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Indaial – 2023 do Adolescente Prof.ª Débora Cristina Modesto Barbosa 2a Edição AssistênciA de enfermAgem nA sAúde dA criAnçA e Elaboração: Prof.ª Débora Cristina Modesto Barbosa Copyright © UNIASSELVI 2023 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. BARBOSA, Débora Cristina Modesto. Assistência de Enfermagem na Saúde da Criança e do Adolescente. Débo- ra Cristina Modesto Barbosa. Indaial - SC: Arqué, 2023. 222p. ISBN 978-85-459-2347-3 ISBN Digital 978-85-459-2348-0 “Graduação - EaD”. 1. Enfermagem 2. Criança 3. Adolescente CDD XXXXX Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 A enfermagem tem papel de destaque nas ações realizadas junto aos serviços de saúde e a população como um todo, visto que está presente, de forma atuante e necessária, em todas as fases do ciclo de vida dos indivíduos, seja com o propósito de promover saúde, realizar prevenção de doenças, articular a proteção e/ou favorecer a recuperação e reinserção dos indivíduos em seus espaços de origem. O grande diferencial deste profissional é que apesar de suas ações serem fundamentadas na literatura atual, embasadas em evidências científicas e clínicas, e sustentadas por recomendações, toda sua aplicação é realizada de forma singular, articulada e colaborativa junto ao serviço de saúde, equipe multiprofissional e planos de cuidado. Para que isso seja possível, os enfermeiros apresentam possibilidades de atuação, divididas em três grandes áreas: Área 1 (Saúde Coletiva; Saúde da Criança e do Adolescente; Saúde do Adulto; Saúde do Idoso e Urgência e Emergência); Área 2 (Atividades de Gestão) e Área 3 (Atividades de Ensino e Pesquisa) (COFEN, 2020). Cada uma dessas linhas de atuação tem suas particularidades, especificidades e demandas, e assim, exige que o profissional tenha um olhar crítico, reflexivo e assertivo para a realidade atual. Para tanto, é fundamental que o profissional enfermeiro tenha clareza dos principais elementos que sustentam essas grandes áreas e suas possibilidades de atuação. Neste material, direcionaremos nossa abordagem para a grande Área 1, mais especificamente para a Saúde da Criança e do Adolescente. Assim, este material tem o propósito de fazer um convite a você, para que juntos possamos explorar a evolução histórica, as políticas atuais e a atuação do enfermeiro no cenário que permeia a Assistência de Enfermagem na Saúde da Criança e do Adolescente. Para tanto, a proposta é termos um material que consiga trazer com clareza, objetividade e atualidade, os principais pontos sobre essa temática. Preparados? Para que sua trajetória seja a mais produtiva possível, dividimos o material em três Unidades: Unidade 1, Unidade 2 e Unidade 3, que apesar de terem características específicas, estão bem articuladas. Inicialmente, na Unidade 1, nomeada como Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente: políticas e indicadores de saúde, realizaremos um resgate histórico dos principais aspectos que influenciaram as políticas de saúde da criança e do adolescente, principais marcos para que houvesse a criação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) e a Política Nacional de Atenção à Saúde Integral de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ), assim como seus princípios, diretrizes e eixos estratégicos. APRESENTAÇÃO Ainda nesta unidade serão abordados os principais indicadores da saúde da criança e do adolescente, assim como os principais programas, iniciativas e ações, direcionados para esse grupo e realizados em escolas e Unidades Básicas de Saúde (UBS). Teremos assim, nesta unidade, uma visão panorâmica de toda a política que permeia as ações direcionadas para a criança e o adolescente, além do impacto das ações produzidas junto a essa população e adequação dos serviços de saúde e educação. Muita coisa, né? Mas será a base para você entender o que iremos apresentar nas Unidades 2 e 3, que é como o enfermeiro se destaca neste cenário e quais ações são produzidas por ele para impactar os problemas vivenciados por esse grupo populacional. Então, após na Unidade 1, oferecemos as condições de construir um olhar crítico e reflexivo sobre a temática. Nas Unidades 2 e 3, utilizaremos a diversidade das condições de vida, de trabalho e do panorama epidemiológico que encontramos nos diversos municípios, para verificar como identificar as diferentes características de problemas e necessidades da população infantil e adolescente, e consequentemente, como estruturar as ações para esses grupos, pois, você enfermeiro, é o responsável por adequar as recomendações existentes ao cenário atual, seja identificando prioridades, elaborando planos de intervenções ou articulando a rede de atenção. Preparado para atuar nesta jornada? Vamos, então, conhecer mais sobre a Unidade 2. Na Unidade 2, direcionaremos os estudos à Assistência de Enfermagem na Saúde da Criança, em que a abordagem requer um olhar mais prático e de atuação direta. Serão abordados os aspectos relacionados ao atendimento realizado à criança nos diversos níveis de atenção, a consulta de enfermagem detalhadamente, incorporando acompanhamento de desenvolvimento, monitorização de crescimento, exame físico, além de todas as orientações e intervenção previstas como: aleitamento materno, higiene oral, complementação vitamínica, introdução alimentar, prevenção de acidentes, calendário vacinal, entre outras. Nesta unidade também abordaremos os principais problemas de saúde na faixa etária, formas de prevenção, acompanhamento e reabilitação, ações de conteúdos para grupos educativos. Esta unidade é bem prática e abre a possibilidade de você se identificar com a área de saúde da criança, pois demonstra claramente o que é feito pelo enfermeiro e o impacto disso na saúde da criança. Por fim, na Unidade 3, intitulada Assistência de Enfermagem na Saúde do Adolescente, aprenderemos as ações direcionadas para o atendimento ao adolescente. A abordagem inicial apresenta as ações que podem ser realizadas nos diversos níveis de atenção, mas depois direciona para a assistência de enfermagem, onde aprofundamos os aspectos sobre a consulta de enfermagem, a avaliação do crescimento e desenvolvimento puberal, a alimentação e principais agravos decorrentes de transtornos alimentares e emocionais, além de situações de risco e avaliação para Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), gravidez na adolescência, violência, suicídio e autolesão. E como as ações não são apenas individuais, também serão apresentadas algumas possibilidades de abordagem coletiva e grupal, que comprovadamente repercutem em indicadores direcionados à adolescência. Diante disso, esperamos que com esse material, consigamos instrumentalizar a enfermagem para atuar de forma mais assertiva, humana e atualizada. Seguindo os preceitos do sistema de saúde vigente, com condutas baseadas em evidências e coerentes com os condicionantes e determinantes de saúde. Pronto para começar essa trilha de aprendizagem? Aproveite o material compartilhado e deixe a área de Saúde da Criança e do Adolescente conquistar você. Um ambiente de aprendizagem é construído diariamente! Bom estudo! Profª Drª. Débora Cristina Modesto Barbosa Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionaisde saúde disponíveis nas redes temáticas, em especial aquelas desenvolvidas na rede de saúde materna, neonatal e infantil – Rede Cegonha, e na Atenção Básica. RESUMO DO TÓPICO 1 23 AUTOATIVIDADE 1. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Considera-se: a) ( ) criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos. b) ( ) adolescente, para os efeitos desta Lei, a pessoa de dez a dezoito anos incompletos de idade. c) ( ) criança, para os efeitos desta Leia, a pessoa de cinco a nove anos de idade incompletos. d) ( ) adolescente, para efeito desta Lei, a pessoa entre doze e vinte e um anos. 2. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são oito grandes objetivos globais pactuados pelos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), que propõem metas, que quando colocadas em prática, impactam na possibilidade de o mundo progredir de forma rápida, duradoura e impactante, principalmente rumo à eliminação da extrema pobreza e da fome do planeta. Com base nos objetivos e metas do ODM, analise as sentenças a seguir: I- Dentre esses ODM, o que visa à saúde e bem-estar, tem o propósito de assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para as crianças entre zero e nove anos de idade. II- Uma das metas prevê que, até 2040, os países das Nações Unidas devam reduzir a mortalidade neonatal e de crianças menores de 5 anos, para menos de 2 e 5 por 1.000, respectivamente. III- Para Brasil, a meta é de reduzir a mortalidade neonatal para no máximo 5 por mil nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para no máximo 8 por mil nascidos vivos, até 2030. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 24 3. Leia com atenção o seguinte objetivo: promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, mediante a atenção e cuidados integrais e integrados da gestação aos 9 (nove) anos de vida e para que isso ocorra, é fundamental que seja direcionada atenção especial à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento. Assinale com (V) as afirmativas corretas e com (F) as falsas: ( ) Promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, mediante a atenção e cuidados integrais e integrados. ( ) A população alvo da política vai da gestação aos 9 (nove) anos de vida, por ser essa. ( ) Á primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4. Com o propósito de superar esses entraves decorrentes de condicionantes e determinantes sociais; reduzir vulnerabilidade, risco de adoecimento, morte atual e na vida adulta; amenizar os desafios da melhoria dos indicadores, proporcionando a efetivação de medidas que permitam o nascimento, desenvolvimento e crescimento adequado; e proporcionar uma atenção de qualidade, humana, baseada em evidências e resolutiva, a PNAISC é organizada em sete eixos estratégicos de ação. Cite os sete eixos estratégicos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) e discorra sobre o eixo estratégico VII: 5. Na rede de saúde a articulação é fundamental, desde o nascimento, com a alta responsável pela maternidade, utilizando a Caderneta de Saúde da Criança e já com agendamento do “5º Dia de Saúde Integral” da mãe e bebê, que deverá ser realizada pela equipe de Atenção Básica. O 5º Dia de Saúde Integral é previsto no eixo estratégico I-Atenção Humanizada e Qualificada à Gestação, ao Parto, ao Nascimento e ao Recém-Nascido da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC). Neste contexto, disserte sobre 5º Dia de Saúde Integral. AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022. 25 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS (PNAISAJ) 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, o Brasil vem passando por uma modificação demográfica importante, devido à queda das taxas de mortalidade infantil e natalidade e o aumento da expectativa de vida populacional. O ritmo de crescimento da população adolescente e jovem desacelerou, mas ainda representa um percentual importante, alcançando patamares de pouco mais de 1/3 da população brasileira (51.402.821 pessoas -36,89%) segundo Censo de 2010 (IBGE, 2020). Assim, a população de adolescentes e jovens de 10 a 24 anos de idade é significativa, e consequentemente, demandam de atenção dos serviços de saúde. Mas por que a necessidade dessa atenção para uma população muitas vezes classificada como “saudável”? Muitos dos hábitos desencadeadores de agravos e doenças são adquiridos nessa faixa etária, assim como é neste estágio da vida que a influência do contexto social e das desigualdades, ganham nova notoriedade. Acadêmico! No Tema de Aprendizagem 2, nós abordaremos a Política Nacional de Atenção à Saúde Integral de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ). UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 CONSIDERAÇÕES SOIBRE POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS Numa perspectiva de análise do contexto histórico, a proposta preliminar da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens – PNAISAJ se constitui numa revisão e ampliação de políticas já anteriormente engendradas no âmbito do Sistema de Atenção à Saúde a este segmento populacional, como o Programa de Saúde do Adolescente – PROSAD no final da década de 1980. Inaugura, assim, uma nova compreensão sobre o papel dos adolescentes e jovens em sua inserção social e institui uma política de governo mais estável e permanente para esta população, para além do caráter programático e, portanto, mais suscetível à descontinuidade, da política anteriormente estabelecida (LOPEZ; MOREIRA, 2013). Mas antes de falarmos sobre a proposta preliminar da PNAISAJ, vamos conversar sobre alguns conceitos importantes. Highlight 26 2.1 ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE O Ministério da Saúde segue a convenção elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que delimita o período entre 10 e 19 anos, 11 meses e 29 dias de idade como adolescência, e o situado entre 15 e 24 anos como juventude. Há, portanto, uma interseção entre a segunda metade da adolescência e os primeiros anos da juventude (BRASIL, 2010). As fronteiras etárias são um marco abstrato útil para a delimitação de políticas e de estratégias, mas na vida concreta e na experiência individual das pessoas, as fronteiras da adolescência e da juventude não estão dadas de modo homogêneo e fixo (BRASIL, 2010). Assim, quando discutimos as diferenças dos dois conceitos, parece ser mais adequado utilizar o parâmetro etário, do que efetivamente as vivências, experiências e significados da vida. Além dessa diversidade é importante considerar adolescência e a juventude como processos complexos de emancipação, com fronteiras plásticas e móveis, que não se restringem à passagem da escola para o trabalho e envolvem três dimensões interdependentes: a macrossocial, na qual se situam as desigualdades sociais como as de classe, gênero e etnia; a dimensão dos dispositivos institucionais que reúne os sistemas de ensino, as relações produtivase o mercado de trabalho e, finalmente, a dimensão biográfica, ou seja, as particularidades da trajetória pessoal de cada indivíduo. Adota ainda o termo “pessoas jovens” para se referir ao conjunto de adolescentes e jovens, ou seja, à abrangente faixa compreendida entre 10 e 24 anos (BRASIL, 2010). Adolescentes e jovens das classes marginalizadas, inclusive indígenas, ciganos e jovens de outros povos tradicionais, além de estarem submetidos a um maior risco de serem vitimizados pelas modalidades de violência que ocorrem indistintamente em todos os segmentos sociais, são vitimados (de forma exclusiva ou, ao menos, preferencial) pelas expressões da violência estrutural – discriminação social, racismo, dificuldade de acesso aos serviços públicos, falta de oportunidades, dentre outras (BRASIL, 2010). 2.2 FALANDO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS (PNAISAJ) A proposta preliminar da PNAISAJ, que tem como última versão datada de 2007, tem o propósito de proporcionar uma revisão e ampliação de políticas já existentes, como o previsto pelo Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD), criado no final da década de 80 (LOPEZ; MOREIRA, 2013). Pensando que o perfil populacional tem sofrido grandes e importantes modificações no passar dos anos, e é esperado que as políticas vigentes tenham a mesma dinamicidade de atualização (para que suas estratégias tenham maior impacto 27 e realmente atinjam a população), é fundamental que tenhamos a promulgação de uma política nacional de atenção integral, que vise ao protagonismo juvenil, identificando suas necessidades específicas e definindo suas prioridades (LOPEZ; MOREIRA, 2013). Os mesmos autores citados descrevem que primeiramente, amplia o limite superior da faixa etária da população a ser contemplada pelas suas ações programáticas, anteriormente definidas como dos 10 aos 19 anos, sendo agora proposta para o grupo etário dos 10 aos 24 anos. Com isso, uma parcela da população fora da faixa etária considerada como pertinente à adolescência – a qual se encerra aos 19 anos – é compreendida em uma transitoriedade da adolescência para a vida adulta num continuum vivenciado como juventude. Em segundo lugar, propõe outra perspectiva da adolescência não como uma etapa crítica, uma etapa problema do ciclo de vida do indivíduo, mas uma perspectiva dos adolescentes e jovens como sujeitos de direito, construtores de suas próprias histórias de vida, participantes e corresponsáveis pelos processos sociais dos quais tomam parte. Em terceiro lugar, propõe uma mudança de perspectiva da atenção à saúde desta população de um olhar sobre a doença e seus agravos para a atenção básica como estratégia política de promoção da saúde a esse segmento populacional, haja vista o grau de resolutividade deste nível de atenção na população jovem. Por fim, considera a perspectiva relacional de gênero como um fator que participa dos condicionantes sociais de saúde-doença para este segmento expressivo da população. Tanto a proposta preliminar da proposição de uma PNAISAJ, quanto o texto das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, submetido e aprovado pela Comissão Tripartite em novembro de 2009, instituem como eixos estratégicos comuns para a saúde integral da população de adolescentes e jovens: (a) o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento saudáveis, onde se declaram as preocupações em assegurar as condições ambientais e individuais que favoreçam o pleno desenvolvimento e crescimento do adolescente e jovem, conforme seu repertório biológico, e (b) o foco na saúde sexual e saúde reprodutiva, ao atuar da prevenção e na intervenção precoce junto aos adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade e risco, favorecendo a promoção da saúde e a prevenção de doenças e agravos na idade adulta, com o incentivo à equidade de gênero e ao cuidado de si entre os adolescentes e homens jovens (BRASIL, 2018). Quando falamos especificamente sobre a adolescência e a juventude, é possível entender que são “construções culturais e sociais que têm uma base material vinculada à idade” (BRASIL, 2017, p. 16). Ao trabalharmos com esse conceito de ciclos etários, no Brasil, adolescentes e jovens são definidos por diferentes aspectos, emergindo opiniões diferenciadas quanto às formas de situá-los nos marcos referenciais que os caracterizam. Já citamos acima as diferencias de classificação e voltaremos a descrever outras classificações segundo novos documentos. 28 O Ministério da Saúde adota a defi nição de adolescência prescrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que caracteriza o período de: - Adolescência: 10 e 19 anos. - Juventude: 15 a 24 anos (BRASIL, 2010). Agora, quando avaliamos o Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013), a defi nição de juventude segue estratos distintos: - adolescentes-jovens: dos 15 a 17 anos; - jovens-jovens: dos 18 a 24 anos; - jovens-adultos: dos 25 a 29 anos. ATENÇÃO Outro ponto importante de se ressaltar são os marcos legais como a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – 1990) e a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (1989) – ratifi cada pelo Brasil em 1990, que introduziram ordenamento jurídico para a concepção de criança e adolescentes como sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento. Tanto a proposta preliminar da proposição de uma PNAISAJ, quanto o texto das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, submetido e aprovado pela Comissão Tripartite em novembro de 2009, instituem como eixos estratégicos comuns para a saúde integral da população de adolescentes e jovens: (a) o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento saudáveis, em que se declaram as preocupações em assegurar as condições ambientais e individuais que favoreçam o pleno desenvolvimento e crescimento do adolescente e jovem, conforme seu repertório biológico, e (b) o foco na saúde sexual e saúde reprodutiva, ao atuar da prevenção e na intervenção precoce junto aos adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade e risco, favorecendo a promoção da saúde e a prevenção de doenças e agravos na idade adulta, com o incentivo à equidade de gênero e ao cuidado de si entre os adolescentes e homens jovens (LOPEZ; MOREIRA, 2013). 29 2.3 DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS NA PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DA SAÚDE As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde é o documento que norteia a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ) (BRASIL, 2010). A proposta é sensibilizar gestores para que construam uma visão holística do ser humano e que assim, consigam empregar uma abordagem sistêmica das necessidades dessa população. (BRASIL, 2017). Outro ponto importante é o fato de buscar apontar para a importância da construção de estratégias interfederativas e intersetoriais que contribuam para a modificação do quadro nacional de vulnerabilidade de adolescentes e de jovens, influindo no desenvolvimento saudável desse grupo populacional (BRASIL, 2010). Sob esse marco legal, os adolescentes e jovens, independentemente de sexo, raça, cor, origem ou qualquer outra condição, terão seus direitos garantidos por meio de ações eficazes que lhes proporcionarão a formação da consciência cidadã para a construção de uma sociedade equânime e livre (BRASIL, 2017). Com as Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de Jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde espera-se um maior fortalecimento da promoção da saúde nas ações para o cuidado integral à saúde de adolescentes e de jovens e reorientação dos serviços de saúde para favorecera capacidade de respostas para a atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens. No caso do fortalecimento da Promoção da Saúde nas Ações para o Cuidado Integral à Saúde de Adolescentes e de Jovens, é sabido que o processo de saúde- adoecimento está intimamente relacionado a múltiplos determinantes sociais, evidenciando a impossibilidade do setor sanitário de responder sozinho a essa realidade. Mas, ao mesmo tempo, é exigido estratégias dos serviços de saúde, que favoreçam a integração com outras políticas setoriais e tecnologias para a defesa da vida e para a garantia de opções saudáveis para a população. Quando avaliada a situação de saúde de adolescentes e jovens é percebido grandes dificuldades de acesso à educação, o desemprego, as profundas desigualdades sociais, o meio ambiente degradado, a morbimortalidade por violências, dentre outras, apontando para o impacto causado na saúde de pessoas jovens (BRASIL, 2010). 30 Com isso, esse segmento populacional pode ficar vulnerável aos agravos resultantes do uso abusivo e álcool e de outras drogas; agravos resultantes das violências; de doenças sexualmente transmissíveis e Aids; à mortalidade materna; na saúde sexual e na saúde reprodutiva, ao início ou ao estabelecimento de doenças crônicas, o que interfere no crescimento e desenvolvimento saudáveis (BRASIL, 2010). Assim, a diretriz evidencia a importância da promoção à saúde na produção de saúde de adolescentes e de jovens, enfatizando a necessidade de se estabelecer processos de intervenção intersetoriais e interdisciplinares, de ampliação e diversificação das práticas sanitárias, de mudanças na gestão e no trabalho das equipes de saúde para a construção complementar e de intercâmbio entre esses dois campos da atenção à saúde: • o envolvimento dos sujeitos e coletivos, desenvolvendo a autonomia e a participação conjunta na construção de ambientes saudáveis que reduzam o adoecimento e comprometam a todos na integração (fortalecimento da promoção da saúde nas ações para o cuidado integral à saúde de adolescentes e de jovens) e • o desenvolvimento das ações de promoção, favorecem a sustentabilidade e a efetividade das ações intersetoriais do SUS (reorientação dos serviços de saúde para favorecer a capacidade de respostas para a atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens) (BRASIL, 2010). Assim, é fundamental que a reorientação dos serviços de saúde ocorra de forma gradual e duradoura, para que os cuidados sejam desenvolvidos por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, considerando as demandas, processos e realidades vivenciadas, assumindo assim a responsabilidade sanitária desta população (BRASIL, 2010). A Atenção Básica ganha destaque, visto que evidências mostram que mais de 80% dos problemas de saúde podem ser solucionados na Atenção Básica. Mas apesar dessa alta taxa de resolubilidade, é fato, no entanto, que os serviços de saúde encontram dificuldades em atender adolescentes e jovens que passam pelo SUS “invisibilizados” por não serem reconhecidos em sua especificidade etária (BRASIL, 2010). 3 ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE NA ATUALIDADE A publicação das Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde, pelo Ministério da saúde, confirma e sistematiza as questões abordadas sobre necessidade e limitações de ações direcionadas à saúde do adolescente. Entretanto, há importante dissociação entre projetos sociais e de saúde na área pública e a possibilidade concreta de realizá-los. Em especial, há desencontro entre o que se oferece e aquilo que é capaz de atrair o adolescente para o acompanhamento de sua saúde (GRILLO, 2011). 31 É importante ressaltar a relevância do Programa Saúde na Escola (PSE), criado em 2007, como estratégia intersetorial dos Ministérios da Saúde e da Educação. Esse programa tem como perspectiva ampliar as ações específicas de saúde aos alunos da Rede Pública de Ensino, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e Educação de Jovens e Adultos (GRILLO, 2011). Outra estratégia que precisa ser melhor adequada é o uso e implementação da caderneta de saúde do adolescente. A caderneta foi lançada em 2009 e tem sido acompanhada pelos profissionais de saúde da escola, de forma articulada e complementar. Dessa forma, a caderneta reúne informações importantes sobre mudanças corporais, saúde sexual e reprodutiva, saúde bucal, alimentação e prevenção de doenças. Iremos comentar mais sobre ela na Unidade 3. 3.1 TEMAS ESTRUTURANTES PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS A construção dos eixos estruturantes prevê a organização de ações de promoção, considerando, principalmente, o desenvolvimento e o bem-estar humano em suas diversas dimensões. O adolescente é visto neste cenário como: • adolescentes e jovens como sujeitos plenos de direitos; • socialmente mais responsáveis e mais cooperativos; • com capacidade de posicionamento frente à vida e à sua saúde. As ações realizadas devem basear-se no conceito de promoção da saúde. E para o cumprimento dessas ações é necessário o engajamento de sujeitos e coletivos, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e da participação conjunta, para a construção de ambientes saudáveis (BRASIL, 2015a). O grande objetivo da estruturação dos eixos é criar esse ambiente em que com essas ações, os adolescentes e jovens “descobrem-se como autores de suas vidas e passam a desempenhar um papel de protagonismo no exercício da cidadania e nas interações e práticas cotidianas” (BRASIL, 2010, p. 52). Assim, as diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2010) preveem sete temas estruturantes “que complementam o conjunto de oportunidades e facilidades com o objetivo de favorecer o desenvolvimento físico, o mental, moral, o espiritual e o social de crianças e adolescentes”, preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2015, p. 16). 32 Figura 5 – Temas estruturantes previstos nas diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde, 2010de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde, 2010de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde, 2010 Fonte: o autor É importante frisar que esses processos de intervenção devem ser intersetoriais e interdisciplinares, para complementarem e intercambiarem os dois campos da atenção à saúde: a promoção de modos de vida saudáveis e o cuidado qualifi cado à saúde (BRASIL, 2010; 2015b), conforme vemos na Figura 6. Figura 6 – Promoção da Saúde segundo temas estruturantes previstos nas diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde, 2010 Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnps_revisao_portaria_687.pdf. Acesso em: 31 mar. 2023. 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tema de aprendizagem, você estudou: • A proposta de inserção da Política Nacional de Atenção à Saúde Integral de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ). • As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. • As diferentes classificações de jovens e adolescentes. • Os temas estruturantes para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens. 34 AUTOATIVIDADE 1. As categorias adolescências e juventudes são construções culturais e sociais, que têm uma base material vinculada à idade. A condição etária aparece em todas as sociedades como um dos principais eixos ordenadores das políticas públicas e das ações sociais. Na realidade brasileira, adolescentes e jovens são definidos por diferentes aspectos, emergindo opiniões diferenciadas quanto às formasde situá-los nos marcos referenciais que os caracterizam. Sobre definição de adolescência e juventude adotada pelo Ministério da Saúde, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Adolescência: 10 e 19 anos. b) ( ) Juventude: 20 a 24 anos. c) ( ) Adolescentes-jovens: dos 10 a 15 anos. d) ( ) Jovens-adultos: dos 18 a 24 anos. 2. As Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde é o documento que norteia a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ). Com base nas definições e propostas da diretriz, analise as sentenças a seguir. Outro ponto importante é o fato de (BRASIL, 2010, p. 11). Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 132 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_ nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_ promocao_saude.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. I- A proposta é sensibilizar gestores para que construam uma visão holística do ser humano e que assim, consigam empregar uma abordagem sistêmica das necessidades dessa população; II- Aponta a importância da construção de estratégias interfederativas e intersetoriais que contribuam para a modificação do quadro nacional de vulnerabilidade de adolescentes e de jovens; III- Sob esse marco legal, os adolescentes e jovens, independentemente de sexo, raça, cor, origem ou qualquer outra condição, terão seus direitos garantidos por meio de ações eficazes. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. 35 c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3. O processo de reflexão sobre os temas estruturantes, propostos nestas diretrizes, é fundamental nas ações de promoção do desenvolvimento e o bem-estar humano em sua multidimensionalidade. Favorece a incorporação nas ações de saúde e na rede de atenção à saúde de novos subsídios voltados para o reconhecimento dos adolescentes e jovens como sujeitos plenos de direitos, socialmente mais responsáveis e mais cooperativos, com capacidade de posicionamento frente à vida e a sua saúde. De acordo com os temas estruturantes para a atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas para a assertiva em que TODOS os itens são contemplados como temas pelas Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde: ( ) Participação juvenil; equidade de gêneros; direitos sexuais e direitos reprodutivos; projeto de vida; cultura de paz; ética e cidadania; igualdade racial e étnica. ( ) Equidade de gêneros; direitos sexuais e direitos reprodutivos; projeto saúde na escola; cultura de comunidade; ética e cidadania; igualdade racial e étnica. ( ) Direitos sexuais e direitos reprodutivos; projeto saúde na escola; cultura de paz; ética e cidadania; participação infantojuvenil; equidade racial e étnica; igualdade de gênero. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4. Desenvolvida para ser instrumento de apoio aos profissionais e aos adolescentes, a Caderneta de Saúde de Adolescentes está disponível para ser utilizada nos serviços de saúde, em ações educativas na comunidade e nos equipamentos da Assistência Social. Seu objetivo é o de promover a autodescoberta e o autocuidado dos adolescentes, através de informações precisas e integrais sobre essa fase do desenvolvimento. Disserte sobre as principais informações contidas na caderneta de Saúde do Adolescente. 5. Com as Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e de Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde tem-se com metas um maior fortalecimento da promoção da saúde nas ações para o cuidado integral à saúde de adolescentes e de jovens e reorientação dos serviços de saúde para favorecer a capacidade de respostas para a atenção integral à saúde de adolescentes e de jovens. Discorra sobre essas duas metas. AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022. 36 37 TÓPICO 3 - ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES – PRINCIPAIS INDICADORES, PROGRAMAS E INICIATIVAS 1 INTRODUÇÃO Ao avaliar o contexto socioeconômico da criança e do adolescente no Brasil, identificamos que quase 27 milhões de crianças e adolescentes, ou seja 49,7% do total dessa população, têm um ou mais direitos negados (educação, informação, moradia, saneamento, água e trabalho infantil), o chamado privação múltipla. E quando avaliada a pobreza monetária, temos que 61% desse grupo são pobres, vivendo com famílias com renda insuficiente segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (UNICEF, 2018). Esses dados que já eram alarmantes, mas, com a pandemia, tornaram-se ainda mais desafiadores. A pobreza multidimensional na infância e na adolescência, segundo o relatório mais atual da UNICEF, atinge 63,1% da população brasileira de até 17 anos. As meninas e meninos negros, que vivem em famílias pobres monetariamente, moradores da zona rural e das Regiões Norte e Nordeste do país, são os mais afetados (UNICEF, 2018). É importante conhecer esses dados, sua distribuição e evolução, pois assim, conseguimos ter clareza da importância das ações direcionadas à saúde da criança e do adolescente e o impacto em alguns indicadores de saúde. Apesar desse cenário relatado, um aspecto positivo vivenciado pelo país, é que a taxa de mortalidade infantil, desde 1990, vem apresentando quedas progressivas, reduzindo o risco de um nascido vivo morrer antes de chegar a um ano de vida. Então, acadêmico, nossa intenção no Tema de Aprendizagem 3, é abordar os principais indicadores de saúde referente à saúde da criança e do adolescente, aos principais aspectos de morbimortalidade e aos programas e iniciativas para a saúde da criança e do adolescente, principalmente, em ações realizadas nas escolas e em Unidades Básicas de Saúde. 2 ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES – PRINCIPAIS INDICADORES A taxa de mortalidade infantil é um importante indicador de saúde e condições de vida de uma população, visto que através dele é possível estimar risco de um nascido vivo morrer antes de chegar a um ano de vida (BRASIL, 2009b). UNIDADE 1 38 Países que apresentam valores elevados, tendem a possuir precárias condições de vida e saúde, além de baixo nível de desenvolvimento social e econômico (BRASIL, 2009b). A Taxa de Mortalidade Infantil (Coefi ciente de Mortalidade Infantil) é calculada através da divisão entre o número de óbitos de menores de um ano de idade (numerador) e a população residente em determinado espaço geográfi co, no ano considerado (denominador), por mil nascidos vivos, conforme fi gura 7 (BRASIL, 2009a). ATENÇÃO Figura 7 – Cálculo da taxa de mortalidade infantil (coefi ciente de mortalidade infantil) Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. Ao avaliarmos os componentes de coefi ciente de mortalidade infantil temos outros três indicadores: • o coefi ciente de mortalidade neonatal precoce; • o coefi ciente de mortalidade neonatal tardia; • o coefi ciente de mortalidade pós-neonatal. Vamos saber mais sobre cada um desses componentes? • A taxa de mortalidade neonatal precoce (coefi ciente de mortalidade neonatal precoce). 39 Figura 8 – Cálculo da taxa de mortalidade neonatal precoce (coefi ciente de mortalidade neona- tal precoce) Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. • A taxa de mortalidade neonataltardio (coefi ciente de mortalidade neonatal tardio). Figura 9 – Cálculo da taxa de mortalidade neonatal tardio (coefi ciente de mortalidade neonatal tardio) Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. • A taxa de mortalidade pós-neonatal (coefi ciente de mortalidade pós-neonatal). Figura 10 – Cálculo da taxa de mortalidade neonatal tardio (coefi ciente de mortalidade neonatal tardio) Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_obito_infantil_fetal_2ed.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. A Taxa de Mortalidade Infantil (Coefi ciente de Mortalidade Infantil) é usada para: – Estimar o risco de morte dos nascidos vivos durante o seu primeiro ano de vida; – Refl etir, de maneira geral, as condições de desenvolvimento socioeconômico e infraestrutura ambiental; – Refl etir o acesso e a qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde materna e da população infantil; – Expressar um conjunto de causas de morte cuja composição é diferenciada entre os subgrupos de idade (componentes da mortalidade infantil) (BRASIL, 2009a). E a taxa de mortalidade de menores de cinco anos? Será que é uma medida também utilizada? Vamos olhar com cautela a Figura 11. 40 Figura 11 – A taxa de mortalidade de menores de cinco anos: a medida indispensável da saúde infantil Fonte: https://www.unicef.org/brazil/media/156/fi le/Pobreza_na_Infancia_e_na_Adolescencia. pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. E quando avaliado cada componente, é possível fazer uma leitura de quais aspectos têm impactado mais no indicador de mortalidade infantil. Se as questões intrínsecas, como doença pregressa materna e/ou fetal, pré-natal inadequado, sem qualidade e falta de acesso ao parto e as necessidades do recém- nascido. Cenário que pode ser investigado devido a altas taxas de mortalidade neonatal precoce e tardia, que estima o risco de um nascido vivo morrer durante a primeira semana de vida ou entre 7 e 27 dias, por mil nascidos vivos, em determinado espaço geográfi co, no ano considerado. Ou se são as questões extrínsecas, como pobreza, alimentação insegura, falta de saneamento básico, baixos níveis de saúde, de desenvolvimento socioeconômico e de condições de vida que repercutem mais na taxa. A taxa de mortalidade pós-neonatal, que estima o risco de um nascido vivo morrer, entre 28 a 364 dias de vida completos, por mil nascidos vivos, em determinado espaço geográfi co, no ano considerado. Quando a taxa de mortalidade infantil é alta, a mortalidade pós-neonatal é usualmente o componente mais elevado (BRASIL, 2009). ATENÇÃO 41 Avaliando esses indicadores no Brasil, foi possível observar importante redução na mortalidade infantil nas últimas décadas. Até 1990, a taxa de mortalidade infantil, assim como seus componentes (mortalidade neonatal e pós-neonatal), apresentava valores expressivos, sendo um gradiente importante, as desigualdades socioeconômicas regionais. Mas a partir do momento que assumiu compromissos internacionais, o país passou a promover o “desenvolvimento de várias políticas e estratégias que resultaram na redução signifi cativa da mortalidade infantil” (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). A fi gura 12 descreve os principais fatores que repercutiram na redução da taxa de mortalidade infantil nas últimas décadas. Figura 12 – Principais fatores que infl uenciaram a redução de mortalidade infantil nas últimas décadas Fonte: o autor É importante entender os determinantes dessas mortes precoces, pois são consideradas mortes evitáveis. O acesso ao serviço de saúde em tempo oportuno, com serviços de qualifi cados e organizados, favorecem a redução dessa taxa. Mas como, na maioria das vezes, são óbitos decorrentes de uma combinação de fatores biológicos, sociais, culturais e de falhas do sistema de saúde, é preciso avaliar esse indicador de forma multifatorial. As intervenções dirigidas a sua redução dependem, portanto, de mudanças estruturais relacionadas às condições de vida da população, assim como de ações diretas defi nidas pelas políticas públicas de saúde (BRASIL, 2009a). Para compreender melhor esse cenário declínio nas taxas, ao avaliarmos as estimativas indiretas da Taxa de Mortalidade Infantil, entre 1930 e 1970, é possível identifi car um leve declínio, passando de 162 para 115 por mil nascidos vivos, uma queda de aproximadamente 1% ao ano (BRASIL, 2016; IBGE, 2020). Essa redução tornou-se progressiva, tanto que nos anos 1970, a redução anual da mortalidade infantil foi de 3,2% alcançando 83/1.000 nascidos vivos em 1980. Entre 1980 e 1990, a redução foi 42 mais acentuada, de 5,5%. Mas é entre 1990 e 2012 que esse indicador sofre o maior impacto, passando de 47,1 óbitos por mil nascidos vivos em 1990 para 14,6 em 2012, contabilizando uma diminuição de aproximadamente 70%. Por mais que tenhamos um país de extenso território e com diferenças importantes entre suas regiões, essa queda foi percebida em todas as regiões brasileiras. O Nordeste ganha notoriedade neste cenário, pois na década de 1990 apresentava taxas acima das demais regiões (75,8 óbitos por mil nascidos vivos) e em 2012 apresentou 17,1 óbitos por mil nascidos vivos) (BRASIL, 2014). Figura 13 – Tendência secular da taxa de mortalidade infantil, entre 1990, 2000 e 2012 Fonte: http://200.198.6.35/index.php/banco-sala-de-imprensa/3406-mortalidade-na-infancia- -brasil-registra-maior-queda-entre-os-paises-da-america-latina. Acesso em: 14 mar. 2023. As evidências têm demonstrado que as principais estratégias que contribuíram para essa redução foram a ampliação do acesso à vacinação, das taxas de aleitamento materno, do nível de escolaridade da mãe, da cobertura da Atenção Básica à saúde/ saúde da família, e, na última década, o Programa Bolsa Família, levando à diminuição da pobreza e, com suas condicionalidades, induzindo maior utilização da atenção básica à saúde pelas famílias, entre outras (BRASIL, 2018). Nestes casos é possível perceber que a redução da mortalidade infantil foi bem mais acentuada nos óbitos pós-neonatais, principalmente, graças à diminuição das mortes por diarreia e pneumonia. E em contrapartida, a participação dos óbitos neonatais cresceu tendo como principal gradiente, a prematuridade. O aumento da prematuridade pode estar relacionado aos avanços tecnológicos que permitem gestantes de alto risco engravidarem, ou gestantes que não poderiam engravidar de forma natural (reprodução assistida), assim como o aumento de cesáreas programadas (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). 43 As desigualdades sociais repercutem na sobrevivência na infância, por isso, o impacto signifi cativo neste indicador dos programas sociais e assistenciais. Em 2019, 6 das 27 unidades da federação apresentavam mais de 90% das crianças e dos adolescentes privados de algum dos direitos, que deveriam ser garantidos a esse público (UNICEF, 2023). A discrepância é tamanha que apenas no Distrito Federal e três estados do Sudeste) apresentam percentual de privação de crianças e adolescentes foi inferior a 50%, conforme Figura 14. Figura 14 – Crianças e adolescentes com alguma privação em 2019 – Pnad Contínua Fonte: https://www.unicef.org/brazil/media/22676/fi le/multiplas-dimensoes-da-pobreza-na-in- fancia-e-na-adolescencia-no-brasil.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. Mas apesar deste cenário, 2015 torna-se um divisor de águas para o Brasil, pois com a construção dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2015-2030 das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável, ressaltou-se que o país está num patamar diferenciado, pois possui indicadores de mortalidade infantil com melhores resultados que os padrões propostos. Mas é importante ressaltar a importância de criar novas estratégias para que a meta de acabar com toda e qualquer morte evitável de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, seja alcançada (OMS, 2015). Um ponto importante de se levantar é que, além de entender as múltiplas privações a que criançase adolescentes estão expostos, é necessário observar a intensidade com que cada privação os afeta. 44 Os resultados mostram que, dos 61% de crianças e adolescentes brasileiros que vivem na pobreza, 49,7% têm privações múltiplas. Muitas dessas meninas e desses meninos estão expostos a mais de uma privação simultaneamente. Em média, elas e eles tiveram 1,7 privação. Há 14,7 milhões de meninas e meninos com apenas uma, 7,3 milhões com duas e 4,5 milhões com três ou mais. Neste grupo, existem 13,9 mil crianças e adolescentes que não têm acesso a nenhum dos seis direitos analisados pelo estudo, estão completamente à margem de políticas públicas (UNICEF, 2018). Dessa forma, podemos enumerar então os seguintes determinantes sociais que afetam diretamente a saúde da criança: a) Renda familiar; b) Classe social na qual a criança é inserida; c) Riquezas e bens que a família possui; d) Educação e emprego dos genitores e responsáveis; e) Educação dos pais e responsáveis; f) Habitação e condições sanitárias; g) Raça e etnia; h) Relações pessoais e comunitárias (AFFONSO, 2014). Para saber o panorama de cada privação, acesse: (UNICEF, 2018) Disponível em https://www.unicef.org/brazil/media/156/file/ Pobreza_na_Infancia_e_na_Adolescencia.pdf. DICA 2.1 DETERMINANTES DE MORBIMORTALIDADE INFANTIL E JUVENIL Identificar e entender os determinantes de morbimortalidade infantil e juvenil é algo de extrema necessidade para o enfermeiro que atuará, direta e indiretamente com serviços que atendam a esse público. Quando avaliamos os resultados prévios do Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que 68,6 milhões de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos de idade residiam no Brasil naquele ano, demonstrando quanto essa população demanda de cuidado, atenção e orientação. Ainda segundo os dados deste mesmo Censo, a Região Sudeste aparece como sendo a mais populosa do país, concentrando pouco menos de um em cada três (29,9%) crianças e adolescentes dessa faixa etária. Mas quando avaliamos a proporção regional, é a Região Norte é aquela a apresentar maior 45 concentração de crianças e adolescentes em relação a sua população, superando 41,6% de seus residentes, conforme demonstrado pela Figura 15 (ABRINQ, 2023). Figura 15 – Proporção da população de menores de 19 anos de idade em relação à população brasileira – Brasil e grandes regiões, 2022 Fonte: https://www.fadc.org.br/sites/default/fi les/2023-03/cenario-da-infancia-e-adolescencia- -no-brasil-2023.pdf.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. É também na Região Norte, conjuntamente com e Região Nordeste, que a população de crianças e adolescentes de até 19 anos de idade, reside, majoritariamente, em domicílios rurais. Enquanto nas demais Regiões (Sudeste, Sul e Centro-Oeste), a maioria da população de até 19 anos de idade reside em domicílios urbanos (ABRINQ, 2023). Outro ponto importante, é que em 2021, aproximadamente “72,4 milhões de pessoas declararam viver com renda domiciliar mensal per capita de até meio salário- mínimo (R$ 550,00), sendo que 31,2 milhões dessas pessoas informaram viver com metade dessa renda (R$ 275,00)” (ABRINQ, 2023, p. 13). Por que apresentar esse cenário é importante? Porque os níveis e tendências da mortalidade infantil (nos seus componentes neonatal e pós-neonatal) e infantojuvenil estão intrinsecamente interligados às condições demográfi cas, socioeconômicas, culturais e ambientais de cada país (BRASIL, 2019). Eles são considerados um dos melhores indicadores do nível de desenvolvimento duma população. Neste contexto, o conhecimento da mortalidade infantil e infantojuvenil é indispensável para a tomada de decisões e implementação de programas e políticas públicas na área de saúde, podendo essas informações serem usadas para projeções populacionais, além de servir de instrumento de identifi cação dos sectores populacionais expostos a altos riscos de mortalidade. A violência é a principal causa de morbimortalidade na população jovem no Brasil, sobretudo em jovens negros, do sexo masculino, moradores das periferias de áreas metropolitanas dos centros urbanos. Somente em 2017, no Brasil, ocorreram 36.266 homicídios de jovens entre 15 e 29 anos de idade, dos quais 79,4% eram negros (BRASIL, 2019). A violência constitui-se como um dos principais problemas de saúde pública do Brasil, com grande impacto social, econômico, familiar, psicológico e no 46 trabalho, e é considerada um indicador de baixa qualidade de vida em uma sociedade e tem nos homicídios sua maior expressão. Teremos a oportunidade de discutir melhor o papel da violência no período de adolescência. Na unidade 3. Mas é importante reforçar que, durante o processo de atendimento, a equipe pode ir construindo com o(a) adolescente uma leitura de sua resiliência e de sua vulnerabilidade, que poderá propiciar estratégias de cuidado singularizadas, que minimizem situações de violência. Daí a importância de se conhecer as demais políticas desenvolvidas para adolescentes e jovens pela Educação, Assistência Social, Cultura, Esportes, Conselho de Direitos etc. Quer saber um pouco mais sobre resiliência e vulnerabilidade? Leia a página 42 de BRASIL. Ministério da Saúde. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf. ESTUDOS FUTUROS Ao avaliarmos os dados referentes ao ano de 2017 referente à mortalidade infantil. A maior parte dos óbitos infantis ocorreu em hospitais (92,8%). O que isso pode signifi car? Que apesar de indicar que há acesso aos equipamentos de saúde no País, isso não signifi ca qualidade do serviço. Vemos que as causas evitáveis continuam a ser responsáveis pela maior proporção dos óbitos infantis (75,4%) e de todos os seus componentes. A maior parte desses óbitos poderia ter sido evitada pela adequada atenção à mulher na gestação (52,4%). Os óbitos ocorridos nos períodos neonatal precoce (53,48% do total) e tardio (17,46%) estão associados predominantemente à qualidade da atenção durante o pré- natal e o parto e aos cuidados com o recém-nascido. Já os óbitos ocorridos no período pós-neonatal (29,05%) associam-se a condições de vulnerabilidade como o nível socioeconômico e acesso à saneamento básico, atenção à saúde e serviços preventivos e curativos (BRASIL, 2019). Isso demonstra a necessidade de se criar estratégias para a redução da mortalidade infantil e fetal, que incorpore a adoção de medidas para a prevenção de óbitos evitáveis pelos serviços de saúde e que considere as especifi cidades de cada caso, mas também o perfi l populacional. 47 As equipes de saúde têm um papel fundamental, ao reportar as limitações de estrutura, processo e resultado, de identificação do óbito infantil e fetal e da qualificação das informações, além da adequada investigação e análise de evitabilidade dos óbitos. Para tanto, é preciso a identificação das medidas necessárias para a prevenção de novas ocorrências. A criação de Comitês Estaduais e Municipais de Prevenção do Óbito Infantil e Fetal é uma importante ferramenta para melhoria na organização da assistência de saúde para a redução das mortes preveníveis, bem como a melhoria dos registros sobre a mortalidade (BRASIL, 2016). 3 PROGRAMAS E INICIATIVAS PARA A SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Com relação ao desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, o esforço familiar ocorre com a intenção de prover as condições necessárias de alimentação, vestimenta, afetividade, educação, segurança, desapego, autoestima e autonomia progressiva. O primeiro desafio familiar no cuidado de uma criança é sua constituição física e esforço para promover o desenvolvimento de sua dimensão psicológica. O segundo desafio familiar é auxiliar esse sujeito ampliar sua consciência de si como pessoa humana, dotada de desejo, valorese poder de escolhas, de acordo com a liberdade, com os direitos alheios e com dever esperado de cada um na sociedade. Vê-se que a necessidade da vivência em grupo por parte de adolescentes e jovens é importante na construção de identidades num momento tão cheio de pressões sociais para que o sujeito faça e assuma suas escolhas de identidades (de gênero, orientação sexual, profissional, habilidades e gostos específicos etc.) (BRASIL, 2017). A Atenção Básica aparece como terreno fértil, pois possibilita o extrapolar da demanda referenciada, através de um trabalho interno com a equipe, conscientizando que o acolhimento de adolescentes e jovens é tarefa de todos os profissionais: da recepção à dispensação de medicamentos, do agente comunitário de saúde ao técnico de Enfermagem, do dentista aos demais profissionais de saúde com formação universitária (BRASIL, 2017). Destaca-se que a assistência ao adolescente começa na assistência à criança e sua família. É no atendimento desta faixa etária que podemos detectar e problematizar questões como: “o estilo parental de cuidado, o monitoramento do desenvolvimento e do cuidado tanto no período escolar como no período complementar, os serviços e órgãos de apoio de outros setores e as situações de estresse e adversidades” que podem comprometer o desenvolvimento e a articulação de programas de iniciativas existentes (BRASIL, 2017, p. 34). A oferta de grupos de encontro para adolescentes e familiares que cuidam de adolescentes e jovens é uma boa estratégia que deve ser estimulada pelos profissionais de saúde e entrar no rol de ações ofertadas no planejamento à atenção a adolescentes e jovens. Discutiremos isso mais à frente. Highlight 48 3.1 SUGESTÃO DE GRUPOS PARA CRIANÇAS A seguir apresentamos a sugestão de grupos direcionados a crianças, segundo a Secretaria Municipal de São Paulo, através do Manual técnico: Saúde da Criança e do Adolescente nas Unidades Básicas de Saúde (SÃO PAULO, 2015). A proposta prevê três grupos (FIGURA 16; FIGURA 17 e FIGURA 18), divididos por faixa etária e com abordagens relacionadas aos problemas, agravos e difi culdades mais prevalentes em cada faixa etária. Figura 16 – Primeiro grupo, faixa etária de 0 a 6 meses Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacrian- caedoalescente02012017.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 49 Figura 17 – Segundo grupo, faixa etária de 7 a 9 meses Figura 18 – Terceiro grupo, faixa etária de 10 a 24 meses Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacrian- caedoalescente02012017.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 50 3.2 SUGESTÃO DE GRUPOS PARA ADOLESCENTES Já a inclusão do adolescente em ações de promoção à saúde tem sido um grande desafio para o enfermeiro no seu dia a dia. Não existem fórmulas prontas para a realização dos grupos de adolescentes e jovens, mas o objetivo principal destes grupos deve basear-se na participação, desenvolvimento de reflexão crítica e estímulo à criatividade e iniciativa. Por isso, o planejamento das atividades é uma etapa importante, pois é quando os profissionais de saúde, munidos do diagnóstico situacional, criaram as ações e atividades necessárias nestes grupos. Então é fundamental conhecer nosso público-alvo. Quanto às características dos adolescentes e jovens que residem na área de atuação da unidade de saúde é preciso saber: • idade, sexo, orientação sexual, etnia, raça, nível socioeconômico, escolaridade, inserção no mercado de trabalho (formal e informal), pessoas com deficiências; • informações sobre morbimortalidade, uso de álcool, tabaco e outras drogas, gravidez na adolescência, conhecimento e uso de contraceptivos; • aspectos subjetivos, como desejos, valores, insatisfações, ídolos, vínculos com a família, amigos e percepção sobre a escola, a comunidade e a unidade de saúde; • características das famílias: renda, estrutura e dinâmica familiar; • condições de vida: tipo de moradia, saneamento, destino do lixo, condições de segurança, transporte; • recursos comunitários: escolas, atividades profissionalizantes, culturais e esportivas, áreas de lazer, igrejas, grupos organizados da sociedade civil; • condições de atendimento nas unidades de saúde: acesso, distribuição dos adolescentes e jovens nos diferentes serviços, programas, projetos e atividades, percentagem de homens e mulheres, concentração de consultas, captação de gestantes por trimestre, principais motivos de atendimento, serviços oferecidos a adolescentes e jovens. O levantamento de informações poderá ser feito por meio do IBGE, do Ministério da Saúde, das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, de pesquisas nacionais, regionais e locais e estudos especiais realizados junto à população de adolescentes e jovens. Idealmente, tanto a identificação dos principais problemas, quanto a seleção de prioridades e a definição de estratégias de atuação, devem fazer parte de um processo que envolva adolescentes, jovens, familiares e profissionais de diferentes setores (BRASIL, 2007). É importante dar ao adolescente e jovem a oportunidade de fazer por ele mesmo. De ele desenvolver o protagonismo juvenil, engajando-o em projetos que ele mesmo crie, assuma e administre, ampliando sua autonomia, autoconhecimento e altruísmo (BRASIL, 2017). 51 A Secretaria Municipal de São Paulo, através do Manual técnico: Saúde da Criança e do Adolescente nas Unidades Básicas de Saúde (SÃO PAULO, 2014), apresenta algumas sugestões de roteiro de grupos para a adolescente (FIGURA 19). Figura 19 – Sugestão de roteiro de grupos para adolescente Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacrian- caedoalescente02012017.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. Que tal ler o material Sugestão de dinâmicas de apresentação para conhecer estratégia para trabalhar com grupos de jovens e adolescentes. Material disponível em: https://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/07_0272_M.pdf. DICAS 3.2.1 A estruturação de grupos educativos para adolescentes: um grande desafi o para os profi ssionais da área de saúde e educação A estruturação de grupos educativos para adolescentes pode ser um grande desafi o para os profi ssionais da área de saúde e educação. Um aspecto que precisa ser considerado e que pode favorecer a construção dos grupos, é a articulação com ações dirigidas à prática de esporte, lazer, cultura, expressão artística e de atividades que promovam a saúde, principalmente, na discussão de conteúdos ligados à sexualidade. 52 Para tanto, há a necessidade de se ter a participação ativa dos adolescentes e jovens, em propostas educacionais inovadoras. Essas propostas precisam favorecer o engajamento dos adolescentes e jovens na vida da comunidade, devem “evidenciar a importância de sua participação na vida social e de seu papel protagonista na construção de um projeto de vida consciente e responsável” (BRASIL, 2007b, p. 33). É importante utilizar o espaço da escola para realização dessas atividades, pois os adolescentes e jovens utilizam o espaço da escola como um local de relações, dentro de um contexto socioeconômico, cultural e político, em que o currículo tem dupla face – a explícita, disciplinas, e a oculta, com os valores e ideologias acerca dos fatores envolvidos nesta questão. Daí a importância de a escola articular-se com instituições que complementem seu processo de trabalho educacional com a população em idade escolar. A escola entra na vida do jovem como um espaço de grande significado, que enseja a formação de sua identidade. Por isso a escola representa um lugar privilegiado para a promoção de saúde, ajudando a construir cidadania e envolvendo os diversos atores deste universo: estudantes, profissionais de educação, familiares, líderes comunitários e profissionais de saúde. Todos esperam (escola, família, governo e sociedade civil) estar contribuindo para a educação de crianças e jovensa fim de prepará-los de forma mais adequada para a sua inserção social, mediante o desenvolvimento das potencialidades pessoais. 3.3 AÇÕES NAS ESCOLAS E NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE A queda da mortalidade infantil no Brasil e o aumento da sobrevida da criança devem-se às ações de cunho primário, voltados para a atenção básica que ganhou destaque no país nos últimos anos desde a reforma sanitária (AFFONSO, 2014). Enquanto unidade de saúde, a atenção básica consegue promover diversas modalidades de atendimento, que articulam ações intra e extramuros, e principalmente com parcerias de ações realizadas na escola, por exemplo. Trabalhar com grupos, demandam muita cautela, organização e planejamento. Os grupos mobilizam poderosas forças que têm influência decisiva nos indivíduos. O uso correto das dinâmicas de grupo permite intensificar deliberadamente as consequências desejáveis dos grupos. Os grupos possuem seu próprio ritmo e dinâmica. As dinâmicas empregadas nos grupos não são psicoterapia de grupo; o grupo se autoanalisa e se autointerpreta (BRASIL, 2015a). 53 Compete a rede de atenção básica, especialmente da Estratégia Saúde da Família (BRASIL, 2013a): 1. Participar e/ou desenvolver ações de promoção de saúde nos territórios, articulando e potencializando os diversos espaços e equipamentos comunitários, especialmente a escola. 2. Articular canais junto à população adolescente que facilitem a sua expressão e o reconhecimento de suas potencialidades por meio de atividades artísticas, esportivas e culturais, rádio ou jornal comunitário, campeonatos, gincanas, grupos de voluntários, palanque da cidadania, olimpíadas desportivas ou intelectuais. 3. Articular ações intra e intersetoriais fortalecendo uma intervenção mais coletiva, capaz de promover o desenvolvimento saudável de adolescentes e favorecer ambientes protetores. 4. Participar e/ou desenvolver ações de incentivo à participação juvenil, fortalecendo o protagonismo juvenil, identificando e valorizando lideranças estudantis e juvenis da comunidade para participarem na solução de problemas que impactam efetivamente a saúde pública, no âmbito de suas comunidades, e na promoção da educação em saúde entre pares para uma melhor qualidade de vida. 5. Articular parcerias e desenvolver ações de educação em saúde que valorizem a alimentação saudável, a prática de atividades de lazer, de esportes e culturais favorecendo hábitos saudáveis. 6. Articular parcerias e promover, junto às famílias, atividades de educação e saúde relacionadas ao crescimento e desenvolvimento de adolescentes, à saúde sexual e à saúde reprodutiva, à prevenção de violências e acidentes, à promoção da cultura de paz, à redução do uso abusivo de álcool e outras drogas, dando ênfase ao diálogo familiar como estratégia fundamental na melhoria das relações afetivas entre pais, responsáveis e filhos e favorecendo comportamentos, hábitos e ambientes seguros e saudáveis para adolescentes. 7. Realizar a vigilância à saúde no desenvolvimento de adolescentes e jovens identificando fatores de risco e de proteção às doenças e agravos, identificando as desarmonias do crescimento, os distúrbios nutricionais e comportamentais, as incapacidades funcionais, as doenças crônicas e a cobertura vacinal, o uso abusivo de álcool e outras drogas e a exposição às violências e aos acidentes, encaminhando o adolescente, quando necessário, para os serviços de referência e para a rede de proteção social. 8. Desenvolver ações educativas relacionadas à saúde sexual e saúde reprodutiva baseadas nas demandas e necessidades trazidas pelos adolescentes criando ambientes participativos de discussões em grupo que favoreçam o exercício das relações afetivas e fortaleçam o autoconhecimento, o autocuidado e o cuidado com o outro para tomadas de decisões esclarecidas e responsáveis. 9. Articular parcerias e desenvolver estratégias sistemáticas de busca ativa de adolescentes grávidas no território acolhendo-as e realizando atendimento pré-natal considerando as especificidades e necessidades deste grupo etário, envolvendo os parceiros e os familiares no atendimento. Highlight Highlight 54 10.Articular estratégias no território, em redes intra e intersetorial, para o desenvolvimento de ambientes protetores às adolescentes grávidas, mães e pais adolescentes, na garantia da sua permanência na escola, do acesso à profi ssionalização e ao primeiro emprego e do fortalecimento dos laços familiares. 11.Identifi car, no território, os adolescentes em situação de vulnerabilidade social e pessoal, articulando as políticas sociais básicas e a sociedade para uma ampla intervenção que favoreça a melhoria da qualidade de vida e promova ações de apoio, inclusão social, proteção e garantia de direitos. 12.Construir espaços para troca de experiências, atualizações e estudos entre os profi ssionais, incluindo a intervisão e supervisão dos casos. Quel tal conhecer os programas referências a infância e adolescência do governo federal? BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Programas da Infância e Adolescência do Governo Federal. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. IMPORTANTE Iremos abordar essas ações de forma mais sistematizada na Unidade 3, quando falaremos da assistência de enfermagem para a população jovem e adolescente. ESTUDOS FUTUROS 55 A escola é um espaço privilegiado para a captação dos adolescentes e jovens porque: • agrega grande parte dos adolescentes e jovens da comunidade; • é um espaço de socialização, formação e informação; • é na escola onde eles passam a maior parte do seu tempo. Algumas sugestões de estratégias de integração escola/unidade de saúde/ comunidade, segundo Manual de Saúde Integral de Adolescentes e Jovens: orientações para a organização de serviços de saúde (BRASIL, 2007): • Apoiar e implementar as atividades conjuntas entre a escola, os serviços de saúde, comunidades e famílias. Ex.: visitas domiciliares e visitas aos serviços de saúde. • Envolver os adolescentes e jovens em projetos e ações educativas nas escolas e comunidade – grupos de adolescentes, feiras de saúde. • Capacitar adolescentes e jovens que tenham interesse para serem promotores de saúde. • Criar mecanismos de facilitação do acesso de adolescentes e jovens aos serviços de saúde. • Trabalhar junto a grêmios estudantis, diretórios acadêmicos, entidades esportivas, centros comunitários, para a divulgação do serviço e estabelecimento de ações conjuntas. • Criar jingles, mensagens curtas e anúncios para promover os serviços e as ações/ temas a serem trabalhados. • Criar boletins informativos, jornais comunitários, jornais escolares, caixas de dúvidas e sugestões. • Realizar eventos que promovam a saúde, a cidadania e a qualidade de vida, tais como gincanas, passeios, shows musicais e artísticos, campeonatos. • Viabilizar nas escolas e na comunidade murais relativos aos serviços de saúde. • Oferecer a unidade de saúde para a realização de feiras de saúde organizadas pelos estudantes (BRASIL, 2007). Ficou curioso em saber mais das ações que os profissionais atuantes na Atenção Primaria à Saúde podem realizar na escola? Veja com atenção a Figura 20, extraído do material de divulgação do ministério da Saúde: Saúde integral de adolescentes e jovens: orientações para a organização de serviços de saúde. 56 Figura 20 – Ações de atenção primária à saúde na escola pela Estratégia Saúde da Família/Uni- dade Básica de Saúde 57 Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacao_basica_saude_adolescente.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 58 ATENÇÃO À FAMÍLIA EM CUIDADO DOMICILIAR EM SITUAÇÃO DE NECESSIDADES ESPECIAIS DE SAÚDE Aline Oliveira Silveira Maria da Glória Lima Introdução Esta lição traz um caso clínico de uma criança com necessidades especiais de saúde, uma vez que cresce o número de crianças portadoras de doenças crônicas que demandam cuidados especiais da equipe da SF. Será abordadoo impacto da cronicidade de uma doença na vida familiar, as formas de enfrentamento utilizadas pelas famílias e o papel da equipe de saúde da família no seguimento domiciliar dessas crianças. O que é uma criança com necessidades especiais de saúde? Os avanços nas tecnologias médicas e a incorporação destas nas áreas de terapia intensiva neonatal e pediátrica têm possibilitado um crescente aumento nos índices de sobrevivência entre neonatos de alto-risco, crianças com malformações congênitas, traumas adquiridos, entre uma ampla variedade de doenças anteriormente consideradas incompatíveis com a vida. Enquanto presenciamos significativo e progressivo declínio da mortalidade infantil, também acompanhamos uma transição epidemiológica, evidenciada pelas complexas mudanças nos padrões de saúde e doença que acompanham a população brasileira e suas implicações demográficas, econômicas, políticas e sociais (OMRAN, 2001). No que se refere à população pediátrica, tal transição tem se refletido no crescente número de crianças portadoras de condições crônicas, clinicamente frágeis, dependentes de dispositivos médicos como forma de compensar perdas de funções vitais e de cuidados de natureza altamente técnica, complexa e contínua como forma de manter a vida. Esse grupo de crianças é definido na literatura internacional como Children With Special Health Care Needs – CSHCN (McPHERSON et al., 1998). No Brasil, o conceito é introduzido no final da década de 1990 (CABRAL, 1999), como crianças com necessidades especiais de saúde (CRIANES). LEITURA COMPLEMENTAR 59 Quais as políticas públicas para estas crianças? As necessidades especiais de saúde dessas crianças geram demandas de cuidados classificadas em quatro grupos: de desenvolvimento, tecnológicos, medicamentosos e de cuidados habituais modificados. Dada a condição e a natureza do cuidado, essas crianças necessitam de serviços de saúde e sociais para além dos requeridos por qualquer outra criança, em geral, por um período de tempo indeterminado (McPHERSON et al., 1998; CABRAL et al., 2003; MENTRO, 2003). A incidência e a prevalência são desconhecidas em termos oficiais, devido aos diversos termos empregados para classificar esse grupo de crianças e a multiplicidade de condições clínicas que agrega. Entretanto, há um amplo consenso entre pesquisas desenvolvidas em diversos contextos específicos de que é crescente e expressivo o número de crianças com necessidades especiais de saúde cuidadas por suas famílias no ambiente domiciliar (GLENDINNING et al., 2001; DYCK et al., 2004; WANG; BARNARD, 2004; HEATON et al., 2005; REHM; BRADLEY, 2005; CABRAL et al., 2004; VERNIER; CABRAL, 2006). A crescente transição das crianças com necessidades especiais para o cuidado domiciliar é apontada como consequência do movimento cada vez mais intenso em prol da desospitalização. Nesse âmbito, duas forças confluíram para a casa tornar-se uma alternativa cada vez mais aceita em vez do hospital: (1) aumento dos custos com a internação prolongada dessas crianças as quais, até pouco tempo atrás, eram confinadas ao ambiente hospitalar e “residentes” até a morte; (2) uma crescente consciência entre profissionais e famílias de que a casa representa o contexto ideal de cuidado, cujas questões de desenvolvimento e de qualidade de vida dessas crianças foram fatores considerados cruciais (BAUMGARDNER; BURTEA, 1998). O desenvolvimento de tecnologias adaptadas para o uso doméstico e as políticas públicas com ênfase no cuidado centrado na comunidade como forma de apoiar o seguimento domiciliar das crianças com necessidades especiais de saúde também têm contribuído para esse processo (KIRK; GLENDINNING, 1998; 2004). Somados a esses aspectos, evidencia-se uma melhora significativa das taxas de sobrevivência de crianças que são clinicamente frágeis e dependentes de tecnologia, com a crescente capacidade de transferência de tecnologia médica e do cuidado para o domicílio (WANG; BARNARD, 2004). Entretanto, cabe destacar que não é apenas a tecnologia que é transferida para o domicílio, mas, especialmente, os papéis e as responsabilidades são transferidos para a família (KIRK et al., 2005). Com o crescimento desse grupo de crianças, políticas governamentais em países desenvolvidos têm reconhecido suas demandas e particularidades e provido a implantação de serviços de suporte à criança com necessidades especiais de saúde e sua família, como uma forma de apoiá-las na continuidade do cuidado domiciliar. No 60 Brasil, o benefício da prestação continuada de cuidado no domicílio é assegurado pela Lei Orgânica da Assistência Social (BRASIL, 1993), por meio da qual é concedido recurso financeiro no valor de um salário-mínimo à pessoa portadora de deficiência e cuja família seja incapaz de prover sua manutenção. O critério econômico para a elegibilidade ao recurso é a família cuja renda mensal per capita seja inferior a um quarto do salário-mínimo, sendo, desse modo, assegurado às famílias de crianças com necessidades especiais, em situação de pobreza, recorrer a esse recurso para assegurar os custos de sobrevivência de sua criança. Não existe qualquer outro programa sustentável ou recurso público específico para crianças com necessidades especiais de saúde e suas famílias. Estudos desenvolvidos em contextos brasileiros específicos, como no Rio de Janeiro, revelam que 74,2% dos bebês egressos da terapia intensiva neonatal apresentavam alguma necessidade especial de saúde. No sul do Brasil, o índice de necessidades especiais atribuídas a intercorrências no período perinatal foi de 58,5% (VERNIER; CABRAL, 2006). Muitas crianças recebem alta hospitalar para o domicílio com demandas altamente complexas e ainda, como agravante, as famílias possuem recursos financeiros insuficientes ou limitados para arcar com os custos envolvidos (CABRAL et al., 2003; FRACOLLI; ANGELO, 2006; NEVES; CABRAL, 2008). Em outras circunstâncias, quando há necessidade de sustentação da vida da criança, esta é mantida institucionalizada diante da condição social da família. Sendo comum, nesses casos, os familiares terem que recorrer a Vara de Proteção da Infância, na esfera municipal, para receber o apoio financeiro do Estado e assegurar as condições mínimas de implantação do cuidado em seu domicílio (CABRAL et al., 2003). O cuidar centrado na família sensível ao contexto social em que esta se insere, vem sendo influenciado por transformações nos paradigmas de promoção da saúde e da qualidade de vida, bem como pela emergência de políticas públicas e sociais que tratam da saúde da família (ANGELO, 2008; TRAD, 2010). Desse modo, pode-se perceber que o foco de atenção dos profissionais e de gestores de saúde tem se deslocado do indivíduo e do hospital, para a família e o domicílio. Tal concepção de cuidar está pautada no pressuposto de que os espaços familiares se constituem em lócus para a potencialização das ações de saúde. Como exemplo desta afirmativa, podemos citar iniciativas governamentais de reorganização da atenção básica à saúde que, por meio da Estratégia de Saúde da Família elege o domicílio e a comunidade como espaços estratégicos para a atuação dos profissionais de saúde, e têm como foco de intervenção a unidade familiar (BRASIL, 2006). No âmbito da atenção básica, a saúde da criança é posta como uma prioridade e, desde 2004, a Agenda de Compromisso para a Saúde Integral da Criança e Redução da 61 Mortalidade Infantil define ações profissionais nos mais distintos espaços de atenção. As linhas estratégicas de Atenção à Saúde da Criança objetivam o atendimento à saúde infantil no contexto da integralidade do cuidado (BRASIL, 2004). Destaca-se no eixo de atenção à infância a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente que se configura como um marco no que se refere à proteção e promoção da infância, assegurando entre outros direitos fundamentais, o direito à saúde e à inclusão social. Entretanto,embora a legislação tenha avançado no campo do direito à saúde e ao bem-estar social e em estratégias de atenção à saúde da criança e da família, ainda não existe uma cultura de reconhecimento dos direitos da criança com necessidades especiais de cuidado de saúde e de sua família, por meio de uma oferta regular, sistematizada e organizada de sistemas de apoio social e de serviços de saúde especializados (LEAL et al., 2010). O desafio no âmbito das políticas públicas brasileiras, no que se refere à continuidade do cuidado no domicílio, está na modificação da visão, na qual estas crianças e famílias não sejam consideradas portadoras de deficiências ou desvantagens, mas, sim, como crianças e famílias com necessidades altamente complexas e que vivem desafios para a inclusão social e que possuem direitos como qualquer outro cidadão. Essa breve contextualização comparativa nos sugere pensar no nível de dificuldades que as famílias brasileiras enfrentam. Cabe destacar que estudos de avaliação dos serviços de suporte ao cuidado domiciliar de crianças com necessidades especiais indicam que estes ainda são pouco desenvolvidos e deficientes em planejamento e, consequentemente, se tornam insuficientes e pouco efetivos em termos de apoio a família (KIRK; GLENDINNING, 2004). Como conclusão, a problemática do cuidado domiciliar não se limita apenas ao Brasil. Situação-problema: Uma das famílias atendidas em domicílio pela Equipe de Saúde da Família é a Família Flores da Silva. A família é acompanhada pela Equipe de Saúde da Família (eSF) há cerca de dez meses, pelo fato de ter uma filha (Vitória) portadora de necessidades especiais de cuidado de saúde, acamada e dependente de tecnologia médica de suporte de vida. O início do acompanhamento se deu na ocasião da alta hospitalar da criança e transição para o cuidado domiciliar. Vitória tem hoje dois anos de idade, é portadora de Síndrome de West, pertencente ao grupo de síndromes epilépticas infantis com difícil controle medicamentoso que provocam atraso do desenvolvimento neuropsicomotor (RIZZUTTI et al., 2000). Recebeu seu diagnóstico aos 3 meses de idade. Permaneceu hospitalizada por um período de 10 meses, entre 3 meses e 1 ano e 1 mês de idade, tornando-se dependente de tecnologia de suporte de vida nesse período. Atualmente, é dependente de traqueostomia, gastrostomia e ventilação mecânica e é cuidada, em casa, pela família. Highlight 62 O primeiro contato da eSF com a família Flores da Silva ocorreu logo após seu retorno para o domicílio. A equipe responsável pelo planejamento da alta hospitalar da criança, preocupada com a continuidade do cuidado da criança no domicílio, contatou a Unidade de Saúde da Família de referência, informando o caso e a necessidade de apoio à família. Na ocasião da primeira visita domiciliar, a abordagem inicial da equipe consistiu na apresentação dos membros da equipe e aproximação com a família na tentativa de começar a conhecê-la e promover um engajamento. A família havia trazido a criança para casa há três dias e o ambiente estava tumultuado e desorganizado, pois a família estava se adaptando aos cuidados da filha em casa, se mostrando preocupados e tensos, havia também a presença de mais pessoas na casa, a avó materna veio auxiliar no cuidado e mais duas vizinhas. Assim, a família não se mostrou muito receptiva à equipe. Nesse contexto, o médico procedeu à avaliação clínica da criança, enquanto a enfermeira fazia algumas perguntas a Sra. Sonia, mãe da criança, se precisava de algum tipo de ajuda. A mãe fala que está feliz, responde no momento não precisa de ajuda, mas que estão se organizando e colocando as coisas no lugar. A enfermeira mantém conversação e pergunta para mãe como está sendo cuidar da Vitória e tem tido alguma dificuldade. A mãe reafirma que não, dá graças a Deus e que aprendeu fazer tudo direitinho com o pessoal do hospital e que está dando conta de cuidar e que não tem nada que ela não saiba fazer. A enfermeira continua e explora se a família conta com mais alguém, da família ou outra pessoa para ajudar a cuidar da Vitória. A mãe declara que é só ela e o pai. Após o término da avaliação clínica de Vitória, o médico compartilha com a mãe e a enfermeira, que a criança está estável e que está tudo normal. Pergunta se há alguma dúvida em relação ao funcionamento dos equipamentos e como estão planejando o cuidado da criança no domicílio, a fim de explorar os recursos de apoio que a família já dispõe e aqueles que precisaria ampliar. A mãe informa que a criança irá fazer acompanhamento ambulatorial de neuropediatria e que pretendem pagar fisioterapia domiciliar, visto que não conseguiram este serviço via sistema público. A equipe de assistência domiciliar do hospital no qual a criança estava internada continuará fazendo visitas e consultas de acompanhamento, de acordo com a demanda, podendo ser quinzenais ou mensais. A enfermeira informa que irão fazer o acompanhamento da Vitória e da família e os telefones da Unidade de Saúde da Família para que entrem em contato em caso de necessidade. Além disso, é combinado com a família uma nova vista domiciliar na próxima semana. A eSF por estar preocupada com a situação familiar, realizou uma segunda visita domiciliar, em um retorno mais curto. Nessa visita, a enfermeira e o médico foram recebidos pelo pai e a mãe. Os profissionais observaram que o ambiente domiciliar havia sido transformado para receber a criança e seus aparatos tecnológicos (cama hospitalar, respirador, oxímetro, entre outros equipamentos hospitalares e as adaptações físicas necessárias para o cuidado da criança) e que os pais estavam hábeis no manejo dos equipamentos e no desempenho de cuidados altamente técnicos (aspiração traqueal, administração de dieta e de medicamentos, curativos, troca de sondas). Neste dia era o dia de folga do trabalho do pai. 63 A criança (Vitória) estava deitada em sua própria cama – onde havia diversos objetos de estímulo: móbiles, brinquedos coloridos, desenhos com temas infantis – muito bem arrumada e em excelentes condições de higiene. Os pais são elogiados pelos membros da equipe pelo desempenho zeloso e seguro no cuidado à Vitória. O médico Roberto após examinar a criança, compartilha sua avaliação com os pais, informando que Vitória continua ótima, estável e dentro do esperado. Ele percebe que os pais olham apreensivos, porém com certo contentamento. Assim aproveita para explorar sobre a presença de alguma preocupação ou necessidade de ajuda. Antônio (pai) timidamente fala da luta e conquista deles em trazer Vitória para casa e como se sentem gratos por estar conseguindo cuidar da Vitória, revelando que não ter falta de equipamentos, que possuem amigos que os ajudam, e revela a preocupação deles quando for necessário trocar a traqueo por ser caro e que eles não dispõem de muitos recursos. O Médico acolhe e reitera que é importante que eles possam falar das suas preocupações e dúvidas, acrescenta que verá como auxiliar nesta questão da troca da traqueo. O pai cria coragem e se permite então falar sobre a doença da filha, sobre ter cura, se a filha crescerá? Andará ou não? Contudo, o pai afirma manter a esperança e a fé para o futuro dela, e que sempre irão cuidar dela. O médico se mostra empático a eles e esclarece sobre a doença e que a medicina está sempre buscando. Nesse mesmo tempo, a enfermeira trocava o curativo da sonda de gastrostomia para a observação da pele da Vitória, com o olhar atento da mãe, que verbaliza sobre o seu medo da sonda dar algum problema. A enfermeira explora esse sentimento. A mãe fala que tem medo que tenha infecção e que ele volte a ser internada, falando então desse momento da internação, onde permaneceu um longo período, quase um ano, que sentiu internada junto com ela e deixou de viver outras coisas, para só cuidar dela o tempo todo, que às vezes se sentia sofrida e sozinha. Tanto ela como toda a sua família sofreram com esse– muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: POLÍTICAS E INDICADORES DE SAÚDE ............................................................................... 1 TÓPICO 1 - POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA (PNAISC) ................................................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .............................................................................................4 2.1 MARCO E DIRETRIZES NACIONAIS RELACIONADAS À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..............................................................................................................................7 3 POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA ..............................................9 3.1 DEFINIÇÕES DE CRIANÇA, PRIMEIRA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA .................................. 9 3.2 ENTENDENDO A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA (PNAISC) ....................................................................................................................................... 11 3.2.1 Princípios, diretrizes e eixos estratégicos do PNAISC .............................................. 11 3.3 AÇÕES ESTRATÉGICAS DO PNAISC ........................................................................................15 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 22 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 - POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS (PNAISAJ) ......................................................................................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25 2 CONSIDERAÇÕES SOIBRE POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS .............................................................................................. 25 2.1 ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE .............................................................................................. 26 2.2 FALANDO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS (PNAISAJ) ................................................................................. 26 2.3 DIRETRIZES NACIONAIS PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS NA PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DA SAÚDE ............................... 29 3 ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE NA ATUALIDADE ......................................................... 30 3.1 TEMAS ESTRUTURANTES PARA A ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DE ADOLESCENTES E JOVENS .....................................................................................................................................31 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 - ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES – PRINCIPAIS INDICADORES, PROGRAMAS E INICIATIVAS .....................................................................37 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................37 2 ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES – PRINCIPAIS INDICADORES ......................................................................................................................37 2.1 DETERMINANTES DE MORBIMORTALIDADE INFANTIL E JUVENIL ...................................44 3 PROGRAMAS E INICIATIVAS PARA A SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .......47 3.1 SUGESTÃO DE GRUPOS PARA CRIANÇAS .............................................................................48 3.2 SUGESTÃO DE GRUPOS PARA ADOLESCENTES .................................................................50 3.2.1 A estruturação de grupos educativos para adolescentes: um grande desafio para os profissionais da área de saúde e educação .................................................51 3.3 AÇÕES NAS ESCOLAS E NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE ........................................ 52 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 58 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 65 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 66 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 69 UNIDADE 2 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DA CRIANÇA ........................75 TÓPICO 1 — ATENDIMENTO À CRIANÇA NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO ............... 77período da internação da filha. A enfermeira vai desenvolvendo a escuta qualificada e aproveita também para explorar, por meio de perguntas, com o olhar e gestos, o conteúdo e sentimentos trazidos pela mãe dessa experiência. À medida que se estabelece maior confiança, a mãe fala da ambivalência que sente em cuidar da filha, ora alegria por ver ela ali e poder cuidar dela, ora de tristeza, não porque não aceite a doença, mas sim do que pode acontecer de um vir a perder a filha. A fala vem acompanhada por momentos de silêncio e também de choro. A mãe agradece, e verbaliza que foi bom conversar sobre isso e que se sente mais leve depois que falou. A Enfermeira reitera que ela pode contar com ela e que voltará para conversar com ela, para avaliar Vitória, como conhecer mais sobre a família de vocês. Para isso, irão fazer pergunta sobre quem faz parte da família, com quem e como e se relacionam com as pessoas da comunidade, com os profissionais de saúde, centros de saúde e outras instituições importantes para a família e a Vitória. Os pais acenam afirmativamente e que estarão aguardando retorno da visita. O cuidado de pessoas com doenças crônicas 64 requer processos adaptativos e de ajustes contínuos, dados as possíveis demandas físicas, afetivas e sociais que requer o cuidado às pessoas com necessidades especiais. O cuidado de pacientes em situações crônicas, para Rizutti et al. É muito difícil a aceitação de qualquer doença crônica e de suas limitações. Em particular, é muito difícil para a criança e para sua família adaptar-se à epilepsia, a seus riscos, complicações e a eventuais atitudes hostis da sociedade. Daí a necessidade de abordar o tratamento como multidisciplinar, sempre que possível, por uma equipe composta de médicos, enfermeiras, psicólogas e assistentes sociais, no intuito de dar um apoio conjunto ao paciente e à sua família (RIZZUTTI et al. 2000). Considerando a situação desta família, refita sobre como se dá o acompanhamento domiciliar de crianças portadoras de necessidades especiais de saúde e suas famílias em sua cidade? Como a eSF se articula com os diversos profissionais e instituições ou integra a rede de atenção a este grupo específico? Quais os dilemas vivenciados pelos profissionais da equipe? Essa é uma atribuição da eSF? Fonte: SILVEIRA, A. O.; LIMA, M. G. Atenção à família em cuidado domiciliar em situação de necessidades especiais de saúde. In: UNB/UNASUS. Curso de Especialização Saúde da Família. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/ html/ARES/1678/4/5%20-%20Unidade%202%20-%20Sau%CC%81de%20da%20 crianc%CC%A7a%20e%20do%20adolescente.pdf. Acesso em: 31 mar. 2023. RESUMO DO TÓPICO 3 65 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tema de aprendizagem, você aprendeu: • O perfil de morbimortalidade de crianças, adolescentes e jovens no Brasil. • A importância de questões intrínsecas e extrínsecas na taxa de mortalidade infantil, e o impacto disso em cada componente das taxas de mortalidade • Quais são os principais indicadores de saúde da criança, como é sua construção e interpretação. • Quais os principais programas ministeriais referentes a saúde da criança e do adolescente, principalmente em ações realizadas nas escolas e em Unidades Básicas de Saúde. 66 1. A inclusão do adolescente em ações de promoção à saúde tem sido um grande desafi o para o enfermeiro no seu dia a dia. Não existem fórmulas prontas para a realização dos grupos de adolescentes e jovens, mas o objetivo principal destes grupos deve basear- se na participação, desenvolvimento de refl exão crítica e estímulo à criatividade e iniciativa. Então é fundamental conhecer nosso público-alvo. Assim, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A necessidade da vivência em grupo por parte de adolescentes e jovens é devido a sua construção de identidades num momento tão cheio de pressões sociais, por isso deve ser realizado na atenção especialidade e não na Atenção Básica. b) ( ) A Atenção Básica aparece como terreno fértil para as ações de saúde dos adolescentes e jovens, apesar dessas ações serem realizadas em momentos específi cos e apenas durante as consultas e/ou participação em grupos de encontro. c) ( ) Destaca-se que a assistência ao adolescente começa assim que a pessoa completa nove anos de idade, sendo direcionadas estratégias que envolvam outros adolescentes, e preferivelmente sem a presença da família, para que se sintam mais à vontade; d) ( ) A oferta de grupos de encontro para adolescentes e familiares que cuidam de adolescentes e jovens é uma boa estratégia que deve ser estimulada pelos profi ssionais de saúde e entrar no rol de ações ofertadas no planejamento à atenção a adolescentes e jovens. 2. Para o cálculo da Taxa de Mortalidade Infantil (Coefi ciente de Mortalidade Infantil) é usada a seguinte fórmula: AUTOATIVIDADE Com base nas defi nições e uso da taxa de mortalidade infantil, analise as sentenças a seguir: I- Refl etir sobre o acesso e a qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde materna e da população infantil. II- Estimar o risco de morte dos nascidos vivos durante os seus primeiros cinco anos de vida. III- Expressar um conjunto de causas de morte cuja composição é diferenciada entre os subgrupos de idade (componentes da mortalidade infantil). 67 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3. A taxa de mortalidade infantil tem sofrido reduções expressivas nos últimos anos no Brasil, principalmente, quando avaliado de 1990 a 2012. As evidências têm demostrado que algumas estratégias contribuíram de forma significativa para essa redução. De acordo com as evidências constatadas quanto à redução da taxa de mortalidade infantil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas para as estratégias listadas a seguir: ( ) Ampliação do acesso à vacinação, das taxas de aleitamento materno e do nível de escolaridade da mãe. ( ) Diminuição das mortes por diarreia e pneumonia, assim como diminuição de mortes por prematuridade. ( ) Ampliação da cobertura da Atenção Básica à saúde/saúde da família, e o Programa Bolsa Família. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4. Você é enfermeiro de uma unidade de saúde e está estruturando o grupo de encontros para adolescentes e familiares junto a sua equipe. Para tanto, realizou algumas reuniões e fizeram levantamento das principais características dos adolescentes e jovens que residem na área de atuação. Neste contexto, disserte sobre as principais características dos jovens e adolescentes que devem ser levantadas para a organização adequada do grupo. 68 5. Identificar e entender os determinantes de morbimortalidade infantil e juvenil é algo de extrema necessidade para o enfermeiro que atuará, direta e indiretamente com serviços que atendam a esse público. Quando avaliamos os resultados prévios do Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que 68,6 milhões de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos de idade residiam no Brasil naquele ano, demonstrando quanto essa população demanda de cuidado, atenção e orientação, assim como a importância de conhecer com mais detalhes os determinantes de adoecimento e as taxas de mortalidade população. Neste contexto, disserte sobre a importância de conhecer os níveis e tendências da mortalidade infantil. AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022. 69 REFERÊNCIAS ABRINQ (Fundação). Cenário da Infância e Adolescência no Brasil. Fundação Abrinq, 2023. Disponível em: https://www.fadc.org.br/sites/default/files/2023-03/cenario-da- -infancia-e-adolescencia-no-brasil-2023.pdf.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023.AFFONSO, C. C. B. Enfermagem em saúde da criança e do adolescente. NT Edi- tora. Brasília: 2014. 205p. Disponível em: https://avant.grupont.com.br/dirVirtualLMS/ portais/livros/pdfs_demo/Enfermagem_em_Saude_Da_Crianca_e_o_Adolescen- te_demo.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Bra- sília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 14 mar. 2023. BRASIL. Presidência da República. 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Acesso em: 14 mar. 2023. 74 75 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DA CRIANÇA UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • saber conduzir o acompanhamento de saúde de crianças na Unidade Básica de Saúde; • atender as crianças, contemplando os aspectos biológicos, emocionais e sociais; • elaborar estratégias para criar e fortalecer o vínculo da criança e família com a equipe de saúde; • compreender os principais agravos na infância e seu impacto na vida da criança e da família. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – ATENDIMENTO À CRIANÇA NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – PROBLEMAS COMUNS NA INFÂNCIA E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO PARA GRUPOS EDUCATIVOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 76 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 77 TÓPICO 1 — ATENDIMENTO À CRIANÇA NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A principal meta da enfermagem pediátrica é melhorar a qualidade dos cuidados em saúde da criança e de sua família. Para tanto, é necessário estruturar um serviço e atendimentos que visem alcançar uma vida mais longa, de alta qualidade a essas crianças; uma vida livre de doença evitável, de incapacidades, de acidentes e de morte prematura; a possibilidade de atingir a equidade na saúde, eliminando as desigualdades e melhorar a saúde de todos os grupos; possibilitando a criação de ambientes sociais e físicos que promovam uma boa saúde para todos, e condições de promover a qualidade de vida, o desenvolvimento e comportamentos saudáveis em todas as fases da vida, principalmente na infância (BRASIL, 2009). Para tanto, mudanças assistenciais e organizacionais dos serviços de Atenção à Saúde são necessárias. Mas para que isso ocorra de forma adequada, é fundamental conhecer o cenário do atendimento ofertado à criança, assim como os principais problemas vivenciados por ela (BRASIL, 2009). Seguindo esse contexto acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1, abordaremos o atendimento das crianças nos diversos níveis de atenção, dando enfoque às ações produzidas na Atenção Básica, assim como aos programas e estratégias ministeriais para impactar nos principais problemas vivenciados por nossas crianças. 2 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA REDE BÁSICA E HOSPITALAR Quando discutimos especificamente os cuidados ofertados pela enfermagem aos recém-nascidos, lactentes, crianças maiores e adolescentes, temos que esse cuidado consistente como “o diagnóstico e tratamento de respostas humanas a problemas de saúde manifestos ou em potencial” (HOCKENBERRY; WILSON, 2014). Highlight 78 É possível identificar quatro aspectos essenciais da prática de enfermagem contemporânea, nesta definição: • Atenção ao amplo espectro de experiências humanas e respostas à saúde ou à doença sem restringir-se a uma orientação focada em um problema. • Integração de dados objetivos aos conhecimentos obtidos a partir da compreensão do paciente ou da experiência subjetiva de um grupo. • Aplicação de conhecimentos científicos aos processos de diagnóstico e tratamento. • Promoção de uma relação de cuidado atenciosa que promova a saúde e a cura. (HOCKENBERRY; WILSON, 2014). Neste cenário é possível entender que cada contato entre a criança e os serviços de saúde, independentemente do fato motivador de trazê-la ao serviço, seja queixa ou doença preexistente, “deve ser tratado como uma oportunidade para a análise integrada e preditiva de sua saúde, e para uma ação resolutiva, de promoção da saúde, com forte caráter educativo”, pois o acompanhamento sistemático do crescimento e desenvolvimento da criança constitui o eixo central desse atendimento (BRASIL, 2002). Um desafio importante é mudar o modelo de atenção à saúde vigente, que permanece “fundamentado nas ações curativas, centrado no cuidado médico e estruturado com ações e serviços de saúde dimensionados a partir da oferta”. Esse modelo tem se mostrado insuficiente para dar conta dos desafios sanitários atuais e insustentável para os enfrentamentos futuros (BRASIL, 2012). As mudanças na sociedade moderna demandam de mudanças na atenção. Os grupos de maior destaque (maior risco) relacionado à saúde da criança são (BRASIL, 2012): • aquelas que nascem prematuras ou com muito baixo peso (MBP) ou baixo peso ao nascimento (BPN); • as crianças que frequentam creches, as crianças que vivem em situação de pobreza ou situação de rua, filhos de famílias imigrantes, e • crianças com doenças crônicas e distúrbios psiquiátricos e que vivem com necessidade especial ou deficiência. A nova morbidade, também conhecida como doença pediátrica social, refere- se ao comportamento e problemas sociais e educacionais que as crianças enfrentam. Problemas que podem impactar negativamente o desenvolvimento de uma criança incluem (HOCKENBERRY;WILSON, 2014): • pobreza, • violência, • agressão, • abandono, • baixo desempenho escolar e • a adaptação à separação dos pais e ao divórcio. 79 Atualmente, umas das propostas de organização da assistência direcionada à Saúde da Criança, é ancorada no Modelo de Atenção às Condições Crônicas (MACC), em que o cuidado da criança em seu ciclo de vida requer “uma resposta social proativa, contínua e integrada”. Esse modelo propõe (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021). • conhecimento da população-alvo residente em um território de saúde; • sua estratifi cação, de acordo com a presença de fatores de risco; • a complexidade da condição de saúde e; • o dimensionamento da oferta de serviços, a partir da necessidade de saúde identifi cada e da qualifi cação das intervenções em coerência com complexidade da situação. Para que isso seja possível, a Rede de Atenção à Saúde da Criança, com foco nos processos integrados da Atenção Primária à Saúde (APS) e da Atenção Ambulatorial Especializada (AAE) precisam estar bem estruturados e fortalecidos, baseando-se nos determinantes sociais (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021). Figura 1 – Fatores determinantes da saúde da criança, segundo modelo de Dahlgren (modifi cado) Fonte: https://www.as.saude.ms.gov.br/wp-content/uploads/2021/11/notatecnica_crian- ca-1-1.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. As linhas de cuidado aparecem como um documento importante para o desenvolvimento e operacionalização das ações voltadas para a saúde da criança na APS. São documentos que vão ao encontro dos compromissos do Brasil com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, com o Pacto de Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, com o Pacto pela Saúde, com o Contrato Organizativo de Ação Pública (COAP) e com o Programa Mais Saúde (BITTENCOUT, 2013). 80 A linha de cuidado é uma estratégia para a ação, um caminho a ser percorrido para o alcance da atenção integral, uma vez que cria a sinergia entre os profi ssionais envolvidos e fortalece a responsabilização dos serviços numa cadeia de produção do cuidado em todos os espaços da atenção e de proteção (BRASIL, 2012). ATENÇÃO Figura 2 – Linha de cuidado: dimensões do cuidado como prática de saúde Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi- mento.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. Dessa forma, as linhas de cuidado da saúde da criança de atuação dos profi ssionais na APS são (SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL, 2014, p. 17): • Promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno; • Atenção à saúde do recém-nascido (RN), em especial aqueles em situação de vulnerabilidade; • Atenção integral às doenças prevalentes na infância (AIDPI); • Incentivo e qualifi cação da vigilância do crescimento e desenvolvimento; • Prevenção de violências e promoção da cultura de paz e • Vigilância e monitoramento do óbito fetal e infantil. O exercício das linhas de cuidado relacionadas à saúde da criança pressupõe respostas não fragmentadas dos profi ssionais envolvidos no cuidado e ocorre a partir das unidades da APS, que são, portanto, as responsáveis pelo ordenamento e coordenação desse cuidado (SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL, 2014). 81 Os primeiros 1000 dias de vida compreendem desde o momento da concepção do indivíduo até os dois anos de idade da criança. Esse período é crucial para o crescimento e para o desenvolvimento infantil, pois corresponde a uma “janela de oportunidades” para prevenir e/ou reverter a programação metabólica e melhorar os resultados maternos, fetais, do nascimento, da infância e até mesmo reduzir o risco de as crianças desenvolverem DCNT no futuro (PEREIRA et al., 2022). Por isso, é importante ter atenção às intervenções necessárias para o domínio infantil neste período. O atendimento à criança engloba uma sequência de ações ou medidas preventivas desde antes do nascimento, evitando seu adoecimento para, desta forma, promover crescimento e desenvolvimento adequados (SÃO PAULO, 2015). O enfermeiro tem um importante papel neste cenário, ele é um dos profissionais atuantes nos domínios apresentados. Para identificar essas ações descritas acima, acesse o seguinte link: http://mds.gov.br/webarquivos/publicacao/crianca_feliz/ Como_Investir_na_Primeira_Infancia.pdf. DICA Veremos a seguir a importância da atuação do enfermeiro junto à saúde da criança, assim como iniciar e realizar o seguimento da criança na Atenção Básica. 3 ATENÇÃO BÁSICA Quando pensamos na estrutura operacional da Rede de Atenção à Saúde da Criança, vemos que ela envolve a Atenção Primária à Saúde, a Atenção Especializada ambulatorial e hospitalar, os sistemas de apoio, os sistemas logísticos e o sistema de governança (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021). A Atenção Primária à Saúde é a responsável pela coordenação e ordenação da assistência e do serviço de saúde. Assim, o centro de comunicação das redes articula os fluxos e contrafluxos de pessoas, os produtos e as informações entre todos os pontos de atenção (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021). 82 É na Atenção Primária, ou Atenção Básica, que é possível acompanhar a criança ao longo da vida, percebendo os eventos em seus períodos singulares, chamados de transição. Então, é fundamental conhecer essa população a ser acompanhada, assim como classifi cá-las para melhor acompanhamento (FIGURA 3). Figura 3 – Processo de conhecimento da subpopulação de crianças Fonte: https://www.conass.org.br/biblioteca/saude-da-crianca-de-zero-a-cinco-anos. Aces- so em: 13 abr. 2023. Para saber quais são as situações que possibilitam a criança ser classifi cada como de risco habitual, risco intermediário e risco alto, não deixe de ler a Tabela 2. Estratifi cação de risco da criança, disponível em: https://www.conass.org.br/biblioteca/ saude-da-crianca-de-zero-a-cinco-anos/. DICA O objetivo da agenda de cuidados da criança, deve garantir a continuidade do cuidado, integrando as ações de atenção no pré-natal, parto e nascimento, período neonatal, primeira infância e escolar, que depois seguem como agenda de cuidados na adolescência. A agenda deve refl etir a integralidade e a multidimensionalidade do cuidado abordando os aspectos biológicos, genéticos e epigenéticos e os fatores ecológicos, familiares, sociais e comportamentais, sumarizadas no eixo ecobiopsicossocial (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021). Deve ainda buscar o desenvolvimento adequado da criança, resultado de interações contínuas e cumulativas entre experiência, biologia e comportamento. Deve também garantir o cumprimento dos direitos universais e da legislação vigente, que protegem a criança em todo o percurso de desenvolvimento, favorecendo envolvimento da família como protagonista no cuidado com a criança (SOCIEDADE BENEFICENTE ISRAELITA BRASILEIRA ALBERT EINSTEIN, 2021). Highlight 83 A agenda de cuidados da criança nos primeiros cinco anos de vida deve seguir os cuidados previstos nos eixos estratégicos da PNAISC, item que já discutimos na Unidade 1. Figura 4 – Eixos estratégicos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança Fonte: https://www.conass.org.br/biblioteca/saude-da-crianca-de-zero-a-cinco-anos/. Aces- so em: 14 abr. 2023. 3.1 COMO INICIAR E REALIZAR O SEGUIMENTO DA CRIANÇA A todo RN será garantido uma primeira consulta pediátrica, onde o médico estabelecerá o risco propondo uma rotina de atendimento, de acordo com o projeto terapêutico individual ou coletivo, bem como consulta de enfermagem, onde será elaborada a Sistematização de Assistência de Enfermagem (BRASIL, 2023). Essa primeira consulta deverá ocorrer na Unidade de Atenção Primária à Saúde (APS), podendo ser realizada durante a visita domiciliar pelo médico e/ou enfermeiro, juntamente com o Agente Comunitário de Saúde. Este momento é crucial para orientara família acerca dos desafi os diários com aleitamento materno, puerpério, realizar imunizações e a triagem neonatal (teste do pezinho, caso não tenha sido realizada na alta da maternidade) e reforçar a importância de dar continuidade nas próximas consultas com agendamento consentido entre pais e profi ssional (BRASIL, 2023). 84 Falaremos mais sobre a consulta de enfermagem nos temas seguintes. Agora, vamos nos atentar à visita domiciliária, onde a puérpera e o recém-nascido (RN) deverão receber a visita domiciliária de Enfermagem logo que chegam ao domicílio, durante a primeira semana. Nesta visita domiciliária, o enfermeiro deve estar atendo em seguir o descrito na fi gura 5 (SÃO PAULO, 2015, p. 7): Figura 5 – Primeiro atendimento: visita domiciliária Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/sms-sp/2015/sms-10932/sms-10932-7671.pdf. Aces- so em: 14 abr. 2023. As visitas domiciliares são recomendadas às famílias de gestantes e de crianças na primeira semana pós-parto e, posteriormente a esse período, a periodicidade deve ser pactuada com a família a partir das necessidades evidenciadas e considerando-se os fatores de risco e de proteção. Cabe lembrar que a visita domiciliar não é apenas uma atribuição do agente comunitário, pois toda a equipe faz uso dessa prática, podendo a primeira consulta do RN e da puérpera ocorrer em domicílio, conduzida pelo médico e/ ou enfermeiro (BRASIL, 2012). De forma geral, a primeira visita ao recém-nascido tem por objetivos principais (BRASIL, 2012, p. 38): • Observar as relações familiares; • Facilitar o acesso ao serviço de saúde; • Possibilitar ou fortalecer o vínculo das famílias com as equipes de saúde; • Escutar e oferecer suporte emocional nessa etapa de crise vital da família (nascimento de um fi lho); • Estimular o desenvolvimento da parentalidade; • Orientar a família sobre os cuidados com o bebê; • Identifi car sinais de depressão puerperal; • Promover o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida; 85 • Prevenir lesões não intencionais; e • Identificar sinais de perigo à saúde da criança. 3.2 VÍNCULO, PREVENÇÃO DE ACIDENTES E VIOLÊNCIA O profissional de saúde, desde o pré-natal, deve estar atento às mudanças e às necessidades de adaptação que ocorrem nas famílias diante do nascimento de um novo ser. De igual forma, o profissional de saúde deve saber que não é uma tarefa fácil uma família adaptar-se a uma nova realidade, especialmente, quando se trata do primeiro filho. Neste caso, os pais necessitam ajustar seu sistema conjugal, criando um espaço para os filhos. Além disso, é preciso aprender a unir as tarefas financeiras e domésticas com a educação dos filhos (BRASIL, 2012). O apego, vínculo emocional recíproco entre um bebê e seu cuidador, constrói- se baseado em relacionamentos preliminares estabelecidos ainda com o feto e com a criança imaginada pelos pais, antes mesmo do seu nascimento (BRASIL, 2012). O enfermeiro deve estar atento, pois é um período de muitas mudanças e suscetível a episódios de melancolia e depressão pós-parto. Quando se fala especificamente de casos de violência, o acolhimento da criança e da família em situação de violência deve permear todos os locais e momentos do processo de produção de saúde, como uma ação contínua em todo o percurso da atenção na rede de cuidado e de proteção social, diferenciando-se da tradicional triagem (BRASIL, 2012). Neste sentido, os profissionais de saúde que compõem a equipe de Saúde da Família são os atores principais na referida abordagem (BRASIL, 2010; 2012). Como fazer o acolhimento? • Todo e qualquer membro da equipe deve receber as crianças e suas famílias de forma empática e respeitosa; • Deve-se acolher a criança e a família em lugar específico para este tipo de atendimento; • Acompanhe o caso e proceda aos encaminhamentos desde a entrada da criança e de sua família no setor de saúde até o seguimento deles para a rede de cuidado e de proteção social; • Adote atitudes positivas e de proteção à criança e à sua família; • Atue de forma conjunta com toda a equipe. Espera-se que toda criança tenha o direito de crescer e se desenvolver de forma saudável. A criança amada e desejada cresce mais tranquila e tende a se relacionar de forma mais harmoniosa com seus pais/cuidadores e com outras crianças. A exposição de crianças a situações de violência pode comprometer seu desenvolvimento físico, emocional e mental. Quando maus-tratos ocorrem na infância, os prejuízos são 86 maiores que em qualquer outra faixa etária. Como o aprendizado se dá pela imitação do comportamento dos adultos, crianças que assistem e/ou são vítimas de contínuas cenas de violência em casa podem achar que essa é uma forma natural de lidar com os confl itos e, assim, passar a adotar esse modelo de comportamento (BRASIL, 2018). Assim, o profi ssional da Atenção Básica deve estar preparado para (BRASIL, 2012): • Desenvolver ações de promoção da saúde e prevenção de violências; • Conhecer as diversas formas de manifestação da violência; • Identifi car os casos suspeitos de violência na comunidade; • Cuidar de crianças em situação de violência, procurando ampliar a rede de cuidados e de proteção social para a tomada de decisões; • Buscar apoio da rede de cuidados e de proteção social no território, para interromper a violência, especialmente a de repetição, encaminhando as crianças para os serviços especializados identifi cados como referências no território; • Realizar o acompanhamento da criança e da família, enquanto não houver a alta do serviço de saúde; • Realizar o seguimento da criança e de sua família em situação de violência para a continuidade do cuidado na rede de proteção social; • Fazer intenso trabalho de articulação em todo este processo, não apenas com os serviços da rede de saúde e das demais políticas públicas (escola, CRAS, etc.), mas também com as forças vivas da comunidade, como associações de moradores, organizações não governamentais, sindicatos, igrejas etc. Os seguintes sinais: manchas roxas, queimadura de cigarros, mãos queimadas em luvas, secreção/sangue na genitália e ânus, medo do contato físico, choro sem causa aparente, tristeza, isolamento, agressividade, criança faltar à escola e negligência na saúde e higiene podem signifi car que a criança está sendo vítima de violência. Ficar atento para esses sinais ou sintomas é um papel contínuo dos pais/cuidadores e de profi ssionais. Na educação das crianças, impor limites não signifi ca bater ou castigar. O diálogo deve ser estimulado desde cedo pelos pais/cuidadores; esse é o caminho (BRASIL, 2018). É importante reforçar com a população que, se suspeitarem que alguma criança está sofrendo violência, devem imediatamente procurar a Unidade de Saúde, o Conselho Tutelar ou a Vara da Infância e da Juventude, ou ligar gratuitamente para o nº 100. ATENÇÃO 87 De forma geral, é possível seguir o proposto na Figura 6 para avaliar e classifi car a possibilidade de violência: Figura 6 – Avaliação e classifi cação das possibilidades de violência Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. A linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências, dá suporte ao profi ssional enfermeiro, para entender a cada etapa, desde o acolhimento, atendimento, notifi cação e seguimento conforme demonstrado na Figura 7. É importante frisar que a linha de cuidado é uma estratégia para a ação, um caminho para o alcance da atenção integral ou da integralidade do cuidado, um dos princípios do SUS, que busca articular a produção do cuidado desde a atenção primária até o mais complexo nível de atenção, exigindo ainda a interação com os demais sistemas para a garantia de direitos, proteção e defesa de crianças e adolescentes (BRASIL, 2010). 88 Você já ouviu falar de fatores protetores? Os fatores protetoressão caracterizados por atributos pessoais, familiares ou sociais que minimizam ou neutralizam o impacto do risco. Quanto mais atuantes, maior é o seu efeito positivo na vida das crianças e dos adolescentes (BRASIL, 2010). NOTAS Figura 7 – Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 89 Estamos comentando tanto sobre violência, sinais, linha de cuidado, mas você sabe quais são os tipos e natureza da violência infantil? Acesse o seguinte link: https://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvimento. pdf e https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_ quadros_procedimentos_aidpi_crianca_2meses_5anos.pdf. DICA Outro aspecto importante, é a visita domiciliar, que aparece como grande aliada para o enfermeiro e sua equipe, pois possibilita a manutenção de um contato mais próximo com as comunidades nas quais trabalham, especialmente, com as crianças e suas famílias, tendo assim oportunidades únicas durante as visitas domiciliares, tanto para detectar problemas relacionados a acidentes e violência, como para realizar ações educativas e intervenções (BRASIL, 2012). Pensando nos cuidados para garantir a segurança das crianças, a fi m de evitar acidentes, temos alguns cuidados a serem seguidos, conforme Figuras 8, 9 e 10. Figura 8 – Cuidados para garantir a segurança das crianças, a fi m de evitar acidentes, de 0 a 6 meses de idade Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi- mento.pdf. Acesso em: 13 mar. 2023. 90 Figura 9 – Cuidados para garantir a segurança das crianças, a fi m de evitar acidentes, de 6 a 12 meses de idade Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi- mento.pdf. Acesso em: 13 mar. 2023. Figura 10 – Cuidados para garantir a segurança das crianças, a fi m de evitar acidentes, de 1 a 2 anos de idade Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi- mento.pdf. Acesso em: 13 mar. 2023. Highlight Highlight Highlight Highlight Highlight Highlight Highlight 91 O tópico “Cuidando da segurança da criança: prevenindo acidentes e violência”, da Caderneta de Saúde da Criança (BRASIL, 2018, p. 33), apresenta os cuidados preventivos relativos aos acidentes, por faixa etária. Apresenta, ainda, as consequências dos maus tratos domésticos, exteriorizados em sinais físicos e alterações comportamentais. Acesse o conteúdo da caderneta de saúde da menina no link a seguir: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_ crianca_menina_12ed.pdf e para a caderneta de saúde do menino: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_ crianca_menino_12ed.pdf. IMPORTANTE 92 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tema de aprendizagem, você estudou: • A importância do atendimento à criança, especialmente nas ações produzidas pela Atenção Básica, através de linhas de cuidado. • A importância de iniciar o seguimento da criança através da visita domiciliaria que favorece o acolhimento, a escuta qualificada e a permanência da criança e da família no serviço de saúde. • Que é fundamental a orientação para que medidas de segurança sejam adotadas para reduzir a possibilidade de acidentes na infância, por faixa etária. • Ter atenção a sinais de violência e como agir nessas suspeitas. 93 RESUMO DO TÓPICO 1 AUTOATIVIDADE 1. O atendimento à criança engloba uma sequência de ações ou medidas preventivas desde antes do nascimento, evitando seu adoecimento para, desta forma, promover crescimento e desenvolvimento adequados. Sobre as medidas que compreendem, desde o momento da concepção do indivíduo até os dois anos de idade da criança, são chamadas de: a) ( ) Agenda de cuidados. b) ( ) Atenção Básica. c) ( ) Os primeiros 1000 dias. d) ( ) Linhas de cuidado. 2. As visitas domiciliares são recomendadas às famílias de gestantes e de crianças na primeira semana pós-parto, sendo que durante esta visita é esperado que o enfermeiro, analise as sentenças a seguir: I- Observe indícios de depressão pós-parto e se houve intercorrências pós-parto junto à puérpera; II- Direcione o atendimento para o recém-nascido, e agende nova visita para avaliar a puérpera. III- Verificar a situação vacinal da mãe da criança. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3. As mudanças na sociedade moderna demandam mudanças na atenção. De acordo como o Ministério da Saúde (2012), quais são os grupos de maior destaque (maior risco) relacionado à saúde da criança? Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Aquelas que nascem prematuras ou com muito baixo peso (MBP) ou baixo peso ao nascimento. ( ) As crianças que não frequentam creches e da classe média alta ( ) As crianças com doenças crônicas e distúrbios psiquiátricos e que vivem com necessidade especial ou deficiência. 94 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4. A faixa etária dos 0 a 6 meses de idade demanda grande cuidado, e muito no que tange aos cuidados para garantir a segurança, a fim de evitar acidentes. Dentro deste contexto e neste público específico, cite os principais acidentes que podem correr com crianças de 0 a 6 meses de idade, e disserte sobre as medidas de segurança que podem ser adotadas. 5. A violência interpõe-se como uma poderosa ameaça ao direito à vida e à saúde da criança e de sua família. Mais do que qualquer outro tipo de violência, a cometida contra a criança não se justifica, pois, as condições peculiares de desenvolvimento desses cidadãos os colocam em extrema dependência de pais, familiares, cuidadores, do poder público e da sociedade. Neste contexto, disserte sobre quais os sinais que são indicativos de violência e quais os serviços que a pessoa que suspeita de um caso de violência pode procurar? AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022. 95 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA 1 INTRODUÇÃO A consulta de enfermagem consiste na avaliação sistemática do crescimento e desenvolvimento infantil, nas queixas mais comuns da infância, estado nutricional, situação vacinal, situação social e parte psíquica da criança. A Atenção Primária à Saúde (APS) é apontada, em todo o mundo, como a estratégia mais efetiva para a universalização do acesso à saúde e inclui entre suas diretrizes, a integralidade da atenção, a coordenação do cuidado, a centralidade na família, a orientação à participação comunitária e a competência cultural dos profissionais, a fim de alcançar a resolutividade desejada em face dos principais problemas de saúde da população, o que, no Brasil, vem ao encontro dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Para tanto é imperativo organizar o processo de trabalho das equipes na atenção à saúde sob o enfoque de risco e vulnerabilidade por meio de um olhar diferenciado para o usuário que está exposto a determinadas condições, sejam biológicas, ambientais ou sociais que podem predispor a uma maior probabilidade de apresentar problemas ou mesmo morrer. Acadêmico! No Tema de Aprendizagem 2, nós abordaremos a assistência de enfermagem à criança na Atenção Básica. 2 CONSULTA DE ENFERMAGEM / PUERICULTURA A consulta de enfermagem é uma atividade privativa do enfermeiro, assegurada pela Lei nº 7.498/86, art. 11, inciso I, alínea “i”, pelo Decreto nº 94.406/87, art. 8º, inciso I, alínea “e”, pelo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e normatizada pela Resolução Cofen nº 358/2009(COFEN, 2009). Realizar consulta de enfermagem é um direito do profissional enfermeiro, em que este profissional identifica os principais problemas de saúde vivenciados pela pessoa em atendimento, pondera sobre a conduta mais assertiva para a resolução dos problemas apresentados, prescreve e implementa medidas de enfermagem, que tem o objetivo de promover, proteger, recuperar e/ou reabilitar a pessoa. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 96 São objetivos Gerais da Consulta do Enfermeiro (RIBEIRÃO PRETO, 2022, p. 19): • Prestar assistência de enfermagem às queixas comuns na infância. • Acompanhar o Crescimento e Desenvolvimento (CD) de crianças e de adolescentes. • Estimular o Aleitamento Materno e os Doze Passos da Alimentação Saudável. • Identifi car situações de risco para a saúde da criança e encaminhar os casos que necessitem de acompanhamento pelo pediatra e/ou especialista, como a equipe de atenção básica de saúde. • Estimular a formação de grupos educativos de puericultura. • Reduzir a morbimortalidade. • Contemplar os direitos da criança, conforme o Estatuto da Criança (ECA). • Identifi car, denunciar e encaminhar às instituições competentes os casos de acidentes, abusos e violência doméstica contra a criança. É de extrema importância que a puericultura tenha início na primeira semana de vida da criança e o mais próximo possível da alta hospitalar. É neste período que a mãe e família precisam de apoio e orientações sobre o recém-nascido (RN), cuidados habituais e amamentação (RIBEIRÃO PRETO, 2022). Você lembra que no Tema de Aprendizagem 1 relatamos a importância da visita domiciliar e que no caso específi co da assistência de enfermagem direcionada a crianças, a primeira consulta, que deverá ocorrer na Unidade de Atenção Primária à Saúde (APS), podendo ser realizada durante a visita domiciliar pelo médico e/ ou enfermeiro, juntamente com o Agente Comunitário de Saúde? Essa primeira consulta apresenta características importantes, que precisam ser realizadas com muito profi ssionalizamos e cautela, pois é um momento crucial para orientar a família sobre os desafi os diários quanto: “aleitamento materno, puerpério, realizar imunizações e a triagem neonatal” e “reforçar a importância de dar continuidade nas próximas consultas com agendamento consentido entre pais e profi ssional (BRASIL, 2023). INTERESSANTE Esta primeira VD é uma oportunidade importante para orientar as peculiaridades do cuidado ao Recém-nascido (RN) como (BRASIL, 2012, p. 8): 97 Figura 11 – Principais orientações e peculiaridades do cuidado ao recém-nascido que preci- sam ser avaliadas na primeira consulta/ visita Fonte: o autor Idealmente a primeira consulta do recém-nascido deverá ocorrer na sua primeira semana de vida, por se tratar de um momento propício para estimular e auxiliar a família nas difi culdades, assim como estabelecer ou reforçar a rede de apoio à família (BRASIL, 2012). O conteúdo da consulta deve ser individualizado as demandas no bebê e sua família, mas é importante que se sigam as recomendações previstas pelo Ministério da saúde, e sempre realize adequadamente o preenchimento da Caderneta de Saúde da Criança para o registro das principais informações de saúde da criança (BRASIL, 2012). Uma boa anamnese, exame físico completo, orientações adequadas e diretivas, fazem parte dessas recomendações. Para saber detalhadamente, acesse o Caderno de Atenção Básica nº 33, disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvimento.pdf. DICA 98 De forma geral, o Ministério da Saúde recomenda sete consultas de rotina no primeiro ano de vida (na 1ª semana, no 1º mês, 2º mês, 4º mês, 6º mês, 9º mês e 12º mês), além de duas consultas no 2º ano de vida (no 18º e no 24º mês) e, a partir do 2º ano de vida, consultas anuais, próximas ao mês do aniversário. Essas faixas etárias são selecionadas porque representam momentos de oferta de imunizações e de orientações de promoção de saúde e prevenção de doenças. As crianças que necessitem de maior atenção devem ser vistas com maior frequência (BRASIL, 2012). Neste contexto é importante revisar os conceitos que vimos no Tema de Aprendizagem 1 sobre classifi cação de risco, pois isso interferirá na frequência das consultas. É fundamental considerar os seguintes riscos (SÃO PAULO, 2015) antes de estruturar a periodicidade de consultas: • Risco de crescimento e desenvolvimento: curva descendente ou horizontal, ganho de peso insufi ciente, agravos nutricionais, prematuridade, desenvolvimento não compatível com a idade, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e infecção de repetição. • Risco de infecções de repetição: internação, atraso vacinal, desnutrição e aleitamento misto. • Riscos identifi cados ao nascer: baixo peso ao nascer (de vida é de fundamental importância, pois é nesta etapa da vida extrauterina que o tecido nervoso mais cresce e amadurece, estando, portanto, mais sujeito a agravos. É também nesta época que a criança responde melhor aos estímulos que recebe do meio ambiente e às intervenções, quando necessárias (SÃO PAULO, 2012). Portanto, é importante que neste período o profi ssional de saúde, juntamente com a família e a comunidade, faça a vigilância do desenvolvimento infantil e verifi que o adequado preenchimento da Caderneta de Saúde da Criança com os parâmetros para o desenvolvimento da criança (SÃO PAULO, 2012). 101 Em todas as consultas é necessária a utilização da Caderneta de Saúde da Criança para o registro das principais informações de condições de saúde, sendo um instrumento facilitador da comunicação entre os pais e os profi ssionais de saúde. Que tal conhecer mais sobre a Caderneta da Criança? Acesse: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_ crianca_menino_12ed.pdf para a Caderneta de Saúde da Criança menino, e https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ caderneta_saude_crianca_menina_12ed.pdf para a Caderneta de Saúde da Criança menina. DICA A identifi cação de problemas é fundamental para o desenvolvimento e a intervenção precoce para o prognóstico dessas crianças, assim os aspectos do desenvolvimento infantil, de 0 a 10 anos são (FIGURA 15) (BRASIL, 2012): Figura 15 – Aspectos do desenvolvimento da criança de 0 a 10 anos 102 Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi- mento.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023. A criança deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada ou motivada no devido momento, ela não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Afi nal, o desenvolvimento infantil se dá à medida que a criança vai crescendo e vai se desenvolvendo de acordo com os meios onde vive e os estímulos deles recebido (BRASIL, 2012). Portanto, são de relevância o diagnóstico e o acompanhamento do desenvolvimento das crianças, e o enfermeiro tem papel importante na avaliação e classifi cação do desenvolvimento, sendo listado na Figura 16, o que observar e verifi car, além dos fatores de risco e alterações de exame físico, e na Figura 17 como avaliar, classifi car e tratar (BRASIL, 2017): 103 Figura 16 – O que observar, verifi car, quais fatores de risco e alteração no exame físico, além de desenvolvimento etário Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. Figura 17 – Como avaliar, classifi car e tratar o desenvolvimento infantil Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. 104 Você, como enfermeiro, deve estar atento aos fatores protetores e de risco para a promoção do desenvolvimento infantil. ATENÇÃO Na Figura 18 vamos ilustrar esses fatores, assim como descrevê-los através de características individuais, familiares e comunitárias (BRASIL, 2017). Figura 18 – Orientação para promoção do desenvolvimento infantil segundo fatores proteto- res e de risco, divididos por características individuais, familiares e comunitárias Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. 105 2.2 CRESCIMENTO DA CRIANÇA O crescimento é um processo dinâmico e contínuo, expresso pelo aumento do tamanho corporal. Constitui um dos indicadores de saúde da criança. Ele é influenciado por fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (ambientais) entre os quais se destacam a alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança, que atuam acelerando ou restringindo tal processo. O acompanhamento sistemático do crescimento, do ganho de peso e altura, um fenômeno quantitativo, que termina ao final da adolescência, permite a identificação de crianças com maior risco de morbidade, por sinalização precoce de subnutrição e da obesidade. Ele deve ser avaliado e colocado nas curvas da OMS que constam na Caderneta de Saúde da Criança. A medida de crescimento físico em crianças é um elemento-chave na avaliação de seu estado de saúde. Os parâmetros de crescimento físico incluem peso, altura, espessura da prega cutânea, circunferência do braço e circunferência da cabeça. Os valores destes parâmetros de crescimento são marcados em gráficos com percentis, e as medidas da criança em percentis são comparadas com aquelas da população geral (SILVEIRA, s.d.). Além disso, as informações sobre peso e desenvolvimento infantil coletadas durante a avaliação do crescimento e desenvolvimento da criança facilitam o diálogo e o aconselhamento com a mãe ou responsável, a partir de indicadores de saúde de fácil compreensão e próximos de seu universo cultural. Estudos têm demonstrado que a maioria das mães identifica que seus filhos estão crescendo quando apresentam aumento de peso e a aquisição de habilidades. Esses são considerados os principais indicativos do crescimento normal da criança (SILVEIRA, s.d.). Existem alguns fatores que influenciam o crescimento e o desenvolvimento da criança como o meio ambiente, fatores genéticos, endócrinos. Um exemplo é o meio ambiente, onde a criança “absorve” as qualidades e dificuldades do meio onde vive. A partir desse meio serão criados seus hábitos, alimentação, educação e higiene. As deficiências de micronutrientes, são problemas comumente encontrado em crianças, especialmente a anemia por deficiência de ferro, que é mais frequente em crianças menores de dois anos de idade e que pode causar sérios impactos no desenvolvimento cognitivo e motor, podendo também levar à morte. Essas deficiências 106 são agravos nutricionais resultantes de uma complexa rede de fatores determinantes, que incorporam desde a “alimentação e nutrição, insegurança alimentar, ingestão inadequada e/ou insuficiente de alimentos in natura e minimamente processados, a baixa qualidade nutricional da alimentação e a biodisponibilidade de micronutrientes” (BRASIL, 2022, p. 6). Por isso é fundamental o papel do enfermeiro na prevenção e atenção às deficiências de micronutrientes, assim como na promoção da alimentação adequada e saudável, seguindo as diretrizes propostas pelos Programas Nacionais de Suplementação de Micronutrientes. As Vitaminas A e D devem ser suplementadas a partir do 7º dia de vida até dois anos de idade como medida profilática. A deficiência de Ferro é a mais frequente dentre as carências nutricionais das crianças em todo o mundo, constituindo um grave problema de saúde pública. A deficiência de ferro causa repercussões negativas para o desenvolvimento mental e motor das crianças, ocasionando uma redução do rendimento escolar. Atualmente, o MS conta com três programas e estratégias voltados para a prevenção e atenção às deficiências de micronutrientes por meio da suplementação profilática, são eles: • Fortificação da alimentação infantil com micronutrientes em pó – NutriSUS: • Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF) e • Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A (PNSVA). Que tal saber mais sobre esses programas? Acesso o link: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_ programas_nacionais_suplementacao_micronutrientes.pdf. DICA 107 Figura 19 – Organização do fl uxo de suplementação de micronutrientes em crianças na APS Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_programas_nacionais_suple- mentacao_micronutrientes.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. A promoção da alimentação adequada e saudável é “ação central, primordial e estruturante da atenção voltada a todos os indivíduos, independentemente do ciclo de vida, e deve ser a base das orientações”. Para isso, o “Guia Alimentar para Crianças BrasileirasMenores de 2 Anos” e o “Guia Alimentar para a População Brasileira” trazem as recomendações ofi ciais sobre a alimentação adequada e saudável para toda a população brasileira. As recomendações apresentadas nos guias alimentares, além de “promoverem a saúde e o bem-estar da população, também garantem a ingestão adequada de nutrientes, contribuindo para a prevenção das defi ciências de vitaminas e minerais” (BRASIL, 2022, p. 8). O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e oferecido até dois anos de idade ou mais, bem como a diversidade da alimentação, são fatores determinantes para a oferta de diferentes nutrientes e contribuem para a prevenção de defi ciências nutricionais, como a anemia e a defi ciência de vitamina A. Abordaremos mais sobre a importância do aleitamento materno, ainda nesta unidade. ESTUDOS FUTUROS 108 2.3 HIGIENE ORAL Os dentes decíduos (dentes de leite) são importantes para “guardar” o espaço e preparar o caminho dos dentes permanentes, servindo de guia para que esses dentes se posicionem de forma correta. Para a criança se alimentar bem e com prazer e ter uma mastigação efi ciente dos alimentos sem desconforto, é necessário que seus dentes estejam em bom estado. A perda dos dentes de leite antes do tempo pode prejudicar a criança que está aprendendo a falar, a pronúncia de algumas palavras. Além disso, a criança poderá se sentir diferente do restante do grupo de sua faixa etária, podendo causar algum problema emocional/social (BRASIL, 2018). Olhe com atenção a fi gura 20 que descreve o desenvolvimento dos dentes por faixa etária. Figura 20 – Desenvolvimento dos dentes Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_saude_crianca_menino_12ed. pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. Para a limpeza dos dentes/boca é importante: Dicas para a limpeza da boca/ dentes (BRASIL, 2018). • A partir do nascimento do primeiro dente é indispensável utilizar uma escova de dente pequena de cerdas macias, com o uso de pequena quantidade (menos de um grão de arroz) de creme dental com fl úor. • Enquanto a criança possuir apenas dentes de leite, é sufi ciente escovar os dentes com creme dental duas vezes ao dia, e deve-se cuidar para que ela não engula a espuma que se forma durante a escovação. • O creme dental deve ser mantido fora do alcance das crianças. • O uso do fi o dental está indicado quando os dentes estão juntos, sem espaços entre eles, uma vez ao dia. 109 • Os pais ou cuidadores devem escovar os dentes das crianças até que elas aprendam a fazer isto sozinhas, mas devem acompanhar até perceber que estão fazendo a higienização bucal de maneira correta. Seguindo as orientações previstas na Caderneta de Saúde da Criança, neste período, devem ser repassadas aos pais: 1. Mamar no peito, desde o nascimento, faz o bebê crescer forte e saudável e favorece o desenvolvimento da musculatura e ossos da face, evitando problemas no posicionamento dos dentes. 2. Evitar o uso de chupetas, bicos e mamadeiras, pois eles podem deixar os dentes “tortos” e prejudicar a mastigação, a deglutição (ato de engolir), a fala, a respiração e o crescimento da face. 3. Após as mamadas e depois de cada refeição e uso de xarope (que são adocicados), fazer a limpeza dos dentes, independente do horário. 4. Evitar colocar açúcar nos alimentos oferecidos ao bebê, pois ele aumenta o risco de cárie; muitos alimentos, como as frutas, já contêm açúcar. 5. O uso de flúor nos dentes ajuda a protegê-los da cárie. Ele está presente na maioria das pastas de dente e na água tratada de muitos municípios (BRASIL, 2018). 2.4 ALEITAMENTO MATERNO O crescimento depende diretamente de alimentação suficiente em quantidade e qualidade, assim como da capacidade de absorção dos nutrientes pelo indivíduo. O primeiro ano de vida é um período caracterizado por crescimento e desenvolvimento rápidos e, portanto, requer disponibilidade proporcionalmente mais elevada de energia e nutrientes, em relação à criança maior e ao adulto. Existem também diferenças qualitativas, relacionadas às particularidades fisiológicas e metabólicas dessa fase, como a necessidade elevada de aminoácidos e ácidos graxos essenciais, minerais e vitaminas (ALVES, 2018). Amamentar é muito mais do que nutrir a criança. É um processo que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, além de ter implicações na saúde física e psíquica da mãe (BRASIL, 2009). O leite humano é, indiscutivelmente, o alimento ideal para o lactente, especialmente nos seis primeiros meses de vida, devido aos seus benefícios em termos nutricionais, imunológicos, além do efeito psicossocial positivo da amamentação para o binômio mãe-filho. O leite humano é muito mais do que um conjunto de bons nutrientes: pela sua complexidade biológica, é uma substância viva, ativamente protetora e imunomodeladora (BRASIL, 2009). 110 O aleitamento materno marca o início de uma alimentação saudável e, isoladamente, é capaz de nutrir de modo adequado a criança nos primeiros seis meses de vida, e quando se inicia a introdução de alimentos complementares, com a manutenção do aleitamento materno pelo menos até os dois anos (BRASIL, 2012). Por isso, são poucas as exceções onde o aleitamento materno é contraindicado de forma parcial ou total, pois apesar da alimentação variar enormemente entre as pessoas, o leite materno, surpreendentemente, apresenta composição semelhante para todas as mulheres que amamentam do mundo (BRASIL, 2012). IMPORTANTE Como enfermeiro, é importante que você saiba quais são os casos em que a amamentação deve ser suspendida de forma total ou parcial. Leia com atenção o item 9.1.3 Contraindicações para a amamentação do Cadernos de Atenção Básica nº 33: Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento (BRASIL, 2012). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ saude_crianca_crescimento_desenvolvimento.pdf para ciência dessas situações. DICA Quando avaliamos o leite materno é importante também relatar os tipos e a composição do leite materno. Temos três tipos de leite humano: colostro, leite de transição e leite maduro. Esta evolução do leite materno está associada às necessidades e demandas do bebê. Assim, o colostro é o leite secretado nos primeiros dias após o nascimento, sendo um leite rico em proteínas e com menor teor de gorduras. O leite de transição é o leite secretado entre o 7º e o 14ª dia após o nascimento, e o leite maduro, é o leite completo, é o secretado a partir da segunda semana após o parto (BRASIL, 2002). É importante ressaltar que a composição do leite sofre alterações, não apenas no decorrer do tempo após o parto, como na própria mamada. Quando avaliamos o leite de uma mesma mamada é possível identificar diferenças entre o leite anterior e o posterior (BRASIL, 2002). Assim, o leite anterior (do início da mamada) é rico em água e nutrientes, enquanto o leite posterior (do final da mamada) é um leite rico em energia (calorias) e com maior 111 concentração de gordura. Daí a importância de a criança esvaziar bem a mama, para que possa receber o leite do final da mamada, que é mais calórico, promovendo a sua saciedade e, consequentemente, o ganho adequado de peso do bebê (BRASIL, 2009). O tempo de permanência na mama em cada mamada não deve ser fixado, haja vista que o tempo necessário para esvaziar uma mama varia para cada dupla mãe/ bebê e, numa mesma dupla, pode variar dependendo da fome da criança, do intervalo transcorrido desde a última mamada e do volume de leite armazenado na mama, entre outros. Um ponto importante de se frisar é que a mamada sempre seja iniciada pela última mama que o bebê mamou, para ele tenha acesso ao leite anterior e posterior (BRASIL, 2009). É muito importante conhecer e utilizar as definições de aleitamento materno adotadas pela Organização Mundialda Saúde (OMS) (BRASIL, 2009): • Aleitamento materno exclusivo – quando a criança recebe somente leite Aleitamento materno exclusivo materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos. • Aleitamento materno predominante – quando a criança recebe, além do Aleitamento materno predominante leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutas e fluidos rituais. • Aleitamento materno – quando a criança recebe leite materno (direto da mama Aleitamento materno ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos. • Aleitamento materno complementado – quando a criança recebe, além Aleitamento materno complementado do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. Nessa categoria a criança pode receber, além do leite materno, outro tipo de leite, mas este não é considerado alimento complementar. • Aleitamento materno misto ou parcial quando a criança recebe leite Aleitamento materno misto ou parcial materno e outros tipos de leite. Que tal assistir aos seguintes vídeos para conhecer mais sobre a amamentação? Sociedade Brasileira De Pediatria. Ministério da Saúde. Amamentação: muito mais do que alimentar a criança – completo. 22 min. Brasília, 2015. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=i31VEa--XpE. DICA 112 Enquanto enfermeiro, é fundamental que você siga o fl uxograma de atendimento para conseguir impactar nas taxas de aleitamento materno exclusivo. Para tanto, olhe com atenção a Figura 21 que ilustra como manejar os casos de aleitamento materno exclusivo e a fi gura 22 para alimentação complementar. Figura 21 – Fluxograma de manejo para crianças com problemas referentes ao aleitamento materno exclusivo Fonte: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/saude733202205.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023. Figura 22 – Fluxograma de manejo para crianças com problemas referentes ao aleitamento materno e alimentação complementar Fonte: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/saude733202205.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023. 113 A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca quatro pontos-chave que caracterizam o posicionamento e pega adequados e que podem influenciar diretamente na manutenção do aleitamento materno (BRASIL, 2009): • Pontos-chave do posicionamento adequado: 1. Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura do mamilo; 2. Corpo do bebê próximo ao da mãe; 3. Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido); 4. Bebê bem apoiado. • Pontos-chave da pega adequada: 1. Mais aréola visível acima da boca do bebê; 2. Boca bem aberta; 3. Lábio inferior virado para fora; 4. Queixo tocando a mama. Os profissionais de saúde devem disponibilizar o tempo que for necessário para dar apoio à mãe e ao seu bebê durante o início e a manutenção da amamentação. A mãe deve ser orientada sobre os sinais que indicam que o bebê está pronto para mamar (movimento dos olhos, da cabeça, sinais de procura com a língua para fora, agitação dos braços, mãos na boca etc.), não é necessário esperar o choro do bebê. Os profissionais devem conversar sobre a experiência de amamentar e identificar as dificuldades da amamentação (BRASIL, 2012). Benefícios do aleitamento materno para a criança (BRASIL, 2012): • Redução de manifestações alérgicas, especialmente durante a amamentação exclusiva. • Redução da incidência de doenças crônicas tais como aterosclerose, hipertensão arterial, diabetes, doença de Crohn, colite ulcerativa, doença celíaca, doenças autoimunes e linfoma. • Melhora do desenvolvimento neuropsicomotor, especialmente nos prematuros, tendo relação direta com o tempo de amamentação. • Proteção contra problemas de oclusão dentária, síndrome do respirador bucal e distúrbios dos órgãos fonoarticulatórios. Benefícios do aleitamento materno para a mãe (BRASIL, 2012): • Proteção à nutriz contra o câncer de mama pré-menopausa e de ovário em qualquer idade. • Na amamentação exclusiva, ocorre o rápido retorno ao peso pré- gestacional. 114 • Há um efeito contraceptivo, principalmente quando a mulher permanece em amenorreia. • Promoção do vínculo afetivo mãe-fi lho. Benefícios do aleitamento materno para a sociedade (BRASIL, 2012): • Redução da mortalidade infantil, principalmente por diarreia e por infecções respiratórias. Lactentes menores, exclusivamente amamentados, que residem em locais de pobreza, sem acesso à água potável e que recebem alimentos de má qualidade são os que mais se benefi ciam. • Redução do número de internações hospitalares. O aleitamento materno, além de proteger, também diminui a incidência e a gravidade das doenças. Nos prematuros, em que a imaturidade imunológica é mais acentuada, essa função é essencial, especialmente contra a enterocolite necrosante. • Economia familiar, pois a alimentação artifi cial é onerosa para a maioria da população. • Benefício para toda a sociedade, pois a criança, ao adoecer menos, reduz o número de falta dos pais ao trabalho, necessita de menos atendimento médico, medicações e hospitalizações e se torna mais saudável nos aspectos psíquico e social. Com tantos benefícios, várias ações de incentivo à amamentação exclusiva até os seis meses de vida e sua complementação até pelo menos dois anos de idade têm ocorrido nesses últimos anos, tais como investimento na capacitação dos profi ssionais da saúde e a veiculação de informações ao público pelos diferentes meios de comunicação como revistas leigas, rádio e televisão. Entretanto, os índices de aleitamento ainda estão bem aquém do desejado. Situação difícil, não?! Por isso, o incentivo ao aleitamento materno continua sendo um grande desafi o, considerando o elevado índice de desmame precoce e o alto número de mortes infantis por causas evitáveis (BRASIL, 2012). Que tal saber mais sobre aleitamento materno? E que tal agora ler sobre as afecções mamárias, o desenvolvimento da ordena e como armazenar o leite materno? INTERESSANTE 115 2.5 INTRODUÇÃO ALIMENTAR Como apresentado anteriormente, o aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses de idade e complementado até os dois anos ou mais. A partir de seis meses, recomenda-se a introdução de alimentos complementares, já que antes desse período o leite materno é capaz de suprir todas as necessidades nutricionais do bebê. Assim, a alimentação complementar deve prover suficientes quantidades de água, energia, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, por meio de alimentos seguros, culturalmente aceitos, economicamente acessíveis e que sejam agradáveis à criança (BRASIL, 2015). Por volta dos seis meses de vida a criança já tem desenvolvidos os reflexos necessários para a deglutição, como o reflexo lingual, manifesta excitação à visão do alimento, sustenta a cabeça, facilitando a alimentação oferecida por colher e tem-se o início da erupção dos primeiros dentes, o que facilita na mastigação. Assim, além de complementar as necessidades nutricionais, a introdução de alimentos, em idade oportuna, aproxima progressivamente a criança dos hábitos alimentares da família e ou cuidador e proporciona uma adaptação do bebê a uma nova fase do ciclo de vida, na qual lhe são apresentados novos sabores, cores, aromas e texturas (BRASIL, 2015). Apesar de todos os nossos esforços, em algumas situações, o desmame precoce pode acontecer. Nessas situações, a equipe de saúde deve estar pronta para ajudar a família a estabelecer o melhor padrão alimentar possível para a criança, respeitando as condições socioeconômicas e os aspectos culturais de cada uma. Se o desmame ocorreu antes do quarto mês de vida, o ideal é a utilização de fórmulas infantis modificadas. O uso do leite de vaca nessa idade deve ser evitado, mas é preciso considerar o poder aquisitivo da família. É1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 77 2 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA REDE BÁSICA E HOSPITALAR ......... 77 3 ATENÇÃO BÁSICA .............................................................................................................81 3.1 COMO INICIAR E REALIZAR O SEGUIMENTO DA CRIANÇA .................................................83 3.2 VÍNCULO, PREVENÇÃO DE ACIDENTES E VIOLÊNCIA ........................................................85 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 92 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 93 TÓPICO 2 - ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA ............95 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................95 2 CONSULTA DE ENFERMAGEM / PUERICULTURA ...........................................................95 2.1 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA .......................................................................................... 99 2.2 CRESCIMENTO DA CRIANÇA ................................................................................................. 105 2.3 HIGIENE ORAL .......................................................................................................................... 108 2.4 ALEITAMENTO MATERNO ....................................................................................................... 109 2.5 INTRODUÇÃO ALIMENTAR ...................................................................................................... 115 3 CALENDÁRIO VACINAL DA CRIANÇA ............................................................................ 119 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 121 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................122 TÓPICO 3 - PROBLEMAS COMUNS NA INFÂNCIA E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO PARA GRUPOS EDUCATIVOS ......................................................................................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................125 2 DOENÇAS RESPIRATÓRIAS: PNEUMONIA, BRONQUITE E BRONQUIOLITE ................125 2.1 PNEUMONIA ............................................................................................................................... 128 2.2 BRONQUITE ............................................................................................................................... 131 2.3 BRONQUIOLITE ........................................................................................................................ 132 3 DOENÇAS DIARREICAS: DIARREIA ...............................................................................133 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................139 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 144 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................145 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 147 UNIDADE 3 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DO ADOLESCENTE ............153 TÓPICO 1 — ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO ...155 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................155 2 ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO ..................155 2.1 O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA ......................................................................................................158 2.1.1 A visita domiciliar ...................................................................................................................... 159 2.1.2 Atendimento individual .......................................................................................................... 159 2.1.3 Atividades em grupo ............................................................................................................... 159 2.1.4 Ações de participação juvenil ...........................................................................................160 2.1.5 Articulação intersetorial .........................................................................................................160 2.2 O PAPEL DOS DEMAIS NÍVEIS DE ATENÇÃO ............................................................................ 165 3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE NA REDE BÁSICA E HOSPITALAR ......................................................................................................................168 3.1 CADERNETA DE SAÚDE DA E DO ADOLESCENTE ..................................................................... 172 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 174 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 175 TÓPICO 2 - CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE ....................................... 177 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 177 2 CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE ........................................................ 177 2.1 AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO PUBERAL ................................. 186 2.1.1 Critérios de Tanner ...................................................................................................................188 2.2 ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA ...................................................................................... 190 2.3 IMUNIZAÇÃO DO ADOLESCENTE ........................................................................................... 191 3 GRUPOS EDUCATIVOS NA ADOLESCÊNCIA .................................................................193 3.1 METODOLOGIAS DE TRABALHO COM GRUPOS .................................................................. 194 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................195 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................196 TÓPICO 3 - PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA .................................................199 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................199 2 PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA ..................................................................199 2.1 OBESIDADE ................................................................................................................................ 199 2.2 TRANSTORNOS ALIMENTARES – ANOREXIA NERVOSA .................................................. 201 E BULIMIA......................................................................................................................................... 201 2.2.1 Anorexia nervosa .................................................................................................................... 202 2.2.2 Bulimia .................................................................................................................................... 203 2.3 TRANSTORNOS EMOCIONAIS – DEPRESSÃO E ANSIEDADE .......................................... 203 2.4 COMPORTAMENTO DE RISCO – DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS .........................................comum a ocorrência de erros na diluição de fórmulas infantis, devido ao seu elevado custo (ALVES, 2018). A introdução deve ser lenta e gradual, respeitando-se a aceitação da criança. Para garantir o aporte de nutrientes, a papa salgada deve conter um alimento de cada grupo desde a primeira oferta, principalmente carne, para prevenir a anemia. O profissional deve levar em consideração a diversidade cultural das famílias atendidas. Deve respeitar e promover a identidade alimentar e cultural das diferentes regiões brasileiras pelo resgate e pela valorização dos alimentos regionais, como frutas, verduras e legumes produzidos nas respectivas regiões (BRASIL, 2012). A alimentação adequada é importante em todas as fases da vida, principalmente durante a infância. A boa nutrição está diretamente relacionada ao crescimento saudável. Para orientar pais e responsáveis sobre as principais etapas para uma alimentação saudável na primeira infância, o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos traz doze passos, que os profissionais de saúde devem reforçar junto a população (BRASIL, 2019). Nas Figuras 23 e 24 temos a recomendação do Ministério da Saúde quanto ao esquema alimentar para crianças amamentadas e não amamentadas. 116 Figura 23 – Esquema alimentar para crianças amamentadas Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi- mento.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. Figura 24 – Esquema alimentar para crianças não amamentadas Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_crianca_crescimento_desenvolvi- mento.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. O período de introdução da alimentação complementar é de elevado risco para a criança, tanto pela oferta de alimentos inadequados, quanto pelo risco de sua contaminação devido à manipulação/preparo inadequados, favorecendo a ocorrência de doença diarreica e distúrbios nutricionais. Por isso, você deve estar preparado para orientar as mães durante esse período! Então, acesse: https://www.svb.org.br/images/guia_ da_crianca_2019.pdf, para saber as principais orientações necessárias para manutenção de uma fase adequada da criança, quando a introdução alimentar. ATENÇÃO 117 No caso das crianças maiores de dois anos, é importante permanecer com as orientações, para que a alimentação dessa criança seja o mais segura possível e assim, evitem-se problemas futuros. Sempre é importante trabalhar com exemplifi cações de cardápios, mas respeitando as características regionais, poder aquisitivo e cultura familiar (ALVES, 2018). A seguir compartilhamos um modelo de cardápio, mas atentando- se que o Guia de Alimentação Saudável do Ministério da Saúde (BRASIL, 2019) oferece alguns exemplos de refeições e cardápios e você poderá se basear nele para montar o cardápio infantil. Figura 25 – Exemplos de cardápios para crianças no segundo ano de vida Fonte: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/Atencao-a-saude-da- -crianca-aspectos-basicos_versao_fi nal.pdf. Acesso em: 24 mar. 2023. 118 Os alimentos sofrem diversos tipos de processamento na sua produção. O tipo de processamento interfere na composição de nutrientes dos alimentos, no sabor, na presença e nos tipos de aditivos, nas circunstâncias em que serão consumidos (quando, onde, com quem) e na quantidade em que serão ingeridos. Além disso, o tipo de processamento tem impacto sobre o ambiente, como veremos a seguir (BRASIL, 2019). Que tal saber mais sobre as categorias de classifi cação dos alimentos segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira? Os alimentos são classifi cados em quatro categorias, segundo a extensão e o propósito do seu processamento: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_ crianca_2019.pdf). INTERESSANTE Você sabia que a principal causa de baixa estatura (altura menor que escore-z –2 ou percentil( ) Ela já deveria ter desmamado a criança quando ela fez quatro meses, que é o período recomendado pela OMS, que coincide com o período de licença maternidade. d) ( ) Ela deve discutir com o marido qual a melhor época do desmame, sendo que não há padronização de tempo máximo ou mínimo. 2. A equipe de saúde da família deve estimular o aleitamento materno exclusivo, considerando que ele traz benefícios para o bebê, para a mãe e para a sociedade. Com base nos benefícios comprovados pela prática do aleitamento materno no lactente e puérpera, analise as sentenças a seguir: I- Diminuição do risco de morte súbita do lactente; auxilia na diminuição do intervalo entre as gestações. II- Redução de alergias; retorno ao peso pré-gestacional de forma mais rápida. III- Aumenta a perda de peso inicial do recém-nascido; diminuição do risco de câncer de mama e ovário. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3. A incorporação de hábitos de higiene bucal, o controle da ingestão de açúcares e a alimentação saudável feita pela família resultarão em saúde bucal para a criança e, consequentemente, melhor qualidade de vida para todos. A equipe de saúde deve estar atenta para avaliar quais são os hábitos familiares e estimular, desde o pré-natal, o envolvimento da mãe e dos familiares no cuidado da saúde bucal do bebê. De acordo com as orientações recomendadas pelo Ministério da Saúde, na Caderneta de Saúde da Criança, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 123 ( ) A partir do nascimento do primeiro dente é indispensável utilizar uma escova de dente pequena de cerdas macias, com o uso de pequena quantidade (menos de um grão de arroz) de creme dental com flúor. ( ) Enquanto a criança possuir apenas dentes de leite, é suficiente escovar os dentes com creme dental uma vez ao dia, sem problemas que ele engula a espuma que se forma durante a escovação. ( ) O uso do fio dental está indicado quando os dentes estão juntos, sem espaços entre eles, uma vez ao dia. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4. O crescimento depende diretamente de alimentação suficiente em quantidade e qualidade, assim como da capacidade de absorção dos nutrientes pelo indivíduo. O primeiro ano de vida é um período caracterizado por crescimento e desenvolvimento rápidos e, portanto, requer disponibilidade proporcionalmente mais elevada de energia e nutrientes, em relação à criança maior e ao adulto (BRASIL, 2012). Sendo responsabilidade das equipes de saúde reforçar as orientações de introdução da alimentação complementar, ilustre os esquemas alimentares recomendados para crianças amamentadas e não amamentadas menores de dois anos recomendados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012). Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: https:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_recem_nascido_profissionais_ v1.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 5. A exposição de crianças a situações de violência pode comprometer seu desenvolvimento físico, emocional e mental. Quando maus-tratos ocorrem na infância, os prejuízos são maiores que em qualquer outra faixa etária. Você, como enfermeiro, ao realizar a consulta ou visita domiciliar, deve verificar situações no ambiente ou nos relacionamentos que sugerem violência ou sinais físicos sugestivos de agressão. Neste contexto, disserte sobre o que se deve observar durante o exame físico quanto a lesões físicas sugestivas de violência física, violência sexual e lesões físicas inespecíficas. AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022. 124 125 TÓPICO 3 - PROBLEMAS COMUNS NA INFÂNCIA E CONTEÚDO PROGRAMÁTICO PARA GRUPOS EDUCATIVOS 1 INTRODUÇÃO A assistência à criança se baseia na promoção da saúde, na prevenção, no diagnóstico precoce e na recuperação dos agravos à saúde. O acompanhamento programado do crescimento e desenvolvimento, complementado por atividades de controle das doenças prevalentes, como diarreia e afecções respiratórias agudas, e pelas ações básicas, como o estímulo ao aleitamento materno, orientação alimentar e imunizações, contribui para a promoção de uma boa qualidade de vida. Para isso, torna- se imprescindível o esforço conjunto da família, da equipe e das diversas organizações, governamentais ou não (ALVES, 2018). Apesar do leite materno ter forte influência protetora quanto a doenças respiratórias e diarreicas, esses ainda são os problemas de maior impacto na internação de crianças menores de dois anos (BRASIL, 2012). Acadêmico! No Tema de Aprendizagem 3, abordaremos os problemas comuns na infância e o conteúdo programático para grupos educativos. 2 DOENÇAS RESPIRATÓRIAS: PNEUMONIA, BRONQUITE E BRONQUIOLITE Cabe ao profissional de saúde a difícil missão de acolher a criança e seu acompanhante, compreender a extensão do problema que a aflige e propor procedimentos de fácil aplicação e comprovada eficácia. Constitui sua função implícita estabelecer um canal de comunicação com a mãe ou com a pessoa responsável pela criança, de modo que ela apreenda as recomendações, referentes ao tratamento e aos cuidados a serem prestados no domicílio, assim como memorize os sinais indicativos de gravidade que exigem o retorno imediato da criança ao serviço de saúde (BRASIL, 2002). A utilização de sinais e sintomas que apresentam uma boa relação de sensibilidade e especificidade, permitindo um diagnóstico mais preciso, constitui o ponto alto dessa estratégia. Neste contexto, temos algumas doenças que são mais prevalentes a infância e que merecem atenção do profissional enfermeiro. UNIDADE 2 126 Embora a localização anatômica não possa ser considerada de modo absoluto, na prática, é possível, muitas vezes, defi nir a síndrome clínica predominante naquele momento e a conduta mais adequada ao caso. As doenças respiratórias de vias aéreas superiores representam cerca de 3/4 dos casos da demanda aos serviços de saúde e, em geral, têm menor gravidade. As que acometem as vias respiratórias inferiores, como a bronquiolite, bronquite e pneumonia são mais graves e predominam nas indicações de internação da criança e como causas de mortalidade (BELO HORIZONTE, 2015). Temos como principais síndromes clínicas que acometem as crianças e seus principais sinais e sintomas (FIGURA 27): Figura 27 – Principais síndromes clínicas que acometem as crianças e seus principais sinais e sintomas Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/publicaco- es/CadernoCrianca.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. A criança que é levada ao serviço de saúde com queixa de tosse e/ou difi culdade respiratória deve receber atenção cuidadosa, pois a possibilidade de diagnósticos é ampla, englobando uma variedade de patologias que vão desde o resfriado comum até situações de risco de vida, como pneumonia e crise asmática grave (ALVES, 2018). O profi ssional de saúde deve estar atento aos sinais e sintomas de alerta e tomar as decisões adequadas o mais rapidamente possível. A infecção de vias aéreas pode acometer o trato respiratório superior (nariz, seios paranasais, ouvidos, faringe, amígdalas e laringe) e inferior (traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos), isolada ou simultaneamente. Caracteriza-se por apresentar um ou mais dos seguintes sintomas e sinais: febre, coriza, obstrução nasal, tosse, dor de garganta, hiperemia de orofaringe, otalgia, difi culdade para respirar e chiado no peito (ALVES, 2018). 127 Uma vez que as infecções agudas de vias aéreas apresentam elevada incidência e respondem por cerca de 30% a 60% de todasas consultas pediátricas ambulatoriais, o que significa enorme demanda para os serviços de saúde, é importante estruturar uma forma de sistematizar o acolhimento e classificação do quadro. Uma das formas de se abordar crianças que apresentem queixa de “resfriado” está ilustrado na figura a seguir: Figura 28 – Principais Síndromes Clínicas nas crianças com queixas respiratórias devem ser avaliadas considerando Fonte: conasems-ava-prod.s3.sa-east-1.amazonaws.com/ava/aulas/o-trabalho-do-agente- -comunitario-de-saude-1660162303.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. Se a criança apresenta queixa de "resfriado", com coriza, obstrução nasal, tosse, ronqueira no peito, perguntar: Há quantos dias vem o quadro? Tem febre, há quantos dias? Medida ou não? Quando não tem febre, a criança brinca e aceita a alimentação? Tem cansaço ou dificuldade para respirar? Tem outras queixas como vômitos, diarreia, secreção nos olhos? A criança está melhorando, está na mesma, ou vem piorando, desde o início do quadro? Quando a doença já tem mais de cinco dias, a febre já passou, a criança brinca, se alimenta e não tem cansaço para respirar, persistindo apenas com tosse e catarro no peito, nesses casos, o auxiliar de enfermagem pode fazer as orientações gerais de higiene nasal, inalação caseira, preparações caseiras para a tosse e explicar para retornar se houver piora do quadro Nesses casos, o auxiliar de enfermagem pode fazer as orientações gerais de higiene nasal, inalação caseira, preparações caseiras para a tosse e explicar para retornar se houver piora do quadro e enviar para avaliação médica. É importante lembrar que lactentes e crianças pequenas têm, em média, seis a oito resfriados por ano, mas 10-15% apresentam 12 episódios de infecções das vias aéreas superiores (IVAS) por ano, sem significar comprometimento da resposta imunológica. A frequência e a distribuição das diferentes síndromes clínicas respiratórias, de acordo com os grupos etários, ajudam o profissional no raciocínio clínico, uma vez que alguns quadros predominam em determinadas idades, conforme Figura 29. 128 Figura 29 – Distribuição das principais afecções respiratórias nos lactentes, pré-escolares e escolares Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/publicaco- es/CadernoCrianca.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 2.1 PNEUMONIA A pneumonia aguda é uma doença que resulta da infecção das vias aéreas e dos pulmões por certos agentes. Eventualmente, pode ser acometido também o espaço entre as pleuras (as membranas que envolvem os pulmões). Nessa condição, ocorre o acúmulo de líquido ou pus na cavidade entre as pleuras, provocando um derrame pleural (SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, 2007). Cerca de 80% das pneumonias na infância são devidas a vírus e bactérias (SÃO PAULO, 2003). Os agentes causais das pneumonias adquiridas na comunidade variam de acordo com a idade e o estado de saúde do paciente, sendo que nos países em desenvolvimento cerca de 60% dos agentes são bacterianos, enquanto nos países desenvolvidos predomina a etiologia viral. Por isso e porque na prática é difícil identifi car a etiologia da pneumonia (viral ou bacteriana) pelo quadro clínico, a abordagem da criança com pneumonia deve ser feita considerando-se os casos como bacterianos (SÃO PAULO, 2003). A variação da etiologia bacteriana nas pneumonias, segundo a faixa etária, é a seguinte: nas crianças menores de dois meses de idade predominam o estreptococo do grupo B e os bacilos gram-negativos, particularmente a Escherichia coli; nas crianças de dois meses a cinco anos de idade (exclusive) há predomínio do Streptococcus pneumoniae – pneumococo, seguido pelo Haemophilus infl uenzae e, mais raramente, pelo Staphylococcus aureus; e nas crianças com idade igual ou superior a cinco anos, os agentes prevalentes são o pneumococo e o Mycoplasma pneumoniae (SÃO PAULO, 2003). 129 Na atenção básica, a abordagem diagnóstica da criança com pneumonia aguda deve ser feita por meio dos dados da história e do exame físico, não necessitando da complementação por exames radiológicos, cuja realização, muitas vezes, posterga a instituição do tratamento. Os dados clínicos permitem identifi car, entre as crianças com queixas respiratórias, os casos de pneumonia e classifi car as infecções respiratórias agudas (IRA) quanto à gravidade. A estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) da OMS/OPAS, que tem entre os seus objetivos diminuir a mortalidade por IRA nas crianças menores de cinco anos de idade, utiliza as seguintes possíveis classifi cações para uma criança com tosse ou difi culdade para respirar: pneumonia grave ou doença muito grave, pneumonia e não é pneumonia, conforme Figura 30. Figura 30 – Como avaliar e classifi car criança com tosse ou difi culdade de respirar, segundo AIDPI Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. A classifi cação baseada na gravidade do quadro clínico, cuja validade científi ca e impacto na redução nos índices de mortalidade estão bem demonstrados, tem a vantagem de ser simples e de orientar as ações do atendimento às crianças com IRA de forma imediata e adequada. Esta estratégia defi ne os seguintes pontos (SÃO PAULO, 2003): 1. identifi car as crianças que devem ser examinadas por possível pneumonia (investigação de casos com base nos "critérios de entrada"); 2. identifi car os casos de pneumonia (diagnóstico de casos); 3. identifi car se a criança está com algum sinal geral de perigo, isto é, se apresenta risco de morte por pneumonia ou por outra doença bacteriana grave; e 4. instituir tratamento apropriado (tratamento ou referência). Entende-se por "Critérios de entrada" – tosse e/ou difi culdade para respirar são os dois critérios de entrada na avaliação clínica da criança para identifi car a presença ou não de pneumonia. A febre não é considerada um bom sinal para ser utilizado como 130 "critério de entrada", pois está presente em crianças com outras doenças infecciosas e pode estar ausente em crianças desnutridas com pneumonia. Para identifi cação dos casos de pneumonia a frequência respiratória alta e a tiragem subcostal são consideradas os sinais de maior valor preditivo para identifi car os casos de pneumonia. Frequência respiratória (FR) – é avaliada segundo a idade, pois os seus valores normais diminuem à medida que a idade aumenta. Para contar a FR, é necessário que a criança esteja calma, no colo da mãe. São fatores de risco para pneumonia na infância, crianças que (SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, 2007): • Não receberam imunização adequada com as vacinas disponíveis contra as principais moléstias infectocontagiosas que predispõem a pneumonias e contra os principais agentes de pneumonias (sarampo, varicela, coqueluche, gripe, Haemophilus infl uenzae tipo b, pneumococos); • Não foram amamentadas ao seio pelo menos nos primeiros 6 meses de vida e que não estão recebendo uma boa nutrição; • Crianças que permanecem em ambientes fechados em aglomeração com outras crianças doentes como creches ou berçários; • Crianças expostas à fumaça de cigarro (fumantes passivos), à poluição e a ambientes sem higiene com muita poeira doméstica e ácaros. ATENÇÃO Para prevenção é necessário a manutenção rigorosa do calendário de imunização, particularmente em relação às vacinas consideradas obrigatórias. As vacinas contra as duas bactérias que causam a maior parte das pneumonias, pneumococos e Haemophilus infl uenzae b, devem ser administradas rotineiramente. • manter o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida, uma alimentação saudável e um bom estado nutricional; • realizar suplementação com vitaminas A e D no primeiro ano de vida, conforme recomendação médica; • evitar a exposição da criança à fumaça de cigarro e a locais muito poluídos; • evitar locais com aglomeraçãode pessoas, em ambientes fechados, particularmente no outono e inverno; • procurar atendimento médico sempre que a criança apresentar os sintomas de alerta, como tosse constante, gemência, difi culdade para se alimentar, apatia e movimentos anormais no tórax (SOCIEDADE DE PEDIATRIA DE SÃO PAULO, 2007). INTERESSANTE 131 Sobre o tratamento, a fi gura a seguir demonstra as diversas abordagens. Figura 31 – Avaliação, classifi cação e tratamento de casos de pneumonia grave ou doença muito grave, pneumonia e não é pneumonia, segundo AIDPI Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 2.2 BRONQUITE Bronquite aguda é o processo infl amatório de traqueia e brônquios, cuja sintomatologia mais importante é a tosse produtiva. Já a bronquite crônica, por sua vez, é defi nida como a presença de tosse produtiva crônica por pelo menos três meses em cada um de dois anos consecutivos, em um paciente em que outras causas de tosse crônica tenham sido afastadas. Esta defi nição, diferentemente da observada no enfi sema, é de natureza clínica e epidemiológica, não guardando, no entanto, relação direta com a limitação ao fl uxo aéreo, podendo precedê-la ou mesmo estar ausente nos pacientes com obstrução aérea signifi cativa (BARBOSA, 2013). A bronquite crônica é defi nida quando a sintomatologia persiste após duas a três semanas. O quadro tem início com sintomas de rinofaringite aguda e, na ausculta pulmonar, encontram-se roncos e estertores subcreptantes de grossas bolhas. Nos lactentes, podem ser auscultados sibilância e outros tipos de estertores. O diagnóstico é clínico e as radiografi as de tórax podem ser normais ou mostrar áreas de espessamento peribrônquico, atelectasias e/ou hiperinsufl ação pulmonar (BARBOSA, 2013). A bronquite aguda geralmente é um processo infeccioso viral (rinovírus, VSR, infl uenzavírus, parainfl uenzavírus e adenovírus). A maioria das bronquites bacterianas é secundária à infecção viral. Os agentes etiológicos mais frequentes são S.pneumoniae, H. Infl uenza e outros. Nos recém-nascidos e lactentes, deve-se pensar na possibilidade etiológica da Chlamydia trachomatis e nos escolares e adolescentes aumenta a frequência de M.pneumoniae. A persistência da febre e da tosse sugere etiologia bacteriana primária ou secundária. O diagnóstico de bronquite gera muitas dúvidas, seja na fase aguda, quando pode ser confundida com bronquiolite ou pneumonia, seja 132 na recorrência ou persistência do quadro respiratório por duas a três semanas ou mais, quando deve ser diferenciada de outras doenças como asma, sinusopatia, fibrose cística e tuberculose (BARBOSA, 2013). As principais causas são: os fatores de risco representam ponto importante para o desenvolvimento de estratégias para a prevenção a tratamento da DPOC. Dentre os principais fatores destacam-se (BARBOSA, 2013): • Tabagismo: responsável por 80 a 90% das causas determináveis da DPOC. • Poluição domiciliar (fumaça de lenha, querosene). • Exposição ocupacional a poeiras e produtos químicos ocupacionais. • Poluição atmosférica. A poluição aérea pela queima de combustíveis fósseis, principalmente pela emissão de veículos a motor. • Infecções respiratórias recorrentes na infância. • Suscetibilidade individual. • Desnutrição na infância. • Deficiências genéticas (responsáveis por menos de 1% dos casos), como alfa1 antitripsina (BARBOSA, 2013). 2.3 BRONQUIOLITE A bronquiolite viral aguda (BVA) é doença de etiologia viral, predominando o vírus sincicial respiratório e o adenovírus, frequente em lactentes (principalmente de 6 a 12 meses de idade), que podem apresentar vários episódios de bronquiolite, causados por diferentes agentes virais. O quadro geralmente se inicia com como um “resfriado” e tem evolução após dois ou três dias para intensificação da tosse, taquipneia, tiragem intercostal e sibilância (BARBOSA, 2013). Apenar de, na maioria dos casos evoluir com quadros leves, que não necessitam de hospitalização, essa gravidade é definida nas primeiras 72 horas. Apenas 2% das crianças com bronquiolite necessitam ser hospitalizadas. Os principais fatores de risco para maior gravidade da bronquiolite são: • a idade precoce de aquisição da doença, • o antecedente de prematuridade e • a presença de comorbidades pré-existentes, como displasia broncopulmonar, cardiopatia congênita cianótica, neuropatias e imunodepressão (BARBOSA,2013). Das crianças que precisam de internação metade podem ter crises recorrentes de sibilância e 2% evoluem para doença obstrutiva crônica – bronquiolite obliterante. 133 Nos casos que demandarem de hospitalização, a evolução da doença para cura ocorre entre três a quatro dias (BARBOSA, 2013). É fundamental que a equipe de saúde, e, principalmente, o enfermeiro, faça a gestão do cuidado na bronquiolite de forma ancorada no fornecimento de medidas de prevenção da doença e de tratamento da criança doente que a mantenha clinicamente estável, com boa oxigenação e hidratação (BARBOSA, 2013). Assim, tornam-se importantes as seguintes medidas de prevenção para a doença e para a hospitalização (BARBOSA,2013): • ênfase à lavagem das mãos, • eliminação da exposição à fumaça ambiental do tabaco ou à poluição, • limitação da exposição a contágio com irmãos, • estímulo e • apoio ao aleitamento materno. O diagnóstico de bronquiolite e sua gravidade são baseados essencialmente nos achados clínicos: história e exame físico. São critérios de diagnóstico: coriza, taquipneia, tosse, mudança de cor, retração costal, batimento de narinas, falta de ar, chiado, presença de crepitações finas na inspiração, expiração prolongada, baixa saturação de O2. É preciso ter parcimônia quanto aos exames laboratoriais e radiológicos (radiografia de tórax, culturas de sangue ou urina, gasometria, testes rápidos para vírus, oximetria de pulso) pois não se recomenda seu uso rotineiro (BARBOSA, 2013). O tratamento dos casos leves é basicamente a orientação quanto a importância do aumento da ingesta hídrica, limpeza de vias aéreas superiores quando necessário, manter decúbito elevado, e observar sinais de piora ou complicações (como febre, taquipneia ou queda do estado geral). A hospitalização ocorre de forma mais esporádica, sendo recomendada a lactentes com sinais de doença grave, ou para pacientes com fatores de risco para gravidade (BARBOSA, 2013). 3 DOENÇAS DIARREICAS: DIARREIA A diarreia aguda (DA) ainda é muito frequente, estando entre as principais causas de morbimortalidade nos países em desenvolvimento. É uma doença infecciosa, autolimitada, causada por bactérias, vírus ou parasitas, caracterizada pela perda de água e eletrólitos, que resulta no aumento do volume e da frequência das evacuações e diminuição da consistência das fezes, apresentado algumas vezes muco e sangue (disenteria) (BRASIL, 2015). 134 Considera-se diarreia quando há ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou líquidas em um período de 24 horas, sendo que a maioria dos episódios é provocada por um agente infeccioso e dura entre uma e duas semanas (SÃO PAULO, 2012). Os casos em que a diarreia tem duração superior a 14 dias, é classifi cado como diarreia persistente ou protraída, podendo causar problemas nutricionais e contribuem para mortalidade na infância (BRASIL, 2003) A doença diarreica aguda é mais frequente em crianças menores de seis meses, que não estejam em aleitamento materno exclusivo, tornando-se uma das principais causas de morbidade e mortalidade infantil, principalmente, em crianças mais pobres. A Região Nordeste é a região mais atingida, onde o “risco de morte por diarreia em crianças menores de 5 anos é cerca de quatro a cinco vezes maior do que na Região Sul”, alcançando o patamar de 30% do total das mortes durante o primeiro ano de vida (BRASIL, 2003). As diarreias persistentes, com presença de sangue, com ou sem muco, é chamada disenteria.A causa mais comum da disenteria é a bactéria Shigella, sendo incomum a disenteria amebiana em crianças pequenas. É possível que a mesma criança tenha diarreia líquida e disenteria associada (BRASIL, 2015). O rotavírus ganha destaque neste cenário, sendo um dos mais importantes agentes causadores de gastroenterites e óbitos em crianças menores de cinco anos em todo o mundo. Os casos mais graves ocorrem até dois anos de idade (BRASIL, 2015). Você, como enfermeiro, deve estar atento à abordagem correta da criança com diarreia aguda, pois isso é fundamental para evitar a desidratação, o comprometimento do estado nutricional e a evolução para diarreia persistente (SÃO PAULO, 2003). O enfermeiro deve estar atento a essas características, avaliar e classifi car, conforme as Figuras 32 e 33. Figura 32 – A criança está com diarreia? Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 2 maio 2023. 135 O número de evacuações por dia considerado normal varia com a dieta e a idade da criança. A percepção materna é extremamente confi ável na identifi cação da diarreia de seus fi lhos, descrevendo as fezes líquidas com terminologias regionais. Os lactentes amamentados em forma exclusiva geralmente têm fezes amolecidas, não devendo isto ser considerado diarreia. A mãe de uma criança que mama no peito pode reconhecer a diarreia porque a consistência ou a frequência das fezes é diferente do habitual (BRASIL, 2017). Figura 33 – Avaliar e classifi car Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_quadros_procedimentos_aidpi_ crianca_2meses_5anos.pdf. Acesso em: 2 maio 2023. Segundo a classifi cação, se estabelece a conduta, que será dividida em plano A, B ou C para o tratamento adequado, conforme demonstrado na Figura 34. 136 Figura 34 – Avaliação do estado de hidratação do paciente Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. Vamos entender melhor como funciona o plano de tratamento A, B e C nos casos de desidratação? Leia com atenção o cartaz do Ministério da Saúde que descreve o manejo do paciente com diarreia, disponível em: https://bvsms.saude. gov.br/bvs/cartazes/manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. ATENÇÃO Conforme já comentamos em outros temas, é fundamental ter um fl uxograma para melhor resolubilidade do caso. Assim, a fi gura 35 apresenta um modelo de fl uxograma a ser adotado para os casos de diarreia. É fundamental que o enfermeiro realize orientações como (SÃO PAULO, 2015): • Aumentar a oferta de líquidos de baixa osmolaridade: água, leite materno, chá, suco, água de coco fresca, sopa (alimentos de fácil digestão e absorção). • Não introduzir novos alimentos. • Diminuir a quantidade de alimentos, mas aumentar o número de refeições para evitar a anorexia. Melhorar o teor energético, cuidado com o acréscimo de gorduras. • Oferecer de hora em hora soro distribuído na rede pública, principalmente após evacuações líquidas. 137 • As crianças com desidratação leve ou moderada devem receber TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL na Unidade de Saúde e ser reavaliada pelo Enfermeiro. • Não oferecer suco artifi cial, refrigerantes ou bebidas isotônicas (tipo gatorade) • Orientar sinais de desidratação e, no caso, retorno ao serviço de saúde. O rotavírus é considerado um dos mais importantes agentes causadores de gastroenterites e óbitos em crianças menores de cinco anos em todo o mundo. A maioria das crianças se infecta nos primeiros anos de vida, porém os casos mais graves ocorrem em crianças até dois anos de idade. Nas regiões tropicais, as infecções ocorrem o ano todo. A desidratação é a complicação imediata mais frequente e temida. Crianças com diarreia aguda de repetição podem evoluir para desnutrição (BRASIL, 2015). A redução da morbimortalidade deve-se principalmente ao uso da terapia de reidratação oral (TRO). Prevenção A prevenção da DA pode ser alcançada por meio da adoção de medidas como: • Aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e complementado até os dois anos de idade. • Higiene das mãos. • Acesso a saneamento básico: água tratada, esgoto sanitário, destinação adequada do lixo doméstico. • Imunização contra o rotavírus, a vacina oral de rotavírus humano (VORH) foi incluída no calendário nacional de imunização por meio da Portaria nº 1.602, de 17 de julho de 2006, para ser aplicada aos dois e quatro meses de idade. Figura 35 – Fluxograma para diarreia Fonte: https://docs.bvsalud.org/biblioref/sms-sp/2015/sms-10932/sms-10932-7671.pdf. Aces- so em: 14 abr. 2023. 138 É fundamental que o enfermeiro realize orientações como (SÃO PAULO, 2015): • Aumentar a oferta de líquidos de baixa osmolaridade: água, leite materno, chá, suco, água de coco fresca, sopa (alimentos de fácil digestão e absorção). • Não introduzir novos alimentos. • Diminuir a quantidade de alimentos, mas aumentar o número de refeições para evitar a anorexia. Melhorar o teor energético, cuidado com o acréscimo de gorduras. • Oferecer de hora em hora soro distribuído na rede pública, principalmente após evacuações líquidas. • As crianças com desidratação leve ou moderada devem receber TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL na Unidade de Saúde e ser reavaliada pelo Enfermeiro. • Não oferecer suco artificial, refrigerantes ou bebidas isotônicas (tipo gatorade). • Orientar sinais de desidratação e, no caso, retorno ao serviço de saúde. A redução da morbimortalidade deve-se principalmente ao uso da terapia de reidratação oral (TRO). Prevenção A prevenção da DA pode ser alcançada por meio da adoção de medidas como: • Aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e complementado até os dois anos de idade • Higiene das mãos. • Acesso a saneamento básico: água tratada, esgoto sanitário, destinação adequada do lixo doméstico. • Imunização contra o rotavírus A vacina oral de rotavírus humano (VORH) foi incluída no calendário nacional de imunização por meio da Portaria nº 1.602, de 17 de julho de 2006, para ser aplicada aos dois e quatro meses de idade. 139 A ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR E O MÉTODO BLW (BABY-LED WEANING) Sociedade Brasileira de Pediatria, 2017 A alimentação da criança modifica-se ao longo do seu crescimento e desenvolvimento. Do ponto de vista comportamental, desde o nascimento os recém-nascidos saudáveis possuem a capacidade de autorregular sua alimentação, determinando o início da mamada, qual a velocidade que sugam e quando querem parar de mamar. A mãe não consegue fazer com que o recém-nascido ou lactente sugue maior quantidade quando este encerra a mamada, ao sentir-se satisfeito. Desde o nascimento, a mãe deve ser encorajada a entender que o recém-nascido e o lactente saudáveis nascem aptos para regular sua fome e saciedade; aprender a interpretar estes sinais é fundamental para o sucesso na amamentação, alimentação complementar e formação dos hábitos alimentares até a vida adulta. A Figura 1 ilustra como algumas características do desenvolvimento dos lactentes estão relacionadas aos comportamentos alimentares. Ao completar seis meses de vida, grande parte dos lactentes saudáveis já apresentam a capacidade para sentar sem apoio, sustentar a cabeça e o tronco, segurar objetos com as mãos, e explorar estímulos ambientais. Outras aquisições são o desenvolvimento oral, o desaparecimento do reflexo de protrusão, e o aparecimento dos movimentos voluntários e independentes da língua, fazendo com que o alimento role na boca e a criança o mastigue. Estes são os aspectos motores que indicam que se pode iniciar a introdução de outros alimentos, denominada alimentação complementar (AC). Entender os sinais de maturidade do lactente para introdução de alimentos sólidos é fundamental para uma alimentação complementar com sucesso. Nos primeiros seis meses de vida, o aleitamento materno será a fonte ideal do pontode vista nutricional, emocional e de estímulo motor. Após os seis meses de idade, o lactente deve continuar em aleitamento materno, mas há a necessidade de introdução da AC, tanto do ponto de vista nutricional (sendo fonte de ferro, zinco, vitamina A e calorias), quanto do ponto de vista motor, aproveitando esta fase de intensa curiosidade em explorar o meio ambiente. LEITURA COMPLEMENTAR 140 Neste contexto a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem orientações publicadas no Manual de Orientação do Departamento de Nutrologia, disponível desde 2006 e atualizado em 2021, contendo informações abrangentes sobre o processo de início da AC, tanto do ponto de vista nutricional como comportamental: • A evolução da consistência deve ser gradual: oferecidos inicialmente em forma de papas; • Todos os grupos alimentares devem ser oferecidos a partir da primeira papa principal; • A refeição deve ser amassada, sem peneirar ou liquidifi car; • O ritmo da criança deve ser respeitado, de acordo com o desenvolvimento neuropsicomotor; • Recomenda-se o uso do nome papa principal e não papa salgada. Além desta recomendação, o Ministério da Saúde (MS) publicou a segunda edição do Guia Alimentar para crianças menores de dois anos que também destaca os seguintes tópicos: • A consistência dos alimentos complementares deve ser oferecida de forma crescente: pastosa, papa e purê; • A partir de 8 meses a criança pode receber os alimentos da família amassados, triturados, desfi ados ou cortados em pequenos pedaços; • A alimentação complementar complementa o leite materno e não o substitui; • Deve-se incentivar a criança a comer nos horários de refeições da família; • Atenção especial às práticas comportamentais, posturais e ambientais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também se pronuncia a respeito da AC, incentivando práticas responsivas para o sucesso na introdução de novos alimentos. Há orientações para que os pais identifi quem e respeitem os sinais de fome e saciedade, incentivem o lactente para que ele seja ativo e interativo durante as refeições, com a atenção voltada totalmente para o momento. Além das recomendações publicadas ofi cialmente por comitês profi ssionais, há outras abordagens de AC sendo difundidas pela internet como, por exemplo, o Baby- 141 Led Weaning (BLW) que significa: o desmame guiado pelo bebê. Conceitualmente a idealizadora, a britânica Gill Rapley, defende a oferta de alimentos complementares em pedaços, tiras ou bastões. Sua abordagem não inclui alimentação com a colher e nenhum método de adaptação de consistência para preparar a refeição do lactente, como amassar, triturar ou desfiar. Segundo Rapley o BLW não é um método específico, mas uma abordagem que encoraja os pais a confiarem na capacidade nata que o lactente possui de autoalimentar-se. As publicações sobre o BLW contêm ampla defesa para o uso de alimentos in natura, desencorajando a alimentação do lactente realizada na forma tradicional como papinha ou purês. Rapley defende os seguintes tópicos: • Continuar com o leite materno ou a fórmula infantil; • Posicionar o lactente sempre sentado para alimentar; • Permitir que o lactente se suje e interaja durante as refeições; • Oferecer variedade de alimentos, evitando a monotonia; • Interagir com o lactente quando ele estiver comendo junto, durante as refeições; • Dar o tempo necessário para a refeição sem pressionar. Livros sobre o BLW já foram publicados em mais de 15 idiomas e o tema alcança grande popularidade entre os pais do mundo todo. Embora as investigações científicas estejam sendo publicadas no decorrer dos últimos oito anos, os profissionais de saúde e sociedades da Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos não recomendam oficialmente o BLW pelos seguintes questionamentos que ainda não foram respondidos: • Há impacto sobre o crescimento e o desenvolvimento? • A ingestão de micronutrientes é suficiente? • Influencia a formação dos hábitos alimentares? • Influencia o comportamento dos pais / cuidadores? • É um método de alimentação complementar viável para os pais? • É uma forma segura de alimentar os lactentes? Há maior risco de engasgo e asfixia? Morrisson e colaboradores publicaram estudo comparando o perfil nutricional da alimentação de lactentes de 6 a 8 meses utilizando BLW (n=25) e a forma tradicional com colher (TSF, n=26). Nesta investigação de corte transversal foi verificado que os lactentes com BLW foram mais propensos a se alimentarem sozinhos desde os primeiros alimentos (67% vs 8%, pa utilização de estratégias coercitivas ou punitivas. Uma frase pode ser o resumo desta orientação: Comer junto e não dar de comer. Reconhece-se que no momento da AC, o lactente pode receber os alimentos amassados oferecidos na colher, mas também deve experimentar com as mãos, explorar as diferentes texturas dos alimentos como parte natural de seu aprendizado sensório motor. Deve-se estimular a interação com a comida, evoluindo de acordo com seu tempo de desenvolvimento. Não há evidências e trabalhos publicados em quantidade e qualidade suficientes para afirmar que os métodos BLW ou BLISS sejam as únicas formas corretas de introdução alimentar. Fonte: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/19491c-GP_-_AlimCompl_-_Meto- do_BLW.pdf. Acesso em: 14 mar. 2022. 144 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tema de aprendizagem, você estudou: • As principais doenças de cunho respiratório que são mais prevalentes na infância; • Os cuidados referentes à diarreia. • Como avaliar e classificar quadros de desidratação. 145 AUTOATIVIDADE 1. É uma doença de etiologia viral, predominando o vírus sincicial respiratório e o adenovírus, frequente em lactentes (principalmente de 6 a 12 meses de idade), que podem apresentar vários episódios causados por diferentes agentes virais. Sobre a doença respiratória acima descrita, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É bronquiolite. b) ( ) É bronquite. c) ( ) É pneumonia. d) ( ) É asma. 2. A diarreia aguda (DA) ainda é muito frequente, estando entre as principais causas de morbimortalidade nos países em desenvolvimento. É uma doença infecciosa, autolimitada, causada por bactérias, vírus ou parasitas, caracterizada pela perda de água e eletrólitos, que resulta no aumento do volume e da frequência das evacuações e diminuição da consistência das fezes, apresentado algumas vezes muco e sangue. Com base nas definições de diarreia, analise as sentenças a seguir: I- Considera-se diarreia quando há ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas ou líquidas em um período de 24 horas; II- Os casos em que a diarreia tem duração superior a 14 dias, é classificado como doença de Crohn ou diarreia aguda. III- As diarreias persistentes, com presença de sangue, com ou sem muco, é chamada disenteria. A causa mais comum da disenteria é a bactéria Shigella. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 146 3. A Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO) é uma entidade representativa de docentes, discentes e profissionais que atuam nas grandes áreas de conhecimento da Engenharia de Produção. De acordo com os princípios e as normativas elencadas no estatuto da ABEPRO, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O plano A é destinado a crianças com desidratação leve e deve ser tratada em casa. ( ) O plano B é destinado a crianças com desidratação intermediária e deve ser tratada na UBS. ( ) O plano C é destinado a crianças com desidratação grave e deve ser tratada no hospital. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4. A criança que é levada ao serviço de saúde com queixa de tosse e/ou dificuldade respiratória deve receber atenção cuidadosa, pois a possibilidade de diagnósticos é ampla. A estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) da OMS/OPAS utiliza algumas classificações para uma criança com tosse ou dificuldade para respirar. Disserte sobre quais são essas classificações e como se deve avaliar. 5. Você, como enfermeiro, deve estar atento à abordagem correta da criança com diarreia aguda, pois isso é fundamental para evitar a desidratação, o comprometimento do estado nutricional e a evolução para diarreia persistente. Neste contexto, disserte sobre as principais orientações que o enfermeiro deve realizar em casos de diarreia. AUTOR, A. B. C. Fonte para questão conforme padrão INEP. 2. ed. Indaial: Uniasselvi, 2022. 147 REFERÊNCIAS ALVES, C. R. L. Atenção à saúde da criança: aspectos básicos. Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2018. 169 p. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/ biblioteca/imagem/Atencao-a-saude-da-crianca-aspectos-basicos_versao_final.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. BARBOSA, S. 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Acesso em: 14 abr. 2023. 152 153 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DO ADOLESCENTE UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • saber conduzir o acompanhamento de saúde do adolescente na Unidade Básica de Saúde; • atender o adolescente, contemplando os aspectos biológicos, emocionais e sociais; • elaborar estratégias para criar e fortalecer ovínculo do adolescente com a equipe de saúde; • compreender os principais agravos na adolescência e seu impacto na vida do adolescente. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 154 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 155 TÓPICO 1 — ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A clínica do adolescente é instigante e inovadora, como o próprio adolescente. A enfermagem tem um papel importante nesse processo, visto que, ao atender o adolescente, atende também todos os medos, aflições, angústias, que precisam ser ouvidas e entendidas, e, conjuntamente a tudo isso, produzindo estratégias para minimizar ou até sanar esses problemas. Sendo assim, você, como enfermeiro, deve sempre levar em conta, dentre outras variáveis, “o processo de crescimento e desenvolvimento do adolescente e sua vulnerabilidade a inúmeros agravos físicos, psíquicos e sociais, cuja análise permitirá a identificação dos fatores protetores que devam ser promovidos e os riscos que deverão ser afastados e/ou atenuados” (SÃO PAULO, 2015, p. 93). Para alcançar os resultados esperados, os atendimentos realizados ao adolescente devem abranger ações interdisciplinares, intersetoriais e interinstitucionais, além de serem estruturadas com o olhar da prevenção e promoção da saúde, de atendimento local e de encaminhamento de situações e problemas específicos desta faixa etária (SÃO PAULO, 2015). Para entendermos melhor esse contexto acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1 abordaremos o atendimento ao adolescente nos diversos níveis de atenção, com o propósito de trazer essa reflexão inicial sobre o cenário atual do adolescente no país e da enfermagem como atuante e intermediadora nesse processo. 2 ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NOS DIVERSOS NÍVEIS DE ATENÇÃO A atenção à saúde do adolescente tem sido um importante desafio para a organização dos serviços de saúde, visto que a adolescência é um período de grandes mudanças, como o início da puberdade e a necessidade de assumir responsabilidades, autonomia, além de ser um grupo que apresenta grandes vulnerabilidades e dificuldades (BRASIL, 201 8). 156 NOTA Adolescência e puberdade são dois termos usados com muita frequência, mas será que exprimem conceitos diferentes? Sim, a adolescência e a puberdade são termos que exprimem conceitos diferentes. A puberdade compreende o conjunto de transformações no corpo que marcam o final da infância, principalmente o surgimento dos caracteres sexuais secundários. A adolescência, por sua vez, pode ser entendida como uma transição da vida infantil para a vida adulta, um processo que tem significados diferentes para o indivíduo em diversas classes sociais, épocas e culturas cuja vivência reflete a exteriorização dos marcos socioculturais nos quais o adolescente se desenvolveu e vive (BELO HORIZONTE, 2015). Conforme já comentamos antes, o atendimento ao adolescente deve ser embasado por diversas demandas e situações, e para que isso ocorra de forma assertiva, é fundamental termos uma rede de atenção funcionante, organizada e resolutiva. As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são os arranjos organizativos formados por ações e serviços de saúde, com diferentes configurações e densidades tecnológicas que, integrados por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado (MENDES, 2011). É através das RAS que são produzidas estratégias para superar a fragmentação da atenção e da gestão à saúde (BRASIL, 2018), tendo destaque o papel da Atenção Básica (AB) que aparece como ordenadora e centro de comunicação, sendo o contato preferencial de sujeitos e coletividades com os serviços de saúde (BRASIL, 2017). ATENÇÃO As Unidades Básicas de Saúde aparecem neste cenário como um espaço privilegiado, de práticas multiprofissionais integradas, que estão articuladas com os demais setores de saúde e que favorecem o desenvolvimento de iniciativas intersetoriais voltadas à melhoria da qualidade de vida e ao atendimento das necessidades de saúde locais (EMERICH; GAVA, 2019). De modo geral, as UBS serão a porta de entrada preferencial, tanto em função de seu papel no sistema quanto pelo fato de estarem presentes em maior número e em todos os territórios, sendo, assim, os serviços mais acessíveis para a população. A maior parte das necessidades de adolescentes e jovens pode ser trabalhada nas UBS, sendo relevante o desenvolvimento de ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, assistência curativa e reabilitação, tanto individuais como coletivas, dentro da unidade ou na comunidade. As UBS podem lançar mão de diversas formas de articulação com os outros serviços de saúde, como o apoio matricial e os encaminhamentos (BRASIL, 2007). 157 Então, é esperado que a abordagem realizada, não apenas pelo enfermeiro, como pela equipe atuante na unidade e na rede de atenção, seja direcionada à integralidade, tanto das práticas de saúde quanto da própria rede de serviços de saúde. • Integralidade das práticas de saúde: é relativa ao conteúdo e à organização do trabalho para que os serviços busquem realizar o cuidado de modo que se contemple o êxito técnico e o sucesso prático, contribuindo para que adolescentes e jovens possam ter saúde, buscar seus projetos de vida e de sua comunidade. • Integralidade na rede de serviços de saúde: é relativa às atribuições de cada serviço e às formas de sua articulação em rede, com vistas à implementação e à operação dos documentos que fomentam o cuidado de adolescentes e jovens (SÃO PAULO, 2021). Estabelecer as ações realizadas em cada serviço, assim como descrever os conteúdos do trabalho a ser realizado por cada tipo de serviço ambulatorial, e deixar claro como ocorrerá a articulação entre esses serviços, é essencial quando se busca um cuidado integral à saúde dos adolescentes. A Figura 1 ilustra o esquema do cuidada integral de adolescentes na Atenção Primária. Figura 1 – Esquema do cuidado integral de adolescentes na atenção primária Fonte: https://cebrap.org.br/wp-content/uploads/2018/11/Linha-de-Cuidado-Adolescencia-Juventude- -SUS-SP-1.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 158 2.1 O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA A Atenção Básica ganha destaque, visto que, ao longo do ciclo de vida, a vigilância em saúde das crianças, adolescentes e jovens é responsabilidade das equipes de Saúde da Família (ESF), sendo sua competência realizar periodicamente a avaliação das condições de saúde das crianças, adolescentes e jovens que estão nas escolas inseridas em seus territórios adscritos (BRASIL, 2009). É também responsabilidade da Atenção Básica se articular com toda a rede de serviços de saúde, com o setor Educação e com outros equipamentos existentes na comunidade, para a elaboração de planos terapêuticos integrais e integrados para a resolução das necessidades e dos problemas detectados (BRASIL, 2009, p. 20 ). Um ponto diferenciado da Atenção Básica é que, além de compartilhar o objetivo principal “de garantir o acesso de adolescentes e jovens a ações de promoção à saúde, prevenção, atenção aos agravos e doenças, bem como reabilitação, respeitando os princípios organizativos e operacionais do Sistema Único de Saúde (SUS)”, possui o diferencial de já acompanhar outros integrantes da família, estar próximo da residência desses adolescente e poder realizar ações, tanto na unidade de saúde quanto na residência desse adolescente (SÃO PAULO, 2006). São muitas ações as possíveis de serem desenvolvidas nas unidades de saúde,não é verdade? Mas quais serão as mais indicadas para a população adolescente e jovem? Já que o propósito de cada ação pode ser complementar, é fundamental que o profi ssional de saúde e a equipe como um todo tenham um leque de diferentes ações que atenderão às necessidades locais e às especifi cidades da atenção integral a adolescentes e jovens de ambos os sexos. Na Figura 2, listamos as principais ações que você, enfermeiro, pode utilizar para se aproximar do público-alvo, assim como ser mais assertivo em atender às necessidades e demandas do adolescente e jovem. Figura 2 – Ações desenvolvidas nas Unidades de Saúde que atenderão às necessidades locais e às especifi cidades da atenção integral a adolescentes e jovens de ambos os sexos Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_adolescentes_jovens.pdf. Acesso em: 11 abr. 2023. 159 Vamos conhecer um pouco mais de cada uma dessas estratégias? 2.1.1 A visita domiciliar As visitas domiciliares proporcionam conhecer melhor o contexto de vida dos adolescentes e jovens, assim como a dinâmica de suas famílias. É também uma oportunidade para fortalecer vínculos, além de convidá-los para atividades educativas, identificar situações de risco como violência doméstica, uso abusivo de drogas e evasão escolar, além de captar pacientes não aderentes ao tratamento. Uma vez que o contato é realizado com a família como um todo, é preciso ter cuidado para assegurar a confidencialidade das informações. Caso a unidade não disponha dessa atividade, é possível articular-se com outros serviços, tais como equipes de atenção básica, conselhos tutelares, grupos comunitários, escolas, dentre outros (BRASIL, 2007, p. 18). 2.1.2 Atendimento individual Independentemente do motivo principal da consulta, cada visita à unidade é uma oportunidade de promover a saúde, detectar e resolver outras questões importantes. A equipe pode aproveitar o momento da consulta para trocar informações e perceber as novas tendências da sua clientela. É uma chance de conhecer seus hábitos, valores e, até mesmo, o vocabulário (BRASIL, 2007, p. 18). Abordaremos o assunto consulta de enfermagem no próximo tema de aprendizagem. 2.1.3 Atividades em grupo Considerando a característica de adolescentes e jovens de procurar no grupo de companheiros a sua identidade e as respostas para suas ansiedades, pode-se concluir que o atendimento grupal se constitui numa forma privilegiada de facilitar a expressão de sentimentos, a troca de informações e experiências, bem como a busca de soluções para seus problemas. Nem todos se beneficiam ou se sentem à vontade em participar do atendimento em grupo, portanto, devem ser considerados a necessidade do cliente e o seu desejo em participa, por isso, existem diferentes tipos de grupos que exigem distintas habilidades dos profissionais de saúde (BRASIL, 2007). 160 Falaremos mais sobre esse assunto no conteúdo do Tema de Aprendizagem 2, em grupos educativos na adolescência. 2.1.4 Ações de participação juvenil As ações de participação juvenil são estratégias de fortalecimento da autonomia, por meio da participação criativa, construtiva e solidária de adolescentes e jovens no enfrentamento de problemas reais da comunidade. A participação juvenil é uma estratégia eficaz de promoção do desenvolvimento, uma vez que fortalece a autoestima, a assertividade e a construção do projeto de vida. Nos serviços de saúde, a participação ativa e autônoma de adolescentes e jovens no planejamento, na execução e na avaliação das ações contribui decisivamente para a eficácia, a resolução e o impacto social delas. Quando os jovens se interessarem em serem promotores de saúde, cabe ao serviço capacitá-los e acompanhá-los no desenvolvimento e na avaliação das ações (BRASIL, 2007, p. 22). 2.1.5 Articulação intersetorial Nenhuma organização é capaz de, isoladamente, realizar todas as ações necessárias para assegurar a saúde e o desenvolvimento aos adolescentes e jovens. Alianças e parcerias são essenciais para a criação das condições de proteção do bem- estar e para a maximização dos potenciais de todos eles (BRASIL, 2007). Muitas das intervenções voltadas para a melhoria da saúde dos adolescentes e dos jovens têm falhado por possuírem um foco demasiadamente estreito e funcionarem isoladamente umas das outras, resultando, quase sempre, na redução de sua eficácia e eficiência (BRASIL, 2007). Uma vez que a maioria dos problemas tem causas comuns, é possível trabalhar com uma combinação de intervenções capazes de promover o desenvolvimento saudável dos jovens. As articulações intra e interinstitucionais devem ser construídas num clima de confiança e respeito entre os parceiros, onde cada organização seja valorizada com suas singularidades, potencialidades e limitações. É importante destacar a necessidade de uma articulação, inicialmente intra-institucional, uma vez que é comum acontecer de vários grupos desenvolverem atividades voltadas para adolescentes e jovens em uma mesma unidade de saúde, sem que haja uma integração (BRASIL, 2007). 161 Para essa organização devem ser levados em consideração a disponibilidade, a formação e a educação permanente dos recursos humanos, a estrutura física, os equipamentos, os insumos e o sistema de informação, adequando-os ao grau de complexidade da atenção a ser prestada em cada região (SÃO PAULO, 2021). IMPORTANTE Na organização da atenção à saúde do adolescente e do jovem devem ser levados em consideração os seguintes aspectos: - Adequar os serviços de saúde às necessidades específicas de adolescentes, respeitando as características da atenção local vigente, os recursos humanos e materiais disponíveis. - Respeitar as características socioeconômicas e culturais da comunidade, além do perfil epidemiológico da população local. - Estimular a participação ativa dos jovens nas ações de prevenção e promoção à saúde (BRASIL, 2013, p.13). A rede de atenção básica, especialmente da Estratégia Saúde da Família, tem um papel importante nas ações desenvolvidas com o adolescente, como descrevemos na Unidade 1. Com o desenvolvimento do Programa Saúde da Escola, a equipe da Estratégia Saúde da Família assume a reponsabilidade de realizar alguns procedimentos nas escolas. Esses procedimentos consistem em “ações iniciais de acompanhamento básico de saúde de adolescentes, bem como ações educativas em saúde que podem ser desenvolvidas em parceria com a comunidade escolar” (BRASIL, 2013, p.13). DICA Que tal conhecer o rol de ações detalhadas, assim como os profissionais envolvidos na realização dessas atividades junto aos adolescentes nas escolas? A proposta das orientações a seguir é proporcionar aos profissionais a visão integrada do processo de atenção integral de saúde de adolescentes nas unidades de saúde e nas escolas (BRASIL, 2013). São divididas em avaliação inicial (Figura 3); avaliação de crescimento e desenvolvimento (Figura 4); Saúde bucal (Figura 5); saúde mental (Figura 6), imunização (Figura 7); até prevenção de violências e acidentes (Figura 8) (BRASIL, 2013). Quanto à avaliação inicial realizada ao adolescente, estudante de escola pertencente ao Programa Saúde da Escola, espera-se que os profissionais listados na Figura 3 sejam capazes de realizar os procedimentos sugeridos com uma periodicidade anual. 162 Figura 3 – Procedimentos a serem desenvolvidos na escola, para a avaliação inicial do adolescente e através da equipe responsável da atenção básica e escola Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023. Para a avaliação de crescimento e desenvolvimento (Figura 4), espera-se que as ações a seguir sejam realizadas semestralmente, assim como as ações de saúde bucal (Figura 5) e de saúde mental (Figura 6). Figura 4 – Procedimentos a serem desenvolvidos na escola para a avaliação de crescimento e desenvolvi- mento do adolescente e através da equipe responsável da atenção básica e escola Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG.205 2.5 SAÚDE BUCAL DO ADOLESCENTE .......................................................................................207 2.6 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA ............................................................................................ 208 2.7 VIOLÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA ............................................................................................ 208 3 SUICÍDIO E AUTOLESÃO NA ADOLESCÊNCIA ...............................................................210 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................212 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 217 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................219 1 UNIDADE 1 - ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: POLÍTICAS E INDICADORES DE SAÚDE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender o processo histórico, evolução e impacto das políticas de saúde na saúde da criança e do adolescente; • conhecer os princípios, diretrizes e eixos estratégicos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) e Política Nacional de Atenção à Saúde Integral de Adolescentes e Jovens (PNAISAJ); • assimilar os principais indicadores de saúde da criança, sua evolução nas últimas décadas e impacto nos resultados apresentados; • compreender as principais ações educativas para crianças, adolescentes e jovens, seus objetivos, organização e impactos. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA (PNAISC) TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE INTEGRAL DE ADOLESCENTES E JOVENS (PNAISAJ) TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – ANÁLISE DA SAÚDE DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES – PRINCIPAIS INDICADORES, PROGRAMAS E INICIATIVAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA (PNAISC) 1 INTRODUÇÃO As crianças, os adolescentes e jovens, são sujeitos de direitos, que devem ser priorizados de forma integral e absoluta, nas políticas públicas (BRASIL,1988). Ao sistema de saúde vigente, Sistema Único de Saúde (SUS), compete a necessidade de promover o direito à vida e à saúde, através de atenção integral, com acesso universal e igualitário e através de sua Rede de Atenção à Saúde (RAS), em todos os seus níveis de atenção. Para tanto, é dever do Estado “estabelecer políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária, visando a garantir seu desenvolvimento integral (BRASIL, 2016). Então, a existência de legislação que embase a estruturação, composição e financiamento dos serviços de saúde, assim como documentos oficiais que subsidiem as ações que devem ser realizadas pela equipe, de forma sistematizada, baseada em evidência e recomendações, torna-se essencial. Mas por que a saúde da criança ganha destaque nesse cenário? Porque a taxa de mortalidade infantil aparece como um indicador sensível do desenvolvimento de um país, demonstrando as prioridades e os valores deste país relacionado as ações de saúde, educação, moradia, alimentação, segurança, dentre outros (OMS, 2008), tanto que é um dos Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Apesar de, nas últimas décadas, termos identificado avanços na melhoria das taxas, ajustes de políticas públicas e crescimento de linhas-guia e diretrizes, ainda temos um longo trajeto a percorrer. Então, acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1, iremos explorar as políticas nacionais, sua evolução e organização e a direcionada para saúde da criança. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) são oito grandes objetivos globais pactuados pelos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), que propõem metas, que quando colocadas em prática, impactam na possibilidade de o mundo progredir de forma rápida, duradoura e impactante, principalmente, rumo à eliminação da extrema pobreza e da fome do planeta (IPEA, 2019). NOTA 4 Dentre esses ODM, o objetivo 3 visa à saúde e bem-estar, com o propósito de assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades, sendo que na meta 3.2 é previsto que até 2030, se acaba com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco anos, a partir do momento que todos os países das nações unidas compartilhem o objetivo de reduzir a mortalidade neonatal para pelo menos 12 por 1.000 nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de cinco anos para pelo menos 25 por 1.000 nascidos vivos (IPEA, 2019). O Brasil apresenta uma meta ampliada, por já ter atingido os valores previstos pela ONU. Assim, para o Brasil, até 2030, enfrentar as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de cinco anos, o objetivo é reduzir a mortalidade neonatal para no máximo cinco por mil nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de cinco anos para no máximo oito por mil nascidos vivos. Quer saber mais? Acesse: https://www.ipea.gov.br/ods/ods3. html#:~:text=At%C3%A9%202030%2C%20acabar%20com%20 as,25%20por%201.000%20nascidos%20vivos. DICA 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Nas primeiras décadas do século XX, os programas nacionais eram direcionados preferencialmente a grupos de risco e mais vulneráveis, gestantes e crianças, de alcance limitado e verticalizado (BRASIL, 2018). As primeiras iniciativas, mais sistematizadas, de programas direcionados à criança ocorreram no final dos anos 1960 quando foi criado o Programa de Saúde Maternoinfantil (PSMI), pela Divisão de Saúde Maternoinfantil (DINSAMI), da Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde (SNPES), do Ministério da Saúde (MS) e implementado pelas Secretarias de Saúde (BRASIL, 2018). O PSMI, tipicamente direcionado ao cuidado de grupo populacional vulnerável, coexistia com outros programas destinados ao controle de patologias, sem a consequente e necessária articulação entre as suas ações estratégicas. No entanto, a partir dos anos 1970, iniciaram-se discussões sobre a universalização do cuidado no âmbito internacional, incentivadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). 5 A elevada morbidade e mortalidade de crianças por doenças imunopreveníveis e a disponibilidade de tecnologias custo-efetivas foi determinante na proposição dos organismos internacionais, com marcos como a Declaração de Alma-Ata, de 1978. No Brasil, nestas duas décadas que antecederam a Constituição Federal de 1988, foram adotadas importantes iniciativas para a melhoria da saúde e redução da mortalidade infantil e na infância, entre as quais se destaca o Programa Nacional de Imunizações (PNI), instituído em 1973, com a ampliação da cobertura vacinal média da população, em especial das crianças. Em 1981 o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM), para induzir um conjunto de ações relacionadas à promoção, à proteção e ao apoio ao aleitamento materno BRASIL, 2018, p. 13). Na unidade 2, nós iremos abordar de forma mais detalhada o Programa Nacional de Imunizações (PNI), programa que foi criado, em 18 de setembro de 1973, e que procura cumprir sua missão “oferecer todas as vacinas com qualidade a todas as crianças que nascem anualmente em nosso país, tentando alcançarAcesso em: 5 abr. 2023. 163 Figura 5 – Procedimentos a serem desenvolvidos na escola para a saúde bucal do adolescente e através da equipe responsável da atenção básica e escola Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023. Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023. Figura 6 – Procedimentos a serem desenvolvidas na escola para a saúde mental do adolescente e através da equipe responsável da atenção básica e escola Como a imunização do adolescente segue o calendário vacinal, a periodicidade dessa ação é coerente com o calendário vacinal do adolescente, e na Figura 7 são descritos os procedimentos a serem desenvolvidos dependendo se o adolescente está com ou sem encaminhamento para a unidade. 164 Figura 7 – Procedimentos a serem desenvolvidas na escola, para a imunização do adolescente e através da equipe responsável da atenção básica e escola Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023. E, por fi m, é abordada a prevenção de acidentes e violências (Figura 8), devido à grande prevalência desses casos ocorrendo nessa faixa etária. É importante ressaltar que, para realização de todos os procedimentos aqui listados, o profi ssional de saúde que esteja realizando essas ações deve sempre recordar e assegurar que o adolescente que esteja em atendimento tem direito às seguintes questões técnicas, éticas e legais: 1. Privacidade no momento da consulta, caso deseje. 2. Garantia de confi dencialidade e sigilo, caso deseje. 3. Consentir ou recusar o atendimento. 4. Atendimento à saúde sem autorização e desacompanhado dos pais. 5. A informação sobre seu estado de saúde (BRASIL, 2013). É imprescindível que o profi ssional siga esses aspectos sobre a abordagem legal do atendimento ao adolescente baseado nos princípios fundamentais de: direitos, ética, privacidade, confi dencialidade e sigilo, que seguem as recomendações do Departamento de Bioética e Adolescência da Sociedade Paulista de Pediatria (SPP), o Consenso da Área da Saúde do Adolescente do Ministério da Saúde e o ECA. 165 Figura 8 – Procedimentos a serem desenvolvidos na escola para a prevenção de acidentes e violências do adolescente e através da equipe responsável da atenção básica e escola Fonte: https://bit.ly/3Oo1PGG. Acesso em: 5 abr. 2023. ESTUDOS FUTUROS É importante frisar que as ações não são realizadas isoladamente e nem por um profi ssional só. Falaremos sobre o programa saúde na escola ainda nesta unidade. 2.2 O PAPEL DOS DEMAIS NÍVEIS DE ATENÇÃO A presença de cada serviço varia de região e município, exigindo o estabelecimento de desenhos ou arranjos de rede específi cos para cada região (SÃO PAULO, 2018). Serviços de internação hospitalar e unidades de urgência e emergência nem sempre são a prioridade das linhas de cuidado, que direcionam as ações para a Atenção Básica, uma vez que esta é a responsável pela coordenação do cuidado no sistema (BELO HORIZONTE, 2015). A articulação a outros serviços, tanto para solicitar apoio matricial como para encaminhar adolescentes ou jovens, dependerá do tipo de necessidade, da fi nalidade do cuidado a alcançar e do tipo de serviço disponível em cada região (SÃO PAULO, 2018). 166 Os serviços de saúde mais comumente ofertados na rede pública são: as UBS; os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviço de Atenção Especializada (SAE) e os Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA); as Casas do Adolescente; e os ambulatórios especializados em adolescentes de hospitais universitários (BRASIL,2011). Compete à UBS a realização de atendimentos de atenção básica e integral a uma população, de forma programada ou não, nas especialidades básicas, podendo oferecer assistência odontológica e de outros profissionais de nível superior. Podendo ou não oferecer: SADT (Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia) e Pronto atendimento 24 Horas (BRASIL, 2018). Já os SAEs e CTAs têm o propósito de realizar ações de testagem e prevenção das IST, aids e hepatites virais; e ser uma unidade ambulatorial voltada à atenção integral às pessoas com DST/HIV/aids (SÃO PAULO, 2018). Há diferentes tipos de CAPS (BRASIL, 2011). • CAPS I: atende todas as faixas etárias; existe em regiões ou municípios com população acima de 20.000 habitantes. • CAPS II: atende todas as faixas etárias; existe em regiões ou municípios com população acima de 70.000 habitantes. • CAPS III: atende todas as faixas etárias; funciona 24 horas; conta com acolhimento noturno; existe em regiões ou municípios com população acima de 200.000 habitantes. • CAPS Álcool e Drogas (AD): atende adultos ou crianças e adolescentes; existe em regiões ou municípios com população acima de 70.000 habitantes. • CAPS AD III: atende adultos ou crianças e adolescentes; conta com leitos para observação e monitoramento e tem funcionamento 24 horas; existe em regiões ou municípios com população acima de 200.000 habitantes. • CAPS Infantojuvenil (IJ): atende crianças e adolescentes “com transtornos mentais graves e persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas”; existe em regiões ou municípios com população acima de 150.000 habitantes. A Casa do Adolescente é um serviço do Programa do estado de São Paulo, direcionado para a Saúde do Adolescente. Criado em 1987, serviu como uma espécie de laboratório de novas políticas de saúde para jovens entre 10 e 20 anos de idade”. Os ambulatórios hospitalares especializados em saúde do adolescente são, geralmente, ligados às universidades, isto é, têm função didática. Seu histórico remonta à própria constituição da medicina de adolescentes, a partir das “propostas pioneiras” que “no Brasil, apareceram em São Paulo e no Rio de Janeiro, no início da década de 1970, vinculadas a faculdades de medicina e hospitais universitários” (SÃO PAULO, 2018). 167 Esses ambulatórios surgem a partir de diferentes especialidades médicas e vão também se relacionando em sociedades e associações. A atenção a adolescentes se constitui tendo como princípio a integralidade e, nesse sentido, há uma tendência a desenvolver o trabalho do profissional generalista, além da questão do acesso de adolescentes aos serviços. Configura-se uma tensão entre a clínica e a saúde coletiva, o indivíduo e a saúde pública, que marca a história dos serviços de atenção à saúde paulistas (SÃO PAULO, 2018). É necessário que os diversos serviços pertencentes à rede de atenção estejam devidamente articulados e atuem de forma integral, pois nos casos em que o adolescente procure primeiramente um serviço que não seja uma UBS, ele deve ser acolhido e atendido conforme sua necessidade e a atribuição de cada serviço; simultaneamente, é importante que ele seja também sempre referido para a UBS do seu território, por ser este o serviço de mais fácil acesso em virtude da sua proximidade e por conta do seu papel no provimento de cuidados e na coordenação do sistema (SÃO PAULO, 2018). NOTA A programação do serviço de saúde deve prever um sistema de referência e contrarreferência que assegure acesso universal e oportuno, em termos de atenção, que corresponda ao problema identificado. Quando se planeja a rede de serviços de um sistema de saúde, é necessário que cada uma das unidades que integram a rede programe suas atividades para a população da sua área de responsabilidade, tendo como base os problemas identificados e as ações que pretende desenvolver. A essa programação, que chamamos de básica, devem ser agregadas outras realizadas pelos demais serviços que integram o sistema. A complexidade e a resolução dos serviços de saúde estão fortemente relacionadas à composição da equipe, à qualificação e à integração dos seus membros, além das condições de gestão e estrutura existentes. O sistema de referência e contrarreferência deve contemplar também o encaminhamento para instituições que não são da área de saúde, como escolas, cursos profissionalizantes, atividades esportivas, culturais etc. Além da referência, é fundamental que ocorraa contrarreferência (SÃO PAULO, 2018). Vê-se, assim, a importância de protocolos, linhas guia, diretrizes, que norteiem as ações produzidas a esse público nos diversos níveis de atenção da Rede de Atenção à Saúde, proporcionando condições reais do adolescente ter o seu espaço garantido no atendimento ofertado da rede de atenção. 168 3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE NA REDE BÁSICA E HOSPITALAR A pessoa que procura a unidade de saúde busca um profissional disponível a ouvir suas demandas, ajudar a encontrar soluções para seus problemas e que não apresente julgamentos. Nesse contexto, o enfermeiro deve estar atento a atender essas demandas e outras mais . O adolescente deseja ser acolhido, orientado e compreendido em suas necessidades, pois assim sente-se confiante de que está seguro e bem amparado, principalmente por, na grande maioria das vezes, esse adolescente estar com vergonha, com medo de ser repreendido, assim como intimidado pela figura do profissional que atende, fazendo da atitude de procurar a unidade de saúde um ato difícil e que necessita de certa coragem (SÃO PAULO, 2006). Por esse motivo, é fundamental que o adolescente se sinta reconfortado, ajudado e respeitado para que possa confiar e dar continuidade ao tratamento. A maneira como ele será tratado no atendimento, desde a recepção na Unidade Básica de Saúde, até a consulta propriamente dita e seus eventuais encaminhamentos, vão definir o vínculo que ele estabelecerá com o tratamento e com a unidade como referência de ajuda e apoio (BRASIL, 2007). IMPORTANTE Compete a toda a equipe de saúde dar continuidade ao acompanhamento de saúde das crianças até a adolescência, programando avaliações periódicas, segundo protocolo estadual, com visitas, consultas médicas ou de enfermagem e grupos, dentre outras ações, priorizando as áreas e eventos de risco. Segundo Belo Horizonte (2014, p.13), o enfermeiro tem um papel importante nas ações desenvolvidas, sendo responsável por: - Captar, atender e realizar consulta ou encaminhá-los para avaliação de saúde anual priorizando casos de maior risco (gravidez, IST/AIDS, drogadição, vítimas de violência). - Desenvolver atitude acolhedora e flexível, com escuta atenta às suas queixas e demandas. - Identificar situações de risco como: violência doméstica e sexual, abuso de álcool e drogas, trabalho precoce, evasão escolar, gravidez na adolescência, distúrbios de comportamento e informar o caso à ESF. - Acolher o casal grávido, incentivando a participação do pai adolescente e encaminhando para o pré-natal o mais breve possível. - Realizar consulta de pré-natal conforme Protocolo da Saúde Mulher do município e estado. - Fazer aconselhamento e orientação sobre uso de preservativos e contraceptivos, no momento da liberação. - Prescrever nos casos indicados o AE - Anticoncepcional de Emergência - (conforme as Diretrizes de saúde sexual e reprodutiva do seu município/Estado) com aconselhamento, orientação e agendamentos devidos. - Verificar situação vacinal e orientar atualização do Cartão de Vacina – Caderneta de Saúde do Adolescente/MS. 169 - Orientá-los e suas famílias sobre hábitos saudáveis de vida, prevenção de riscos, importância da socialização (participação de grupos, movimentos culturais, esportes, lazer) durante atendimentos individuais e em grupo. - Promover e apoiar atividades educativas através de grupos de jovens, sala de espera, oficinas em escolas, discussão de vídeos, produção de murais, reunião com pais etc. Temas sugeridos: sexualidade, prevenção das DST/AIDS, promoção de hábitos saudáveis de vida como atividade física, alimentação saudável, prevenção do tabagismo, do alcoolismo e do uso de outras drogas. - Participar da articulação da rede de apoio local (escolas, creches, projetos esportivos e culturais), de ações educativas e de mobilização comunitária. - Participar com a equipe das discussões dos casos de suspeita e/ou violência sexual, antes de encaminhar e preencher a ficha de notificação. A Atenção Básica ganha destaque nas ações realizadas com jovens e adolescentes, e o enfermeiro tem um papel importante para as realizações das ações produzidas e dos resultados alcançados. A consulta de enfermagem deve ser embasada nos preceitos de privacidade e confidencialidade, seguindo o previsto no artigo Art. 52, que prevê manter sigilo sobre fato de que tenha conhecimento em razão da atividade profissional, exceto nos casos previstos na legislação, ou por determinação judicial, ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante, ou responsável legal. Conforme o §2º, o fato sigiloso deverá ser revelado em situações de ameaça à vida e à dignidade, na defesa própria ou em atividade multiprofissional, quando necessário à prestação da assistência (COFEN,2020). Uma vez que o SUS, precisa garantir o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto para crianças quando para adolescentes, segundo o art. 11, do Estatuto da Criança e do Adolescente, é fundamental que haja documentos que auxiliem essa execução. Nesse cenário, surgem algumas notas técnicas, com o propósito de recomendar as ações que precisam ser realizadas pelas equipes e profissionais de saúde, principalmente no que tange à possibilidade de os adolescentes serem atendidos sem a presença do responsável. 170 IMPORTANTE Segundo a Nota Técnica n. 4, da Coordenação Geral de Saúde do Adolescente e do Jovem, sobre o atendimento de adolescentes desacompanhados de pais ou responsáveis, é importante que o enfermeiro e a equipe: • sempre encorajem o adolescente a envolver a família no acompanhamento dos seus problemas, já que os pais ou responsáveis têm a obrigação legal de proteção e orientação de seus filhos ou tutelados. • que a quebra do sigilo, sempre que possível, seja decidida pela equipe de saúde juntamente com o adolescente e fundamentada no benefício real para pessoa assistida. • no caso de se verificar que a comunicação ao adolescente poderá causar maior dano, a quebra do sigilo deve ser decidida somente pela equipe de saúde com as cautelas éticas e legais já mencionadas (BRASIL, 201 8; COREN, 2020). Compete à equipe de saúde avaliar com cautela e considerar todas as possíveis estratégias para inserção dos adolescentes nas Unidades Básicas de Saúde e sua adesão às ações de prevenção de agravos e de promoção da saúde. Isso demanda tempo, preparo e muita capacidade profissional. Portanto, o enfermeiro deve ter segurança para realizar ações assertivas voltadas à saúde do adolescente dentro do contexto da atenção primária, contemplando a consulta de enfermagem, o fluxograma de atendimento, os principais diagnósticos e intervenções (farmacológicas e não farmacológicas) de enfermagem, embasados no sistema do e-SUS . NOTA O e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB) é uma estratégia do Ministério da Saúde através do Departamento de Atenção Básica (DAB) para reestruturar as informações da atenção primária à saúde (APS), modernizando sua plataforma tecnológica com o objetivo de informatizar as unidades básicas de saúde, oferecer ferramentas para ampliar o cuidado e melhorar o acompanhamento da gestão (Conass, 2013). Pretende-se com o e-SUS AB reduzir a carga de trabalho empenhada na coleta, inserção, gestão e uso da informação na APS, permitindo que a coleta de dados esteja dentro das atividades já desenvolvidas pelos profissionais, e não uma atividade em separado. Dentre as principais premissas do e-SUS, destacam-se: • Reduzir o retrabalho de coleta dados. • Individualização do Registro. • Produção de informação integrada. • Cuidado centrado no indivíduo, na família e na comunidade e no território. • Desenvolvimento orientado pelas demandas do usuário da saúde. 171 ATENÇÃO Caro acadêmico, é importante ressaltar que a “sistematização das atividades que compõem a atenção à saúde de adolescentes deve estar embasada nos princípios da Atenção Primáriaà Saúde, conforme a Política Nacional de Atenção Básica” (BRASIL, 2017). Essa sistematização deve ser embasada não apenas pela legislação vigente, como por documentos de cunho operacional, como: protocolos, linhas guia importantes, que favorecem a organização do serviço, ao listar as ações que são de responsabilidade de cada profissional de saúde. ESTUDOS FUTUROS No próximo tema falaremos sobre a consulta de enfermagem e sua estruturação. Lá ficará mais claro a importância da abordagem adequada do enfermeiro, que começa com o acolhimento adequado do adolescente, que é definido como “o conjunto de medidas, posturas e atitudes dos profissionais de saúde que garantam credibilidade e consideração à situação” (GRILLO, 2011). Um ponto importante de ser ressaltado aqui é o acolhimento desse adolescente. A UBS precisa ser vista e identificada por esse adolescente, como porta aberta. Nesse cenário, é fundamental que, ao adentrar a unidade, essa adolescente se sinta seguro e acolhido (BRASIL, 2015a). O acolhimento pode correr durante Consulta de Enfermagem ou uma visita a unidade. É fundamental também que esse enfermeiro realize a escuta ativa; observe os sinais verbais e não verbais, tais como: “ansiedade; inquietação; dificuldade de concentração; irritabilidade; fadiga; tristeza; choro; prostração; ausência de contato visual; automutilação e outros; questione sobre ideações suicidas e referencie os adolescentes aos serviços de Saúde Mental, quando houver necessidade” (CAPES, 2022). Trata-se de um conjunto de ações que fazem com que o indivíduo se sinta bem recebido pelo serviço em todos os locais e momentos. Esse processo, fundamental para a constituição de vínculos e compromissos, favorece o encaminhamento adequado do cliente. Todos os funcionários da unidade devem se envolver nesse processo. Isso implica a humanização das relações entre equipes de saúde e usuários, de forma que todos os adolescentes e jovens que procuram o serviço de saúde sejam ouvidos com atenção, recebam informação, atendimento e encaminhamento adequados (BRASIL, 2007). 172 Todos o processo de recepção, acolhimento, acompanhamento e encaminhamento do adolescente deve ser contemplado em um fluxograma, que nada mais é que um diagrama em que se desenha um modo de organizar os processos de trabalho, os quais se vinculam entre si e em torno de uma certa cadeia de produção. Considera-se importante o estabelecimento de fluxogramas que permitam representar de forma clara os serviços de saúde, servindo como instrumento de visualização do cotidiano, seja para melhor movimentação do adolescente/jovem nas unidades de saúde, assim como para a própria equipe, auxiliando no planejamento e na execução das atividades. Sugere-se que cada unidade defina o seu fluxograma de acordo com as instalações físicas, com os recursos humanos existentes e com os serviços oferecidos (BRASIL, 2007). É importante ter os impressos adequados para a atenção ao adolescente, porém a inexistência deles não deve ser um motivo para o não atendimento. Um dos impressos importantes, que contempla orientações, dados e informações sobre o adolescente, é a caderneta de saúde da e do adolescente. 3.1 CADERNETA DE SAÚDE DA E DO ADOLESCENTE Um importante instrumento que favorece a vinculação do adolescente com o serviço de saúde, é a Caderneta de Saúde do Adolescente (CSA). A caderneta foi lançada em 2009, pelo Ministério da Saúde, com o propósito de apoiar o acompanhamento de saúde de meninos e meninas entre 10 e 19 anos (BELO HORIZONTE, 2015). Esse documento reúne informações importantes para o cidadão adolescente entender suas mudanças corporais, cuidar de sua saúde sexual e reprodutiva, da saúde bucal, da alimentação e de sua vacinação, dentre outros cuidados. O Ministério da Saúde, por meio da Área Técnica de Saúde de Adolescentes e Jovens, construiu as cadernetas para o sexo feminino (BRASIL, 2013) e para o masculino (BRASIL, 2014) com objetivo de subsidiar o trabalho nas equipes e unidades de saúde. DICA Acadêmico, que tal conhecer um pouco mais sobre as cadernetas de Saúde do Adolescente que são disponibilizadas pelo Ministério da Saúde? São duas versões, sendo uma direcionada para as adolescentes (meninas) e a outra para os adolescentes (meninos). As Cadernetas de Saúde do Adolescente são disponibilizadas nos endereços a seguir: Caderneta de Saúde da Adolescente: https://bit.ly/3MbvqRh. Caderneta de Saúde do Adolescente: https://bit.ly/3pQ6CGF. 173 A implantação da caderneta é de suma importância para o acompanhamento do adolescente, assim como para orientação, visto que os assuntos contemplados na caderneta são descritos de forma lúdica e linguagem acessível, favorecendo a compreensão não só pela equipe de saúde como, principalmente, pelo jovem e sua família (BELO HORIZONTE, 2015). Você sabia que o Ministério da Saúde preconiza que todas as categorias profissionais podem se qualificar para o atendimento de adolescentes? Mas para a promoção da saúde e prevenção de agravos, as ações podem ser realizadas por membros habilitados das Equipes de Saúde da Família sendo as consultas realizadas por médicos e enfermeiros. Na consulta médica e do enfermeiro, o profissional deve manter uma postura compreensiva, observando e estimulando o adolescente a expor suas queixas e angústias, sempre atento à possibilidade de queixas não verbalizadas. Deve estabelecer uma boa relação com o adolescente, assegurando privacidade e confidencialidade, através da garantia do sigilo profissional, exceto em situações de risco de vida, próprio ou de terceiros, conforme os princípios da ética profissional que iremos mencionar no próximo tema (BELO HORIZONTE, 2015). 174 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • A importância do atendimento aos adolescentes, especialmente nas ações produzidas pela Atenção Básica. • A importância do acolhimento, da escuta qualificada para a permanência do adolescente no serviço de saúde. • Que existem duas Cadernetas de Saúde do Adolescente, uma voltada para o adolescente (menino) e outra para a adolescente (menina). • Procedimentos que devem ser desenvolvidos na escola direcionados para avaliação inicial, avaliação de crescimento e desenvolvimento, saúde bucal, saúde mental, imunização e prevenção de violências e acidentes. 175 RESUMO DO TÓPICO 1 1 A população adolescente apresenta alguns problemas que vão além de questões particulares ou desentendimento familiares, e para atender essa demanda, é necessário que exista uma rede de atenção organizada, estruturada e fortalecida. Sobre a organização do serviço de saúde e a atenção às demandas e necessidades dos adolescentes e jovens, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As UBS podem ter diversas formas de articulação com os outros serviços de saúde, mas o apoio matricial e os encaminhamentos só são realizados por centros de especialidades; b) ( ) O desenvolvimento de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças são secundários na assistência curativa e reabilitação, tanto individuais como coletivas. c) ( ) A maior parte das necessidades de adolescentes e jovens devem ser encaminhadas para o setor secundário e terciário, devido a sua complexidade. d) ( ) As UBS serão a porta de entrada preferencial, tanto em função de seu papel no sistema quanto pelo fato de estarem presentes em maior número e em todos os territórios. 2 No atendimento à saúde de adolescente, alguns pontos devem ser considerados, destacando-se o estabelecimento do vínculo de confiança entre Estratégia Saúde da Família, as Unidades Básicas de Saúde, os adolescentes, suas famílias e os estabelecimentos escolares. Mas para que isso ocorra da melhor forma possível, há princípios e diretrizes do atendimento ao adolescente que precisam ser seguidos. Com base na organização da atenção à saúde do adolescente e do jovem, analise as sentenças a seguir: I- Adequar os serviços de saúde às necessidades específicas de adolescentes,respeitando as características da atenção local vigente, os recursos humanos e materiais disponíveis. II- Adequar as características socioeconômicas e culturais da comunidade, além do ajustar o perfil epidemiológico da população local ao perfil apresentado por países da Europa. III- Estimular a participação ativa dos jovens nas ações de prevenção e promoção à saúde. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 176 3 Vários procedimentos podem ser desenvolvidos nas escolas, consistindo muitas vezes em ações iniciais de acompanhamento básico de saúde de adolescentes, bem como ações educativas em saúde que podem ser desenvolvidas em parceria com a comunidade escolar. Quanto aos procedimentos relacionados ao acompanhamento de crescimento e desenvolvimento que competem à equipe de saúde de Atenção Básica, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Esclarecer sobre o desenvolvimento pessoal, relações humanas, projetos de vida e outros temas correlatos. ( ) Solicitar que os adolescentes levem os cartões de vacina antigos e a Caderneta de Saúde do Adolescente. ( ) Avaliar: Peso, Altura, IMC, Acuidade visual e Pressão arterial. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Adolescência e puberdade são dois termos usados com muita frequência, e que exprimem conceitos diferentes. Disserte sobre o conceito de adolescência e puberdade. 5 Em termos ideais, devem existir dois momentos na consulta: o adolescente sozinho e com o familiar/responsável. Mas sabemos que nem sempre o ideal é o realizado e que o adolescente tem o diretor de ser atendido desacompanhado. Nesse contexto, disserte sobre os cuidados que o enfermeiro e a equipe devem ter ao realizar o atendimento de adolescentes desacompanhados. 177 CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE 1 INTRODUÇÃO A atenção à saúde do adolescente aparece como um grande desafio para a Organização dos Serviços de Saúde, visto que se trata de um grupo social em fase de grandes e importantes transformações. A maioria dos problemas de saúde que acometem essa população está diretamente relacionada a questões que podem ser prevenidas em nível primário, como gravidez na adolescência, aumento do consumo de álcool e outras drogas, causas externas, como acidentes automobilísticos, homicídios e suicídios, infecções sexualmente transmissíveis (IST), dentre outros (COREN, 2020, p.15). Para atender e contemplar essas demandas, podem ser usadas diversas estratégias, sendo a consulta de enfermagem uma delas. A consulta de enfermagem deve ser fundamentada no processo de “interação, investigação, diagnóstico, educação e intervenção, baseada em uma relação de confiança e empatia, onde o enfermeiro deve manter uma postura de compreensão e atenção a todas as informações, queixas e necessidades que levaram o adolescente a procurar esse atendimento” (COREN, 2020, p.15). Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 2, abordaremos os principais agravos na adolescência, comportamentos de risco e importância de identificação desses problemas. 2 CONSULTA DE ENFERMAGEM AO ADOLESCENTE A organização do acompanhamento do adolescente na Atenção Básica deve ser realizada de forma a garantir que se tenha espaço para consultas médicas, consultas de enfermagem, grupos educativos e de adolescentes, visitas e todas as estratégias necessárias para o devido seguimento do adolescente e jovem na unidade. Não há consenso na literatura sobre o número de consultas necessárias para que o seguimento ocorra adequadamente, sendo atribuído que o número mínimo de consultas médicas ao ano, para adolescentes e jovens, deve ser de duas, enquanto a consulta de enfermagem, pelo menos uma (BRASIL, 2013). Em outras literaturas, deixa- se essas consultas menos espaçadas, dependendo principalmente da situação de risco do jovem e adolescente (SÃO PAULO, 2015). UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 178 Percebe-se que cada unidade deve seguir o protocolo de atenção integral ao adolescente do seu município/estado, assim como linhas de cuidado disponível. A fi gura 9 ilustra um fl uxograma de atendimento ao adolescente. Figura 9 – Fluxo de atendimento ao adolescente Fonte: https://bit.ly/3IfW4qV. Acesso em: 11 maio 2023. Para identifi car a periodicidade das consultas de enfermagem, é utilizada a classifi cação de risco, que possibilita o entendimento de cada situação, a organização da atenção e da assistência, viabilizando assim os ajustes necessários a cada caso, e sendo mais efetiva e resolutiva. Que tal entendermos melhor quais os pontos importantes que devem ser utilizados para avaliar a situação de risco inerente e não inerentes à faixa etária utilizada para essa classifi cação de situação de risco? A fi gura 10 descreve essas situações, dividindo-as em riscos inerentes à faixa etária e riscos não inerentes à faixa etária.: 179 Figura 10 – Adolescentes com riscos inerentes e com riscos não inerentes à faixa etária Fonte: bit.ly/3IfW4qV. Acesso em: 11 maio 2023. ATENÇÃO A consulta de enfermagem direcionada para adolescentes e jovens deve seguir as mesmas propostas de uma consulta geral, mas com a direcionalidade para o seu público-alvo. A consulta de enfermagem deve abordar o perfi l do adolescente, aspectos sociodemográfi cos, condições de saúde, fatores de risco, perspectiva de vida, queixas, enfermidades ou situação de saúde atual, sexualidade, maturação sexual, cobertura vacinal, dentre outros (COREN, 2020). No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), apresentamos como sugestão para registro da atividade o método SOAP do prontuário eletrônico do cidadão (PEC e-SUS), que contempla os itens descritos na fi gura 11. Figura 11 – Modelo SOAP para consulta de enfermagem Fonte: https://bit.ly/3My9aSM. Acesso em: 13 abr. 2023. 180 DICA Uma forma de registro considerada bastante efetiva para a prática clínica na Atenção Básica é o Registro Clínico Orientado por Problemas (RCOP), uma adaptação do Registro Médico Orientado por Problemas (originalmente criado para o ambiente hospitalar), com seu componente denominado SOAP (Subjetivo, Objetivo, Avaliação, Plano) (DEMARZO; OLIVEIRA; GONÇALVES, s.d.). Que tal você conhecer um Instrumento de consulta de enfermagem com Adolescente que use como referência o ESUS/SOAP par entender melhor quais item contemplam o atendimento, sua sequência e demandas? Acesse bit.ly/457uW75. Acesso em: 11 maio 2023. Independentemente da forma de registro estipulada, é importante resgatar aqui alguns aspectos referentes à consulta de enfermagem, sendo um desses pontos os objetivos da consulta. Apesar do adolescente ter demandas específi cas, é importante frisar que, clinicamente, salvo em algumas doenças específi cas, elas não diferem da clínica do adulto ou da criança (GRILLO et al., 2011). Olhe com atenção os itens comtemplados na Figura 12. Eles apontam objetivos comuns que o enfermeiro deve ter atenção ao realizar a consulta de enfermagem a um adolescente. Figura 12 – Objetivos da consulta de enfermagem para adolescentes Fonte: https://bit.ly/41KqEQr. Acesso em 14 abr. 2023. 181 Quando possível, é importante participação ativa dos adolescentes na contribuição do preparo do ambiente de acordo com as suas características, pois isso fará com que o adolescente identifi que como “seu espaço”, fi cando mais à vontade, mais calmo e se sentindo seguro (SÃO PAULO, 2015) Mas, de forma geral, existe uma lista de assuntos que você, como enfermeiro, deve contemplar na sua abordagem, principalmente através da consulta. Na fi gura 13, temos as sugestões desses temas, mas lembre-se: não são estanques. É preciso conhecer bem seu público, o que pode gerar demandas de temas distintos dos apresentados aqui. Figura 13 – O quea consulta de enfermagem deve contemplar Fonte : bit.ly/3IfW4qV. Acesso em: 14 abr. 2023. ATENÇÃO É muito importante que, já durante a primeira consulta, sejam estabelecidos os “pactos” ou “contratos” com o adolescente e sua família. Repassar as informações importantes durante a consulta torna o processo mais transparente e faz com que os envolvidos fi quem mais à vontade (BRASIL, 2015). É importante também entender que: • É o momento oportuno de você, enquanto enfermeiro, explicar de forma clara e objetiva sobre o sigilo da consulta, onde o que for dito pelo adolescente ao profi ssional só será repassado aos pais com o consentimento deste. Claro que para toda regra há exceções, sendo assim, em situações de risco de vida do adolescente ou de terceiros, os pais serão prontamente notifi cados. • Outro ponto importante é informar que o adolescente não precisa de acompanhantes para passar em consulta, e que a presença dos pais, principalmente onde há confl itos familiares presentes, pode prejudicar o seguimento. • Seguindo esses mesmos princípios, quando o adolescente procurar o atendimento sozinho e mostrar maturidade para se responsabilizar por seu tratamento, seus pais serão convidados a comparecer somente se ele estiver de acordo. • É fundamental que o enfermeiro disponha de tempo adequado para cada atendimento, principalmente para a realização de uma abordagem integral e de orientações preventivas. Não esquecendo-se dos retornos com períodos mais próximos que podem ser necessários para estabelecer um vínculo de confi ança e esclarecer situações mais complexas. 182 • No caso do Enfermeiro da Estratégia Saúde da Família, ao identificar um adolescente com questões de risco ou de saúde mais complexa, tem a necessidade de tentar expandir seu vínculo através do Agente Comunitário de Saúde para auxiliá-lo no acompanhamento, incentivá- lo a buscar mais vezes esse profissional para discutir e refletir sobre seus problemas e também envolver toda a família (BRASIL, 2015). Quando avaliadas as especificidades de gênero, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2018, p.221 ) elenca como devem ser as orientações para o atendimento à saúde do adolescente, atentando-se que as orientação descritas a seguir são comuns tanto às adolescentes quanto aos adolescentes: 1. O adolescente precisa perceber que o profissional de saúde inspira confiança, que adota atitude de respeito e imparcialidade, restringindo-se às questões de saúde física. Não julga as questões emocionais e existenciais escutadas. Nesse terreno, o profissional de saúde não deve ser normativo. 2. O adolescente precisa estar seguro do caráter confidencial da consulta, mas ficar ciente também das situações nas quais o sigilo poderá ser rompido, o que, no entanto, ocorrerá sempre com o conhecimento dele. Essas situações estão relacionadas a riscos de morte do cliente e de outras pessoas. 3. É importante estar preparado não só para ouvir com atenção e interesse o que o adolescente tem a dizer, mas também ter sensibilidade suficiente para apreender outros aspectos que são difíceis de serem expressos oralmente por eles. 4. Geralmente, o atendimento de adolescente necessita de tempo e, na maioria das vezes, demanda mais de um retorno. 5. O modelo clássico de anamnese clínica mostra-se inadequado ao atendimento do adolescente na Unidade Básica de Saúde, pois não são considerados os aspectos da vida social, de trabalho, da sexualidade, da situação psicoemocional e violência, dentre outros. 6. Na maioria das vezes, o adolescente não procura o médico espontaneamente, é levado pelos pais e, com certa frequência, contra a sua vontade. Assim, é comum defrontar- se com um jovem ansioso, inseguro, com medo ou, pelo contrário, assumindo uma atitude de enfrentamento, ou do mais absoluto silêncio. 7. Se o adolescente procurar a Unidade Básica de Saúde sem o acompanhamento dos pais, ele tem o direito de ser atendido sozinho. No entanto, a equipe poderá negociar com ele a presença dos pais ou responsáveis, se for o caso. 8. A entrevista inicial poderá ser feita só com o adolescente, ou junto da família. De qualquer forma, é importante haver momento a sós com o adolescente, que será mais de escuta, propiciando uma expressão livre, sem muitas interrogações, evitando as observações precipitadas. 9. O exame físico exige acomodações que permitam privacidade e propiciem ambiente em que o adolescente se sinta mais à vontade. 183 Você consegue perceber que, para realizar essas ações, o enfermeiro deve ter segurança, propriedade e embasamento teórico e prático? Grillo et al. (2011, p.37) trazem em seu material que para o desenvolvimento da consulta de enfermagem ocorrer da melhor forma possível, é fundamental que o enfermeiro utilize os seguintes pontos que podem facilitar a relação entre o profissional de saúde e o adolescente: • Sigilo: o adolescente precisa estar seguro do caráter confidencial da consulta, mas ficar ciente, também, das situações em que o sigilo pode ser rompido. Isso, no entanto, deve ocorrer com o conhecimento do adolescente, transmitindo-se à família apenas o que for absolutamente necessário, como nas situações de risco de morte do jovem e de outras pessoas: gravidez, certos usos de drogas, risco de suicídio... • Escuta: deve-se estar preparo não só para ouvir com atenção e interesse o que o adolescente tem a dizer, mas também ter sensibilidade suficiente para apreender outros aspectos do que se passa com ele e que lhe são difíceis de expressar verbalmente. Para saber ouvir, deve-se estar atento para o que não é dito ou para o que é dito em outras palavras. • Tempo: o atendimento ao adolescente demanda tempo e certo grau de paciência e, dependendo das questões em curso, quase sempre se faz necessário mais de um contato, em que os diversos problemas podem ser abordados de forma adequada. Igualmente, é importante que haja flexibilidade, evitando-se padrões rígidos. • Identidade profissional: o adolescente precisa perceber, no profissional, alguém que inspire confiança e respeito, e não que se pareça com seus pais e com seus companheiros. Não é, portanto, interessante adotar comportamentos semelhantes ao dos jovens nem atitudes características de um pai ou parente substituto. • Família: em algumas circunstâncias, a família pode desejar conversar com o profissional sem a presença do adolescente, o que deve ser permitido, obedecendo- se aos mesmos critérios confidenciais adotados para o primeiro e respeitando-se o acordo de sigilo estabelecido com ele. De qualquer forma, com mais ou com menos participação e presença familiar, o adolescente deve estar no centro do atendimento, seja na consulta, seja no acompanhamento do seu tratamento. Conforme já discutimos nesta unidade, a consulta de enfermagem é atividade privativa do enfermeiro, onde o processo de enfermagem organiza-se em cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes e recorrentes: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, planejamento de enfermagem, implementação e avaliação de enfermagem. O profissional de saúde não deve ficar restrito a obter informações sobre o motivo focal que levou o adolescente ao serviço de saúde, e sim conhecer o adolescente como um todo, seguindo um roteiro de anamnese. Isso inclui a avaliação de como ele está se sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas quais está passando, seu relacionamento com a família e com seus pares, a forma como usa as horas de lazer, suas vivências anteriores no serviço de saúde, expectativas em relação ao atendimento atual e seus planos para o futuro (BRASIL, 2018). 184 Para a anamnese, a Figura 14 indica aos profi ssionais de saúde como obter informações dos adolescentes, de ambos os sexos, com idades entre 10 e 19 anos: perinatal, pessoal e familiar. Todos os dados obtidos na anamnese e exame físico fornecerão subsídios para a elaboração do Projeto Terapêutico Singular (PTS), do qual devem participar o profissional/equipe de saúde, o adolescente e a família, quando possível (BRASIL, 2018). Figura 14 – Anamnese do adolescente Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. Com essas perguntas, é possível diagnosticar a condição de saúde do adolescente, sendo classifi cado como adolescente saudável ou adolescente vulnerável/ doente biológico ou psicossocial, e cada caso deverá ser avaliado de forma individualizada segundo os achados (BRASIL, 2018). No Histórico de Enfermagem ou levantamento de dados, é importante abordar como ele está se sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas quais está passando, ao seu relacionamento com a família e com seus pares, a forma como utiliza as horas de lazer, as suas vivências anteriores no serviço de saúde, as expectativas quanto ao atendimento atual e seus planos para o futuro se conhece a rede da região (SÃO PAULO, 2015). Além disso, a menarca, a espermarca, ciclo menstrual, tristeza, melancolia, difi culdade em lidar com as frustrações, não se sentir compreendido, rejeições, uso de drogas e ideia ou tentativa de suicídio são temas que podem estar presentes na vida de alguns adolescentes e o fato de perguntar (se preocupar) é importante e estratégico, pois abre uma possibilidade de identifi cação e pode reforçar a empatia entre o profi ssional e o adolescente (SÃO PAULO, 2012). Se o adolescente não estiver à vontade para responder, você, como enfermeiro, poderá postergar essas questões para outro encontro e criar estratégias para abordar da melhor forma esse assunto. 185 Quanto ao exame físico, é um momento para se avaliar o estado de saúde, o autocuidado e para fornecer informações e orientações sobre as transformações físicas e psicossociais que vêm ocorrendo, além de complementar os dados coletados no histórico (SÃO PAULO, 2015). • Sempre durante o exame físico é necessária a presença de outro profissional de saúde no consultório para que preserve a ética em relação a interpretações diferentes por parte do adolescente, resguardando o profissional. É importante esclarecer ao adolescente, antes do exame, tudo o que vai ser realizado. • Mantenha a discrição e não faça exclamações ou comentários durante o exame. • Observar que a inspeção seja feita de forma segmentar, sempre cobrindo a região que não está sendo examinada. • Analisar cuidadosamente da cabeça aos pés. • O adolescente deve ser orientado sobre a realização do exame físico passo a passo, de forma que ele possa participar de todos os momentos da consulta, revelando preocupações que havia omitido anteriormente, respeitando sempre seus pudores e temores, adiando, se necessário, a realização do exame físico. • A pressão arterial (PA), nos primeiros anos de vida, tem elevação gradual. Na adolescência, há uma elevação mais rápida até chegar aos níveis pressóricos do adulto. • A avaliação da PA deve ser uma rotina na consulta do adolescente, para permitir a identificação precoce de hipertensão arterial. • No exame das genitálias, sempre utilizar luvas, não devendo ser, obrigatoriamente, realizado na primeira consulta. • Ao final da consulta, esclarecer o adolescente sobre os diagnósticos de enfermagem encontrados e a prescrição/ plano de cuidados, deixando claro o seu parecer quanto ao estado de saúde do adolescente. • Remarcar as consultas, mostrando disponibilidade para continuar o seu atendimento. A frequência dos retornos dependerá do caso em questão. Sempre que possível, deve-se realizar o exame físico completo na primeira consulta. A Figura 15 demonstra o que perguntar, observar e determinar através do exame físico do adolescente. 186 Figura 15 – Exame físico do adolescente Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. Através do exame físico é possível categorizar o adolescente em normal e anormal, ditando o acompanhamento, aconselhamento e tratamento, conforme demonstra a Figura 16. Figura 16 – Exame físico do adolescente e categorização dos casos Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. 2.1 AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO PUBERAL Você sabia que, durante a adolescência, os dados antropométricos se tornam ainda mais importantes e valiosos para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento? Mas é importante relatar que, apesar de muito importantes, é também muito difícil obtê-los (BRASIL, 2013). 187 Tem- se dados que apontam que cerca de 20 a 25% da altura do indivíduo adulto cresce nesse período, e 40 a 50% do seu peso final. Esses parâmetros são alcançados, em média, durante o intervalo de 3 a 5 anos no estirão da puberdade (BRASIL, 2018). Alguns pontos importantes devem ser observados, visando facilitar a atenção ao crescimento e a avaliação da antropometria nessa fase. Em todas as consultas clínicas, deve-se avaliar ( UNB, s.d.): a) Estatura, IMC/Idade e os Estágios puberais de Tanner em todos os adolescentes que compareçam ao serviço de saúde. b) Medir a altura em antropômetro/estadiômetro de parede, com o adolescente descalço, segundo técnicas de antropometria (OMS). c) Pela recomendação, deve-se colocar o adolescente de pé, sem sapatos, tão ereto quanto possível, com os olhos e as orelhas alinhados horizontalmente. Colocar a prancha ou prancheta na cabeça, fazendo um ângulo de 90 graus, firmemente, sobre a cabeça do adolescente, enquanto o examinador exerce uma pressão suave de baixo para cima sobre o seu queixo, e lembra a ele que deve manter seus calcanhares sobre o piso e fazer uma inspiração profunda para manter a medição de sua altura. Anotar o dado no gráfico de Estatura/Idade. d) Pesar em balança eletrônica ou balança mecânica (balança de braço aferida e sempre zerada e tarada) com a adolescente vestindo roupas leves, sem sapatos ou adereços. e) O peso deve ser utilizado para avaliar o Índice de Massa Corporal e o IMC deve ser colocado nas curvas da OMS de IMC/Idade. f) A velocidade máxima do estirão puberal também é variável de adolescente para adolescente, ocorre 18 a 24 meses antes nas mulheres do que nos homens, com uma variação média de 2 cm por ano, menor nas mulheres. g) Os meninos crescem em média de 9,5 cm /ano no estirão puberal e as meninas, em média, 8,0 cm/ano. h) Um parâmetro importante para avaliar o estirão de crescimento puberal é a avaliação da Velocidade de Crescimento (VC/ano), que pode ser feita instantaneamente, avaliando-se por uma regra de três simples. Exemplo: adolescente de 12 anos, avaliado em um período de 4 meses de intervalo entre a consulta, cresceu 4 cm nesse período, tem uma velocidade média de 12 cm/ano, portanto está no estirão puberal normal. i) O máximo do ganho ponderal coincide com o estirão puberal nos homens, mas ocorre 6 a 9 meses após o estirão puberal nas mulheres. j) Os adolescentes podem apresentar um aspecto de excesso de peso no período anterior ao estirão pubertário, sem que seja necessária a rotulagem de risco de obesidade. Porém o valor de excesso de peso não pode ultrapassar 20% em relação ao esperado para a altura/idade. k) No início do estágio do estirão pubertário, a adolescente pode apresentar um aspecto longilíneo e emagrecido, podendo ser classificada como de baixo peso pelos indicadores peso e altura. 188 l) Investigar as principais causas de atraso caso o crescimento pré-puberal seja menor que 4 cm/ano ou menor que 6 cm/ano em adolescentes na fase puberal. m) Avaliar sempre a perda (desnutrição) ou ganho (sobrepeso/obesidade) de peso em adolescentes. n) Acompanhar semestralmente os adolescentes e, em caso de rastreamento de riscos, acompanhar a cada 2 ou 3 meses. ATENÇÃO A avaliação da maturação puberal, segundo os estágios de Tanner, em relação ao crescimento físico costuma ser uma demanda comum. A utilização das pranchas de Tanner e das curvas de crescimento inseridasna caderneta de saúde do adolescente é muito útil (GRILLO et al., 2011). Leia com atenção a Caderneta de saúde do adolescente, identifi que os gráfi cos de crescimento e sua forma de preenchimento em bit.ly/3BzAwlm e https://bit.ly/459j6JN. Acesso em: 11 maio 2023. 2.1.1 Critérios de Tanner A monitorização do desenvolvimento puberal é feita pela classifi cação de Tanner. O Estagiamento de Tanner é um instrumento da prática diária do profi ssional que lida com adolescentes, sendo muito útil na determinação do estágio puberal em que se encontra o adolescente, permitindo relacionar tal informação com a clínica. Tanner sistematizou a sequência dos eventos puberais em ambos os sexos, em cinco etapas, considerando, quanto ao sexo feminino, o desenvolvimento mamário e a distribuição e a quantidade de pelos; e no masculino, o aspecto dos órgãos genitais e a quantidade e a distribuição dos pelos pubianos. Nas Figuras 17, 18 e 19 são mostrados resumidamente os eventos relacionados ao Estagiamento de Tanner para ambos os sexos. Figura 17 – Estágios de maturação sexual das pranchas de Tanner, para meninos e meninas Fonte: bit.ly/42WnjPL. Acesso em 5 abr. 2023. 189 Figura 18 – Estágios de maturação sexual pranchas de Tanner, menina Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_atendimento_adolescnte_menina.pdf. Acesso em: 11 abr. 2023. Figura 19 – Estágios de maturação sexual pranchas de Tanner, menino Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_atendimento_adolescnte_menino.pdf. Acesso em: 11 abr. 2023. 190 2.2 ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA Outro ponto importante e necessário muita atenção é a alimentação na adolescência. A adolescência é um período de transição entre a infância e a idade adulta, potencialmente determinada por fatores psicológicos, socioeconômicos e culturais que irão interferir diretamente na formação dos hábitos alimentares (BRASIL, 2001). A nutrição tem papel crítico no desenvolvimento do adolescente, sendo o consumo de dieta inadequada uma infl uência desfavorável sobre o crescimento somático e maturação. Outro fator que infl uencia as necessidades nutricionais é a realização de exercício físico (SÃO PAULO, 2015). Atualmente, a preferência dos adolescentes por lanches rápidos, substitutos das grandes refeições e principalmente do jantar, geralmente, favorece o desequilíbrio na dieta. A combinação dos alimentos nem sempre é variada, resultando em cardápios muito calóricos e pouco nutritivos. A associação entre esse estilo de vida pouco saudável e o surgimento do elevado número de pessoas com sobrepeso e/ou obesidade, com o aumento de doenças crônico-degenerativas (hipertensão arterial, diabetes, alteração nos níveis de colesterol e triglicérides, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares) constitui-se um problema prioritário de saúde pública, inclusive no grupo etário de crianças e de adolescentes (BRASIL, 2018). Para realizar a avaliação nutricional de adolescentes, o método mais adequado é o índice de massa corporal (IMC) (BRASIL, 2018). A Figura 20 descreve as principais orientações que o enfermeiro deverá realizar com o intuito de melhorar o estilo de vida do adolescente: Figura 20 – Orientações quanto à melhoria de estilo de vida Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacriancaedoales- cente02012017.pdf. Acesso em 4 abr. 2023. 191 2.3 IMUNIZAÇÃO DO ADOLESCENTE Quando avaliamos os imunobiológicos recomendados aos adolescentes e que estão disponíveis na rede pública de saúde, temos: • vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola); • vacina contra hepatite B; • vacina HPV (no SUS está disponível somente para as adolescentes); • dupla adulto (dT–difteria e tétano); e • febre amarela. Figura 21 – Calendário vacinal do adolescente Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf. Acesso em 17 abr. 2023. É importante frisar que essas vacinas devem ser administradas após considerar todo o histórico de vacinação do adolescente. É fundamental ter acesso à situação vacinal atual e pregressa do adolescente, com o histórico de vacinas administradas na infância. Esses dados devem ser conferidos através do cartão vacinal, e/ou da Caderneta de Saúde do Adolescente. 192 ATENÇÃO O conhecimento do Esquema Básico de Vacinação é fundamental para que se evite o excesso ou a redução no número de doses, ambas as situações não são recomendadas para o adolescente. De forma geral, a maioria dos adolescentes frequentemente apresenta carteira de vacinação incompleta, com esquema básico de vacinação interrompido. Não é necessário recomeçar o esquema por atraso de doses de qualquer vacina. Todas as doses tomadas, independentemente do tempo, devem ser consideradas se estiverem registradas no Cartão Vacinal ou na Caderneta de Saúde de Adolescentes, que são documentos ofi ciais comprobatórios da situação vacinal de cada indivíduo, com validade em todo o País. Nessa situação, deve- se apenas completar o esquema. Caso a situação, seja não haver informação disponível sobre vacinação anterior, seja a informação ser muito duvidosa, recomenda-se considerar como não vacinado (SÃO PAULO , 2015). Figura 22 – Avaliação do estado de imunização do adolescente Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_adolescentes_atencao_basica.pdf. Acesso em 17 abr. 2023. 193 3 GRUPOS EDUCATIVOS NA ADOLESCÊNCIA Uma pergunta importante de se realizar é: Quais temas trabalhar prioritariamente com adolescentes e jovens? A melhor resposta que podemos dar a essa questão é aquela que leva em consideração um levantamento de suas necessidades. Sendo assim, dependerá do contexto e será mais bem realizado se for de maneira participativa, com a colaboração dos próprios adolescentes e jovens, assim como de outros atores das suas comunidades (SÃO PAULO, 2018). Mas como conhecer essas necessidades? Pode ser através de caixas de sugestões espalhadas em locais estratégicos, uso de rede sociais e mídias que possibilitem o envio de mensagens, inquéritos e levantamentos juntos a órgão e pais/ responsáveis. São várias estratégias que podem ser usadas, sendo desde aquelas que preservam o anonimato até aquelas que as pessoas possam enviar abertamente suas sugestões, dúvidas e problemas. Há também a possibilidade de realizar dinâmicas em escolas, e dos apontamentos realizados, traçar os próximos passos. Quando avaliamos os temas tipicamente abordados no trabalho em saúde com adolescentes e jovens, podemos dividir em quatro categorias: • Temas como prevenção das IST e da AIDS, da gravidez na adolescência e do uso de drogas, assim como o da alimentação, se for muito focado na prevenção da obesidade, são geralmente tratados com ênfase nas atividades de controle, nos traços negativos que caracterizariam esse grupo e, consequentemente, produzem resistências e poucas vezes têm boa aceitação pelo grupo. Isso não significa que esses temas não devam ser abordados, pois dizem respeito a questões importantes para a saúde de adolescentes e jovens. Entretanto, é preciso romper com essa tendência e adotar abordagens mais produtivas, que rompam com a tendência ao controle e à estigmatização . • Uma segunda categoria de temas típicos refere-se à inserção de adolescentes e jovens no mundo adulto, enfocando “as dificuldades de adaptação na escola, os desafios da relação ensino-aprendizagem, assim como os dilemas do primeiro emprego”. Com esses temas, é preciso tomar cuidado para não responsabilizar os indivíduos “em detrimento dos aspectos sociais que determinam as condições de vida e saúde”. • Educação, direitos, projeto de vida, trabalho, corpo, esportes e cultura formam outro conjunto de temas igualmente importante para o trabalho em saúde, que precisa ser abordado de uma maneira que rompa com a “ideia de compensação e salvação”. • Enfim, atividades culturais, artísticas e esportivas aindasão pouco estimuladas no âmbito do trabalho em saúde, embora ofereçam “uma grande oportunidade de articulação intersetorial” (AYRES et al., 2012, p. 14). Pode-se acrescentar na lista de temas a serem mais explorados, as relações sociais de raça e de gênero (em termos de diversidades e de desigualdades); a religiosidade e as religiões; as diversas formas de violência, de preconceito e de discriminação; a saúde mental; a relação com o 194 corpo; o próprio tema da adolescência e da juventude, dentre outros. Nesse âmbito, a criatividade é mais do que bem-vinda, pois abordar um tema inédito torna as relações entre profissionais e participantes mais genuínas e horizontais, na medida em que ambos têm algo a aprender sobre o assunto elencado (SÃO PAULO , 2018). Mas você sabe o que é o trabalho com grupos e qual a sua importância? 3.1 METODOLOGIAS DE TRABALHO COM GRUPOS Quando falamos de grupos, sua importância, uso e repercussão, temos basicamente duas linhas antagônicas. Uma, onde os grupos são muitas vezes mal compreendidos e utilizados de maneira inadequada, tornando-os sem grande atratividade, esvaziados e pouco resolutivos. Em contrapartida, temos uma outra vertente, que demonstra que o trabalho com grupos pode ser interessante e resolutivo, pois, em pouco tempo, atinge um maior número de pessoas, que se apoiam mutuamente, compartilham de opiniões e tornam as ações do grupo resolutiva e duradoura. Quando fazemos essa análise olhando especificamente para os grupos de adolescentes, temos respostas positivas, visto que o adolescente se sente acolhido por ter um grupo de iguais, que vivenciam o mesmo momento existencial, e isso pode ser usado como uma forma de identificação e trazer mais segurança para os participantes, visto que o grupo pode ser visto como um momento de desligamento da família, funcionando como um intermediário entre o grupo familiar e o laço social (GRILLO et al., 2011). 195 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Como realizar a consulta de enfermagem voltada para o adolescente/jovem e a importância da sua organização para o adequado seguimento dessa população. • A importância de avaliar a alimentação na adolescência e o impacto de hábitos não saudáveis em médio e longo prazo. • Que o calendário vacinal do adolescente corre risco de estar incompleto, sendo necessária a atuação assertiva do enfermeiro para analisar, atualizar e registrar as vacinas realizadas no cartão vacinal ou caderneta do adolescente. • A importância dos grupos educativos, como espaços de discussões seguros, resolutivos e organizados. • As etapas de maturação puberal e as transformações físicas relacionadas à fase da adolescência. 196 1 O conhecimento do Esquema Básico de Vacinação é fundamental para que se evite o excesso ou a redução no número de doses (ambas as situações não são recomendadas para o adolescente). De forma geral, a maioria dos adolescentes frequentemente apresenta carteira de vacinação incompleta, com esquema básico de vacinação interrompido. Sobre o esquema vacinal no adolescente, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É necessário recomeçar o esquema por atraso de doses de qualquer vacina. b) ( ) Todas as doses tomadas, desde que no último ano, devem ser consideradas se estiverem registradas no Cartão Vacinal ou na Caderneta de Saúde de Adolescentes. c) ( ) Caso a situação seja de não haver informação disponível sobre vacinação anterior, ou se a informação for muito duvidosa, recomenda-se considerar como não vacinado. d) ( ) O Cartão Vacinal ou a Caderneta de Saúde de Adolescentes não que são documentos oficiais comprobatórios da situação vacinal de cada indivíduo. 2 Com base nos objetivos da consulta de enfermagem direcionada para adolescentes e jovens, analise as sentenças a seguir: I- No histórico de enfermagem ou levantamento de dados, é importante abordar como ele está se sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas quais está passando, o seu relacionamento com a família e com seus pares. II- Sempre durante o exame físico é necessária a presença de outro profissional de saúde no consultório para que preserve a ética em relação a interpretações diferentes por parte do adolescente, resguardando o profissional. III- Dentre as orientações, é importante reforçar que o adolescente precisa de acompanhantes para passar em consulta, e que a presença dos pais é positiva para o seguimento, pois o adolescente não apresenta maturidade para se responsabilizar por seu tratamento. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 197 3 Um adolescente é acompanhado pelo enfermeiro da unidade de saúde e apresenta: impulsividade, imaturidade, obesidade, tem histórico de uso de drogas, é residente em uma comunidade e seus pais são alcoólatras. O enfoque de risco auxilia a equipe a planejar o acompanhamento do adolescente priorizando as ações preventivas e assistenciais. De acordo com a classificação de riscos inerentes à faixa etária ou não, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A impulsividade, imaturidade, obesidade e alcoolismo familiar são características avaliadas como fatores de risco inerentes à faixa etária. ( ) O histórico de uso de drogas e o fato de seus pais serem alcoólatras entram como características avaliadas como situação de risco não inerentes à faixa etária. ( ) Esse adolescente não tem situações de risco que não sejam inerentes a sua faixa etária. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 É muito importante que já durante a primeira consulta sejam estabelecidos os “pactos” ou “contratos” do profissional de saúde junto ao adolescente e sua família. Repassar as informações importantes durante a consulta torna o processo mais transparente e faz com que os envolvidos fiquem mais à vontade. Disserte sobre os pontos importantes que precisam ser repassados ao adolescente referentes aos atendimentos. 5 Ao se avaliar o atual quadro epidemiológico brasileiro quanto a doenças nutricionais, tem-se que a desnutrição diminuiu nas últimas décadas e o sobrepeso e a obesidade aumentaram de forma considerável, coexistindo com as deficiências nutricionais. Temos um cenário onde um 1/5 dos adolescentes apresentam excesso de peso e inadequação da ingestão de nutrientes e vitaminas. Esse cenário deixa clara a importância do seguimento para adolescentes e jovens com orientações adequadas (BRASIL, 2014 ). Nesse contexto, quais são as orientações que devem ser realizadas pelo enfermeiro no intuito de melhorar o estilo de vida do adolescente e/ou jovem? 198 199 TÓPICO 3 - PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA 1 INTRODUÇÃO Sendo a adolescência o período entre a infância e a vida adulta, é também o período do crescimento humano e a fase da vida onde os jovens questionam a existência, os paradigmas sociais e culturais, se rebelam e se revelam (UNB , s.d.). É comum que nessa fase o sujeito comece a interagir com o mundo externo de modo mais autônomo sem, aparentemente, ter de assumir as responsabilidades da vida adulta. Essa interação do adolescente com o mundo externo é de extrema ambivalência, visto que, se por um lado não lhe é exigido assumir os compromissos da vida adulta, por outro, não lhe é permitido “comportar-se” como uma criança. Na indecisão de como se conduzir, o adolescente se arrisca, oscilando entre condutas de risco “calculado” – decorrente de uma ação pensada – e do risco “insensato”, em que, gratuitamente, se expõe, com grande chance de ocorrerem insucessos, podendo comprometer sua saúde de forma irreversível (UNB , s.d.). Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 3, abordaremos os principais agravos na adolescência, comportamentosde risco e importância de identificação desses problemas. 2 PRINCIPAIS AGRAVOS NA ADOLESCÊNCIA Com certeza você já leu ou viu notícias sobre acidentes envolvendo jovens embriagados, realizando automutilação, exploração sexual e meninas grávidas na adolescência. São assuntos, infelizmente, recorrentes para a enfermagem. Sendo assim, vamos abordar os principais agravos que os adolescentes estão suscetíveis e as principais intervenções da enfermagem. 2.1 OBESIDADE O desenvolvimento precoce da obesidade vem apresentando cifras alarmantes entre crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo, sendo um problema de saúde pública que tende a se manter em todas as fases da vida. O excesso de peso como problema de saúde pública tem suplantado, em muito, o baixo peso para estatura no Brasil e em outros países (BRASIL, 2018). UNIDADE 3 200 Obesidade é uma consequência do aumento da gordura corporal em relação à massa muscular. É uma doença multicausal, em que ocorre a interação de fatores genético-metabólicos e do meio ambiente. Representa um importante problema de saúde pública. O Índice de Massa Corporal [IMC = peso (Kg)/altura2 (m2)] é considerado bom indicador de magreza ou excesso ponderal na adolescência e, por isso, é comumente usados em estudos epidemiológicos (BRASIL, 2018). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), adolescentes com sobrepeso são aqueles que apresentam IMC situado entre z-escore+2 e adolescentes obesos aqueles com z-escore maior que +2. O adolescente obeso tem grandes chances de tornar-se um adulto obeso com probabilidade de apresentar complicações clínicas, pondo em risco sua sobrevida em curto prazo. Conduta: manutenção de peso tão próximo do normal quanto às características fisiológicas do indivíduo permitirem. O tratamento consiste em normalizar (não restringir) o consumo de alimentos; aumentar a movimentação corporal, especialmente os exercícios aeróbicos; e atentar para as condições sociais e emocionais . São consequências da obesidade: • Hipertensão arterial, hiperlipidemia, doença cardiovascular, cálculos biliares, diabetes. • Irregularidades menstruais, infertilidade, gravidez de risco, eclâmpsia e pré- eclâmpsia, maior possibilidade de infecção no puerpério. • Diminuição dos níveis de testosterona e maior chance de desenvolver a ginecomastia púbere. • Isolamento social, baixa autoestima, depressão, dificuldade de aceitação pelo grupo (SÃO PAULO, 2015). Quanto à consulta de enfermagem direcionada à obesidade, é importante estabelecer objetivos e intervenções individualizadas, baseadas na idade, grau de obesidade, fatores comportamentais, psicológicos, sociais e na presença de comorbidades (SÃO PAULO, 2015). O objetivo principal do atendimento é fornecer recomendações para mudanças na dieta e atividade física, que podem ser implementadas dentro do ambiente familiar e que promovam a saúde, crescimento e desenvolvimento adequados. O envolvimento da família é fundamental para auxiliar a mudança no comportamento alimentar dos adolescentes. Sendo assim, é necessário capacitar os pais a fim de facilitar a mudança e comportamento dos adolescentes para uma alimentação saudável e um estilo de vida mais ativo (SÃO PAULO, 2012). Na Figura 23, temos a proposta de investigar o histórico de enfermagem e o que observar no exame físico referente à obesidade. 201 Figura 23 – Histórico de enfermagem e exame físico ao adolescente obeso Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/saudedacriancaedoales- cente02012017.pdf. Acesso em 14 abr. 2023. 2.2 TRANSTORNOS ALIMENTARES – ANOREXIA NERVOSA E BULIMIA Ainda que as necessidades nutricionais sejam infl uenciadas simultaneamente pelos eventos da puberdade e pelo estirão do crescimento, na adolescência o padrão alimentar é determinado por vários fatores que variam de pessoas, ambientais e macroambientais. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (2018), dentre os fatores ambientais, podemos incluir as crenças, preferências alimentares, atitudes e maturidade. Os fatores ambientais incluem a infl uência da família, amigos, escola, normas culturais e sociais. Os fatores macroambientais são determinados pela disponibilidade dos alimentos, produção alimentar, propaganda e infl uência da mídia digital (SOCIEDADE BRASILILEIRA DE PEDIATRIA, 2018). Cinco eventos têm infl uência direta sobre o equilíbrio nutritivo : • Início da transformação pubertária. • Aceleração do crescimento longitudinal. • Aumento da massa corporal. • Modifi cação da composição corporal. • Variações individuais quanto à atividade física (SOCIEDADE BRASILILEIRA DE PEDIATRIA, 2018). É importante frisar que a alimentação inadequada na adolescência pode levar a risco imediato ou de longo prazo de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, doença arterial coronariana, dislipidemias, obesidade, diabetes e osteoporose (SÃO PAULO, 2015). 202 2.2.1 Anorexia nervosa Segundo Brasil (2018, p. 124), a anorexia nervosa é um distúrbio emocional e alimentar caracterizado por: • Recusa de manter um peso corporal em harmonia com a altura, que é, no mínimo, 15% abaixo do esperado para uma determinada estatura. • Intenso medo de ganhar peso e engordar. • Distorção da imagem corporal, como sentir-se gordo, quando, na verdade, está muito magro. • Ocorre com mais frequência em jovens, muitas vezes na adolescência, de camadas socioeconômicas mais elevadas, e está relacionada com o ideal estético veiculado pela mídia e reforçado pela cultura de consumo de beleza. • Cursa com transtornos relacionados com a desnutrição e alterações endócrinas. Amenorreia (falta de menstruação) é uma das principais características da anorexia nervosa. A anorexia nervosa afeta, principalmente, jovens adolescentes, frequentemente entre os 13 e 17 anos, do sexo feminino, que voluntariamente reduzem a ingestão alimentar por um medo mórbido de engordar, com perda progressiva e desejada de peso, chegando a graus extremos de caquexia, inanição e até a morte. As estimativas de mortalidade giram em torno de 15% a 20% (SÃO PAULO, 2015). Geralmente, o quadro é desencadeado por um fator estressante como, por exemplo, comentários sobre o peso, pressão profissional ou uma ruptura afetiva. Apesar de emagrecido, o adolescente costuma perceber-se gordo ou desproporcional, o que se denomina insatisfação ou distorção da imagem corporal. A perda de peso constitui-se no grande objetivo do adolescente, que faz uso de dietas severas, períodos de jejum, pratica exercícios físicos em exagero e usa ou abusa de medicações laxativas, diuréticas e/ou inibidores do apetite (SÃO PAULO, 2015). A principal conduta é a avaliação clínica a fim de verificar risco de vida devido à desnutrição e procurar fazer diagnóstico diferencial com outras doenças psiquiátricas, como, por exemplo, a depressão. Procurar conhecer a estrutura familiar e de suporte social. É fundamental a atuação de um profissional da área de Saúde Mental do Nasf e do apoio de nutricionista (BRASIL, 2018). Ao realizar a consulta, o enfermeiro deve levar em conta que o adolescente tem dificuldade em dizer o que está sentindo ou pensando, portanto, será importante a comunicação extraverbal usando desenhos, por exemplo. Esse adolescente tem uma baixa autoestima e imagem corporal perturbada (SÃO PAULO, 2015). 203 2.2.2 Bulimia Os critérios para o diagnóstico de bulimia pelo Manual das Desordens Mentais (1994), Diagnóstico e Estatística (DSM-IV), incluem os seguintes itens: 1 – Episódios de ingestão excessiva com sensação de perda de controle (às vezes em períodos de duas horas, ingerem quantidades consideradas muito grandes, que outras pessoas não afetadas não ingeririam nesse mesmo período nem nessas circunstâncias). 2 – A ingestão excessiva é compensada por comportamento de expurgo (vômitos autoinduzidos, laxantes ou diuréticos) ou não expurgo. 3 – A ingestão excessiva e oscomportamentos compensatórios ocorrem pelo menos duas vezes por semana, por três meses. 4 – Insatisfação com a forma do corpo e com o peso. Esses acessos incontroláveis de ingestão alimentar ocasionam sentimentos de baixa autoestima, culpa, vergonha, depressão levando ao isolamento social, evitando reuniões sociais ou viagens. A etiopatogenia da bulimia nervosa também inclui, com grande frequência, conflitos familiares, história de abuso sexual na infância e questões sobre o desenvolvimento de feminilidade (SÃO PAULO, 2012). Geralmente, o início dos sintomas ocorre nos últimos anos da adolescência até os 40 anos, estando a idade média de início em torno dos 20 anos de idade. É mais frequente no sexo feminino, na mesma proporção da anorexia nervosa. Durante um episódio bulímico, a maior parte dos alimentos consumidos são doces e carboidratos, podendo ingerir cerca de 6 mil a 15 mil calorias (SÃO PAULO, 2015). A paciente pode ser eutrófica ou até mesmo apresentar sobrepeso. Sintomas depressivos acompanham a bulimia. Apresentam risco de vida durante estes surtos devido aos distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos desencadeados pelos vômitos, uso de laxantes e diuréticos (BRASIL 2018). A conduta esperada é avaliar a história do adolescente e os riscos para depressão. É fundamental o acompanhamento por profissionais da Saúde Mental do Nasf e/ou referenciar para serviços especializados com equipe multidisciplinar, de preferência formada por especialista de Saúde Mental, nutricionista e clínico (BRASIL, 2018). 2.3 TRANSTORNOS EMOCIONAIS – DEPRESSÃO E ANSIEDADE A depressão é uma síndrome clínica caracterizada por um distúrbio persistente do humor e um comportamento disfuncional. Geralmente inclui tristeza, infelicidade, retraimento social, dificuldade de concentração, problemas alimentares, perturbação do sono e perda de interesse nas atividades habituais. Cerca de 60% dos adolescentes abordados em consulta médica relatam ter sentimentos de depressão, com frequência maior entre as mulheres (BRASIL, 2018). 204 Na adolescência, uma série de fatores pode levar à depressão: • A relação malsucedida com os pares: a perda de um(a) parceiro(a), a exclusão do grupo de pares, ausência de apoio dos companheiros, dificuldades pessoais de estar com os amigos. • As dificuldades relacionais com a família: falta de independência, comunicação precária, pouca disponibilidade dos pais, problemas com os pais. • As experiências escolares: baixo rendimento escolar, conflito com os professores e colegas, expectativas muito elevadas dos pais com relação aos filhos, que podem chocar com as tendências e desejos dos adolescentes. • Autoimagem ruim: insatisfação com a própria aparência física, falta de segurança com relação a si próprio, visão de futuro sem projetos ou esperanças. Conduta: Ouvir o adolescente. Quando necessário, realizar interconsulta ou atenção conjunta aos profissionais da Saúde Mental dos Nasf (BRASIL, 2018). A ansiedade é inerente a qualquer pessoa, importante para processos adaptativos e para o desenvolvimento integral das pessoas. Assim, a forma como a criança e o adolescente são atendidos em suas necessidades, nos ambientes onde circula e vai desenvolvendo a sua sociabilidade e individuação, pode possibilitar o aprendizado de aprender habilidades para lidar com as adversidades e o fortalecimento de sua capacidade de resiliência (UNB, s. d.). A ansiedade é um sinal normal de alerta que prepara o indivíduo ao perigo, um estado de humor desagradável, apreensão negativa em relação ao futuro e inquietação desconfortável; sendo constituída por manifestações somáticas (cefaleia, dispneia, taquicardia, tremores, vertigem, sudorese, parestesias, náuseas, diarreia etc.) e psíquicas (inquietação interna, insegurança, insônia, irritabilidade, desconforto mental, dificuldade para se concentrar etc.); configura um transtorno quando sua intensidade, duração, frequência e repercussão sintomática extrapolam a normalidade, segundo desenvolvimento e vivências de cada adolescente (SILVA FILHO; SILVA, 2013). Estimativas do Ministério da Saúde definem que cerca de 10% a 20% da população de crianças e adolescentes sofram de transtornos mentais. Desse total, de 3% a 4% necessitam de tratamento intensivo. Entre os males mais frequentes está a deficiência mental, o autismo, a psicose infantil e os transtornos de ansiedade (UNB, s.d.). Medidas preventivas e ações promocionais no âmbito da atenção básica são essenciais para mudanças no desenvolvimento e comportamentos da população com implicações na saúde mental da população infanto-juvenil. 205 2.4 COMPORTAMENTO DE RISCO – DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS O consumo de drogas é um fenômeno universal, histórico e social. Entretanto, vale enfatizar que o uso abusivo de medicamentos prescritos pode representar uma dependência química. Um dos principais problemas de combate ao uso de drogas é o fato de a sociedade sempre ter sido ambígua e incoerente frente ao seu consumo (BRASIL, 2018). Dada a complexidade multifatorial que envolve o uso abusivo de drogas, a sua abordagem deve ser realizada de forma interdisciplinar. Tratando-se de um problema humano, nele estão envolvidos o indivíduo, a família, a escola, a sociedade e a cultura. • Uso abusivo – todo consumo de droga que causa dano físico, psicológico, econômico, legal ou social ao indivíduo que a usa ou a outros afetados pelo seu comportamento. • Intoxicação – mudanças no funcionamento fisiológico, psicológico, afetivo, cognitivo ou de todos eles como consequência do consumo excessivo. • Dependência – estado emocional e físico caracterizado pela necessidade urgente da substância pelo seu efeito positivo ou para evitar o efeito negativo associado a sua ausência. Por que os adolescentes usam drogas? • Para experimentar sensações diferentes. • Para se sentirem melhor. • Para alívio de emoções desagradáveis. • Por insegurança. • Para ser aceito pelo grupo de amigos. • Devido à baixa autoestima. • Para questionar os valores dos pais e/ou adultos responsáveis. • Em busca de mudanças de humor, nível de consciência ou na percepção de mundo (BRASIL, 2018). O que se espera da equipe de saúde é que: • No acolhimento, seja favorecida a formação de vínculos e o exercício do cuidado, proporcionando segurança e tranquilidade para que adolescentes e suas famílias possam falar de angústias, dúvidas e aflições e sentirem-se acolhidos pela unidade de saúde. • Esteja apta para identificar os adolescentes com problemas relacionados com a ingestão aguda e crônica de drogas, bem como reconhecer suas possibilidades e limites no manejo e encaminhar adequadamente aos serviços de referência. • Atue nas escolas do bairro, organizações juvenis e junto às famílias buscando entender o que leva ao uso, as regras de convivência, as regras sociais da comunidade, as possibilidades de autocuidado e promovendo sistematicamente atividades (BRASIL, 2018). Estas atividades devem ser criativas, bem-humoradas e de fácil assimilação, 206 para que os adolescentes se sintam envolvidos. • Esteja bem-informada quanto à farmacologia, efeitos e complicações das principais drogas usadas na região, procurando saber os tipos mais frequentes de drogas usadas pelos adolescentes. • Conheça as leis municipais, serviços judiciários e os conselhos tutelares para o encaminhamento sempre que necessário. • Desenvolva atividades de promoção de saúde com a participação de adolescentes na decisão de não fumar. Deve-se fi car atento ao fato de que o indivíduo pode evoluir da sua condição de fumante experimental para dependente da nicotina num período de um ano ou menos (BRASIL, 2018). Para se avaliar a vulnerabilidade no uso de drogas, a imagem 24 propõe perguntas, formas de observar e avaliar o adolescente. Figura 24 – Perguntar, observar e avaliar a vulnerabilidade no uso de drogas Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso emcoberturas vacinais de 100% de forma homogênea em todos os municípios e em todos os bairros” (DATASUS, 2022, s.p.). O PNI, nesses quase 50 anos de existência, tornou-se uma ação do governo, que é caracterizada pela inclusão social, visto que assiste todas as pessoas, em todos os recantos do País, sem distinção de qualquer natureza. Seja rico ou pobre, more no litoral ou nos sertões, seja velho ou jovem, o brasileiro sabe que pode contar com vacina de boa qualidade em todos os momentos de sua vida (BRASIL, 2013b). ESTUDOS FUTUROS Mas, é possível perceber que, nas décadas que antecederam a criação do SUS, o modelo assistencial vigente no país, assim como a forma de organização dos serviços, adotava um padrão “de intervenção estatal caracterizado pela dicotomia entre a saúde pública e a assistência médica individual (previdenciária, fi lantrópica ou liberal)” (BRASIL, 2009b, p. 90). Vamos perceber que a maioria das políticas de saúde maternoinfantil, até então tinham se desenvolvido em um cenário de exclusão, onde nem todos os brasileiros tinham acesso e usufruíam as ações programáticas. Na década de 1970, com o movimento desenvolvido por organizações internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) incentivaram debates sobre a temática, demonstrando que era necessário um ajuste e adequação das ações de Atenção Primária, para que resultado fossem alcançados (BRASIL, 2009b). Vai ser a partir da década de 1980, principalmente, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988, que o Brasil passará a apresentar um cenário diferente 6 do apresentado até então. Com a reforma sanitária, a criação do SUS através da Constituição de 1988, críticas severas ao modelo vigente, tornaram-se mais evidentes e alternativas começaram a ser colocadas em prática. Tudo isso ocorre em meio a reivindicações, protestos e movimentos, que eram organizados por grupos específi cos, como o movimento de mulheres em prol de uma atenção integral em todos os ciclos da vida, que foi decisivo para a superação de propostas focadas na atenção maternoinfantil e para a adoção de abordagens que considerassem o perfi l epidemiológico vigente e a inclusão de todos (BRASIL, 2007b). Entre os programas relacionados à saúde da criança desenvolvidos na década de 1980, além dos citados acima, temos o Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC) (1984) que merece destaque. O Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC) foi criado em 1984, e é a estratégia de enfrentamento às adversidades nas condições de saúde vivenciadas pela população infantil, em particular no que se refere à sobrevivência infantil, que incorpora diversas ações para redução das altas taxas de mortalidade da época. Seu grande diferencial é que ele tem o objetivo de promover a saúde de forma integral, priorizando as crianças pertencentes a grupos de risco e procurando qualifi car a assistência, além de aumentar a cobertura dos serviços de saúde, incorporando ações de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil, do incentivo ao aleitamento materno e orientação alimentar para o desmame, do controle das doenças diarreicas e das infecções respiratórias agudas, além da imunização propriamente dita (BRASIL, 2009a). ATENÇÃO O PAISC foi um divisor de águas, visto que proporcionou a elaboração e impressão de Manuais de Normas Técnicas sobre esses temas, assim como estruturou o primeiro Cartão de Saúde da Criança, além de material didático e com isso, a realização de capacitações para profi ssionais de saúde sobre o PAISC em todo o país. Outro ponto importante de frisar é que em 1990, durante a Reunião da Cúpula Mundial em Favor da Infância, o Brasil e outros 158 estados membros da Organização das Nações Unidas assinaram a Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, Proteção e Desenvolvimento da Criança, assumindo o compromisso de viabilizar, até o ano 2000, os meios necessários ao cumprimento das 26 metas estabelecidas, sendo 19 na área da saúde (BRASIL, 1997; 2009a). 7 Vamos resgatar as principais legislações importantes para a Política de Saúde da Criança? Acesse: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2008: 20 anos de Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 416 p. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2008. pdf, páginas 95 a 98 e veja as principais legislações. DICA No Brasil, a discussão sobre os serviços de saúde destinados à saúde do adolescente, resultou em 1989, no Programa de Saúde do Adolescente (RPOSAD), que enfatiza o acompanhamento de saúde do adolescente na perspectiva interdisciplinar e intersetorial. Trata-se de um programa com o principal objetivo de oferecer atendimento fundamentado na política de promoção da saúde, de identificação de riscos e detecção precoce de agravos, com tratamento e reabilitação (GRILLO, 2011). É possível perceber que, com a criação do SUS, e a inserção de políticas e programas direcionados à saúde da criança e do adolescente, houve grandes avanços na atenção integral à saúde, que pressupõe o acesso universal e igualitário aos serviços nos três níveis da atenção. Atentando-se que, o desenvolvimento de ações de promoção da saúde, a prevenção de doenças e agravos, a atenção humanizada e o trabalho em rede passar a ser algo recomendado e obrigatório. A partir de 2006, passamos a ter a proposta de revisão e realinhamento dos eixos de ação relativos à promoção da saúde e à atenção integral às pessoas em situação de violência no conjunto de diretrizes e ações específicas da Política Nacional de Promoção da Saúde (Portaria nº 687/2006), da Política Nacional de Atenção Básica (Portaria nº 648/2006) e das diretrizes para organização de redes de atenção integral às urgências (Portaria nº 1.020/2009), pactuadas com as três esferas de gestão do SUS (BRASIL, 2015) 2.1 MARCO E DIRETRIZES NACIONAIS RELACIONADAS À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Ao se realizar um resgate histórico dos principais instrumentos legais de proteção aos direitos de crianças, adolescentes e de jovens, que tem o intuito de favorecer o pleno exercício do direito fundamental à saúde, temos três documentos 8 que ganham destaque: O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13/07/1990); As Leis Orgânicas de Saúde (Lei nº 8.080 de 19/09/90 e Lei Nº 8.142, de 28/12/90) e a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8.742, de 07/12/93). Foi em 1989, na Assembleia Geral das Nações Unidas, que a Convenção sobre os Direitos da Criança adotou o plano normativo: “o valor intrínseco da criança e do adolescente como ser humano, a necessidade de especial respeito a sua condição de pessoa em desenvolvimento, o reconhecimento como sujeitos de direitos e sua prioridade absoluta nas políticas públicas” (BRASIL, 2010, p. 64). As Nações Unidas reconhecendo que crianças e adolescentes são sujeitos sociais, e como tal, são portadores de direitos e garantias próprias, garantiram a proposta de doutrina de proteção integral. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13/07/1990), que se fundamenta na Doutrina da Proteção Integral, reconhece todas as crianças e adolescentes de 12 a 18 anos de idade como sujeitos de direitos nas diversas condições sociais e individuais. A condição de “pessoa em situação peculiar de desenvolvimento” (Art. 6º) não retira de crianças e adolescentes o direito à inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a identidade, autonomia, valores e ideias, o direito de opinião e expressão, de buscar refúgio, auxílio e orientação (BRASIL, 2010). ATENÇÃO É considerado o maior símbolo “dessa nova forma de se tratar a infância e a adolescência no país” visto que inovou ao trazer a “proteção integral, na qual crianças e adolescentes são vistos como sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento e com prioridade absoluta”14 abr. 2023. Após a aplicação dos elementos apresentados na Figura 24, é possível realizar a classifi cação de risco no uso de drogas, conforme demonstra a Figura 25. 207 Figura 25 – Classifi cação de risco no uso de drogas Fonte: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/saude_adolecentes.pdf. Acesso em: 14 abr. 2023. 2.5 SAÚDE BUCAL DO ADOLESCENTE As doenças bucais de alta prevalência prejudicam o crescimento e o desenvolvimento, afetando a imagem corporal, a estética, a mastigação e a fala, além de difi cultar o acesso ao mercado de trabalho. Em geral, o adolescente não procura a UBS para resolver seus problemas de saúde. No entanto, quando envolve questões estéticas e imagem corporal, o fazem com maior facilidade, e nesse sentido a equipe de saúde bucal pode se tornar a referência para o vínculo e a porta de entrada do adolescente na equipe de saúde (BRASIL, 2018). • São exemplos de doenças/problemas frequentes na adolescência: • Cárie dentária. • Doença periodontal. • Traumatismos dentários. • Câncer bucal. • Halitose. Dicas para favorecer a adoção de hábitos bucais saudáveis pelos(as) adolescentes: • Quanto melhor o exemplo positivo dos pais, melhor a percepção dos adolescentes da importância da saúde bucal. • Uma das principais razões apontadas pelos adolescentes com o cuidado insufi ciente em saúde bucal foi a falta de tempo. • Ações coletivas em saúde bucal são efi cazes no combate das doenças prevalentes da cavidade bucal (cárie dentária e doença periodontal) e na incorporação de hábitos saudáveis. 208 • Atividades de educação em saúde bucal são as ações coletivas mais difundidas, use temas mobilizadores como o “beijar”, a importância da função estética dos dentes, ascensão social e progressão no trabalho em função dos dentes, a boca como manifestação de afetividade e sexualidade, dentre outros (BRASIL, 2018). 2.6 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de partos no Brasil vem decrescendo nos últimos anos, chegando em 2007 a 23% de partos realizados na faixa etária entre 15 e 19 anos e 1% de 10 a 14 anos. Esse fato deve-se à intensificação das campanhas em relação ao uso de preservativo, disseminação de informação quanto aos métodos anticoncepcionais e um maior acesso da população aos serviços de saúde (SÃO PAULO, 2015). Apesar desse decréscimo, a gravidez na adolescência continua sendo um fator preocupante no caso de situação de risco. As consequências da gravidez serão agravadas de acordo com a idade, paridade, aderência ao pré-natal, ganho ponderal e fatores psicológicos, socioeconômicos e culturais da adolescente. Até o momento, não existem estudos suficientes que ressaltem diferenças clínicas e obstétricas entre adolescentes grávidas e grávidas de outras faixas etárias, desde que o pré-natal seja adequadamente assistido (SÃO PAULO, 2015). É importante lembrar que gestantes menores de 16 anos necessitam ser acompanhadas pelos serviços de referência devido ao potencial de risco. Envolve a necessidade de reestruturação e reajustamento em várias dimensões: em primeiro lugar, verificam-se mudanças de identidade e uma nova definição de papéis – a mulher passa a se olhar e a ser olhada de uma maneira diferente (SÃO PAULO, 2015). 2.7 VIOLÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA O Ministério da Saúde adota o conceito de violência utilizado pela Organização Mundial da Saúde, segundo o qual violência é o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (BRASIL, 2010). Para a violência que acomete crianças e adolescentes, o Ministério da Saúde define: quaisquer atos ou omissões dos pais, parentes, responsáveis, instituições e, em última instância, da sociedade em geral, que redundam em dano físico, emocional, sexual e moral às vítimas (BRASIL, 2001). 209 Para realçar os aspectos e as relações entre os diferentes tipos e natureza da violência, o modelo proposto pela Organização Mundial da Saúde classifi ca a violência em três grandes categorias, divididas em tipos de violência mais específi cos, segundo a violência praticada contra si mesmo (autoprovocada), por indivíduos ou grupos (interpessoal) e por organizações maiores (coletiva) praticada por estados, grupos armados, milícias e grupos terroristas. Esses tipos são relacionados à sua natureza física, sexual e psicológica, além da negligência/abandono, conforme a Figura 26. Figura 26 – Tipos e natureza das principais violências que atingem crianças e adolescentes Fonte: fi le:///C:/Users/Debora/Downloads/linha_cuidado_criancas_familias_violencias%20(1).pdf. Acesso em 14 abr. 2023. A: a notifi cação de quaisquer situações de suspeita ou confi rmação de violação de direitos de crianças e adolescentes é compulsória e deve ser realizada junto ao Conselho Tutelar ou ao Juizado da Infância e Juventude de cada município. A notifi cação compulsória é estabelecida pelo Artigo n. 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): https://bit.ly/3pKVA5I. Acesso em: 11 maio 2023. São sinais de alerta de violência: quando o adolescente por medo, vergonha ou outro motivo se sente compelido a negar a violência que sofreu ou está sofrendo, o diagnóstico da situação é desafi ador e complexo (BRASIL, 2018). Para todas as situações é importante que o profi ssional de Saúde estabeleça com o adolescente uma relação de respeito e confi ança, promovendo o acolhimento e os cuidados em saúde necessários. O profi ssional de Saúde precisa estar atento a um conjunto de sinais e indícios que poderão levá-lo à suspeita de violências (BRASIL, 2018). Infelizmente, na maioria das vezes, adolescentes não tomam a iniciativa de relatar ao profi ssional de Saúde que foi ou está sendo vítima de algum tipo de violência. Sentimentos de vergonha, culpa, medo e impotência mesclam-se com tentativas de “esquecer o que passou”, dúvidas sobre a possível reação do profi ssional e as consequências que tal denúncia poderá acarretar. 210 Então, é fundamental que o enfermeiro: • Esteja atento a explicações que não justifiquem claramente um ferimento, hematoma, fratura ou outra marca no corpo, registrando com detalhes no prontuário. • Acredite nos relatos do adolescente. Se qualquer adolescente relata ter sofrido violência física ou sexual, sua afirmação deve ser encarada com total respeito e seriedade, jamais com ceticismo ou minimização. • Promova o atendimento respeitando princípios éticos de sigilo e privacidade. • Fique atento a situações como fuga do lar, ameaças ou tentativa de suicídio, prática de delitos, gravidez em idades no início da adolescência, multiplicidade de parceiros(as) sexuais, depressão, uso abusivo de álcool e outras drogas e violência intrafamiliar. DICA Quer saber mais sobre o assunto violência? Leia "Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências: orientação para gestores e profissionais de saúde, MS, 2010", disponível em: https://bit.ly/459cknd. Acesso em: 11 maio 2023. 3 SUICÍDIO E AUTOLESÃO NA ADOLESCÊNCIA O suicídio é a terceira causa mais comum de morte entre adolescentes e jovens do sexo masculino. As tentativas de suicídio, principalmente em mulheres, correspondem à principal causa de procura de atendimento de urgência por adolescentes e jovens. Mais da metade dos adolescentes e jovens que morreram por suicídio já haviam experimentado a tentativa de suicídio pelo menos uma vez. A ingestão de altas doses de medicamentos constitui o método mais comum de se tentar suicídio entre as mulheres. Os adolescentes do sexo masculino usam mais as armas de fogo e o enforcamento (BRASIL, 2017). Segundo Brasil (2017) a conduta geral é: o adolescente pode ser abordado sobre pensamentos suicidas, independentemente de parecer ou apresentar sintomas(BRASIL, 2021, p. 9). O ECA também reafi rmou a responsabilidade da família, sociedade e Estado como atores fundamentais para garantir as condições de pleno desenvolvimento da população adolescente e infantil, além de colocá-la a salvo de toda forma de “discriminação, exploração e violência” (BRASIL, 2021, p. 9). Apesar de já ter três décadas de vigência, o ECA se mantêm como uma legislação avançada e atualizada, pois inclui elementos como: Estatuto da Juventude; Lei do Projovem; Convenção sobre os Direitos da Criança; Marco Legal da Primeira Infância; Lei Nacional de Adoção; Lei de Investigação de Paternidade; Lei de Alimentos; Lei da Alienação Parental e Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), e de forma mais recente, foram incorporados: o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo Highlight 9 Sinase (Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012); Lei que instituiu a Escuta Especializada (Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017); a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência (Lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019); Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas (Lei nº 13.812/2019, de 16 de março de 2019) e Programa Nacional de Enfrentamento da Violência contra Crianças e Adolescente (Decreto nº 10.701/2021), que faz alusão ao “Maio Laranja”, mês de combate ao abuso e à exploração sexual do público infantojuvenil (BRASIL, 2021). Na definição das linhas de ação para o atendimento da criança e do adolescente, o ECA destaca “as políticas e programas de assistência social, determinando o fortalecimento e ampliação de benefícios assistenciais e políticas compensatórias ou inclusivas como estratégias para redução dos riscos e agravos de saúde dos jovens” (BRASIL, 2010, p. 35). Quando avaliada a questão do acesso da criança e do adolescente à justiça também é reformulada a partir do Estatuto, criando-se a Justiça da Infância e Juventude no âmbito dos Poderes Judiciários Estaduais, além de mecanismos e procedimentos próprios de proteção judicial e extrajudicial dos interesses individuais, difusos e coletivos das crianças e adolescentes (BRASIL, 2010). 3 POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA Antes de falar propriamente dito da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), é importante trazer alguns conceitos que são abordados durante este material e que sofre alteração dependendo da literatura. 3.1 DEFINIÇÕES DE CRIANÇA, PRIMEIRA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Você já parou para pensar quais são as faixas etárias que contemplam criança, primeira infância e adolescência, e se há diferenças para a organização assistência/ atenção oferecida a esse grupo? O Ministério da Saúde (MS), através da PNAISC, segue o conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS), considerando primeira infância: pessoa na faixa etária de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, ou seja, de 0 (zero) a 72 (setenta e dois) meses (BRASIL, 2016) e criança: pessoa na faixa etária de 0 (zero) a 9 (nove) anos, ou seja, de 0 (zero) a 120 (cento e vinte) meses; (BRASIL, 2015, art. 3º). Mas é importante ressaltar que para atendimento em serviços de pediatria, a PNAISC e o SUS abrangem “crianças e adolescentes de zero a 15 anos, ou seja, até completarem 16 anos ou 192 meses” (BRASIL, 2018, p. 26). IMPORTANTE 10 Então, a manutenção dos cuidados aos adolescentes nos serviços de Pediatria da rede de saúde do SUS, é uma grande conquista, já que possibilita a continuidade do cuidado, com profi ssionais que apresentam vínculo, o que facilitará a abordagem de mudanças, problemas e necessidades que são específi cas da adolescência. Voltaremos a abordar o tema relacionado a adolescente mais para frente neste mesmo livro didático. Por exemplo, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) aponta que a pediatria deveria acompanhar pessoas de zero a 20 anos, mas como o Ministério da Saúde não adota esses parâmetros, no Brasil, hoje, vigora o previsto na PNAISC, com a justifi cativa de que a formação dos pediatras e a estrutura dos serviços de saúde não conseguiriam acompanhar pessoas a partir de 16 anos (BRASIL, 2018). A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), criada através da Portaria nº 1.130 de 5 de agosto de 2015, tem o objetivo de: ESTUDOS FUTUROS “Promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, mediante à atenção e cuidados integrais e integrados da gestação aos 9 (nove) anos de vida” e para que isso ocorra, é fundamental que seja direcionada atenção especial “à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento (BRASIL, 2015). ATENÇÃO Você sabe quais são os motivos da política centralizar as ações na faixa etária até os nove anos de idade? Quando avaliamos a mortalidade infantil, é possível perceber que, até um mês, a mortalidade tem como causa fatores intrínsecos (qualidade do pré-natal, doenças congênitas, prematuridade). Já na faixa etária acima de 29 dias a antes de completar de um ano, os fatores extrínsecos (acidentes, violência), que têm maior impacto na taxa de mortalidade. Resgatando alguns indicadores, a partir de 2008, os fatores externos como “acidentes de transporte terrestre, o afogamento e a submersão acidental as principais causas de morte” tornarem-se a primeira causa de morte em crianças de entre 1 e 9 anos de idade (BRASIL, 2018, p. 20). IMPORTANTE 11 3.2 ENTENDENDO A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA CRIANÇA (PNAISC) A PNAISC prevê ações que articulem os três entes federativos (federal, estadual e municipal) com o propósito de viabilizar a agenda da Saúde da Criança, dentro da saúde pública brasileira. Essas ações condizem com o pleiteado e divulgado por organizações já atuantes nesta área (militantes da causa dos direitos da criança e do adolescente) como a Rede Nacional da Primeira Infância (RNPI), a Pastoral da Criança, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), além de organismos internacionais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) (BRASIL, 2018). 3.2.1 Princípios, diretrizes e eixos estratégicos do PNAISC Para ser operacionalizada é orientada pelos seguintes princípios (FIGURA 1): Figura 1 – Princípios da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), 2015 Fonte: o autor Vamos discutir sobre o conceito desses princípios? 1) Direito à vida e à saúde – é um princípio fundamental da criança, que é garantido mediante o acesso “universal e igualitário às ações e aos serviços para a promoção, proteção integral e recuperação da saúde” através da efetivação de políticas públicas que permitam o “nascimento, crescimento e desenvolvimento sadios e harmoniosos, em condições dignas de existência, livre de qualquer forma de violência” (BRASIL, 1988; 1990). 2) Prioridade absoluta da criança – é um princípio constitucional que remete à necessidade da criança de receber “proteção e cuidado em quaisquer circunstâncias, ter precedência de atendimento nos serviços de saúde e preferência nas políticas sociais”, e que isso aconteça em toda a rede de cuidado e de proteção do seu território, além de obter “destinação privilegiada de recursos em todas as políticas públicas” (BRASIL, 1988; 1990). 12 3) Acesso universal à saúde – direito de toda criança receber atenção e cuidado necessários e dever da política de saúde, por meio dos equipamentos de saúde, de atender às demandas da comunidade, propiciando o acolhimento, a escuta qualificada dos problemas e a avaliação com classificação de risco e vulnerabilidades sociais, propondo o cuidado singularizado e o encaminhamento responsável, quando necessário, para a rede de atenção (BRASIL, 2005) 4) Integralidade do cuidado – princípio do SUS que trata da atenção global da criança, contemplando todas as ações de promoção, de prevenção, detratamento, de reabilitação e de cuidado, de modo a prover resposta satisfatória na produção do cuidado, não se restringindo apenas às demandas apresentadas. Compreende, ainda, a garantia de acesso a todos os níveis de atenção, mediante a integração dos serviços, da Rede de Atenção à Saúde, coordenada pela Atenção Básica, com o acompanhamento de toda a trajetória da criança em uma rede de cuidados e proteção social, por meio de estratégias como linhas de cuidado e outras, envolvendo a família e as políticas sociais básicas no território (BRASIL, 2005). 5) Equidade em saúde – igualdade da atenção à saúde, sem privilégios ou preconceitos, mediante a definição de prioridades de ações e serviços de acordo com as demandas de cada um, com maior alocação dos recursos para aqueles com maior necessidade. Dá-se por meio de mecanismo de indução de políticas ou programas para populações vulneráveis, em condição de iniquidades em saúde, por meio do diálogo entre governo e sociedade civil, envolvendo integrantes dos diversos órgãos e setores da Saúde, pesquisadores e lideranças de movimentos sociais (BRASIL, 2005; 2009). 6) Ambiente facilitador à vida – princípio que se refere ao estabelecimento e à qualidade do vínculo entre criança e sua mãe/família/cuidadores e também destes com os profissionais que atuam em diferentes espaços que a criança percorre em seus territórios vivenciais para a conquista do desenvolvimento integral (BRASIL, 2018). Esse ambiente se constitui a partir da compreensão da relação entre indivíduo e sociedade, interagindo por um desenvolvimento permeado pelo cuidado essencial, abrangendo toda a comunidade em que vive. Este princípio é a nova mentalidade que aporta, sustenta e dá suporte à ação de todos os implicados na Atenção Integral à Saúde da Criança. 7) Humanização da atenção – princípio que busca qualificar as práticas do cuidado, mediante soluções concretas para os problemas reais vividos no processo de produção de saúde, de forma criativa e inclusiva, com acolhimento, gestão participativa e cogestão, clínica ampliada, valorização do trabalhador, defesa dos direitos dos usuários e ambiência, estabelecimento de vínculos solidários entre humanos, valorização dos diferentes sujeitos implicados, desde etapas iniciais da vida, buscando a corresponsabilidade entre usuários, trabalhadores e gestores neste processo, a construção de redes de cooperação e a participação coletiva, fomentando a transversalidade e a grupalidade, assumindo a relação indissociável entre atenção e gestão no cuidado em saúde (BRASIL, 2018). 8) Gestão participativa e controle social – preceito constitucional e um princípio do SUS, com o papel de fomentar a democracia representativa e criar as condições para o desenvolvimento da cidadania ativa. São canais institucionais, de diálogo social, as 13 audiências públicas, as conferências e os conselhos de saúde em todas as esferas de governo que conferem à gestão do SUS realismo, transparência, comprometimento coletivo e efetividade dos resultados. No caso da saúde da criança, o Brasil possui um extenso leque de entidades da sociedade civil que militam pela causa da infância e do aleitamento materno e que podem potencializar a implementação deste princípio (CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE SAÚDE, 2009). As diretrizes da PNAISC têm o propósito de direcionar as propostas dos planos, programas, projetos e ações de saúde voltadas para a criança. A Figura 2 mostra sua divisão. Figura 2 – Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), 2015 Fonte: o autor Vamos entender mais sobre essas diretrizes e a importância que têm para que as ações produzidas realmente impactem os problemas vivenciados pela criança? Segundo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (BRASIL, 2015): 1) Gestão interfederativa das ações de saúde da criança – fomento à gestão para implementação da Pnaisc, por meio da viabilização de parcerias e articulação interfederativa, com instrumentos necessários para fortalecer a convergência dela com os planos de saúde e os planos intersetoriais e específi cos que dizem respeito à criança. 2) Organização das ações e dos serviços em Redes de Atenção à Saúde – fomento e apoio à organização de ações e aos serviços da Rede de Atenção à Saúde, com a articulação de profi ssionais e serviços de saúde, mediante estratégias como o estabelecimento de linhas de cuidado, a troca de informações e saberes, a tomada horizontal de decisões, baseada na solidariedade e na colaboração, garantindo a continuidade do cuidado com a criança e a completa resolução dos problemas colocados, de forma a contribuir para a integralidade da atenção e a proteção da criança. 3) Promoção da saúde – reconhecimento da Promoção da Saúde como conjunto de estratégias e forma de produzir saúde na busca da equidade, da melhoria da qualidade de vida e saúde, com ações intrassetoriais e intersetoriais, voltadas para o desenvolvimento da pessoa humana, do ambiente e hábitos de vida saudáveis e o enfrentamento da morbimortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, envolvendo o trabalho em rede em todos os espaços de produção de saberes e práticas do cuidado nas dimensões individuais, coletivas e sociais. 14 4) Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família – fomento à autonomia e corresponsabilidade da família, princípio constitucional, que deve ser estimulado e apoiado pelo poder público, com informações qualificadas sobre os principais problemas de saúde e orientações sobre o processo de educação dos filhos, o estabelecimento de limites educacionais sem violência e os cuidados com a criança, com especial foco nas etapas iniciais da vida, para a efetivação de seus direitos. 5) Qualificação da força de trabalho – qualificação da força de trabalho para a prática de cuidado, da cogestão e da participação nos espaços de controle social, do trabalho em equipe e da articulação dos diversos saberes e intervenções dos profissionais, efetivando-se o trabalho solidário e compartilhado para produção de resposta qualificada às necessidades em saúde da família. 6) Planejamento no desenvolvimento de ações – aperfeiçoamento das estratégias de planejamento na execução das ações da Pnaisc, a partir das evidências epidemiológicas, definição de indicadores e metas, com articulação necessária entre as diversas políticas sociais, iniciativas de setores e da comunidade, de forma a tornar mais efetivas as intervenções no território, que extrapolem as questões específicas de saúde. 7) Incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento – incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento para o desenvolvimento de conhecimento com apoio à pesquisa, à inovação e à tecnologia no campo da Atenção Integral à Saúde da Criança, possibilitando a geração de evidências e instrumentos necessários para a implementação da Pnaisc, sempre respeitando a diversidade étnico-cultural, aplicada ao processo de formulação de políticas públicas. 8) Monitoramento e avaliação – fortalecimento do monitoramento e avaliação das ações e das estratégias da Pnaisc, com aprimoramento permanente dos sistemas de informação e instrumentos de gestão, que garantam a verificação a qualquer tempo, em que medida os objetivos estão sendo alcançados, a que custo, quais os processos ou efeitos (previstos ou não, desejáveis ou não), indicando novos rumos, mais efetividade e satisfação. 9) Intersetorialidade – promoção de ações intersetoriais para a superação da fragmentação das políticas sociais no território, mediante a articulação entre agentes, setores e instituições para ampliar a interação, favorecendo espaços compartilhados de decisões, que gerem efeitos positivos na produção de saúde e de cidadania. 15 Apesar de termos melhorias expressivas nos indicadores de mortalidade infantil, quando avaliadas as últimas décadas, ainda estamos distantes das taxas ideais. Isso se torna mais preocupante,principalmente, quando avaliamos algumas regiões do país, e acrescentamos gradientes como: diferenças sociais, econômicas e demográfi cas (IBGE, 2020; UNICEF, 2023). Com o propósito de superar esses entraves decorrentes de condicionantes e determinantes sociais; reduzir vulnerabilidade, risco de adoecimento, morte atual e na vida adulta; amenizar os desafi os da melhoria dos indicadores, proporcionando a efetivação de medidas que permitam o nascimento, desenvolvimento e crescimento adequado; e proporcionar uma atenção de qualidade, humana, baseada em evidências e resolutiva, a PNAISC é organizada em sete eixos estratégicos de ação. ATENÇÃO 3.3 AÇÕES ESTRATÉGICAS DO PNAISC Com o objetivo de promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), que abrange os cuidados com a criança da gestação aos nove anos de idade, com especial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento. Para tanto, está estruturada em sete eixos estratégicos que têm a fi nalidade de orientar gestores e trabalhadores sobre as ações e serviços de saúde da criança no território, a partir dos determinantes sociais e condicionantes para garantir o direito à vida e à saúde, visando à efetivação de medidas que permitam a integralidade da atenção e o pleno desenvolvimento da criança e a redução de vulnerabilidades e riscos. Suas ações se organizam a partir das Redes de Atenção à Saúde (RAS), com ênfase para as redes temáticas, em especial à Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil e tendo a Atenção Básica (AB) como ordenadora e coordenadora das ações e do cuidado no território, e servirão de fi o condutor do cuidado, transversalizando a Rede de Atenção à Saúde, com ações e estratégias voltadas à criança, na busca da integralidade, por meio de linhas de cuidado e metodologias de intervenção, o que pode se constituir em um grande diferencial a favor da saúde da criança (BRASIL, 2018). 16 Esses eixos têm por fi nalidade orientar e qualifi car as ações e os serviços de saúde da criança no território nacional, considerando os determinantes sociais e condicionantes para garantir o direito à vida e à saúde, visando à efetivação de medidas que permitam o nascimento e o pleno desenvolvimento na infância, de forma saudável e harmoniosa, bem como a redução das vulnerabilidades e dos riscos para o adoecimento e outros agravos, a prevenção das doenças crônicas na vida adulta e da morte prematura de crianças (BRASIL, 2015). O planejamento dos eixos estratégicos contempla as principais questões que afetam a saúde da criança, abrangendo ações e estratégias de promoção de saúde, prevenção de doenças e agravos à saúde, ações de atenção integral e de reabilitação, da gestação ao nascimento, com base nos indicadores de mortalidade e de morbidade infantil e na infância, visando atender às especifi cidades do processo saúde-doença nas diversas fases da vida da criança. Figura 3 – Eixos estratégicos de ação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), 2015 Fonte: https://portaldeboaspraticas.iff .fi ocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica- -Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-P- NAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. É válido ressaltar que esses eixos estratégicos de ação da PNAISC fazem parte da organização da atenção à saúde da criança, que através de uma rede de atenção, articulada através de um conjunto de serviços de saúde, que compartilham objetivos, missão e ações cooperativas e interdependentes, possibilitam o olhar global, sistemático, singular, integral e contínuo à criança e a população (BRASIL, 2010). Não se esqueça de que as ações e os serviços para a Atenção Integral à Saúde da Criança são coordenados pela Atenção Básica, a partir da avaliação do risco individual e coletivo, observadas as especifi cidades previstas para crianças 17 que necessitam de proteção especial. Os serviços de atenção à criança no ambiente hospitalar e ambulatorial especializado, entre outros de maior complexidade e densidade tecnológica, serão referenciados pelas portas de entrada das redes: Atenção Básica, Atenção à Urgência e Emergência, Atenção Psicossocial e redes especiais de acesso aberto (BRASIL, 2011). E como será que a PNAISC é desenvolvida em grupos específi cos, como as crianças indígenas, por exemplo? O Ministério da Saúde, com a proposta de qualifi car os profi ssionais de saúde que atendem às populações com características específi cas, promove capacitações para que situações de possíveis iniquidades sejam amenizadas. Que tal ler mais sobre isso em: “Ofi cina discute implantação das ações da Política Nacional de Atenção à Saúde da Criança em Terras Indígenas”, disponível em: https://www.gov. br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2017/maio/copy_of_oficina- discute-implantacao-das-acoes-da-politica-nacional-de-atencao- a-saude-da-crianca-em-terras-indigenas. DICAS Então, quando falamos da PNAISC, é possível perceber que a política se organiza a partir da Rede de Atenção à Saúde e de seus eixos estratégicos, mediante a articulação das ações e serviços de saúde disponíveis nas redes temáticas, em especial aquelas desenvolvidas na rede de saúde materna, neonatal e infantil – Rede Cegonha, e na Atenção Básica, está sendo coordenadora do cuidado no território (BRASIL, 2015). Figura 4 – A Política Nacional de Atenção Integral Saúde da Criança – PNAISC, seus eixos estraté- gicos e a articulação com as Redes de Atenção à Saúde Fonte: https://portaldeboaspraticas.iff .fi ocruz.br/wp-content/uploads/2018/07/Pol%C3%ADtica- -Nacional-de-Aten%C3%A7%C3%A3o-Integral-%C3%A0-Sa%C3%BAde-da-Crian%C3%A7a-P- NAISC-Vers%C3%A3o-Eletr%C3%B4nica.pdf. Acesso em: 14 mar. 2023. 18 Ao avaliarmos os eixos é possível perceber que eles contemplam as principais questões vivenciadas pela criança que afetam sua situação de saúde, doença e óbito. Com isso, é possível organizar estratégias de combate aos problemas que, visando à articulação de ações dos diversos setores de saúde e níveis de prevenção (primária, secundária, terciária e quaternária) impactam direta e indiretamente nas diversas fases da vida da criança. De forma geral, a PNAISC apresenta os seguintes eixos (BRASIL, 2015): 1. Eixo Estratégico I – Atenção Humanizada e Qualificada à Gestação, ao Parto, ao Nascimento e ao Recém-Nascido. A melhoria do acesso, cobertura, qualidade e humanização da atenção obstétrica e neonatal, integrando as ações do pré-natal e acompanhamento da criança na Atenção Básica com aquelas desenvolvidas nas maternidades, conformando-se uma rede articulada de atenção. Ainda neste eixo, temos as estratégias de: prevenção da transmissão vertical do HIV e da sífilis; capacitação dos profissionais de enfermagem e médicos para prevenção da asfixia neonatal e das parteiras tradicionais; utilização do “Método Canguru”; qualificação da atenção neonatal em especial aos recém-nascidos graves ou potencialmente graves; alta qualificada do recém-nascido da maternidade, com vinculação da mãe e do bebê à Atenção Básica, para continuidade do cuidado (“5º Dia de Saúde Integral”); seguimento do recém-nascido de risco, de forma compartilhada por Atenção Especializada e a Atenção Básica e as triagens neonatais universais. Você sabe o que é o “5º Dia de Saúde Integral”? É um momento privilegiado, que possibilita a detecção de dificuldades e necessidades particulares, tanto da mãe quanto do bebê. É possível identificar os riscos e vulnerabilidades que podem interferir no crescimento e no desenvolvimento da criança, e assim, programar ações de forma preventiva. Tanto a mãe quando o bebê deve ser acolhido pela equipe de Atenção Básica, e entre o 3º e 5º dia de vidado RN, deve ser realizada a consulta, geralmente de enfermagem, mas pode ser médica também. É uma consulta conjunta da criança e da mulher (e quanto possível, a presença do pai também é ideal), onde são realizados exames sumários de ambos, como pesagem da criança (avaliação de ganho ponderal) e medida do perímetro cefálico, assim como avaliação da amamentação (observação da mamada) e orientações decorrentes do visualizado e do questionado pelos pais e familiares. É um momento de aproximação, de desmistificação e de reforçar as orientações já repassadas durante o pré-natal e na maternidade que estão constantes na Caderneta de Saúde da Criança e da Gestante, assim como o informado pela mãe, pai e familiares. NOTA 19 2. Eixo Estratégico II – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável. Quanto ao aleitamento materno e alimentação complementar saudável é fundamental a ampliação de estratégias como: Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC); Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no SUS – Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB); a Mulher Trabalhadora que Amamenta (MTA); a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano; a implementação da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, para Crianças de Primeira Infância, Bicos Chupetas e Mamadeiras (NBCAL); e a mobilização social em aleitamento materno. 3. Eixo Estratégico III – Promoção e Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento Integral. Consiste na vigilância e estímulo do pleno crescimento e desenvolvimento da criança, em especial do “Desenvolvimento na Primeira Infância (DPI)”, pela Atenção Básica à saúde, conforme as orientações da Caderneta de Saúde da Criança, incluindo ações de apoio às famílias para o fortalecimento de vínculos familiares. A seguir, destacam-se as ações estratégicas do eixo de promoção e acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento integral: § A disponibilização da Caderneta de Saúde da Criança, com atualização periódica de seu conteúdo. § A qualificação do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da primeira infância pela Atenção Básica à Saúde. § O Comitê de Especialistas e de Mobilização Social para o Desenvolvimento Integral da Primeira Infância, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). § O apoio à implementação do Plano Nacional pela Primeira Infância. 4. Eixo Estratégico IV – Atenção Integral a Crianças com Agravos Prevalentes na Infância e com Doenças Crônicas. Consiste em estratégia para o diagnóstico precoce e a qualificação do manejo de doenças prevalentes na infância e ações de prevenção de doenças crônicas e de cuidado dos casos diagnosticados, com o fomento da atenção e internação domiciliar sempre que possível. São ações estratégicas do eixo de atenção integral a crianças com doenças crônicas: § A Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI). § A construção de diretrizes de atenção e linhas de cuidado. § O fomento da atenção e internação domiciliar. 5. Eixo Estratégico V – Atenção Integral à Criança em Situação de Violências, Prevenção de Acidentes e Promoção da Cultura de Paz. Consiste em articular um conjunto de ações e estratégias da rede de saúde para a prevenção de violências, acidentes e promoção da cultura de paz, além de organizar metodologias de apoio aos serviços especializados e processos formativos para a qualificação da atenção à criança em situação de violência de natureza sexual, física e psicológica, negligência e/ou abandono, visando à implementação de linhas de cuidado na Rede de Atenção à Saúde e na rede de proteção social no território. A PNAISC define como ações estratégicas do eixo de atenção integral à criança em situação de violências, prevenção de acidentes e promoção da cultura de paz: 20 § O fomento à organização e qualificação dos serviços especializados para atenção integral a crianças e suas famílias em situação de violência sexual. § A implementação da “Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências”. § A articulação de ações intrassetoriais e intersetoriais de prevenção de acidentes, violências e promoção da cultura de paz. § O apoio à implementação de protocolos, planos e outros compromissos sobre o enfrentamento às violações de direitos da criança pactuados com instituições governamentais e não governamentais, que compõem o sistema de garantia de direitos. 6. Eixo Estratégico VI – Atenção à Saúde de Crianças com Deficiência ou em Situações Específicas e de Vulnerabilidade. Consiste na articulação de um conjunto de estratégias intrassetoriais e intersetoriais, para inclusão dessas crianças nas redes temáticas de atenção à saúde, mediante a identificação de situação de vulnerabilidade e risco de agravos e adoecimento, reconhecendo as especificidades deste público para uma atenção resolutiva. A atenção à saúde de crianças com Deficiência ou em Situações Específicas e de Vulnerabilidade dispõe das seguintes ações estratégicas: § A articulação e a intensificação de ações para inclusão de crianças com deficiências, indígenas, negras, quilombolas, do campo, das águas e da floresta, e crianças em situação de rua, entre outras, nas redes temáticas. § O apoio à implementação do protocolo nacional para a proteção integral de crianças e adolescentes em situação de risco e desastres. § O apoio à implementação das diretrizes para atenção integral à saúde de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil 7. Eixo Estratégico VII – Vigilância e Prevenção do Óbito Infantil, Fetal e Materno. O Eixo Estratégico VII – Vigilância e Prevenção do Óbito Infantil, Fetal e Materno. Consiste na contribuição para o monitoramento e investigação da mortalidade infantil e fetal e possibilita a avaliação das medidas necessárias para a prevenção de óbitos evitáveis. Os comitês de vigilância do óbito materno, fetal e infantil em âmbito local são ações estratégicas do eixo de vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materna. Eles são responsáveis pela realização da(o): - Identificação, levantamento dos dados da atenção ambulatorial, urgência e hospitalar, entrevista domiciliar e análise dos óbitos de mulheres em idade fértil e óbitos maternos, fetais e infantis da área de abrangência da unidade/município/regional/estado; - Utilização dos instrumentos recomendados pelo MS; - Análise da evitabilidade dos óbitos maternos fetais e infantis, em reuniões locais; - Identificação das medidas necessárias para prevenção de novas ocorrências. 21 Na unidade 2, nós iremos abordar o atendimento a criança nos diversos níveis de atenção, assim como as ações realizadas especifi camente pela equipe de enfermagem. Abordaremos também diversas estratégias pertencentes aos eixos estratégicos, como aleitamento materno, acompanhamento e crescimento, complementação vitamínica, prevenção de acidentes e calendário vacinal. ESTUDOS FUTUROS 22 Neste tema de aprendizagem, você estudou: • O processo histórico da construção das políticas de saúde é importante e ampara as atualizações vigentes na área de saúde da criança e saúde do adolescente. • As políticas direcionadas para grupos populacionais específicos, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), preveem princípios, diretrizes e eixos para que sua implantação ocorra, de forma gradativa e oportuna, condizente com o Sistema de Saúde vigente. • As definições de criança, primeira infância e adolescência, sofrem variações dependentes da literatura utilizada e da estruturação política ou assistencial. • Os serviços e ações do PNAISC são coordenados pela Atenção Básica, a partir da avaliação do risco individual e coletivo, observadas as especificidades previstas para crianças que necessitam de proteção especial. • A PNAISC se organiza a partir da Rede de Atenção à Saúde e de seus eixos estratégicos, mediante a articulação das ações e serviços