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CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Camila Casteliano Pereira CURRÍCULO E M ETODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAM PO 44 48 8 CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Camila Casteliano Pereira IESDE BRASIL S/A Curitiba 2016 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br © 2016 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________________ P492c Pereira, Camila Casteliano Currículo e metodologia na educação do campo / Camila Casteliano Pereira. - 1. ed. - Curitiba, PR: IESDE BRASIL S/A, 2016. 114 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-387-5421-3 1. Ensino à distância - Brasil. 2. Educação - Brasil. I. Título. 16-29729 CDD: 371.350981 CDU: 37.018.43 ________________________________________________________________________ Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Shutterstock Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Apresentação Este guia de estudo apresenta uma discussão sobre o currículo e as metodo- logias da educação do campo e evidencia as possibilidades de se materializar os princípios da concepção da educação do campo articulada ao contexto que a concerne. A educação do campo é uma concepção de sociedade que vem se consolidando a partir da luta e resistência de movimentos sociais do campo e de entidades que se vinculam a estes movimentos. Com visibilidade conquistada, as políticas públicas dão amparo para os sujei- tos escreverem sua própria história, tendo a escola como mais um direito. É com olhar crítico e problematizador que partilhamos desta disciplina com um foco nos desafios postos na atual conjuntura, compreendendo as possibilidades para a efetivação da política pública da educação do campo. Assim, discutiremos concepções teóricas, algumas experiências, possibilida- des de organização curricular e os direitos que amparam a opção da comunidade escolar, tendo em vista a especificidade da realidade. As possibilidades discuti- das nesta disciplina têm como princípio fundante que o currículo deve incorpo- rar uma educação crítica, de qualidade, que se vincule à pedagogia socialista e que vise à formação para a emancipação. Uma educação contra-hegemônica que entende a educação como possibilidade de transformação. Bons estudos! Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Camila Casteliano Pereira Mestranda em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Especialista em Alfabetização pela Faculdade Dom Bosco. Graduada em Pedagogia pela UTP. Bolsista de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Integrante do Núcleo de Pesquisa em Educação do Campo, Movimentos Sociais e Práticas Pedagógicas (NUPECAMP) da UTP. Tutora presen- cial do curso de Pedagogia. Sobre a autora Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Aula 1 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO 9 PARTE 1 | CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO PARA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE 11 PARTE 2 | BREVE HISTÓRICO SOBRE CURRÍCULO E EDUCAÇÃO DO CAMPO 16 PARTE 3 | ESCOLA, FAMÍLIA E COMUNIDADE NA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 21 Aula 2 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 25 PARTE 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO DO CAMPO 27 PARTE 2 | GESTÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 33 PARTE 3 | CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS DO CAMPO – PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES 37 Aula 3 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I 41 PARTE 1 | CURRÍCULO: IDENTIDADE DA ESCOLA E DO SUJEITO DO CAMPO 43 PARTE 2 | CONTEÚDOS E MATRIZES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 50 PARTE 3 | FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 56 Sumário Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Aula 4 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS 61 PARTE 1 | CICLOS DE FORMAÇÃO HUMANA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 63 PARTE 2 | PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA, ITINERÂNCIA E CASA FAMILIAR RURAL 72 PARTE 3 | AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 77 Aula 5 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II 81 PARTE 1 | ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NAS ESCOLAS DO CAMPO 83 PARTE 2 | PLANEJAMENTO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 90 PARTE 3 | INTERDISCIPLINARIDADE X RELAÇÃO TEORIA-PRÁTICA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 96 Aula 6 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS 101 PARTE 1 | CLASSES MULTISSERIADAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO DO CAMPO 103 PARTE 2 | PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO PARA CLASSES MULTISSERIADAS 107 PARTE 3 | ORGANIZAÇÃO DE UM CURRÍCULO INTEGRADO 111 Sumário Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Refletir sobre a concepção de educação para a transformação da sociedade, um breve histórico sobre o currículo e educação do campo e relação escola-família-comunidade na construção desse currículo. Objetivo: PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Aula 1 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 11 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e1 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO PARA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE O debate sobre a questão educacional no Brasil atingiu um mo- mento crucial. Nos últimos 15 anos, o acesso à educação foi ampliado consideravelmente, especialmente ao ensino superior. A atual presi- dente, Dilma Roussef, tomou posse de seu cargo com o slogan Pátria Educadora. O Plano Nacional de Educação entrou em vigor após inten- sos debates e muitos programas governamentais foram criados em prol da educação, como FIES, PROUNI, PRONERA, PRONATEC e Caminhos da Escola. Porém, uma vez que os problemas de ordem imediata, como ofer- ta de vagas e acesso à escola, passam a ser atacados com mais ênfase por parte das esferas governamentais, questões não tão evidentes – mas não menos importantes – passam a entrar na pauta dos educa- dores do país, tais como: “Qual a intencionalidade da nossa prática pedagógica?”, “Que sujeitos pretendemos formar?” ou “Pretendemos formar sujeitos?” Nos últimos anos, nota-se um aumento gradativo da inserção da iniciativa privada no sistema de ensino brasileiro. O projeto “Todos pela Educação” – uma parceria do Governo Federal com grandes gru- pos financeiros como o Itaú – propõe um suporte dainiciativa privada à educação pública no Brasil. O último grande montante de verbas federais para a educação – 10 bilhões de reais – teve 50% do seu valor destinado ao FIES, ou seja, à iniciativa privada. Só para se ter uma ideia, um dos maiores grupos privados ligado à educação, o grupo Anhanguera, tem no Brasil mais de 1 milhão de alunos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO12 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 1 Mas qual seria o problema de grandes empresas investirem na educação, frente às dificuldades que o Estado sempre enfrentou neste setor? Não seria justo que o setor privado retornasse parte de seus lucros em benfeitorias à sociedade? Certamente que sim. O problema é que empresas privadas sobrevivem da maior margem de lucro que possam obter em suas transações. No capitalismo globalizado e com- petitivo as grandes empresas que não procuram expandir suas áreas de interesse e, consequentemente, de lucro, são rapidamente absorvidas pelas rivais. Não existe altruísmo por parte dos grandes grupos econô- micos quando estes investem na educação do Brasil. Existe interesse em formar mão de obra qualificada para suprir as necessidades da in- dústria nos grandes centros urbanos e abrir espaço para o agronegócio no campo, por meio do esvaziamento das comunidades localizadas nas vastas áreas rurais do país. Esses objetivos ficam muito claros ao observarmos as recentes propostas e programas do Governo Federal para a educação no Brasil. No início do ano, a Secretaria de Assuntos Estratégicos, capitaneada pelo ministro Mangabeira Unger, publicou um documento encomen- dado pela própria presidenta, intitulado Pátria Educadora, que pro- punha, entre outros itens, a padronização nacional das avaliações de alunos e das cartilhas (isto num país de 200 milhões de habitantes divididos em centenas, talvez milhares de povos e culturas), metas para professores e diretores, segregação de alunos entre melhores e piores, bonificação para educadores que cumpram metas, financia- mento privado da educação pública, terceirização de educadores etc. Além do conteúdo claramente privatista, esse documento anularia o recém-aprovado Plano Nacional de Educação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 13 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e1 Evidentemente que o projeto Pátria Educadora foi duramente combatido pelos grandes pensadores da educação do país. Mas, perce- bem-se tentativas sorrateiras por parte do poder Legislativo de vali- dar tal documento de forma fragmentada, como o projeto Escola Sem Partido, que tramita na Câmara dos Deputados, o projeto Adote uma Escola, proposto na Assembleia Legislativa do Paraná e a tentativa de criminalização por parte da Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul, das escolas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra. Fica evidente que o rumo da educação pública no Brasil está in- timamente ligado às políticas econômicas adotadas pelas esferas go- vernamentais, ou seja, a educação é parte fundamental do projeto de sociedade pensado pelo Governo Federal. Infelizmente, nesse projeto de sociedade centrado na balança comercial, não cabe a formação de sujeitos conscientes de sua identidade e das contradições do meio em que vivem, mas sim, a preparação de cidadãos para darem conta das exigências das matrizes de produção e energéticas adotadas pelo Governo Federal. É justamente a esse projeto de homogeneização da sociedade, com foco no individualismo e na competitividade, que a concepção de educação do campo se contrapõe, ao propor uma pedagogia que vai além do espaço escolar e envolve toda a comunidade. Reforçando a identidade dos sujeitos, valorizando as relações de trabalho da co- munidade e expandindo o ensino para todo o meio de convivência dos alunos, a educação do campo procura não só formar sujeitos capazes de atuar de maneira consciente na sociedade, mas também capazes de fazer suas escolhas de maneira consciente. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO14 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 1 Extra Para compreender melhor a discussão acerca deste assunto, as- sista ao vídeo: Pedagogia da Alternância: trabalho, estudo e liberda- de, que contribuirá para o aprofundamento da concepção de educa- ção para transformação da sociedade, disponível em: <www.youtube. com/watch?v=RuO7nh-HxqM>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade O acesso à educação e a melhoria na qualidade da educação são pautas nas lutas de mobilização popular há muitas gerações no nosso país. De acordo com o texto, nos últimos 15 anos foram feitos inves- timentos significativos na área da educação e muitas carências deste setor foram superadas. Mas, mesmo assim, membros da comunidade acadêmica e os movimentos sociais acirraram suas críticas em relação à condução da educação no Brasil. Diante desse quadro contraditório aponte, de acordo com o texto, a(as) alternativa(as) correta(as). I. A mercantilização da educação pública por meio da inserção em massa da iniciativa privada tem como objetivo colocar em prática uma pedagogia que permitia a emancipação dos sujeitos formando cidadãos contestadores e conscientes das contradições do sistema no qual estão inseridos. II. A educação tem papel secundário no projeto de nação do Governo Federal, e a abertura desta para o empresariado evidencia esse fato. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 15 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e1 III. O projeto Patria Educadora e o programa Todos pela Educação evidenciam as intenções do Governo Federal de garantir, por meio da educação pública, mão de obra qualificada para su- prir as demandas das matrizes produtivas adotadas no país. a) I e II estão corretas. b) III está correta. c) I e III estão corretas. d) II e III estão corretas. Referências Caldart, Roseli S. O MST e a escola: concepção de educasção e matriz formativa. In: Boletim da Educação. n. 12. São Paulo: MST, 2014. ______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012. Resolução da atividade Apenas a III está correta, pois certamente as empresas que par- ticipam do processo de mercantilização da educação pública no país visam os seus interesses e não a emancipação dos sujeitos pelo Brasil afora, e sendo essa mercantilização parte fundamental do projeto do Governo Federal (adotado como slogan do atual governo) não está em segundo plano, mas à frente do projeto de sociedade da nação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO16 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 2 BREVE HISTÓRICO SOBRE CURRÍCULO E EDUCAÇÃO DO CAMPO A educação do campo é fruto de um processo de luta e, sendo a educação uma das principais ferramentas de emancipação ou aliena- ção dos sujeitos, está inserida em um ambiente palco de constante disputa: a escola pública no campo.Historicamente, os povos do campo no Brasil sempre foram vistos como inferiores. Os sujeitos do campo – caboclo, indígena, quilombo- la, ribeirinho e tantos outros – são ainda hoje, para muitas pessoas, sinônimo de atraso cultural. Essa ideia foi reforçada ao longo de nossa história não apenas pela criação de estereótipos – como o Jeca Tatu, de Monteiro Lobato – mas principalmente por meio da educação públi- ca pensada para as áreas rurais brasileiras que nunca teve a intenção de emancipar estes sujeitos. Apesar de a educação estar presente nas constituições brasileiras desde 1824, as escolas localizadas no campo recebiam bases curricula- res que em quase nada se identificavam com a realidade dos alunos, e entendiam o sujeito do campo como carente e ignorante. “A educação se desenvolvia com o objetivo de proteção e assistência ao campo- nês.” (Paraná, 2006, p. 17). No início da década de 1980, quando a educação do campo co- meça a ser formulada e colocada em prática nos acampamentos e assentamentos das áreas de reforma agrária, em especial nos espaços do MST, o currículo das escolas localizadas no campo se torna protago- nista no debate a respeito da educação pública do campo e na disputa pelo espaço escolar, já que é no currículo que se projeta a intencio- nalidade da ação educativa, que deixa de ser mera instrução através Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 17 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e2 da perspectiva da educação bancária, para se tornar uma busca por emancipação dentro da concepção da educação do campo. O currículo da educação do campo deve não só partir da realidade em que o educando está inserido, mas valorizar e problematizar esta realidade. Partindo dessa perspectiva, devem-se abordar as relações sociais e atividades produtivas da comunidade em que a escola está inserida e como estas dialogam com a amplitude de relações externas, locais, nacionais e globais. A educação do campo não nega e/ou dimi- nui a importância do conhecimento científico e teórico construído pela humanidade, mas exige a valorização dos saberes e das identidades locais, e que estes se tornem – no currículo e na metodologia – o ponto de partida para o diálogo com o mundo. Como aponta Caldart: Nessa direção é que consideramos fundamental o vín- culo da escola com processos vivos (de trabalho, de cultura, de luta social) porque a materialidade e as contradições presentes nas questões da vida real po- dem ajudar a superar falsos dilemas do ponto de vista do nosso projeto formativo maior. E por isso é que não consideramos suficiente que a relação entre prática e teoria se reduza na escola a conversas sobre práticas realizadas ou projetadas para fora dela, em outro tem- po, outros espaços. (CALDART, 2010 p. 108) Durante a década de 1990, importantes passos foram dados na luta pela educação do campo com o acirramento da luta pela terra e o crescimento do MST, que em sua expansão levava consigo suas escolas, educandos e educadores e suas demandas por uma educação camponesa, forjada e pensada pelos camponeses. A base curricular é um dos principais campos de disputa, já que passa a ser pensada com Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO18 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 2 o intuito de trazer a tona as contradições sociais que historicamente marginalizam os sujeitos do campo. Em 1996, com a aprovação da LDB, uma importante vitória é con- quistada. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, em seu artigo 28, reconhece o direito universal à educação e contem- pla as especificidades dos povos do campo: Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino proverão as adaptações necessá- rias à sua adequação, às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I – conteúdos curricu- lares e metodologia apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural. (BRASIL, 1996). Em 2006, a Secretaria de Educação do Estado do Paraná publica as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, propondo 4 eixos temáticos a serem trabalhados. De acordo com o documento, os eixos temáticos “são entendidos neste texto como problemáticas centrais a serem focalizadas nos conteúdos escolares.” E são os seguintes: tra- balho – divisão social e territorial; cultura e identidade; interdepen- dência campo-cidade, questão agrária e desenvolvimento sustentável; organização política, movimentos sociais e cidadania. Esses eixos temáticos possibilitam abordar conteúdos que proble- matizam dialeticamente a realidade dos alunos frente à sociedade. Permitem, também, a construção de um currículo com intencionalida- de pedagógica voltada para os interesses dos camponeses. A base curricular das escolas do campo deve ter este objetivo, permitir a formação de sujeitos conscientes das contradições em que estão inseridos e dispostos a dar continuidade a emancipação dos po- vos do campo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 19 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e2 Extra Para aprofundar conhecimentos sobre o breve histórico em rela- ção ao currículo e a educação do campo, assista ao vídeo Escola cur- rículo e mudança, do professor Miguel Arroyo, disponível em: <www. youtube.com/watch?v=S8n3hxG9HxE>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade A educação do campo demanda a construção de um currículo dife- renciado que privilegie as especificidades e identidades locais. Alguns passos importantes foram dados nesta direção ao longo da década de 1990 e no início do século XXI, como a LDB de 1996 e as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo no Paraná, em 2006. Tendo como base a trajetória do currículo na educação do campo proposta pelo texto anterior, assinale a alternativa correta. a) Para alcançar o projeto de sociedade proposto pela educação do campo é necessário que se crie uma base curricular co- mum à todas as escolas do país. b) O currículo adotado por materiais didáticos das áreas urbanas são ideias para as escolas do campo, pois trazem a realidade e a identidade urbana para comunidades isoladas e que ainda não conhecem o progresso. c) A valorização do sujeito do campo é foco de políticas públicas durante toda a história do Brasil, criando uma aura de supe- rioridade deste em relação ao sujeito urbano. d) Os eixos temáticos no currículo das escolas do campo devem abordar os chamados temas geradores, ligados à realidade dos alunos e que valorizem sua identidade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO20 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 2 Referências BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, Governo do Paraná, Curitiba, 2006. Caldart, Roseli S. O MST e a escola: concepção de educasção e matriz formativa. In: Boletim da Educação. n. 12. São Paulo: MST, 2014. ______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012. Resoluçãoda atividade Sendo um projeto de sociedade, a educação do campo exige que o espaço de formação dos alunos se estenda para muito além do am- biente escolar e questione a comunidade em relação a que tipo de su- jeitos se pretende formar. Dessa forma, o currículo precisa problema- tizar a realidade dos alunos e valorizar a cultura e a identidade local. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 21 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e3 ESCOLA, FAMÍLIA E COMUNIDADE NA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO O currículo só se torna ferramenta fundamental da educação emancipadora quando traz a problematização da realidade. Dessa for- ma, não pode se limitar a teorias abstratas e conteúdos sem conexão com a realidade dos educandos. Na concepção de educação do campo o espaço educativo vai além da escola, se estendendo por todo o am- biente de convivência do educando, já que é justamente a sua existên- cia como sujeito social o objeto dessa educação. Portanto, o currículo deve estar diretamente ligado às relações sociais e produtivas da co- munidade em que a escola está inserida. Nessa perspectiva, ocorre a descentralização da educação em re- lação à escola, abrindo espaço para que outros ambientes formativos sejam considerados no processo educativo. A escola se mantém como espaço de debate e sintetização do conhecimento, assim como nú- cleo aglutinador da comunidade, que se ocupa do ambiente escolar também para fazer formação política, festividades, assembleias co- munitárias etc. Enquanto o processo educativo ocupa o espaço da co- munidade, a comunidade ocupa o espaço escolar. Caldart observa que “descentrar a educação da escola é para nós, pois, pressuposto para pensar a própria escola, especialmente se visamos a sua transforma- ção”. (CALDART, 2010). Ao passo que a comunidade e a escola comungam desta ação dialética, problematiza-se a intencionalidade pedagógica envolvida nessa relação. O Projeto Político Pedagógico e a base curricular de- vem expressar esta intencionalidade, devem demonstrar o propósito Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO22 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 3 dessa educação: Que sujeitos se pretende formar? Que sociedade se pretende construir? Se a escola se isola e não traz ou não permite a participação das famílias que compõem a comunidade na construção desse processo, não existe a educação libertadora. São as famílias que protagonizam as relações culturais e de trabalho dentro da comuni- dade, o espaço onde essas relações ocorrem e a forma como ocorrem caracterizam a comunidade e formam sua identidade. Por isso a edu- cação do campo exige que o processo educativo se estenda para todo o ambiente da comunidade e além, pois o cotidiano familiar e comuni- tário, as relações interpessoais e de trabalho, serão o ponto de partida para a problematização dos conhecimentos gerais. Daí a importância da elaboração coletiva da base curricular, envolvendo as famílias. Assim como apenas os membros de uma determinada comunidade têm propriedade para expor seus dilemas e demandas, apenas os mem- bros de uma determinada família são capazes de expor seus desafios particulares perante a comunidade. Dessa forma, a educação do cam- po coloca a educação, o trabalho, a cultura e a mobilização popular como partes integrantes de um só movimento, em vez de fragmentar a realidade como faz a educação bancária tradicional. Entende-se que esta fragmentação dos processos sociais também é uma ferramenta de alienação dos sujeitos, como aponta Caldart: Esta falsa separação tem levado a fragmentar a refle- xão e o trabalho pedagógico, especialmente dos edu- cadores das escola (em outra visão não seria admissí- vel pensar que a tarefa do professor possa se reduzir à transmissão de conteúdos de ensino). Todos os espaços com finalidades educativas realizam a totalidade do processo de educação, ainda que nem sempre de forma explícita e consciente. (CALDART, 2010) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 23 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO Pa rt e3 Portanto, a educação do campo, por ser emancipadora, deman- da o recuo da fragmentação dos processos sociais. É preciso que as relações comunitárias sejam vistas como inerentes umas as outras. E a construção do currículo escolar que irá direcionar a formação dos sujeitos da comunidade precisa envolver a todos e trazer em sua con- cepção elementos do cotidiano de todas as famílias e das inter-rela- ções entre elas, que formam o cotidiano da comunidade. A relação comunidade-escola se torna, então, um “termômetro” da qualidade da educação da comunidade, como apontou Pistrak: Se a população estima, ama sua escola, sua institui- ção infantil, é porque a instituição está à altura de sua tarefa social; caso contrário, temos a prova de que o trabalho da instituição está mal organizado pedagogi- camente. (PISTRAK, 1924) Assim pode-se concluir que no paradigma da educação do campo a educação transcede o ensino, a aprendizagem. Educação é sinônimo de formação humana integral e, dessa forma, escola, família e comu- nidade se tornam espaços formativos integrados e interdependentes. Extras Para aprofundar as reflexões expostas, assista ao vídeo 10 anos das Escolas Itinerantes do Paraná, disponível em: <www.youtube. com/watch?v=R0NCVGDPDyk>. Acesso em: 14 jan. 2016. Além disso, leia o artigo Escola do Trabalho uma Pedagogia Social: uma Leitura de M. M. Pistrak, escrito por Eliseu Santana sob a orientação de André Paulo Castanha, para a revista Educere at Educere em 2006, disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/ educereeteducare/article/view/1008/860>. Acesso em: 14 jan. 2016. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO24 PROPOSTA CURRICULAR – EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃOPa rt e 3 Atividade De acordo com o texto, assinale a alternativa correta. a) A fragmentação dos processos sociais (relações familiares, relações de trabalho, educação) é fundamental na concepção de educação do campo, pois reforça a ideia de que a educa- ção deve se limitar ao espaço escolar. b) A base curricular deve dar ênfase ao conhecimento abstrato e teórico proposto pelos materiais didáticos tradicionais e evi- tar a relação do aprendizado com a realidade dos educandos. c) O currículo deve contemplar as especificidades familiares e comunitárias para formar sujeitos que valorizem sua identi- dade e estejam conscientes de seu papel na sociedade. d) À comunidade e às famílias cabe o papel de observadores passivos que aceitam, sem contestação, as decisões de peda- gogos e professores. Referências Pistrak, Moisey Mikhaylovich. Fundamentos da Escola do Trabalho. São Paulo: Expressão Popular, 2000. Caldart, Roseli S. O MST e a escola: concepção de educação e matriz formativa. In: Boletim da Educação. n. 12. São Paulo: MST, 2014. ______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012. Resolução da atividade É necessário que o currículo contemple a identidade e a cultura da comunidade para que, partindo de si, o educando problematize os conteúdos gerais e perceba as contradições do sistema no qual está inserido, empoderando-se paratransformá-lo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Discutir sobre as políticas públicas e a educação do campo, a gestão escolar na educação do campo e a construção coletiva de seu projeto político pedagógico. Objetivo: CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Aula 2 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 27 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e1 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO DO CAMPO Assim como a própria concepção de educação do campo, as po- líticas públicas que contemplam este projeto societário são frutos da luta dos movimentos sociais do campo e educadores afins pela conso- lidação dos direitos constitucionais a eles atribuídos, em especial, o direito à educação. Durante a primeira metade do século XX, houve a preocupação por parte do governo em frear o êxodo rural fixando o camponês na terra e garantindo a ocupação das novas fronteiras agrícolas. Escolas foram abertas nas áreas rurais e o processo educativo foi vinculado ao movimento ruralismo pedagógico, que, apesar da preocupação em fixar o homem à terra, promovia uma educação tecnicista e não en- xergava o campo e seus sujeitos como produtores de cultura e conhe- cimento. De acordo com Souza “a preocupação no cenário de 1930, no contexto do ruralismo pedagógico, era com a superação do atraso cultural da população e ênfase nas técnicas para o trabalho agrícola.” (SOUZA, 2015, p. 5) A preocupação em adequar o campesinato às modernas técnicas agrícolas de produção, domina a educação para o campo durante as décadas de 1940 e 1950. Com a massiva mecanização da agricultura nas décadas de 1960 e 1970, se inicia o processo de “sucateamento” da educação no meio rural aliado à chamada educação rural, também de viés tecnicista e de exaltação dos valores urbanos. Ou seja, fecha- mento massivo de escolas localizadas no campo e educação rural nas que se mantinham abertas. O objetivo era – e ainda é até hoje – a ex- pulsão do camponês de sua terra e a abertura de espaço para o avanço do agronegócio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO28 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 1 A partir da década de 1980, com a gradual abertura política e o retorno das mobilizações em massa de camponeses para reivindicar seus direitos, especialmente com a criação do MST, uma educação que valorize os sujeitos do campo e sua cultura também vai se tornando pauta nos debates. Com a mesma ênfase que demandam terra e refor- ma agrária, os movimentos camponeses passam a demandar o direito a uma educação que os represente. Com o debate sobre as experiências pedagógicas desenvolvidas nas áreas de reforma agrária já bem avançado, as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Básica de 1996 já passam a contemplar a educação do campo, mesmo utilizando ainda o termo educação rural. Em seu artigo 28 dispõe do direito a uma base curricular que parta das dife- rentes realidades e temporalidades regionais. Em 1997 realiza-se o I Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária, ENERA. Primeiro debate em larga escala sobre as experiências pedagógicas desenvolvidas em comuni- dades de povos tradicionais do campo. Nesse evento, oficializa-se o termo “educação do campo” para designar a educação emancipadora e de valorização da identidade dos povos do campo. É também resul- tado deste encontro o PRONERA, Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária. Pautado em 1997 pelo I ENERA, o PRONERA é ofi- cializado como política pública em 1998, e de acordo com dados da II Pesquisa Nacional de Educação na Reforma Agrária, até 2011 havia realizado 320 cursos, envolvendo 82 instituições, sendo “167 cursos de Educação de Jovens e Adultos Fundamental, 9 cursos de nível médio e 54 cursos de nível superior.” (SOUZA, 2015, p. 2). Surgem também Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 29 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e1 as Licenciaturas em Educação do Campo, vinculadas ao PRONACAMPO, Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo, com o objetivo de preparar profissionais para atuar nos espaços educativos que abraçam esta nova concepção de educação libertadora. Mas na atual conjuntura socioeconômica e política, em que um governo de viés progressista procura se equilibrar entre as demandas populares democráticas e as exigências do mercado globalizado, uma série de políticas públicas no âmbito da educação vem sendo sancio- nadas ou colocadas em pauta na contramão da proposta emancipa- dora e identitária da educação do campo. É o caso do projeto Pátria Educadora, do Governo Federal, que propõe padronizar currículos, sistemas de avaliação, material didático e formação docente por todo o país, negando a diversidade cultural dos povos que formam a so- ciedade brasileira. Propõe também a inserção massiva da iniciativa privada na educação pública, com direito até mesmo a delimitar o viés pedagógico das escolas públicas e estipular metas para professores, funcionários e alunos. Em relação à inserção da iniciativa privada na educação públi- ca, destaca-se o programa Todos pela Educação, também do Governo Federal, que estipula parcerias entre a iniciativa privada e o MEC, resultando em ações que já estão em andamento, como a adoção de li- vros didáticos para a educação básica formulados por empresas, tendo como exemplos os livros do programa Agrinho, do SENAR e programas de formação de professores do SEBRAE. Estes materiais didáticos pre- param as crianças para se enquadrarem às exigências do agronegócio Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO30 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 1 que estimula a aculturação da identidade camponesa, naturalizando a ideia de que a sociedade se resume às relações de mercado. De acordo com Silva: Quando a cultura transmuta-se em especialização do conhecimento e volta-se para atender quase que exclu- sivamente aos imperativos da profissionalização, esse processo conduz a uma diferenciação, porém, essa di- ferenciação, de caráter instrumental, impele os indi- víduos a não produção de consciência. A consciência, neste caso, manifesta-se de forma igualmente instru- mental. (SILVA, 2010, p. 293) Nesse contexto, o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra, berço da educação do campo, percebeu a necessi- dade de realizar o II Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária, o II ENERA, 18 anos após a realização do primeiro. A principal pauta do encontro foi o enfrentamento às políticas pri- vatistas da educação pública com especial atenção para as escolas localizadas no campo. Denunciou-se o fechamento massivo das escolas localizadas no campo – 37 mil nos últimos 15 anos – e a tentativa de imposição da educação rural nos programas e políticas públicas volta- das para a educação do campo. Como resultado, o então Ministro da Educação Janine Ribeiro assinou a criação de um Grupo de Trabalho no MEC para investigar e frear o fechamento de escolas localizadas no campo.Mas, menos de um mês após o II ENERA, Janine Ribeiro foi substituído pelo atual Ministro Antonio Mercadante, colocando em dú- vida a continuidade da iniciativa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 31 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e1 Portanto, o espaço escolar e o projeto de sociedade para o campo no Brasil é um campo de disputas entre movimentos sociais e entida- des da sociedade civil organizada e a iniciativa privada representada por grandes grupos empresariais e o agronegócio, que vinha sendo he- gemônico até o fim da ditadura militar e, desde então, vem tendo que combater não só as demandas populares por reforma agrária e direitos já adquiridos, mas também a retomada das mobilizações em massa dos sujeitos do campo, que exigem uma educação formulada por eles e que permita a continuidade de suas lutas. Extra Acesse o vídeo disponível em: <www.youtube.com/watch?v=Cn- JcYGiaiHU> e assita uma breve entrevista com a Coordenadora Geral de Educação no Campo e Cidadania do Incra, Clarice dos Santos, ex- pondo os resultados do PRONERA – Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária. Importante material para refletir acerca das lutas e disputas por uma educação pública e de qualidade no campo e do campo. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade De acordo com o texto “Políticas Públicas e a Educação do Campo”, a educação para a realidade do campo no Brasil vem sendo um campo de disputas entre dois projetos distintos de sociedade que se configuram em duas propostas educacionais antagônicas. Quais são elas e o que cada uma propõe? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO32 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 1 Referências SOUZA, Maria Antônia de. A Educação do Campo no Brasil. Texto impresso. Curitiba, set. 2015. SILVA, Mônica Ribeiro da. Concepções de educação, currículo e reformas educacionais: elementos para pensar a educação do campo. In: Educação do Campo em Movimento: Teoria e prática cotidiana. Curitiba: Editora UFPR, 2010. v. 1. p. 289-310. Resolução da atividade As propostas são a educação do campo, que traz uma visão eman- cipadora da educação, que parta da materialidade da realidade dos sujeitos e valorize sua identidade; e a educação rural, de viés tecni- cista e homogeneizador, que busca a valorização dos valores urbanos para promover o esvaziamento do campo e também garantir mão de obra qualificada para as demandas da indústria e do agronegócio. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 33 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e2 GESTÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DO CAMPO A educação do campo é um processo de formação humana e um projeto de sociedade fundamentada no princípio da emancipação, va- lorização dos sujeitos e do conhecimento construído no campo. É uma concepção de educação construída a partir da realidade dos sujeitos que dela participam, portanto, pressupõe a gestão democrática da escola. A gestão democrática está presente nas diretivas municipais, es- taduais e federais de educação, que exigem, entre outras coisas, elei- ção direta de diretores, participação da comunidade escolar nas deci- sões da instituição etc. Mas nem sempre esses processos democráticos resultam em gestões de fato democráticas, com a participação efetiva de toda a comunidade escolar. Souza e Tavares (2010) apontam para o fato de que a eleição democrática de dirigentes, por exemplo, não costuma estender a administração das instituições para a comunidade. O diretor se elege pelo voto direto e não consulta mais a sua base até a próxima eleição. A própria base que forma a comunidade escolar não costuma exercer seu papel participativo por puro comodismo ou desconhecimento do que é gestão participativa. De acordo com Souza e Tavares: Porém, na prática ainda há problemas com a concep- ção de democracia ou com a forma como as pessoas a enxergam e entendem. Senão vejamos o caso da ges- tão escolar: na maioria das escolas públicas onde são realizadas eleições para compor o seu quadro dirigen- te, encontramos professores, funcionários, alunos e seus familiares que reconhecem na diretora não uma Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO34 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 2 representante da comunidade escolar, mas alguém que possui o poder de decidir tudo ao seu modo e, pior, não observam aí um grande problema, uma vez que avaliam que a elegeram exatamente para isso: para fazer por eles! (SOUZA e TAVARES, 2010, p. 325). É esse tipo de incoerência que a proposta da educação do campo procura corrigir quando envolve toda a comunidade no processo edu- cativo e, principalmente, quando estende o espaço de formação para todo o espaço da comunidade. Na educação do campo a comunidade também vai até a escola, “também” porque a escola já ocupou os es- paços da comunidade. Dessa forma, se torna mais fácil garantir a participação efetiva das famílias e funcionários na gestão escolar. Lembrando que, mesmo nas comunidades onde a educação do campo já se encontra num está- gio avançado, esses processos ainda estão sendo consolidados, pois a concepção de educação do campo, assim como as diferentes realida- des onde está inserida, está em constante mutação, ou seja, em um constante processo de construção. As escolas do campo (do campo no sentido de que adotam de fato a educação do campo e não por estarem apenas localizadas no campo) desenvolvem diferentes propostas de gestão democrática e participa- tiva, que funcionam com maior ou menor eficiência de acordo com a realidade local. Destacam-se entre essas propostas as assembleias da comunidade escolar, reunião de membros da comunidade para deba- ter a educação local; os conselhos de escola, conselho permanente de deliberação formado por membros da comunidade; rotatividade no quadro pedagógico. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 35 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e2 Nas comunidades onde a conquista da escola é resultado de um processo de lutas por direitos, a gestão democrática costuma ser mais efetiva. Em escolas como a do Quilombo João Surá, em Adrianópolis, Região Metropolitana de Curitiba, a comunidade participa cotidia- namente da vida escolar e do processo de construção do PPP, assim como participou da luta para que o Quilombo recebesse sua escola. Nos acampamentos e assentamentos do MST, o Setor de Educação da comunidade mantém o debate da educação de forma permanente, e nas escolas do MST os alunos participam de todas as estâncias adminis- trativas, inclusive financeiras, desde a mais tenra idade. Conclui-se, portanto, que assim como todos os processos escolares na educação do campo, a gestão escolar também vem de um contexto de constante luta e construção, já que para ser efetivada como propõe a concepção emancipadora e conscientizadora, precisa derrubar pre- conceitos e discursos construídos e consolidados na cultura tecnicista e hierárquica da era industrial. Daí o caráter libertador da educação do campo, pois não são apenas educadores e educandos que tomam consciência das contradições que oscercam. Ao compreender melhor os processos democráticos da gestão participativa, toda a comunidade se emancipa. Extras Assista a aula sobre Gestão Democrática na Escola, com o profes- sor Vinicius de Almeida, tendo como referência o pensamento do pro- fessor Vitor Paro. Importante material de análise para a compreensão do conceito de Gestão Democrática. Acesse o vídeo pelo link: <www. youtube.com/watch?v=LKZzPNRVdmg>. Acesso em: 14 jan. 2016. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO36 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 2 Além disso, leia o artigo Gestão democrática e educação do campo, do professor Fernando José Martins, que discute a gestão democrática, princípio da educação do campo, disponível em: <http://seer.ufrgs.br/ index.php/rbpae/article/view/36145/23333>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Como se propõe a gestão democrática na educação do campo? Cite exemplos de inciativas participativas na gestão escolar. Referência SOUZA, Ângelo Ricardo de; TAVARES, Tais Moura. Gestão de Educação e da Escola: possibilidades de democratização. In: Educação do Campo em Movimento: Teoria e prática cotidiana. Curitiba: Editora UFPR, 2010. v. 1. p. 289-310. Resolução da atividade Com a participação efetiva da comunidade no dia a dia da escola e não apenas nos processos de eleição de dirigentes. Como exemplos de iniciativa temos as assembleias da comunidade escolar, os conse- lhos de escola e a rotatividade no quadro pedagógico. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 37 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e3 CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS DO CAMPO – PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES Assim como outras propostas democráticas na gestão das escolas públicas, a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico (PPP) também costuma enveredar por caminhos que aparentam participação efetiva da comunidade, mas, na verdade, acabam por reproduzir as relações burguesas na escola (entendendo-se por relações burguesas a dinâmica hierárquica industrial capitalista). Desse modo, é comum os dirigentes escolares considerarem como processo de construção coletiva do PPP o envio de questionários para os pais de alunos preencherem em casa e devolverem à escola. Avaliando as respostas da comunidade, o PPP é elaborado pela equipe pedagógica e docente da instituição escolar. Esse processo não se ca- racteriza como participativo, pelo contrário, está muito longe disso, já que as reais demandas da comunidade não são observadas. E mesmo este processo supostamente democrático, costuma ser ignorado por muitas redes de ensino, que encomendam a elaboração dos PPPs de empresas especializadas no ramo ou constroem um PPP padrão para todas as escolas da rede. O Projeto Político Pedagógico determina o direcionamento do trabalho docente, relação comunidade-escola, papel de funcioná- rios, alunos, professores etc. Ou seja, é a alma da escola. Dentro de uma concepção de gestão democrática e participativa como propõe a educação do campo, a construção deste importante documento deve Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO38 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 3 partir da comunidade onde a escola está inserida, já que o objetivo da educação emancipadora é a transformação social. As demandas da comunidade e de seus sujeitos, sua cultura e identidade, só podem ser externalizadas por eles mesmos. Por isso, dentro do paradigma da educação do campo a construção coletiva do PPP se coloca como exigência para garantir a conscientização de toda a comunidade como sujeitos históricos inseridos num contexto de con- tradições. Como aponta Trojan: Além disso, é importante considerar a situação concre- ta dos alunos como referência e ponto de partida, pois, só assim poder-se-á superar a universalidade abstrata do direito, buscar o universal concreto e superar o falso dilema entre geral (internacional, nacional) e particu- lar (regional, local, cidade e campo). (TROJAN, 2010, p. 346) As experiências de construção coletiva de PPPs mostram que não é um processo simples e fácil, passível de ser concluído dentro dos cur- tos prazos geralmente estipulados pelas secretarias e núcleos regionais de educação. No município de Tijucas do Sul, Região Metropolitana de Curitiba, a construção coletiva dos Projetos Político Pedagógicos nas escolas da rede municipal de ensino (que conta com 15 escolas do campo) já se prolonga por dois anos, sem perspectivas de término em curto prazo. Fato encarado pela comunidade escolar do municí- pio como um fator positivo, que evidencia que as escolas municipais estão realmente em processo de construção da educação do campo. Para ilustrar a complexidade do processo, as professoras de uma das escolas isoladas da área rural de Tijucas do Sul, relataram que terão Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 39 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Pa rt e3 de reescrever boa parte do PPP que está em andamento, pois a reali- dade da comunidade sofreu significativas mudanças nestes dois anos. A mesma situação é relatada por outras comunidades tanto de Tijucas do Sul quanto de outras escolas do campo da Região Metropolitana de Curitiba, onde se observa o encaminhamento do debate em relação à educação do campo. Portanto, nota-se que debates, reflexões e, obviamente, confli- tos, são inerentes à construção do projeto de sociedade proposto pela educação do campo. Disputas políticas locais sempre interferem nes- ses processos, seja de forma positiva ou negativa. A luta pela garantia de direitos e participação popular na construção da educação pública que queremos não se limita à garantia do acesso à escola nas comuni- dades do campo, mas perpassa todos os processos de gestão escolar e comunitária. Extras O vídeo indicado a seguir apresenta a visão freireana da construção e do objetivo do PPP. Apesar de breve, é um importante material para a percepção do que é, na prática, a participação de toda a comunidade es- colar no processo de construção do PPP. Acesse o vídeo pelo link: <www. youtube.com/watch?v=rLut4qSuonY>. Acesso em: 14 jan. 2016. Além disso, leia a dissertação Reestruturação do Projeto Político Pedagógico das Escolas Localizadas no Campo no Município de Tijucas do Sul, da professora Rosana Aparecida da Cruz, que trata do percurso do trabalho para a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico das escolas localizadas no campo de um município do Paraná. Disponível em: <http: tede.utp.br/tde_busca/arquivo.php?- codArquivo=713>. Acesso em: 14 jan. 2016. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO40 CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPOPa rt e 3 Atividade Qual a importância da construção coletiva do Projeto Político Pedagógico dentro do projeto de sociedade da educação do campo? Referência TROJAN, Rose Meri. A organização pedagógica do Ensino Fundamental e a Educação do Campo. In: Educação do Campo em Movimento: teoria e prática cotidiana. Curitiba: Editora UFPR, 2010. v. 1. p. 331-349. Resolução da atividade A participação da comunidade na construção do PPP na educação do campoé fundamental, pois só os sujeitos que compõem a comuni- dade podem externalizar com precisão suas demandas e anseios, e o PPP, como norteador do trabalho pedagógico, deve refletir as necessi- dades da comunidade onde a escola está inserida. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Refletir sobre a identidade da escola e do sujeito do campo, conteúdos e matrizes pedagógicas, e formação de professores da educação do campo. Objetivo: MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Aula 3 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 43 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e1 CURRÍCULO: IDENTIDADE DA ESCOLA E DO SUJEITO DO CAMPO A educação do campo é o resultado de mobilização e contesta- ção dos próprios trabalhadores do campo, um projeto de formação humana de visibilidade àqueles que vinham lutando dentro do próprio espaço de sobrevivência, por dignidade. Essa perspectiva de constru- ção histórica pode e deve ser inclusa dentro do currículo escolar do campo, pois apresenta o resultado das lutas, contra hegemônicas, da sociedade civil organizada para efetivação dos direitos sociais, dentre eles: acesso e permanência a uma educação de qualidade em todos os níveis da educação básica e do ensino superior. A educação do campo é uma concepção de homem e sociedade incorporada a partir da organização dos movimentos dos trabalhado- res rurais sem terra, ou seja, foi construída pelos próprios sujeitos do campo que foram excluídos e subalternizados. Por esse panorama, Caldart (2004) diz que: [...] a Educação do Campo faz o diálogo com a teoria pedagógica desde a realidade particular dos campo- neses, mas preocupada com a educação do conjunto da população trabalhadora do campo e, mais ampla- mente, com a formação humana. E, sobretudo, trata de construir uma educação do povo do campo e não apenas com ele, nem muito menos para ele. (CALDART, 2004, p. 12). Há grandes desigualdades presentes no campo, há lutas de classes e também contradições, que são visíveis e perceptíveis para aqueles Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO44 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 1 que lá buscam sobrevivências, pois a educação do campo se constitui a partir de uma contradição que é a própria contradição de classe no campo (CALDART, 2004, p. 13). Essas contradições precisam estar pre- sentes nos encaminhamentos didáticos dos professores em confronto com os conteúdos. Os alunos percebem as desigualdades na qual con- vivem, mas, muitas vezes não têm argumentos críticos de contestar tal realidade, pois estas precariedades neutralizam-se. Um trabalho pedagógico que traz no cerne de sua concepção um fazer crítico, permite a compreensão concreta da realidade. Os con- teúdos historicamente produzidos tornam-se, então, ferramenta fun- damental para a transformação social. Na educação do campo os sujeitos não são apenas sujeitos e sim sujeitos de direito. Nesse sentido, nega-se o assistencialismo ou a tro- ca de favores, pois a esfera governamental tem o dever de garantir a qualidade e os serviços necessários para uma vida digna, com as especificidades necessárias que atendam às demandas em que os su- jeitos se inserem. Portanto, para a educação do campo é necessária a contestação da realidade precária com luta por melhores condições e exigência de seus direitos, os sujeitos organizados em coletivo têm condições para isso. Nos princípios da educação do campo é necessário considerar os elementos: identidade da escola e identidade do sujeito no desenvol- vimento do currículo. No Caderno do ano VIII n.º 1 da Escola Itinerante do MST, que traz histórias, projetos e experiências de luta pela edu- cação de qualidade aos povos do campo podemos observar o que o currículo significa: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 45 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e1 O currículo procura responder as perguntas inquietan- tes e latentes que surgem, tais como: o que ensinar e aprender? Como fazer isso? Quando é o momento? Como, por que, com quem e quando avaliar? Como pla- nejar? As respostas não estão prontas e não se encon- tram somente no currículo, mas no projeto de socieda- de que estamos dispostos a construir – uma sociedade socialista. (MST, 2008, p. 27). Percebe-se, com a contribuição da citação acima, quantos questio- namentos o currículo possibilita para o repensar da escola que se tem, em busca de um projeto transformador, questionador e emancipador. Outra contribuição importante, para a interpretação do currículo que contextualize o lugar, a comunidade e os sujeitos é compreender que: Currículo é a descrição e a concretização do que a escola deve realizar no contexto do campo. Neste caso, ainda, é um enfoque histórico na perspectiva da construção das escolas públicas do campo. Currículo é prática, é expres- são da função socializadora e cultural da instituição es- cola, a qual estamos (re)significando. A cara do povo do campo precisa estar na escola e em seu currículo, para que possamos assegurar aos camponeses a aquisição da experiência social historicamente acumulada e cultural- mente organizada. (MST, 2008, p. 26) As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo de 2002 em seu artigo 2.º expressa que: Estas Diretrizes, com base na legislação educacional, constituem um conjunto de princípios e de procedi- mentos que visam adequar o projeto institucional das Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO46 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 1 escolas do campo às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e Médio, a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial, a Educação Indígena, a Educação Profissional de Nível Técnico e a Formação de Professores em Nível Médio na modalidade Normal. Parágrafo único. A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos mo- vimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade so- cial da vida coletiva no país. (BRASIL, 2002, grifo nosso) No parágrafo único desse mesmo artigo o campo é concebido pela sua identidade, voltando-se às singularidades, ou seja, reconhece-se que há várias especificidades, o campo é composto de várias cultu- ras, várias peculiaridades, que devem ser respeitadas, valorizadas e incorporadas para dentro do currículo para que tenham significado no contexto em que se insere. O ponto determinante para organização do currículo da educação do campo, é voltado para o reconhecimento da diversidade presente nessas comunidades. O currículo necessita ter uma contextualização sobre a realidade, sobre as intenções da comunidade, sobre as metaspara transformar tais fragilidades, para isso, precisa ser construído coletivamente pelos próprios sujeitos da escola. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 47 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e1 Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo de 2006: [...] Valorizar a cultura dos povos do campo significa criar vínculos com a comunidade e gerar um sentimen- to de pertença ao lugar e ao grupo social. Isso possibili- ta criar uma identidade sociocultural que leva o aluno a compreender o mundo e transformá-lo. (PARANÁ, 2006, p. 38). Educação do campo é uma concepção em movimento, assim é preciso construir esse projeto atendendo todas as especificidades para a emancipação dos sujeitos. A educação do campo é um projeto popu- lar de sociedade, que reúne a classe trabalhadora como condição de transformação social. Para uma escola atender às demandas da educação do campo, precisa superar a concepção da educação rural. Este processo de (re)conceptualização precisa ser cuidadoso. O que se tem visto são al- gumas escolas apenas trocando a nomenclatura, porém permanecendo com a concepção da educação rural. As propostas defendidas pela concepção de uma educação eman- cipadora, coerente com a efetivação da dignidade, que refute as de- mandas do modo de produção capitalista, são pautadas em uma gestão democrática que organize os espaços educativos, levando em conta a coletividade, que faça o chamamento da comunidade escolar, dos professores, alunos, pais, secretaria municipal, movimentos sociais. A escola aqui não é entendida como mais um espaço do campo, e sim a totalidade que interfere e transforma a realidade, a escola é o lugar de todos e logo, direito de todos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO48 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 1 Extra Para aprofundar as reflexões iniciadas nesta aula, leia o artigo Educação do Campo: notas para uma análise de percurso, escrito pela autora Roseli Salete Caldart. O artigo apresenta a educação do campo numa dimensão política e indica perspectivas que contribuirão para problematizar a escola, currículo e identidade do sujeito do cam- po. O texto está disponível no link: <www.scielo.br/pdf/tes/v7n1/03. pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Tendo em vista as discussões suscitadas nesta parte, escreva um texto argumentando a seguinte problematização: como seria, na prá- tica, a materialização de uma escola vinculada aos princípios da con- cepção de educação do campo? Referências BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Diário Oficial da União, Brasília, DF: Poder Legislativo, 9 abr. 2002. CALDART, Roseli Salete. Por Um Tratamento Público da Educação do Campo. In: MOLINA, Mônica Castagna; JESUS, Sonia Meire Santos Azevedo de (Org.). Por uma educação do campo: contribuições para a construção de um projeto de educação do campo. Articulação nacional por uma educação do campo. Brasília, DF, 2004. p. 54-73. MST. Escola itinerante do MST: História, Projeto e Experiências. In: Caderno da Escola Itinerante, Curitiba: MST, Ano VIII – n. 1, abr. 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Curitiba, 2006. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 49 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e1 Resolução da atividade As propostas defendidas pela concepção de uma educação eman- cipadora, coerente com a efetivação da dignidade, que refute as demandas do modo de produção capitalista, são pautadas em uma gestão democrática que organize os espaços educativos, levando em conta a coletividade, que faça o chamamento da comunidade escolar, professores, alunos, pais, secretaria municipal e movimentos sociais. A escola aqui não é entendida como mais um espaço do campo, e sim a totalidade que interfere e transforma a realidade, a escola é o lugar de todos e logo, direito de todos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO50 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 2 CONTEÚDOS E MATRIZES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO As matrizes pedagógicas da educação do campo dão visibilidade a uma formação que imprima a emancipação humana. Arroyo (2010) con- tribui com essa discussão quando traz as matrizes pedagógicas como eixo de trabalho para se construir o processo educativo no campo. Essa prática permite o trabalho com os conteúdos de forma significativa, para a efetivação da função social do conhecimento: emancipar os sujeitos. As matrizes são: trabalho, terra, cultura, vivência da opressão e movimentos sociais. Arroyo afirma que trabalhar com esses temas “nos remete à existência de um núcleo fecundante, de um processo estru- turante e conformante de nossa formação-humanização como gente, como sujeitos humanos, não tanto no plano biológico, mas sobretudo no plano sociocultural, educativo” (ARROYO, 2010, p.38). Arroyo explica que utilizar o trabalho como matriz formadora: Não é apenas o atrever-nos a pensar que nos liberta, mas é o trabalho que nos constitui, é o trabalho que é a grande matriz formadora dos seres humanos. O próprio conhecimento que foi acumulado ao longo da história tem sua origem no trabalho. Conhecimento não nasce pelo conhecimento, como se fosse uma flor, que nas- ce solitária. O ser humano não produz conhecimento e ciência pelo conhecimento apenas. Neste sentido o trabalho, é a forma de produzir a vida, é que vai exigir Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 51 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e2 conhecer a natureza, conhecer a sociedade, produzir a cultura, convívios e até conflitos. E deste processo (o trabalho) que vai surgir o conhecimento, a ciência, os valores, as civilizações etc. Esse seria o sentido de dizer que o trabalho é uma matriz formadora não dos indivíduos, mas das sociedades. (ARROYO, 2010, p. 41) O autor ainda traz como exemplo a experiência de vida dos alunos frente às demandas de trabalho, que podem ser consideradas na cons- trução da aprendizagem: [...] Agora imaginem a diferença de começar a discutir, por exemplo, o espaço primeiro tentando ver, conhecer, como aqueles adolescentes, crianças, jovens ou adultos, se vinculam com o espaço, com a produção dele lutando contra a expulsão da terra, seja na relação com o espa- ço ocupado, a terra, esse adolescente, essa criança, esse sem-terrinha que acompanhou, desde pequeno, seus pais lutando, seu coletivo lutando pela terra, ele foi produzido no espaço e produzindo, concomitantemente, uma ima- gem do espaço, uma vivencia, um saber sobre o espaço. (ARROYO, 2010, p. 42). Arroyo considera que o trabalho é o eixo da própria existência humana, o homem ser pensante, transforma a natureza em função das suas necessidades básicas com um trabalho intencional e planejado, trazessa relação com autores clássicos como Marx, e entende que temos que superar nossa visão idealista e ingênua de que ao dialo- gar sobre a exploração, o sujeito responderá à exploração. Por isso, o trabalho como matriz pedagógica deve ser construído a partir das condições concretas que o próprio aluno vive (ARROYO, 2010, p. 43). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO52 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 2 Arroyo ainda indica que temos que [...] assumir a responsabilidade de formar educadores e educadoras do campo explorando os estreitos vín- culos com os processos de produção e de trabalho no campo [...], isso significa ter o trabalho como princípio formador e educativo. (ARROYO, 2010, p. 45). A terra é aspecto relevante do trabalho como matriz pedagógica, pois: [...] é um campo de resistências, de vivências de ex- pulsão, de lutas pela terra, pela produção familiar, camponesa, pelo espaço da vida. A pedagogia da terra tem que pesquisar as potencialidades formadoras que acontecem na especificidade dos modos de produção agrícola e, sobretudo nas tensões, lutas e resistências do campo. [...] toda pedagogia escolar para ser peda- gogia da terra tem de estar enraizada em um projeto de campo. Aí encontrará raízes fecundas. (ARROYO, 2010, p. 47). Arroyo alerta que há um demérito na utilização da cultura para a organização do trabalho pedagógico frente às possibilidades que a mesma apresenta. Segundo o autor [...] na escola, a cultura, quando entra, entra mal, [...] aparece como recurso de aprendizagem, como uma fes- ta, como uma distração. Aí não percebemos os estreitos vínculos entre cultura e conhecimento”. (ARROYO, 2010, p. 48). Arroyo explica que: A cultura seria a grande matriz onde essa riqueza de civilizações, identidades, de autoimagens, de signos, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 53 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e2 de valores, de linguagens foi produzida. O direito à educação é o direito à herança cultural. É na cultura que nós produzimos a grande matriz que nos confor- ma. [...] Não percebemos que os processos educativos estão muito mais colados aos processos de construção de valores, identidades, conhecimentos, aos processos culturais, socializadores. [...] É que a escola normal- mente se preocupa mais pelo campo dos chamados co- nhecimentos, as competências, a mente, e esquece de formar as identidades, o sujeito ético, o sujeito esté- tico, corpóreo, o sujeito imaginário, o sujeito de emo- ções, de memória. (ARROYO, 2010, p. 40-50) Sobre a vivência da opressão como matriz pedagógica, Arroyo, dialoga com a teoria de Freire – pedagogia do oprimido; e indica que os oprimidos precisam ter consciência da sua opressão para então se tornarem sujeitos libertados. Se não for discutido à própria condição de oprimidos num contexto de opressores não há emancipação. Nesse ensejo, vem a última matriz pedagógica proposta por Arroyo, que é o trabalho com os movimentos sociais. Arroyo escreve que “os movimentos como provocadores de uma dinâmica social, po- lítica e cultural que produzem, conformam novos sujeitos coletivos sociais, políticos, culturais” (ARROYO, 2010, p. 52). Assim explica que os movimentos sociais, protagonistas da visibili- dade da educação do campo “têm provocado o avanço da consciência e da garantia dos direitos” (ARROYO, 2010, p. 52), há diferença de a própria classe lutar pelos seus direitos, pois esses direitos certamente serão voltados ao próprio coletivo de sujeitos que defenderão suas demandas. Lutar para os movimentos sociais é sinônimo de conquistar um espaço digno de sobrevivência. Arroyo escreve que: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO54 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 2 A luta não é um mero instrumento para a conquista de direitos, mas ela per se é pedagógica, é formadora dos coletivos em luta e da sociedade, das estruturas e culturas, dos valores. A luta liberta, conscientiza, poli- tiza, transforma a sociedade e os coletivos humanos. É pedagógica. (ARROYO, 2010, p. 52) Entende-se que incorporar essas matrizes na organização do tra- balho pedagógico é saber que esses temas estão enraizados na con- cepção de educação crítica de campo e que certamente irão resultar numa emancipação do sujeito da aprendizagem. A formação humana está no centro dessas matrizes pedagógicas. Ao trabalhar a própria experiência dos sujeitos é possibilitar que ele entenda sua realidade como resultado de um processo histórico que é dialético, ou seja, sua ação (intencional e planejada) poderá transformar a história que está em movimento. Extra Assista ao vídeo Porque falar sobre as matrizes pedagógicas, do professor Miguel Arroyo. Esse vídeo o ajudará compreender a relevân- cia das matrizes pedagógicas nas escolas do campo e a importância de articulá-las aos conteúdos escolares. Disponível em: <www.youtube. com/watch?v=QtJL9o4TZ1A>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Arroyo (2010) indica, como matriz pedagógica, o trabalho sobre os movimentos sociais. De que forma essa matriz pedagógica contribui para a emancipação dos sujeitos? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 55 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e2 Referência ARROYO, Miguel Gonzalez. As matrizes pedagógicas da educação do campo na perspectiva da luta de classes. In: Educação do Campo em Movimento. MIRANDA, Sônia Guariza; SCHWENDLER, Sônia Fátima (Org.). 2. ed. Curitiba, UFPR, 2010. Resolução da atividade Os movimentos sociais, protagonistas da visibilidade da educação do campo “tem provocado o avanço da consciência e da garantia dos direitos” (ARROYO, 2010, p. 52), há diferença de a própria classe lu- tar pelos seus direitos, pois esses direitos certamente serão voltados ao próprio coletivo de sujeitos que defenderão suas demandas. Lutar para os movimentos sociais é sinônimo de conquistar um espaço digno de sobrevivência. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO56 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 3 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Para compreender a realidade e organizar o trabalho a partir do lugar que vivem, a educação do campo defende que os professores sejam moradores da própria comunidade escolar, pois vivenciam os mesmos paradigmas que os alunos e podem configurar a escola num ambiente de discussões e organizações para transformar a realidade. O professor é o mediador da concepção de educação do campo, ele precisa compreender os processos contraditórios substanciais da comunidade. O professor tem um papel fundamental, é o protagonista da educação. Não é nele que a concepção de educação do campo res- ponsabiliza os resultados, mas é com ele que se organiza, para a trans- formação social. Para que a escola traduza a realidade vivida pelos alunos e confronte com os conhecimentos historicamente produzidos é necessárioque o professor compreenda essa realidade, na medida em que essa visibilidade se materialize na formação humana. O professor deve ter uma formação política que partilhe dos prin- cípios da educação do campo e que contribua para a emancipação dos sujeitos oprimidos. Ele participa da organização do planejamento, do currículo e da proposta curricular, nesse caso pode construir uma pro- posta transformadora. O planejamento curricular não pode ser neutro e descontextua- lizado, muito menos adaptado. As pesquisas revelam que a maioria dos professores utiliza o livro didático como um planejamento e este, muitas vezes, é oriundo da escola urbana e valoriza o contexto vivido Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 57 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e3 do urbano, as justificativas para essa escolha referem-se à intenção de conceder as mesmas condições de quem estuda na cidade. Partindo dessas provocações, refletimos sobre valorização do cur- rículo (que é considerado como adaptação do contexto urbano), e da cultura vivida, para organização do trabalho pedagógico, conforme disposto nas Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (2006): A educação para os povos do campo é trabalhada a partir de um currículo essencialmente urbano e, quase sempre, deslocado das necessidades e da realidade do campo. Mesmo as escolas localizadas na cidade têm um currículo e trabalho pedagógico, na maioria das vezes, alienante, que difunde uma cultura burguesa e enciclo- pédica. [...] A cultura, e os saberes da experiência, a dinâmica do cotidiano dos povos do campo raramente são tomados como referência para o trabalho pedagó- gico, bem como para organizar o sistema de ensino, a formação de professores e a produção de materiais didáticos. (PARANÁ, 2006, p. 28) Portanto, é nesse sentido que a educação do campo defende um trabalho pedagógico rico em discussões e que atenda à diversidade que está inserida, e principalmente que inclua a própria comunidade escolar para a construção desse trabalho. O planejamento coerente incorpora a valorização da cultura des- tes povos, para que não se construa uma visão deturpada que o campo é um lugar de atraso em comparação ao urbano. Enfim, o planejamen- to permite inquietações e deve responder de forma crítica às contra- dições capitalistas no sentido que dê conta principalmente de instigar os alunos a entenderem a prática correlacionando com a teoria. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO58 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 3 A proposta curricular precisa incorporar a concepção da educação do campo com um sentido de “pertencer aos povos do campo”, deve expressar as lutas daqueles sujeitos. É organizada em ciclos de for- mação humana, que respeita o tempo de vida e entende os conteúdos como algo inacabado, que necessita sempre de contestação, interro- gação e (re)significação por parte dos sujeitos. Deve proporcionar cri- ticidade, valorização, emancipação, contestação, politização e princi- palmente dialogar com a realidade. Com base nisso, Souza afirma que: A proposta curricular está descrita no projeto político pedagógico de cada escola. O currículo revela a con- cepção de educação predominante na organização do trabalho pedagógico. Tal proposta pode ter vínculo com o Plano Municipal de Educação e com as diretrizes es- taduais e nacionais para a educação Básica, e em es- pecial para as escolas do campo. (SOUZA, 2011, p. 99) Dessa forma, apresenta-se a importância do professor conhecer e estudar as legislações que permeiam a construção da proposta cur- ricular, para ter condições de compreender a intencionalidade destas normativas. Para que os conteúdos tenham sentido, é preciso significá-los. A provocação do professor, no sentido de possibilitar uma tradução críti- ca dos conteúdos, possibilita o entendimento das condições concretas existenciais com que eles vivem. Desse modo, a função social do currí- culo/escola/professor cabe numa dinâmica mais ampla do que apenas transmitir o conhecimento, e colocam-se num patamar de transforma- ção social. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 59 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO I Pa rt e3 Extra Para aprofundar as reflexões iniciadas nesta parte, leia o artigo Educação do Campo e a Formação de Professores: construção de uma política educacional para o campo brasileiro, de Maria Fernanda dos Santos Alencar. Esse artigo aproximará reflexões sobre qual forma- ção de professor é necessária ao paradigma da educação do campo. O texto está disponível em: <http: periodicos.fundaj.gov.br/CIC/article/ viewFile/868/589>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade A Educação do Campo defende que os professores sejam morado- res da própria comunidade escolar, pois vivenciam os mesmos paradig- mas que os alunos, e podem configurar a escola num ambiente de dis- cussões e organizações para transformar a realidade. Porém, sabe-se que nem sempre os professores são moradores da comunidade. Desse modo, escreva um texto apontando de que forma o professor pode realizar um trabalho crítico na escola do campo. Referências PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação do campo. Curitiba, 2006. SOUZA, Maria Antônia. Licenciatura em Pedagogia: fundamentos teóricos metodológicos da educação do campo. Ponta Grossa: UEPG, 2011. Resolução da atividade O professor é o mediador da concepção de Educação do Campo, ele precisa compreender os processos contraditórios substanciais da comunidade e incorporar esses aspectos para o trabalho pedagógico. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO60 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IPa rt e 3 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Discutir sobre os ciclos de formação humana na educação do campo, pedagogia da alternância, itinerância, Casa da Família Rural, e a avaliação na educação do campo. Objetivo: POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Aula 4 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 63 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e1 CICLOS DE FORMAÇÃO HUMANA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO A educação, conforme se pôde observar, esteve sempre voltada aos interesses industriais, capitalistas e que atendesse à classe domi- nante. Educação sempre foi sinônimo de formação para o mercado de trabalho. Os sujeitos não tinham sua valorização e não havia preocu- pação com a aprendizagem. Em contrapartida a essa visão da educa- ção, discutiu-se então a necessidade de incorporar uma nova organiza- ção escolar para a mediação do saber acumulado historicamente, que levasse em consideração uma aprendizagem, mas que contemplasse a formação humana como determinante. No artigo 23.º da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9.394/96) perce- be-se a disposição da organização da educação, onde os ciclosaden- tram as discussões educacionais: A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interes- se do processo de aprendizagem assim o recomendar. (BRASIL, 1996, grifo nosso) Os ciclos de formação humana entendem a educação e a escola como etapa básica para emancipação. Nesse sentido, a escola conside- ra a aprendizagem do aluno como princípio libertador e não como um sentido punitivo (caso não se alcance os objetivos impostos). Os con- teúdos (componentes necessários para apropriação dos conhecimentos) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO64 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 1 empregam uma função social que dialogam com a realidade, não tem um caráter hierárquico conforme foi empregado à ideologia da organi- zação seriada, pois o conteúdo é dialético e nunca estático. Segundo Azevedo (2007) a organização tradicional seriada é hege- mônica, o autor coloca essa lógica como uma: [...] Estrutura voltada ao trabalho individual, especia- lizado, fragmentado: o conhecimento é parcelado em disciplinas; os tempos e os espaços são predetermina- dos; os conteúdos predefinidos linearmente em uma cadeira de pré-requisitos. Cabe ao educando, um ser em formação, enquadrar-se e adaptar-se a essa es- trutura, independentemente da sua individualidade, das suas experiências sociais e culturais. A rigidez dos tempos e dos espaços serve de formato para programas e conteúdos artificialmente concebidos, homogeniza- dores de produtos de aprendizagem. Metas iguais para indivíduos desiguais, critérios avaliativos decorrentes de expectativas de aprendizagem padronizadas, resul- tando na inevitável exclusão dos diferentes. (AZEVEDO, 2007, p. 18). Podemos observar no que se constitui a concepção de escola fren- te à organização por ciclos de formação humana: O Ciclo de Formação constitui numa nova concepção de escola, na medida em que encara a aprendizagem como direito de cidadania propõe o agrupamento dos estudantes onde as crianças e adolescentes reunidos pelas suas fases de formação [...]. As professoras e professores formam o coletivo por ciclos, sendo que a responsabilidade pela aprendizagem é compartilha- da [...]. O conteúdo escolar é organizado a partir da Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 65 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e1 pesquisa sócio-antropológica realizada na comunidade [...]. A partir dessa pesquisa reúnem-se representantes discentes e da comunidade para discutir com os profes- sores o eixo central dos conhecimentos a serem traba- lhados na escola. (KRUG, 2006, p. 17 apud HAMMEL e ANDREEATTA 2011, p. 5). A organização do trabalho pedagógico coerente com os ciclos de formação humana é construída de uma forma peculiar. Segundo Azevedo (2007): Os pressupostos teóricos que compreendem o conhe- cimento como uma construção social, colocam uma questão prática: a de organizar uma ação pedagógica que capte os elementos culturais do contexto social, reconhecendo os diferentes saberes destes contextos como elementos constituintes da construção do conhe- cimento. (AZEVEDO, 2007, p. 22). O MST (2008) traz uma contribuição relevante desta organização curricular, para a intervenção educativa: O currículo por ciclos vem para renovar os métodos de organização e de ensino, que antes justificava a função social da escola pela intervenção educativa legitimada nos conteúdos hierarquicamente organizados. Os ciclos exigem de nós educadores um novo olhar sobre o sujei- to que aprendem e nos desafiam para novas concep- ções e métodos de avaliação como, por exemplo, a pro- moção e não o fracasso dos sujeitos. (MST, 2008, p. 27). Arroyo (1999) apresenta que a organização por ciclos é uma postu- ra inovadora na educação, e que o ofício docente nesta nova perspec- tiva de formação, não tem um caráter de seguir novos direcionamentos Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO66 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 1 estabelecidos verticalmente, mas sim de voltar o olhar ao processo de ensino que era trabalhado para perceber a lógica excludente que se configurou tanto tempo na organização por seriação, considerar o alu- no no seu tempo de vida e respeitar a sua temporalidade para a pró- pria formação é tratar a educação com a seriedade que ela merece, não é adaptar o ensino a cada última lei, mas sim construir os saberes coletivamente de forma que atenda às demandas da formação huma- na. (ARROYO,1999, p. 152-154). A organização por ciclos de formação humana está presente no trabalho realizado na escola base Iraci Salete Strozak, localizada em Rio Bonito do Iguaçu no Centro-Oeste do Estado do Paraná em um as- sentamento da reforma agrária. É uma escola “base”, pois acompanha os processos legais de cinco escolas itinerantes, a saber: 1. Escola Oziel Alves, localizada em Cascavel; 2. Zumbi dos Palmares, localizada também em Cascavel; 3. Escola Caminho do saber, localizada em Ortigueira; 4. Escola Paulo Freire, localizada no município de Paula Freitas; 5. Escola Sementes do Amanhã, localizada em Matelândia. Segundo Hammel e Andreeatta “pais, educandos e professores construíram esta escola não apenas no espaço físico, mas também na sua pedagogia e fazer social” (HAMMEL e ANDREEATTA, 2011 p. 3). O princípio norteador do colégio é organizar o trabalho pedagógi- co que leve em consideração a pessoa humana no sentido que dê conta de se tornar um sujeito que responda a realidade de forma crítica e que tenha condições de transformá-la. Segundo Hammel e Andreeatta: A adesão aos Ciclos mudou a forma de compreender o educando nas suas fases da vida; a relação com o Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 67 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e1 conhecimento, “eu ensino, mas também aprendo”; a consideração da cultura, da arte e da sabedoria cam- ponesa; a forma de distribuir as aulas, o educador as- sumiu o ciclo todo, podendo compreendê-lo e buscar intervir com mais propriedade; a avaliação assumiu um novo caráter, não a de punição ou a atribuição de valo- res, mas do diagnóstico e intervenção e especialmente o rompimento da seriação. (HAMMEL e ANDREEATTA, 2011, p. 8). Na efetivação do desenvolvimento da escola pelos ciclos de for- mação humana, os sujeitos do campo são valorizados, por meio de prá- ticas pedagógicas intencionalmente construídas para a emancipação humana. Trabalha-se de modo que se desenvolva autonomia, valori- zação, criatividade, criticidade, politização e libertação, tendo como princípio norteador, o diálogo. Segundo Freire (1987): A palavra viva é diálogo existencial. Expressa e elabora o mundo, em comunicação e colaboração. O diálogo autêntico – reconhecimento do outro e reconhecimento de si, no outro – é decisão e compromisso de colaborar na construção do mundo comum. Não há consciências vazias; por isto os homens não se humanizam, se não humanizando o mundo. (FREIRE, 1987, p. 11). O diálogo presente nos encaminhamentos da escola temcaráter emancipador. A escola é vista, nesse contexto, além dos muros para a realidade que está inserida, o diálogo deve dar conta de libertar os sujeitos de maneira que compreendam a realidade com uma visão crí- tica. Segundo Caldart: O vínculo de origem da educação do campo é com os trabalhadores “pobres do campo”, trabalhadores Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO68 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 1 sem-terra, sem trabalho, mas primeiro com aqueles já dispostos a reagir, a lutar, a se organizar contra o “estado da coisa”, para aos poucos buscar ampliar o olhar para o conjunto dos trabalhadores do campo. (CALDART, 2009, p. 41) Freire fundamenta esta reflexão e escreve que: Os oprimidos, nos vários momentos de sua libertação, precisam reconhecer-se como homens, na sua vocação ontológica e histórica de ser mais. A reflexão e a ação se impõem, quando não se pretende, erroneamente, dicotomizar o conteúdo da forma histórica de ser do homem. Ao defendermos um permanente esforço de reflexão dos oprimidos das suas condições concretas, não estamos pretendendo um jogo divertido em nível puramente intelectual. Estamos convencidos, pelo con- trário, de que a reflexão, se há realmente reflexão, conduz à prática. (FREIRE 1987, p. 29) Hammel e Andreeatta, professoras da escola Iraci Salete Strozak, apresentam a pretensão de reorganizar a estrutura curricular, de modo que contemple os ciclos de formação humana: Estamos propondo a organização em Ciclos de Formação Humana, pois através deles e, com eles, pretende-se colocar a ação educativa da escola em movimento. Ciclo é movimento, não nos deixa parados, é processo, é relação, é agrupar e reagrupar-se para aprender e ensinar. (PPP, 2009 apud HAMMEL e ANDREEATTA, 2011, p. 11). No site do governo do estado do Paraná encontram-se relatos so- bre como ocorre a avaliação da escola Iraci Salete Strozak: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 69 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e1 O educando é avaliado considerando vários aspectos envolvendo sua vivência, levando em conta o estado psicológico do educando e o meio que o cerca, os re- sultados são observados no desenvolvimento da apren- dizagem do educando sendo concretizado por dossiês, pareceres e notas. Outra prática pedagógica do colégio é o conselho de classe participativo entendendo como forma de avaliar todos os aspectos como, o processo ensino aprendizagem no conjunto da escola. Esta práti- ca é organizada em vários momentos, finalizando com uma mesa redonda composta pela turma, direção, fun- cionários, educadores e pais. Este momento os educan- dos se auto avaliam e avaliam o conjunto da escola. Este momento se dá a cada semestre. (HISTÓRIA DO COLÉGIO ESTADUAL IRACI SALETE STROZAK, 2014). Sobre a avaliação, observa-se esta preocupação nas discussões do MST no sentido que considere como determinante a aprendizagem do aluno, conforme se pode observar: Assumindo nosso discurso, de que a avaliação é con- tínua, sistemática, processual e interdisciplinar, na prática escolar a avaliação é encaminhada através de registro que comprovam o trabalho desenvolvido e a aprendizagem dos alunos em dossiê individual. Este acompanhará cada educando em todo ciclo. Nele, o educador arquiva e anota elementos do avanço e dos limites do educando, tendo espaço para o registro da auto-avaliação dos educandos e um espaço específico para a família fazer suas anotações. (MST, 2008, p. 34). Compreende-se que a escola Iraci Salete Strozak, tem um com- promisso coerente com a organização escolar por ciclos de formação Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO70 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 1 humana e com a concepção de educação do campo, pois considera os sujeitos do próprio processo de ensino para dentro das discussões do que significa a escola e a educação. A escola amplia sua esfera “par- ticular” reduzida do chão da sala de aula, e passa a fazer parte da sociedade de forma efetiva. A escola se transforma num movimento caracterizado pelo próprio movimento dos trabalhadores rurais sem- -terra que a construíram. Esta imprime um modelo para que outras escolas do campo incorporem as experiências positivas de se trabalhar nos princípios da educação do campo. Extra O artigo indicado a seguir discorre sobre a implantação dos ciclos de formação nas escolas de assentamentos e acampamentos do MST. Traz a reflexão sobre o contraponto entre a educação seriada hierar- quizada e a educação por ciclos que busca a emancipação. Importante material para se aprofundar no tema proposto. Acesse o artigo pelo link <www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2011/pdf/2/040. pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade De acordo com o texto “Ciclos de Formação Humana na Educação do Campo”, a educação seriada como proposta pela educação capi- talista tem como objetivo a indivudualização dos sujeitos e a padro- nização do processo aprendizagem. Como os ciclos de formação, na proposta da educação do campo, se contrapõe a esse processo? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 71 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e1 Referências AZEVEDO, José Clovis de. Ciclos e Políticas Educacionais. Ciclos de Formação: uma Escola é Necessária e Possível. In: KRUG, Andréa Rosana Fetznr. Ciclos em Revista: a Construção de Uma Outra Escola Possível. 3 ed. Rio de Janeiro: RJ. 2007. p. 13-30. ARROYO, Miguel Gonzalez. Ciclo de desenvolvimento humano e formação de professores. Educação Sociedade, ano XX, n. 68, p. 143-162, dez. 1999. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/es/v20n68/av08v2068.pdf.> Acesso em: 25 fev. 2013. BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, 23 dez. 1996. HAMMEL, Ana Cristina; ANDREETTA, Ritamar. Ciclos de formação humana: A Experiência do Colégio Estadual do Campo Iraci Salete Strozak e Pedagogia do MST. In: Revista Maré, ano I, n. 1, 2011. Memórias, imagens e saberes do campo – ISSN 2237-9509. Disponível em: <http://educampoparaense.eform.net.br/revistamare>. Acesso em: 18 abr. 2014. HISTÓRIA DO COLÉGIO ESTADUAL IRACI SALETE STROZAK. Disponível em: <www. rbniracistrozak.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=11>. Acesso em: 10 fev. 2014. MST, Escola itinerante do MST: História, Projeto e Experiências. In: Caderno da Escola Itinerante, MST, Curitiba, ano VIII, n. 1, abr. 2008. Resolução da atividade Os ciclos de formação humana na educação do campo acompa- nham o desenvolvimento pessoal dos alunos, rompendo com a hierar- quia e a indivudualização por meio de uma pedagogia que parte da realidade dos alunos e de métodos de avaliação que levam em conta esta realidade. É uma proposta pedagógica que emancipa e transfor- ma em vez de alienar e padronizar. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO72 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 2 PEDAGOGIA DAALTERNÂNCIA, ITINERÂNCIA E CASA FAMILIAR RURAL A pedagogia da alternância é uma proposta educativa de expan- são da escola para a comunidade. Adotando um sistema que alterna a aprendizagem entre a problematização teórica na escola e a práxis em casa, junto à família e a comunidade. Oferece ao jovem do campo a qualificação escolar e a possibilidade de permanecer no campo, no contato com a terra, reforçando e perpetuando sua identidade como sujeito camponês. As primeiras experiências com esse viés educativo surgem na França da década de 1930, quando agricultores preocupados com o abandono do campo por parte de seus filhos, procuram uma solução junto às paróquias locais. Agricultores e párocos desenvolvem um sis- tema educativo em que os educandos passavam três semanas em casa, produzindo conhecimento prático junto as suas famílias, e uma sema- na na escola, problematizando e teorizando o conhecimento produzido nas comunidades. A pedagogia da alternância se espalhou pelo mundo durante o século XX, sendo muito bem recebida e adaptada à realidade de dispu- tas do campo no Brasil. Esta proposta educativa divide o processo de aprendizagem entre tempo-comunidade (quando o aluno fica em casa aplicando e desenvolvendo conhecimento) e tempo-escola (período na escola, de produção teórica). Dessa forma, a pedagogia da alternância propicia uma educação que problematiza as relações de trabalho e culturais específicas de cada comunidade, trabalha a identidade dos sujeitos e os qualifica academicamente. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 73 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e2 Essa pedagogia nasce de forma espontânea na França, no período entre guerras, para viabilizar o funcionamento das Casas Familiares Rurais (CAFARs). Como já citado, foi idealizada para permitir a per- manência dos jovens no campo, e a Casa Familiar Rural nasce nesse contexto durante a década de 1930. As CAFARs foram as instituições onde se desenvolveu a pedagogia da alternância. Chegam ao Brasil em 1968, inicialmente no Espírito Santo, e se espalham pelo país. São instituições de ensino que tra- balham com a metodologia do tempo-escola e tempo-comunidade. Oferecem cursos Técnicos, Ensino Fundamental e Médio, e têm sido as grandes apoiadoras da agricultura familiar no campo hoje. Por sua proposta de desenvolver a autonomia das comunidades nos municípios onde atuam, as CAFARs se encontram hoje no centro da disputa entre a agricultura familiar e o agronegócio. No Paraná é evidente o processo de sucateamento das CAFARs promovido pelo atual governo. A CAFAR opera em sistema de convênio com os governos estaduais. Esse tipo de contrato, apesar de eficiente, é muito frágil, pois não cria vínculo permanente e obrigação por parte do governo em manter as instituições. A enorme popularidade das CAFARs, entre os camponeses, inibe os governos de simplesmente decretarem seu fechamento. A estratégia tem sido não efetuar os repasses financeiros inviabilizando, pouco a pouco, o funcionamento das instituições. A mesma estratégia, ocasionalmente, também é usada contra ou- tra frente de luta da educação do campo e da agricultura familiar, as escolas itinerantes. As escolas itinerantes são escolas dos acampamentos do MST. Levam esta alcunha por serem instituições que acompanham os acampados do MST quando há a necessidade de mudança do local do acampamento Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO74 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 2 devido a acordos ou reintegração de posse, e também porque acompa- nham educadores e educandos nas marchas do Movimento. Surgiram no Rio Grande do Sul, em 1996, e também se espalharam por outros estados rapidamente. A proposta inicial era oferecer aos filhos de acampados uma educação construída a partir de sua realida- de e que problematizasse as contradições evidentes em sua condição de sem-terra. Assim como evitar as violências e preconceitos sofridos pelas crianças sem-terra quando iam estudar nas escolas regulares. A escola itinerante apresenta hoje as experiências mais signifi- cativas em educação do campo do país, pois foi forjada num processo de luta e carrega em si a necessidade de formar sujeitos conscien- tes desta luta. São justamente os conflitos que envolvem a luta pela terra, o principal referencial pedagógico das escolas itinerantes, já que a realidade dos educandos, ou seja, a rotina dos acampamentos, é constantemente problematizada nas escolas do Movimento. Assim como a CAFAR, a escola itinerante também funciona em sistema de convênio com os governos estaduais, e também sofre as consequências sendo ora perseguida, ora valorizada. Nos estados onde existem essas escolas, determina-se uma escola base, que por sua vez, torna-se res- ponsável por toda a documentação das escolas itinerantes do Estado, como históricos escolares, documentação docente etc. Cada escola itinerante possui autonomia pedagógica, pois precisa atuar de acordo com a realidade local, mas está vinculada a escola base para receber os repasses do Estado. As escolas itinerantes não utilizam a pedagogia da alternância como ocorre nas CAFARs, pois já estão inseridas na comunidade. Mas, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 75 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e2 sendo um dos principais locais de desenvolvimento da educação do campo, é uma escola que se estende por toda a comunidade e, assim como na CAFAR, tem uma pedagogia que parte da realidade dos edu- candos, de suas relações de trabalho e culturais. Conclui-se, portanto, que tanto a escola itinerante com seu ca- ráter de enfrentamento e luta, quanto a CAFAR aliada à pedagogia da alternância, se apresentam hoje como os grande bastiões de resistên- cia da educação do campo e da agricultura familiar contra o avan- ço do agronegócio e dos projetos neoliberais que invadem o campo brasileiro. Extra Este vídeo produzido pela TV Paulo Freire homenageia os 10 anos das escolas itinerantes no Estado do Paraná. O vídeo apresenta a rea- lidade das escolas itinerantes por meio de entrevistas com educadores e educandos. É um material importante para compreender os assuntos estudados no texto. Assista ao vídeo no link <www.youtube.com/wat- ch?v=R0NCVGDPDyk>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade De acordo com o texto “Pedagogia da Alternância, Itinerância e Casa Familiar Rural,” as propostas educativas desenvolvidas nas esco- las itinerantes e nas CAFARs seriam os “grandes bastiões de resistência da Educação do campo e da agricultura familiar contra o avanço do agronegócio e dos projetos neoliberais que invadem o campo brasilei- ro.” Explique esta afirmação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO76 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 2 Referências FANCK, Clenir. Entre a Enxada e o Lápis: a prática educativa na Casa Familiar Rural de Francisco Beltrão / Paraná. Porto Alegre: UFRS, 2007, 149 p. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Educação. JUNIOR, Iokisa Takau. Escola itinerante: escola, Estado e MST no espaço do acampamento. XIX Encontro Nacional De Geografia Agrária, São Paulo, 2009, pp. 1-27. Resolução da atividade A Casa Familiar Rural (CAFAR), por meio da pedagogia da alter- nância,tem como objetivo fixar o homem ao campo oferecendo uma educação que parte de sua realidade e reforça sua identidade como sujeito do campo. Assim como nas escolas itinerantes se desenvolve a educação do campo de maneira exemplar, com as escolas de acampa- mento se estendendo para muito além do prédio escolar e engloban- do toda a comunidade e até mesmo suas tarefas externas (marchas, eventos etc.). Dessa forma, a CAFAR e a escola itinerante atuam como protagonistas na guerra contra o agronegócio que visa expulsar o cam- ponês de sua terra, eliminando sua identidade por meio da educação burguesa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 77 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e3 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO DO CAMPO O processo de avaliação é mais um ponto de desacordo entre a educação burguesa tradicional adotada pela grande maioria das esco- las do sistema educacional brasileiro hoje, e a concepção de educação do campo que desde os anos 1980 vem disputando o chão da escola com o grande capital. O sistema de avaliação tradicional compreende uma pedagogia comportamentalista, condicionadora, que utiliza a classificação dos alunos pelas notas ou conceitos para excluir, discriminar e selecionar aqueles considerados melhores ou mais aptos ao mercado de trabalho. Tal sistema condicionou os educadores e educandos a um processo competitivo. O educador acaba por utilizar sua posição privilegiada de avaliador para punir e manter a disciplina por meio da ameaça de uma nota baixa. O educando, por sua vez, se preocupa mais em criar arti- manhas para garantir a nota do que com o processo de ensino-apren- dizagem e a construção e compreensão do conhecimento. De acordo com Silva, Bezerra e Ferrante: Na realidade atual, esta prática corresponde a um meio de controle feito através de atribuição de pontos ou notas, para que os alunos realizem as tarefas propostas e tenham o comportamento esperado. A nota, portan- to, passa a representar um objetivo diferente da re- presentação do rendimento do aluno. O compromisso do aluno então, não é com o conhecimento, mas com o sucesso nesses instrumentos estipulados. A preocupa- ção, então, está em obter os pontos determinados para cada atividade escolhida dentro do processo avaliativo. (SILVA; BEZERRA; FERRANTE, 2012, p. 2.886) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO78 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 3 O processo avaliativo dentro da concepção de educação do campo procura romper com esse padrão excludente e alienador da avaliação tradicional enraizada na maioria das escolas brasileiras. Para tanto, caminha com o conceito de avaliação participativa, tirando a figura do professor como centro do sistema avaliativo e colocando toda a comunidade escolar – pais, alunos, funcionários e professores – no cerne da avaliação. A avaliação participativa não exclui os métodos tradicionais como testes e audições, mas transcende a atribuição meramente punitiva ou compensatória destes. O processo avaliativo se estende por todo o pe- ríodo escolar, todos estão em constante avaliação, uns pelos outros e também por si mesmos. A avaliação crítica e participativa faz com que os alunos compreendam e valorizem a sua situação de educandos ao perceberem seu papel na construção dos conhecimentos trabalhados e no direcionamento pedagógico da escola. Assim como tira o professor da zona de conforto propiciada pela autoridade que lhe é concedida ao se reproduzir no ambiente escolar as relações de poder capitalistas. Como apontado por Silva, Bezerra e Ferrante: Essa forma de avaliação parte do pressuposto que to- dos os sujeitos que atuam na escola têm uma parcela de responsabilidade com o seu funcionamento e com a qualidade dos trabalhos ali desenvolvidos. Portanto, to- dos podem e devem ser avaliados e avaliar o outro para que haja mudança de postura e crescimento, tanto no aspecto individual, quanto coletivo. (SILVA; BEZERRA; FERRANTE, 2012, p. 2.888) A escola base do MST no Paraná, Colégio Estadual Iraci Strozak, trabalha com ciclos de formação e avaliação participativa. Nessa Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 79 POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Pa rt e3 instituição as avaliações consideram a realidade dos alunos, aspectos psicológicos, vivências em família e na comunidade. Também realizam o conselho de classe participativo, onde alunos, pais, funcionários e professores avaliam uns aos outros e se autoavaliam. O exemplo do Colégio Iraci Strozak é emblemático, já que esta instituição de ensino é referência no país em relação à educação do campo. Mostra a eficácia da pedagogia do movimento, e das ferra- mentas que vem desenvolvendo e disponibilizando – como avaliação participativa – para ajudar na construção de uma educação pública, de qualidade e emancipadora que tenha como fim, não as demandas capi- talistas, mas a conscientização dos sujeitos e a transformação social. Extras O artigo indicado a seguir problematiza a relação entre educação do campo no sentido interculturalista e o sistema de avaliação crítica e participativa. Material de grande relevância para o aprofundamento das reflexões sobre o tema proposto na aula. Acesse o artigo no link <www. ies.ufpb.br/ojs/index.php/rec/article/viewFile/18997/10544>. Acesso em: 14 jan. 2016. Além disso, leia o artigo que discorre sobre a implantação dos ciclos de formação nas escolas de assentamentos e acampamentos do MST. O texto traz reflexão sobre o contraponto entre a educação se- riada hierarquizada e a educação por ciclos que busca a emancipação. Importante material para se aprofundar no tema proposto. Acesse o artigo no link <www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2011/ pdf/2/040.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO80 POSSIBILIDADES METODOLÓGICASPa rt e 3 Atividade De acordo com o texto “Avaliação na Educação do Campo”, o processo avaliativo tradicional apresenta objetivos e resultados com- pletamente diferentes da proposta de avaliação participativa da edu- cação do campo. Explique esta afirmação. Referências SILVA, Silvani da; Bezerra, Maria Cristina dos Santos; FERRANTE, Vera Lúcia Silveira Botta. A avaliação escolar na perspectiva da Educação do Campo: modelos em conflito. João Pessoa: UFPB, 2012. HISTÓRIA DO COLÉGIO ESTADUAL IRACI SALETE STROZAK. Disponível em: www. rbniracistrozak.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=11. Acesso em: 10 fev. 2014. Resolução da atividade No processo de avaliação tradicional da escola burguesa, as fer- ramentas avaliativas são utilizadas como uma forma de reforço da autoridade do professor sobre os alunos, assim como os resultados ob- servados que, transmutados em notas e conceitos, tem como objetivo a exclusão e o controle. Já na avaliação participativa proposta pela Educação do Campo, o processo de avaliação é horizontalizado, tendo participação de toda comunidade escolar, onde todos se autoavaliam e avaliam uns aos outros. Ocorre a valorização do processo de ensino/ aprendizagem e a interpretação dos resultados transcende as notas e conceitos, sendo observada a evolução do aluno em sua formação humana integral. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A.,mais informações www.iesde.com.br Refletir sobre a organização do trabalho pedagógico nas escolas do campo, planejamento e didática na educação do campo, e interdisciplinaridade como perspectiva transformadora. Objetivo: MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Aula 5 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 83 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e1 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NAS ESCOLAS DO CAMPO Para iniciar esta aula, é preciso compreender o conceito de orga- nização do trabalho pedagógico, que para Martins é “a organização da educação de modo amplo, que se articula também com a visão formal, ou seja, processos educativos sociais e escolares” (MARTINS, 2008). Além disso, o autor aponta que “falar de organização do trabalho pe- dagógico é fazer considerações indissociáveis entre a organização es- colar e a organização social”. (MARTINS, 2008). Ainda, Martins (2008) aponta que a organização do trabalho pe- dagógico das escolas do campo tem herança do modo de produção capitalista, tendo em vista sua ideologia estar presente na materiali- dade do modelo taylorista-fordista imprimindo papéis aos profissionais da educação que lembram aqueles ligados à fábrica, tais como o su- pervisor e orientador educacional. O autor explica que isso acontece, tanto, explicitamente com a utilização da pedagogia da qualidade total ou da pedagogia empreendedora, ou de forma implícita, com a organização escolar hierárquica, excludente, seletiva e classificadora, enfim, longe do propósito emancipa- tório. (MARTINS, 2008) Quando tratamos da organização do trabalho pedagógico precisa- mos considerar alguns elementos para problematizar a realidade das escolas localizadas no campo. Devemos levar em conta o tempo de organização desta escola, calendário, gestão, localização, transporte escolar, comunidade escolar, cultura local, trabalho, currículo, bem Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO84 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 1 como a seleção de conteúdos, função dos sujeitos da escola, além das diretrizes que dão amparo para essa organização. A escola do campo constitui-se com especificidades diferenciadas das escolas urbanas, por isso necessita de outro trabalho pedagógico que a represente. Deve ser levado em conta o trabalho das comuni- dades. Normalmente, as crianças ajudam os responsáveis nos períodos de safra, e muitas vezes, por condições de sobrevivência, faltam a aula nesses períodos. Outra condição específica são as intempéries climáticas que se tornam determinantes para o acesso à escola. Os ilhéus, pescadores, agricultores, familiares etc., dependem de outra organização escolar para que sejam acolhidos e tenham acesso com plenitude a esse direito social. Conforme já foi discutido em outras aulas, a educação do campo é um projeto de sociedade construído pelos sujeitos do campo, uma construção que vem sendo materializada e que, aos poucos, ocupa os espaços da escola. Mas é preciso afirmar que a força que constituiu esse projeto de sociedade popular, que é a educação do campo, é a mesma que consolida essa concepção. Seja pela visibilidade que vem delineando no âmbito da legislação educacional e na sociedade mais ampla, ou também pelo compromisso e luta de muitos educadores e militantes que acreditam e que fortalecem esse projeto. Ao tratar de amparos legais para a organização do trabalho peda- gógico das escolas localizadas no campo, vamos tratar de dois docu- mentos fundamentais: Diretrizes Operacionais da Educação Básica do Campo de 2002 e Diretrizes Complementares da Educação do Campo de 2008. Importante ressaltar que estamos elencando alguns artigos para expor nesta aula, entretanto é muito importante que esses docu- mentos sejam lidos e estudados para fortalecer o trabalho realizado na Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 85 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e1 escola e amparar a organização destas vinculadas às especificidades que às concerne. É possível observar no 7.º artigo das Diretrizes Operacionais da Educação do Campo (2002) a flexibilização do calendário escolar das escolas localizadas no campo, tendo em vista as especificidades do campo. Além disso, esse artigo fala sobre a disposição do ano letivo, sobre as atividades pedagógicas das escolas que podem ser organiza- das em diferentes espaços pedagógicos: É de responsabilidade dos respectivos sistemas de en- sino, através de seus órgãos normativos, regulamentar as estratégias específicas de atendimento escolar do campo e a flexibilização da organização do calendá- rio escolar, salvaguardando, nos diversos espaços pe- dagógicos e tempos de aprendizagem, os princípios da política de igualdade. §1.° O ano letivo, observado o disposto nos artigos 23, 24 e 28 da LDB, poderá ser estruturado independente do ano civil. §2.° As ativida- des constantes das propostas pedagógicas das escolas, preservadas as finalidades de cada etapa da educação básica e da modalidade de ensino prevista, poderão ser organizadas e desenvolvidas em diferentes espaços pedagógicos, sempre que o exercício do direito à edu- cação escolar e o desenvolvimento da capacidade dos alunos de aprender e de continuar aprendendo assim o exigirem. (BRASIL, 2002) Ao pensar na flexibilidade do calendário escolar é preciso com- preender o conjunto de fatores que determinam e constituem sua real materialidade, conforme aponta Martins: [...] ao se proporem mudanças para um calendário Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO86 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 1 específico que respeite os tempos camponeses, o pri- meiro obstáculo estabelecido é a organização do siste- ma (seja municipal ou estadual), pois os profissionais podem pertencer concomitantemente a um outro esta- belecimento de ensino. Daí desdobram-se duas neces- sidades: o ingresso e a carreira para o educadora(a) do campo e suas condições de trabalho. (MARTINS, 2008) Outra contribuição importante da legislação é o artigo 10.º que trata da gestão democrática nas tomadas de decisões na escola “cons- tituindo mecanismos que possibilitem estabelecer relações entre a escola, comunidade local, movimentos sociais, órgãos normativos do sistema de ensino e demais setores da sociedade” (BRASIL, 2002). As Diretrizes Complementares da Educação do Campo de 2008, em seu artigo 3.º dispõem que “a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental serão sempre oferecidos nas próprias comuni- dades rurais, evitando-se os processos de nucleação de escolas e de deslocamento das crianças” (BRASIL, 2008). Esse artigo é extrema- mente importante para pensar a realidade escolar e no desmantela- mento que vem ocorrendo no campo, tendo em vista uma nova ordem capitalista que forja o fechamento das escolas na política chamada nucleação de escolas. No parágrafo 1.º, é possível observar que será possível a oferta de escolas nucleadas para os anos iniciais do Ensino Fundamental,respei- tando o deslocamento intracampo “cabendo aos sistemas estaduais e municipais estabelecer o tempo máximo dos alunos em deslocamento a partir de suas realidades” (BRASIL, 2008). Quando tratamos das condições fundamentais de oferta pedagó- gica nas escolas do campo, o artigo 7.º das Diretrizes Complementares Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 87 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e1 da Educação do Campo orienta algumas questões fundamentais, tais como: infraestrutura adequada, “materiais e livros didáticos, equi- pamentos, laboratórios, biblioteca e áreas de lazer e desporto, em conformidade com a realidade local e as diversidades dos povos do campo” (BRASIL, 2008). O parágrafo primeiro desse artigo, ainda, orienta que “a organização e o funcionamento das escolas do campo respeitarão as diferenças entre as populações atendidas quanto à sua atividade econômica, seu estilo de vida, sua cultura e suas tradições” (BRASIL, 2008). Sobre o transporte escolar das escolas localizadas no campo, o ar- tigo 10.º indica que deverão ser considerados diversos determinantes para a organização da localização da escola, tendo em vista [...] as distâncias de deslocamento, as condições de estradas e vias, o estado de conservação dos veículos utilizados e sua idade de uso, a melhor localização e as melhores possibilidades de trabalho pedagógico com padrão de qualidade. (BRASIL, 2008) Martins aponta que: A organização da escola necessita então de uma mu- dança na organização dos próprios tempos educativos. Há, nesse sentido, iniciativas como a pedagogia da al- ternância e do trabalho como princípio educativo que visa a vincular os tempos educativos com as necessida- des da educação do campo. (MARTINS, 2008) Nesse sentido, foi possível observar que as escolas localizadas no campo podem imprimir outra organização que represente as especi- ficidades dos sujeitos que a concernem. É preciso levar em conta os princípios da educação do campo e reconhecer que “a organização do Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO88 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 1 trabalho educativo da escola do campo não pode prescindir da realiza- ção de projetos educativos que consideram sua realidade” (MARTINS, 2008). Extra Para aprofundar os conhecimentos nesta parte da aula leia o ar- tigo Educação do Campo: notas para uma análise de percurso, da Roseli Salete Caldart. Este artigo contribuirá para refletir sobre os princípios da educação do campo e a sua implicação na organização do trabalho pedagógico das escolas. Texto disponível em: <www.scielo. br/pdf/tes/v7n1/03.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Nesta parte da aula, foi possível refletir sobre a organização do trabalho pedagógico nas escolas do campo e que a escola do campo constitui-se com especificidades diferenciadas das escolas urbanas, por isso necessita de outro trabalho pedagógico que a represente. Nesse sentido, escreva um texto problematizando no que esta especi- ficidade difere o trabalho feito nestas escolas. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Diário Oficial da União, Brasília: Poder Legislativo, 9 abr. 2002. ______. Ministério da Educação. Resolução n. 2, de 28 de abril de 2008. Estabelece Diretrizes Complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da Educação Básica do Campo. Diário Oficial da União, Brasília: Poder Legislativo, 29 de abril 2008. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 89 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e1 MARTINS, Fernando José. Organização do trabalho pedagógico e Educação do Campo. Revista Educação. Minas Gerais. v. 33, n. 1, 2008. Resolução da atividade Deve ser levado em conta o trabalho das comunidades, estradas, calendário, entre outros determinantes que inferem na realidade dos alunos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO90 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 2 PLANEJAMENTO E DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO Nesta parte da aula, faremos uma reflexão do planejamento em sala de aula e as possibilidades de mediação didática levando em con- ta os princípios da educação do campo. Planejar é “pensar sobre aqui- lo que existe, sobre o que se quer alcançar, com que meios se pretende agir” (OLIVEIRA, 2007, p. 21). Assim, o trabalho realizado na escola precisa ter um planejamento que compreenda todo o processo que será desenvolvido. O planejamento das escolas localizadas no campo, sempre esteve ligado a uma adaptação da escolas urbanas, desconsiderando os sujei- tos e as possibilidades e especificidades do campo, tornando o conhe- cimento hegemônico e necessário a um contexto específico: o urbano. Essa é uma realidade emergente e atual. Cabe lembrar que a utilização de um planejamento pronto e acabado, mesmo que seja para uma escola rural, também adere à concepção da educação rural, pois cada escola tem uma especifici- dade e existem relações diferenciadas, alunos, professores e comu- nidades singulares, contextos particulares que precisam de traduções diversificadas. Em contraponto a esta condição é que “a educação toma posi- ção, age, desde uma particularidade e não abandona a perspectiva da universalidade, mas disputa sua inclusão nela (seja na discussão da educação ou de projeto de sociedade)”. (CALDART, 2009, p. 38). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 91 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e2 O planejamento é primordial para o desenvolvimento da aula, pois o trabalho nas escolas não pode contar com o improviso. Precisa ser bem articulado, reflexivo e conter conteúdos e objetivos específicos. Precisa responder algumas questões para que sua função social fique clara. As questões referem-se como, quando e porquê determinado conteúdo será ensinado. O planejamento precisa ser discutido com a comunidade escolar, este trabalho aproximará a escola do contexto dos alunos e o conhe- cimento vinculará a um processo de resistência e consequentemente de transformação. Para a construção do planejamento e para a orientação da didáti- ca nas escolas do campo, escolhemos os pressupostos teórico-metodo- lógicos de Gasparin (2013) que toma como base a pedagogia histórico- -crítica. Os passos para o desenvolvimento desse trabalho são: 1. prática social inicial; 2. problematização; 3. instrumentalização; 4. cartase; 5. prática social final. Para pensar na materialidade deste planejamento o primeiro pon- to é mobilização dos sujeitos. Gasparin defende que “o educando deve ser desafiado, mobilizado, sensibilizado; deve perceber alguma relação entre o conteúdo e a sua vida cotidiana, suas necessidades, problemas e interesses” (GASPARIN, 2013, p. 13). Nesse sentido, o autor defende que o professorconheça a prática social inicial do aluno para que possa Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO92 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 2 motivá-lo e consequentemente alcance os objetivos que serão propostos com o planejamento. Como procedimento prático, o “professor anuncia [...] ao conteúdo a ser trabalhado [...] dialoga com os educandos sobre o conteúdo, busca verificar que domínio já possuem e que uso fazem dele na prática social cotidiana” (GASPARIN, 2013, p. 20). O segundo passo, a problematização que é “um elemento-chave na transição entre prática e teoria, isto é, entre o fazer cotidiano e a cultura elaborada [...] é o momento em que se inicia o trabalho com o conteúdo sistematizado” (GASPARIN, 2013, p. 33). É um momento de indagação, e sua função é “selecionar as principais interrogações levantadas na prática social a respeito de determinado conteúdo” (GASPARIN, 2013, p. 35). A instrumentalização é o terceiro passo deste método. Segundo Gasparin (2013) esse é o momento em que há o confronto intelectual entre o conhecimento científico e os conhecimentos cotidianos. O au- tor explica que [...] a instrumentalização é o caminho pelo qual o con- teúdo sistematizado é posto à disposição dos alunos para que o assimilem e o recriem e, ao incorporá-lo, transformem-no em instrumento de construção pessoal e profissional (GASPARIN, 2013, p. 51). Este é o momento da análise. O professor tem função mediadora do conhecimento, é ele quem fará a relação entre conhecimento cien- tífico e conhecimento cotidiano. Gasparin explica que “a mediação somente acontece à medida que ele conhece tanto os conceitos cien- tíficos quanto os cotidianos” (GASPARIN, 2013, p. 116). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 93 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e2 O quarto passo é a cartase, que é a “síntese do cotidiano e do científico, do teórico e do prático a que o educando chegou, marcando sua nova posição em relação ao conteúdo e à forma de sua construção social e sua reconstrução na escola” (GASPARIN, 2013, p. 124). Nesse ponto, Gasparin explica que o aluno será capaz de compreender a rea- lidade de outra forma, pois os conteúdos “tornam-se verdadeiramen- te significativos porque passam a fazer parte integrante e consciente do sistema científico, cultural e social de conhecimentos” (GASPARIN, 2013, p. 1 270). O quinto e último passo é a prática social final do conteúdo, que é a “confirmação de que aquilo que o educando somente conseguia realizar com a ajuda dos outros agora o consegue sozinho, ainda que trabalhando em grupo” (GASPARIN, 2013, p. 142). O desenvolvimento do planejamento precisa levar em conta os aspectos problematizados anteriormente sobre a didática. E a espe- cificidade da educação deve ser um princípio para esta construção. Não existe um modelo de planejamento, assim como não há modelos ou padrões para a diversidade das escolas do campo, o que precisa ser considerado são as questões norteadoras: O que? Para quê? Como? Dentro da questão norteadora “O que?” é necessário compreender quais são as principais problemáticas da comunidade escolar, sendo trabalho predominante, qual é a cultura, quais são os povos tradicio- nais que residem no entorno da escola, para então pensar nos con- teúdos que serão trabalhados. A avaliação deverá articular-se a esta questão. Quanto à pergunta “Para quê?” é necessário compor quais são os objetivos que serão trabalhados, e a avaliação deverá articular-se Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO94 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 2 neste ponto, também. E na questão “Como?” deverá apontar-se o modo como este conhecimento será mediado1, a didática, a metodo- logia aplicada e quais recursos serão utilizados. Na figura a seguir, é possível observar essa explicação organizada em tópicos. • Problemáticas da comunidade escolar. • Conteúdos articulados com a avaliação.O quê? • Objetivos articulados com a avaliação.Para quê? • Didática. • Metodologia. • Recursos. Como? O planejamento e a didática são fatores primordiais para pensar no trabalho em sala de aula. A educação na perspectiva discutida é entendida como fator social, político e ideológico. O compromisso com este esforço teórico-prático é que traduz a práxis pedagógica e que firma a função social da escola vinculada a um processo de transfor- mação mais amplo. 1 Apresentamos anteriormente a proposta de Gasparin (2013) que fez uso do método da pedagogia histórico-crítica desenvolvida pelo teórico Dermeval Saviani, pois entendemos que esta proposta contempla considerações que dialogam com os princípios da educação do campo, levando em conta a realidade do aluno, preocupando-se com cri- ticidade, com a apropriação do conhecimento historicamente produzido, e principalmente considerando a educação como transformação da realidade. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 95 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e2 Extra Leia o texto Planejamento e Avaliação, de João Luiz Gasparin, para aprofundar as reflexões suscitadas nesta parte da aula. Esse artigo contribuirá para avançar na discussão pautada. Disponível em: <http: portal.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/14_02_2011_11.10.46. f10026cfdb3402723ee1bd9293bf915d.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Construa um planejamento que leve em conta os princípios da educação do campo e compreenda as orientações da pedagogia histó- rico-crítica discutida nesta aula. Lembre-se de responder as questões norteadoras, o que? para quê? como? Bom trabalho! Referências CALDART, Roseli Salete. Educação do campo: Notas para uma análise de percurso. In: Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 7 n.1,p.35-64, mar./ jun.2009. OLIVEIRA, Dalila de Andrade. Gestão Democrática da Educação: Desafios Contemporâneos. 7. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2002. GASPARIN, João Luiz. Uma didática para a Pedagogia Histórico-crítica. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2013. Resolução da atividade A resposta do aluno deverá elencar os passos para uma pedagó- gica histórico-crítica, prática social inicial, problematização, instru- mentalização, cartase, prática social final. Além disso, deverá res- ponder as questões norteadoras: O que? Para quê? Como? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO96 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 3 INTERDISCIPLINARIDADE X RELAÇÃO TEORIA- -PRÁTICA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO A visibilidade dada à interdisciplinaridade como um novo método formativo de organização disciplinar é defendida por surgir em oposi- ção à organização tradicional. A explicação se dá pelo modelo disci- plinar implicar em uma construção linear e fragmentada do conheci- mento. Em contraponto, a interdisciplinaridade busca a unificação do saber. A interdisciplinaridade surge no contexto capitalista para suprir novas necessidadesformativas que a educação tradicional não esta- va dando conta. Segundo Fazenda, “interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento” (FAZENDA, 2002, p.11). Do mesmo modo que surgiu uma nova concepção de pensar a or- ganização disciplinar, surge a necessidade da formação docente para trabalhar com a interdisciplinaridade. O professor tem um novo pa- pel que não é mais mediador do conhecimento, e sim facilitador da aprendizagem. Nessa perspectiva, as experiências dos alunos são determinantes, pois inferem em uma nova forma de entender o currículo, escola, co- nhecimento e disciplinas. O ponto de partida nessa concepção é elen- car um problema que se insere no contexto de atuação, as disciplinas serão constituídas como ferramentas para responder com detalhes a discussão proposta. Fiod explica que: A indefinição teórica que permeia a proposta interdis- ciplinar, cujo fundamento é uma fugidia relação entre Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 97 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e3 as disciplinas escolares, impõe a seus defensores a ad- missão de que ela não é uma nova ciência, mas atitude, um ponto de vista, quiçá, um lema a ser adotado face ao conhecimento. (FIOD, 2012, p. 177) Importante registrar que a interdisciplinaridade é constituída em diálogo com pedagogia das competências tendo em vista que “o aluno deve ser sujeito ativo do seu conhecimento; atividades escolares de- vem partir do saber inicial dos alunos para desenvolver competências que venham a ampliar esse saber” (FIOD, 2012, p. 172). Além disso, “o aprender a aprender imanente à pedagogia interdisciplinar” (FIOD, 2012, p. 173) e visa formar a criatividade e a criticidade. Fiod explica que “ensinar de acordo com essas afirmações, não é dar aulas, mas administrar situações de aprendizagem”. (FIOD, 2012, p. 173). A educação do campo defende a relação teoria-prática como rela- ção pedagógica, o professor tem a função mediadora do conhecimento e articula seu trabalho pedagógico a uma concepção crítica. Segundo Caldart: Uma crítica prática que se fez teórica ou se constituiu também como confronto de ideias, de concepções, quando pelo ‘batismo’ (nome) assumiu o contraponto: Educação do campo não é Educação rural, com todas as implicações e desdobramentos disso em relação a paradigmas que não dizem respeito e nem se definem somente no âmbito da educação. (CALDAR, 2009, p. 40) Quando pensamos na especificidade da educação no contexto das escolas do campo é preciso levar em conta a realidade do aluno para pensar na mediação do conhecimento, pois o conhecimento é a compreendido como possibilidade de transformação e a educação do campo: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO98 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 3 [...] é um movimento real de combate ao ‘atual es- tado de coisas’: movimento prático, de objetivos ou fins práticos, de ferramentas práticas, que expressa e produz concepções teóricas, críticas a determinadas vi- sões de educação, de política de educação, de projetos de campo e de país, mas que são interpretações da realidade construídas em vista de orientar ações/lutas concretas. (CARDART, 2009, p. 40). Caldart aponta que a escola deve estar “vinculada à ‘vida real’, não no sentido de apenas colada a necessidades e interesses de um co- tidiano linear e de superfície, mas como síntese de múltiplas relações, determinações, como questões da realidade concreta” (CALDART, 2009, p. 46). Um exemplo expressivo de trabalho com relação teoria-prática é a pedagogia da alternância. É uma metodologia que interlaca o currículo escolar entre o TE (Tempo Escola) e TC (Tempo Comunidade), no sentido que o aluno aplica na comunidade os conhecimentos que estuda na escola e ao mesmo tempo articula a teoria à prática. Para Caldart: O grande desafio curricular não é nessa visão [da Educação do Campo] apenas garantir momentos de contextualização dos conteúdos, mas sim o de juntar teoria e prática, integrando, em uma mesma totali- dade de trabalho pedagógico, não somente disciplinas ou conteúdos entre si, mas estudo e práticas sociais, fundamentalmente práticas de trabalho e de organiza- ção coletiva dos estudantes, totalidade inserida na luta pela criação de novas relações sociais e na formação omnilateral dos trabalhadores que lhe corresponde. (CALDART, 2011, p. 114). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 99 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO II Pa rt e3 Freire faz o contraponto entre a educação bancária e a educação problematizadora e a relação com a materialidade da disciplina: [...] cada disciplina precisa ser analisada não apenas no lugar que ocupa ou ocuparia na grade, mas nos saberes que contemplam nos conceitos enunciados e no movi- mento que esses saberes engendram, próprios de seu lócus de cientificidade. (FREIRE, 1987, p. 57). Há de se reconhecer que a linearidade disciplinar vinculada a uma concepção positivista não tem vínculo com os princípios da educação do campo, mas é preciso estar atento para que a prática interdiscipli- nar não torne o conhecimento como algo espontâneo, natural e frágil. Por isso, quando falamos baseados nos princípios da educação do cam- po defendemos a relação teoria-prática. Extra Indica-se o livro Licenciaturas em Educação do Campo e o Ensino de Ciências Naturais: desafios à promoção do Trabalho Docente in- terdisciplinar, organizado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Este livro reúne diversos textos que contribuirão para o aprofunda- mento do conhecimento sobre a materialidade pedagógica que articu- la a teoria-prática na educação do campo. Disponível em: < www.mda. gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/user_img_248/Livro%20LEDOC%20 CIEMA%20WEB.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Com o surgimento de uma nova concepção de pensar a organiza- ção que articule teoria-prática, muda-se a o trabalho com os alunos. O que se pode indicar como mudança principal? Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO100 MATERIALIDADE DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO IIPa rt e 3 Referências CALDART, Roseli Salete. Educação do campo: Notas para uma análise de percurso. In: Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.7 n.1, p.35-64, mar./ jun.2009. ______ Licenciatura em Educação do Campo e projeto formativo: qual o lugar da docência por área? In: MOLINA, M. C.; SÁ, L. M. (Org.). Licenciaturas em Educação do Campo. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. v. 5, p. 95-121. FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Dicionário em construção: interdisciplinaridade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002. ______. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1993. FIOD, Edna Garcia Maciel. Interdisciplinaridade na Educação: algumas reflexões. In: VENDRAMINI, Célia Regina; AUED, Bernardete Wrublevski. Temas e problemas no ensino em escolas do campo. 1. ed. São Paulo: Outras expressões, 2012, p. 155-180. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 32 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987. Resolução da atividade A realidade do aluno é articulada ao trabalho na escola,para pensar na mediação do conhecimento, pois este é compreendido como possibilidade de transformação e articula-se a um processo mais am- plo de trabalho pedagógico. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Discutir sobre as classes multisseriadas no contexto educacional brasileiro e na educação do campo, planejamento pedagógico para essas classes, e organização de um currículo integrado. Objetivo: EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS Aula 6 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 103 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS Pa rt e1 CLASSES MULTISSERIADAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO DO CAMPO As classes multisseriadas são organizadas com turmas de diferen- tes anos e diferentes níveis de aprendizagem em uma mesma sala, atendendo diferentes faixas etárias e com uma única professora. A educação do campo defende esse espaço/tempo, em que as crian- ças aprendem o conhecimento em um processo coletivo e articulado à teoria-prática, porém torna-se necessário refletir sobre a questão da estrutura física das escolas, planejamento pedagógico, formação específica dos professores(as), e de um currículo condizente com a especificidade do campo. A auto-organização é um processo formativo nas escolas multisse- riadas, é protagonizada pelos professores e alunos, pois estes sujeitos mostram que é possível um trabalho de qualidade. Defendemos que este é um trabalho diferenciado que respeita o ritmo do aluno e preo- cupa-se com o processo de aprendizagem. A herança do modelo seria- do está enraizada na organização curricular de nossas escolas e assim, firma um desmerecimento a essa organização. No contexto brasileiro, os alunos que estudam nas escolas loca- lizadas no campo enfrentam dificuldades na organização do planeja- mento com as diferentes faixas etárias e níveis diferentes de apren- dizagem. O livro didático muitas vezes é utilizado para a organização do currículo escolar seriado e, muitas vezes, não tem vinculação à materialidade da educação do campo colocando-se distante da prática social do aluno. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO104 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADASPa rt e 1 Hage (2006) aponta alguns direcionamentos para mudar esta rea- lidade tão segregadora e que preocupa os professores que atuam nes- tas escolas. No quadro a seguir, é possível observar algumas problema- tizações que o Hage discute, relacionadas às classes multisseriadas. DESAFIOS ENFRENTADOS REFLETIR SOBRE O CURRÍCULO INTENCIONALIDADE EDUCATIVA – Exclusão do censo escolar. – Desconsideração do Poder público e da socie- dade civil. – Graves problemas de infraestrutura e de condições de trabalho e aprendizagem. – Para que haja um processo educativo de qualidade, faz-se ne- cessária a transgressão do padrão seriado na organização do ensino. – Afirmar as identi- dades culturais das populações do campo. – Construção coletiva de um currículo que valorize as diferentes experiências, saberes, valores e especificida- des culturais. – Precarização do mo- delo urbano seriado de ensino. – Currículo que aten- da a especificidade dos alunos do campo respeitando a cultura e identidade. – As escolas multisse- riadas oportunizam às populações do campo o acesso à escolariza- ção no lugar em que vivem, em sua própria comunidade. – Currículo deslocado da cultura do campo. – Estrutura física das escolas e dificuldades com relação ao transpor- te e as longas distâncias percorridas. – Oferta irregular da merenda escolar. – Currículo heterogê- neo e contextualizado, de acordo com a reali- dade campesina. – As escolas multisse- riadas têm assumido um currículo deslocado da cultura das populações do campo. – Heterogeneidade inerente ao processo educativo da multissé- rie, articulada a parti- cularidades identitárias relacionadas a fatores geográficos, ambien- tais, produtivos, cultu- rais etc., são elementos imprescindíveis. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 105 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS Pa rt e1 DESAFIOS ENFRENTADOS REFLETIR SOBRE O CURRÍCULO INTENCIONALIDADE EDUCATIVA – Predominância de uma educação bancária de forte tradição disciplinar. – Concretização de um processo de educação dialógica que inter- -relacione sujeitos, saberes e intencio- nalidades, superando a predominância de uma educação bancá- ria de forte tradição disciplinar. – Elaboração de práticas educativas e políticas includentes. – Currículo baseado nas relações urbanocêntri- cas e mercadológicas. – Peculiaridades da vida e do trabalho das pessoas do campo. – Falta de acompanha- mento pedagógico ad- vêm da falta de estrutu- ra e pessoal suficiente. – A escola multis- seriada oportuniza o apoio mútuo e a aprendizagem compartilhada. – Evasão e repetência. – Acompanhamento pedagógico e forma- ção dos docentes. Apoio das Secretarias Municipais e Estaduais de Educação. (Fonte: Elaborado com base no texto de Hage (2006) do artigo “Movimentos Sociais do Campo e afirmação do Direito à Educação: Pautando o Debate Sobre As Escolas Multisseriadas na Amazônia”.) Extra Indica-se o texto Educação do Campo: prática do professor em classe multisseriada, da professora Maria Antônia de Souza e Fernando Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO106 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADASPa rt e 1 Henrique Tisque dos Santos. Esse texto contribui para compreender a prática do professor que atua em classe multisseriada. Disponível em: <www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/dialogo?dd1=1584&dd99=view&d- d98=pb>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Realize uma análise do quadro que reúne os conceitos discutidos pelo professor Hage e indique qual seu posicionamento em relação às classes multisseriadas. Referência HAGE, Salomão Mufarrej. Movimentos sociais do campo e a afirmação do direito à educação: pautando o debate sobre as escolas multisseriadas na Amazônia paraense. In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 87, n. 217, p. 302-312. Resolução da atividade O aluno deverá analisar as contradições com que muitas escolas multisseriadas estão expostas, mas identificar as possibilidades peda- gógicas desta organização curricular. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 107 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS Pa rt e2 PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO PARA CLASSES MULTISSERIADAS Nesta aula discutiremos como ocorre o processo do planejamento pedagógico nas salas multisseriadas. Geralmente os professores rece- bem o currículo pronto e acabado das Secretarias de Educação. Esses currículos chegam às escolas com conteúdos divididos por ano aten- dendo a umalógica seriada de ensino não correspondendo à especifi- cidade das classes multisseriadas e do contexto das escolas do cam- po. E neste sentido, com uma orientação padrão para a organização do planejamento pedagógico, os professores encontram dificuldades, pois na prática trabalham com diferentes faixas etárias e níveis de aprendizagem ao mesmo tempo. Um grande desafio às classes multisseriadas, são os princípios mercadológicos voltados ao neoliberalismo que adentram este con- texto querendo “resolver um problema” fundamentando a pedagogia numa relação despolitizada, exemplo expressivo foi o Programa Escola Ativa1, programas de iniciativa privada como a fundação telefônica Vivo2: As escolas multisseriadas têm assumido um currículo deslocado da cultura das populações do campo, inspi- rado em compreensões universalizantes, que sobreva- lorizam concepções mercadológicas e urbano-cêntricas de vida e desenvolvimento, em detrimento dos sabe- res, e modos de vida do campo. Essa situação deve ser 1 Leia a crítica do movimento da educação do campo sobre o programa Escola Ativa, disponível em: <www.gepec. ufscar.br/textos-1/legislacao1/nota-tecnica-sobre-o-programa-escola-ativa-uma-analise-critica/at_download/file>. 2 Disponível em: <http://fundacaotelefonica.org.br/noticias/fundacao-telefonica-vivo-lanca-colecao-classes-multis- seriadas-em-escolas-do-campo/ >. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO108 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADASPa rt e 2 confrontada caso se pretenda enfrentar o fracasso es- colar e afirmar as identidades culturais das populações do campo. (HAGE, 2004). As classes multisseriadas vêm sendo caracterizadas como arcaicas, foras do padrão e ultrapassadas por se contraporem ao modelo hege- mônico e seriado de ensino. No entanto, é por meio de classes multis- seriadas que a criança permanece na sua comunidade tendo o direito de receber uma educação de qualidade. Na parte pedagógica, geral- mente os professores utilizam o currículo fornecido pela Secretaria de Educação com um rol de conteúdos prontos, e o professor prepara as suas aulas de acordo com cada série. Fazem tantos planejamentos de acordo com cada série e ao passar para os alunos(as) dividem o quadro em partes e explicam o conteúdo referente à série destinada. Existem exemplos de práticas dos professores que trabalham com temáticas para todas as séries e aproveitam o seu planejamento pe- dagógico para atender as especificidades dos alunos articulando teo- ria-prática e conquistando resultados surpreendentes. Trabalham a heterogeneidade, respeitando o ritmo de desenvolvimento dos alunos. Toda organização linear, sequencial, seriada dos proces- sos de aprendizagem, de formação e desenvolvimento humano, de socialização tende a ser homogeneizadora e, consequentemente, segregadora, injusta. A orga- nização seriada vem acumulando a cada ano milhões de segregados, reprovados por não seguirem o suposto processo linear, seriado, do ensino dos conhecimentos e dos processos de aprender. Isso ocorre devido ao fato de tal organização homogeneizar processos mentais e de formação tão diversos. (ARROYO, 2012, p. 12). Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 109 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS Pa rt e2 Nesse sentindo, torna-se necessário partir de uma prática peda- gógica que valorize o contexto sociocultural dos sujeitos do campo, e que esta respeite os diferentes níveis dos alunos baseados nos princí- pios da formação humana. Extra Para aprofundar o conhecimento sobre as classes multisseriadas leia o texto Transgressão do paradigma da (multi)seriação como re- ferência para a construção da escola pública do campo, do professor Salomão Hage. Este texto provoca reflexões sobre os principais dile- mas da multisseriação e da educação do campo. Disponível em: <www. scielo.br/pdf/es/v35n129/0101-7330-es-35-129-01165.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Atividade Por que um grande desafio às classes multisseriadas, são os prin- cípios mercadológicos voltados ao neoliberalismo que adentram este contexto escolar? Referências ARROYO, M. G . Escola: terra de direito. In: ROCHA, M. I. A.; HAGE, S. M. (Orgs.) Escola de direito: reinventando a escola multisseriada. Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 119-140. HAGE, Salomão Mufarrej. A realidade das escolas multisseriadas frente às conquistas na legislação educacional. In: ANPED – Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação, 13, 2004, Caxambu. Disponível em <www.anped.org.br/ reunioes/29ra/trabalhos/posteres/GT13-2031--Int.pdf>. Acesso em: 14 dez. 2015. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO110 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADASPa rt e 2 Resolução da atividade Pois querem resolver um problema fundamentando a pedagogia numa relação despolitizada. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 111 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS Pa rt e3 ORGANIZAÇÃO DE UM CURRÍCULO INTEGRADO O currículo integrado é uma perspectiva de educação transforma- dora no sentido que compreende que o conhecimento historicamente produzido pela humanidade deve ser articulado à realidade dos sujei- tos. Kuenzer explica que é uma organização curricular que objetiva “disponibilizar aos jovens que vivem do trabalho a nova síntese entre o geral e particular, entre lógico e histórico, entre teoria e prática, entre conhecimento, trabalho e cultura” (KUENZER, 2002, p. 43-44). Com o currículo integrado, surge como possibilidade os trabalha- dores terem acesso ao conhecimento científico que é patrimônio da humanidade, enquanto fazem a formação profissional, pois a educa- ção tem uma intencionalidade mais ampla que é formar um traba- lhador crítico, que tenha condições de refletir sobre sua realidade e contribuir com a transformação social em prol dos interesses coletivos de trabalhadores do qual faz parte. Nesse sentido, este currículo pos- sibilita dar visibilidade às contradições postas na sociedade. Tem-se o trabalho como princípio educativo que “firma o caráter formativo do trabalho e da educação como ação humanizadora me- diante o desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2012, p. 748). E assim, “destaca a organização do conhecimento como um sistema de relações de uma totalidade his- tórica e dialética” (CIAVATTA; RAMOS, 2012, p. 309). Neste sentido o currículo integrado constitui-se em uma organiza- ção que indaga a realidade e visa nesta própria condição uma dinâmica Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO112 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADASPa rt e 3 transformadora que consequentemente possibilita a emancipação dos alunos. Rompe com a ideia do conhecimento fragmentado que impede a formação crítica e a visibilidade às contradições sociais. O conhecimento não é mais algo neutro, apolítico, natural e he- gemônico. Mas, constitui-se em um importante passo para a eman- cipação humana e neste sentido “não hierarquiza osconhecimentos nem os respectivos campos das ciências, mas os problematiza em sua historicidade, relações e contradições” (CIAVATTA; RAMOS, 2012, p. 309-310). A organização deste currículo é á articulada entre conhecimentos gerais e específicos é a: [...] relação entre partes e totalidade na produção do conhecimento em todas as disciplinas e atividades esco- lares, o que significa a compreensão do Conhecimento como apropriação intelectual de determinado campo empírico, teórico ou simbólico, pelo qual se apreen- dem e se representam as relações que constituem e es- truturam a realidade objetiva. (CIAVATTA; RAMOS 2012, p. 309). Na lógica capitalista, não cabe o currículo integrado tendo em vista que o princípio educativo se compromete com os interesses da classe trabalhadora. E o resultado deste currículo é a formação de om- nilateral que é “que busca levar em conta todas as especificidades do ser humano e as condições objetivas e subjetivas reais para seu pleno desenvolvimento histórico” (FRIGOTTO, 2012, p. 265). Esta formação visa à emancipação. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPOCURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 113 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADAS Pa rt e3 No princípio da educação do campo, a defesa é por uma pedago- gia socialista, que as escolas organizem-se a partir do currículo inte- gral para constituir a formação omnilateral. Nesse sentido, é [...] considerar a realidade do campo na construção de políticas públicas e de pedagogia significa considerar os sujeitos da educação e considerar a prática social que forma estes sujeitos como seres humanos e como sujeitos coletivos. (CALDART, 2009, p. 42). Extra Para esta aula, indico a leitura do texto Currículo Integrado de Maria Cristina Davini. Este texto suscitará em problematizações acerca do tema. Disponível em: <http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/ Biblioteca/Forma%C3%A7%C3%A3o%20Continuada/Curr%C3%ADculo/ pub04U2T8.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. Bons estudos! Atividade Tendo em vista que o currículo integrado é uma perspectiva trans- formadora, qual a intencionalidade de outras organizações curricula- res propostas ao trabalhador na atualidade, principalmente aquelas ligadas ao modo de produção capitalista? Referências CALDART, Roseli Salete. Educação do campo: Notas para uma análise de percurso. In: Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.7 n.1, p. 35-64, mar./ jun.2009. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO114 EDUCAÇÃO DO CAMPO E O TRABALHO COM CLASSES MULTISSERIADASPa rt e 3 CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. Ensino Médio Integrado. In: CALDART, R. S. (Org.) Dicionário da educação do campo. Rio de Janeiro; São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012, p. 305-313. FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação Omnilateral. In: CALDART, R. S. (Org.) Dicionário da educação do campo. Rio de Janeiro; São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012, p. 265-271. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria. Trabalho como princípio educativo. In: CALDART, R. S. (Org.) Dicionário da educação do campo. Rio de Janeiro; São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012, p. 748-755. KUENZER, Acácia Zeneida (Org.). Ensino médio: construindo uma proposta para os que vivem do trabalho. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002. Resolução da atividade A intencionalidade é ligada a um compromisso com o lucro de uma minoria e a alienação do trabalhador. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Camila Casteliano Pereira CURRÍCULO E M ETODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAM PO 44 48 8 CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A., mais informações www.iesde.com.br Página em branco Página em branco