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SEMINÁRIO V - TRIBUTAÇÃO ADUANEIRA
1. Construa a regra-matriz de incidência dos Impostos de Importação e de Exportação. Explique fundamentadamente qual o marco temporal para que possa se materializar a incidência de cada um desses impostos. Qual o conceito de produto para fins de incidência destes tributos?
Regras Matriz de Imposto de Importação
Critério Material
Importar, do exterior, produtos estrangeiros ou desnacionalizados com a finalidade de uso ou de consumo no Brasil.
Critério Temporal
Momento de entrada do produto em território nacional.
Critério Espacial
Território nacional.
Critério Pessoal
· Sujeito Ativo: União
· Sujeito Passivo: Importador
Critério Quantitativo
· Alíquota: Específica ou Ad Valorem
· Base de Cálculo:
· Quantidade de mercadoria expressa em unidades de medida utilizadas pelo ordenamento (no caso de alíquota específica).
· Valor monetário da mercadoria, incidindo sobre este valor um percentual (no caso de alíquota Ad Valorem).
Regras Matriz de Imposto de Exportação
Critério Material
Exportar, para o exterior, produtos nacionais ou nacionalizados, com a finalidade de uso ou consumo fora do país.
Critério Temporal
Momento de saída do produto de território nacional.
Critério Espacial
Território nacional.
Critério Pessoal
· Sujeito Ativo: União
· Sujeito Passivo: Exportador
Critério Quantitativo
· Alíquota: Específica ou Ad Valorem
· Base de Cálculo:
· Valor aduaneiro (alíquota específica).
· Percentual definido na TEC - Tarifa Externa Comum (alíquota Ad Valorem).
De acordo com o Art. 19 do CTN, o marco temporal que incide o imposto de importação é o ingresso do produto no país, a transposição da linha de fronteira, veiculando o tempo e o espaço.
Em relação ao imposto de exportação o art. 23 do CTN, define o marco temporal sendo a saída do produto do território nacional e o local da ocorrência dessa conduta (correspondente aos aspectos temporal e espacial).
A doutrina classifica três momentos distintos dos impostos:
1. Preparatório: Expedição da guia de importação ou exportação.
2. Factual: Momento em que o produto extrapola a fronteira nacional – tempo no fato.
3. Formal: Momento que documenta a ocorrência do evento tributável e que reporta ao tempo do fato.
Ademais, caso seja impossível verificar os momentos, será delimitado o marco temporal do tempo no fato, o leilão (vontade de incorporação do produto), nos casos de produtos abandonados ou apreendidos.
A Constituição Federal utiliza a palavra produto em sentido técnico (mais estreito), sendo produto todo bem móvel e corpóreo, resultante da transformação de elementos da natureza, que atende às necessidades humanas (excluindo os não corpóreos, que não têm existência física como aqueles transferidos por download).
Ao repartir as competências tributárias, a CF outorgou à União o poder de instituir impostos sobre importação, exportação e industrialização de produtos e aos Municípios o poder de criar impostos sobre serviços (considerando que serviços podem ser incluídos no conceito mais amplo de produtos - que inclui tudo aquilo que é passível de ser alienado onerosamente).
A CF também diferenciou produtos de propriedade intelectual e industrial (produtos jurídicos: “intelectuais” e “contábeis”).
2. A reimportação de mercadoria exportada em caráter definitivo se equipara à importação, ou seja, a mercadoria exportada perde a condição de nacional, devendo se submeter ao Imposto de Importação ao ser reimportada? (Vide anexo I)
A mercadoria nacional ou nacionalizada, que sofre o desembaraço aduaneiro e é exportada, ao ser reimportada tem a incidência do imposto de importação.
As autoridades fazendárias federais tendem sempre a exigir os tributos devidos na reimportação de mercadoria, quando originalmente exportada em caráter definitivo.
A legislação brasileira contempla apenas a reimportação de mercadorias exportadas para o exterior em caráter temporário, admitindo somente nessa hipótese, o reingresso dos bens ao território brasileiro sem incidência do imposto de importação, mediante a apresentação de Declaração Simplificada de Importação, conforme art. 92 do Decreto-lei 37/66, e inciso V do art. 3º da IN-SRF 611/06.
3.	Sobre os tratados, responda:
	a) Defina o conceito de “tratado internacional”, descrevendo como se dá seu ingresso no ordenamento jurídico brasileiro e a teoria que normativamente se adota (monista x dualista), seu momento de vigência no direito interno e sua posição hierárquica no sistema jurídico (vide §2º do art. 5º da Constituição,art. 98 do Código Tributário Nacional e o entendimento exposto pelo STF (Vide anexos II e III).
Tratado internacional é um acordo formal entre países, elaborado conforme as normas do direito internacional. Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, uma vez aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos e por três quintos dos votos dos respectivos membros, têm status equivalente ao de emendas constitucionais.
Portanto, os tratados internacionais sobre direitos humanos ingressam no ordenamento jurídico brasileiro com força de emenda constitucional, enquanto os demais tratados são incorporados com força de lei ordinária.
Ademais, cumpre destacar o inciso I, do art. 49 e o inciso VIII, do art. 84 da CF que preceitua a necessidade de referendo dos tratados internacionais pelo Poder Legislativo e a consequente ratificação pelo Chefe do Poder Executivo - denotando, assim, opção pelo dualismo.
Em relação ao art. 98 do CTN entendo que há impropriedade técnica ao estabelecer uma primazia dos tratados sobre as normas do sistema jurídico brasileiro, pois se a CF expressamente não o fez, evidentemente, não poderia uma norma infraconstitucional fazer.
No sistema juridico brasileiro a norma é revogada do ordenamento por outra norma válida, ou seja, os tratados internacionais desde que incorporados em normas jurídicas internas por órgão competente poderiam revogar normas jurídicas também internas, se dispuserem neste sentido ou ainda pelo princípio da especialidade.
	b) Pode a União, visando a regular a política tarifária, instituir isenção de tributo de competência estadual? 
Por expressa vedação constitucional (art. 151, III da CF) é vedado a União instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.
Ademais, as competências tributárias estão claramente delimitadas na CF e qualquer interferência da União nas competências tributárias dos Estados violaria o princípio federativo. Assim, a União não pode conceder isenções ou regular tributos que são de competência estadual.
c) Os tratados podem revogar ou suspender a eficácia das regras matrizes de incidência tributárias inseridas no ordenamento jurídico brasileiro pelos Estados e Municípios? Haveria violação ao princípio federativo e ao princípio da autonomia dos Municípios consagrados na CF/88? (Vide anexos IV, V, VI e VII) 
 
Conforme resposta anterior, os tratados não revogar, suspender, conceder isenção as normas jurídicas tributárias dos Estados e dos Municípios, dada a competência tributária conferida a estes entes federados pela CF.
4. Um importador, ao registrar a declaração de mercadorias (DI - Declaração de Importação - no Siscomex ou DUIMP - Declaração Única de Importação – no Portal Único de Comércio Exterior), classificou determinado produto como equipamento de raio X para uso médico não destinado especificamente para diagnóstico (NCM 9022.19.9[footnoteRef:1]). A declaração foi parametrizada no canal vermelho de conferência aduaneira. A liberação (desembaraço) ocorreu sem oposição da Receita Federal em relação ao enquadramento tarifário adotado. Entretanto, após quatro anos, outro Auditor-Fiscal entendeu que, naquela oportunidade, houve uma interpretação equivocada das regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (Decreto Legislativo nº 71/1988; Decreto nº 97.409/1988). Assim, em ato de revisão aduaneira, promoveu a reclassificação do produto para a NCM 9022.14.19[footnoteRef:2], relativaaos aparelhos de raios X destinados a diagnósticos, lavrado auto de infração e lançamento para a constituição da diferença de crédito tributário e cominação das penalidades. [1: 90.22 - Aparelhos de raios X e aparelhos que utilizem radiações alfa, beta, gama ou outras radiações ionizantes, mesmo para usos médicos, cirúrgicos, odontológicos ou veterinários, incluindo os aparelhos de radiofotografia ou de radioterapia, os tubos de raios X e outros dispositivos geradores de raios X, os geradores de tensão, as mesas de comando, as telas de visualização, as mesas, cadeiras e suportes semelhantes para exame ou tratamento.
9022.1 - Aparelhos de raios X, mesmo para usos médicos, cirúrgicos, odontológicos ou veterinários, incluindo os aparelhos de radiofotografia ou de radioterapia
9022.19 -- Para outros usos
9022.19.9 - Outros] [2: 90.22 - Aparelhos de raios X e aparelhos que utilizem radiações alfa, beta, gama ou outras radiações ionizantes, mesmo para usos médicos, cirúrgicos, odontológicos ou veterinários, incluindo os aparelhos de radiofotografia ou de radioterapia, os tubos de raios X e outros dispositivos geradores de raios X, os geradores de tensão, as mesas de comando, as telas de visualização, as mesas, cadeiras e suportes semelhantes para exame ou tratamento.
9022.1 - Aparelhos de raios X, mesmo para usos médicos, cirúrgicos, odontológicos ou veterinários, incluindo os aparelhos de radiofotografia ou de radioterapia
9022.14 -- Outros, para usos médicos, cirúrgicos ou veterinários
9022.14.1 De diagnóstico
9022.14.19 Outros] 
Diante disso, pergunta-se (Vide anexos VIII, IX, X e XI):
a) Ao realizar a classificação aduaneira de um produto, a Receita Federal pode divergir das normas e de entendimentos técnicos de órgãos especializados? Fundamente sua resposta. Esse lançamento de ofício deve observar o art. 146 do CTN? Há diferença se a parametrização, ao invés do canal vermelho, tivesse ocorrido no canal verde?
No Brasil, os entendimentos da Organização Mundial das Aduanas devem prevalecer sobre as definições adotadas pelos órgãos públicos.
A obrigação do Brasil em observar as normas internacionais relativas ao Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias foi reforçada pela própria Receita Federal com a edição do Parecer Normativo nº 6, de 20 de dezembro de 2018. No parecer normativo é destacado a importância de aderir aos padrões internacionais na classificação fiscal de mercadorias, alinhando as práticas brasileiras às diretrizes globais estabelecidas pela Organização Mundial das Aduanas.
Entendo que o art. 146 do CTN deve ser observado, bem como que não deve haver diferenciação na parametrização entre o canal vermelho e canal verde, neste sentido foi o entendimento da 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ):
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. SÚMULA 284/STF. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. CONFERÊNCIA. CANAIS VERMELHO E AMARELO. CLASSIFICAÇÃO FISCAL. REVISÃO ADUANEIRA. POSSIBILIDADE. 1. O Tribunal a quo manteve sentença de procedência de Embargos à Execução Fiscal para cobrança de crédito tributário (II e IPI) constituído em procedimento de revisão aduaneira de Declarações de Importação, sob o entendimento de que, tendo sido a mercadoria submetida à conferência aduaneira, está configurada anuência da autoridade fiscal às informações prestadas pelo importador. 2. A parte sustenta que o art. 1.022 do CPC foi violado, mas deixa de apontar, de forma clara, o vício em que teria incorrido o acordão impugnado (Súmula 284/STF). 3. A conferência aduaneira e o posterior desembaraço (arts. 564 e 571 do Decreto 6.759/2009) não impedem que o Fisco realize o procedimento de revisão aduaneira, respeitado o prazo decadencial de cinco anos (art. 638 do Decreto 6.759/2009) (REsp 1.201.845/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 24/11/2014).
4. Conforme consignado no aludido precedente, a revisão aduaneira permite que o Fisco revisite “todos os atos celeremente praticados no primeiro procedimento [conferência aduaneira] e, acaso verificada a hipótese, efetuará o lançamento de ofício previsto no art. 149, do CTN”. 5. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.
(STJ. 2ª T. RE 1.656.572/RS. Rel. Min. Herman Benjamin. Dje 02/05/2017.)
b) A reclassificação foi assentada no alegado equívoco de interpretação das regras da Convenção Internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias. Porém, as consequências seriam as mesmas se a reclassificação fiscal tivesse se baseado na constatação de que o equipamento importado apresenta características diferentes das identificadas na conferência anterior? Avaliar, nas duas hipóteses, se há erro de direito ou erro de fato.
Entendo que as consequências não seriam as mesmas, na revisão aduaneira, não estão abrangidos pelo art. 146 do CTN os erros de fato, ou seja, aqueles decorrentes de omissão, de inexatidão ou de incompletude na descrição do produto na etapa que – dentro do procedimento classificatório – antecede ao enquadramento legal. Nesses casos, observado o prazo decadencial, o Fisco pode promover a revisão de um lançamento de ofício.

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