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Policia Militar do Maranhão e Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão CFO-MA Curso de Formação de Oficiais Volume I Edital Nº 99/2016 - Reitoria/UEMA AG090-A-2017 DADOS DA OBRA Título da obra: Policia Militar do Maranhão e Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão Cargo: Curso de Formação de Oficiais (Baseado no Edital Nº 99/2016 - Reitoria/UEMA) Volume I • Língua Portuguesa e Literatura Brasileira • Língua Espanhola • Língua Inglesa • História • Geografia • Filosofia • Sociologia Volume II • Matemática • Física • Biologia • Química Gestão de Conteúdos Emanuela Amaral de Souza Produção Editorial/Revisão Elaine Cristina Igor de Oliveira Suelen Domenica Pereira Camila Lopes Capa Bruno Fernandes Editoração Eletrônica Marlene Moreno Gerente de Projetos Bruno Fernandes APRESENTAÇÃO CURSO ONLINE PARABÉNS! ESTE É O PASSAPORTE PARA SUA APROVAÇÃO. A Nova Concursos tem um único propósito: mudar a vida das pessoas. Vamos ajudar você a alcançar o tão desejado cargo público. 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PASSO 1 Acesse: www.novaconcursos.com.br/passaporte PASSO 2 Digite o código do produto no campo indicado no site. O código encontra-se no verso da capa da apostila. *Utilize sempre os 8 primeiros dígitos. Ex: FV054-17 PASSO 3 Pronto! Você já pode acessar os conteúdos online. SUMÁRIO Língua Portuguesa e Literatura Brasileira Comunicação Humana: Linguagem, língua e fala. O signo linguístico. ............................................................................................ 01 Níveis da linguagem. Norma padrão escrita da língua portuguesa e variações linguísticas. .................................................. 02 Funções da linguagem. ........................................................................................................................................................................................11 Sentido das palavras. Sinonímia e antonímia; polissemia e ambiguidade. ..................................................................................... 13 Ortografia: Sistema ortográfico vigente. ....................................................................................................................................................... 15 Acentuação gráfica. ...............................................................................................................................................................................................23 O texto nos processos de compreensão e de Produção: Texto e textualidade. ............................................................................ 26 Tipologia textual. ....................................................................................................................................................................................................40 Gênero textual. Estudo do texto e sequências discursivas: dissertação, argumentação, narração e descrição. ............... 55 Coerência e coesão textuais. .............................................................................................................................................................................. 61 A polifonia discursiva na construção do texto. ........................................................................................................................................... 71 Aspectos morfossintáticos da língua: Estrutura das palavras. Processo de formação das palavras. ..................................... 72 Classes de palavras (variáveis e invariáveis). ................................................................................................................................................ 77 Pontuação: emprego dos sinais de pontuação. Valor relativo dos sinais de pontuação. Substituição por outros si- nais. ...................................................................................................................................................................................................................104 Concordâncias verbal e nominal. ...................................................................................................................................................................107 Regências verbal e nominal. .............................................................................................................................................................................119 Emprego do acento indicativo de crase. .....................................................................................................................................................124 Estrutura de período: coordenação e subordinação. .............................................................................................................................127 Mecanismos de Coesão textual. ....................................................................................................................................................................... 61 Colocação pronominal. ......................................................................................................................................................................................134 Caracterização e emprego dos tipos de discurso: direto, indireto e indireto-livre. ...................................................................137 Teoria Literária e Literatura Brasileira: O texto Literário e não literário. Denotação e conotação. .......................................140 Recursos estilísticos: figuras de linguagem. ...............................................................................................................................................141 Gêneros Literários: Lírico, Dramático e Narrativo. ...................................................................................................................................145 Estilos de época da Literatura de Língua Portuguesa: Trovadorismo, Humanismo, Classicismo, Barroco, Arcadismo, Ro- mantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo, Modernismo e Tendências Contem- porâneas. .................................................................................................................................................................................................................146 Literatura Maranhense: a produção literária nos séculos XIX e XX. ...................................................................................................156 Língua Espanhola Habilidade em leitura: Identificar ideias gerais, principais e secundárias de texto; identificar ideias específicas; sintetizar ideias; inferir significado de palavras; distinguir gêneros textuais; identificar cognatos e/ou falsos cognatos; extrair in- formações do texto; ordenar informações; descrever etapas; completar diagrama e/ou textos; selecionar informações falsas e/ou verdadeiras; associar palavras aos textos, selecionar,distinguir, comparar, identificar, relacionar, ordenar, ana- lisar, aplicar, definir, correlacionar, descrever, ilustrar, associar, explicar, listar, classificar, caracterizar, interpretar, resumir, determinar o essencial, reproduzir, valorar, transferir, justificar, deduzir, substituir e sintetizar. ............................................ 01 Gramática contextualizada com ênfase em: El artículo: empleo. La regla de eufonía. El artículo neutro. .......................... 13 Los numerales: empleo. .......................................................................................................................................................................................14 El sustantivo: empleo. ...........................................................................................................................................................................................17 El adjetivo: género y grado; (relaciones de concordância del adjetivo y del substantivo em el texto). ............................... 18 Los antónimos y los sinónimos. ........................................................................................................................................................................18 Acentuación ortográfica. .....................................................................................................................................................................................19 Los pronombres: personal sujeto, posesivos, demostrativos, indefinidos, interrogativos, exclamativos, relativos, comple- mentos: empleo). ....................................................................................................................................................................................................19 La apócope: empleo. .............................................................................................................................................................................................19 Las palavras invariables (el adverbio: empleo; la preposición: empleo; las conjunciones: coordinante y subordinante: empleo). .....................................................................................................................................................................................................................20 Las divergencias léxicas: los heterográficos, los heterogenéricos, los heterosemánticos e los heterotónicos. ................ 25 SUMÁRIO Las palavras invariables (el adverbio: empleo; la preposición: empleo; las conjunciones: coordinantes y subordinantes: empleo). .....................................................................................................................................................................................................................25 El verbo em los tempos simple y compuesto. Regulares enel modo indicativo (presente, pasado, futuro), subjuntivo (presente, pasado y futuro) e imperativo (afirmativo y negativo). Auxiliares: ser y haber (presente, pasado y futuro y enlostres modos). De irregularidade común de 1ª, 2ª, 3ª y 4ª clases; (presente, pasado y futuro y enlostres modos). De irregularidade propia: estar, hacer, decir, dar, haber, poner, saber, ir, venir, poder, querer, (presente, pasado, futuro y en- lostres modos). Las formas reflexivas de los verbos: empleo. Las formas no personales del verbo (infinitivo, gerundio y participio). Las perífrasis verbales. .................................................................................................................................................................... 26 Língua Inglesa Habilidades de Leitura: Identificar ideias gerais e principais (SKIMMING). Inferir significado de palavras. Distinguir gê- neros textuais. Identificar cognatos e/ou falsos cognatos. Extrair informações do texto. Selecionar informações falsas e/ ou verdadeiras. Associar palavras em diferentes textos. Identificar ideias secundárias em diferentes textos (técnica de “SKIMMING”). Identificar ideias específicas (técnica de “SCANNING”). Sintetizar ideias. Ordenar informações. Descrever etapas. Completar diagramas e/ou textos verbais. .................................................................................................................................... 01 Habilidades Linguísticas: o emprego da gramática em uma abordagem comunicativa: Artigo (definido e inde- finido). ......................................................................................................................................................................................... 05 Substantivo (Emprego, gênero, número, caso genitivo). ........................................................................................................................ 07 Adjetivo (noções gerais). .....................................................................................................................................................................................12 Numerais. ...................................................................................................................................................................................................................18 Pronomes (pessoais, adjetivos, possessivos, reflexivos, relativos, indefinidos, interrogativos e demonstrativos). .......... 22 Verbo (simple presente e presentcontinuous, simplepast e passado contínuo; presente perfeito e presente perfeito con- tínuo; passado perfeito e passado perfeito contínuo futuro simples, futuro com “goingto” future continuous; imperativo; auxiliares; modais). .................................................................................................................................................................................................31 Uso do infinito, gerúndio e particípio. ........................................................................................................................................................... 46 Advérbios. ..................................................................................................................................................................................................................49 Preposições. ..............................................................................................................................................................................................................50 Conjunções coordenadas e subordinadas. .................................................................................................................................................. 51 Diferentes tipos de orações. .............................................................................................................................................................................. 52 Verbos frasais e preposicionados. .................................................................................................................................................................... 55 Question-tag. ...........................................................................................................................................................................................................57 Discursos: direto e indireto. ................................................................................................................................................................................ 57 Voz ativa e passiva. ................................................................................................................................................................................................58 Sinonímia e antonímia. .........................................................................................................................................................................................58 Formação de palavras (Processo de derivação;prefixo e sufixo. Processo de composição). .................................................... 59 História Habilidades de Leitura: Identificar ideias gerais e principais (SKIMMING). Inferir significado de palavras. Distinguir gêIn- trodução à História (Conceitos de História. A periodização histórica e seus significados. As fontes históricas e a constru- ção do conhecimento da História. O papel do historiador na produção histórica). .................................................................... 01 Conhecimento Histórico: Temporalidades. Memória. ............................................................................................................................... 02 O Mundo Antigo: Civilizações egípcia, mesopotâmica e greco-romana. Reinos africanos. A crise do mundo clássico e as invasões bárbaras. A formação da América (Os altos impérios da América pré-colombiana: incas, astecas e maias. ........07 O mundo Medieval: Feudalismo europeu: formação e desenvolvimento. O Cristianismo medieval. O Islamismo e sua relação com o ocidente medieval. Expansão comercial e urbana. Crise do feudalismo. A construção da modernidade (A cultura do Renascimento e as bases do pensamento moderno. .......................................................................................................... 33 O Mundo Moderno: A construção da modernidade. A cultura do Renascimento e as bases do pensamento moderno. O Cristianismo na modernidade: Reforma Religiosa e Contrarreforma. A formação do Estado Moderno. O Absolutismo e o Mercantilismo. O expansionismo marítimo-comercial e a organização do sistema colonial. A formação da América: os altos impérios da América pré-colombiana: incas, astecas e maias. Os primeiros habitantes do Brasil e do Maranhão: formas de SUMÁRIO organização social. A colonização espanhola. A colonização inglesa. A colonização portuguesa: a estrutura política e admi- nistrativa; economia e trabalho; vida cultural. O Maranhão colonial: conquista e disputa pelo território; relações sociais e de trabalho. O tráfico negreiro em suas relações com a África. Liberalismo e Iluminismo. Revoluções liberais: Revolução Inglesa e Revolução Francesa. Era napoleônica. Burguesia e Revolução Industrial. Formação da Classe Operária. Crise do sistema colonial e processos de emancipação das colônias inglesas e hispano-americana. O processo de emancipação do Brasil. O Maranhão e o processo de Independência do Brasil. Formação e consolidação do Estado brasileiro: disputa pelo poder, contestação à ordem; economia e trabalho. Cultura e cotidiano no Brasil Imperial. O Maranhão no Império: movimentos de contestação à ordem; economia e trabalho; resistência escrava; sociedade e cultura. ......................................................................34 Correntes de pensamento e lutas sociais do século XIX: Liberalismo, Socialismo, Anarquismo, Catolicismo Social e Nacio- nalismo; as lutas operárias de contestação à ordem burguesa; as revoluções liberais de 1820, 1830 e 1848. ................. 45 A América no século XIX: as Independências nas Américas inglesa e espanhola; conflitos na região do rio da Prata; Esta- dos Unidos: a expansão para Oeste e a Guerra da Secessão.. A colonização espanhola. A colonização inglesa. A coloniza- ção portuguesa. ......................................................................................................................................................................................................45 Os primeiros habitantes do Brasil e do Maranhão: formas de organização social; a conquista do Brasil e o confronto interétnico; a estrutura político e administrativa: capitanias hereditárias e governos gerais; a conquista do Maranhão e a disputa pelo território; o domínio político na América Portuguesa e no Maranhão). O Brasil e o Maranhão colonial (As relações sociais e de trabalho. O tráfico negreiro em suas relações com a África. As atividades econômicas e a formação e expansão do território brasileiro e maranhense. Cultura e vida colonial. União Ibérica. Entradas e Bandeiras). .......... 47 Liberalismo e revolução (Iluminismo e revoluções liberais: Revoluções Inglesas e Revolução Francesa. ............................ 49 Era napoleônica. Burguesia e Revolução Industrial. Formação da Classe Operária. Crise do sistema colonial e processos de emancipação das colônias inglesas e hispano-americanas). O processo de emancipação do Brasil (Os movimentos de contestação ao domínio colonial. O processo de separação brasileira de Portugal (1808-1822). O Maranhão e o processo de Independência do Brasil). ............................................................................................................................................................................. 51 Formação e consolidação do Estado brasileiro (Elaboração da base legal. Disputa pelo poder, contestação à ordem e bus- ca de estabilidade do regime (1822-1848). As instituições políticas do Império. Hegemonia britânica, economia cafeeira e o processo de modernização do Brasil. Cultura e cotidiano no Brasil Imperial). ........................................................................ 52 A América no século XIX (As Independências na América. Conflitos na região do rio da Prata. Estados Unidos: a expansão para Oeste. Guerra da Secessão). A desagregação do regime monárquico brasileiro (A crise do escravismo e a transição para o trabalho livre. O movimento republicano. Sociedade e Cultura). ......................................................................................... 57 Mundo contemporâneo: A concentração de capitais e a expansão imperialista (O domínio da Ásia e a partilha da África. ...58 A primeira Guerra Mundial: seus condicionantes e consequências. Contestação à ordem capitalista: a Revolução Russa e a formação da URSS. .............................................................................................................................................................................................59 Os rearranjos da ordem capitalista. A crise de 1929 e suas repercussões). O Estado oligárquico brasileiro (Estruturação de poder: oligarquia e coronelismo. ..................................................................................................................................................................... 61 As oligarquias no Maranhão. Bases econômicas: a agroexportação e sua crise. Indústria têxtil, a pequena produção agrí- cola e a emergência do babaçu no Maranhão. .......................................................................................................................................... 62 Lutas sociais na 1ª República: movimentos operários, misticismo e cangaço. Cultura e vida cotidiana; arte e literatura. Crise dos anos 1920 e o movimento de 1930: a desagregação da Primeira República). ........................................................... 65 As experiências totalitárias e a ameaça às democracias (O período Entreguerras e a ascensão do nazifascismo. A 2ª Guer- ra Mundial: condicionantes e consequências). ........................................................................................................................................... 66 A Era Vargas (Centralização econômica, industrialização e trabalhismo. Nacionalismo. Legislação trabalhista. Centraliza- ção política, controle ideológico e repressão). ............................................................................................................................................ 69 A Guerra Fria: confronto entre Capitalismo e Socialismo (A hegemonia norte-americana na América Latina. O processo de descolonização na Ásia e na África. Revolução Cubana. Revolução Chinesa). ........................................................................ 74 O Estado populista (Os casos da Argentina e do México. Políticas de desenvolvimento econômico no Brasil (1945-1964).O Vitorinismo no Maranhão. Conjuntura econômica no Maranhão (1945-1964): a crise da indústria têxtil; as indústrias do babaçu; a expansão da produção de arroz. As propostas culturais no Brasil nos anos 1960. O golpe de 1964). ........... 76 A militarização do estado na América Latina e no Brasil (As experiências da Argentina, do Chile e do Uruguai. Ditadura Militar no Brasil: bases do golpe, institucionalização do regime e aparelhos de repressão. O processo de resistência: a luta armada e os movimentos culturais. O milagre econômico: bases e crise. A transição democrática na América Latina e no Brasil. A constituição de 1988). ......................................................................................................................................................................... 77 O Maranhão no período do regime militar brasileiro (O Sarneísmo. A penetração do grande capital e suas consequências sociais. Os conflitos agrários). ...........................................................................................................................................................................81 SUMÁRIO Tendências, problemas e perspectivas no mundo atual (A desagregação do bloco soviético e a nova ordem mundial. .....81 O processo de globalização e o neoliberalismo. A inserção do Brasil na nova ordem mundial: da Nova República aos dias atuais. Problemas e desafios no Brasil e no Maranhão: a situação das minorias: os índios, os negros, as mulheres e os homossexuais; a luta pela terra e a Reforma Agrária; violência, desemprego e miséria; a construção da cidadania; pro- blemas do meio ambiente e os movimentos ecológicos; cultura e cotidiano nos dias atuais; preservação do patrimônio histórico-cultural). ...................................................................................................................................................................................................82 Geografia Elementos cósmicos que compõem o universo: origens e caracterizações. .................................................................................... 01 Dinamicidade da Terra no sistema planetário: Rotação e translação da Terra (ocorrência, consequências e relações com eventos cotidianos). Litosfera e estrutura interna da Terra – constituição e características principais. ................................. 01 Continentes e hidrosfera: distribuição dos continentes e oceanos; principais rios, bacias hidrográficas e formações lacus- tres; importância da hidrosfera para a vida humana. ................................................................................................................................ 02 Orientação (contextualizada e convencional) e meios de orientação. ............................................................................................... 03 Coordenadas Geográficas: localização absoluta. ........................................................................................................................................ 04 Fusos horários: hora legal, hora do Brasil e hora solar. ............................................................................................................................ 06 Cartografia: projeções cartográficas – escala – convenções cartográficas – legenda. ................................................................. 06 Clima: elementos do clima; fatores climáticos; massas de ar; os grandes conjuntos climáticos; o clima e suas influências. Principais classificações. ........................................................................................................................................................................................09 Paisagens vegetais: fatores da distribuição da vegetação; as grandes paisagens vegetais. ...................................................... 10 Relevo terrestre: principais formas de relevo; dinâmica de origem interna e de origem externa. .......................................... 11 O processo demográfico no mundo atual: distribuição geográfica da população; crescimento demográfico; movimentos migratórios; composição da população: por idade, por sexo e por atividade; condições alimentares e sanitárias Uso da terra (agricultura, pecuária, extrativismo vegetal e animal). ................................................................................................................... 13 Regiões brasileiras e suas características físicas, humanas e econômicas. ....................................................................................... 13 Ambientes naturais do Brasil e do Maranhão (localização – clima – vegetação – relevo – hidrografia). ............................. 22 Atividades econômicas: Indústria (tipos e fatores: indústria moderna; fontes de energia, matérias-primas, grandes áreas industriais). .................................................................................................................................................................................................................22 Comércio externo. Questão ambiental no mundo. .................................................................................................................................... 23 A Geopolítica mundial (relações internacionais – formação de megablocos e organizações contemporâneas do mun- do). ................................................................................................................................................................................................................................23 Urbanização:as cidades nos países centrais e periféricos; evolução; metropolização; problemas urbanos. ....................... 25 População brasileira – distribuição da população; crescimento demográfico; movimentos migratórios; composição da população: por idade, por sexo e por atividade; condições alimentares e sanitárias. ................................................................. 26 Economia brasileira: Agricultura, pecuária e extrativismo vegetal e mineral. ..................................................................................28 Indústria: evolução; indústria moderna; matérias-primas; áreas industriais. Comércio interno e externo; Transportes e comunicações; Urbanização – evolução das cidades; metropolização; problemas urbanos referentes ao Brasil e regio- nais. .........................................................................................................................................................................................................................33 Paisagens culturais brasileiras e do Maranhão. ........................................................................................................................................... 34 Filosofia A cultura (A atividade animal. A atividade humana. Cultura e animalização). O conhecimento (Noção do Conhecimento. A possibilidade do conhecimento. A origem do Conhecimento). ....................................................................................................... 01 A Filosofia (Origem da Filosofia. O nascimento da Filosofia. Campos de inauguração da Filosofia. Principais períodos da Filosofia. Aspectos da Filosofia contemporânea). ....................................................................................................................................... 04 Lógica (Proposição. Silogismo. Argumentos dedutivos e indutivos). ................................................................................................. 10 Ética (Conceituação: ética, moral e dever. Ética e Filosofia. Responsabilidade moral, determinismo e liberdade. Ética, ciência e civilizações tecnológicas). .................................................................................................................................................................. 12 Estética (Conceituação: natureza e objeto da Estética. .............................................................................................................................19 Funções da Arte. (Concepções estéticas na história). ................................................................................................................................ 20 Política (Conceituações. Política e Liberdade. Política e Ideologia. Filosofia Política. Poder e Democracia. Liberalismo, Socialismo e Neoliberalismo). .............................................................................................................................................................................25 SUMÁRIO Sociologia Sociologia e a relação entre indivíduo e sociedade: perspectivas sociológicas clássicas (Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber). .......................................................................................................................................................................................................................01 Socialização e controle social: Instituições sociais; Controle social; Status e papeis sociais; Interação e relação social; Mudança Social; Estratificação Social; Desigualdade social (gênero, raça e etnia) e racismo; Tipos de violência (física, psicológica e simbólica). .......................................................................................................................................................................................01 Cultura e Ideologia: Cultura popular; Cultura erudita; Cultura de massa e Indústria Cultural; Identidade; Multiculturalis- mo; Contracultura; Etnocentrismo e Relativismo cultural. ....................................................................................................................... 11 Trabalho e Sociedade: Organização do trabalho no século XX (Fordismo, Taylorismo e Toyotismo); Mercado de trabalho, emprego e desemprego. ......................................................................................................................................................................................13 Estado e Relações de Poder: Estado; Governo; Formas de Organização do Estado moderno; Regimes Políticos; Democra- cia; Cidadania; Formas de participação política (partidos e sistemas eleitorais); Direitos Humanos; Globalização e Neoli- beralismo. ...................................................................................................................................................................................................................17 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Comunicação Humana: Linguagem, língua e fala. O signo linguístico. ............................................................................................ 01 Níveis da linguagem. Norma padrão escrita da língua portuguesa e variações linguísticas. .................................................. 02 Funções da linguagem. ........................................................................................................................................................................................11 Sentido das palavras. Sinonímia e antonímia; polissemia e ambiguidade. ..................................................................................... 13 Ortografia: Sistema ortográfico vigente. ....................................................................................................................................................... 15 Acentuação gráfica. ...............................................................................................................................................................................................23 O texto nos processos de compreensão e de Produção: Texto e textualidade. ............................................................................ 26 Tipologia textual. ....................................................................................................................................................................................................40 Gênero textual. Estudo do texto e sequências discursivas: dissertação, argumentação, narração e descrição. ............... 55 Coerência e coesão textuais. .............................................................................................................................................................................. 61 A polifonia discursiva na construção do texto. ........................................................................................................................................... 71 Aspectos morfossintáticos da língua: Estrutura das palavras. Processo de formação das palavras. ..................................... 72 Classes de palavras (variáveis e invariáveis). ................................................................................................................................................ 77 Pontuação: emprego dos sinais de pontuação. Valor relativo dos sinais de pontuação. Substituição por outros si- nais. ...................................................................................................................................................................................................................104 Concordâncias verbal e nominal. ...................................................................................................................................................................107 Regências verbal e nominal. .............................................................................................................................................................................119 Emprego do acento indicativo de crase. .....................................................................................................................................................124 Estrutura de período: coordenação e subordinação. .............................................................................................................................127 Mecanismos de Coesão textual. ....................................................................................................................................................................... 61 Colocação pronominal. ......................................................................................................................................................................................134 Caracterização e emprego dos tipos de discurso: direto, indireto e indireto-livre. ...................................................................137 Teoria Literária e Literatura Brasileira: O texto Literário e não literário. Denotação e conotação. ........................................140 Recursos estilísticos: figuras de linguagem. ...............................................................................................................................................141 Gêneros Literários: Lírico, Dramático e Narrativo. ...................................................................................................................................145 Estilos de época da Literatura de Língua Portuguesa: Trovadorismo, Humanismo, Classicismo, Barroco, Arcadismo, Ro- mantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo, Modernismo e Tendências Contempo- râneas. .......................................................................................................................................................................................................................146 Literatura Maranhense: a produção literária nos séculos XIX e XX. ...................................................................................................156 1 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA COMUNICAÇÃO HUMANA: LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA. O SIGNO LINGUÍSTICO. Linguagem é a capacidade que possuímos de expres- sar nossos pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. Está relacionada a fenômenos comunicativos; onde há co- municação, há linguagem. Podemos usar inúmeros tipos delinguagens para estabelecermos atos de comunicação, tais como: sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais convencionais (linguagem escrita e linguagem mímica, por exemplo). Num sentido mais genérico, a linguagem pode ser classificada como qualquer sistema de sinais que se va- lem os indivíduos para comunicar-se. A linguagem pode ser: A Língua é um instrumento de comunicação, sendo composta por regras gramaticais que possibilitam que de- terminado grupo de falantes consiga produzir enunciados que lhes permitam comunicar-se e compreender-se. Por exemplo: falantes da língua portuguesa. A língua possui um caráter social: pertence a todo um conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre ela. Cada membro da comunidade pode optar por esta ou aquela for- ma de expressão. Por outro lado, não é possível criar uma língua particular e exigir que outros falantes a compreen- dam. Dessa forma, cada indivíduo pode usar de maneira particular a língua comunitária, originando a fala. A fala está sempre condicionada pelas regras socialmente estabeleci- das da língua, mas é suficientemente ampla para permitir um exercício criativo da comunicação. Um indivíduo pode pronunciar um enunciado da seguinte maneira: A família de Regina era paupérrima. Outro, no entanto, pode optar por: A família de Regina era muito pobre. As diferenças e semelhanças constatadas devem-se às diversas manifestações da fala de cada um. Note, além disso, que essas manifestações devem obedecer às regras gerais da língua portuguesa, para não correrem o risco de produzir enunciados incompreensíveis como: Família a paupérrima de era Regina. Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois meios de comunicação distintos. A escrita representa um estágio posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea, abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade. Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes por mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo fisionômico, as mímicas e o tom de voz do falante. No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes da língua devido a diversos fatores. Dentre eles, destacam-se: - Fatores Regionais: é possível notar a diferença do português falado por um habitante da região nordeste e outro da região sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior do estado. - Fatores Culturais: o grau de escolarização e a for- mação cultural de um indivíduo também são fatores que colaboram para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve acesso à escola. - Fatores Contextuais: nosso modo de falar varia de acordo com a situação em que nos encontramos: quando conversamos com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se estivéssemos discursando em uma sole- nidade de formatura. - Fatores Profissionais: o exercício de algumas ativida- des requer o domínio de certas formas de língua chamadas línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técni- co de engenheiros, químicos, profissionais da área de direi- to e da informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas. - Fatores Naturais: o uso da língua pelos falantes so- fre influência de fatores naturais, como idade e sexo. Uma criança não utiliza a língua da mesma maneira que um adul- to, daí falar-se em linguagem infantil e linguagem adulta. Fala É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto, sua personalidade, o ambiente socio- cultural em que vive, etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo, além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros falam; é por isso que so- mos capazes de dialogar com pessoas dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a linguagem delas seja exatamente como a nossa. Devido ao caráter individual da fala, é possível observar alguns níveis: - Nível Coloquial-Popular: é a fala que a maioria das pessoas utiliza no seu dia a dia, principalmente em situações informais. Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utilizá-lo, não nos preocupamos em saber se falamos de acordo ou não com as regras formais estabelecidas pela língua. - Nível Formal-Culto: é o nível da fala normalmente utilizado pelas pessoas em situações formais. Caracteriza-se por um cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras gramaticais estabelecidas pela língua. 2 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Signo É um elemento representativo que apresenta dois aspec- tos: o significado e o significante. Ao escutar a palavra “ca- chorro”, reconhecemos a sequência de sons que formam essa palavra. Esses sons se identificam com a lembrança deles que está em nossa memória. Essa lembrança constitui uma real imagem sonora, armazenada em nosso cérebro que é o signi- ficante do signo “cachorro”. Quando escutamos essa palavra, logo pensamos em um animal irracional de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas, etc. Esse conceito que nos vem à mente é o significado do signo “cachorro” e também se encontra ar- mazenado em nossa memória. Ao empregar os signos que formam a nossa língua, de- vemos obedecer às regras gramaticais convencionadas pela própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível colocar o artigo indefinido “um” diante do signo “cachorro”, formando a sequência “um cachorro”, o mesmo não seria possível se qui- séssemos colocar o artigo “uma” diante do signo “cachorro”. A sequência “uma cachorro” contraria uma regra de concordân- cia da língua portuguesa, o que faz com que essa sentença seja rejeitada. Os signos que constituem a língua obedecem a padrões determinados de organização. O conhecimento de uma língua engloba tanto a identificação de seus signos, como também o uso adequado de suas regras combinatórias. Signo: elemento representativo que possui duas partes indissolúveis: significado e significante. Significado (é o con- ceito, a ideia transmitida pelo signo, a parte abstrata do sig- no) + Significante (é a imagem sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas letras e seus fonemas). Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que obedecem às regras gramaticais. Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade e ao desenvolvimento da liberdade de expressão e compreensão. NÍVEIS DA LINGUAGEM. NORMA PADRÃO ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA E VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS. Norma Culta Norma culta ou linguagem culta é uma expressão em- pregada pelos linguistas brasileiros para designar o conjun- to de variedades linguísticas efetivamente faladas, na vida cotidiana, pelos falantes cultos, sendo assim classificados os cidadãos nascidos e criados em zona urbana e com grau de instrução superior completo. O Instituto Camões entende que a “noção de correção está [...] baseada no valor social atribuído às [...] formas [lin- guísticas]. Ainda assim, informa que a norma-padrão do português europeu é o dialeto da região que abrange Lisboa e Coimbra; refere também que se aceita no Brasil como nor- ma-padrão a fala do Rio e de São Paulo. Aquisição da linguagem Iniciamos o aprendizado da língua em casa, no contato com a família, que é o primeirocírculo social para uma criança, imitando o que se ouve e aprendendo, aos poucos, o vocabulá- rio e as leis combinatórias da língua. Um jovem falante também vai exercitando o aparelho fonador, ou seja, a língua, os lábios, os dentes, os maxilares, as cordas vocais para produzir sons que se transformam, mais tarde, em palavras, frases e textos. Quando um falante entra em contato com outra pessoa, na rua, na escola ou em qualquer outro local, percebe que nem todos falam da mesma forma. Há pessoas que falam de forma diferente por pertencerem a outras cidades ou regiões do país, ou por terem idade diferente da nossa, ou por fazerem parte de outro grupo ou classe social. Essas diferenças no uso da língua constituem as variedades linguísticas. Variedades Linguísticas Variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, re- gionais e históricas em que é utilizada. Todas as variedades linguísticas são adequadas, desde que cumpram com eficiência o papel fundamental de uma língua, o de permitir a interação verbal entre as pessoas, isto é, a comunicação. Apesar disso, uma dessas variedades, a norma culta ou norma padrão, tem maior prestígio social. É a variedade lin- guística ensinada na escola, contida na maior parte dos livros e revistas e também em textos científicos e didáticos, em alguns programas de televisão, etc. As demais variedades, como a re- gional, a gíria ou calão, o jargão de grupos ou profissões (a linguagem dos policiais, dos jogadores de futebol, dos meta- leiros, dos surfistas), são chamadas genericamente de dialeto popular ou linguagem popular. Propósito da Língua A língua que utilizamos não transmite apenas nossas ideias, transmite também um conjunto de informações sobre nós mesmos. Certas palavras e construções que empregamos acabam denunciando quem somos socialmente, ou seja, em que região do país nascemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e, às vezes, até nossos valores, círculo de ami- zades e hobbies, como skate, rock, surfe, etc. O uso da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa capacidade de nos adaptarmos e situações novas, nossa insegurança, etc. A língua é um poderoso instrumento de ação social. Ela pode tanto facilitar quanto dificultar o nosso relacionamento com as pessoas e com a sociedade em geral. Língua Culta na Escola O ensino da língua culta, na escola, não tem a finalidade de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou em nossa comunidade. Ao contrário, o domínio da língua culta, somado ao domínio de outras variedades linguísticas, torna- nos mais preparados para nos comunicarmos. Saber usar bem uma língua equivale a saber empregá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que participamos. 3 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Graus de Formalismo São muitos os tipos de registro quanto ao formalismo, tais como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o coloquial, que não tem um planejamento prévio, caracteri- zando-se por construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso de ortografia simplificada, construções simples e usado entre membros de uma mesma família ou entre amigos. As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de formalismo existente na situação de comunicação; com o modo de expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a sintonia entre interlocutores, que envolve as- pectos como graus de cortesia, deferência, tecnicidade (domí- nio de um vocabulário específico de algum campo científico, por exemplo). Atitudes não recomendadas Expressões Condenáveis - a nível de, ao nível. Opção: em nível, no nível. - face a, frente a. Opção: ante, diante, em face de, em vista de, perante. - onde (quando não exprime lugar). Opção: em que, na qual, nas quais, no qual, nos quais. - (medidas) visando... Opção: (medidas) destinadas a. - sob um ponto de vista. Opção: de um ponto de vista. - sob um prisma. Opção: por (ou através de) um prisma. - como sendo. Opção: suprimir a expressão. - em função de. Opção: em virtude de, por causa de, em consequência de, por, em razão de. Expressões não recomendadas - a partir de (a não ser com valor temporal). Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de... - através de (para exprimir “meio” ou instrumento). Op- ção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, segundo... - devido a. Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de. - dito. Opção: citado, mensionado. - enquanto. Opção: ao passo que. - fazer com que. Opção: compelir, constranger, fazer que, forçar, levar a. - inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). Op- ção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. - no sentido de, com vistas a. Opção: a fim de, para, com o fito (ou objetivo, ou intuito) de, com a finalidade de, tendo em vista. - pois (no início da oração). Opção: já que, porque, uma vez que, visto que. - principalmente. Opção: especialmente, mormente, no- tadamente, sobretudo, em especial, em particular. - sendo que. Opção: e. Expressões que demandam atenção - acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se - aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, aceito - acendido, aceso (formas similares) – idem - à custa de – e não às custas de - à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, conforme - na medida em que – tendo em vista que, uma vez que - a meu ver – e não ao meu ver - a ponto de – e não ao ponto de - a posteriori, a priori – não tem valor temporal - de modo (maneira, sorte) que – e não a - em termos de – modismo; evitar - em vez de – em lugar de - ao invés de – ao contrário de - enquanto que – o que é redundância - entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a - implicar em – a regência é direta (sem em) - ir de encontro a – chocar-se com - ir ao encontro de – concordar com - junto a – usar apenas quando equivale a adido ou similar - o (a, s) mesmo (a, s) – uso condenável para substituir pronomes - se não, senão – quando se pode substituir por caso não, separado; quando se pode, junto - todo mundo – todos - todo o mundo – o mundo inteiro - não-pagamento = hífen somente quando o segundo termo for substantivo - este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tem- po presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando) - esse e isso – referência longe do falante e perto do ou- vinte (tempo futuro, desejo de distância; tempo passado pró- ximo do presente, ou distante ao já mencionado e a ênfase). Erros Comuns - “Hoje ao receber alguns presentes no qual completo vinte anos tenho muitas novidades para contar”. Temos aí um exem- plo de uso inadequado do pronome relativo. Ele provoca falta de coesão, pois não consegue perceber a que antecedente ele se refere, portanto nada conecta e produz relação absurda. - “Tenho uma prima que trabalha num circo como mágica e uma das mágicas mais engraçadas era uma caneta com tinta invisível que em vez de tinta havia saído suco de lima”. Você per- cebe aí a incapacidade do concursando ou vestibulando orga- nizar sintaticamente o período. Selecionar as frases e organizar as ideias é necessário. Escrever com clareza é muito importante. - “Ainda brincava de boneca quando conheci Davi, piloto de cart, moreno, 20 anos, com olhos cor de mel. “Tudo começou na- quele baile de quinze anos”, “...é aos dezoito anos que se começa a procurar o caminho do amanhã e encontrar as perspectiva que nos acompanham para sempre na estrada da vida”. Você pode ter conhecimento do vocabulário e das regras gramaticais e, assim, construir um texto sem erros. Entretanto, se você reproduz sem nenhuma crítica oureflexão expressões gastas, vulgarizadas pelo uso contínuo. A boa qualidade do texto fica comprometida. 4 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - Tema: Para você, as experiências genéticas de clonagem põem em xeque todos os conceitos humanos sobre Deus e a vida? “Bem a clonagem não é tudo, mas na vida tudo tem o seu valor e os homens a todo momento necessitam de desco- brir todos os mistérios da vida que nos cerca a todo instante”. É importante você escrever atendendo ao que foi proposto no tema. Antes de começar o seu texto leia atentamente todos os elementos que o examinador apresentou para você utili- zar. Esquematize suas ideias, veja se não há falta de corres- pondência entre o tema proposto e o texto criado. - “Uma biópsia do tumor retirado do fígado do meu pri- mo (...) mostrou que ele não era maligno”. Esta frase está am- bígua, pois não se sabe se o pronome ele refere-se ao fígado ou ao primo. Para se evitar a ambiguidade, você deve obser- var se a relação entre cada palavra do seu texto está correta. - “Ele me tratava como uma criança, mas eu era apenas uma criança”. O conectivo mas indica uma circunstância de oposição, de ideia contrária a. Portanto, a relação adversativa introduzida pelo “mas” no fragmento acima produz uma ideia absurda. - “Entretanto, como já diziam os sábios: depois da tem- pestade sempre vem a bonança. Após longo suplício, meu coração apaziguava as tormentas e a sensatez me mostrava que só estaríamos separadas carnalmente”. Não utilize pro- vérbios ou ditos populares. Eles empobrecem a redação, pois fazer parecer que seu autor não tem criatividade ao lançar mão de formas já gastas pelo uso frequente. - “Estou sem inspiração para fazer uma redação. Escrever sobre a situação dos sem-terra? Bem que o professor pode- ria propor outro tema”. Você não deve falar de sua redação dentro do próprio texto. - “Todos os deputados são corruptos”. Evite pensamen- tos radicais. É recomendável não generalizar e evitar, assim, posições extremistas. - “Bem, acho que - você sabe - não é fácil dizer essas coisas. Olhe, acho que ele não vai concordar com a decisão que você tomou, quero dizer, os fatos levam você a isso, mas você sabe - todos sabem - ele pensa diferente. É bom a gente pensar como vai fazer para, enfim, para ele entender a deci- são”. Não se esqueça que o ato de escrever é diferente do ato de falar. O texto escrito deve se apresentar desprovido de marcas de oralidade. - “Mal cheiro”, “mau-humorado”. Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humo- rado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-inten- cionado, mau jeito, mal-estar. - “Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias. - “Houveram” muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia mui- tas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais. - “Existe” muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem muitas es- peranças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam ideias. - Para “mim” fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer. - Entre “eu” e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti. - “Há” dez anos “atrás”. Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás. - “Entrar dentro”. O certo: entrar em. Veja outras redun- dâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação, monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido. - “Venda à prazo”. Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a palavra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter. - “Porque” você foi? Sempre que estiver clara ou implí- cita a palavra razão, use por que separado: Por que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por que razão você se atrasou. Porque é usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado. - Vai assistir “o” jogo hoje. Assistir como presenciar exi- ge a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou) à população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes. - Preferia ir “do que” ficar. Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória. - O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas de- núncias. Não existe o sinal entre o predicado e o comple- mento: O prefeito prometeu novas denúncias. - Não há regra sem “excessão”. O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: “paralizar” (paralisar), “beneficiente” (beneficente), “xuxu” (chuchu), “previlégio” (privilégio), “vultuoso” (vultoso), “cin- coenta” (cinquenta), “zuar” (zoar), “frustado” (frustrado), “calcáreo” (calcário), “advinhar” (adivinhar), “benvindo” (bem-vindo), “ascenção” (ascensão), “pixar” (pichar), “impe- cilho” (empecilho), “envólucro” (invólucro). - Quebrou “o” óculos. Concordância no plural: os ócu- los, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias. - Comprei “ele” para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para você. Tam- bém: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandou-me. - Nunca “lhe” vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a vo- cês e por isso não pode ser usado com objeto direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o ama. - “Aluga-se” casas. O verbo concorda com o sujeito: Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim que se evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / Procuram-se empregados. - “Tratam-se” de. O verbo seguido de preposição não varia nesses casos: Trata-se dos melhores profissionais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta- se com os amigos. - Chegou “em” São Paulo. Verbos de movimento exi- gem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo. - Atraso implicará “em” punição. Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará punição. / Promoção implica responsabilidade. - Vive “às custas” do pai. O certo: Vive à custa do pai. Use também em via de, e não “em vias de”: Espécie em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão. 5 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - Todos somos “cidadões”. O plural de cidadão é cida- dãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres. - O ingresso é “gratuíto”. A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo. - A última “seção” de cinema. Seção significa divisão, re- partição, e sessão equivale a tempo de uma reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de brinquedos; ses- são de cinema, sessão de pancadas, sessão do Congresso. - Vendeu “uma” grama de ouro. Grama, peso, é palavra mas- culina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, etc. - “Por isso”. Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de. - Não viu “qualquer” risco. É nenhum, e não “qualquer”, que se emprega depois de negativas: Não viu nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhumreparo. / Nunca promoveu nenhu- ma confusão. - A feira “inicia” amanhã. Alguma coisa se inicia, se inau- gura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã. - Soube que os homens “feriram-se”. O que atrai o pro- nome: Soube que os homens se feriram. / A festa que se rea- lizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções su- bordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. / Quando se falava no assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga. / Depois o procuro. - O peixe tem muito “espinho”. Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O “fuzil” (fusível) queimou. / Casa “germinada” (geminada), “ciclo” (círculo) vicioso, “cabe- çário” (cabeçalho). - Não sabiam “aonde” ele estava. O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos? - “Obrigado”, disse a moça. Obrigado concorda com a pessoa: “Obrigada”, disse a moça. / Obrigado pela atenção. / Muito obrigados por tudo. - O governo “interviu”. Intervir conjuga-se como vir. As- sim: O governo interveio. Da mesma forma: intervinha, inter- vim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entre- tinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc. - Ela era “meia” louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga. - “Fica” você comigo. Fica é imperativo do pronome tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você comigo. / Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui. - A questão não tem nada “haver” com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você. - A corrida custa 5 “real”. A moeda tem plural, e regular: A corrida custa 5 reais. - Vou “emprestar” dele. Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. Ou: Vou em- prestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordân- cia: Pediu emprestadas duas malas. - Foi “taxado” de ladrão. Tachar é que significa acusar de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano. - Ele foi um dos que “chegou” antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sem- pre vibravam com a vitória. - “Cerca de 18” pessoas o saudaram. Cerca de indica arre- dondamento e não pode aparecer com números exatos: Cer- ca de 20 pessoas o saudaram. - Ministro nega que “é” negligente. Negar que introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide para a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa. - Tinha “chego” atrasado. “Chego” não existe. O certo: Ti- nha chegado atrasado. - Tons “pastéis” predominam. Nome de cor, quando ex- presso por substantivo, não varia: Tons pastel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas. - Queria namorar “com” o colega. O com não existe: Que- ria namorar o colega. - O processo deu entrada “junto ao” STF. Processo dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do (e não “junto ao”) Guarani. / Cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não “junto aos”) leitores. / Era grande a sua dívida com o (e não “junto ao”) banco. / A reclamação foi apresenta- da ao (e não “junto ao”) Procon. - As pessoas “esperavam-o”. Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidam- na, põe-nos, impõem-nos. - Vocês “fariam-lhe” um favor? Não se usa pronome áto- no (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca “imporá-se”). / Os amigos nos darão (e não “darão-nos”) um presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo “formado-me”). - Chegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco minu- tos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias. - Blusa “em” seda. Usa-se de, e não em, para definir o material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira. - A artista “deu à luz a” gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado dizer: Deu “a luz a” gêmeos. - Estávamos “em” quatro à mesa. O em não existe: Está- vamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na sala. - Sentou “na” mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador. - Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu. Embo- ra popular, a locução não existe. Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu. - O time empatou “em” 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por. 6 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - À medida «em» que a epidemia se espalhava... O certo é: À medida que a epidemia se espalhava... Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na medida em que elas existem. - Não queria que “receiassem” a sua companhia. O i não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Da mes- ma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no e que precede a terminação ear: re- ceiem, passeias, enfeiam). - Eles “tem” razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem. - A moça estava ali “há” muito tempo. Haver concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia (fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia (fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do indicativo.) - Não “se o” diz. É errado juntar o se com os pronomes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz (não se diz isso), vê-se-a, etc. - Acordos “políticos-partidários”. Nos adjetivos compos- tos, só o último elemento varia: acordos político-partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econô- mico-financeiras, partidos social-democratas. - Andou por “todo” país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a tri- pulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos. - “Todos” amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas as contradições do texto. - Favoreceu “ao” time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejei- ta a: Favoreceu o time da casa. / A decisão favoreceu os jogadores. - Ela “mesmo” arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia. - Chamei-o e “o mesmo” não atendeu. Não se pode em- pregar o mesmo no lugar de pronome ou substantivo: Cha- mei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos reuniram- se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos servidores (e não “dos mesmos”). - Vou sair “essa” noite. É este que designa o tempo no qual se está ou objeto próximo: Esta noite, estasemana (a se- mana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que estou lendo), este século (o século 20). - A temperatura chegou a 0 “graus”. Zero indica singular sempre: Zero grau, zero-quilômetro, zero hora. - Comeu frango “ao invés de” peixe. Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés de sig- nifica apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu. - Se eu “ver” você por aí... O certo é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de dizer), predissermos. - Ele “intermedia” a negociação. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a ne- gociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio. - Ninguém se “adequa”. Não existem as formas “adequa”, “adeque”, etc., mas apenas aquelas em que o acento cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse, etc. - Evite que a bomba “expluda”. Explodir só tem as pes- soas em que depois do “d” vêm “e” e “i”: Explode, explodiram, etc. Portanto, não escreva nem fale “exploda” ou “expluda”, substituindo essas formas por rebente, por exemplo. Preca- ver-se também não se conjuga em todas as pessoas. Assim, não existem as formas “precavejo”, “precavês”, “precavém”, “precavenho”, “precavenha”, “precaveja”, etc. - Governo “reavê” confiança. Equivalente: Governo recu- pera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos casos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem “reavejo”, “reavê”, etc. - Disse o que “quiz”. Não existe z, mas apenas s, nas pes- soas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos. - O homem “possue” muitos bens. O certo: O homem possui muitos bens. Verbos em uir só têm a terminação ui: In- clui, atribui, polui. Verbos em uar é que admitem ue: Continue, recue, atue, atenue. - A tese “onde”... Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa ideia. / O livro em que... / A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que... - Já “foi comunicado” da decisão. Uma decisão é comuni- cada, mas ninguém “é comunicado” de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra for- ma errada: A diretoria “comunicou” os empregados da de- cisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados. - “Inflingiu” o regulamento. Infringir é que significa trans- gredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não “inflingir”) sig- nifica impor: Infligiu séria punição ao réu. - A modelo “pousou” o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda tam- bém iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito). - Espero que “viagem” hoje. Viagem, com g, é o substan- tivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Es- pero que viajem hoje. Evite também “comprimentar” alguém: de cumprimento (saudação), só pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado). - O pai “sequer” foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar. - Comprou uma TV “a cores”. Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV “a” preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores. - “Causou-me” estranheza as palavras. Use o certo: Cau- saram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as obras (e não “foi iniciado” esta noite as obras). - A realidade das pessoas “podem” mudar. Cuidado: pa- lavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. Por isso: A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agres- sões entre os funcionários foi punida (e não “foram punidas”). 7 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - O fato passou “desapercebido”. Na verdade, o fato pas- sou despercebido, não foi notado. Desapercebido significa desprevenido. - “Haja visto” seu empenho... A expressão é haja vista e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus esforços. / Haja vista suas críticas. - A moça “que ele gosta”. Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro de que dis- põe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de que participou, o amigo a que se referiu, etc. - É hora «dele» chegar. Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo convidado... / Depois de esses fatos terem ocorrido... - Vou “consigo”. Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode substituir com você, com o se- nhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor. Igualmente: Isto é para o senhor (e não “para si”). - Já “é” 8 horas. Horas e as demais palavras que definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não “são”) 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite. - A festa começa às 8 “hrs.”. As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural nem ponto. Assim: 8 h, 2 km (e não “kms.”), 5 m, 10 kg. - “Dado” os índices das pesquisas... A concordância é normal: Dados os índices das pesquisas... / Dado o resulta- do... / Dadas as suas ideias... - Ficou “sobre” a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para trás. - “Ao meu ver”. Não existe artigo nessas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver. Variação Línguistica “Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se um velho amadurecido ou um jovem impetuoso na flor da idade; se uma matrona autoritária ou uma dedicada; se um mercador errante ou um lavrador de pequeno campo fértil (...)” Todas as pessoas que falam uma determinada língua co- nhecem as estruturas gerais, básicas, de funcionamento po- dem sofrer variações devido à influência de inúmeros fatores. Tais variações, que às vezes são pouco perceptíveis e outras vezes bastantes evidentes, recebem o nome genérico de va- riedades ou variações linguísticas. Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mesmo significado dentro de um mesmo contexto. Suponham-se, por exemplo, os dois enunciados a seguir: Veio me visitar um amigo que eu morei na casa dele faz tempo. Veio visitar-me um amigo em cuja casa eu morei há anos. Qualquer falante do português reconhecerá que os dois enunciados pertencem ao seu idioma e têm o mesmo senti- do, mas também que há diferenças. Pode dizer, por exemplo, que o segundo é de gente mais “estudada”. Isso é prova de que, ainda que intuitivamente e sem sa- ber dar grandes explicações, as pessoas têm noção de que existem muitas maneiras de falar a mesma língua. É o que os teóricos chamam de variações linguísticas. As variações que distinguem uma variante de outra se manifestam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico, sintático e lexical. Variações Fônicas São as que ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da palavra. Os exemplos de variação fônica são abundantes e, ao ladodo vocabulário, constituem os domí- nios em que se percebe com mais nitidez a diferença entre uma variante e outra. Entre esses casos, podemos citar: - a queda do “r” final dos verbos, muito comum na lin- guagem oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô. - o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, hoje frequentes na fala caipira. - a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, marelo (amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem oral coloquial. - a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petrópolis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas for- mam típicas de pessoas de baixa extração social. - A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira): quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol. - deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar, estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa extração social. Variações Morfológicas São as que ocorrem nas formas constituintes da pala- vra. Nesse domínio, as diferenças entre as variantes não são tão numerosas quanto as de natureza fônica, mas não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar: - o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o superlativo de adjetivos, recurso muito característico da linguagem jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssimo), uma prova hiper difícil (em vez de dificí- lima), um carro hiper possante (em vez de possantíssimo). - a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regulares: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir) o recado, quando ele repor (repuser). - a conjugação de verbos regulares pelo modelo de ir- regulares: vareia (varia), negoceia (negocia). - uso de substantivos masculinos como femininos ou vice-versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal). 8 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - a omissão do “s” como marca de plural de substan- tivos e adjetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os livro indicado, as noite fria, os caso mais comum. - o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Es- pero que o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições; Se eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível que ele esforçou (tenha se esfor- çado) mais que eu. Variações Sintáticas Dizem respeito às correlações entre as palavras da fra- se. No domínio da sintaxe, como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma variante e outra. Como exemplo, podemos citar: - o uso de pronomes do caso reto com outra função que não a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de ti) e ele. - o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem. - a ausência da preposição adequada antes do prono- me relativo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de: de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que) eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio. - a substituição do pronome relativo “cujo” pelo prono- me “que” no início da frase mais a combinação da prepo- sição “de” com o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a família dele (em vez de ...cuja família eu já conhecia). - a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu que- ro falar com você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz me irrita. - ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles chegou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela semana muitos alunos; Comentou-se os episódios. Variações Léxicas É o conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracterizam com nitidez uma variante em confronto com outra. Eis alguns, entre múltiplos exem- plos possíveis de citar: - a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para formar o grau superlativo dos adjetivos, características da linguagem jovem de alguns centros urbanos: maior le- gal; maior difícil; Esse amigo é um carinha maior esforçado. - as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tan- tas e, às vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil, em Portugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno almoço; camiso- la em Portugal traduz o mesmo que chamamos de suéter, malha, camiseta. Designações das Variantes Lexicais: - Arcaísmo: diz-se de palavras que já caíram de uso e, por isso, denunciam uma linguagem já ultrapassada e enve- lhecida. É o caso de reclame, em vez de anúncio publicitário; na década de 60, o rapaz chamava a namorada de broto (hoje se diz gatinha ou forma semelhante), e um homem bonito era um pão; na linguagem antiga, médico era desig- nado pelo nome físico; um bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante usava-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era supimpa. - Neologismo: é o contrário do arcaísmo. Trata-se de palavras recém-criadas, muitas das quais mal ou nem estra- ram para os dicionários. A moderna linguagem da compu- tação tem vários exemplos, como escanear, deletar, printar; outros exemplos extraídos da tecnologia moderna são mi- xar (fazer a combinação de sons), robotizar, robotização. - Estrangeirismo: trata-se do emprego de palavras emprestadas de outra língua, que ainda não foram aportu- guesadas, preservando a forma de origem. Nesse caso, há muitas expressões latinas, sobretudo da linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto (“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo”), ipsis litteris (textual- mente, “com as mesmas letras”), grosso modo (“de modo grosseiro”, “impreciso”), sic (“assim, como está escrito”), data venia (“com sua permissão”). As palavras de origem inglesas são inúmeras: insight (compreensão repentina de algo, uma percepção súbita), feeling (“sensibilidade”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informações básicas), jingle (mensagem publi- citária em forma de música). Do francês, hoje são poucos os estrangeirismos que ainda não se aportuguesaram, mas há ocorrências: hor- s-concours (“fora de concurso”, sem concorrer a prêmios), tête-à-tête (palestra particular entre duas pessoas), esprit de corps (“espírito de corpo”, corporativismo), menu (cardápio), à la carte (cardápio “à escolha do freguês”), physique du rôle (aparência adequada à caracterização de um personagem). - Jargão: é o lexo típico de um campo profissional como a medicina, a engenharia, a publicidade, o jorna- lismo. No jargão médico temos uso tópico (para remédios que não devem ser ingeridos), apneia (interrupção da res- piração), AVC ou acidente vascular cerebral (derrame cere- bral). No jargão jornalístico chama-se de gralha, pastel ou caco o erro tipográfico como a troca ou inversão de uma letra. A palavra lide é o nome que se dá à abertura de uma notícia ou reportagem, onde se apresenta sucintamente o assunto ou se destaca o fato essencial. Quando o lide é muito prolixo, é chamado de nariz-de-cera. Furo é notícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi uma barriga. Entre os jornalistas é comum o uso do verbo repercutir comotransitivo direto: __ Vá lá repercutir a notícia de renúncia! (esse uso é considerado errado pela gramática normativa). 9 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - Gíria: é o lexo especial de um grupo (originariamente de marginais) que não deseja ser entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua identidade por meio da linguagem. Existe a gíria de grupos marginalizados, de grupos jovens e de segmentos sociais de contestação, sobretudo quando falam de atividades proibidas. A lista de gírias é numerosíssima em qualquer língua: ralado (no sentido de afetado por algum pre- juízo ou má sorte), ir pro brejo (ser malsucedido, fracassar, pre- judicar-se irremediavelmente), cara ou cabra (indivíduo, pes- soa), bicha (homossexual masculino), levar um lero (conversar). - Preciosismo: diz-se que é preciosista um léxico exces- sivamente erudito, muito raro, afetado: Escoimar (em vez de corrigir); procrastinar (em vez de adiar); discrepar (em vez de discordar); cinesíforo (em vez de motorista); obnubilar (em vez de obscurecer ou embaçar); conúbio (em vez de casamento); chufa (em vez de caçoada, troça). - Vulgarismo: é o contrário do preciosismo, ou seja, o uso de um léxico vulgar, rasteiro, obsceno, grosseiro. É o caso de quem diz, por exemplo, de saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu mal, arruinou-se), feder (em vez de cheirar mal), ranho (em vez de muco, secreção do nariz). Tipos de Variação Não tem sido fácil para os estudiosos encontrar para as variantes linguísticas um sistema de classificação que seja sim- ples e, ao mesmo tempo, capaz de dar conta de todas as di- ferenças que caracterizam os múltiplos modos de falar dentro de uma comunidade linguística. O principal problema é que os critérios adotados, muitas vezes, se superpõem, em vez de atuarem isoladamente. As variações mais importantes, para o interesse do con- curso público, são os seguintes: - Sócio-Cultural: Esse tipo de variação pode ser percebido com certa facilidade. Por exemplo, alguém diz a seguinte frase: “Tá na cara que eles não teve peito de encará os ladrão.” (frase 1) Que tipo de pessoa comumente fala dessa maneira? Va- mos caracterizá-la, por exemplo, pela sua profissão: um advo- gado? Um trabalhador braçal de construção civil? Um médico? Um garimpeiro? Um repórter de televisão? E quem usaria a frase abaixo? “Obviamente faltou-lhe coragem para enfrentar os ladrões.” (frase 2) Sem dúvida, associamos à frase 1 os falantes pertencentes a grupos sociais economicamente mais pobres. Pessoas que, muitas vezes, não frequentaram nem a escola primária, ou, quando muito, fizeram-no em condições não adequadas. Por outro lado, a frase 2 é mais comum aos falantes que tiveram possibilidades socioeconômicas melhores e puderam, por isso, ter um contato mais duradouro com a escola, com a leitura, com pessoas de um nível cultural mais elevado e, dessa forma, “aperfeiçoaram” o seu modo de utilização da língua. Convém ficar claro, no entanto, que a diferenciação feita aci- ma está bastante simplificada, uma vez que há diversos outros fa- tores que interferem na maneira como o falante escolhe as pala- vras e constrói as frases. Por exemplo, a situação de uso da língua: um advogado, num tribunal de júri, jamais usaria a expressão “tá na cara”, mas isso não significa que ele não possa usá-la numa si- tuação informal (conversando com alguns amigos, por exemplo). Da comparação entre as frases 1 e 2, podemos concluir que as condições sociais influem no modo de falar dos indivíduos, gerando, assim, certas variações na maneira de usar uma mes- ma língua. A elas damos o nome de variações socioculturais. - Geográfica: é, no Brasil, bastante grande e pode ser fa- cilmente notada. Ela se caracteriza pelo acento linguístico, que é o conjunto das qualidades fisiológicas do som (altura, timbre, intensidade), por isso é uma variante cujas marcas se notam principalmente na pronúncia. Ao conjunto das características da pronúncia de uma determinada região dá-se o nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque gaú- cho etc. A variação geográfica, além de ocorrer na pronúncia, pode também ser percebida no vocabulário, em certas estru- turas de frases e nos sentidos diferentes que algumas palavras podem assumir em diferentes regiões do país. Leia, como exemplo de variação geográfica, o trecho abai- xo, em que Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, recria a fala de um típico sertanejo do centro-norte de Minas: “__ Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado Mangolô!]. __ Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não faço, porque não paga a pena... De primeiro, quando eu era moço, isso sim!... Já fui gente. Para ganhar aposta, já fui, de noite, foras d’hora, em cemitério... (...). Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito, gosta de se comparecer. Hoje, não, estou percurando é sossego...” - Histórica: as línguas não são estáticas, fixas, imutáveis. Elas se alteram com o passar do tempo e com o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o sentido delas. Essas alterações recebem o nome de variações históricas. Os dois textos a seguir são de Carlos Drummond de Andra- de. Neles, o escritor, meio em tom de brincadeira, mostra como a língua vai mudando com o tempo. No texto I, ele fala das pa- lavras de antigamente e, no texto II, fala das palavras de hoje. Texto I Antigamente Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e prendadas. Não fazia anos; comple- tavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levantam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomava cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao anima- tógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisas de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’agua. 10 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA (...) Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas teteias. (...) Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos, lombrigas; asthma os gatos, os homens portavam ce- roulas, bortinas a capa de goma (...). Não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam. Mas tudo isso era antigamente, isto é, doutora. Texto II Entre Palavras Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras – cir- culamos. A maioria delas não figura nos dicionários de há trinta anos, ou figura com outras acepções. A todo momento impõe-se tornar conhecimento de novas palavras e combinações de. Você que me lê, preste atenção. Não deixe passar nenhu- ma palavra ou locução atual, pelo seu ouvido, sem registrá-la. Amanhã, pode precisar dela. E cuidado ao conversar com seu avô; talvez ele não entenda o que você diz. O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vema- guet, a chacrete, o linóleo, o nylon, o nycron, o ditafone, a in- formática, a dublagem, o sinteco, o telex... Existiam em 1940? Ponha aí o computador, os anticoncepcionais, os mísseis, a motoneta, a Velo-Solex, o biquíni, o módulo lunar, o antibiótico, o enfarte,a acumputura, a biônica, o acrílico, o ta legal, a apar- theid, o som pop, as estruturas e a infraestrutura. Não esqueça também (seria imperdoável) o Terceiro Mun- do, a descapitalização, o desenvolvimento, o unissex, o bandei- rinha, o mass media, o Ibope, a renda per capita, a mixagem. Só? Não. Tem seu lugar ao sol a metalinguagem, o servo- mecanismo, as algias, a coca-cola, o superego, a Futurologia, a homeostasia, a Adecif, a Transamazônica, a Sudene, o Incra, a Unesco, o Isop, a Oea, e a ONU. Estão reclamando, porque não citei a conotação, o conglo- merado, a diagramação, o ideologema, o idioleto, o ICM, a IBM, o falou, as operações triangulares, o zoom, e a guitarra elétrica. Olhe aí na fila – quem? Embreagem, defasagem, barra tensora, vela de ignição, engarrafamento, Detran, poliéster, filhotes de bonificação, letra imobiliária, conservacionismo, carnet da girafa, poluição. Fundos de investimento, e daí? Também os de incentivos fiscais. Knon-how. Barbeador elétrico de noventa microrranhuras. Fenolite, Baquelite, LP e compacto. Alimentos super congelados. Viagens pelo crediário, Circuito fechado de TV Rodoviária. Argh! Pow! Click! Não havia nada disso no Jornal do tempo de Venceslau Brás, ou mesmo, de Washington Luís. Algumas coisas começam a aparecer sob Getúlio Vargas. Hoje estão ali na esquina, para consumo geral. A enumeração caótica não é uma invenção crítica de Leo Spitzer. Está aí, na vida de todos os dias. Entre palavras circulamos, vivemos, morremos, e palavras somos, fi- nalmente, mas com que significado? (Carlos Drummond de Andrade, Poesia e prosa, Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988) - De Situação: aquelas que são provocadas pelas alte- rações das circunstâncias em que se desenrola o ato de co- municação. Um modo de falar compatível com determinada situação é incompatível com outra: Ô mano, ta difícil de te entendê. Esse modo de dizer, que é adequado a um diálogo em situação informal, não tem cabimento se o interlocutor é o professor em situação de aula. Assim, um único indivíduo não fala de maneira unifor- me em todas as circunstâncias, excetuados alguns falantes da linguagem culta, que servem invariavelmente de uma linguagem formal, sendo, por isso mesmo, considerados excessivamente formais ou afetados. São muitos os fatores de situação que interferem na fala de um indivíduo, tais como o tema sobre o qual ele discorre (em princípio ninguém fala da morte ou de suas crenças religiosas como falaria de um jogo de futebol ou de uma briga que tenha presenciado), o ambiente físico em que se dá um diálogo (num templo não se usa a mesma linguagem que numa sauna), o grau de intimidade entre os falantes (com um superior, a linguagem é uma, com um co- lega de mesmo nível, é outra), o grau de comprometimen- to que a fala implica para o falante (num depoimento para um juiz no fórum escolhem-se as palavras, num relato de uma conquista amorosa para um colega fala-se com menos preocupação). As variações de acordo com a situação costumam ser chamadas de níveis de fala ou, simplesmente, variações de estilo e são classificadas em duas grandes divisões: - Estilo Formal: aquele em que é alto o grau de refle- xão sobre o que se diz, bem como o estado de atenção e vigilância. É na linguagem escrita, em geral, que o grau de formalidade é mais tenso. - Estilo Informal (ou coloquial): aquele em que se fala com despreocupação e espontaneidade, em que o grau de reflexão sobre o que se diz é mínimo. É na linguagem oral íntima e familiar que esse estilo melhor se manifesta. Como exemplo de estilo coloquial vem a seguir um pe- queno trecho da gravação de uma conversa telefônica entre duas universitárias paulistanas de classe média, transcrito do livro Tempos Linguísticos, de Fernando Tarallo. AS reti- cências indicam as pausas. Eu não sei tem dia... depende do meu estado de espírito, tem dia que minha voz... mais ta assim, sabe? taquara racha- da? Fica assim aquela voz baixa. Outro dia eu fui lê um arti- go, lê?! Um menino lá que faiz pós-graduação na, na GV, ele me, nóis ficamo até duas hora da manhã ele me explicando toda a matéria de economia, das nove da noite. Como se pode notar, não há preocupação com a pro- núncia nem com a continuidade das ideias, nem com a es- colha das palavras. Para exemplificar o estilo formal, eis um trecho da gravação de uma aula de português de uma pro- fessora universitária do Rio de Janeiro, transcrito do livro de Dinah Callou. A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro. As pausas são marcadas com reticências. 11 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA ...o que está ocorrendo com nossos alunos é uma frag- mentação do ensino... ou seja... ele perde a noção do todo... e fica com uma série... de aspectos teóricos... isolados... que ele não sabe vincular a realidade nenhuma de seu idioma... isto é válido também para a faculdade de letras... ou seja... né? há uma série... de conceitos teóricos... que têm nomes bonitos e sofisticados... mas que... na hora de serem empregados... deixam muito a desejar... Nota-se que, por tratar-se de exposição oral, não há o grau de formalidade e planejamento típico do texto escrito, mas trata-se de um estilo bem mais formal e vigiado que o da menina ao telefone. FUNÇÕES DA LINGUAGEM. Funções de Linguagem Quando se pergunta a alguém para que serve a lingua- gem, a resposta mais comum é que ela serve para comuni- car. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas transmitir informações. É também exprimir emoções, dar ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve a linguagem? - A linguagem serve para informar: Função Referencial. “Estados Unidos invadem o Iraque” Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos sobre um acontecimento do mundo. Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na memória, transmitimos esses conhecimentos a outras pes- soas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, so- mos prevenidos contra as tentativas mal sucedidas de fazer alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os. Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como apren- demos desde as mais banais informações do dia a dia até as teorias científicas, as expressões artísticas e os sistemas filosóficos mais avançados. A função informativa da linguagem tem importância central na vida das pessoas, consideradas individualmente ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite co- nhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmu- lo de conhecimentos e a transferência de experiências. Por meio dessa função, a linguagem modela o intelecto. É a função informativa que permite a realização do tra- balho coletivo. Operar bem essa função da linguagem pos- sibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender. A função informativa costuma ser chamada também de função referencial, pois seu principal propósito é fazer com que as palavras revelem da maneira mais clara possível as coisas ou os eventos a que fazem referência. - A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: Função Conativa. “Vem pra Caixa você também.” Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a au- mentar o número de correntistas da Caixa Econômica Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a adotar esse comportamento, formulou-se um convite com uma lingua- gem bastante coloquial, usando, por exemplo, a forma vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de venha, forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta quando se usa você. Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer deter- minadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sentir deter- minadas emoções,a ter determinados estados de alma (amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode-se dizer que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, emoções, paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente a palavra negro pro- nunciada em tom desdenhoso aprende a ter sentimentos racis- tas; se a todo momento nos dizem, num tom pejorativo, “Isso é coisa de mulher”, aprendemos os preconceitos contra a mulher. Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influen- ciam de maneira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anúncios publicitários que nos dizem como seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se usarmos determi- nadas marcas, se consumirmos certos produtos. Por outro lado, a provocação e a ameaça expressas pela linguagem também servem para fazer fazer. Com essa função, a linguagem modela tanto bons cida- dãos, que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemorizados, que se deixam conduzir sem questionar. Emprega-se a expressão função conativa da linguagem quando esta é usada para interferir no comportamento das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma suges- tão. A palavra conativo é proveniente de um verbo latino (co- nari) que significa “esforçar-se” (para obter algo). - A linguagem serve para expressar a subjetividade: Fun- ção Emotiva. “Eu fico possesso com isso!” Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetivamos e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções. Expri- mimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, desdém, des- prezo, admiração, dor, tristeza. Muitas vezes, falamos para ex- primir poder ou para afirmarmo-nos socialmente. Durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem “A intenção do Fernando é levar o país à prosperidade” ou “O Fernando tem mudado o país”. Essa ma- neira informal de se referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de insinuarem intimidade com ele e, portanto, de exprimirem a importância que lhes seria atribuída pela pro- ximidade com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar nossa valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual ou nossa competência na conquista amorosa. 12 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não raro inconscientemente. Emprega-se a expressão função emotiva para designar a utilização da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é, daquele que fala. - A linguagem serve para criar e manter laços sociais: Fun- ção Fática. __Que calorão, hein? __Também, tem chovido tão pouco. __Acho que este ano tem feito mais calor do que nos outros. __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor. Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram num elevador e devem manter uma conversa nos poucos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, apenas porque o silêncio poderia ser constrangedor ou parecer hostil. Quando estamos num grupo, numa festa, não podemos manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros. Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso, quando não se tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se histórias que todos conhecem, contam-se anedotas velhas. A linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função que não seja manter os la- ços sociais. Quando encontramos alguém e lhe perguntamos “Tudo bem?”, em geral não queremos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se está doente, se está com problemas. A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo social. Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja entre alunos de uma escola, entre torcedores de um time de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa que as pessoas não entendam bem o significado da letra do Hino Nacional, pois ele não tem função informativa: o importante é que, ao cantá-lo, sentimo-nos participantes da comunidade de brasileiros. Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão função fática para indicar a utilização da linguagem para estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um falante e seu interlocutor. - A linguagem serve para falar sobre a própria linguagem: Função Metalinguística. Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um subs- tantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usando o ter- mo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegante usar pa- lavrões”, não estamos falando de acontecimentos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a própria linguagem. É o que chama função metalinguística. A atividade metalin- guística é inseparável da fala. Falamos sobre o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos outros. Quando afirmamos como diz o outro, estamos comentando o que declaramos: é um modo de esclarecer que não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a que estamos enunciando; inversamente, pode- mos usar a metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Parodiando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clás- sica, vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não podem pescar”. - A linguagem serve para criar outros universos. A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala tam- bém do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos mun- dos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros universos podem existir. O filme de Woody Allen “A rosa púrpura do Cai- ro” (1985) mostra isso de maneira bem expressiva. Nele, conta- se a história de uma mulher que, para consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligidos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai da tela e ambos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra realidade, os homens são gentis, a vida não é mo- nótona, o amor nunca diminui e assim por diante. - A linguagem serve como fonte de prazer: Função Poética. Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido e os sons são formas de tornar a linguagem um lugar de prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras para delas extrairmos satisfação. Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”, diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase shakes- peariana “To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emílio de Menezes, quando soube que uma mulher muito gorda se sen- tara no banco de um ônibus e este quebrara, fez o seguinte trocadilho: “É a primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso de fundos”. A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel com- prido para sentar-se” e “casa bancária”. Também está empregado em dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e “capital”, “dinheiro”. Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diversas, com significados diferentes, nesta frase do deputado Virgílio Guimarães: “ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu continência para os militares, bateu palmas para o Collor e quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata uma dor de consciência e bata em retirada.” (Folha de S. Paulo) Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitariamen- te ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada para in- formar, para influenciar, para manter os laços sociais, etc. No segundo, para produzir um efeito prazeroso de descoberta de sentidos. Em função estética, o mais importante é como se diz, pois o sentido também écriado pelo ritmo, pelo arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc. Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos: E o bosque estala, move-se, estremece... Da cavalgada o estrépito que aumenta Perde-se após no centro da montanha... Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed. Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássicos. 13 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Observe-se que a maior concentração de sons oclusi- vos ocorre no segundo verso, quando se afirma que o baru- lho dos cavalos aumenta. Quando se usam recursos da própria língua para acres- centar sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se que estamos usando a linguagem em sua função poética. Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-se necessário o estudo dos elementos da comunicação. Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era de- senvolvido de maneira “sistematizada” (alguém pergunta - alguém espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto outro escuta em silêncio, etc). Exemplo: Elementos da comunicação - Emissor - emite, codifica a mensagem; - Receptor - recebe, decodifica a mensagem; - Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor; - Código - conjunto de signos usado na transmissão e recepção da mensagem; - Referente - contexto relacionado a emissor e receptor; - Canal - meio pelo qual circula a mensagem. Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa teo- ria sofreu uma modificação, pois, chegou-se a conclusão que quando se trata da parole, entende-se que é um veículo de- mocrático (observe a função fática), assim, admite-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diálogo interativo): - locutor - quem fala (e responde); - locutário - quem ouve e responde; - interlocução - diálogo As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais, faciais etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria. As atitudes e reações dos comunicantes são também referentes e exercem influência sobre a comunicação Lembramo-nos: - Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no “eu” do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta função está, por norma, a poesia lírica. - Função apelativa (imperativa): com este tipo de men- sagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que este assuma determinado comportamento; há frequente uso do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é fre- quentemente usada por oradores e agentes de publicidade. - Função metalinguística: função usada quando a língua explica a própria linguagem (exemplo: quando, na análise de um texto, investigamos os seus aspectos morfossintáti- cos e/ou semânticos). - Função informativa (ou referencial): função usada quando o emissor informa objetivamente o receptor de uma realidade, ou acontecimento. - Função fática: pretende conseguir e manter a aten- ção dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e textos publicitários (centra-se no canal de comunicação). - Função poética: embeleza, enriquecendo a mensagem com figuras de estilo, palavras belas, expressivas, ritmos agradáveis, etc. Também podemos pensar que as primeiras falas cons- cientes da raça humana ocorreu quando os sons emitidos evoluíram para o que podemos reconhecer como “interjei- ções”. As primeiras ferramentas da fala humana. A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo que mais profundamente distingue o homem dos outros animais. Podemos considerar que o desenvolvimento desta fun- ção cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a libertação da mão, que permitiram o aumento do volume do cérebro, a par do desenvolvimento de órgãos fonadores e da mímica facial Devido a estas capacidades, para além da linguagem falada e escrita, o homem, aprendendo pela observação de animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos sur- dos em diferentes países, não só para melhorar a comuni- cação entre surdos, mas também para utilizar em situações especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas e não animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas que se podem observar entre si. SENTIDO DAS PALAVRAS. SINONÍMIA E ANTONÍMIA; POLISSEMIA E AMBIGUIDADE. Significação das Palavras Quanto à significação, as palavras são divididas nas se- guintes categorias: Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproxima- do. Exemplo: - Alfabeto, abecedário. - Brado, grito, clamor. - Extinguir, apagar, abolir, suprimir. - Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinôni- mo pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por matizes de significação e certas propriedades que o escritor não pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao in- vés, pertencem à esfera da linguagem culta, literária, cientí- fica ou poética (orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo). A contribuição Greco-latina é responsável pela existên- cia, em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: - Adversário e antagonista. - Translúcido e diáfano. - Semicírculo e hemiciclo. - Contraveneno e antídoto. - Moral e ética. - Colóquio e diálogo. - Transformação e metamorfose. - Oposição e antítese. 14 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se si- nonímia, palavra que também designa o emprego de sinô- nimos. Antônimos: são palavras de significação oposta. Exem- plos: - Ordem e anarquia. - Soberba e humildade. - Louvar e censurar. - Mal e bem. A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/ antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/ implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/anti- comunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial. Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exem- plos: - São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). - Aço (substantivo) e asso (verbo). Só o contexto é que determina a significação dos homô- nimos. A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é considerada uma deficiência dos idiomas. O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferen- tes no timbre ou na intensidade das vogais. - Rego (substantivo) e rego (verbo). - Colher (verbo) e colher (substantivo). - Jogo (substantivo) e jogo (verbo). - Apoio (verbo) e apoio (substantivo). - Para (verbo parar) e para (preposição). - Providência (substantivo) e providencia (verbo). - Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). - Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de per+o). Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e dife- rentes na escrita. - Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir). - Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar). - Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de consertar). - Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar). - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (ace- lerar). - Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar). - Censo (recenseamento) e senso ( juízo). - Cerrar (fechar) e serrar (cortar). - Paço (palácio) e passo (andar). - Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo). - Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar = anular). - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e ses- são (tempo de uma reunião ou espetáculo). Homófonos Homográficos: iguaisna escrita e na pro- núncia. - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo). - Cedo (verbo), cedo (advérbio). - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir). - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar). - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr). - Alude (avalancha), alude (verbo aludir). Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na pro- núncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente, te- tânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede (vontade de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimen- to, deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente, divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto, cor- rigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e vul- tuoso (congestionado: rosto vultuoso). Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma signi- ficação. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos: - Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as plan- tas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de gado. - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó. - Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu do palato. Podemos citar ainda, como exemplos de palavras polis- sêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que têm dezenas de acepções. Sentido Próprio e Sentido Figurado: as palavras podem ser empregadas no sentido próprio ou no sentido figurado. Exemplos: - Construí um muro de pedra. (sentido próprio). - Ênio tem um coração de pedra. (sentido figurado). - As águas pingavam da torneira, (sentido próprio). - As horas iam pingando lentamente, (sentido figurado). Denotação e Conotação: Observe as palavras em desta- que nos seguintes exemplos: - Comprei uma correntinha de ouro. - Fulano nadava em ouro. No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou designa simplesmente o conhecido metal precioso, tem sentido pró- prio, real, denotativo. No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas, poder, glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo, possui várias conotações (ideias associadas, sentimentos, evocações que irradiam da palavra). Exercícios 01. Estava ....... a ....... da guerra, pois os homens ....... nos erros do passado. a) eminente, deflagração, incidiram b) iminente, deflagração, reincidiram c) eminente, conflagração, reincidiram d) preste, conflaglação, incidiram e) prestes, flagração, recindiram 15 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA 02. “Durante a ........ solene era ........ o desinteresse do mestre diante da ....... demonstrada pelo político”. a) seção - fragrante - incipiência b) sessão - flagrante - insipiência c) sessão - fragrante - incipiência d) cessão - flagrante - incipiência e) seção - flagrante - insipiência 03. Na ..... plenária estudou-se a ..... de direitos territoriais a ..... . a) sessão - cessão - estrangeiros b) seção - cessão - estrangeiros c) secção - sessão - extrangeiros d) sessão - seção - estrangeiros e) seção - sessão - estrangeiros 04. Há uma alternativa errada. Assinale-a: a) A eminente autoridade acaba de concluir uma via- gem política. b) A catástrofe torna-se iminente. c) Sua ascensão foi rápida. d) Ascenderam o fogo rapidamente. e) Reacendeu o fogo do entusiasmo. 05. Há uma alternativa errada. Assinale-a: a) cozer = cozinhar; coser = costurar b) imigrar = sair do país; emigrar = entrar no país c) comprimento = medida; cumprimento = saudação d) consertar = arrumar; concertar = harmonizar e) chácara = sítio; xácara = verso 06. Assinale o item em que a palavra destacada está in- corretamente aplicada: a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes. b) A justiça infligiu a pena merecida aos desordeiros. c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche. d) Devemos ser fiéis ao cumprimento do dever. e) A cessão de terras compete ao Estado. 07. O ...... do prefeito foi ..... ontem. a) mandado - caçado b) mandato - cassado c) mandato - caçado d) mandado - casçado e) mandado - cassado 08. Marque a alternativa cujas palavras preenchem correta- mente as respectivas lacunas, na frase seguinte: “Necessitando ...... o número do cartão do PIS, ...... a data de meu nascimento.” a) ratificar, proscrevi b) prescrever, discriminei c) descriminar, retifiquei d) proscrever, prescrevi e) retificar, ratifiquei 09. “A ......... científica do povo levou-o a .... de feiticeiros os ..... em astronomia.” a) insipiência tachar expertos b) insipiência taxar expertos c) incipiência taxar espertos d) incipiência tachar espertos e) insipiência taxar espertos 10. Na oração: Em sua vida, nunca teve muito ......, apre- sentava-se sempre ...... no ..... de tarefas ...... . As palavras ade- quadas para preenchimento das lacunas são: a) censo - lasso - cumprimento - eminentes b) senso - lasso - cumprimento - iminentes c) senso - laço - comprimento - iminentes d) senso - laço - cumprimento - eminentes e) censo - lasso - comprimento - iminentes Respostas: (01.B)(02.B)(03.A)(04.D)(05.B)(06.C)(07.B) (08.E)(09.A)(10.B) ORTOGRAFIA: SISTEMA ORTOGRÁFICO VIGENTE. Ortografia A palavra ortografia é formada pelos elementos gregos orto “correto” e grafia “escrita” sendo a escrita correta das palavras da língua portuguesa, obedecendo a uma combi- nação de critérios etimológicos (ligados à origem das pa- lavras) e fonológicos (ligados aos fonemas representados). Somente a intimidade com a palavra escrita, é que acaba trazendo a memorização da grafia correta. Deve-se também criar o hábito de consultar constantemente um di- cionário. Desde o dia primeiro de Janeiro de 2009 está em vigor o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, por isso temos até 2012 para nos “habituarmos” com as novas re- gras, pois somente em 2013 que a antiga será abolida. Esse material já se encontra segundo o Novo Acordo Ortográfico. Alfabeto O alfabeto passou a ser formado por 26 letras. As letras “k”, “w” e “y” não eram consideradas integrantes do alfabeto (ago- ra são). Essas letras são usadas em unidades de medida, no- mes próprios, palavras estrangeiras e outras palavras em geral. Exemplos: km, kg, watt, playground, William, Kafka, kafkiano. Vogais: a, e, i, o, u. Consoantes: b,c,d,f,g,h,j,k,l,m,n,p,q,r,s,t,v,w,x,y,z. Alfabeto: a,b,c,d,e,f,g,h,i,j,k,l,m,n,o,p,q,r,s,t,u,v,w,x,y,z. Emprego da letra H Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor fonético; conservou-se apenas como símbolo, por força da etimologia e da tradição escrita. Grafa-se, por exemplo, hoje, porque esta palavra vem do latim hodie. Emprega-se o H: - Inicial, quando etimológico: hábito, hélice, herói, hér- nia, hesitar, haurir, etc. - Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh e nh: cha- ve, boliche, telha, flecha companhia, etc. - Final e inicial, em certas interjeições: ah!, ih!, hem?, hum!, etc. 16 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - Algumas palavras iniciadas com a letra H: hálito, har- monia, hangar, hábil, hemorragia, hemisfério, heliporto, he- matoma, hífen, hilaridade, hipocondria, hipótese, hipocrisia, homenagear, hera, húmus; - Sem h, porém, os derivados baianos, baianinha, baião, baianada, etc. Não se usa H: - No início de alguns vocábulos em que o h, embora eti- mológico, foi eliminado por se tratar de palavras que entra- ram na língua por via popular, como é o caso de erva, inver- no, e Espanha, respectivamente do latim, herba, hibernus e Hispania. Os derivados eruditos, entretanto, grafam-se com h: herbívoro, herbicida, hispânico, hibernal, hibernar, etc. Emprego das letras E, I, O e U Na língua falada, a distinção entre as vogais átonas /e/ e /i/, /o/ e /u/ nem sempre é nítida. É principalmente desse fato que nascem as dúvidas quandose escrevem palavras como quase, intitular, mágoa, bulir, etc., em que ocorrem aquelas vogais. Escrevem-se com a letra E: - A sílaba final de formas dos verbos terminados em –uar: continue, habitue, pontue, etc. - A sílaba final de formas dos verbos terminados em –oar: abençoe, magoe, perdoe, etc. - As palavras formadas com o prefixo ante– (antes, ante- rior): antebraço, antecipar, antedatar, antediluviano, antevés- pera, etc. - Os seguintes vocábulos: Arrepiar, Cadeado, Candeeiro, Cemitério, Confete, Creolina, Cumeeira, Desperdício, Destilar, Disenteria, Empecilho, Encarnar, Indígena, Irrequieto, Lacrimo- gêneo, Mexerico, Mimeógrafo, Orquídea, Peru, Quase, Quepe, Senão, Sequer, Seriema, Seringa, Umedecer. Emprega-se a letra I: - Na sílaba final de formas dos verbos terminados em – air/–oer /–uir: cai, corrói, diminuir, influi, possui, retribui, sai, etc. - Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra): an- tiaéreo, Anticristo, antitetânico, antiestético, etc. - Nos seguintes vocábulos: aborígine, açoriano, artifício, artimanha, camoniano, Casimiro, chefiar, cimento, crânio, criar, criador, criação, crioulo, digladiar, displicente, erisipela, escár- nio, feminino, Filipe, frontispício, Ifigênia, inclinar, incinerar, inigualável, invólucro, lajiano, lampião, pátio, penicilina, pon- tiagudo, privilégio, requisito, Sicília (ilha), silvícola, siri, terebin- tina, Tibiriçá, Virgílio. Grafam-se com a letra O: abolir, banto, boate, bolacha, boletim, botequim, bússola, chover, cobiça, concorrência, costume, engolir, goela, mágoa, mocambo, moela, moleque, mosquito, névoa, nódoa, óbolo, ocorrência, rebotalho, Romê- nia, tribo. Grafam-se com a letra U: bulir, burburinho, camundon- go, chuviscar, cumbuca, cúpula, curtume, cutucar, entupir, ín- gua, jabuti, jabuticaba, lóbulo, Manuel, mutuca, rebuliço, tá- bua, tabuada, tonitruante, trégua, urtiga. Parônimos: Registramos alguns parônimos que se dife- renciam pela oposição das vogais /e/ e /i/, /o/ e /u/. Fixemos a grafia e o significado dos seguintes: área = superfície ária = melodia, cantiga arrear = pôr arreios, enfeitar arriar = abaixar, pôr no chão, cair comprido = longo cumprido = particípio de cumprir comprimento = extensão cumprimento = saudação, ato de cumprir costear = navegar ou passar junto à costa custear = pagar as custas, financiar deferir = conceder, atender diferir = ser diferente, divergir delatar = denunciar dilatar = distender, aumentar descrição = ato de descrever discrição = qualidade de quem é discreto emergir = vir à tona imergir = mergulhar emigrar = sair do país imigrar = entrar num país estranho emigrante = que ou quem emigra imigrante = que ou quem imigra eminente = elevado, ilustre iminente = que ameaça acontecer recrear = divertir recriar = criar novamente soar = emitir som, ecoar, repercutir suar = expelir suor pelos poros, transpirar sortir = abastecer surtir = produzir (efeito ou resultado) sortido = abastecido, bem provido, variado surtido = produzido, causado vadear = atravessar (rio) por onde dá pé, passar a vau vadiar = viver na vadiagem, vagabundear, levar vida de vadio Emprego das letras G e J Para representar o fonema /j/ existem duas letras; g e j. Grafa-se este ou aquele signo não de modo arbitrário, mas de acordo com a origem da palavra. Exemplos: gesso (do grego gypsos), jeito (do latim jactu) e jipe (do inglês jeep). Escrevem-se com G: - Os substantivos terminados em –agem, -igem, -ugem: garagem, massagem, viagem, origem, vertigem, ferrugem, la- nugem. Exceção: pajem - As palavras terminadas em –ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio: contágio, estágio, egrégio, prodígio, relógio, refúgio. - Palavras derivadas de outras que se grafam com g: mas- sagista (de massagem), vertiginoso (de vertigem), ferruginoso (de ferrugem), engessar (de gesso), faringite (de faringe), sel- vageria (de selvagem), etc. - Os seguintes vocábulos: algema, angico, apogeu, auge, estrangeiro, gengiva, gesto, gibi, gilete, ginete, gíria, giz, he- gemonia, herege, megera, monge, rabugento, sugestão, tan- gerina, tigela. 17 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Escrevem-se com J: - Palavras derivadas de outras terminadas em –já: laran- ja (laranjeira), loja (lojista, lojeca), granja (granjeiro, granjense), gorja (gorjeta, gorjeio), lisonja (lisonjear, lisonjeiro), sarja (sarje- ta), cereja (cerejeira). - Todas as formas da conjugação dos verbos terminados em –jar ou –jear: arranjar (arranje), despejar (despejei), gorjear (gorjeia), viajar (viajei, viajem) – (viagem é substantivo). - Vocábulos cognatos ou derivados de outros que têm j: laje (lajedo), nojo (nojento), jeito ( jeitoso, enjeitar, projeção, re- jeitar, sujeito, trajeto, trejeito). - Palavras de origem ameríndia (principalmente tupi-gua- rani) ou africana: canjerê, canjica, jenipapo, jequitibá, jerimum, jiboia, jiló, jirau, pajé, etc. - As seguintes palavras: alfanje, alforje, berinjela, cafajeste, cerejeira, intrujice, jeca, jegue, Jeremias, Jericó, Jerônimo, jérsei, jiu-jitsu, majestade, majestoso, manjedoura, manjericão, oje- riza, pegajento, rijeza, sabujice, sujeira, traje, ultraje, varejista. - Atenção: Moji palavra de origem indígena, deve ser escrita com J. Por tradição algumas cidades de São Paulo adotam a gra- fia com G, como as cidades de Mogi das Cruzes e Mogi Mirim. Representação do fonema /S/ O fonema /s/, conforme o caso, representa-se por: - C, Ç: acetinado, açafrão, almaço, anoitecer, censura, ci- mento, dança, dançar, contorção, exceção, endereço, Iguaçu, maçarico, maçaroca, maço, maciço, miçanga, muçulmano, mu- çurana, paçoca, pança, pinça, Suíça, suíço, vicissitude. - S: ânsia, ansiar, ansioso, ansiedade, cansar, cansado, des- cansar, descanso, diversão, excursão, farsa, ganso, hortênsia, pre- tensão, pretensioso, propensão, remorso, sebo, tenso, utensílio. - SS: acesso, acessório, acessível, assar, asseio, assinar, car- rossel, cassino, concessão, discussão, escassez, escasso, essen- cial, expressão, fracasso, impressão, massa, massagista, missão, necessário, obsessão, opressão, pêssego, procissão, profissão, profissional, ressurreição, sessenta, sossegar, sossego, submis- são, sucessivo. - SC, SÇ: acréscimo, adolescente, ascensão, consciência, consciente, crescer, cresço, descer, desço, desça, disciplina, dis- cípulo, discernir, fascinar, florescer, imprescindível, néscio, os- cilar, piscina, ressuscitar, seiscentos, suscetível, suscetibilidade, suscitar, víscera. - X: aproximar, auxiliar, auxílio, máximo, próximo, proximi- dade, trouxe, trouxer, trouxeram, etc. - XC: exceção, excedente, exceder, excelência, excelente, excel- so, excêntrico, excepcional, excesso, excessivo, exceto, excitar, etc. Homônimos acento = inflexão da voz, sinal gráfico assento = lugar para sentar-se acético = referente ao ácido acético (vinagre) ascético = referente ao ascetismo, místico cesta = utensílio de vime ou outro material sexta = ordinal referente a seis círio = grande vela de cera sírio = natural da Síria cismo = pensão sismo = terremoto empoçar = formar poça empossar = dar posse a incipiente = principiante insipiente = ignorante intercessão = ato de interceder interseção = ponto em que duas linhas se cruzam ruço = pardacento russo = natural da Rússia Emprego de S com valor de Z - Adjetivos com os sufixos –oso, -osa: gostoso, gostosa, gracioso, graciosa, teimoso, teimosa, etc. - Adjetivos pátrios com os sufixos –ês, -esa: português, portuguesa, inglês, inglesa, milanês, milanesa, etc. - Substantivos e adjetivos terminados em –ês, feminino –esa: burguês, burguesa, burgueses, camponês, camponesa, camponeses, freguês, freguesa, fregueses, etc. - Verbos derivados de palavras cujo radical termina em –s: analisar (de análise), apresar (de presa), atrasar (de atrás), extasiar (de êxtase),extravasar (de vaso), alisar (de liso), etc. - Formas dos verbos pôr e querer e de seus derivados: pus, pusemos, compôs, impuser, quis, quiseram, etc. - Os seguintes nomes próprios de pessoas: Avis, Baltasar, Brás, Eliseu, Garcês, Heloísa, Inês, Isabel, Isaura, Luís, Luísa, Queirós, Resende, Sousa, Teresa, Teresinha, Tomás, Valdês. - Os seguintes vocábulos e seus cognatos: aliás, anis, ar- nês, ás, ases, através, avisar, besouro, colisão, convés, cortês, cortesia, defesa, despesa, empresa, esplêndido, espontâneo, evasiva, fase, frase, freguesia, fusível, gás, Goiás, groselha, he- resia, hesitar, manganês, mês, mesada, obséquio, obus, pai- sagem, país, paraíso, pêsames, pesquisa, presa, presépio, pre- sídio, querosene, raposa, represa, requisito, rês, reses, retrós, revés, surpresa, tesoura, tesouro, três, usina, vasilha, vaselina, vigésimo, visita. Emprego da letra Z - Os derivados em –zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita: cafezal, cafezeiro, cafezinho, avezinha, cãozito, avezita, etc. - Os derivados de palavras cujo radical termina em –z: cruzeiro (de cruz), enraizar (de raiz), esvaziar (de vazio), etc. - Os verbos formados com o sufixo –izar e palavras cog- natas: fertilizar, fertilizante, civilizar, civilização, etc. - Substantivos abstratos em –eza, derivados de adjetivos e denotando qualidade física ou moral: pobreza (de pobre), limpeza (de limpo), frieza (de frio), etc. - As seguintes palavras: azar, azeite, azáfama, azedo, ami- zade, aprazível, baliza, buzinar, bazar, chafariz, cicatriz, ojeriza, prezar, prezado, proeza, vazar, vizinho, xadrez. Sufixo –ÊS e –EZ - O sufixo –ês (latim –ense) forma adjetivos (às vezes substantivos) derivados de substantivos concretos: montês (de monte), cortês (de corte), burguês (de burgo), montanhês (de montanha), francês (de França), chinês (de China), etc. - O sufixo –ez forma substantivos abstratos femininos derivados de adjetivos: aridez (de árido), acidez (de ácido), ra- pidez (de rápido), estupidez (de estúpido), mudez (de mudo) avidez (de ávido) palidez (de pálido) lucidez (de lúcido), etc. 18 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Sufixo –ESA e –EZA Usa-se –esa (com s): - Nos seguintes substantivos cognatos de verbos termi- nados em –ender: defesa (defender), presa (prender), despesa (despender), represa (prender), empresa (empreender), surpre- sa (surpreender), etc. - Nos substantivos femininos designativos de títulos no- biliárquicos: baronesa, dogesa, duquesa, marquesa, princesa, consulesa, prioresa, etc. - Nas formas femininas dos adjetivos terminados em –ês: burguesa (de burguês), francesa (de francês), camponesa (de camponês), milanesa (de milanês), holandesa (de holandês), etc. - Nas seguintes palavras femininas: framboesa, indefesa, lesa, mesa, sobremesa, obesa, Teresa, tesa, toesa, turquesa, etc. Usa-se –eza (com z): - Nos substantivos femininos abstratos derivados de ad- jetivos e denotado qualidades, estado, condição: beleza (de belo), franqueza (de franco), pobreza (de pobre), leveza (de leve), etc. Verbos terminados em –ISAR e -IZAR Escreve-se –isar (com s) quando o radical dos nomes cor- respondentes termina em –s. Se o radical não terminar em –s, grafa-se –izar (com z): avisar (aviso + ar), analisar (análise + ar), alisar (a + liso + ar), bisar (bis + ar), catalisar (catálise + ar), improvisar (improviso + ar), paralisar (paralisia + ar), pesquisar (pesquisa + ar), pisar, repisar (piso + ar), frisar (friso + ar), grisar (gris + ar), anarquizar (anarquia + izar), civilizar (civil + izar), canalizar (canal + izar), amenizar (ameno + izar), colonizar (co- lono + izar), vulgarizar (vulgar + izar), motorizar (motor + izar), escravizar (escravo + izar), cicatrizar (cicatriz + izar), deslizar (deslize + izar), matizar (matiz + izar). Emprego do X - Esta letra representa os seguintes fonemas: Ch – xarope, enxofre, vexame, etc. CS – sexo, látex, léxico, tóxico, etc. Z – exame, exílio, êxodo, etc. SS – auxílio, máximo, próximo, etc. S – sexto, texto, expectativa, extensão, etc. - Não soa nos grupos internos –xce- e –xci-: exceção, ex- ceder, excelente, excelso, excêntrico, excessivo, excitar, inexce- dível, etc. - Grafam-se com x e não com s: expectativa, experiente, ex- piar, expirar, expoente, êxtase, extasiado, extrair, fênix, texto, etc. - Escreve-se x e não ch: Em geral, depois de ditongo: cai- xa, baixo, faixa, feixe, frouxo, ameixa, rouxinol, seixo, etc. Ex- cetuam-se caucho e os derivados cauchal, recauchutar e re- cauchutagem. Geralmente, depois da sílaba inicial en-: enxada, enxame, enxamear, enxaguar, enxaqueca, enxergar, enxerto, enxoval, enxugar, enxurrada, enxuto, etc. Excepcionalmente, grafam-se com ch: encharcar (de charco), encher e seus de- rivados (enchente, preencher), enchova, enchumaçar (de chu- maço), enfim, toda vez que se trata do prefixo en- + palavra iniciada por ch. Em vocábulos de origem indígena ou africana: abacaxi, xavante, caxambu, caxinguelê, orixá, maxixe, etc. Nas seguintes palavras: bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagarti- xa, lixa, lixo, mexer, mexerico, puxar, rixa, oxalá, praxe, vexame, xarope, xaxim, xícara, xale, xingar, xampu. Emprego do dígrafo CH Escreve-se com ch, entre outros os seguintes vocábulos: bucha, charque, charrua, chavena, chimarrão, chuchu, cochilo, fachada, ficha, flecha, mecha, mochila, pechincha, tocha. Homônimos Bucho = estômago Buxo = espécie de arbusto Cocha = recipiente de madeira Coxa = capenga, manco Tacha = mancha, defeito; pequeno prego; prego de cabe- ça larga e chata, caldeira. Taxa = imposto, preço de serviço público, conta, tarifa Chá = planta da família das teáceas; infusão de folhas do chá ou de outras plantas Xá = título do soberano da Pérsia (atual Irã) Cheque = ordem de pagamento Xeque = no jogo de xadrez, lance em que o rei é atacado por uma peça adversária Consoantes dobradas - Nas palavras portuguesas só se duplicam as consoantes C, R, S. - Escreve-se com CC ou CÇ quando as duas consoantes soam distintamente: convicção, occipital, cocção, fricção, fric- cionar, facção, sucção, etc. - Duplicam-se o R e o S em dois casos: Quando, intervo- cálicos, representam os fonemas /r/ forte e /s/ sibilante, res- pectivamente: carro, ferro, pêssego, missão, etc. Quando a um elemento de composição terminado em vogal seguir, sem in- terposição do hífen, palavra começada com /r/ ou /s/: arroxea- do, correlação, pressupor, bissemanal, girassol, minissaia, etc. CÊ - cedilha É a letra C que se pôs cedilha. Indica que o Ç passa a ter som de /S/: almaço, ameaça, cobiça, doença, eleição, exceção, força, frustração, geringonça, justiça, lição, miçanga, preguiça, raça. Nos substantivos derivados dos verbos: ter e torcer e seus derivados: ater, atenção; abster, abstenção; reter, retenção; tor- cer, torção; contorcer, contorção; distorcer, distorção. O Ç só é usado antes de A,O,U. Emprego das iniciais maiúsculas - A primeira palavra de período ou citação. Diz um provérbio árabe: “A agulha veste os outros e vive nua”. No início dos versos que não abrem período é facultativo o uso da letra maiúscula. - Substantivos próprios (antropônimos, alcunhas, topôni- mos, nomes sagrados, mitológicos, astronômicos): José, Ti- radentes, Brasil, Amazônia, Campinas, Deus, Maria Santíssima, Tupã, Minerva, Via-Láctea, Marte, Cruzeiro do Sul, etc. - Nomes de épocas históricas, datas e fatos importantes, festas religiosas: Idade Média, Renascença, Centenário da In- dependência do Brasil, a Páscoa, o Natal, o Dia das Mães, etc. - Nomes de altos cargos e dignidades: Papa, Presidente da República, etc. - Nomes de altos conceitos religiosos ou políticos: Igreja, Nação, Estado, Pátria, União, República, etc. - Nomes de ruas, praças, edifícios, estabelecimentos, agre- miações, órgãos públicos, etc: Ruado Ouvidor, Praça da Paz, Academia Brasileira de Letras, Banco do Brasil, Teatro Munici- pal, Colégio Santista, etc. 19 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - Nomes de artes, ciências, títulos de produções artísticas, literárias e científicas, títulos de jornais e revistas: Medicina, Arquitetura, Os Lusíadas, O Guarani, Dicionário Geográfico Brasileiro, Correio da Manhã, Manchete, etc. - Expressões de tratamento: Vossa Excelência, Sr. Presiden- te, Excelentíssimo Senhor Ministro, Senhor Diretor, etc. - Nomes dos pontos cardeais, quando designam regiões: Os povos do Oriente, o falar do Norte. Mas: Corri o país de norte a sul. O Sol nasce a leste. - Nomes comuns, quando personificados ou individua- dos: o Amor, o Ódio, a Morte, o Jabuti (nas fábulas), etc. Emprego das iniciais minúsculas - Nomes de meses, de festas pagãs ou populares, nomes gentílicos, nomes próprios tornados comuns: maia, bacanais, carnaval, ingleses, ave-maria, um havana, etc. - Os nomes a que se referem os itens 4 e 5 acima, quando empregados em sentido geral: São Pedro foi o primeiro papa. Todos amam sua pátria. - Nomes comuns antepostos a nomes próprios geográficos: o rio Amazonas, a baía de Guanabara, o pico da Neblina, etc. - Palavras, depois de dois pontos, não se tratando de cita- ção direta: “Qual deles: o hortelão ou o advogado?”; “Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro, incenso, mirra”. - No interior dos títulos, as palavras átonas, como: o, a, com, de, em, sem, grafam-se com inicial minúscula. Algumas palavras ou expressões costumam apresentar di- ficuldades colocando em maus lençóis quem pretende falar ou redigir português culto. Esta é uma oportunidade para você aperfeiçoar seu desempenho. Preste atenção e tente incorpo- rar tais palavras certas em situações apropriadas. A anos: a indica tempo futuro: Daqui a um ano iremos à Europa. Há anos: há indica tempo passado: não o vejo há meses. “Procure o seu caminho Eu aprendi a andar sozinho Isto foi há muito tempo atrás Mas ainda sei como se faz Minhas mãos estão cansadas Não tenho mais onde me agarrar.” (gravação: Nenhum de Nós) Atenção: Há muito tempo já indica passado. Não há ne- cessidade de usar atrás, isto é um pleonasmo. Acerca de: equivale a (a respeito de): Falávamos acerca de uma solução melhor. Há cerca de: equivale a (faz tempo). Há cerca de dias re- solvemos este caso. Ao encontro de: equivale (estar a favor de): Sua atitude vai ao encontro da verdade. De encontro a: equivale a (oposição, choque): Minhas opi- niões vão de encontro às suas. A fim de: locução prepositiva que indica (finalidade): Vou a fim de visitá-la. Afim: é um adjetivo e equivale a (igual, semelhante): So- mos almas afins. Ao invés de: equivale (ao contrário de): Ao invés de falar começou a chorar (oposição). Em vez de: equivale a (no lugar de): Em vez de acompa- nhar-me, ficou só.´ Faça você a sua parte, ao invés de ficar me cobrando! Quantas vezes usamos “ao invés de” quando queremos dizer “no lugar de”! Contudo, esse emprego é equivocado, uma vez que “in- vés” significa “contrário”, “inverso”. Não que seja absurdamente errado escrever “ao invés de” em frases que expressam sentido de “em lugar de”, mas é preferível optar por “em vez de”. Observe: Em vez de conversar, preferiu gritar para a escola inteira ouvir! (em lugar de) Ele pediu que fosse embora ao in- vés de ficar e discutir o caso. (ao contrário de) Use “ao invés de” quando quiser o significado de “ao con- trário de”, “em oposição a”, “avesso”, “inverso”. Use “em vez de” quando quiser um sentido de “no lugar de” ou “em lugar de”. No entanto, pode assumir o significado de “ao invés de”, sem problemas. Porém, o que ocorre é justa- mente o contrário, coloca-se “ao invés de” onde não poderia. A par: equivale a (bem informado, ciente): Estamos a par das boas notícias. Ao par: indica relação (de igualdade ou equivalência entre valores financeiros – câmbio): O dólar e o euro estão ao par. Aprender: tomar conhecimento de: O menino aprendeu a lição. Apreender: prender: O fiscal apreendeu a carteirinha do menino. À toa: é uma locução adverbial de modo, equivale a (inu- tilmente, sem razão): Andava à toa pela rua. À toa: é um adjetivo (refere-se a um substantivo), equivale a (inútil, desprezível). Foi uma atitude à toa e precipitada. (até 01/01/2009 era grafada: à-toa) Baixar: os preços quando não há objeto direto; os preços funcionam como sujeito: Baixaram os preços (sujeito) nos su- permercados. Vamos comemorar, pessoal! Abaixar: os preços empregado com objeto direto: Os pos- tos (sujeito) de combustível abaixaram os preços (objeto di- reto) da gasolina. Bebedor: é a pessoa que bebe: Tornei-me um grande bebedor de vinho. Bebedouro: é o aparelho que fornece água. Este bebe- douro está funcionando bem. Bem Vindo: é um adjetivo composto: Você é sempre bem vindo aqui, jovem. Benvindo: é nome próprio: Benvindo é meu colega de classe. Boêmia/Boemia: são formas variantes (usadas normal- mente): Vivia na boêmia/boemia. Botijão/Bujão de gás: ambas formas corretas: Comprei um botijão/bujão de gás. Câmara: equivale ao local de trabalho onde se reúnem os vereadores, deputados: Ficaram todos reunidos na Câ- mara Municipal. Câmera: aparelho que fotografa, tira fotos: Comprei uma câmera japonesa. 20 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Champanha/Champanhe (do francês): O champanha/ champanhe está bem gelado. Cessão: equivale ao ato de doar, doação: Foi confirmada a cessão do terreno. Sessão: equivale ao intervalo de tempo de uma reunião: A sessão do filme durou duas horas. Seção/Secção: repartição pública, departamento: Visitei hoje a seção de esportes. Demais: é advérbio de intensidade, equivale a muito, apa- rece intensificando verbos, adjetivos ou o próprio advérbio. Vocês falam demais, caras! Demais: pode ser usado como substantivo, seguido de ar- tigo, equivale a os outros. Chamaram mais dez candidatos, os demais devem aguardar. De mais: é locução prepositiva, opõe-se a de menos, re- fere-se sempre a um substantivo ou a um pronome: Não vejo nada de mais em sua decisão. Dia a dia: é um substantivo, equivale a cotidiano, diário, que faz ou acontece todo dia. Meu dia a dia é cheio de sur- presas. (até 01/01/2009, era grafado dia a dia) Dia a dia: é uma expressão adverbial, equivale a diaria- mente. O álcool aumenta dia a dia. Pode isso? Descriminar: equivale a (inocentar, absolver de crime). O réu foi descriminado; pra sorte dele. Discriminar: equivale a (diferençar, distinguir, separar). Era impossível discriminar os caracteres do documento. Cumpre discriminar os verdadeiros dos falsos valores. /Os negros ain- da são discriminados. Descrição: ato de descrever: A descrição sobre o jogador foi perfeita. Discrição: qualidade ou caráter de ser discreto, reservado: Você foi muito discreto. Entrega em domicílio: equivale a lugar: Fiz a entrega em domicílio. Entrega a domicílio com verbos de movimento: Enviou as compras a domicílio. As expressões “entrega em domicílio” e “entrega a domi- cílio” são muito recorrentes em restaurantes, na propaganda televisa, no outdoor, no folder, no panfleto, no catálogo, na fala. Convivem juntas sem problemas maiores porque são en- tendidas da mesma forma, com um mesmo sentido. No en- tanto, quando falamos de gramática normativa, temos que ter cuidado, pois “a domicílio” não é aceita. Por quê? A regra es- tabelece que esta última locução adverbial deve ser usada nos casos de verbos que indicam movimento, como: levar, enviar, trazer, ir, conduzir, dirigir-se. Portanto, “A loja entregou meu sofá a casa” não está cor- reto. Já a locução adverbial “em domicílio” é usada com os verbos sem noção de movimento: entregar, dar, cortar, fazer. A dúvidasurge com o verbo “entregar”: não indicaria mo- vimento? De acordo com a gramática purista não, uma vez que quem entrega, entrega algo em algum lugar. Porém, há aqueles que afirmam que este verbo indica sim movimento, pois quem entrega se desloca de um lugar para outro. Contudo, obedecendo às normas gramaticais, devemos usar “entrega em domicílio”, nos atentando ao fato de que a finalidade é que vale: a entrega será feita no (em+o) domicílio de uma pessoa. Espectador: é aquele que vê, assiste: Os espectadores se fartaram da apresentação. Expectador: é aquele que está na expectativa, que espera al- guma coisa: O expectador aguardava o momento da chamada. Estada: permanência de pessoa (tempo em algum lugar): A estada dela aqui foi gratificante. Estadia: prazo concedido para carga e descarga de navios ou veículos: A estadia do carro foi prolongada por mais algu- mas semanas. Fosforescente: adjetivo derivado de fósforo; que brilha no escuro: Este material é fosforescente. Fluorescente: adjetivo derivado de flúor, elemento quími- co, refere-se a um determinado tipo de luminosidade: A luz branca do carro era fluorescente. Haja - do verbo haver - É preciso que não haja descuido. Aja - do verbo agir - Aja com cuidado, Carlinhos. Houve: pretérito perfeito do verbo haver, 3ª pessoa do singular Ouve: presente do indicativo do verbo ouvir, 3ª pessoa do singular Levantar: é sinônimo de erguer: Ginês, meu estimado cunhado, levantou sozinho a tampa do poço. Levantar-se: pôr de pé: Luís e Diego levantaram-se cedo e, dirigiram-se ao aeroporto. Mal: advérbio de modo, equivale a erradamente, é oposto de bem: Dormi mal. (bem). Equivale a nocivo, prejudicial, enfer- midade; pode vir antecedido de artigo, adjetivo ou pronome: A comida fez mal para mim. Seu mal é crer em tudo. Conjunção subordinativa temporal, equivale a assim que, logo que: Mal chegou começou a chorar desesperadamente. Mau: adjetivo, equivale a ruim, oposto de bom; plu- ral=maus; feminino=má. Você é um mau exemplo (bom). Substantivo: Os maus nunca vencem. Mas: conjunção adversativa (ideia contrária), equivale a porém, contudo, entretanto: Telefonei-lhe mas ela não atendeu. Mais: pronome ou advérbio de intensidade, opõe-se a me- nos: Há mais flores perfumadas no campo. Nem um: equivale a nem um sequer, nem um único; a pa- lavra um expressa quantidade: Nem um filho de Deus apare- ceu para ajudá-la. Nenhum: pronome indefinido variável em gênero e núme- ro; vem antes de um substantivo, é oposto de algum: Nenhum jornal divulgou o resultado do concurso. Obrigada: As mulheres devem dizer: muito obrigada, eu mesma, eu própria. Obrigado: Os homens devem dizer: muito obrigado, eu mesmo, eu próprio. 21 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Onde: indica o (lugar em que se está); refere-se a verbos que exprimem estado, permanência: Onde fica a farmácia mais próxima? Aonde: indica (ideia de movimento); equivale (para onde) somente com verbo de movimento desde que indique des- locamento, ou seja, a+onde. Aonde vão com tanta pressa? “Pode seguir a tua estrada o teu brinquedo de estar fantasiando um segredo o ponto aonde quer chegar...” (gravação: Barão Vermelho) Por ora: equivale a (por este momento, por enquanto): Por ora chega de trabalhar. Por hora: locução equivale a (cada sessenta minutos): Você deve cobrar por hora. Por que: escreve se separado; quando ocorre: preposi- ção por+que - advérbio interrogativo (Por que você men- tiu?); preposição por+que – pronome relativo pelo/a qual, pelos/as quais (A cidade por que passamos é simpática e acolhedora.) (=pela qual); preposição por+que – conjunção subordinativa integrante; inicia oração subordinada subs- tantiva (Não sei por que tomaram esta decisão. (=por que motivo, razão) Por quê: final de frase, antes de um ponto final, de in- terrogação, de exclamação, reticências; o monossílabo que passa a ser tônico (forte), devendo, pois, ser acentuado: __O show foi cancelado mas ninguém sabe por quê. (final de frase); __Por quê? (isolado) Porque: conjunção subordinativa causal: equivale a: pela causa, razão de que, pelo fato, motivo de que: Não fui ao en- contro porque estava acamado; conjunção subordinativa explicativa: equivale a: pois, já que, uma vez que, visto que: “Mas a minha tristeza é sossego porque é natural e justa.”; conjunção subordinativa final (verbo no subjuntivo, equivale a para que): “Mas não julguemos, porque não venhamos a ser julgados.” Porquê: funciona como substantivo; vem sempre acom- panhado de um artigo ou determinante: Não foi fácil encon- trar o porquê daquele corre-corre. Senão: equivale a (caso contrário, a não ser): Não fazia coisa nenhuma senão criticar. Se não: equivale a (se por acaso não), em orações adver- biais condicionais: Se não houver homens honestos, o país não sairá desta situação crítica. Tampouco: advérbio, equivale a (também não): Não compareceu, tampouco apresentou qualquer justificativa. Tão pouco: advérbio de intensidade: Encontramo-nos tão pouco esta semana. Trás ou Atrás = indicam lugar, são advérbios Traz - do verbo trazer Vultoso: volumoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui. Vultuoso: atacado de congestão no rosto: Sua face está vultuosa e deformada. Exercícios 01. Observe a ortografia correta das palavras: disenteria; programa; mortadela; mendigo; beneficente; caderneta; pro- blema. Empregue as palavras acima nas frases: a) O......teve.....porque comeu......estragada. b) O superpai protegeu demais seu filho e este lhe trouxe um.........: sua.......escolar indicou péssimo aproveitamento. c) A festa......teve um bom.......e, por isso, um bom aprovei- tamento. 02. Passe as palavras para o diminutivo: - asa; japonês; pai; homem; adeus; português; só; anel; - beleza; rosa; país; avô; arroz; princesa; café; - flor; Oscar; rei; bom; casa; lápis; pé. 03. Passe para o plural diminutivo: trem; pé; animal; só; pa- pel; jornal; mão; balão; automóvel; pai; cão; mercadoria; farol; rua; chapéu; flor. 04. Preencha as lacunas com as seguintes palavras: seção, sessão, cessão, comprimento, cumprimento, conserto, concerto a) O pequeno jornaleiro foi à.........do jornal. b) Na..........musical os pequenos cantores apresentaram-se muito bem. c) O........do jornaleiro é amável. d) O..... das roupas é feito pela mãe do garoto. e) O......do sapato custou muito caro. f) Eu......meu amigo com amabilidade. g) A.......de cinema foi um sucesso. h) O vestido tem um.........bom. i) Os pequenos violinistas participaram de um........ . 05. Dê a palavra derivada acrescentando os sufixos ESA ou EZA: Portugal; certo; limpo; bonito; pobre; magro; belo; gentil; duro; lindo; China; frio; duque; fraco; bravo; grande. 06. Forme substantivos dos adjetivos: honrado; rápido; es- casso; tímido; estúpido; pálido; ácido; surdo; lúcido; pequeno. 07. Use o H quando for necessário: alucinar; élice, umilde, esitar, oje, humano, ora, onra, aver, ontem, êxito, ábil, arpa, irô- nico, orrível, árido, óspede, abitar. 8. Complete as lacunas com as seguintes formas verbais: Houve e Ouve. a) O menino .....muitas recomendações de seu pai. b) ........muita confusão na cabeça do pequeno. c) A criança não.........a professora porque não a compreende. d) Na escola........festa do Dia do Índio. 9. A letra X representa vários sons. Leia atentamente as palavras oralmente: trouxemos, exercícios, táxi, executarei, exi- bir-se, oxigênio, exercer, proximidade, tóxico, extensão, existir, experiência, êxito, sexo, auxílio, exame. Separe as palavras em três seções, conforme o som do X. - Som de Z; - Som de KS; - Som de S. 22 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA 10. Complete com X ou CH: en.....er; dei.....ar; ......eiro; fle......a; ei.....o; frou.....o;ma.....ucar; .....ocolate; en.....ada; en.....ergar; cai......a; .....iclete; fai......a; .....u......u; salsi......a; bai.......a; capri......o; me......erica; ria.......o; ......ingar; .......aleira; amei......a; ......eirosos; abaca.....i. 11. Complete com MAL ou MAU: a) Disseram que Carlota passou......ontem. b) Ele ficou de......humor após ter agido daquela forma. c) O time se considera......preparado para tal jogo. d) Carlota sofria de um..........curável. e) O.......é se ter afeiçoado às coisas materiais. f) Ele não é um........sujeito. g) Mas o.......não durou muito tempo. 12. Complete as frases com porque ou por que correta- mente: a) ....... você está chateada? b) Cuidar do animal é mais importante........ele fica limpinho. c) .......... você não limpou o tapete? d) Concordo com papai.............ele tem razão. e) ..........precisamos cuidar dos animais de estimação. 13. Preencha as lacunas com: mas = porém; mais = indica quantidade; más = feminino de mau. a) A mãe e o filho discutiram,.......não chegaram a um acordo. b) Você quer.......razões para acreditar em seu pai? c) Pessoas.........deveriam fazer reflexões para acreditar...... na bondade do que no ódio. d) Eu limpo,.........depois vou brincar. e) O frio não prejudica .........o Tico. f) Infelizmente Tico morreu, ........comprarei outro cãozinho. g) Todas as atitudes ......devem ser perdoadas,.......jamais ser repetidas, pois, quanto............se vive,.........se aprende. 14. Preencha as lacunas com: trás, atrás e traz. a) ........... de casa havia um pinheiro. b) A poluição.......consigo graves consequências. c) Amarre-o por......... da árvore. d) Não vou....... de comentários bobos.. 15. Preencha as lacunas com: HÁ - indica tempo passado; A - tempo futuro e espaço. a) A loja fica ....... pouco quilômetros daqui. b) .........instantes li sobre o Natal. c) Eles não vão à loja porque ........ mais de dois dias a mer- cadoria acabou. d) .........três dias que todos se preparam para a festa do Natal. e) Esse fato aconteceu ....... muito tempo. f) Os alunos da escola dramatizarão a história do Natal da- qui ......oito dias. g) Ele estava......... três passos da casa de André. h) ........ dois quarteirões existe uma bela árvore de Natal. 16. Atenção para as palavras: por cima; devagar; depressa; de repente; por isso. Agora, empregue-as nas frases: a) ......... uma bola atingiu o cenário e o derrubou. b) Bem...........o povo começou a se retirar. c) O rei descobriu a verdade,..........ficou irritado. d) Faça sua tarefa............, para podermos ir ao dentista. e) ......... de sua vestimenta real, o rei usava um manto. 17. Forme novas palavras usando ISAR ou IZAR: análise; pesquisa; anarquia; canal; civilização; colônia; humano; sua- ve; revisão; real; nacional; final; oficial; monopólio; sintonia; central; paralisia; aviso. 18. Haja ou aja. Use haja ou aja para completar as ora- ções: a) ........ com atenção para que não ........ muitos erros. b) Talvez ......... greve; é preciso que........... cuidado e aten- ção. c) Desejamos que ........ fraternidade nessa escola. d) ...... com docilidade, meu filho! 19. A palavra MENOS não deve ser modificada para o feminino. Complete as frases com a palavra MENOS: a) Conheço todos os Estados brasileiros,.....a Bahia. b) Todos eram calmos,.........mamãe. c) Quero levar.........sanduíches do que na semana pas- sada. d) Mamãe fazia doces e salgados........tortas grandes. 20. Use por que , por quê , porque e porquê: a) ..........ninguém ri agora? b) Eis........ ninguém ri. c) Eis os princípios ............luto. d) Ela não aprendeu, ...........? e) Aproximei-me .........todos queriam me ouvir. f) Você está assustado, ..........? g) Eis o motivo........errei. h) Creio que vou melhorar.......estudei muito. i) O....... é difícil de ser estudado. j) ........ os índios estão revoltados? k) O caminho ........viemos era tortuoso. 21. Uso do S e Z. Complete as palavras com S ou Z. A seguir, copie as palavras na forma correta: pou....ando; pre.... ença; arte.....anato; escravi.....ar; nature.....a; va.....o; pre..... idente; fa.....er; Bra.....il; civili....ação; pre....ente; atra....ados; produ......irem; a....a; hori...onte; torrão....inho; fra....e; intru ....o; de....ejamos; po....itiva; podero....o; de...envolvido; surpre ....a; va.....io; ca....o; coloni...ação. 22. Complete com X ou S e copie as palavras com aten- ção: e....trangeiro; e....tensão; e....tranho; e....tender; e....tenso; e....pontâneo; mi...to; te....te; e....gotar; e....terior; e....ceção; e...plêndido; te....to; e....pulsar; e....clusivo. 23. Tão Pouco / Tampouco Complete as frases corretamente: a) Eu tive ........oportunidades! b) Tenho.......... alunos, que cabem todos naquela salinha. c) Ele não veio;.......virão seus amigos. d) Eu tenho .........tempo para estudar. e) Nunca tive gosto para dançar;......para tocar piano. f) As pessoas que não amam,........são felizes. g) As pessoas têm.....atitudes de amizade. h) O governo daquele país não resolve seus proble- mas,....... se preocupa em resolvê-los. 23 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Respostas 01. a) mendigo disenteria mortadela b) problema cader- neta c) beneficente programa 02. - asinha; japonesinho; paizinho; homenzinho; adeusinho; portuguesinho; sozinho; anelzinho; - belezinha; rosinha; paisinho; avozinho; arrozinho; prince- sinha; cafezinho; - florzinha; Oscarzinho; reizinho; bonzinho; casinha; lapi- sinho; pezinho. 03. trenzinhos; pezinhos; animaizinhos; sozinhos; papeizi- nhos; jornaizinhos; mãozinhas; balõezinhos; automoveisinhos; paizinhos; cãezinhos; mercadoriazinhas; faroisinhos; ruazinhas; chapeuzinhos; florezinhas. 04. a) seção b) sessão c) cumprimento d) conserto e) con- serto f) cumprimento g) sessão h) comprimento i) concerto. 05. portuguesa; certeza; limpeza; boniteza; pobreza; ma- greza; beleza; gentileza; dureza; lindeza; Chinesa; frieza; du- quesa; fraqueza; braveza; grandeza. 06. honradez; rapidez; escassez; timidez; estupidez; pali- dez; acidez; surdez; lucidez; pequenez. 07. alucinar, ontem, hélice, êxito, humilde, hábil, hesitar, harpa, hoje, irônico, humano, horrível, hora, árido, honra, hós- pede, haver, habitar. 08. a) ouve b) Houve c) ouve d) houve 09. Som de Z: exercícios, executarei, exibir-se, exercer, existir, êxito e exame. Som de KS: táxi, oxigênio, tóxico e sexo. Som de S: trouxemos, proximidade, extensão, experiência e auxílio. 10. encher, deixar, cheiro, flecha, eixo, frouxo, machucar, chocolate, enxada, enxergar, caixa, chiclete, faixa, chuchu, salsi- cha, baixa, capricho, mexerica, riacho, xingar, chaleira, ameixa, cheirosos, abacaxi. 11. a) mal b) mau c) mal d) mal e) mau f) mau g) mal 12. a) Por que b) porque c) Por que d) porque e) Porque 13. a) mas b) más mais c) más d) mas e) mais f) mas g) más mas mais mais 14. a) Atrás b) traz c) trás d) atrás 15. a) a b) Há c) há d) Há e) há f) a g) a h) A 16. a) De repente b) devagar c) por isso d) depressa e) Por cima 17. analisar; pesquisar; anarquizar; canalizar; civilizar; colo- nizar; humanizar; suavizar; revisar; realizar; nacionalizar; finali- zar; oficializar; monopolizar; sintonizar; centralizar; paralisar; avisar. 18. a) Aja haja b) haja haja c) haja d) Aja 19. a) menos b) menos c) menos d) menos 20. a) Por que b) por que c) por que d) por quê e) porque f) por quê g) por que h) porque i) porquê j) Por que k) por que 21. Pousando; Presença; Artesanato; Escravizar; Natureza; Vaso; Presidente; Fazer; Brasil; Civilização; Presente; Atrasados; Produzirem; Asa; Horizonte; Torrãozinho; Frase; Intruso; Dese- jamos; Positiva; Poderoso; Desenvolvido; Surpresa; Vazio; Caso; Colonização. 22. estrangeiro;extensão; estranho; estender; extenso; Es- pontâneo; Misto; Teste; Esgotar; Exterior; Exceção; Esplêndido; Texto; Expulsar; Exclusivo. 23. a) tão poucas b) tão poucos c) tampouco d) tão pouco e) tampouco f) tampouco g) tão poucas h) tampouco ACENTUAÇÃO GRÁFICA. Acentuação Gráfica Tonicidade Num vocábulo de duas ou mais sílabas, há, em geral, uma que se destaca por ser proferida com mais intensidade que as outras: é a sílaba tônica. Nela recai o acento tônico, também chamado acento de intensidade ou prosódico. Exemplos: café, janela, médico, estômago, colecionador. O acento tônico é um fato fonético e não deve ser con- fundido com o acento gráfico (agudo ou circunflexo) que às vezes o assinala. A sílaba tônica nem sempre é acentuada gra- ficamente. Exemplo: cedo, flores, bote, pessoa, senhor, caju, tatus, siri, abacaxis. As sílabas que não são tônicas chamam-se átonas (=fra- cas), e podem ser pretônicas ou postônicas, conforme estejam antes ou depois da sílaba tônica. Exemplo: montanha, facil- mente, heroizinho. De acordo com a posição da sílaba tônica, os vocábulos com mais de uma sílaba classificam-se em: Oxítonos: quando a sílaba tônica é a última: café, rapaz, escritor, maracujá. Paroxítonos: quando a sílaba tônica é a penúltima: mesa, lápis, montanha, imensidade. Proparoxítonos: quando a sílaba tônica é a antepenúltima: árvore, quilômetro, México. Monossílabos são palavras de uma só sílaba, conforme a in- tensidade com que se proferem, podem ser tônicos ou átonos. 24 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Monossílabos tônicos são os que têm autonomia fonética, sendo proferidos fortemente na frase em que aparecem: é, má, si, dó, nó, eu, tu, nós, ré, pôr, etc. Monossílabos átonos são os que não têm autonomia fo- nética, sendo proferidos fracamente, como se fossem sílabas átonas do vocábulo a que se apoiam. São palavras vazias de sentido como artigos, pronomes oblíquos, elementos de liga- ção, preposições, conjunções: o, a, os, as, um, uns, me, te, se, lhe, nos, de, em, e, que. Acentuação dos Vocábulos Proparoxítonos Todos os vocábulos proparoxítonos são acentuados na vogal tônica: - Com acento agudo se a vogal tônica for i, u ou a, e, o abertos: xícara, úmido, queríamos, lágrima, término, déssemos, lógico, binóculo, colocássemos, inúmeros, polígono, etc. - Com acento circunflexo se a vogal tônica for fechada ou nasal: lâmpada, pêssego, esplêndido, pêndulo, lêssemos, estô- mago, sôfrego, fôssemos, quilômetro, sonâmbulo etc. Acentuação dos Vocábulos Paroxítonos Acentuam-se com acento adequado os vocábulos paroxí- tonos terminados em: - ditongo crescente, seguido, ou não, de s: sábio, róseo, planície, nódua, Márcio, régua, árdua, espontâneo, etc. - i, is, us, um, uns: táxi, lápis, bônus, álbum, álbuns, jóquei, vôlei, fáceis, etc. - l, n, r, x, ons, ps: fácil, hífen, dólar, látex, elétrons, fórceps, etc. - ã, ãs, ão, ãos, guam, guem: ímã, ímãs, órgão, bênçãos, enxáguam, enxáguem, etc. Não se acentua um paroxítono só porque sua vogal tôni- ca é aberta ou fechada. Descabido seria o acento gráfico, por exemplo, em cedo, este, espelho, aparelho, cela, janela, socor- ro, pessoa, dores, flores, solo, esforços. Acentuação dos Vocábulos Oxítonos Acentuam-se com acento adequado os vocábulos oxíto- nos terminados em: - a, e, o, seguidos ou não de s: xará, serás, pajé, freguês, vovô, avós, etc. Seguem esta regra os infinitivos seguidos de pronome: cortá-los, vendê-los, compô-lo, etc. - em, ens: ninguém, armazéns, ele contém, tu conténs, ele convém, ele mantém, eles mantêm, ele intervém, eles in- tervêm, etc. Acentuação dos Monossílabos Acentuam-se os monossílabos tônicos: a, e, o, seguidos ou não de s: há, pá, pé, mês, nó, pôs, etc. Acentuação dos Ditongos Acentuam-se a vogal dos ditongos abertos éi, éu, ói, quando tônicos. Segundo as novas regras os ditongos abertos “éi” e “ói” não são mais acentuados em palavras paroxítonas: assembléia, pla- téia, idéia, colméia, boléia, Coréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, he- róico, paranóico, etc. Ficando: Assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, Coreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, paranoico, etc. Nos ditongos abertos de palavras oxítonas terminadas em éi, éu e ói e monossílabas o acento continua: herói, cons- trói, dói, anéis, papéis, troféu, céu, chapéu. Acentuação dos Hiatos A razão do acento gráfico é indicar hiato, impedir a diton- gação. Compare: caí e cai, doído e doido, fluído e fluido. - Acentuam-se em regra, o /i/ e o /u/ tônicos em hiato com vogal ou ditongo anterior, formando sílabas sozinhos ou com s: saída (sa-í-da), saúde (sa-ú-de), faísca, caíra, saíra, egoísta, heroína, caí, Xuí, Luís, uísque, balaústre, juízo, país, ca- feína, baú, baús, Grajaú, saímos, eletroímã, reúne, construía, proíbem, influí, destruí-lo, instruí-la, etc. - Não se acentua o /i/ e o /u/ seguidos de nh: rainha, fui- nha, moinho, lagoinha, etc; e quando formam sílaba com letra que não seja s: cair (ca-ir), sairmos, saindo, juiz, ainda, diurno, Raul, ruim, cauim, amendoim, saiu, contribuiu, instruiu, etc. Segundo as novas regras da Língua Portuguesa não se acentua mais o /i/ e /u/ tônicos formando hiato quando vie- rem depois de ditongo: baiúca, boiúna, feiúra, feiúme, bocaiú- va, etc. Ficaram: baiuca, boiuna, feiura, feiume, bocaiuva, etc. Os hiatos “ôo” e “êe” não são mais acentuados: enjôo, vôo, perdôo, abençôo, povôo, crêem, dêem, lêem, vêem, relêem. Ficaram: enjoo, voo, perdoo, abençoo, povoo, creem, deem, leem, veem, releem. Acento Diferencial Emprega-se o acento diferencial como sinal distintivo de vocábulos homógrafos, nos seguintes casos: - pôr (verbo) - para diferenciar de por (preposição). - verbo poder (pôde, quando usado no passado) - é facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento dei- xa a frase mais clara. Exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo? Segundo as novas regras da Língua Portuguesa não existe mais o acento diferencial em palavras homônimas (grafia igual, som e sentido diferentes) como: - côa(s) (do verbo coar) - para diferenciar de coa, coas (com + a, com + as); - pára (3ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo parar) - para diferenciar de para (preposição); - péla (do verbo pelar) e em péla ( jogo) - para diferenciar de pela (combinação da antiga preposição per com os artigos ou pronomes a, as); - pêlo (substantivo) e pélo (v. pelar) - para diferenciar de pelo (combinação da antiga preposição per com os artigos o, os); - péra (substantivo - pedra) - para diferenciar de pera (for- ma arcaica de para - preposição) e pêra (substantivo); 25 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - pólo (substantivo) - para diferenciar de polo (combinação popular regional de por com os artigos o, os); - pôlo (substantivo - gavião ou falcão com menos de um ano) - para diferenciar de polo (combinação popular regional de por com os artigos o, os); Emprego do Til O til sobrepõe-se às letras “a” e “o” para indicar vogal nasal. Pode figurar em sílaba: - tônica: maçã, cãibra, perdão, barões, põe, etc; - pretônica: romãzeira, balõezinhos, grã-fino, cristãmente, etc; - átona: órfãs, órgãos, bênçãos, etc. Trema (o trema não é acento gráfico) Desapareceu o trema sobre o /u/ em todas as palavras do por- tuguês: Linguiça, averiguei, delinquente, tranquilo, linguístico. Ex- ceto as de língua estrangeira: Günter, Gisele Bündchen, müleriano. Exercícios 01- O acento gráfico de “três” justifica-se por ser o vocá- bulo: a) Monossílabo átono terminado em ES. b) Oxítono terminado em ES c) Monossílabo tônico terminado em S d) Oxítono terminado em S e) Monossílabo tônico terminado em ES 02- Se o vocábulo concluiu não tem acento gráfico, tal nãoacontece com uma das seguinte formas do verbo concluir: a) concluia b) concluirmos c) concluem d) concluindo e) concluas 03- Nenhum vocábulo deve receber acento gráfico, exceto: a) sururu b) peteca c) bainha d) mosaico e) beriberi 04- Todos os vocábulos devem ser acentuados grafica- mente, exceto: a) xadrez b) faisca c) reporter d) Oasis e) proteina 05- Assinale a opção em que o par de vocábulos não obe- dece à mesma regra de acentuação gráfica. a) sofismático/ insondáveis b) automóvel/fácil c) tá/já d) água/raciocínio e) alguém/comvém 06- Os dois vocábulos de cada item devem ser acen- tuado graficamente, exceto: a) herbivoro-ridiculo b) logaritmo-urubu c) miudo-sacrificio d) carnauba-germem e) Biblia-hieroglifo 07- “Andavam devagar, olhando para trás...” (J.A. de Al- meida-Américo A. Bagaceira). Assinale o item em que nem todas as palavras são acentuadas pelo mesmo motivo da palavra grifada no texto. a) Más – vês b) Mês – pás c) Vós – Brás d) Pés – atrás e) Dês – pés 08- Indique a única alternativa em que nenhuma pala- vra é acentuada graficamente: a) lapis, canoa, abacaxi, jovens, b) ruim, sozinho, aquele, traiu c) saudade, onix, grau, orquídea d) flores, açucar, album, virus, e) voo, legua, assim, tenis 09- Nas alternativas, a acentuação gráfica está correta em todas as palavras, exceto: a) jesuíta, caráter b) viúvo, sótão c) baínha, raiz d) Ângela, espádua e) gráfico, flúor 10- Até ........ momento, ........ se lembrava de que o anti- quário tinha o ......... que procurávamos. a) Aquêle-ninguém-baú b) Aquêle-ninguém-bau c) Aquêle-ninguem-baú d) Aquele-ninguém-baú e) Aquéle-ninguém-bau Respostas: (1-E) (2-A) (3-E) (4-A) (5-A) (6-B) (7-D) (8-B) (9-C) (10-D) 26 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA O TEXTO NOS PROCESSOS DE COMPREENSÃO E DE PRODUÇÃO: TEXTO E TEXTUALIDADE. Compreensão e Interpretação de Texto Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor que também é transmitida através de figuras, impregnado de sub- jetivismo. Ex: um romance, um conto, uma poesia... (Conotação, Figurado, Subjetivo, Pessoal). Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir uma mensagem da forma mais clara e objetiva possível. Ex: uma no- tícia de jornal, uma bula de medicamento. (Denotação, Claro, Objetivo, Informativo). O objetivo do texto é passar conhecimento para o leitor. Nes- se tipo textual, não se faz a defesa de uma ideia. Exemplos de textos explicativos são os encontrados em manuais de instruções. Informativo: Tem a função de informar o leitor a respeito de algo ou alguém, é o texto de uma notícia de jornal, de revis- ta, folhetos informativos, propagandas. Uso da função referen- cial da linguagem, 3ª pessoa do singular. Descrição: Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode- se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. Significa “criar” com palavras a imagem do objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se refere. Narração: Modalidade em que se conta um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predo- minante é o passado. Estamos cercados de narrações desde as que nos contam histórias infantis, como o “Chapeuzinho Verme- lho” ou a “Bela Adormecida”, até as picantes piadas do cotidiano. Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver ou ex- plicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertati- vo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está preocupado com a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um texto informativo. Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrário, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar, também persuade o interlocutor e modifica seu com- portamento, temos um texto dissertativo-argumentativo. Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de solicita- ção, deliberação informal, discurso de defesa e acusação (advo- cacia), resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, editorial. Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, expõe ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Estrutura básica; ideia principal; desenvolvimento; conclusão. Uso de linguagem clara. Ex: ensaios, artigos científicos, exposições etc. Injunção: Indica como realizar uma ação. É também utili- zado para predizer acontecimentos e comportamentos. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo imperativo. Há também o uso do futuro do presente. Ex: Receita de um bolo e manuais. Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas ou mais pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, como pausas e retomadas. Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais pessoas (o entrevistador e o entrevistado), na qual perguntas são feitas pelo entrevistador para obter informação do entrevistado. Os re- pórteres entrevistam as suas fontes para obter declarações que validem as informações apuradas ou que relatem situações vivi- das por personagens. Antes de ir para a rua, o repórter recebe uma pauta que contém informações que o ajudarão a construir a matéria. Além das informações, a pauta sugere o enfoque a ser trabalhado assim como as fontes a serem entrevistadas. Antes da entrevista o repórter costuma reunir o máximo de informações disponíveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que será entrevistada. Munido deste material, ele formula perguntas que levem o entrevistado a fornecer informações novas e rele- vantes. O repórter também deve ser perspicaz para perceber se o entrevistado mente ou manipula dados nas suas respostas, fato que costuma acontecer principalmente com as fontes oficiais do tema. Por exemplo, quando o repórter vai entrevistar o presidente de uma instituição pública sobre um problema que está a afe- tar o fornecimento de serviços à população, ele tende a evitar as perguntas e a querer reverter a resposta para o que considera positivo na instituição. É importante que o repórter seja insistente. O entrevistador deve conquistar a confiança do entrevistado, mas não tentar dominá-lo, nem ser por ele dominado. Caso contrário, acabará induzindo as respostas ou perdendo a objetividade. As entrevistas apresentam com frequência alguns sinais de pontuação como o ponto de interrogação, o travessão, aspas, reticências, parêntese e as vezes colchetes, que servem para dar ao leitor maior informações que ele supostamente desconhece. O título da entrevista é um enunciado curto que chama a aten- ção do leitor e resume a ideia básica da entrevista. Pode estar todo em letra maiúscula e recebe maior destaque da página. Na maioria dos casos, apenas as preposições ficam com a letra minúscula. O subtítulo introduz o objetivo principal da entre- vista e não vem seguido de ponto final. É um pequeno texto e vem em destaque também. A fotografia do entrevistado apare- ce normalmente na primeira página da entrevista e pode estar acompanhada por uma frase dita por ele. As frases importantes ditas pelo entrevistado e que aparecem em destaque nas ou- tras páginas da entrevista são chamadas de “olho”. Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus grego do tempo),narra fatos históricos em ordem cro- nológica, ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as principais características da crônica, técnicas de sua redação e terá exemplos. 27 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Uma das mais famosas crônicas da história da literatura lu- so-brasileira corresponde à definição de crônica como “narração histórica”. É a “Carta de Achamento do Brasil”, de Pero Vaz de Ca- minha”, na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o des- cobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que os ma- rinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia a dia. Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis: O nascimento da crônica “Há um meio certo de começar a crônica por uma trivia- lidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou sim- plesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fe- nômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est rompue está começada a crônica. (...) (Machado de Assis. “Crônicas Escolhidas”. São Paulo: Editora Ática, 1994) Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina- se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos cotidia- nos. A crônica se diferencia no jornal por não buscar exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emo- cional, mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, singular. O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse lei- tor é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades. Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer que a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um rece- be a observação atenta da realidade cotidiana e do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo. Interpretação de Texto O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias bási- cas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor. Ler é uma atividade muito mais complexa do que a simples interpretação dos símbolos gráficos, de códigos, re- quer que o indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorporando-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivíduo mantenha um comportamento ativo diante da leitura. Os diferentes níveis de leitura Para que isso aconteça, é necessário que haja maturidade para a compreensão do material lido, senão tudo cairá no es- quecimento ou ficará armazenado em nossa memória sem uso, até que tenhamos condições cognitivas para utilizar. De uma forma geral, passamos por diferentes níveis ou eta- pas até termos condições de aproveitar totalmente o assunto lido. Essas etapas ou níveis são cumulativas e vão sendo adquiridas pela vida, estando presente em praticamente toda a nossa leitura. O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao período de alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito sofisticada e requer experiência: não basta apenas conhecermos os códigos, a gramática, a semântica, é preciso que tenhamos um bom do- mínio da língua. O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional. Tem duas funções específicas: primeiro, prevenir para que a leitura posterior não nos surpreenda e, sendo, para que tenhamos chance de escolher qual material leremos, efetivamente. Trata- se, na verdade, de nossa primeira impressão sobre o livro. É a leitura que comumente desenvolvemos “nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de partes, respondem basicamente às seguintes perguntas: - Por que ler este livro? - Será uma leitura útil? - Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar? Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que se seguem, procurando usar de imparcialidade quanto ao pon- to de vista do autor, e o assunto, evitando preconceitos. Se você se propuser a ler um livro sem interesse, com olhar crítico, rejei- tando-o antes de conhecê-lo, provavelmente o aproveitamento será muito baixo. Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar hori- zontes; compreender o mundo; comunicar-se melhor; escrever melhor; relacionar-se melhor com o outro. Pré-Leitura Nome do livro Autor Dados Bibliográficos Prefácio e Índice Prólogo e Introdução O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a edi- ção do livro, fazer um folheio sistemático: ler o prefácio e o índice (ou sumário), analisar um pouco da história que deu origem ao livro, ver o número da edição e o ano de publica- ção. Se falarmos em ler um Machado de Assis, um Júlio Verne, um Jorge Amado, já estaremos sabendo muito sobre o livro. É muito importante verificar estes dados para enquadrarmos o livro na cronologia dos fatos e na atualidade das informações que ele contém. Verifique detalhes que possam contribuir para a coleta do maior número de informações possível. Tudo isso vai ser útil quando formos arquivar os dados lidos no nosso arquivo mental. A propósito, você sabe o que seja um prólogo, um prefácio e uma introdução? Muita gente pensa que os três são a mesma coisa, mas não: Prólogo: é um comentário feito pelo autor a respeito do tema e de sua experiência pessoal. Prefácio: é escrito por terceiros ou pelo próprio autor, re- ferindo-se ao tema abordado no livro e muitas vezes também tecendo comentários sobre o autor. Introdução: escrita também pelo autor, referindo-se ao livro e não ao tema. 28 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Pode-se, nesse caso, aplicar as técnicas da leitura dinâmica. O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois de vasculharmos bem o livro na pré-leitura, analisamos o livro. Para isso, é imprescindível que saibamos em qual gênero o livro se enquadra: trata-se de um romance, um tratado, um livro de pes- quisa e, neste caso, existe apenas teoria ou são inseridas práti- cas e exemplos. No caso de ser um livro teórico, que requeira memorização, procure criar imagens mentais sobre o assunto, ou seja, veja, realmente, o que está lendo, dando vida e muita criatividade ao assunto. Note bem: a leitura efetiva vai aconte- cer nesta fase, e a primeira coisa a fazer é ser capaz de resumir o assunto do livro em duas frases. Já temos algum conteúdo para isso, pois o encadeamento das ideias já é de nosso conhe- cimento. Procure, agora, ler bem o livro, do início ao fim. Esta é a leitura efetiva, aproveite bem este momento. Fique atento! Aproveite todas as informações que a pré-leitura ofereceu. Não pare a leitura para buscar significados de palavras em dicioná- rios ou sublinhar textos, isto será feito em outro momento. O Quarto Nível de leitura é o denominado de controle. Tra- ta-se de uma leitura com a qual vamos efetivamente acabar com qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente, os termos des- conhecidos de um texto são explicitados neste próprio texto, à me- dida que vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico fará com que fiquemos com aquela dúvida incomodando-nos até que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação no texto, será na etapa do controle que lançaremos mão do dicionário. Veja bem: a estaaltura já conhecemos bem o livro e o ato de interromper a leitura não vai fragmentar a compreensão do assunto como um todo. Será, também, nessa etapa que sublinharemos os tópicos importantes, se necessário. Para ressaltar trechos importantes opte por um sinal discreto pró- ximo a eles, visando principalmente a marcar o local do texto em que se encontra, obrigando-o a fixar a cronologia e a se- quência deste fato importante, situando-o no livro. Aproveite bem esta etapa de leitura. Para auxiliar no estudo, é interessante que, ao final da leitura de cada capítulo, você faça um breve resumo com suas próprias palavras de tudo o que foi lido. Um Quinto Nível pode ser opcional: a etapa da repetição aplicada. Quando lemos, assimilamos o conteúdo do texto, mas aprendizagem efetiva vai requerer que tenhamos prática, ou seja, que tenhamos experiência do que foi lido na vida. Você só pode compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada como unir a teoria à prática. Na leitura, quan- do não passamos pela etapa da repetição aplicada, ficamos muitas vezes sujeitos àqueles brancos quando queremos evocar o assunto. Para evitar isso, faça resumos. Observe agora os trechos sublinhados do livro e os resumos de cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, esforce-se para traduzi-lo com suas próprias palavras. Procure associar o as- sunto lido com alguma experiência já vivida ou tente exemplificá -lo com algo concreto, como se fosse um professor e o estivesse ensinando para uma turma de alunos interessados. É importante lembrar que esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos 30 dias posteriores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a leitura e ao retornarmos ao livro, consultamos os re- sumos. Não pense que é um exercício monótono. Nós somos capazes de realizar diariamente exercícios físicos com o propósi- to de melhorar a aparência e a saúde. Pois bem, embora não te- nhamos condições de ver com o que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la quando melhoramos nossas aptidões como o raciocínio, a prontidão de informações e, obviamente, nossos conhecimentos intelectuais. Vale a pena se esforçar no início e criar um método de leitura eficiente e rápido. Ideias Núcleo O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias bási- cas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor. Exemplo: “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista aus- tríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personali- dade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o in- consciente e subconsciente. Começou estudando casos clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e Mar- tin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras diri- gidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturba- ções mentais. Para este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da linguagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília. Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mun- do cultural da época, foi a apresentação da tese de que toda neurose é de origem sexual.” (Salvatore D’Onofrio) Primeiro Conceito do Texto: “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personalidade humana. Sigmund Freud (1859- 1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o inconsciente e subconsciente.” O autor do texto afirma, inicialmente, que Sigmund Freud ajudou a ciên- cia a compreender os níveis mais profundos da personalidade humana, o inconsciente e subconsciente. Segundo Conceito do Texto: “Começou estudando casos clí- nicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a aju- da da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por pa- lavras dirigidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais.” A segunda ideia núcleo mostra que Freud deu início a sua pesquisa estudando os comportamen- tos humanos anormais ou doentios por meio da hipnose. In- satisfeito com esse método, criou o das “livres associações de ideias e de sentimentos”. 29 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Terceiro Conceito do Texto: “Para este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da lingua- gem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como compen- sação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília.” Aqui, está explici- tado que a descoberta das raízes de um trauma se faz por meio da compreensão dos sonhos, que seriam uma linguagem meta- fórica dos desejos não realizados ao longo da vida do dia a dia. Quarto Conceito do Texto: “Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apre- sentação da tese de que toda neurose é de origem sexual.” Por fim, o texto afirma que Freud escandalizou a sociedade de seu tempo, afirmando a novidade de que todo o trauma psicoló- gico é de origem sexual. Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa in- terpretação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte: - Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do as- sunto; - Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura, vá até o fim, ininterruptamente; - Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo menos umas três vezes; - Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas; - Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; - Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor; - Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para me- lhor compreensão; - Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do texto correspondente; - Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão; - Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de...), não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a entender o que se perguntou e o que se pediu; - Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a mais exata ou a mais completa; - Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um fun- damento de lógica objetiva; - Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais; - Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto; - Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras de- nuncia a resposta; - Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo autor, definindo o tema e a mensagem; - O autor defende ideias e você deve percebê-las; - Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são importantíssimos na interpretação do texto. Exemplos: Ele morreu de fome. de fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na realização do fato (= morte de “ele”). Ele morreu faminto. faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que “ele” se encontrava quando morreu. - As orações coordenadas não têm oração principal, ape- nas as ideias estão coordenadas entre si; - Os adjetivos ligados a umsubstantivo vão dar a ele maior clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinan- do-lhe o significado; - Esclarecer o vocabulário; - Entender o vocabulário; - Viver a história; - Ative sua leitura; - Ver, perceber, sentir, apalpar o que se pergunta e o que se pede; - Não se deve preocupar com a arrumação das letras nas alternativas; - As perguntas são fáceis, dependendo de quem lê o tex- to ou como o leu; - Cuidado com as opiniões pessoais, elas não existem; - Sentir, perceber a mensagem do autor; - Cuidado com a exatidão das questões em relação ao texto; - Descobrir o assunto e procurar pensar sobre ele; - Todos os termos da análise sintática, cada termo tem seu valor, sua importância; - Todas as orações subordinadas têm oração principal e as ideias se completam. Vícios de Leitura Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a ca- beça? Ou quem sabe, acompanhando com o dedo? Talvez vocalizando baixinho... Você não percebe, mas esses movi- mentos são alguns dos tantos que prejudicam a leitura. Esses movimentos são conhecidos como vícios de linguagem. Movimentar a cabeça: procure perceber se você não está movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimento, ao fi- nal de pouco tempo, gera muito cansaço além de não causar nenhum efeito positivo. Durante a leitura apenas movimenta- mos os olhos. Regressar no texto, durante a leitura: pessoas que têm dificuldade de memorizar um assunto, que não compreen- dem algumas expressões ou palavras tendem a voltar na sua leitura. Este movimento apenas incrementa a falta de memória, pois secciona a linha de raciocínio e raramente explica o desconhecido, o que normalmente é elucidado no decorrer da leitura. Procure sempre manter uma sequência e não fique “indo e vindo” no livro. O assunto pode se tornar um bicho de sete cabeças! Ler palavra por palavra: para escrever usamos muitas palavras que apenas servem como adereços. Procure ler o conjunto e perceber o seu significado. Sub-vocalização: é o ato de repetir mentalmente a pala- vra. Isto só será corrigido quando conseguirmos ultrapassar a marca de 250 palavras por minuto. Usar apoios: algumas pessoas têm o hábito de acom- panhar a leitura com réguas, apontando ou utilizando um objeto que salta “linha a linha”. O movimento dos olhos é muito mais rápido quando é livre do que quando o fazemos guiado por qualquer objeto. 30 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Leitura Eficiente Ao ler realizamos as seguintes operações: - Captamos o estímulo, ou seja, por meio da visão, enca- minhamos o material a ser lido para nosso cérebro. - Passamos, então, a perceber e a interpretar o dado sen- sorial (palavras, números etc.) e a organizá-lo segundo nos- sa bagagem de conhecimentos anteriores. Para essa etapa, precisamos de motivação, de forma a tornar o processo mais otimizado possível. - Assimilamos o conteúdo lido integrando-o ao nosso “arquivo mental” e aplicando o conhecimento ao nosso co- tidiano. A leitura é um processo muito mais amplo do que pode- mos imaginar. Ler não é unicamente interpretar os símbolos gráficos, mas interpretar o mundo em que vivemos. Na ver- dade, passamos todo o nosso tempo lendo! O psicanalista francês Lacan disse que o olhar da mãe configura a estrutura psíquica da criança, ou seja, esta se vê a partir de como vê seu reflexo nos olhos da mãe! O bebê, então, segundo esta citação, lê nos olhos da mãe o sentimen- to com que é recebido e interpreta suas emoções: se o que encontra é rejeição, sua experiência básica será de terror; se encontra alegria, sua experiência será de tranquilidade, etc. Ler está tão relacionado com o fato de existirmos que nem nos preocupamos em aprimorar este processo. É lendo que vamos construindo nossos valores e estes são os responsá- veis pela transformação dos fatos em objetos de nosso sen- timento. Leitura é um dos grandes, senão o maior, ingrediente da civilização. Ela é uma atividade ampla e livre, fato comprova- do pela frustração de algumas pessoas ao assistirem a um filme, cuja história já foi lida em um livro. Quando lemos, as- sociamos as informações lidas à imensa bagagem de conhe- cimentos que temos armazenados em nosso cérebro e então somos capazes de criar, imaginar e sonhar. É por meio da leitura que podemos entrar em conta- to com pessoas distantes ou do passado, observando suas crenças, convicções e descobertas que foram imortalizadas por meio da escrita. Esta possibilita o avanço tecnológico e científico, registrando os conhecimentos, levando-os a qual- quer pessoa em qualquer lugar do mundo, desde que sai- bam decodificar a mensagem, interpretando os símbolos usados como registro da informação. A leitura é o verdadeiro elo integrador do ser humano e a sociedade em que ele vive! O mundo de hoje é marcado pelo enorme fluxo de infor- mações oferecidas a todo instante. É preciso também tornar- mo-nos mais receptivos e atentos, para nos mantermos atua- lizados e competitivos. Para isso, é imprescindível leitura que nos estimule cada vez mais em vista dos resultados que ela oferece. Se você pretende acompanhar a evolução do mun- do, manter-se em dia, atualizado e bem informado, precisa preocupar-se com a qualidade da sua leitura. Observe: você pode gostar de ler sobre esoterismo e uma pessoa próxima não se interessar por este assunto. Por outro lado, será que esta mesma pessoa se interessa por um livro que fale sobre História ou esportes? No caso da leitura, não existe livro interessante, mas leitores interessados. A pessoa que se preocupa com a qualidade de sua leitura e com o resultado que poderá obter, deve pensar no ato de ler como um comportamento que requer alguns cuidados, para ser realmente eficaz. - Atitude: pensamento positivo para aquilo que deseja ler. Manter-se descansado é muito importante também. Não adianta um desgaste físico enorme, pois a retenção da in- formação será inversamente proporcional. Uma alimentação adequada é muito importante. - Ambiente: o ambiente de leitura deve ser preparado para ela. Nada de ambientes com muitos estímulos que for- cem a dispersão. Deve ser um local tranquilo, agradável, ven- tilado, com uma cadeira confortável para o leitor e mesa para apoiar o livro a uma altura que possibilite postura corporal adequada. Quanto a iluminação, deve vir do lado posterior esquerdo, pois o movimento de virar a página acontecerá an- tes de ter sido lida a última linha da página direita e, de outra forma, haveria a formação de sombra nesta página, o que atrapalharia a leitura. - Objetos necessários: para evitar que, durante a lei- tura, levantarmos para pegar algum objeto que julguemos importante, devemos colocar lápis, marca-texto e dicionário sempre à mão. Quanto sublinhar os pontos importantes do texto, é preciso aprender a técnica adequada. Não o fazer na primeira leitura, evitando que os aspectos sublinhados pa- recem-se mais com um mosaico de informações aleatórias. Os concursos apresentam questões interpretativas que têm por finalidade a identificação de um leitor autônomo. Portanto, o candidato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado. As frases produzem significados diferentes de acordo com o contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, ne- cessário sempre fazer um confronto entre todas as partes que compõem o texto. Além disso, é fundamental apreender as informações apresentadas por trás do texto e as inferên- cias a que ele remete. Este procedimento justifica-se por um texto ser sempre produto de uma postura ideológica do au- tor diante de uma temática qualquer. Como ler e interpretar uma charge Interpretar cartuns, charges ou quadrinhos exigem três habilidades: observação, conhecimento do assunto e vo- cabulário adequado. A primeirapermite que o leitor “veja” todos os ícones presentes - e dono da situação - dê início à descrição minuciosa, mas que prioriza as relevâncias. A se- gunda requer um leitor “antenado” com o noticiário mais re- cente, caso contrário não será possível estabelecer sentidos para o que vê. A terceira encerra o ciclo, pois, sem dar nome ao que vê, o leitor não faz a tradução da imagem. Desse modo, interpretar charges - ou qualquer outra for- ma de expressão visual – exige procedimentos lógicos, aten- ção aos detalhes e uma preocupação rigorosa em associar imagens aos fatos. 31 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Benett. Folha de São Paulo, 15/02/2010 Charges são desenhos humorísticos que se utilizam da ironia e do sarcasmo para a constituição de uma crítica a uma situa- ção social ou política vigente, e contra a qual se pretende – ou ao menos se pretendia, na origem desse fenômeno artístico, na Inglaterra do século XIX – fazer uma oposição. Diferente do cartoon, arte também surgida na Inglaterra e que pretendia pa- rodiar situações do cotidiano da sociedade, constituindo assim uma crítica dos costumes que ultrapassa os limites do tempo e projeta-se como crítica de época, a charge é caracterizada espe- cificamente por ser uma crônica, ou seja, narra ou satiriza um fato acontecido em determinado momento, e que perderá sua carga humorística ao ser desvencilhada do contexto temporal no qual está inserida. Todavia, a palavra cartunista acabou designando, na nossa linguagem cotidiana, a categoria de artistas que produz esse tipo de desenho humorístico (charges ou cartoons) Na verdade, quatro passos básicos para uma boa inter- pretação político-ideológica de uma charge. Afinal, se a cor- rida eleitoral para a Presidência da República já começou, não vai mal dar uma boa olhada nas charges publicadas em cada jornal, impresso ou eletrônico, para ver o que se passa na ca- beça dos donos da grande mídia sobre esse momento ímpar no processo democrático nacional… Amarildo. A Gazeta-ES, 12/04/2010 Passo 1: Procure saber do que a charge está tratando: A charge geralmente está relacionada, por meio do uso de ANALOGIAS, a uma notícia ou fato político, econômico, social ou cultural. Portan- to, a primeira tarefa de um “analista de charges” será compreen- der a qual fato ou notícia a charge em questão está relacionada. Passo 2: Entenda os elementos contidos na charge: Numa charge de crítica política ou econômica, sempre há um prota- gonista e um antagonista da situação – ou seja, um persona- gem alvejado pela crítica do chargista e outro que faz a vez de porta-voz da crítica do chargista. Não necessariamente o an- tagonista aparece na cena… O próprio cenário da charge, uma nota de rodapé ou a própria situação na qual o protagonista está inserido pode fazer a vez de antagonista. Já nas charges de caráter social ou cultural, geralmente não há protagonistas e antagonistas, mas elementos do fato ou da notícia que são caricaturizados – isto é, retratados humoristicamente – com vistas a trazer força à notícia representada na charge. No caso das charges de crítica econômica e política, a identificação dos papéis de protagonista e antagonista da situação é fundamen- tal para o próximo passo na interpretação desta charge. Passo 3: Identifique a linha editorial do veículo de comuni- cação: Não é novidade para nenhum de nós que a imparciali- dade da informação é uma mera ilusão, da qual nos convence- ram de tanto repetir. Não existe imparcialidade nem nas ciên- cias, quanto mais na imprensa! E por mais que a manipulação da notícia seja um ato moralmente execrável, a parcialidade na informação noticiada pelos meios de comunicação não ape- nas é inevitável, como também pode vir a ser benéfica no que tange ao processo da constituição de posicionamentos críti- cos e ideológicos no debate democrático. Reafirmando aquele lugar-comum, mas válido, do dramaturgo Nelson Rodrigues (do qual eu nunca encontrei a citação, confesso), “toda unani- midade é burra”. Por isso, é preciso compreender e identificar a linha editorial do veículo de comunicação no qual a charge foi publicada, pois esta revela a ideologia que inspira o foco de parcialidade que este dá às suas notícias. Thiago Recchia. Gazeta do Povo, 01/04/2010 Passo 4: Compreenda qual o posicionamento ideológico frente ao fato, do qual a charge quer te convencer: Assim como a notícia vem, como já foi comentado, carregada de parcialidade ideológica, a charge não está longe de ser um meio propício de comunicação de um ponto de vista. E com um detalhe a mais: a charge convence! Por seu efeito humorístico, a crítica propos- 32 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA ta pela charge permanece enraizada por tempo indeterminado em nossa imaginação e, por decorrência, como vários autores da consagrada psicologia da imagem já demonstraram, nos proces- sos inconscientes que podem influenciar as decisões e escolhas que julgamos serem estritamente voluntárias. Compreender a mensagem ideológica da qual é composta uma charge acaba tendo a função de tornar conscientes estes processos, fazendo com que nossa decisão seja fundamentada numa decisão mais racional e posicionada, e ao mesmo tempo menos ingênua e ca- ricata da situação. Aí, sim, a charge poderá auxiliar na formulação clara e cônscia de um posicionamento perante os fatos e notícias apresentados por esses meios de comunicação! Exercícios Atenção: As questões de números 1 a 5 referem-se ao tex- to seguinte. Fotografias Toda fotografia é um portal aberto para outra dimensão: o passado. A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tem- po, transformando o que é naquilo que já não é mais, porque o que temos diante dos olhos é transmudado imediatamente em passado no momento do clique. Costumamos dizer que a fotografia con- gela o tempo, preservando um momento passageiro para toda a eternidade, e isso não deixa de ser verdade. Todavia, existe algo que descongela essa imagem: nosso olhar. Em francês, imagem e magia contêm as mesmas cinco letras: image e magie. Toda imagem é magia, e nosso olhar é a varinha de condão que descongela o ins- tante aprisionado nas geleiras eternas do tempo fotográfico. Toda fotografia é uma espécie de espelho da Alice do País das Maravilhas, e cada pessoa que mergulha nesse espelho de papel sai numa dimensão diferente e vivencia experiências di- versas, pois o lado de lá é como o albergue espanhol do ditado: cada um só encontra nele o que trouxe consigo. Além disso, o significado de uma imagem muda com o passar do tempo, até para o mesmo observador. Variam, também, os níveis de percepção de uma fotogra- fia. Isso ocorre, na verdade, com todas as artes: um músico, por exemplo, é capaz de perceber dimensões sonoras inteiramente insuspeitas para os leigos. Da mesma forma, um fotógrafo pro- fissional lê as imagens fotográficas de modo diferente daqueles que desconhecem a sintaxe da fotografia, a “escrita da luz”. Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. (Adaptado de Pedro Vasquez, em Por trás daquela foto. São Paulo: Companhia das Letras, 2010) 1. O segmento do texto que ressalta a ação mesma da per- cepção de uma foto é: (A) A câmara fotográfica é uma verdadeira máquina do tempo. (B) a fotografia congela o tempo. (C) nosso olhar é a varinha de condão que descongela o ins- tante aprisionado. (D) o significado de uma imagem muda com o passar do tempo. (E) Mas é difícil imaginar alguém que seja insensível à magia de uma foto. 2. No contexto do último parágrafo, a referência aos vários níveis de percepção de uma fotografia remete (A) à diversidade das qualidades intrínsecas de uma foto. (B) às diferenças de qualificação do olhar dos obser- vadores. (C) aos graus de insensibilidade de alguns diante de umafoto. (D) às relações que a fotografia mantém com as outras artes. (E) aos vários tempos que cada fotografia representa em si mesma. 3. Atente para as seguintes afirmações: I. Ao dizer, no primeiro parágrafo, que a fotografia congela o tempo, o autor defende a ideia de que a realidade apreendi- da numa foto já não pertence a tempo algum. II. No segundo parágrafo, a menção ao ditado sobre o al- bergue espanhol tem por finalidade sugerir que o olhar do observador não interfere no sentido próprio e particular de uma foto. III. Um fotógrafo profissional, conforme sugere o terceiro parágrafo, vê não apenas uma foto, mas os recursos de uma linguagem específica nela fixados. Em relação ao texto, está correto o que se afirma SOMEN- TE em (A) I e II. (B) II e III. (C) I. (D) II. (E) III. 4. No contexto do primeiro parágrafo, o segmento Toda- via, existe algo que descongela essa imagem pode ser substituí- do, sem prejuízo para a correção e a coerência do texto, por: (A) Tendo isso em vista, há que se descongelar essa imagem. (B) Ainda assim, há mais que uma imagem descongelada. (C) Apesar de tudo, essa imagem descongela algo. (D) Há, não obstante, o que faz essa imagem descongelar. (E) Há algo, outrossim, que essa imagem descongelará. 5. Está clara e correta a redação deste livre comentário so- bre o texto: (A) Apesar de se ombrearem com outras artes plásticas, a fotografia nos faz desfrutar e viver experiências de natureza igualmente temporal. (B) Na superfície espacial de uma fotografia, nem se ima- gine os tempos a que suscitarão essa imagem aparentemente congelada... (C) Conquanto seja o registro de um determinado espaço, uma foto leva-nos a viver profundas experiências de caráter temporal. (D) Tal como ocorrem nos espelhos da Alice, as experiên- cias físicas de uma fotografia podem se inocular em planos temporais. (E) Nenhuma imagem fotográfica é congelada suficien- temente para abrir mão de implicâncias semânticas no plano temporal. 33 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Atenção: As questões de números 6 a 9 referem-se ao texto seguinte. Discriminar ou discriminar? Os dicionários não são úteis apenas para esclarecer o sen- tido de um vocábulo; ajudam, com frequência, a iluminar teses controvertidas e mesmo a incendiar debates. Vamos ao Dicio- nário Houaiss, ao verbete discriminar, e lá encontramos, entre outras, estas duas acepções: a) perceber diferenças; distinguir, discernir; b) tratar mal ou de modo injusto, desigual, um indiví- duo ou grupo de indivíduos, em razão de alguma característica pessoal, cor da pele, classe social, convicções etc. Na primeira acepção, discriminar é dar atenção às diferen- ças, supõe um preciso discernimento; o termo transpira o senti- do positivo de quem reconhece e considera o estatuto do que é diferente. Discriminar o certo do errado é o primeiro passo no caminho da ética. Já na segunda acepção, discriminar é deixar agir o preconceito, é disseminar o juízo preconcebido. Discrimi- nar alguém: fazê-lo objeto de nossa intolerância. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a desigualdade. Nesse caso, deixar de discriminar (no sentido de discernir) é permitir que uma discriminação continue (no sentido de preconceito). Estamos vivendo uma época em que a bandeira da discriminação se apresenta em seu sentido mais positivo: tra- ta-se de aplicar políticas afirmativas para promover aqueles que vêm sofrendo discriminações históricas. Mas há, por outro lado, quem veja nessas propostas afirmativas a forma mais censurável de discriminação... É o caso das cotas especiais para vagas numa universidade ou numa empresa: é uma discriminação, cujo senti- do positivo ou negativo depende da convicção de quem a avalia. As acepções são inconciliáveis, mas estão no mesmo verbete do dicionário e se mostram vivas na mesma sociedade. (Aníbal Lucchesi, inédito) 6. A afirmação de que os dicionários podem ajudar a incendiar debates confirma-se, no texto, pelo fato de que o verbete discriminar (A) padece de um sentido vago e impreciso, gerando por isso inúmeras controvérsias entre os usuários. (B) apresenta um sentido secundário, variante de seu senti- do principal, que não é reconhecido por todos. (C) abona tanto o sentido legítimo como o ilegítimo que se costuma atribuir a esse vocábulo. (D) faz pensar nas dificuldades que existem quando se tra- ta de determinar a origem de um vocábulo. (E) desdobra-se em acepções contraditórias que corres- pondem a convicções incompatíveis. 7. Diz-se que tratar igualmente os desiguais é perpetuar a desigualdade. Da afirmação acima é coerente deduzir esta outra: (A) Os homens são desiguais porque foram tratados com o mesmo critério de igualdade. (B) A igualdade só é alcançável se abolida a fixação de um mesmo critério para casos muito diferentes. (C) Quando todos os desiguais são tratados desigualmen- te, a desigualdade definitiva torna-se aceitável. (D) Uma forma de perpetuar a igualdade está em sempre tratar os iguais como se fossem desiguais. (E) Critérios diferentes implicam desigualdades tais que os injustiçados são sempre os mesmos. 8. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em: (A) iluminar teses controvertidas (1º parágrafo) = amainar posições dubitativas. (B) um preciso discernimento (2º parágrafo) = uma arraiga- da dissuasão. (C) disseminar o juízo preconcebido (2º parágrafo) = dissua- dir o julgamento predestinado. (D) a forma mais censurável (3º parágrafo) = o modo mais repreensível. (E) As acepções são inconciliáveis (3º parágrafo) = as ver- sões são inatacáveis. 9. É preciso reelaborar, para sanar falha estrutural, a reda- ção da seguinte frase: (A) O autor do texto chama a atenção para o fato de que o desejo de promover a igualdade corre o risco de obter um efeito contrário. (B) Embora haja quem aposte no critério único de julga- mento, para se promover a igualdade, visto que desconsideram o risco do contrário. (C) Quem vê como justa a aplicação de um mesmo critério para julgar casos diferentes não crê que isso reafirme uma si- tuação de injustiça. (D) Muitas vezes é preciso corrigir certas distorções apli- cando-se medidas que, à primeira vista, parecem em si mesmas distorcidas. (E) Em nossa época, há desequilíbrios sociais tão graves que tornam necessários os desequilíbrios compensatórios de uma ação corretiva. Atenção: As questões de números 10 a 14 referem-se à crônica abaixo. Bom para o sorveteiro Por alguma razão inconsciente, eu fugia da notícia. Mas a notícia me perseguia. Até no avião, o único jornal abria na mi- nha cara o drama da baleia encalhada na praia de Saquarema. Afinal, depois de quase três dias se debatendo na areia da praia e na tela da televisão, o filhote de jubarte conseguiu ser devol- vido ao mar. Até a União Soviética acabou, como foi dito por locutores especializados em necrológio eufórico. Mas o drama da baleia não acabava. Centenas de curiosos foram lá apreciar aquela montanha de força a se esfalfar em vão na luta pela so- brevivência. Um belo espetáculo. À noite, cessava o trabalho, ou a diversão. Mas já ao raiar do dia, sem recursos, com simples cordas e as próprias mãos, to- dos se empenhavam no lúcido objetivo comum. Comum, vírgula. O sorveteiro vendeu centenas de picolés. Por ele a baleia ficava encalhada por mais duas ou três semanas. Uma santa senhora teve a feliz ideia de levar pastéis e empadinhas para vender com ágio. Um malvado sugeriu que se desse por perdida a batalha e se começasse logo a repartir os bifes. Em 1966, uma baleia adulta foi parar ali mesmo e em quinze minutos estava toda retalhada. Muitos se lembravam da alegria voraz com que foram disputadas as toneladas da vítima. Essa de agora teve mais sorte. Foi salvagraças à religião ecológica que anda na moda e que por um momento estabeleceu uma trégua entre todos nós, animais de sangue quente ou de sangue frio. 34 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás. Logo uma estatal, ó céus, num momento em que é preciso dar provas da eficácia da empresa privada. De qualquer forma, eu já podia re- colher a minha aflição. Metáfora fácil, lá se foi, espero que salva, a baleia de Saquarema. O maior animal do mundo, assim frágil, à mercê de curiosos. À noite, sonhei com o Brasil encalhado na areia diabólica da inflação. A bordo, uma tripulação de camelôs anunciava umas bugigangas. Tudo fala. Tudo é símbolo. (Otto Lara Resende, Folha de S. Paulo) 10. O cronista ressalta aspectos contrastantes do caso de Sa- quarema, tal como se observa na relação entre estas duas expressões: (A) drama da baleia encalhada e três dias se debatendo na areia. (B) em quinze minutos estava toda retalhada e foram dispu- tadas as toneladas da vítima. (C) se esfalfar em vão na luta pela sobrevivência e levar pas- téis e empadinhas para vender com ágio. (D) o filhote de jubarte conseguiu ser devolvido ao mar e lá se foi, espero que salva, a baleia de Saquarema. (E) Até que enfim chegou uma traineira da Petrobrás e Logo uma estatal, ó céus. 11. Atente para as seguintes afirmações sobre o texto: I. A analogia entre a baleia e a União Soviética insinua, en- tre outros termos de aproximação, o encalhe dos gigantes. II. As reações dos envolvidos no episódio da baleia enca- lhada revelam que, acima das diferentes providências, atinham- se todos a um mesmo propósito. III. A expressão Tudo é símbolo prende-se ao fato de que o autor aproveitou o episódio da baleia encalhada para também figurar o encalhe de um país imobilizado pela alta inflação. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em (A) I, II e III. (B) I e III, apenas. (C) II e III, apenas. (D) I e II, apenas. (E) III, apenas. 12. Foram irrelevantes para a salvação da baleia estes dois fatores: (A) o necrológio da União Soviética e os serviços da trai- neira da Petrobrás. (B) o prestígio dos valores ecológicos e o empenho no lú- cido objetivo comum. (C) o fato de a jubarte ser um animal de sangue frio e o prestígio dos valores ecológicos. (D) o fato de a Petrobrás ser uma empresa estatal e as ini- ciativas que couberam a uma traineira. (E) o aproveitamento comercial da situação e a força des- comunal empregada pela jubarte. 13. Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamen- te o sentido de um segmento em: (A) em necrológio eufórico (1º parágrafo) = em façanha mortal. (B) Comum, vírgula (2º parágrafo) = Geral, mas nem tanto. (C) que se desse por perdida a batalha (2º parágrafo) = que se imaginasse o efeito de uma derrota. (D) estabeleceu uma trégua entre todos nós (3º parágrafo) = derrogou uma imunidade para nós todos. (E) é preciso dar provas da eficácia (4º parágrafo) = convém explicitar os bons propósitos. 14. Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o último parágrafo do texto. (A) Apesar de tratar do drama ocorrido com uma baleia, o cronista não deixa de aludir a circunstâncias nacionais, como o impulso para as privatizações e os custos da alta inflação. (B) Mormente tratando de uma jubarte encalhado, o cro- nista não obsta em tratar de assuntos da pauta nacional, como a inflação ou o processo empresarial das privatizações. (C) Vê-se que um cronista pode assumir, como aqui ocor- reu, o papel tanto de um repórter curioso como analisar fatos oportunos, qual seja a escalada inflacionária ou a privatização. (D) O incidente da jubarte encalhado não impediu de que o cronista se valesse de tal episódio para opinar diante de ou- tros fatos, haja vista a inflação nacional ou a escalada das pri- vatizações. (E) Ao bom cronista ocorre associar um episódio como o da jubarte com a natureza de outros, bem distintos, sejam os da economia inflacionada, sejam o crescente prestígio das pri- vatizações. Atenção: As questões de números 15 a 18 referem-se ao texto abaixo. A razão do mérito e a do voto Um ministro, ao tempo do governo militar, irritado com a campanha pelas eleições diretas para presidente da República, buscou minimizar a importância do voto com o seguinte argu- mento: − Será que os passageiros de um avião gostariam de fa- zer uma eleição para escolher um deles como piloto de seu voo? Ou prefeririam confiar no mérito do profissional mais abalizado? A perfídia desse argumento está na falsa analogia entre uma função eminentemente técnica e uma função eminente- mente política. No fundo, o ministro queria dizer que o governo estava indo muito bem nas mãos dos militares e que estes sa- beriam melhor que ninguém prosseguir no comando da nação. Entre a escolha pelo mérito e a escolha pelo voto há neces- sidades muito distintas. Num concurso público, por exemplo, a avaliação do mérito pessoal do candidato se impõe sobre qual- quer outra. A seleção e a classificação de profissionais devem ser processos marcados pela transparência do método e pela adequação aos objetivos. Já a escolha da liderança de uma asso- ciação de classe, de um sindicato deve ocorrer em conformidade com o desejo da maioria, que escolhe livremente seu represen- tante. Entre a especialidade técnica e a vocação política há di- ferenças profundas de natureza, que pedem distintas formas de reconhecimento. Essas questões vêm à tona quando, em certas instituições, o prestígio do “assembleísmo” surge como absoluto. Há quem pretenda decidir tudo no voto, reconhecendo numa assembleia a “soberania” que a qualifica para a tomada de qualquer decisão. Não por acaso, quando alguém se opõe a essa generalização, lembrando a razão do mérito, ouvem-se diatribes contra a “me- ritocracia”. Eis aí uma tarefa para nós todos: reconhecer, caso a caso, a legitimidade que tem a decisão pelo voto ou pelo reco- nhecimento da qualificação indispensável. Assim, não elegere- mos deputado alguém sem espírito público, nem votaremos no passageiro que deverá pilotar nosso avião. (Júlio Castanho de Almeida, inédito) 35 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA 15. Deve-se presumir, com base no texto, que a razão do mérito e a razão do voto devem ser consideradas, diante da to- mada de uma decisão, (A) complementares, pois em separado nenhuma delas sa- tisfaz o que exige uma situação dada. (B) excludentes, já que numa votação não se leva em conta nenhuma questão de mérito. (C) excludentes, já que a qualificação por mérito pressupõe que toda votação é ilegítima. (D) conciliáveis, desde que as mesmas pessoas que votam sejam as que decidam pelo mérito. (E) independentes, visto que cada uma atende a necessida- des de bem distintas naturezas. 16. Atente para as seguintes afirmações: I. A argumentação do ministro, referida no primeiro pará- grafo, é rebatida pelo autor do texto por ser falaciosa e escamo- tear os reais interesses de quem a formula. II. O autor do texto manifesta-se francamente favorável à razão do mérito, a menos que uma situação de real impasse imponha a resolução pelo voto. III. A conotação pejorativa que o uso de aspas confere ao termo “assembleísmo” expressa o ponto de vista dos que des- consideram a qualificação técnica. Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em (A) I. (B) II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III. 17. Considerando-se o contexto, são expressões bastante próximas quanto ao sentido: (A) fazer uma eleição e confiar no mérito do profissional. (B) especialidade técnica e vocação política. (C) classificação de profissionais e escolha da liderança. (D) avaliação do mérito e reconhecimento da qualificação. (E) transparência do método e desejo da maioria. 18. Atente para a redação do seguintecomunicado: Viemos por esse intermédio convocar-lhe para a assem- bleia geral da próxima sexta-feira, aonde se decidirá os ru- mos do nosso movimento reivindicatório. As falhas do texto encontram-se plenamente sanadas em: (A) Vimos, por este intermédio, convocá-lo para a assembleia geral da próxima sexta-feira, quando se decidirão os rumos do nosso movimento reivindicatório. (B) Viemos por este intermédio convocar-lhe para a assem- bleia geral da próxima sexta-feira, onde se decidirá os rumos do nosso movimento reivindicatório. (C) Vimos, por este intermédio, convocar-lhe para a assem- bleia geral da próxima sexta-feira, em cuja se decidirão os rumos do nosso movimento reivindicatório. (D) Vimos por esse intermédio convocá-lo para a assembleia geral da próxima sexta-feira, em que se decidirá os rumos do nos- so movimento reivindicatório. (E) Viemos, por este intermédio, convocá-lo para a assem- bleia geral da próxima sexta-feira, em que se decidirão os rumos do nosso movimento reivindicatório. Respostas: 01-C / 02-B / 03-E / 04-D / 05-C / 06-E / 07-B / 08-D / 09-B / 10-C / 11-B / 12-E / 13-B / 14-A / 15-E / 16-A / 17-D / 18-A Intertextualidade A Intertextualidade pode ser definida como um diálogo entre dois textos. Observe os dois textos abaixo e note como Murilo Men- des (século XX) faz referência ao texto de Gonçalves Dias (século XIX): Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.” (Gonçalves Dias) Canção do Exílio Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacos vendendo a prestações. gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a [Gioconda Eu morro sufocado em terra estrangeira. Nossas flores são mais bonitas nossas frutas mais gostosas mas custam cem mil réis a dúzia. Ai quem me dera chupar uma carambola de [verdade e ouvir um sabiá com certidão de idade! (Murilo Mendes) 36 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Nota-se que há correspondência entre os dois textos. A paródia piadista de Murilo Mendes é um exemplo de in- tertextualidade, uma vez que seu texto foi criado tomando como ponto de partida o texto de Gonçalves Dias. Na literatura, e até mesmo nas artes, a intertextualidade é persistente. Sabemos que todo texto, seja ele literário ou não, é oriundo de outro, seja direta ou indiretamente. Qual- quer texto que se refere a assuntos abordados em outros textos é exemplo de intertextualização. A intertextualidade está presente também em outras áreas, como na pintura, veja as várias versões da famosa pintura de Leonardo da Vinci, Mona Lisa: Mona Lisa, Leonardo da Vinci. Óleo sobre tela, 1503. Mona Lisa, Marcel Duchamp, 1919. Mona Lisa, Fernando Botero, 1978. Mona Lisa, propaganda publicitária. Pode-se definir então a intertextualidade como sendo a criação de um texto a partir de um outro texto ja existente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela é inserida. Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está ligado ao “conhecimento do mundo”, que deve ser com- partilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do co- nhecimento, não se restringindo única e exclusivamente a textos literários. Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o traba- lho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase qua- trocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunin- do um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura. Na publicidade, por exemplo, a que vimos sobre anún- cios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era “Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima”. Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma ver- dadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci). Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o leitor como também de di- fundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois textos caracteriza- da por um citar o outro. Tipos de Intertextualidade Pode-se destacar sete tipos de intertextualidade: - Epígrafe: constitui uma escrita introdutória. - Citação: é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas. - Paráfrase: é a reprodução do texto do outro com a pa- lavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte. - Paródia: é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou aberta- mente. Ela perverte o texto anterior, visando a ironia ou a crítica. - Pastiche: uma recorrência a um gênero. - Tradução: está no campo da intertextualidade porque im- plica a recriação de um texto. - Referência e alusão. Para ampliar esse conhecimento, vale trazer um exemplo de in- tertextualidade na literatura. Às vezes, a superposição de um texto sobre outro pode provocar uma certa atualização ou modernização do primeiro texto. Nota-se isso no livro “Mensagem”, de Fernando Pessoa, que retoma, por exemplo, com seu poema “O Monstrengo” o episódio do Gigante Adamastor de “Os Lusíadas” de Camões. Ocorre como que um diálogo entre os dois textos. Em alguns casos, apro- xima-se da paródia (canto paralelo), como o poema “Madrigal Me- lancólico” de Manuel Bandeira, do livro “Ritmo Dissoluto”, que segu- ramente serviu de inspiração e assim se refletiu no seguinte poema: Assim como Bandeira O que amo em ti não são esses olhos doces delicados nem esse riso de anjo adolescente. O que amo em ti não é só essa pele acetinada sempre pronta para a carícia renovada nem esse seio róseo e atrevido a desenhar-se sob o tecido. O que amo em ti não é essa pressa louca de viver cada vão momento nem a falta de memória para a dor. O que amo em ti não é apenas essa voz leve que me envolve e me consome nem o que deseja todo homem flor definida e definitiva a abrir-se como boca ou ferida nem mesmo essa juventude assim perdida. O que amo em ti enigmática e solidária: É a Vida! (Geraldo Chacon, Meu Caderno de Poesia, Flâmula, 2004, p. 37) 37 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Madrigal Melancólico O que eu adoro em ti não é a tua beleza. A beleza, é em nós que ela existe. A beleza é um conceito. E a beleza é triste. Não é triste em si,mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza. (...) O que eu adoro em tua natureza, não é o profundo instinto maternal em teu flanco aberto como uma ferida. nem a tua pureza. Nem a tua impureza. O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me! O que eu adoro em ti, é a vida. (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, José Olympio, 1980, p. 83) A relação intertextual é estabelecida, por exemplo, no texto de Oswald de Andrade, escrito no século XX, “Meus oito anos”, quando este cita o poema , do século XIX, de Casimiro de Abreu, de mesmo nome. Meus oito anos Oh! Que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor, que sonhos, que flores Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras Debaixo dos laranjais! (Casimiro de Abreu) “Meus oito anos” Oh! Que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Naquele quintal de terra Da rua São Antonio Debaixo da bananeira Sem nenhum laranjais! A intertextualidade acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, fil- me, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade. Apresenta-se explicitamente quando o autor informa o objeto de sua citação. Num texto científico, por exemplo, o au- tor do texto citado é indicado, já na forma implícita, a indicação é oculta. Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diálogo entre os textos. A intertextualidade pode ocor- rer afirmando as mesmas ideias da obra citada ou contestando -as. Vejamos duas das formas: a Paráfrase e a Paródia. Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea- firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi dito. Temos um exemplo citado por Affonso Romano Sant’Anna em seu livro “Paródia, paráfrase & Cia” : Texto Original Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”) Paráfrase Meus olhos brasileiros se fecham saudosos Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’. Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’? Eu tão esquecido de minha terra… Ai terra que tem palmeiras Onde canta o sabiá! (Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”) Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é mui- to utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia, aqui o poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o texto primitivo conservando suas ideias, não há mudança do sentido principal do texto que é a saudade da terra natal. A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original é retoma- da para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse processo há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente- mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe dominante. Com o mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, agora, uma paródia. Texto Original Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá, As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”) Paródia Minha terra tem palmares onde gorjeia o mar os passarinhos daqui não cantam como os de lá. (Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”) 38 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA O nome Palmares, escrito com letra minúscula, substitui a palavra palmeiras, há um contexto histórico, social e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma inversão do sentido do texto primitivo que foi substituído pela crítica à escravidão existente no Brasil. Na literatura relativa à Linguística Textual, é frequente apontar-se como um dos fatores de textualidade a referência - explícita ou implícita - a outros textos, tomados estes num sentido bem amplo (orais, escritos, visuais - artes plásticas, ci- nema - , música, propaganda etc.) A esse “diálogo”entre textos dá-se o nome de intertextualidade. Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conhe- cimento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, co- mum ao produtor e ao receptor de textos. A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica a identificação / o reconhe- cimento de remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos, além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função daquela citação ou alusão em questão. Entre os variadíssimos tipos de referências, há provérbios, ditos populares, frases bíblicas ou obras / trechos de obras constantemente citados, literalmente ou modificados, cujo re- conhecimento é facilmente perceptível pelos interlocutores em geral. Por exemplo, uma revista brasileira adotou o slogan: “Di- ze-me o que lês e dir-te-ei quem és”. Voltada fundamentalmente para um público de uma determinada classe sociocultural, o produtor do mencionado anúncio espera que os leitores reco- nheçam a frase da Bíblia (“Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”). Ao adaptar a sentença, a intenção da propaganda é, evidentemente, angariar a confiança do leitor (e, consequente- mente, a credibilidade das informações contidas naquele pe- riódico), pois a Bíblia costuma ser tomada como um livro de pensamentos e ensinamentos considerados como “verdades” universalmente assentadas e aceitas por diversas comunidades. Outro tipo comum de intertextualidade é a introdução em tex- tos de provérbios ou ditos populares, que também inspiram confiança, pois costumam conter mensagens reconhecidas como verdadeiras. São aproveitados não só em propaganda mas ainda em variados textos orais ou escritos, literários e não -literários. Por exemplo, ao iniciar o poema “Tecendo a manhã”, João Cabral de Melo Neto defende uma ideia: “Um galo so- zinho não tece uma manhã”. Não é necessário muito esforço para reconhecer que por detrás dessas palavras está o ditado “Uma andorinha só não faz verão”. O verso inicial funciona, pois, como uma espécie de “tese”, que o texto irá tentar comprovar através de argumentação poética. Há, no entanto, certos tipos de citações (literais ou cons- truídas) e de alusões muito sutis que só são compartilhadas por um pequeno número de pessoas. É o caso de referências utilizadas em textos científicos ou jornalísticos (Seções de Eco- nomia, de Informática, por exemplo) e em obras literárias, pro- sa ou poesia, que às vezes remetem a uma forma e/ou a um conteúdo bastante específico(s), percebido(s) apenas por um leitor/interlocutor muito bem informado e/ou altamente letra- do. Na literatura, podem-se citar, entre muitos outros, autores estrangeiros, como James Joyce, T.S. Eliot, Umberto Eco. A remissão a textos e para-textos do circuito cultural (mí- dia, propaganda, outdoors, nomes de marcas de produtos etc.) é especialmente recorrente em autores chamados pós-moder- nos. Para ilustrar, pode-se mencionar, entre outros escritores brasileiros, Ana Cristina Cesar, poetisa carioca, que usa e “abu- sa” da intertextualidade em seus textos, a tal ponto que, sem a identificação das referências, o poema se torna, constantemen- te, ininteligível e chega a ser consideradopor algumas pessoas como um “amontoado aleatório de enunciados”, sem coerên- cia e, portanto, desprovido de sentido. Os teóricos costumam identificar tipos de intertextualida- de, entre os quais se destacam: - a que se liga ao conteúdo (por exemplo, matérias jorna- lísticas que se reportam a notícias veiculadas anteriormente na imprensa falada e/ou escrita: textos literários ou não-literários que se referem a temas ou assuntos contidos em outros textos etc.). Podem ser explícitas (citações entre aspas, com ou sem indicação da fonte) ou implícitas (paráfrases, paródias etc.); - a que se associa ao caráter formal, que pode ou não estar ligado à tipologia textual como, por exemplo, textos que “imi- tam” a linguagem bíblica, jurídica, linguagem de relatório etc. ou que procuram imitar o estilo de um autor, em que comenta o seriado da TV Globo, baseado no livro de Guimarães Rosa, procurando manter a linguagem e o estilo do escritor); - a que remete a tipos textuais (ou “fatores tipológicos”), ligados a modelos cognitivos globais, às estruturas e superes- truturas ou a aspectos formais de caráter linguístico próprios de cada tipo de discurso e/ou a cada tipo de texto: tipologias ligadas a estilos de época. Por superestrutura entendem-se, en- tre outras, estruturas argumentativas (Tese anterior), premissas - argumentos (contra-argumentos - síntese), conclusão (nova tese), estruturas narrativas (situação - complicação - ação ou avaliação – resolução), moral ou estado final etc.; Um outro aspecto que é mencionado muito superficial- mente é o da intertextualidade linguística. Ela está ligada ao que o linguista romeno, Eugenio Coseriu, chama de formas do “discurso repetido”: - “textemas” ou “unidades de textos”: provérbios, ditados populares; citações de vários tipos, consagradas pela tradição cultural de uma comunidade etc.; - “sintagmas estereotipados”: equivalentes a expressões idiomáticas; - “perífrases léxicas”: unidades multivocabulares, emprega- das frequentemente mas ainda não lexicalizadas (ex. “grave- mente doente”, “dia útil”, “fazer misérias” etc.). A intertextualidade tem funções diferentes, dependendo dos textos/contextos em que as referências (linguísticas ou culturais) estão inseridas. Chamo a isso “graus das funções da intertextualidade”. Didaticamente pode-se dizer que a referência cultural e/ou linguística pode servir apenas de pretexto, é o caso de “epígra- fes” longinquamente vinculadas a um trabalho e/ou a um texto. Sem dizer com isso que todas as epígrafes funcionem apenas como pretextos. Em geral, o produtor do texto elege algo per- tinente e condizente com a temática de que trata. Existam algu- mas, todavia, que estão ali apenas para mostrar “conhecimen- to” de frases famosas e/ou para servir de “decoração” no texto. Neste caso, o “intertexto” não tem um papel específico nem na construção nem na camada semântica do texto. Outras vezes, o autor parte de uma frase ou de um ver- so que ocorreu a ele repentinamente (texto “A última crônica”, em que o autor confessa estar sem assunto e tem de escrever). Afirma então: 39 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA “Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: assim eu quereria meu último poema.” Descreve então uma cena passada em um botequim, em que um casal comemora modestamente o aniversário da filha, com um pedaço de bolo, uma coca cola e três velinhas brancas. O pai parecia satisfeito com o sucesso da celebração, até que fica perturbado por ter sido observado, mas acaba por susten- tar a satisfação e se abre num sorriso. O autor termina a crônica, parafraseando o verso de Manuel Bandeira: “Assim eu quere- ria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso”. O verso de Bandeira não pode ser considerado, nessa crônica, um mero pretexto. A intertextualidade desempenha o papel de conferir uma certa “literariedade” à crônica, além de explicar o título e servir de “fecho de ouro” para um texto que se inicia sem um conteúdo previamente escolhido. Não é, contudo, im- prescindível à compreensão do texto. O que parece importante é que não se encare a intertex- tualidade apenas como a “identificação” da fonte e, sim, que se procure estudá-la como um enriquecimento da leitura e da produção de textos e, sobretudo, que se tente mostrar a função da sua presença na construção e no(s) sentido(s) dos textos. Como afirmam Koch & Travaglia, “todas as questões liga- das à intertextualidade influenciam tanto o processo de produ- ção como o de compreensão de textos”. Considerada por alguns autores como uma das condições para a existência de um texto, a intertextualidade se destaca por relacionar um texto concreto com a memória textual co- letiva, a memória de um grupo ou de um indivíduo específico. Trata-se da possibilidade de os textos serem criados a partir de outros textos. As obras de caráter científico remetem explicitamente a autores reconhecidos, garantindo, assim, a veracidade das afirmações. Nossas conversas são entrelaçadas de alusões a inúmeras considerações armazenadas em nossas mentes. O jornal está repleto de referências já supostamente conhecidas pelo leitor. A leitura de um romance, de um conto, novela, enfim, de qualquer obra literária, nos aponta para ou- tras obras, muitas vezes de forma implícita. A nossa compreensão de textos (considerados aqui da for- ma mais abrangente) muito dependerá da nossa experiência de vida, das nossas vivências, das nossas leituras. Determinadas obras só se revelam através do conhecimento de outras. Ao visitar um museu, por exemplo, o nosso conhecimento prévio muito nos auxilia ao nos depararmos com certas obras. A noção de intertextualidade, da presença contínua de ou- tros textos em determinado texto, nos leva a refletir a respeito da individualidade e da coletividade em termos de criação. Já vimos anteriormente que a citação de outros textos se faz de forma implícita ou explícita. Mas, com que objetivo? Um texto remete a outro para defender as ideias nele con- tidas ou para contestar tais ideias. Assim, para se definir diante de determinado assunto, o autor do texto leva em consideração as ideias de outros “autores” e com eles dialoga no seu texto. Ainda ressaltando a importância da intertextualidade, re- metemos às considerações de Vigner: “Afirma-se aqui a impor- tância do fenômeno da intertextualidade como fator essencial à legibilidade do texto literário, e, a nosso ver, de todos os ou- tros textos. O texto não é mais considerado só nas suas relações com um referente extra-textual, mas primeiro na relação esta- belecida com outros textos”. Como exemplo, temos um texto “Questão da Objetivida- de” e uma crônica de Zuenir Ventura, “Em vez das células, as cédulas” para concretizar um pouco mais o conceito de inter- textualidade. Questão da Objetividade As Ciências Humanas invadem hoje todo o nosso espaço mental. Até parece que nossa cultura assinou um contrato com tais disciplinas, estipulando que lhes compete resolver tecnicamente boa parte dos conflitos gerados pela aceleração das atuais mudanças sociais. É em nome do conhecimento objetivo que elas se julgam no direito de explicar os fenôme- nos humanos e de propor soluções de ordem ética, política, ideológica ou simplesmente humanitária, sem se darem con- ta de que, fazendo isso, podem facilmente converter-se em “comodidades teóricas” para seus autores e em “comodidades práticas” para sua clientela. Também é em nome do rigor científico que tentam construir todo o seu campo teórico do fenômeno humano, mas através da ideia que gostariam de ter dele, visto terem renunciado aos seus apelos e às suas significações. O equívoco olhar de Narciso, fascinado por sua própria beleza, estaria substituídopor um olhar frio, objetivo, escrupuloso, calculista e calculador: e as disciplinas humanas seriam científicas! (Introdução às Ciências Humanas. Hilton Japiassu. São Paulo, Letras e Letras, 1994, pp.89/90) Comentário: Neste texto, temos um bom exemplo do que se define como intertextualidade. As relações entre textos, a citação de um texto por outro, enfim, o diálogo entre textos. Muitas vezes, para entender um texto na sua totalidade, é preciso conhecer o(s) texto(s) que nele fora(m) citado(s). No trecho, por exemplo, em que se discute o papel das Ciências Humanas nos tempos atuais e o espaço que estão ocupando, é trazido à tona o mito de Narciso. É preciso, en- tão, dispor do conhecimento de que Narciso, jovem dotado de grande beleza, apaixonou-se por sua própria imagem quando a viu refletida na água de uma fonte onde foi matar a sede. Suas tentativas de alcançar a bela imagem acabaram em desespero e morte. O último parágrafo, em que o mito de Narciso é citado, demonstra que, dado o modo como as Ciências Humanas são vistas hoje, até o olhar de Narciso, antes “fascinado por sua própria beleza”, seria substituído por um “olhar frio, ob- jetivo, escrupuloso, calculista e calculador”, ou seja, o olhar de Narciso perderia o seu tom de encantamento para se transformar em algo material, sem sentimentos. A compa- ração se estende às Ciências Humanas, que, de humanas, nada mais teriam, transformando-se em disciplinas cientí- ficas. Em vez das células, as cédulas Nesses tempos de clonagem, recomenda-se assistir ao documentário Arquitetura da destruição, de Peter Cohen. A fantástica história de Dolly, a ovelha, parece saída do filme, que conta a aventura demente do nazismo, com seus so- nhos de beleza e suas fantasias genéticas, seus experimen- tos de eugenia e purificação da raça. 40 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Os cientistas são engraçados: bons para inventar e péssi- mos para prever. Primeiro, descobrem; depois se assustam com o risco da descoberta e aí então passam a gritar “cuidado, pe- rigo”. Fizeram isso com quase todos os inventos, inclusive com a fissão nuclear, espantando-se quando “o átomo para a paz” tornou-se uma mortífera arma de guerra. E estão fazendo o mesmo agora. (...) Desde muito tempo se discute o quanto a ciência, ao procurar o bem, pode provocar involuntariamente o mal. O que a Arquitetura da destruição mostra é como a arte e a estética são capazes de fazer o mesmo, isto é, como a beleza pode ser- vir à morte, à crueldade e à destruição. Hitler julgava-se “o maior ator da Europa” e acreditava ser alguma coisa como um “tirano-artista” nietzschiano ou um “di- tador de gênio” wagneriano. Para ele, “a vida era arte,” e o mun- do, uma grandiosa ópera da qual era diretor e protagonista. O documentário mostra como os rituais coletivos, os gran- des espetáculos de massa, as tochas acesas (...) tudo isso consti- tuía um culto estético - ainda que redundante (...) E o pior - todo esse aparato era posto a serviço da perversa utopia de Hitler: a manipulação genética, a possibilidade de purificação racial e de eliminação das imperfeições, principalmente as físicas. Não im- portava que os mais ilustres exemplares nazistas, eles próprios, desmoralizassem o que pregavam em termos de eugenia. O que importava é que as pessoas queriam acreditar na in- sensatez apesar dos insensatos, como ainda há quem continue acreditando. No Brasil, felizmente, Dolly provoca mais piada do que ameaça. Já se atribui isso ao fato de que a nossa arquite- tura da destruição é a corrupção. Somos craques mesmo é em clonagem financeira. O que seriam nossos laranjas e fantasmas senão clones e replicantes virtuais? Aqui, em vez de células, es- tamos interessados é em manipular cédulas. (Zuenir Ventura, JB, 1997) Comentário: Tendo como ponto de partida a alusão ao do- cumentário Arquitetura da destruição, o texto mantém sua uni- dade de sentido na relação que estabelece com outros textos, com dados da História. Nesta crônica, duas propriedades do texto são facilmente perceptíveis: a intertextualidade e a inserção histórica. O texto se constrói, à medida que retoma fatos já conhe- cidos. Nesse sentido, quanto mais amplo for o repertório do leitor, o seu acervo de conhecimentos, maior será a sua com- petência para perceber como os textos “dialogam uns com os outros” por meio de referências, alusões e citações. Para perceber as intenções do autor desta crônica, ou seja, a sua intencionalidade, é preciso que o leitor tenha conheci- mento de fatos atuais, como as referências ao documentário recém lançado no circuito cinematográfico, à ovelha clonada Dolly, aos “laranjas” e “fantasmas”, termos que dizem respeito aos envolvidos em transações econômicas duvidosas. É preciso que conheça também o que foi o nazismo, a figura de Hitler e sua obsessão pela raça pura, e ainda tenha conhecimento da existência do filósofo Nietzsche e do compositor Wagner. O vocabulário utilizado aponta para campos semânticos relacionados à clonagem, à raça pura, aos binômios arte/bele- za, arte/destruição, corrupção. - Clonagem: experimentos, avanços genéticos, ovelhas, cientistas, inventos, células, clones replicantes, manipulação ge- nética, descoberta. - Raça Pura: aventura, demente do nazismo, fantasias ge- néticas, experimentos de eugenia, utopia perversa, manipula- ção genética, imperfeições físicas, eugenia. - Arte/Beleza - Arte/Destruição: estética, sonhos de beleza, crueldade, tirano artista ditador de gênio, nietzschiano, wag- neriano, grandiosa ópera, diretor, protagonista, espetáculos de massa e tochas acesas. - Corrupção: laranjas, clonagem financeira, cédulas, fantasmas. Esses campos semânticos se entrecruzam, porque englo- bam referências múltiplas dentro do texto. TIPOLOGIA TEXTUAL. Tipologia Textual Tipo textual é a forma como um texto se apresenta. As úni- cas tipologias existentes são: narração, descrição, dissertação ou exposição, informação e injunção. É importante que não se confunda tipo textual com gênero textual. Texto Narrativo - tipo textual em que se conta fatos que ocorreram num determinado tempo e lugar, envolvendo per- sonagens e um narrador. Refere-se a objeto do mundo real ou fictício. Possui uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado. - expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta antes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente); - é um tipo de texto sequencial; - relato de fatos; - presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo; - apresentação de um conflito; - uso de verbos de ação; - geralmente, é mesclada de descrições; - o diálogo direto é frequente. Texto Descritivo - um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais abs- trata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterioridade. É fazer uma des- crição minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto refere. Nessa espécie textual as coisas acontecem ao mesmo tempo. - expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma visão; - é um tipo de texto figurativo; - retrato de pessoas, ambientes, objetos; - predomínio de atributos; - uso de verbos de ligação; - frequente emprego de metáforas, comparações e outras figuras de linguagem; - tem como resultado a imagem física ou psicológica. 41 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Texto Dissertativo - a dissertação é um texto que analisa, interpreta, explica e avalia dados da realidade. Esse tipo textual re- quer reflexão, pois as opiniões sobre os fatos e a postura crítica em relação ao que se discute têm grande importância.O texto disser- tativo é temático, pois trata de análises e interpretações; o tempo explorado é o presente no seu valor atemporal; é constituído por uma introdução onde o assunto a ser discutido é apresentado, se- guido por uma argumentação que caracteriza o ponto de vista do autor sobre o assunto em evidência. Nesse tipo de texto a expres- são das ideias, valores, crenças são claras, evidentes, pois é um tipo de texto que propõe a reflexão, o debate de ideias. A linguagem explorada é a denotativa, embora o uso da conotação possa mar- car um estilo pessoal. A objetividade é um fator importante, pois dá ao texto um valor universal, por isso geralmente o enunciador não aparece porque o mais importante é o assunto em questão e não quem fala dele. A ausência do emissor é importante para que a ideia defendida torne algo partilhado entre muitas pessoas, sendo admitido o emprego da 1ª pessoa do plural - nós, pois esse não descaracteriza o discurso dissertativo. - expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa; - é um tipo de texto argumentativo. - defesa de um argumento: apresentação de uma tese que será defendida; desenvolvimento ou argumentação; fe- chamento; - predomínio da linguagem objetiva; - prevalece a denotação. Texto Argumentativo - esse texto tem a função de per- suadir o leitor, convencendo-o de aceitar uma ideia imposta pelo texto. É o tipo textual mais presente em manifestos e car- tas abertas, e quando também mostra fatos para embasar a argumentação, se torna um texto dissertativo-argumentativo. Texto Injuntivo/Instrucional - indica como realizar uma ação. Também é utilizado para predizer acontecimentos e com- portamentos. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo imperativo, porém nota-se também o uso do infinitivo e o uso do futuro do presen- te do modo indicativo. Ex: Previsões do tempo, receitas culinárias, manuais, leis, bula de remédio, convenções, regras e eventos. Narração A Narração é um tipo de texto que relata uma história real, fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo apresenta personagens que atuam em um tempo e em um es- paço, organizados por uma narração feita por um narrador. É uma série de fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mudança de um estado para outro, segundo relações de se- quencialidade e causalidade, e não simultâneos como na des- crição. Expressa as relações entre os indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas entre esses indivíduos e o mundo, utilizando situações que contêm essa vivência. Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração pre- domina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo de texto são os verbos de ação. O conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de texto recebe o nome de enredo. As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas personagens, que são justamente as pessoas envolvidas no episódio que está sendo contado. As personagens são identi- ficadas (nomeadas) no texto narrativo pelos substantivos pró- prios. Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar) as ações do enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre uma ação ou ações é chamado de espaço, repre- sentado no texto pelos advérbios de lugar. Além de contar onde, o narrador também pode esclare- cer “quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor “como” o fato narrado aconteceu. A história contada, por isso, passa por uma introdução (parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo desenvolvimento do enredo (é a história propriamente dita, o meio, o “miolo” da narrativa, também chamada de trama) e termina com a conclusão da história (é o final ou epílogo). Aquele que conta a história é o narrador, que pode ser pes- soal (narra em 1ª pessoa: Eu...) ou impessoal (narra em 3ª pes- soa: Ele...). Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos verbos, formando uma rede: a própria história contada. Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a história. Elementos Estruturais (I): - Enredo: desenrolar dos acontecimentos. - Personagens: são seres que se movimentam, se rela- cionam e dão lugar à trama que se estabelece na ação. Reve- lam-se por meio de características físicas ou psicológicas. Os personagens podem ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais (trabalhador, estudante, burguês etc.) ou tipos huma- nos (o medroso, o tímido, o avarento etc.), heróis ou anti-he- róis, protagonistas ou antagonistas. - Narrador: é quem conta a história. - Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico. - Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o tempo convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tem- po interior, subjetivo. Elementos Estruturais (II): Personagens - Quem? Protagonista/Antagonista Acontecimento - O quê? Fato Tempo - Quando? Época em que ocorreu o fato Espaço - Onde? Lugar onde ocorreu o fato Modo - Como? De que forma ocorreu o fato Causa - Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato Resultado - previsível ou imprevisível. Final - Fechado ou Aberto. 42 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se de tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamen- te, como simples exemplos de uma narração. Há uma relação de implicação mútua entre eles, para garantir coerência e ve- rossimilhança à história narrada. Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão, obrigatoriamente sempre presentes no discurso, exceto as personagens ou o fato a ser narrado. Exemplo: Porquinho-da-índia Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índía. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada. Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, pág. 110. Observe que, no texto acima, há um conjunto de trans- formações de situação: ganhar um porquinho-da-índia é passar da situação de não ter o animalzinho para a de tê-lo; levá-lo para a sala ou para outros lugares é passar da situa- ção de ele estar debaixo do fogão para a de estar em outros lugares; ele não gostava: “queria era estar debaixo do fogão” implica a volta à situação anterior; “não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas” dá a entender que o menino pas- sava de uma situação de não ser terno com o animalzinho para uma situação de ser; no último verso tem-se a passa- gem da situação de não ter namorada para a de ter. Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande con- junto de mudanças de situação. É isso que define o que se chama o componente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mudança de estado pela ação de alguma personagem, é uma transformação de situação. Mesmo que essa perso- nagem não apareça no texto, ela está logicamente implícita. Assim, por exemplo, se o menino ganhou um porquinho- da-índia, é porque alguém lhe deu o animalzinho. Assim, há basicamente,dois tipos de mudança: aquele em que alguém recebe alguma coisa (o menino passou a ter o porquinho- da índia) e aquele alguém perde alguma coisa (o porquinho perdia, a cada vez que o menino o levava para outro lugar, o espaço confortável de debaixo do fogão). Assim, temos dois tipos de narrativas: de aquisição e de privação. Existem três tipos de foco narrativo: - Narrador-personagem: é aquele que conta a história na qual é participante. Nesse caso ele é narrador e persona- gem ao mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa. - Narrador-observador: é aquele que conta a história como alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a história é contada em 3ª pessoa. - Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o en- redo e as personagens, revelando seus pensamentos e sen- timentos íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas ve- zes, aparece misturada com pensamentos dos personagens (discurso indireto livre). Estrutura: - Apresentação: é a parte do texto em que são apre- sentados alguns personagens e expostas algumas circuns- tâncias da história, como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá. - Complicação: é a parte do texto em que se inicia pro- priamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem, conduzindo ao clímax. - Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu momento crítico, tornando o desfecho inevitável. - Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações dos personagens. Tipos de Personagens: Os personagens têm muita importância na constru- ção de um texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou secundários, conforme o papel que desem- penham no enredo, podem ser apresentados direta ou in- diretamente. A apresentação direta acontece quando o personagem aparece de forma clara no texto, retratando suas caracterís- ticas físicas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando os personagens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo. - Em 1ª pessoa: Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a história e é o protagonista. Exemplo: “Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bam- bas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vi- zinho. Comecei a andar de um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra vez e estacava.” (Machado de Assis. Dom Casmurro) Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acre- ditar, eu estava lá e vi. Exemplo: “Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contrabandista que fez cancha nos banhados do Ibirocaí. Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a cruzar os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Lua, na escuridão das noites, na cerração das madru- gadas...; ainda que chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse como por alma de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca desandou cruzada!... (...) 43 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele. Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos desde muito tempo. (...) Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na matança dos leitões e no tiramento dos assados com couro. (J. Simões Lopes Neto – Contrabandista) - Em 3ª pessoa: Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pes- soa. Exemplo: “Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fanta- siaram de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à rua com ar menos carnavalesco deste mundo, morrendo de vergonha da malha de cetim, das asas e das antenas e, mais ainda, da cara à mostra, sem máscara piedosa para disfarçar o sentimento impreciso de ridículo.” (Ilka Laurito. Sal do Lírico) Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo: Festa Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois meninos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas ambos com menos de dez anos. Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas reso- lutamente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis mesas desertas. O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois pãezinhos. __ Duzentos e vinte. O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido. __Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz. __ Como? __ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gostoso. O homem olha para os meninos. __ O preço é o mesmo – informa o rapaz. __ Está certo. Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida. O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em seguida, num pratinho, os dois pães com meia almônde- ga cada um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira. Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu gua- raná e morde o primeiro bocado do pão. O homem toma a cerveja em pequenos goles, obser- vando criteriosamente o menino mais velho e o menino mais novo absorvidos com o sanduíche e a bebida. Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois me- ninos. E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados naquela mesa. (Wander Piroli) Tipos de Discurso: Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamen- te para o personagem, sem a sua interferência. Exemplo: Caso de Desquite __ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca). Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto casado. Agora com mania de mulher. Todo velho é sem- vergonha. __ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não me pise, fico uma jararaca. __ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão. __ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom? Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de ma- mar no primeiro mês. __Você desempregado, quem é que fazia roça? __ Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. Fui jogado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo sem ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o hominho aqui na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom? __ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende? __ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém mor- re só. Sempre tem um cristão que enterra o pobre. __ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher... __ Eu arranjo. __ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem dois cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de me- lhor. Vai me deixar sem nada? __ Você tinha amula e a potranca. A mula vendeu e a potranca, deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um prato de comida e roupa lavada. __ Para onde foi a lavadeira? __ Quem? __ A mulata. (...) (Dalton Trevisan – A guerra Conjugal) Discurso Indireto: o narrador conta o que o persona- gem diz, sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo: Frio O menino tinha só dez anos. Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde. Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem fei- to que trazia, afastou a idéia como se estivesse fazendo uma coisa errada. (Nos bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo, sem que percebesse; e depois?... Que é que diria a Paraná?) Andando. Paraná mandara-lhe não ficar observando as vitrines, os prédios, as coisas. Como fazia nos dias comuns. Ia firme e esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar muito para nada. __ Olho vivo – como dizia Paraná. Devagar, muita atenção nos autos, na travessia das ruas. Ele ia pelasbeiradas. Quando em quando, assomava um guarda nas esquinas. O seu coraçãozinho se apertava. 44 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Na estação da Sorocabana perguntou as horas a uma mulher. Sempre ficam mulheres vagabundeando por ali, à noite. Pelo jardim, pelos escuros da Alameda Cleveland. Ela lhe deu, ele seguiu. Ignorava a exatidão de seus cálculos, mas provavelmente faltava mais ou menos uma hora para chegar em casa. Os bondes passavam. (João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço) Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do personagem e a fala do narrador. É um recurso relati- vamente recente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX. Exemplo: A Morte da Porta-Estandarte Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus bra- ços. Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso segurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu... Esse temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham paciência... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambores? Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar... Por que não está malhando em sua ca- beça?... (...) Ele vai tirar Rosinha da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo do País... Abraçá-la no alto de uma colina... (Aníbal Machado) Sequência Narrativa: Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: uma coordena-se a outra, uma implica a outra, uma subor- dina-se a outra. A narrativa típica tem quatro mudanças de situação: - uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo); - uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma competência para fazer algo); - uma em que a personagem executa aquilo que queria ou devia fazer (é a mudança principal da narrativa); - uma em que se constata que uma transformação se deu e em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens (geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os maus). Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata a realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela efetua-se porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazê-la. Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um apartamento: quando se assina a escritura, realiza-se o ato de compra; para isso, é necessário poder (ter dinheiro) e querer ou dever comprar (respectivamente, querer deixar de pagar aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido despejado, por exemplo). Algumas mudanças são necessárias para que outras se deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um bambu ou outro instrumento para derrubá-la. Para ter um carro, é preciso antes conseguir o dinheiro. Narrativa e Narração Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade é um componente narrativo que pode existir em textos que não são narrações. A narrativa é a transformação de situações. Por exem- plo, quando se diz “Depois da abolição, incentivou-se a imigração de europeus”, temos um texto dissertativo, que, no entanto, apre- senta um componente narrativo, pois contém uma mudança de situação: do não incentivo ao incentivo da imigração européia. Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto, o que é narração? A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três caracte- rísticas: - é um conjunto de transformações de situação (o texto de Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preen- che essa condição); - é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos concretos (o texto “Porquinho-da-índia” preenche tam- bém esse requisito); - as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal que, entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e posterioridade (no texto “Porquinho-da-índia” o fato de ganhar o animal é anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por sua vez é anterior ao de o menino levá-lo para a sala, que por seu turno é anterior ao de o porquinho-da-índia voltar ao fogão). Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência li- near da temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no romance machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o narrador começa contando sua morte para em se- guida relatar sua vida, a sequência temporal foi modificada. No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura, as relações de anterioridade e de posterioridade. Resumindo: na narração, as três características explicadas acima (transformação de situações, figuratividade e relações de anterioridade e posterioridade entre os episódios relata- dos) devem estar presentes conjuntamente. Um texto que te- nha só uma ou duas dessas características não é uma narração. Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto narrativo: - Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que aconteceu, quando e onde. - Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos per- sonagens. - Desenvolvimento: detalhes do fato. - Conclusão: consequências do fato. Caracterização Formal: Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto narrativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade, porquanto a criação e o colorido do contexto estão em fun- ção da individualidade e do estilo do narrador. Dependendo do enfoque do redator, a narração terá diversas abordagens. Assim é de grande importância saber se o relato é feito em primeira pessoa ou terceira pessoa. No primeiro caso, há a par- ticipação do narrador; segundo, há uma inferência do último através da onipresença e onisciência. 45 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos acontecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo o aspecto linear e constituindo o que se denomina “flashback”. O narrador que usa essa técnica (característica comum no cinema moderno) demonstra maior criatividade e originalidade, poden- do observar as ações ziguezagueando no tempo e no espaço. Exemplo - Personagens “Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr. Amâncio não viu a mulher chegar. - Não quer que se carpa o quintal, moço? Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do passado, os olhos).” (Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre: Mercado Aberto, p. 5O) Exemplo - Espaço Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redon- deza escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não havia, em todo o caso, como negar-lhe a insipidez.” (Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto Alegre: Movimento, 1981, p. 51) Exemplo - Tempo “Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembra-se: a mulher lhe pediu que a chamasse cedo.” (Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4) Tipologia da Narrativa Ficcional: - Romance - Conto - Crônica - Fábula - Lenda - Parábola - Anedota - Poema Épico Tipologia da Narrativa Não-Ficcional: - Memorialismo - Notícias - Relatos - História da Civilização Apresentação da Narrativa: - visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em quadrinhos) e desenhos. - auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos. - audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas. Descrição É a representação com palavras de um objeto, lugar, si- tuação ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares ou individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja apreendido pelos sentidos e transforma- do, com palavras, em imagens. Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma pessoa ou uma paisagem a al- guém, está fazendo uso da descrição. Não é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do observador varia de acordocom seu grau de percepção. Dessa forma, o que será importante ser analisado para um, não será para outro. A vivência de quem descreve também influencia na hora de transmitir a impressão alcançada sobre determina- do objeto, pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento. Exemplos: (I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redon- da. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho. Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zu- nido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.” (extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lis- pector) (II) Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cin- quenta minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava ale- gre. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco. (Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed. São Paulo, Ática, 1974, págs. 31-32.) Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do pro- fessor da escola que o escritor frequentava. Deve-se notar: - que todas as frases expõem ocorrências simultâneas (ao mesmo tempo que gastava duas horas para reter aqui- lo que os outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Rai- mundo tinha grande medo ao pai); - por isso, não existe uma ocorrência que possa ser considerada cronologicamente anterior a outra do ponto de vista do relato (no nível dos acontecimentos, entrar na escola é cronologicamente anterior a retirar-se dela; no ní- vel do relato, porém, a ordem dessas duas ocorrências é indiferente: o que o escritor quer é explicitar uma caracte- rística do menino, e não traçar a cronologia de suas ações); - ainda que se fale de ações (como entrava, retirava-se), todas elas estão no pretérito imperfeito, que indica conco- mitância em relação a um marco temporal instalado no tex- to (no caso, o ano de 1840, em que o escritor frequentava a escola da rua da Costa) e, portanto, não denota nenhuma transformação de estado; 46 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - se invertêssemos a sequência dos enunciados, não cor- reríamos o risco de alterar nenhuma relação cronológica - po- deríamos mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar e ler o texto do fim para o começo: O mestre era mais severo com ele do que conosco. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes... Evidentemente, quando se diz que a ordem dos enuncia- dos pode ser invertida, está-se pensando apenas na ordem cronológica, pois, como veremos adiante, a ordem em que os elementos são descritos produz determinados efeitos de sen- tido. Quando alteramos a ordem dos enunciados, precisamos fazer certas modificações no texto, pois este contém anafó- ricos (palavras que retomam o que foi dito antes, como ele, os, aquele, etc. ou catafóricos (palavras que anunciam o que vai ser dito, como este, etc.), que podem perder sua função e assim não ser compreendidos. Se tomarmos uma descrição como As flores manifestavam todo o seu esplendor. O Sol fazia-as brilhar, ao invertermos a ordem das frases, precisa- mos fazer algumas alterações, para que o texto possa ser com- preendido: O Sol fazia as flores brilhar. Elas manifestavam todo o seu esplendor. Como, na versão original, o pronome oblíquo as é um anafórico que retoma flores, se alterarmos a ordem das frases ele perderá o sentido. Por isso, precisamos mudar a palavra flores para a primeira frase e retomá-la com o anafórico elas na segunda. Por todas essas características, diz-se que o fragmento do conto de Machado é descritivo. Descrição é o tipo de texto em que se expõem características de seres concretos (pessoas, objetos, situações, etc.) consideradas fora da relação de ante- rioridade e de posterioridade. Características: - Ao fazer a descrição enumeramos características, com- parações e inúmeros elementos sensoriais; - As personagens podem ser caracterizadas física e psico- logicamente, ou pelas ações; - A descrição pode ser considerada um dos elementos constitutivos da dissertação e da argumentação; - É impossível separar narração de descrição; - O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim a capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza. - Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo: “(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que parecem conformados expressamente para esposas da multi- dão (...)” (Raul Pompéia – O Ateneu) - Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não existe relação de anterioridade e posterioridade entre seus enunciados. - Devem-se evitar os verbos e, se isso não for possível, que se usem então as formas nominais, o presente e o preté- rio imperfeito do indicativo, dando-se sempre preferência aos verbos que indiquem estado ou fenômeno. - Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto. A característica fundamental de um texto descritivo é essa inexistência de progressão temporal. Pode-se apresen- tar, numa descrição, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam sempre simultâneos, não indicando progres- são de uma situação anterior para outra posterior. Tanto é que uma das marcas linguísticas da descrição é o predomí- nio de verbos no presente ou no pretérito imperfeito do in- dicativo: o primeiro expressa concomitância em relação ao momento da fala; o segundo, em relação a um marco tem- poral pretérito instalado no texto. Para transformar uma descrição numa narração, bastaria introduzir um enunciado que indicasse a passagem de um estado anterior para um posterior. No caso do texto II inicial, para transformá-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso grande medo do pai. Mais tarde, Iibertou-se desse medo... Características Linguísticas: O enunciado narrativo, por ter a representação de um acontecimento, fazer-transformador, é marcado pela tempo- ralidade, na relação situação inicial e situação final, enquan- to que o enunciado descritivo, não tendo transformação, é atemporal. Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático- semânticas encontradas no texto que vão facilitar a com- preensão: - Predominância de verbos de estado, situação ou indi- cadores de propriedades, atitudes, qualidades, usados prin- cipalmente no presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver, situar-se, existir, ficar). - Ênfase na adjetivação para melhor caracterizar o que é descrito; Exemplo: “Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amol- gado no alto; tingia os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca - e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras. Tinha uma co- vinha no queixo, e as orelhas grandes muito despegadas do crânio.” (Eça de Queiroz - O Primo Basílio) - Emprego de figuras (metáforas, metonímias, compara- ções, sinestesias). Exemplo: “Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não muito gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês. Apesar de seu corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade buliçosa e saltitanteque lhe dava petulância de rapaz e ca- sava perfeitamente com os olhinhos de azougue.” (José de Alencar - Senhora) 47 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo: “Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e essa casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que devia ter uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali tinha um corredor comprido de onde saíam três portas; no final do corredor tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia dar no quintal e atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da bagunça...” (Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ) Recursos: - Usar impressões cromáticas (cores) e sensações tér- micas. Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do sol. - Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas, concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu se- reno, uma pureza de cristal. - As sensações de movimento e cor embelezam o poder da natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparen- te que deslumbrava e enlouquecia qualquer um. - A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do texto. Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal, muito crente. A descrição pode ser apresentada sob duas formas: Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a pas- sagem são apresentadas como realmente são, concretamente. Exemplo: “Sua altura é 1,85m. Seu peso, 70kg. Aparência atlética, ombros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos negros e lisos”. Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exem- plo: “A casa velha era enorme, toda em largura, com porta cen- tral que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de guilhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barrea- do, dentro de uma estrutura de cantos e apoios de madeira- de-lei. Telhado de quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais velha que Juiz de Fora, provavelmente sede de algu- ma fazenda que tivesse ficado, capricho da sorte, na linha de passagem da variante do Caminho Novo que veio a ser a Rua Principal, depois a Rua Direita – sobre a qual ela se punha um pouco de esguelha e fugindo ligeiramente do alinhamento (...).” (Pedro Nava – Baú de Ossos) Descrição Subjetiva: quando há maior participação da emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar ou expressar seus sentimentos. Exemplo: “Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso ao homem. Não só as condecorações gritavam-lhe no peito como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um anúncio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram de um rei...” (“O Ateneu”, Raul Pompéia) “(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-de-frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando por lei, de sobregoverno.” (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas) Os efeitos de sentido criados pela disposição dos ele- mentos descritivos: Como se disse anteriormente, do ponto de vista da pro- gressão temporal, a ordem dos enunciados na descrição é indiferente, uma vez que eles indicam propriedades ou ca- racterísticas que ocorrem simultaneamente. No entanto, ela não é indiferente do ponto de vista dos efeitos de sentido: descrever de cima para baixo ou vice-versa, do detalhe para o todo ou do todo para o detalhe cria efeitos de sentido dis- tintos. Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, de Bocage: Magro, de olhos azuis, carão moreno, bem servido de pés, meão de altura, triste de facha, o mesmo de figura, nariz alto no meio, e não pequeno. Incapaz de assistir num só terreno, mais propenso ao furor do que à ternura; bebendo em níveas mãos por taça escura de zelos infernais letal veneno. Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão, 1968, pág. 497. O poeta descreve-se das características físicas para as ca- racterísticas morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria o mesmo, pois as características físicas perderiam qualquer relevo. O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a visualizar uma cena. É como traçar com palavras o retrato de um objeto, lugar, pessoa etc., apontando suas características exteriores, fa- cilmente identificáveis (descrição objetiva), ou suas característi- cas psicológicas e até emocionais (descrição subjetiva). Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjeti- vos, também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendi- zado desta técnica, sugere-se que o concursando, após escre- ver seu texto, sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou depois deste um adjetivo ou uma locução adjetiva. Descrição de objetos constituídos de uma só parte: - Introdução: observações de caráter geral referentes à procedência ou localização do objeto descrito. - Desenvolvimento: detalhes (lª parte) - formato (compa- ração com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões (largura, comprimento, altura, diâmetro etc.) - Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) - material, peso, cor/brilho, textura. - Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto como um todo. 48 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Descrição de objetos constituídos por várias partes: - Introdução: observações de caráter geral referentes à procedência ou localização do objeto descrito. - Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das partes que compõem o objeto, associados à explicação de como as partes se agrupam para formar o todo. - Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo (externamente) - formato, dimensões, material, peso, tex- tura, cor e brilho. - Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em sua totalidade. Descrição de ambientes: - Introdução: comentário de caráter geral. - Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global do ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e aroma (se houver). - Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a ob- jetos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, escultu- ras ou quaisquer outros objetos. - Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no ambiente. Descrição de paisagens: - Introdução: comentário sobre sua localização ou qual- quer outra referência de caráter geral. - Desenvolvimento: observação do plano de fundo (expli- cação do que se vê ao longe). - Desenvolvimento: observação dos elementos mais próxi- mos do observador - explicação detalhada dos elementos que compõem a paisagem, de acordo com determinada ordem. - Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acer- ca da impressão que a paisagem causa em quem a contempla. Descrição de pessoas (I): - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qual- quer aspecto de caráter geral. - Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas). - Desenvolvimento: características psicológicas (personali- dade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura, objetivos). - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de ca- ráter geral. Descrição de pessoas (II): - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qual- quer aspecto de caráter geral. - Desenvolvimento: análise das características físicas, asso- ciadas às características psicológicas (1ª parte). - Desenvolvimento: análise das características físicas, asso- ciadas às características psicológicas (2ª parte). - Conclusão: retomada de qualquer outro aspectode ca- ráter geral. A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predo- minam. Porque toda técnica descritiva implica contemplação e apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descre- ver, precisa possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o per- mita sua sensibilidade. Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não -literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão voca- bular. Por ser objetiva, há predominância da denotação. Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para descrever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os compõem, para descrever experiências, processos, etc. Exemplo: Folheto de propaganda de carro Conforto interno - É impossível falar de conforto sem in- cluir o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomo- dando tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat Variant possuem direção hidráulica e ar condicionado de elevada capacidade, proporcionando a climatização per- feita do ambiente. Porta-malas - O compartimento de bagagens possui ca- pacidade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado. Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para evitar a deformação em caso de colisão. Textos descritivos literários: Na descrição literária pre- domina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de as- sociações conotativas que podem ser exploradas a partir de descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambien- tes; situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também podem ocorrer tanto em prosa como em verso. Dissertação A dissertação é uma exposição, discussão ou interpre- tação de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar al- gum tema. Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio, clareza, coerência, objetividade na exposição, um planejamento de trabalho e uma habilidade de expressão. É em função da capacidade crítica que se questionam pontos da realidade social, histórica e psicológica do mundo e dos semelhantes. Vemos também, que a dissertação no seu signi- ficado diz respeito a um tipo de texto em que a exposição de uma ideia, através de argumentos, é feita com a finalidade de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou artístico. Exemplo: Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser primeiro-ministro. O primeiro é saber, com prudência, como servir-se de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, como trair ou solapar os predecessores; e o ter- ceiro, como clamar, com zelo furioso, contra a corrupção da corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que se va- lem do último desses métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e subservientes à vontade 49 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA e às paixões do amo. Tendo à sua disposição todos os car- gos, conservam-se no poder esses ministros subordinando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via de um expediente chamado anistia (cuja natureza lhe expliquei), garantem-se contra futuras prestações de contas e retiram- se da vida pública carregados com os despojos da nação. Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234-235. Esse texto explica os três métodos pelos quais um ho- mem chega a ser primeiro-ministro, aconselha o príncipe dis- creto a escolhê-lo entre os que clamam contra a corrupção na corte e justifica esse conselho. Observe-se que: - o texto é temático, pois analisa e interpreta a realida- de com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem particular e do que faz para chegar a ser primeiro- ministro, mas do homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder); - existe mudança de situação no texto (por exemplo, a mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte no momento em que se tornam primeiros-ministros); - a progressão temporal dos enunciados não tem impor- tância, pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação para primeiro-ministro). Características: - ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático; - como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação; - ao contrário do texto narrativo, nele as relações de anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm maior importância - o que importa são suas relações lógicas: analogia, pertinência, causalidade, coexistência, correspon- dência, implicação, etc. - a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem características próprias a cada tipo de texto. São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvi- mento / Conclusão. Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresen- ta a ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvol- vimento. Tipos: - Divisão: quando há dois ou mais termos a serem dis- cutidos. Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” - Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que a década colecionou, agravou vários dos históricos problemas sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana, cuja escalada tem sido facilmente identificada pela população brasileira.” - Proposição: o autor explicita seus objetivos. - Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano! Faça parte desse time de vencedores desde a escolha desse momento! - Contestação: contestar uma idéia ou uma situação. Ex: “É importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a solução no combate à insegurança.” - Características: caracterização de espaços ou aspectos. - Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: “Em 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com televiso- res. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) e 2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos). (...)” - Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato. - Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assun- to do texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra- se no fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder, escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusiva- mente de sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.” - Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que compõem o texto. - Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz a pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo futebol não é uma prova de alienação?” - Suspense: alguma informação que faça aumentar a curiosidade do leitor. - Comparação: social e geográfica. - Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à dis- tância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo das massas, Holocausto: através das metáforas e das realida- des que marcaram esses 100 últimos anos,aparece a verdadei- ra doença do século...” - Narração: narrar um fato. Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, de forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais im- portante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas: - Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com este tipo de abordagem. - Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a idéia principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a de- finição. - Comparação: estabelecer analogias, confrontar situa- ções distintas. - Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta pontos favoráveis e desfavoráveis. - Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou descrever uma cena. - Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados estatís- ticos. - Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para pro- váveis resultados. - Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve apresentar questionamento e reflexão. - Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos, valores, juízos. 50 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - Causa e Consequência: estruturar o texto através dos porquês de uma determinada situação. - Oposição: abordar um assunto de forma dialética. - Exemplificação: dar exemplos. Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fe- chamento integrado de tudo que se argumentou. Para ela convergem todas as ideias anteriormente desenvolvidas. - Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese. - Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de quem lê. Exemplo: Direito de Trabalho Com a queda do feudalismo no século XV, nasce um novo modelo econômico: o capitalismo, que até o século XX agia por meio da inclusão de trabalhadores e hoje passou a agir por meio da exclusão. (A) A tendência do mundo contemporâneo é tornar todo o trabalho automático, devido à evolução tecnológica e a necessidade de qualificação cada vez maior, o que provoca o desemprego. Outro fator que também leva ao desempre- go de um sem número de trabalhadores é a contenção de despesas, de gastos. (B) Segundo a Constituição, “preocupada” com essa cri- se social que provém dessa automatização e qualificação, obriga que seja feita uma lei, em que será dada absoluta garantia aos trabalhadores, de que, mesmo que as empre- sas sejam automatizadas, não perderão eles seu mercado de trabalho. (C) Não é uma utopia?! Um exemplo vivo são os bóias-frias que trabalham na colheita da cana de açúcar que devido ao avanço tecnoló- gico e a lei do governador Geraldo Alkmin, defendendo o meio ambiente, proibindo a queima da cana de açúcar para a colheita e substituindo-os então pelas máquinas, desem- prega milhares deles. (D) Em troca os sindicatos dos trabalhadores rurais dão cursos de cabeleleiro, marcenaria, eletricista, para não per- derem o mercado de trabalho, aumentando, com isso, a classe de trabalhos informais. Como ficam então aqueles trabalhadores que passaram à vida estudando, se especializando, para se diferenciarem e ainda estão desempregados?, como vimos no último con- curso da prefeitura do Rio de Janeiro para “gari”, havia até advogado na fila de inscrição. (E) Já que a Constituição dita seu valor ao social que todos têm o direito de trabalho, cabe aos governantes desse país, que almeja um futuro brilhante, deter, com urgência esse processo de desníveis gritantes e criar soluções eficazes para combater a crise generalizada (F), pois a uma nação doente, miserável e desigual, não compete a tão sonhada modernidade. (G) 1º Parágrafo – Introdução A. Tema: Desemprego no Brasil. Contextualização: decorrência de um processo histórico problemático. 2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que re- metem a uma análise do tema em questão. C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro dado da realidade. D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade de quem propõe soluções. E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição. 7º Parágrafo: Conclusão F. Uma possível solução é apresentada. G. O texto conclui que desigualdade não se casa com mo- dernidade. É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos recursos que permite uma segurança maior no momento de dissertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar são ati- tudes que favorecem o senso crítico, essencial no desenvolvi- mento de um texto dissertativo. Ainda temos: Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o assunto que vai ser abordado. Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo dis- cutido. Argumentação: é um conjunto de procedimentos linguís- ticos com os quais a pessoa que escreve sustenta suas opiniões, de forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer argumen- tos, ou seja, razões a favor ou contra uma determinada tese. Estes assuntos serão vistos com mais afinco posteriormente. Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são: - toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade de pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação; - em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema; - a coerência é tida como regra de ouro da dissertação; - impõem-se sempre o raciocínio lógico; - a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer am- biguidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração do que se quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original, nobre, correta gramaticalmente. O discurso deve ser impessoal (evitar-se o uso da primeira pessoa). O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresen- tar: uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou mais frases que explicitem tal ideia. Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada (ideia central) porque oculta os problemas sociais realmente graves. (ideia secundária)”. 51 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Vejamos: Ideia central: A poluição atmosférica deve ser combatida urgentemente. Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser com- batida urgentemente, pois a alta concentração de elementos tóxicos põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo daquelas que sofrem de problemas respiratórios: - A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado muita gente ao vício. - A televisão é um dos mais eficazes meios de comunica- ção criados pelo homem. - A violência tem aumentado assustadoramente nas cida- des e hoje parece claro que esse problema não pode ser resol- vido apenas pela polícia. - O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise atual- mente. - O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a so- ciedade brasileira. O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras: Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série de coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de caracterís- ticas, funções, processos, situações, sempre oferecendo o com- plemente necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. Pode-se enumerar, seguindo-se os critérios de importância, preferência, classificação ou aleatoriamente. Exemplo: 1- O adolescente moderno está se tornando obeso por várias causas: alimentação inadequada, falta de exercícios siste- máticos e demasiada permanência diante de computadores e aparelhos de Televisão. 2- Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o número de emissoras que dedicam parte da sua programação à veiculação de programas religiosos de crenças variadas. 3- - A Santa Missa em seu lar. - Terço Bizantino. - Despertar da Fé. - Palavra de Vida. - Igreja da Graça no Lar. 4- - Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o go- verno brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilí- brios sociológicos e poluição. - Existem várias razões que levamum homem a enveredar pelos caminhos do crime. - A gravidez na adolescência é um problema seríssimo, porque pode trazer muitas consequências indesejáveis. - O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua sobrevi- vência no mundo atual e vários são os tipos de lazer. - O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em várias categorias. Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através da comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e apre- senta-lhes a semelhança ou dessemelhança. Exemplo: “A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a velhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persisten- te sentimento de dor, porque já estamos nos convencendo de que a felicidade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”. (Arthur Schopenhauer) Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes, en- contra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato mo- tivador) e, em outras situações, um segmento indicando conse- quências (fatos decorrentes). Exemplos: - O homem, dia a dia, perde a dimensão de humanidade que abriga em si, porque os seus olhos teimam apenas em ver as coisas imediatistas e lucrativas que o rodeiam. - O espírito competitivo foi excessivamente exercido entre nós, de modo que hoje somos obrigados a viver numa socie- dade fria e inamistosa. Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos marcam temporal e espacialmente a evolução de ideias, processos. Exemplos: Tempo - A comunicação de massas é resultado de uma lenta evolução. Primeiro, o homem aprendeu a grunhir. Depois deu um significado a cada grunhido. Muito depois, inventou a escrita e só muitos séculos mais tarde é que passou à comuni- cação de massa. Espaço - O solo é influenciado pelo clima. Nos climas úmidos, os solos são profundos. Existe nessas regiões uma forte decom- posição de rochas, isto é, uma forte transformação da rocha em terra pela umidade e calor. Nas regiões temperadas e ainda nas mais frias, a camada do solo é pouco profunda. (Melhem Adas) Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se concei- tuar, exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais com- preensíveis. Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão umbilical e na liga- ção entre os pulmões e o coração, todas as artérias contém sangue vermelho-vivo, recém oxigenado. Na artéria pulmonar, porém, corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que o coração remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar gás carbônico”. Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, deve de- limitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser enfoca- do sob diversos aspectos. Se, por exemplo, o tema é a questão in- dígena, ela poderá ser desenvolvida a partir das seguintes ideias: - A violência contra os povos indígenas é uma constante na história do Brasil. - O surgimento de várias entidades de defesa das popula- ções indígenas. - A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio brasileiro. - A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena. 52 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, deve fazer a estruturação do texto. A estrutura do texto dissertativo constitui-se de: Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvi- da (geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para dois itens básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvol- vimento. Contém a proposição do tema, seus limites, ângulo de análise e a hipótese ou a tese a ser defendida. Desenvolvimento: exposição de elementos que vão fun- damentar a ideia principal que pode vir especificada através da argumentação, de pormenores, da ilustração, da causa e da consequência, das definições, dos dados estatísticos, da orde- nação cronológica, da interrogação e da citação. No desenvol- vimento são usados tantos parágrafos quantos forem neces- sários para a completa exposição da ideia. E esses parágrafos podem ser estruturados das cinco maneiras expostas acima. Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora deve aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que já foi fundamentada durante o desenvolvimento da disserta- ção (um parágrafo). Deve, pois, conter de forma sintética, o objetivo proposto na instrução, a confirmação da hipótese ou da tese, acrescida da argumentação básica empregada no de- senvolvimento. Texto Argumentativo Texto Argumentativo é o texto em que defendemos uma ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela. Num texto argumentativo, distinguem-se três com- ponentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumen- tativas. Tese, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessa- riamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opinião. Argumento tem uma origem curiosa: vem do latim Argu- mentum, que tem o tema ARGU, cujo sentido primeiro é “fazer brilhar”, “iluminar”, a mesma raiz de “argênteo”, “argúcia”, “ar- guto”. Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? Exemplo: o au- tor é contra a pena de morte (tese). Por que... (argumentos). Estratégias argumentativas são todos os recursos (verbais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc. A Estrutura de um Texto Argumentativo A argumentação Formal A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra “Comu- nicação em Prosa Moderna”. O autor, na mencionada obra, apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de ar- gumentação formal: Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento. Análise da proposição ou tese: definição do sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal -entendidos. Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados es- tatísticos, testemunhos, etc. Conclusão. Observe o texto a seguir, que contém os elementos referi- dos do plano-padrão da argumentação formal. Gramática e desempenho Linguístico Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo intencional da gramática não traz benefícios significativos para o desempenho linguístico dos utentes de uma língua. Por “estudo intencional da gramática” entende-se o estu- do de definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises (fonológica, morfológica, sintática); a memorização de regras (de concordância, regência e colocação) - para citar algumas áreas. O “desempenho linguístico”, por outro lado, é expressão técnica definida como sendo o processo de atuali- zação da competência na produção e interpretação de enun- ciados; dito de maneira mais simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições reais de comunicação. A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem an- tiga; na verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as primeiras gramáticas. Definida como “arte”, “arte de escrever”, percebe-se que subjaz à definição a ideia da sua importância para a prática da língua. São da mesma época também as pri- meiras críticas, como se pode ler em Apolônio de Rodes, poe- ta Alexandrino do séc. II a.C.: “Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, estúpidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que mergulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o diabo, percevejos que devorais os versos belos”. Na atualidade, é grande o número de educadores, filó- logos e linguistas de reconhecido saber que negam a rela- ção entre o estudo intencional da gramática e a melhora do desempenho linguístico do usuário. Entreesses especialistas, deve-se mencionar o nome do Prof. Celso Pedro Luft com sus obra “Língua e liberdade: por uma nova concepção de língua materna e seu ensino” (L&PM, 1995). Com efeito, o velho pes- quisar apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espí- rito lúcido e de larga formação linguística, reúne numa mesma obra convincente fundamentação para seu combate veemen- te contra o ensino da gramática em sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas: “Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez abandonem a superstição da teoria gramatical, desistindo de querer ensinar a língua por definições, classificações, análises inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício”. Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, acima referida suponha-se que se deva recuperar linguistica- mente um jovem estudante universitário cujo texto apresente preocupantes problemas de concordância, regência, coloca- ção, ortografia, pontuação, adequação vocabular, coesão, coe- rência, informatividade, entre outros. E, estimando-lhe melho- ras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a estudar: que é fonética? Que é fonologia? Que é fonemas? Morfema? 53 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Qual é coletivo de borboleta? O feminino de cupim? Como se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e-Minho? Que é oração subordinada adverbial concessiva reduzida de gerúndio? E decorasse regras de ortografia, fizesse lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares... e estudasse o plural de compostos, todas regras de concordância, regên- cias... os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo de todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho do jovem estudante na produção de um texto. A melhora seria, indubitavelmente, pouco significativa; uma pequena melhora, talvez, na gramática da frase, mas o problema de coesão, de coerência, de informatividade - quem sabe os mais graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja porque a gramá- tica tradicional não dá conta dos mecanismos que presidem à construção do texto. Poder-se-á objetar que a ilustração de há pouco é ape- nas hipotética e que, por isso, um argumento de pouco va- lor. Contra argumentar-se-ia dizendo que situação como essa ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° graus é gramaticalista, descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista, prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos vestibulares. Valendo 40 pontos a prova de redação, os escores foram estes no vestibular 1996/1, na PU- C-RS: nota zero: 10% dos candidatos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou seja, apenas 20% dos can- didatos escreveram um texto que pode ser considerado bom. Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lem- brando que são os gramáticos, os linguistas - como especia- listas das línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo a estrutura e o funcionamento dos códigos linguísticos. Que se esperaria, de fato, se houvesse significativa influência do co- nhecimento teórico da língua sobre o desempenho? A respos- ta é óbvia: os gramáticos e os linguistas seriam sempre os me- lhores escritores. Como na prática isso realmente não aconte- ce, fica provada uma vez mais a tese que se vem defendendo. Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse sig- nificativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teorica- mente - a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em língua portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria gramatical); Machado de Assis, ao folhar uma gramática declarou que nada havia entendido; dificilmen- te um Luis Fernando Veríssimo saberia o que é um morfema; nem é de se crer que todos os nossos bons escritores seriam aprovados num teste de Português à maneira tradicional (e, no entanto eles são os senhores da língua!). Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como recuperar linguisticamente os alunos, como promover um melhor desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da teoria gramatical. O caminho é seguramente outro. Gilberto Scarton Eis o esquema do texto em seus quatro estágios: Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se enun- cia claramente a tese a ser defendida. Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se defi- nem as expressões “estudo intencional da gramática” e “de- sempenho lingüístico”, citadas na tese. Terceiro Estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oi- tavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos. - Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumentação. - Quarto parágrafo: argumento de autoridade. - Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração hi- potética. - Sexto parágrafo: argumento com base em dados estatís- ticos. - Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos. Quarto Estágio: último parágrafo, em que se apresenta a conclusão. A Argumentação Informal A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já refe- rida. A argumentação informal apresenta os seguintes estágios: - Citação da tese adversária. - Argumentos da tese adversária. - Introdução da tese a ser defendida. - Argumentos da tese a ser defendida. - Conclusão. Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flores Lenz, Promotor de Justiça. Considerações sobre justiça e equidade Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadêmi- co nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos con- cretos que são apresentados perante os tribunais, deve nortear o seu proceder mais por critérios de justiça e equidade e menos por razões de estrita legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da real pacificação dos conflitos submetidos à sua apre- ciação. Semelhante entendimento tem sido sistematicamente rei- terado, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados sim- plesmente desprezarem ou desconsiderarem determinados preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional. Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos quais reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos furta- mos, todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da generalização desse entendimento. Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos dos arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal contra os princípios da legalidade e da separação de poderes, esteio no qual se assenta toda e qualquer ideia de democracia ou limita- ção de atribuições dos órgãos do Estado. Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o insu- perável José Alberto dos Reis, o maior processualista português, ao afirmar que: “O magistrado não pode sobrepor os seus pró- prios juízos de valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode fazer quando o caso se acha previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o caso é omisso”. Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qual- quer espécie de legalidade ou garantia de soberania popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúcida visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa situação, se arvoran- do, de forma absolutamente espúria, na condição de legislador. 54 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA A esta altura, adotando tal entendimento, estaria insti- tucionalizada a insegurança social, sendo que não haveria mais qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor dos humores e amores do juiz de plantão. De nada adiantariam as eleições, eis que os represen- tantes indicados pelo povo não poderiam se valer de sua maior atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis. Desapareceriam também os juízesde conveniência e oportunidade política típicos dessas casas legislativas, na medida em que sempre poderiam ser afastados por uma esfera revisora excepcional. A própria independência do parlamento sucumbiria in- tegralmente frente à possibilidade de inobservância e des- consideração de suas deliberações. Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civilização. Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscalizar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos demais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as atri- buições destes, ditando a eles, a todo momento, como pro- ceder. Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa concepção. Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem sombra de dúvidas, o desconhecimento do próprio conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio in adjecto. Isto porque, e como magistralmente o salientou o insu- perável Calamandrei, “a justiça que o juiz administra é, no sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no sentido mais apertado, mas menos incerto, da confor- midade com o direito constituído, independentemente da correspondente com a justiça social”. Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios concretos de efetivação da Justiça social compete, funda- mentalmente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são indicados diretamente pelo povo. Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, adequando o proceder daqueles aos ditames da Constitui- ção e da Legislação. Luís Alberto Thompson Flores Lenz Eis o esquema do texto em seus cinco estágios; Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese adversária. Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se cita um argumento da tese adversária “... fulminando ditos dile- mas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à rea- lidade nacional”. Terceiro Estágio: terceiro parágrafo, em que se intro- duz a tese a ser defendida. Quarto Estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se apresentam os argumentos. Quinto Estágio: os últimos dois parágrafos, em que se conclui o texto mediante afirmação que salienta o que ficou dito ao longo da argumentação. Texto Injuntivo/Instrucional No texto injuntivo-instrucional, o leitor recebe orientações precisas no sentido de efetuar uma transformação. É marcado pela presença de tempos e modos verbais que apresentam um valor diretivo. Este tipo de texto distingue-se de uma sequencia narrativa pela ausência de um sujeito responsável pelas ações a praticar e pelo caráter diretivo dos tempos e modos verbais usado e uma sequência descritiva pela transformação desejada. Nota: Uma frase injuntiva é uma frase que exprime uma ordem, dada ao locutor, para executar (ou não executar) tal ou tal ação. As formas verbais específicas destas frases estão no modo injuntivo e o imperativo é uma das formas do injuntivo. Textos Injuntivo-Instrucionais: Instruções de montagem, receitas, horóscopos, provérbios, slogans... são textos que in- citam à ação, impõem regras; textos que fornecem instruções. São orientados para um comportamento futuro do destinatário. Texto Injuntivo - A necessidade de explicar e orientar por escrito o modo de realizar determinados procedimentos, mani- pular instrumentos, desenvolver atividades lúdicas e desempe- nhar algumas funções profissionais, por exemplo, deu origem aos chamados textos injuntivos, nos quais prevalece a função apelativa da linguagem, criando-se uma relação direta com o receptor. É comum aos textos dessa natureza o uso dos verbos no imperativo (Abra o caderno de questões) ou no infinitivo (É preciso abrir o caderno de questões, verificar o número de alternativas...). Não apresenta caráter coercitivo, haja vista que apenas induz o interlocutor a proceder desta ou daquela for- ma. Assim, torna-se possível substituir um determinado pro- cedimento em função de outro, como é o caso do que ocorre com os ingredientes de uma receita culinária, por exemplo. São exemplos dessa modalidade: - A mensagem revelada pela maioria dos livros de au- toajuda; - O discurso manifestado mediante um manual de ins- truções; - As instruções materializadas por meio de uma receita culinária. Texto Instrucional - o texto instrucional é um tipo de texto injuntivo, didático, que tem por objetivo justamente apresentar orientações ao receptor para que ele realize determinada ativi- dade. Como as palavras do texto serão transformadas em ações visando a um objetivo, ou seja, algo deverá ser concretizado, é de suma importância que nele haja clareza e objetividade. Dependendo do que se trata, é imprescindível haver explica- ções ou enumerações em que estejam elencados os materiais a serem utilizados, bem como os itens de determinados obje- tos que serão manipulados. Por conta dessas características, é necessário um título objetivo. Quanto à pontuação, frequente- mente empregam-se dois pontos, vírgulas e pontos e vírgulas. É possível separar as orientações por itens ou de modo coeso, por meio de períodos. Alguns textos instrucionais possuem subtítulos separando em tópicos as instruções, basta reparar nas bulas de remédios, manuais de instruções e receitas. Pelo fato de o espaço destinado aos textos instrucionais geralmente não ser muito extenso, recomenda-se o uso de períodos. Leia os exemplos. 55 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Texto organizado em itens: Para economizar nas compras Quem deseja economizar ao comprar deve: - estabelecer um valor máximo para gastar; - escolher previamente aquilo que deseja comprar antes de ir à loja ou entrar em sites de compra; - pesquisar os preços em diferentes lojas e sites, se possível; - não se deixar levar completamente pelas sugestões dos vendedores nem pelos apelos das propagandas; - optar pela forma de pagamento mais cômoda, sem se esquecer de que o uso do cartão de crédito exige certa cautela e planejamento. Do mais, é só ir às compras e aproveitar! Texto organizado em períodos: Para economizar nas compras Para economizar ao comprar, primeiramente estabeleça um valor máximo para gastar e então escolha previamente aquilo que deseja comprar antes de ir à loja ou entrar em sites de compra. Se possível, pesquise os preços em diferentes lojas e sites; não se deixe levar completamente pelas sugestões dos vendedores nem pelos apelos das propagandas e opte pela forma de pagamento mais cômoda: não se esqueça de que o uso do cartão de crédito exige certa cautela e planejamento. Do mais, aproveite as compras! Observe que, embora ambos os textos tratem do mes- mo assunto, o segundo é uma adaptação do primeiro: tanto o modo verbal quanto a pontuação sofreram alterações; além disso, algumas palavras foram omitidas e outras acrescentadas. Isso ocorreu para que o aspecto instrucional, conferido pelos itens do primeiro exemplo, não se perdesse no segundo texto, o qual, sem essas adaptações, passaria a impressão de ser um mero texto expositivo. GÊNERO TEXTUAL. ESTUDO DO TEXTO E SEQUÊNCIAS DISCURSIVAS: DISSERTAÇÃO, ARGUMENTAÇÃO, NARRAÇÃO E DESCRIÇÃO. Gêneros Textuais Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relaciona- das entre si, formando um todo significativo capaz de produzir interação comunicativa (capacidade de codificar e decodificar). Contexto – um texto é constituído por diversas frases. Em cada uma delas, há uma certa informação que a faz ligar-se com a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interliga- ção dá-se o nome de contexto. Nota-se que o relacionamento entre as frases é tão grande, que, se uma frase for retirada de seu contexto original e analisada separadamente, poderá ter um significado diferente daquele inicial. Intertexto - comumente,os textos apresentam referên- cias diretas ou indiretas a outros autores através de citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. Interpretação de Texto - o primeiro objetivo de uma in- terpretação de um texto é a identificação de sua ideia princi- pal. A partir daí, localizam-se as ideias secundárias, ou funda- mentações, as argumentações, ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na prova. Textos Ficcionais e Não Ficcionais Os textos não ficcionais baseiam-se na realidade, e os fic- cionais inventam um mundo, onde os acontecimentos ocor- rem coerentemente com o que se passa no enredo da história. Ficcionais: Conto; Crônica; Romance; Poemas; História em Quadrinhos. Não Ficcionais: - Jornalísticos: notícia, editorial, artigos, cartas e textos de divulgação científica. - Instrucionais: didáticos, resumos, receitas, catálogos, índices, listas, verbetes em geral, bulas e notas explicativas de embalagens. - Epistolares: bilhetes, cartas familiares e cartas formais. - Administrativos: requerimentos, ofícios e etc. FICCIONAIS CONTO É um gênero textual que apresenta um único conflito, to- mado já próximo do seu desfecho. Encerra uma história com poucas personagens, e também tempo e espaço reduzido. A linguagem pode ser formal ou informal. É uma obra de ficção que cria um universo de seres e acontecimentos, de fanta- sia ou imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo. Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Exemplo: Lépida Tudo lento, parado, paralisado. - Maldição! - dizia um homem que tinha sido o melhor corredor daquele lugar. - Que tristeza a minha - lamentava uma pequena bailari- na, olhando para as suas sapatilhas cor-de-rosa. Assim estava Lépida, uma cidade muito alegre que no passado fora reconhecida pela leveza e agilidade de seus ha- bitantes. Todos muito fortes, andavam, corriam e nadavam pelos seus limpos canais. 56 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Até que chegou um terrível pirata à procura da riqueza do lugar. Para dominar Lépida, roubou de um mago um elixir paralisante e despejou no principal rio. Após beberem a água, os habitantes ficaram muito lentos, tão lentos que não conse- guiram impedir a maldade do terrível pirata. Seu povo nunca mais foi o mesmo. Lépida foi roubada em seu maior tesouro e permaneceu estagnada por muitos anos. Um dia nasceu um menino, que foi chamado de Zim. O único entre tantos que ficou livre da maldição que passara de geração em geração. Diferente de todos, era muito ágil e, ao crescer, saiu em busca de uma solução. Encontrou pelo cami- nho bruxas de olhar feroz, gigantes de três, cinco e sete cabeças, noites escuras, dias de chuva, sol intenso. Zim tudo enfrentou. E numa noite morna, ao deitar-se em sua cama de folhas, viu ao seu lado um velho de olhos amarelos e brilhantes. Era o mago que havia sido roubado pelo pirata muitos anos antes. Zim ficou apreensivo. Mas o velho mago (que tudo sabia) deu- lhe um frasco. Nele havia um antídoto e Zim compreendeu o que deveria fazer. Despejou o líquido no rio de sua cidade. Lépida despertou diferente naquela manhã. Um copo de água aqui, um banho ali e eram novamente braços que se me- xiam, pernas que corriam, saltos e sorrisos. E a dança das sapa- tilhas cor-de-rosa. (Carla Caruso) CRÔNICA Em jornais e revistas, há textos normalmente assinados por um escritor de ficção ou por uma pessoa especializada em determinada área (economia, gastronomia, negócios, entre outras) que escreve com periodicidade para uma seção (por exemplo, todos os domingos para o Caderno de Economia). Esses textos, conhecidos como crônicas, são curtos e em geral predominantemente narrativos, podendo apresentar alguns trechos dissertativos. Exemplo: A luta e a lição Um brasileiro de 38 anos, Vítor Negrete, morreu no Tibete após escalar pela segunda vez o ponto culminante do planeta, o monte Everest. Da primeira, usou o reforço de um cilindro de oxigênio para suportar a altura. Na segunda (e última), dispen- sou o cilindro, devido ao seu estado geral, que era considerado ótimo. As façanhas dele me emocionaram, a bem sucedida e a malograda. Aqui do meu canto, temendo e tremendo toda a vez que viajo no bondinho do Pão de Açúcar, fico meditando sobre os motivos que levam alguns heróis a se superarem. Vi- tor já havia vencido o cume mais alto do mundo. Quis provar mais, fazendo a escalada sem a ajuda do oxigênio suplementar. O que leva um ser humano bem sucedido a vencer desafios assim? Ora, dirão os entendidos, é assim que caminha a humani- dade. Se cada um repetisse meu exemplo, ficando solidamente instalado no chão, sem tentar a aventura, ainda estaríamos nas cavernas, lascando o fogo com pedras, comendo animais crus e puxando nossas mulheres pelos cabelos, como os troglodi- tas - se é que os trogloditas faziam isso. Somos o que somos hoje devido a heróis que trocam a vida pelo risco. Bem verda- de que escalar montanhas, em si, não traz nada de prático ao resto da humanidade que prefere ficar na cômoda planície da segurança. Mas o que há de louvável (e lamentável) na aventura de Vítor Negrete é a aspiração de ir mais longe, de superar marcas, de ir mais alto, desafiando os riscos. Não sei até que ponto ele foi te- merário ao recusar o oxigênio suplementar. Mas seu exemplo - e seu sacrifício - é uma lição de luta, mesmo sendo uma luta perdida. (Autor: Carlos Heitor Cony. Publicado na Folha Online) ROMANCE O termo romance pode referir-se a dois gêneros literários. O primeiro deles é uma composição poética popular, histórica ou lírica, transmitida pela tradição oral, sendo geralmente de autor anônimo; corresponde aproximadamente à balada medieval. E como forma li- terária moderna, o termo designa uma composição em prosa. Todo Romance se organiza a partir de uma trama, ou seja, em torno dos acontecimentos que são organizados em uma sequência temporal. A linguagem utilizada em um Romance é muito variável, vai depen- der de quem escreve, de uma boa diferenciação entre linguagem escrita e linguagem oral e principalmente do tipo de Romance. Quanto ao tipo de abordagem o Romance pode ser: Ur- bano, Regionalista, Indianista e Histórico. E quanto à época ou Escola Literária, o Romance pode ser: Romântico, Realista, Na- turalista e Modernista. POEMA Um poema é uma obra literária geralmente apresentada em versos e estrofes (ainda que possa existir prosa poética, assim de- signada pelo uso de temas específicos e de figuras de estilo pró- prias da poesia). Efetivamente, existe uma diferença entre poesia e poema. Segundo vários autores, o poema é um objeto literá- rio com existência material concreta, a poesia tem um carácter imaterial e transcendente. Fortemente relacionado com a música, beleza e arte, o poema tem as suas raízes históricas nas letras de acompanhamento de peças musicais. Até a Idade Média, os poe- mas eram cantados. Só depois o texto foi separado do acompa- nhamento musical. Tal como na música, o ritmo tem uma grande importância. Um poema também faz parte de um sarau (reuniões em casas particulares para expressar artes, canções, poemas, poe- sias etc). Obra em verso em que há poesia. Exemplo: Soneto do amigo Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao lado Com olhos que contêm o olhar antigo Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfarçarcom o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica... Vinicius de Moraes 57 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA HISTÓRIA EM QUADRINHOS As primeiras manifestações das Histórias em Quadrinhos surgiram no começo do século XX, na busca de novos meios de comunicação e expressão gráfica e visual. Entre os primei- ros autores das histórias em quadrinhos estão o suíço Rudol- ph Töpffer, o alemão Wilhelm Bush, o francês Georges, e o brasileiro Ângelo Agostini. A origem dos balões presentes nas histórias em quadrinhos pode ser atribuída a personagens, observadas em ilustrações europeias desde o século XIV. As histórias em quadrinhos começaram no Brasil no sécu- lo XIX, adotando um estilo satírico conhecido como cartuns, charges ou caricaturas e que depois se estabeleceria com as populares tiras. A publicação de revistas próprias de histórias em quadrinhos no Brasil começou no início do século XX tam- bém. Atualmente, o estilo cômicos dos super-heróis america- nos é o predominante, mas vem perdendo espaço para uma expansão muito rápida dos quadrinhos japoneses (conheci- dos como Mangá). A leitura interpretativa de Histórias em Quadrinhos, as- sim como de charges, requer uma construção de sentidos que, para que ocorra, é necessário mobilizar alguns processos de significação, como a percepção da atualidade, a representa- ção do mundo, a observação dos detalhes visuais e/ou lin- guísticos, a transformação de linguagem conotativa (sentido mais usual) em denotativa (sentido amplificado pelo contexto, pelos aspetos socioculturais etc). Em suma, usa-se o conheci- mento da realidade e de processos linguísticos para “inverter” ou “subverter” produzindo, assim, sentidos alternativos a par- tir de situações extremas. Exemplo: Observe a tirinha em quadrinhos do Calvin: O objetivo do Calvin era vender ao seu pai um desenho de sua autoria pela exorbitante quantia de 500 dólares. Ele optou por valorizar o desenho, mostrando todas as habilida- des conquistadas para conseguir produzi-lo. O pai, no último quadrinho, reconhece o empenho do filho, utilizando-se de um conector de concessão (“Ainda assim”), valorizando a im- portância de tudo aquilo. Contudo, afirma que não pagaria o valor pedido (como se dissesse: “sim, filho, foi um esforço absurdo, mas não vou pagar por isso!”). A graça está no fato de Calvin elaborar um discurso “ma- duro” em relação ao seu desenvolvimento cognitivo e motor nos dois primeiros quadrinhos e, somente depois, ficar claro para nós, leitores, que toda a força argumentativa foi em prol da cobrança pelo desenho que ele mesmo fez. Em outras pa- lavras, o personagem empenha-se na construção de um ra- ciocínio em prol de uma finalidade absurda – o que nos faz sorrir no último quadrinho, já que é somente nele que con- seguimos “completar” o sentido. Claro, se você conhece os quadrinhos do Calvin, sabe que ele tem apenas 6 anos, o que torna tudo ainda mais hilário, mas a falta deste conhecimento não prejudica em nada a interpretação textual. NÃO FICCIONAIS - JORNALÍSTICOS NOTÍCIA O principal objetivo da notícia é levar informação atual a um público específico. A notícia conta o que ocorreu, quando, onde, como e por quê. Para verificar se ela está bem elaborada, o emissor deve responder às perguntas: O quê? (fato ou fatos); Quando? (tempo); Onde? (local); Como? (de que forma) e Por quê? (causas). A notícia apre- senta três partes: - Manchete (ou título principal) – resume, com obje- tividade, o assunto da notícia. Essa frase curta e de impacto, em geral, aparece em letras grandes e destacadas. - Lide (ou lead) – complementa o título principal, for- necendo as principais informações da notícia. Como a man- chete, sua função é despertar a atenção do leitor para o texto. - Corpo – contém o desenvolvimento mais amplo e de- talhado dos fatos. A notícia usa uma linguagem formal, que segue a nor- ma culta da língua. A ordem direta, a voz ativa, os verbos de ação e as frases curtas permitem fluir as ideias. É preferível a linguagem acessível e simples. Evite gírias, termos colo- quiais e frases intercaladas. Os fatos, em geral, são apresentados de forma impes- soal e escritos em 3ª pessoa, com o predomínio da função referencial, já que esse texto visa à informação. A falta de tempo do leitor exige a seleção das infor- mações mais relevantes, vocabulário preciso e termos es- pecíficos que o ajudem a compreender melhor os fatos. Em jornais ou revistas impressos ou on-line, e em programas de rádio ou televisão, a informação transmitida pela notícia precisa ser verídica, atual e despertar o interesse do leitor. EDITORIAL Os editoriais são textos de um jornal em que o conteú- do expressa a opinião da empresa, da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de ter alguma imparcialidade ou objetividade. Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminado para os editoriais em duas ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas. Os boxes (qua- dros) dos editoriais são normalmente demarcados com uma borda ou tipografia diferente para marcar claramente que aquele texto é opinativo, e não informativo. Exemplo: 58 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Cidade paraibana é exemplo ao País Em tempos em que estudantes escrevem receita de ma- carrão instantâneo e transcrevem hino de clube de futebol na redação do Exame Nacional do Ensino Médio e ainda obtém nota máxima no teste, uma boa notícia vem de uma pequena cidade no interior da Paraíba chamada Paulista, de cerca de 12 mil habitantes. Alunos da Escola Municipal Cândido de Assis Queiroga obtiveram destaque nas últimas edições da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. O segredo é absolutamente simples, e quem explica é a professora Jonilda Alves Ferreira: a chave é ensinar Matemá- tica através de atividades do cotidiano, como fazer compras na feira ou medir ingredientes para uma receita. Com essas ações práticas, na edição de 2012 da Olimpíada, a escola conquistou nada menos do que cinco medalhas de ouro, duas de prata, três de bronze e 12 menções honrosas. Orgu- lhosa, a professora conta que se sentia triste com a repulsa dos estudantes aos números, e teve a ideia de pô-los para vivenciar a Matemática em suas vidas, aproximando-os da disciplina. O que parecia ser um grande desafio tornou-se rea- lidade e, hoje, a cidade inteira orgulha-se de seus filhos campeões olímpicos. Os estudantes paraibanos devem ser exemplo para todo o País, que anda precisando, sim, de modelos a se inspirar. O Programa Internacional de Avalia- ção de Estudantes (PISA, na sigla em inglês) – o mais sé- rio teste internacional para avaliar o desempenho escolar e coordenado pela Organização para a Cooperação e Desen- volvimento Econômico – continua sendo implacável com o Brasil. No exame publicado de 2012, o País aparece na incô- moda penúltima posição entre 40 países avaliados. O teste aponta que o aprendizado de Matemática, Lei- tura e Ciências durante o ciclo fundamental é sofrível, e perdemos para países como Colômbia, Tailândia e México. Já passa da hora de as autoridades melhorarem a gestão de nossa Educação Pública e seguir o exemplo da pequena Paulista. Fonte: http://www.oestadoce.com.br/noticia/ editorial-cidade-paraibana-e-exemplo-ao-pais ARTIGOS É comum encontrar circulando no rádio, na TV, nas re- vistas, nos jornais, temas polêmicos que exigem uma posição por parte dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso, o au- tor geralmente apresenta seu ponto de vista sobre o tema em questão através do artigo (texto jornalístico). Nos gêneros argumentativos, o autor geralmente tem a intenção de convencer seus interlocutores e, para isso, pre- cisa apresentar bons argumentos,que consistem em ver- dades e opiniões. O artigo de opinião é fundamentado em impressões pessoais do autor do texto e, por isso, são fáceis de contestar. O artigo deve começar com uma breve introdução, que descreva sucintamente o tema e refira os pontos mais im- portantes. Um leitor deve conseguir formar uma ideia clara sobre o assunto e o conteúdo do artigo ao ler apenas a in- trodução. Por favor tenha em mente que embora esteja fa- miliarizado com o tema sobre o qual está a escrever, outros leitores da podem não o estar. Assim, é importante clarificar cedo o contexto do artigo. Por exemplo, em vez de escrever: Guano é um personagem que faz o papel de mascote do grupo Lily Mu. Seria mais informativo escrever: Guano é um personagem da série de desenho animado Kappa Mikey que faz o papel de mascote do grupo Lily Mu. Caracterize o assunto, especialmente se existirem opi- niões diferentes sobre o tema. Seja objetivo. Evite o uso de eufemismos e de calão ou gíria, e explique o jargão. No final do artigo deve listar as referências utilizadas, e ao longo do artigo deve citar a fonte das afirmações feitas, especialmen- te se estas forem controversas ou suscitarem dúvidas. CARTAS Na maioria dos jornais e revistas, há uma seção desti- nada a cartas do leitor. Ela oferece um espaço para o leitor elogiar ou criticar uma matéria publicada, ou fazer suges- tões. Os comentários podem referir-se às ideias de um tex- to, com as quais o leitor concorda ou não; à maneira como o assunto foi abordado; ou à qualidade do texto em si. É possível também fazer alusão a outras cartas de leitores, para concordar ou não com o ponto de vista expresso ne- las. A linguagem da carta costuma variar conforme o perfil dos leitores da publicação. Pode ser mais descontraída, se o público é jovem, ou ter um aspecto mais formal. Esse tipo de carta apresenta formato parecido com o das cartas pes- soais: data, vocativo (a quem ela é dirigida), corpo do texto, despedida e assinatura. TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Sua finalidade discursiva pauta-se pela divulgação de conhecimentos acerca do saber científico, assemelhando- se, portanto, com os demais gêneros circundantes no meio educacional como um todo, entre eles, textos didáticos e verbetes de enciclopédias. Mediante tal pressuposto, já te- mos a ideia do caráter condizente à linguagem, uma vez que esta se perfaz de características marcantes - a objetivi- dade, isentando-se de traços pessoais por parte do emissor, como também por obedecer ao padrão formal da língua. Outro aspecto passível de destaque é o fato de que no texto científico, às vezes, temos a oportunidade de nos deparar com determinadas terminologias e conceitos próprios da área científica a que eles se referem. Veiculados por diversos meios de comunicação, seja em jornais, revistas, livros ou meio eletrônico, compartilham-se com uma gama de interlocutores. Razão esta que incide na forma como se estruturam, não seguindo um padrão rígido, uma vez que este se interliga a vários fatores, tais como: assunto, público-alvo, emissor, momento histórico, dentre outros. Mas, geralmente, no primeiro e segundo parágra- fos, o autor expõe a ideia principal, sendo representada por uma ideia ou conceito. Nos parágrafos que seguem, ocorre o desenvolvimento propriamente dito da ideia, lembrando que tais argumentos são subsidiados em fontes verdadei- ramente passíveis de comprovação - comparações, dados estatísticos, relações de causa e efeito, dentre outras. 59 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA NÃO FICCIONAIS – INSTRUCIONAIS DIDÁTICOS Na leitura de um texto didático, é preciso apanhar suas ideias fundamentais. Um texto didático é um texto conceitual, ou seja, não figurativo. Nele os termos significam exatamente aquilo que denotam, sendo descabida a atribuição de segun- dos sentidos ou valores conotativos aos termos. Num texto didático devem se analisar ainda com todo o cuidado os ele- mentos de coesão. Deve-se observar a expectativa de sentido que eles criam, para que possa entender bem o texto. O entendimento do texto didático de uma determinada disciplina requer o conhecimento do significado exato dos termos com que ela opera. Conhecer esses termos significa conhecer um conjunto de princípios e de conceitos sobre os quais repousa uma determinada ciência, certa teoria, um campo do saber. O uso da terminologia científica dá maior rigor à exposição, pois evita as conotações e as imprecisões dos termos da linguagem cotidiana. Por outro lado, a defini- ção dos termos depende do nível de público a que se destina. Um manual de introdução à física, destinado a alunos de primeiro grau, expõe um conceito de cada vez e, por con- seguinte, vai definindo paulatinamente os termos específicos dessa ciência. Num livro de física para universitários não cabe a definição de termos que os alunos já deveriam saber, pois senão quem escreve precisaria escrever sobre tudo o que a ciência em que ele é especialista já estudou. RESUMOS Resumo é uma exposição abreviada de um acontecimen- to. Fazer um resumo significa apresentar o conteúdo de forma sintética, destacando as informações essenciais do conteúdo de um livro, artigo, argumento de filme, peça teatral, etc. A elaboração de um resumo exige análise e interpretação do conteúdo para que sejam transmitidas as ideias mais impor- tantes. Escrever um texto em poucas linhas ajuda o aluno a de- senvolver a sua capacidade de síntese, objetividade e clareza: três fatores que serão muito importantes ao longo da vida es- colar. Além de ser um ótimo instrumento de estudo da maté- ria para fazer um teste. Resumo é sinônimo de “recapitulação”, quando, ao final de cada capítulo de um livro é apresentado um breve texto com as ideias chave do assunto introduzido. Outros sinônimos de resumo são: sinopse, sumário, síntese, epítome e compêndio. RECEITAS A receita tem como objetivo informar a fórmula de um produto seja ele industrial ou caseiro, contando detalhada- mente sobre seu preparo. É uma sequência de passos para a preparação de alimentos. As receitas geralmente vêm com seus verbos no modo imperativo, para dar ordens de como preparar seu prato seja ele qual for. Elas são encontradas em diversas fontes como: livros, sites, programas (TV/Rádio), re- vistas ou até mesmo em jornais e panfletos. A receita também ajuda a fazer vários tipos de pratos típicos e saudáveis e até sobremesas deliciosas. CATÁLOGOS Catálogo é uma relação ordenada de coisas ou pessoas com descrições curtas a respeito de cada uma. Espécie de livro, guia ou sumário que contém informações sobre lu- gares, pessoas, produtos e outros. Têm o objetivo de dar opções para uma melhor escolha. ÍNDICES Enumeração detalhada dos assuntos, nomes de pes- soas, nomes geográficos, acontecimentos, etc., com a indi- cação de sua localização no texto. LISTAS Enumeração de elementos selecionados do texto, tais como datas, ilustrações, exemplo, tabelas etc., na ordem de sua ocorrência. VERBETES EM GERAL O verbete é um tipo de texto predominantemente des- critivo. A elaboração reflete o conflito seminal que define a elegância científica: a negociação constante entre síntese e exaustividade. Os padrões do gênero valorizam tanto a brevidade e a abordagem direta dos temas quanto o deta- lhamento e a completude da informação. É um texto escrito, de caráter informativo, destinado a explicar um conceito segundo padrões descritivos sistemá- ticos, determinados pela obra de referência da qual faz par- te: mais comumente, um dicionário ou uma enciclopédia. O verbete é essencialmente destinado a consulta, o que lhe impõe uma construção discursiva sucinta e de acesso ime- diato, embora isso não incorra necessariamente em curta extensão. Geralmente, os verbetes abordam conceitosbem estabelecidos em algum paradigma acadêmico-científico, ao invés de entrar em polêmicas referentes a categorias teóricas discutíveis. Por sua pretensão universalista e pela posição respei- tável que ocupa no sistema de valores da cultura raciona- lista, espera-se que todo verbete siga as normas padrão de uso da língua escrita, em um nível elevado de formalidade. Por sua natureza sistemática e por ser destinado à consul- ta, espera-se que a linguagem do verbete seja também o mais objetiva possível. As consequências gramaticais desse princípio são: no nível lexical, precisão na escolha dos ter- mos e ausência de palavras que expressem subjetividade (opiniões, impressões e sensações); no nível sintático, sim- plificação das construções; e no nível estilístico, denotação (ausência de ornamentos e figuras de linguagem). É comum a presença de terminologia especializada na construção do verbete, embora sua frequência varie confor- me o público consumidor da obra de referência em que se in- sere o texto. Elementos de linguagens não verbais (especial- mente pictóricos) são tradicionalmente agregados ao verbete com função de esclarecimento. 60 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA BULAS Bula pode referir-se a: Bula Pontifícia - documento expedido pela Santa Sé. Refere-se não ao conteúdo e à solenidade de um documen- to pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, “bulla”) de cera ou metal, em geral, chumbo. Assim, existem Litterae Apostolicae (carta apostólica) em forma ou não de bula e também Constituição Apostólica em forma de bula. Por exemplo, a carta apostólica “Munificentissimus Deus”, bem como as Constituições Apostólicas de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do Papa Agapito I (535), conservada apenas em desenho. O mais antigo original con- servado é do Papa Adeodato I (615-618). Bula (medicamento) - folha com informações sobre medi- camentos. Nome que se dá ao conjunto de informações sobre um medicamento que obrigatoriamente os laboratórios farmacêuti- cos devem acrescentar à embalagem de seus produtos vendidos no varejo. As informações podem ser direcionadas aos usuários dos medicamentos, aos profissionais de saúde ou a ambos. NOTAS EXPLICATIVAS DE EMBALAGENS As notas explicativas servem para que o fabricante do pro- duto esclareça ou explique aspectos da composição, nutrição, advertências a respeito do produto. NÃO FICCIONAIS – EPISTOLARES BILHETES O bilhete é uma mensagem curta, trocada entre as pes- soas, para pedir, agradecer, oferecer, informar, desculpar ou perguntar. O bilhete é composto normalmente de: data, nome do destinatário antecedido de um cumprimento, mensagem, despedida e nome do remetente. Exemplo: Belinha, Passei na sua casa para contar o que aconteceu comigo on- tem à noite. Telefone para mim hoje à tarde, que eu vou contar tudinho para você! Um beijinho da amiga Juliana. 14/03/2013 CARTAS FAMILIARES E CARTAS FORMAIS A carta é um dos instrumentos mais úteis em situações diversas. É um dos mais antigos meios de comunicação. Em uma carta formal é preciso ter cuidado na coerência do tra- tamento, por exemplo, se começamos a carta no tratamento em terceira pessoa devemos ir até o fim em terceira pessoa, seguindo também os pronomes e formas verbais na terceira pessoa. Há vários tipos de cartas, o formato da carta depende do seu conteúdo: - Carta Pessoal é a carta que escrevemos para amigos, parentes, namorado(a), o remetente é a própria pessoa que assina a carta, estas cartas não têm um modelo pronto, são escritas de uma maneira particular. - Carta Comercial se torna o meio mais efetivo e seguro de comunicação dentro de uma organização. A linguagem deve ser clara, simples, correta e objetiva. A carta ao ser escrita deve ser primeiramente bem ana- lisada em termos de língua portuguesa, ou seja, deve-se ob- servar a concordância, a pontuação e a maneira de escrever com início, meio e então o fim, contendo também um cabe- çalho e se for uma carta formal, deve conter pronomes de tratamento (Senhor, Senhora, V. Ex.ª etc.) e por fim a finali- zação da carta que deve conter somente um cumprimento formal ou não (grato, beijos, abraços, adeus etc.). Depois de todos esses itens terem sido colocados na carta, a mesma deverá ser colocada em um envelope para ser enviado ao destinatário. Na parte de trás e superior do envelope deve- se conter alguns dados muito importantes tais como: nome do destinatário, endereço (rua, bairro e cidade) e por fim o CEP. Já o remetente (quem vai enviar a carta), também deve inserir na carta os mesmos dados que o do destinatário, que devem ser escritos na parte da frente do envelope. E por fim deve ser colocado no envelope um selo que serve para que a carta seja levada à pessoa mencionada. NÃO FICCIONAIS – ADMINISTRATIVOS REQUERIMENTOS É o instrumento por meio do qual o interessado requer a uma autoridade administrativa um direito do qual se julga detentor. Estrutura: - Vocativo, cargo ou função (e nome do destinatário), ou seja, da autoridade competente. - Texto incluindo: Preâmbulo, contendo nome do reque- rente (grafado em letras maiúsculas) e respectiva qualifica- ção: nacionalidade, estado civil, profissão, documento de identidade, idade (se maior de 60 anos, para fins de prefe- rência na tramitação do processo, segundo a Lei 10.741/03), e domicílio (caso o requerente seja servidor da Câmara dos Deputados, precedendo à qualificação civil deve ser coloca- do o número do registro funcional e a lotação); Exposição do pedido, de preferência indicando os fundamentos legais do requerimento e os elementos probatórios de natureza fática. - Fecho: “Nestes termos, Pede deferimento”. - Local e data. - Assinatura e, se for o caso de servidor, função ou cargo. OFÍCIOS O Ofício deve conter as seguintes partes: - Tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão que o expede. Exemplos: Of. 123/2002-MME Aviso 123/2002-SG Mem. 123/2002-MF - Local e data. Devem vir por extenso com alinhamento à direita. Exemplo: Brasília, 20 de maio de 2013 61 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA - Assunto. Resumo do teor do documento. Exemplos: Assunto: Produtividade do órgão em 2012. Assunto: Necessidade de aquisição de novos computa- dores. - Destinatário. O nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida a comunicação. No caso do ofício, deve ser incluído também o endereço. - Texto. Nos casos em que não for de mero encaminha- mento de documentos, o expediente deve conter a seguin- te estrutura: Introdução: que se confunde com o parágrafo de abertu- ra, na qual é apresentado o assunto que motiva a comunica- ção. Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o pra- zer de”, “Cumpreme informar que”, empregue a forma direta; Desenvolvimento: no qual o assunto é detalhado; se o texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tratadas em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à exposição; Conclusão: em que é reafirmada ou simplesmente rea- presentada a posição recomendada sobre o assunto. Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos casos em que estes estejam organizados em itens ou títulos e subtítulos. COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAIS. MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL. Coesão Uma das propriedades que distinguem um texto de um amontoado de frases é a relação existente entre os elemen- tos que os constituem. A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre palavras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos gramaticais, que servem para es- tabelecer vínculos entre os componentes do texto. Observe: “O iraquiano leu sua declaração num bloquinho comum de anotações, que segurava na mão.”Nesse período, o pronome relativo “que” estabelece conexão entre as duas orações. O iraquiano leu sua decla- ração num bloquinho comum de anotações e segurava na mão, retomando na segunda um dos termos da primeira: bloquinho. O pronome relativo é um elemento coesivo, e a conexão entre as duas orações, um fenômeno de coesão. Leia o texto que segue: Arroz-doce da infância Ingredientes 1 litro de leite desnatado 150g de arroz cru lavado 1 pitada de sal 4 colheres (sopa) de açúcar 1 colher (sobremesa) de canela em pó Preparo Em uma panela ferva o leite, acrescente o arroz, a pitada de sal e mexa sem parar até cozinhar o arroz. Adicione o açúcar e deixe no fogo por mais 2 ou 3 minutos. Despeje em um reci- piente, polvilhe a canela. Sirva. Cozinha Clássica Baixo Colesterol, nº4. São Paulo, InCor, agosto de 1999, p. 42. Toda receita culinária tem duas partes: lista dos ingre- dientes e modo de preparar. As informações apresentadas na primeira são retomadas na segunda. Nesta, os nomes men- cionados pela primeira vez na lista de ingredientes vêm prece- didos de artigo definido, o qual exerce, entre outras funções, a de indicar que o termo determinado por ele se refere ao mesmo ser a que uma palavra idêntica já fizera menção. No nosso texto, por exemplo, quando se diz que se adi- ciona o açúcar, o artigo citado na primeira parte. Se dissesse apenas adicione açúcar, deveria adicionar, pois se trataria de outro açúcar, diverso daquele citado no rol dos ingredientes. Há dois tipos principais de mecanismos de coesão: re- tomada ou antecipação de palavras, expressões ou frases e encadeamento de segmentos. Retomada ou Antecipação por meio de uma palavra gramatical (pronome, verbos ou advérbios) “No mercado de trabalho brasileiro, ainda hoje não há to- tal igualdade entre homens e mulheres: estas ainda ganham menos do que aqueles em cargos equivalentes.” Nesse período, o pronome demonstrativo “estas” retoma o termo mulheres, enquanto “aqueles” recupera a palavra ho- mens. Os termos que servem para retomar outros são denomi- nados anafóricos; os que servem para anunciar, para antecipar outros são chamados catafóricos. No exemplo a seguir, desta antecipa abandonar a faculdade no último ano: “Já viu uma loucura desta, abandonar a faculdade no úl- timo ano?” São anafóricos ou catafóricos os pronomes demonstra- tivos, os pronomes relativos, certos advérbios ou locuções adverbiais (nesse momento, então, lá), o verbo fazer, o artigo definido, os pronomes pessoais de 3ª pessoa (ele, o, a, os, as, lhe, lhes), os pronomes indefinidos. Exemplos: “Ele era muito diferente de seu mestre, a quem sucedera na cátedra de Sociologia na Universidade de São Paulo.” O pronome relativo “quem” retoma o substantivo mestre. “As pessoas simplificam Machado de Assis; elas o veem como um pensador cín iço e descrente do amor e da amizade.” O pronome pessoal “elas” recupera o substantivo pessoas; o pronome pessoal “o” retoma o nome Machado de Assis. “Os dois homens caminhavam pela calçada, ambos trajan- do roupa escura.” 62 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA O numeral “ambos” retoma a expressão os dois homens. “Fui ao cinema domingo e, chegando lá, fiquei desanima- do com a fila.” O advérbio “lá” recupera a expressão ao cinema. “O governador vai pessoalmente inaugurar a creche dos funcionários do palácio, e o fará para demonstrar seu apreço aos servidores.” A forma verbal “fará” retoma a perífrase verbal vai inau- gurar e seu complemento. - Em princípio, o termo a que o anafórico se refere deve estar presente no texto, senão a coesão fica comprometida, como neste exemplo: “André é meu grande amigo. Começou a namorá-la há vá- rios meses.” A rigor, não se pode dizer que o pronome “la” seja um anafórico, pois não está retomando nenhuma das palavras citadas antes. Exatamente por isso, o sentido da frase fica to- talmente prejudicado: não há possibilidade de se depreender o sentido desse pronome. Pode ocorrer, no entanto, que o anafórico não se refira a nenhuma palavra citada anteriormente no interior do texto, mas que possa ser inferida por certos pressupostos típicos da cultura em que se inscreve o texto. É o caso de um exemplo como este: “O casamento teria sido às 20 horas. O noivo já estava de- sesperado, porque eram 21 horas e ela não havia comparecido.” Por dados do contexto cultural, sabe-se que o pronome “ela” é um anafórico que só pode estar-se referindo à palavra noiva. Num casamento, estando presente o noivo, o desespe- ro só pode ser pelo atraso da noiva (representada por “ela” no exemplo citado). - O artigo indefinido serve geralmente para introduzir in- formações novas ao texto. Quando elas forem retomadas, de- verão ser precedidas do artigo definido, pois este é que tem a função de indicar que o termo por ele determinado é idêntico, em termos de valor referencial, a um termo já mencionado. “O encarregado da limpeza encontrou uma carteira na sala de espetáculos. Curiosamente, a carteira tinha muito di- nheiro dentro, mas nem um documento sequer.” - Quando, em dado contexto, o anafórico pode referir-se a dois termos distintos, há uma ruptura de coesão, porque ocorre uma ambiguidade insolúvel. É preciso que o texto seja escrito de tal forma que o leitor possa determinar exatamente qual é a palavra retomada pelo anafórico. “Durante o ensaio, o ator principal brigou com o diretor por causa da sua arrogância.” O anafórico “sua” pode estar-se referindo tanto à palavra ator quanto a diretor. “André brigou com o ex-namorado de uma amiga, que tra- balha na mesma firma.” Não se sabe se o anafórico “que” está se referindo ao ter- mo amiga ou a ex-namorado. Permutando o anafórico “que” por “o qual” ou “a qual”, essa ambiguidade seria desfeita. Retomada por palavra lexical (substantivo, adjetivo ou verbo) Uma palavra pode ser retomada, que por uma repetição, quer por uma substituição por sinônimo, hiperônimo, hipôni- mo ou antonomásia. Sinônimo é o nome que se dá a uma palavra que possui o mesmo sentido que outra, ou sentido bastante aproximado: injúria e afronta, alegre e contente. Hiperônimo é um termo que mantém com outro uma relação do tipo contém/está contido; Hipônimo é uma palavra que mantém com outra uma relação do tipo está contido/contém. O significado do termo rosa está contido no de flor e o de flor contém o de rosa, pois toda rosa é uma flor, mas nem toda flor é uma rosa. Flor é, pois, hiperônimo de rosa, e esta palavra é hipônimo daquela. Antonomásia é a substituição de um nome próprio por um nome comum ou de um comum por um próprio. Ela ocor- re, principalmente, quando uma pessoa célebre é designada por uma característica notória ou quando o nome próprio de uma personagem famosa é usada para designar outras pes- soas que possuam a mesma característica que a distingue: “O rei do futebol (=Pelé) som podia ser um brasileiro.” “O herói de dois mundos (=Garibaldi) foi lembrado numa recente minissérie de tevê.” Referência ao fato notório de Giuseppe Garibaldi haver lutado pela liberdade na Europa e na América. “Ele é um hércules (=um homem muito forte). Referência à força física que caracteriza o herói grego Hércules. “Um presidente da República tem uma agenda de traba- lho extremamente carregada. Deve receber ministros, embai- xadores, visitantes estrangeiros, parlamentares; precisa a todo momento tomar graves decisões que afetam a vida de muitas pessoas; necessita acompanhar tudo o que acontece no Brasil e no mundo. Um presidente deve começar a trabalhar ao raiar do dia e terminar sua jornada altas horas da noite.” A repetição do termo presidente estabelece a coesão en- tre o último período e o que vem antes dele. “Observava as estrelas, os planetas, os satélites. Os astros sempre o atraíram.63 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Os dois períodos estão relacionados pelo hiperônimo astros, que recupera os hipônimos estrelas, planetas, satélites. “Eles (os alquimistas) acreditavam que o organismo do homem era regido por humores (fluidos orgânicos) que per- corriam, ou apenas existiam, em maior ou menor intensidade em nosso corpo. Eram quatro os humores: o sangue, a fleuma (secreção pulmonar), a bile amarela e a bile negra. E eram também estes quatro fluidos ligados aos quatro elementos fundamentais: ao Ar (seco), à Água (úmido), ao Fogo (quente) e à Terra (frio), respectivamente.” Ziraldo. In: Revista Vozes, nº3, abril de 1970, p.18. Nesse texto, a ligação entre o segundo e o primeiro pe- ríodos se faz pela repetição da palavra humores; entre o ter- ceiro e o segundo se faz pela utilização do sinônimo fluidos. É preciso manejar com muito cuidado a repetição de palavras, pois, se ela não for usada para criar um efeito de sentido de intensificação, constituirá uma falha de estilo. No trecho transcrito a seguir, por exemplo, fica claro o uso da repetição da palavra vice e outras parecidas (vicissitudes, vicejam, viciem), com a evidente intenção de ridicularizar a condição secundária que um provável flamenguista atribui ao Vasco e ao seu Vice-presidente: “Recebi por esses dias um e-mail com uma série de piadas sobre o pouco simpático Eurico Miranda. Faltam-me provas, mas tudo leva a crer que o remetente seja um flamenguista.” Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: é vice-pre- sidente do clube, vice-campeão carioca e bi vice-campeão mundial. E isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no Ca- rioca de basquete, no Brasileiro de basquete e na Taça Gua- nabara. São vicissitudes que vicejam. Espero que não viciem. José Roberto Torero. In: Folha de S. Paulo, 08/03/2000, p. 4-7. A elipse é o apagamento de um segmento de frase que pode ser facilmente recuperado pelo contexto. Também cons- titui um expediente de coesão, pois é o apagamento de um termo que seria repetido, e o preenchimento do vazio dei- xado pelo termo apagado (=elíptico) exige, necessariamen- te, que se faça correlação com outros termos presentes no contexto, ou referidos na situação em que se desenrola a fala. Vejamos estes versos do poema “Círculo vicioso”, de Ma- chado de Assis: (...) Mas a lua, fitando o sol, com azedume: “Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela Claridade imorta, que toda a luz resume!” Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979, v.III, p. 151. Nesse caso, o verbo dizer, que seria enunciado antes da- quilo que disse a lua, isto é, antes das aspas, fica subentendi- do, é omitido por ser facilmente presumível. Qualquer segmento da frase pode sofrer elipse. Veja que, no exemplo abaixo, é o sujeito meu pai que vem elidido (ou apagado) antes de sentiu e parou: “Meu pai começou a andar novamente, sentiu a pontada no peito e parou.” Pode ocorrer também elipse por antecipação. No exem- plo que segue, aquela promoção é complemento tanto de querer quanto de desejar, no entanto aparece apenas depois do segundo verbo: “Ficou muito deprimido com o fato de ter sido preferido. Afinal, queria muito, desejava ardentemente aquela promo- ção.” Quando se faz essa elipse por antecipação com verbos que têm regência diferente, a coesão é rompida. Por exem- plo, não se deve dizer “Conheço e gosto deste livro”, pois o verbo conhecer rege complemento não introduzido por pre- posição, e a elipse retoma o complemento inteiro, portanto teríamos uma preposição indevida: “Conheço (deste livro) e gosto deste livro”. Em “Implico e dispenso sem dó os estranhos palpiteiros”, diferentemente, no complemento em elipse fal- taria a preposição “com” exigida pelo verbo implicar. Nesses casos, para assegurar a coesão, o recomendável é colocar o complemento junto ao primeiro verbo, respeitando sua regência, e retomá-lo após o segundo por um anafóri- co, acrescentando a preposição devida (Conheço este livro e gosto dele) ou eliminando a indevida (Implico com estranhos palpiteiros e os dispenso sem dó). Coesão por Conexão Há na língua uma série de palavras ou locuções que são responsáveis pela concatenação ou relação entre segmen- tos do texto. Esses elementos denominam-se conectores ou operadores discursivos. Por exemplo: visto que, até, ora, no entanto, contudo, ou seja. Note-se que eles fazem mais do que ligar partes do tex- to: estabelecem entre elas relações semânticas de diversos tipos, como contrariedade, causa, consequência, condição, conclusão, etc. Essas relações exercem função argumentativa no texto, por isso os operadores discursivos não podem ser usados indiscriminadamente. Na frase “O time apresentou um bom futebol, mas não alcançou a vitória”, por exemplo, o conector “mas” está ade- quadamente usado, pois ele liga dois segmentos com orien- tação argumentativa contrária. Se fosse utilizado, nesse caso, o conector “portanto”, o resultado seria um paradoxo semântico, pois esse operador discursivo liga dois segmentos com a mesma orientação ar- gumentativa, sendo o segmento introduzido por ele a con- clusão do anterior. - Gradação: há operadores que marcam uma gradação numa série de argumentos orientados para uma mesma con- clusão. Dividem-se eles, em dois subtipos: os que indicam o argumento mais forte de uma série: até, mesmo, até mesmo, inclusive, e os que subentendem uma escala com argumen- tos mais fortes: ao menos, pelo menos, no mínimo, no máxi- mo, quando muito. “Ele é um bom conferencista: tem uma voz bonita, é bem articulado, conhece bem o assunto de que fala e é até sedutor.” 64 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA Toda a série de qualidades está orientada no sentido de comprovar que ele é bom conferencista; dentro dessa série, ser sedutor é considerado o argumento mais forte. “Ele é ambicioso e tem grande capacidade de trabalho. Chegará a ser pelo menos diretor da empresa.” Pelo menos introduz um argumento orientado no mesmo sentido de ser ambicioso e ter grande capacidade de trabalho; por outro lado, subentende que há argumentos mais fortes para comprovar que ele tem as qualidades requeridas dos que vão longe (por exemplo, ser presidente da empresa) e que se está usando o menos forte; ao menos, pelo menos e no mínimo ligam argumentos de valor positivo. “Ele não é bom aluno. No máximo vai terminar o segundo grau.” No máximo introduz um argumento orientado no mes- mo sentido de ter muita dificuldade de aprender; supõe que há uma escala argumentativa (por exemplo, fazer uma facul- dade) e que se está usando o argumento menos forte da es- cala no sentido de provar a afirmação anterior; no máximo e quando muito estabelecem ligação entre argumentos de valor depreciativo. - Conjunção Argumentativa: há operadores que assina- lam uma conjunção argumentativa, ou seja, ligam um con- junto de argumentos orientados em favor de uma dada con- clusão: e, também, ainda, nem, não só... mas também, tanto... como, além de, a par de. “Se alguém pode tomar essa decisão é você. Você é o dire- tor da escola, é muito respeitado pelos funcionários e também é muito querido pelos alunos.” Arrolam-se três argumentos em favor da tese que é o in- terlocutor quem pode tomar uma dada decisão. O último de- les é introduzido por “e também”, que indica um argumento final na mesma direção argumentativa dos precedentes. Esses operadores introduzem novos argumentos; não significam, em hipótese nenhuma, a repetição do que já foi dito. Ou seja, só podem ser ligados com conectores de con- junção segmentos que representam uma progressão discur- siva. É possível dizer “Disfarçou as lágrimas que o assaltaram e continuou seu discurso”, porque o segundo segmento indica um desenvolvimento da exposição. Não teria cabimento usar operadores desse tipo paraligar dois segmentos como “Dis- farçou as lágrimas que o assaltaram e escondeu o choro que tomou conta dele”. - Disjunção Argumentativa: há também operadores que indicam uma disjunção argumentativa, ou seja, fazem uma conexão entre segmentos que levam a conclusões opos- tas, que têm orientação argumentativa diferente: ou, ou então, quer... quer, seja... seja, caso contrário, ao contrário. “Não agredi esse imbecil. Ao contrário, ajudei a separar a briga, para que ele não apanhasse.” O argumento introduzido por ao contrário é diametral- mente oposto àquele de que o falante teria agredido alguém. - Conclusão: existem operadores que marcam uma con- clusão em relação ao que foi dito em dois ou mais enun- ciados anteriores (geralmente, uma das afirmações de que decorre a conclusão fica implícita, por manifestar uma voz geral, uma verdade universalmente aceita): logo, portanto, por conseguinte, pois (o pois é conclusivo quando não enca- beça a oração). “Essa guerra é uma guerra de conquista, pois visa ao con- trole dos fluxos mundiais de petróleo. Por conseguinte, não é moralmente defensável.” Por conseguinte introduz uma conclusão em relação à afirmação exposta no primeiro período. - Comparação: outros importantes operadores discursi- vos são os que estabelecem uma comparação de igualdade, superioridade ou inferioridade entre dois elementos, com vistas a uma conclusão contrária ou favorável a certa ideia: tanto... quanto, tão... como, mais... (do) que. “Os problemas de fuga de presos serão tanto mais graves quanto maior for a corrupção entre os agentes penitenciários.” O comparativo de igualdade tem no texto uma função argumentativa: mostrar que o problema da fuga de presos cresce à medida que aumenta a corrupção entre os agentes penitenciários; por isso, os segmentos podem até ser permu- táveis do ponto de vista sintático, mas não o são do ponto de vista argumentativo, pois não há igualdade argumentati- va proposta, “Tanto maior será a corrupção entre os agentes penitenciários quanto mais grave for o problema da fuga de presos”. Muitas vezes a permutação dos segmentos leva a con- clusões opostas: Imagine-se, por exemplo, o seguinte diá- logo entre o diretor de um clube esportivo e o técnico de futebol: “__Precisamos promover atletas das divisões de base para reforçar nosso time. __Qualquer atleta das divisões de base é tão bom quanto os do time principal.” Nesse caso, o argumento do técnico é a favor da promo- ção, pois ele declara que qualquer atleta das divisões de base tem, pelo menos, o mesmo nível dos do time principal, o que significa que estes não primam exatamente pela excelência em relação aos outros. Suponhamos, agora, que o técnico tivesse invertido os segmentos na sua fala: “__Qualquer atleta do time principal é tão bom quanto os das divisões de base.” Nesse caso, seu argumento seria contra a necessidade da promoção, pois ele estaria declarando que os atletas do time principal são tão bons quanto os das divisões de base. - Explicação ou Justificativa: há operadores que intro- duzem uma explicação ou uma justificativa em relação ao que foi dito anteriormente: porque, já que, que, pois. 65 LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA “Já que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem autori- zação da ONU, devem arcar sozinhos com os custos da guerra.” Já que inicia um argumento que dá uma justificativa para a tese de que os Estados Unidos devam arcar sozinhos com o custo da guerra contra o Iraque. - Contrajunção: os operadores discursivos que assina- lam uma relação de contrajunção, isto é, que ligam enuncia- dos com orientação argumentativa contrária, são as conjun- ções adversativas (mas, contudo, todavia, no entanto, entre- tanto, porém) e as concessivas (embora, apesar de, apesar de que, conquanto, ainda que, posto que, se bem que). Qual é a diferença entre as adversativas e as concessivas, se tanto umas como outras ligam enunciados com orienta- ção argumentativa contrária? Nas adversativas, prevalece a orientação do segmento introduzido pela conjunção. “O atleta pode cair por causa do impacto, mas se levanta mais decidido a vencer.” Nesse caso, a primeira oração conduz a uma conclusão negativa sobre um processo ocorrido com o atleta, enquanto a começada pela conjunção “mas” leva a uma conclusão po- sitiva. Essa segunda orientação é a mais forte. Compare-se, por exemplo, “Ela é simpática, mas não é bonita” com “Ela não é bonita, mas é simpática”. No primei- ro caso, o que se quer dizer é que a simpatia é suplantada pela falta de beleza; no segundo, que a falta de beleza perde relevância diante da simpatia. Quando se usam as conjun- ções adversativas, introduz-se um argumento com vistas a determinada conclusão, para, em seguida, apresentar um ar- gumento decisivo para uma conclusão contrária. Com as conjunções concessivas, a orientação argumen- tativa que predomina é a do segmento não introduzido pela conjunção. “Embora haja conexão entre saber escrever e saber gra- mática, trata-se de capacidades diferentes.” A oração iniciada por “embora” apresenta uma orienta- ção argumentativa no sentido de que saber escrever e saber gramática são duas coisas interligadas; a oração principal conduz à direção argumentativa contrária. Quando se utilizam conjunções concessivas, a estratégia argumentativa é a de introduzir no texto um argumento que, embora tido como verdadeiro, será anulado por outro mais forte com orientação contrária. A diferença entre as adversativas e as concessivas, por- tanto, é de estratégia argumentativa. Compare os seguintes períodos: “Por mais que o exército tivesse planejado a operação (argumento mais fraco), a realidade mostrou-se mais com- plexa (argumento mais forte).” “O exército planejou minuciosamente a operação (argu- mento mais fraco), mas a realidade mostrou-se mais comple- xa (argumento mais forte).” - Argumento Decisivo: há operadores discursivos que introduzem um argumento decisivo para derrubar a argu- mentação contrária, mas apresentando-o como se fosse um acréscimo, como se fosse apenas algo mais numa sé- rie argumentativa: além do mais, além de tudo, além disso, ademais. “Ele está num período muito bom da vida: começou a namorar a mulher de seus sonhos, foi promovido na empresa, recebeu um prêmio que ambicionava havia muito tempo e, além disso, ganhou uma bolada na loteria.” O operador discursivo introduz o que se considera a prova mais forte de que “Ele está num período muito bom da vida”; no entanto, essa prova é apresentada como se fosse apenas mais uma. - Generalização ou Amplificação: existem operadores que assinalam uma generalização ou uma amplificação do que foi dito antes: de fato, realmente, como aliás, também, é verdade que. “O problema da erradicação da pobreza passa pela ge- ração de empregos. De fato, só o crescimento econômico leva ao aumento de renda da população.” O conector introduz uma amplificação do que foi dito antes. “Ele é um técnico retranqueiro, como aliás o são todos os que atualmente militam no nosso futebol. O conector introduz uma generalização ao que foi afir- mado: não “ele”, mas todos os técnicos do nosso futebol são retranqueiros. - Especificação ou Exemplificação: também há opera- dores que marcam uma especificação ou uma exemplifica- ção do que foi afirmado anteriormente: por exemplo, como. “A violência não é um fenômeno que está disseminado apenas entre as camadas mais pobres da população. Por exemplo, é crescente o número de jovens da classe média que estão envolvidos em toda sorte de delitos, dos menos aos mais graves.” Por exemplo assinala que o que vem a seguir especifica, exemplifica a afirmação de que a violência não é um fenô- meno adstrito aos membros das “camadas mais pobres da população”. - Retificação