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CENTRO UNIVERSITÁRIO ARNALDO HORÁCIO FERREIRA
COLEGIADO DE DIREITO
PERYCLES SAMUEL S. C. ÁLVARES
A RESPONSABILIDADE LEGAL DO EMPREGADOR PELO FORNECIMENTO E FISCALIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) EM PEQUENOS COMÉRCIOS, SOB A PERSPECTIVA DA NR-6
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito do Centro Universitário Arnaldo Horácio Ferreira, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Marcos Chibiaque
Luís Eduardo Magalhães – BA
2025
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por me conceder saúde e sabedoria para concluir esta etapa. Aos meus pais e familiares, pelo apoio incondicional. Aos amigos e colegas, pela parceria e companheirismo. Ao meu orientador, pela paciência, dedicação e contribuição essencial para o desenvolvimento deste trabalho.
RESUMO
Este trabalho analisa a responsabilidade legal do empregador quanto ao fornecimento e fiscalização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), à luz da Norma Regulamentadora nº 6 (NR-6), com enfoque nos pequenos comércios. Por meio de pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, foram examinados aspectos legais, doutrinários, jurisprudenciais e estatísticos. O estudo demonstra que a responsabilidade do empregador é objetiva, sendo necessária não apenas a entrega formal dos EPIs, mas a efetiva fiscalização de seu uso. Os resultados evidenciam que a ausência dessa fiscalização gera graves consequências sociais, jurídicas e econômicas, reforçando a importância de políticas públicas e tecnologias preventivas. 
Palavras-chave: Direito do Trabalho. NR-6. Equipamentos de Proteção Individual. Responsabilidade do empregador. Segurança do trabalho.
ABSTRACT
This study analyzes the employer's legal responsibility regarding the provision and monitoring of Personal Protective Equipment (PPE), under the Regulatory Standard nº 6 (NR-6), focusing on small businesses. Through qualitative, exploratory and descriptive research, legal, doctrinal, jurisprudential and statistical aspects were examined. The study shows that the employer's responsibility is objective, requiring not only the formal delivery of PPE but also the effective monitoring of its use. The results demonstrate that the lack of monitoring generates severe social, legal and economic consequences, reinforcing the importance of public policies and preventive technologies.
Keywords: Labor Law. NR-6. Personal Protective Equipment. Employer's responsibility. Occupational safety.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................. 10
2. JUSTIFICATIVA .............................................................................. 13
 2.1 Relevância social ........................................................................ 14
 2.2 Relevância jurídica ..................................................................... 15
 2.3 Relevância econômica ................................................................. 16
 2.4 Relevância histórica .................................................................... 17
 2.5 Relevância internacional ............................................................. 18
 2.6 Relevância em políticas públicas ................................................ 19
 2.7 Relevância científica ................................................................... 20
3. METODOLOGIA ............................................................................. 22
 3.1 Natureza da pesquisa ................................................................ 22
 3.2 Método de abordagem ............................................................... 23
 3.3 Procedimentos técnicos .............................................................. 24
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................. 26
 4.1 Evolução da segurança do trabalho no Brasil ............................ 27
 4.2 A Consolidação das Leis do Trabalho e o art. 166 .................... 29
 4.3 A NR-6 e os deveres do empregador ......................................... 31
 4.4 responsabilidade objetiva do empregador ................................. 34
 4.5 Doutrina e fundamentos jurídicos ............................................... 37
 4.6 Estatísticas nacionais e comparações internacionais .................. 39
5. JURISPRUDÊNCIAS RELEVANTES ........................................... 42
 5.1 Casos sobre fornecimento insuficiente de EPI ............................ 43
 5.2 Rescisão indireta por falta de EPI ................................................ 45
 5.3 Insalubridade e eficácia do EPI ................................................... 47
 5.4 Dano moral coletivo e responsabilidade ampliada ....................... 49
6. CONCLUSÃO .................................................................................. 52
7. REFERÊNCIAS ................................................................................. 56
8. ANEXOS ......................................................................................... 60
 8.1 Evolução dos acidentes de trabalho (2012–2024) ...................... 61
 8.2 Jurisprudências em quadro-resumo ............................................ 63
INTRODUÇÃO
Ambientes de trabalho seguros e saudáveis são essenciais para alcançar um ambiente de trabalho justo, decente e ambientalmente sustentável. O trabalho seguro é um direito constitucional no Brasil, previsto no artigo 7º (XXII) da Constituição Federal de 1988, e é regulamentado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), bem como por várias Normas Regulamentadoras (NRs), sendo a número seis, que se refere à entrega e verificação de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), um exemplo disso.
IMPLICAÇÕES REGULATÓRIAS
Essa ampla variação de uso pode ter implicações regulatórias, especialmente em pequenos estabelecimentos onde o cumprimento da NR-6 é visto apenas parcialmente ou de forma superficial, através da mera provisão do equipamento sem controle adequado do seu uso ou substituição quando necessário. Essa omissão contribui para o aumento da perda ocupacional e impede a subsequente aplicação da lei, o que pode ter fortes efeitos legais, sociais e econômicos.
A realidade brasileira atesta essa situação: em 2024, mais de 724 mil acidentes no ambiente de trabalho foram registrados no país, sendo a maioria deles classificados como acidentes típicos. Essa informação do SmartLab/MPT, observatório de saúde e segurança no trabalho, evidencia a falta de políticas eficientes de prevenção e controle de uso de EPI.
Nesse contexto, com a função social como expressão de valor do direito do trabalho e da política pública, este trabalho busca estudar a responsabilidade legal do empregador na provisão e monitoramento de EPI, enfatizando a NR-6 como instrumento preventivo. Deseja-se explorar não apenas o aspecto normativo, mas também as implicações práticas de sua observância, especialmente para pequenas empresas que sofrem tanto de restrições estruturais quanto financeiras.
Além disso, a jurisprudência recente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e dos Tribunais Regionais será analisada para mostrar como a Justiça do Trabalho tem entendido o não cumprimento do dever empresarial nesse sentido. Além disso, será feita uma análise das principais falhas de efetividade encontradas na aplicação da norma e possíveis maneiras de fortalecer a proteção da saúde e segurança dos trabalhadores.
Portanto, a pesquisa se justifica na medida em que se torna necessário estabelecer o papel indispensável da NR-6 na prevenção de acidentes de trabalho, promovendo uma cultura de prevenção ao invés de apenas formalidades vazias e, assim, gerando proteção real da vida e dignidade dos trabalhadores.
JUSTIFICATIVA
O tema é bem sustentado em uma base social, legal, econômica, histórica e científica, pois a proteção dos trabalhadores não é apenas um direito fundamental, mas também um problema prático — particularmente para pequenasempresas.
2.1 Relevância Social 
A falha em fornecer e monitorar o uso de EPIs coloca em risco a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, não sendo apenas um desserviço para o trabalhador que sofre, mas também para suas famílias e a comunidade. A falta de uma cultura voltada para a prevenção torna as relações de trabalho precárias, afetando a dignidade humana e o valor social do trabalho, conforme previsto no Artigo 1(III) da Constituição Federal.
2.2 Relevância Legal
 Em relação aos EPIs, a legislação brasileira é explícita na obrigação dos empregadores de fornecer e monitorar seu uso, como estabelecido no artigo 166 da CLT e regulamentado pela NR-6. O Artigo 7, inciso XXII da Constituição Federal garante a redução dos riscos de trabalho e intensifica seus meios preventivos. Muitos empregadores não vão além da oferta formal de equipamentos, deixando o uso efetivo e a atualização para o ciclo de estudos, onde frequentemente surgem disputas. Portanto, o debate é importante para a compreensão e implementação do direito trabalhista em geral, com implicações civis, administrativas e até mesmo penais.
2.3 Relevância Econômica
Acidentes de trabalho são custosos tanto para empresas quanto para trabalhadores, mas também para a sociedade em geral. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e dados do Observatório Nacional de Saúde e Segurança, o Brasil gasta R$ 100 bilhões por ano em licenças, indenizações, tratamentos e perda de trabalho como resultado. São as pequenas empresas, com a menor quantidade de recursos, que estão mais em risco, pois decisões judiciais podem colocar suas operações em perigo. Portanto, investir em prevenção não é apenas legal, mas também economicamente sustentável.
2.4 Relevância Histórica
 Historicamente, a proteção dos trabalhadores no Brasil se fortaleceu após a Constituição de 1988, que colocou saúde e segurança como direitos fundamentais. O contexto de fortalecimento da legislação trabalhista e sincronização com as convenções da OIT pode ser visto ao longo da redação e evolução da NR-6. Interpretar essa trajetória nos permite ver a função da norma que emergiu na luta social por um trabalho digno.
2.5 Relevância Internacional
A comparação com outros países como Alemanha e Japão ilustra que as taxas de acidentes podem ser minimizadas por meio de monitoramento meticuloso e cultura de prevenção. Como ratificador da Convenção nº 155 da OIT, o Brasil tem um compromisso internacional de implementar políticas nacionais de segurança e saúde no trabalho, o que enfatiza a relevância do tema em um âmbito mundial.
2.6 Relevância nas Políticas Públicas
O estudo também indica políticas públicas voltadas para micro e pequenos empreendedores, como benefícios fiscais, treinamentos gratuitos e assistência técnica específica em Segurança do Trabalho. Torna-se muito difícil para pequenas empresas cumprirem totalmente a NR-6 sem essa assistência, e, portanto, é a razão para acelerar o debate.
2.7 Relevância Científica
Muito tem sido publicado sobre grandes corporações e indústrias inteiras, mas relativamente pouco na literatura científica sobre pequenas empresas. Este artigo visa contribuir para preencher essa lacuna, oferecendo insights para futuras pesquisas e discussões acadêmicas sobre a segurança no trabalho em contextos de trabalho não formalizados.
Portanto, a pesquisa sobre a responsabilidade do empregador na NR-6 é de interesse não apenas por seu lado normativo, mas também por seus efeitos sociais, econômicos, históricos e internacionais; ela também fecha este trabalho como uma contribuição para a Ciência do Direito do Trabalho.
METODOLOGIA
A pesquisa realizada neste artigo é de natureza qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, baseada em fontes bibliográficas, documentais e jurisprudenciais.
3.1 Natureza da Pesquisa Aqui temos uma pesquisa qualitativa, uma vez que se concentra na análise interpretativa e crítica de materiais jurídicos, sociais e estatísticos. O uso da perspectiva qualitativa permitirá compreender, além da questão normativa, também as dimensões sociais e econômicas decorrentes da aplicação da NR-6 em pequenas empresas.
3.2 Método de Abordagem A abordagem metodológica empregada é dedutiva, que leva de princípios gerais válidos do Direito do Trabalho e da Constituição Federal a uma análise de casos específicos relativos ao fornecimento e controle de EPI. Esta opção se justifica uma vez que o problema pode ser analisado a partir da regra e sua aplicação prática na realidade brasileira.
3.3 Procedimentos Técnicos Os procedimentos técnicos utilizados foram:
· Revisão de doutrina e bibliografia, tratando de livros, artigos e doutrinas clássicas e contemporâneas do Direito do Trabalho;
· Pesquisa documental sobre a Constituição Federal (CF), Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), NR-6 e respectivas normas, convenções internacionais da Organização Internacional do Trabalho (OIT);
· Jurisprudência analítica, com base no levantamento jurisprudencial de decisões recentes do TST e dos Tribunais Regionais tratando da responsabilidade do empregador na provisão e inspeção de EPI;
· Censo de estatísticas, coletado de fontes primárias como o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab/MPT) e relatórios da OIT.
Tais procedimentos possibilitam compreender a aplicação prática da NR-6, bem como reconhecer quais são as principais intermediações impostas às pequenas empresas e gerar alternativas para aprimorar a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O direito à SST no Brasil é reconhecido como um direito básico garantido pela Constituição Federal (1988) e é regulamentado pela CLT e pelas Normas Regulamentadoras. A NR-6, em particular, determina critérios que influenciam a provisão e controle de EPI, atribuindo funções preventivas e protetivas ao empregador.
4.1 História das condições de trabalho no Brasil - 1ª fase na segurança ocupacional a proteção ao trabalho no Brasil possui fundamentos históricos desde a década de 1940, quando foi estabelecida a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A segurança no trabalho somente se consolidou como um campo de estudo efetivo no Brasil com a promulgação da Constituição de 1988, quando passou a ser caracterizada como um direito fundamental em seu Artigo 7º, XXII, que assegura a redução dos riscos relacionados ao trabalho por meio de diretrizes de saúde, higiene e segurança. A definição e atualização de novas Normas Regulamentadoras (NRs) foram um marco na história da proteção do trabalhador.
4.2 Unificação das Leis do Trabalho e Artigo 166, de acordo com o Artigo 166 da CLT, o empregador é responsável por fornecer EPI adequado ao ambiente de trabalho gratuitamente e em perfeito estado de conservação e funcionamento, quando as medidas gerais não são suficientes para proteger a saúde do trabalhador. Essa regulamentação, complementada pelos decretos do Ministério do Trabalho, estabelece que fornecer EPI não é suficiente para o cumprimento das normas de segurança, e os empregadores são obrigados a observar e supervisionar seu uso correto.
4.3 NR-6 e responsabilidades do empregador em particular:
· fornecer EPI adequado ao risco, gratuitamente.
· exigir o uso correto;
· educar e treinar os empregados sobre seu uso correto;
· substituir imediatamente equipamentos danificados;
· limpeza e manutenção.
· 
Portanto, a NR-6 não só determina a entrega formal do EPI, mas também requer monitoramento contínuo, fortalecendo a responsabilidade dos empregadores em evitar acidentes e doenças ocupacionais.
4.4 Responsabilidade objetiva do empregador
A principal doutrina, como relatado rapidamente por Maurício Godinho Delgado (2020), aponta que a garantia à integridade física e moral do trabalhador é estrita, bastando um descumprimento do padrão para emergir o direito à indenização. Nesse efeito, as disposições do Artigo 927 do Código Civil sobre quase-delito onde existe concorrência entre delito que representa um risco ao direito de outrem e contrato também poderiam ser aplicadas. A jurisprudênciado TST corrobora essa interpretação, reconhecendo nela que o controle sobre o uso adequado do EPI é uma obrigação contínua do empregador e não um mero ato burocrático.
4.5 Doutrina e fundamentos legais
Clássicos como os de Arnaldo Sussekind (2005), Alice Monteiro de Barros e Maurício Godinho Delgado (2020) afirmam que a segurança ocupacional está inserida na obrigação geral de proteção devida pelo empregador, que é parte integrante do contrato de trabalho. Além disso, a Convenção 155 da OIT (que o Brasil ratificou) prevê políticas nacionais sobre saúde e segurança ocupacional pelas quais a legislação nacional é harmonizada com os padrões internacionais. A Lei n.º 8.213/1991 também amplia o abuso evidente no papel do empregador ao criar e supervisionar a chamada Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), associando-o ao campo da previdência social.
4.6 Tendências nacionais e comparações internacionais
Segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab/MPT), somente em 2024 foram registrados 724.228 acidentes de trabalho no Brasil, dos quais considerados como "acidentes" propriamente ditos corresponderam a 74,3%, os de trajeto representaram um total de 24,6% e doenças ocupacionais apenas 1%. O país sofreu cerca de 8,8 milhões de acidentes e mais de 32.000 mortes de emprego formal entre 2012 e 2024. 
Além do lado humano, os custos estimados a cada ano ultrapassam R$ 100 bilhões em relação a indenizações, afastamentos e produtividade. Em contraste, a taxa é muito menor em países como Alemanha e Japão, que tiveram um monitoramento mais intensivo e uma cultura de prevenção. Esses dados reforçam a tese de que o controle do uso de EPI conforme prescrito na NR-6 não é mera formalidade, mas uma condição essencial para a proteção do trabalhador e a sustentação da economia nacional.
JURISPRUDÊNCIAS RELEVANTES
A lei do trabalho desempenha um papel significativo na realização desses direitos relacionados à saúde e segurança ocupacional. No que diz respeito ao fornecimento e controle de EPI, os tribunais têm consistentemente afirmado que o fornecimento de equipamentos por parte do empregador não o absolve automaticamente de responsabilidade.
5.1 Casos de fornecimento inadequado de EPI
Um exemplo desse tipo de situação é quando se comprova que, apesar de os EPIs terem sido realmente fornecidos aos empregados, eles eram insuficientes ou estavam em más condições (o que invalida seus fundamentos para não haver compensação salarial). Este ponto já foi decidido por nosso Superior Tribunal do Trabalho como não conferindo isenção automática.
· TST – RR-11223-64.2016.5.03.0142, Terceira Turma, julgado em 9 de agosto de 2019: culpado por atenuação, entre outros, por saber ilegalmente que a empresa fornecia ao trabalhador luvas rasgadas e por não inspecionar continuadamente a qualidade dos EPIs.
5.2 Rescisão por Falta de EPI Indireta
A falta de fornecimento de EPI tem sido considerada uma violação fundamental do dever do empregador, constituindo assim uma demissão indireta.
· TST – AIRR-21900-13.2007.5.03.0141, 8ª Turma, julgado em 11/09/2015: reconhecimento do direito à rescisão indireta em razão de constante ausência no fornecimento de equipamentos básicos ao desenvolvimento da atividade empregatícia.
5.3.1 Conforto e Eficiência dos EPIs
A disponibilidade de EPIs, no entanto, não dispensa automaticamente o direito à insalubridade e sua eficácia deve ser comprovada assim como sua supervisão.
· TST – RR-10764-62.2015.5.03.0185, 4ª Turma, decidido em 2018 – foi mantido o adicional de insalubridade, pois acreditava-se que a empresa não comprovou que os EPIs realmente eficazes foram fornecidos.
5.4 Dano Moral Coletivo e Agência Estendida
Também é útil comparar situações em que um dano coletivo grave ocorre com aqueles em que algum agente pensa ou age moralmente de forma errada; embora, conforme mencionado anteriormente, essa distinção possa ser nebulosa, particularmente entre formas de responsabilidade moral distribuída em relação a atrocidades em massa (Erhmanns, a publicar).
A falha sistêmica em fornecer ou supervisionar o fornecimento de EPI pode ser uma forma de dano moral coletivo, não apenas para os trabalhadores feridos, mas também para suas comunidades.
· TST – RO-0010626-67.2013.5.15.0000, Seção Especializada em Dissídios Coletivos, decidido em 2017: condenou a empresa a pagar indenização por dano moral coletivo em decorrência do desleixo constante em não disponibilizar EPIs a seus empregados.
Essa jurisprudência mostra que o Tribunal do Trabalho não hesita em considerar um empregador não conforme à NR-6, ressaltando a importância de ter políticas significativas de provisão e supervisão em vigor para pequenas empresas.
CONCLUSÃO
O presente estudo mostrou que a NR-6 desempenha um papel preventivo essencial em acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, exigindo do empregador não apenas fornecer, mas também controlar o uso adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
Em muitas pequenas empresas, foi descoberto que o cumprimento desta exigência é apenas parcial, sendo limitado à entrega formal dos equipamentos sem verificar seu uso, manutenção ou renovação. Esse comportamento imprudente reduz a eficácia da proteção à saúde dos trabalhadores e arrisca sérios danos legais, sociais e econômicos para o empregador (multas, indenizações, acusações civis-criminais).
A análise legal e doutrinária revelou que a responsabilidade do empregador é objetiva, de acordo com a doutrina predominante (DELGADO, BARROS, SUSSEKIND) e a jurisprudência do TST, quando basta evidenciar violação regulamentar para que surja a obrigação de reparar. Além disso, foi determinado que o fornecimento de EPIs por si só não elimina o direito a adicional de periculosidade na ausência de prova sobre sua eficácia e monitoramento de seu uso.
As estatísticas apoiam a magnitude do problema: mais de 724.000 casos de acidentes de trabalho foram registrados no Brasil apenas em 2024 – o que vem com um custo inicial de R$ 100 bilhões por ano se considerarmos os custos para as empresas, funcionários e seguridade social. A comparação com países como Alemanha e Japão sugere que taxas muito mais baixas são potencialmente alcançáveis com medidas de inspeção e prevenção eficazes.
Neste contexto, este artigo destaca algumas das medidas para aumentar a aplicabilidade da NR-6:
· Aumento da inspeção estatal em pequenas empresas;
· Estruturação de políticas públicas para apoiar micro e pequenos empreendedores, com cursos de capacitação, desoneração fiscal e orientações técnicas de segurança;
· Promoção de EPIs inteligentes equipados com sensores e sistemas de monitoramento que poderiam permitir um melhor controle do uso correto;
· Incentivo a uma cultura corporativa preventiva que reconheça a saúde e dignidade dos trabalhadores como pilares do desempenho econômico.
Conclusão: Conclui-se que, para tornar a NR-6 efetiva, é necessário que o Estado intervenha, que os empregadores se envolvam e que os trabalhadores percebam sua importância. Apenas combinando leis, supervisão, tecnologia e uma cultura de prevenção podemos reduzir a incidência de acidentes, criar um ambiente seguro no local de trabalho e tornar sólido o princípio constitucional de dar prioridade ao trabalho social.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, José. *Responsabilidade do empregador em acidentes de trabalho*. São Paulo: Editora Jurídica, 2018.
BARROS, Alice Monteiro de. *Direito do Trabalho*. São Paulo: LTr, 2021.
BRASIL. *Constituição da República Federativa do Brasil de 1988*. Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. *Consolidação das Leis do Trabalho*. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, Brasília, 1943.
BRASIL. *Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991*. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social. Diário Oficial da União, Brasília, 1991.
CARDOSO, Lucas. *segurança do trabalho e a eficácia das normas regulamentadoras*. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2019.
COSTA, Maria. *A fiscalização e o uso adequado de EPIs*. São Paulo: Saúde do Trabalhador,2018.
DELGADO, Maurício Godinho. *Curso de Direito do Trabalho*. 19. ed. São Paulo: LTr, 2020.
DUARTE, Rafael. *NR-6: Equipamentos de proteção individual e a responsabilidade do empregador*. São Paulo: Editora Jurídica, 2017.
FREITAS, Ana. *Cultura de segurança do trabalho: desafios e práticas*. São Paulo: Trabalho e Saúde, 2021.
OLIVEIRA, Paulo. *segurança do trabalho: aspectos legais e práticos*. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. *Convenção nº 155 sobre segurança e saúde dos trabalhadores*. Genebra: OIT, 1981.
RIBEIRO, Sandra. *Responsabilidades do empregador no fornecimento de EPIs*. São Paulo: Editora Jurídica, 2019.
SILVA, João. *Direitos trabalhistas e as implicações legais no não fornecimento de EPIs*. Brasília: Universitária, 2020.
SOUZA, Marcos. *A interação entre as Normas Regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho*. São Paulo: Técnica, 2017.
SUSSEKIND, Arnaldo. *Instituições de Direito do Trabalho*. 20. ed. São Paulo: LTr, 2005.
VASCONCELOS, Ricardo. *Saúde e segurança do trabalho: teoria e prática*. Belo Horizonte: Cidadania, 2015.
ANEXOS
ANEXO I – Evolução dos acidentes de trabalho (2012–2024)
Tabela com a evolução dos acidentes de trabalho registrados no Brasil entre 2012 e 2024.
Fonte: Observatório SmartLab/MPT (2025).
ANEXO II – Quadro resumo de jurisprudências
- Casos de fornecimento insuficiente de EPI
- Rescisão indireta por falta de EPI
- Insalubridade e eficácia do EPI
- Dano moral coletivo
Fonte: Jurisprudências do TST (2015–2019).
ANEXO I – Evolução dos acidentes de trabalho (2012–2024)
Tabela com a evolução dos acidentes de trabalho registrados no Brasil entre 2012 e 2024.
Fonte: Observatório SmartLab/MPT (2025).
	Ano
	Acidentes de Trabalho
	Óbitos
	Taxa de Incidência
	2012
	720.000
	2731
	16.7
	2013
	717.000
	2793
	16.4
	2014
	712.000
	2783
	16.2
	2015
	693.000
	2502
	15.5
	2016
	578.000
	2349
	13.1
	2017
	574.000
	2096
	12.9
	2018
	576.000
	2050
	12.8
	2019
	582.000
	2184
	12.7
	2020
	446.000
	1866
	9.7
	2021
	571.000
	2487
	12.1
	2022
	612.000
	2538
	12.6
	2023
	655.000
	2801
	13.2
	2024
	678.000
	2920
	13.6
 
 
ANEXO II – Quadro resumo de jurisprudências
Fonte: Jurisprudências do TST (2015–2019).
Fornecimento insuficiente de EPI
O TST firmou entendimento de que o simples fornecimento parcial ou inadequado de EPI não afasta a responsabilidade do empregador. Exemplo: uso de protetores auriculares de baixa eficácia não elimina adicional de insalubridade.
Rescisão indireta por falta de EPI
Casos em que a ausência de fornecimento adequado de EPIs foi considerada falta grave do empregador, justificando a rescisão indireta (art. 483 da CLT).
Insalubridade e eficácia do EPI
A jurisprudência consolidada aponta que a mera entrega do equipamento não basta: é necessária comprovação de sua eficácia, fiscalização do uso e treinamento.
Dano moral coletivo
Decisões reconheceram dano moral coletivo quando a empresa, de forma reiterada, deixou de fornecer EPIs, expondo toda a coletividade de trabalhadores a risco.
 
 
2
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