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SENTENÇA E COISA JULGADA Para entendermos o conceito de sentença, precisamos estudar também as outras espécies de pronunciamentos judiciais admitidos. Neste sentido, o art. 203 do NCPC menciona as seguintes espécies de pronunciamento pelo juiz de 1º grau: 1 - Sentenças 2- Decisões interlocutórias 3- Despachos 1) Sentença O novo CPC, no art. 203, I, busca corrigir o antigo e confuso conceito de sentença do CPC/73, prevendo que, ressalvadas as disposições de procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento que também põe fim à fase de conhecimento ou execução. Desse modo, o conceito de sentença não se dá mais puramente pelo conteúdo, sendo também definida a partir da função de pôr fim a uma fase do processo. OBSERVAÇÃO: o art. 356 do NCPC trouxe a possibilidade do julgamento antecipado parcial do mérito. Tal dispositivo permite que haja julgamento antecipado parcial do mérito, de apenas alguns dos pedidos ou de parcela do pedido. No entanto, esse julgamento antecipado parcial não é uma sentença, mas sim uma decisão interlocutória, pois não encerra a fase de conhecimento. O art. 356, §5º, nesse sentido, prevê que tal decisão é impugnável por AGRAVO DE INSTRUMENTO. Seria uma decisão interlocutória de mérito, que se não for objeto de recurso estará sujeita a uma execução definitiva e só poderá ser revista por rescisória (vide art. 356, §3º). 2) Decisões interlocutórias: As decisões interlocutórias, no CPC/73, eram tratadas como decisões que resolviam questões incidentes no curso do processo. Utilizava-se, assim, de um critério topográfico. O NCPC, no entanto, definiu a decisão interlocutória de maneira residual, como o pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no conceito de sentença. Assim, outros atos decisórios que não estejam na posição final da fase de conhecimento ou execução serão considerados decisões interlocutórias. 3) Despachos: O despacho também é definido residualmente, como os “demais pronunciamentos do juiz”. Não é um conceito que diz muito, e que deve ser interpretado à luz dos conceitos de sentença e de decisão interlocutória. Desse modo, os despachos podem ser conceituados como pronunciamentos judiciais SEM CARÁTER DECISÓRIO, ou seja, atos que não possuem aptidão para trazer alguma consequência à esfera jurídica das partes. Elementos da sentença (art. 489 do NCPC): Aqui estudaremos os 3 elementos da sentença: o relatório, a fundamentação e o dispositivo. Art. 489. São elementos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem. 1) Relatório: É um resumo dos fatos da demanda e dos principais acontecimentos do processo. Mostra o que o juiz reputou importante dentro do processo. No NCPC tem grande importância para verificar se o caso a ser julgado se enquadra em um determinado precedente de observância obrigatória, ou se se trata de caso de aplicar a técnica do “distinguishing”. CUIDADO! Nos Juizados Especiais o relatório é dispensado (art. 38 da Lei 9.099/1995). 2) Fundamentação: São os motivos de fato e de direito adotados pelo órgão jurisdicional. É fundamental dentro de qualquer decisão judicial, pois é ela que permite o seu controle. Mesmo que o CPC/73 nada previsse, o art. 93, IX da CRFB já trazia a fundamentação das decisões como direito fundamental processual. O NCPC (art. 489, §1º) traz uma regra listando exigências para que qualquer decisão se considere fundamentada: - Não está fundamentada a decisão que se limita a reproduzir dispositivo normativo, sem enquadrá-lo no caso concreto. - Os incisos V e VI tratam da motivação com relação aos precedentes. O juiz não poderá se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula para fundamentar a decisão, devendo enquadrá-los ao caso concreto. Ademais, se uma das partes invocar um precedente supostamente aplicável à demanda, o judiciário deverá, ao deixar de aplicá-lo, fundamentar eventual distinção no caso concreto (técnica do “distinguishing”) ou superação do precedente (“overruling”). - O inciso IV é um dos mais importantes, pois supera jurisprudência pacífica do STJ, ao dispor que não se considera fundamentada decisão que não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de influir na decisão do julgador. À luz do CPC/73 o STJ entendia que o juiz não era obrigado a tratar de todos os argumentos das partes, o que já era questionado por alguns autores, diante da garantia da fundamentação das decisões judiciais, que impõe ao judiciário o dever de enfrentar os argumentos pertinentes da parte. Esse inciso IV, no entanto, não significa que o juiz deve enfrentar todos os argumentos das partes, mas apenas aqueles capazes de alterar sua decisão. Se o juiz reconheceu prescrição, por exemplo, não precisaria enfrentar questões referentes ao direito. Também não precisa enfrentar argumentos impertinentes. Art. 489, § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. CUIDADO! Mesmo após o Novo CPC, o STJ já possui precedentes mantendo sua posição defensiva na jurisprudência, não conhecendo de embargos de declaração contra decisões que não se pronunciem sobre argumentos incapazes de alterar a conclusão adotada. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. HIPÓTESE DE NÃO CABIMENTO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. Mesmo após a vigência do CPC/2015, não cabem embargos de declaração contra decisão que não se pronuncie tão somente sobre argumento incapaz de infirmar a conclusão adotada. Os embargos de declaração, conforme dispõe o art. 1.022 do CPC/2015, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade ou eliminar contradição existente no julgado. O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. A prescrição trazida pelo inciso IV do § 1º do art. 489 do CPC/2015 ["§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (...) IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador"] veio confirmar a jurisprudência já sedimentada pelo STJ, sendo dever do julgador apenas enfrentar as questões capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão. EDcl no MS 21.315-DF, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª Região), julgado em 8/6/2016, DJe 15/6/2016. Admite-se a fundamentação “per relationem”? Conceito: É a fundamentação que vai se dar por meio de referência a outros pronunciamentos decisórios ou a outros atos, como o parecer do órgão ministerial. À luz do CPC/73, o STF e o STJ entendiam que a fundamentação “per relationem” era válida, pois estaria associada a algum outro ato judicial.e rejeitadas todas as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido. Está correto o que se afirma APENAS em a) I e III. b) I e IV. c) II e III. d) II e V. e) IV e V. GABARITO: E Analisemos cada uma das assertivas acima apresentadas: Item I: ERRADO Art. 502, do NCPC. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso. Item II: ERRADO Art. 504, do NCPC. Não fazem coisa julgada: (...) II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. Item III: ERRADO Art. 506, do NCPC. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Item IV: CORRETO Art. 504, do NCPC. Não fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; Item V: CORRETO Art. 508, do NCPC. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido. 5. (FCC – 2017 – DPE/SC)A respeito da sentença, da fundamentação das decisões judiciais e da coisa julgada na sistemática do atual Código de Processo Civil, a) o atual conceito de sentença é finalístico, pois leva em consideração exclusivamente o efeito do ato, ou seja, somente pode ser sentença o ato do juiz que coloca fim ao processo ou à fase cognitiva do procedimento comum. b) denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário. c) a autoridade da coisa julgada somente se estende às questões decididas no dispositivo de uma decisão de mérito, não alcançando os motivos que determinaram o julgamento. d) a decisão que concede tutela de urgência concedida em caráter antecedente, caso não seja impugnada tempestivamente, produz coisa julgada e só pode ser afastada por meio de ação rescisória, no prazo de dois anos. e) a fundamentação referenciada (per relationem) é autorizada expressamente pelo novo Código de Processo Civil, desde que emanada da mesma autoridade julgadora. GABARITO: C Analisemos cada uma das assertivas acima apresentadas: a) INCORRETA. O conceito de sentença adotado pelo NCPC mescla o critério topográfico com o critério do conteúdo. Assim, sentença é o ato que põe fim ao processo ou à fase cognitiva, mas que tem por conteúdo uma das hipóteses dos artigos 485 e 487. b) INCORRETA. A melhor doutrina conceitua a coisa julgada como a qualidade do efeito declaratório inerente ao dispositivo da decisão, e não como eficácia da sentença. Já o artigo 502 do CPC fala em "Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso". c) CORRETA. Artigo 504, I, do CPC: "Não fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença". d) INCORRETA. Art.304,§6º,do CPC:" A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a estabilidade dos respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir, reformar ou invalidar, proferida em ação ajuizada por uma das partes, nos termos do § 2o deste artigo". e) INCORRETA. Ao que parece o NCPC não prevê expressamente. Porém, o STJ admite, com certa tranquilidade, a fundamentação per relationem, ainda que referente a manifestações do Ministério Público, desde que guardem relação com o caso concreto. 6. (FCC – 2017 – TJ/SC) No tocante à sentença e à coisa julgada, é correto afirmar que: a) publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la para correção de inexatidões materiais ou erros de cálculo, por meio de embargos de declaração ou para reexaminar matérias de ordem pública. b) a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros, sendo vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo respeito se operou a preclusão. c) a sentença deve ser certa, a não ser que resolva relação jurídica condicional. d) na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido produzirá de imediato todos os efeitos da declaração não emitida. e) denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão, de mérito ou não, que não mais se encontre sujeita a recurso. GABARITO: B a) A esse respeito, dispõe o art. 494, do CPC/15: "Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá- la: I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração". Conforme se nota, em caso de inexatidão material ou de erro de cálculo, a correção poderá ser feita independentemente de oposição de embargos declaratórios. b) É o que dispõe, expressamente, a lei processual, senão vejamos: "Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Art. 507. É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo respeito se operou a preclusão".Afirmativa correta. c) Ao contrário do que se afirma, dispõe o art. 492, do CPC/15: "É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional". d) Ao contrário do que se afirma, a produção desse efeito não é imediata, ocorrendo somente depois do trânsito em julgado da sentença, senão vejamos: "Art. 501, CPC/15. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida". e) Acerca da coisa julgada, dispõe o art. 502, do CPC/15: "Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso". 7. (Marinha - 2018 - Quadro Técnico - Primeiro Tenente – Direito) De acordo com a lei n° 13.105/2015, Novo Código de Processo Civil, é correto afirmar que haverá resolução de mérito quando: A) o juiz indeferir a petição inicial. B) o juiz reconhecer a existência de coisa julgada. C) o juiz homologar a desistência da ação. D) em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal. E) o juiz homologar a transação. Gabarito: Alternativa E A - Incorreta: conforme art. 485, I do CPC, não haverá resolução do mérito quando o juiz INDEFERIR a petição inicial. Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; B - Incorreta: conforme art. 485, V do CPC, não haverá resolução do mérito quando o juiz reconhecer a existência de coisa julgada, perempção ou litispendência. Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; C - Incorreta: conforme art. 485, VIII do CPC, não haverá resolução do mérito quando o juiz homologar a desistência da ação. Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: VIII - homologar a desistência da ação; D - Incorreta: conforme art. 485, IX do CPC, não haverá resolução do mérito quando o juiz, em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal. Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e E - Correta: conforme art. 487 do CPC. Veja-se: Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: III - homologar: b) a transação; 8. (Marinha - 2017 - Quadro Técnico - Primeiro Tenente – Direito) Fazem parte da regra cronológica de conclusão para proferir sentençaou acórdão no novo Código de Processo Civil, EXCETO: A) as sentenças de procedência liminar do pedido. B) decisões que resolverem o mérito do processo. C) o julgamento de embargos de declaração. D) o julgamento de recursos especiais. E) o julgamento de agravo de instrumento. Gabarito: Alternativa C ART. 12 DO CPC/15. OS JUÍZES E OS TRIBUNAIS ATENDERÃO, PREFERENCIALMENTE, À ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO PARA PROFERIR SENTENÇA OU ACÓRDÃO. §2º ESTÃO EXCLUÍDOS DA REGRA DO CAPUT: I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; Iv - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; V - O JULGAMENTO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO; VI - o julgamento de agravo interno; VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal; IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada. 9. (Marinha - 2017 - Quadro Técnico - Primeiro Tenente – Direito) Considerando as disposições do novo Código de Processo Civil, marque a opção correta. A) Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito, senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença que julgar improcedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. B) Também se aplicam as regras do reexame necessário quando a sentença estiver fundada em súmula vinculante de tribunal superior ou em acórdão proferido em julgamento de recursos repetitivos. C) Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. D) Não fazem coisa julgada os motivos, salvo se importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença e a verdade dos fatos, ainda que estabelecida como fundamento da sentença. E) Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação legislativa que serviu de embasamento para a sentença. Gabarito: Alternativa C a) Errada. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito, senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença que julgar PROCEDENTES, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: (...) II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. b) Errada. Também NÃOse aplicam as regras do reexame necessário quando a sentença estiver fundada em súmula de tribunal superior ou em acórdão proferido pelo STF ou pelo STJ em julgamento de recursos repetitivos. Art. 496,§4 - Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: I - súmula de tribunal superior; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa. c) Correta. Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida. d) Errada. Não fazem coisa julgada os motivos, AINDA QUE importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença / e a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. Art. 504. Não fazem coisa julgada: I - os motivos, AINDA QUE importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II - a verdade dos fatos, ESTABELECIDA como fundamento da sentença. e) Errada. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação NO ESTADO DE FATO OU DE DIREITO, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; e nos demais casos prescritos em lei. Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei. 10. (VUNESP - 2020 - EBSERH – Advogado) Considere as seguintes situações: (i) Joaquim ajuizou ação requerendo o pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos morais em face do Hospital X em razão de uma infecção hospitalar; o juiz julgou a ação parcialmente procedente e condenou o Hospital X ao pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). (ii) Fernando ajuizou ação de reintegração de posse em face de uma escola particular; o juiz julgou procedente a ação, condenando a escola a desocupar o imóvel e a pagar a Fernando indenização em danos morais e materiais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). (iii) Júlia ajuizou ação requerendo a condenação da empresa Y ao pagamento de danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e o juiz julgou a ação procedente, condenando a empresa ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Diante das situações hipotéticas apresentadas, quanto às sentenças proferidas, é correto afirmar, nessa ordem: A) são citra, extra e ultra petita. B) são citra, ultra e extra petita. C) não possui defeito, são extra e ultra petita. D) não possui defeito, são ultra e extra petita. E) são citra e extra petita; não possui defeito. Gabarito: Alternativa C ULTRA PETITA A sentença dá MAIS do que o autor pediu. EXTRA PETITA Sentença concede algo DIVERSO do que o autor pediu. CITRA PETITA Sentença NÃO ANALISA todos os pedidos (determinantes para o deslinde da causa).No caso de Joaquim não há vício, pois o juiz analisou todos os pedidos, mas apenas concedeu um valor menor do que o pleiteado. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. 11. (INSTITUTO AOCP - 2019 - TJ-MG - Juiz Leigo) Maria Luísa propôs uma ação perante os Juizados Especiais Cíveis em face de Julio Cesar, formulando pedido genérico, já que não era possível, desde a propositura da ação, determinar a extensão da obrigação. Maria Luísa teve êxito na ação, sendo proferida sentença condenatória em face de Julio Cesar. Nesse caso, quanto à sentença proferida pelo Juiz, considerando o que dispõe a Lei nº 9.099/1995, assinale a alternativa correta. A) Obrigatoriamente deve ser líquida, ainda que o pedido seja genérico. B) Pode ser ilíquida, uma vez que o pedido foi genérico. C) Será eficaz na parte que exceder a alçada estabelecida na Lei nº 9.099/1995. D) Deve conter relatório e os elementos de convicção do Juiz. Gabarito: Alternativa A a) CORRETA. Com essa previsão, evita-se a liquidação de sentença, estando tal dispositivo intimamente ligado com o critério de celeridade estabelecido pela Lei. Art. 38, parágrafo único da Lei 9099/95 - Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido. b) ERRADA. A sentença não poderá ser ilíquida. Art. 38, parágrafo único da Lei 9099/95 - Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquida,ainda que genérico o pedido. c) ERRADA. Conforme o artigo 39 da Lei 9.099/95, é INEFICAZ a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta Lei. Vale ressaltar que tal regra não é absoluta, uma vez que, caso as partes assim transacionem, poderá ser homologado acordo superior ao valor de 40 salários mínimos (limite do JEC). Artigo 39 da Lei 9099/95 - é INEFICAZ a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida nesta Lei. d) ERRADA. De acordo com o princípio da simplicidade e do artigo 38, caput, da Lei 9.099/95, será dispensado o relatório. Art. 38, caput Lei 9099/95 - A sentença mencionará os elementos de convicção do Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, dispensado o relatório. 12. (FCC - 2019 - DPE-AM - Analista Jurídico de Defensoria - Ciências Jurídicas) Geraldo ajuizou ação cumulando os pedidos de indenização por danos materiais e morais contra prestador de um serviço, alegando que houve desconformidade da prestação em relação ao pactuado. Após analisar a contestação apresentada pelo réu, o magistrado entendeu que a irregularidade do serviço e a existência dos danos morais eram incontroversas, mas o reconhecimento dos danos materiais alegados dependeria de produção de provas. Assim, o juiz julgou parcialmente o mérito para julgar procedente o pedido de indenização por danos morais, determinando, no mesmo ato, a intimação das partes para que especificassem as provas que pretendiam produzir. Esse ato judicial consiste em A) sentença de mérito, sujeito a recurso de apelação; caso não haja recurso tempestivo, formar-se-á coisa julgada material. B) julgamento antecipado parcial do mérito, sujeito a agravo de instrumento; caso não haja recurso tempestivo, formar-se-á coisa julgada material. C) julgamento antecipado parcial do mérito, e, por isso, não se sujeita a recurso imediato, podendo ser impugnado por meio de preliminar de razões ou contrarrazões de apelação. D) sentença sem resolução do mérito, sujeita a apelação; caso não haja recurso tempestivo, formar-se-á coisa julgada meramente formal. E) decisão interlocutória de tutela provisória antecipada, sujeita a recurso de agravo de instrumento e, caso não haja recurso tempestivo, haverá a preclusão. Gabarito: Alternativa B Tal ato judicial não pode ser considerado sentença, visto que não coloca fim à fase cognitiva do procedimento comum, pois apenas julgou uma parte dos pedidos, e não todos. Art. 203, §1º do CPC - Sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Tal ato judicial também não pode ser considerado tutela antecipada pois não estão presentes a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, que são dois requisitos imprescindíveis para sua caracterização. Art. 356 do CPC - O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. § 5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento. Julgamento Parcial do mérito Agravo de Instrumento (Art.356, §5º do CPC) Julgamento Total do mérito Apelação (em regra)No NCPC não há uma previsão expressa quanto ao assunto, mas o art. 489, §1º, V diz que não se considera fundamentada a decisão que se limita a invocar um precedente. Logo, a doutrina diz que a fundamentação “per relationem” não poderia se dar pela mera remissão a outro ato, sendo necessário que o magistrado demonstre que o caso concreto se ajusta àqueles fundamentos. Contudo, na prática continua a ser amplamente adotada e aceita pelos tribunais. Neste sentido, confira precedente do STJ no ano de 2019: (...) a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, bem assim a do Supremo Tribunal Federal, admitem a motivação per relationem, pela qual se utiliza a transcrição de trechos dos fundamentos já utilizados no âmbito do processo. Assim, descaracterizada a alegada omissão e/ou ausência de fundamentação, tem-se de rigor o afastamento da suposta violação do art. 489 do CPC/2015, conforme pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (...) STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1440047/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 11/06/2019. 3) Dispositivo: O dispositivo cria a solução para o caso concreto, decidindo a lide posta em juízo. De acordo com Barbosa Moreira, o dispositivo “contém a norma jurídica concreta elaborada pelo julgador”. A sentença sem dispositivo não deve nem ser considerada sentença, assemelhando-se mais a um parecer. Requisitos da Sentença: O conteúdo da sentença está sujeito a alguns requisitos: 1) Certeza (art. 492, PU do NCPC): a sentença deve definir a existência ou não do direito ou obrigação nela reconhecido, sem se submeter a uma condição de existência. Art. 492. Parágrafo Único: A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional. É uma exigência para a própria efetividade da jurisdição, para pôr fim a um conflito de interesses. Assim, a sentença vai acolher ou rejeitar a pretensão, não podendo estar sujeita a qualquer condição. OBS: a sentença que impõe a obrigação do beneficiário de arcar com os ônus da sucumbência é certa, já existe. No entanto, seus EFEITOS é que ficam suspensos, a depender de um fato subsequente. 2) Congruência (arts. 141 e 492 do NCPC): a sentença deve se limitar aos termos da demanda formulada, em respeito à inércia da jurisdição (o judiciário deve decidir nos limites em que for provocado). Alguns autores também veem a congruência como uma decorrência do contraditório. Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado. A congruência também pode ser chamada de CORRELAÇÃO ou ADSTRIÇÃO, impondo restrições à sentença em relação ao pedido formulado. A sentença que não observa a correlação pode ser classificada como: 2.1 - Citrapetita: decide MENOS do que foi pleiteado (Ex: pedido de anulação de negócio jurídico e de indenização por danos morais, mas a sentença se limita a anular o negócio, nada falando sobre os danos morais). Não é a sentença que julga parcialmente o pedido, mas sim a que DEIXA DE APRECIAR algum pedido. Essa sentença contém um vício, em relação àquilo que deixou de ser decidido. No entanto, em virtude do princípio do aproveitamento dos atos processuais (art. 283 do NCPC), essa sentença não será anulada, pois o pedido decidido não contém vício. Tal sentença poderá ser impugnada por embargos de declaração ou por apelação. No Novo CPC, pelo art. 1013, §3º, esta é uma hipótese de aplicação da teoria da causa madura, de modo que o tribunal pode julgar desde logo o pedido faltante (alguns autores criticam que seria inconstitucional, por haver supressão de instância). E se não houver recurso e a sentença transitar em julgado? Como o que forma a coisa julgada é o dispositivo, não houve decisão em relação ao pedido faltante. Assim, caberá nova ação para a sua apreciação. E a súmula 453 do STJ? De acordo essa súmula, no caso de omissão da sentença em relação aos honorários, não seria possível a ação autônoma de cobrança, exigindo-se ação rescisória. É uma súmula muito criticada pela doutrina, sendo que o novo CPC, no art. 85, §18, derruba tal entendimento. Assim, é possível que, mesmo que a sentença se omita acerca dos honorários advocatícios e não sejam opostos embargos de declaração, o advogado cobre tal verba mediante ação autônoma. 2.2 - Ultra petita: é a sentença que decide ALÉM do pedido formulado, em quantidade superior à pleiteada. A sentença tem um vício, mas não será anulada, em virtude da ideia de aproveitamento dos atos processuais: aquilo que foi decidido nos limites do pedido formulado pode ser aproveitado. De acordo com Câmara, “A sentença ultra petita deve ter seu excesso podado pelo tribunal, em grau de recurso, a ele cabendo invalidar o excesso.” 2.3 - Extrapetita: é a sentença que decide pretensão DISTINTA da formulada. É uma sentença nula, não sendo possível aproveitá-la. Contudo, Câmara alerta que, no caso de apenas um capítulo de sentença ser extrapetitum, nulo será este capítulo, já que a nulidade de parte da sentença não contamina o restante do pronunciamento, sendo a invalidação parcial da decisão judicial expressamente prevista no art. 520, III. III - se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução; CUIDADO! Há situações em que a congruência fica mitigada, seja por expressa previsão legal, seja por interpretação judicial. Vejamos: - Ações possessórias (art. 554 do NCPC): são dotadas de FUNGIBILIDADE, de modo que a propositura de uma determinada ação possessória não impede que seja concedida a proteção possessória de fato correspondente às necessidades do autor. Assim, o juiz não fica vinculado à providência possessória requerida pela parte. - Ações cautelares: O CPC/73 previa que o juiz, de ofício ou a requerimento, poderia substituir a cautelar pleiteada por outra que fosse adequada e suficiente. No entanto, no NCPC não há um artigo análogo, mas a doutrina majoritária (Ex: Marinoni) vem entendendo que essa fungibilidade nas cautelares ainda permanece, por uma interpretação extensiva do art. 301, que prevê que a tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada por qualquer outra medida idônea a assegurar o direito (poder geral de cautela). - Ações que buscam a tutela de obrigação de fazer ou não fazer: o juiz pode conceder o resultado prático equivalente à tutela específica pleiteada ou pode até mesmo haver a conversão em perdas e danos (arts. 497/499 do NCPC). Assim, a congruência ficaria mitigada, pois o juiz poderia conceder um resultado equivalente, uma providência distinta da que foi pleiteada. Ex: obrigação de fazer buscando a realização de um tratamento de saúde; se, no curso do processo, se verificar que o melhor tratamento seria outro, o STJ entende que o juiz poderia conceder essa providência distinta. - Interpretação lógico-sistemática da petição inicial (STJ): não estava expressa no CPC/73, mas no NCPC é extraída do art. 322, §2º, que prevê que a interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará a boa-fé. Assim, de acordo com o STJ, o julgador poderia decidir sem a observância dos limites postulados se encontrar, no conjunto da petição inicial, outras pretensões. Faz-se uma interpretação da inicial como um todo, e não só dos pedidos. O problema é que não há um limite claro para essa interpretação, de modo que é fundamental que essas exceções à congruência estejam sujeitas ao contraditório de ambas as partes. 3) Liquidez: É a exigência de que a sentença estabeleça a extensão do direito nela reconhecido. O requisito da liquidez é um requisito geral das sentenças, mas o STJ entende que se o juiz não tiver elementos suficientes para proferir sentença líquida poderá remeter às partes a liquidação da sentença. Assim, não se trata de um requisito absoluto.A liquidez está prevista no art. 491 do CPC: Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo quando: I - não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; II - a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença. § 1o Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação. § 2o O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença. O caput prevê que mesmo que o pedido seja genérico, a sentença deve ser líquida. No entanto, o novo Código teve a preocupação de deixar claro quais são os casos que admitiriam uma prolação de decisão ilíquida, previstos nos incisos I e II. No caso dos juizados especiais, porém, vale registrar que, pelo art. 38 da lei 9099, a sentença necessariamente será líquida, em virtude da exigência de celeridade. Assim, se o juiz verificar que não tem condições de proferir sentença liquida nos juizados especiais, deverá extinguir o processo sem resolução do mérito, por inadequação da demanda ao procedimento, por força do art. 51 da L9099. L9099, Art. 38, parágrafo único da Lei 9099/95 - Não se admitirá sentença condenatória por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido. Classificações das sentenças: 1) Quanto ao enfrentamento ou não do mérito: - Terminativas: extinguem o processo sem resolução do mérito. Terminam com o processo, mas não com o conflito de interesses. Estão previstas no art. 485 do CPC/15. - Definitivas: resolvem o mérito do processo, pondo fim ao conflito de interesses. Estão previstas no art. 487 do CPC/15. Por sua importância, vejamos um quadro esquematizado com todos os casos: Sentenças terminativas: Sentenças definitivas: Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII - homologar a desistência da ação; IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código. § 1o Nas hipóteses descritas nos incisos II e III, a parte será intimada pessoalmente para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias. Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; III - homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1o do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se. Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos do art. 485. § 2o No caso do § 1o, quanto ao inciso II, as partes pagarão proporcionalmente as custas, e, quanto ao inciso III, o autor será condenado ao pagamento das despesas e dos honorários de advogado. § 3o O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos incisos IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado. § 4o Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação. § 5o A desistência da ação pode ser apresentada até a sentença. § 6o Oferecida a contestação, a extinção do processo por abandono da causa pelo autor depende de requerimento do réu. § 7o Interposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos deste artigo, o juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se. 2) Quanto à natureza predominante do provimento jurisdicional: CLASSIFICAÇÃO TRINÁRIA CLASSIFICAÇÃO QUINÁRIA - Declaratórias - Constitutivas - Condenatórias - Declaratórias - Constitutivas - Condenatórias - Executivas lato-sensu - Mandamentais - Sentenças declaratórias: limitam-se a reconhecer a existência ou inexistência de relação jurídica. Ex: Ação declaratória de inexistência de relação jurídico-tributária. - Sentenças constitutivas: são aquelas que criam, modificam ou extinguem relações jurídicas. Ex: ação anulatória de débito fiscal -> visa desconstituir aquele débito. - Sentenças condenatórias: a sentença impõe ao réu o cumprimento de uma obrigação (condenação), sob pena de execução forçada. Ex: ação indenizatória. Essa classificação trinária é adotada por muitos autores, como Leonardo Greco e Alexandre Câmara. Mas alguns autores, como Pontes de Miranda e Ovídio Batista utilizam-se da chamada “classificação quinária”, que prevê ainda mais 2 espécies: - Sentenças executivas lato-sensu: é imposta uma obrigação ao réu que, se não for cumprida espontaneamente, pode ser efetivada por mero ato de auxiliar da justiça. Ex: sentença de despejo. - Sentenças mandamentais: impõem obrigação ao réu com caráter de ORDEM (Ex: Mandado de Segurança). Quando não cumprida espontaneamente, o juiz pode aplicar sanções ao réu por descumprimento de ordem judicial e terá poderes mais amplos para a efetivação da decisão (Ex: crime de desobediência). Essas duas classificações tinham mais sentido antes das reformas no processo executivo, uma vez que as sentenças condenatórias dependeriam de um novo processo de execução, enquanto que nas sentenças executivas lato-sensu e sentenças mandamentais a execução se daria pela mera execução de atos no mesmo processo. No entanto, com a reforma em 2005/06, a execução também passa a se dar a partir de uma nova fase no processo (ideia de processo sincrético). COISA JULGADA A doutrina, tradicionalmente, divide a coisa julgada em duas espécies: a) Coisa julgada formal – é um fenômeno endoprocessual, porque é a imutabilidade do conteúdo da decisão, impedindo sua rediscussão dentro do processo em que foi proferida. Não vai atingir outros processos, a imutabilidade se dá apenas dentro do processo, não impede rediscussões em processos posteriores. b) Coisa julgada material – é uma imutabilidade do conteúdo da decisão que impede a sua rediscussão não só no processo em que foi proferida, mas também em processos posteriores. A coisa julgada material impede a rediscussão também fora do processo daquela questão que formou coisa julgada material. A coisa julgada, para que surja, depende do trânsito em julgado, seja ela formal ou material. O trânsito em julgado é o fenômeno que ocorre quando se esgotam os recursos cabíveis em face da decisão final de uma demanda ou quando o prazo recursal corre em branco. O trânsito em julgado se dá, em outras palavras, ou porque houve uma preclusão consumativa ou porque houve preclusão temporal para interposição dos recursos, acarretando essa impossibilidade de discussão da decisão final. Toda decisão final, quando transita em julgado, sofre uma coisa julgada formal. Porém, algumas decisões, ao lado da coisa julgada formal, vão formar uma coisa julgada material, impedindo a rediscussão em outros processos.A doutrina elenca dois requisitos para a coisa julgada material: a) Cognição exauriente – cognição é a atividade de conhecimento do juiz, de análise de alegações e provas. A cognição ser exauriente significa que a cognição deve ter analisado com profundidade as alegações e provas. b) Decisão de mérito – a doutrina diz, tradicionalmente, que a coisa julgada material incide apenas sobre decisões de mérito. Isso porque as decisões de mérito são aquelas que efetivamente apreciaram o conflito de interesses. Por isso elas é que seriam aptas a impedir a discussão em processos posteriores. Porém, é preciso registrar que o novo CPC acaba por gerar discussões acerca deste requisito, especialmente com a previsão do 486, §1º, que trata das decisões terminativas. Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação. § 1o No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos incisos I, IV, VI e VII do art. 485, a propositura da nova ação depende da correção do vício que levou à sentença sem resolução do mérito. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art485i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art485i § 2o A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado. § 3o Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada em abandono da causa, não poderá propor nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito. O art. 486 no caput confirma o segundo requisito que mencionamos para a coisa julgada material, sobre a decisão ser de mérito (definitiva), já que a decisão terminativa não impede nova demanda. Mas, no §1º, vemos que há uma série de decisões terminativas que não permitem a propositura de demanda idêntica, senão com a correção do vício que ensejou a extinção do processo sem resolução do mérito. Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; Diante desta previsão, alguns autores vão dizer que se trata de uma eficácia de coisa julgada material. Contudo, frise-se que essas decisões geram uma coisa julgada para processo posterior, mas não quanto ao direito em jogo, apenas quanto à questão processual. Limites da coisa julgada: A coisa julgada possui limites subjetivos e objetivos. 1) LIMITES SUBJETIVOS – Aqui se está avaliando quem sofre coisa julgada. Neste sentido, a coisa julgada pode ser: 1.1 - INTER PARTES– Via de regra, são as partes da demanda que sofrem a coisa julgada, por força do art. 506 do novo CPC. Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Como regra, as partes é que devem sofrer a coisa julgada material, de modo que terceiros estranhos ao processo não estariam sujeitos a seu efeito, porque não tiveram o gozo das garantias constitucionais do processo. Tanto assim que o art. 506 menciona que a coisa julgada não deve prejudicar terceiros, uma vez que isso atentaria contra direitos processuais constitucionais destes. Se os terceiros fossem prejudicados pela coisa julgada, isso se daria sem o devido processo legal, contraditório, ampla defesa. Em outras palavras, o limite subjetivo da coisa julgada se justifica porque, em regra, as partes é que usufruem das garantias constitucionais do processo, gozam do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal. Portanto, as partes é que sofrem as consequências da imutabilidade da decisão. Terceiros que não tiveram a possibilidade de gozar das garantias do processo não devem ser prejudicados pela coisa julgada. No entanto, pela redação do art. 506, a coisa julgada não pode prejudicar, mas poderia beneficiar terceiros, já que isto não representaria prejuízo aos seus direitos fundamentais processuais. #POLÊMICA: De acordo com recente decisão do STJ no Informativo 660, “o proprietário do imóvel gerador dos débitos condominiais pode ter o seu bem penhorado no bojo de ação de cobrança, já em fase de cumprimento de sentença, da qual não figurou no polo passivo, uma vez que ajuizada, em verdade, em face da então locatária do imóvel. Ex: o condomínio ajuizou ação de cobrança de cotas condominiais apenas contra o locatário; o pedido foi julgado procedente determinando que o locatário pagasse os débitos condominiais; iniciou-se a fase de cumprimento de sentença; o STJ afirmou que o juiz pode determinar a penhora do imóvel mesmo o locador (proprietário) não tendo figurado no polo passivo da ação de cobrança. STJ. 3ª Turma. REsp 1.829.663-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). Em se tratando a dívida de condomínio de obrigação propter rem e partindo-se da premissa de que o próprio imóvel gerador das despesas constitui garantia ao pagamento da dívida, o proprietário do imóvel pode ter seu bem penhorado na ação de cobrança, em fase de cumprimento de sentença, da qual não figurou no polo passivo. A solução da controvérsia perpassa pelo princípio da instrumentalidade das formas, aliado ao princípio da efetividade do processo, no sentido de se utilizar a técnica processual não como um entrave, mas como um instrumento para a realização do direito material. Destaca-se que a ação de cobrança de débitos condominiais pode ser proposta em face de qualquer um daqueles que tenha uma relação jurídica vinculada ao imóvel. Assim, se o débito condominial possui caráter ambulatório e a obrigação é propter rem, não faz sentido impedir que, no âmbito processual, o proprietário possa figurar no polo passivo do cumprimento de sentença. Em regra, deve prevalecer o interesse da coletividade dos condôminos, permitindo-se que o condomínio receba as despesas indispensáveis e inadiáveis à manutenção da coisa comum. O STJ, na fundamentação do julgado, entendeu que a regra do art. 506 não é absoluta e comporta exceções. Em determinadas hipóteses, a coisa julgada pode atingir, além das partes, terceiros que não participaram de sua formação. Trata-se de entendimento criticável do ponto de vista criticável pela doutrina, mas que foi adotado pelo STJ. 1.2 - ULTRA PARTES– é a coisa julgada que incide sobre as partes e um determinado grupo de terceiros. Diz-se ultra partes porque ultrapassa as partes da demanda e atinge ainda outras pessoas. Ex.: art. 103, II, CDC, que trata da coisa julgada nas ações coletivas de consumo relativas a direitos coletivos em sentido estrito. Tais ações tratam de direitos que são típicos de um grupo, categoria ou classe de pessoas. Como os direitos coletivos em sentido estrito são direitos relativos a um grupo, categoria ou classe de pessoas, o art. 103, II, prevê uma coisa julgada ultra partes, salvo na improcedência por falta de provas. Então, via de regra, nas ações coletivas referentes a esses direitos coletivos stricto senso, a coisa julgada é ultra partes, incidindo sobre autor e réu da ação coletiva, bem como sobre os titulares daquele direito que são membros de um grupo, categoria ou classe de pessoas. 1.3 - ERGA OMNES– a coisa julgada erga omnes é a aquela que vai incidir não só sobre as partes ou sobre o terceiro, mas sobre toda a comunidade. Ex.: art. 18, Lei 4.717, que prevê que na ação popular a sentença fará coisa julgada erga omnes, salvo na improcedência por falta de provas. 2) LIMITES OBJETIVOS – tais limites buscam responder à pergunta “o que forma a coisa julgada dentro de uma decisão judicial”? Vimos que a sentença possui comoelementos o relatório, fundamentação e dispositivo. A sentença, quanto ao seu relatório, não forma coisa julgada, porque o relatório não decidiu absolutamente nada. Segundo o art. 503 do NCPC, a decisão forma coisa julgada nos limites da questão principal expressamente decidida. A questão principal de uma demanda é o pedido, porque ele é o mérito a ser apreciado. O pedido vai ser apreciado no dispositivo da decisão. Portanto, pelo art. 503, caput, o dispositivo forma coisa julgada. Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. Art. 504. Não fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. O art. 504 trata de certas questões que não fazem coisa julgada. A verdade dos fatos estabelecidos como fundamento da sentença e os motivos estão na fundamentação da sentença. Portanto, com base no art. 504, via de regra, a fundamentação não forma coisa julgada. Mas existem certas questões que sempre geraram dúvida se a sua análise poderia ou não formar coisa julgada. São as questões prejudiciais, entendidas como questões que, caso acolhidas, influenciam a análise do mérito A análise da questão prejudicial, tradicionalmente, não formaria coisa julgada. No CPC de 73, se alguém quisesse formar coisa julgada sobre uma questão prejudicial, seria preciso propor uma ação declaratória incidental (art. 470, CPC/73), pois com esta a questão prejudicial passaria a integrar o dispositivo. Contudo, o novo CPC trouxe uma mudança no sistema, passando a admitir que a resolução da questão prejudicial possa formar coisa julgada material, independentemente de ação declaratória incidental. Para tanto, são necessários 4 requisitos: 1 - A decisão sobre a questão prejudicial deve ter se dado de forma expressa e incidente no processo (não pode ser implícita, subentendida). 2 - A resolução do mérito deve depender da resolução da questão prejudicial. Tal dependência deve ser interpretada como uma dependência necessária, essencial. 3 - Haja contraditório prévio e efetivo. Por isso, não se aplica ao caso de REVELIA. O §2º do art. 503 também menciona que se o procedimento tem restrições probatórias ou limitações cognitivas que impeçam o aprofundamento da análise da prejudicial, não seria caso de formação de coisa julgada (Ex: mandado de segurança) 4 - O juízo deve ter competência em razão da matéria ou da pessoa para conhecê-la na via principal. Em outras palavras, o juízo não pode ser absolutamente incompetente para a análise da questão prejudicial caso ela fosse deduzida como ação principal (Ex: inconstitucionalidade de tributo e controle incidental -> o juiz só pode, no controle incidental, analisar a inconstitucionalidade da fundamentação, e não como questão principal. Por isso, não há como essa questão formar coisa julgada). § 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se: I - dessa resolução depender o julgamento do mérito; II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. Modos de produção da coisa julgada: A coisa julgada nem sempre se produz da mesma maneira dentro do processo. Há 3 modos de produção da coisa julgada diferentes: - COISA JULGADA PRO ET CONTRA (REGRA GERAL): é a coisa julgada que vai incidir seja qual for o resultado do processo (favorável ou desfavorável). Ela independe do resultado do processo. É a regra geral de nosso processo civil, porque o NCPC, ao regular a coisa julgada nos Modos de produção da coisa julgada PRO ET CONTRA SECUNDUM EVENTUM LITIS SECUNDUM EVENTUM PROBATIONIS artigos 502 a 508, não faz uma restrição quanto ao resultado da demanda para a produção da coisa julgada. - COISA JULGADA SECUNDUM EVENTUM LITIS: é a coisa julgada que se produzirá a depender do resultado da demanda. Aqui, a coisa julgada não se produz tanto pró como contra, mas somente quando temos um destes resultados. Neste sentido, há a previsão do art. 103, III do CDC, que trata da coisa julgada nas ações coletivas de consumo relativas a direitos individuais homogêneos. Pelo artigo 103, III a coisa julgada incide erga omnes, salvo na improcedência do pedido. Então, no caso de procedência, a coisa julgada se produz erga omnes, mas no caso de improcedência, ela não se produz. Por isso, diz-se que se trata de uma coisa julgada secundum eventum litis (a depender do resultado da demanda). Há, também, o art. 506 do NCPC, que trata dos limites subjetivos da coisa julgada, mas que traz também uma preocupação com o resultado da demanda: somente em caso de um resultado positivo é que a coisa julgada poderá incidir sobre terceiros. Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. - COISA JULGADA SECUNDUM EVENTUM PROBATIONIS: é aquela que só se forma no caso de suficiência de provas. Assim, se um pedido for julgado improcedente por falta de provas, não haveria a formação de coisa julgada. Ex: art. 18 da lei da Ação Popular, que prevê que, na ação popular, a coisa julgada será erga omnes, salvo na improcedência por FALTA DE PROVAS. Desta forma, a coisa julgada só vai se produzir em casos de procedência ou, então, se for improcedência, por outro motivo que não a falta de provas. Efeitos da coisa julgada material: - EFEITO NEGATIVO DA COISA JULGADA/ EFEITO VINCULATIVO DIRETO: é o efeito segundo o qual a coisa julgada, uma vez formada, impede a rediscussão da mesma questão como questão principal em outro processo. Exemplo: numa ação indenizatória por danos morais, se o pedido foi julgado improcedente, não é possível nova decisão de mérito numa segunda demanda idêntica à primeira, porque aquela questão formou coisa julgada quanto ao descabimento daquela indenização. Então, há a incidência do efeito negativo da coisa julgada. Pelo efeito negativo, o juiz não tem como decidir novamente a mesma questão que formou coisa julgada caso ela surja novamente como questão principal em outro processo. - EFEITO POSITIVO DA COISA JULGADA/ EFEITO VINCULATIVO INDIRETO: é o efeito segundo o qual a questão que formou coisa julgada, em um processo, deve ser observada caso surja como prejudicial em um processo posterior. No efeito negativo, como vimos antes, o juiz não pode decidir de novo a questão, porque esta formou coisa julgada no primeiro processo e surgiu de forma principal novamente no segundo processo. Então, no segundo processo, o juiz deveria extinguir o processo sem resolução de mérito, em virtude da coisa julgada anterior. Já no efeito positivo, estamos tratando de demandas diferentes e, por isso, o juiz não deve extinguir o processo sem resolução do mérito. Isto porque a questão decidida no processo anterior e acobertada pela coisa julgada é uma mera prejudicial ao mérito do segundo processo, de forma que o juiz irá julgar o mérito da nova demanda, mas considerando a coisa julgada formada no primeiro processo sobre a atual questão prejudicial. Exemplo: ação declaratória de nulidade de contrato que teve seu pedido julgado improcedente. Vem um segundo processo, onde uma das partes busca a condenação da outra ao cumprimento de cláusulas do contrato. Se o pedido do primeiro processo foi improcedente significa que o contrato é válido. Nesse segundo processo, caso o réu alegue que não tem que cumprir porque o contrato é nulo, essa é uma questão que já formou coisa julgada no primeiro processo. Por isso, nesse ponto, o juiz irá analisar o mérito da nova demanda, reconhecendo, desde logo, a validade do contrato (questão prejudicial) para fins de apreciar o pedido principal.Em suma, temos demandas diferentes, mas o juiz vai apreciar o pedido principal da segunda com base na questão prejudicial que já foi objeto de coisa julgada no primeiro processo. - EFEITO PRECLUSIVO/ EFICÁCIA PRECLUSIVA DA COISA JULGADA: (art. 508 do NCPC) A eficácia preclusiva consiste na impossibilidade de que a parte discuta, em momento posterior, matérias que poderiam ter sido alegadas em seu favor antes da formação de coisa julgada. Ou seja, a formação da coisa julgada material torna irrelevantes matérias que a parte poderia ter deduzido em seu favor no curso do processo. Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido. - EFEITO SANATÓRIO DA COISA JULGADA: a coisa julgada, uma vez produzida, sana os vícios porventura existentes na demanda. Enquanto são cabíveis recursos em uma demanda, a decisão é recorrível e pode haver até, eventualmente, sua anulação no processo. De outro lado, depois que a decisão transita em julgado, os vícios são considerados sanados, de modo que apenas aqueles vícios que dão ensejo à ação rescisória poderão ser discutidos. OBSERVAÇÃO: Há vícios que são considerados insanáveis pelo trânsito em julgado, dando ensejo até mesmo a uma AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DA SENTENÇA. Para a doutrina e o STJ, seriam os vícios referentes à falta ou à nulidade da citação, em processo que tramitou à revelia do réu. Sentenças determinativas. A coisa julgada gera algumas discussões quanto à sua formação ou não no âmbito das ações sujeitas a sentenças DETERMINATIVAS. As sentenças determinativas são as sentenças que decidem relação jurídica continuativa, ou seja, são as sentenças que estão dispondo sobre relação de trato sucessivo (Exemplo: ação de alimentos). Por serem relações de trato sucessivo, pode ser que haja alguma mudança de fato ou de direito após a formação de coisa julgada. Nestes casos, como fica a coisa julgada? Vejamos o que diz o art. 505, I: Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei. Diante disto, parte da doutrina, a exemplo de VICENTE GRECO FILHO, defende que não haveria coisa julgada sobre a questão decidida em sentenças determinativas. Mas, o melhor entendimento é o defendido, dentre outros, por BARBOSA MOREIRA, no sentido de que há sim coisa julgada material na sentença determinativa, pois somente se houver modificação no estado de fato ou de direito é que poderá haver a revisão do que ficou estatuído na sentença. Exemplo: ação de alimentos – há uma relação que se protrai no tempo, já que mensalmente o devedor deve adimplir a prestação alimentícia. Imagine que o devedor de alimentos pague, hoje, uma quantia X, mas passa em um concurso público e comece a ganhar 10x mais do que recebia. Perceba que, neste caso, há uma mudança no estado de fato do devedor de alimentos. Como sabemos, os alimentos são fixados não só com base na necessidade do credor, mas também com base na disponibilidade financeira do devedor. Com a mudança do estado de fato, a mãe da criança pode propor uma ação de revisão de alimentos, para rever o que ficou estatuído na primeira sentença, objetivando a majoração dos alimentos anteriormente fixados. Isto não quer dizer que a primeira decisão não formou coisa julgada, mas sim que, por se tratar de uma relação de trato sucessivo, a mudança no estado de fato pode ensejar a alteração da sentença, fundada em uma nova causa de pedir. Relativização da coisa julgada injusta: Segundo Daniel Assumpção, a coisa julgada injusta inconstitucional se refere à possibilidade de sentença de mérito transitada em julgado causar uma extrema injustiça, com ofensa a preceitos e valores constitucionais fundamentais. A sua relativização não tem previsão legal expressa, sendo, na verdade uma criação doutrinária e jurisprudencial. Parte da doutrina entende que, apesar da coisa julgada assegurar a segurança jurídica, esta não pode ser absoluta. Para os defensores dessa tese, à luz do caso concreto, deve ser feita, uma ponderação dos seguintes preceitos constitucionais: manutenção da segurança jurídica e manutenção da ofensa a direito fundamental garantido na Constituição Federal. Em tal juízo de ponderação entre valores consagrados pela Constituição, seria legítimo o afastamento da coisa julgada quando, no caso concreto, se mostrar mais benéfica à proteção do valor constitucionalmente assegurado afrontado pela sentença coberta pelo manto da coisa julgada material1. Contudo, alerte-se que o mero erro na decisão transitada em julgado não dá ensejo à relativização da coisa julgada, já que, neste caso, a segurança jurídica se sobrepõe à justiça da decisão. Ademais, o efeito sanatório da coisa julgada, conforme estudamos em tópico anterior, 1 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. São Paulo: Método, 9ª ed.,p. 902. tem o condão de sanar eventuais vícios porventura ocorridos. O STJ, inclusive, já proferiu entendimento nesse sentido, ao entender que: “a mera alegação de que houve um erro de julgamento não é apta a justificar a aplicação da teoria da relativização da coisa julgada com vistas a desconstituir decisão que, em sede de incidente de habilitação de crédito, fixou equivocadamente os honorários advocatícios com base no § 3º do art. 20 do CPC - quando deveria ter utilizado o § 4º do referido dispositivo -, ainda que o valor dos honorários seja excessivo e possa prejudicar os demais credores concursais”2. Observe-se que a corrente que defende a possibilidade de relativização da coisa julgada injusta inconstitucional, se divide em 2 grupos. Vejamos: • Um grupo que defende a inexistência de coisa julgada material nos casos de extrema injustiça inconstitucional da sentença. Para esse entendimento, o afastamento da decisão sequer poderia ser encarado como forma de relativização. Ou seja, não se trata de relativizar a coisa julgada material, mas de declarar a ineficácia, nulidade ou inexistência da sentença proferida; • Outro grupo que entende que mesmo diante dessa extrema injustiça, haveria coisa julgada material e que nesse caso, o seu afastamento se mostraria necessário e cabível diante da proteção de outros valores constitucionais3. Para outra parte da doutrina, não deve ser consagrada a tese de que é possível a relativização da coisa julgada injusta inconstitucional. Isso porque, a segurança jurídica, como decorrência da coisa julgada, é imprescindível para a estabilização das relações jurídicas, essencial para o estado democrático. Além disso, a segurança jurídica é essencial para a inafastabilidade da jurisdição, já que a possibilidade de tutela jurisdicional passível de revisão sem prazo afasta a própria razão de ser do referido princípio. Para essa corrente, a possibilidade de uma exceção culminaria em uma incontrolável busca de relativização da coisa julgada. O termo justiça constitui um conceito juridicamente indeterminado e extremamente subjetivo, não sendo possível determinar de forma unânime o que é justo ou não. A possibilidade de relativização acarretaria, na prática, a eternização dos conflitos. Por fim, a referida corrente entende que a possibilidade de relativização da coisa julgada injusta inconstitucional gera extrema incompatibilidade lógica. Isso porque, haveria a possibilidade do juiz de 1º grau reconhecer um vício no caso concreto, afastando decisão transitada em julgado em grau hierárquico superior, o que representaria grave afronta ao sistema de distribuição de competências4. Como se posiciona a jurisprudência?O referido tema é bastante polêmico. No entanto, o STF tem o entendimento de que é possível a relativização da coisa julgada em ação de investigação de paternidade em virtude de exame de DNA não realizado na primeira demanda. Entende a Corte que nos casos de investigação de paternidade em que na primeira demanda não tenha sido realizado o exame pericial de 2REsp 1.163.649-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/9/2014, DJe 27/2/2015. 3 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. São Paulo: Método, 9ª ed.,p. 902. 4 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. São Paulo: Método, 9ª ed.,p. 905. comparação do DNA, é possível a relativização da coisa julgada haja vista que o direito à descoberta da ascendência genética é personalíssimo, imprescritível e decorrente da dignidade da pessoa humana5. Apesar de não haver um entendimento uníssono na doutrina e nem na jurisprudência acerca da matéria, podemos entender à luz do caso concreto, na hipótese de ser violado um direito fundamental de extrema importância, como evidenciado no exemplo acima, será possível, de forma excepcional, a relativização da coisa julgada injusta.6 CUIDADO, pois o STJ possui precedente entendendo que essa tese não pode ser aplicada ao pai que se negou a fazer o exame na ação anterior, pois seria caso de venire contra factum proprium (proibição de comportamento contraditório), sendo uma forma de abuso de direito. Assim, como o autor negou-se a produzir a prova que traria certeza à controvérsia nos autos da ação de investigação de paternidade que transitou em julgado, não pode, agora, utilizar-se, maliciosamente, da ausência da referida prova como fundamento para a propositura de ação negatória de paternidade e, com isso, buscar ver alterada a decisão que lhe foi desfavorável, sob pena de incorrer em violação da boa-fé objetiva. A relativização da coisa julgada estabelecida em ação de investigação de paternidade – em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes – não se aplica às hipóteses em que o reconhecimento do vínculo se deu, exclusivamente, pela recusa do investigado ou seus herdeiros em comparecer ao laboratório para a coleta do material biológico. STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.239/MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 09/05/2017 (Info 604). Coisa Julgada Inconstitucional: Trata-se de outro fenômeno de superação da coisa julgada, quando a decisão judicial transitada em julgado ofende norma constitucional, em desacordo com entendimento do STF proferido em sede de controle de constitucionalidade. Essa é uma situação que está regulada no art. 525, p. 12 a 15 para os casos em que aquele que sofre as consequências da decisão é particular e, no caso da fazenda pública, está no art. 535, p. 5o a 8o. Quando nós olhamos para esses dispositivos, na verdade, no CPC/73 já havia previsão de superação dessa coisa julgada inconstitucional. Mas as regras do CPC/73 eram bastante 5 “Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA. TEMA OBJETO DE REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidou-se no sentido de que cabe a relativização da coisa julgada em se tratando de ação de investigação de paternidade em que não ocorreu realização de exame de DNA. 2. Agravo regimental, interposto em 25.08.2016, a que se nega provimento”. (ARE 900521 AgR, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 28/10/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-242 DIVULG 14-11-2016 PUBLIC 16-11-2016) 6Para maior aprofundamento, recomenda-se a leitura:https://www.conjur.com.br/2016-ago-24/coisa- julgada-relativizada-nao-houve-exame-dna https://www.conjur.com.br/2016-ago-24/coisa-julgada-relativizada-nao-houve-exame-dna https://www.conjur.com.br/2016-ago-24/coisa-julgada-relativizada-nao-houve-exame-dna simplistas e não resolviam muitos problemas que surgiam. Com isso, o NCPC, em boa hora, deu um tratamento muito mais amplo a essa coisa julgada inconstitucional. Existem 2 mecanismos para combater essa coisa julgada “inconstitucional”: a impugnação ao cumprimento de sentença e a ação rescisória. Vamos estudar esse fenômeno com base no art. 525 do NCPC, porque o art. 535 tem o mesmo regime. Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia- se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. § 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1o deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. § 13. No caso do § 12, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo, em atenção à segurança jurídica. § 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda. § 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir: § 5o Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. § 6o No caso do § 5o, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo, de modo a favorecer a segurança jurídica. § 7o A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 5o deve ter sido proferida antes do trânsito em julgado da decisão exequenda. § 8o Se a decisão referida no § 5o for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. Esses dispositivos tratam da defesa do executado na execução de particulares e de pessoas de direito público. Dentre as matérias de defesa do executado está a inexigibilidade da obrigação reconhecida na sentença. Pelo p. 12 do art. 525 (ou p. 5o do art. 535) a obrigação constante do título é inexigível quando o título é fundado em lei ou ato normativo reputado inconstitucional pelo STF ou fundado em interpretação ou aplicação do ato normativo tida como incompatível com a CF em controle difuso ou concentrado. Assim, quando aquele título executivo se baseia numa norma declarada inconstitucional pelo STF ou aquele título aplicou entendimento afastado pelo STF em interpretação conforme a constituição em controle difuso ou concentrado, teremos a chamada COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL. ATENÇÃO! Antes do NCPC só poderia haver a coisa julgada “inconstitucional” se a decisão do STF fosse em controle concentrado, e não em controle difuso. Contudo, hoje o CPC deixa claro que o parâmetro pode ser decisão também em sede de controle DIFUSO. Nestes casos, a sentença não será desconstituída, mas perderá seusefeitos. Trata-se de uma forma de superar a CJ material. Vejam que não é como na rescisória, não é como numa ação autônoma em que eu busque desconstituir a decisão. O título continua existindo, mas ele será considerado inexigível. Essa coisa julgada “inconstitucional” será ventilada via impugnação ao cumprimento de sentença quando a coisa decisão do STF foi anterior ao transito em julgado da decisão exequenda, conforme art. 525, §14 e 535, §7º. De outro lado, pelo p. 15 do art. 525 (p. 8o do art. 535) – se a decisão do STF foi proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá a propositura de ação rescisória. Isso porque, nesse caso, trata-se de rescisória por ofensa à norma jurídica – se a decisão exequenda aplicou entendimento que depois foi tido como inconstitucional pelo STF, aquela decisão ofendeu norma jurídica. Logo, não se usa a via da impugnação, mas sim a rescisória. Os art. 525, p. 15 e 535, §8º, parte final, menciona ainda que – “caberá rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo STF”. Ou seja, o prazo para a rescisória neste caso começa a contar quando transitar em julgado, por exemplo, a decisão da ADIN (ou do RE). Conflito de coisas julgadas (ATENÇÃO!) Imagine que nós temos coisas julgadas que colidem entre si: uma 1a CJ vai num sentido e uma 2a CJ vai em sentido diferente, relativamente a uma mesma relação jurídica. Ora, teria que ter havido, em princípio, ou a aplicação do efeito negativo ou positivo, dependendo do caso concreto. Isso porque se já havia uma 1a coisa julgada seria caso de extinguir o 2o processo por coisa julgada, em demandas que tenham o mesmo objeto; ou se não eram demandas iguais, mas a 1a tratava de uma questão que era prejudicial ao mérito da 2o, a 2a CJ tinha que ter observado a 1a para decidir o mérito do 2o processo (efeito positivo). Só que isso não aconteceu. Qual é a primeira solução que nós daríamos aqui então? Ação rescisória para ofensa à coisa julgada, prevista no art. 966, IV do NCPC. Assim, se ainda há prazo para a rescisória, seria possível atacar a segunda coisa julgada por meio dela. Mas e se o prazo da rescisória acabou? Então teríamos duas coisas julgadas colidentes e não teríamos como usar a rescisória. Nesse caso, qual é a coisa julgada que prevalece? ➢ 1A Corrente: no sentido de que prevaleceria a 1a CJ. Em função ao direito fundamental da coisa julgada, previsto no art. 5o, XXXVI da CF. Assim, uma vez formada a CJ na 1ª ação, a 2a demanda que tenha formado nova coisa julgada colidente com a 1a estaria ofendendo a Constituição, por violação à coisa julgada inicial. ➢ 2A Corrente: (prevalece): no sentido de que vale a 2a CJ. O próprio STJ já apreciou esse problema e, da mesma forma que a doutrina dominante (BARBOSA MOREIRA), entendeu que prevalece a 2a coisa julgada. Aqui temos três argumentos: ✓ 1o argumento: a coisa julgada teria força de lei tal qual o art. 503 do NCPC (art. 468, CPC/73) prevê. Isso porque gera uma imutabilidade regulando o caso concreto (norma jurídica do caso concreto). Já que a coisa julgada teria força de lei, lei posterior revogaria lei anterior naquilo que foi colidente, ou seja, critério temporal para solução de antinomias. ✓ 2o argumento: na verdade, o art. 5o, XXXVI da CF, em que se baseia a 1a corrente, não impediria a 2a coisa julgada de prevalecer sobre a 1a porque a garantia da CJ é uma garantia em face do legislador – esse dispositivo fala que “a lei não prejudicará coisa julgada“. ✓ 3o argumento: a 2a coisa julgada prevalece, porque quando ela sobreveio a parte tinha o prazo de 02 anos para propor a rescisória; se ela não propôs a rescisória no prazo, ela aquiesceu/abraçou a 2a coisa julgada. MUITA ATENÇÃO, pois a Corte Especial do STJ apreciou o tema em dezembro de 2019! (EAREsp 600811) Por maioria de votos, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que, havendo duas decisões judiciais sobre o mesmo tema, com entendimentos divergentes, mesmo tendo as mesmas partes e objetivos, deve prevalecer aquela que se formou por último – enquanto não desconstituída por ação rescisória. Segundo o relator, ministro Og Fernandes, há nos órgãos fracionários do STJ o entendimento de que a sentença transitada em julgado por último implica a negativa de todo o conteúdo decidido no processo transitado em julgado anteriormente, em observância ao critério de que o ato posterior prevalece sobre o anterior. "O fundamento suficiente que invoco para reafirmar o posicionamento que vem sendo reiterado nos julgados da Segunda Turma e que, como visto, é acompanhado majoritariamente pelos demais órgãos fracionários, é o de que se deve privilegiar a coisa julgada que por último se formou – enquanto não desconstituída por ação rescisória –, eis que, sendo posterior, tem o condão de suspender os efeitos da primeira decisão", afirmou Og Fernandes. Ordem cronológica para proferir sentenças: Atenção com o art. 12 do CPC, que traz disposição no sentido de que os juízes e tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença (não se trata de regra absoluta, que gere, por exemplo, nulidade). Entretanto, o mesmo dispositivo traz algumas exceções a essa observância da ordem cronológica, o que tem sido cobrado em provas. https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&termo=EAREsp%20600811 ART. 12 DO CPC/15. OS JUÍZES E OS TRIBUNAIS ATENDERÃO, PREFERENCIALMENTE, À ORDEM CRONOLÓGICA DE CONCLUSÃO PARA PROFERIR SENTENÇA OU ACÓRDÃO. §2º ESTÃO EXCLUÍDOS DA REGRA DO CAPUT: I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; Iv - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932; V - O JULGAMENTO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO; VI - o julgamento de agravo interno; VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal; IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada. Reexame necessário: O reexame necessário é a exigência de que as sentenças proferidas contra a Fazenda Pública sejam confirmadas no tribunal, independentemente da interposição de recurso de apelação, para que produzam eficácia plena. No Novo CPC, o instituto é chamado de “remessa necessária”. Leonardo Greco prefere utilizar a nomenclatura “duplo grau de jurisdição obrigatório”. Em nossa opinião, todos esses termos podem ser utilizados como sinônimos. Hipóteses de cabimento: No NCPC, temos 2 hipóteses de cabimento do reexame, que são as mesmas do CPC/73: I - Sentenças proferidas contra a fazenda pública. II – Julgamento de procedência total ou parcial dos embargos à execução fiscal. Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público; II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal. I - Sentenças proferidas contra a fazenda pública. Não são todas as sentenças proferidas contra a fazenda pública que estarão sujeitas ao reexame necessário. A jurisprudência traz algumas exceções, como as sentenças terminativas (que extinguem o processo sem resolução do mérito). Ademais, o próprio CPC dispensa o reexame necessário em algumas hipóteses, tais como em condenações de baixo valor ou em algumas situações em que a sentença está em consonância com determinadosprecedentes, conforme veremos. II - Julgamento de procedência total ou parcial dos embargos à execução fiscal. Quando é acolhida a defesa do executado na execução fiscal, cabe o reexame para que haja uma proteção ao erário. CUIDADO: o dispositivo trata dos embargos à execução FISCAL. Em outras palavras, se refere apenas à defesa do devedor nas execuções FISCAIS - promovidas com base na L6830/80 -, não abrangendo a defesa do devedor nas execuções não-fiscais (que seguem o rito do CPC) . Com efeito, não haverá reexame no caso de rejeição dos embargos à execução opostos pela fazenda em execução contra ela promovida (vide AgRg no Resp 1011409 RJ). Dispensa do reexame necessário: O Novo CPC ampliou as hipóteses de dispensa do reexame necessário, que podem ser assim elencadas: - Quando o direito discutido ou a condenação não supera um determinado valor. No antigo CPC, o art. 475, §2º já mencionava que não haveria o reexame nos casos de condenação não superiores a 60 salários-mínimos. O NCPC, no art. 495, §3º, traz limites maiores de dispensa, variando de ente para ente (para União, 1000 salários; para Estados e municípios capitais, 500 salários; para demais municípios, 100 salários). § 3o Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a: I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de direito público; II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos Estados; III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público. Se a sentença for ilíquida, de acordo com o STJ (Súmula 490), não há que se falar em afastamento do reexame por valor. No NCPC, o próprio código fala em “valor líquido e certo”. Assim, sentença ilíquida deve necessariamente estar sujeita ao reexame. Súmula 490 do STJ: A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou do direito controvertido for inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas. - Quando a decisão estiver em consonância com jurisprudência firmada pelos tribunais superiores. O art. 496, §4º do NCPC ainda traz hipóteses de dispensa reexame com base em precedentes, ampliando a previsão do antigo CPC. São 3 hipóteses, quando a sentença estiver em consonância com: - Súmula de tribunal superior. - Precedente firmado em julgamento de recurso especial ou extraordinário representativo de controvérsia; - Precedente firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em incidente de assunção de competência. NCPC, Art. 496, § 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: I - súmula de tribunal superior; II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; - Quando, no âmbito da própria administração pública, há orientação vinculante que se mostra em consonância com a sentença recorrida. Há ainda uma última hipótese de dispensa: quando, no âmbito da própria administração pública, há orientação vinculante que se mostra em consonância com a sentença recorrida. É o caso, por exemplo, de pareceres aprovados no âmbito da AGU e que ganham caráter normativo com a aprovação do chefe do Executivo. NCPC, Art. 496, § 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa. QUESTÕES OBJETIVAS 1. (Vunesp 2018 - FAPESP – Procurador) O poder jurisdicional terá concretude máxima ao ser prolatada sentença no processo, que pode ocorrer com ou sem análise do mérito da demanda. O juiz não resolverá o mérito quando: a) o processo ficar parado durante mais de 30 (trinta) dias por negligência das partes. b) acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência. c) reconhecer a existência de preempção, de litispendência ou de coisa julgada. d) reconhecer liminarmente a ocorrência de prescrição e decadência. e) homologar a renúncia do direito realizada pelo autor. Gabarito: Alternativa B a) Incorreta, conforme Art. 485, II CPC. b) CORRETA, conforme Art. 485, VII CPC. c) Incorreta, conforme Art. 485, V CPC. Atenção à “pegadinha” nessa alternativa! A banca alterou os institutos: no lugar de "perempção" foi escrito "preempção". d) Incorreta, conforme Art. 487, II CPC e art. 332, §1º CPC. e) Incorreta, conforme Art. 487, III, “c” CPC. 2. (Vunesp 2018 – PGM Bauru/SP) Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. No que concerne à sentença, assinale a alternativa correta. a) O juiz resolverá o mérito quando verificar a impossibilidade jurídica do pedido do autor e a ausência de interesse de agir. b) O juiz resolverá o mérito da lide, quando em caso de morte do autor, a ação for considerada intransmissível por disposição legal. c) A extinção do processo por perempção pode ser reconhecida de ofício pelo juiz da causa, na audiência de instrução designada para realização de oitiva de testemunha arrolada em contestação. d) Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada em abandono da causa, não poderá propor nova ação contra o réu com o mesmo objeto, nem tampouco, se demandado, alegar em defesa o seu direito. e) Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento proferido em sentença terminativa. Gabarito: Alternativa E a) INCORRETA, conforme art. 485, VI CPC. b) INCORRETA, conforme Art. 485, IX CPC. c) INCORRETA, conforme Art. 337, V e § 5o CPC. d) INCORRETA, conforme art. 486 §3º CPC. e) CORRETA, conforme Art. 488 CPC. 3.(Vunesp 2018 – PGM Bauru/SP) Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso, sendo certo que a) a decisão que concede a tutela antecipada antecedente e se estabiliza faz coisa julgada. b) incumbe ao réu, ao discutir o mérito da demanda em contestação, alegar a existência da coisa julgada. c) a declaração sobre a falsidade testemunhal, quando resolvida no processo, constará da parte dispositiva da sentença e sobre ela incidirá também a autoridade da coisa julgada. d) não faz coisa julgada a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. e) a decisão que analisar ou não o mérito da demanda, como regra, tem força de lei nos limites da questão principal e prejudicial, expressamente decididas. Gabarito: Alternativa D a) Incorreta, conforme Art. 304 §6º CPC. b) Incorreta, conforme Art. 337, VII CPC. c) Incorreta, conforme Art. 433 CPC. d) Correta, conforme Art. 504, II CPC. e) Incorreta, conforme Art. 503 §1º. CPC. 4. (FCC – 2017 – TRF - 5ª REGIÃO) Acerca da coisa julgada, considere: I. Denomina-se coisa julgada formal a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso. II. A verdade dos fatos faz coisa julgada, quando estabelecida como fundamento da sentença. III. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, e em relação a terceiros juridicamente interessados. IV. Os motivos não fazem coisa julgada, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença. V. Transitada em julgado a decisão de mérito, consideram-se formuladas