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Família e Sociedade: Sociedade, família e indivíduo

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Família e Sociedade
Autor: Ana Carolina Bazzo Silva
Tema 01
Sociedade, família e indivíduo
seç
ões
Tema 01
Sociedade, família e indivíduo
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e 
Sociedade: Sociedade, família e indivíduo. 
Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera 
Educacional, 2017.
Seções Seções
FINALIZANDO
REFERÊNCIAS
GABARITO
LEITURAOBRIGATÓRIA
CONTEÚDOSEHABILIDADES
AGORAÉASUAVEZ
GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES
4
Tema 01
Sociedade, família e indivíduo
5
Prezado aluno, neste curso você será apresentado a conceitos das ciências sociais que o 
permitirão refletir sobre a relação entre família e sociedade sob diferentes perspectivas.
O objetivo principal do curso é refletir a família enquanto um fenômeno social e cultural. Para 
tanto, apresentaremos autores, leituras, links, exemplos e situações que possam ajudá-lo a 
compreender a família como um reflexo da sociedade e da cultura em que seus membros 
estão inseridos, assim como refleti-la como parte do imaginário político, social e cultural da 
sociedade em que estamos inseridos.
Consequentemente, objetivamos que desenvolva capacidade de refletir e compreender a 
partir de um olhar específico diferentes situações-problemas que envolvem os processos 
de socialização familiar; que desenvolva a capacidade de refletir a relação entre indivíduo, 
família e sociedade e que possa, ao final do curso, pensar na diversidade das formas como 
podemos definir os arranjos familiares em diferentes contextos sociais, políticos, econômicos 
e culturais. 
Nosso curso estará dividido em temas que, apesar de não esgotarem as possíveis 
abordagens sociológicas sobre família, complementam-se. 
Neste primeiro tema, trabalharemos as especificidades da leitura de conceitos próprios 
às ciências sociais e também falaremos um pouco sobre o lugar da família em obras de 
autores clássicos da sociologia. 
 Boa leitura!
CONTEÚDOSEHABILIDADES
6
LEITURAOBRIGATÓRIA
Tema 1 - Sociedade, família e indivíduo
Convite à leitura
Trabalharemos, neste primeiro tema de nosso curso, a relação entre sociedade, família 
e indivíduo. Para introduzirmos uma leitura das ciências sociais sobre esta temática, 
começaremos apresentando algumas das principais perguntas que autores da área se 
fizeram sobre o que é a sociedade e o que, enfim, nos orienta a vivermos em grupo e a 
sermos seres eminentemente sociais. Para compreender o papel da família na sociedade 
e, ao mesmo tempo, para compreender qual o peso da sociedade na constituição daquilo 
que entendemos como família, será importantíssimo entender os sentidos específicos que 
esses termos assumem nas leituras a partir das quais estamos nos baseando neste curso. 
Por dentro do tema
Antes de começarmos, façamos uma pausa necessária para falarmos sobre leitura e 
compreensão de textos acadêmicos. Quando nos dedicamos à leitura e à compreensão de 
textos acadêmicos na área das ciências humanas, devemos ter em mente alguns pontos 
muito importantes:
1) O momento histórico em que os autores estão escrevendo, porque as obras dialogam com 
a sociedade e a cultura em que os autores estão inseridos. Quando filósofos da Antiguidade 
estão falando sobre homens e sobre Deus, por exemplo, estão usando esses termos em 
sentidos diferentes dos sentidos dados por filósofos da Idade Média. São Tomás de Aquino e 
Santo Agostinho se inspiram em Platão e Aristóteles e os retomam, mas não podemos dizer 
que suas leituras são iguais à leitura dos filósofos da Antiguidade, porque o cristianismo ainda 
não existia, a sociedade em que viviam era outra. Podemos pensar o mesmo quando estamos 
falando da família para autores do começo do século XX e para autores do século XXI.
7
LEITURAOBRIGATÓRIA
2) A instituição em que os autores estão inseridos, porque existe um diálogo entre autores 
que pertencem a um círculo acadêmico específico. Assim como podemos estudar a história 
de instituições como o Estado moderno, podemos estudar a história de instituições como 
universidades. E é importante ter em mente que grande parte dos fundadores das ciências 
sociais está escrevendo no começo do século XX na Europa e nos Estados Unidos da 
América. Também é importante reconhecer que para cada meio universitário, temos uma 
rede de autores que acabam referindo-se uns aos outros em suas obras. Há um diálogo 
possível, por exemplo, entre Karl Marx e Friedrich Hegel. Há inclusive um diálogo possível 
entre Marx e Charles Darwin, mas não podemos dizer que a noção de trabalho presente na 
obra de Marx é a mesma noção que está presente na obra de Émile Durkheim. Durkheim 
escreve bem depois de Marx e tem outras influências teóricas.
3) Os termos que aparecem ao longo dos textos acadêmicos não possuem os mesmos 
sentidos que as palavras com as quais temos contato em nosso cotidiano ou no senso 
comum. Na maioria das vezes, esses termos que encontramos em textos técnicos ou obras 
acadêmicas possuem status de “conceito”, ou seja, são palavras que buscam representar 
uma situação, uma realidade, de forma generalizante. Palavras como trabalho, sociedade, 
cultura, possuem sentidos comuns distintos dos sentidos teóricos que assumem em textos 
acadêmicos.
4) O sentido que um autor utiliza para um conceito em determinada obra não é 
necessariamente o mesmo sentido que outro autor dá para o mesmo conceito e, em muitos 
casos, um mesmo autor pode definir de forma diferente o mesmo conceito ao longo de sua 
obra. O significado e as implicações do uso da palavra “Civilização” vão mudando ao longo 
da obra de Sigmund Freud, por exemplo. Para ler textos acadêmicos, é importante sempre 
ter isso em mente e, muitas vezes, buscar o sentido específico do termo dento da obra ou 
em dicionários da área.
Essas dicas o ajudarão ao longo de seus estudos e, sobretudo, o ajudarão a compreender 
as possíveis leituras das ciências sociais para a relação entre sociedade, família e indivíduo 
que apresentaremos neste caderno. Trabalharemos, inicialmente, alguns questionamentos 
sobre a relação entre indivíduo e sociedade. 
8
LEITURAOBRIGATÓRIA
Relação entre indivíduo e sociedade
Em algum momento de sua vida, você deve ter se deparado com a palavra sociedade como 
forma de se referir a um grupo de pessoas que habita algum país ou mesmo como forma de 
se referir ao meio social em que você próprio nasceu, cresceu e vive. 
Os noticiários constantemente citam “a sociedade brasileira” como sinônimo da nação 
brasileira ou dos indivíduos que nasceram, cresceram e vivem no Brasil. O sentido assumido 
pela palavra, neste contexto, é de uma espécie de entidade que representa um grupo coeso 
de pessoas vivendo segundo regras e costumes específicos. Em outros momentos, você 
também já deve ter entrado em contato com a ideia de que todas as regras a partir das quais 
vivemos em sociedade se sobrepõem aos indivíduos como uma espécie de força ordenadora 
e controladora. Nesse sentido, sociedade pode ser definida como uma instituição limitadora 
das ações individuais em prol da manutenção da coletividade. 
Podemos dizer que o segundo exemplo carrega consigo uma leitura de sociedade que 
depende de certa leitura do que é o indivíduo. Imagine-se vivendo livremente em um campo, 
sobrevivendo daquilo que a natureza lhe fornece. Você e seu grupo familiar primitivo, talvez 
formado de uma esposa e filhos, vivem utilizando ferramentas rudimentares que permitem 
que seu grupo familiar se proteja do frio, que se alimente. Mas você não é o único grupo 
familiar existente no mundo. Vez ou outra, depara-se com outra família ou com outro grupo 
maior de pessoas que podem não ser amistosas. Alguns de seus vizinhos propõem ajudá-
lo a proteger sua família. Para tanto, vocês combinam um conjunto de regras entre os 
grupos de famílias e vizinhos. Regras rudimentares, por exemplo, dividir os horários em que 
buscarão comida e revezar a guarda noturna do acampamento. O grupo começa a crescer 
e vocês têm que organizar casamentos entre os filhos dos vizinhos, funerais. Novas regrassobre essas atividades coletivas vão surgindo. 
Para os filósofos conhecidos como “contratualistas”, como Thomas Hobbes (1578-1679) e 
John Locke (1632-1704), esse cenário ilustra o surgimento da sociedade. Para essa tradição 
de pensamento, a vida em sociedade sempre implica na abdicação da liberdade individual 
absoluta para que os grupos possam funcionar. E, como consequência da escolha pelo 
coletivo, nascem instituições pautadas em códigos jurídicos rudimentares: 
1) o coletivo decide quem será responsável por punir aqueles que não servem ao propósito 
maior de proteção do grupo e como será aplicada essa punição; 
9
LEITURAOBRIGATÓRIA
2) o coletivo define as regras de casamento com filhos dos vizinhos que fazem parte da 
comunidade, já que o sujeito não poderá desposar os membros da própria família, mas 
também não poderá desposar o inimigo; 
3) o coletivo divide e distribui as tarefas necessárias à sobrevivência, que antes eram 
todas realizadas por esse único sujeito vivendo livre junto à natureza e agora ficam sob a 
responsabilidade de especialistas. 
Tal leitura sobre o surgimento da sociedade está presente em diversas obras ao longo do século 
XIX. Autores como Lewis Morgan (1818-1881) perguntavam-se sobre como a humanidade 
construiu, desde o começo de sua existência até o século XIX, as estruturas de poder, as 
estruturas de produção e os sistemas de crença que esses autores conheceram. E recorreram 
a uma imagem do ser humano vivendo em seu estado de natureza semelhante ao que os 
contratualistas utilizaram, porém, partindo de influências teóricas distintas. Esse era um momento 
em que o evolucionismo cultural proposto por Herbert Spencer (1820-1903) estava em alta 
conta entre os escritores que se dedicavam aos estudos da sociedade e do homem. 
Inspirado por uma das principais obras de Morgan, A Sociedade Antiga, Friedrich Engels 
(1820-1895) escreverá seu famoso livro A origem da família, da propriedade privada e 
do Estado. É interessante para nós citar esses textos, porque a noção de sociedade, de 
família e de indivíduo em ambos os livros está presente em nosso imaginário até os dias 
atuais. Mas como? Que noção de família é essa?
Notem: quando imaginamos o homem andando livre pelos campos e deparando-se com 
os perigos do encontro com outros homens livres, estamos pressupondo um tipo bastante 
específico de indivíduo. Guardemos essa informação por enquanto e continuemos a 
raciocinar como os evolucionistas culturais e como Engels, na referida obra. Volte mais 
um pouco em sua abstração sobre o cenário que estávamos desenhando até então. O ser 
humano, seguindo seus instintos de sobrevivência, tem de lidar com ameaças da natureza 
e de sua própria espécie e tem de lidar com aquilo que a natureza lhe dá para sobreviver. 
Ele, inicialmente, deveria ser um caçador e um coletor, porque atividades como agricultura 
requerem que ele se fixe em um território e que trabalhe a terra. Além da necessidade 
individual de sobrevivência, há a necessidade de manutenção da espécie, portanto, a 
necessidade de reprodução, correto? Trabalho e casamento são, para Morgan e Engels, a 
base da constituição desse protótipo de sociedade sobre o qual falamos anteriormente. As 
primeiras associações entre seres humanos se dão:
10
LEITURAOBRIGATÓRIA
1) pelo estabelecimento de sistemas e relações de parentesco;
2) pelo estabelecimento de formas de organização social da produção.
A primeira forma de associação, para esses autores, são as famílias. Morgan recorrerá 
a dados sobre as origens das sociedades greco-romanas e às origens das fratrias e clãs 
para refletir o surgimento das famílias, dos assentamentos em territórios e para refletir 
sobre o início da produção agrícola. As relações de parentesco, para este autor, são a 
base do que podemos chamar de uma sociedade primitiva. As famílias vão se unindo em 
grupos maiores que trocarão coisas, trabalho e pessoas. Homens que chefiam as famílias 
trocam mulheres, o que para Morgan é parte fundamental da história das famílias e das 
relações de parentesco. O que isso significa? As famílias se formam a partir do casamento 
e as famílias se relacionam casando suas filhas, segundo o raciocínio do autor. Assim, os 
grupos de parentes vão instituindo regras de casamento e de posse da terra. A organização 
dos sistemas de trocas de pessoas pelo casamento acompanha a sedentarização, que 
possibilita a agricultura e, posteriormente, a troca de produtos entre aldeias. Logo esses 
grupos precisam também de códigos que organizem sua vida política e constroem sistemas 
de crenças e religiões, ligadas à figura desses sujeitos que gerenciam o poder. Fica mais 
fácil visualizar tudo isso quando retomamos os sistemas políticos europeus, com famílias 
reais trocando seus nobres e garantindo a hereditariedade do poder, que em muitos casos 
também é religioso. 
Temos, portanto:
1) As famílias como base da formação das sociedades primitivas.
2) A associação entre famílias fundando o direito à terra.
3) O direito à terra relacionado à sedentarização, à agricultura.
4) Os códigos que regem as relações entre famílias também regem a vida política e a vida 
religiosa.
11
LEITURAOBRIGATÓRIA
Engels irá apoiar-se em A Sociedade Antiga para nos dizer que a origem da sociedade 
humana está ligada à origem da propriedade privada e da dominação das mulheres pelos 
homens. Como Karl Marx (1818-1883), Engels nos trará uma visão crítica sobre a forma 
violenta como a sociedade humana se constitui, apontando como as famílias se formam a 
partir da dominação do território e das mulheres. Ambos falarão também do papel da família 
burguesa na sustentação das ideologias que servem à propagação da exploração do trabalho 
no sistema de produção capitalista, que sucede as formas de acumulação primitivas. 
Até o momento, falamos de uma leitura sobre a relação entre indivíduo e sociedade que 
compartilha alguns pontos:
1) Partem da noção do homem primitivo para falarem na formação histórica da humanidade.
2) Consideram que este homem primitivo abdica de seus instintos e de sua liberdade a favor 
das relações sociais.
3) Discutem que famílias são parte fundamental das primeiras formas de organização social.
4) Discutem o papel da violência na formação da sociedade, seja considerando que os 
homens se associam para protegerem a si próprios e a suas famílias, seja considerando 
que a violência está presente nas formas de acumulação primitivas (guerras pela terra, 
dominação das mulheres).
A imagem deste início da vida em sociedade lhe pareceu bastante plausível, não é mesmo? 
Só que ela não responde a todas as perguntas sobre a relação entre indivíduo, família e 
sociedade que estão presentes na obra de outros dos principais autores fundadores do 
pensamento sociológico, como Émile Durkheim. Afinal, que perguntas são essas?
A sociedade como um imperativo moral 
Grande parte do potencial que as crianças possuem para aprender vem da habilidade que 
elas possuem de fazer perguntas que nós, adultos completamente socializados, não fazemos 
mais porque achamos que já temos resposta para tudo. Vamos exercitar essa habilidade 
retomando o cenário do homem primitivo que decide um belo dia assinar o contrato social 
12
LEITURAOBRIGATÓRIA
que funda a sociedade para seu próprio benefício. Não lhe parece estranho imaginar que 
este homem forma famílias, que encontram outras famílias vizinhas e vai decidindo, por 
tentativa e erro, como vão ser as regras que vão organizar o grupo maior? Se esse homem 
vive sozinho, no máximo com um grupo de mulheres, como surge uma família? Quando 
ele decide que algumas mulheres, como filhas e sua própria mãe, não estão disponíveis 
para casamento? E, mais importante, como essas pessoas se comunicam? Quando esse 
homem primitivo começa a falar? O que surge primeiro, a linguagem a partir da qual os 
homens organizam seus códigos de conduta em sociedade, ou a própria sociedade?
É justamente essa última pergunta que alimenta as preocupações de Durkheimsobre o que 
é a sociedade e sobre sua relação com indivíduo e família. Para o autor, a sociedade não 
se resume a uma somatória de indivíduos associados. A sociedade, na obra durkheimiana, 
é um imperativo moral e não somente esse aglomerado de pessoas organizadas e, mais do 
que isso, na mesma perspectiva não podemos dizer que a vontade individual de proteção 
está por trás da formação da sociedade, porque ela existe antes da existência do próprio 
indivíduo. 
O que significa dizer que a sociedade é um imperativo moral? Podemos dizer que, para 
Durkheim, é a vida social que está por trás das decisões individuais e não o contrário. O autor 
não está preocupado em investigar as origens da sociedade, como autores evolucionistas 
culturais estavam. Suas preocupações são com as seguintes questões:
1) Qual o papel da sociedade em nossa formação enquanto seres humanos?
2) Qual o lugar do indivíduo na sociedade?
Note que, quando paramos para avaliar com atenção o primeiro ponto, temos uma reviravolta 
na forma como estivemos pensando até então. Se, antes, vínhamos desenhando o cenário 
do homem livre na natureza que se une a outros homens e funda a sociedade para proteger-
se, agora desenhamos o cenário do homem sendo formado no seio de um grupo social. 
Afinal, tudo aquilo que aprendemos, inclusive as formas de produzir e os códigos de conduta 
a partir dos quais vivemos, nos é apresentado pela sociedade. 
13
LEITURAOBRIGATÓRIA
Família como primeiro espaço de socialização
Parte essencial da educação de um ser humano é o aprendizado de como viver em 
sociedade. A esse processo educacional a partir do qual aprendemos a nos comportar em 
atividades coletivas damos o nome de socialização. Quando nascemos, já fazemos parte 
de um grupo social e de uma família. E a preocupação de Durkheim será a de estudar os 
imperativos sociais presentes em nossos comportamentos individuais. É isso que significa 
dizer que a sociedade é um imperativo moral. Nem que quisesse, o ser humano poderia 
viver fora dela, pois ele assume sua humanidade só quando vive em sociedade. Somos 
seres gregários, somos seres sociais por definição, segundo Durkheim. 
Ao dizer que a vida em sociedade nos forma enquanto sujeitos, o autor também está nos 
dizendo que cada um de nós tem papel fundamental no funcionamento da sociedade 
enquanto um todo independente do indivíduo. Todos nós, de algum modo, agimos para a 
manutenção das formas de sociabilidade (que Durkheim chama de solidariedade) próprias 
ao momento histórico, às relações de produção e à cultura do grupo em que vivemos. 
Por mais que pensemos que temos liberdade de escolha e ação individual, acabamos 
agindo para manutenção dessa moral social a partir da qual fomos socializados desde o 
momento em que nascemos. E a família e a escola possuem papel fundamental nesse 
processo de socialização que nos faz humanos e que nos faz parte de um grupo. Nas 
palavras do autor:
[...] cada sociedade considerada em momento determinado de seu 
desenvolvimento possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos 
de modo geralmente irresistível. É uma ilusão acreditar que podemos educar 
nossos filhos como queremos. Há costumes com relação aos quais somos 
obrigados a nos conformar; se os desrespeitarmos, muito gravemente, eles 
se vingarão em nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em estado 
de viver no meio de seus contemporâneos com os quais não encontrarão 
harmonia. Que eles tenham sido educados, segundo ideias passadistas ou 
futuristas, não importa; num caso como noutro, não são de seu tempo e, por 
consequência, não estarão em condições de vida normal. Há, pois, a cada 
momento, um tipo regulador de educação do qual não nos podemos separar 
sem vivas resistências, e que restringem as veleidades dos dissidentes. 
(DURKHEIM, 1977, p. 30).
14
LEITURAOBRIGATÓRIA
Outra contribuição fundamental que podemos citar é a forma como o autor analisa a 
sociedade de classes. Algo comum aos fundadores do pensamento sociológico clássico é o 
estudo das relações sociais na sociedade pós-industrial. Marx vai nos dizer que o indivíduo 
livre e dono de si é uma invenção necessária à sociedade do trabalho. Temos de acreditar 
que podemos escolher para que possamos fazer parte de um sistema que nos promete 
ascensão social pelo trabalho. Max Weber (1864-1920) vai nos dizer que a burocratização, 
a racionalização e a ciência são essenciais para a construção da estrutura da nova empresa 
capitalista, portanto, salienta também o papel da família e da educação na sociedade de 
classes. Para Durkheim, o que diferencia a sociedade capitalista, a sociedade organizada 
em classes e que se pauta na produção industrial, é a divisão social do trabalho. Com cada 
um de nós nos especializando por uma parte muito pequena da produção, tornamo-nos 
muito mais interdependentes, mas temos a sensação paradoxal de que não dependemos 
uns dos outros. Você se acha livre na sociedade de classes? Então imagine o seguinte 
cenário: um dia, todos os lixeiros ou todos os motoristas de trem param suas atividades. O 
sistema todo para. A sociedade de classes, para Durkheim, é como um organismo vivo. Se 
uma parte dele entra em falência, não demorará muito para que o corpo pare de funcionar. 
Se, para os contratualistas e para os evolucionistas culturais, a família é uma espécie de 
sociedade rudimentar, ou seja, uma primeira forma de associação e de relação social, 
para os fundadores da sociologia, a família é o primeiro lugar onde todos os princípios 
de sociabilidade necessários para a reprodução da sociedade nos serão ensinados. Para 
Marx, a família burguesa tem papel fundamental na reprodução da exploração do trabalho. 
Para Weber, famílias também estão por trás dos tipos de poder que são reproduzidos nas 
diferentes sociedades. Para Durkheim, também é no seio familiar que somos educados 
para viver em sociedade e, mais do que isso, para reproduzir os imperativos morais que 
sustentam a ordem social e seu funcionamento. 
Para a sociologia, família, religião e escola são as principais instituições responsáveis por 
nos educar para reproduzirmos a ordem social vigente na sociedade de classes. Tendo isso 
em mente, seguiremos neste curso analisando mais a fundo como isso acontece.
15
Indivíduo e Sociedade, por Ana Paula Poll, fala proferida em TED Brasil
Em sua fala no TED em Volta Redonda, a cientista social Ana Paula Poll nos convida a 
fazer perguntas reflexivas sobre o Brasil e sobre a sociedade brasileira. Baseando-se em 
uma proposição clássica da sociologia sobre o ser humano ser por definição um ser social, 
um ser gregário, e sobre a necessidade dos processos de socialização para a formação 
dos sujeitos, a autora inicialmente discute a interdependência que constitui a sociedade do 
trabalho para, em seguida, refletir as especificidades das relações entre o eu e a coletividade 
no Brasil. Qual a rede de relações que constitui a sociedade brasileira? Essa é a pergunta 
essencial proposta pela autora. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=a8gyl6MPHsI>. Acesso em: 23 ago. 2017.
Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim, produzido pela UNIVESP TV
O vídeo apresenta, de forma bastante didática, o conceito de sociedade utilizado por Émile 
Durkheim. Contém uma pequena biografia sobre Durkheim e o contexto teórico em que o 
autor está inserido, feita pelo sociólogo e professor da USP Gabriel Cohn. Discute e explica 
também os principais conceitos da obra durkheimiana, como o de Fato Social. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SMaxxNEqk7U>. Acesso em: 23 ago. 2017.
Dicionário de Sociologia, de Raymond Boudon
O site Ebah é uma rede social que se dedica ao compartilhamento de materiais para 
professores. O link indicado abaixo contém trechos do Dicionário de Sociologia de Raymond 
Boudon e pode ser bastante útil para aqueles que buscam compreender o sentido que a 
sociologia dá para termos com os quais estão tendo contato pela primeira vez ou para 
termos com os quais só tiveramcontato a partir do senso comum. Lembre-se, muitas 
vezes o mesmo termo ou conceito tem sentidos diferentes de acordo com o autor ou com 
o contexto histórico em que são usados. É sempre bom ter um dicionário da área em mãos 
para conferir os possíveis sentidos de um novo termo ou conceito.
Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAW-AAB/dicionario-
sociologia?part=11>. Acesso em: 23 ago. 2017.
LINKSIMPORTANTES
16
IBGE
O site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística possui informações importantes 
e atualizadas sobre a configuração socioeconômica, geracional e demais informações 
fornecidas pelos dados mais recentes dos censos sobre família. No link específico aqui 
indicado, temos uma análise dos dados do Censo de 2010, que indicam mudanças na 
estrutura da família brasileira. É essencial, quando falamos sobre gerações ou sobre 
contextos históricos, termos dados que nos permitam observar diferenças regionais, 
diferenças econômicas, diferenças religiosas para que não tomemos nosso meio social 
como exemplo universal daquilo que estamos observando. 
Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/familias-e-
domicilios.html>. Acesso em: 23 ago. 2017.
LINKSIMPORTANTES
17
Instruções: 
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você 
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia 
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 1:
Imagine-se começando a estudar um novo 
conteúdo, sobre o qual você não tem conhe-
cimentos prévios, mas já ouviu falar. Quais 
seriam seus primeiros passos para começar 
a leitura de um livro de sociologia indicado 
por seu professor? Descreva esses passos 
e explique por que são importantes.
Questão 2:
Assinale a alternativa que contém um pon-
to em comum entre a obra dos três pais 
fundadores da sociologia, Karl Marx, Max 
Weber e Émile Durkheim.
a) Todos esses autores têm como 
problema principal de pesquisa o estudo 
das origens do contrato social.
b) Todos esses autores dialogam com a 
obra A origem da família, da propriedade 
privada e do Estado.
Questão 3:
Leia o texto abaixo:
(...) cada sociedade considerada 
em momento determinado de seu 
desenvolvimento, possui um sistema 
de educação que se impõe aos 
indivíduos de modo geralmente 
irresistível. É uma ilusão acreditar que 
podemos educar nossos filhos como 
queremos. Há costumes com relação 
c) Todos esses autores, de algum modo, 
estão estudando as relações sociais na 
sociedade de classes, na sociedade pós-
industrial.
d) Todos esses autores dialogam com 
a obra A sociedade antiga, de Lewis 
Morgan.
e) Todos esses autores estudam a 
evolução das sociedades humanas no 
tempo, desde a cidade antiga até a 
sociedade pós-industrial. 
18
AGORAÉASUAVEZ
Questão 4:
Discorra sobre o papel da família na obra 
de Émile Durkheim.
Questão 5:
O que significa dizer que a Sociedade não 
é um mero aglomerado de indivíduos, para 
Durkheim?
aos quais somos obrigados a nos 
conformar; se os desrespeitarmos, 
muito gravemente, eles se vingarão em 
nossos filhos. Estes, uma vez adultos, 
não estarão em estado de viver no 
meio de seus contemporâneos com os 
quais não encontrarão harmonia. Que 
eles tenham sido educados, segundo 
ideias passadistas ou futuristas, não 
importa; num caso como noutro, não 
são de seu tempo e, por consequência, 
não estarão em condições de vida 
normal. Há, pois, a cada momento, 
um tipo regulador de educação do 
qual não nos podemos separar sem 
vivas resistências, e que restringem 
as veleidades dos dissidentes. 
(DURKHEIM, 1977, p. 30).
Após estudar o que apresentamos nesse 
primeiro tema, sobre a obra de Durkheim, 
assinale a alternativa que explica a senten-
ça “É uma ilusão acreditar que podemos 
educar nossos filhos como queremos”, pre-
sente no trecho acima:
a) Não podemos educar os filhos 
independentemente da sociedade 
porque a própria família é uma instituição 
social responsável por reproduzir as 
regras sociais. 
b) Não podemos educar nossos filhos 
como queremos porque existem leis que 
nos obrigam a colocá-los na escola. 
c) Somente a escola é responsável pela 
educação dos filhos.
d) Não podemos educar nossos filhos 
como queremos porque o Estado é 
responsável pela educação das crianças.
e) Não podemos educar nossos filhos 
como queremos porque a vontade 
individual se sobressai à vontade coletiva 
na sociedade de classes.
19
FINALIZANDO
Neste caderno, introduzimos algumas das questões que autores fundadores do pensamento 
sociológico fizeram para a família, para a sociedade e para o indivíduo. Discutimos a 
importância de atentarmos para o significado que cada autor dá para esses termos. 
Mostramos que, mesmo fazendo perguntas diferentes sobre o que é a sociedade, como ela 
funciona, porque vivemos em sociedade, todos esses autores, de algum modo, salientaram 
o papel da família.
Enquanto os contratualistas e evolucionistas culturais se preocuparam em perguntar 
como a sociedade surge e nos disseram que a família é como uma primeira instituição 
social, os fundadores da sociologia se preocuparam em compreender o papel da família 
na reprodução das formas de sociabilidade próprias a cada momento histórico e a cada 
sociedade. Se, num primeiro momento, a família é vista como essa primeira organização 
social, num segundo ela é vista como uma instituição social que, ao mesmo tempo em 
que vive segundo costumes e códigos de conduta de determinado meio social, nos ensina 
esses costumes e códigos. 
Você já pode, a partir dessa aula, tirar algumas conclusões sobre a relação entre família, 
sociedade e indivíduo para a sociologia, não é mesmo?
1) A sociedade é algo que nos forma enquanto indivíduos e o que somos depende do 
momento histórico e social em que vivemos;
2) A família também se forma no seio de uma sociedade e de um momento histórico 
específicos, portanto, para definirmos família precisaremos compreender o contexto sobre 
o qual estamos falando;
3) A família é uma instituição social importante na sociedade de classes, pois é responsável 
por nos ensinar a viver em sociedade, a nos relacionarmos uns com os outros.
Tendo isso em mente, partiremos para nossas próximas aulas, em que trabalharemos com 
um pouco mais de profundidade esses pontos. 
20
GLOSSÁRIO
Palavra-chave: Sociedade.
Neste curso, trataremos o termo Sociedade com um pouco mais de rigor acadêmico, o que 
significa que sempre atentaremos para o sentido dado pelos autores que estamos citando 
ou que estamos lendo. Nos dicionários de sociologia você encontrará um verbete que já 
parte do princípio de que quando falamos em Sociedade a partir de autores da sociologia, 
estamos necessariamente pressupondo uma estrutura organizada de relações entre sujeitos 
que vivem a partir de uma ordem moral que é social, que vivem e se reconhecem como 
parte de um grupo organizado. Você encontrará classificações do uso do termo, como 
sociedade simples e sociedade complexa, sociedade rural e sociedade urbana, sociedade 
capitalista e sociedade feudal, por exemplo. O que há em comum a todas essas comparações 
tipológicas entre sociedade é a busca por algo que estruturalmente as define como tais. Em 
nenhum desses casos sociedade é tratada como sinônimo de nação ou como uma mera 
organização de pessoas que vivem em um espaço gerido por leis ou por figuras de poder. 
No caso da tipificação que diferencia sociedade capitalista de sociedade feudal, a estrutura 
comparativa, além da produção, envolve uma análise no tempo e no espaço do sistema de 
trocas (monetário, amonetário), do tipo de trabalho (servil, escravo, assalariado).
Palavra-chave: Família.
Assim como faremos com o conceito de Sociedade, pensando no sentido dado pelos 
autores citados para o termo, faremos com família. Em tese, podemos dizer que a família 
é um grupo de pessoas associado por relações de parentesco. O que é diferente de dizer, 
por exemplo, que para fins legais e de proteçãodo Estado, uma família se constitui a partir 
da união estável entre homem e mulher. Como conceito, o termo família abrange todo um 
âmbito de relações que não está descrito na definição apresentada em nosso Código Civil. 
Para autores da sociologia, como Durkheim, por exemplo, família é uma das principais 
instituições sociais, um dos primeiros espaços onde aprendemos as regras necessárias 
para a vida em sociedade, além da Escola. Para outros, como Weber, é imprescindível 
21
estudar a genealogia para compreensão da forma como se estruturam relações de poder 
e como se configuram os tipos de poder. Já para a antropologia, que se dedica ao estudo 
de culturas e sociedades, a estrutura jurídica evocada pela família ocidental, sobre a qual 
os sociólogos estão falando ao pensarem na relação entre sociedade e família, não é 
universal. Antropólogos clássicos dedicaram-se ao estudo das relações de parentesco e não 
necessariamente ao estudo da estrutura familiar sobre a qual estão tratando os sociólogos. 
Isso não quer dizer que a definição jurídica ou mesmo uma definição religiosa precisem 
ser desconsideradas. Quer dizer, sim, que a definição conceitual nos permite analisar os 
diversos sentidos que a palavra assume para diversos grupos e instituições sociais. Uma 
dica quando estamos estudando a relação entre família e sociedade é analisar como os 
códigos jurídicos de uma nação a definem, como as religiões definem família, e como ela 
se estrutura socialmente, demograficamente e economicamente em diferentes regiões de 
um país. Todos esses dados serão importantes para que possamos pensar inclusive na 
forma como está estruturada a família enquanto instituição social ou enquanto relação de 
parentesco em nossa sociedade, nosso país, nossa cultura. 
Palavra-chave: Indivíduo.
Indivíduo é um termo importantíssimo para a formação do pensamento sociológico. Todos 
os principais autores fundadores da antropologia partem de questionamentos sobre o que 
é o indivíduo para refletir sobre o que é a sociedade. De maneiras distintas, autores como 
Durkheim, Marx e Weber nos mostram como a ideia de indivíduo foi construída historicamente 
e como ela faz sentido para certa sociedade, ou seja, não é um termo que pode ser usado 
para qualquer momento histórico e para qualquer sociedade. A noção de indivíduo enquanto 
sujeito de direitos, enquanto sujeito que pode ter posses e que é dono de si e de seu trabalho 
nem sempre existiu na história da sociedade ocidental com esse sentido específico, assim 
como não se aplica a qualquer sociedade. Boudon (1990), em seu dicionário de Sociologia, 
salienta que o individualismo enquanto sinônimo de posse do corpo individual, da vontade 
individual, de terras e bens, portanto, como sinônimo de um sujeito que de modo algum 
é devedor da sociedade porque é proprietário exclusivo de si mesmo, está relacionada 
ao individualismo do século XVII. Filósofos gregos, como Aristóteles, já falavam sobre 
individualidade, ou seja, sobre o lugar de cada pessoa no Cosmo, o que é diferente de 
dizer que todos os homens têm direito à sua própria individualidade, que a possuem desde 
o momento em que nascem. Segundo Durkheim, essa segunda noção, que prevalece na 
sociedade em que vivemos, é própria à sociedade com um tipo de solidariedade chamada 
de orgânica, com maior interdependência entre as pessoas, mas, paradoxalmente, com a 
GLOSSÁRIO
22
sensação de que não devemos nada ao coletivo ou que nossa individualidade prevalece 
sobre a coletividade. 
Palavra-chave: Ciências Sociais.
No Brasil, as ciências sociais correspondem à grande área que contém a antropologia, a 
sociologia e a ciência política. Em outras localidades, temos também as ciências sociais 
aplicadas, que correspondem a áreas como economia, ciência política, demografia. Neste 
curso, quando nos referirmos às ciências sociais, nas três áreas atuais que a compõem: 
antropologia, sociologia e ciência política, falaremos em ciências sociais e não somente 
em sociologia, porque retomaremos momentos do século XX em que essas áreas ainda 
estão se formando e em que não temos uma separação institucional entre elas. Também 
optaremos por falar em ciências sociais ao invés de falarmos em sociologia porque há um 
diálogo teórico estabelecido entre áreas como antropologia, sociologia, filosofia, história, 
ciência política, demografia, que não pode ser ignorado quando pensamos na relação entre 
família e sociedade. 
Palavra-chave: Relações Sociais.
Por muito tempo, nas ciências sociais em geral, mais especificamente em algumas tradições 
clássicas do pensamento antropológico, como é o caso do estrutural-funcionalismo inglês, e 
para a escola sociológica francesa de Durkheim, o termo relações sociais complementou o 
próprio sentido de Sociedade. Sociedades são estruturadas por relações sociais. Digamos 
que a forma como os sujeitos se relacionam em uma cultura ou em um grupo é o aspecto 
observável que nos permite delinear a estrutura que constitui uma Sociedade e suas 
instituições. Por exemplo, para Durkheim, nas sociedades onde temos divisão social do 
trabalho, podemos abstrair um tipo de sociedade que funciona como um organismo, como 
uma célula: cada sujeito com seu trabalho específico, com sua função, torna-se parte da 
engrenagem necessária ao funcionamento da estrutura. A forma como estabelecemos 
nossas relações de troca, como construímos nossos códigos de conduta em sociedade, 
como ensinamos os membros de uma sociedade a cumpri-los, são parte do que podemos 
chamar de relações sociais – redes de pessoas que, regidas por princípios sociais e culturais, 
trocam informações e coisas entre si. 
GLOSSÁRIO
23
GABARITO
Questão 1
Alguns passos importantes para começar a leitura de textos acadêmicos são:
1) Pesquise um pouco sobre a área de conhecimento que está começando a estudar. 
O que hoje está sendo feito ou pesquisado sobre o assunto? Onde são formados os 
profissionais que trabalham nessa área de estudo e de pesquisa? Quais os principais 
fundadores desse tipo de conhecimento?
2) Pesquise o momento em que o livro foi lançado. O meio social em que os autores estão 
inseridos e a época influenciam a escrita e o conteúdo. Autores dialogam com suas 
épocas. 
3) Pesquise em dicionários da área os conceitos básicos presentes nesses livros, com 
quem o autor está dialogando ao escrevê-lo. Muitos livros são escritos em resposta a 
outros livros e autores.
Questão 2
Resposta correta: C
a) Podemos dizer que há uma influência de autores contratualistas na obra de Marx, que 
dialoga criticamente com esses filósofos, mas não podemos fazer tal afirmação para Weber 
e Durkheim, que dialogam com outros filósofos, como Kant.
b) Na verdade, esse livro de Engels dialoga com o livro de Morgan e com parte da obra de 
Marx, mas os outros autores não mantêm um diálogo explícito com o livro.
c) Resposta correta. De algum modo, todos eles estão estudando as relações sociais na 
sociedade de classes.
d) Na verdade, é Engels quem dialoga com essa obra.
24
e) Na verdade, para Durkheim, a família é uma instituição social, mas ela própria é fruto de 
uma sociedade, é constituída de acordo com a moral social que predomina em determinado 
grupo e em determinado momento histórico.
Questão 3
Resposta correta: A
a) Resposta correta. A família acaba reproduzindo formas de educação que são definidas 
no seio da sociedade. 
b) Para Durkheim, a lei também é uma instituição social. A sociedade se sobrepõe à família 
e inclusive aos códigos legais. Os códigos legais podem mudar, mas inclusive eles são 
formados no seio da sociedade. 
c) A escola, a família, a religião, são instituições importantíssimas para a educação e não 
somente a família. 
d) O Estado também é uma instituição social, como o sistema jurídico. Ele faz parte da 
Sociedade, como a família e as leis. 
e) É justamente o contrário, para Durkheim. Achar que o indivíduo é livre para fazer o que 
quer é parte do paradoxo que forma a sociedade com divisão do trabalhosocial. Achamos 
que somos livres, mas estamos cada vez mais dependentes uns dos outros.
Questão 4
A família é uma das instituições sociais responsáveis por educar os sujeitos para a vida 
em sociedade. É no seio da família que aprendemos as primeiras regras sobre como nos 
comportamos em espaços públicos, sobre o que podemos fazer e o que não podemos, 
por exemplo.
Questão 5
Primeiramente, o indivíduo como conhecemos é parte da sociedade de classes e da 
sociedade com divisão social do trabalho. Por outro lado, a sociedade é uma entidade moral 
independente, para Durkheim. Ela se sobrepõe à vontade individual e à liberdade individual 
e, inclusive, nos forma enquanto indivíduos com o propósito de sermos parte especializada 
num tipo específico de sistema social, político e produtivo.
GABARITO
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REFERÊNCIAS
BOUDON, Raymond e outros. Dicionário de Sociologia. Lisboa: Publicações D. Qui-
xote, 1990. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAW-AAB/dicionario-
-sociologia?part=1>. Acesso em: 30 ago. 2017.
DURKHEIM, Émile. A educação como processo socializador: função homogeneizadora e 
função diferenciadora. Educação e sociedade: leituras de sociologia da educação. São 
Paulo: Nacional, 1977.
FAMÍLIAS, uniões e nascimentos. IBGE. Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-
-conhecer-o-brasil/nosso-povo/familias-e-domicilios.html>. Acesso em: 30 ago. 2017.
GOIRIS, Fabio Anibal. O direito natural: dos contratualistas a Karl Marx. Tempo da Ciên-
cia, v. 18, n. 35, p. 60-82, 2011.
MAIOR, Heraldo Pessoa S. Durkheim e a família: da “introdução à sociologia da família” à 
“família conjugal”. Revista Anthropológicas, v. 16, n. 1, 2011.
MORGAN, Lewis Henry. A sociedade antiga. Rio de Janeiro: Expresso Zahar, 2014.
POLL, Ana Paula. Indivíduo e Sociedade. TED Talks. Volta Redonda, 14 mar. 
2017, 19:44, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=a8gyl6MPHsI>. Acesso em: 30 ago. 2017.
SETTON, Maria da Graça Jacintho. As religiões como agentes da socialização. Cadernos 
Ceru, v. 19, n. 2, p. 15-25, 2008.
TOZONI-REIS, Marilia Freitas de Campos. Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim. 
UNIVESP TV, 2010, 17 min, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=SMaxxNEqk7U>. Acesso em: 30 ago. 2017.
WEBER, Max. Comunidade e sociedade como estruturas de socialização. Comunidade 
e sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São 
Paulo: Editora Nacional e Editora da USP, p. 140-143, 1973.
Família e Sociedade
Autor: Ana Carolina Bazzo Silva
Tema 02
Relações sociais, sistemas 
jurídicos e famílias
seç
ões
Tema 02
Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e 
Sociedade: Relações sociais, sistemas 
jurídicos e famílias. Caderno de Atividades. 
Valinhos: Anhanguera Educacional, 2017.
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tirar negrito e colocar itálico 
Seções Seções
FINALIZANDO
REFERÊNCIAS
GABARITO
LEITURAOBRIGATÓRIA
CONTEÚDOSEHABILIDADES
AGORAÉASUAVEZ
GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES
4
Tema 02
Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias
5
Prezado aluno, neste caderno você será apresentado a conceitos e autores que o permitirão 
refletir sobre um aspecto importante do estudo da relação entre família e sociedade: as 
noções jurídicas de família. Para tanto, discutiremos as origens sociais e culturais do direito 
e da lei. Você deve ter notado que nosso objetivo, com este conteúdo, será sempre abordar 
as temáticas propostas a partir de suas origens sociais e culturais. Esse também será 
nosso propósito aqui, neste caderno. 
Se, num momento anterior, acompanhamos questionamentos que nos permitem 
compreender a força da sociedade na definição e na constituição do que são as famílias e 
os indivíduos, neste vamos aprofundar essa leitura para que possamos compreender que 
as definições de família nos códigos normativos também acompanham contextos culturais, 
sociais, políticos, históricos e, inclusive, acadêmicos, já que a produção de conhecimento 
também não se aparta de seu tempo e do espaço quando e onde acontece. 
Para seguir o percurso nos estudos dessa temática, será importante ter compreendido 
esse ponto, já discutido no anterior: a sociedade e a cultura exercem força sobre a forma 
particular como famílias e indivíduos pensam, agem e se comportam no mundo e uns com 
os outros. 
Sigamos por este caminho!
Professora Ana Carolina Bazzo da Silva 
CONTEÚDOSEHABILIDADES
mariana.agulhari
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6
LEITURAOBRIGATÓRIA
Tema 1 - Relações sociais, sistemas jurídicos e famílias 
Convite à leitura
No segundo tema de nosso curso, vamos nos aprofundar sobre a leitura das ciências sociais 
sobre as famílias, abordando seu olhar para os sistemas jurídicos. Mostraremos como as 
definições sobre família estão intimamente ligadas ao direito, em nossa sociedade. Para 
tanto, como fizemos anteriormente, vamos partir dos contextos em que os autores estão se 
perguntando sobre o que é o universo do jurídico e como ele se relaciona com a sociedade. 
Quais os imperativos sociais para a normatização da nossa vida cotidiana e extracotidiana? 
Qual o papel da lei na organização da sociedade e da cultura? Como o direito se relaciona com 
outras instituições sociais e quais conceitos das ciências sociais nos ajudam a compreender a 
lei, bem como a família, como parte de uma sociedade? Acompanhemos a argumentação de 
diferentes autores para estes questionamentos, neste caderno. 
Por dentro do tema
Para começar o estudo, é importante que você tenha compreendido alguns dos principais 
pontos discutidos no caderno anterior. Acompanhamos o cenário a partir do qual os filósofos 
contratualistas partem para pensar o homem em seu estado natural, mas, em seguida, 
mostramos que os pais da sociologia pintam um quadro um pouco diferente. 
Para alguns dos contratualistas e para os evolucionistas culturais, a sociedade surge, 
primeiramente, da busca pela proteção por parte de um homem sozinho em seu estado 
de natureza que se associa a um grupo familiar e, em seguida, grupos familiares formam 
um grupo social maior. Já para Durkheim e Weber, o homem só pode ser concebido 
enquanto tal porque vive em sociedade, porque é apresentado desde criança às normas 
sociais e à linguagem. Sugerimos que, caso ainda não tenha compreendido muito bem as 
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7
LEITURAOBRIGATÓRIA
influências teóricas com as quais esses fundadores da sociologia e da antropologia estão 
dialogando, que faça uma pequena pesquisa biográfica. Durkheim, por exemplo, dialoga 
com Montesquieu (1689-1755) e com Kant (1724-1804) em diversos pontos de sua obra, 
enquanto Marx debate com Hegel (1770–1831), Demócrito (460 a.C.–370 a.C.) e Adam 
Smith (1723–1790). Lévi-Strauss com Rousseau (1712–1778), Kant e Freud (1856–1939). 
Pesquise sobre esses autores, conheça um pouco do momento histórico em que estão 
escrevendo e atualize-se sobre as questões que cada um deles faz para o humano e para 
a sociedade. 
Neste tema, trabalharemos com maior detalhamento os autores que se dedicam a estudar 
a relação entre família e lei, ou seja, a estudar essa parte bastante interessante da vida 
em sociedade que é a constituição de regras que organizam e direcionam a vida coletiva. 
Lembre-se de que para compreender o que autores estão dizendo é importantíssimo 
seguir o raciocínio deles e o diálogo que eles estabelecem com outros autores. Lembre-se 
também de que, neste curso, estamos assumindo que o homem é um ser social e cultural 
por natureza. Agora é o momento de nos perguntarmos sobre as raízes culturais e sociais 
da lei. E, portanto, sobre as raízes culturais e sociais das normas que regem a vida familiar 
e a relação da família com a sociedade. 
Relações sociais e leis: o jurídico e a sociedade 
Imagine-se como parte de uma sociedade que, por mais de mil anos, dedicou-se a estudar 
textos sagrados. Imagine-se comoparte de uma sociedade em que a grande maioria da 
população era analfabeta, trabalhava no campo e em que poucos membros de uma elite 
religiosa detinham meios de produção e reprodução do conhecimento. Essa imagem nos 
ajuda a visualizar o que era a Idade Média na Europa do ponto de vista do acesso ao 
conhecimento. Não é por acaso que os grandes filósofos deste período eram religiosos, 
como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. 
Durante o período que data mais ou menos dos séculos V a XV, pensadores ligados à 
Igreja Católica dedicaram-se basicamente a compreender o lugar do homem na obra divina. 
Mas, como o conhecimento não nasce do nada e autores sempre dialogam com seus 
predecessores, mesmo quando o fazem criticamente, é importante citar que esses autores 
estão recuperando a filosofia em seu berço: as cidades antigas gregas e romanas. 
8
LEITURAOBRIGATÓRIA
O mesmo paralelo podemos fazer quando falamos nos autores iluministas e a filosofia, 
em autores iluministas e o direito. Grande parte das preocupações que encontramos nas 
obras de filósofos iluministas sobre a relação entre homem, lei e poder ou entre homem, lei 
e sociedade, tem como referência o direito romano ou o direito consuetudinário (baseado 
em costumes e na oralidade) de populações que ocuparam o território europeu ao longo da 
queda do Império Romano. 
A influência do sistema administrativo e normativo romano nas preocupações dos principais 
filósofos do XVI, XVII, XVIII e XIX é patente. Ora, se vamos pensar a sociedade possível 
com a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, precisamos partir de algum 
lugar. E os autores partiram daquilo que conheciam, porque conviviam com as estruturas 
administrativas e normativas herdadas desde o Império Romano e inclusive aproveitadas 
pela Igreja Católica durante a Idade Média. Até os dias atuais vemos uma grande presença 
do direito romano e do direito germânico na formação dos Estados nacionais modernos e 
em nossas próprias constituições. 
Direito germânico e direito romano? Do que se trata? As estruturas normativas herdadas 
pelos povos europeus se relacionam diretamente com as estruturas de poder e de 
hereditariedade da posse da terra e de bens que vinham desde o Império Romano, mas 
que também dialogam com os costumes dos povos que ocuparam as terras posteriormente, 
como as nações de origem teutônica. Para nós, por que retomar esse contexto é importante? 
Porque os autores do final do XIX e começo do XX que consideramos pais fundadores 
das ciências sociais estão se perguntando também sobre as origens sociais do direito. 
Mas não estão falando sobre qualquer direito, qualquer lei, qualquer sistema jurídico. Estão 
utilizando essa tradição germânica e romana para analisar a sociedade de classes e, mais 
do que isso, para pensar como se organizam as sociedades que não compartilham esses 
códigos ou essas estruturas administrativas. 
Lembre-se de que já em Roma tínhamos estruturas de divisão de poderes, de cidadãos 
que representavam grupos de poder distintos na sociedade. Lembre-se também de que 
no Império Romano já encontrávamos conflitos sobre reforma agrária e posse de terras. 
Por aqui, já podemos abstrair pontos importantíssimos do direito que encontraremos nas 
discussões de autores que o recuperam como parte essencial para o estudo da sociedade:
1) Há uma íntima relação entre os códigos normativos que regem a vida cotidiana de uma 
sociedade e as estruturas de poder dessa mesma sociedade;
mariana.agulhari
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LEITURAOBRIGATÓRIA
2) Há uma íntima relação entre o direito e a posse da terra no direito germânico e no direito 
romano, ou seja, além de versar sobre o que é permitido, o que é proibido e como os desviantes 
devem ser punidos, os códigos jurídicos versam sobre o direito à terra e aos bens.
3) A estrutura administrativa do poder se coaduna à lei, ou seja, tanto a lei serve para a 
manutenção dessa estrutura de poder, quanto ela é definida por essa estrutura administrativa. 
E quanto à sociedade específica em que esses pontos estão sendo retomados? Assim 
como o indivíduo e a família possuem sentidos próprios para a sociedade de classes, como 
discutimos em nossa aula anterior, podemos dizer que o universo jurídico possui um sentido 
próprio para a sociedade de classes. A divisão de poderes que estrutura as repúblicas e 
monarquias europeias no final do XIX e começo do XX; a relação entre Estados nacionais 
que passaram por guerras coloniais após o período das grandes navegações; as guerras 
que instituem novas relações de poder entre nações no XX, tudo isso tem grande influência 
na forma como sociólogos e antropólogos escrevem sobre lei, ordem e poder. 
Especificamente, há algo importantíssimo que é notado por autores franceses e ingleses 
do começo do século XX. Até o momento, pensadores reconhecidos e estudados por 
todos eles fizeram referência às cidades antigas, à administração política romana, ao 
direito consuetudinário dos clãs germânicos quando se perguntaram sobre os códigos que 
organizam a sociedade. 
Nesse modelo de código jurídico, a hereditariedade e as famílias possuíam grande 
importância. Podemos observar melhor a temática quando lemos as peças e textos clássicos. 
Tanto nas narrativas sobre a vida nas cidades antigas gregas quanto nos textos que falam 
sobre o Lar familiaris, espécie de divindade romana que protegia as casas, encontramos a 
família como unidade sobre a qual, de uma forma ou de outra, se debruçam a lei e toda a 
estrutura de relações sociais a que ela se refere. Peças inteiras são escritas em torno da 
temática relação entre cidadãos e servos tendo a dinâmica familiar como cenário. O trabalho 
servil, a posse hereditária de bens, o lugar da mulher, o lugar do homem, tudo se passa no 
universo doméstico. E era justamente esse o modelo de relação entre direito, propriedade 
e família para os autores do XIX, sobretudo os evolucionistas culturais. Sistemas jurídicos 
que versam sobre a hereditariedade da posse de bens, da terra e do poder político estão 
por trás da forma como se organizam as relações sociais, para autores como o historiador 
francês Numa Denis Fustel de Coulanges (1830-1889) e o jurista escocês John Ferguson 
McLennan (1827-1881). De Freud a Durkheim, visualizamos essa família enquanto unidade 
moral e jurídica quando tais autores falarão sobre sociedade e normas. 
10
LEITURAOBRIGATÓRIA
Mas, e quando os grupos sociais não possuem as mesmas unidades familiares com as quais 
estamos habituados a lidar, como podemos compreender a vida jurídica desses povos? E, 
quanto ao contrário, quando povos não possuem a mesma estrutura jurídica com a qual 
estamos habituados a lidar, qual o papel da família? Pensemos nessas questões, a partir 
da agora. 
As famílias, no plural
Antropólogos do começo do XX começam a se deparar com novos dados sobre povos 
com os quais os europeus voltavam a ter contato no período que conhecemos como 
neocolonialismo. Esse contexto da história europeia acompanha a expansão econômica 
advinda com o impacto da industrialização. É um momento em que os dados coletados 
por viajantes sobre costumes de povos da Polinésia, África, Groenlândia, nativos norte-
americanos e outras localidades, começam a trazer novas questões para o lugar da família 
e do direito na definição do que é a Sociedade e do que a organiza. Como se dão as relações 
econômicas e como se normatizam as relações entre sujeitos em sociedades sem Estado 
ou sem escrita? Se não há instituições especializadas na escrita, fiscalização e execução 
da lei, como essas sociedades se mantêm no tempo, organizam-se? 
Note que, quando falamos em direito e em sistemas jurídicos para autores que se questionam 
sobre relações sociais e sociedades, estamos nos perguntando sobre o que organiza e 
mantém as relações sociais em dado grupo. É justamente esse o fio condutor de uma das 
principais obras do sociólogo e antropólogo Marcel Mauss (1872-1950), O Ensaio sobre a 
dádiva, publicada em 1825. Esse tambémé o fio condutor de uma das principais obras do 
antropólogo Bronislaw Malinowski (1884-1942), Crime e costume na sociedade selvagem, 
publicada em 1926. 
O direito fala sobre como devemos agir em sociedade e sobre os princípios que regem tanto 
nossa vida cotidiana quanto a hereditariedade da propriedade e do poder, mas também fala 
sobre o que é o crime. Malinowski captou bem os princípios da regra nas sociedades das 
ilhas do Pacífico Sul já no começo do livro anteriormente referido. A discussão sobre o que 
o autor chama de estrutura e função da lei primitiva começa por Malinowski nos dizendo 
que os termos comunismo, capitalismo e socialismo não servem para descrever a estrutura 
social dos povos das Ilhas de Coral. Segundo ele, para compreender como se dá a relação 
com a propriedade e com a hereditariedade do poder nesta localidade, temos de entender 
11
LEITURAOBRIGATÓRIA
sobre canoas. O papel das canoas, do feitio delas e de toda uma relação de trocas que 
envolve sua produção é essencial na vida cotidiana dos nativos. E, em torno da produção 
da canoa, giram diferentes vértices da jurisprudência sobre a propriedade. 
Inicialmente, observadores que tenham a sociedade de classes como modelo para 
definição do que é o poder, do que é economia, do que é propriedade, cairiam no engodo 
de classificarem sociedades sem Estado como comunistas ou socialistas. Observando a 
estrutura das relações entre famílias, podemos compreender que não é bem assim. Há um 
sistema estabelecido de troca que se relaciona diretamente com um sistema de posse da 
terra advindo das relações entre famílias. E esse sistema é organizado, há sanções para a 
quebra da lei. Para compreendermos melhor a quebra da lei nas sociedades sem Estado, 
é interessante citar os trabalhos de Malinowski com povos das ilhas Trobriand e que foram 
brilhantemente citados na referida obra de Marcel Mauss.
Novos estudantes de ciências sociais, direito e psicologia são apresentados à palavra Tabu, 
mas nem sempre são apresentados ao seu contraponto, a palavra Mana. De origem polinésia, 
as duas palavras se complementam. Tabu tem um significado amplo. Se refere ao sagrado, 
que não pode ser tocado, mas também se refere ao que é proibido, como o casamento entre 
mães e filhos, pais e filhas. Mana, por sua vez, refere-se à potência, ao poder, prestígio. 
Proibição e poder estão intimamente ligados, sobretudo porque quando a regra é quebrada, 
todo o sistema de poder também é afetado. Quando contraio casamento com alguém que 
é proibido para mim, estou quebrando com todo um sistema de hereditariedade da terra, 
das canoas, dos objetos sagrados. A contrapartida da quebra da lei é ser atingido pelo 
desequilíbrio nas relações de poder, de algum modo. A consequência de se enfrentar o Tabu 
é ter que enfrentar Mana. Tabu e Mana, portanto, revelam o jurídico presente no sistema 
de crenças dos nativos da Polinésia. E se relacionam diretamente com as famílias, porque 
casamentos proibidos sempre implicam em uma bagunça na hereditariedade do poder e na 
hereditariedade da terra, estando a quebra da lei relacionada a uma punição sobrenatural. 
Se, pelos sentidos de Tabu e Mana, podemos entender a relação entre crença, direito, poder 
e famílias, pela compreensão do Kula podemos compreender a relação entre economia, 
direito, poder e famílias. Mauss dedicou-se a compreender o direito por trás do ritual 
estudado por Malinowski nas Ilhas Trobriand e que se chama Kula. Trata-se de uma troca 
ritual de braceletes e colares de conchas que segue uma regularidade no calendário anual e 
que segue uma ordem preestabelecida. Sujeitos de uma ilha oferecem um tipo de adorno e 
recebem, em outro momento, outro tipo de adorno. Para Mauss, todo o sistema econômico 
12
LEITURAOBRIGATÓRIA
está representado nessa troca. O presente, a dádiva, não é dado aleatoriamente. A troca 
de presentes representa um sistema organizado de relações sociais que representa a vida 
econômica, as crenças, as relações entre parentes, a forma como o poder é herdado e 
como essas pessoas o administram. O jurídico é, para o autor, aspecto essencial para que 
entendamos esse ritual.
Para Mauss, há alguns fatos sociais que podemos chamar de fatos sociais totais. Sobrinho 
de Durkheim e um de seus discípulos teóricos, Mauss refere-se ao conceito durkheimiano 
de fato social:
1) Fatos sociais são fatos que têm causa estritamente social e não individual, portanto, são 
exteriores ao indivíduo; 
2) Exercem pressão sobre a vida individual, são coercitivos;
3) Não possuem sentido individual, somente coletivo, por isso têm um sentido generalizante.
 
Fatos sociais totais são aqueles que agregam mais de um aspecto da vida social, que 
dialogam com mais de uma instituição social. A vida econômica, a política, a religião e a 
família são instituições sociais. Possuem uma lógica específica para cada grupo social, 
funcionam de acordo com regras que as definem como tais. E há fatos que agregam mais 
de uma instituição social, que as colocam em função uma das outras. É o exemplo do Kula. 
Mas, por que retomar esses estudos é interessante para nossos estudos sobre família e 
direito neste caderno?
Primeiramente, porque a postura de sociólogos e antropólogos do começo do século XX em 
relação às sociedades sem Estado e sem classes sociais é uma postura essencial quando 
vamos pensar em famílias e direito. Malinowski recusou-se a classificar as sociedades 
do Pacífico como estando em estágios de desenvolvimento anteriores ou posteriores ao 
capitalismo ou como sociedades anárquicas. Havia, para o autor, uma forma de organização 
social ali estabelecida. E Mauss nos disse que era justamente o sistema normativo o 
responsável por ordenar, em tais grupos sociais, toda uma estrutura de relações sociais e 
de instituições sociais. O jurídico era o modo que colocava diferentes instituições sociais 
em relação no Kula. A produção de canoas evocava economia, direito e parentesco, para 
Malinowski. 
13
LEITURAOBRIGATÓRIA
Estas análises nos ensinam duas posturas importantíssimas quando falamos em família e 
em códigos jurídicos:
1) Nossa definição legal de família acompanha um contexto social, político e histórico específico;
2) Não necessariamente a definição legal de família de outras sociedades será igual à 
nossa, porque códigos legais também são fatos sociais, ou seja, acompanham a sociedade 
em que são produzidos.
Por consequência, por ora podemos concluir que:
1) existem várias definições possíveis de família;
2) o direito é histórico e, sobretudo, social. 
Sabendo disso, partamos para uma reflexão sociológica e antropológica sobre a família em 
nosso código civil. 
Instituições e famílias
Acompanhando os estudos antropológicos e sociológicos sobre sociedades sem Estado, 
podemos notar que existem normas para as transações econômicas, para a vida cotidiana, 
até mesmo para a vida religiosa. Essas normas, baseadas na oralidade, acabam versando 
sobre diferentes aspectos da vida cotidiana porque, nessas sociedades, as instituições de 
certo modo se misturam tanto no cotidiano, quanto em momentos rituais. 
Mas, e em nossa sociedade? Lembre-se, quando pensamos na sociedade organizada 
na forma de Estados nacionais e na forma de classes sociais, a divisão de poderes e de 
funções é o que marca as relações de trabalho e as relações entre os sujeitos. Quando 
Marx falava sobre classe, salientava-nos que a produção industrial fez uma reviravolta 
na forma como se estrutura o trabalho. Quando falava sobre divisão social do trabalho, 
Durkheim também afirmava que o modelo da produção industrial implica em uma maior 
dependência entre os sujeitos na sociedade de classes. Weber, por sua vez, salientava 
a importância da burocracia administrativa na forma de poder da sociedade capitalista. 
O mesmo podemos observar no direito. Temos leis voltadas para impostos, leis voltadas 
somente para transações internacionais, leis voltadas para aqueles que cometem crimes, 
leis trabalhistas, entre outras.14
LEITURAOBRIGATÓRIA
No direito brasileiro, é no código civil que encontraremos as leis sobre família. É nesta parte 
do código brasileiro que encontraremos todas as leis que falam sobre o cotidiano e a vida 
privada. Nele, no que tange à família, encontraremos leis que versam sobre casamento, 
herança, maioridade penal, filiação. Para nós, é importante atentar para a forma como a 
sociedade brasileira pensa direitos e deveres que advêm do casamento, porque são as 
leis que versam sobre casamento que nos dão o caminho para pensarmos a definição de 
família e como ela muda ao longo do tempo na constituição e na execução da lei. 
Até o momento, podemos dizer que as ciências sociais nos ajudam a pensar situações 
particulares como parte de um contexto social, histórico, político e econômico. Situações 
particulares, vontade individual, definições religiosas sobre família, de modo algum, para 
a sociologia, podem ser a medida ou o modelo para uma definição generalista sobre 
parentesco ou sobre a relação entre sociedade e família. Aprendemos, em nossa aula 
anterior, que inclusive é papel da família nos ensinar a sermos seres sociais, portanto, ela é 
somente uma das instituições que compõem a sociedade no sentido sociológico que o termo 
assume. O direito muda, bem como muda a própria família. Instituições de assistência social 
ou de educação, como a escola, trabalharão com as raízes sociais das questões familiares. 
Conhecê-las é essencial para os propósitos de quem aprende e ensina sociologia. 
15
“Nanook, o Esquimó” (Nanook of the North, 1922), dirigido e escrito por Robert Flaherty
Considerado um dos precursores do documentário, Robert Flaherty mostra neste filme o 
cotidiano de um povo que habitava Port Huron, localidade próxima à Bahia de Hudson, no 
Canadá. Como toda mídia, o vídeo é datado e contém uma leitura específica de sua época 
sobre o que seriam os costumes e as práticas a se observar quando o objetivo é relatar o 
cotidiano de um povo considerado primitivo. Como sobrevivem em um clima inóspito com 
ferramentas rudimentares; qual a base da alimentação; como são as casas; como se dá a 
ocupação da terra; quais as crenças compartilhadas pelo grupo; como é a estrutura familiar 
e as regras de parentesco são exemplos dos temas aos quais os autores do final do XIX 
e começo do XX dedicavam-se. Todos esses pontos se unem quando falamos em fatos 
sociais totais ou em instituições que organizam a rede de relações sociais dentro de um 
grupo. Parte desses temas pode ser observada no documentário pioneiro de Flaherty. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uoUafjAH0cg>. Acesso em: 30 ago. 2017.
Alimentação: os jejuns, os sacrifícios e tudo mais ligado ao ato de comer, produzido 
pela TV Brasil
Tabu é uma palavra polinésia que se refere a algo perigoso e ao mesmo tempo proibido. 
Muitos autores estudaram os tabus relacionados ao casamento e às famílias, mas, talvez, 
uma das formas mais claras de observarmos e compreendermos a noção de Tabu é quando 
analisamos as proibições alimentares presentes em diversas religiões. Há uma íntima relação 
entre o sagrado e as proibições. Para os antropólogos estruturalistas franceses, a mesma 
lógica presente na proibição do incesto está presente nas proibições relativas ao sagrado, 
como as que estão presentes nas restrições alimentares. Quem eu devo alimentar? Com 
quais comidas? O parentesco, a alimentação e as regras sociais são partes fundamentais 
da vida cotidiana em diversas sociedades. No episódio abaixo, produzido pela TV Brasil, 
podemos entrar em contato com uma variedade dessas restrições alimentares presentes, 
por exemplo, no Judaísmo e nas religiões Afro-brasileiras. 
(Disponível em: <http://tvbrasil.ebc.com.br/entreoceueaterra/episodio/alimentacao>. 
Acesso em: 25 set. 2017).
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16
Os três pilares do código civil de 1916: a família, a propriedade e o contrato, por 
Felipe Camilo Dall´Alba
O artigo traz um panorama interessante para visualizarmos como o direito à terra, a 
hereditariedade e a noção de família estão intimamente imbricados no código civil brasileiro 
de 1916. É interessante citar essa relação sobretudo quando estudamos autores do final 
do XIX e do começo do XX e quando analisamos o papel que o direito à terra tem quando 
falamos em famílias no começo do XX. Notem que não é por acaso que documentaristas 
também estejam interessados em falar sobre a forma como os membros de um grupo como 
os Nanook produzem seu sustento e ocupam a terra ou em falar sobre a quebra da lei no 
filme de Murnau. Não somente a arte ou o universo acadêmico dialogam com as concepções 
de seu tempo e da sociedade em que estão inseridos, mas também os códigos legais, o 
universo jurídico, dialogam com o contexto social e histórico em que são produzidos. 
(Disponível em: <http://www.tex.pro.br/home/artigos/109-artigos-set-2004/5147-os-tres-pilares-
do-codigo-civil-de-1916-a-familia-a-propriedade-e-o-contrato>. Acesso em: 30 ago. 2017).
Direito de família: o que mudou de 1916 a 2002
Com este quadro comparativo, podemos observar como as mudanças na sociedade 
implicam em mudanças no código civil brasileiro. De espaço para reprodução a espaço 
para formação de um ser humano, a família percorre um longo caminho no espaço jurídico 
brasileiro. Note que a sociedade muda, o código muda e, consequentemente, a forma 
de abordagem prática de instituições de assistência ou de instituições responsáveis pela 
educação também muda. Se, no começo do século XX, a propriedade é o vértice para 
onde convergem as leis sobre família, no começo do XXI, o foco passa a ser a proteção da 
pessoa humana e da própria instituição familiar. Conheça, neste link, um pouco mais sobre 
a família no código civil de 2002. 
(Disponível em: <https://tcharlye.jusbrasil.com.br/artigos/305953203/direito-de-familia-o-
que-mudou-de-1916-ate-2002>. Acesso em: 30 ago. 2017).
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17
Instruções: 
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você 
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia 
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 1:
Qual a importância do direito para os estu-
dos sobre a sociedade?
Questão 2:
“Embora quem case queira casa, 
os vínculos com a rede familiar 
mais ampla não se desfazem com 
o casamento pelas obrigações que 
continuam existindo em relação aos 
familiares e que não se rompem 
necessariamente, mas são refeitas 
em outros termos, sobretudo diante 
da instabilidade dos casamentos entre 
os pobres, dificultando a realização do 
padrão conjugal.” (SARTI, 2013, p. 48)
Para Malinowski, ao narrar um evento em 
que a quebra do tabu do incesto causa co-
moção popular nas Ilhas de Coral, famílias 
e casamento são instituições sociais. Em 
que ponto a fala de Sarti sobre casamento 
e família em comunidades pobres concorda 
com Malinowski? Justifique sua resposta.
Questão 3:
“Quando se trabalha com famílias, 
tanto cientistas sociais, quanto 
psicólogos, médicos, educadores e 
outros profissionais enfrentam um 
primeiro problema: o de identificar 
a noção de família com suas 
referências pessoais. A família tende 
a ser identificada com a ‘nossa’ 
família, tão forte é a identificação 
da ideia de família com o que nós 
somos. Por isso, quando se lida 
com questões de família, é difícil 
estranhar-se em relação a si mesmo. 
Há uma tendência a projetar a família 
com a qual nos identificamos – como 
idealização ou como realidade vivida 
– no que é ou deve ser a família, o 
que impede de olhar e ver o que se 
passa a partir de outros pontos de 
vista.” (SARTI, 2004, p. 16)Por que, para a autora, identificar a noção 
de família com nossos referenciais pesso-
ais é um problema?
18
AGORAÉASUAVEZ
Questão 4:
Assinale a alternativa que explica porque o 
Kula é um fato social total:
a) O Kula é um ritual que tem como 
objetivo regular a vida econômica e 
política nativa.
b) O Kula representa diferentes aspectos 
da vida social nativa, como relações 
de parentesco, relações econômicas e 
religião.
c) O Kula representa a vida primitiva em 
sua forma mais simples.
d) O Kula é um ritual eminentemente 
religioso e representa a relação entre 
Tabu e Mana.
e) O Kula é um ritual eminentemente 
político e representa a relação entre os 
chefes e seus parentes.
Questão 5:
Relacione autor e obra
1 – Marcel Mauss
2 – Bronislaw Malinowski
3 – Friedrich Engels
4 – Émile Durkheim
A – Da divisão do trabalho social
B – A origem da família, da propriedade pri-
vada e do Estado
C – Ensaio sobre a Dádiva
D – Crime e costume na sociedade selvagem
19
FINALIZANDO
Neste caderno, acompanhamos o raciocínio de autores que se ocuparam com o estudo da 
relação entre sociedade e sistemas jurídicos. Mostramos como as preocupações dos fundadores 
da antropologia e da sociologia dialogam com seu próprio contexto social e histórico. Analisamos 
a importância da família nos textos que falam sobre lei e política na sociedade ocidental. 
Recuperamos a importância das origens gregas, romanas e germânicas para o direito. 
É com esse olhar específico para a história de sua própria sociedade que os autores iluministas 
pensarão o direito e que os antropólogos evolucionistas, bem como juristas, do XIX, olharão para 
outras sociedades. Mas é com um olhar diferenciado que os antropólogos e sociólogos do começo 
do XX olharão para sociedades sem Estado e sem língua escrita. Ao invés de classificarem 
sociedades em comparação com a sociedade de classes, pensando no que lhes falta, Malinowski 
e Mauss nos mostraram que as relações sociais em povos primitivos são tão ou mais organizadas 
que as relações sociais na sociedade de classes. 
Para nós, o essencial nesta aula é compreender que:
1) Há uma íntima relação entre normas jurídicas que regem a vida cotidiana e a definição de 
família, em diferentes sociedades;
2) Diferentes instituições sociais serão permeadas por essas normas, dentre elas, a própria família;
3) O código não é fixo, ele muda no tempo;
4) A própria família muda no tempo e isso reverbera no direito.
5) Se não temos somente uma forma de organização social nem somente uma forma de estrutura 
jurídica possíveis, também é essencial que falemos em famílias no plural, em diferentes definições 
de família possíveis, tanto em nossa sociedade quanto em outras. 
Para as ciências sociais, a diversidade é parte fundante da humanidade, bem como a sociedade 
é responsável pela nossa constituição enquanto sujeitos. Sigamos para as próximas discussões 
com isso em mente. 
20
GLOSSÁRIO
Palavra-chave: Jurídico.
De origem latina, o termo jurídico deriva de justiça e de jus, direito. O sentido do termo jurídico 
nos remete ao código normativo que rege nossas ações individuais, institucionais e coletivas 
dentro de uma nação. Administrativamente, na contemporaneidade, os códigos do direito 
são construídos e aplicados nacionalmente. Cada país administra seu direito da maneira 
como lhe convém e a produção dos códigos, bem como sua aplicação e a fiscalização 
da lei, estão diretamente ligadas à estrutura política estabelecida. Nas ciências sociais, o 
direito tem papel fundamental quando pensamos no conceito de Sociedade. Grande parte 
dos fundadores das ciências políticas são filósofos políticos e, para eles, há uma íntima 
relação entre a política e o jurídico. Quando escreve sobre a divisão dos poderes, por 
exemplo, Montesquieu está também escrevendo sobre a forma como códigos normativos 
devem ser executados, escritos e fiscalizados. O peso do direito na obra dos fundadores 
da sociologia também é grande. Marx começou seus estudos na Universidade de Bonn em 
direito e posteriormente dedicou-se à filosofia. Durkheim também foi bastante influenciado 
pelas temáticas do direito e uma das principais preocupações de seu sobrinho, Marcel 
Mauss, era a pesquisa da influência dos sistemas jurídicos primitivos para a constituição 
das relações sociais. 
Palavra-chave: Lei.
Em alguns momentos podemos ler a palavra lei nas obras acadêmicas de ciências sociais 
a partir do sentido que ela possui atualmente, ou seja, leis são as normas que regem a vida 
em um país ou em uma nação. Em outros momentos, podemos encontrar a palavra Lei 
assumindo um sentido mais amplo e ontológico (que se refere à natureza do ser, o que é 
fundamental e essencial ao homem). Para o estruturalismo de Lévi-Strauss, por exemplo, 
é possível encontrar o segundo sentido da palavra, que geralmente é grafada com letra 
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Comentário do texto
Diagramador, peço a gentileza que padronize o glossário conforme o template enviado. 
O correto seria somente Jurídico: 
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Comentário do texto
Lei:
21
maiúscula. Para o autor, a proibição do incesto é a primeira Lei fundamental da sociedade 
e, portanto, geralmente é referida como a Lei. A partir da interdição em relação ao incesto, 
o homem se constitui enquanto um ser social, para Lévi-Strauss. 
Palavra-chave: Estrutura.
O termo pode ser encontrado na obra de diferentes autores das ciências sociais, tanto 
os que têm influência durkheimiana, como Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955), quanto os 
que tem influência kantiana, como Claude Lévi-Strauss (1908-2009), mas com sentidos 
distintos. No caso dos estrutural-funcionalistas ingleses, como Bronislaw Malinowski (1884-
1942) e o próprio Radcliffe-Brown e seus alunos, estrutura social é o nome dado para a 
rede de relações entre pessoas e instituições sociais, como economia, religião e política, 
que podemos abstrair, desenhar, quando estudamos um grupo social. Já aqueles que 
dialogam com o estruturalismo francês de Claude Lévi-Strauss, quando se referem ao termo 
estrutura, não estão falando dessa rede de relações e de instituições observável, mas sim 
das estruturas mentais a partir das quais pensamos e organizamos nosso conhecimento 
sobre o mundo. Para Lévi-Strauss, o fato de podermos abstrair essa ordenação possível 
das instituições e relações sociais nos remete à capacidade humana de criar estruturas 
de pensamento. Estrutura, nesse sentido, se refere à teoria do conhecimento presente na 
obra do autor, enquanto no sentido de estrutura social, remete-nos àquilo que podemos 
abstrair a partir da observação da realidade. Em termos metodológicos, para desenharmos 
a estrutura social de um grupo, precisamos observar atividades, comportamentos, práticas 
de um grupo social. No caso do estruturalismo, abstrai-se os elementos que se repetem no 
pensamento, na crença, nos rituais de um grupo social para que se compreenda sua cultura. 
Palavra-chave: Fato social total.
Fatos sociais são as unidades que, para Durkheim, nos permitem compreender as raízes 
sociais para fenômenos observáveis. Para que um fato seja social, ele possui algumas 
características essenciais: generalidade, coercitividade, exterioridade. Ou seja, são coletivos 
e não individuais; correspondem a padrões culturais que são externos ao indivíduo e que 
não dependem de sua consciência ou vontade; são padrões culturais que exercem força 
coletiva sobre a vontade individual. Marcell Mauss utiliza o mesmo princípio teórico para 
GLOSSÁRIO
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Comentário do texto
Estrutura:
mariana.agulhari
Comentário do texto
Fato social total:
22
falar em fato social total. Há alguns tipos de fatos sociais que, além de corresponderem a 
essas características, perpassam as diferentes instituições sociais ou coadunam diferentes 
aspectos da vida social em si próprios, como a economia, política, religião e relações de 
parentesco. Um exemplo presente na obra de Mauss, de fato social total, é o Kula, ritual 
de troca de conchas nasilhas do Pacífico que, ao mesmo tempo, representam a vida 
econômica, política, religiosa e as relações de parentesco. 
Palavra-chave: Sistema.
O termo sistema é encontrado em diferentes obras das ciências sociais, sobretudo em 
textos antropológicos. Edmund Leach (1910-1989), antropólogo social britânico que foi 
aluno de Bronislaw Malinowski e Raymond Firth (1901-2002), escreveu uma etnografia 
ainda bastante citada que se chama Sistemas Políticos da Alta Birmânia (1954). Evans-
Pritchard (1902-1973), junto com Meyer Fortes (1906–1983), escreveu Sistemas Políticos 
Africanos de Parentesco e Casamento (1950). Outros autores também escreveram sobre 
sistemas políticos e de casamento, sistemas políticos e de parentesco. A temática nos 
remete, sobretudo, a uma época em que se está buscando compreender a relação entre 
diferentes aspectos e instituições sociais em sociedades sem Estado e em sociedades 
que diferem administrativamente, culturalmente, politicamente da sociedade europeia, 
onde povos se organizam como Estados nacionais. Se a estrutura social é a forma como 
se desenha a rede de relações sociais em determinada sociedade, os sistemas são o 
conjunto de relações entre diferentes nodos dessa rede. Para que se forme um sistema, é 
preciso observar que cada instituição ou indivíduo que faz parte dessa estrutura de relações 
possua uma função definida e que ela se complemente com a função de outra instituição ou 
indivíduo. Sistemas sociais são, portanto, como organismos. Cada nodo, cada instituição, 
cada grupo ou cada indivíduo tendo um papel complementar e dependente em relação à 
outra parte. Um dos primeiros autores a utilizar o termo nas ciências sociais e humanas foi 
o sociólogo norte-americano Talcott Parsons (1902-1989).
GLOSSÁRIO
mariana.agulhari
Comentário do texto
Sistema:
23
GABARITO
Questão 1
Resposta comentada: Você pode argumentar, nesta resposta, que os primeiros autores 
fundadores das ciências sociais e, mais especificamente, da sociologia e da antropologia, 
dialogam com seus antecessores. Por sua vez, a obra dos antecessores dialoga com estudos 
clássicos sobre a sociedade, onde o direito tem papel fundamental para explicar a forma como 
se dão as relações sociais e como se dá a organização política e econômica da sociedade. Você 
pode também citar exemplos sobre as perguntas a partir das quais autores como Malinowski e 
Mauss partem quando se propõem a estudar sociedades sem Estado, buscando compreender 
que tipo de código normativo rege a vida cotidiana e as relações políticas e econômicas. O ideal 
é que mostre compreensão, tanto do conteúdo proposto na obra desses autores, quanto do 
contexto histórico e acadêmico com o qual estão dialogando.
Questão 2
Resposta correta: C
Resposta comentada: O segredo para responder a esta questão é partir do seguinte ponto, 
presente no texto citado de Sarti: “os vínculos com a rede familiar mais ampla não se desfazem 
com o casamento” e, além dele, outra parte importante é “embora quem case queira casa”. 
Malinowski analisou como a posse de bens está diretamente relacionada com a sucessão pelas 
relações de parentesco “embora quem case quer casa”. A posse ou a construção de um espaço 
que abrigará a família é parte também dos estudos do autor. Quem troca conchas pelo mar, 
quer uma canoa, em termos dos estudos de Malinowski, sendo que a produção de canoas e 
a troca estão diretamente relacionadas ao parentesco. Por outro lado, temos a afirmação de 
que os vínculos com a rede familiar não se desfazem com o casamento. A família pode ser 
uma instituição importante porque regula, dentre outras coisas, a troca e a posse de bens em 
sociedades como a que Malinowski estudou, mas a sociedade é uma estrutura que contém a 
família. As obrigações para com os parentes, inclusive na escolha do cônjuge, continuam após 
a formação da nova família. Malinowski descreve duas cenas importantes para que entendamos 
esses dois pontos. Uma é a do garoto que, impedido de se casar com uma parente, ameaça se 
24
jogar do coqueiro. A outra são as obrigações que os jovens possuem para com os tios por parte 
de mãe nas ilhas Trobriand. Os tios maternos trazem alimentos para a família e, deste modo, 
cria-se uma rede de responsabilidade para com esse parente. A sociedade perpassa as relações 
familiares. O direito e as normas são maiores que a própria instituição familiar.
Questão 3
Resposta comentada: Para aqueles que estudam a sociedade e sabem que ela é um imperativo 
sobre a vida individual, que somos seres gregários e que todo indivíduo é criado para ser um ser 
social, mesmo que seja criado para confrontar um padrão social, é sabido que o indivíduo nunca 
pode ser a medida do social. Há algo de social em todos nós, enquanto pessoas, mas nossa 
vida particular não pode ser o espelho para generalizações, porque a sociedade é diversa em 
cultura, em classes, em castas, em famílias e até em códigos jurídicos. O que conhecemos, no 
seio de nossa família, portanto, não pode resumir o que é “a família”. É necessário estranhar-se 
para conhecer a diversidade.
Questão 4
Resposta correta: B
a) Não é isso que define um fato social total. Talvez, se a questão fosse por que o Kula pode 
representar a vida jurídica daquele povo, essa fosse a resposta correta, mas ela não explica o 
conceito de fato social total. 
b) Alternativa correta. Um fato social total é aquele que representa diferentes aspectos da vida 
social e diferentes instituições ao mesmo tempo. 
c) Essa não é uma resposta antropológica clássica, cuidado! Ela pode ser uma resposta 
evolucionista cultural, mas não é adequada quando pensamos em Marcel Mauss e em fato social 
total. 
d) Dois cuidados é preciso ter aqui. O primeiro é o de não comparar termos de culturas diferentes. 
O segundo é com a palavra eminentemente. Se um fato social é total, ele representa diferentes 
instituições. Se for um ritual eminentemente religioso, não é um fato social total. 
e) Cuidado com a palavra eminentemente. Fatos sociais totais envolvem diferentes instituições 
sociais, portanto, se o Kula fosse um ritual eminentemente político, não seria um fato social total.
GABARITO
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Comentário do texto
negrito 
25
Questão 5
Resposta correta: 
1 – C
2 – D
3 – B
4 - A
GABARITO
26
REFERÊNCIAS
DALL´ALBA, Felipe Camilo. Os três pilares do código civil de 1916: a família, a proprie-
dade e o contrato, 2004. Disponível em <http://www.tex.pro.br/home/artigos/109-artigos-
-set-2004/5147-os-tres-pilares-do-codigo-civil-de-1916-a-familia-a-propriedade-e-o-contra-
to>. Acesso em: 30 ago. 2017.
FERREIRA, Tcharlye Guedes. Direito de família: o que mudou de 1916 a 2002?, 2015. 
Disponível em: <https://tcharlye.jusbrasil.com.br/artigos/305953203/direito-de-familia-o-
-que-mudou-de-1916-ate-2002>. Acesso em: 30 ago. 2017.
MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e costume na sociedade selvagem. Petrópolis: Vozes, 
2015.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva, In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: Co-
sac & Naify, 2003. 
Nanook, o Esquimó [Nanook of the north], Robert J. Flaherty (director). Paris/EUA: Les 
Frères Revillon, Pathé Exchange, 1922. 78 min, preto e branco, 1.33: 1. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=uoUafjAH0cg>. Acesso em: 30 ago. 2017.
RADCLIFFE-BROWN, Alfred Reginald; FORDE, Cyril Daryll. Sistemas políticos africa-
nos de parentesco e casamento. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982. 
SARTI, Cynthia A. A família como ordem moral. Cadernos de pesquisa, n. 91, p. 46-53, 
2013.
SARTI, Cynthia A. Contribuições da antropologia para o estudo da família. Psicologia 
USP, v. 3, n. 1-2, p. 69-76, 1992.
SARTI, Cynthia Andersen. A família como ordem simbólica. Psicol. USP, São Paulo, v. 
15, n. 3, p. 11-28, 2004.
Alimentação, Thomaz Miguez, 02 de abril de 2017, 50:01 min, colorido, não informa. (Dis-
ponível em: <http://tvbrasil.ebc.com.br/entreoceueaterra/episodio/alimentacao>. Acesso 
em: 25 set. 2017).
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Família e Sociedade
Autor: Ana Carolina Bazzo Silva
Tema 03
Pensando a família a partir dos 
estudos de parentesco
seç
ões
Tema 03
Pensando a família a partir dos estudos de 
parentesco
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e 
Sociedade: Pensando a família a partir dos 
estudos de parentesco. Caderno de Atividades. 
Valinhos: Anhanguera Educacional, 2017. 
Seções Seções
FINALIZANDO
REFERÊNCIAS
GABARITO
LEITURAOBRIGATÓRIA
CONTEÚDOSEHABILIDADES
AGORAÉASUAVEZ
GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES
4
Tema 03
Pensando a família a partir dos estudos de 
parentesco
5
Prezado aluno, chegamos a um ponto importantíssimo da discussão sobre a relação entre 
sociedade e famílias. Neste caderno, apresentaremos a você os estudos sobre parentesco 
e falaremos sobre sua importância para a fundamentação da antropologia enquanto campo 
de conhecimento das ciências sociais. 
Nosso objetivo com esse conteúdo é que você compreenda tanto o histórico de construção 
dos métodos, teorias e problemas próprios às ciências sociais. Também, sobretudo, 
objetivamos que você possa desenvolver a capacidade de pensar a família a partir de 
conceitos da área e de questionar-se sobre sua própria definição de família. Como fizemos 
anteriormente com a relação entre indivíduo e sociedade na sociedade de classes e 
com os estudos sobre sistemas jurídicos, neste caderno começaremos acompanhando 
os questionamentos dos autores que fundam os estudos de parentesco. Em seguida, 
trabalharemos questionamentos que nos permitam relacionar família, sociedades, culturas 
e parentesco e, por fim, refletiremos a diversidade. 
Esse será nosso percurso argumentativo e reflexivo até o final deste curso, porque nossa 
abordagem sempre partirá do contexto em que as ciências sociais são formadas ou do 
contexto em que a temática do caderno é formada, e em seguida colocaremos questões 
para os conceitos abordados. Intentamos com isso que você se habitue a sempre analisar o 
diálogo acadêmico entre autores e o diálogo desses autores com a sociedade e o momento 
histórico em que vivem. Também intentamos que você aprenda a pensar a partir dos 
conceitos apresentados. 
Continuemos por esse caminho, neste caderno, aprendendo sobre a abordagem da 
antropologia para os estudos de parentesco. 
Professora Ana Carolina Bazzo da Silva
CONTEÚDOSEHABILIDADES
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Pensando a família a partir dos estudos de parentesco 
Convite à leitura
No terceiro tema de nosso curso, abordaremos uma das temáticas mais importantes 
das ciências sociais quando nos propomos a estudar a família. Até o momento, você já 
é capaz de compreender que famílias são espaços de socialização responsáveis pela 
reprodução da estrutura social e da cultura em grupos sociais. Já é capaz de compreender 
que os sentidos e significados de família acompanham a história e o meio social que 
estamos observando. Também já é capaz de relacionar direito e família na sociedade de 
classes, compreendendo que o direito também é uma instituição social, ou seja, dialoga 
com costumes e com as relações sociais de determinado grupo. 
Nesta aula, nos aprofundaremos sobre outro aspecto fundamental do estudo das famílias: 
o estudo do parentesco. Se, até agora, analisamos o lugar da família na sociedade, a partir 
desse momento trabalharemos a conceituação de família. O que é uma família, do ponto 
de vista dos estudos de parentesco? Como se dão essas relações de parentesco? Qual o 
papel desses estudos para a fundamentação dos conceitos sociológicos, antropológicos, 
políticos, a partir dos quais estamos pensando, nesse curso?
Convidamos você a refletir sobre esses questionamentos, neste caderno.
Por dentro do tema
Para começar o estudo, é importante que você tenha compreendido alguns dos principais pontos 
discutidos nos cadernos anteriores. Primeiramente, que a sociedade exerce pressão moral, 
cultural, política sobre nossa vida individual. Segundo, que somos seres sociais por definição, 
ou seja, que somos educados para viver em sociedade e que sozinhos, sem a participação de 
outros humanos, não desenvolvemos linguagem nem aprendemos a sermos humanos. 
7
LEITURAOBRIGATÓRIA
Um terceiro ponto importante se refere às preocupações dos autores estudados até 
o momento. Ao se questionarem se, por exemplo, existe um direito, existe um código 
normativo regendo a vida da pessoa e do grupo em sociedades sem Estado e sem escrita, 
os primeiros antropólogos e sociólogos estão partindo de suas próprias sociedades para 
pensar outras sociedades. Do mesmo modo, ao se questionarem sobre a relação entre 
direito e família ou sobre família e origem da sociedade, tais autores, de algum modo, mesmo 
quando o fazem criticamente, estão dialogando com seu tempo e com sua sociedade. Neste 
caderno, trabalharemos também essa perspectiva, mas, quando falamos em estudos de 
parentesco, há algo que extrapola questionamentos como “essa sociedade possui tais ou 
tais instituições?” ou “como essa sociedade se organiza social, econômica e politicamente 
se não possui essa instituição ou essa manifestação cultural”. 
Para muitos autores contemporâneos, o parentesco, junto com os estudos sobre mitos 
e rituais, é temática fundadora do pensamento antropológico. Está presente na obra das 
diferentes correntes de pensamento que hoje se considera que fundam a antropologia: 
antropologia social inglesa, estruturalismo francês e culturalismo norte-americano. E é 
importantíssimo, mesmo quando estudamos sociologia, mencionar o papel dos estudos 
de parentesco para a fundamentação do pensamento social como o conhecemos hoje, 
sobretudo pela influência de métodos de análise, conceitos e teorias envolvidas nas obras 
que se dedicaram ao parentesco como tema principal. 
Quando pensamos na relação entre famílias e sociedade, portanto, é fundamental 
acompanhar as contribuições desses estudos, afinal, as famílias são formadas por relações 
de parentesco.
Comecemos nossa jornada acompanhando alguns autores importantes e a forma como 
olharam para essa temática. 
Os estudos de parentesco: contribuições da antropologia
O parentesco é um tipo de relação social que intriga pesquisadores nas ciências humanas 
há algum tempo. Muitas vezes, ao nos depararmos com o termo “parente”, imediatamente 
nos identificamos com o seguinte sentido assumido pela palavra: identificação com 
alguém que possui os mesmos laços de sangue que eu, proximidade como se aquela 
pessoa fosse uma “irmã”. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Foi partindo desse mesmo sentimento de identificação e de proximidade que o neurólogo, 
antropólogo e psiquiatra inglês William Halse Rivers Rivers (1864-1922) olhou para populações 
com culturas diferentes e concluiu já no XIX que, apesar das diferenças, todas de algum modo 
guardavam algum parentesco entre si, algo de universal, de humano. Muito antes da fundamentação 
e formação de autores que se dedicavam exclusivamente à antropologia, portanto, o parentesco 
já se desenhava como um tema antropológico para autores que estavam ainda descobrindo o 
campo da cultura como temática interessante para pensar o mundo em que viviam.
E serão os autores hoje reconhecidos como fundadores da antropologia social inglesa que 
dedicarão monografias inteiras para os estudos de parentesco, fundamentando a área 
como uma especialidade antropológica. Caso você queira visualizar melhor a importância 
dos estudos de parentesco para o estrutural funcionalismo inglês, basta abrir diferentes 
monografias dos seus fundadores, como Alfred Radcliffe-Brown (1981-1955) e Bronislaw 
Malinowski (1884-1942), e dos alunos desses fundadores, como Edward Evans-Pritchard 
(1902-1973), Meyer Fortes (1906-1983), Edmund Ronald Leach (1910-1989). 
Radcliffe-Brown tem um trabalho junto com Cyril Daryll Forde (1902-1973) chamado Sistemas 
Políticos Africanos de Parentesco e Casamento, de 1950.Edward Evans-Pritchard já menciona 
seus estudos sobre parentesco e política em sua obra Os Nuer, de 1940 e, mais tarde, 
escreve um livro inteiramente dedicado ao parentesco Nuer, chamado Kinship and Marriage 
among The Nuer (Parentesco e casamento entre os Nuer), de 1951. Malinowski, orientador 
de boa parte dos antropólogos sociais britânicos, também fala sobre relações de parentesco 
em diversos de seus livros. Edmundo Leach escreve uma monografia sobre política na antiga 
Birmânia, hoje Mianmar, intitulada Sistemas políticos na alta Birmânia, de 1954.
Note que há algo que perpassa todos esses estudos quando pensamos em parentesco: a 
relação entre sistemas políticos e sistemas de parentesco. Em aulas anteriores, já trabalhamos a 
palavra sistema. Ela se refere a um conjunto de elementos organizados que se guardam relação 
de funcionalidade, uns com os outros. Pense, por exemplo, em sistemas de funcionamento do 
próprio corpo humano. Formado por órgãos que, relacionados, garantem seu funcionamento. 
Eu posso, inclusive, perder parte de alguns desses sistemas e continuar vivendo. No entanto, 
ele é formado de partes fundamentais que garantem a continuidade de seu funcionamento. 
Metaforicamente, podemos pensar os sistemas como esse todo organizado que podemos 
abstrair ao analisarmos as relações sociais em diferentes sociedades. Para esses autores, os 
sistemas de parentesco funcionam segundo regras independentes do sistema político, mas 
são sistemas que se comunicam. Como um organismo. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
E o que, afinal, é parentesco para esses autores? Para compreendê-lo, retomemos um 
conceito caro aos autores britânicos: o de estrutura social. Bastante influenciado por Émile 
Durkheim, Radcliffe-Brown utilizará o termo para se referir à estrutura de relações que funda 
uma sociedade. É como uma rede de relações que liga pessoas e instituições. Pense, por 
exemplo, que o parentesco é um nó dessa rede. Ele irradia linhas que se ligam a outros 
nós, como a economia e o jurídico. Do mesmo modo, pense em você próprio como um nó 
da rede e imagine que as linhas são as relações que você mantém com outros nós, outros 
sujeitos. Você pode não conhecer o sujeito que está há sete, oito nós de você, mas há, 
de algum modo, uma linha que liga você a uma pessoa, que se liga a outra, e a outra, até 
chegar nesse sujeito. Essa é a imagem a partir da qual você pode partir para compreender 
estruturas sociais. Caso um nó se perca, a estrutura social não vai ruir de uma hora para 
outra, pois há outros que dão sustentação a ela. Mas sem os nós, não há a rede. Assim 
como para Durkheim, a estrutura social é algo que está acima dos indivíduos, portanto. 
O método e a teoria se encontram, para esses autores. A partir da observação sobre como 
se dão as relações sociais em diferentes grupos, podemos abstrair sistemas diferenciados, 
mas relacionados, que mantêm a rede em funcionamento e que garantem a continuidade 
dessas sociedades no tempo. 
Por que e como esses autores chegaram no parentesco? Lembre-se de que, assim como 
fizeram com os estudos sobre trocas e sistemas jurídicos, os primeiros autores a trabalharem 
com a temática tinham interesse em compreender sociedades que lhes pareciam muito 
diferentes das suas próprias, mas buscavam dizer também o que havia de universal na 
forma como esses grupos de pessoas se relacionavam que pudesse evocar, de alguma 
maneira, o modo como outras sociedades se relacionavam e se organizavam. Buscando 
compreender como as sociedades africanas se organizavam e mantinham sua existência 
no tempo, esses autores depararam-se com o parentesco. 
Note também que há uma diferença fundamental quando parto da questão “Como sociedades 
se organizam no espaço e perduram no tempo” dos questionamentos que até então estudamos. 
É bastante diferente partir de uma pergunta que tem a noção de estrutura como guia para as 
análises do que partir de uma que tem os códigos jurídicos que definem relações entre famílias. 
A noção de estrutura social encontra-se com o parentesco enquanto dado observável nessas 
sociedades porque são as relações de parentesco que explicam como a cultura, a religião, as 
normas de ocupação do espaço, os bens e o poder são repassados de geração para geração. 
O parentesco é uma dessas principais redes de relações sociais, notam esses autores. 
10
LEITURAOBRIGATÓRIA
Além desses trabalhos, é essencial citar a importância do estruturalismo francês para 
compreensão da importância do parentesco como tema para estudo da família. O fundador 
do estruturalismo francês foi Claude Lévi-Strauss (1908-2009). E sua tese de doutorado, 
publicada em 1949 e intitulada Estruturas Elementares do Parentesco, é referência obrigatória 
quando nos propomos a estudar essa temática. Mas, a referida obra parte de questões 
um pouco diferentes daquelas feitas pelos antropólogos sociais ingleses. Ao estudar 
uma quantidade enorme de dados sobre relações de parentesco em diferentes culturas, 
inclusive as obras dos antropólogos sociais ingleses, Lévi-Strauss não queria tão somente 
investigar maneiras como sociedades ocupavam espaços e como culturas perduravam 
no tempo, mas também queria saber quais seriam os imperativos da razão humana que 
impeliam os homens a construírem essas redes tão diferenciadas em seus conteúdos e tão 
semelhantes em sua forma. Diferentes em conteúdo porque, como notaremos a seguir, não 
necessariamente aquele que chamamos de irmão ou de primo em nossa cultura seria um 
irmão ou um primo, no sentido desse parentesco, em outras culturas. E semelhantes em 
forma porque podemos encontrar essas estruturas, mesmo que tão distintas, em todas as 
culturas e sociedades humanas. 
Para Lévi-Strauss, todos os sistemas de parentesco são criados em torno de uma regra 
básica: a proibição do incesto. E, como consequência à proibição do casamento entre 
membros específicos dessa rede de parentesco, os homens são impelidos a procurarem 
cônjuges em outros grupos. Essa aliança fundamental é que funda a sociedade, para Lévi-
Strauss. Parentesco, para o autor, é aliança. E é a aliança que funda a sociedade como 
a conhecemos. As variações das formas como esses sistemas de aliança se organizam 
expressam, para o autor, a criatividade do pensamento humano e das culturas. A pergunta 
de Lévi-Strauss poderia ser resumida assim: “qual o imperativo fundamental, elementar, 
para a criação de sistemas de parentesco?”. E a resposta é “a aliança consequente às 
regras relativas ao incesto”. 
Esse assunto pode até parecer muito filosófico, à primeira vista, mas, se você retomar o 
nosso próprio código civil, notará que quando ele fala sobre famílias, falará sobre casamento 
e filiação. Bem como, ao ouvir sobre incesto, terá a mesma sensação de repúdio que atinge 
as diferentes sociedades humanas. 
Bem, até aqui, podemos resumir os seguintes pontos:
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LEITURAOBRIGATÓRIA
1) Sistemas de parentesco são abstraídos pela observação das relações de parentesco, ou 
seja, das regras de casamento e filiação de determinada sociedade.
2) Sistemas de parentesco nos remetem à aliança fundamental que funda as sociedades 
humanas.
3) A proibição do incesto é universal a todas as sociedades humanas.
Partiremos agora para uma exposição mais detalhada de termos importantes para 
compreender a relação entre sistemas de parentesco e famílias. 
 
Parentesco, hereditariedade e sociedade
Você já deve ter, em algum momento de sua vida, ouvido falar sobre ou visto uma árvore 
genealógica. Ela nos será útil para que você visualize algumas características importantes 
sobre esses sistemas de parentesco e sobre as relações de parentesco estudados pelos 
antropólogos.
Árvores genealógicas são baseadas em dois pontos fundamentais: casamento e filiação. 
Esses pontos, por sua vez, ilustram elementos importantes de uma genealogia: a 
hereditariedade e as gerações. A hereditariedade se refere àqueles elementos culturais, 
econômicos, sociais, políticos que são herdados. Se você já estudou genética,deve ter se 
deparado com diagramas semelhantes aos de parentesco, porque eles ilustram também a 
herança genética de um grupo ou população. Os diagramas de parentesco são semelhantes 
aos utilizados em genética, mas representam a hereditariedade cultural e não a genética. 
As gerações são marcadas pela horizontalidade (mesma geração) e pela verticalidade 
(gerações diferentes) de uma árvore genealógica. 
Afinal, o que herdamos de nossa cultura e de nossa sociedade? Pensemos nos sobrenomes. 
Há sociedades em que os sobrenomes, ou nomes familiares, vêm antes dos nomes próprios 
(como na China e na Coreia). Há sociedades em que o último sobrenome não é o do pai, 
como na nossa, mas sim o da mãe, como no Chile. Sobrenomes são bons exemplos para 
começarmos a compreender esses diagramas:
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Diagrama A
Supondo que nosso sujeito 3 vive em nossa sociedade, podemos refletir a hereditariedade do 
sobrenome. Todos os sujeitos pintados, no Diagrama A, compartilham o sobrenome paterno. 
O mesmo exemplo pode ser usado para hereditariedade de algumas nacionalidades, como 
a libanesa. Filhos de pais libaneses terão direito ao passaporte libanês, somente. 
Diagrama B
Agora, imagine que algum aspecto cultural, como uma etnia e uma religião, seja passado 
de mãe para filhos, como acontece no judaísmo contemporâneo. O Diagrama 2 exemplifica 
este caso. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Agora que você compreendeu o que é hereditariedade nos diagramas de parentesco 
utilizados pela antropologia, é importante atentar para outros pontos importantes, como as 
gerações. Em nossa sociedade, temos parentesco por consanguinidade (como o exemplo 
das ligações verticais e horizontais nos Diagramas A e B) e temos também parentesco por 
afinidade, que é aquele que mantemos com cunhados ou concunhados (caso dos sujeitos 
5 e 9), por exemplo. Além disso, as retas nos diagramas marcam as gerações. Pessoas 
que estão ligadas a mim por retas horizontais fazem parte da mesma geração que eu, como 
é o caso dos sujeitos 3 e 4, 7 e 8. Pessoas que estão ligadas por retas verticais são de 
gerações diferentes, como é o caso dos sujeitos 1 e 3, 5 ou 7, por exemplo. 
Esses são só exemplos pontuais dos elementos essenciais de uma árvore genealógica, mas 
ela é bem mais complexa que isso. Há separações, novos casamentos, mortes e diferentes 
gerações possíveis. E há sociedades que possuem formas distintas de organização de 
parentesco, onde o que para nós são parentes de sangue, para eles, sequer são parentes. Há 
sociedades que, após o casamento, os sujeitos deverão mudar-se para as terras da mãe do 
noivo ou da noiva (sociedades matrilocais), enquanto em outras, após o casamento os sujeitos 
deverão mudar-se para as terras do pai do noivo ou da noiva (sociedades patrilocais). Há 
sociedades em que não é permitido o casamento com os filhos do irmão da mãe, enquanto é 
permitido o casamento com os irmãos do pai, por exemplo. Em outras, vemos uma proximidade 
maior com os parentes que em nossa sociedade reconhecemos como pertencentes por 
afinidade e uma hostilidade com os parentes de sangue, devido à competição cultural por 
cônjuges. Existem grupos onde as características de uma linhagem ou de um clã passam de 
mãe para filhos (matrilinearidade), enquanto em outros, essas características passam de pai 
para filhos (patrilinearidade). Ou seja, existem diversos formatos possíveis desses sistemas 
culturais complexos formados pelas regras de filiação e casamento.
Mais importante que isso, para nós, é notar uma consequência importantíssima da 
diversidade: com essas diversas combinações possíveis para formação de sistemas de 
parentesco, a noção de família, sobretudo a noção afetiva de família, não é a mesma em 
todas as sociedades. Enquanto a nossa valoriza a afinidade por laços sanguíneos e pela 
proximidade com a família nuclear, outras valorizam a afinidade pelos clãs e linhagens 
de pertencimento, como é o caso das sociedades africanas estudadas pelos antropólogos 
sociais ingleses. Nessas, por exemplo, a verticalidade tem papel fundamental na descrição 
do que é família e das obrigações diferenciadas que temos com parentes, enquanto para 
nossa sociedade, a relação de afetividade é com as gerações mais próximas. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
E como fica a definição de família, dentro dos estudos de parentesco? É o que veremos no 
último tópico deste caderno. 
Parentesco é a mesma coisa que família?
“O parentesco [...] não é a mesma coisa que a família. Há uma diferenciação 
importante. O parentesco e a família tratam dos fatos básicos da vida: 
nascimento, acasalamento e morte. Mas a família é um grupo social concreto 
e o parentesco é uma abstração, é uma estrutura formal. Isto quer dizer que o 
estudo do parentesco e o estudo da família são coisas diferentes: o estudo da 
família é o estudo daquele grupo social concreto e o estudo do parentesco é 
o estudo dessa estrutura formal, abstratamente constituída, que permeia esse 
grupo social concreto, mas que vai além dele. 
[...]
Para a Antropologia, esses fatos, básicos da vida, que são o objeto dos estudos 
de parentesco, são comuns a todos os animais. Todo mundo nasce, se acasala 
e morre. O que é específico do ser humano é que o homem escolhe a forma 
como ele vai fazer isso. Por mais que seja dentro de limites estreitos, social e 
culturalmente dados, o homem escolhe como vai realizar estes fatos básicos 
da vida e atribui um sentido a suas escolhas”. (SARTI, 1992, p. 70).
O que a autora quer nos dizer quando afirma que a família é um grupo social concreto, 
enquanto o parentesco é uma abstração? Ora, o parentesco, como a noção de sociedade 
ou a de estrutura social, é um tema de estudo, é uma forma de compreender relações que 
estão postas no cotidiano de nossa vida dentro de um grupo, de uma cultura, de uma nação. 
Quando estudamos famílias, estudamos a forma como essas relações de parentesco que 
abstraímos nos diagramas estudados se apresentam em nossas vidas. 
As famílias, digamos assim, são o dado observável, enquanto o parentesco é a estrutura 
formal que os antropólogos constroem para refletir valores, aspectos culturais, econômicos, 
políticos, religiosos que estão presentes nas relações familiares. Quando analisamos, por 
exemplo, a forma como as famílias se organizam para ocupar um espaço, como passam 
seus bens para seus herdeiros, estamos analisando os dados concretos que nos permitem 
abstrair a política e a economia nas relações de parentesco. 
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Mas, por que estudar parentesco e não famílias? Veja, os estudos de parentesco tendem a 
ser englobantes. Tendem a analisar toda a complexidade das relações que fundamentam 
a estrutura famíliar que estará sendo observada. Quando falamos sobre as mudanças 
na definição de família no código civil brasileiro comparando o de 1916 e o de 2002, por 
exemplo, notamos que a afinidade e a afetividade entram como pontos relevantes no código 
de 2002 para a normatização de questões econômicas, como herança de bens. Note, 
quando analisamos famílias a partir dos estudos de parentesco, temos um olhar mais amplo 
para todas as relações que envolvem a formação familiar em diferentes sociedades e em 
diferentes momentos da história de cada sociedade. E também nos ajudam a compreender 
que a definição de família depende dessas relações e está a ela atrelada. 
Em muitos locais onde o casamento homoafetivo é permitido, por exemplo, a discussão 
é alimentada pela hereditariedade e por relações econômicas, também, além de ser 
encabeçada por discussões políticas acerca da identidade, representatividade e direitos. 
Uma das demandas, por exemplo, é a de que esses sujeitos construíram bens juntos e, na 
ocasião da morte de um deles, a noção de família precisa ser revista para que o outro tenha 
direito aos bens construídos em conjunto. 
Demandas políticas, demandas sociais, demandas econômicas. Relações políticas, sociais, 
econômicas. Podemos abstrair todos esses pontos quando analisamos as famílias a partir 
da perspectivados estudos de parentesco, portanto. 
A temática, além de importante para as ciências sociais, pois para muitos funda os próprios 
estudos antropológicos, é temática importantíssima para o direito, para as políticas de 
assistência social. 
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Faça sua própria árvore genealógica no site do My Heritage
O site My Heritage conta com mais de dois milhões e meio de perfis e 40 milhões de árvores 
genealógicas. Você pode acessá-lo gratuitamente e construir, a partir das ferramentas 
fornecidas, sua própria árvore genealógica. Pode compartilhá-la com os demais usuários e 
fazer pesquisas sobre parentes no banco de dados disponibilizado. Outro ponto interessante 
para observarmos é que o My Heritage permite que os usuários encomendem testes de DNA 
que prometem revelar suas origens étnicas. Como estudamos, o parentesco de sangue é 
algo bastante importante para nossa sociedade.
(Disponível em: <https://www.myheritage.com.br/>. Acesso em: 2 out. 2017).
Family Search 
Desde 1984, os mórmons dedicam-se a construir um dos maiores arquivos do mundo 
sobre registros familiares. O arquivo pode ser acessado on-line nos dias atuais e é utilizado 
por diversas universidades do mundo para pesquisa sobre históricos familiares. O site 
possui diferentes ferramentas de busca, a partir das quais você pode construir árvores 
genealógicas, abarcando tanto os interesses dos curiosos que buscam saber mais sobre 
sua própria família, quanto os interesses acadêmicos. É interessante que você já tenha 
um conhecimento básico sobre diagramas de parentesco e sobre árvores genealógicas 
para utilizar algumas das ferramentas, mas o site é bastante intuitivo. Você pode inclusive 
colocar fotos de sua família para alimentar o arquivo e possivelmente ser encontrado por 
outros parentes. Também pode ter auxílio de profissionais para encontrar sua família. Para 
acessar todas essas ferramentas, é necessário fazer uma conta, mas o processo é simples. 
(Disponível em: <https://www.familysearch.org/>. Acesso em: 8 set. 2017).
Estranhos no exterior, “Todo mundo é parente: William Rivers”
Esta série feita pela BBC é interessantíssima para compreensão do contexto em que 
os primeiros antropólogos estão escrevendo e dos problemas de pesquisa que estão 
desenhando. Há episódios para diferentes autores, dentre eles, Franz Boas, Evans-
Pritchard, Margareth Mead e outros. Este, especificamente, fala sobre a vida acadêmica e 
LINKSIMPORTANTES
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a obra de William Rivers (1864-1922), neurologista e antropólogo que escreve nos finais do 
XIX e começo do XX. Rivers ficou conhecido por ter sido um dos membros da famosa viagem 
ao Estreito de Torres (1989), uma das primeiras incursões de pesquisadores ingleses a 
campo. A nós, é interessante citá-lo por seu pioneiro trabalho sobre parentesco, como você 
poderá notar ao assistir ao vídeo. Além disso, é um dos pioneiros na antropologia médica, 
a abordar antropologicamente a doença e a saúde. Note, sobretudo, como seus interesses 
por zoologia acabam ficando de lado na referida viagem, porque suas perguntas mudam 
e o foco passa a ser a cultura e o humano. Note também como o parentesco e a cultura 
são pensados por Rivers, fruto de seu tempo, o XIX, e em seguida analise a diferença na 
abordagem de outros autores, como Evans-Pritchard. 
(Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s-VxH-y6qk0>. Acesso em: 8 set. 2017).
Estranhos no exterior, “Estranhas crenças: Edward Evans-Pritchard”
Também produzido pela BBC de Londres, o vídeo fala sobre os estudos de Evans-Pritchard, 
bem como sobre sua contribuição para pensarmos o parentesco como parte fundamental à 
organização e ao funcionamento da estrutura social. Você já aprendeu nas aulas anteriores 
que estrutura social é o termo utilizado por antropólogos ingleses para se referirem à rede de 
relações sociais que constitui uma sociedade e que é estabelecida por membros de um grupo 
e por instituições sociais de que esses membros fazem parte. Quando falamos em estudos 
de parentesco, é essencial citar a ideia de sistemas políticos e sistemas de parentesco 
utilizadas por autores ingleses e, talvez, a obra que nos permite visualizar de forma mais 
precisa o uso desses conceitos é a de Evans-Pritchard. O que organiza sociedades como 
a dos Nuer e dos Azande? Para Evans-Pritchard, as relações de parentesco são parte 
elementar da vida política, da vida econômica e das crenças, como você pode notar ao 
assistir ao vídeo. Mais importante, ainda, é a contribuição do autor para a forma como 
olhamos essas relações e crenças. Para conhecer a vida de qualquer sociedade ou povo, é 
preciso aceitar a lógica e os sentidos dados pelos nativos para suas práticas. 
(Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iVl3bscoN2k>. Acesso em: 8 set. 2017).
LINKSIMPORTANTES
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Instruções: 
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você 
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia 
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 1:
Qual a importância dos estudos de paren-
tesco para compreensão da relação entre 
família e sociedade?
Questão 2:
“O parentesco [...] não é a mesma coisa 
que a família. Há uma diferenciação 
importante. O parentesco e a família 
tratam dos fatos básicos da vida: 
nascimento, acasalamento e morte. 
Mas a família é um grupo social 
concreto e o parentesco é uma 
abstração, é uma estrutura formal. Isto 
quer dizer que o estudo do parentesco 
e o estudo da família são coisas 
diferentes: o estudo da família é o 
estudo daquele grupo social concreto 
e o estudo do parentesco é o estudo 
dessa estrutura formal, abstratamente 
constituída, que permeia esse grupo 
social concreto, mas que vai além 
dele”. (SARTI, 1992, p. 70).
Assinale a alternativa que explica o que a 
autora quer dizer quando afirma que o pa-
rentesco vai além da família:
a) O estudo das relações de parentesco 
nega a existência das famílias.
b) Para todos os autores que estudam 
parentesco, as famílias não são instituições 
universais, somente o parentesco é 
universal. 
c) A família é o dado observável, concreto, 
enquanto o parentesco é aquela rede que 
envolve mais do que casamento e filiação, 
envolve política, economia, religião.
d) Os estudos de parentesco nunca 
partem da família para construírem suas 
reflexões sobre as estruturas sociais 
formais. 
e) A família é a rede que envolve mais 
do que casamento e filiação, enquanto o 
parentesco é o dado observável.
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Questão 3:
Qual a importância dos estudos de paren-
tesco feitos por Lévi-Strauss para pensar-
mos a noção de Sociedade e a de Cultura?
AGORAÉASUAVEZ
Questão 4:
“Para a Antropologia, esses fatos, 
básicos da vida, que são o objeto 
dos estudos de parentesco, são 
comuns a todos os animais. Todo 
mundo nasce, se acasala e morre. 
O que é específico do ser humano é 
que o homem escolhe a forma como 
ele vai fazer isso. Por mais que seja 
dentro de limites estreitos, social 
e culturalmente dados, o homem 
escolhe como vai realizar estes fatos 
básicos da vida e atribui um sentido a 
suas escolhas”. (SARTI, 1992, p. 70)
Lévi-Strauss tem um conceito que explica 
o excerto acima. Assinale a alternativa que 
contém esse conceito e a explicação correta. 
a) Sociedade, conceito que explica o fato 
de sermos seres sociais e gregários por 
natureza.
b) Cultura, conceito que nos remete à 
criatividade humana, ao mesmo tempo 
em que nos remete à diversidade de sua 
produção cultural.
c) Fato social total, aqueles fatos que 
englobam diferentes tipos de instituições 
sociais e relações sociais.
Questão 5:
Associe obra e autor:
a) Sistemas Políticos Africanos de 
Parentesco e Casamento.
b) Sistemas Políticos da Alta Birmânia.
c) Estruturas Elementares do Parentesco.
d) Os Nuer.
e) Parentesco e casamento entre os Nuer.
1) Claude Lévi-Strauss
2) Alfred Radcliffe Brown
3) Edward Evans-Pritchard
4) Edmund Leach
d) Estrutura social, a rede de relações que 
forma instituições sociais e que organizaum grupo social. 
e) Estrutura social, composta pelos fatos 
sociais totais.
20
FINALIZANDO
Neste tema, trabalhamos a importância dos estudos de parentesco para a formação do 
pensamento antropológico. Apresentamos a obra de autores da antropologia social inglesa, 
bem como do estruturalismo francês e falamos sobre os questionamos que os impeliram a 
chegar no parentesco como tema caro à área e às ciências sociais como um todo. 
Apresentamos a você alguns pontos essenciais do método de pesquisa dos estudos de 
parentesco e também algumas ferramentas importantes usadas pelos autores que se 
dedicam a esse tema, como os diagramas de parentesco. 
Por fim, refletimos a importância dos estudos de parentesco para o estudo da família, 
analisando a diferença entre parentesco e família e, sobretudo, analisando como a 
diversidade de formas de relações de parentesco encontradas nas diferentes sociedades 
do mundo nos ajuda a pensar a família como uma instituição que é fruto de seu tempo e da 
sociedade de que faz parte. 
Os estudos de parentesco complementam o que vimos até agora, sobre as causas sociais 
dos comportamentos individuais e familiares e também sobre a íntima relação entre família 
e as normas que organizam e regem a vida coletiva e a vida individual. 
Seguiremos neste curso com esses conceitos, métodos e questionamentos em mente para 
discutir outros pontos da relação entre sociedade e famílias. 
21
GLOSSÁRIO
Matrilocalidade; patrilocalidade; matrilinearidade; patrilinearidade.
Quando estudamos parentesco em diferentes sociedades, nos depararemos com termos que 
se referem especificamente à localidade de moradia após um casamento. É importantíssimo 
fazer a ressalva, aqui, de que muitos destes termos utilizados para descrever a estrutura 
de parentesco nas sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos podem ser lidos de 
maneira errônea. Matrilocalidade não é a mesma coisa que matriarcado ou que família centrada 
na figura materna. Refere-se especificamente ao tipo de aliança onde, após o casamento, o 
novo casal deverá morar nas terras ou na casa da mãe de algum dos sujeitos que se casou. 
Do mesmo modo, patrilocalidade não é a mesma coisa que patriarcado, mas sim refere-se à 
localidade de moradia após um casamento. Termos como matrilocalidade e patrilocalidade 
são importantíssimos para compreensão da forma como se dão as responsabilidades para 
com os parentes, sejam eles por parte de mãe ou por parte de pai. Outra confusão comum se 
refere à herança de nomes, bens, poder ou hereditariedade propriamente dita, com a matri ou 
patrilocalidade. Imagine uma mulher que herdará o nome e todas as vw advindas da família de 
seu pai, mas que, ao se casar, deverá morar com os parentes da mãe de seu marido. Essa é 
uma sociedade cuja hereditariedade é marca paterna, mas que é matrilocal. Quando a marca 
da hereditariedade de qualquer característica cultural é materna, chamamos essa sociedade 
de matrilinear, quando é paterna, chamamos de patrilinear. Exemplo: sou de um clã que veste 
somente azul e devo me casar com pessoas de outro clã que vestem somente vermelho. Meu 
pai veste azul, minha mãe veste vermelho. Logo, minha sociedade é patrilinear. 
Linhagens.
Embora atualmente muitos autores façam críticas a termos como linhagens e clãs, por 
serem termos emprestados de sociedades e culturas específicas e terem sido utilizados 
de forma indiscriminada para definirem relações de parentesco em diferentes sociedades, 
22
o termo linhagem é importantíssimo para que você possa compreender a relação entre 
estudos de parentesco e política, bem como a relação entre estudos de parentesco e 
economia. Geralmente, quando falamos de sociedades linhageiras, estamos nos referindo 
ao formato da estrutura das relações de parentesco em sociedades africanas estudadas 
por autores britânicos na primeira metade do século XX. Em termos simplificados, 
linhagens são estruturas de parentesco bastante verticalizadas, em que os sujeitos traçam 
a hereditariedade histórica com parentes em comum por muitas gerações. Implicam 
em um tipo de relação social e política em que a ancestralidade é traçada em situações 
políticas e jurídicas. Exemplo: quando há uma contenda pela posse do gado, ou quando 
sujeitos estão a decidir sobre o local de moradia no contexto de um casamento, traçam 
essas linhas de parentesco por muitas gerações para acessarem parentes em comum ou 
não. Você encontrará referências importantes sobre sociedades linhageiras em uma das 
obras mais importantes de Edward Evans-Pritchard, Os Nuer. Em comparação simplificada, 
podemos dizer que, enquanto nossas árvores genealógicas são focadas na horizontalidade 
da família consanguínea e do círculo familiar mais próximo de nossa geração, as árvores 
genealógicas em sociedades linhageiras são focadas na verticalidade da ancestralidade. Ao 
ser perguntado sobre seus parentes, você provavelmente trará à memória no máximo três 
gerações, enquanto membros dessas sociedades como a estudada por Evans-Pritchard, 
farão referência a chefes de linhagens por dez, quinze gerações. 
Consanguinidade.
O termo consanguinidade é importante quando falamos em relações de parentesco na 
sociedade de classes, na sociedade da ciência, na sociedade do trabalho, porque nos 
remete diretamente ao parentesco biológico, parentesco por relações de sangue. É algo 
que você deve conhecer bem, porque a consanguinidade marca as relações entre gerações 
em nossa sociedade e pode ser facilmente observada quando retomamos as definições de 
família e de filiação no código civil. O parentesco por consanguinidade é algo relativamente 
novo na história da humanidade. Seguindo o raciocínio de autores como Weber, Durkheim 
e Marx, podemos compreender o porquê. Para Weber, há uma correspondência entre a 
divisão social do trabalho e o processo de secularização que coloca o homem e não deus, 
o indivíduo e não o coletivo, como centros da vida social na sociedade capitalista. Correlato 
a esse processo de secularização está o desenvolvimento e predominância do pensamento 
GLOSSÁRIO
23
científico. A forma mais contemporânea desse pensamento é justamente a genética. Não 
é por acaso, portanto, que nas questões sobre o parentesco na sociedade de classes e na 
sociedade capitalista predomine a preocupação com hereditariedade biológica, sanguínea. 
Aqui é importante ressaltar que esse não é um fenômeno encontrado em todos os momentos 
da história da humanidade, muito menos em todas as sociedades que habitam o planeta 
neste momento. A consanguinidade em si, portanto, não define o que é o parentesco nem 
o que é família, para os estudos de parentesco. 
Genealogia.
O sentido estrito da palavra seria estudo da origem de um indivíduo. Sendo um gene 
a unidade elementar da hereditariedade na genética, poderíamos traçar um paralelo 
significativo para o sentido de genealogia nos estudos de parentesco como o estudo da 
origem familiar desse sujeito. No entanto, como nada é fácil quando estamos nos dedicando 
aos sentidos que conceitos e palavras assumem em diferentes áreas de conhecimento, 
quando falamos em genealogias para os estudos de parentesco, estamos nos referindo aos 
diagramas de parentesco que traçamos quando observamos aspectos políticos, religiosos, 
econômicos e jurídicos das relações de parentesco em diferentes sociedades ou culturas. 
Não necessariamente genealogias de parentesco se referem à estrutura familiar daquele 
indivíduo, porque o parentesco é a estrutura que explica a família e não o contrário, para 
a antropologia. Para ajudar, pense nas diferenças entre sociedades linhageiras e a nossa 
sociedade, focada na consanguinidade. Ao ser perguntado sobre parentes, um membro de 
uma sociedade linhageira vai lhe trazer uma série de ancestrais chefes de linhagens que 
sucederam uns aos outros. Ao ser perguntado sobre seus parentes, você possivelmente 
focará em sua família nuclear (pai, mãe, irmãos) e depois vai adicionar membros de sua 
família estendida, adicionandomembros que não são parentes de sangue também (avós, 
primos, tios, tias, cunhados, etc.). Note como a construção dessas árvores genealógicas é 
feita de forma diferente. Você ficará basicamente em sua geração e depois irá para a de 
seus pais e avós, quando, no outro caso, o foco é a ancestralidade. Quando falar sobre 
genealogia, portanto, cuidado para não partir de sua própria noção de família para pensar 
relações de parentesco. 
GLOSSÁRIO
24
Aliança.
Esse é um termo importantíssimo para a história dos estudos antropológicos de parentesco. 
O termo é utilizado por Lévi-Strauss em sua tese de doutorado, As Estruturas Elementares 
do Parentesco, publicada em 1949. É a partir dos estudos de dados de outros antropólogos 
e de fontes de cronistas que o autor tecerá um dos estudos mais completos sobre as 
diferentes estruturas de parentesco encontradas em diversas sociedades. O termo aliança 
nos remete à parte mais importante da teoria estruturalista proposta pelo autor: as restrições 
criadas pelo tabu do incesto que, para Lévi-Strauss, funda a sociedade, impele os homens a 
se aliarem com outros homens. Parentesco, para Levi-Strauss, é mais do que uma relação 
familiar, implica no próprio princípio a partir do qual os homens vivem em sociedade. Quando 
um grupo define pessoas com quem se pode casar e pessoas com quem não se pode 
casar, está delimitando um grupo de pessoas com quem as relações de troca são restritas. 
Consequentemente, esses sujeitos têm de se aliar a outros grupos para troca de cônjuges 
possíveis. As relações de parentesco, portanto, nada mais são que as formas elementares 
de aliança construídas pelos humanos e que fundam a própria sociedade, para esse autor. 
E será a partir delas que se darão outras relações, como trocas econômicas e regras de 
ocupação do território.
GLOSSÁRIO
25
GABARITO
Questão 1
Resposta comentada: Você poderia começar essa pergunta argumentando, por exemplo, 
que ao estudar as relações sociais que perpassam a definição de família, os estudos de 
parentesco nos permitem compreender mais do que as definições legais ou individuais de 
família. O parentesco nos permite pensar todas as relações daquele sujeito com uma rede 
maior de relações sociais e até mesmo com a própria sociedade e nos permite pensar 
a família como parte dessa rede de relações políticas, econômicas, religiosas que são 
evidenciadas pelos estudos sobre parentesco.
Questão 2
Resposta correta: C
a) Na verdade, o estudo das relações de parentesco parte da realidade observável. Se a 
família é um dado tão importante que está descrita até na lei, os estudos de parentesco 
jamais poderiam negar sua existência.
b) Na verdade, para Lévi-Strauss, a proibição do incesto é uma estrutura universal. Para 
os antropólogos ingleses, o parentesco é uma forma de organização social em sociedades 
sem Estado. Em nenhum momento eles fazem esse tipo de afirmação. Inclusive Malinowski 
partirá da noção de família para seguir seus estudos sobre parentesco, como outros. Alguns 
contemporâneos dirão que a definição de família utilizada pela sociedade capitalista e de 
classes não servirá para pensar parentesco em outras sociedades. Mas a palavra que 
inviabiliza essa resposta é “todos”. 
c) Correta.
d) Na verdade, muitos deles partiram da noção de família para construírem seus estudos, 
como é o caso de Malinowski. A resposta não é verdadeira. 
26
e) A alternativa expressa o oposto da correta. O parentesco é a rede que envolve mais que 
casamento e filiação, enquanto a família é o dado observável. 
Questão 3
Resposta comentada: A principal contribuição desse autor para pensarmos a Sociedade 
e a Cultura é a afirmação de que a proibição do incesto é universal a todas as sociedades 
humanas e, com ela, somos impelidos a fazer alianças com outros grupos. 
Questão 4
Resposta correta: B
a) Este conceito é usado por Durkheim
b) Correta.
c) Este conceito é usado por Marcel Mauss
d) Este conceito é usado pelos antropólogos sociais ingleses. 
e) Esta não é a definição mais adequada para estrutura social, porque nem todos os fatos 
sociais são totais. 
Questão 5
Resposta correta: a – 2; b – 4; c – 1; d – 3, e – 3.
GABARITO
27
REFERÊNCIAS
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lógicas. In: CARVALHO, José Sérgio (org.): Direitos Humanos e Educação para a Demo-
cracia. Petrópolis: Vozes, 2004.
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BBC Londres, 1986, 53:47 min, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtu-
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Estranhos no exterior: Todo mundo é parente (William Rivers), Andre Singer, BBC Lon-
dres, 1986, 53:57 min, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=s-VxH-y6qk0&t=234s>. Acesso em: 8 set. 2017. 
FONSECA, Cláudia; BRUSCHINI, Cristina; UNBEHAUM, Sandra. A vingança de Capitu: 
DNA, escolha e destino na família brasileira contemporânea. In Seminário Estudos de 
Gênero face aos dilemas da Sociedade Brasileira. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 
III Programa Relações de Gênero na Sociedade Brasileira, 2001.
FONSECA, Claudia. Apresentação de família, reprodução e parentesco: algumas conside-
rações. Cadernos Pagu, n. 29, p. 9-35, jul-dez 2007.
________. Concepções de família e práticas de intervenção: uma contribuição antropoló-
gica. Saúde e sociedade, v. 14, n. 2, p. 50-59, mai-ago 2005.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Estruturas elementares do parentesco (1982). Petrópolis: Vozes, 
2011.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac 
& Naify, 2003. 
RADCLIFFE-BROWN, Alfred Reginald; FORDE, Cyril Daryll. Sistemas políticos africanos 
de parentesco e casamento. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982. 
SARTI, Cynthia A. Contribuições da antropologia para o estudo da família. Psicologia 
USP, v. 3, n. 1-2, p. 69-76, 1992.
28
Sem autor. My Heritage, 2017. Disponível em: <https://www.myheritage.com.br/ >. Acesso 
em: 2 out. 2017.
Sem autor. Family Search. Disponível em: <https://www.familysearch.org/>. Acesso em: 8 
set. 2017.
REFERÊNCIAS
29
Família e Sociedade
Autor: Ana Carolina Bazzo Silva
Tema 04
Juventude e velhice a partir do 
olhar das ciências sociais
seç
ões
Tema 04
Juventude e velhice a partir do olhar das 
ciências sociais
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e 
Sociedade: Juventude e velhice a partir do olhar 
das ciências sociais. Caderno de Atividades. 
Valinhos: Anhanguera Educacional, 2018.
Seções Seções
FINALIZANDO
REFERÊNCIAS
GABARITO
LEITURAOBRIGATÓRIA
CONTEÚDOSEHABILIDADES
AGORAÉASUAVEZ
GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES
4
Tema 04
Juventude e velhice a partir do olhar das 
ciências sociais
5
Prezado aluno, neste caderno, acompanharemos outra temática cara ao estudo da relação 
entre família e sociedade: infância, juventude, velhice. Seguimos nossos estudos tendo 
como ponto de partida o olhar das ciências sociais. Será importantíssimo que você continue 
acompanhando os seguintes pontos:
1) A forma como o tema acompanha o desenvolvimento das ciências sociais enquanto área 
de conhecimento;
2) O lugar desse tema nas diferentes áreas que compõem as ciências sociais;
3) Os sentidos que infância, juventude, velhice assumem em diferentes sociedades e em 
diferentes momentos históricos. 
Nosso objetivo, com a proposição desse tema, é que você compreenda tanto os aspectos 
históricos quanto os sociais, culturais e políticos que perpassam a temática dos grupos 
etários e das gerações. Objetivamos que você desenvolva a capacidade de refletir o 
envelhecimento, a juventude e a infância como temas das ciências sociais e que comece a 
refleti-los também a partir de todos os conceitos e teorias que já apresentamos nos cadernos 
anteriores, como fizemos com os conceitos de Sociedade e de Cultura. 
Assim como nos temas anteriores, começaremos apresentando um pouco de autores que 
nos inspirama refletir a relação entre gerações, grupos etários e sociedade. Será necessário 
que você já tenha compreendido conceitos como o de sociedade e o de geração, portanto. 
Seguiremos refletindo questões que são caras a este tema ou que alimentam novas questões 
a partir dele. Por fim, retomaremos a importância do que estudamos até então para pensar 
juventude, velhice e infância em nossa própria sociedade. 
Neste ponto de nossos estudos, é interessante que você já comece a fazer suas próprias 
questões a partir da temática estudada. 
CONTEÚDOSEHABILIDADES
6
LEITURAOBRIGATÓRIA
Juventude e velhice a partir do olhar das ciências sociais 
Convite à leitura
No quarto tema de nosso curso, vamos trabalhar com a noção de juventude e a noção de 
velhice. Continuaremos refletindo os termos a partir dos sentidos que assumem na história 
de nossa sociedade e também os sentidos que podem assumir em outras culturas e em 
outras sociedades. 
Começaremos nos aprofundando um pouco sobre a temática das gerações para depois 
falarmos sobre o papel dos grupos etários na constituição de nossa própria sociedade. 
Apresentaremos autores interessantes para refletirmos desdobramentos do estudo das 
gerações, como o conflito geracional e a representação dos jovens e dos idosos em 
diferentes sociedades. 
Em seguida, convidamos você a estudar a perspectiva da antropologia para a temática 
da infância e para a temática da velhice. Será que idosos e crianças possuem os mesmos 
papéis em diferentes sociedades? Será que todas as sociedades humanas dão o mesmo 
valor para a adolescência? Como são criadas as crianças nas diferentes culturas humanas? 
Essas são questões que autores importantes das ciências sociais fizeram em suas pesquisas. 
Partiremos delas também para criar nossas próprias questões para a temática dos grupos 
etários e das gerações. 
Por fim, trabalharemos a relação entre juventude, velhice e famílias. 
Desejamos a você bons estudos. 
 
7
LEITURAOBRIGATÓRIA
Por dentro do tema
Muito provavelmente você já deve ter entrado em contato com notícias de jornal ou programas 
de televisão que tinham como pauta os seguintes temas: “jovens passam mais tempo na 
casa dos pais” ou “a infância tem durado cada vez menos tempo”. Nosso propósito, nesta 
aula, é que você possa reagir a esse tipo de informação fazendo questões sociológicas, 
antropológicas e políticas para elas. Quando nos perguntamos, por exemplo, por que a 
juventude tem se estendido, por que os jovens têm passado mais tempo na casa dos pais 
ou por que têm demorado mais a casar ou a encontrar o primeiro emprego, há uma série 
de questões sociais e culturais implícitas a esse tipo de reflexão que, muitas vezes, sequer 
são tocadas pelo conteúdo dessas notícias. 
Bem, você já estudou um pouco sobre sociedade e sobre cultura, quando refletiu o papel 
do meio social na formação das crianças, por exemplo. Já deve ser capaz de se questionar 
sobre a própria pergunta do jornalista que está preocupado com a extensão da juventude: 
1) Quem é esse jovem sobre o qual está falando essa reportagem?
2) Esse dado vale para todas as classes e faixas de renda?
3) O sujeito demora a sair da casa dos pais porque demora a formar uma família? 
4) Ele demora a se inserir no mercado de trabalho por que há mudanças sociais e políticas 
que o impedem de fazê-lo? 
Afinal, sobre qual sociedade estamos falando quando nos propomos a pensar grupos 
etários e gerações? Quando falamos sobre gerações, estamos partindo de qual leitura 
sobre a sociedade? A definição é demográfica e estatística ou parte dos sentidos que os 
grupos que estamos estudando dão para juventude ou velhice? Todos os estratos sociais 
experimentam a velhice e a juventude da mesma forma, na sociedade de classes, ou ela é 
vivida de formas distintas pelos diferentes estratos da população?
Acompanhe conosco, a seguir, como a temática da juventude e da velhice foi trabalhada 
por autores das ciências sociais e como a perspectiva teórica desses autores ilumina nossa 
reflexão sobre a família. 
8
LEITURAOBRIGATÓRIA
Gerações: um objeto de estudo das ciências sociais
O conceito de geração é importantíssimo para os estudos de parentesco, como vimos em 
nossa aula anterior. Quando falamos em relações e estruturas de parentesco, é essencial 
pensar nas regras sobre casamento e filiação. Se os casamentos nos apresentam a relação 
horizontal entre membros de uma geração, a filiação nos apresenta a maneira como as 
relações de parentesco acontecem no tempo histórico. Gerações, para a antropologia, 
são tema fundamental quando vamos descrever uma árvore genealógica ou quando nos 
propomos a entender o lugar e o papel social e cultural de um sujeito em uma estrutura de 
relações de parentesco. 
E como a sociologia pensa as gerações? Para a sociologia, geração é uma categoria 
essencial para pensarmos processos de estratificação social e de constituição de relações 
sociais (SARMENTO, 2005). O que isso quer dizer? Quando os fundadores do pensamento 
sociológico se dedicaram a compreender que tipo de relação social definia a sociedade 
capitalista, discutiram o papel das classes sociais na formação da sociedade do trabalho. 
Esse é um ponto em comum aos estudos de Marx, Durkheim e Weber, como já estudamos. 
As classes sociais são uma forma de estratificação social, mas não são as únicas possíveis 
ou as únicas que encontramos no tempo e no espaço. Weber, por exemplo, dedicou-se a 
estudar outros tipos de estratificação, como a que vemos em sociedades de castas e em 
sociedades estamentais (baseadas no trabalho escravo). Olhar a sociedade de classes 
a partir da temática da divisão social do trabalho é uma forma de pensar estrutura e 
estratificação, para a sociologia, mas ela não é a única. As gerações também podem ser 
um viés a partir do qual olhamos para classes sociais ou para a estratificação social. 
Demograficamente, as gerações são importantíssimas quando sociólogos e geógrafos se 
propõem a estudar a estrutura de uma população no tempo e no espaço. Se uma geração está 
tendo menos filhos por casal, haverá implicações para toda uma sociedade, que passará, 
no futuro, a ter mais velhos que jovens. Se uma população de trabalhadores é dizimada 
por guerras, como aconteceu nos EUA e na Europa em meados do século XX, a pirâmide 
demográfica também se altera. As implicações da estrutura etária de uma população para 
o mundo do trabalho, para as políticas de assistência social, educacionais e médicas, são 
uma das temáticas sobre as quais podem se debruçar a sociologia e a política.
O pensamento sociológico também pode se dedicar ao estudo de temas como conflitos 
geracionais e gostos culturais geracionais. Pode comparar as diferenças entre juventude 
9
LEITURAOBRIGATÓRIA
e velhice para as classes. Pode se debruçar sobre o estudo da infância em diferentes 
momentos da formação da sociedade de classes. Como você pode concluir, temos diversas 
questões possíveis quando pensamos em gerações, estrutura e estratificação social. Para 
nós, é relevante observar que será o meio social e cultural que estamos estudando que dará 
o tom dos sentidos da juventude e da velhice. 
Quando falamos em grupos etários e em gerações, enquanto estudantes, nos cabe sobretudo 
partir dos sentidos que os autores e que os sujeitos que estamos estudando dão para esses 
termos. Também nos cabe relacionar esses sentidos ao contexto político em que estão sendo 
usados, já que as políticas sociais e o direito mantêm estreita relação com os grupos de poder 
que constituem uma nação. Muitas vezes, inclusive, há um descompasso entre as demandas 
dos grupos e as políticas sociais, problemas de comunicação entre essas políticas e os grupos 
a que elas se destinam. Essa foi a conclusão a que chegou um dos autores que abordaremos 
a seguir e cujo trabalho que discutiremos deve muito ao estudo de gerações. 
Em Sociedade de Esquina, William Foote White faz uma etnografia sobre gerações de 
grupos de migrantes italianos que ocupavamuma área urbana degradada em Boston, no 
Estado norte-americano de Massachusetts. Graduado em Economia, o autor tinha como 
interesse analisar os diferentes grupos que compunham esse grupo maior de migrantes 
italianos: uma geração de jovens nascidos nos EUA e uma geração de pessoas mais velhas 
que haviam vindo da Itália nos finais do XIX e começo do XX. Tratava-se de uma população 
que era alvo de políticas de assistência social e que se constituía como antagonista a outras 
populações migrantes e aos moradores mais antigos da região. Atividades criminosas e 
ilegais perpetradas por parte dos moradores de Cornerville (nome fictício dado pelo autor 
para se referir aos moradores de North End) preocupavam a administração municipal 
e o desencontro entre política econômica, política pública e práticas locais interessou o 
autor, que também tinha como interesse dialogar criticamente com outros autores que se 
dedicaram ao estudo de áreas urbanas, sobretudo os da escola de Chicago. Whyte queria 
demonstrar que há formas organizadas de relação social em áreas degradadas e que elas 
não podem simplesmente serem classificadas como caóticas, como objeto de repressão. 
Além de trabalhar a relação entre o pertencimento a uma área e a uma cultura a partir da 
análise das gerações desses migrantes, o formato do livro também é bastante interessante, 
porque parte da observação das esquinas e segue ampliando a rede de relações entre a 
população e o Estado até chegar na política e na polícia. É importante citar, também, que ao 
comparar os primeiros migrantes, as primeiras gerações, com as segundas e as terceiras, o 
autor é cuidadoso ao dizer que “a juventude” não é uma categoria homogênea, bem como 
10
LEITURAOBRIGATÓRIA
nem todos os primeiros migrantes possuem o mesmo papel social dentro da rede maior. 
Havia jovens que participavam das atividades de jogos ilegais nas esquinas, mas havia 
jovens que estudaram e cujas atividades de lazer eram ir aos clubes, por exemplo. Do 
mesmo modo, havia pessoas mais velhas, de uma primeira geração de migrantes que se 
dedicavam a trabalhos legalizados e havia membros dessa mesma geração envolvidos com 
a chefia de atividades criminosas ou com política. 
Uma das principais conclusões do autor também nos interessa bastante. Segundo Whyte, 
muitas das políticas sociais falhavam por falta de comunicação com essa organização própria ao 
bairro e com as demandas de grupos representativos que dele faziam parte, como aqueles que 
organizavam as atividades recreativas. Outra observação do autor nos é cara para pensarmos 
a relação entre gerações e sociedade. Ao conviver com famílias desses moradores, Whyte 
notava certo conflito de interesses entre as primeiras gerações e as segundas no que se referia 
à inserção desse grupo na sociedade americana. São duas observações interessantes para 
quem está observando grupos etários, famílias e conflitos geracionais. Conflitos semelhantes, 
que envolvem a identificação com aspectos culturais e com um território, também foram 
encontrados por autores que estudaram a migração de populações rurais para espaços 
urbanos, em meados do século XX, e também por autores que se dedicaram ao estudo do 
contato cultural. Algo interessante a se observar, portanto, quando estudamos populações, são 
as estratégias das diferentes gerações quando se relacionam com políticas sociais e públicas, 
quando se relacionam com novos grupos sociais e novos territórios. 
Em resumo, até o momento, podemos pensar:
1) No recorte geracional como bom termômetro para analisarmos diferenças em uma 
população que muitas vezes é tratada como homogênea;
2) Que o recorte geracional tem de levar em consideração a estratificação social e as 
diferenças culturais e sociais que podem existir dentro de uma mesma geração.
Se o primeiro ponto nos ajuda a refletir o recorte de um grupo e a mudança social, o 
segundo traz um alerta metodológico importante. Voltemos para as notícias de jornal. 
Você também já deve ter entrado em contato com notícias como “por que a geração y não 
consegue permanecer nos seus trabalhos”. Temos de ter muita atenção quando pensamos 
sociologicamente em termos como a geração x, y ou z, porque há diferenças de classe que 
se encontram com as diferenças geracionais. Índices de acesso ao mercado de trabalho 
podem ser muito diferentes quando uma geração de certa faixa de renda é comparada com 
11
LEITURAOBRIGATÓRIA
outra ou simplesmente quando membros de uma mesma geração são comparados com 
outros. Há questões culturais, políticas, sociais, raciais que se encontram com a temática 
da geração e que precisam ser refletidas quando nos propomos a falar sobre grupos 
etários e sociedade. A própria maneira como diferentes grupos em uma mesma faixa etária 
experimentam a noção de juventude e a de velhice pode ser significativamente distinta. 
Falaremos um pouco sobre isso a seguir. 
 
Infância e velhice sob o olhar da antropologia
Os adolescentes de Samoa são iguais aos adolescentes norte-americanos? Foi com essa 
questão em mente que a antropóloga britânica Margareth Mead (1901-1978) foi a campo 
pesquisar o cotidiano dos jovens na ilha de Samoa em meados de 1920. Integrante de uma 
escola do pensamento antropológico um pouco distinta daquelas que estudamos até o momento, 
a autora passou meses na ilha se questionando, sobretudo, sobre elementos da vida cotidiana 
que considerava-se que demarcavam a saída da infância, ou seja, para entrada na maturidade. 
Que elementos seriam esses? Namoro, comportamento sexual, casamento, etc. 
Dialogando com autores fundadores da antropologia norte-americana como Ruth Benedict 
(1887-1948) e Franz Boas (1858-1942) e também com seus contemporâneos, como 
Gregory Bateson (1904-1980), diferentemente dos autores da antropologia social inglesa, 
que buscavam descrever a rede de relações sociais que constituiria uma estrutura social 
organizada, Mead estava interessada em estudar padrões de comportamento e padrões 
culturais que a permitiriam abstrair personalidades culturais. Segundo essa corrente de 
pensamento antropológico, a observação de padrões culturais nos permitem visualizar a 
personalidade coletiva compartilhada por um povo, uma etnia, um grupo social, uma nação. 
Partindo dessa premissa é que a autora analisa o que seria a adolescência para os nativos 
de Samoa e, mais tarde, dedica-se a estudar o que é ser mulher e o que é ser homem para 
os nativos da Nova Guiné. 
Apesar das críticas metodológicas recebidas, o trabalho de Mead é citado como pioneiro por 
muitos antropólogos, por trabalhar a temática da maturidade e da juventude a partir de um 
olhar especificamente antropológico e não psicológico ou médico. Comportamento sexual e 
casamento são vistos sob o ponto de vista da formação da personalidade, mas essa ideia 
de personalidade aqui é vista como coletiva, como algo que permeia a vida coletiva e não 
somente a individual. 
12
LEITURAOBRIGATÓRIA
Anos mais tarde, após a Segunda Guerra Mundial, Ruth Benedict fora convidada a escrever 
sobre padrões de cultura japonesa. O Japão havia perdido a guerra e os EUA tinham 
interesse em compreender aquela cultura, após a rendição. O que, na personalidade coletiva 
dos japoneses, os fazia tão diferentes dos norte-americanos? E, como eles aprendiam a ser 
desta maneira? Benedict dedicou um capítulo inteiro do livro O Crisântemo e a Espada, 
de 1946, para descrever as especificidades da educação das crianças japonesas, como 
formas de desfralde e relação com a mãe. Também escreveu sobre o lugar dos velhos na 
cultura, mostrando que, se a vida adulta é marcada por autodisciplina e regras rígidas, a 
da criança e a dos velhos é marcada por uma maior permissividade para o erro e por uma 
maior liberdade. 
Pensando nas contribuições dos estudos de cultura e personalidade para o estudo da 
relação entre grupos etários e sociedade, podemos salientar alguns pontos importantes:
1) As formas como diferentes culturas e diferentes sociedades vivenciam a velhicee a 
juventude são distintas;
2) As formas como diferentes culturas e diferentes sociedades ensinam e educam seus 
jovens para serem parte do grupo e aprenderem esses padrões culturais são distintas.
Outra contribuição importante da antropologia para refletirmos os grupos etários são os 
estudos sobre rituais de passagem. Como, em nossa sociedade, costumamos relacionar 
a passagem da infância para a adolescência, da adolescência para a vida adulta e da vida 
adulta para a velhice? Crianças tornam-se adolescentes quando seus corpos começam 
a passar pelo período da puberdade, da maturação sexual, você pode concluir. Adultos 
trabalham, casam, criam suas próprias famílias. A aposentadoria, a passagem do status de 
pai para avô, mãe para avó, marcam a velhice, correto? E se dissermos para você que a 
adolescência, por exemplo, não existe enquanto categoria etária em todas as sociedades? 
E se dissermos para você que a velhice tem status privilegiado em outras sociedades, 
enquanto em nossa ela marca um período de perda de status social? Se não são esses 
aspectos que definem grupos etários e gerações em todas as sociedades humanas, para a 
antropologia, o que pode nos ajudar a refletir a passagem de um estágio para o outro? 
Quando nos propomos a estudar a mudança de um grupo etário para outro a partir do olhar 
da antropologia, devemos olhar para rituais de passagem. Arnold van Gennep (1873-1957) 
publicou em 1909 um livro pioneiro em que estudou especificamente os ritos de passagem. 
13
LEITURAOBRIGATÓRIA
Trata-se de momentos extracotidianos em que os membros de uma sociedade representam 
os diferentes papéis sociais, de acordo com gerações ou gênero. Nos rituais estudados por 
Van Gennep, vemos uma inversão de papéis e uma forma exagerada de representação 
desse momento de inversão, em que um estrato da sociedade passa a representar de 
forma dramatizada atividades e comportamentos de outro estrato social. Os estudos sobre 
rituais inspiram estudos sobre juventude e velhice nas ciências sociais até os dias atuais. 
Em ritos de passagem que marcam a mudança da infância para a idade adulta nas 
sociedades indígenas, encontramos situações em que as meninas são isoladas do grupo até 
estarem prontas para o casamento, situações em que os meninos têm de passar por provas 
dolorosas para adentrarem na idade adulta, por exemplo. A passagem da infância para a 
idade adulta, nesses grupos, é marcada por ritos em que o papel dos adultos na sociedade é 
parte fundamental da ritualização (para saber mais, ver RANGEL, 1999). Há pesquisas com 
grupos indígenas que também se dedicam ao estudo dos rituais especificamente realizados 
pelos mais velhos, como notou Anthony Seeger (1945 - ) ao pesquisar e conviver som os 
Suyá (para saber mais, ver SEEGER, 1980). 
Esses exemplos complementam uma conclusão que já havíamos mencionado quando 
analisamos os estudos de Mead e Benedict, a de que há uma diversidade de formas 
possíveis como os grupos etários podem ser pensados e vividos pelas diferentes culturas 
e sociedades. Além disso, tais exemplos nos ajudam a refletir outros pontos importantes:
1) Há uma íntima relação entre aquilo que infância, vida adulta e velhice representam para 
uma sociedade e os papéis sociais assumidos pelos sujeitos em cada etapa da vida;
2) Maturidade é um momento em que esses sujeitos estão prontos para assumir os papéis 
sociais a eles destinados dentro de um grupo social.
3) Os ritos de passagem que marcam a mudança de um estágio de vida para outro 
evidenciam aspectos importantes da vida social e cultural. 
Pensando nesses pontos, sigamos nossa aula. Refletiremos agora como tudo que foi 
estudado até o momento nos permite fazer questões importantes sobre estágios de vida, 
grupos etários, gerações e famílias na sociedade de classes e na sociedade do trabalho. 
14
LEITURAOBRIGATÓRIA
Juventude, velhice e famílias
Retomemos a notícia de jornal fictícia com a qual começamos essa aula. Sempre retomando 
a própria sociedade “A infância têm durado cada vez menos tempo”. Trabalhemos a partir 
dele e a partir das conclusões sociológicas e antropológicas enumeradas nas sessões 
anteriores. Note as perguntas que podemos fazer para a notícia, a partir do que discutimos:
1) A infância para qual classe social tem durado cada vez menos? Mesmo quando falamos 
em infância e classe, podemos dizer que infância é vivenciada da mesma forma, por 
exemplo, para um sujeito de classe baixa que se envolve em atividades criminosas e 
para um sujeito de classe baixa que começou a trabalhar aos treze, catorze anos? 
2) A infância para qual sociedade ou cultura têm durado cada vez menos? Essa informação 
vale para todas as culturas e sociedades do mundo? O que o autor da notícia ou da 
coluna de jornal está chamando de “infância” tem o mesmo sentido do que outras culturas 
e sociedades podem chamar de infância?
Perceba que as questões acima nos levam a refletir o que há de social e o que há de 
cultural na fala do autor da notícia. Em grande parte das vezes, quando nos propomos a 
compreender uma temática como a da relação entre família e sociedade, não costumamos 
nos pensar como parte de um grupo cultural ou como parte de um estrato específicos 
da população. Mas precisamos fazê-lo, porque a forma como pensamos a juventude e 
a velhice deve muito à forma como nós próprios vivenciamos estágios de vida em nossa 
sociedade e cultura. 
Há um aspecto em especial da relação entre juventude, velhice e sociedade para onde os 
olhares da antropologia e da sociologia convergem: os processos de socialização. Cada 
sociedade, cultura, classe, educa suas crianças para que exerçam papéis sociais em sua 
vida adulta. A educação para o trabalho e para a formação de famílias nucleares é algo que 
claramente delimita o papel do adulto em nossa sociedade. Autores que estudam a forma 
como o termo “terceira idade” vem substituindo o de “velho” nos mostram como a perda 
do status de uma pessoa economicamente ativa está relacionada com a desvalorização 
do papel do idoso na sociedade de classes e na sociedade do trabalho (ver BARROS, 
2006 e DEBERT, 1999). Outros dedicam-se a estudar os usos e importância do termo 
“adolescência” em estudos psicopedagógicos (CESAR, 2008), reforçando o papel da 
sociedade na definição do que é o comportamento normal e correto para um adulto e para 
um jovem em nossa sociedade. 
15
Em um livro inteiramente dedicado à história da infância e da família, Philippe Ariés 
(ARIÉS, 1986) chama nossa atenção para os sentidos e a importância que damos hoje 
para a infância e para a família. O autor afirma que, na Idade Média, os colégios eram 
espaços ocupados por membros selecionados do clero. Nos dias atuais, é quase impossível 
dissociar as políticas sociais para infância da educação formal obrigatória e universalizada, 
sob responsabilidade das políticas públicas. Faz todo sentido que uma sociedade baseada 
no trabalho assalariado busque educar para o trabalho o maior número possível de seus 
membros. Ariés também afirma que na Idade Média a arte sequer se preocupava em 
representar as crianças, pois não havia um mundo infantil diferenciado do adulto. Hoje, ao 
contrário, temos entretenimentos voltados especificamente e exclusivamente às crianças. 
Quando a infância passa a ser objeto de políticas públicas e da arte? Segundo o autor, com 
o surgimento da família burguesa e com a educação da burguesia, a imagem da criança 
vai mudando e vai se estabelecendo a ideia de infância enquanto período de inocência e 
período propício para a socialização e aprendizado.
Há uma íntima relação entre a estrutura das famílias na sociedade de classes e a definição 
das categorias que descrevem os estágios de vida, como infância, adolescência, terceira 
idade. Como já estudamos nas aulas anteriores, a definição legal e a corriqueira de família 
também estão diretamente ligadas à sociedade de classes e à sociedade do trabalho. Não é 
por acaso que, quando respondemos a questionários socioeconômicose demográficos como 
os que são produzidos e analisados pelo IBGE, encontramos questões que se preocupam 
com a renda familiar, com o trabalho dos chefes de família, com a formação desses chefes 
de família, com a quantidade de filhos em idade escolar. Quando nos questionarmos, daqui 
em diante, sobre nosso lugar em uma geração ou em um grupo etário, temos de levar 
em consideração que falamos de um lugar específico dentro dessa sociedade de classes. 
Também devemos considerar que nossas noções de juventude, velhice, infância dialogam 
com o papel social que exercemos no mundo do trabalho e na família. 
LEITURAOBRIGATÓRIA
16
Estatuto do Idoso e Estatuto da Criança e do Adolescente
Ao longo desse curso, insistimos na importância de acompanhar as definições legais sobre 
a família e também sobre outros temas sociais que estudamos, como infância, adolescência, 
velhice, juventude, etc. Há uma profunda relação entre essas definições e as forças sociais que 
exercem pressão sobre a estrutura administrativa do Estado. Estatísticas e leis são termômetros 
sociais importantíssimos para as ciências sociais. Portanto, indicamos a leitura do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, bem como a leitura do Estatuto do Idoso, disponíveis a seguir. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm> e <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 4 out. 2017.
Estranhos no exterior, “Maioridade: Margareth Mead”
Parte do documentário da rede britânica de TV BBC, Estranhos no Exterior, lançado em 
1989, o vídeo “Maioridade: Margareth Mead” nos fala um pouco sobre a vida e a obra de 
uma das principais antropólogas norte-americanas do século XX, Margareth Mead. Mead é 
referência básica e clássica para qualquer estudante que se proponha a conhecer ou partir 
do olhar da antropologia para temas como sexualidade, infância e crescimento. Dividido 
em duas partes, ele começa falando sobre um dos trabalhos mais polêmicos da autora, 
que buscava entender diferenças e semelhanças entre o período de maturidade em sua 
sociedade e na sociedade Samoana. Na segunda parte, o vídeo apresenta os trabalhos da 
autora sobre a temática da relação entre sexualidade e personalidade, desenvolvidos ao 
longo da pesquisa de campo entre nativos da Nova Guiné. É interessante acompanhar o 
contexto de pesquisa e o diálogo estabelecido por ela com outros autores, neste vídeo. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fLKjTt63yjw>. Acesso em: 14 set. 2017.
Documentário “O lugar do idoso na sociedade”
Neste documentário, podemos acompanhar a temática do envelhecimento a partir de 
uma perspectiva sociológica. Partindo dos imperativos da socialização para o trabalho na 
sociedade de classes, o documentário apresenta uma leitura crítica sobre o papel do idoso na 
sociedade contemporânea. É interessante, para nosso propósito de estudo nesse caderno, 
LINKSIMPORTANTES
17
ler o Estatuto do Idoso e depois assistir a este vídeo, que contextualiza as demandas que 
acabam expressas no estatuto. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s1mdB4gD0rw>. Acesso em: 14 set. 2017.
Projeto vídeo nas aldeias apresenta: “Das crianças Ipeng para o mundo”
O projeto vídeo nas aldeias foi fundado pelo indigenista e antropólogo Vincent Carelli 
em 1986. A proposta é a de que os próprios povos indígenas filmem seu cotidiano ou 
aspectos da sua vida que achem relevantes, editem os vídeos e os divulguem. São vídeos 
captados, dirigidos e editados por membros das comunidades indígenas. Neste, temos a 
visão das crianças Ipeng sobre animais, suas brincadeiras, sobre um dia de sua vida. Note, 
sobretudo, que as crianças se empenham em mostrar as brincadeiras convidando outras 
crianças a dizerem sobre suas próprias brincadeiras. Para nós, é interessante notar que 
essas atividades fazem parte de um processo de socialização e, sobretudo, que é visto a 
partir do olhar das crianças sobre si próprias. 
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=28r1cj0xwEs>. Acesso em: 14 nov. 2017.
LINKSIMPORTANTES
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Instruções: 
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você 
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia 
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 1:
Descreva um rito de passagem que marca 
a entrada na maturidade e que você pode 
encontrar ao longo de sua vida escolar.
Questão 2:
De acordo com o que estudamos sobre os 
ritos de passagem, assinale a alternativa 
que explica por que festas de casamento e 
festas de formatura podem ser consideradas 
ritos de passagem, em nossa sociedade.
a) Ritos de passagem são festivais onde 
a estrutura dos papéis sociais se inverte 
e por isso casamentos são considerados 
ritos de passagem.
b) Ritos de passagem marcam socialmente 
e culturalmente a mudança de status 
sociais ao longo dos estágios de vida. 
Formaturas podem expressar a saída do 
status de estudante para o de membro 
da sociedade do trabalho, e casamentos 
marcam a entrada na vida adulta. 
c) Ritos de passagem dramatizam as 
relações de poder em uma sociedade. 
Formaturas sempre possuem mestres 
de cerimônia e casamentos sempre 
possuem as autoridades responsáveis 
pela celebração. 
d) Ritos de passagem expressam a 
estrutura de relações sociais em que 
vivemos e os papéis sociais que exercemos 
no cotidiano. Casamentos e formaturas 
fazem parte do nosso cotidiano. 
e) Ritos de passagem servem para 
fortalecer as relações de parentesco e dar 
continuidade à rede de relações sociais.
19
Questão 3:
Dê um exemplo de questionamento que as 
ciências sociais podem fazer para a seguin-
te afirmação “Jovens são maioria nas esta-
tísticas do desemprego”.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 4:
Assinale a alternativa correta de acordo 
com o texto:
“Apesar de ser o envelhecimento 
um fenômeno natural e universal, 
a representação da velhice é 
culturalmente determinada, de 
modo que mesmo a categorização 
de sujeitos como velhos, o status 
que gozam, bem como seus direitos 
e deveres são fundamentalmente 
distintos entre os diversos povos 
indígenas e, notadamente, entre 
estes e a população não indígena.” 
(SILVA; SILVA, 2008, p. 3434)
a) A velhice é um fenômeno natural, 
portanto, os sentidos que a palavra 
velhice assume em diferentes sociedades 
e culturas são universais.
b) Embora a forma como categorizamos 
os velhos difere de sociedade para 
sociedade, ela é igual para todos os 
povos indígenas. 
c) Ao dizer que a representação cultural 
da velhice é culturalmente determinada, o 
autor está dizendo que cada sociedade e 
cada cultura tem suas próprias formas de 
categorizar os velhos.
Questão 5:
Relacione a contribuição acadêmica para o 
estudo de gerações, de juventude, de velhice 
ou de infância ao autor responsável por ela:
a) Estudou gerações de famílias de 
migrantes em uma área degradada em 
Boston.
b) Estudou o lugar de velhos e de crianças 
na sociedade japonesa após a Segunda 
Guerra Mundial.
c) Estudou adolescência e maturidade 
entre os nativos de Samoa.
d) Tem estudos pioneiros sobre ritos 
de passagem, lançados no começo do 
século XX.
e) Chegou à conclusão de que, muitas 
vezes, as políticas de assistência social 
não dialogam com a cultura local, como 
as diferenças geracionais. 
d) A forma como nossa sociedade 
categoriza a velhice é muito semelhante 
à forma como as sociedades indígenas 
categorizam a velhice. 
e) Ao dizer que a representação cultural 
da velhice é culturalmente determinada, o 
autor está dizendo que o envelhecimento 
é um fenômeno natural e que não pode 
ser relativizado culturalmente.
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1) William Foote Whyte
2) Margareth Mead
3) Ruth Benedict
4) Arnold van Gennep
AGORAÉASUAVEZ
21
FINALIZANDO
Nessa aula, você aprendeu um pouco sobre a importância da temática dos grupos etários 
para fazer questões sobre a sociedade e a cultura em que vivemos. Aprendeu também sobre 
temáticas que se cruzam com a da juventude e a da velhice, como a das classessociais. 
Falamos sobre a importância de se analisar tanto os dados que falam sobre gerações e grupos 
etários, quanto a de analisar os sentidos que os termos derivados desses dados assumem 
para diferentes estratos de uma população ou para diferentes culturas e sociedades.
Você deve ter notado que todos os conceitos e olhares das ciências sociais aprendidos 
até o momento o ajudam a fazer suas próprias questões para os temas que estamos 
analisando em cada aula. Ao falar sobre infância ou sobre velhice, por exemplo, podemos 
nos questionar sobre o meio social a partir do qual falamos ou sobre a classe social a que 
esses termos se referem e para os quais eles fazem sentido em diferentes contextos. 
Quando pensamos na relação entre família e sociedade, temos um leque de recortes possíveis 
que podem orientar nossas questões. E temos também algumas posturas metodológicas que 
perpassam as diferentes áreas das ciências sociais e que merecem atenção:
1) Somos seres sociais por definição, portanto, é sempre importante nos questionarmos 
sobre o meio social de que partimos para falar sobre diferentes assuntos;
2) Justamente por sermos seres sociais por definição, também devemos contextualizar no 
tempo (histórico) e no espaço (sociedades, culturas, classes) as temáticas que estamos 
analisando.
Até a próxima aula!
22
GLOSSÁRIO
Infância: dentro da história, podemos encontrar o termo infância como uma referência 
direta à criança. Autores dessa área têm estudado, por exemplo, como os processos de 
socialização que colocam a criança como um objeto por excelência da educação formal 
estão relacionados com a educação católica e também com a universalização das escolas 
em meados do século XX. Autores da psicologia dedicam-se com atenção à infância 
como período fundamental da formação da psique e da cognição individual. Por sua vez, 
a sociologia tem estudado o papel da sociedade de classes e da sociedade do trabalho na 
escolarização e na produção social da infância como fenômeno da sociedade capitalista. A 
antropologia analisa ritos de passagem que demarcam e diferenciam crianças de adulto, ou 
seja, que marcam a maturidade dos sujeitos dentro de diferentes sociedades. Em qualquer 
uma dessas áreas, portanto, temos a infância como um período associado à figura da 
criança, do início da vida psíquica e da vida social dos indivíduos em nossa sociedade e em 
diferentes sociedades. 
Velhice: Se a infância, para nossos propósitos reflexivos, marca um período de início da vida 
social e cultural dos sujeitos em diferentes sociedades, a velhice marca a passagem para 
uma etapa simbólica da vida em que o sujeito, já adulto, assume um status diferenciado. Não 
somente a idade, mas outros aspectos da vida social podem ser relevantes para a demarcação 
desse período na vida, como o trabalho. Em diferentes sociedades, a velhice possui seus 
significados e nelas os velhos também assumem status e papéis sociais bastantes distintos. A 
sociologia e a antropologia têm se dedicado ao estudo desse status na sociedade de classes 
e do trabalho. Aliada a elas, a política tem se dedicado ao estudo das polícias sociais e das 
leis que têm a velhice como tema central ou que repensam os direitos e deveres em relação 
ao idoso. Em nossa sociedade, acabamos reinventando o termo e assumindo outros, como 
terceira idade, carregado de significados que representam o lugar do idoso na sociedade de 
classes. Para saber mais, ver Felipe e Souza (2015) e Debert (1999).
23
Adolescência: A noção de adolescência está bastante relacionada à puberdade, para 
a psicologia e para os estudos médicos, mas o termo nem sempre existiu. Para Freud, 
por exemplo, é no final da infância que aspectos recalcados, idealizados ou que por 
identificação foram sendo assumidos como parte da personalidade da criança na tenra 
infância são retomados para construção da sexualidade do sujeito adulto. Na sociedade 
de classes, o conhecimento médico e científico assume papel tão importante na definição 
de categorias sexuais e da maturidade dos sujeitos que o termo adolescência se torna 
parte importantíssima de estudos psicopedagógicos e até do código legal. Há políticas 
sociais e educacionais voltadas especificamente para os adolescentes, por exemplo. Mas, 
cabe salientar, diferentemente da velhice e da infância, o período de adolescência não é 
demarcado pela maioria das sociedades humanas. Também não é um período que em todos 
os momentos de construção de nossa própria sociedade teve a importância que assume hoje 
nos discursos médicos, políticos, sociais e, sobretudo, escolares. Em algumas sociedades, 
há uma passagem direta da infância para a vida adulta e, em outras, mesmo quando temos 
uma passagem gradativa, não encontramos termos que definam os diferentes momentos 
da puberdade com a mesma atenção que encontramos quando pensamos no papel que a 
adolescência hoje assume nos discursos pedagógicos, médicos, psicológicos. Para saber 
mais, ver Cesar (2008). 
Juventude: Do mesmo modo que infância e vida adulta são opostos simbólicos que definem 
a diferença entre estágios de vida do sujeito em diferentes sociedades, juventude se opõe 
à maturidade ou à velhice, significativamente, em diferentes contextos sociais, culturais e 
históricos. Note que, para nós, é importante demarcar os sentidos sociológicos, antropológicos, 
políticos, históricos que esses termos assumem. A juventude, para as ciências sociais, 
marca um período de vida em que o sujeito ainda não se inseriu ou que está se inserindo 
no mercado de trabalho ou nas atividades que fazem parte da vida adulta (reprodução, 
casamento, entre outros). Pode também se referir a um estrato etário da população que se 
muda com a alteração da estrutura populacional. É importante compreender que políticas 
educacionais e de assistência social para juventude estão intimamente relacionadas ao 
sentido social, político, cultural e histórico que o termo assume. 
GLOSSÁRIO
24
Etnografia: O termo etnografia pode se referir tanto ao método de pesquisa da antropologia 
quanto ao formato das monografias antropológicas clássicas. Nos dias atuais, o termo 
etnografia foi apropriado por outras áreas de conhecimento como parte do método que se 
dedica à observação de aspectos culturais e sociais das práticas, do cotidiano, da vida, da 
visão de mundo de um grupo de pessoas. Fazer etnografia implica na seleção de uma rede 
de pessoas que se reconhece como parte de um grupo. Esse é o objeto de um etnógrafo. 
Além da escolha do objeto, temos o método de observação: a observação participante. 
O etnógrafo dedica-se ao trabalho de campo e não é um mero observador do cotidiano e 
das práticas. Cabe a ele também participar dessas atividades, inserir-se nas atividades na 
medida do possível devido a não ser parte integrante do grupo. As etnografias clássicas, 
por sua vez, são textos que se dedicam a descrever relações políticas, religiões, relações 
econômicas, processos de socialização e outros dados da vida social e cultural que podem 
ser observados. É comum que os pesquisadores escolham um desses aspectos da cultura 
e o descrevam ao mesmo tempo em que abstraem uma estrutura de relações que pode nos 
explicar tanto a lógica social e cultural que está por trás das práticas quanto as motivações 
culturais dessas práticas. É o que acontece, por exemplo, quando os antropólogos ingleses 
se dedicam a descrever sistemas políticos ou sistemas de crença ou quando os antropólogos 
americanos, como Margareth Mead, dedicam-se a descrever a produção de cultura e 
detalhes que nos permitem abstrair a personalidade coletiva de um grupo étnico. 
GLOSSÁRIO
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GABARITO
Questão 1
Resposta comentada: A resposta a esta pergunta requer reflexão própria, mas um exemplo 
possível está descrito no enunciado da segunda questão. Formaturas são exemplos de 
rituais que marcam a passagem de um grupo etário para outro, ao longo de nossa vida 
escolar.
Questão 2
Resposta correta: B
a) Essa resposta não explica porque casamentose formaturas podem ser considerados 
ritos de passagem. 
b) Resposta correta. Formaturas celebram ritualmente a entrada no mundo do trabalho e 
casamentos celebram ritualmente a entrada na vida adulta, pois os sujeitos estão formando 
suas próprias famílias. 
c) Os ritos de passagem podem até evidenciar uma estrutura de relações de poder, mas a 
alternativa não explica porque formaturas e casamentos são ritos de passagem no sentido 
da mudança para outro grupo etário. 
d) Ritos de passagem são extracotidianos e não cotidianos. Não estamos mudando de 
grupo etário ou de estágio de vida todos os dias. 
e) Os ritos de passagem não acontecem somente em momentos rituais como o casamento. 
Eles marcam mudanças de status social em diferentes contextos sociais, além das relações 
de parentesco. 
26
Questão 3
Resposta comentada: você poderia sugerir questionamentos que indiquem um recorte 
de classe social ou de escolaridade. Por exemplo: jovens de que classe social, com qual 
escolaridade e formação?
Questão 4
Resposta correta: C
a) O texto está dizendo o contrário do que esta alternativa afirma. O envelhecimento do 
corpo é universal, mas os sentidos que cada sociedade dá para a velhice são distintos. 
b) O texto nos diz que a forma como as sociedades indígenas categorizam a velhice é 
distinta e não igual em todas elas. 
c) Resposta correta. É justamente esse o sentido de “a representação cultural da velhice é 
culturalmente determinada”, ou seja, a forma como definimos, categorizamos e vivenciamos 
a velhice é fruto da cultura em que fomos criados. 
d) O texto nos diz o oposto. Há uma grande diferença na maneira como nossa sociedade 
categoriza velhice e como as sociedades indígenas categorizam a velhice. 
e) Na verdade, o sentido de “culturalmente determinada” é o oposto do que está sendo 
descrito na alternativa. Se a velhice é culturalmente determinada, ela não é só um fenômeno 
natural, mas é representada de formas distintas por cada cultura e sociedade. 
Questão 5
Resposta correta: a – 1; b – 3; c – 2; d – 4; e - 1
GABARITO
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REFERÊNCIAS
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velhecimento. Revista Portal de Divulgação, n. 40, Ano IV, pp. 8-15, mar/abr/mai 2014.
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problemas e práticas, n. 52, p. 109-132, 2006.
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Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 1990. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 18 set. 2017.
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São Paulo: EDUNESP, 2008.
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Vídeo nas aldeias, 2001, 35:23 min, colorido, não informa. Disponível em: <https://www.
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DEBERT, Guita Grin. A antropologia e o estudo dos grupos e das categorias de idade. Ve-
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28
FELIPE, Thayza Wanessa Silva Souza; SOUSA, Sandra Maria Nascimento. A construção 
da categoria velhice e seus significados. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do 
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REFERÊNCIAS
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Família e Sociedade
Autor: Ana Carolina Bazzo Silva
Tema 05
Família, classe e processos de 
socialização
seç
ões
Tema 05
Família, classe e processos de socialização
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e 
Sociedade: Família, classe e processos de 
socialização. Caderno de Atividades. Valinhos: 
Anhanguera Educacional, 2017.
Seções Seções
FINALIZANDO
REFERÊNCIAS
GABARITO
LEITURAOBRIGATÓRIA
CONTEÚDOSEHABILIDADES
AGORAÉASUAVEZ
GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES
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Tema 05
Família, classe e processos de socialização
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Prezado aluno, neste caderno, trabalharemos com a relação entre famílias, classes e 
processos de socialização. A partir do que estudou até aqui, consideramos que você já 
tem conhecimentos suficientes para compreender que somos seres sociais e, portanto, 
aprendemos desde pequenos a como nos portar e como viver em sociedade. Nesta aula, 
nos aprofundaremos sobre a temática da socialização, adentrando um pouco mais nos 
estudos contemporâneos sobre classes sociais. 
Em nosso primeiro caderno, falamos sobre o contexto de formação do pensamento 
sociológico e, de forma ampla, sobre a relação entre sociologia, antropologia e política 
nesse momento de institucionalização das ciências sociais. Nesta aula, continuaremos 
trabalhando com a sociedade de classes, mas partindo de problemas e temas com os quais 
os autores clássicos ainda não haviam trabalhado, já que suas pesquisas respondiam a seu 
tempo e ao diálogo crítico que estabeleciam com outras áreas do conhecimento, como a 
psicologia e a filosofia. 
Nosso objetivo é que você possa pensar a relação entre socialização e família a partir da 
temática das classes, podendo analisar problemas contemporâneos a ela relacionados. 
Também objetivamos que você possa refletir as especificidades das formas de socialização 
na sociedade contemporânea, bem como possa refletir a relação dessa sociedade com a 
educação. Nossa reflexão será guiada, portanto, por uma discussão sobre educação, já que, 
quando falamos em socialização, em poder e em classes sociais, é importantíssimo que 
reflitamos o papel da educação na reprodução dos comportamentos e pensamentos coletivos. 
Assim como fizemos no caderno anterior, trabalharemos neste caderno com a proposição de 
questões que evocam os conceitos aprendidos. Neste ponto do curso, esperamos que você 
seja capaz de fazer perguntas sociológicas, antropológicas e políticas para família e indivíduo. 
Professora Ana Carolina Bazzo da Silva
CONTEÚDOSEHABILIDADES
6
LEITURAOBRIGATÓRIA
Família, classe e processos de socialização 
Convite à leitura
Em nosso quinto caderno do curso, vamos nos aprofundar sobre a temática das classes e sobre 
a temática da educação.Seja no espaço familiar, em nossa primeira infância, seja no espaço 
escolar, quando somos um pouco mais velhos, a educação exerce papel fundamental na forma 
como somos formados para fazer parte de uma coletividade. O processo que chamamos de 
socialização, ou seja, que nos forma para que vivamos em sociedade e para que convivamos 
uns com os outros deve-se em grande parte à educação. Aprendemos, inclusive, a educar 
porque vivemos em sociedade e reproduzimos com nossos filhos e estudantes muito da maneira 
como a sociedade nos ensina sobre o que é educar e sobre quais conteúdos devemos ensinar. 
Começaremos nossa jornada discutindo a relação entre educação e socialização a partir 
do olhar das ciências sociais. A temática não é totalmente nova para você, que já estudou 
em aulas anteriores sobre as diferenças culturais nas formas de educar e de conceber a 
infância. Nesta, nos aprofundaremos especificamente no papel da educação escolar em 
nossa sociedade. 
Em seguida, discutiremos a leitura de Pierre Bourdieu para as classes e como ela nos 
apresenta uma perspectiva crítica sobre educação e sobre cultura. Todos os alunos, mesmo 
em uma nação que constitucionalmente promete educação pública e universal, partem do 
mesmo domínio de bens culturais e simbólicos quando chegam à escola? Quem define os 
conteúdos escolares a serem estudados e quem define o que fica de fora? Essas são questões 
importantes sobre as quais nos debruçaremos também neste caderno. 
Por fim, como fazemos desde os últimos cadernos, vamos discutir especificamente a relação 
entre famílias e a temática central aqui proposta. Qual o lugar e qual o papel das famílias 
quando falamos em educação escolar e desigualdade entre as classes sociais? Qual o lugar 
e qual o papel da família quando falamos em classes sociais na sociedade contemporânea?
7
LEITURAOBRIGATÓRIA
Quais os desafios e problemas decorrentes da leitura apresentada nesta aula sobre as classes 
sociais? Convidamos você a refletir sobre essas questões a partir do que será apresentado 
neste caderno.
Desejamos a você uma boa leitura. 
Por dentro do tema
Educação e socialização
Quando mencionamos processos de socialização, anteriormente, falamos sobre formas 
como diferentes culturas educam suas crianças para que se insiram no coletivo e para 
que deem continuidade à estrutura de relações sociais que constitui a sociedade. Também 
mencionamos que esses processos de socialização são passados de geração para geração, 
o que significa dizer que a forma como educamos nossas crianças também foi aprendida 
por nós. Em resumo:
1) A forma como inserimos nossas crianças em sociedade responde a imperativos culturais 
da própria sociedade. 
2) Processos de socialização nos tornam os seres sociais que somos e, ao mesmo tempo, 
são responsáveis pela reprodução das relações sociais e da cultura no tempo.
Ao visualizar a relação entre socialização e educação, você pode pensar na diversidade de 
maneiras como podemos educar as crianças, mas também pode refletir a íntima relação 
entre educação e poder quando o cenário é a sociedade de classes e a sociedade do 
trabalho. Para que servem as escolas, quando pensamos que estamos ensinando as 
crianças a viverem em uma sociedade de classes, direcionada para a produção em massa 
e para a reprodução de desigualdades históricas? Foi partindo dessa questão que muitos 
sociólogos contemporâneos se propuseram a refletir a educação escolar. 
O processo de socialização certamente se inicia no seio familiar, nos nossos primeiros anos 
de vida. A este primeiro contato com as regras sociais, nos seis primeiros anos da infância, 
damos o nome de socialização primária. Esse é um período de extrema importância, porque 
é um momento em que estamos aprendendo a falar. Para as ciências sociais, sobretudo a 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
antropologia, é quando aprendemos a falar que somos introduzidos ao universo da cultura. 
Mas o processo de socialização não acaba nesses primeiros seis ou sete anos de vida. 
Do final da primeira infância até os anos finais de nossa vida escolar, em um período que 
convencionamos em nossa sociedade chamar de adolescência, ainda estamos sendo 
educados para vivemos em sociedade. A esse segundo momento de aprendizado, damos 
o nome de socialização secundária. 
É justamente nesse segundo momento que a escola se apresenta como instituição 
fundamental no processo de socialização. Nos dias atuais, cada vez mais cedo as crianças 
são introduzidas ao meio escolar e cada vez mais cedo introduzidas a conteúdos e formas 
de ensinar esses conteúdos intimamente relacionados com a sociedade em que a escola 
está inserida. Mas, que sociedade exatamente é essa? 
Quando pensamos em sociedade de classes, diretamente nos remetemos aos estudos de 
Durkheim, Weber e Marx. O mesmo quando falamos em sociedade do trabalho. A primeira 
definição apoia-se na consequente estratificação social advinda das relações de produção, da 
divisão do trabalho social. Todos esses autores tinham como objeto a sociedade pós-industrial 
e suas formas de sociabilidade, baseada no trabalho livre, na divisão social do trabalho e 
na estrutura das classes sociais. A sociedade contemporânea de classes e do trabalho é a 
mesma sociedade sobre a qual se debruçaram os estudos desses autores? De certo modo, 
sociólogos contemporâneos ainda concordam que as classes e o trabalho são como uma 
estrutura social básica que explica a constituição de nossa sociedade desde a modernidade. 
Mas ampliam suas leituras voltando-se para diferentes recortes sobre essa sociedade. 
Demos passos históricos e sociais bem longos desde que as primeiras famílias burguesas 
começaram a estudar seus filhos e que o conhecimento deixou de ser monopolizado pelo estrato 
religioso ilustrado, saiu dos mosteiros e adentrou o ambiente doméstico e familiar. Durante 
muitos séculos, por exemplo, as composições musicais tinham temáticas religiosas e eram 
produzidas para serem tocadas nas igrejas. Com a ascensão das primeiras famílias burguesas, 
as composições saem da igreja e dos castelos e adentram os salões e o universo doméstico. 
Desse contexto para a institucionalização da educação como responsabilidade dos estados 
nacionais, algo que só acontece em meados do século XX, temos um longo caminho. 
Se, portanto, os autores clássicos da sociologia nos permitem compreender a formação 
da sociedade de classes, autores contemporâneos nos permitem compreender as 
especificidades contemporâneas das formas de sociabilidade, da produção cultural, da 
educação, das relações de trabalho na sociedade que se constituem a partir de meados 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
do século XX até os dias atuais. É importante citar que o foco da pesquisa sociológica 
muda para que você compreenda que a forma como cada autor vai denominar a sociedade 
capitalista estará bastante relacionada com o objeto de suas pesquisas. 
Autores da escola de Frankfurt, por exemplo, dedicaram-se ao estudo do que Marx chamou 
de superestrutura. A produção cultural na sociedade capitalista é uma das temáticas que 
perpassa a obra de autores como Walter Benjamin (1892-1940), Theodor Adorno (1903-
1969) e Max Horkheimer (1895-1973). A temática da indústria cultural, da produção em 
massa de formas de entretenimento como a música e a arte interessava esses autores. 
Aspectos da produção cultural que não foram tratados pelos autores clássicos simplesmente 
porque estes viveram em contextos distintos, foram refletidos à luz dos clássicos. 
Henri Lefebvre (1901-1991) partiu de um olhar marxista para estudar questões relacionadas 
à transição entre rural e urbano com a acentuação da produção industrial. Ao final de sua 
carreira, dedicou-se ao estudo da propaganda como forma de reprodução da produção e 
formas de consumo capitalistas após a Segunda Guerra Mundial. Sociedade dirigida para 
o consumo, sociedade da indústria cultural, sociedade do entretenimento e da propaganda, 
todos esses são títulos possíveis para uma reflexão sobre a formacontemporânea das 
relações sociais na sociedade de classes e na sociedade do trabalho. 
Há muitas outras abordagens, ainda. O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938-) dedicou-
se a compreender trabalho, identidade, nacionalismo na sociedade globalizada. Manuel 
Castells (1942-), sociólogo espanhol, dedicou-se a estudar a sociedade da informação, 
chamada por ele de sociedade em rede. Zygmunt Bauman (1925-2017), sociólogo polonês, 
estudou as mudanças nas formas de sociabilidade nesta contemporânea forma da sociedade 
capitalista, em que tempo e espaço se encurtam e em que vínculos se tornam menos 
duradouros. Note como cada um, à sua maneira, discute fenômenos contemporâneos 
como o encurtamento de distâncias temporais e espaciais a partir do surgimento de novas 
tecnologias e a partir da globalização. 
Quando nosso objetivo é observar formas de socialização propostas pela educação escolar, 
é essencial citar essas mudanças na sociedade de classes. Quando nos propomos a refletir 
sobre as formas de educar, temos de levar em consideração as mudanças tecnológicas, a 
globalização e a presença da indústria do entretenimento e da cultura de massa, algo que 
não existia quando autores clássicos estavam escrevendo sobre divisão do trabalho e sobre 
classes sociais. Quando pensamos em conteúdos escolares, a temática da ideologia e sua 
relação com a dominação de classe também precisa ser citada. Políticas educacionais, por 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
sua vez, estão intimamente relacionadas com a estrutura de poderes e com a estrutura 
administrativa e jurídica nacional que organiza essas relações de poder. 
Em resumo, as formas de sociabilidade, as estruturas de poder, a produção de bens culturais 
contemporâneas são parte essencial de um estudo sobre educação na sociedade de classes. 
O que, para quem e como as escolas estão ensinando? Se processos de socialização servem 
para nos fazer parte da coletividade, quais especificidades dos processos de socialização 
escolares nesta específica sociedade? A seguir, trabalharemos com essa temática a partir 
da obra de Pierre Bourdieu (1930-2002). 
Socialização, poder simbólico e classes sociais
Muito falamos até aqui sobre temas que podem ser estudados a partir da observação da 
sociedade de classes na contemporaneidade, mas o que estamos chamando de sociedade 
de classes na contemporaneidade? Quais as principais implicações de se pensar em uma 
sociedade dividida em classes quando nos propomos a pensar a escola e a educação? 
Vimos em aulas anteriores que, para a sociologia, classe social não se resume a um grupo 
populacional dividido por renda ou poder de consumo, apesar da renda e do poder de consumo 
serem indicativos importantes sobre a relação entre grupos. Classes sociais nos falam sobre a 
específica forma como a sociedade capitalista está estratificada. Para Marx, tínhamos um grupo 
que vendia sua força de trabalho e outro que detinha os meios de produção e comprava a força 
de trabalho. Para Weber, a construção da modernidade depende do surgimento da burguesia, 
da ciência e depende da queda da sociedade estamental. O que muda, com a sociedade 
globalizada, com a sociedade da tecnologia, da propaganda, da indústria do entretenimento?
Para os autores contemporâneos, a estrutura das classes sociais se funda em novas formas 
de produção de bens culturais e simbólicos e essas novas formas influenciam a estrutura 
produtiva como um todo e a própria produção de conhecimentos. Para Pierre Bourdieu, é 
para esses aspectos da produção que devemos olhar quando pensamos em classes sociais 
e educação. Boa parte dos estudos do autor sobre arte, cultura e educação parte do princípio 
de que as classes dominantes definem que tipos de produção cultural são considerados de 
bom gosto e, após fazê-lo, tomam para si os bens culturais e simbólicos definidos como 
tais. Para compreender melhor como as concepções do autor sobre cultura e educação se 
relacionam com processos de socialização, é interessante citar três dos principais conceitos 
encontrados em sua obra: habitus, capital cultural e poder simbólico. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Como estudante de ciências sociais, é essencial que você tenha compreendido um ponto 
essencial da teoria sociológica: todos os autores estudados até o momento concordam 
que classe social é um nome dado especificamente para a forma como está estratificada a 
sociedade capitalista. Capitalismo, do ponto de vista sociológico, é uma forma de produção 
que se consolida na Revolução Industrial, baseada no trabalho livre e assalariado. Ou seja, 
neste ponto deste curso, você já deve ser capaz de refletir termos como capitalismo a partir de 
um olhar acadêmico. Burguesia é o nome dado a uma classe que surge com a decadência da 
Idade Média, uma classe que acumulou bens materiais após as grandes navegações e que 
terá capital para bancar a construção da estrutura produtiva industrial, mais tarde. 
Note, estamos lidando com termos que explicam causas e contextos sociais para diferentes 
temas. Os sentidos dados pelos autores contemporâneos para a sociedade contemporânea 
podem ser distintos, mas há uma concordância em relação aos sentidos acadêmicos de 
termos como classe ou capital. Esses termos acabarão influenciando sua leitura, mesmo 
quando eles criticam academicamente seus antecessores. 
A forma como Bourdieu utilizará o conceito de classe nos remete tanto à noção de estratificação 
social na sociedade capitalista quanto à de poder de consumo que está presente na análise 
de outros autores. Bourdieu trabalhará com a noção de classe social como um espaço 
simbólico formado por grupos e por pessoas que se diferenciam pela posse de bens materiais 
e simbólicos. As classes dominantes, para o autor, ainda continuam sendo aquelas que detêm 
meios de produção e monopólios financeiros, mas, além disso, elas detêm o poder de dizer 
o que é arte, o que é bom gosto, o que é erudição. Desapropriam as classes populares da 
posse de conhecimentos e da posse de bens culturais para se diferenciarem, ao mesmo 
tempo em que definem que tipo de bens culturais e simbólicos são de boa qualidade. 
Bens simbólicos não são como bens materiais. Uma coisa é podermos comprar quadros de 
pintores aclamados, como Picasso, outra coisa é a forma como falamos, como andamos, como 
nos vestimos e os lugares que frequentamos. Há certos tipos de bens simbólicos que são 
aprendidos e que não podem ser comprados. Ou somos educados para conhecer vocabulário e 
gostos de classe, ou não somos. Uma pessoa que cresce falando com um sotaque considerado 
“feio”, mesmo que treine muito, terá dificuldade para falar de outra maneira. 
Para Bourdieu, a forma como somos socializados, desde a primeira infância, reflete a classe 
social de que fazemos parte. Gostos de classe, formas de falar e inclusive formas de andar 
são aprendidos dentro do meio social em que nascemos e fomos criados. Quando chegam 
à escola, no período de socialização secundária, as crianças já trazem consigo a posse de 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
bens simbólicos passados de geração para geração. É muito diferente ser uma criança que 
convive em casa com vocabulário de classe média ou classe alta de ser uma criança que 
convive com formas de falar e de se portar em sociedade que são compartilhadas pelas 
classes trabalhadoras e populares. 
A esses costumes, gostos e linguagens aprendidos em diferentes meios sociais, o autor deu 
o nome de habitus. Todas as crianças aprendem pela repetição e pela identificação. Um 
comportamento realizado repetidamente acaba sendo incorporado. A partir da incorporação 
desses comportamentos e pensamentos, acabamos agindo na sociedade. Habitus são 
essas estruturas mentais e corporais que, pela repetição e pela identificação, adquirimos já 
na primeira infância e a partir das quais vamos nos portar, agir e pensar no mundo social. 
Talvez você visualize melhor o que o autor quer dizer se trabalharmos com exemplos. Quem 
já trabalhou com alfabetização de jovens e adultosde classes trabalhadoras reconhece a 
dificuldade que essas pessoas possuem em segurar os lápis e canetas. O treinamento da 
coordenação motora fina, que requer o uso da musculatura pequena do corpo, é feito na 
pré-escola. Ensinamos as crianças a fazerem bolinhas de papel, a brincar com massinha 
de modelar, a fazer pequenos recortes com tesoura ou com a ponta dos dedos. Todas 
essas atividades estão as preparando para serem alfabetizadas, a partir dos seis, sete 
anos. Um adulto que jamais frequentou a escola e que, desde pequeno está acostumado 
com trabalhos pesados como é o trabalho no campo, terá dificuldades com atividades que 
requerem o uso da coordenação motora fina. A coordenação motora grossa, desenvolvida 
pelos músculos maiores do corpo, é requerida em atividades como esportes e dança. Uma 
criança treinada desde cedo em artes marciais ou balé clássico desenvolverá habilidades 
corporais que serão muito difíceis de serem desenvolvidas por adultos. Uma criança que 
desde pequena tem aulas de piano desenvolverá habilidades manuais que serão difíceis de 
serem desenvolvidas por um corpo adulto. É isso que queremos dizer quando afirmamos 
que o habitus é aprendido e incorporado. 
Reflita, a partir desses exemplos, as diferenças de classe pelo acesso aos bens culturais 
e simbólicos. Crianças que não foram expostas a bens culturais classificados pelo “gosto 
refinado” de elite chegam ao universo escolar com habitus muito distintos dos habitus das 
crianças de elite. Crianças que são levadas a museus, ao cinema, ao teatro desde a tenra 
idade são capazes de reconhecer esses elementos da cultura de elite, enquanto os filhos 
das classes populares não têm a mesma oportunidade. Bourdieu deu o nome de Capital 
Cultural para os bens culturais que são passados de geração para geração e que delimitam 
as fronteiras simbólicas entre as classes sociais. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Não se trata somente de poder consumir elementos da cultura de elite, se trata de incorporar 
o gosto de classe e a forma como os membros da elite falam, se comportam e vivem. Junto 
ao Capital Cultural vem o habitus de classe. Uma pessoa que era pobre e fica rica não muda 
de status social imediatamente, não é recebida imediatamente como membro da elite, porque 
carrega consigo o habitus de classe e o capital cultural de sua classe. Ela pode comprar 
quadros de pintores reconhecidos, mas talvez não acesse todos os códigos necessários 
para uma conversa com apreciadores de arte da elite nem seja aceita nesse meio. E qual o 
papel da escola nesse contexto? Para compreendermos as críticas ao que o autor chama de 
reprodução da dominação que é perpetrada pela escolha de conteúdos e didáticas escolares, 
precisamos compreender outro conceito caro à sua obra, o de poder simbólico. 
Quando as classes dominantes definem que conteúdos aleatórios da produção cultural 
serão classificados como melhores, que conteúdos serão classificados como corretos e 
bonitos (na escrita, na fala), e expropriam as classes trabalhadoras do conhecimento desses 
conteúdos, estão exercendo violência simbólica, segundo Bourdieu. A violência simbólica 
alimenta-se dessa forma de poder simbólico que está presente tanto no ato de definir o que 
é bom e o que é ruim quanto no ato de possuir capital cultural com esse valor. 
Os conteúdos escolares e as maneiras de ensinar são definidos, segundo Bourdieu, pelas 
classes dominantes, que também estão representadas nas políticas educacionais. Elas 
possuem o poder para definir conteúdos curriculares e para decidir qual será o papel da 
educação pública. Escolas de elite ensinam seus filhos a apreciar arte e a falar línguas 
necessárias para a administração do poder simbólico. A escola pública forma para o trabalho. 
Mais do que isso, a definição dos conteúdos escolares que serão ministrados na educação 
pública e universal está sempre em conflito, porque as classes dominantes exercem poder 
sobre a definição do que as classes trabalhadoras podem conhecer e sobre como formá-las. 
Bourdieu foi, durante muito tempo, conhecido como um autor pessimista porque, ao estudar 
a relação entre classes, escola e profissões, deparou-se com um cenário onde havia pouca 
ou nenhuma mudança de status social a partir do acesso à educação pública. Seus estudos 
com as escolhas dos estudantes secundaristas por carreiras que acabavam reproduzindo 
a carreira de seus pais ou o salário de seus pais, nos revelam fatos importantes sobre 
políticas educacionais e sobre a escola:
1) A mobilidade social pela educação é mais difícil do que acreditamos, porque os processos 
primários de socialização têm papel fundamental nas possibilidades de ascensão social;
14
LEITURAOBRIGATÓRIA
2) A escola reproduz conhecimentos e culturas que representam as classes dominantes. 
Apesar da alcunha de pessimista, as críticas de Bourdieu são muito importantes para nossa 
reflexão sobre processos de socialização, família e sociedade, porque relacionam classes, 
poder e produção cultural. Bourdieu nos permite refletir se a escola está, realmente, suprindo 
as diferentes necessidades de acesso e levando em consideração a qualidade de outras 
produções culturais que não somente as da elite, ou se está simplesmente reproduzindo 
violência simbólica e alimentando o poder simbólico que as classes dominantes já possuem. 
Tendo isso em mente, sigamos para o final desse caderno em que trabalharemos com 
maior atenção a temática das famílias, classes e educação.
Famílias, classes sociais e educação
Em Imagens negociadas: retratos da elite brasileira, 1920-1940 (1996), o sociólogo brasileiro 
Sérgio Miceli estuda o início da carreira do pintor brasileiro Candido Portinari (1903-1962), 
reconhecido internacionalmente. Portinari não era um filho das elites ilustradas, como Tarsila 
do Amaral (1886-1973) e outros artistas de sua época. Antes de desenvolver as pinturas 
autorais que hoje são mundialmente conhecidas, o artista pintava retratos encomendados 
pelos membros da elite econômica e cultural brasileira. Miceli estuda como, para poder 
transformar-se no pintor das obras que hoje conhecemos, Portinari precisa dedicar-
se à pintura de retratos para poder adentrar nos meios de elite, fazendo-se presente e 
reconhecido. Inspirado na obra de Bourdieu, este trabalho de Miceli nos ajuda a refletir o 
papel da família na relação entre classes e cultura. Talento e conhecimentos não são os 
únicos responsáveis pelo sucesso de Portinari, que percorreu um longo caminho até ser 
introduzido em espaços que já eram acessados por outros artistas desde a infância. 
Além da relação entre famílias e classes sociais que pode ser evocada quando estudamos 
os processos de socialização primários, podemos citar a importância das famílias como 
instituições sociais que atuam na diferenciação de classe pela posse de capital cultural. 
Em uma tese publicada em 2012, o sociólogo político Ricardo Costa de Oliveira analisa a 
permanência das famílias de políticos em diferentes esferas do poder no Estado do Paraná e 
chega à conclusão de que apenas sessenta e duas famílias comandam a política paranaense 
na contemporaneidade e algumas delas têm se mantido no poder desde o começo do século 
XX. A trajetória de famílias pela política, como mostra Oliveira, ou pelos meios de produção de 
15
arte e cultura, como mostra Miceli, é um objeto interessante porque evidencia como as famílias 
passam, de geração para geração, não somente bens materiais, mas bens simbólicos que 
garantem a reprodução das estruturas de poder e a dominação simbólica. 
A educação, nesse contexto, é um dos principais meios de reprodução das relações de poder. 
Famílias de políticos educam seus filhos para que assumam cargos de poder. Famílias da 
elite educam seus filhos para dominarem os códigos necessários à leitura de obras de 
arte e para que circulem em meios que também dominam esses códigos. Certamente a 
escola que essas elites frequentam não é a mesma escola frequentada pelos filhos das 
classestrabalhadoras. Muitos dos moradores da periferia das grandes cidades onde estão 
localizados museus, estádios poliesportivos, galerias de arte, parques e teatros não têm 
acesso a eles ou não foram apresentados a eles pelos seus pais, enquanto filhos das elites 
no interior conhecem museus internacionais. Note como a posse de bens culturais cria 
distâncias entre as classes que não são físicas, mas sim simbólicas. Moradores de bairros 
separados por uma ou duas ruas frequentam escolas totalmente diferentes, tendo acesso a 
oportunidades também muito distintas. 
A educação, apesar de ser legalmente um direito universal, acaba por reproduzir a 
dominação, porque as escolas respondem ao meio em que estão inseridas e porque os 
conteúdos escolares muitas vezes excluem as formas de cultura das classes trabalhadoras 
em seus currículos. 
Para os propósitos de nossos estudos, é interessante salientar pontos metodológicos que 
ilustram a relação entre escola e famílias:
1) A trajetória e o meio social de onde partem as famílias é um objeto a ser observado quando 
pensamos nos estudantes e em sua relação com a escola, já que as famílias possuem bens 
culturais e simbólicos que passam de geração para geração;
2) Estudar o meio social em que se localizam as escolas é importante, porque ele reflete a 
relação das escolas com as classes;
3) Estudar currículo é importante, porque os conteúdos escolares e formas de ensinar 
reproduzem o projeto de cidadão a ser formado pelas escolas;
4) Estudar políticas educacionais é importante, já que famílias das classes dominantes 
também se perpetuam em diferentes esferas do poder político. 
LEITURAOBRIGATÓRIA
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Para finalizar nosso caderno, propomos a você um exercício de reflexão. Pense em 
questões sociológicas que você pode fazer para o meio social em que foi criado e para o 
meio escolar em que foi educado. Reflita os conteúdos escolares que foram repassados 
pelos seus professores e como eles foram passados pela escola. Que tipo de cidadão esses 
conteúdos estavam formando? Além disso, como a obra de Bourdieu pode ser interessante 
para que você reflita seu lugar de classe dentro da sociedade contemporânea? Conhecendo 
essa íntima relação entre escola, conteúdos e classes sociais, como podemos pensar uma 
educação que dialogue de forma mais próxima ao contexto social e familiar dos diferentes 
estudantes, visando a uma diminuição na desigualdade de acesso ao conhecimento? 
Ficamos por aqui, deixando essas questões para sua reflexão pessoal propondo que 
você faça suas próprias perguntas para a relação entre famílias, classes e processos de 
socialização.
LEITURAOBRIGATÓRIA
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“Um fim de semana no parque vinte anos depois”
Lançada em 1993, uma das músicas mais famosas dos Racionais MC, “Fim de semana no 
parque”, narra as diferenças entre o lazer dos jovens nas favelas da Zona Sul de São Paulo 
e os jovens que moram em bairros ricos próximos. Um dos pontos mais interessantes, para 
os propósitos dessa aula, é observar a desigualdade de acesso a atividades de lazer e, 
sobretudo, a crítica presente na música em relação à forma como essa desigualdade está 
presente na vida cotidiana e na criação desses jovens. Na reportagem “Um fim de semana 
no parque vinte anos depois”, os autores analisam as mudanças no contexto social, cultural 
e econômico da mesma área que serviu de cenário para a letra da música após o aniversário 
de vinte anos de seu lançamento. Note, sobretudo, o tipo de bem simbólico associado às 
áreas marginalizadas e o tipo de bem simbólico associado às áreas privilegiadas. 
Disponível em: <https://www.revistaforum.com.br/digital/119/ok-um-fim-de-semana-no-
parque-20-anos-depois/>. Acesso em: 27 set. 2017.
Observatório das favelas
O observatório das favelas é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse 
Público). OSCIPs são ONGs (Organizações Não Governamentais) que nascem da iniciativa 
privada, mas que possuem certificação específica fornecida pelo Ministério da Justiça e 
podem estabelecer convênios com órgãos públicos. O observatório das favelas nasceu em 
2001 e está sediado na Favela da Maré, tendo objetivos de pesquisa, consultoria e ação 
pública. Para os propósitos dessa aula, é interessante pesquisar o site da instituição, pois 
ele nos apresenta diversas informações que podem ser interessantes para visualizarmos 
tudo que estudamos sobre capital cultural, violência simbólica, poder simbólico. Como dica, 
sugerimos que comece sua navegação pelo site investigando os projetos gerenciados pela 
instituição. Como a cultura local está representada nesses projetos? Como o acesso à 
educação e a valorização da cultura local estão representadas nesses projetos? Dê uma 
olhada no site pensando nessas questões. 
Disponível em: <http://observatoriodefavelas.org.br/>. Acesso em: 27 set. 2017.
LINKSIMPORTANTES
18
“Nunca me sonharam”, documentário produzido por Maria Farinha Filmes
O documentário “Nunca me sonharam” foi lançado em 2017 e fala sobre a vida dos 
estudantes e professores nas escolas públicas brasileiras. O que sonhamos para nossos 
filhos a partir daquilo que conhecemos? Que oportunidades eles têm de acordo com o 
meio em que foram criados? Como profissões acabam sendo reproduzidas de acordo com 
as classes sociais? O documentário se propõe a discutir essas questões. Como, apesar 
da educação constitucionalmente ser professada como um direito universal, as diferenças 
no acesso e no ponto de partida dos estudantes acabam deixando pouco espaço para 
escolhas. No link a seguir, você terá acesso ao trailer do filme, que está disponível para 
exibições públicas (com no mínimo cinco pessoas). Basta entrar em contato com o site 
para ter acesso gratuito à obra completa.
Disponível em: <http://www.videocamp.com/pt/movies/nuncamesonharam>. Acesso em: 
27 set. 2017.
“Capital Cultural”, produzido pela UNIVESP TV
Neste curto vídeo produzido pela UNIVESP TV (TV da Universidade Virtual do Estado de 
São Paulo), temos uma descrição didática do que é capital cultural, para Pierre Bourdieu. 
Observe, por exemplo, como algumas produções culturais são preteridas e outras ganham 
status privilegiado em nossa sociedade. Observe a fala das crianças e note como aquilo 
que elas trazem de casa, como a socialização familiar, está relacionado ao capital cultural 
das classes sociais e como esse capital cultural distingue as crianças antes mesmo que 
elas entrem na escola. Após ver o vídeo, reflita sobre como a cultura pode ser usada para 
dominação. E seus “gostos” culturais. O que eles dizem sobre seu lugar na sociedade? O 
que eles dizem sobre sua passagem pela instituição escolar?
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=a3eO6-D4nHo>. Acesso em: 27 set. 2017.
LINKSIMPORTANTES
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Instruções: 
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você 
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia 
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 1:
Defina e diferencie socialização primária de 
socialização secundária.
Questão 2:
Leia o texto abaixo e depois assinale a al-
ternativa correta:
“A abordagem que Bourdieu faz de 
classe incorpora sua concepção 
marcadamente relacional da vida 
social. Para o autor de A distinção, 
da mesma forma que para Marx 
e Durkheim, o estofo da realidade 
social — e, portanto, a base para a 
heterogeneidade e a desigualdade 
— consiste de relações. Não de 
indivíduos ou grupos, que povoam 
nosso horizonte mundano, mas 
sim de redes de laços materiais e 
simbólicos, que constituem o objeto 
adequado da análise social. Essas 
relações existem sob duas formas 
principais: primeiramente, reificadas 
como conjuntos de posições objetivas 
que as pessoas ocupam (instituições 
ou ‘campos’) e que, externamente, 
determinam a percepção e a ação; 
e, em segundo lugar, depositadas 
dentro de corpos individuais, na 
forma de esquemas mentais de 
percepção e apreciação (cuja 
articulação, em camadas, compõe 
o ‘habitus’),através dos quais nós 
experimentamos internamente e 
construímos ativamente o mundo 
vivido.” (WACQUANT, 2013, p. 88)
a) Habitus são os conjuntos de posições 
objetivas que as pessoas ocupam em 
instituições ou campos.
b) A desigualdade é fruto da ação 
individual ou grupal, segundo Bourdieu.
c) Habitus são camadas de esquemas 
mentais de percepção e apreciação 
depositados dentro dos corpos. 
d) A análise social deve se voltar para a 
observação dos grupos e dos indivíduos.
e) A heterogeneidade e a desigualdade são 
fruto da ação individual no mundo, porque o 
ser humano é competitivo por natureza.
20
AGORAÉASUAVEZ
Questão 4:
Leia o texto abaixo e depois assinale a al-
ternativa correta sobre a relação entre cul-
tura de massa e educação:
“O fenômeno da cultura de massa, 
responsável pela circulação de 
informações, favorecido pela 
fragilidade das instituições 
tradicionais de educação, constrói 
um ambiente favorável à difusão 
de valores e padrões de conduta 
diversificados e, por vezes, 
heterogêneos. Nesse contexto, 
aponta para uma nova arquitetura 
das relações sociais, em que as 
ações educativas não se realizam 
apenas nos espaços institucionais 
tradicionais. Ao contrário, essa nova 
configuração cultural alerta para 
outras modalidades educativas, 
circunstanciando a particularidade 
do processo de socialização na 
contemporaneidade.” (SETTON, 
2005, p. 246)
a) A educação contemporânea deve se 
afastar da cultura de massas.
b) O espaço escolar tradicional é o único 
responsável pelas ações educativas.
c) Os processos de socialização na 
contemporaneidade pouco mudaram 
desde a Revolução Industrial.
Questão 5:
Nossa quinta questão será um exercício de 
pesquisa para que você entre em contato 
com dados sobre educação. Entre no site 
do INEP e faça uma pequena busca nos 
dados do Censo da Educação Básica de 
2016 para seu município. 
Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/
censo-escolar>. Acesso em: 15 out. 2017.
Questão 3:
Explique a relação entre capital cultural e 
poder simbólico.
d) A escola, enquanto instituição 
responsável pela socialização das 
crianças, reproduz ações educacionais 
independentemente da cultura de massa. 
e) A autora aponta para a necessidade 
de novas modalidades educativas, já que 
a cultura de massas nos introduz a novas 
formas de socialização na sociedade 
contemporânea.
21
FINALIZANDO
Nesta aula, você pôde acompanhar especificidades dos processos de socialização na sociedade 
contemporânea. Para tanto, apresentamos algumas leituras sociológicas sobre o que é a 
sociedade capitalista na contemporaneidade. Você entrou em contato, por exemplo, com autores 
que se dedicaram a estudar as formas contemporâneas de sociabilidade em uma sociedade 
globalizada. Com maior detalhamento, visualizou a importância da produção de bens culturais e 
da produção e reprodução de conhecimentos na sociedade contemporânea. 
Não é por acaso que a escola toma para si o papel de protagonista nos processos de socialização 
secundária na sociedade de classes. A escola responde ao projeto de formação de cidadãos 
que viverão sob a estrutura administrativa dos Estados nacionais e responde à necessidade de 
formação de trabalhadores e de consumidores de bens simbólicos e materiais. Ao mesmo tempo, 
o ambiente escolar reproduz formas de poder que sustentam as diferenças entre as classes, seja 
em seus conteúdos curriculares, seja na maneira como esses conteúdos são ensinados. 
Você também pôde observar o lugar social, político, cultural das famílias na reprodução dessas 
estruturas de poder e pôde notar como o estudo das famílias é caro aos autores que se dedicam 
a compreender a formação e a estrutura da sociedade brasileira. A partir dessa aula, esperamos, 
sobretudo, que possa fazer suas próprias perguntas sociológicas para problemas e situações 
evidenciados na relação entre escola e família, entre escola e política, entre escola e sociedade.
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GLOSSÁRIO
Sociabilidade: Sociabilidade é um termo utilizado pelas ciências sociais para designar 
a qualidade do humano em ser um ser social, um ser gregário. Os autores considerados 
fundadores da sociologia, apesar da forma diferente como abordam e interpretam a sociedade 
de classes, concordam que a sociabilidade é uma qualidade que define o ser humano 
enquanto um ser essencialmente social. Durkheim, por exemplo, quando falará sobre as 
diferenças entre a sociedade que possui divisão social do trabalho e as demais sociedades, 
dará um nome específico a essa qualidade da vida coletiva, diferenciando historicamente e 
socialmente a “solidariedade” mecânica da “solidariedade” orgânica. De certo modo, Weber 
também nos fala sobre essa qualidade quando utiliza a ideia de ethos para se referir à 
cultura compartilhada por um grupo e também quando nos fala sobre a ética que orienta a 
ação dos sujeitos em uma coletividade. Marx também trabalhará algo próximo à noção de 
sociabilidade ao discutir que, ao modificar a natureza e ao se organizar socialmente para 
o trabalho, o homem se mostra um ser social ao longo da história. Há, no entanto, autores 
contemporâneos que discutem criticamente o termo, dizendo que a sociabilidade não é 
uma qualidade intrínseca ao homem, mas sim aprendida e desenvolvida ao longo da vida 
em sociedade. Esses autores preferem o uso do termo “socialidade”. 
Socialização: Diferentemente de sociabilidade, que expressa uma qualidade do humano, 
socialização expressa o processo a partir do qual nós aprendemos, já na infância, a sermos 
seres sociais. Autores como Anthony Giddens (1938-) discutem que somos socializados de 
formas distintas de acordo com a sociedade e o tempo histórico em que vivemos. As formas 
de socialização são, portanto, um bom recorte para análise da vida social em diferentes 
contextos sociais e históricos. Autores das ciências sociais e da psicologia concordam que 
o primeiro processo de socialização pelo qual passamos, na infância, é essencial para 
construção de nosso lugar dentro dessa sociedade e para construção da forma como 
lidaremos com a vida social no futuro. O segundo processo de socialização se dá no final 
da infância, no período que nossa sociedade convencionou chamar de adolescência. 
Note, portanto, que não somente o espaço familiar, mas o espaço escolar são grandes 
responsáveis por nos ensinarem a sermos seres sociais e a convivermos com a coletividade. 
23
Habitus: Muitos autores atribuem a Pierre Bourdieu o uso pioneiro do conceito de habitus, 
mas, na verdade, o termo já era utilizado na filosofia aristotélica (uma tradução de hexis) 
e retomado na obra de Tomás de Aquino (como habitus). De forma simplificada, podemos 
dizer que o conceito aristotélico se refere a tudo aquilo que, pela repetição, acaba por fazer 
parte de nosso corpo e nossa alma. Bourdieu parte dessa ideia aristotélica para nos explicar 
porque a forma como agimos depende de estruturas culturais e sociais aprendidas, inclusive 
por nossos corpos. A noção de que nossos corpos são moldados pela cultura é a principal 
contribuição do uso desse conceito. Diferentemente do estruturalismo francês, que está 
preocupado essencialmente em explicar a relação entre cultura e categorias do pensamento 
humano (sob influência da filosofia de Kant), a teoria do habitus se ocupa com os limites 
concretos da ação humana em sociedade. O habitus são todas essas características culturais 
e sociais aprendidas que se coadunam a nossos corpos e a partir das quais pensamos e 
agimos em sociedade. Digamos que, enquanto o estruturalismo francês nos permite visualizar 
a diversidade de danças que encontramos nas diferentes culturas, a teoria de Bourdieu nos 
explica porque para um adulto que fez balé desde os cinco anos é quase instintivo movimentar-
se como um bailarino, enquanto que para um adulto que nunca fez uma aula de dança será 
difícil inclusive adaptar seu corpo ao ritmo da dança. 
Capital cultural: Você encontrará referências a capital cultural ao longo da obra de Pierre 
Bourdieu,sobretudo nas que falam sobre arte e sobre educação. Para compreender o que 
significa capital cultural, precisamos compreender que, para o autor, nós somos socializados 
em universos culturais distintos na sociedade de classes. Há elementos simbólicos da 
cultura que são definidos como bons de acordo com a classe dominante. Esses elementos 
são usados como capital para diferenciação dos grupos. Um bom exemplo é o acesso a 
obras de arte, museus ou música erudita. Temos, também, aspectos culturais que não são 
concretos, como é o caso da língua. As regras da língua culta e as formas corretas de fala 
e escrita são definidas pelas classes dominantes. A posse dessas formas privilegiadas de 
fala, escrita, produção cultural, acaba servindo como capital para diferenciação das classes. 
Poder simbólico: A noção de poder simbólico também nos remete à obra de Pierre Bourdieu. 
Poder simbólico é uma forma de dominação sobre a qual não pensamos, mas sentido, que 
é invisível, que se aplica, sobretudo, à cultura. Esse tipo de dominação está intimamente 
ligado à ideia de capital cultural e à de violência simbólica. Basicamente, o poder simbólico 
se exerce quando um aspecto da cultura é definido como melhor ou como medida do que 
é bom. Ele se exerce, portanto, quando aspectos aleatórios da produção cultural humana 
são definidos como corretos ou melhores. A violência simbólica decorre da ação do poder 
GLOSSÁRIO
24
simbólico. Quando digo para uma pessoa que ela “não tem cultura” me referindo ao fato de 
que ela não compartilha códigos culturais dominantes, como vocabulário ou gramática, estou 
definindo que há uma cultura dominante e, ao mesmo tempo, diferenciando aquela pessoa 
pela falta de capital cultural. Quando há assimetria entre elementos de nossa produção 
cultural (cultura boa x cultura ruim), podemos dizer que há poder simbólico. Quando essa 
assimetria é usada para classificar sujeitos como inferiores ou faltantes, podemos dizer que 
há violência simbólica. 
GLOSSÁRIO
25
GABARITO
Questão 1
Resposta comentada: Socialização primária é aquela que ocorre nos primeiros anos da 
infância e socialização secundária é aquela que ocorre dos anos finais da infância até o 
início da vida adulta.
Questão 2
Resposta correta: alternativa C.
a) Muita atenção ao texto. A resposta sobre o que é habitus está na frase seguinte a esta. 
Conjuntos de posições objetivas ocupadas pelas pessoas se referem a campos e não ao habitus. 
b) Na verdade, o texto afirma que a desigualdade é fruto da relação e não da ação individual 
ou da ação dos grupos.
c) Resposta correta. 
d) Na verdade, o texto afirma que a análise social deve voltar-se para redes de laços 
materiais e simbólicos, não para os grupos. 
e) Na verdade, o texto afirma que a heterogeneidade e a desigualdade são fruto de relações 
e não da ação individual.
Questão 3
Resposta comentada: Você poderia responder esta questão partindo da definição do 
que é o poder simbólico. Para se diferenciarem das classes trabalhadoras, as classes 
dominantes definem como bons ou melhores alguns aspectos da produção cultural. O poder 
de selecionar que aspectos da cultura ou da vida simbólica serão valorizados é chamado de 
poder simbólico, para Bourdieu. E a posse desses bens simbólicos e culturais chamados 
pelo autor de capital cultural garante status diferenciados aos grupos.
26
Questão 4
Resposta correta: E
a) A autora não afirma que a educação deve se afastar da cultura de massas, ela afirma 
que é preciso pensar em outras modalidades educativas por causa da cultura de massas. 
b) Ao contrário, a autora afirma que a cultura de massas enfraquece o papel educacional 
de instituições tradicionais. 
c) Ao contrário, a autora afirma que há peculiaridades nos processos de socialização na 
sociedade contemporânea, portanto, há mudanças. 
d) Não há como fazer tal afirmação a partir da leitura do texto.
e) Resposta correta. 
Questão 5
Livre.
GABARITO
27
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. Capital simbólico e classes sociais. Novos Estudos-CEBRAP, n. 96, 
p. 105-115, 2013.
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, J. A Reprodução. Petrópolis: Vozes, 2014.
BRUSCHINI, Cristina. Uma abordagem sociológica de família. Revista Brasileira de Estu-
dos de População, v. 6, n. 1, p. 1-23, 2014.
Capital cultural, UNIVESP TV, 10 jun. 2011, 4:52 min, colorido, não informa. Disponível 
em: <https://www.youtube.com/watch?v=a3eO6-D4nHo>. Acesso em: 30 set. 2017.
GARCIA, Walter. Sobre uma cena de “Fim de semana no Parque”, do Racionais MC’s. 
Estud. av., São Paulo, v. 25, n. 71, p. 221-235, abr. 2011. 
GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), 2017. Dis-
ponível em: <http://portal.inep.gov.br/censo-escolar>. Acesso em: 30 out. 2017.
MICELI, Sérgio. Imagens negociadas: retratos da elite brasileira, 1920-40. Companhia das 
Letras, 1996.
Nunca me sonharam (Trailer), Cacau Rohden, Maria Farinha Filmes, 2017, 84 min, colo-
rido, não informa. Disponível em: <http://www.videocamp.com/pt/movies/nuncamesonha-
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OLIVEIRA, Ricardo Costa de. Na teia do nepotismo: sociologia política das relações de 
parentesco e poder político no Paraná e no Brasil. Curitiba: Insight, 2012.
Sem autor. Observatório de Favelas, 2017. Disponível em: <http://observatoriodefavelas.
org.br/>. Acesso em: 30 set. 2017. 
SETTON, Maria da Graça Jacintho. A particularidade do processo de socialização con-
temporâneo. Tempo soc., São Paulo, v. 17, n. 2, p. 335-350, nov. 2005.
28
_______. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea. Revista 
Brasileira de Educação, n. 20, São Paulo, p. 60-70, maio/ago. 2002.
Um fim de semana no parque vinte anos depois. VENCESLAU, Pedro; OLIVEIRA, Regia-
ne. Revista Fórum, 18 out. 2013. Disponível em: <https://www.revistaforum.com.br/digi-
tal/119/ok-um-fim-de-semana-no-parque-20-anos-depois/>. Acesso em: 30 set. 2017.
VITALE, Maria Amalia Faller. Socialização e família: uma análise intergeracional. A família 
contemporânea em debate, v. 4, p. 89-96, 2000.
WACQUANT, Loïc. Poder simbólico e fabricação de grupos: como Bourdieu reformula a 
questão das classes. Novos Estudos-CEBRAP, n. 96, p. 87-103, 2013.
REFERÊNCIAS
29
Família e Sociedade
Autor: Ana Carolina Bazzo Silva
Tema 06
Gênero e Identidades
seç
ões
Tema 06
Gênero e Identidades
Como citar este material:
SILVA, Ana Carolina Bazzo. Família e Sociedade: 
Gênero e Identidades. Caderno de Atividades. 
Valinhos: Anhanguera Educacional, 2017.
Seções Seções
FINALIZANDO
REFERÊNCIAS
GABARITO
LEITURAOBRIGATÓRIA
CONTEÚDOSEHABILIDADES
AGORAÉASUAVEZ
GLOSSÁRIOLINKSIMPORTANTES
4
Tema 06
Gênero e Identidades
5
Prezado aluno, neste caderno abordaremos questões relacionadas aos estudos de gênero. 
Como você deve ter observado, ao longo da apresentação de cada temática cara ao estudo 
da relação entre família e sociedade, também acompanhamos diferentes contextos sociais 
e históricos em que os autores e as obras estudados se inserem e também acompanhamos 
o diálogo que estabelecem entre si e com autores de outras áreas de conhecimento. 
Com este curso, buscamos fornecer arcabouços teóricos das ciências sociais a partir dos 
quais você possa fazer suas próprias questões para situações e discursos que envolvem 
família e sociedade. Também buscamos que você desenvolva capacidades necessárias 
a um estudante, reconhecendo que teorias e autores dialogam com seu tempo e com 
os campos de conhecimento de onde falam e investigando por si próprio as informações 
relacionadas aos contextos em que autores e teorias se inserem. O desenvolvimento dessa 
capacidade de contextualizar discursos será fundamental para compreensão do que são 
os estudos de gênero e do impacto que tais estudos tiveram para a forma como podemos 
pensar família e sociedade. 
Finalizaremos nossas discussões sobre família e sociedade com a temática de gênero e 
com a temáticadas identidades, por dois motivos importantes e correlatos. Primeiramente, 
porque nosso curso apresentou de forma didática a construção histórica de objetos 
e metodologias de pesquisa das ciências sociais e os estudos de gênero trazem novas 
questões para esses objetos e métodos. Além disso, para falar em gênero será necessário 
que você já tenha se dedicado a outras temáticas que são abordadas de forma crítica pelos 
autores que estudaram gênero na segunda metade do século XX. Esses autores são críticos 
ao estruturalismo francês, caro aos estudos de Pierre Bourdieu, por exemplo. Também são 
críticos à psicanálise, que influenciou estudos da escola de Frankfurt. Por esses exemplos, 
você pode notar que para compreender a argumentação dos principais autores e autoras 
dos estudos de gênero, será preciso já ter estudado um pouco sobre autores e obras que 
mencionamos em aulas anteriores. 
CONTEÚDOSEHABILIDADES
6
Nosso objetivo, ao apresentar a temática de gênero, é que você possa refletir a família a 
partir do olhar desses autores e dessas teorias. Além disso, quando falamos em identidades 
de gênero, impreterivelmente estamos trazendo diferentes contribuições para pensar as 
relações sociais na sociedade contemporânea. Atente para esses pontos ao longo dos 
estudos propostos por este caderno. 
Professora Ana Carolina Bazzo da Silva 
CONTEÚDOSEHABILIDADES
7
LEITURAOBRIGATÓRIA
Gênero e identidades 
Convite à leitura
Em nosso sexto e último caderno do curso Família e Sociedade, apresentaremos 
autores e abordagens teóricas dedicados aos estudos das questões de gênero. Gênero 
é um termo complexo, porque perpassa diferentes áreas de estudo, podendo assumir 
diferentes sentidos, e também é um termo difícil de se trabalhar, porque evoca a temática 
da sexualidade. Quando falamos em sexualidade, acabamos tocando em assuntos que não 
são tão fáceis de serem abordados porque, socialmente e culturalmente, são considerados 
tabus. Para seguir a leitura desse caderno, será necessário que você coloque seus 
óculos sociológicos e antropológicos, olhando para a temática de gênero a partir deles e 
considerando as causas e consequências das relações de gênero em nossa sociedade. 
Convidamos você para pensar em gênero a partir de conceitos das ciências sociais, neste 
curso, porque consideramos que as teorias de gênero e as questões de gênero trazem 
contribuições fundamentais para pensar a família na sociedade contemporânea. 
Como em nossas aulas anteriores, iniciaremos este caderno apresentando o contexto 
histórico das discussões sobre sexualidade no universo acadêmico, para que você possa 
compreender pontos fundamentais sobre a temática e como ela se encaminha para os 
contemporâneos estudos sobre identidades de gênero e sobre marcadores sociais de 
diferença de gênero. Seguiremos a aula falando sobre identidades de gênero e sobre as 
questões que elas trazem para os estudos contemporâneos sobre cultura e sociedade. 
Quais novos objetos e métodos as demandas identitárias de gênero nos apresentam ou 
podem nos apresentar? Como trabalhar com essas demandas em uma sociedade que 
marginaliza identidades de gênero desviantes? Novamente, proporemos que você faça 
suas próprias questões a partir do que será apresentado. 
8
LEITURAOBRIGATÓRIA
Por fim, trabalharemos gênero e educação a partir do que apresentamos neste caderno 
e a partir do que vimos em outras aulas, em que discutimos educação e processos de 
socialização. Aprendemos a sermos seres sociais, aprendemos as regras a partir das quais 
agiremos e viveremos em sociedade. Como aprendemos papéis de gênero? Como esse 
aprendizado é feito na educação escolar? Trabalharemos, nessa última parte do curso, 
questões como essas. 
Desejamos a você uma boa leitura. 
 
Por dentro do tema
Gênero e sexualidade: uma perspectiva histórica
Antes de tudo, você sabe o que é gênero? Há muita confusão e polêmica em torno do 
termo “gênero”. Confusão semelhante encontramos quando falamos em classes sociais. 
São temáticas que tocam em questões sociais delicadas e que envolvem assimetrias, 
relações de poder, violências e, talvez por isso, sejam difíceis de serem trabalhadas no 
cotidiano de nossas conversas. No entanto, você aprendeu nesse curso que é preciso 
separar os sentidos acadêmicos que as palavras assumem dos sentidos dados a elas 
pelo senso comum quando queremos analisar fatos e situações com olhares das ciências 
sociais. Quando trabalhamos com conceitos como o de classe social ou o de gênero, o 
correto é irmos até dicionários da área de conhecimento em que estão sendo utilizados 
para compreender o que significam nas obras em que os encontramos. Portanto, para 
aprender o olhar sociológico, antropológico, político ou filosófico que embasa o uso da 
palavra “gênero” nas obras dos autores que estamos estudando, é preciso ir até elas e não 
em dicionários de línguas. 
Apesar de não devermos definir um conceito acadêmico pelo sentido comum de uma palavra, 
comecemos a pensar em gênero a partir da língua. Sim, as línguas e linguagens também 
podem ser observadas a partir de nossos óculos sociológicos, políticos e antropológicos. 
Ao estudar língua portuguesa, você deve ter entrado em contato com palavras que são do 
gênero feminino e do gênero masculino. Seu professor ou professora do ensino básico deve 
ter lhe ensinado que, mesmo quando temos dúvidas sobre o gênero da palavra, podemos 
tirá-la colocando um artigo feminino ou um artigo masculino que o explicita. Mas, você sabia 
que há línguas em que temos, além do gênero masculino e do gênero feminino, outros 
9
LEITURAOBRIGATÓRIA
gêneros possíveis? A própria língua latina, da qual a língua portuguesa é derivada, tinha o 
gênero “neutro”, associado a seres inanimados. 
A língua, como bem notaram os antropólogos do começo do século XX, é um bom objeto 
para estudo de uma sociedade ou de uma cultura. E, como bem observaram os autores da 
segunda metade do século XX, a língua nos evidencia as assimetrias e formas de dominação 
que podemos encontrar em diferentes sociedades. Não é por acaso que os estudos sobre 
gênero recorram ao estruturalismo para discutirem criticamente a forma como imediatamente 
relacionamos a ideia de masculino e feminino à dicotomia biológica entre os sexos (macho e 
fêmea). Mas, além deles, uma das principais contribuições para a constituição dos estudos 
de gênero como um campo acadêmico que perpassa trabalhos sociológicos, políticos, 
antropológicos e filosóficos, tivemos as contribuições das autoras feministas.
Os estudos sobre a relação entre gênero e sociedade devem muito aos trabalhos de 
historiadoras, filósofas, artistas e autoras feministas, que foram as primeiras a questionar 
os papéis destinados às mulheres na sociedade de classes, na sociedade do trabalho, 
na sociedade da ciência. Do mesmo modo como trabalhamos em aulas anteriores ao 
apresentarmos o contexto de formação do pensamento antropológico, sociológico e político, 
quando falamos em estudos de gênero também é importante citar o arcabouço teórico com o 
qual essas autoras estão dialogando, já que conceitos e teorias conversam com sua época.
 
O feminismo enquanto movimento político, do mesmo modo que o marxismo não pode 
ser confundido com a obra de Marx, não pode ser confundido com os estudos feministas 
sobre a sociedade, a cultura, a sexualidade e os gêneros. Apesar dos movimentos sociais 
e políticos conversarem com o universo acadêmico e fornecerem dados e objetos para a 
análise da vida social, é necessário compreender essa diferença, sobretudo quando falamos 
em estudos de gênero. Há uma concordância entre o incômodo que está por trás daquela 
que chamamos de primeira onda feminista e o incômodo que está por trás das críticas 
feministas aos autores que inspiraram as primeiras críticas feministas: as assimetrias entre 
homens e mulheres na sociedade. 
Falava-se em democracia, falava-se em liberdade, mas não no papel da mulher na construção 
dessa ideia de liberdade e de democracia.Mais do que isso, não se falava no papel da 
mulher na construção da sociedade do trabalho ou da civilização, sendo que, durante um 
bom tempo, mulheres e crianças foram mão de obra majoritária nas fábricas, por exemplo. 
10
LEITURAOBRIGATÓRIA
Não é por acaso que os primeiros textos que criticam o lugar da mulher na vida social 
coincidam com movimentos políticos e sociais como o das sufragistas, que lutavam pelo 
direito de voto das mulheres em diferentes localidades do mundo, como Nova Zelândia, 
EUA, Portugal, Reino Unido. 
Assim como os pais fundadores da antropologia e da sociologia, as autoras feministas 
partiram de concepções presentes na filosofia contratualista do século XVII e do XVIII e na 
obra dos evolucionistas culturais e dos positivistas do XIX. Lembremo-nos que um ponto 
comum na obra destes autores era o intuito em se compreender como o homem dominou 
a natureza e diferenciou-se enquanto ser racional e civilizado. A ideia de que a sociedade 
se funda a partir da dominação de territórios e de guerras engendradas por homens em 
torno do monopólio do poder, como defenderam os evolucionistas culturais e alguns dos 
contratualistas, e a ideia de que a sociedade se funda partir da troca de mulheres pelas 
famílias e pelos clãs, como defenderam os estudos de parentesco, estavam também 
presentes na crítica das autoras feministas ao patriarcado. 
Mas, afinal, qual a relação entre esse contexto e os estudos de gênero? As primeiras críticas 
feministas abrem espaço para uma discussão importante sobre o papel da mulher em uma 
sociedade cujo poder político estava na mão dos homens. Uma leitura histórica da dominação, 
como a que foi feita pelas sufragistas, carregava consigo duas ideias muito importantes:
1) A sociedade se funda não somente na divisão social do trabalho, mas em uma divisão 
sexual do trabalho. Homens tomam para si o poder de decidir sobre política, economia, 
moral, enquanto às mulheres é destinado o trabalho de criação e educação dos filhos e o 
trabalho doméstico. 
2) A divisão sexual do trabalho é um fato social e histórico, portanto, a relação entre os 
sexos é antes de tudo uma relação social e cultural e não somente biológica. Ou seja, não 
é a biologia ou a natureza que explicam o fato de mulheres serem proibidas de votar, mas 
sim a história de dominação que funda a civilização moderna. 
A ideia de que, historicamente, às mulheres foi destinada a vida doméstica e aos homens 
foi destinada a vida política embasava tanto o nascente movimento político organizado por 
mulheres que demandavam direito ao voto, quanto o argumento acadêmico que criticava 
a ideia de que os papéis destinados a homens e mulheres estavam ligados à sua natureza 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
diferente. Mulheres e crianças serviram como mão de obra no campo e nas fábricas ao 
longo da história, portanto, o argumento de que a vida doméstica lhes seria preferencial 
por sua natureza frágil, por exemplo, não se sustentava. As primeiras críticas acadêmicas 
ao patriarcado viriam pela crítica à exploração do trabalho doméstico e à desigualdade 
dos direitos públicos e privados de homens e mulheres no final do XIX e começo do XX. 
No Brasil, por exemplo, mulheres não podiam ter bens em seus nomes até a reforma do 
primeiro código civil. 
Colocando nossos óculos sociológicos, podemos concluir que a demanda de igualdade 
de direitos abre espaço para discussão sobre a construção histórica da divisão sexual do 
trabalho e, mais do que isso, para uma discussão sobre as origens sociais e culturais dos 
papéis destinados a mulheres e homens na sociedade. Mas é quando a ideia de que a 
dominação acontece desde que o mundo é mundo, quando o argumento da fundação da 
sociedade na violência começa a ser questionado como verdade absoluta, que o campo 
acadêmico dos estudos feministas se encontra com o nascente campo acadêmico dos 
estudos de gênero. 
Assim como o pensamento antropológico começa a questionar os discursos que consideram 
o homem da sociedade da ciência e de classes mais desenvolvido que o homem que vive 
em sociedades tribais, o feminismo começa a questionar a ideia de que, naturalmente, 
mulheres são frágeis ou que estão mais propensas a doenças dos nervos ou das emoções. 
Essa era uma ideia que prevalecia no pensamento médico do XIX e que esteve muito 
presente nos estudos sobre a histeria que inspira o pensamento psicanalítico. Podemos 
considerar que os estudos feministas abrem espaço para a construção de um campo de 
pesquisa sobre gêneros quando se deparam com a temática da sexualidade, que até então 
era objeto da psicologia, da psicanálise e da medicina. 
O incômodo sobre a assimetria entre os sexos que orienta a reflexão de autoras como 
Simone de Beauvoir (1908-1986), nesse segundo momento, é a ideia de que o único 
papel das mulheres na vida social, no casamento, na vida doméstica, é a reprodução e a 
educação dos filhos. A mulher seria esse ser frágil cujas ações no mundo estariam voltadas 
única e exclusivamente para a busca de um parceiro sexual e romântico, no imaginário que, 
segundo essas autoras, domina o conhecimento médico no XIX e no XX. 
Um dos principais livros de Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo (1949), se inicia com uma 
longa análise com argumentos que desconstroem os pontos de vista biológico, psicanalítico 
12
LEITURAOBRIGATÓRIA
e marxista no que se refere à inferioridade biológica, psíquica, histórica da mulher em 
relação ao homem. A famosa frase “não se nasce mulher, torna-se mulher” presente no 
referido livro é uma expressão da mudança de perspectiva trazida pelas contribuições 
da época para pensar gêneros. Na natureza, encontramos espécies que se reproduzem 
assexuadamente, espécies que mudam de sexo ao longo da vida, espécies hermafroditas 
e inclusive encontramos espécies que não usam o ato sexual só para reprodução. Para a 
autora, o argumento de que mulheres são meros instrumentos para reprodução da espécie 
não se sustenta. Para autoras e autores da antropologia que se dedicaram ao estudo de 
diferentes povos e culturas, essa ideia também não se sustenta. 
Comportamentos e ideias sobre o que é ser homem e o que é ser mulher são aprendidos no 
seio de uma sociedade e de uma cultura. E essa é uma das principais contribuições para os 
estudos de gênero porque, até então, mulher e homem soavam como sinônimos de macho 
e fêmea. As questões sobre sexualidade e orientação sexual passam a fazer parte das 
discussões acadêmicas e isso abre espaço para uma análise da história da construção dos 
discursos que sustentam a relação direta que fazemos entre sexo biológico e as categorias 
de gênero “mulher” e “homem”. Autores e autoras começam a se questionar sobre o porquê 
de nossa sociedade fazer tal identificação entre homem/macho ou mulher/fêmea. A ciência, 
o discurso médico e o biológico passam a ser objeto, nesse momento, da história, da filosofia 
e das ciências sociais. 
Uma das contribuições pioneiras, nesse campo, é a do filósofo e historiador da ciência francês 
Michel Foucault (1926-1984). Foucault trabalha com um método de análise da sociedade da 
ciência e do trabalho diferente dos que foram utilizados pelos autores acompanhados nesse 
curso até então. Para o autor, quando nos propomos a compreender a modernidade e suas 
formas de sociabilidade, é necessário investigar a gênese de discursos e de instituições. 
Foucault estabelece um olhar bastante crítico à ideia de que a sociedade contemporânea 
compartilha formas mais humanizadas, menos “bárbaras” de organização política, social, 
cultural. O autor é um grande crítico das instituições modernas e das formas de poder 
subjacentes a elas. Sua principal contribuição para os estudos de gênero está nos três 
tomos que compõem sua reconhecida obra História da sexualidade. 
Para Foucault, a partir do momento em que as ciências se debruçam sobre a vontade de 
saber sobre sexualidade e sobre o corpo, a identidade do sujeito passa a estar cada vez mais 
relacionada com sua sexualidade. E não équalquer sexualidade ou qualquer orientação 
sexual que são consideradas normais, nesse contexto. Junto com a descrição dos corpos 
13
LEITURAOBRIGATÓRIA
normais, vemos uma valorização da heterossexualidade e da família como essa unidade 
voltada para a reprodução. A identificação entre caracteres sexuais e gênero também é 
um fato histórico, como analisa o autor. Algo comum aos manuais médicos amplamente 
estudados pelo autor, é uma intensa preocupação com a definição da anatomia corporal 
normal e anormal. Nessa definição também entram os órgãos sexuais. Hoje sabemos que 
parte da população nasce intersexual, segundo os manuais médicos. A preocupação com o 
sexo do bebê é um exemplo de como sua identidade está relacionada com sua sexualidade. 
A medicina hoje possui exames hormonais avançados e máquinas voltadas exclusivamente 
para a medição de variantes que definiriam o sexo de um indivíduo que possui características 
biológicas de ambos os sexos. Anos atrás, só saberíamos do sexo de um bebê quando ele 
nascesse. Anos atrás, não possuíamos exames cromossômicos ou hormonais como os que 
temos hoje para definir o sexo de sujeitos que praticam esportes confederados e que são 
intersexuais, por exemplo. 
Que pontos metodológicos e teóricos importantes esses exemplos trazem para os estudos 
sociológicos, políticos, antropológicos de gênero contemporâneos? Primeiramente, que 
historicamente foi se construindo um discurso em que os sujeitos se identificam pelos 
seus caracteres sexuais. Segundo, que a definição da normalidade ou da anormalidade 
dos corpos femininos e masculinos é histórica. Terceiro, que há uma quantidade grande 
de variantes físicas, fisiológicas, genéticas que não se encaixam no que é considerado 
normal ao masculino e ao feminino. Tais variantes foram marginalizadas, bem como foram 
marginalizados os sujeitos que não se identificam com os gêneros mulher ou homem, seja 
pelo seu corpo, seja pela sua orientação sexual. Para Foucault, a repressão das sexualidades 
anormais e dos gêneros considerados anormais, o controle e a adequação dos corpos 
intersexuais pelo conhecimento médico são exemplos da forma como o poder se expressa 
nas relações de gênero. 
Novas possibilidades de análise que são abertas por essa abordagem. Elas coincidem, 
como no caso da primeira onda feminista, com movimentos sociais que buscam visibilidade 
das diferentes identidades de gênero até então proscritas e marginalizadas. A busca por 
direitos e pelo reconhecimento das identidades de gênero são questões sociais, culturais 
e políticas de gênero que inspiram os estudos contemporâneos sobre gênero. Falaremos 
sobre eles a seguir. 
14
LEITURAOBRIGATÓRIA
Identidade e gênero
Os estudos de Foucault são um marco nos estudos sobre gênero, como pudemos notar. 
Mas há outros ainda muito importantes que devemos mencionar, sobretudo quando falamos 
em identidades de gênero. Falar em identidades de gênero, antes de qualquer coisa, é 
falar sobre como se formam identidades em uma sociedade que marginaliza gêneros, 
sexualidades e orientações sexuais. Além disso, falar em identidades de gênero é falar 
em pessoas que se reconhecem a partir de marcadores sociais de diferença e que se 
colocam socialmente como parte de grupos específicos. A temática deve muito, portanto, 
ao estudo da sociedade da ciência, do Estado, do trabalho e das classes, mas também 
traz consigo novas questões sobre poder e relações sociais quando nos propomos a olhar 
para demandas identitárias que extrapolam a produção de conhecimento científico, que 
extrapolam as classes e as questões políticas e jurídicas das instituições que compõem os 
Estados nacionais. A temática da identidade de gênero perpassa o Estado, a lei, a cultura, 
a produção de conhecimento, as classes e, ao mesmo tempo, independe desses temas 
porque traz problemas e objetos próprios a ela. Que objetos e problemas são esses? 
Historiadoras como Joan Scott (1941- ) se perguntam por que as mulheres foram alijadas 
dos livros de história e por que os homens são considerados centrais na construção dos 
estudos históricos. Antropólogas como Gayle Rubin (1941- ) dedicam-se ao estudo das 
sexualidades consideradas como desviantes dentro do discurso médico e psicanalítico. 
Cientistas e filósofas como Donna Haraway (1944- ) se questionam sobre a construção do 
imaginário científico que identifica corpos e gênero na contemporaneidade. Pierre Bourdieu 
(1930-2002) tece críticas ao estruturalismo francês, que não abordou os meandros do 
poder simbólico e da violência de gênero em seus estudos sobre parentesco e cultura. 
Marilyn Strathern (1941- ) questiona a forma como os estudos antropológicos lidaram com 
a temática do parentesco, da reprodução, das trocas. Para ela, tais estudos tomaram como 
universal a noção culturalmente e socialmente construída de que os sujeitos se identificam 
primordialmente pelo seu papel de gênero na rede de parentesco ou de trocas. 
Podemos citar também os estudos contemporâneos de Judith Butler, que partem de uma 
leitura filosófica sobre o sujeito enquanto um ser que se constitui nos atos para dizer que 
gênero é antes de tudo um comportamento e formas de agir em sociedade que algo fixo 
ou natural. Para essa autora, vivemos em uma sociedade heteronormativa, ou seja, uma 
sociedade que tende a excluir pessoas que compartilham orientações sexuais diferentes da 
heterossexual e, consequentemente, tendem a excluir grupos de pessoas que se identificam 
também com gêneros considerados “desviantes”. 
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LEITURAOBRIGATÓRIA
Seja lidando com dados culturais que trazem novas questões sobre gênero, como é o caso 
das antropólogas que criticam os estudos clássicos sobre parentesco, seja lidando com 
as demandas sociais, políticas e culturais dos grupos e pessoas que se identificam com 
categorias de gênero distintas de homem e mulher, todos esses autores estão buscando 
aparatos teóricos e conceitos que comporão o que hoje reconhecemos como estudos de 
gênero. Podemos dizer, sem dúvida, que o campo de estudos de gênero teve de trazer 
novos olhares para as relações sociais, para a cultura e para a política porque conceitos 
clássicos e teorias clássicas não davam conta de explicar as demandas sociais, culturais 
e políticas em torno da temática de gênero observadas na sociedade contemporânea. Um 
bom exemplo dessa limitação está expresso na própria noção de identidade de gênero. 
Quando falamos em identidades de gênero, temos de levar em consideração tanto a 
construção da identidade pessoal de gênero quanto a construção das identidades de 
gênero compartilhadas pelos grupos. Para nós, que estamos nos propondo a olhar para 
os fenômenos sociais, o que especificamente é interessante notar quando falamos em 
identidades pessoais e em identidades grupais? 
Identidades culturais são construídas na relação e em processos de diferenciação. Pense que, 
dependendo do interlocutor para o qual estamos falando, podemos nos definir de maneiras 
distintas. Uma pessoa que nasceu no Estado de Minas Gerais, quando colocada em um grupo 
aleatório de pessoas brasileiras, pode utilizar essa referência para se diferenciar de outra 
pessoa que tenha nascido no Estado do Amazonas, por exemplo. Mas, a mesma pessoa, 
quando colocada em um grupo aleatório de pessoas do mundo todo, pode utilizar a referência 
da nacionalidade brasileira para diferenciar-se de outras pessoas do grupo. Algo semelhante 
acontece com identidades de gênero. Há termos que são utilizados entre os que compartilham 
práticas, concepções, valores, linguagens relativas a um grupo que se organiza em torno de 
marcadores de gênero como “gay”, “lésbica”, “transexual”, “mulher trans”, etc. Para nós, cabe o 
cuidado de observar as categorias de gênero a partir das quais as pessoas se reconhecem como 
parte de um grupo e analisar quando tais categorias são enunciadas e para quais interlocutores. 
Além disso, cabe observar as demandas políticas dos grupos e das pessoas que se reconhecem 
como parte deum grupo marginalizado dentro da sociedade contemporânea. 
Hoje parece muito distante um momento histórico em que as mulheres não podiam ter bens 
ou votar, quando, na verdade, o voto e outros direitos civis são conquistas recentes das 
mulheres. Nos cabe, como observadores das causas e consequências sociais de questões 
identitárias relativas a gênero, observar e respeitar demandas como a revisão de direitos 
civis para uniões homoafetivas, por exemplo. 
16
Para finalizar nossa aula e nosso curso, falaremos sobre as identidades pessoais de gênero. 
Como a sociedade e a cultura atuam no processo de socialização quando pensamos em 
gênero? Pensemos nisso. 
 
Gênero e educação
Estudamos, ao longo desse curso, a íntima relação entre processos de socialização e 
educação. Você acompanhou, por exemplo, o papel das classes quando se trata da 
temática da desigualdade de acesso a bens simbólicos e o papel da escola na reprodução 
das desigualdades entre classes sociais. Também estudou autores que discutiram o papel 
da escola na reprodução da violência simbólica. Quando Bourdieu fala sobre escola e 
reprodução, está falando em exclusão e em expropriação cultural. Classes dominantes 
definem o que é o bom gosto e depois tomam para si os bens culturais que são considerados 
de bom gosto, expropriando as classes dominadas do capital cultural e classificando a 
cultura popular como uma espécie de bem cultural de menor valor simbólico. 
Note que, quando discutimos as relações de poder encontradas na sociedade, em aulas 
anteriores, abordamos as relações assimétricas entre grupos e a forma como essas 
assimetrias são passadas de pai para filho, de geração para geração e reproduzidas também 
na escola. O mesmo raciocínio pode ser aplicado quando discutimos identidades de gênero 
e educação. Processos de socialização escolares ou familiares nos formam para sermos 
seres sociais. Duas perguntas podem ser feitas, a partir dessa afirmação: 
1) Como estamos formando esses sujeitos para lidarem com a diversidade das identidades 
de gênero;
2) Como a sociedade em que esses sujeitos estão sendo formados lida com a diversidade 
das identidades de gênero.
A segunda questão foi respondida por autores como Foucault, Butler, Scott: a sociedade 
em que vivemos tende a marginalizar identidades que desviem do modelo normativo que 
identifica homem com macho e mulher com fêmea. A primeira precisa ser trabalhada 
com maior atenção, se nossa intenção é analisar a relação entre educação e identidades 
de gênero. Ao falarmos sobre identidades de gênero assumidas pelas pessoas frente a 
LEITURAOBRIGATÓRIA
17
diferentes interlocutores em uma sociedade plural e assimétrica, é essencial refletir as 
pressões sociais que, de um modo ou de outro, agem sobre elas desde antes de nascerem. 
Antes mesmo de uma criança nascer, pais, tios, avós costumam pensar em duas 
possibilidades para a identidade da criança que está sendo gerada: menino ou menina. 
Pais precisam saber que cor de roupas comprar, que tipo de brinquedos comprar, como 
vão decorar o quarto do bebê. Quando vão a lojas de brinquedos, encontram seções com 
itens para meninos e seções com itens para meninas. Rosa e azul são como códigos que 
definem “coisas de menina” e “coisas de menino”, não é mesmo? 
Recentemente o canal público britânico BBC fez um experimento simples que nos explica 
essas pressões para definição tão precoce da identidade de gênero de nossas crianças e 
que também explica a forma como incorporamos as assimetrias relacionadas aos papéis 
de gênero sem nem mesmo pensarmos sobre elas. Os organizadores do experimento 
colocaram roupas de meninos em meninas e vice-versa. Em seguida, convidaram adultos 
que não conheciam as crianças para brincar com elas. A primeira pessoa imediatamente 
oferece à criança vestida com um vestido rosa uma boneca e bichos de pelúcia. E outra 
oferece brinquedos que ensinam sobre noção de espaço e sobre números para a criança 
vestida com roupas azuis, de menino. Quem trabalha com crianças muito pequenas sabe 
que a qualidade dos estímulos oferecidos a elas será crucial para a formação de suas 
habilidades cognitivas. Brinquedos que ensinam sobre números, que ensinam sobre noção 
de espaço e de tempo ou a resolver pequenos problemas são essenciais para a formação 
de habilidades necessárias para o aprendizado de matemática, por exemplo. Sabendo que 
homens são maioria em carreiras que requerem esse tipo de conhecimento, você pode ter 
uma ideia dos propósitos desse experimento. 
Ao longo de nossa educação escolar, ouvimos à exaustão que meninos são bons em 
matemática e esportes e meninas são boas em línguas ou em artes. Também é comum 
que professores e até colegas associem esse tipo de diferença à biologia ou à natureza das 
diferenças sexuais entre meninos e meninas. No entanto, a formação do córtex cerebral, da 
nossa coordenação motora grossa e da nossa coordenação motora fina se dá muito antes 
do desenvolvimento de órgãos sexuais ou de picos hormonais que diferenciarão nossos 
corpos. Nós educamos corpos e cérebros das crianças para que assumam, por exemplo, 
que mecânica e construção são trabalhos masculinos e que cuidar e educar são trabalhos 
femininos.
LEITURAOBRIGATÓRIA
18
Imagine agora um cenário onde uma criança ou um adolescente que está em plena formação 
de sua identidade descobre-se intersexual. Pense em um outro cenário, ainda, onde uma 
criança ou um adolescente descobre que sua orientação sexual não é considerada adequada 
para o gênero que pais, tios, avós, colegas de escola identificam para seu sexo biológico. 
Crianças que se identificam com gêneros marginalizados ou que desde bebês passam por 
cirurgias corretivas porque nasceram com caracteres sexuais ambíguos sentem o peso da 
forma como uma sociedade heteronormativa as educa. Se às mulheres nossa sociedade 
ensina que são naturalmente más motoristas ou más cientistas, às crianças transexuais, 
homossexuais, intersexuais nossa sociedade ensina que nasceram inadequadas. 
Em todos esses exemplos, vemos a educação imprimir a desigualdade em diferenças 
biológicas ou em diferenças sexuais. Diferenças biológicas, genéticas, fisiológicas são 
fatos da natureza. Orientação sexual e sexualidade são parte da vida humana. O que não 
é natural nem genético é a forma como nossa sociedade classifica, julga, marginaliza, 
exclui, inferioriza pessoas a partir dos gêneros com os quais elas se identificam. Pensando 
nisso, finalizamos esse caderno e este curso deixando a você a tarefa de refletir formas de 
educação escolar e familiar que evidenciem desigualdades e incluam as diferenças. 
LEITURAOBRIGATÓRIA
19
“Quem é Joan Scott?”, produzido pelo canal Leitura ObrigaHistória. 
Neste pequeno vídeo, temos uma pequena introdução sobre a biografia de uma das autoras 
cuja obra nos ajudou a construir essa aula. Como vimos em nossa aula anterior, biografias 
são ferramentas interessantes para as ciências sociais porque, ao mesmo tempo em que 
nos apresentam o contexto social, político, econômico e histórico a partir dos quais os 
autores falam, elas nos apresentam dados sobre a atuação desses autores nos campos 
acadêmicos com os quais seus trabalhos dialogam. No caso de Joan Scott, essa relação 
entre sociedade, produção e de conhecimento e biografia se torna ainda mais importante 
quando estudamos relações de gênero, já que a autora dedicou-se a estudar como as 
mulheres foram minimizadas enquanto autoras e atoras no processo histórico. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=z9avUiQLNukDisponível>. Acesso em: 
9 out. 2017.
Precisamos falar com os homens?
Produzido pelo site Papo de Homem e pela ONU Mulheres, o documentário traz uma 
perspectiva um pouco diferente sobre as assimetrias entre gêneros presentes na sociedade, 
porque dedica-se a investigar como o machismo afeta os homens. Como vimos em outras 
aulas, o processo de socialização nos ensina a sermos sujeitos sociais. Nesse processo, 
nos são atribuídos papéis sociais a partirdos quais agiremos no mundo. Com o gênero 
não é diferente, pois os papéis de gênero que deverão ser assumidos por crianças antes 
mesmo delas nascerem são atribuídos pela coletividade. Frases como “meninos não devem 
chorar” ou “expressar emoções é coisa de meninas” nos são repetidas ao longo da infância, 
adolescência e vida adulta, e os comportamentos que elas requerem dos homens acabam 
sendo incorporados por homens e mulheres. Quais os efeitos das assimetrias de gênero na 
vida dos homens? Essa é a pergunta fundamental do documentário. E, consequentemente 
a ela, o vídeo se propõe a pensar sobre como devemos falar com os homens para que 
possam compreender o peso negativo do machismo em suas vidas. 
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jyKxmACaS5Q>. Acesso em: 9 out. 2017.
LINKSIMPORTANTES
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“Geledes”, uma fonte interessante de pesquisa sobre questões de gênero
Geledes (Instituto da Mulher Negra) é uma organização que visa a combater o racismo, 
a violência contra a mulher, o sexismo e a homofobia. O instituto atua em várias frentes, 
como educação, direitos humanos, políticas públicas e mantém um site com colunas, 
notícias, editoriais que abordam as temáticas defendidas pelo projeto. Há uma área do 
site destinada especificamente a notícias sobre questões de gênero que vale a pena ser 
explorada, sobretudo porque traz leituras dos agentes sociais que muitas vezes não têm 
voz em outros veículos de informação ou em outras mídias. 
Disponível em: <https://www.geledes.org.br/questoes-de-genero/>. Acesso em: 9 out. 2017.
Núcleo de estudos de gênero – Pagu, UNICAMP
O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, como 
outras universidades brasileiras e internacionais, mantém um núcleo de estudos de gênero. 
Nesses espaços de produção de conhecimento, pesquisadores e pesquisadoras se dedicam 
a estudar marcadores de diferença de gênero e sua relação com identidades, com conflitos, 
com a própria produção de conhecimento, com a violência e com outros temas caros ao 
entendimento das relações de gênero na contemporaneidade. Sugerimos que explore 
a área destinada às pesquisas desenvolvidas e acompanhe as temáticas relacionadas 
a gênero. É interessante também explorar as publicações temáticas do núcleo. Dê uma 
olhada nas revistas e dossiês e verifique o que vem sendo produzido no meio acadêmico 
sobre as temáticas de gênero. O Pagu é só um dos vários centros e núcleos de pesquisa 
sobre gênero e sobre marcadores sociais de diferença no Brasil. Pesquise outros núcleos e 
centros em outras universidades brasileiras também.
Disponível em: <https://www.pagu.unicamp.br/>. Acesso em: 9 out. 2017.
LINKSIMPORTANTES
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Instruções: 
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você 
encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia 
cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
AGORAÉASUAVEZ
Questão 1:
Cite uma contribuição das feministas para 
os estudos de gênero.
Questão 2:
Qual a diferença entre categorias de gênero 
analíticas e categorias de gênero empíricas?
Questão 3:
Cite uma contribuição de Michel Foucault 
para os estudos contemporâneos de gênero.
Questão 4:
Leia o trecho abaixo e depois selecione a 
alternativa correta:
“No seu uso mais recente, o ‘gênero’ 
parece ter aparecido primeiro entre as 
feministas americanas que queriam 
insistir na qualidade fundamentalmente 
social das distinções baseadas no 
sexo. A palavra indicava uma rejeição 
ao determinismo biológico implícito no 
uso de termos como ‘sexo’ ou ‘diferença 
sexual’. O ‘gênero’ sublinhava 
também o aspecto relacional das 
definições normativas de feminilidade. 
As que estavam mais preocupadas 
com o fato de que a produção dos 
estudos femininos centrava-se sobre 
as mulheres de forma muito estreita 
e isolada, utilizaram o termo ‘gênero’ 
para introduzir uma noção relacional 
no nosso vocabulário analítico. 
Segundo esta opinião, as mulheres e 
os homens eram definidos em termos 
recíprocos e nenhuma compreensão 
de qualquer um poderia existir através 
de estudo inteiramente separado.” 
(SCOTT, 1990, p. 6).
a) As feministas americanas utilizavam 
o termo “gênero” como sinônimo de 
“diferença sexual”.
b) As feministas americanas utilizavam 
o termo gênero para falarem de forma 
relacional e não somente sobre mulheres. 
c) As feministas americanas utilizavam 
o termo porque suas pesquisas falavam 
somente sobre o universo do feminino. 
22
AGORAÉASUAVEZ
Questão 5:
Associe os autores a seus objetos de pesqui-
sa ou a conceitos utilizados em suas obras:
A - Marilyn Strathern
B - Joan Scott
C - Michel Foucault
D – Pierre Bourdieu
E – Judith Butler
1 – Criticou as análises estruturalistas fran-
cesas e discutiu as formas simbólicas da 
dominação masculina. 
2 – Trabalhou com o conceito de heteronor-
matividade. 
3 – Tem contribuições importantes para o es-
tudo de gênero em seus livros sobre história 
da sexualidade na sociedade da ciência. 
4 – Estudou como as mulheres foram invisi-
bilizadas em análises históricas. 
5 – Criticou as formas como estudos antro-
pológicos sobre parentesco e sobre as tro-
cas foram construídos sem uma discussão 
sobre o papel das mulheres.
d) As feministas consideravam que para 
falar sobre mulheres não era necessário 
falar sobre homens.
e) As feministas americanas utilizavam o 
termo “gênero” como sinônimo de “sexo”.
23
FINALIZANDO
Em nossa última aula do curso, falamos sobre questões de gênero. Acompanhamos a relação 
entre o desenvolvimento de um campo acadêmico de estudos de gênero nas ciências sociais e 
movimentos políticos que buscavam, inicialmente, igualdade de direitos entre homens e mulheres 
e, mais tarde, reconhecimento de outras identidades de gênero possíveis. 
De um ponto de vista metodológico, a principal contribuição da temática de gênero para você 
pensar a relação entre família e sociedade é o reconhecimento de que a vida política, a vida 
social, a vida cultural são os espaços primordiais onde buscamos os objetos de nossas análises. 
Se um grupo se organiza em torno de uma identidade de gênero para requerer direitos civis ou 
para requerer visibilidade e respeito, cabe a nós olhar para esse cenário e escutar essas vozes 
para analisar relações e demandas. 
Há ponto de concordância entre as áreas que formam as ciências sociais: é para a vida social 
que temos de olhar quando queremos falar sobre o homem ou sobre a sociedade, e não para 
nossos desejos ou valores pessoais. Com este curso, esperamos que você tenha compreendido 
que as ciências sociais pensam a partir de conceitos e métodos. Esperamos que você, desde já, 
desenvolva um olhar analítico e comece a olhar para família e para sociedade a partir deles.
24
GLOSSÁRIO
Identidade cultural: O conceito de identidade cultural talvez seja um dos conceitos mais 
complexos e que mais tenha mudado ao longo dos estudos das ciências sociais. Isso 
porque, para falar sobre as especificidades da identidade compartilhada por um grupo, 
é necessário definir o que é cultura e o conceito de Cultura vem sendo revisado ao longo 
de todo o século XX e no início do século XXI. Quando falamos em identidades culturais, 
é sempre importante fazer referência ao contexto teórico em que a ideia de cultura ou a 
de identidade se inserem. Em termos gerais, podemos afirmar que identidades culturais 
são definidas pelos grupos de pessoas que compartilham comportamentos, patrimônios 
simbólicos e valores. Esses comportamentos, patrimônios, valores são acionados em 
momentos históricos específicos em que o grupo se coloca como distinto de outro grupo. 
Identidades culturais são relacionais, ou seja, são construídas na relação entre pessoas 
e grupos que acionam diferentes aspectos da vida cultural nos momentos em que são 
colocados em relação uns com os outros. O reconhecimento de demandas identitárias 
coletivas tem sido bastante discutido por autores da sociologia e das ciências políticas 
também,na contemporaneidade, já que envolvem novas questões sobre diversidade em 
uma sociedade globalizada. 
Orientação sexual: Quando estudamos questões de gênero, é importante que não 
confundamos sexo, orientação sexual e identidade de gênero. Quando falamos em 
sexualidade, impreterivelmente tratamos com os meandros do desejo humano, da afetividade 
e da atração sexual e, como somos seres sociais por definição, é importante considerar os 
discursos sobre sexualidade como parte do contexto histórico, social e cultural em que estão 
sendo produzidos e reproduzidos. A identidade de gênero se refere ao gênero com o qual 
uma pessoa ou um grupo identifica-se. Sexo pode se referir tanto aos caracteres biológicos 
que diferenciam machos, fêmeas, hermafroditas, no contexto do discurso médico e das 
ciências naturais, quanto com o ato sexual, no senso comum. Orientação sexual se refere 
aos gêneros pelos quais as pessoas se atraem afetiva, física e emocionalmente e com os 
quais formalizam relacionamentos. Falar em orientação sexual é importante porque, dentro 
25
do discurso dos grupos que se organizam e mantêm relações sociais em torno de identidades 
de gênero, não é adequado falar em “opção sexual” ou em “preferências sexuais”, já que 
muitas políticas e práticas repressivas têm feito uso da ideia de “opção” para normatização e 
cura de sujeitos que se identificam com identidades de gênero marginalizadas socialmente 
e culturalmente. 
Heteronormatividade: O termo heteronormatividade foi utilizado na obra da filósofa feminista 
Judith Butler (1950- ) e se refere à tendência dominante na sociedade em se considerar 
como normal tudo que é relacionado à heterossexualidade e, consequentemente, em se 
marginalizar as sexualidades desviantes. Desde os estudos de Michel Foucault (1926- 1984), 
a normalidade vem sendo pensada como algo que é construído pela sociedade da ciência e 
que, portanto, é algo histórico e socialmente definido. Foucault nos dizia que a sociedade da 
ciência privilegia as relações heterossexuais ao relacioná-las a comportamentos naturais e 
normais. Segundo Butler, a heterossexualidade é pensada e vivida, em nossa sociedade, 
como modelo para a vida correta e, como consequência, vemos a marginalização e 
desvalorização de outras sexualidades. 
Psicanálise: A psicanálise é um processo terapêutico criado pelo médico e psicanalista 
Sigmund Freud (1856-1939). Freud nasceu em Freiberg in Mähren, uma cidade que hoje 
pertence à República Checa mas que na época de seu nascimento pertencia ao Império 
Austríaco, e começou seus estudos sobre a psique humana dialogando com os estudos do 
médico austríaco Josef Breuer (1842-1925) sobre histeria. Freud foi um dos pioneiros nos 
estudos sobre sexualidade, apontando a repressão sexual como uma das principais causas 
para doenças psíquicas. No final do século XIX, o autor escandalizou o meio acadêmico ao 
falar em sexualidade infantil e ao relacionar a formação do inconsciente com um processo 
de recalcamento e fixação em experiências sexuais infantis. A leitura psicanalítica sobre a 
sexualidade foi importantíssima para os estudos de gênero, já que a psicanálise foi uma 
das primeiras áreas de conhecimento a construir teorias especificamente dedicadas a 
compreender a sexualidade humana como parte das experiências do sujeito no interior 
do meio familiar e como parte da construção da civilização e da cultura. Grande parte das 
teorias de gênero desenvolvidas na primeira e na segunda metade do século XX dialoga 
criticamente com a leitura psicanalítica sobre a sexualidade, portanto, é interessante 
pesquisar termos próprios a esse campo de conhecimento quando se quer compreender as 
críticas das teorias de gênero à leitura psicanalítica. 
GLOSSÁRIO
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Categorias de gênero: Categorias de gênero são categorias utilizadas para fazer 
referência a identidades de gênero. Assim como em outras situações em que trabalhamos 
com identidades, nos deparamos com termos utilizados pelos grupos ou pelos indivíduos 
para se referirem à identidade e, muitas vezes, esses termos diferem dos que são utilizados 
pelas instituições sociais, políticas ou acadêmicas que estão trabalhando com essas 
populações. No caso das categorias identitárias e marcadores de diferença utilizados pelos 
grupos que se organizam em torno de identidades de gênero, o ideal é observarmos como 
tais categorias são utilizadas pelos sujeitos que fazem parte dos grupos e nos referirmos 
a elas quando estivermos falando diretamente com essas populações. Chamamos as 
categorias utilizadas pelos sujeitos que se reconhecem como parte de um grupo identitário 
de categorias empíricas. Há outros momentos em que nos depararemos com categorias de 
gênero que nem sempre partem dos termos utilizados pelos sujeitos para falarem sobre si 
próprios, mas são utilizadas por instituições que estão trabalhando com essas populações. 
Chamamos essas últimas categorias de analíticas. É o que acontece, por exemplo, quando 
o censo define opções de “raça” para identificação estatística da população ou quando um 
site de uma rede social define opções como “homem”, “mulher” e “outros” para identificação 
de gênero. É preciso tomar muito cuidado quando estamos trabalhando com categorias de 
gênero, porque o senso comum pode utilizar termos pejorativos, como é o caso da palavra 
“homossexualismo”, que se refere à “homossexualidade” como uma doença. 
GLOSSÁRIO
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GABARITO
Questão 1
Resposta comentada: Você poderia apresentar aqui exemplos sobre as contribuições da 
primeira onda, que desconstroem a ideia de que há trabalhos específicos para os sexos 
quando na verdade eles são definidos cultural, social e politicamente. Mas também poderia 
citar as contribuições da segunda onda, que discutem a naturalização de comportamentos 
e formas de pensar que são ensinados. 
Questão 2
Resposta comentada: Chamamos de categorias analíticas aquelas que instituições de 
pesquisa ou assistência utilizam para categorizar populações, e chamamos de categorias 
empíricas aquelas que os próprios grupos e pessoas utilizam para falar de si e de outros com 
os quais se relacionam. Quando você entra em sites de redes sociais, por exemplo, há opção 
de expressões de gênero que estão predefinidas pelos programadores. Elas são analíticas. 
Observando populações que se encontram ou se organizam em torno de identidades de 
gênero, você encontrará termos próprios utilizados por elas. Essas categorias são empíricas.
Questão 3
Resposta comentada: Foucault salientou que a importância da sexualidade e do sexo 
biológico para a definição dos sujeitos é algo historicamente compartilhado pela sociedade 
da ciência, portanto, não é algo natural: é histórico, social e cultural. Também trouxe dados 
para pensarmos porque, em nossa sociedade, definimos o que são o corpo e a orientação 
sexual normais e excluímos aqueles que não os possuem.
Questão 4
Resposta correta: B
a) Na verdade, é o oposto.
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b) Correta. Quando falavam em relações de gênero, as feministas também se referiam à 
maneira como o machismo afeta os homens.
c) Na verdade, também falavam sobre homens e seu papel na sociedade.
d) Na verdade, consideravam que era preciso falar de homens também.
e) Na verdade, é o oposto. 
Questão 5
Resposta correta: A – 5; B – 4; C – 3; D – 1; E – 2.
GABARITO
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REFERÊNCIAS
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