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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO SONIA SOLANGE MONTENEGRO OS GRUPOS ESTRATÉGICOS NO SETOR DE RESTAURANTES SELF-SERVICE DE BRASÍLIA/DF FLORIANOPÓLIS 2003 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO SONIA SOLANGE MONTENEGRO OS GRUPOS ESTRATEGICOS NO SETOR DE RESTAURANTES SELF-SERVICE DE BRASÍLIA/DF Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção. Área: Gestão da Qualidade e Produtividade Ênfase: Planejamento e Estratégia Organizacional Orientador: Luís Carlos de Carvalho Júnior, Dr. FLORIANÓPOLIS 2003 SONIA SOLANGE MONTENEGRO OS GRUPOS ESTRATEGICOS NO SETOR DE RESTAURANTES SELF-SERVICE DE BRASÍLIA Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina. Banca Examinadora: _________________________________ Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr. __________________________________ Prof. Luís Carlos de Carvalho Júnior, Dr. Coordenador Orientador ___________________________________ Prof. Carlos Eduardo Freitas da Cunha, Dr. _________________________________ Prof. Cícero França Barbosa, Dr. Membro Membro 658.4012 M777g MONTENEGRO, Sônia Solange. Os Grupos Estratégicos no Setor de Restaurantes Self-Service de Brasília/DF. Florianópolis, UFSC, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2003. 140 p.: il. Dissertação: Mestrado em Engenharia de Produção (Área: Gestão da Qualidade e Produtividade. Ênfase: Planejamento e Estratégia Organizacional). Orientador: Luís Carlos de Carvalho Júnior, Dr. 1. Estratégias Competitivas 2. Grupos Estratégicos 3. Restaurantes Self-Service. I. Universidade Federal de Santa Catarina II. Título À todas aquelas pessoas que transformam suas idéias e sonhos em projetos reais, ajudando a construir uma sociedade melhor. AGRADECIMENTOS A Deus, em primeiro lugar, por conceder-me o dom da vida e estar ao meu lado em todos os momentos. Ao Professor Luís Carlos de Carvalho Júnior, pelos conhecimentos transmitidos em sala de aula, pela orientação competente e pelo legado de dedicação e incentivo no transcurso da elaboração deste trabalho. Aos Professores Luiz Gonzaga, Pedro Alberto Barbetta, Antônio Alves Filho, José Francisco Salm, Ester Menegasso, Márcio Pires, Olga Regina Cardoso, Jane Iara, Gregório Varvakis e especialmente ao Professor Idone Bringhenti pela competência e dedicação no compartilhamento de conhecimentos. Aos Professores Carlos Eduardo Freitas da Cunha e Cícero França Barbosa, membros da banca, pelas sugestões valiosas e colaboração para o enriquecimento deste trabalho. A toda a equipe do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, pela coragem de oportunizar a realização do mestrado. A UNEB – União Educacional de Brasília, pela oportunidade concedida e apoio financeiro para realização do mestrado. A todos os restaurantes que cederam espaço para a realização deste trabalho. À minha família, mesmo distante, por me dar força nos momentos de incertezas e indecisões. Aos amigos mestrandos, pela união e incentivo vivenciados no decorrer deste caminho, em especial a Agostinho Fernandes, pelas sugestões e correções extremamente valiosas e proveitosas. Aos meus colegas do Tribunal Superior Eleitoral, pelo apoio e incentivo nos momentos de desânimo e incerteza, e a todos aqueles que de maneira direta ou indireta contribuíram para a realização deste trabalho. “Quando os homens fracassam, o que lhes faltou não foi inteligência: foi paixão”. (Struther Burt) RESUMO MONTENEGRO, Sônia Solange. Os grupos estratégicos no setor de restaurantes self-service de Brasília/DF. Florianópolis, 2003. 140f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia da Produção, UFSC, 2003. O ambiente de crescente globalização, combinado com a difusão de novas tecnologias e novas técnicas de organização e produção, tem provocado profundas transformações na economia nacional. As mudanças têm obrigado as empresas que desejam permanecer competitivas a ter uma visão estratégica do ambiente em que se encontram inseridas. O setor de alimentação, especificamente os restaurantes self-service, vem sofrendo os impactos da globalização, em função do constante crescimento do mercado. Esta dissertação teve como objetivo levantar e analisar as estratégias concorrenciais adotadas pelos restaurantes self-service localizados na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília/DF. Para realização do estudo, realizou-se uma pesquisa, caracterizada como descritiva e qualitativa e utilizando-se dados primários e secundários. Além da revisão bibliográfica, realizou-se um levantamento dos restaurantes self-service localizados no setor, por meio de amostragem não aleatória, e aplicou-se um questionário com perguntas abertas e fechadas, a fim de levantar o comportamento estratégico das empresas. Com base nas escolhas estratégicas, foram caracterizados cinco grupos estratégicos e analisado o posicionamento desses grupos em relação às cinco forças competitivas. O estudo permitiu constatar que os grupos recorrem a vários tipos de estratégias para se manterem competitivos. De modo geral, observou-se que a concorrência é mais acirrada entre as empresas dos grupos e menos intensa entre os grupos estratégicos. Palavras-chave: estratégias, grupos estratégicos, restaurantes self-service. ABSTRACT MONTENEGRO, Sônia Solange. Os grupos estratégicos no setor de restaurantes self-service de Brasília/DF. Florianópolis, 2003. 140f. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia da Produção, UFSC, 2003. The atmosphere of growing globalizacion, combined with the diffusion of new technologies and new organization techniques and production, it has been provoking deep transformations in the national economy. The changes have been forcing the companies that want to stay competitive to have a strategic vision of the atmosphere in that one find inserted. The feeding section, specifically the restaurants self-service, is suffering the impacts of the globalizacion, in function of the constant growth of the market. This dissertation had as objective gets up and to analyze the strategies adopted by the restaurants located self-service in the South Wing of the Pilot Plan of Brasília/DF. Para accomplishment of the study, took place a research, characterized as descriptive and qualitative and being used primary and secondary data. Besides the bibliographical revision, he/she took place a rising of the restaurants located self- service in the section, through sampling no random, and a questionnaire was applied with open and closed questions, in order to lift the strategic behavior of the companies. With base in the strategic choices, five strategic groups were characterized and analyzed the positioning of those groups in relation to the five competitive forces. The study allowed to verify that the groups fall back upon several types of strategies for us to maintainif competitive. In general, it was observed that the competition is more intransigent among the companies of the groups and less intense among the strategic groups. Word-key: strategies, strategic groups, restaurants self-service. SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE TABELAS E QUADROS LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1 1.1 Problema e Justificativa............................................................................... 1 1.2 Objetivos...................................................................................................... 5 1.2.1 Objetivo Geral.................................................................................... 5 1.2.2 Objetivos Específicos......................................................................... 5 1.3 Definições dos Principais Termos................................................................ 5 1.4 Estrutura do Trabalho.................................................................................. 7 2. TIPOLOGIA DOS RESTAURANTES................................................................ 8 2.1 Introdução.................................................................................................... 8 2.2 Surgimento dos Restaurantes..................................................................... 8 2.3 Classificação dos Restaurantes.................................................................. 16 2.3.1 À La Carte.......................................................................................... 16 2.3.2 Auto-Serviço....................................................................................... 23 2.3.3 Direto ou Repetitivo............................................................................ 28 2.4 Considerações Finais.................................................................................. 29 3. ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS E OS GRUPOS ESTRATÉGICOS.............. 31 3.1 Introdução.................................................................................................... 31 3.2 Estratégia Empresarial................................................................................. 32 3.2.1 Abordagem Clássica........................................................................... 32 3.2.2 Abordagem Contemporânea............................................................... 33 3.3 Formação de Estratégias............................................................................. 36 3.4 Tipos de Estratégias.................................................................................... 41 3.4.1 Estratégias por Igor Ansoff................................................................ 41 3.4.2 Estratégias por Milles&Snow............................................................. 43 3.4.3 Estratégias por Henry Mintzberg....................................................... 45 3.4.4 Estratégias por Michael Porter........................................................... 51 3.5 Análise Estrutural da Indústria..................................................................... 61 3.5.1 Análise da Estrutura do Setor............................................................. 61 3.6 Grupos Estratégicos.................................................................................... 73 3.6.1 Grupos Estratégicos e Barreiras de Mobilidade................................. 76 3.6.2 Barreiras de Mobilidade e Formação de Grupos................................ 77 3.6.3 Grupos Estratégicos e as Cinco Forças da Concorrência.................. 78 3.6.4 Relação entre Grupos Estratégicos e Padrão de Concorrência......... 81 3.7 Cadeia de Valores........................................................................................ 82 3.8 Considerações Finais................................................................................. 86 4. ASPECTOS METODOLÓGICOS...................................................................... 88 4.1 Introdução.................................................................................................... 88 4.2 Descrição do Campo de Observação.......................................................... 88 4.3 A Pesquisa................................................................................................... 89 4.4 Métodos de Análise...................................................................................... 90 4.5 Coleta de Dados.......................................................................................... 92 4.6 População e Amostra................................................................................... 93 4.7 Perguntas da Pesquisa................................................................................ 95 4.8 Tratamento dos Dados................................................................................ 95 5. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO....................................................... 96 5.1 Introdução.................................................................................................... 96 5.2 Grupos Estratégicos no Setor de Restaurantes de Brasília........................ 97 5.2.1 Grupo Estratégico I............................................................................ 97 5.2.2 Grupo Estratégico II........................................................................... 103 5.2.3 Grupo Estratégico III.......................................................................... 107 5.2.4 Grupo Estratégico IV.......................................................................... 112 5.3 Considerações Finais.................................................................................. 118 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES............................................................ 119 6.1 Conclusões.................................................................................................. 119 6.2 Recomendações.......................................................................................... 126 REFERÊNCIAS................................................................................................. 127 ANEXO 1........................................................................................................... 133 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 3.1 Componentes do Vetor Crescimento........................................ 42 Figura 3.2 Estratégias Genéricas............................................................... 60 Figura 3.3 Cinco Forças Competitivas de Porter........................................ 64 LISTA DE TABELAS E QUADROS Quadro 3.1 Famílias de Estratégias............................................................ 51 Quadro 3.2 Estratégias Competitivas e Corporativas.................................. 61 Quadro 5.3 Grupos Estratégicos no setor de restaurantes Self-Service..... 97 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ANFB Associação Nacional dos Fabricantes de Bebidas......................... 94 CEASA Centrais de Abastecimento............................................................. 101 EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo......................................................... 93 IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística................................. 90 JCDF Junta Comercial do Distrito Federal................................................ 94 SEBRAE Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.......... 93 SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial...............................101 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Problema e Justificativa Um dos principais objetivos das empresas no decorrer do tempo tem sido a obtenção de uma rentabilidade satisfatória, que lhes permita não só sobreviver como também crescer, já que o lucro é a fonte menos onerosa de financiamento dos investimentos da empresa. Até a década de 70, acreditava-se que para as empresas serem bem sucedidas no alcance dos lucros deveriam ser competitivas perante os seus concorrentes na indústria, já que as ações desses na tentativa de ampliar sua participação no mercado poderiam conduzir a uma queda da rentabilidade da empresa. No início dos anos 80, ocorreu a aceitação da idéia de que a rentabilidade das empresas era influenciada não só pelas ações dos seus concorrentes, mas também por aquelas desencadeadas por elementos externos, como: fornecedores, clientes e pelos concorrentes potenciais (Porter, 1991). Assim, para ser competitiva a empresa deveria implantar estratégias que melhorassem seu posicionamento perante todos esses elementos, o que poderia acontecer com aumento de produtividade, melhoria das técnicas de gestão e introdução de inovação de processos e produtos. A década de 90 ficou registrada como o marco da abertura de mercado no Brasil e uma referência para construção do novo ambiente competitivo que trouxe profundas e sucessivas transformações em sua dinâmica e estrutura. Atualmente, o ambiente em que se vive é incerto e repleto de profundas mudanças. A evolução da globalização comercial, aliada à realidade econômica nacional, vem modificando a forma da concorrência, bem como os padrões de competitividade. As empresas precisam competir em um cenário cada vez mais globalizado e atrelado às exigências de uma sociedade que não aceita mais consumir um produto somente 2 tangível para atender às suas necessidades, exige agora também um pacote de conveniências e vantagens. A globalização da economia, as tecnologias da informação e a informatização são apenas algumas dessas mudanças. Hoje, empresas competitivas são aquelas capazes de procurar incansavelmente a liderança em seu setor e as que dedicam tempo à antecipação das mudanças e construção do futuro. As mudanças têm obrigado as empresas que desejam permanecer competitivas no novo cenário a ter uma visão estratégica do ambiente em que se encontram inseridas, além de passarem a se preocupar com uma administração eficiente de suas operações internas. Isso as tem levado a buscar, em determinado momento, um alinhamento correto com o ambiente, e também a procurarem ser capazes de responder às constantes alterações dele. O setor de alimentos, mais especificamente os restaurantes self-service, vem sofrendo os impactos da globalização. Em função do constante crescimento desse mercado, atualmente é grande o número de empresas no ramo alimentício que se instala, mas não consegue sobreviver às exigências do mercado, o qual busca qualidade com baixo custo, em função do melhor preço, da lucratividade e da competitividade. Sobre esse forte crescimento e suas conseqüências, Garcia (1998) comenta que o ramo de alimentos e bebidas está sentindo como nunca o impacto do comportamento do consumidor, o que tem contribuído para o crescimento acelerado desse negócio. A maioria dos estabelecimentos é recente e apresenta diversificação de estilos. Os melhores estabelecimentos dos grandes centros urbanos foram criados nas últimas décadas. Tanto restaurantes quanto bares foram criados graças às condições econômicas geradas pela agressiva urbanização e pelo surto do desenvolvimento econômico. A gastronomia teve seu desenvolvimento acentuado com o 3 estabelecimento dos imigrantes nas grandes cidades, e mais recentemente com o fluxo de estrangeiros. Bares e restaurantes, além de estarem entre os estabelecimentos mais comuns, estão entre os que mais sofrem as influências do mercado. Dezenas de estabelecimentos abrem e fecham suas portas todos os dias, e é comum encontrar pessoas dispostas a ingressar nesse negócio. Há restaurantes de todos os tamanhos, níveis e qualidade. Vão dos mais simples aos que em termos de sofisticação equivalem a restaurantes de primeiro mundo. Todavia, nem todos conseguem ter sucesso e sobreviver em um mercado tão competitivo. Nesse contexto, vê-se que o ambiente atual é turbulento e a concorrência no setor é bastante acirrada. Aliado a esse ambiente global, figura outro ambiente mais restrito, que influencia as empresas que competem em determinado setor, composto por elementos, tais como seus concorrentes, fornecedores, clientes, produtos substitutos e entrantes potenciais. O relacionamento entre a empresa e os elementos de seu ambiente dão origem ao que Porter (1991) define como forças competitivas. E o grau de concorrência em um setor pode ser explicado pela intensidade dessas forças. Segundo Ferraz et al., (1995), para se diferenciarem no mercado, na maioria das vezes, as empresas procuram inovar tecnologicamente ou gerencialmente. Algumas adotam posturas mais agressivas, assumem riscos maiores e assim têm maior possibilidade de obterem mais parcelas de mercado. Outras são mais passivas, optam pela imitação e assumem um papel reativo diante das demandas do mercado. A maneira como cada empresa decide competir no mercado influencia sua capacidade de conquistar novas oportunidades. Porter (1991), apresentou uma nova concepção sobre estratégia competitiva, na qual a análise setorial das estratégias e o posicionamento da empresa dentro do setor permitem visualizar as estratégias com as quais quer competir. 4 Ao analisar a estrutura das indústrias, Porter (1998) observou que a finalidade da formulação e implantação de uma estratégia é lidar com a competição e encontrar um posicionamento adequado em relação às forças competitivas. Segundo Porter (1991, p.22), “a estrutura industrial tem forte influência na determinação das regras competitivas do jogo, como também das estratégias potencialmente disponíveis para a empresa”. Ele apresenta ainda alguns conceitos centrais que envolvem o estudo da estratégia competitiva. Nem todas as indústrias oferecem oportunidades iguais para manter rentabilidade. Da mesma forma, na maioria das indústrias existem algumas empresas que são bem mais rentáveis que outras, independentemente da rentabilidade da indústria. Tal fato decorre do tipo de estratégia utilizada pela empresa. As diferentes estratégias competitivas que as empresas adotam são denominadas de dimensões estratégicas. Essas dimensões em geral captam as diferenças possíveis entre as opções estratégicas de uma empresa em determinada indústria. As empresas que adotam estratégias semelhantes ao longo das dimensões tendem a competir mais acirradamente entre si do que com aquelas que apresentam comportamentos estratégicos diferentes. De acordo com Porter (1991), o conjunto de empresas que seguem estratégias semelhantes ao longo das dimensões estratégicas, e compete com muito mais intensidade entre si, denomina-se grupo estratégico. Conhecer a forma como as empresas estão selecionando suas estratégias e com isso identificar a que grupo determinadas empresas pertencem, pode ser um importante recurso para análise de tendências, mostrando como elas estão reagindo às mudanças que vêm ocorrendo a uma velocidade cada vez maior em seu ambiente competitivo. 5 Dentro dessa perspectiva, este estudo busca verificar quais são as ações que o segmento de restaurantes self-service, especificamente os que se encontram estabelecidos na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília, vêm desenvolvendo na escolha por estratégias que possam responder às características apresentadas pelo ambiente concorrencial no qual estão inseridos. 1.2 Objetivos 1.2.1. ObjetivoGeral O objetivo geral deste trabalho é levantar e analisar as estratégias concorrenciais adotadas pelos restaurantes self-service localizados na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília/DF. 1.2.2. Objetivos Específicos Pretende-se, ainda, a partir do alcance do objetivo geral, atingir os seguintes objetivos específicos: a) verificar o comportamento estratégico dos restaurantes; b) agrupar os restaurantes em grupos estratégicos de acordo com suas características e decisões estratégicas; c) analisar o posicionamento dos grupos estratégicos em relação às cinco forças competitivas. 1.3 Definições dos Principais Termos BANNER – Espécie de bandeira que é fixada em pontos estratégicos com a finalidade de chamar a atenção das pessoas. BRASSERIES – Restaurantes e casas de bebida ao mesmo tempo. 6 CASUAL DINNING – Restaurantes com características de coffee shops mesclados com fusion foods e grill. CATERING – Empresas especializadas em preparação de alimentação em meios e transporte. COFFEE SHOP – Pontos de venda em que se pode comer a qualquer hora, comida leve e rápida. DELIVERY – Termo utilizado para designar a entrega de mercadorias em domicílio. DRUG STORE – Conjunto de drogaria, farmácia, casa de especiarias e snack-bar. Conhecido no Brasil como lojas de conveniência. FUSION FOODS – Culinária de fusão. É a mescla entre elementos de várias culturas. GÊNEROS ALIMENTÍCIOS – Produtos provenientes do comércio de secos e molhados. GRILL – Casa de grelhados. Palavra de origem inglesa que significa grelha. HORTIFRUTIGRANJEIROS - Produtos de hortas, pomares e granjas. JOINT VENTURE – Empreendimento conjunto com fins lucrativos de que participam duas ou mais pessoas. MAITRE D’HOTEL – Profissional que supervisiona todas as atividades relacionadas com serviços de atendimento aos clientes nos restaurantes. MARKET-SHARE – Termo utilizado em administração para designar a participação da empresa no mercado. PROPAGANDA – É qualquer forma remunerada de apresentação não-pessoal e promocional de idéias, bens ou serviços por um patrocinador identificado. PUBLICIDADE – Conjugação de esforços para divulgar produtos específicos. ROTISSERIES – Casas de massas frescas ou italianas, que vendem pratos prontos e para viagem. SELF-SERVICE – Estabelecimentos em que o cliente mesmo se serve. SOMMELIER – Profissional que participa de todo processo referente ao serviço de vinho no restaurante e substitui o maitre d’hotel quando necessário. TRADE-OFF – Termo utilizado em administração que significa escolher mais alguma coisa em detrimento de outra. 7 1.4 Estrutura do Trabalho Este trabalho está dividido em seis capítulos. O capítulo introdutório procura definir o problema da pesquisa e a justificativa, estabelecendo os objetivos geral e específicos, as definições dos principais termos e a estrutura do trabalho. Os capítulos 2 e 3 apresentam o referencial teórico que deu suporte à pesquisa. No segundo capítulo apresenta-se uma contextualização acerca do surgimento dos restaurantes e da alimentação fora do lar, abordando o setor em estudo. O terceiro capítulo apresenta as estratégias e a sua formação, os tipos de estratégias, o padrão de concorrência no setor e os grupos estratégicos. No Capítulo 4 expõem-se os métodos utilizados para realização da pesquisa e os limites deste trabalho. No Capítulo 5 são apresentados e discutidos os resultados obtidos por meio da análise. No Capítulo 6 apresentam-se as conclusões. Por fim, colocam-se as referências e os anexos. 8 2. TIPOLOGIA DOS RESTAURANTES 2.1 Introdução A época contemporânea caracterizou-se pela revolução industrial, que teve como conseqüência o êxodo rural e a urbanização, atingindo a história da alimentação em vários aspectos, principalmente o desenvolvimento das indústrias alimentares. Nessa época, a mulher passou a trabalhar fora de casa Tendo menos tempo para as tarefas domésticas, começou a adquirir aparelhos para ajudá-la na manutenção da casa e na preparação das refeições. Passou a ter necessidade de controlar seu tempo e aproveitá-lo eficientemente para o alcance de suas metas. Dessa forma, as pessoas economicamente ativas, que vivem nos centros urbanos, passaram a dar menor atenção à refeição e maior atenção ao trabalho. 2.2 Surgimento dos Restaurantes Segundo o Dicionário Aurélio, a definição para restaurante é simples: “estabelecimento comercial onde se preparam e servem refeições”, ou, ainda, “lugar onde se servem refeições avulsas a certo número de pessoas”. Assim sendo, o objetivo do restaurante é claro: preparar e servir alimentos e bebidas, dentro do conceito que se propõe executar. Mas, como surgiram os restaurantes? Em 1674, o napolitano Francesco Capelli, conhecido como “Procope”, abriu o primeiro café de Paris. Neles eram servidos, também, chá, chocolate e bebidas exóticas, acompanhadas de bolo e sorvetes. (FLANDRIN& MONTANARI, 1985) Por volta de 1765, Boulanger abriu um estabelecimento nas proximidades de Louvre, e passou a vender, além de caldos à base de carne, pratos mais elaborados, dando início ao surgimento de um novo estabelecimento de alimentação. Assim, nos anos 9 que precedem a Revolução, multiplicaram-se os restaurantes que serviam, em porções, pratos requintados, não mais em mesa malcuidada comportando várias pessoas, mas em mesinhas cobertas de toalhas, individuais ou reservadas para determinado grupo de clientes. (CASCUDO, 1983) Uma segunda revolução na arte de comer bem fora de casa surgiu no final do século XIX associada ao desenvolvimento dos transportes rápidos e do turismo de luxo, com a abertura de grandes hotéis de luxo. Rebelato (1997, p.3), cita que: Na América, eles surgiram do modelo europeu de tabernas e estalagens. As tabernas eram casas públicas especializadas em bebidas e fornecimento de alimentos para a população local. Já as estalagens localizavam-se à beira da estrada oferecendo cama e comida ao viajante. No Brasil, o desenvolvimento da indústria de restaurantes está associado à indústria de hotéis. Sua grande expansão se deu no período de 1930 a 1951, com a abertura dos hotéis-cassino. Neste período, pouca notícia se teve de estabelecimentos exclusivos para comer. Depois da proibição dos cassinos pelo governo, essa indústria se estagnou e, somente a partir de 1964, iniciou uma nova e contínua expansão até os dias atuais. Nos tempos atuais, a refeição fora do lar deixou de ser uma opção de lazer e passou a ser uma questão de necessidade. Tornou-se uma tendência dentro do que se pode chamar de terceirização dos serviços familiares, acompanhados pelo surgimento de outros serviços como venda de comida congelada, entrega de pizzas a domicílio e lavanderias rápidas. Esses serviços tradicionalmente executados pelas mulheres dentro do lar surgiram recentemente em função do novo papel assumido no contexto atual da sociedade, no qual as mulheres passaram a buscar a independência econômica e a realização profissional por meio de um trabalho remunerado, bem como pela forte necessidade de auxílio financeiro familiar, em virtude das diversas ocorrências políticas e governamentais que vieram a alterar as necessidades básicas de sobrevivência e bem-estar da sociedade, deixando de exercer, dessa forma, essas atividades domésticas caracterizadas como não lucrativas. 10 Ainda, segundo Rebelato (1997, p.1): As pessoas, de um modo geral, exigem mais tempo de lazer no dia-a-dia e a taxa de expectativa de vida está crescendo. Aliado a esses fatos constata- se a tendência crescente da urbanização e o aumento da renda per capita, que pode ser entendido como uma melhor distribuição da riqueza e potencializador dos gastos individuais. São fatores que impactam fortemente na geração dedemanda pelos serviços de alimentação. Hoje o homem necessita controlar seu tempo e aproveitá-lo eficientemente para o alcance de suas metas. A tendência das pessoas economicamente ativas que vivem nos centros urbanos é dar menor atenção à refeição e maior atenção ao trabalho, já que a refeição não pode ser encarada como uma atividade produtiva (REBELATO, 1997). Nos dias atuais, há um tipo de público que passou a utilizar o restaurante diariamente por uma questão de comodidade, não se interessando pela contabilidade mais vantajosa. Essas pessoas preferem não lidar com empregada em casa ou ter de ir ao supermercado para fazer compras mensalmente e ainda correrem o risco de prejuízos quanto a perecibilidade dos alimentos em virtude do consumo inapropriado ou divergência entre a quantidade realmente consumida e a adquirida. Existe, ainda, outro cliente merecedor de destaque, que é o da terceira idade. Esse cliente come pouco e não se dispõe a fazer comida em casa por não compensar o trabalho e o tempo desperdiçados em relação à pequena quantidade de comida que necessita ser processada. Entretanto, nos finais de semana e feriados, a refeição fora de casa é tida como uma opção de lazer. Representa em alguns restaurantes um movimento maior, necessitando de um cardápio mais requintado, com preços também diferenciados. Nota-se ainda que, devido ao aumento populacional brasileiro e pela possibilidade de abertura de novos mercados, surgiram no país as redes de fast-food, que, segundo Rebelato (1997, p.7): 11 Começaram a se instalar aqui no início dos anos 80, preferencialmente em shopping centers ou em regiões de alta densidade populacional. Estima-se que em 1990 o país já contava com cerca de 10.000 estabelecimentos no ramo de serviços de alimentação. E assim, sob a idealização do MacDonald’s, os restaurantes self-service entraram no mercado com o objetivo de oferecer aos seus clientes uma opção de serviço rápido, limpeza e qualidade, mesmo que no início não fosse levada em consideração a eficiência do atendimento em relação à qualidade da refeição, pois surgiram para competir com as lanchonetes e com os restaurantes à la carte de baixo preço. Hoje, entretanto, esse panorama foi alterado, abrindo espaço para este novo segmento de mercado no ramo de alimentos que são os restaurantes self-service, por quilo ou não, os quais pela grande aceitação dos consumidores e pela crescente competitividade procuram atender a todos os requisitos de qualidade e eficiência em suas atividades pertinentes ao processamento de refeições variadas diárias e ao serviço de atendimento e distribuição. Em função do constante crescimento desse mercado de alimentos, é atualmente grande e crescente o número de empresas do ramo alimentício que não conseguem sobreviver às exigências do mercado, o qual visa qualidade com baixo custo, em função da melhor precificação, da lucratividade e da competitividade. A respeito desse forte crescimento e suas conseqüências Garcia, (1998, p.21) comenta: O negócio de serviços de alimentos e bebidas está sentindo como nunca antes o impacto do comportamento do consumidor, o que está contribuindo para o crescimento acelerado desse ramo com toda a gama de prós e contras, competência desmedida e um alto grau de complexidade em sua operação contra uma rápida recuperação do investimento e liquidez imediata, que há poucos anos eram exclusivas dos grandes restaurantes. Relativamente aos sucessos e insucessos Fonseca (2002, p.10), comenta que a falta de planejamento é um dos muitos motivos para o fracasso nesse setor e acrescenta: 12 Não é admissível criar um restaurante sem saber qual será sua composição de custos, seu potencial de receita ou, ainda, qual a característica principal de seu negócio. Depois disso é necessário uma boa definição de como serão identificadas as informações importantes para verificar o desempenho do negócio e possibilitar as correções de rumo. E, por último, identificar as possíveis soluções para a readaptação dos planos ou uma modificação dos objetivos iniciais. Observa-se na realidade que isso ocorre devido à falta de preparo dos empresários nesse setor. Por acreditarem que fazer comida em casa é a mesma coisa que servir para dezenas de pessoas, com os mesmos padrões de qualidade, higiene e satisfação, fazem com que a tarefa de administrar um restaurante não seja facilitada e tampouco vencida. E, ao se defrontarem com os problemas cotidianos não conseguem tomar as decisões corretas, gerando uma grande chance de insucesso. Só encarando preço e qualidade, fatores fundamentais para a satisfação dos consumidores, é que se encontra o melhor valor possível. No entanto, em muitos casos isso não acontece, como abordam Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000, p. 20): Há complacência na administração das indústrias de serviços, descuido com a qualidade, negligência com as necessidades dos clientes e atenção voltada somente à orientação financeira em curto prazo, os quais são fatores que contribuem para arruinar o setor de serviços na economia. A gestão nessas empresas é outro fator que merece destaque. É praticamente toda centralizada e, em sua maioria, são empresas familiares administradas pelos seus proprietários. Enfrentam ainda problemas com o nível cultural das pessoas que se oferecem para exercer as funções operacionais. Isso gera incompatibilidade de responsabilidades, pré-determinação e controle total das atividades, bem como forte rotatividade dessa força de trabalho devido aos pisos salariais baixos, às condições de vida na maioria das vezes mínimas e, conseqüentemente, à tentação por quaisquer ofertas, mesmo insignificantes, que agreguem valor ao salário. Nota-se que o fato de a mão-de-obra ser praticamente toda artesanal dificulta a gestão dos restaurantes, ao contrário de outras empresas que estão investindo em tecnologia para minimizar custos e tentar maximizar lucros. A tecnologia é encarada como meio para o incremento da produtividade e um facilitador da garantia da qualidade. 13 Essas empresas também vivem problemas com relação à falta de profissionalização dos seus fornecedores. Nesse ramo é difícil encontrar fornecedores confiáveis, não somente em relação ao prazo de entrega como em termos de qualidade dos produtos. Vê-se que o processo de compras deve estar em plena sintonia com o planejamento da produção. Nessa atividade, comprar bem é vital para garantir boa rentabilidade. Relativamente aos problemas enfrentados por essas empresas, Rebelato (1997, p.3) cita que: A capacidade de racionalização e aprendizagem da empresa é fortemente prejudicada pela falta de informações, sejam essas internas ou externas. A empresa conhece mal a si própria e ao seu meio ambiente. Os indicadores de eficiência interna de cada recurso ou área não estão disponíveis porque não se criaram mecanismos para isso. Os dados não são colhidos e processados. Não se conhece bem o comportamento do mercado, sejam fornecedores, clientes ou concorrentes. Com isso, o processo de gerenciamento usualmente se baseia em informações incompletas a respeito de possíveis cursos de ação e suas possíveis conseqüências. O processo de decisão é caótico porque explora um número muito limitado de alternativas, baseando-se muitas vezes em regras empíricas ou na intuição. Sobre esse assunto Garcia (1998) também comenta que quando surge a idéia de estabelecer um restaurante, de maneira geral, somente se leva em consideração o montante do investimento, pois se considera um negócio que não requer maiores conhecimentos; no entanto, durante as atividades de abertura e posteriormente na fase operacional se compreende a magnitude real dos problemas de um restaurante. O que inicialmente parecia simples se torna muito mais complexo. Desafortunadamente, resultaem uma experiência dolorosa no momento em que a empresa se encontra em posição financeira delicada, derivada do desconhecimento do capital de giro e da atividade comercial do mercado. Outro ponto delicado que deve ser observado nos serviços de alimentação diz respeito à higiene de processamento, armazenagem e manipulação de alimentos. Um único problema de contaminação alimentar pode ter conseqüências desastrosas para o empreendimento. As empresas desse ramo devem buscar constantemente 14 padrões de higiene mais eficazes em cada etapa do processo de fornecimento, para diminuir a face vulnerável do negócio. Dessa forma, os procedimentos de higiene devem ser objetivos importantes no processo de treinamento de pessoal. As empresas ainda têm muitos outros problemas internos com armazenamento dos insumos, controle dos estoques, programação da produção e treinamento de pessoal. Além disso, geralmente, não utilizam um sistema de custeio nem programa para controle e garantia da qualidade. Os proprietários, envolvidos no stress do dia-a-dia e diante do desafio das mudanças estruturais extremamente necessárias, mostram- se “sem fôlego” para pensar no futuro (REBELATO, 1997). Rebelato (1997) expõe que o problema de não conhecer os custos significa ignorar a real lucratividade dos clientes, produtos e serviços. Os restaurantes comerciais são empresas que na grande maioria não dispõem de adequado sistema de custeio ou mesmo de mecanismo de apropriação de custos. Esse desconhecimento provoca desvios de caixa para fins não centrais ou estratégicos, podendo comprometer as oportunidades e revelando, por fim, o desvio de foco do negócio. Sobre esse aspecto o autor comenta que, das cerca de 430.000 empresas nacionais que se lançaram no mercado em 1992, 50% já estavam fora de seu negócio antes do primeiro ano de atividades. Ressalta que essa impressionante rotação indica a falta de preparo para as decisões estratégicas por parte dos empresários. Em meio a um ambiente competitivo e turbulento como o de hoje, as companhias precisam de uma estratégia que especifique o tipo de vantagem competitiva a ser perseguida no seu ramo de mercado, além de saber articular como esta pode ser obtida. Porém, essas estratégias dependem muito do controle das atividades e da análise de desempenho na busca pela otimização dos seus processos. 15 Sobre esse assunto, Bornia (2002) aponta, em relação à empresa moderna e o novo ambiente competitivo, que o controle efetivo das atividades produtivas é condição indispensável para que qualquer empresa possa competir em igualdade de condições com seus concorrentes. Sem esse controle, ou seja, sem a capacidade de avaliar o desempenho de suas atividades e de intervir rapidamente para a correção e melhoria dos processos, a empresa estará em desvantagem frente à competição mais eficiente. Na estrutura da gestão estratégica de custos, gerencia-los com eficácia exige um enfoque amplo externo à empresa. Porter (1989, p.31) denominou este enfoque de cadeia de valor: A cadeia de valor de qualquer empresa em qualquer setor é o conjunto de atividades criadoras de valor desde as fontes de matérias-primas básicas, passando por fornecedores de componentes e até o produto final entregue nas mãos do consumidor. Este enfoque é externo à empresa, vendo cada empresa no contexto da cadeia global de atividades geradoras de valor da qual ela é apenas uma parte, desde os componentes de matérias-primas básicas até os consumidores finais. Nota-se que no ramo alimentício existem algumas divergências nas empresas que nele atuam, pois os custos e os desperdícios representam diferentes enfoques e importâncias em cada uma delas. Por exemplo, um restaurante à la carte possui cardápio e quantidade das porções definidas, por isso necessita de uma quantidade menor de insumos, daí não haver desperdícios por excesso de fabricação, e o pouco que existe vem embutido no custeio do prato. Dessa forma, o cliente paga pela quantidade que consumiu e também pela que foi jogada fora. No entanto, se analisarmos um buffet por quilo ou por preço fixo, a importância dos desperdícios é indiscutível, uma vez que o número de clientes diário é muito relativo, variando até com o clima da cidade. Desse modo, a quantidade de comida é difícil de ser planejada, podendo sobrar pouco, muito, ou ainda exigir habilidades rápidas de reposição pela falta. Nesse caso, em que o cliente só paga o que consome, os excedentes dos pratos preparados acabam necessitando de estratégias criativas de aproveitamento. Se isso não ocorrer, os desperdícios serão de valor muito elevado, 16 afetando consideravelmente os custos finais e a sobrevivência da empresa, visto que não podem ser repassados aos clientes e nem elevar excessivamente o custo da refeição. Vê-se, pois, que os restaurantes precisam ser criativos e administrar seus custos estrategicamente, para desenvolver uma vantagem competitiva sustentável e um diferencial, oferecendo mais valor ao cliente por um custo equivalente, ou ainda, valor equivalente por um custo inferior. Com o objetivo de atender às necessidades de uma clientela bastante diversificada, identificam-se vários tipos de estabelecimentos que se destinam à produção e venda de alimentos, todos eles semelhantes no que diz respeito aos processos de compra, armazenamento, produção, gestão, distribuição e venda. Pacheco (2000, p.19) cita que “no Brasil, assim como em outros países, existem diversos tipos de restaurantes e similares que têm por finalidade oferecer aos seus clientes as mais variadas opções de atendimento no que se refere ao preço dos produtos, à qualidade das instalações e ao tipo de serviço”. Sobre essa tipologia, Fonseca (2002, p.17) cita que os restaurantes podem ser classificados levando-se em consideração o serviço ofertado. Assim, classificou-os em três grupos distintos. Esses grupos são os restaurantes que utilizam o método à la carte, o método de auto-serviço e o método direto ou repetitivo, a seguir explicitados. 2.3 Classificação dos Restaurantes 2.3.1 À La Carte Neste grupo encontram-se todos os restaurantes e casas de alimentação que utilizam o método à la carte para servir seus clientes. A característica marcante desse método é o cardápio sempre igual, pré-definido e oferecido diariamente, no 17 qual o cliente faz sua escolha em relação ao menu. Os restaurantes que atendem nessa modalidade trabalham com garçons ou atendentes de balcão para anotar os pedidos dos clientes, levá-los à preparação e os atendem até o momento do fechamento da conta. Os locais podem ser clássicos, requintados ou muito simples segundo o tipo das refeições servidas, que podem ser: pratos típicos, frutos do mar, regionais, massas, lanches, pizzas ou petiscos diversos. Apresentam o mesmo processo produtivo, diferenciando-se em relação à matéria-prima utilizada, aos cardápios oferecidos e, por conseqüência, alguns equipamentos de cocção. São vários os tipos de estabelecimentos que se destinam a esse conceito de gestão e atendimento, podendo ser divididos em subgrupos conforme as características de cardápio, horários e estilos de atendimento, bem como pela própria clientela, tendo- se entre eles: a) Restaurantes de Especialidades Caracterizam-se pelos cardápios típicos e específicos servidos, atendendo a clientes de diversas procedências e de diversas culturas. Geralmente são restaurantes mais requintados, porém alguns se apresentam de forma simples, tais como: Restaurante Internacional: são restaurantes, em sua maioria, localizados em hotéis ou em locais de hospedagem e que possuem cardápios com preparações reconhecidas e consagradas internacionalmente, desde as mais simples até as mais sofisticadas. São clássicos, com instalações, equipamentose utensílios de bom nível qualitativo. Oferecem serviço requintado e servem pratos da cozinha internacional, incluindo alguns pratos da cozinha brasileira de amplo consumo no mercado. Costumam apresentar música ambiente, piano-bar ou um simples piano. A carta de vinhos costuma ser bem representativa, sugerindo vinhos de diversas regiões, produtores e safras. (Pacheco, 2000) 18 Procuram atender a demanda de hóspedes de diversas procedências e culturas, os quais preferem pratos conhecidos por seu paladar, evitando muitas experiências gastronômicas, devido a problemas ocasionados com a mudança brusca de hábitos alimentares. Restaurante Gastronômico: caracteriza-se pela associação a um chefe de cozinha de renome e pelo cardápio com grande inventividade. Apresenta ambiente sofisticado, oferecendo pratos requintados da cozinha franco-italiana. Neles, os clientes experimentam diversos pratos, acompanhados de uma seleção de vinhos finos sugeridos pelo sommelier, profissional responsável pela elaboração da carta de vinhos, estoques e vendas desses produtos. O próprio chefe de cozinha costuma receber seus clientes, após reserva obrigatória, e aconselhar o menu, sendo essas as características marcantes do setor. Na Europa, conforme Fonseca (2002, p.18-19), “costuma estar fora dos centros urbanos e aproveitar alguns elementos regionais de arquitetura e decoração para compor seu ambiente, como, por exemplo, um moinho ou castelo”. São restaurantes de dimensões reduzidas. Oferecem geralmente entre 60 e 80 lugares, dificilmente ultrapassando os 100 ou 120. No Brasil, esses restaurantes encontram-se nos principais centros urbanos, diferentemente da Europa. Já nos Estados Unidos podem ser encontrados tanto em centros urbanos quanto em áreas mais distantes (FONSECA, 2002). Restaurantes Típicos: Segundo Pacheco (2000, p.20), “podem ser de várias categorias e caracterizam-se por sua decoração típica e pelos pratos que oferecem. Geralmente são originários de uma região ou de um país bem marcados”. Normalmente apresentam as seguintes variações: • País – Apresenta preparações representativas da culinária específica de um determinado país, como japonesa, francesa, italiana, alemã, etc. 19 • Região – Apresenta preparações da culinária de determinada região de um país, como baiana, mineira, gaúcha, etc. • Gênero – Especialização em um gênero específico da culinária ou cultura de um país ou região, como os restaurantes macrobióticos, vegetarianos, créperies, entre outros. Casual Dinning: são restaurantes com características de coffee shops mesclados com fusion foods e grill. Apresentam cardápio mais representativo em termos gastronômicos, utilizando elementos de diversas culturas. Apresentam cardápio com preparações leves e rápidas. O serviço é atencioso e eficiente, em que se misturam características de um restaurante tradicional com um coffe shop. (FONSECA, 2002). Fusion Food: para Fonseca (2002, p.21) “a culinária de fusão ou sua versão em inglês, como é mais conhecida a fusion food, é a mescla entre elementos de várias culturas. Esses elementos podem ser diversos, como métodos de cocção, apresentação dos alimentos, molhos ou ingredientes”. Mesclam-se esses elementos para obter um resultado único, diferente e inusitado. Porém, depende de muito conhecimento e prática para combinação de insumos corretos para produzir pratos diferenciados e não exagerados. Cantina Italiana: conforme Pacheco (2000, p.21): É um restaurante típico italiano, de categoria e tamanho médios, geralmente instalado em antigas casas de residência, reformadas para comportar instalações, móveis e equipamentos de produção e venda de alimentos e bebidas. Sua decoração baseia-se em elementos típicos do sul da Itália, mais especificamente das cidades de Nápoles, Bari, Veneza e Roma. Essas cantinas geralmente servem cardápios à la carte oferecendo massas de um modo geral. Mas no Brasil também oferecem pratos com elementos mais variados, tais como pães, queijos, frios e pastas. 20 Casas de Sucos e Vitaminas: esses estabelecimentos tiveram uma grande expansão nos últimos anos, motivados pela valorização dos produtos naturais. Oferecem sucos, vitaminas e bebidas à base de leite ou água, produzidos a partir de frutas frescas ou polpas congeladas. Na Europa, estão associadas ao comércio de frutas exóticas (FONSECA, 2002). Vegetariano ou Natural: são restaurantes especializados em servir alimentos vegetais não derivados de carnes. Esses estabelecimentos destinam-se a atender clientes com hábitos alimentares vegetarianos, bem como pessoas que procuram alimentos mais leves e menos calóricos, sem uso de agrotóxicos. Oferecem ainda uma diversidade de sopas, caldos e alimentos derivados da soja. b)Estabelecimentos Noturnos Brasseries: são restaurantes e casas de bebidas ao mesmo tempo. Típicos da Baviera, passaram a ter expansão na Alemanha, Bélgica, França e Suíça, chegando ao Brasil, por intermédio de imigrantes alemães, devidamente ambientados e rebatizados de choperia. As brasseries européias possuem geralmente dois salões, um para serviço de bebidas, principalmente chope, e outro para os serviços de refeições, que incluem pratos variados e típicos (FONSECA, 2002). Choperias: as brasileiras são adaptações das brasseries européias, com significativa alteração no cardápio. Em vez de oferecer produtos típicos como chucrute oferecem batatas fritas, provolone à milanesa, calabresa, frango a passarinho, polenta frita, entre outros petiscos que acompanham bem as bebidas de maior destaque, cerveja e chope. As choperias não fazem diferenciação entre os salões, servem comidas e bebidas em um único ambiente (FONSECA, 2002). Casas Noturnas: aparecem constantemente nos grandes centros urbanos e turísticos. São lugares de distração, onde se encontra todo tipo de atrações, 21 espetáculos, variedades, música, danças, bebidas e comidas. Esses espaços têm se tornado ao longo do tempo cada vez mais multifuncionais, devido à diversificação de seus freqüentadores. Isso redundou em opções de ambientes para cada finalidade, todos integrados, e ainda agregando outros serviços, como restaurantes. Para que um maior número de clientes possa encontrar em um mesmo lugar muitas opções de lazer, oferecem serviços diversos e adaptam seus espaços, gerando uma receita maior (PACHECO, 2000). c) Alimentação Rápida (Fast-Food) Segundo Fonseca (2002, p.22), “os restaurantes de fast-food – comida rápida – podem apresentar diversas caracterizações. Todas, porém, têm um aspecto principal, que está representado em seu nome: rapidez no serviço”. Existe, ainda, toda uma dinâmica para facilitar e agilizar o processo. Assim, os produtos são vendidos de forma simples, os métodos são fáceis e descomplicados, procurando atender rapidamente às necessidades de seus clientes. Alguns conceitos de fast-food são: Coffee Shop: são restaurantes com cardápios de fácil preparação e apresentações simples. Costumam estar localizados em hotéis e aeroportos com atendimento 24 horas, pois são pontos de venda onde se pode comer a qualquer hora uma comida leve e rápida, em razão da sua clientela ter horários extremamente variados. Oferecem em seus cardápios salgados, cafés e chás, sucos, lanches, pratos grelhados, sopas, massas e sobremesas. Atendem no método à la carte para facilitar o atendimento, o preparo e diminuir desperdícios com comidas elaboradas em grande variedade e quantidade (FONSECA, 2002). Lanchonetes: como o próprio nome diz, é uma casa especializada em lanches e pratos rápidos, além de bebidas. As lanchonetes possuem ambientação um pouco 22 mais simples que os coffee shops e não são encontradas em hotéis. Seu cardápio, geralmente, dá mais ênfase a sanduíchese petiscos. Simples ou sofisticada, a lanchonete é uma opção para quem quer comer rápido e gastar pouco, tanto que possui um serviço bem mais informal. (PACHECO, 2000). Catering: conforme Fonseca (2002, p.26), “são empresas especializadas em preparação de alimentação em meios de transporte, com exceção de navios. Fornecem para trens, ônibus intermunicipais ou interestaduais, ou ainda internacionais, e aviões”. Essas empresas têm estrutura muito bem montada, preocupando-se com padrões de higiene muito altos e atenção aos processos, bem como pela presença indispensável de chefes de cozinha e nutricionistas para o planejamento e gerenciamento da produção e das matérias-primas, como ainda pela preocupação com a apresentação e variedade dos alimentos. Trabalham com volume de alimentos muito grande, por isso é indispensável a preocupação em saber onde o passageiro será servido. As etapas de embalagem, reaquecimento, armazenamento devem ser estudadas e os cardápios, desenvolvidos para que a apresentação e o sabor se mantenham impecáveis. Restaurante de Auto-Estrada: segundo Pacheco (2000, p.20), “essa variedade de restaurante, com serviço simples e rápido, situa-se à beira de grandes rodovias e é destinado aos motoristas que desejam fazer uma refeição ligeira ou simplesmente tomar café ou outra bebida”. Rotisseries: são casas de massas frescas ou italianas, que vendem pratos prontos e para viagem, carnes assadas ou grelhadas, massas e molhos prontos. Surgiram para suprir a demanda de um segmento da classe média alta, em decorrência da diminuição ou do alto custo de mão-de-obra preparada para os serviços de alimentação doméstica, ou como alternativa às refeições nos restaurantes. 23 Sobre essas casas, Fonseca (2002, p.27) aponta: Algumas dessas casas são ainda especializadas em um ou outro tipo de comida, de determinada região, outras vendem dois ou três tipos de refeições e diversas guarnições, entradas, antepastos e pães especiais. Essas casas foram as primeiras a vender refeições pelo peso; pagava-se o valor correspondente à quantidade levada. Doçarias: as doçarias, apesar do nome, além de uma variada gama de doces finos, chocolates, tortas, bolos, apresentam também salgadinhos, queijos, sorvetes e produtos de panificação, os quais podem ser consumidos no local ou levados pelo cliente. Podem variar muito em relação ao porte. Podem ser muito pequenas como quiosques em shopping centers, ou grandes lojas, pertencentes a redes de doçarias. Sorveterias: os sorvetes artesanais são o grande diferencial desse segmento. Para melhor rentabilizar seus empreendimentos, transformaram-nos em doçarias, ou até mesmo em lanchonetes, para minimizar a sazonalidade da venda de seus produtos, maximizar seus recursos e custos e garantir a sobrevivência durante os períodos de inverno, principalmente em cidades onde o clima se apresenta muito variável (FONSECA 2002). Drugstores: Fonseca (2002, p.29) assim define: Na América do Norte e Grã-Bretanha, esse nome designa um conjunto de drogaria/farmácia/casa-de-especiarias e snack-bar, onde se encontra de tudo para a maioria das situações emergenciais. No Brasil, surgiram com o nome de lojas de conveniência, onde se encontra de uma torta pronta para comer até uma aspirina, ou um alicate de unha. 2.3.2 Auto-Serviço Esta modalidade surgiu para atender à necessidade de uma alimentação mais variada e rápida, em que o serviço é assumido em sua maioria ou quase totalidade pelo cliente. Reduz os custos e, por conseguinte, os preços e aumenta a rapidez no serviço. Está ganhando uma parcela cada vez maior de mercado em todo o país. Evolui em termos de oferta e atendimento, em função da necessidade e 24 conveniência também crescente da população, que atualmente trabalha de forma exaustiva, depende de horários e não tem mais tempo de ir a casa almoçar, jantar, lanchar e até mesmo tomar café pela manhã, devido também às distâncias e congestionamentos, nas grandes cidades principalmente (FONSECA, 2002). Esses estabelecimentos surgiram para atender às necessidades cotidianas dos consumidores, variando em suas apresentações para satisfazer a diferentes parcelas do mercado. Apresentam o mesmo processo produtivo, variando somente em relação à elaboração de cardápios, ao preço ofertado, bem como na diversificação e quantidade de pratos quentes e frios. Dentro desse parâmetro, destacam-se os seguintes tipos de estabelecimentos: a) Restaurante Tradicional: apresenta como principais características um cardápio extenso, com preparações tradicionais e de aceitação geral. São restaurantes que servem a um público extremamente eclético, podendo atender desde as expectativas de uma criança até as de um senhor com idade avançada. Sua decoração é normalmente simples e tradicional, utilizando-se de louças e enxoval sem luxo ou sofisticação (PACHECO, 2000). b) Grill: segundo Fonseca (2002, p.19), “são casas especializadas em grelhados, já que grill é palavra de origem inglesa que significa grelha, equipamento utilizado para assar carnes”. Esse tipo de restaurante, que normalmente apresenta ambiente elegante, teve em meados de 80 uma grande expansão, por oferecer um produto diferenciado das então churrascarias do tipo rodízio. Oferecem cortes nobres, apresentados com guarnições bem trabalhadas, juntamente com uma mesa de frios farta, ingredientes finos e bem expostos, na qual são também encontrados frutos do mar, legumes, presuntos e queijos. 25 Trata-se de um produto de fácil aceitação e de grande variedade de opções, haja vista que homens, mulheres, crianças e idosos podem compor sua refeição da maneira que melhor lhes aprouver. Pode-se compor uma refeição muito bem equilibrada sob o ponto de vista nutricional e dietético, utilizando-se das mesas de saladas em combinação com os grelhados, método que utiliza pouca gordura na cocção. c) Self-Service: Fonseca (2002, p.23-24), assim define: Esta modalidade surgiu para atender a necessidade de uma alimentação mais variada e rápida, em que o serviço é assumido em sua maioria ou quase totalidade pelo cliente, evidentemente com a intenção de reduzir custos e, por conseguinte, os preços, aumentando a rapidez no serviço. Visa principalmente a clientela que possui uma limitação de tempo ou de orçamento para suas refeições, nos centros comerciais ou em localidades com grande afluxo de turistas. O cardápio desse tipo de restaurante é muito variado, tanto em relação à quantidade de pratos, quanto à diversificação em período de tempo, em função de atender a uma clientela regionalizada. A fidelidade deve ser conquistada, não gerando repetições exaustivas no cardápio. Nessa modalidade, atualmente, está sendo muito utilizado o sistema por quilo. O cliente, após servir-se à vontade tanto no buffet de saladas quanto nos pratos quentes, passa por uma balança onde sua refeição é pesada e pagará somente pelo que consumir. Foi idealizado para baratear o preço final ao consumidor. Esse sistema de pagamento passou a existir após 1990. Até então o serviço era cobrado através de uma taxa única a preço fixo por pessoa, independentemente do número de vezes que o cliente fosse até o balcão ou da quantidade de alimentos que consumisse. Por mais que o sistema por quilo seja mais ágil, é muito difícil evitar filas em horários de pico diante das balanças e do caixa (FONSECA, 2002). 26 Segundo Rebelato (1997): Os restaurantes self-service na modalidade ‘por quilo’ evoluíram e se superaram no momento em que uma demanda mais sofisticada foi se revelando e os estabelecimentos foram descobrindo uma ótima oportunidade a ser explorada. O eixo da estratégia competitiva deixou de ser apenas o preço e passou a valorizar mais a qualidade. Esse sistema surgiu para supriras deficiências do sistema à la carte, que é muito lento do ponto de vista do atendimento, além de ter maiores custos de operação, acarretando preços mais altos para o consumidor. O sistema “por quilo”, pela própria velocidade do atendimento, com um alto giro de vendas, barateia o custo de manutenção da estrutura de fornecimento, provando que, neste tipo de indústria, a economia de escala é primordial para garantir uma boa rentabilidade. Pode trabalhar sem garçons ou com pequeno número deles, servindo apenas as bebidas e retirando os pratos. A mesa de refeições utilizada é bem pequena. É necessário que comporte apenas uma bandeja com o prato, copo, sobremesa e bebida, permitindo a maximização do espaço do salão e da capacidade de atendimento a clientes. É o sistema que melhor se adapta às necessidades culturais e sociais brasileiras no tipo refeição rápida, considerando-se que o hábito da grande maioria dos brasileiros é almoçar com arroz e feijão. Preenche uma lacuna que as cadeias de fast-food não preencheram e os restaurantes self-service souberam aproveitar (REBELATO, 1997). d) Restaurantes de Coletividade: sobre esta especialidade Fonseca (2002, p.24), assim se manifesta: Trata-se de restaurantes situados em prédios ou complexos industriais ou comerciais, com o intuito de oferecer alimentação para os empregados da respectiva empresa. Esse tipo de restaurante possui uma responsabilidade muito grande perante os comensais e a empresa, pois sua clientela é cativa e muitas vezes responderá pela quase totalidade das alimentações do trabalhador. Normalmente atendem a um grande número de pessoas, haja vista que as empresas que possuem número menor de empregados oferecem vales de alimentação, com custos mais acessíveis para uma escala menor. O cardápio deve ser muito bem balanceado a fim de atender às necessidades nutricionais dos diferentes níveis da empresa e suas respectivas necessidades calóricas. 27 O serviço é necessariamente simples; em grande parte, auto-serviço. Na maioria das vezes, a refeição é subsidiada pela empresa, que cumpre sua obrigação de empregadora e além disso recebe incentivos fiscais, tais como redução proporcional no imposto de renda a ser recolhido. Existem várias composições para esses restaurantes. Algumas empresas mantêm para os executivos um restaurante privativo, mais requintado, que pode ser tanto um self-service quanto um à la carte. Outras, entretanto, fazem questão de não discriminar seus funcionários e servem a mesma alimentação para todos os níveis hierárquicos. e) Buffets: são empresas especializadas no fornecimento de serviços de alimentação em domicílio ou em lugar definido pelo cliente, ou ainda no espaço reservado para um evento específico. Podem ser de maior ou menor porte e requinte. Geralmente têm condições de comportar simultaneamente diversos eventos (FONSECA, 2002). Quase sempre têm salões próprios, de tamanhos variados, bem como toda a estrutura para a realização dos mais diferentes tipos de festas. Porém, é importante que as atividades sejam bem planejadas e executadas com a maior atenção possível. De sua eficiência dependerá o sucesso do evento, o qual muitas vezes representa festividades de grande valor emocional para o cliente, como festa de casamento, de debutantes, de bodas, de formatura ou outras comemorações. f) Casa de Chá: segundo Fonseca (2002, p.28): É uma casa especializada em chás e cafés, mas também serve salgadinhos, doces, bolos, tortas, lanches e outras bebidas. Seu maior movimento concentra-se nos finais de tarde; muitas vezes promove chás beneficentes com shows e desfiles de moda. Normalmente possui ambientação em estilo colonial, com clientela bem diversificada, uma vez que os produtos servidos são de fácil aceitação por qualquer faixa etária. 28 2.3.3 Direto ou Repetitivo Classificam-se neste grupo todos os estabelecimentos que oferecem sempre os mesmos pratos e nos quais o serviço prestado é sempre igual. Normalmente são representados por rodízios, no qual são servidos vários tipos de alimentos de uma mesma espécie, tais como: carnes, massas, pizzas, frutos do mar e outros, diferenciando-se na apresentação e sabor por processos de cocção diferentes, como picanha alho e óleo, assada, na chapa, ao molho. Alguns restaurantes de coletividades também podem pertencer a este grupo quando oferecem em sua alimentação somente os elementos básicos de uma refeição. Possuem vários garçons, que circulam pelas mesas dos clientes oferecendo tipificações alimentícias. Geralmente são representados pelos seguintes tipos de restaurantes: a) Churrascaria: conforme Pacheco (2000, p.21): Trata-se de um tipo de restaurante especializado em churrascos e pode ser de várias categorias, da mais simples a mais requintada. Seu cardápio apresenta diversos tipos de carnes assadas na brasa, além de guarnições e outros acompanhamentos. Existem basicamente três tipos de serviço nas churrascarias: à la carte, rodízio ou espeto corrido e self-service. b) Pizzaria: caracteriza-se neste segmento por ser uma casa especializada em pizzas, mas às vezes serve outros tipos de produtos, como churrascos e pratos à la carte. Podem ser simples ou sofisticadas e, mesmo sendo servidas em diferentes sabores e tamanhos, representam tradicionais cardápios, repetitivos em quaisquer estabelecimentos do setor, mudando somente a qualidade devido ao estilo de produção. 29 No Brasil está crescendo o número de pizzarias em sistema de rodízio. Além dos diversos sabores das pizzas, podem oferecer também em seu rodízio outros tipos de massas, como calzones, lazanhas, espaguetti, nhoque, empadões e outras especialidades. c) Frutos do Mar: são restaurantes que oferecem seqüência de frutos do mar, ou somente de camarão em seus vários tipos de preparação. No Brasil estes restaurantes são muito comuns em cidades litorâneas, como Fortaleza, Recife, João Pessoa, Florianópolis, Salvador. Podem ser representados também por outras especialidades atendendo tipificação de outros países, regiões ou outros fatores determinantes e variam de acordo com a região e o ambiente. (FONSECA, 2002) 2.4 Considerações Finais Neste capitulo apresentou-se uma abordagem sobre alimentação fora do lar, surgimento dos restaurantes, tipologia e classificação desses estabelecimentos. Observa-se que a alimentação fora do lar deixou de ser uma opção de lazer e passou a ser uma questão de necessidade. Atualmente, é uma tendência dentro do que se pode chamar de terceirização dos serviços familiares acompanhada pelo surgimento de outros serviços, tais como: venda de comida congelada, entrega de pizzas a domicílio e outras facilidades. Esses serviços surgiram recentemente, mas eram executados, tradicionalmente, dentro do lar, pelas mulheres que, em função do novo papel assumido no contexto atual da sociedade, passaram a buscar independência econômica e realização profissional por meio de um trabalho remunerado, bem como pela forte necessidade de auxílio financeiro familiar, em virtude das diversas ocorrências políticas e governamentais que vieram a alterar as necessidades básicas de sobrevivência e bem estar da sociedade. Deixam então de exercer atividades domésticas caracterizadas como não lucrativas. 30 Hoje, os self-service representam uma nova tendência no ramo e absorvem principalmente os clientes rotineiros, que necessitam alimentar-se fora de casa pela não-compensação entre custo, horário para refeição e volta ao trabalho. Esses restaurantes também apresentam complexidade maior de gestão e preparação dos alimentos. Precisam produzir quantidades de difícil previsão e controle, necessitando de planejamento criterioso para atender a possíveis faltas durante o horário de atendimento, bem como o reaproveitamentode sobras significativas. Observa-se, ainda, que as choperias e lanchonetes possuem maior facilidade no processo de gestão e preparação, visto que trabalham com solicitações de pedidos e produtos pré-preparados. Na hora do atendimento é necessário somente o processo de cocção, que varia conforme o produto solicitado. Esses estabelecimentos, geralmente, preferem trabalhar com produtos terceirizados, dispensando o processo produtivo dos alimentos por não compensar, muitas vezes, o custo-benefício dessa atividade, que agrega despesas com funcionários, processo exaustivo de compras, recebimento e estocagem de materiais. Em relação aos restaurantes do segmento à la carte, vê-se que apresentam também certa facilidade no processo de gestão, visto que trabalham com o sistema de solicitação de pedidos, havendo menores desperdícios e maior aproveitamento dos insumos. Para uma melhor compreensão das características do segmento auto-atendimento (self-service), bem como das dificuldades enfrentadas por eles, serão apresentadas, no Capítulo 5, a pesquisa exploratória realizada junto a uma amostragem de restaurantes selecionados e a análise dos resultados. 31 3. ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS E OS GRUPOS ESTRATÉGICOS 3.1 Introdução Nas últimas décadas, as empresas têm vivido um acirramento enorme das suas condições concorrenciais. Esse fenômeno tem sido agravado pelo que se denominou de “globalização”, ou seja, a capacidade de qualquer organização, localizada em qualquer região do planeta, ter acesso quase que instantâneo a mercados, recursos, informações e tecnologia localizados por vezes a milhares de quilômetros de distância. O acirramento da concorrência trouxe consigo uma pressão competitiva cada vez maior sobre as empresas, onde a busca crescente por maior eficiência operacional tem levado a uma onda crescente de fusões, aquisições e incorporações e à redução contínua de custos (especialmente de mão-de-obra empregada), em busca do que Porter (1998) chama de fronteira da produtividade, ou seja, a melhoria contínua da eficiência organizacional. Por quase duas décadas, as organizações têm aprendido a jogar com uma nova série de regras. Elas precisam ser flexíveis para responder rapidamente às mudanças competitivas e de mercado. Precisam comparar e melhorar seu desempenho continuamente para adquirir a melhor prática e precisam ainda buscar informações agressivamente para ganhar eficiência e gerar algumas habilidades essenciais na corrida para estar à frente das rivais. Neste capítulo será realizada uma revisão bibliográfica acerca dos temas que serão necessários ao alcance dos objetivos propostos. Serão abordados temas relacionados a: • Estratégias e seu processo de elaboração dentro das empresas; • Tipos de estratégias propostos por Miles&Snow, Ansoff, Mintzberg e Porter; 32 • Análise estrutural da indústria; • Grupos estratégicos; e • Cadeia de valores. 3.2 Estratégia Empresarial Os primeiros registros do termo “estratégia” datam mais de dois mil anos. O assunto tem sido abordado por diversos segmentos da sociedade, como também pela comunidade científica. Estratégia é uma palavra que vem sendo utilizada com maior freqüência em administração, a partir dos anos 80. No entanto, o conceito por trás dela não é novo, sobretudo em outras áreas da atividade humana. (Quinn apud Mintzberg e Quinn, 1992). Para maior clareza do significado da palavra “estratégia”, serão apresentadas duas abordagens em que esse termo é utilizado. A primeira abordagem, denominada por Quinn (1980), é aquela estratégia utilizada pelos militares como sendo clássica. A outra abordagem é considerada por Mintzberg (1988), como sendo contemporânea. 3.2.1 Abordagem Clássica A palavra estratégia alcançou muita evolução de uso, surgiram muitas definições para o termo. Sua origem é grega e vem da palavra “strategos”, que significa a “Arte do General” (Quinn, Mintzberg e James, 1988). Nesse sentido, o significado literal mostra o modo de atuar nas batalhas para vencer a guerra. O resultado prático da estratégia, no sentido militar, consiste em enfraquecer o ânimo e disposição das frentes de combate, a quebra da organização das forças oponentes. (LOPES, 1978). Ainda na linha militarista, vale a pena citar o conceito dado pela Escola Superior de Guerra: “a estratégia geral é a arte de fortalecer e aplicar, tanto na paz quanto na 33 guerra, o poder nacional para superar ou vencer, em certos casos diferindo ou contornando...”. Silva (1981, p.153) conceitua: “Estratégia poderia ser definida como a arte de superar ou vencer antagonismos, atuais ou potenciais, desfavoráveis à consecução ou salvaguarda”. Esses antagonismos seriam entre duas vontades oponentes, podendo essas ser individuais ou coletivas, e os antagonismos poderiam ser de idéias, valores, objetivos e fins. 3.2.2 Abordagem Contemporânea Dentro do conjunto, uma palavra pode ser usada de diversas maneiras, dependendo do contexto em que se encontra. Mintzberg adotou cinco definições formais de estratégia, que são: plano, manipulação ou manobra, padrão realizado, posição e perspectiva. (Quinn, Mintzberg e James, 1988, p.13). A seguir, serão abordadas cada uma das definições acima: Estratégia como plano: significa que existe um caminho a ser conscientemente seguido, ou seja, há uma linha guia, ou várias delas, que conduzirá determinada situação. Esses planos podem ser estabelecidos de forma explícita em documentos formais ou não, gerais ou específicos, e as estratégias são deliberadas. Estratégia como manipulação: como o próprio nome diz, significa uma manobra intencional para enganar um oponente ou competidor. É uma estratégia do tipo deliberada. Estratégia como padrão realizado: é aquela ocorrida, encontrada ou realizada independentemente de ter sido pretendida ou não. Essa estratégia possui um comportamento emergente. Estratégia como posição: é aquela que interage ou faz a mediação entre a empresa e o ambiente. Nas palavras de Holfer&Schendel (1978, p.4), “é um conjunto entre organizações e meio, isto é, um conjunto entre o contexto interno e externo. Essa 34 estratégia é importante pela relatividade das coisas ou fatos”. Segundo Rumelt (1979, p.197), “o que é estratégia para uma pessoa é tática para outra – aquilo que é estratégico depende do tempo de ocorrência ou de análise: o que parece tático hoje poderia ser estratégico amanhã, e vice-versa”. Estratégia como perspectiva: é um modo muito arraigado de concepção do mundo. Essa concepção de mundo, ou seja, essa forma de enxergar as coisas está presente no interior da organização. Estratégia é uma perspectiva conceitual, partilhada pelos membros (agrupados ou não) de uma organização por meio de suas intenções ou por suas ações. Ainda segundo Mintzberg et al. (2000), talvez não haja uma definição simples de estratégia, mas existem algumas áreas gerais de concorrência à respeito de sua natureza. São elas (adaptado de Chaffee apud Mintzberg et al., 2000): a estratégia diz respeito tanto à organização como ao ambiente; ela é complexa, pois as mudanças podem modificar as organizações; afeta o bem-estar da organização; envolve questões de conteúdo e de processo; geralmente não são realizadas totalmente como estipulado; existem em níveis diferentes (corporativo e de negócios); e, por último, a estratégia envolve vários processos de pensamento, ou seja, exercícios conceituais e analíticos. No que diz respeito às diversas definições atribuídas ao termo estratégia, apresentam-se algumas dentro da vasta literatura, de acordo com a visão dos autores. Chandler (1962) definiu estratégia como a determinação dos objetivos básicos de longo prazo e a adoção de cursos de ação e alocação de recursospara alcançar os objetivos. Essa é uma definição ampla de estratégia, a qual inclui o próprio objetivo mais os meios de como conseguir atingir o objetivo. Por outro lado, Kreikebaum (1988) denota que a estratégia indica como a empresa utiliza seus pontos fortes e fracos para aproveitar oportunidades e evitar ameaças, levando em conta seus 35 objetivos. Essa é uma definição de estratégia no sentido restrito, mostrando que a estratégia vem a ser os meios para atingir os objetivos almejados. Para Andrews, Christensen, Bower, Hamermesh e Porter (citados por Mintzberg et al.,2000, p.28), a estratégia é vista como “a união entre qualificações e oportunidades que posicionam uma empresa em seu ambiente”. Porter (1996) e Mintzberg et al. (2000) afirmam que a estratégia é a escolha de uma posição única e valiosa baseada em sistemas de atividades que são difíceis de copiar e que agregam valor. Para Shumpeter (apud Mintzberg et al., 2000) e Drucker (1980), a estratégia pode ser vista como novas combinações que visam explorar oportunidades novas e diferentes no futuro. Senge (1990) e Quinn (também citado por Mintzberg et al., 2000), afirmam que a estratégia é um processo de aprendizado, tanto individual como coletivo, ou seja, a estratégia pode fazer com que a organização aprenda ao longo do tempo. De acordo com Ansoff (1999, p.70), no contexto gerencial, estratégia significa “um conjunto de regras de tomada de decisão para orientação do comportamento de uma organização”. Scully (1991) apud Kotler (2000), ao transpor esse constructo para o marketing, diz que estratégia de marketing é uma série de ações integradas que levam a uma vantagem competitiva sustentável. Cada definição adiciona importantes elementos à discussão do conceito de estratégia, como será apresentado a seguir. Como plano, introduz a noção de intenção e enfatiza o papel de liderança consciente. Como padrão realizado, focaliza a ação efetiva (comportamento realizado) e introduz a noção de que estratégia pode emergir. Como posição, introduz o contexto ambiental encorajando a considerar 36 questões de competição, cooperação e podendo reforçar a importância da manipulação. Como perspectiva, observa-se que estratégia nada mais é do que conceito focando o aspecto interno da organização. (QUINN, MINTZBERG e JAMES, 1988). De acordo com o que foi exposto anteriormente, pode-se verificar que existem diversas definições atribuídas ao termo estratégia, complementando-se umas às outras. As empresas são mais que um conjunto de bens e serviços, ou seja, também são sociedades humanas, por isso desenvolvem formas diferentes de cultura. Assim, como toda empresa possui uma linguagem própria, elas adotarão estratégias que estão de acordo com a sua cultura, com seus líderes, com seus funcionários e o ambiente em que estiverem inseridas. 3.3 Formação de Estratégias Segundo Porter (1991), os organismos de produção em geral assumem estratégias competitivas, sejam elas formuladas de maneira explícita (processo de planejamento) ou implícita (atividades desenvolvidas pelos próprios departamentos da empresa). Uma estratégia pode ser elaborada de duas formas: deliberada e emergentemente (Mintzberg et al., 2000). A estratégia deliberada focaliza o controle. É dessa forma que as empresas implantam estratégias conforme o planejado. Já a estratégia emergente focaliza o aprendizado. É quando as empresas implantam estratégias que não estão previamente estabelecidas em um plano. Os autores afirmam que as estratégias eficazes surgem da mistura entre estratégias deliberadas e emergentes, de maneira que reflitam as condições existentes, que tenham capacidade para prever e reagir a eventos inesperados. No entanto, ainda na visão de Mintzberg et al., (2000), existem diversas formas de elaboração e implementação de estratégias, todas refletindo-se na prática gerencial, focalizando, cada uma, um aspecto importante nesse processo. A seguir, serão 37 expostos pontos de vista apresentados por Mintzberg et al., (2000) acerca do processo de formulação e implementação de estratégias. Inicialmente, tem-se a noção de SWOT como um meio para a formação de estratégias. A noção de SWOT propõe uma avaliação dos pontos fortes e dos pontos fracos da organização, à luz das oportunidades e das ameaças em seu ambiente. O modelo dá mais ênfase às avaliações das situações externa e interna porque considera esses fatores como importantes para a formação da estratégia (ANDREWS, SELZNICK, CHANDLER, apud MINTZBERG et al., 2000; e PORTER, 1991). Os pontos fortes e fracos a serem avaliados nas empresas podem ser relacionados a marketing, pesquisa e desenvolvimento, aos sistemas de informações gerenciais, às finanças, recursos humanos, etc. Relativamente às oportunidades e ameaças a serem levadas em consideração, podem ser citadas mudanças, quais sejam: sociedade, governo, legislação, economia, competição, fornecedores, mercados, concorrentes e avanços tecnológicos, etc. Existem, ainda, outros fatores considerados importantes para a formação de estratégias, estes chamados de valores gerenciais, crenças e preferências daqueles que lideram formalmente a organização, e responsabilidades sociais, especificamente os valores éticos da sociedade na qual a organização opera. Posteriormente à verificação das estratégias alternativas segue-se com a avaliação e a escolha da melhor. As estratégias resultantes desse processo devem ser únicas, simples, explícitas e deliberadas. Há outra forma de se formular a estratégia, que é mediante um processo de planejamento, extremamente formal, mais conhecido como planejamento estratégico. Esse plano envolve os fatores anteriormente citados sobre a formulação de estratégias. Entretanto, o modelo SWOT é dividido em etapas claramente delineadas, articulando-se cada uma delas com uma lista de verificação e técnicas, 38 na qual será dada atenção especial à fixação de objetivos no início e à elaboração de orçamentos e planos operacionais no final do planejamento. Nesse caso, as estratégias precisam ser deliberadas e explicitadas, para que possam ser implementadas pela organização (STEINER e ANSOFF, apud MINTZBERG et al., 2000; GOOLD&CAMPBELL, 1998). Porter (1991, p.15) relata que: O desenvolvimento de uma estratégia competitiva é, em essência, o desenvolvimento de uma fórmula ampla para o modo como a empresa irá competir, quais deveriam ser suas metas e as políticas necessárias para levar-se a cabo estas metas. Por conseguinte, para elaboração de estratégias torna-se necessário analisar os ambientes interno e externo da organização, como também os valores pessoais dos principais implementadores e as expectativas da sociedade. A estratégia de uma empresa, segundo Porter (1991), deve ser baseada na estrutura do mercado no qual as empresas operam. Essa visão envolve a questão do posicionamento da empresa em determinado setor, não dando muito valor às capacidades internas da empresa, deixando a estratégia com um foco muito estreito. Existem autores que concordam com Porter a respeito do posicionamento: “...o posicionamento permitirá que você conquiste e mantenha uma vantagem competitiva no mercado global dos nossos dias”. (Tweed, 1998, p.81, Ries e Trout apud Milunovich, 1997), também afirmam que o posicionamento pode conquistar um lugar na mente do consumidor e assim a empresa pode se diferenciar de seus concorrentes. O resultado desse processo resulta em posições genéricas planejadas. As estratégias nesse modelo são deliberadas e explícitas antes de sua implementação formal (MINTZBERG et al., 2000). O processo de formação de estratégias também pode ser de uma representação mental da estratégia. Segundo Mintzberg et al., (2000), a intuição, a sabedoria, a39 experiência e a inspiração levam a uma visão. As empresas que utilizam a visão para a formação de estratégias geralmente têm como resultado um processo deliberado e ao mesmo tempo emergente, por meio do qual a geração das estratégias é denominada pela busca constante de oportunidades, centralizada nas mãos do executivo principal. Mintzberg e Drucker apud Mintzberg et al., (2000) caracterizam essas organizações como empreendedoras, ou seja, o espírito empreendedor é a própria organização. As estratégias também podem ser formadas através de um processo de negociação. Esse processo enfatiza o uso do poder e da política para negociar as estratégias entre indivíduos, grupos e coalizações. As estratégias resultantes desse processo são emergentes e deliberadas (MINTZBERG et al., 2000). Quando as empresas utilizam-se da psicologia cognitiva, a formação das estratégias segue um processo mais mental e menos formal. As estratégias resultantes desse processo são emergentes e as mudanças nessas organizações são pouco freqüentes (MINTZBERG et al., 2000). Recentemente surgiu outro ponto de vista que é o da organização que aprende. Nesse caso, a formação de estratégias não está separada da implantação delas, ou seja, não existe uma dissociação entre pensar e agir. O fato é que em uma organização que aprende todas as pessoas que fazem parte da organização podem contribuir para o processo de criação das estratégias. A organização tem a possibilidade de experimentar e, conseqüentemente, aprender. Assim, a formação das estratégias passa a ser um processo de aprendizado coletivo e contínuo ao longo do tempo. As estratégias provêm de um processo emergente e informal e a mudança é permanente (MINTZBERG et al., 2000). Mintzberg (1998) afirma que a imagem de uma criação artesanal é a que melhor representa o processo de criação de uma estratégia, pois nesse caso a aprendizagem é contínua. 40 Outros autores concordam com a questão do aprendizado dentro das organizações. Prahalad&Hamel (1998) afirmam que o aprendizado depende das capacidades dinâmicas de uma organização. Essas capacidades favorecem identificar, cultivar e explorar as competências essenciais de uma organização e tornam o crescimento possível. Senge (1990) diz que as pessoas são o recurso mais precioso da empresa. Quinn et al., (1998) levantaram a questão do aprendizado e do conhecimento como de extrema importância para o processo de formação de estratégias. Sobre a elaboração de estratégias outros autores afirmam que ele surge da cultura, que o processo passa a ser coletivo e visa o interesse comum. Rhenman e Norman apud Mintzberg et al., (2000) afirmam que o processo de formação de estratégias provém de valores, crenças, mitos, ideologias, etc. No entanto, o processo básico nesse caso é ideológico e deliberado e a mudança é muito rara. Algumas organizações passam o tempo todo reagindo ao ambiente. A formação das estratégias nas organizações é uma espécie de espelho, ou seja, coloca-se o ambiente ao lado da liderança e da organização. O ambiente é considerado como um conjunto de forças gerais e é o agente central no processo de geração de estratégias. Nesse caso, as estratégias são emergentes e raramente ocorrem mudanças. Por fim, existem organizações que integram todos os pontos de vista anteriormente citados. A isso se dá o nome de configuração. Segundo Mintzberg et al. (2000, p.224), neste caso o processo de geração de estratégia pode ser: De concepção conceitual ou planejamento formal, análise sistemática ou visão estratégica, aprendizado cooperativo ou politicagem competitiva, focalizando cognição individual, socialização coletiva ou a simples resposta a forças do ambiente; mas cada um deve ser encontrado em seu próprio contexto. 41 Segundo os autores, as estratégias resultantes desse processo são deliberadas e emergentes, assumindo a forma de planos ou padrões, posições ou perspectivas. A mudança nesse caso é ocasional e também revolucionária. A seguir serão apresentados os tipos de estratégias segundo a visão dos autores Ansoff, Milles&Snow, Mintzberg e Porter. 3.4 Tipos de Estratégia Neste item serão abordadas partes dos diversos tipos de estratégias encontrados na literatura, cuja formulação é fruto da pesquisa de estudiosos da área. 3.4.1 Estratégias por Igor Ansoff Segundo Ansoff (1977), uma empresa pode adotar uma estratégia analisando a sua posição em termos de produtos e mercados. Este elo comum pode assumir a forma de um vetor de crescimento, que indica em que direção a empresa está andando em relação aos produtos e mercados. A fim de que se defina um elo comum, é importante se fazer uma descrição entre produtos e mercados, presentes e futuros, que permite a outras empresas perceberem em qual direção a empresa está avançando e dá orientação a sua própria administração. Ansoff (1977) apresenta uma matriz com quatro componentes: penetração de mercado, desenvolvimento de produtos, desenvolvimento de mercados e diversificação. A Figura n. 3.1, a seguir, apresenta essa matriz descrita por Ansoff (1977): 42 PRODUTO MERCADO ATUAL NOVO ATUAL PENETRAÇÃO DE MERCADO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS NOVO DESENVOLVIMENTO DE MERCADOS DIVERSIFICAÇÃO Figura n. 3.1 - Componentes do Vetor Crescimento Fonte: Ansoff (1977, p.92). • A penetração de mercado denota uma direção de crescimento por meio do aumento da participação relativa da empresa nas suas linhas correntes de produtos e mercados; • O desenvolvimento de mercados mostra que a empresa está buscando novos mercados para seus produtos atuais; • O desenvolvimento de produtos representa o processo no qual a empresa cria novos produtos para substituir os já existentes para o mesmo mercado; e • Na diversificação tanto os produtos como os mercados são novos para a empresa. O elo comum que a empresa pode ter ao analisar sua posição em termos de produtos e mercados pode ser percebido com clareza nas três primeiras alternativas do vetor crescimento, mas no caso da diversificação o elo comum é menos evidente. A vantagem competitiva procura identificar propriedades específicas e combinações individuais de produtos e mercados que dão à empresa uma forte posição concorrencial. Esse é um outro modo de visualizar o elo comum que consiste em isolar as características de oportunidades típicas ao campo definido pelo conjunto de produtos e mercados e pelo vetor crescimento. 43 De acordo com Ansoff (1977), também há a sinergia, que pode ser entendida como uma medida de capacidade da empresa para tirar proveito de sua entrada numa nova área de produtos e mercados. Nesse caso, o elo pode ser agressivo exigindo que as novas linhas utilizem uma competência em que a empresa se destaca, ou pode ser defensivo, exigindo que as novas linhas forneçam alguma potencialidade- chave que a empresa necessite. O trio de elementos, conjunto de produtos e mercados, o vetor de crescimento e a vantagem competitiva descrevem a trajetória da empresa em termos de produtos e mercados no seu ambiente externo. Segundo Ansoff (1977, p.93), “o primeiro elemento descreve o alcance da busca, o segundo indica direções seguidas e o terceiro as características de cada área nova”. No entanto, se a empresa não possuir a sinergia, poderá não tirar proveito de toda a rentabilidade potencial. Ansoff (1977) considera que a atuação conjunta dessas quatro características, complementares e não exclusivas, são componentes da estratégia. O autor observa, ainda, que uma mudança de estratégia representa um alinhamento de produtos e mercados da empresa, mas não significa necessariamente uma diversificação. Segundo ele, essa mudança pode se dividir em expansãoe diversificação. A expansão envolve penetração e desenvolvimento de mercados e produtos. A diversificação é mais drástica e arriscada, pois envolve um afastamento simultâneo de produtos e mercados conhecidos. 3.4.2 Estratégias por Miles&Snow (apud Mintzberg et al., 2000) Esses autores classificaram os comportamentos corporativos em quatro categorias amplas, cada um deles com uma estratégia para se relacionar com o(s) mercado(s) que escolheu, bem como sua configuração particular de tecnologia, estrutura e processo. 44 a) Estratégia Defensiva: quando uma empresa utiliza essa estratégia, procura localizar e manter uma linha de produtos relativamente estável com enfoque mais limitado que seus concorrentes, tentando proteger seu mercado através de melhor qualidade, serviços superiores e menores preços. A eficiência tecnológica é importante, assim como um rigoroso controle sobre a organização. Nesse tipo de estratégia a empresa não procura estar entre os líderes, restringindo-se ao que sabe fazer tão bem ou melhor que qualquer um. Ela pode ser um híbrido entre as estratégias genéricas de Porter (1991), “baixo custo e diferenciação”. b) Estratégia Prospectiva: a empresa está continuamente ampliando sua linha de produtos e serviços, oferecendo-os a uma área de mercado mais ampla. Ela valoriza ser uma das primeiras a oferecer novos produtos, mesmo que todos os esforços não se mostrem altamente lucrativos. Assim, as organizações que utilizam esta estratégia buscam ativamente oportunidades inovadoras de produtos e mercados. c) Estratégia Analítica (Equilibrada): procura manter uma linha limitada de produtos relativamente estável e, ao mesmo tempo, adicionar um ou novos produtos que foram bem sucedidos em outras empresas do setor. É na verdade uma posição intermediária entre as estratégias defensiva e prospectiva, ou seja, procura minimizar o risco e, ao mesmo tempo, maximizar a oportunidade de lucro. d) Estratégia Reativa: o comportamento é mais inconsistente do que os outros tipos. É uma espécie de não-estratégia, pois não arrisca em novos produtos, a não ser quando ameaçada por competidores. A abordagem típica é esperar para ver e responder somente quando forçada por pressões competitivas para evitar a perda de clientes importantes ou manter lucratividade. As empresas que adotam essa estratégia estão sempre reagindo ao ambiente. Por ser entendida como residual essa estratégia surge quando uma das três anteriores é seguida de maneira inadequada. 45 3.4.3 Estratégias segundo Henry Mintzberg De acordo com Mintzberg et al. (2000, p.18), existem estratégias deliberadas e emergentes. Quando uma empresa consegue realmente implantar uma estratégia conforme o planejado ou de acordo com o que foi proposto pelo planejamento estratégico, pode ser chamada de deliberada (focaliza o controle). No entanto, se uma empresa implanta estratégias que não estão previamente definidas em um plano, são chamadas de emergentes (focalizam o aprendizado). No entanto, poucas (ou nenhuma) estratégias são puramente deliberadas, assim como poucas são totalmente emergentes. Como dizem os autores: “Todas as estratégias da vida real precisam misturar as duas [...] os estrategistas eficazes as misturam de maneira que reflitam as condições existentes, especialmente capacidade para prever e também a necessidade de reagir a eventos inesperados”. Além das formas que as estratégias podem assumir, Mintzberg (1992) apresenta tipos de estratégias organizadas em famílias de estratégias, dividindo-as em cinco opções: Localizando o Negócio Central, Distinguindo o Negócio Central, Elaborando o Negócio Central, Estendendo e Reconcebendo o Negócio Central. a) Localizando o Negócio Central: essa estratégia pode ser caracterizada pela junção de uma rede de indústrias comprando e vendendo. Pode ser descrita em função do estágio do negócio na rede e da indústria em particular. O estágio do negócio (ou estratégias do estágio de operações) engloba: • Estratégia de negócio “rio-acima”: está relacionada ao uso de matéria-prima em que um material básico se transforma em uma variedade de produtos. Utiliza tecnologia intensiva, capital e pessoas, estando direcionada para obtenção de vantagens de baixo custo; • Estratégia de negócio “rio-médio”: uma variedade de insumos é transformada por um processo simples de produção atendendo a uma variedade de usuários; e 46 • Estratégia de negócio “rio-abaixo”: define um processo em que uma grande variedade de entradas converge por um estreito funil, como produtos vendidos em uma loja de distribuição. Essas estratégias podem ser associadas à definição de integração para trás ou para frente em uma determinada indústria. b) Distinguindo o Negócio Central: é importante observar quais características da organização a tornam capaz de adquirir vantagens competitivas e sobreviver. Esse segundo estágio pode envolver todas as estratégias das várias áreas funcionais. Essas estratégias incluem as relacionadas às fontes (pessoal, finanças, aquisições), ao processamento (desenvolvimento de processo, operações), às saídas ou distribuição (preço, promoção de vendas, distribuição, canais de mercado) e ao suporte (treinamento, controle etc.). A distinção do negócio central envolve dois tipos de estratégias genéricas de Porter (1991), explicitadas a seguir: Estratégia de Diferenciação e Estratégia de Foco. Na realidade, o autor apresenta uma distinção com relação às estratégias genéricas de Porter (1991), considerando a estratégia de liderança em custos como uma estratégia de diferenciação. b.1) A Estratégia de Diferenciação relaciona-se às distinções observadas entre as empresas em função da diferença de seus serviços e produtos. São formas de diferenciação: • diferenciação por preço: é obtida pela cobrança de preço baixo, sendo a maneira mais básica para diferenciar um produto; • diferenciação por imagem: criação de uma imagem para o produto através de marketing (propaganda, técnicas de promoção etc.); 47 • diferenciação por suporte: consiste em oferecer algo mais além do produto, normalmente relacionado à ampliação do nível de serviços agregados (prazo de entrega menor, financiamento, assistência técnica etc.). Não tem efeito direto no produto; • diferenciação por qualidade: obtida pelo oferecimento de um produto que, embora não fundamentalmente diferente, é melhor que os concorrentes; • diferenciação por projeto (design): busca ofertar produtos com características distintas que rompem com o projeto tradicional, algo verdadeiramente diferente; e • não-diferenciação: é a inexistência de base de diferenciação como estratégia. b.2) A Estratégia de Foco envolve o foco nos produtos, levando em consideração a extensão dos mercados nos quais eles serão vendidos. A diferenciação está orientada para o fornecimento, enquanto o foco está relacionado com a orientação à demanda, ou seja, para a perspectiva do cliente, existindo somente quando este percebe alguma característica do produto que agrega valor. São estratégias de foco: • sem segmentação: a organização tenta capturar uma grande porção do mercado com a configuração básica de um produto; • de segmentação: apesar da segmentação do mercado, é possível distinguir um arranjo de uma segmentação simples até uma segmentação refinada, ou seja, algumas organizações objetivam atender todo o segmento, enquanto outras objetivam atender apenas um certo segmento; • de nicho: foca um simples segmento; • por encomenda (customizing strategies): cada cliente é tratado como um segmento de mercado separadamente. Quando o produto é desenvolvido para o 48 cliente a partir do zero, é denominada pura; é sob medida (tailored customization)quando um projeto básico é modificado, normalmente em um estágio de fabricação para as necessidades específicas de um cliente; e padronizada (standardized), significando que o produto final é montado de acordo com os pré-requisitos individuais dos componentes padrões existentes. c) Elaborando o Negócio Central: neste caso, pode-se dizer que as estratégias envolvem produtos e mercados (segundo Ansoff [1977], estratégias do vetor crescimento). As estratégias de negócio central são as seguintes: • de penetração: trabalha a partir de uma base de produtos existentes e mercados existentes, objetivando a penetração no mercado através da ampliação de sua participação. Isto pode ocorrer por expansão direta ou por absorção de competidores existentes; • de desenvolvimento de mercado: é a elaboração de um mercado, significa a promoção de produtos existentes em novos mercados; • de expansão geográfica: uma importante forma de desenvolvimento de mercado. Um produto já existente é oferecido para uma nova área geográfica; e • de desenvolvimento de produto: significa o oferecimento de um novo produto ou produto modificado na mesma base de negócios. d) Estendendo o Negócio Central: envolve estratégias que levam as organizações além dos seus negócios essenciais. Pode ser feito nas chamadas formas verticais ou horizontais, assim como pela combinação das duas. Vertical: significa regressão ou progressão na cadeia de operações. Horizontal ou diversificação plana: refere-se a incorporação de outros negócios paralelos, não na mesma cadeia de operações. 49 A Extensão do Negócio Central insere as seguintes estratégias: • de integração da cadeia: define a possibilidade da organização entender suas cadeias de operações “rio-abaixo” ou “rio-acima”, incorporando atividades de seus clientes na distribuição ou de seus fornecedores, ou seja, fazer ao invés de comprar e vender; • de diversificação: entrada de negócios que não fazem parte da mesma cadeia de operações. Podem as estratégias ser relacionadas, quando evidenciam potencial sinergético entre os novos negócios e o essencial (segundo Ansoff [1977], diversificação concêntrica); ou não relacionadas, também chamadas de conglomerados (diversificação conglomerada, Ansoff [1977]), em que os negócios são na verdade atividades de cadeia de valor, como a venda de diferentes produtos pela mesma força de vendas; • de entrada e controle: a integração da cadeia ou diversificação pode ser realizada pelo desenvolvimento interno ou aquisição, ou seja, pode-se entrar em um novo negócio através de seu desenvolvimento ou comprando uma organização pertencente àquele negócio. Ambas envolvem propriedades completas e formais do negócio diversificado. No entanto, o autor ainda observa que existem outras possibilidades estratégicas: Propriedade e Controle Total, englobando o desenvolvimento interno e a aquisição, e Propriedade e Controle Parcial, podendo ser majoritário ou minoritário, parcerias, inclusões (joint venture, etc.). e) Reconcebendo o Negócio Central: depois da identificação, distinção, elaboração e extensão dos negócios, com freqüência surge a necessidade de não apenas consolidá-lo, mas reconceber o negócio central. Isso se faz necessário porque algumas organizações podem perder seu próprio senso ou identidade. A reconcepção caracteriza a última forma de consolidação, racionalizando não só excessos como a essência da própria estratégia. 50 Três tipos básicos de estratégia são propostos: • de redefinição de negócio: reconcebe a “receita” de como o negócio é conduzido; • de recombinação de negócio: estabelece um esforço para combinar diferentes negócios de alguma forma, ao limite de reconceber vários negócios como um, os quais podem ser reconcebidos tangivelmente ou apenas conceitualmente; e • de mudança da essência: uma organização pode se movimentar ao longo da cadeia de operação “rio-acima” ou “rio-abaixo”; pode ocorrer uma translação entre funções dominantes, desde produção até marketing, ou para um novo negócio, no mesmo estágio ou não da cadeia de operações; ou mesmo uma translação para um novo tema central (função do produto). As estratégias propostas por Mintzberg (1992) visam complementar a proposta da matriz de quatro estratégias proposta por Ansoff (1977) que Mintzberg considera de difícil compreensão; e as estratégias genéricas de Porter (1991), incompletas segundo ele. O autor considera a estratégia de liderança em custos como uma estratégia de diferenciação. O quadro n. 3.1, a seguir, resume as famílias de estratégias na visão de Mintzberg. 51 FAMÍLIAS DE ESTRATÉGIAS ESTRATÉGIAS 1. Localizando o Negócio Central: pode ser caracterizada por uma rede de indústrias comprando e vendendo. 1.a) Rio acima. 1.b) Rio médio. 1.c) Rio abaixo. 2. Distinguindo o Negócio Central: envolve estratégias de áreas funcionais. (PORTER,, 1991). 2.a) Diferenciação: por preço, qualidade, suporte, imagem, projeto (design) e não diferenciação. 2.b) Foco: sem segmentação, de segmentação, de nicho e por encomenda. 3. Elaborando o Negócio Central: as estratégias envolvem produtos e mercados (ANSOFF, 1977). 3.a) de penetração. 3.b) de desenvolvimento de mercado. 3.c) de expansão geográfica. 3.d) de desenvolvimento de produto. 4. Estendendo o Negócio Central: envolve estratégias que levam as organizações, além de seus negócios essenciais. (ANSOFF, 1977). 4.a) Integração de cadeia. 4.b) Diversificação. 4.c) Entrada e controle. 4.d) Combinadas: de diversificação e integração. 5. Reconcebendo o Negócio Central: necessidade de reconceber o negócio central, pois muitas vezes as organizações podem perder seu próprio senso de identidade. 5.a) Redefinição de negócio. 5.b) Recombinação de negócio. 5.c) Mudança da essência. Quadro n. 3.1 – Famílias de Estratégias por Henry Mintzberg. Fonte: Mintzberg (1992). 3.4.4 Estratégias segundo Michael Porter Porter (1997), afirma que existem dois níveis de estratégia em uma empresa diversificada: Estratégia de Unidades de Negócio, também denominadas de Estratégias Competitivas e Estratégia Corporativa, ou da totalidade do grupo empresarial. Esta pesquisa apresentará apenas as estratégias competitivas, ou seja, das unidades de negócios. 52 A Estratégia Corporativa representa a estratégia da empresa em sua totalidade, ou seja, leva em conta assuntos como o ramo de negócios no qual a empresa deve se posicionar ou como conduzir e integrar as estratégias das diferentes unidades com as da corporação. Ela estabelece a forma que a empresa irá competir. O autor afirma que para uma empresa desenvolver uma estratégia corporativa com sucesso, deve conhecer três premissas básicas: (1) que a concorrência acontece num nível de empresas e não de corporações, por isso a estratégia corporativa deve estar ligada à empresas; (2) que é importante fazer parte de um grupo de empresas e isso implicará custos inevitáveis para as unidades de negócios; e (3) a gerência da unidade de negócios deve submeter sua estratégia à aprovação de pessoas que não sabem muito sobre a empresa. Em função das forças que afetam a estrutura do setor, algumas estratégias são definidas por Porter (1991) como um conjunto de ações defensivas ou ofensivas. Esse conjunto de ações está fundamentado em pontos fortes e fracos e essas abordagens são: o Posicionamento, a Influência no Ponto de Equilíbrio e a Exploração da Mudança. a) Posicionamento: ajusta a companhia à estrutura em função de seus pontos fortes e fracos; b) Influência no Ponto de Equilíbrio: ocorre quando a empresa estabelece uma estratégia que assume a ofensiva e não visa apenas enfrentar as forças existentes, buscando alterar suas causas;e c) Exploração da Mudança: está associada à evolução da indústria, que assume importância decisiva na formulação da estratégia. O estudo das Estratégias Corporativas incorpora ainda o estudo da Integração Vertical, das Estratégias Preemptivas e das Estratégias Defensivas, quais sejam: 53 a) Integração Vertical: pode ser definida como sendo “a combinação de processos de produção, distribuição, vendas e outros processos econômicos tecnologicamente distintos dentro das fronteiras de uma mesma empresa” (Porter, 1991, p.278). Assim, a empresa utiliza suas transações internas para alcançar seus propósitos econômicos. As empresas costumam agir dessa forma porque acreditam que seja mais barato, menos arriscado ou mais fácil para coordenação quando as funções forem executadas internamente. A integração vertical tem papel preponderante no crescimento da empresa, sendo caracterizada como uma forma de diversificação. Essa integração envolve aumento no número de produtos intermediários produzidos pela firma para seu próprio uso, permitindo a substituição dos insumos comprados de outras empresas por produção própria, integrando-se “para trás”, ou para a distribuição e outros serviços “para frente” na cadeia de produção-distribuição-consumo. Segundo Porter (1991), os benefícios da integração vertical dependem do volume dos produtos ou serviços que a empresa compra ou vende nos estágios adjacentes em relação ao tamanho da instalação de produção eficiente naquele estágio. Os benefícios estratégicos da integração são: economias possíveis com a integração (operações combinadas, economias de informação, economias devido a relacionamentos estáveis); aprofundamento tecnológico; compensação do poder de negociação e das distorções nos custos dos insumos, maior habilidade para efetuar a diversificação; barreiras de mobilidade e de entrada elevadas; entrada em um negócio com retornos mais altos e, por fim, defesa contra o fechamento do acesso de fornecedores e clientes. A Integração Parcial e a Quase Integração também compõem o estudo da Integração Vertical, definida por Porter (1991, p.294) como sendo: Uma integração reduzida para frente ou para trás, em que a empresa continua adquirindo o restante de suas necessidades no mercado aberto. Requer que a empresa seja capacitada a mais do que apenas sustentar uma operação interna de dimensões diferentes, tendo ainda outras necessidades que são atendidas pelo mercado. 54 Segundo Porter (1991), a Quase Integração é o estabelecimento entre negócios verticalmente relacionados e situa-se entre contratos ao longo prazo e a propriedade integral. As formas mais comuns de “Quase Integração” são: investimentos em ações, empréstimos ou garantias de empréstimos, créditos de pré-aquisição, acordo de exclusividade nas negociações, instalações logísticas especializadas e planejamento e desenvolvimento cooperativos. b) Estratégia Preemptiva: é um método de expansão da capacidade em um mercado em crescimento, no qual a empresa procura apossar-se de uma maior parte do mercado a fim de desencorajar os seus concorrentes quanto às suas intenções de se expandirem e a fim de deter as entradas (PORTER, 1991). Essa estratégia requer investimentos em instalações, suportes para resultados financeiros a curto prazo marginais ou até mesmo negativos. Pode ser considerada arriscada, pois envolve o comprometimento, logo de início, dos principais recursos com um mercado, antes que os resultados desse mercado sejam conhecidos. Existem algumas condições que devem ser levadas em consideração para se obter uma estratégia preemptiva com sucesso. São elas: ampla expansão da capacidade em relação ao tamanho esperado do mercado; grandes economias de escala em relação à demanda total do mercado; credibilidade da empresa preemptora, habilidade em sinalizar a motivação preemptora antes que os concorrentes ajam e disposição dos concorrentes em retroceder. c) Estratégias Defensivas: também são conhecidas como movimentos defensivos. Porter (1991, p.106) cita que o problema da defesa é oposto ao problema do ataque: “Uma boa defesa consiste em criar uma situação na qual os concorrentes (...), após testarem realmente um movimento, concluirão que ele é inconveniente”. A defesa pode ser atingida forçando os concorrentes a recuar após uma batalha. Para impedir um movimento é importante que os concorrentes esperem uma retaliação com alto grau de certeza e acreditem que essa retaliação vai ser efetiva. 55 As Estratégias Competitivas não se preocupam mais com a empresa como um todo e sim com as unidades de negócio, ou seja, se relacionam à obtenção de vantagens em cada uma das unidades em que o grupo compete. Porter (1991, p.16) afirma que: A estratégia competitiva vem a ser o modo pelo qual uma empresa irá conseguir um posicionamento favorável na indústria e no mercado em que atua, através do desenvolvimento de estratégias básicas que visem neutralizar os efeitos dos concorrentes. A competitividade ou a estratégia competitiva é a busca de uma posição competitiva favorável em uma indústria, a arena fundamental onde ocorre a concorrência. A estratégia competitiva visa estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra as forças que determinam a concorrência na indústria (PORTER, 1991). No entanto, o posicionamento favorável na indústria e a atratividade das indústrias podem ser modificados através do tempo, mesmo porque determinadas empresas podem passar por períodos nos quais exista atratividade em termos lucrativos dentro da indústria, mas não possuam uma posição vantajosa e vice-versa. São essas características que tornam a escolha de uma estratégia por parte da empresa como algo a ser enfrentado em todos os momentos, modificando a postura estratégica, quando necessário. A estratégia competitiva surge com o objetivo básico de possibilitar às empresas uma visão de como se estruturar e sobreviver em um mercado concorrencial. Esse tipo de estratégia surgiu no cenário empresarial com Porter e procurou integrar conceitos de economia industrial e de estratégias de empresas utilizando-se basicamente de: a) os principais elementos do sistema de negócios da empresa; e b) as cinco forças competitivas que determinam a rentabilidade de uma indústria ou setor de atividade. 56 Segundo Porter (1991, p.18), é através da posse desse conhecimento que a empresa poderá competir estrategicamente frente à concorrência. O conhecimento dessas fontes da pressão competitiva põe em destaque os pontos fortes e os pontos fracos críticos da companhia, anima o seu posicionamento em sua indústria, esclarece as áreas em que mudanças estratégicas podem resultar no retorno máximo e põe em destaque as áreas em que as tendências da indústria são da maior importância, quer como oportunidades, quer como ameaças. Porter (1991) afirma que uma empresa pode utilizar três estratégias genéricas para enfrentar as cinco forças competitivas. A tipologia de estratégias genéricas desenvolvidas por Porter vem sendo bastante utilizada e estudada por diversos autores. Segundo o autor, a estratégia pode ser conceituada como sendo a criação de uma posição única e de valor no mercado, que envolve um conjunto diferente de atividades. Pode ser formulada nos seguintes aspectos: a) Liderança no Custo Total: prática bastante defendida na década de 70. Consiste na associação de rigorosa redução de custos e controle de despesas gerais, o que significa que a empresa deverá ter seus custos inferiores aos dos concorrentes. Essa estratégia faz com que a empresa tenha retornos acima da média em seu setor e se defenda contra a rivalidade dos concorrentes e dos compradores poderosos. Traz maior flexibilidade para enfrentar os fornecedores, gera barreiras de entrada e coloca a empresaem boa posição em relação aos produtos substitutos. Porter (1991, p.50) afirma que “atingir uma posição de custo total baixo quase sempre exige alta parcela de mercado relativa em outras posições vantajosas, como acesso favorável a matérias-primas”. Aquelas que optam por esse modelo devem ser fortes em engenharia, compras, produção, distribuição física, e necessitam de menos experiência em marketing. A vantagem de custos em uma indústria é obtida através de um conjunto de políticas funcionais voltadas para este objetivo, bem como o desenvolvimento de atividades econômicas e tecnológicas a um custo menor que o dos concorrentes. 57 Segundo Porter (1991, p.50), a liderança em custos exige investimentos pesados em equipamentos atualizados, construção de instalações em escala eficiente, redução de custos pela experiência (aumento da produtividade do trabalho proveniente da repetição das tarefas, com resultante redução no tempo necessário para sua execução), controle das despesas gerais, minimização de custo em áreas como P&D, assistência técnica, força de vendas e publicidade. Para atingir essas metas torna-se necessária uma intensa atenção administrativa ao controle dos custos. Custo baixo em relação aos concorrentes torna-se o tema central de toda estratégia, embora a qualidade, a assistência e outras áreas não possam ser ignoradas. As fontes de vantagem de custo, como foi citado anteriormente, são decorrentes de economias de escala (declínio nos custos de um produto, operação ou função que entra na produção de um produto à medida que o volume absoluto do período aumenta). Uma empresa conta com vantagem de custo se o seu custo acumulado na execução de todas as atividades de valor for mais baixo que os custos dos concorrentes. No entanto, a vantagem de custo leva a um desempenho superior caso a empresa ofereça um nível aceitável de valor ao comprador, de modo que sua vantagem de custo não seja anulada pela necessidade de cobrar preço inferior ao da concorrência. b) Diferenciação: é outra estratégia que a empresa pode utilizar para obter vantagem competitiva. Consiste na diferenciação de um produto ou serviço, “criando algo que seria único” no segmento em que a empresa atua. Significa que a empresa deverá concentrar esforços para alcançar desempenho superior em uma importante área de benefício para o consumidor, valorizada por grande parte do mercado. Essa estratégia pode proporcionar um isolamento contra a rivalidade devido à lealdade dos consumidores à marca, aumenta as margens, porque exclui a necessidade de posição de baixo custo. Ao adotar essa estratégia a empresa não irá ignorar os custos, mas eles não serão o alvo da estratégia principal. 58 Segundo Porter (1991, p.52), “atingir a diferenciação pode, às vezes, tornar impossível a obtenção de uma alta parcela de mercado, pois nem todos os clientes estão dispostos a pagar por preços mais caros”. O autor ainda afirma que, para desenvolver uma estratégia de diferenciação, é necessário escolher uma ou mais necessidades valorizadas pelos compradores. Ao mesmo tempo, é importante identificar quais são as atividades da cadeia de valor que são mais importantes para obter diferenciação. A diferenciação do produto oferecido pela empresa significa criar algo que seja considerado único no âmbito de toda a indústria, desenvolvendo para isso atividades com alta qualidade, de tal forma a gerar oferta de benefícios diferenciados que tornem seu produto mais atraente aos olhos do consumidor do que o de seus concorrentes. Essa diferenciação de qualidade equivale não apenas à qualidade tecnicamente melhor, como também às mercadorias que ofereçam uma qualidade superior ou preferível. Para Porter (1991), os métodos utilizados para diferenciação podem assumir muitas formas: projeto ou imagem da marca, tecnologia, desempenho e características dos produtos, serviços fornecidos, rede de fornecedores, qualidade dos insumos adquiridos para uma atividade, entre outras. Nesse sentido, o ponto central refere-se aos critérios segundo os quais o produto é avaliado por compradores, que podem basear sua escolha em uma única característica ou em um conjunto de aspectos de determinado produto. As principais características do produto são: tamanho, forma, cor, peso, desenho, material, tecnologia e ainda a sua performance em termos de confiabilidade, consistência, gosto, velocidade, durabilidade e segurança (CARVALHO JR., 1997). Nessas circunstâncias, a diferenciação do produto está associada efetivamente aos métodos de vendas para a conquista de novos mercados. 59 Porter (1992) afirma que qualquer que seja o produto ou serviço oferecido por uma empresa a seus compradores, esses em geral encontram dificuldades para avaliá-lo, ou seja, eles nem sempre conseguem medir com precisão o desempenho de uma empresa e de seus produtos, mesmo depois de o produto ter sido comprado e usado. Esse conhecimento incompleto de um comprador significa que a diferenciação obtida de fato pode perfeitamente estar baseada, em parte nos fatores empregados pelo comprador para inferir ou julgar se a empresa reduzirá seus custos ou melhorará seu desempenho em relação à concorrência. c) Enfoque: essa estratégia genérica procura enfocar um determinado grupo de compradores, um segmento da linha de produtos ou um mercado geográfico (Porter, 1991). Refere-se à escolha de um “alvo”, pressupondo que a empresa deve se fixar em um ou mais segmentos de mercado menores, em vez de ir atrás de um grande mercado. Ela deve conhecer as necessidades desse segmento e obter liderança em custos e diferenciação dentro desse segmento–alvo. O estrategista de focalização deve criar uma cadeia de valor especificamente projetada para este segmento (PORTER, 1997). Porter (1997) chama a atenção para os riscos vinculados ao uso das estratégias genéricas, pois pode haver falha em alcançar ou sustentar a estratégia, ou o valor das vantagens proporcionadas por ela pode ser desgastado pela evolução do setor. O autor afirma ainda que o desempenho de uma indústria depende de dois fatores: a estrutura do setor e a posição que uma empresa ocupa nesse setor. A estrutura do setor é composta por cinco forças competitivas que serão apresentadas com detalhes no decorrer do capítulo. A figura n. 3.2, a seguir, apresenta as diferenças entre as três estratégias genéricas descritas acima. 60 VANTAGEM ESTRATÉGICA DIFERENCIAÇÃO LIDERANÇA NO CUSTO TOTAL A LV O E ST R A TÉ G IC O ENFOQUE Figura n. 3.2 – Estratégias Genéricas de Porter Fonte: Porter (1991, p.53). A Figura n. 3.2 mostra que a empresa deve escolher um alvo estratégico para adquirir uma vantagem estratégica. Esse alvo pode ser em relação à indústria em geral ou a um segmento em particular. Relativamente à indústria, a empresa terá uma vantagem pela diferenciação ou pelo baixo custo. Caso a empresa decida pela diferenciação, sua vantagem estará assegurada quando a diferença for percebida pelo cliente. Se a decisão for pela liderança em custo, sua vantagem estará garantida quando a empresa adquirir uma posição de baixo custo. O alvo estratégico de um segmento em particular pode gerar uma vantagem estratégica por enfoque, que poderá ser nos clientes, nos custos, nos canais de distribuição, etc. Cada uma dessas estratégias apresenta riscos específicos. Por exemplo, a estratégia de liderança em custo total pode fracassar se ocorrer uma mudança tecnológica que anule investimentos e aprendizados, fazendo com que a empresa não consiga manter tais custos. Outra possibilidade de fracasso nesse tipo de estratégia pode ocorrer se houver falta de habilidade para observar mudanças no produtoou no mercado pela elevada atenção nos próprios custos. Na estratégia de diferenciação, pode-se citar o risco de redução da necessidade dos compradores em relação ao fator de diferenciação do produto ou serviço, eliminando vantagens antes adquiridas. Na estratégia de enfoque, um risco típico é o fato de os concorrentes encontrarem sub mercados dentro da estratégia do mercado-alvo. O Quadro n. 3.2, a seguir, apresenta as estratégias na visão de Porter (1991). 61 ESTRATÉGIA CORPORATIVA ESTRATÉGIA COMPETITIVA 1. Integração; vertical, parcial e quase-integração. 1. Liderança total em custos. 2. Preemptiva. 2. Diferenciação. 3. Defensiva. 3. Enfoque. Quadro n. 3.2 – Estratégias segundo Michael E. Porter. Fonte: Adaptado de Porter (1991). 3.5 Análise Estrutural da Indústria Neste item será apresentada uma revisão teórica acerca da análise da estrutura da indústria, na visão de Porter (1991). 3.5.1 Análise da Estrutura do Setor No atual ambiente globalizado, exige-se cada vez mais capacidade de diferenciação por parte das empresas. Essas empresas têm sua performance constantemente avaliada tanto pelo ambiente interno como pelo externo (PORTER, 1991). Para se diferenciarem no mercado, na maioria das vezes as empresas procuram inovar tecnologicamente ou gerencialmente. Empresas inovadoras são aquelas que possuem posturas mais agressivas, assumem riscos maiores e, dessa forma, têm maior possibilidade de obter ganhos no mercado. Empresas mais passivas, que optam pela imitação, assumem um papel reativo diante das demandas do mercado (Ferraz et al., 1995). A maneira como cada empresa decide competir influencia sua capacidade de conquistar novas oportunidades. Embora freqüentes hoje em dia, os estudos sobre competitividade ressentem-se da ausência de consenso quanto ao conceito e, conseqüentemente, quanto às metodologias mais adequadas de avaliação. 62 Segundo Ferraz et al. (1997, p.1) afirma que: A maior parte dos estudos recentes costuma tratar a competitividade como um fenômeno diretamente relacionado às características de desempenho ou de eficiência técnica e alocativa apresentadas por empresas e produtos e a considerar a competitividade das nações a agregação desses resultados. Os conceitos de competitividade são vistos como a convivência de duas famílias: em uma família a competitividade é vista como um desempenho, é o que se denomina competitividade revelada, que é de alguma forma expressa na participação de mercado (market-share) alcançada por uma empresa em um mercado em determinado momento. Numa segunda família, a competitividade é vista como eficiência. É o que se chama de competitividade potencial. Ou seja, busca-se de alguma forma traduzir a competitividade através da relação insumo-produto praticada pela empresa, isto é, a capacidade de a empresa converter insumos em produtos com o máximo de rendimento. Nesse caso, os indicadores são buscados em comparativos de custos e preços, coeficientes técnicos ou produtividade dos fatores (FERRAZ et al., 1997). Porter (1980, 1985 e 1990) apresentou ao mundo uma nova e geralmente aceita concepção sobre Estratégia Competitiva, Vantagem Competitiva e Vantagem Competitiva das Nações, na qual a análise setorial das estratégias e o posicionamento da empresa dentro do setor permitem visualizar as estratégias com as quais quer competir, focando as forças competitivas através das barreiras de entrada, barreiras de saída, poder de negociação dos fornecedores e dos clientes, a rivalidade entre os concorrentes e a substituição dos produtos. Além da análise estratégica das forças competitivas de mercado, Porter (1991) trouxe a descrição das vantagens competitivas tendo por principal a preferência dos consumidores, seguida por custos internos e externos baixos, diferenciação no negócio, capacidades especiais e posições privilegiadas. 63 Na realidade, a preferência dos consumidores é apenas o meio pelo qual as organizações buscam o objetivo de permanência no mercado, isto é, entendendo que o objetivo permanente da empresa é sua própria continuidade no ambiente. A eficácia em alcançar esse objetivo corresponde aos resultados de sua atuação em obter e manter as vantagens competitivas sustentáveis. A otimização do resultado será possível somente após o entendimento do comportamento das vantagens competitivas e a eliminação das incertezas em se alinhar as estratégias que são suportadas por essas vantagens competitivas. Entretanto, há algum tempo busca-se entendimento sobre a validade dessa concepção. O que se tem registrado é que a empresa ou organização de negócios tem sido redefinida por muitos estudiosos como Alfred Chandler (1962), que apresentava a discussão sobre “estrutura e estratégia”, afirmando que a escolha ou definição da estratégia e de como competir nos negócios determinava a estrutura da organização. Esse discernimento permitiu a outros pesquisadores enxergarem que planejar as empresas a partir da estrutura não era correto, já que o que definiria o sucesso do negócio não era a estrutura em si, mas a estratégia com a qual se estaria no jogo competitivo. No entanto, Porter (1991) afirma que uma indústria deve ser analisada por sua estrutura, que em última instância influencia na determinação das regras competitivas. Assim, a rentabilidade de uma indústria depende ou é função da sua estrutura e é ela quem estabelece as regras da concorrência. Dentre os vários termos utilizados para definir indústria, Porter (1989) conceituou indústria como um grupo de empresas que elaboram produtos substitutos bastante próximos entre si. Além disso, propôs uma forma diferenciada de analisar uma indústria. 64 À luz do referencial teórico, observa-se que a finalidade precípua de elaborar estratégias é relacionar a empresa ao seu ambiente. No entanto, o ambiente que apresenta maiores efeitos sobre a companhia é aquele no qual se desenvolve a competição entre as empresas, a qual envolve seus fornecedores, clientes, as indústrias que fabricam produtos substitutos e os entrantes potenciais. Além da indústria, a inclusão dos outros elementos deve-se ao reconhecimento de que a rentabilidade potencial de uma indústria depende não somente da concorrência entre as empresas que ali atuam, mas também das relações que mantêm com aqueles elementos. Porter (1991) denominou essas relações de forças competitivas e seu estudo de análise estrutural da indústria. A figura n. 3.3, a seguir, apresenta as cinco forças competitivas de Porter (1991): Figura n. 3.3 - Forças Competitivas Fonte: Porter (1991, p.23). 65 Segundo Porter (1991), as forças competitivas que agem na indústria são: a) ameaça de novos entrantes; b) ameaça de produtos ou serviços substitutos; c) poder de negociação dos compradores; d) poder de negociação dos fornecedores; e e) rivalidade entre as empresas existentes. O conjunto dessas cinco forças competitivas determinará o potencial de lucro final da indústria, sendo que a rentabilidade determinará a atratividade, porque cada uma delas afeta, em diferentes graus de intensidade, os preços, os custos e os investimentos do conjunto de empresas de determinado ramo industrial. A intensidade dessas cinco forças sofre alterações de indústria para indústria. Os melhores resultados, medidos pelas taxas médias de retorno, são superiores aos custos do capital investido e dependem da habilidade de cada empresa em relação a essas forças. Por meio da análise dessas forças competitivas poderão ser identificados os pontos fracos e os pontos fortes de cada empresa em relação à estrutura da indústria em que atuam. A seguir, serão apresentados as cinco forças competitivas e os fatores que explicamas suas intensidades: a) Ameaça de Novos Entrantes Existe sempre a possibilidade de entrada de novas empresas na indústria, o que pode acarretar profundas mudanças nas empresas existentes. Os entrantes geralmente trazem idéias novas e desejos de conseguir uma fatia de mercado, podendo vir munidos de recursos para tanto. A entrada de novo participante pode levar a uma queda nos preços, ou os custos poderão ser inflacionados, reduzindo consequentemente a rentabilidade da indústria. 66 Para Porter (1989), uma das formas de impedir a chegada de novos entrantes são as barreiras de entrada, as quais podem ser feitas por meio de: • Economias de Escala: declínio dos custos unitários de um produto, operação ou função à medida que o volume absoluto por período aumenta. Detêm a entrada por exigirem dos novos entrantes uma escala grande e adequada ou a convivência com a desvantagem no custo; • Diferenciação de Produto: significa que as empresas estabelecidas têm sua marca identificada por parcela dos consumidores de um dado produto e baseia-se em esforço passado de publicidade, serviço ao consumidor, diferenças dos produtos, ou simplesmente por terem entrado primeiro na indústria. A diferenciação de produto vai requerer do entrante potencial elevados gastos em marketing para abalar a fidelidade dos consumidores junto às empresas já existentes; • Necessidades de Capital: se o montante de capital necessário para ingressar e competir na indústria for elevado, isso poderá representar uma barreira de entrada para novas empresas. Os recursos requeridos seriam necessários não somente para as instalações de produção, mas também para crédito ao consumidor, estoques ou cobertura dos prejuízos iniciais; • Custos de Mudança: representam os custos com que um comprador se defronta quando muda de um fornecedor de produto para outro. Se esses custos de mudança são altos, os recém-chegados precisam oferecer um aperfeiçoamento substancial em custo ou desempenho para que o comprador se decida a deixar um produtor já estabelecido; • Acesso aos Canais de Distribuição: barreira que pode ser criada pela necessidade do novo entrante de assegurar a distribuição de seu produto. Como os canais lógicos já estão atendidos pelas empresas estabelecidas, é necessário grande esforço da empresa entrante (desconto de preço e verbas para publicidade em conjunto, dentre outras) para persuadir os canais a aceitar seus produtos, o que 67 reduz o lucro. Quanto mais limitados os canais do atacado e varejo e quanto maior o controle das concorrentes, mais difícil será a entrada na indústria. Porter (1998) observa que algumas vezes essa barreira é tão alta que para ultrapassá-la a empresa entrante precisará criar seus próprios canais para distribuição; • Desvantagens de Custos Independentes de Escala: são fatores que proporcionam vantagens plenas para as empresas já estabelecidas em um setor que não podem ser conseguidas pelos entrantes, qualquer que seja seu tamanho e sua escala (de produção, marketing, pesquisa e desenvolvimento e outras); • Política Governamental: o governo pode limitar ou mesmo impedir a entrada de novas firmas em uma indústria com medidas tais como: restrição de importações, concessão para realização de atividades, estabelecimento de novas técnicas, estabelecimento de monopólios públicos. b) Ameaça de Produtos ou Serviços Substitutos Quando a indústria possui produtos substitutos, podem eles reduzir as taxas de retorno dos investimentos, à medida que forçam um teto nos preços que as empresas podem fixar com rentabilidade. Nesse sentido, quando existem produtos substitutos todas as empresas de uma indústria estão competindo com as indústrias de seus produtos substitutos. Assim, aquela que apresentar maior vantagem em termos de preço-desempenho será mais atrativa e forçará os lucros da indústria. Nesse aspecto, os produtos substitutos, com força competitiva, representam uma ameaça para as empresas já estabelecidas. c) Poder de Negociação dos Compradores Para Porter (1989), os compradores competem com a indústria forçando os preços para baixo, barganhando por melhor qualidade ou mais serviços e jogando os concorrentes uns contra os outros, tudo à custa da rentabilidade da indústria. 68 Dependendo da situação no mercado, os grupos de compradores podem exercer pressão em relação à redução dos preços, bem como da importância relativa de suas compras em comparação com seu negócio total. O poder de negociação de um grupo de compradores é alto se as seguintes situações forem verdadeiras: • os compradores estão concentrados ou adquirem grandes volumes em relação às vendas do fornecedor; • os produtos que eles compram não são diferenciados; • os compradores são uma ameaça concreta de integração para trás; • os produtos que os compradores adquirem da indústria representam uma fração significativa de seus próprios custos ou compras; • o lucro dos compradores é baixo. O que torna os compradores mais sensíveis a preços, criando condições para eles buscarem a redução dos custos na compra; • é importante o produto da indústria para a qualidade dos produtos ou serviços do comprador; • o comprador tem total informação sobre demanda, preço de mercado do produto ou dos custos do fornecedor. De posse da informação total, o comprador está em melhores condições de assegurar o recebimento dos preços mais favoráveis oferecidos a outros e pode contestar as queixas dos fornecedores de que sua rivalidade está ameaçada (PORTER, 1989). d) Poder de Negociação dos Fornecedores Dentro das leis de mercado, quanto menor o número de fornecedores mais fortes eles são. A mesma idéia aplica-se ao volume dos produtos comprados. Quem compra mais, ou em maiores quantidades, têm condições de obter maior vantagem junto aos 69 fornecedores. Essas vantagens são representadas por descontos, facilidades, prazos, etc. Os fornecedores em uma indústria representam uma ameaça se elevam os preços ou reduzem a qualidade dos bens e serviços fornecidos. Caso os fornecedores sejam concentrados, o que os torna poderosos, podem comprometer a rentabilidade da indústria quando esta não conseguir repassar os aumentos de custos para os preços. Segundo Porter (1989), existem algumas circunstâncias que caracterizam um fornecedor poderoso: • fornecedores que são mais concentrados do que a indústria para a qual vendem; • fornecedores que não necessitam lutar contra os produtos substitutos na venda para indústria, devido a ausência desses produtos; • indústria que não é cliente importante para o grupo fornecedor. As vendas que os fornecedores fazem para a indústria não são significativas comparativamente ao total de suas vendas; • produto dos fornecedores é um insumo importante para o negócio do comprador, principalmente se este não for armazenável; • produtos do grupo de fornecedores são diferenciados, ou o grupo desenvolveu custos de mudança (processos especiais, novos equipamentos, assistência técnica e outros); • grupo de fornecedores representa uma ameaça de integração para frente. Porter (1989) avalia que devem ser considerados como fornecedores os recursos humanos (mão-de-obra qualificada), uma vez que, quando a força de trabalho é bem 70 organizada ou quando acontece uma redução na oferta de mão-de-obra, o poder dos fornecedores de recursos humanos pode ser elevado. Por meio de estratégias, as empresas podem alterar a situação em relação ao poder dos fornecedores. e) Rivalidade entre as Empresas Existentes Segundo Porter (1989), as empresas são rivais em uma indústria porque disputam posições no mercado de atuação. Essa disputa caracteriza-se pelo uso de táticas como concorrências de preços, batalhade publicidade, introdução de produtos e aumento dos serviços ou das garantias aos clientes. A rivalidade em uma indústria ocorre porque os concorrentes (empresas) percebem o surgimento de uma oportunidade para melhorar a posição. A força com que essa rivalidade ocorre gera um padrão de ação e reação permitindo que a empresa e a indústria como um todo se aprimorem ou não. Para Porter (1989), a rivalidade é conseqüência de vários fatores estruturais, quais sejam: • Concorrentes numerosos e bem equilibrados: quando o número de concorrentes é grande, tende a ocorrer instabilidade na indústria, pois algumas empresas imaginam que podem fazer movimentos sem serem notadas. Quando a indústria é dominada por um pequeno número de empresas, há uma estabilização na concorrência; • Crescimento lento na indústria: as empresas no ímpeto de ganharem parcelas de mercado transformam a concorrência num jogo; • Custos fixos ou de armazenamento altos: custos fixos altos criam fortes pressões no sentido de que todas as empresas satisfaçam a capacidade, o que muitas vezes conduz rapidamente a uma escalada nas reduções de preços quando existe excesso de capacidade. Quanto maior o nível dos custos fixos nos períodos de 71 baixa demanda, tanto mais as empresas tentam evitar a ocorrência de capacidade ociosa, geralmente mediante a redução de preços. Para produtos em que o armazenamento é dispendioso, as firmas tendem também a reduzir seus preços para acelerar seu escoamento; • Ausência de diferenciação ou custos de mudança: nos produtos pouco diferenciados o consumidor baseia sua compra no preço, o que pode resultar em concorrência de preços na indústria, enquanto a diferenciação de produto protege a empresa dos concorrentes devido à lealdade do comprador; • Capacidade de produção aumentada em grandes incrementos: é o caso das economias de escala. Acréscimos elevados na capacidade de produção podem gerar desequilíbrio crônico entre a oferta e a procura na indústria; • Concorrentes divergentes: quando as estratégias e os objetivos entre as empresas são muito diferentes no que diz respeito à competição; • Grandes interesses estratégicos: ocorre quando determinadas empresas procuram a perpetuação no mercado com o sacrifício da lucratividade, trabalhando com preços abaixo da média, aumentando com isso a rivalidade e provocando maior instabilidade na indústria; • Barreiras de saída elevadas: são fatores econômicos, estratégicos e emocionais que mantêm as companhias competindo em atividades mesmo que estejam obtendo retornos baixos, ou até negativos, sobre seus investimentos (PORTER, 1989). Elas serão elevadas quando existirem: • Ativos especializados: cujos valores de liquidação são baixos ou os custos de transferência ou conversão são altos; 72 • Custos fixos de saída: incluem acordos trabalhistas, custos de restabelecimento e capacidade de manutenção para componentes sobressalentes; • Inter-relações estratégicas: inter-relações entre as unidades da companhia em termos de imagem, capacidade de marketing, acesso aos mercados financeiros, instalações compartilhadas; • Barreiras emocionais: a relutância da administração em justificar economicamente as decisões de saída é causada pela identificação com a atividade em particular, pela lealdade com os empregados, orgulho, etc; • Restrições de ordem governamental e social: desencorajamento por parte do governo quanto à saída do negócio, em virtude do desemprego causado e dos efeitos sociais e econômicos que isso causaria na região. Segundo Porter (1991, p.45), “após diagnosticadas as forças que afetam a concorrência em uma indústria e suas causas básicas, a empresa estará posicionada para identificar seus pontos fracos e fortes em relação à indústria”. Nesse momento, ainda segundo Porter, torna-se necessário adotar uma estratégia competitiva efetiva assumindo uma ação de ataque ou de defesa, de modo a criar uma posição defensável contra as cinco forças competitivas. De modo amplo, isso compreende algumas abordagens possíveis, quais sejam: • Posicionamento: Nessa abordagem são analisadas as capacidades da companhia procurando evidenciar as áreas em que a companhia deve enfrentar a concorrência e aquelas que deverão ser evitadas. Essa estratégia pode ser vista como a construção de defesas contra as forças competitivas ou como a determinação de posições onde estas forças sejam mais fracas. • Influenciar o equilíbrio: Nesse tipo de abordagem a companhia procura alterar as causas que orientam a concorrência ao invés de enfrentar as forças competitivas; 73 • Explorar a mudança: A companhia procura explorar as mudanças, provocando transformações nas fontes estruturais da concorrência; • Estratégia de diversificação: Nessa abordagem a companhia examina a decisão estratégica de entrar em um novo negócio ou diversificar o já existente. 3.6 Grupos Estratégicos Existe uma maneira de afinar a análise da concorrência e definir quem são os seus concorrentes. Isso ocorre por meio de levantamento do número dos grupos estratégicos existentes no setor. Conceitua-se grupo estratégico como sendo um grupo de empresas semelhantes em termos de escopo de atividades e cobertura de mercado. Seguem estratégias semelhantes em termos de escopo de atividades e cobertura de mercado e competem com muito mais intensidade entre si do que com outros grupos (KOTLER, 1998 e PORTER, 1991). A análise do comportamento da indústria quanto ao seu posicionamento dentro de determinado grupo estratégico, deve ser apoiada nas dimensões estratégicas existentes e que são descritas a seguir. a) Especialização: o grau em que ela concentra seus esforços em termos da amplitude de sua linha, os segmentos de clientes-alvo e os mercados geográficos atendidos; b) Identificação de marcas: o grau em que ela busca a identificação de marca evitando a competição baseada basicamente em preços ou em outras variáveis. A identificação de marca pode ser alcançada via publicidade, força de vendas ou por diversos outros meios; 74 c) Política de canal: o grau em que ela busca desenvolver a identificação de marca diretamente com o consumidor final “versus” o apoio aos canais de distribuição na venda de seu produto; d) Seleção do canal: a escolha dos canais de distribuição variando de canais pertencentes à companhia a pontos de venda que são especializados em um dado produto até canais que distribuem amplas linhas de produtos; e) Qualidade do produto: o nível de qualidade do produto, em termos de matérias- primas, especificações, observância das tolerâncias, características, etc. f) Liderança tecnológica: o grau em que ela procura a liderança tecnológica “versus” um comportamento imitativo. É importante notar que uma empresa pode ser líder em tecnologia, mas deliberadamente não fabricar o produto da mais alta qualidade do mercado, ou seja, qualidade e liderança tecnológica não andam necessariamente juntas; g) Integração vertical: o montante do valor agregado conforme refletido no nível de integração para frente e para trás adotado, incluindo o fato de a empresa ter canal de distribuição cativo, lojas de varejo exclusivas ou de sua propriedade, rede própria de assistência técnica, e assim por diante; h) Posição de custo: o grau em que ela busca a posição de mais baixo custo na fabricação e na distribuição por meio de investimento em instalações ou equipamentos para minimizar o custo; i) Atendimento: o grau em que ela proporciona serviços auxiliares com a sua linha de produto, como assistência técnica, uma rede própria de atendimento, crédito, e assim por diante. Este aspecto da estratégia poderia ser visto como parte da integração vertical, mas é considerado à parte com finalidades analíticas;75 j) Política de preço: sua posição relativa de preço no mercado. A posição de preço estará em geral relacionada a outras variáveis, como a posição de custo e a qualidade do produto, mas o preço é uma variável estratégica distinta que deve ser considerada à parte; k) Alavancagem: o grau de alavancagem financeira e operacional de que ela dispõe; l) Relacionamento com a matriz: exigências sobre o comportamento de uma unidade baseada no relacionamento desta com sua matriz. A empresa pode ser uma unidade de um conglomerado altamente diversificado, um elo de uma cadeia vertical de negócios, parte de um grupo de negócios relacionados em um setor geral, uma subsidiária de uma companhia estrangeira, etc.; m) Relacionamento com os governos do país de origem e anfitriões: em indústrias multinacionais, o relacionamento que a empresa desenvolveu ou a que está sujeita com o governo de seu país de origem, assim como com o governo de países estrangeiros em que esteja operando. Cada uma dessas dimensões estratégicas pode ser descrita para uma empresa em diferentes níveis de detalhe e outras dimensões podem ser acrescentadas para refinar a análise. Importante, porém, é que essas dimensões forneçam um quadro global da posição da empresa. Os grupos estratégicos podem divergir em suas abordagens de produto ou marketing, mas nem sempre isso ocorre. Depois que os grupos se formam, as empresas do mesmo grupo, além de possuírem estratégias e parcelas de mercado semelhantes, costumam responder também da mesma forma a acontecimentos externos (PORTER, 1991). As empresas que atuam em diferentes grupos estratégicos apresentam diferentes níveis de rentabilidade e de parcela de mercado, que podem ser explicados pelo nível 76 das barreiras à mobilidade, que são os obstáculos que uma empresa participante de um determinado grupo deve superar para entrar em outro. O conceito de barreiras à mobilidade se assemelha ao de barreiras de entrada. A diferença se localiza no grau de agregação, pois o primeiro refere-se às dificuldades que as empresas deverão superar para ingressar ou mudar de grupo estratégico, enquanto o segundo refere-se ao setor. Os fatores que estão na origem das barreiras à entrada no grupo ou de mobilidade entre grupos e que provêm de uma estratégia de concorrência, aumentam para as outras firmas o custo de adoção da estratégia, o que pode conduzir a uma redução substancial dos ganhos da entrada num grupo. 3.6.1 Grupos Estratégicos e as Barreiras de Mobilidade Segundo Porter (1991, p.135), “as principais fontes de barreiras identificadas são: economias de escala, diferenciação do produto, custos de mudança, vantagens no custo, acesso aos canais de distribuição, necessidades de capital e política governamental”. No entanto, embora algumas das fontes de barreiras de entrada protejam todas as empresas na indústria, é evidente que barreiras de entrada globais dependem do grupo estratégico em particular ao qual o iniciante pretende se ligar. Observa-se que as diferenças na estratégia podem implicar distinções na diferenciação do produto, diferenças na obtenção de economias de escala, diferenças nas necessidades de capital, e possíveis diferenças em todas as outras fontes de barreiras de entrada. Diferenças no relacionamento das empresas com as matrizes podem afetar também as barreiras de entrada. O grupo estratégico composto de empresas que têm uma relação vertical com suas matrizes pode gozar de acesso mais favorecido a matéria- prima ou de maior volume de recursos financeiros. Porter (1991, p.136) observa que as barreiras não só protegem as empresas em um grupo estratégico da penetração por empresas de fora da indústria como também 77 fornecem barreiras para a mudança de posição estratégica de um grupo estratégico para outro. As barreiras de mobilidade fornecem a primeira razão importante para o fato de algumas empresas em uma indústria serem persistentemente mais lucrativas do que outras. Grupos estratégicos diferentes caracterizam-se por níveis diferentes de barreiras de mobilidade, que concedem a certas empresas vantagens persistentes sobre as outras. Os fatores que criam barreiras de entrada resultantes da adoção de uma determinada estratégia elevam o custo da adoção dessa estratégia por outras empresas. Esse custo de adoção da estratégia pode anular os ganhos esperados com a alteração. Os mesmos fatores econômicos básicos que conduzem a barreiras de entrada podem, assim, ser enquadrados de modo mais generalizado como barreiras e mobilidade ou fatores que dissuadem os movimentos de empresas de uma posição estratégica para outra. As barreiras de mobilidade fornecem a primeira razão importante para o fato de algumas empresas em uma indústria serem persistentemente mais lucrativas do que outras. As empresas em grupos estratégicos com barreiras de mobilidade altas terão um maior potencial de lucro do que aquelas inseridas em grupos com barreiras de mobilidade mais baixas. Sem as barreiras de mobilidade, as empresas com estratégias bem-sucedidas seriam rapidamente imitadas pelas outras e a sua rentabilidade tenderia à igualdade, exceto pelas diferenças em suas habilidades em executar a melhor estratégia no sentido operacional (PORTER, 1991). 3.6.2 Barreiras de Mobilidade e Formação de Grupos Porter (1991, p.137) afirma que “os grupos estratégicos são formados e modificam-se em uma indústria por várias razões”. Em primeiro lugar, as empresas geralmente iniciam ou desenvolvem mais tarde diferenças em recursos e potencialidades, selecionando, assim, estratégias diferentes. As empresas bem situadas distanciam-se 78 das outras na corrida em direção aos grupos estratégicos protegidos por barreiras de mobilidade altas à medida que a indústria vai se desenvolvendo. Depois, as empresas são diferentes quanto às suas metas e ao seu posicionamento em relação ao risco. O desenvolvimento histórico de uma indústria fornece outras explicações para as diferenças nas estratégias das empresas. Em algumas indústrias, o fato de ter entrado antes conduz a estratégias mais dispendiosas para os que entram por último. Barreiras de mobilidade derivadas de economias de escala, diferenciação do produto e de outras causas, podem também mudar tanto pelo resultado dos investimentos da empresa como por causas externas. A mudança nas barreiras de mobilidade significa que os primeiros a chegar em uma indústria podem seguir estratégias muito diferentes daqueles que chegarem mais tarde, sendo muitas dessas estratégias inacessíveis aos que entraram depois. 3.6.3 Grupos Estratégicos e as Cinco Forças da Concorrência a) Grupos Estratégicos e o Poder de Negociação de Clientes e Fornecedores Segundo Porter (1991, p.139), “assim como grupos estratégicos diferentes são protegidos por barreiras de mobilidade diferentes, eles gozam de graus diferentes de poder de negociação com clientes e fornecedores”. Dessa forma, os grupos estratégicos contarão com diferentes níveis de poder em relação a compradores e fornecedores por duas categorias de razões: suas estratégias podem lhes conferir graus diferentes de vulnerabilidade a compradores ou fornecedores comuns; ou suas estratégias podem envolver um relacionamento com fornecedores ou compradores diferentes com níveis de também diferentes de poder de negociação. A extensão em que o poder relativo pode variar depende da indústria; em algumas indústrias, todos os grupos estratégicos poderiam estar essencialmente na mesma posição em relação a fornecedores e compradores (PORTER, 1991). 79 b) Grupos Estratégicos e Ameaça dos Substitutos Segundo Porter (1991), os grupos estratégicos podem enfrentar também diferentes níveis de exposição à concorrência de produtos substitutos caso eles enfoquemdiferentes partes da linha de produtos, atendam clientes diferentes, operem diferentes níveis de qualidade ou sofisticação tecnológica ou tenham posições diferentes de custo. Tais diferenças podem torná-los mais ou menos vulneráveis a substitutos, mesmo que os grupos estratégicos estejam todos na mesma indústria. c) Grupos Estratégicos e a Rivalidade entre Empresas Porter (1991, p.140), cita que “a presença de mais de um grupo estratégico em uma indústria tem implicações na rivalidade nessa indústria ou na concorrência de preços, publicidade, atendimento e outras variáveis”. De forma geral, a existência de múltiplos grupos estratégicos habitualmente conduz ao fato de que as forças da rivalidade competitiva não são sentidas da mesma forma por todas as empresas na indústria. O primeiro ponto a ser notado é que a presença de vários grupos estratégicos afetará quase sempre o nível global de rivalidade na indústria. Essa presença aumentará, em geral, a rivalidade, pois implicará maior diversidade ou assimetria entre as empresas. Diferenças na estratégia e nas circunstâncias externas significam que as empresas terão preferências diferentes quanto a assumir riscos, ao horizonte de tempo, aos níveis de preços, aos níveis de qualidade, etc. Essas diferenças complicarão o processo de entendimento das empresas quanto às intenções das outras e de sua reação a elas, aumentando, assim, a probabilidade de deflagrações repetidas de estados de guerra. A indústria com uma classificação complexa de grupos 80 estratégicos tenderá a ser mais competitiva em sua totalidade do que uma com poucos grupos. Segundo Porter (1991, p.140-1), quatro fatores determinam a intensidade com que os grupos estratégicos em uma indústria irão interagir na competição por clientes: • a interdependência no mercado entre os grupos, ou o grau de sobreposição dos clientes visados; • a diferenciação do produto atingida pelos grupos; • o número de grupos estratégicos e seus tamanhos relativos; • o distanciamento estratégico entre os grupos, ou o grau de divergência das estratégias. A influência mais importante sobre a rivalidade entre os grupos estratégicos é sua interdependência no mercado, ou o grau em que grupos estratégicos diferentes estão competindo pelos mesmos clientes ou competindo por clientes em segmentos distintos do mercado. Quando os grupos estratégicos têm uma alta interdependência no mercado, as diferenças na estratégia conduzirão a uma rivalidade mais vigorosa. O segundo fator básico influenciando a rivalidade é o grau de diferenciação do produto criado pelas estratégias dos grupos. Se as estratégias divergentes conduzem a preferências dos clientes por marcas distintas e diferentes, a rivalidade entre os grupos tenderá, então, a ser muito menor do que se os produtos oferecidos fossem vistos como intercambiáveis. Quanto mais numerosos e iguais em tamanho (parcela de mercado) forem os grupos estratégicos, mais sua assimetria estratégica aumentará a rivalidade competitiva, não sendo considerados outros fatores. Grupos numerosos implicam uma grande diversidade e uma alta probabilidade de que um grupo deflagre uma situação belicosa atacando a posição de outros grupos mediante reduções de preços ou outras táticas. 81 O último fator, distanciamento estratégico, refere-se ao grau em que as estratégias em grupos diferentes divergem em termos de variáveis básicas, como identificação de marca, posição de custo e liderança tecnológica, assim como quanto às circunstâncias externas, como relações com as matrizes ou com o governo. Quanto maior o distanciamento estratégico entre os grupos, não considerando outros fatores, mais vigoroso o conflito competitivo entre as empresas (PORTER, 1991). c) Grupos Estratégicos e a Posição de Custos Os grupos estratégicos competindo em outras bases que não o baixo custo precisam estar constantemente cientes do diferencial entre seus custos e os dos grupos estratégicos com custos baixos de modo global. Se este diferencial se torna muito grande, os clientes podem, então, ser induzidos a mudar para os grupos de custos mais baixos, frustrando um sacrifício na qualidade, no atendimento, na progressividade tecnológica, ou em outras áreas. Ainda de acordo com Porter (1991), também pode existir somente um grupo estratégico em determinado setor. Dessa forma, o potencial de rentabilidade das empresas é o mesmo. Os grupos estratégicos também auxiliam na análise estrutural do setor. 3.6.4 Relação entre Grupos Estratégicos e Padrão de Concorrência da Indústria Em grande parte das indústrias, as empresas diferem quanto às estratégias adotadas, resultando em diferentes níveis de parcela de mercado e rentabilidade. Vimos que as indústrias que adotam estratégias semelhantes ao longo de algumas dimensões formam grupos estratégicos. Dessa forma, tende a existir, em qualquer indústria, um certo número de grupos estratégicos que tendem a apresentar diferentes parcelas de mercado e de rentabilidade. Ao mesmo tempo, é reconhecido que as indústrias competitivas são aquelas que concorrem com estratégias que são condizentes com o padrão de concorrência 82 vigente no mercado em que atuam. Em conseqüência disso, as indústrias do grupo estratégico que detêm as maiores parcelas de mercado e rentabilidade da indústria estariam seguindo estratégias que compõem o padrão de concorrência setorial. Num mercado globalizado as empresas deste grupo estariam competindo com as estratégias que compõem o padrão de concorrência da indústria mundial (CARVALHO JÚNIOR, 1997). 3.7 Cadeia de Valores A atratividade de um setor ou mercado depende de como o valor econômico criado para os clientes é compartilhado na cadeia de valor. Entende-se por cadeia de valor, a cadeia de atividades que obtém e transforma os insumos e distribui o produto para o cliente final. Cada atividade desta cadeia agrega valor ao produto. O valor acumulado das atividades é o que o cliente está disposto a pagar pelos benefícios criados. E o valor criado para o cliente depende da influência dos concorrentes em um determinado setor, ou seja, depende das cinco forças apresentadas por Porter (DAY&REIBSTEIN, 1999 e PORTER, 1989). Porter (1989) cita que a vantagem competitiva não pode ser compreendida somente por meio da análise da empresa como um todo, sendo originária das inúmeras atividades que ela executa. Cada uma das atividades pode contribuir para a posição de custos relativos de uma empresa, criando bases para a diferenciação. A cadeia de valores desagrega uma empresa em suas atividades de relevância estratégica, visando a uma compreensão do comportamento dos custos e às fontes para potenciais diferenciações. A cadeia de valores integra o que Porter denomina de “sistema de valores”, envolvendo fornecedores, canais e compradores. Dessa forma, a obtenção e a sustentação de uma vantagem competitiva dependem da compreensão não só da cadeia de valores de uma empresa, mas também do modo como a empresa se enquadra no sistema de valores geral.(PORTER, 1989). 83 Shank&Govindarajan apud Relvas (1996) consideram que a cadeia de valor caracteriza um conjunto de atividades criadoras de valor e que abrangem desde a extração e processamento de matéria-prima até a entrega ao consumidor final. Nesse sentido, o que Porter denomina como “sistema de valores” define para eles a própria cadeia de valores. Assim, entende-se que a cadeia de valor de uma empresa estende-se para além das fronteiras da organização, inserindo-a em um sistema maior, através de um processo de inter-relações e interdependência. Ainda segundo Relvas (1996), uma empresa não agrega valor somente pelo processamento ou combinação de recursos, mas também pela rede de relações e interações que estabelece,envolvendo agentes internos e externos, viabilizando o suprimento de insumos, a transformação e a distribuição de produtos. Dentro de uma indústria particular, as diferenças entre as cadeias de valores concorrentes são determinantes para implementação de uma vantagem competitiva. O valor, nesse contexto, é definido por Porter (1989) como o montante que os compradores estão dispostos a pagar por aquilo que uma empresa lhes oferece. Medida pela receita total, uma empresa é considerada rentável se o valor que ela impõe ultrapassa os custos envolvidos na criação do produto. Assim, deve-se considerar o valor e não os custos para análise da posição competitiva. Complemente-se que a definição de valor passa, inevitavelmente, pela verificação do significado de valor para o cliente, o qual extrapola a percepção de custos. Csillag (1988) apresenta quatro tipos de valor econômico: o valor de custo, caracterizado como o total de recursos medido em dinheiro necessário para produzir ou obter um item; o valor de uso, medida monetária das propriedades ou qualidades de desempenho de uso, trabalho ou serviço; o valor de estima, medida monetária relacionada às propriedades ou características de um item que tornam desejável sua posse; e o valor de troca, relacionado à medida monetária das propriedades ou qualidades de um item que tornam viável sua troca por outro bem. 84 A cadeia de valores exibe o valor total, consistindo de margem e atividade de valor. A margem é a diferença entre o valor total e o custo coletivo da execução das atividades de valor. Essas não se caracterizam por atividades independentes dentro da empresa, mas sim interdependentes, que estão relacionadas por meio de “elos” dentro da cadeia de valores. (Porter, 1989, p.44) afirma que “estes elos são relações entre o modo como uma atividade de valor é executada e o custo ou desempenho de uma outra”. Os elos podem promover duas formas de vantagem competitiva: a otimização e a coordenação. Refletindo freqüentemente trade offs entre atividades para obter o mesmo resultado global, uma empresa precisa otimizar esses elos de modo a obter vantagem competitiva. A habilidade na coordenação dos elos, também, com freqüência reduz o custo e aumenta a diferenciação. Embora vitais para a vantagem competitiva, os elos normalmente são sutis e passam despercebidos. Porter (1989, p.46) afirma que a “...identificação dos elos é um processo de busca das formas pelas quais cada atividade de valor afeta ou é afetada por outras”. Os elos não estão apenas presentes na cadeia de valores de uma empresa, mas também entre a cadeia de uma empresa e as cadeias de valores de fornecedores e dos canais. Nesse caso, os elos são denominados de elos verticais. Assim, similarmente aos elos dentro da cadeia de valores, suas ações afetam o custo ou o desempenho das atividades de uma empresa ou vice-versa. Observa-se que os elos entre as cadeias de valores da empresa e dos funcionários permitem oportunidades para intensificar a vantagem competitiva. Os elos com o fornecedor significam uma relação que deve beneficiar a ambos. “...tanto a coordenação com fornecedores quanto a negociação com eles são importantes para a vantagem competitiva. Uma sem a outra resulta na perda de oportunidades.” (Porter, 1989, p.47). No relacionamento com os canais, o processo de coordenação e otimização pode promover a redução de custos ou intensificar a diferenciação. 85 A cadeia de valores da empresa relaciona-se, também, com a cadeia de valores do comprador. Conforme Porter (1989), a cadeia de valores dos compradores é caracterizada pelo insumo comprado de uma empresa para a cadeia do comprador. Esse relacionamento insere a influência da diferenciação na sua implementação. A Diferenciação está na forma como as cadeias se relacionam, ou seja, o modo como o produto físico do comprador é utilizado na atividade do consumidor. A criação do valor para o comprador é o fundamento da diferenciação. Um valor é criado quando uma empresa cria uma vantagem competitiva para o comprador, a qual deve ser percebida por ele. Os argumentos expostos permitem concluir que a percepção da dinâmica envolvida nas relações entre fornecedores, indústria e compradores, por meio do estudo das cadeias de valores, é fundamental para obtenção de competitividade. Entender e otimizar as relações entre os diversos agentes do sistema produtivo permite a obtenção de vantagem competitiva frente a seus concorrentes. Fundamentalmente, o processo de otimização e coordenação está condicionado à visualização da organização como componente de uma cadeia e na necessidade de cooperação para obtenção de benefícios e singularidade. Os elos existentes entre os integrantes das cadeias de valores estabelecem as condições e qualidade das relações entre os agentes e sua capacidade de obtenção de valor em suas atividades. A agregação de valor em seus produtos e processos definirá a competitividade da cadeia e consequentemente a condição de sucesso de todos os seus integrantes. Observa-se que o estudo da cadeia de valores contribui de várias formas para identificação, construção e sustentação de vantagens competitivas. Isso é viabilizado pela exploração das inter-relações e interações pela análise do modo como cada atividade de valor é executada para determinar sua contribuição na formação do valor para com o consumidor e pela comparação com cadeias de valores dos concorrentes (Relvas, 1996). 86 Em suma, a análise da cadeia de valor é essencial para determinar as possibilidades de incremento de valor na cadeia dos clientes, em que o valor pode ser aumentado ou os custos reduzidos (Shank&Govindarajan apud Relvas, 1996). Dessa forma, a visualização do desempenho competitivo das empresas como resultante do comportamento do conjunto de agentes, internos e externos, promove condições para otimização de suas ações como um todo. A verificação e a análise da contribuição de cada componente na agregação de valor na atividade permitem a adoção de medidas que possam maximizar as iniciativas e ações individuais, adicionando relevância e eficácia ao produto final. Conclui-se que a cadeia de valor é uma teoria destinada a examinar todas as atividades realizadas por uma empresa e as ligações existentes entre elas. 3.8 Considerações Finais Neste capítulo foram apresentados posicionamentos teóricos relacionados aos objetivos propostos, ou seja, realizou-se uma revisão da literatura acerca das principais idéias sobre competitividade, estratégias competitivas, segundo a visão dos autores Miles&Snow apud Mintzberg et al.. (2000), Ansoff (1997), Mintzberg (1992) e Porter (1989 e 1991), análise estrutural dos setores, grupos estratégicos e, por fim, cadeia de valores. No que diz respeito à competitividade é importante que as empresas fiquem atentas às mudanças que ocorrem no ambiente, pois, como disse Shumpeter (citado por Porter, 1989), a competitividade depende de diversos fatores, tais como: qualidade, flexibilidade, tecnologia, recursos humanos, etc. Portanto, é importante que as empresas procurem sempre estar atualizadas no que diz respeito a esses atributos. No entanto, para as empresas vencerem a concorrência, é necessário que obtenham vantagens competitivas. Uma das formas que uma empresa pode utilizar para conseguir essas vantagens é elaborando estratégias. 87 Relativamente ao termo estratégia, observou-se que existem diversas definições e que umas complementam as outras. Verificou-se, ainda, que as empresas são mais que um conjunto de bens e serviços, ou seja, elas são sociedades humanas, desenvolvem formas diferentes de cultura e adotam as estratégias que estão de acordo com sua cultura, seus líderes, seus funcionários e com o ambiente em que estão inseridas. Constatou-se,também, por meio da revisão teórica e segundo os autores propostos, que existem diversos tipos de estratégias. No entanto, só as próprias empresas poderão identificar quais as estratégias e os fatores as levarão a obter sucesso. 88 4. ASPECTOS METODOLÓGICOS 4.1 Introdução Após a exposição da revisão teórica, serão apresentados a seguir os métodos e materiais utilizados e os parâmetros que orientam esta pesquisa. Segundo Minayo, (1993), a metodologia, de uma forma geral, é o caminho e o instrumental próprios da realidade. Inclui as concepções históricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade como também o potencial criativo do pesquisador. 4.2 Descrição do Campo de Observação Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o Distrito Federal é unidade autônoma, sede do Governo Federal com seus poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Tem as mesmas competências legislativas reservadas aos Estados e municípios e é regido por Lei Orgânica, sendo vedada sua divisão em municípios. Dividido em 19 regiões administrativas, popularmente conhecidas como cidades-satélite, o Distrito Federal possui uma área total de 5.801,87 km², correspondendo a 0,07% da área total do território nacional e está encravado no Planalto Central, a uma altitude média de 1,1 mil. Nele se localiza a capital do país e o centro do poder político da União, Brasília. A cidade inaugurada em 1960 tem no Plano Piloto a forma de avião, com duas asas residenciais e um eixo central que as divide. Brasília recebe constante afluxo de pessoas de todos os Estados brasileiros e de outras nações. Essa diversidade cultural, que permite encontrar os mais variados sotaques, costumes e comidas típicas, é uma característica brasiliense marcante. A população do Distrito Federal em 2000, data em que foi realizado o último censo, era de 2.051.146 habitantes, sendo 981.356 homens e 1.069.790 mulheres. A 89 predominância da burocracia federal em Brasília se reflete no Produto Interno Bruto (PIB) da região. Dos 21,5 bilhões de reais anuais, 36,9% vêm da administração pública. Em 1999, a agropecuária representava apenas 1,6%; a indústria 11,1%; e o setor de serviços, 93,6%. Entre as indústrias destacam-se a de transformação, a gráfica e a da construção civil. Na carteira de importações, aparecem disparados os medicamentos, com 60% do total. A predominância dos medicamentos se deve às compras realizadas pelo Ministério da Saúde. O Distrito Federal apresenta, ainda, a maior renda média per capita do Brasil: 6.259 dólares em 1999, mais que o dobro da média nacional, que era de 2.879 dólares. O desemprego, contudo, é alto e atinge, sobretudo, os trabalhadores menos qualificados das cidades satélites. Embora a densidade demográfica do Distrito Federal seja a mais alta do Brasil, de 352,2 habitantes por quilômetro quadrado, o risco de uma explosão populacional parece afastado. Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE mostram que a taxa de crescimento demográfico recuou de 14,4% na década de 60 para 1,1% entre 2000 e 2001. 4.3 A Pesquisa Segundo o Dicionário Aurélio, “pesquisa” significa indagação ou busca minuciosa para averiguação da realidade; investigação, inquirição. Investigação e estudo, minudentes e sistemáticos, com o fim de descobrir ou estabelecer fatos ou princípios relativos a um campo qualquer do conhecimento. Em suma, pesquisar significa, de forma bem simples, procurar respostas para indagações propostas. De acordo com o Webster’s International Dictionary, apud Lakatos e Marconi (1999, p.17): A pesquisa é uma indagação minuciosa ou exame crítico e exaustivo na procura de fatos e princípios; uma diligente busca para averiguar algo. 90 Pesquisar não é apenas procurar a verdade; é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos. Minayo (1993, p.23), numa visão mais filosófica, considera a pesquisa como: Atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados. Demo (1996, p.34) insere a pesquisa como atividade cotidiana, considerando-a como uma atitude, um “questionamento sistemático, crítico e criativo, mais a intervenção competente na realidade, ou o diálogo crítico permanente com a realidade em sentido teórico e prático”. Para Gil (1999, p.42), a pesquisa tem um caráter pragmático, é um “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. 4.4 Métodos de Análise Neste estudo, a pesquisa caracteriza-se quanto ao conteúdo como sendo uma pesquisa aplicada, pois segundo Munhoz (1989, p.30), “utiliza desenvolvimentos teóricos para estudos empíricos para a realidade observada”. Quanto à amplitude, caracteriza-se como sendo descritiva. A pesquisa descritiva visa ao conhecimento do comportamento, sem necessariamente descer às análises sobre causas e efeitos, ou à tentativa de interpretação (MUNHOZ, 1989). Segundo Gil (1991), visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como: questionário e observação sistemática. 91 Segundo Cervo&Bervian (1983), os estudos descritivos se caracterizam por: a) observar, registrar e correlacionar os fatos ou fenômenos sem manipula-los; b) estudar os fatos e fenômenos do mundo físico e, especialmente, do mundo humano, sem a interferência do pesquisador; c) desenvolver nas ciências humanas e sociais abordando dados e documentos que não constam de documentos; e d) buscar conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida e nos aspectos do comportamento humano, tanto de indivíduos quanto de grupos. A pesquisa também caracteriza-se como qualitativa, por existir maior possibilidade de serem obtidos dados mais íntimos, mais profundos e pessoais, semelhantemente àqueles obtidos em estudos de caso. Com esse tipo de pesquisa busca-se responder por que as pessoas fazem determinadas coisas, ou por que determinados eventos acontecem. As amostras podem ser reduzidas, nem sempre representativas do universo, como conceitua Kirk&Miller (1986) apud Mattar (1987, p.77): “tecnicamente a pesquisa qualitativa identifica a presença ou ausência de algo, enquanto a quantitativa procura o grau em que algo está presente”. Minayo (1993), ainda afirma que na pesquisa qualitativa não existe a necessidade de quantificar, mas de explicar os meandros das relações sociais e retratar a realidade na análise de grupos sociais. A pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, derivados do contato direto dos pesquisados com a situação estudada; enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes (BODGAN&BIKLEN, apud LUDKE&ANDRÉ, 1996). O material utilizado na presente pesquisa compõe-se de informações que permitem identificar o grau de intensidade das cinco forças competitivas, das dimensões estratégicas, assim como permitem realizar a composição dos grupos estratégicos no setor de alimentos preparados do Plano Piloto em Brasília/DF, as quais foram coletadas diretamente dos restaurantes no período 01 de outubro a 14 de novembro 92 de 2002. As informações foram obtidas em entrevistas pessoais, mediante a aplicação de questionário padronizado (anexo 1) com os proprietários ou os responsáveispelos estabelecimentos. 4.5 Coleta dos Dados Os dados utilizados nesta pesquisa são de dois tipos: primários e secundários. Os dados primários foram coletados na pesquisa de campo, por meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas nas empresas estudadas, através de um roteiro previamente estabelecido (questionário) com perguntas abertas e fechadas. Nesta pesquisa também foi utilizado o método observacional. O questionário consiste num elenco de questões que são submetidas a um certo número de pessoas com o intuito de obter respostas para a coleta das informações (FACHIN, 1993). O questionário encontra-se no anexo 1 deste trabalho. Os dados secundários provêm de material bibliográfico, tais como: livros, revistas e periódicos, dissertações, teses e dados disponíveis na internet, em vista da importância dos mesmos em qualquer tipo de estudo. Por meio dos dados obtidos nas fontes bibliográficas utilizadas, foi possível fazer o referencial teórico, a justificativa e os aspectos metodológicos deste trabalho, também serviu para caracterizar o setor de alimentação descrito no capítulo 2. Os dados utilizados nesta pesquisa foram obtidos por meio de entrevista e coletados diretamente pela autora do trabalho, tendo-se utilizado as seguintes fontes: • Restaurantes localizados na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília/DF; • Informações coletadas com proprietários e funcionários dos restaurantes; • Informações complementares que foram coletadas nos seguintes órgãos: • Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR. • Junta Comercial do Distrito Federal – JCDF. • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. 93 4.6 População e Amostra Segundo a ANFB – Associação Nacional dos Fabricantes de Bebidas, o Brasil tem 1.200.000 pontos de vendas de bebidas. Desse total os bares e similares representam 46% e os restaurantes 9%. Conforme se pode observar, no Brasil existem aproximadamente 660.000 estabelecimentos, entre bares, restaurantes e similares, que empregam 3.024.000 funcionários e geram 1.512.000 empregos indiretos. Esses estabelecimentos apresentam faturamento mensal de US$7.560 milhões, e somam mensalmente impostos e encargos de US$1.890 milhões. No Distrito Federal entre 1999 e 2000, havia 443 empresas estabelecidas, entre bares e restaurantes, distribuídos entre o Plano Piloto e demais regiões administrativas. A fim de conhecer o número e a localização dos restaurantes do Plano Piloto de Brasília/DF, foi realizado um levantamento das empresas arroladas por meio de consulta à Junta Comercial do Distrito Federal – JCDF, ao site www.viabrasília.com.br, e ao Guia Oficial da Cidade de Brasília, publicado pela Embratur – Instituto Brasileiro de Turismo. Com base nessas informações realizou- se a pesquisa. No setor estudado (Asa Sul) encontram-se estabelecidos 70 (setenta) restaurantes atendendo diversas especialidades. Para realização da análise foi extraída uma amostra de 50 (cinqüenta) restaurantes. Dessa amostra foram selecionados 35 restaurantes e descartados 15 pelo fato de terem mudado de ramo ou fechado as portas no período do estudo. Com o propósito de gerar a amostra, escolheu-se a técnica “amostragem não aleatória”. Em geral, as técnicas de amostragem não aleatórias procuram gerar http://www.viabras�lia.com.br/ 94 amostras que de alguma forma, representam razoavelmente bem a população de onde foram extraídas (BARBETTA, 1998). Após o levantamento realizado, elaborou-se uma listagem com os nomes dos restaurantes, endereços e pessoas responsáveis, respectivamente. Para escolha dos restaurantes elaborou-se uma amostragem não aleatória por julgamento. Segundo Barbetta (1998, p.53), numa amostragem por julgamento “os elementos escolhidos são aqueles julgados como típicos da população que se deseja estudar. Numa população deste tipo, a utilização de uma amostragem aleatória pode não ser recomendável, já que temos uma população pequena”. Os restaurantes visitados foram escolhidos com base nas listagens. A intensidade da amostragem foi realizada de modo a cobrir o maior número possível de restaurantes self-service localizados na Asa Sul, do Plano Piloto. Para a coleta dos dados, foi elaborado um questionário composto de duas seções: a primeira, com questões relativas ao comportamento das empresas frente às dimensões estratégicas, que são: especialização; identificação de marca; qualidade do produto; integração vertical; posição de custos; diversificação de negócios; inovação; atendimento e política de preços. A segunda seção aborda questões referentes ao comportamento estratégico das empresas frente às cinco forças competitivas, quais sejam: ameaça de novos entrantes, ameaça de substitutos; rivalidade entre empresas; relacionamento com fornecedores; relacionamento com os clientes. O questionário foi elaborado com perguntas abertas e fechadas, sendo aplicado o método de contato direto com o entrevistado. Dessa forma, estabeleceu-se um contato inicial com o proprietário ou gerente, por meio do qual foi marcada uma entrevista com dia e hora previamente combinados, para maior eficiência na coleta dos dados. 95 4.7 Perguntas da Pesquisa Em relação às perguntas da pesquisa, essas estão relacionadas na entrevista semi- estruturada (Anexo 1). Entretanto, as perguntas básicas podem ser resumidas da seguinte forma: a) Quais as estratégias utilizadas pelos restaurantes self-service localizados na Asa Sul, do Plano Piloto de Brasília/DF? b) Como os grupos estratégicos se posicionam em relação às cinco forças competitivas de Porter? 4.8 Tratamento dos Dados A tabulação dos questionários utilizados na pesquisa foi realizada eletronicamente através do software Sphinx, que dentre outras coisas permite o cruzamento de várias questões fechadas, bem como o agrupamento de questões abertas, facilitando sobremaneira a análise das informações obtidas. Posteriormente, os resultados foram transferidos para a planilha eletrônica Microsoft EXCELL, para que pudessem ser elaboradas as tabelas e os gráficos, já que o software Sphinx não oferece esses recursos. Com base nos resultados da pesquisa, executada por meio do questionário mencionado anteriormente, foi possível identificar no setor as empresas que adotam comportamento semelhante em relação às estratégias concorrenciais adotadas e agrupá-las em 4 (quatro) grupos estratégicos. A análise e discussão dos resultados da pesquisa utilizada neste trabalho, serão apresentadas no Capítulo 5. 96 5. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO. 5.1 Introdução Neste capítulo foram caracterizados os grupos estratégicos do setor de restaurantes localizados na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília, a partir do agrupamento de empresas que seguem estratégias semelhantes em várias dimensões. Para que fosse possível realizar uma caracterização mais apropriada com o tema escolhido, foi necessária uma segmentação do setor de restaurantes, recaindo a escolha sobre o segmento que trabalha com auto-atendimento (self-service). Esse setor é o de maior relevância na localidade estudada. O estudo incidiu sobre 35 (trinta e cinco) restaurantes localizados nos setores Comercial, Autarquias e Comércio Local da Asa Sul. Essa região caracteriza-se pela concentração de repartições públicas, bancos, escritórios, lojas comerciais e também por restaurantes e lanchonetes. A partir do levantamento realizado junto às empresas pesquisadas, foram formados os grupos estratégicos do setor, segmentando-os a partir do agrupamento de empresas que seguem estratégias semelhantes, levando-se em consideração as dimensões estratégicas definidas na parte teórica deste estudo. No entanto, não serão consideradas todas as dimensões propostas por Porter (1989), mas aquelas que foramusadas permitem alcançar o objetivo almejado. Algumas delas, tais como liderança tecnológica, política governamental e aliança, não apresentam relevância neste setor. Além do levantamento e análise, será estudado, também, o comportamento de cada grupo estratégico em relação às cinco forças competitivas de Porter (1991). 97 5.2 Os Grupos Estratégicos no Setor de Restaurantes Self-Service de Brasília Com base nas escolhas estratégicas dos restaurantes estabelecidos no setor estudado, foram encontrados 4 (quatro) grupos estratégicos que serão apresentados no quadro n. 5.1 a seguir. GRUPOS ESTRATÉGICOS RESTAURANTES Grupo I Taioba, Sancho Pança, Café Brasil, Don Durika, Cenarius Grilll, Panela Mágica, Cozinha Mineira, Fogão de Lenha, Veredas Grilll, Talher Brasil, Fiorella e Coisas da Terra. Grupo II Avenida, O Brasileiro, Comer – Comer, Pimenta Doce, Bom Paladar, Bom Grado, Bom Prato, Classe A e Pizzaria Germana. Grupo III Naturama, Terra do Sol, Amor à Natureza, Naturetto, Greens, Rei do Glúten e Flor de Lótus. Grupo IV Don Durika Buffet, Calaf, Assados e Grelhados, Chão Nativo, Esquina Mineira, Feitiço Mineiro e Cabana da Árvore. Quadro n. 5.1 - Grupos Estratégicos no Setor de Restaurantes Self-Service 5.2.1 Grupo Estratégico I Componentes: Taioba, Sancho Pança, Café Brasil, Don Durika, Cenarius Grilll, Panela Mágica, Cozinha Mineira, Fogão de Lenha, Veredas Grilll, Talher Brasil, Fiorella e Coisas da Terra. Posicionamento do Grupo I em Relação às Dimensões Estratégicas a) Grau de Especialização: encontram-se estabelecidos na Zona Central e Asa Sul do Plano Piloto. Nessa região existe uma grande concentração de órgãos públicos, bancos e representações de grandes empresas. Como são muitos os clientes e eles se diversificam em suas exigências de consumo, os restaurantes procuraram identificar os segmentos de mercado que poderiam atender e focaram no mercado- alvo que são: servidores públicos, bancários e executivos que almoçam próximo ao 98 local de trabalho, devido à dificuldade de se locomoverem até as suas residências no intervalo para o almoço. Atendem no sistema self-service. O cardápio é divulgado antecipadamente, servindo diariamente um buffet com mais ou menos 15 tipos de saladas e 25 pratos quentes, além do tradicional churrasco com carnes variadas. Além dos pratos comuns, a cada dia da semana são servidas especialidades, tais como: frutos do mar, comida árabe, comida japonesa e feijoada. b) Identificação de Marcas: realizam poucos investimentos em propaganda e publicidade. Porém, quando o fazem, a forma de divulgação mais utilizada ocorre por meio de sites na Internet e anúncios em páginas de gastronomia e turismo de Brasília. No entanto, os restaurantes têm tradição por seu cardápio e a maior publicidade acaba sendo o boca a boca, já que a freqüência é muito grande. c) Qualidade dos Produtos e Serviços: apresentam certo requinte no ambiente, na decoração e nos pratos servidos. Os salões de atendimento são confortáveis, com ar condicionado ou sistema de ventilação. Os funcionários trabalham uniformizados e com os cabelos presos e os que manipulam os alimentos usam proteção nos cabelos e máscara para cobrir o nariz e a boca. São restaurantes que prezam a qualidade e a variedade no cardápio. O controle de qualidade dos alimentos ocorre desde a aquisição dos insumos utilizados na preparação das refeições. Observa-se uma grande preocupação com a manipulação dos alimentos servidos, com os equipamentos utilizados na cocção e com a apresentação dos pratos. O processo de higienização dos utensílios e do ambiente produtivo, incluindo dependências dos salões de distribuição, representa outra preocupação constante dos proprietários, uma vez que qualquer falha pode acarretar perda de clientes e conseqüente publicidade negativa. Outro fator preocupante diz respeito ao reaproveitamento dos alimentos que sobram nas bandejas e travessas. Há um 99 rigoroso controle, por parte da Secretaria de Vigilância Sanitária, para evitar a contaminação dos alimentos. Os restaurantes Sancho Pança, Café Brasil e Taioba têm a cozinha aberta para que o cliente possa verificar as instalações e a forma como os alimentos são manipulados. Contam ainda com a orientação de nutricionista na elaboração dos pratos. Praticamente inexistem gastos com treinamento dos funcionários, já que os próprios donos, na maioria das vezes, realizam treinamento dentro da empresa, uma vez que os cursos oferecidos periodicamente pelo SENAC destinam-se apenas a cozinheiros e garçons. Esses treinamentos podem ocorrer quando um funcionário é contratado ou, periodicamente, para enfatizar a importância da higiene, da manipulação dos alimentos e principalmente do atendimento ao cliente. d) Integração Vertical: não apresentam nenhum tipo de integração vertical, os gêneros alimentícios, hortifrutigranjeiros e demais ingredientes são adquiridos de terceiros. e) Atendimento e Serviços: os funcionários são orientados a atender o cliente procurando responder às suas expectativas e satisfazê-lo, mesmo porque se o desempenho não alcançar as expectativas o cliente ficará insatisfeito e provavelmente não voltará. Visando atrair a clientela, oferecem como serviço complementar a entrega de refeições (delivery) e aceitam vários cartões de crédito e ticktes refeição e alimentação. Em alguns restaurantes desse grupo encontra-se em estudo o lançamento de programa de fidelização de clientes. f) Política de Preços: os preços são considerados elevados em relação aos demais restaurantes estabelecidos nas imediações e são reajustados com base nos preços de mercado praticados por estabelecimentos de mesmo nível e qualidade. Nas entrevistas com os proprietários e gerentes, foi informado que existe uma espécie de cartel, ou seja, quando um restaurante reajusta o preço da refeição (quilo) os 100 demais seguem o mesmo procedimento e assim os preços ficam sempre muito próximos. g) Inovação de Produtos e Serviços: estão sempre promovendo inovações nos serviços e produtos oferecidos. Nos últimos dois anos, todos fizeram reforma na cozinha ou no salão de atendimento e inovaram nos pratos servidos. Os restaurantes Taioba e Talher Brasil passaram a servir lanches no período vespertino e os restaurantes Fiorella e Veredas Grill servem caldos, sopas e variada mesa de frios no período noturno. Posicionamento do Grupo I em Relação às Cinco Forças Competitivas a) Ameaça de Novos Entrantes: as dificuldades para novas empresas ingressarem não são tantas, uma vez que as economias de escala não se mostram elevadas. Um fator que pode dificultar a entrada de novas empresas é o fato de os restaurantes pertencentes a esse grupo terem sua marca identificada por uma parcela dos consumidores em razão da quantidade e qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Outro fator é o capital inicial necessário para ingressar e competir no setor, que gira em torno de R$150.000,00 para as instalações de produção, mobiliário, estoques e capital de giro inicial. Os custos de mudança não representam barreira à entrada, mesmo porque as empresas que entram nesse setor já conhecem os fornecedores e o mercado, e têm os equipamentos necessários para iniciar as atividades e a mão-de-obra que pode ser aproveitada de outros estabelecimentos. Os restaurantes desse grupo não têm programa de fidelidade, porém o Don Durika e o Veredas Grill estão estudando a possibilidade de oferecerem bônus a cada dez refeições servidas. b) Ameaça de Produtos Substitutos: os principais substitutos dos produtos e serviços oferecidos pelos restaurantes são as lanchonetes, tais como Mac Donald’s, Giraffas, Trucks e Mariettas, que oferecem refeições rápidas e sanduíches variados. Não existe, porém, grande preocupaçãocom esses produtos, visto que oferecem 101 cardápio bem variado e os clientes (mercado-alvo) dificilmente substituirão uma refeição com orientação nutricional por lanches mais calóricos e menos nutritivos. c) Poder de Negociação dos Compradores: de modo geral, os clientes têm relativo poder de barganha, isso porque os restaurantes oferecem produtos homogêneos e com preços semelhantes. No que diz respeito aos preços não existe negociação, uma vez que os alimentos são servidos no sistema self-service, com os preços já fixados e registrados na balança. No entanto, existe certa pressão em relação à qualidade e variedade dos alimentos servidos, fazendo com que os restaurantes procurem inovar e variar no cardápio. d) Poder de Negociação dos Fornecedores: o fornecimento de gêneros alimentícios é feito por diversos fornecedores (distribuidores e atacadistas). Os produtos vendidos pelos fornecedores podem ser facilmente encontrados no mercado interno ou ser substituídos com facilidade. Para os restaurantes optarem por outro fornecedor praticamente não existem custos de mudança, uma vez que todos os distribuidores fornecem produtos para o Distrito Federal e fazem entregas semanais. Como são várias as empresas fornecendo os gêneros, os restaurantes têm relativo poder de barganha em relação à qualidade dos insumos e ao prazo de pagamento. O fornecimento de carnes vermelhas, frango e peixes é feito por poucos açougues e frigoríficos, previamente selecionados, tornando os restaurantes fiéis a esses fornecedores e mais vulneráveis em relação a preço, prazo e forma de pagamento. Esses fornecedores são mais concentrados e dessa forma torna-se mais difícil substituí-los. Os hortifrutigranjeiros são adquiridos de produtores rurais estabelecidos na região e previamente selecionados. Existe dificuldade em substituí-los devido à grande procura pelos produtos. Esses produtores exercem certo poder de barganha, uma vez que a qualidade dos produtos é de suma importância para os restaurantes. No entanto, ocorre negociação nos preços e na forma de pagamento, principalmente 102 quando são adquiridas grandes quantidades. Na falta desses insumos, os restaurantes procuram substituí-los por outras espécies ou adquirir diretamente de atacadistas na CEASA, ou em verdurões estabelecidos nas imediações. e) Rivalidade entre as Empresas (do mesmo grupo): a rivalidade entre as empresas do grupo é elevada, visto que existem vários restaurantes no setor e os produtos e serviços oferecidos apresentam qualidade superior, maior variedade, serviço diferenciado e ambiente requintado. Outro ponto levantado mostra que os restaurantes desse grupo não estão dispostos a baixar seus preços ou fazer promoções quando a freqüência diminui. Ao contrário de outras empresas localizadas no setor, eles inovam no cardápio oferecendo pratos bem mais caros e elaborados para que os clientes retornem. Os restaurantes deste grupo competem por qualidade e variedade. À exceção do restaurante Veredas Grill, os demais fazem parte de uma rede de empresas, o que proporciona certa vantagem em relação ao custo dos produtos adquiridos e um poder maior de negociação em relação a preço e forma de pagamento. Sobre os custos, levantou-se na pesquisa que algumas empresas chegaram a utilizar sistemas de custeio em planilha eletrônica, porém não acharam compensativo e passaram a controlar minuciosamente os custos e mensurar todos os elementos quantificáveis. São somadas todas as compras e as despesas do mês e, posteriormente, relacionadas com as receitas do mesmo período, obtendo-se, assim, o lucro operacional. Essas empresas conseguem obter lucros através do volume de refeições vendidas. Verificou-se, também, pelas informações colhidas com os proprietários, que os custos fixos representam a maior parcela em relação ao custo total e os valores que mais oneram são os salários e encargos sociais e o aluguel do imóvel no qual o restaurante funciona. f) Rivalidade entre as Empresas (em relação a outros grupos): a rivalidade entre empresas desse grupo e as dos demais é relativamente baixa, uma vez que os 103 restaurantes dos demais grupos, embora sirvam no sistema self-service, oferecem cardápio e serviços diferenciados. 5.2.2 Grupo Estratégico II Componentes: Avenida, O Brasileiro, Comer & Comer, Pimenta Doce, Bom Paladar, Bom Grado, Bom Prato, Classe A e Pizzaria Germana. Posicionamento do Grupo II em relação às Dimensões Estratégicas a) Grau de Especialização: encontram-se localizados na Asa Sul de Brasília, onde existe uma grande concentração de escritórios e lojas comerciais. Os principais clientes desses restaurantes são comerciários e outros trabalhadores de menor poder aquisitivo que dependem de transporte coletivo para se deslocarem até as suas residências no intervalo para o almoço. O ambiente é simples e o cardápio pouco variado, mas oferecem comida caseira saborosa. b) Identificação de Marcas: realizam pequenos investimentos em propaganda e publicidade, fazendo divulgação por meio de banners e panfletos. Alguns desses restaurantes figuram em guias oficiais do Distrito Federal e em sites de gastronomia e turismo de Brasília. c) Qualidade dos Produtos e Serviços: apesar de demonstrarem preocupação com a qualidade dos alimentos servidos, não fazem investimentos em programas de qualidade ou em processos mais modernos de cocção. O atendimento é feito por poucos funcionários, o cliente muitas vezes precisa se dirigir ao balcão para solicitar bebidas ou qualquer outro serviço. A maioria dos funcionários trabalha na cozinha ou colocando os alimentos em bandejas e travessas. O processo de higienização dos utensílios e do ambiente produtivo, incluindo dependências dos salões de distribuição, representa uma preocupação constante para os proprietários. E qualquer falha poderá ser fatal para a sobrevivência desses 104 estabelecimentos. Existe outra preocupação em relação à quantidade dos alimentos servidos, principalmente em relação aos excedentes para evitar desperdícios. A comida que excede se transforma em outros pratos que serão servidos no dia seguinte. Outro ponto observado refere-se à apresentação dos empregados, que se vestem de forma inadequada para manipular os alimentos, trabalhando em alguns casos sem avental e sem proteção nos cabelos. Nesse grupo praticamente não são feitos investimentos em treinamento e qualificação de pessoal. Como a maioria dos proprietários tem experiência na elaboração de pratos, eles mesmos trabalham na cozinha orientando e até ajudando cozinheiros e auxiliares. Os demais funcionários, ao serem contratados, recebem orientação dentro da própria empresa sobre o processo de higienização dos utensílios e do ambiente produtivo e, principalmente, em relação ao atendimento. d) Integração Vertical: não apresentam nenhum tipo de integração vertical, os gêneros alimentícios, hortifrutigranjeiros, carnes vermelhas, frango e demais acompanhamentos são adquiridos de fornecedores e produtores. e) Atendimento e Serviços: procurando atrair os clientes, em sua maioria comerciários e trabalhadores de escritórios, os restaurantes componentes deste grupo aceitam tickets alimentação e refeição. Alguns fazem convênios com empresas para recebimento mensal. Apenas o restaurante O Brasileiro oferece música ao vivo no horário do almoço, os demais não oferecem serviços complementares. Observou-se, mais, que são gerenciados pelos proprietários ou familiares, que trabalham no preparo, reposição, atendimento e caixa. f) Política de Preços: competem por preços, considerados baixos em relação aos praticados pelos demais restaurantes estabelecidos nas imediações. Por sinal, destacam-se por praticarem os preços mais acessíveis do setor em que se encontram localizados.Os preços baseiam-se em valores praticados por estabelecimentos de mesmo nível e qualidade e são reajustados de acordo com a inflação. 105 g) Inovação de Produtos e Serviços: promoveram poucas inovações nos últimos dois anos, mesmo porque a rotatividade nesse tipo de estabelecimento é muito grande e a maioria encontra-se estabelecida há menos tempo. As mudanças promovidas referem-se ao sistema de atendimento e às instalações físicas. Relativamente aos pratos servidos, praticamente não ocorreram inovações. Posicionamento do Grupo II em Relação às Cinco Forças Competitivas a) Ameaça de Novos Entrantes: pode-se considerar que inexistem barreiras à entrada de novas empresas no setor, uma vez que os pratos servidos são simples e pouco variados e não há grande diferenciação nos serviços oferecidos. O capital inicial necessário para ingressar e competir no setor é considerado baixo, em torno de R$60.000,00 e R$80.000,00 (incluindo o ponto comercial) para as instalações de produção, mobiliário, máquinas, estoques e capital de giro inicial. Os custos de mudança também não representam barreira à entrada, uma vez que os insumos utilizados podem ser adquiridos com facilidade. Os equipamentos necessários para iniciar as atividades e a mão-de-obra não representam dificuldade para novas empresas ingressarem no setor. b) Ameaça de Produtos Substitutos: os principais substitutos dos produtos e serviços oferecidos pelos restaurantes são as lanchonetes e vendedores ambulantes estabelecidos na região, que oferecem lanches rápidos a preços bem acessíveis. No setor também são vendidas refeições em embalagens descartáveis (quentinha) por ambulantes estabelecidos no local, que também podem substituir os pratos servidos por esses restaurantes. Existe preocupação em relação à concorrência, visto que o mercado-alvo tem pouco poder aquisitivo e facilmente substituirá uma refeição mais elaborada por pratos feitos ou lanches menos nutritivos. Embora não sirvam no sistema à la carte, os restaurantes oferecem pratos à base de carnes vermelhas, frango, legumes e saladas, além de pratos quentes, dando opções ao consumidor que não queira ingerir um lanche rápido. 106 c) Poder de Negociação dos Compradores: de modo geral, os clientes têm pouco poder de barganha. Os alimentos são servidos no sistema de buffet com preço único ou self-service, com os preços já fixados e registrados na balança. No entanto, todos os restaurantes recebem tickets refeição e alimentação. Alguns concedem maiores prazos para pagamento mediante convênios com empresas estabelecidas no setor. d) Poder de Negociação dos Fornecedores: os gêneros alimentícios são adquiridos de diversos fornecedores (atacadistas e supermercados). As compras são realizadas diretamente pelos proprietários, os quais procuram os gêneros que estão em promoção. Podem trocar de fornecedor a qualquer momento. Como os produtos são facilmente encontrados, os fornecedores podem ser substituídos com maior facilidade, tornando-se menos poderosos em relação aos restaurantes. As carnes vermelhas, frango e peixes são adquiridos diretamente em feiras populares ou em grandes supermercados. Os restaurantes procuram se manter fiéis aos fornecedores. Como os fornecedores são concentrados existe certa dificuldade em substituí-los. Se faltar algum desses insumos ou se o preço aumentar em demasia, os restaurantes os substituem por outro acompanhamento, podendo servir almôndegas, carne moída ou outro acompanhamento de preço mais acessível. Relativamente ao preço, inexiste negociação, mas os prazos de pagamento geralmente são negociados. e) Rivalidade entre as Empresas (do mesmo grupo): a rivalidade entre as empresas deste grupo é bastante elevada. Existem vários restaurantes no setor e a competição se dá em nível de preço. Normalmente os proprietários arrendam o ponto ou têm apenas um estabelecimento que serve como renda para toda a família. Ao contrário de outras empresas localizadas no setor, quando a freqüência diminui são realizadas promoções e oferecidos bônus para que os clientes retornem. Os problemas com custos representam grande parte das reclamações, uma vez que os entrevistados não utilizam sistema de custeio adequado, ou mecanismos de 107 apropriação de custos. Mesmo aqueles que possuem softwares para tentar nortear melhor os custos inerentes ao setor, não conseguem sucesso e acabam confrontando somente as receitas com as despesas do mês, para obter o lucro geral do período. Porém, nesse cálculo não são considerados os desperdícios de alimentos, nem os encargos de depreciação dos equipamentos. Esse problema reflete-se sobre os preços de venda, o que faz com que a lucratividade final seja uma incógnita para essas empresas. Segundo informações colhidas nas empresas, os custos fixos representam a parcela mais significativa em relação ao custo total. Porém, o aluguel, os salários e os encargos são os custos mais representativos. f) Rivalidade entre as Empresas (em relação a outros grupos): é baixa, visto que tais empresas competem por preços e os restaurantes dos outros grupos praticam preços mais elevados. 5.2.3 Grupo Estratégico III Componentes: Naturama, Terra do Sol, Amor à Natureza, Naturetto, Greens, Rei do Glúten e Flor de Lótus. Posicionamento do Grupo III em Relação às Dimensões Estratégicas a) Grau de Especialização: encontram-se localizados na Asa Sul de Brasília, onde se concentram repartições e escritórios de grandes empresas. O mercado-alvo é formado de servidores públicos, aposentados e pessoas que seguem dietas ou são adeptas da alimentação natural. O cardápio desses restaurantes é divulgado antecipadamente. Neles são servidos alimentos naturais à base de soja e alimentos orgânicos, no sistema self-service. b) Identificação de Marcas: realizam poucos investimentos em propaganda e publicidade. A forma de divulgação mais utilizada ocorre por meio de sites na 108 Internet, anúncios em páginas de gastronomia e turismo de Brasília, ou por meio de panfletos distribuídos em lojas que comercializam produtos naturais e esotéricos. c) Qualidade dos Produtos e Serviços: apresentam ambiente agradável e certo requinte nos pratos servidos. Fazem pequenos investimentos em programas de qualidade para evitar falhas no processo de produção e cocção dos alimentos servidos. Oferecem variado cardápio de alimentos naturais e orgânicos. Servem diariamente em torno de 40 pratos entre quentes e frios. A maioria desses restaurantes oferece orientação nutricional e os empregados procuram informar aos clientes a importância dos alimentos servidos. O controle de qualidade dos alimentos ocorre desde a produção. Nesse grupo, os restaurantes procuram servir alimentos orgânicos ou naturais, produzidos sem a utilização de agrotóxicos. Os proprietários é que fazem as compras e recebem os produtos ou designam uma pessoa para recebê-los, verificar o estado de conservação em que se encontram e realizar o processo de higienização, principalmente dos hortifrutigranjeiros, devido a perecibilidade. O processo de higienização dos utensílios, do ambiente produtivo, incluindo as dependências dos salões de distribuição e o reaproveitamento dos alimentos são preocupação constante dos proprietários. Qualquer falha pode acarretar perda de clientes. Em função disso, os alimentos em boas condições de qualidade podem ser reaproveitados ou reprocessados. Como quase todos os restaurantes componentes desse grupo trabalham com sistema de refeições noturnas, servindo caldos e sopas, parte dos alimentos que ficam do almoço são utilizadas na preparação dessas refeições. As empresas pertencentes a este grupo investem em treinamento dos funcionários, realizado normalmente por lojas ou empresas especializadas em produtosnaturais. Muitas vezes os proprietários procuram orientar os funcionários dentro da empresa, 109 uma vez que os cursos oferecidos destinam-se apenas a ensinar manipulação e cocção dos alimentos. Os treinamentos podem ocorrer quando um funcionário é contratado, ou, periodicamente, para enfatizar a importância da alimentação natural, higiene, manipulação dos alimentos e atendimento ao cliente. d) Integração Vertical: neste grupo ocorre integração para trás, visto que parte dos insumos utilizados no preparo dos alimentos é produzida nos próprios estabelecimentos. Os proprietários normalmente têm chácaras e sítios onde são plantados alguns hortifrutigranjeiros que serão consumidos no restaurante. Os gêneros alimentícios e demais insumos são adquiridos de empresas distribuidoras de alimentos orgânicos. Nesses restaurantes não servidas carnes, aves ou peixes. Os insumos utilizados, tais como trigo, soja e milho, são adquiridos diretamente de produtores especializados ou preparados no próprio restaurante. e) Atendimento e Serviços: oferecem como serviço complementar a entrega de refeições (delivery) e a venda de produtos naturais como: soja, arroz, trigo, mel, fibras e também produtos esotéricos. Todos os restaurantes pesquisados e enquadrados neste grupo aceitam cartões de crédito e tickets refeição, como forma de atrair clientes. Nesses restaurantes o cliente sempre tem contato com a gerência ou com os proprietários, que nos horários de pico sempre se encontram no salão observando o atendimento, orientando funcionários e tirando dúvidas de clientes menos informados sobre o tipo de alimentação servida. f) Política de Preços: os preços praticados são considerados elevados em relação aos demais restaurantes que servem no sistema self-service (por quilo). Os insumos utilizados na preparação dos pratos são mais caros e mais difíceis de ser encontrados. Nas entrevistas com os proprietários e gerentes, foi informado que os preços são reajustados tendo como base o valor de mercado praticado por restaurantes que servem esse tipo de alimentação. No entanto, como os insumos 110 utilizados são mais caros, sempre que ocorre aumento substancial nos produtos os preços são reajustados. g) Inovação de Produtos e Serviços: estão sempre promovendo inovação nos serviços e produtos oferecidos. Nos últimos dois anos, todos promoveram inovações no cardápio, nos serviços prestados ou nos produtos comercializados. Posicionamento do Grupo III em Relação às Cinco Forças Competitivas a) Ameaça de Novos Entrantes: neste grupo existe alguma dificuldade para novas empresas ingressarem, não por causa do investimento, visto que o capital necessário para ingressar e competir no setor gira em torno de R$130.000,00. As dificuldades ocorrem em relação à aquisição de produtos orgânicos e desvantagem de custos, uma vez que o preço dos insumos é bastante elevado, e, principalmente, a falta de experiência na produção e manipulação dos alimentos naturais ou orgânicos. Os custos de mudança representam outro obstáculo, uma vez que mudar de um fornecedor de insumos comuns para um de produtos orgânicos, ou treinar os funcionários na preparação desse tipo de alimento pode onerar bastante os custos do novo entrante. Observou-se, ainda, que não existem programas de fidelidade. b) Ameaça de Produtos Substitutos: não existem nas imediações substitutos para os produtos e serviços oferecidos. Algumas lanchonetes servem sanduíches naturais o que pode atrair o cliente por oferecer-lhe opção se não deseja almoçar. Todavia, não há preocupação com isso, visto que os clientes dificilmente substituirão uma refeição balanceada e com orientação nutricional por um sanduíche, mesmo natural. Não são servidas refeições à la carte, mas existem muitas opções de saladas e pratos à base de trigo, milho, soja e outras iguarias. c) Poder de Negociação dos Compradores: não é relevante o poder dos compradores neste grupo, uma vez que os preços são registrados na balança ou o preço é único no buffet. Além disso, os consumidores de alimentos naturais ou 111 orgânicos sabem muito bem o que querem encontrar. E sabem que os preços são mais altos devido à qualidade dos alimentos servidos. d) Poder de Negociação dos Fornecedores: não existe grande poder de negociação, porque grande parte dos insumos é produzida pelos proprietários, que possuem chácaras ou locais para produção dos alimentos. Alguns gêneros são adquiridos de empresas distribuidoras de alimentos orgânicos ou em feiras populares no Distrito Federal. Os demais insumos, como temperos, condimentos e outras iguarias, são adquiridos em lojas especializadas. Quando necessário, os hortifrutigranjeiros são adquiridos diretamente de produtores previamente selecionados, estabelecidos em chácaras localizadas nas cidades-satélite. Os fornecedores de gêneros alimentícios são mais concentrados e exercem um certo poder sobre os restaurantes deste grupo, devido à grande procura por esses alimentos e à pouca oferta. Os fornecedores não concedem descontos, visto serem produtos caros e difíceis de encontrar, porém negociam forma e prazo de pagamento. Os produtores rurais, fornecedores de hortifrutigranjeiros, concedem pequenos descontos se a quantidade adquirida for elevada e negociam prazo para pagamento. e) Rivalidade entre as Empresas (do mesmo grupo): apresenta-se baixa, quase inexistente. Os restaurantes, mesmo os estabelecidos no mesmo setor, encontram- se em quadras diferentes, relativamente distantes dos concorrentes diretos. f) Rivalidade entre as Empresas (em relação a outros grupos): também é considerada baixa, uma vez que os restaurantes dos demais grupos oferecem produtos e serviços a base de carnes e essas empresas oferecem alimentação natural, o que torna a concorrência menos acirrada. Outro ponto levantado é que esses restaurantes não estão dispostos a baixar seus preços quando a freqüência diminui. Ao contrário de outras empresas localizadas no 112 setor, para que os clientes retornem promovem inovação no cardápio, com pratos bem elaborados. Em relação aos custos, verificou-se que apenas o restaurante Naturetto faz parte de uma rede de empresas. Todos, porém, comercializam produtos naturais e esotéricos em lojas instaladas dentro do próprio restaurante, o que pode representar vantagem de custos. Aliás, os custos são um dos maiores problemas enfrentados, uma vez que todos os entrevistados não utilizam sistema de custeio adequado. Os restaurantes Naturetto utilizam-se de um sistema de custeio em planilhas Microsoft EXCELL e procuram controlar os custos e mensurar todos os elementos quantificáveis. Neles são somadas todas as compras e as despesas do mês e, posteriormente, relacionadas com as receitas do mesmo período. Separam as atividades do restaurante das operações realizadas na loja e obtêm, assim, o lucro operacional do período em cada estabelecimento. Nos demais, não são utilizados sistemas de custeio, mas são registradas as compras e as despesas do mês e relacionadas com as receitas. Os resultados, entretanto, nem sempre são satisfatórios ou confiáveis. Por meio da pesquisa, levantou-se que em todos eles os aluguéis, os salários e os encargos são os valores mais expressivos em relação ao custo total. 5.2.4 Grupo Estratégico IV Componentes: Don Durika Buffet, Calaf, Assados e Grelhados, Chão Nativo, Esquina Mineira, Feitiço Mineiro e Cabana da Árvore. Posicionamento do Grupo IV em Relação às Dimensões Estratégicas a) Grau de Especialização: estão localizados na Asa Sul de Brasília, onde existe uma grande concentração de órgãos públicos, bancos e representações de grandes empresas. O cardápio desses restaurantes é divulgado antecipadamente e servem 113 diariamente, no sistema buffet, comidaregional (mineira, goiana, etc.), além de frios, saladas e sobremesas. Atendem a vários tipos de consumidores. b) Identificação de Marcas: realizam gastos em propaganda e publicidade. A forma de divulgação mais utilizada ocorre por meio de sites na Internet e anúncios em páginas de gastronomia e turismo de Brasília. Há também há divulgação em comerciais na TV. c) Qualidade dos Produtos e Serviços: trabalham com auto-atendimento, no sistema de preço único (buffet) e apresentam requinte no ambiente e nos pratos servidos. Normalmente são servidos pratos regionais (cozinha mineira ou goiana) e o cliente sempre tem como opção saladas e churrasco. Os restaurantes Calaf, Manhathan e Don Durika Buffet não servem comida regional nem churrasco, mas têm variado buffet à base de carnes, peixes, saladas e massas semiprontas. Possuem características diferentes em relação ao ramo de alimentação específica em que estão inseridos e apresentam, também, uma grande preocupação com a qualidade dos alimentos, temperos e equipamentos utilizados na prestação do serviço. Mas a maior preocupação ocorre em relação ao atendimento ao cliente. Nesses restaurantes são oferecidos em média 30 pratos quentes e 20 frios. Todos são servidos com certo requinte na apresentação. O salão de atendimento tem sistema de ar condicionado ou ventilação, som ambiente, lavabo, iluminação, balcão de saladas e pratos regionais, churrasco com carnes variadas e aves, além de servirem, incluídas no preço, sobremesas regionais diversas. No Feitiço Mineiro e Cabana da Árvore foi montado um palco para shows de artistas regionais e outras atrações. O processo de higienização dos utensílios e do ambiente produtivo, incluindo dependências dos salões de distribuição, é preocupação constante dos proprietários. Qualquer falha pode acarretar perda de clientes e conseqüentemente publicidade negativa. O reaproveitamento dos alimentos é outro fator que preocupa. 114 Como servem no sistema de buffet, geralmente sobram alimentos que podem ser reaproveitados, mas que devem ser manipulados cuidadosamente a fim de evitar a contaminação. Como há rigorosa fiscalização por parte da Secretaria de Vigilância Sanitária em relação à contaminação de alimentos, procura-se conservar em geladeiras e freezers os alimentos excedentes, e apenas aqueles que ficaram expostos por pouco tempo poderão ser servidos novamente. Os demais alimentos são transformados em outros pratos, como farofas, bolinhos, caldos e tortas. Identificou-se, ainda, que a mão-de-obra é outro grande problema para todas as empresas, pois não é qualificada. Os que participam de treinamento no SENAC, única entidade que oferece qualificação para garçons e cozinheiros, acabam sendo contratados por grandes hotéis ou restaurantes. No entanto, as empresas investem no treinamento desses funcionários e também realizam investimentos com empresas especializadas em recursos humanos para orientar os novos contratados, principalmente em relação ao atendimento e manuseio de equipamentos. d) Integração Vertical: não apresentam nenhum tipo de integração vertical, todos os gêneros alimentícios, hortifrutigranjeiros e demais ingredientes são comprados de fornecedores. e) Atendimento e Serviços: oferecem como serviço complementar a entrega de refeições (delivery) e aceitam diversos cartões de crédito e tickets refeição como forma de atrair clientes. O Cabana da Árvore oferece estacionamento gratuito. Nesses restaurantes o cliente sempre tem contato com a gerência ou com os proprietários, que nos horários de pico permanecem no salão de atendimento trabalhando ou observando o movimento. 115 f) Política de Preços: são considerados elevados em relação aos demais restaurantes estabelecidos nas imediações. Baseiam-se em estabelecimentos de mesmo nível e qualidade, adotando como política de preços o valor de mercado. Nas entrevistas com os proprietários e gerentes, foi informado que os preços são reajustados levando em consideração as variações de preço dos insumos utilizados. g) Inovação de Produtos e Serviços: os restaurantes Don Durik Buffet e Cabana da Árvore já atendiam no sistema self-service, mas no último ano abriram novas casas servindo no sistema preço único (buffet). Os demais componentes deste grupo promoveram inovação no salão de atendimento, como troca de mobiliário, iluminação, sistema de ventilação e principalmente no cardápio. Passaram a oferecer massas pré-cozidas e variada mesa de frios. Posicionamento do Grupo IV em Relação às Cinco Forças Competitivas a) Ameaça de Novos Entrantes: as dificuldades para novos entrantes ingressarem são maiores, uma vez que as economias de escala se mostram elevadas. Os restaurantes deste grupo têm sua marca identificada por uma parcela dos consumidores em razão da qualidade e quantidade de produtos e serviços oferecidos. O capital inicial necessário para ingressar e competir no setor gira em torno de R$200.000,00 para as instalações de produção, mobiliário, estoques e capital de giro inicial. Os custos de mudança não representam barreira à entrada, uma vez que as empresas que entram nesse setor já conhecem os fornecedores e o mercado, têm os equipamentos necessários para iniciar as atividades e a mão-de- obra que pode ser aproveitada de outro estabelecimento. Observou-se também que os restaurantes Esquina Mineira e Calaf trabalham com programas de fidelidade. Oferecem bônus de uma refeição a cada dez consumidas dentro do mês. b) Ameaça de Produtos Substitutos: os principais substitutos dos produtos e serviços oferecidos são os restaurantes self-service que servem na modalidade por quilo. 116 Esse fato preocupa os proprietários porque, como os preços são elevados, os clientes podem optar por outro restaurante, por quilo, com preço mais acessível. c) Poder de Negociação dos Compradores: neste grupo os clientes têm um certo poder de negociação quando fazem reservas e chegam em grandes grupos. Havendo comemoração, o Don Durika, Cabana da Árvore e Esquina Mineira oferecem a sobremesa (torta ou bolo) para a comemoração. Todos têm um setor de compras centralizado na matriz. Em geral um funcionário é designado para receber os insumos e verificar o estado de conservação, devolvendo os produtos que se encontram impróprios para consumo. Costumam contar com nutricionistas no quadro, que orientam a cocção e manipulação dos alimentos, principalmente daqueles que necessitam do pré-preparo, processo produtivo. d) Poder de Negociação dos Fornecedores: o fornecimento dos gêneros alimentícios é feito por empresas distribuidoras de alimentos de outras regiões e por atacadistas estabelecidos no Distrito Federal, o que os torna menos concentrados. Os produtos vendidos por esses fornecedores podem ser encontrados com facilidade no mercado interno e praticamente inexistem custos de mudança, uma vez que vários atacadistas distribuem produtos para o Distrito Federal e fazem entregas semanais. Como são várias as empresas fornecedoras na região, os restaurantes têm relativo poder de barganha em relação à qualidade e ao prazo de pagamento. O fornecimento de carnes vermelhas, frango e peixes é feito três vezes por semana por poucos açougues e frigoríficos, previamente selecionados, tornando os restaurantes fiéis a esses fornecedores e mais vulneráveis em relação a preço, prazo e forma de pagamento. Os fornecedores são mais concentrados, por isso torna-se mais difícil substituí-los. Os hortifrutigranjeiros são adquiridos de produtores rurais estabelecidos na região e previamente selecionados. Existe certa dificuldade em substituí-los, devido à grande procura pelos produtos. Esses produtores exercem certo poder de barganha, uma 117 vez que a qualidade dos produtos é de suma importância para esses restaurantes.No entanto, ocorre negociação nos preços e na forma de pagamento, principalmente quando são adquiridas grandes quantidades. Na falta desses insumos, os restaurantes procuram substituí-los por outras espécies ou adquirir diretamente de atacadistas na CEASA ou em verdurões estabelecidos nas imediações. e) Rivalidade entre as Empresas (do mesmo grupo): observa-se que a concorrência entre as empresas desse grupo não é elevada, mesmo porque os restaurantes, embora localizados no mesmo setor, se encontram distantes dos seus concorrentes diretos. f) Rivalidade entre as Empresas (em relação a outros grupos): Também não é elevada, uma vez que os restaurantes dos demais grupos servem em modalidades diferentes. O ambiente, além de ser requintado, é apropriado para receber grandes grupos. Outro fato levantado é que não estão dispostos a baixarem seus preços quando a freqüência diminui. Ao contrário de outras empresas localizadas no setor, fazem inovação no cardápio e oferecem bônus de fidelidade para que os clientes retornem. Os custos também representam um problema para essas empresas. O Don Durika Buffet e Cabana da Árvore utilizam sistemas de custeio desenvolvidos por empresas de consultoria ou de informática. Neles os custos são minuciosamente controlados e mensalmente são apresentados as compras realizadas, as despesas do mês e os estoques médio e mínimo. Posteriormente são confrontados os gastos e as receitas do período, obtendo-se, assim, o lucro operacional bruto e o resultado após a dedução dos tributos. Os demais confrontam as despesas e as receitas e encontram o lucro operacional. Na pesquisa, identificou-se também que os custos fixos representam a maior parcela em relação ao custo total. Os valores que mais oneram são os salários e encargos sociais e o aluguel do imóvel onde o restaurante funciona. 118 5.3 Considerações Finais Neste capítulo foram apresentados os resultados da pesquisa aplicada no setor de restaurantes self-service, localizados na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília. Inicialmente foram formados os grupos estratégicos I, II, III e IV, constituídos pelos restaurantes pesquisados e caracterizados pela similaridade nas estratégias adotadas. Também procurou-se analisar o comportamento das empresas em relação às dimensões estratégicas e o posicionamento dos grupos em relação às cinco forças competitivas de PORTER (1991). Verificou-se que a maioria dos restaurantes, apesar de ter comportamentos semelhantes, não segue estratégias específicas e tendem a imitar o comportamento das empresas que apresentam mais rentabilidade ou que se destacam no setor. No capítulo 6, a seguir, serão apresentadas as conclusões e recomendações do trabalho, enfocando o comportamento das empresas em relação às dimensões estratégicas e o posicionamento dos grupos estratégicos em relação às forças competitivas de Porter (1991). 119 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 6.1 Conclusões Neste estudo, buscou-se levantar e analisar as estratégias concorrenciais adotadas pelos restaurantes que servem na modalidade self-service localizados na Asa Sul do Plano Piloto de Brasília/DF, no que diz respeito às estratégias empreendidas dentro dos diferentes grupos estratégicos. Para alcançar o objetivo geral, foi necessário identificar o comportamento das empresas frente às dimensões estratégicas e, posteriormente, analisar o posicionamento dos grupos em relação às cinco forças competitivas. O método para alcançar os objetivos propostos foi fundamentado na pesquisa bibliográfica e na pesquisa de campo realizada junto às empresas do setor, possibilitando agrupar os restaurantes em 4 quatro grupos estratégicos. Atendendo ao segundo objetivo específico, “verificar o comportamento estratégico dos restaurantes em relação às dimensões estratégicas”, prosseguimos: a) Grau de Especialização Todos os estabelecimentos atendem ao mercado geográfico dos setores Comercial, Autarquias, Bancário e Comércio Local Sul. Focalizam o mercado-alvo composto por servidores públicos, bancários e comerciários. O grupo II apresenta ambiente simples e cardápio pouco variado. Os restaurantes dos grupos estratégicos I, II e III atendem no sistema self-service (quilo) e o grupo IV na modalidade buffet (preço único). b) Identificação de Marcas A maior parte dos estabelecimentos não realiza gastos com propaganda e publicidade. O grupo II faz pequenos investimentos em panfletos e banners e o grupo IV investe em comerciais na TV em horário nobre. Os demais apenas figuram 120 em páginas de gastronomia na internet ou em guias de turismo. No entanto, o boca a boca é a maneira mais utilizada para divulgar os produtos e serviços e atrair clientes. c) Qualidade dos Produtos e Serviços Todos os grupos demonstraram preocupação com a qualidade, principalmente em relação ao sabor dos alimentos, preparação dos pratos e processo de higienização dos ambientes. Os grupos I e III se diferenciam pela qualidade dos produtos e serviços. Oferecem cardápio variado com orientação de nutricionistas e também ambiente confortável. Em geral, realizam pequenos investimentos em treinamento dos funcionários (cozinheiros e atendentes). Geralmente os proprietários e gerentes orientam os empregados dentro da própria empresa, uma vez que a oferta de cursos é escassa, e quando são oferecidos se destinam a cozinheiros e garçons. O grupo III realiza investimentos principalmente visando à elaboração dos pratos e a orientação dos clientes. O grupo IV investe em treinamento procurando especializar cozinheiros e garçons. Alguns desses restaurantes chegam a contratar empresas especializadas em recursos humanos, visto que o atendimento e a apresentação pessoal é de suma importância para essas empresas. d) Integração Vertical Neste setor praticamente inexiste integração vertical. A maior parte dos estabelecimentos adquire todos os ingredientes de fornecedores e não demonstra intenção de fazer qualquer tipo de integração. Apenas os restaurantes do grupo III possuem um nível de integração para trás e produzem grande parte dos insumos utilizados na elaboração dos pratos, principalmente hortifrutigranjeiros, devido à dificuldade de adquirir alimentos orgânicos ou sem agrotóxicos. 121 e) Atendimento e Serviços Os restaurantes do grupo I, III e IV, em geral, aceitam cartões de crédito e tickets refeição. O grupo II aceita tickets alimentação e refeição. Alguns restaurantes fazem convênios com empresas para fornecimento de refeições, com pagamentos mensais. Os grupos I e III fazem entrega de refeições (delivery) e alguns restaurantes do grupo IV oferecem serviço diferenciado como reserva antecipada, música ao vivo e estacionamento privativo. f) Política de Preços Os grupos I e III praticam preços considerados elevados para restaurantes self- service (quilo). Os do grupo II têm preços relativamente baixos em relação aos demais restaurantes estabelecidos no mesmo setor, mesmo porque são restaurantes mais simples. Os do grupo IV praticam os preços mais elevados, porém servem no sistema preço único (buffet), havendo semelhança de preços entre os estabelecimentos, principalmente por apresentarem similaridade nos produtos, serviços e instalações. Nesse grupo os restaurantes procuram selecionar os clientes de nível de renda mais elevado, que buscam diferenciação e não preço. No grupo IV há outro fator que deve ser levado em consideração: os clientes desses restaurantes não fazem refeições diariamente, freqüentam-nos normalmente uma vez por semana ou mesmo em ocasiões especiais. g) Inovação de Produtos e Serviços Em geral todos restaurantes promoveram inovação nos produtos e serviços oferecidos. No grupo I as inovações ocorreram na cozinha, no salão de atendimento e nospratos servidos. O grupo II promoveu poucas inovações, mas as que foram feitas se destinaram às instalações no salão de atendimento. O grupo III promoveu inovações no cardápio e 122 nos produtos comercializados. O grupo IV foi o que mais inovou, passando a oferecer cardápio e ambiente diferenciado. Também realizou reformas no salão de atendimento. Atendendo ao terceiro e último objetivo específico “analisar o posicionamento dos grupos estratégicos em relação às cinco forças competitivas”, apresentam-se as conclusões resultantes da análise da estrutura do setor, com base nas cinco forças competitivas de Porter. a) Ameaças de Novos Entrantes Nos grupos I e II, praticamente não existem barreiras à entrada de novas empresas no setor. Os investimentos em capital são relativamente baixos e a preparação dos alimentos não apresenta dificuldades para os novos entrantes. No grupo III, o que configura uma barreira é a diferenciação da marca, mesmo porque esses restaurantes possuem clientes bastante fiéis. Outras barreiras também podem dificultar o ingresso de novas empresas, como: aquisição de produtos orgânicos e sem agrotóxicos, desvantagem de custos e preparação dos alimentos, além dos custos de mudança. No grupo IV as barreiras são as mais elevadas devido à diferenciação dos produtos e serviços oferecidos e, principalmente, ao investimento necessário, já que as instalações são maiores e mais requintadas e o próprio ponto comercial torna-se um obstáculo para os novos entrantes. b) Ameaça de Produtos Substitutos A influência dos produtos substitutos é diferenciada para cada grupo estratégico. No grupo I, os principais substitutos são as lanchonetes, como Mac Donalds, Giraffas e Mariettas estabelecidas no setor, mas não há grande preocupação das empresas. No grupo II, os principais substitutos são bares, lanchonetes e ambulantes que oferecem opções de alimentação em substituição às refeições. Especificamente nessa região, esses substitutos são bastante fortes, visto que existem vários no setor e são muito procurados por trabalhadores do local. No caso do grupo III, 123 praticamente não são afetados pela concorrência dos substitutos devido ao tipo de alimentação servida. Os demais restaurantes servem no sistema self-service, mas não oferecem comida natural. Quanto ao grupo IV, os substitutos são os que servem refeição por quilo ou à la carte, mas como ficam localizados em áreas mais distantes, torna-se mais difícil a substituição. c) Poder de Negociação dos Compradores Praticamente inexiste poder de negociação dos clientes, devido à concentração dos restaurantes e a modalidade como as refeições são servidas (self-service e buffet) com preços fixos. O fato de os clientes fazerem suas refeições nas proximidades do local de trabalho, devido à dificuldade de se locomoverem até as suas residências também diminui o poder de barganha. Alguns restaurantes do grupo II fazem convênios com empresas e negociam o pagamento mensalmente. No grupo IV, se os clientes chegarem em grandes grupos e com reserva antecipada para comemorações, receberão como brinde uma sobremesa, normalmente uma torta. Observa-se nos grupos I, III e IV que os clientes possuem poder de barganha em relação à qualidade e diferenciação dos produtos, mas não em relação ao preço. d) Poder de Negociação dos Fornecedores Pode-se dividir os fornecedores em três categorias: a de gêneros alimentícios (não perecíveis), a de carnes vermelhas, aves e peixes e a de hortifrutigranjeiros. Em relação à primeira, o poder de negociação dos fornecedores nos grupos I, II e IV é relativamente baixo, visto que os produtos são facilmente encontrados e existem várias empresas distribuindo no Distrito Federal. Os fornecedores da segunda categoria são mais concentrados e há mais dificuldade em substituí-los, isso porque os produtos são considerados de maior risco de contaminação e necessitam de controle de qualidade mais rígido. Dessa forma, os restaurantes procuram se manter fiéis, mesmo que pratiquem preços mais elevados. 124 Quanto à terceira categoria, que fornece os hortifrutigranjeiros, observa-se que também são mais concentrados, o que os torna mais poderosos em relação às empresas. Nessa categoria os produtos são de fácil deterioração e perecibilidade e a garantia de fornecimento é de suma importância para os restaurantes, que procuram se manter fiéis aos produtores e distribuidores. No grupo III, os fornecedores não possuem praticamente poder frente aos restaurantes, apesar de serem mais concentrados. Isso ocorre por que os principais insumos são produzidos ou preparados nas empresas ou em chácaras dos proprietários. e) Rivalidade entre as Empresas Neste item foram realizadas duas análises: a primeira entre as empresas do grupo e a segunda entre os grupos estratégicos. Em relação à rivalidade entre as empresas do mesmo grupo, pode-se observar que apresentam diferentes graus de rivalidade. Nos grupos I e II, a rivalidade é mais acirrada, uma vez que se encontram estabelecidos no mesmo setor. Oferecem produtos e serviços semelhantes e praticam preços muito próximos. No grupo I a competição está relacionada à qualidade, ambiente e atendimento. Entre as empresas do grupo II a rivalidade é maior por competirem por preço. Para as empresas do grupo III a rivalidade é menor devido à localização dos estabelecimentos; embora estando no mesmo setor, há uma certa distância a percorrer até chegar ao concorrente direto. No grupo IV praticamente não existe rivalidade entre as empresas, visto que os restaurantes estão estabelecidos em setores distintos e também oferecem cardápio e ambientes diferentes. No tocante à rivalidade entre os grupos, observou-se que não se mostra elevada porque, embora sirvam no sistema self-service (quilo ou buffet), oferecem produtos e serviços diferenciados, bem assim ambientes e preços. 125 Conclui-se que os restaurantes do Grupo I se destacam pelo ambiente mais sofisticado, qualidade e variedade nos pratos servidos. Os restaurantes do Grupo II se diferenciam por praticarem os menores preços do setor e oferecerem ambiente mais simples e informal. No Grupo III a diferença se dá pelo tipo de alimentação servida e a própria cultura da alimentação natural e orgânica. O Grupo IV se diferencia pelo ambiente rústico, com salões apropriados para grandes recepções, pela música ao vivo e pelos pratos oferecidos, normalmente da cozinha regional. Com esta pesquisa, analisou-se o posicionamento dos restaurantes self-service ante as dimensões estratégicas e as cinco forças competitivas de Porter. É importante destacar algumas considerações a respeito das dificuldades encontradas para a execução deste trabalho, assim como sua contribuição e relevância. Apesar da cordialidade da maioria das empresas estudadas, foram encontradas algumas dificuldades em relação à falta de bibliografia. Das encontradas, poucas são brasileiras e na maioria tratam de hotelaria e nutrição, devido ao fato de não encararem os restaurantes como uma empresa que presta serviços como qualquer outra, tendo a administração como ferramenta importantíssima para sua sobrevivência. Por fim, sua principal contribuição refere-se ao fato de proporcionar um estudo empírico, aliado a uma teoria sobre o comportamento de empresas de um setor com grande destaque e relevância para a economia local, proporcionando algum conhecimento a respeito da concorrência nesse setor que até o momento não é alvo de estudos mais direcionados, sendo esse um ponto negativo para o desenvolvimento desse ramo de negócio que demonstra grande necessidade de acompanhamento administrativo por parte de órgãos competentes, o que possibilitaria uma maior profissionalização e crescimento do mercado.126 6.2 Recomendações Esta pesquisa não procurou estudar a relação entre o tipo de estratégia e o tamanho ou condições financeiras das empresas analisadas. Nesse sentido, uma boa sugestão para futuros trabalhos seria a avaliação dos efeitos desse relacionamento. Da mesma forma, o estudo aqui realizado não leva em consideração a evolução histórica do setor, o que parece também uma recomendação interessante para uma pesquisa de natureza longitudinal. 127 REFERÊNCIAS ANSOFF, H. Igor. Estratégia Empresarial. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977. ______, MCDONNEL, Edward. Estratégia empresarial: São Paulo: McGrawHill, 1999. BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística Aplicada às Ciências Sociais. Florianopólis: Editora da UFSC, 1998. BORNIA, Antonio Cézar. Análise Gerencial de Custos. São Paulo: Editora Bookman, 2002. CARVALHO JR, Luís Carlos de. As estratégias de crescimento das empresas líderes e o padrão de concorrência das indústrias avícola e suinícola brasileiras. Florianópolis, 1997. 274 p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. CASCUDO, Luís da Câmara (Org.) História da Alimentação no Brasil. 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Executivos Servidores públicos e bancários Comerciários Outros 2) Mercado geográfico (área) que a empresa procura atender: Setor de Autarquias Sul Setor Bancário Sul Setor Comercial Sul Comércio Local Sul Identificação de Marcas 3) O restaurante faz propaganda e publicidade? sim não 4) De que forma? rádio jornal televisão panfletos 134 Qualidade dos Produtos e Serviços Oferecidos 5) Existe controle de qualidade com os produtos/serviços oferecidos (refeições/atendimento)? sim não. 6) De que forma é feito? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7) A empresa investe em treinamento dos funcionários? sim não 8) Caso a resposta do item anterior seja positiva, que tipo de treinamento é dado? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 9) Com que freqüência faz o treinamento? semestralmente uma vez por ano sempre que surgem ofertas de cursos. 10) Os pratos servidos apresentam algum requinte? sim não 11) Como ocorre o atendimento ao cliente? reservas por telefone lista de espera cliente entra e vai se servir cliente entra e é atendido por um garçom Integração Vertical 12) Os ingredientes (matéria-prima, iguarias, temperos) utilizados na preparação dos pratos são adquiridos diretamente do fornecedor ou a empresa industrializa algum desses ingredientes? 135 empresa adquire a matéria-prima empresa adquire os temperos empresa industrializa algumas iguarias adquire todos os ingredientes de fornecedores Atendimento e Serviços 13) Que tipos de serviços auxiliares/complementares a empresa oferece aos seus clientes? música ao vivo estacionamento próprio manobrista outros 14) Além do fornecimento de refeições preparadas, a empresa oferece algum outro tipo de serviço? sim não 15) Qual tipo ? delivery alimentos congelados alimentos ligth ou diet 16) O restaurante aceita cartões de crédito, tickets restaurante, etc. sim não. 17) Quais os cartões ? Credicard Visa American Express Dinners Outros. 18) O cliente tem contato com a gerência/supervisão? sim não Política de Preços 19) Os preços praticados pela empresa são elevados? sim não 136 20) Política de preços adotada pela empresa: com base nos custos dos ingredientes. com base na inflação. com base em preços de mercado. com base em tabela de preços divulgada pelo SINDIBARES. Inovação dos Produtos e Serviços 21) Nos últimos 2 anos a empresa fez inovação em relação aos produtos/serviços oferecidos? sim não 22) Quais ? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Relativamente às Forças que Dirigem a Concorrência na Indústria Ameaça de Novos Entrantes 23) Para montar um restaurante, qual seria o investimento necessário, aproximadamente,? Instalações: R$__________________________________________________ Ponto Comercial: R$______________________________________________ Imóvel: R$______________________________________________________ 24) Existem programas de fidelidade para reter os clientes ? sim não 25) Quais ? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 137 Ameaça de Produtos ou Serviços Substitutos 26) Existem produtos que podem substituir os pratos servidos pela empresa? sim não 27) Além da especialidade, a empresa oferece serviços à la carte ? sim não Poder de Negociação dos Compradores 28) No local em que o restaurante está situado existem outros estabelecimentos da mesma natureza, que o cliente possa escolher? sim não 29) Quantos, aproximadamente ? dois três quatro mais de quatro Poder de Negociação dos Fornecedores 30) O fornecimento dos produtos utilizados na preparação das refeições é feito por vários fornecedores? a - gêneros alimentícios sim não b – carnes, aves e peixes sim não c – frutas e verduras sim não 31) Existe fidelidade da empresa para com os fornecedores? a - gêneros alimentícios sim não b – carnes, aves e peixes sim não c – frutas e verduras sim não 32) Os fornecedores concedem descontos e maiores prazos, caso o restaurante faça grandes compras? sim não 138 33) A empresa tem algum poder de negociação com os fornecedores dos alimentos, ou o restaurante não é um cliente importante para o fornecedor ? negocia preços. negocia forma e prazo de pagamento. não negocia, visto que o cliente não é importante para o fornecedor. 34) A empresa se mantém fiel aos fornecedores ou eles são facilmente substituídos ? existe dificuldade na substituição dos produtos dos fornecedores. os produtos são facilmente substituídos. Rivalidade entre as Empresas Existentes 35) O restaurante faz parte de uma rede de empresas ? sim não 36) Caso faça parte de uma rede, isso proporciona vantagem de custos? sim não 37) Existem muitos concorrentes no mesmo setor ? sim não 38) É elevada a rivalidade entre os concorrentes existentes no setor ? sim não 39) A rivalidade ocorre em relação à: preço. promoção. publicidade. 40) A empresa se utiliza de sistemas de custeio ? sim não 41) Os custos fixos (aluguel, salários, depreciação das instalações, etc.) são altos? sim não 139 42) Quanto, aproximadamente ? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 43) Quando a freqüência diminui, o que a empresa faz para que o cliente retorne? propaganda nos meios de comunicação. promoção nos preços. oferece bônus. inova no cardápio. RESUMO ABSTRACT SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕESCEASA SENAC 1.1 Problema e Justificativa 1.2 Objetivos 1.3 Definições dos Principais Termos 1.4 Estrutura do Trabalho 2.3.1 À La Carte a) Restaurantes de Especialidades a\) Restaurante Tradicional: apresenta como prin 2.3.3 Direto ou Repetitivo VANTAGEM ESTRATÉGICA ENFOQUE 5. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO. RESTAURANTES d\) Integração Vertical: não apresentam nenhum e\) Atendimento e Serviços: oferecem como servi� f\) Política de Preços: os preços praticados s g\) Inovação de Produtos e Serviços: estão se� d\) Integração Vertical: não apresentam nenhum e\) Atendimento e Serviços: oferecem como servi� f\) Política de Preços: são considerados eleva g\) Inovação de Produtos e Serviços: os restau 5.3 Considerações Finais a\) Grau de Especialização d\) Integração Vertical e\) Atendimento e Serviços f\) Política de Preços REFERÊNCIAS ANEXOS ANEXO 1 QUESTIONÁRIO APLICADO AOS RESTAURANTES ESTUDADOS QUESTÕES Relativamente às Dimensões da Estratégia Compet�