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27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/18 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO AULA 5 Prof. José Luís Modena 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/18 CONVERSA INICIAL Os aspectos relacionados a avaliação e mensuração dos elementos que compõem o patrimônio de uma entidade pública são imprescindíveis para que as informações divulgadas sejam úteis para a tomada de decisão e prestação de contas. Diante dessa realidade, destinamos esta aula a tratar de questões normativas que embasam a avaliação quantitativa dos ativos e passivos do ente público. Para cumprir esse propósito, o conteúdo desta aula irá discorrer sobre as bases de mensuração empregadas para o reconhecimento dos ativos e passivos; aspectos atinentes a depreciação, amortização e exaustão; conceito e aplicação de reavaliação e impairment no patrimônio público; e, por último, sistema de custeio dos entes públicos. CONTEXTUALIZANDO Ao avaliar os elementos dispostos nos demonstrativos contábeis, existe a possibilidade de comparar o crescimento ou redução dos investimentos; identificar a aplicação dos recursos públicos, entre outras informações passíveis de serem observadas por meio dos relatórios. Esses dados, uma vez disponíveis para consulta, podem cooperar para a tomada de decisão dos governantes, bem como servir de parâmetro para que a população avalie a gestão governamental. À vista dessa realidade, a base utilizada para atribuição e atualização dos valores ganham notoriedade na ciência contábil, uma vez que transcreverá informações quantitativas dos elementos patrimoniais. Além disso, também podemos inferir que essas bases de aferição de valores necessitam de uma certa padronização, viabilizando comparações e controle dos diferentes entes públicos. Tendo como base essas reflexões iniciais, talvez você esteja se perguntando: qual base devemos utilizar para a mensuração do patrimônio público? Devemos considerar atualizações posteriores? No decorrer desta aula, essas e outras questões serão respondidas. 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/18 TEMA 1 – BASE DE MENSURAÇÃO A atribuição de valores aos elementos que compõem o patrimônio de uma entidade tem a potencialidade de direcionar decisões. Nesse contexto, Iudícibus (2015) declara que uma mensuração acertada viabiliza a empregabilidade dos relatórios gerados pela contabilidade na predição de eventos futuros. Suponha, por exemplo, que uma obrigação passiva esteja subavaliada. Um dos resultados concretos dessa falha de registro patrimonial certamente será o comprometimento das previsões de desembolso futuro de caixa. Além disso, tem-se, ainda, a perda de utilidade dos relatórios divulgados pela contabilidade. Outro aspecto que deve ser levado em consideração, no que tange a mensuração, é a padronização das bases passíveis de serem empregadas. Sendo assim, ao nos depararmos com um registro patrimonial, são presumíveis os critérios que foram empregados para aferição de valor. No âmbito público, essa função é atendida pela Norma Brasileira de Contabilidade Técnica do Setor Público (NBC TSP), aderente aos padrões internacionais. De acordo com a NBC TSP, há bases de mensuração passíveis de serem empregadas nos elementos do ativo e passivo. A seguir, traremos essas possibilidades elencadas pela norma. 1.1 BASE DE MENSURAÇÃO DOS ATIVOS No que tange à mensuração dos ativos, a NBC TSP, no item 7.3, estabelece as seguintes bases: a) Custo histórico: representa, nas definições do MCASP (2018), o valor pelo qual uma mercadoria foi adquirida no mercado, ou o custo do desenvolvimento dessa mercadoria na entidade. Nesse caso, o valor, geralmente, é facilmente identificável, pois representa o montante despendido para aquisição do bem junto ao fornecedor, seja pronto para ser empregado na atividade ou servindo como insumo para o desenvolvimento do bem. Complementarmente, a NBC TSP ainda relata que os ativos que utilizam essa base de mensuração são reconhecidos inicialmente pelo valor de entrada, sendo posteriormente atualizados em função da perda da potencialidade de geração de benefícios futuros. b) Valor de mercado: é o montante possível de ser obtido pela saída ou entrada de um bem, utilizando como premissa de que o mercado é organizado, ativo e aberto, sob condições normais. Considerando tratar-se de uma mensuração com base em valores de saída, o item 7.27 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/18 da NBC TSP sugere que essa metodologia é adequada para itens do ativo que são destinados a comercialização, como instrumentos financeiros, cuja intenção do ente público é a venda. Cumpre ainda destacar que essa base de mensuração, de acordo com as observações do MCASP (2018), corresponde à definição do valor justo. c) Custo de reposição ou substituição: de acordo com o MCASP (2018), seria o montante despendido pela entidade para adquirir o bem constante nos seus ativos. Diferencia-se do valor de mercado, de acordo com a NBC TSP, por basear-se nos valores de entrada de ativos e referir-se à situação específica do ente público e não da precificação geral do mercado. d) Preço líquido de venda: mensuração que tem como base o preço de saída, ou seja, de venda, deduzidos os custos empregados para a realização dessa transação. Nas palavras da NBC TSP, essa base de valoração difere-se do preço de mercado por não considerar a premissa de que o mercado seja aberto, ativo e organizado. e) Valor em uso: de acordo com o item 7.58 da NBC TSP, Estrutura Conceitual seria o valor presente do bem. Em outras palavras, considera-se a capacidade de geração de benefícios econômicos do ativo ao longo do tempo, aplicando-se uma taxa de desconto para trazer esse fluxo de recebimento para o presente. 1.2 BASE DE MENSURAÇÃO DOS PASSIVOS Em relação aos passivos do ente público, o item 7.7 da NBC TSP Estrutura Conceitual determinou que a aferição dos valores terá como base o: a) Custo histórico: de acordo com a NBC TSP, item 7.70, seria “a importância recebida para se assumir uma obrigação”. De forma exemplificativa, quando a entidade liquida um empenho destinado à aquisição de materiais para o estoque, o valor do passivo, tendo como base o custo histórico, seria justamente o montante pactuado junto ao fornecedor. A norma destaca, por outro lado, que, em algumas situações, essa base de mensuração torna-se impraticável, como no caso de processos judiciais, em que, por vezes, não há certeza dos valores que serão desembolsados. b) Custo de cumprimento da obrigação: representa o valor assumido pela entidade pública para cumprir determinada obrigação, como sanar um dano ambiental. De acordo com a 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/18 NBC TSP, quando essa obrigação envolver variáveis desconhecidas, todas as hipóteses deverão ser levantadas para realização da estimativa. c) Valor de mercado: representa o valor pelo qual a obrigação pode ser liquidada, em um ambiente de normalidade mercadológica. d) Custo de liberação: seria a base de mensuração dos passivos, equivalente ao preço líquido de venda dos ativos. Em outras palavras, pode ser explicado como sendo o montante pelo qual um passivo pode ser baixado, ou transferido para terceiro, na data do demonstrativo. e) Preço presumido: nas explicações da NBC TSP, é a base de mensuração empregada nos passivos, equivalente ao custo de reposição para os ativos. Em outras palavras, supõe a existência de contraprestação, em que a aquisição de determinado ativo, sem o imediato pagamento, gerará de assunção de um passivo pelo ente público. TEMA 2 – AVALIAÇÃO E MENSURAÇÃO DOS ATIVOS E PASSIVOS Diante das bases de aferição de valor do patrimônio da entidade pública, será necessário identificar aquela mais adequado para determinar o valor que o ativo ou passivo será registradonos demonstrativos contábeis. Esse processo, de acordo com o MCASP (2018), representa a avaliação e mensuração dos elementos patrimoniais, atribuindo características quantitativas, com base nos aspectos qualitativos observados. Para definir a base a ser empregada para cada elemento patrimonial, o MCASP (2018) dividiu os ativos e passivos em sete grupos, evidenciando a metodologia de estabelecimento de valor, conforme elencado a seguir. a) Disponibilidades: Devem ser avaliadas no ativo de acordo com o valor original. No caso das aplicações financeiras de liquidez imediata, o manual prevê a empregabilidade do valor justo, ou seja, montante pelo qual o ativo possa ser trocado em uma transação sem favorecimento. b) Créditos e obrigações: 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/18 Nesse caso, estão incluídos tanto os direitos registrados de recebimento, registrados nos ativos, como as obrigações de pagamento inscritas no passivo. Para essas contas, é importante identificar se o ajuste dos valores é pré ou pós-fixado. Em sendo pré, deverá ocorrer a atualização do montante a valor presente. Por outro lado, quando o direito ou a obrigação contar com um indexador pós fixado, restará à contabilidade considerar esse ajuste após a divulgação concreta dessa variável. c) Estoques: A mensuração dos estoques é tratada pela NBC TSP 04, cujo texto orienta a adoção, como base de mensuração, do menor valor entre o custo histórico de compra e o preço líquido de venda. Ou seja, inicialmente registra-se o estoque pelo valor da aquisição, mas, caso seja identificado que o preço de venda é inferior ao valor do estoque, então se reconhece uma perda. Ressalta-se, ainda, que a norma determina que as movimentações posteriores do estoque, realizadas para apuração do custo, deverão ocorrer pelo critério PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai) ou média móvel. d) Investimentos permanentes: São aqueles mantidos no ente público por período indeterminado, sem que exista a pretensão de negociação. Para as participações em que se tem influência significativa em coligadas ou controladas, a avaliação deverá ser pelo método de equivalência patrimonial. Ou seja, considera-se as variações no patrimônio líquido da investida como base para realização das reavaliações no investimento. Nos demais casos, em que não há essa influência significativa, emprega-se o método de custo histórico. e) Imobilizado: De maneira geral, o imobilizado deverá ser avaliado incialmente pelo método de custo histórico. Posteriormente, quando se tratar de bens do ativo físico, existirá a necessidade de considerar as perdas de potencialidade de geração de benefícios futuros, por meio da 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/18 depreciação e exaustão. Não obstante, também deverá passar pelo teste de recuperabilidade, conforme veremos nos próximos tópicos da nossa aula. Também existem aqueles bens que foram recebidos a título gratuito, ou por um valor simbólico. É o caso, por exemplo, de um terreno cedido ao poder público para construção de uma estrada, sem a contraprestação financeira do governo. O registro apropriado desse bem será pelo valor justo. Não obstante a isso, os itens do imobilizado também estarão sujeitos a reavaliações, a fim de se apurar possíveis perdas, decorrentes de reduções do valor recuperável do ativo. Abordaremos esse aspecto no Tema 4 desta aula. f) Intangível: Bens intangíveis, de acordo com o MCASP (2018), representam ativos sem substância física, mas que possuem a capacidade de gerar benefícios econômicos futuros. De modo exemplificativo, temos o caso das pesquisas científicas e das marcas e patentes. Para que o ente público possa registrar esse tipo de ativo, além de atender esse critério conceitual, também deverá constatar a existência de uma base de mensuração confiável. Para aqueles ativos intangíveis adquiridos de terceiros, emprega-se como base de reconhecimento inicial o custo histórico. Já nos casos dos ativos gerados internamente, o item 50 da NBC TSP 8 orienta a segregação dos gastos em duas etapas: pesquisa e desenvolvimento. O montante que deverá ser considerado a título de ativo intangível será somente os dispêndios com desenvolvimento, sendo que os demais gastos devem ser contabilizados como despesa. É importante lembrar ainda que a fase de desenvolvimento somente será contabilizada como ativo intangível se o ente público atender alguns critérios numerados pela NBC TSP 8. Entre esses preceitos, encontra-se a necessidade de demonstrar a viabilidade técnica do ativo; evidenciação de mercado para venda do ativo ou potencialidade de geração de benefício econômico interno; existência de intenção e recursos necessários para conclusão do projeto que resultará no intangível. Após esse reconhecimento inicial, esse ativo intangível, avaliado pelo custo, deverá ser reavaliado periodicamente, a fim de reconhecer despesas com amortização e redução do valor recuperável. 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/18 TEMA 3 – DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO Os bens reconhecidos no patrimônio de uma entidade pública são suscetíveis a desvalorizações, decorrentes da perda da capacidade de geração de benefício econômico futuro. Algumas dessas desvalorizações são reconhecidas periodicamente na contabilidade, impactando o resultado da entidade. No âmbito público, assim como ocorre na iniciativa privada, essa perda de valor por decurso do tempo ocorre por meio de depreciação, amortização e exaustão. A seguir, daremos detalhes a respeito de cada uma dessas formas de reconhecimento existentes na contabilidade pública. 3.1 DEPRECIAÇÃO De acordo com Araújo e Arruda (2020), depreciação é a nomenclatura utilizada para expressar a desvalorização dos bens do ativo imobilizado. Para tanto, os autores destacam a necessidade de estabelecer a vida útil, assim como o valor residual do bem. Em relação à vida útil, seguindo as orientações da NBC TSP 7, o ente público terá a discricionariedade para definir a expectativa temporal de utilidade do bem. Para essa deliberação, a norma determina como critério de julgamento as experiências da entidade em relação aos bens com características semelhantes. Também devem ser levados em consideração, como parâmetro de estimativa da vida útil, o tempo de geração de benefícios, obsolescência tecnológica e o desgaste físico. Não obstante a isso, o MCASP (2018) ainda sugere que a depreciação deverá ser avaliada para cada bem do ativo imobilizado. O manual cita como exemplo a existência de veículos na administração pública, sendo um deles empregado somente para funções administrativas, e o outro para realização de ronda policial. Notadamente, o desgaste desses bens, embora possam possuir características físicas equivalentes, será diferente, devendo ser considerado na realização das estimativas para depreciação. Consoante a metodologia a ser empregada para depreciação, a NBC TSP 7 dá discricionariedade para administração pública. Dessa forma, sugere-se que tanto o método de depreciação linear; soma dos dígitos; e produtividade seriam válidos. O ente público deverá verificar, entre esses 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/18 procedimentos, aquele que representa de forma mais adequada o desgaste do bem ao longo da sua vida útil. Como forma de relembrar esses diferentes artifícios de apuração da depreciação, considere que determinado município deseje depreciar uma retroescavadeira, adquirida no valor de R$ 1 milhão, no período de cinco anos. Diante dessa hipótese, teríamos a seguinte parcela a ser considerada anualmente nas variações diminutivas do ente: a) método linear: 1.000.000 5 = 200.000 b) método da soma dos dígitos decrescente: Soma dos dígitos: 1 + 2 + 3 + 4 + 5 =15 1º ano = (1.000.000 15) x 5 = 333.333,33 2º ano = (1.000.000 15) x 4 = 266.666,67 3º ano = (1.000.000 15) x3 = 200.000,00 4º ano = (1.000.000 15) x 2 = 133.333,33 5º ano = (1.000.000 15) x 1 = 66.666,67 c) método de produtividade: Para essa hipótese, deverá ser estimada a produtividade do ativo a ser depreciado. Em nosso exemplo, considere que o município julgou que a máquina irá operar, ao longo da sua vida útil, por 10 mil horas. Considerando que no primeiro ano o ente público utilizou a retroescavadeira por mil horas, a depreciação será calculada da seguinte forma: 1.000.000 10.000 = 100/hora 1.000 horas utilizadas x 100 = 100.000 Esses parâmetros de estimativa, que servem como base para o cálculo da depreciação, deverão ser revisados periodicamente. Caso sejam constatados desvios de uma evidenciação fidedigna da 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/18 informação, os critérios de reconhecimento dessa despesa serão remodelados, adaptando-se à nova realidade. Vale ainda frisar que, diferentemente do que ocorre com na iniciativa privada, na qual por vezes as empresas obtêm benefícios fiscais em função do reconhecimento da depreciação, nos órgãos públicos essa movimentação não possui essa prerrogativa. Sendo assim, essa contabilização tem o propósito exclusivo de servir como meio de evidenciar a informação do ativo imobilizado mais próximo da realidade. 3.2 AMORTIZAÇÃO É utilizada para reconhecer a perda de valor dos bens intangíveis. É o caso da contratação de determinado software pelo prazo de cinco anos, no valor de R$ 50.000. Utilizando o método linear, teríamos um reconhecimento anual de R$ 10.000 a título de amortização. Outros parâmetros de apuração podem ser utilizados, tais como saldo decrescente e produtividade. No campo normativo, a NBC TSP 8 elenca aspectos atinentes à vida útil do bem intangível que será amortizado. Assim sendo, a regra versa que o ente não poderá amortizar o bem por um período maior que o contrato de utilização do direito. Por outro lado, caso se verifique que o período de geração de benefícios para a entidade é menor que o prazo contratual, a amortização integral do item ocorrerá preteritamente ao encerramento do contrato. 3.3 EXAUSTÃO É empregada para o reconhecimento da desvalorização de bens do ativo imobilizado de uma entidade, cujo desgaste decorre da exploração. Seria o caso, a título de exemplo, de uma mina de carvão, que possui determinada quantidade de recursos passíveis de serem extraídos. De acordo com as orientações do MCASP (2018), nessas hipóteses é necessário realizar uma verificação do ativo, a fim de medir a capacidade de exploração do bem. Essa apuração servirá de base para o cálculo do montante a ser exaurido periodicamente. Imagine que determinado Estado possua uma jazida, com uma capacidade de 10 mil litros. Imaginando que a jazida esteja registrada no ativo do ente público pelo valor de R$ 500 mil, e a 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/18 extração do primeiro ano tenha sido de 1200 litros. Nesse caso, teríamos o seguinte cálculo para apuração da exaustão: (500.000 10.000) x 1.200 = 60.000 Dessa forma, com base nos valores observados, o Estado registraria uma variação diminutiva de R$ 60.000, tendo como contrapartida a conta de ativo “exaustão acumulada”. TEMA 4 – REAVALIAÇÃO No âmbito público, alguns ativos imobilizados, bem como os intangíveis, estão suscetíveis a perdas decorrentes de redução ao valor recuperável (impariment). O MCASP (p. 204, 2018) explica que valor recuperável, nesse contexto, representa o “maior montante entre o valor justo líquido de despesa de venda do ativo e o seu valor em uso”. Para compreender esse conceito trazido pelo manual, é necessário fazer referência ao significado de algumas terminologias, explicadas a seguir com base na NBC TSP 09: Valor justo líquido de despesa de venda: recurso financeiro passível de ser obtido com a venda do bem, em uma transação sem favorecimento, descontando-se as despesas com venda, como comissão e transporte. Valor em uso: de forma resumida, significa o valor presente dos benefícios futuros do ativo. A NBC TSP apresenta meios de apuração desse montante, que irá depender se o ativo é classificado como gerador de caixa ou não. Os ativos geradores de caixa são aqueles cujo intuito é a geração de fluxo financeiro positivo pela entidade pública, como uma usina de tratamento de lixo que atende hospitais privados, cobrando pelo serviço. Já os bens não geradores de caixa são aqueles destinados ao fornecimento de serviços, como escolas, hospitais e prédios públicos, não possuindo retorno financeiro de forma direta. 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/18 Para apuração do valor em uso dos bens classificados como não geradores de caixa, a NBC TSP 9 apresenta como possibilidade a abordagem com base no custo de reposição depreciado. Nesse caso, o valor do bem em uso é estimado como sendo o montante necessário para repor o seu valor depreciado. Já para os casos dos ativos geradores de caixa, a NBC TSP 10 determina a apuração por meio do desconto do fluxo de caixa futuro. Nessa hipótese, estima-se o fluxo de caixa durante o período em que o bem será usado. Em seguida, esses valores são trazidos a valor presente, evidenciando assim o montante considerado como valor de uso do ativo. Com base nessa conceituação, podemos, então, concluir que, caso o ativo esteja registrado na contabilidade com um valor superior ao montante identificado como valor recuperável, a entidade pública deverá proceder o registro de uma despesa, tendo como contrapartida uma conta retificadora do ativo. Saiba mais Valor recuperável = maior montante entre valor justo e valor em uso. Valor recuperável > valor do ativo = não é realizado ajuste. Valor recuperável < valor do ativo = necessário reconhecer uma despesa por perda de valor recuperável. Como forma de exemplificação da aplicação desses preceitos, considere que determinado município disponha de uma máquina pavimentadora de asfalto, utilizada exclusivamente para prestação de serviço público, não gerando fluxo de caixa. Demais informações quantitativas do bem são especificadas a seguir: a) Valor do custo histórico: R$ 450.000 b) Depreciação acumulada: R$ 90.000 c) Valor justo do equipamento: R$ 345.000 d) Valor de uso: R$ 350.000 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/18 Diante desses dados, o primeiro passo é identificar o valor recuperável, que conforme vimos anteriormente, é obtido por meio da comparação do valor justo (345.000) e valor em uso (350.000). Desses valores, é elegido o maior para representar o valor recuperável do ativo. Em seguida, precisamos apurar o valor líquido do ativo, representado pelo confronto entre o custo histórico e as suas deduções, como depreciações e ajustes a valor recuperável. No nosso caso hipotético, teríamos então um valor contábil de R$ 360.000 (450.000 – 90.000 = 360.000). Como o valor contábil (360.000) é superior ao valor recuperável (350.000), devemos proceder um ajuste na contabilidade. A diferença entre esses dois valores (10.000) será contabilizada nas variações patrimoniais diminutivas como despesa, creditando a conta “redução ao valor recuperável do ativo”. TEMA 5 – SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE CUSTOS Os custos na administração pública foram abordados pela NBC TSP 16. De acordo com essa norma, o propósito de incluir um sistema de informação de custo para os entes públicos é para mensurar e evidenciar o custo na mercadoria e serviço prestado. Essas informações poderão ser empregadas para prestação de contas e também como fonte para gerenciamento dos gastos governamentais. Em relação à obrigatoriedade, o item 7 da NBC TSP 16 esclarece que todos os órgãos públicos deverão adotar um sistema de custeio. No nível federal, esse direcionamento também está contido no art. 15 da Lei n. 10.180/2001, cujo texto determina que o sistema de contabilidade Federal deverá evidenciar “os custos dosprogramas e das unidades da administração pública”. A justificativa para essa amplitude é elencada pela própria NBC TSP, norma que cita a transparência, prestação de contas e necessidade de informações gerenciais como razões para essa adoção obrigatória. Para apuração dos custos, a entidade pública terá liberdade de escolher o método que seja mais adequado. De forma exemplificativa, são elencados pela NBC TSP algumas alternativas, tais como: a) Direto: sistemática pela qual os custos são direcionados sem a aplicação de técnicas de rateio. b) Variável: nessa metodologia, apenas os custos variáveis são atribuídos aos produtos. 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/18 c) Por absorção: todos os custos, variáveis e fixos, são atribuídos aos objetos de custo, seja de forma direta ou pela utilização de técnicas de rateio. d) Por atividade: na literatura contábil, essa metodologia também é conhecida como custeio ABC (Activity-Based Costing). Consiste, de forma resumida, no direcionamento dos custos para as atividades necessárias no processo de geração do bem final. Essa apropriação de custos, por vezes, é feita de forma direta, porém, em outras ocasiões, é necessária aplicação de métodos de rateio. Feito isso, a entidade deverá estimar o volume de custos que o produto ou serviço consomem de cada atividade, para então chegarmos à informação de custo. No âmbito federal, de forma exemplificativa, existe o Sistema de Informação de Custos (SIC), que tornam públicas algumas informações relacionadas ao custo na administração pública. De acordo com o Manual do Portal de Custos do Governo Federal (2019), um dos propósitos desse sistema é trazer melhorias ao processo de elaboração e execução orçamentária. As informações trazidas pelo SIC agrupam os custos em quatro grupos: custos controláveis; custos não controláveis; custos atribuíveis às pessoas; e custos de funcionamento. Com isso, existe a possibilidade de verificar os dispêndios que podem ser reduzidos pela administração pública, principalmente em situações de austeridade fiscal. Saiba mais O governo federal divulga informações sobre custos de cada órgão público, trazendo informações gerenciais, como histórico dos gastos e tendências. Consulte essas e outras informações pelo link que segue: Disponível em: <https://www.teso urotransparente.gov.br/temas/contabilidade-e-custos/sistema-de-custos>. Acesso em: 28 set. 2020. TROCANDO IDEIAS A NBS TSP trouxe uma série de regras a serem aplicadas na contabilização dos itens patrimoniais, em consonância aos padrões internacionais de contabilidade. Nesse rol de regras, https://www.tesourotransparente.gov.br/temas/contabilidade-e-custos/sistema-de-custos 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/18 podemos encontrar procedimentos que até então não eram realizados pelos entes públicos, como é o caso de teste de recuperabilidade dos ativos. Diante dessa nova realidade de registro, será que os órgãos públicos estão atentando para esses procedimentos? Qual seria a importância de reconhecer essas orientações no registro contábil? Para refletir a respeito desses questionamentos, faça uma leitura do artigo “Mensuração e evidenciação do Ativo Imobilizado no Setor Público: um estudo sobre os bens de uso especial nas Universidade Federais do Nordeste”, disponível em: <http://revistaadmmade.estacio.br/index.php/ma ngaio/article/viewFile/4158/2066>. Tendo como base essa e outras pesquisas nesse campo científico, participe de nossas discussões, apresentando opiniões acerca das questões sugeridas anteriormente. NA PRÁTICA Como forma de visualizarmos o conteúdo abordado ao longo desta aula, considere a seguinte situação hipotética: o contador do município Abc estava reavaliando os bens registrados no ativo imobilizado do ente público, para fechamento dos demonstrativos contábeis de 31 de dezembro de 2019. Entre esses ativos, o referido profissional constatou a existência de um ônibus escolar com as seguintes características: Custo histórico: R$ 300.000; Data de aquisição: 01 de julho de 2015; Vida útil do bem: 10 anos; Valor justo: R$ 120.000; Valor em uso: R$ 130.000. Diante dessas características, seria necessário reconhecer perdas para readequar a evidenciação do valor desse ativo no imobilizado do ente público? A resposta se encontra na seção Gabarito, ao final do material. FINALIZANDO http://revistaadmmade.estacio.br/index.php/mangaio/article/viewFile/4158/2066 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/18 Começamos a nossa aula apresentando as bases de mensuração determinadas pela NBS TSP. De acordo com essa norma, existem referências que devem ser utilizadas para aferição quantitativa dos elementos do ativo e passivo do ente público. Com base nessas premissas iniciais, partimos para uma análise conceitual e prática dos procedimentos de avaliação e mensuração dos ativos e passivos. Para tanto, as principais contas patrimoniais foram elencadas, esclarecendo a forma empregada para medição e registro dos valores. Vimos, também, que alguns bens do ativo da entidade estão sujeitos a desvalorização, decorrentes da depreciação, amortização e exaustão. Cada uma dessas formas de redução do valor do ativo foi analisada sob o aspecto teórico e prático. Outra forma de reconhecer uma desvalorização do bem é por meio do teste de recuperabilidade. Nesse caso, o ente público deve comparar o valor contábil do bem com o valor recuperável, devendo registrar uma perda se o montante desse último for superior ao primeiro. Por último, abordamos o sistema de custos no setor público, que serve como parâmetro para mensuração do produto vendido ou do serviço prestado pelo ente público. REFERÊNCIAS ARAÚJO, I; ARRUDA, D. Contabilidade Pública da Teoria a Prática. 3. ed. São Paulo, Saraiva, 2020. BRASIL. Lei n. 4320, de 17 de março de 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm> Acesso em: 25 set. 2020. BRASIL. Lei n. 101, de 4 de maio de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 25 set. 2020. GIACOMONI, J. Orçamento Público. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2017. KOHAMA, H. Contabilidade Pública: teoria e prática. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Manual Técnico do Orçamento. 14. ed., 2020. Disponível em: <https://www1.siop.planejamento.gov.br/mto/lib/exe/fetch.php/mto2020:mto2020-versao14.pdf>. Acesso em: 25 set. 2020. 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/18 MINISTÉRIO DA FAZENDA. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. 8. ed. 2018. Disponível em: <https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:31484>. Acesso em: 25 set. 2020. SQUIZZATO, A. C. Direito Financeiro e Econômico. 1. ed. São Paulo: Método, 2013. GABARITO Conforme elencado na aula, para identificar a necessidade de reconhecimento de perdas, precisamos apurar o valor recuperável do ativo e seu valor contábil, conforme segue: a) Valor contábil = custo histórico – depreciação Custo histórico = 300.000 Depreciação = (custo histórico vida útil total) x prazo percorrido (300.000 120) x 54 = 135.000 Valor contábil: 300.000 – 135.000 = 165.000 b) Valor recuperável = 130.000 (maior valor entre valor justo e valor em uso) c) Perda de valor recuperável = valor contábil – valor recuperável Perda de valor recuperável = 35.000 Portanto, tendo como base as apurações realizadas, o ente público deverá reconhecer uma perda de R$ 35.000. https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:31484 27/08/2022 15:28 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/18