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1- REVISAR A IRRIGAÇÃO E A DRENAGEM DO ABDOME. A parte abdominal da aorta supre todos os órgãos e estruturas abdominais. Os principais ramos para as vísceras são ímpares e se originam na superfície anterior da parte abdominal da aorta, estendendo-se pelos mesos (mesentério, mesocolo) até atingir os órgãos viscerais. Os ramos para a parede do corpo, rins e outras estruturas externas à cavidade peritoneal são pares e se originam ao longo das superfícies laterais da parte abdominal da aorta. Existem três artérias ímpares: (1) o tronco celíaco, (2) a artéria mesentérica superior e (3) a artéria mesentérica inferior. 1. O tronco celíaco supre o fígado, o estômago, o esôfago, a vesícula biliar, o duodeno, o pâncreas e o baço. O tronco celíaco se divide em três ramos: ■ artéria gástrica esquerda, que supre o estômago e a parte abdominal do esôfago; ■ artéria esplênica, que supre o baço, o estômago (artéria gastromental esquerda) e o pâncreas (artérias pancreáticas); e ■ artéria hepática comum, que supre o fígado (artéria hepática própria), o estômago (artéria gástrica direita), a vesícula biliar (artéria cística) e o duodeno (artéria gastroduodenal e seus ramos, as artérias gastromental direita e pancreaticoduodenal superior). 2. Artéria mesentérica superior tem origem cerca de 2,5 cm inferiormente ao tronco celíaco para suprir o pâncreas e o duodeno (artéria pancreaticoduodenal inferior), o intestino delgado (artérias jejunais e ileais) e grande parte do intestino grosso (artérias ileocólica, cólica direita e cólica média). 3. Artéria mesentérica inferior origina-se cerca de 5 cm superiormente ao segmento terminal da aorta e conduz sangue aos colos transverso, descendente e sigmóide (artérias cólica esquerda e sigmóideas) e reto (artéria retal superior). A veia cava inferior (VCI) coleta a maior parte do sangue venoso advindo dos órgãos localizados inferiormente ao diafragma (uma pequena quantidade chega à veia cava superior, pelas veias ázigo e hemiázigo). 2-DISCUTIR O ABDOME AGUDO VASCULAR (ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO E CONDUÇÃO) / 5- CORRELACIONAR O QUADRO DA PACIENTE COM O ASSUNTO ESTUDADO Abdome agudo: é um quadro clínico caracterizado por dor abdominal não traumática, de início súbito ou de evolução progressiva, que necessita de definição diagnóstica e de conduta terapêutica imediata, onde a maioria dos casos requer encaminhamento cirúrgico. De 1- 72 hs não ultrapassa 7 dias. ISQUEMIA AGUDA Redução súbita do fluxo sanguíneo em determinada parte ou em todo o intestino de tal intensidade que não seja possível manter sequer o metabolismo basal, havendo consequentemente morte celular e necrose. ETIOLOGIA Causas oclusivas: embolia (origem cardíaca, aórtica, tumoral ou por cristais de colesterol), trombose aguda (secundária geralmente à aterosclerose prévia) dos principais ramos arteriais viscerais. Causas não oclusivas: a causa dominante é secundária à diminuição importante do débito cardíaco, que pode ou não ser acompanhada do espasmo dos vasos. Outras causas- choque de origem medular ou traumática, gastroenterites, hemoconcentração, pneumonia, placenta prévia e espasmo das artérias distais associadas ao abuso de cocaína, intoxicação por Ergot ou emprego de vasopressores durante o tratamento de choque, estado de relativas hipertensão aguda, como pós operatório de correção de coarctação aórtica. Podemos incluir como causa de sofrimento visceral a trombose das veias do sistema mesentérico portal, as causas incluem : - trombose primária (etiologia não definida) e as - trombose secundárias- deficiência de ptn C ou ptn S, antitrombina III e fator V de Leidig, além de estados de hipercoagulabilidade associados a doenças neoplásicas ou inflamatórias, traumas, hipertensão portal, cirrose e , após, escleroterapia de varizes esofágicas. FISIOPATOLOGIA → O êmbolo normalmente aloja-se na circulação mais distal, poupa o óstio dos ramos principais e, assim sendo, pode preservar em maior ou menor grau territórios do órgão. → A trombose aguda costumeiramente ocorre nos óstios das principais artérias e, associada a freqüente presença de aterosclerose em múltiplas artérias, leva à isquemia de extensas áreas, sendo a sobrevida uma exceção. → A respeito das causas não-oclusivas, durante o choque de qualquer origem ocorre a vasoconstrição arterial visceral a fim de dirigir o fluxo sangüíneo para as áreas mais críticas como cérebro e coração, o que, associado à vasoconstrição venosa, pode acrescentar até 30% de volume ao espaço intravascular. Por algum mecanismo pouco elucidado ou pelo emprego de vasopressores para o controle da hipotensão, tal constrição pode prolongar-se por horas, mesmo após a normalização dos parâmetros hemodinâmicos. O sistema renina-angiotensina provavelmente exerce uma função central, visto que sua inibição parece proteger o intestino da isquemia durante o choque. Após a cirurgia para correção da coarctação do arco aórtico, a relativa hipertensão a que ficam expostos os vasos viscerais pode cursar com um vasoespasmo reflexo e um quadro de vasculite necrotizante de graves conseqüências. A mucosa intestinal, principalmente do delgado, é a primeira e mais gravemente afetada. Isquemia acima de uma hora pode produzir edema da submucosa seguido de desprendimento da mucosa, ulcerações e sangramento das vilosidades intestinais. Há perda da barreira entre o conteúdo intestinal e o sangue, produção de fatores inflamatórios locais que agravam as lesões através da mobilização das células de defesa e fagocitárias e risco de translocação bacteriana. Havendo a manutenção da isquemia, há piora do edema, que, associado ao processo inflamatório iniciado localmente, piora o ambiente celular local, permitindo a extensão da lesão para as demais camadas da alça. A camada muscular afetada não cumpre sua função de peristalse normal, determinando assim estase do conteúdo e aumento de pressão local, o que dificulta ainda mais a já deficiente perfusão tecidual. O último estágio desse processo mórbido compreende a gangrena de toda a parede intestinal, perda de sua estrutura física culminando em perfuração com extravasamento do conteúdo intestinal e, conseqüente, peritonite fecal. QUADRO CLÍNICO - Dor abdominal (presente em praticamente todos os casos, em maior ou menor grau); *Classicamente, diz-se que após seis horas de dor (isquemia) o tecido intestinal torna-se inviável, não se recuperando após a revascularização, visão esta que não é compartilhada por todos os autores. - Vômitos, alteração nas características das fezes e distensão abdominal são sintomas freqüentes. → devido a paralisia das alças, diminuindo a absorção e a peristalse (parece abdome agudo obstrutivo) - A ausculta abdominal pode ser aumentada, nos casos de isquemia segmentar em que a porção acometida funciona como uma obstrução, ou diminuída, quando a extensão comprometida for muito extensa, não sendo assim de muito valor prático. - O toque retal eventualmente traz como dado adicional sugestivo de necrose a presença de fezes com aspecto de “geléia de amoras”, conseqüência da necrose de regiões da mucosa intestinal. - Devemos ficar atentos às situações que particularmente coincidem com maior ocorrência de fenômenos de trombose ou embolia. Arritmia cardíaca, miocardiopatia com dilatação, infarto do miocárdio, doença reumática das válvulas cardíacas e presença de doença aterosclerótica em outros territórios como das coronárias, das extremidades ou revascularização prévia são indicadores do aumento desse risco. - Isquemia decorrente da manipulação também pode ocorrer. Dor abdominal difusa com distensão após cateterismo da aorta deve levantar a suspeita imediata de dissecção ostial ou embolia por deslocamento de um trombo de placa. Isquemia aguda: Embolia→ dor súbita. crônica: trombo→ angina abdominal DIAGNÓSTICOÉ clínico. EXAMES COMPLEMENTARES ● Laboratoriais: leucograma (pode apresentar leucocitose), mas depende muito da porção, gravidade e extensão isquêmica. A amilasemia sérica também aumenta de forma moderada. Perante uma isquemia extensa, geralmente o doente evolui com acidose metabólica identificada através da gasometria, preferencialmente arterial. * As alterações nos exames laboratoriais na isquemia intestinal aguda são pouco significativas e pouco específicas, sendo comuns a inúmeras doenças abdominais. ** de dímero→ coagulação da fibrina ***Fosfato aumentado devido o aumento do consumo de energia. TODOS SÃO INESPECÍFICOS ● Imagem: a radiografia simples do abdome pode demonstrar a presença de alças paréticas e distendidas, apresentando níveis hidroaéreos, porém de forma inconstante. Nos estágios precoces da doença, técnicas diagnósticas básicas como a radiografia simples e a ultra-sonografia são geralmente pouco sensíveis, fornecendo achados inespecíficos, comuns a outras doenças. Em casos suspeitos de isquemia intestinal, devem-se considerar dois principais aspectos: 1. Dificuldade do diagnóstico precoce; 2. Necessidade de estabelecer o diagnóstico antes da fase de infarto. Esses são os fatores que devem orientar a escolha do método diagnóstico utilizado. Radiografia simples Na suspeita de abdome agudo de origem vascular, o RX simples geralmente fornece achados inespecíficos. A despeito da causa do evento isquêmico, os achados radiográficos são bastante semelhantes, diferindo apenas no segmento comprometido e extensão do processo. Na seqüência fisiopatológica, inicialmente ocorre redução da tonicidade da parede muscular, causando acúmulo de gás e distensão das alças envolvidas (íleo adinâmico). Achados: distensão gasosa intestinal com níveis de líquidos, que pode ser mais acentuada na área isquêmica. Também não é rara a pobreza gasosa intestinal difusa. Segue-se o edema da parede, com espessamento e apagamento de válvulas coniventes. O progressivo acúmulo líquido na submucosa produz abaulamentos excêntricos na luz intestinal, em aspecto de impressões digitiformes. Se o processo isquêmico prosseguir, seguem-se necrose com ruptura mucosa e penetração do gás intraluminar entre as camadas da parede intestinal (pneumatose), podendo em seguida atingir a circulação venosa portal (aeroportograma). A extensão do processo aos tecidos adjacentes às alças intestinais pode levar também ao acúmulo de líquido peritoneal livre, com opacificação abdominal difusa e deslocamento central de alças distendidas. Se houver perfuração, podem ser observados sinais de pneumoperitônio. Em síntese, os critérios radiográficos mais sugestivos de infarto mesentérico são o edema da parede intestinal com impressões digitiformes, a presença de pneumatose e o aeroportograma. No entanto, é importante ressaltar que esses achados são infreqüentes e já tardios no processo isquêmico, de modo que a ausência de alterações à radiografia simples não deve afastar a hipótese de isquemia intestinal. Radiografia contrastada Sua execução nesses casos determina dois importantes prejuízos: o consumo de tempo, retardando o estabelecimento diagnóstico, e a piora da qualidade de imagem de estudos seguintes potencialmente diagnósticos como a TC e a angiografia, devido à utilização do meio de contraste intraluminar de alta densidade. Seu uso pode ser considerado nos casos de apresentação crônica, onde, nos períodos sintomáticos, a presença do contraste no interior das alças pode tornar mais evidentes os achados radiográficos, associado à alteração no padrão de progressão do contraste. Ultrassonografia- Doppler: fornece dados úteis principalmente para o diagnóstico diferencial. No entanto, nos casos de isquemia intestinal aguda, o exame ultra-sonográfico pode ser bastante prejudicado pela freqüente e excessiva distensão gasosa intestinal, limitando sua sensibilidade. Achados: caracterizam-se alças com espessamento parietal ou sinais de ascite em cerca de 20% dos casos. A avaliação Doppler-fluxométrica pode demonstrar diretamente a trombose arterial ou venosa pela ausência de fluxo associado à obliteração da luz vascular por material ecogênico. No entanto, esses achados são bem caracterizados apenas no segmento proximal, devido ao pequeno calibre e à rica ramificação dos vasos mesentéricos no trecho médio e distal. Angiografia Método diagnóstico ideal da isquemia mesentérica (invasivo), tanto pelo alto potencial de diagnóstico precoce como pela possibilidade de intervenção terapêutica imediata. A angiografia permite identificar a causa da isquemia, distinguindo a forma oclusiva da não oclusiva e avaliando o grau de perfusão intestinal. Nas oclusões arteriais, determina o local e a extensão da obstrução, bem como o grau de irrigação colateral. O tratamento percutâneo transluminal pode ser feito durante o mesmo procedimento pela infusão seletiva de drogas vasodilatadoras ou agentes fibrinolíticos. TC helicoidal: A TC tem papel fundamental no estabelecimento do diagnóstico precoce por sua capacidade de demonstrar os principais troncos arteriais e venosos da circulação mesentérica. Além disso representa excelente alternativa à angiografia, com maior disponibilidade, menor custo e menor risco de complicações. Achado: da isquemia intestinal é o espessamento de alças, que é um sinal bastante inespecífico, podendo também ser encontrado em doenças inflamatórias, infecciosas e algumas neoplasias. Outros achados: a própria visibilização do trombo arterial (Figs. 7.4 e 7.5) ou venoso, distensão gasosa de alças, congestão das veias mesentéricas nos casos de obstrução venosa (Fig. 7.6), perda do realce intestinal habitual, pneumatose intestinal, aeroportograma e, nos casos de perfuração em decorrência de necrose isquêmica, incluem pneumoperitônio e líquido na cavidade peritoneal. O trombo é identificado como material hiperatenuante no interior do vaso. Nos casos de trombose venosa, pode ser vista congestão vascular secundária à estase, que se apresenta na forma de ectasia e tortuosidade venosa, geralmente associada à densificação da gordura mesenterial perivascular por edema (Figs. 7.7 e 7.8). A ausência de realce ao contraste pode ser um dos poucos sinais presentes na fase inicial da isquemia, por isso é um achado de importante valorização nos casos suspeitos. O mecanismo de irrigação colateral é o principal fator proposto para justificar os casos em que há aumento do realce intestinal na vigência de processo isquêmico. Acredita-se que a vasodilatação reflexa das artérias terminais é em parte responsável por esse efeito paradoxal, numa tentativa local de aumentar a oferta de oxigênio tecidual. Pneumatose- presença de gás intramural é um achado menos freqüente e mais tardio da lesão intestinal isquêmica, sendo a TC o melhor exame para sua pesquisa. Sua presença indica que já ocorreram áreas de ruptura mucosa por necrose, permitindo a dissecção das camadas da parede intestinal pelo gás de origem intraluminar. Devido à localização das imagens gasosas entre camadas da parede, na TC é possível observar seu aspecto tipicamente curvilíneo, podendo envolver toda a circunferência da alça comprometida. A pneumatose intestinal é um achado mais específico do processo isquêmico, porém somente presente na fase de infarto (Fig. 7.9). No entanto, não é exclusiva da lesão isquêmica, podendo ser encontrada como conseqüência de doenças pulmonares e úlcera péptica. Na evolução do processo, o gás pode penetrar nas vênulas da parede intestinal, atingindo a circulação venosa mesentérica e portal. O delineamento da circulação venosa portal por conteúdo gasoso (aeroportograma) constitui geralmente um sinal de estágio avançado e mau prognóstico (Fig. 7.10). A TC é o método de escolha para o diagnóstico da trombose venosa mesentérica, com alta sensibilidadetambém para todas as causas do abdome agudo vascular, sendo superior a 82% para esse conjunto de doenças. RNM Demonstra trombo recente como material de alto sinal nas imagens ponderadas em T1 e T2, substituindo a habitual ausência de sinal nos locais de fluxo (flow void). As imagens de angiografia pela ressonância magnética podem mostrar áreas de estenose e ausência de fluxo (Fig. 7.11). Trata-se de excelente alternativa para a investigação de processos isquêmicos, porém não é capaz de detectar sinais de pneumatose, aeroportograma ou pneumoperitônio, sendo, portanto, menos sensível que a TC ou a angiografia em casos de isquemia aguda. TRATAMENTO E PROGNÓSTICO Na suspeita de um abdome agudo de origem vascular, o tratamento de eleição continua sendo a cirurgia, de preferência com uma equipe apta a realizar uma rápida revascularização intestinal. Dessa forma, não observamos vantagem em adiar o tratamento definitivo ou aumentar o risco de complicações (insuficiência renal, hemorragia e dissecção arterial entre outras) realizando o estudo arteriográfico. O procedimento para correção da isquemia ou suas conseqüências vai depender do tempo, da extensão e da causa da obstrução arterial. De maneira geral, procura-se restabelecer fluxo ao intestino ainda viável, geralmente revascularizando a AMI, e retira-se as porções necróticas. Tratamentos cirúrgicos possíveis incluem: a embolectomia na suspeita de embolia ou a derivação nos casos de trombose. A menos que o intestino esteja francamente necrótico, o cirurgião deve manter uma boa vontade no sentido da revascularização previamente à ressecção primária, visto que o intestino pode apresentar uma melhora espantosa após o restabelecimento do fluxo. * No caso da falha na embolectomia ou em se tratando de trombose, o mesmo acesso pode ser usado para a anastomose da derivação. A prótese a ser usada geralmente é de material sintético como PTFE ou Dacron. Isquemia intestinal de causa não-oclusiva→ tem um comportamento diferente. Geralmente secundária ao choque, seu tratamento consiste basicamente no suporte clínico. O emprego de cateteres na artéria pulmonar para melhor controle da reposição volêmica, descontinuação do uso de vasoconstritores e controle dos parâmetros hemodinâmicos constitui a primeira linha de tratamento. Aqui, a arteriografia tem sua utilidade prática por meio da administração de vasodilatadores diretamente nos óstios arteriais. Doses em torno de 30 a 60mg/hora são recomendadas e devem ser mantidas num eventual período pós-operatório. A cirurgia, se necessária, consiste na identificação e ressecção de segmentos intestinais que estejam francamente comprometidos visto que com o tratamento instituído existe a chance de reperfusão e salvamento de segmentos inicialmente pouco isquêmicos. Na vigência de trombose das veias mesentéricas, o tratamento de escolha representa uma anticoagulação agressiva, preferencialmente com heparinização endovenosa. Pela alta incidência de recorrência do quadro, devemos proceder a posterior anticoagulação oral por tempo indeterminado ou até que a causa tenha sido diagnosticada e corrigida. **atualmente podemos contar com tratamentos adjuvantes (como a NPP e o transplante intestinal) que tornam possível o que até uma década atrás não era: a manutenção do doente com uma qualidade de vida aceitável. COMPLICAÇÕES → Colite isquêmica: colo é o segmento mais comum de isquemia intestinal. Tal complicação é geralmente secundária a estados de hipoperfusão e choque ou a procedimentos na aorta infra-renal como aneurismectomia e endoprótese percutânea, que obstruem o fluxo na artéria mesentérica inferior (AMI). Ocorre em cerca de 2% dos casos (6% nos casos de correção na urgência) e a maioria apresenta se como necrose de todas as camadas da alça e conseqüente perfuração, geralmente do sigmóide. Quadro clínico: pode ser confundido por uma infinidade de sintomas inespecíficos e comuns que os doentes costumam apresentar nesse período. Distensão abdominal excessiva, sinais de irritação peritoneal no flanco ou hipocôndrio esquerdo, evacuação líquida sanguinolenta ou escura, leucocitose acentuada (acima de 20 mil ou 30 mil leucócitos/campo), plaquetopenia severa (abaixo de 90 mil plaquetas/campo) e acidose de difícil controle são sinais freqüentemente associados a essa complicação. Diagnóstico: colonoscopia com fibra ótica. Havendo necessidade de ressecção, a reconstrução primária não está indicada. Após a retirada do segmento comprometido, a exteriorização do coto intestinal proximal e o sepultamento do coto distal podem ser realizados pela técnica de Hartmann. Reperfusão intestinal Após um período de isquemia, a reintrodução de sangue em determinado segmento de intestino causa a geração e a liberação para a circulação portal e sistêmica de uma série de mediadores químicos que afetam o metabolismo localmente no intestino e em órgãos à distância. A mucosa intestinal, é a primeira a apresentar alterações. Tendo a importante função de barreira, as alterações ampliam o acesso de substâncias do conteúdo intestinal à circulação bem como permitem a ocorrência da translocação bacteriana. Existem evidências crescentes de que o intestino é o berço e o alvo de citoquinas pró-inflamatórias, e sua I/R participa de uma forma central na resposta inflamatória sistêmica. Há participação das células de defesa, em especial dos leucócitos polimorfonucleares (PMN). O recrutamento dos PMN ao local compreende uma série de passos que começa na atração proporcionada por mediadores quimiotáticos pró-inflamatórios, como IL-1, IL-6, TNF, entre outros; passa pela fase de marginação ou rolling, que aproxima o PMN da parede vascular e diminui sua velocidade de fluxo a fim de que seja possível o reconhecimento das moléculas presentes na superfície do endotélio da vênula pós-capilar, processo este mediado pela família de moléculas de adesão de- nominadas selectins (P-,E- e L-selectin); e termina na ativação, forte aderência e penetração em direção ao segmento alvo nos tecidos isquêmicos, mediado por um outro grupo de moléculas de adesão, os heterodímeros das β 2 -integrinas, que incluem os antígenos derivados de linfócitos (LFA-1, CD11a/CD18), a molécula de adesão intercelular (MAC-1, CD11b/CD18) e p150,95 (CD11c/CD18). Os PMN ativados e situados no tecido intestinal isquêmico contribuem para maior formação de radicais livres presentes em seus grânulos enzimáticos, produção de mais substâncias que propagam a inflamação sistêmica e para atração de outras células líticas como monócitos e macrófagos. É bastante provável que em breve disponhamos de agentes que protejam os órgãos localmente do efeito da I/R e, conseqüentemente, diminuam a resposta inflamatória sistêmica e a falência de múltiplos órgãos. Transplante intestinal Falência intestinal: definida como a incapacidade de o sistema gastrointestinal manter adequada nutrição, fluidos e homeostase eletrolítica sem suporte externo artificial. As causas mais comuns incluem ressecções intestinais (por isquemia mesentérica, volvo intestinal, doença de Crohn, entre outras) e enterocolite necrotizante do recém-nascido. Classicamente, aprendemos que um doente apresentando isquemia irreversível de grande porção do intestino, principalmente o delgado, teria seu prognóstico fechado, não justificando investimentos adicionais em medidas para prolongar sua vida. Há alternativas que podem ser usadas para manter um doente vivo por muitos anos, como a instituição de nutrição parenteral prolongada (NPP) em esquema domiciliar, mesmo sabendo que a NPP tem um tempo de “vida útil” que pode ser relativamente curto pelas complicações. A partir de outubro de 2000, o HCFA determinou como procedimento de escolha o transplante intestinal ou multivisceral em doentes que não poderiam sobreviver sem o suporte de NPP e que apresentassem alguma contra-indicação a NPP. Com isso, os doentesem questão ganharam oficialmente mais uma alternativa terapêutica. Representam contra-indicação ao transplante a insuficiência cardiopulmonar grave, a presença de neoplasia disseminada e a vigência de infecção sistêmica ou intra-abdominal. 3- DISCUTIR OS FATORES DE RISCO DO ABDOME AGUDO VASCULAR. FATORES DE RISCO GERAIS • 78% HAS • 71% TABAGISMO • 62% DOENÇA VASCULAR PERIFÉRICA • 50% CORONARIOPATAS FATORES DE RISCO ESPECÍFICOS • HISTÓRIA RECENTE DE EVENTO CARDÍACO • HISTÓRIA PRÉVIA DE EMBOLISMO • ATEROSCLEROSE • DISTÚRBIOS DE COAGULAÇÃO E USO DE ANTICONCEPCIONAL (ESTRÓGENO) 4- DISCUTIR O ABDOME AGUDO PERFURATIVO (ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO, CONDUÇÃO). Abdome agudo perfurativo é uma das síndromes mais freqüentes entre as urgências abdominais não-traumáticas. A perfuração de vísceras ocas pode ocorrer devido a processos inflamatórios (úlceras pépticas, doenças inflamatórias intestinais), neoplásicos e infecciosos do aparelho digestivo (infecções por Salmonella tiphy, citomegalovírus, tuberculose intestinal etc.) ou a uso de medicamentos (antiinflamatórios). Pode ainda ser decorrente da ingestão de corpos estranhos, traumatismos e iatrogenias (procedimentos diagnósticos e terapêuticos). Ainda hoje, a mortalidade da perfuração visceral se encontra entre 8 e 10%. QUADRO CLÍNICO/ FISIOPATOLOGIA • Intervalo curto entre o início da dor e a chegada ao serviço de emergência; • Dor súbita, de forte intensidade, com difusão rápida para todo o abdome; “SINAL DO CLOCK” • Sinais de sepse, hipotensão ou choque estão freqüentemente presentes; • No exame do abdome, há sinais evidentes de peritonite, ausência de macicez hepática (sinal de Jobert) e de ruídos hidroaéreos. **A intensidade dos sintomas e a gravidade do quadro clínico dependerão do local e do tempo de evolução da perfuração, do tipo de secreção extravasada e das condições do doente. → Inicialmente, ocorre uma inflamação peritoneal de natureza química, principalmente nas perfurações altas do trato digestivo, seguida de invasão bacteriana secundária e progressivo processo infeccioso, com repercussões locais e sistêmicas. Em relação ao intestino grosso, a peritonite é séptica desde o início. Algumas vezes, a sintomatologia não é tão exuberante, podendo estar “mascarada” por sintomas decorrentes de afecções clínicas associadas comuns em doentes idosos e imunossuprimidos. As perfurações podem ocorrer em peritônio livre com extravasamento de líquido e difusão por toda a cavidade abdominal ou, então, se apresentar de forma bloqueada, com dor e sinais peritoneais localizados, correspondentes à topografia da víscera comprometida. Em tais situações, pode haver retardo no diagnóstico e tratamento da doença. Uma série de parâmetros devem ser levados em consideração no diagnóstico e na avaliação do doente portador de abdome agudo perfurativo: • Peritonite química ou bacteriana; • Nível da perfuração; • Tempo de evolução da perfuração; • Manifestações sistêmicas ou abdominais exclusivas; • Perfuração bloqueada ou em peritônio livre; • Etiologia da perfuração. DIAGNÓSTICO Basicamente clínico Exames complementares Laboratoriais: é inespecífico. - Punção abdominal para aspiração de líquidos intraperitoneais não é tão utilizado, e, quando positiva, auxilia na tomada de decisão e confirmação do quadro de peritonite. Apresenta, porém, um número significativo de falso-negativos, podendo apresentar falso-positivos quando da punção acidental de alças intestinais ou sangue (acidente de punção). - Lavagem peritoneal dosagem do amoníaco do líquido intracavitário. Não tem indicação no abdome agudo perfurativo bem como nas demais síndromes abdominais não-traumática. Imagem: - Quando todos os métodos falham na demonstração do pneumoperitônio e a dúvida persiste, o exame endoscópico pode contribuir para o diagnóstico das perfurações do trato digestivo alto (estômago e duodeno). A gastroduodenoscopia permite identificar a lesão ulcerada e, por vezes, até mesmo a sua perfuração. Não é incomum o aparecimento do pneumoperitônio numa nova radiografia, realizada após o exame endoscópico. - Um recurso atual que possibilita não só o diagnóstico diferencial como o tratamento de muitos casos de abdome agudo perfurativo é a videolaparoscopia. Trata-se de um procedimento invasivo que, permite a sutura de úlceras pépticas agudas, ou mesmo crônicas, e limpeza adequada da cavidade com segurança. - Doentes internados em terapia intensiva, sedados e em suporte ventilatório tornam-se um desafio do ponto de vista do diagnóstico de afecções abdominais agudas devido à perda de parâmetros clínicos e do exame de palpação abdominal, e pela dificuldade e risco de mobilização para exames radiológicos. Uma laparotomia desnecessária na dúvida diagnóstica poderia agravar o quadro clínico. Nesses casos, pode-se realizar a laparoscopia diagnóstica à beira do leito, sob anestesia local e com pneumoperitônio de baixa pressão para elucidação diagnóstica e definição da melhor conduta. DIAGNÓSTICO RADIOLÓGICO— DIAGNÓSTICO POR IMAGEM A característica radiológica de perfuração de víscera oca é a presença de ar e/ou líquido na cavidade peritoneal, no retroperitônio e, com menor freqüência, nas paredes de órgãos e outras estruturas. A perfuração de uma víscera oca leva à formação de pneumoperitônio em 75% a 80% do casos. Os casos nos quais não ocorre pneumoperitônio são devidos ao bloqueio do local da perfuração ou à ausência de gás no segmento da víscera perfurada. Na radiografia simples do abdome, pequenas quantidades de gás extraluminar podem ser detectadas, fazendo com que esse exame tenha importante papel. O gás livre pode também ser detectado através da TC e da USG. A RNM é um método pouco utilizado na avaliação do abdome agudo perfurativo, devido a elevada acurácia, disponibilidade e menor custos dos demais métodos. Radiografia simples do abdome A detecção de ar livre intraperitoneal é um valioso sinal de abdome agudo perfurativo. As radiografias padrão para o diagnóstico de penumoperitônio são de tórax em posição ortostática AP, e em decúbito lateral esquerdo com raios horizontais. Achados: gás livre na cavidade abdominal na radiografia em posição ortostática pode ser coletado logo abaixo do diafragma, entre o fígado, ou o estômago, e o diafragma. Em 50% dos casos, o gás se acumula abaixo do fígado, ou no espaço hepatorrenal. Grandes quantidades de gás livre subdiafragmático produzem também o sinal da cúpula na radiografia em posição ortostática, que é traduzido por gás acumulado abaixo do tendão central do diafragma. O gás na radiografia em decúbito lateral esquerdo coleta-se entre o fígado e a parede abdominal lateral (Fig. 6.2). A radiografia feita em decúbito dorsal, tem sensibilidade inferior na detecção de pneumoperitônio. Freqüentemente, ela pode ser a única incidência radiográfica possível, logo é essencial a familiarização com os sinais de ar livre que podem aparecer nas radiografias obtidas nessa incidência. São eles: 1. Sinal de Rigler. visualização da parede gástrica ou intestinal pela presença de gás na luz e na cavidade peritoneal. Pode ser simulado quando duas alças intestinais distendidas por gás aparecem unidas na radiografia e por gordura intraperitoneal adjacente à parede da alça (Fig. 6.3). 2. Sinal do ligamento falciforme. gás livre tende a delinear estruturas que normalmente não são observadas na radiografia convencional, como as reflexões peritoneais e os ligamentos (por exemplo, o ligamento falciforme do fígado, os ligamentos umbilicais e o úraco). Quando a cavidade está distendida com ar, o ligamento se torna radiograficamente aparente, às vezes na radiografia simples e com freqüência na tomografia computadorizada (Fig. 6.4). Nos casos de pneumoperitônio massivo, a orientação oblíqua do ligamento falciforme, indo do umbigo à superfície anterior do fígado,aparece como sombra linear que divide a cavidade peritoneal superior. A espessura varia de 1 a 11mm. 3. Sinal da fissura do ligamento redondo. São visualizadas pequenas quantidades de gás na fissura do ligamento redondo. 4. Sinal do “V” invertido. Ocorre quando os ligamentos umbilicais laterais são visualizados uni ou bilateralmente. 5. Sinal do úraco. 6. Sinal da borda hepática. O ar livre coletado na cavidade peritoneal anterior pode permitir delineação da borda hepática inferior. Caracteristicamente, as coleções gasosas que promovem esse sinal têm margem superior côncava ou reta, que representa a interface lisa com o fígado. 7. Sinal da bola de futebol. Ocorre quando uma grande quantidade de ar na região do abdome médio, na radiografia em posição supina, produz uma imagem radioluscente de forma elíptica. 8. Ar no espaço de Morison. A porção superior do espaço sub-hepático posterior pode coletar ar livre. É visto como radioluscência crescente ou triangular medialmente abaixo da décima primeira costela, onde é contida acima pela área nua do fígado. 9. Sinal oval superior e anterior. Pequenos acúmulos de ar livre são coletados ântero-superiormente na cavidade peritoneal. Podem ser vistos como única ou múltiplas radioluscências ovóides sobre o fígado, geralmente na sua porção medial. Na TC, essas radioluscências situam-se ventralmente ao fígado, abaixo da parede abdominal anterior, em lugar muito comum de acúmulo de ar livre. O quadrante superior direito é o local onde o ar livre intraperitoneal é visto com maior freqüência na radiografia simples. Condições que pode mimetizar a presença de gás livre na cavidade abdominal: a síndrome de Chilaiditi (alça interposta, de intestino delgado ou grosso, entre a superfície hepática ântero-superior e a cúpula diafragmática); gordura subdiafragmática retroperitoneal (encontrada em 1% dos pacientes); pneumotórax e atelectasia basais paralelas ao diafragma; distensão de vísceras ocas; tecido adiposo entre o fígado e o diafragma; ar retroperitoneal; abscessos subfrênicos; pneumatose cistóide; divertículo do estômago, esôfago ou duodeno; e a configuração ondulada do diafragma (Fig. 6.5). ESTUDOS GASTROINTESTINAIS CONTRASTADOS Útil em situações especiais. Se os achados clínicos e a radiografia simples forem inconclusivos, a situação pode ser esclarecida com a administração de um meio de contraste hidrossolúvel por via oral ou retal. Nesses casos, o meio de contraste baritado é contra-indicado devido ao risco de peritonite. Para o paciente com suspeita de úlcera perfurada, 30 a 50 cc de meio de contraste iodado são administrados via oral, e em seguida o paciente é colocado em decúbito lateral direito por 10 minutos, para que o contraste flua até o estômago distal e duodeno proximal, onde ocorre a maioria das perfurações. Aproximadamente um terço dos pacientes com perfuração terá extravasamento revelado por essa técnica, mesmo na ausência de pneumoperitônio (Fig. 6.8). ULTRASSONOGRAFIA A perfuração de uma víscera oca associada à presença de pneumoperitônio pode ser ocasionalmente diagnosticada com a ultra-sonografia. Nesses casos, o gás livre surge como linhas hiperecogênicas com acentuada reverberação posterior, entre a parede abdominal anterior e a superfície anterior hepática. Geralmente, a natureza do líquido livre não pode ser exatamente definida pelo ultra-som. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA É excelente para a detecção de gás livre na cavidade abdominal. A localização precisa e a distribuição de gás e líquido livre fornecem chaves da natureza do processo patológico de base, podendo também ser possível estabelecer a localização da perfuração em até 80% dos casos (Fig. 6.9). Na TC, o ar livre intraperitoneal é freqüentemente detectado no mesogástrio e adjacente à superfície anterior do fígado, porém nos vários recessos abdominais podem ser vistas coleções de ar. Contraste oral! PNEUMORRETROPERITÔNIO O gás que se acumula no espaço retroperitoneal geralmente pode ser distinguido facilmente do gás intraperitoneal. Um dos sinais que permite essa diferenciação é a mudança de localização das coleções gasosas intraperitoneais, de acordo com a alteração do decúbito do doente, enquanto o ar retroperitoneal é relativamente confinado nos planos fasciais e, portanto, migra muito pouco. Outra forma de diferenciar é devido ao fato de pequenas quantidades de gás retroperitoneal poderem ser coletadas logo abaixo do diafragma, mas raramente ascenderem ao ápice do pilar diafragmático, diferentemente do pneumoperitônio. A localização do gás retroperitoneal pode sugerir a sua origem. Perfurações retroperitoneais permitem que o gás penetre nos compartimentos correspondentes, podendo ser demonstradas nos espaços pararrenais. O gás presente no espaço pararrenal provindo de uma úlcera duodenal perfurada ou de uma perfuração nos colos descendente ou ascendente é geralmente distribuído nos dois lados da coluna vertebral. O gás pode migrar cranialmente para o nível subdiafragmático, simulando um pneumoperitônio nas radiografias em posição ortostática ou pode penetrar na região mediastinal (enfisema mediastinal). A perfuração na parede posterior do reto permite que o gás penetre na região do espaço pararrenal posterior e migre para a região dos flancos bilateralmente. O gás pode espalhar-se medialmente apenas até o nível da margem do psoas (Fig. 6.10) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E ETIOLÓGICO Excluindo o trauma, várias são as causas que determinam a perfuração de víscera oca. PERFURAÇÃO ESOFÁGICA As perfurações do esôfago no seu trajeto intra abdominal são raras e, mais freqüentemente, estão relacionadas a iatrogenias decorrentes de dilatações endoscópicas de estenoses pépticas ou da acalasia do esôfago distal. Diagnóstico: o endoscopista geralmente faz o diagnóstico durante a realização do exame e encaminha o doente ao serviço de emergência. O diagnóstico é, então, confirmado pela história clínica, pelo exame físico e pela presença do pneumoperitônio na radiografia simples de abdome. Tratamento: laparotomia e sutura primária da laceração esofágica seguida de gastrofundoplicatura para cobertura da área de sutura. Quando a perfuração é decorrente de procedimento endoscópico em esôfago doente (estenose cáustica, por exemplo), a opção terapêutica é pela esofagectomia com ou sem toracotomia. A ruptura espontânea de esôfago ou síndrome de Boerhaave acomete o esôfago distal intratorácico, raramente levando a quadro de abdome agudo, sendo o comprometimento torácico e mediastinal mais importante. Outras causas mais raras de perfuração de esôfago intra-abdominal incluiriam as úlceras pépticas, os tumores de esôfago distal e cárdia e os corpos estranhos ingeridos. PERFURAÇÃO GÁSTRICA E DUODENAL As perfurações gastroduodenais são causadas por lesões pépticas agudas ou crônicas, neoplasias e traumatismos, sendo a etiologia mais comum a úlcera crônica. A neoplasia gástrica perfurada é ocorrência rara e observada em doentes com tumores avançados. Muitas vezes, o pneumoperitônio nesses casos não está presente, pela invasão neoplásica por contigüidade dos órgãos vizinhos. Quadro clínico: A dor é o sintoma guia; o exame físico nas primeiras horas revela contratura generalizada da parede abdominal (abdome em tábua). Decorrido algum tempo, a instalação da peritonite bacteriana se acompanha de febre, sepse e da ocorrência do íleo adinâmico; no exame do abdome, verificamos distensão e sinais difusos de irritação peritoneal. Exames: Culturas do líquido peritoneal em doentes com perfuração gástrica mostram uma positividade de 21% até 6 horas após a perfuração, chegando a 30% após 12 horas e a 63% com 24 horas de evolução. As bactérias mais comumente encontradas são a Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella sp e E. coli. Uma vez confirmada a hipótese clínica, a conduta operatória se impõe. Tratamento: lesões agudas,--> sutura da perfuração com ou sem epiploplastia(cirurgia de Graham-Steele) e limpeza da cavidade. Nas úlceras duodenais crônicas → o cirurgião deve optar pelo tratamento definitivo tão logo as condições gerais e locais assim o permitam. Uma vez identificada e diagnosticada a perfuração, está indicado o tratamento operatório de urgência. PERFURAÇÃO DE INTESTINO DELGADO Tendo em vista a composição da flora bacteriana e a atividade das enzimas componentes de sua secreção, as perfurações no intestino delgado apresentam diferenças conforme sua topografia. Perfurações proximais→ determinam inicialmente peritonite química, com extravasamento de enzimas digestivas ainda ativas. Perfurações distais→ são acompanhadas de peritonite séptica. Etiologia: causas de perfuração de intestino delgado→ infecções específicas, como a tuberculose e a febre tifóide, e as enterites inespecíficas são as mais freqüentes. Há ainda as perfurações por corpos estranhos ingeridos ou, mais raramente, por tumores. Nos pacientes imunossuprimidos (aidéticos e doentes transplantados ou em regime de quimioterapia), podemos encontrar perfurações por citomegalovírus ou tumores como o sarcoma de Kaposi. Nesses doentes, nem sempre a reação peritoneal palpatória é significativa e imediata, podendo suscitar dúvidas quanto ao diagnóstico da perfuração. A perfuração pode ser ainda secundária a necroses intestinais provocadas por hérnias, torções, invaginação e infarto intestinal de causa vascular primária. Nesta situação, o quadro inicial é do tipo obstrutivo. A perfuração por corpo estranho é comumente bloqueada ou com formação de abscessos e, às vezes, é difícil sua identificação. Mais raramente, pode ocorrer perfuração de um divertículo de Meckel, sugerindo quadro de apendicite aguda. As doenças inflamatórias intestinais específicas, como a doença de Crohn, podem apresentar, na sua evolução, perfuração com formação de fístulas internas, sem determinar o quadro de peritonite aguda. A tuberculose intestinal ocorre geralmente como complicação da tuberculose pulmonar, e acredita se que 5 a 8% dos portadores da doença pulmonar tenham comprometimento intestinal, que, nos casos mais avançados, atinge 80%. A perfuração da tuberculose intestinal é observada na sua forma ulcerativa, sendo pouco freqüente sua ocorrência em peritônio livre. Diagnóstico: é feito quando existe referência de doença pulmonar ou quando, na radiografia de tórax, aparecem lesões sugestivas de tuberculose miliar. Tratamento: tratamento operatório depende da causa da perfuração e das condições locais da cavidade e gerais do doente. Pode ser uma simples ressecção com anastomose primária ou então ressecção com estomia (Rasslan, Masslon). Nas perfurações secundárias a processos inflamatórios como tuberculose intestinal ou por CMV ou, naquelas que ocorrem em doentes imunossuprimidos e com peritonite avançada, deve-se evitar a sutura ou anastomose primária, optando-se pela ressecção com exteriorização do segmento proximal. PERFURAÇÃO DO INTESTINO GROSSO As perfurações não-traumáticas do colo são secundárias a processos inflamatórios agudos, como apendicite ou diverticulite, neoplasias, megacolo tóxico, obstrução intestinal em alça fechada com perfuração do ceco, volvos de ceco e sigmóide, corpos estranhos e síndrome de Ogilvie. A retocolite inespecífica e a colite isquêmica podem também apresentar perfuração. Quadro clínico: a peritonite decorrente da perfuração do colo direito é considerada mais grave que a do esquerdo pela alta virulência dos germes presentes em sua flora e pela consistência líquida do material fecal que se dissemina rapidamente. No entanto, a gravidade do quadro clínico depende de outros fatores, como faixa etária, doenças associadas etc. O quadro séptico é freqüente e quando as manifestações são localizadas há presença de bloqueio e/ou abscessos. Tratamento: intra-operatório vai depender da etiologia da perfuração. Neoplasias→ operação consiste na ressecção com colostomia proximal. Diverticulite aguda perfurada→ as condutas variam conforme o achado intra-operatório desde as ressecções com colostomia, ostomias mais drenagem de abscessos e, em casos selecionados, alguns autores preconizam a anastomose primária após ressecção. Tais anastomoses apresentam elevado risco de complicação e, como princípio geral, devem ser evitadas. A síndrome de Ogilvie ou pseudo-obstrução aguda do colo, atribuída a desequilíbrios entre os sistemas simpático e parassimpático, acomete doentes acamados, mulheres em período pós-cesárea e traumatizados. Há uma distensão abrupta e progressiva do colo sem obstrução mecânica, podendo evoluir para perfuração geralmente do ceco se não diagnosticada a tempo. Na ocorrência de perfuração, a opção é também pela colectomia total. Doentes psiquiátricos ou com perversões sexuais podem ser vítimas de impalamento e apresentar perfurações de reto intraperitoneal por corpos estranhos. Tais perfurações são graves quando os pacientes tardam a procurar o serviço de emergência, podendo apresentar-se com infecção peritoneal difusa. O tratamento consiste em sutura e drenagem com ostomia de proteção. Nas lesões mais extensas, a retossigmoidectomia com colostomia proximal e sepultamento do coto retal é a melhor opção. TRATAMENTO O tratamento é operatório e tem por objetivo a sutura da perfuração ou a ressecção da área comprometida, dependendo da etiologia. - Nas perfurações do intestino delgado, pratica-se a ressecção com anastomose primária. - Nas perfurações do colo, a opção é a ressecção com colostomia. Excepcionalmente, pode ser realizada a anastomose primária. A antibioticoterapia é iniciada no pré-operatório, podendo ser preventiva (curta duração) ou terapêutica, dependendo do achado operatório. O prognóstico depende do local e da causa da perfuração, do tempo de evolução da doença, da idade e de condições locais da cavidade e sistêmicas do doente. PLUS→ FUNÇÃO DA SOMATOSTATINA A somatostatina (SS), também conhecida como hormônio inibidor do hormônio do crescimento, é secretada por células D no estômago. A somatostatina é o sinal de retroalimentação negativa primário da secreção na fase gástrica. Ela reduz a secreção ácida direta e indiretamente por diminuir a secreção de gastrina e histamina. A somatostatina também inibe a secreção de pepsinogênio. Referências: Abdome agudo- clínica e imagem. 4ed. CURSO CONTINUADO DE CIRURGIA GERAL DO CBC-SP ABDOME AGUDO VASCULAR TCBC Wilson Rodrigues de Freitas Junior Dept. de Cirurgia Santa Casa SP SÃO PAULO 27/09/2014 https://cbcsp.org.br/wp-content/uploads/2016/aulas_curso/abdome_agudo_vascular_27_09.pdf Anatomia. Martini 6 ed. https://cbcsp.org.br/wp-content/uploads/2016/aulas_curso/abdome_agudo_vascular_27_09.pdf