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Página 1 de 11 
 
A LINGUAGEM 
 
1. Língua e Linguagem 
 
“Dizer que somos seres falantes significa dizer que temos e somos linguagem, que ela é uma criação 
humana (...), ao mesmo tempo que nos cria como humanos (...). a linguagem é nossa via de acesso ao 
mundo e ao pensamento (...).” Ter experiência da linguagem é ter uma experiência espantosa: emitimos e 
ouvimos sons, escrevemos e lemos letras, mas, sem que saibamos como, experimentamos sentidos, 
significados, significações, emoções, desejos, ideias1.” 
 
 O texto chama atenção para o fato de que uma das diferenças marcantes entre o ser 
humano e os outros animais é a faculdade da linguagem. Se não possuísse linguagem, o ser 
humano não poderia sequer formular questões, muito menos explicá-las. 
 
Linguagem é um sistema de signos que permite construir uma interpretação da realidade através 
dos sons, letras, cores, imagens, gestos etc., ou seja, é a representação do pensamento por meio 
de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas. 
 
 
 
No nosso dia a dia, convivemos com diferentes linguagens. 
 
1 CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994. 
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As chamadas línguas naturais, a pintura, a música, a dança, os sistemas gestuais, os 
sistemas particulares de signos tais como logotipos, os quadrinhos, são exemplos de diferentes 
linguagens utilizadas pelo ser humano. 
 
Os Signos Linguísticos 
 
 Dentre os exemplos de linguagem, é importante destacar as línguas naturais (Inglês, 
Chinês, Francês, Português, Russo, Guarani etc), que são sistemas de signos linguísticos. 
 Os signos linguísticos são os elementos de significação nos quais se baseiam as línguas. 
Possuem uma dupla face: 1) A face do significante (o suporte para uma ideia; por exemplo, a 
sequência de sons que se combinam nas palavras) e 2) A face do significado (a própria ideia ou 
conteúdo intelectual). 
 
 
 
 Pessoas que pertencem a uma mesma comunidade usam a linguagem para representar a 
realidade e nela interferir. É por isso que as linguagens desenvolvidas pelo ser humano 
pressupõem conhecimento, por parte de seus usuários, do valor simbólico dos seus signos. Se não 
houvesse acordo com relação a esse valor simbólico (por exemplo, relacionar a cor verde, nos 
sinais de trânsito, à autorização para prosseguir), qualquer interação através da linguagem ficaria 
prejudicada, pois não haveria comunicação possível. 
 
 
2. Variação e Norma 
 
Língua 
 
Esta língua é como um elástico 
que espicha pelo mundo. 
 
No início era tensa, 
de tão clássica. 
Com o tempo, se foi amaciando, 
foi-se tornando romântica, 
incorporando os termos nativos 
e amolecendo nas folhas de bananeira 
as expressões mais sisudas. 
 
 
 
 
 
 
Um elástico que não se pode 
mais trocar, de tão gasto; 
nem se arrebenta mais, de tão forte. 
 
Um elástico assim como é a vida 
que nunca volta ao ponto de partida2. 
 
2 TELES, Gilberto Mendonça. Falavra. Lisboa: 
Dinalivro, 1989. 
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 Como falantes do Português, percebemos que há situações em que a língua se 
apresenta sob uma forma bastante diferente daquela que nos habituamos a ouvir em casa ou 
através dos meios de comunicação. Essa diferenciação no interior de uma mesma língua é 
perfeitamente natural e decorre do fato de que as línguas naturais são sistemas dinâmicos e 
extremamente sensíveis a fatores como a região geográfica, o sexo, a idade, a classe social dos 
falantes e o grau de formalidade do contexto. 
 
 
GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Com mil demônios!!!. São Paulo: Devir, 2002. 
 
 Os falantes das variedades linguísticas socialmente valorizadas tendem a considerar 
“erradas” as variedades que desconhecem e que são usadas por outros falantes. Essa avaliação 
é equivocada. 
 Do ponto de vista estritamente linguístico, não há nada nas variedades linguísticas que 
permita considerá-las boas ou ruins, melhores ou piores, feias ou bonitas, primitivas ou 
elaboradas, e assim por diante. 
 Todas as variedades constituem sistemas linguísticos perfeitamente adequados para a 
expressão das necessidades comunicativas e cognitivas dos falantes. 
 Nenhuma variedade linguística sobrevive se não for adequada a um determinado 
contexto e a uma determinada cultura. 
 
 
As variedades regionais e sociais 
 
 Um dos aspectos mais conhecidos da variação linguística é a diferenciação que 
caracteriza os chamados dialetos ou variedades regionais. As variedades faladas nos estados do 
Nordeste são diferentes daquelas faladas nos estados do Sul; e, no interior dessas regiões 
geográficas, podem também ser observadas diferenças entre os estados e mesmo entre regiões 
e cidades dos estados. 
 Outra importante dimensão da variação linguística é a social. As chamadas variedades 
populares são aquelas faladas pelas classes sociais menos favorecidas, enquanto as variedades 
cultas são normalmente associadas às classes de maior prestígio social, constituindo a 
referência para a norma escrita. 
 A variação de natureza social costuma apresentar diferenças significativas em termos 
fonológicos (“craro > claro; muié > mulher” etc) e morfossintáticos (“nós fumo > nós fomos; os 
menino > os meninos” etc). São essas, na verdade, as diferenças linguísticas que costumam 
entrar em conflito com a norma oral e com a norma escrita ditas cultas. 
 Cabe ainda apontar outra dimensão importante para a compreensão dos fenômenos 
associados à variação linguística: o espaço urbano ou rural em que as variedades são faladas. 
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Preconceito Linguístico? Tô fora! 
 Parece haver cada vez mais, nos dias de hoje, uma forte tendência a lutar contra os 
preconceitos, a mostrar que eles não têm fundamento e que são apenas o resultado da 
ignorância e da intolerância. Infelizmente, porém, essa tendência não tem atingido um tipo de 
preconceito muito comum na sociedade brasileira: o preconceito linguístico. Muito pelo 
contrário, o que vemos é esse preconceito ser alimentado diariamente em programas de 
televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, sem falar, é claro, nos métodos tradicionais 
de ensinar a língua. O preconceito linguístico fica bastante claro em certo tipo de afirmações 
que já fazem parte da imagem (negativa) que o brasileiro tem de si mesmo e da língua falada 
por aqui. Vamos examinar algumas e ver em que medida elas são, na verdade, mitos e fantasias 
que qualquer análise científica mais rigorosa não demora a derrubar. (...) 
“As pessoas sem instrução falam tudo errado” 
 O preconceito linguístico se baseia na crença de que “só existe uma única Língua 
Portuguesa digna deste nome” e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas 
gramáticas e catalogadas nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse 
triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, pelo preconceito linguístico, “errada, feia, 
estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é raro a gente ouvir que “isso não é Português”. 
 Um exemplo. Na visão preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de L 
em R nos encontros consonantais com em Cráudia, chicrete, praca, broco, pranta é vista como 
um “defeito de fala”, e às vezes até como um sinal do “atraso mental” das pessoas que falam 
assim. Ora, estudando cientificamente a questão, é fácil descobrir que não estamos diante de 
um “defeito de fala”, muito menos de um traço de “atraso mental” dos falantes “ignorantes” 
do Português, mas simplesmente de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da 
própria Língua Portuguesa padrão. 
 As pessoas que dizem Cráudia, praca, chicrete, pobrema, pranta estão apenas dando 
livre curso a uma tendência fonética muito antiga na Língua Portuguesa. Observe o quadro a 
seguir. Ele mostra algumas palavras do Português padrão atual e as formas que essas mesmas 
palavras tinham na língua de origem: 
 
 
 E agora? Se fôssemos pensar que aspessoas que dizem Cráudia, chicrete e pranta têm 
algum “defeito de fala”, seríamos forçados a admitir que toda a população da província romana 
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da Lusitânia também tinha esse mesmo defeito na época em que a Língua Portuguesa estava se 
formando. E que o grande Luís de Camões também sofria desse mesmo mal, já que ele 
escreveu ingrês, pubricar, pranta, frauta, frecha na obra que é considerada o maior 
monumento literário do português clássico, o poema Os Lusíadas. E isso, é “craro”, seria no 
mínimo absurdo. No entanto, eu vi, apavorado, um programa de televisão chamado Nossa 
Língua Portuguesa classificar esse fenômeno de “defeito de fala”, sugerindo até uma “terapia 
fonoaudiológica” para “conserta-lo”! 
 Se dizer Cráudia, praca, pranta é considerado “errado”, e, por outro lado, dizer frouxo, 
escravo, branco, praga é considerado “certo”, isso se deve simplesmente a uma questão que 
não é lingüística, mas social e política – as pessoas que dizem Cráudia, praca, pranta pertencem 
a uma classe social desprestigiada, marginalizada, que não tem acesso à educação formal e aos 
bens culturais da elite, e por isso a língua que elas falam sobre o mesmo preconceito que pesa 
sobre elas mesmas, ou seja, sua língua é considerada “feia”, “pobre”, “carente”, quando na 
verdade é apenas diferente da língua ensinada na escola. 
 Ora, do ponto de vista exclusivamente linguístico, o fenômeno que existe no português 
não-padrão é o mesmo que aconteceu na história do Português padrão e tem até um nome 
técnico: rotacismo. Assim, o problema não está naquilo que se fala, mas em quem fala o quê. 
Neste caso, o preconceito linguístico é decorrência de um preconceito social.3 
 
As Variedades Estilísticas: Registros 
 
 A linguagem é usada de modo informal em situações familiares, reuniões entre amigos. 
Nesses casos, diz-se que o falante está fazendo uso da linguagem coloquial. 
 Nas situações formais de uso da linguagem (por exemplo: uma palestra feita para um 
público desconhecido, sobre matéria científica), o falante procura fazer uso de uma linguagem 
formal. 
 
Por registros linguísticos ou variações de estilo entendem-se variações nos enunciados 
linguísticos que estão relacionadas aos diferentes graus de formalidade do contexto de uso da 
língua. O maior ou menor conhecimento e proximidade entre os falantes determina o uso do 
registro mais ou menos formal. 
 
O texto a seguir, embora escrito, apresenta-se como uma espécie de transcrição da 
oralidade. Observe como sua autora, uma estudante brasileira participando de um programa de 
intercâmbio nos Estados Unidos, relata em mensagem eletrônica enviada a familiares e amigos 
os atentados ao World Trade Center, que presenciou de sua sala de aula em Nova Jersey. 
 
 “Gente!!!!! 
 
 Olha ta tudo bem ta? Eu imagino o que vcs devem ta ouvindo ai.. muita 
loucura!!! Confesso que essa explosão dos twins não estava no gibi!!!!! Cara vcs na tem noção 
de como foi... da minha escola dava pra ver tudo!!!! Eu tava na minha primeira aula quando 
uma mulher entrou na sala de aula e falou baixo com o professor e depois mandou todo mundo 
olhar pra traz!!! Detalhe, a vista da sala que eu tava dava pra ver direitinho o lugar do 
 
3 BAGNO, Marcos. In: PINSKY, Jaime (org.) 12 faces do preconceito. São Paulo-SP: Contexto, 1999. 
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acidente!!! Ai, na moral... todo mundo da sala virou pra traz e só deu aquele 
ooooooooooohhhhhhhhhhhhh!!!!!!! Cara ninguém podia acreditar naquilo, tava um dos 
prédios pegando fogo... aí a aula parou e todo mundo ficou olhando pra fora, mais o pior foi 
que daqui a pouco me aparece um avião e bate no segundo... Bicho... todo mundo começou a 
gritar... parecia uma cena de filme... parecia mentira aquilo que eu vi, nem eu consigo acreditar 
naquilo... só de lembrar eu fico arrepiada... a maior explosão lá... 
 Aí todo mundo subiu pro ultimo andar da escola e ficou olhando pela biblioteca 
que é melhor ainda de ver... [...] mais ai ta né, aí foi todo mundo pra frente da TV lá na escola e 
tava todo mundo vendo pela TV quando o primeiro prédio caiu, aí todo mundo correu pra 
janela de novo, mais não dava pra ver por causa da fumaça... mais aí na hora que o segundo 
caiu tava um garoto vendo pela janela e gritou... todo mundo correu e viu... Cara, que cena 
horrível... [...] 
 Bom, logo mando mais noticias para vcs.. amuuu todos vcs de mais, e pode 
deixar que ta tudo bem aqui...[...] 
 Beijos no coração de cada um... 
 Carol !!!!” 
 
 Ainda que o contexto permita uma informalidade total entre os interlocutores e a 
situação explique o grau de excitação de sua autora, a forma utilizada é típica da fala; um 
registro escrito dos mesmos eventos, ainda que informal, teria características estruturais bem 
diferentes do texto apresentado. 
 
 
Gíria 
 
 A gíria, ao mesmo tempo em que contribui para definir a identidade do grupo que a 
utiliza, funciona como um meio de exclusão dos indivíduos externos a esse grupo, pois costuma 
resultar em uma linguagem incompreensível. 
A gíria ou jargão é uma forma de linguagem baseada em um vocabulário especialmente criado 
por um determinado grupo ou categoria social com o objetivo de servir de emblema para os 
membros do grupo, distinguindo-os dos demais falantes da língua. 
 
Entre os jovens, são vários os traços que identificam os membros de um mesmo grupo: 
as roupas, os adereços, os gostos e o uso específico que fazem da linguagem. 
 
3. A relação entre a Oralidade e a Escrita 
 
 Nem todas as sociedades do mundo fazem uso de um sistema de escrita, mas todas as 
sociedades humanas fazem uso da linguagem oral. Muitas sociedades ainda são ágrafas, ou 
seja, não fazem uso da escrita, como muitas das comunidades indígenas do Brasil. As 
sociedades que fazem uso da escrita são chamadas de sociedades letradas. A esse respeito, é 
muito importante observar que, nas sociedades complexas ditas letradas, apenas os membros 
de determinados grupos sociais engajam-se ativamente e atividades de leitura e de escrita em 
seu dia a dia. Os demais grupos sociais permanecem excluídos do uso efetivo da escrita e 
podem ser considerados indiretamente letrados, uma vez que não deixam de ser afetados pelas 
atividades de escrita e leitura que fazem parte da vida daqueles com quem convivem. Vale 
lembrar, ainda, que mesmo os chamados analfabetos lidam de alguma forma com a escrita dos 
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muros, outdoors, rótulos de produtos e folhas de papel impresso, e é de se supor que 
interpretem de alguma forma esses símbolos escritos. 
 Sabe-se que a invenção da escrita é um marco importantíssimo no desenvolvimento da 
Humanidade, tendo passado a constituir o divisor de águas entre a História e a Pré-História. É 
interessante observar que a história da espécie humana com relação à escrita repete-se na 
história de cada um de seus indivíduos: a fala precede à escrita. 
 A escrita não é um mero registro da fala, até porque surgiu para expressar diferentes 
necessidades comunicativas e intelectuais dos seres humanos. O nível de elaboração intelectual 
a que se pode chegar por meio do exercício da escrita é imenso, bastando lembrar que, sem o 
suporte da escrita, determinados tipos de raciocínio lógico e filosófico talvez não se tivessem 
desenvolvido. Nesse sentido, pode-se dizer que o exercício da atividade de escrever levou a 
humanidade, através dos tempos, a definir novos rumos para a evolução cognitiva. 
 
Língua Oral e Língua Escrita 
 
 O processo de comunicação pode realizar-se pela linguagem oral ou pela escrita. 
Embora a língua seja a mesma, a expressão escrita difere muito da oral, sendo ponto pacífico, 
largamente comprovado, que ninguém fala como escreve, ou vice-versa. 
 Originalmente, só havia a língua falada; a escrita apareceu em estágios mais avançados 
da civilização, mas até hoje ainda existem línguas ágrafas, isto é, sem escrita. Entretanto, a 
linguagem escrita adquiriu, no decorrer dotempo, tão alto prestígio, a ponto de se esquecer de 
que, anterior a ela, há uma linguagem oral que lhe serve de suporte. Na verdade, a escrita é 
apenas uma tentativa imperfeita de reprodução gráfica dos sons da língua. E tentativa 
imperfeita porque os grafemas (letras) não correspondem com exatidão aos fonemas (sons). 
Assim, temos palavras, como, por exemplo, cheque, em que os fonemas são representados por 
seis grafemas. Há também, além dos dígrafos (ch, nh, qu, rr, ss), o caso dos diversos sons do x, 
dos c e do grafema h, conservado no início de algumas palavras, por razões etimológicas, ainda 
que não represente nenhum som, nesta situação. 
 Algumas características da linguagem oral, tais como entonação, timbre, altura, ênfase, 
pausas, velocidade da enunciação e muitas outras, são impossíveis de ser representadas 
graficamente. Essas características podem ser precariamente reproduzidas pelos sinais de 
pontuação (exclamação, interrogação, reticências, hífen, parênteses, travessão etc.), pelo 
emprego de maiúsculas, de negrito, itálico e de sublinhas. 
 A língua falada pressupõe contato direto com o falante, o que a torna mais concreta; é 
mais espontânea, não apresentando grande preocupação gramatical. Seu vocabulário é mais 
restrito, mas está em constante renovação. 
 A linguagem escrita mantém contato indireto entre quem escreve e quem lê, o que a 
torna mais abstrata; é mais refletida, exige grande esforço de elaboração e obediência às regras 
gramaticais. Seu vocabulário é mais apurado e é, por natureza, mais conservadora. 
 A língua falada conta com recursos extralinguísticos, contextuais, tais como gestos, 
expressões faciais, postura, que muitas vezes completam ou esclarecem o sentido da 
comunicação. A presença do interlocutor permite que a língua falada seja mais alusiva, 
enquanto a escrita é menos econômica, mais precisa. 
 Assim como a linguagem escrita apresenta níveis ou registros, a oral também apresenta 
algumas variedades. Em situações formais, o falante procura observar as normas gramaticais, a 
pronúncia é mais cuidada, as palavras terminadas em r ou s merecem especial atenção. Jürgen 
Heye (In: Pais, 1979, p. 225) afirma: 
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 “Os falantes variam sua expressão verbal de acordo com o grau de 
atenção prestado à própria fala.” 
 
 Na linguagem familiar, em situações informais, as preocupações com a clareza e 
correção vão-se tornando menos evidentes. 
 Do ponto de vista gramatical, as duas linguagens, escrita e falada, apresentam 
características específicas, cientificamente comprovadas. 
 
Linguagem Oral Linguagem Escrita 
Repetição de palavras Vocabulário rico e variado, emprego de 
sinônimos 
Emprego de gíria e neologismos Emprego de termos técnicos 
Maior uso de onomatopeias Vocábulos eruditos, substantivos abstratos 
Emprego restrito de certos tempos e 
aspectos verbais 
Emprego do mais-que-perfeito, subjuntivo, 
futuro do pretérito 
Colocação pronominal livre Colocação pronominal de acordo com a 
gramática 
Supressão dos relativos (cujo, p. ex.) Emprego de pronomes relativos 
Frases feitas, chavões Variedade na construção das frases 
Anacolutos (rupturas de construção) Sintaxe bem elaborada 
Frases inacabadas Frases bem construídas 
Formas contraídas, omissão de termos no 
interior das frases 
Clareza na redação, sem omissões e 
ambiguidades 
Predomínio da coordenação Emprego de coordenação e subordinação 
 
 Em resumo, a língua falada, além da restrição do vocabulário, não há grande 
preocupação com as regras gramaticais de concordância, regência e colocação, nem com a 
clareza das construções sintáticas. 
 Na língua escrita há sempre maior grau de adesão à gramática normativa, preocupação 
com a clareza, além da riqueza vocabular. 
 
 
Pluralidade Cultural 
As crenças sobre a escrita 
 Existe hoje um verdadeiro “mito” da alfabetização, compartilhado pela maioria (ou a 
totalidade) dos governos, tanto de países em desenvolvimento como de países industrializados, 
e pela própria UNESCO. Trata-se de uma perspectiva de extrema valorização dos aspectos 
positivos da alfabetização, vista como o passo central num processo de “modernização” dos 
cidadãos. A alfabetização seria o passo decisivo para que grandes massas mergulhadas nas 
culturas orais abandonassem valores e formas de comportamento “pré-industrial”, se 
tornassem mais disponíveis para processos de industrialização e cooperassem de forma ativa 
no processo de expansão do poder do Estado. A aceitação básica do valor indiscutivelmente 
positivo da escrita foi intocável durante décadas. [...] A capacidade de ler e de escrever é 
considerada intrinsecamente boa e apresenta vantagens óbvias sobre a pobreza da oralidade. 
Como tal, a escrita é um bem certamente desejável. 
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 Quando refletimos sobre a alfabetização devemos pensar que os alfabetizandos, sejam 
eles crianças ou adultos, são necessariamente membros de grupos étnicos e de classes sociais, 
assim como os próprios alfabetizadores. Eles compartilham atitudes, crenças, hipóteses sobre a 
escrita, sua natureza, suas funções e os valores que a ela estão associados, da mesma forma 
que nós [...] compartilhamos atitudes, crenças, hipóteses sobre a escrita. Só se partimos de 
uma perspectiva deste tipo podemos perceber que estamos envolvidos num processo de 
interpretação recíproca: assim como em outras atividades, também na atividade específica do 
processo de alfabetização, interpretações recíprocas defrontam-se: se nós os interpretamos e 
ao seu mundo, projetamos sobre eles a nossa perspectiva profundamente letrada e 
grafocêntrica [diz-se da cultura centrada na escrita] do nosso mundo sócio-cultural. 
 
GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 
 
1. Faça o que se pede. 
a) A leitura desse texto deve certamente ter feito com que você pensasse sobre alguns valores 
tidos como inquestionáveis pela sociedade em que vivemos. Parece impensável que a 
aprendizagem da escrita possa ser vista como algo negativo, não é mesmo? Acontece, 
porém, que fazemos parte de uma sociedade letrada, convivemos com a escrita desde que 
nascemos. O mesmo não é verdade para os povos de culturas ágrafas. Discorra sobre o 
impacto que a introdução da escrita pode ter em uma cultura não-letrada. Ele será positivo 
ou negativo? Por quê? 
 
..........................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................
......................................................................................................................................................... 
 
2. O trecho abaixo exemplifica um caso de rejeição explícita da escrita. Ele reproduz a opinião 
de um líder índio norte-americano, Russel Means: 
 
“O único início cabível numa declaração deste gênero é que eu detesto escrever. O 
próprio processo resume o conceito europeu do pensamento legítimo: o que é escrito tem uma 
importância que é negada ao falado. A minha cultura, a cultura lakota, tem tradição oral e, 
portanto, eu usualmente rejeito escrever. Um dos meios de que se vale o mundo dos brancos 
para destruir as culturas de povos não europeus é impor uma abstração à relação falada de um 
povo. 
Por isso, o que você lê aqui não é o que escrevi. É o que eu disse e outra pessoa 
escreveu. Permito que assim seja feito porque me parece que a única via de comunicação com 
o mundo dos brancos são as folhas mortas e secas dos livros.” 
In: GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. 
 
 
 
 
Página 10 de 11 
 
a) Você concorda com a posição do líder índio? Ele tem razão em afirmar que a “única via 
de comunicação com o mundo dos brancos são as folhas mortas e secas dos livros”? 
....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................... 
 
b) Será que a aceitação de uma cultura letrada contribuiu para enfraquecer a cultura dos povos 
indígenas brasileiros? 
..........................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................
.......................................................................................................................................................... 
 
Mas atenção! 
 
 Não se conclua, a partir dessas considerações, que a escrita é “melhor” do que a 
oralidade, ou – pior ainda! – que os indivíduos que escrevem são mais inteligentes, ou “pensam 
melhor” do que os que não escrevem. Trata-se de diferentes modos de cognição e de 
expressão da realidade. Assim, as culturas essencialmente orais são capazes de relatos 
elaboradíssimos de seus mitos, demonstrando um desempenho muito superior, em termos de 
determinados tipos de atividades verbais, do que os membros das sociedades letradas. São 
também capazes de sofisticadas formas de raciocínio, como recentes estudos antropológicos 
tem demonstrado. A questão, mais uma vez, gira em torno do reconhecimento de diferenças 
entre os membros de diversos grupos sociais e, no caso específico do uso ou não da escrita, de 
diferenças nos modos de expressão, raciocínio e desenvolvimento cognitivo. 
 A forma que assume qualquer variedade da língua, quando escrita, em um certo sentido 
é uma estilização da oralidade, não a sua reprodução fiel. Em qualquer cultura onde a escrita é 
introduzida decorre sempre um tempo considerável até que a língua adquira os contornos 
formais que se conformem às exigências da nova modalidade. Veja o que diz a esse respeito o 
texto a seguir, o qual o autor comenta o processo de desenvolvimento da modalidade escrita 
das línguas românicas durante a Idade Média. 
 
 Associar a uma determinada variedade linguística o poder da escrita foi nos últimos 
séculos da Idade Média uma operação que respondeu a exigências políticas e culturais. Eram 
grandes as diferenças entre as variedades linguísticas correntes e o Latim modelo de língua e de 
poder, na Europa da Idade Média. As variedades linguísticas associadas com a escrita passaram 
por um claro processo de “adequação” lexical e sintática, no qual o modelo era sempre o Latim 
[...] Colocar uma variedade oral nos moldes da língua escrita [...] foi operação complexa, 
principalmente na sintaxe. Na área das conjunções e da subordinação, por exemplo, até o 
estabelecimento de expressões do tipo “apesar de”, “a fim de” etc., o processo foi demorado. 
Nos textos mais antigos as ambiguidades que muitas vezes encontramos são devidas 
exatamente ao fato de que umas construções usadas na língua escrita estavam ainda em fase 
de elaboração e definição. As línguas românicas levaram tempo para chegar a ser variedades 
escritas de complexidade comparável à do modelo a que visavam, o Latim. 
GNERRE, Maurizio. Linguagem, escrita e poder. 
 
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 Essas considerações permitem entender por que a modalidade oral da linguagem é 
aprendida espontaneamente pelas crianças, enquanto a modalidade escrita exige um longo 
processo de instrução formal. O ensino institucional da escrita pressupõe a exposição a 
diferentes tipos de texto escrito, assim como a apresentação organizada dos recursos formais e 
de conteúdo que permitem não só a produção de textos coesos e coerentes nessa modalidade, 
mas também a boa compreensão da leitura de textos mais elaborados em termos de léxico e 
sintaxe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
ABAURRE, Maria Luiza et al. Português: língua, literatura, produção de texto. São Paulo: 
Moderna, 2004. 
LIMA, Antonio de Oliveira. Interpretação de textos: aprenda, fazendo. Rio de Janeiro: Elservier, 
2008. 
MEDEIROS, João Bosco. Português Instrumental. São Paulo: Atlas, 1995. 
PEREIRA, Gil Carlos. A palavra: expressão e criatividades. São Paulo: Editora Ática, 2010.

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