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1 32 1 Profª Giseli Cipriano Rodacoski Introdução à Psicanálise Aula 6 32 2 Conversa Inicial 32 3 Anteriormente, falamos sobre: Definições de psicanálise Regras fundamentais do método psicanalítico Concepção de aparelho psíquico Linhas de progresso em terapia psicanalítica, considerando as possibilidades de os pacientes terem autonomia ou fragilidade emocional Conhecimento prévio 32 4 Na aula de hoje, vamos analisar alguns exemplos práticos, com situações da vida cotidiana, e relacionar com a teoria e o método psicanalítico Objetivos: Diferenciar e definir limites da psicanálise Entender o que caracteriza e o que descaracteriza o método psicanalítico Saber quais são as premissas fundamentais da psicanálise 32 5 A experiência do desamparo 32 6 Resposta do psicanalista: “Com a questão do desamparo do ser humano” Tenho medo de ser traído(a), abandonado(a) Posso perder o emprego, pois sinto que não tenho valor nessa empresa Não conseguirei ser aprovado(a) nesse exame Eles não se lembraram de me chamar, não sentiram a minha falta Parece que o mundo está indo e eu estou ficando para trás Com o que você trabalha? 2 32 7 Vulnerabilidade Impotência Sensação de perder o controle, de ser insignificante Como conviver com isso? anythings/Shutterstock 32 8 Era muito melhor o estado anterior! Bowen Clausen Photography/Shutterstock Daniel Cozma/Shutterstock 32 9 Esse primeiro período, da ilusão de ser tudo, de ser autossuficiente, termina justamente quando o bebê percebe que ele não é total, existe um mundo externo, que ele depende do outro e que esse outro ele não consegue controlar Percebam que esta experiência é muito semelhante às queixas dos adultos nos exemplos dados: sensação de ser vulnerável, impotente diante de uma situação que não consegue controlar 32 10 Trauma ou condição humana 32 11 Lacan, em 1949, escreveu sobre o processo (drama) que se dá entre a imaturidade biológica no nascimento e a constituição do psiquismo Estádio do espelho: metamorfose no mundo interno do bebê, desde a angústia do despedaçamento ao nascer até a integração de sua imagem corporal Em psicanálise, não se está dando ênfase à concepção cognitiva de se reconhecer diante de um espelho e sim de saber quem se é diante do outro 32 12 Trauma do nascimento: despedaçamento, desorganização. O desamparo é inicialmente percebido naquele período, mas acompanha o ser humano durante toda a vida São muitas as experiências de desamparo que se dão em meio a situações de amparo ao longo da vida Ambivalência, amor e ódio, incerteza, insegurança, dúvida 3 32 13 Diferença entre: Vulnerabilidade estrutural Vulnerabilidade social – conceito de bioética As pessoas, além de vulneráveis, podem ser vulneradas Quando há exposição permanente a riscos, dos quais a pessoa não pode defender-se, ela passa a ser não apenas vulnerável, mas também vulnerada Pobreza, falta de educação, segregação, violências, doenças e outros infortúnios 32 14 Desamparo estrutural e social 32 15 Se o psicanalista trabalha com a análise do inconsciente, de que maneira poderia ocupar-se do desamparo e da vulnerabilidade social, da negligência do poder público e de outras questões coletivas? Desamparo social somado ao desamparo estrutural Já encontra a pessoa acostumada a ocupar o lugar de violentada Repetição macrossocial do que se deu na relação singular Leitura crítica do social 32 16 Escuta de crianças autistas e suas famílias em contexto escolar Escuta de crianças em processo pré- operatório Psicanalista: O que você veio fazer no hospital? Paciente: Vou fazer uma cirurgia Psicanalista: E como será? Paciente: Não sei, o médico explicou agora, mas eu estava com a cabeça lotada e não consegui guardar 32 17 Transformação social: consideração da subjetividade, atenção singular em todos os contextos de atuação Manutenção e repetição dos traumas: reprimir as demandas, medicar a ansiedade, desamparar, massificar, excluir, segregar, julgar 32 18 Coerência do analista 4 32 19 A preocupação em resolver o problema é uma ansiedade perigosa, que pode levar o terapeuta a atuações racionais, diretivas e relacionadas com outros métodos que não são os psicanalíticos Assumir o comando, sugerir, orientar, ensinar, “dar palestras” na sessão... 32 20 Não pode fazer isso? Pode, mas não é psicanálise! Outros métodos terapêuticos trabalham assim e são bem eficazes, mas não são psicanálise Ou seja, não quer dizer que esteja errado, só não é coerente, e o psicanalista não estará habilitado para a prática de outros métodos Freud era médico ou psicanalista? 32 21 Regras fundamentais da psicanálise: Associação livre (para o paciente) Atenção flutuante (para o psicanalista) 32 22 Psicanálise selvagem 32 23 O principal instrumento de trabalho do psicanalista é o seu próprio aparelho psíquico Psicanálise selvagem/silvestre (Freud, 1910) 32 24 Freud relata o caso de um jovem médico que disse à paciente que a causa da ansiedade era a falta de satisfação sexual e recomendou três maneiras de tratamento: “ela devia voltar para o marido, ter um amante ou obter satisfação consigo mesma” Foi selvagem a transferência do sentido de sexo que o analista tinha para a paciente 5 32 25 Assim também se dá quando o tema é Deus, amor, filhos, trabalho e drogas, por exemplo Cada um tem uma história de relações com estes significantes e, alinhado com a psicanálise, o analista deve ater-se ao que levou à cristalização destes significados, ou seja: Se Deus é amor, por que é amor? E se é punição, por que é punição? Não faz sentido dar uma aula sobre como deveria ser a relação certa com sexo, Deus, amor, filhos, trabalho e drogas 32 26 Na Prática 32 27 Assistir ao filme A filha perdida, protagonizado pela atriz Olivia Colman, no papel de Leda Assistir a interpretações sobre o filme e discutir criticamente com os colegas Na prática 32 28 O filme ajudará a relacionar teoria e prática, ao mostrar quanto o papel de mãe é romantizado para que possa ser tolerado A maternidade envolve sensações ambivalentes de amor e ódio, mas o ódio tende a ser inibido por ação do superego No filme, a personagem Leda interpreta o desamparo vivido pelas mães, que são convocadas a amparar seus filhos É realmente um drama silencioso, pois a maioria das pessoas não suporta ouvi-lo ou, quando ouvem, rotulam com o nome de depressão e recomendam medicamentos 32 29 Finalizando 32 30 A psicanálise tem uma intencionalidade e um método A coerência é fundamental Regras básicas Associação livre Atenção flutuante Sintetizando 6 32 31 Apesar de, no Brasil, não ter regulamentação para o exercício da ocupação de analista, há uma tradição ética a se respeitar Caso contrário, corre-se o risco de praticar uma psicanálise selvagem 32 32 Tripé de formação do analista É indispensável: Aprofundar nos estudos de textos clássicos e contemporâneos Investir em análise pessoal, pois o aparelho psíquico do analista é o seu principal instrumento de trabalho No início da prática clínica, submeter seus atendimentos à supervisão de um psicanalista mais experiente