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RESUMO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO 1 ORIENTANDO-SE NO ESPAÇO: CONTEÚDO PARA A PROVA (AULA 17) O Homem e a Busca pela Orientação O homem, dotado de inteligência e liberdade, buscou seus caminhos desde a Pré- História. As primeiras evidências dessa busca são encontradas em cavernas, onde o homem pré- histórico desenhava seus caminhos (locais de caça ou áreas interessantes), dando origem aos primeiros mapas. Os primeiros caminhos dependiam de pontos de referência (como uma caverna, árvore ou rio). Mais tarde, percebeu-se que o Sol também poderia servir como ponto de referência, devido à constância de seu "caminho" aparente. Piaget e a Construção do Conhecimento Espacial Segundo Piaget, o conhecimento é construído pela interação dos homens com o meio. O homem interage com a Natureza, observando-a para transformar seus elementos em objetos do próprio pensamento. O processo de conhecimento do espaço ocorre por meio de relações estabelecidas entre o indivíduo e o espaço onde vive. 1. Relações Topológicas: Ocorrem do nascimento até, aproximadamente, os 7 anos. A criança é egocêntrica e se vê como o centro do espaço. As relações construídas são simples (vizinhaça – ao lado de; e localização – perto/longe). 2. Relações Projetivas: Inicia-se o trabalho com a orientação. Ocorre quando outros referenciais (além do próprio eu) passam a ser considerados, permitindo à criança aceitar o Sol como ponto de referência. O conhecimento da orientação só ocorre quando a criança deixa de ser egocêntrica. 3. Relações Euclidianas: Podem ser utilizadas para trabalhar a orientação. Implicam a conservação da noção de distância e comprimento dentro de uma estrutura, preparando para as coordenadas geográficas. Conceito de Orientação A palavra ORIENTAR possui dois sentidos: a orientação geográfica e a orientação da nossa vida. • Orientação da Vida: Ter caminhos claros para alcançar objetivos e ideais. • Orientação Espacial (Geográfica): É o mesmo conceito de guiar. Significa buscar o caminho ou determinar a posição de um lugar em relação aos pontos cardeais; dirigir; guiar; reconhecer ou examinar a "situação ou lugar" em que se ache para guiar-se. Embora o significado de orientação seja conhecido, sua aplicação e utilização são complicadas para muitas pessoas. O trabalho de orientação espacial deve ser feito com as crianças de forma lúdica e concreta, preferencialmente fora da sala de aula, como no pátio. Orientação Através do Sol A observação do Sol é a forma de começar o trabalho de orientação. • O Sol traça um caminho aparente no céu. Esse movimento é aparente porque é a Terra que gira em torno do Sol (movimento de rotação). • O movimento de rotação da Terra ocorre da esquerda para a direita, o que faz parecer que o Sol surge a leste. Na verdade, a Terra entra na luz solar pelo leste. • O Sol serve como referencial de orientação devido à consistência de seu caminho. Esse conhecimento é útil para a vida cotidiana, como na construção de casas ou escolha de assentos, pois apartamentos que recebem sol pela manhã (luz e calor mais saudáveis) são mais caros. Os Pontos Cardeais Ao reconhecer a posição em que o Sol nasce (após observação), indica-se o Leste (o primeiro ponto cardeal “descoberto”). Os pontos cardeais são indicados pela seguinte regra: 1. Aponte o braço direito em direção ao lugar onde o Sol nasce (Leste). 2. O braço esquerdo aponta para o Oeste. 3. À frente está o Norte. 4. Atrás está o Sul. Ponto Cardeal Origem Outros Nomes Leste Idh-ta, Aithos (inflamar, calor) oriental, nascente, este Oeste Vasati, Vésper (tarde) ocidental, ocaso, poente Norte Eixo imaginário da Terra, Estrela Polar Setentrional Sul Sudh, Sunno, Sonne (sol, calor) Meridional Nota: A abreviatura W (de west, em inglês) é usada para o Oeste para evitar confusão com o 0 (zero) usado para o Equador e o meridiano de Greenwich. Greenwich é um bairro de Londres que serviu de referencial para a distribuição dos meridianos. Rosa-dos-Ventos e Bússola • Rosa-dos-Ventos (Rosa Ventarum): Surgiu da observação dos antigos navegantes sobre as direções dos ventos, nomeados conforme sua origem (boreal, euro, noto, zéfiro). A figura passou a indicar os pontos cardeais (principais) e os colaterais (intermediários). É um instrumento utilizado para a orientação. • Bússola: Aparelho que consiste em uma agulha imantada atraída pelos polos. Ela aponta o Norte. O centro magnético da Terra é o responsável por manter a agulha sempre na direção dos polos Norte e Sul. Atividades de Orientação Espacial As crianças em idade escolar, após os 6 ou 7 anos (período operatório), já são capazes de representar espaços em mapas usando a orientação dos pontos cardeais. É fundamental a aplicação do conhecimento de orientação através de atividades diretas e cotidianas. Exemplos de atividades que utilizam as relações projetivas: • Caça ao Tesouro: Um jogo que utiliza mapas e pistas que indicam direções pelos pontos cardeais (e.g., "caminhe cinco passos para o sul"). As crianças devem ser orientadas a posicionar a rosa-dos-ventos em relação ao Sol. • Divisão do Pátio: Dividir o pátio em quatro partes, traçando o eixo leste-oeste e o eixo norte-sul perpendicularmente (atividade que prepara para as coordenadas geográficas, utilizando relações euclidianas). AULA 18: A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO NA MENTE HUMANA – RESUMO PARA PROVA A Construção Individual do Espaço Desde o nascimento, o ser humano se relaciona com o espaço, construindo relações que são individuais e particulares. O espaço é o produto das relações dos homens, e o homem é um ser único com seu próprio modo de vida. Consequentemente, o espaço, como conjunto de experiências, apresenta características diferenciadas, dependendo da percepção de cada um. A orientação e a localização possuem significados distintos para diferentes pessoas, pois a construção das imagens na mente ocorre de acordo com o que cada um percebe. Para dar continuidade à discussão sobre orientação (Aula 17), é crucial considerar a experiência que cada indivíduo adquire no dia a dia, o que ele vê e o que ele percebe ao circular pelo espaço. Os Mapas Mentais e a Geografia das Representações As representações mentais são caracterizadas como mapas mentais. Esses mapas são o resultado das imagens adquiridas pelos indivíduos em seu cotidiano. A representação gráfica dessas imagens é denominada Geografia das Representações. Esta constitui um primeiro ensaio (ou etapa inicial) para a representação sistemática, que é a Cartografia. Os mapas mentais permitem que professores e alunos estabeleçam comparações, considerando a escala, a proporcionalidade e os diversos pontos de vista. Os pesquisadores reconheceram a existência dessas imagens espaciais há cerca de duas décadas. Tais imagens incluem: 1. Imagens dos espaços vividos no cotidiano. 2. Imagens dos espaços concebidos a partir de paisagens vistas, narrativas ou universos simbólicos (históricos, sociais e econômicos). Embora todos sejam, de certo modo, geógrafos ao examinarem o mundo, a visão desse mundo não é compartilhada por todos, e os "mundos particulares" não são idênticos à visão do mundo real. A Visão Espacial Segundo Piaget Piaget observa que a criança se considera o centro do universo (egocêntrica) e tudo é visto como vivo e criado para ela (ex: as nuvens andam, a montanha é para ser escalada). Essa visão egocêntrica se aplica também aos elementos do espaço. A noção de espaço varia de acordo com a percepção individual. O desenvolvimento da objetividade perceptiva ocorre lentamente ao longo da vida, até que a criança atinja a fase adulta, quando sua visão do espaço se torna diferente. Fatores que Influenciam a Construção da Imagem Mental A visão espacial nohomem varia devido a diversos fatores. Os principais fatores são: 1. A Diferença entre Gerações: A percepção de um espaço por uma geração difere da outra (Ex: a crença na Terra plana na Idade Média versus a comprovação de que ela é redonda). 2. Os Estereótipos: Visões estabelecidas que se generalizam e são aceitas por todos. • Exemplos de estereótipos incluem a ideia de que o Norte (países ricos) está “em cima” e o Sul (países pobres) está “embaixo”. Contudo, na Geografi a, não existe o "em cima" ou "embaixo", pois a Terra é redonda. • Estereótipos podem distorcer a realidade, como a associação do Nordeste do Brasil apenas à seca e pobreza, ignorando petróleo, sal, praias e indústria. • Não existe um ajuste entre a realidade do espaço e o espaço concebido na mente. O espaço real será sempre deformado pela mente do homem que, considerando seus interesses, constrói um espaço imaginário. 3. As Diferentes Culturas dos Povos: Pessoas com culturas distintas constroem mundos diferentes e particulares, pois a percepção do espaço é diferente. • Exemplo: A colonização do Nordeste (portugueses, cana-de-açúcar, latifúndio, mão de obra escrava) resultou em uma paisagem diferente da ocupação do Sul (imigrantes alemães/italianos, policultura, subsistência, pequenas propriedades), influenciando o modo de pensar e trabalhar a terra. 4. O Fim e as Circunstâncias da Observação: O observador sempre tem um objetivo para ver ou uma informação que busca. A observação deve ser orientada; caso contrário, os interesses e sentimentos pessoais direcionarão a visão para objetivos particulares. Turistas em um mesmo lugar podem ter opiniões diferentes com base em suas experiências e expectativas. 5. Outros Fatores: A percepção é influenciada por cores, formas, a noção de tempo, a noção de território, os efeitos da claridade, e valores econômicos e estéticos. • A língua falada e/ou escrita também influencia a construção da imagem do espaço. A palavra é capaz de construir espaços mentais, como exemplificado na literatura (Ex: “deserto” pode ser quente, seco, ou frio; “montanhas de Minas Gerais” podem ser imaginadas como os Alpes ou o modesto Planalto Brasileiro). A visão que construímos do espaço evolui com o tempo. A criança tem uma visão limitada, achando seu bairro imenso, enquanto o adulto vê a insignificância do bairro em relação à cidade, e as distâncias se tornam menores. A Importância do Desenho na Escola O conhecimento sobre a percepção individual é fundamental para o professor, que deve compreender que nem todos os alunos estão "vendo" a mesma coisa. Na escola, especialmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o professor deve estimular o desenho como forma de favorecer o desenvolvimento de referenciais e orientação espacial. • Ao desenhar, a criança e o jovem representam seu modo de pensar o espaço. • O desenho permite que a criança construa seu próprio conhecimento, expressando suas ideias com símbolos criados por ela própria. • Nesse processo, o aluno se torna um codificador. • O desenho é onde a criança interpreta o real. • O professor pode analisar a proporcionalidade, localização, projeção e simbologia utilizadas nos desenhos, abrindo caminho para o conhecimento de mapas (Cartografia). • Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) enfatizam a necessidade de realizar a “leitura da paisagem” nos estudos de Geografia, e o professor deve guiar essa leitura respeitando o modo de ver de cada aluno. É um erro a escola fazer o aluno ser apenas um copiador de mapas (decodificador), pois ele se torna um “falso” leitor por não ter sido, antes, um mapeador (codificador). Se o aluno for inicialmente mapeador, ele conseguirá interpretar e compreender o que os mapas estão mostrando. A CARTOGRAFIA E A SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA: CONTEÚDO PARA A PROVA (AULA 19) Conceito Central da Cartografia A Cartografia é a forma de representação do espaço. Definição Formal da Cartografia A Cartografia é definida oficialmente como: "...o conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas, baseadas nos resultados de observações diretas ou de análise de documentação, visando à elaboração e a preparação de cartas, projetos e outras formas de expressão, bem como a sua utilização". Essa definição da Associação Cartográfica Internacional (ACI) implica que a Cartografia possui técnicas e operações apoiadas em estudos comprovados e se distingue de outras ciências. O conceito evolui ao longo do tempo. • Ciência e Arte: Segundo Erwin Raisz, a Cartografia é "Ciência e Arte", e o cartógrafo deve ser um homem de ciência e um artista ao mesmo tempo. • A Cartografia é a ciência e a arte de fazer mapas, utilizando observações e estudos sobre a Terra. Relação entre a Cartografia, o Desenho e Piaget Os estudos de Piaget sobre o desenvolvimento mental da criança são a base para a compreensão dos estudos cartográficos. • A criança gosta de desenhar e usa papel para fazer representações de tudo que vê e conhece. • O conhecimento é construído pela interação da criança com o meio (a ação é fundamental para a compreensão). • No período pré-operatório (2 a 6/7 anos), a criança começa a representar o espaço conhecido, colocando em seus "desenhos" o seu significado e modo de ver as coisas. • Os primeiros desenhos, embora não correspondam aos conhecimentos cartográficos, são necessários porque servem de base para os estudos posteriores. • Ao desenhar, a criança fornece “significantes aos significados”, permitindo que, mais tarde, ela compreenda o que está representado em um mapa ou planta. As Origens e a Evolução Histórica da Cartografia A Cartografia é muito antiga, tendo surgido antes mesmo de o homem desenvolver a escrita. Os homens primitivos faziam mapas porque, sendo caçadores e guerreiros, necessitavam conhecer as direções, distâncias e orientação para se mover (conhecimentos vitais). Eles utilizavam um sistema de símbolos (antecessor da legenda) e desenhavam no solo, em peles de animais ou cascas de árvores. 1. Antiguidade: • Babilônios: Deixaram como contribuição a divisão do círculo em 360 graus. O mapa mais antigo conhecido, datado de 2.500 a.C., foi encontrado em Ga-Sur (norte da Babilônia), desenhado em uma placa de barro cozido, e já indicava os pontos cardeais Norte, Leste e Oeste. Eles viam a Terra como um disco plano. • Chineses: Desenvolveram muito a Cartografia e são responsáveis pelo uso da quadrícula nos mapas. • Gregos: Foram essenciais na Geografi a e Cartografia. Reconheceram a esfericidade da Terra, calcularam seu tamanho, iniciaram os estudos de projeções e desenharam um sistema de latitude e longitude. Eram focados na precisão matemática e medições astronômicas. Ptolomeu é associado ao primeiro mapa-múndi e ao primeiro Atlas. • Romanos: Preocupados com fins militares e a formação de seu império. Eles precisavam de mapas práticos (para fins bélicos) e não exigiam tanta precisão. O mapa Orbis Terrarum representava os três continentes conhecidos, com a Península Itálica alargada para dar-lhe importância. Nota: Os antigos utilizavam a Ásia como ponto de orientação (Leste/Oriente), daí a origem da palavra ORIENTAÇÃO. 2. Idade Média: • A forte influência do Cristianismo transformou os mapas em uma expressão simbólica e artística, resultando na perda de conhecimento geográfico. • A Terra era representada como um disco, com a Ásia na parte superior (para orientação) e Jerusalém no centro do círculo. • Os mapas eram muito simples, esquematicamente representados por um T no O, designando o Oriente. 3. Renascimento e Grandes Navegações (Séculos XIII a XVII): • No século XIII, surgiram as Cartas Portulanos, mais precisas, feitas por almirantes genoveses para atender aos navegantes, detalhando portos e enseadas. • A descobertae utilização da bússola, do astrolábio e da imprensa contribuíram para a época de ouro da Cartografia. • Houve uma retomada dos conhecimentos gregos, principalmente de Ptolomeu, e a Cartografia passou a ter um sentido mais científico. • Surgiu a projeção de MERCATOR (Gerhard Kremer, 1569), pai da Cartografia holandesa, que utiliza paralelos como retas horizontais e meridianos como retas verticais, sendo útil para a navegação. • Holandeses (interesse comercial, mapas rápidos e com boa apresentação) e franceses (financiados pelo rei, buscando aprimoramento científico) eram importantes centros cartográficos. 4. Séculos XVIII e XIX (Revolução Industrial): • A Revolução Industrial e a expansão do comércio geraram guerras e disputas por domínio de territórios, exigindo a demarcação de fronteiras. • Mapas se tornaram instrumentos essenciais para os exércitos. • Isso incentivou o surgimento de sociedades e serviços cartográficos, majoritariamente organizados pelos Exércitos Nacionais. • Essas sociedades passaram a empreender LEVANTAMENTOS TOPOGRÁFICOS (técnica para estudar as deformações de um terreno) e a confeccionar mapas mais detalhados. 5. Século XX e a Cartografia Atual: • O século XX (marcado pela aviação, rádio, comércio internacional, Guerras Mundiais e viagens espaciais) impulsionou a modernização e o aprimoramento da Cartografia. • A Cartografia atual busca a representação ideal da Terra utilizando tecnologia cada vez mais precisa. • Os recursos tecnológicos incluem: fotografias aéreas, fotografias de radar, imagens de satélites, sensoriamento remoto e computadores. AULA 20: UMA REFLEXÃO SOBRE A LEITURA DOS MAPAS A Observação Crítica como Base do Pensamento A escola deve estimular os alunos a desenvolverem a capacidade de pensar e refletir. Esse processo se inicia com a observação. Os grandes inventores da humanidade, por exemplo, não fizeram suas descobertas apenas lendo livros, mas observando a Natureza e raciocinando sobre o que viam. Para ampliar a noção de espaço-tempo e começar a pensar (questionar, analisar, comparar e concluir), as crianças precisam aprender a observar o mundo ao redor. O mundo atual necessita de pessoas capazes de resolver problemas e ser inventivas, o que exige que a escola permita a observação do mundo em vez de apenas repetir conhecimento consolidado. A Leitura Crítica dos Mapas Ao olhar um mapa, é necessário ir além da descrição. Deve-se tentar ler o que pode estar contido na representação. Isso envolve olhar com olhos de investigação, considerando: 1. O momento histórico em que o mapa foi construído. 2. A situação política e econômica do espaço representado. 3. A intenção oculta que ele contém. A Cartografia e a Geografia compõem um saber estratégico que, desde a Antiguidade, tem servido a minorias no exercício do poder e controle de populações e territórios. Os mapas ocultam mensagens que precisam ser decodificadas. Mapas, Interesses Históricos e o Centro de Visão Os mapas sempre foram construídos para alcançar objetivos específicos ou atender a interesses de governantes ou comerciantes. • Antiguidade: • Homem Primitivo: Mapas práticos e simples para caça. • Egito (Ramsés II) e China: Mapas para medições de terras e descrições territoriais com o intuito de cobrar impostos e tributos. • Gregos: Focados em estudos astronômicos e matemáticos. • Romanos: Mapas práticos e eficientes que expressavam a natureza conquistadora do império e mostravam a supremacia romana. Os Mensores eram pessoas que seguiam as legiões para observar, medir e analisar acidentes geográficos para a confecção de croquis. • Idade Média: Os mapas refletiam a forte influência religiosa. • Nos mapas católicos, Jerusalém estava posicionada no centro. • Nos mapas árabes, Meca estava no centro. A Teoria da Centralidade e a Projeção de Mercator O posicionamento central nos mapas é estratégico. Estudos psicológicos e a teoria dos círculos concêntricos demonstraram que a visão humana tende a ver e reter de forma mais nítida o centro da figura. Para enfatizar e priorizar determinados lugares, eles eram posicionados no centro do mapa. Em Geopolítica, a centralidade é utilizada para a ideia de conquista de áreas vizinhas. A Projeção de Mercator (Século XVI) O mapa-múndi de Mercator, feito quando a Europa era a "senhora" do mundo, foi traçado para a navegação. • Centralidade Política: Mercator colocou a Europa no centro do mapa para refletir o processo de "europeização" e a expansão da influência europeia. • Deformações: A projeção utiliza paralelos e meridianos como retas paralelas, o que causa deformação no tamanho dos continentes. Por exemplo, a Groenlândia (cerca de 2 milhões de km²) parece ser maior que o Brasil (cerca de 8,5 milhões de km²), uma distorção que, se não explicada, pode ser intencional. • Hierarquia Simbólica: O mapa posiciona a América do Norte e a Europa na "parte de cima" (Norte) e a América do Sul "abaixo" (Sul). Isso pode ser interpretado, simbolicamente, como ricos/dominantes em cima e pobres/dominados embaixo. • A Realidade da Terra: É importante lembrar que a Terra é arredondada e gira, o que significa que não existe "em cima" nem "embaixo". A Tentativa de Correção: Projeção de Arno Peters Em 1973, o alemão Arno Peters tentou corrigir as distorções de Mercator, construindo um mapa que buscava manter o tamanho correto dos países. Essa correção atendia a uma reivindicação dos países do Terceiro Mundo por maior igualdade, mas a projeção ainda é pouco utilizada. Geografia e Cartografia Estratégicas O conhecimento geográfico e cartográfico tem uma importância estratégica. Yves Lacoste, em seu livro A Geografi a – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, demonstrou como esses conhecimentos eram utilizados para a manutenção da supremacia (desde a Antiguidade Grega) e para o expansionismo (como no caso de Hitler na Segunda Guerra Mundial). Lacoste diferencia a Cartografia usada para o poder daquela ensinada na escola: • Cartografia dos Estados-maiores: Mapas em grande escala, com riqueza de detalhes e precisão matemática, utilizados pelos governantes para planejar estratégias. • Cartografia dos Professores: Cartografia descritiva, que não se presta a estudos mais aprofundados e que se limita a copiar e descrever mapas nas escolas, sendo insuficiente para uma leitura efetiva. Outros Fatores de Distorção • Estereótipos: Mapas artísticos podem deformar o conhecimento, como aqueles que representam regiões de forma estereotipada, levando o leitor a pensar somente pelo que vê, caso não esteja preparado. • Escala: A escala utilizada influencia o que pode ser observado. Mapas em escala pequena (como os escolares) não mostram informações detalhadas. A mudança de escala corresponde a uma mudança do nível de conceituação. Conclusão É fundamental que o aluno aprenda a ser um "leitor" de mapas, o que exige não só o conhecimento da linguagem cartográfica (a parte técnica), mas também das condições econômicas e históricas que influenciaram sua construção. A Cartografia tem servido aos interesses daqueles que estão no poder desde a Antiguidade, o que explica por que a maioria das associações cartográficas pertence aos exércitos dos países. A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA (PARTE 1): ELEMENTOS E ESCALAS O Mapa como Meio de Comunicação e Estratégia Um mapa é um meio de informação e comunicação. O conhecimento cartográfico é considerado um saber estratégico que não é plenamente contemplado nos currículos escolares porque interessa principalmente a quem precisa dominar e explorar o espaço. O mapa é uma ferramenta poderosa que revela todas as potencialidades do espaço, e suas informações integrama estratégia do Estado para uso próprio, o que Yves Lacoste chama de “Geografia do Estado-Maior”, opondo-se à “Geografia dos Professores”. Lacoste argumenta que, se vamos à escola para aprender a ler, escrever e contar, deveríamos também aprender a ler uma carta (mapa). Conceito e Elementos da Linguagem Cartográfica A Cartografia é a arte ou ciência de compor cartas cartográficas. Um mapa consiste na representação simbólica de um espaço real e utiliza um sistema de símbolos que compõem a linguagem cartográfica. A linguagem cartográfica é composta por três elementos fundamentais: 1. Escala (o tamanho do espaço representado). 2. Projeção (o ponto de vista de quem está representando o espaço). 3. Legenda (a representação dos elementos do espaço). A Importância de Ser "Mapeador" (Codificador) O trabalho com símbolos faz parte do desenvolvimento mental do indivíduo, conforme os estudos de Piaget (Aula 15). Essa capacidade de lidar com representações que substituem o real é o que permite ao homem libertar-se do espaço e do tempo presentes (Vygotsky). O mapa é uma representação simbólica da realidade que precisa ser decodificada para ser entendida. A abstração raciocinada é idealizada pelo “mapeador” ou “emissor”, e precisa ser compreendida pelo “leitor” ou “receptor”. • Emissor (Mapeador): Conhece, seleciona e codifica as informações. • Receptor (Leitor): Destinatário das mensagens que precisa decodificar os sinais específicos. É necessário ser, inicialmente, um “mapeador” para, depois, ser um “leitor”. A leitura efetiva de um mapa exige que o leitor tenha sido preparado para criar a simbologia. O trabalho de mapeador (pedir que os alunos representem sua sala ou casa) deve ser estimulado nas séries iniciais, pois serve de base para os estudos posteriores. Muitos mapas escolares, que são apresentados prontos, levam os alunos a serem simples repetidores de conteúdos. Escalas Cartográficas: Conceito e Tipos A escala é a relação entre as dimensões apresentadas em um mapa e seus valores correspondentes no terreno. Ela indica quantas vezes a imagem do terreno foi reduzida de forma proporcional. O treinamento para a noção de escala deve começar pela observação, percebendo a variação do tamanho de um objeto visto de diferentes distâncias. Para as crianças, a escala pode ser ensinada a partir de medições de lugares como a sala ou o pátio, utilizando formas de mensuração simples (como pés ou palitos) que guardem a proporção. A escala é geralmente indicada no canto inferior do mapa e pode ser apresentada de três formas: 1. Escala Numérica: Representada por uma fração (numerador/denominador). O numerador corresponde ao mapa e o denominador ao terreno. Exemplo: 1:250.000. Lê-se: 1 centímetro no mapa corresponde a 250.000 centímetros no terreno. 2. Escala Gráfica: Representada por uma régua. 3. Escala de Equivalência: Relação direta (Ex: 1cm = 5km). Nota: A escala 1:5.000 significa que o espaço foi reduzido 5.000 vezes (1 cm no mapa equivale a 5.000 cm no terreno, ou 50 metros). Escala Grande vs. Escala Pequena A utilização de um tipo de escala depende da função e finalidade que se quer dar ao mapa. Tipo de Escala Características Finalidade e Uso Escala Grande Permite observar muitos detalhes e minúcias do espaço. (Ex: 1:500 ou 1:5.000). É usada por governantes, militares e empresários que precisam de informações estratégicas e detalhadas para administrar ou combater (Cartografia do Estado-Maior). Escala Pequena Não permite a visualização de detalhes; são mapas mais gerais. (Ex: 1:500.000 ou 1:5.000.000). São os mapas escolares, inocentes e decorativos, que não permitem ver as informações estratégicas. Embora o estudo das escalas envolva matemática (assunto para séries mais avançadas), nas séries iniciais o aluno deve se limitar a conhecer o significado prático da escala no mapa. A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA (PARTE 2): PROJEÇÕES E LEGENDAS Meta, Objetivos e Fundamentos da Aula 22 Esta aula é um complemento da anterior (Aula 21), que abordou a escala. A meta é apresentar aos alunos os elementos que compõem um mapa e seu significado. Ao final, o estudante deverá ser capaz de reconhecer os elementos da linguagem cartográfica e identificar as diversas leituras possíveis das projeções cartográficas. O conhecimento da Cartografia é sempre importante, pois os mapas são formas ricas de comunicação e informação sobre o espaço. Para a formação do cidadão do século XXI, o conhecimento e o domínio do espaço são necessários. O Processo de Conhecimento e a Abstração Para compreender e trabalhar com mapas, a criança deve estar na fase da abstração, pois o mapa é uma forma de representação. O conhecimento pleno do espaço segue um esquema de etapas: Representar → Decompor → Analisar → Recompor • Representar: Fazer o desenho ou esquema. • Decompor: Identificar e nomear os elementos. • Analisar: Reconhecer as características desses elementos. • Recompor: Identificar o papel e a inter-relação de cada elemento. O trabalho de representação só começa, geralmente, a partir dos seis ou sete anos, quando a criança adquire a abstração necessária para a compreensão. O Conceito de Meio e a Visão Individual O estudo do meio (ambiente) é feito desde as séries iniciais para estimular a curiosidade, a observação e desenvolver a capacidade crítica e o respeito por diferentes interpretações. • Definição de Meio (Wallon): É o conjunto das existências individuais em determinado espaço, considerando a semelhança de hábitos, interesses e obrigações (ex: meio familiar, escolar, profissional). • Percepção Individual: As experiências são individuais e particulares. Cada pessoa tem um modo diferente de ver, porque os meios onde vive são diferentes. Como afirma Boff: "Todo ponto de vista é a vista do ponto". Essa citação reforça a ideia (vista na Aula 18) de que cada um constrói seu próprio mundo mental. Projeções Cartográficas: O Ponto de Vista Em linguagem cartográfica, as diferentes formas de se observar o espaço são chamadas de projeções. A projeção é o segundo elemento da linguagem cartográfica (junto com a escala e a legenda). 1. Noção de Referencial e Projeção (Ensino Inicial): O trabalho com projeções nas séries iniciais deve ser simples. Deve começar pela observação da sala de aula, localizando objetos em função de pontos de referência. • Uma atividade útil é a construção de uma maquete da sala. • Apesar de o espaço ser o mesmo, a visão do espaço é diferente dependendo da posição do aluno (ponto de referência). • A forma como o aluno vê (lateralmente ou do alto, como um pássaro) é a projeção daquela imagem. A visão do alto é a base para as fotografias aéreas usadas na confecção de mapas. 2. O Problema da Deformação e as Figuras Geométricas: A Terra tem uma forma esférica (geoide) e uma superfície curva, o que torna sua representação em uma superfície plana difícil, resultando sempre em deformações. O globo é a representação mais próxima da realidade do que o mapa. Para facilitar a representação plana, utilizam-se figuras geométricas como apoio para projetar a esfera (juntamente com o sistema de paralelos e meridianos). As principais figuras utilizadas são o cilindro, o cone e o plano: Tipo de Projeção Figura Geométrica de Apoio Características Principais Cilíndrica Cilindro Resulta em um mapa retangular. O Equador é a única linha com dimensões reais. Distorções são pequenas na faixa equatorial, mas os países próximos aos polos ficam muito ampliados. Útil para navegantes (Ex: Mercator). Cônica Cone Só é possível representar um hemisfério de cada vez. A maior deformação ocorre na faixa equatorial, diminuindo nas zonas temperadas. Azimutal, Polar ou Plana Plano Resulta em um mapa circular que representa metade do mundo. O polo é projetado no centro.As áreas vizinhas aos polos sofrem pequenas distorções. Legenda Cartográfica: A Simbologia Universal A legenda é o terceiro elemento da linguagem cartográfica. É um conjunto de símbolos que foram convencionados para representar os elementos de um espaço. • Convenção Mundial: Em Cartografia, a convenção é mundial (Ex: um risco azul é um rio; um ponto é uma cidade; uma linha tracejada são limites/fronteiras). • O Aluno como Mapeador (Codificador): Para que o aluno se torne um leitor eficaz de mapas (receptor/decodificador), é fundamental que ele seja, inicialmente, um mapeador (emissor/codificador), criando sua própria legenda para representar a realidade. A Cartografia, incluindo o domínio de escalas, projeções e legendas, faz parte do instrumental da Geografia que deve acompanhar o aluno por toda a vida.