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AUMENTO TESTICULAR SEMIOLOGIA TESTICULAR VOLUME TESTICULAR A mensuração do volume testicular constitui um instru- mento adicional que tem uma certa importância na avaliação da maturação sexual, sendo que o método mais difundido para ana- lise é o orquidômetro de Prader, que consiste num conjunto de 12 modelos de testículos, de forma elipsóide, feitos de madeira ou plástico e montados numa corda, com volumes de 1 a 25ml. Para avaliar o volume testicular, o médico palpa o testí- culo com uma das mãos, enquanto segura o orquidômetro na ou- tra, procurando o modelo que mais se aproxima do testículo Existe um outro tipo de orquidômetro em que o testículo do paciente é encaixado em formas recortadas em madeira ou plástico, com 15 dimensões diferentes do anel elíptico, correspon- dendo a volumes de 1 a 30ml. OBS: Podemos também utilizar algo mais manual, que seria medir os dois eixos do testículo com uma régua plástica transparente e calcular o volume pela fórmula V = 0,523 x L x T2 (V = volume, L = diâmetro longitudinal, T = diâmetro transversal). Outra forma de calcular o volume testicular é pelo ultra- som → muitas vezes é tido como o método mais confiável, mas os outros métodos têm confiabilidade comparável desde que bem utilizados → sendo que quando analisamos os resultados, temos que os testículos infantis medem geralmente 1 ou 2ml, às vezes, 3ml → Testículos com 4ml ou mais possivelmente são púberes. Assim, o volume testicular de 4ml é sinônimo de G2, e este é um exemplo de como a mensuração do volume testicular pode auxiliar no estadiamento puberal. Volume testicular de 3ml geralmente prenuncia a puberdade, que tem cerca de 80% de chances de ter seu início somático no decorrer dos próximos 6 me- ses → por isso Meninos de 11 ou 12 anos, com testículos peque- nos (1 a 2ml) provavelmente são portadores de um retardo pu- beral. A maioria dos adolescentes tem volumes testiculares di- reito e esquerdo quase iguais, mas é muito comum que o testí- culo esquerdo apresente um volume ligeiramente inferior ao do testículo direito. Quando a diferença é alta (mais de 20%), deve- mos procurar algum fator que possa estar interferindo no cresci- mento do testículo menor (varicocele, ou antecedentes de cirur- gia, orquite, torção etc.). Por fim, o volume testicular tem uma correlação signifi- cativa com a função testicular → Volume testicular de 12ml, atin- gido em média aos 13-14 anos, na época da velocidade máxima de crescimento, é considerado por alguns autores como um volume mínimo compatível com a fertilidade, e seria por isso comparável à menarca, como uma referência na maturidade sexual masculina. O volume testicular médio de adolescentes brasileiros é de 4ml em G2, 9ml em G3, 16ml em G4 e de 20ml em G5. DOENÇAS PRINCIPAIS EDEMA ESCROTAL Sabemos que o edema pode ser agudo ou crônico e ser doloroso ou indolor → lembrar que edema de início agudo deve ser sempre avaliado com emergência, para afastar torção testicu- lar ou hérnia inguinal encarcerada. • Dolorosas: Torção testicular, torção de apêndice testicu- lar, epididimite, trauma, hérnia inguinal encarcerada e orquite da caxumba. • Indolores: Hidrocele, varicocele, hérnia inguinal, esper- matocele, tumor, edema idiopático... MANIFESTAÇÕES Devemos sempre fazer um histórico do paciente, lem- brando sempre de investigar o início da dor, a sua duração, irradi- ação, possível associação com dor lombar, lembrar de episódios anteriores de crises → possível náuseas ou vomites em pacientes com fortes dores, como em garotos com torção testicular ou hér- nia encarcerada. Procurar sintomas de irritação urinária como disúria, urgência e polaciúria, que indicam ITU (pode causar epidi- dimite) EXAMES Entre os exames, o exame de urina e a cultura quando forem positivos, são sugestivos de epididimite, mas os marcadores séricos não são úteis para estabelecer um diagnóstico, a menos que haja suspeita de tumor do testículo. Exames de imagem também podem ser úteis para o diag- nóstico, porque eles avaliam se o fluxo sanguíneo testicular está normal, reduzido ou aumentado → entre eles temos a ultrasso- nografia com Doppler e uma cintilografia de fluxo testicular ra- dionuclear. Esses exames podem ser úteis em caso de hidrocele ou se o testículo não for palpável, mas em casos dolorosos, não devemos pedir o exame → emergência. TORÇÃO TESTICULAR (FUNÍCULO ESPERMÁTICO) Lembrar que a torção é a causa mais comum de dor tes- ticular em meninos com 12 anos de idade ou mais, mas é incomum antes do 10 anos, sendo causada pela fixação inadequada (defor- midade em badalo de sino, podendo ser bilateral) do testículo dentro do escroto, gerando túnica vaginal redundante que per- mite uma grande mobilidade do testículo. Quando existe a torção, logo em seguida já temos a con- gestão venosa levando a interrupção do fluxo arterial → por isso a probabilidade de sobrevida do testículo depende da duração e da gravidade da torção → depois de 4-6 h de ausência de fluxo sanguíneo pode haver perda irreversível da espermatogênese. DIAGNÓSTICO O Diagnóstico em sua maioria é clínico, pois a torção tes- ticular produz dor e edema agudo do escroto → o reflexo cremas- térico quase sempre vai estar ausente → caso o início da dor tiver duração inferior a 4 ou 6 horas, podemos tentar a destorção ma- nual ➔ Em 65% dos casos, o testículo torcido gira para dentro, por isso devemos tentar para a direção oposta, caso seja efetiva, a destorção gera alívio dramático da dor. TRATAMENTO O tratamento é a exploração cirúrgica e destorção imedi- atas → pois caso seja resolvido o problema dentro de 6 horas, até 90% das gônadas sobrevivem → mas depois desse tempo, esse numero cai, dependendo muito de cada caso, em alguns a torção com ângulo de 360° ou menos, o testículo pode ter fluxo arterial suficiente para permitir que a gônada sobreviva mesmo após 24- 48 horas. Após a destorção o testículo vai ser fixado no escroto com uma sutura não absorvível, a chamada orquidopexia escrotal, para prevenir nova torção no futuro, lembrando sempre que o tes- tículo contralateral também vai ser fixado no escroto, pois muitas vezes é bilateral Ressaltando que a fertilidade fica reduzida nos homens com histórico de torção do funículo espermático na adolescência, independentemente de ter sido realizada distorção ou orquidec- tomia. OBSERVAÇÃO Essa torção também pode ocorrer no feto ou no RN, de- vido a uma fixação incompleta da túnica vaginal à parede escrotal → Quando a torção ocorre in útero, o bebê geralmente nasce com o testículo grande, firme, não doloroso e mais escuro → Sendo que o testículo raramente é viável mas o testículo contralateral tem risco aumentado de torção até 1 mês depois do termo → sendo recomentado por muitos urologistas pediátricos uma explo- ração para diagnóstico, remoção do testículo necrótico ou, até sal- var um testículo viável (raro) e fixar outro testículo. VARICOCELE A varicocele é uma afecção congênita que irá cursar com uma dilatação anormal do plexo venoso pampiniforme → sendo a responsável por causar incompetência valvar da veia espermá- tica. Aproximadamente 15% dos homens adultos têm varico- cele e destes homens 15% são subférteis, sendo a varicocele a causa mais comum ou única de subfertilidade masculina que pode ser resolvida cirurgicamente. Além disso, a varicocele pode ser en- contrada em 5%-15% dos meninos adolescentes, mas raramente é diagnosticada em meninos <10 anos, pois a distensão caracterís- tica só vai ocorrer depois do aumento do fluxo sanguíneo, que éassociado à puberdade. Lembrar também que a varicocele é mais comum lado es- querdo, sendo bilaterais em 2% dos casos e raramente acometem apenas o lado direito, sendo que esse quadro em menino com me- nos de 10 anos ou no lado direito pode indicar a presença de uma massa abdominal ou retroperitoneal → USG e TC APRESENTAÇÃO Em relação as manifestações, a varicocele pode ser en- tendida como uma massa paratesticular indolor (pode ter dor), ge- ralmente descrita como um “saco de vermes’’, sendo que pode não ser visível quando o paciente está deitado porque ela é des- comprimida → aumentando quando o paciente está de pé ou re- aliza a manobra de Valsalva. Podemos classificar em 3 graus em meninos em pé: 1. Palpável apenas com a manobra de Valsalva 2. Palpável sem Valsalva, mas não é visível à inspeção 3. Visível à inspeção simples. Lembrar que esses meninos com varicocele grau 3 apre- sentam risco máximo de inibição do crescimento testicular, de- vendo sempre ser avaliado por orquidômetro ou ultrassonogra- fia escrotal, porque se o testículo esquerdo afetado for muito menor que o direito, a espermatogênese provavelmente estará muito afetada TRATAMENTO De modo geral, temos que o tratamento cirúrgico da va- ricocele está indicado em garotos com uma grande diferença en- tre o tamanho dos testículos, dor no testículo afetado, ou se o testículo contralateral for anormal ou ausente → já que o testículo comprometido se recupera e alcança o tamanho do ou- tro em 1 ou 2 anos após a cirurgia, sendo importante a varicoce- lectomia para maximizar a chance de fertilidade. Devemos considerar também a cirurgia em meninos com varicocele grau 3, mesmo sem grande diferença no tamanho dos testículos. O reparo cirúrgico é realizado com várias técnicas de liga- dura das veias do plexo pampiniforme, através de uma incisão inguinal ou subinguinal (com ou sem microscopia cirúrgica), ou com a ligadura da veia espermática interna no retroperitônio, sendo realizado essa cirurgia ambulatorialmente. HIDROCELE Hidrocele é um acúmulo de líquido na túnica vaginal , co- mum em 1% a 2% dos recém-nascidos e na maioria dos casos, a hidrocele é não comunicante (o processo vaginal foi obliterado du- rante o desenvolvimento) → Sendo que esse líquido da hidrocele desaparece por volta de 1 ano de idade, caso persista a hidrocele, ela pode se se torna progressivamente maior durante o dia, sendo pequena pela manhã. Uma variedade rara é a hidrocele abdominoescrotal, onde uma grande hidrocele tensa se estende para a cavidade ab- dominal inferior. Já em meninos mais velhos, a hidrocele não comunicante pode ser devido uma afecção inflamatória dentro do escroto, como uma torção testicular, torção do apêndice do testículo, epi- didimite ou tumor testicular → sendo que o risco em longo prazo é o desenvolvimento de hérnia inguinal. Em alguns casos, a hidro- cele pode surgir agudamente depois de um episódio de trauma escrotal ou orquiepididimite DIAGNÓSTICO No exame físico, as hidroceles são lisas e não dolorosas à palpação, podendo fazer uso da transiluminação do escroto, para confirmar a natureza cística da massa → que é preenchida por lí- quido. (lembrar do caso do GT) É sempre importante palpar os testículos, pois alguns adultos jovens desenvolvem hidrocele em associação a tumor tes- ticular → lembrar que se a compressão da massa cística reduzir completamente a hidrocele, o diagnóstico provável é de uma hér- nia inguinal com hidrocele TRATAMENTO Podemos dividir o tratamento de acordo com a idade, sendo que a maioria das hidroceles congênitas tendem a se resolve ao redor dos 12 meses de idade, com a reabsorção de todo o seu conteúdo líquido → Mas, se for uma hidrocele grande e tensa, devemos considerar a correção cirúrgica precoce → pois é difícil verificar se a criança também tem hérnia, e essas hidroceles grandes raramente desaparecem espontaneamente. Nos casos em que as hidroceles que persistem além de 12-18 meses geralmente são comunicantes e devem ser reparadas cirurgicamente → essa correção cirúrgica é semelhante a uma herniorrafia , sendo feita através de uma incisão inguinal, onde o funículo espermático é identificado, o líquido de hidrocele é dre- nado e é feita a ligadura alta do processo vaginal. Em crianças mais velhas com hidrocele grande, muitas ve- zes uma laparoscopia diagnóstica pode ser realizada para deter- minar se há um processo vaginal patente: se o anel interno estiver fechado, a hidrocele poderá ser corrigida com incisão escrotal. HERNIAS INGUINAIS As hérnias inguinais são um dos distúrbios mais comuns observados na prática pediátrica, com alta frequência e potencial morbidade de lesão isquêmica no intestino, testículos ou ovário, sendo que a maioria das hérnias inguinais em lactentes e crianças são hérnias congênitas indiretas (99%) como consequência de um processo vaginal patente. Com uma incidência de até 10X em meninos, se comparar com as meninas, incluindo outros tipos de hérnias inguinais como as diretas ou adquiridas (0,5-1,0%) e as femorais (<0,5%) → lem- brar que cerca de metade das hérnias inguinais manifesta-se cli- nicamente no primeiro ano de vida, predominando nos primeiros 6 messes → ↑o risco em prematuros → 30%. Ressaltar que o risco do encarceramento levar ao estran- gulamento de uma hérnia inguinal é maior no primeiro ano de vida (30-40%), necessitando de investigação e reparo com velocidade. PATOLOGIA Lembrar que nas hérnias o processo vaginal é incom- pleto no nascimento, continuando o fechamento → em 40% dos casos ocorre fechamento nos primeiros meses de vida e cerca de 20% dos meninos apresentam patência persistente do processo vaginal aos dois anos → risco potencial de hérnia, mas nem todos os pacientes com processo vaginal patente desenvolvem hérnia sintomática. Mas quando irá ocorrer uma hérnia? ocorre quando o conteúdo intra-abdominal escapa da cavidade abdominal e entra na região inguinal através desse processo vaginal → Dependendo do grau de patência do processo, a hérnia pode permanecer res- trita à região inguinal ou seguir em direção à bolsa escrotal → defeitos completos da formação do processo vaginal é um grande risco para uma hérnia inguinal completa, caracterizada por pro- tuberância do conteúdo abdominal em direção ao canal inguinal, podendo se estender para o escroto. Já a obliteração do processo vaginal distalmente (ao redor do testículo) com patência proximal resulta na clássica hérnia inguinal indireta. HIDROCELE X HERNIA Também podemos ter a Hidrocele quando apenas líquido entra no processo vaginal patente → podendo causar edema no escroto, somente ao longo do cordão espermático ou estender- se desde a bolsa escrotal, através do canal inguinal, até o abdome (hidrocele abdominoescrotal). Lembrar que a patência persistente do processo vaginal é duas vezes mais comum do lado direito → relacionada com a pos- terior descida do testículo direito e a interferência no desenvolvi- mento da veia cava inferior e veia ilíaca externa. INCIDÊNCIA A incidência de hérnia inguinal indireta congênita em re- cém-nascidos a termo é estimada em 3,5-5,0%, sendo essa inci- dência aumentada em bebês prematuros e de baixo peso ao nas- cer → variando de 9-11%, e atinge 30% em lactentes de muito baixo peso ao nascer (<1.000 g) e prematuros com menos de 28 semanas de gestação. Lembrar que a hérnia é muito mais comum em meninos que meninas, na relação de 6:1 → sendo que cerca de 60% das hérnias inguinais ocorrem no lado direito, 30% são do lado es- querdo e 10% são bilaterais,mas essa incidência bilateral é maior em meninas e parece ser de 20-40%. CLÍNICA Nas meninas, a massa tipicamente ocorre na porção su- perior dos grandes lábios, sendo mais visível nos momentos de ir- ritabilidade ou de ↑pressão intra-abdominal (choro, esforço, tosse). A história clássica dos pais é de edema intermitente na vi- rilha, lábios ou bolsa escrotal que reduz espontaneamente, mas aumenta gradativamente e fica cada vez mais difícil de reduzir. Os sinais distintivos de hérnia inguinal no exame físico são massa lisa e firme que emerge pelo anel inguinal externo lateral ao tubérculo púbico e aumenta com o aumento da pressão intra- abdominal. Os métodos utilizados para demonstrar a hérnia no exame variam em função da idade da criança, podendo fazer um lactente forçar os músculos abdominais alongando-o em posição de decúbito dorsal na maca com as pernas estendidas e os braços esticados acima da cabeça → a maioria luta para se soltar → ↑ pressão intra-abdominal e empurrando a hérnia para fora. Podemos pedir aos pacientes mais velhos que realizem a manobra de Valsalva soprando um balão ou tossindo → quando aumente a pressão, a massa protuberante observada na inspeção da região inguinal ou pode ser sentida pela palpação através da invaginação da bolsa escrotal. No lactente do sexo feminino, o ovário e a tuba uterina podem estar contidos dentro do saco her- niário, que se apresenta como massa firme, descontínua, não sen- sível à palpação, nos lábios. Outra manobra é o “sinal da luva de seda”, que descreve a sensação das camadas do saco herniário (processo vaginal), à medida que elas deslizam sobre as estruturas do cordão espermá- tico, com rolamento do cordão espermático abaixo do dedo indi- cador no tubérculo púbico; essa manobra tem sensibilidade de 91% e especificidade de 97,3%. Se a saliência estiver localizada abaixo do canal inguinal sobre a face medial da coxa, deve-se sus- peitar de hérnia femoral. AVALIAÇÃO Podemos utilizar da transiluminação → que pode ser en- ganosa porque a parede delgada do intestino do lactente pode se assemelhar à parede da hidrocele e ambas podem transiluminar. Além disso, temos a ultrassonografia que pode ajudar a distinguir entre hérnia e hidrocele. TRATAMENTO Um diagnóstico de hérnia inguinal na faixa etária pediá- trica já se constitui indicação para correção cirúrgica, pois uma hérnia inguinal não se resolve espontaneamente → mas, o mo- mento da correção cirúrgica depende de vários fatores, incluindo idade, condições gerais do paciente e de comorbidade. • Em lactentes com menos de 1 ano → correção deve ser feita sem demora, pois até 70% das hérnias inguinais encarceradas que precisam de cirurgias de emergência ocorrem no primeiro ano de vida, além disso a incidência de atrofia testicular após encarce- ramento em lactentes com >3 três meses de idade é de 30%. • Em crianças > 1 ano de idade → Risco de encarceramento menor → correção pode ser programada com menos urgência po- dendo ser realizada de forma ambulatorial, com recuperação em 48 horas. • Em casos de prematuridade acentuada (1.800-2.000 g), a correção geralmente é realizada antes da alta da unidade de cui- dados intensivos neonatais.