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Compliance Você vai entender conceito de compliance e os principais elementos que caracterizam a adoção dessa prática nas organizações. 1. Itens iniciais Propósito Compliance representa a busca pela conformidade ética e legal dentro das organizações. Ao longo do estudo, você compreenderá como os programas de compliance contribuem para a transparência, a integridade e a credibilidade empresarial. Também será possível refletir sobre os grandes escândalos corporativos que impulsionaram a adoção dessas práticas e analisar como o compliance se tornou uma ferramenta essencial no combate à corrupção e na construção de ambientes de negócios mais justos e responsáveis. Objetivos Descrever as características necessárias para a adoção de programas de compliance nas organizações. Listar os grandes escândalos corporativos estimuladores da adoção de práticas de compliance no ambiente empresarial. Examinar a utilização do compliance como instrumento de combate à corrupção. Introdução Neste conteúdo, estudaremos a prática do compliance e sua crescente relevância no ambiente organizacional. Veremos como sua adoção pode ser motivada tanto por determinações legais como no caso de instituições financeiras que atuam na bolsa de valores quanto pela percepção de que se trata de um mecanismo eficaz para reduzir riscos, evitar multas e preservar a imagem corporativa. Abordaremos a importância da implementação de políticas de vigilância contínua, que contribuem para minimizar a ocorrência de fraudes e reduzir os impactos financeiros e reputacionais. Além disso, analisaremos de que forma o compliance fortalece a confiança nas transações realizadas com stakeholders, criando um ambiente mais seguro e transparente. Por fim, exploraremos como as técnicas de compliance atuam na prevenção de práticas de corrupção, especialmente nas relações entre a iniciativa privada e o setor público, ressaltando seu papel estratégico para a sustentabilidade e a credibilidade das organizações. 1. Programas de compliance nas organizações que é compliance A palavra compliance (conformidade) é derivada do verbo to comply, que, em tradução livre, confira na imagem o significado. Cumprir Executar Compliance Satisfazer Obedecer Significado compliance. Ela é aplicável às esferas fiscal, trabalhista, financeira, contábil, previdenciária, ambiental, jurídica, ética etc. Segundo Morais (2005), podemos definir compliance como dever de atender às regras, de estar em conformidade e cumprir os regulamentos exigidos para as atividades desempenhadas pela organização. compliance também pode ser entendido como o: Ato de cumprir, de estar em conformidade e executar regulamentos internos e externos impostos às atividades da instituição, buscando mitigar risco atrelado à reputação e ao regulatório/legal.. (MANZI, 2008, 15) Melhores práticas nas organizações Assista ao vídeo e conheça mais sobre as melhores práticas nas organizações. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Adoção de programas de compliance nas organizações Agora que já sabemos que é compliance, conheça alguns detalhes sobre a adoção de seus programas nas organizações, confira. Funcionários que atuam na área de compliance grupo de funcionários que atua diretamente na área de compliance tem a responsabilidade de garantir que a organização e os funcionários ajam de acordo com todas as leis, regulamentos e regras que abranjam os negócios nos quais ela está envolvida (MELENDY, 2005). No âmbito do compliance, abrange-se também o sentimento de justiça na organização, pois as regras definem a impossibilidade de concessão de vantagens para uns em detrimento de outros. As decisões da empresa A empresa tomará decisões com isonomia e isenção de interesses pessoais, além de independência de fatores associados à hierarquia, à amizade ou que desviem os verdadeiros motivos para cada assunto. Assim, as regras de compliance atingem o comportamento das pessoas e as rotinas organizacionais, com grande benefício para a coletividade (GIOVANINI, 2014). Pilares do compliance programa de compliance tem como um dos pilares a preservação da reputação da instituição, a sustentabilidade e a priorização do gerenciamento de riscos vinculados à área de atuação da organização. Devem ser considerados no gerenciamento todos os riscos associados ao não cumprimento das leis e regulamentos, assim como o tamanho, a amplitude e a estrutura organizacional da empresa (CANDELORO; RIZZO; PINHO, 2015). Prevenção de perdas financeiras A adoção do compliance também favorece a prevenção de perdas financeiras, pois os esforços voltados para atendimento das exigências legais e trabalhistas permitem, por exemplo, a minimização de cobranças judiciais ou administrativas das obrigações, além de multas ou perdas por desgastes de imagem. Elementos necessários para adoção do compliance Como elementos necessários à adoção do compliance, destacam-se: estabelecimento de um código de ética da organização; a capacitação de profissionais para aprenderem a lidar com problemas éticos; a criação de canais de comunicação de condutas não éticas (uma central de atendimento ao funcionário ou à ouvidoria); e incentivo para a discussão de problemas éticos (MANZI, 2008). Conforme apontado por Debbio, Maeda e Ayres (2013), existem elementos comuns que são vitais para que programas de compliance sejam adotados nas organizações, sendo, portanto, os mais encontrados nas literaturas internacionais. Confira quais são. da administração e liderança Ele talvez seja o principal pilar de adoção de programas de compliance. Por meio do suporte dado pela alta administração e pelos líderes locais, a organização passa a se comprometer com uma postura que tem como requisito a intolerância aos desvios de conduta. Esse comprometimento deve ser transmitido de maneira clara e sem margem para dúvidas pelos mais altos níveis da instituição, sendo percebido nas próprias ações envoltas de integridade e conformidade. Dessa forma, elas endossam discurso com o exemplo dado. 2 Mapeamento e análise de riscos É um dos objetivos do compliance, pois minimizar os riscos implica reduzir as possibilidades de que condutas não adequadas sejam praticadas por colaboradores ou stakeholders que interagem no negócio. caráter preventivo dos procedimentos é função essencial da compliance, que só conseguirá alcançar o objetivo se a organização conhecer (mapear) e entender (analisar) os riscos aos quais está vulnerável. 3 Políticas, controles e procedimentos Para que a empresa implemente efetivamente o programa de compliance, é necessário que ela desenvolva regras, controles e procedimentos cujo cumprimento possa monitorar posteriormente, assim como as práticas lícitas. 4 Comunicação e treinamento Há dois fatores fundamentais para que o monitoramento das ações seja efetivo ao longo de toda a organização. Comunicar efetivamente as políticas e os procedimentos esperados pela empresa e assegurar que os profissionais estejam com o adequado nível de entendimento (por meio do treinamento) são condições básicas para que programa de compliance dê certo. 5 Monitoramento, auditoria e remediação Outro pilar necessário ao compliance é a necessidade de examinar regularmente atendimento aos objetivos pretendidos nas regras, controles e procedimentos definidos pela organização. Se a instituição não cumprir essa etapa, os documentos confeccionados pela área de compliance serão meras obrigações burocráticas que não atenderão ao intuito desejado. atendimento desses elementos não é uma tarefa simples. Segundo dados divulgados pela KPMG (2018), entidade suíça com atuação global em serviços de auditoria e consultoria, a pesquisa Maturidade do compliance no Brasil revelou que os principais desafios expostos pelas grandes empresas são: 87%: Identificar, avaliar e monitorar a efetividade do compliance. 85%: Contornar as dificuldades de mapear os riscos e desenvolver os 84%: Integrar a função com outras áreas do negócio. Caberá aos gestores, estimulados e respaldados pela alta administração, o desenvolvimento de alternativas para superar as dificuldades de implementação do compliance inicialmente verificadas e demonstrar para os stakeholders todas as vantagens advindas da adoção dessa política na instituição. perfil dos membros responsáveis pela área de compliance é bastante variado, incluindo quem atua dedicado à estrutura implementada para o compliance (caso isso seja possível em uma empresa), assim como aqueles que pertencem a outras áreas do negócio (KPMG, 2015): Diretores e superintendentes. Representantes do conselho de administração. Comitê da auditoria. Presidente. Gerentes. Especialistas e coordenadores. Esses profissionais podem atuar em diversas possibilidades de monitoramento, embora seja mais comum a dedicação à prevenção dos seguintes riscos: pagamento de propina ou suborno (em licitações, licenças, taxas aduaneiras, contratação de pessoas, contribuições, doações, brindes ou patrocínios) ou em outros temas tratados pela área (combinação de preços, fraudes, violações ambientais, assédio moral e sexual, trabalho escravo e lavagem de dinheiro) (KPMG, 2015). A estrutura necessária para a implementação do programa de compliance pode apresentar alguns modelos, segundo Giovanini (2014). Dois deles são os seguintes, confira. Foco na prevenção Foco na melhoria contínua Prevenir, identificar e corrigir as ações que se É a utilização do ciclo administrativo conhecido desviaram das regras estabelecidas é a base como PDCA (Plan Planejar, Do Fazer, Check deste modelo, que deve divulgar claramente as Controlar e Act Agir). Ele é necessário para a políticas e os procedimentos a serem adotados melhoria contínua dos processos de trabalho, já por todos. que, após a última etapa (ação), o ciclo se reinicia. Além da estrutura mínima para a adoção do compliance, existem alguns procedimentos necessários para garantir as condições adequadas da sua efetividade em uma organização. Segundo Blok (2017), esta área deve se valer das seguintes ferramentas e atuações, confira. Processo de comunicação e informação Ele é caracterizado por contatos periódicos e proativos com agências reguladoras e informações confiáveis. Monitoramento das normas externas Acompanhamento contínuo, análise dos impactos das normas e garantia da adequação das operações e normas internas. Monitoramento das normas internas É a garantia do padrão de normas, a realização de treinamento em redação de normas internas e a definição das diretrizes da organização. Políticas corporativas Trata-se da definição dos princípios de natureza genérica, orientação, revisão periódica e garantia da ampla divulgação. Novos produtos e alterações Garantia de que a organização deve atuar de maneira preventiva e proativa, minimizando e avaliando os riscos de compliance. Consultivo Assessoria para a alta administração, realizando parcerias com a área de negócios e orientando a gestão como um todo. Disseminação de cultura Deve atuar na mudança de práticas inadequadas de gestão, motivando os stakeholders com base em valores e comportamentos definidos, além de divulgar as práticas para auxiliar na internalização e na identificação por parte dos funcionários. Programas de treinamento Conhecimento das melhores práticas do mercado, garantindo a atualização das normas e legislações vigentes e treinando os funcionários sobre as políticas, os controles e procedimentos corporativos. Código de ética e conduta Definição dos padrões de ética e conduta que devem ser adotados, orientação e divulgação do código, estabelecendo um comitê de ética e canais de denúncias. Programa de prevenção à lavagem de dinheiro (PLD) Designação de diretor responsável, definição das políticas e diretrizes do PLD, monitoramento das transações suspeitas, instituição de um comitê de PLD e comunicação das demandas para a área responsável. Sistemas de controles internos Estabelecer a segregação de funções, realizar os testes e monitoramento, informar as não conformidades verificadas e acompanhar as ações corretivas. Gerenciamento de riscos Identificação, avaliação e monitoramento dos riscos inerentes às atividades da organização, definindo as formas de controlar os riscos e comunicá-los, além de garantir que as ações sejam integradas. Metodologia de avaliação do risco de compliance Fazer uma autoavaliação, elaborar a matriz de risco de compliance, analisar os produtos e processos e realizar as avaliações periódicas. Equipes de agentes de compliance Definir os perfis específicos para a área, realizar os treinamentos periódicos, estabelecer os canais de comunicação e fazer a intermediação do compliance. Controle organizacional Assista ao vídeo e conheça mais sobre controle organizacional. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. A importância da prática de compliance no ambiente corporativo A adoção da política de compliance depende da inserção das ações de conformidade em todos os setores da organização, fazendo parte da cultura dela, pois, dessa forma, as operações terão uma maior chance de estarem em conformidade, assim como dependerão de ações éticas por parte da alta administração. Essas variáveis formam tripé do compliance, tal como está apresentado na imagem a seguir, confira. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ver mais detalhes da imagem abaixo. Gestão de ética dos negócios (alta administração) Conformidade (operação) Estado de adesão (cultura organizacional) 0 Tripé do (Fonte: 2017). Tripé do compliance. caso Siemens Como exemplo da importância da adoção do compliance, citamos escândalo mundialmente famoso da empresa alemã Siemens AG. Após as investigações realizadas pela justiça norte-americana, foram constatados pagamentos de propinas para autoridades públicas no montante de US$1,4 bilhão entre os anos de 2001 e 2007. Segundo judiciário dos Estados Unidos, os pagamentos ilegais foram realizados em mais de 20 países em troca de contratos públicos (BBC NEWS, 2013). Após a condenação, a empresa foi obrigada a pagar uma das maiores multas da história: US$1,6 bilhão. Isso foi um fator de destaque para a mudança da forma de fazer negócios na Alemanha. Até então os SIEMENS empresários não viam o pagamento de propina como um causador de prejuízo financeiro e de imagem para as organizações. Tal prática ainda fazia parte da cultura local, sendo endossada pelo entendimento legal vigente até o final dos anos 1990. Uma lei alemã até permitia que empresários pagassem propina a autoridades públicas do exterior para A65 obter vantagens em contratos, tendo, inclusive, uma autorização formal para descontar estes valores dos impostos de renda pagos na Alemanha (TRANSPARENCY, 2011). Apesar de a regra ter perdido a vigência legal no início do século XXI, somente após escândalo da Siemens os empresários alemães se convenceram das implicações financeiras e criminais que a adoção de práticas ilegais pode trazer (TRANSPARENCY, 2011). Impactos Além do comportamento empresarial alemão devido à repercussão internacional do caso, exemplo da Siemens também foi muito marcante para crescimento das políticas de compliance associadas ao campo da gestão. Atualmente, a empresa é uma das referências em programas de compliance, contando com cerca de 600 funcionários dedicados à área (DEBBIO; MAEDA; AYRES, 2013). Destaca-se também a importância dada pela empresa à divulgação dos focos do departamento de compliance: combater a corrupção e as violações da concorrência; proteger a empresa contra fraudes e lavagem de dinheiro; e salvaguardar os dados pessoais (SIEMENS, 2019). O próprio fortalecimento das ações de compliance permite que os objetivos éticos sejam atendidos, pois faz parte da política da Siemens a utilização de canal de denúncias seguro. Com isso, no ano de 2018, 647 manifestações foram realizadas e passaram por investigações posteriores. Como resultado, 229 medidas disciplinares foram adotadas devido ao descumprimento das conformidades esperadas pela organização (SIEMENS, 2019). A área de compliance não tem como garantir que violações às regras nunca ocorram. Porém, por meio de ferramentas de gestão da área, que se espera é que haja a redução das probabilidades de fraudes, respaldadas por uma postura de vigilância dos riscos inerentes às organizações. Canal de denúncias seguro canal é destinado aos funcionários da Siemens para que eles informem as violações de conformidade na empresa. Atenção Em âmbito nacional, uma importante medida de combate à corrupção foi a promulgação da Lei n° 12.846/2013, que trata da responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira (BRASIL, 2013). Para Manzi (2008): Não se pode falar em governança corporativa e sustentabilidade sem se referir à ética e consequentemente considerar a importância do compliance. (MANZI 2008, 123) Por estar atrelado à concordância e ao cumprimento das normas, compliance se caracteriza como um dos princípios essenciais das boas práticas de governança corporativa (ÁLVARES; GIACOMETTI; GUSSO, 2008). Governança, risco e compliance Assista ao vídeo e conheça mais sobre governança, risco e compliance. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando aprendizado Questão 1 Em relação aos elementos comuns para os programas de compliance, podemos afirmar que: A O suporte de administração e liderança é um dos principais pilares para a adoção de programas de compliance. É recomendável a adoção de políticas, controles e procedimentos para melhorar a definição das regras a serem seguidas pelas organizações. c mapeamento e a análise de riscos têm pouca relação com as práticas de compliance. D Se for possível e compatível com orçamento, a organização deverá realizar ações de comunicação e treinamento das políticas de compliance. E Nenhuma das respostas anteriores. A alternativa A está correta. Por meio do suporte dado pela alta administração e pelos líderes locais, a organização passa a se comprometer com uma postura que tem como requisito a intolerância aos desvios de conduta. Questão 2 Sobre os elementos necessários à implementação do compliance, qual dos itens apresentados a seguir não se adequa diretamente ao tema? A Adoção de código de ética da organização Capacitação de profissionais c Definição dos valores organizacionais D Criação de canais de comunicação de condutas não éticas E Incentivo para a discussão de problemas éticos A alternativa c está correta. Os elementos necessários à implementação do compliance favorecem a expansão da comunicação e a transparência das ações e das medidas a serem tomadas pelas lideranças, pois são fundamentais para a transformação eficaz e positiva na cultura das empresas. A definição dos valores organizacionais está relacionada com a cultura empresarial, e não com a implementação do compliance. 2. Escândalos corporativos e compliance Histórico do compliance compliance é uma tendência crescente nas práticas de gestão, especialmente devido aos princípios de boas práticas a ele relacionadas. Conheceremos agora o histórico da prática dele e o resultado de grandes escândalos no ambiente corporativo. Tanto compliance quanto a governança corporativa tiveram início no século XX. Diversos acontecimentos foram importantes para o amadurecimento dessa prática até a adoção de ambos nos moldes de hoje. Entre eles, segundo Blok (2017), destacam-se os seguintes, confira. 1913 A criação do Banco Central Americano permitiu a flexibilidade, a segurança e a estabilidade do sistema financeiro local, tendo repercussão mundial. 1929 crash (quebra) da bolsa de valores repercutiu na economia global. 1930 Foi instituído o Bank for International Settlements (BIS) durante a Conferência de Haia, ocorrida na cidade de Basileia, na Suíça. A instituição foi decisiva para desdobramento do compliance, pois seu objetivo principal era a definição de políticas de cooperação entre os bancos centrais do mundo, resultando em atividades financeiras mais seguras e confiáveis. 1932 Adoção da política do governo norte-americano conhecida como New Deal, cuja característica é a intervenção do Estado na economia a fim de corrigir as falhas do mercado capitalista. 1945 Durante a conferência de Bretton Woods, foram criados o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) com objetivo de proteger a estabilidade do sistema monetário internacional. 1960 A agência federal dos Estados Unidos Securities and Exchange Commisson (SEC), cujo objetivo é a aplicação das leis sobre a regulação do setor mobiliário, passou a insistir na necessidade de contratação de profissionais para atuação no compliance (compliance officers) a fim de que eles criassem procedimentos internos de controle, treinassem as pessoas e monitorassem as atividades, subsidiando a supervisão da área de negócios das empresas. 1970 então presidente norte-americano Richard Nixon suspendeu unilateralmente o acordo de Bretton Woods (instituído em 1945). Como resposta, foi criado o Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (Basel Committee on Banking Supervision BCBS), composto por representantes dos bancos centrais dos países do G10, a fim de criar procedimentos de boas práticas e controles para mercado financeiro. 1974 mercado financeiro reagiu com perplexidade ao escândalo político de Watergate, que culminou na renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon e apontou as fragilidades de controle da administração pública norte-americana, assim como as medidas voltadas para o atendimento a propósitos particulares e ilícitos. 1980 As operações de compliance foram estendidas às demais atividades financeiras no mercado norte- americano. 1995 Importantes acontecimentos ocorreram, que gerou mudanças nas regras de controle das operações do mercado mobiliário: Processo de falência do Banco Barings devido às fragilidades do sistema de controle interno; Comitê de Basileia para Supervisão Bancária publicou regras para o mercado financeiro internacional com a finalidade de fortalecer a estabilidade e a eficiência do sistema financeiro. Elas ficaram conhecidas como Basileia I. 1997 Comitê de Basileia divulgou 25 princípios para a realização da supervisão bancária efetiva, prevendo expressamente, no princípio n° 14, a necessidade de independência da função de compliance. Princípio n° 14: Os supervisores bancários devem determinar que os bancos mantenham controles internos adequados para a natureza e a escala de seus negócios. Os instrumentos de controle devem incluir disposições claras para a delegação de competência e responsabilidade; a separação de funções que envolvem a assunção de compromissos pelo banco, a utilização de seus recursos financeiros e a responsabilidade por seus ativos e passivos; a reconciliação de tais processos; a proteção de seus ativos; e as funções apropriadas de auditoria e de conformidade independentes, internas ou externas, para verificar a adesão a tais controles, assim como às leis e aos regulamentos aplicáveis. 1998 Ocorreu a era dos controles internos. A era dos controles internos ocorreu essencialmente devido a três fatores: Comitê da Basileia publicou um normativo contendo treze princípios com ênfase na necessidade de controles internos efetivos e a promoção de um sistema financeiro mundial estável; Em âmbito nacional, o Congresso Nacional Brasileiro sancionou a Lei 9.613/98, que trata de "crimes de 'lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos; e criação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras COAF" (BRASIL, 1998); Conselho Monetário Nacional (CMN), com base nos treze princípios instituídos pelo Comitê da Basileia para promoção dos controles internos, publicou a Resolução n° 2.554/98, que dispõe sobre a determinação de implantação e implementação de sistema de controles internos nas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil. 2001 caso Enron veio a público, reforçando os prejuízos gerados graças a falhas nos controles internos e fraudes contábeis, uma vez que a empresa foi à falência. 2002 A empresa WorldCom (novamente, uma grande empresa norte-americana) anunciou a insolvência com os credores, tendo como causa principal a ausência de controle interno e as adulterações contáveis. 2002 Como resposta à fragilidade do controle financeiro nas empresas que tinham negócios na Bolsa de Valores norte-americana, governo dos Estados Unidos publicou a Lei Sarbanes-Oxley, que passou a exigir melhoria das práticas contábeis, independência da auditoria e criação do comitê de auditoria. 2002 No Brasil, após os desdobramentos dos casos ocorridos com as empresas norte-americanas, o governo alterou a Resolução n° 2.554/98 e publicou a de n° 3.056/2002, dispondo sobre a atividade de auditoria interna das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil. 2003 Conselho Monetário Nacional publicou uma sequência de normativas para a melhoria da proteção ao sistema financeiro brasileiro: Emissão de Carta Circular n° 3.098/2003, que passou a exigir registro e a comunicação ao Banco Central do Brasil quando houver operações em espécie de depósitos, provisionamentos e saques nas quantias iguais ou superiores a 100 mil reais; Comitê de Basileia publicou recomendações para a prática de gestão e supervisão de riscos operacionais. 2004 CMN publicou a Resolução n° 3.198/2004, que alterou e consolidou a "regulamentação relativa à prestação de serviços de auditoria independente para as instituições financeiras, demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil e para as câmaras e prestadores de serviços de compensação e de liquidação" (BRASIL, 2004). 2005 Comitê de Basileia publicou um novo documento dispondo orientações sobre riscos de créditos e estabelecendo padrões para a alocação de capital. 2006 Banco Central, por meio do CMN, publicou as resoluções de n° 3.380/2006, normatizando a implementação da estrutura de gerenciamento de risco operacional, e n° 3.416/2006, que trata das condições básicas para a atuação do comitê de auditoria nas instituições financeiras de capital fechado. 2007 O CMN publicou mais orientações para as instituições financeiras: Resolução n° 3.464/2007, sobre a necessidade de implementação da estrutura de gerenciamento de risco em âmbito do mercado; Por meio do Comunicado n° 16.137/2007, foram estabelecidos prazos para a adequação nas instituições financeiras brasileiras dos procedimentos para implementação da nova estrutura de capital (nos moldes do conteúdo publicado pelo Comitê de Basileia em 2005). 2012 Por meio da Lei n° 12.683/2012, o Brasil instituiu um novo normativo legal que, alterando a Lei n° 9.613/1998, buscava tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de lavagem de dinheiro. 2017 O governo brasileiro publicou Decreto n° 9.203/2017, normatizando a política de governança para a administração pública federal e sinalizando a necessidade de a alta administração manter, monitorar e aprimorar os controles internos, além de definir as atribuições para as auditorias internas dos órgãos públicos. Estudo do desenvolvimento histórico da governança corporativa atual Assista ao vídeo e conheça mais sobre estudo do desenvolvimento histórico da governança corporativa atual. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Escândalos do mundo corporativo Vimos que anúncio de falência e/ou concordata de empresas norte-americanas estabeleceu um novo padrão para funcionamento de empresas que negociam as ações na bolsa de valores dos Estados Unidos. Essa situação foi desdobrada nas empresas localizadas em todo mundo. No âmbito brasileiro, Conselho Monetário Nacional, vinculado ao Banco Central, foi órgão que mais normatizou orientações de proteção às negociações no sistema monetário. Essas ações foram desdobradas após os grandes escândalos empresariais mundiais que alertaram mundo corporativo sobre a necessidade de as normas e os regulamentos serem respeitados. Conheça um pouco mais esses casos a seguir. Caso Watergate Em 1974, ele teve grande repercussão no mercado financeiro, o que resultou na renúncia do então presidente norte-americano Richard Nixon. evento histórico foi o desdobramento da invasão aos escritórios do Partido Democrata, localizados no conjunto de edifícios chamado Watergate, durante a campanha eleitoral presidencial. incidente ocorreu em 1972; após dois anos de investigação, foi apontado que o objetivo era grampear os telefones para usar informações confidenciais como chantagem política e conduzir um esquema de espionagem também política para favorecer o então candidato Richard Nixon (CABRAL, 2011). Com o avanço das Esse evento tem um caráter histórico para investigações sobre caso, o compliance, pois foi muito marcante para foi constatado que as a administração pública como exemplo de gravações telefônicas como uma instituição é marcada passavam pelo escritório negativamente pela ocorrência de atos oficial do então presidente ilícitos e como essas ações se Nixon, comprovando que eledesdobraram ao manchar a imagem da comandava o esquema de organização (no caso, por meio de seu espionagem. Para evitar o representante máximo). Salienta-se assim impeachment, presidente a importância da aplicação dessa política renunciou em 8 de agosto na gestão pública dada a sua dimensão e de 1974 (CABRAL, 2011). relevância social/econômica. Richard Nixon. Caso Barings Fundada em 1762, esta instituição consagrada da A situação retrata Inglaterra viu-se envolvida pela atuação fraudulenta a importância de capitaneada por um de seus funcionários, Nick controles internos Leeson. A administração do Banco Barings, seduzidasólidos nas pelos retornos das operações que ele trazia para a instituições de instituição, não dimensionou os prejuízos que modo a não expor Leeson encobria por meio de uma conta inexistente. as organizações a prejuízo acumulado em 1995 atingiu a marca de riscos não 1,3 bilhão de dólares; dessa maneira, banco, com dimensionáveis, 235 anos de história, foi vendido pelo valor podendo, simbólico de 1 dólar graças à insolvência e à sua inclusive, resultar consequente falência (SILVA, 2008). na interrupção de suas operações. Nick Leeson. Caso Enron Refere-se ao anúncio de concordata da empresa no final de 2001. Até então ela era uma das maiores do mundo no ramo energético. Após a divulgação da concordata, o Congresso norte-americano iniciou a análise da falência do grupo, momento em que foi detectada a existência de uma dívida aproximada de 22 bilhões de dólares. Além do montante, que não era de conhecimento dos acionistas, havia o fato de a empresa ter importância em nível global. Essa falência foi considerada por diversas publicações a mais importante da história empresarial norte-americana (CARVALHO, 2004). Logo da Enron. Caso WorldCom Em 2002, a empresa WorldCom, que era a segunda maior operadora de chamadas de longa distância dos Estados Unidos, além de atuar em 65 países, anunciou um rombo de cerca de 7,1 bilhões de dólares nas contas, admitindo ter manipulado artificialmente seus lucros. Além dos prejuízos financeiros dos acionistas, a situação também gerou uma WORLDCOM crise de confiança dos investidores que negociavam nas bolsas de valores de todo mundo, pois ficou constatada a possibilidade de fraude do sistema na contabilidade de empresas multinacionais que movimentavam grandes aportes financeiros (BBC, 2002). Logo da WorldCom. Bolsa de valores e índice de Governança corporativa Assista ao vídeo e conheça mais sobre a bolsa de valores e o índice de Governança corporativa. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Adoção de programas de compliance no ambiente corporativo Os casos apresentados demonstram claramente motivo que originou a necessidade de ações do governo de forma a regulamentar medidas para evitar que fraudes na contabilidade das empresas continuem a fazer parte do universo de credores que operam nas bolsas de valores. Os escândalos repercutiram inicialmente como uma grande quebra de confiança nos balanços das grandes empresas, desdobrando-se em descrédito na própria economia norte-americana. governo precisou agir para interromper esse cenário, adotando medidas de impacto corretivo e preventivo ao estipular regras mais rígidas para punir as empresas (e os representantes legais delas) envolvidas em fraudes, assim como endurecer as exigências de transparência, de controle interno e de auditoria independente. Os prejuízos financeiros resultantes das ações corretivas impostas pelo governo provocaram também muitos prejuízos de imagem devido à repercussão pela ausência de um comportamento ético e moral. As instituições podem evitar longas perdas colaterais resultantes das ações fraudulentas ao adotarem programas de compliance. Esta foi a percepção do mercado, uma vez que tema teve um significativo crescimento entre as empresas. Elas passaram a adotá-lo voluntariamente após perceberem que as ações transparentes geram confiança e credibilidade nos investidores, obtendo uma grande vantagem competitiva. Embora a história do compliance tenha uma origem muito vinculada aos controles impostos às instituições bancárias, ambiente corporativo percebeu os resultados conseguidos com a adoção da ferramenta. Desse modo, a utilização do compliance foi disseminada entre os diferentes tipos de organizações, sendo atualmente aplicado de forma ampla no mercado empresarial. Blockchain e compliance Assista ao vídeo e descubra como a tecnologia blockchain pode fortalecer práticas de compliance, trazendo mais transparência, segurança e confiabilidade para as organizações. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando aprendizado Questão 1 Entre os grandes escândalos de fraudes contábeis, qual dos apresentados a seguir está relacionado ao caso da empresa WorldCom? Instituição consagrada da Inglaterra e fundada em 1762, cuja administração autorizou a atuação Araudulenta de um funcionário, pois se viu seduzida pelos altos retornos de operações, encobrindo os prejuízos por meio de uma conta inexistente. Grampo de telefones após a invasão dos escritórios do Partido Democrata americano, desdobrando-se Bem ações de chantagem política, que resultou na renúncia do então presidente dos Estados Unidos Richard Nixon. c Anúncio de concordata da empresa, uma das maiores do mundo no ramo energético. Operadora de chamadas de longa distância dos Estados Unidos com representação em 65 países um rombo de cerca de 7,1 bilhões de dólares nas contas e admitiu ter manipulado artificialmente os lucros. E Quebra da bolsa de valores que repercutiu na economia global. A alternativa D está correta. Além dos prejuízos financeiros causados aos acionistas, gerou uma crise de confiança dos investidores que negociavam nas bolsas de valores de todo O mundo devido à constatação da possibilidade de fraude no sistema na contabilidade de empresas multinacionais que movimentavam grandes aportes financeiros. Questão 2 Sobre processo de amadurecimento das ações de compliance, marque a opção correta referente à adoção da prática no ambiente corporativo: A Fora das instituições financeiras, a adoção do compliance tem caráter obrigatório, sendo um instrumento pouco utilizado no mundo atual. Conselho Monetário Nacional, vinculado ao Banco Central, foi órgão que recebeu muitas críticas por ter atuado com pouca normatização para a proteção das negociações no sistema monetário brasileiro. Apesar dos grandes escândalos de empresas que negociavam na bolsa de valores norte-americana, @overno dos Estados Unidos demorou a reagir, normatizando leis para proteger a transparência das informações prestadas aos investidores. D A crise de credibilidade nas informações contábeis prestadas não atingiu a confiança dos investidores com governo norte-americano. E ambiente corporativo percebeu os resultados conseguidos com a adoção da ferramenta de compliance; desse modo, ela foi disseminada entre os diferentes tipos de organizações. A alternativa E está correta. A importância do compliance reside na necessidade de uma política vigilante que reduza as probabilidades de fraudes e os riscos inerentes às organizações. Isso resulta na minimização dos prejuízos financeiros e de imagem, contribuindo para a melhoria das transações realizadas com os stakeholders do negócio. 3. Compliance no combate à corrupção Identificando principais desvios dentro das corporações Assista ao vídeo e conheça os principais desvios dentro das corporações. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. que é corrupção? Além do aspecto empresarial, o amadurecimento do compliance também foi de grande importância para as relações estabelecidas entre as instituições públicas e privadas. Por monitorar e evitar práticas de corrupção, essa ferramenta também resulta na melhoria da imagem das organizações públicas, já que torna público interesse em coibir práticas criminosas. Código Penal brasileiro tipifica esse crime em dois âmbitos: corrupção passiva e corrupção ativa. Por corrupção passiva, entende-se ato de: [...] solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. (BRASIL, 1940, art. 317) Já sobre a corrupção ativa, artigo 333 do Código Penal a estabelece como o oferecimento ou a promessa de vantagem indevida para um funcionário público a fim de que ele faça algo que traga benefícios ao corruptor, omita-se de fazer algo que deveria ser feito ou retarde a execução de algo de acordo com as funções dele. A corrupção ativa é sempre cometida por um corruptor, que geralmente é um agente privado. A prática de corrupção necessita de dois atores principais: o corrupto e corruptor, confira e entenda. X Corruptor Corrupto Agente privado que oferece ou aceita Agente público que aceita receber ou conceder vantagens indevidas ao agente que solicita vantagem indevida. público. A CGU (2009) defende como responsabilidade social das empresas a implantação de programas para a consolidação de valores e políticas que fortaleçam os padrões éticos e de integridade nas negociações realizadas com os órgãos públicos. A adoção desses programas tem um caráter preventivo, ajudando a minimizar as chances de práticas antiéticas e corruptas serem praticadas, assim como corrigir os comportamentos (no caso de desvios morais e legais serem identificados). Compliance como instrumento de combate à corrupção Buscando monitorar e evitar que crimes sejam cometidos, o principal motivo para sua implantação é que esta ferramenta de gestão necessita cumprir normas para prevenir a corrupção, confira na imagem. Corrupção Lavagem do Sonegação fiscal dinheiro de um esquema de corrupção. Por serem crimes interligados, eles demandam ações preventivas para valorizar a transparência e controle das obrigações nas organizações. Não se espera que a simples adoção do programa de compliance seja suficiente para impedir que ações de corrupção sejam realizadas. No entanto, certamente é por meio dessa medida que sistema de controle de gestão é aprimorado, permitindo, em sequência, que outros métodos sejam usados para reduzir os riscos aos quais as organizações estão expostas (FEBRABAN, 2009). A preocupação com a ferramenta de controle deve ser crescente tanto pelo aspecto moral e financeiro quanto pelo ponto de vista legal. Lei n° 12.846 Em 2013, foi promulgada a Lei n° 12.846 (também conhecida como Lei Anticorrupção), que fornece instruções para efetivar a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas que praticarem atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira (BRASIL, 2013). Como destaque para esse normativo legal, está a possibilidade de aplicação de medidas mais rigorosas, como multas de 20% do faturamento e até o encerramento das atividades de empresas que forem condenadas por atuação em ações danosas (BRASIL, 2013). A busca pela proteção ao tesouro nacional, um dos fundamentos presentes na Lei Anticorrupção, possibilitou a ampliação da penalização para a esfera organizacional. Até então, o Código Penal previa sanções apenas para as pessoas físicas envolvidas com corrupção. A partir de 2013, as empresas também passaram a ser responsabilizadas criminalmente pela corrupção cometida (BITTENCOURT, 2014). A lei n° 12.846/2013 passou a fazer parte do arcabouço legal que normatizou a tipificação dos crimes contra a administração pública, assim como as punições a empresas, pessoas físicas e agentes públicos, que devem ser pelos prejuízos gerados aos órgãos públicos e, em consequência, à sociedade brasileira. As leis que versam sobre tema são: Código Penal Decreto-Lei 2.848/1940) Lei da Ação Popular Lei 4.717/65 Lei de Improbidade Administrativa Lei 8.429/1992 Lei de Licitações Lei 8.666/93 Lei da Ficha Limpa Lei Complementar 135/2010 Lei da Defesa da Concorrência CADE Lei 12.529/11 Além das deliberações legais brasileiras, vale salientar o acordo multilateral que o Brasil firmou para combate ao suborno de servidores estrangeiros. Por meio da Convenção de Trabalho da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), acordo entrou em vigor em 1999, sendo ratificado no ano seguinte por meio do Decreto n° 3.678/2000. principal objetivo delimitado pela convenção foi prevenir e combater a corrupção de funcionários públicos nas transações comerciais internacionais (BRASIL, 2016). Liderado pela OCDE, esse movimento internacional demonstra que os casos de corrupção não são restritos ao cenário nacional nem a um período republicano do Brasil. Exemplo A empresa Siemens foi punida com multa no montante de 1,4 bilhão de dólares, entre os anos de 2001 a 2007, após a constatação de pagamentos de propinas para autoridades públicas em diversos países do mundo (GALLAS, 2013). Resgatamos ainda registro de estudos que apontam que as práticas de corrupção são registradas em território brasileiro desde período colonial (DEBBIO; MAEDA; AYRES, 2013), motivo pelo qual se consolida mais ainda a premente necessidade de disseminação de medidas corretivas e preventivas nos moldes adotados em programas de compliance. Os casos brasileiros de corrupção mais recentes do país, com ações na justiça penal e ampla divulgação da mídia, estiveram ligados às empresas Sadia, Aracruz, Banco Santos, Banco PanAmericano, Friboi e Petrobras. Mas também foram registrados os ocorridos com as empresas norte-americanas Enron, WorldCom, Xerox, Bristol Meyers Squibb, Merck e Global Crossing e as europeias Parmalat e Cirio (PERERA; FREITAS; IMONIANA, 2014). Depreende-se desse contexto que os controles existentes muitas vezes não são capazes de proteger os interesses dos stakeholders e evitar todos os prejuízos advindos das ações indevidas. Em alguns casos, os prejuízos das fraudes são tão graves que podem levar as organizações à falência ou a perdas financeiras em grande escala (PERERA; FREITAS; IMONIANA, 2014). Conhecer as informações é um meio essencial para os gestores tomarem decisões com base no histórico ou nos dados que representam cenário no qual eles estão inseridos. A figura 1 apresenta as situações mais propensas a fraudes, cabendo dirigir a elas a maior atenção e os esforços pela área de compliance (PERERA; FREITAS; IMONIANA, 2014): Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ver mais detalhes da imagem abaixo. 100% 90% 80% 70% 66% % das respostas 60% 56,4% 54,5% 50% 41,0% 39,7% 40% 33,3% 32,1% 30% 28,8% 28,2% 20% 16,7% 10% 3,2% 0% Conflito de de fraudulentos Subomo ilegais Roubo Roubo ou furto ou furto (caixa) / tangiveis) Extorsão económica Situações propensas à fraude. Apesar de a corrupção não ter personalidade exclusivamente brasileira, temos de destacar que as fraudes contábeis divulgadas no Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo, não possuem as mesmas características. Silva, Sancovschi, Cardozo e Condé (2012) afirmam que os agentes fraudadores brasileiros têm objetivos predominantes diferentes dos criminosos norte-americanos, confira e compare. No Brasil 37% dos crimes de corrupção pesquisados Nos Estados Unidos tiveram propósito de desviar recursos da X 87% das fraudes contábeis estudadas empresa. As outras fraudes pretendiam desejavam ocultar a situação real da ocultar a situação da companhia, bonificar empresa. executivos e praticar crimes de sonegação fiscal. Também devemos destacar as possibilidades de outros ilícitos, como espionagem industrial e empresarial, manipulação de informações e compras atreladas a benefícios pessoais, além do pagamento efetivo de propinas e roubo de ativos (WELLS, 2008). Decreto n° 8.420/2015, que regulamentou a Lei Anticorrupção, menciona as ações de compliance que devem ser observadas pelo programa de integridade das pessoas jurídicas que mantiverem relações com serviço público, tal como se destaca a seguir: O programa de integridade consiste, no âmbito de uma pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades, a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes que detectem e mitiguem os desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra a administração pública, nacional ou estrangeira." (BRASIL, 2015, art. 41, § único) O Brasil se esforçou para avançar com as legislações de combate à corrupção em conformidade com movimento internacional verificado no histórico de adoção do compliance. O compliance não é um assunto somente jurídico, apesar de também atuar nessa esfera (no que se refere à necessidade de atendimento às regras oficialmente impostas). A política de compliance passou a ser encarada como uma medida de melhoria de gestão; afinal, profissional atuante na área demanda por capacitação constante e grande conhecimento técnico, pois o assunto ultrapassa o atendimento de normas, procedimentos e regulamentos (BLOK, 2017). Confira a imagem a seguir para entender um pouco mais sobre as características do compliance. COMPLIANCE Regras Padrões Políticas Requerimentos Regulações Transparência Lei A implementação da política de compliance para combate à corrupção é uma das fases, sendo início do movimento necessário. No entanto, também é essencial que os stakeholders promovam fortalecimento do controle e a avaliação de quem cumpre as determinações no que tange às metas éticas e legais definidas pela empresa. Auditorias interna e externa O profissional que atua no compliance é comumente conhecido como compliance officer. Ele é funcionário habilitado para a análise das demonstrações contábeis e atendimento dos diversos tipos de procedimentos definidos pela organização. cargo mais conhecido nessa atividade é de auditor interno, que deve ser ocupado por alguém com competência profissional e habilidades pessoais adequadas à função (RAMOS, 1991). As auditorias internas devem ocorrer constantemente. As externas, por sua vez, também devem ser programadas. Recomenda-se a avaliação periódica do perfil e da integridade moral dos stakeholders pertencentes à organização. Por conta da necessidade dessas auditorias, a figura do auditor interno foi muito valorizada. Ele já faz parte do quadro da instituição, tendo acesso mais fácil às informações e contribuindo com as atividades realizadas pelas auditorias externas. Além dessas vantagens, auditor interno é capacitado para detectar, de modo mais rápido, possíveis irregularidades que venham a prejudicar as finanças, patrimônio, os funcionários e os sistemas de qualidade da empresa. A autonomia para a obtenção das informações torna-se um critério essencial para o bom desempenho das atividades do auditor (ATTIE, 2011). Attie (2011) afirma que controle interno permite que a organização conheça não somente irregularidades associadas a atos intencionais, mas também aquelas que foram cometidas de maneira não intencional. O controle interno, ainda que bem executado, não pode garantir a inexistência de futuras fraudes e irregularidades. Para autor: Bons controles internos previnem contra a fraude e minimizam os riscos de erros e anormalidades, porque, por si só, não bastam para evitá-los. Assim, por exemplo, a segregação de uma operação em fases distintas, confiadas a diversas pessoas, reduz risco de irregularidades; porém, não podem evitar que estas ocorram se as diversas pessoas que intervêm no processo se puserem de acordo para cometer algum ato fraudulento. Não obstante isso, os outros elementos do sistema podem, em alguns casos, atuar como controles independentes que revelam a manobra. (ATTIE, 2011, 126, grifo nosso) Já a auditoria externa, apesar de representar um custo adicional à folha de pagamento de funcionários, tem como função validar a veracidade das informações geradas pela auditoria interna. Como não possui vínculo com a organização, ela ainda oferece mais credibilidade ao público em geral e perante os órgãos de controle (CREPALDI, 2009). parecer de auditoria atualmente é conhecido como emissão de opinião do auditor, tendo como escopo a apresentação dos fatos verificados após uma análise documental realizada em que são relatados os riscos associados às não conformidades encontradas. Nas ações de combate à corrupção, a auditoria surge como mais uma possibilidade de ferramenta de compliance. Dessa forma, as organizações têm uma ampla motivação para a adoção dessa política: Atendimento legal, melhores práticas, acompanhamento da gestão, minimização de riscos, proteção à imagem e eliminação de multas. Verificando ao aprendizado Questão 1 Qual das legislações indicadas a seguir, também conhecida como Lei Anticorrupção, representou um grande avanço para cenário legal brasileiro devido à possibilidade de também penalizar as pessoas jurídicas de dinheiro privado que cometerem atos de corrupção? A Lei n° 4.717/1965 Lei n° 8.429/1992 c Lei Complementar n° 135/2010 D Lei n° 12.529/2011 E Lei n° 12.846/2013 A alternativa E está correta. A Lei n° 12.846, de 1° de agosto de 2013, dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Questão 2 Sobre as vantagens diretas que a atuação do auditor pode trazer para a empresa, podemos destacar: A Aumento da carteira de clientes Amadurecimento das práticas de compliance c Custos de contratação envolvidos D Diferenciação no mercado no qual atua E Valorização do produto ou do serviço ofertado A alternativa está correta. O auditor deve ser um grande conhecedor técnico, pois a auditoria ultrapassa atendimento de normas, procedimentos e regulamentos. Como este profissional está em constante capacitação, consequentemente também ocorre um amadurecimento das práticas de compliance. 4. Conclusão Considerações finais A prática do compliance tem crescido no âmbito das organizações por conta da força de determinações legais (como nos casos das instituições financeiras que operam na bolsa de valores) ou pela percepção das organizações de que a adoção dessa prática resulta em minimização de riscos, como multas e prejuízos na imagem. A sua importância está na necessidade da adoção de uma política vigilante para a redução das probabilidades de fraudes, assim como dos riscos inerentes às organizações. A vigilância propicia a minimização das chances de prejuízos financeiros e de imagem, além de contribuir para a melhoria das transações realizadas com os stakeholders do negócio. Como vimos, a adoção de técnicas de compliance contribui para que sejam evitadas as práticas de corrupção estabelecidas nas relações da iniciativa privada com setor público. Explore + Assista aos filmes: Mark Felt: homem que derrubou a Casa Branca, que trata do escândalo norte-americano de Watergate; fraude, que aborda a falência do banco Barings; Tropa de elite 2; que critica a corrupção sistêmica e evidencia os riscos das falhas de governança. Busque informações sobre as atividades desenvolvidas pela organização não governamental Observatório Social. Referências ÁLVARES, E.; GIACOMETTI, C.; GUSSO, E. Governança corporativa: um modelo brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. BBC NEWS. Escândalo da Siemens 'ensinou empresários alemães a não pagar propina'. 2013. Consultado na internet em: 3 jun. 2019. BBC. WorldCom admite nova fraude em balanços. 2002. Consultado na internet em 12 jun. 2019. BIS. 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