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DEMÊNCIAS DEFINIÇÕES DEMÊNCIA: Comprometimento cognitivo progressivo, capaz de afetar a capacidade de independência do indivíduo. COGNIÇÃO: É a soma das capacidades intelectuais de uma pessoa. 💡 Cada um dos componentes da cognição é gerado pelo funcionamento e interconexão de determinadas regiões cerebrais. Diferentes doenças afetam essas áreas de forma particular, gerando distúrbios cognitivos específicos. SÍNDROME DEMENCIAL: Deterioração de uma ou mais funções intelectuais deixando o paciente incapaz de tomar certas decisões importantes para sobreviver de forma independente. Uma síndrome é definida como um conjunto de sinais e sintomas comuns a etiologias distintas. Em outras palavras, doenças diferentes podem causar o mesmo quadro clínico. O conhecimento das síndromes ajuda-nos a restringir as possibilidades diagnósticas. NEUROANATOMIA DA COGNIÇÃO As estruturas relacionadas à cognição são os hemisférios cerebrais, os tálamos e o cerebelo. 1. HEMISFÉRIOS CEREBRAIS: São formados pelo córtex, pela substância branca e pelos núcleos profundos, conhecidos por núcleos ou gânglios da base. Desses, o córtex cerebral é sem dúvida o mais importante. Ele está presente nos cinco lobos cerebrais (frontal, parietal, temporal, occipital e ínsula) e, na sua maior parte, é formado por seis camadas de neurônios. 📌Em áreas relacionadas com a cognição, a proporção de células nas diferentes camadas é um pouco mais homogênea, sem predomínio tão evidente de nenhuma camada em específico. Com base nesse princípio, podemos classificar as regiões do córtex em cinco áreas: • Áreas primárias; • Áreas de associação secundárias; • Áreas de associação terciárias; • Áreas límbicas; e • Áreas paralímbicas. ● ÁREAS PRIMÁRIAS Nessas áreas o córtex é muito especializado em determinada função, como motricidade, sensibilidade, visão e outras modalidades relacionadas aos órgãos dos sentidos. Quando temos uma lesão da área primária, praticamente toda aquela modalidade é prejudicada. Por exemplo, na lesão do lobo occipital direito, perderemos a visão dos campos visuais situados à esquerda do indivíduo. ● ÁREAS DE ASSOCIAÇÃO SECUNDÁRIA É especializada em interpretar um determinado estímulo proveniente de uma área primária. Essa área também é chamada de área de associação unimodal. Geralmente está situada próxima a sua área primária correspondente. No caso da área de associação visual, uma lesão não prejudicaria a visão de um objeto, mas a sua interpretação (agnosia visual). ● ÁREAS DE ASSOCIAÇÃO TERCIÁRIA Também chamada de heteromodais são mais sofisticadas, envolve o aspecto mais intelectual da cognição. O grande exemplo é a região pré-frontal, no ser humano é mais evoluída do que nos outros animais. É responsável pelo raciocínio, pela abstração e pela inibição de impulsos. Quando uma pessoa sofre uma lesão na área pré-frontal, ela passa a ter alterações de comportamento e raciocínio, tomando decisões equivocadas. Usa-se o termo “frontalizado” para descrever indivíduos com esses achados. ● ÁREAS LÍMBICAS São compostas pelo hipocampo e pelo córtex entorrinal (córtex olfativo primário). A área septal, a substância inominada e a amígdala são áreas subcorticais incluídas no grupo das áreas límbicas. As áreas límbicas conectam-se com o hipotálamo e estabelecem relações com o meio interno. 📌 As áreas límbicas são relacionadas às emoções, e parte desses sentimentos associa-se a respostas neurovegetativas (taquicardia e arrepio em situações de medo, por exemplo), explicadas por essas conexões. ● ÁREAS PARALÍMBICAS Estão situadas entre as áreas heteromodais e as áreas límbicas, estabelecendo conexões entre elas. Seus componentes são o córtex orbitofrontal, a ínsula, o polo temporal, o giro para-hipocampal e o complexo do cíngulo. PRINCIPAIS FUNÇÕES COGNITIVAS 📌 É importante ressaltar que não existe um mapa localizatório para cada função em especial. Determinadas estruturas, no entanto, estão particularmente responsáveis por determinadas funções, mas seria um erro dizermos que uma dada lesão necessariamente seria capaz de comprometer totalmente uma função cognitiva. ATENÇÃO É uma das funções intelectuais mais importantes. Ela é definida como a capacidade de concentrar nossa atividade mental sobre determinada ação ou estímulo. As estruturas envolvidas com a atenção voluntária são os tálamos e suas projeções para o lobo frontal via rede de neurônios subcorticais. 💡 Quando um indivíduo apresenta comprometimento atencional, a avaliação de todas as outras funções intelectuais ficará prejudicada. Um quadro importantíssimo de prejuízo atencional agudo é conhecido como delirium ou estado confusional agudo. MEMÓRIA É definida como a capacidade de reter informações de forma que elas possam ser acessadas posteriormente. Existem vários tipos de memória, como a implícita, explícita, de trabalho, de curto prazo etc. 💡 Memória é a função cognitiva mais acometida em pacientes com demência. MEMÓRIA DE CURTO PRAZO » Imediata: Dura poucos segundos (decorar um número de telefone para fazer uma ligação naquele momento); e » De trabalho: A informação é mantida enquanto for útil (é a que usamos quando “mudamos de assunto” durante uma conversa). MEMÓRIA DE LONGO PRAZO » Declarativa (consciente): ◊ Episódica (fatos e eventos acontecidos); e ◊ Semântica (conhecimento do significado das coisas). » Não declarativa (inconsciente): ◊ Habilidade; ◊ Habituação (ato de acostumar-se com algo); ◊ Efeito priming: acionamento por repetição; e ◊ Condicionamento clássico (ou de Pavlov). 📌 No estudo das demências, nosso interesse é na memória episódica, que depende da integridade de uma estrutura localizada na região mesial dos lobos temporais: o hipocampo. HIPOCAMPO E MEMÓRIA 1. O hipocampo é capaz de processar as informações capturadas pelos órgãos dos sentidos e transmiti-las ao sistema nervoso central, transformando-as em sinais capazes de ser armazenados e posteriormente recuperados. 2. Ele funciona como se fosse um gravador de arquivos, transformando-os em determinados tipos de mídias. 3. A memória episódica é aquela segundo a qual somos capazes de nos lembrar de uma notícia que acabamos de receber, por exemplo. 4. Pacientes com disfunção hipocampal vivem “presos ao passado” porque são incapazes de recordar um fato acontecido há poucos minutos ou horas. LINGUAGEM Ela refere-se a nossa capacidade de comunicação, recebendo e transmitindo informações por meio de códigos (fala, escrita, leitura, gestos etc.). 💡 Os indivíduos possuem um hemisfério dominante para a linguagem, o que significa que a maior parte das informações é processada em um determinado lado. Em 99% dos destros e 70% dos canhotos, o hemisfério dominante para a linguagem é o esquerdo. ● ÁREA DE BROCA, responsável pela expressão da linguagem (lobo frontal); ● ÁREA DE WERNICKE, relaciona-se com a compreensão da linguagem (lobo temporal); ● FASCÍCULO ARQUEADO, rede de neurônios partindo da área de Wernicke em direção à área de Broca, passando ao redor da fissura lateral (Sylvius) - Envolvido principalmente com a repetição da linguagem. 📌 As lesões desse circuito são responsáveis pelas afasias. Afasias são particularmente importantes em dois cenários: AVC e demências. 📌 Nos quadros de AVC, encontraremos afasia quando houver comprometimento do território de irrigação da artéria cerebral média esquerda. Essa mesma artéria também é responsável pela irrigação da porção lateral da área motora primária, no giro pré-central, em que fica a parte do homúnculo de Penfield (afasia + hemiparesia direita completa e de predomínio braquiofacial) FUNÇÕES EXECUTIVAS Envolvem atividades complexas, como planejamento adequado, formulação de estratégias para alcançar um objetivo, início de uma atividade, automonitorização e flexibilidade para modificar uma tarefa durante sua execução. Elas estão relacionadas à capacidade de realização das atividades básicas e instrumentais de vida diária. A estrutura envolvida na realização das funções executivas tem sede na porçãoanterior do lobo frontal, ou região pré-frontal, sobretudo na porção dorsolateral. 💡 Grande parte das demências conta com alterações nas funções executivas por disfunção dos lobos frontais. PRAXIAS E GNOSIAS PRAXIA é a capacidade de realizar um ato motor voluntário previamente aprendido. Ela envolve o funcionamento de estruturas do lóbulo parietal inferior esquerdo e da área motora suplementar (uma área de associação secundária), que exercem influência sobre neurônios da área motora primária. Quando ocorre lesão numa dessas áreas, o paciente apresenta apraxia, sendo incapaz de realizar determinados gestos, como pentear o cabelo ou acenar com a mão. Além disso, não há qualquer déficit motor primário que justifique a incapacidade de realizar a ação. AGNOSIA é a incapacidade de identificar objetos ou outras informações após estímulos táteis, visuais ou auditivos. As vias e áreas primárias relacionadas encontram-se intactas, mas a interpretação do estímulo é comprometida. Existem vários tipos de agnosia, como para objetos figurados, para rostos, para sons etc. As estruturas envolvidas com as gnosias incluem áreas de associação somestésica, visual e auditiva, principalmente. Essas áreas localizam-se nos lobos occipital, parietal e temporal. 💡 Um exemplo clássico ocorre no livro O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, de Oliver Sacks. Nele, o paciente é incapaz de identificar uma flor por meio da visão, mas não pelo olfato. HABILIDADES VISUESPACIAIS Nosso cérebro é capaz de localizar no espaço estímulos sensoriais provenientes de qualquer um dos lados (direito ou esquerdo), por meio da interpretação das informações recebidas pelas áreas primárias. Por exemplo, quando ouvimos um som à nossa direita, a despeito de essa informação atingir as áreas auditivas primárias localizadas em ambos os lobos temporais, somos capazes de identificar o lado mais próximo à origem do som. 📌 Em determinadas situações, mesmo com as vias sensoriais intactas, indivíduos podem perder essa capacidade, o que configura uma situação conhecida como negligência. HEMINEGLIGÊNCIA Percepções sensitivas unilaterais. Está associado a lesões do hemisfério direito envolvendo regiões parietais (porção inferior e giro angular), frontais (cíngulo anterior, pré-frontal, dorsolateral e motora suplementar) e dos núcleos da base. 📌 Estudos posteriores revelaram que lesões unilaterais à direita ou à esquerda poderiam causar heminegligência contralateral. Aparentemente, esse quadro é mais comum nas lesões à direita. 💡 Pacientes com heminegligência podem apresentar comportamentos inusitados, como comer apenas o que há numa metade do prato, ou barbear-se apenas em uma metade do rosto. No tocante às habilidades visuoespaciais, existem duas vias importantes, sendo uma dorsal e outra ventral. ● VIA DORSAL é occipitoparietal e é relacionada com a localização espacial das coisas (via do “onde?”). ● VIA VENTRAL tem a ver com o significado de algo (“o quê?”) e é occipitotemporal. SEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS COGNITIVOS ANAMNESE Durante a anamnese, muitas vezes os pacientes com alterações cognitivas não estão cientes de seus déficits. Ouvir de seu acompanhante sobre determinados sintomas ou situações corriqueiras durante as quais o indivíduo cometeu erros, improváveis até então, pode gerar um grande constrangimento. Além disso, é comum o próprio paciente minimizar suas queixas, atribuindo-as à idade, associação com problemas cotidianos etc. É preciso estar atento a isso e tentar realizar a anamnese com e sem o paciente. ● EVOLUÇÃO E PROGRESSÃO DOS SINTOMAS É importante questionar o início, a evolução e a progressão dos sintomas, tentando obter exemplos objetivos e classificar em qual esfera o sintoma se encaixa (memória, atenção…). 📌 A ordem de início dos sintomas é fundamental para o adequado diagnóstico. Na doença de Alzheimer, por exemplo, o primeiro sintoma é quase sempre a falha da memória episódica. Na demência com corpos de Lewy, a disfunção executiva vem antes do distúrbio de memória. ● NÍVEL CULTURA Muitos testes têm resultados normais para determinados graus de escolaridade, mas que não são normais em outros. ● ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES - Pacientes com histórico de etilismo são mais propensos ao desenvolvimento de distúrbios cognitivos. - História pessoal de AVC aumenta a chance de demência vascular. - Uso de certos medicamentos, como anticolinérgicos, está associado à ocorrência futura de alterações intelectuais. Em algumas doenças, como na demência frontotemporal e na doença de Alzheimer de início precoce (antes dos 65 anos), pode haver um componente hereditário importante, sendo relevante perguntar sobre casos de demência na família. ● GRAU DE COMPROMETIMENTO FUNCIONAL Um dos primeiros sinais de acometimento funcional é a dificuldade para cuidar das próprias finanças. Como exemplos, teremos casos de pacientes que deixam de pagar contas, ou as pagam em duplicidade, caem em golpes, fazem aplicações financeiras ruins, entre outras. ● SINTOMAS NEUROPSIQUIÁTRICOS Problemas de comportamento social, alterações no apetite sexual ou em hábitos alimentares. Por vezes, esses pacientes tornam-se mais religiosos ou acumuladores. O avaliador deve ser capaz de contextualizar as queixas mentais em relação ao estado de humor do paciente. É frequente a associação de transtornos depressivos com manifestações cognitivas. 💡 Em idosos podemos utilizar instrumentos como a escala de depressão geriátrica, com 15 perguntas sobre o humor e situações correlatas (GDS-15). Considera-se suspeito quando a pontuação é superior a 5. MINIEXAME DO ESTADO MENTAL E OUTROS TESTES Inicialmente, realizamos alguns testes de triagem, mais rápidos. Nesses testes, várias funções são examinadas de forma bem sucinta e um resultado numérico é obtido ao final. O desempenho da maioria desses testes depende do grau de escolaridade do paciente. Pacientes analfabetos saudáveis podem ter um desempenho pior do que um indivíduo com demência e que tenha formação superior. 📌 O teste mais consagrado na clínica é o miniexame do estado mental. Ele é baseado em perguntas e comandos que avaliam as seguintes funções cognitivas: • Orientação temporal e espacial; • Memória de curto prazo (imediata ou atenção) e evocação; • Cálculo; • Praxia; • Linguagem; e • Habilidades visoespaciais. O minimental pode ser usado como rastreio para perda cognitiva ou como avaliação cognitiva de beira de leito. Não deve ser usado para diagnosticar demência. De acordo com vários estudos, ele apresenta sensibilidade de 82-100% e especificidade de 80-100% para demência. A aplicação do teste fornecerá um resultado numérico que deverá ser comparado com os pontos de corte na população brasileira, levando-se em conta a escolaridade. São sugestivos de demência os seguintes escores, de acordo com a escolaridade: • Analfabetos 11 anoscom sua mão sobre a mesa, mas quando ouve dois ruídos consecutivos deve ficar imóvel. Outro teste bastante conhecido é o Digit Span, por meio do qual o paciente deve repetir uma sequência de números proferida pelo examinador, cada vez mais comprida, primeiro na ordem direta e depois na ordem inversa. ● MEMÓRIA Pode ser feita por meio de perguntas que meçam a orientação temporal, espacial ou de provas específicas, como uma lista de dez palavras apresentada três vezes sucessivas, cada uma delas numa ordem diferente (CERAD) ou por meio de figuras para memorização e evocação repetidas vezes, esperando-se que, à medida que o teste progrida, o desempenho do paciente seja cada vez melhor (bateria breve). ● LINGUAGEM 1. Nomeação: Partes do corpo, objetos e cores; 2. Repetição: Solicitando-se que o paciente repita uma sentença como “nem aqui, nem ali, nem lá”; 3. Fluência verbal: Pedindo que o paciente fale, durante um minuto, o maior número possível de palavras que pertençam a uma mesma categoria (por exemplo, animais) ou que comecem com determinada letra (F, A ou S são as mais usadas); 4. Compreensão: O paciente deverá inicialmente responder “sim” ou “não” a uma pergunta simples (“Estou usando chapéu”), depois obedecer a um comando (“Mostre dois dedos com sua mão direita”) e, finalmente, responder a uma pergunta um pouco mais complexa (“O leão e o tigre lutaram. O leão matou o tigre. Quem morreu?”) ● FUNÇÕES EXECUTIVAS Podem ser testadas por meio de inúmeros métodos. Os mais utilizados são o teste do relógio e o teste de Stroop. RELÓGIO: No teste do relógio, solicita-se que o paciente desenhe um círculo, coloque os números dispostos como em um relógio e os ponteiros marcando um horário predefinido, desde que estejam em quadrantes diferentes, como 11:10. STROOP: Uma lista de nomes de cores, escritos com cores variadas, mas não com a cor correspondente à palavra é mostrada e o paciente deve dizer em que cor a palavra está escrita, inibindo o impulso de ler o nome da cor. ● PRAXIA E GNOSIAS PRAXIA: Solicita-se ao paciente que realize determinados gestos concretos (exemplo: bata continência com a mão direita), simule o uso de objetos imaginários (imite o gesto de martelar um prego numa tábua ou de virar a chave numa porta) ou mesmo faça gestos abstratos (coloque o punho fechado da mão direita sobre a testa). GNOSIAS: Podemos mostrar uma ilustração com o contorno de vários objetos sobrepostos e o paciente deve identificá-los ● HABILIDADES VISUOESPACIAIS Podem ser testadas por meio da famosa figura do roubo dos biscoitos, usada na avaliação inicial de pacientes com AVC isquêmico. Nessa imagem, estão presentes duas cenas numa cozinha. À direita, uma mulher adulta lava a louça, mas a água escorre pela pia. À esquerda, um garoto em pé sobre um banquinho que está tombando tenta pegar biscoitos no alto de um armário enquanto é observado de perto por uma garota. Pacientes com heminegligência por lesão do hemisfério direito não serão capazes de descrever a parte das crianças. AVALIAÇÃO FUNCIONAL Pacientes com demência apresentam declínio cognitivo importante, levando a um prejuízo funcional, o que causa comprometimento da independência Fazem parte da avaliação funcional as atividades de vida diária básicas e instrumentais. 📌 Atividades básicas (ABVD): Higiene pessoal (banhar-se, vestir-se e usar o banheiro), a alimentação, o controle esfincteriano e a transferência (sair da cama para o banheiro, por exemplo). 📌 Atividades instrumentais (AIVD) incluem: Preparo de refeições, trabalho doméstico, capacidade de cuidar dos próprios medicamentos e finanças, utilizar telefone e meios de transporte. 💡 Num processo de demência, as AIVDs são comprometidas inicialmente, sendo as ABVDs afetadas por último. 1. A escala CDR (Clinical Dementia Rating) atribui pontuação e divide os níveis de comprometimento funcional em: - Nenhum (0), - Questionável (0,5), - Leve (1), - Moderado (2) - Grave (3). Os quesitos analisados são: • Memória; • Orientação; • Julgamento e solução de problemas; • Relações comunitárias (AIVDs comunitárias); • Lar e passatempos (AIVDs domésticas); e • Cuidados pessoais (ABVDs). 2. A escala de Pfeffer mede o grau de comprometimento funcional de forma quantitativa por meio de 9 quesitos, pontuando-se de 0-3 em cada um deles. No entanto, ela não pontua caso uma das atividades não possa ser avaliada. Por exemplo, uma pessoa que nunca cozinhou não terá esse aspecto contabilizado. Quanto mais dificuldades, maior a pontuação. Acima de 5 pontos, o prejuízo funcional já é significativo para considerarmos o diagnóstico de demência. SÍNDROMES COGNITIVAS As diversas alterações encontradas no exame cognitivo podem ser agrupadas em síndromes. Elas são relacionadas a lesões em locais específicos do cérebro ou a alterações com características semelhantes, mas que podem decorrer de lesões em áreas distintas, como nas afasias, por exemplo. 1. Hipocampo-córtex entorrinal: Memória; 2. Córtex frontal lateral e orbitário e parietal posterior: Funções executivas; 3. Áreas de Broca e Wernicke, no hemisfério cerebral esquerdo: linguagem; 4. Regiões temporais anteriores e inferiores: Reconhecimento visual de objetos e faces; 5. Hemisfério direito (lobo parietal posterior e dorsal, campo visual frontal e giro do cíngulo): Atenção. SÍNDROMES DEMENCIAIS No caso das demências, o comprometimento cognitivo levando a prejuízo funcional é o aspecto comum entre as várias causas. Seus principais diagnósticos diferenciais são a queixa subjetiva de memória e o comprometimento cognitivo leve. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 2 critérios mais utilizados para o diagnóstico de demências, ou síndromes demenciais, são os do NIAAA e o DSM-5. 📌 Pela análise dos critérios, podemos ver que a síndrome demencial pode ser caracterizada pelo comprometimento de pelo menos um domínio cognitivo, de acordo com o critério DSM-5, ou dois, pelo NIAAA. 💡 O critério mais usado atualmente é o DSM-5, mais recente. Aliás, essa classificação utiliza a nomenclatura “transtorno neurocognitivo maior” no lugar de demência. EPIDEMIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO A prevalência de síndrome demencial na população acima dos 65 anos é de 5%. Entretanto, a prevalência dobra a cada 5 anos e, após os 85 anos, cerca de 20-40% das pessoas apresentam demência (15-20% em pacientes ambulatoriais e mais de 50% em pacientes institucionalizados). ● Cerca de 60-80% dos casos devem-se à doença de Alzheimer, a causa mais comum de demências. ● A demência vascular é a segunda causa mais comum de demência e corresponde sozinha a cerca de 10% dos casos. ● Em 20-50% dos casos, a demência está relacionada a um componente vascular, que pode ser causa ou contribuinte. ● A associação entre demência vascular e doença de Alzheimer é vista em 30-40% dos casos. CLASSIFICAÇÃO ● Processo fisiopatológico: Degenerativas e não degenerativas; ● Localização: Corticais e subcorticais; ● Idade de início: Precoce (antes dos 65 anos) e tardia (após os 65 anos); ● Resposta ao tratamento: Reversíveis e não reversíveis; ● Velocidade de progressão dos sintomas: Rapidamente e lentamente progressivas; e ● Grau de acometimento: Leve, moderada e grave ETIOLOGIAS De modo geral, cerca de 3% dos casos de demência são atribuíveis ao álcool. A demência relacionada ao álcool pode levar a três principais condições: • Síndrome de Korsakoff (amnésia e confabulações). • Doença de Marchiafava-Bignami: Lesão do corpo caloso, levando à demência, espasticidade, disartria e alteração de marcha; • Atrofia cerebral com alargamento ventricular: Ocorre em 50-70% dos etilistas pesados. É importante destacar a classificação quanto ao grau de acometimento: 1. FASE LEVE: Apenas uma parte dos diagnósticos é feita. O indivíduo ainda pode executar tarefas simples e, por essa razão, os familiares podem apresentar dificuldade de aceitar o paciente como portador de demência. Não são comuns os achados de incontinência esfincteriana e nem de quadros psicóticos associados. 2. FASE MODERADA: É caracterizadapela necessidade de ajuda ou supervisão para realização de tarefas simples e AVDs. Os pacientes são independentes para se movimentarem dentro de casa, mas a família não acha seguro deixá-los sozinhos. Muitas vezes, há necessidade de cuidadores ou institucionalização. A continência esfincteriana continua preservada. 3. FASE AVANÇADA (GRAVE): Ocorre um predomínio de sintomas comportamentais. O paciente já pode não ser capaz de controlar seus esfíncteres, havendo necessidade de uso de fraldas. O comprometimento motor passa a ocorrer de forma marcante e ele, progressivamente, vai ficando restrito ao leito devido à imobilidade. Isso o torna mais vulnerável a infecções de repetição e o óbito acaba ocorrendo por complicações clínicas. INVESTIGAÇÃO 💡 Cerca de 5-10% dos casos de demência são reversíveis. Por esse motivo, todo paciente com síndrome demencial deve ser submetido a uma investigação padrão para avaliação de causas reversíveis de demência. As recomendações da Academia Brasileira de Neurologia para os exames laboratoriais que devem ser solicitados: • Hemograma; • Cálcio; • TSH; • Função renal: Creatinina; • Função e lesão hepática: albumina, transaminases (ALT e AST) e gama-glutamiltransferase; • Reações sorológicas para sífilis; • Vitamina B12 e ácido fólico; e • Sorologia para HIV (alucinações, podem estar presentes. Muitos desses pacientes acabam sendo institucionalizados por essa razão. Alterações neuropsiquiátricas que são vistas nos pacientes com doença de Alzheimer podem incluir, ainda, os seguintes: • Síndrome de Capgras: O paciente não reconhece seus familiares, achando que eles são impostores; • Fenômeno doppelgänger: O paciente acha que seu reflexo no espelho é o de um impostor; • Síndrome de Godot: Extrema preocupação antecipatória em relação ao futuro; e • Fenômeno do sol poente: Agitação psicomotora no final do período vespertino e início do noturno. ☢ Nas fases mais avançadas da doença, podem surgir manifestações neurológicas propriamente ditas não relacionadas à parte cognitiva. Elas incluem mioclonias, crises epilépticas, parkinsonismo, disfagia e incontinência urinária. 📌 O óbito ocorre em média entre 7 e 15 anos após o início dos primeiros sintomas. EXAMES COMPLEMENTARES O diagnóstico definitivo da doença de Alzheimer é anatomopatológico e não é feito na prática clínica. Por essa razão, ele acaba sendo baseado no quadro clínico e na exclusão de outras causas por meio de exames complementares (sangue e neuroimagem estrutural). 📌 Em casos selecionados, podemos realizar exames mais específicos, conhecidos como biomarcadores, para auxiliar no diagnóstico. ☢ O protocolo da Academia Brasileira de Neurologia inclui a realização de exames laboratoriais para descartarmos causas reversíveis de demência e tratarmos eventuais comorbidades que poderiam agravar a progressão do quadro. 📌 TOMOGRAFIA: Nas fases iniciais, costuma ser normal. É importante lembrar que a perda neuronal ocorre a partir de uma certa fase e inicia-se pelo hipocampo, que não é facilmente visualizado por esse método. Com a evolução do quadro, surge atrofia cortical, e o espaço que era ocupado pelo parênquima cerebral passa a ser preenchido por líquor. Os ventrículos laterais ficam mais volumosos, mas em consequência da atrofia cerebral. Esse fenômeno é conhecido como hidrocefalia ex vacuum. 📌 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: Sensibilidade maior para a detecção de alterações precoces causadas pela doença de Alzheimer. Em cortes coronais, podemos observar sinais de atrofia hipocampal, a primeira alteração visível nos pacientes. Nas fases mais avançadas, poderemos notar atrofia cortical difusa e presença de hidrocefalia ex vacuum. Em pacientes com comprometimento cognitivo leve, a presença de atrofia hipocampal aumenta o risco de evolução para doença de Alzheimer. É importante termos ciência de que o encéfalo sofre normalmente uma redução do número de neurônios em torno de 10% entre os 30 e os 70 anos de idade. Existem escores para quantificar o grau de atrofia hipocampal na ressonância magnética, levando-se em conta esse fenômeno. 📌 Em alguns casos, pode ser importante a realização de exame de líquor. A indicação do líquor em pacientes com demência é feita nas seguintes situações: • Demência pré-senil (início antes dos 65 anos); • Apresentação ou curso clínico atípicos; • Hidrocefalia comunicante; e • Suspeita de doença inflamatória, infecciosa ou priônica do sistema nervoso central Nos pacientes com doença de Alzheimer, o líquor poderá revelar aumento de proteína tau total e de tau hiperfosforilada, associado à redução de beta-amiloide. Essas alterações podem ser encontradas já em fases pré-sintomáticas. 📌 NEUROIMAGEM FUNCIONAL: Tomografia por emissão de pósitrons (PET) ou por emissão de fóton único (SPECT ), já estão disponíveis, porém a custo elevado e com pouca disponibilidade. A injeção de fluorodeoxiglicose marca o metabolismo cerebral, que está tipicamente diminuído nas regiões temporoparietais em pacientes com doença de Alzheimer. O PET apresenta sensibilidade superior ao SPECT no diagnóstico de Alzheimer. DIAGNÓSTICO A Academia Brasileira de Neurologia recomenda a avaliação de funções cognitivas por meio de testes para memória, funções executivas, linguagem e habilidades visuoespaciais. Podemos usar os critérios do DSM-5 ou os do NIAAA. 📌 NIAAA, para diagnóstico de Alzheimer o paciente precisa preencher os critérios para demência e os de Alzheimer provável ou possível. 📌 DSM-5, para diagnóstico de doença de Alzheimer, é necessário que estejam comprometidos pelo menos dois domínios cognitivos. Para o diagnóstico de doença de Alzheimer provável, é necessário que se encontre pelo menos um dos seguintes (do contrário, teremos doença de Alzheimer possível): 1. Evidência de uma mutação genética (história familiar ou teste genético); 2. Todos os três a seguir: a. Declínio na memória e na aprendizagem e em pelo menos outro domínio cognitivo; b. Progressivo e gradual; e c. Ausência de evidências de etiologia mista. Existe uma proposta de uma nova classificação para doença de Alzheimer baseada nos achados dos biomarcadores, conhecida como classificação AT(N)(C): • A (amiloide): Placas neuríticas de proteína beta-amiloide confirmadas pela presença de redução de beta-amiloide no líquor ou positividade do PET com amiloide; • T (proteína tau hiperfosforilada): Emaranhados neurofibrilares confirmados pelo aumento de proteína tau e fosfo-tau no líquor; • N (neurodegeneração ou lesão neuronal): » Atrofia hipocampal na ressonância magnética; » PET com FDG mostrando hipometabolismo cortical; e » Dosagem elevada de fosfo-tau total. • C (cognição comprometida): Sintomas cognitivos determinando a presença de uma síndrome demencial. 📌 Os parâmetros A e T são específicos para a doença de Alzheimer. De qualquer forma, os biomarcadores não são obrigatórios para o diagnóstico de Alzheimer. TRATAMENTO O tratamento da doença de Alzheimer é dividido em medidas farmacológicas e não farmacológicas. 📌 O tratamento medicamentoso é realizado com a finalidade do controle sintomático, apenas. Não existe cura até o momento, mas algumas opções terapêuticas são capazes de retardar a progressão dos sintomas. Os fármacos disponíveis podem atuar sobre os sintomas cognitivos e neuropsiquiátricos da doença de Alzheimer. As classes utilizadas são anticolinesterásicos, antagonista do receptor NMDA de glutamato, antidepressivos e antipsicóticos. Considerando-se que o quadro mnéstico deve-se principalmente à redução do efeito da acetilcolina nas sinapses relacionadas aos circuitos envolvidos nos processos mnésticos, sobretudo no hipocampo. ☢ A degradação da acetilcolina é realizada pelas enzimas acetilcolinesterase e butirilcolinesterase. A donepezila, a galantamina e a rivastigmina inibem a enzima acetilcolinesterase, aumentando a disponibilidade da acetilcolina na fenda sináptica. - Donepezila, a rivastigmina e a galantamina têm em comum a indicação nas fases leve a moderada e a inibição da acetilcolinesterase. - Exclusivo da donepezila é o uso aprovado nas fases graves; - Exclusivo da galantamina, é a indicação em associação com doenças cardiovasculares; - Exclusivo da rivastigmina, é a inibição também da butirilcolinesterase. ☢ Do ponto de vista de resultados, as três medicações são equivalentes, não havendo superioridade de nenhuma delas em comparação com as outras. Em caso de ineficácia ou intolerância com o uso de uma delas, o tratamento pode perfeitamente ser substituído por outra dessa classe. As doses iniciais devem ser as menores possíveis e o aumento deve ocorrer lentamente, de preferência a cada 30 dias EFEITOS COLATERAIS: São sobre o trato gastrintestinal e o sistema de condução cardíaco. Eles podem causar quadros de náuseas, vômitos, diarréia, arritmias cardíacas e até síncope. CONTRAINDICAÇÕES: São contraindicados a pacientes com bradicardia, asma e crises epilépticas. 📌 A memantina é um antagonista do receptor NMDA do glutamato que pode ser indicada a pacientes com Alzheimer em fases moderada a grave, isolada ou em associação a um anticolinesterásico. Seu efeito também ocorre em termos de melhora cognitiva e funcional. O tratamento dos sintomas neuropsiquiátricos, como depressão, apatia, agitação e irritabilidade, é realizado inicialmente com anticolinesterásicoscomo primeira opção, associados ou não à memantina. ● DEPRESSÃO: Recomenda-se a associação de antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina, como o citalopram, escitalopram, sertralina ou vortioxetina. ● Os ANTIPSICÓTICOS (NEUROLÉPTICOS) já foram usados durante muito tempo no tratamento dos sintomas de agitação, agressividade e psicose nos pacientes com quadros demenciais. No entanto, seu uso tem sido desencorajado devido a crescentes relatos de aumento de mortalidade em decorrência de complicações cardiovasculares associadas a eles. - O tratamento de segunda linha desses sintomas pode ser feito com buspirona (agonista de receptores serotonérgicos 5HT1A) ou propranolol (betabloqueador). ● ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT) é uma opção com efeito relativamente rápido e que pode ser indicada em pacientes com depressão e risco de desnutrição. ● BENZODIAZEPÍNICOS SÃO CONTRAINDICADOS nesses casos, pelo risco de piora cognitiva, sedação e efeito paradoxal sobre o comportamento. DEMÊNCIA VASCULAR EPIDEMIOLOGIA É a segunda causa mais comum de demência, perdendo apenas para a doença de Alzheimer. É uma doença bastante heterogênea, caracterizada pelo comprometimento cognitivo e funcional decorrente da perda de neurônios por um quadro neurovascular. ● O risco de desenvolver demência vascular dobra a cada 5 anos a partir dos 65 anos de idade. ● A chance de que ocorra um comprometimento cognitivo de qualquer magnitude após um AVC é de 64%. ● Cerca de um terço dos pacientes com sequelas de AVC apresentarão demência. FISIOPATOLOGIA Tanto o AVC hemorrágico como o isquêmico podem levar à perda de neurônios em diversas áreas encefálicas. Quando essa perda ocorre nas áreas associadas às funções cognitivas, elas poderão ser comprometidas de forma definitiva. Assim, o prejuízo cognitivo, levando a prejuízo funcional, caracteriza uma síndrome demencial. Na presença de um fenômeno neurovascular (isquêmico e/ou hemorrágico), teremos uma demência vascular. FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR CLÁSSICOS: AIT, Atrofia do hipocampo, infartos cerebrais silenciosos, dislipidemia, hipertensão, sedentarismo, obesidade e tabagismo. Podemos encontrar quadros desencadeados por lesões de grandes vasos (aterosclerose ou angiopatia amilóide), pequenos vasos e por infartos subcorticais, que causam lesão de vias entre os principais centros corticais. 📌 A principal alteração decorrente dos infartos subcorticais é a disfunção executiva. QUADRO CLÍNICO Os sintomas podem não progredir de maneira linear. Muitas vezes, observamos uma piora súbita seguida de certa estabilidade e, novamente, uma piora súbita tempos depois. Essa evolução em “degraus” é bastante característica da demência vascular. OBS: Os domínios cognitivos mais comprometidos são as funções executivas e a atenção. Esse é o padrão clássico das demências subcorticais. Entretanto, não existe um padrão típico de apresentação e progressão uniforme para todos os casos. Desde as fases iniciais, alguns sintomas corticais, como afasia, apraxia e disfunções visuoespaciais, podem estar presentes. - Transtornos neuropsiquiátricos, mais frequentes os transtornos de humor, de comportamento e os sintomas psicóticos. Um terço dos pacientes pode apresentar depressão e 30% desenvolvem delírios e/ou alucinações. - MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS FOCAIS, não cognitivas, também podem estar presentes nas fases iniciais da demência vascular. As principais são as motoras, incluindo alterações de equilíbrio e marcha, parkinsonismo, déficits motores, disfagia e disartria. Alterações autonômicas precoces, como incontinência urinária, também podem ser encontradas nesses pacientes. EXAMES COMPLEMENTARES Os exames complementares obrigatórios na síndrome demencial devem ser solicitados aos pacientes com suspeita de demência vascular. Os exames laboratoriais não devem mostrar alteração significativa para justificar o quadro. 📌 A neuroimagem por tomografia computadorizada ou ressonância deverá confirmar a hipótese de comprometimento neurovascular, revelando áreas de isquemia em território de grandes vasos, pequenos vasos ou em áreas de fronteira vascular. Em idosos, é comum a ocorrência de angiopatia amilóide, uma degeneração vascular associada a quadros de AVC hemorrágicos. DIAGNÓSTICO O principal desafio diagnóstico na demência vascular é diferenciá-la da doença de Alzheimer ou de demência mista, quando há sobreposição dos dois quadros. Uma ferramenta útil nessa distinção é o escore de Hachinski. ● 0-4 sugere Alzheimer ● 5-6 etiologia mista ● 7 ou mais pontos, demência vascular Os critérios diagnósticos da demência vascular do DSM-5 TRATAMENTO É baseado em três frentes: Controles de fatores de risco cardiovascular, terapêutica dos sintomas cognitivos e dos sintomas neuropsiquiátricos. A prevenção primária ou secundária é baseada nos controles de fatores de risco cardiovascular, como hipertensão, diabetes, obesidade, dislipidemia, combate ao sedentarismo e ao tabagismo. Os medicamentos indicados para o tratamento dos sintomas cognitivos são os mesmos usados para a doença de Alzheimer: os inibidores da colinesterase e a memantina. OBS: Entre os anticolinesterásicos, a primeira é a galantamina, com mais evidências de eficácia. O cuidado deve ser redobrado na prescrição dos anticolinesterásicos pelo risco de indução de arritmias cardíacas nesses pacientes, pois muitos deles já são cardiopatas. Os sintomas comportamentais também devem ser tratados com os anticolinesterásicos e a memantina, estando indicados os antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina (os mesmos usados para o tratamento da doença de Alzheimer) como segunda opção. Os neurolépticos também devem ser evitados. DEMÊNCIAS REVERSÍVEIS DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL A demência frontotemporal (antiga doença de Pick) corresponde a menos de 10% de todos os casos de demência. Ela é a segunda causa de demência pré-senil (sintomas iniciados antes dos 65 anos), correspondendo a 20% dos casos de demência nessa faixa etária. 📌 Especificamente nessa doença, as formas genéticas são mais comuns do que em outras. 💡 Do ponto de vista anatomopatológico, chama a atenção a atrofia seletiva dos lobos frontais e temporais, sem que haja o comprometimento de outras regiões. ACHADOS ANATAMOPATOLÓGICOS - Perda neuronal, característica de todas as doenças neurodegenerativas; - Podem ser encontradas inclusões intraneuronais arredondadas de proteína tau (corpúsculos de Pick), FUS/FET e TDP-43. - É característico também o achado de neurônios abalonados acromáticos (células de Pick); - Disfunções em neurônios serotoninérgicos e dopaminérgicos, sem prejuízo de acetilcolina. SINTOMAS Existem três principais formas clínicas da demência frontotemporal (DFT): • Variante comportamental (57% dos casos); • Afasia progressiva primária – variante agramática (25%) • Afasia progressiva primária – variante semântica (18%) Os primeiros sintomas da demência frontotemporal podem surgir entre 30 e 90 anos, mas a faixa etária mais acometida vai dos 45 aos 65 anos. 📌 Em cerca de um terço dos pacientes, os sintomas começam após os 65 anos. Então, não é porque a questão coloca um paciente idoso que esse diagnóstico deva ser descartado. VARIANTE COMPORTAMENTAL 1. O início dos sintomas é insidioso. 2. Os sintomas comportamentais dominam o quadro em relação aos cognitivos. 3. Das alterações intelectuais, a disfunção executiva costuma ser a mais exuberante. 4. Os pacientes apresentam desde o início mudanças profundas na personalidade que acabam por afetar o contato interpessoal e a modulação emocional. 5. É bastante comum o achado de apatia e desinibição, com comportamentos inadequados socialmente, ou mesmo estereotipias (comportamentos repetitivos e perseverantes). 6. Devido à perda do insight, o paciente quase sempre é incapaz de perceber as emoções e modificar seu comportamento diante de determinados estímulos. 7. Pode haver hipersexualidade, hiperfagia e embotamento afetivo e, frequentemente, os pacientes recebem diagnóstico de doençapsiquiátrica. EXAME COGNITIVO Deve ser feito com especial atenção às funções executivas. Muitas vezes, o miniexame do estado mental pode ser absolutamente normal. O exame neurológico também não deve revelar alterações (com exceção dos sinais de liberação frontal, quase sempre omitidos pelos examinadores), à semelhança do que ocorre na doença de Alzheimer. NEUROIMAGEM (tomografia, ressonância e medicina nuclear) irão revelar atrofia ou prejuízo funcional exclusivos dos lobos frontais e temporais, que podem ser simétricos ou assimétricos, dependendo da variante clínica em questão. DEMÊNCIA COM CORPOS DE LEWY É a segunda principal causa de demência neurodegenerativa. Estudos de necropsia relatam prevalência de 15-20% em idosos. A degeneração é acompanhada do acúmulo intracelular de alfa-sinucleína, uma proteína anômala que é encontrada em vacúolos, conhecidos como corpos de Lewy. Além disso, alterações neuropatológicas semelhantes às encontradas na doença de Alzheimer (placas senis extracelulares e emaranhados neurofibrilares intracelulares) podem ser vistas nesses pacientes. SINTOMAS 1. Alucinações visuais (afetam até 80% dos pacientes); 2. O transtorno comportamental do sono REM pode aparecer décadas antes dos demais sintomas na demência com corpos de Lewy; 3. Os pacientes apresentam comportamento motor elaborado durante a fase do sono REM, quando deveria haver atonia muscular total. 4. Muitas vezes, eles apresentam sonhos violentos e podem agredir seu/sua companheiro(a) de quarto de forma involuntária. 5. Essa perda da atonia pode manifestar-se de forma subclínica e ser detectada por meio de uma polissonografia NEUROIMAGEM: 📌Redução do metabolismo occipital e ausência de atrofia dos lobos temporais, o que auxilia no diagnóstico diferencial com doença de Alzheimer. TRATAMENTO ⚡ Os antipsicóticos podem piorar os sintomas parkinsonianos, e isso de fato ocorre de forma bastante intensa. Costuma-se dizer que uma das manifestações mais marcantes do paciente com demência com corpos de Lewy é a sensibilidade aos antipsicóticos (neurolépticos). - SINTOMAS COGNITIVOS: Os anticolinesterásicos apresentam bons resultados, já que o hipocampo costuma estar preservado nesses casos. - TRANSTORNO COMPORTAMENTAL: É realizado com clonazepam ou melatonina. REFERÊNCIA: https://www.abneuro.org.br/wp-content/uploads/2022/12/DN_ 16.3_Completo_PT_FINAL.pdf GOODMAN CECIL - MEDICINA - TRADUÇÃO DA 24º edição (CAP 409 - DOENÇA DE ALZHEIMER E OUTRAS DEMÊNCIAS) MEDICINA INTERNA DE HARRISON - 19º EDIÇÃO ( SEÇÃO 2 - CAP 448 - DOENÇA DE ALZHEIMER E OUTRAS DEMÊNCIAS) https://www.abneuro.org.br/wp-content/uploads/2022/12/DN_16.3_Completo_PT_FINAL.pdf https://www.abneuro.org.br/wp-content/uploads/2022/12/DN_16.3_Completo_PT_FINAL.pdf