Prévia do material em texto
TÉCNICAS DE PRODUÇÃO ANIMAL Renata Augusto Vieira G es tã o T É C N IC A S D E P R O D U Ç Ã O A N IM A L R en at a A ug us to V ie ira Curitiba 2019 Técnicas de Produção Animal Renata Augusto Vieira Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. V658t Vieira, Renata Augusto Técnicas de produção animal / Renata Augusto Vieira. – Curitiba: Fael, 2019. 222 p.: il. ISBN 978-85-5337-066-5 1. Zootecnia I. Título CDD 636.08 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Alf Ribeiro Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Introdução à produção animal | 7 2. Anatomia animal | 23 3. Bovinocultura de corte e leite | 47 4. Caprinocultura e ovinocultura | 67 5. Bubalinocultura | 85 6. Avicultura e suinocultura | 103 7. Piscicultura e ranicultura | 119 8. Sanidade Animal | 141 9. Genética e produção | 159 10. Parâmetros zootécnicos e gestão da produção | 177 Gabarito | 195 Referências | 211 Prezado(a) aluno(a), A produção pecuária teve início há milhares de anos em tri- bos dispersas em várias localidades do globo terrestre, e chegou ao Brasil no início da colonização portuguesa. Desde então, todos aqueles que se dedicam à criação animal têm contribuído para a ascensão dessa atividade e pela posição de destaque do Brasil no cenário mundial como um dos principais países produtores e exportadores de carne, leite, ovos, lã, entre outros produtos. A criação de animais com fins comerciais é uma das ativi- dades que constitui o agronegócio e é responsável por abaste- cer o mercado interno e também por exportar a outros países, de acordo com as exigências de qualidade determinadas por cada um deles. Essa capacidade de atender à demanda internacional foi adquirida graças ao desenvolvimento da cadeia pecuária, com investimento em novas tecnologias e aprimoramento do conhe- cimento técnico por parte dos responsáveis envolvidos (agrô- nomos, técnicos, médicos veterinários, administradores etc.), e às condições climáticas e ambientais que colaboram com o pro- gresso da pecuária brasileira. Carta ao Aluno – 6 – Técnicas de Produção Animal É de extrema importância que todos aqueles ligados não só à pecuá- ria, mas também ao agronegócio como um todo, direta ou indiretamente, compreendam o funcionamento da cadeia produtiva, pois cada ponto dessa rede pode constituir um gargalo de produção, com a possibilidade de gerar lucros menores. Não obstante, o conteúdo da presente obra possibilita um maior conhecimento em melhorias de processos que podem ser aplicadas nos diferentes sistemas de criação, bem como na criação de diversas espé- cies comerciais, contribuindo também para um maior desenvolvimento do processo como um todo. Isto posto, essa obra tem como objetivo principal apresentar ao lei- tor as particularidades das principais espécies comerciais de animais uti- lizados na pecuária moderna. Aborda desde características anatômicas e fisiológicas desses animais, até o processo de gestão de um estabeleci- mento, buscando sempre uma visão abrangente e sistêmica da atividade económica, sem deixar de mencionar características peculiares de cada atividade específica. Ademais, por se tratar de um tema amplo, foram selecionados os assuntos mais importantes e, por conseguinte, alguns temas ocasional- mente podem não ter sido mencionados ou então sido tratados de maneira superficial. Sendo assim, fica o convite ao leitor para se aprofundar em tais temas por meio dos materiais disponibilizados nas referências. Espero que os assuntos discutidos nessa obra possam trazer diver- sos esclarecimentos sobre a arte da criação animal e, inclusive, suscitar a vontade de adquirir mais conhecimento e, quem sabe, seguir profissional- mente nessa área. A autora. 1 Introdução à produção animal Desde os primórdios da domesticação animal, a relação entre homem e animal tem sido muito próxima. Durante séculos, essa relação é simbiótica, havendo uma intensa associação entre seres humanos e animais. Por exemplo, os bovinos dependem do homem no fornecimento de alimentação e abrigo, além de cuida- dos gerais, ao passo que o homem se beneficiada carne, do leite, do esterco e outros produtos. No início dessa interação, os indivíduos, ainda nômades, conduziam alguns animais em busca de melhores locais. Com o passar do tempo, já fixos ao ambiente em que viviam, a maioria das propriedades eram pequenas, e famílias inteiras viviam com um ou dois animais. A família e o gado normalmente coabitavam as mesmas instalações e, quando não, dividiam partes adjacentes das mesmas. Técnicas de Produção Animal – 8 – Na atualidade, especialmente a partir do pós-Segunda Guerra Mun- dial, as práticas mudaram e a maioria dos países buscou a autossuficiên- cia na agricultura e na produção animal. Houve, consequentemente, um aumento no tamanho das propriedades, uma maior especialização produ- tiva e o surgimento de novas tecnologias aliadas ao trabalho de profissio- nais especializados. Neste capítulo, serão tratados aspectos iniciais da produção animal, desde o início dessa relação entre homem e animal, passando pelo estudo geral da zootecnia e finalizando com aspectos de bem-estar animal. 1.1 Interação homem versus animal Segundo cientistas, há aproximadamente 4,6 bilhões de anos surgiu o planeta Terra. Não este ao qual estamos acostumados, com terras e mares, mas sim uma versão um pouco mais primitiva, com poucos componen- tes em estado líquido e muitos gasosos. Desde este momento, a evolução tem sido cons- tante: os primeiros seres vivos (microrganismos) datam de aproximadamente 3,8 bilhões de anos atrás e desde então o que tem definido o sucesso das espécies, sejam elas de plantas ou animais, é a capacidade de adaptação ao meio. Essa adap- tação levou ao surgimento de diversos ambientes (Figura 1), que por sua vez contribuí- ram para a permanência desses seres, que constituíram novos ambientes, dando lugar a novas espécies animais e vegetais. Trata-se de um ciclo: a diversidade do meio gera mais evolução a partir da adaptação das espécies a novas situações. Por meio desse ciclo de Figura 1.1 – Evolução do planeta Terra Fonte: Shutterstock.com/Vectorpocket – 9 – Introdução à produção animal evolução, que levou bilhões de anos, surgiram grupos de animais que têm características semelhantes, mas que também são fundamentalmente diferentes entre si. A partir disso, têm-se raças, linhagens, tipos e varie- dades (ROLIM, 2014). A domesticação animal teve início por volta do ano 7000 a.C., quando o homem passa do nomadismo ao sedentarismo. Com a Revolução Neolí- tica (ou Transição Demográfica Neolítica), houve uma grande movimen- tação de diversas culturas humanas, que abandonavam a vida baseada na caça nômade, sempre se deslocando para locais com abundância de recur- sos, para adquirirem padrões de vida sedentários, transformado o local em que viviam de acordo com suas necessidades. Inicia-se, a partir de então, a domesticação de plantas e o início do desenvolvimento da agricultura, bem como da domesticação animal. A domesticação foi uma consequência natural da própria criação de animais realizada pelo ser humano, a priori, para satisfazer suas necessi- dades. O homem primitivo, agindo mais por instinto do que por experiên- cia, convivia próximo aos animais e lhe foi muito fácil coexistir com eles, amansá-los, introduzindo-os na domesticidade.Este processo foi longo e atravessou gerações até estar concluído (BERTOLLI, 2008). O cão foi o primeiro animal a ser domesticado pela raça humana para, em um primeiro momento, servir de alimento. Posteriormente, percebeu- -se que o cão era um bom caçador, passando a ser utilizado em técnicas de caça, bem como no pastoreio e, por fim, como animal de companhia. Após o cão, a cabra, a ovelha e os suínos foram domesticados na Ásia e na Europa em virtude da produção de leite, de lã, de carne e de banha, respectiva- mente. Os bovinos e os bubali- nos vieram em seguida, embora estes (bubalinos) ainda não são considerados domésticos, mas semidomésticos, uma vez que apresentam alta adaptabilidade ao habitat natural e à vida sel- Figura 1.2 – Interação entre homens e animais na Pré-História Fonte: Shutterstock.com/ gerasimov_foto_174 Técnicas de Produção Animal – 10 – vagem quando reintroduzidos ao seu ecossistema original. A domestica- ção do cavalo ocorreu anos mais tarde, durante a Idade do Bronze, na Ásia e na Europa (figura 1.2). 1.2 Introdução à Zootecnia Em 1843 foi usada pela primeira vez a palavra zootechnie, de origem francesa, formada a partir de dois radicais gregos: zoon, “animal”, e tecne, “tratado sobre uma arte”. Sendo assim, em um primeiro momento, denomi- nou-se o que hoje é chamado de Zootecnia como conhecimentos voltados à criação de animais. Hoje, ela é tratada como uma ciência que estuda criação, produção e manejo de animais domésticos ou em processo de domestica- ção para finalidades econômicas, e, como diversas outras áreas, está em contínuo desenvolvimento. À medida que novos estudos e pesquisas são realizados, novos conceitos e métodos surgem, modificando a prática da produção animal. Cada vez mais a produção pecuária se torna economica- mente viável, ecologicamente correta e fornece maior qualidade. Por animais domésticos entende-se aqueles sobre os quais o homem tem profundo conhecimento, seja em relação à biologia, à genética, ao comportamento ou à reprodução, além de exercer certo domínio sobre eles. Ademais, para serem considerados domésticos, considera-se que estes ani- mais estejam em simbiose com o homem (figura 1.3), ou seja, que haja uma associação entre organismos de espécies diferentes mutuamente vantajosa. Figura 1.3 – Homem e animal em simbiose Fonte: Shutterstock.com/ HQuality – 11 – Introdução à produção animal Para Bertolli (2008), no geral, os objetivos da Zootecnia são: produ- ção de alimentos, de trabalho, de bens, e de matéria-prima para a indústria ou para a agricultura. Estes produtos gerados pela produção pecuária, fru- tos da Zootecnia, fundamentam sua existência na promoção de uma maior qualidade de vida aos seres humanos, embora o acesso a eles nem sempre ocorra de forma equilibrada e justa. Nesse sentido, nota-se que o avanço da Zootecnia como ciência deve- -se à atuação conjunta de diversos profissionais, sejam eles produtores, técnicos/zootecnistas e/ou pesquisadores. Por meio do conhecimento prático, adquirido no dia a dia de uma propriedade, os produtores pas- sam informações, conhecimentos e vivências aos técnicos e zootecnistas. Estes, por sua vez, através do conhecimento teórico, aliado ao saber prá- tico, implementam soluções e, então, transferem aos pesquisadores obser- vações e ideias a serem desenvolvidas em pesquisas, que se pretendem à aplicação empírica, ao final do processo. Desde o início do vínculo entre homens e animais, pode-se dividir a Zootecnia em dois momentos: a Fase Empírica e a Fase Técnica. 2 Fase empírica: a zootecnia era vista como arte, sem se basear em pressupostos científicos, mas sim em percepções pessoais. Ela é característica dos primeiros anos de domesticação do ani- mal pelo homem, uma vez que se pautava na observação, e não na criação de hipóteses para sua corroboração ou refutação atra- vés de experimentos e resultados. 2 Fase técnica: a ciência toma o lugar das observações ocasionais e passa a direcionar a atividade pecuária, provendo informações mais precisas sobre como produzir, visando sempre maior pro- dutividade e qualidade do produto, bem como o seu beneficia- mento e incorporação de valor, passando inclusive pelo bem- -estar dos animais envolvidos no processo. Através da Fase Empírica, subdividem-se duas grandes áreas: Zoo- tecnia Geral e Especial. A Zootecnia Geral é a parte teórica, que trata do estudo de animais domésticos de um ponto de vista mais amplo, a fim de desenvolver leis, métodos, relações e modelos para a interação com o animal. Existem quatro aspectos estudados nessa área: Técnicas de Produção Animal – 12 – 1. Domesticação – estuda a origem das espécies, a interação do homem com a natureza até o ponto em que cada espécie é con- siderada domesticada, bem como os processos envolvidos nessa ação. Entende-se também como animal doméstico aquele que passa aos seus descendentes hereditariamente características específicas (OLIVEIRA, 2008). Essas caraterísticas podem ser divididas em alguns atributos: 2 sociabilidade – tendência em viver em sociedade; 2 mansidão – ausência do instinto selvagem; 2 fecundidade em cativeiro – capacidade de perpetuação da espécie em ambiente diferente do habitat natural; 2 função especializada – função de interesse ao homem, por exemplo, produção de leite e/ou carne, aproveitamento de pele/pelo, tração, etc.; 2 facilidade de adaptação – capacidade de adaptar-se a ambientes diferentes. Caso não sejam satisfeitas as condições mencionadas, o ani- mal não pode ser domesticado. Esse é o caso do elefante, que é sociável, de índole mansa, mas não se reproduz facilmente em cativeiro. O número de espécies domésticas é, portanto, muito limitado, e aproximadamente para cada 1000 selvagens, entre mamíferos e aves, há apenas uma doméstica. 2. Individualidade – preocupa-se com o conhecimento e desenvol- vimento de caraterísticas raciais, étnicas, sexuais e produtivas das espécies. 3. Ambiente – analisa as variações ambientais, bem como a adap- tação animal a essas mudanças. Estuda a interferência das condi- ções do meio ambiente no desenvolvimento das espécies, assim como a intercorrência das condições artificiais, como alimenta- ção, manejo, sanidade e higiene. 4. Genética – compreende as diferenças entre espécies e entre indivíduos através de variedades genéticas e raciais. Ademais, – 13 – Introdução à produção animal observa-se os métodos de reprodução, sistemas de acasala- mento, seleção natural, entre outros. Curiosidade É comum que as pessoas confundam animal doméstico com animal amansado, como é o caso de papagaios, macacos, cotias, etc. Con- tudo, estes não são como os bois, cavalos, carneiros, cabras, cães, que são espécies verdadeiramente domésticas. O animal amansado é um espécime, ou seja, apenas um em toda uma população; é um ser criado sob certas condições, que tem a capacidade de obedecer, responder a ordens e conviver pacificamente com o homem; já o ani- mal doméstico é uma espécie inteira ou um grande grupo. O animal amansado é somente um indivíduo que perdeu sua agressividade (OLIVEIRA, 2008). A Zootecnia Especial é o estudo particular de cada espécie, ou seja, o processo de produção específico de cada animal, bem como o tipo de produto que será gerado dessa criação, por exemplo: 1. bovinocultura de corte – criação de bovinos para produção de carne; 2. bovinocultura de leite – criação de bovinos para produção de leite; 3. suinocultura – criação de suínos para produção de carne; 4. avicultura de postura – criação de galinhas para produção de ovos; 5. avicultura de corte – criação de galinhas para produção de carne. 1.3 Bem-estar animal Após o surgimento da Zootecnia e, consequentemente, do advento dos estudos e das pesquisas relacionadosà produção animal, houve uma certa negligência (ou falta de experiência) com a questão do bem-estar animal. Todas as tecnologias desenvolvidas para o aprimoramento dos resultados produtivos, durante muitos anos, consideraram somente o fun- cionamento biológico praticamente mecânico dos animais. Técnicas de Produção Animal – 14 – Felizmente, em um período mais recente da história, surge uma maior preocupação com a maneira com que se trabalha, por parte dos próprios produtores e pesquisadores. Ainda é uma área recente e carente de desen- volvimento, mas tudo indica que nos próximos anos a preocupação com as condições físicas e psicológicas dos animais será mais extensamente consi- derada. Com vistas a atender o mercado consumidor, um dos pontos-chave – quiçá o principal – da cadeia de produção tenderá a ser: entregar produtos de alta qualidade, seguros, nutritivos, mas que também tenham compromis- sos sociais e ambientais; assim, o setor produtivo seja apresenta sinais de reestruturação, visando ao bem-estar animal, sem, contudo, perder o foco na lucratividade (ESCOLA DE VETERINARIA UFMG, 2012). 1.3.1 Etologia Com o passar dos anos, as interações entre humanos e animais pas- saram por modificações substanciais em virtude do aumento da demanda por produtos de origem animal. No início do século XX, os sistemas de produção adotavam mecanismos com altas taxas de lotação, buscando maior produção e redução de espaço. A partir de 1970, a criação intensiva de animais levou ao confinamento intenso de bovinos, suínos e aves em muitos países. Em contrapartida, ainda que timidamente, também crescia o número de pessoas dispostas a evitar o consumo de produtos provenien- tes de produções que causem sofrimento aos animais (BÉRTOLLI, 2008). A Etologia é o ramo que estuda o comportamento animal. O termo deriva da palavra grega ethos, que significa “costume”, “hábitos”, “com- portamento”, e logos, que significa “estudo”, “ciência”. Com grande influ- ência da teoria darwiniana, esta área de estudos se deriva da Zoologia e está ligada aos nomes de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen, ganhadores do prêmio Nobel de Medicina, que buscaram maiores fundamentos para explicar o comportamento animal, tendo como uma de suas preocupa- ções básicas a evolução do comportamento através do processo de seleção natural, concepção criada por Charles Darwin. Para ele, cada espécie apresenta um conjunto de padrões de compor- tamento que lhe é característico, da mesma forma que é dotada de parti- cularidades anatômicas. Os etólogos, por sua vez, estudam esses padrões específicos, através de observação dos animais em seu ambiente natural, – 15 – Introdução à produção animal pois acreditam que detalhes importantes desse comportamento só podem ser observados quando os animais estão livres, interagindo com o meio natural. Curiosidade Charles Robert Darwin (1809-1882) foi um naturalista britânico que ficou famoso ao desenvolver uma teoria, conhecida como Teoria da Evolução, para explicar o surgimento da vida no planeta Terra. Por ir contra os dog- mas da Igreja, predominantes naquela época, teve grande dificuldade de convencer a comunidade da época, levando ainda algumas décadas para que sua teoria fosse explorada e, mais tardiamente, aceita como a melhor explicação científica para a origem e o desenvolvimento da vida, o que perdura até hoje. Em seu livro A origem das espécies, de 1859, ele apresentou a ideia de evolução a partir de um ancestral em comum, através da sele- ção natural, cuja premissa básica é: o animal mais adaptado (com alguma mutação ou característica especial) é o mais apto a sobreviver em seu meio e, portanto, passa os genes a seus descentes, que também os passarão aos seus descentes, de forma que, em um determinado momento, toda a espécie será marcada por aquelas características que a tornam mais apta, aprimorando, assim, aquele grupo. Este é considerado o paradigma central ainda hoje para explicar diversos fenômenos da biologia. Figura 1.4 – Naturalista Charles Darwin Fo nt e: S hu tt er st oc k. co m /E ve re tt H is to ri ca l. Técnicas de Produção Animal – 16 – Em 1963, Tinbergen criou quatro fases para observação do compor- tamento: 1. primeiro deve-se analisar quais são os fatores exógenos e endó- genos que desencadeiam um comportamento, estabelecendo uma relação entre este comportamento e uma condição anterior. Em outras palavras, o que está em análise é o caráter individual influenciado por experiências prévias. 2. em seguida verifica-se como o comportamento se desenvolve em um indivíduo. É uma análise ontogenética, que avalia o com- portamento através do tempo para determinar como o indivíduo se desenvolve e se diferencia dos outros. 3. a terceira questão é a análise filogenética, que trata do valor adaptativo dos comportamentos, estudando a história do com- portamento no fluxo evolutivo de cada espécie. Esses compor- tamentos são, portanto, inatos, frutos de uma herança genética. 4. finalmente, a quarta fase aborda a análise funcional, que é a rela- ção entre um comportamento e as mudanças que ocorrem no ambiente ou no próprio indivíduo. Atualmente, o estudo do comportamento e bem-estar animal tem como principal objetivo promover o equilíbrio dos métodos de criação e de produção com melhores condições de manejo, proporcionando con- dições de vida mais dignas aos animais, o que ainda contribui para altas taxas de produtividade. Para garantir esses objetivos, nos últimos anos, pesquisas e estudos têm sido desenvolvidos considerando condições do sistema nervoso e sensorial das espécies. Existem várias definições, mas, mundialmente, é aceito o princípio das cinco liberdades que determinam o bem-estar animal e dos “três Rs” para animais submetidos a experimen- tação laboratorial: Liberdades: 1. livres de medo e estresse; 2. livres de fome e sede; 3. livres de desconforto; – 17 – Introdução à produção animal 4. livres de dor e doença; 5. liberdade para expressar seu comportamento natural. 3 Rs: 1. redução da quantidade de animais submetidos a testes laboratoriais; 2. recolocação ou substituição (replacement em inglês) de animais por outras alternativas; 3. refinamento de técnicas e protocolos para que animais utili- zados em testes laboratoriais passem por cada vez menos dor e estresse. Figura 1.5 – Animal de laboratório Fonte: Shutterstock.com/unoL 1.3.2 Bem-estar animal, mercado e legislação Por muito tempo, perdurou na mentalidade de produtores que índices zootécnicos, padrões de produção e economia não poderiam coexistir com a preocupação com o bem-estar animal. Os primeiros sinais de preocupa- ção com manejo animal surgiram na Europa, por volta de 1809, quando o conceito de bem-estar animal (BEA) teve início. Esta data marca o sur- gimento da primeira organização social de defesa dos animais, a Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em Liverpool, Ingla- terra. O BEA (bem-estar animal) então passou a integrar os cálculos do Técnicas de Produção Animal – 18 – valor econômico dos produtos de origem animal e os primeiros conceitos de BEA começaram a ser implantados no cenário produtivo mundial a partir da definição de protocolos de boas práticas de manejo (ESCOLA DE VETERINARIA UFMG, 2012). Surgiram então os primeiros estudos que buscaram quantificar o impacto que o padrão de bem-estar pode ter nas relações custo-benefício. No Brasil o tema começou a ser discutido e ações afirmativas foram tomadas em 1934. Neste ano foram estabelecidas as primeiras medi- das voltadas ao respeito e à proteção animal por meio do Decreto n. 24.645, que, naquela época, já previa multa a quem desrespeitasse o regulamento, além de estabelecer critérios claros do quese considerava maus tratos. Também na Constituição de 1988, em seu artigo n. 225, o poder público demonstra competência para proteger a fauna e a flora, vetando práticas que submetam os animais a maus tratos e crueldade. Adicionalmente, a Lei sobre Política Agrícola de 1991 estabelece a obri- gatoriedade da preservação ambiental e do uso racional da fauna e da flora brasileiras. Ou seja, ainda que o tema encontre entraves no que concerne à prática dessas ações voltadas ao bem-estar animal, existem no país regulamentações e exigências que visam direcionar a produção a uma visão um pouco mais sustentável. Até o momento, a responsabilidade pelo estímulo e pelo desenvol- vimento da produção pecuária, bem como pela fiscalização do bem-estar dos animais de produção, criados para fins econômicos, é do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Inseridos no MAPA estão a Secretaria de Defesa Agropecuária e a Coordenação de Boas Prá- ticas e Bem-estar Animal (CBPA) da Secretaria de Mobilidade Social, do Produtor Rural e Cooperativismo (SMC), responsáveis pela fiscalização e fomento à produção agropecuária. Além de tudo, são comprovados os benefícios que podem da promo- ção do BEA nos estabelecimentos. Por exemplo, uma melhor saúde ani- mal pode diminuir os riscos para a saúde humana, principalmente em paí- ses em desenvolvimento. A vacinação contra doenças como a brucelose e raiva animal influenciam diretamente na morbidade e mortalidade animal, reduzindo, inclusive, o risco potencial de transmissão dessas doenças para os humanos. Ademais, a segurança e a qualidade dos produtos alimen- – 19 – Introdução à produção animal tícios são também influenciadas por fatores que intimamente ligados ao bem-estar animal, como um manejo responsável que ajuda na prevenção de problemas ligados à qualidade da carne. Além desses benefícios práticos, a interação positiva com os ani- mais pode proporcionar benefícios psicossociais que são importantes por contribuírem com o bem-estar humano, pois auxilia no ensino da ética do cuidado, na atuação em programas de terapia com animais, entre outros (figura 1.6). A preocupação com o bem-estar animal também pode trazer benefícios mais amplos para as comunidades humanas: em áreas rurais, a subsistência dos pequenos agricultores está diretamente ligada à sobrevivência, à saúde e à produtividade de seus animais. Dessa forma, melhorando o ambiente que os cerca, estes aspectos podem ser melhorados consideravelmente, auxiliando no desenvolvimento e na manutenção da prosperidade e do emprego rural, com os consequentes benefícios da estabilidade familiar e da comunidade (FAO, 2009). Figura 1.6 – Preocupação com bem-estar animal Fonte: Shutterstock.com/ Doug McLean Há no Brasil diversas legislações voltadas ao bem-estar animal. Den- tre elas, podemos citar a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que traz tópicos importantes sobre como deve ser pensado e conduzido o agronegócio de forma que seja mais respeitosa com os animais. Resumi- damente, os principais pontos que essa Declaração abrange são: Técnicas de Produção Animal – 20 – 2 os animais têm direito à existência e à vida por serem todos iguais; 2 os animais devem ser respeitados, tendo direito aos cuidados e à proteção do homem, o qual não pode exterminá-los ou explorá- -los, passando por cima do direito ao respeito; 2 é completamente proibida a tortura aos animais, bem como métodos cruéis de abate ou sacrifício. Quando for necessário o sacrifício de qualquer animal, deve ser feito de modo a poupar- -lhe dor e angústia; 2 animais selvagens têm o direito de viverem em seu habitat natural e qualquer tipo de privação dessas espécies a ele, ainda que para fins educativos, contraria o que está estabelecido nesta norma; 2 animais domésticos que vivam na companhia do homem têm o direito de viverem e se desenvolverem de acordo com a sua fisiologia natural. Qualquer condição imposta pelo homem que modifique a sua natureza infringe esse código; 2 os animais têm direito a uma vida duradoura dentro das capa- cidades de cada um; abandono e morte de animais são crimes; 2 animais próprios para trabalho (por exemplo, búfalos) têm direito a uma jornada razoável, com intensidade relativa à sua capacidade, além de terem direito ao descanso e à alimentação condizentes com o trabalho que realizam; 2 animais destinados para alimentação devem ser criados den- tro de padrões e critérios de bem-estar, sem dor ou sofrimento (físico ou psicológico). Os exemplos citados acima foram retirados da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, documento este proclamado pela UNESCO em uma sessão que ocorreu em Bruxelas, no ano de 1978. Síntese Há 4,6 bilhões de anos a história do planeta começou a ser escrita. De lá até hoje foram inúmeras as transformações pelas quais as espécies – 21 – Introdução à produção animal de plantas e animais passaram e continuam passando, o que proporcionou maior adaptabilidade e, portanto, uma evolução das espécies originais. Essas mudanças permitiram uma relação mais próxima do homem com alguns animais, resultando na domesticação de bovinos, equinos, suínos, caprinos, ovinos etc. Dessa relação, o homem percebeu que havia um potencial de exploração dos produtos animais, como a carne, o leite e a lã; a partir de então, a produção animal surgiu como atividade econômica. Em 1843, a Zootecnia toma forma pelas mãos de Étienne Pierre, o Conde de Gasparine, e hoje é conhecida pela ciência que estuda a criação de animais para atender às necessidades humanas. Através das caracterís- ticas produtivas, a zootecnia analisa e desenvolve bases teóricas que auxi- liam no aprimoramento da produção animal. Nos últimos anos, a preocu- pação com o manejo animal tem sido pauta nas discussões dos produtores rurais e de toda a sociedade que consome esses produtos. O bem-estar animal está ganhando cada vez mais reconhecimento como fator relevante para o sucesso do desenvolvimento em diversos paí- ses, especialmente os europeus. Também no Brasil, porém, o BEA tem contribuído com programas para melhorar a saúde animal, para desen- volver a sua produção, para atender a animais envolvidos em catástrofes naturais, assim como para adaptação da constituição genética dos animais ao ambiente em que são criados. Atividades 1. A partir da evolução das espécies, animais e plantas desenvol- veram capacidades adaptativas que foram fundamentais para sua permanência e para seu desenvolvimento na Terra. Explique como essa adaptação foi fundamental para a relação do homem com o animal e como se deu o processo de domesticação. 2. Explique com suas palavras o conceito de Zootecnia. Faça um esquema com as áreas de divisão dessa ciência e explique breve- mente as características de cada uma. 3. Qual o principal objetivo de se estudar e aplicar técnicas de bem-estar animal? Técnicas de Produção Animal – 22 – 4. Pesquise normas, códigos, leis etc., que tratem sobre a questão do bem-estar animal e explique com suas palavras onde pode- mos aplicar cada norma. 2 Anatomia animal Segundo Oliveira (2008), a anatomia tem origem na pala- vra grega ἀνατέμνω (anatemnō), cujos morfemas ana e tomia, significam, respectivamente, “através de” e “cortar”, remetendo ao ato de dissecar. Desde aproximadamente 1600 a.C., já exis- tiam civilizações que tratavam do estudo das partes do corpo, como papiros egípcios. Entretanto, até os dias atuais, os gregos são tidos como os pioneiros no estudo da anatomia por terem realizado dissecações com propósitos científicos (KONIG; LIE- BICH, 2016). Nessa linha, a anatomia, como o estudo científico da forma e da estrutura dos seres vivos, foi definida por Aristóteles como a busca de um plano básico de construção comum para todas asestruturas por meio de um processo metodológico. Analisando sua obra, Historia Animalium, acredita-se que Aristóteles tenha realizado pesquisas anatômicas por meio de dissecações. Técnicas de Produção Animal – 24 – A anatomia animal não só permitiu que o homem conhecesse a con- formação e disposição dos elementos do corpo dos animais, bem como colaborou para a evolução da medicina humana. O conhecimento da ana- tomia sistêmica é muito importante para estudantes, pois propicia o enten- dimento da conexão geral entre estrutura e função do corpo animal. Nesse capítulo, serão abordados conceitos introdutórios de anatomia animal que auxiliam no entendimento de outros temas, como reprodução, manejo e saúde animal. 2.1 Histórico da anatomia Desde os primeiros estudos de Aristóteles, quase dois mil anos se passaram quando huma- nistas dos séculos XV e XVI con- tinuaram a estudar a abordagem de morfologia comparada. Na Itália (por volta dos anos 1600), o estudo detalhado de corpos huma- nos e animais levou a várias des- cobertas, que foram registradas por meio da arte, que na atuali- dade se demonstram como regis- tros expressados em obras de arte mundialmente famosas. Leonardo da Vinci, Fabri- zio d’Acquapendente, Marcello Malpighi e Carlo Ruini foram pioneiros na área e trouxeram a era de ouro da anatomia compa- rada, que continuou até o final do século XIX. No início do século XVII, a anatomia dos animais começava Figura 2.1 – Anatomia muscular Dell’Anatomia e dell’Infirmitá del Cavallo Fonte: Konig e Liebich (2016). – 25 – Anatomia animal lentamente a passar por um renascimento. Entretanto, somente após 150 anos foi criada uma academia veterinária em que o livro de Ruini pôde ser usado para ensinar profissionais. Em meados do século XVIII, Philippe Etienne Lafosse, considerado o pai da anatomia dos animais, fundou uma escola veterinária particu- lar em Paris. Dois anos mais tarde, Lafosse publicou sua obra de maior sucesso, Cours d’Hippiatrique – um curso sobre hipiatria ou um tratado completo sobre a medicina de cavalos (KONIG; LIEBICH, 2016). Desde o início dos estudos anatômicos, diversos pesquisadores desenvolveram critérios próprios de denominação das partes dos corpos. Sendo assim, cada país determinava suas próprias nomenclaturas e havia pouca ou quase nenhuma coerência nas definições anatômicas. A fim de unificar o vocabulário, anatomistas alemães deram o pri- meiro passo em busca de uma consolidação e passaram a adotar o latim como língua oficial na caraterização das partes corporais. Em 1895, o suíço Wilhelm His apresentou em um congresso realizado na Basileia um rol de nomes contendo mais de 5.550 termos, com as devidas explica- ções, que passou a ser denominado “Basel Nomina Anatomica” (BNA). Entretanto, somente pouco mais de cinquenta anos depois (1952), na reu- nião do International Anatomical Nomenclature Committee (IANC), as nomenclaturas propostas por His foram revisadas e padroni- zadas, definindo o latim como língua oficial para a descrição de estruturas. Em 1955, foi publicada a primeira edição da Nomina, conhecida como “Paris Nomina Anatomica” (PNA), e estabelecido o Comitê Interna- cional para Nomenclatura em Anatomia Veterinária. Treze anos mais tarde, em 1968, foi publicada a primeira Nomina Figura 2.2 – Vasos sanguíneos de um cavalo ilustrados por Seifert von Tennecker, em 1757 Fonte: Konig e Liebich (2016). Técnicas de Produção Animal – 26 – Anatomica Veterinaria (NAV). Desde então, várias revisões foram reali- zadas (1972, 1983 e 1993). Essa obra é de extrema relevância, pois padro- niza mundialmente a terminologia na medicina veterinária, gerando uma ferramenta útil para o estudo da anatomia 2.2 Introdução ao estudo da anatomia Anatomia é uma ciência, ramo da morfologia, que estuda e descreve a forma, a estrutura, a topografia e a interação funcional dos tecidos e órgãos que compõem o corpo quanto a sua posição, tamanho, coloração, origem, função etc. A dissecação ainda é o método mais usual, importante e eficiente para estudar e entender anatomia. A anatomia animal pode ser dividida em dois ramos: descritiva e topo- gráfica. A primeira refere-se à descrição dos sistemas e subdivide-se por sua vez em macroscópica e microscópica. A anatomia topográfica diz respeito ao estudo em conjunto de todos os sistemas e das relações entre eles. 2.2.1 Anatomia topográfica São utilizados termos descritivos padronizados para indicar precisa- mente a posição ou direção de partes do corpo. Divide-se o corpo animal em secções e dessa divisão tem-se a cabeça, o pescoço, o tronco, a cauda e os membros. Cada uma dessas partes é subdividida em regiões. Nesse sentido, para determinar as estruturas, deve-se considerar que o animal está em pé, com os quatro membros apoiados no solo, pescoço e cabeça retos, de maneira que as narinas estejam voltadas para a frente e os olhos voltados para o horizonte. 2.2.2 Anatomia sistemática São estudados os sistemas que permitem o funcionamento do corpo do animal como um todo. As células e os tecidos com estrutura e função similares são agrupados em órgãos ou em sistemas que atuam em conjunto para executar determinadas funções que permitem o funcionamento do organismo e sua sobrevivência. – 27 – Anatomia animal Divide-se em áreas, como osteologia (descrição do esqueleto, de ossos e das cartilagens), sindesmologia (estudo das articulações), mio- logia (conhecimento dos músculos), neurologia (sistema nervoso), entre outros. Nesse momento, os sistemas de maior importância para o estudo de técnicas de produção animal são o sistema digestivo e reprodutivo. Figura 2.3 – Esqueleto bovino Fonte: adaptado de Shutterstock.com/miha de. 2.3 Sistema digestivo O sistema digestivo é responsável pela quebra dos alimentos em par- tes menores, para ser utilizado na geração de energia para o crescimento e para a renovação celular. Os órgãos que compõem esse sistema recebem os alimentos, que, em seguida, são degradados química e mecanicamente em pedaços menores e então seus nutrientes são absorvidos pelo orga- nismo (onde e/ou por quem). Por fim, o aparelho elimina resíduos excre- tados e que não foram aproveitados. Técnicas de Produção Animal – 28 – O aparelho digestivo consiste basicamente de um tubo músculo- -membranoso que se estende da boca até o ânus. Também inclui glândulas anexas, como as glândulas salivares, o fígado e o pâncreas. As funções básicas do sistema digestório são ingestão, mastigação, diges- tão e absorção dos alimentos e a eliminação do material não aproveitável. As partes principais do aparelho digestivo em monogástricos (exceto aves) e ruminantes são boca, faringe, esôfago, estômago, intestino del- gado, intestino grosso, glândulas acessórias e canal anal. Nas aves, o sis- tema digestório pode ser dividido em boca, esôfago, inglúvio (papo), pro- ventrículo, moela, intestino e canal anal. Quadro 2.1 – Comparação entre animais monogástricos e ruminantes Característica Exemplos Monogástricos Possuem compartimento simples para a digestão (unicavitário) Cavalo Porco Ave Coelho Ruminantes Possuem vários compar- timentos que realizam a digestão (pluricavitário) Bovino Ovino Caprino Fonte: elaborado pelo autor. a) Boca As principais funções são apreensão do alimento, mastigação e formação do bolo alimentar. Quando o alimento entra em con- tato com a saliva – e por meio do ato de mastigar, inicia-se a digestão química com auxílio das glândulas salivares. b) Faringe Cavidade comum por meio da qual passam o ar e o material ingerido. Na passagem do bolo alimentar, ocorre a deglutição. – 29 – Anatomia animalSaiba mais Deglutição é o processo pelo qual um bolo alimentar é transportado da boca por meio da faringe para o esôfago e finalmente até o estômago. Ela pode ser dividida em duas etapas, a primeira é o ato voluntário de mastigação e a passagem do bolo alimentar para a faringe, e a segunda etapa se inicia quando o bolo alimentar toca a mucosa faríngea, dando início aos reflexos de deglutição. Ao final, o alimento chega ao estômago. c) Esôfago É o canal entre a faringe e o estômago. d) Estômago Em ruminantes e monogástricos, o estômago apresenta varia- ções quanto à forma, podendo ser dividido em estômago unica- vitário (com apenas um compartimento) e pluricavitário (com diversos compartimentos). Em monogástricos, o estômago é constituído por uma única estrutura, que é composta pela cárdia e pelo piloro, estruturas do tipo esfíncter que controlam a entrada e a saída do bolo ali- mentar. Nos ruminantes, o estômago é dividido em quatro estrutu- ras ou cavidades: as três primeiras são o rúmen, o retículo e o omaso. Nelas, o alimento recém-chegado ao estômago é umi- dificado e digerido por micro-organismos (especialmente car- boidratos complexos). O rúmen é o maior dos compartimentos e é a primeira estrutura a receber o alimento após uma rápida mastigação. Nele, o alimento passa por um processo de tritura- ção mecânica do que foi ingerido e são liberadas enzimas que auxiliam no início da digestão da celulose. Após esse período no rúmen, o alimento volta à boca, em que é mastigado nova- mente de maneira mais completa. Logo após, o bolo alimentar volta ao rúmen e em seguida passa para o retículo, continuando Técnicas de Produção Animal – 30 – a digestão. O omaso é a terceira estrutura a receber o alimento, responsável pela retirada da água do bolo alimentar. A última cavidade, o abomaso (também chamado de “estômago verda- deiro”), é responsável pela digestão do que não foi degradado pelas estruturas anteriores e nele é liberado o suco gástrico, que auxilia no processo da digestão química do alimento. A ruminação é um ato no qual o animal ingere o alimento rapida- mente, completando a mastigação mais tarde. Esse mecanismo envolve a regurgitação do alimento (retorno do alimento à boca), remastigação, reinsalivação e, então, a redeglutição. Figura 2.4 – Comparação entre o aparelho digestivo de monogástricos e ruminantes Fonte: Shutterstock.com/ Designua e) Intestino delgado O intestino, em geral, é a parte caudal do canal alimentar. Tem iní- cio no piloro e prossegue até o ânus. É divido em intestino delgado – indo do piloro até o ceco – e intestino grosso – do ceco até o ânus. O intestino delgado é segmentado em três partes: duodeno, jejuno e íleo. O duodeno é a parte inicial, seguido pelo jejuno (a parte mais extensa) e ao final pelo íleo, que é composto por uma forte camada muscular responsável pelo transporte do bolo alimentar até o ceco. No intestino delgado, os movimentos intestinais são seme- lhantes para ruminantes e não ruminantes. A movimentação da – 31 – Anatomia animal ingesta através do intestino auxilia na mistura do alimento com sucos digestivos (suco pancreático e biliar), promovendo maior absorção dos nutrientes. f) Intestino grosso O intestino grosso tem início no ceco, que é a estrutura que se conecta com a última parte do intestino delgado, o íleo. A segunda parte do intestino grosso é o colo, seguido pela terceira e última parte, o reto. g) Canal anal O canal anal é uma estrutura curta e constitui a parte final do canal alimentar, abrindo-se para o exterior pelo ânus. Esse é con- trolado pelos esfíncteres anais externo e interno. Figura 2.5 – Topografia dos órgãos abdominais e pélvicos da vaca Fonte: Shutterstock.com/Nicolas Primola. h) Glândulas acessórias 2 Glândulas Salivares: existem três pares de glândulas (paró- tidas, submaxilares e sublinguais) que estão localizadas na boca dos animais. Possuem a função de secretar líquidos que auxiliam na umidificação e na formação do bolo alimentar. 2 Fígado: produz a bile, fluido produzido e armazenado na vesícula biliar que atua na emulsificação da gordura. A bile é lançada no duodeno, parte inicial do intestino delgado. Técnicas de Produção Animal – 32 – 2 Pâncreas: glândula responsável pela produção enzimas digestivas que são lançadas também no duodeno. Nas aves, o sistema digestivo é divido em: a) Boca As aves não possuem dentes ou lábios, por isso a função da apre- ensão dos alimentos, diferentemente do que ocorre em outros animais, é feita com auxílio do bico. Não há produção de saliva, por isso a umidificação do alimento ocorre no papo. b) Esôfago Possui a mesma função do esô- fago dos mamí- feros. Trata-se de um canal inter- mediário entre a boca e o papo. c) Inglúvio (papo) Constitui parte do esôfago. É uma região avolumada com a função principal de umi- dificar o alimento. d) Proventrículo É a primeira parte do estômago, onde tem início a digestão com a secreção do suco gástrico. e) Intestino Região onde ocorre a absorção de nutrientes e onde são lançados os sucos produzidos pelas glândulas acessórias. f) Ânus Localizado na cloaca. olho bico traquéia esôfago crop coração baço fígado coluna vertebral pulmões ovário rim oviduto moela intestino cloaca Figura 2.6 – Sistema digestivo em aves Fonte: Shutterstock.com/BlueRingMedia – 33 – Anatomia animal 2.4 Sistema reprodutivo A reprodução é o maior recurso para preservação de vida na Terra. Especialmente a reprodução sexuada – fusão dos gametas feminino e mas- culino –, que contribui para a manutenção e evolução das espécies. Por meio dela, as informações genéticas do pai e da mãe são passadas às gera- ções futuras e, por mais que os reprodutores tenham vários descendentes, todos serão diferentes geneticamente entre si. A diferenciação genética é a característica mais importante para a evolução das espécies, uma vez que apenas os melhores adaptados se mantêm. 2.4.1 Sistema reprodutor feminino A principal diferença na questão reprodutiva entre fêmeas e machos é que as fêmeas são responsáveis pela gestação da cria até seu nascimento e, posteriormente, pela sobrevivência do filhote até que ele adquira maior autonomia. Para tanto, o organismo das fêmeas é preparado para a fecun- dação, bem como para a gestação e amamentação em algumas espécies. Ademais, produzem hormônios específicos para cada fase, que auxiliam no desenvolvimento das matrizes e de seus filhotes. O sistema reprodutor feminino é composto de ovários, trompas, útero, vagina e vulva. a) Ovários São glândulas com duas funções principais, produção de hor- mônios e produção de óvulos. São órgãos primários que ficam localizados atrás dos rins, um do lado esquerdo e outro do lado direito. Nos ovários são produzidos os folículos, que poste- riormente darão origem aos óvulos. Estes, também conhecidos como gametas femininos, carregam em si informações genéticas da fêmea que serão passadas adiante para a prole. Em regra, as fêmeas possuem dois ovários que ficam ativos durante toda a vida, produzindo hormônios da puberdade, durante a gestação e até que a fêmea envelheça. b) Trompas São pares de “tubos” que fazem a ligação dos ovários com o útero. Os óvulos prontos para serem fecundados são conduzidos Técnicas de Produção Animal – 34 – pelas trompas através de cílios que se movimentam carregando esses óvulos. Os espermatozoides também são conduzidos pelas trompas. Geralmente a fecundação ocorre nas próprias trompas. c) Útero O útero pode ser dividido em três regiões básicas: cornos, corpo e cervix(colo). O colo do útero é a região mais “baixa”, onde há a ligação entre útero e vagina. Também nessa região é formado o tampão mucoso durante a gestação, que auxilia na proteção do útero contra a entrada de corpos estranhos. Figura 2.7 – Útero, ovário e trompas de vaca Fonte: Dr. J. Maierl, Munique d) Vagina Trata-se da porção do canal de parto que está localizada dentro da pélvis, entre o útero e a vulva. Também serve como local para o acolhimento do pênis durante a cópula, e é o local onde ocorre a ejaculação na maioria dos animais. É uma estrutura muito flexível e naturalmente lubrificada para o momento da cópula e também para o momento do parto. e) Vulva Porção externa do aparelho reprodutor feminino, que se estende da vagina para o exterior. – 35 – Anatomia animal Figura 2.8 – Comparação dos órgãos genitais em fêmeas de diversas espécies Fonte: Shutterstock.com/Peter Hermes Furian Quadro 2.2 – Conceitos importantes na fisiologia da fêmea Conceito Significado Puberdade Período de transição entre a infância e a maturidade, durante o qual ocorre o desenvolvimento dos caracte- res sexuais secundários, aceleração do crescimento e maturação dos órgãos reprodutores, levando ao início das funções reprodutivas. Caracteriza-se pelo surgi- mento dos primeiros folículos e, consequentemente, do primeiro cio. Ovulação Os folículos ovarianos se desenvolvem, formando uma protuberância e, finalmente, rompendo-se. Desse rompimento saem o líquido folicular e o óvulo, que são expelidos do ovário, completando o processo de ovulação. Técnicas de Produção Animal – 36 – Conceito Significado Cio Período no qual ocorrem modificações físicas e compor- tamentais nas fêmeas. Ocorre em períodos que variam a cada espécie e representam a receptividade à cópula. Ciclo Estral A produção de óvulos ocorre de maneira cíclica, em intervalos regulares. O intervalo entre um cio e outro é denominado ciclo estral e este é controlado por dois hormônios: hormônio foliculoestimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). Pró-Estro Antes do início do ciclo, há a produção de FSH, que estimula a produção dos folículos nos ovários, junta- mente com outro hormônio, o estradiol. Em seguida, há o aumento de produção de LH. Estro Início da receptividade sexual da fêmea e momento no qual ocorre a ovulação, quando os níveis de FSH diminuem e os de LH aumentam. Assim que a ovula- ção termina, também termina esse período. A fêmea apresenta sinais claros, como presença de muco cris- talino, imobilidade ao ser montada, vulva edematosa, inquietação, monta em outras fêmeas, diminuição da ingestão de água e de alimentos, urina com mais fre- quência, entre outros. Metaestro Trata-se da fase pós-ovulatória. Há redução do nível de estrogênio e aumento de progesterona, o que inibe o desenvolvimento de novos folículos caso haja fecun- dação. Quando não há fecundação, o ovulo é eliminado e a progesterona retorna a níveis baixos, deixando de atuar até o próximo ciclo. Fonte: adaptado de Bértoli (2008). 2.4.2 Sistema reprodutivo masculino Assim como nos seres humanos, o aparelho reprodutor masculino compartilha algumas estruturas com o sistema urinário. O sistema repro- – 37 – Anatomia animal dutor é composto de testículos, epidídimo, ducto deferente, uretra e glân- dulas acessórias. a) Testículos O organismo masculino é composto por um par de testículos, que variam de forma e tamanho de acordo com a espécie. Neles são produzidos os espermatozoides e o hormônio mas- culino, a testosterona. b) Epidídimo Quando saem dos testículos – ainda imaturos –, os espermato- zoides passam pelo epidídimo, que faz a conexão com o ducto deferente. É no epidídimo que ocorre o amadurecimento dos espermatozoides antes de serem expelidos. c) Ducto deferente É uma estrutura muscular responsável pela propulsão dos esper- matozoides no momento da ejaculação. d) Uretra Canal por onde passa a urina proveniente da bexiga e também o esperma durante a ejaculação. e) Glândulas acessórias 2 Vesículas seminais: são duas vesículas (um par) que depo- sitam no interior da uretra o líquido seminal (composto por secreções da própria vesícula, da próstata e da glân- dula bulbouretral, que auxiliam na manutenção e locomo- ção dos espermatozoides até o exterior do sistema repro- dutor masculino). 2 Próstata: glândula que contribui para a produção do líquido seminal. 2 Glândulas bulbouretrais (de Cowper): par de glându- las que auxilia na produção de secreção que compõe o líquido seminal. Técnicas de Produção Animal – 38 – Figura 2.9 – Órgãos genitais masculinos do garanhão Fonte: geralmedicinaveterinária.com. 2.5 Sistema reprodutivo das aves Nas aves, os sistemas reprodutivos feminino e masculino não são diferentes até o sétimo dia de desenvolvimento embrionário. Mesmo após o nascimento, a sexagem é uma tarefa complicada. Essas características se explicam, basicamente, em função do desenvolvimento do aparelho repro- dutor adaptado à condição de ovíparos – o embrião se desenvolve dentro de um ovo em ambiente externo, sem ligação com o corpo da mãe. Ade- mais, as aves apresentam condições particulares morfológicas, como, por exemplo, ausência do ovário direito nas fêmeas e modificações morfoló- gicas do sistema reprodutor ao longo do tempo. 2.5.1 Sistema reprodutor feminino das aves O sistema reprodutor feminino é formado por um ovário e um oviduto. a) Ovário Local onde são produzidos os folículos que darão origem ao óvulo. A principal diferença entre fêmeas de mamíferos – 39 – Anatomia animal e aves é que, naquelas, vários folículos são liberados em um período de alguns dias, ao passo que nessas, um único folí- culo é liberado, originando o óvulo, em um intervalo bem menor (a cada dia). Além disso, outra função essencial dos ovários é a produção de hormônios fundamentais para o crescimento do trato reprodutivo. b) Oviduto Canal que faz a ligação do ovário com a cloaca. É dividido em três partes: 2 infundíbulo – estrutura afunilada que recebe o óvulo (gema) e onde ocorre a fecundação. 2 magno – estrutura seguinte ao infun- díbulo, onde é ini- ciada a formação da clara (albúmen). 2 istmo – por- ção final, onde é produzida uma menor quanti- dade de albúmen para composição da clara, além da formação das camadas interna e externa do ovo. c) Útero Local onde ocorre a formação da casca do ovo (composta por carbonato de cálcio, proteínas, pigmentos, cutícula, entre outros). d) Vagina Região de passagem do ovo para a cloaca. Tem como principal função adicionar um muco protetor sobre a casca. Figura 2.10 – Sistema reprodutor feminino em aves Fonte: sipbb.com Técnicas de Produção Animal – 40 – 2.5.2 Sistema reprodutor masculino das aves a) Testículos Dois testículos, sendo o esquerdo maior que o direito. Têm como principal função a produção de espermatozoides e arma- zenamento de sêmen. Diferentemente dos machos mamíferos, os testículos ficam armazenados dentro da cavidade abdominal (a uma temperatura alta, entre 41 e 43 ºC). b) Epidídimo Porção que faz a ligação dos testículos com o ducto deferente. c) Ducto deferente Local de armazenamento dos espermatozoides. d) Cloaca Figura 2.11 – Sistema reprodutor masculino em aves Fonte: sipbb.com. – 41 – Anatomia animal 2.6 Técnicas modernas de reprodução Ao longo dos anos, e em função dos avanços tecnológicos na pecuária, foram desenvolvidos métodos de reprodução que incrementam os resulta- dos econômicos e produtivos na produção de animais superiores (animais vertebrados). Consistem de técnicas especializadasque apresentam rela- tivo custo, porém que tendem a trazer um alto retorno econômico. 2.6.1 Inseminação artificial Consiste em inserir o sêmen retirado do macho no aparelho reprodu- tor da fêmea, por meio da manipulação humana. Normalmente, o sêmen de um animal de alto valor é retirado e distribuído entre várias fêmeas, sendo depositado o mais próximo possível das trompas, aumentando as chances de fecundação. Os cuidados com os espermatozoides coletados no sêmen variam entre as espécies. Nos bovinos, por exemplo, os espermatozoides supor- tam baixas temperaturas, e por isso o material tende a ser congelado para uso posterior. Os suínos e os equinos, por sua vez, não produzem esperma- tozoides que toleram o congelamento e, por conseguinte, estes são manti- dos apenas resfriados. Ovinos e caprinos têm apresentado capacidade de congelamento do esperma semelhante à de bovinos. Algumas das vantagens na utilização da inseminação artificial estão elencadas a seguir: 2 maior aproveitamento do macho, uma vez que com uma dose coletada de sêmen pode-se inseminar diversas matrizes; 2 redução de problemas sanitários, físicos e psicológicos decor- rentes do processo de monta natural; 2 técnica relativamente simples; 2 favorecimento do desenvolvimento de raças. 2 Embora existam diversas vantagens, alguns riscos devem ser considerados na utilização dessa técnica, como: Técnicas de Produção Animal – 42 – 2 possibilidade de diminuição da diversidade genética pelo uso excessivo de descendentes; 2 multiplicação de genes desfavoráveis relacionados a doenças genéticas; 2 aumento da consanguinidade entre indivíduos, gerando maior probabilidade de compartilhamento de genes recessivos entre os animais. Figura 2.12 – Inseminação artificial em bovino Fonte: Shutterstock.com/Thanakorn Boonthawee 2.6.2 Fertilização in vitro (FIV) Trata-se da fecundação do espermatozoide no óvulo em um ambiente externo ao corpo das fêmeas. Em seguida, o óvulo fertilizado é inserido na fêmea para que se desenvolva durante a gestação. Na FIV, há a possi- bilidade de se implantar os óvulos na própria fêmea que os produziu, bem como em outras. Por exigir um nível técnico específico, material e tecnologia, tem-se uma técnica de alto custo. As vantagens dessa técnica são: 2 maior aproveitamento de uma matriz superior, aumentando sua descendência; – 43 – Anatomia animal 2 permite que uma fêmea de alto padrão produza óvulos com maior frequência e não fique prenhe. Como desvantagens, podemos citar: 2 alto custo de material, treinamento e mão de obra capacitada para realizar a técnica; 2 assim como na inseminação artificial, existe o risco de redução da diversidade genética, ainda que menor. Figura 2.13 – Fertilização in vitro Fonte: Shutterstock.com/Martchan 2.6.3 Clonagem Clonagem é a reprodução de organismos idênticos a partir de células já existentes. Ou seja, diferentemente das técnicas estudadas até agora, na clonagem não há a utilização de gametas para a fecundação, e sim cópias sucessivas de uma célula preexistente. Por isso, nesse método, os animais produzidos são todos geneticamente idênticos. Apesar de ser uma técnica ainda em estudo, sem muita aplicação comercial como as anteriormente citadas, existem alguns animais que já foram produzidos por meio da clonagem. O primeiro animal obtido por essa técnica foi uma rã, gerada por meio de uma célula intestinal de outra rã, em 1962. Anos mais tarde, nasceu a ovelha Dolly, o primeiro clone mamífero e o mais famoso da história. A ovelha surgiu como um clone a Técnicas de Produção Animal – 44 – partir da célula mamária de outro animal adulto, e morreu aos seis anos de idade. Muito se afirmava sobre a mortalidade precoce de clones, mas no ano de 2017, pesquisadores reavaliaram o caso de Dolly e verificaram que a ovelha não apresentava sinais de envelhecimento precoce como fora sugerido por outros pesquisadores. Em razão desse e de outros dilemas, pode corroborar o fato de que a técnica de clonagem ainda é imatura e carece de maiores estudos. Portanto, trata-se de uma técnica de alto custo, ainda em estudo e que reduz drasticamente a variabilidade e a diversidade genética. Vantagens: 2 multiplicação de animais idênticos com características desejadas; 2 uniformidade do rebanho. Desvantagens: 2 grande diminuição da diversidade genética do rebanho, uma vez que se trata do mesmo código genético para todos os animais; 2 maior possibilidade do surgimento de anomalias genéticas nos clones; 2 em geral, ainda é uma técnica de baixa eficiência, pois a intera- ção de fatores biológicos e técnicos envolvidos no processo de clonagem ainda não é muito bem compreendida. Síntese A reprodução é o maior recurso da natureza para a preservação e a manutenção da vida na Terra, pois permite a sucessão de descendentes e garante que os mais adaptados sobrevivam às mudanças naturais. Para compreender como ocorre a reprodução, é fundamental o entendimento das estruturas e sistemas que constituem o organismo ani- mal. A anatomia é a ciência que estuda a distribuição e o funcionamento (fisiologia) do corpo, podendo ser dividida em anatomia topográfica e sistêmica. As duas se complementam e uma permite que se compreenda a outra, e vice-versa. – 45 – Anatomia animal São vários os sistemas de compõem o corpo do animal, e todos têm sua importância no funcionamento do organismo como um todo. São destacados dois sistemas fundamentais para a disciplina de técnicas de produção animal, quais sejam o sistema digestivo – responsável pela alimentação e absorção dos nutrientes que mantêm o animal vivo –, e o sistema reprodutor – responsável pela reprodução das espécies e, conse- quentemente, pelo desenvolvimento de novos animais. Finalmente, além da cruza natural entre macho e fêmea, existem técnicas desenvolvidas ao longo dos anos que permitem uma reprodução mais eficiente, gerando maior retorno econômico. As mais utilizadas são a inseminação artificial e a fertilização in vitro. A clonagem também é uma possibilidade, entretanto ainda carece de mais estudos. Atividades 1. A anatomia é uma ciência, ramo da morfologia, que estuda e descreve a forma, a estrutura, a topografia e a interação funcio- nal dos tecidos e órgãos que compõem o corpo quanto a sua posição, tamanho, coloração, origem, função etc. Descreva e explique quais são as divisões existentes no ramo da anatomia. 2. Explique com suas palavras qual a principal função do sis- tema digestório e como ele se difere entre animais que pos- suem um compartimento simples para digestão e animais com múltiplos compartimentos. 3. O que é o ciclo estral? Descreva o processo e os hormônios envolvidos em cada etapa. 4. Descreva as principais técnicas de reprodução existentes atual- mente, suas vantagens e a principal diferença entre a clonagem e as demais técnicas. 3 Bovinocultura de corte e leite A produção animal ocupa um papel econômico e social muito grande em nosso país. Em 2015, o Brasil ocupou o pri- meiro lugar no ranking de mundial de rebanho bovino, com 209 milhões de cabeças (GOMES, 2017). De 2017 para 2018, a pro- dução de bovinos cresceu 3,6% de acordo com o IBGE. Esses dados corroboram o fato de que a bovinocultura brasileira é parte importante na cadeia pecuária nacional. Por isso, desenvolver a bovinocultura de maneira sustentável é um grande desafio, pois trata-se de buscar uma harmonia entre renda e preservação ambiental, bem como de focar em sistemas sustentáveis, dura- douros e resilientes às variações climáticas e de mercado. A produção e criação de bovinos pode ser divididaem dois ramos: de corte, voltada para a criação de animais que abastece- rão o mercado com carne e seus subprodutos; e a bovinocultura leiteira, responsável pela produção de leite. Nesse capítulo, serão estudados aspectos importantes na produção de gado de corte e leiteiro, como a importância socioe- conômica no Brasil e no mundo, bem como as principais técnicas de produção e manejo. Técnicas de Produção Animal – 48 – 3.1 Importância socioeconômica Atualmente, a posição do Brasil no cenário produtivo, comercial e mercadológico é extremamente promissora. Ao ocupar as primeiras posi- ções em produção animal, mercado consumidor e exportador, o Brasil mostra que conseguiu um grande crescimento em pouco anos. Por volta da década de 70, o rebanho nacional era menos da metade das 209 cabeças que se tem hoje. Essa baixa expressividade no mercado interno, obvia- mente, não supria sequer as demandas dos próprios brasileiros. Esses últi- mos 40 anos foram vitais para o amadurecimento da pecuária e grande parte desse desenvolvimento se deve a uma modernização revolucionária baseada em avanços tecnológicos e na organização da cadeia produtiva (GOMES, 2017; IBGE, 2017; SENAR, 2015). A crescente adoção de tecnologias pelos produtores rurais nos últi- mos anos proporcionou saltos de produção e qualidade, especialmente nos eixos da melhoria na alimentação, evolução da pesquisa genética, manejo e saúde animal. Quando se trata de alimentação, houve uma grande ascensão na pro- dutividade de carne e leite influenciada pela utilização de pastagens de qualidade. O melhoramento de espécies e a seleção de capins com maior aproveitamento pelo animal contribuíram fortemente para um acréscimo de produção de carne e leite. Ademais, avanços na suplementação animal (mineral e proteica) e em tecnologias de criação, como confinamento e semiconfinamento, também contribuíram fortemente na produtividade, diminuindo a idade ao abate, por exemplo. Simultaneamente à questão da alimentação, o desenvolvimento da genética também teve papel de destaque no desenvolvimento da produ- ção animal brasileira. A melhoria genética de espécies melhor adaptadas à realidade brasileira (como as raças zebuínas e taurinas) foi fator definidor para o sucesso da criação no brasil. A introdução do gado zebu na região centro-oeste, por exemplo, foi fundamental para o sucesso de produção nessa região, tornando-se, inclusive, a base do rebanho brasileiro da atu- alidade. Além disso, a diversidade de raças existentes no Brasil permite o cruzamento de animais com características desejáveis, que geram outros animais com maior rusticidade, desempenho, qualidade e eficiência supe- – 49 – Bovinocultura de corte e leite rior. Nesse sentido, em poucas décadas, o Brasil passou de importador de gado, para exportador de material genético de excelência. Figura 3.1 – Gado zebu Fonte: Shutterstock.com/Stepnext Com relação ao manejo, gestão e saúde animal, a revolução da pecuá- ria ocorre desde os primórdios da domesticação animal. Por muitos anos, a criação de animais era uma atividade familiar, de subsistência e, por mais que nos dias de hoje ainda sejam muito fortes a agricultura e a pecuária familiar, a produção animal tem se tornado cada vez mais uma operação profissional. A constante evolução, a profissionalização e a tecnificação proporcionam avanços no manejo animal e na gestão da propriedade. Aliada aos fatores econômicos, é também crescente a preocupação com o bem-estar animal e com as boas práticas, voltada a uma produção cons- ciente; a preocupação sanitária nos últimos anos tem colocado o Brasil em posição de destaque no combate a doenças e propulsor de técnicas e medidas de defesa sanitária, garantindo que a carne exportada seja bem recepcionada pelos países importadores. Todos esses fatores têm elevado os ganhos, diminuído os riscos e gerado renda e emprego. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em 2015, o Brasil ocupava o primeiro lugar como maior rebanho bovino (209 milhões de cabeças), o segundo maior consumidor (38,6 kg/habitante/ano) e o segundo lugar também em exportações (1,9 milhões toneladas) de carne bovina do mundo. Em 2017, a exportação de carne bovina foi responsável por 3% das exportações brasileiras e garantiu Técnicas de Produção Animal – 50 – um faturamento de 6 bilhões de reais. No ano de 2018, segundo dados do Departamento Norte-Americano de Agricultura (sigla em inglês USDA), o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de produção de carne bovina e o segundo maior país em consumo desse mesmo produto, atrás somente da China. Com relação ao Produto Interno Bruto (PIB), representa 6% do PIB brasileiro ou 30% do PIB do Agronegócio, movimentando mais de 400 bilhões de reais, resultado esse que vem aumentando ao longo dos anos e trouxe um incremento de quase 45% nos últimos cinco anos. Nos indi- cadores do IBGE para o ano de 2018, destacam-se no cenário nacional como os estados com mais abates de bovinos Mato Grosso (15,6%), Mato Grosso do Sul (11,2%) e Goiás (10%). A carne bovina também ocupa grande parte do mercado consumidor interno (cerca de 80% do consumo), além de possuir tecnologias avança- das e moderno parque industrial para processamento com capacidade de abate de aproximadamente 200 mil bovinos por dia. Saiba mais QUALIDADE DA PRODUÇÃO O avanço da produção pecuária no Brasil aconteceu e ainda acontece graças aos aspectos já discutidos anteriormente (melhoramento gené- tico, manejo, bem-estar animal, medidas sanitárias, entre outros), além das melhorias da qualidade que também vem evoluindo “da porteira para dentro”. Comprometidos com o aumento da produtividade, da qualidade e com a sustentabilidade do negócio, instituições de ciência e tecnologia, centros de ensino, indústrias, associações de produtores, ONGs, e demais atores, integram um grupo extremamente atuante com iniciativas que contribuem para uma melhora da qualidade “dentro e fora da porteira”. Com relação à qualidade da produção, existem cada vez mais estímulos para que o produtor se adeque às exigências do mercado consumidor, interno e externo. O Pacto Sinal Verde para a Carne de Qualidade e o Programa de Novilho Precoce, por exemplo, são exemplos disso. Para – 51 – Bovinocultura de corte e leite Gomes (2017), esse tipo de iniciativa traz benefícios abrangentes, pois além de valorizar os produtores que melhor produzem, também eleva a qualidade da carne bovina que chega ao consumidor e orientam os sistemas produtivos para práticas melhores do ponto de vista ambien- tal e econômico. Os exemplos citados são alguns dos muitos existentes no país, mas que refletem bem um importante caminho que a atividade vem trilhando, que é o foco na qualidade, sustentado por boas práticas de produção (GOMES; FEIJÓ; CHIARI, 2017) 3.2 Bovinocultura de corte Aproximadamente 80% do rebanho brasileiro de gado de corte é for- mado por raças zebuínas (Nelores, Gyr e Guzerá), sendo que 90% com- preende animais da raça Nelore. Por conta da grande extensão do território brasileiro, especialmente da região central do Brasil, e as condições climá- ticas dessa região, o gado zebuíno – de origem indiana (Bos indicos) – teve uma ótima adaptação, uma vez que em seu país de origem as condições são semelhantes ao clima central brasileiro. Por volta de 1960, chegaram também ao Brasil animais taurinos, de origem europeia, provenientes do Uruguai. Atualmente compreendem aproximadamente 20% do rebanho nacional, com representantes das raças Angus, Holandês, Simental, entre outros; e são criados, em sua maioria, na região Sul do país. A bovinocultura de corte tem como objetivo a produção de animais bem-acabados, precoces, dentro dos padrões sanitáriose de qualidade, com custo de produção razoável e com uso sustentável das terras. Uma utilização racional da terra é fator de extrema importância para a realidade brasileira, pois apesar de ser o quinto maior país em área, muito do que se destina a áreas de pastagens apresenta algum nível de degradação. Em outras palavras, dos 174 milhões de hectares de pastagens, aproximada- mente 120 milhões (quase 70%) estão em algum estágio de degradação. Consequentemente, o animal que se alimenta e se desenvolve em ambien- tes dessa qualidade, demora aproximadamente 50 meses para atingir o peso ideal de abate; enquanto aquele animal que se alimenta de pastos de alta qualidade leva menos de 24 meses. Técnicas de Produção Animal – 52 – 3.2.1 Sistemas de produção Atualmente, existem três tipos de sistemas de criação de bovinos de corte no Brasil, que variam de acordo com o grau de tecnologias utiliza- das: Sistemas extensivo, intensivo e semi-intensivo. 2 Sistema extensivo A criação é desenvolvida em campo nativo ou sobre pastagem sem nenhum tipo de manejo. Geralmente é realizado em grandes áreas, com baixa taxa de lotação e baixa produtividade, além de pouca utilização de insumos e mão-de-obra. É um sistema mais arcaico, onde são empregadas poucas ou nenhuma tecnologia de produção. Figura 3.2 – Cultivo extensivo Fonte: Shutterstock.com/ Patrick Jennings 2 Sistema intensivo Os animais são criados confinados ou em pastagens, mas com utilização de suplementação alimentar no cocho. São emprega- das diversas tecnologias e o uso da terra é melhor aproveitado. Normalmente são adotadas medidas de manejo que proporcio- nam o aumento da produtividade, como a recuperação da ferti- lização do solo, o ajuste de carga animal, o planejamento forra- geiro, o melhoramento dos pastos e o manejo intensivo. Nesse sistema, a carne tende a ser a mais mole em função do menor esforço feito pelo animal se comparado ao sistema extensivo, – 53 – Bovinocultura de corte e leite em que o deslocamento dos animais pelo terreno favorece o endurecimento da carne. Figura 3.3 – Cultivo intensivo Fonte: Shutterstock.com/Andre Nery 2 Sistema semi-intensivo São utilizadas algumas técnicas de produção para alcançar melhores índices de produtividade, como, por exemplo, suple- mentação alimentar no pasto. Esse sistema encontra-se entre os sistemas extensivo e intensivo. Figura 3.4 – Cultivo semi-intensivo Fonte: Shutterstock.com/fotorobs Técnicas de Produção Animal – 54 – 3.2.2 Manejo 3.2.2.1 Alimentação A alimentação do gado varia de acordo com o sistema de produção adotado. Como visto no tópico anterior, a adoção de cada sistema ofertara um tipo de alimento. Apesar de o sistema extensivo utilizar pouco ou quase nenhuma tec- nologia, podem ser adotadas algumas práticas que auxiliarão no cresci- mento dos animais. No pastejo, é fundamental que as boas práticas de correção do solo sejam aplicadas, como por exemplo, o uso de corretivos e fertilizantes, irrigação e conservação de forragem, ou seja, as condições gerais do solo são decisivas para a qualidade da pastagem, afinal, o cultivo de pasto depende das condições solo e o gado depende exclusivamente do pasto para se alimentar e se desenvolver. Em sistemas intensivos e semi-intensivos, o uso de suplementação mineral e proteica, concentrados volumosos, vitaminas e pastagens de qualidade, além da correção, adubação, rotação, irrigação e integração lavoura e/ou florestas garantem um ótimo aproveitamento do alimento pelo animal. Saiba mais VOCÊ SABE O QUE É CREEP FEEDING? Creep feeding é a suplementação alimentar para os bezerros ainda durante a fase de amamentação. A suplementação é feita geralmente com concentrado em cocho privativo aos bezerros. O sistema é composto de um pequeno cercado, onde ficam os cochos e para acesso exclusivo dos bezerros. A vantagem dessa técnica é permitir a desmama de bezerros mais pesados e proporcionar redução no tempo de abate dos animais. É importante que o cercado esteja localizado junto das áreas de descanso das vacas. – 55 – Bovinocultura de corte e leite 3.2.2.2 Instalações As instalações devem ser planejadas e utilizadas levando em con- sideração duas funções básicas: permitir o manejo dos animais e servir como abrigo. A quantidade, o tipo e a disposição das instalações variam de acordo com alguns fatores, tais como o sistema de criação, a dispo- nibilidade de recurso financeiros, a exploração comercial, entre outros. Naturalmente, quanto mais tecnificado for o sistema de produção, maior gasto será necessário com as instalações. Em geral, as instalações costumam apresentar alguns setores básicos: 2 Centro de manejo Local específico para serem realizadas algumas práticas ani- mais, como identificação, apartação, descorna, vacinação, cas- tração, exames básicos, inseminação artificial, profilaxia, entre outros. Em outras palavras, trata-se de uma instalação que ofe- reça maior conforto ao produtor/trabalhador e ao animal. Figura 3.5 – Centro de manejo Fonte: Shutterstock.com/ Iakov Filimonov 2 Curral O curral deve ser próximo à sede e ao centro de manejo para que o acesso a esses locais pelos animais e pessoas seja fácil. Deve ser em um terreno plano, seco e não suscetível à erosão. Técnicas de Produção Animal – 56 – É importante que energia elétrica, água, e vias de acesso ade- quadas, que permitam a circulação em diversas situações, como em dias de chuva por exemplo. Além disso, é impor- tante que seja construído em uma área suficiente que permita a ampliação futura. 2 Cocho Cochos e bebedouros são os locais onde os animais se alimen- tam e bebem água, respectivamente. O correto dimensionamento é essencial para que o consumo de água e suplementos mine- rais/proteicos seja adequado. Uma má distribuição dos cochos e bebedouros pode gerar estresse e competição dos animais para acesso à comida e água, dificuldade de alimentação naqueles que são construídos no tamanho errado, exposição do alimento e dos suplementos à chuva, formação de atoleiros ao redor do cocho e/ou bebedouro, entre outros. Em geral, os cochos devem ser posicionados no pasto ou no con- finamento de maneira que os animais tenham fácil acesso e per- manência; devem ser cobertos e ter espaço suficiente para todos os animais tenham livre acesso sem competição. Figura 3.6 – Cocho para alimentação Fonte: Shutterstock.com/ JMx Images – 57 – Bovinocultura de corte e leite 3.3 Bovinocultura de leite Nos últimos 30 anos, a produção mundial de leite aumentou mais de 50%, chegando a 769 milhões de toneladas em 2013 (FAO, 2016). Só no Brasil, nos últimos 15 anos, a produção leiteira de bovinos dobrou. Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO,2016), aproximadamente 150 milhões de lares em todo o mundo trabalham com produção leiteira, sendo mais evidente nos países em desenvolvimento principalmente entre pequenos agricultores, pois for- nece rápido retorno econômico. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2017, a produção leiteira alcançou a média de quase 18 mil litros por dia de litros, sendo o Estado de Minas Gerais o maior produtor Brasileiro, seguido pelo Paraná́. No Brasil, o modelo de produção é baseado em pequenas propriedades, com mão de obra familiar e que se mantém ao longo dos anos em razão da sucessão familiar. Contudo, nos últimos anos, assim como na criação do gado de corte, vem ocorrendo uma evolução e, consequentemente, um intenso processo de modernização do campo, através da utilização de insumos e novas tecnologias que aumentam a produtividade. 3.3.1 Sistemas de produção A escolha pelo melhor tipo de sistema por parte do produtor rural depende de fatores técnicose econômicos regionais. As instalações podem ser desde as simples às mais elaboradas, desde que proporcionem conforto aos animais para que estes produzam leite de maneira consistente e com alta qualidade. Assim como na criação de gado para corte, na produção de leite, existem três sistemas de criação: 2 Sistema a pasto As vacas ficam soltas no pasto, sendo recolhidas apenas para ordenha. A fonte de alimentação se restringe a pastagem dis- ponível. O leite produzido a pasto tem custo reduzido, pois não necessita de grandes investimentos em instalações e alimentação suplementar. Contudo, tende a ter menor retorno econômico Técnicas de Produção Animal – 58 – Figura 3.7 – Vacas se alimentando de pasto Fonte: Shutterstock.com/ Patrick Jennings 2 Sistema confinado As vacas ficam todo o tempo na instalação, onde recebem o ali- mento no cocho. Os gastos com manutenção das instalações, como limpeza por exemplo, são elevados. Além disso, toda a dieta animal é composta por suplementação, o que gera um custo maior de produção. Entretanto, por serem fornecidos ali- mentos nas proporções adequadas a conversão em produção de leite é grande. Figura 3.8 – Vacas em confinamento Fonte: Shutterstock.com/Alf Ribeiro – 59 – Bovinocultura de corte e leite 2 Sistema semiconfinado As vacas têm acesso ao pasto em alguns momentos do dia. Quando não estão soltas, permanecem confinadas. Se alimen- tam do pasto e do alimento oferecido no cocho. Nesse sistema, os animais tendem a sofrer menos estresse, pois em algumas horas do dia têm interação com o ambiente, com o solo, luz solar etc. Nesse sistema, o gasto com alimentação é menor quando comparado ao sistema de confinamento total, pois os animais se alimentam do pasto e recebem doses menores de suplementação alimentar. 3.3.2 Manejo 3.3.2.1 Alimentação A criação de bezerras, muitas vezes, é negligenciada pelos produto- res, sendo que esse animal é o futuro da sua propriedade. Para que se tenha uma vaca produtora de leite de qualidade, com longevidade e padrões da raça, é muito importante que o produtor esteja atento à criação desses ani- mais, desde os primeiros meses de vida. A atenção com a alimentação deve ser prioridade antes mesmo do nascimento da bezerra. A vaca gestante deve ter uma alimentação ade- quada e diferencia no pré-parto para garantir todo o aporte nutricional necessário ao filhote no final da gestação, especialmente nos 30 dias ante- riores ao parto, com dieta adequada, pasto baixo, água e sombra. Além de ser observada com mais frequência. Ainda nas primeiras horas de vida da bezerra, deve ser fornecido o colostro, o primeiro leite que possui altas doses de anticorpos, proteínas, leucócitos, carboidratos, entre outros compostos. Esse primeiro leite é de fundamental importância para a bezerra visto que, ao nascerem, os filhotes não possuem anticorpos suficientes para sua proteção. Uma dica impor- tante é fazer a retirada e armazenagem desse colostro no momento que a bezerra não estiver mamando, pois não existe nenhum substituto para ela e, caso a vaca venha a morrer, ele poderá ser fornecido para a cria. O Técnicas de Produção Animal – 60 – ideal é que a bezerra se alimente do colostro desde o nascimento até as próximas 12 horas. A partir da primeira semana, pode ser fornecido concentrado à cria. A principal função do fornecimento de concentrado é auxiliar no desen- volvimento das papilas do rúmen, uma vez que há a produção de ácidos graxos voláteis provenientes da fermentação do concentrado, o que fará com que a bezerra comece a ruminar mais rápido e, consequentemente, consuma e aproveite os nutrientes da pastagem e do feno de forma mais eficiente. Ademais, para um melhor aproveitamento do concentrado, é importante que esteja disponível água. O feno pode ser ofertado a partir dos 30 dias de vida do animal, e seu consumo proporciona um desenvolvimento mais rápido da muscula- tura do rúmen. Esse desenvolvimento permite um aproveitamento mais eficiente dos nutrientes provenientes do feno e da pastagem, além de facilitar a ruminação, atividade essencial para o sucesso da alimentação em ruminantes. Vale ressaltar que a alimentação em excesso é tão prejudicial quanto a falta dela. Em novilhas acima do peso, há o acúmulo de células de gor- dura na glândula mamaria, ocupando espaço das glândulas produtoras de leite, ou seja, diminuindo o potencial produtivo do animal. Aos 10 meses de idade, no início da puberdade, normalmente a novi- lha não tem mais necessidade de fornecimento de concentrado, desde que tenha pastagem de qualidade a sua disposição. Com relação ao animal já adulto, existem três momentos nos quais deve ser dada maior importância com relação à alimentação: nas duas pri- meiras lactações, no pré-parto e no pós-parto. Durante as duas primei- ras lactações, o animal ainda está em crescimento, apesar de ser adulto. Por isso, deve ser dada atenção especial. No pré-parto, como já discutido anteriormente, a dieta da vaca gestante deve ser analisada com cuidado, particularmente nos 30 dias anteriores ao parto. Após o nascimento, é fun- damental que a vaca receba uma dieta adequada, uma vez que dificilmente conseguem suprir sozinhas toda a necessidade nutricional para a produ- ção de leite. Deve ser fornecida uma dieta mais concentrada, que permita maior ingestão de nutrientes para evitar a perda excessiva de peso que – 61 – Bovinocultura de corte e leite a lactação proporciona. As pastagens devem ser de excelente qualidade, além da suplementação mineral e de concentrado. O período seco compreende o intervalo no qual a vaca não produz mais leite e se prepara para uma nova lactação. Nessa etapa, é fundamen- tal que se adotem os cuidados necessários para que a próxima lactação alcance uma produção satisfatória. Esse período dura aproximadamente 60 dias e, no final do sétimo mês de gestação, a vaca deverá ser seca. Essa prática promove a regeneração das células secretoras de leite, além do acúmulo de colostro; colabora, inclusive, para o bom desenvolvimento do feto e aumento das reservas corporais. Saiba mais CUIDADOS COM O PASTO Com relação aos custos, obviamente, a alimentação a pasto é a mais barata, uma vez que há menos gasto com suplementação, instalações e mão de obra. Entretanto, é um sistema que depende das condições climáticas e suas variações podem limitar bastante a produção. Por isso, o manejo do pasto é de suma importância. A rotação dos ani- mais em piquetes auxilia diretamente no ganho de peso e desenvolvi- mento dos animais, uma vez que após vários dias de consumo em uma mesma área, o valor nutritivo da forragem é reduzido. Essa diminuição de qualidade interfere diretamente na produção de leite. 3.3.2.2 Instalações Em uma propriedade produtora de leite, o investimento com instala- ções pode elevar significativamente os custos de produção. Quanto mais tecnificado o sistema de produção, maiores os custos. Contudo, já foi visto que os resultados podem ser bastante satisfatórios, cobrindo todo o inves- timento inicial e gerando lucros ao proprietário. O ideal é que as instalações atendam à necessidade de cada um e, principalmente, estejam dentro da realidade daquele produtor. Indepen- dentemente do tipo de sistema, é fundamental que sejam construídos Técnicas de Produção Animal – 62 – locais funcionais, práticos e que atendam às especificações necessárias ao desenvolvimento da atividade leiteira. Com relação ao local geral, o ideal é que possua boa drenagem, sem excesso de umidade, com uma leve inclinação e que forneça refúgio para proteção contra chuva e vento. É essencial que a propriedade possua energia elétrica e que esta alcance também as instalações. Água de qualidade, vias de acesso e área para ampliação futura tambémdevem ser consideradas. Especificamente para uma propriedade produtora de leite é necessário: 2 galpão para fornecimento de volumoso – mesmo que os ani- mais sejam criados a pasto, em algum momento necessitarão de suplementação. Nesse momento, esses alimentos (silagem, feno, concentrado etc.) devem ser fornecidos em local apropriado. 2 área de espera – local destinado às vacas que aguardam para serem ordenhadas. De preferência cobertos, com acesso a água e possuir espaço de 2 m² a 2,5 m² por vaca. É preferível que o piso da área de espera seja de concreto e construído de maneira que a limpeza seja fácil. 2 sala de ordenha – local onde é feita a colheita diária do leite. Independentemente do tipo de ordenha, a sala deve possuir ins- talações adequadas que garantam a sanidade e bem-estar do ani- mal, além de atender às exigências técnicas e legais. Figura 3.9 – Sala de ordenha manual Fonte: Shutterstock.com/ Wichaiwish – 63 – Bovinocultura de corte e leite Figura 3.10 – Sala de ordenha canalizada Fonte: Shutterstock.com/ ekapol sirachainan 2 sala de leite – local destinado à armazenagem do leite. Com- posto por tanques resfriadores que acondicionam o leite recém- -ordenhado, além de servir como local de lavagem armazena- gem de equipamentos de ordenha. É importante que a sala de leite e a sala de ordenha sejam próximas, evitando que o leite ordenhado manualmente demore para ser transferido para os tanques e acabe estragando. Ademais, é necessário que a sala de leite seja acessível a caminhões. Figura 3.11 – Tanque de armazenamento de leite Fonte: Shutterstock.com/ Alexey Pevnev Técnicas de Produção Animal – 64 – 2 bezerreiras – locais onde os bezerros ficam do nascimento ao desmame. 2 área de parto – local reservado para as vacas que estão prestes a entrar em trabalho parto. Recomenda-se que elas sejam coloca- das nessa área 21 dias antes do parto. 2 cocho e bebedouros – seguem as mesmas orientações para o gado de corte. Devem ser posicionados no pasto ou no local do confinamento de maneira que os animais tenham fácil acesso e permanência; devem ser cobertos e ter espaço suficiente para que todos os animais tenham livre acesso sem competição. Saiba mais CUIDADOS COM A ORDENHA A ordenha realizada com técnicas adequadas de higiene é a melhor maneira para se atingir os parâmetros de qualidade exigidos pela legislação, pela indústria e pelos consumidores, além de garantir a saúde do animal. Antes de iniciar a ordenha, alguns cuidados devem ser tomados: Garantir que a sala de ordenha esteja limpa Utilizar roupas adequadas e limpas Preferir usar água potável ou pelo menos limpa nas operações Lavar as mãos constantemente e usar luvas ao manusear par- tes delicadas, especialmente durante a ordenha Imergir as tetas em solução desinfetante antes a depois da ordenha. Ao final, secá-las com papel toalha descartável. Lavar todos os equipamentos utensílios após a ordenha. Garantir que o local de armazenamento dos equipamentos e utensílios também esteja limpo. – 65 – Bovinocultura de corte e leite Síntese Hoje, o Brasil é referência no cenário produtivo, comercial e merca- dológico, além de demonstrar ser cada vez mais um mercado promissor e estável na produção agropecuária. Em poucos anos de criação animal para comercialização, o Brasil já ocupa as primeiras produções nos rankings mundiais de produção animal, mercado consumidor e exportador. A cres- cente produção nacional endossa o fato de que a bovinocultura de maneira sustentável é uma grande oportunidade e, ao mesmo tempo, um desafio, pois trata-se de buscar uma harmonia entre renda e preservação ambien- tal, bem como, focar em sistemas sustentáveis, duradouros e resilientes às variações climáticas e de mercado. A constante implementação de tecnologias pelos produtores rurais nos últimos anos proporcionou saltos de produção e qualidade, especialmente com relação à melhoria na alimentação, evolução da pesquisa genética, manejo e saúde animal. A utilização de pastagens de qualidade e a sele- ção de capins com maior aproveitamento pelo animal contribuíram forte- mente para um acréscimo de produção; suplementação animal e sistemas de criação bem desenvolvidos também contribuíram. O desenvolvimento da engenharia genética teve papel de destaque pecuária brasileira. A cons- tante evolução, profissionalização e tecnificação proporcionam avanços no manejo animal e na gestão da propriedade. Aliada aos fatores econô- micos, é também crescente a preocupação com o bem-estar animal e boas práticas, voltada a uma produção consciente; a preocupação sanitária nos últimos anos tem colocado o Brasil em posição de destaque no combate a doenças e propulsor de técnicas e medidas de defesa sanitária, garantindo que a carne exportada seja bem recepcionada pelos países importadores (Hong Kong, China e Egito). Todos esses fatores têm elevado os ganhos, diminuído os riscos e gerado renda e emprego. A bovinocultura de corte tem como objetivo a produção de animais bem-acabados, precoces, dentro dos padrões sanitários e de qualidade, com custo de produção razoável e com uso sustentável das terras. Para a produção de animais com a finalidade de carne, encontram-se três siste- mas básicos de criação: sistema extensivo, no qual os animais ficam soltos no pasto e se alimentam principalmente da forragem disponível; sistema Técnicas de Produção Animal – 66 – intensivo, onde os animais ficam confinados a locais específicos e se ali- mentam do que é oferecido e sistema semi-intensivo, quando os animais passam parte do tempo confinados e parte no pasto. A bovinocultura leiteira compartilha de alguns aspectos da bovi- nocultura de corte, como os tipos de sistema de criação. Entretanto, são necessários mais cuidados com relação à alimentação em algumas etapas. Um fornecimento de qualidade, suprindo as necessidades nutricionais dos animais garante melhores resultados futuros. Atividades 1. Comente três avanços que ocorreram na pecuária brasileira desde os anos de 1970 até hoje. 2. Explique quais são as etapas mais importantes com relação ao manejo da alimentação de vacas leiteiras. 3. Explique os diferentes sistemas de criação de gado de corte. 4. Descreva o passo a passo de uma rotina de ordenha em uma pro- priedade. Não se esqueça de mencionar os cuidados sanitários e especificar os locais onde ocorrem cada etapa. 4 Caprinocultura e ovinocultura Ovinos e caprinos foram os primeiros animais a serem domesticados na história do homem, provavelmente em locais onde hoje estão Turquia, Irã e Chipre. Todo o conhecimento adquirido ao longo de séculos contribui para que a criação des- sas espécies exista até hoje. Por se tratar de animais pequenos e ágeis, eles foram os precursores da interação homem-animal que existe até os dias atuais. A criação de caprinos e ovinos para fornecimento de carne e outros produtos têm sido a principal fonte de alimentação para alguns brasileiros e também alternativa para outros tantos, espe- cialmente nas regiões Nordeste e Sul. Como principal fonte de renda e alimentar, a carne e o leite são os principais produtos. Para aqueles que utilizam a caprinocultura e a ovinocultura como diversificação de produção, além do leite e da carne, o couro, a lã e a pele têm se mostrado produtos de valor no mercado. Técnicas de Produção Animal – 68 – No Brasil, o potencial para crescimento da criação de ovinos e capri- nos é grande. Atualmente, o que se tem são sistemas produtivos em sua maioria simples, manuais e pouco tecnológicos; contudo, apesar de ser uma produção em crescimento, observa-se que em algumas regiões, espe- cialmente nos últimos três anos, vem ocorrendo uma diminuição dos reba- nhos e, consequentemente, da produção. Nessecapítulo serão tratados conceitos de manejo de caprinos e ovi- nos, bem como sua importância socioeconômica. 4.1 Importância socioeconômica A caprinocultura e a ovinocultura são atividades amplamente dis- seminadas por todo o território brasileiro, embora haja uma maior con- centração dessas atividades na região Nordeste, em especial do rebanho caprino. A rusticidade e a adaptabilidade dos caprinos e ovinos às con- dições climáticas desafiadoras do semiárido são seculares e, por meio de um processo de adaptação, seleção natural e também por influência do homem, foi possível desenvolver rebanhos com animais adaptados a essas regiões. No Brasil, aproximadamente 90% dos rebanhos capri- nos e 60% dos rebanhos ovinos estão localizados na região Nordeste. A região Sul do país, até início da década de 80, se destacava na pro- dução de ovinos. Com a crise da lã ̃, os produtores viram a necessidade de substituir a produção laneira por carne e tiveram que modificar seus rebanhos para animais de corte. Atualmente, com número bem redu- zido, o rebanho ovino no sul do Brasil representa pouco mais de 20% do rebanho total. A origem das raças de caprinos e ovinos no Brasil ocorreu ainda na época da colonização portuguesa, uma vez que ambas as espécies não são originárias das américas, e sim do Oriente Médio. Os animais se adaptaram rapidamente ao novo ambiente e passaram a se multiplicar, espalhando-se pelo território brasileiro. Ao longo dos anos, passaram por processos de seleção natural nos diferentes ambientes em que estavam. – 69 – Caprinocultura e ovinocultura Nos últimos dez anos, o rebanho caprino no Brasil cresceu 2,5%. Entretanto, a maioria das regiões apresentou um encolhimento no reba- nho. Dados do IBGE apontam que de 2016 para 2017 houve uma redu- ção de aproximadamente 2% no número de caprinos em todo Brasil. Essa diminuição é reflexo de um declínio geral, em todas regiões, e, inclusive, no Nordeste. Esse aumento geral, apesar da diminuição da maioria das regiões, pode ser explicado pelo incremento – ainda que tímido – dos rebanhos da região Nordeste, que teve um crescimento de 5% (figura 4.1). Figura 4.1 – Evolução do rebanho caprino no Brasil e na região Nordeste Fonte: Embrapa (2018). Com relação ao rebanho ovino, houve decréscimo nos números de todas as regiões brasileiras, especialmente na região Centro-Oeste. Avaliando os últimos dez anos, as regiões Norte e Nordeste foram as únicas que apresentaram crescimento no rebanho ovino, com 22, 8% e 23,3% respectivamente. Portanto, essas duas regiões são as respon- sáveis pelo crescimento do rebanho no país nesse período. Em termos numéricos, o Nordeste e o Sul do país são os principais produtores de ovinos (figura 4.2). Técnicas de Produção Animal – 70 – Figura 4.2 – Produção de ovinos no Brasil por regiões Fonte: Embrapa (2018). Com relação à evolução do rebanho ovino no Brasil, pode-se obser- var comportamento semelhante ao rebanho caprino. Analisando a última década, houve crescimento de aproximadamente 8%. De 2016 para 2017, houve também uma diminuição nos números, cerca de 2,3%. Em termos gerais, apesar da variação no número de rebanhos, com quedas até 34,43%, como no caso de caprinos, em Santa Catarina, e de até 23% de ovinos, em Sergipe, de 2016 para 2017, pode-se observar uma certa estabilidade nos efetivos de rebanhos caprinos e ovinos no Brasil. O Nordeste brasileiro segue com papel de destaque na produção tanto de caprinos quanto de ovinos, o que evidencia a alta adaptação das duas espécies às condições desafiadoras da região, além da importância destas atividades para a socioeconomia da região do semiárido brasileiro. 4.2 Ovinocultura Apesar de a ovinocultura ser uma atividade secundária em várias pro- priedades, ela também tem aptidão para ser desenvolvida como atividade principal. Por possuir vários produtos aproveitáveis, como carne, leite, lã e pele, quando a produção é bem desenvolvida e o manejo adequado é realizado, os ganhos tendem a ser muito satisfatórios. – 71 – Caprinocultura e ovinocultura Figura 4.3 – Ovinos Fo nt e: Sh ut te rs to ck .c om /R us la n K al ni tsk y Alguns gargalos são encontrados quando se avalia a produção ovina no Brasil, dentre eles: 2 pouca ou nenhuma capacitação dos produtores; 2 falta de padronização das carcaças; 2 baixa qualidade do produto; 2 sazonalidade da produção de carne; 2 informalidade na comercialização. Analisando os aspectos apresentados, nota-se que, ainda que indireta- mente, todos estão ligados entre si e convergem em um ponto comum: pla- nejamento e organização da produção. Com as informações certas sobre raça, manejo, planejamento econômico e comercial, é possível conduzir um rebanho muito eficiente e de qualidade. No quadro a seguir estão listados pontos fortes e pontos a serem desenvolvidos para que se atinja uma produção ovina de qualidade e viá- vel economicamente. Quadro 4.1 – Comparativo entre pontos fortes e pontos a serem melhorados na produção de ovinos no Brasil Pontos fortes Pontos que demandam atenção Raças bem adaptadas a diversas regiões brasileiras Abate informal e consequente perda de qualidade da carcaça Técnicas de Produção Animal – 72 – Pontos fortes Pontos que demandam atenção Facilidade de integração com outras atividades Falta de padronização da carcaça e demais produtos Atividade tradicional na cultura brasileira Deficiência no marketing e desen- volvimento de consumidores Animais de ciclo rápido Pouca assistência técnica especia-lizada Necessidade de pequenos espaços para criação Processo de abate e preparação da carne similar ao de outros animais Diversidade de produtos Fonte: adaptado de SENAR (2015). 4.2.1 Produtos 4.2.1.1 Carne Para que se tenha uma carne de qualidade e padronizada, o ideal é que se utilize animais jovens, de até 5 meses de idade e com peso entre 35 e 40 kg. Costuma-se dividir os ovinos de acordo com a idade e o sexo: 2 cordeiro – até 7 meses de idade, de ambos os sexos, com peso vivo de 15 a 25 kg, possui carne rosada e lisa. 2 borrego – entre 7 e 15 meses de idade, com peso vivo de 30 a 45 kg, carne mais vermelha que a do cordeiro. 2 capão – macho com mais de 15 meses, castrado ainda quando cordeiro, coloração da carne vermelha intensa. 2 ovelha – fêmea adulta com idade acima de 15 meses, com peso vivo de mais de 35 kg, carne vermelha escura. 2 carneiro – macho adulto, não castrado, com idade superior a 2 anos, carne pouco atraente pelo aspecto, consistência e sabor. – 73 – Caprinocultura e ovinocultura *Recomenda-se que a carne de animais velho seja destinada para o preparo de alimentos embutidos uma vez que são menos macias, podendo apresentar maior teor de gordura e odor mais perceptível. (SENAR, 2015) 4.2.1.2 Leite Com o crescimento da produção de carne na ovinocultura de corte e crescente aderência ao sistema de criação intensivo por parte de alguns produtores, observou-se um maior interesse na pesquisa sobre produção de leite de ovelha. Nos últimos anos, com o advento de alimentos orgâni- cos, sustentáveis e saudáveis, o leite de ovinos tem encontrado cada mais oportunidades no mercado. O leite de ovelha é rico em proteína e gordura e é utilizado em sua maioria para a produção de queijos e iogurtes Além de se mostrar uma boa alternativa de diversificação à produção ovina, também tem sido preferência em alguns setores de consumo humano, sendo uma alterna- tiva ao consumo de leite de vaca, especialmente por aqueles com restri- ções alimentares. O leite de ovelha contém quase o dobro de sólidos totais que o de vaca: maior teor de proteína, principalmente a fração de caseína, e de gordura. O rendimento industrial é de 18-25%, ou seja, são necessáriosapenas de 4 a 5 kg de leite de ovelha para a produção de 1 kg de queijo, enquanto se requer 8 a 12 kg de leite de vaca para fazer 1 kg de queijo. (SENAR, 2015) 4.2.1.3 Lã A maioria do rebanho brasileiro é composta por raças para lã ou raças mistas, o que contribui para a utilização desse produto no mercado brasileiro. A lã ̃ é classificada de acordo com as características das fibras e a qualidade do velo e, a partir dos dois anos de idade, o animal já consegue fornecer uma lã de qualidade. A melhor época para fazer a tosquia varia de acordo com a raça e as condições da região, como o clima e, inclusive, com o amadurecimento de Técnicas de Produção Animal – 74 – leguminosas, cujas sementes aderem ao velo, diminuindo a qualidade do material e desvalorizando a lã.̃ De modo geral, é feita uma vez por ano – no início da estação seca – para que se evite o surgimento de doenças por causa da chuva. A tosquia pode ser feita de duas maneiras: manual e mecanicamente. A tosquia manual normalmente é feita com tesoura (martelo) e a mecâ- nica com máquina elétrica de tosquiar. Uma pessoa habilitada e experiente consegue tosquiar manualmente em média 30 animais em um dia de tra- balho. Com a máquina elétrica é possível tosquiar entre 80 e 100 cabeças em um dia. Vale a pena ressaltar que, após a tosquia, o animal fica muito cansado e estressado e, por isso, o ideal é que ele seja alocado em bom pasto até que esteja recuperado. Figura 4.4 – Tosquia manual em ovelha Fonte: Shutterstock.com/Naruedom Yaempongsa 4.2.1.4 Pele Casos seja dado tratamento adequado, a pele pode ser mais um pro- duto comercial agregador de valor à produção ovina. Existem duas opções de comercialização da pele, o pelego in natura (pele com lã) e a pele curtida. O pelego tem um menor valor, já a pele possui valor de comercia- lização maior. Para curtir a pele artesanalmente, utiliza-se algumas substâncias quí- micas ou vegetais e alguns equipamentos simples. A técnica de curtimento – 75 – Caprinocultura e ovinocultura mais comum consiste na utilização de sais de cromo, que dá maior elasti- cidade e maciez e é encontrado no mercado com facilidade. Vale lembrar que qualquer método, artesanal ou não, requer uma pele de qualidade, cuidada desde a criação até o abate do animal. Assim como qualquer órgão vivo animal, a pele ovina começa sua decomposição por volta de três minutos após o abate o animal, ou seja, caso se deseje comercializá-la, é fundamental que o processo seja iniciado o mais rápido possível. 4.2.2 Manejo 4.2.2.1 Alimentação A alimentação dos ovinos é principalmente a pastagem, uma vez que são animais ruminantes e o aproveitamento de alimentos fibrosos como capins é alto. Assim como para os bovinos, a capacidade de digestão e o aproveitamento do pasto se relaciona com a qualidade da pastagem. Em geral, o ideal é que se forneça entre 50 e 70% de matéria seca na forma de pasto e a suplementação deve ser feita apenas em casos especiais, por exemplo, para ovelhas, no terço final da gestação e em lactação, cordeiros desmamados e reprodutores em período de monta. Quando o clima da região está ameno e favorável, os ovinos podem ser mantidos a pasto; contudo, em épocas desfavoráveis, talvez seja necessário fornecimento de forragem armazenada. Com relação ao tipo de pasto, o ideal é que sejam ofertados aqueles de tamanho médio a baixo, de porte inferior a 1 m, pois em pastos mais altos os animais têm a tendência de pastejar apenas as bordas, diminuindo o aproveitamento. Ademais, pastos altos dificultam a visão dos animais entre si, e como têm o comportamento de permanecer em grupos, o capim alto dificulta que eles se vejam. Outra questão importante sobre o tipo e qualidade de pasto é com relação à forma de pastejo das ovelhas. São animais extremamente seleti- vos com relação à alimentação e tendem a consumir o pasto em camadas, de cima para baixo. A formação dos lábios em fenda permite que os ovinos Técnicas de Produção Animal – 76 – escolham o que querem consumir e, por isso, a pastagem deve ser sempre nova, fresca e nutritiva. Algumas considerações importantes sobre a pastagem são (SENAR, 2015): 2 utilizar espécies de forragens com alto valor nutricional, aceita- bilidade entre os animais e boa digestibilidade; 2 utilizar espécies de porte médio a baixo, com altura máxima de 1 m; 2 realizar a manutenção do solo, garantindo condições satisfató- rias de crescimento da pastagem; 2 dar preferência pela utilização do sistema de manejo rotacio- nado para evitar a infestação de pragas e superutilização do solo. O período de repouso varia de acordo com a época do ano, con- dições climáticas e de qualidade do solo. Em geral, utiliza-se entre 30 a 40 dias de repouso; 2 sempre que possível, diversificar a cultura entre forrageiras e leguminosas – como pega-pega (Desmodium incanum), amen- doim forrageiro (Arachis pintoi) e feijão bravo (Centrosema brasilianum) para conservar mais o solo, além de combater pos- síveis doenças e pragas. 2 utilizar preferencialmente espécies de crescimento cespitoso (crescem para cima), pois permitem maior penetração do sol no solo e, consequentemente, evitam o surgimento de doenças; 2 empregar pastagens com alta capacidade de rebrote e que tenham sistema radicular bem desenvolvido (por exemplo: coast cross, tiftons e estrelas (gênero Cynodon), pangola (gênero Digitaria) e pensacola (gênero Paspalum)). 4.2.2.2 Manejo dos cordeiros É fundamental que os cordeiros tenham tratamento adequado a partir das primeiras horas de vida. Por isso, recomenda-se que o cor- deiro seja mantido em local limpo, com cuidados especiais de higiene – 77 – Caprinocultura e ovinocultura por pelo menos 15 dias após o nascimento. Devem ser adotadas algumas medidas, como: 2 corte e desinfecção do umbigo – deve ser realizado com material limpo e desinfetado a 5 cm do abdômen e com aplicação de iodo 10%. Essa técnica evita a penetração de patógenos e o desenvol- vimento de infecções e doenças; 2 corte da cauda (animais de lã) – garante o asseio da região peria- nal, evitando miíases, acidentes na cópula e higiene no parto. Nas raças deslanadas, não deve ser cortada a cauda, uma vez que os animais utilizam a cauda para repelir moscas e outros insetos; 2 marcação de identificação dos animais. Com relação ao desmame, este pode ser (SENAR, 2015): 2 precoce, de 35 a 45 dias – é o que exige maior atenção por parte do produtor uma vez que o cordeiro ainda é muito novo. Reco- menda-se que o animal seja manejado em creep-feeding; 2 semiprecoce, de 45 a 70 dias – o animal ainda é novo, exigindo os mesmos cuidados do desmame precoce, ou seja, creep-fee- ding e acompanhamento; 2 normal, de 70 a 80 dias – trata-se da época mais saudável do ponto de vista de mortalidade e saúde. A taxa de mortalidade pré e pós-desmame é muito pequena e a contaminação por doenças provenientes da mãe também. Na semana do desmame, as crias devem ser vermifugadas; 2 tardio, após 80 dias – geralmente utilizado em sistemas de cria- ção extensiva. Não é o mais indicado, por apresentar taxa de mortalidade elevada em razão de contaminação por helmintos provenientes do contato com a mãe. 4.2.2.3 Instalações Algumas instalações são fundamentais para o sucesso da criação de ovinos, como o galpão para abrigar os animais – também conhe- cido por aprisco, que serve para recolher os animais especialmente à Técnicas de Produção Animal – 78 – noite, quando é comum ocorrer ataques de predadores –; curral para manejo (aplicação de vacinas e medicamentos, marcação, etc.); bebe- douros e comedouros. 4.2.3 Integração bovinos e ovinos A integração de bovinos e ovinos em um mesmo local tem como principal objetivo a otimização do uso da pastagem, uma vez queovinos e bovinos têm seletividade diferente para o pasto e o que não apetece a um, satisfaz ao outro. O mais indicado é que as ovelhas sejam inseridas no pasto para fazer o repasse após o pastejo das vacas. Além disso, como consequência dessa otimização, há aumento de renda devido à diversifi- cação de produção. No quesito sanidade, a integração das duas espécies diminui a conta- minação por parasitas provenientes da pastagem, uma vez que interrompe o ciclo dos parasitas, além de contribuir para uma maior produção e reno- vação do pasto. Figura 4.5 – Integração bovinos e ovinos Fonte: Shutterstock.com/Heath Johnson Contudo, é importante ressaltar que a criação integrada demanda alguns cuidados com relação ao manejo, especialmente com relação às instalações, como galpões, salas de manejo (local onde são realizadas as atividades, como vacinação, marcação, entre outros. Semelhante aos cen- tros de manejo de outras espécies, como bovinos) e cercas. – 79 – Caprinocultura e ovinocultura 4.3 Caprinocultura O Brasil possui mais de 9 milhões de cabeças de caprinos, princi- palmente na região Nordeste, correspondendo a mais de 90% do reba- nho nacional. A caprinocultura é desenvolvida em diversas localidades do Brasil, principalmente por pequenos produtores. É uma operação que tem uma função socioeconômica muito importante, uma vez que em alguns locais é a principal ou única fonte de proteína (são animais rústicos e adap- tados a condições climáticas muitas vezes adversas e incompatíveis com outras espécies), além de servir muitas vezes como moeda troca em “mer- cados paralelos”. O consumo dos produtos de origem caprina no Brasil é bastante seg- mentado. Na região Sudeste, o maior consumo é de leite, onde a única carne produzida é proveniente dos cabritos que nascem das cabras lei- teiras. Já a região Nordeste e regiões com grande influência nordestina, consome-se mais a carne e também a pele. Figura 4.6 – Rebanho caprino Fonte: Shutterstock.com/ Nataly Regina 4.3.1 Produtos 4.3.1.1 Leite O leite de cabra é altamente digestivo e possui alto valor nutritivo, sendo recomendando para crianças, idosos e/ou pessoas que tenham aler- Técnicas de Produção Animal – 80 – gia ao leite de vaca por possuir menos substâncias com potencial alergê- nico, como a proteína caseína α-S1 e a β-lactoglobulina. Possui teores ele- vados de vitamina A e de alguns ácidos importantes para uma boa saúde, como os ácidos butírico, capróico, palmítico, linoleico, dentre outros. Todavia, o aspecto mais relevante do leite de cabra é o tamanho redu- zido de seus glóbulos de gordura, facilitando a digestão. As características mencionadas elevam o leite de cabra ao patamar de alimento funcional. Esses alimentos são descritos como alimentos ou ingredientes que produzem efeitos benéficos à saúde, além de suas funções nutricionais básicas. Caracterizam-se por oferecer vários benefícios à saúde, além do valor nutritivo inerente à sua composição química, podendo desempenhar um papel poten- cialmente benéfico na redução do risco de doenças crônicas dege- nerativas, como câncer e diabetes, dentre outras (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2009, [S.p.]). Apesar de todos os benefícios apresentados, o leite de cabra ainda não ocupa papel de destaque no mercado brasileiro. Dois dos principais fatores que colaboram para essa dificuldade são a falta de conhecimento dos seus reais benefícios, em outras palavras, uma estratégia de marketing inexistente, além do preço elevado dos produtos quando comparados ao leite de vaca, consequência da falta de um mercado consolidado, com pro- dutos que atendam à demanda. 4.3.1.2 Carne Além do leite de boa qualidade e de elevado valor nutricional dos caprinos, da mesma forma se aproveita a carne, que também se destaca como alimento altamente nutritivo. Trata-se de um alimento com baixo teor de calorias, de colesterol e de gordura; com alta digestibilidade e elevados níveis de ferro e proteína. Por isso, é conhecida como a carne vermelha mais magra que se tem atualmente, sendo indicada inclusive para pessoas com diabetes e com problemas cardíacos. O percentual de gordura saturada desse alimento é 40% menor que o da galinha e 850, 900 e 1100% menor que o de bovinos, ovinos e suínos (EMBRAPA, 2017). O consumo no Brasil ainda é pequeno e também mais comum na região Nordeste e em locais com influência dessa cultura. Entretanto, esse – 81 – Caprinocultura e ovinocultura cenário vem mudando nos últimos anos, com cada vez mais participação na alta gastronomia. A carne caprina consumida geralmente é proveniente do cabrito, aba- tido aos 4-6 meses com aproximadamente 12 kg. Pode ainda ser abatido precocemente, aos 2-3 meses de idade e a sua carcaça atinge por volta de 4-6 kg. Esse animal precoce é denominado cabrito mamão, uma vez que nessa idade ainda está mamando. 4.3.1.3 Pele A produção de pele é realizada principalmente nos estados nordesti- nos e tem relevada importância econômica, já que pode refletir até 30% do preço do animal. Contudo, como nesses locais a criação normalmente é conduzida no modo extensivo e os animais naturalmente são de pequeno porte, a qualidade das peles varia substancialmente. Sendo assim, boa parte do que é produzido não segue um bom padrão de qualidade, dimi- nuindo a agregação de valor. 4.3.2 Manejo 4.3.2.1 Alimentação Apesar de os caprinos serem animais reconhecidamente rústicos e adap- táveis a situações adversas, alimentos pouco nutritivos, obviamente, refletem em um baixo desempenho de produção e, inclusive, de reprodução. Para níveis satisfatórios de produção de carne e de leite, é fundamental que os animais tenham à disposição pastagem de boa qualidade e em quantidades adequadas. Uma característica que favorece a criação desses animais é que a prin- cipal fonte de alimentos é a própria vegetação nativa, o que reduz bastante o custo em comparação a outras espécies que utilizam suplementação ou que necessitam de pastagem mais específica. Contudo, é possível melhorar a oferta dessa vegetação nativa, de modo a incrementar a alimentação para que obtenha melhores resultados produtivos. A remoção de plantas que não são utilizadas como alimentos, por exemplo, é uma maneira de favorecer e melhorar a alimentação; uma vez que elas não competem com as plantas dese- jadas. Correção e adubação do solo também melhoram significativamente a Técnicas de Produção Animal – 82 – qualidade dessa vegetação, além da implementação de outras espécies conco- mitantemente com o que já existe, como gramíneas e leguminosas. Assim como os demais ruminantes de outras espécies, os capri- nos apresentam maior exigência de suplementação em algumas espocas especificas, como pré e pós-parto, lactação, recém-nascidos e na época de reprodução. Água e sal mineral também são de extrema importância, assim como para as demais espécies, e devem ser oferecidos em quanti- dade e qualidade adequadas. 4.3.2.2 Instalações Recomenda-se a construção de um local para abrigo e manejo dos animais, denominado capril. A indicação é que seja feito com materiais simples e baratos, que estejam de acordo com a condição financeira do criador. Entretanto, é importante que sejam garantidas algumas premis- sas, como baias separadas para animais de sexos diferentes, para fêmeas prenhes, recém-paridas, em lactação etc. Pode ser também destinado um espaço para a ordenha dentro do capril. Figura 4.7 – Separação dos animais em baias no capril Fonte: Shutterstock.com/ Andrew Park Síntese A criação de caprinos e ovinos teve seu início nos primeiros anos da civilização humana, sendo as ovelhas os primeiros animais domesticados – 83 – Caprinocultura e ovinocultura de que se tem estudo. Apesar de ser uma atividade milenar, o que se pode observar é que tanto no Brasil comono mundo, a atividade ainda é majori- tariamente simples e o cultivo quase sempre extensivo, pouco tecnificado e os produtos de pouca qualidade. Ovinos e caprinos são animais extremamente rústicos e adaptáveis a meios quase sempre desafiadores, com condições climáticas muitas vezes desfavoráveis. Por meio de um processo de adaptação ao longo dos anos e a seleção natural que ocorreu devido à criação doméstica, foi possível desenvolver raças com animais adaptados à diversas regiões. Nos últimos anos tem se observado uma variação no número de reba- nhos de ovinos e caprinos, com uma tendência à diminuição desses núme- ros na maioria dos estados, especialmente nos estados de Santa Catarina e Sergipe. Entretanto, o Nordeste tem mantido papel de destaque na produ- ção, influenciando um aumento, ainda que tímido, no número de animais. Esse fato tem explicação em dois fatores principais: a grande adaptação dos rebanhos às condições climáticas da região e a importância dessas atividades para a socioeconomia da região do semiárido brasileiro. Atividades 1. Explique com suas palavras os fatores que contribuem para a criação de ovinos e caprinos no Brasil e no mundo. 2. Relacione os principais gargalos da ovinocultura no Brasil. Em seguida, reflita e sugira correções que poderiam ser executadas para alavancar e desenvolver a produção no Brasil. 3. Explique com suas palavras como deve ser a pastagem disponi- bilizada a ovinos. 4. Com base no texto do capítulo e em informações adicionais que podem ser buscadas em sites de pesquisa, explique como fun- ciona a adoção da integração pecuária entre bovinos e caprinos. 5 Bubalinocultura O Brasil é o quinto maior país do mundo, ocupando a zona tropical e subtropical do hemisfério sul. Apesar da ampla varia- ção de clima entre as regiões brasileiras, predominantemente tem-se o clima tropical, com temperaturas elevadas e chuvas constantes. Nessas condições adversas se desenvolve uma espé- cie extremamente adaptada e que, embora com participação pequena na pecuária brasileira, vem ocupando seu espaço na produção nacional; trata-se aqui do búfalo. A bovinocultura é uma atividade já amplamente conhecida e praticada no Brasil, mas, como já se sabe, apresenta alguns garga- los, especialmente quando se trata de cultivos extensivos que são a maioria. Por exemplo, raças bovinas europeias se desenvolvem muito bem em locais de clima temperado, mas não apresentam altos número de produtividade em zonas tropicais. Já as raças zebuínas se adaptam melhor ao clima mais quente, mas genetica- mente já não possuem valores muito elevados de produtividade. Técnicas de Produção Animal – 86 – As crescentes pesquisas zootécnicas, com vistas ao aumento de pro- dutividade de bovinos tem levado pesquisadores e criadores a voltarem aos olhos para uma espécie antiga no Brasil, mas ainda pouco explorada: os búfalos. O que se tem notado é que estes animais se desenvolvem muito bem em várias condições adversas, inclusive em locais com solos e pas- tagens de baixa qualidade. Além disso, de uma maneira geral, pesquisas vem apontando que os índices de produtividade de carne e leite de bubali- nos são superiores aos dos bovinos, no cenário brasileiro. Neste capítulo, são trazidas as principais particularidades da criação de búfalos, vantagens e desafios de uma atividade muito promissora para a pecuária brasileira. 5.1 Importância socioeconômica A criação de búfalos domésticos teve início na Ásia e até hoje tem papel fundamental nos países asiáticos na produção de leite, carne e também como força de trabalho. Da Ásia, esses animais foram levados para África, em seguida Europa – especialmente na Itália – e, mais recentemente, chega- ram à América. No Brasil, os búfalos foram introduzidos no final do século XIX como uma alternativa à bovinocultura e o primeiro local a ter contato com esses animais foi o estado do Pará, mais especificamente na Ilha de Marajó. Desde a introdução de alguns animais no Brasil até a década de 50, os animais viveram basicamente em condições naturais, com pouca explo- ração. Até que criadores marajoaras decidiram utilizar os búfalos como ati- vidade produtiva e então, aproximadamente 10 anos depois, mais animais ingressaram em outras regiões, como Norte e Sudeste. A adaptabilidade, a longevidade e a elevada taxa de fertilidade dos rebanhos permitiram a criação dos búfalos em vários países e diversas regiões do Brasil. Desde a sua exploração como atividade comercial, os búfalos têm sido importante fonte de alimento e de produtos por apresen- taram características importantes, como melhor aproveitamento de forra- gens com valor nutritivo baixo, pastejo em áreas de pouco utilização por outras espécies e áreas não utilizáveis para a agricultura. Atualmente, estes animais são divididos em dois grandes grupos, búfalos de rio e búfalos de pântano. Os primeiros possuem origem na Ásia – 87 – Bubalinocultura e Oriente Médio e normalmente são utilizados para produção de leite e carne. Já os búfalos de pântano possuem maior aptidão para trabalhos pesados por possuírem uma estrutura corporal mais robusta. No Brasil, são encontradas quatro principais raças: Mediterrâneo, com origem ita- liana; Murrah e Jafarabadi, provenientes da Índia; e Carabao, de origem filipina. As três primeiras são classificadas como búfalos de rio e o Cara- bao como búfalo de pântano. Os búfalos são caracterizados como animais de tripla aptidão, pois são adequados para a produção de três produtos (muitas vezes o mesmo animal é capaz de fornecer os três), quais sejam carne, leite e animal de trabalho. Figura 5.1 – Búfalo africano Fonte: Shutterstock.com/ Ondrej Prosicky De acordo com dados do IBGE, em 2017 o rebanho nacional de búfa- los era de 1.351.631 cabeças, sendo os estados do Pará, Amapá e São Paulo os três maiores estados criadores dessa espécie com 514.308, 286.477 e 102.922 cabeças respectivamente. Os maiores desafios da criação de búfalos no Brasil são a imple- mentação dessa atividade no cenário nacional, uma maior organização da cadeia produtora e um melhor desenvolvimento dos produtos. Por meio das suas características zootécnicas, alta adaptabilidade, rusticidade e facilidade do manejo, a bubalinocultura já demonstrou ser uma atividade viável e relevante na produção brasileira. Com relação aos seus produtos, Técnicas de Produção Animal – 88 – diversos estudos e pesquisas já comprovaram os benefícios e a alta quali- dade provenientes destes. Ressalta-se, ainda, que o Brasil se encontra em situação de destaque no cenário mundial com relação a bubalinocultura, uma vez que possui o maior rebanho dessa espécie no ocidente. Ademais, aqui se encontram animais com aptidão tanto para produção leiteira, quanto de carne e inclu- sive para o trabalho manual. Saiba mais Ilha do Marajó: Maior concentração de búfalos do país “Localizada no norte do Pará, em uma área em que nem os pescado- res sabem dizer onde termina o rio e começa o mar, a ilha concentra o maior rebanho de búfalos do Brasil. De acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), do IBGE, o Pará contava com mais de 500 mil cabeças (38% do total nacional) em 2016. A criação de búfalos não envolve apenas os pecuaristas, já que os ani- mais fornecem carne, leite, couro e chifres para restaurantes, artesãos, queijeiros e outros tipos de estabelecimento. Em uma oficina de cur- tume na cidade de Soure bolsas e calçados são vendidos após um pro- cesso que dura mais de dois meses e envolve o tratamento da pele, o tingimento com tinta extraída da casca da Árvore do Mangue e o ali- samento do couro antes de ser trabalhado pelo artesão. Os animais são utilizados até mesmo pela polícia de Soure em suas patrulhas, algo que maravilha os turistas e tranquiliza os habitantes.Dóceis, os bichos pas- tam soltos pela cidade e não é raro encontrar moradores que criam um no quintal de casa”. Claudia Sedano (IBGE, 2017, [S.p.]). Já no cenário mundial, a bubalinocultura ainda não tem encontrado grande espaço. Apesar de se perceber uma disseminação maior desses ani- mais em países da América do Sul e Europa, ainda assim é um segmento um pouco mais restrito aos países da Ásia, especialmente àqueles locali- zados no sudeste asiático e na China. Nesses países, inclusive, a criação – 89 – Bubalinocultura que antes era voltada para o trabalho manual, como animais de tração, nos últimos anos vem ganhando espaço na produção leiteira. Na Europa, países como França, Alemanha, Dinamarca e Suíça tem buscado a criação de búfalos como alternativa à bovinocultura, uma vez que essa tem encon- trado elevados subsídios para sua produção. Além disso, alguns estudos vêm demonstrando mais vantagens na criação de búfalos. Rodrigues et al. (2001), por exemplo, verificaram que búfalos levam menos tempo para atingir o peso ideal de abate quando comparados aos bovinos. 5.2 Produtos 5.2.1 Carne No Brasil, o alto custo da carne bovina e a dificuldade de acesso de mercado em algumas regiões têm contribuído para uma demanda cada vez maior de carne de búfalo. Estimativas indicam que, na década de 80, por volta de 30 mil toneladas de carne de búfalo foram consumidas em detrimento à carne bovina. A carne de búfalo pode facilmente substituir a demanda pela carne bovina, uma vez que apresenta características bem aceitas pelo público em geral. Trata-se de uma carne saudável, saborosa e de boa aparência. Comparativos entre a carne bubalina e a carne bovina indi- cam que a primeira apresenta 40% menos colesterol, 55% menos calorias, 11% a mais de proteínas e menos gordura que a segunda. Nos últimos anos, tem sur- gido um grande apelo a uma vida mais saudável. Um seg- mento do mercado consumidor tem baseado suas escolhas não somente pelo preço do alimento, mas pelo valor nutricional e pela qualidade de vida que agregam. A busca por Figura 5.2 – Filé mignon de carne de búfalo Fonte: Shutterstock.com/Tasty Life Técnicas de Produção Animal – 90 – uma dieta equilibrada e hábitos alimentares saudáveis é um momento propi- cio para uma maior inclusão da carne bubalina na mesa dos consumidores. Geralmente a criação de búfalos para aproveitamento da carne é feita de maneira extensiva, sendo a base da alimentação as pastagens nativas de regiões alagadiças e, em alguns casos, cultivadas. A suplementação alimentar raramente é praticada, inclusive em épocas desfavoráveis. Por isso, o desenvolvimento dos animais ocorre de acordo com a oferta ali- mentar, que é influenciada, por sua vez, pela sazonalidade da região. Saiba mais Baby Búfalo, você já ouviu falar? Há pouco mais de dez anos foi criada no mercado uma nova marca para carne de búfalo. É um produto proveniente de animais jovens, abatidos precocemente – com menos de 24 meses. Por serem abatidos mais novos, a carne comercializada é mais macia e mais saborosa. O manejo dos animais destinados a esse fim é cuidadoso, evitando estresse antes do abate e garan- tindo cuidados essenciais pós-abate para garantir uma carne de qualidade. Figura 5.3 – Búfala e filhote Fonte: Shutterstock.com/ Four Oaks Apesar de a carne ser o principal produto proveniente dos bubalinos, a cadeia de produção ainda é bastante desorganizada, fazendo com que – 91 – Bubalinocultura essa carne muitas vezes seja comercializada como carne bovina. Por um lado, essa situação permite um maior escoamento da carne bubalina, mas por outro prejudica o estabelecimento do mercado específico desse pro- duto, uma vez que dificulta a concentração de abates, aumentando a sazo- nalidade da produção e dificultando a agregação de valor à carne bubalina, que muitas vezes é mais nutritiva e saudável do que a carne bovina, e os preços praticados são os mesmos. Para Oliveira (2005, p. 123) um dos maiores objetivos da pesquisa relacionada à produção do búfalo é a busca de novas tecnologias para aumentar os rendimen- tos da porção comercializável e a sua qualidade. Isto pode ser con- seguido se, na cadeia da carne bubalina, for feito um completo entrosamento entre os geneticistas, melhoristas, produtores, frigo- ríficos e especialistas em qualidade de carcaça e de carne, além de pessoal de divulgação e marketing. 5.2.2 Leite A produção de leite de búfalas é uma atividade crescente no mercado nacional em virtude do alto valor conferido aos produtos provenientes dela, que têm encontrado no mercado brasileiro cada vez mais espaço e aceitação, com valores acima dos produtos à base de leite de vaca. Esse crescimento vem se destacando especialmente na região sudeste com a produção de queijo muçarela feito de leite de búfala. Comparado ao leite de vaca, o leite de búfala apresenta mais gordura, contudo, também possui maiores teores de proteínas, carboidratos, cálcio e vitamina A. Ademais, o leite de búfala possui mais de 50% de sólidos a mais do que o leite de vaca, influenciando diretamente no rendimento para produção de subprodutos como o queijo, por exemplo. Em outras pala- vras, com 3 l de leite de búfala é possível produzir 1 kg de queijo do tipo frescal, ao passo que para produzir esse mesmo queijo com leite de vaca, seriam necessários aproximadamente 6 l (VERRUMA, 1994). Tabela 5.1 – Comparativo da composição química dos leites de búfala e de vaca (g/100g) Leite de Búfala Leite de Vaca Lipídios (g) 7,02 3,23 Técnicas de Produção Animal – 92 – Leite de Búfala Leite de Vaca Proteína (g) 3,82 2,93 Colesterol (mg) 19,35 12,37 Vitamina A (RAE) mcg 54 48,9 Cálcio (mg) 180 107 Fonte: adaptada de FORC (2019). A maior parte do leite produzido atualmente no Brasil ainda é pro- veniente de pequenas propriedades, com manejo de baixa tecnologia e normalmente como complemento de alguma outra atividade. Com essas características, os rebanhos são compostos por animais com baixo rendi- mento produtivo e baixa taxa de fertilidade e, consequentemente, baixa reprodução. Contudo, tem-se observado uma crescente espe- cialização por parte dos produ- tores nos produtos de origem bubalina. Especialmente esses pequenos produtores tem procu- rado cada vez um maior domí- nio e aperfeiçoamento dessa atividade. Essas características são facilmente percebidas em regiões onde existem laticínios especializados na captação de leite de búfala. Precipuamente a partir dos anos 90 e 2000, houve uma expansão das indústrias especializadas na produção de derivados do leite de búfala. Por conta da maior concentração (menos água e mais matéria seca), mais nutrientes (proteínas, gorduras e minerais), rendimento industrial e maior agregação de valor, o leite bubalino tem cerca de duas vezes mais valor do que o leite bovino. Outrossim, derivados como queijo minas frescal, ricota, doce de leite, queijo tipo coalho, provolone, entre outros, também começaram a ser produzidos mais recentemente. Essa diversificação de produtos cola- Figura 5.4 – Queijo tipo muçarela de búfala Fonte: Shutterstock.com/ Valerio Pardi – 93 – Bubalinocultura bora para um aumento do consumo de leite de búfala, em contraposição à estagnação do consumo de derivados lácteos do leite de vaca. Assim como para animais destinados ao corte, as búfalas produtoras de leite são mantidas a pasto, sendo feita a suplementação de volumoso, como cana-de-açúcar e silagem, mas pouco comum a suplementação de concentrado. Normalmente é feita uma ordenha diária, mas nos últimos anos, com a especialização dessa atividade em algumas propriedades, vem sendo adotada a prática de duas ordenhas diárias concomitantemente à suplementação de volumosos e concentrado em períodos de escassez.Essa melhora do manejo produtivo tem aumentado em até 60% a produtividade média de acordo com estudos conduzidos por Fernandes et al. (2004). 5.2.3 Animal de carga Os búfalos eram usados como animais de carga desde a pré-história, no início da domesticação animal pelo homem; e ainda hoje é possível encon- trar essa atividade em diversas partes do mundo, especialmente nas peque- nas propriedades rurais. Os animais são usados em diversas etapas, como preparo do solo, plantio, colheita, transporte de matéria prima e de pessoas. O búfalo se destaca entre outras espécies por ter mais características que favorecem esse tipo de trabalho, como por exemplo a capacidade de tração superior a bovinos, equinos e asininos; menor exigência alimentar do que bovinos e equinos; habilidade maior para trabalhar em terrenos ala- gadiços e desnivelados do que equinos; entre outros fatores, além da doci- lidade que permite uma domesticação mais fácil e a manipulação pode ser feita por adultos, crianças e idosos. Saiba mais Utilização do búfalo na agricultura De acordo com Damé (2006), para que se possa utilizar o búfalo como animal de carga, algumas etapas devem ser seguidas para que o homem tenha sucesso no manejo do animal. 1. Seleção do animal A seleção tem por objetivo escolher o animal que apresente as Técnicas de Produção Animal – 94 – melhores características para o que se deseja. No caso de búfalos que serão utilizados como animais de tração e carga é importante que se observe as seguintes características: 2 Temperamento dócil 2 Peso aproximado de 300 kg (esse peso normalmente é atingido entre um e dois anos de idade, quando o animal possui capacidade de aprendizagem e estrutura física apro- priadas para o adestramento) 2 Ossatura bem desenvolvida, peito amplo e musculoso 2 Linha dorso-lombar sem curvatura acentuada para evitar que a força exercida pelo animal não sobrecarregue a coluna. 2. Perfuração do septo nasal Trata-se da primeira medida a ser tomada no processo de aman- samento do animal. É realizada a perfuração do septo, onde sera colocada uma argola pela qual passara a corda que servirão como controle da direção do animal. É importante que essa prática seja realizada por um profissional experiente e seguindo as recomen- dações de higiene. 3. Amansamento Compreende o período pelo qual o animal passará pela adaptação às novas condições, como a implantação da argola no septo e o processo de adestramento. O ideal é que durante o amansamento o animal seja tratado com cuidado, sem severidade e castigos para que seja estabeleça uma boa relação com o adestrador. É recomen- dável que nesta fase o animal tenha contato apenas com o adestra- dor, evitando a presença de pessoas estranhas e outros animais. 4. Arreios Existem três tipos de arreios: 2 Canga – É feita de madeira e serve como apoio no pescoço do animal para que a carga seja tracionada. Dos três tipos é considerado o pior pois afeta diretamente no rendimento – 95 – Bubalinocultura do animal, concentrando todo o esforço na cernelha ao invés de distribuí-lo, além da corda que passa pelo pescoço dificultar a res- piração do animal, que se cansa mais rapidamente. Figura 5.5 – Animal utilizando o modelo canga de arreio para trabalho Fo nt e: S hu tt er st oc k. co m / t he p ea l 2 Colar e cinta – São feitos de couro e permitem uma maior distribuição da carga a ser tracionada, evitando a fadiga precoce do animal 5. Adestramento Durante o adestramento o animal aprende efetivamente como traba- lhar. Deve ser feito o passo a passo de maneiras contaste para o búfalo se acostume com o trabalho. No início, os animais devem se acostumar com os arreios, sem que seja realizado nenhum trabalho. Em seguida, quando eles já estiverem familiarizados com a cinta ou colar, deve-se iniciar a tração de pequenos objetos, como toras leves, e a carga deve ser aumentada de acordo com a adaptação do animal. Nesta fase também são ensinados os comandos de andar e parar, bem como os direcionamento de esquerda e direita. Ao final, o animal estará pronto para a última etapa do adestramento, quando são instalados os implementos agrícolas como arado, grades etc. As etapas de amansamento e adestramento tem duração média de 6 meses, podendo variar de acordo com o animal e o tipo de trabalho. Técnicas de Produção Animal – 96 – Apesar de serem animais rústicos, de musculatura bem desenvolvida e adequados para trabalhos pesados, os búfalos têm predisposição a sofrer nos dias muito quentes por não possuírem muitas glândulas sudoríparas (responsáveis pela produção e liberação de suor), acumulando muito calor em seus corpos, sem conseguir dissipá-lo. Dessa forma, o mais indicado é que eles sejam submetidos ao trabalho nos horários menos quentes do dia e não ultrapassar o total de 5 horas diárias de trabalho. Após cada turno de trabalho (manhã e tarde) e ao final do dia antes do descanso, é importante dar água aos animais e sempre que possível um banho. Durante a troca de dentes, que ocorre quando o animal chega aos dois ou três anos de idade, também não é indicado que ele seja submetido a atividades muito desgastantes. A troca de dentição gera um grande incô- modo ao animal por não conseguir pastar adequadamente. Essa alimenta- ção prejudicada interfere no ganho de peso e o búfalo tende a emagrecer, ficando mais fraco. 5.3 Manejo 5.3.1 Alimentação Por ser um excelente conversor de alimentos de baixa qualidade em energia, os búfalos são capazes de se manter e se desenvolver em ambien- tes com baixa oferta nutricional de pastagem. Entretanto, quando se espera maiores níveis de produtividade, obviamente, deve-se investir em alimen- tação de qualidade, além de suplementação e fornecimento de macro e micronutrientes essenciais. A maioria dos produtores de búfalos tanto para carne, como para leite e inclusive para ambos, tende a fornecer apenas o alimento volumoso (pas- tagem nativa e, em alguns casos, pastagem cultivada), que apesar de ser convertido de maneira eficiente pelos animais, não fornece o suprimento completo de nutrientes. Qualquer que seja a espécie de forragem utilizada, desde as mais nutritivas até as de menor qualidade, nenhuma delas é capaz de atender 100% da demanda do animal. Para que se tenha produções mais elevadas, é fundamental que se utilize outras fontes de alimentos, que – 97 – Bubalinocultura sejam capazes de suprir as exigências nutricionais dos animais, como as capineiras (gramíneas utilizadas para suplementação alimentar) de capim elefante, além do fornecimento de mistura mineral. É aconselhável que fêmeas produtores de leite sejam suplementadas com concentrado energético-proteico. Os filhotes em fase de amamenta- ção também devem receber maior atenção e, nesse caso, sugere-se que sejam fornecidas gramíneas de boa qualidade, além de ração suplementar. Normalmente, os partos acontecem no verão, possibilitando à fêmea uma melhor alimentação durante a gestação, favorecendo nascimentos mais saudáveis e um retorno da fêmea à disponibilidade mais rápido. Já o perí- odo de aleitamento ocorre quando não há muita oferta de pasto, comprome- tendo a produção de leite; contudo, os filhotes, quando desmamados, podem alimentar-se do pasto já recuperado, só voltando a esse cenário de escassez quando já estiverem mais bem desenvolvidos, aproximadamente um ano depois. O pasto em boas condições nutricionais disponível ao filhote recém- -desmamado permite que os animais cresçam e atinjam a puberdade com 24 meses de vida, e que as fêmeas tenham o primeiro parto aos 36 meses. A utilização de pastagens nativas em conjunto com pas- tagem cultivada também é uma técnica que proporcionamaio- res ganhos de produtividade, especialmente em épocas mais críticas. A adoção dessa medida garante que os animais tenham alimento de qualidade a um custo razoavelmente pequeno. Para que a pastagem tenha con- dições de se recuperar, o mais indicado é o pastejo rotacionado. 5.3.2 Instalações Existem diversas modelos de instalações que atendem às necessida- des das atividades do criador de búfalos e para escolher a melhor opção, Figura 5.6 – Suplementação alimentar no cocho Fonte: Shutterstock.com/ ckbacteria Técnicas de Produção Animal – 98 – deve ser levado em conta o modelo que melhor atende a funcionalidade do sistema, além do custo e da durabilidade dos materiais. Independen- temente do tipo de instalação a ser usada, é essencial que seja construída em terreno firme e bem drenado. Apesar de serem animais bem adaptados a terrenos encharcados e alagadiços, para o manejo o ideal é que seja em solo firme e seco. Já os materiais que serão utilizados na construção das instalações devem ser compatíveis com a região (condições climáticas, tipo de solo etc.). Dentre as instalações existentes, destacam-se três que são consideradas as mais importantes, são elas: 2 Centro de Manejo Trata-se do complexo de instalações onde é realizado o manejo do rebanho. O mais indicado é que seja construído relativa- mente perto da sede da propriedade para que o acesso seja rápido e fácil. É no centro de manejo que são rea- lizadas as atividades rotineiras, como orde- nha, vacinação, mar- cação, entre outros. Por isso, o ideal é que exista um espaço des- tinado aos animais que estão aguardando algum procedimento (curral) e áreas reservadas para as demais atividades, como área de ordenha, área dos bezerros, área para atividades de saúde (vacinação, aplicação de remédios etc.). Deve-se observar, durante a construção do centro de manejo, o tipo de piso, as divisões entre as áreas, altura do teto e paredes. Esses elementos são imprescindíveis para que a instalação per- mita a realização das atividades. Um piso de fácil manutenção e limpeza, por exemplo, diminui significativamente a contamina- ção dos animais por fezes. Figura 5.7 – Centro de manejo Fonte: Shutterstock.com/ NATTAPON JUIJAIYEN – 99 – Bubalinocultura 2 Cercas Apesar de serem animais conhecidamente dóceis, a transposi- ção dos búfalos por meio das cercas de contenção não é rara. Por isso, é importante que sejam dimensionadas e construídas de maneira correta. Bubalinos não tendem a passar pela cerca pulando, preferem tentar derrubá-la e, por isso, as partes mais baixas do cercamento merecem atenção. Nesses locais, os ani- mais tendem a fazer mais força para rompê-la. A altura entre um fio e outro da cerca não deve ser maior que 20 cm e podem ser feitas de arame liso ou farpado. A distância entre os mourões não deve ultrapassar os 2 m. 2 Cocho Os cochos para suplementação animal devem estar distribuí- dos no pasto, em locais de fácil acesso, ou no próprio centro de manejo, a depender do sistema ade criação a ser adotado. Caso se opte pela alocação dos cochos no centro de manejo, eles devem ser colocados no curral, no bezerreiro ou no abrigo e nesses casos é importante que se mantenha acesso facilitado dos animais ao cocho, além de um dimensionamento que atenda às necessidades dos animais que estejam abrigados. Em regiões de chuva mais intensa e ventos fortes, caso o cocho esteja localizado no pasto, sugere-se que ele seja cons- truído coberto com telhado e com proteção nas laterais. Em locais de pouca chuva, o cocho pode ser construído apenas com o telhado. Para qualquer tipo de cocho que seja construído em área externa, é fundamental que sejam localizados em áreas de boa drenagem, de fácil acesso e dimensionado para tender todos os animais. Além disso, sempre que viável, é interessante que o cocho esteja relativamente afastado da fonte de água, pois, dessa maneira, os animais têm eu deslocar mais entre a água e o cocho, percor- rendo mais área do pasto e consumindo a pastagem de maneira mais distribuída. Técnicas de Produção Animal – 100 – Figura 5.8 – Cocho de alimentação construído em área de manejo Fonte: Shutterstock.com/Pataporn Kuanui Síntese Os búfalos são animais que possuem ótimas características de produ- ção de leite e de carne, além de demonstrarem enorme aptidão para o tra- balho de carga. Essas particularidades somadas à adaptabilidade a diver- sas condições ambientais, altas taxas de reprodução e natalidade, além da docilidade, colocam o rebanho bubalino como um grupo muito promissor na pecuária nacional. Apesar de ser uma atividade ainda pouco desenvolvida pela maioria dos produtores, com baixa tecnologia e investimento, já apresenta números de produtividade maior que a cadeia produtiva de carne bovina. Ademais, os principais produtos como carne e leite começam a ocupar papel de destaque no comercio nacional por apresentarem excelente valor nutricional. No momento atual, as ações mais importantes para alavancar a indús- tria e o mercado consumidor são duas: desenvolver uma cadeia de pro- dução mais especializada, voltada diretamente para o mercado bubalino, com tecnologia e qualidade e desenvolver o mercado consumidor para as pessoas tenham mais consciência das vantagens que se tem ao consumir esses produtos. – 101 – Bubalinocultura Atividades 1. Cite e explique alguns benefícios da criação de búfalos. 2. Explique as vantagens da carne e do leite provenientes de bubalinos. 3. Comente com suas palavras como acontece o processo de aman- samento dos búfalos que são utilizados em atividades agrícolas. 4. Explique resumidamente como devem ser a instalações para criação de búfalos. 6 Avicultura e suinocultura A avicultura e a suinocultura são atividades tradicionais na cultura brasileira, tendo seus primeiros registros remontados à época da colonização. Por conseguinte, o Brasil tem sido des- taque no mercado internacional nos últimos anos e, atualmente, ocupa a segunda posição no ranking mundial de produção de carne de frango e é líder em exportação desse produto; a suini- cultura não fica atrás, sendo a carne de porco brasileira a quarta maior produção e exportação no mundo. Ainda que ambas tenham sido iniciadas como atividades basicamente manuais e voltadas para a subsistência das famílias, o que se vê hoje é uma tecnificação cada vez maior. Novas tec- nologias, aliadas à seleção de animais com genéticas voltadas para a produção, têm colaborado para uma maior consolidação do mercado nacional. Nesse capítulo, serão abordados temas relevantes sobre a produção, sistemas de manejo e instalações voltadas para a cria- ção de aves e suínos. Técnicas de Produção Animal – 104 – 6.1 Importância socioeconômica A avicultura é uma atividade de extrema importância na produção nacional, por ocupar papel de destaque na cadeia do agronegócio brasi- leiro. Trata-se da criação de aves, envolvendo a reprodução, a criação pro- priamente dita, o abate e a comercialização, sejam de animais vivos ou de produtos, como carne e ovos. A primeira informação que se tem notícia sobre a existência de aves de criação no Brasil remonta aos tempos da colonização portuguesa em terras brasileiras. Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada portuguesa conduzida por Pedro Alvares Cabral, registrou em suas anotações o pri- meiro contato dos nativos indígenas que aqui habitavam com animais tra- zidos pelos portugueses a bordo de suas embarcações. Em uma dessas passagens, Caminha narra: Mostraram-lhes um papagaio pardo que o capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os hou- vesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele. Mos- traram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não queriampôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados (ASSOCIA- ÇÃO BRASILEIRA DE PROTEINA ANIMAL, 2019). No início da avicultura, os animais eram criados de maneira rudi- mentar, nos quintais das casas e exclusivamente para consumo próprio das famílias (figura 6.1). Ainda que existisse um escasso comer- cio de aves, os preços praticados não eram acessíveis a todos. Com o passar dos anos e com o crescimento da economia e da população, percebeu-se a neces- sidade de investir na produção animal com fins comerciais. Em virtude da febre do ouro e da mineração em Minas Gerais, houve também um aumento da criação de animais para abaste- cer o mercado interno. Por isso, nessa mesma época, o estado de Minas Figura 6.1 – Galinhas criadas em quintal Fonte: Shutterstock.com/ Luis War – 105 – Avicultura e suinocultura Gerais era o maior produtor de aves no país, abastecendo não só a popula- ção local, mas quase todo o território nacional. O desenvolvimento da avicultura no Brasil começou a se consolidar ao final da década de 70, quando empresas processadoras de alimentos chegaram ao mercado nacional, especializando o processo de produção de frango, principalmente. A chegada dessas companhias, aliada a um maior avanço tecnológico, desenvolvimento de material genético e criação de técnicas de produção também alavancaram o setor. Nessa mesma época, em Santa Catarina, foi estabelecido o Sistema de Integração Vertical na avicultura, que constitui em uma parceria entre empresas e produtores. Nesse modelo de integração, as empresas fornecem os insumos necessá- rios para o avicultor e ele, por sua vez, envia a produção final para proces- samento nessas empresas. De acordo com Zen et al (2014), esse sistema integrado de produção colaborou para o desenvolvimento da avicultura nacional, especialmente no que se refere à biossegurança, sanidade animal e qualidade dos produ- tos. Essa integração promoveu uma maior organização da criação, estabe- lecendo padrões de manejo e boas práticas, além de auxiliar os avicultores com assistência técnica de qualidade. Segundo o relatório técnico da Companhia Nacional de Abasteci- mento (CONAB), o Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de produção de carne de frango e é líder em exportação desse produto. Dados do IBGE mostram que em no primeiro trimestre de 2018 foram abatidas 1,48 bilhão de cabeças de frango e, apesar de algumas quedas em alguns trimestres, desde 2013 (1,29 bilhões de cabeças) até 2018 pode-se observar um aumento no abate de frangos no Brasil. Ainda em 2018, a região Sul responde por aproximadamente 60% do abate nacional. Em seguida temos a região sudeste, com 19%, Cen- tro Oeste (14,5%), Nordeste (3,9%) e Norte (1,7%). Quando se analisa especificamente a região Sul, o estado do Paraná se destacou com o maior número de abates (31,5%), Santa Catarina e Rio Grande do sul abateram 14,4% cada (IBGE, 2018). Algumas condições favoráveis contribuem para que o Brasil tenha destaque na produção de aves. O clima propício e as regiões com relevos Técnicas de Produção Animal – 106 – planos são fatores ambientais que contribuem fortemente para o sucesso da atividade. Ademais, por ser o maior produtor de soja e terceiro maior produtor de milho no mundo (CONAB 2018); a avicultura no Brasil tem se consolidado no mercado internacional, uma vez que esses grãos consti- tuem aproximadamente 95% das rações comerciais de frangos. Assim como a avicultura, a suinicultura é uma atividade bastante antiga que acompanha toda a história da civilização humana. Acredita-se que desde o ano 5.000 a.C. humanos e suínos já conviviam harmonica- mente, sendo estes já utilizados como animais domésticos (figura 6.2). Estudiosos acreditam que a domesticação do porco tenha se iniciado no oriente, especialmente na China e a dispersão dessa atividade tenha se dada de maneira facilitada porque suínos são animais onívoros, o que faci- lita sua alimentação em diversas regiões. Figura 6.2 – Criação de suínos em ambiente aberto Fonte: Shutterstock.com/ Karelian No Brasil, esses animais chegaram juntamente com a frota de Mar- tim Afonso de Souza, em 1532. Eram animais europeus, desenvolvidos e adaptados ao clima da região de Portugal e, ao chegarem e se reproduzi- rem no Brasil, foram definindo e selecionando as melhores características para o nosso país. A carne suína é a proteína animal mais consumida mundialmente. Mais de 100 milhões de toneladas são produzidas por ano, sendo metade produzida na China, seguido por União Europeia e Estados Unidos. Nesse – 107 – Avicultura e suinocultura cenário, o Brasil ocupa a quarta posição na produção e exportação de carne suína, 3,2 e 12,5%, respectivamente. Com relação ao consumo nacional, ainda se observa uma menor pro- cura pela carne suína em comparação às carnes de frango e bovina. Con- tudo, desde 2009 tem aumentado a demanda pela carne de porco, o que pode ser explicado pelo maior conhecimento do mercado consumidor acerca dos benefícios dessa carne, além do aumento do poder aquisitivo das classes C e D, que passaram a procurar fontes proteicas de maior qualidade. 6.2 Avicultura Como já mencionado anteriormente, nos primórdios a avicultura era basicamente uma atividade familiar, na qual a criação das aves era feita em quintais, sítios e chácaras, de maneira extensiva. Os animais eram criados soltos e sua alimentação era baseada no se tinha disponível no ambiente, como insetos e pequenos vertebrados, e, ocasionalmente, grãos. Esse modo de criação fazia com que o abate acontecesse após os 6 meses de idade das aves. Atualmente, ainda se encontra muitas propriedades que criam dessa maneira, mas em geral trata-se de uma produção de subsistên- cia ou para abastecimento de um mercado mais próximo, menor e restrito. Para um consumo em maior escala, que atenda à demanda das grandes cidades, o mais comum é a avicultura comercial (figura 6.3). Figura 6.3 – Galpão de granja comercial Fonte: Shutterstock.com/David Tadevosian Técnicas de Produção Animal – 108 – Para abastecer um mercado em expansão, com uma grande demanda de carne de frango, criadores e indústrias vêm, ao longo dos anos, apri- morando o manejo de criação desses animais. O melhoramento genético, a utilização de novas tecnologias e o aperfeiçoamento da gestão alimentar têm contribuído para a produção de animais cada vez mais precoces e com índices zootécnicos satisfatórios. Entretanto, isso tem gerado tam- bém controvérsias quanto à sanidade desses produtos. Ainda há um pen- samento generalizado de que animais criados em granjas são submetidos a doses de hormônios e antibióticos como forma de melhorar os índices de produção, mas já se sabe que não é verdade. Os resultados obtidos são fruto de cuidados, como melhoramento genético e alimentação, entre outros. Indústrias sérias e produtores comprometidos com a saúde animal e humana fazem uso de tecnologias limpas e aprovadas pelos órgãos de controle e segurança alimentar. 6.2.1 Produtos 6.2.1.1 Carne A carne de frango é um dos alimentos mais comuns na dieta do bra- sileiro. É um alimento com elevada qualidade nutricional, de alta dispo- nibilidade e baixo custo. Com relação à questão nutricional, ressalta-se o baixíssimo percentual de gordura dessa carne, na qual a cada 100 gramas de peito de frango, apenas 1% corresponde à gordura. Ademais, é um ali- mento rico em aminoácidos e proteínas, vitaminas do complexo B e mine- rais (ferro, potássio, zinco, entre outros). O abate dos animais para comercialização da carne varia de acordo com as necessidades do mercado consumidor e com o tipo de produto ofertado pelo criador. Indústrias de processamento, restaurantes e outras demandas informam ao produtor o tipo de carne desejada (tamanho, cortes, idade etc.) e este pode se organizarao longo do ciclo produ- tivo para oferecer o produto desejado. Por exemplo, frangos de granja já podem ser abatidos a partir de 1kg de peso vivo, que normalmente acontece quando a ave está com 28 a 42 dias de idade. Por sua vez, o frango caipira tende a ser abatido mais tardiamente, entre 1,8 e 2 kg, um pouco antes dos 120 dias, uma vez que esses animais são criados soltos, – 109 – Avicultura e suinocultura geralmente com uma alimentação a base de pasto e de pequenos ani- mais., como insetos, aranhas, minhocas etc. Dessa maneira, a engorda acontece de maneira mais lenta o que, consequentemente, estende o período de criação. Como será visto posteriormente, a criação de aves para abate pode ser classificada de acordo com três sistemas praticados atualmente (extensivo, intensivo e semi-intensivo). 6.2.1.2 Ovos A produção de ovos tem dois objetivos principais: a perpetuação da espécie por meio dos descendentes e o consumo humano direito e/ ou indireto (figura 6.4). Apesar de existirem diversos animais ovíparos (aqueles em que os embriões se desenvolvem dentro de ovos, fora dos organismos da mãe), as aves são os de maior interesse para o homem. Dentre as aves, as galinhas se destacam como fonte de produção de ovos para consumo humano. O ovo é uma importante fonte de proteína, gordura, vitaminas e minerais combinados a poucas calorias e baixo valor de compra. No Bra- sil, em 2010, o consumo de ovos por habitante era de aproximadamente 148 em um ano. Já em 2017, esse número subiu para 192 ovos per capita. Esse aumento pode ser explicado pela maior conscientização da popula- ção acerca dos benefícios desse alimento. Uma produção de sucesso depende de alguns fatores básicos, como qualidade da ração/alimento fornecidos às galinhas poedeiras, sanidade animal, genética e instalações. Dentre esses, podemos destacar dois fato- res elementares: alimentação e genética. A ração constitui o principal custo de produção e influencia na qua- lidade do produto final. Uma vez que a maioria dos produtores prepara a ração nas propriedades, é de fundamental importância que sejam seguidas as proporções de cada constituinte, bem como o fornecimento em quan- tidades adequadas. A genética desses animais, por sua vez, está presente não só na coloração dos ovos, mas também em algumas outras caracte- rísticas, como capacidade de postura dessas aves, resistência a doenças e enfermidades, quantidade e tamanho de ovos, entre outros. Técnicas de Produção Animal – 110 – Figura 6.4 – Produção industrial de ovos de galinha Fonte: Shutterstock.com/N-sky 6.2.2 Manejo De acordo com Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR, 2015), o sistema de produção de frangos de corte pode ser classificado em três tipos distintos: sistema independente, cooperativo e integrado. No sistema independente, todo o processo fica sob os cuidados do criador. Tanto a aquisição de pintos, quanto a ração, instalações, mão de obra e abate são de inteira responsabilidade do avicultor. O sistema cooperativo inclui o criador na organização e nas decisões sobre a criação e fornecimento dos animais. Há o papel-chave da coopera- tiva nesse tipo de sistema, e ela tem como função básica o fornecimento e insumos. Como cooperado, o criador tem direito à participação nos lucros e demais decisões sobre investimento dentro da cooperativa. Por último, no sistema de integração, a empresa responsável pela industrialização da carne fornece ao criador pintos de um dia juntamente com a ração, além de assistência técnica. As instalações, bem como os equipamentos, a criação em si e a mão de obra ficam sob responsabilidade do criador. Ao final, o abate fica a encargo da empresa (figura 6.5). Nesse sistema, o pagamento ao criador é feito de acordo com o desempenho zootécnico de cada lote de animal fornecido. – 111 – Avicultura e suinocultura Figura 6.5 – Indústria de processamento de carne de frango em Santa Catarina Fonte: Shutterstock.com/Alf Ribeiro Com relação aos sistemas de criação, assim como na pecuária, a avi- cultura pode ser conduzida de três maneiras distintas – sistema extensivo, intensivo e, o mais recente, sistema semi-intensivo. Saiba mais Você se lembra? - Sistema Extensivo: Animais são criados livres, sem uso de tecnologia para incremento de produção. Normalmente os animais se alimentam do que tem disponível no ambiente e, por isso, os índices de produtivi- dade geralmente são mais baixos. Nesse sistema o mais comum é que a produção seja voltada para consumo próprio - Sistema Intensivo: Também conhecido como “confinamento”, é aquele no qual os animais ficam presos a um local específico durante toda a criação, e a alimentação é fornecida através da ração. Trata-se de um sistema com altas taxas de produtividade, uma vez que exige maior investimento em instalações, alimentação e sanidade animal. No sistema semi-intensivo, mais recentemente criado, os animais têm maior grau de liberdade e, ao mesmo, tempo, são empregadas algumas técnicas de criação voltadas para um desempenho zootécnico satisfató- rio. O mais comum nesse tipo de criação é que as aves tenham acesso Técnicas de Produção Animal – 112 – a áreas livres de pastejo durante parte do dia, mas que também sejam alimentadas com ração e confinadas durante a noite. Essa nova alternativa aos sistemas mais conhecidos na avicultura surgiu nos últimos anos em virtude de uma crescente demanda por parte do mercado consumidor por alimentos mais saudáveis, com menos utiliza- ção de químicos e com grande preocupação com o bem-estar dos animais. 6.2.3 Instalações Criadores que utilizam o sistema intensivo ou semi-intensivo preci- sam garantir alguns aspectos básicos para desenvolvimento dos animais. Dentre eles, tem-se as instalações físicas destinadas aos animais, como a cama de maravalha e o espaço onde os animais serão acondicionados. A cama de maravalha é feita de raspas de madeiras, maiores que a ser- ragem, e funcionam como uma esponja, uma vez que absorvem a umidade dos dejetos, dos alimentos e da água que caem no solo (excesso de umidade favorece a produção de amônia no ambiente, prejudicando as vias respiratórias das aves). Além disso, servem como conforto tér- mico, retendo calor e protegendo os animais do frio. De acordo com o SENAR (2015), o ideal é que no verão a cama tenha 5 cm de altura e que no inverno esse número dobre (10 cm). Com relação à construção do aviário, é importante que ela seja feita no sentido leste-oeste, a fim de se evitar a incidência excessiva de raios solares e, consequente- mente, o superaquecimento do ambiente. É importante que sejam tomadas medidas que impeçam a entrada de água, bem como de outros animais. Para tanto, sugere-se a construção de muretas e aplicação de telas nas laterais (figura 6.6). Figura 6.6 – Instalação para frangos Fonte: Shutterstock.com/ IRIT3530 – 113 – Avicultura e suinocultura 6.3 Suinocultura A suinocultura brasileira cresceu e vem crescendo significativamente nos últimos anos. Segundo dados do governo brasileiro, de 2016 a 2018 o Brasil teve um aumento de 1,5% na produção de carne suína, represen- tando um acréscimo de 130 mil toneladas entre esse período. A criação de suínos praticada no passado seguiu essa evolução e hoje temos técnicas e modelos de negócio diferenciados, que buscam a coor- denação das atividades entre produtores, indústrias e consumidores. Todo esse desenvolvimento da cadeia suinícola brasileira possibilitou um esta- belecimento cada vez mais sólido desse mercado, bem como uma econo- mia mais competitiva. 6.3.1 Carne A carne suína é a fonte de proteína animal mais consumida no mundo e o Brasil é protagonista nesse cenário, sendo o quarto maior produtor, precedido de China no topo do ranking,União Europeia e Estados Unidos, respectivamente segundo e terceiro lugares. Técnicas de seleção e o próprio melhoramento animal nos suínos tiveram início no século passado, com a utilização de raças puras. Por causa de uma maior pressão da sociedade por animais mais saudáveis e com maior valor nutricional, produtores, pes- quisadores e indústrias vêm, ao longo das últimas décadas, aperfeiçoando linhagens que possam atender a esse novo perfil de consumo. Desde então, os suínos vêm apresen- tando menor teor de gordura e mais massa muscular, princi- palmente naqueles cortes mais comerciais como o pernil e o lombo. Figura 6.7 – Processamento de carne de porco Fonte: Shutterstock.com/Ivan Nakonechnyy Técnicas de Produção Animal – 114 – Essa variação ao longo dos anos é facilmente perceptível quando se compara os animais mais primitivos, que possuíam por volta de 40% de massa magra e 5 centímetros de espessura de gordura, e os suínos criados e comercializados atualmente, com 60% de carne magra e entre 1 e 1,5 centímetros de gordura. 6.3.2 Manejo A suinocultura no Brasil é praticada basicamente de duas maneiras: industrial – tecnificada e voltada para grandes empresas processadoras de alimentos – ou de subsistência – desenvolvida em pequenas proprieda- des familiares (figura 6.7). De acordo com pesquisadores da EMBRAPA (MIELLE, 2011), a suinocultura industrial tem crescido nos últimos 40 anos, especialmente nas regiões produtoras onde são presentes indústrias e cooperativas. Entretanto, a suinocultura de subsistência vem diminuindo substancialmente, perdendo espaço na produção suinícola nacional. O que se pode observar é que não necessariamente os pequenos cria- dores estão abandonando a atividade, mas que estes têm cada vez mais se integrado à cadeia industrial, trabalhando em parceria ou integrados a cooperativas e grandes empresas. Por exemplo, na região Sul do país, vem ocorrendo uma mudança no ciclo de produção desses animais. Até os anos 90, o mais frequente nas propriedades criadoras de suínos era que o animal desenvolvesse o ciclo completo (nascimento até terminação) em um único local. Com a ascensão da suinocultura industrial, a produção tem se tornado mais especializada e dividida em etapas. Hoje, é comum encontrar propriedades especializadas em etapas do ciclo do animal, como unidades produtoras de leitão (UPL) e unidades de crescimento e termi- nação (UCT). Para Carvalho e Viana (2011), os sistemas de criação de suínos podem ser divididos em sistema extensivo, sistema semiextensivo, sistema inten- sivo de criação de suínos ao ar livre (SISCAL) e sistema intensivo de suínos confinados (SISCON). O sistema extensivo é semelhante aos demais sistemas extensivos de outras espécies. Caracterizado por pequenas propriedades, voltados à sub- sistência e com pouco incremento tecnológico; machos e fêmeas, filhotes – 115 – Avicultura e suinocultura e adultos são criados juntos. Os animais são alimentados com sobras de alimentos e restos das pequenas lavouras. O conhecimento é adquirido de geração para geração, com pouca ou nenhuma assistência técnica. Todos esses fatores resultam em uma baixa produtividade de carne (figura 6.8). Figura 6.8 – Animais pastando em sistema extensivo Fonte: Shutterstock.com/Karelian No sistema semiextensivo, por outro lado, já ocorre uma separação dos animais de acordo com sexo e idade. Alguns animais, dependendo da fase em que estão, têm acesso aos piquetes e não ficam confinados 100% do tempo (figura 6.9). Por exemplo, fêmeas não- -prenhes, gestantes, machos reprodutores têm livre acesso ao ambiente externo (delimi- tado por piquetes e cercas); por outro lado, fêmeas lactantes e animais em fase de terminação ficam confinados. A reprodu- ção não ocorre totalmente de maneira aleatória, pois o pro- dutor se preocupa em selecionar os melhores animais que passarão adiante a melhor genética. Há um maior investimento em instalações e tecnologia de baixo custo. Como consequência, em comparação ao sistema anterior, este apresenta maiores taxas de crescimento e maior qualidade ao produto. Figura 6.9 – Animais de mesmo sexo e idade em ambiente externo Fonte: Shutterstock.com/ acceptphoto Técnicas de Produção Animal – 116 – O SISCAL é um método mais recente se comparado aos outros tipos, mas que nos últimos anos vem sendo adotado por muitos criado- res em razão do bom desempenho produtivo dos animais, do baixo custo de implementação e manutenção do sistema e da sanidade animal. Nesse sistema, os animais são mantidos em piquetes, o que permite maior mobi- lidade pelo terreno (nas fases de reprodução, maternidade e creche); ani- mais adultos em fase de crescimento e terminação são mantidos confina- dos. É necessária a atenção para algumas prerrogativas do sistema, como, por exemplo, a instalação dos piquetes em solos com baixa declividade (menor que 15%) e com boa capacidade de drenagem. Além de utilizar gramíneas mais resistentes ao pisoteio animal e que sejam de qualidade e palatável (figura 6.10). Figura 6.10 – Exemplificação do sistema SISCAL Fonte: Shutterstock.com/ Steven Frame No SISCON, os animais são mantidos em confinamento durante todo o ciclo de produção com o objetivo de se obter animais mais precoces, com ganho de peso em menos tempo. Por isso, os suínos são mantidos presos, em espaço reduzido para evitar grande movimentação e atividade do ani- mal. Aliado a isso, tem-se uma alimentação rigorosamente quantificada e adequada a cada fase específica. Trata-se de um sistema com alto custo de implementação, visto que demanda uma área específica para os animais, bem como locais para armazenamento de ração e medicamentos; além de mão de obra especializada e animais com genética melhorada para atin- girem altas taxas de produtividade. O alto custo, os impactos ambientais – 117 – Avicultura e suinocultura (principalmente concentração de dejetos) e o bem-estar animal praticamente inexistente são as principais desvantagens desse sistema (figura 6.11). Figura 6.11 – Animais em confinamento Fonte: Shutterstock.com/ C.Lotongkum 6.3.3 Instalações Independentemente do tipo de sistema que será adotado, inclusive para modelos extensivos, é necessária a construção de instalações para abrigar os animais em determinados períodos, como em época de chuva, frios e ventos (sistema extensivo) ou durante fases de produção, como gestação, pré-parto, lactação, entre outros. Sugere-se que sejam destinados locais específicos, no mínimo, para fêmeas gestantes, recém-paridas (maternidade), filhotes (creche) e cresci- mento e terminação (animais adultos). Esses ambientes devem ser constru- ídos em locais altos, com boa ventilação, drenagem e declividade. Todos esses quesitos buscam principalmente facilitar o escoamento de dejetos, da água de limpeza e dos gases produzidos pelos próprios animais. Síntese Nos primeiros anos da criação de aves e suínos no Brasil, os animais eram criados de maneira rudimentar, nos quintais das casas e exclusiva- mente para consumo próprio das famílias. Com o passar dos anos e com Técnicas de Produção Animal – 118 – o crescimento da economia e da população, percebeu-se a necessidade de investir na produção animal com fins comerciais. O desenvolvimento da avicultura no Brasil teve início no final da década de 70, quando empre- sas processadoras de alimentos chegaram ao mercado nacional, trazendo maior avanço tecnológico, desenvolvimento de material genético e cria- ção de técnicas de produção também alavancaram o setor. A carne de frango e os ovos são alimentos comuns na dieta do brasi- leiro. Possuem elevada qualidade nutricional, alta disponibilidade e baixo custo. A carne apresenta baixo percentual de gordura, além de ser rica em aminoácidos e proteínas,vitaminas do complexo B e minerais. Os ovos são fonte de proteína, gordura, vitaminas e minerais combinados a poucas calorias e baixo valor de compra. A carne suína vem passando por intensas modificações para atender a um mercado cada vez mais exigente em alimentos de qualidade, nutritivos e que respeitem o bem-estar animal. Desde então, os suínos vêm apre- sentando menor teor de gordura e mais massa muscular; e as técnicas de manejo vem sendo aperfeiçoadas. Atividades 1. Comente as diferenças entre a criação de aves nos primeiros anos de colonização português e os tempos atuais. 2. Explique com suas palavras como se caracteriza o sistema semi- -intensivo de criação de aves e qual o seu benefício quando com- parado ao sistema intensivo. 3. Descreva resumidamente como devem ser as instalações básicas para criação de suínos e aves. 4. Explique resumidamente os sistemas de criação de suínos. 7 Piscicultura e ranicultura Conforme estudado nos capítulos anteriores, o Brasil tem ocupado um papel de destaque nas produções de carne bovina, suína e frango. Contudo, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), até o ano de 2017, a pro- dução de peixes e outros organismos aquáticos, como moluscos, crustáceos e anfíbios, tem apresentado um desempenho inferior ao previsto. Esses baixos valores produtivos influenciam direta- mente na inserção brasileira no mercado internacional. Apesar dos números poucos favoráveis, houve crescimento na produção. Nesse ponto, o Brasil se destaca como um país com altíssimo potencial para a aquicultura e pesca no geral, em razão do mercado doméstico cada vez mais consolidado para o consumo desses produtos, bem como pela elevada produção de grãos que contribui para a indústria de ração animal. O clima predominantemente tropical e a disponibilidade hídrica também são fatores que colaboram para um alto potencial de crescimento. Técnicas de Produção Animal – 120 – Os benefícios citados, aliados a uma maior organização da cadeia produtiva, estabelecimento de políticas públicas efetivas e maior partici- pação e apoio do governo ao setor, certamente contribuiriam para o desen- volvimento da cadeia produtiva. A aquicultura envolve a produção de diversos organismos aquáticos, mas nesse capítulo, daremos ênfase ao estudo da ranicultura e da pisci- cultura, abordando aspectos econômicos e sociais, bem como o manejo produtivo desses organismos. 7.1 Importância socioeconômica Desde a década de 1960, a agricultura e a agropecuária brasileira vêm passando por grandes transformações. Desde políticas públicas, passando pela incorporação tecnológica, até o melhoramento genético vegetal e animal, atualmente há um ambiente extremamente favorável à inovação e, por conseguinte, altas taxas de produtividade em diver- sos setores. Todas as regiões brasileiras, cada qual no seu ritmo e de acordo com suas características produtivas, apresentaram crescimento de produção, seja de áreas cultivadas, de rebanhos ou de produtos finais. Entretanto, essa vertente de crescimento não foi observada na aquicul- tura no geral. A superpopulação mundial, a maior preocupação com segurança alimentar e as crescentes discussões sobre sustentabilidade ambiental e bem-estar animal são as principais questões a serem resolvidas pelos paí- ses nos próximos anos. Dados levantados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2016) indicam que, em 2050, a população mundial será de 9 bilhões de pessoas, cuja sobrevivên- cia dependerá da produção de 470 milhões de toneladas de carne. Nesse sentido, com relação ao Brasil, espera-se cada vez mais um maior posicio- namento no mercado internacional de produção de alimentos, ao lado de China, União Europeia e Estados Unidos. Se, por um lado, a demanda de alimentos está cada vez maior, por outro, percebe-se que há também um incremento na produção mundial de alimentos. A Organização das Nações Unidas (ONU), em relatório – 121 – Piscicultura e ranicultura recente sobre a pesca e a aquicultura a nível mundial (SOFIA, 2018), aponta que a aquicultura cresce mais rápido que qualquer outro setor alimentício. Apesar disso, o Brasil não tem sido capaz de demonstrar grande participação nesse aumento de produção, ocupando, em 2018, a 13ª posição no ranking de produção de pescado (proveniente de aquicul- tura), com pouco mais de meio milhão de toneladas (figura 7.1); enquanto a China se destaca como a maior produtora mundial, com mais de 49 milhões de toneladas (FAO, 2018). Figura 7.1 – Ranking de maiores produtores mundiais na aquicultura Fonte: Relatório SOFIA (2018). No estudo das atividades produtivas dentro do ambiente aquático, a divisão pode ser feita em dois grandes grupos de atuação. Por um lado, temos a pesca, atividade baseada na retirada de recursos pesqueiros do ambiente natural; e por outro, temos a aquicultura, que com- preende o cultivo em locais específicos, muitas vezes em condições controladas de orga- nismos aquáticos com interesse econômico. Na aquicultura, várias atividades podem ser desenvolvidas de acordo com a espécie produzida, como piscicultura (criação de peixes), ranicultura Figura 7.2 – A fazenda de ostras Fonte: Shutterstock.com/Ethan Daniels Técnicas de Produção Animal – 122 – (criação de rãs), carcinicultura (criação de camarões), malacocultura (cria- ção de ostras [Figura 7.2], moluscos e mexilhões), entre outras de menor expressividade econômica. Dentro de todo cenário da aquicultura, a piscicultura se destaca como a maior atividade de produção de organismos aquáticos. Isso envolve a criação de peixes de água doce (Tilápia, Carpa, Tambaqui, Pacu, Pirarucu, etc.) e de água salgada (Beijupirá, Garoupa, Dourado, Salmão, Robalo, etc.); e pode ser desenvolvida em tanques-rede diretamente no habitat natural (rios, lagos ou mar) ou em tanques escavados (reservatório ou tan- que artificial com condições controladas). Dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, apontaram uma produção de pouco mais de 485 mil toneladas de peixes no Brasil. Os principais produtores de peixe no país são os estados do Paraná, São Paulo e Rondônia, com 20,2%, 9,8% e 8,2% da produção nacional, respectivamente. A Tilápia se destaca como a espécie mais produzida, responsável por 283 mil toneladas nesse mesmo ano, referente a 58,3% do total. Em seguida, aparece o Tambaqui (88 mil toneladas), Tambacu, Tambatinga (42 mil toneladas), Carpas (18 mil toneladas) e demais espécies, como Pintado, Surubim, Pacu, entre outros. Em um levantamento feito pela EMBRAPA (2017), em solo brasi- leiro, as espécies mais produzidas por região são: 2 Norte – tambaqui, pirarucu (figura 7.3) e pirapitinga 2 Nordeste – tilápia e camarão marinho 2 Centro-Oeste – tam- baqui, pacu e pintado 2 Sudeste – tilápia, pacu e pintado 2 Sul – carpa, tilápia, jun- diá, ostra e mexilhão Figura 7.3 – Pirarucu Fonte: Shutterstock.com/SergioRocha – 123 – Piscicultura e ranicultura A ranicultura representa outra atividade encontrada na aquicultura e refere-se à criação de rãs. No Brasil, essa atividade teve início no Rio de Janeiro, em 1935, quando o canadense Tom Cyrril Harrison importou para cá 300 casais de rã-touro americana (Lithobates catesbeianus) para iniciar a produção nacional. Esses animais deram origem ao primeiro ranário brasileiro, cha- mado Ranário Aurora, construído no município de Itaguaí. Desde a che- gada dos primeiros animais até pouco mais de 40 anos depois (1978), quase não houve avanço tecnológico na criação de rãs. Criadores indepen- dentes produziam seus animais de maneira autônoma, sem que houvesse nenhum tipo de controle produtivo ou de condições ambientais. A partir da década 70, iniciaramos primeiros estudos e grupos de discussões sobre a atividade. Diversos modelos de criação foram desenvolvidos. Nesse cenário, nos dias atuais, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de produção de rã, atrás do Taiwan, de acordo com o último levantamento do IBGE. Entretanto, entre esses dois países, há uma diferença quanto ao sistema de produção. No Brasil, os animais são mantidos confinados, enquanto no Taiwan, o sistema de manejo é o semiconfinamento. Apesar do bom posicionamento no mercado internacional, a produção brasileira em números ainda é bem pequena, alcançando pouco mais de 160 tonela- das por ano. Infelizmente, a cadeia produtiva de carne de rã tem encontrado diver- sos obstáculos na busca pela modernização do setor. Pesquisadores da Embrapa (2013) acreditam que o número reduzido de estudos socioeco- nômicos, a dificuldade de acesso ao crédito e cadastramento do produtor, a demora na obtenção de licenças ambientais e o escoamento ineficiente dos produtos são os principais gargalos da ranicultura atual. 7.2 Piscicultura O crescente consumo de pescados - principalmente de peixes – no mundo, consequência da busca por uma alimentação mais saudável, acar- Técnicas de Produção Animal – 124 – reta aumento de interesse das propriedades rurais no aprimoramento de atividades aquícolas. Há poucos anos, a criação de peixes na maioria das propriedades rurais não era tida como atividade principal. Diante disso, era possível observa que, quando não ocorria naturalmente, a colonização de açudes, rios e lagos em propriedades privadas era muitas vezes subatividades para abastecimento próprio, atividades recreativas, entre outras. Dessa maneira, os poucos criadores de peixes e demais pescados existentes ainda mantinham suas produções sem muita tecnologia e, consequentemente, com resultados inferiores. Não obstante, entre os anos 80 e 90, teve início no Brasil um significa- tivo avanço na cultura de produção de peixes, especialmente da tilápia, que se destaca como a espécie mais consumida nacionalmente até os dias de hoje. Sabe-se que esse animal tem apresentado ótimo desempenho na pro- dução aquícola nacional e mundial. No Brasil, a Tilápia do Nilo encontrou condições ótimas para desempenhar todo seu potencial produtivo, pois é uma espécie com alta adaptabilidade, que consegue se desenvolver em diferentes ambientes. Ademais, a Tilápia é um peixe onívoro (alimenta-se de diversos tipos de alimentos, como vegetais e animais), o que facilita a alimentação visto que não é um animal com restrições alimentares. Ade- mais, são peixes rústicos, dóceis e precoces. Saiba mais Tilapicultura no Brasil A produção de Tilápia teve início no Brasil em meados da década de 70, com a introdução da Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) (Figura 7.4) e da Tilápia de Zanzibar (Oreochromis hornorum). Os primeiros organismos foram trazidos para o Brasil com o intuito de produzir ale- vinos para o repovoamento de reservatórios da região Nordeste, que auxiliariam como alternativa à alimentação da população nordestina, bem como fomento ao cultivo e desenvolvimento da atividade. Na década de 1980, já havia populações consideráveis de Tilápia no Nordeste, além das estações de piscicultura em São Paulo e Minas – 125 – Piscicultura e ranicultura Gerais. Alguns exemplares de alevinos foram distribuídos a produtores rurais para repovoamento de outras áreas e comercialização. A partir de então, a Tilápia teve rápida distribuição em diversos estados bra- sileiros, inclusive nos estados do Sul do Brasil. Nessa época, então, a Tilapicultura deixou de ser uma atividade voltada exclusivamente para repovoamento e complementação de renda, e passou a ser enxergada como atividade principal para a exploração comercial. Em 1990, graças à difusão da técnica de reversão sexual (manipulação do sexo dos peixes para que todos sejam machos e alcancem o peso final para abate mais precocemente),a produção de Tilápia passou a atingir níveis zootécnicos extremamente satisfatórios. No estado do Paraná, a Tilapicultura surgiu com mais força com foco industrial. Nos municí- pios de Toledo e Assis Chateaubriand, foram construídos os primeiros frigoríficos voltados exclusivamente para o processamento de Tilápia. Dados de 2018, levantados pela associação Brasileira de Piscicultura, apontam o Brasil como o quarto maior produtor mundial de Tilápia (atrás da China, Indonésia e Egito) e a região Sul como líder no cená- rio nacional. O estado do Paraná lidera o ranking nacional como o maior produtor. (IPEA, 2017) Figura 7.4 – Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) Fonte: Shutterstock.com/neenawat khenyothaa Técnicas de Produção Animal – 126 – 7.2.1 Manejo Por serem animais que se desenvolvem completamente na água, a qualidade dela é de extrema importância para o sucesso da piscicultura. Os parâmetros de qualidade de água avaliados podem ser divididos em dois grandes grupos: físicos e químicos. Dentro dos parâmetros físi- cos, os mais importantes são temperatura, cor e turbidez. Os parâmetros químicos, por sua vez, compreendem pH, dureza, oxigênio dissolvido e amônia. Abaixo, temos uma breve explicação sobre cada um deles: 2 temperatura – a temperatura tem dois grandes papéis no ambiente aquático. Primeiro, porque as reações químicas ocor- ridas nesse ambiente (Ex. respiração e transporte de oxigênio) são estritamente dependentes da temperatura. Caso ela atinja níveis acima ou abaixo do desejável, os organismos podem ces- sar seu desenvolvimento, podendo causar a morte. A segunda importância do controle da temperatura diz respeito às ativida- des fisiológicas dos animais, nesse caso em especial, dos pei- xes (como digestão, reprodução e alimentação). Temperaturas acima ou abaixo da faixa ótima reduzem o desenvolvimento dos animais. 2 cor – a cor ótima varia em função da espécie cultivada. Por exemplo, Carpas e Tilápias se desenvolvem melhor em ambientes aquáticos com água de coloração esverdeada, pois a cor verde é característica da presença de alimento natural favorável ao desenvolvimento dessas espécies. Ambientes com água de coloração azulada também são propícios para o desen- volvimento de peixes, e a cor azul também indica a presença de outras espécies de alimento natural. Por sua vez, águas muito cristalinas não são indicadas, pois a ausência de colo- ração indica baixa produtividade de plânctons e fitoplâncton (alimentos naturais). 2 turbidez – água turva é aquela que apresenta uma coloração mais escura e densa, não permitindo a passagem de luz. Ou seja, quanto mais turva a água, menor transparência. Quando a luz não consegue transpassar a água, isso impede o desenvolvi- – 127 – Piscicultura e ranicultura mento de alimento natural, como o fitoplâncton, e consequente- mente, inviabiliza o desenvolvimento dos peixes. 2 pH – o pH é uma maneira de medir a acidez e a alcalinidade de uma substância. No caso da piscicultura, é a medida de quão ácida ou básica (alcalina) a água está. A água pura, por exemplo, possui pH 7, que é um valor neutro e encontra-se exatamente na metade da escala que vai de 0 a 14. A água marinha possui em média pH que varia de 7,5 a 8,5, ou seja, é uma substância alcalina, pois o pH está acima de 7. A água de rios e lagos (água doce) tende a apresentar pH entre 6 e 7, ou seja, um pouco mais ácida. Ressalta-se que os valores apresentados acima são a título exemplificativo, em que o pH deve ser sempre medido de acordo com cada tanque ou local de criação, e a medição deve ser feita no mínimo de uma a duas vezes por semana. 2 dureza – a dureza pode ser definida, resumidamente, como a concentração de minerais dissolvidos na água e a sua capa- cidade de resistir às variações de pH. Os minerais,principal- mente cálcio e magnésio, são essenciais para o estabelecimento do fitoplâncton. Águas com valores muito baixos de dureza (aproximadamente menos que 20mg/L) tendem a não conter esses organismos. 2 oxigênio dissolvido – os peixes respiram o oxigênio presente na água. Por isso, é o gás mais importante em tanques ou viveiros de cultivos. O oxigênio consegue estar presente no meio aquá- tico através da penetração direta proveniente do ar atmosférico, bem como por meio da fotossíntese que ocorre dentro da água, realizada por organismos vegetais que se desenvolvem ali, como microalgas. A temperatura tem grande influência na quantidade de oxigênio dissolvido disponível para os peixes e, de modo geral, quanto menor a temperatura, mais oxigênio estará pre- sente no meio; em temperaturas mais elevadas, menor quanti- dade de oxigênio terá a água. Normalmente, valores de oxigênio dissolvido entre 0 e 1,0 mg/L são letais para os animais; entre 1,0 e 5,0 mg/L há sobrevivência, porém, o desempenho zoo- Técnicas de Produção Animal – 128 – técnico é baixo; acima de 5,0 mg/L é a faixa ótima para pleno desenvolvimento dos peixes. 2 amônia – a amônia é um composto tóxico para diversos organis- mos aquáticos, não só para os peixes. Usualmente, é proveniente das fezes excretadas pelos animais e também de fertilizantes que são adicionados aos tanques de cultivo. Além de afetar direta- mente os animais por seu alto grau de toxidez, a amônia em meio aquático também provoca o consumo do oxigênio dissolvido na água. Valores de amônia acima de 0,1 mg/L já são considerados tóxicos para criação de peixes. 7.2.1.1 Sistemas de produção Os sistemas de produção de peixes se assemelham aos sistemas já estudados em capítulos anteriores. Podem ser de três tipos principais, a saber: sistema extensivo, sistema semi-intensivo e sistema intensivo. A classificação leva em consideração fatores como densidade de animais, tipo de alimentação, manejo e resultados de produtividade. O sistema extensivo tem como características a baixa densidade populacional de peixes e as espécies criadas dependem exclusivamente do alimento natural desenvolvido no ambiente. Habitualmente, a criação é feita em açudes, represas ou reservatórios, com pouco ou nenhum uso de tecnologia. No sistema semi-intensivo, a densidade de peixes é um pouco maior se comparada ao sistema anterior (extensivo). A alimentação natural não é mais a única fonte de alimento, em que é fornecida ração como com- plementação alimentar. De forma geral, a criação é feita em viveiros já construídos para esse fim. Algumas alternativas tecnológicas são imple- mentadas, como o controle de alguns parâmetros de qualidade de água. O sistema intensivo é caracterizado pela alta densidade de animais em viveiros construídos especificamente para a criação de peixes. A ali- mentação é feita com reação comercial e os controles de parâmetros físi- cos e químicos são verificados frequentemente. Em muitos casos, há a utilização de aparatos tecnológicos, como máquinas para aeração da água. – 129 – Piscicultura e ranicultura 7.2.1.2 Instalações A piscicultura pode ser realizada em água doce ou salgada, na qual o tipo de instalação varia em função da espécie escolhida e o local (quadro 7.1). Em cultivos de água doce, normalmente, são utilizados viveiros esca- vados no solo, tanques-rede, sistemas de recirculação de água ou estufa, sendo que, no Brasil, os mais utilizados são viveiros escavados e tanques- -rede. Em água salgada, os tanques-rede são os mais utilizados. Quadro 7.1 – Tipos de instalações na piscicultura Fonte: Shutterstock.com/Edinaldo Maciel Viveiro escavado Constitui em cavar um espaço na terra em formato retangular. Pode ser apenas escavado ou, após a abertura do local, ser construído em alvenaria. É impor- tante observar características do terreno, como declividade e tipo de solo, sendo indicados locais com pouca declividade (até 3%). Para terrenos que não são de alvenaria, o melhor solo é o tipo argiloso, por apresentar menos infiltração de água, mantendo o viveiro mais estável. Fonte: Shutterstock.com/Edinaldo Maciel Tanques-rede São estruturas de tela ou rede em formato de gaiolas, colocadas em lagos, açudes, rios ou mar. Os animais se desenvolvem na “mesma água” do ambiente natural, mas estão confinados a um espaço restrito. Técnicas de Produção Animal – 130 – Fonte: Shutterstock.com/Ton Bangkeaw Sistema de Recirculação de Água (RAS) São utilizados tanques com um sistema que fica constantemente trocando a água, através da passagem dela por equipamen- tos que removem sólidos como fezes e restos de alimentos. Após o processo, a água tratada é devolvida ao tanque. Fonte: Shutterstock.com/Joseph Sohm Estufa Os tanques de criação são alocados dentro da estufa (podendo ou não haver outros sistemas, como recirculação de água). Criadores que optam por colocar a estufa buscam um maior controle da tempera- tura do ambiente e, consequentemente, da temperatura da água. Fonte: elaborado pela autora. 7.3 Ranicultura A rã é um anfíbio, grupo de animais que têm como característica a fase larval geralmente aquática, seguida de uma metamorfose completa, na qual o animal, na maioria das vezes, torna-se um ser terrestre. Apesar da sua adaptação ao ambiente terrestre, estes animais são extremamente dependentes da água, uma vez que alguns processos ocorrem em ambien- tes aquáticos, como, por exemplo, a reprodução. A classe Amphibia é constituída por três ordens. Dentre elas, a mais conhecida delas é a Anura, cujos representantes são os sapos, rãs e perere- cas. Desses, apenas as rãs são utilizadas para a exploração econômica, das quais quatro espécies são mais conhecidas mundialmente: rã-touro ameri- cana, rã indiana, rã chilena e a rã europeia. No Brasil, as principais espé- – 131 – Piscicultura e ranicultura cies encontradas são a rã manteiga ou paulistinha (figura 7.5), a rã pimenta e a gia. Apesar de relatos apontarem para o consumo destas espécies em toda a América do Sul, no Brasil, seu consumo não é permitido comercial- mente. Dessa forma, apenas a rã-touro é produzida para fins comerciais. Figura 7.5 – Rã manteiga (Leptodactylus latrans) Fonte: Shutterstock.com/Fabio Maffei Mesmo não havendo espécies nativas brasileiras aptas à produção e comercialização, a rã-touro tem demonstrado ótima capacidade de desenvolvimento e reprodução em diversas regiões brasileiras, bem como diferentes tipos de manejos alimentares e instalações. Inclusive, taxas de produção no Brasil têm se mostrado superior à região de origem dessa espécie, a América do Norte. 7.3.1 Carne De acordo com a legislação brasileira (Decreto 30.691/1952), a rã é considerada um alimento que compõe a categoria dos pescados, sendo a carne o produto de interesse comercial. A carne de rã é um alimento de alto valor biológico e alta digesti- bilidade, além de possuir minerais importantes, com atenção especial ao cálcio. Outrossim, é uma carne reconhecida pelo seu baixíssimo potencial para causar alergia, além de ser hipocalórica. Técnicas de Produção Animal – 132 – De maneira geral, o animal é abatido e a carne congelada. No comér- cio, são vendidas em pacotes que contêm a carcaça inteira ou em partes, como as “froglegs” - pernas de rã – (figura 7.6) e pedaços menores, servi- dos como petiscos. Figura 7.6 – “Froglegs” assadas para consumo Fonte: Shutterstock.com/Piotr Krzeslak 7.3.2 Manejo Assim como para a agricultura, em que a qualidade do solo (textura, nível de erosão, porosidade, profundidade etc.) é fundamental para um bom desempenho das culturas, para a criação de rãs a qualidade da água é o principal fator a ser considerado em um sistema de produção. É na água que esses animais deixam restosde excreta e de pele (provenientes da troca constante ao longo de seu desenvolvimento). Por isso, a troca contínua da água é essencial para que sejam mantidos níveis aceitáveis de qualidade. Uma vez que são estritamente dependentes da água, antes do início de uma criação, o responsável deve garantir que parâmetros como pH, condutividade elétrica, alcalinidade, dureza total, amônia, nitrito, nitrato, fósforo, cloreto, ferro e oxigênio estejam dentro dos níveis ótimos para o desenvolvimento dos animais. Importante ressaltar que ambientes aquá- ticos são especialmente dinâmicos, ou seja, os parâmetros se relacionam entre si e uma simples alteração em um deles é capaz de comprometer todo o sistema, levando a grandes chances de mortalidade animal. – 133 – Piscicultura e ranicultura Você sabia As fezes e a urina excretadas pelos animais aquáticos originam com- postos à base de amônia, que é extremamente tóxica aos seres vivos quando em altas concentrações. Além disso, a amônia diluída na água é convertida em nitrito e nitrato por meio de bactérias nitrificantes, tam- bém presentes na água. Assim como a amônia, o nitrito é tóxico e inter- rompe o transporte de oxigênio dentro das células dos animais. Essa reação de produção de amônia e conversão em nitrato e nitrito é a prin- cipal causa de morte em tanques de girinos, mas pode ser evitada atra- vés do controle de alimento ofertado (evitando a superalimentação), oxigenação constante dos tanques, renovação da água periodicamente e limpeza constante. Infelizmente, ainda não existem muitos dados sobre os valores ótimos para os parâmetros de qualidade de água na criação de rãs. De acordo com o Manual de Ranicultura desenvolvido pela Embrapa, mui- tos dados são provenientes de adaptações feitas de cultivos de peixes e camarões. O Manual indica valores desejáveis a serem seguidos em propriedades onde os tanques são abastecidos com água mole e de baixa alcalinidade (tabela 7.1). Tabela 7.1 – Parâmetros físicos e químicos da água de tanques de girinos em criações comerciais de rã-touro Parâmetro Valor recomendado pH 6,5 – 7,0 Amônia Até 0,5 mg/L Nitrito Até 0,5 mg/L Nitrato Até 1,0 mg/L Dureza Até 40 mg/L Alcalinidade Até 40 mg/L Fonte: adaptada de Embrapa (2013). Técnicas de Produção Animal – 134 – 7.3.2.1 Instalações No manejo de reprodução das rãs, são definidas fases distintas que devem ser levadas em consideração no momento da construção das insta- lações: reprodução, larvicultura (com cinco fases distintas), engorda ini- cial e engorda final. I. Reprodução O setor de reprodução é dividido em dois subsetores, de man- tença e de acasalamento. Na área de mantença, são construídas baias diferentes para machos e fêmeas. É importante que seja feita a limpeza do local antes da chegada dos animais. A água deve ser renovada e man- tida a uma temperatura entre 21 e 25 ºC. Após as medidas de limpeza e renovação de água, deve ser fornecido o alimento, como ração para peixes carnívoros, de três a quatro vezes por dia, de acordo com o comportamento daquele lote de rãs. A tem- peratura do ar deve ser controlada de modo que permaneça entre 25 e 29 ºC e o fotoperíodo (período luz escuro) deve ser entre 12:12 e 14:10. Por fim, é importante que a umidade relativa do ar seja mantida em 80%. No setor de acasalamento, são disponibilizadas baias coletivas com pequenas piscinas (o número de piscinas é o mesmo do número de machos). Este modelo de reprodução é denominado Reprodução Natural, pois os animais são alocados nas baias e o acasalamento ocorre sem intervenção humana. Normalmente, utiliza-se a proporção de um macho para cada duas ou três fêmeas. Neste setor, não há a necessidade de fornecer alimen- tação, uma vez que, quando estão aptas ao acasalamento, as rãs interrompem a alimentação para que a região da cloaca fique limpa e os gametas não sejam contaminados por microorganis- mos presentes nas fezes e urina. II. Larvicultura (girinagem) O setor da larvicultura ou girinagem possui distintas fases, pois, à medida que se desenvolvem, os girinos possuem diferentes – 135 – Piscicultura e ranicultura exigências. As fases internas da larvicultura são embrionagem, G1, G2, G3 e G4. A embrionagem é o primeiro momento após a desova da fêmea (figura 7.7). Neste setor, existem tanques onde são depositadas as desovas transferidas do setor de acasalamento. É importante que a temperatura da água não ultrapasse os 25ºC. Além disso, a renovação não deve ser feita com muita frequência, apenas quando se observar partículas na água e turbidez excessiva. Figura 7.7 – Desova em tanque Fonte: Shuttestock.com/WitR G1 ou larva inicial (figura 7.8) é o nome dado aos girinos recém-ec lodidos . Por não possuírem capacidade de ali- mentação externa, os girinos dessa pri- meira fase possuem um saco vitelínico, de onde eles retiram os nutrientes neces- Figura 7.8 – Larva inicial de rã touro (G1) Fonte: Shutterstock.com/Suwat wongkham Técnicas de Produção Animal – 136 – sários ao seu desenvolvimento. Essa primeira fase tem duração de 5 a 7 dias e, ao final desse período, todo o vitelo é consumido e os girinos passam para a próxima fase, G2. Na fase G2, a principal característica dos girinos é a procura por alimentação no meio em que se encontram. Neste momento, tem o início do fornecimento de ração e alimentos naturais, como plâncton, perifiton, vegetais e musgos. Nessa fase, os girinos são transferidos a outros tanques para continuarem seu crescimento e desenvolvimento larval. Após alguns dias, que variam bastante entre as propriedades (não há uma definição da duração desse período na literatura), esses animais passam a apresentar mudan- ças fisiológicas, que os caracterizam como G3. Na fase G3 (figura 7.9), os girinos começam a apresentar uma diferenciação na região próxima à cauda. São as pernas que come- çam a se desenvolver. Nesta etapa, não há diferenciação na ali- mentação, mas os girinos devem ser transferidos a outros tanques. Durante as etapas de G1 a G3, é importante que seja feita a reno- vação da água dos tanques numa proporção de 25% do volume total/dia, de preferência nos momentos de transferência dos ani- mais. É fundamental que sejam realizadas análises de qualidade da água. Figura 7.9 – Girino G3 Fonte: Shutterstock.com/Eric Isselee O surgimento dos braços caracteriza a última fase da larvicul- tura, denominada G4 ou clímax metamórfico (figura 7.10). Com duração média de 10 dias, vai do momento do surgimento dos braços até a absorção total da cauda. Durante essa fase, os giri- – 137 – Piscicultura e ranicultura nos são transferidos a outros tanques, em uma área chamada de “área de metamorfose”. Nela, há menos água que nas etapas anteriores, uma vez que os girinos estão transacionando para o meio terrestre. Figura 7.10 – Rã-da-floresta (Rana sylvatica) em fase G4 Fonte: Shutterstock.com/Steve Byland III. Engorda inicial Após aproximadamente 90 dias, os girinos chegam à fase de imagos e iniciam a fase de engorda. Nesta fase, não há mais alimentação natural e toda fonte de nutrientes é proveniente da ração fornecida. Os imagos iniciam a fase de engorda com 8 a 10g. Quando alcançam as 50g, já são denominados rãs – esse processo leva em torno de um mês para ser finalizado. Durante a engorda, ocorre a maior taxa de mortalidade, podendo chegara 20%, um alto percentual. Isso ocorre principalmente por dificuldade de adaptação dos animais ao novo ambiente. IV. Engorda final A engorda final, também chamada de terminação, tem início quando os imagos atingem o peso de 50g e passam a ser chama- dos de rãs. Nessa fase, a taxa de mortalidade tem uma diminui- ção considerável, ficando entre os 5%, normalmente. Após seis ou sete meses do começodo ciclo completo, as rãs são conside- radas aptas ao abate. Técnicas de Produção Animal – 138 – 7.3.2.2 Sistemas de produção Nos primeiros anos do surgimento dos ranários, os animais eram criados basicamente em tanques-ilha, caracterizados por serem locais de grandes dimensões, com uma área seca nas extremidades, uma pequena lagoa/área molhada mais ao centro, e outra área seca no interior (ilha). Esse sistema também possui como característica a não distinção das fases de desenvolvimento dos animais, ou seja, coexistiam nesse mesmo ambiente animais em fase de reprodução, desovas na área molhada, giri- nos em desenvolvimento e animais em fase de engorda. Na década de 1980, diferentes modelos de produção surgiram na rani- cultura, que transformaram os modelos produtivos existentes até então. São eles o sistema de confinamento, o sistema anfigranja e o ranabox. O sistema de confinamento foi desenvolvido na Universidade Fede- ral de Uberlândia (UFU) e consiste em uma baia de formato retangular, onde inicialmente 40% da área era alagada e 60% seca, em piso cimentado e sem a presença de cochos para alimentação – o alimento era ofertado diretamente no piso (figura 7.11). Ainda é um sistema de produção muito utilizado, porém, atualmente, os ranicultores têm optado por destinar uma maior área alagada, entre 60 e 70% da área total. Figura 7.11 – Modelo de sistema confinado Fonte: Shutterstock.com/Jeerapong Winyayong O segundo sistema desenvolvido foi o anfigranja. Originário da Uni- versidade Federal de Viçosa, consiste em baias retangulares estreitas onde – 139 – Piscicultura e ranicultura o cocho, a área seca com abrigo e a piscina ficam lado a lado linearmente, indo de uma extremidade à outra da baia. Neste sistema, houve uma ino- vação na questão da construção do abrigo. Trata-se de uma casinha onde os animais podem se abrigar quando o criador ou tratador entra na baia para realizar alguma atividade de rotina. Quando bem manejados, pro- porcionam proteção e diminuição do estresse dos animais; contudo, caso não haja correta manutenção e limpeza, pode ser um local favorável ao desenvolvimento de outros animais, insetos e vetor de doenças e parasitas. O sistema anfigranja foi o pioneiro na produção de mosca doméstica em cativeiro, em um local específico, o moscário. Nessa adaptação, são cria- das moscas de maneira higiênica, que são adicionadas à alimentação, tanto misturadas à ração, como no desenvolvimento dos instintos alimentares dos imagos, que necessitam de estímulos para a busca do alimento na natureza. O ranabox, terceiro sistema de produção, foi desenvolvido por uma empresa. Sua principal característica é a utilização de caixas sobrepostas. Dessa maneira, o principal objetivo desse modelo é a economia de espaço. O projeto inicial se assemelhava ao das anfigranja, com área de piscina e área seca dispostas lado a lado. Após algumas reformulações físicas, o sistema ranabox atual é feito de PVC e poliestireno de alto impacto, além de utilizar o sistema inundado no seu interior. A partir da década de 90, surgiram ainda outros modelos importantes para o desenvolvimento na ranicultura. Um deles foi elaborado pelo Instituto de Pesca de São Paulo e consistia na combinação dos sistemas semissecos, estudados anteriormente, com a utilização de estufas agrícolas. Outro modelo foi desenvolvido por pesquisadores internacionais com base nos modelos de criação praticados no Taiwan, denominados de alagados ou inundados. O modelo alagado proposto pelos pesquisadores consistia na utiliza- ção de baias com maior densidade de animais e sem área seca. Apesar de trazer alguns benefícios, como facilidade do manejo e a desnecessidade da utilização de cocho, esse sistema traz consigo também a preocupação rela- cionada à higiene e sanidade dos animais. Por estarem permanentemente na água, os animais também ficam em contato direto e constante com fezes e urina. Ademais, a alta densidade, aliado a condições estressantes, tendem a aumentar as taxas de canibalismos e mortalidade entre as rãs. Técnicas de Produção Animal – 140 – Síntese O consumo de pescados no Brasil tem crescido nos últimos tempos, impulsionado principalmente pela conscientização da população acerca dos benefícios inerentes ao consumo desses alimentos, como vitaminas, minerais e proteínas, além de um baixo valor calórico. Na piscicultura, a partir da década de 1970, teve início no Brasil um avanço considerável na produção de peixes, especialmente da tilápia. A tilápia do Nilo e a tilápia de Zanzibar foram importadas com o objetivo de servirem como fonte extra de alimento e cultivo para pequenos produtores no Nordeste brasileiro. Entretanto, a rápida adaptação dessas espécies, aliado à rusticidade e precocidade, transformou a tilápia no peixe mais produzido no território nacio- nal; além de colocar o Brasil em posição de destaque no mercado internacional. Assim como a piscicultura, a ranicultura é um setor que vem se con- solidado cada vez mais no mercado nacional. Contudo, apesar do Brasil ocupar o segundo lugar no ranking de produção de carne de rã (e o pri- meiro quando se fala em sistemas confinados), o consumo desse tipo de alimento ainda é tímido entre a população brasileira. Pode-se concluir que a aquicultura, especialmente a piscicultura e a ranicultura, tem encontrado cada vez mais espaço na pecuária brasileira. Em linhas gerais, são alimentos nutritivos, que fornecem alta quantidade de nutrientes essenciais e importantes para o desenvolvimento humano. Atividade 1. Comente a importância dos parâmetros de temperatura e oxigê- nio dissolvido na criação de peixes. 2. Diferencie os sistemas de criação de peixes em viveiro escavado e em tanques-rede. 3. Explique de que maneira restos de alimentos e excretas animais são prejudiciais para a criação de rãs e como é possível evitar o acúmulo desses dejetos nos viveiros. 4. Explique resumidamente as principais características dos sistemas confinado, anfigranja e ranabox para a criação de rãs comerciais. 8 Sanidade Animal O estudo do bem-estar animal vem ganhando cada vez mais espaço nas pesquisas relacionadas à produção animal. Como já visto em capítulos anteriores, há alguns anos, a preocupação com o bem-estar e a sanidade animal eram assuntos pouco explorados, carregados pelo senso comum de que investimentos nesse sentido traziam mais prejuízos do que lucro para a produção animal. Entretanto, atualmente, muitos criadores já assimilaram a importância de conduzir os rebanhos ao levarem em considera- ção aspectos zootécnicos e boas práticas de manejo que respei- tam o comportamento natural dos animais, bem como que garan- tam conforto ambiental e mental. Neste capítulo, veremos conceitos importantes de sanidade animal, além de aprender como identificar os sinais de saúde e os fatores que interferem na saúde animal. Também estudaremos as principais doenças das espécies já abordadas, assim como a clas- sificação e caracterização de medicamentos de uso veterinário. Técnicas de Produção Animal – 142 – 8.1 Manejo sanitário O Brasil é atualmente um dos países mais importantes na produção de alimentos mundialmente. De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2019), em 2018, o país ocupou o segundo lugar em rebanho bovino mundial, atrás somente da Índia. Na produção suinícola, aparece na quarta posição em produção e exportação mundial; na indústria de abate de frango, é o segundo maior produtor e o maior exportador. Esses dados corroboram a relevância dos produtos brasileiros no mercado internacional. Contudo, é preciso considerar que a produção animal não é um índice independente, mas um composto de diversos fatores, como raças e melhoramento genético, condições ambientais, nutrição e manejo sani-tário dos animais. O manejo sanitário pode ser definido como um conjunto de medi- das que visam proporcionar aos animais condições ótimas de saúde. Essas medidas são aplicadas para evitar, eliminar ou reduzir a incidên- cia de doenças. Quando corretamente aplicadas, proporcionam um maior aproveitamento e expressão do material genético, com seu consequente aumento de produção e produtividade (VIEIRA; QUADROS, 2012). As técnicas utilizadas na aplicação do manejo sanitário animal podem ser divididas em dois grupos: i. procedimentos sanitá- rios preventivos – são adotadas ações profiláti- cas (prevenção) durante o manejo animal, como vacinação (figura 8.1), vermifugação, testes sorológicos para detec- ção de doenças, testes parasitológicos, entre Figura 8.1 – Vacinação contra a febre aftosa como exemplo de procedimento preventivo Fonte: Shutterstock.com/Alf Ribeiro – 143 – Sanidade Animal outros. Em outras palavras, o principal objetivo é garantir que o animal saudável não adquira doenças no futuro. ii. procedimentos sanitários curativos – são ações tomadas após a ocorrência de uma adversidade, como doenças, infestações, machucados, intoxicações. Diferentemente dos procedimentos preventivos, nesses casos, o animal já não está mais saudável e necessita de algum tipo de tratamento para curá-lo. 8.2 Sinais de saúde Uma vez definido o conceito de manejo sanitário, bem como as téc- nicas utilizadas preventivamente e posteriormente às doenças e demais problemas, é importante entender quais sinais definem o animal como sau- dável ou não. Trata-se de “mensagens” enviadas pelos próprios animais sobre seu estado de saúde física ou emocional. Esses sinais específicos são denominados sinais de saúde e são comumente divididos em grupos para uma melhor análise: 2 Sinais vitais Os sinais vitais são a frequência respiratória, temperatura corpo- ral e frequência cardíaca. São os primeiros sinais a serem observados por veterinários, cria- dores e técnicos. Utilizam-se parâmetros técnicos, com auxílio de equipamentos. Também é importante uma visão geral do animal, com base na experiência do criador e dos demais profissionais que convivem com o animal e conhecem a rotina de manejo. Animais saudáveis respiram de maneira natural, mantendo um ritmo constante. A temperatura e a frequência cardíaca também se mantêm constantes. 2 Frequência respiratória: é observada através dos movi- mentos do tórax, do abdômen e das narinas. Animais com frequência respiratória aumentada (taquicardia) podem estar passando por alguma situação de estresse ou susto. Técnicas de Produção Animal – 144 – A frequência respiratória diminuída (bradipneia) normal- mente indica uma diminuição da temperatura corporal ou frequência cardíaca. 2 Temperatura: animais com a temperatura elevada podem estar com algum tipo de infecção. De modo contrário, aque- les que apresentam temperatura corporal abaixo do normal, podem estar prestes a sofrer algum tipo de choque, como o hipovolêmico (volume sanguíneo insuficiente para trans- portar oxigênio). 2 Frequência cardíaca: a frequência cardíaca representa o número de batimentos cardíacos por minuto. A frequência dos batimentos acima dos valores normais pode ser reflexo de variações fisiológicas e ambientais. Por exemplo, em dias mais quentes, os batimentos cardíacos tendem a ficar mais acelerados; além disso, animais em fase de lactação, gestação ou filhotes apresentam frequência elevada. Algu- mas infecções também podem ocasionar uma alteração da frequência cardíaca. 2 Sinais fisiológicos Os principais sinais fisiológicos são urinar, defecar, beber água e alimentar-se – aliados à aparência externa do animal. Os sinais fisiológicos correspondem ao funcionamento das atividades básicas de um organismo. Todos os animais se ali- mentam, bebem água, defecam e urinam com uma frequência característica de cada um deles. Nesse sentido, vale ressaltar que a observação e o acompanhamento por parte da pessoa respon- sável influenciam nesse tipo de avaliação. Essas informações são importantes para a formação de um diagnóstico completo e assertivo. 2 Sinais atitudinais Sinais atitudinais estão relacionados com atitude, com o com- portamento, ação e reação ao ambiente e outros animais. Os sinais avaliados são mobilidade e interação com o grupo. – 145 – Sanidade Animal Animais considerados saudáveis movimentam-se de maneira natural, andam, deitam, buscam comida e interagem com outros animais. Quando há uma alteração no comportamento conside- rado normal, pode ser reflexo de alguma disfunção fisiológica. 2 Sinais produtivos Os sinais produtivos caracterizam o desenvolvimento dos ani- mais e estão intimamente ligados ao valor comercial que se espera obter com a pecuária. Entre eles, destaca-se a capacidade de produção de leite, postura de ovos, engorda e reprodução. É importante destacar que os sinais produtivos são indicadores de sanidade animal, mas devem ser observados os limites produ- tivos de cada espécie e de cada indivíduo. Com relação a esses fatores, há indícios de anormalidade quando o animal não conse- gue produzir dentro dos valores médios para cada espécie e raça. Diante do que foi abordado, pode-se considerar, então, que um ani- mal saudável é aquele que se comporta dentro dos padrões específicos para a espécie e que produz de acordo com seu potencial produtivo. Infecções, anomalias, problemas genéticos e doenças em geral produ- zem variações que podem ser percebidas em questão de horas. Entretanto, existem ainda outros fatores (fisiológicos, climáticos, psicológicos, etc.) que também são capazes de alterar os sinais produtivos, sem, contudo, indicar problemas de saúde. Vejamos abaixo os principais: 2 Estado fisiológico Em algumas fases específicas, os animais tendem a apresen- tar variações nos sinais de saúde. Normalmente, durante o cio e a gestação são observadas variações acentuadas de compor- tamento, que podem levar a uma alteração nos sinais vitais, fisiológicos e atitudinais, principalmente. Por exemplo, uma fêmea no cio tende a ser mais agitada, consequentemente, a fre- quência cardíaca é usualmente aumentada. Por outro lado, uma fêmea gestante em fase final de gestação fica mais lenta, o que ocasiona uma diminuição da frequência cardíaca (figura 8.2). Observe que, apesar de apresentarem frequência cardíaca acima Técnicas de Produção Animal – 146 – ou abaixo do valor médio normal, não se trata de animais doen- tes, mas de animais que estão passando por fases específicas que possuem como característica sinais de saúde diferentes do que é considerado normal para esses animais no geral. As principais fases em que ocorrem essas modificações são durante o cio, acasalamento, gestação e os primeiros dias ou meses de filhotes recém-nascidos. Figura 8.2 – Vaca prenhe descansando Fonte: Shutterstock.com/JR AK 2 Clima O clima é uma condição natural dificilmente controlada pelo homem. Mesmo que sejam construídas instalações para o abrigo dos animais, ou que sejam adotadas técnicas de manejo que reduzam a exposição desses animais a condições climáticas desfavoráveis, o criador/técnico não consegue garantir 100% de eficiência no domínio das condições climáticas. Dessa maneira, apesar de todas as intervenções humanas, os animais ainda têm sensibilidade às condições climáticas, em que algumas delas são capazes de alterar os sinais de saúde deles. Por exemplo, em dias mais quentes, os animais tendem a ingerir menos comida e mais água. Por sua vez, em dias muito frios, os batimentos cardíacos e a frequência respiratória ficam mais lentos (figura 8.3). – 147 – Sanidade Animal Figura 8.3 – Cavalo descansando à sombra de uma árvore Fonte: Shutterstock.com/ansem 2 Estresse O estresseé um estado gerado por diversos tipos de estímulos que leva a um aumento na secreção de adrenalina e cortisol, hor- mônios relacionados ao estresse. O estresse pode produzir diver- sos efeitos, desde os imediatos ou mediatos, aos passageiros ou duradouros. Independentemente do efeito causado, certamente os sinais de saúde são alterados em menor ou maior intensidade. Alguns exemplos de situações que podem provocar o estresse dos animais são: mudança de grupo de convívio ou isolamento. Como uma ilustração, as vacas são animais extremamente soci- áveis e estabelecem uma relação mais próxima com outras, bem como com seres humanos. Quando trocadas de grupo ou isola- das, tendem a ficar estressadas, com elevação dos batimentos cardíacos. Outro exemplo de situação que pode levar ao estresse é a troca de ração, que pode ocasionar a interrupção da alimen- tação por parte do animal. 2 Características individuais As características individuais dizem respeito ao comportamento específico de cada animal. Mesmo que sejam da mesma espécie, Técnicas de Produção Animal – 148 – ou ainda que tenham nascido dos mesmos genitores, cada animal tem uma personalidade própria, assim como os seres humanos. Dessa maneira, todo animal tem uma resposta distinta aos estí- mulos. Por isso, seus organismos têm diferentes reações, depen- dendo de cada situação. Por exemplo, em um mesmo rebanho existem animais que se estressam com barulho mais que outros. Nesse sentido, é importante que o criador saiba que, para uma mesma situação, é possível que dois animais tenham diferentes reações e, consequentemente, alguns sinais de saúde alterados, sem, contudo, indicar algum tipo de doença. Saiba mais Rotina é fundamental Assim como para os seres humanos, a rotina tem se mostrado um ele- mento importante para o desenvolvimento, a sanidade e o bem-estar animal. Não é raro que os sinais de saúde apresentem alterações sem uma razão específica ou previsível. Por isso, a observação constante e o acompanhamento da rotina animal por parte do profissional responsá- vel são tão importantes. Animais e humanos têm dias mais felizes ou mais tristes, mais agita- dos ou menos, com disposição para interação social ou não, e nenhuma dessas alterações indicam problemas de saúde. As diferenças de per- sonalidades que todos têm, já abordadas anteriormente, também não implicam em uma menor sanidade. Todas essas questões corroboram a importância de que se tenha uma pessoa responsável que possa esta- belecer uma rotina saudável de vida para os animais, além de acompa- nhar, dia a dia, o comportamento deles (Figura 8.4). – 149 – Sanidade Animal Figura 8.4 – Profissionais responsáveis pelo acompanhamento dos animais Fonte: Shutterstock.com/ RGtimeline 8.3 Problemas de saúde Uma vez que o responsável pela condução dos animais tenha iden- tificado algum sinal de provável problema, é importante que as medidas necessárias sejam tomadas de forma eficiente para que o problema seja eliminado, garantindo não só a sanidade daquele individuo, como também a saúde dos demais animais. Por meio da classificação dos tipos mais comuns de problemas de saúde, é possível identificar a urgência e o tipo de tratamento. A compe- tência para prescrição de medicamentos e tratamento é do médico vete- rinário, entretanto, cabe ao técnico e/ou criador, ou qualquer outro res- ponsável, identificar os primeiros sinais, avaliar a urgência e fornecer ao médico veterinário as principais informações. Técnicas de Produção Animal – 150 – Os problemas de saúde em animais podem ser divididos em sete gru- pos, a saber: inflamatórios, infecciosos, congênitos (ou de má formação), genéticos (ou hereditários), nutricionais, fisiológicos e parasitários. A seguir, estudaremos cada um eles. 8.3.1 Problemas inflamatórios O animal, assim como o ser humano, possui métodos de controle próprios que atuam no combate de doenças, como o sistema imunoló- gico. Esse sistema consiste num conjunto de células especializadas no embate a microrganismos indesejáveis, como bactérias e vírus. Quando o organismo animal inicia as atividades de combate, inicia-se um pro- cesso inflamatório, o conjunto de ações classificadas como febre, ver- melhidão, inchaço e dor. Toda vez que o organismo estiver atuando de acordo com os termos recém-mencionados, estaremos diante de um pro- cesso inflamatório. 2 Febre: a febre é uma resposta ao aumento dos processos fisioló- gicos do organismo que ocorrem para evitar um ataque de outro organismo invasor. Sendo assim, quando o corpo “percebe” a entrada de algo nocivo, há uma elevação da temperatura como forma de combater a agressão externa. 2 Vermelhidão: ocorre a vermelhidão no local afetado em razão do aumento de atividade e maior circulação de sangue naquela área específica. Normalmente, a vermelhidão é percebida em animais de pele clara. 2 Inchaço: o inchaço é consequência de duas causas principais, a existência de microrganismos patogênicos ou tecido lesionado. Tanto para a expulsão de patógenos, quanto na cura do tecido prejudicado, o corpo do animal intensifica algumas atividades naquelas áreas, ocasionando o inchaço. 2 Dor: a dor é uma resposta do organismo que serve como alerta para o cérebro sobre a existência de algum problema, geralmente no local onde se apresenta a sensação de dor. – 151 – Sanidade Animal 8.3.2 Problemas Infecciosos As doenças ou problemas infecciosos normalmente apresentam os mes- mos sintomas estudados nos problemas inflamatórios. A principal diferença entre infecção e inflamação, portanto, é o tipo de agente que está causando a doença. Ao tratarmos do combate a lesões ou à invasão de organismos não patogênicos, porém estranhos ao animal, estamos tratando de inflamação. Con- tudo, quando as doenças são causadas pela invasão de organismos externos - como vírus, bactérias e fungos -, é uma doença infecciosa (ROLIM, 2014). Os problemas infecciosos podem ser de dois tipos: Transmissíveis ou não transmissíveis. 2 Transmissíveis: são doenças que podem ser transmitidas de um animal infectado a outro, por contato direto (quando a superfície ou fluídos corporais do animal infectado entram em contato com outro animal diretamente) ou indireto (o animal infectado em contato com alguma superfície ou objeto transfere os microrga- nismos patogênicos e, posteriormente, outro animal sadio que encosta na superfície ou objeto contaminados, acaba infectado). Febre aftosa (figura 8.5), brucelose, tuberculose, bouba avia- ria, peste suína africana, entre outros, são exemplos de doen- ças transmissíveis. Figura 8.5 – Vaca com sintomas de febre aftosa Fonte: Shutterstock.com/nathawit immak Técnicas de Produção Animal – 152 – 2 Não transmissíveis: são doenças que acometem o animal, mas não são transmitidas aos demais animais, por nenhum tipo de contato (direto ou indireto). As doenças pertencentes a grupos geralmente são provenientes de acidentes nos quais os animais se ferem e, então, micro-organismos se aproveitam e se insta- lam no corpo do animal. A ingestão de alimentos contaminados representa outro exemplo de doença não transmissível. Infecções por cortes ou vacinações, diarreia, otite, inflamação uri- nária, entre outros, são exemplos de doenças não transmissíveis. 8.3.3 Problemas hereditários ou genéticos Essas doenças são adquiridas pelo animal por meio da herança gené- tica proveniente dos ascendentes (pai e mãe). Uma vez que doenças ou problemas desse grupo são causados por organismos patogênicos, não há cura específica, cabendo ao criador o tratamento e cuidados necessários para evitar que o problema seja passado para as próximas gerações. Alguns exemplos de problemas genéticos são a hérnia, cegueira, má-formação de partes do corpo, nanismo,entre outros. 8.3.4 Problemas congênitos (má-formação) Os problemas congênitos são aqueles característicos de um único indivíduo, que ocorrem espontaneamente. Podem ser confundidos com problemas genéticos quando observados no nascimento do animal, porém diferenciam-se por não serem causados por anomalias genéticas que pas- sam de “pai para filho”, mas um resultado genético anômalo específico daquele indivíduo. Dependendo do tipo de má-formação, o animal consegue ter uma vida normal e cumprir sua função reprodutiva, comercial, etc. Em alguns casos, os problemas congênitos impedem que o animal cresça e se desen- volva normalmente, o que acaba gerando um descarte, dependendo da função a que esse animal estava destinado, ou até o sacrifício. – 153 – Sanidade Animal Exemplos de problemas congênitos são atresia anal (ânus fechado), membros tortos ou malformados (figura 8.6), órgãos imperfeitos, entre outros. Figura 8.6 – Búfalo com má-formação Fonte: Shutterstock.com/wk1003mike 8.3.5 Problemas nutricionais Os problemas nutricionais são aqueles adquiridos pelo animal através da ingestão de alimentos ou substâncias não alimentícias. Em relação a esses problemas, existem dois principais grupos, as intoxicações (excesso de algum alimento ou substância) e as deficiências (carência de algum alimento ou nutriente). 2 Intoxicações: geralmente, ocorrem em razão da ingestão de substâncias que não são alimentos (produtos tóxicos, plantas não comestíveis, restos de alimentos em decomposição, etc.), ou por alimentos ou componentes alimentares que são fornecidos em excesso (excesso de minerais, vitaminas, etc.). 2 Deficiências: normalmente, as deficiências alimentares são cau- sadas pela falta de minerais na alimentação do animal. Apesar de serem exigidos em pequenas quantidades, caso o fornecimento de ração seja desbalanceado, a chance de o animal estar com defi- ciência na ingestão de minerais é grande (figura 8.7). Em geral, Técnicas de Produção Animal – 154 – animais que não con- sumem a quantidade adequada de vitaminas minerais apresentam o crescimento e o desen- volvimento corporal comprometido, mas cada mineral especí- fico provoca outros sinais. Por exemplo, a falta de manganês na suplementação de aves pode causar perose e condrodistrofia em aves, doenças relacionadas à anormalidade no desenvolvimento das pernas e desenvolvimento anormal da carti- lagem, respectivamente. 8.3.6 Problemas fisiológicos Problemas fisiológicos são aqueles consequentes de falhas no fun- cionamento normal do organismo animal. Nesse grupo, são classificadas as doenças que não tenham sido originadas por problemas genéticos, nutricionais e/ou congênitos. Por exemplo, um ataque cardíaco que seja causado por esforço excessivo pode ser entendido como um problema fisiológico, visto que há uma falha no funcionamento normal do coração, que não foi gerada por nenhuma outra doença prévia. Alguns problemas de reprodução, especialmente relacionados ao momento do parto, como retenção de placenta e prolapso uterino, também são entendidos como problemas fisiológicos. 8.3.7 Problemas parasitários Parasitas são organismos que vivem associados a outras espécies e retiram delas condições para sua sobrevivência, como ambiente e ali- mento. Numa relação de parasitismo, aquele que se desenvolve em outro organismo adquire vantagens e aquele que é parasitado tem prejuízos. No Figura 8.7 – Animal com sinais de desnutrição Fonte: Shutterstock.com/ pkul – 155 – Sanidade Animal caso dos animais, eles servem como meio de desenvolvimento para orga- nismos parasitas, como carrapato, sarna e vermes. Os parasitas podem ser internos, que se desenvolvem no interior do hospedeiro (endoparasitas), ou externos, que ficam sobre o animal, na pele ou nos pelos normalmente (ectoparasitas): 2 endoparasitas – vermes (Ostertagia ostertagi, Haemonchus pla- cei, Toxocara vitulorum, Ascaris suum [figura 8.8], entre outros) Figura 8.8 – Ascaris sp. Isoladas em laboratório Fonte: Shutterstock.com/Rattiya Thongdumhyu 2 ectoparasitas – carrapato (figura 8.9), sarna, berne etc. Figura 8.9 – Infestação de carrapatos em bovino Fo nt e: S hu tt er st oc k. co m /T oo th 21 Técnicas de Produção Animal – 156 – 8.4 Principais doenças Uma vez compreendido os principais conceitos e fundamentos que envolvem a sanidade animal, como sinais de saúde e a classificação das doenças, veremos as principais patologias que acometem as espécies estu- dadas nos capítulos anteriores. 8.4.1 Mastite A mastite é o problema que mais afeta a cadeia produtiva do leite, gerando grande impacto econômico aos criadores. Trata-se de uma infec- ção do úbere causada por micro-organismos, principalmente bactérias, que afeta principalmente animais ruminantes. Tem como consequência a diminuição da produção de leite ou perda total da capacidade produtiva. Ademais, o leite de animais infectados tem suas características modifica- das, como sabor, odor, textura, além de alterações microbiológicas, como a presença de íons de cloro e sódio e enzimas que causam alteração na proteína e na gordura encontradas no leite. O principal meio de controle da mastite é a adoção de práticas higi- ênicas que diminuam o contato dos tetos do animal com agentes patoló- gicos. Cuidados com a higiene do animal e do ambiente de ordenha, a desinfecção dos tetos antes e após a ordenha e a utilização de roupas e acessórios limpos são os principais controles a serem adotados. 8.4.2 Brucelose A brucelose é uma doença bacteriana causada pela bactéria Brucella- abortus que leva ao aborto nas fêmeas prenhes. É uma doença transmissí- vel ao homem, especialmente quando ingeridos leite e derivados contami- nados com secreções de animais doentes. O controle é realizado a partir da vacinação dos animais. 8.4.3 Febre Aftosa É uma doença causada por vírus do gênero Aphtovirus em bovinos, suínos, caprinos e ovinos. Os principais sintomas são febre e o apareci- mento de aftas nas bocas e pés dos animais. A transmissão pode ocor- – 157 – Sanidade Animal rer pelo contato direto dos fluidos das vesículas, bem como pelo contato indireto. É uma doença de alto impacto porque compromete o desenvol- vimento dos animais que tendem a ficar deitados e interromper a alimen- tação. Ademais, abala fortemente as relações comerciais internacionais, visto que os países importadores de carne brasileira têm controles sanitá- rios rigorosos para evitar a entrada de doenças em seus territórios. 8.4.4 Clostridiose Clostridiose é um termo generalista utilizado para denominar doenças provenientes de bactérias do gênero Clostridium, que são encontradas natural- mente no intestino de várias espécies animais – especialmente bovinos, capri- nos e ovinos – e também no ambiente. A clostridiose de maior importância na produção animal é o botulismo: causado pela neurotoxina da bactéria Clostri- dium botulinum tipos C e D, é transmitido principalmente pelo consumo de águas estagnadas e alimentos contaminados. Acomete ruminantes, equídeos, suínos e aves, em que o principal sinal é a paralisia da musculatura. 8.4.5 Pneumonia A pneumonia é a inflamação dos pulmões e pode ser causada por vírus ou bactérias. Nos grandes animais, as doenças de origem bacteriana são as mais comuns, como a Pasteurella multocida e Pasteurella haemolytica, que acometem suínos e bovinos, respectivamente. A pneumonia bacteriana ocorre quando há a colonização de bactérias no tecido que reveste os pulmões dos animais. Muito frequentemente está associada a algum problema anterior, principalmente estresse e supressão do sistema imunológico. Os principais sinais são: secreção nasal puru- lenta, tosse, febre e isolamento do animal infectado. Síntese O manejo sanitárioé o conjunto de medidas que visa proporcionar aos animais condições ótimas de saúde. Essas medidas são aplicadas para evitar, eliminar ou reduzir a incidência de doenças. Quando corretamente Técnicas de Produção Animal – 158 – aplicadas, proporcionam um maior aproveitamento e expressão do mate- rial genético com seu consequente aumento de produção e produtividade. Por isso, muitos criadores, técnicos, e demais participantes da cadeia de criação de animais, já perceberam que a produção animal não é um índice independente, mas um composto de diversos fatores, como raças e melhora- mento genético, condições ambientais, nutrição e manejo sanitário dos animais. Dessa maneira, a teoria divide o manejo sanitário em preventivos e curativos. Manejo Preventivo são ações profiláticas realizadas durante o manejo animal, sendo o principal exemplo a vacinação. No manejo cura- tivo, as medidas são tomadas após a ocorrência de uma doença, infes- tação, intoxicações etc. Diferentemente dos procedimentos preventivos, nesses casos o animal já não está mais saudável e necessita de algum tipo de tratamento para curá-lo. Os sinais de saúde são “mensagens” enviadas pelos próprios animais sobre seu estado de saúde física ou emocional. Esses sinais são comumente divididos em grupos para uma melhor análise, como vitais, fisiológicos, atitudinais e produtivos. Entretanto, existem outros fatores (fisiológicos, climáticos, psicológicos, etc.) que também são capazes de alterar os sinais produtivos, sem, contudo, indicar problemas de saúde. Por fim, vimos algumas doenças que são características de espécies que foram estudadas nos capítulos anteriores, como a febre aftosa, mas- tite, brucelose, clostridiose e pneumonia. Atividade 1. Explique o que são os procedimentos sanitários preventivos e curativos. 2. Explique resumidamente quais são os sinais vitais e como podem ser observadas alterações nesses sinais. 3. Como o estresse pode alterar os sinais saudáveis dos animais? 4. Comente sobre o processo inflamatório e através de quais sinais ele se caracteriza. 9 Genética e produção O melhoramento genético surgiu principalmente para atin- gir níveis maiores de produção e produtividade animal, além de garantir maior qualidade aos produtos, sem deixar de considerar necessidades solicitadas pelo mercado consumidor e as condi- ções do sistema de produção específicas de cada criador. O emprego de animais domésticos está presente desde os primórdios da vida humana na terra, e tem contribuído for- temente para a evolução da sociedade, tanto pela subsistência como pela exploração econômica de nações desenvolvidas. Em destaque, temos o Brasil ocupando posições importantes no mer- cado internacional graças aos avanços tecnológicos na área de melhoramento animal. Neste capítulo, serão estudados alguns modelos de cruzamen- tos comerciais e conceitos sobre os principais índices zootécnicos que devem ser levados em consideração na criação de animais. Técnicas de Produção Animal – 160 – 9.1 Histórico A utilização de animais domésticos como subsistência ou exploração econômica faz parte da evolução do ser humano, gerando dos animais não só componentes indispensáveis ao desenvolvimento e à prosperidade do homem, mas também estabelecendo-os como elementos ativos do desen- volvimento tecnológico. Semelhante aos demais países, o Brasil também se inclui no grupo de nações que foram e são diretamente influenciadas pela utilização desses animais. Em um primeiro momento da história, bovinos tiveram destaque durante o ciclo do açúcar no período colonial (séculos XVI e XVII), assim como suínos e ovinos. Posteriormente, já no século XVIII, no ciclo do ouro, equinos eram frequentemente utilizados para alavancar a indústria da extração e exportação de ouro. A partir do século XX, começaram a ser realizados no Brasil traba- lhos mais estruturados, voltados ao melhoramento genético de animais, com o advento de livros de registro genealógico. Em 1904, foi lançado o Herd Book Colares para raças taurinas; em 1916, o Herd Book Caracu; e em 1918, o Herd Book Zebu. Nas décadas de 1950 e 1960, foram realizadas provas de ganho de peso e zootécnicas. Então, em 1970, após uma intensa formação de pro- fissionais especializados, foram constituídas as bases do melhoramento genético animal moderno, com o desenvolvimento de diversos trabalhos que definiram os parâmetros genéticos necessários para a condução de programas de seleção e melhoramento. No final dos anos 1970, os progressos atingidos na área da genética e do melhoramento genético, juntamente a avanços nas pesquisas de quali- dade de solos, pastagens, nutrição e sanidade animal, possibilitaram levar o Brasil as maiores posições entre os mercados produtores e exportadores de matéria-prima animal. Os últimos 50 anos foram promissores com relação aos avanços tec- nológicos referentes ao melhoramento genético de animais. Houve uma – 161 – Genética e produção grande evolução na aplicação de conhecimentos e desenvolvimento de processos voltados ao bem-estar da sociedade. Não obstante, as novas aplicações de tecnologias ainda são criadas a partir das bases teóricas estabelecidas há muitos anos, como o estudo da herança genética desen- volvido por Mendel, em 1865. Quando se trata especificamente sobre melhoramento animal, apesar da fundamentação teórica ser antiga, os estudos e resultados são um pouco mais recentes. Essa abertura à manipulação genética advém com a neces- sidade imposta pelo mercado. 9.2 Raças Semelhante às espécies animais que evoluíram e vêm evoluindo ao longo do tempo, a interferência do homem na domesticação e seleção ani- mal também contribui para a evolução e, consequentemente, para a cria- ção e o desenvolvimento de raças. A diferenciação das espécies e a criação de raças geram animais mais adaptados, contribuindo para a preservação destes animais e também para a manutenção da vida em diferentes ambientes. Além disso, o desenvolvi- mento de raças produz animais mais eficientes, produtivos e com produtos de maior qualidade. Para Rolim (2014), um animal pode ser considerado de raça ou puro quando tem características que se encaixam em um padrão e consegue transferir essas características a seus descendentes (figura 9.1). Essas características que compõem o padrão esperado são definidas pelas asso- ciações de raças. Como exemplos de associações, tem-se a Associação Brasileira de Criadores das Raças Simental e Simbrasil (ABCRSS), Asso- ciação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), Asso- ciação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Associação Brasileira de Criadores de Ovinos Naturalmente Coloridos (ABCONC), entre outras. Sendo assim, o conceito de raça é uma definição convencional, elaborada pelo ser humano e adotada por criadores. Técnicas de Produção Animal – 162 – Figura 9.1 – Animais da raça Simental (A) e (B) Quarto de Milha Fonte: Shutterstock.com/Baronb/Bianca Grueneberg Analisando pelo lado científico, não se busca animais 100% puros, uma vez que estaríamos tratando de animais com genes homozigóticos, uma combinação estatisticamente impossível e biologicamente indese- jável. Animais que apresentam genes homozigóticos estão associados a doenças, como 2 Complexo de Má Formação Vertebral (do inglês, CVM), que pro- voca altas taxas de aborto em virtude da má formação do feto; 2 Deficiência de Adesão Leucocitária Bovina (do inglês, BLAD), que causa crescimento retardado e comprometimento no sistema imune, causando morte em animais jovens. Em resumo, as raças ditas puras por criadores e estudiosos na verdade são o conjunto de características desejáveis com objetivo de aumento de produtividade, qualidade etc. 9.3 Cruzamento 9.3.1 Aspectos gerais Como visto anteriormente,a influência do homem na seleção dos melhores animais gerou um impacto grande na domesticação das espécies que conhecemos hoje. O melhoramento genético teve início na seleção dos animais ainda nos primórdios da interação homem e animal, e consiste – 163 – Genética e produção basicamente em selecionar os melhores animais (mais adaptados, mais produtivos, mais sadios, etc.) para darem continuidade à espécie. Sendo assim, na seleção não há manipulação genética, ela apenas permite que os animais com melhores características continuem transferindo seus genes aos descendentes. Atualmente, os cruzamentos são os métodos utilizados no melhoramento genético quando se deseja criar raças, manter ou aumen- tar as já existentes. As principais vantagens dos cruzamentos comerciais é a possibili- dade de se obter elevadas taxas de produtividade e produção. Entretanto, pode-se destacar algumas dificuldades observadas nesse segmento. Por exemplo, a dependência de reprodutores ou de sêmen de qualidade é um fator que acrescenta no custo de obtenção dos descendentes que se deseja. As matrizes que são utilizadas na reprodução também têm um alto valor quando se opta pelo cruzamento comercial, pois normalmente não se usa os animais provenientes do próprio rebanho por uma questão de consan- guinidade, o que faz com o que criador tenha que buscar constantemente matrizes novas para introduzir no rebanho. Para que se possa compreender melhor os aspectos que envolvem cada de tipo de cruzamento e suas vantagens e desvantagens, é importante conhecer rapidamente alguns conceitos: 2 genes – microestruturas responsáveis por definir as caracte- rísticas dos seres vivos que são herdadas dos pais, como cor dos olhos e da pelagem. Para cada característica, existem duas cópias de um gene (uma cópia herdada do pai e outra da mãe) que são denominados alelos. Alguns alelos são dominantes e outros recessivos, por isso os dominantes expressam-se sobre os outros. Quando é formado um par com alelos recessivos, o gene recessivo é expressado. Por exemplo, uma fêmea tem o gene para a cor preta e é dominante (P) e um macho tem o gene recessivo para a cor marrom (m). Em um acasalamento, se esses dois genes forem passados ao filhote, ele terá o par Pm e nascerá com a pelagem preta dominante da mãe. 2 DNA – o conjunto de genes forma uma longa “fita” chamada DNA. Por isso, dizemos que o DNA carrega informações gené- Técnicas de Produção Animal – 164 – ticas de todos os animais, todas as plantas e demais seres como bactérias e vírus. 2 cromossomos – o DNA, por sua vez, apesar de ser uma “fita” longa, se enovela e toma forma arredondada, que se localiza dentro dos cromossomos. Estes encontram-se dentro das célu- las (figura 9.2). Figura 9.2 – Genes, DNA e cromossomos Fonte: Shutterstock.com/ Designua 2 homozigose – ocorrência de dois alelos iguais formando um gene. Por exemplo, suponha que o alelo dominante M indique a produção de melanina em bovinos e o alelo recessivo m indique a ausência de produção de melanina. A combinação desses ale- los pode gerar animais: 2 Mm – heterozigoto com produção de melanina, pois o gene que determina a produção (M) é dominante sobre o gene que determina a não produção (m); 2 MM – homozigoto dominante com produção de melanina; 2 mm – homozigoto recessivo albino. 2 heterozigose – ao contrário da homozigose, na heterozigose há a ocorrência de dois alelos diferentes formando um gene. Como no exemplo anterior, o gene heterozigoto é aquele – 165 – Genética e produção Mm condicionado a produção de melanina, visto que o gene dominante M é o responsável pela produção dela pelo organismo e o recessivo m é responsável pela não produção. Sendo o alelo M dominante em relação ao m, a condição de produção de melanina é expressa nesse caso. 2 vigor híbrido – em poucas palavras, o vigor híbrido é o quando os filhos apresentam melhor desempenho do que a média de pro- dução/desempenho dos pais. O vigor híbrido ocorre quanto mais diferente geneticamente forem os pais, por isso, está relacionado com a heterozigose. Animais de mesma raça que acasalam entre si produzem filhos com menos variação genética, já que os próprios pais têm material geneticamente semelhantes por serem da mesma raça. Animais de raças diferentes que acasalam entre si geram filhos com maior vigor híbrido, pois os genes dos pais são diferentes entre si, e, ao serem herdados pelos filhos, produzem combinações mais diferentes ainda e com menos chance de ocorrência de alelos reces- sivos, que estão ligados a deficiências e a doenças genéticas. Você sabia A consanguinidade é o grau de parentesco que indivíduos têm em comum. Os progenitores (pai e mãe) transferem, cada um, 50% dos genes para a prole; ou seja, o filho e o pai ou o filho e a mãe tem um coe- ficiente de consanguinidade de 0,5. Quanto maior o grau de parentesco entre os indivíduos, maior a consanguinidade. Irmãos de mesmo pai e mãe também têm coeficiente de 0,5. Em uma explicação mais simplista, animais com grau de parentesco ele- vado apresentam maiores chances de terem os “mesmos genes”, o que leva a uma condição denominada homozigose. Na reprodução animal, quanto maior a homozigose, maiores as chances de anomalias congênitas relacionadas principalmente a problemas de fertilidade e sobrevivência (por exemplo, acondroplasia, agnatia, espinha curta etc.) e, por isso, nos tipos de cruzamentos veremos que em alguns casos o que se busca é a uti- lização de animais com reduzidos ou nenhum grau de consanguinidade. Técnicas de Produção Animal – 166 – 9.3.2 Principais tipos de cruzamentos 9.3.2.1 Cruzamento absorvente O método de cruzamento absorvente é utilizado quando o objetivo é formar uma nova raça no rebanho. São utilizados animais mestiços ou de outra raça diferente, como fêmeas e machos da raça pretendida. Basicamente, são realizados cruzamentos sucessivos entre machos da raça desejada e fêmeas e, com o passar das gerações, se obterá cada vez mais animais homogêneos da raça dos machos e a raça das fêmeas será diluída (figura 9.3). Por meio desse modelo de cruzamento, a partir da quarta geração (F4), os animais nascidos já serão praticamente idênticos fisicamente (93,75% da raça paterna) ao macho puro original, de modo que não é possível distinguir a olho nu as diferenças entre o animal puro e o de quarta geração. O cruzamento absorvente é amplamente utilizado quando a intenção do criador é introduzir uma nova raça ou ampliar um rebanho pequeno já existente a partir de um único animal puro. Esse tipo de cruzamento pode ser aplicado em bovinos, caprinos e ovinos, por exemplo. Nessa modalidade, podem ser utilizados quaisquer raças, inclusive de várias espécies que se deseje purificar. Por isso, ao final da geração F4, os animais são chamados de puro por cruza (PC), uma vez que são geneti- camente muito semelhan- tes ao primeiro ascen- dente (raça que se deseja ampliar no rebanho). Alguns criadores de ovi- nos de corte têm utilizado o cruzamento absorvente Figura 9.3 – Esquema de cruzamento absorvente Fonte: elaborada pela autora. – 167 – Genética e produção para estabelecimento de raças como Dorper, Border Leicester e Corrie- dale. Pecuaristas de bovinos tem aplicado essa técnica na raça Senepol. Apesar de ser um método simples de ser conduzido, amplamente utilizado em várias espécies e de ampliação rápida de rebanhos, o cru- zamento absorvente facilita a diminuição gradual do vigor híbrido dos descendentes, ou seja, à medida que as gerações vão sendo avançadas, a genética do macho vai adquirido maior proporção se comparada à gené- tica da fêmea; dessa forma, o material genética da progênie é cada vez mais semelhante entre si (uma vez que se objetivaa produção de um reba- nho homogêneo de uma única raça) e, como visto anteriormente, o grau de consanguinidade é cada vez maior, contribuindo para a diminuição do vigor híbrido dos animais descendentes. 9.3.2.2 Cruzamento simples (produção de F1) O cruzamento simples é o modelo que vem se tornando cada vez mais popular no cruzamento animal por ser muito vantajoso em termos econômicos, pois, como será visto a seguir, a produção de F1 é a que garante a maior expressão do vigor híbrido e, consequentemente, maiores taxas de produção. No modelo de cruzamento simples são utilizados macho e fêmea de raças distintas, que originarão o filho F1, a geração 1 de mestiço (figura 9.4). Figura 9.4 – Esquema de cruzamento simples Fonte: elaborada pela autora. Apesar de ser o modelo que traz o benefício de um alto vigor híbrido, apresenta como desvantagem o descarte de machos e fêmeas progenitores, pois não poderão ser utilizados em outros acasalamentos dentro de um mesmo rebanho, uma vez que influenciaram na composição genética. Técnicas de Produção Animal – 168 – Quando se deseja a obtenção do máximo vigor híbrido com a com- binação de duas raças, o cruzamento simples é o mais indicado e pode ser utilizado na reprodução de bovinos, suínos e coelhos. Em bovinos, o mais comum é que sejam feitos cruzamento simples entre zebuínos e taurinos, como Nelore e Angus, respectivamente. Nas aves, utiliza-se o cruzamento simples para obtenção do F2, que é uma derivação do F1. São utilizados dois grupos de duas raças, e que cada grupo gerará um F1. Posteriormente, os dois F1 gerados (um F1 em cada grupo) são cruzados entre si, gerando o F2 (figura 9.5). Figura 9.5 – Esquema de cruzamento para obtenção de F2 em aves Fonte: elaborada pela autora. 9.3.2.3 Cruzamento triplo (tricross) (PESO 03) Se no cruzamento simples são utilizadas duas raças distintas para a produção de um híbrido, no cruzamento triplo são utilizadas três raças, ou seja, a cada geração são alternados os reprodutores. Esse cruzamento mantém elevado nível de vigor híbrido e permite que as fêmeas F1 sejam utilizadas, evitando o descarte que ocorre no cruzamento simples. No cruzamento triplo, primeiramente são utilizados dois animais de raças distintas e, como produto, tem-se o F1. Em seguida, a fêmea F1 é acasalada com outro macho, gerando o tricross, que é a combinação de material genético dos três animais envolvidos (figura 9.6). Na bovi- nocultura, é muito comum que se utilize o tricross no cruzamento entre Holandês e Zebu (Gir ou Guzerá) em um primeiro momento, e que o F1 – 169 – Genética e produção seja cruzado com uma segunda raça europeia, como Pardo-suíça, Jersey ou Simental. Figura 9.6 – Esquema de cruzamento triplo Fonte: elaborada pela autora. 9.3.2.4 Cruzamento para obtenção de nova raça (5/8) A produção de animais 5/8 é considerada, na maioria das vezes, a melhor opção para a criação de novas raças, no qual se utiliza duas raças já estabelecidas que têm características desejáveis e não desejáveis. Nesse modelo, obtenção do animal 5/8, o objetivo é repassar boas características e suprimir aquilo que não se deseja. A princípio, são utilizados dois animais de raças distintas, que por sua vez dão origem a um animal com 50% do pai (1) e 50% da mãe (1). A filha ½ é casalada com um segundo macho puro da raça do pai (1), gerando um descendente ¾ do pai (1) e ¼ da mãe (1). A segunda filha então acasala com um macho puro da raça da mãe (1), dando origem à cria 5/8 conforme esquema a seguir (figura 9.7). Figura 9.7 – Esquema de produção de animal 5/8 Fonte: elaborada pela autora. Técnicas de Produção Animal – 170 – Saiba mais Girolando Na bovinocultura leiteira, o exemplo clássico que representa a produ- ção do 5/8 é a raça Girolando, na qual se utiliza o macho da raça Gir e a fêmea da raça Holandesa (figura 9.8). O Girolando é uma ótima opção para criadores brasileiros porque é a mistura da raça holandesa, que tem ótima aptidão para a produção de leite, mas, por ter origem euro- peia, não se adapta muito bem ao clima tropical, com a raça Gir, que apresenta maior rusticidade e adaptabilidade a climas mais quentes. Figura 9.8 – Animais da raça Gir (A), Holandesa (B) e Girolando (C) Fonte: Shutterstock.com/ Via Rural yk/Clara Bastian/ Jaboticaba Fotos 9.3.2.5 Cruzamento alternativo Apesar de ser uma modalidade de cruzamento pouco utilizada, o cruzamento alternativo é uma opção muito interessante porque sua prin- cipal vantagem é que grande parte do vigor híbrido animal é mantido ao longo das gerações. Isso se deve ao fato de que a alternação entre os machos a cada nova geração permite uma maior heterozigose. E, como foi estudado anteriormente, a heterozigose está diretamente relacionada ao vigor híbrido, contribuindo para o aumento de produtividade e demais taxas zootécnicas. No cruzamento alternativo, são utilizados machos de duas ou mais raças, que são usados a cada cruzamento das fêmeas provenientes de – 171 – Genética e produção outros pais (figura 9.9). Ou seja, caso a opção seja alternar duas raças de macho, por exemplo, as filhas da raça X são cruzadas com machos da raça Y, sucessivamente, as filhas da raça Y são cruzadas com machos da raça X. Uma possibilidade de aplicação do cruzamento alternativo seria a utilização de Nelore e Angus como progenitores primários e, em seguida, a fêmea ½ seria acasalada com um macho Senepol, dado origem a uma fêmea ½ Senepol, ¼ Nelore e ¼ Angus. A partir daí, é iniciada a rotação, e essa fêmea seria acasalada novamente com um Nelore. Figura 9.9 – Esquema de cruzamento alternativo Fonte: elaborada pela autora. Embora o vigor híbrido nesse tipo de cruzamento seja mantido alto, a principal desvantagem nesse modelo é a necessidade de manter duas (ou mais) raças de reprodutores distintas, gerando mais custo de produção. 9.4 Unidades de medida Uma das principais carências da pecuária brasileira é a falta de con- trole dos índices zootécnicos dos rebanhos. Os índices zootécnicos são dados e valores numéricos que representam diversos fatores de cres- cimento, desenvolvimento e reprodução. Refletem numérica e objeti- Técnicas de Produção Animal – 172 – vamente o cenário produtivo do rebanho e auxiliam o criador, técnico, zootecnista, engenheiro agrônomo ou médico veterinário nas tomadas de decisão. As avaliações dos índices, as anotações e a acuracidade dos dados são de extrema importância na orientação dos profissionais envolvidos no manejo do rebanho, independentemente da espécie trabalhada. Ao longo dos últimos anos, criadores e proprietários vêm percebendo a importância do registro dessas informações, ainda que poucos deles se baseiam de fato nesses dados para definir estratégias. A aferição do desempenho animal por meio dos índices zootécnicos é uma ferramenta que conduz o desenvolvimento da pecuária a novos pata- mares de produção, permitindo ao pecuarista, por exemplo: 2 comparar a atividade atual com o que era feito no passado, ava- liando se houve aumento de produção, por exemplo; 2 levantar os pontos fortes e fracos da sua produção e criar lista de prioridades sobre o que deve ser resolvido com mais urgência; 2 estabelecer metas de produção 2 analisar o benefício de novas tecnologias introduzidas ou novos manejos; 2 ter maior controle financeiro da atividade. As unidades de medida utilizadas para determinar os índices são mui- tas, por isso, com base no que foi proposto por Rolim (2014), foram sele- cionadas as principais unidades representadas a seguir: i. período de serviço – refere-se ao intervalo entre o parto e a pró- xima concepção. A busca pelo menor tempo de serviço garante menor intervalo entre partos e, consequentemente, mais animais em lactação.ii. intervalo entre partos – é um dos fatores mais importantes na avaliação de eficiência dos rebanhos leiteiros. É constituído pela soma do período de serviço (número de dias entre o parto e a próxima cobertura) e de gestação. Pesquisadores afirmam que intervalos curtos entre partos levam a uma maior produção de – 173 – Genética e produção leite durante a vida útil do animal, ao passo que intervalos maio- res entre partos tendem a diminuir a produção leiteira. iii. idade à primeira cobertura – este índice indica a idade da fêmea quando ocorre a primeira tentativa de concepção (figura 9.10). Evidentemente, quanto mais nova a fêmea, mais rápido é o retorno do inves- timento e dos gastos de manutenção desse animal. Entretanto, é importante que o ani- mal esteja totalmente pronto anatômica e fisiologicamente. iv. taxa de concepção – indica o número de fêmeas que ficaram prenhes em relação ao número total de fêmeas que foram inse- minadas ou montadas. Esse valor é um ótimo indicativo para avaliar a fertilidade das fêmeas e a qualidade do sêmen v. taxa de prenhez – mede o tempo que leva para as fêmeas aptas ficarem prenhes a cada intervalo de 21 dias vi. taxa de natalidade – é calculado com base no número de nasci- dos vivos divido pelo número de fêmeas prenhes (figura 9.11). vii. taxa de desmama – revela o percentual de crias que chegaram à idade de desmama Figura 9.10 – Reprodução animal por meio de monta natural Fonte: Shutterstock.com/ O.PASH Figura 9.11 – Nascimento de bezerro Fonte: Shutterstock.com/Kurt Vansteelant Técnicas de Produção Animal – 174 – comparado ao total de crias nascidas em um ano. Para bovino- cultura, por exemplo, o valor ideal para taxa de desmama é algo em torno de 95 a 97%. Caso em um rebanho a taxa esteja abaixo do indicado, pode ser indício de baixa habilidade materna para as fêmeas ou manejo incorreto. viii. conversão alimentar – é definida como o consumo total de alimento dividido pelo peso médio do animal. É um índice muito importante para a pecuária, no geral, por estar diretamente ligado ao custo de produção, especialmente ao custo de ração, suplementos, entre outros. Animais com baixa conversão ali- mentar se alimentam, mas não conseguem transformar a comida em peso, o que leva a uma perda econômica, pois o gasto com a alimentação é alto e não há retorno produtivo. O controle da produção por meio dos índices zootécnicos é uma ferra- menta fundamental para o gerenciamento da atividade pecuária nos tempos atuais e auxiliam os criadores, buscando um aumento da eficiência produ- tiva da propriedade. Contudo, a máxima produtividade nem sempre se tra- duz em máxima rentabilidade, sendo assim, o controle zootécnico deve ser sempre utilizado em combinação com o controle financeiro da propriedade. Conclusão O principal objetivo do melhoramento genético é atingir níveis maio- res de produção, produtividade e qualidade dos produtos, levando em consideração as necessidades do mercado consumidor e das condições do sistema de produção. A incorporação de animais domésticos no modo de vida do homem, como subsistência ou para exploração econômica, faz parte da evolução do ser humano. Por isso, os animais podem ser considerados elementos ativos do desenvolvimento tecnológico. O Brasil, assim como vários outros países, é diretamente beneficiado pela utilização desses animais. Nos primeiros anos após a colonização portuguesa, bovinos, suínos, ovi- nos e equinos tiveram destaque na economia e na sociedade durante o ciclo do açúcar e do ouro. – 175 – Genética e produção O convívio do homem com o animal contribuiu para o modo de evo- lução e adaptação de espécies domesticadas. Assim como os animais evo- luíram e vêm evoluindo ao longo do tempo, a interferência do homem na domesticação e na seleção animal também contribuiu para a evolução e, consequentemente, para a criação e o desenvolvimento de raças por meio da seleção e do melhoramento genético. Neste capitulo foram estudados alguns modelos de cruzamentos comerciais, como cruzamento absorvente, ideal quando o objetivo é for- mar uma nova raça no rebanho; cruzamento simples, utilizado quando se deseja uma maior expressão do vigor híbrido e, consequentemente, maio- res taxas de produção; cruzamento triplo, para manter elevado nível de vigor híbrido e permitir a utilização das fêmeas F1; produção de 5/8, para criação de novas raças; e o cruzamento alternativo, por manter grande parte do vigor híbrido animal ao longo das gerações. Finalmente, tam- bém foram estudados os conceitos dos principais índices zootécnicos que devem ser levados em consideração na criação de animais. Atividades 1. De acordo com o texto do capítulo, o que é um animal de raça? Quem define os parâmetros para que determinado animal seja considerado puro ou não? 2. Explique por que, no geral, deve-se evitar a consanguinidade em programas de cruzamentos comerciais. 3. Explique, resumidamente, como é formado o Girolando, a prin- cipal vantagem dessa raça e qual método de cruzamento é utili- zado na obtenção desses animais. 4. Quais são as vantagens de se analisar os índices zootécnicos de um rebanho? 10 Parâmetros zootécnicos e gestão da produção A qualidade e, consequentemente, a produtividade de um animal criado com fins econômicos deve ser avaliada levando em consideração alguns fatores, e não de maneira subjetiva ou superficial. Por isso, identificar os animais mais produtivos e efi- cientes, com embasamento técnico, seguindo parâmetros zootéc- nicos, tem sido umas das maiores dificuldades dos criadores. A identificação e seleção de animais compatíveis com a ati- vidade desenvolvida pela propriedade, juntamente com a gestão desse negócio, têm o poder de transformar qualquer negócio, do menor ao maior. Gerenciar é ter conhecimento do que precisa ser feito e como fazê-lo, de maneira eficiente. Por meio do processo de ges- tão, uma propriedade se desenvolve, aprimora suas atividades e, por conseguinte, alcança seus objetivos. Todos os envolvidos no processo devem ter comprometimento com os princípios, os valores e os padrões de qualidade estabelecidos. Neste capítulo, veremos as principais características utilizadas na comparação e na identificação dos animais, além das ferramentas que auxiliam os criadores na condução da propriedade rural. Técnicas de Produção Animal – 178 – 10.1 Avaliação animal A identificação dos animais é uma prática utilizada constantemente por todos aqueles envolvidos na criação de animais, seja para produção visando ao lucro, ou simplesmente por subsistência. A comparação é feita, frequentemente, quando se confronta um ou mais animais entre si, tanto na compra de novos indivíduos para incorporação a um rebanho já exis- tente, como para definir aqueles que serão vendidos. Ou, ainda, para sele- cionar os mais produtivos, mais fortes, mais bonitos e, consequentemente, os piores e menos eficientes. O processo de escolha pode ser feito de maneira técnica e baseada em indicadores confiáveis, ou de maneira mais natural, com base em obser- vações pessoais e subjetivas. Qualquer que seja o modo, é certo que as escolhas realizadas com critério ou seguindo um determinado raciocínio tendem a fornecer melhores resultados. Sendo assim, nos últimos anos, vêm sendo desenvolvidas pesquisas, metodologias e unidades de medida que orientem os responsáveis na seleção dos melhores animais. De acordo com os objetivos da criação, são definidos alguns aspec- tos mais relevantes. Por exemplo, quando o rebanho é conduzido para a produção de carne, leva-se em consideração parâmetros sobre o tempo e a qualidade da musculatura desenvolvida pelo animal, bem como a velo- cidade de crescimento, uma vez que esses indicadores estão diretamenterelacionados à quantidade e à qualidade da carne. Já em rebanhos espe- cializados na produção de leite, são considerados animais de qualidade aqueles que apresentam bom desenvolvimento do sistema mamário e a aptidão da raça para produzir leite. Para auxiliar a pessoa responsável na definição das melhores carac- terísticas, são formados dois conjuntos que agrupam os principais atribu- tos, quais sejam: características de observação direta e características de observação indireta. 2 Características de observação direta: são aquelas percebidas ao olhar o animal. Podem ser objetivas ou subjetivas. 2 Avaliação objetiva: aquela que utiliza determinados recursos ou instrumentos que fornecem valores objetivos, – 179 – Parâmetros zootécnicos e gestão da produção como fitas métricas, balanças, ultrassom, entre outros (figura 10.1). Figura 10.1 – Avaliação do comprimento de peixe Fonte: Shutterstock.com/IrinaK 2 Avaliação subjetiva: aspectos subjetivos como cor, pela- gem, formato de partes do corpo (chifre, dentes, casco etc.), feitos de maneira subjetiva, levando em consideração a opi- nião do avaliador (figura 10.2). Figura 10.2 – Avaliadores conferindo aspectos de cor e pelagem em feira de animais Fonte: Shutterstock.com/Mysikrysa 2 Características de observação indireta: aquelas dependen- tes de processos, testes e cálculos mais elaborados. Algumas Técnicas de Produção Animal – 180 – delas, inclusive, só são feitas após o abate do animal. Ganho de peso, conversão alimentar, libido, rendimento de carcaça, entre outros, são alguns exemplos de características de obser- vação indireta. Saiba mais A evolução dos concursos e exposições Durante muitos anos, o valor de animais de raça puros esteve vinculado aos prêmios que ganhavam em concursos e exposições agropecuárias organizadas por associações de criadores. Os avaliadores técnicos, especialistas nas raças, eram os responsáveis por definir as notas atribuídas aos animais concorrentes, de acordo com as características físicas que podiam ser observadas no momento da avaliação. Tratava-se, entretanto, de uma definição subjetiva, com base na percepção de cada avaliador, não levando em conta fatores que não podiam ser observados a olho nu, mostrando-se ineficiente na avalia- ção do desenvolvimento fisiológico ou expressão produtiva daqueles animais, por exemplo. Buscando aprimorar as análises, foram desenvolvidas, mais recente- mente, outras opções de avaliação, baseadas em estudos científicos e no desenvolvimento de novas tecnologias, como as provas de ganho de peso, os testes de progênie e avaliação pelo DNA. A prova de ganho de peso é uma verificação de desempenho de bovi- nos de corte que tem como objetivo identificar indivíduos superiores dentro das características de interesse. São realizadas por criadores, empresas, associações ou instituições de pesquisa. Os testes devem ser repetidos com frequência, a cada geração. O teste de progênie apresenta maior precisão do que a prova de ganho de peso, pois consegue informar com exatidão as características que o reprodutor consegue passar aos descendentes. É uma técnica ampla- mente utilizada na produção leiteira principalmente, em que são feitas comparações entre os descendentes de reprodutores. Por depender da avaliação das crias, é um método que leva muito tempo e é mais caro. – 181 – Parâmetros zootécnicos e gestão da produção Dentre as técnicas mencionadas, a avaliação pelo DNA é a mais recente de todas elas e ainda está em desenvolvimento. Por ser uma metodolo- gia incipiente, apresenta custo elevado e dependente de outras análises químicas e laboratoriais. 10.2 Parâmetros zootécnicos Independentemente da característica (direta ou indireta), é necessário que se estabeleçam unidades padrão para que, onde quer que seja feita a avaliação, ela siga um só critério, garantindo que os animais obedeçam a uma mesma referência. Sendo assim, de acordo com Rolim (2014), podem-se agrupar as características mais observadas em classes para melhor apreciação. 10.2.1 Características físicas Normalmente essas características são traduzidas em notas ou núme- ros, porém são valores atribuídos subjetivamente, de acordo com a per- cepção de quem está avaliando. E, embora se utilize de uma grandeza, é considerada uma avaliação subjetiva. 2 Raça: características raciais dependem do padrão pré-determi- nado por juízes de associações especia- lizadas, com conhe- cimento profundo do fenótipo da raça em questão. São avalia- dos, por exemplo, for- mato da cabeça, cor e formato dos chifres, cor e tipo de pelagem e disposição de alguns membros corporais (figura 10.3). Figura 10.3 – Cavalo da raça Clydesdale Fonte: Shutterstock.com/Muskoka Stock Photos Técnicas de Produção Animal – 182 – 2 Disposição corporal: são avaliados aspectos corporais desejá- veis em todos os animais no geral, independente da raça. Esses aspectos indicam qualidade estética, mas também condições funcionais e fisiológicas dos animais, ou seja, permitem avaliar se ele está plenamente desenvolvido, com capacidade de produ- zir de maneira saudável. São avaliados: 2 formatos de pernas e pés e o conjunto dos aprumos, que apontam longevidade animal, capacidade de percorrer lon- gas distâncias e viver sem dores, facilidade de gestação e parto, entre outros. 2 estatura e tamanho corporal estão associados à produti- vidade de carne, principalmente, uma vez que animais maiores tendem a apresentar maior rendimento de car- caça. Entretanto, no caso de fêmeas, não é desejável que sejam muito grandes, pois valores elevados dessa carac- terística estão associados a fêmeas menos produtivas e menos longevas. 2 linha superior e coluna dorsal são indicadores de estrutura óssea forte e bem desenvolvida, demonstrando capacidade para suportar maiores pesos. 2 tamanho e posicionamento do sistema mamário demons- tram a possibilidade das fêmeas em expressar seu potencial genético para gestação e produção de leite, permitindo que se atinjam níveis de produção desejados e adequados para cada raça específica, bem como mantenham o animal fisi- camente saudável. 10.2.2 Características do produto São características que indicam a qualidade do produto final. Nos animais domésticos estudados ao longo do livro, os principais produtos avaliados são carne, leite, lã e pele. – 183 – Parâmetros zootécnicos e gestão da produção São avaliados, por exemplo, teor de gordura e proteína do leite, tama- nho e peso do ovo (figura 10.4), maciez e textura da carne, qualidade da lã, docilidade (em búfalos, por exemplo), entre outros fatores. Figura 10.4 – Avaliação de qualidade em ovos Fonte: Shutterstock.com/didesign021 10.2.3 Características de capacidade de produção As características de capacidade de produção se relacionam com aquelas vistas no tópico anterior, porém se diferenciam com relação ao parâmetro em si. Em outras palavras, as avaliações das características do produto visam analisar aspectos qualitativos, ao passo que a capaci- dade de produção avalia efetivamente a quantidade do que foi produzido. Por exemplo, são analisados quantos litros de leite foram produzidos, ou quantos quilos de lã foram obtidos por lote tosquiado. 10.2.4 Características de eficiência produtiva A eficiência produtiva compreende o grupo de características que analisa a precocidade produtiva dos animais, ou seja, a relação entre o tempo e a quantidade de carne/, leite, lã, etc. produzida. As medidas mais trabalhadas são velocidade de ordenha, ganho de peso (normalmente diá- rio), conversão alimentar e peso em faixas de idade. Técnicas de Produção Animal – 184 – 10.2.5 Características reprodutivas das fêmeas As caraterísticasreprodutivas das fêmeas se confundem um pouco com as características de produção, porque a aptidão para produção de leite e de crias está intimamente ligada aos dois parâmetros. Incluem- -se também, às características de reprodução, fatores relacionados à sanidade animal e aptidão materna. Dentre as principais característi- cas, ressalta-se: 2 precocidade 2 idade ao primeiro cio e ao primeiro parto 2 maternidade 2 h a b i l i d a d e materna (cui- dado com as crias) (figura 10.5) 2 m o r t a l i d a d e durante a lactação 2 produtividade e eficiência 2 tamanho da cria ao nascer e ao desmame 2 intervalo entre partos 2 coberturas por gestação Figura 10.5 – Ovelha recém-parida Fonte: Shutterstock.com/Malachi Jacobs – 185 – Parâmetros zootécnicos e gestão da produção 10.2.6 Características reprodutivas dos machos A principal função do macho nos rebanhos é a reprodução para geração de descendentes. Sendo assim, os reprodutores são avaliados principalmente quanto a sua capacidade reprodutiva. Normalmente, os paramentos são ava- liados com a realização de exames andrológicos, que analisam o aparelho reprodutor do animal como um todo e também fatores relacionados, como a libido. Recomenda-se que o acompanhamento da saúde dos reprodutores seja feito anualmente, analisando aspectos como libido, concentração de espermatozoides no sêmen e volume de sêmen produzido. 10.3 Gestão da produção Como já estudado anteriormente em outros capítulos, no geral os sis- temas de criação são classificados em intensivo, semi-intensivo e exten- sivo. Os conceitos atribuídos a esses sistemas, bem como suas caracte- rísticas, foram definidos há algumas décadas, tempo em que a área da propriedade e a quantidade de animais definia como o criador conduziria seu negócio. Existia, inclusive, uma relação inversa entre o tamanho da área disponível e o uso tecnológico, isto é, antigamente se definia que em áreas pequenas se tinha muitos animais e era feito uso de tecnologias mais modernas, o que conhecemos por sistema intensivo, ao passo que, em áreas grandes, era frequente a adoção do sistema extensivo, com pou- cos animais e baixa tecnologia. Atualmente, contudo, essa relação simplista entre área, quantidade de animais e adaptação tecnológica está entrando em desuso, dando lugar à inten- sidade e à adequação de tecnologias, de acordo com especificidades de cada local. Mais importante que a mera classificação de sistemas é a avaliação da adequação das ferramentas utilizadas às necessidades de cada criador, valori- zando os registros corretos e habituais, cuidados sanitários, nutrição adequada e bem-estar animal, independentemente do nível tecnológico (Figura 6). Técnicas de Produção Animal – 186 – Figura 10.6 – Comparação entre acompanhamentos em propriedades de menor e maior nível tecnológico. A: Registro manual. B: Registro computadorizado Fonte: Shutterstock.com/only_kim/ TORWAISTUDIO É importante mencionar que todo criador, de qualquer nível de aplicação tecnológica, pode e deve buscar a intensificação da sua atividade pecuária. Para tanto, é necessário que todos os envolvidos com a criação conheçam profundamente a atividade, tendo o hábito de documentar todos os acontecimentos importantes, resultados de produção, condições sanitá- rias e de bem-estar animal. Dessa maneira, será mais fácil estabelecer os pontos de melhoria e evolução, aplicando as práticas mais adequadas a cada cenário. Hoje existem diversos estudos, técnicas, empresas públicas de assis- tência e profissionais capacitados que podem auxiliar os criadores de todos os sistemas de criação, de qualquer nível de tecnologia empregado e para diversas espécies economicamente exploradas. Todas essas ferra- mentas são capazes de elevar a produção e eficiência da propriedade, sem necessariamente elevar os custos de investimento. Muitas vezes, é possí- vel ter ganhos expressivos de produtividade com a adoção de técnicas e ferramentas de simples manejo. Alguns métodos muito conhecidos no mundo corporativo, por admi- nistradores e engenheiros de produção, começam aos poucos a fazer parte da vida do produtor rural. Atualmente, é possível encontrar fazendas que aplicam os conhecimentos de ferramentas como 5S e ciclo PDCA e que já têm melhoria expressiva nos resultados de produção. – 187 – Parâmetros zootécnicos e gestão da produção 10.3.1 5S A metodologia 5S teve seu desenvolvimento no Japão, após a Segunda Guerra, com o principal objetivo de reorganizar as indústrias japonesas para uma volta ao mercado. Sendo assim, foram propostas etapas que deveriam ser seguidas ao longo do processo, para que se tivesse maior eficiência de produção. Essa ferramenta foi fundamental à época, porque permitiu um grande avanço sem que para isso fossem necessários grandes investimentos. Por se tratar de ajustes com relação à organização e ao controle de produção, pode ser facilmente aplicada na pecuária. Normalmente, a rotina intensa de manejo ocupa a maior parte do tempo numa propriedade rural e o responsável, ao final do dia de trabalho, já não tem tempo ou disponibilidade suficientes para levantar todos os pontos de melhoria ou relatar todas as dificuldades vividas. A mentalidade predominante entre os criadores e técnicos é que os pequenos ajustes diários não fazem muita diferença no resultado final de produção, e realmente não fazem. A soma de cada dia, entretanto, gera um total de perdas produtivas, de eficiência e, consequentemente, de lucro enormes. O conceito de 5S é baseado em cinco palavras japonesas, todas ini- ciando com a letra S, que buscam direcionar comportamentos dentro de um processo. São elas Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu, Shitsuke (figura 10.7). Figura 10.7 – Esquema da ferramenta 5S Fo nt e: Sh ut te rs to ck .c om / Y ao w al ak R ah un g Técnicas de Produção Animal – 188 – 2 Seiri: utilização Diz respeito à utilização consciente e equilibrada dos mate- riais, ferramentas, equipamentos, dados, etc. Nessa primeira fase é importante que se observe tudo o que é realmente neces- sário para a realização das tarefas e o que já não estiver mais uso, o que estiver quebrado, obsoleto ou sem função deve ser descartado. Com a aplicação dessa primeira regra, é possível observar quase que imediatamente o ganho de espaço físico, controle de estoque, redução de desperdícios e, consequente- mente, de custos. 2 Seiton: organização Como o próprio nome sugere, a segunda etapa consiste em defi- nir os locais apropriados para materiais, ferramentas, insumos, etc., de modo que tudo o que for necessário esteja sempre à mão e volte ao seu lugar específico após o uso. É importante defi- nir setores de manejo e, em cada um deles, organizar todos os equipamentos necessários para aquela atividade, evitando que se perca tempo procurando os materiais necessários, e liberando mais espaço para a realização do serviço. Um local organizado permite que seja realizado um trabalho mais seguro e mais efi- ciente (figura 10.8). Figura 10.8 – Exemplo de organização do espaço de trabalho Fonte: Shutterstock.com/J. Lekavicius – 189 – Parâmetros zootécnicos e gestão da produção 2 Seiso: limpeza O princípio de limpeza estabelece a importância de se manter um local limpo, sem resíduos e objetos que não têm mais utilidade. Obviamente que o grau de limpeza varia de acordo com o local de trabalho. Por exemplo, o nível de limpeza de um hospital é muito diferente do da limpeza de um curral. Em ambos, con- tudo, é possível manter uma qualidade satisfatória com relação à higienização. Ademais, em atividades nas quais há a manipu- lação de animais, como vacinação, ordenha, parto, alimentação, entre outros, é indispensável que o local estejaadequadamente limpo (figura 10.9), para receber os animais e evitar a contami- nação por microrganismos; e os animais também sejam higieni- zados quando necessário, por exemplo, no momento da ordenha. Figura 10.9 – (A) Galpão limpo; (B) Higienização dos tetos da vaca Fonte: Shutterstock.com/Stephen Barnes/ pixinoo 2 Seiketsu: saúde A questão da saúde aplicada a esse tópico diz respeito à saúde, principalmente das pessoas envolvidas no processo produtivo. Abrange tanto saúde física, como mental, social e ambiental. Por isso, tão importante quanto manter condições agradáveis aos animais, é garantir que os funcionários envolvidos se sintam amparados, trabalhando em condições legais e saudáveis. 2 Shitsuke: disciplina O senso de disciplina está diretamente ligado a cada uma das fases anteriores. Trata-se da busca contínua pelo comprometi- Técnicas de Produção Animal – 190 – mento com tudo o que já foi visto e com a organização de uma maneira geral. A disciplina, como ponto finalizador da metodo- logia 5S, tem como principal papel garantir que as ações toma- das nos quatro primeiros passos sejam mantidas com frequência, de maneira que se torne um hábito e que as regras previamente estipuladas sejam seguidas diariamente. Também nesse último estágio podem ser elaborados padrões e procedimentos a serem seguidos. A criação de procedimentos, normas e padrões garante uma otimização do processo, sem perda de tempo. Além do uso eficiente e consciente dos recursos disponíveis. Apesar de a metodologia 5S ter sido desenvolvida a princípio para fábricas e indústrias, podemos ver que pode ser facilmente adaptada à realidade do pecuarista. Ademais, não é um processo engessado, sendo possível adaptá-lo a diversos cenários, desde o pequeno criador até gran- des rebanhos. 10.3.2 Ciclo PDCA O ciclo PDCA, assim como a metodologia 5S, é uma ferramenta de gestão de quali- dade. Criado na década de 20 por Walter A. Shewart, esse método só ficou conhecido em 1950, quando William Edward Deming o colocou em prá- tica após a Segunda Grande Guerra, auxiliando japoneses a desenvolverem suas indústrias. Por isso, também é conhecido como Ciclo de Deming ou ciclo de Shewart. A sigla, em inglês, faz refe- rência a ações que compõem o ciclo, mostrando que não existe Figura 10.10 – Ciclo PDCA Fonte: Shutterstock.com/ananaline – 191 – Parâmetros zootécnicos e gestão da produção um fim, uma vez que, ao final da “última” etapa, deve-se retornar à pri- meira. Plan, Do, Check e Act são as atividades que visam à melhoria con- tínua de um sistema (figura 10.10). 2 Plan: planejar A primeira etapa consiste em definir os problemas ou pontos de melhoria dentro do processo e estabelecer prioridades entre eles. Definida a lista de preferência, para cada ponto devem ser desig- nadas as metas, ou seja, para cada problema, deve-se estipular qual o resultado a ser obtido. Assim, se em uma propriedade rural o principal ponto a ser melhorado é a produção de litros de leite, por exemplo, é necessário estabelecer uma meta que deverá ser atingida, por exemplo, aumentar em 15% a produção de leite. Uma vez levantados os problemas e definidos os objetivos, o próximo passo dentro desse ponto é analisar como o processo vem sendo desenvolvido e definir os gargalos da produção que impedem que os resultados sejam melhores. A partir daí pode- rão ser elaborados os planos de ação. O plano de ação consiste em ações que devem ser adotadas para melhorar o processo. Seguindo o exemplo anterior, possíveis planos de ação para a questão da baixa produção de leite poderiam ser: 2 análise do fornecimento de alimento: verificar se a quanti- dade de alimento fornecido está de acordo com a necessi- dade do animal (já sabemos que vacas em lactação necessi- tam de uma dieta diferenciada); 2 quantidade de ordenhas por dia: aumentar o número de ordenhas de acordo com a idade e o período de lactação; 2 variação climática: dar preferência por ordenhar os animais em períodos de clima ameno e planejar a época de lactação para dias não muito frios nem muito quentes. 2 Do: fazer Momento para colocar em prática tudo o que foi levantado na etapa anterior. Caso sejam necessários treinamentos para aper- Técnicas de Produção Animal – 192 – feiçoamento das atividades, essa é a hora. Também é nessa etapa que são passadas informações àqueles diretamente ligados direta ou indiretamente às atividades, garantindo que todos tenham compreendido a importância da padronização do processo. 2 Check: checar (conferir) Com o plano de ação funcionando, durante a etapa de confe- rência, os responsáveis devem registrar todos os acontecimen- tos, se o plano de ação está sendo seguido, quais as dificuldades encontradas, etc. É importante ter em mente que nem sempre o que é planejado na teoria pode ser aplicado no dia a dia com per- feição. Por isso, a etapa de checar o andamento das atividades é tão importante. No futuro, tudo o que foi registrado e todas as percepções dos funcionários servirão de base para avaliação das metas e das ações. 2 Act: agir De acordo com o que foi anotado na etapa anterior, os responsá- veis poderão verificar quais os pontos de falha e os de acertos. Além disso, nessa fase, é possível confirmar se as metas estipu- ladas na fase de planejamento foram alcançadas. Como mencionado anteriormente, as ferramentas de gestão não têm um final imediato, pois sempre existem pontos a serem melhorados, pro- cessos a serem aprimorados. São instrumentos que devem ser conduzidos de maneira contínua, qualquer que seja o tamanho da propriedade e inde- pendente de investimento tecnológico. Síntese A qualidade e a produtividade de uma criação animal com fins eco- nômicos devem ser avaliadas levando em consideração alguns fatores técnicos. Sendo assim, é fundamental que a identificação dos animais siga parâmetros zootécnicos. Independentemente do nível tecnológico da propriedade, é certo que as escolhas realizadas com critério ou seguindo padrões e procedimentos tendem a fornecer melhores resultados. – 193 – Parâmetros zootécnicos e gestão da produção Diante dessa importância, foram elencadas algumas características a serem observadas no rebanho. Em um primeiro momento, elas são dividi- das em características de observação direta - aquelas percebidas ao olhar o animal, podendo ser objetivas ou subjetivas – e características de obser- vação indireta - aquelas dependentes de processos, testes e cálculos. Em seguida, foram apresentadas as principais classes de características, como características físicas, de produto, de capacidade de produção, de eficiên- cia produtiva e de características reprodutivas de machos e fêmeas. Por último, apresentamos a importância de uma gestão de produção, em que mais importante que a antiga classificação de sistemas (intensivo, semi-intensivo e extensivo), é a avaliação das ferramentas que podem ser utilizadas de acordo com as necessidades de cada criador. Uma gestão eficiente permite que os pecuaristas tenham condições de desenvolver suas atividades e as ferramentas de gestão são um ótimo ponto de partida, pois contribuem com melhorias não só de produção, mas também em condições socioeconômicas, decisões estratégicas e avanços na produção. Atividade 1. Explique o que são as provas de ganho de peso e o teste de progênie. 2. Explique resumidamente como são divididas as características que normalmente são observadas nos animais de produção. 3. Considere que você é o gerente de uma propriedade rural e deseja aplicar a metodologia 5S. Resuma o processo que você adotaria para melhorar os resultados de produção. 4. Explique resumidamente as etapas do ciclo PDCA. Gabarito Técnicas de Produção Animal – 196 – 1. Introduçãoà produção animal 1. A adaptação dos animais foi fundamental porque permitiu a sua permanência e adaptação ao ambiente natural. Uma vez adapta- dos, homem e animal conviviam em locais próximos e seu rela- cionamento se deu de maneira natural. No início, o ser humano era nômade e, junto com os animais, estava sempre migrando em busca de alimentos. Com o passar dos anos passou a se fixar em um local e nele desenvolver o necessário para sua subsistên- cia. Foi quando o processo de domesticação tomou mais força e o homem primitivo percebeu que poderia aproveitar os recursos fornecidos pelos animais. Estes se adaptaram às necessidades humanas e, geração após geração, desenvolveram características que os definem como animais domesticados. 2. Na definição de Zootecnia devem estar presentes palavras-chave como ciência, criação/produção de animais e atividade econô- mica (ou sinônimos). Importante frisar de se trata de uma ciên- cia que estuda basicamente a criação e o manejo de animais com finalidade econômica. 3. Atualmente, o estudo do comportamento e do bem-estar ani- mal tem como principal objetivo promover o equilíbrio entre os métodos de criação e produção e as condições de manejo, visando proporcionar melhores condições aos animais, a fim de contribuir para altas taxas de produtividades e desempenho alia- dos ao seu bem-estar dos animais. 4. Exemplo de resposta: i. Declaração dos Direitos dos animais, Art. 2. Todo o ani- mal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do – 197 – Gabarito homem. Pode ser aplicado aos animais domésticos como cães e gatos, pois seus donos devem protegê-los, forne- cendo uma vida digna, com cuidado e proteção. ii. Declaração dos Direitos dos animais Art. 7. Todo o ani- mal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso. Pode ser aplicado nas proprieda- des que usam animais como tração animal, por exemplo, cavalos, jumentos etc. Esses animais não devem ser explo- rados para trabalho pesado, sendo um direito deles a ali- mentação e o repouso. 2. Anatomia animal 1. Anatomia topográfica: são utilizados termos padronizados para indicar a posição ou direção de partes do corpo. Divide-se o corpo animal em cabeça, pescoço, tronco, cauda e membros. Para determinar as estruturas, deve-se considerar que o animal está em pé, com os quatro membros apoiados no solo, pescoço e cabeça retos de maneira que as narinas estejam voltadas para à frente e os olhos voltados para o horizonte. Anatomia sistemática ou descritiva: são estudados os sistemas que permitem o funcionamento do corpo do animal como um todo. As células e os tecidos com estrutura e função similares são agrupados em órgãos ou sistemas. Divide-se em áreas, como osteologia, sindesmologia, miologia, neurologia etc. 2. O sistema digestório é responsável pela digestão e absorção dos alimentos, gerando compostos vitais para a vida animal (carboi- dratos, proteínas, gorduras etc.). Ruminantes são animais que possuem vários compartimen- tos para a realização da digestão, quais sejam: rúmen, retículo, omaso e abomaso. Nesse tipo de digestão, o alimento é rumi- nado (o animal ingere o alimento rapidamente, completando a mastigação mais tarde). Técnicas de Produção Animal – 198 – Monogástricos possuem um compartimento simples para a digestão. 3. Ciclo estral: intervalo entre um cio e outro. É controlado por dois hormônios, hormônio foliculoestimulante (FSH) e hormô- nio luteinizante (LH). 2 Pró-estro: produção do hormônio FSH, que estimula a produ- ção dos folículos nos ovários, juntamente com outro hormô- nio, o estradiol. Em seguida, há o aumento de produção de LH. 2 Estro: início da receptividade sexual da fêmea e momento no qual ocorre a ovulação, quando os níveis de FSH dimi- nuem e os de LH aumentam. 2 Metaestro: trata-se da fase pós-ovulatória. Há redução do nível de estrogênio e aumento de progesterona, que inibe o desenvolvimento de novos folículos caso haja fecundação. Quando não há fecundação, o óvulo é eliminado e a pro- gesterona retorna a níveis baixos, deixando de atuar até o próximo ciclo. 4. Inseminação artificial: o sêmen é coletado do macho é inserido na fêmea manualmente (não há a cópula). As principais vanta- gens são a utilização de um macho com caraterísticas desejáveis, redução de problemas decorrentes da cruza natural, custo relati- vamente baixo e simples execução. FIV: a fecundação do óculo ocorre fora do corpo do animal. É coletado o óvulo da fêmea desejada e fecundado com o macho em ambiente laboratorial. Em seguida, o óvulo fecundado é inserido na fêmea. As principais vantagens são a possibilidade de se utilizar uma matriz com boas características somente como produtora de óvulos, sem que necessite ficar prenhe. Clonagem: técnica de cópia genética de um indivíduo. Na clo- nagem, são produzidos indivíduos idênticos à célula originária. Essa é a principal diferença da clonagem para as demais técni- cas, pois nas outras há a fecundação em algum momento, já na clonagem não. – 199 – Gabarito 3. Bovinocultura de corte e leite 1. Nos últimos 40 anos, o Brasil tem evoluído consistentemente na produção pecuária. O primeiro abanco que pode ser mencio- nado é com relação à melhoria genética, que tem proporcionado ganhos de produtividade e utilização de raças com maior adapta- bilidade ao cenário brasileiro. Em segundo lugar pode ser men- cionado a questão alimentar, com a utilização de pastagens de maior qualidade e suplementação animal. Por fim, o manejo e o bem-estar animal também contribuíram para o avanço produtivo no Brasil. Os sistemas de produção intensivo e semi-intensivo garantem animais terminados mais precocemente e o bem-estar animal associado à mediadas sanitárias permite uma produção segura e saudável. 2. i. No nascimento: deve ser fornecido o colostro, o primeiro leite que possui altas doses de anticorpos, proteínas, car- boidratos etc. Este é de fundamental importância visto que, ao nascerem, os filhotes não possuem anticorpos suficientes para sua proteção. O ideal é que a bezerra se alimente do colostro desde o nascimento até as próximas 12 horas. ii. A partir da 1ª semana: a partir da primeira semana, pode ser fornecido concentrado à cria. iii. A partir do 1º mês: o feno pode ser ofertado a partir dos 30 dias de vida do animal, e seu consumo proporciona um desenvolvimento mais rápido da musculatura do rumem. iv. Pré-parto: a vaca gestante deve ter uma alimentação ade- quada e diferencia no pré-parto, especialmente nos 30 dias anteriores ao parto, com dieta adequada, pasto baixo, água e sombra. v. Pós-parto: após o nascimento, é fundamental que a vaca receba uma dieta adequada, uma vez que dificilmente con- seguem suprir sozinhas toda a necessidade nutricional para a produção de leite. Técnicas de Produção Animal – 200 – 3. Sistema extensivo: desenvolvido em campo nativo ou sobre pas- tagem sem nenhum tipo de manejo. Geralmente é realizado em grandes áreas, com baixa taxa de lotação, baixa produtividade e pouca utilização de insumos e mão de obra. Sistema intensivo: os animais são criados confinados ou em pastagens, mas com utilização de suplementação alimentar no cocho. São empregadas diversas tecnologias e o uso da terra é melhor aproveitado. Normalmente são feitas a recuperação da fertilização do solo, ajuste de carga animal, planejamento forra- geiro, melhoramento dos pastos e manejo intensivo Sistema semi-intensivo: são utilizadas algumas técnicas de produção para alcançar melhores índices de produtividade, como, por exemplo, suplementação alimentar no pasto. Esse sistema encontra-se entre os sistemas extensivo e intensivo. 4. Os animais devem ser encaminhados para a área de espera,onde aguardam para serem ordenhados. É preferível que o piso da área de espera seja de concreto e construído de maneira a facilitar a limpeza. Em seguida, os animais são encaminhados para a sala de ordenha, que deve possuir instalações adequadas que garan- tam a sanidade e bem-estar do animal, além de atender às exi- gências técnicas e legais. Para a ordenha, o responsável deve uti- lizar roupas adequadas e limpas, lavar as mãos e emergir as tetas em solução desinfetante e secá-las com papel toalha descartável. Após a ordenha, o leite é levado para a sala de leite, composta por tanques que acondicionam o leite recém-ordenhado, além de servir como local de lavagem e armazenagem de equipamentos. É importante que a sala de leite e de ordenha sejam próximas, evitando que o leite demore para ser transferido para os tanques. Os equipamentos utilizados devem ser higienizados ao final de cada ordenha. As tetas devem ser limpas e secas novamente. 4. Caprinocultura e ovinocultura 1. Os principais fatores que fazem com que a criação de caprinos e ovinos no mundo seja possível são dois: – 201 – Gabarito a) Por serem os primeiros animais a ser domesticados, as téc- nicas de criação são bastante conhecidas e praticadas há muitos anos. Esse fator contribui para que essa atividade exista até hoje. b) A rusticidade e a adaptabilidade dos caprinos e ovinos às condições climáticas desafiadoras é outro fator que permite a criação desses animais. Por meio de um processo de adap- tação, seleção natural e também por influência do homem, foi possível desenvolver rebanhos com animais adaptados a essas regiões. 2. Principais gargalos e sugestões: 2 Pouca ou nenhuma capacitação dos produtores – desenvol- ver profissionais habilitados a auxiliar os produtores/cria- dores rurais em órgãos como EMATER, EMBRAPA etc.; 2 Baixa qualidade do produto – o principal fator para melho- rar essa condição é o manejo adequado. A falta de quali- dade está diretamente ligada à alimentação de qualidade e em quantidades adequadas; cuidados com higiene e manejo das instalações. 2 Sazonalidade da produção de carne – métodos de criação mais tecnificados garantem carne de qualidade durante todo o ano. Como os cultivos no brasil são na sua maioria extensivos, ficam dependentes das condições climáticas e do pasto. 3. O ideal é que seja ofertado entre 50 e 70% de pasto, sendo que a suplementação deve ser feita em ocasiões especiais, como, por exemplo, para ovelhas no terço final da gestação e em lactação, cordeiros desmamados e reprodutores em período de monta, ou quando o clima não estiver favorável e a pastagem estiver em más condições e com pouca qualidade. O melhor tipo de pasto é o de tamanho médio a baixo. Ademais, a pastagem deve ser, na medida do possível, sempre nova e fresca. O mais aconselhado é a utilização do sistema de manejo rotacionado, para evitar a infestação de pragas e a superutilização do solo. E, sempre que Técnicas de Produção Animal – 202 – possível, diversificar a cultura entre forrageiras e leguminosas, para conservar mais o solo, além de combater possíveis doenças e pragas. 4. A integração entre bovinos e caprinos consiste na criação das duas espécies ao mesmo tempo em uma mesma propriedade. Essa integração tem como principal benefício a otimização do uso da pastagem, uma vez que bovinos e caprinos têm compor- tamento de pastejo diferentes e, por isso, exploraram de maneira distinta o pasto. Diferentemente de bovinos, que tendem a con- sumir as pontas do capim e são menos seletivos, caprinos têm preferência pelas partes mais baixas e tendem a selecionar as melhores partes. No final, tem-se um aproveitamento quase que total do pasto. Esse maior consumo também colabora para a diminuição de doenças provenientes da pastagem, melhorando o aspecto sanitário dos rebanhos. 5. Bubalinocultura 1. Os búfalos são animais que apresentam boa adaptabilidade, pois são capazes de se desenvolver em regiões que oferta de alimen- tos de baixa qualidade como áreas alagadiças e de solos pobres; longevidade, por viverem até mais de 40 anos e serem produ- tivos também por bastante tempo; elevada taxa de fertilidade e reprodutividade. Comparados aos bovinos, os búfalos têm melhor aproveitamento de forragens com valor nutritivo baixo, pastejo em áreas de pouco utilização por outras espécies e áreas não utilizáveis para a agricultura. 2. A carne de búfalo apresenta características bem aceitas pelo público em geral. Trata-se de uma carne saudável, saborosa e de boa aparência. Comparativos entre a carne bubalina e a carne de vaca indicam que a primeira apresenta 40% menos coleste- rol, 55% menos calorias, 11% a mais de proteínas e menos gor- dura que a segunda. O leite de búfala possui maior concentração (menos água e mais matéria seca), mais nutrientes (proteínas, gorduras e minerais), rendimento industrial e maior agregação – 203 – Gabarito de valor, o leite bubalino tem cerca de duas vezes mais valor do que o leite bovino. 3. O processo de amansamento inicia com a perfuração nasal. É realizada a perfuração do septo, onde será colocada uma argola pela qual passara a corda que servirá como controle da direção do animal. Com a perfuração já cicatrizada, é iniciado o ades- tramento, que é quando o animal aprende efetivamente como trabalhar. No início, os animais devem se acostumar com os arreios, sem que seja realizado nenhum trabalho. Em seguida, quando eles já estiverem familiarizados com a cinta ou colar, deve-se iniciar a tração de pequenos objetos e a carga deve ser aumentada de acordo com a adaptação do animal. Nesta fase também são ensinados os comandos de andar e parar, bem como os direcionamento de esquerda e direita. 4. Centro de manejo: deve ser construído perto da sede da proprie- dade para que o acesso seja rápido e fácil. O ideal é que exista um espaço específicos destinados aos animais (curral, área de ordenha, bezerreiros, área de vacinação etc.). Um piso de fácil manutenção e limpeza, por exemplo, diminui significativamente a contaminação dos animais por fezes. Cochos: devem estar distribuídos no pasto ou no centro de manejo, em locais de fácil acesso. Para cochos em área externa, é fundamental que estejam em áreas de boa drenagem e dimen- sionado para tender todos os animais. Cercas: a altura entre um fio e outro da cerca não deve ser maior que 20 cm, podendo ser de arame liso ou farpado. A distância entre os mourões não deve ultrapassar os 2 m. 6. Avicultura e suinocultura 1. Antigamente, a avicultura era basicamente uma atividade fami- liar, na qual a criação das aves era feita em quintais, sítios e chá- caras, de maneira extensiva. Os animais eram criados soltos e sua alimentação era baseada no se tinha disponível no ambiente, Técnicas de Produção Animal – 204 – como insetos e pequenos vertebrados, e, ocasionalmente, grãos. Esse modo de criação fazia com que o abate acontecesse após os 6 meses de idade das aves. Atualmente, ainda se encontra mui- tas propriedades que criam dessa maneira, mas em geral trata-se de uma produção de subsistência ou para abastecimento de um mercado mais próximo, menor e restrito. Para um consumo em maior escala, que atenda à demanda das grandes cidades, o mais comum é a avicultura comercial. 2. Os animais têm maior grau de liberdade e, ao mesmo, tempo, são empregadas algumas técnicas de criação voltadas para um desempenho zootécnico satisfatório. O mais comum nesse tipo de criação é que as aves tenham acesso a áreas livres de pastejo durante parte do dia, mas que também sejam alimentadas com ração e confinadas durante a noite. Essa nova alternativa sistema 100% intensivo surgiu nos últi- mos anos em virtude de uma crescente demanda por parte do mercado consumidor por alimentos mais saudáveis,com menos utilização de químicos e com grande preocupação com o bem- -estar dos animais. 3. Para criação de aves, deve-se utilizar a cama de maravalha. Além disso, servem como conforto térmico, retendo calor e pro- tegendo os animais do frio. O ideal é que no verão a cama tenha 5 centímetros de altura e que no inverno esse número dobre (10 cm). A construção do aviário deve ser feita no sentido leste-oeste (a fim de se evitar a incidência excessiva de raios solares), com a construção de muretas e aplicação de telas nas laterais. Na criação de suínos, o ideal é que existam locais específicos, pelo menos, para fêmeas gestantes, recém-paridas, filhotes e ani- mais adultos). Esses ambientes devem ser construídos em locais altos, com boa ventilação, drenagem e declividade. 4. Sistema Extensivo: Animais são criados soltos, sem separação por sexo e idade, com pouco uso de tecnologia. São alimen- tados com sobras de alimentos e restos das lavouras. A baixa capacidade técnica e a falta de assistência profissional contri- – 205 – Gabarito buem para uma baixa produtividade. Sistema Semiextensivo: Animais são separados de acordo com sexo e idade. Há mais investimento em instalações e tecnologia e, por isso, apresenta maiores taxas de crescimento e maior qualidade do produto. SISCAL: Animais são mantidos em piquetes. Possui baixo custo de implementação e manutenção. Deve-se observar espe- cificações sobre o terreno, como declividade, qualidade das gramíneas, infiltração e erosão do solo. SISCON: Animais são mantidos confinados todo o ciclo. É um sistema com alto custo de implementação, mão de obra especializada e animais com genética melhorada para atingirem altas taxas de produtividade. Alto custo, impacto ambiental negativo e o bem-estar animal são as principais desvantagens. 7. Piscicultura e ranicultura 1. A temperatura é importante porque as reações químicas que acontecem na água são dependentes dela. Caso ela atinja níveis acima ou abaixo do desejável, os organismos podem cessar seu desenvolvimento e morrerem. Ademais, o controle da tempe- ratura influencia nas atividades fisiológicas dos animais (como digestão, reprodução e alimentação). O oxigênio está no meio aquático através da penetração direta proveniente do ar atmos- férico, bem como por meio da fotossíntese realizada por orga- nismos vegetais. A temperatura tem grande influência na quan- tidade de oxigênio dissolvido disponível para os peixes, em que quanto menor a temperatura, mais oxigênio estará presente no meio; em temperaturas mais elevadas, menor quantidade de oxi- gênio terá a água. Acima de 5,0 mg/L é a faixa ótima para pleno desenvolvimento dos peixes. 2. Nos sistemas de viveiro escavado, é aberto no terreno um espaço necessário para a locação dos peixes que serão criados. Trata-se de uma área retangular que pode ser povoada diretamente com a adição da água e dos animais, que pode ser feito um acabamento de alvenaria. Nesse sistema, é importante observar as condições Técnicas de Produção Animal – 206 – do relevo do terreno, bem como o tipo de solo. Os tanques-rede são estruturas colocadas diretamente no ambiente natural (rios, açudes, mar etc.) e os animais são confinados nesses espaços, mas ficam em contato com a água do local. 3. Restos de alimentos, fezes e urina, quando lançados em ambientes aquáticos, produzem um composto tóxico para o desenvolvimento de organismos aquáticos, a amônia. Depen- dendo da concentração de amônia e seus derivados (como nitrito e nitrato), os animais podem sofrer irritações de pele, o que pode levar à morte deles. Para evitar a produção de amônia nos viveiros, é importante que seja feito o controle do alimento ofertado (evitando a superalimentação), oxigenação constante dos tanques, renovação da água periodicamente e limpeza constante. 4. O sistema confinado é constituído por um tanque retangular dividido em duas áreas, seca e molhada. O percentual de área molhada vem aumentando desde a sua criação. Atualmente, os criadores têm optado por uma divisão de 60 a 70% de área ala- gada, e os demais de área seca. O sistema anfigranja é seme- lhante ao anterior por possuir área seca e molhada, porém, a disposição é diferente. Em alguns, pode-se observar a adoção de abrigos para os animais. O ranabox é um sistema que visa eco- nomia de espaço e consiste em caixas empilhadas umas sobre as outras onde os animais são confinados. Nesse sistema, toda a área é alagada. 8. Sanidade Animal 1. Procedimentos preventivos são ações profiláticas (prevenção) durante o manejo animal, como vacinação, vermifugação, tes- tes sorológicos para detecção de doenças, testes parasitológicos, entre outros. Procedimentos curativos são ações tomadas após a ocorrência de um problema, como doenças, infestações, machucados, into- – 207 – Gabarito xicações. Diferentemente dos procedimentos preventivos, nes- ses casos o animal já não está mais saudável, logo, necessita de algum tipo de tratamento para curá-lo. 2. Os sinais vitais são a frequência respiratória, temperatura corpo- ral e frequência cardíaca. A frequência respiratória é a entrada e a saída de ar dos pulmões. É observada através dos movimentos do tórax, do abdômen e das narinas. A temperatura corporal cor- responde ao equilíbrio entre o calor produzido e o calor perdido pelo organismo. A temperatura elevada pode estar relacionada a algum tipo de infecção. De modo contrário, aqueles que apresen- tam temperatura corporal abaixo do normal, podem estar prestes a sofrer algum tipo de choque. A frequência cardíaca representa o número de batimentos cardíacos por minuto. A frequência acima dos valores normais pode ser reflexo de variações fisioló- gicas e ambientais. Algumas infecções também podem acarretar uma alteração da frequência cardíaca. 3. O estresse é um estado gerado por diversos tipos de estímulos que levam a um aumento na secreção dos hormônios adrenalina e cortisol. O estresse pode produzir diversos efeitos, desde os imediatos ou mediatos, aos passageiros ou duradouros. Qual- quer que seja, os sinais de saúde são alterados em menor ou maior intensidade. 4. O processo inflamatório consiste na reação do sistema imunoló- gico à invasão de micro-organismos indesejados, como vírus e bactérias. Esse processo é marcado por um conjunto de ações, como febre, vermelhidão, inchaço e dor. A febre é uma reação ao aumento dos processos fisiológicos do organismo que ocorrem para evitar um ataque de outro organismo invasor. O organismo aumenta os processos para que a alta temperatura combata a agressão externa. A vermelhidão aparece no local afetado em razão do aumento de atividade e maior circulação de sangue. O inchaço é uma consequência da existência de micro-organismos patogênicos ou tecido lesionado. Tanto para a expulsão de pató- genos, quanto na cura do tecido prejudicado, o corpo do ani- Técnicas de Produção Animal – 208 – mal intensifica algumas atividades naquela área, ocasionando o inchaço. A dor é uma resposta do organismo que serve como alerta para o cérebro sobre a existência de algum problema. 9. Genética e produção 1. De acordo com o texto e com Rolim (2014), um animal de raça é aquele que tem características que se encaixam em um padrão e consegue transferir essas características a seus descendentes. Essas características que compõem o padrão esperado são defi- nidas pelas associações de raças. 2. A consanguinidade é o grau de parentesco que indivíduos têm em comum, por isso quanto maior o grau de parentesco entre os indivíduos, maior a consanguinidade. Animais com grau de parentesco elevado apresentam maiores chances de terem os “mesmos genes” porque vieram de progenitores semelhan- tes (irmãos entre si, pai e filha, avô e neta, etc.), o que leva a uma condição denominada homozigose.Na reprodução animal, quanto maior a homozigose, maiores as chances de anomalias congênitas relacionadas principalmente a problemas de fer- tilidade e sobrevivência e, por isso, nos tipos de cruzamentos veremos que, em alguns casos, o que se busca é a utilização de animais com reduzidos ou nenhum grau de consanguinidade. 3. Na raça Girolando, utiliza-se o macho da raça Gir e a fêmea da raça Holandesa. O Girolando é uma ótima opção para criado- res brasileiros porque é a mistura da raça holandesa, que tem ótima aptidão para a produção de leite e da raça Gir, que apre- senta maior rusticidade e adaptabilidade a climas mais quentes. Para a obtenção do Girolando, é realizado o cruzamento para obtenção de 5/8. Para a produção, são utilizados dois animais de raças distintas, que dão origem a um animal com 50% do pai (1) e 50% da mãe (1). Esse animal fêmea ½ é casalada com um segundo macho puro da raça do pai (1), gerando um descendente ¾ do pai (1) e ¼ da mãe (1). A segunda filha, então, acasala com um macho puro da raça da mãe (1), dando origem à cria 5/8. – 209 – Gabarito 4. A análise do desempenho animal por meio dos índices zootécni- cos é uma ferramenta que auxilia no desenvolvimento da pecuá- ria, permitindo ao pecuarista, por exemplo: 2 comparar as técnicas do presente com o que era feito no passado, avaliando se houve aumento de produção, de cus- tos, de produtividade etc. 2 levantar os pontos fortes e fracos do rebanho. 2 estabelecer metas de produção. 2 Analisar o benefício de novas tecnologias introduzidas, ou novos manejos. 2 ter maior controle financeiro da atividade. 10. Parâmetros zootécnicos e gestão da produção 1. A prova de ganho de peso é uma verificação de desempenho de bovinos de corte que tem como objetivo identificar indivíduos superiores dentro das características de interesse. São realizadas por criadores, empresas, associações ou instituições de pesquisa. Os testes devem ser repetidos com frequência, a cada geração. O teste de progênie apresenta maior precisão do que a prova de ganho de peso, pois consegue informar com exatidão as carac- terísticas que o reprodutor consegue passar aos descendentes. É uma técnica amplamente utilizada na produção leiteira princi- palmente, em que são feitas comparações entre os descenden- tes de reprodutores. Por depender da avaliação das crias, é um método que leva muito tempo e é mais caro. 2. As características podem ser divididas em físicas, que são valo- res atribuídos subjetivamente, de acordo com a percepção de quem está avaliando (por exemplo raça e disposição corporal); de produto, que indica a qualidade do produto final; de capa- cidade de produção, que avalia efetivamente a quantidade do que foi produzido; de eficiência produtiva, que analisa a preco- cidade produtiva dos animais; e de características reprodutivas Técnicas de Produção Animal – 210 – de machos (avaliados principalmente quanto a sua capacidade reprodutiva) e fêmeas (reprodução e fatores relacionados à sani- dade animal e à aptidão materna 3. Seiri (utilização): Observar o que é necessário para a realização das tarefas e o que já não estiver mais em uso, quebrado, obso- leto ou sem função deve ser descartado. Seiton (organização): definir os locais apropriados para materiais, ferramentas, insu- mos e os locais específicos para atividades como vacinação, ali- mentação e marcação. Seiso (limpeza): limpeza e higienização dos locais, como curral, equipamentos de vacinação, recipien- tes de alimentação, pisos e chão. Seiketsu (saúde): promover o bem-estar dos animais, com locais adequados para descanso e para alimentação, além de realizar as atividades de acordo com o clima, buscando manter o conforto térmico. Para os funcioná- rios, é importante garantir equipamentos apropriados, bem como proteção individual. Shitsuke (disciplina): garantir que tudo que foi desenvolvido nas etapas anteriores seja mantido. 4. Planejar: definir os problemas ou pontos de melhoria e priorizá- -los. Em seguida, definidos os principais problemas, estipular as metas para cada ponto levantado. Por fim, elaborar o plano de ação. Fazer: colocar em prática as ações definidas no plano, bem como treinamentos. Conferir: registrar todos os acontecimentos e verificar se o plano de ação está sendo seguido, quais as difi- culdades e percepções encontradas. Agir: compilar os resultados das ações e confirmar se as metas estipuladas na fase de planeja- mento foram alcançadas. Referências Técnicas de Produção Animal – 212 – ABREU, Urbano Gomes Pinto de; LOPES, Paulo Sávio. Análise de Sis- temas de Produção Animal: Bases Conceituais. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2005. 29 p. AGRONEGOCIO INTERIOR. Bem-estar animal na suinocul- tura. 2016. Disponível em: <http://agronegociointerior.com.br/wp-con- tent/uploads/2016/04/bem-estar-animal.jpg>. Acesso em: 16 jan. 2019. AGROPECUARIA, Revista. Inseminação artificial em bovinos: tec- nologia de ponta. Disponível em: <http://www.revistaagropecuaria. com.br/2015/02/13/inseminao-artificial-em-bovinos-biotecnologia-de- -ponta/>. Acesso em: 10 fev. 2019. ALEXANDER, George Razook. Secretaria de Agricultura e Abasteci- mento. Prova de ganho de peso: normas adotadas pela estação experi- mental de zootecnia de sertãozinho. 40. ed. Sertãozinho: Instituto de Zoo- tecnia, 1997. AMARAL, Gisele et al. Avicultura de postura: Estrutura da cadeia produ- tiva, panorama do setor no Brasil e no mundo e o apoio do BNDES. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, v. 43, n. 1, p.167-207, mar. 2016. AQUACULTURE BRASIL (Laguna). Peixe BR lança o Anuário da Piscicultura 2018. 2018. Disponível em: <http://www.aquaculturebra- sil.com/2018/02/19/peixe-br-lanca-o-anuario-da-piscicultura-2018/#>. Acesso em: 29 abr. 2019. ARTMANN, Tairine Aimara et al. Melhoramento genético de bovinos 1/2 sangue taurino x 1/2 zebuínos no Brasil. Revista Cientifica de Medicina Veterinária, Garça, v. 22, n. 12, p.1-19, jan. 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL (São Paulo). Resumo do setor de aves. Disponível em: <http://abpa-br.com. br/setores/avicultura/resumo>. Acesso em: 13 abr. 2019. ______. História da Avicultura no Brasil. Disponível em: <http://abpa- -br.com.br/setores/avicultura>. Acesso em: 8 abr. 2019. ______. História da Suinocultura no Brasil. Disponível em: <http:// abpa-br.com.br/setores/suinocultura>. Acesso em: 08 abr. 2019. – 213 – Referências AYROZA, Daercy Maria Monteiro de Rezende; CARMO, Fernando Jesus; AYROZA, Luiz Marques da Silva. Panorama da Piscicultura no Brasil. Casa da Agricultura, São Paulo, v. 3, n. 14, p.9-10, jul. 2011. AZEVEDO, Danielle Maria Machado Ribeiro; ALVES, Arnaud Azevedo; SALES, Ronaldo de Oliveira. Principais Ecto e Endoparasitas que Aco- metem Bovinos Leiteiros no Brasil: Uma Revisão. Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal, Ceará, v. 2, n. 1, p.43-55, maio 2008. BAYER. Verminoses em Bovinos. Disponível em: <https://www.saudea- nimal.bayer.com.br/pt/doencas/visualizar.php?codDoenca=verminoses- -em-bovinos>. Acesso em: 10 maio 2019. BERNARDES, Otavio. Bubalinocultura no Brasil: situação e importância econômica. Revista Brasileira de Reproduçao Animal, Belo Horizonte, v. 31, n. 3, p.293-298, jul. 2007. BÉRTOLI, Cláudia Damo. Introdução à Zootecnia. Camboriú: Ifsc, 2008. 55 p. BOYAZOGLU, J. Livestock farming as a factor of environment, social and economic stability with special reference to research. Livestock Pro- duction Science, v. 57, 14p., 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Alimentos Funcionais. 2009. Elaborado por Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: <http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/220_alimentos_funcionais.html>. Acesso em: 12 mar. 2019. ______. Ministério da Saúde. O que é sistema imunológico. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-e-hiv/o-que-e-sis-tema-imunologico>. Acesso em: 08 maio 2019. BRITO, Maria Aparecida. Agência de Informação Embrapa. Mastite. Dis- ponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/ arvore/AG01_202_21720039247.html>. Acesso em: 10 maio 2019. BROOM, D. M; FRASER, A. F. Comportamento e bem-estar de ani- mais domésticos. 4 ed. Barueri, SP: Manole, 2010. 438 p. CAMARGO, Wellington. Controle de Qualidade Total. Curitiba: IFPR, 2011. Técnicas de Produção Animal – 214 – COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Aná- lise Mensal: Carne de Frango. Brasília, 2017. ______. Perspectivas para a agropecuária: Safra 2018/2019. 6. ed. Bra- sília: Conab, 2018. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Declaração Universal dos Direitos dos Animais. 1978. Disponível em: <http://por- tal.cfmv.gov.br/uploads/direitos.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2019. CORR, S. A. et al. Radiographic assessment of the skeletons of Dolly and other clones finds no abnormal osteoarthritis. Scientific Reports, [s.l.], v. 7, n. 1, p.1-3, 23 nov. 2017. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1038/ s41598-017-15902-8. DAMÉ, Maria Cecília Florisbal. Búfalo: animal de tração. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2006. 24 p. DELPRETE, Sâmila Esteves. FIV em bovinos: conheça a forma mais rápida de melhorar a genética do rebanho. Disponível em: <https://tecno- logianocampo.com.br/fiv-em-bovinos/>. Acesso em: 10 fev. 2019. EMBRAPA. A qualidade da carne suína. Disponível em: <https://www. embrapa.br/qualidade-da-carne/carne-suina>. Acesso em: 8 abr. 2019. ______. Caprinos e Ovinos. Boletim do Centro de Inteligência e Mer- cado de Caprinos e Ovinos: Pesquisa Pecuária Municipal 2017: efetivo dos rebanhos caprinos e ovinos. 5. ed. Sobral, 2018. 12 p. ______. Criação de Búfalos: Coleção CRIAR. [s.l]: Embrapa, 1998. 140 p. ______. Informação tecnológica. Pastejo associado de ovinos e bovi- nos. 2010. Disponível em: <https://www.agrolink.com.br/noticias/pastejo- -associado-de-ovinos-e-bovinos_116103.html>. Acesso em: 13 mar. 2019. ______. Manual Técnico de Ranicultura. Brasília: Embrapa Agroindús- tria de Alimentos, 2013. ______. Sugestões para a implantação do sistema intensivo de suínos criados ao ar livre (SISCAL). 14. ed. Brasília: Cnpsa, 1994. – 215 – Referências EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DO RIO GRANDE DO NORTE (EMPARN). . Orientações técnicas sobre criação de ave cai- pira. Natal: Emparn, 2005. 15 p. ESCOLA DE VETERINARIA UFMG (Minas Gerais). Caderno Técnico de Veterinária e Zootecnia: Bem-estar animal. 67. ed. Belo Horizonte: Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia - Fepmvz, 2012. 159 p. EUCLIDES FILHO, Kepler. A EMBRAPA Gado de Corte e a produção de carne de qualidade. 36. ed. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 2000. 5 p. ______. O melhoramento genético e os cruzamentos em bovino de corte. 2. ed. Campo Grande: Embrapa, 1997. FAO. Dairy Production and Products – Milk Production. Disponível em <http://www.fao.org/agriculture/dairy- gateway/milk-production/en/#. V3AZwbgrLIV> Acesso em 20 de fevereiro de 2019 ______. Food And Agriculture Organization Of United Nations. The state of world fisheries and aquaculture 2018 (SOFIA). Roma, 2018. ______. Capacitação para implementar boas práticas de bem-estar ani- mal: relatório do encontro de especialistas da FAO. Roma: Fao, 2009. 61 p. ______. The State of Food and Agriculture. Roma: Fao, 2016. 173 p. FARIA, Caroline. William Edward Deming. Disponível em: <https:// www.infoescola.com/biografias/william-edward-deming/>. Acesso em: 14 jun. 2019. FEDERAL, Governo. Censo Agropecuário: rebanho caprino aumen- tou 16% no Brasil. 2018. Elaborado por Embrapa. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/noticias/economia-e-financas/2018/08/censo- -agropecuario-rebanho-caprino-aumentou-16-no-brasil>. Acesso em: 12 mar. 2019. FERNANDES, Sergio Augusto Albuquerque; ROSSATO, Caio; BER- NARDES, Otavio. Avaliação da produção leiteira de búfalas na região sudoeste de São Paulo. Bol Búfalo ABCB, n.1, 2004. Técnicas de Produção Animal – 216 – FERREIRA, Ademir de Moraes. Importância econômica de intervalos entre partos. Disponível em: <https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/ Agencia8/AG01/arvore/AG01_79_21720039240.html>. Acesso em: 31 maio 2019. FERREIRA, Cláudia Maris. A Importância da Água e sua Utilização em Ranários Comerciais. Panorama da Aquicultura, Rio de Janeiro, v. 13, n. 79, p.15-17, nov. 2003. FORC CENTRO DE PESQUISA EM ALIMENTOS. Leite de búfala tem mais gordura, cálcio, vitamina A e proteínas do que o leite de vaca. Disponível em: <http://alimentossemmitos.com.br/leite-de-bufa- la-tem-mais-gordura-calcio-vitamina-a-e-proteinas-do-que-o-leite-de- -vaca>. Acesso em: 26 abr. 2019. FRANDSON, Rowen D; WILKE, W Lee; FAILIS, Ana Dee. Anatomia e Fisiologia dos Animais Domésticos. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1979. 429 p. GILBERTO ROMEIRO DE OLIVEIRA MENEZES. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Demandas tecnológicas dos sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil – Melhoramento Genético Animal. Brasília: Embrapa Gado de Corte, 2016. 20 p. GOMES, Rodrigo da Costa; FEIJÓ, Gelson Luiz Dias; CHIARI, Luci- mara. Evolução e Qualidade da Pecuária Brasileira. Campo Grande: Embrapa, 2017. 4 p. GONÇALVES, Rafael Garcia; PALMEIRA, Eduardo Mauch. Suino- cultura Brasileira. Observatorio de La Economía Latinoamericana. Revista Academica de Economia, [s.l], v. 71, n. 1, p.1-11, dez. 2006. GOUVEIA, Aurora M.. Sistema digestivo dos ruminantes. Disponível em: <http://www.gestaonocampo.com.br/biblioteca/sistema-digestivo- -dos-ruminantes/>. Acesso em: 10 abr. 2019. GUIMARAES, Clovis. Cabrito, a carne vermelha mais saudável do mundo. Revista de Política Agrícola, São Paulo, v. 2, p.125-126, abr/ mai/jun 2017. – 217 – Referências HAFEZ, B.; HAFEZ, E. S. Reprodução Animal. 7 ed. Barueri, SP: Manole, 2004. 513 p. HELLMEISTER FILHO, Paulo. Efeitos de fatores genéticos e do sis- tema de criação sobre o desempenho e o rendimento de carcaça de frangos tipo caipira. 2002. 77 f. Tese (Doutorado) - Curso de Agronomia, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002. IBAMA. Lei da Vida: Lei dos Crimes Ambientais. 2. ed. Brasília: Ibama, 2014. 64 p. III SEMANA DE PATOLIGA VETERINARIA E 2º SIMPOSIO DE PATOLOGIA VETERINARIA DO CENTRO-OESTE PAULISTA, 2005, Garça. Revista da Faculdade de Medicina Veterinária da FAEF. Garça: Famed, 2005. 4 p. INFOESCOLA. Charles Darwin. Disponível em: <https://www.infoes- cola.com/wp-content/uploads/2017/08/charles-darwin.jpg>. Acesso em: 16 jan. 2019. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indi- cadores IBGE. Brasília: Ibge, 2017. 52 p. ______. Indicadores IBGE: Estatística da Produção Pecuária. Brasília: Ibge, 2018. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Evolução da Piscicultura no Brasil: Diagnóstico e desenvolvimento da cadeia pro- dutiva de tilápia. Rio de Janeiro, 2017. JORGE, André Mendes et al. Características quantitativas da carcaça de bubalinos de três grupos genéticos terminados em confinamento e abati- dos em diferentes estádios de maturidade. Revista Brasileira de Zootec- nia, [s.l.], v. 34, n. 6, p.2376-2381, 2005. JOSÉ PIMENTA. Associação Brasileira de Proteína Animal (abpa). A proteína animal brasileira em 2018: Desafios e Perspectivas. [s.l]: ABPA, 2018. Técnicas de Produção Animal – 218 – KONIG, Horst Erich; LIEBICH, Hans-george. Anatomia dos Animais Domésticos: Texto e Atlas coloridos. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 804 p. KOURY FILHO, William. Mitos e realidade sobre consanguinidade ou endogamia. Revista Abcz, [s.l], v. 10, n. 1, p.1-5, set./out. 2002. LOPES, Marcos Aurélio et al. Uso de ferramentas de gestão na atividade leiteira: um estudo de caso nosul de Minas Gerais. Revista Científica de Produção Animal, Lavras, v. 18, n. 1, p. 26-44, 2016. LOURENÇO JUNIOR, José de Brito; GARCIA, Alexandre Ros- seto. Panorama da Bubalinocultura na Amazônia. Belém: Embrapa Amazônia Oriental (cpatu), 2009. MADELLA-OLIVEIRA, Aparecida de Fátima et al. Aspectos da comercia- lização de carne e leite de bubalinos na região Norte Fluminense. Revista Brasileira de Reproduçao Animal, Belo Horizonte, v. 29, n. 1, p.53-54, jan. 2005. MAIS CARNE SUÍNA. Associação Brasileira dos Criadores de Suí- nos. Bem-estar animal na suinocultura. Disponível em: <http://www. maiscarnesuina.com.br/wp-content/uploads/2015/09/img-bem-estar-1. png>. Acesso em: 16 jan. 2019. MARINHEIRO, Mariana Fontanetti. Enfermidades genéticas com mutações caracterizadas em bovinos. 2011. 17 f. TCC (Graduação) - Curso de Medicina Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zoo- tecnia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botu- catu, 2011. MATTE JÚNIOR, Alexandre Aloys; JUNG, Carlos Fernando. Produção leiteira no Brasil e características da bovinocultura leiteira no Rio Grande do Sul. Ágora, Santa Cruz do Sul, v. 19, n. 1, p.34-47, 5 jan. 2017. MENDES, Judas Tadeu Grassi; PADILHA JUNIOR, João Batista. Agro- negócio, uma abordagem econômica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. 369 p. MIELE, Marcelo et al. O desenvolvimento da suinocultura brasileira nos últimos 35 anos. In: SOUZA, Jean Carlos Porto Vilas Boas et al. Sonho, – 219 – Referências desafio e tecnologia: 35 anos de contribuições da Embrapa Suínos e Aves. Concordia: Embrapa Suínos e Aves, 2011. p. 85-102. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECI- MENTO. Roberto Luiz Teodoro. Empresa Brasileira de Pesquisa Agro- pecuária (EMBRAPA). Cruzamento Triplo ou Tricross. Disponível em: <https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/arvore/ AG01_245_21720039249.html>. Acesso em: 30 maio 2019. ______. Rui da Silva Verneque. Empresa Brasileira de Pesquisa Agro- pecuária (EMBRAPA). Heterose ou Vigor Híbrido. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/arvore/ AG01_234_21720039248.html>. Acesso em: 30 maio 2019. ______. Dados de rebanho bovino e bubalino no Brasil – 2017. 2017. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sanidade-ani- mal-e-vegetal/saude-animal/programas-de-saude-animal/febre-aftosa/ documentos-febre-aftosa/DadosderebanhobovinoebubalinodoBra- sil_2017.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2019. MION, Thiago Denardi et al. Indicadores zootécnicos e econômicos para pequenas propriedades leiteiras que adotam os princípios do Projeto Balde Cheio. Informações Econômicas, São Paulo, v. 42, n. 5, p.5-19, set/out. 2012. MORAES, Paula Louredo. Sistema Digestório das Aves. Disponível em: <https://alunosonline.uol.com.br/biologia/sistema-digestorio-das-aves. html>. Acesso em: 05 fev. 2019. NASCIMENTO, Cristo Nazaré Barbosa do; CARVALHO, Luis Otávio Danin de Moura; LOURENÇO JUNIOR, José de Brito. Importância do Búfalo para a Pecuária Brasileira. In: ENCONTRO SOBRE BUBALI- NOS. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 1., 1979, Araça- tuba. Belém: Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido (cpatu), 1979. p. 1 - 31. OLIVEIRA, Afonso de Liguori. Búfalos: produção, qualidade de carcaça e de carne. Alguns aspectos quantitativos, qualitativos e nutricionais para promoção do melhoramento genético. Revista Brasileira de Reprodu- çao Animal, Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p.122-134, abr. 2005. Técnicas de Produção Animal – 220 – OLIVEIRA, Marcos de. Contribuições dos bovinos brasileiros. Pesquisa Fapesp, São Paulo, v. 264, n. 1, p.68-71, fev. 2018. Disponível em: <http:// revistapesquisa.fapesp.br/2018/02/15/folheie-a-edicao-264/>. Acesso em: 16 abr. 2019. OLIVEIRA, S. R. de. Apostila de Zootecnia Geral. São Gabriel da Cachoeira: IFAM, 2008. 41 p. PAULO, Portal do Estado de S. Evolução da caprino e ovinocul- tura no Brasil. 2006. Disponível em: <https://economia.estadao. com.br/noticias/negocios,evolucao-da-caprino-e-ovinocultura-no-bra- sil,20060704p1387>. Acesso em: 13 mar. 2019. PESSOA, Ricardo Alexandre Silva. Nutrição Animal: Conceitos Ele- mentares. São Paulo: Érica, 2014. PINHEIRO, Cleusa. Piscicultura: Tecnologia e Profissionalismo Fazem a Diferença. Casa da Agricultura, São Paulo, v. 3, n. 14, p.6-8, jul. 2011. PORTAL PRÉ-HISTÓRIA. Eras geológicas. Disponível em: <https://4. bp.blogspot.com/-J9Jlg6Pt7QU/VrhCLIhh1fI/AAAAAAAADpE/ mPeTJi5zR1A/s1600/eras_geologicas_by_piratadandi.jpg>. Acesso em: 16 jan. 2019. REVISTA GLOBO RURAL. Brasil tem 120 milhões de hectares de pastos degradados. mar. 2015. Disponível em: <http://revistagloboru- ral.globo.com/Noticias/Sustentabilidade/ noticia/2015/03/brasil-tem- -120-milhoes-de-hectares-de-pastos-degradados.html>. Acesso em 20 de fevereiro de 2019. REVISTA SUPER INTERESSANTE. Grupo Abril. Como o homem caçava e se alimentava na Pré-História. 2018. Disponível em: <https:// abrilsuperinteressante.files.wordpress.com/2018/07/565c6b2a0e- 216333040099b5thinkstockphotos-875226481.jpeg?quality=70&stri- p=info&resize=680,453>. Acesso em: 16 jan. 2019. RODRIGUES, Milenna Karoline Fernandes et al. Uso do Ecocardiograma na Avaliação Cardíaca de Bovinos. Enciclopédia Biosfera, [s.l.], p.2749- 2771, 4 dez. 2015. Centro Científico Conhecer. http://dx.doi.org/10.18677/ enciclopedia_biosfera_2015_240. – 221 – Referências ROLIM, A. F. M. Produção animal: base da reprodução, manejo e saúde. São Paulo: Érica, 2014. RUTZ, Fernando et al. Avanços na fisiologia e desempenho reprodutivo de aves domésticas. Revista Brasileira de Reproduçao Animal, Belo Horizonte, v. 31, n. 3, p.307-317, jul. 2007. SANTOS, Fábio. Girolando, a raça que mudou a produção de leite no Brasil. 2019. Disponível em: <https://canalrural.uol.com.br/noticias/ pecuaria/leite/girolando/>. Acesso em: 30 maio 2019. SANTOS, Glauco Jonas Lemos; PINHEIRO, Diana Célia Sousa Nunes. Adesão Leucocitária na Medicina Veterinária: Aspectos Moleculares e Enfermidades Relacionadas. Acta Veterinária Brasilica, Fortaleza, v. 6, n. 4, p.249-259, mar. 2013. SEDANO, Claudia. Agência IBGE. Maior concentração de búfalos do país, Ilha do Marajó está no Censo Agro. 2017. Disponível em: <https:// agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/ noticias/17932-maior-concentracao-de-bufalos-do-pais-ilha-do-marajo- -esta-no-censo-agro>. Acesso em: 26 mar. 2019. SENAR. Técnicas de produção animal. Brasília: Senar, 2015. SHEI, Marcelo. O que é – Aquicultura em Sistema de Recirculação de Água?. Disponível em: <http://www.aquaculturebrasil.com/2017/01/30/o- -que-e-aquicultura-em-sistema-de-recirculacao-de-agua/>. Acesso em: 29 abr. 2019. SILVA, Ecarlos Carneiro da. Gestão de propriedades rurais. Brasília: EMATER/DF, 2011. SOUSA, Gioto Ghiarone Terto. et al. Intervalo de parto e período de ser- viço em bovinos de leite. PUBVET, Londrina, v. 6, n. 22, Ed. 209, Art. 1398, 2012. TEIXEIRA, Eliana Maria; TSUZUKI, Natália; FERNANDES, Célia Andressa; Martins, Reginaldo Marcos. Produção Agroindustrial. São Paulo: Érica, 2015. Técnicas de Produção Animal – 222 – TOKARNIA, Carlos H.; DÖBEREINER, Jürgen; PEIXOTO, Paulo V. Deficiências minerais em animais de fazenda, principalmente bovinos em regime de campo. Pesquisa Veterinária Brasileira, [s.l.], v. 20, n. 3, p.127-138, set. 2000. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: <http://dx. doi.org/10.1590/s0100-736x2000000300007>. Acesso em: 13 maio 2019 UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE (USDA). Live- stock and Poultry: World Markets and Trade. [s.l]: Office Of Global Analysis, 2019. 21 p. Disponível em: <https://apps.fas.usda.gov/psdon- line/circulars/livestock_poultry.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2019. VIEIRA, Guilherme Augusto; QUADROS., Danilo Gusmão de. O manejo sanitário e sua importânciano novo contexto do agronegó- cio da produção de pecuária de corte. 2012. Disponível em: <https:// pt.engormix.com/pecuaria-corte/artigos/manejo-sanitario-sua-importan- cia-t37727.htm>. Acesso em: 06 maio 2019. XLV CONGRESSO DA SOBER “CONHECIMENTOS PARA AGRI- CULTURA DO FUTURO”, 45., 2007, Londrina. Gestão da qualidade em propriedades leiteiras. Tupã: Sober, 2007. 13 p. XXVII ENCONTRO DA ANPAD, 27., 2004, São Carlos. Ferramentas de gestão para a agricultura familiar: o uso de sistemas de custeio e indicadores de desempenho. Atibaia: Anpad, 2004. 12 p. XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODU- ÇÃO, 28., 2008, Rio de Janeiro. A etapa planejamento do ciclo PDCA: um relato de experiências multicasos. Santa Maria: Abepro, 2008. 15 p. ZEN, Sergio de et al. Evolução da Avicultura no Brasil. Piracicaba: Cen- tro de Estudos Avançados em Economia Aplicada/esalq/usp, 2014. 5 p. A presente obra tem como objetivo analisar e propor uma reflexão sobre aspec- tos importantes da pecuária brasileira. Inicialmente, o leitor tem contato com conceitos fundamentais de anatomia e fisiologia animal, para que possa com- preender as semelhanças e, principalmente, as diferenças básicas no funcio- namento dos organismos das espécies animais mais comumente utilizadas na criação animal com finalidade econômica. Posteriormente, são trabalhados em cada capítulo as atividades produtivas, como bovinocultura, caprinocultura e ovinocultura, bubalinocultura, avicultura, suinocultura, ranicultura e piscicultura. São apresentados os históricos das atividades e o cenário econômico mundial, para que o leitor tenha uma visão de como cada sistema de criação nacional contribui para o desenvolvimento da pecuária mundial. Ademais, são discuti- dos os principais aspectos das criações, como são conduzidos os diferentes sistemas e o que há de mais moderno nas atividades. Ao longo dos capítulos, o leitor encontra algumas referências explicitas no pró- prio texto, servindo como um referencial sobre aquele assunto. Autores renoma- dos no campo do agronegócio e da produção animal foram utilizados para que as temáticas abordadas contenham informações de qualidade. No decorrer do exto, é possível perceber que as questões da sanidade e do bem-estar animal são inseridas para que o aluno perceba que é possível desenvolver uma produção economicamente viável, lucrativa e tecnológica que respeite a dignidade dos seres vivos e o meio ambiente. A obra se encerra com a abordagem de padrões zootécnicos importantes para a criação animal e trata da importância de uma gestão de mercado bem conduzida, levando em consideração não só questões de ordem prática, como uma análise teórica embasada em estudos científicos. Desse modo, é disponi- bilizado ao leitor um entendimento mais abrangente dos principais pontos da pecuária, além de uma compreensão com fundamentações cientificas, possibi- litando um nível de entendimento mais aprofundado.