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Caro aluno Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe- ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A seguir, apresentamos cada seção: No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en- contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. multimídia Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em seu dia a dia. vivenciando Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê- -las com tranquilidade. áreas de conhecimento do Enem Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria- mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque- les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza- ção dos estudos e até a resolução dos exercícios. diagrama de ideias Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela- borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada disciplina. Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio- logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive. conexão entre disciplinas Herlan Fellini De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo o território nacional. incidência do tema nas principais provas Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques- tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com- pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. teoria Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta- dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com- preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula. aplicação do conteúdo © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020 Todos os direitos reservados. Autor Márcio Cavalcanti de Andrade Diretor-geral Herlan Fellini Diretor editorial Pedro Tadeu Vader Batista Coordenador-geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica Hexag Sistema de Ensino Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Imagens Freepik (https://www.freepik.com) Shutterstock (https://www.shutterstock.com) ISBN: 978-65-88825-05-1 Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis- posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre- sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2020 Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br SUMÁRIO ENTRE PENSAMENTOS: FILOSOFIA Aula 1: Introdução à Filosofia grega 6 Aula 2: Filosofia de Atenas 13 Aula 3: Mito da caverna 18 Aula 4: Aristóteles 24 Aula 5: Filosofia medieval 30 Aula 6: Filosofia política 37 Aula 7: Filosofia moderna 44 Aula 8: Racionalistas 51 Aula 9: Empirismo 57 Aula 10: Iluminismo francês 65 Aula 11: Rousseau 72 Aula 12: Iluminismo alemão 79 Aula 13: O dever kantiano 86 Aula 14: Tempestade e ímpeto 92 Aula 15: Hegel 98 Aula 16: Utilitaristas 104 Aula 17: Materialismo filosófico 112 Aula 18: Schopenhauer 118 Aula 19: Nietzsche 124 Aula 20: Filosofia da Ciência 130 Aula 21: Fenomenologia do Conhecimento 135 Aula 22: Existencialismo 142 Aula 23: Escola de Frankfurt 149 Aula 24: Habermas 156 Aula 25: Hannah Arendt 162 Aula 26: A filosofia e o poder 167 Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades. H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas. H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos H4 Compararpontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura. H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades. Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de poder. H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos. H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações. H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social. H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial H10 Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica. Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais. H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço. H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades. H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder. H14 Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas. H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história. Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social. H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social. H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção. H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais. H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano. H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho. Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, fa- vorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade. H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social. H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas. H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades. H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades. H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social. Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e geográficos. H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem. H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos. H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos. H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas. H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas. FILOSOFIA: Incidência do tema nas principais provas UFMG A prova trata a Filosofia com um olhar independente, não relacionando com História. O seu enfoque é relacionar teorias e correntes filosóficas associadas ou contrárias. A prova possui uma abordagem filosófica direcionada para os temas da redação, de modo que os pensadores podem auxiliar no processo de desenvolvimento dos argumen- tos dos candidatos. A prova apresenta uma relação da Filosofia com a História. Diante disso, o candidato precisa relacionar as transformações histó- ricas em conjunto com as teorias filosóficas. A prova cobra a disciplina de Filosofia de forma indireta nas temáticas de redação. A prova é direcionada para a prática da Medi- cina. Assim, a Filosofia é cobrada de maneira indireta, como a ética no campo médico, prin- cipalmente nos temas de redação, que podem auxiliar os candidatos a elaborarem melhor os seus argumentos nas redações. A prova cobra a disciplina de Filosofia de forma indireta nas temáticas de redação. A prova direciona diretamente para Filosofia, com conceitos da história da Filosofia, e é abordada de forma direta na prova de conhecimentos específicos conceitos filosóficos. A prova contém interdisciplinaridade nas Ciências Humanas, com poucas questões diretas na área da Filosofia, tendo preferência por questões temáticas. A abordagem do vestibular da USP é inter- disciplinar, de forma que a Filosofia é tratada mais como um alicerce para a compreensão da realidade. A prova não direciona diretamente para a Filosofia. A prova não aborda a Filosofia. A prova não aborda a Filosofia. A prova cobra a disciplina de Filosofia de forma indireta nas temáticas de redação. A prova é apresentada conforme seu edital específico, na qual são relacionados alguns livros ou trechos de obras de filósofos. A prova trata a Filosofia com um olhar espe- cífico, possuindo um edital diferenciado com autores específicos. 6 O mundo helenístico se beneficiou do momento histórico, quando as cidades-Estados na Grécia antiga eram prós- peros centros comerciais e culturais. Desse modo, favore- ceu-se o desenvolvimento do pensamento humano, isto é, ocorreu a supremacia do logos, que significa “palavra”, “discurso”, “razão”. Mapa do Mundo helenístico Vista do partenon, teMplo dedicado à deusa atena, construído no século V a.c., na acrópole de atenas 1. Período Pré-socrático ou cosmológico Sendo uma explicação racional e sistemática diante da ori- gem e da transformação da Natureza, a cosmologia nega que as coisas tenham surgido do nada, pois a própria Natureza está em transformação. Os pensadores desse período tiveram a preocupação de compreender a physis, ou seja, os aspectos da Natureza ou da nossa realidade, que se encontra em movimento. Assim, o termo filósofo significa “investigador da Natureza”. 1.1. Tales de Mileto (624-546 a.C.) Tales é um famoso matemático, mas pouco se conhece sobre seus escritos, pois muitos se perderam ao longo do tempo. Ele foi o primeiro a afirmar que a água era a origem de todas as coisas, sendo a fonte originária de explicação da physis. Infelizmente, só temos interpretação de outros filósofos perante o seu pensamento. Tales, o fundador de tal filosofia, diz ser água [o princípio] (é por este motivo também que ele declarou que a terra está sobre água), levado sem dúvida a esta concepção por ver que o alimento de todas as coisas é úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive (ora, aquilo de que Os pré-socráticos Uma breve explicação dos primeiros pensa- dores da Grécia antiga Fonte: Youtube multimídia: vídeo Introdução à FIlosoFIa grega CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 AULA 1 7 De sua vida pouco se sabe. Foi-lhe atribuída a confecção de um mapa do mundo habitado. Anaximandro foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o pro- cesso cósmico total, numa clara ampliação da visão de Tales. 1.3. Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.)Heráclito preocupou-se com a questão da transformação, ou seja, da physis, e por sua forma tão concisa de escrita, ganhou o cognome de “o Obscuro”. A base de seu pensa- as coisas vêm é, para todos, o seu princípio). Por tal ob- servar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes de todas as coisas terem a natureza úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas. aristóteles MetaFísica, 1, 3. 983b (dK 11 a 12) 1.2. Anaximandro (610-547 a.C.) Introdução à história da Filosofia CHAUÍ, Marilena. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. No primeiro volume desenvolvido pela filóso- fa brasileira Marilena Chauí, é apresentada, de forma didática, a filosofia dos primeiros pensadores na Grécia antiga. Fonte: Youtube multimídia: livro mento consiste no caráter transitório e mutável das coisas – para explicar esse pensamento, emerge a metáfora que “não podemos nos banhar no mesmo rio duas vezes”. Nos mesmos rios entramos e não entramos. Somos e não somos. herÁclito Tudo muda Guilherme Souza. Creio em ti (2016). Fonte: Youtube multimídia: música A sabedoria grega (III): Heráclito Giorgio Colli. São Paulo: Paulus, 2013. Nessa obra bilíngue, idealizada pelo professor Giorgio Colli, são apresentados todos os frag- mentos associados ao filósofo Heráclito, para compreendermos na sua plenitude a filosofia do pensador de Éfeso. multimídia: livro 8 1.4. Parmênides de Eleia (530-460 a.C.) O filósofo Parmênides concentrou seu pensamento no imo- bilismo universal, indo contra o mobilismo de Heráclito. Seu único trabalho conhecido foi um poema intitulado “Sobre a Natureza”, que sobreviveu apenas na forma de fragmentos. Segundo Parmênides, o ser era uno, indivisível, pleno e eterno, de modo que não há espaço para o não ser. Visto que, para o pensador, as coisas não surgiram do nada, isto é, tudo que existe sempre existiu. Parmênides parece, neste ponto, raciocinar com mais penetração. Julgando que fora do ser o não ser nada é, forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, e nenhuma outra. aristóteles MetaFísica, 1, 5. 986b 18 (dK 28 a 24) 1.5. Empédocles (490-430 a.C.) Empédocles foi um filósofo da cidade de Agrigento, na Si- cília, e seu pensamento consistia em que as coisas eram constituídas por quatro elementos: fogo, terra, água e ar. Ele observa que o amor e o ódio aproximam e afastam os indivíduos, caracterizando-os como forças antagônicas cósmicas. Isso quer dizer que o semelhante atrai o seme- lhante e o dessemelhante repulsa o dessemelhante, num movimento eterno – assim, ao se ter harmonia, o amor prevalece e, caso tenha desequilíbrio, o ódio está atuando. Diante disso, o filósofo inaugura o pluralismo, que orienta e ordena a Natureza; não mais um único elemento, como pensavam os outros filósofos. Este (Empédocles) estabelece quatro elementos corporais, fogo, ar, água e terra, que são eternos e que mudam au- mentando e diminuindo mediante mistura e separação; mas os princípios propriamente ditos, pelos quais aqueles são movidos, são o Amor e o Ódio. Pois é preciso que os elemen- tos permaneçam alternadamente em movimento, sendo ora misturados pelo Amor, ora separados pelo Ódio. aristóteles MetaFísica, 1, 3. 984a 8 (dK 31 a 28) 1.6. Demócrito (460-370 a.C.) Filósofo nascido na cidade de Mileto ou Abdera, Demócrito foi o maior expoente do atomismo. Segundo seu pensa- mento, tudo o que existe na physis, ou seja, na Natureza, é composto por átomos, que eram partículas indivisíveis e eternas. Seu método foi a observação. Demócrito é o primeiro que excluiu rigorosamente todo ele- mento mítico. E o primeiro racionalista. nietZsche o nasciMento da FilosoFia na época da tragédia grega. Vol. XiX. Os pré-socráticos Coleção “Os pensadores”. São Paulo: Abril, 1999. Nessa compilação de textos dos primeiros fi- lósofos da Grécia antiga, temos uma percep- ção das teorias desses pensadores. multimídia: livro 9 DIAGRAMA DE IDEIAS TALES TUDO É ÁGUA HERÁCLITO TUDO FLUI PARMÊNIDES O SER É OU O SER NÃO É OS PRIMEIROS PENSADORES NA GRÉCIA ANTIGA SÃO INVESTIGADORES DA NATUREZA (PHYSIS) BUSCAM EXPLICAR OS FENÔMENOS DA NATUREZA COM UMA ÚNICA DEFINIÇÃO DE UMA FORMA ONTOLÓGICA E COSMOLÓGICA EMPÉDOCLES A MISTURA DOS ELEMENTOS FORMAM A PHYSIS DEMÓCRITO TUDO É COMPOSTO POR ÁTOMOS FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA 10 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Unifesp) “Vamos, vou dizer-te – eu tu escuta e fixa o relato que ouviste quais os únicos caminhos de investi- gação que há para pensar: um que é, que não é para não ser. é caminho de confiança (pois acompanha a realida- de); o outro que não, que tem de não ser, esse te indico ser caminho em tudo ignoto, pois não poderá conhecer o não ser, não é possível, nem indicá-lo [...]” parMÊnides. da natureZa. são paulo: loYola, 2002. Com base no fragmento, o autor: a) faz um contraponto em relação aos pensamentos de Heráclito, no qual contradiz a teoria de que tudo está em uma constância perpétua de movimento e mudanças. b) faz um contraponto em relação aos pensamentos do não ser, pois ser pode não ser, possibilitando o conhecimento do não se conhecer. c) defende a teoria de que tudo está em uma cons- tância perpétua de movimento e mudanças. d) fundamenta que o ser, somente pode ser o que é, entre- tanto, pode possibilitar o conhecimento da realidade através do que não se sabe, fomentando o conhecimento do não ser. e) faz um contraponto a não identidade, pois o ser é impossível de saber ou compreender o que o constitui. 2. (Enem) Na antiga Grécia, o teatro tratou de questões como destino, castigo e justiça. Muitos gregos sabiam de cor inúmeros versos das peças dos seus grandes au- tores. Na Inglaterra dos séculos XVI e XVII, Shakespeare produziu peças nas quais temas como o amor, o poder, o bem e o mal foram tratados. Nessas peças, os grandes personagens falavam em ver- so e os demais em prosa. No Brasil colonial, os índios aprenderam com os jesuítas a representar peças de caráter religioso. Esses fatos são exemplos de que, em diferentes tempos e situações, o teatro é uma forma de a) manipulação do povo pelo poder. b) diversão e de expressão dos valores e problemas da sociedade. c) entretenimento popular. d) manipulação do povo pelos intelectuais que com- põem as peças. e) entretenimento, que foi superada e hoje é substitu- ída pela televisão. 3. Em relação ao fenômeno religioso e à história do de- senvolvimento do homem, é correto afirmar que: a) a manifestação do sagrado envolve os aspectos religiosos, que precedem a razão. b) a razão possibilitou o desenvolvimento da religião. c) o sagrado é invenção para apenas conduzir as massas. d) o discurso racional criou a religião. e) a moral é inata ao âmago do homem e precede ao fenô- meno do sagrado, que está coligado à estrutura religiosa. 4. (UEL) Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e casual o reino dos mitos, fundado na observação das reali- dades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo. Jaeger, W. paideia. 3. ed. são paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar: a) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar. b) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvin- cula dos mitos, de forma gradual. c) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma nova forma de pensamento ple- namente racional, desde as suas origens. d) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia. e) O mitojá era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas que até hoje são objetos da pesquisa filosófica. 5. (UEL) De onde vem o mundo? De onde vem o univer- so? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, en- tão essa outra coisa também devia ter surgido de algu- ma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se trans- formar em árvores frondosas ou flores multicoloridas. gaarder, J. o Mundo de soFia. são paulo: coMpanhia das letras, 1995. p. 43-44 (adaptado). Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgi- mento da Filosofia, assinale a alternativa correta. a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável as histórias contadas acerca do mundo dos deuses. b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a con- vicção de que havia alguma substância básica, uma causa oculta que estava por trás de todas as transfor- mações na natureza e, a partir da observação, busca- vam descobrir leis naturais que fossem eternas. c) Os teóricos da natureza, que desenvolveram seus siste- mas de pensamento por volta do século VI a.C., partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por sua enorme capacidade de transformação. 11 d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que ori- ginam todas as coisas. e) Para os pensadores jônicos da natureza – Tales, Anaxímenes e Heráclito –, há um princípio originário único denominado “o ilimitado”, que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas. 6. (UEAP) (...) que é e que não é possível que não seja,/ é a vereda da Persuasão (porque acompanha a Verdade); o outro diz que não é e que é preciso que não seja,/ eu te digo que esta é uma vereda em que nada se pode aprender. De fato, não poderias conhecer o que não é, porque tal não é fatível./ nem poderia expressá-lo. nicola, ubaldo. antologia ilustrada de FilosoFia. são paulo: globo, 2005. O texto anterior expressa o pensamento de qual filósofo? a) Aristóteles, que estabelecia a distinção entre o mundo sensível e o inteligível. b) Heráclito de Éfeso, que afirmava a unidade entre pensamento e realidade. c) Tales de Mileto, que afirmava ser a água o princípio de todas as coisas. d) Parmênides de Eleia, que afirmava a imutabilidade de todas as coisas e a unidade entre ser e pensar, ser e conhecimento. e) Protágoras, que afirmava que o homem é a medida de todas as coisas, que o ser é e o não ser não é. 7. (Unicentro) Leia o fragmento de um texto pré-socrático. “Ainda outra coisa te direi. Não há nascimento para ne- nhuma das coisas mortais, como não há fim na morte funesta, mas somente composição e dissociação dos ele- mentos compostos: nascimento não é mais do que um nome usado pelos homens.” eMpédocles. apud aranha; Martins. FilosoFando: introdução à FilosoFia. 3. ed. são paulo: Moderna, 2006, p. 86. A respeito da relação entre mythos e logos (razão) no início da filosofia grega, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta as corretas. I. O fragmento acima denota a “luta de forças” opostas na massa dos membros humanos, que ora unem-se pelo amor – no início todos os membros que atingiram a corpo- reidade da vida florescente –, ora divididos pela força da discórdia, erram separados nas li- nhas da vida. Assim ocorre também com todos os outros seres na natureza. II. A verdade filosófica apresenta-se no pensamento de Empédocles através de uma estrutura lógica muito distante da “verdade” expressa nos relatos míticos dos gregos arcaicos. III. Nascimento e morte, no texto de Empédocles, são apre- sentados por meio de representações míticas que o filóso- fo retira de uma tradição religiosa presente ainda em seu tempo. Essas imagens, consequentemente, se transpõem, sem deixarem de ser místicas, em uma filosofia que quer captar a verdadeira essência da realidade física. IV. O fragmento denota continuidade do pensamento mí- tico no início da filosofia, pois estão presentes ainda o uso de certas estruturas comuns de explicação. a) Apenas II, III e IV estão corretas. b) Apenas I, III e IV estão corretas. c) Apenas I e II estão corretas. d) Apenas I e IV estão corretas. e) Apenas I, II e IV estão corretas. 8. A filosofia ocidental teve início com os pensadores an- teriores a Sócrates, por isso chamados de pré-socráticos, dos quais a maioria viveu em colônias gregas distantes de Atenas. Sobre esses pensadores, pode-se dizer: a) Com os pré-socráticos, a filosofia se constitui numa ci- ência particular, e não mais no estudo da realidade total. b) A mitologia tradicional grega fazia parte das suas doutrinas. c) Pitágoras e os seus discípulos dedicaram-se ao es- tudo da política e recusaram a interferência da mate- mática no estudo da cosmologia. d) Heráclito defendeu a ideia de permanência subs- tancial e constante do ser, contra a noção de devir. e) Os naturalistas, ou fisiólogos da Jônia, dedicavam-se, sobretudo, ao estudo do cosmo, e muitos deles busca- vam o princípio constitutivo do mundo em algum de seus elementos: ar, água, terra, ou fogo. 9. (UFU) Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e V a.C. e sua doutrina, apesar de criticada pela filosofia clássica, foi resgatada por Hegel, que recuperou sua im- portante contribuição para a dialética. Os dois fragmen- tos a seguir nos apresentam este pensamento. “Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi, é e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida.” “Para as almas, morrer é transformar-se em água; para a água, morrer é transformar-se em terra. Da terra, contudo, forma-se a água, e da água a alma.” De acordo com o pensamento de Heráclito, marque a alternativa incorreta. a) As doutrinas de Heráclito e de Parmênides estão em perfeito acordo sobre a imutabilidade do ser. b) Para Heráclito, a ideia de que “tudo flui” significa que nada permanece fixo e imóvel. c) Heráclito desenvolve a ideia da harmonia dos con- trários, isto é, a permanente conciliação dos opostos. d) A expressão “devir” é adequada para compreen- dermos a doutrina de Heráclito. 10. (UFU) O fragmento seguinte é atribuído a Heráclito de Éfeso. 12 “O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e velho; pois estes, tombados além, são aqueles e aqueles de novo, tombados além, são estes”. os pré-socrÁticos. 1. ed. são paulo: abril cultural. 1973, p. 93. A partir do fragmento citado, escolha a alternativa que melhor representa o pensamento de Heráclito. a) Não existe a noção de “oposto” no pensamento de Heráclito, pois todas as coisas constituem um único processo de mudança que expressa a concórdia e a harmonia do “fluxo” contínuo da natureza. b) A equivalência de estados contrários com “o mesmo” exprime a alternância harmônica de polos opostos, pela qual um estado é transposto no outro, numa sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as Coisas são “Um”, toda a multiplicidade dos opostos constitui uma unidade, e todos os seres estão num fluxo eterno de sucessão de opostos em guerra. c) Se o morto é vivo, o velho é novo e o dormente é desperto, então não existe o múltiplo, mas apenas o como verdade profunda do mundo. A unidadepri- mordial é a própria realidade da physis e a multiplici- dade, apenas aparência. d) A alternância entre polos opostos constitui um fluxo eterno, regido pela “guerra” e pela “discórdia”, que ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre contrários evidencia que a physis é caótica e denota o fato de que o pensamento de Heráclito é irracionalista. 11. Os fragmentos abaixo representam três temas fundamentais que configuram o pensamento de Heráclito de Éfeso. “O deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, saciedade fome; mas se alterna como fogo, quando se mistura a in- censos, e se denomina segundo o gosto de cada.” “Por fogo se trocam todas (as coisas) e fogo por todas, tal como por ouro mercadorias e por mercadorias ouro.” os pré-socrÁticos. são paulo: abril cultural, 1973, p. 85 e 87. coleção “os pensadores”. A partir das citações acima: a) explicite quais são esses temas; e b) comente cada um deles, de modo a caracterizar a filosofia de Heráclito. gabarito 1-A; 2-B; 3-A; 4-B; 5-B; 6-D; 7-A; 8-E; 9-A; 10-B 11.a) O eterno devir (fluxo); a luta dos contrários (opostos); o fogo (símbolo da filosofia heraclitiana e do logos). b) De acordo com Heráclito, tudo está em eterno devir, toda a realidade é um processo constante de mudanças, em que nada, a não ser a própria mudança, permanece. A luta entre os contrários é o que mantém o eterno fluxo de todas as coisas, fazendo, através da luta dos opostos, com que nada seja igual ao que foi antes. No entanto, a mudança não é caótica, pois há uma lei que rege o fluxo eterno de todas as coisas, esta lei é o logos, que, segundo Heráclito, percebe como unidade aquilo que se apresenta como multiplicidade. A unidade dada e percebida pelo logos é uma unidade de tensões opostas que provoca a harmonia. Finalmente, Heráclito afirma que o fogo é o símbolo de sua filosofia, pois representa como o funda- mento e princípio (arché) de todas as coisas. 13 A cidade-Estado de Atenas tornou-se um centro cultural, feito este ocorrido no século de Péricles, época de maior florescimento da democracia ateniense. Com o controle de quaisquer ataques de outras cidades, Atenas se favoreceu econômica e culturalmente, desenvolvendo a Filosofia. 1. sofismo Com o crescimento da polis grega, surgiu uma prática educacional, em que os seus integrantes eram chamados de sofistas, sábios que vendiam o conhecimento, mas di- recionavam esse conhecimento conforme as suas próprias convicções. Os principais sofistas foram Protágoras de Ab- dera (490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (487-380 a.C.), Pródico de Creos (465-395 a.C.), dentre outros. Apresenta- vam-se como mestres da oratória, de modo que, para eles, era possível ensinar as técnicas de oratórias e da persuasão para qualquer cidadão. Devido a isso, muitos jovens procu- ravam os sofistas para alcançarem status na cidade, onde o logos era elemento fundamental. Afinal, numa cidade democrática, o cidadão precisava saber falar e ser capaz de persuadir os outros com o auxílio das palavras. parthenon 1.1. Sócrates (469-399 a.C.) O filósofo ateniense foi um dos maiores críticos à prática do sofismo, pelo direcionamento da verdade pelo sofista, além de discordar que eram filósofos, visto que não investi- gavam nada, só reproduziam fatos. Sócrates foi um marco na história da Filosofia, por modificar a investigação do pensamento, pretendendo direcionar para uma análise do indivíduo, e não mais para a compreensão da physis. 1.2. Dialética socrática O método de investigação desenvolvido por Sócrates, co- nhecido como dialética, consistia em alcançar a verdade por meio do diálogo. O objetivo dessa dialética era desmas- carar a falsa sabedoria, chegando a um conhecimento da natureza do homem. Dessa maneira, Sócrates dialogava com o intuito de justi- ficar os conhecimentos, as virtudes ou as habilidades que lhe eram atribuídos. Com os seus diálogos, ele acabava fazendo com que o interlocutor expressasse suas opini- ões, utilizando-se de questionamentos. O resultado dessas conversas era apresentar a fragilidade das opiniões alheias. Apesar de sua postura questionadora, Sócrates propagava que era o cidadão mais ignorante da Grécia e, mediante isso, era necessário aprender com os outros, de forma que lhe foi atribuído a frase “só sei que nada sei”. Por conta de suas conversas, realizadas nas praças públicas de Atenas, junto ao seu modo de investigação, Sócrates questionava os vícios e a corrupção na cidade grega. 4 Lições de Platão / Filosofia #1 Esse vídeo questiona: quem foi o filósofo gre- go Platão; quais são as lições platônicas mais importantes e qual a sua relevância na atua- lidade; o que é eudaimonia; e como vencer a mediocridade e ser feliz. Fonte: Youtube multimídia: vídeo FIlosoFIa de atenas CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 AULA 2 14 Acabou sendo preso, com o pretexto de ofender os deu- ses da cidade e corromper a juventude – esse momento é contado na obra Apologia de Sócrates, do filósofo Platão. Foi condenado à morte tomando um cálice de cicuta, um veneno extraído da planta conium maculatum. “La mort de Socrate” Pintura de Jacques-Louis David (1787) A figura de Sócrates é bem mítica, pois nada escreveu em vida. Tudo o que sabemos dele é derivado dos relatos de seu discípulo mais famoso, o filósofo Platão, e de Aristófa- nes, um dramaturgo grego que ridicularizava a figura de Sócrates contra os sofistas. 1.3. Das aparências ao mundo das ideias Com o pensador ateniense Platão (428-354 a.C.), a Filo- sofia ganhou uma característica epistemológica. Após a morte de seu mestre, Platão fundou a Academia, um re- cinto onde se discutiam diversos temas, da Matemática, passando pela Astronomia e até a Música. Na Academia, o conhecimento deveria ser baseado numa episteme, ou seja, numa ciência, com o intuito de ultrapassar o plano instável da opinião. Logo na entrada desse recinto, existia um escrito: “Que aqui não entre quem não souber geometria.” Esta frase tinha uma definida intenção de valorização da ciência, que se iniciava na Grécia, mas também, uma forma de afastar os críticos que poderiam ter alguma intenção negativa aos seus métodos filosóficos. 1.4. Reminiscência Segundo o filósofo grego, o ato de conhecer as coisas signifi- ca, necessariamente, o ato de lembrar, sustentando a hipóte- se da reminiscência, contida no diálogo Ménon. Nesse diálo- go, Sócrates demonstra que, através de um escravo, o homem só precisa recordar as coisas que sua alma um dia aprendeu. Sócrates: o homem que perguntava (parte 1) Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 a.C., e tornou-se um dos prin- cipais pensadores da Grécia antiga. Podemos afirmar que Sócrates fundou o que conhece- mos hoje por Filosofia ocidental. Fonte: Youtube multimídia: vídeo Consciência de Sócrates - José Ribeiro Fonte: Youtube multimídia: música Sócrates (1971) Com direção do italiano Roberto Rossellini, esta produção europeia é a cinebiografia do filósofo Sócrates, em especial seu julgamento e sua condenação à morte. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 15 Nesse momento, Platão salienta que a alma é eterna. Para o filósofo Platão, a concepção de mimesis significa “imi- tação”. Nesse momento, o pensador faz uma separação do conhecimento e da arte, pautando a filosofia como o conhe- cimento baseado na verdade, enquanto a arte se postula na reprodução, na imitação, de modo a construir uma posição de superioridade e inferioridade entre esses elementos. Sócrates: (...) ora, diz-me: aprender não é tornar-se mais sábio acerca daquilo que se aprende? Teeteto: Como não? Sócrates: E é pela sabedoria, eu penso, que os sábios são sábios. Teeteto: Sim. Sócrates: E isto difere em algo do conhecimento? Teeteto: Isto o quê? Sócrates: A sabedoria. Ou será que os que conhecem tais coisas não são sábios? Teeteto: Como não? Sócrates: Então são o mesmo, o conhecimento e a sabedoria?Teeteto: Sim. platão DIAGRAMA DE IDEIAS UM MODO DE INVESTIGAÇÃO MAIÊUTICA QUESTIONA OS VÍCIOS E A CORRUPÇÃO É PRECISO COMPREENDER O INDIVÍDUO É CONDENADO À MORTE SÓCRATES CRÍTICO AOS SOFISTAS O CONHECIMENTO É EPISTEME PLATÃO FUNDA A ACADEMIA TUDO SABEMOS, SÓ PRECISAMOS RELEMBRAR ATO DA REMINISCÊNCIA A FILOSOFIA DE ATENAS 16 teeteto. 1903. [145d-e] aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. O surgimento da Filosofia entre os gregos está asso- ciado à passagem do pensamento mítico ao pensamen- to racional. A grande preocupação nesse momento era com questões: a) à história. b) à tristeza humana. c) ao cosmo. d) à religião. e) à política. 2. Sócrates inaugurou o período clássico da filosofia gre- ga, também chamado de período antropológico. O pro- blema do conhecimento passou a ser uma problemática central na filosofia socrática, pois “a briga” de Sócrates com os sofistas tinha por objetivo resgatar o amor pela sabedoria e a valorização pela busca da verdade. Nesse contexto, Sócrates inaugurou seu método que se funda- mentava em dois princípios básicos, que são: a) a indução e a dedução das verdades lógicas. b) a doxa e o logos convergindo para o conceito racional. c) a ironia e a maiêutica enquanto caminhos para conhecer a verdade através do autoconhecimento (conhecer-te a ti mesmo). d) o diálogo e a dúvida dialética. e) a amizade e a justiça social. 3. (UFU) A relação entre mito e filosofia é objeto de po- lêmica entre muitos estudiosos ainda hoje. Para alguns, a filosofia nasceu da ruptura com o pensamento mítico (teoria do “milagre grego”); para outros, houve uma continuidade entre mito e filosofia, ou seja, de alguma forma os mitos continuaram presentes – seja como for- ma, seja como conteúdo – no pensamento filosófico. A partir destas informações, assinale a alternativa que não contenha um exemplo de pensamento mítico no pensamento filosófico. a) Parmênides afirma: “Em primeiro lugar, criou (a di- vindade do nascimento ou do amor) entre todos os deuses, a Eros (...)”. b) Platão propõe algumas teses, como a teoria da re- miniscência e a transmigração das almas. c) Heráclito afirma: “As almas aspiram o aroma do Hades”. d) Aristóteles divide a ciência em três ramos: o teoré- tico, o prático e o poético. 4. (PUC) Leia os enunciados abaixo a respeito do pensa- mento filosófico de Sócrates. I. O texto “Apologia de Sócrates”, cujo autor é Platão, apresenta a defesa de Sócrates diante das acusações dos atenienses, especialmente os sofistas, entre os quais está Meleto. II. Sócrates dispensa a ironia como método para re- futar as acusações e calúnias sofridas no processo de seu julgamento. III. Entre as acusações que Sócrates recebe, está a de “cor- romper a juventude”. IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e ter- renas, a não acreditar nos deuses e a tornar mais forte a razão mais débil. V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e resolutos e, em grande número, falam de forma persuasiva e persistente contra ele. Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirmativas corretas. a) II, IV e V. b) I, III e IV. c) I, III e V. d) II, III e V. e) I, II e III. 5. (Unicamp) Apenas a procriação de filhos legítimos, embora essencial, não justifica a escolha da esposa. As ambições políticas e as necessidades econômicas que as subentendem exercem um papel igualmente podero- so. Como demonstraram inúmeros estudos, os dirigen- tes atenienses casam-se entre si, e geralmente com o parente mais próximo possível, isto é, primos coirmãos. É sintomático que os autores antigos que nos informam sobre o casamento de homens políticos atenienses omi- tam os nomes das mulheres desposadas, mas nunca o nome do seu pai ou do seu marido precedente. corbin, alain; et al. história da Virilidade. Vol. 1. petrópolis: VoZes, 2014, p. 62. Considerando o texto e a situação da mulher na Atenas clássica, podemos afirmar que se trata de uma sociedade: a) na qual o casamento também tem implicações po- líticas e sociais. b) que, por ser democrática, dá uma atenção especial aos direitos da mulher. c) em que o amor é o critério principal para a forma- ção de casais da elite. d) em que o direito da mulher se sobrepõe ao interes- se político e social. 6. (UEA) “O sofista” é um diálogo de Platão do qual par- ticipam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estran- geiro a que método ele gostaria de recorrer para definir o que é um sofista. Sócrates: Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese que queres demonstrar, numa longa exposição ou em- pregar o método interrogativo? Estrangeiro: Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócrates, o método mais fácil é esse mesmo; com um in- terlocutor. Do contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo. platão. “o soFista”. 1970 (adaptado). 17 É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto de vista metodológico, adotar: a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos. b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores. c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por meio dos sentidos. d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão huma- na na prova de existência de Deus. e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possi- bilidade do saber humano. 7. (UFU) O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar os seus ensinamentos sob a forma de perguntas e res- postas. Sócrates considerava o diálogo como a forma por excelência do exercício filosófico e o único caminho para chegarmos a alguma verdade legítima. De acordo com a doutrina socrática: a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da filosofia. b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica. c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística. d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas hu- manos é sanada pelo homem, medida de todas as coisas. 8. (Unicamp) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de par- tida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância. O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois: a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos. b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos. c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Fi- losofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos. d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas abstratas. 9. (UEL) Para esclarecer o que seja a imitação, na re- lação entre poesia e o Ser, no Livro X de A República, Platão parte da hipótese das ideias, as quais designam a unidade na pluralidade, operada pelo pensamento. Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua arte, cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa, como modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa e não a sua ideia. O poeta pertence à mesma categoria: cria um mundo de mera aparência. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria das ideias de Platão, é correto afirmar: a) Deus é o criador último da ideia, e o artífice, en- quanto coparticipante da criação divina, alcança a verdadeira causa das coisas, a partir do reflexo da ideia ou do simulacro que produz. b) A participação das coisas às ideias permite admi- tir as realidades sensíveis como as causas verdadeiras acessíveis à razão. c)Os poetas são imitadores de simulacros e, por in- termédio da imitação, não alcançam o conhecimento das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas. d) As coisas belas se explicam por seus elementos fí- sicos, como a cor e a figura, e na materialidade deles encontram sua verdade: a beleza em si e por si. e) A alma humana possui a mesma natureza das coi- sas sensíveis, razão pela qual se torna capaz de co- nhecê-las como tais na percepção de sua aparência. 10. (FCC) Sócrates é um dos personagens mais conheci- dos e influentes do pensamento ocidental. Embora não tenha deixado nada escrito, suas ideias foram redigidas por um de seus discípulos, Platão, que lhe atribui a se- guinte máxima: “a única coisa que sei é que nada sei”. Com essa máxima, Sócrates expressa que o caminho do conhecimento a) é impossível e todo o saber possível é uma ilusão. b) depende da experiência e não de proposições teóricas. c) desconsidera a opinião sobre assunto que se ignora. d) pressupõe dar opinião sobre assunto que se ignora. e) é limitado porque a razão humana não pode saber tudo. gabarito 1-C; 2-C; 3-D; 4-B; 5-A; 6-A; 7-A; 8-A; 9-C; 10-E 18 1. o mundo das ideias Platão apresenta que o conhecimento é elaborado quando o indivíduo alcança a ideia, rompendo com as aparências, enquanto que a opinião nasce da percepção da aparência. Nesse instante, o filósofo compreende uma separação en- tre dois mundos: o mundo inteligível e o mundo sensível. § Mundo inteligível: o filósofo encontra os elementos com o olhar da ciência. § Mundo sensível: o homem vê as coisas não muito claramente. Diante disso, existe um mundo conceitual, onde existem as ideias dos elementos que constituem o mundo o qual conhecemos. Como exemplo, podemos imaginar um carro branco estacionado na esquina; cada indivíduo vai acabar elaborando uma ideia fixa desse tal carro branco, algo semelhante a uma ideia primária. Desse modo, o mundo inteligível (conceitual) existe de uma forma anterior e mais efetiva do que no mundo sensível. Com essa concepção, Platão questiona a realidade do mundo sensível, pois esse universo está em constante transformação, o que nos leva ao mundo das incertezas. 2. alegoria da caverna Segundo Platão, o filósofo é o sujeito que consegue enxer- gar as coisas mais claramente do que as outras pessoas. Para ilustrar essa ideia, surge a alegoria da caverna, conti- do no Livro VII de A República: Um grupo de pessoas acorrentado numa caverna só vê sombras e julga que elas são a realidade. Um homem consegue escapar das correntes e sai da ca- verna. Lá fora, ele vê um mundo bem diferente, o mundo MIto da caverna CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 AULA 3 Matrix (1999) O filme trata de descrever um futuro distópi- co na realidade, sendo uma realidade simula- da, chamada de matrix, que é um sistema de computador que manipula a mente das pes- soas. Na área filosófica, o filme apresenta um eixo central baseado na alegoria da caverna. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 19 real. Ele volta à caverna para contar a novidade ao resto das pessoas, porém, ofuscado pela luz (da verdade), parece abobado. Com isso, os outros prisioneiros não acreditam na sua versão maluca e acabam matando o pobre infeliz. 2.1. A felicidade, segundo Platão Para o filósofo grego Platão, o conceito de felicidade con- sistia no resultado final de uma vida dedicada a um conhe- cimento progressivo. Numa valorização pelo conhecimen- to, Platão vai interligar a felicidade com a ciência. Dessa maneira, o homem só atingirá a felicidade quando abandonar o mundo sensível em direção ao mundo inteli- gível. Isso ocorre, pois no mundo inteligível estão as ideias perfeitas, como a beleza, a coragem, a justiça e a felicidade. O mito da caverna: Platão multimídia: vídeo 2.2. Política Para o filósofo, todos os tipos de governo existentes no mundo são degenerados por natureza, pois a sua forma original tende a ter uma versão degenerada, como pode- mos observar abaixo. Forma original Forma degenerada Aristocracia Oligarquia Monarquia Tirania Democracia Anarquia Diante disso, Platão defende que o melhor sistema de gover- no deveria ser a monarquia, associada com o saber filosófico, visto que somente indivíduos que detêm o conhecimento po- dem efetuar com melhor desempenho para o coletivo, sem sofrerem as interferências do pensar e agir particular. Sendo assim, os melhores governantes seriam os reis-filósofos. Platão. Coleção “Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1999. Nessa obra, o filósofo ateniense trata de diversos temas filosóficos, sociais e políti- cos, que se demonstram entrelaçados. multimídia: livro Sombras da caverna Dead Fish. Ponto Cego. Desk, 2019 Fonte: Youtube multimídia: música Merlí (Espanha, 2015, Netflix) – temporada 1, episódio 2 O novo professor de Filosofia do Ensino Mé- dio, Merlí, utiliza de alguns métodos diferen- tes de ensino, conseguindo abrir a mente de seus alunos e trabalhar os preconceitos inter- nos de cada um. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 20 Sócrates: Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro em que laboravam. Imag- inemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via. Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados? Glauco: Sem dúvida nenhuma. Sócrates: Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos do- loridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as con- sideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados? Glauco: Certamente. Sócrates: Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando es- tivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais? Glauco: A princípio nada veria. Sócrates: Precisaria de algum tempo para se afazer à clari- dade da região superior. Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia. platão a república DIAGRAMA DE IDEIAS MITO DA CAVERNA ALEGORIA PARA ILUSTRAR QUE POUCOS ALCANÇAM O MUNDO INTELIGÍVEL MUNDO DAS IDEIAS MUNDO INTELIGÍVEL RAZÃO MUNDO SENSÍVEL SOMBRAS POLÍTICA TODOS OS TIPOS DE GOVERNOS SÃO DEGENERADOS POR NATUREZA FORMA ORIGINAL FORMA DEGENERADA ARISTOCRACIA OLIGARQUIA MONARQUIA TIRANIA DEMOCRACIA ANARQUIA PLATÃO 21 aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Uncisal) No contexto da Filosofia clássica, Platão e Aristóteles possuem lugar de destaque. Suas concep- ções, que se opõem, mas não se excluem, são ampla- mente estudadas e debatidas devido à influência que exerceram, e ainda exercem, sobre o pensamento oci- dental. Todavia, é necessário salientar que o produto dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e que influenciou, direta ou indiretamente, entre outros, os racionalistas, empiristas, Kant e Hegel. Observando o cerne da filosofia de Platão, assinale nas opções abaixo aquela que se identifica corretamente comsuas concepções. a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível vs. mundo inteligível) se opõe radicalmente às concepções de caráter empírico defendidas por Platão. b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo e pragmatismo, afastando-se do misticismo e de con- ceitos transcendentais. c) Segundo Platão, a verdade é obtida a partir da observação das coisas, por meio da valorização do conhecimento sensível. d) Para Platão, a realidade material e o conhecimento sensível são ilusórios. e) As concepções platônicas negam veementemente a validade do inatismo. 2. (Unisc) Nos Livros II e III, Platão, através de Sócrates, discute sobre as artes no contexto da educação dos guar- diães. Já no Livro X, ele trata de vários tipos de práticas artísticas, que devem ser consideradas na cidade como um todo, não somente nas instituições pedagógicas. Nesse úl- timo livro, Sócrates é duro ao afirmar que a poesia (imi- tativa) deve ser inteiramente excluída da cidade (595a). Em que obra essa recusa de Sócrates está registrada? a) No diálogo “Banquete”, de Platão, em que Sócra- tes trata dos diversos tipos de arte. b) No diálogo “Teeteto”, de Platão, em que Sócra- tes e esse personagem discutem sobre a natureza da arte, especialmente da poesia. c) No diálogo “Timeu”, de Platão, em que Sócrates discorre sobre o tema da arte, reportando-se à natu- reza da pintura e da poesia. d) No diálogo “Político”, de Platão, em que Sócrates apresenta a arte da política aos cidadãos atenienses. e) No diálogo “República”, de Platão, no qual Sócrates afir- ma que a poesia pode levar à corrupção do caráter humano. 3. (Uenp) Platão foi um dos filósofos que mais influen- ciaram a cultura ocidental. Para ele, a filosofia tem um fim prático e é capaz de resolver os grandes problemas da vida. Considera a alma humana prisioneira do corpo, vivendo como se fosse um peregrino em busca do cami- nho de casa. Para tanto, deveria transpor os limites do corpo e contemplar o inteligível. Assinale a alternativa correta. a) A teoria das ideias não pode ser considerada uma chave de leitura aplicável a todo pensamento platônico. b) Como Sócrates, Platão desenvolveu uma ética racio- nalista que desconsiderava a vontade como elemento fundamental entre os motivadores da ação. Ele acredi- tava que o conhecimento do bem era suficiente para motivar a conduta de acordo com essa ideia (agir bem). c) Platão propõe um modelo de organização política da sociedade que pode ser considerado estamental e anti- democrático. Para ele, o governo não deveria se pautar pelo princípio da maioria. As almas têm natureza diver- sa, de acordo com sua composição, isso faz com que os homens devam ser distribuídos de acordo com essa natureza, divididos em grupos encarregados do governo, do controle e do abastecimento da polis. d) Platão chamava o conhecimento da verdade de doxa e o contrapõe a outra forma de conhecimento (inferior) denominada episteme. e) Para Platão, a essência das coisas é dada a partir da análise de suas causas material e final. 4.(UEL) Platão, em A República, tem como objetivo principal investigar a natureza da justiça, inerente à alma, que, por sua vez, manifesta-se como pro- tótipo do Estado ideal. Os fundamentos do pensa- mento ético-político de Platão decorrem de uma correlação estrutural com constituição tripartite da alma humana. Assim, concebe uma organização social ideal que permite assegurar a justiça. Com base neste contexto, o foco da crítica às narrativas poéticas, nos Livros II e III, recai sobre a cidade e o tema fundamental da educação dos governantes. No Livro X, na perspectiva da defesa de seu projeto ético-político para a cidade fundamentada em um logos crítico e reflexivo que redimensiona o papel da poesia, o foco desta crítica se desloca para o in- divíduo ressaltando a relação com a alma, compre- endida em três partes separadas, segundo Platão: a racional, a apetitiva e a irascível. Com base no texto e na crítica de Platão ao caráter mimético das narrativas poéticas e sua relação com a alma humana, é correto afirmar: a) A parte racional da alma humana, considerada superior e responsável pela capacidade de pensar, é elevada pela natureza mimética da poesia à contemplação do Bem. b) O uso da mímesis nas narrativas poéticas para controlar e dominar a parte irascível da alma é considerado exce- lente prática propedêutica na formação ética do cidadão. c) A poesia imitativa, reconhecida como fonte de racionalidade e sabedoria, deve ser incorporada ao Estado ideal que se pretende fundar. d) O elemento mimético cultivado pela poesia é jus- tamente aquele que estimula, na alma humana, os elementos irracionais: os instintos e as paixões. e) A reflexividade crítica presente nos elementos mi- méticos das narrativas poéticas permite ao indivíduo alcançar a visão das coisas como realmente são. 22 5. (Unesp) O que é terrível na escrita é sua semelhança com a pintura. As produções da pintura apresentam- -se como seres vivos, mas se lhes perguntarmos algo, mantêm o mais solene silêncio. O mesmo ocorre com os escritos: poderíamos imaginar que falam como se pen- sassem, mas se os interrogarmos sobre o que dizem (...) dão a entender somente uma coisa, sempre a mesma (...). E quando são maltratados e insultados, injustamen- te, têm sempre a necessidade do auxílio de seu autor porque são incapazes de se defenderem, de assistirem a si mesmos. platão. Fedro ou da beleZa. Nesse fragmento, Platão compara o texto escrito com a pintura, contrapondo-os à sua concepção de filoso- fia. Assinale a alternativa que permite concluir, com apoio do fragmento apresentado, uma das principais características do platonismo. a) Platão constrói o conhecimento filosófico por meio de pequenas sentenças com sentido completo, as quais, no seu entender, esgotam o conhecimento acerca do mundo. b) A forma de exposição da filosofia platônica é o diálogo, e o conhecimento funda-se no rigor interno das argumentações, produzido e comprovado pela confrontação dos discursos. c) O platonismo se vale da oratória política, sem com- promisso filosófico com a busca da verdade, mas diri- gida ao convencimento dos governantes das Cidades. d) A poesia rimada é o veículo de difusão das ideias platônicas, sendo a filosofia uma sabedoria alcança- da na velhice e ensinada pelos mestres aos discípulos. e) O discurso platônico tem a mesma natureza do dis- curso religioso, pois o conhecimento filosófico modifi- ca-se segundo as habilidades e a argúcia dos filósofos. 6. (UFPI) A respeito da cultura grega, leia as sínteses filosóficas abaixo. I. A ciência, a moral e os credos religiosos eram criações humanas válidas para determinados grupos sociais em um determinado período. II. Sua principal contribuição filosófica foi a Teoria das Ideias, segundo a qual as ideias são a essência dos con- ceitos e das coisas e, portanto, transcendentes ao homem, que delas tem apenas um pálido reflexo. III. Defendia a existência de um conhecimento estável e válido para todos. Sua grande preocupação era o auto- conhecimento que poderia ser obtido através da ironia e da maiêutica. As sínteses que você acabou de ler podem ser associa- das, respectivamente, a: a) Platão, Aristóteles e Sócrates. b) Platão, sofistas e Aristóteles. c) Sócrates, sofistas e Platão. d) sofistas, Platão e Sócrates. e) Platão, sofistas e Sócrates. 7. (IFSP) – Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio que de entrada estabelecemos que devia observar-se em todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das suas formas, a justiça. Ora nós estabelecemos, segundo suponho, e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lem- bras, que cada um deve ocupar-se de uma função na ci- dade, aquela para qual a sua natureza é mais adequada. platão. a república. 7. ed. lisboa: calouste-gulbenKian, 2001, p. 185. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a con- cepção platônica de justiça na cidade ideal, assinale a alternativacorreta. a) Para Platão, a cidade ideal é a cidade justa, ou seja, a que respeita o princípio de igualdade natural entre todos os seres humanos, concedendo a todos os indivíduos os mesmos direitos perante a lei. b) Platão defende que a democracia é fundamento essencial para a justiça, uma vez que permite a todos os cidadãos o exercício direto do poder. c) Na cidade ideal platônica, a justiça é o resultado natural das ações de cada indivíduo na perseguição de seus interesses pessoais, desde que esses interes- ses também contribuam para o bem comum. d) Para Platão, a formação de uma cidade justa só é possível se cada cidadão executar, da melhor maneira possível, a sua função própria, ou seja, se cada um fizer bem aquilo que lhe compete, segundo suas aptidões. e) Platão acredita que a cidade só é justa se cada membro do organismo social tiver condições de per- seguir seus ideais, exercendo funções que promovam sua ascensão econômica e social. 8. (UEL) Leia os textos a seguir. “A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo fato de atingir apenas uma peque- na porção de cada coisa, que não passa de uma aparição.” platão. a república. 7.ed. lisboa: calouste- gulbenKian, 1993. p. 457 (adaptado). “O imitar é congênito no homem e os homens se compra- zem no imitado.” aristóteles. poética. 4. ed. são paulo: noVa cultural, 1991. p. 203. coleção “os pensadores” (adaptado). Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética e a questão da mimesis em Platão e Aristóteles, assinale a alternativa correta. a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomê- nicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequa- do e inferior, tanto em relação aos objetos representados quanto às ideias universais que os pressupõem. b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pintores e escultores representam perfeitamente a verdade e a essência do plano inteligível, sendo a ati- vidade do artista um fazer nobre, imprescindível para o engrandecimento da pólis e da filosofia. c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restrin- ge à reprodução de objetos existentes, o que veda o 23 poder do artista de invenção do real e impossibilita a função caricatural que a arte poderia assumir ao apresentar os modelos de maneira distorcida. d) Aristóteles concebe a mimesis artística como uma atividade que reproduz passivamente a aparência das coisas, o que impede ao artista a possibilidade de re- criação das coisas segundo uma nova dimensão. e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação e entende que a música, o teatro e a poesia são incapazes de provocar um efeito benéfico e purificador no espectador. 9. (Enem) No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o co- nhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a: a) suspensão do juízo como reveladora da verdade. b) realidade inteligível por meio do método dialético. c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus. d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino. e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade. 10. (Enem) Trasímaco estava impaciente porque Sócra- tes e os seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu enten- der, as pessoas acreditavam no certo e no errado ape- nas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam de invenções humanas. rachels, J. probleMas da FilosoFia. lisboa: gradiVa, 2009. O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálo- go A República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e ética é resultado de a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana. b) verdades objetivas com fundamento anterior aos in- teresses sociais. c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições antigas. d) convenções sociais resultantes de interesses humanos contingentes. e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes humanas. 11. (UFU) Leia o trecho abaixo extraído do diálogo pla- tônico O banquete. Eis, com efeito, em que consiste o proceder corretamente nos caminhos do amor, ou por outro se deixar conduzir: em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo. platão. o banquete. são paulo: editora 34, p. 147. Em conformidade com a teoria platônica das ideias, responda: a) As afirmações “do que é belo aqui” e “em vista daquele belo” designam o quê, respectivamente? b) Que ciência é esta que se encarrega “daquele pró- prio belo” e conhece “enfim o que é em si belo”? gabarito 1-D; 2-E; 3-C; 4-D; 5-B; 6-D; 7-D; 8-A; 9-B; 10-D 11. a) A afirmação “do que é belo aqui” designa o mundo sensível ou dos sentidos, aquele caracterizado pela doxa (opi- nião) e que possui caráter transitório, imperfeito e perecível, sendo uma cópia do mundo inteligível ou das ideias. Já a afirmação “em vista daquele belo” refere-se ao mundo das ideias ou formas, o inteligível, das essências eternas, imutá- veis e perfeitas. b) Esta ciência é a dialética. Nesse caso, a dialética significa o processo de busca e aquisição do conhecimento verda- deiro ou o percurso da alma que vai das aparências ou “sombras” do mundo sensível até as essências ou formas puras do mundo inteligível, culminando na ideia do Bem, a mais perfeita e causa de todas as outras. 24 1. aristóteles (384-323 a.c.) Aristóteles foi o último e mais influente dos grandes filóso- fos gregos. Nascido em Estagira, atual Grécia, foi mandado por seu pai à Academia de Platão, onde permaneceu por cerca de 20 anos. Depois, viajou muito e começou a desen- volver e a sistematizar as suas próprias ideias. Tornou-se o crítico mais feroz do pensamento platônico. Em 343 a.C., Filipe da Macedônia chamou Aristóteles à corte e confiou-lhe importante missão: a de educar seu fi- lho, Alexandre. Durante sete anos, o filósofo encarregou-se dessa missão, até a subida do jovem Alexandre ao poder. O jovem imperador da Macedônia, já ganhando as titula- ções de senhor do mundo conhecido, mencionou que “Se a meu pai devo a minha existência, a meu preceptor devo à arte de me saber conduzir. Se governo com alguma glória, a ele sou devedor”. aleXandre, o grande, Foi educado por aristóteles. Grandes Pensadores: Aristóteles Aristóteles é considerado o primeiro cientista da História. Fonte: Youtube multimídia: vídeo Com a subida de Alexandre ao poder, Aristóteles retornou a Atenas e, em 335 a.C., fundou sua própria escola, o Li- ceu, que foi muito superior à Academia. Aristóteles ensi- nava caminhando e, por causa desse hábito, os alunos do Liceu ficaram conhecidos como peripatéticos, que significa “os que passeiam”. O filósofo deixou muitos escritos, sendo a maioria tratados bem fundamentados. Foi o primeiro a dividir e subdividir áre- as de investigação, sendo o primeiro a fazer uma classifica- ção do conhecimento, de modo que versou perante diferen- tes áreas, como biologia, retórica, lógica, ética, dentre outras. representação de platão (à esquerda, apontando para ciMa) e de aristóteles (que aponta para baiXo) Ação e Razão – Aristóteles Marco Zingano, professor da Faculdade de Filosofia da USP, trata das origens do concei- to de razão na filosofia clássica ateniense. Fonte: Youtube multimídia: vídeo arIstótelesAULA 4 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 25 A crítica para Platão consiste em analisar corretamente os fenômenos da natureza, indo além da superficialidade in- teligível, construindo uma nova concepção de conhecimen- to. Entre seus textos temos: § A Física: a relaçãodos quatro elementos (terra, água, ar e fogo) com o planeta Terra. Seus princípios não são corretos, de modo que não descrevem nada com exati- dão. Porém, essas estruturas auxiliaram outros experi- mentos e tecnologias, com o método científico. § A Metafísica: textos compilados que foram batizados após a morte do filósofo por seu discípulo, Andrônico de Rodes. Aristóteles trata da ciência das causas pri- meiras do ser enquanto ser geral. O filósofo define qua- tro causas das coisas: 1. causa formal (a forma da coisa); 2. causa material (matéria de que uma coisa é feita); 3. causa eficiente (a origem da coisa); e 4. causa final (a finalidade do objeto). Podemos utilizar como exemplo a obra O pensador, do es- cultor francês Auguste Rodin. A causa formal é o formato dessa obra, de um homem sentado; a causa material é o bronze; a causa eficiente é o escultor Rodin; e a causa final é a significação da obra. § Ética a Nicômaco: neste texto direcionado ao seu fi- lho, Nicômaco, Aristóteles apresenta que a ética é algo palpável, não sendo um elemento abstrato. Seguindo a teoria da justa-medida, ou seja, do equilíbrio, o filósofo apresenta que, ao seguirmos esse equilíbrio em nossos atos particulares, conseguimos atingir a felicidade, sen- do que existe uma inclinação para essa finalidade últi- ma do ser humano. Entretanto, o conceito de felicidade varia de indivíduo para indivíduo e de como é sua vida. Para o filósofo, existem três tipos de vida: 1. vida dos prazeres: onde o ser se torna refém daquilo que deseja; 2. vida política: onde o ser busca a honra pelo conven- cimento; e 3. vida contemplativa: onde o ser busca os elementos dentro de si, o prazer intelectual – essa vida contém a essência da felicidade. § A Lógica: a lógica não é uma ciência, mas um instrumen- to para o correto pensar. Aristóteles disse que o bloco de construção básico de qualquer argumento era o silogismo; constituído por premissas e uma conclusão, desenvolven- do um primeiro estudo da linguagem de argumentação baseada na coerência lógica. Logo, a lógica assim se torna uma ferramenta na busca do conhecimento. Todos os homens são mortais. • premissa 1 Sócrates é mortal. • premissa 2 Logo, Sócrates é mortal. • conclusão § Arte Poética: o filósofo, na Poética, examina as formas de poesia – epopeia, comédia e tragédia –, que tentam imi- tar a realidade, porém, de modos diferentes. A poesia é o gênero literário que mais se aproxima da filosofia, pois tende para o conhecimento do universal, que é o objetivo máximo da filosofia. § Arte Política: o homem é um animal político – politi- kón zoón – que vive naturalmente em sociedade. Ao tratar do tema em Política, Aristóteles, ao contrário de Platão, não se interessa por idealizar uma cidade justa. Ele classifica as formas de governo em três: o governo de um só indivíduo (monarquia), de alguns (aristocracia) e de todos (democracia). Cada um desses regimes políticos apresenta vantagens e des- vantagens, formas boas e corrompidas. Diante desse estudo, Aristóteles não questionou a escravidão e achava as mulheres despreparadas para a liberdade e para os direitos políticos. § A Arte: o filósofo entende que o Belo é o resultado da jus- ta-medida, da simetria. Assim, o Belo faz parte do ser humano, podendo imitar a natureza, mas também abordar o impossível e o inverossímil, podendo completar o que falta na natureza. Ética a Nicômaco Aristóteles. São Paulo: Martin Claret, 2008. Fonte: Youtube multimídia: vídeo 26 Happiness Needtobreathe. Hard Love. Atlantic, 2016 A canção questiona as nossas escolhas na busca da felicidade. Fonte: Youtube multimídia: vídeo Essas considerações tornam evidente que a cidade é uma realidade natural e que o homem é, por natureza, um ani- mal político (politikón zoón). E aquele que, por natureza e não por mero acidente, não faz parte de uma cidade é ou um ser degradado ou um ser superior ao homem; ele é como aquele a quem Homero censura por ser sem clã, sem lei e sem lar; um tal homem é, por natureza, ávido de combates, e é como uma peça isolada no jogo de damas. É evidente, assim, a razão pela qual o homem é um animal político em grau maior que as abelhas ou todos os outros animais que vivem reunidos. Dizemos, de fato, que a natu- reza nada faz em vão, e o homem é o único entre todos os animais a possuir o dom da fala. (...) só ele sabe discernir o bem e o mal, o justo e o injusto, e os outros sentimentos da mesma ordem; ora, é precisamente a posse comum desses sentimentos que engendra a família e a cidade. (...) o homem que é incapaz de viver em comunidade, ou que disso não tem necessidade porque basta-se a si pró- prio, não faz parte de uma cidade e deve ser, portanto, um bruto ou um deus. aristóteles arte política. liVro i DIAGRAMA DE IDEIAS ARISTÓTELES NOVA CONCEPÇÃO DO CONHECIMENTO • RETÓRICA • FÍSICA • METAFÍSICA • LÓGICA • POÉTICA NA BUSCA DO BEM O SER HUMANO PRECISA BUSCAR A JUSTA MEDIDA O EQUILÍBRIO EM TODOS OS CAMPOS 27 aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Enem) A felicidade é, portanto, a melhor, a mais no- bre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existen- te em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade. aristóteles. a política. são paulo: cia. das letras, 2010. Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais exce- lentes atributos, Aristóteles a identifica como a) a busca por bens materiais e títulos de nobreza. b) a plenitude espiritual e ascese pessoal. c) a finalidade das ações e condutas humanas. d) o conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. e) a expressão do sucesso individual e reconheci- mento público. 2. (Enem) Segundo Aristóteles, “na cidade com o me- lhor conjunto de normas e naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios – esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais –, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas”. Van acKer, t. grécia: a Vida cotidiana na cidade- estado. são paulo: atual. 1994. O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, per- mite compreender que a cidadania a) possui uma dimensão histórica que deve ser criti- cada, pois é condenável que os políticos de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de trabalhar. b) era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma concepção política profundamente hierarquizada da sociedade. c) estava vinculada, na Grécia antiga, a uma percep- ção política democrática, que levava todos os habi- tantes da polis a participarem da vida cívica. d) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais. e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se dedicavam à política e que tinham tempo para resolver os problemas da cidade. 3. (Enem) Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande influência sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cadacidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano. aristóteles. ética a nicôMaco. ln: pensadores. são paulo: noVa cultural, 1991 (adaptado). Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organi- zação da polis pressupõe que a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perse- guir seus interesses. b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade. c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade. d) a educação visa formar a consciência de cada pes- soa para agir corretamente. e) a democracia protege as atividades políticas neces- sárias para o bem comum. 4. (Enem) Ninguém delibera sobre coisas que não po- dem ser de outro modo, nem sobre as que lhe é im- possível fazer. Por conseguinte, como o conhecimento científico envolve demonstração, mas não há demons- tração de coisas cujos primeiros princípios são variáveis (pois todas elas poderiam ser diferentemente), e como é impossível deliberar sobre coisas que são por neces- sidade, a sabedoria prática não pode ser ciência, nem arte: nem ciência, porque aquilo que se pode fazer é capaz de ser diferentemente, nem arte, porque o agir e o produzir são duas espécies diferentes de coisa. Resta, pois, a alternativa de ser ela uma capacidade verdadei- ra e raciocinada de agir com respeito às coisas que são boas ou más para o homem. aristóteles. ética a nicôMaco. são paulo: abril cultural, 1980. Aristóteles considera a ética como pertencente ao cam- po do saber prático. Nesse sentido, ela difere-se dos ou- tros saberes, porque é caracterizada como a) conduta definida pela capacidade racional de escolha. b) capacidade de escolher de acordo com padrões científicos. c) conhecimento das coisas importantes para a vida do homem. d) técnica que tem como resultado a produção de boas ações. e) política estabelecida de acordo com padrões de- mocráticos de deliberação. 28 5. (UFPA) Tendemos a concordar que a distribuição iso- nômica do que cabe a cada um no estado de direito é o que permite, do ponto de vista formal e legal, dar esta- bilidade às várias modalidades de organizações institu- ídas no interior de uma sociedade. Isso leva Aristóteles a afirmar que a justiça é “uma virtude completa, porém não em absoluto e sim em relação ao nosso próximo” aristóteles. ética a nicôMaco. são paulo: abril cultural, 1973, p. 332. De acordo com essa caracterização, é correto dizer que a função própria e universal atribuída à justiça, no es- tado de direito, é: a) conceber e aplicar, de forma incondicional, ideias racionais com poder normativo positivo e irrestrito. b) instituir um ideal de liberdade moral que não existiria se não fossem os mecanismos contidos nos sistemas jurídicos. c) determinar, para as relações sociais, critérios legais tão universais e independentes que possam valer por si mesmos. d) promover, por meio de leis gerais, a reciprocidade entre as necessidades do Estado e as de cada cidadão individualmente. e) estabelecer a regência na relação mútua entre os ho- mens, na medida em que isso seja possível por meio de leis. 6. (UFU) Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão “ser segundo a potência e o ato”, indicam-se dois mo- dos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opos- tos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potência até mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato. reale, gioVanni. história da FilosoFia antiga. Vol. ii. são paulo: loYola, 1994, p. 349. A partir da leitura do trecho acima e em conformidade com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale a alternativa correta. a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capaci- dade de se transformar em algo diferente dele mes- mo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em relação à estátua (ser-em-potência). b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência explica o movimento percebido no mundo sensível. Tudo o que possui matéria possui potencialidade (ca- pacidade de assumir ou receber uma forma diferente de si), que tende a se atualizar (assumindo ou rece- bendo aquela forma). c) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o ser-em-ato. Isto ocorre porque o movimento verifi- cado no mundo material é apenas ilusório, e o que existe é sempre imutável e imóvel. d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo sensível (das coisas materiais) e a potência se en- contra tão-somente no mundo inteligível, apreendido apenas com o intelecto. 7. (Enem) Texto I Aquele que não é capaz de pertencer a uma comunidade ou que dela não tem necessidade, porque se basta a si mesmo, não é em nada parte da cidade, embora seja quer um animal, quer um deus. aristóteles. a política. são paulo: Martins Fontes, 2002. Texto II Nenhuma vida humana, nem mesmo a vida de um eremita em meio à natureza selvagem, é possível sem um mundo que, direta ou indiretamente, testemunhe a presença de outros seres humanos. arendt, h. a condição huMana. rio de Janeiro: Forense, 1995. Associados a contextos históricos distintos, os fragmen- tos convergem para uma particularidade do ser humano, caracterizada por uma condição naturalmente propensa à a) atividade contemplativa. b) produção econômica. c) articulação coletiva. d) criação artística. e) crença religiosa. 8. (UEA) A sabedoria do amo consiste no emprego que ele faz dos seus escravos; ele é senhor, não tanto por- que possui escravos, mas porque deles se serve. Esta sabedoria do amo nada tem, aliás, de muito grande ou de muito elevado; ela se reduz a saber manda o que o escravo deve saber fazer. Também todos que a ela se podem furtar deixam os seus cuidados a um mordomo, e vão se entregar à política ou à filosofia. aristóteles. a política. são paulo: cia. das letras, 2010. O filósofo Aristóteles dirigiu, na cidade grega de Atenas, entre 331 e 323 a.C., uma escola de filosofia chamada de Liceu. No excerto, Aristóteles considera que a escravidão: a) é um empecilho ao florescimento da filosofia e da política democrática nas cidades da Grécia. b) permite ao cidadão afastar-se de obrigações econômi- cas e dedicar-se às atividades próprias dos homens livres. c) facilita a expansão militar das cidades gregas à me- dida que liberta os cidadãos dos trabalhos domésticos. d) é responsável pela decadência da cultura grega, pois os senhores preocupavam-se somente em domi- nar os escravos. e) promove a união dos cidadãos das diversas pólis gregas no sentido de garantir o controle dos escravos. 9. (Unioeste) “A excelência moral, então, é uma dispo- sição da alma relacionada com a escolha de ações e emoções, disposição esta consistente num meio-ter- mo (o meio-termo relativo a nós) determinado pela razão (a razão graças à qual um homem dotado de discernimento o determinaria)”. aristóteles Sobre o pensamento ético de Aristóteles e o texto aci- ma, seguem as seguintes afirmativas: I. A virtude é uma paixão consistente num meio-termo entre dois extremos. 29 II. A ação virtuosa, por estar relacionada com a escolha, é praticada de modo involuntário e inconsciente. III. A virtude é uma disposição da alma relacionada com escolha e discernimento. IV. A virtude é um meio-termo absoluto, determinado pela razão. V. A virtude é um extremo determinado pela razão e pelas paixões de um homem dotado de discernimento. Das afirmativas feitas acima: a) somente a afirmação I está correta. b) somente a afirmação III está correta. c) as afirmações II e III estão corretas. d) as afirmações III e IV estão corretas. e) as afirmações IV e V estão corretas. 10. (UEL) Leia o texto a seguir. A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolhae consiste numa mediania, isto é, a mediania re- lativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. aristóteles. ética a nicôMaco. liVro ii. são paulo: abril cultural, 1973, p. 273. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética: a) reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta. b) implica na escolha do que é conveniente no exces- so e do que é prazeroso na falta. c) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta. d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas. e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos. gabarito 1-C; 2-B; 3-C; 4-A; 5-E; 6-B; 7-C; 8-B; 9-B; 10-A 30 FIlosoFIa MedIevalAULA 5 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 Durante o período que corresponde ao Império Ro- mano e à Idade Média, a filosofia sofreu um processo de reclusão ao acesso popular, estando cada vez mais reservada a poucos nichos intelectuais. Desse modo, entre os séculos V e XV, a filosofia e a religião estive- ram interligadas intimamente, tendo diversas correntes filosófico-católicas que monopolizaram o conhecimento nesse período. durante o período MedieVal, a FilosoFia perManeceu no criVo da igreJa católica. Filosofia medieval STORCK, Alfredo de. São Paulo: Jorge Zahar Editor, 2003. Esse livro oferece um panorama da filosofia no período medieval e analisa sua trans- missão, principais características e formas literárias de expressão, mostrando que ela não se resume à filosofia cristã. multimídia: livro 1. agostinho (354-430 d.c.) Com Agostinho – figura mundana que, já adulto, se con- verteu de livre vontade para o mundo espiritual –, a filo- sofia se mesclou com o cristianismo. Aurelius Augustinus nasceu em Tagaste, atual Argélia, região que fazia parte do Império Romano. Tendo imensa influência dos neoplatônicos – uma es- cola filosófica com doutrina platônica –, Agostinho pro- pôs uma conciliação entre fé e razão. Com a dualidade platônica, o pensador medieval ressaltou que o conhe- cimento se consolida quando o homem tem acesso ao eterno, ao divino, ou seja, tem acesso ao mundo inteli- gível platônico. Quem foi Agostinho? multimídia: vídeo Fonte: Youtube 31 Para o pensador, Deus é eterno, portanto, está fora do tempo; porém, para o homem, o tempo começou quando o mundo foi criado, enquanto para Deus, sempre existiu, num eterno presente. Com o intuito de ilustrar esse procedimento, Agostinho propôs uma cidade de Deus, feita com as virtudes do homem, e uma cidade do Diabo, constituída pelos vícios do ser humano. Essa ideia está contida em sua obra mais famosa, intitulada A cidade de Deus. Nesse instante, o fi- lósofo direciona os hábitos das pessoas, com o intuito de conseguir a iluminação divina, isto é, ter acesso ao mundo inteligível platônico. ilustração do liVro a cidade de deus, de agostinho Essa cidade de Deus só pode ser conhecida através da autoridade infalível da Igreja. Assim, Agostinho comenta que o Estado deve subjugar-se ao poder do clero, demons- trando que o ser humano pode atingir o entendimento mediante as leituras das Escrituras Sagradas, fato este que propicia a esse indivíduo a felicidade. Entretanto, nem to- dos os homens recebem a graça das mãos de Deus, sendo que somente alguns são predestinados à salvação. Agosti- nho se tornou o principal filósofo da patrística. Tarde te amei Oração extraída das Confissões de Santo Agosti- nho, X Livro, 38. Fonte: Youtube multimídia: vídeo É desta Cidade da Terra que surgem os inimigos dos quais tem que ser defendida a cidade de Deus. Mui- tos deles, afastando-se dos seus erros de impiedade, tornaram-se cidadãos bastante idôneos da Cidade de Deus. Mas muitos outros ardem em tamanho ódio contra ela e são tão ingratos aos manifestos benefí- cios do Redentor, que hoje não moveriam contra Ele a sua língua senão porque encontraram nos seus lugares sagrados, ao fugirem das armas inimigas, a salvação da vida de que agora tanto se orgulham. Não são na verdade estes romanos encarniçados contra o nome de Cristo aqueles a quem os bárbaros pouparam a vida por amor de Cristo? Disto dão testemunho os santuá- rios dos mártires e as basílicas dos Apóstolos que aco- lheram quantos aí se refugiaram, tanto cristãos como estranhos, durante a devastação da Urbe l. agostinho a cidade de deus. lisboa: calouste gulbelKian, 1996, p. 99. 1.1. Patrística A patrística é a doutrina religiosa elaborada pelos pais ou padres da Igreja (por isso o nome), nos séculos II ao VIII, que tinha como objetivo ordenar as verdades da fé, para defender-se dos ataques dos hereges. Para conso- lidar o dogma religioso, tem uma construção lógica das ideias. Os inúmeros textos dessa doutrina almejavam orientar as ações dos indivíduos de dentro e de fora dos muros da Igreja católica. 2. Pedro abelardo (1079-1142) Na Idade Média, significou uma mudança do pensamen- to dos dominantes, seguiu-se o ideal de ora et labora (reza e trabalha). Assim, iniciou-se a “querela dos univer- sais”, a qual discutia a relação entre o nome e a coisa, a linguagem e a realidade. 2.1. O nome da rosa A palavra “rosa” pode sobreviver à morte ou ao desapare- cimento da própria rosa; então, a palavra fala até de coisas inexistentes. Como podemos entender isso? Nesse instan- te, acontece uma questão ou querela de como os nomes dos objetos não estão atrelados com os objetos. Os nomes são elementos arbitrários que rotulam as coisas, não tendo nenhuma relação direta com o próprio objeto. Um exemplo disso são os nossos nomes de batismo, que foram escolhi- dos por outras pessoas, de forma arbitrária. Segundo Pedro Abelardo, os universais só existem no intelecto, mas, ao mesmo tempo, mantêm relação com as coisas particulares, à medida que lhes dão significa- do. Desse modo, é como significado que os universais subsistem às coisas. 32 Sua obra mais conhecida é Sic et Non (Sim e Não), a qual revitaliza a dialética, afirmando que esse processo era a via para a verdade e fazia bem à mente. Ficou famoso por seu caso de amor com Heloísa, e acabou sendo castrado como penalidade. 3. tomás de aquino (1226-1274) Com Tomás de Aquino, existe um domínio comum à razão e à fé. Diante de uma forte influência de Aristóteles, buscou organizar todos os ramos do conhecimento em um sistema completo. Foi um dos principais representantes da escolás- tica, uma das escolas medievais. O pensamento de Aquino procura apresentar o equilíbrio entre a fé e a razão. Para ele, quando há algum desacordo, a razão é sempre o elemento que se apresenta em equívo- co, pois a razão que se excede torna-se indiscreta e invade o terreno exclusivo da fé, que são os mistérios divinos – fato que provoca, devido à desconfiança, a impossibilidade de demonstrar a existência de Deus. Tomás de Aquino será o representante máximo da escolástica. Com isso, o seu pensamento assumiu a condição de dou- trina oficial do catolicismo. O doctor angelicus acabou canonizado em 1323. Em sua Summa contra gentilles, Aquino propõe-se a provar para um não cristão, mediante um raciocínio natural, a im- portância do cristianismo e a existência de Deus. Essa obra é considerada um manual de teologia destinado a conver- ter os muçulmanos, evitando, assim, o avanço do islã. O intelecto humano, que das coisas sensíveis recebe o conhecimento que é conatural, para intuir em si mes- mo a essência divina, que transcende infinitamente todas as coisas sensíveis, e até todos os entes, por si mesmo não é capaz de atingir a essência divina. Como, no entanto, o bem perfeito do homem consiste em conhecer a Deus de algum modo, e para que uma tão nobre criatura não fosse considerada totalmente vã por não poder atingir o seufim, foi-lhe dado um caminho pelo qual pudesse elevar-se ao conhecimen- to de Deus, a saber: como todas as perfeições das coisas descem de Deus ordenadamente, de Deus que é o vértice supremo de todas elas, também o homem, partindo das coisas inferiores e subindo gradativa- mente, deve progredir no conhecimento de Deus, pois também nos movimentos corpóreos há o caminho pelo qual se desce e o caminho pelo qual se sobe, distintos em razão do princípio e do fim. toMÁs de aquino suMa contra os gentios. porto alegre: sulina, 1990, p. 689. 4. escolástica A escolástica foi o método utilizado nos recintos educacio- nais da Idade Média, durante o século XI, principalmente nas universidades. Seguindo um modelo romano de ensi- no, eram ensinadas Gramática, Retórica, Dialética, Geome- tria, Aritmética, Astronomia e Música. A influência do aristotelismo na escolástica adentra no sé- culo XII, salientando a concepção de divisão de matérias, em que existem diversos tipos de conhecimento. Filosofia Medieval Agostinho e Tomás de Aquino Fonte: Youtube multimídia: vídeo 33 A relação que a instituição religiosa teve com seus seguidores, orientando as ações e os seus hábitos, principalmente a Igreja católica, teve uma influência gigantesca dos pensadores, com o intuito de orientar, criar normativas que não contradissessem com o documento sagrado, além de propiciar aos seguidores uma confiança na palavra passada. Aqui, vemos uma nítida interligação com a estrutura lógica da escrita, a fim de não causar uma invalidade nas prop- osições apresentadas – conjunto com o domínio de um grupo perante outro, papel analisado com a sociologia, e sem contar a ligação histórica dos fatos tratados. CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS 34 DIAGRAMA DE IDEIAS FILOSOFIA MEDIEVAL A RAZÃO ESTÁ SUBORDINADA AOS PRECEITOS DA FÉ PEDRO ABELARDO O NOME NÃO ESTÁ ASSOCIADO AO OBJETO AGOSTINHO INFLUÊNCIA PLATÔNICA A ILUMINAÇÃO HUMANA FAZ PELO CONTATO DIVINO DEPENDENDO DE NOSSAS AÇÕES NO MUNDO OU NA CIDADE DO DIABO OU NA CIDADE DE DEUS MORAREMOS DEPOIS DA VIDA TOMÁS DE AQUINO INFLUÊNCIA ARIS- TOTÉLICA A FÉ NUNCA PODE SER QUESTIONADA A RAZÃO PODE SER QUESTIONADA É PRECISO DIVULGAR O PENSAMENTO CRISTÃO EVITANDO O AVANÇO MUÇULMANO NA EUROPA 35 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Enem) Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sem- pre assim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo mo- vimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?” agostinho. conFissões. são paulo: abril cultural, 1984. A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo de reflexão filosófica sobre a(s) a) essência da ética cristã. b) natureza universal da tradição. c) certezas inabaláveis da experiência. d) abrangência da compreensão humana. e) interpretações da realidade circundante. 2. (Enem) Se os nossos adversários, que admitem a exis- tência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem admitir que essas considerações estão certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos males, pois sendo Ele fonte suprema de Bondade, nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza. agostinho. a natureZa do beM. rio de Janeiro: sétiMo selo, 2005 (adaptado). Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus. b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus. c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por na- tureza, má. d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é opos- to, o mal. e) Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem e o mal. 3. Pedro Abelardo foi um filósofo medieval que parti- cipou de uma acirrada disputa filosófica no século XII. Essa disputa centrava-se sobre: a) a existência de Deus. b) o predomínio da fé sobre a razão. c) a questão da existência dos universais. d) a presença do mal no mundo. e) a morte da alma. 4. (Enem) “(...) de modo particular, quero encorajar os crentes empenhados no campo da filosofia para que ilu- minem os diversos âmbitos da atividade humana, graças ao exercício de uma razão que se torna mais segura e perspicaz com o apoio que recebe da fé.” papa João paulo ii. carta encíclica Fides et ratio aos bispos da igreJa católica sobre as relações entre Fé e raZão. 1998. “As verdades da razão natural não contradizem as verda- des da fé cristã.” santo toMÁs de aquino (pensador MedieVal) Refletindo sobre os textos, pode-se concluir que a) a encíclica papal está em contradição com o pen- samento de santo Tomás de Aquino, refletindo a dife- rença de épocas. b) a encíclica papal procura complementar santo To- más de Aquino, pois este colocava a razão natural acima da fé. c) a Igreja medieval valorizava a razão mais do que a encíclica de João Paulo II. d) o pensamento teológico teve sua importância na Idade Média, mas, em nossos dias, não tem relação com o pensamento filosófico. e) tanto a encíclica papal como a frase de santo To- más de Aquino procuram conciliar os pensamentos sobre fé e razão. 5. (UFF) A grande contribuição de Tomás de Aquino para a vida intelectual foi a de valorizar a inteligência huma- na e sua capacidade de alcançar a verdade por meio da razão natural, inclusive a respeito de certas questões da religião. Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir a verdade divina”, ele diz que há duas modalidades de verdade acerca de Deus. A primeira refere-se a verdades da revelação que a razão humana não consegue alcan- çar, por exemplo, entender como é possível Deus ser uno e trino. A segunda modalidade é composta de verdades que a razão pode atingir, por exemplo, que Deus existe. A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor expressa o pensamento de Tomás de Aquino. a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade. b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à revelação da verdade que Deus lhe concede. c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcan- çar certas verdades por seus meios naturais. d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades acerca de Deus. e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser humano nada pode conhecer d’Ele. 6. (UFU) A filosofia de Agostinho (354-430) é estreita- mente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Ploti- no e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influen- ciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão). pepin, Jean. santo agostinho e a patrística ocidental. in: chÂtelet, François (org.). a FilosoFia MedieVal. rio de Janeiro: Zahar editores, 1983, p. 77. 36 Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agos- tinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pen- samento de Platão. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas diferenças. a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o co- nhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a ver- dade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano. b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mun- do das ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhu- ma realidade além do mundo natural em que vivemos. c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma do corpo. d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, remi- niscência, a alma reconhece as ideias que ela con- templou antes de nascer; Agostinho diz que o conhe- cimento é resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existeem cada um. 7. (Unesp) A vida cultural europeia, na Baixa Idade Média (dos séculos XI ao XV), pode ser caracterizada pelo(a): a) esforço de Ptolomeu para estruturar os conceitos geográficos. b) multiplicação das universidades e difusão da ar- quitetura gótica. c) deslocamento, de Córdoba para Paris, do centro de gravidade da cultura muçulmana. d) difusão do dogma escolástico baseado na negação da união entre a fé e a razão para a busca da verdade. e) decadência do ensino urbano seguido de sua ruralização. 8. Para Tomás de Aquino, filosofia e teologia são ciên- cias distintas porque: a) a filosofia se funda no exercício da razão humana e a teologia na revelação divina. b) a filosofia é uma ciência complementar à teologia. c) a filosofia nos traz a compreensão da verdade que será comprovada pela teologia. d) a revelação é critério de verdade, por isso não se pode filosofar. e) a teologia é a mãe de todas as ciências e a filo- sofia serve apenas para explicar pontos de menor importância. 9. Durante a Idade Média, a questão dos universais foi um dos grandes problemas debatidos pelos filósofos da época. Realismo, conceitualismo e nominalismo foram as soluções típicas do problema. Outra preocupação da época foi o da possibilidade ou impossibilidade de conciliar fé e razão. Santo Agosti- nho, sobre a relação fé e razão, protagonizou uma tese que se pode resumir na frase Credo ut intelligam (Creio para entender). A partir dos seus conhecimentos sobre a questão dos universais e da filosofia medieval, identifique as propo- sições verdadeiras. I. O apogeu da patrística aconteceu no século XIII com santo Tomás de Aquino (1225-1274), que, retomando o pensamento de Platão, fez a síntese mais bem elaborada da filosofia com o cristianismo durante a Idade Média. II. O pensamento filosófico medieval, a partir do século IX, é chamado de escolástica. A filosofia escolástica tinha por problema fundamental levar o homem a compreender a verdade revelada pelo exercício da razão, contudo apoiado na Auctoritas, seja da Bíblia, seja de um padre da Igreja. III. Para os nominalistas, o universal é apenas um conteúdo da nossa mente, expresso por um nome. O que significa dizer que os universais são apenas palavras, sem nenhuma realidade específica correspondente. IV. No conceitualismo de Pedro Abelardo, os universais são conceitos, entidades mentais, que não existem na realida- de, nem são meros nomes. V. De acordo com a teoria da iluminação de santo Agos- tinho, o ser humano recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas. Tal como o sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. Em verdade, santo Agostinho não conflita a fé com a ra- zão, sendo esta última auxiliar e subordinada da fé. Assi- nale a alternativa que contém as afirmativas verdadeiras. a) I, II e III. b) I, III e V. c) II e V. d) I, II e IV. e) II, III, IV e V. 10. (ESPM) No século XIII, surgiu a escolástica, corren- te filosófica que, a partir de então, dominou o pensa- mento medieval. aquino, rubiM santos leão de. história das sociedades: das coMunidades priMitiVas às sociedades MedieVais. A escolástica: a) teve em santo Agostinho seu maior expoente e era teocêntrica. b) teve em Alberto Magno seu maior expoente e re- futava o teocentrismo, pregando o antropocentrismo. c) teve em Tomás de Aquino seu principal expoente e foi uma tentativa de harmonizar a razão com a fé. d) considerava que a razão podia proporcionar uma vi- são completa e unificada da natureza ou da sociedade. e) pregava o recurso racional da força, sendo este mais importante do que o exercício da virtude ou da fé. gabarito 1-D; 2-D; 3-C; 4-E; 5-C; 6-D; 7-B; 8-A; 9-E; 10-C 37 FIlosoFIa polítIcaAULA 6 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 Diante das transformações sociais e políticas que a Europa passava durante a Baixa Idade Média – conjunto com os ideais e as ações do Renascimento Cultural, que privilegia o ser humano e as suas próprias criações –, emerge um novo ramo na área da filosofia – a filosofia política –, que se debruça perante os limites e a organização do Estado frente ao indivíduo. O termo “política” já existia na polis grega; porém, essa nova concepção representa um novo olhar perante as relações da sociedade. Os pensadores com maior destaque nessa área foram Maquiavel e Hobbes. 1. nicolau maquiavel (1469-1527) estÁtua de MaquiaVel, de lorenZo bartolini, na galleria degli uFFiZi, eM Florença O filósofo da região de Florença é considerado um teórico da política. Com uma observação perspicaz da história dos governos, Maquiavel analisa as atitudes dos governantes e como esse Estado é organizado. Em sua obra mais conhecida, O príncipe (1513), Maquiavel tinha como pretensão propiciar a união das províncias ita- lianas, para garantir a paz nessas terras. O príncipe MAQUIAVEL, Nicolau. São Paulo: Editora 34, 2017. multimídia: livro Tendo uma experiência de análise histórica, em conjunto com uma orientação de valorização do governante, Ma- quiavel tem a preocupação de saber como os governantes agem de fato e como essas atitudes podem garantir ou não a sua permanência no poder. O príncipe, de Maquiavel, com o historiador da Unicamp José Alves de Freitas Neto Fonte: Youtube multimídia: vídeo 1.1. A estrutura do poder para Maquiavel O poder, segundo Maquiavel, foi adquirido pelo uso da força excessiva ou pela herança. Entretanto, não significa que esse poder ficará eternamente para esse ser, pois o 38 que vai garantir tal poder são suas ações no agrupamento social. Desse modo, o principal objetivo desse governante é perpetuar-se no poder. Assim, para o pensador, a figura mais importante dessa sociedade é o governante. Isso ocorre, pois esse indivíduo possui algo que poucos têm: a virtù. A virtù representa as qualidades que esse indivíduo terá em determinadas situações, sendo ações ou atitudes que devem ser tomadas rápidas, sem prejuízos ao seu maior objetivo, sem precisar seguir qualquer moral religiosa. Só que esse governante também precisa ter ao seu favor a fortuna, ou seja, a sorte, de modo que ele não pode, de forma alguma, renegar as situações de sorte que podem surgir em seu caminho. Assim, para conseguir perpetuar-se no poder, o bom governante precisa, necessariamente, unir a virtù e a fortuna. Maquiavel, com o professor da USP Renato Janine Ribeiro Fonte: Youtube multimídia: vídeo MaquiaVel, pintura de santi di tito, século XV O príncipe (em quadrinhos) Maquiavel. Roteiro de André Diniz. São Paulo: Escala, 2008. A obra do filósofo Maquiavel foi adaptada em quadrinhos. multimídia: livro Origina-se aí a questão aqui discutida: se é preferível ser amado ou temido. Responder-se-á que se preferiria uma e outra coisa; porém, como é difícil unir, a um só tem- po, as qualidades que promovem aqueles resultados, é muito mais seguro ser temido do que amado, quando se veja obrigado a falhar numa das duas. Os homens costumam ser ingratos, volúveis, dissimulados, covardes e ambiciosos de dinheiro; enquanto lhes proporcionas benefícios, todos estão contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos, como se disse antes, desde que a ne- cessidade dessas coisas esteja bem distante. nicolau MaquiaVel o príncipe. são paulo: coleção “os pensadores”, 1999, p. 106. 2. thomas hobbes (1588-1679) O filósofo inglês Thomas Hobbes explanou a sua teoria sobre a formação da sociedade. Foi um pensador jusna- turalista, isto é, acreditava que os princípios e direitos dos homens têm-se como ideia universal e imutável de justiça. Hobbes foi uma das bases filosóficas para a consolidação do absolutismo europeu. 39 Em seu livro O leviatã (1651), ele pretende compreender a formação da sociedade. Segundo o filósofo, no início, os homens viviam no Estado de natureza, onde os seres sobrevivem num conflito de todos contra todos, onde a re- gra máxima era a lei da sobrevivência. Nesse instante,a competição entre os indivíduos fazia com que a paz ficasse cada vez mais longe do convívio humano. Para romper essa situação de guerra, os homens decidem sair do estado de natureza e partir para a sociedade civil, criando um pacto social entre os integrantes dessa comuni- dade, visando à tranquilidade e à paz. O que fundamentará esse pacto é o temor da morte, ou seja, visando a uma preservação da vida, os integrantes do grupo decidem ce- der suas forças (ou armas) para um líder soberano, que de- veria cumprir com alguns deveres, como trazer a paz para o grupo e o bem comum. Diante desse pacto, os homens não devem se rebelar contra o governante escolhido, com a intenção de fomentar a tranquilidade desejada. O leviatã, de Thomas Hobbes, por Yara Frateschi Fonte: Youtube multimídia: vídeo 2.1. O leviatã: o perigo do monstro Hobbes aponta que, nessa sociedade civil construída pelas ações humanas, insurge um líder supremo que precisa uti- lizar-se da força para se manter no poder. O problema apontado nesse momento é que, tendo o poder legal nas mãos, o governante, se não tiver destreza, inclina- rá para um poder incontrolável, absoluto, transformando-se num monstro com poderes ilimitados. Aqui, Hobbes compa- ra esse governante incontrolável, tendo o aval das leis cria- das por ele próprio, com o monstro que dá título à sua obra, o leviatã (um peixe feroz citado no Antigo Testamento), que deve concentrar todo o poder em torno de si, para, assim, ordenar todas as decisões da sociedade. Isso prejudica com- pletamente a consolidação do pacto social, perdendo com isso o objetivo de preservação da paz entre os homens. O lobo Pitty. Admirável Chip Novo, DeckDisc, 2003. Com uma nítida influência da filosofia de Hobbes, a cantora Pitty apresenta como a competição do homem pelo homem está contida na sociedade. Fonte: Youtube multimídia: música Diz-se que um Estado foi instituído quando uma mul- tidão de homens concordam e pactuam, cada um com cada um dos outros, que a qualquer homem ou assem- bleia de homens a quem seja atribuído pela maioria o direito de representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu representante ), todos sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que votaram contra ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou assembleia de homens, tal como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de viverem em paz uns com os outro e serem protegidos dos restantes ho- mens. É desta instituição do Estado que derivam todos os direitos e faculdades daquele ou daqueles a quem o poder soberano é conferido mediante o consentimento do povo reunido. (...) Pois uma doutrina contrária à paz não pode ser verda- deira, tal como a paz e a concórdia não podem ser con- trárias à lei da natureza. É certo que, num Estado onde, devido à negligência ou incapacidade dos governantes e dos mestres, venham a ser geralmente aceites falsas doutrinas, as verdades contrárias podem ser geralmen- te ofensivas. Mas mesmo a mais brusca e repentina irrupção de uma nova verdade nunca vem quebrantar a paz: pode apenas às vezes despertar a guerra. Por- que aqueles que são tão desleixadamente governados que chegam a ousar pegar em armas para defender 40 ou impor uma opinião, esses se encontram ainda em condição de guerra. Sua situação não é a paz, mas apenas uma suspensão de hostilidades por medo uns aos outros. É como se vivessem continuamente num prelúdio de batalha. Portanto compete ao detentor do poder soberano ser o juiz, ou constituir todos os juízes de opiniões e doutrinas, como uma coisa necessária para a paz, evitando assim a discórdia e a guerra civil. thoMas hobbes o leViatã DIAGRAMA DE IDEIAS FILOSOFIA POLÍTICA O GOVERNANTE É A FIGURA IMPORTANTE DA SOCIEDADE O PRÍNCIPE É UM SER COM VIRTÚ E COM FORTUNA MAQUIAVEL PRECISA TOMAR DECISÕES HOBBES A MONARQUIA É O MELHOR SISTEMA POLÍTICO O ESTADO CIVIL EVITA A MATANÇA DE TODOS CONTRA TODOS PORÉM, O PODER ABSOLUTO PODE GERAR UM MONSTRO SEM LIMITES 41 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (UEL) A República de Veneza e o Ducado de Milão ao norte, o reino de Nápoles ao sul, os Estados papais e a república de Florença no centro formavam ao final do século XV o que se pode chamar de mosaico da Itália su- jeita a constantes invasões estrangeiras e conflitos inter- nos. Nesse cenário, o florentino Maquiavel desenvolveu reflexões sobre como aplacar o caos e instaurar a ordem necessária para a unificação e a regeneração da Itália. sadeK, M.t. nicolau MaquiaVel: o cidadão seM Fortuna, o intelectual de Virtù. in: WeFort, F.c. (org.). clÁssicos da política. V. 2. são paulo: Ática, 2003. p. 11-24 (adaptado). Com base no texto e nos conhecimentos sobre a filoso- fia política de Maquiavel, assinale a alternativa correta. a) A anarquia e a desordem no Estado são aplacadas com a existência de um príncipe que age segundo a moralidade convencional e cristã. b) A estabilidade do Estado resulta de ações humanas concretas que pretendem evitar a barbárie, mesmo que a realidade seja móvel e a ordem possa ser desfeita. c) A história é compreendida como retilínea, portanto, a ordem é resultado necessário do desenvolvimento e aprimoramento humano, sendo impossível que o caos se repita. d) A ordem na política é inevitável, uma vez que o âmbito dos assuntos humanos é resultante da mate- rialização de uma vontade superior e divina. e) Há uma ordem natural e eterna em todas as ques- tões humanas e em todo o fazer político, de modo que a estabilidade e a certeza são constantes nessa dimensão. 2. (Enem) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde- -se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são in- gratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lu- cro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quan- do, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MaquiaVel, nicolau. o príncipe. rio de Janeiro: bertrand, 1991. A partir da análise histórica do comportamento huma- no em suas relações sociais e políticas, Maquiavel defi- ne o homem como um ser a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos naturais. e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. 3. (UFU) Em seus estudos sobre o Estado, Maquiavel bus- ca decifrar o que diz ser uma verità effettuale, a “ver- dade efetiva” das coisas que permeiam os movimentos da multifacetada história humana/política através dos tempos. Segundo ele, há certos traços humanos comuns e imutáveis no decorrer daquela história. Afirma, por exemplo, que os homens são “ingratos, volúveis, simu- ladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro”. (O príncipe, cap. XVII) Para Maquiavel: a) a “verdade efetiva” das coisas encontra-se em pla- no especulativo e, portanto, no “dever-ser”. b) fazer política só é possível por meio de um moralis- mo piedoso, que redime o homem em âmbito estatal. c) fortuna é poder cego, inabalável, fechado a qualquer influência, que distribui bens de forma indiscriminada. d) a virtù possibilita o domínio sobre a fortuna. Esta é atraída pela coragem do homem que possui virtù. 4. Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devi- do às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, os quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nossolivre arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte de- cida metade dos nossos atos, mas [o livre arbítrio] nos permite o controle sobre a outra metade. MaquiaVel, nicolau. o príncipe. brasília: edunb, 1979 (adaptado). Em O príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demons- tra o vínculo entre o seu pensamento político e o huma- nismo renascentista, ao: a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do seu tempo. b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. c) afirmar a confiança na razão autônoma como fun- damento da ação humana. d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem. e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão. 5. “Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, parece-me muito mais seguro ser temido do que ama- do, se só se pode ser uma delas [...]” MaquiaVel, nicolau. o príncipe. portugal: publicações europa-aMérica, 1976, p. 89. A respeito do pensamento político de Maquiavel, é cor- reto afirmar que: 42 a) mantinha uma nítida vinculação entre a política e os princípios morais do cristianismo. b) apresentava uma clara defesa da representação popular e dos ideais democráticos. c) servia de base para a ofensiva da Igreja em con- fronto com os poderes civis na Itália. d) sustentava que o objetivo de um governante era a conquista e a manutenção do poder. e) censurava qualquer tipo de ação violenta por parte dos governantes contra seus súditos. 6. (Unesp) A China é a segunda maior economia do mundo. Quer garantir a hegemonia no seu quintal, como fizeram os Estados Unidos no Caribe depois da guerra civil. As Filipinas temem por um atol de rochas desabitado que disputam com a China. O Japão está de plantão por umas ilhotas de pedra e vento, que a China diz que lhe pertencem. Mesmo o Vietnã desconfia mais da China do que dos Estados Unidos. As autoridades de Hanói gostam de lembrar que o gigante americano invadiu o México uma vez. O gigante chinês invadiu o Vietnã dezessete. petrY, andré. o século do pacíFico. VeJa, 24.04.2013 (adaptado). A persistência histórica dos conflitos geopolíticos des- critos na reportagem pode ser filosoficamente compre- endida pela teoria: a) iluminista, que preconiza a possibilidade de um es- tado de emancipação racional da humanidade. b) maquiavélica, que postula o encontro da virtude com a fortuna como princípios básicos da geopolítica. c) política de Rousseau, para quem a submissão à von- tade geral é condição para experiências de liberdade. d) teológica de santo Agostinho, que considera que o processo de iluminação divina afasta os homens do pecado. e) política de Hobbes, que conceitua a competição e a des- confiança como condições básicas da natureza humana. 7. (UFU) Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade ou, em resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam) por si mes- mas, na ausência do temor de algum poder capaz de le- vá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. hobbes, thoMas. o leViatã. cap. XVii. são paulo: noVa cultural, 1988, p. 103. Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que: a) o seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce com o advento do contrato social deve assiná-lo, para submeter-se aos compromissos ali firmados. b) a condição natural do homem é de guerra de todos contra todos. Resolver tal condição é possível apenas com um poder estatal pleno. c) os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a criação do Estado deve servir como instrumento de realização da isonomia entre tais homens. d) a guerra de todos contra todos surge com o Estado repressor. O homem não deve se submeter de bom grado à violência estatal. 8. (Unioeste) “Com isto se torna manifesto que, duran- te o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens. [...] E os pactos sem a espada não passam de palavras, sem força para dar segurança a ninguém. Por- tanto, apesar das leis da natureza (que cada um respei- ta quando tem vontade de respeitá-las e quando pode fazê-lo com segurança), se não for instituído um poder suficientemente grande para nossa segurança, cada um confiará, e poderá legitimamente confiar apenas em sua própria força e capacidade, como proteção contra todos”. (Hobbes) Considerando o texto citado e o pensamento político de Hobbes, seguem as afirmativas abaixo: I. A situação dos homens, sem um poder comum que os mantenha em respeito, é de anarquia, geradora de insegu- rança, angústia e medo, pois os interesses egoísticos são predominantes, e o homem é lobo para o homem. II. As consequências desse estado de guerra generalizada são as de que, no estado de natureza, não há lugar para a indústria, para a agricultura nem navegação, e há prejuízo para a ciência e para o conforto dos homens. III. O medo da morte violenta e o desejo de paz com segurança levam os indivíduos a estabelecerem entre si um pacto de submissão para a instituição do estado civil, abdicando de seus direitos naturais em favor do soberano, cujo poder é limitado e revogável por causa do direito à resistência que tem vigência no estado civil assim instituído. IV. Apesar das leis da natureza, por não haver um poder comum que mantenha a todos em respeito, garantindo a paz e a segurança, o estado de natureza é um estado de permanente temor e perigo da morte violenta, e “a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta”. V. O poder soberano instituído mediante o pacto de sub- missão é um poder limitado, restrito e revogável, pois no estado civil permanecem em vigor os direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade, bem como o direito à resistência ao poder soberano. Das afirmações acima: a) somente a I está correta. b) somente a I e III estão corretas. c) somente a II e IV estão incorretas. d) somente a III e V estão incorretas. e) somente a II, III e IV estão corretas. 43 9. (Enem) A importância do argumento de Hobbes está em parte no fato de que ele se ampara em suposições bastante plausíveis sobre as condições normais da vida humana. Para exemplificar: o argumento não supõe que todos sejam de fato movidos por orgulho e vaida- de para buscar o domínio sobre os outros; essa seria uma suposição discutível que possibilitaria a conclusão pretendida por Hobbes, mas de modo fácil demais. O que torna o argumento assustador e lhe atribui impor- tância e força dramática é que ele acredita que pesso- as normais, até mesmo as mais agradáveis, podem ser inadvertidamente lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então, em um estado de guerra. raWls, J. conFerÊncias sobre a história da FilosoFia política. são paulo: WMF, 2012 (adaptado). O texto apresenta uma concepção de filosofia política conhecida como a) alienação ideológica. b) microfísica do poder. c) estado de natureza. d) contrato social. e) vontade geral. 10. (UFPA) “Desta guerra de todos os homens contra to- dos os homens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais. A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito. Se assim fosse, poderiam existir num homem que es- tivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus sentidos e paixões.” hobbes, o leViatã. são paulo: abril cultural, 1979, p. 77. Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a injustiça como não pertencentes às faculdadesdo cor- po e do espírito, considere as afirmativas: I. Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos ho- mens em sociedade, e não na solidão. II. No estado de natureza, o homem é como um animal: age por instinto, muito embora tenha a noção do que é justo e injusto. III. Só podemos falar em justiça e injustiça quando é insti- tuído o poder do Estado. IV. O juiz responsável por aplicar a lei não decide em confor- midade com o poder soberano; ele favorece os mais fortes. Estão corretas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e IV. gabarito 1-B; 2-C; 3-D; 4-C; 5-D; 6-E; 7-B; 8-D; 9-C; 10-B 44 FIlosoFIa ModernaAULA 7 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. erasmo de rotterdam (1466-1536) Nascido Herasmus Gerritzsoon, o pensador humanista ne- erlandês faz uma crítica mordaz e feroz sobre a insensibi- lidade dos detentores do poder, sobre a perda dos valores da vida, com uma sátira da sociedade dos séculos XV e XVI. Assim, ele redigiu o seu Elogio da Loucura. Nesse caso, a Loucura é uma deusa que se apresenta como condutora das ações humanas, ou seja, a Loucura domina o mundo, do modo que a felicidade suprema do homem está nas loucuras que comete. Com isso, Loucura é o próprio mundo que o homem construiu, pois os seres se tornam medíocres e hipócritas. A crítica maior recai sobre a Igreja, sua hierarquia e suas instituições. Assim, Erasmo propõe o retorno da Igreja à simplicidade dos tempos iniciais. Foi considerado o homem mais erudito de sua época. Embora os homens costumem ferir a minha reputação e eu saiba muito bem quanto o meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que estais vendo é a úni- ca capaz de alegrar os deuses e os mortais. (...) Todos sabem que a infância é a idade mais alegre e agra- dável. Mas, que é que torna os meninos tão amados? Que é que nos leva a beijá-los, abraçá-los e amá-los com tanta afeição? Ao ver esses pequenos inocentes, até um inimigo se enternece e os socorre. Qual é a causa disso? É a natu- reza, que, procedendo com sabedoria, deu às crianças um certo ar de loucura, pelo qual elas obtêm a redução dos castigos dos seus educadores e se tornam merecedoras do afeto de quem as tem ao seu cuidado. Ama-se a pri- meira juventude que se sucede à infância, sente-se prazer em ser-lhe útil, iniciá-la, socorrê-la. Mas, de quem recebe a meninice os seus atrativos? De quem, se não de mim, que lhe concedo a graça de ser amalucada e, por conse- guinte, de gozar e de brincar? Quero que me chamem de mentirosa, se não for verdade que os jovens mudam in- teiramente de caráter logo que principiam a ficar homens e, orientados pelas lições e pela experiência do mundo, entram na infeliz carreira da sabedoria. erasMo de rotterdaM elogio da loucura 2. michel de montaigne (1533-1592) O filósofo francês Michel de Montaigne faz filosofia como quem conversa com um amigo. Reintroduzindo a ideia de investigação crítica permanente, concebeu uma nova ma- neira de descobrir o conhecimento. Com formação em Direito, acabou adentrando na política, sendo prefeito de Bordeaux, entre 1580 e 1581. No fim da vida, escolheu a reclusão, a fim de escrever a sua maior obra, intitulada Ensaios, uma compilação de textos de di- versas temáticas abordadas, que foi iniciada em 1572. Elogio da loucura Erasmo de Rotterdam. Porto Alegre: L&PM, 2013. multimídia: livro 45 Em seu ensaio mais famoso, intitulado Dos canibais, Montaigne apresenta uma crítica aos europeus, em re- lação às práticas com os povos do Novo Mundo. Para o filósofo, os povos ameríndios são menos bárbaros que os europeus, apontando, pela primeira vez, um respeito cultural a outros povos e demonstrando que a única dife- rença entre os povos do Novo Mundo e os europeus era que aqueles não usavam calças. Analisa o cotidiano constituído por homens “estranhos” e “absurdos”, mas também “milagres”. O homem é um ser verdadeiro em sua contínua mutação; equívocas são as teorias e as convenções sociais e políticas que pretendem aprisioná-lo em uma única imagem. Montaigne Apresentação da filosofia multimídia: vídeo Fonte: Youtube Ora, eu acho, para retomar meu assunto, que não há nada de bárbaro e selvagem nessa nação, pelo que dela me re- lataram, senão que cada um chama de bárbaro o que não é de seu uso – como, em verdade, não parece que tenha- mos outro padrão de verdade e de razão que o exemplo e a ideia das opiniões e usanças do país de onde somos. Lá sempre a religião perfeita, o regime político perfeito, o emprego perfeito e acabado de todas as coisas. Eles são selvagens do mesmo modo que chamamos de selvagens os frutos que a natureza, de si e de seu curso ordinário, produziu. Lá onde, na verdade, estão os que alteramos por nosso artifício e desviamos da ordem comum, estão os que deveríamos antes chamar de selvagens. Naqueles estão vivas e vigorosas as verdadeiras e mais úteis e natu- rais propriedades, as quais abastardamos nestes, apenas acomodando-as ao prazer de nosso gosto corrompido. Michel de Montaigne dos canibais. são paulo: alaMeda, 2009, p. 51-52. 3. rené descartes (1596-1650) O francês René Descartes é considerado o pai da filosofia moderna. Na intenção de encontrar a certeza de alguma coisa, o filósofo utiliza a sua maior arma – a dúvida –, procurando, assim, uma base de certeza em suas próprias faculdades racionais. Discurso do método & Ensaios DESCARTES, René. São Paulo: Editora Unesp, 2018. multimídia: livro O ceticismo cartesiano consiste numa formulação sistemá- tica, em que não se trata mais de duvidar por duvidar, mas de examinar criteriosamente todas as coisas, a fim de nelas descobrir elementos sobre os quais possa recair alguma sus- peita. A dúvida de Descartes é uma metódica, ou seja, con- duzida por um método rigoroso. As regras são as seguintes: 1. Só aceitar ideias claras e definidas. 2. Dividir cada problema em tantas partes necessárias à solução. 3. Ordenar os pensamentos do simples ao complexo. 4. Verificar exaustivamente se existe alguma falha. Filosofia da Educação – Descartes multimídia: vídeo Fonte: Youtube Esse pensamento está contido no Discurso do método, a qual nota-se o caminho intelectual de Descartes: o homem 46 deve desconfiar de seus sentidos, pois eles podem nos enga- nar; diante da dúvida, posso desconfiar do que estou a fazer agora. Posso estar a sonhar ou, então, um gênio maligno poderia estar a me iludir. Diante disso, como posso encontrar a verdade? Ademais, com todo esse ceticismo, Descartes, no- tou que o único momento a qual não pode duvidar é quan- do pensa, mesmo que pense estar sonhando ou se iludindo. Assim, se duvido, penso e, ao pensar, logo, existo. René Descartes – Penso, logo, existo Vídeo explicativo sobre a teoria cartesiana na área da filosofia multimídia: vídeo Fonte: Youtube Com isso, Descartes supôs que a essência do ser era o pensamento, e que a mente era separada do corpo. Sur- gira, assim, o problema mente–corpo, a qual o corpo tinha os seus próprios princípios de movimento, agindo de forma mecânica. Penso logo existo Inquérito. Mudança. 2010 A banda de rap Inquérito apresenta o pensa- mento cartesiano de reflexão como fórmula de marcação do ser humano na sociedade, sendo uma forma de resistência. Fonte: Youtube multimídia: música Em seguida, era necessário comprovar a existência de Deus, para garantir que nossas ideias claras e definidas são verdadeiras e que não estamos sendo iludidos por um gênio maligno. Se Deus é perfeito por ter uma causa, o homem, por possuir inúmeros defeitos, não pode ser essa causa. Assim, Deus deve ser a causa de nossa ideia de perfeição dele. Desse modo, os sentidos fornecem primeiro a existência do corpo, porém, a razão evidencia antes a certeza do cogito. Portanto, diante esse enorme poder da mente, os homens se tornam “como que senhores e possuidoresda natureza”. As obras de Descartes são escritas em francês, rompendo com a tradição medieval da língua latina nos textos filosóficos. Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se ne- cessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais extravagantes suposi- ções dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava. Mais tarde, ao analisar com atenção o que eu era, e ven- do que podia presumir que não possuía corpo algum e que não havia mundo algum, ou lugar onde eu existis- se, mas que nem por isso podia supor que não existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas, resultava com bas- tante evidência e certeza que eu existia (...). rené descartes discurso do Método. são paulo: coleção “os pensadores”, 1999, p. 62. 47 DIAGRAMA DE IDEIAS FILOSOFIA MODERNA MONTAIGNE ANALISA O HOMEM MEDIANTE AS SUAS AÇÕES INVESTIGAÇÃO CRÍTICA PERMANENTE A MENTE DOMINA O CORPO DESCARTES DÚVIDA METÓDICA SEPARAÇÃO MENTE-CORPO PENSO, LOGO EXISTO CETICISMO EM BUSCA DA VERDADE ERASMO DE ROTTERDAM CRÍTICA FEROZ A INSENSIBILIDADE DOS PODERES A LOUCURA DOMINA AS AÇÕES TRAZENDO COISAS NOVAS 48 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (UFRN) Erasmo de Roterdam, autor de Elogio da Lou- cura (1511), obra em que criticava valores dominantes na sociedade de seu tempo, assim escreveu: No presente, o homem se faz pela posse da razão. Se as árvores e as bestas selvagens crescem, os homens, creiam-me, moldam-se. [...] E aquele que não permite que seu filho seja instruído de forma conveniente, não é homem, nem seu filho se tornará um homem. A natureza, ao dar-vos um filho, vos presenteia com uma criatura rude, sem forma, a qual deveis moldar para que se converta em um homem de verdade. Esse fragmento textual sugere a vinculação de Erasmo de Roterdam ao: a) escolasticismo, que tentava conciliar as verdades da re- velação com aquelas formuladas pela pesquisa empírica. b) liberalismo, que pregava a necessidade de uma so- ciedade em que os homens construíssem, livremente, seu destino. c) renascimento, que valorizava a pessoa humana e acreditava no poder de suas capacidades intelectuais. d) universalismo, que desejava descobrir leis que pudessem explicar, cientificamente, o mundo. 2. (Unesp) Todas as coisas humanas têm dois aspectos (...) para dizer a verdade todo este mundo não é senão uma sombra e uma aparência; mas esta grande e interminá- vel comédia não pode representar-se de um outro modo. Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão oposto, que não podemos nos assegurar de nenhuma verdade. erasMo de roterdã. elogio da loucura. Erasmo de Roterdã foi um dos primeiros pensadores a contribuir para o surgimento da modernidade. Nesse texto, de 1509, pode-se considerar moderno: a) o elogio da loucura, vista como uma forma sofisti- cada de sensibilidade. b) o caráter obscuro e sombrio da vida, na qual o ho- mem deve mover-se pela fé. c) a ausência de verdades absolutas, em contraste com as verdades do clero. d) a ideia de que o mundo é uma comédia, e nós ho- mens devemos nos divertir. e) a ideia de que o mundo é aparência, mera represen- tação do plano divino. 3. (Enem) Texto I “Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verda- deiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável.” descartes, rené. Meditações concernentes à priMeira FilosoFia. são paulo: abril cultural, 1973 (adaptado). Texto II “É o caráter radical do que se procura que exige a radica- lização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida.” (silVa, F.l. descartes: a MetaFísica da Modernidade. são paulo: Moderna, 2001 (adaptado). A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conheci- mento, deve-se a) retomar o método da tradição para edificar a ciên- cia com legitimidade. b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções. c) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos. d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados. e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dis- pensam ser questionados. 4. (Unicamp) A dúvida é uma atitude que contribui para o surgimento do pensamento filosófico moderno. Nes- te comportamento, a verdade é atingida através da su- pressão provisória de todo conhecimento, que passa a ser considerado como mera opinião. A dúvida metódica aguça o espírito crítico próprio da Filosofia. bornheiM, gerd. introdução ao FilosoFar. porto alegre: editora globo, 1970, p. 11 (adaptado). A partir do texto, é correto afirmar que: a) a Filosofia estabelece que opinião, conhecimento e verdade são conceitos equivalentes. b) a dúvida é necessária para o pensamento filosófico, por ser espontânea e dispensar o rigor metodológico. c) o espírito crítico é uma característica da Filosofia e surge quando opiniões e verdades são coincidentes. d) a dúvida, o questionamento rigoroso e o espírito críti- co são fundamentos do pensamento filosófico moderno. 5. (Enem) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as de- monstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo 49 sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pa- receríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias. descartes, rené. regras para a orientação do espírito. Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da a) investigação de natureza empírica. b) retomada da tradição intelectual. c) imposição de valores ortodoxos. d) autonomia do sujeito pensante. e) liberdade do agente moral. 6. (UFSJ) Ao analisar o cogito ergo sum – “penso, logo, existo”, de René Descartes, conclui-se que: a) o pensamento é algo mais certo que a própria matéria corporal. b) a subjetividade científica só pode ser pensada a partir da aceitação de uma relação empírica fundada em valores concretos. c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e repre- sentativa da ética que insurgia já no século XVI. d) ele consegue infirmar todos os sistemas científicos e filosóficos ao lançar a dúvida sistemático-indutiva respaldada pelas ideias iluministas e métodos inci- pientes da revolução científica. 7. (UFU) Em O discurso sobre o método, Descartes afirma: “Não se deve acatar nunca como verdadeiro aquilo que não se reconhece ser tal pela evidência, ou seja, evitar acu- radamente a precipitação e a prevenção, assim como nun- ca se deve abranger entre nossos juízos aquilo que não se apresente tão clara e distintamente à nossa inteligência a ponto de excluir qualquer possibilidade de dúvida.” reale, g.; antiseri, d. história da FilosoFia: do huManisMo a descartes. são paulo: paulus, 2004. p. 289. Após a leitura do texto acima, assinale a alternativa correta. a) A evidência, apesar de apreciada por Descartes, permanece uma noção indefinível. b) A evidência é a primeira regra do método carte- siano, mas não é o princípio metódico fundamental. c) Ideias claras e distintas são o mesmo que ideias evidentes. d) A evidêncianão é um princípio do método cartesiano. 8. (FGV) Erasmo de Rotterdam (1467-1536) foi um dos pensadores mais influentes de sua época, sobretudo porque em sua obra Elogio da Loucura defendeu, entre outros aspectos: a) a tolerância, a liberdade de pensamento e uma te- ologia baseada exclusivamente nos Evangelhos. b) a restauração da teologia nos termos da ortodoxia escolástica, na linha de Tomás de Aquino. c) a reforma eclesiástica da Igreja segundo a proposta de Savonarola, conforme sua pregação em Florença. d) o comunismo dos bens, teoria que influenciaria o pensamento de Rousseau no século XVIII. e) a supremacia da razão do Estado sobre as regras definidas nos princípios da moral cristã. 9. (UEL) O principal problema de Descartes pode ser for- mulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?” Como o cético, ele parte da dúvida; mas, ao contrário do cético, não permanece nela. Na Meditação Terceira, Descartes afirma: “[...] engane-me quem puder, ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenha jamais existido, sendo verdade agora que eu existo [...]” descartes. rené. Meditações MetaFísicas. Meditação terceira. são paulo: noVa cultural, 1991. p. 182. coleção “os pensadores”. Com base no enunciado e considerando o itinerário se- guido por Descartes para fundamentar o conhecimento, é correto afirmar: a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discer- níveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são fa- lhos e limitados, portanto, o conhecimento seguro detém- -se nas opiniões que se apresentam certas e indubitáveis. b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apre- senta-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias coisas que são percebidas de acordo com as cir- cunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados. c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do conhecimento, uma vez que somente as coisas percebidas por meio da experiência sensível possuem existência real. d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento das coisas, sendo a existência de Deus a única certeza que se pode alcançar. e) A condição necessária para alcançar o conheci- mento seguro consiste em submetê-lo sistematica- mente a todas as possibilidades de erro, de modo que ele resista à dúvida mais obstinada. 10. (Unioeste) Considerando-se as primeiras linhas das Meditações sobre a filosofia primeira, de René Descartes: “Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões por verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei so- bre princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito duvidoso e incerto; de modo que era preciso tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer- -me de todas as opiniões que recebera até então em minha crença e começar tudo novamente desde os fundamentos, se eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de constante nas ciências. (...) Agora, pois, que meu espírito está livre de todas as preocupações e que obtive um repouso seguro numa solidão tranquila, aplicar-me-ei seriamente e com liberdade a destruir em geral todas as minhas antigas opiniões”. É correto afirmar, sobre a teoria do conhecimento cartesiana, que: a) Descartes não utiliza um método ou uma estraté- gia para estabelecer algo de firme e certo no conhe- cimento, já que suas opiniões antigas eram incertas. 50 b) Descartes considera que não é possível encontrar algo de firme e certo nas ciências, pois até então esse objetivo não foi atingido. c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filosófica considerou como conhecimento, busca fundamentar nos sentidos uma base segura para as ciências. d) ao investigar uma base firme e indestrutível para o conhecimento, Descartes inicia rejeitando suas anti- gas opiniões e utiliza o método da dúvida até encon- trar algo de firme e certo. e) Descartes necessitou de solidão para investigar as suas antigas opiniões e encontrar entre elas aquela que seria o verdadeiro fundamento do conhecimento. 11. (UEL) Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda sua indús- tria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida algu- ma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu exis- to, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a concebo em meu espírito. descartes, rené. Meditações. coleção “os pensadores”. são paulo: abril cultural, 1973. p. 100. A partir do texto e dos conhecimentos acerca de Descartes: a) apresente o propósito e os graus da dúvida metódica; e b) demonstre como Descartes descobre que o pensa- mento é a verdade primeira. 12. (Unesp) Para René Descartes, o que fundamenta o método universal para conhecer o mundo é a reta ra- zão, que pertence a todos os homens, sendo “a coisa mais bem distribuída do mundo”. Mas o que é essa reta razão? “A faculdade de julgar bem e distinguir o ver- dadeiro do falso é propriamente aquilo que se chama bom senso ou razão, que é naturalmente igual em todos os homens”. A unidade das ciências remete à unidade da razão. E a unidade da razão remete à unidade do método. O saber deve basear-se na razão e repetir sua clareza e distinção, que são os únicos pressupostos irre- nunciáveis do novo saber. reale, gioVanni; antiseri, dario. história da FilosoFia. 1990 (adaptado). Com base no texto, justifique por que o método de Des- cartes aspira à universalidade. Explique a importância da matemática para a produção de conhecimentos do- tados de clareza e distinção. gabarito 1-C; 2-C; 3-B; 4-D; 5-D; 6-A; 7-C; 8-A; 9-E; 10-D 11. a) Em Descartes, a dúvida expressa a tentativa de estabelecer um princípio firme e constante nas ciências. Seguindo a ordem das razões, serão submetidos à crítica os fundamentos do conhecimento, partindo do sensível (argumento dos sentidos), passando pela imaginação (ar- gumento do sonho) e chegando às verdades matemáticas (argumento do deus enganador e do gênio maligno). Sen- do metódica, a dúvida converter-se-á em universal, e se dela não resultar um princípio positivo para fundamentar o sistema da ciência, pelo menos não se tomará por verda- deiro o que for dubitável. b) Para Descartes, o pensamento aparece como uma evi- dência, resultante como logicamente necessária, do mé- todo da dúvida. O pensamento não é instituído pela uni- versalização da dúvida, pois ele é a própria condição de duvidar. Após estender a dúvida a todos os fundamentos do conhecimento, dos mais incertos aos mais aparente- mente seguros, o pensamento surgirá como uma evidên- cia, cuja certeza é tão irrefutável, que sequer o gênio ma- ligno poderá fazer com que eu nada seja, enquanto pensar ser algo. A solidez desta certeza servirá de fundamento ao sistema das ciências. 12. Para Descartes, a forma tradicional de adquirir o co- nhecimento não deveria mais se fundamentar, mas sim seguir um ceticismo metodológico, com o intuito de atin- gir-se um saber universal e válido. O fundamento ma- temático consolida o pensamento de Descartes, com a lógica matemática, as análises e sua investigação, para se atingir o verdadeiro conhecimento. 51 racIonalIstasAULA 8 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. baruch de esPinoza (1632-1677) O filósofo holandês Espinoza foi um dos grandes raciona- listas do século XVII. Em sua obra Tratado teológico-políti- co (1670), o filósofo submete o Velho Testamento a uma rigorosa crítica, baseando-se numa análise gramatical da língua hebraica e na história do povo judeu. A conclusão foique o conteúdo bíblico não se refere à verdade, mas apenas estabelece preceitos de conduta para guiar os ho- mens, o que reduz a nada todo o esforço da teologia. Segundo Espinoza, existe uma só substância, que é um princípio científico unificador, figurando-se em Deus ou Natureza, do modo que a mente e a matéria são apenas atributos da substância única. Deus é a causa primeira e eficiente de todas as coisas, porém, isso não significa que seja o criador, pois, sendo Deus a única substância, nada pode existir fora dele. As- sim, Deus é a causa do mundo, mas o mundo existe em Deus, que é, por isso, causa imanente, isto é, causa que produz efeito em si mesma. Em outras palavras, Deus é Natureza (Deus sive Natura). A filosofia de Espinoza tinha como propósito esclarecer a identidade existente entre nossa mente e a natureza. Essa identidade só acontece, quando conhecemos a nós mes- mos e a própria natureza, como uma coisa una. Diante disso, o conhecimento da natureza se concretiza quando entendemos a essência dos objetos. Baruch Espinoza Baruch Spinoza foi um dos grandes raciona- listas da Filosofia moderna. Nasceu na cidade de Amsterdã, nos Países Baixos, em 1632, e faleceu na cidade de Haia, em 1677. Ele cres- ceu na Holanda, em família judia e foi criado para se tornar um rabino. Naquela época, a Holanda era um dos principais centros da li- berdade intelectual na Europa, atraindo pen- sadores como Descartes e Locke. multimídia: vídeo Fonte: Youtube Por causa de seu pensamento perante a religião, Espino- za sofreu dois atentados à sua vida (sobreviveu a ambos), sendo um deles realizado por um religioso extremista. Espinoza foi um daqueles raros filósofos que, além de acreditar no que dizia, era fiel a seus princípios. Che- gou a recusar uma cátedra de Filosofia em Heidelberg, posição que, por ser oficial, implicava aceitar ideias e limitações oficiais. Para a sua subsistência, trabalhava com polimentos de lentes. 1.1. Definições de Espinoza I. Por sua causa entendo aquilo cuja essência implica a exis- tência e cuja natureza só pode ser concebida como existente. II. Diz-se finita no seu gênero uma coisa que pode ser limitada por uma outra da mesma natureza. Por exemplo, dizemos que um corpo é finito porque concebemos sem- pre um outro maior. Do mesmo modo, um pensamento é limitado por um outro pensamento. Mas nem um corpo 52 pode ser limitado por um pensamento nem um pensa- mento por um corpo. III. Por substância entendo aquilo que existe em si e por si é concebido, isto é, aquilo cujo conceito, para ser formado, não precisa do conceito de uma outra coisa. IV. Por atributo entendo aquilo que o intelecto percebe como a essência da substância. V. Por modo entendo aquilo que existe em outra coisa pela qual também é concebido. VI. Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita. estÁtua representado o FilósoFo holandÊs Destinada aos homens livres, o filósofo trata também sobre a Ética, obra escrita em axiomas, no ano de 1677. Para Es- pinoza, o que os indivíduos pensam reflete diretamente na sua maneira de viver, colhendo frutos positivos ou negati- vos de suas ações. Seguindo uma lógica racional, o filósofo tenta provar a natureza racional de Deus. Qualquer coisa natural pode conceber-se adequada- mente, quer exista ou não exista, pelo que o princípio da existência das coisas naturais, tal como a sua per- severança na existência, não pode concluir-se da sua definição. Com efeito a sua essência ideal depois de co- meçarem a existir é a mesma que era antes de existirem. Por conseguinte, da mesma forma que o princípio da sua existência não pode ser consequência da sua essência, assim também a sua perseverança na existência o não pode ser. Porém, para continuarem a existir precisam da mesma potência de que precisam para começar a existir. De onde se segue que a potência pela qual as coisas na- turais existem, e pela qual consequentemente operam, não pode ser nenhuma outra senão a própria potência eterna de Deus. baruch de espinoZa tratado lógico-político. são paulo: Martins Fontes, 2009, p. 11. 2. gottfried Wiljhelm leibniz (1646-1716) O filósofo alemão Leibniz é uma figura central na história da matemática e da filosofia, que concebeu as ideias de cálculo diferencial e integral, sem sofrer influência dos es- tudos de Isaac Newton. Leibniz escreveu prodigiosamente sobre muitos temas das áreas filosófica e matemática. O filósofo procurou a harmo- nia entre elementos aparentemente díspares: o mundo na- tural e o mundo moral; o corpo e a alma; Platão e Aristóteles. Em sua maior obra filosófica intitulada Monadologia, o pensador apresenta como a natureza é constituída, de modo a salientar uma lógica racional. A força motora da natureza é acionada por Deus, que também está contida na própria natureza. Monadologia Leibniz foi um filósofo e matemático alemão, nascido em 1646 e falecido em 1716. Ele desenvolveu o cálculo integral e diferencial, mais ou menos na mesma época que New- ton. Leibniz também foi contemporâneo de Hobbes, Spinoza e Locke. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 53 Segundo Leibniz, todos os elementos da natureza são com- postos por mônadas (do grego monas, que significa “uni- dade”, o que é uno), concebidas como verdadeiros átomos da natureza, elementos das coisas, fechadas, sem janelas, reguladas, em seu funcionamento pela harmonia preestabe- lecida, de modo que, cada mônada é diferente e reflete o universo inteiro; porém, não está no espaço e nem no tempo. Cada elemento que existente no universo é composto por inúmeras mônadas, da sendo que alguns possuem mais que outras. Deus, por exemplo, também é composto por mônadas, sendo uma substância infinita, perfeita, criadora de todas as coisas e da harmonia preestabelecida. As mô- nadas que compõem Deus, criam as mônadas da natureza. A Mônada de que vamos falar aqui não é outra coisa se- não uma substância simples, que entra nos compostos; simples, quer dizer, sem partes. Teod. §10 [Discurso preliminar, §10]: “(...) há necessaria- mente substâncias simples e sem extensão, espalhadas por toda a natureza (...)” E é preciso que haja substâncias simples, visto que há compostos. Efetivamente, o composto não é outra coi- sa senão uma amálgama (amas) ou aggregatum dos simples. Ora, onde não há partes, não há extensão, nem figu- ra nem divisibilidade possível. E estas Mônadas são os verdadeiros Átomos da Natureza e, numa palavra, os Elementos das coisas. Também não há dissolução a temer, e não há nenhuma maneira concebível pela qual uma substância simples possa perecer naturalmente. gottFried leibniZ Monadologia. lisboa: edições colibri, 2016, p. 39. A monadologia e outros escritos LEIBNIZ, Gottfried. São Paulo: Hedra, 2008. multimídia: livro Gita Raul Seixas. Gita. Universal Music, 1974. Na canção de Raul Seixas, notamos a essência in- direta da monadologia de Leibniz, em que os ele- mentos da criação estão em todos os elementos. Fonte: Youtube multimídia: música 54 DIAGRAMA DE IDEIAS RACIONALISTAS ESPINOZA DEUS É NATUREZA TODAS AS SUBSTÂNCIAS NO MUNDO ESTÃO INTERLIGADOS TUDO É UM A NATUREZA É CONSTITUÍDA POR MÔNADAS MÔNADA = UNIDADE DEUS TEM MÔNADAS PERFEITAS LEIBNIZ QUE GERAM AS MÔNADAS IMPERFEITAS DOS SERES DA NATUREZA EXISTE UMA HARMONIA ENTRE ELEMENTOS DÍSPARES CORPO-ALMA PLATÃO-ARISTÓTELES 55 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (UEL) A ideia ilusória da vontade livre deriva de per- cepções inadequadas confusas; a liberdade, entendida corretamente, no entanto não é o estar livre da necessi- dade, mas sim a consciência da necessidade. scruton, roger. espinosa. são paulo: unesp, 2000. p. 41. Com base no texto e nos conhecimentos sobre liberda- de em Espinosa, considere as afirmativas a seguir. I. A liberdade identifica-se com escolha voluntária. II. A liberdade significa a capacidadede agir espontanea- mente, segundo a causalidade interna do sujeito III. A liberdade e a necessidade são compatíveis. IV. A liberdade baseia-se na contingência, pois se tudo no universo fosse necessário não haveria espaço para ações livres. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) I, III e IV. e) II, III e IV. 2. (Enem) A substância é um Ser capaz de Ação. Ela é simples ou composta. A substância simples é aquela que não tem partes. O composto é a reunião das substân- cias simples ou Mônadas. Monas é uma palavra grega que significa unidade ou o que é uno. Os compostos ou os corpos são Multiplicidades, e as Substâncias simples, as Vidas, as Almas, os Espíritos são unidades. É preciso que em toda parte haja substâncias simples porque sem as simples não haveria as compostas, nem movimento. Por conseguinte, toda natureza está plena de vida. leibniZ, g.W. discurso de MetaFísicas e outros teXtos. são paulo: Martins Fontes, 2004 (adaptado). Dentre suas diversas reflexões, Leibniz voltou sua aten- ção para o tema da metafísica, que trata basicamente do fundamento de realidade das coisas do mundo. A busca por esse fundamento muitas vezes é resumida a partir do conceito de substância, que para ele se refere a algo que é a) complexo por natureza, constituindo a unidade mí- nima do cosmo. b) estabilizador da realidade, dada a exigência de permanência desta. c) desdobrado no composto, em vez de gerá-lo unin- do-se a outras substâncias simples. d) considerado simples e múltiplo a um só tempo, por ser um todo indecomponível constituído de partes. e) essencial na estrutura do que existe no mundo, sem deixar de contribuir para o movimento. 3. (UFPA) No contexto da cultura ocidental e na história do pensamento político e filosófico, as considerações sobre a necessidade de valores morais prévios na or- ganização do Estado e das instituições sociais sempre foi um tema fundamental devido à importância, para esse tipo de questão, dos conceitos de bem e de mal, indispensáveis à vida em comum. Diante desse fato da história do pensamento político e filosófico, a afirma- ção de Espinosa, segundo a qual “Se os homens nas- cessem livres, não formariam nenhum conceito de bem e de mal, enquanto permanecessem livres” (ESPINOSA, 1983, p. 264), quer dizer o seguinte: a) O homem é, por instinto, moralmente livre, fato que condiciona sua ideia de ética social. b) Assim como o indivíduo é anterior à sociedade, a liberdade moral antecede noções como bem e mal. c) Os valores morais que servem de base para nossa socialização são tão naturais quanto nossos direitos. d) Não poderíamos falar de bem e de mal se não nos colocássemos além da liberdade natural. e) Não há nenhum vínculo necessário entre viver livre e saber o que são bem e mal. 4. (Searh-RN) “Baruch Spinoza acreditava que os dog- mas rígidos e os rituais vazios eram as únicas coisas que ainda mantinham o cristianismo e o judaísmo vivos. Não acreditava que cada palavra da Bíblia fosse realmente inspirada por Deus, mas que deveriam ser analisadas à luz de seu contexto genealógico. Dessa forma, Spinoza foi o primeiro a aplicar o que foi denominado de inter- pretação _______________ da Bíblia.” Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna da afirmativa anterior. a) semântica b) universalista c) histórico-crítica d) histórico-canônica 5. (UEM) Diz Spinoza: “Proposição XXX: Nenhuma coisa pode ser má pelo que tem de comum com nossa nature- za, mas é má para nós na medida em que nos é contrária. Demonstração: Chamamos mau o que é causa de Tristeza, isto é, o que diminui ou reduz nossa potência de agir. Se, portanto, uma coisa, pelo que tem de comum conosco, fosse má para nós, essa coisa poderia diminuir ou reduzir o que tem de comum conosco, o que é absurdo. Coisa alguma portanto pode ser má para nós pelo que tem de comum conosco, mas, ao contrário, na medida em que é má, isto é, na medida em que pode diminuir ou reduzir nossa potência de agir, ela nos é contrária.” spinoZa. in: Marcondes, danilo. teXtos bÁsicos de FilosoFia. rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 93. A partir do texto é correto afirmar: 01) Segundo o filósofo, é absurdo que uma coisa má tenha algo de comum conosco. 02) As coisas são consideradas más em função de sua própria natureza. 04) As coisas más não reduzem a nossa potência de agir. 56 08) A tristeza é causada pelos efeitos das coisas más. 16) O filósofo demonstra a contrariedade entre natu- reza humana e maldade. 6. (UEM) (...) muitas vezes lamentamos as nossas ações e que, frequentemente, quando somos dominados por afecções contrárias, vemos o melhor e fazemos o pior, nada os impediria de crer que todas as nossas ações são livres. [...] Um homem embriagado julga também que é por uma livre decisão da alma que conta aquilo que, mais tarde, em estado de sobriedade, preferiria ter calado. espinosa, b. ética iii. são paulo: abril cultural, 1983, p. 179. Acerca da compreensão da liberdade para Espinosa, assinale o que for correto. 01) Espinosa se contrapõe à ideia de um ato comple- tamente gratuito. 02) Ser livre, para Espinosa, é ser causa adequada de seus atos. 04) O espinosismo, assim como o historicismo, ofere- ce-nos um meio de converter a liberdade em neces- sidade inelutável. 08) O livre-arbítrio para Espinosa é o poder que temos de escolher. 16) É livre o homem que atua pela única necessidade de sua natureza. 7. (Enem) Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, em nós, como vícios em que os ho- mens caem por erro próprio; é por isso que se habitua- ram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quan- do querem parecer mais morais, detestá-los. Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem. espinosa, b. tratado político. são paulo: abril cultural, 1973. No trecho, Espinosa critica a herança filosófica, no que diz respeito à idealização de uma a) estrutura da interpretação fenomenológica. b) natureza do comportamento humano. c) dicotomia do conhecimento prático. d) manifestação do caráter religioso. e) reprodução do saber tradicional. 8. (Seduc-RJ) Para Spinoza (MARCONDES, 1997), o ho- mem livre se caracteriza como aquele que, ao contem- plar a substância infinita, reconhece a necessidade do curso natural das coisas e a ação livre é aquela que está de acordo com: a) a indignação do sujeito. b) o isolamento do indivíduo. c) a utilidade do pensamento. d) a determinação das coisas. e) o princípio da universalidade. 9. (Idecan-RN) Os filósofos racionalistas representa- ram uma das vertentes da filosofia moderna. Dentre eles, Baruch Spinoza possui um pensamento peculiar a respeito de Deus. Assinale a alternativa referente à concepção teológica de Spinoza. a) Deus está morto, e ainda há pessoas que não acre- ditam e nem compreenderam isso. b) Deus é um pai maldoso e intolerante, ao mesmo tempo que ama e age com misericórdia. c) Deus não é uma causa externa à realidade, pois se manifesta através das leis da natureza e só através delas. d) Deus é um ser que vive somente nas concepções da alma humana. É transcendente à natureza antropológica. 10. (Fepese-SC) Sobre a ética em Espinosa, é correto afirmar: a) Apresenta como seus fundamentos um conjunto de virtude e vícios que reforçam os princípios do cristianismo. b) Não menciona o pecado e o dever, mas fala em fraqueza e força para pensar, ser e agir. c) Fundado em Aristóteles afirma que a ética está sujeita aos limites estabelecidos pelas fragilidades humanas. d) Na sua obra Depois da Virtude procurou divulgar a ideia de virtude na sociedade contemporânea. e) Responsável pela tradição filosófica do racionalismo ético na qual a razão humana ocupa lugar de destaque na vida ética. gabarito 1-C; 2-E; 3-D; 4-C; 5-(01 + 08 + 16 = 25); 6-(1 + 2 + 4 + 16 = 23); 7-B; 8-D; 9-C; 10-B 57 eMpIrIsMoAULA 9 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20,22, 23, 24 e 25 O empirismo é uma teoria do conhecimento que se de- senvolveu na Idade Moderna, tendo como o seu principal direcionamento a experiência, na evidência para a forma- ção de algum tipo de conhecimento e numa nítida oposi- ção ao pensamento racionalista, que emerge no mesmo período histórico. Assim, os pensadores adeptos do empirismo valorizavam as experiências sensoriais, constituindo um método cientifi- cista com um processo indutivo. O empirismo desenvolveu- -se na Inglaterra e seus principais nomes são os ingleses John Locke, Francis Bacon e David Hume. § Indução: parte de muitos casos particulares para se chegar a uma lei geral. § Dedução: parte de um uma lei geral para se prever ca- sos particulares. Empirismo MEYERS, Robert G. São Paulo: Vozes, 2017. Esta obra traz uma introdução à tradição empirista em filosofia. O livro examina as mais importantes questões filosóficas sobre o tema, mantendo distância suficiente das complexidades acadêmicas acerca de Locke, Berkeley e Hume, para permitir aos leitores uma visão geral clara do empirismo, sem se perder em detalhes de disputas exegéticas sobre filósofos específicos. multimídia: livro 1. john locke (1632-1704) Considerado o pai do empirismo, o inglês John Locke apre- sentou que a experiência é a única fonte das ideias. Para o filósofo, a mente humana é como uma tábula rasa que, aos poucos, é preenchida pelos dados da experiência. O conhecimento é o resultado das operações que a mente realiza com as ideias, tanto da sensação como da reflexão, procurando perceber o acordo ou o desacordo entre elas. John Locke multimídia: vídeo Fonte: Youtube 1.1. A política para Locke Locke afirma que o trabalho justifica a propriedade priva- da, a qual era natural. Essa ideia se baseava na noção de que, desde que o trabalho do homem lhe pertencia, tudo o que ele transformava com seu trabalho deveria tornar-se seu. De fato, a propriedade é a principal razão porque os homens deixam o estado de natureza e estabelecem o go- verno civil, com governo e regras preestabelecidas. Assim, a ideia de se ter um contrato social seria a de pre- servar a propriedade privada, ou seja, o direito natural dos 58 seres do grupo. Esse contrato foi feito de modo consentido, assim, nenhum membro da sociedade estaria acima do contrato social. Portanto, eis a razão de se ter um rei, leis e uma socieda- de civil regidos que usufruem de seus direitos inalienáveis, ordenados por Deus. Os quatro direitos inalienáveis são: 1. direito à vida; 2. direito à liberdade; 3. direito à propriedade; e 4. direito de revoltar-se contra leis e governantes injustos. Por ser aristocrático, Locke não defendia esses direitos aos pobres e nem às mulheres. Não há princípios inatos na mente humana A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento constitui suficiente prova de que não é inato. Consiste numa opinião estabelecida entre alguns homens que o entendimento comporta certos princípios inatos, certas noções primárias, koinai énoiai, caracteres, os quais es- tariam estampados na mente do homem, cuja alma os receberá em seu ser primordial e os transportará consigo ao mundo. Seria suficiente para convencer os leitores sem preconceito da falsidade desta hipótese se pudesse apenas mostrar (o que espero fazer nas outras partes deste tratado) como os homens, simplesmente pelo uso de suas faculdades naturais, podem adquirir todo conhecimento que possuem sem a ajuda de impressões inatas e podem alcançar a certeza sem nenhuma destas noções ou princípios originais. O assentimento geral consiste no argumento mais im- portante. Não há nada mais ordinariamente admitido do que a existência de certos princípios, tanto especulativos como práticos (pois referem-se aos dois), com os quais concordam universalmente todos os homens. A vista disso, argumentam que devem ser uniformes as impres- sões recebidas pelas almas dos homens em seus seres primordiais, que, transportadas por eles ao mundo, mos- tram-se tão necessárias e reais como o são quaisquer de suas faculdades inatas. O acordo universal não prova o inatismo. O argumento derivado do acordo universal comporta o seguinte incon- veniente: se for verdadeiro que existem certas verdades devido ao acordo entre todos os homens, isto deixará de ser uma prova de que são inatas, se houver outro meio qualquer para mostrar como os homens chegam a uma concordância universal acerca das coisas merecedoras de sua anuência. Suponho que isso pode ser feito. John locKe ensaio acerca do entendiMento huMano. são paulo: noVa cultural, 1999, p. 37. 2. francis bacon (1561-1626) Considerado como o “primeiro dos modernos e último dos antigos”, o inglês Francis Bacon desenvolveu uma ciência experimental, na intenção de descobrir ideias que pudessem ser úteis, tendo como principal referência a filosofia de Aristóteles. Para o filósofo, é necessário eliminar os “ídolos”, isto é, as falsas noções, mediante a observação de um método seguro e rigoroso, na intenção de desenvolver a ciência. Os ídolos para Bacon são: § ídolos da caverna: dificuldades da própria pessoa; § ídolos da tribo: tendência do grupo que direcionam o indivíduo; § ídolos do foro: significado atrelados às palavras, influenciando como entendemos o mundo; e § ídolos do teatro: limitações que fazem com que defen- deremos uma única visão de um fato. Francis Bacon multimídia: vídeo Fonte: Youtube 59 Em seu livro Novum organum, Bacon pretende desenvolver uma reforma total do conhecimento humano, baseando-se na observação dos fenômenos naturais e do cumprimento das seguintes etapas: § observação da natureza para a coleta de informações; § organização racional dos dados recolhidos empirica- mente; § formulação de explicações gerais (hipóteses) destina- das à compreensão do fenômeno estudado; e § comprovação da hipótese formulada mediante experi- mentações repetidas. No seu pensamento, os “homens devem saber que, neste teatro da vida humana, apenas Deus e os anjos podem ser espectadores”. Assim, saber é poder. Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto humano e nele se acham implantados não somente o obstruem a ponto de ser difícil o acesso da verdade, como, mesmo depois de seu pórtico logrado e descerra- do, poderão ressurgir como obstáculo à própria instaura- ção das ciências, a não ser que os homens, já precavidos contra eles, se cuidem o mais que possam. São de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana. Para melhor apresentá-los, lhes assinamos no- mes, a saber: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos do Foro e Ídolos do Teatro. A formação de noções e axiomas pela verdadeira indu- ção é, sem dúvida, o remédio apropriado para afastar e repelir os ídolos. Será, contudo, de grande préstimo indi- car no que consistem, posto que a doutrina dos ídolos tem a ver com a interpretação da natureza o mesmo que a doutrina dos elencos sofísticos com a dialética vulgar. Francis bacon noVuM organuM. são paulo: noVa cultural, 1999. 3. david hume (1711-1776) Nascido na Escócia e considerado o mais importante e influente dos empíricos britânicos, levando o empirismo à sua conclusão lógica, David Hume indica que os homens associam ideias e acreditam nessa associação por força do hábito ou costume. Desse modo, Hume conclui que “o costume é, pois, o grande guia da vida humana”. Diante disso, ocorre a destruição de todos os raciocínios baseados em hipóte- ses, pois, sem o apoio da experiência, esses raciocínios tornam-se dogmáticos. O conhecimento só pode ser resultado da associação de ideias, isto é, da conexão de várias impressões por meio de suas cópias, formando ideias complexas. A certeza só pode ser uma crença, ou seja, uma repetição de experiências se- melhantes. Assim, o ceticismo, que sempre se guiou pela razão, tem bases não racionais, como a crença e o hábito. Isso significa que, desconfiando das convicções arraigadas pelo hábito, o cientista deve apresentarsuas teses como probabilidades lógicas, e não como certezas irrefutáveis. Tal atitude epistemológica, estendida ao convívio social, tor- naria os homens mais tolerantes, democráticos e abertos. David Hume multimídia: vídeo Fonte: Youtube Empirista convicto e conhecedor da evolução científica de sua época, Hume insiste sobre a impossibilidade do conhe- cimento ir além da experiência. A crítica à religião e a pos- tura cética lhe valeram a acusação de ateísmo. A novidade do seu pensamento influenciou decisivamente os filósofos posteriores, seja para rejeitá-lo, seja para levar em conta sua crítica à metafísica. 60 Este livro parece ter sido escrito obedecendo ao mesmo plano de vários outros trabalhos, que têm tido grande voga na Inglaterra, nos últimos anos. O espírito filosófico, que tanto se desenvolveu nestas oito décadas em toda a Europa, neste reino foi levado tão longe quanto em qualquer outro. Nossos autores parecem até ter inau- gurado um novo tipo de filosofia, que promete mais en- tretenimento e proveito à humanidade do que qualquer outro conhecido pelo mundo. A maioria dos filósofos da Antiguidade que trataram da natureza humana mostrou mais delicadeza de sentimentos, senso justo da moral, ou grandeza de alma, que profundidade de raciocínio e reflexão. Contentou-se em representar o senso comum humano sob a mais viva luz e com a melhor forma de pensamento e expressão, sem seguir sistematicamente uma cadeia de proposições, nem organizar as várias verdades em uma ciência rigorosa. No entanto, vale a pena ao menos perguntar se a ciência do homem não comporta a mesma precisão de que se julgam suscetí- veis várias partes da filosofia natural. Parece haver toda a razão do mundo para supor que ela pode ser levada ao mais alto grau de exatidão. daVid huMe resuMo de uM tratado da natureZa huMana. porto alegre: paraula, 1995, p. 35-37. Tente outra vez Raul Seixas. Novo Aeon. Philips Record, 1975. A música de Raul Seixas sintetiza o movimento dos empiristas, de repetir as ações para que se tenha validade. Fonte: Youtube multimídia: música 61 DIAGRAMA DE IDEIAS EMPIRISMO O CONHECIMENTO SÓ É VÁLIDO COM A EXPERIÊNCIA BACON PARA ISSO É PRE- CISO ELIMINAR OS ÍDOLOS QUE ATRAPALHAM O CONHECIMENTO HUME O HÁBITO É O GUIA DA VIDA HUMANA QUE A EXPERIÊNCIA VALIDA O CONHECIMENTO LOCKE A MENTE É UMA TÁBULA RASA QUE É PREENCHIDA PELA EXPERIÊNCIA SÓ O GÊNERO MASCULINO TEM DIREITOS NA SOCIEDADE BUSCA REORGANIZAR O CONHECIMENTO 62 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Enem) Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Mo- dernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, con- vertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperia- lismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente. cupani, a. a tecnologia coMo probleMa FilosóFico: trÊs enFoques. scientiae studia, são paulo, V. 2, n. 4, 2004 (adaptado). Autores da filosofia moderna, notadamente Descar- tes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investi- gação científica consiste em a) expor a essência da verdade e resolver definitiva- mente as disputas teóricas ainda existentes. b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia. c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso. d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos. e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos. 2. (Enem) Texto I Experimentei algumas vezes que os sentidos eram engano- sos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em que já nos enganou uma vez. descartes, r. Meditações MetaFísicas. são paulo: abril cultural, 1979. Texto II Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer im- pressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. huMe, d. uMa inVestigação sobre entendiMento. são paulo: unesp, 2004 (adaptado). Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo. b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica. c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento. d) concordam que conhecimento humano é impossí- vel em relação às ideias e aos sentidos. e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento. 3. (Unicamp) A maneira pela qual adquirimos qual- quer conhecimento constitui suficiente prova de que não é inato. locKe, John. ensaio acerca do entendiMento huMano. são paulo: noVa cultural, 1988, p. 13 O empirismo, corrente filosófica da qual Locke fazia parte, a) afirma que o conhecimento não é inato, pois sua aquisição deriva da experiência. b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os conhe- cimentos possam ser obtidos. c) aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao negar a existência de ideias inatas. d) defende que as ideias estão presentes na razão desde o nascimento. 4. (Unesp) Sendo os homens, conforme (...) dissemos, por natureza, todos livres, iguais e independentes, nin- guém pode ser expulso de sua propriedade e submeti- do ao poder de outrem sem dar consentimento. John locKe. segundo tratado sobre o goVerno. O patrimônio do pobre reside na força e destreza de suas mãos, sendo que o impedir de utilizar essa força e essa destreza da maneira que ele considerar adequada, desde que não lese o próximo, constitui uma violação pura e simples dessa propriedade sagrada. adaM sMith. a riqueZa das nações. A partir da leitura dos textos, é correto afirmar que: a) John Locke defende a democracia, isto é, a igual- dade política entre os homens, ao passo que Adam Smith privilegia o trabalho, portanto a desigualdade. b) John Locke funda sua teoria política liberal na defe- sa da propriedade privada, em sintonia com a defesa da livre iniciativa proposta por Adam Smith. c) o consentimento para evitar o poder centralizado do rei, em John Locke, choca-se com a necessidade de intervenção econômica, segundo Adam Smith. d) a monarquia absolutista é a base da teoria política de John Locke, enquanto o Estado não intervencionis- ta é o suporte da teoria econômica de Adam Smith. e) para John Locke, o consentimento é garantido pela divisão dos poderes harmonizando-se com a defesa da propriedade coletiva de Adam Smith. 5. (UEL) A figura do homem que triunfa sobre a natu- reza bruta é significativa para se pensar a filosofia de Francis Bacon (1561-1626). Com base no pensamento de Bacon, considere as afirmativas a seguir. I. O homem deve agir como intérprete da natureza para melhor conhecê-la e dominá-la em seu benefício. 63 II. O acesso ao conhecimento sobre a natureza depende da experiência guiada por método indutivo. III. O verdadeiro pesquisador da natureza é um homem que parte de proposições gerais para, na sequência e à luz destas, clarificar as premissas menores. IV. Os homens de experimentos processam as informações à luz de preceitos dados a priori pela razão. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente asafirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. 6. (UEL) [...] é necessário, ainda, introduzir-se um mé- todo completamente novo, uma ordem diferente e um novo processo, para continuar e promover a experiên- cia. Pois a experiência vaga, deixada a si mesma [...] é um mero tateio, e presta-se mais a confundir os homens que a informá-los. Mas quando a experiência proceder de acordo com leis seguras e de forma gradual e cons- tante, poder-se-á esperar algo de melhor da ciência. [...] A infeliz situação em que se encontra a ciência humana transparece até nas manifestações do vulgo. Afirma-se corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas causas. E, não indevidamente, estabelecem- se quatro coisas: a matéria, a forma, a causa eficiente, a causa fi- nal. Destas, a causa final longe está de fazer avançar as ciências, pois na verdade as corrompe; mas pode ser de interesse para as ações humanas. bacon, F. noVo organuM ou Verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureZa. são paulo: abril cultural, 1973, p. 72; 99-100. Com base no texto e no pensamento de Francis Bacon acerca da verdadeira indução experimental como inter- pretação da natureza, é correto afirmar: a) Na busca do conhecimento, não se podem encon- trar verdades indubitáveis, sem submeter as hipóteses ao crivo da experimentação e da observação. b) A formulação do novo método científico exige sub- meter a experiência e a razão ao princípio de autori- dade para a conquista do conhecimento. c) O desacordo entre a experiência e a razão, prevale- cendo esta sobre aquela, constitui o fundamento para o novo método científico. d) Bacon admite o finalismo no processo natural, por considerar necessário ao método perguntar para que as coisas são e como são. e) O estabelecimento de um método experimental, baseado na observação e na medida, aprimora o mé- todo escolástico. 7. (Enem) Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consis- tentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimen- tos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cava- lo, animal que nos é familiar. huMe, d. inVestigação sobre o entendiMento huMano. são paulo: abril cultural, 1995. Hume estabelece um vínculo entre pensamento e im- pressão ao considerar que a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação. b) o espírito é capaz de classificar os dados da percep- ção sensível. c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso. d) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória. e) as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria. 8. (Unioeste) John Locke afirma em Ensaio acerca do entendimento: “(...) é de grande utilidade para o marinheiro saber a extensão de sua linha, embora não possa com ela son- dar toda a profundidade do oceano. É conveniente que saiba que ela é suficientemente longa para alcançar o fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem, e preveni-lo de esbarrar contra escolhos que podem des- truí-lo. Não nos diz respeito conhecer todas as coisas, mas apenas as que se referem à nossa conduta. Se pu- dermos descobrir aquelas medidas por meio das quais uma criatura racional, posta nesta situação do homem no mundo, pode e deve dirigir suas opiniões e ações delas dependentes, não devemos nos molestar por que outras coisas escapam ao nosso conhecimento”. Tendo em conta o texto acima e a teoria do conheci- mento de Locke, é incorreto afirmar que: a) o homem, utilizando suas faculdades racionais, pode conhecer tudo sobre todas as coisas do mundo. b) o homem deve saber os limites da razão para ter conhecimento certo daquilo que é possível conhecer. c) há certas coisas que a razão do homem não pode conhecer. d) assim como o marinheiro guia sua viagem por uma sonda de tamanho conhecido, o homem deve orien- tar sua conduta por aquilo que conhece. 9. (UFU) Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aqui- no substitui a doutrina da iluminação divina pela da abstração, de raízes aristotélicas: a única fonte de co- nhecimento humano seria a realidade sensível, pois os objetos naturais encerrariam uma forma inteligível em potência, que se revela, porém, não aos sentidos que só podem captá-la individualmente – mas ao intelecto. inÁcio, inÊs c.; luca, tÂnia regina de. o pensaMento MedieVal. são paulo: Ática, 1988, p. 74. 64 Considerando o trecho citado, assinale a alternativa verdadeira. a) O texto faz referência à influência de Aristóteles no pensamento de Tomás de Aquino, que se opõe, em muitos pontos, à tradição agostiniana, que tinha influência de Platão. b) O texto expõe a doutrina da iluminação, formulada por Tomás de Aquino para explicar a origem de nosso conhecimento. c) Para Tomás de Aquino, a realidade sensível é ape- nas uma cópia enganosa da verdadeira realidade que se encontra na mente divina. d) Tomás de Aquino substitui a doutrina da ilumi- nação pela teoria da abstração aristotélica, a fim de mostrar que a fé em Deus é incompatível com as ver- dades científicas. 10. (UEM) Todas as ideias derivam da sensação ou re- flexão. Suponhamos que a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela será suprida? (...) De onde apreende todos os materiais da razão e do co- nhecimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento. locKe, John. ensaio acerca do entendiMento huMano. são paulo: abril cultural, 1973, p. 165. Assinale o que for correto. 01) Para John Locke, embora nosso conhecimento se origine na experiência, nem todo ele deriva da experi- ência. No entendimento, existem ideias inatas abstra- ídas das coisas pela reflexão. 02) Como seguidor de Descartes, John Locke assume a diferença entre conhecimento verdadeiro, que é pura- mente intelectual e infalível, e conhecimento sensível, que, por depender da sensação, é suscetível de erro. 04) John Locke é o iniciador da teoria do conhecimento em sentido estrito, pois se propôs, no Ensaio acerca do entendimento humano, a investigar explicitamente a na- tureza, a origem e o alcance do conhecimento humano. 08) Para John Locke, todo nosso conhecimento pro- vém e se fundamenta na experiência. As impressões formam as ideias simples; a reflexão sobre as ideias simples, ao combiná-las, formam ideias complexas, como substância, Deus, alma etc. 16) John Locke distingue as qualidades do objeto em qualidades primárias (solidez, extensão, movimento etc.) e qualidades secundárias (cor, odor, sabor etc.); as primeiras existem realmente nas coisas, as segun- das são relativas e subjetivas. 11. (UFU) Suponha-se, agora, que esse homem adquiriu mais experiência e viveu no mundo o tempo suficien- te para ter observado uma conjunção constante entre objetos ou acontecimentos familiares: qual é o resulta- do desta experiência? Ele infere imediatamente a exis- tência de um objeto do aparecimento do outro. E, sem embargo, nem toda a sua experiência lhe deu qualquer idéia ou conhecimento do poder secreto pelo qual um objeto produz outro; e tampouco é levado a fazer essa inferência por qualquer processo de raciocínio. No en- tanto, é levado a fazê-la. (...) Há algum outro princípio que o determina a tirar essa conclusão. huMe, daVid. inVestigação sobre o entendiMento huMano. coleção “os pensadores”. são paulo: abril cultural, 1978. Qual é o princípio a que Hume se refere acima? De acor- do com o texto, aponte a sua relevância para a teoria do conhecimento. gabarito 1-C; 2-E; 3-A; 4-B; 5-A; 6-A; 7-A; 8-A;9-A; 10-(04 + 08 + 16 = 28) 11. Hume apresenta a noção de hábito. A relevância dessa noção para a teoria do conhecimento é que ela está se contrapondo à noção de casualidade. Ele crê que o hábito é de extrema importância para o conhecimento humano. 65 IluMInIsMo FrancêsAULA 10 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 O século XVIII costuma ser chamado de Idade do Iluminis- mo, por causa da disseminação de ideias racionais, pro- gressistas, liberais e científicas. Surgida com o enfraqueci- mento do absolutismo, o iluminismo vem para combater todos os elementos atrelados ao sistema absolutista e a influência da Igreja no comportamento das pessoas. O iluminismo francês despontou como um movimento na história da filosofia com características sociopolíticas que de- sencadearam inúmeras transformações históricas e sociais. Iluminismo: do antigo regime aos nossos dias O iluminismo foi um movimento de ideias de- senvolvido, essencialmente, no século XVIII e que acabou levando ao fim do antigo regime e aos movimentos de independência das co- lônias na América. Este vídeo analisa o ilumi- nismo no contexto do antigo regime, desde o pensamento precursor de John Locke, se- guindo pelos principais filósofos iluministas e chegando à atualidade. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 1. voltaire (1694-1778) Um dos mais famosos pensadores do iluminismo, o filóso- fo francês François-Marie Arquet, conhecido como Voltaire, destacou-se pelas críticas que fez ao clero católico, à into- lerância e à prepotência dos poderosos. Tornou-se marcante sua posição em defesa da liberdade de pensamento. Existe uma frase que é atribuída ao seu nome: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até à morte o direito de você dizê-las.”. A filosofia, para o Voltaire, deveria ser útil, modificando o comportamento das pessoas. Deixa eu falar Raimundos. Só no Forevis. WE Music, 1999 Nessa faixa, a banda apresenta a ideia da liberdade, apontando uma crítica contra as opressões que estão na nossa sociedade. Fonte: Youtube multimídia: música 66 1.1. Cândido ou O otimismo (1758) Em seu livro mais famoso, intitulado Cândido, o homem não é um ser maldoso, “torna-se mau tal como se torna doente”. O mal deixa de ser uma questão metafísica e teo- lógica para assumir uma dimensão humana. Sendo um retrato satírico de seu tempo, essa obra situa al- guns fatos históricos, como o terremoto em Lisboa (1755) e a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), ao passo que faz críticas, com bom humor, às regalias da nobreza, à intole- rância religiosa e aos absurdos da Santa Inquisição. O per- sonagem mestre Pangloss é uma representação sarcástica da filosofia otimista do pensador Gottfried Leibniz. Assim, a história é a história do progresso, que avança à medida que os homens vão se esclarecendo pelas luzes da razão. Por isso, o filósofo luta contra os dogmas, a superstição e o fanatismo. 2. denis diderot (1713-1784) Denis Diderot foi o principal expoente do projeto da Enci- clopédia – uma obra que sintetiza as luzes: trata de filoso- fia, ciências, artes, política, economia, geografia e técnicas. Concebia a Natureza como um grande processo criativo, com o homem como parte de um todo. O filósofo ressalta a relatividade da cultura e a necessidade de mudança – o homem pode ser bom e feliz, contanto que se liberte das imposições das autoridades religiosas, metafísicas, filosó- ficas ou políticas que teimam em contrariar a razão e a natureza. Porém, seguir as leis da natureza não significa tornar-se seu prisioneiro, pois, a razão não é apenas a imi- tação da natureza, mas a capacidade de criação. Em sua obra Sobrinho de Rameau, Diderot ataca o con- formismo burguês. Diderot Roberto Romano, professor da Unicamp, co- menta a filosofia de Diderot. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 3. montesquieu (1689-1755) O objetivo de Charles Loms de Secondat, o barão de Mon- tesquieu, é claro: destacar e analisar separadamente o aspecto propriamente político e social do homem. Assim, Montesquieu quer demarcar o domínio próprio da política e de sua ciência, que não se confunde com o da religião ou o da moral. Para muitos que o interpretam, ele inaugura a sociologia política. 67 Sua obra mais famosa, Do espírito das leis (1748), procura a “natureza e o princípio” subjacentes a diferentes tipos de lei. Classificou formas de governo, de acordo com seu “princípio animador”, de modo que o importante não é julgar os go- vernos existentes, mas compreender a natureza e o princípio de cada espécie de governo. Montesquieu afirmava que: § a virtude é o princípio de uma república; § a honra, o de uma monarquia; e § o medo, o do despotismo. Do espírito das leis Montesquieu. São Paulo: Saraiva, 2008. Nessa obra, Montesquieu apresenta as bases estruturais da divisão dos poderes, analisando uma nova conjuntura política. multimídia: livro As leis, em seu significado mais extenso, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas; e, neste sentido, todos os seres têm suas leis; a Divindade possui suas leis, o mundo material possui suas leis, as inteligên- cias superiores ao homem possuem suas leis, os animais possuem suas leis, o homem possui suas leis. Aqueles que afirmaram que uma fatalidade cega pro- duziu todos os efeitos que observamos no mundo pro- feriram um grande absurdo: pois o que poderia ser mais absurdo do que uma fatalidade cega que teria produzi- do seres inteligentes? Existe, portanto, uma razão primitiva; e as leis são as re- lações que se encontram entre ela e os diferentes seres, e as relações destes diferentes seres entre si. Deus possui uma relação com o universo, como criador e como conservador: as leis segundo as quais criou são aquelas segundo as quais conserva. Ele age segundo estas regras porque as conhece; conhece-as porque as fez, e as fez porque elas possuem uma relação com sua sabedoria e sua potência. Como observamos que o mundo, formado pelo mo- vimento da matéria e privado de inteligência, ainda subsiste, é necessário que seus movimentos possuam leis invariáveis; e se pudéssemos imaginar um mun- do diferente deste ele possuiria regras constantes ou seria destruído. Montesquieu do espírito das leis. são paulo: Martins Fontes, 2000, p. 11. 68 DIAGRAMA DE IDEIAS ILUMINISMO FRANCÊS PENSAMENTO BURGUÊS QUE SERÁ CONTRA O ABSOLUTISMO VOLTAIRE LIBERDADE DE EXPRESSÃO NINGUÉM DEVE SER PUNIDO POR EXPRESSAR A SUA OPINIÃO DIDEROT SURGE A ENCICLOPÉDIA O CONHECIMENTO DEVE SER DIFUNDIDO MONTESQUIEU MAIOR PARTICIPAÇÃO POPULAR NO GOVERNO DIVISÃO DOS PODERES • JUDICIÁRIO • EXECUTIVO • LEGISLATIVO 69 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Enem) Para que não haja abuso, é preciso organi- zar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de execu- tar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma in- dependente para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente. Montesquieu, b. do espírito das leis. são paulo: abril cultural, 1979 (adaptado). A divisão e a independência entre os poderes são con- dições necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas. b) consagração do poder político pela autoridade religiosa. c) concentração do poder nas mãos de elites técnico- -científicas. d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo. e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito. 2. (Enem) Éverdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direi- to de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder. Montesquieu. do espírito das leis. são paulo: noVa cultural, 1997 (adaptado). A característica de democracia ressaltada por Montes- quieu diz respeito a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo. b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às leis. c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis. d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das consequências. e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acor- do com seus valores pessoais. 3. (Enem) Observe as duas afirmações de Montesquieu (1689-1755) a respeito da escravidão: A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao senhor, nem ao escravo: a este porque nada pode fazer por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos toda sorte de maus hábitos e se acostuma insensivel- mente a faltar contra todas as virtudes morais: torna-se orgulhoso, brusco, duro, colérico, voluptuoso, cruel. Se eu tivesse que defender o direito que tivemos de tornar escravos os negros, eis o que eu diria: tendo os povos da Europa exterminado os da América, tiveram que escravi- zar os da África para utilizá-los para abrir tantas terras. O açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos cultivassem a planta que o produz. (Montesquieu, do espírito das leis) Com base nos textos, podemos afirmar que, para Mon- tesquieu, a) o preconceito racial foi contido pela moral religiosa. b) a política econômica e a moral justificaram a escravidão. c) a escravidão era indefensável de um ponto de vista econômico. d) o convívio com os europeus foi benéfico para os escravos africanos. e) o fundamento moral do direito pode submeter-se às razões econômicas. 4. (Fuvest) “A autoridade do príncipe é limitada pelas leis da natureza e do Estado... O príncipe não pode, por- tanto, dispor de seu poder e de seus súditos sem o con- sentimento da nação e independentemente da escolha estabelecida no contrato de submissão (...)” diderot, artigo “autoridade política”, enciclopédia, 1751. Tendo por base esse texto da Enciclopédia, é correto afirmar que o autor: a) pressupunha, como os demais iluministas, que os direitos de cidadania política eram iguais para todos os grupos sociais e étnicos. b) propunha o princípio político que estabelecia leis para legitimar o poder republicano e democrático. c) apoiava uma política para o Estado, submetida aos princípios da escolha dos dirigentes da nação, por meio do voto universal. d) acreditava, como os demais filósofos do Iluminis- mo, na revolução armada como único meio para a deposição de monarcas absolutistas. e) defendia, como a maioria dos filósofos iluministas, os princípios do liberalismo político que se contrapu- nham aos regimes absolutistas. 5. (UFPR) A respeito do iluminismo, movimento filosófi- co que se difundiu pela Europa ao longo do século XVIII, considere as seguintes afirmativas: I. Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, Vol- taire e Diderot, foram leitores, admiradores e divulgadores da filosofia política produzida pelos ingleses, como John Locke com sua crítica ao absolutismo. II. Quanto à organização do Estado, os filósofos iluministas não eram contra a monarquia, mas contra as ideias de que o poder monárquico fora constituído pelo direito divino e de que ele não poderia ser submetido a nenhum freio. 70 III. A descoberta da perspectiva e a valorização de temas reli- giosos marcaram as expressões artísticas durante o iluminismo. IV. Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu grande impulso das descobertas marítimas. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa I é verdadeira. b) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. c) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras. d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. e) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. 6. (UFF) O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é considerado um dos grandes pensadores do iluminismo ou século das luzes. Ele afirma o seguinte sobre a importância de manter acesa a chama da razão: “Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas cabeças da hidra do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar- -se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tan- ge, acredito que a verdade não deve mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos do alimento com medo de sermos envenenados.” Identifique a opção que melhor expressa esse pensa- mento de Voltaire. a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um risco desnecessário. b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os seres humanos. c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem para enfrentar o obscuran- tismo e o fanatismo. d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do pas- sado e por isso a razão não precisa mais estar alerta. e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo. 7. Montesquieu (1689-1755), na obra Do espírito das leis, afirma: “Quando os poderes legislativo e executivo ficam reuni- dos numa mesma pessoa ou instituição do Estado, a li- berdade desaparece [...] Não haveria também liberdade se o poder judiciário se unisse ao executivo, o juiz pode- ria ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido se uma mesma pessoa ou instituição do Estado exercesse os três poderes: o de fazer leis, o de ordenar a sua execu- ção e o de julgar os conflitos entre os cidadãos.” A partir dessas informações sobre a filosofia política de Montesquieu e a divisão que propõe do poder, é correto afirmar: a) O poder judiciário aplica as leis; o poder legislativo cria e aprova as leis; o poder executivo executa normatizações e deliberações referentes à administração do Estado. b) O poder judiciário tem força para administrar o execu- tivo; o poder executivo tem força para conduzir o judiciá- rio; o poder legislativo tem força para tutelar o judiciário. c) O poder legislativo aplica as leis; o poder executivo gerencia as normatizações e deliberações relacionadas à administração do Estado; o poder judiciário aprova as leis. d) O poder executivo cria as leis; o poder judiciário sanciona as leis; e o poder legislativo efetiva as leis na administração do Estado. 8. (Unesp) Governos que se metem na vida dos outros são governos autoritários. Na história temos dois gran- des exemplos: o fascismo e o comunismo. Em nossa época existe uma outra tentação totalitária, aparentemente mais invisível e, por isso mesmo, talvez, mais perigosa: o “totali- tarismo do bem”. A saúde sempre foi um dos substantivos preferidos das almas e dos governos autoritários. Quem es- tudar os governos autoritários verá que a “vida cientifica- mente saudável” sempre foi uma das suas maiores paixões. E, aqui, o advérbio “cientificamente” é quase vago porque o que vem primeiro é mesmo o desejo de higienização de toda forma de vício, sujeira, enfim, de humanidade não correta. Nosso maior pecado contemporâneo é não reco- nhecer que a humanidade do humano está além do modo “correto” de viver. E vamos pagar caro por isso porque um mundo só de gente “saudável” é um mundo sem Eros. luiZ Felipe pondé. gosto que cada uM sente na boca não é da conta do goVerno. Folha de s.paulo, 14.03.2012 (adaptado). Na concepçãodo autor, o totalitarismo: a) é um sistema político exclusivamente relacionado com o fascismo e o comunismo. b) inexiste sob a égide de regimes políticos institucio- nalmente democráticos e liberais. c) depende necessariamente de controles de natureza policial e repressiva dos comportamentos. d) mobiliza a ciência para estabelecer critérios de na- tureza biopolítica sobre a vida. e) estabelece regras de comportamento subordinadas à autonomia dos indivíduos. 9. (UFF) Nos séculos XVI e XVII os conflitos religiosos se disseminaram por toda a Europa provocando guerras e impondo um ambiente de perseguição e fanatismo. Diante desse contexto, o aparecimento de alternativas de paz envolveu o “princípio de tolerância” que pode ser associado à seguinte opção: a) As crenças e opiniões devem ser expressas somen- te na intimidade. b) Os seres humanos devem respeitar as crenças e opiniões uns dos outros. c) O Estado tem o dever de impedir que os seres hu- manos adotem crenças e opiniões falsas. d) A opinião verdadeira tem o direito de se impor a todos os seres humanos. e) A minoria deve adotar as opiniões e crenças da maioria. 10.(FGV) “O gênero humano é de tal ordem que não pode subsistir, a menos que haja uma grande infinidade de homens úteis que não possuam nada.” (dicionÁrio FilosóFico, Verbete “igualdade”) 71 “O comércio, que enriqueceu os cidadãos na Inglaterra, contribuiu para os tornar livres, e essa liberdade deu por sua vez maior expansão ao comércio; daí se formou o poderio do Estado.” (cartas inglesas) Sobre os trechos de Voltaire, é correto afirmar que o autor: a) define, com suas ideias, os interesses da burguesia como classe, no século XVIII: o comércio como con- dição para a acumulação de capital, a riqueza como fator de liberdade e do poder de Estado e a proprie- dade ligada à desigualdade. b) crê, como filósofo iluminista do século XVIII, nas igualdades social e política, pois a filosofia burguesa elabora uma doutrina universalista que confunde a causa da burguesia com a de toda a humanidade. c) critica a centralização do poder na medida em que ela breca a liberdade, impedindo o progresso das téc- nicas e a expansão do comércio que geram riqueza, e, ao mesmo tempo, aceita a propriedade como fun- damento da igualdade. d) considera que a burguesia não se constitui em uma classe no século XVIII, e ela precisa do poder do Estado centralizado para garantir a sua riqueza e, nessa medi- da, aproxima-se da nobreza para obter apoio político. e) defende, como representante da Ilustração, a li- berdade ligada à ausência da propriedade e elabora princípios universais, com direitos e deveres para to- dos os homens, o que faz a igualdade econômica ser o fundamento da sociedade. 11. (Unicamp) O pensamento iluminista do século XVIII tem na Enciclopédia, dirigida por Diderot e d’Alembert, uma obra de 35 volumes, editada entre 1751 e 1780, que reúne a totalidade dos conhecimentos da época. Por usarem os princípios da razão para questionar os fundamentos da sociedade em que viviam, os enciclo- pedistas foram considerados defensores de um pensa- mento revolucionário. a) Qual a característica principal do pensamento das luzes? b) O que significa afirmar que esses pensadores usa- vam em suas críticas sociais os princípios da razão? c) Contra quais valores da época se dirigiam as críti- cas dos pensadores iluministas? 12. (Fuvest) Quando na mesma pessoa, ou no mesmo cor- po de magistrados, o poder legislativo se junta ao exe- cutivo, desaparece a liberdade (...). Não há liberdade se o poder judiciário não está separado do legislativo e do executivo (...). Se o judiciário se unisse com o executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E tudo estaria per- dido se a mesma pessoa ou o mesmo corpo de nobres, de notáveis, ou de populares, exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de ordenar a execução das resoluções pú- blicas e o de julgar os crimes e os conflitos dos cidadãos. (Montesquieu, do espírito das leis, 1748) a) Qual o tema do texto? b) Explique o contexto histórico em que foi produzido. gabarito 1-D; 2-B; 3-E; 4-E; 5-B; 6-C; 7-A; 8-D; 9-B; 10-A 11. a) Racionalismo b) Significa que defendiam que deixassem de utilizar pre- ceitos da religião para interferir na política, educação, entre outros. Defendiam a liberdade de expressão. c) Os pensadores iluministas dirigiam suas críticas ao poder soberano, que eram a Igreja e o monarca absolutista. 12. a) A formação do Estado moderno e da divisão dos poderes. b) Este texto está inserido na consolidação do Estado bur- guês moderno e mudança do pensamento político. 72 rousseauAULA 11 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. jean-jacques rousseau (1771-1778) Jean-Jacques Rousseau é o filósofo de maior destaque no iluminismo – uma figura inconformista, inquieto, individua- lista, mas também coletivista. No livro Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, a figura do homem, para Rousseau, constitui em um ser bom, que diante das instituições do estado civil aca- ba corrompido. Demonstra nesse texto que a desigualdade entre os homens origina-se com o início da propriedade privada, fato este que provoca as disputas entre os seres. No estado de natureza, por sua vez, os homens vivem isolados, porém, são basicamente iguais. Neste estado, os homens vivem por duas paixões: o desejo de autoconser- vação e a piedade. Desse modo, Rousseau demonstra que o homem primi- tivo parecia viver em unidade orgânica consigo mesmo, em total harmonia, ao passo que o homem moderno vivia afastado da igualdade, apontando todos os passos que o homem deu desde a liberdade no estado de natureza até a vida desregrada e servil em sociedade. Rousseau (vida e obra) Vídeo que trata sobre a vida e as obras do filósofo Rousseau multimídia: vídeo Fonte: Youtube Ele aponta que o homem, no estado civil, está preso às amarras do Estado, às regras que direcionam o embate do homem contra o homem, de maneira a fomentar a ga- nância e a inveja entre os pares, caracterizando uma desi- gualdade legalizada entre os homens. Assim, a crítica de Rousseau se faz pelas amarras proporcionadas pelas leis civis, que condicionam e perpetuam a existência da desi- gualdade entre os homens. Ao passo que Rousseau critica todas os elementos desse es- tado civil, inclusive as ciências e as artes, que condicionam aos hábitos viciosos dos homens, destruindo as virtudes hu- manas, não apontando para uma valorização da racionalida- de humana. Isso não quer dizer que o filósofo é contrário às ciências e às artes, ele só aponta que essas estruturas preci- sam impedir que a corrupção humana seja menor. 73 1.1. O contrato social (1757) Rousseau tenta estabelecer as condições de possibilidade de uma sociedade legítima, estabelecendo, desde a sua origem, as condições de uma sociedade legitimamente constituída. Assim, a obediência às leis não poderá nunca se configu- rar como a obediência a um homem ou a um grupo de homens, mas como obediência a si mesmo, desde que as leis tenham sido o resultado de uma decisão comum, que envolva a todos os membros da associação política. Pelo contrato social, todos os membros da associação assumem a responsabilidade pelas deliberações públicas. O povo ad- quire a sua soberania e cada membro da associação se transforma em um cidadão. Dessa maneira, o soberano é o povo, pois os indivíduos, ao se submeterem pelo contrato social, criam-se a si mesmos como povo. O contrato social – Resumo Vídeo que comenta sobre a obra O contrato social, de Rousseau multimídia: vídeo Fonte: Youtube Com isso, Rousseau propôs reformular a sociedade, que pre- cisa criar seus regimentos internos, mas que visa a respeitar a natureza humana, ou seja, a conservação da liberdade e a igualdade entre os homens. A fórmula rousseauniana con- siste em fomentar que o povo deve ser o principal agente do Estado, e o governo deveriaser o representante desse povo. Assim, as formas clássicas de governo – monarquia, aristocracia e democracia – teriam um papel secundário em relação à representatividade do povo. O contrato Social ROUSSEAU, Jean-Jacques. São Paulo: L&PM, 2007. multimídia: livro A culpa é de quem? Pacto Social. Hasta La Lucha y Viva Zapata. Independente, 2018. A banda punk Pacto Social apresenta as de- sigualdades criadas pelos acordos civis que naturalizam as desigualdades, estrutura tão criticada por Rousseau. multimídia: música 1.2. Emílio ou Da Educação (1762) Estruturado nessa nova conjuntura social, Rousseau apresen- ta, no livro Emílio ou Da Educação, que, para a criação de uma nova sociedade, era preciso criar um novo indivíduo, pensan- do na sua primeira formação – a infância. Assim, a criança deveria ser preparada seguindo o acordo com a Natureza, visando a um desenvolvimento progressivo de seus sentidos e de sua razão, com o intuito de reduzir a desigualdade social. Nesse livro, ele expõe um direcionamento pedagógico para cada estágio da vida, seguindo a dinâmica do livro, dividido nos cinco capítulos. Nos dois primeiros capítulos, o filósofo descreve que é preciso enfatizar o lado físico de sua educa- ção até os doze anos, com o objetivo de aprender um ofício manual. Nos capítulos III e IV, apresenta os estágios tran- sitórios da adolescência, instante em que as faculdades da razão do indivíduo começam a se consolidar. Já no capítulo V, descreve a idade adulta, na qual emerge a Era da Sabedoria. 74 Essa estrutura pensada por Rousseau serviu para o nasci- mento do conceito moderno de infância, pois começou a serem direcionadas ações específicas para diferentes eta- pas do jovem em sua formação, de modo a desencadear um abandono da pedagogia escolástica tradicional, que moldava o homem, independente da idade. 1.3. O patrono da Revolução Francesa Durante os anos que constituíram a Revolução Francesa (1789), os textos de Rousseau permeiam as mentes dos burgueses, principalmente da ala mais radical – os jacobi- nos. Essas ideias inovadoras de mudanças sociais serviram de motivação para que os burgueses pudessem mudar o sistema de governo e transformassem a sociedade francesa. “a liberdade guiando o poVo”, quadro do FrancÊs eugène delacroiX (1830) O primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer: ‘Isso é meu’, e encontrou pessoas bastante simples para crê-los, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, mortes, quantas misérias e hor- rores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gri- tado aos seus semelhantes: ‘Guardai-vos de escutar este impostor; estais perdidos se esquecerdes que os frutos são para todos, e que a terra é de ninguém!’ Mas existem um grande indício de que as coisas aí já tivessem chegado ao ponto de não poder mais continuar como estavam: pois esta ideia de propriedade – provindo de muitas ideias an- teriores, que não puderam nascer senão sucessivamente – não se formou repentinamente no espírito humano (...). Jean-Jacques rousseau discurso sobre a origeM e dos FundaMentos da desigualdade entre os hoMens. in: os clÁssicos da política. são paulo: Ática, 2008, p. 201. Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos des- providos de tudo, temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não temos ao nascer, e de que precisamos adultos, é-nos dado pela educação. Essa educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. O desen- volvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a educação da natureza; o uso que nos ensi- nam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos homens; e o ganho de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas. Cada um de nós é, portanto, formado por três espécies de mestres. O aluno em quem as diversas lições desses mestres se contrariam é mal educado e nunca esta- rá de acordo consigo mesmo; aquele em quem todas visam ao mesmos pontos e tendem para os mesmos fins, vai sozinho a seu objetivo e vive em consequência. Somente esse é bem educado. Jean-Jacques rousseau eMílio ou da educação. são paulo: diFel, 1979. 75 DIAGRAMA DE IDEIAS ROUSSEAU A SOCIEDADE CIVIL CONSOLIDA A DESIGUALDADE ENTRE OS SERES HUMANOS POIS TEM A PROPRIEDADE PRIVADA COMO BASE A SOCIEDADE É FORMADA POR UM CONTRATO SOCIAL QUE ORDENA AS REGRAS CIVIS DESSE GRUPO QUE PODE SER MODIFICADO AO LONGO DO TEMPO 76 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Unicamp) Leia o trecho a seguir. “O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros. O que se crê senhor dos demais não deixa de ser mais escravo do que eles. (...) A ordem social, porém, é um direito sagrado que serve de base a todos os outros. (...) Haverá sempre uma grande diferença entre subjugar uma multidão e reger uma sociedade. Sejam homens isolados, quantos possam ser submetidos sucessivamente a um só, e não verei nisso senão um senhor e escravos, de modo algum considerando-os um povo e seu chefe. Trata-se, caso se queira, de uma agregação, mas não de uma as- sociação; nela não existe bem público, nem corpo político. rousseau, Jean-Jacques. do contrato social. [1762]. são paulo: abril, 1973, p. 28 e 36. Sobre Do contrato social, publicado em 1762, e seu au- tor, é correto afirmar que: a) Rousseau, um dos grandes autores do Iluminismo, defende a necessidade de o Estado francês substituir os impostos por contratos comerciais com os cidadãos. b) A obra inspirou os ideais da Revolução Francesa, ao explicar o nascimento da sociedade pelo contrato social e pregar a soberania do povo. c) Rousseau defendia a necessidade de o homem vol- tar a seu estado natural, para assim garantir a sobre- vivência da sociedade. d) O livro, inspirado pelos acontecimentos da Inde- pendência Americana, chegou a ser proibido e quei- mado em solo francês. 2. (UEL 2018) Leia o texto a seguir. Por que só o homem é suscetível de tornar-se imbecil? [...] O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o pri- meiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer, isto é, meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. rousseau, Jean-Jacques. discurso sobre a origeM e os FundaMentos da desigualdade entre os hoMens. 3. ed. são paulo: abril cultural, 1983. p. 243 e 259. Com base nos conhecimentos sobre sociedade civil, propriedade e natureza humana no pensamento de Rousseau, assinale a alternativa correta. a) A instauração da propriedade decorre de um ato legí- timo da sociedade civil, na medida em que busca aten- der às necessidades do homem em estado de natureza: b) A instauração da propriedade e da sociedade civil cria uma ruptura radical do homem consigo mesmo e de distanciamento da natureza. c) A fundação da sociedade civil é legitimada pela racionalidade e pela universalidade do ato de instau- ração da propriedade privada. d) O sentimento mais primitivo do homem, que o leva a instituir a propriedade, é o reconhecimento da ne- cessidade da propriedade para garantir a subsistência. e) A sociedade civil e a propriedade são expressões da perfectibilidade humana, ou seja, da sua capaci- dade de aperfeiçoamento. 3. (UFU) O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, as- sassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchen- do o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defen- dei-vos de ouvir esse impostor; estarei perdidos se es- quecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém!” rousseau, Jean-Jacques. discurso sobre a origeM e os FundaMentos da desigualdade entre os hoMens. são paulo: noVa cultural, 1997, p. 87. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensa- mento político de Rousseau, é corretoafirmar: a) A desigualdade é um fato natural autorizada pela lei natural, independentemente das condições sociais decorrentes da evolução histórica da humanidade. b) A finalidade da instituição da sociedade e do governo é a preservação da individualidade e das diferenças sociais. c) A sociabilidade tira o homem do estado de natureza onde vive em guerra constante com os outros homens. d) Rousseau faz uma crítica ao processo de socializa- ção, por ter corrompido o homem, tornando-o egoísta e mesquinho para com os seus semelhantes. e) Rousseau valoriza a fundação da sociedade civil, que tem como objetivo principal a garantia da posse privada da terra. 4. (Mackenzie) Assinale a alternativa em que aparecem as principais ideias de Jean-Jacques Rousseau, em sua obra O contrato social. a) Cada homem é inimigo do outro, está em guerra com o próximo e por esta razão cria o Estado para sua própria defesa e proteção. b) O Estado é uma realidade em si e é necessário con- servá-lo, reforçá-lo e eventualmente reformá-lo, reconhe- cendo uma única finalidade: sua prosperidade e grandeza. c) O governante deve dar um bom exemplo para que os súditos o sigam. Através da educação e de rituais, os homens de capacidade aprenderiam e transmiti- riam os valores do passado. d) Que as classes dirigentes tremam ante a ideia de uma revolução! Os trabalhadores devem proclamar abertamente que seu objetivo é a derrubada violenta da ordem social tradicional. e) A única esperança de garantir os direitos de cada indivíduo é a organização da sociedade civil, cedendo todos os direitos à comunidade, para que seja politi- camente justo o que a maioria decidir. 5.(Unesp) Encontrar uma forma de associação que de- fenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo- -se a todos, só obedece, contudo, a si mesmo, perma- 77 necendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece. [...] Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte indivisível do todo. (Jean-Jacques rousseau. do contrato social, 1983.) O texto apresenta características: a) iluministas e defende a liberdade e a igualdade so- cial plenas entre todos os membros de uma sociedade. b) socialistas e propõe a prevalência dos interesses coletivos sobre os interesses individuais. c) iluministas e defende a liberdade individual e a necessida- de de uma convenção entre os membros de uma sociedade. d) socialistas e propõe a criação de mecanismos de união e defesa de todos os trabalhadores. e) iluministas e defende o estabelecimento de um poder rigidamente concentrado nas mãos do Estado. 6.(Unesp 2020) Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte indivisível do todo. [...] um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quantos são os votos da assembleia [...]. Essa pessoa pública, que se forma, desse modo, pela união de todas as ou- tras, tomava antigamente o nome de cidade e, hoje, o de república ou de corpo político, o qual é chamado por seus membros de Estado [...]. (Jean-Jacques rousseau. os pensadores. 1983.) O texto, produzido no âmbito do iluminismo francês, apresenta a doutrina política do: a) coletivismo, manifesto na rejeição da propriedade priva- da e na defesa dos programas socialistas de estatização. b) humanismo, presente no projeto liberal de valorizar o indivíduo e sua realização no trabalho. c) socialismo, presente na crítica ao absolutismo monár- quico e na defesa da completa igualdade socioeconômica. d) corporativismo, presente na proposta fascista de unir o povo em torno da identidade e da vontade nacional. e) contratualismo, manifesto na reação ao Antigo Re- gime e na defesa dos direitos de cidadania. 7. (Enem PPL) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao deno- minador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo. rousseau, Jean-Jacques. eMílio ou da educação. são paulo: Martins Fontes, 1999. A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza. b) as instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural. c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais dependem dele. d) o homem é forçado a sair da natureza para se tor- nar absoluto. e) as instituições sociais expressam a natureza huma- na, pois o homem é um ser político. 8. (Unioeste) “Através dos princípios de um direito na- tural preexistente ao Estado, de um Estado baseado no consenso, de subordinação do poder executivo ao poder legislativo, de um poder limitado, de direito de resistência, Locke expôs as diretrizes fundamentais do Estado liberal.” (bobbio) Considerando o texto citado e o pensamento político de Locke, seguem as afirmativas abaixo: I. A passagem do estado de natureza para a sociedade política ou civil, segundo Locke, é realizada mediante um contrato social, através do qual os indivíduos singulares, livres e iguais dão seu consentimento para ingressar no estado civil. II. O livre consentimento dos indivíduos para formar a so- ciedade, a proteção dos direitos naturais pelo governo, a subordinação dos poderes, a limitação do poder e o direito à resistência são princípios fundamentais do liberalismo político de Locke. III. A violação deliberada e sistemática dos direitos natu- rais e o uso contínuo da força sem amparo legal, segundo Locke, não são suficientes para conferir legitimidade ao di- reito de resistência, pois o exercício de tal direito causaria a dissolução do estado civil e, em consequência, o retorno ao estado de natureza. IV. Os indivíduos consentem livremente, segundo Locke, em constituir a sociedade política com a finalidade de pre- servar e proteger, com o amparo da lei, do arbítrio e da força comum de um corpo político unitário, os seus inalie- náveis direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade. V. Da dissolução do poder legislativo, que é o poder no qual “se unem os membros de uma comunidade para for- mar um corpo vivo e coerente”, decorre, como consequên- cia, a dissolução do estado de natureza. Das afirmativas feitas acima a) somente a afirmação I está correta. b) as afirmações I e III estão corretas. c) as afirmações III e IV estão corretas. d) as afirmações II e III estão corretas. e) as afirmações III e V estão incorretas. 78 9. (UFSM) Sem leis e sem Estado, você poderia fazer o que quisesse. Os outros também poderiam fazer com você o que quisessem. Esse é o “estado de natureza” descrito por Thomas Hobbes, que, vivendo durante as guerras civis britânicas (1640-60), aprendeu em primei- ra mão como esse cenário poderia ser assustador. Sem uma autoridade soberana não pode haver nenhuma se- gurança, nenhuma paz. laW, stephen. guia ilustrado Zahar: FilosoFia. rio de Janeiro: Zahar, 2008. Considere as afirmações: I. A argumentação hobbesiana em favor de uma autorida- de soberana, instituída por um pacto, representa inequivo- camente a defesa de um regime político monarquista. II. Dois dos grandes teóricos sobre o estado de natureza”, Hobbes e Rousseau, partilham a convicção de que o afeto predominante nesse “estado” é o medo. III. Um traço comum da filosofia política moderna é a ide- alização de um pacto que estabeleceria a passagem do estadode natureza para o estado de sociedade. Está(ão) correta(s): a) apenas I. b) apenas II. c) apenas III. d) apenas I e II. e) apenas II e III. 10. “A passagem do estado de natureza para o estado civil determina ao homem uma mudança muito notá- vel, substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às suas ações a moralidade que antes lhe falta- va. É só então que, tomando a voz do dever o lugar do impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o homem, até aí levando em consideração apenas a sua pessoa, vê-se forçado a agir baseando-se em outros princípios e a consultar a razão antes de ouvir suas inclinações.” rousseau. o contrato social. liVro i. cap. Viii. Nesse fragmento, Rousseau sublinha as implicações da passagem do estado de natureza para o estado civil. Explique por que seria impossível para o homem sobre- viver em um estado de natureza. 11. O homem natural é tudo para si mesmo: ele é a uni- dade numérica, o inteiro absoluto que só tem relação com ele próprio ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que depende do de- nominador cujo valor está em sua relação com o inteiro, que é o corpo social. As boas instituições são aquelas que melhor sabem desnaturar o homem, tirar-lhe sua existência absoluta para lhe dar uma relativa, e trans- portar o eu para a unidade comum: de tal modo que cada particular não se creia mais um, mas parte da uni- dade, e apenas seja sensível no todo. rousseau, Jean-Jacques, oeuVres coMplètes. pleiade, 1964 (FragMento). Tomando como referência as ideias do texto, explique a diferença entre estado de natureza e estado civil. gabarito 1-B; 2-A; 3-D; 4-E; 5-C; 6-E; 7-A; 8-E; 9-C 10. Segundo o filósofo Rousseau, é impossível sobre- viver no estado de natureza, apesar do ser humano ter uma liberdade, depois de vivenciar o estado civil, com regras – esse indivíduo não consegue mais retornar ao um estado primitivo. 11. Para Rousseau, existem muitas diferenças entre o es- tado de natureza e o estado civil. No estado de natureza, o ser humano tem plena liberdade de agir, sem se limitar ou ser punido de forma civil; enquanto no estado civil, o ser humano ganha uma liberdade vigiada, o poder de ter a propriedade privada, e se acostuma com as desigualdades entre os homens. 79 IluMInIsMo aleMãoAULA 12 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 O processo histórico que expandiu o conhecimento huma- no na região da Alemanha, entre os séculos XVII e XIX, teve um aparato mais ideológico, não desencadeando para futuras transformações sociais, como ocorreu no iluminis- mo francês. Com um viés nacionalista, questionou o abso- lutismo e a Igreja. O conceito “iluminismo”, na Alemanha, surgiu com o filósofo Immanuel Kant. “Kant e seus coMpanheiros na Mesa”, pintura de eMil doerstling 1. immanuel kant (1724-1804) O filósofo Immanuel Kant nasceu na cidade de Königsberg (atual Kaliningrado). Ele foi responsável por desenvolver uma síntese entre duas correntes filosóficas: o racionalis- mo e o empirismo. A análise kantiana afirma que existia uma incompetência no racionalismo para demonstrar a existência, contrarian- do, em parte, a solução dada por Descartes para tal; e tam- bém com a incompetência do empirismo para demonstrar como a experiência tornava-se conhecimento. Para o filósofo alemão, o processo de obter conhecimento pode ser adquirido tanto de forma empírica como racional, unindo, pela primeira vez, correntes que caminhavam sepa- radas na história da filosofia. 1.1. A importância dos sentidos e da razão Kant apresenta que os sentidos e a razão desempenham papel fundamental na maneira do ser humano experimen- tar o mundo. Para o filósofo, as experiências nos proporcio- nam um tipo de conhecimento, como pensam os empiristas. Entretanto, a razão também apresenta pressupostos rele- vantes para a maneira como podemos descobrir o mundo. Só que existem fatores condicionantes que determinam como analisamos essa realidade – fatores racionalistas. Um exemplo é se nos imaginarmos utilizando óculos com lentes azuis, de modo que tudo o que vemos teria tons azulados. As lentes azuis seriam a razão: fatores que condi- cionam nossa percepção da realidade. Porém, nessa conjuntura de pensamento, o filósofo re- mete que esses pressupostos são subjetivos, isto é, se referem ao sujeito, a quem usa os óculos. Ao passo que, estes pressupostos são o tempo e o espaço, ou seja, a experiência que praticamos desencadeará a formação do nosso conhecimento. Kant – a priori e a posteriori Immanuel Kant categoriza o conhecimento, definindo duas formas: a priori e a posteiori. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 80 O filósofo distingue duas formas básicas do ato de conhecer: § O conhecimento empírico (a posteriori), fruto da ex- periência – aquele que se refere aos dados fornecidos pelos sentidos, isto é, que é posterior à experiência. Exemplo: “Este livro tem a capa verde.” § O conhecimento puro (a priori), fruto apenas do racio- cínio independente da experiência – aquele que não depende de quaisquer dados dos sentidos, ou seja, que é anterior à experiência. Nasce puramente de uma ope- ração racional. Exemplo: “Duas linhas paralelas jamais se encontraram no espaço.” 1.2. A revolução copernicana Em seu questionamento lógico-transcendental, Kant atin- ge, pela primeira vez, consciência de si mesmo. A solução apresentada por ele para esta oposição entre o raciona- lismo e o empirismo é chamada de “revolução coperni- cana da filosofia”, numa alusão ao paradigma feito por Copérnico na astronomia. Kant salienta que a razão é inata, mas é uma estrutura es- vaziada e sem conteúdo, que não depende da experiência para existir. A razão fornece a forma do conhecimento e a matéria é fornecida pelo conhecimento. Diante disso, esse conhecimento é racional e verdadeiro. Afirma também que não podemos conhecer a realidade das coisas e do mundo, o que ele trata de noumeno (a coisa-em-si). Isso ocorre porque a razão humana só pode conhecer aquilo que recebe em formas, como cor e tamanho, e em categorias, como os elementos que organizam o conhecimento. Com isso, Kant afirma que a realidade não está nas coisas, mas em nós. Assim, vemos o mundo pela nossa razão, de- pois que as percepções passaram pelas categorias. A revolução kantiana consiste em mostrar que o objeto se regula pela faculdade de conhecer, ao invés de admi- tir que a faculdade de conhecer se regula pelo objeto. A filosofia, assim, deveria investigar a possível existência de certos princípios a priori que seriam responsáveis pela sín- tese dos dados empíricos. Estes, por sua vez, deveriam ser encontrados nas duas fontes de conhecimento, que seriam a sensibilidade e o entendimento. Assim, as ideias puras da razão são ilusões, pois pretendem transformar o transcendental em transcendente (aquilo que ultrapassa toda experiência possível). O transcendental – as formas de intuição (espaço e tempo) e do entendimento (as categorias) – é apenas a forma da objetividade, e não o próprio objeto; é vazio de conteúdo e não significa em si. A metafísica, então, não é nem sequer falsa ou fictícia, é propriamente ilusão, esse vazio do não conhecimento, que é produzido pelo uso ilegítimo dos conceitos. É por tal ilegitimidade que a metafísica deve ser condenada no tribunal da razão. Kant e a razão pura O professor de Filosofia da Unicamp Daniel Omar Perez ressalta a crítica da razão pura e a razão prática. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 1.3. As categorias do juízo Segundo Kant, o intelecto possui doze categorias. A razão possui somente três ideias que não constituem objetos, mas são reguladoras das ações. São elas: 81 § ideia psicológica (alma); § ideia cosmológica (do mundo como totalidade); e § ideia teológica (de Deus). O juízo consiste na conexão de dois conceitos: § Juízo analítico: são juízos em que o predicado (B) pode estar contido no sujeito(A) e, por isso, ser extraído por uma análise. Isso significa que o predicado nada mais faz do que explicar ou explicitar o sujeito. Exemplo: “Todo triângulo tem três lados.” § Juízos sintéticos a posteriori: são aqueles em que o predicado não está contido no sujeito, mas relacio- na-se a ele por uma síntese. Esta, porém, é sempre particular ou empírica, não sendo universal e neces- sária, portanto, não servem para a ciência. Exemplo: “Aquela casa é verde.” § Juízos sintéticos a priori: são juízos em que também o predicado não é extraído do sujeito, mas que, pela experiência, forma-se como algo novo, construído. No entanto, essa construção deve permitir ou antever a pos- sibilidade da repetição da experiência, isto é, a apriorida- de, entendida como a possibilidade formal de construção fenomênica, que permite a universalidade e a necessi- dade dos juízos. A experiência aqui não é a mera depo- sição de fenômenos na mente, em razão da sequência das percepções, mas sim a organização da mente numa unidade sintética daquilo que é recebido pela intuição. O imperativo categórico procede em todas as suas ações, de modo que a norma de seu proceder possa tornar-se uma lei universal – este é o princípio universal que une todos os homens, sendo uma lei inflexível. 82 DIAGRAMA DE IDEIAS KANT O INDIVÍDUO APLICA SUA ANÁLISE PERANTE O OBJETO REVOLUÇÃO COPERNICANA O OBJETO SE REGULA PELA FACULDADE DE CONHECER UNE O RACIONALISMO COM O EMPIRISMO O PROCESSO DE OBTENÇÃO DO CONHECIMENTO TEM VÁRIAS FORMAS CONHECIMENTO A PRIORI PELA RAZÃO CONHECIMENTO A POSTERIORI PELA EXPERIÊNCIA 83 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Uema) Fraqueza e covardia são as causas pelas quais a maioria das pessoas permanece infantil mesmo ten- do condição de libertar-se da tutela mental alheia. Por isso, fica fácil para alguns exercer o papel de tutores, pois muitas pessoas, por comodismo, não desejam se tornar adultas. Se tenho um livro que pensa por mim; um sacerdote que dirige minha consciência moral; um médico que me prescreve receitas e, assim por diante, não necessito preocupar-me com minha vida. Se posso adquirir orientações, não necessito pensar pela minha cabeça: transfiro ao outro esta penosa tarefa de pensar. Kant, iMManuel. o que é a ilustração. in: WeFFort, F. (org.). os clÁssicos da política. V. 2, 6 ed. são paulo: saraiVa, 2006. Esse fragmento compõe o livro de Kant que trata da importância da(o): a) juízo. b) razão. c) cultura. d) costume. e) experiência. 2. (Enem) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém todas as tenta- tivas para descobrir, mediante conceitos, algo que am- pliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. Kant, iMManuel. crítica da raZão pura. lisboa: calouste-gulbenKian, 1994 (adaptado). O trecho em questão é uma referência ao que ficou co- nhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que: a) assumem pontos de vista opostos acerca da natu- reza do conhecimento. b) defendem que o conhecimento é impossível, res- tando-nos somente o ceticismo. c) revelam a relação de interdependência entre os da- dos da experiência e a reflexão filosófica. d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos. e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nos- so conhecimento e são ambas recusadas por Kant. 3. (UFSJ) Sobre a questão do conhecimento na filosofia kantiana, é correto afirmar que: a) o ato de conhecer se distingue em duas formas bá- sicas: conhecimento empírico e conhecimento puro. b) para conhecer, é preciso se lançar ao exercício do pensar conceitos concretos. c) as formas distintas de conhecimento, descritas na obra Crítica da razão pura, são denominadas, respecti- vamente, juízo universal e juízo necessário e suficiente. d) o registro mais contundente acerca do conhecimen- to se faz a partir da distinção de dois juízos, a saber: juízo analítico e juízo sintético ou juízo de elucidação. 4. (Unioeste) “Em todos os juízos em que for pensada a relação de um sujeito com o predicado (se considero apenas os juízos afirmativos [...]), essa relação é possí- vel de dois modos. Ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo contido (ocultamente) nesse conceito A, ou B jaz completamente fora do conceito A, embora es- teja em conexão com o mesmo”. (Kant) Considerando o texto acima e a teoria do conhecimento de Kant, é incorreto afirmar que: a) os juízos sintéticos a posteriori são os mais impor- tantes para a teoria do conhecimento de Kant, pois são contingentes e particulares, estando ligados a casos empíricos singulares. b) Kant denomina o primeiro modo de relacionar sujeito e predicado de juízo analítico e o segundo, de juízo sintético. c) o problema do conhecimento para Kant envolve res- ponder “como são possíveis os juízos sintéticos a priori?”. d) os juízos analíticos, embora universais e neces- sários, não fazem progredir o conhecimento, pois são tautológicos. e) o juízo “Todos os corpos são extensos” é analítico, pois não há como pensar o conceito de corpo sem o conceito de extensão. 5. (Uncisal) Contrapondo ceticismo e dogmatismo, o cri- ticismo se apresenta como única saída para se repensar às questões pertinentes à metafísica. O criticismo deno- mina a filosofia de: a) Hume. b) Hegel. c) Kant. d) Marx. e) Rousseau. 6. (UEL) Leia o texto a seguir. Na primeira secção da Fundamentação da metafísica dos costumes, Kant analisa dois conceitos fundamentais de sua teoria moral: o conceito de vontade boa e o de imperativo categórico. Esses dois conceitos traduzem as duas condições básicas do dever: o seu aspecto objetivo, a lei moral, e o seu aspecto subjetivo, o acatamento da lei pela subjetividade li- vre, como condição necessária e suficiente da ação. dutra, d.V. Kant e haberMas: a reForMulação discursiVa da Moral Kantiana. porto alegre: edipuc-rs, 2002, p. 29. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria moral kantiana, é correto afirmar: a) A vontade boa, enquanto condição do dever, consis- te em respeitar a lei moral, tendo como motivo da ação a simples conformidade à lei. 84 b) O imperativo categórico incorre na contingência de um querer arbitrário cuja intencionalidade determina subjetivamente o valor moral da ação. c) Para que possa ser qualificada do ponto de vista moral, uma ação deve ter como condição necessária e suficiente uma vontade condicionada por interesses e inclinações sensíveis. d) A razão é capaz de guiar a vontade como meio para a satisfação de todas as necessidades e assim realizar seu verdadeiro destino prático: a felicidade. e) A razão, quando se torna livre das condições subjetivas que a coagem, é, em si, necessariamente conforme a vontade e somente por ela suficiente- mente determinada. 7. (Uncisal) No século XVIII, o filósofo Emanuel Kant for- mulou as hipóteses de seu idealismo transcendental. Se- gundo Kant, todo conhecimento logicamente válido ini- cia-se pela experiência, mas é construído internamente por meio das formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias lógicas do entendimento. Des- sa maneira, para Kant, não é o objeto que possui uma verdade a ser conhecida pelo sujeito cognoscente, mas sim o sujeito que, ao conhecer o objeto, nele inscreve suas próprias coordenadas sensíveis e intelectuais. De acordo com a filosofia kantiana, pode-se afirmar que: a) a mente humana é como uma tabula rasa, uma folha em branco que recebe todos os seus conteúdos da experiência. b) os conhecimentos são revelados por Deus para os homens. c) todos os conhecimentos são inatos, não dependen- do da experiência. d) Kant foi um filósofo da antiguidade. e) para Kant, o centro do processo de conhecimento é o sujeito,não o objeto. 8. (Uema) Na perspectiva do conhecimento, Immanuel Kant pretende superar a dicotomia racionalismo-empi- rismo. Entre as alternativas abaixo, a única que contém informações corretas sobre o criticismo kantiano é: a) A razão estabelece as condições de possibilidade do conhecimento; por isso independe da matéria do conhecimento. b) O conhecimento é constituído de matéria e forma. Para termos conhecimento das coisas, temos de orga- nizá-las a partir da forma a priori do espaço e do tempo. c) O conhecimento é constituído de matéria, forma e pensamento. Para termos conhecimento das coisas temos de pensá-las a partir do tempo cronológico. d) A razão enquanto determinante nos conhecimen- tos fenomênicos e noumênicos (transcendentais) atesta a capacidade do ser humano. e) O homem conhece pela razão a realidade fenomêni- ca porque Deus é quem afinal determina este processo. 9. (Unioeste) “Já desde os tempos mais antigos da filoso- fia, os estudiosos da razão pura conceberam, além dos se- res sensíveis ou fenômenos, que constituem o mundo dos sentidos, seres inteligíveis particulares, que constituiriam um mundo inteligível, e, visto que confundiam (o que era de desculpar a uma época ainda inculta) fenômeno e apa- rência, atribuíram realidade unicamente aos seres inteligí- veis. De fato, se, como convém, considerarmos os objetos dos sentidos como simples fenômenos, admitimos assim que lhe está subjacente uma coisa em si, embora não sai- bamos como ela é constituída em si mesma, mas apenas conheçamos o seu fenômeno, isto é, a maneira como os nossos sentidos são afetados por este algo desconhecido”. (Kant) Sobre a teoria do conhecimento kantiana, conforme o texto acima, seguem as seguintes afirmativas: I. Desde sempre, os filósofos atribuíram realidade tanto aos seres sensíveis quanto aos seres inteligíveis. II. Podemos conhecer, em relação às coisas em si mesmas, apenas seu fenômeno, ou seja, a maneira como elas afe- tam nossos sentidos. III. Porque podemos conhecer apenas seus fenômenos, as coisas em si mesmas não têm realidade. IV. Os filósofos anteriores a Kant não diferenciavam fenô- meno de aparência, e, assim, consideravam que o fenôme- no não era real. V. As intuições puras da sensibilidade e os conceitos puros do entendimento incidem apenas em objetos de uma experiência possível; sem as primeiras, os segundos não têm significação. Das afirmativas feitas acima: a) apenas II e IV estão corretas. b) apenas II, IV e V estão corretas. c) apenas II, III, IV e V estão corretas. d) todas as afirmativas estão corretas. e) todas as afirmativas estão incorretas. 10. (UEL) “O imperativo categórico é, portanto só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que pos- sas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” Kant, iMManuel. FundaMentação da MetaFísica dos costuMes. lisboa: edições 70, 1995, p. 59. Segundo essa formulação do imperativo categórico por Kant, uma ação é considerada ética quando: a) privilegia os interesses particulares em detrimento de leis que valham universal e necessariamente. b) ajusta os interesses egoístas de uns ao egoísmo dos outros, satisfazendo as exigências individuais de prazer e felicidade. c) é determinada pela lei da natureza, que tem como fundamento o princípio de autoconservação. d) está subordinada à vontade de Deus, que preesta- belece o caminho seguro para a ação humana. e) a máxima que rege a ação pode ser universalizada, ou seja, quando a ação pode ser praticada por todos, sem prejuízo da humanidade. 85 11. (Unesp) Preguiça e covardia são as causas que ex- plicam por que uma grande parte dos seres humanos, mesmo muito após a natureza tê-los declarado livres da orientação alheia, ainda permanecem, com gosto, e por toda a vida, na condição de menoridade. É tão confortá- vel ser menor! Tenho à disposição um livro que entende por mim, um pastor que tem consciência por mim, um médico que prescreve uma dieta etc.: então não preciso me esforçar. A maioria da humanidade vê como muito perigoso, além de bastante difícil, o passo a ser dado rumo à maioridade, uma vez que tutores já tomaram para si de bom grado a sua supervisão. Após terem pre- viamente embrutecido e cuidadosamente protegido seu gado, para que estas pacatas criaturas não ousem dar qualquer passo fora dos trilhos nos quais devem andar, os tutores lhes mostram o perigo que as ame- aça caso queiram andar por conta própria. Tal perigo, porém, não é assim tão grande, pois, após algumas que- das, aprenderiam finalmente a andar; basta, entretanto, o perigo de um tombo para intimidá-las e aterrorizá-las por completo para que não façam novas tentativas. iMManuel Kant apud danilo Marcondes. teXtos bÁsicos de ética – de platão a Foucault, 2009 (adaptado). O texto se refere à resposta dada pelo filósofo Kant à pergunta sobre “O que é o iluminismo?”. Explique o significado da oposição por ele estabelecida entre “me- noridade” e “autonomia intelectual”. 12. (Unesp) O iluminismo é a saída do homem de um estado de menoridade que deve ser imputado a ele próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si próprios é esta menoridade se a causa dela não depen- de de um defeito da inteligência, mas da falta de deci- são e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a coragem de servires de tua própria inteligência! (iMManuel Kant, 1784) Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais sintéticas e adequadas definições acerca do Iluminismo. Justifique essa importância comentando o significado do termo religião e da política. gabarito 1-B; 2-A; 3-A; 4-A; 5-C; 6-A; 7-E; 8-B; 9-B; 10-E 11. A oposição entre menoridade e maioridade (ou autono- mia) é o recurso alegórico utilizado para falar sobre o estado do homem e o movimento iluminista, que buscava retirar o homem deste estado. O homem, segundo Kant, está aco- modado. Preguiçoso e covarde, o homem continua, mesmo depois de adquirir plenas capacidades de ser autônomo (de se dar a própria lei), servo da consciência de outros, das pres- crições de terceiros. Além da sua própria preguiça e covardia, o ato mesmo de se tornar maior é visto como perigoso, o que faria a libertação da tutoria uma escolha ainda menos provável. Enfim, passar da menoridade para a maioridade é um ato de libertação do homem das relações de tutela que direcionam opressivamente o seu comportamento. 12. Para o filósofo Kant, o termo menoridade refere-se à “incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro”, ou seja, a incapacidade do pensamento de se desenvolver fora de um quadro de restrições institu- cionais representadas, ou seja, de desenvolver uma crítica ou uma reflexão perante a realidade. No final do século XVIII, no contexto do iluminismo e do processo revolucio- nário francês, a Igreja perdeu influência e o Estado leigo ascendeu, criando-se, assim, as condições sociais para a superação da “menoridade”. 86 o dever kantIanoAULA 13 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. a maioridade intelectual Em sua obra O que é o esclarecimento?, o filósofo Imma- nuel Kant esclarece que, quando o indivíduo consegue pos- tular suas próprias ideias e críticas, ele atinge a maioridade intelectual, saindo de um estágio de menoridade, ou seja, esse ser consegue sair da condição de incapacidade de fa- zer uso da razão sem a orientação de outro indivíduo. Esse alcance do esclarecimento não tem uma ligação direta com a idade biológica desse sujeito. O interessante é que, para Kant, o culpado por essa condi- ção pode ser o próprio indivíduo, no caso de sua motivação ser a falta de coragem de utilizar-se da razão por si mesmo. Para o filósofo, todo indivíduo vive uma situação de me- noridade em algum momento de sua vida: neste caso, a menoridade é natural, pois é o mesmo que imaturidade. O filósofodiz que nenhum ser humano nasce inteiramente pronto para o raciocínio; uma criança demora até atingir a autossuficiência, por exemplo. Kant afirma que a comodidade e a covardia são os grandes motivos pelos quais tantos homens continuem presos à menoridade – e frisa que, caso seja de sua vontade (e caso não haja barreiras para isso, como restrições à liberdade), todo e qualquer homem é capaz de abandonar a menori- dade e concluir o processo de esclarecimento. Conforme dito anteriormente, Kant ressalta que, para ha- ver esclarecimento, a liberdade é condição fundamental: só se pode raciocinar se o direito ao questionamento for amplamente garantido. O filósofo reconhece, contudo, que as restrições às liberdades são bastante comuns (ainda mais em sua época). Finalmente, o filósofo conclui que ter esclarecimento não se trata somente de se adquirir um profundo conhecimento sobre determinado tema, mas sim combinar este conhecimento à conquista da autonomia e da emancipação humana. 2. a Paz PerPétua (1795) Em 1795, Kant escreveu essa obra, com o objetivo de apre- sentar como os Estados nacionais poderiam estabelecer en- tre si um quadro de paz perpétua, tendo como força motriz a racionalidade, conjunto com os requisitos da maioridade intelectual. Diante disso, todos os países devem respeitar um pacto de não agressão, visando a uma ética universal, que respeita todos os seres humanos existentes no Plane- ta, sem violar as regras locais de seus respectivos países. A paz perpétua Immanuel Kant. Porto Alegre: L&PM, 2016. multimídia: livro Com essas teorias, Kant antevê as ações da Organização das Nações Unidas (ONU), que visa a assegurar que os Estados compactuem um acordo de paz e não iniciem um conflito armado. 87 3. a ética kantiana (ou a ética do dever) Kant também dedicou grande parte de sua obra a questões relativas à esfera moral. Segundo o filósofo, todo ser huma- no sabe o que é certo e o que é errado: este conhecimento é intrínseco à condição humana. Isso ocorre porque Kant diz que todos somos dotados de uma razão prática, isto é, de uma capacidade racional inata de discernir sobre o que é certo e o que é errado. O filósofo vai além: a capacidade de discernimento é tão inata quanto qualquer outra faculdade da razão – tal afir- mação tem desdobramentos importantes. O mais óbvio é o fato de a ética kantiana ser baseada na ideia de que há algo como uma lei moral universal, tão absoluta quanto qualquer lei natural. Tal lei seria, segundo Kant, válida para qualquer momento histórico, sociedade e situação, e seria também im- perativa, pois não se pode escapar dela. Kant a formula, por- tanto, como um imperativo categórico, e um de seus maiores pressupostos, juntamente com a ideia de que a moralidade está relacionada à maneira universal de se agir, é a proibição de se utilizar outrem como meios para atingir quaisquer ob- jetivos: todos devem ser tratados como um fim em si mesmo. Pode-se entender a lei moral kantiana como a manifestação da própria consciência humana – que também é intrínseca a todo homem e não pode ser comprovada racionalmente, apesar de ser possível conhecê-la. Kant diz que muito mais importante para a moralidade do que se perguntar o que fazer é se perguntar o motivo pelo qual se faz alguma coisa. Imaginemos a seguinte situação: uma pessoa é abordada na rua por um pedinte e, ao sentir pena de sua situação, lhe dá uma esmola. Uma segunda pessoa também é abor- dada pelo pedinte e, apesar de não se compadecer de sua situação, lhe oferece ajuda mesmo assim. Kant diria que a segunda pessoa agiu mais moralmente do que a primeira. Por quê? Simplesmente porque a segunda pessoa agiu de maneira descolada de suas próprias emoções. Ela ofereceu ajuda ao pedinte porque sabia que aquilo era o certo a se fazer, porque era seu dever (por essa razão, inclusive, a ética kantiana também é chamada de ética do dever); a primeira pessoa, por sua vez, ofereceu ajuda por pena, pela maneira como se sentiu. Da mesma forma, Kant veria alguém que pratica boas ações para se promover socialmente ou ficar bem aos olhos de Deus. Se esta é a motivação de suas boas ações, ele diria, elas de nada valem. O caminho do bem Tim Maia. Álbum: Racional Vol. 1. Seroma, 1976. A música de Tim Maia salienta o dever kan- tiano, de que se utilizando de ações racionais, chegaremos ao bem universal. Fonte: Youtube multimídia: música 4. a liberdade, Para kant A concepção de liberdade para Kant, não se liga à feli- cidade, nem é determinada a um bem externo a ela – a liberdade está atrelada ao homem. Diante disso, o bem é o que resulta da razão, à medida que ela determina a ação. Assim, o homem precisa submeter-se às leis éticas, que vi- sem a um respeito universalista e que condicionem a esse ser uma maioridade. Por isso, a liberdade para Kant é uma autonomia para o sujeito. Dessa forma, a liberdade é a autonomia de cumprir seu dever, de acordo com as leis da natureza – com isso, somos donos de nós mesmos e de nossas ações. Não deve considerar-se como válido nenhum tratado de paz que se tenha feito com a reserva secreta de elementos para uma guerra futura. Seria então, pois, apenas um simples armistício, um adiamento das hostilidades e não a paz, que significa o fim de todas as hostilidades, e juntar-lhe o epíteto eterna é já um pleonasmo suspeitoso. As causas existentes para uma guerra futura, embora talvez não conhecidas agora nem sequer pelos negociadores, aniquilam-se no seu conjunto pelo tratado de paz, por muito que se possam 88 extrair dos documentos de arquivo mediante um es- crutínio penetrante. – A restrição (reservatio mentalis) sobre velhas pretensões a que, no momento, nenhuma das partes faz menção porque ambas estão demasia- do esgotadas para prosseguir a guerra, com a perver- sa vontade de, no futuro, aproveitar para este fim a primeira oportunidade, pertence à casuística jesuítica e não corresponde à dignidade dos governantes, do mesmo modo que também não corresponde à digni- DIAGRAMA DE IDEIAS KANT DEVER EM SI NA BUSCA DE UM BEM UNIVERSAL O HOMEM, UTILIZANDO DE SUA RAZÃO, TEM O DEVER DE CONSTRUIR UM CAMINHO SEGURO, QUE RESPEITE A TODOS CONDICIONANDO PARA UMA PAZ UNIVERSAL O SER HUMANO PODE CONSEGUIR SER INDEPENDENTE ATINGINDO A MAIORIDADE INTELECTUAL COMEÇA A TER UM POSICIONAMENTO CRÍTICO ESSE ESTADO NÃO DEPENDE DA IDADE BIOLÓGICA dade de um ministro a complacência em tais deduções, se o assunto se julgar tal como é em si mesmo. Se, pelo contrário, a verdadeira honra do Estado se colocar, se- gundo os conceitos ilustrados da prudência política, no contínuo incremento do poder seja por que meios for, então aquele juízo afigurar-se-á como escolar e pedante. iMManuel Kant a paZ perpétua. corVilhã: lusosoFia press, 2008, p. 4-5. 89 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (UEL) As leis morais juntamente com seus princípios não só se distinguem essencialmente, em todo o conhe- cimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento empírico qualquer, mas toda a Filosofia moral repousa inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao ho- mem, não toma emprestado mínimo que seja ao co- nhecimento do mesmo (Antropologia). Kant, iMManuel. FundaMentação da MetaFísica dos costuMes. são paulo: discurso editorial, 2009. p. 73. Com base no texto e na questão da liberdade e autono- mia em Immanuel Kant, assinale a alternativa correta. a) A fonte das ações morais pode ser encontrada atra- vés da análise psicológica da consciência moral, na qual se pesquisa mais o que o homem é, do que o que ele deveria ser. b) O elemento determinante do caráter moral de uma ação está na inclinação da qual se origina, sendo as in- clinações serenas moralmente mais perfeitas do que as passionais. c) O sentimento é o elemento determinante para a ação moral, e a razão, por sua vez, somente pode dar uma direção à presente inclinação, na medida em que fornece o meio para alcançaro que é desejado. d) O ponto de partida dos juízos morais encontra-se nos “propulsores” humanos naturais, os quais se dire- cionam ao bem próprio e ao bem do outro. e) O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na razão prática pura, e as leis morais devem ser inde- pendentes de qualquer condição subjetiva da natureza humana. 2. (UEL) Kant, mesmo que restrito à cidade de Königs- berg, acompanhou os desdobramentos das Revoluções Americana e Francesa e foi levado a refletir sobre as convulsões da história mundial. Às incertezas da Eu- ropa plebeia, individualista e provinciana, contrapôs algumas certezas da razão capazes de restabelecer, ao menos no pensamento, a sociabilidade e a paz entre as nações com vista à constituição de uma federação de povos – sociedade cosmopolita. andrade, r.c. Kant: a liberdade, o indiVíduo e a república. in: WeFort, F.c. (org.). clÁssicos da política. V. 2. são paulo: Ática, 2003, p. 49-50 (adaptado). Com base nos conhecimentos sobre a filosofia política de Kant, assinale a alternativa correta. a) A incapacidade dos súditos de distinguir o útil do prejudicial torna imperativo um governo paternal para indicar a felicidade. b) É chamado cidadão aquele que habita a cidade, sen- do considerados cidadãos ativos também as mulheres e os empregados. c) No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os membros da comunidade e o chefe de Estado. d) Os súditos de um Estado Civil devem possuir igualdade de ação em conformidade com a lei universal da liberdade. e) Os súditos estão autorizados a transformar em vio- lência o descontentamento e a oposição ao poder le- gislativo supremo. 3. (UFU) Autonomia da vontade é aquela sua proprieda- de graças à qual ela é para si mesma a sua lei (indepen- dentemente da natureza dos objetos do querer). O prin- cípio da autonomia é, portanto: não escolher senão de modo a que as máximas da escolha estejam incluídas simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal. Kant, iMManuel. FundaMentação da MetaFísica dos costuMes. lisboa: edições 70, 1986, p. 85. De acordo com a doutrina ética de Kant: a) O imperativo categórico não se relaciona com a ma- téria da ação e com o que deve resultar dela, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva. b) O imperativo categórico é um cânone que nos leva a agir por inclinação, vale dizer, tendo por objetivo a satisfação de paixões subjetivas. c) Inclinação é a independência da faculdade de apeti- ção das sensações, que representa aspectos objetivos baseados em um julgamento universal. d) A boa vontade deve ser utilizada para satisfazer os desejos pessoais do homem. Trata-se de fundamento determinante do agir, para a satisfação das inclinações. 4. (Unioeste) A necessidade prática de agir segundo este princípio, isto é, o dever, não assenta em sentimentos, impulsos e inclinações, mas, sim, somente na relação dos seres racionais entre si, relação essa em que von- tade de um ser racional tem de ser considerada sempre e simultaneamente como legisladora, porque de outra forma não podia pensar-se como fim em si mesmo. A ra- zão relaciona, pois, cada máxima da vontade concebida como legisladora universal com todas as outras vonta- des e com todas as ações para conosco mesmos, e isto não em virtude de qualquer outro móbil prático ou de qualquer vantagem futura, mas em virtude da ideia da dignidade de um ser racional que não obedece à outra lei senão àquela que ele mesmo simultaneamente dá a si mesmo. [...] O que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço venal [...], aquilo, porém, que constitui a condição só graças a qual qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem somente um valor relativo, isto é, um preço, mas um valor íntimo, isto é, dignidade. (Kant) Considerando o texto citado e o pensamento ético de Kant, seguem as afirmativas abaixo. I. Para Kant, existe moral porque o ser humano e, em geral, todo o ser racional, fim em si mesmo e valor absoluto, não deve ser tomado simplesmente como meio ou instrumento para o uso arbitrário de qualquer vontade. II. Fim em si mesmo e valor absoluto, o ser humano é pes- soa e tem dignidade, mas uma dignidade que é, apenas, re- 90 lativamente valiosa, por se encontrar em dependência das condições psicossociais e político-econômicas nas quais vive. III. A moralidade, única condição que pode fazer de um ser racional fim em si mesmo e valor absoluto, pelo princípio da autonomia da vontade, e a humanidade, enquanto ca- paz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade. IV. As pessoas têm dignidade porque são seres livres e au- tônomos, isto é, seres que se submetem às leis que se dão a si mesmos, atendendo imediatamente aos apelos de suas inclinações, sentimentos, impulsos e necessidades. V. A autonomia da vontade é o fundamento da dignidade da natureza humana e de toda natureza racional e, por esta razão, a vontade não está simplesmente submetida à lei, mas submetida à lei por ser concebida como vontade legisladora universal, ou seja, se submete à lei na exata medida e que ela é a autora da lei (moral). Das afirmativas acima: a) somente a I está incorreta. b) somente a III está incorreta. c) II e IV estão incorretas. d) II e III estão incorretas. e) II, III e V estão incorretas. 5. (UEM) O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) esta- belece uma íntima relação entre a liberdade humana e sua capacidade de pensar autonomamente, ao afirmar: “Esclarecimento é a saída do homem da menoridade pela qual é o próprio culpado. Menoridade é a incapaci- dade de servir-se do próprio entendimento sem direção alheia. [...] É tão cômodo ser menor. Possuo um livro que faz as vezes do meu entendimento; um guru espiritual, que faz às vezes de minha consciência; um médico, que decide por mim a dieta etc.; assim não preciso eu mes- mo dispensar nenhum esforço. Não preciso necessaria- mente pensar, se posso apenas pagar.” Kant, iMManuel. resposta à questão: o que é esclareciMento? in: antologia de teXtos FilosóFicos. curitiba: seed-pr, 2009, p. 407. A partir do texto de Kant, é correto afirmar que: 01) liberdade é não precisar de ninguém para nada. 02) riqueza não é sinônimo de liberdade, como pobre- za não é sinônimo de escravidão. 04) a justificativa para a falta de liberdade é a pouca idade dos seres humanos. 08) a liberdade é, primeiramente, liberdade de pensamento. 16) a liberdade é resultado de um esforço pessoal in- cômodo para libertar-se das amarras do pensamento. 6. (Enem) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A meno- ridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendi- mento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a nature- za de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores duran- te toda a vida. Kant, iMManuel. resposta à pergunta: o que é esclareciMento? petrópolis: VoZes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófi- co da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empre- gado por Kant, representa: a) a reivindicação de autonomia da capacidade racio- nal como expressão da maioridade. b) o exercício da racionalidade como pressuposto me- nor diante das verdades eternas. c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma. d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento. e) a emancipação da subjetividade humana de ideolo- gias produzidas pela própria razão. 7. (Enem) Um Estado é uma multidão de seres humanos submetida a leis de direito. TodoEstado encerra três poderes dentro de si, isto é, a vontade unida em geral consiste de três pessoas: o poder soberano (soberania) na pessoa do legislador; o poder executivo na pessoa do governante (em consonância com a lei) e o poder ju- diciário (para outorgar a cada um o que é seu de acordo com a lei) na pessoa do juiz. Kant, iMManuel. a MetaFísica dos costuMes. bauru: edipro, 2003. De acordo com o texto, em um Estado de direito: a) a vontade do governante deve ser obedecida, pois é ele que tem o verdadeiro poder. b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a representação da vontade geral. c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano, pois é ele que outorga a cada um o que é seu. d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, pois depende dele para validar suas determinações. e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, na pessoa do governante, pois ele que é soberano. 8. (UEL) O desenvolvimento não é um mecanismo cego que age por si. O padrão de progresso dominante des- creve a trajetória da sociedade contemporânea em busca dos fins tidos como desejáveis, fins que os modelos de produção e de consumo expressam. É preciso, portanto, rediscutir os sentidos. Nos marcos do que se entende predominantemente por desenvolvimento, aceita-se re- ver as quantidades (menos energia, menos água, mais eficiência, mais tecnologia), mas pouco as qualidades: que desenvolvimento, para que e para quem? leroY, Jean pierre. encruZilhadas do desenVolViMento. o iMpacto sobre o Meio aMbiente. le Monde diploMatique brasil. Jul. 2008, p. 9. 91 Tendo como referência a relação entre desenvolvimen- to e progresso presente no texto, é correto afirmar que, em Kant, tal relação, contida no conceito de Aufklärung (Esclarecimento), expressa: a) A tematização do desenvolvimento sob a égide da lógica de produção capitalista. b) A segmentação do desenvolvimento tecno-científico nas diversas especialidades. c) A ampliação do uso público da razão para que se desenvolvam sujeitos autônomos. d) O desenvolvimento que se alcança no âmbito técni- co e material das sociedades. e) O desenvolvimento dos pressupostos científicos na resolução dos problemas da filosofia prática. 9. (UEL) 90 milhões em ação, pra frente, Brasil, do meu coração. Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, salve a seleção. De repente é aquela corrente pra frente. Parece que todo o Brasil deu a mão. Todos ligados na mesma emoção. Tudo é um só coração. Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, Brasil, Salve a seleção. canção: pra Frente brasil/ copa 1970 autor: Miguel gustaVo Na obra “Resposta à questão: o que é o esclarecimen- to?”, Kant discute conceitos como uso público e privado da razão e a superação da menoridade. À luz do pensa- mento kantiano, o fenômeno contemporâneo do uso po- lítico dos eventos esportivos: a) torna o indivíduo dependente, já que a sua meno- ridade impede o esclarecimento e a possibilidade de pensar por si próprio. b) forma o indivíduo autônomo, uma vez que amplia a sua capacidade de fazer uso da própria razão para agir autonomamente. c) impede que o indivíduo pense de forma restrita, pois, mesmo estando cercado por tutores, facilmente rompe com a menoridade. d) proporciona esclarecimento político das massas, pois tais eventos promovem o aprendizado crítico me- diante a afirmação da ideia de nacionalidade. e) confere liberdade às massas para superar a depen- dência gerada pela aceitação da tutela de outrem. 10. (Uema) No texto Que é “Esclarecimento”? (1783), o que significa, conforme Kant, a saída do homem da menoridade da qual ele mesmo é culpado? a) O uso da razão crítica, exceto quando se tratar de doutrinas religiosas. b) A capacidade de aceitar passivamente a autoridade científica ou política. c) A liberdade para executar desejos e impulsos confor- me a natureza instintiva do homem. d) A coragem de ser autônomo, rejeitando, portanto, qualquer condição tutelar. e) O alcance da idade apropriada para uso da raciona- lidade subjetiva. gabarito 1-E; 2-D; 3-A; 4-C; 5-(02 + 08 + 16 = 26); 6-A; 7-B; 8-C; 9-A; 10-D 92 teMpestade e íMpetoAULA 14 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. o sentimento vence a razão No século XVIII, o movimento cultural que predominava na Europa era o iluminismo, que colocava a razão acima de tudo. Diante da sombra da Aufklärung, desenvolve-se na Alemanha (e em outras regiões da Europa), no final do sé- culo XVIII e início do XIX, uma nova forma de sensibilidade e de valores artísticos – surge o romantismo, cuja versão conceitual é o idealismo. Tudo começou com o Sturm und drang (Tempestade e ím- peto), um movimento de jovens poetas alemães que reagiu violentamente contra a aridez racionalista da Aufklärung, enaltecendo o sentimento contra a razão. O nome Sturm und drang deriva da peça homônima de Friedrich Klinger (1752-1831). Tempestade e ímpeto Uma apresentação do movimento cultural contrário ao racionalismo alemão. multimídia: vídeo Fonte: Youtube Esse movimento ficou marcado por combater a influência francesa na cultura alemã. Com uma oposição ao Classicismo francês, a essência do movimento alemão consiste na criação baseada no impulso irracional, valorizando o sentimento. Destacam-se nesse período: os poetas alemães Schlegel (1767-1845), Novalis (1772-1801); os escritores alemães Schiller (1750-1805) e Goethe (1749-1832); os composi- tores alemães Beethoven (1770-1827), Schumann (1810- 1856) e Brahms (1833-1897), o austríaco Schubert (1797- 1828) e o polonês Chopin (1810-1849). Sofrimentos do jovem Werther GOETHE, Johann Wolfgang. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2001. Ao escrever Werther, em 1774, Johann Wolf- gang Goethe alcançava sua primeira obra de sucesso e dava início à prosa moderna na Ale- manha. Uma das mais célebres obras de Goe- the, trata-se da história de uma paixão literal- mente devastadora. Com enorme repercussão quando do seu lançamento, Werther foi um testemunho de como a literatura tinha poder de agir na sociedade. multimídia: livro 93 As principais características desse movimento cultural são: § liberdade política, de expressão e de pensamentos; § individualismo e subjetivismo; § gosto pelo mistério; § imaginação e sonho; § culto pelo exótico; § nacionalismo; § valorização do passado; § desejo de reforma e engajamento político. A literatura alemã passa a ser original, com esse movimen- to, espalhando uma nova forma de arte para o mundo. Marcha Fúnebre Frédéric Chopin As músicas de Chopin expressam um forte sentimento, com diversas variações. Fonte: Youtube multimídia: música 2. da arte à liberdade O poeta e filósofo Friedrich Schiller (1759-1805) acreditava que os homens não estavam preparados para a liberdade, pois não sabiam, de forma inata, como lidar em plenitude com ela. Assim, é preciso educar o homem para a liberdade, através da arte. O ser humano é um indivíduo que participa tanto no mundo sensível como do inteligível, de modo que existe uma oposição entre matéria e forma, necessidade e liberdade – e esses conflitos geram um jogo de caráter lúdico que os reconcilie, tendo como objetivo o belo. A arte, nessa medida, prenuncia a possibilidade da realização da liberda- de, pois ela possibilita os meios para alcançá-la. Segundo Schiller, a harmonia entre o homem e o mundo foi rompida, quando o ser humano decidiu se ver diferente da ordem natural, com a ordenação racional e iluminista de querer transformar e dominar a natureza. Nesse momento, a crítica aos racionalistas e aos iluministas é bem nítida e direta. Essa postura radical, refere-se ao instante em que o ser humano, ao acreditar cegamente no poderio da razão, se sente superior aos outros seres e acima da própria na- tureza, criando uma dicotomia – de um lado, a natureza e, de outro, a razão. Para o filósofo, só a arte pode reconciliar essas duas forças (natureza e razão), porém, a arte, que nãopode mais ser ingênua – como era na Grécia antiga – deve ser, agora, sentimental. Sentimental significa para Schiler, o ato da reflexão pelo qual o sujeito, ao voltar-se para si mesmo, se reconcilia com a harmonia da totalidade. Em sua obra Cartas sobre a educação estética do homem, de 1794, apresenta essa ideia de educar o homem com o auxílio da arte. goethe e schiller 3. o Problema da estética A problemática da arte na filosofia não é um assunto sur- gido no período pós-iluminismo. Desde a Grécia antiga, os pensadores tratavam em discutir essa temática. Platão, por exemplo, criticava veementemente a arte, pro- pagando-a como um elemento inferior à natureza, pois tenta imitar a própria natureza, a qual tratou de se utilizar da mimesis. Aristóteles, por sua vez, acredita que o belo não pode ser desligado do homem, e o que representará 94 a arte será a simetria, a proporção, ou seja, a justa medida. Entretanto, para o filósofo Kant, o questionamento da arte é diferente – ele não questiona em que medida uma obra de arte pode nos comunicar ou se a arte tem um compromisso com as coisas pensadas. Para Kant, os juízos de gosto, que seriam a opinião das pessoas sobre a beleza, são relevantes, tornando o belo uma forma sensível e subjetiva. Como res- posta a esse pensamento, emergem os românticos alemães, que apresentam a arte como um caminho para reordenação do mundo, guiando para um mundo sensível, onde o senti- mento é algo bom para o ser humano. É mediante a cultura ou educação estética, quando se encontra no “estado de jogo” contemplando o belo, que o homem poderá desenvolver-se plenamente, tanto em suas capacidades intelectuais quanto sensíveis [...] “Pois, para dizer tudo de vez, o homem joga somente quando é homem no pleno sentido da palavra, e somente é ho- mem pleno quando joga”. No “impulso lúdico”, razão e sensibilidade atuam juntas e não se pode mais falar da tirania de uma sobre a outra. Através do belo, o homem é como que recriado em todas as suas potencialidades e recupera sua liberdade. Friedrich Von schiller a educação estética do hoMeM. são paulo: iluMinuras, 2014, p. 14. DIAGRAMA DE IDEIAS A HUMANIDADE TEM A RAZÃO, MAS TAMBÉM É SENTIMENTO NÃO TER MEDO DE EXPRESSAR O SENTIMENTO TEMPESTADE E ÍMPETO STURM UND DRANG CONTRÁRIO AS LIMITAÇÕES DA RAZÃO É PRECISO VALORIZAR O SENTIMENTO MOVIMENTO CULTURAL ALEMÃO GOETHE 95 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. Há muito que dizer em favor das regras; quase os mesmos argumentos que se poderão fazer a respeito das leis da sociedade civil: um artista que se formar se- gundo estas mesmas regras não produzirá jamais uma coisa absolutamente má; da mesma forma, aquele que se regular pelas leis e atender ao decoro, nunca será um vizinho muito insuportável nem um velhaco decidido. Contudo, diga-se embora o que quiserem; as regras não servem senão para destruir o verdadeiro sentimento e a expressão da natureza. Não, o que digo não é em de- masia; as regras não fazem senão constranger; podem tirar, é verdade, alguma coisa supérflua etc. goethe. os soFriMentos do JoVeM Werther. [carta 8] 26 de Maio. Identifique a característica romântica mais evidente do fragmento: a) egocentrismo. b) rejeição a regras e modelos. c) valorização da vida burguesa. d) valorização do amor como sentido da vida. e) inadaptação à realidade, desejo de evasão. 2. Sobre os pressupostos históricos e filosóficos do Ro- mantismo, considere as seguintes afirmações: I. Teve base no iluminismo, de modo que as obras românti- cas são sempre despidas de subjetividade e baseiam-se tão somente na produção de conhecimento racional. II. Valoriza as emoções e as experiências sensoriais e, por conseguinte, da objetividade, característica que fez o movi- mento romântico ser conhecido como anti-iluminista. III. Teve como marca inicial, em termos mundiais, a pu- blicação de Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, romance escrito em cartas. Estão corretas as afirmativas: a) I. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) III. 3. Schiller, em A educação estética do homem numa sé- rie de cartas, afirma que a cultura estética torna possí- vel ao homem “aprender a desejar mais nobremente, para não ser forçado a querer de modo sublime”. A esse respeito, segundo o autor, é correto afirmar que: a) o homem pode ir além do dever e cultivar sua sensibilidade a ponto de seus desejos coincidirem ao máximo com as exigências da moral. b) as exigências da sensibilidade devem valer também no âmbito da moralidade, matizando a exigência da lei moral e reconciliando dever e felicidade. c) as leis da natureza sensível e da natureza racional devem ser ambas submetidas às leis da beleza, reali- zando plenamente a natureza humana. d) o dever, por si só, não tem acesso ao homem sen- sível, dependendo da beleza para que possa ter sobre ele uma força determinante. 4. (Coaero) Friedrich Schiller (1759-1805), autor de Sobre a educação estética da humanidade, diz que existe no ser humano um impulso que o liga a matéria, sujeitando-o à natureza e um outro impulso, de ordem superior, que eleva o ser humano ao nível do pensamento racional e que aspira à permanência e à imutabilidade. Para supe- rar o dualismo matéria e espírito que tal divisão sugere, Schiller admite a existência de um terceiro impulso. Assinale a alternativa cuja afirmação se relaciona cor- retamente com o terceiro impulso admitido por Schiller. a) Impulso do equilíbrio: busca manter uma neutralida- de entre matéria e razão, possibilitando a boa capaci- dade do julgar. b) Impulso da realidade: faz o ser humano perceber a tensão dialética existente entre forma e matéria, pos- sibilitando assim, a construção do real. c) Impulso crítico: responsável por elaborar o senso crítico humano, capacitando o homem a conhecer o mundo possível de forma racional. Percebido por Kant, não foi por ele conceituado. d) Impulso lúdico: concilia a matéria, presente aos sentidos, com a forma, ato do pensamento, que pare- ce excluir o que é material e sensível. Exerce-se acima das necessidades naturais e independe dos interesses práticos. Apresenta-se como jogo estético. 5. A noção de estética, quando formulada e desenvolvi- da nos séculos XVIII e XIX, concebia as artes como be- las-artes e pressupunha que: I. A arte é uma atividade humana dependente da política, visto que a sua finalidade é servir os grupos economica- mente dominantes e dirigentes, isto é, aqueles que podem pagar pelas obras de arte. II. A arte é produto da experiência sensorial ou perceptiva (sensibilidade), da imaginação e da inspiração do artista como criador autônomo ou livre III. A finalidade da arte é desinteressada (não utilitária) ou contemplativa. Em outras palavras, a obra de arte não está a serviço do culto, nem da prática moral das virtudes, assim como não está destinada a produzir objetos de uso e de consumo, e sim a propiciar a contemplação da beleza. IV. O belo é diferente do bom e do verdadeiro. O bem é ob- jeto da ética; a verdade, objeto da ciência e da metafísica; e a beleza, o objeto próprio da estética. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I, III e IV. b) I, II e III. c) II, III e IV. 96 d) III e IV. e) II e IV. 6. (Unioeste) No curso dos séculos, reconheceu-se a exis- tência de coisas belas e agradáveis e de coisas ou fenô- menos terríveis, apavorantes e dolorosos (...). No século XVIII o universo do prazer estético divide-se em duas províncias, a do Belo e a do Sublime (...). Tudo aquilo que pode despertar ideias de dor e perigo, isto é, tudo aquilo que seja, em certo sentido, terrível ou que diga respeito a objetos terríveis, ou que atue de modo análogo ao terror é uma fonte de Sublime, ou seja, é aquilo que produz a mais forte emoção que o espírito é capaz de sentir (...). [Mas, o terror] só é deleitável quando há um distancia- mento da coisa que faz medo, donde, uma espécie de desinteresse em relação à ela. Dor e terror são causa de Sublime se não sãorealmente nocivos. (uMberto eco) Acerca do Sublime, é correto afirmar que: a) refere-se, exclusivamente, a puras criações da ima- ginação, sem a presença de objetos externos. b) ele se opõe ao Belo, por isso não é um problema da Estética. c) este sentimento leva nossa natureza sensível a per- ceber seus próprios limites, uma vez que a experiên- cia do Sublime, diante dos espetáculos da natureza, ultrapassa nossa sensibilidade. d) terremotos, tempestades, rochedos arrojados, fu- racões, vulcões em toda sua violência destrutiva e o oceano enfurecido são exemplos de Sublime e, quan- to maior for o perigo, quanto mais próximo dele esti- ver o espectador mais intensa será a experiência, uma vez que a sensação de possuir o horror será maior. e) nenhum artista tentou representar a experiência do sentimento do Sublime por saber de antemão que ele é da ordem do irrepresentável. 7. (Unioeste) O nascimento da estética como disciplina filosófica está indissoluvelmente ligado à mutação radi- cal que intervém na representação do belo quando este é pensado em termos de gosto, portanto, a partir do que no homem irá logo aparecer como a essência mes- ma da subjetividade, como o mais subjetivo do sujeito. Com o conceito de gosto, efetivamente, o belo é ligado tão intimamente a subjetividade humana que se define, no limite, pelo prazer que proporciona, pelas sensações ou pelos sentimentos que suscita em nós. (...) Com o nascimento do gosto, a antiga filosofia da arte deve, portanto, ceder lugar a uma teoria da sensibilidade. (luc FerrY) Assinale a alternativa que não está relacionada com a Estética como disciplina filosófica. a) Estética e a tradução da palavra grega aisthetiké que significa “conhecimento sensorial, experiência sensível, sensibilidade”; só na modernidade, por volta de 1750, foi utilizada para referir-se aos estudos das obras de artes enquanto criações da sensibilidade tendo como finalidade o belo. b) Desde seu nascimento como disciplina específica da filosofia, a Estética afirma a autonomia das artes pela distinção entre beleza, bondade e verdade. c) Ainda que a obra de arte seja essencialmente par- ticular, em sua singularidade única ela oferece algo universal. Eis a peculiaridade do juízo de gosto: pro- ferir um julgamento de valor universal tendo como objeto algo singular e particular. d) A Estética não cabe apenas ocupar-se com o sentimen- to de beleza, mas também com o sentimento de sublime. e) Considerando que tanto o gosto do artista quanto os gostos do público são individuais e incomparáveis e que, portanto, “gosto não se discute”, a Estética como disciplina da filosofia está destinada ao fracasso, pois não é possível dar universalidade ao juízo de gosto. 8. (Unesp) A fonte do conceito de autonomia da arte é o pensamento estético de Kant. Praticamente tudo o que fazemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois praticamente tudo o que fazemos serve para alguma coi- sa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquan- to objeto de apreciação estética, uma coisa não obedece a essa razão instrumental: enquanto tal, ela não serve para nada, ela vale por si. As hierarquias que entram em jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto é, nas coisas de que nos servimos, não entram em jogo nas obras de arte tomadas enquanto tais. Sendo assim, a luta contra a autonomia da arte tem por fim submeter também a arte à razão instrumental, isto é, tem por fim recusar também à arte a dimensão em virtude da qual, sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da luta pelo empobrecimento do mundo. antônio cícero. “a autonoMia da arte”. Folha de são paulo, 13.12.2008 (adaptado). De acordo com a análise do autor: a) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista da filosofia de Kant, fornece os fundamentos para a apreciação estética. b) um mundo empobrecido seria aquele em que ocor- re o esvaziamento do campo estético de suas quali- dades intrínsecas. c) a transformação da arte em espetáculo da indústria cultural é um critério adequado para a avaliação de sua condição autônoma. d) o critério mais adequado para a apreciação esté- tica consiste em sua validação pelo gosto médio do público consumidor. e) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte está prioritariamente subordinada à sua valorização como produto no mercado. 9. (Uema) A concepção de arte tem mudado ao longo dos séculos. A arte como imitação da natureza e a arte como expressão e construção são, respectivamente, concepções dos seguintes períodos: a) antigo e contemporâneo. b) antigo e medieval. 97 c) medieval e moderno. d) antigo e moderno. e) moderno e contemporâneo. gabarito 1-B; 2-D; 3-A; 4-D; 5-C; 6-C; 7-E; 8-B; 9-A 98 HegelAULA 15 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. georg Wilhelm friedrich hegel (1770-1831) Friedrich Hegel nasceu na cidade alemã de Stuttgart, em 1770. O seu pensamento foi determinante para a filosofia contemporânea, apesar de difundi-lo de modo rebuscado e num grau de complexidade elevada, sendo construída no racionalismo – faz parte do círculo que corresponde ao idealismo alemão. Vivenciando as mudanças históricas de seu tempo, como a Revolução Francesa (1789), Hegel observou o dinamismo das coisas e como os atos e as ideias estão interligados, de modo que não podemos separar tais elementos. Entre- tanto, esses elementos podem sofrer alterações, por não serem fixos, ao passo que o momento histórico carrega consigo elementos culturais e ideais de tal período, sofren- do mudanças ao longo do tempo. Assim, segundo o filóso- fo, cada época tem seu próprio tipo de sabedoria, na qual não podemos menosprezar o conhecimento do passado. Aqui, vemos que, para Hegel, a filosofia e a história estão entrelaçadas, sem uma separação nítida. Tendo uma influência kantiana, Hegel salienta que a histó- ria da humanidade é a história da emancipação dos indiví- duos, diante de uma elevação gradual de suas liberdades individuais, atingindo uma maioridade intelectual. Porém, o que move essa elevação gradual é ocasionada pelo “es- pírito do tempo” (zeitgeist, em alemão) que impulsiona as ações e as ideias, algo como um movimento que atinge a humanidade. O filósofo entende a realidade como espírito, como substância, mas também como sujeito. Hegel e a razão dialética como justificação do drama histórico – Parte I Com o Prof. Dr. Franklin Leopoldo e Silva multimídia: vídeo Fonte: Youtube A dialética hegeliana: uma tentativa de compreensão De Fernando Guimarães Ferreira multimídia: livro 99 1.1. A dialética hegeliana Para Hegel, o movimento da história é o confronto de ideias diferentes, sendo um contínuo devir composto por três momentos: tese, antítese e síntese. É um movimento circular que não se fecha, ou seja, um movimento em espiral, pois cada momento final, que seria a síntese, se torna a tese de um movimento anterior, de caráter mais avançado. Sendo que, para compreender essa dialética, é necessário buscar o Absoluto, superando o en- tendimento comum atingindo a certeza completa e global. Hegel multimídia: vídeo Fonte: Youtube 1.2. O espírito se expressa na arte Na arte, o saber se configura como expressão sensível do espírito. O homem se liberta de sua sujeição natural, da finitude entendida como submissão à natureza. O espírito vê-se livre para criar, e essa criação manifesta uma disposi- ção para o absoluto. Mas a arte, segundo Hegel, é ainda dependente da maté- ria. Na escultura, arte simbólica por excelência, a liberdade do espírito encontra o limite no material bruto. A liberdade já é bem maior na música e na pintura, nas quais o grau de abstração permite ao espírito uma ampla variabilidade de formas expressivas. Mas é no domínio da palavra que se realiza a liberdade expressiva da arte: a palavra não é som ou grafia, mas o sentido que veicula. Na palavra atinge-se o grau máximo de abstração, e o alcancedas construções espirituais é praticamente infinito. Assim, a arte é um momento do espírito, em que este procu- ra adequar-se ao elemento sensível para expressar o saber. Introdução à história da Filosofia O ensino da Filosofia segundo Hegel, de Pedro Novelli multimídia: livro CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS Após a morte de Hegel, seus seguidores dividiram-se em dois campos contrários: § os hegelianos de direita – discípulos diretos do filósofo, na Universidade de Berlim, que defenderam o conser- vadorismo político do período posterior à restauração napoleônica. Alguns chegaram a defender, inclusive, o nazismo, nas décadas de 1930 e 1940, na Alemanha. § os hegelianos de esquerda – interpretaram Hegel em um sentido revolucionário, o que os levou a se aproxi- marem do ateísmo, na religião, e ao socialismo, na po- lítica. Entre os hegelianos de esquerda, encontram-se Ludwig Feuerbach, David Friedrich Strauss, Max Stirner e, o mais famoso de todos, Karl Marx. Podemos compreender a dialética hegeliana como ana- logia a uma soma vetorial. Quando somamos dois ve- tores, geramos um terceiro, que conserva, de alguma forma, as propriedades dos originais. Podemos pensar na soma de um vetor A (tese) com um vetor B (antítese), gerando um novo vetor S (síntese), tal como representa- do na imagem abaixo. 100 DIAGRAMA DE IDEIAS DIALÉTICA HEGELIANA • TESE • ANTÍTESE • SÍNTESE (TESE) HEGEL EXISTE UM DINAMISMO NO MUNDO UM MOVIMENTO ZEITGEIST ESPÍRITO DO TEMPO 101 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (UEM) O filósofo alemão Hegel (1770-1831) afir- ma que “É tarefa da filosofia conceber o que é, pois, aquilo que é é a razão. No que concerne ao indivíduo, cada um é, de todo modo, um filho de seu tempo; do mesmo modo que a filosofia é seu tempo apreendido em pensamentos”. hegel, g.W.F. eXcertos e parÁgraFos traduZidos. in: Marçal, J. (org.). antologia de teXtos FilosóFicos. curitiba: seed-pr, 2009, p. 314. A partir do trecho citado, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01) A razão de algo é o conceito desse algo concebi- do filosoficamente pelo seu tempo. 02) Aquilo que é, a essência de algo, é para o filósofo um conceito racional. 04) O indivíduo, que é filho de seu tempo, do ponto de vista filosófico, pensa os seus problemas a partir de seu momento histórico. 08) Os conceitos filosóficos, por serem determinados historicamente, estão restritos ao seu tempo e à sua época, não sendo, pois, universais. 16) A reflexão filosófica está intimamente ligada ao seu momento histórico, visto que leva esse mundo ao plano do conceito. 2. (UEM) “A filosofia de Hegel constitui, assim, exemplo de um grandioso e radical investimento especulativo, qualificado como ideia de liberdade. Ao mesmo tempo em que tem a pretensão de analisar a liberdade segundo um modo conceitual (lógico-ontológico), quer, também, compreendê-la como uma forma histórica de sua mani- festação. Ou, dito de outro modo, sem abandonar o seu caráter autorreferencial (subjetivo), o filósofo pretende efetivá-la na sua necessária forma institucional (objeti- va). (...) Se a liberdade subjetiva não alcançar essa dimen- são e se circunscrever no âmbito dos interesses e desejos particulares dos indivíduos nas suas relações privadas, o próprio princípio da liberdade se vê ameaçado.” Marçal, J. (org.). antologia de teXtos FilosóFicos. curitiba: seed-pr, 2009. p. 309. Com base na citação anterior, assinale o que for correto. 01) O livre arbítrio constitui uma ameaça para a rea- lização da liberdade. 02) A liberdade deve ser pensada em dois planos dis- tintos: o primeiro, autorreferencial ou subjetivo, e o segundo, institucional ou objetivo. 04) A efetividade do Estado e das instituições sociais constitui um obstáculo para os desejos particulares dos indivíduos. 08) O exercício da liberdade é característico de um processo historicamente definido. 16) A liberdade é uma síntese da religião com o au- toconhecimento. 3. (UEM) “Marx e Hegel têm em comum a crítica à exacerbação do individualismo egoísta moderno, bem como das suas consequências, porém discordam quanto às possibilidades de solução da questão. Um dos ele- mentos fundamentais desse debate é a questão da so- berania política.” Marçal, J. (org.). antologia de teXtos FilosóFicos. curitiba: seed-pr, 2009, p. 466. Sobre as relações entre indivíduo e Estado, assinale o que for correto. 01) Karl Marx considera que a emancipação humana re- alizar-se-á na sociedade comunista, pois, nessa socieda- de, o indivíduo não será mais submetido a um Estado e à divisão social do trabalho, podendo, dessa forma, passar do reino da necessidade ao reino da liberdade. 02) Para Karl Marx, a liberdade do indivíduo, como concebida pelo Estado burguês, não passa de um for- malismo jurídico; é uma ficção da lei, pois o indivíduo só pode ser livre quando a esfera da produção estiver sujeita ao controle daqueles que produzem. 04) Para Hegel, o Estado deveria ser substituído pela sociedade civil, pois essa pode representar os interes- ses coletivos e é capaz de garantir os interesses de cada indivíduo. 08) Hegel critica as teorias políticas contratualistas, segun- do as quais os indivíduos isolados abandonam o estado de natureza para se reunirem em sociedade, por meio de um pacto, a fim de formar artificialmente o Estado e ga- rantir a liberdade individual e a propriedade privada. 16) A filosofia política de Karl Marx fundamenta-se numa nova antropologia, segundo a qual a nature- za humana varia historicamente, pois o indivíduo se produz à medida que transforma a natureza pelo tra- balho dentro de certas relações sociais de produção. 4. (UEG) Para Hegel, a razão é a relação interna e ne- cessária entre as leis do pensamento e as leis do real. Assim, ela é a unidade entre a razão subjetiva e a razão objetiva. Hegel denominou essa unidade de espírito ab- soluto. Dessa forma, um evento real pode expressar e ser resultado das ideias que o precedem. Um exemplo da objetivação dessas ideias é o seguinte evento: a) A subida de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, representando os ideais sionistas germânicos. b) A queda de Dom Pedro I do trono brasileiro, repre- sentando a crise do sistema colonial português. c) A ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, re- presentando o ideal iluminista de igualdade social. d) A coroação de Dom Pedro II no trono brasileiro, representando a vitória dos ideais puritanos de moral. 5. (UEM) Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o kantismo. Endereçou a todos a mesma crítica, a de não terem compreendido o que há de mais fundamental e essencial à razão: o fato de ela ser histórica. Com base nessa afirmação, assinale o que for correto. 01) Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel consi- dera a razão como sendo relativa, isto é, não possui um caráter universal e não pode alcançar a verdade. 102 02) Não há para Hegel nenhuma relação entre a ra- zão e a realidade. Submetida às circunstâncias dos eventos históricos, a razão está condenada ao ceticis- mo, isto é, “ao duvidar sempre”. 04) A identificação entre razão e história conduz Hegel a desenvolver uma concepção materialista da história e da realidade, negando entre ambas a possi- bilidade de uma relação dialética. 08) No sistema hegeliano, a racionalidade não é mais um modelo a ser aplicado, mas é o próprio tecido do real e do pensamento. O mundo é a manifestação da ideia, o real é racional, e o racional é o real. 16) Karl Marx, ao afirmar, na ideologia alemã, que não é a história que anda com as pernas das ideias, mas as ideias é que andam com as pernas da história, critica, ao mesmo tempo, o idealismo e a concepção da história de Hegel e dos neo-hegelianos. 6. (UEM) Segundo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a rea- lidade é a manifestação do espírito infinito ou absoluto, que é necessariamente histórico, dialético e realizador da unidade entre pensamento e mundo. Sobre a ma- nifestação do espírito na arte, segundo a filosofia de Hegel, assinale o que for correto.01) A arte, para Hegel, é a manifestação sensível do espírito, isto é, a primeira forma de expressão do ab- soluto, sucedida pela religião e pela filosofia. 02) Entre as obras de arte, a poesia é a mais espiritual de todas, segundo Hegel, pois a matéria que utiliza é a linguagem. 04) Para Hegel, a arte sempre renasceu e renascerá eternamente, pois seu conteúdo histórico deve ser atualizado ao longo do tempo. 08) A arte sacra (música-coral, arquitetura gótica, es- culturas e afrescos) é, segundo Hegel, uma forma de arte perfeita, pois a religião é a base do artista. 16) De acordo com o processo de autoconsciência do espírito, Hegel classifica a arte em três momentos ou formas: simbólica, clássica e romântica. 7. (Unicentro) Analise as assertivas e assinale a alter- nativa que aponta a(s) correta(s). Em seu livro História da Filosofia, Hegel (1770-1831) declara que a filosofia moderna pode ser considerada o nascimento da filoso- fia propriamente dita, porque nela, segundo Hegel, pela primeira vez, os filósofos afirmam que: I. a filosofia é independente e não se submete a nenhuma autoridade que não seja a própria razão como faculdade plena de conhecimento. Isto é, os modernos são os primei- ros a demonstrar que o conhecimento verdadeiro só pode nascer do trabalho interior realizado pela razão, graças a seu próprio esforço. Só a razão conhece e somente ela pode julgar a si mesma. II. a filosofia moderna realiza a primeira descoberta da subjetividade propriamente dita porque nela o primeiro ato do conhecimento, do qual dependerão todos os outros, é a reflexão e consciência de si reflexiva. III. a filosofia moderna é a primeira a reconhecer que, sen- do todos os seres humanos seres conscientes e racionais, todos têm igualmente o direito ao pensamento e a ver- dade. Segundo Hegel, essa afirmação do direito ao pen- samento, unida à ideia da recusa de toda censura sobre o pensamento e palavra, seria a realização filosófica do princípio da individualidade como subjetividade livre que se relaciona livremente com a verdade. IV. a filosofia moderna está tão intimamente vinculada aos fundamentos da práxis humana que a ação não pode ser ignorada na determinação de seus critérios filosóficos. Para Hegel, os modernos foram os primeiros a entender que esta prática, no entanto, não deve ser considerada apenas no sentido restrito da conduta pessoal, mas na acepção mais abrangente de experiência humana em seus vários aspectos, desde histórico até o nível psicológico. Considerando as afirmações acima: a) apenas I, III e IV são corretas. b) apenas I, II e III são corretas. c) apenas I é correta. d) apenas II, III e IV são corretas. e) apenas IV é correta. 8. (Unicentro) Relacione os fragmentos e argumentos abaixo identificando-os com o pensamento político de seu respectivo autor. I. Na obra Filosofia do Direito, em que são desenvolvidas as teorias sobre o Estado, encontramos uma crítica à tra- dição jurisnaturalista típica dos filósofos contratualistas. Ao contrário destas teorias, a obra em questão nega a ante- rioridade dos indivíduos na formação da sociedade, pois é o Estado que fundamenta a sociedade, ou seja, não existe o homem em estado de natureza, pois o homem é sempre um indivíduo social. cF. aranha; Martins. FilosoFando: introdução à FilosoFia. 2. ed. são paulo: Moderna, 1993, p. 234. II. É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer, mas a liberdade política não consiste nisso. Num Estado, isto é, numa sociedade em que há leis, a liberdade não pode consistir senão em poder fazer o que se deve querer não ser constrangido a fazer o que não se deve de- sejar. Deve-se ter sempre em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder. FragMento retirado da obra: do espírito das leis. são paulo: diFel, 1962, p. 179. III. A ideia central da obra Segundo tratado sobre o go- verno gira em torno do conceito de propriedade privada. Inicialmente, este conceito é usado num sentido muito 103 amplo, indicando tudo o que pertence a cada indivíduo, isto é, seu corpo, suas capacidades, seu trabalho, seus bens, sua vida e liberdade. Segundo essa concepção, to- dos são proprietários, mesmo quem não possui bens, pois todos são proprietários de sua vida, de seu corpo, de seu trabalho. Nessa obra, aparece a distinção entre o público e o privado, que devem ser regidos por leis diferentes, de tal modo que o Estado não deve intervir, mas sim garantir e tutelar o livre exercício da propriedade. cF. aranha; Martins. FilosoFando: introdução à FilosoFia. 2. ed. são paulo: Moderna, 1993, p. 219. IV. Nas minhas pesquisas cheguei à conclusão de que as relações jurídicas – assim como as formas de Estado – não podem ser compreendidas por si mesmas, nem pela dita evolução geral do espírito humano (...). A conclusão geral a que cheguei (...) pode formular-se resumidamente assim: na produção social de sua existência, os homens estabele- cem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças pro- dutivas materiais. (...) O modo de produção da vida mate- rial condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina sua consciência. FragMento retirado da obra: contribuição à crítica da econoMia política. são paulo: Martins Fontes, 1977, p. 23. Os fragmentos e argumentos acima correspondem ao pensamento político de quais filósofos? Preencha os parênteses com o número do argumento ou fragmento que lhe é correspondente. ( ) Karl Marx ( ) Friedrich Hegel ( ) John Locke ( ) Montesquieu Assinale a alternativa correta. a) I, II, III e IV. b) II, III, I e IV. c) IV, III, II e I. d) III, I, IV e II. e) IV, I, III e II. 9. (UFU) Hegel, em seus cursos universitários de Filoso- fia da História, fez a seguinte afirmação sobre a relação entre a filosofia e a história: “O único pensamento que a filosofia aporta é a contemplação da história”. hegel, g.W.F. FilosoFia da história. 2. ed. brasília: editora da unb, 1998, p. 17. De acordo com a reflexão de Hegel, é correto afirmar que: I. a razão governa o mundo e, portanto, a história universal é um processo racional. II. a ação dos homens obedece a vontade divina que pre- estabelece o curso da história. III. no processo histórico, o pensar está subordinado ao real existente. IV. a ideia ou a razão se originam da força material de produção e reprodução da história. Assinale a alternativa que contém somente assertivas corretas. a) III e IV. b) I e II. c) II e III. d) I e III. 10. (UFU) Segundo Hegel, “Na história universal só se pode falar dos povos que formam um Estado. É preciso saber que tal Estado é a realização da liberdade, isto é, da finalidade absoluta, que ele existe por si mes- mo: além disso, deve-se saber que todo valor que o homem possui, toda realidade espiritual, ele só o tem mediante o Estado”. hegel. FilosoFia da história. 2. ed. brasília: editora da unb. 1998. p. 39-40. A interpretação do trecho citado permite afirmar que: a) o Estado é realidade espiritual, que ao mesmo tempo é a garantia dos valores humanos, sendo a liberdade a realização suprema da existência humana, pois ela é a síntese da vontade universal e da vontade subjetiva. b) o Estado resulta da ação abstrata produzida por uma força divina absoluta e superior às vontades hu- manas que a ela se submetem. c) o Estado é a limitação da liberdade, que é cerceada para que o Estado se coloque acima e à frente dos cidadãos no curso da história. d) o Estado é a recondução do indivíduo e da espécie às condições naturais de existência, únicas capazes de garantir a liberdade como valor absoluto. gabarito1-(01 + 02 + 04 + 16 = 23); 2-(02 + 08 = 10); 3-(01 + 02 + 08 + 16 = 27); 4-C; 5-(08 + 16 = 24); 6-(01 + 02 + 16 = 19); 7-B; 8-E; 9-D; 10-A 104 utIlItarIstasAULA 16 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 O utilitarismo é considerado como uma doutrina que afirma que as ações são boas quando tendem a promover a felici- dade, ao passo que também podem produzir ações negati- vas quando não propiciar a felicidade. Utilitarismo na Unesp Bentham e Mill: esses são os nomes que você deve conhecer bem para entender melhor o liberalismo. O utilitarismo concilia a moral e a política para dar um novo sentido ao século XIX: a produtividade. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 1. jeremy bentham (1748-1832) O filósofo inglês Bentham salientava que a natureza huma- na era governada por dois elementos soberanos – prazer e dor –, num movimento constante de busca pelo prazer e de fuga da dor. O pensador promulgou o princípio da utilidade como pa- drão de ação correta por parte dos indivíduos e pelo Es- tado, de modo que essas ações ganham uma validade/ aprovação, quando desencadeiam a felicidade, enquanto outras ações são inválidas/reprovadas, quando causam a infelicidade ou a própria dor. As características de sua filosofia são: § maior princípio de felicidade: promove a felicidade em geral, sendo o princípio que aprova ou desaprova a ação; § o egoísmo universal: prevalece o pensar numa ação vol- tada para o coletivo, seguindo uma lógica utilitarista; § identificação artificial dos interesses de alguém: diante desta característica, o indivíduo entenderá o outro como relevante na sociedade, ou seja, os interesses de um é o mesmo de todos. Segundo a filosofia de Bentham, o princípio da utilidade é algo que não admite provas diretas, não sendo neces- sariamente um problema, pois alguns princípios explica- tivos devem começar em algum lugar, tendo como base a observação. Esse pensamento utilitarista apresenta vantagens numa filosofia moral, pois permite que as decisões sejam discuti- das por todos, com o mesmo interesse coletivo, o interesse do bem, visando à felicidade. Aqui, notamos uma orienta- ção de que todos os sujeitos da sociedade são relevantes e iguais na construção de um bem coletivo. Com isso, a filo- sofia moral, ou a ética, pode ser descrita como uma orien- tação que dirige a ação do homem para maior quantidade possível de felicidade. 105 A liberdade, para o filósofo, consistia na ausência da restri- ção, podendo ter uma liberdade plena, sem o impedimen- to dos outros, sendo que essa liberdade não é “natural” (no sentido de existir antes da vida social), pois as pessoas sempre viveram em sociedades, isto é, essa liberdade surge com o próprio sujeito. A utilização das leis arbitrárias se torna negativa porque, por natureza, restringe a liberdade do sujeito, sendo, na sua essência, prejudicial ao indivíduo. Entretanto, a lei é necessária para orientar a ordem social, e as boas leis se- rão essenciais. Isso ocorre quando o controle pelo Estado é limitado, deixando o indivíduo livre, pois o protegerá de qualquer dano em sua liberdade e na própria liberdade co- letiva. Isso dá uma utilidade positiva, pois expressa a von- tade do soberano, que o próprio grupo social. 1.1. Pensamento contra a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão Bentham foi contrário às declarações do ideal contratua- lista da Revolução Francesa – ao firmar um pacto de di- reitos, limitando valores morais e éticos, priva o indivíduo de viver a vida na sua totalidade, pois não há escolha consciente e coletiva. Advogado do Diabo Estados Unidos, 1997 Nesse filme, um jovem e brilhante advoga- do enfrenta o dilema entre o sucesso na sua carreira profissional e valores humanos, em especial a honestidade. multimídia: vídeo 2. john stuart mill (1806-1873) O filósofo inglês Stuart Mill foi seguidor de Bentham, em- bora discordasse de algumas de suas afirmações. Para Mill, os prazeres possuem um quadro de satisfação, como numa escala de valores. Por exemplo, o prazer intelec- tual é de um tipo melhor que os prazeres que são sensuais ou instintivos. Essa condição é direcionada indutivamente, pois Mill questiona: “quem preferiria ser um jabuti feliz, vi- vendo uma vida extremamente longa, do que ser uma pes- soa vivendo numa vida normal?”. A contribuição de Mill para o utilitarismo está mais na for- ma do que no conteúdo. Liberdade de expressão, uma conversa sobre Stuart Mill Os filósofos Paulo Ghiraldelli e Francielle Chies conversam sobre o tema “liberdade de expressão”, da obra Liberdade, de Stuart Mill. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 2.1. O princípio do dano O princípio do dano assegura que cada indivíduo tem o di- reito de agir como quiser, desde que suas ações não prejudi- quem as outras pessoas. Se a ação afeta diretamente apenas a pessoa que a está realizando, então a sociedade não tem o direito de intervir. Entretanto, Mill argumenta que os indi- víduos são prevenidos de fazer algo ruim para eles mesmo princípio do dano, pois ninguém vive isolado e, feito dano a si mesmo, os outros serão, também, prejudicados. 2.2. A liberdade do indivíduo A liberdade de expressão, oral e escrita, é proeminente entre as condições de um bom governo. Só que essa liber- dade, num governo popular, baseado no voto, não garante 106 a liberdade, pois um governo baseado na vontade popular pode exercer a tirania. Assim, as restrições impostas ao in- divíduo, seja pela lei ou pela opinião, deveriam ser basea- das num princípio coletivo. A liberdade é um bem em si mesmo como num meio para a felicidade e o progresso. Menino do Engenho José Lins do Rego. Rio de Janeiro: José Olym- pio, 2010. Trata-se do romance apresentado no início do capítulo, que traz uma série de questões que po- dem ser debatidas a partir da ética e da moral. multimídia: livro 2.3. A crítica O pensamento de Mill sofre uma crítica porque, em seu zelo pela liberdade e em sua oposição à extensão da interferência do Estado, ele deu pouca importância à justiça e ao bem-es- tar, elementos que podem comprometer a liberdade. Stuart Mill viu com entusiasmo o surgimento do socia- lismo e acreditou que o mesmo seria vitorioso contra o sistema da propriedade. Embora Bentham e Mill partam de um entendimento se- melhante em relação ao conceito de utilidade, o utilitaris- mo de Bentham enfatiza a moralidade da ação, enquanto o de Mill busca entender em que consistiria a avaliação moral da ação e a moralidade das próprias normas. Gattaca, a experiência genética Estados Unidos, 1997 Filme de ficção científica ambientado no fu- turo, que apresenta uma situação bastante interessante: a personagem principal viola as principais regras morais da sociedade na qual vive, mas, apesar disso, suas ações são legítimas, do ponto de vista ético. multimídia: vídeo Sob o título de Salários vamos considerar, primeiramen- te, as causas que determinam ou alteram os salários da mão de obra em geral, e, em segundo lugar, as diferen- ças existentes entre os salários das diferentes ocupações. Convém ter em mente essas duas classes distintas de considerações e, ao discutir a lei salarial, proceder, em primeiro lugar, como se não houvesse outro tipo de mão de obra senão a mão de obra comum não qualificada para trabalho medianamente duro e desagradável. Os salários, assim como outros elementos, podem ser regu- lados tanto pela concorrência como pelo costume. Nesse país há poucos tipos de mão-de-obra cuja remuneração não seria mais baixa do que é se o empregador tirasse toda vantagem possível da concorrência. A concorrência, no entanto, deve ser considerada, no es- tágio atual da sociedade, como o principal regulador dos salários, e o costume ou caráter individual, apenas como uma circunstância modificadora, e isso em um grau relati- vamente baixo. Por conseguinte, os salários dependem so- bretudo da procura e da oferta de mão de obra; ou então,como se diz com frequência, da proporção existente entre a população e o capital. Por população entende-se aqui somente o número de trabalhadores, ou melhor, daqueles que trabalham como assalariados; e por capital, somente o capital circulante, e nem sequer este em sua totalida- de, senão apenas a parte gasta no pagamento direto de mão de obra. A isso, porém, devem-se acrescentar todos os fundos que, sem serem capital, são pagos em troca de trabalho tais como os vencimentos de soldados, criados domésticos e todos os outros trabalhadores improdutivos. Infelizmente, não há maneira de expressar com um único termo comum o conjunto daquilo que se tem denomina- do o fundo salarial de um país; e já que os salários da mão de obra produtiva constituem quase a totalidade desse fundo, costuma-se passar por cima da parte menor 107 e menos importante, e dizer que os salários dependem da população e do capital. Será conveniente empregar essa expressão, mas lembrando-se de considerá-la como elíp- tica, e não uma afirmação literal da verdade integral. Res- salvadas essas limitações inerentes aos termos, os salários não somente dependem do montante relativo do capital e da população, senão que, sob o domínio da concorrência, não podem ser afetados por nenhuma outra coisa. Os salários (naturalmente, no sentido de taxa geral dos salários) não podem aumentar a não ser em razão de um aumento do conjunto de fundos empregados para contratar trabalhadores ou em razão de uma diminui- ção do número daqueles que competem por emprego; tampouco podem baixar, a não ser porque diminuem os fundos destinados a pagar mão de obra ou porque au- menta o número de trabalhadores a serem pagos. stuart Mill princípios de econoMia política. são paulo: abril, 1996, p. 395-396. Filosofia política: o utilitarismo Curso Livre de Humanidades, com o professor Luis Alberto Peluso, da PUC-Campinas multimídia: vídeo Fonte: Youtube 108 DIAGRAMA DE IDEIAS UTILITARISTA AS AÇÕES SÃO BOAS, POIS PROMOVEM A FELICIDADE TODOS TEM O DIREITO DE AGIR SEM PROVOCAR DANOS AS OUTRAS PESSOAS STUART MILL PRINCÍPIO DO DANO OS PRAZERES DO HOMEM TEM UM QUADRO DE SATISFAÇÕES BENTHAM O SER HUMANO BUSCA O PRAZER PROCURA EVITAR A DOR PARA O BEM COMUM 109 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Enem PPL) O povo que exerce o poder não é sempre o mesmo povo sobre quem o poder é exercido, e o fala- do self-government [autogoverno] não é o governo de cada qual por si mesmo, mas o de cada qual por todo o resto. Ademais, a vontade do povo significa pratica- mente a vontade da mais numerosa e ativa parte do povo – a maioria, ou aqueles que logram êxito em se fazerem aceitar como a maioria. Mill, John stuart. sobre a liberdade. petrópolis: VoZes, 1991 (adaptado). No que tange à participação popular no governo, a ori- gem da preocupação enunciada no texto encontra-se na: a) conquista do sufrágio universal. b) criação do regime parlamentarista. c) institucionalização do voto feminino. d) decadência das monarquias hereditárias. e) consolidação da democracia representativa. 2. (Unesp) Tradição de pensamento ético fundada pelos ingleses Jeremy Bhentam e John Stuart Mill, o utilitarismo almeja muito simplesmente o bem comum, procurando eficiência: servirá aos propósitos morais a decisão que diminuir o sofrimento ou aumentar a felicidade geral da sociedade. No caso da situação dos povos nativos brasi- leiros, já se destinou às reservas indígenas uma extensão de terra equivalente a 13% do território nacional, quase o dobro do espaço destinado à agricultura, de 7%. Mas a mortalidade infantil entre a população indígena é o dobro da média nacional e, em algumas etnias, 90% dos inte- grantes dependem de cestas básicas para sobreviver. Este é um ponto em que o cômputo utilitarista de prejuízos e benefícios viria a calhar: a felicidade dos índios não é proporcional à extensão de terra que lhes é dado ocupar. VeJa, 25 out. 2013 (adaptado). A aplicação sugerida da ética utilitarista para a popula- ção indígena brasileira é baseada em a) uma ética de fundamentos universalistas que de- precia fatores conjunturais e históricos. b) critérios pragmáticos fundamentados em uma rela- ção entre custos e benefícios. c) princípios de natureza teológica que reconhecem o direito inalienável do respeito à vida humana. d) uma análise dialética das condições econômicas geradoras de desigualdades sociais. e) critérios antropológicos que enfatizam o respeito absoluto às diferenças de natureza étnica. 3. (Unioeste) Segundo John Stuart Mill, a autoridade da sociedade sobre o indivíduo deveria ser claramente limi- tada. Visando estabelecer o justo limite da soberania do indivíduo sobre si mesmo, ele afirma que “(...) o único objetivo a favor do qual se possa exercer legitimamente pressão sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a vontade dele, consiste em prevenir danos a terceiros. Não basta que se leve em conta o pró- prio bem, físico ou moral, da pessoa”. Mill, John stuart. da liberdade. são paulo: ibrasa, 1963. Este princípio, muito caro ao liberalismo político ra- dical, ficou conhecido como “princípio da liberdade”. Com base na leitura do enunciado de Mill, escolha a alternativa correta. a) Os indivíduos têm total liberdade de ação e a socieda- de jamais pode legitimamente reprimi-los, mesmo quan- do suas ações venham a provocar danos aos demais. b) A vontade do indivíduo é soberana, mas a sociedade tem o direito legítimo de reprimir os vícios e os compor- tamentos autodestrutivos por parte de seus membros. c) Os indivíduos movidos por seus interesses pessoais agem de forma egoísta e a sociedade tem o direito legítimo de regular suas ações em função dos valores estabelecidos pelos bons costumes. d) Os indivíduos têm o direito de fazer suas escolhas pessoais, mesmo quando estas colidem com a visão de mundo dominante e a sociedade só pode coibir tais es- colhas quando estas provocarem danos a terceiros. e) A salvaguarda do bem-estar físico ou moral do in- divíduo é o fundamento para que o poder possa ser legitimamente exercido sobre qualquer membro de uma sociedade civilizada, mesmo contra a sua vontade. 4. (UEM) Entre o final do século XVII e o final do século XIX, desenvolvem-se duas grandes concepções refe- rentes à organização social e à ordem política, isto é, o liberalismo e o socialismo. Essas duas doutrinas di- ferenciam-se tanto pelos princípios que fundamentam a organização social e a ordem política, quanto por pretenderem atender aos interesses de classes sociais divergentes. Assinale o que for correto. 01) Ao formular a teoria da propriedade privada como direito natural, o filósofo inglês John Locke es- tabeleceu um dos princípios que fundamentaram a organização social e a ordem política do liberalismo. 02) A revolta da Comuna de Paris, em 1871, foi uma insurreição dos liberais contra o Estado que, ao de- cretar leis para regulamentar o mercado, infringia o princípio do “deixai fazer, deixai passar”, ou seja, da não intervenção do Estado na economia. 04) Karl Marx e Friedrich Engels ficaram conhecidos como representantes do socialismo científico. Eles criti- caram os socialistas utópicos, tais como Charles Fourier e Robert Owen, que acreditavam ser possível mudar a rea- lidade social de maneira idealista e voluntarista, criando comunidades-modelo. 08) John Stuart Mill foi um dos poucos liberais que criti- cou as desigualdades sociais e políticas, a ponto de de- fender o sufrágio universal contra o voto censitário e ser um dos pioneiros na defesa da emancipação da mulher. 16) Karl Marx e Friedrich Engels criticaram a democracia burguesa fundada no liberalismo, que, para eles, dissi- mulava o poder político do capitalista proprietário dos meios de produção e legitimava o domínio sobre o ope- rariado expropriado. 110 5. (UEL) Leia o trecho a seguir. O objeto deste ensaio é defender [que] o único propósito com o qual se legitima o exercício do podersobre algum membro de uma comunidade civilizada contra a sua von- tade é impedir dano a outrem. Mill, John stuart. sobre a liberdade [1859]. petrópolis: VoZes, 1991. O trecho expressa: a) o argumento jusnaturalista, encontrado também em autores como Thomas Hobbes, para a criação do contra- to social que fundaria as bases de um Estado soberano. b) a visão fascista, na qual o Estado surge como solu- ção para os conflitos e problemas existentes no inte- rior da sociedade civil. c) a análise influenciada por Marx e Engels, na medi- da em que se baseia nas classes sociais para identifi- car o raio de ação dos indivíduos na sociedade. d) o ideário positivista do século XIX, no qual há uma forte crítica à visão utilitarista da moral e da vida em sociedade. e) uma preocupação característica do liberalismo do século XIX, que buscava pensar os limites da ação do Estado em relação à vida particular dos indivíduos. 6. (Enem) O edifício é circular. Os apartamentos dos prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode cha- má-los, se quiser, de celas. O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chamá-lo, se quiser, de alo- jamento do inspetor. A moral reformada; a saúde pre- servada; a indústria revigorada; a instrução difundida; os encargos públicos aliviados; a economia assentada, como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei so- bre os Pobres não cortado, mas desfeito – tudo por uma simples ideia de arquitetura! benthaM, JereMY. o panóptico. belo horiZonte: autÊntica, 2008. Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóp- tico, um modelo que mostra o poder da disciplina nas sociedades contemporâneas, exercido preferencialmente por mecanismos a) religiosos, que se constituem como um olho divino controlador que tudo vê. b) ideológicos, que estabelecem limites pela aliena- ção, impedindo a visão da dominação sofrida. c) repressivos, que perpetuam as relações de domina- ção entre os homens por meio da tortura física. d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo por meio do olhar como instrumento de controle. e) consensuais, que pactuam acordos com base na compreensão dos benefícios gerais de se ter as pró- prias ações controladas. 7. (Unioeste) O utilitarismo é um tipo de teoria teleoló- gica (de telos que, em grego, significa “fim”) ou conse- quencialista porque sustenta que a qualidade de um ato/ regra de ação é função das consequências produzidas pelo ato/regra em questão. O utilitarismo de atos estatui que uma ação é correta se sua realização dá origem a estados de coisas pelo menos tão bons quanto aqueles que teriam resultados de cursos alternativos de ação. O utilitarismo de regras ensina que são corretas as ações que se conformam a regras de cuja observância geral re- sulta um estado de coisas pelo menos tão bom quanto o resultante de regras alternativas. (...). Para o consequen- cialismo, o bem é logicamente anterior ao correto, no sentido de que nenhum critério de correção pode ser es- tabelecido antes que uma concepção de bem tenha sido delineada. (...) Para o utilitarismo, o bem é a utilidade (...) (M.c.M. de carValho) Com base no texto, seguem as seguintes afirmativas: I. Na concepção moral utilitarista, é necessário, nos juízos morais, levar em consideração as consequências resultan- tes das ações praticadas. II. Para o utilitarismo de regras, são consideradas boas as ações conforme a regras cuja observância resulta num es- tado de coisas tão bom, ou melhor, do que o estado de coisas resultante de regras alternativas. III. Na concepção ética utilitarista, o princípio fundamental é o princípio da utilidade. IV. Na concepção ética utilitarista, nenhum critério de cor- reção no agir moral pode ser estabelecido com base numa determinada concepção de bem. V. Há, em termos morais, apenas, uma única concepção utili- tarista, por esta ser uma concepção moral deontológica. Assinale a alternativa correta. a) Apenas I e IV estão corretas. b) Apenas II e IV estão corretas. c) Apenas IV e V estão incorretas. d) Apenas III e IV estão corretas. e) Todas as afirmativas estão incorretas. 8. (Ifam) O filósofo liberal John Stuart Mill, um dos princi- pais expoentes do utilitarismo, colocou a liberdade como a “pedra de toque” de sua teoria política. Esta se baseia no princípio de que: a) os interesses da maioria não podem ser conciliados com os da minoria, já que no sistema democrático esta é governada por aquela. b) a esfera da liberdade individual deve ser ampliada, em nome do interesse próprio, a despeito de causar danos à sociedade como um todo. c) a liberdade se restringe ao direito do indivíduo de participar como cidadão dos negócios públicos (do Estado), através da elaboração da lei. d) o governo deve visar à felicidade para um número cada vez maior de pessoas. e) a liberdade, entendida como a não interferência do Estado na esfera privada, é inconciliável com a igual- dade entre os indivíduos na esfera pública. 9.(IFG) Na contramão das previsões que anunciaram a morte da filosofia moral utilitarista, essa doutrina con- tinua sendo um tema privilegiado no campo de estudos 111 sobre a ética. A que se deve atribuir a vitalidade atual dos estudos sobre o utilitarismo? a) É possível afirmar que, se o utilitarismo continua fecundando a reflexão ética em nossos dias, é porque, à luz dessa doutrina, os direitos têm prioridade sobre o bem. Por isso, na “era dos direitos”, para falar com Norberto Bobbio, é compreensível que as éticas dos direitos busquem inspiração no utilitarismo. b) Os utilitaristas chegaram a um consenso na inter- pretação do conceito de utilidade. Um conceito que privilegia o interesse individual em detrimento do interesse geral e que leva a sério a pessoa humana. c) Não se pode ignorar que justiça e equidade estão suficientemente asseguradas na teoria utilitarista. Daí a importância que essa teoria adquire no cenário atual. O utilitarismo não admite que minorias sejam oprimidas e direitos humanos violados. d) Qualquer sistema ético deve promover o bem-estar e preocupar-se com a minimização do sofrimento. Daí a pertinência do utilitarismo, uma doutrina sensível às preocupações distributivas, que não opõe princípio de utilidade e princípio de equidade. e) O utilitarismo é um modelo ético desafiante que nos leva a pensar sobre importantes questões da ética nor- mativa, da metaética e da teoria da ação. A doutrina tem o mérito de considerar e ao mesmo tempo avaliar a importância das consequências da ação humana, como também de colocar em primeiro plano a satisfação das necessidades e dos interesses humanos da maioria. 10. (Enem) A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão de agradar a Deus, muito menos de fi- delidade a regras abstratas. A moralidade é a tentati- va de criar a maior quantidade de felicidade possível neste mundo. Ao decidir o que fazer, deveríamos, por- tanto, perguntar qual curso de conduta promoveria a maior quantidade de felicidade para todos aqueles que serão afetados. rachels, J. os eleMentos da FilosoFia Moral. barueri-sp: Manole, 2006. Os parâmetros da ação indicados no texto estão em con- formidade com uma a) fundamentação científica de viés positivista. b) convenção social de orientação normativa. c) transgressão comportamental religiosa. d) racionalidade de caráter pragmático. e) inclinação de natureza passional. 11. (UFMG) Leia estes dois trechos: Trecho 1 Em todas as épocas do pensamento, um dos mais for- tes obstáculos à aceitação da utilidade ou da felicidade como critério do certo e do errado tem sido extraído da ideia de justiça. Mill, John stuart. o utilitarisMo. são paulo: iluMinuras, 2000. cap. V, p. 69. Trecho 2 A justiça segue sendo o nome adequado para certas utili- dades sociais que são muito mais importantes e, portanto, mais absolutas e imperativas do que quaisquer outras con- sideradas como classe (embora não mais do que outras possam sê-lo em casos particulares). Elas devem, por isso, ser protegidas, como de fato naturalmenteo são, por um sentimento diferente não só em grau mas em qualidade, distinto, tanto pela natureza mais definida de seus dita- mes como pelo caráter mais severo de suas sanções, do sentimento mais moderado que se liga à simples ideia de promover o prazer ou a conveniência dos homens. ibideM, p. 94. Com base na leitura desses dois trechos e considerando outros elementos presentes no capítulo citado da obra de Mill, responda: a) Qual é o obstáculo ao princípio de utilidade que, segundo o autor, tem sido extraído da ideia de justiça? b) Qual é o argumento utilizado pelo autor para en- frentar esse obstáculo e demonstrar que não há incom- patibilidade entre as regras da justiça e o princípio da maior felicidade? gabarito 1-E; 2-B; 3-D; 4-(01 + 04 + 08 + 16 = 29); 5-E; 6-D; 7-C; 8-D; 9-E; 10-D 11. a) O obstáculo é a ideia de justiça, que é vista como um valor superior ao útil ou ao conveniente. Neste caso, a jus- tiça tem de ser encarada como um senso natural, próprio do ser humano. b) Stuart Mill considera que a noção de justiça é um con- junto de componentes de ordem emocional, como no caso do ser humano defender-se de um mal, e racional, que está estritamente fundamentada na ideia de justiça que acarre- ta aos seres humanos sentimentos mais intensos, como a segurança, aspectos dos mais desejáveis. 112 MaterIalIsMo FIlosóFIcoAULA 17 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 Tendo como uma recusa do idealismo de Hegel, emergiu o materialismo, uma visão material da realidade. Entre os contestadores, o pensador que teve maior destaque foi o alemão Ludwig Feuerbach. 1. ludWig feuerbach (1804-1872) O pensamento do filósofo alemão Feuerbach se caracteriza pelo materialismo, ateísmo e humanismo. O pensador ata- ca a ideia de imortalidade e afirmava que, após a morte, o ser humano é absorvido pela natureza. Ele qualificou o idealismo de Hegel como uma “especula- ção vazia”, pois não trata do ser real, das coisas reais e dos homens concretos, sendo um pensamento muito abstrato e fora da realidade necessária para o período histórico. Essa estrutura de pensamento se fez pelo momento histó- rico em que vivia o filósofo alemão, pois a Europa estava passando por uma turbulenta mudança ideológica e de or- dem prática. Em 1815, surgiu o Congresso de Viena, com o objetivo de redesenhar o mapa político do continente, em conjunto com uma onda de revoluções de cunho liberal e nacionalistas, como as revoluções de 1820 e 1848. Assim, a filosofia precisava associar-se com a realidade, precisava sair do campo das ideias e ir para o mundo prático. 2. a filosofia materialista Feuerbach propõe que a filosofia deveria partir do concreto, da realidade, de forma que o ser humano precisava ser con- siderado como um ser natural e social, e não só no campo ideológico. Só que, apesar de conter esse caráter mais práti- co, essa filosofia ainda não atinge completamente as ações práticas, sendo uma relação menos abstrata, porém, ainda longe da praticidade real. Sua estrutura filosófica consiste em valorizar o indivíduo como elemento criador das ideias, ou seja, o pensamen- to surge do homem, e não o ser humano que surge do pensamento. O seu interesse filosófico está no processo de formação da ideia de Deus no pensamento humano. A religião, para Feuer- bach, representa o reflexo fantástico da natureza humana. O seu pensamento pode ser resumido na máxima “Não é Deus quem cria o homem, mas o homem quem criou Deus”. A essência do cristianismo Ludwig Feuerbach. São Paulo: Vozes, 2007. Nesse livro, o autor revela que o verdadeiro sentido da teologia é a antropologia, que não há diferença entre a essência divina e a hu- mana, ou o sujeito, e que a diferença que se estabelece entre os predicados teológicos e antropológicos não tem razão de ser. multimídia: livro 113 2.1. O elo intermediário O pensamento de Feuerbach constitui o elo intermediário entre a filosofia de Hegel e a de Marx. O materialismo de Feuerbach seria um materialismo metafísico, pois, repudian- do a dialética hegeliana; entretanto, não compreendia a im- portância da atividade prática revolucionária. Esse pensamento de Feuerbach influenciou a filosofia de Karl Marx e Friedrich Engels, que se utilizou da essência fundamental do materialismo transformando-o em uma teoria prática denominada materialismo histórico. A principal qualidade do pensamento de Feuerbach, des- tacada por Marx e Engels, foi ir contra as instituições po- líticas existentes na época, com a religião, a teologia e a metafísica, sendo um crítico a essas instituições pela força da alienação diante dos indivíduos em sociedade, que con- dicionam de forma negativa os seres. Entretanto, Marx e Engels se desencantaram com esse mate- rialismo, pois observaram que a crítica de Feuerbach perante a religião não passava de uma simples luta contra frases, não tendo uma efetividade concreta, a fim de destruir completa- mente essa dominação perante o ser humano. Segundo Marx e Engels, Feuerbach compreende o ho- mem como máquina, tornando-se incapaz de perceber o mundo como processo, como matéria em via de desen- volvimento histórico. Clóvis de Barros – Porque o homem criou Deus (Feuerbach e Marx) Nessa palestra, o filósofo Clóvis de Barros comenta sobre a criação de Deus, segundo o pensamento de Feuerbach e de Marx. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 114 DIAGRAMA DE IDEIAS MATERIALISMO FILOSÓFICO FEUERBACH A RELIGIÃO DOMINA O SER HUMANO ALIENAÇÃO RELIGIOSA A FILOSOFIA PRECISA TRATAR DE FATOS CONCRETOS INFLUENCIARA O MATERIALISMO HISTÓRICO É PRECISO QUESTIONAR ESSA ALIENAÇÃO MARX 115 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (UEM) Na obra A essência do cristianismo, Feuerbach faz uma crítica à religião cristã. Para ele, o homem aliena sua essência na religião, pois os seres humanos se esque- cem de que foram os criadores da divindade e invertem a relação quando acreditam que foram criados pelos deu- ses. Assinale o que for correto. 01) Para Feuerbach, o verdadeiro fundamento do ho- mem é apenas ele mesmo; assim, o único fundamen- to absoluto de todo pensamento humano é o homem como razão, como vontade, como coração. 02) A teoria da alienação religiosa de Feuerbach ofe- receu uma contribuição importante à filosofia políti- ca, particularmente à de Marx. 04) Feuerbach critica a religião, todavia aceita a teo- logia, pois acredita que ela pode nos conduzir a um conhecimento racional da essência de Deus. 08) A crítica de Feuerbach à alienação religiosa levou Marx a aderir à filosofia existencialista de Feuerbach. 16) Quando Marx declara que a religião é o ópio do povo, ele concorda com Feuerbach que a religião é uma alienação; para Marx, a religião amortece a com- batividade dos oprimidos e dos explorados, porque lhes promete uma vida feliz no futuro e no outro mundo. 2. (UFSM) O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804- 1872) afirmou a tese materialista de que o “homem é aquilo que come”. Uma concepção semelhante foi de- fendida posteriormente por Karl Marx. Qual(is) asser- ção(ões) a seguir expressa(m) corretamente essa ideia materialista no pensamento de Marx? I. A exploração do trabalhador pelos donos dos meios de produção é mantida pela consciência de classe. II. A classe dominante tem como fim último a tomada do poder através da ação do proletariado. III. As relações econômicas determinam a consciência do homem como ser social. Está(ão) correta(s): a) apenas III. b) apenas I e II. c) apenas II e III. d) I, II e III. 3. Leia o texto abaixo, de autoria de Karl Marx. O principal defeito de todo materialismo até aqui (incluído o de Feuerbach) consiste em que o objeto, a realidade, a sensibilidade, só é apreendido sob a forma de objeto ou de percepção, mas não como atividade humana sensível, como práxis, não subjetivamente. Eis porque ocorreu que o aspecto ativo, em oposição ao materialismo, foi desenvolvido pelo idealismo –mas apenas abstratamente, pois o idealismo, naturalmente, desconhece a atividade real, sensível, como tal. Feuerbach quer objetos sensíveis – realmente distintos dos objetos do pensamento, mas não apreende a própria atividade humana como atividade objetiva. Por isso, em A essência do cristianismo, considera apenas o comportamen- to teórico como o autenticamente humano, enquanto que a práxis só é apreendida e fixada em sua forma fenomênica judaica e suja. Eis porque não compreende a importância da atividade “revolucionária”, “prático-crítica”. De acordo com essa tese de Marx, não é correto afirmar que: a) o filósofo Feuerbach revela um desprezo pela prá- tica (dissocia teoria e prática), defendendo que o ca- minho para a revolução é a via teórica. Ele almeja a transformação intelectual. b) a subjetividade é a força que move a realidade, e esta não é só o que se apresenta aos nossos sentidos, mas é também resultado do trabalho humano. c) o idealismo supera o realismo ingênuo do materialis- mo tradicional, mas cai no erro de reduzir a realidade do conhecimento a resultado da atividade do pensamento. d) o filósofo Feuerbach ignora o avanço operado pelo idealismo de conceber o objeto do conhecimento como resultado da atividade (ainda que do pensamento), e re- torna à concepção do materialismo tradicional anterior. e) a filosofia/ideologia alemã (Kant/Hegel) não concebe a realidade do conhecimento como resultado da ativida- de humana, mas tão somente sob a forma da percepção. 4. (UEG) Em sua 11ª tese sobre Feuerbach, Karl Marx (1818-1883) afirma que “Os filósofos até hoje inter- pretaram o mundo, cabe agora transformá-lo”. Muitos marxistas interpretaram mal a frase de Marx e abando- naram livros, teoria e partiram para a prática, negligen- ciando o significado da noção de práxis em Marx. Nesse sentido, tem-se que: a) a tese marxista estimulava a prática e não a teoria, já que a ideia de práxis privilegia o fazer em detrimento do pensar, o que levaria à condenação da filosofia como teoria pura. b) a noção de práxis em Marx exige que a filosofia sempre permaneça nos limites do conhecimento te- órico, pois a práxis humana deve ser conduzida por peritos técnicos e não por filósofos. c) a tese marxista criticava a filosofia por não favo- recer uma práxis revolucionária na qual toda prática suscita a reflexão, que por sua vez vai incidir sobre a prática reorientando uma ação transformadora. d) a ideia de práxis em Marx foi desvirtuada por aque- les que não perceberam que existe uma ruptura entre teoria e prática, e que o trabalho intelectual deve pre- valecer sobre o trabalho manual. 5. (Funece) Marx, em sua 11ª tese, ad Feuerbach, ao afir- mar que “Os filósofos não fizeram mais que interpretar o mundo de maneiras diferentes, o que importa é trans- formá-lo” evidencia a filosofia como: a) explicação verdadeira, que objetiva uma transforma- ção social. 116 b) elemento do espírito absoluto, que se caracteriza como puro idealismo. c) interpretação do mundo, que é dispensável ao pro- cesso revolucionário. d) proposição platônica, que considera como verda- deiro, o mundo das ideias. 6. A teoria sociológica de Marx é marcada pela obser- vação do modo de produção como determinante para a organização social. Sobre as principais influências sofri- das por este autor para o desenvolvimento de seu pen- samento sociológico, analise as seguintes sentenças: I. Para Hegel, o movimento parte da ideia, do pensamen- to, para então desenvolver a matéria e gerar história, para Marx esta ordem é invertida. II. Para Feuerbach, a alienação do ser humano estava na religião, e para Marx estava na alienação material origina- da pelo sistema capitalista. III. Marx desenvolve o materialismo dialético, onde a re- alidade existe a partir do mundo material, e não a partir do pensamento, pois este também é determinado pelas condições materiais. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa III está correta. b) Somente as afirmativas I e II estão corretas. c) As afirmativas I, II e III estão corretas. d) As afirmativas I e III estão corretas. 7. (UEM) A Filosofia apresentou como debate político, ao longo da história, as questões da liberdade do indivíduo na sociedade, teorizando a finalidade do Estado e das instituições sociais. Sobre a natureza do debate filosófico acerca das questões políticas, assinale o que for correto. 01) Em virtude da defesa da Igreja católica, a fundação do Estado moderno de direito é essencialmente dogmática, já que os teóricos da Idade Média faziam da união dos planos humano e divino a exigência central do republicanismo. 02) O debate político em torno dos ideais liberais e socialistas se dá no interior de questões religiosas, pois nem John Locke nem Thomas Hobbes desvinculam o debate político das questões metafísicas e morais. 04) A importância do projeto de Ludwig Feuerbach para a filosofia da época é seu profundo apego ao cristianismo de Hegel, razão pela qual defendeu, na essência do cristianismo, a tese espiritualista de que o Estado é o poder de Deus em nossas mãos. 08) Para Karl Marx, não basta reivindicar a liberdade sem tomar decisões históricas e efetivas, capazes de controlar os meios de produção e formar a consciên- cia de classe dos trabalhadores. 16) São conceitos fundamentais do marxismo os con- ceitos de fetiche da mercadoria, alienação política, ação política transformadora e emancipação humana. 8. (Seduc) A noção de que nossas próprias habilidades, enquanto seres humanos, são assumidas por outras entidades. O termo foi originalmente empregado por Marx em referência à projeção dos poderes humanos sobre os deuses. Mais tarde, ele empregou o termo para se referir à perda do controle por parte dos trabalhado- res sobre a natureza da tarefa desempenhada e sobre os resultados de seu trabalho. Feuerbach utilizou esse termo em referência à instituição de deuses ou forças divinas distintas dos seres humanos. O texto se refere corretamente ao conceito de: a) ideologia. b) anomia. c) alienação. d) magia. e) simulacros. 9. (UFPR) Ligia Marcia Martins (2008) afirma que é impos- sível divorciar uma matriz psicológica do sistema filosó- fico que media suas proposições. No caso da psicologia histórico-cultural, também conhecida como psicologia sócio-histórica, a formulação filosófica que lhe serve de esteio é a epistemologia marxiana, desenvolvida inicial- mente por Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895). Em relação à essa epistemologia, considere as seguintes afirmativas: I. O pressuposto do sistema filosófico proposto por Marx e Engels é o materialismo e a lógica é a dialética. II. Esse sistema filosófico se opõe à lógica formal, funda- da numa série de princípios e elementos já presentes em Aristóteles e que alcançam seu apogeu no século XVII com Francis Bacon e René Descartes. Entre esses princípios está o da não identidade e o princípio da contradição. III. Com Hegel a dialética se constitui como método para pensar o mundo enquanto movimento, na tentativa de su- perar a tradição intelectual que vem de Aristóteles. Mas é com Marx que a dialética aparece concretizada historica- mente sobre fundamentos materialistas, já que para Hegel o primado é o espírito e a realidade encarnação das ideias. IV. Em sua segunda tese sobre Feuerbach, texto de 1845, Marx afirma a “prática como critério da verdade”, isso sig- nifica que a partir da prática se constrói o conhecimento, prescindindo das categorias e instrumentos heurísticos para entender a realidade. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa I é verdadeira. b) Somente a afirmativa II é verdadeira. c) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. d) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras. e) As afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras. 10. Na obra A ideologia alemã, Marx e Engels realizam uma crítica às concepções idealistas de Feuerbach e lan- çam as bases para sua compreensão marxista da história. 117Assinale a alternativa que indica o primeiro pressu- posto da análise histórica, sobre os quais os demais se constroem. a) A produção de ideias. b) A criação de uma propriedade comunal. c) O desenvolvimento da propriedade privada. d) A organização dos homens e sua relação com a natureza. e) A divisão do trabalho como organização dos homens. gabarito 1-(01 + 02 + 16 = 19); 2-A; 3-E; 4-C; 5-A; 6-C; 7-(08 + 16 = 24); 8-C; 9-D; 10-D 118 scHopenHauerAULA 18 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. arthur schoPenhauer (1788-1860) O polonês Arthur Schopenhauer foi criado para ser um homem de negócios, com estudos de línguas e viagens a outros países, como seu pai; porém, após o falecimento do pai, o jovem polonês escolheu a Filosofia, para o desalento de sua mãe. Enfrentando diversas críticas maternas devido às suas es- colhas, Schopenhauer adentrou em diversos embates com a progenitora, alguns destes que se tornaram públicos e degradantes para ambas as partes, recheados de insultos. O pensamento de Schopenhauer O professor de Filosofia Leandro Chevitarese fala sobre o pensamento de Arthur Schopenhauer. multimídia: vídeo Fonte: Youtube Seus escritos só causaram algum impacto na filosofia ale- mã, somente no fim do século XIX, pois o pensamento vi- gente era o hegeliano. Tendo influência kantiana, mediante o processo de uma crítica permanente, Schopenhauer cri- tica a filosofia de Kant, em relação a coisa-em-si, de modo que a realidade consiste em fenômenos e na coisa-em-si, o que, para Kant, (a coisa-em-si) jamais será conhecida. Em sua filosofia, Arthur Schopenhauer apresenta que o fenô- meno é uma manifestação da própria coisa-em-si. O mundo como vontade e representação Arthur Schopenhauer. São Paulo: Unesp, 2015. A obra máxima de Arthur Schopenhauer, que associa a dialética de Kant com a visão pla- tônica para definir suas constantes filosóficas. multimídia: livro 1.1. O filósofo da representação e da vontade Em 1818, surge uma de suas maiores obras, intitulada O mundo como vontade e representação. Para o pensador alemão, tudo o que existe para mim é o que eu percebo, diante das formas a priori da minha própria consciência. Numa relação subjetiva entre o objeto e o indivíduo, a qual 119 criamos a nossa representação diante do mundo. Assim, não existe uma única resposta, nem uma única representa- ção dos fenômenos, isto é, do mundo. Com isso, o mundo é um conjunto de representações. Numa aproximação com o pensamento oriental, o filósofo polonês é o primeiro pensador ocidental a valorizar essa fi- losofia. Não seguindo uma dualidade cartesiana entre razão e vontade, Schopenhauer define que a vontade é a essência da subjetividade, ou seja, é a própria essência do “eu”, isso para os animais se expressa como instinto. Para ele, essa vontade é a essência do mundo, causando a dor no indivíduo. Sendo fruto de um descontentamento do próprio estado do ser, impulsionando uma realização que não será alcançada, gerando, com isso, um arrependimento, uma espécie de sofrimento. Para interromper essa ordena- ção de vontade que gera sofrimento, Schopenhauer aponta a arte como ferramenta de anulação da vontade no homem, o que faz ele esquecer do seu sofrimento, e não extingui-lo. Com isso, o filósofo não extingue o sofrimento, ele apre- senta que é preciso saber que a razão não tem controle total perante a vontade, mas é preciso saber conviver e observar as coisas boas desse sofrimento. Para Schopenhauer, causar mal às outras pessoas é tam- bém causar mal a si próprio. Com isso, a moral básica scho- penhaueriana consiste em ensinar a compaixão. Livin’ La Vida Loca Ricky Martin. Álbum: Livin’ La Vida Loca. Sony Music, 1999. Nessa canção, Ricky Martin apresenta, de for- ma sútil, como o impulso pode levar o indiví- duo a agir sem a razão, levando-o para baixo. Fonte: Youtube multimídia: música 1.2. Reflexões sobre a Psicologia Schopenhauer apresenta em seu pensamento que o ser humano não é um ser a qual a razão domina todas as suas ações, sendo um ser passional e fragmentado, sofrendo ações de forças que fogem de seu controle. Essa sua postura de não domínio racionalizado das ações humanas, que abrangem as nossas paixões, seja no campo do “inconsciente”, procura resgatar uma definição humanística do ser em si. 1.3.A arte como libertador da vontade Nenhum outro filósofo valorizou a arte, pois é a arte que fornece um ponto de tranquilidade, de modo que, durante um curto período, conseguimos escapar do ciclo infinito da luta e do desejo. A contemplação estética, para o filósofo, seria uma forma de escapar do sofrimento da realidade. A contemplação leva o indivíduo a uma identificação com a essência do mundo, desencadeando nesse ser uma ruptura com a dor. Schopenhauer valoriza a música como o maior condutor da vontade, de uma forma individualizada e própria. Segundo o pensador “a música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” Assim, a música é a melhor forma da arte. Schopenhauer Esse vídeo apresenta como o pensamento de Schopenhauer sofreu influência do budismo e analisa uma nova postura sobre a vida. multimídia: vídeo Fonte: Youtube Apresentado no primeiro livro como pura representa- ção, objeto para um sujeito, consideramos o mundo no segundo livro por sua outra face e verificamos como esta é vontade, que unicamente se mostrou como o que aquele mundo é além da representação; em con- formidade, denominávamos o mundo como represen- tação, no todo ou em suas partes, a objetividade da vontade, quer dizer: a vontade tornada objeto, i. e., re- presentação. Recordamos também que tal objetivação da vontade possuía graus numerosos, porém determi- nados, em que, com clareza e perfeição gradualmente crescente, a vontade surgia na representação, i. e., se apresentava como objeto. Reconhecíamos as ideias de Platão em tais graduações, na medida em que estas são as espécies determinadas, ou as formas e proprie- dades invariáveis originárias de todos os corpos natu- 120 rais, orgânicos ou inorgânicos, como também as forças genéricas se manifestando conforme leis naturais. Tais ideias, portanto, se manifestam em indivíduos e par- ticularidades inumeráveis, comportando-se como mo- delo para estas suas imagens. A multiplicidade de tais indivíduos é concebível unicamente mediante o tempo e o espaço, seu surgir e desaparecer unicamente me- diante a causalidade, em cujas formas reconhecemos somente as diversas modalidades do princípio de ra- zão, princípio último de toda finitude, toda individua- ção, forma geral da representação, tal como esta se dá na consciência do indivíduo como tal. arthur schopenhauer o Mundo coMo Vontade e representação. liVro iii. That’s How People Grow Up Morrissey. Years of Refusal. Polydor Records, 2009. Nesta música, Morrissey apresenta que, apesar dos infortúnios que tivermos na vida, devemos observar e aprender com os erros, para assim melhorar as nossas próximas ações. Fonte: Youtube multimídia: música DIAGRAMA DE IDEIAS SCHOPENHAUER O MUNDO É VISTO DIANTE MINHA VONTADE, SENDO UMA REPRESENTAÇÃO EXISTEM INÚMERAS REPRESENTAÇÕES DO MUNDO MAS A RAZÃO NEM SEMPRE CONSEGUE CONTROLAR OS NOSSOS IMPULSOS A ARTE AJUDA AO HOMEM A SE LIBERTAR DA VONTADE O SER HUMANO É RAZÃO E IMPULSO O QUE LEVA AO SOFRIMENTO 121 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. Schopenhauer considerou ser a “vontade” a última e mais fundamental força da natureza, que se manifesta em cada ser no sentido da sua total realização e sobrevi- vência. O conceito de vontade deste filósofo diz respeito: a) a algo infinito, uno, indizível. b) a uma vontade finita, individual, ciente. c) ao mundo e que não seria mais do que represen- tações, como síntese entre o subjetivo e o objetivo. d) aos fundamentos transcendentais (assentados em Deus) dos valores mais caros de nossas vidas. e) à moral e aos valoresexistentes na sociedade que lhe é contemporânea. 2. De acordo com o conjunto dos nossos pontos de vis- ta, a vontade é não somente livre, mas também oni- potente; e produz não somente a sua conduta, como também o seu mundo; tal a vontade qual a ação e qual o seu mundo; ambas não são senão vontade consciente de si própria e nada mais; a vontade se determina a si mesma e determina com isto a conduta e o mundo, por isso que sem ela nada existe: Compreendida assim, a vontade é verdadeiramente autônoma; compreendida doutro modo, é heterogênea. schopenhauer, arthur. o Mundo coMo Vontade e representação. toMo iV (adaptado). Segundo o pensamento de Schopenhauer, podemos in- ferir que: a) a vontade se manifesta no homem como um desejo. b) a vontade é só uma manifestação da consciência em si e do mundo. c) o desejo é uma autopreservação desvinculada da espécie. d) a vontade é um querer consciente do mundo. e) o desejo é representado como uma força controla- da totalmente pela razão. 3. Apresentado no primeiro livro como pura representa- ção, objeto para um sujeito, consideramos o mundo no segundo livro por sua outra face e verificamos como esta é vontade, que unicamente se mostrou como o que aque- le mundo é além da representação; em conformidade, denominávamos o mundo como representação, no todo ou em suas partes, a objetividade da vontade, quer dizer: a vontade tornada objeto, isto é, representação. schopenhauer, arthur. o Mundo coMo Vontade e representação (adaptado). O conceito de representação na filosofia de Schope- nhauer significa: a) a forma que o homem se espelha no mundo, vejo aquilo que quero ver, ouço aquilo que quero ouvir. b) a forma que o homem se relaciona com o mundo, utilizando-se de valores e moral. c) a forma que o homem é capaz de representar o mundo por intermédio de seus sentidos e intelecto. d) essência do mundo, solução para o enigma do universo. e) essência do mundo, a coisa em si que Kant tanto problematizava. 4. (Enem) “Sentimos que toda satisfação de nossos de- sejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as preocupações.” schopenhauer, arthur. aForisMo para a sabedoria da Vida. são paulo: Martins Fontes, 2005. O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradi- ção filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à a) consagração de relacionamentos afetivos. b) administração da independência interior. c) fugacidade do conhecimento empírico. d) liberdade de expressão religiosa. e) busca de prazeres efêmeros. 5. Para Schopenhauer, a vontade é a raiz do mundo e da conduta humana e, ao mesmo tempo, é a fonte de todos os sofrimentos. Isso ocorre porque a vontade é: a) um querer irracional, que acaba por gerar a dor. b) algo racional, que proporciona o sofrimento. c) um desejo antigo, que abarca a dor. d) um prazer, que quando atingido gera dor. e) um desejo suprimido, que proporciona o sofrimento. 6. Uma das máximas da filosofia de Schopenhauer con- siste em dizer que “viver é sofrer”. Essa afirmação é correta, pois o prazer: a) nunca surge na vida do ser humano, só o sofrimento. b) sempre surge na vida do homem, igual ao sofrimento. c) é um momento de curta duração na vida do ho- mem, ao contrário do sofrimento. d) é um momento de média duração na vida do ho- mem, enquanto o sofrimento tem curta duração. e) é um momento passageiro na vida humana, tal qual o sofrimento. 7. Buscando argumentar a sua tese de que a vida do ser humano é construída, em sua maior parte, pelo sofri- mento, Schopenhauer afirma que: a) a história nos mostra a vida dos povos e nada en- contra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar; os anos de paz nos parecem apenas curtas pausas. b) a história nos mostra a vida dos povos e só encon- tramos pequenos conflitos para nos relatar; os anos de paz nos parecem em longos períodos. c) a história nos mostra a vida dos povos e nada en- contramos a não ser momentos de tranquilidade; os anos de conflitos nos parecem apenas curtas pausas. d) a história nos mostra a vida dos povos e nada en- contra a não ser guerras e rebeliões para nos relatar; os anos de paz não existem. 122 e) a história nos mostra a vida dos povos e só encon- tramos guerras e conflitos, na mesma maneira a qual encontramos momentos de paz. 8. Na filosofia do alemão Arthur Schopenhauer, tido como o arauto do pessimismo, podemos encontrar uma das me- lhores compreensões do que seja a felicidade. Entre as cinquenta regras que se encontram esparsas pela obra do filósofo, destacam-se três: Primeira: estar ciente de que só a dor é verdadeira. Ou seja, não requer nenhuma ilusão acessória para existir. Usufruir um presente sem dor, em vez de procurar o prazer num futuro improvável, é já uma forma de ser feliz, por mais que isso possa parecer sem graça aos olhos da civilização hedonista. “O homem sábio não aspira ao deleite, e sim à ausência de sofrimento”, es- creveu Schopenhauer, citando o grego Aristóteles. Segun- da: evitar a inveja: ela tortura quem a nutre e, por esse motivo, causa infelicidade. “Você nunca será feliz enquan- to se torturar por alguém ser mais feliz”, resumiu Sêneca. A crueldade apontada por Schopenhauer: “E, no entanto, nós estamos constantemente preocupados em despertar inveja” Terceira: ser fiel a si próprio. Seguir as característi- cas e os pensamentos que o forjaram, assim como aceitar as suas limitações, é essencial para o indivíduo resguar- dar-se de frustrações. Trata-se de algo difícil, porque não raro somos tentados a enveredar por caminhos estranhos a nós mesmos, mais adaptados às condições de quem in- vejamos. Diz o filósofo alemão: “Quando reconhecemos, claramente, e de uma vez por todas, nossas qualidades e forças, bem como nossos defeitos e fraquezas, consegui- mos fixar os nossos objetivos e nos resignamos com o inatingível. Escapamos, dessa maneira, à mais terrível de todas as dores: a insatisfação com nós mesmos, essa insa- tisfação que é a consequência inelutável da ignorância da própria individualidade”. Mario sabino, a arte de ser FeliZ, VeJa, 23.07.2014 (adaptado). É correto afirmar que as ideias de Schopenhauer sobre a felicidade: a) estão dissociadas da busca por prazer e vinculadas ao conhecimento das próprias limitações. b) dependem principalmente de fatores externos à vontade do indivíduo, os quais ele não pode afastar. c) baseiam-se em princípios éticos moralmente questio- náveis, embora grande parte da sociedade os condene. d) afastam preocupações com o presente, para focar- -se no futuro, como forma de evitar frustrações. e) recusam o sofrimento, entendido como antinatural e negativo, apesar de inevitável nos dias atuais. 9. “Onde se descreve o procedimento mais original e mais importante de minha filosofia, qual seja, a passagem, que Kant declarara impossível, do fenômeno à coisa em si.” schopenhauer, arthur. o Mundo coMo Vontade e coMo representação (adaptado). Apesar de ser grande devedor do pensamento kan- tiano, Schopenhauer abandona o otimismo da razão abordando o mundo pelo pessimismo da Vontade. Para ele, a vontade é: a) a interação entre a percepção e o nôumeno, ou seja, o fenômeno. b) a essência do mundo, a coisa em si kantiana, percebi- da imediatamente por intermédio de meu próprio corpo. c) a essência do mundo, amor, ódio, salvação. d) o querer racional de preservação dos outros mani- festa pela reprodução. e) a angústia que guia o homem à felicidade a partir do impulso do instinto de sobrevivência. 10. “No espaço infinito, inumeráveis esferas brilhantes. Em torno de cada uma delas giram aproximadamente uma dúzia de outras esferas menores iluminadas pelas primeiras e que, quentes em seu interior, estão cobertas de uma crosta rígida e fria sobre a qual uma cobertura lodosa deu origem a seres vivos que pensam; – eis aí a verdade empírica,o real, o mundo”. schopenhauer, arthur. o Mundo coMo Vontade e coMo representação (adaptado). Para Schopenhauer, ao contrário da tradição socrático- -cartesiana, a razão nada mais é do que uma ilusão. Mes- mo que usemos a razão para organizar as representações do mundo, a verdade nunca será cognoscível. Tendo isso em vista, o que significa a representação para o filósofo? a) A representação é a interpretação pessimista da realida- de, que, a partir da vontade não satisfeita, gera angústia. b) A representação é manifestação, nos indivíduos, de suas vontades, onde cada um arremeda, dissimula e encena ações em busca de sua satisfação. c) Para Schopenhauer a representação são o conheci- mento que obtemos a partir da experiência do mundo a partir de juízos estéticos. d) A representação se manifesta, para Schopenhauer, como fenômenos sensíveis, considerados como enganosos pelo pensador e que devem ser ignorados em nome da busca da verdade absoluta. e) Na concepção da realidade dualista do autor (coisa em si e fenômenos) a representação é a manifestação da von- tade (que é una e transcendental) objetivada no mundo das ideias. Ou seja, a representação é o que a mente e a consciência nos permitem ver da coisa-em-si. 11. “Pensamentos no papel são como as pegadas de um ho- mem na areia. É certo que podemos ver o caminho que ele tomou; mas para ver o que ele viu no trajeto, precisamos usar os nossos próprios olhos.” (Michel de Montaigne) “Quanto mais claro é o conhecimento do homem, quanto mais inteligente ele é, mais sofrimento ele tem; o homem que é dotado de gênio sofre mais do que todos.” (arthur schopenhauer) Estabeleça uma relação entre os textos de Michel de Montaigne e de Arthur Schopenhauer. 123 gabarito 1-A; 2-A; 3-C; 4-B; 5-A; 6-C; 7-A; 8-A; 9-B; 10-E 11. Ambos acreditam que o conhecimento é construído pelo próprio indivíduo por meio de conteúdo e pelas ex- periências. Assimila mais aquele que é despertado para o saber e que se limita ao conhecimento por imposição. O indivíduo precisa vivenciar para aprender. 124 nIetzscHeAULA 19 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. friedrich nietzsche (1844-1900) Após a leitura das obras de Schopenhauer, Friedrich Niet- zsche empreendeu uma crítica radical à moral. Desenvol- vendo uma crítica intensa aos valores morais, chegando à conclusão de que não existem as noções absolutas de bem e de mal. Para ele, as concepções morais surgem com os homens, a partir das necessidades dos homens. Assim, os seres humanos são os verdadeiros criadores dos valores morais, sobretudo nas religiões. Portanto, ao compreendermos que os valores presentes em nossa vida são construções humanas, temos o dever de re- fletir sobre nossas concepções morais e enfrentar o desafio de viver por nossa própria conta e risco. Friedrich Nietzsche, por Scarlett Marton A professora da USP Scarlett Marton, umas das maiores estudiosas do alemão Nietzsche, conver- sa sobre o pensamento intempestivo do filósofo. multimídia: vídeo Fonte: Youtube Nietzsche escreveu, sob a forma de aforismos (máximas ou sentenças curtas que exprimem um conceito), a maior parte de suas obras. O conjunto de suas obras revela como preocupação básica uma crítica profunda e impiedosa à ci- vilização ocidental, crítica à massificação, à visão de mundo burguesa e ao conservadorismo cristão. 1.1. Sócrates: o início da decadência Nietzsche acrescenta que a sociedade permanece nesse es- tado doentio devido à continuidade de hábitos consolidados pelos filósofos iniciados por Sócrates. A crítica perante os pensadores atenienses aprofunda-se quando estes demons- traram que era preciso seguir uma espécie de moral, um con- junto pré-definido de valores, condicionando o belo, o certo e o errado para todos os integrantes da sociedade. De modo que, foi com Sócrates o começo da decadência humana, pois foi o pensador ateniense, com sua dialéti- ca, que direcionava as conversas e moldava conforme os seus próprios valores o rumo das falas, julgando os valores morais dos seus interlocutores, colocando como o cami- nho correto do pensamento, a sua interpretação dos fatos, Além de conduzir o interlocutor a calar-se perante as impo- sições ilusórias revestidas de verdade. Entretanto, Nietzsche acreditava que só o filósofo pode- ria curar os males da civilização – visto que o mundo está doente, pois os homens não estão sabendo viver –, sendo que só os filósofos podem se colocar além dos juízos mo- rais, e consegue enxergar que através da arte podemos nos afastar da dor e do surgimento, fazendo o papel de um médico que pretende sanar os males. Mas essa categoria de filósofo era baseada nos pensadores que aceitam as críticas como algo positivo, como “investigadores”, e não 125 como a visão do filósofo construída após Sócrates, como o dono da verdade absoluta. Seria numa concepção de fi- lósofo como o próprio Zaratustra, personagem criado por Nietzsche para ilustrar esse médico da sociedade. 1.2. A moral do senhor e a moral do escravo Ao se debruçar sobre os valores que regem a sociedade, Nietzsche analisa a existência de dois tipos de moral: a mo- ral do senhor e a moral do escravo. Seguindo uma polaridade, a moral do senhor consiste numa moral da força de vontade, voltada para um grupo dominante, que almeja controlar e se impor perante os ou- tros. Numa clara valorização de si, tendo um orgulho imen- so de seus atos. Seria uma vontade de agir, de dominar as ações coletivas. Enquanto a moral do escravo, também denominada moral do rebanho caracteriza-se como os valores de rebaixamen- to coletivo, ressaltando uma essência de desqualificação perante o outro. Nesses valores está a obediência, o des- qualificar-se, humilhando-se perante os mandos dos ou- tros. Nietzsche define essa moral, como a ação ressentida de “dar a outra face”, de aceitar completamente passivo aos mandos e desmandos dos outros. Para o filósofo essa luta entre a moral do senhor e a moral dos escravos está presente nos nossos dias. E para superar essa dicotomia era preciso reavaliar a moral, para corrigir as inconsistências de ambas as morais. Num movimento de transvaloração de todos os valores, ou seja, repensar nos valores morais, sem recair num dualismo que arruinou a sociedade anteriormente. 1.3. Filosofar com martelo A filosofia nietzschiana consistia em filosofar com o marte- lo nas mãos, isto é, um filosofar com o intuito de destruir os ídolos, todos ilusórios, criados para o ser humano, com por exemplo, as morais religiosas. Esses ídolos ilusórios foram impostos às pessoas indefesas por um poder opressor. Todos esses ídolos são moldados e erguidos para serem cultuados e adorados; porém, só mediante o ato de filosofar com o martelo, destruindo es- ses falsos ídolos, é que os homens podem se encontrar em sua completude, retirando de sua mente as falsas “verda- des” que constituem a nossa sociedade. Com essa postura, Nietzsche nos indica que a filosofia precisa se voltar para a sua origem, que é de se questionar constantemente, sem receio de errar. O Eterno Retorno e o além do homem De Oswaldo Giacóia Júnior O professor da Unicamp Oswaldo Giacóia Júnior comenta sobre a filosofia do alemão Nietzsche. multimídia: vídeo Fonte: Youtube 1.4. O Apolíneo e o Dionisíaco Segundo Nietzsche, na “A origem da Tragédia”, existe um fundamento para a norma cultural, mediante os elementos do dionisíaco e do apolíneo. Com um olhar estético, o filósofo alemão apresenta que o dionisíaco é a afirmação triunfal da realidade. Sendo o cará- ter mais racionalizado, controlado. As formas dionisíaca são a tragédia e a música. tragédia é a transformação da reali- dade em um fenômeno estético, mas sem cobrir a realidade. apolo e dionísio 126 Enquanto o apolíneo é a individualização, sendo um sím- bolo de luz, de medida, de limite. De modo que, que nos faz resistir ao pessimismo através de uma ilusãoda realidade criada pela arte. A forma apolínea são a mitologia, as artes épicas e as artes plásticas. 1.5. O Eterno Retorno O conceito do Eterno Retorno representa aos ciclos re- petitivos da vida; pois estamos sempre presos aos fatos do fato, que acontecem no presente e terão uma repe- tição no futuro. Com esse conceito, o filósofo questiona a ordem das coisas, não existindo uma bipolaridade dos elementos. 1.6. Assim falou Zaratustra Em 1883, Nietzsche escreveu, segundo ele próprio, a sua maior contribuição para a humanidade, o livro “Assim Falou Zaratustra – um livro para todos e para ninguém”. Nesse livro, o filósofo busca apresentar a necessidade da mudança na sociedade, alertando da hipocrisia que consti- tuem o homem e a sociedade. Com uma linguagem repleta de metáforas, guiada pelo choque de paradoxos, o livro retrata o ermitão Zaratustra, um personagem que após dez anos isolado nas monta- nhas, decide contar para a sociedade a boa nova: “Deus está morto, e é a vez dos seres humanos”. Zaratustra também é o anunciador do “além do ho- mem” (übermensch), um estágio que o ser humano pode alcançar se souber viver bem, querendo sempre conhecer mais. Assim falou Zaratustra Friedrich Nietzsche. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. Nessa obra o leitor reconhecerá, na lingua- gem metafórica e alegórica dos discursos e diálogos de Zaratustra, muitas das ideias de valorização do ser humano, com uma ideia de transmutação dos valores. multimídia: livro “Uma coisa sou eu, outra são meus escritos... Aqui, antes de chegar a falar deles mesmos, quero tocar a questão da compreensão ou da não-compreensão desses escritos. Eu o faço de maneira tão relaxada quanto me parece ser con- veniente: pois o tempo para essa questão por certo ainda não chegou. O tempo não chegou nem mesmo para mim; alguns apenas nascem postumamente... Um dia serão ne- cessárias instituições, nas quais será ensinando e vivido como eu compreendo o ensino e a vida; quem sabe não serão instituídas, também, algumas disciplinas para a in- terpretação do Zaratustra.” “Quando chegou aos trinta anos, Zaratustra deixou sua pátria e o lago de sua terra natal e partiu para as mon- tanhas. Lá permaneceu, nutrindo-se de seu espírito e de sua solidão, sem se cansar. Dez anos se passaram. Seu coração, porém, mudou e, uma manhã, tendo-se levan- tado com a aurora, pôs-se frente ao sol e assim lhe falou: Tu, grande astro! Que seria de tua sorte, se te faltassem aqueles a quem iluminas? (...) Quando Zaratustra chegou à cidade mais próxima, situ- ada à beira da floresta, encontrou uma grande multidão reunida na praça pública porque havia sido anunciado que seria apresentado o espetáculo de um equilibrista na corda-bamba. Zaratustra se dirigiu então ao povo com estas palavras: Eu vos anunciou o além-do-homem. O homem existe para ser superado. Que fizestes para o superar? (...) Entretanto, Zaratustra olhava a multidão e ficava assom- brado. A seguir, assim falou: O homem é uma corda estendida entre o animal e o além-do-homem. Uma corda sobre o abismo. Perigosa para percorrê-la, é perigoso ir por esse cami- nho, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. O que é grande no homem é ele ser uma ponte e não uma meta. O que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um declínio.” nietZsche, Friedrich. assiM FalaVa Zaratustra - uM liVro para todos e para ninguéM. são paulo: editora escala, 2000, pp.15,17 e 19. 127 DIAGRAMA DE IDEIAS NIETZSCHE A SOCIEDADE MODERNA ESTÁ DOENTE SÓ OBEDECE OS VALORES DE ORIGEM RELIGIOSA PORQUE O SER HUMANO NÃO VIVE COM O INTUITO DE DOMINAÇÃO SOCIAL CRÍTICA A FILOSOFIA É PRECISO QUESTIONAR POR DIRECIONAR A VERDADE AOS HOMENS FILOSOFAR COM UM MARTELO NA MÃO PARA QUEBRAR AS IDEIAS IMPOSTAS O SER HUMANO PRECISA ELEVAR O SEU ESTADO ATINGINDO O ALÉM-DO-HOMEM ATUA COM A PRÓ- PRIA VONTADE INDEPENDENTE DAS MASSAS Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (ENEM) Vi os homens sumirem-se numa grande triste- za. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou- -se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inú- til; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado ama- releceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar! nietZsche. F. assiM Falou Zaratustra. rio de Janeiro: ediouro, 1977. O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista, uma vez que: a) reforça a liberdade do cidadão. b) desvela os valores do cotidiano. c) exorta as relações de produção. d) destaca a decadência da cultura. e) amplifica o sentimento de ansiedade. 128 2. (UFSJ) "A filosofia a golpes de martelo" é o subtítulo que Nietzsche dá à sua obra Crepúsculo dos ídolos. Tais golpes são dirigidos, em particular, ao(s): a) conceitos filosóficos e valores morais, pois eles são os instrumentos eficientes para a compreensão e o norteamento da humanidade. b) existencialismo, ao anticristo, ao realismo ante a se- xualidade, ao materialismo, à abordagem psicológica de artistas e pensadores, bem como ao antigermanismo. c) compositores do século XIX, como, Wolfgang Ama- deus Mozart, compositor de uma ópera de nome "Crepúsculo dos deuses", parodiada no título. d) conceitos de razão e moralidade preponderantes nas doutrinas filosóficas dos vários pensadores que o antecederam e seus compatriotas e/ou contemporâ- neos Kant, Hegel e Schopenhauer. 3. (UFSJ) Na filosofia de Friedrich Nietzsche, é funda- mental entender a crítica que ele faz à metafísica. Nes- se sentido, é correto afirmar que essa crítica: a) tem o sentido, na tradição filosófica, de contenta- mento, plenitude. b) é a inauguração de uma nova forma de pensar sem metafísica através do método genealógico. c) é o discernimento proposto por Nietzsche para le- var à supressão da tendência que o homem tem à individualidade radical. d) pressupõe que nenhum homem, de posse de sua razão, tem como conceber uma metafísica qualquer, que não tenha recebido a chancela da observação. 4. (UFSJ) Ao declarar que "a moral e a religião pertencem inteiramente à psicologia do erro", Nietzsche pretendeu: a) destruir os caminhos que "a psicologia utiliza para negar ou afirmar a moral e a religião". b) criticar essa necessidade humana de se vincular a va- lores e instituições herdados, já que "o Homem é forjado para um fim e como tal deve existir". c) denunciar o erro que tanto a moral quanto a religião cometem ao confundir "causa com efeito, ou a verda- de com o efeito do que se considera como verdade". d) comprovar que "a moral e a religião estão no ima- ginário coletivo, mas para se instalarem enquanto verdade elas precisam ser avalizadas por uma ciência institucionalizada". 5. (UNIMONTES) O pensamento de Nietzsche (1844-1900) orienta-se no sentido de recuperar as forças inconscien- tes, vitais, instintivas, subjugadas pela razão durante séculos. Para tanto, critica Sócrates por ter encaminha- do, pela primeira vez, a reflexão moral em direção ao controle racional das paixões. Nietzsche faz uma crítica à tradição moral desenvolvida pelo ocidente. Marque a alternativa que indica as obras que melhor representam a crítica nietzscheana. a) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, Crepúsculo dos ídolos. b) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, República. c) Leviatã, Genealogia da moral, Crepúsculo dos ídolos. d) Microfísica do poder, Genealogia da moral, Crepús- culo dos ídolos. 6. (UFSJ) Nietzsche estampa a sua inconformidade e in- dignação quanto ao homem que se deixa levar pelos valores morais e religiosos instituídos. Assinale a alterna- tiva que corretamente corrobora essa afirmação: a) "Hoje, não desejamos o gado moral nem a ventura gorda da consciência". b)"O verme se retrai quando é pisado. Isso indica sa- bedoria. Dessa forma ele reduz a chance de ser pisado de novo. Na linguagem da moral: a humildade". c) "À força de querer buscar as origens nos tornamos caranguejos. O historiador olha para trás e acaba cren- do para trás". d) "Há um ódio contra a mentira e a dissimulação que procede duma sensível noção de honra; há outro ódio semelhante por covardia, já que a mentira é interdita pela lei divina. Ser covarde demais para mentir...". 7. (UNESP) "Em algum remoto rincão do sistema solar cin- tilante em que se derrama um sem-número de sistemas so- lares, havia uma vez um astro em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da história uni- versal: mas também foi somente um minuto. Passados pou- cos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. Assim poderia alguém inven- tar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natu- reza. Houve eternidades em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Ao contrário, ele é humano, e somente seu possuidor e genitor o toma tão pateticamente, como se os gonzos do mundo girassem nele. Mas se pudéssemos entender-nos com a mosca, perceberí- amos então que também ela boia no ar (...) e sente em si o centro voante deste mundo". nietZsche. o liVro das citações. 2008. Sobre o texto, é correto afirmar que: a) seu teor acerca do lugar da humanidade na história do universo é antropocêntrico. b) o autor revela uma visão de mundo cristã. c) o autor apresenta uma visão cética acerca da impor- tância da humanidade na história do universo. d) ao comparar a vida humana com a vida de uma mosca, Nietzsche corrobora os fundamentos de diversas teolo- gias, não se limitando ao ponto de vista cristão. e) para o filósofo, a vida humana é eterna. 8. (UFU) Friedrich Nietzsche (1844-1900) opõe à moral tradicional, herdeira do pensamento socrático-platôni- co e da religião judaica-cristã, a transvaloração de to- dos os valores. 129 Conforme Aranha & Arruda (2000): “Ao fazer a crítica da moral tradicional, Nietzsche preconiza a ‘transvaloração de todos os valores’. Denuncia a falsa moral, ‘decaden- te’, ‘de rebanho’, ‘de escravos’, cujos valores seriam a bondade, a humildade, a piedade e o amor ao próxi- mo”. Desta forma, opõe a moral do escravo à moral do senhor, a nova moral. aranha, M.l. de a.; Martins, M.h.p. FilosoFando: introdução à FilosoFia. são paulo: Moderna, 2000, p. 286. Assinale a alternativa que contenha a descrição da “moral do senhor” para Nietzsche: a) É caracterizada pelo ódio aos instintos; negação da alegria. b) É negativa, baseada na negação dos instintos vitais. c) É transcendental; seus valores estão no além-mundo. d) É positiva, baseada no sim à vida. 9. (Ufsj 2012) Nietzsche identificou os deuses gregos Apolo e Dionísio, respectivamente, como a) complexidade e ingenuidade: extremos de um mesmo segmento moral, no qual se inserem as paixões humanas. b) movimento e niilismo: polos de tensão na existên- cia humana. c) alteridade e virtu: expressões dinâmicas de inter- venção e subversão de toda moral humana. d) razão e desordem: dimensões complementares da realidade. 10. (UFFS – FEPESE – 2010) Para lidar com o tratamento dos valores no pensamento de Nietzsche, o conceito da “morte de Deus” é essencial. Assinale a alternativa que reflete esse conceito. a) A morte de Deus desvaloriza o mundo. b) A morte de Deus gera necessariamente o super-homem. c) A morte de Deus implica a perda das sanções so- brenaturais dos valores. d) A morte de Deus exige o retorno a Apolo e a Dionísio. e) A morte de Deus impossibilita a superação dos va- lores hoje aceitos. 11. (UFU 2009/2 2a Fase): Leia atentamente o texto a seguir. “O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou com- pletamente o homem, e o mergulhou como que em um profundo lamaçal: então, no sentimento de total abjeção, fazia brilhar de repente o esplendor de uma piedade divina, de tal modo que o surpreendido, atendido pela graça, lan- çava um grito de embevecimento e por um instante acredi- tava carregar o céu inteiro em si.” nietZsche, F. huMano, deMasiado huMano. col. os pensadores. são paulo: noVa cultural, 1987. p. 59. Com base no texto de Nietzsche, responda as seguintes questões: A) O cristianismo pode ser considerado "moral do es- cravo" ou "moral do senhor"? B) Selecione uma frase do texto que apresenta a carac- terística fundamental do cristianismo para Nietzsche. C) Com base na frase selecionada, explique se, para Nietzsche, o cristianismo é uma doutrina que nega ou que valoriza a força, a saúde e a vida. gabarito 1-D; 2-D; 3-B; 4-C; 5-A; 6-A; 7-C; 8-D; 9-D; 10-C 11. a) "Moral de escravo”: este é um dos conceitos-chave do pensamento nietzschiano, conforme o programa do vesti- bular: "a moral do escravo é caracterizada pelo ódio dos impotentes". b) Há mais de uma frase ou expressão que pode ser re- tirada do texto para responder a esta pergunta, seguem abaixo alguns exemplo: 1) "O cristianismo, por sua vez, esmagou e alquebrou com- pletamente o homem, e o mergulhou como que em um profundo lamaçal"; 2) "[...] no sentimento de total abjeção, fazia brilhar de repente o esplendor de uma piedade divina"; 3) "[...] de tal modo que o surpreendido, atendido pela gra- ça, lançava um grito de embevecimento e por um instante acreditava carregar o céu inteiro em si". Observa-se, nesta frase, que o "surpreendido" é o fraco que se acredita forte por "carregar o céu inteiro dentro de si". c) O cristianismo, para Nietzsche, nega o valor vida. Nesse sentido, nega igualmente tudo o que a ele se relaciona (saúde, criatividade, força). O objetivo de Nietzsche é revalorizar o equilíbrio entre as forças ins- tintivas e vitais do homem que foram subjugadas pela filosofia socrático-platônica e pelas religiões. 130 FIlosoFIa da cIêncIaAULA 20 CompetênCias: 1, 2, 3, 4 e 5 Habilidades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 15, 16, 20, 22, 23, 24 e 25 1. karl raimund PoPPer (1902-1994) O filósofo austro-britânico Karl Popper apresenta a ideia de que as ciências empíricas nunca pode ser provada, mas pode ser falsificada, isso significa que pode e deve ser exa- minada por diversos experimentos decisivos. Popper faz uma distinção entre ciência e não-ciência, de modo que afirma que a indução nunca é realmente utili- zada na ciência e a indução está contida na não-ciência. Segundo o filósofo não existe uma metodologia única es- pecífica para a ciência. Karl Popper – Ciência e pseudo-ciência O vídeo apresenta a filosofia de Karl Popper e sua teoria da falsificidade. multimídia: vídeo Fonte: Youtube A ciência consiste em grande parte em solucionar os pro- blemas. Para o filósofo uma teoria é científica somente se for refutável por um evento concebível. Assim, todo teste é uma tentativa de refutá-la ou falsificá-la. De modo que, o filósofo estabelece uma distinção clara entre a lógica da falseabilidade e sua metodologia aplicada. A lógica utiliza- da é simples: se um único metal ferroso não é afetado por um campo magnético, não é possível que todos os metais ferrosos sejam afetados por campos magnéticos. Dessa forma, enquanto defende a falseabilidade como o critério de demarcação para a ciência, Popper afirma que a possibilidade de que, na prática, uma única prova conflitante ou contrária nunca é metodologicamente suficiente para re- futar uma teoria. Fato este que condiciona que teorias cientí- ficas são frequentemente mantidas, embora tenham sofrido o processo de refutação. O filósofo enfatiza que não existe um único caminho, nem um único caminho para a teoria científica. A ciência se ini- cia com problemas e não com observações, a observação seria o segundo passo do método científico. Seguindo um critério de Popper, a física,a química, entre outras, são ci- ências; enquanto a psicologia é pré-ciência, e a astrologia é uma pseudociência. 1.1. O Conhecimento O crescimento do conhecimento humano procede de nos- sos problemas e de nossas tentativas de resolvê-los. Essas tentativas devem ir além do conhecimento existente, re- querendo um salto da imaginação. Por essa razão, Popper dá ênfase especial ao papel desempenhado pela imagina- ção criativa independente na formulação da teoria. 131 Os cientistas, para o filósofo, são solucionadores de proble- mas, pois apresentam uma centralidade e uma prioridade dos problemas.De modo que o solucionar o problema será o primeiro passo para o início da ciência, seguindo um pro- cesso dedutivo. Esse processo dedutivo é formulado seguindo quatro etapas: 1. O primeiro é formal, um teste da consistência interna, para que não ocorra nenhuma contradição. 2. A semiformal da teoria, buscando distinguir entre seus elementos empíricos e lógicos. De modo que fique atento para distinguir elementos analíticos (a priori) e sintéticos (a posteriori). 3. A comparação da nova teoria com as já existentes para constituir um avanço. Caso não tenha tal progresso, a nova teoria não será adotada. 4. O último passo é o teste de uma teoria pela aplicação empírica das conclusões derivadas dela. Caso se mostre verdadeiras, essa teoria é validada; caso o contrário, o cien- tista começa sua busca por uma teoria melhor, o que não significa que será totalmente abandonada essa teoria. Para Popper não existe um único método para alcançar o conhecimento científico, sendo que esse procedimento crí- tico seria a essência da racionalidade, para assim eliminar as falsas categorias. "Um cientista, seja teórico ou experimental, formula enunciados ou sistemas de enunciados e verifica-os um a um. No campo das ciências empíricas, para particu- larizar, ele formula hipóteses ou sistemas de teorias, e submete-os a teste, confrontando-os com a experiência, através de recursos de observação e experimentação. A tarefa da lógica da pesquisa científica, ou da lógica do conhecimento, é, segundo penso, proporcionar uma análise lógica desse procedimento, ou seja, analisar o método das ciências empíricas. Que são, entretanto, esses 'métodos das ciências empíri- cas'? A que damos o nome de 'ciência empírica'? O Problema da Indução Segundo concepção amplamente aceita - a ser contes- tada nesse livro - , as ciências empíricas caracterizam-se pelo fato de empregarem os chamados ‘métodos indu- tivos’. De acordo com essa maneira de ver, a lógica da pesquisa científica com a Lógica Indutiva, isto é, com a análise lógica desses métodos indutivos." a lógica da pesquisa cientíFica. Karl r. popper. são paulo: cultriX, 1978, p.27 2. thomas samuel kuhn (1922-1996) O físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas Kuhn desenvolveu estudos diante o procedimento científico. Segundo o filósofo existe uma pré-ciência, momento em que cada um faz o que bem entende. Entretanto, para ter uma ciência estruturada é preciso possuir um único paradigma. Para Kuhn,o desenvolvimento de uma ciência não é unifor- me, alternando entre fases “normal” e “revolucionária”. A ciência normal parece com a imagem cumulativa padrão do progresso científico, pelo menos na superfície. A ciência normal desenvolve-se perante um paradigma, seja mecâ- nica newtoniana ou de qualquer outra; enquanto a ciência revolucionária representa um novo paradigma, não sendo acumulativa, proporcionando uma revolução no desenvol- vimento científico. Só que um paradigma pode gerar crises, quando começa- mos a enfrentar problemas no enfrentamento de dados observacionais ou experimentais. Cada paradigma verá o mundo como composto de diferentes tipos de coisas. Thomas Kuhn- o fim da ciência Nesse vídeo apresenta o pensamento científi- co de Thomas Kuhn. multimídia: vídeo Fonte: Youtube Kuhn rejeitou as visões tradicionais e as visões de Popper. Isso ocorre pois a ciência só pode ter sucesso se houver um forte compromisso da comunidade científica relevante com suas crenças, valores e técnicas. A constelação de compromissos compartilhados, é denomi- nada de “matriz disciplinar”, que se torna um pré-requisito para o sucesso da ciência normal. Esse conservadorismo da atitude do cientista, distingue Kuhn de Popper. 132 A Estrutura das Revoluções Científicas Thomas S. Kuhn. São Paulo: Perspectiva, 2018. Um dos aspectos mais interessantes de A Es- trutura das Revoluções Científicas é a análise do papel dos fatores exteriores à ciência na erupção desses momentos de crise e transfor- mação do pensamento científico e da prática correspondente. multimídia: livro "Se a História fosse vista como um repositório para algo mais do que anedotas ou cronologias, poderia produzir uma transformação decisiva na imagem de ciência que atualmente nos domina. Mesmo os próprios cientistas têm haurido essa imagem principalmente no estudo das realizações científicas acabadas, tal como estão regis- tradas nos clássicos e, mais recentemente, nos manuais que cada nova geração utiliza para aprender seu ofício. Contudo, o objetivo de tais livros é inevitavelmente persuasivo e pedagógico; um conceito de ciência deles haurido terá tantas probabilidades de assemelhar-se ao empreendimento que os produziu como a imagem de uma cultura nacional obtida através de um folheto turís- tico ou um manual de línguas. Este ensaio tenta mostrar que esses livros nos têm enganado em aspectos funda- mentais. Seu objetivo é esboçar um conceito de ciência bastante diverso que pode emergir dos registros históri- cos da própria atividade de pesquisa." a estrutura das reVoluções cientíFicas. thoMas s. Kuhn. são paulo: perspectiVa, 1998, pp.19-20. DIAGRAMA DE IDEIAS NÃO EXISTE UM MÉTODO PARA ALCANÇAR O CONHECIMENTO POPPER AS CIÊNCIAS PODEM SER FALSIFICADAS EXISTE A CIÊNCIA E A NÃO-CIÊNCIA A VALIDADE DA CIÊNCIA SURGE COM O COMPROMISSO CIENTÍFICO A CIÊNCIA PRECISA TER UM PARADIGMA THOMAS KUHN DE MODO QUE AS CRISES DIRECIONAM O ANDAMENTO DA CIÊNCIA 133 Aplicando para Aprender (A.P.A.) 1. (Uel 2005) "As experiências e erros do cientista con- sistem de hipóteses. Ele as formula em palavras, e mui- tas vezes por escrito. Pode então tentar encontrar bre- chas em qualquer uma dessas hipóteses, criticando-a experimentalmente, ajudado por seus colegas cientis- tas, que ficarão deleitados se puderem encontrar uma brecha nela. Se a hipótese não suportar essas críticas e esses testes pelo menos tão bem quanto suas concor- rentes, será eliminada". (popper, Karl. conheciMento obJetiVo. trad. de Milton aMado. são paulo: edusp & itatiaia, 1975. p. 226.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre ciência e método científico, é correto afirmar: a) O método científico implica a possibilidade constante de refutações teóricas por meio de experimentos cruciais. b) A crítica no meio científico significa o fracasso do cientista que formulou hipóteses incorretas. c) O conflito de hipóteses científicas deve ser resolvido por quem as formulou, sem ajuda de outros cientistas. d) O método crítico consiste em impedir que as hipó- teses científicas tenham brechas. e) A atitude crítica é um empecilho para o progresso científico. 2. (Uel 2011) Leia o texto a seguir. […] não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a provas em- píricas em sentido negativo […]. (popper, K. a lógica da pesquisa cientíFica. trad. l. hegenberg e o. s. da Mota. são paulo: cultriX, 1972. p. 42.) Assinale a alternativa que corresponde ao critério de avaliação das teorias científicas empregado por Popper. a) Falseabilidade b) Organicidade c) Confiabilidade d) Dialeticidade e) Diferenciabilidade 3. (Uel 2008) Considerando a solução apresentada por Karl Popper ao problema da indução nos métodos