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A MOEDA E O SISTEMA MONETÁRIO INTRODUÇÃO O primeiro objetivo deste capítulo é definir o que é moeda, identificar as suas funções e características essenciais. A moeda, em economias capitalistas mo- dernas, deve desempenhar as funções de meio de troca, unidade de conta e re- serva de valor. Para tanto, deve possuir algumas características físicas e econômicas que possibilitam o desempenho de tais funções. Posteriormente, mostra-se que não somente o Banco Central, mas também os bancos comer- ciais podem criar moeda. Define-se, então, que o conjunto de instituições cria- doras de meios de pagamento constitui o sistema bancário ou monetário de uma economia. Importantes questões são ainda tratadas no capítulo, entre elas o significa- do do termo liquidez, que é o atributo que qualquer ativo possui, em maior ou menor grau, de conservar valor ao longo do tempo e de poder ser convertido em moeda. Por último, apresentam-se algumas definições cujo entendimento é essencial para o bom desempenho em um curso de economia monetária e fi- nanceira. São apresentados os conceitos de base monetária, encaixes bancá- rios e operações de redesconto. Todas essas definições são estudadas através de argumentos econômicos e através do uso de balanços estilizados dos ban- cos comerciais. 1.1. A MOEDA E SUAS FUNÇÕES A moeda é um objeto que responde a uma necessidade social decorrente da di- visão do trabalho. A divisão social do trabalho característica da economia ca- pitalista moderna especializou unidades de produção e indivíduos. Os agentes econômicos se tornaram, assim, extremamente interdependentes. Necessitam fazer inúmeras compras e vendas em períodos, às vezes, bastante curtos. Uma sociedade sem moeda teria uma vida econômica pouco ágil. O tempo para se concretizar uma transação comercial aumentaria demasiadamente, e o desgas- te físico e mental para se realizar tal operação seria, talvez, insuportável. Por exemplo, diante de uma chuva inesperada, um indivíduo desejoso de adquirir CAPÍTULO 1 um guarda-chuva e que tivesse um excedente em laranjas teria que encontrar alguém que tivesse um ex- cedente de guarda-chuvas e que desejasse trocar, naquele momento, uma parcela desse excedente por laranjas. Esse tipo de coincidências é chamado de coincidência mútua e complementar de necessida- des. Elas podem ocorrer, mas certamente são raras e sua busca desgasta física e mentalmente os interes- sados em transações tão específicas. As trocas diretas somente seriam eficazes em sociedades com economias primitivas, onde os indi- víduos e/ou grupos familiares fossem basicamente autossuficientes; isto é, onde a divisão do trabalho praticamente inexistisse: uma sociedade em que cada indivíduo produzisse o que necessita e transacio- nasse somente quando houvesse um excedente, eventual, não planejado da sua produção. Nessa socie- dade, um indivíduo não necessita realizar transações para se proteger do frio, para comer, para acender o fogo. Quando (e se) a transação do seu excedente produtivo ocorrer, ele pode obter uma satisfação ex- tra, além das suas necessidades básicas. O agente não depende da realização de uma transação para atender as suas necessidades. A produção individual ou familiar garante a satisfação de necessidades. As transações, quando realizadas, gerariam satisfação extra. Assim, no regime de trocas diretas, uma transação é, ao mesmo tempo, venda de uma mercadoria e compra de uma outra. Em uma economia monetária, os agentes recebem suas remunerações em moeda e podem, portan- to, fazer planos mais flexíveis. Adquirem liberdade para comprar o que desejarem e quando desejarem, em geral, sem qualquer perda de tempo ou o desgaste físico e mental com as dificuldades em realizar transações que requerem coincidências muito específicas. Quando desejam comprar guarda-chuvas, utilizam moeda, que possui aceitação geral a qualquer tempo. A troca com intermediação monetária se- para as transações comerciais em operações de compra e operações de venda, permitindo um sistema de trocas indiretas. É muito mais fácil vender mercadorias e/ou serviços por moeda e, posteriormente, comprar outras mercadorias e/ou serviços pagando em moeda do que trocar coisas diretamente por coi- sas diferentes. A função de intermediário de trocas é uma função básica da moeda. Ao permitir que vendas e compras sejam feitas em datas diferentes, a moeda exerce a função de meio de pagamento. A moeda possui além desta função, mais duas: unidade de conta e reserva de valor. A importância da fun- ção meio de troca/meio de pagamento já foi destacada: é a função que elimina as fricções das transações comerciais que seriam marcantes em sociedades rudimentares. A função unidade de conta é extremamente importante. Nas sociedades capitalistas modernas, a di- visão do trabalho transformou a produção de mercadorias e serviços em um processo complexo. Por ve- zes, inúmeras firmas participam da produção de uma única mercadoria (automóveis, por exemplo). Assim sendo, é necessário que existam instrumentos que coordenem as decisões de produção desses di- versos agentes econômicos. São os contratos estabelecidos entre tais agentes que possibilitam a refina- da coordenação que é necessária entre os participantes desse complexo processo produtivo. Os contra- tos entre os trabalhadores e as firmas fixam as tarefas que serão desempenhadas, o número de horas da jornada de trabalho, o salário-monetário a ser recebido, entre outros quesitos. Os contratos entre as fir- mas estabelecem as datas de entregas de insumos, as suas especificações técnicas, o valor monetário dos pagamentos a serem feitos pelo comprador etc. Os contratos entre as firmas e os bancos fixam o li- mite de crédito entre as partes, a taxa de juros, os pagamentos mínimos que podem ser efetuados pela empresa e muito mais. Percebe-se, assim, que há algo que é comum a todos os contratos: a unidade de medida monetária da economia. Os contratos estabelecem fluxos de mercadorias e/ou serviços contra o pagamento em moeda em uma determinada data. Os contratos não poderiam existir sem uma unidade de conta que possi- bilitasse a determinação da quantidade de unidades monetárias que liquidariam as suas obrigações. Consequentemente, a divisão acentuada do trabalho e o aumento da produtividade não teriam ocor- rido sem um apurado sistema de coordenação, que é executado pelo conjunto de contratos de uma economia. Este, por sua vez, depende da função unidade de conta da moeda para existir. Tal função também é essencial para as transações à vista. Elas envolvem um contrato informal de recebimento de um produto e/ou serviço e um pagamento em unidades monetárias. As transações à vista ocor- rem, por exemplo, em um restaurante, em um supermercado ou, ainda, em um salão de cabeleireiro. O fato de não existir algum documento assinado não isenta as partes de suas obrigações; o dever da 2 A Moeda e o Sistema Monetário ELSEVIER parte que está obtendo a mercadoria e/ou serviço é fazer o pagamento de acordo com a unidade de conta estabelecida a priori. A forma de liquidar uma obrigação contratual (que se refere ao pagamento de um número determi- nado de unidades monetárias) é através do uso da moeda corrente. A moeda de conta, ou unidade de conta contratual, é a representação intangível da moeda; a moeda como meio de troca ou meio de paga- mento é sua representação concreta. A função moeda de troca deriva da função moeda de conta. A exis- tência da moeda de troca é requerida porque se atribuem a todas as mercadorias, serviços e ativos de uma economia valores na forma de moeda de conta. A moeda de conta que aparece no conjunto de con- tratos estabelece qual será a moeda corrente de uma economia. Assim, a moeda é aceita, em geral, por todos em todas as transações. Caso existam substitutos perfeitos para a moeda, tal como os depósitos à vista nos bancos comerciais (que permitem pagamentos com cheques), tais substitutostambém terão a propriedade de liquidar dívidas contratuais, e também serão considerados moeda. A função unidade de conta da moeda, que aparece em todos os contratos de uma economia, expressa a ideia de que o valor da quantidade de moeda que é capaz de liquidar a dívida estabelecida no contrato, em uma determinada data futura, possuirá aproximadamente a mesma capacidade de compra do presente (no momento da assinatura do contrato). Portanto, a unidade de conta, enquanto representação de valor aos olhos do público, deve ser estável. Consequentemente, a moeda pode se tornar também reserva de va- lor. A função reserva de valor decorre da existência de amplos mercados futuros e à vista na economia. No momento em que um agente econômico recebe recursos na forma monetária, ele ganha o direito de re- ter poder de compra, em tese, indefinidamente sem temer perdas. A função reserva de valor dá ao detentor de moeda a possibilidade de reter recursos por períodos longos sem que tal atitude lhe imponha qualquer custo (de carregamento). Contrariamente, em uma economia em estado hiperinflacionário, a moeda perde esta função de reserva de valor. Reter moeda nessa economia seria uma atitude custosa ao agente detentor, pois a moeda perderia poder de compra ao longo do tempo. Em uma economia hiperinflacionária, riqueza em forma monetária perde poder de compra na mesma proporção da variação dos preços. 1.1.1. AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E ECONÔMICAS DA MOEDA Para desempenhar suas três funções, a moeda deve possuir algumas características que são essenciais. Características físicas e econômicas são necessárias ao desempenho das funções meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Como foi dito, a unidade de conta que aparece nos contratos se torna moeda corrente, mas para isso é necessário que este objeto que será moeda corrente possua os seguintes atribu- tos econômicos: custo de estocagem e custo de transação negligenciáveis (aproximadamente nulo). O trigo, por exemplo, tem reduzidas chances de se tornar moeda em uma economia desenvolvida porque o seu custo de estocagem não é desprezível e seu custo de transporte ao mercado (custo de transação) pode ser elevado. O trigo, o sal, a soja, dentre outros, se eleitos socialmente como moeda, onerariam em demasia seus possuidores. A moeda deve também possuir determinadas características físicas. Deve ser divisível, durável, difícil de falsificar, manuseável e transportável. A divisibilidade é necessária porque a moeda deve po- der ser fracionada em múltiplos e submúltiplos, para que as transações que exigem valor fracionado ou transações que movimentem grandes valores sejam realizadas sem custos adicionais. A moeda deve ser durável, isto é, deve manter suas características físicas, para que a sua condição de ser aceita de forma generalizada seja mantida e não prejudique o seu último detentor. A moeda deve ser, na medida do pos- sível, difícil de falsificar – já que tal característica aumenta a confiança do público de que não há repro- dução indevida – auxiliando consequentemente a sua aceitação generalizada. A moeda deve ser manu- seável e transportável, para que a função meio de troca não seja prejudicada, impondo ao seu detentor custos de transação. Quando uma moeda possui as características físicas que são essenciais, pode-se dizer que está habi- litada a desempenhar as suas três funções típicas: meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Contudo, possuir tais características não garante necessariamente o desempenho das funções. Por A Moeda e o Sistema Monetário 3 exemplo, no Brasil, durante o período de inflação alta e crônica, nas décadas de 1980 e na primeira me- tade dos anos 90, a moeda oficial não era utilizada como unidade de conta do sistema de contratos. Ade- mais, somente para períodos bastante curtos (três dias ou, no máximo, uma semana) a moeda desempe- nhava a função de reserva de valor. A moeda oficial era somente meio de troca. Com a instituição do Real, em 1994, e o fim do processo inflacionário, a moeda oficial recuperou todas as suas funções. Por último, cabe ressaltar que, com o acelerado desenvolvimento tecnológico, particularmente nos campos da informática e telecomunicações, as características necessárias ao bom desempenho das fun- ções típicas da moeda podem existir em objetos de diferentes formas, especialmente em cartões magné- ticos e microchips. Assim, esses objetos podem ser transformados no chamado dinheiro eletrônico. O cartão de débito automático em conta-corrente é hoje a forma mais comum de dinheiro eletrônico. Há uma tendência mundial de redução de operações com recursos monetários físicos em favor de opera- ções eletrônicas. Os pedágios em estradas e as compras em supermercados, entre muitos outros, podem ser facilmente pagos com a utilização de dinheiro eletrônico. 1.2. A CRIAÇÃO DE MEIOS DE PAGAMENTO E O SISTEMA MONETÁRIO A moeda de uma economia, ou seja, o conjunto de meios de pagamento, consiste na totalidade de ativos possuídos pelo público que pode ser utilizado a qualquer momento para a liquidação de qualquer com- promisso futuro ou à vista. Sendo assim, os meios de pagamento (MP) somam mais do que o pa- pel-moeda (e a moeda metálica) em poder do público (PMPP); englobam também os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVBC). Então: MP = PMPP + DVBC O papel-moeda (e a moeda metálica) em poder do público (PMPP) também é chamado de moeda manual. Os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVBC) são chamados de moeda escritural. Logo, pode-se dizer que a soma da moeda manual com a moeda escritural de uma economia é igual aos seus meios de pagamento, isto é: MP = Moeda Manual + Moeda Escritural Os saldos de cartões de crédito não são considerados meios de pagamento porque são tidos apenas como um meio de se obter crédito, que deverá ser honrado com moeda escritural ou manual em uma data futura. Como será visto, nem toda criação de crédito significa criação de moeda – e o pagamento feito através do uso de um cartão de crédito significa tão-somente a obtenção de crédito sem qualquer criação de moeda. O Banco Central tem o poder instituído legalmente para emitir papel-moeda. Entretanto, nem todo o papel-moeda emitido (PME) transforma-se em PMPP. O PME menos a caixa do Banco Central (CBC) é igual ao montante de papel-moeda em circulação (PMC), ou meio circulante. Os bancos comerciais retêm parte do PMC para fazer seu caixa. Assim, o PMC menos o caixa dos bancos (Et), também cha- mado de encaixe técnico, é que é igual ao PMPP. Então: PME – CBC = PMC PMC – Et = PMPP PME = CBC + Et+ PMPP 4 A Moeda e o Sistema Monetário ELSEVIER 1.2.1. A CRIAÇÃO DE MOEDA ESCRITURAL Os bancos comerciais são instituições autorizadas pelo Banco Central a receber depósitos à vista. Se uma instituição está autorizada a receber depósitos à vista, que são geralmente aceitos para liquidação de pagamentos, verdadeiramente ela está autorizada a criar moeda escritural. Quando um indivíduo toma um empréstimo junto a um banco, essa instituição realiza uma operação contábil de criação de depósitos à vista. Para conceder um crédito no valor de 5.000 unidades monetárias (u.m.), o banco lan- ça no lado do ativo do seu balancete “empréstimo no valor de 5.000 u.m.”. No lado do passivo, lança “depósito à vista no valor de 5.000 u.m.”. O banco simplesmente abre uma conta-corrente com saldo no valor do empréstimo concedido e emite um talão de cheques para uso do devedor. O banco, ao conceder o crédito, criou meios de pagamento. O talão de cheques em posse do devedor, em si, não é moeda, mas lhe dá o direito de usar o valor de 5.000 u.m. para fazer pagamentos, exatamente como poderia fazer se tivesse em mãos moeda manual. O banco pode criar depósitos à vista com uma simples operação con- tábil porque nem todos aqueles que possuem direito de saque irão exercer esse direito simultaneamen- te. Este mecanismo será estudado, em detalhes,no Capítulo 16. Por ora, basta apontar que há um índice estatisticamente considerado seguro da relação entre reservas técnicas em moeda que um banco deve possuir para atender as operações de saque e os depósitos à vista existentes. Logo, o montante de depó- sitos à vista pode ser muito maior que o montante de reservas bancárias em moeda. Essa é a explicação de como um banco pode criar depósitos à vista, ou seja, como pode criar moeda. O Quadro 1.1 mostra como esta operação é contabilmente realizada. O sistema formado pelas instituições que podem criar moeda é chamado de sistema monetário. Então, o sistema monetário (ou sistema bancário) de uma economia é formado pelos seus bancos co- merciais e pelo seu Banco Central. Os primeiros criam moeda escritural, o último cria moeda manual. As demais instituições financeiras não autorizadas a receber depósitos à vista, tais como bancos de de- senvolvimento, bancos de investimento, sociedades de poupança (cadernetas de poupança), formam o sistema financeiro não monetário. 1.3. OS AGREGADOS MONETÁRIOS E O CONCEITO DE LIQUIDEZ As autoridades monetárias (o Banco Central) emitem papel-moeda. Contudo, somente parte da quantida- de dos recursos emitidos se encontra em poder do público; uma parcela se encontra no interior do próprio Banco Central e outra parcela está no interior dos bancos comerciais. A rigor, dentre o total emitido pelo Banco Central, apenas o valor que vai para o caixa dos bancos e para as mãos do público não bancário é que se constitui em emissão monetária. O que permanece no caixa do Banco Central não é, legalmente, A Moeda e o Sistema Monetário 5 Ba lance te Es t i l i zado do Banco Comerc ia l Ativo Passivo (1) Empréstimos novo 5.000 u. m. (2) Saldo das demais contas (1) + (2)Total do Ativo = Depósitos à vista novo 5.000 u. m. (3) Saldo das demais contas (4) (3) + (4)Total do Passivo = QUADRO 1.1 Uma Operação Contábil-Bancária de Concessão de Crédito e de Criação de Meios de Pagamento moeda. As emissões de moeda são um item do passivo do Banco Central em favor dos bancos ou do pú- blico não bancário. Nenhuma instituição emite passivos a seu próprio favor, por isso, papel pronto a ser lançado como moeda, mas que ainda não tenha sido, é apenas papel, não é moeda. Assim, a quantidade de moeda manual é menor do que a quantidade de papel-moeda criada pelo Banco Central. É importante no- tar que somente se considera moeda manual a quantidade de recursos emitidos que não está no interior do sistema monetário, ou seja, a quantidade que efetivamente está em poder do público não bancário.1 Cabe ressaltar ainda que a estatística da quantidade de PMPP engloba os recursos que estão em posse dos go- vernos (central, regional e local), assim como das instituições financeiras não monetárias, dentre outras. A capacidade de demanda de produtos e serviços de uma sociedade é, a princípio, representada pela soma da quantidade de moeda manual com a de moeda escritural presente na economia. Entretanto, tem se tornado díficil precisar com exatidão a capacidade potencial de demanda do público, porque existem ativos financeiros que podem ser convertidos em moeda com um custo de transação desprezível e em tempo bas- tante curto. Tais ativos são, por exemplo, os depósitos a prazo que possuem formas, regras de aplicação e re- munerações diversas. Em princípio, um depósito a prazo não poderia ser resgatado a qualquer data. Contu- do, como estão lastreados em ativos financeiros que possuem um mercado secundário (de revenda) organi- zado, tais ativos podem ser revendidos e o detentor do depósito a prazo pode transformá-lo em depósito à vista (em tempo bastante curto e com algum custo, em geral, inferior à remuneração auferida). Os meios de pagamento (PMPP + DVBC) são ativos com plena liquidez, isto é, desempenham em sua plenitude a função reserva de valor e podem, em qualquer momento, liquidar dívidas estabelecidas em contratos formais ou obrigações advindas de transações realizadas em mercados à vista. Todo ati- vo que possui essas características especiais é considerado moeda. A liquidez, portanto, é o atributo que qualquer ativo possui, em maior ou menor grau, de (i) conservar valor ao longo tempo e (ii) ser capaz de liquidar dívidas. Nos Estados Unidos, os títulos emitidos pelo Tesouro são ativos considerados líquidos porque con- servam valor e podem ser facilmente convertidos em dólares com o intuito de liquidar dívidas. Em con- traste, um bem de capital (máquinas e equipamentos) é geralmente considerado um ativo ilíquido por- que seu valor de revenda pode estar muito abaixo do valor original de aquisição e dificilmente será con- vertido em moeda, com o objetivo de saldar compromissos, dada a dificuldade de haver potenciais de- mandantes. Uma questão importante deve ser observada. Há uma tendência recente dos mercados fi- nanceiros de criação de ativos com alta liquidez, o que torna quase equivalente possuir um depósito a prazo lastreado nesses ativos ou um depósito à vista, com a vantagem de que o primeiro paga juros ao seu detentor. O Box 1.1 apresenta uma taxonomia de ativos segundo graus de liquidez. As estatísticas de diversos agregados monetários e financeiros são, dessa forma, necessárias. São úteis, por exemplo, para se avaliar qual a força dos agentes econômicos para gerar inflação devido a sua capacidade de demanda. Com essas estatísticas, pode-se saber qual é o portfólio (carteira de ativos) do público em cada momento. Podem ser definidas inúmeras estatísticas dessa natureza. Em geral, defi- ne-se como meios de pagamento a soma do papel-moeda em poder do público com o total de depósitos à vista. Tal estatística é chamada de M1. O Box 1.2 resume as estatísticas M1, M2, M3 e M4, segundo a metodologia do Banco Central do Brasil. Em regimes de alta inflação, tal como ocorreu no Brasil até 1994, M1 tende a ser bastante reduzido em relação a M2, M3 e M4, porque o público busca abandonar os depósitos à vista em favor de aplica- ções em fundos lastreados em títulos, públicos e privados, incluídos nos agregados M2 a M4. Com a es- tabilização de preços, por outro lado, M2, por exemplo, se reduziu e M1 aumentou (M2, à época, era a soma de M1 com os depósitos a prazo mais os títulos públicos). A análise da relação M1/M2 foi neces- sária para auxiliar o cálculo do processo de remonetização da economia brasileira no início do Plano Real, em 1994. Monetizar significa elevar o estoque de meios de pagamento de uma economia. O Box 1.3 informa onde podem ser encontradas as estatísticas de agregados monetários e financeiros da eco- nomia brasileira; e o Box 1.4, por sua vez, mostra a evolução de M1 e M2 durante o ano de 1994, o ano de implementação do Plano Real (de acordo com a definição de M1 e M2 que vigoravam à época). 6 A Moeda e o Sistema Monetário ELSEVIER 1. Estas relações já foram apresentadas nas equações: PME – CBC = PMC e PMC – Et = PMPP. A Moeda e o Sistema Monetário 7 O economista inglês John R. Hicks, em seu livro Critical Essays in Monetary Theory, publicado pela editora da Universidade de Oxford em 1967, classificou os ativos da economia, segundo os seus graus de liqui- dez, em três categorias: Ativos plenamente líquidos. Incluem a moeda e quaisquer outros ativos que pos- sam, eventualmente, ser convertidos em moeda sem perda de tempo e a uma taxa de conversão fixa e conhecida. Assim, ati- vos plenamente líquidos são todos aque- les objetos que são reserva de valor e que podem ser utilizados para cumprir obriga- ções contratuais e realizar transações à vista. Por exemplo, os depósitos à vista (que podem ser transferidos em paga- mento através de cheques ou com cartões de débito). Ativos líquidos. Incluem, entre outros, títulos públicos, ouro e obras de arte. Estes objetos são transacionados em mercados bem organizados, isto é, mercados cujos local e horário de funcionamento são co- nhecidos e possuemuma quantidade bas- tante ampla de potenciais demandantes. Quando um indivíduo adquire um ativo lí- quido, é porque possui planos de revenda. Sabe que incorrerá em algum custo de manutenção e/ou carregamento do ativo, mas espera obter ganhos na venda do ati- vo que sejam superiores a esses custos. Ativos ilíquidos. Os mais importantes são as máquinas (ativos de capital) adqui- ridas pelas empresas e os bens duráveis demandados por consumidores. As em- presas demandam tais objetos porque es- peram obter lucros compensadores com a venda das mercadorias que suas máqui- nas produzem. Os consumidores adqui- rem bens duráveis porque objetivam au- mentar a sua satisfação com o fluxo de serviços que tais objetos podem gerar du- rante períodos mais longos. Quando um ativo ilíquido é adquirido, seu possuidor não possui planos de revenda. Tais ativos são transacionados em mercados pobre- mente organizados. Em geral, quando se consegue revendê-los, seus preços estão muito aquém dos preços de aquisição. Paul Davidson, em seu livro Money and the Real World, publicado pela Macmillan em 1972, ressaltou que certamente as fronteiras entre essas classes de ativos não são claras, absolutas e imutáveis ao longo do tempo. O grau de liquidez de um ativo depende do grau de organização do mercado onde é transacionado, o que, por sua vez, depende das características do mercado. As práticas sociais e a exis- tência de instituições determinam, em últi- ma instância, o grau de liquidez de um ati- vo. A própria moeda pode deixar de ser considerada um ativo plenamente líquido. Em economias com hiperinflações agu- das, tal como a alemã no início da década de 1920, a moeda nacional, o marco, dei- xou de ser aceita como intermediária de trocas, reserva de valor e unidade de con- ta. A moeda perdia liquidez na mesma ve- locidade em que a inflação aumentava. A inflação alemã, apenas no mês de outu- bro de 1923, foi de aproximadamente 29.500%. A LIQUIDEZ DOS ATIVOS DA ECONOMIA B O X 1 . 1 M1 = PMPP + depósitos à vista M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições depositárias M3 = M2 + quotas de renda fixa + operações compromissadas registradas no Selic M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez Fonte: Banco Central do Brasil, nota técnica “Reformulação dos Meios de Pagamento – notas meto- dológicas”, de julho de 2001. AS ESTATÍSTICAS MONETÁRIAS B O X 1 . 2 1.4. A BASE MONETÁRIA, OS ENCAIXES E O REDESCONTO A base monetária (B) é a soma do papel-moeda em poder do público (PMPP) com as reservas totais dos bancos comerciais (ET). A base monetária é, então, igual ao total de moeda colocada em circulação pelo Banco Central. É, por vezes, chamada de estatística M0 (eme zero). Então: 8 A Moeda e o Sistema Monetário ELSEVIER O Banco Central do Brasil divulga diversas es- tatísticas de agregados monetários. São divul- gadas pelo Boletim do Banco Central, que é publicado mensalmente, e podem ser acessa- das, também, via Internet (o endereço é http:// www.bcb.gov.br). São divulgados mensalmen- te o total de meios de pagamento, as estatísti- cas de M2, M3 e M4, entre muitas outras. AS ESTATÍSTICAS MONETÁRIAS DA ECONOMIA BRASILEIRA B O X 1 . 3 A EVOLUÇÃO DE M1 E M2 EM 1994 B O X 1 . 4 Antes do Plano Real Após o Plano Real Antes do Plano Real Após o Plano Real Evolução de M1 – 1994 0 5000 10000 15000 20000 25000 Em M ilh õe s de R ea is Em M ilh õe s de R ea is Evolução de M2 – 1994 0 50000 100000 150000 200000 11 22 33 44 55 66 77 88 99 1010 1111 1212 Distribuição dos Agregados Jan/94 M1 9% M2 91% Distribuição dos Agregados Dez/94 M2 76% M1 24% Distribuição dos Agregados Jan/94 M2 – M1 90% M1 10% Distribuição dos Agregados Dez/94 M1 32% M2 – M1 68% B = PMPP + ET = PMC Os bancos comerciais mantêm reservas (ou realizam encaixes, Et) para poderem honrar seus compro- missos com o público e, consequentemente, gerar confiança na conversibilidade dos seus depósitos. Os bancos realizam também encaixes junto às autoridades monetárias. Tais encaixes são impostos externa- mente, ou encaixes compulsórios; e aqueles que são decididos internamente, ou encaixes voluntários. As reservas compulsórias (Ec) são determinadas pelas autoridades monetárias, que estabelecem um percentual dos depósitos à vista a ser recolhido ao Banco Central na forma de moeda. Historicamente, essa obrigação tem sido exigida por regulamentação das autoridades monetárias, objetivando mostrar ao público que os bancos são capazes de saldar seus compromissos com os clientes e, assim, evitar pâ- nicos e corridas de saques contra os mesmos. As reservas bancárias (o caixa dos bancos, Et) são de outra natureza. São decididas pelos próprios bancos para que possam operar diariamente. Em verdade, os bancos buscam manter a razão encaixe técnico/depósitos à vista em um determinado intervalo que con- sideram seguro, de modo a garantir a manutenção das suas operações de saques quotidianamente. Os encaixes dos bancos, junto às autoridades monetárias, portanto, podem ser de caráter voluntá- rio. Recursos são mantidos no interior das agências bancárias (Et) para cobrir diferenças entre saques e de- pósitos que, porventura, possam ocorrer. Recursos podem também ser enviados voluntariamente (Ev) para a câmara de compensação de cheques (que está sob a responsabilidade da autoridade monetária) e visam a cobrir eventuais diferenças entre cheques emitidos a favor e contra o banco. Assim como, em uma parte do dia, podem ocorrer mais saques do que depósitos nas agências de um determinado banco, em um determinado dia, podem ocorrer mais cheques emitidos contra esse banco (saques) do que che- ques emitidos a favor (depósitos). Em resumo, o encaixe total dos bancos (ET) possui três componentes: ET = Et + Ec + Ev RELAÇÕES FUNDAMENTAIS PME – CBC = PMC PMC – Et = PMPP PME = CBC + Et+ PMPP Como B = PMPP + ET e ET = Et + Ec + Ev então: B = PMPP + Et + Ec + Ev B = PMC - Et + Et + Ec + Ev Logo: B = PMC + Ec + Ev PME = Papel-moeda emitido CBC = Caixa do Banco Central PMC = Papel-moeda em circulação PMPP = Papel-moeda em poder do público ET = Encaixe total dos bancos comerciais Et = Encaixe técnico dos bancos comerciais (o caixa dos bancos) Ec = Encaixe compulsório dos bancos comerciais junto ao Banco Central Ev = Encaixe voluntário dos bancos comerciais junto ao Banco Central A Moeda e o Sistema Monetário 9 Quando os bancos encontram-se em dificuldades, por exemplo, quando a razão encaixe técnico/de- pósitos à vista está muito baixa, podem pedir auxílio ao Banco Central. Genericamente, tem-se chama- do tal auxílio de operação de redesconto. Contudo, é necessário distinguir uma operação propriamente dita de redesconto de uma operação de concessão de crédito. O resdesconto ocorre quando o Banco Central compra títulos de um banco. Esta é uma operação de crédito, colateralizada por um ativo fi- nanceiro. O Banco Central empresta ao banco tomador um valor inferior ao do ativo dado em garantia. Quando o banco for saldar o empréstimo, recomprará o ativo pelo seu valor pleno. A diferença entre os dois valores exprime a taxa de redesconto, isto é, o custo para o tomador do empréstimo feito pelo Ban- co Central. A aquisição de títulos por parte do Banco Central expande, a princípio, os encaixes do banco que necessitou ser socorrido. O processo alternativo é, simplesmente, um empréstimo direto do Banco Central ao banco que se encontra em dificuldade. A função do Banco Central conhecida como empres- tador de última instância é exercida através dessas operações. Tal função será apresentada no Capítulo 2 e detalhada em outros capítulos do livro. Um ponto crucial dessas operações é a determinação da taxa (dejuros) de redesconto que pode ser fixada em um patamar punitivo. Uma taxa punitiva é aquela que é maior do que a taxa de juros que re- munera os ativos que o banco socorrido possui. A compra por parte do Banco Central de títulos (ou a concessão de um empréstimo) com taxas punitivas desestimula o banco que recebeu o auxílio a manter a posse dos ativos cuja compra reduziu as suas reservas. Assim, haveria um incentivo à venda desses ativos e, consequentemente, a recomposição de reservas para um patamar mais seguro. A manutenção desses ativos em carteira transformaria tal estratégia em uma posição que geraria perdas cumulativas por parte do banco que estaria pagando taxas de juros punitivas ao Banco Central. 1.5. O BALANCETE DOS BANCOS COMERCIAIS E A CRIAÇÃO DE CRÉDITO E MOEDA Os bancos possuem as seguintes fontes de recursos: os recursos próprios ou patrimônio líquido, os de- pósitos à vista e a prazo, os empréstimos tomados no exterior, os auxílios do Banco Central (redescon- tos e empréstimos) e outras fontes menos importantes. Esse é o passivo bancário. O ativo dos bancos (suas aplicações) é constituído principalmente por: empréstimos ao setor privado, encaixes, títulos pú- blicos e privados, imobilizado bancário (ou seja, suas instalações físicas) e outras aplicações de menor relevância. O Quadro 1.2 mostra de forma estilizada o balancete dos bancos comerciais. O mecanismo de criação de moeda por parte dos bancos comerciais já foi apresentado anteriormen- te. Entretanto, devido a sua importância, repete-se tal explicação com novos detalhes. Agora, pode-se 10 A Moeda e o Sistema Monetário ELSEVIER Ativo Passivo (1) Empréstimos (2) Reservas bancárias (3) Títulos públicos e privados (4) Imobilizado (5) Outras aplicações Passivo Monetário Passivo Não monetário Depósitos à vista (6) Depósitos a prazo (7) Empréstimos internos e do exterior (8) Redescontos e empréstimos (9) Outras fontes (11) Patrimônio líquido (10) Total do Ativo Total do Passivo QUADRO 1.2 Balancete Estilizado de um Banco Comercial refletir sobre tal operação já tendo conhecimento das principais aplicações e fontes dos bancos co- merciais. Quando um banco concede um empréstimo a um cliente, realiza uma operação meramente contábil no seu balanço. O banco abre uma conta-corrente em nome do seu cliente-tomador do emprés- timo e realiza todos os procedimentos regulares, tais como a emissão do talão de cheques e do cartão de pagamento (ou cartão de débito). Faz um lançamento na conta depósitos à vista no valor do empréstimo (do lado do passivo) e faz um lançamento de mesmo valor na conta empréstimos (do lado do ativo). A conversibilidade dos depósitos à vista em meio circulante, se desejada, é suposta pelos demais agentes econômicos, sem qualquer dúvida. Por isso, estes aceitam liquidar dívidas e vender mercadorias e/ou serviços recebendo em contrapartida a titularidade sobre um depósito. Um banco, portanto, ao conceder crédito, criou depósitos à vista, criou moeda escritural. É impor- tante destacar que não é necessário que um banco receba depósitos anteriormente à operação de em- préstimo para que possa realizar tal operação: basta que seja autorizado pelo Banco Central a receber (criar) depósitos à vista e os certificados desses depósitos (seus cheques e seu cartão de débito) gozem de credibilidade perante os demais agentes. É importante ressaltar, ainda, que toda vez que um banco concede crédito está criando moeda. Contudo, crédito pode ser concedido por qualquer agente econô- mico. Um estabelecimento comercial que aceita parcelar suas vendas com cheques pré-datados conce- de crédito. Uma mercearia que aceita que seus clientes paguem seus gastos ao final de cada mês conce- de crédito. Entretanto, somente a concessão de crédito bancário é criação de moeda. RESUMO 1. Em condições ideais, a moeda oficial de uma economia deve possuir três funções. A função meio de troca é decorrente da acentuda divisão do trabalho que é uma das mais importantes características das econo- mias capitalistas modernas. O sistema de contratos é necessário para coordenar a produção realizada sob tais condições. A função unidade de conta é necessária para que contratos sejam firmados entre as partes. A função reserva de valor concede ao agente detentor de moeda a liberdade para adiar gastos e/ou reini- ciá-los. 2. É considerado moeda em uma economia todo ativo capaz de liquidar quaisquer dívidas contratuais futuras ou à vista. Portanto, todo ativo com plena liquidez é considerado moeda, isto é, meio de pagamento. A liquidez é o atributo que qualquer ativo possui, em maior ou menor grau, de conservar valor ao longo do tempo e de ser capaz de liquidar dívidas. 3. O conceito de base monetária é equivalente ao conceito de papel-moeda posto em circulação pelo Banco Cen- tral mais os depósitos (voluntários e compulsórios) dos bancos junto às autoridades monetárias. A base mone- tária é, portanto, o somatório do papel-moeda em poder do público com o total de reservas dos bancos comerciais. Os bancos mantêm reservas técnicas, compulsórias e voluntárias. Quando um banco está em difi- culdade em virtude da falta de reservas, o Banco Central pode socorrê-lo através de operações de redesconto de títulos e/ou empréstimos diretos. 4. Quando um banco concede um empréstimo, realiza uma operação meramente contábil no seu balancete. Faz um lançamento na conta “depósitos à vista” no valor do empréstimo (do lado do passivo) e faz um lançamento de mesmo valor na conta “empréstimos” (do lado do ativo). Assim, os agentes econômicos aceitam liquidar dívidas recebendo em contrapartida a titularidade sobre um depósito à vista. Um banco, portanto, ao conceder crédito, criou meios de pagamento, criou moeda escritural. 5. Os bancos comerciais e as autoridades monetárias podem, portanto, criar meios de pagamento. O Banco Cen- tral cria a chamada moeda manual. Os bancos comerciais criam a moeda escritural. Sendo assim, o sistema fi- nanceiro pode ser dividido em dois grandes blocos: (a) sistema monetário, que é formado pelas instituições que criam meios de pagamento e (b) sistema não monetário, que é formado pelas instituições financeiras que não estão autorizadas a receber depósitos à vista (isto é, que não podem criar moeda). A Moeda e o Sistema Monetário 11 TERMOS-CHAVE � Moeda � Meio de Troca � Unidade de Conta � Reserva de Valor � Contratos Futuros � Meios de Pagamento � Depósitos à Vista � Moeda Manual � Moeda Escritural � Reservas Bancárias � Crédito � Liquidez � Base Monetária � Redesconto/Empréstimos � Agregados Monetários � Sistema Financeiro � Sistema Monetário � Sistema Não monetário BIBLIOGRAFIA COMENTADA Galbraith, J.K. (1997). Moeda: de onde veio, para onde foi. São Paulo: Editora Pioneira. Keynes, J.M. (1971 a 1989). Treatise on Money. In: The Collected Writings of John Maynard Keynes, coleção em 30 volumes, volume V. Moggridge, D. (editor). London: Macmillan. No primeiro capítulo, Keynes mostra que a moeda e o sistema de contratos de uma economia estão íntima e inevitavelmente relacionados. Ressalta a importância da função unidade de conta para o entendimento do que deve ser considerado como moeda em uma economia. Tal abordagem é bastante distinta das visões que explicam a existência da moeda como decorrência exclusiva da necessidade de um intermediário de trocas na economia ca- pitalista. Tobin, J. (1992). Money. In: The New Palgrave Dictionary of Money and Finance. Newman, P., Milgate, M. & Eatwell (editors). London: Macmillan. Em um verbete, criativo e que confronta ideias divergentes, vários aspectos sobre o tema moeda são aborda- dos. Alguns estão relacionados diretamente com o conteúdo deste capítulo, tais como a moeda como uma conven- ção social e as funções da moeda. Outros vão além do seu escopo, entre eles a teoria quantitativa da moeda e a sua neutralidade (que serãoabordados em capítulos posteriores deste livro). 12 A Moeda e o Sistema Monetário ELSEVIER 1 - A moeda e o sistema monetário Introdução A moeda e suas funções As características físicas e econômicas da moeda A criação de meios de pagamento e o sistema monetário A criação de moeda escritural Os agregados monetários e o conceito de liquidez A base monetária, os encaixes e o redesconto O balancete dos bancos comerciais e a criação de crédito e moeda