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CENTRO UNIVERSITÁRIO CHRISTUS CURSO DE ODONTOLOGIA Integrantes: Ana Beatriz G C Maia Kauana dos Santos Jade Tadaiesky Firmino Maria Ashelley Holanda Jessica Ellen de Freitas Tavare Caio Henrique da Silva Estevão SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR S4- NP2 FORTALEZA – CE 2025 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO ……………………………………………………………….. 03 SAÚDE COLETIVA III ……………………………………………………………….. 04 CLÍNICA I ……………………………………………………………….. 06 PRÉ - CLÍNICA II ……………………………………………………………….. 07 RADIOLOGIA ……………………………………………………………….. 13 PATOLOGIA ORAL ……………………………………………………………….. 14 PLANO DE CUIDADO ……………………………………………………………….. 17 REFERÊNCIA ……………………………………………………………….. 18 Introdução: Maurício, um homem de 35 anos, procurou atendimento na clínica escola da Unichristus após muitos anos sem ir ao dentista. Ele relatou que, devido à rotina cansativa de trabalho como porteiro e vigia em um condomínio, não conseguia tempo para cuidar da própria saúde bucal. A busca por atendimento ocorreu por influência de um aluno da instituição que, ao observar uma lesão em seu lábio superior, o incentivou a procurar avaliação, preocupado com a aparência da ferida. Durante a anamnese, Maurício contou que a lesão começou pequena, mas ele tinha o hábito de manipulá-la e espremer até que voltasse a crescer ainda maior. Disse também sentir vergonha de sorrir, por acreditar que sua gengiva estava inchada e por faltar uma pequena porção de um dente anterior. Além disso, revelou medo de tratamento odontológico por experiências anteriores negativas, chegando a passar mal em um atendimento anterior. O exame clínico revelou uma lesão volumosa em lábio superior, presença de inflamação gengival acentuada, recessões e sangramento gengival, além de restaurações antigas e infiltrações. No exame radiográfico, observaram-se cáries, infiltrações e uma raiz residual no dente 15. Outro ponto importante foi o resultado do exame laboratorial, que mostrou glicemia em jejum de 180 mg/dl, indicando um possível quadro de diabetes mellitus sem controle adequado. Esses achados reforçam a necessidade de um olhar ampliado, que considere não apenas a condição bucal, mas também os aspectos sistêmicos e emocionais do paciente. Fotos: 3 Saúde coletiva III O caso do paciente Maurício permite uma análise ampla do processo saúde-doença à luz dos determinantes sociais da saúde, que englobam aspectos econômicos, culturais, psicológicos e ocupacionais. Trata-se de um adulto jovem, de 35 anos, que trabalha em múltiplas funções tais como: porteiro, vigia e serviços gerais, com longas jornadas e pouco tempo para o autocuidado. Essa rotina evidencia condições de vulnerabilidade social e a necessidade de uma abordagem ampliada e humanizada no cuidado em saúde bucal. Ao relatar medo de dentistas, vergonha de sorrir e ausência de tempo para tratamento, Maurício reflete os impactos emocionais e sociais do adoecimento bucal. Tais aspectos se conectam ao conceito de clínica ampliada e humanização, conforme a Política Nacional de Humanização (PNH), que propõe um cuidado centrado no sujeito e não apenas na doença. A escuta qualificada e o acolhimento devem ser priorizados para fortalecer o vínculo entre o paciente e a equipe de saúde, respeitando sua história de vida, valores e limitações. A Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), por sua vez, orienta que a saúde seja compreendida como resultado de múltiplos fatores, demandando ações educativas, preventivas e intersetoriais. No contexto de Maurício, a promoção da saúde envolve tanto o incentivo ao autocuidado quanto o encaminhamento para acompanhamento médico, dada sua glicemia de 180 mg/dL, valor sugestivo de diabetes mellitus. O controle glicêmico é fundamental para o manejo da doença periodontal, que, no paciente, apresenta índices elevados de inflamação gengival (ISS de 76%). Assim, o cirurgião-dentista deve atuar em parceria com a equipe multiprofissional, buscando a integralidade do cuidado. No âmbito da Saúde Coletiva, o processo de trabalho em saúde deve considerar não apenas o tratamento curativo, mas também as dimensões educacionais e sociais. A educação em saúde é uma ferramenta essencial para reduzir desigualdades e promover autonomia. Com base em Ferreira (2014), entende-se que a educação em saúde deve ser dialógica, respeitando o saber popular e estimulando a construção compartilhada do conhecimento. Nesse sentido, é imprescindível o uso de uma linguagem acessível para explicar termos técnicos, como “nível glicêmico” e “triglicerídeos”, que causaram confusão ao paciente. O conceito de cuidado em saúde vai além da execução de procedimentos: ele envolve acolher, ouvir e compreender o indivíduo de forma integral. De acordo com Mendes (2012), o cuidado é uma prática relacional, que exige empatia, escuta e reconhecimento das singularidades de cada paciente. Aplicado ao caso de Maurício, isso significa acolher seu medo, compreender seu contexto laboral e adaptar as orientações às suas possibilidades reais, como sugerir a higienização bucal nos intervalos de trabalho ou o uso de kits portáteis. Outro ponto relevante é a 4 espiritualidade e o vínculo emocional no cuidado. Conforme Harold Koenig (1999), a dimensão espiritual pode fortalecer a resiliência e a confiança do paciente no processo terapêutico. No caso de Maurício, oferecer um atendimento empático e livre de julgamentos contribui para reduzir a ansiedade e aumentar sua adesão ao tratamento odontológico. Além disso, deve-se considerar o ciclo de vida e a educação em saúde no contexto das vulnerabilidades sociais. Mesmo sendo um adulto jovem, Maurício já apresenta fatores de risco que exigem intervenções educativas e preventivas de longo prazo. As ações devem ser contínuas, integradas e adaptadas à sua rotina. A participação do paciente nas decisões terapêuticas é um componente essencial do empoderamento em saúde, conceito central da Saúde Coletiva contemporânea. Assim, o caso ilustra a necessidade de uma prática odontológica comprometida com a realidade social do paciente, articulando promoção da saúde, prevenção e humanização. O cuidado deve ser integral, interdisciplinar e pautado em valores éticos, respeitando a dignidade humana e o direito universal à saúde. Plano de Saúde Bucal Proposto Objetivo Geral: Promover a saúde bucal e geral do paciente Maurício, reduzindo o risco de progressão da doença periodontal e estimulando o autocuidado. Objetivos Específicos: 1. Ampliar o conhecimento do paciente sobre higiene bucal, saúde geral e doenças sistêmicas associadas. 2. Incentivar o acompanhamento médico regular para controle glicêmico. 3. Reduzir o sangramento gengival e controlar fatores inflamatórios periodontais. 4. Promover o vínculo com a equipe odontológica e com os serviços públicos de saúde. Ações Propostas: • Realizar atividade educativa individual sobre escovação e uso do fio dental. • Demonstrar técnicas adequadas de higiene bucal com escova e fio dental. • Fornecer orientações sobre alimentação saudável e redução de açúcares simples. • Encaminhar o paciente à Unidade Básica de Saúde (UBS) para acompanhamento de glicemia e pressão arterial. • Planejar consultas periódicas de manutenção preventiva. • Promover um ambiente de escuta acolhedora e respeito, reduzindo medo e ansiedade. Responsáveis: Equipe interdisciplinar composta por acadêmicos de Odontologia (Saúde Coletiva III e Clínica I), professores supervisores e equipe da Estratégia Saúde da Família. 5 Clínica I O paciente Maurício, 35 anos, do sexo masculino, atua profissionalmente como porteiro e vigia e foi atendido na Clínica Escolada Unichristus. Durante a anamnese, relatou como queixa principal o surgimento de uma lesão no lábio superior, que inicialmente era pequena, mas aumentou de tamanho progressivamente, além da percepção de inchaço gengival. No histórico médico, observou-se que o paciente possui uma rotina de trabalho exaustiva, o que dificulta a realização de consultas médicas regulares. Ele relatou não realizar exames laboratoriais por receio dos resultados, e, quando avaliados, apresentou glicemia em jejum de 180 mg/dl, sugerindo possível diabetes mellitus não controlado. A pressão arterial registrada foi de 130/80 mmHg, e há histórico familiar de diabetes e hipertensão arterial. Em relação ao histórico odontológico, Maurício demonstrou ansiedade e medo diante do atendimento, devido a uma experiência traumática anterior com exodontia. O paciente também apresentou hábito parafuncional de apertamento dentário (bruxismo diurno), além de higiene bucal insatisfatória, relatando escovação apenas com movimentos horizontais e ausência do uso de fio dental. Foi mencionado ainda sangramento gengival durante a escovação, o que reforça o quadro de inflamação periodontal. Durante o exame clínico, observou-se, na avaliação extraoral, uma lesão nodular e recorrente em lábio superior. No exame intraoral, o Índice de Sangramento à Sondagem (ISS) foi de 76%, e o Periodontal Screening and Recording (PSR) apresentou resultados de 3F,2,2*,2,2,2, indicando doença periodontal inicial a moderada. Foram identificadas restaurações nos dentes 24 a 27, infiltração distal no dente 36, cárie ocluso-distal em 46 e raiz residual em 15. Com base nesses achados, foi estabelecido o diagnóstico presuntivo de lesão de mucosa labial, com hipóteses de hiperplasia fibrosa inflamatória ou granuloma piogênico, sendo indicado encaminhamento para biópsia. Além disso, constatou-se doença periodontal inicial/moderada associada à má higiene oral, cárie ativa em 46, restauração infiltrada em 36, raiz residual em 15, bruxismo diurno e suspeita de diabetes mellitus não controlada. O plano de tratamento foi elaborado de acordo com as etapas propostas na disciplina de Clínica Integrada I, priorizando a adequação do meio bucal e o controle das lesões 6 existentes. Na primeira fase, realizou-se a profilaxia completa com pedra-pomes e escova de Robson, seguida de raspagem supra e subgengival em todos os sextantes, além de orientações de higiene bucal e posterior reavaliação. Foi também indicada a exodontia da raiz residual do dente 15 e a realização de radiografias periapicais e interproximais para melhor planejamento restaurador e periodontal. Em seguida, deu-se início à fase de controle de lesões, na qual o paciente foi encaminhado para biópsia da lesão labial a fim de confirmar o diagnóstico definitivo. Planejou-se ainda a substituição da restauração infiltrada no dente 36 por material restaurador em resina composta e a restauração do dente 46, inicialmente com cimento de ionômero de vidro (CIV) provisório, seguido de resina composta definitiva. Após essas intervenções, foi programada uma nova reavaliação periodontal para controle dos índices clínicos (PSR e ISS), complementada pornova profilaxia, caso necessário. Por fim, na fase de manutenção, o paciente recebeu reforço das orientações de higiene oral e foi agendado acompanhamento trimestral, com o objetivo de monitorar a saúde bucal e prevenir recidivas. Também foi sugerido o encaminhamento para avaliação de placa miorrelaxante, considerando a persistência do hábito de bruxismo diurno. O prognóstico do caso foi considerado favorável, desde que o paciente mantenha adesão ao tratamento proposto e realize controle adequado dos níveis glicêmicos, tendo em vista a possível interferência da condição sistêmica sobre os tecidos periodontais e cicatrização. Conclui-se que o caso clínico de Maurício evidencia a importância da abordagem na odontologia, especialmente na Clínica I, onde se prioriza a adequação do meio bucal, a eliminação de focos infecciosos e o restabelecimento funcional e estético do sorriso. O tratamento realizado permitiu não apenas a melhoria da saúde oral, mas também a promoção do bem-estar e da autoestima do paciente. Pré - clínica II Durante o exame clínico intraoral do paciente Maurício, foi observada a presença de raiz residual no dente 15, o que indica a necessidade de uma intervenção cirúrgica para sua remoção. Para que esse procedimento ocorra de forma segura e previsível, é fundamental o cumprimento dos princípios básicos da cirurgia oral, considerando também as condições sistêmicas apresentadas pelo paciente, como o nível glicêmico elevado (glicemia em jejum de 180 mg/dL) e histórico familiar de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. O primeiro passo essencial para a execução da cirurgia é a realização de uma anamnese detalhada, que, no caso de Maurício, permitiu identificar fatores importantes tanto do ponto de vista 7 odontológico quanto sistêmico. O paciente relatou desconforto com intervenções anteriores, além de apresentar resistência à busca por atendimento médico, o que exige uma abordagem acolhedora e cuidadosa por parte da equipe clínica. Dentre os princípios cirúrgicos que devem ser considerados, destaca-se a importância do acesso adequado. Isso envolve a capacidade de abertura bucal do paciente e a exposição ampla e segura da área cirúrgica. Um bom acesso permite a realização do procedimento com menor risco de trauma aos tecidos moles e evita complicações, como a dilaceração do retalho, que ocorre quando há necessidade de estender incisões de forma inesperada. Portanto, o ideal é iniciar a cirurgia já com um retalho suficientemente amplo. Outro fator importante é a iluminação adequada do campo operatório. Em muitos casos, a posição do cirurgião ou do assistente pode obstruir a luz do equipo odontológico. Assim, é necessário reposicionar frequentemente a fonte de luz ou utilizar refletores adicionais ou foco cirúrgico frontal, garantindo a visibilidade ideal da região a ser operada. A manutenção de um campo cirúrgico limpo também é essencial. A presença de sangue, saliva ou debris prejudica a visibilidade e aumenta o risco de erros durante o procedimento. Para isso, é indicado o uso de aspiradores cirúrgicos de alta potência com pontas finas, capazes de manter o campo livre de fluidos de forma eficaz. No planejamento do retalho, deve-se atentar para a preservação do suprimento sanguíneo. A base do retalho deve ser mais larga que o ápice, evitando-se ângulos agudos e excessiva tração, que podem comprometer a vascularização e, consequentemente, levar à necrose tecidual. Além disso, para evitar deiscência, ou seja, a abertura da sutura pós-operatória é fundamental que o retalho não esteja sob tensão e que sua manipulação seja feita de maneira delicada. A condição sistêmica de Maurício também interfere diretamente na abordagem cirúrgica. Sua glicemia elevada, associada ao medo de exames e ao desconhecimento do próprio estado de saúde, aumenta os riscos de infecção, dificuldade de cicatrização e possibilidade de hemorragias. Dessa forma, o controle hemostático se torna uma etapa crítica do procedimento. Existem diferentes formas de promover hemostasia durante a cirurgia. A primeira é a compressão direta dos vasos com gaze, o que favorece a coagulação natural, especialmente em vasos de pequeno calibre. Outra opção é a coagulação térmica, realizada com o uso de corrente elétrica para cauterizar vasos sangrantes. Este método exige cuidados específicos, como o aterramento adequado do paciente e a remoção de fluidos do campo operatório, que podem interferir na eficácia da cauterização. Em casos de sangramento persistente, pode ser necessário recorrer à ligadura com suturas não absorvíveis. Isso é indicado quando vasos de maior calibre são rompidos durante a cirurgia. Outra alternativa complementar é o uso de substâncias vasoconstritoras,como a epinefrina, que deve ser aplicada no local antes do início da cirurgia para promover vasoconstrição eficaz. Além disso, agentes hemostáticos, como colágeno ou trombina, também podem ser utilizados para auxiliar no controle do sangramento. O 8 instrumental chamado pinça hemostática é utilizado quando não conseguimos parar o sangramento através da pressão. Esse instrumental tem várias formas, podendo ser pequenas e delicadas ou maiores, retas ou curvas. A pinça hemostática mais usada em cirurgia é a curva. A pinça hemostática tem pontas longas e delicadas, usadas para apreender tecido, e um cabo com cremalheira. O mecanismo de cremalheira possibilita ao cirurgião fixar a pinça hemostática em um vaso e, em seguida, deixar de manusear o instrumental ou deixar um assistente segurá-lo. A ponta da pinça hemostática permanece presa no tecido. Isso é útil quando o cirurgião-dentista pretende colocar uma sutura em torno do vaso ou cauterizá-lo (ou seja, usar o calor para selar o vaso fechado). Além de sua utilização como instrumental para controlar a hemorragia, a pinça hemostática mostra-se especialmente útil em uma cirurgia bucal para remover o tecido de granulação de alvéolo do dente e para pegar pequenas pontas de raízes, pedaços de cálculo, amálgama, fragmentos e quaisquer outras partículas pequenas que tenham caído nas áreas das feridas ou adjacências. Não deve, no entanto, ser utilizada para suturar. Fonte: HUPP, James R.; III, Edward E.; TUCKER, Myron R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. 7. ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, 2021. E-book. p.93. ISBN 9788595157910. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595157910/. Acesso em: 16 out. 2025. Instrumentais: Para a incisão do tecido, utilizamos o bisturi, composto por um cabo e por uma lâmina estéril bem afiada. Normalmente, utiliza-se o cabo de bisturi número 03, sendo a lâmina mais frequentemente empregada em cirurgias intrabucais a de número 15. Fonte: HUPP, James R.; III, Edward E.; TUCKER, Myron R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. 7. ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, 9 2021. E-book. p.93. ISBN 9788595157910. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595157910/. Acesso em: 16 out. 2025. Já para realizar a elevação mucoperióstica, o instrumental mais comumente usado em cirurgia bucal é o elevador periosteal Molt número 9. Utiliza-se a extremidade pontiaguda para iniciar a elevação do periósteo e rebater as papilas entre os dentes, enquanto a extremidade larga e arredondada é destinada a continuar a elevação do periósteo junto ao osso. Fonte: HUPP, James R.; III, Edward E.; TUCKER, Myron R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. 7. ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, 2021. E-book. p.93. ISBN 9788595157910. Disponível em: https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595157910/. Acesso em: 16 out. 2025. Para afastar os tecidos moles, são utilizados os dois afastadores de bochecha mais populares: (1) o afastador de Austin, com ângulo reto, e (2) o afastador de Minnesota, com diversas dobras em ângulos diferentes. Esses instrumentos permitem acesso e visibilidade adequados durante a cirurgia, além de protegerem os tecidos moles da área operada. 10 Fonte: HUPP, James R.; III, Edward E.; TUCKER, Myron R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. 7. ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, 2021. E-book. p.93. ISBN 9788595157910. Disponível em:https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595157910/. Acesso em: 16 out. 2025. Remoção do osso O instrumental mais utilizado para a remoção de osso em cirurgias dentoalveolares, como a que será realizada no caso de Maurício para remoção da raiz residual do dente 15, é a pinça-goiva. Ela possui lâminas afiadas que são pressionadas juntas pelos cabos ao cortar ou apreender o osso. Seu mecanismo de abertura automática, ao liberar a pressão da mão, permite manobras de corte repetidas com mais agilidade. Existem dois modelos principais de pinças-goivas: (1) as de corte lateral e (2) as de corte lateral e terminal. Estas últimas são mais práticas para a maioria dos procedimentos que exigem remoção óssea, podendo ser inseridas nos alvéolos para remoção do osso inter-radicular ou de margens cortantes. As pinças-goivas removem grandes quantidades de osso de forma eficiente e rápida, mas, por serem delicadas, devem ser usadas apenas para pequenas remoções em sequência. Nunca devem ser utilizadas para remoção de dentes, pois isso danificaria o fio de corte e representaria risco de deslocamento do dente para a orofaringe. Por serem instrumentos caros, é fundamental mantê-los bem conservados e afiados. Outro material utilizado para o acabamento da remoção óssea é a lima para ossos. Ela é indicada para o nivelamento final do osso antes da conclusão da cirurgia. Trata-se, geralmente, de um instrumento de ponta dupla, com extremidades de tamanhos diferentes. Não é eficiente para grandes remoções ósseas, sendo usada apenas para acabamento. Os dentes da lima são projetados para funcionar em movimento de tração. Ao empurrá-la contra o osso, ocorre apenas polimento ou esmagamento, o que deve ser evitado. 11 Fonte: HUPP, James R.; III, Edward E.; TUCKER, Myron R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. 7. ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, 2021. E-book. p.93. ISBN 9788595157910. Disponível em:https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595157910/. Acesso em: 16 out. 2025. Sutura Para o fechamento da incisão, utiliza-se o porta-agulha, um instrumento com cabo travável e pontas curtas e arredondadas. Em cirurgias intrabucais, recomenda-se o porta-agulha de 7 polegadas (17 cm). Diferente da pinça hemostática, que tem sulcos paralelos e menor controle sobre a agulha, o porta-agulha possui ranhuras cruzadas em sua face interna, permitindo melhor apreensão da agulha. A técnica de manuseio correta do porta-agulha exige que o cirurgião insira o polegar e o dedo anelar nos anéis, mantendo o dedo indicador ao longo do instrumento para dar estabilidade e controle. O dedo médio auxilia na apreensão. O dedo indicador não deve ser inserido no anel, pois isso compromete o controle do movimento. A agulha utilizada para sutura na mucosa bucal geralmente tem formato semicircular pequeno ou de três oitavos de círculo. Sua curvatura permite acesso em áreas de espaço restrito, onde agulhas retas não alcançariam. Agulhas cortantes, com pontas triangulares, são preferidas para passar pelo mucoperiósteo, pois o atravessam com mais facilidade do que as agulhas cônicas, usadas em tecidos mais delicados como os de cirurgias oculares e vasculares. No caso de Maurício, a sutura será feita com fio de nylon 4-0 mm, utilizando-se a técnica em “X”, adequada para garantir boa captação dos tecidos. O material já vem incorporado à agulha pelo fabricante, o que facilita o manuseio durante o procedimento. Para corte do fio de sutura, será utilizada a tesoura clínica. 12 Fonte: HUPP, James R.; III, Edward E.; TUCKER, Myron R. Cirurgia Oral e Maxilofacial Contemporânea. 7. ed. Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, 2021. E-book. p.93. ISBN 9788595157910. Disponível em:https://app.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788595157910/. Acesso em: 16 out. 2025. Radiologia Diante do caso de Maurício, o Dr. Roberto após inspecionar e palpar a lesão do lábio superior, contou com exames radiográficos para obter mais informações da saúde geral dos dentes do paciente. Ao realizar uma radiografiainterproximal e duas periapicais, na qual a técnica intraoral consiste em produzir uma imagem das estruturas dentais que inclui os osso alveolar, raízes, coroas, câmara pulpar, especialmente as áreas entre eles, tal técnica é mais indicada para comprovar diagnóstico de cárie nos elementos dentários, o profissional detectou que o paciente apresentava o seguinte laudo radiográfico: ● Ausência do elemento dentário: 15 ● Cárie extensa e profunda: 46 ● Imagem sugestiva de recidiva de cárie no dente: 27 ● Imagem sugestiva de recidiva de cárie ou cárie propriamente dita, no dente: 25 (distal) ● Presença de material restaurador radiopaco: 24, 25, 26, 27, 37 ● Presença de material restaurador radiopaco (amálgama): 34, 36 ● Imagem sugestiva de reabsorção óssea alveolar do tipo vertical nos dentes: 35, 36 ● Imagem radiolúcida unilocular circunscrita, sugestiva de cisto periapical no dente: 26 Com os exames radiográficos, foi possível confirmar com maior nitidez a recidiva de cárie no dente 36 causada por infiltração do amálgama, evidenciada por uma imagem radiolúcida adjacente ao material restaurador. Além disso, observou-se uma lesão radiolúcida no dente 46, compatível com comprometimento pulpar. Também na radiografia periapical do dente 25 já é possível confirmar a recidiva de cárie na face distal do mesmo. Ainda na radiografia periapical do dente 36, observa-se uma área de reabsorção óssea vertical localizada na região correspondente ao dente ausente 35. Essa reabsorção ocorre devido à perda do estímulo funcional que o dente exercia sobre o osso alveolar. Após a extração ou perda dentária, o osso alveolar deixa de receber as forças mastigatórias transmitidas pelas raízes, o que leva à reabsorção progressiva desse tecido. Esse processo fisiológico é mais acentuado nos primeiros meses após a perda dentária e tende a se estabilizar ao longo do tempo, podendo resultar em redução significativa da altura e espessura óssea local. A imagem periapical observada no dente 26 interligando já para o dente 13 27 é compatível com lesão radiolúcida unilocular, podendo representar diferentes patologias periapicais, sendo o cisto periapical uma das hipóteses mais prováveis. Essa lesão caracteriza-se por contorno bem definido, forma circular ou ovalada, e pode apresentar halo radiopaco. Está geralmente associada a dentes com polpa necrosada e sem vitalidade. Ressalta-se que o exame radiográfico, por si só, não permite a distinção definitiva entre as lesões periapicais; entretanto, o tratamento endodôntico é indicado na maioria dos casos, não sendo necessária, em um primeiro momento, a realização de exame histopatológico. Fig.3 Radiografia interproximal Fig. 4 Radiografia periapical dente 25 pré-molares lado direito Fig. 5 Radiografia periapical dente 36 Patologia oral Maurício, 35 anos, que procurou atendimento na Clínica Escola de Odontologia da Unichristus apresentando uma lesão em lábio superior com características compatíveis com granuloma piogênico. Trata-se de uma lesão de natureza proliferativa, de caráter inflamatório reativo, geralmente associada a traumas locais ou irritações crônicas. No caso em questão, o paciente relatou que sua queixa principal era a lesão em região de lábio superior, que apareceu inicialmente pequena, entretanto, o paciente afirma que a espremia até arrancá-la, porém, após um tempo a lesão retornava maior. Esses eventos aconteceram por três vezes, até que a lesão ficou grande demais e começou a chamar atenção dos moradores do condomínio em que ele trabalha. 14 Fig.1. Aspecto extraoral paciente Maurício GRANULOMA PIOGÊNICO O granuloma piogênico é um crescimento de tecido conjuntivo que se assemelha a um tumor reativo, porém de natureza não neoplásica. A gengiva é a região mais acometida, entretanto, lábios, língua, e outras áreas da mucosa bucal podem ser afetados. Esta patologia pode acometer pacientes de qualquer idade e ambos os sexos, embora seja mais comum em adultos jovens, com predileção pelo sexo feminino, provavelmente, em virtude da influência hormonal sobre a proliferação vascular. Este motivo explica também o aumento da sua incidência em mulheres durante o período gestacional.Clinicamente, pode ser observado um aumento de volume exofítico, com superfície lisa ou lobulada, implantação séssil ou pedunculada, com coloração, tipicamente, avermelhada e apresentando ocasionais ulcerações.Comumente, é indolor e exibe sangramento espontâneo em virtude da sua alta vascularização.O tamanho pode variar de 0,5 a 2 centímetros de diâmetro, embora possa variar de alguns milímetros a vários centímetros. Em aproximadamente 75% dos casos, a gengiva é o sítio acometido, entretanto, lábios,língua, e outras áreas da mucosa bucal podem ser afetados, o trauma é predominante nesses locais. Fig.2. Aspecto de lesão em lábio superior 15 Na maioria dos casos, o granuloma piogênico é parcial ou completamente revestido por epitélio pavimentoso estratificado. As ulcerações na superfície podem estar presentes, sendo recobertas por membrana fibrinopurulenta. A maior parte da lesão é formada por uma massa lobulada ou não lobulada de reação de granulação. A presença de inúmeros espaços vasculares e a proliferação de células endoteliais são aspectos característicos. A quantidade de fibras colágenas no tecido conjuntivo é variável. O infiltrado inflamatório é, predominantemente, misto, composto por neutrófilos, plasmócitos e linfócitos. O diagnóstico é feito clinicamente e confirmado por biópsia do tecido removido. A biópsia é importante para diferenciar o granuloma piogênico de outras condições, como o granuloma de células gigantes. O tratamento pode envolver a remoção cirúrgica:É o método mais comum.A excisão completa é importante, pois a remoção incompleta pode levar à recidiva da lesão. Outras opções de tratamento que podem ser utilizadas são o uso de laser, raspagem, curetagem, terapia tópica ou injeções intralesionais também podem ser usadas, isoladas ou combinadas. 16 PLANO DE CUIDADO Diante disso, o plano de cuidado proposto para Maurício deve ser conduzido de forma in tegral e acolhedora. O primeiro passo é restabelecer a confiança do paciente no ambiente odontológico, explicando cada procedimento e garantindo uma abordagem tranquila e em pática. A educação em saúde e instrução de higiene oral é essencial, porque é preciso en siná-lo sobre a escovação correta, o uso do fio dental e a importância de manter hábitos de higiene regulares. Também será necessário abordar a relação entre o controle glicêmi co e a saúde bucal, incentivando o acompanhamento médico e a adesão ao tratamento para o diabetes. Em um segundo momento, serão realizadas raspagens e profilaxias para controlar o acú mulo de placa e reduzir a inflamação gengival, além de uma reavaliação periódica para observar a resposta do tecido periodontal. A lesão em lábio superior deve ser removida e encaminhada para exame histopatológico, considerando a possibilidade de se tratar de uma lesão benigna de origem traumática. As restaurações infiltradas e os dentes compro metidos deverão ser tratados, buscando devolver a função e a estética ao sorriso do paci ente. Como Maurício relatou o hábito de apertar os dentes e tensões durante o dia, o caso também requer atenção ao possível bruxismo, a confecção de uma placa miorrelaxante e orientações sobre controle do estresse e relaxamento podem ajudar a melhorar esse qua dro. Por fim, é importante estabelecer um vínculo de cuidado contínuo. Maurício deve retornar periodicamentepara acompanhamento e manutenção, reforçando hábitos saudáveis e prevenindo a progressão das doenças bucais, mais do que restaurar dentes e tratar le sões, este plano busca devolver ao paciente a confiança no próprio sorriso e o entendi mento de que cuidar da boca é também cuidar da sua saúde e bem-estar geral 17 Referências Clínica I ● ANUSAVICE, Kenneth J. Phillips: Materiais Dentários. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. ● STURDEVANT, Clifford M. Arte e Ciência da Odontologia Restauradora: Odontologia Operatória. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. ● BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica n. 17 – Saúde Bucal. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. ● PINTO, Vanessa G. Saúde Bucal Coletiva. 7. ed. São Paulo: Santos, 2013. ● KARRING, Thorkild; LINDHE, Jan; LANG, Niklaus P. Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. ● TEN CATE, Jan Lindhe. 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