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Mod01 Aula02 Caracterização do sistema penitenciário e de seus servidores

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Saúde e
qualidade de
vida do servidor
penitenciário
AULA 2: Caracterização do 
sistema penitenciário e de 
seus servidores
Conceitos IniciaisMÓDULO 1
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
2.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Sumário
INTRODUÇÃO ______________________________________________________________________ 3
OBJETIVO DA AULA ________________________________________________________________ 3
O SISTEMA PENITENCIÁRIO COMO ELE É _______________________________________ 3
SISDEPEN: DADOS DA SENAPPEN SOBRE OS 
SERVIDORES PENITENCIÁRIOS __________________________________________________ 9
O SENTIDO DO TRABALHO E A ATUAÇÃO DOS 
SERVIDORES PENITENCIÁRIOS _________________________________________________ 13
CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHADOR DO SISTEMA PENITENCIÁRIO: 
APRISIONAMENTO/ESTIGMATIZAÇÃO/VALORIZAÇÃO _______________________ 16
IDENTIDADE E PERTENCIMENTO _______________________________________________ 19
RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO E O PROJETO DE VIDA/QUALIDADE 
DE VIDA ____________________________________________________________________________ 21
TRABALHO PRESCRITO X TRABALHO REAL ____________________________________ 22
ENCERRAMENTO _________________________________________________________________ 24
REFERÊNCIAS _____________________________________________________________________ 25
FICHA TÉCNICA ___________________________________________________________________ 28
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
3.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
INTRODUÇÃO
Na primeira aula, abordamos os processos históricos e 
os principais conceitos sobre saúde e qualidade de vida no 
trabalho, apresentamos as principais legislações e iniciativas 
voltadas à saúde do trabalhador. Adicionalmente, abordamos 
alguns conceitos relevantes para a compreensão da relação 
entre trabalho, subjetividade e impactos psicológicos 
do trabalho na vida do trabalhador e refletimos sobre a 
importância do desenvolvimento da política de saúde e 
qualidade de vida dos trabalhadores.
Na segunda aula, abordaremos a caracterização do 
sistema penitenciário, considerando os aspectos históricos e 
atuais. Também vamos refletir sobre o sentido do trabalho 
e a atuação dos servidores penitenciários, considerando as 
dimensões pessoal, organizacional e social do trabalho, a 
identidade e o senso de pertencimento dos servidores, a relação entre o trabalho e a qualidade de vida, bem 
como a distinção entre o trabalho prescrito e o trabalho real. Que esse percurso seja muito proveitoso!
OBJETIVO DA AULA
Explicitar informações sobre o sistema penitenciário e o perfil de seus servidores. Ao final desta aula, o cursista 
será capaz de compreender a história do sistema penitenciário e identificar as categorias que compõem o quadro 
de servidores.
O SISTEMA PENITENCIÁRIO COMO ELE É
No mundo todo, o sistema penitenciário enfrenta desafios que vão além da questão da segurança. Tais desafios 
afetam tanto a vida das pessoas privadas de liberdade quanto dos trabalhadores e refletem na sociedade.
Como bem definiu Goffman (1974, p. 11), o sociólogo canadense mais influente do século XX, o sistema prisional 
configura-se como uma instituição total, ou seja, é um local onde muitos indivíduos em situação semelhante, 
separados da sociedade por um período considerável, vivem uma vida fechada e rigidamente administrada. 
Nesse ambiente, diversos aspectos da vida cotidiana, como lazer, trabalho e vida social, são compartilhados, 
deixando pouco espaço para a privacidade e a expressão da individualidade. 
Por sua natureza complexa, frequentemente desconhecida e ignorada pela sociedade, o sistema prisional 
envolve diversas questões que despertaram o interesse de pesquisadores de diversas áreas. Entre eles, 
destaca-se a figura de Michel Foucault (1987), filósofo francês que, em sua obra “Vigiar e punir: nascimento da 
prisão”, publicada pela primeira vez em 1975, mergulha nesse universo e revela os mecanismos de violência 
historicamente utilizados pelo Estado como forma de controle sobre aqueles que não se submetem às normas 
sociais.
Assim, antes de falarmos sobre a atual realidade do sistema prisional, é importante entender como esse sistema 
foi se construindo ao longo do tempo. Para isso, utilizaremos como principal referência a obra de Foucault 
(1987), que traça um panorama da legislação penal e dos métodos punitivos. A partir de uma análise profunda, 
o autor desvenda como o poder moldou e implementou sistemas de repressão para aqueles que transgrediam 
as normas morais e convencionais vigentes em cada sociedade e época.
Foucault (1987) explica que, no passado, as penas buscavam marcar os corpos dos condenados, expondo-os a 
castigos físicos. Os castigos aconteciam em espaços públicos para que, além de punir, alertassem à população 
que não desviasse das regras e normas estabelecidas. 
Apesar dos castigos impostos, a ocorrência de crimes aumentava. Aos poucos, passou-se a exigir a humanização 
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
4.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
das penas. E, em vez do castigo físico, estabeleceram-se mecanismos mais elaborados, objetivando moldar a 
psique das pessoas privadas de liberdade pelo controle.
A análise crítica apresentada por Foucault (1987) nos convida a repensar a função da prisão e de seus impactos 
na vida dos indivíduos.
SAIBA MAIS!
Considerando a relevância da obra de Foucault (1987) por seus aspectos reflexivos e críticos, 
sobretudo para os servidores penitenciários, recomendamos que a obra “Vigiar e punir” seja 
lida na íntegra. E, para introduzi-lo/a imediatamente ao tema, preparamos um breve resumo:
A obra se estrutura em quatro partes:
1ª parte: suplício. Aborda os métodos brutais de punição utilizados no passado. Pela análise 
minuciosa de um caso real ocorrido na França, em 1757, o autor expõe a barbárie do suplício, 
descrevendo uma série de torturas públicas, incluindo queima e esquartejamento, que foram 
infligidas ao condenado. O sofrimento excruciante era o elemento central dessa prática, 
servindo como instrumento de demonstração do poder absoluto do Estado. Por meio da dor 
infligida, buscava-se punir o indivíduo e, além disso, induzir medo na população, dissuadindo 
qualquer tipo de contestação à ordem vigente.
O suplício servia como um lembrete da crueldade e do autoritarismo que marcaram épocas 
passadas. Sua análise nos convida a refletir sobre a evolução dos sistemas penais e a importância 
da luta por sociedades mais justas e humanizadas. Em nosso estudo, devemos refletir ainda 
a respeito do papel exercido pelos servidores penitenciários e, mais especialmente, pelos 
policiais penais em nome das práticas validadas pelo Estado, que teve tantas mudanças ao 
longo dos anos.
2ª parte: punição. Foucault (1987) destaca a mudança de paradigma ocorrida no século XVIII. 
A partir de protestos contra os suplícios, que evidenciavam a barbárie das práticas punitivistas, 
os cidadãos exigiam um sistema de justiça criminal mais justo e humanitário. Essa mudança 
foi impulsionada por diversos fatores. Primeiramente, houve um aumento significativo dos 
crimes patrimoniais em detrimento dos crimes de agressão e homicídio, os quais antes 
predominavam. Outro motivo é que a burguesia buscava uma repressão mais eficaz e menos 
baseada em espetáculos públicos de sofrimento. Diante disso, a busca por uma abordagem 
mais humanitária na aplicação das penas se tornou urgente.
3ª parte: disciplina. Aqui, o autor aborda os mecanismos do poder disciplinar e sua capacidade 
de moldar “corpos dóceis”, ou seja, um tipo de corpo disciplinado por intermédio de estratégias 
sutis de vigilância, sanção, normalização e dominação. Assim, os sujeitos se tornam úteis e 
submissos às normas sociais. E, a partir da disciplina, a punição deixa de seAcesso em: 27 abr. 2024.
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Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
26.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
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Saúde e qualidade de vida
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AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
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 Supervisão de Oferta 
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Suporte Técnico 
Caio Cardoso Cotrim Henriques 
Dionete de Souza Gonçalves Sabate 
Poliana dos Santos Silva
CRÉDITOS 
	INTRODUÇÃO
	Objetivo da aula
	O sistema penitenciário como ele é
	Sisdepen: dados da Senappen sobre os 
servidores penitenciários
	O sentido do trabalho e a atuação dos servidores penitenciários
	Caracterização do trabalhador do sistema penitenciário:
aprisionamento/estigmatização/valorização
	Identidade e pertencimento
	Relação entre o trabalho e o projeto de vida/qualidade de vida
	Trabalho prescrito X Trabalho real
	Encerramento
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
	Ficha técnicaconcentrar apenas 
no corpo do condenado e passa a atingir também sua alma ou psique (Foucault, 1987). 
Ao falar das prisões, Foucault (1987) explora o conceito do “panóptico”, a partir de uma analogia 
ao poder disciplinar da sociedade moderna. O modelo do dispositivo panóptico, caracterizado 
por um ponto de observação central (como a torre de um relógio) e salas ou espaços dispostos 
ao redor, serve como modelo para a organização de instituições como escolas, hospitais, locais 
de trabalho e, principalmente, as prisões (Trindade, 2024).
No panóptico, a vigilância se torna onipresente e constante. Os guardas, posicionados no ponto 
central, conseguem observar as pessoas presas através de venezianas. Nessa estrutura, as 
pessoas vigiadas não sabem se estão sendo vigiadas ou não. Essa dúvida gera uma sensação 
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
5.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
de vigilância constante, e elas passam a internalizar as normas e regras da instituição, tornando a 
disciplina e o controle possíveis, sem a necessidade de força física explícita (Foucault, 1987). O 
panóptico, portanto, representa a máxima expressão do poder disciplinar. Mediante a hiper vigilância 
e a internalização das normas, o indivíduo é moldado de acordo com as expectativas da sociedade, 
tornando-se um “corpo dócil”, submisso à ordem social (Foucault, 1987).
CURIOSIDADE! 
Foram construídos pelo menos sete edifícios com esse modelo no mundo: um em Portugal (o 
único a céu aberto); um na França; três na Holanda; um nos Estados Unidos; e um em Cuba. 
Este último é apresentado nas fotos abaixo: a penitenciária da Ilha dos Pinheiros, construída 
em 1928 e desativada em 1967.
Figura 1 - Presídio Modelo - visão externa.
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Presidio_Modelo.
Figura 2 - Presídio Modelo - visão interna.
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Presidio_Modelo.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
6.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
4ª parte: prisão. Aqui, o autor analisa a instituição central da punição moderna, argumenta que a 
prisão se baseia na “privação de liberdade” e enfatiza que essa liberdade é um bem que pertence a 
todos de maneira igual. Perder a liberdade tem, portanto, o mesmo preço para todos. Compreende-
se que, retirando tempo do condenado, a prisão parece traduzir concretamente a ideia de que a 
infração lesou, além da vítima, a sociedade inteira (Foucault, 1987, p. 261).
Por fim, Foucault conclui que há um paradoxo entre a realidade e o modelo coercitivo proporcionado 
pelo aprisionamento. Dessa forma, o modelo carcerário é concebido com o objetivo primordial de 
reprimir e reduzir a criminalidade, mas certamente esse modelo alimenta o ciclo da criminalidade 
e da desigualdade social. 
Mais recentemente, Póvoas (2020), corroborando com a análise de Foucault (1987), compreende que, diante da 
crescente rejeição à crueldade e à irracionalidade das 
penas impostas no passado, procurou-se maior pro-
porcionalidade entre a gravidade do crime e a sanção 
aplicada. 
Essa mudança de paradigma resultou em uma grad-
ual diminuição da severidade das punições, evoluindo 
para o modelo atual, que considera a liberdade como 
um direito fundamental e adota a pena privativa de 
liberdade como exceção, estabelecendo que esta deve 
focar na reinserção social das pessoas privadas de 
liberdade. Segundo Póvoas (2020), a sociedade se or-
ganiza em etapas de disciplinamento, com a família, 
a escola e o trabalho como os primeiros “palcos” des-
sa moldagem de comportamento. Nesse sistema, in-
divíduos obedientes e submissos à ordem social são 
considerados mais úteis e produtivos. E a prisão surge 
como uma instância de controle para aqueles que resistem à disciplina e se desviam da norma.
Por meio da privação de liberdade e da imposição de regras rígidas, o sistema prisional busca reeducar e re-
integrar o indivíduo à sociedade, mas, frequentemente, falha em sua missão, dando continuidade ao ciclo de 
marginalização e exclusão, já que, em vez de corrigir, perpetua o problema e favorece a criminalidade.
Em “Vigiar e punir”, a prisão é um dispositivo de controle social que vai além da mera privação da liberdade, 
pois se configura como um instrumento de moldagem do comportamento e da subjetividade das pessoas, a 
partir da utilização de técnicas sutis de vigilância constante, separação e trabalho compulsório em algumas sit-
uações. Tais técnicas visam produzir indivíduos submissos à autoridade, prontos para se reintegrar à sociedade 
como pessoas obedientes e produtivas.
Nesse cenário, pode-se dizer que, embora os servidores penitenciários não estejam submetidos exatamente 
às mesmas condições que as vividas pelas pessoas privadas de liberdade, estão inseridos no mesmo sistema e 
vivenciam um cotidiano similar, especialmente nos aspectos mais negativos. No entanto, diferentemente das 
pessoas presas, os servidores penitenciários preservam o direito de ir e vir.
Machado e Guimarães (2014) e Rodrigues (2023) situam as unidades prisionais brasileiras como um ambiente 
degradante e desumano que viola os direitos humanos básicos das pessoas presas. Em contraste com o que a 
legislação brasileira determina, a realidade das prisões brasileiras é marcada por características como violência, 
presença de crime organizado, superlotação e precárias condições de saúde, alimentação, infraestrutura, recur-
sos materiais e higiene. Esse cenário é resultado da negligência a políticas públicas eficazes, o que gera um ciclo 
de violência, desumanização e reincidência criminal.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
7.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Essa condição propicia o surgimento de diversas doenças – tanto físicas quanto psicológicas – entre as pes-
soas privadas de liberdade. Servidores penitenciários, familiares e comunidade em geral também são afetados 
e sofrem com a violência, a insegurança e a marginalização (Machado; Guimarães, 2014). Por consequência, tais 
condições aumentam a demanda de atuação/intervenção dos trabalhadores do sistema prisional. A sobrecarga 
de trabalho no ambiente prisional é uma realidade de todas as unidades da federação, os desafios da falta de 
condições adequadas nas unidades prisionais se somam à quantidade insuficiente de servidores penitenciários 
nas mais diversas áreas de atuação exigidas pela rotina penitenciária.
SAIBA MAIS!
Rodrigues (2023), ao traçar um panorama acerca da precariedade do sistema, destaca os 
seguintes pontos: 
Superlotação e condições insalubres: a falta de vagas nas prisões resulta em celas 
superlotadas, higiene precária e violações constantes dos direitos humanos dos detentos. 
A superlotação também impede a separação de presos por critérios de periculosidade, 
aumentando drasticamente a incidência de conflitos e violência entre detentos.
Violência e crime organizado: as condições precárias do sistema prisional brasileiro criam 
um terreno fértil para o fortalecimento do crime organizado. Grupos criminosos se estruturam 
dentro das prisões, perpetuando violência, extorsões, tráfico de drogas e planejamento de 
crimes fora das prisões, além de representarem uma constante ameaça aos trabalhadores.
Infraestrutura deficiente e falta de recursos: muitas prisões carecem de estruturas 
adequadas a atividades educacionais, de trabalho e de lazer, cerceando a população privada 
de liberdade de oportunidades de ressocialização. A falta de recursos financeiros e a má gestão 
dos recursos disponíveis, muitas vezes, impedem investimentos significativos na construção e 
na manutenção das instalações, perpetuando o ciclo de degradação do sistema.
Há, portanto, uma correlação que não pode ser ignorada, pois toda decisão que interfira na vida da pessoa 
privada de liberdade também interferirá, em maiorou menor grau, na vida e nas condições de trabalho dos ser-
vidores penitenciários (Rodrigues, 2023), vejamos:
1. A superlotação exige maior atenção, esforço e entrega que os trabalhadores deveriam fazer em 
condições adequadas de trabalho. Além disso, eles enfrentam, nas suas rotinas de trabalho, as 
mesmas condições insalubres vividas pelas pessoas presas, o que pode gerar doenças e agravos 
na saúde do trabalhador com o passar do tempo.
2. O crime organizado ameaça diuturnamente a integridade física, moral e mental do trabalhador. O 
medo e a ansiedade experimentados na rotina de trabalho são suficientes para desencadearem 
adoecimentos e conflitos, trazendo consequências nas relações profissionais, familiares e sociais.
3. Os trabalhadores têm de lidar com a precariedade, o sucateamento e a degradação das estru-
turas das unidades prisionais. Além disso, é comum que tenham que percorrer longas distâncias 
até o local de trabalho, assim, após o cumprimento de uma jornada exaustiva de trabalho, o re-
torno para suas residências também é uma questão a ser enfrentada.
4. Adicionalmente, observa-se a falta de investimentos na qualificação inicial e continuada dos 
profissionais, sobretudo daqueles que não são policiais penais, como profissionais da saúde e 
da educação. Frequentemente, esses servidores não passam por treinamentos ou cursos de for-
mação, como os policiais penais realizam, e precisam aprender o seu trabalho no exercício diário, 
contando com a disponibilidade de um colega mais experiente para repassar o aprendizado acu-
mulado com prática.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
8.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Conforme indica Pontes (2020), os profissionais que trabalham nesse contexto desenvolvem a necessária ha-
bilidade de vigilância, mas vão além, tornando-se hipervigilantes, inclusive fora do horário de trabalho. A vida, 
mesmo nos períodos de descanso e folga, transforma-se em uma extensão de angústias, preocupações e medos 
vivenciados no cotidiano prisional. Esses profissionais não apenas se mantêm atentos para custodiar os presos, 
também estão alertas e vigilantes para proteger suas próprias vidas e as de seus familiares. Ou seja, a responsa-
bilidade se estende para além dos muros da unidade prisional, criando um estado de vigilância permanente.
Reforçando as embasadas críticas defendidas por 
Foucault (1987), Goffman (1974), Póvoas (2020), entre 
outros, o Supremo Tribunal Federal (2023) decidiu, por 
meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fun-
damental nº 347 (ADPF/347), que o sistema prisional 
brasileiro apresenta um quadro de grave desconform-
idade constitucional, caracterizado por superlotação, 
condições insalubres, ingresso de presos em desacordo 
com os critérios legais e execução penal irregular. Tal sit-
uação resulta na violação dos direitos fundamentais dos 
presos e compromete a efetividade do sistema prisional 
em sua principal missão: a ressocialização das pessoas 
privadas de liberdade.
Em face da grave crise do sistema prisional, caracter-
izada pela violação de direitos fundamentais, o STF determina que a União, os Estados e o Distrito Federal, em 
parceria com o Departamento de Monitoramento e sob a Fiscalização do Conselho Nacional de Justiça (DMF/
CNJ), elaborem planos para reduzir a superlotação, melhorar as condições carcerárias e garantir a regularidade 
da execução penal. Além disso, o CNJ ficou responsável por realizar um estudo para fomentar a criação de novas 
varas de execução penal, como medida urgente para desafogar o sistema prisional, atuando com mais celeri-
dade na condução dos processos judiciais (Supremo Tribunal Federal, 2023).
Resta evidente a necessidade urgente de reformas estruturais e paradigmáticas no sistema prisional brasileiro. 
É fundamental investir (Rodrigues, 2023):
• na adequação dos espaços físicos das unidades prisionais de acordo com a legislação vigente;
• na ampliação do quadro de profissionais;
• na garantia de acesso a serviços básicos de saúde, alimentação e higiene para todas as pessoas 
privadas de liberdade e para os servidores penitenciários;
• na implementação de programas de ressocialização eficazes;
• no fomento de políticas de valorização profissional atreladas à conscientização social sobre a 
relevância social do trabalho desenvolvido pelos servidores penitenciários;
• no aperfeiçoamento de todos/as os/as trabalhadores/as do sistema.
Somente por meio de medidas efetivas de humanização e de respeito aos direitos humanos será possível trans-
formar as prisões brasileiras em espaços de ressocialização e reinserção social, contribuindo para a construção 
de uma sociedade mais justa e segura para todos. Da mesma forma, somente após a implementação dessas 
medidas será possível a existência de um sistema prisional que não adoeça constantemente tanto os indivíduos 
privados de liberdade quanto os seus trabalhadores (Rodrigues, 2023).
Diante dos fatores expostos quanto à evolução histórica do sistema prisional, podemos concluir que os de-
safios são numerosos e que a perspectiva de ressocialização, determinante para a efetiva garantia dos direitos 
fundamentais das pessoas privadas de liberdade, justifica o trabalho e o investimento no sistema penitenciário 
brasileiro, tanto em recursos materiais quanto humanos, uma vez que essas iniciativas se desdobram em mais 
justiça, equidade e segurança à sociedade.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
9.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
SISDEPEN: DADOS DA SENAPPEN SOBRE OS 
SERVIDORES PENITENCIÁRIOS
Após termos avaliado o processo histórico de desenvolvimento das prisões, vamos conhecer alguns dados do 
sistema prisional brasileiro, que conta com a terceira maior população carcerária do mundo, antecedido apenas 
pelos Estados Unidos e pela China (Barros Filho; Leite; Monteiro, 2023).
Os dados oriundos do Sistema Nacional de Informações 
Penais (Sisdepen) são disponibilizados pela Secretaria Na-
cional de Políticas Penais (Senappen), a partir da compilação 
e divulgação de informações obtidas semestralmente, por 
meio do preenchimento eletrônico de formulário específi-
co destinado ao levantamento dos dados prisionais pelas 
Unidades da Federação (Brasil, 2024).
Com base nos dados apresentados no relatório de infor-
mações penais (Relipen), que são apresentados no gráfico 
subsequente, verifica-se que o Brasil possui uma popu-
lação prisional de 644.833 indivíduos (617.823 homens e 
27.010 mulheres), para uma capacidade de 488.035 vagas, 
ou seja, há um déficit real de 156.281 vagas. O país con-
ta com 1.388 unidades prisionais, distribuídas entre as 27 
unidades da federação, sendo cinco delas presídios federais, situados no Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, 
Rondônia, Rio Grande do Norte e Paraná (Brasil, 2024).
Gráfico 1 - Distribuição da população carcerária pelo número de vagas e número de estabelecimentos 
prisionais de 2019 a 2023
1.000.000
População Carcerária Nº de Vagas Nº de Estabelecimentos Prisionais
750.000
755.274
1.435
442.349
811.107
1.527
545.060
833.176
1.549
573.330
832.295
1.458
596.442
644.833
1.388
489.075500.000
250.000
0
2019 2020 2021 2022 2023
Fonte: elaborado pelos autores com dados de Brasil, 2024.
O gráfico anterior retrata o sistema prisional brasileiro nos últimos cinco anos. Por meio dele, identifica-se 
que, em 2022 e 2023, ocorreu uma leve diminuição da população carcerária, assim como do número de vagas 
no sistema penitenciário, que continua deficitário para atender à demanda do sistema de justiça (Brasil, 2024).
A seguir, o gráfico apresenta os números de pessoas privadas de liberdade distribuídos pelas unidades feder-
ativas do Brasil, em que se constata que São Paulo conta com o maior número de pessoas presas, seguido por 
Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário10.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Gráfico 2 - Distribuição da população carcerária por unidade da federação.
200.000
150.000
100.000
50.000
0
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ
RN RO RR RS SC SE SP TO
N
º P
es
so
as
 P
ri
va
da
s 
de
 L
ib
er
da
de
Fonte: elaborado pelos autores com dados de Brasil, 2024.
Outro dado importante é o quantitativo de presos provisórios: 175.315 (27%). Esse dado, apresentado no gráfi-
co subsequente, revela a lentidão do sistema de justiça e influencia a superlotação carcerária observada no país.
Gráfico 3 - Distribuição da população carcerária por regime de pena.
400.000
300.000
200.000
100.000
0
175.315
115.410
6.496
Provisórios Regime
Fechado
Regime
Semiaberto
Regime
Aberto
Medida de
Segurança
(Internação)
Medida de
Segurança
(Ambulatorial)
2.314 169
345.129
População Prisional X Regime
Fonte: elaborado pelos autores com dados de Brasil, 2024.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
11.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
IMPORTANTE
Para gerir as unidades prisionais, o Brasil conta com 119.374 servidores 
penitenciários, 88.318 são policiais penais, responsáveis pela custódia 
das pessoas privadas de liberdade. Os demais servidores (31.056) atuam 
na assistência às pessoas privadas de liberdade e estão distribuídos nas 
seguintes áreas: administrativa, saúde, educação e jurídica, entre outras, 
como pode ser observado no gráfico a seguir (Brasil, 2024).
Gráfico 4 - Distribuição dos servidores penitenciários por área de atuação.
Fonte: elaborado pelos autores com dados de Brasil, 2024.
Observa-se no gráfico seguinte que, quanto ao gênero dos servidores penitenciários, o perfil tem predominân-
cia masculina. Essa diferença pode estar ancorada no fato de que 95,8% das pessoas privadas de liberdade 
também são homens (Brasil, 2024).
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
12.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Gráfico 5 - Distribuição dos servidores penitenciários por gênero.
Servidores Penitenciários X Gênero
100.000
75.000
50.000
25.000
0
85.646
87.337 86.998
88.768
84.400
41.562
30.902 30.611 31.511 31.298
Masculino Feminino
2019 2020 2021 2022 2023
Fonte: elaborado pelos autores com dados de Brasil, 2024.
O gráfico subsequente demonstra a distribuição de servidores por carreira profissional em comparação ao 
gênero. De modo geral, as mulheres predominam no que se refere às profissões relacionadas à assistência e ao 
cuidado das pessoas privadas de liberdade, enquanto os homens se ocupam majoritariamente das atividades 
de custódia.
Gráfico 6 - Distribuição dos servidores penitenciários por gênero e profissão.
Fonte: elaborado pelos autores com dados de Brasil, 2024.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
13.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Os dados apresentados nos levam a refletir acerca da complexidade e dos desafios vivenciados em todo o ter-
ritório nacional no que diz respeito à condução da política penitenciária. Compreender o perfil dos trabalhadores 
que atuam nesse contexto é determinante para os passos seguintes relacionados à instrumentalização e à profis-
sionalização desse grupo de servidores, que, a partir de suas especificidades, carecem urgentemente de políticas 
públicas condutoras de um processo de qualificação dos serviços penais.
Somado a isso, é fundamental o desenvolvimento de estratégias que aproximem o país ao alcance de uma 
proporção razoável entre o número de servidores penitenciários e o número de pessoas privadas de liberdade. 
Atualmente, o Brasil se guia a partir das orientações do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária 
(CNPCP), cuja Resolução nº 9/2009 estabelece como parâmetro a proporção de 1 “agente penitenciário” para 5 
pessoas presas.
O SENTIDO DO TRABALHO E A ATUAÇÃO DOS SERVIDORES PENITENCIÁRIOS
De modo geral, os servidores penitenciários estabelecem 
uma relação particular com a instituição por meio do seu 
trabalho. Observa-se que a quantidade de materiais pub-
licados sobre os impactos do trabalho na saúde e na vida 
dos agentes penitenciários ou policiais penais (como pas-
saram a ser nomeados após a alteração da legislação em 
2019) tem aumentado nos últimos anos. Provavelmente 
isso acontece porque representam o maior número de tra-
balhadores no sistema prisional. Sobre os mesmos impac-
tos aos demais servidores, como aqueles que trabalham 
nas assistências à saúde, educacional, jurídica e adminis-
trativa, há poucos registros.
Jesus, Scarparo e Lermen (2013), ao falarem sobre os 
desafios no campo da saúde no sistema prisional, indic-
am que este é um tema cheio de especificidade e pouco estudado. Certamente os desafios existem quando 
comparamos com outras carreiras necessárias ao funcionamento da rotina penitenciária, como professores, 
pedagogos etc.
IMPORTANTE
Isso posto, respeitando as particularidades de cada carreira, neste curso, 
sempre que possível, será utilizado o termo “servidores penitenciários” 
para abarcar o universo dos profissionais que atuam no sistema prisional. 
Entretanto, serão apresentadas referências e citações de documentos 
que versam, majoritariamente, sobre os agentes penitenciários/policiais 
penais, considerando que os estudos e os dados mencionam essa 
categoria especialmente.
Segundo Fonseca (2006), a prisão, além de confinar os detentos, também confina seus trabalhadores, uma vez 
que utiliza a disciplina como mecanismo de transformação, por meio de regras rígidas e rotinas controladas, que 
visam moldar o comportamento e a subjetividade dos trabalhadores e impõem uma nova realidade e um novo 
modo de ser.
Em suas análises sobre o sentido do trabalho, Codo (1996, p. 41) explora a interação entre o indivíduo e o con-
texto laboral. Para ele, o “trabalho é uma relação de dupla transformação entre o homem e a natureza, geradora 
de significado”. Ou seja, quando trabalhamos, não apenas realizamos tarefas, mas também atribuímos sentido 
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
14.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
e significado a essas atividades. O sentido ou significado 
do trabalho corresponde a um circuito (sujeito – trabalho 
– significado) e, quanto mais complexo e completo o circu-
ito, maior é o prazer no trabalho. Por outro lado, o rompi-
mento no circuito de significados, do ponto de vista do tra-
balhador, ocasiona sofrimentos que podem comprometer 
a saúde mental.
Codo (1996) nos convida a ir além da visão simplista do 
trabalho como mera atividade para a obtenção de renda. 
Pela análise, o autor revela a profundidade e a complexi-
dade dessa dimensão fundamental da experiência huma-
na.
Nesse sentido, o trabalho transcende a mera produção 
de bens ou serviços. Ele se configura como uma atividade humana por excelência, um meio pelo qual 
transmitimos significado à natureza e construímos nossa identidade. Por intermédio do trabalho, molda-
mos quem somos e como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor (Codo, 1996).
Essa visão holística do trabalho destaca três aspectos essenciais:
• Expressão: o trabalho é uma forma de expressar nossa criatividade, habilidades e valores. Por 
meio dele, deixamos nossa marca no mundo e contribuímos para a sociedade (Codo, 2016). 
Assim, a criatividade é um elemento importante aos servidores penitenciários que precisam dar 
novas respostas aos problemas e desafios que se apresentam na rotina de trabalho, sobretudo 
ao considerarmos que o servidor está em contato constante com as pessoas privadas de liber-
dade. Além disso, trata-se de um sistema em que não há um modelo pronto, acabado, estan-
do em constante construção e reconstrução desuas atividades, e que pretende oportunizar 
a mudança das pessoas em privação de liberdade, por meio da ressocialização e oferecendo 
segurança à sociedade.
• Aprendizado: o trabalho é um constante processo de aprendizado. Ao nos dedicarmos a dif-
erentes tarefas e desafios, desenvolvemos novas habilidades, conhecimentos e experiências 
(Codo, 2016). O fazer do servidor penitenciário não é aprendido na escola. É um aprendizado 
assimilado a partir dos cursos de formação para ingresso na carreira e em cursos realizados, 
quando disponibilizados, ao longo do exercício profissional, mas, com toda certeza, o maior 
aprendizado é experimentado na vivência da profissão. É um trabalho com uma variedade sig-
nificativa de tarefas e desafios que possibilitam o desenvolvimento de novas habilidades e con-
hecimentos.
• Conexão: o trabalho nos conecta com outras pessoas, construindo laços sociais e senso de 
comunidade. Por meio da colaboração e do trabalho em equipe, construímos relações significa-
tivas e contribuímos para objetivos comuns (Codo, 2016). A atuação no sistema prisional exige 
um trabalho de equipe, com grande conexão com outras pessoas. Se tomarmos como princi-
pais objetivos do sistema prisional a ressocialização e a reinserção social das pessoas privadas 
de liberdade, teremos um sistema prisional alicerçado em objetivos nobres, que conferem sen-
tido e significado aos trabalhadores, à medida que possibilitam a transformação das pessoas 
privadas de liberdade, de dentro para fora, ou seja, uma mudança interna que refletirá em 
mudança de comportamento e na relação que o sujeito estabelece com a sociedade.
Na mesma linha de entendimento de Codo (2016), Siqueira, Silva e Angnes (2017, p. 85) afirmam:
O sentido do trabalho pode ser definido como o entendimento dos empregados daquilo 
que eles fazem no trabalho, assim como a importância do que eles realmente fazem. Este 
aspecto do sentido do trabalho relaciona-se às crenças do indivíduo no que se refere à 
função que o trabalho exerce na sua vida, a qual é afetada pelo contexto social em que este 
está inserido.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
15.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Segundo esses autores, o sentido do trabalho compreende três dimensões: individual, organizacional e so-
cial. Essas dimensões foram analisadas em uma pesquisa realizada com policiais penais do Paraná. O objetivo 
da pesquisa teve a seguinte questão norteadora: qual o sentido do trabalho para os agentes penitenciários? A 
análise da pesquisa apontou para os seguintes resultados:
Na dimensão individual, a pesquisa demonstrou que a escolha para 
se tornar um agente penitenciário está fundamentada em questões 
financeiras e na estabilidade do serviço público. Apesar da falta de 
oportunidades de crescimento na carreira, o salário atrativo dos agen-
tes, quando comparado a outras profissões, especialmente no setor 
privado, é um fator relevante, principalmente se considerarmos que, 
em alguns estados brasileiros, exige-se apenas o nível médio de for-
mação para atuação nesse campo (Siqueira; Silva; Angnes, 2017).
Com relação à dimensão organizacional, embora os trabalhadores 
não estejam em privação de liberdade, durante seus turnos de tra-
balho também se veem enclausurados nas unidades prisionais. A pre-
cariedade das condições estruturais e a falta de recursos afetam não 
apenas as pessoas presas, mas também a segurança e o bem-estar 
dos servidores penitenciários. Ao se discutir investimentos no sistema prisional, a visão generalizada e discrimi-
natória da sociedade pressupõe que todos que ali estão devam conviver em condições precárias. Essa discussão 
não considera que nos espaços prisionais convivem os servidores penitenciários e as pessoas presas. Tal visão 
ignora as necessidades básicas de segurança, saúde e dignidade de todos os indivíduos que compõem o ambi-
ente prisional (Siqueira; Silva; Angnes, 2017).
Na dimensão social, observa-se uma complexa oposição que 
marca a realidade dos servidores penitenciários. De um lado, a per-
cepção de desvalorização por parte da sociedade, que ignora ou 
subestima seu trabalho e ainda carrega uma visão pejorativa so-
bre ele, habitualmente o associando à corrupção, violência, baixa 
instrução e falta de sensibilidade. Assim adiciona ainda o peso do 
imaginário coletivo que associa os servidores penitenciários à infeliz 
reputação do torturador, atrelada ao uso desproporcional de força 
e poder. Como resultado, isso gera um sentimento de falta de apoio 
social que, em geral, não demonstra o reconhecimento que os ser-
vidores merecem pelo trabalho desafiador e arriscado que prestam 
à sociedade (Siqueira; Silva; Angnes, 2017; Coelho; Carvalho Filho, 
2012).
Por outro lado, os servidores penitenciários reconhecem a im-
portância social de sua profissão e o impacto positivo que seu trabalho tem na sociedade, demonstram orgulho 
da profissão e da contribuição que fazem para a segurança pública, além de terem consciência de que o trabalho 
realizado faz diferença na vida das pessoas e contribui para a sociedade (Siqueira; Silva; Angnes, 2017).
Pontes (2020), corroborando Siqueira, Silva e Angnes (2017), revela que, para os servidores penitenciários, a 
profissão transcende a busca por renda, assumindo a forma de um estilo de vida, uma entrega total ao sistema 
prisional. Apesar do sofrimento causado pela falta de reconhecimento social, os próprios trabalhadores valor-
izam sua função. Essa valorização nasce da atribuição de significado pessoal à importância e ao impacto social de 
sua atuação, elevando o trabalho a uma posição central em suas vidas. Mesmo sem o reconhecimento merecido, 
os trabalhadores se identificam como parte de uma categoria e atribuem um sentido de proteção social à sua 
missão.
A percepção dos servidores penitenciários sobre o trabalho que desenvolvem revela a complexidade e, ao mes-
mo tempo, a invisibilidade da sua função. A dignidade, a segurança e a responsabilidade são elementos centrais 
que moldam a visão desses trabalhadores sobre seu papel na sociedade. Compreender isso é fundamental para 
o aprimoramento do sistema prisional e para a valorização do trabalho desses profissionais (Santos, 2014).
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
16.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Assim, considerando os aspectos essenciais ao sentido do trabalho aqui apresentados e sem perder de vista a 
subjetividade do trabalhador, é bastante razoável pensar que o sistema prisional é um campo fértil de sentido e 
significado para todos os seus trabalhadores.
CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHADOR DO SISTEMA PENITENCIÁRIO: 
APRISIONAMENTO/ESTIGMATIZAÇÃO/VALORIZAÇÃO
O sistema prisional foi marcado pelo descaso do poder 
público ao longo dos séculos, que se reflete diretamente 
na precária realidade vivenciada por pessoas presas e tra-
balhadores. No Brasil, não foi diferente.
Ribeiro et al. (2019), em uma pesquisa realizada em sete 
unidades prisionais da Região Metropolitana de Belo Hori-
zonte, entre 2015 e 2017, traçam o panorama da rede de rel-
acionamento dos servidores penitenciários. Como resulta-
do do estudo, os pesquisadores atestam que os próprios 
profissionais se veem mais aprisionados do que as pessoas 
presas, isso porque há uma limitação da sua circulação na 
sociedade, ora por se sentirem em risco e ameaçados fora 
da prisão, ora por medo da crítica social quanto ao seu pa-
pel, muitas vezes visto como tão próximo da criminalidade 
quanto da pessoa presa.
Nesse cenário, a discussão sobre a caracterização do trabalhador do sistema prisional impõe refletir sobre o 
conceito de “aprisionamento”. Ribeiro et al. (2019) destacam que esse é um tema relativamente novo, uma vez 
que os estudos tendem a analisar o aprisionamento somente na ótica dos indivíduos privados de liberdade. Va-
mos pensar juntos?
O termo “prisionização”, maisdo que apenas um confinamento físico, configura-se como um processo de acul-
turação. É a “adoção em maior ou menor grau dos usos, costumes, hábitos e cultura geral da prisão” (Thompson, 
1980, p. 23).
As consequências da prisionização desorganizam profundamente a personalidade, provocando efeitos como a 
perda de identidade e a aquisição de uma nova identidade; a presença de sentimento de inferioridade; o empo-
brecimento psíquico; a infantilização e regressão (Sá, 1998, p. 3).
O empobrecimento psíquico resulta em estreitamento do horizonte psicológico, pobreza de experiências e 
dificuldades para elaborar planos a médio e longo prazo. A infantilização e a regressão manifestam-se por meio 
de dependência, busca de proteção (como na religião), busca de soluções fáceis, projeção da culpa nos outros e 
dificuldades na elaboração de planos (Sá, 1998, p. 3). 
É importante notar que essas características também têm sido observadas entre os servidores penitenciários 
que, após algum tempo em contato com os detentos, começam a adotar vários desses comportamentos e per-
dem a própria identidade. A linguagem, talvez, seja a primeira mudança observada (Sá, 1998, p. 3), uma vez que 
é recorrente a incorporação de gírias e expressões comuns ao ambiente das prisões em sus falas.
Outra questão que merece atenção refere-se à estigmatização relacionada à lógica punitivista da sociedade e à 
função da prisão. Sobre esse tema, Lopes (2002) traça um panorama da categoria dos policiais penais, destacan-
do a inevitável associação desses profissionais a figuras como “carrascos”, “carcereiros” e “guardas de presídio”, 
o que remete a um passado marcado por tortura e agressões como instrumentos de punição e controle social, 
como vimos no início desta aula.
Vamos investigar essa questão: o termo “carrasco” refere-se ao indivíduo responsável por executar a pena de 
morte; um algoz; um verdugo. Diz também de uma pessoa que age com crueldade; quem aplica torturas; é cruel 
e desumano. No sentido popular, refere-se a um sujeito que se comporta com tirania, especialmente quando 
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
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MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
busca disciplinar ou impor regras e preceitos: “contrataram um carrasco como gerente!” (Carrasco, 2024). É assim 
também com os demais termos pejorativamente associados ao trabalho dos servidores penitenciários.
Desse modo, essa herança histórica permeia a identidade profissional dos servidores penitenciários, sobretu-
do dos policiais penais, moldando suas percepções e funções que estão entrelaçadas com questões de poder, 
disciplina e controle dentro do sistema prisional. A cultura organizacional acaba ficando impregnada por essa 
visão punitivista e repressiva que contribui para a existência, embora cada vez mais reprimida, de práticas abu-
sivas e desumanas, perpetuando um ciclo de violência e sofrimento (Lopes, 2002).
Como já apresentado anteriormente em nossa discussão sobre a constituição do sistema prisional ao longo da 
história, no passado, a tortura era parte da pena dos condenados. Era, ainda, um trabalho legitimado pelo Esta-
do. No presente, espera-se que todos os servidores penitenciários atuem pautados nos princípios da dignidade 
da pessoa humana, na promoção dos direitos humanos, com vistas à ressocialização e à reintegração social da 
pessoa privada de liberdade (Silva, 2017).
A despeito das mudanças ocorridas, e considerando que a cultura punitivista ainda é uma realidade, obser-
va-se que os servidores do sistema prisional se encontram em um dilema: de um lado, o dever de cumprir a lei 
e promover a ressocialização das pessoas privadas de liberdade; do outro, a pressão de manter a ordem e lidar 
com a violência presente no ambiente carcerário (Lopes, 2002).
Do mesmo modo, Fonseca (2006, p. 535) corrobora com Lopes (2002), afirmando que a questão central do 
conceito de reabilitação penal reside na ambiciosa tarefa de transformar indivíduos que cometeram crimes em 
cidadãos cumpridores da lei. Entretanto, na prática, a prisão é percebida como o lugar da exclusão, assumindo 
o papel central de segregação do indivíduo da sociedade. Essa segregação tem como objetivo principal a con-
tenção, a privação da liberdade, e não necessariamente a transformação social do indivíduo.
Barcinski, Cunico e Brasil (2017) indicam que o sistema prisional brasileiro é permeado pela ambiguidade de 
propósitos: aprisionar, punir e reintegrar à sociedade as pessoas privadas de liberdade, criando um obstáculo 
para que os servidores penitenciários definam sua postura profissional e suas decisões em relação aos presos.
Considerando a demanda do cenário atual de realinhamento dos objetivos e propósitos, a legislação brasileira 
estabelece a ressocialização como ponto norteador da política prisional. Para atender a esse determinante, a Lei 
de Execução Penal (LEP) reconheceu a necessidade de atuação de diferentes profissionais no atendimento das 
pessoas privadas de liberdade.
Entre os atores que devem se ocupar da ressocialização, apresentados pela LEP, podemos mencionar o tra-
balho dos profissionais da assistência à saúde. E há vários outros. Para isso, vamos analisar as leis que tratam 
desse assunto no quadro a seguir:
Constituição da República Federativa do Brasil:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido 
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do 
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igual-
itário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuper-
ação (Brasil, 1988).
Lei nº 8.080/1990 (SUS):
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo 
o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação 
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
18.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos 
de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que 
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua 
promoção, proteção e recuperação (Brasil, 1990).
Lei de Execuções Penais - LEP:
A LEP, em seu artigo 1º, estabelece como objetivo fundamental: “a harmônica integração social 
do condenado e do internado”. Nesse contexto, a assistência ao preso surge como um dever do 
Estado, com o intuito de garantir o retorno da pessoa privada de liberdade à sociedade da melhor 
forma possível (Brasil, 1984).
Saúde, educação, trabalho, assistência jurídica, religiosa e material são alguns dos pilares dessa 
assistência, previstos na LEP. Tais medidas visam à ressocialização do indivíduo, preparando-o 
para um futuro reingresso na sociedade de forma produtiva e pacífica (Brasil, 1984).
Entretanto, a insuficiência de profissionais para a execução das atividades que focam na 
ressocialização compromete a efetividade da LEP e impede a plena reabilitação dos indivíduos 
em situação prisional. Esse cenário gera um ciclo vicioso, em que a falta de oportunidades para 
reinserção social contribui para o aumento da reincidência criminal (Rodrigues, 2023).
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema 
Prisional (PNAISP):
Art. 4. Constituem-se diretrizes da PNAISP:
I - promoção da cidadania e inclusão das pessoas privadas de liberdade 
por meio da articulação com os diversos setores de desenvolvimento social, 
como educação, trabalho e segurança; 
II - atenção integral resolutiva, contínua e de qualidade às necessidades 
de saúde da população privada de liberdade no sistema prisional, com 
ênfase em atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais 
(Brasil, 2014).
Baseando-se nas legislações apresentadas, observa-se que as atividades dos servidores penitenciários 
do quadro assistencial constituemum direito das pessoas privadas de liberdade assegurado pelas norma-
tivas vigentes. Contudo, a garantia desse direito é dificultada pelo baixo efetivo de profissionais, ambientes 
insalubres e inadequados, além de precárias condições de trabalho, que são geralmente comuns no sistema 
prisional brasileiro.
Adicionalmente, o constante “embate” entre a ideologia repressiva da segurança, assimilada por alguns tra-
balhadores, e a ideologia humanitária da assistência, corretamente defendida por outros, produz, com frequên-
cia, um ambiente de descontentamento e de divisão entre os trabalhadores que atuam nas unidades prisionais. 
Como exemplo, Câneo e Torres (2018, p. 12), ao tratarem o trabalho do assistente social nas prisões, afirmam 
que impera “a lógica punitiva exercida pelo abuso de autoridade”, que resulta em uma “interferência na autono-
mia profissional do/a assistente social, em que a segurança e a disciplina se tornam o eixo central reforçado pelo 
determinismo institucional, ao invés do compromisso com os usuários”.
Assim, verifica-se que conflitos ideológicos e relacionais permeiam os trabalhadores desse sistema, o que re-
força a divisão do trabalho em dois grupos: o primeiro com foco na segurança e o segundo com foco na resso-
cialização/reintegração dos indivíduos privados de liberdade.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
19.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
IDENTIDADE E PERTENCIMENTO
Segundo Goffman (1985), a identidade dos servidores penitenciários não é um dado fixo, mas sim uma con-
strução dinâmica e subjetiva moldada pelas interações sociais e pelos contextos. Essa construção se dá por 
intermédio das “máscaras” que vestimos e das impressões que gerenciamos, variando conforme as expectativas 
sociais e as complexidades da vida cotidiana.
Moraes (2013), citando Goffman (1992), destaca que a ex-
periência do trabalho no ambiente prisional molda profunda-
mente a identidade dos servidores penitenciários. A identidade 
formada no mundo exterior, ligada a trabalho, emprego e 
profissão, dá lugar a uma nova percepção de si mesmo, intrin-
secamente conectada à sua função. Em outras palavras, o tra-
balho como servidor penitenciário se torna parte fundamental 
da identidade desses profissionais, moldando suas ações, va-
lores e autopercepção. As interações com as pessoas privadas 
de liberdade, as normas institucionais e as expectativas sociais 
moldam a forma como os trabalhadores se veem e como são 
vistos pelos outros. Essa construção dinâmica da identidade 
apresenta desafios e oportunidades para os servidores peni-
tenciários. Isso porque, ao mesmo tempo em que o trabalho 
oferece um senso de propósito e pertencimento, também pode gerar conflitos e dilemas internos.
A construção da identidade do servidor penitenciário está intimamente ligada à sua função de vigiar e manter 
a ordem em um ambiente prisional, caracterizado por tensões e desafios. Esses profissionais se encontram em 
uma posição delicada, transitando entre o mundo da lei e da ordem e o universo do crime e da desordem, o 
que gera estresse constante. A familiarização com essas realidades opostas permite aos trabalhadores internal-
izarem elementos que, caso não fossem naturalizados, causariam sofrimento psicológico e desgaste excessivo. 
Essa dinâmica complexa molda a identidade do servidor penitenciário, exigindo resiliência e estratégias de ad-
aptação para lidar com as contradições e os desafios inerentes à sua profissão (Moraes, 2013).
Boritza e Carvalho (2021) identificam lacunas na construção da identidade do servidor penitenciário, nas 
condições de trabalho e na responsabilidade pela reinserção social das pessoas privadas de liberdade e res-
saltam que o Estado negligencia a criação de dispositivos legais que garantam o fazer desses profissionais e 
impedem a formação de uma identidade sólida no trabalho.
Moraes (2013) aprofunda essa crítica ao destacar quatro questões que expressam as contradições do sistema 
penitenciário, em geral, e a percepção dos trabalhadores, a saber:
1) a exigência de que os agentes penitenciários trabalhem na ressocialização dos deten-
tos e que ao mesmo tempo sejam responsáveis pela manutenção da ordem e da discipli-
na; 2) a vivência da contradição entre discurso público da instituição quanto à sua função 
ressocializadora e o que realmente acontece, a saber, uma baixa taxa de recuperação dos 
detentos, percebida na alta reincidência que, segundo os agentes penitenciários, se dar-
ia em função da falta de recursos para que este fim fosse cumprido; 3) a do sentimento 
de prisionização e de identificação com o preso; 4) do desgaste da autoridade do agente 
penitenciário em função do uso da força física e da violência (Moraes, 2013 apud Boritza; 
Carvalho, 2021, p. 432).
Scartazzini e Borges (2018) alertam para outro fator crucial na construção da identidade do servidor peni-
tenciário: o estigma social associado à profissão. A percepção pública negativa, como mencionado anterior-
mente, que liga os trabalhadores a comportamentos como tortura, violência, maus-tratos, facilitação de fugas, 
corrupção e negligência, gera diversos prejuízos. O estigma impede o reconhecimento profissional desses tra-
balhadores, reforçando estereótipos e generalizações negativas sobre si. A consequência é a dificuldade na con-
strução de uma identidade sólida e de um senso de pertencimento à categoria com valor positivo. 
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
20.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
Assim, fica evidente a existência de um componente aversivo que permeia a história da profissão do servidor 
penitenciário, presente até hoje na construção de sua identidade: o sentimento de discriminação social. Em 
muitos casos, como vimos anteriormente, a motivação para escolha da profissão não está ligada a um desejo 
pessoal ou à realização profissional, mas à necessidade de renda e estabilidade de um emprego público. A in-
fluência de familiares que já atuam na área ou a semelhança com o trabalho dos policiais também podem ser 
fatores decisivos (Scartazzini; Borges, 2018).
A busca por identidade profissional e senso de 
pertencimento dos agentes penitenciários à car-
reira policial é evidente. A sociedade tende a ver a 
profissão policial como mais promissora e prestig-
iada, o que gera um desejo de equiparação entre 
as duas áreas: de âmbito policial e de âmbito penal. 
Nesse contexto, a Emenda Constitucional nº 104, 
aprovada em 2019, instituiu as polícias penais como 
entidades de segurança pública em níveis federal, 
estadual e distrital. Essa emenda concedeu aos poli-
ciais penais os mesmos direitos da carreira policial. 
Além da equiparação de direitos, a alteração da leg-
islação buscou valorizar a profissão dos policiais pe-
nais, proporcionando-lhes melhores condições de 
trabalho e reconhecimento social (Senado Federal, 
2016). Entretanto, ainda se discute a situação dos 
demais trabalhadores do sistema prisional, como 
especialistas e técnicos que atuam diretamente com 
as assistências penitenciárias.
No entanto, a política de criação da polícia penal é, sem sombra de dúvida, uma forma de reconhecimento e 
valorização da profissão que ainda carece de estruturação e delimitação sobre o seu papel com foco nos obje-
tivos a serem alcançados, e que diferente das demais forças policiais, convive em sua essência com os eixos da 
vigilância e da ressocialização.
Nesse sentido, Dias e Silva (2022) apresentam uma análise crítica relacionada aos problemas do sistema pri-
sional, ponderando que, apesar de representar um avanço para os policiais penais, a inclusão destes na Consti-
tuição Federal, por si só, não soluciona os problemas do sistema prisional, pois a superlotação e a violação de 
direito dentro das prisões persistem e exigem outras ações do Estado para a resolubilidade de tais demandas.
Mediante o exposto,verifica-se que a consolidação da identidade e do senso de pertencimento dos servidores 
penitenciários encontra-se em construção. Apesar de não ser uma função nova, as mudanças paradigmáticas 
que envolvem as profissões nesse contexto dificultam o processo.
A identidade e o pertencimento estão diretamente relacionados ao sentido e significado que o trabalho pro-
porciona ao trabalhador. Assim, considerando que o reconhecimento e a valorização profissional perpassam 
pelo reconhecimento social, a ressocialização representa uma perspectiva relevante por conferir segurança à 
sociedade, além de afastar os trabalhadores da figura do carrasco, tão repudiada pela sociedade na contempo-
raneidade.
Em face das considerações postas, os problemas do sistema prisional e sua resolução exigem um comprom-
isso conjunto entre o Estado e a sociedade civil, pois, como demonstrado no decorrer desta aula, as exigências 
impostas aos trabalhadores e a rotina exaustiva, decorrente da enorme complexidade do sistema prisional, têm 
sido fonte de adoecimento dos servidores penitenciários.
Como resposta ao cenário, a fim de valorizar o trabalho dos servidores penitenciários e reconhecer sua relevân-
cia social, o Governo Federal criou, em 2019, a Política de Saúde e Qualidade de Vida, de que trataremos em 
outro momento.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
21.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO E O PROJETO DE VIDA/QUALIDADE DE VIDA
O trabalho no ambiente prisional, como apresentado no decorrer deste módulo, tem potencial adoecedor, pois 
a ausência do sentimento de pertencimento, de identificação com o trabalho, de valorização social e a perda de 
identidade, somada aos riscos inerentes ao trabalho, entre outros, constituem fontes geradoras de sofrimento 
(Tschiedel; Monteiro, 2013).
Lauxen, Borges e Silva (2017 p. 258) observam que a atividade profissional dos servidores prisionais influencia 
o seu projeto de vida/qualidade de vida, pois o trabalho no sistema prisional é percebido como pesado e com-
plexo, configurando-se como um ambiente de alto risco psicossocial. 
Essa realidade exige atenção redobrada e medidas concretas para ga-
rantir a segurança e o bem-estar desses profissionais.
Nesse contexto, Tschiedel e Monteiro (2013) destacam que a com-
preensão da organização social do trabalho e seus impactos na quali-
dade de vida é crucial para o reconhecimento de fontes de sofrimento 
e problemas de saúde.
Sobre esse tema, Lauxen, Borges e Silva (2017) afirmam que é ur-
gente que os órgãos invistam em ações que promovam a qualidade 
de vida no trabalho, com vistas à segurança, à saúde, ao bem-estar, 
além de propiciar um ambiente de trabalho equilibrado emocional-
mente para a promoção da saúde física e mental dos servidores penitenciários.
Nesse cenário de promoção da saúde e qualidade de vida dos trabalhadores do sistema prisional, além das 
iniciativas institucionais de cuidado dos servidores, é determinante que o trabalhador também incorpore o au-
tocuidado em sua rotina diária.
Segundo Ferreira et al. (2022), autocuidado é o ato de cuidar de si mesmo, consciente e intencionalmente, para 
promover a saúde física e mental. Essa prática fundamental para o desenvolvimento humano abrange uma var-
iedade de ações que visam ao bem-estar integral. 
Para os autores, o autocuidado é essencial à saúde. A maneira como uma pessoa cuida de si mesma, física e 
emocionalmente, influencia diretamente a sua capacidade de lidar com as dificuldades da vida e de alcançar 
uma maior qualidade de vida. O bem-estar completo depende do equilíbrio entre a saúde física e mental e en-
volve diferentes áreas: alimentação, sono e descanso, atividade física, lazer, rede de apoio social (família, ami-
gos), espiritualidade, autoconhecimento, administração do tempo, autoconhecimento etc.
Segundo Biasin e Santos (2020), a adoção de práticas de autocuidado e estilo de vida mais equilibrado podem 
contribuir para um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo, além de proporcionar um maior sentido de 
propósito aos servidores penitenciários.
Diante do exposto, observa-se que o trabalho no sistema prisional pode se tornar um ambiente vulnerável a 
diversos sintomas que tendem a afetar a saúde física e mental dos trabalhadores, ao passo que valorizar os es-
forços para promover a qualidade de vida no trabalho prisional pode gerar diversos benefícios, como harmonia 
institucional e resultados mais satisfatórios do trabalho (Lauxen; Borges; Silva, 2017). Ao mesmo tempo, é essen-
cial o desenvolvimento de estratégias de promoção da qualidade de vida por parte dos próprios servidores, pois 
toda pessoa é responsável também por si mesma e protagonista de sua própria história.
Nessa seara, reconhecendo o valor da atividade desempenhada pelos servidores penitenciários e ensejando 
a promoção e prevenção de agravos de saúde desses trabalhadores, têm-se observado algumas iniciativas no 
âmbito federal e de alguns estados brasileiros, com foco na promoção da saúde e da qualidade de vida dos 
servidores penitenciários. Os estados de Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo têm apresenta-
do boas práticas nesse campo e este tema será retomado na terceira aula, em que abordaremos os aspectos 
legais da política de saúde dos trabalhadores, além da quarta aula, quando trataremos de exemplos de boas 
práticas nacionais.
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
22.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
TRABALHO PRESCRITO X TRABALHO REAL
O conceito de “trabalho prescrito” e “trabalho real” foi introduzido por Christophe Dejours, psicólogo francês, 
durante a década de 1990. Suas pesquisas sobre a organização social do trabalho e a saúde dos trabalhadores 
o conduziram ao desenvolvimento desses conceitos, com o objetivo de analisar a dinâmica das relações entre o 
que é esperado do trabalhador (trabalho prescrito) e o que ele efetivamente realiza (trabalho real).
A análise de Dejours et al. (1994) e Dejours (2004) sobre o 
trabalho prescrito e o trabalho real desempenhou um papel 
significativo na compreensão da psicodinâmica do trabalho 
e seus efeitos na saúde dos trabalhadores. O trabalho pre-
scrito é definido pelas normas, regras e procedimentos esta-
belecidos pela organização. Essas instruções são documen-
tadas, padronizadas e representam a idealização do que se 
espera que os trabalhadores realizem (Dejours et al., 1994; 
Dejours, 2004).
Mas a prescrição do trabalho, conforme aborda Anjos et 
al. (2011), nunca abarca a totalidade da realidade enfren-
tada pelo trabalhador. A distância entre aquele que planeja 
(o planejador) e aquele que executa (o executor) impede a 
criação de um espaço para discussão sobre o trabalho. O funcionário, que detém o saber de uma especialidade 
realizada exclusivamente por ele, não tem oportunidade de dialogar sobre o que está ocorrendo ou de sugerir 
modificações e adaptações.
E o trabalho real é o que realmente acontece na prática. Ele emerge da interação entre o trabalhador, o contex-
to e as demandas específicas da situação, considera as condições reais de trabalho, bem como as capacidades e 
estratégias individuais. O trabalho real é influenciado por fatores imprevistos, como pressão do tempo, recursos 
limitados, mudanças inesperadas e relações interpessoais (Dejours et al., 1994; Dejours, 2004).
Quadro 1 - Trabalho prescrito x Trabalho real.
Trabalho prescrito Trabalho real
É o que se espera do trabalhador. É o que o trabalhador realmente executa.
Envolve normas, regras, protocolos e 
procedimentos definidos pela instituição.
Envolve o conjunto de atividades que serão 
realizadas no dia a dia laboral.
Está relacionado à teoria. Está relacionado à prática.
Abrange planejamento. Abrange execução.
Fonte: elaborado pelos autores.
PARA REFLETIR!
Sugerimos que você reflita sobre as diferenças entreo trabalho prescrito e o trabalho real 
na sua rotina laboral. Essa é uma forma prática de assimilar o conteúdo. Tente relacionar as 
discussões apresentadas no curso com o desenvolvimento das suas atividades profissionais. 
Certamente você identificará muitos apontamentos abordados nas aulas, tanto sobre esse 
quanto sobre outros assuntos. 
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
23.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
As divergências entre o trabalho prescrito e o real podem levar ao sofrimento. Quando os trabalhadores não 
conseguem seguir rigorosamente as prescrições, podem sentir-se frustrados, ansiosos ou culpados. O conflito 
entre as normas prescritas e a realidade, muitas vezes, exige que os trabalhadores façam escolhas para atender 
aos objetivos reais, mesmo que isso signifique desviar-se das instruções formais (Dejours et al., 1994; Dejours, 
2004).
Quando se trata do trabalho exercido dentro das unidades 
prisionais, Lemos, Mazzilli e Klering (1998) fazem uma críti-
ca ao dizer que esse trabalho segue à risca os dogmas do 
taylorismo, por ser uma abordagem focada no controle 
das pessoas presas. Ele impõe uma disciplina férrea e rege 
cada passo do trabalho dos servidores, conforme as rígidas 
normas estabelecidas pela legislação, definindo quem deve 
trabalhar e como o trabalho deve ser executado, restando 
pouco espaço para a flexibilidade e a autonomia.
Campos e Sousa (2011) citam que a vivência real transbor-
da os limites de qualquer norma ou prescrição. Diante do 
inesperado e do incerto, os indivíduos se veem impelidos a 
buscar soluções criativas e adaptáveis para resolver as situ-
ações desafiadoras que surgem. Essa realidade, frequentemente caótica e incontrolável, exige do trabalhador a 
capacidade de improvisar, adaptar-se e desenvolver estratégias para lidar com o que foge ao prescrito, como o 
procedimento operacional padrão (POP). Esses autores mencionam, ainda, que há uma dificuldade de os própri-
os profissionais do sistema prisional descreverem as atribuições do seu cargo, ou seja, os aspectos prescritos do 
seu trabalho, sinalizando que existe mais do trabalho real do que prescrito na prática diária.
Tschiedel e Monteiro (2013) relatam que, como prescrição, há a obrigação de o policial penal garantir a guarda 
e a vigilância das unidades prisionais. No entanto, as condições de trabalho nem sempre são adequadas ao cum-
primento desse objetivo. Diante disso, os policiais penais lançam mão de estratégias para enfrentar as adversi-
dades que, em resumo, possam contribuir para a manutenção do funcionamento das unidades. Tais estratégias 
podem também acarretar consequências significativas, como alterações na natureza do trabalho, aumento do 
sofrimento psíquico em decorrência da carga de trabalho e precarização das relações.
Com efeito, o exercício laboral no sistema prisional exige muita criatividade e proatividade, pois, muito além 
do prescrito, os servidores lidam com outros seres humanos com potencialidades e limitações, restritos de liber-
dade, que estão afastados de seu ambiente, de afetos e de 
tantos outros fatores que movem a vida de qualquer pessoa. 
Nesse contexto, sem desvalorizar os protocolos existentes, 
o imperativo da vida sempre demandará novas respostas e 
muita criatividade.
Carl Rogers, psicólogo estadunidense, em sua obra intit-
ulada “Tornar-se pessoa”, publicada pela primeira vez em 
1961, apresenta uma visão profunda sobre o processo de 
autodescoberta e desenvolvimento pessoal. O autor explo-
ra como cada indivíduo possui a capacidade de crescer e se 
transformar e como as relações interpessoais podem facili-
tar esse processo (Rogers, 1997).
Correlacionando a visão de Rogers (1997) com a teoria de 
Codo (1996) sobre o sentido do trabalho e o papel dos servidores penitenciários, podemos constatar que atuar 
no contexto prisional é um grande desafio. Ao mesmo tempo, é também um terreno fértil para aqueles que 
desejam participar e colaborar ativamente com uma mudança que afeta a vida dos trabalhadores, das pessoas 
privadas de liberdade e, consequentemente, de toda a sociedade, sobretudo, se partirmos da premissa de que 
toda pessoa está à procura de um lugar no mundo, o que equivale a ser reconhecido, respeitado e amado, a 
despeito de suas escolhas. 
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
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MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
ENCERRAMENTO
Chegamos ao fim desta aula. Para concluir, vamos revisitar os principais aprendizados que permearam 
tnossa jornada:
• O sistema penitenciário como ele é: apresentamos a evolução histórica do sistema prisional e 
uma análise crítica desse processo, considerando as suas especificidades e condições de tra-
balho. 
• Sisdepen: dados da Senappen sobre dos servidores penitenciários – foram expostos dados do 
sistema prisional brasileiro na atualidade, considerando a população carcerária, o número de 
unidades prisionais e vagas disponíveis/deficitárias, bem como as categorias profissionais e o 
gênero dos servidores penitenciários.
• Sentido do trabalho e as reflexões sobre a atuação dos servidores penitenciários: analisamos o 
sentido do trabalho no sistema prisional e discutimos as três dimensões do trabalho, a saber, 
individual, organizacional e social.
• Caracterização do trabalhador no sistema penitenciário – aprisionamento/estigmatização/val-
orização: abordamos o conceito de aprisionamento, as características do sistema prisional e os 
conflitos que permeiam as relações de trabalho.
• Identidade e pertencimento: tratamos dos atravessamentos do processo de construção da 
identidade e do senso de pertencimento dos servidores do sistema penitenciário.
• Relação entre o trabalho e o projeto de vida/qualidade de vida: dialogamos sobre a relevância 
do projeto e a qualidade de vida.
• Trabalho prescrito x trabalho real: analisamos a correlação entre o trabalho prescrito, aquele 
estabelecido por meio de normativas, e o trabalho real, realizado a partir das demandas de 
trabalho no sistema prisional.
Na próxima aula, apresentaremos as legislações e iniciativas de políticas públicas voltadas à saúde e qualidade 
de vida dos servidores penitenciários. Até lá!
Saúde e qualidade de vida
do servidor penitenciário
25.
MÓDULO 1: Conceitos iniciais
AULA 2: Caracterização do sistema penitenciário 
e de seus servidores
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BARROS FILHO, A. D.; LEITE, C.; MONTEIRO, A. M. R. Políticas de educação nas prisões: uma análise das 10 
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