução no dente da incli-
nação prescrita no braquete, é muito
pequena e, conseqüentemente, gran-
de parte desta prescrição de inclina-
ção não é introduzida no dente. Nes-
ta perspectiva, eles recomendam como
padrão para os incisivos superiores o
uso de inclinações muito maiores que,
por exemplo, o padrão original do
Straight-wire de ANDREWS (TAB.3).
Desta forma, dentes anteriores supe-
riores submetidos a uma mecânica de
retração, apresentariam ao final do
movimento posição potencialmente
mais ideal, visto que a perda de torque
ocasionada pela pequena área de con-
tato entre fio retangular e braquetes,
estaria compensada pela maior incli-
nação contida nos braquetes. Funci-
onaria como um “torque vestibular re-
sistente”, que na mecânica de
edgewise é adicionado ao fio e aqui
seria introduzido no braquete. Ao
usar este recurso, um tipo de indivi-
dualização para movimentação, é
necessário estar atento à posição den-
tária no período que vier em seguida
ao final da retração. Se os dentes es-
tiverem idealmente posicionados ao
final da retração, é razoável admitir
que se o fio retangular continuar pre-
sente, parte do torque resistente pre-
sente no braquete, agora na ausên-
cia do movimento que justificava a
resistência, será progressivamente li-
berado em quantidade diretamente
proporcional ao tempo de permanên-
cia do fio retangular. Esta é a limita-
ção básica da individualização para
movimentação: pelo fato de os bra-
quetes estarem com prescrições dife-
rentes daquelas consideradas ideais
para os dentes ao final do tratamen-
to, após a fase ativa da mecânica que
justificou a adoção da individualiza-
ção é necessário a adoção de proce-
dimentos, nos arcos ou nos braque-
tes, para terminar otimamente, con-
siderando as particularidades de cada
caso. Na minha opinião, isto torna
este tipo de individualização para
movimentação conveniente apenas
para casos onde no planejamento,
seja previsível problemas significati-
vos para controle de torque. Uma
grande retração de incisivos superi-
ores, que apresentem pouca inclina-
ção vestibular na posição inicial, se-
ria provavelmente a situação clínica
mais comum para o uso deste tipo de
individualização. De qualquer modo,
mesmo nesta circunstancia, deve ser
sempre lembrado que há excessos
nos braquetes que deverão ser pon-
derados na fase final do tratamento.
Para os incisivos inferiores os au-
tores do MBT
12,27
 prescrevem como
TABELA 2
Prescrição para braquetes de dentes inferiores envolvidos em movimentos de translação
ARCO INFERIOR
Caninos 1º Pré-molar 2º Pré-molar 1º Molar 2º Molar
Translação
Angulação
Rotação
Inclinação
Média
8º
4º
-11º
Máxima
9º
6º
-11º
Média
5º
4º
-17º
Mínima
0º
2º
-22º
Média
-1º
4º
-22º
Mínima
-2º
6º
-22º
Mínima
0º
2º
-30º
Média
-1º
4º
-30º
Mínima
-2º
6º
-30º
Mínima
0º
2º
-35º
Média
-1º
4º
-35º
Máxima
-2º
6º
-35º
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 91
padrão, braquetes com inclinação ne-
gativa muito superior a original do
Straight-wire (TAB.3). A justificativa
está novamente relacionada à mecâ-
nica, com objetivo de minimizar o mo-
vimento de vestíbulo versão que os in-
cisivos inferiores tenderiam a apresen-
tar principalmente durante a fase de
nivelamento inicial. Este tipo de pres-
crição (inclinação –6º) tem com certe-
za indicação, mas é difícil admitir que
possa ser usada como padrão, ou em
outras palavras, ser usada na grande
maioria dos casos. Trata- se novamente
de uma individualização para movimen-
tação, e como já comentamos no pa-
rágrafo anterior, ao terminar a fase do
tratamento que justificou a individuali-
zação, é preciso que se analise se a di-
ferença determinada na prescrição é
desejável ou não nas próximas fases
do tratamento ou na posição final dos
dentes envolvidos. Esta inclinação ne-
gativa, conferida pelos braquetes aos
incisivos inferiores, poderia ser útil de
modo genérico, durante os movimen-
tos iniciais do nivelamento do arco in-
ferior, em casos onde estes dentes esti-
vessem apinhados, quase uma regra
para as más-oclusões. Mesmo admi-
tindo a alta freqüência desta ocorrên-
cia, ao terminar o nivelamento e intro-
duzir arcos retangulares, problemas
potenciais estariam presentes. O mais
flagrante é se uma retração anterior
estiver programada: os incisivos es-
tariam recebendo através da prescri-
ção recomendada (inclinação–6º)
torque lingual, que somado ao movi-
mento de retração introduzido em um
fio retangular (.019”x.025”) criaria
um torque lingual ativo, que geralmen-
te não é desejável em um movimento
de retração anterior inferior. Outra si-
tuação desconfortável à adoção desta
prescrição como padrão diz respeito a
posição mais frequente dos incisivos
inferiores na má-oclusão de Classe II,
div 1. Nesta má-oclusão, graças ao
seu componente mais frequente, a
deficiência mandibular
28,29
, temos
como regra incisivos inferiores incli-
nados e protruídos como resultado de
uma adaptação compensatória. Em-
bora possamos diagnosticar a defici-
ência mandibular e tentar tratá-la, sa-
bemos que a compensação dentária
mantida ou introduzida será, na mai-
oria dos casos, o grande fator de cor-
reção das relações oclusais
1
. Neste
contexto, parece contra-indicado o uso
de braquetes que confiram ao dente
tendência a inclinação lingual por dois
principais motivos: (1) um dente ori-
ginalmente inclinado para vestibular,
ao receber o arco retangular tenderia
a inclinar para lingual (torque lingual)
e, na impossibilidade deste movimen-
to ser liberado na coroa (por falta de
espaço) a tendência seria a raiz movi-
mentar para vestibular. Rememorando
a situação aqui discutida, Classe II
div1, com dentes originalmente já in-
clinados para lingual e em tratamen-
to compensatório, tentar movimentar
as raízes dos incisivos inferiores para
vestibular, significa jogá-las contra a
cortical óssea e correr os riscos deste
movimento fisiologicamente indesejá-
vel
22
. (2) Neste tipo de tratamento ge-
ralmente adota-se durante, ou pelo
menos na finalização, o uso de elásti-
cos de Classe II. O uso deste recurso
mecânico apoiado em arco retangu-
lar inferior, tenderia a provocar um
movimento impossível de ser obtido
e, ao mesmo tempo, uma acentuação
da tendência do movimento de “ba-
lanço” dos dentes anteriores. O mo-
vimento é impossível de ser obtido,
porque nas circunstâncias da situa-
ção clínica aqui descrita, o que se de-
seja criar ou manter é inclinação ves-
tibular dos incisivos inferiores, objeto
de desejo definido por limitações
anatômicas. Os elásticos de Classe ll
apoiados em fio retangular, com torque
lingual nos braquetes, tenderiam a li-
mitar a vestíbulo-versão da coroa di-
ficultando e alongando uma mecâni-
ca que como regra de segurança bio-
lógica deve ser breve
15
. A tendência
de “balanço” dos incisivos, movimen-
to altamente indesejável pelo seu po-
tencial iatrogênico em termos de
reabsorção radicular
15,26
, típico da
mecânica de elásticos intermaxilares
devido sua característica intermiten-
te, seria agravada quando executada
sobre arcos retangulares e braquetes
determinantes de significativa inclina-
ção lingual. Isto é facilmente entendi-
do se for considerado que durante o
uso dos elásticos a coroa dos incisi-
vos tenderá a ser inclinada para ves-
tibular e, assim que interrompido o uso
dos elásticos, a inclinar-se para lin-
gual, pela ação do torque ativo nesta
direção introduzido pelo braquete.
Obviamente todos estes movimen-
tos indesejáveis e suas conseqüências
podem ser controladas atravésda in-
dividualização da mecânica, colocan-
do-se torques compensatórios nos ar-
cos retangulares, ou mesmo adotando
seletivamente arcos redondos ao invés
dos retangulares. A pergunta é se não
é exatamente isto que está se queren-
do evitar. Como já foi comentado ante-
riormente, esta é a grande limitação das
individualizações para movimentação.
Sua adoção deveria exigir cuidadosa
ponderação prévia sobre a relação cus-
to/benefício a ser obtida.
1.2. - Individualização para
finalização
Este conceito, também atrelado
intrinsicamente à definição básica da
filosofia do Straight-wire, foi apresen-
tado na proposta original da técnica
4
.
A variação maior nas médias obtidas
TABELA 3
Prescrições MBT para inclinação nos braquetes dos dentes incisivos superiores
e inferiores em comparação com os dados obtidos no estudo de Andrews
e com a prescrição original do Straight Wire
INCLINAÇÃO PRESENTE NOS DENTES ANTERIORES
Normal de Andrews
MBTTM Versatile +
Arco reto original
Central
Superior
6.11º
17.0º
7.0º
Lateral
Superior
4.42º
10.0º
3.0º
Central
Inferior
-1.71º
-6.0º
-1.0º
Lateral
Inferior
-3.24º
-6.0º
-1.0º
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 92
para a inclinação dos incisivos du-
rante o estudo de modelos de oclusão
normal
8
, era evidência clara não de
maior variação anatômica na coroa
destes dentes, mas sim de variação
na posição deste dentes compensan-
do diferentes relações esqueletais,
com habilidade suficiente para criar
oclusões ótimas. Com base nesta ob-
servação, e com objetivo de evitar
dobras nos arcos (torques compen-
satórios), foram propostas três pres-
crições diferentes de inclinação para
os braquetes dos incisivos superiores
e inferiores, considerados original-
mente todos como braquetes padrão.
As particularidades que caracteriza-
ram a introdução do conceito e da téc-
nica do Straight-wire no Brasil, já apre-
sentadas na introdução deste artigo,
minimizaram a importância deste tópi-
co. Somadas à demora em fundamen-
tarmos e aceitarmos a limitação da
cefalometria como elemento de diag-
nóstico e a revogação de certos precei-
tos e metas oriundos dela, como ideais
na ortodontia, atrasamos nosso aceite
à este princípio de individualização.
O conceito de compensação ou
ajuste de posicionamento dos elemen-
tos dentários e de forma ou posição
de bases ósseas, maxila e mandíbu-
la, principalmente em regiões menos
condicionadas geneticamente frente
a desrmonias esqueléticas
11
 é fato in-
conteste. Os dentes tenderiam a apre-
sentar um movimento contrário e
compensatório, ao desajuste criado
por uma desarmonia esquelética
maxilo-mandibular. Muito bem acei-
to do ponto de vista sagital e em gran-
des desarmonias esqueléticas
11,17
, é
importante o reconhecimento de que
este fenômeno é tridimensional e afe-
ta um número maior de indivíduos
do que se possa imaginar.
Recentemente, durante entrevis-
ta concedida à revista Dental
Press
6
,em resposta a uma questão que
formulei sobre quantos pacientes pre-
cisariam de cirurgia ortognática para
atingir absoluta harmonia facial,
ANDREWS elaborou uma resposta
que passo a transcrever: “Setenta e
três dos meus últimos cem pacientes
apresentavam condições que neces-
sitavam de cirurgia ortognática para
alcançar os Seis Elementos da Har-
monia Orofacial. Vinte dos setenta e
três pacientes foram selecionados
para a cirurgia, e os outros cinquenta
e três foram tratados o mais próxi-
mo dos Seis Elementos à medida que
suas condições originais permitiam.
Os pacientes não são rejeitados para
tratamento se escolherem um trata-
mento opcional, desde que venham
a se sentir melhor com o resultado.”
Em outras palavras, isto significa que
cinquenta e três de cem pacientes,
portanto 53% dos pacientes do Dr.
ANDREWS foram tratados compen-
satoriamente. Isto permite concluir
que potencialmente, mais da metade
dos pacientes ortodônticos necessi-
tariam de braquetes com prescrição
diferenciada para permitir individua-
lização para finalização.
Para os críticos da qualidade que
casos compensados apresentam ao fi-
nal do tratamento, gostaria de poder
dizer que estão sendo mais realistas
que o rei. Gostaria de alicerçar este
parecer nos resultados de um traba-
lho de pesquisa realizado na região de
Bauru, que resultou em trabalho pu-
blicado por MARTINS
30
. Neste traba-
lho, entre outros desideratos, busca-
va se determinar o valor do IMPA (ân-
gulo do incisivo inferior com o plano
mandibular) para jovens leucodermas.
Para isto, um vasto grupo de crianças
foi examinado e escolhidas aquelas
portadoras de faces harmônicas e
oclusão normal. O IMPA médio obtido
foi 93.85º, e este foi resultado mais
valorizado e de maior impacto. Porém,
a análise da amostra estudada, mos-
trou para esta dimensão o valor míni-
mo de 84º e o valor máximo de
105.5º, o que significa que em uma
amostra de indivíduos selecionados
por ortodontistas, como portadores de
faces harmoniosas e oclusão normal,
é possível uma vsariação de 21,5º no
valor do IMPA, ou EM outras pala-
vras, no posicionamento do incisivo
central inferior em relação ao plano
mandibular. Isto é retrato de compen-
sação introduzida naturalmente, resul-
tado da interação entre padrão de cres-
cimento determinado geneticamente e
meio ambiente, com qualidade para im-
pressionar positivamente ortodontis-
tas e, muito importante, estável, já que
normal natural. Se esta evidência de
variação em torno do “normal” for in-
suficiente para o leitor, sugiro que ele
investigue na literatura todo e qual-
quer trabalho que tenha definido pa-
râmetros para posicionamento den-
tário através da cefalometria. A mé-
dia que é o valor difundido e utilizado,
estará sempre acompanhado por um
significativo desvio-padrão e grande
amplitude de variação entre o menor
e maior valor definido para a amostra
de indivíduos normais.
Parece razoável portanto, admi-
tirmos que se quisermos cumprir um
dos preceitos básicos do Straight-wire,
“cada braquete desenhado individu-
almente para cada dente, conside-
rando a posição que eles deverão
ocupar idealmente ao final do trata-
mento”, deveremos adotar a
individualização para finalização.
A adoção desta prática implica em
determinar aprioristicamente a posição
provável em que os dentes anteriores
deverão estar ao final do tratamento.
Isto é mais simples de ser determinado
em pacientes adultos, e mais complexo
em indivíduos em crescimento, mas os
ortodontistas são geralmente bem trei-
nados para este tipo de prognóstico.
De qualquer modo, interessa mais a de-
terminação da direção da compensa-
ção e sua magnitude aproximada, sem
a falsa pretensão da determinação exa-
ta da posição dos incisivos ao final do
tratamento.
Quais são os mecanismos de
compensação no sentido antero-
posterior natural e como os braque-
tes poderão preservá-los ou insti-
tuí-los? A observação dos casos de
má-oclusão com envolvimento es-
quelético mostra que naturalmen-
te há uma inclinaçãoinclinaçãoinclinaçãoinclinaçãoinclinação dos dentes
em direção contrária ao erro es-
quelético. A má-oclusão de Classe II
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 93
da FIG.1 mostra clinicamente inclina-
ção lingual dos incisivos superiores e
vestibular dos incisivos inferiores, o
que é confirmada através da imagem
radiográfica. Este movimento de in-
clinação reduz a discrepância criada
no sentido anteroposterior, ou a so-
bressaliência, e aumenta o perímetro
do arco inferior, gerando espaços que
minimizam o apinhamento ou que
permitem a migração mesial dos mo-
lares. Esta compensação é mais ou
menos hábil para acertar as relações
dentárias dentro das condições de dis-
crepância criada pelo erro esqueléti-
co. Algumas vezes, como na FIG.2,
temos um paciente padrão facial de
Classe II, deficiência mandibular, não
tratado ortodonticamente, mas tão efi-
cientemente compensado, que sua
oclusão é de Classe I. A forte inclina-
ção vestibular do incisivos inferiores
que pode ser checada na telerradio-
grafia, diminuiu o trespasseanterior,
criando perímetro inferior para aco-
modar todos os dentes sem apinha-
mento siginificativo e ainda, criou con-
dições para uma erupção mesial dos
molares que chegaram a estabelecer
uma relação de Classe I com os mola-
res superiores (FIG.2). Os dentes su-
periores também participaram desta
compensação, mas ela é mais signifi-
cativa no arco dentário inferior. A lo-
calização da compensação neste caso,
embora ela seja geralmente mais sig-
nificativa no dentes inferiores
11
, foi se-
letiva, ou seja, envolveu o componente
esquelético responsável maior pela
criação da má-oclusão, a mandíbula,
o que no meu entender é altamente
positivo por não macular de modo se-
vero o componente esquelético de
maior qualidade, no caso a maxila. A
competência do processo de compen-
sação está, no meu entender, ligado
às características da má-oclusão e
determinadas pelo padrão genético
do seu portador, mas também às
inerências ambientais. Provavelmen-
te, uma face padrão II que por deter-
minação genética permita uma fun-
ção adequada do seu portador, e esta
é exatamente a situação do paciente
da FIG.2, cria condições para uma
oclusão Classe I. Este é um ponto a
ser considerado para determinar es-
tabilidade potencial em casos onde o
tratamento compensatório esteja sen-
do considerado como hipótese.
As más-oclusões de Classe III, são
provavelmente aquelas onde os me-
canismos compensatórios, incluindo
os dentários, são mais eficientes 
11,17
.
Isto provavelmente deva-se ao fato
de que todo paciente portador de uma
má-oclusão de Classe III, um dia foi
normal. Definida como uma má-oclu-
são, que embora com padrão esta-
belecido precocemente
31,32,35
, só é ex-
pressa morfologicamente geralmen-
te a partir do início da dentadura mis-
ta, permite estabelecimento de rotina
fisiológica e tentativa de manutenção
de equivalência de crescimento
20
. Isto
tornaria mais eficiente os resultados
da compensação.
A FIG.3 mostra um paciente porta-
dor de má-oclusão Classe III, eficiente-
mente compensado na área dentária.
Apesar do padrão facial III, deficiência
relativa de maxila e prognatismo, a re-
lação dentária tem sua gravidade mi-
nimizada pela compensação. Este pro-
cesso, novamente mais expressivo no
arco inferior, seria caracterizado por
uma inclinação vestibular dos incisivos
superiores e lingual dos inferiores.
Após esta explanação conceitual
sobre a compensação por inclinação,
voltemos a proposta original de
ANDREWS
4
 para as inclinações nos
braquetes dos incisivos. Das três pres-
crições para incisivos, uma é para ser
usada para o tratamento de casos com
relação maxilo-mandibular normal,
padrão I, outra para ser usada em ca-
sos com relação maxilo-mandibular
padrão II e a última para casos com
relação maxilo-mandibular padrão III
(TAB.4 e 5). Como já discutimos, tra-
ta se de individualização para finaliza-
TABELA 5
Prescrição de Andrews para braquetes de incisivos inferiores para tratamento de más-oclusões com padrão I, II e III
INCISIVOS CENTRAIS E LATERAIS ARCO INFERIOR
Angulação
Inclinação
Proeminência
A (CL II)
2º
4º
2,3 mm
B (CL I)
 2º
-1º
2,3 mm
C (CL III)
2º
-6º
2,3 mm
TABELA 4
Prescrição de Andrews para braquetes de incisivos superiores, para tratamento de más-oclusões com padrão I, II e
IIIARCO SUPERIOR
CL II CL I CL III
Angulação
Inclinação
Proeminência
Incisivos
Centrais
5º
2º
1,8 mm
Incisivos
Laterais
9º
-2º
2,5 mm
Incisivos
Centrais
5º
7º
1,8 mm
Incisivos
Laterais
9º
3º
2,25 mm
Incisivos
Centrais
 5º
12º
1,8 mm
Incisivos
Laterais
9º
8º
2,25 mm
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 94
FIGURA 1 - Má-oclusão de Classe II, div 1, deficiência mandibular, parcialmente compensada nos incisivos superiores e
inferiores. As telerradiografias evidenciam a deficiência mandibular presente ao início do tratamento (D) e ainda presen-
te ao final (E). A compensação acontece nos incisivos superiores e inferiores por inclinação lingual e vestibular, respec-
tivamente (A, C) e ainda por angulação diminuida nos incisivos superiores (B). Ao final do tratamento é visivel a
participação significativa deste posicionamento dentário individualizado (F, G, H) e sua importância como agente que
possibilita a criação de uma boa oclusão, apesar do erro esquelético. A oclusão conseguida é estável 2 anos depois,
provavelmente contando com um progressivo e natural ajuste compensatório dos elementos dentários (I, J, K).
A B C
D E
F G H
I J K
ção e, portanto, para escolha do bra-
quete importa a relação maxilo-man-
dibular prevista para o final do trata-
mento. Embora o próprio ANDREWS
4
tenha proposto um método para de-
terminar correlação entre a posição do
longo eixo do incisivo na cefalometria
e o eixo vestibular da coroa do incisi-
vo, e assim determinar qual o braque-
te a ser escolhido, no meu entender
isto é pouco relevante, porque interes-
sa mais a determinação da direção da
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 95
FIGURA 2 - Paciente naturalmente compensado, com grande eficiência, provavelmente obedecendo determinante ge-
nética e favorecido pelo padrão funcional. A deficiência mandibular expressa morfologicamente no perfil (B), poderia
sugerir que a má-oclusão a ser encontrada na dentadura seria Classe II. Não é. Incisivos inferiores inclinados e protruídos,
permitiram uma relação molar de Classe I (C, E). O paciente foi tratado com expansão rápida da maxila (G, H) (conti-
nuação próxima página).
C D E
B
F G H
A
compensação e sua magnitude, sem
a falsa pretensão de uma determina-
ção exata da posição final dos incisi-
vos. Embora não seja razoável admi-
tir que os ortodontistas sejam capa-
zes de predizer exatamente onde os
dentes estarão posicionados ao final
do tratamento, a direção em que eles
serão movimentados é altamente pre-
visível. Em adultos é geralmente sim-
ples definir esta meta, porque se o caso
não for cirúrgico, a relação de bases
do início será a mesma do final do tra-
tamento. Em indivíduos em cresci-
mento, portadores de má-oclusão nor-
mal com relação de bases ótimas é per-
feitamente razoável prescrever os bra-
quetes com inclinação padrão. Afinal,
já que normalidade só existe em cará-
ter absoluto, eles são os candidatos a
terem dentes perfeitamente posiciona-
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 96
dos, uma vez que suas bases ósseas
guardam relação normal.
Para o tratamento da má-oclusão
Classe II, onde seja previsível resquí-
cios deste padrão II de relação maxilo-
mandibular ao final do tratamento, es-
taria indicado por ANDREWS
4
 a re-
ceita de inclinação diminuída para in-
cisivos centrais (2º) e laterais (-2º) su-
periores (TAB.4) e a receita de incli-
nação aumentada para todos os inci-
sivos inferiores (4º, TAB.5). O objeti-
vo, conforme já foi apresentado, seria
permitir inclinação compensatória aos
dentes, diminuindo o comprimento do
arco superior e aumentando o do arco
inferior, permitindo uma oclusão óti-
ma apesar do erro na relação esque-
lética maxilo-mandibular.
Ainda segundo ANDREWS
4
, para
o tratamento da má-oclusão Classe III,
onde seja previsível a presença da
morfologia impressa por este padrão
na relação maxilo-mandibular, ao fi-
nal do tratamento estaria indicada a
receita de inclinação aumentada para in-
cisivos centrais (12º) e laterais (8º) su-
I J K
FIGURA 2 - (continuação página anterior) aceitando-se as suas características
compensatórias naturais (I-O).L
M N O
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 97
FIGURA 3 - Paciente padrão Classe III, deficiência maxilar relativa e progna-
tismo mandibular (A, B), mostrando compensação natural expressa pela incli-
nação lingual dos inferiores (F), e ainda, verticalização dos caninos inferiores
(C, D, E). A discrepância transversal e a mordida de topo foram corrigidas com
expansão rápida e tração maxilar (G, H, I). (continua na próximapágina).
A B
C D E
F
G H I
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 98
periores (TAB.4) e diminuída para to-
dos os incisivos inferiores (-6º, TAB.5).
O objetivo seria introduzir inclinação
compensatória aos dentes anteriores,
aumentando o comprimento do arco
superior e diminuindo o comprimento
do arco inferior, permitindo uma
oclusão ótima, apesar do erro na re-
lação esquelética maxilo-mandibular.
Além das inclinacões compensa-
tórias, que acabamos de descrever, ou-
tro mecanismo de adaptação adotado
naturalmente é a angulaçãoangulaçãoangulaçãoangulaçãoangulação seletiva
dos dentes anteriores. Parece óbvio
admitir que coroas dentárias mais
anguladas ocupam mais espaço e vice-
versa. Com a diminuição da angula-
ção criamos espaços que podem sig-
nificar perda de perímetro, e quando
a angulação é aumentada, aumenta-
se o perímetro, mas parte do espaço é
ocupado, havendo portanto apenas a
possibilidade parcial de inclinação
mesial dos dentes posteriores. Este tipo
de procedimento tem seus limites para
aplicação nos incisivos superiores for-
temente estabelecidos por razões es-
téticas, principalmente para aumento
de angulação. A diminuição de angu-
lação, ou seja, limitar a angulação na-
tural, gerando espaço, parece ser mais
aceitável, embora limitada obviamen-
te pelo caráter funcional implícito na
guia anterior. Caninos superiores e
inferiores poderiam ser manipulados
com angulações aumentadas ou di-
minuídas, dentro de limites que dis-
cutiremos a seguir e incisivos inferio-
res por terem uma pequena angula-
ção padrão (2º), deixariam uma mar-
gem de manobra bastante pequena,
considerando as limitações funcio-
FIGURA 3 - (continuação da página anterior) A inclinação dos incisivos superiores criou espaços (J, K, L) que foram
ocupados pelos dentes posteriores, corrigindo a relação molar (M, O). Ao final, as compensações dentárias são eviden-
tes (M, N, O, P), mas aceitáveis funcional e esteticamente. A paciente fez mentoplastia (P) e está satisfeita com o
resultado (Q, R).
J K L
M N O
P Q R
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 99
nais implícitas na guia anterior.
Em casos de má-oclusão Classe II,
a compensação no arco superior se-
ria por diminuição de angulação dos
dentes anteriores, incluindo caninos
(FIG. 1A, 1C), eficiente para diminuir
perímetro do arco e permitir menor
protrusão destes dentes, minimizando
a sobressaliência. No arco inferior a
compensação por angulação seria
menos eficiente porque embora au-
mentando a massa dentária e contri-
buindo para aumentar o comprimen-
to do arco e diminuir a sobressaliên-
cia, criaria mínimo espaço que pode-
ria ser ocupado apenas com movi-
mento de inclinação da coroa dos den-
tes posteriores, e não com verdadeira
migração mesial dos dentes e melho-
ra substancial da relação dos mola-
res. Ao escolher os braquetes a serem
utilizados em áreas a serem compen-
sadas por angulação, no tratamento
da Classe II, div 1, é preciso que se
pondere sobre onde se deseja intro-
duzir alterações e em que magnitude,
para então definir os braquetes com
prescrição para posicionar os dentes
de modo individualmente ideal (com-
pensados) ao final do tratamento.
Tratamentos que planejem termi-
nar com os molares em relação de
Classe II caracterizam condição onde
será necessário individualizar angu-
lação para finalização dos primeiros e
segundos molares superiores (TAB.6).
Para os primeiros molares será neces-
sário utilizar um acessório desprovido
da angulação mesial de 5º e da rota-
ção mésio vestibular de 10º, úteis para
posicionar perfeitamente o molar em
relação convencional, mas inadequa-
das para finalização em relação mo-
lar de Classe II. Nesta posição o molar
superior deverá estar verticalizado e
sem rotação, com a cúspide mesioves-
tibular ocluindo onde deveria ocluir a
cúspide mesiovestibular do segundo
premolar (FIG. 4D, 4F). Para o segun-
do molar a mesma prescrição seria re-
comendada.
Na Classe III a compensação por
angulação é naturalmente mais ex-
pressiva no arco inferior. Angulação
distal do caninos (FIG. 5A, 5C), con-
trariando frontalmente o padrão, é
muito frequente e parece ser direta-
mente proporcional a gravidade da dis-
crepância esquelética e a efetividade
da compensação. Isto permite que os
incisivos inferiores possam assumir
uma posição mais verticalizada (incli-
nação compensatória lingual) melho-
rando o trespasse anterior, mas quan-
do passa do ponto, ou seja, a
angulação do canino passa do verti-
cal (angulação zero), começa a con-
sumir espaço, que não disponível, pro-
voca apinhamento. Portanto o limite
para compensação por diminuição de
angulação, em uma individualização
planejada em um tratamento ortodôn-
tico, é para os caninos inferiores an-
gulação zero. Este limite poderá ser
ou não atingido dependendo da ne-
cessidade do caso a ser tratado, con-
siderando inclusive o aspecto funcio-
nal relacionado a guia canino. Pelo
mesmo motivo, ou seja, gerar espaço
e não ocupá-lo e ainda pelo aspecto
funcional relacionado a guia anterior,
o limite para compensação por dimi-
nuição de angulação dos incisivos in-
feriores também é angulação zero. Isto
é desejável, embora o ganho seja dis-
creto, porque cria espaço que pode ser
ocupado com inclinação lingual dos
incisivos, contribuindo para melhora
do trespasse anterior. A compensação
por aumento de angulação no arco su-
perior nos casos de má-oclusão Clas-
se III é limitada para os incisivos su-
periores por motivos já comentados,
e para os caninos deverá considerar
a relação funcional a ser estabelecida
com o canino inferior e não deveria
ultrapassar, como regra, angulação já
consagrada pelo uso (11º)
9,10
.
Na FIG.5 temos um exemplo claro
de compensação na má-oclusão Clas-
se III. Angulação distal dos caninos
inferiores, eficiente para permitir que
incisivos também compensem com in-
clinação lingual, melhora o trespasse
anterior, mas cria apinhamento. Isto
poderia ser considerado uma compen-
sação natural excessiva? Para esta
resposta é necessário considerar que
quanto mais esgotados estiverem os
recursos compensatórios ao início de
um tratamento ortodôntico de uma
má-oclusão esquelética, pior será o
prognóstico para este tratamento
11
.
Devolver os caninos a uma posição
mínima de normalidade (angulação
zero) no caso apresentado, significa
introduzir angulação para mesial, mo-
vimento que nesta circunstância será
complicado pela componente mesial de
coroa deste movimento, com efeito
protrusivo sobre os dentes anteriores,
absolutamente indesejável. Talvez haja
outra opção para este movimento de
caninos não ter esta componente an-
terior negativa, como obter espaço pos-
terior, mas de qualquer modo o prog-
nóstico começa a ficar ruim, e a res-
posta à pergunta que gerou este comen-
tário parece ser positiva, ou seja, pro-
vavelmente a compensação é excessi-
va. Isto deveria abrir a possibilidade de
considerar a hipótese de cirurgia.
A má-oclusão de Classe III tem um
diferencial significativo dentre as más-
oclusões de caráter sagital que mere-
ce destaque quando o assunto é tra-
tamento compensatório. Embora pou-
co frequente na população
33,36
 ela é a
que mais leva seus portadores a pro-
curarem recursos cirúrgicos para sua
correção
33
. Isto sugere que o potenci-
al da má-oclusão Classe III para criar
deformidade facial reconhecida pelo
seu portador é relevante, principal-
mente no sexo feminino. Novamente
recorrendo a estatísticas
33
, embora a
Classe III tenha distribuição
populacional não relacionada ao
sexo
18
, muito mais mulheres recorrem
ao tratamento cirúrgico. Isto confir-
ma que a má-oclusão de Classe III,
ressaltando de modo real ou relativo
a mandíbula de seus portadores,
afasta mais as mulheres do que os
homens daquilo que é reconhecido
como equilibrado ou harmônico. Com
estes pensamentos em mente, antes
de considerar escolher braquetes
para tratamentos compensatórios,
deveríamos dar grande atenção à
face de nossos pacientes e a suas
queixas, muitofreqüentemente não
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 100
explícitas, mas facilmente perscrutá-
veis por um profissional atento e bem
treinado.
2. - Indicações para uso da
Individualização dos Braquetes
Programados
Previamente ao desenvolvimento
deste tema, gostaria de elucidar que
a adoção do que introduziremos aqui
como sugestão para individualização
do uso dos braquetes programados
está longe de atender totalmente às
necessidades de individualização que
o tratamento e a finalização da oclu-
são dos nossos paciente pode exigir.
Entendo que este processo, apesar
desta limitação, é valido porque per-
mitirá que um número maior de pa-
cientes sejam tratados com arcos
sem ou com menos dobras, atenden-
do melhor os preceitos da técnica do
Straight-wire, com as vantagens ine-
rentes a isto para o profissional que
a adota e para o paciente que a ela é
submetido. Além disto, considero que
as individualizações adicionais mais
freqüentemente exigidas quando a
individualização de braquetes é ado-
tada, são: (1) uso de recursos mecâ-
nicos adotados para executar deter-
minados movimentos dentários cor-
retivos de modo mais eficiente; (2)
uso de dobras para individualizar mo-
vimentação; (3) uso de dobras para
individualizar finalização. Exemplifi-
cando: (1) se temos uma altura faci-
al anterior adequada e sobremordida
profunda, criada por insicivos supe-
riores extruídos e guardando uma re-
lação ruim com o lábio superior, con-
sidero necessário planejar mecânica
de intrusão, com um sistema de ala-
vancas
25
. Isto poderia ser rotulado
como uma individualização para mo-
vimentação, a ser adotada porque a
mecânica de straight-wire não tem
recursos para executar esta correção
de modo eficiente, ou seja, localizan-
do a ação corretiva e controlando os
efeitos colaterais; (2) introdução de
curva reversa no arco retangular in-
ferior quando ao final do nivelamen-
to resquício da curva de Spee é um
empecilho à sequência do tratamen-
to. Esta curva seria removida assim
que o arco estivesse absolutamente
nivelado; e (3) introdução de um
torque posterior vestibular para me-
lhorar a inclinação de dentes poste-
riores inferiores em um paciente com
atresia dentária original, onde ação
do torque gerado pela inclinação con-
tida nos braquetes e tubos da área
não é suficiente para expressar nor-
malidade morfológica.
Este reconhecimento das limita-
ções da técnica está implícito na sua
proposta original
3
: “Se braquetes in-
FIGURA 4 - Paciente com agenesia de incisivos laterais superiores (A, B, C)
tratado com mesialisação dos dentes posteriores, terminando em relação mo-
lar de Classe II, primeiros premolares na posição de caninos e caninos na
posição de incisivos laterais (D, E, F). Os molares devem ter angulação zero e
não podem apresentar rotação mesio vestibular. Os premolares precisam ser
angulados como caninos e menos inclinados para lingual, devendo receber
braquetes de caninos. Os caninos necessitam de torque vestibular, e podem
receber braquete de canino de ponta cabeça, além da plastia nas superfícies
mesial, distal e incisal. O resultado é bom funcional e esteticamente (G).
A B C
D E F
G
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 101
casos tratados pelas técnicas de
edgewise e Straight-wire e considera-
dos bem finalizados
16
. Uma das con-
clusões deste trabalho foi a de que os
caninos nos casos tratados pela téc-
nica de Straight-wire tenderam a exi-
bir uma angulação excessiva, que era
corrrigida por dobras na fase de fina-
lização. Baseado nisto adotamos uma
angulação de 8º. A inclinação dos ca-
ninos superiores também nos parecia
freqüentemente exagerada, impedin-
do uma relação vertical e transversa
mais adequada, estática e funcional-
mente com os caninos inferiores. Por
isto adotamos uma inclinação dimi-
nuída para 5º.
Para os premolares superiores, a
alteração foi a supressão da angula-
ção mesial, com os braquetes para to-
dos os premolares superiores passan-
do a apresentar angulação 0º. O uso
clínico de braquetes com angulação 0º,
uma tendência das maiorias das pres-
crições atuais, tem mostrado eficiên-
cia com um bom posicionamento das
coroas e, conseqüentemente, das raí-
zes destes dentes. Sugerimos ainda,
que estes braquetes, assim como o dos
caninos, tenham sempre ganchos, re-
curso muitas vezes útil durante a me-
cânica.
Para os primeiros molares supe-
riores não há alteração significativa.
A ausência de angulação distal na
prescrição do tubo molar deve se ao
fato de que o posicionamento ade-
quado da banda dara ao tubo e con-
sequentemente ao molar, a angulação
distal de 5º preconizada por
ANDREWS
9,10
. Mudança significativa
ração. Incluiremos também as vari-
ações sugeridas para os braquetes e
tubos no que chamamos de conjun-
to de braquetes padrão.
2.1. - Prescrição de Braquetes
Padrão
Os braquetes que recomendamos
como padrão são apresentados na
TAB.7. Basicamente são as prescri-
ções dos braquetes padrão de
ANDREWS
9,10
, para tratamento de
má-oclusão Classe I, padrão I, mas
apresentam diferenças que serão des-
critas e justificadas a seguir.
Os caninos superiores tem diferen-
ças para angulação e inclinação. A
angulação de 11º original sempre nos
pareceu excessiva. Na prática clínica
inúmeras vezes tivemos que adotar
dobras ou colagem compensada do
braquete para aliviar a angulação
mesial da coroa dos caninos superi-
ores e permitir uma relação mais ade-
quada das raízes destes dentes com a
dos primeiros premolares. Esta obser-
vação clínica foi fundamentada em um
estudo comparativo entre posiciona-
mento radicular final, avaliado atra-
vés de radiografia panorâmica, em
dividuais pudessem produzir resultados
satisfatórios sem qualquer dobra nos
fios numa alta percentagem de pacien-
tes, então os braquetes feitos sob me-
dida não teriam de ser construídos para
cada pessoa. Esta provou ser a situa-
ção”. A hipótese, como o próprio
ANDREWS admite e diz ter provado é
tratar, com braquetes programados e
adoção de aparelhos individualizados,
a maioria dos pacientes sem qualquer
dobra nos fios. Afirmar ser possível tra-
tar todos os pacientes sem qualquer
dobra nos fios e sem o uso de recursos
mecânicos adicionais é menosprezar a
inteligência dos ortodontistas e negli-
genciar a experiência acumulada com
anos de uso da técnica de Straight-wire.
Voltando ao assunto específico
deste tópico, o que se pretende aqui é
resumir os comentários já desfilados
neste artigo, compondo um conjun-
to de indicações para o uso de
braquetes programados escolhidos de
modo individualizado. Além das pres-
crições originais introduzidas por
Andrews
9,10
 e por outros autores
12,27,34
 também já apresentadas neste
texto, faremos a sugestão de outras,
tentando justificar o porque da alte-
TABELA 6
Prescrição de Andrews para acessórios, braquetes ou tubos de molares que
serão finalizados em relação de Classe II (veja comparação com a
prescrição para finalização em Classe I).
1º MOLAR 2º MOLAR
Angulação
Inclinação
Proeminência
Rotação
CL I
5º
-9º
1 mm
10º
CL II
0º
-9º
1 mm
0º
CL I
5º
-9º
1 mm
10º
CL II
0º
-9º
1 mm
0º
FIGURA 5 - Paciente Classe III, compensada com angulação negativa de caninos inferiores (A, C), além da usual
inclinação lingual dos incisivos inferiores e vestibular dos incisivos superiores. Os incisivos inferiores também apresen-
tam compensação por angulação, estando verticalizados (B). Esta angulação negativa de caninos inferiores é considera-
da excessiva.
A B C
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 102
diz respeito ao acessório do segundo
molar superior. Contraindicamos ab-
solutamente, o uso de tubo molar que
determine a este dente angulação
mesial de coroa. Esta não é com cer-
teza, a angulação padrão ou mais fre-
quente deste dente. Talvez possa ser
desejável esta angulação em casos de
adultos onde a situação dos terceiros
molares esteja resolvida e a oclusão
realmente madura. Em pacientesem
crescimento me parece óbvio que este
dente, o segundo molar superior apre-
senta angulação distal de coroa, em
obediência ao seu eixo de erupção que
é flagrantemente distal. A preconiza-
ção de tubos para colagem como pa-
drão, ou uso rotineiro em segundos
molares superiores, está ligado ao fato
de considerar essencial que a coloca-
ção do acessório neste dente seja feita
de modo absolutamente individualiza-
do, ponderando sobre os reflexos que
sua movimentação poderia provocar
na oclusão do indivíduo em questão.
Muitos problemas verticais que apa-
recem durante a fase do nivelamento
poderiam ser explicados pela aborda-
gem equivocada do segundo molar,
baseada em premissa padrão.
No arco inferior, as alterações em
relação à prescrição original do
Straight-wire, estão restritas a dimi-
nuição na inclinação prescrita para
os primeiros e segundos molares in-
feriores. Isto é sugerido apenas com
base em observações clínicas que
sugerem ser freqüentemente exage-
radas as prescrições originais, mas
parece ganhar corpo com a opção em
mesma direção adotada pelo MBT
12,27
.
2.2. - Prescrição de Braquetes
Programados para Trabalhar
com Individualização para
Finalização
As prescrições recomendadas
para individualização para finalização
são apresentadas na TAB.8, separa-
dos por arco e por má-oclusão.
Para melhor entendimento do que
vai ser proposto, seria importante
considerar que no meu entender, se
um único fator tivesse que ser for-
mulado para indicar compensação,
ele seria a opção primária por con-
centrar a compensação no compo-
nente esquelético comprometido e
executá-la sempre de modo conser-
vador. O tratamento compensatório
é um tratamento opcional e deveria
quando executado, permitir que o
paciente a ele submetido pudesse, em
caso de mudança de opinião, rece-
ber o tratamento corretivo absoluto
sem perda de qualidade.
2.2.1. - Braquetes para
Classe II
A individualização para finaliza-
ção está indicada na má-oclusão
Classe II, essencialmente para os por-
tadores de Classe II, com erro esque-
lético, ou seja discrepância na rela-
ção maxilo mandibular, provocada
por deficiência mandibular. Os conhe-
cimentos hoje acumulados, permitem
aceitar que a maxila na Classe II seja
mais receptiva ao manejo ortopédi-
co
19,37
, enquanto a mandíbula, embo-
ra com grande variação, apresente
resposta menos efetiva quando esti-
mulada a crescer durante o tratamen-
to da má-oclusão Classe II
1
. Mesmo
quando responde bem a estimulação
ortopédica, a mandíbula restringe esta
resposta positiva ao período ativo do
tratamento, tendendo a crescer de
modo deficiente no pós tratamento
1,37
e voltando a exibir no final do cresci-
mento, diferenças similares àquelas
apresentadas em relação ao normal
no pré tratamento
1,23,24
. Dentro desta
perspectiva, a individualização para
finalização nos casos de má-oclusão
Classe II, ficaria melhor indicada para
casos com deficiência mandibular.
A individualização para este tipo
de má-oclusão estaria restrita aos bra-
quetes dos incisivos inferiores, que
obedeceriam exatamente à prescrição
original de ANDREWS
4
 para Classe II,
conforme está apresentado na TAB.8.
O objetivo do uso destes braquetes é
permitir a obtenção de uma oclusão
ótima, apesar do erro esquelético, atra-
vés de uma inclinação vestibular mai-
or dos incisivos inferiores, contribu-
indo para diminuir o trespasse anteri-
or, aumentando o perímetro do arco
inferior e criando possibilidade para
mesialização dos dentes posteriores e
relação molar adequada.
No arco superior, opcionalmente,
dependendo da posição inicial dos ca-
ninos, poderia ser adotado o braquete
com angulação de 5º (TAB.8). Para
ficar mais claro, se os caninos supe-
riores do portador da má-oclusão es-
tiverem naturalmente compensados
Obs: Canaleta retangular .022” x .025” Tubo redondo .045”
SD = Canaleta / CD = Colagem Direta
TABELA 7
Prescrição padrão recomendada
SUPERIOR
Central
Lateral
Canino c/ G
Premolares c/ G
Tubo duplo/triplo molar 6 SD
Tubo simples molar 7 CD
INFERIOR
Incisivos
Canino c/ G
1º premolar c/ G
2º premolar c/ G
Tubo duplo retangular ou re-
dondo/retangular molar 6 SD
Tubo simples molar 7 SD/CD
Torque
7o
3 o
-5 o
-7 o
-10 o
-10 o
Torque
-1 o
-11 o
-17 o
-22 o
-25 o
-25 o
Angulação
5 o
9 o
8 o
0 o
0 o
0 o
Angulação
2 o
5 o
2 o
2 o
0 o
0 o
Rotação
—-
—-
—-
—-
10 o
10 o
Rotação
—-
—-
—-
—-
5 o
5 o
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 103
com menor angulação, poderia ser
desejável mantê-lo assim. A opção por
um braquete com menor angulação,
não provocaria a angulação mesial da
coroa e conseqüentemente evitaria a
mesialização dos dentes anteriores e
o aumento do trespasse horizontal.
Não acho razoável adotar, conforme
recomendado por ANDREWS
4
 bra-
quetes com inclinação diminuída para
os incisivos superiores (TAB.4). Na
minha experiência, considero que o
uso da Ancoragem Extra Bucal e prin-
cipalmente de mecânica com elásticos
de Classe II, apoiados em arcos retan-
gulares que rotineiramente são de ca-
libre .019”x.025”, tenderão a levar
os incisivos superiores a uma posição
mais verticalizada que a ideal. O uso
dos braquetes com inclinação diminu-
ída poderiam contribuir para agravar
esta condição final dos incisivos su-
periores. De certa forma, a inclinação
determinada pela prescrição dos bra-
quetes padrão para os incisivos supe-
riores, funcionaria como um torque
resistente, preservando parcialmente
a inclinação vestibular na posição fi-
nal dos incisivos superiores. Conside-
ro exceção para este procedimento, os
casos de má-oclusão Classe II, onde
já exista originalmente uma diminui-
ção de inclinação aceitável estetica-
mente e seja previsível mantê-la du-
rante o tratamento. Nesta situação
braquetes com inclinação diminuída
(TAB.4) poderiam ser adotadas para
os incisivos superiores.
Uma condição especial surge nos
casos de má-oclusão Classe II, ou não,
que são planejados para serem finali-
zados com os molares em relação de
Classe II. Obviamente, será necessário
individualizar os braquetes para finali-
zação dos primeiros e segundos mola-
res (TAB. 8). Para os primeiros mola-
res será necessário utilizar um acessó-
rio desprovido da angulação mesial de
5º e da rotação mesiovestibular de 10º,
úteis para posicionar perfeitamente o
molar em relação convencional com o
molar inferior, mas inconvenientes se
a finalização exige relação molar de
Classe II. Um acessório sem angulação
e sem rotação, apenas com inclinação
lingual (TAB.8) permitira um molar
verticalizado, com a cúspide mesioves-
tibular ocluindo onde deveria ocluir a
cúspide mesiovestibular do segundo
premolar (FIG. 4d, 4f). O segundo mo-
lar, que na prescrição padrão aqui
recomendada(TAB. 7) já não tinha an-
gulação mesial, perde com a individu-
alização apenas a rotação (TAB. 8).
Uma das condições clínicas fre-
quentes onde adota-se a finalização
dos molares em relação de Classe II,
são os casos de agenesia de incisivos
laterais, quando é planejado o fecha-
mento do espaço anterior. Nesta situ-
ação, quando caninos superiores ocu-
parão a posição dos incisivos laterais
superiores, seria desejável individuali-
zar braquetes para todos os elemen-
tos dentários que ocuparão posições
atípicas. Assim, além dos molares que
terão seus acessórios individualizados
segundo o descrito acima, caninos e
primeiros premolares superiores me-
recerão atenção. A individualização
dos primeiros premolares é relativa-
mente óbvia. Eles receberão braque-
tes de caninos superiores, portanto
com uma inclinação lingual um pou-
co menor (5º ao invés de 7º) e uma
angulação sensivelmente aumentada
(8º ao invés de 0º), com objetivo de
permitir que na posição de caninos os
premolares assemelhem se a este den-
te estática e funcionalmente (FIG. 4d,
4f). Recolagem ou dobra de ajuste é
freqüentemente necessário para refor-
çar a “maquiagem” deste dente. Os
caninos serão levados a ocupar a área
anterior do arco superior, onde os den-
tes apresentam, inclusive pordefini-
ção anatômica, inclinação vestibular
(FIG. 4e). Portanto o braquete padrão
do canino, com inclinação lingual (-
5º, TAB. 7) é desaconselhável. Do
mesmo modo, embora com inclina-
ção mais adequada, a hipótese de
colocar braquete do incisivo lateral no
canino é contra indicada, pela dife-
rença de espessura, que acabaria in-
troduzindo no canino uma dobra para
dentro, e também pelo desenho da
base, mais plana e desenhada para
a superfície vestibular do lateral, e
não do canino. Usualmente fazemos
plastia nas superfícies mesial, distal
e incisal dos caninos, mas não na
superfície vestibular. Assim, parece
razoável utilizar o braquete do cani-
no de ponta cabeça, uma vez que a
angulação de 8º,de acordo com a pres-
crição padrão sugerida aqui (TAB. 7),
Braquetes .022” x .028” | Tubo duplo .022” x .028” / .045” | Tubo triplo .022” x .028” / .020” x .025” / .045”
TABELA 8
Prescrição de braquetes programados para trabalhar com individualização
ARCO SUPERIOR ARCO INFERIOR
CL II CL III CL II CL III
1
2
3 c/ G
4 c/ G
5 c/ G
6
7
Torque
-5o
-10o
-10o
Ang.
5o
0o
0o
Rot.
—-
0o
0o
Torque
14º
10º
-2º
Ang.
5º
9º
11
Torque
4º
4º
Ang.
2 o
2 o
Torque
-6º
-6º
-11º
Ang.
0º
0º
0º
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 104
é mantida e é esteticamente aceitá-
vel, a adaptabilidade da base do
braquete é muito boa, e invertemos
a inclinação que passa de -5º (lin-
gual) para 5º (vestibular), condição
desejável para a área. Deste modo
o canino com a plastia na sua co-
roa clínica e determinação adequa-
das de angulação e inclinação, po-
derá ocupar melhor a posição de in-
cisivo lateral (FIG.4d, 4e, 4f).
2.2.2. - Braquetes para
Classe III
A individualização para finalização
está basicamente indicada para todos
os portadores desta má-oclusão,
quando ela, analisados os fatores es-
téticos e funcionais, estiver dentro do
espectro de tratamento apenas por re-
cursos ortodônticos. Já que por regra
esta anomalia envolve uma relação
maxilo mandibular discrepante, com
participação da maxila e ou mandíbu-
la, qualquer tratamento não cirúrgico
pressupõe compensação.
Os braquetes a serem utilizados são
apresentados na TAB.8. Em hipótese,
do mesmo modo adotado e descrito
para a má-oclusão de Classe II, os bra-
quetes individualizados e introdutores
de inclinação compensatória, deveriam
ser adotados para o arco dentário da
unidade esquelética causadora da má-
oclusão de Classe III. Na prática, pela
característica da má-oclusão Classe III
que geralmente apresenta naturalmente
e portanto, ao início do tratamento,
posições compensatórias para os inci-
sivos superiores e inferiores
11
, será fre-
quente o uso de todo arsenal de
individualização dos braquetes progra-
mados. Isto preserva ou introduz mai-
or compensação, aumentando a capa-
cidade de correção da má-oclusão, ape-
sar do erro esquelético. Assim, no arco
superior seriam adotados braquetes
com inclinação aumentada para os in-
cisivos centrais e laterais, de modo pro-
porcional em relação a inclinação con-
siderada padrão. Os valores preconi-
zados são 14º de inclinação para os
incisivos superiores e 10º para os inci-
sivos laterais (TAB.8), valores superi-
ores aos preconizados por
ANDREWS
9,10
, mas mantendo uma di-
ferença de 4º entre a inclinação dos
incisivos centrais e laterais. Esta dife-
rença é muito valorizada por
ANDREWS
9,10
 por ter guardado relati-
va constância na amostra examina-
da para definição dos valores padrão
8
e parece importante na determinação
da relação estética e funcional dos in-
cisivos centrais e laterais. As
angulações seriam mantidas para os
incisivos por determinação estética e
funcional, conforme já comentado
neste artigo, mas aumentada para 11º
nos caninos (TAB. 8). O objetivo deste
aumento de inclinação nos incisivos e
de aumento de angulação nos cani-
TT=Tubo Triplo; TD=Tubo Duplo; TS=Tubo Simples / CD=Colagem Mista; SD=Soldagem
TABELA 9
Sugestão de estoque de braquetes programados para trabalhar com individualização
para finalização, no arco superior e inferior
ARCO SUPERIOR
PADRÃO CL II CL III
1
2
3 c/G
4 c/G
5 c/G
6
7
Torque
7º
3º
-5º
-7º
-7º
-10º
-10º
Ang.
5º
9º
8º
0º
0º
0º
0º
Rot.
___
___
___
___
___
10º
10º
Estoque
95%
95%
80%
100%
100%
40% TT
40% TD / 20%TS
70% CD / 30% SD
Torque
-5º
-10º
-10º
Ang.
5º
0º
0º
Rot.
___
___
___
Est.
15%
5%
5%
Torque
14º
10º
-2º
Ang.
5º
9º
11º
Est.
5%
5%
5%
TD=Tubo Duplo; TDR=Tubo Duplo Retangular; TS=Tubo Simples / CD=Colagem Direta; SD=Soldagem
Braquetes .022” x .028” / Tubo duplo .022” x .028” / .045” / Tubo triplo .022” x .028” / .020” x .025” / .045”
ARCO INFERIOR
PADRÃO CL II CL III
1
2
3 c/G
4 c/G
5 c/G
6
7
Torque
-1º
-17º
-11º
-17º
-22º
-25
-25
Ang.
2º
2º
5º
2º
2º
0º
0º
Rot.
___
___
___
___
___
5º
5º
Estoque
70%
70%
95%
100%
100%
50% DT
30% TDR / 20%TS
70% SD / 30% CD
Torque
4º
4º
Ang.
2º
2º
Est.
25%
25%
Torque
-6º
-6º
-11º
Ang.
0º
0º
0º
Est.
5%
5%
5%
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 105
nos tem por objetivo preservar ou au-
mentar o perímetro do arco superior,
favorecendo a criação de um trespas-
se positivo anterior. Espaços criados
pela inclinação dos anteriores permi-
tiria mesialização dos dentes posteri-
ores, aumentando a possibilidade dos
molares superiores atingirem relação
adequada com os inferiores. Além dis-
to, sugerimos para os caninos superi-
ores uma inclinação lingual mais dis-
creta (-2º ao invés de –5º), porque isto
parece ser uma adaptação freqüente-
mente adotada naturalmente na ma-
xila de portadores de Classe III, capaz
de ajudar a compensar o déficit trans-
verso criado pela inadequada relação
maxilo mandibular. Isto também pa-
rece favorecer a relação estética entre
incisivos, fortemente inclinados para
vestibular e os caninos, com esta pres-
crição, menos inclinados para lingual.
No arco inferior, os braquetes dos
incisivos inferiores teriam como pres-
crição, angulação negativa de –6º
(TAB. 8), conforme sugerido por
ANDREWS
4
 (TAB. 5). Isto, conforme
deve estar claro, criaria, ou mais fre-
qüentemente, preservaria um com-
primento de arco menor, favorecen-
do a manutenção do trespasse ante-
rior positivo. Para evitar que este mo-
vimento para lingual crie
apinhamento, a natureza tende a
deixar caninos e incisivos inferiores
sem angulação (FIG. 5). Adotamos
este preceito em nossa prescrição, su-
gerindo braquetes que mantenham
todos os dentes anteriores, incluindo
caninos, sem angulação (TAB. 8).
Isto não tem envolvimento estético
significativo e do ponto de vista fun-
cional geralmente permite uma rela-
ção adequada de caninos.
2.2.3. - Estoque de Braquetes
O profissional que pretende traba-
lhar com individualização de braque-
tes programados pode sentir um de-
sestímulo em função do número au-
mentado de especificações de acessó-
rios que terá que manter em estoque.
Este problema pode ser minimizado se
fizermos um planejamento com base
no número de casos que tratamos, na
unidade de tempo que separa uma
compra de material da outra. Assim
agindo e fazendo a compra usual de
número de casos, apenas discriminan-
do percentualmente os braquetes di-
ferentes que fazem parte das prescri-
ções individualizadas, poderíamos
manter em estoque um número de
braquetes semelhante àquele manti-
do antes da adoção desta proposta.
Exigindo dos fabricantes um proces-
so de identificação prático e eficiente
das unidades de cada dente, padrão
ou atípico, e estojos de armazenagem
adequados, poderíamos eliminar os in-
convenientes deste processo e tornar
nossa prática clínica mais próxima dos
preceitos básicos do Straight-wire,
com vantagens inerentes para profis-
sional e paciente.
Apresentamos na TAB.9 uma su-
gestão de estoque em porcentagem que
poderia servir como ponto de partida,
para que baseado na sua casuística e
na premissa do que e quando você pre-
tendeindividualizar, possa ser gerada
uma grade personalizada para compra
de braquetes e tubos.
Algumas especificações dizem res-
peito a preferências pessoais ou uso
de recursos mecânicos específicos.
Exemplificando, 40% de tubo triplo
para os primeiros molares superiores
são determinados em função do uso
de alavancas para intrusão de dentes
anteriores, verticalização ou tração de
elementos dentários isolados, ou ain-
da, o uso de sobrefio. Ainda para
exemplificar, 70% de tubos para cola-
gem direta para segundos molares su-
periores, são necessários para permi-
tir manipulação da angulação no mo-
mento da colagem, requisito essenci-
al para inclusão deste dente durante a
fase de nivelamento do tratamento
ortodôntico de pacientes jovens, con-
forme já foi discutido neste artigo.
also the necessity of using different
prescription that consider the kind of
malocclusion, the treatment to be
adopted and the desired or the best
position of the teeth at the end of the
treatment, that is the individualization
of the appliance. The normality concepts
and the orthodontic possibilities were
Abstract
The Straight-wire technique uses
programmed or individually built
brackets for each tooth with the aim of
aligning the teeth appropriately at the
end of the treatment. Since its
introduction Andrew’s original purpose
predicated the Standard brackets to be
used in a large number of patients and
reviewed since the 70’s, when its
definitions were formulated, and now
deserve a review. This review will be the
aim of this article.
Uniterms:
Straight-wire; Individualization;
Brackets prescription.
Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial - v.4, n.4 - JUL./AGO. - 1999 106
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Endereço para correspondência
Prof. Dr. Leopoldino C. Filho
Setor de Ortodontia do HRAC-USP
Rua Silvio Marchione, 3-20
17043-900 - Bauru - SP
e-mail: leocape@usp.br