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Complementação Pedagógica
Coordenação Pedagógica – IBRA
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SUMÁRIO
OBJETIVOS DO CURSO
UNIDADE I
Gestão da Escola
- Diretor de Escola: Administrador ou Gestor?
- Ensino de qualidade: direito do cidadão;
- A escola eficaz;
- Com a mão na massa.
UNIDADE II
Gestão Escolar: Guia do diretor em 10 Lições
- Fundamentos;
- Lição 1: A escola como sistema;
- Lição 2: A liderança como serviço;
- Lição 3: A escola tem uma responsabilidade social;
- Lição 4: Ações de Planejamento:
- Lição 5: Trabalho Cooperativo;
- Lição 6: Educação e Treinamento:
- Lição 7: Comunicação;
- Lição 8: A aliança com o Professor;
- Lição 9: A parceria com a família;
- Lição 10: A sintonia com a realidade.
UNIDADE III
Diretrizes, Parâmetros e Pilares da Educação operacionalizados
na sala de aula.
- Aprender a ser;
- Aprender a conhecer;
- Aprender a Fazer;
- Aprender a Conviver.
UNIDADE IV
O projeto Político-Pedagógico das Escolas: A retomada da prática
do planejar num processo de gestão-participativa
- A avaliação na LDB
UNIDADE V
Regimento Escolar: das gavetas da secretaria escolar para a vida
da escola.
- Compreendendo o sistema educacional e a sua finalidade;
- Eventos escolares: Como organiza-los?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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OBJETIVOS DO CURSO
Oferecer subsídios para a formação contínua dos gestores da
educação, direcionando a instituição educacional para o alcance
de resultados positivos e duradouros.
Trazer à tona o novo conceito de liderança educacional,
indispensável ao Diretor Escolar.
Oferecer aos líderes educacionais um novo ângulo de visão do
trabalho, buscando conferir profissionalismo e técnica, mas
também uma perspectiva mais sintonizada com as tendências
contemporâneas.
Redefinir a educação, vendo - a não mais como “um processo de
longo prazo”, mas como um “sistema produtivo”, passível,
portanto, de ser administrado com o uso das melhores práticas e
ferramentas propiciadas pela Gestão de Qualidade.
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UNIDADE I
GESTÃO DA ESCOLA
DIRETOR DE ESCOLA: ADMINISTRADOR OU GESTOR?
Há bem pouco tempo, dirigir uma escola era considerado uma
tarefa rotineira. Cabia ao diretor zelar pelo bom funcionamento da
escola, centralizando em si todas as decisões, e administrar com
prudência os eventuais imprevistos.
Atualmente, essa situação mudou muito. As grandes e contínuas
transformações sociais, científicas e tecnológicas passaram a exigir
um novo modelo de escola e, consequentemente, um novo perfil de
dirigente, com formação e conhecimentos específicos para o cargo e a
função de diretor-gestor.
A expressão gestão escolar, em substituição à "administração
escolar", não é apenas uma questão semântica. Ela representa uma
mudança radical de postura, um novo enfoque de organização, um
novo paradigma de encaminhamento das questões escolares,
ancorado nos princípios de participação, de autonomia, de
autocontrole e de responsabilidade. Segundo Heloísa Luck, "a gestão
não deprecia a administração, mas supera as suas limitações de
enfoque simplificado e reduzido, para atender às exigências de uma
realidade cada vez mais complexa e dinâmica".
Esse novo enfoque traz à tona o conceito de liderança
educacional, indispensável a um bom diretor escolar. O diretor-líder
desperta o potencial de cada pessoa da instituição, transformando a
escola em oficina de trabalho, onde todos cooperam, aprendem e
ensinam o tempo todo. Assim como a essência da gestão é fazer a
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instituição operar com eficiência, a eficácia da gestão depende, em
grande parte, do exercício efetivo da liderança.
O diretor-gestor imprime em suas ações, especialmente nas
reuniões que coordena, três características que favorecem a obtenção
dos resultados almejados:
Simplicidade nos procedimentos, para não confundir os
integrantes;
Objetividade na comunicação, para evitar perda de tempo e
imprimir rumo às ações;
Transparência nas decisões, para merecer a confiança de todos.
Tudo isso exige a sabedoria de ouvir mais e falar menos, para ser um
bom negociador.
Para que a escola cumpra o seu papel social hoje, é necessário
que a direção supere o enfoque de administração e construa o de
gestão, marcado por transformações, especialmente no que se
referem a algumas concepções e aspectos básicos, passando:
- Da ótica fragmentada para a globalizadora, em que todos
participam da organização escolar, de forma interativa.
- Da limitação de responsabilidade pelos resultados para a sua
expansão, promovendo a redefinição de responsabilidades, centradas
no todo, independentemente das funções diferenciadas.
- Da ação episódica para o processo contínuo, porque a ação
centrada em eventos é vazia de resultados, e a educação é um
processo longo e contínuo.
- Da hierarquização e burocratização para a coordenação, pois a
organização coletiva depende da contribuição individual, mas em
ações coordenadas.
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- Da ação individual para a coletiva, porque o espírito de equipe,
a participação e a democracia são o grande desafio da gestão
educacional.
O novo conceito de gestão escolar associa-se, pois, à
democratização e à participação consciente e responsável de toda a
comunidade escolar no processo decisório, em ações articuladas e
conjuntas, visando a um ensino de qualidade.
ENSINO DE QUALIDADE: DIREITO DO CIDADÃO
Para Piaget (1988), o Artigo 26 da Declaração Universal dos
Direitos do Homem - "Todo homem tem direito à educação. A
instrução elementar será obrigatória, gratuita, acessível a todos" ... -
não se refere apenas ao direito a uma vaga na escola, mas a um
ensino de qualidade, que respeite as diferenças culturais e individuais
e o direito à justa distribuição dos bens culturais e materiais, conforme
o Art. 27 da mesma Declaração: "Todo homem tem direito de
participar livremente da vida cultural da comunidade, do progresso
científico e de seus benefícios e de fruir as artes".
Tudo isso será viabilizado pelo desenvolvimento das
competências que possibilitam a inclusão do sujeito na sociedade
letrada e na era da informação do mundo pós-moderno, como
cidadão, consciente de seu compromisso com a coletividade, disposto
a lutar por direitos e deveres iguais para todos.
É esse conceito de ensino, como forma fundamental de
integração do homem na sociedade, que se quer tornar acessível a
todos na escola. E este é o compromisso e a função da escola eficaz:
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garantir que os alunos aprendam a pensar, a fazer, a ser e a conviver,
tendo acesso a todo o tipo de informação e conhecimento, no
momento certo, com prazer e facilidade. Para isso, é preciso rever a
dinâmica da escola, de sua gestão aos currículos e às práticas
pedagógicas, visando a uma escola de qualidade, alegre e
democrática.
A ESCOLA EFICAZ
Uma escola com qualidade e eficácia é gerida com competência,
agilidade, criatividade e entusiasmo, de forma participativa e
colegiada, sendo que a direção deve estar:
- Aberta às necessidades da comunidade.
- Empenhada em planejar, coordenar e avaliar a dinâmica da
escola diante da realidade atual.
- Atenta à atualização dos professores e de sua prática
pedagógica.
- Pronta para resolver os desafios da gestão escolar, numa visão
democrática de projeto global da escola, para atender às contínuas
exigências e às novas demandas da sociedade.
- Conectada aos avanços científicos e tecnológicos.
- Comprometida com a formação integral e o sucesso dos
alunos.
Tudo isso deve estar definido no projeto pedagógico, que é a
chave da gestão escolar, devendo ser revisto a cada ano e
reformulado naquilo que for necessário. Uma escola eficaz tem um
diferencial que a distingue, que pode ser a sua capacidade de
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adaptação aos novos tempos, atendendo às novas exigências da
sociedade. Isso exige que a direção tenha uma visãoestratégica
global, que lhe permita gerar mudanças positivas e respostas rápidas,
com flexibilidade e eficiência.
O final do ano letivo é um bom momento para a direção da
escola, junto com a sua equipe, rever a sua gestão e buscar soluções
inovadoras e criativas para os desafios do cotidiano escolar.
É também um momento de revisão de sua postura na liderança
escolar, nas dimensões política, administrativa e pedagógica, com a
intenção de revitalizar suas ações educacionais e gerenciais. É um
momento de reflexão para compreender sua responsabilidade como
gestora, animadora e agente de transformação e de desenvolvimento,
para garantir a identidade de sua instituição escolar.
Para melhor organizar o seu trabalho e a sua escola, a direção
pode começar agrupando e classificando os desafios nas três
dimensões que, entrelaçadas, constituem o espaço escolar:
1. Dimensão administrativa e humana (questões de infra-
estrutura e de pessoal).
2. Dimensão sociopolítica e cultural (relações interpessoais com
a comunidade e com a cultura).
3. Dimensão pedagógica (questões relativas ao processo de
ensino e aprendizagem, como o currículo e as práticas pedagógicas).
Periodicamente, os desafios elencados deverão ser revistos,
avaliando-se em que dimensão a atuação da direção tem sido mais
significativa, ou menos eficaz, fazendo uma "correção de rota" e
buscando ajuda, se necessário, para reelaborar a rotina de
funcionamento da escola, junto com os professores e os funcionários.
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COM A MÃO NA MASSA
Uma boa estratégia para renovar a escola pode ser a
organização de times ou Grupos de Trabalho (GT) temporários, para
repensar a escola, com tarefas determinadas, como:
1. Fazer um diagnóstico da escola, utilizando um questionário
aplicado ao corpo docente, aos funcionários, alunos e famílias, para
levantar as principais necessidades e expectativas da comunidade
escolar, interna e externamente, nas três dimensões do espaço
escolar.
2. Elaborar um planejamento estratégico trienal, com metas a
curto, a médio e a longo prazo, para atender às exigências levantadas
no diagnóstico (com assessoria externa, se necessário).
3. Fazer previsão orçamentária anual, para alocação de verbas
necessárias à execução das metas prioritárias (em curto prazo) do
planejamento estratégico, definidas participativamente, a partir da
tabulação dos dados do questionário aplicado (primeira tarefa).
4. Levantar as necessidades de manutenção e atualização do
patrimônio escolar.
5. Rever os principais documentos da escola (Organograma,
Regimento Escolar, Projeto Pedagógico, Proposta Curricular), para
atualizá-Ios e adequá-Ios à contribuição significativa dos modernos
pensadores da educação, às orientações legais (Diretrizes
Curriculares Nacionais [LDB], Parâmetros Curriculares Nacionais
[PCN] e Resoluções Curriculares Nacionais [RCN]) e às novas
exigências e necessidades emergentes da comunidade.
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6. Criar instâncias de gestão participativa, como Conselho
Consultivo, Grêmio Estudantil e Associações (de pais, de professores
e funcionários, de ex-alunos).
7. Organizar um programa de desenvolvimento profissional do
corpo docente, a partir de necessidades percebidas e de solicitações
dos professores.
8. Elaborar um projeto para acompanhamento dos alunos com
desempenho insatisfatório ou dificuldades de aprendizagem, com
monitoria, tutoria e recuperação paralela. Esse projeto, a ser
desenvolvido ao longo do ano letivo, definindo-se a conveniência de
buscar consultoria psicopedagógica externa, poderá ser subdividido
em etapas ou subprojetos:
* 1º subprojeto: diagnóstico e avaliação da prática
pedagógica;
- Levantamento das principais dificuldades apresentadas pelos
alunos e suas causas prováveis.
- Criação de Grupos de Estudo (GE);
- Listagem dos componentes curriculares em que aparecem mais
dificuldades, por série, para análise com os respectivos professores, à
luz das novas propostas de ensino e aprendizagem.
- Elaboração das diretrizes e dos parâmetros para as
competências a serem desenvolvidas.
* 2º subprojeto: desenvolvimento profissional dos professores;
- Elaboração e implementação de um programa de atualização
para o corpo docente, visando à dinamização e à ressignificação dos
conceitos, das posturas e das práticas docentes.
para cercar-se de uma equipe competente e com ela estabelecer um
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- Seleção de referencial teórico, para reflexão, estudo e
sensibilização, relatos de experiência para intercâmbio e atividades
pedagógicas para os professores vivenciarem em oficinas e com os
alunos em sala de aula.
- Criação de Grupos de Estudo (GE), para aprofundamento e
revisão de aspectos específicos, por segmento escolar ou área de
conhecimento.
* 3º subprojeto: implementação do processo de recuperação da
aprendizagem;
- Preparação dos professores para coordenação e
desenvolvimento desse subprojeto.
- Elaboração conjunta do planejamento (justificativa, objetivos,
cronograma, carga horária, etapas, dinâmica de trabalho, estratégias,
acompanhamento e avaliação).
- Elaboração de um programa anual de reuniões, palestras e
orientação para pais, para suporte e acompanhamento escolar dos
filhos.
Os próprios grupos poderão encarregar-se de coordenar e de
implementar as propostas elaboradas, depois de terem sido revistas,
aprovadas e hierarquizadas em plenária, de modo que se comece pelo
prioritário, visando ao beneficio dos alunos.
RESUMINDO:
Na complexidade do contexto atual, é muito difícil para o diretor
assumir sozinho a direção de uma escola. Ele deve ter discernimento
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processo de gestão colegiada, pautada num planejamento estratégico
aberto às inovações necessárias, com foco no sucesso dos alunos.
Essa equipe, assim como o diretor, precisará investir
continuamente em seu crescimento pessoal e profissional, para
garantir as três competências indispensáveis a um bom profissional
hoje:
- Competência humana, para trabalhar com pessoas, sabendo
colocar-se no lugar do outro e ter atitudes favoráveis a um bom
ambiente de trabalho.
- Competência política, para ver a escola, a sociedade e o
sistema educacional como um todo, presumindo as implicações de
suas decisões para a escola e para a comunidade.
- Competência técnica, para buscar os subsídios necessários à
sua função, atento às exigências legais e às inovações científicas e
tecnológicas indispensáveis ao bom desempenho da instituição.
As novas estruturas familiares, sociais, econômicas,
empresariais e políticas, nacionais e mundiais, requerem um novo
modelo de escola, com responsabilidade social, que forme um novo
tipo de cidadão. E isto só será possível com um novo estilo de gestão
escolar, para o qual o diretor deve sensibilizar-se e preparar-se.
Exercícios:
1. O que significa uma escola eficaz?
2. Descreva as três competências indispensáveis a um bom
profissional, hoje.
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UNIDADE II
Gestão Escolar: Guia do Diretor em Dez Lições
FUNDAMENTOS
Lição 1: A Escola como Sistema
“Eu era um bom professor de língua portuguesa. Tal fato teve
como consequência o convite para coordenar o departamento de
língua portuguesa do sistema no qual trabalhava. Como coordenador,
também me saí bem, e me tomei vice-diretor de uma das unidades da
instituição. Na vice-diretoria, tive também um bom desempenho, e a
consequência foi tomar-me diretor de uma escola da instituição.
Acredito que esse caminho foi trilhado por muitos daqueles que
estão na direção de escolas brasileiras. Basta mudar o nome da
disciplina. Tenho colegas de matemática, história, educação física,
química, biologia, inglês, geografia que são ou foram diretores de
escola. Sabe-se, no entanto, que dirigir uma instituição educacional é
muito diferente de ser professor, e que, embora haja algumas
coincidências, ser diretor exige competências ehabilidades distintas
daquelas que são necessárias para o exercício do magistério”.
Acontece, com certa frequência, de um ótimo professor tomar-se um
diretor medíocre. Há excelentes vice-diretores que, ao se tomarem
diretores, "metem os pés pelas mãos". E também ocorre, embora
menos frequentemente, de professores medianos se tomarem ótimos
diretores.
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A direção de uma escola, por menor que esta seja, não é uma
função apenas pedagógica. Sei que ser professor, principalmente nos
dias de hoje, também não é uma função só pedagógica, mas há uma
diferença, não de natureza, mas de grau. Tanto o professor quanto o
diretor têm uma função administrativa muito importante, mas,
enquanto aquele administra a sala de aula, este se responsabiliza pela
escola como um todo. O diretor é professor de professores, ele cuida
de um sistema bem mais complexo, com vários subsistemas - partes
inter-relacionadas que constituem a escola.
O contato permanente com vários tipos de escolas, na maioria
das regiões brasileiras, mostra que as instituições educativas bem-
sucedidas têm, inevitavelmente, um equilíbrio permanente entre o
pedagógico e o administrativo, e essa harmonia decorre, quase
sempre, da compreensão de que a escola é um sistema.
No entanto, o conhecimento de que a escola é um sistema nem
sempre permeia o dia-a-dia das instituições educativas e as perdas
que daí decorrem são enormes.
Segundo Deming, um sistema é um conjunto de funções ou
atividades que interagem em um organismo em prol do objetivo desse
organismo. As partes mecânicas e elétricas que funcionam juntas, em
um automóvel ou um aspirador de pó, constituem um sistema. Há três
idéias fundamentais que Deming coloca em destaque na sua visão do
que é um sistema:
1. Sem objetivo não se pode dizer que existe um sistema.
2. Existe, em quase todos os sistemas, interdependência entre
os múltiplos componentes.
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3. Os componentes de um sistema são necessários, mas não
suficientes por si mesmos para realizar o objetivo do sistema, e por
isso precisam ser administrados.
O primeiro passo de um diretor é definir, ou redefinir, com
bastante precisão, o objetivo da escola. Embora isso pareça óbvio, na
maioria das vezes, a escola não sabe o que quer, não sabe o porquê
de sua existência. Ao conversar separadamente com alunos, pais,
funcionários, professores, diretores, tem-se, com muita frequência, a
impressão de estar-se tratando de diversas escolas. Cada segmento
acredita que os seus objetivos são os da escola; como não há clareza
em relação ao que se pretende, surgem muitos conflitos
desnecessários e perde-se muita energia.
Algumas escolas, em sintonia com os ensinamentos da Gestão
da Qualidade, buscaram definir a visão, a missão, os valores, mas
muita coisa ficou apenas no papel. Em alguns casos, houve
incoerência entre o escrito e o que se vivia no cotidiano da escola.
Poucas instituições conseguiram identificar o que estava errado e
buscar as soluções, aprimorando os processos da escola e
melhorando as condições de trabalho.
O segundo passo é considerar, em todas as decisões, a
interdependência entre os múltiplos componentes do sistema, pois é
quase impossível mexer com uma peça só. A imagem que me ocorre
é a do horário de aulas. Com ele pronto, qualquer alteração pedida por
um professor desencadeia uma avalanche de mudanças. Um
professor, quando pune um aluno, mexe com todos os alunos, com as
famílias, com a escola toda. Uma instituição, quando escolhe o seu
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diretor dá muitos sinais. A demissão de um professor quase sempre
mexe muito com o grupo que fica, não apenas com o demitido.
Um diretor que não compreende a interdependência entre os
componentes do sistema passa grande parte do seu tempo apagando
incêndios e corre o risco de levar a escola ao fracasso. Vendo apenas
árvores isoladas, sem competência para ver a floresta, cria
insatisfações, focos de resistência, desgastes desnecessários. Cada
solução sua origina outros problemas.
O desempenho de cada componente deve ser avaliado em
termos de sua contribuição para o alcance do objetivo do sistema. É o
critério menos pessoal e, nas escolas, esse critério raramente é
considerado. Tanto para o bem quanto para o mal, as simpatias, os
apelos emocionais, o medo dos conflitos, os laços familiares, o tempo
de casa falam mais alto que qualquer contribuição para o objetivo do
sistema.
O terceiro e último passo é reconhecer que as falhas de um
sistema decorrem fundamentalmente das ações administrativas. Se
uma escola não vai bem, é possível encontrar muitas justificativas,
mas nenhuma exime a direção da responsabilidade.
O diretor precisa pensar suas ações, mas não deve ter medo de
agir. A administração é que permite o exercício de todas as profissões.
Para que o professor realize o seu trabalho, é necessário que alguém
esteja administrando a escola, criando condições para que as pessoas
possam ser produtivas. Encontrar culpados para as mazelas da escola
não revela competência alguma. Quanto maior o poder de uma
pessoa, maior a sua responsabilidade pelos resultados. O salário de
um diretor deve recompensar não o seu trabalho, mas a
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responsabilidade pelos resultados da instituição. Chegar à escola às
seis horas da manhã e sair às dez da noite não é o que importa na
avaliação de um diretor. Em resumo, não é a quantidade de trabalho
que distingue o diretor, mas a qualidade de sua administração.
Compreender a escola como um sistema facilita a abordagem de
determinados aspectos. Como melhorar a escola é um desses
aspectos. Numa visão mais superficial, pode-se afirmar que quase
todo sistema apresenta três componentes principais:
1. Parte física - instalações, materiais, equipamentos que
constituem a infra-estrutura do sistema.
2. Tecnologia, o "como fazer" - conjunto de procedimentos
operacionais (especificação de tarefas, atividades, rotinas), próprio de
cada sistema.
3. Elemento humano - pessoas que operam o sistema.
As escolas apresentam esses componentes. Nem sempre os
procedimentos operacionais estão explicitados, mas eles existem.
Prova disso é o fato de dizer-se, com frequência, para os novatos:
"Aqui, fazemos assim; aqui, isto não é possível".
Na melhoria de uma escola, há possibilidade de duas ações
distintas: investimentos na parte física, ou investimentos em educação,
no desenvolvimento das pessoas.
1. Investimentos na parte física:
Por meio desses investimentos, pode-se melhorar prédios,
instalações, equipamentos, materiais de trabalho. Essa ação tem
retomo imediato - a parte física sofre uma melhoria visível com as
novas aquisições ou construções. Quando há um desequilíbrio entre o
administrativo e o pedagógico, com predominância daquele sobre
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este, a escola se transforma num canteiro de obras. Ainda quando os
recursos são parcos, acontecem melhorias, porque todos os
investimentos são canalizados para a parte física.
A experiência demonstra que essa ação sozinha não implica o
aperfeiçoamento da escola como um todo. Isto significa que grandes
melhorias nas instalações escolares, sem treinamento e capacitação
de funcionários e professores, não resultam, necessariamente, em
maior qualidade de ensino, em garantia de aprendizagem.
2. Investimentos em educação:
Essa ação tem retomo somente a longo prazo, mas o seu
alcance é profundo e duradouro, resultando em ganhos visíveis na
qualidade e na produtividade. Educação e treinamento melhoram o
desempenho das pessoas e, consequentemente, os procedimentos
operacionais (estes dependem diretamente da eficiência do elemento
humano e de seus conhecimentos).
Para que a pessoa assimile os resultados dessa ação, é
necessário que esteja motivada e que seu potencial mental seja
explorado no sentido do pleno aproveitamento e desenvolvimento.
Paraos investimentos na parte física, não há barreiras, mas, para os
investimentos no desenvolvimento de pessoas, há dois obstáculos a
serem considerados: o potencial intelectual e a motivação. Pode-se
criar o melhor programa de desenvolvimento e nada funcionar, se as
pessoas não estiverem motivadas, ou se o programa não levar em
conta o potencial intelectual delas.
Nas situações de vida real, o cargo de diretor de escola tem
funções e características bem diferentes de uma instituição para outra.
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Em alguns casos, ainda que se compreenda que a escola é um
sistema, é muito difícil que a prática reflita essa compreensão.
Ocorre-me a lembrança de escolas que têm como mantenedoras
cooperativas educacionais, nas quais o diretor cuida apenas (como se
isso fosse possível) do pedagógico, sem autonomia até mesmo para
mudar a cantina de lugar. Lembro-me, ainda, de escolas de alguns
sistemas de ensino ou de congregações religiosas em que há um
diretor pedagógico e outro administrativo no mesmo nível de poder. Se
se trata de pessoas imaturas, vaidosas, com ambição de poder,
competitivas (e isto acontece com muita frequência), quase toda a
energia dessas pessoas é gasta na competição e pouco se realiza em
prol do objetivo do sistema. A escola corre risco, quando cada parte
pensa ser o todo, e isto acontece frequentemente quando se
fragmenta a função do diretor. As mantenedoras podem e devem ter o
controle das decisões e das ações do diretor, mas tão somente no
nível estratégico, nunca no nível operacional. Os instrumentos para
esse controle são os planejamentos, os orçamentos e os resultados.
Lição 2: A Liderança como Serviço
A liderança pode ser considerada sob vários ângulos.
Pretendemos abordá-Ia como serviço, porque as palavras que fazem
parte do campo semântico de serviço, tais como servidor, servente,
serventia, têm uma carga pejorativa muito grande.
Nas organizações autoritárias, aqueles que ocupam os cargos
mais importantes têm, com frequência, os demais a seu serviço. Em
muitas escolas, ainda hoje, supervisores, coordenadores, orientadores
educacionais, secretárias escolares vivem em função do diretor; a
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serviço dos técnicos, estão os professores; estes têm como súditos os
alunos. É bem verdade que essa situação vem sendo modificada e, às
vezes, de maneira desastrosa.
Ao colocar o aluno no centro do processo educacional, numa
sociedade mais democrática, algumas escolas passaram do
autoritarismo para o anarquismo; equivocadamente destruíram a
hierarquia, contribuindo para a falta de respeito nas relações, para o
caos na rotina de trabalho, para a baixíssima produtividade no
ambiente escolar.
Não se passou da heteronomia para a autonomia, mas para a
anomia; não se passou do medo para a compreensão, mas para o
desrespeito; não se passou da submissão para a liberdade, mas para
a agressividade; não se passou do silêncio para a participação, mas
para a revolta ou para a indiferença; não se passou da dominação
para o serviço, mas para a subserviência.
A compreensão do que é servir talvez seja a única possibilidade
de evitar tantos equívocos. Há um poema de Gabriela Mistral, poetisa
e educadora chilena laureada com o Prêmio Nobel de Literatura de
1945, em que se lê:
(...) Uns criticam, outros constroem. Seja você o que serve.
Servir não é faina de seres inferiores. Seja você o que
remove a pedra do caminho, o ódio entre os corações e as
dificuldades do problema. Há a alegria de ser puro e a de ser
justo. Mas há, sobretudo, a maravilhosa e imensa alegria de
servir.
Servir não é trabalho de gente pequena, de seres inferiores. O
bom diretor é aquele que não precisa do cargo de diretor; é aquele
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que não fica preso a uma posição, a um título. O cargo de diretor lhe
cai bem, porque ele pode viver sem ele. Há uma alegria no servir que
só os seres superiores conseguem usufruir. Os fracos, os pequenos,
os incompetentes, quando podem, são autoritários; quando não
podem, tomam-se subservientes, jamais servidores.
Na convivência com muitos grupos de educadores, foi possível
perceber que o poder maior não é o que emana do cargo, mas o que
procede da capacidade de servir. Entre os professores, são aqueles
que servem, os mais considerados, os mais respeitados pelo grupo.
Nem sempre são os diretores.
A capacidade de servir é a verdadeira fonte do poder. No
evangelho de São Mateus, capítulo 20, versículo 25 e seguintes, pode-
se ler:
Mas Jesus os chamou a si, e lhes disse: Sabeis que os
príncipes das gentes dominam os seus vassalos; e que os
que são maiores exercitam o seu poder sobre eles. Não
será assim entre vós outros. Entre vós, todo o que quiser
ser o maior, esse seja o que vos sirva, e o que entre vós
quiser ser o primeiro, esse seja o vosso servo.
A lição é antiga, mas a vaidade e a ambição exacerbada cegam,
e os mais famintos são levados cada vez para mais longe daquilo que
tanto querem. Robert Lamp, educador norte-americano, dizia que o
diretor deve ser extremamente forte, para se tomar suficientemente
fraco, para que o professor possa ser forte. Só o maior é capaz de se
tomar o menor; a recíproca jamais é possível. Para servir, procure ser
grande: não há outro caminho.
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E o que é ser grande? As exigências, as necessidades, as
expectativas são próprias de cada época, de cada lugar. Há, no
entanto, um conjunto de características e de habilidades que garante
um desempenho, no mínimo, razoável de alguém que esteja à frente
de uma escola.
Quanto maior o desenvolvimento tecnológico, maior a
necessidade de líderes verdadeiramente humanos. Eles é que fazem
a diferença. O acesso às inovações tecnológicas não é privilégio de
nenhuma empresa. O líder capaz de criar esperanças, de ter valores e
crenças que empolguem as pessoas, de fazer com que as pessoas
queiram fazer, esse líder é que faz a diferença e que dá uma
dimensão transcendental à organização a que pertence.
Em um artigo de Marco Aurélio Ferreira Vianna, sócio-diretor do
Instituto Marco Vianna de Estudo e Humanismo, sobre os programas
de qualidade, lemos no prefácio:
Estamos começando uma pesquisa sobre as características de
liderança na ótica de cerca de 15 autores (Crosby, Gardnes, Bennis,
Kouzes, Handdy, Motomura, Vianna, Fischer e outros) e, ainda que de
maneira preliminar, conclui-se que 85% dos atributos colocados por
esses estudiosos são de natureza humana, e não empresarial. A título
de exemplo cabe citar as "características dos líderes" indicadas por
Philip B. Crosby: ansiosos por aprender, éticos, disponíveis,
determinados, cheios de energia, confiáveis, sensatos, humildes,
intensos, agradáveis. Vale também exemplificar um conjunto de carac-
terísticas dos "líderes superiores" pesquisados por Kouses/Posner. Em
um estudo feito com base na visão de quem é liderado, estes esperam
de seu líder o seguinte conteúdo de atributos: honesto, competente,
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olhar para adiante, inspirador, inteligente, justo, liberal, direito e
fidedigno.
A grandeza de uma pessoa é determinada pelo equilíbrio entre
três fatores:
1. Natureza de caráter.
2. Relacionamento humano.
3. Conhecimento.
Crosby diz que a integridade do indivíduo determina o seu
sucesso com antecedência. Os líderes são responsáveis pela ética
das instituições; eles devem assumir um papel de destaque no
desenvolvimento e na defesa de princípios e de valores. Não há como
desempenhar esse papel sem honestidade, sem o desejo de ser justo,
sem decência, sem nobreza de caráter. Dar poder a um mau-caráter,
principalmente quando se trata de alguém competente, é arruinar a
vida de muitas pessoas. Felizmente, no meio educacional, quando
acontece de um mau-caráter assumir uma diretoria, frequentemente
seu mandato tem sido transitório. Os líderes, segundo o grego
Tucídides, são conscientes de seus deverese honrados no agir.
Uma dada situação se modifica quando as relações existentes
nessa situação se modificam. O autoritarismo e a democracia se
expressam principalmente nos relacionamentos, pois falar de relações
é tratar da essência. É no campo das relações que mais aumentaram
as exigências em relação ao trabalho do diretor de escola. A função de
representar a escola, interna e externamente, como cabeça da
instituição, é uma responsabilidade cada vez mais necessária e crítica.
Trata-se de uma função importantíssima que não pode apenas ser
tolerada ou delegada a outra pessoa.
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A visibilidade e a acessibilidade são inerentes ao cargo de
diretor. Muitos infortúnios são evitados, quando o diretor se toma
visível, presente entre os alunos, os professores, os funcionários, os
pais. Muito se aprende, muita dúvida é eliminada, quando o diretor é
uma pessoa a que se pode chegar, quando as portas da diretoria se
encontram frequentemente abertas. É preciso que o diretor tenha
gosto pelo relacionamento humano, que não tenha medo de atritos,
que veja nos embates oportunidades de aprimoramento. Minha
opinião é de que a demanda por visibilidade e contatos diretos
crescerá muito. O exercício de uma diretoria será um tormento, uma
tarefa altamente desgastante, para quem não tiver uma expectativa
positiva em relação aos relacionamentos humanos.
"Para ir adiante dos demais, é necessário ver mais que eles" são
palavras do cubano José Martí. Um diretor de escola precisa ter
convicções, idéias, projetos. O conhecimento técnico é imprescindível,
mas não é suficiente para que se garanta uma gestão proficiente.
Respeitadas as exigências legais, o melhor processo de escolha de
um diretor seria o de pedir a todos os interessados que
apresentassem propostas para a administração da escola nas quais
falassem de suas convicções, idéias, projetos. Esse processo vale
para escolas públicas e particulares, para escolas confessionais e
laicas.
Tenho presenciado muitos equívocos na nomeação de diretores.
Poucos, por falta de nobreza de caráter dos escolhidos; muitos, por
carência de habilidade nos relacionamentos humanos; e a maioria, por
falta de conhecimento, pela ausência de convicções, de idéias, de
26
projetos, de capacidade de ver adiante, de enxergar mais que os
liderados.
E o que é servir? Posso ser um servidor sem perder a
autoridade, sem me tomar subserviente? É possível inverter a
pirâmide organizacional sem provocar o caos? É possível ter um
modelo participativo sem perder agilidade nas decisões? É possível
solicitar a contribuição das pessoas sem mostrar fraqueza, indecisão?
Sim é a resposta para as questões colocadas no parágrafo
anterior, mas é preciso lembrar que o conhecimento sobre o grupo de
liderados é que permitirá ao diretor definir acertadamente o ritmo e as
prioridades. Nada substitui o conhecimento da realidade e da cultura
de cada escola, pois não basta o desejo de servir, não é suficiente a
convicção de que o exercício do cargo de diretor é instrumento de
desenvolvimento do grupo.
Em situações reais, as características mais importantes para um
líder estão intimamente relacionadas com o grupo de liderados. Para o
cumprimento de uma tarefa, para a consecução de um objetivo, dois
fatores são muito importantes: competência e comprometimento. O
papel da liderança varia dependendo do nível dos liderados em
relação a esses fatores.
27
Níveis dos Liderados Papel da Liderança
Grupo componente, sem
comprometimento;
Grupo comprometido, sem
competência.
Grupo sem competência, sem
comprometimento.
O líder cobra, fiscaliza, exige.
O líder treina, ensina,
acompanha.
Se houver tempo, o líder
educa, treina, cobra; não
havendo tempo, demite o
grupo ou se demite.
Grupo competente e comprometido
Situação ideal. O líder delega
e cuidará do crescimento da
organização e das pessoas
que nela trabalham.
É importante ressaltar que, em situações reais, não se
encontram grupos bem-definidos, como o esboçado. Nenhum grupo é
totalmente competente ou incompetente, comprometido ou não-
comprometido. Um grupo pode ter predominantemente pessoas
comprometidas ou não, profissionais competentes ou não; o papel da
liderança é conhecer bem o grupo, trabalhar as suas necessidades e
inspirá-lo.
Vale a observação de Sergiovanni e Carver:
É preciso conhecer em que nível estão os professores e os
funcionários de uma escola. Não faz sentido querer motivá-Ios ao nível
de autonomia, se eles estão inseguros, ou querer motivá-Ios ao nível
de segurança, quando professores e funcionários buscam autonomia.
Se superestimamos o nível de necessidade de operação de
28
professores e de funcionários, e os amedrontamos com uma
administração ultraparticipativa e auto-realizadora, somos tão
ineficientes quanto os que negam satisfação significativa aos
professores e funcionários, subestimando os níveis de necessidade de
operação.
De modo geral, pode-se dizer que o papel principal de um líder
não é o de controlar, mas o de liberar energias, o de apoiar e orientar.
O líder exerce três papéis fundamentais:
1. De projetista.
2. De professor.
3. De administrador.
Como projetista ele cria a realidade a partir dos anseios, dos
objetivos pessoais seus e de seus liderados. O líder tem obrigação de
introduzir mudanças que melhorem a qualidade de vida do grupo;
precisa ter visão, inspirar o grupo. Como professor, prepara o grupo e
se prepara para mudanças. Uma das principais preocupações do líder
deve ser a de educar e treinar. O treinamento é que garante, na
prática, os resultados das grandes idéias. As pessoas trabalham mal,
na maioria das vezes, não por falta de motivação, preguiça ou
deslealdade, mas por falta de competência. Os componentes de um
sistema são necessários, mas não suficientes por si mesmos para
realizar o objetivo de um sistema, e por isso precisam ser
administrados. O líder tem um compromisso com as pessoas que
lidera e com a missão da empresa em termos de resultados práticos.
Uma administração incapaz traz prejuízos econômicos, emocionais e
espirituais para as pessoas e para as organizações. Ter consciência
disso desperta, naturalmente, uma maior responsabilidade nos líderes.
29
Tenho percebido que o professor, talvez, seja a pessoa mais
parecida com o aluno. E um ser paradoxal: ele é a instituição
(principalmente na relação com o aluno), mas ele a desafia
constantemente; tem uma relação conflituosa com o aluno, mas é o
seu maior aliado; exige do aluno respeito à sua autoridade, mas é
quem lhe ensina o questionamento, o desafio; é forte quando se toma
fraco e permite que seus alunos sejam fortes; quanto mais compartilha
seus conhecimentos mais se toma sábio; é adulto na relação com
crianças e adolescentes e, na relação com adultos, preserva a criança
que há em cada um de nós.
Com essas características, o "bom" professor precisa de um
ambiente:
- Sem muita formalidade, sem muita burocracia.
- Democrático, sem opressão.
- Aberto, que lhe permita ousar, errar sem culpa.
- Instigante, de diálogo, de troca.
- De trabalho sério, mas sem casmurrice.
O professor espera e quer de seu diretor:
- Lucidez, clareza de objetivos.
- Coerência, lealdade.
- Alegria, bom humor, capacidade de rir dos próprios erros.
- Compreensão, apoio, orientação.
- Capacidade de formar uma equipe.
- Abertura, diálogo.
- Paciência, mas não complacência, tolerância.
O diretor deve ser um bom ouvinte. Precisa escutar as idéias,
conhecer as necessidades e expectativas de seus professores,
30
funcionários, estar sintonizado com as aspirações de seus alunos e,
para que não se perca no meio da diversidade de desejos e
convicções, o diretor precisa de lucidez, de firmeza nos objetivos e
constância de propósito. Servir não é fazer o que o outroquer, mas
empenhar-se na realização do que é necessário para o bem de todos.
A arte da liderança, segundo Max De Pree, consiste em libertar
as pessoas para fazerem o que lhes cabe, da maneira mais eficiente e
humana possível. O líder é o servidor dos seus seguidores, pois afasta
os obstáculos que os impedem de executar tarefas. Os líderes que
sobrecarregam as pessoas, em vez de capacitá-Ias, não estão a
serviço, mas se servindo da liderança.
Lição 3: A Escola Tem uma Responsabilidade Social
Assumir a responsabilidade social é um dos indicadores da
qualidade de uma organização. Uma escola realiza as suas atividades
dentro de uma sociedade composta por seres humanos. Ela interage
com pessoas, quer sejam alunos, pais, funcionários, fornecedores,
vizinhos, acionistas, outras escolas, a comunidade. Não há como não
ter responsabilidade social. Assumir consciente e competentemente
essa responsabilidade é que é a maior necessidade de nossos dias.
A educação, por si mesma, não tem sentido. Educação é meio, e
não fim, pois a escola não trabalha para si mesma. Em As novas
realidades, Peter Drucker afirma que a educação moderna rejeitou os
valores morais, e essa rejeição trouxe como consequência a
transmissão de valores errados: indiferença, irresponsabilidade,
cinismo. Não há educação sem valores morais. O trabalho mais
significativo, em nossos dias, diz ele, será definir quais são os valores
31
morais da educação numa sociedade instruída, educar com esses
valores e estar fortemente comprometido com eles.
Escola para todos e sucesso de todos na escola não darão
garantia de uma sociedade justa, fraterna, democrática, se a educação
não tiver um propósito social. Os grandes corruptos deste país não
são analfabetos. São pessoas instruídas, "competentes", que
estudaram em "boas" escolas e foram bem-sucedidos como alunos.
Formar pessoas competentes não é suficiente; é necessário que
sejam também íntegras. Mas ainda não é suficiente; é preciso que
sejam competentes, íntegras e socialmente responsáveis.
Bernardo Toro, educador colombiano, enumera sete
aprendizagens básicas para a convivência social:
1. Aprender a não agredir o semelhante - Fundamento de todo
modelo de convivência social.
2. Aprender a comunicar-se - Base da auto-afirmação pessoal e
grupal.
3. Aprender a interagir - Base dos modelos de relação social.
4. Aprender a decidir em grupo - Base da política e da economia.
5. Aprender a cuidar-se - Base dos modelos de saúde e de
seguridade social.
6. Aprender a cuidar do ambiente - Fundamento da
sobrevivência.
7. Aprender a valorizar o saber social - Base da evolução social
e cultural.
Se se quiser ter novas formas de convivência social, em que a
proteção da vida e a felicidade sejam possíveis, deve-se construí-Ias.
satisfação das pessoas.
32
A convivência se aprende, se constrói e se ensina. É uma tarefa de
toda a vida de uma pessoa e de uma sociedade.
O Dr. Humberto Maturana - médico da Universidade do Chile,
biólogo graduado na Inglaterra e nos Estados Unidos, em Biología deI
fenômeno social - afirma:
O ser humano é, na sua constituição, social. Não existe o humano fora
do social. O genético não determina o humano, somente fundamenta o
que é humanizável. Para ser humano, é preciso crescer humano entre
humanos. Ainda que isso pareça óbvio, esquece-se de que se é
humano somente na maneira de ser humano das sociedades a que se
pertence.
Se pertencemos a sociedades que valorizam, com a conduta diária de
seus membros, o respeito aos mais velhos, a honestidade consigo
mesmo, a serenidade na ação e a verdade na linguagem, esse será
nosso modo de ser humano e o de nossos filhos.
Pelo contrário, se pertencemos a uma sociedade cujos membros
valorizam, com uma conduta cotidiana, a hipocrisia, o abuso, a mentira
e o auto-engano, esse será nosso modo de ser humano e o de nossos
filhos.
Mais do que aquilo que fala, a escola ensina aquilo que faz. Os
alunos não apenas ouvem o que dizem os professores, mas observam
como se relacionam, o que valorizam, como trabalham, como se
organizam, como vivem, quais são seus valores, suas crenças.
Aprendem como a escola resolve os problemas, como trata seus
funcionários, que importância dá às disciplinas, aos setores, aos
eventos, ao trabalho, à disciplina, ao lucro, ao bem-estar e à
33
Educar é mais que instruir, transmitir conhecimentos, dar
competência. Educar é dar um sentido ao conhecimento, é inspirar
projetos de vida, é despertar o projeto de viver em fraternidade, é
humanizar, é formar cidadãos, e, para isso, é preciso direcionar
esforços, ter lucidez em relação ao que se quer e ao melhor caminho
para chegar lá.
Finalidade da Educação
Em março de 1990, em conferência mundial realizada na
Tailândia, sob coordenação da UNESCO, 155 países colocaram como
missão da escola:
Satisfazer às necessidades básicas de aprendizagem das
pessoas por meio de instrumentos e de conteúdos.
A missão é a razão de ser, a finalidade da instituição. Por que
existe? A resposta a essa pergunta nos dá a missão da organização,
mas não o seu propósito, a sua finalidade. Não é na missão, mas no
propósito que uma escola se diferencia de outra.
Para que e como satisfazer às necessidades básicas de
aprendizagem das pessoas? Por que por meio de instrumentos e de
conteúdos? Uma resposta, muitas vezes, deve ser apenas o ponto de
partida para outras perguntas.
"A grande preocupação com os aspectos didáticos é uma forma
de evadir-se dos verdadeiros problemas da educação: para que
trabalhamos? A quem servimos? Para que serve o que estamos
fazendo?", nos alerta Maria Teresa Nildecoff, em Uma escola para o
povo.
34
Qual é a finalidade da educação?
Muitos se manifestaram em relação a essa pergunta e é pouco
provável que se chegue a uma resposta única, válida para todo tempo
e lugar. Cada instituição deve buscar, reinventar, criar uma resposta,
sabendo que deve ser uma resposta presente, sem que esteja
circunscrita ao momento presente.
O início da Missão Educacional de um grupo de escolas do
Estado de Minas Gerais diz o seguinte:
Missão Educacional
A missão educacional pressupõe crença na vida, crença na
capacidade de o homem compreender a realidade e nela atuar,
tomando-se melhor e melhorando a qualidade de vida de toda a
sociedade. É, pois, nossa responsabilidade como instituição
educacional entender o passado, viver o presente e vislumbrar o
futuro, para afirmar, com coragem e lucidez, os valores que
fundamentam a vida, criando condições para que as pessoas se
desenvolvam integralmente.
...entender o passado, viver o presente e vislumbrar o futuro...
Cícero disse que a finalidade da educação é libertar o homem da
tirania do presente, e André Gide definiu a melhor educação como
sendo aquela que vai na direção contrária ao indivíduo.
Atualmente, dentre as possíveis finalidades colocadas para a
educação, nenhuma alcança tão facilmente o consenso quanto a
formação da cidadania. Contribuir para a formação de pessoas
conscientes de seus direitos e deveres, criar um estado de felicidade
para as pessoas são propósitos de quase todas as escolas. Para a
35
vivência plena de direitos e o cumprimento de deveres de modo
autônomo, há, no entanto, a necessidade de o indivíduo desenvolver
certas competências.
No início desta lição, viu-se as aprendizagens básicas para a
convivência social. O exercício da cidadania, além dessas
aprendizagens, exige as seguintes competências: motora, cognitiva,
estética, ética, afetiva.
Se não se trabalhar objetivamente no desenvolvimento dessas
competências, corre-se o risco de continuar falando sobre cidadania
sem chegar a formar cidadãos. A escola deve harmonizar o
desenvolvimento da pessoa nessas competências, sem privilegiar
nenhuma delas. Segundo PeterDrucker: "Ela (a educação) não pode
dar-se ao luxo de permitir nem o bárbaro letrado que ganha bem a
vida mas cuja vida não vale ser vivida, nem o erudito amador que
carece de compromisso e de eficácia".
Uma escola, se quiser realizar um trabalho de qualidade, precisa
explicitar com clareza a sua finalidade, e, se quiser ser presente,
necessita assumir a sua responsabilidade social. Assumir a
responsabilidade social, em nosso país, tem a ver com o
aprimoramento de uma ordem social de convivência democrática e
com a construção de um país com equidade interna, isto é, sem
miseráveis, excluídos, marginalizados.
Muitos entendem por responsabilidade social a realização de
campanhas (de agasalhos, de calçados, de alimentos...) em prol dos
mais necessitados, de visitas a orfanatos, a asilos, a prisões, de
trabalhos comunitários. Algumas escolas inovaram assumindo a
responsabilidade pela preservação de rios, matas ou pelo cuidado de
36
praças, avenidas ou outras áreas públicas. Tudo isto é importante e
pode fazer parte da formação para o exercício pleno da cidadania,
mas não reside aí a essência da responsabilidade social que deve ser
assumida pela escola.
Em um de seus melhores artigos para a revista Veja, em 3 de
novembro de 1999, o economista Cláudio de Moura Castro afirma:
"Nossas escolas estão melhorando. O momento é bom para pedir-Ihes
mais ênfase na responsabilidade social. Mas hoje sabemos que
adicionar cursos do estilo 'moral e cívica' é uma parte muito pequena
da tarefa. Os alunos não aprendem civismo em aulas de civismo, mas
em uma escola que pratica justiça, tolerância, equidade e
generosidade. Os alunos aprendem pelo que a escola pratica muito
mais que pelos sermões em aula. A escola tem de ensinar pelo
exemplo. Se o professor trata o aluno rico diferente da forma que trata
o pobre, falece o aprendizado da equidade. Se o professor chega
atrasado, a lição de pontualidade vai na direção oposta".
O desenvolvimento da responsabilidade social não pode ser uma
atividade paralela ao currículo escolar. Os alunos não aprendem
civismo em aulas de civismo, assim como não aprendem a ser
socialmente responsáveis visitando esporadicamente asilos, orfanatos,
hospitais, prisões, ou levando de casa para as campanhas ocasionais
aquilo que lhes sobra, aquilo que já não querem mais, os entulhos.
É preciso compreender que a responsabilidade social está na
essência de uma educação de qualidade hoje. A maior
responsabilidade social da escola é garantir a formação de pessoas
que tenham responsabilidade social. Esta é a sua contribuição
37
específica. Muita gente anda fazendo o resto em função de suas
convicções ou de necessidades de marketing.
O trabalho na sala de aula e na direção de escola me ensinou
que é muito difícil aprender a interagir. Nas ações de caráter social,
empreendidas com alunos de escolas particulares, a interação com os
mais carentes corria sempre o risco de se tomar uma ação sobre os
mais pobres. Raramente encontrei pessoas, mesmo entre os
educadores, que percebiam que toda ação social é sempre uma troca,
que não há lado sem carência nessa relação, que não existe quem
sabe tudo e quem nada sabe. Não existe um problema que seja só do
outro; os problemas são sempre nossos. Considerar a pessoa e
respeitar a sua dignidade é compreender que toda a solução é sempre
de dentro para fora, é entender que só a interação é o caminho para a
promoção humana. É complicado dialogar com o diferente, mas é fácil
definir, direcionar, resolver a vida do outro, principalmente quando ele
é o mais fraco.
Aprendi também que, em termos de responsabilidade social,
parece ser mais frequente olhar para fora que para dentro de nossas
escolas. Quantos funcionários analfabetos, quantas famílias passando
necessidades, quantos doentes, quantos professores que deram tanto
pelo sucesso da escola, com quantas mazelas se continua convivendo
dentro das instituições, mas é sempre lá fora que se buscam os
carentes, os necessitados. Duvido daqueles que só fazem o bem na
casa dos outros. Uma escola deve começar a exercer a sua
responsabilidade social junto a seus alunos, funcionários, professores.
Esta é a melhor forma de educá-Ios para a cidadania.
38
ESTRATÉGIAS
Lição 4: Ações de Planejamento
O fundamental não é a escola ter um planejamento estratégico,
mas ter a cultura do planejar, sem a qual a organização estará,
inevitavelmente, fadada ao fracasso. Assim como não se constrói um
prédio ou uma estrada sem projeto, não se deve construir uma escola
sem planejamentos. "Não há vento a favor para quem não sabe para
onde vai", já dizia Sêneca.
O que parece óbvio nem sempre é levado em consideração na
vida das escolas. Excetuando-se as grandes organizações
educacionais e as escolas que buscam a excelência, localizadas
principalmente nas capitais e nas grandes cidades, as pequenas e
médias empresas voltadas para a educação não têm, na maioria das
vezes, nem mesmo um orçamento elaborado com um mínimo de
competência técnica. Não é de se estranhar que seja assim, porque
embora a elaboração de planejamentos seja uma prática comum na
indústria há um bom tempo, o seu surgimento como atividade das
mais importantes nas instituições educacionais é bastante recente.
A capacidade de planejar o seu futuro, definindo as suas metas,
organizando sistematicamente os recursos e os esforços necessários
para realizá-Ias e medindo os resultados em confronto com as
expectativas, é uma estratégia que nenhuma escola pode ignorar ou
desprezar, sem correr o risco de perder o rumo e não ter futuro. A falta
de um projeto dificulta e, às vezes, até impede o crescimento de uma
escola. Uma organização sem visão de futuro perde tempo, energia e
dinheiro.
39
Tenho presenciado o drama de algumas escolas de Educação
Infantil que, em virtude de seu trabalho sério e competente, tiveram de
estender, por exigência dos pais, o seu atendimento para outros
segmentos, e que, nos dias atuais, tiveram de destruir física e
culturalmente muito do que tinham feito, porque não vislumbraram que
o futuro pudesse ser maior e mais rico de possibilidades que o
presente. Algumas perderam até mesmo o nome. É difícil um aluno
das séries finais do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio
contentar-se em estudar em uma escola com o nome infantilizado ou
no diminutivo.
O amadorismo na administração das escolas está com os dias
contados. Por menor que seja a escola, ela precisa de algumas peças
de planejamento para garantir a sua sobrevivência, para dar
segurança a seus professores e funcionários, e estimulá-Ios, para
obter resultados consistentes, para satisfazer as necessidades e
expectativas das famílias, enfim para ser competitiva e crescer. A
escola é um organismo vivo e, como todo ser dessa natureza, se não
cresce, murcha e morre.
Uma escola minimamente organizada deve apresentar:
- Calendário escolar.
- Calendário de eventos.
- Orçamento anual.
- Programa anual de educação e de treinamento.
- Planejamento estratégico.
- Planos operacionais.
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É claro que o nível de sofisticação desses instrumentos
gerenciais depende do tamanho e da complexidade da operação
escolar.
Uma organização precisa deixar claros os seguintes pontos: qual
é o seu propósito, qual é a sua finalidade ou missão, qual a sua visão,
os seus sonhos e quais as estratégias que irá utilizar para realizar os
seus ideais e dar conta de seus propósitos. A definição dessas
questões gera um ambiente adequado, porque permite selecionar as
pessoas adequadas, cria sinergia, facilita a identificação de
prioridades, permite a delegação de responsabilidades e de auto-
ridade, oferece critérios objetivos para a avaliação de desempenho,
clareia a relação com as famílias, dá segurança, evita grandes
turbulências, dá unidade às ações, possibilitafocalizar a essência.
Dar rumo à escola é a maior responsabilidade do diretor. Essa
responsabilidade pode ser compartilhada com a equipe técnica, com
os professores, com os funcionários, com os alunos, mas quem
responde por ela é o diretor. Como diretor, posso pedir ao vice-diretor
que elabore um projeto para a realização de eventos, mas não é o
vice-diretor que responde pelo fato de a escola ter ou não ter um
projeto dessa natureza. Um gerente administrativo pode ser
responsável por cem por cento da elaboração do orçamento, mas é o
diretor que responde pelos acertos e desacertos do que foi orçado.
O que pretendo, nesta lição, é mostrar a importância do
planejamento como estratégia para o crescimento harmônico de uma
escola. De um modo geral, gasta-se pouco tempo para decidir o que
fazer, pouco tempo para educar e treinar as pessoas para fazer e
muito tempo fazendo. Decorre daí que muitas escolas vivem numa
41
"fazeção" extenuante e sem tréguas, realizando ações sem sentido e,
quase sempre, malfeitas.
Nas escolas, há muita coisa sem sentido que continua sendo
feita, porque sempre foi assim. É comum o fato de diretores
apresentarem grandes dificuldades na execução de algumas tarefas e,
quando questionadas por que realizam aquelas tarefas, ou por que as
realizam daquele modo, levam um susto porque nunca pensaram
nessa questão.
Quando se estabelece um ciclo de planejamentos, passa-se a
escola a limpo. É no nível estratégico que as questões operacionais
ganham significado. Se os planejamentos são feitos de modo
participativo, assegura-se a compreensão e o comprometimento das
pessoas. Este é o melhor caminho, quando o diretor tem a lucidez
para não se eximir da responsabilidade pelos rumos e resultados da
escola.
É bastante claro para mim que o planejamento e os seus
modelos devem ser específicos de cada escola, mas acredito que a
experiência de quem já fez pode contribuir como fonte de inspiração
para quem está começando.
LIÇÃO 5: Trabalho Cooperativo
A educação formal não é tarefa para indivíduos, mas para
equipes. Isoladamente, ainda que haja competência e
comprometimento, os resultados do trabalho educacional são quase
sempre insignificantes.
Em termos de produtividade, uma escola se distingue de outra,
em virtude do maior ou menor grau de sintonia entre professor e
42
escola, entre professor e aluno, entre escola e família, entre alunos,
entre professores. Quando essas relações são desafinadas, por
melhor que seja o desempenho de cada indivíduo, sempre há
prejuízos. Mais do que de energia, o trabalho educacional precisa de
sinergia. Cuidar do crescimento das pessoas é um dos caminhos mais
efetivos para a formação de uma equipe. Por maior que seja o esforço,
é muito difícil constituir uma equipe, quando as pessoas do grupo, em
sua maioria, são egoístas, mesquinhas, agressivas, desleais,
competitivas, duras, irônicas, permissivas, autoritárias.
O talento individual, embora imprescindível, não é suficiente para
que se forme uma equipe. É necessário que os talentos se unam em
torno de um objetivo comum, é preciso que tenham uma visão
compartillhada. Quando há uma única direção para as energias
individuais, cria-se uma sinergia. A falta de um objetivo comum gera
perda de energia. Um objetivo compartilhado ou comum, não é uma
idéia, mas uma força inculcada no coração das pessoas, uma força de
poder impressionante. O objetivo comum deve ser construído dentro
do grupo, considerando os objetivos pessoais. Um objetivo imposto
pela liderança, ainda que honesta e competentemente, não alcança o
nível de comprometimento das pessoas. Estas só comprometem com
aquilo que ajudaram a criar, que definiram em conjunto.
LIÇÃO 6: Educação e Treinamento
Não é possível continuar fazendo as mesmas coisas e esperar
que os resultados sejam diferentes daqueles que se tem obtido. Não é
possível, embora se tenha mudado os objetivos sonhar com
resultados diferentes, se se continua realizando, com o mesmo
43
espírito, as mesmas tarefas no trabalho de cada dia. Novas realidades
exigem novas aprendizagens. É lógico que não basta só treinamento.
A escola não é um mundo estável, a educação é dinâmica. As
relações interpessoais, essenciais no trabalho educacional, a todo
momento apresentam situações inéditas e exigem competências que
vão além das adquiridas com o exercício e o treino. Segundo
Perrenoud, os diretores devem, assim como os professores, saber agir
em uma situação de crise que rompe subitamente com um trabalho de
rotina. Mais do que eficiente ou eficaz, a educação precisa ser efetiva,
para que dê conta das necessidades presentes.
Um programa de educação e treinamento deve considerar os
seguintes pressupostos:
As pessoas são diferentes umas das outras; aprendem de
maneira diferente em ritmos diferentes;
As pessoas nascem com uma inclinação natural para aprender
e inovar; não precisam de recomendações para crescer; o
crescimento é natural e orgânico;
O mundo do trabalho não deve ser fonte de esgotamento, mas
lugar privilegiado de realização e criatividade;
O papel das lideranças é criar condições para que as pessoas
tenham uma vida o mais enriquecedora possível;
Uma instituição tem o dever social de implementar ações que
dêem às pessoas oportunidades de externarem e
desenvolverem as suas potencialidades;
Os gastos com educação e treinamento não são custos, mas
investimentos;
o fato de eles pensarem é suficiente para que os outros saibam o que
44
Atualmente as decisões importantes são, quase sempre,
tomadas em grupo; pessoas que dependem umas das outras
para decidir e agir precisam aprender em grupo; o aprendizado
individual não é suficiente para a instituição.
Um programa de educação e treinamento deve ser capaz de:
Criar possibilidades de aprimoramento contínuo nos níveis
pessoal e profissional;
Propiciar às pessoas satisfação no trabalho e contribuir para o
enriquecimento de suas vidas;
Permitir delegação e universalizar o autocontrole e a auto-
inspeção;
Contribuir para a unidade da equipe, criando sinergia e
melhoramento de resultados;
Dar sustentação ao trabalho de realização dos objetivos da
escola;
Propiciar embasamento teórico para as mudanças necessárias
nos processos de aprendizagem e de ensino;
Sistematizar o processo de educação e treinamento na escola,
tornando-o relevante e efetivo para as pessoas e para a
instituição.
LIÇÃO 7 - COMUNICAÇÃO
Uma das regras básicas da boa comunicação é dizer ao outro,
com clareza, objetividade e gentileza, o que se espera, o que se quer
dele. Um diretor não tem o direito de exigir que professores,
funcionários, famílias adivinhem o que ele quer. Alguns acreditam que
45
deve ser feito. Não dizer, não explicitar, sonegar informações são
atitudes antiéticas, porque desrespeitam o outro, e pouco inteligentes
porque fomentam a fofoca. A boa comunicação requer credibilidade.
O diretor precisa fazer o que diz; é preciso que haja coerência entre
suas palavras e suas ações.
Para que isso aconteça, dois fatores são importantes:
Firme convicção quanto aos valores;
Integridade.
A falta de constância em relação aos objetivos, aos propósitos da
instituição, às mudanças oportunistas quanto aos rumos da escola
geram desconfiança, descomprometimento, descrença e confusão
entre os empregados.
Sem integridade não há confiança. A boa comunicação não se
restringe à troca de informações. Ela cria laços, energiza as pessoas,
reforça a confiança. Havendo integridade, há respeito pelas pessoas,
há escuta, há consideração pelas idéias divergentes. A experiência
mostra que a falta de objetividade é sintoma de falta de preparação e
de comando. É bom que, na rotina de seu trabalho, o diretor tenha
certos cuidados,traduzidos, a seguir em algumas proibições:
Não permita que secretária, supervisores, coordenadores,
gerentes administrativos, vice-diretor sejam obstáculos para o
seu contato direto com os alunos, professores, funcionários e
famílias;
Não transforme os membros da equipe técnica em moleques de
recado; não é muito difícil de definir quem é o responsável por
uma comunicação; nunca fuja de sua responsabilidade;
46
Não permita que a comunicação daquilo que deve ser feito
chegue aos funcionários e aos professores como se fosse um
desejo, um capricho do diretor ( a não ser que isto seja verdade).
Não prometa o que você não tem certeza de poder cumprir; se
perder a sua credibilidade, será muito difícil continuar diretor;
Não sonegue informação, as pessoas têm o direito de saber as
coisas; a informação é poder, mas se torna um poder inútil, se
não for compartilhada;
Não doure a pílula, mas também não seja deselegante; verdade
e gentileza são preciosidades numa comunicação;
Não culpe os outros pela não-compreensão de uma mensagem;
procure melhorar a sua capacidade de comunicação.
LIÇÃO 8 – A Aliança com o Professor
Na convivência com professores, percebe-se com facilidade,
quando há comunhão entre os objetivos pessoais e os da instituição.
Percebe-se também o contrário, com a mesma facilidade.
Sem comprometimento, sob pressão, é quase impossível realizar
um bom trabalho em qualquer área, e muito menos em educação.
Qualquer realização, numa escola, depende da contribuição das
pessoas; na maioria das vezes, depende da participação do professor.
Quando um professor se torna um problema maior do que a
contribuição que ele pode dar, é hora de se fazer alguma coisa por
ele. Quando a rotina se torna um peso, quando desaparece a alegria
de fazer o que se está fazendo, está na hora de fazer alguma coisa
por si mesmo. Uma das funções do diretor é cuidar do
47
desenvolvimento dos seus professores. Se os professores são
preguiçosos, se não se comprometem, se são intransigentes, sem
espírito de cooperação, a única coisa de quem o diretor poderá cobrar
alguma coisa é de si mesmo. O diretor precisa ter o professor como
parceiro e batalhar arduamente para que esse parceiro tenha as
melhores condições de trabalho.
Melhorar as condições de trabalho do professor (dar-lhe
dignidade) é o caminho mais curto para uma educação de qualidade.
O professor infeliz, amargurado, incompetente, aviltado, submisso,
dependente, sufocado pela carga de trabalho, doente, inseguro é e
será sempre incapaz de educar pessoas de modo significativo.
Se quiser que a educação seja mesmo um ponto de
alavancagem para o desenvolvimento do país, está na hora de cuidar,
com mais seriedade, do bem-estar e da satisfação dos professores. E
se os professores quiserem realmente contribuir para a construção de
um país produtivo, com equidade interna, isto é, sem pobreza, e para
a construção de uma ordem social de convivência democrática, é
necessário que sonhem, que tenham altas expectativas em relação a
seus alunos, que desafiem e que despertem neles a força da
aspiração.
LIÇÃO 9: A Parceria com a Família
A relação família/escola tem sido na maioria das vezes, uma
fonte de desgastes para as duas instituições. Tem sido uma relação
marcada quase sempre pela desconfiança, pelo medo, pelo
autoritarismo, pela transferência de responsabilidade, pela imposição
48
de culpa, pelo desinteresse, pela superficialidade, pela incapacidade
de ouvir, pela competição. Precisa ser assim? É claro que não. Sendo
assim, só há prejuízos, nenhum ganho para as pessoas.
Por que é assim? Penso que uma das razões é o tradicional
autoritarismo das escolas, embora se fale muito na importância da
integração família/escola, grande parte de diretores ficaria
extremamente feliz se as famílias os deixassem em paz. Para o
autoritaritarismo, qualquer forma de diálogo é perda de tempo,
qualquer pensamento divergente é deslealdade.
Unidade pressupõe diferenças. Onde não há diferenças, há
uniformidade, mas não unidade. Buscar unidade é ter consciência de
que as pessoas são diferentes, e de que as diferenças são a riqueza
de um grupo, e não obstáculos para o trabalho de equipe. A
uniformidade é característica dos ambientes autoritários. O
autoritarismo sufoca as diferenças e gera bajulação, insegurança,
competição exacerbada, relações superficiais e instrumentalizadas. O
autoritarismo se alimenta do medo. Momentaneamente o medo pode
provocar mudanças, gerar resultados, mas quase sempre são
resultados inconsistentes.
A escola, hoje, tem necessidade de falar menos e ouvir mais.
Precisa ser menos presunçosa, mais humilde, aprender também e não
apenas ensinar. O perigo, se não houver princípios e valores que
sustentam a instituição, é perder o rumo, ficar à deriva. É preciso ouvir
mais e não demais. Democratizar as relações é o caminho. É preciso
compreender que a relação com as famílias se dá por meio de várias
pessoas: alunos, funcionários, professores, técnicos educacionais. É
preciso educá-los para essa relação.
49
LIÇÃO 10: A Sintonia com a Realidade
Uma escola passa por estágios em seu desenvolvimento. Há
diferenças entre dirigir uma escola na sua fase de implantação e dirigi-
la daí há dez anos, quando premissas, valores e princípios estão
sendo, ou já foram construídos pela instituição. Há momentos em que
se depende muito da energia, da forte convicção pessoal do diretor
para que a escola supere os obstáculos, enfrente com sucesso as
dificuldades, os problemas do dia a dia. O diretor, neste momento,
deve ter as características de um empresário: criar esperança e gerar
estímulo no grupo.
Cada etapa de desenvolvimento de uma escola tem exigências
específicas, e o bom diretor em uma fase pode ser o diretor
incompetente de uma outra. Se em determinado momento é preciso
criar e sustentar uma cultura, em outro, é necessário ser um agente de
mudança. Às vezes, precisa-se de um empreendedor; às vezes, a
carência é de um bom gerente.
O diretor deve estar sintonizado com as necessidades e
expectativas da situação específica vivida pela escola. Isto parece
óbvio, mas é bem mais frequente do que se imagina a ocorrência de
diretores que dirigem suas escolas em função de suas características
e preferências, negligenciando as necessidades institucionais. As
dificuldades existem, ignorá-las é dificultar ainda mais qualquer
processo de mudança.
Exercício sobre a UNIDADE:
1. Faça um breve resumo sobre as 10 Lições sugeridas nesta
Unidade, como guia do Diretor.
50
UNIDADE III
DIRETRIZES, PARÂMETROS E PILARES DA EDUCAÇÃO
OPERACIONALlZADOS NAS SALAS DE AULA
“A hora é de mudar.
É hora de estudar, de estudar...
É preciso "re"pensar a escola, levando, até às salas de aula,
Diretrizes, Parâmetros, Pilares da Educação...
É preciso estudar, discutir e refletir muito sobre como tudo isto altera a
dinâmica das aulas”...
É hora também de os educadores introduzirem, em sua prática e
na leitura que fazem da legislação de ensino, os mesmos princípios e
diretrizes recomendados e expostos para a abordagem dos conteúdos
e das disciplinas.
A leitura da lei deve ser feita à luz de aspectos econômicos,
históricos e culturais, pois assim todas as interpretações serão
contextualizadas com a situação momentânea do país. Ler artigo por
artigo, a lei pela lei, como se ela representasse um fim, impede e
compromete a sua aplicação. A leitura crítica da sua história e
elaboração, até ser aprovada, reforça e possibilita uma interpretação
que não se reduz aos aspectos legais. A visão de que uma Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional transcende as
questões educacionais, incorporando-as e indo muito além delas, é
fundamental.
A expressão Educação Nacional conduz,de certo modo, à
constatação de que o Estado passa a agir como interventor nas duas
51
redes de ensino - a privada e a pública. Marcada pela ampliação da
ação nacional e do aumento do papel do Ministério da Educação, a
LDB, com a sua regulamentação, contém aspectos muito positivos,
cuja percepção é acentuada com a leitura conjunta da Constituição
Federal, de outubro de 1988. A ela compete complementar a Lei
Maior, uma vez que a União, pelo previsto no Art. 22, legisla sobre as
diretrizes e as bases da educação nacional, de forma geral, sem
impossibilitar a legislação estadual.
A LDB contém normas gerais, de âmbito nacional, revestindo-se
de características de flexibilidade e garantindo aos sistemas de ensino
(estadual e municipal) espaços para exercitarem a sua autonomia
como sistemas. Essa autonomia também garante às escolas ampla
liberdade para definirem seus projetos político-pedagógicos.
Todo projeto amplo, como o que define a educação de um país
federativo e democrático, desperta sentimentos antagônicos,
esperanças por parte de quem se percebe incluído nela e frustração e
desconfiança dos que não tiveram os seus interesses incorporados.
Após sete anos da sua aprovação, com a sua regulamentação
praticamente concluída pelo Conselho Nacional de Educação e pelo
Ministério da Educação e Desportos (MEC), com adiamentos oficiais
da observância pelas escolas das medidas que representam as
mudanças, o que se percebe nas escolas, onde verdadeiramente
acontece a educação, é que poucas mudanças foram efetivadas.
As mudanças esperadas e mais significativas, que poderiam ser
tomadas para transformar a tônica da educação brasileira, são
decorrentes, principalmente, da forma como se vê e como se faz a
educação em cada sala de aula.
52
Elas dependem muito mais da vontade, do querer e do agir do
educador, do que da força da Lei, mesmo sendo de Diretrizes e
Bases. O sentido da educação não se altera por decreto. Percebe-se,
a cada dia vivido nas escolas, como vem acontecendo a
implementação dessas diretrizes. Torna-se fundamental, a todo o
momento, apoiar os educadores na sua mudança interna quando se
trata de mudar valores e paradigmas, para que depois eles se tomem
agentes transformadores.
A retomada diária, com os educadores, do teor dos documentos
da UNESCO, dos quais o Brasil é signatário, definidos nas últimas
décadas, na Tailândia e no Senegal, sobre a Educação para o século
XXI, ajuda, sem dúvida, todos os envolvidos com o processo educativo
a compreenderem como deve ser a educação que preparará os
cidadãos para enfrentar os desafios do terceiro milênio.
Ao delinear os desafios, os autores do documento traçaram
novos objetivos e outra concepção de educação, na qual todos
(crianças, jovens, adultos) descobrissem, reanimassem e
fortalecessem o seu potencial criativo - descobrir o tesouro escondido
em cada um.
Esta visão vem superar a via obrigatória e reducionista,
instrumental e pragmática da educação, subordinada, principalmente,
à economia, com o fim de se obter resultados - saber fazer para
aumentar a produção. Passa-se a considerar todo e qualquer aluno
em sua plenitude como pessoa. Decorrente disso, propuseram e
delinearam os quatro pilares do conhecimento que devem orientar a
educação do presente:
53
Os profissionais da escola, de modo geral, já conhecem esses
pilares da educação. Agora, as discussões e a prática devem conduzir
à sua inserção e ao seu dimensionamento na sala de aula, no dia-a-
dia da escola, associando-os às Diretrizes e aos Parâmetros
Curriculares. Trata-se agora de fazê-los acontecer de fato.
Como fazê-lo? Eis a questão. Algumas associações propiciam
um melhor entendimento e concretizam as diretrizes e os pilares.
A discussão sobre cada um deles e a sua associação com as
disciplinas e os conteúdos ajuda a entender como eles chegam à sala
de aula.
Aprender a Ser
Ser como? Ser feliz, ser sensível, ser criativo, ser cidadão, ser
humano, ser curioso, ser plenamente realizado, ser livre, ser útil, ser
sonhador, ser ético, ser completo, ser criança, ser adolescente, ser
adulto, ser único, ser homem, ser mulher, ser gente...
É angustiante observar como as escolas de educação básica, de
modo geral, ignoram totalmente as diferenças entre os alunos. A
designação do aluno oculta a origem e a história pessoal de cada um,
as questões étnicas, a sexualidade, o meio social, os interesses, os
gostos, as preferências e, principalmente, os dons e os talentos.
Buscam-se turmas homogêneas, com escolas em que predominam o
espírito utilitarista dos conteúdos estudados, que têm maior ou menor
valor, ditados pela cobrança no vestibular.
As escolas valorizam e reconhecem as características da
inteligência lógico-abstrata e não identificam e nem oferecem
54
atividades voltadas para outros potenciais reconhecidos como
inteligências múltiplas.
Na LDB, art. 26, ao tratar das propostas curriculares do ensino
Fundamental e Médio, ficou definido que elas devem ter uma Base
Nacional Comum, complementada pelos sistemas de ensino e escolar,
por uma parte diversificada, para cobrir as características regionais e
locais, da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
Posteriormente, nos pareceres delimitadores das DCN (Diretrizes
Curriculares Nacionais), o Conselho Nacional de Educação explicitou
que a parte diversificada poderia ter até 25% da carga horária anual
ou total, de cada período letivo, 200 horas anuais ou 600 horas pelo
curso ou grau.
Aí está a grande oportunidade de se proporcionar aos jovens e
às crianças ocasiões de descoberta, da identificação, de
experimentação e do atendimento aos seus dons especiais. O limiar
deste novo século indica claramente que a sociedade precisará e
muito da diversidade de talentos e de personalidades. Portanto, não
dá mais para a escola fingir que essa tarefa não é sua e de que os
alunos são iguais quando uniformizados.
Aprender a Conhecer
De um lado, temos o novo significado do trabalho no contexto da
globalização e dos avanços tecnológicos, e, do outro, o sujeito ativo, a
pessoa humana, que se apropriará desses conhecimentos para
aprimorar-se no mundo do trabalho e na prática social. O
55
conhecimento tornou-se fator de produção, mas não será adquirido em
situações mecânicas, desligadas da realidade social, sem
envolvimento pessoal. É preciso que o conhecimento seja objeto de
interesse do educando, da sua curiosidade e da sua atenção, de modo
que sempre se esteja pronto a aproveitar as várias ocasiões da vida,
como jogos, estágios, viagens, projetos práticos, visitas, excursões,
filmes, debates, entrevistas, seminários, jornais, etc..
Não se trata de um processo teórico; é importante que o
constante aprender a aprender ou a conhecer sejam processos
dinâmicos e reais, em que o aluno perceba, na sua escola e nos seus
professores, um modelo-real de aprender a conhecer, no qual todos
busquem a atualização, o domínio da linguagem e da tecnologia
própria de sua área e de outras integradas. O aluno deve perceber
que o processo nunca está acabado e pode ser enriquecido com as
experiências vividas e com a busca constante do conhecer.
Na interação do aluno com seus pares, as escolas estarão
garantindo a base para que todos estejam sempre mobilizados no
processo do conhecimento, por meio da execução de atividades
interdisciplinares e contextualizadas.
Aprender a Fazer
Neste pilar, está uma das maiores demandas da escola. O
aprender a fazer é indissociável do aprender a conhecer. Ele não se
liga apenas à formação profissional e nem decorre dela.
Não se trata de aparelhar trabalhadores para a execução
mecânica de atividades práticas mais ou menos rotineiras. É o
comuns, como observações de representações das indústrias e dos
56compromisso da escola formar pessoas dotadas da capacidade de
pensar, de inovar, de criar, de interferir e de raciocinar - capacidades
exigidas, hoje, para a execução de tarefas de produção cada vez mais
intelectualizadas e mentais.
Aonde aprender a atuar em equipe, a comunicar-se, a ter iniciativa e a
resolver problemas?
O local para essas aprendizagens é, sem dúvida, a escola de
educação básica, em atividades de língua portuguesa, matemática,
física, química, biologia, artes, história, geografia e línguas
estrangeiras, trabalhadas como prevêem as diretrizes. Os princípios
de uma educação integral, afastada da passividade, da falta de
finalidade, do isolamento das questões sociais e cotidianas,
fragmentada e descontextualizada, cumprem esse papel.
É nas abordagens contextualizadas que se percebe a não-
neutralidade dos conteúdos sem finalidades em si mesmos. Aí se
juntam o saber fazer e a qualificação para o trabalho, que consta do
objetivo da educação nacional, previsto na Constituição e na Lei
Federal, citada e comentada por educadores, mas nem sempre
efetivada na prática escolar.
Expressões como trabalhadores e profissionais especializados
de nível técnico não sabem ler, nem escrever, não entendem as
instruções passadas por escrito, não compreendem textos em inglês,
não se comunicam, não usam os conhecimentos de física, de química,
de biologia, de matemática, não sabem atuar em equipe, etc. são
mais social do que profissional, é um aprender a fazer para a vida,
57
patrões. Nas escolas, percebe-se que os professores, mesmo
licenciados, falam e escrevem errado a ponto de as famílias e os
alunos perceberem e comentarem os erros. Como se explica isto, se
são pessoas escolarizadas, que estudaram durante anos as citadas
matérias da base nacional comum?
Este é o resultado da abordagem de conteúdos pelo conteúdo,
desvirtuados como fins, de estudos e estudos para fazer as provas e o
vestibular sem que se convertessem ou se constituíssem nas
competências que seriam explicadas e percebidas pelo uso, de forma
até imperceptível para quem as utiliza na sua vida e no seu trabalho.
Nesse contexto fica claro porque a Educação Básica (infantil,
fundamental, médio) prepara para o trabalho, pelo domínio dos
princípios técnicos e tecnológicos que presidem a produção moderna
(LDB, art. 36).
Cada vez mais são exigidos dos profissionais o uso e a
aplicação de conhecimentos e de habilidades, como a capacidade de
ação e de interação entre pessoas e equipes, de comunicação, de
resolução de problemas. Essa constituição é competência da escola
regular. Espera-se que a escola e os seus integrantes - equipe, pais,
alunos, comunidade - percebam que a aprendizagem decorre de
transformações que operam mudanças registradas nas pessoas,
quando os conhecimentos se constituem em competências e
habilidades.
A formação integral não se destina apenas ao trabalho. Ela tem
objetivos mais amplos, preparando para uma participação formal ou
informal no desenvolvimento da sociedade. A qualificação é muito
58
para si mesmo, para ser mais completo, mais feliz, como quem se
sente seguro ao usar suas competências.
Os conhecimentos e habilidades ligados ao saber fazer se
juntam ao saber ser para preencher as exigências requeridas para o
exercício das tarefas complexas, mais intelectuais, mentais, próprias
de funções técnicas, junto com as que se referem ao trabalho em
equipe, capacidade de iniciativa e de sensibilidade.
Compete à escola perceber-se responsável por essa formação,
em um trabalho que harmonize as duas partes integrantes do currículo
de ensino fundamental e médio - a base nacional comum e a parte
diversificada - à efetivação do aprender a aprender, do aprender a
fazer, do aprender a conviver, do aprender a conhecer, cumprindo,
assim, as DCN.
A leitura e a aplicação da LDB devem ser feitas sem que se
separem os princípios filosóficos, os pilares e as diretrizes curriculares
dos aspectos legais, das regras e das normas.
O conhecimento harmonioso das questões legais e obrigatórias
é fundamental para os educadores. Ele deve ser fundamentado aos
aspectos que lhe dão sustentação, ligados ao processo
socioeconômico, às questões civis, aos movimentos sociais e às
exigências contemporâneas, que dão lhe suporte e legitimidade.
Aprender a Conviver
59
Com o ambiente com conflitos, mudanças rápidas, diferenças de
origem étnica, sexual, crenças diferentes, diversidade humana,
semelhanças, ansiedade, competição, desafios, concorrência.
Será que este aprender é tarefa da escola? É e constitui um
de seus maiores desafios. Compete-lhe ensinar a não-violência e a
redução de conf1itos que fazem parte da história da humanidade e
que, hoje, face aos avanços e progressos tecnológicos, coloca em
risco toda a humanidade envolvida em guerras e disputas. Há disputas
e concorrências de caráter individual e coletivo, principalmente no
campo econômico. São elas que dividem os povos em ricos e pobres,
em nações desenvolvidas e subdesenvolvidas, que tendem a
estimular a competição e a busca do sucesso a qualquer preço.
Para interferir no processo e trabalhar o aprender a conviver, a
escola deve conduzir à descoberta do outro e depois à participação e
à realização de projetos comuns. A descoberta do outro, passa pela
descoberta de si mesmo, dando espaço para compreender os outros e
aprender a colocar-se no lugar do outro. A geografia, as línguas
estrangeiras, a história e, principalmente, as artes podem servir de
referência para comportamentos próprios do convívio social.
Aulas exclusivamente expositivas, com alunos passivos,
abordagem fragmentada, matérias descontextualizadas, provocam a
morte da curiosidade e do espírito crítico dos alunos, sem conduzir à
convivência, ou seja, sem efetivar o "aprender a conviver".
E como ficam as DCN? Que relação elas têm com o aprender a
conviver?
Lendo as diretrizes a seguir, constata-se a correlação e a
adequação entre os princípios e as DCN.
60
Exercícios
1 - A leitura da lei deve ser feita à luz de aspectos econômicos,
históricos e culturais, pois assim todas as interpretações serão
contextualizadas com a situação momentânea do país.
SIM ( ) NÃO ( ) Argumente a sua resposta.
2. A discussão sobre cada um dos Pilares da Educação e a sua
associação com as disciplinas e os conteúdos ajudam a entender
como eles chegam à sala de aula.
- Quais são esses pilares?
- Faça um breve resumo sobre cada um.
61
UNIDADE IV
O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS: A
RETOMADA DA PRÁTICA DO PLANEJAR NUM PROCESSO DE
GESTÃO PARTICIPATIVA
Em alguns Estados brasileiros, após a edição da LDB, um
projeto pedagógico, que servia para todas as escolas, era vendido nas
bancas de revistas por R$ 30,00. Os educadores participantes de
eventos que visavam à sua elaboração comentavam o fato, pensavam
que talvez fosse mais fácil comprar um do que escrever o da escola.
Diante de uma proposta de elaboração coletiva, envolvendo toda
a equipe, como se fazia, a idéia de comprar não foi logo abandonada.
Ela era reforçada pela tese de que o projeto era só para apresentar e
cumprir a lei. Está determinado na LDB, no art. 12, que a escola terá a
incumbência de elaborar e executar a sua proposta pedagógica e de
informar aos pais e responsáveis sobre a sua execução. Essa
exigência trouxe de volta à escola a necessidade de planejar.
Pela primeira vez, as escolas têm as suas obrigações previstas
em texto de lei federal. Mais do que isso, é a maior tarefa ou
responsabilidade delegada às instituições de ensino: planejar o seu
projeto, o que não poderá mais ser um trabalho relegado e esquecido
como há muito tempo tomou prática.
O artigo seguinte, o 13, ainda na LDB, ao incluir os docentes, de
modo amplo, sem delimitar o grau, ou nível deatuação, ou tipo de
escola, se pública ou privada, atribui-se-Ihes a tarefa de participar da
62
elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino e
faz retomar a prática de planejar entre os professores.
Todos os educadores, professores e especialistas reconhecem e
apontam a importância do ato de planejar e de pautar a sua prática
dentro de um plano, em conformidade com o projeto da escola.
O valor do projeto para a instituição escolar também é
reconhecido e amplamente aceito. No entanto, o cotidiano da escola
não inclui, nas suas atividades, o planejamento. Qual é a verdadeira
situação da atividade de planejar, de decidir e de delimitar os rumos
na escola?
Mas a questão permanece: a escola e a sua equipe devem
retomar o planejamento porque a LDB estabeleceu essa exigência?
Voltar a planejar para cumprir cobranças externas? Comprar ou copiar
o projeto para entregar aos órgãos do sistema para cumprir a
exigência? Ou implementar a prática do planejamento, da elaboração
de projetos, porque são processos importantes e necessários, parte da
caminhada no sentido de se resgatar a escola e o trabalho do
professor?
É um processo em que não cabem regras, nem receitas. A
questão transcende o aspecto legal e o projeto em si, para chegar ao
processo de mudança da escola. São momentos distintos.
Inicialmente, é necessário que professores e equipe percebam e
sintam a importância de se ter uma escola capaz de intervir na
realidade, e depois que o planejamento concebido e elaborado na
forma correta represente uma mediação para essa mudança. O
primeiro passo, sem dúvida, é a etapa pela qual, em decorrência de
63
sensibilização, o educador conclui pela necessidade do planejamento
e se inclui como parte dessa intervenção na atual estrutura.
O Que se Entende como Sensibilização do Educador?
A sensibilização é um conjunto de atividades cuja execução
possibilita ao profissional rever e estudar os fundamentos teórico-
metodológicos que dão sustentação à sua prática, reconfigurar o papel
da escola, e nela, o do educador. Dessa forma, os profissionais se
transformam, se percebem agentes da mudança, ao mesmo tempo em
que se restaura o processo de planejar.
As discussões e as abordagens levam à delimitação do aluno
que se quer formar cidadão autônomo, crítico, ativo, responsável,
mobilizado e compromissado com as questões sociais e do ambiente.
A reflexão sobre o que se quer e o que se faz, entre o pensar e o
fazer, necessariamente conduz à constatação de que há uma grande
distância entre o modelo de aluno versus cidadão e a prática de sala
de aula, em que os alunos permanecem passivos, não-atuantes,
desinteressados e mobilizados à ação para obtenção de notas.
Textos, filmes, outros intermediadores, palestras, grupos de estudo,
tudo o que se faz na educação continuada visa a diminuir a
defasagem entre o que se quer e o que se alcança na escola
brasileira. Como pode ser visto nas exposições dos professores, para
explicar o que nela acontece:
- As famílias são problemáticas e desestruturadas.
- Os pais são separados.
- Esses alunos não querem nada.
64
- Esses alunos vêm defasados, não sabem nada.
- É problema de carência.
- É influência da televisão, etc.
O trabalho inicial, portanto, deve mostrar ao educador que ele
precisa ser ativo no processo de mudança e que a sua prática de sala
de aula é um trabalho relevante e de natureza complexa, que precisa
ser planejado, para:
- Integrar ações individuais com as demais, com vistas à garantia
da interdisciplinaridade, à execução de atividades mais interessantes e
com dinâmica integrada ao trabalho dos outros professores.
- Estabelecer a ligação entre a prática do professor, o projeto de
trabalho, o currículo da escola e, mais do que isso, o projeto da
escola.
- Garantir a aproximação entre a teoria e a prática e,
principalmente, entre as questões sociais e comunitárias tão pregadas
nas Diretrizes Curriculares.
- Devolver ao professor o domínio e o controle do seu fazer, do
qual ele vem sendo expropriado ao longo das últimas décadas.
Há necessidade de se realizar um trabalho voltado para
resgatar, no educador, a vontade e o compromisso de repensar e
incluir, em sua vida, o ato de planejar, ao mesmo tempo em que se
discute o papel da escola e a necessidade de sua mudança. Essa
mudança precisa ser objeto de um projeto, resultante de ação coletiva
e participativa, configurada e formalizada em um plano que inclua o
trabalho de cada professor, de cada membro da equipe e que
represente a vontade e o querer de quem a mantém e de quem a
quer: os seus dirigentes e a sua comunidade.
65
Concebido e elaborado dessa forma, poderá ser chamado de
projeto político pedagógico, configurado como um processo nascido
da gestão participativa e legitimado pela vontade e pelo compromisso
de cada um. Tal processo é consagrado como a oportunidade de se
repensar todo o fazer da escola e dos seus membros.
A proposta pedagógica, citada no art. 13 da LDB, é o plano
global da instituição escolar.
O projeto político-pedagógico não pode ser visto como a
panacéia para todos os problemas institucionais, mas todo processo
coletivo tem o poder de resgatar em cada um dos educadores-
participantes a capacidade de sonhar, de acreditar, de desejar e de ter
esperanças. Para romper resistências na elaboração do projeto
pedagógico, toda a escola deve ser objeto de análise e de avaliação.
A Avaliação na LDB - da Avaliação Tradicional a uma Prática de
Avaliação Compartilhada, Interna, do Desempenho de Cada Um,
da Equipe, da Escola e do Projeto
A introdução da avaliação externa
Um dos temas mais significativos da LDB é, sem dúvida, o que
se refere à avaliação. A própria presença quantitativa em que a
avaliação é citada e prevista já cria, assistematicamente, um Sistema
Nacional de Avaliação. Os termos avaliar e avaliação estão citados em
nove artigos dos 92 contidos na lei e repetidos 23 vezes, assumindo
funções diferentes, o que configura o eixo referente a eles, como
afirma o professor conselheiro Jamil Cury.
2. O que significa o processo: Reflexão Ação Reflexão
66
É inquestionável que a União, através do Ministério da Educação
se investiu de poderes sobre a educação básica fundamental e média
- e a superior, controlando e executando o processo avaliativo do
rendimento escolar em todos os níveis. Está controlando o rendimento
escolar dos alunos, dos cursos e das escolas como agente externo,
por meio do monitoramento de indicadores de desempenho.
A avaliação externa vem otimizar os diversos processos com os
quais o aluno esteve envolvido: escola, professores, comunidade e
projeto político-pedagógico.
Avaliar significa medir a grandeza de algo por meio de um
critério previamente estabelecido e implica, por sua vez, atitudes de
não-indiferença diante dos fatos e resultados apurados.
As mudanças que precisam ser efetuadas passam efetivamente
por revisões de posturas que, se implantadas, se refletirão nesses
resultados.
É um processo que se configura no esquema:
Reflexão Ação Reflexão
Na organização em ciclos, não se abre mão do ensinar e do
avaliar, assim como se tem em vista que se avalia, na avaliação
formativa, para se promover a correção de possíveis falhas.
Exercícios sobre a Unidade:
1. Para romper resistências na elaboração do Projeto Pedagógico,
toda a escola deve ser objeto de análise e de avaliação.
SIM ( ) NÃO ( ) Argumente a sua resposta.
67
UNIDADE V
REGIMENTO ESCOLAR: DAS GAVETAS DA SECRETARIA
ESCOLAR PARA A VIDA DA ESCOLA
"Faça o necessário, depois o possível e
De repente você fará o impossível." (São Francisco de Assis)
A vida nas escolas, públicas ou privadas, nos seus aspectos
pedagógicos, estruturais, orgânicos, filosóficos, diários e rotineiros,
deveráser decidida em processo de gestão escolar democrática,
pelos professores, pela equipe técnica, pelos membros da
comunidade, pelos alunos e pelos pais. Eles são objeto de abordagem
e de regulamentação em dois documentos: o projeto político da
escola e o regimento escolar. O novo e o difícil é a prática do
processo de gestão na sua construção.
Afinal, o que é o regimento escolar e qual é o seu papel no dia-a-
dia das escolas?
É possível elaborá-Io com a participação de todos?
O regimento escolar constitui o conjunto das normas e das
regras que regulam o projeto político-pedagógico da instituição,
possibilitando a sua execução por todos. É o documento que
representa a norma legal, no contexto da escola, determinando e
disciplinando, nesse universo escolar, o cumprimento das leis federais,
dos decretos e das regulamentações estaduais e municipais.
68
Ele é estruturado obedecendo às normas que presidem a
organização de um documento legal. Os grandes temas são
apresentados em títulos (as grandes questões), constituídos de
capítulos, desdobrados em seções, que, por sua vez, são integradas
por artigos, explicitados por parágrafos, incisos e alíneas.
O regimento escolar é aberto com um breve histórico da escola e
de sua mantenedora. Nessa introdução, são definidas a identificação
da escola e a sua mantenedora, a vinculação ao sistema de ensino -
que poderá ser federal, estadual ou municipal - e os locais onde irá
funcionar.
O processo de gestão pedagógica acontece com a escola
realizando seminários, grupos de discussões e reuniões com os
diversos segmentos que conduzam à definição do perfil institucional e
dos alunos, em relação à doutrina filosófica adotada.
Atividades práticas e participativas, com vistas à sua elaboração,
concretizam, para pais e profissionais, um processo até então
abstrato:
Que tipo de alunos queremos formar?
Que objetivos tem a escola?
Essas respostas, além de essenciais para a elaboração do
regimento, são fundamentais para o projeto político-pedagógico. Além
disso, o processo simultâneo de elaboração do projeto e do regimento
escolar enriquece e consolida os dois documentos. A abordagem
unilateral, isolada de um ou de outro, logicamente, inviabiliza o
processo de gestão e compromete a validação de ambos.
Retomando a elaboração do regimento, toma-se o título
seguinte, em que se estabelece a estrutura institucional orgânica.
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Um bom exercício é a análise e o desenho do organograma da
escola, para, depois, descrevê-Io e colocá-Io no regimento sob o título
"Organização administrativa".
A definição dos papéis e das funções desses setores e serviços
pedagógicos constitui uma rica oportunidade para se discutir, definir e
organizar setores que, se criados e postos em funcionamento, serão
uma excelente forma de avanço no processo de formação de pessoas
autônomas e responsáveis, do ponto de vista moral, social e pessoal.
A participação e a integração de alunos nos conselhos de classe,
nos conselhos de alunos e nos serviços de monitoria concretizam o
processo educacional e propiciam a formação da cidadania e de
pessoas com o perfil citado.
Esses últimos oportunizam uma excelente atividade em que se
atendem aos dons especiais dos alunos e se implementam ações de
recuperação paralela mais efetivas, pois nascem da interação dos
pares, colegas e jovens, que, sem dúvida, se ajudam com mais
efetividade.
Redigido e estruturado na forma de lei, o regimento escolar
deverá responder com segurança, clareza e simplicidade, em cada
artigo, que integra as seções, às seguintes questões:
- O quê?
- Onde?
- Por quem?
- Por quê?
- Para quê?
- Como?
- Quando?
Estudos e debates sobre a finalidade da educação para o século
XXI e as questões que envolvem a reprovação do aluno e as suas
consequências são enriquecedoras e, com certeza, validarão as
deseja.
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decisões tomadas de forma coletiva. Conceituar, entender e resolver
questões quase seculares sobre os temas expostos, decidir e redigir
como serão aplicadas, ajuda toda a escola na sua incorporação e
aceitação.
As questões que definem setores-chave da escola, como a
disciplina e as regras que regem a instituição, o que pode, o que não
pode, porque não pode, quando discutidas e definidas com os alunos,
em processo democrático, distante da tradicional imposição de cima
para baixo, conduzem à formação de cidadãos antônomos. Elas
melhoram a relação escola/aluno e contribuem para a redução de
problemas em sala de aula. Levadas às famílias, tais situações
ajudam-nas a vivenciar um novo modelo de escola, diferentemente
das tradicionais e mais adequada ao momento sócio-histórico de
nossa sociedade.
Os questionamentos vão efetivando, de forma inegável, o
processo de gestão democrática, que é percebido como próprio do
projeto político e constitui um meio de se tirar o regimento escolar da
gaveta da secretaria, onde ele vem permanecendo sempre e de onde
é retirado quando é necessário punir os alunos, com advertências,
expulsões ou suspensões.
Hoje, com os avanços tecnológicos, com as necessidades
impostas ao sistema educacional pelos efeitos da gIobalização, a
família que vai colocar os seus filhos em uma escola que não conhece
deve pedir aos responsáveis uma via do regimento escolar para ler e
refletir, com base no seu conteúdo, se a escola é, realmente, a que
características e as exigências correntes da sociedade que o abriga.
71
Tem-se aí mais um motivo para que o regimento seja menos
árido e mais legítimo.
Uma das diretrizes curriculares, relativas à Educação Básica,
refere-se à autonomia, garantida às instituições escolares.
Nela se prevê que o regimento escolar deverá ser apresentado
para arquivo e registro, não mais para aprovação aos setores do
sistema de ensino. Interferências e imposições, por parte dos órgãos
integrantes do sistema de educação, não são mais aceitáveis. O
exercício dessa autonomia só se reveste de sentido se for exercido
com competência e responsabilidade, sendo legitimado pela
participação da equipe.
A elaboração conjunta e participativa do regimento escolar pode
parecer, de início, um processo difícil, mas é necessária e possível,
permitindo efetivar o que poderia parecer impossível: torná-Io um
documento vivo e de real valor para a escola e para a sua
comunidade.
Qualidade e Produtividade no Sistema Educacional
Em que medida escola e sociedade precisam estar
afinadas?
A função do sistema educacional é fornecer à sociedade
cidadãos educados e competentes para cuidarem de si mesmos e
contribuírem para a sobrevivência e melhoria da sociedade. Assim, o
sistema educacional anda - ou deveria andar - sempre afinado com as
transformar-se. Para isto, é cada vez mais importante o papel da
72
As duas últimas décadas do século XX nos colocam na era da
informação, na sociedade do conhecimento. A sociedade, que já foi
oral e escrita, passa a ser digital.
O advento da Globalização trouxe uma nova e básica exigência:
a de que países e empresas sejam cada vez mais competentes, para
serem cada vez mais competitivos. Isso fez com que se redobrassem
as preocupações com o nível de qualificação educacional, e se
implementassem programas de qualidade, adotando práticas
gerenciais testadas em países como Japão e Estados Unidos.
As empresas e seus empregados profissionalizaram-se, pois as
metas de desempenho só poderiam ser obtidas "com o envolvimento
de todos". De meros cumpridores de ordens passaram a ser"
operadores inteligentes" ou knowledge workers, como define Peter
Drucker.
Novas competências e habilidades passam a ser, portanto,
exigidas daqueles que se candidatam a ser cidadãos em uma nova
sociedade digitalizada e global e a uma vaga no cada vez mais
concorrido mercado de trabalho. Longe da simplicidade do decorar, a
habilidade de,por si mesmo, identificar a informação necessária,
acessá-Ia, interpretá-Ia e transformá-Ia em conhecimento, passa a
fazer parte do imenso cardápio de exigências para que alguém -
pessoa e profissional - possa participar da sociedade deste novo
século.
Diante das exigências trazidas pelas grandes transformações
sociais e pela revolução da qualidade nas empresas, o sistema
educacional está sendo intensamente solicitado a também
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liderança, cujo desafio maior é aglutinar todos os esforços dos vários
segmentos da comunidade escolar ("envolvimento de todos") em tomo
desse vital e premente objetivo: sintonizar a educação com os novos
tempos. Como vencer esse desafio?
Esse sistema foi concebido originalmente nos Estados Unidos,
mas colocado efetivamente em prática na indústria do Japão de pós-
guerra, sendo responsável não só pelo resgate daquele país das
ruínas em que se transformara, como também pela sua ascensão ao
status de potência econômica mundial.
Os líderes educacionais precisam ter um novo ângulo de visão
do seu trabalho, buscando conferir-lhe não só um grau a mais de
profissionalismo e técnica, mas também uma perspectiva mais
sintonizada com as tendências contemporâneas.
Em síntese, as idéias aqui expostas são uma tentativa de "re-
definir" a educação, vendo-a não mais como "um processo de longo
prazo", mas como um "sistema produtivo", passível, portanto, de ser
administrado com o uso das melhores práticas e ferramentas
propiciadas pela Gestão da Qualidade.
COMPREENDENDO O SISTEMA EDUCACIONAL E A SUA
FINALIDADE
"Se você não sabe aonde quer chegar, não importa o caminho que
você tomar". (Adaptado de Lewis Carroll)
Educação: Sistema ou Processo?
"A educação é um processo, ele dura a vida inteira (...)."
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Até os dias atuais, inúmeros educadores insistem em afirmações
como essa, indicando que o trabalho educacional seria uma espécie
de continuum, uma finalidade em si mesmo.
Dessa forma, sem se pensar na necessidade de se alcançar
resultado mensurável, o sistema educacional foi conduzido, ao longo
dos séculos, em nosso país e em muitos outros.
Raciocinar desta maneira significa ignorar por que, para que e
para quem se educa. Significa não atribuir um propósito ou uma
missão à ação educativa.
A nossa proposta do trabalho é pensar na educação como um
sistema produtivo.
Desta maneira abre-se a possibilidade de aplicação à educação
das ferramentas e técnicas gerenciais utilizadas nos demais setores
produtivos, tirando a área educacional daquela tradicional posição de
"território sagrado e especial", não-sujeito ao tratamento dado às áreas
"menos nobres" da atividade humana.
Forjada a partir de uma matéria-prima muito especial, uma
pessoa educada é o produto gerado por operadores de um conjunto
de processos (chamado educação).
Qualificando-se para ser um elemento útil e produtivo, a pessoa
educada é encaminhada a um intermediário, o mercado de trabalho,
para, finalmente, ser entregue ao cliente final denominado sociedade.
Esse ciclo completo é um sistema produtivo similar ao que é
desenvolvido em qualquer organização (pense na fabricação de um
produto qualquer, agrícola ou industrializado; facilmente se
identificarão todos os componentes citados).
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Como o sistema produtivo em questão é a educação, podem-se
especificar os seus elementos da seguinte forma:
- Matéria-prima
Pessoas (educandos), informações, crenças, valores, normas,
conhecimento bruto e tecnologias, competências e habilidades
exigidas pela sociedade/cultura/mercado de trabalho.
(O processo educacional consiste, basicamente, em fazer com que o
educando se aproprie ou construa adequadamente outros elementos
componentes da "matéria-prima".)
- Operadores
Família - Escola - Aluno
(O aluno, embora, aparentemente, seja apenas o educando, ou seja, o
que vai ser educado pelos outros, é, na verdade, um dos operadores
fundamentais de seu processo educativo. Basta dizer que família e
escola podem ter a chave do ensinar, mas somente ele possui a chave
do aprender, que é a etapa conclusiva do processo.)
- Produto
Pessoa educada
("A pessoa instruída é uma demanda universal da sociedade do
conhecimento", segundo Peter Drucker. O termo "instruída" foi aqui
substituído por "educada", por ser este último mais abrangente.)
- Intermediário
Mercado de Trabalho
(É por meio do trabalho, de qualquer natureza, que a pessoa se
transforma efetivamente em cidadão, pois não só alcança sua
independência e autonomia - adquirindo assim os pré-requisitos
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necessários para conquistar a sua felicidade -, como também passa a
ser um integrante útil e produtivo da comunidade.)
- Cliente
Sociedade (além do próprio educando).
Na verdade, existem outros tipos de cliente. Além disso, os papéis de
cliente e de fornecedor se alternam; assim, o aluno é cliente, numa
aula expositiva, mas é o fornecedor, quando se trata de um trabalho
em grupo ou de fazer o dever de casa. A sociedade é o cliente final; é
ela que exige pessoas qualificadas e íntegras, para poder sobreviver e
melhorar continuamente.
Em tempo: antes de assustar-se por uma pessoa estar sendo
chamada de produto, é importante lembrar-se de algumas coisas:
- O que se está buscando é "traduzir" os conceitos da Gestão da
Qualidade para a área educacional; daí ser necessário utilizar-se uma
terminologia comum - processo, produto, cliente, etc.
A mera tentativa de encaixar o sistema educacional dentro dos
princípios da Gestão da Qualidade é, por si só, um rompimento de
paradigma, que pode assustar mesmo, no primeiro momento.
O instigante e gratificante trabalho de busca de transposição,
para a área educacional, dos elementos do modelo genérico proposto
oferece respostas muito claras para perguntas como: por que, para
que e para quem educar? Tais respostas levam a uma mudança
drástica do foco das ações de um líder educacional, qualquer que seja
o nível em que atua na escola, jogando-o numa direção que parece
muito mais promissora, em termos de resultados.
Toda e qualquer organização, seja ela fornecedora de bens ou de
serviços, que pretenda perpetuar-se nos negócios, deve estruturar-se
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a partir de um modelo centrado no cliente. Afinal, um dos princípios
fundamentais da teoria da qualidade é: "O cliente em primeiro lugar". É
por esta razão que organizações "centradas no produtor" ou
"centradas apenas no processo" estão hoje "saindo do negócio", ou
seja, estão sendo deixados de fora do mercado, por ignorarem a voz
do cliente, por não se centrarem na busca dos resultados por ele
desejados.
Eventos Escolares: Como Organizá-Ios?
A escola, preocupada com o cidadão que está formando e em
oferecer a seus alunos um projeto educativo global, vem propondo
atividades que levem educadores e educandos a ultrapassarem os
muros da escola, para lançar desafios na busca do conhecimento.
Essa atitude evita que a educação se reduza apenas às
atividades do dia-a-dia da sala de aula, embora importantes na função
educativa, para formar o indivíduo multidimensional.
Por meio de algumas atividades escolares aqui denominadas
eventos escolares, pretende-se sensibilizar os envolvidos no processo,
já que o ser humano não é só um corpo em sua dimensão físico-
biológica, mas que transcende para o afetivo, o social, o cultural,
fazendo com que o homem se complete em sua totalidade.
Por isso, a proposta das atividades escolares oferece a
oportunidade de realização de trabalhos cooperativos e princípios de
liderança. São eventos que expressam um sentido em que se
interpenetra a intencionalidade do homem e da sociedade, as relações
de interdependência, que envolvem aspectos sociais e valores éticos.
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Ao se proporem as atividades escolares, pretende-se oferecer ao
aluno momentos de aprendizadode como se organizar, trabalhar
regras de convivência, ser capaz de planejar ações, acompanhá-Ias e
avaliá-Ias.
Além disso, elas são oportunidades para difundir-se a imagem
da Instituição. O conjunto de experiências desenvolvidas sob a
responsabilidade da escola, com a intenção de atender à expectativa
da comunidade, contribuirá para o marketing da Instituição. Fazem
parte deste programa de atividades escolares: festa da família, festa
junina, olimpíada, festa da criança, gincana, festival de arte, de dança,
de teatro e de música e encontros pedagógicos.
Ao planejar e organizar as atividades escolares é importante
contar com a participação ativa de toda a comunidade, pois elas
podem ser momentos de reaproximação entre alunos, pais e
familiares, de integração de turmas, de socialização de
conhecimentos, estabelecendo o ato do dever ser no contexto
humano.
Quando se faz uma proposta de realização, de administração ou
de organização de um evento, é preciso ter claros os objetivos e as
metodologias, os pontos básicos que devem ser explicitados, para que
a atividade tenha coerência e leve à construção do processo
educativo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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mudança paradigmática. Revista Nova Escola, São Paulo. Abril.
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dirigente. 3ª Ed. São Paulo: Pioneira, 2000.
3. ACÚRCIO, M.R.B. A Gestão da Escola – Porto Alegre/ Belo
Horizonte; Artmed/Rede Pitágoras, 2004.
4. PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola.
Porto Alegre; Artmed, 1999.
5. SAVIANI, D. A nova LDB – Lei 9.394/96 – tragetória, limites e
perspectivas. Campinas/SP. Autores Associados, 1997.
6. SOUZA,P. N. P.; SILVA, E.B. Como entender e aplicar a Nova
LDB: lei nº 9.394/96. São Paulo: Pioneira, 1997.
7. VASCONSELOS, C.S. Planejamento: plano de ensino:
aprendizagem e projeto educativo. São Paulo: Libertad, 1995.
8. LAMP, R. O processo inclusivo. Artigo.