Prévia do material em texto
IMEPAC- INSTITUTO MASTER DE ENSINO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS ANA CAROLINA JUNQUEIRA ARTHUR FRANZÃO ISADORA TOMÁS NATHALIA ANTUNES PAULA PALHARES RAFAELA DE ANDRADE RAFAELA TEODORO SAMARA BITTAR TAÍS ALVAREZ THAYNÁ BEIRIGO 3º PERÍODO O MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA NA FORMAÇÃO MEDICA COMO FERRAMENTA DE PROMOÇÃO DE SAÚDE ARAGUARI/MG MARÇO DE 2019 IMEPAC- instituto master de ensino PRESIDENTE antôNIO CARLOS ANA CAROLINA JUNQUEIRA ARTHUR FRANZÃO ISADORA TOMÁS NATHALIA ANTUNES PAULA PALHARES RAFAELA DE ANDRADE RAFAELA TEODORO SAMARA BITTAR TAÍS ALVAREZ THAYNÁ BEIRIGO 3º PERÍODO O MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA NA FORMAÇÃO MEDICA COMO FERRAMENTA DE PROMOÇÃO DE SAÚDE Trabalho realizado para a apresentação do seminário referente ao eixo 2.3A, coordenado pelo Prof. Me. Marcos Paulo de Souza ARAGUARI/MG MARÇO DE 2019 INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a promoção da saúde como “o processo de habilitar pessoas a assumir o controle de sua saúde e a melhorá-la”. Segundo essa definição, o conceito atual de saúde é um estado de razoável harmonia entre o sujeito e sua própria realidade. Tal conceito vem substituir aquele definido pela OMS como “um completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença”, discutido como utópico. Nesse contexto, é ideal que o processo de produção do conhecimento e das práticas em saúde se faça por meio da construção compartilhada, o que exige a participação ativa dos envolvidos na produção social de saúde, como os usuários do SUS, movimentos sociais, gestores e profissionais de saúde. Pendleton et al. destacam que é imprescindível entender que os sintomas, não motivam necessariamente o indivíduo a buscar atendimento médico. Tal fato ocorre quando a manifestação desse sintoma causa incômodo por sua presença ou pelas interpretações a seu respeito. Desse modo, é importante entender as razões que levaram a pessoa à consulta e desenvolver a entrevista na perspectiva do mesmo. Atualmente, existe uma espécie de manual que sugere um modelo de consulta, o qual conta com etapas e técnicas que devem ser cumpridas pelo profissional, objetivando a obtenção da informação e a construção de um planejamento comum: o “Calgary-Cambridge Guides Communication Process Skills”. Nesse documento, consta que a partir da exploração das principais preocupações do paciente e do médico, a negociação das prioridades e tratamento podem ser realizadas e acordadas entre ambos. Assim, o médico tem papel essencial na promoção de saúde das pessoas, por ser figura atuante não só nos vários cenários da assistência, mas na elaboração de políticas de saúde em vários níveis. Portanto, devem aproveitar as janelas de oportunidade para educação e promoção de saúde, pois a medicina centrada na pessoa cumpre o papel de responder a essas expectativas ao incorporar a perspectiva do paciente e torná-lo sujeito de sua própria saúde. Quanto à metodologia, a principal fonte de material utilizada foi livro Medicina Centrada na Pessoa: transformando o método clínico, aliado ao artigo encontrado no Google Acadêmico. DESENVOLVIMENTO OS QUATRO COMPONENTES DO MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA Saúde, doença e experiência da doença O cuidado efetivo à pessoa exige prestar atenção tanto às experiências em relação à saúde quanto às experiências da doença que as pessoas têm em relação aos seus problemas de saúde. A saúde é apresentada como “um recurso para viver” segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e também é a percepção abrangente das pessoas quanto à saúde e o que a saúde significa para elas, bem como sua capacidade de realizar as aspirações e os propósitos importantes para a sua vida. No modelo médico convencional, a doença é diagnosticadA por meio da análise da história medicada pessoa e da avaliação objetiva de seu corpo a partir de exames físicos e laboratoriais. No modelo biomédico, a doença é explicada em termos de fisiopatologia: estrutura e funcionamento anormais de tecidos e órgãos. Esse modelo oferece uma base conceitual para entender as dimensões biológicas do adoecer, reduzindo-o à doença. O foco é no corpo, não na pessoa. A doença é uma construção teórica, ou abstrata, pela qual os médicos tentam explicar os problemas das pessoas, em termos de anormalidades de estruturas e/ou função dos órgãos e sistemas do corpo. Já a experiência da doença, por sua vez, é a experiência pessoal e subjetiva de estar doente: os sentimentos, pensamentos e funcionamento alterado de alguém que se sente doente. A doença e a experiência da doença nem sempre coexistem. Saúde e doença nem sempre são mutuamente excludentes. Pessoas com doenças assintomáticas não diagnosticada se veem saudáveis e não se sentem doentes. Pessoas que estão sofrendo emocionalmente o preocupadas podem se sentirem doentes, mas não têm nenhuma doença. A presença de uma doença pode não justificar adequadamente o sofrimento daquela pessoa, pois a proporção do desconforto que sente não se refere apenas à extensão do dano aos tecidos, mas também ao significado pessoal dado à saúde e à experiência da doença. O método clínico para explorar as quatro dimensões da saúde A definição de saúde é como algo único para cada pessoa, que inclua não só a falta de saúde como também o significado de saúde para aquela pessoa e para a capacidade de realizar suas aspirações e propósitos de vida, como correr, reunir a família, dentre outros. É interessante que o médico, considerando o papel da promoção de saúde, pergunte ao paciente: “O que a palavra ‘saúde’ significa para você em sua vida?”. Perguntas adaptadas à cultura e à individualidade de cada pessoa servirão a dois propósitos clínicos: primeiramente, revelarão ao médico dimensões da vida daquela pessoa que eram previamente desconhecidas; em segundo lugar, “ampliarão o conhecimento das pessoas”, como diz Cassell (2013), o que é um ato de promoção de saúde por si só. Quando a pessoa está muito doente, talvez com várias doenças crônicas e passando por hospitalizações, o médico pode explorar suas aspirações e propósitos usando os seguintes tipos de perguntas: “O que está realmente lhe preocupando em tudo isso? Há coisas que você sente que são muito importantes e que você quer fazer agora... Coisas que, se você fizesse ou começasse a fazer... lhe dariam uma maior sensação de bem-estar?”. O método clínico para explorar as quatro dimensões da doença Dentro do campo da experiência com a doença, devem ser exploradas quatro dimensões: Sentimento(s); Ideia(s); Função(ões); Expectativa(s). Os sentimentos do paciente em relação a sua doença, os temores que ele tem com os sintomas são variáveis que devem ser consideradas. Bem como as ideias sobre a experiência com a doença, os efeitos que ela causa nas funções do paciente e quais são as expectativas em relação ao médico e ao tratamento. Certas doenças ou situações na vida do paciente podem lhe causar algum tipo de constrangimento, dificultando o diálogo com o médico. Por isso, o profissional deve ter a habilidade de escutar e dar abertura para a pessoa, a fim de criar um vínculo maior e garantir que todas as informações necessárias sejam colhidas. Além disso, o uso de perguntas-chave pode ser bastante útil para o médico. São questões mais amplas que sinalizam o interesse do profissional e permitem os pacientes se expressarem, para que ambos cheguem a uma conclusão juntos. Dessa forma, o foco na experiência da doença permite que o médico explore mais os sentimentos do paciente, suas ideias e expectativas, para garantir um diagnóstico mais exato. Pois, não se considera somente as características biológicas, mas sim o paciente como um todo. Diferenciação entre saúde, doença e experiência da doença Stewart (2017) ressalta que existem duas “vozes” relacionadas com a prática clínica: a voz da medicina e a voz do mundo da vida. A primeira está relacionada com acontecimentoscientíficos e faz uso de perguntas relacionadas com os sinais e sintomas que o paciente pode apresentar. A segunda, reflete uma visão de senso comum do mundo. De acordo com Stewart, ela foca no “contexto social específico da pessoa, no significado de saúde e experiência da doença e de como podem afetar a realização de suas metas pessoais de saúde”. Sendo assim, as perguntas utilizadas pelo profissional seriam mais abrangentes. Certos autores afirmam que a tarefa essencial do médico é estabelecer um diagnóstico. Assim, este limita-se a adotar a “voz da medicina” em seus atendimentos, de modo que pode não ouvir os relatos pessoais do paciente. Porém, segundo Mishler (1984), o profissional deve adotar uma postura diferenciada, para priorizar o significado do mundo de seu paciente. Em um estudo posterior, uma nova nomeação para a interação médico/paciente foi caracterizada como “mundo da vida mútuo”. Nessa categoria, ambas as partes utilizam a “voz do mundo da vida”, ressaltando e confirmando o aspecto único da vida e da experiência pessoal. Além disso, quando as pessoas adoecem, normalmente encontram uma maneira de compreender o que está acontecendo. Assim, elas podem “culpar seus próprios maus hábitos, o destino ou a má sorte, ou atribuir seus problemas a “genes ruins” ou toxinas ambientais; alguns podem até mesmo acreditar que foram amaldiçoados” (Stewart et al., 2017). Esse fato é nomeado de “modelos explanatórios”. Desse modo, o médico deve fazer uso de perguntas gerais, tal como: “Como você descreveria o problema que o trouxe aqui?”, para compreender qual sentido a doença faz para o paciente. Assim, Stewart destaca a importância de distinguir saúde, doença e experiência da doença. Desse modo, é evidente que o profissional da saúde também deve compreender essa diferença, pois assim, será capaz de incluir a avaliação de como a doença prejudica o funcionamento de uma pessoa. Para isso, o médico pode utilizar perguntas como “De qual maneira esse sintoma interfere na sua vida?”. Eric Cassell (2013) explica que esse método é uma tentativa de “descobrir qualquer coisa em qualquer dimensão da existência da pessoa que esteja interferindo na sua capacidade de realizar suas metas ou propósitos”. Respostas comuns à experiência da doença As razões pelas quais as pessoas procuram seus médicos em certo momento são com frequência mais importantes do que o diagnóstico. O diagnóstico é frequentemente óbvio ou já sabido desde outros contatos; Uma deficiência inesperada ou um diagnóstico de risco à vida leva a uma crise que perturba o equilíbrio da pessoa e que pode durar por um longo tempo. A falta de adaptação à perda pode levar a ansiedade crônica, depressão, retração social e distorção da imagem corporal. Reiser e Schroder (1980) descrevem um modelo semelhante de experiência da doença, à apresentada por Strauss, com três estágios: conscientização, desorganização e reorganização. O primeiro estágio, conscientização, é caracterizado pela ambivalência quanto ao saber: por um lado, a pessoa quer saber a verdade e entender a experiência da doença; por outro, não quer admitir que algo pode estar errado. Ao mesmo tempo, as pessoas frequentemente lutam contra desejos conflituosos entre permanecer independentes e querer que alguém tome conta delas. No final, se os sintomas não desaparecem, a realidade da experiência da doença é aceita, e o senso que a pessoa tem de estar no controle de sua vida é destruído. O momento de desorganização é representado pela depressão e medo, já que nos encontramos de maneira frágil e vulnerável em relação à doença. O terceiro estágio é a reorganização. As pessoas juntam todas as suas forças interiores para encontrar um novo significado em face da experiência da doença e, se possível, transcender seu sofrimento. Os estágios da doença são parte de uma resposta normal ao acontecimento, Stein (2007) descreve quatro sentimentos comuns que acompanham a experiência da doença grave: medo, perda, solidão e traição. Stein se refere à solidão insuportável da experiência da doença grave e a como as pessoas escondem suas batalhas contra a dor ou durante a quimioterapia sem revelar os temores e as muitas inconveniências que a experiência da doença traz. A traição se refere ao sentimento de que o corpo decepcionou a pessoa: não é mais possível confiar nele, nem contar com ele para que a pessoa possa fazer o que lhe importa. Assim, o entendimento desses trazem respostas previsíveis à experiência da doença que pode ajudar a preparar tanto a pessoa quanto os médicos para as lutas pelas quais talvez passem na tentativa de reconciliar-se com o impacto da doença em seus corpos e em suas vidas. Sinais e Indicações dados pelos pacientes Os pacientes comumente dão sinais dos motivos pelos quais vão ao médico. Grande parte das vezes, a queixa principal é o motivo que os leva ao médico. No entanto, há tipos pacientes que deixam seus problemas maiores serem velados. Assim, faz-se necessário que o médico tenha a sensibilidade de perceber que aquela queixa principal é apenas um dos motivos pelo qual levou o paciente a procurá-lo. O paciente pode chegar ao consultório queixando-se de algum problema vago, mas, na verdade, gostaria que o médico cuidasse de sua enfermidade velada, que pode ser até a etiologia do problema queixado. Algumas perguntas, comportamentos do paciente e pistas ajudam o profissional da saúde revelar o verdadeiro motivo pelo qual o paciente foi procurá-lo. Alguns desses meios de desvendar a real necessidade do paciente são: Observar as expressões do paciente mediante aquele problema Observar tentativas do paciente de entender ou explicar os sintomas Observar pistas na fala que salientam preocupações Analisar comportamentos do paciente que o ligam a condições do passado que não foram resolvidos. Vale ressaltar que a maioria das pistas são reveladas por meio de expressões emocional durante a anamnese com um médico que transmita segurança e confiança ao paciente. Ainda, é importante considerar que é de grande valor que o médico, além de procurar a queixa principal, sendo-o um sinal de doença, extraia, também, a experiência de doença que o paciente tem, pois, na atual conjuntura em que a medicina encontra-se, é de suma importância que a medicina forneça uma promoção à saúde e à qualidade de vida. Narrativas de saúde e da experiência da doença Atualmente, existem diversas publicações que ilustram a importância das narrativas das pessoas, ou seja, como recontam as histórias de sua experiência da doença. Assim, expandir o foco do simples questionamento da doença para a experiência da doença da pessoa traz um resultado mais produtivo para o médico e o paciente. É comum médicos interromperem os indivíduos durante a fala e, consequentemente, suas histórias de saúde e de experiência da doença não são contadas. Logo, a prática médica centrada na pessoa exige que se preste atenção à experiência única que a pessoa tem da saúde e da doença como uma parte importante no cuidado médico. DESAFIOS NA APRENDIZAGEM E NO ENSINO DO MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA A disseminação da medicina centrada na pessoa e a crescente demanda pela quantidade do cuidado tem colocado em xeque a formação médica em todo o mundo. Comunicação e empatia são habilidades que podem ser ensinadas e aprendidas e isso colabora para a substituição do modelo biomédico pelo MCCP, apoiado no atendimento médico do indivíduo de forma integral. É recomendado que no ensino médio incluam uma formação interdisciplinar que permita uma compreensão da maneira pela qual as pessoas de diversas culturas e crenças percebam a saúde e a doença, e esse aprendizado da medicina centrada na pessoa, melhora o atendimento dos pacientes na percepção dos próprios pacientes. Um programa de treinamento longitudinal de habilidades de comunicação abrangendo várias disciplinas em diversos períodos de um currículo de graduação em medicina gera impacto positivo nas habilidades de consultas dos alunos no que se refere a melhor entendimentodo problema é melhor desempenho clínico. A OMS e WONCA entendem que o MCCP constitui um elemento importante na formação médica geral. No Brasil, a partir da implementação do SUS veio a reflexão a respeito dos limites e possibilidades de diferentes iniciativas de mudança na formação dos profissionais de saúde. As diretrizes curriculares nacionais para o curso de graduação em medicina estipulam o perfil do egresso em medicina, e essas mesmas diretrizes curriculares pontuam que o projeto pedagógico do curso de graduação em medicina deve contribuir para a compreensão e difusão das culturas, respeitando o pluralismo de concepções e a diversidade. É essencial contribuir com os alunos o conceito de indivíduo doente numa perspectiva indissociável entre doença e adoecimentos desde o início da graduação. No entanto, esse cenário configura um desafio, pois pressupõe a implantação de estratégias de ensino efetivas que requerem integração e inter-relação de todos os departamentos e disciplinas, em uma realidade na qual se encontram escolas médicas, muitas vezes, tem q estrutura engessada pela organização flexneriana. A complexidade não reconhecida da comunicação entre a pessoa e o médico: Após aprenderem o básico sobre comunicação, muitos acham que estudar esse tema é desnecessário, Entretanto, aprender a comunicação é algo essencial já que o ambiente clínico é mais complexo e imprevisível do que um laboratório de comunicação bem organizado e estruturado; os educandos devem não apenas se concentrar em aplicar boas técnicas de comunicação, como perguntas abertas, escuta ativa e empatia, mas devem obter uma história clínica abrangente, realizar um exame físico acurado, pensar sobre o diagnóstico diferencial e, junto com a pessoa, desenvolver um plano inicial de manejo. Kurtz e colaboradores (2003, 2005) indicaram que há três grandes categorias de habilidades de comunicação: conteúdo(assunto), processo (como o profissional ira se comunicar) e habilidades de percepção (aspectos interpessoais da comunicação). Com essas três habilidades há uma sobrecarga do profissional e por isso, a maioria, se concentra na realização de uma boa anamnese e em definir um diagnóstico confiável e um plano de manejo apropriado. É durante seu treinamento clínico que esses educandos e residentes precisam de mais orientação para aprender a integrar as três categorias de habilidades de comunicação. Wouda e van de Wiel (2013, p. 51) expressaram dúvidas sobre se “a competência em comunicação profissional pode ser totalmente desenvolvida durante o treinamento médico”. Há muitas razões para isso, que incluem a falta de tempo no currículo para trabalhar a comunicação e a complexidade das habilidades a serem aprendidas. Defendem, então, que essas habilidades só vão ser aprendidas após anos de pratica. Mas todos os autores concordam que se os educandos não conseguirem reconhecer a importância de aprender mais sobre as habilidades de comunicação, muito provavelmente não farão os esforços necessários. A natureza da prática clínica A prática clínica é árdua quando limitada ao diagnóstico e ao tratamento da doença; e, ainda, sugerir que os médicos devem também considerar as perspectivas das pessoas quanto à sua experiência da doença e ao contexto social no qual levam suas vidas pode parecer um grande desafio. As muitas horas de trabalho, a falta de sono e a natureza pessoalmente exaustiva do cuidado a pessoas, muitas vezes, deixam os educandos e os médicos exaustos e emocionalmente esgotados. Os médicos, nesse estado, podem ter pouca energia para investir na aprendizagem de como ser centrado na pessoa. O desconforto com a elaboração de um plano conjunto de manejo do aprendizado Em entrevistas com o foco na doença, os médicos simplificam os problemas das pessoas reduzindo-os a categorias de doenças. Ja as entrevistas centradas na pessoa podem ser mais complicadas, ha que, os médicos não estão apenas buscando uma doença, mas também ativamente procurando compreender o sofrimento das pessoas que atendem; além disso, esforçam-se para determinar o quanto as pessoas querem se envolver nas decisões sobre o que deverá ser feito e buscam entender suas preferências. Os médicos e as pessoas parecem ser ambivalentes em relação à tomada de decisão compartilhada. Mesmo em estudos em que os médicos não compartilhavam informações com as pessoas, elas estavam muito satisfeitas com o cuidado que recebiam. Exemplo de caso: Melvin Langer, 42 anos, consultou Rebecca Bridge, uma residente de segundo ano em medicina de família, convencido de que havia recebido um diagnóstico errado. Durante sua última consulta na clínica, há duas semanas, reclamou de sintomas semelhantes aos que havia tido dez anos antes, quando teve doença de Graves. Estava convencido de que agora tinha uma recorrência de seu hipertireoidismo. Entretanto, havia sido tratado com iodo radiativo na época de seu diagnóstico de doença de Graves, e seu exame de sangue de TSH mais recente era consistente com hipotireoidismo. Com base no exame, a Dra. Bridge havia diagnosticado hipotireoidismo e prescrito uma dose maior de levotiroxina. Nesta visita de acompanhamento, a Dra. Bridge se surpreendeu com a agitação do Sr. Langer. Ele era normalmente uma pessoa muito agradável e bemhumorada, mas naquele momento parecia zangado e frustrado. Quando perguntou como ele estava se saindo com o aumento da medicação para a tireoide, ele retorquiu: “Nem um pouco bem! Estou sentindo o mesmo que sentia quando tinha a doença de Graves. Estou convencido de que tenho ‘muita tireoide’, e não pouca, e por isso não tomei os comprimidos”. A Dra. Bridge sentiu que estava ficando irritada e na defensiva. Entendia que havia dado a orientação correta com base em uma avaliação cuidadosa da condição médica e pensou consigo mesma: “O meu tratamento foi adequado; não sei como posso lidar com a raiva dele e sua recusa em tomar a medicação”. Sentindo-se perdida, consultou seu preceptor. Reconhecendo a frustração da pessoa que ela estava atendendo, o preceptor a ajudou a entender que a questão mais importante era a convicção dele de que o diagnóstico estava errado. Até que isso fosse abordado, seria inútil tentar fazer o Sr. Langer mudar de ideia sobre o manejo. Retomando sua conversa com o Sr. Langer, a Dra. Bridge reconheceu que não havia investigado completamente o entendimento que ele tinha de seus sintomas. Enquanto a médica escutava cuidadosamente a explicação do Sr. Langer, ele foi ficando notavelmente mais calmo. Durante a discussão sobre o conflito entre os resultados dos exames e seus sintomas, o Sr. Langer mencionou que estava tomando comprimidos para perder peso, que havia comprado pela internet. A Dra. Bridge se perguntou se o sintoma de se sentir “acelerado” poderia estar relacionado a algum ingrediente desconhecido nos comprimidos para perder peso. Juntos, elaboraram um plano de manejo para a próxima semana. Como o Sr. Langer relutava em tomar a dose aumentada de levotiroxina, a Dra. Bridge concordou que ele continuasse com uma dose mais baixa de medicação para a tireoide e que repetiriam o exame de sangue para a determinação do TSH em uma semana. Da mesma forma, o Sr. Langer pararia de tomar os comprimidos para perda de peso. Após estabelecerem uma relação de confiança, podiam agora concordar com o plano de manejo. A necessidade da autoconsciência Muitas vezes, o autoconhecimento é negligenciado na formação médica, talvez porque o caminho para esse conhecimento seja longo e difícil. Muitas vezes, pacientes com doenças graves perguntam-se questões como: “Por que eu?”, “O que acontecerá com meus filhos se eu morrer?”. É importe pensar que questões como essas podem até implicar em perguntas e pensamentos nas mentes dos próprios profissionais da saúde. Além disso, em profissionais jovens, ao se depararem com o sofrimento do paciente, ficam mais reflexivos e, para evitar esse tipo de desafio, preferem afastar para sua autoproteção de saúde mental. Namesma ideia, um médico pode, ainda, identificá-lo em algum paciente e, portanto, compactuar com o sofrimento deste. Observando esses fatos, faz-se necessário que acadêmicos e médicos precisem de oportunidades para desenvolver sua autoconsciência. Essas questões devem ser trabalhadas na formação do profissional da saúde. Para que se trabalha essas questões na formação do médico, é fundamental que se trabalha explorando essas dificuldades em pequenos grupos e até individualmente. Também, é interessante explorando a autoconsciência no uso de narrativas. Epsein (1999) didaticamente divide a autoconsciência em 5 tipos: Intrapessoal: ajuda o médico a ser consciente em seus pontos mais estáveis, em duas dificuldades. Interpessoal: permite ao médico perceber qual é sua importância aos olhos de seus pacientes e pessoal de seu convívio. Aprendizagem: faz o profissional perceber quais são suas competências e dificuldades no âmbito de seu trabalho. Ética: conhecimento dos valores éticos ministrados na medicina e sensibilidade de perceber quando se deve intervir ou não com seus colegas de equipe e com os pacientes Técnica: necessidade de o médico fazer a sua autocorreção durante os procedimentos, a necessidade de perceber que sempre se deve avançar nas técnicas em saúde. No entanto, ainda que seja necessário ao médico a sapiência de fazer e ter a autoconsciência, estudos evidenciam que nós temos a dificuldade de fazer com maestria essa tarefa. Um dos meios que fez os acadêmicos avaliar melhor suas atuações é gravar o atendimento e, depois, fazer uma reflexão sobre o atendimento, sobretudo se for acompanhado de um professor. O portfólio também é um exercício autorreflexivo que avalia cronicamente a evolução ou o ocorrido durante aquele caso ou dia. Outros pesquisadores sugeriram que os educandos aprendessem o hábito de “buscar a avaliação autodirigida”, buscando conhecimento em fontes como reflexões pessoais, avaliações por pares, questões de revisão, exames clínicos objetivos e avaliação de seu desempenho pelas pessoas e pelos seus supervisores. Ainda foi relatado que os exames e autoexames são menosprezados por aqueles acadêmicos cujas notas são inferiores à média da turma, ou seja, somaticamente inferior aos demais. O livro Medicina centrada na pessoa revela que à medida que o médico vai tendo experiência, ele sente mais à vontade com as incertezas e aprende a lidar com elas e com as complexidades dos problemas das pessoas. A autorreflexão aprofunda o entendimento do processo saúde-doença e aprender a lidar com as situações Ênfase exagerada no modelo médico convencional Há várias características da educação médica e da socialização profissional que podem interferir na aprendizagem de uma abordagem clínica efetiva. O treinamento médico convencional doutrina os educandos apenas a se preocuparem em não deixar de identificar doenças raras e mortais. Assim, ao se formar, esses profissionais tentam encontrar uma doença para explicar cada uma das queixas das pessoas. Isso pode levar a exames redundantes, encaminhamentos desnecessários e prescrições excessivas. Ademais, o envelhecimento da população e a multimorbidade reforçam o foco no modelo médico convencional. Apesar da redução mundial do número de horas de plantões, os médicos ainda são sobrecarregados de trabalho e podem ter pouco tempo para fazer qualquer coisa que não seja atender as necessidades físicas mais graves das pessoas, assim, se voltam para um foco simplista de diagnóstico convencional. Exemplo: se os médicos trabalharem da melhor maneira possível e as pessoas não melhorarem, eles não precisam se sentir culpados, se a pessoa não “seguiu as ordens” do médico, então a falta de melhora pode ser atribuída a ela. Concentração na anamnese, em vez de escutar o paciente No primeiro ano da escola de medicina, os educandos têm pouca dificuldade em aprender sobre as ideias e expectativas que as pessoas têm a respeito de sua experiência da doença, mas, à medida que progridem ao longo da faculdade, são absorvidos pela tarefa de estabelecer o diagnóstico certo, e suas consultas se tornam menos centradas na pessoa. Pode ser consequência da ênfase em fazer um levantamento completo da história de cada doença e preencher uma revisão de sistemas completa, acarretando na focalização da doença e distanciamento da avaliação dos sentimentos, além de temerem que a pessoa se emocione e não saberem controlá-la. O treinamento dos médicos faz com que eles se tornem muito cautelosos, temendo experimentar novas técnicas. A desculpa mais comum para deixar de perguntar à pessoa sobre suas preocupações é a falta de tempo. Entretanto, o uso do tempo é ineficiente no caso de o médico buscar uma doença que não existe ou ignorar uma fonte importante de sofrimento para a pessoa, como seu medo ou preocupação acerca das possíveis causas e implicações de seus sintomas. Além disso, há a aprendizagem errônea do método clinico centrado na pessoa, ao igualá-lo ao interrogatório sintomatológico psicossocial. PROMOÇÃO À SAÚDE Dimensões da saúde: relevância da promoção da saúde e da prevenção de doenças As definições de saúde dos pacientes influenciam suas vidas e seu cuidado. Dessa forma, entender a experiência da doença requer uma análise de sentimentos, ideias, efeitos na função e expectativas, também o entendimento das percepções únicas e experiências de saúde, assim, é necessário que sejam explorados os significados de saúde e as aspirações, bem como a autopercepção do indivíduo sobre saúde, suscetibilidade e gravidade da doença, além de, ideias sobre a promoção da saúde e os benefícios e barreiras percebidos à promoção e à prevenção. Historicamente, temos três conceituações de saúde: (1) a saúde tem significado a ausência de doenças, (2) em 1940, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1986) definiu saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, que não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”; e (3) em 1986, a OMS redefiniu a saúde como “um recurso para a vida, e não como objetivo de viver”, esse último, aborda aspirações individuais, capacidades físicas e recursos pessoais e sociais. Enquanto as definições iniciais direcionavam a atenção a dados objetivos, a mais recente definição se volta às experiências subjetivas e intersubjetivas. É perceptível que, o modo como os pacientes e médicos pensam e vivenciam a saúde continua a evoluir, todos os colaboradores em assistência médica têm únicos e diferentes entendimentos de saúde, assim, por consequência, há inúmeras compreensões sobre a promoção da saúde e a prevenção de doenças. Do modelo biomédico à medicina centrada na pessoa O modelo biomédico é entendido como sendo uma busca de padrões sintomáticos que se repetem em determinadas doenças, a fim de determinar os possíveis diagnósticos. Esse ainda é o modelo hegemônico utilizado na prática médica, que despreza a subjetividade do paciente e torna-se insuficiente para resolver a maioria das queixas referidas em consultas. Além disso, é um método que confere ao médico grande autoridade, uma vez que ele é o entrevistador, decide o diagnóstico sozinho e expõe para o paciente. Este, não tem espaço para incluir suas perspectivas a respeito da experiência com a doença, nem suas impressões ou expectativas com o problema. Dessa forma, a hegemonia desse modelo biomédico faz emergir críticas e insatisfações, principalmente dos pacientes, que são deixados totalmente à margem do próprio tratamento. Mas, na década de 1970, com a inserção do termo “medicina centrada no paciente”, pelo médico e psicanalista húngaro Michael Balint, foi desenvolvido um novo método clínico preocupado com questões do paciente, a família, o ambiente, o contexto de vida e a construção do vínculo. Isso mudou a conformação médica para uma nova perspectiva, a “medicina centrada na pessoa”, que busca uma escuta qualificada e atenta, com entendimento integral do indivíduo, a fim de construir um plano terapêutico em conjunto com o paciente, estimulandoa autonomia da pessoa como protagonista de seu processo de saúde. Promoção da saúde e prevenção da doença de cada pessoa Grande parte da energia direcionada a essas iniciativas tem sido dedicada ao desenvolvimento de políticas públicas, exames preventivos e outros métodos, assim como à discussão de questões éticas relacionadas. A abordagem da promoção da saúde pública continua a ter alta prioridade. Menos atenção tem sido dada à implementação de iniciativas de promoção de saúde e prevenção de doenças no nível individual do profissional médico e da pessoa que busca cuidados médicos. Frequentemente, o esforço se relaciona ao manejo de doenças crônicas. À medida que a reforma da assistência primária à saúde avança, alcançar novos direcionamentos depende dos esforços tanto de médicos quanto das equipes multiprofissionais. A prática da assistência primária à saúde na visão de algo que serve tanto a pessoas quanto a populações de risco exige uma abordagem que deve ser individualizada e, ao mesmo tempo, voltada para a saúde da população. Sem dúvida, o conceito original de saúde como a ausência de doença continua a dominar a prática médica, o que leva a uma ênfase na saúde como produto do trabalho clínico do médico. Entretanto, com o aumento das expectativas da sociedade por saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, a prática tanto individual quanto multiprofissional também tem, de forma crescente, dedicado atenção ao potencial holístico de saúde para os indivíduos e para a sociedade. Por isso, as equipes de assistência primária à saúde começaram a se preocupar e tratar do envolvimento de indivíduos e comunidades na promoção da saúde. A atenção aos esforços para promover a saúde e prevenir doenças tornou-se uma parte essencial da reforma da assistência primária à saúde, complementando a abordagem da saúde pública. O método clínico centrado na pessoa oferece uma estrutura clara para que o profissional médico aplique os esforços de promoção da saúde e prevenção de doenças, usando o mundo das pessoas ou da comunidade como ponto de partida. A experiência da saúde e da doença da pessoa: Para entender a perspectiva da pessoa, o profissional precisa avaliar a aprendizagem dela sobre saúde e doença, seu conhecimento pessoal e crenças em relação à doença e à experiência com a doença, e o significado atribuído por ela a cada um desses aspectos. É necessário descobrir como a pessoa inclui a saúde em sua visão de mundo e que valores e prioridades estão relacionados com a área. Esses valores competem com diversos outros, e o médico precisa conhecê-los para avaliar o compromisso da pessoa em buscar a saúde. As percepções de um indivíduo sobre os benefícios e as barreiras à sua saúde e a estilos de vida saudáveis são úteis para determinar se uma estratégia de promoção de saúde será ou não adotada. Além disso, indivíduos que pensam a saúde como a presença de bem-estar, e não meramente como a ausência de doença, tem um engajamento significativamente mais forte nos estilos de vida que promovem a saúde. Um exemplo visto, são pessoas com doenças crônicas que se consideram saudáveis e se esforçam muito para construir sua própria saúde, com resultados positivos para si mesmas e para o sistema de assistência à. Logo, é importante avaliar não só a percepção da pessoa quanto à experiência de saúde e da doença, mas também o que a saúde realmente significa em sua vida diária. O potencial da pessoa para a saúde: O potencial da pessoa para a saúde é determinado por sua exposição a determinantes amplos de saúde ao longo de sua vida, como idade, gênero, potencial genético para doenças, condição socioeconômica e metas e valores pessoais. Entretanto, talvez o aspecto mais desafiador da avaliação do potencial para a saúde esteja na identificação de metas e valores pessoais e sua autoeficácia para a saúde. Bandura (1986) sugere que os comportamentos de autoeficácia, que incluem escolha, esforço e persistência nas atividades relacionadas às metas ou aos resultados desejados, é uma função associada (a) às autopercepções do indivíduo de sua capacidade de pôr em prática um comportamento e (b) às suas crenças de que o comportamento em questão levará aos resultados específicos. Em resumo, quanto mais favorável é o potencial para a saúde da pessoa, especialmente no que se relaciona à autoeficácia e ao estado de saúde, mais adequado é o papel do médico como facilitador da melhora da saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS O modelo convencional foca na doença, diagnosticando-a por meio da análise da história médica da pessoa e da avaliação objetiva de seu corpo, a partir dos exames físicos e laboratoriais. Contrapondo-se a esse sistema, o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP), busca uma escuta qualificada e atenta, com entendimento integral do indivíduo. Nessa perspectiva, há quatro componentes que fundamentam o MCCP, delineados como “Explorando a saúde, a doença e a experiência da doença”, “Entendendo a pessoa como um todo - indivíduo e a família”; “Elaborando um plano conjunto de manejo dos problemas” e “Intensificando a relação entre a pessoa e o médico”. Historicamente, em 1986, a OMS redefiniu a saúde como “um recurso para a vida, e não como objetivo de viver”, voltando-se às experiências subjetivas e intersubjetivas, de modo que os pacientes e médicos evoluam o pensamento e vivência da saúde. Portanto, esse método exige que o profissional médico aplique os esforços de promoção da saúde e prevenção de doenças, usando o mundo das pessoas ou da comunidade como ponto de partida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, Mírian Santana; RIBEIRO, Maria Mônica Freitas. O método clínico centrado na pessoa na formação medica como ferramenta de promoção de saúde. Rev Med Minas Gerais, v. 26, n. Supl 8, p. S216-S222, 2016. STEWART, Moira et al. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. Artmed Editora, 2017.