Prévia do material em texto
CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CURSO: LICENCIATURA EM TURISMO DISCIPLINA: ALIMENTOS E BEBIDAS CONTEUDISTA: ALCILÚCIA OLIVEIRA AULA 10 QUALIDADE E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS EM SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO META Apresentar a importância de assegurar a qualidade e segurança dos alimentos e implementação de sistemas de qualidade nos serviços de alimentação. OBJETIVOS Ao final da aula espera-se que você seja capaz de: 1. Entender o que norteia a segurança dos alimentos e os princípios básicos das ferramentas de qualidade: APPCC e Boas Práticas de Fabricação e sua implantação nos serviços de alimentação; 2. Compreender a importância da implementação do sistema de APPCC e de Boas Práticas de Fabricação nos serviços de alimentação. 2 1- INTRODUÇÃO Desde os tempos mais remotos, já existia certa preocupação com a saúde do homem em função do consumo dos alimentos. Na nossa sociedade moderna essa preocupação vai além do fornecimento de uma alimentação com boa aparência e que supra nossas necessidades nutricionais. Por buscarem um estilo de vida mais saudável, na atualidade os consumidores estão mais exigentes quanto a sua alimentação, de forma a assegurar a sua satisfação das funções fisiológicas básicas e manutenção da saúde. Também é fundamental assegurar que essa alimentação seja totalmente livre de agentes causadores de doenças ao consumidor, como agrotóxicos, microrganismos patogênicos e outros perigos. O setor de alimentos e bebidas cresceu significativamente nos últimos anos, e a evolução deste setor acompanhou este crescimento na mesma proporção. A grande variedade de produtos e serviços a disposição dos consumidores fora do lar faz com que eles queiram ter em casa os mesmos luxos. Somado a isso, a busca da sociedade por serviços de alimentação e nutrição pressiona o setor de alimentos, que investe em pesquisas na busca por alternativas criativas e concretas que garantam um diferencial competitivo. Quando se pensa em prestação de serviços no estabelecimento de alimentação ao turista, o fator qualidade é primordial no que diz respeito à satisfação de suas expectativas. É importante que o serviço, o atendimento e o ambiente inspirem segurança quanto às preparações alimentícias que serão servidas. Para isso, é fundamental que o estabelecimento tenha a preocupação de seguir critérios de qualidade, higiene e segurança dos alimentos, garantindo desta forma a satisfação do cliente e evitando qualquer dado à sua saúde. Mas como conseguir um fornecimento de alimentos que sejam seguros ao consumidor? 3 Para isso faz-se necessário que sejam observados critérios adequados, que evitem a contaminação dos alimentos durante todas as etapas de pré-preparo e preparo, que vai desde a aquisição, armazenamento e manipulação destes. Desta forma, é de grande importância que as pessoas responsáveis pela área de alimentos e bebidas tenham conhecimento de alguns aspectos técnicos envolvidos no manuseio e processamento dos alimentos, seguindo critérios de qualidade, dentre eles os de segurança alimentar. A seguir, iremos abordar o que é preciso para garantir a produção de refeições ou preparações alimentícias seguras, com base nas normas de procedimentos no controle das condições operacionais. 2- SEGURANÇA DOS ALIMENTOS Estamos falando de segurança na produção de alimentos, mas afinal o que seria um alimento seguro? Para que o alimento seja seguro, alguns aspectos são considerados: - o alimento deve ser nutricionalmente adequado e; - dever estar livre de qualquer tipo de contaminação física, biológica ou química. Os tipos de contaminações nos alimentos serão detalhados no decorrer da aula. A segurança de alimentos visa assegurar que a saúde humana não será prejudicada ao consumir um alimento. Os riscos à saúde do consumidor podem ser representados por perigos presentes nos alimentos ou pelas condições em que o alimento será submetido para o seu processamento. Dependendo da severidade, concentração e da predisposição do consumidor durante a manifestação de um perigo, o alimento contaminado pode transmitir doenças que ocasionarão, desde um desconforto até a morte de quem o consumiu. 4 Existe diferença no conceito de Perigo e Risco no contexto de segurança de alimentos. O perigo pode ter sua origem desde a obtenção da matéria-prima até as diferentes etapas de processamento que o alimento foi submetido até chegar à mesa do consumidor. Desta forma, as medidas sanitárias e de higiene que serão adotadas em todas estas etapas permitirá oferecer ao consumidor um produto livre de perigos em níveis que possam prejudicar a sua saúde. O risco significa a probabilidade de ocorrência de algum tipo de dano à saúde e a severidade desse dano (hospitalização, morte, etc.) quando ocorre a exposição a um perigo específico. Figura 1 – Danos causados à saúde pelas Doenças Transmitidas pelos Alimentos - DTAs As Doenças Transmitidas por Alimentos, conhecidas pela sigla DTAs, são acometidas pela ingestão de alimentos contaminados. Vômitos, náuseas e diarréia são sintomas de DTAs. Estima-se que anualmente, em todo o mundo, milhões de pessoas adquiriam DTAs, 5 onde a contaminação biológica (por bactérias, vírus, parasitas) é a principal responsável. As DTAs podem acarretar sérios danos à saúde do consumidor até ocasionar a morte. Na aula de conservação de alimentos observamos que muitos são os métodos e técnicas utilizadas para garantir a conservação dos alimentos, assim como a utilização de novas tecnologias. No entanto, devido a grande ocorrência, as doenças de origem alimentar têm sido consideradas como um grave problema de saúde pública. Um belo prato, com alimentos cheirosos e saborosos pode esconder perigos que não são visíveis aos nossos olhos e oferecer riscos à nossa saúde. Figura 2 – Contaminação de alimentos. Fonte: ANVISA (2004). A Organização Mundial de Saúde (OMS) relata que as doenças de origem alimentar são provocadas por agentes microbiológicos e principalmente através dos manipuladores de alimentos durante a elaboração de refeições e preparações culinárias. Isso aponta o manipulador como o principal veículo para a transmissão de doenças alimentares. Mas além dos manipuladores, falhas na higienização dos 6 equipamentos e utensílios também podem contribuir para a ocorrência de doenças de origem alimentar. Visando assegurar a isenção de riscos à saúde de todos os clientes que se alimentam fora do ambiente domiciliar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) criou o sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). Iremos falar melhor sobre ele mais a frente. Em um estabelecimento ou unidade de processamento de alimentos, a garantia da elaboração de produtos seguros à saúde do consumidor se deve a um conjunto de normas de procedimentos no controle da qualidade das condições operacionais. Este controle envolve os procedimentos de higienização, que vai desde cuidados com a higiene pessoal até a limpeza dos equipamentos e utensílios, e manipulação de alimentos. O controle da qualidade é caracterizado principalmente pela ação preventiva, ou seja, quando é verificado a não conformidade de um produto, esse irá ocasionar em uma perda e prejuízo para a empresa, uma vez que não há como haver um retrocesso a fim de corrigir o produto. Desta forma, os atributos de qualidade desejados devem ser planejados por cada estabelecimento, pretendendo assim instituir um monitoramento dos procedimentos adequados ao padrão defino que se deseja seguir. Esse gerenciamento será realizado em todas as etapas da produção, que vai desde o recebimento da matéria-prima até a obtenção do produto final que seráoferecido ao consumidor. A ANVISA estabelece regras específicas para empresas que produzem e ou manipulam alimentos, e todos os gestores desse setor devem obrigatoriamente conhecê-las, e ainda fazer mais, o ideal é levar ao conhecimento de toda a sua equipe, pois todos participam de alguma etapa para se atingir as regras. 7 3. FERRAMENTAS PARA A PADRONIZAÇÃO Nos últimos anos, o consumidor brasileiro se tornou mais exigente com os produtos que adquire, principalmente quando vai a um restaurante. Bem informado, esse consumidor não aceita mais qualquer tipo de produto, exigindo sempre o melhor. Criado para garantir a segurança dos produtos para a saúde dos clientes, o sistema APPCC tem como finalidade garantir a produção de alimentos seguros à saúde do consumidor. O sistema de APPCC tem como pré-requisitos as Boas Práticas de Fabricação (BPF – Resolução RDC n° 216 de 15 de setembro de 2004) e os Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO – Resolução RDC n° 275, de 21 de outubro de 2002). Através deles são identificados os perigos potenciais à segurança do alimento, desde a compra da matéria-prima até o seu consumo e estabelece etapas e medidas de controle para a obtenção de um prato de qualidade. Início do box de curiosidade Para saber mais informações, e outras legislações que envolvem a área de alimentos e bebidas acesse o site da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) através do endereço: //http://portal.anvisa.gov.br Fim do box de curiosidade 3.1. Sistema de APPCC e Boas Práticas de Fabricação (BPF) O APPCC é utilizado para identificar e controlar os perigos de natureza biológica, física ou química, relacionados com a saúde do consumidor, em pontos específicos do preparo dos alimentos. Esses pontos ou etapas do preparo de alimentos são os chamados Pontos Críticos de Controle (PCC), ou seja, são as etapas que temos que tomar 8 maior cuidado, para prevenir os perigos ou eliminá-los ou reduzi-los a níveis seguros. A garantia da qualidade passou a ser executada como essencialmente preventiva. Então vamos conhecer estes perigos, que devem ser controlados ou eliminados do ambiente de processamento de alimentos. Figura 3. Perigos físico, biológico e químico. Fonte: SENAI (2007). Perigos físicos – São os materiais sólidos que podem machucar quem come os alimentos. Como exemplos, temos pedrinhas, pedaços de vidro, ossos, cabelos, espinhas, pregos, dentre outros, que podem cair durante o preparo. Uma forma de evitar o problema é nunca usar brincos, anéis, pulseiras e adornos de modo geral na cozinha, assim como usar o cabelo preso, sob uma touca. Perigos biológicos – São os microrganismos, como as bactérias, os bolores, os vírus e parasitas. Esses perigos são os mais difíceis de se combater por não poderem ser vistos. Os alimentos contaminados por perigos biológicos podem causar diarréia, vômito, febre e doenças graves, como meningite e hepatite. Entretanto, um alimento contaminado por microrganismo não necessariamente está com aparência ruim ou de estragado. Vale lembrar que os microrganismos são a principal forma de contaminação e estão em qualquer lugar – na terra, na água e no ar, podendo ser encontrados nos alimentos e até nos utensílios. 9 A multiplicação dos microrganismos nos alimentos ocorre quando estes encontram condições favoráveis de nutrientes, temperatura e umidade. A doença ocorrerá quando essa multiplicação atingir um número elevado de microrganismos. Um exemplo disso é que, quando essas condições são as ideais, uma única bactéria em um período de 6 horas pode se multiplicar em 130.000. Os microrganismos que são prejudiciais à nossa saúde podem se multiplicar em temperaturas entre 5ºC a 60ºC, chamada zona de perigo, como pode ser observado na figura 4. A temperatura favorita dos microrganismos para proliferarem é de 37°C, alcançada no Brasil com facilidade durante o verão. Figura 4. Evolução da multiplicação dos microrganismos em função da temperatura. Fonte: ANVISA (2004). Os alimentos perecíveis, por possuírem umidade suficiente para a multiplicação dos microrganismos, devem ser conservados em tempera- 10 turas especiais, como o leite, carnes, queijo. Já os alimentos não perecíveis, como feijão, farinhas e arroz, podem ser conservados na temperatura ambiente por não possuírem umidade suficiente para a proliferação dos microrganismos. Perigos químicos – São os desinfetantes, venenos, inseticidas e outras substâncias químicas que podem contaminar os alimentos. Os perigos químicos também podem vir nos alimentos, como os agrotóxicos e antibióticos, por falha de produção. Uma forma de evitar a contaminação é deixar os produtos de limpeza longe dos alimentos na cozinha. A figura 5 é um esquema clássico para exemplificar a interferência dos perigos biológicos, químicos e físicos na cadeia produtiva de alimentos. Figura 5 - Interferência dos perigos na cadeia alimentar Fonte: ILSI, 1997 (adaptação). Em todas as etapas do processo do alimento (figura 5) deve-se estar atento quanto à prevenção e eliminação dos perigos biológicos, químicos e físicos na redução dos riscos de se obter perda na qualidade do produto ou até mesmo de gerar algum dado à saúde do consumidor causado por doenças transmitidas por alimentos. Entre as principais 11 etapas de processamento, a atenção deve ser redobrada no recebimento da matéria-prima; no transporte desta para o processamento e o processamento propriamente dito; no transporte e armazenamento após o produto ser elaborado; no transporte e comercialização do produto final até chegar ao consumo. Início do Verbete Cadeia produtiva de alimentos: no âmbito de processamento de alimentos, a cadeia produtiva consiste em um conjunto de etapas consecutivas que envolvem a produção do alimento, que vai deste o recebimento da matéria-prima até a obtenção do produto final que seguirá para o consumo. A figura 5 ilustra muito bem todas essas etapas da cadeia alimentar. Fim do verbete A metodologia empregada no Programa de Boas Práticas de Fabricação (BPF) organiza, sistematiza e documenta a sua utilização, buscando controlar todas as principais fontes de contaminação, introduzindo normas e procedimentos para o projeto, manutenção e limpeza de equipamentos e instalações. O sistema de APPCC identifica perigos específicos e medidas preventivas para seu controle, objetivando a segurança do alimento, e contempla para a aplicação os aspectos de garantia da qualidade e integridade econômica. É baseado na prevenção, eliminação ou redução dos perigos em todas as etapas da cadeia de alimentos. Para isso é necessário que a empresa elabore o plano APPCC. Início do Verbete Plano APPCC: documento elaborado de forma clara e detalhada para um determinado produto, de acordo com a 12 seqüência lógica do processo produtivo, que apresenta todas as etapas e justificativas para sua estruturação. Fim do verbete O Plano APPCC é formado basicamente por três etapas: Análise dos perigos e determinação dos riscos associados à manipulação de alimentos e bebidas, desde a obtenção da matéria-prima até a mesa do cliente; Identificação de Pontos Críticos de Controle (PCC) ao longo de toda a cadeia produtiva e distribuição do produto (Figura 6). Define-se PCC como o ponto, etapa ou procedimento no qual uma medida de controle pode ser aplicada e um perigo pode ser eliminado, prevenido ou reduzido a níveis aceitáveis. Estabelecimento de um plano de monitoramento de todo o sistema APPCC chamado (check list). Figura 6. Organograma para identificação dos Pontos Críticos de Controles - PCCs. 13 O Sistema APPCC está fundamentado em sete princípios adotados pelo CodexAlimentarius: Princípio 1: identificação e avaliação dos perigos (medidas preventivas). Esse princípio corresponde à coleta e avaliação de informações a respeito de perigos significativos para a segurança do alimento e das condições que favorecem sua presença. Princípio 2: identificação dos pontos críticos de controle (PCC), ou seja, identificar os pontos caracterizados como aqueles realmente críticos à segurança do alimento e restritos ao mínimo possível. Nesta etapa não são considerados aspectos da qualidade geral do produto. Princípio 3: estabelecimento dos limites críticos. Os limites devem ser associados a medidas de parâmetros importantes para o controle dos PCCs. Princípio 4: estabelecimento dos procedimentos de monitoração. O monitoramento é a medição ou observação estruturada de um PCC relativa a seus limites críticos. Os procedimentos utilizados precisam ser capazes de detector perdas de controle do PCC, além de fornecer informações em tempo para a adoção das medidas corretivas. Princípio 5: estabelecimento das ações corretivas. As ações corretivas específicas devem ser desenvolvidas para cada PCC de forma a controlar um desvio observado nos limites críticos, garantindo novamente a segurança do processo. Princípio 6: estabelecimento dos procedimentos de verificação. A verificação utiliza métodos, procedimentos ou testes suplementares àqueles usados no monitoramento, entretanto difere da monitoração, pois não permite a tomada imediata de ações corretivas. É 14 uma fase na qual tudo que já foi realizado anteriormente passa por uma revisão de adequação para total segurança do processo. Princípio 7: estabelecimento dos procedimentos de registros. Registros adequados são essenciais para o sucesso do sistema e de suma importância em situações de pendência, auditorias, etc. Início do Verbete Codex Alimentarius: do latim, significa lei ou código dos alimentos. O Codex Alimentarius engloba uma série de normas, diretrizes e outras medidas recomendadas relativas à segurança alimentar adotadas internacionalmente e apresentadas de modo uniforme. Todas essas medidas visam proteger a saúde dos consumidores e assegurar práticas justas no comércio alimentar. Fim do verbete O que são as Boas Práticas de Fabricação? O que fazer para aplicá-las? Para obter-se um elevado padrão de qualidade na execução, em serviços de alimentação, assim como na elaboração de preparações alimentícias, faz-se necessário a aplicação de um programa de boas práticas que permita a garantia de produtos e serviços com condições higiênico-sanitária inquestionável, de modo seguro e eficiente. Um dos pré-requisitos para o APPCC - as Boas Práticas são um conjunto de normas de higiene recomendadas para o manuseio dos alimentos e obedecidas pelos manipuladores. Essas práticas são preventivas e têm como objetivo a fabricação de um alimento seguro para a saúde do cliente. Elas devem ser empregadas desde a compra da 15 matéria-prima até a venda ao consumidor, passando pela industrialização, a distribuição e a comercialização. Higiene ambiental, higiene pessoal e higiene operacional são consideradas os três pilares das Boas Práticas de Fabricação. Sobre o aspecto de higiene, teremos a aula seguinte dedicada a esse assunto. No emprego das BPF são levados em consideração: A higiene pessoal da equipe; A limpeza dos equipamentos e utensílios; A saúde do manipulador; Controle de matérias-primas e fornecedores; Estrutura física da empresa e suas instalações; A detecção de pragas (como baratas, ratos); Regras para visitantes; A qualidade da água para o fabrico dos alimentos e a lavagem dos materiais. Figura 7: O controle da higiene faz parte das BPF. Fonte: SENAI, 2007. 16 Início box informativo A Resolução RDC nº216, de 15 de setembro de 2004, que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, assim como a cartilha sobre Boas Práticas para Serviços de Alimentação elaborada pela ANVISA, encontram-se disponíveis no site:http://www.anvisa.gov.br/alimentos/bps.htm Fim do box informativo Com as BPF, é evitada a contaminação dos alimentos e alcançada a redução nos desperdícios, nos custos de fabricação, no número de reclamações, além de um ambiente de trabalho limpo e sem risco para quem está manipulando os produtos. As Boas Práticas são normas internacionais, também podem ser aplicadas junto com o APPCC, embora seja necessário distinguir os riscos a serem controlados pela BPF e os que precisam de modificação no processo ou algum controle específico. Tanto no APPCC quanto na BPF, a etapa de treinamento é importante para mostrar, de forma clara, a aplicação dos conceitos e contribuir para a mudança de comportamento dos manipuladores. Quais as vantagens de se aplicar as BPF e o APPCC? Garantir a segurança dos alimentos, garantindo a saúde do consumidor; Evitar multas por atender a legislação em vigor; Garantir a qualidade do alimento/bebida; Reduzir custos operacionais; Otimizar os fluxos de produção; Reduzir as perdas de matérias-primas e produtos; Trazer maior credibilidade junto ao cliente; Selecionar fornecedores confiáveis; 17 Garantir maior competitividade ao produto; Facilitar, padronizar e racionalizar os programas de segurança e qualidade de alimentos; Identificar e controlar as causas de perda da qualidade e da ocorrência de perigos nos alimentos; Diminuir custos de processos (retrabalho, desperdício). 4. Em busca de uma certificação Os serviços de alimentação que já possuem as BPF e o sistema APPCC implementadas buscam ainda mais o reconhecimento no mercado através do selo ISO 22000. A ISO 22000 é uma norma que pretende especificar os requisitos a que as empresas inseridas na cadeia alimentar devem obedecer a fim de garantir a integridade e qualidade dos alimentos. Ela pode ser implantada individualmente ou em conjunto com outros sistemas já existentes. Então vamos agora ver como funciona o gerenciamento da rotina dentro do estabelecimento de serviços de alimentação e verificar que exigências legais é preciso cumprir para atender as normas da Vigilância Sanitária. 4. Gerenciamento da rotina Mas, afinal de contas, qual é a importância do gerenciamento de rotina em serviços de alimentação? 18 No passado, o gerenciamento de um restaurante era algo simples, onde o responsável precisava apenas controlar o caixa. Nele, entrava o dinheiro recebido dos clientes e dele saía o capital para comprar os ingredientes. Com o passar do tempo, os processos foram se sofisticando, o número de funcionários crescendo e o controle do negócio foi ficando mais complexo. Com a concorrência aumentando, os donos de restaurante começaram a sentir a necessidade de gerenciar melhor o seu negócio para evitar a falência. O gerenciamento de rotina é importante, pois tem a finalidade de administrar de forma eficiente e eficaz os serviços de alimentos e bebidas, garantindo o sucesso do empreendimento. Uma administração eficiente passa por gerenciar os estoques e as compras, com a aquisição e perfeita estocagem dos materiais. Administrar corretamente é: atender os padrões de qualidade e a legislação sanitária; elaborar os alimentos e as bebidas em um rígido controle do desperdício; buscar um aprimoramento contínuo da qualidade do atendimento; estimular o cliente e cumprir as metas do negócio. No setor de alimentos e bebidas, as fichas técnicas (ou check list) são um dos documentos mais importantes de gerenciamento, por fazerem parte de um plano de manutenção. As fichas técnicas servem para controlar os procedimentos de manutenção de equipamentos e instalações, além de prevenirinterrupções em possíveis processos que gerem prejuízos materiais, financeiros ou estratégicos. As fichas técnicas também servem para registro do processo de elaboração dos pratos e das matérias-primas utilizadas, suas quantidades e seu valor total de produção. Na tabela 1, encontra-se um modelo de ficha técnica. 19 Tabela 1: Modelo de ficha técnica. Ficha Técnica Pão de calabresa com queijo branco Custo de venda 33% Tamanho da receita 3 Custo da receita R$14,42 Preço de venda da receita R$55,80 Tamanho da porção Custo da produção R$6,14 Preço de venda da porção R$18,50 Ingredientes Quant.Líq. Unid. Rend.% Quant.Bruta Custo Bruto unit. Custo total Fermento biológico 0,05 Kg 100 0,05 R$7,99 R$0,40 Açúcar 0,02 Kg 100 0,02 R$1,79 R$0,04 Leite 0,40 L 100 0,40 R$1,59 R$0,64 Ovo 3,00 Uni 100 3,00 R$0,21 R$0,63 Sal 0,01 Kg 100 0,01 R$1,19 R$0,01 Margarina 0,06 Kg 100 0,06 R$2,59 R$0,16 Óleo 0,02 Kg 100 0,02 R$2,37 R$0,04 Farinha de trigo 1,00 Kg 100 1,00 R$2,98 R$2,98 Calabresa 0,50 Kg 100 0,50 R$9,00 R$4,50 Tomate 0,400 Kg 90 0,44 R$2,39 R$1,06 Cebola 0,250 Kg 90 0,28 R$1,68 R$0,47 Queijo branco 0,500 Kg 100 0,50 R$15,00 R$7,50 TOTAL R$18,42 Modo de preparo Misturar fermento biológico, o açúcar, o leite e 100g de farinha de trigo. Deixar descansar por 15 minutos. Depois acrescentar o sal, o ovo, a margarina e o restante da farinha de trigo. Trabalhar a massa até o ponto em que desprende da mão; deixar crescer até dobrar de volume. Abrir a massa em um retângulo com 1cm de altura. Distribuir a calabresa moída, tomate, cebola e o queijo branco em fatias. Enrolar como um rocambole e pincelar com ovo. Assar por 40 minutos em 180graus em forno pré- aquecido. Fonte: Educatur, 2010. São duas as funções básicas dos check list:, gerencial e operacional. a) Gerencial: aponta os custos de matéria-prima para a preparação dos alimentos, como uma ficha de custo. 20 b) Operacional: identifica as etapas da produção do prato e apresenta uma fotografia do prato montado, como uma ficha técnica de preparo. A ficha técnica de preparo, como já foi mencionada na aula 8, e onde iremos aprofundar mais quando abordarmos o planejamento e elaboração de cardápios garante a padronização do produto final, mantendo sabor, aroma e cor, independente de quem for produzi-lo. Atividade 1 – Contempla o objetivo 1 Ao término do estudo da aula, formule o seu próprio conceito para segurança de alimentos e aponte qual seria seu principal objetivo. Resposta comentada A segurança de alimentos pode ser conceituada como um indicativo de que o alimento que será consumido não causará nenhum tipo de dano ao consumidor. O objetivo principal da segurança de alimentos é a proteção e preservação da saúde do consumidor a partir da eliminação ou redução dos perigos que oferecem riscos, envolvendo todas as etapas de obtenção de um alimento. Atividade 2 – contempla os objetivos 1 e 2. No dia 29 de março de 2012, os principais jornais de circulação no Rio de Janeiro divulgava, mais um caso de intoxicação alimentar é notícia: “Um número de 138 funcionários que trabalhavam na obra do Maracanã passaram mal e tiveram que ser afastados. Com vômito e diarréia, os 21 servidores tiveram uma intoxicação alimentar ao ingerir a comida servida no almoço, levando a internação de um dos operários. Os técnicos da Vigilância Sanitária do município visitaram as instalações onde as refeições são preparadas e emitiram termo de visita sanitária com laudo atestando as boas condições de higiene e funcionamento. A Vigilância Epidemiológica também esteve no local e está investigando o que pode ter desencadeado o quadro clínico nos trabalhadores. Entretanto, este é o segundo caso de problemas nas condições higiênicas dos alimentos dos funcionários da obra”. Com base na notícia, dê o seu parecer quanto a provável causa que levou a intoxicação alimentar dos funcionários e quais seriam as medidas adequadas a serem tomadas para evitar outro problema. Resposta comentada: A intoxicação alimentar pode ter sido causada pela ingestão de alimentos ou água contaminados por um perigo biológico (vírus, parasitas, bactérias), ou perigo químico (como agrotóxicos, produtos químicos). Essa contaminação se deve às condições higênico-sanitárias inadequadas do local e manipulação incorreta dos alimentos. Além dos cuidados com a higiene do local, do manipulador e dos alimentos, é preciso ter muita atenção com a temperatura com que os alimentos serão mantidos e consumidos. Ou seja, o alimento pronto para ser servido não deve ficar muito tempo fora da zona de segurança em temperaturas acima de 5ºC e abaixo de 60ºC, assim como o armazenamento de alimentos perecíveis deve ser realizado a temperaturas adequadas, de acordo com a temperatura ideal de conservação. Resumo O plano APPCC é um importante método para se fazer um estudo sistematizado dos perigos que podem comprometer a segurança do 22 produto alimentício, pois tem uma atitude voltada para o controle preventivo ao longo do processo, ao invés da inspeção do produto final. O treinamento e comprometimento de todos os envolvidos na fabricação, principalmente, e com destaque, a alta administração, são uma das condições básicas para o sucesso de implantação dessa ferramenta. O plano APPCC, quando aplicado em conjunto com as BPF, apresenta melhor resultado, pois existe uma complementação de esforços para controlar os pontos que oferecem perigos de contaminação do produto. Informações para a próxima aula Na próxima aula iremos falar sobre os requisitos gerais das Boas Práticas de Fabricação dentro dos serviços de alimentação: Higiene ambiental, higiene pessoal e higiene operacional. Referências Bibliográficas ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Cartilha sobre Boas Práticas para serviços de alimentação - Resolução-RDC nº 216/2004. Brasília, 2004. CODEX ALIMENTARIUS. Hazard Analysis and Critical Control Point (HACCP) and System and Guidelines for its Application. 1997. Disponível em: . Acesso em: 11 jan. 2012. FIGUEIREDO, R.M. SSOP: Padrões e Procedimentos Operacionais de Sanitização; PRP: Programa de Redução de Patógenos; manual de procedimentos e desenvolvimento. São Paulo: Coleção Higiene dos Alimentos, Volume 1, 1999. 23 Educatur Treinamento e consultoria. Cartilha Administração de alimentos e bebidas. Recebendo Bem o turista Vem! Guarulhos, 2010. PAS (Programa Alimentos Seguros) e SEBRAE – SP. Boas práticas: o que são e o que fazer para aplicá-las? Fascículo 2, 1ª edição, 2004, 20p. FIGUEIREDO, V. F.; NETO, P. L. O. C. Implantação do HACCP na Indústria de alimentos. Gestão & Produção. v.8, n.1, p.100-111, abr. 2001. Disponível em: http://www.dn.senai.br/pasconsumidor/. Acesso em 27 de novembro de 2011. ILSI DO BRASIL; PROFIQUA, FOODSTAFF; DTA/FEA-UNICAMP. Simpósio Sistema HACCP e curso prático: Aplicação do Sistema HACCP. São Paulo: SP, 1997. (apostila).