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Autor: Prof. Sérgio Hiroshi Furuya de Carvalho Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago Prof. Marcel da Rocha Chehuen Ergonomia e Ginástica Laboral Professor conteudista: Sérgio Hiroshi Furuya de Carvalho Graduado em Educação Física pela Universidade de São Paulo (1990) e especialista em Educação a Distância pela UNIP (2014). Possui mestrado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (1995). Estuda ginástica laboral desde 1990. De início, como assunto de sua dissertação de mestrado, depois trabalhando na área e escrevendo artigos e livros sobre o tema. Atualmente, é o responsável pela disciplina Ergonomia e Ginástica Laboral na UNIP. Empreende projetos de ginástica laboral em empresas privadas e em convênios da UNIP com o TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) e OMS/Opas (Organização Mundial/Pan-Americana da Saúde). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C331e Carvalho, Sérgio Hiroshi de. Ergonomia e Ginástica Laboral / Sérgio Hiroshi Furuya de Carvalho. – São Paulo: Editora Sol, 2025. 154 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Ergonomia. 2. Lesões. 3. Ginástica laboral. I. Título. CDU 331.827 U521.12 –25 Prof. João Carlos Di Genio Fundador Profa. Sandra Rejane Gomes Miessa Reitora Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração e Finanças Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento Prof. Marcus Vinícius Mathias Vice-Reitor das Unidades Universitárias Profa. Silvia Renata Gomes Miessa Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal Profa. Laura Ancona Lee Vice-Reitora de Relações Internacionais Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Assuntos da Comunidade Universitária UNIP EaD Profa. Elisabete Brihy Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. M. Deise Alcantara Carreiro Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes Projeto gráfico: Revisão: Prof. Alexandre Ponzetto Vitor Andrade Ricardo Duarte Ergonomia e Ginástica Laboral APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO TRABALHO, DAS ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS E DA GINÁSTICA LABORAL .............................................................................................................................. 11 1.1 História e evolução do trabalho e das organizações empresariais ................................. 11 1.2 Evolução da administração moderna........................................................................................... 15 1.3 História da ginástica laboral ............................................................................................................ 18 1.4 Definições e benefícios da ginástica laboral ............................................................................. 19 1.4.1 Benefícios da ginástica laboral para os colaboradores............................................................ 20 1.4.2 Benefícios da ginástica laboral para as empresas ..................................................................... 24 2 CARACTERÍSTICAS E EXIGÊNCIAS TÍPICAS DO TRABALHO ............................................................. 27 2.1 Tipificação do trabalho braçal, suas características e demandas ..................................... 27 2.1.1 Atividades que requerem grande aplicação de força ............................................................... 28 2.1.2 Movimentos repetitivos no trabalho braçal ................................................................................. 29 2.1.3 Desproporção entre exigências unilaterais .................................................................................. 30 2.1.4 Muito tempo na posição em pé ........................................................................................................ 31 2.1.5 Trabalho em posições forçadas ......................................................................................................... 32 2.1.6 Outras características do trabalho braçal ..................................................................................... 33 2.2 Tipificação do trabalho administrativo, suas características e demandas .................... 33 2.2.1 Trabalho sentado e sedentarismo .................................................................................................... 34 2.2.2 Movimentos repetitivos ....................................................................................................................... 35 2.2.3 Estresse e sobrecargas diversas ......................................................................................................... 36 3 ERGONOMIA ...................................................................................................................................................... 36 3.1 Ergonomia do trabalho sentado..................................................................................................... 43 3.1.1 Posição de trabalho em terminais de computadores ............................................................... 45 3.2 Ergonomia do trabalho em pé ........................................................................................................ 48 3.3 Trabalho muscular estático e dinâmico ...................................................................................... 49 3.4 Trabalho pesado e manuseio de cargas ....................................................................................... 50 3.5 Norma Regulamentadora 17 (NR 17) .......................................................................................... 52 3.6 Verificação ergonômica ..................................................................................................................... 61 4 LER/DORT: LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS/DISTÚRBIOS OS TEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO ............................................................................... 64 4.1 Definições ................................................................................................................................................ 64 4.2 Prejuízos para as empresas ............................................................................................................... 67 Sumário 4.3 Principais quadros de LER/Dort ...................................................................................................... 68 4.3.1 Tendinites ................................................................................................................................................... 70 4.3.2 Tenossinovites .......................................................................................................................................... 70 4.3.3 Estrangulamento ou compressão de nervos ............................................................................... 70 4.3.4 Bursites........................................................................................................................................................ 71 4.3.5 Lombalgias e cervicalgias ....................................................................................................................laboral. A palavra vem do grego ergon (trabalho) e nomia (normatização, regras). Segundo a International Ergonomics Association (IEA), a ergonomia (fatores humanos) pode ser definida como 37 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL disciplina científica que trata do entendimento da interação entre humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão que aplica a teoria, princípios, dados e métodos a projetos, a fim de otimizar o bem-estar humano e a performance geral do sistema (IEA, 2018). Para Gonçalves (2008, p. 466 apud Calasans, 2014), ergonomia é “a ciência que estuda a adaptação do trabalho ao homem, visando propiciar uma solicitação adequada do trabalho, evitando desgaste prematuro de suas potencialidades profissionais e objetivando alcançar a otimização do sistema de trabalho”. A origem da ergonomia, do ponto de vista moderno, voltado à produtividade, vem da área militar em razão da Segunda Guerra Mundial, quando se verificou que uma maior adaptação do homem e de suas ferramentas/ambiente de trabalho pode otimizar a eficiência. Acesso aos comandos das armas e posição de trabalho em aviões, por exemplo, foram sendo estudados e gradualmente adaptados para uma melhor interação homem-máquina. A partir dessa origem mais moderna, a ergonomia foi sendo utilizada nas mais diversas áreas. Hoje em dia, desde a culinária e a escrita, até os painéis de instrumentos dos carros e os cabos dos secadores de cabelo são desenhados pensando em seu uso facilitado. Produtos tão diferentes como teclados e mouses de computador e canetas ganham benefícios na usabilidade quando levam em conta as questões ergonômicas em seu design. A questão se mostra sedimentada em parte da população, pois as áreas de marketing das empresas fazem menção à questão ergonômica para comprovar a superioridade de seu produto. Até mesmo a área de software vai usar os recursos da ergonomia para adequar programas de computador e aplicativos de celulares para uma melhor utilização. Saiba mais Os sites a seguir destacam a abrangência da ergonomia, uma vez que neste livro estão concentradas informações sobre a questão da posição e dos movimentos relacionados ao corpo humano durante o trabalho. Associação Brasileira de Ergonomia. Disponível em: http://www.abergo.org.br. Acesso em: 19 nov. 2024. International Ergonomics Association. Disponível em: https://iea.cc/. Acesso em: 19 nov. 2024. O trabalho da ergonomia deve iniciar-se conhecendo o ser humano, que, além de não ser completamente entendido, apresenta variações pessoais muito importantes. Vejamos algumas características psicofisiológicas do ser humano que devem ser consideradas no enfoque da ergonomia: Prefere escolher livremente sua postura, dependendo da exigência das tarefas e do estado de seu meio interno. 38 Unidade I Prefere utilizar alternadamente toda a musculatura corporal, e não apenas determinados segmentos corporais. Tolera mal tarefas segmentadas com tempo exíguo (especialmente quando o tempo é externamente determinado). É compelido a acelerar sua cadência quando estimulado pecuniariamente ou por outros meios, não levando em conta os limites de resistência de seu sistema musculoesquelético (Brasil, 2002). Enquanto isso, no trabalho, a intenção é utilizar a ergonomia de forma a adaptar ferramentas, postos de trabalho, organizações e processo produtivo ao homem, no intuito de proporcionar maior conforto, segurança e produtividade. A) B) Figura 24 – A evolução das máquinas com enfoque na ergonomia visa uma maior produtividade do trabalho, partindo da colheita manual para máquinas rudimentares e, como mostrado nas duas imagens, uma condição de trabalho melhorada, desde uma colheitadeira mais simples e mecânica (A) até sua evolução, computadorizada (B) Disponível em: A) https://bit.ly/3c59JR5; B) https://bit.ly/3HbIT8l. Acesso em: 12 nov. 2021 39 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Moraes e Soares (apud Figueiredo; Mont’Alvão, 2008) afirmam que a ergonomia possibilita: Maximizar conforto, satisfação e bem-estar. Garantir a segurança. Minimizar constrangimentos, custos humanos e carga cognitiva, psíquica e física do operador e/ou usuário. Evitar doenças profissionais, lesões e mutilações do trabalhador. Otimizar o desempenho da tarefa, o rendimento do trabalho e a produtividade do sistema homem-máquina. O entendimento de ergonomia pelo profissional de ginástica laboral vai levá-lo a interpretar corretamente as necessidades dos trabalhadores. A abordagem neste livro destacará o enfoque de avaliação e colaboração, pois para atuar no desenvolvimento de sistemas e alterações maiores o profissional precisará buscar maior especialização nessa área. As especializações possíveis segundo a International Ergonomics Association (IEA, 2018) são: • Ergonomia física: relacionada a anatomia, fisiologia, biomecânica e antropometria, incluindo posturas, movimentos executados, cargas movimentadas e leiaute do posto de trabalho. • Ergonomia cognitiva: trata dos processos mentais e de como estes afetam a relação do homem com os outros elementos do sistema. Percepção, memória, julgamento, tomada de decisão, estresse e interação com o computador são alguns dos temas desta área. • Ergonomia organizacional: a otimização dos processos sociotécnicos faz parte desta área. Estrutura, políticas, processos, comunicação, organização do trabalho, horários, equipes, trabalho a distância e administração da qualidade são tarefas tipicamente desenvolvidas, entre outras. Figura 25 – Sistemas de interação para computadores devem ter um design que facilite a interação com o trabalhador, gerando economia de tempo e de movimentos Disponível em: https://bit.ly/3kshGo7. Acesso em: 12 nov. 2021. 40 Unidade I A atuação em ergonomia do profissional de ginástica laboral terá, então, objetivos coadjuvantes na busca de melhores condições através da aplicação do conhecimento de ergonomia deste profissional na análise das condições de trabalho encontradas e, em especial, no posicionamento dos segmentos corporais e na conscientização preventiva. Eventualmente, a pedido da empresa contratante, o conceito de ergonomia poderá ainda ser aplicado para pequenas orientações, como postura para sentar-se, para levantar uma carga, ou organização e posicionamento do teclado, monitor etc. À medida que o profissional se especialize nas áreas acentuadas, poderá assumir um papel de maior intervenção. Quando um posto de trabalho ou a organização da execução da tarefa já tiver passado por análise de um ergonomista ou indivíduo designado para tal, o profissional de ginástica laboral não deverá fazer intervenções, para não afetar o planejamento que foi realizado. Figura 26 – A natureza da tarefa e o ambiente para realizá-la são componentes importantes na avaliação da ergonomia. Uma simples anteriorização da cabeça aumenta a força necessária para sustentá-la Disponível em: https://bit.ly/30kFx1S. Acesso em: 12 nov. 2021. O profissional de ginástica laboral deve ser cauteloso, pois mesmo pequenas intervenções, como a sugestão de usar o mouse na mão menos habilidosa para dividir a carga de trabalho, podem causar interferências negativas, apesar da boa intenção da mudança. Para um trabalho que requer precisão na interação com o sistema através do mouse, por exemplo, sofrer alteração não planejada através de uma sugestão descompromissada pode ocasionar erros no processamento dos pedidos de compras, ou de despacho de mercadorias. Pode haver prejuízos financeiros e de imagem da empresa, que são indesejáveis. Qualquer alteração que possa causar interferência no trabalho deve ser autorizada pela gestão da empresa e fazer parte de um planejamento cuidadoso. O planejamento do espaço e da relação homem-máquina é altamente relacionado com a ginástica laboral, pois a localização dos comandos em uma máquina, por exemplo, vai determinar os ângulos de trabalho dos segmentos (ombros, cabeça, coluna etc.) e a posição corporal (em pé, sentado,inclinado etc.), provocando as demandas associadas ao desgaste e à saúde do trabalhador. 41 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Figura 27 – O correto design do posicionamento, dos controles e dos instrumentos pode fazer uma grande diferença quando se analisa o desgaste humano para observar e interagir com a máquina de forma segura e eficiente Disponível em: https://bit.ly/3quu6Qd. Acesso em: 12 nov. 2021. Hendrik (apud Figueiredo; Mont’Alvão, 2008) acrescenta o conceito de macroergonomia, como a interface homem-organização-máquina, observando a empresa como um todo, englobando organização, gerenciamento, objetivos, métodos, tecnologias, características psicossociais dos trabalhadores etc. É um conceito mais amplo, necessário para tomar as decisões nas esferas mais específicas de forma coerente. Além da macroergonomia, o autor considera como as demais partes desse complexo a ergonomia cognitiva ou ergonomia de software, parte na qual devem ser estudadas as relações do usuário com o sistema de computador, por exemplo, a ergonomia de hardware ou interface homem-máquina, com a interação do homem com a máquina por ele operada do ponto de vista mecânico (posicionamento, comandos, alavancas etc.), e a ergonomia ambiental, na qual entram componentes como temperatura, umidade, vibração, iluminação, ruído e ventilação. A vibração, especialmente advinda do uso de ferramentas ou da permanência em plataformas de grandes máquinas, afeta diretamente a solicitação física e a fadiga causadas pelo trabalho, bem como aumenta a ocorrência de LER/Dort. Assim, a ginástica laboral bem planejada pode auxiliar a minimizar tais efeitos. 42 Unidade I Figura 28 – Trabalhos que envolvem vibração desgastam aceleradamente a musculatura e as articulações, necessitando de atenção especial do programa de ginástica laboral Disponível em: https://bit.ly/3HhGDwh. Acesso em: 12 nov. 2021. Nos demais aspectos ambientais, como temperatura, ventilação, iluminação etc., a ginástica laboral poderá colaborar do ponto de vista fisiológico, tanto pelo planejamento, para que ocorra em um local com menor incidência desses fatores, como também por atividades que combatam esses agentes com relaxamento, consciência corporal, trabalhos de respiração etc. Figura 29 – Trabalhos em ambientes aquecidos demais geram uma sobrecarga no sistema fisiológico do trabalhador. O mesmo ocorre em sentido inverso, quando se trabalha em ambientes frios ou expostos ao vento ou à chuva Disponível em: https://bit.ly/3FeMxfA. Acesso em: 12 nov. 2021. Utilizando essas primeiras noções, o profissional de ginástica laboral poderá entender os caminhos para estudos mais aprofundados e buscar uma maior compreensão dos inúmeros panoramas que possam se apresentar, para identificar as principais sobrecargas sofridas pelos trabalhadores que irá atender. Apesar de cada função ter exigências diferentes na sua relação com o equipamento e com as tarefas sendo executadas, exigindo análises específicas, pode-se começar a entender o problema a partir da análise de duas interações gerais, que envolvem grandes grupos musculares, que são as posições de trabalho em pé e sentado, e também interações que utilizem o trabalho muscular estático e o trabalho muscular dinâmico. 43 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 3.1 Ergonomia do trabalho sentado O trabalho sentado diminui parte da solicitação muscular estática do corpo, justamente as contrações musculares para se manter na posição ereta, em pé. Mas o trabalho sentado também provoca sobrecargas, e a própria NR 17, que será analisada mais adiante, prevê que “Sempre que o trabalho puder ser executado alternando a posição de pé com a posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para favorecer a alternância das posições.” (Brasil, 2021). De acordo com Marano (2007), a posição sentada divide a carga transmitindo cerca de 50% do peso corporal para as tuberosidades isquiáticas, 34% para a face posterior das coxas e 16% para as plantas dos pés. A posição sentada, entretanto, também impõe exigências físicas. Assim, é importante estudar a postura e as funções desempenhadas na posição sentada. Algumas considerações podem ser feitas sobre a frequente constatação de se assumir uma postura errada ao sentar-se. A altura do assento deve permitir o acesso à mesa de trabalho sem necessitar de contração muscular estática para elevação dos ombros ou abdução dos braços. Os pés devem estar apoiados e com espaço para ajustes de posição. Pode ser necessário e recomendável a utilização de apoio para os pés para garantir que estes não fiquem sem contato com o solo, o que iria provocar um aumento da pressão da parte posterior da coxa contra o assento. Também é essencial verificar o que ocorre com a sobrecarga na coluna vertebral durante o trabalho na posição sentada. Na figura seguinte, pode-se comparar a pressão de disco intervertebral (entre L3 e L4), considerando como referência de 100% a pressão na posição em pé. Nota-se que na posição sentada com o tronco reto a 90º da coxa a pressão chega a 140%, e com curvatura do tronco à frente pode atingir 190% da pressão existente na posição em pé. 100% 140% 190% 24% Figura 30 – Relação proporcional da pressão do disco intervertebral (L3/L4) em quatro diferentes posturas Fonte: Kroemer e Grandjean (2005, p. 61). Mobile User Mobile User 44 Unidade I Se for comparada a postura sentada com o tronco na vertical com a postura inclinada à frente, pode-se verificar que há uma menor pressão dos discos na postura reta. Porém, para manter as costas eretas, é necessária uma maior ativação muscular, sobrecarregando os músculos ao aliviar os discos. Assim, a ergonomia no desenho de cadeiras e poltronas precisou evoluir para diminuir essa sobrecarga. O trabalho dos profissionais envolvidos, como ergonomistas e profissionais de ginástica laboral, torna-se um importante fator de manutenção da consciência e das condições de correta utilização da posição sentada. A) B) Figura 31 – Diferentes cadeiras possibilitam posições variadas no trabalho sentado. Regulagens de altura, apoios para braços, encostos, dimensões, presença de rodízios e outras características as diferenciam, e o profissional de ginástica laboral deve verificar a sua forma de utilização As conclusões dos estudos existentes sobre cadeiras são muito variadas, pois tratam de situações e realidades diferentes. Em pesquisa específica sobre o desenho de uma cadeira ideal, Kroemer e Grandjean (2005) detectaram a preferência de usuários por cadeira com assento reclinado a cerca de 20º da horizontal para trás, e encosto de 20º a 30º da vertical para trás, proporcionando apoio das costas e coxas de maneira a diminuir as sobrecargas musculares e discais. A existência de um apoio lombar também é desejável. Os profissionais de ginástica laboral não atuarão no desenho do mobiliário, mas o conhecimento dessas recomendações é importante para: • A constatação das sobrecargas existentes e de qual é o desvio da posição ideal, para poder planejar as atividades compensatórias. • O auxílio na orientação das regulagens e nas orientações posturais, quando previsto no planejamento. Mobile User Mobile User 45 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL • A participação eventual em comitês de ações ou grupos de estudo de ergonomia no trabalho, podendo aprofundar seus estudos para recomendar determinadas características quando houver a decisão de aquisição de novo mobiliário. a) 48-50 cm b) 38-54 cm c) mín. 17 cm d) 10-25º a b c d Figura 32 – Recomendações para projeto de cadeiras e mesas. Vale ressaltar que diferentes funções podem exigir arranjo diferenciado Fonte: Kroemer e Grandjean (2005, p. 68). Além das características das solicitações por permanecer na posição sentada, deve-se considerar ainda as funções executadas, como digitação, leitura, telefonia, controle de máquinas etc. 3.1.1 Posição de trabalho em terminais de computadores Uma das funções executadasna posição sentada que merecerá destaque pela grande abrangência em nossa sociedade de serviços é o trabalho em computadores, também presente, faça-se menção, em ambientes de produção automatizada. O trabalho em computadores exige uma integração, a partir da posição sentada, com elementos da postura, como posição da cabeça, posicionamento de membros superiores para acesso ao teclado e ao mouse, e movimentos repetitivos no uso desses equipamentos. Também envolve a questão ambiental, como a iluminação e os reflexos na tela. A posição da cabeça é a primeira a ser examinada: utilizando como referência a linha OO (linha ouvido-olho), esta linha não deve estar mais de 15º abaixo da horizontal, ou seja, a cabeça não deve estar mais inclinada que 30º para a frente (Kroemer; Grandjean, 2005). A posição do monitor de computador deve estar dentro de 0º a 15º da horizontal para baixo, para que a visão seja utilizada sem esforço. Mobile User Mobile User Mobile User 46 Unidade I Figura 33 – Pode-se notar que a tela de um notebook fica muito baixa em relação à linha da visão horizontal. Olhar para baixo gera uma sobrecarga estática na região cervical, sendo importante considerá-la para planejamento da ginástica laboral. Existem suportes para elevar o notebook e deixar a tela mais próxima à linha da visão, devendo ser acoplado um teclado à parte Disponível em: https://bit.ly/3ncIJoY. Acesso em: 12 nov. 2021. Observação Linha OO (linha ouvido-olho) é uma linha imaginária que liga o orifício do ouvido à extremidade lateral do olho, na junção das pálpebras. É fácil de ser visualizada, e por isso é muito usada em referências sobre posição da cabeça. Na tabela a seguir, pode-se comparar o número de estudos avaliados por Couto et al. (1998), que relacionaram alguns parâmetros ergonômicos com o acometimento por LER/Dort de trabalhadores em terminais de computadores. Muitos dos problemas ligados ao aparecimento de LER/Dort estão associados com o posicionamento de cabeça e membros superiores. É interessante notar ainda que a percepção de desconforto parece ser um indicador relevante em três estudos em que houve o aparecimento de LER/Dort, mostrando que o indivíduo pode ter alguma capacidade de detecção através de seu conhecimento corporal e sensibilidade para um problema presente, para que possa ser prevenido. 47 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Tabela 2 – Número de estudos demonstrando fatores de posição assumida no trabalho com terminais de computadores comprovando (“Sim”) ou não comprovando (“Não”) relação com ocorrência de LER/Dort Fator Sim Não Ângulos forçados/articulações 4 2 Posição da tela/documento 3 1 Posição do teclado/mesa 2+1- 2 Cadeira inadequada 1 3 Falta de espaço para pernas 1 – Leiaute do teclado 1 – Falta de suporte para punho 1 – Percepção de desconforto 3 1 Tempo na profissão (digitação) 1 2 Força excessiva com mãos 1 – Adaptado de: Couto et al. (1998). Para a ergonomia, a posição de membros superiores durante o trabalho sentado é especialmente importante na digitação, além da questão dos movimentos repetitivos. Alguns teclados de computadores possuem um ângulo interno entre as teclas utilizadas pela mão direita e as que são usadas pela mão esquerda, diminuindo o desvio ulnar necessário para assumir a posição de trabalho. Dessa forma, buscam diminuir a quebra de neutralidade da articulação do punho, melhorando a ergonomia. Figura 34 – Note o desvio ulnar do antebraço esquerdo. Os teclados convencionais, sobretudo os menores modelos, exigem uma adaptação dos punhos em relação à largura dos ombros, causando uma quebra da neutralidade desse segmento e expondo a região a um maior desgaste devido à repetição dos movimentos Disponível em: https://bit.ly/3kwTKA6. Acesso em: 12 nov. 2021. 48 Unidade I Figura 35 – Alguns modelos de teclado são curvos ou angulados, permitindo que os dedos acessem as teclas necessitando de menor desvio ulnar Disponível em: https://bit.ly/3kwTMYK. Acesso em: 12 nov. 2021. 3.2 Ergonomia do trabalho em pé A manutenção da posição em pé repercute no organismo e gera demandas energéticas e desgastes posturais. Pode-se fazer subdivisões nesta categoria, para quando o trabalho em pé é realizado com deslocamentos ou em posição parada. Considerações sobre o trabalho em pé estático levam à preocupação com o acúmulo sanguíneo no sistema vascular venoso dos membros inferiores. Sem movimentação, a musculatura não consegue auxiliar com o efeito de bombeamento sanguíneo no retorno venoso, aumentando a propensão a varizes, por exemplo, e outras consequências. Caberá ao profissional de ginástica laboral proporcionar as atividades necessárias para amenizar o quadro, inclusive medidas educativas para estimular a movimentação de membros inferiores periodicamente. Figura 36 – O trabalho parado na posição em pé requer contrações musculares estáticas dos membros inferiores e do tronco para manutenção da postura, e pode ser altamente desgastante Disponível em: https://bit.ly/3ktL8Kb. Acesso em: 12 nov. 2021. 49 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Segundo Kroemer e Grandjean (2005), a pressão nas veias é aumentada em 80 mmHg nos pés e 40 mmHg nas coxas, quando se fica parado em pé. Já o trabalho em pé com movimentação (andar, subir escadas, acionar pedais) gera um acionamento muscular relevante e desgastante, necessitando também da intervenção do profissional de ginástica laboral para contrapor tais solicitações. O trabalho de garçom, carteiro, lixeiro ou entregador de pizzas ilustra que, além do trabalho na posição em pé, pode ser significativo o número de passos realizados durante a jornada. Para Marano (2007), o trabalho predominantemente em pé é contraindicado para casos de alterações físicas, articulares ou circulatórias, obesidade ou outras características que são agravadas pela posição. 3.3 Trabalho muscular estático e dinâmico O trabalho muscular dinâmico é caracterizado por alternância de contração muscular e relaxamento, enquanto o trabalho estático é marcado pela manutenção da contração isométrica, muitas vezes para manter a postura necessária. O trabalho estático é mais desgastante do ponto de vista laboral. A necessidade de irrigação sanguínea para manter a contração muscular nem sempre é suprida de forma satisfatória, resultando em fadiga mais rápido, pois, sobretudo em maiores tensões, a pressão interna do músculo dificultará a circulação sanguínea. Para o profissional de ginástica laboral, deve ser fator de consideração no momento da avaliação das atividades laborativas e de planejamento de sua proposta. Figura 37 – Observe o trabalho desta dentista, em um ambiente confortável, sentada em uma cadeira com apoios, mas a necessidade da carga estática muscular dorsal, sustentando sua cabeça com flexão cervical e tronco inclinado à frente, é desgastante Disponível em: https://bit.ly/3qBWDDk. Acesso em: 12 nov. 2021. Durante o trabalho dinâmico, a cadência de contração e relaxamento auxiliará na circulação sanguínea e, dependendo da intensidade, o trabalho poderá ser mantido por um longo tempo sem fadiga. 50 Unidade I Deve-se notar que em algumas situações é possível existir uma região corporal executando trabalho estático (segurar uma caixa pesada com os braços, por exemplo), enquanto outra região executa trabalho dinâmico (caminhar). Em outras situações pode ocorrer repouso em uma região (posição sentada), enquanto os membros superiores trabalham intensamente na montagem de uma peça, por exemplo. 3.4 Trabalho pesado e manuseio de cargas Atualmente, grande parte do trabalho nos países industrializados é realizado na posição sentada e em muitas indústrias há uma diminuição na necessidade de trabalho pesado devido à mecanização e automação, mas ainda é uma frequente solicitação nas mais variadas funções. O trabalho pesado também é um grande desafio para o organismo. Mesmo sendo dinâmico, a requisição de grande parte da musculatura, em alta tensão, gera umanecessidade de pausas de recuperação, que podem ser maximizadas com o trabalho de ginástica laboral. Portanto, o profissional deve estar atento às solicitações existentes na rotina do trabalhador. A alta exigência muscular local ainda pode refletir na sobrecarga cardiopulmonar. O trabalho não deveria exigir de forma contínua ou repetitiva mais de 30% da capacidade de um grupo muscular, evitando utilização aguda, mesmo ocasional, de mais de 50% da capacidade (Couto et al., 1998). A redução da força necessária pode ser alcançada com diversas ações, como reduzir o peso de objetos ou caixas, melhorar a “pega” de ferramentas para ter atrito adequado, e evitar o uso de força além do necessário. A tabela a seguir indica o dispêndio de energia considerando um homem e uma mulher médios, em várias funções laborativas: Tabela 3 – Demandas energéticas de algumas atividades Tipo de trabalho Exemplo Demanda do homem Demanda da mulher Leve, sentado Guarda-livros 9.600 kJ/dia 8.400 kJ/dia Manual, pesado Tratorista 12.500 kJ/dia 9.800 kJ/dia Moderado, todo o corpo Açougueiro 15.000 kJ/dia 12.000 kJ/dia Pesado, todo o corpo Comutador de ferrovia 16.500 kJ/dia 13.500 kJ/dia Extremo Madeireiro 19.000 kJ/dia – Metabolismo basal Imobilidade 7.000 kJ/dia 5.900 kJ/dia Adaptado de: Kroemer e Grandjean (2005, p. 83). Comparando com a demanda energética basal, os trabalhos pesados são considerados muito significativos no que diz respeito à saúde do trabalhador. Estudos avaliam que uma média diária para trabalho pesado na Europa e nos Estados Unidos é de cerca de 20.000 kJ/dia, sendo aceitável ultrapassar este valor em alguns períodos, desde que a média se mantenha ao longo do ano (Kroemer; Grandjean, 2005). 51 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL O carregamento de peso é uma das formas mais comuns de trabalho pesado, devendo se considerar tanto o gasto energético quanto as estruturas solicitadas. Figura 38 – O trabalho pesado de carregamento de cargas é extremamente penoso, tanto do ponto de vista energético quanto do desgaste muscular e articular Disponível em: https://bit.ly/30pL2wv. Acesso em: 21 nov. 2024. Sempre que possível, deve-se utilizar equipamentos e acessórios que diminuam a carga carregada, dividindo-a em partes ou ainda a transportando em carrinhos. O profissional de ginástica laboral deve observar qual a disponibilidade desses equipamentos na rotina de trabalho e verificar a sobrecarga sofrida pelo colaborador, para equacionar seu programa de acordo com as necessidades verificadas. Figura 39 – Quando a carga a ser carregada for muito pesada, devem ser usados carrinhos para diminuir a sobrecarga no corpo. O profissional de ginástica laboral deve considerar que a sobrecarga que incide sobre o trabalhador é muito significativa Disponível em: https://bit.ly/3F8tdkk. Acesso em: 12 nov. 2021. 52 Unidade I O carregamento e o manuseio de cargas são demandas essenciais no trabalho braçal, e sua importância pode ser verificada na Norma Regulamentadora 17 (NR 17), que dispõe especificamente sobre este tópico. 3.5 Norma Regulamentadora 17 (NR 17) As normas regulamentadoras são um conjunto de instruções sobre segurança e saúde no trabalho visando a preservação e a melhoria da segurança do trabalhador por meio da especificação das diversas situações de condições de trabalho. A NR 17 aborda especificamente os aspectos ergonômicos relacionados ao trabalho. Será feita a seguir uma breve análise de partes dessa norma, conforme disponível até a data da edição deste material. Saiba mais Informe-se sobre a Norma Regulamentadora 17, suas atualizações e as demais normas diretamente no site do Ministério do Trabalho: Disponível em: https://tinyurl.com/4h8t685j. Acesso em: 21 nov. 2024. A primeira parte da NR 17 trata de disposições gerais, seguidas por considerações específicas para diversas tarefas. O profissional de ginástica laboral deve conhecer as normas, não para fiscalizar sua aplicação ou gerar conflitos entre trabalhadores e a empresa, mas para ter argumentação teórica quando fizer proposições de programas que visam diminuir as sobrecargas sofridas, ou participação de seu parecer ao contratante quando solicitado. Em caso de observação de desvios da norma que possam causar problemas físicos aos trabalhadores, o agente deve entrar em contato com o responsável por sua contratação, passando as informações necessárias para que seja possível tomar as providências. Considerações iniciais da NR 17: 17.1.1 Esta Norma Regulamentadora - NR visa estabelecer as diretrizes e os requisitos que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho (Brasil, 2021). Pode-se verificar que a NR 17 é definida como norteadora para decisões de adaptação das condições de trabalho em favor da característica dos trabalhadores para seu conforto, segurança e desempenho eficiente de suas funções. No item 17.3.1.2 da NR 17, é previsto que seja realizada a avaliação ergonômica 53 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL preliminar, que pode ser contemplada nas etapas do processo de identificação de perigos e de avaliação dos riscos descritos no item 1.5.4 da NR 1 - Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (Brasil, 2021). No item 17.5 da NR 17 - Levantamento, transporte e descarga individual de cargas –, definem-se os parâmetros para trabalho de transporte de materiais. Especialmente, há um cuidado com a necessidade da diminuição da carga para trabalhadores jovens e trabalhadoras do sexo feminino. 17.5.1 Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas por um trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança. 17.5.1.1 A carga suportada deve ser reduzida quando se tratar de trabalhadora mulher e de trabalhador menor nas atividades permitidas por lei (Brasil, 2021). A Norma atribui ao empregador a responsabilidade sobre qualquer problema relacionado à designação de transporte de carga a um trabalhador, mesmo quando utilizados meios auxiliares de transporte: 17.5.3 O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração de vagonetes, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico devem observar a carga, a frequência, a pega e a distância percorrida, para que não comprometam a saúde ou a segurança do trabalhador (Brasil, 2021). Figura 40 – O uso de carrinhos de carga atenua a exigência da tensão muscular necessária para carregar os objetos na mão, e pode diminuir a quantidade de deslocamentos ao exigir menos viagens. Entretanto, gera uma maior intensidade de força de membros inferiores necessária para tracioná-lo. A NR 17 fixa que mesmo com o uso de carrinhos o esforço deve ser compatível com a capacidade do trabalhador Disponível em: https://bit.ly/3Dfc2wR. Acesso em: 12 nov. 2021. 54 Unidade I O item 17.6 da NR 17 trata especificamente do mobiliário: 17.6.1 O conjunto do mobiliário do posto de trabalho deve apresentar regulagens em um ou mais de seus elementos que permitam adaptá-lo às características antropométricas que atendam ao conjunto dos trabalhadores envolvidos e à natureza do trabalho a ser desenvolvido. Para o profissional de Ginástica Laboral, é imprescindível se atentar às características das condições preconizadas para o trabalho em pé e sentado, constantes da NR 17: 17.6.3 Para trabalho manual, os planos de trabalho devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos: a) características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação dos segmentos corporais de forma a não comprometer a saúde e não ocasionar amplitudes articulares excessivas ou posturas nocivas de trabalho; b) altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalhoe com a altura do assento; c) área de trabalho dentro da zona de alcance manual e de fácil visualização pelo trabalhador; d) para o trabalho sentado, espaço suficiente para pernas e pés na base do plano de trabalho, para permitir que o trabalhador se aproxime o máximo possível do ponto de operação e possa posicionar completamente a região plantar, podendo utilizar apoio para os pés, nos termos do item 17.6.4; e e) para o trabalho em pé, espaço suficiente para os pés na base do plano de trabalho, para permitir que o trabalhador se aproxime o máximo possível do ponto de operação e possa posicionar completamente a região plantar (Brasil, 2021). Pode-se notar que a condição de boa postura não é especificada quanto a altura, distância e proporções, mas sim nos termos “boa postura”, “fácil visualização”, “compatíveis” etc., de certa forma necessitando referência externa. Ainda sobre o trabalho sentado, a NR 17 dispõe um padrão para ser seguido para os assentos de cadeiras de trabalho: 55 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 17.6.6 Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos: a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; b) sistemas de ajustes e manuseio acessíveis; c) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; d) borda frontal arredondada; e e) encosto com forma adaptada ao corpo para proteção da região lombar (Brasil, 2021). A NR 17 também estabelece a preocupação com o apoio dos pés, quando determina que: “17.6.4 Para adaptação do mobiliário às dimensões antropométricas do trabalhador, pode ser utilizado apoio para os pés sempre que o trabalhador não puder manter a planta dos pés completamente apoiada no piso” (Brasil, 2021). Figura 41 – O trabalho sentado é uma preocupação da norma, tanto nas especificações mínimas da cadeira (assento, encosto etc.) como na posição da visão do documento e na alternância de posições. Dependendo do tempo despendido nesta posição, a trabalhadora terá dores na região cervical, possíveis problemas circulatórios nas pernas e dores na região da coluna devido à assimetria da distribuição de peso no quadril Disponível em: https://bit.ly/3c8t83G. Acesso em: 12 nov. 2021. 56 Unidade I Já no caso de trabalho em pé, a NR 17 especifica a disponibilização de assentos para que sejam utilizados durante as pausas: “17.6.7 Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados em pé, devem ser colocados assentos com encosto para descanso em locais em que possam ser utilizados pelos trabalhadores durante as pausas” (Brasil, 2021). Sobre a utilização de telas de equipamentos no trabalho, a NR 17 dispõe que: 17.7.3 Os equipamentos utilizados no processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo devem permitir ao trabalhador ajustá-lo de acordo com as tarefas a serem executadas. 17.7.3.1 Os equipamentos devem ter condições de mobilidade suficiente para permitir o ajuste da tela do equipamento à iluminação do ambiente, protegendo-a contra reflexos, e proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao trabalhador. 17.7.3.2 Nas atividades com uso de computador portátil de forma não eventual em posto de trabalho, devem ser previstas formas de adaptação do teclado, do mouse ou da tela a fim de permitir o ajuste às características antropométricas do trabalhador e à natureza das tarefas a serem executadas (Brasil, 2021). Sobre a realização do trabalho (operação), deve-se observar o que determina a NR 17: 17.4.1 A organização do trabalho, para efeito desta NR, deve levar em consideração: a) as normas de produção; b) o modo operatório, quando aplicável; c) a exigência de tempo; d) o ritmo de trabalho; e) o conteúdo das tarefas e os instrumentos e meios técnicos disponíveis; e f) os aspectos cognitivos que possam comprometer a segurança e a saúde do trabalhador (Brasil, 2021). Ou seja, o trabalho a ser executado deve ser adequado às características do trabalhador, e os subitens “a” a “f” do item 17.6.2 devem ser observados para essa adequação. Ainda sobre a execução das tarefas no trabalho, pode-se destacar que a NR 17 estipula que, se houver a presença de algumas sobrecargas musculares, os sistemas de avaliação de desempenho visando recompensas deverão considerar as consequências no trabalhador e a necessidade de pausas: 57 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 17.4.2 Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do tronco, do pescoço, da cabeça, dos membros superiores e dos membros inferiores, devem ser adotadas medidas técnicas de engenharia, organizacionais e/ou administrativas, com o objetivo de eliminar ou reduzir essas sobrecargas, a partir da avaliação ergonômica preliminar ou da AET (Brasil, 2021). O profissional de Ginástica Laboral deve estar atento às características do trabalho realizado pelos colaboradores da empresa, a fim de identificar as sobrecargas impostas ao trabalhador. Sobre essas condições, a NR 17 estabelece: 17.4.3 Devem ser implementadas medidas de prevenção, a partir da avaliação ergonômica preliminar ou da AET, que evitem que os trabalhadores, ao realizar suas atividades, sejam obrigados a efetuar de forma contínua e repetitiva: a) posturas extremas ou nocivas do tronco, do pescoço, da cabeça, dos membros superiores e/ou dos membros inferiores; b) movimentos bruscos de impacto dos membros superiores; c) uso excessivo de força muscular; d) frequência de movimentos dos membros superiores ou inferiores que possam comprometer a segurança e a saúde do trabalhador; e) exposição a vibrações, nos termos do Anexo I da Norma Regulamentadora n. 9 – Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos; ou f) exigência cognitiva que possa comprometer a segurança e saúde do trabalhador (Brasil, 2021). Após esses itens, a Norma prossegue com a inclusão do Anexo I, que trata do trabalho de operadores de checkout, como são conhecidos os serviços de caixa (supermercados, lojas de conveniência, lojas de departamentos etc.). Na análise, cabe ressaltar as seguintes informações constantes do item 3.1 do Anexo I da NR 17, que trata do posto de trabalho do operador de checkout: a) atender às características antropométricas de 90% (noventa por cento) dos trabalhadores, respeitando os alcances dos membros e da visão, ou seja, compatibilizando as áreas de visão com a manipulação; b) assegurar a postura para o trabalho na posição sentada e em pé, e as posições confortáveis dos membros superiores e inferiores nessas duas situações; 58 Unidade I c) respeitar os ângulos limites e trajetórias naturais dos movimentos, durante a execução das tarefas, evitando a flexão e a torção do tronco; d) garantir um espaço adequado para livre movimentação do operador e colocação da cadeira, a fim de permitir a alternância do trabalho na posição em pé com o trabalho na posição sentada; e) manter uma cadeira de trabalho com assento e encosto para apoio lombar, com estofamento de densidade adequada, ajustáveis à estatura do trabalhador e à natureza da tarefa; f) colocar apoio para os pés, independente da cadeira; (Brasil, 2021). Se o profissional de ginástica laboral constata que alguns dos aspectos não são atendidos na empresa em que irá atuar, deve verificar qual a sobrecarga adicional imposta ao trabalhador, para poder amenizar a influência em sua saúde e prevenir as lesões decorrentes da não observação completa da NR 17, que pode estar presente no trabalho. Vale ainda destacar o item 3.2 do Anexo I da NR 17, que analisa os equipamentos do posto de checkout, visando diminuir as solicitações físicas decorrentes da função: a) escolhê-los de modo a favorecer os movimentos e ações próprias da função, sem exigência acentuada de força, pressão, preensão, flexão, extensão ou torção dos segmentos corporais; b) posicioná-los no posto de trabalho dentro dos limites de alcance manual evisual do operador, permitindo a movimentação dos membros superiores e inferiores e respeitando a natureza da tarefa; (Brasil, 2021). As tarefas de ensacamento e de pesagem de mercadorias concomitantes ao trabalho de operador de checkout são tratadas nos itens 4.3 e 4.4, respectivamente, estipulando limites que devem ser conhecidos pelo profissional de ginástica laboral no sentido da compreensão dos fatores agravantes a seu trabalho, ou seja, quando presentes em maior grau, haverá dentro do programa a ser definido um planejamento para poder compensar essas solicitações agregadas. Interessante notar que o item 7 do Anexo I da NR 17 delega à empresa a educação do trabalhador para exercer a função de operador de checkout no que tange à preservação da saúde, sendo necessário obsservar: 7.1 Todos os trabalhadores envolvidos com o trabalho de operador de checkout devem receber treinamento, cujo objetivo é aumentar o conhecimento da relação entre o seu trabalho e a promoção à saúde. 7.2 O treinamento deve conter noções sobre as medidas de prevenção e os fatores de risco para a saúde, decorrentes da modalidade de trabalho de operador de checkout, levando em consideração os aspectos relacionados a: 59 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL a) posto de trabalho; b) manipulação de mercadorias; c) organização do trabalho; d) aspectos psicossociais do trabalho; e e) lesões ou agravos à saúde mais encontrados entre operadores de checkout (Brasil, 2021). A última seção da NR 17 é o Anexo II, que estuda a função de operador de telemarketing ou central de atendimento, nos chamados call centers. Esses profissionais, pela natureza de seu trabalho, precisam de considerações especiais, das quais algumas são destacadas a seguir. No seu segundo item, define-se o escopo do que trata o Anexo II: 2.1 As disposições deste Anexo aplicam-se a todas as organizações que mantêm serviço de teleatendimento/telemarketing, nas modalidades ativo ou receptivo, em centrais de atendimento telefônico e/ou centrais de relacionamento com clientes (call centers), para prestação de serviços, informações e comercialização de produtos. 2.1.1 Entende-se como call center o ambiente de trabalho no qual a principal atividade é conduzida via telefone e/ou rádio com utilização simultânea de terminais de computador (Brasil, 2021). Algumas necessidades específicas sobre o posto de trabalho são tratadas no item 3 do Anexo II da NR 17, podendo-se dar destaque ao item 3.1: a) o monitor de vídeo e o teclado devem estar apoiados em superfícies com mecanismos de regulagem independentes; b) será aceita superfície regulável única para teclado e monitor quando este for dotado de regulagem independente de, no mínimo, 26 cm (vinte e seis centímetros) no plano vertical; c) a bancada sem material de consulta deve ter, no mínimo, profundidade de 75 cm, e largura de 90 cm (…) d) a bancada com material de consulta deve ter, no mínimo, profundidade de 90 cm e largura de 100 cm; […] f) as superfícies de trabalho devem ser reguláveis em altura em um intervalo mínimo de 13 cm (treze centímetros), permitindo o apoio das plantas dos pés no piso; 60 Unidade I g) o dispositivo de apontamento na tela (mouse) deve estar apoiado na mesma superfície do teclado, colocado em área de fácil alcance e com espaço suficiente para sua livre utilização; […] i) nos casos em que os pés do operador não alcancem o piso, mesmo após a regulagem do assento, deve ser fornecido apoio para os pés […] (Brasil, 2021). Já o item 6 do Anexo II da NR 17 discorre sobre a organização do trabalho do operador de teleatendimento. Diz respeito a diversas necessidades, e podem-se destacar como vitais para o conhecimento do profissional de ginástica laboral: 6.3 O tempo de trabalho em efetiva atividade de teleatendimento/ telemarketing é de, no máximo, 6 (seis) horas diárias. 6.4 Para prevenir sobrecarga psíquica e muscular estática de pescoço, ombros, dorso e membros superiores, a organização deve permitir a fruição de pausas de descanso e intervalos para repouso e alimentação aos trabalhadores. […] 6.4.5 Devem ser garantidas pausas no trabalho imediatamente após operação em que tenham ocorrido ameaças, abuso verbal ou agressões, ou que tenha sido especialmente desgastante, que permitam ao operador recuperar-se e socializar conflitos e dificuldades com colegas, supervisores ou profissionais de saúde ocupacional especialmente capacitados para tal acolhimento. 6.5 O tempo necessário para a atualização do conhecimento do operador e para o ajuste do posto de trabalho é considerado como parte da jornada normal. 6.6 A participação em quaisquer modalidades de atividade física, quando adotadas pela organização, não é obrigatória, e a recusa do trabalhador em praticá-la não poderá ser utilizada para efeito de qualquer punição (Brasil, 2021). Saiba mais Para verificar todos os itens e especificações da NR 17, leia: BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. Norma Regulamentadora n. 17 (NR-17). Brasília, 2021. https://tinyurl.com/2p99xkkn. Acesso em: 21 nov. 2024. 61 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 3.6 Verificação ergonômica Uma verificação ergonômica deve ser realizada para avaliação inicial das necessidades, conforme acentuamos. A verificação ergonômica, dentro da abrangência dos programas de ginástica laboral, não visa necessariamente elaborar um laudo ergonômico ou destacar a obrigatoriedade da contratação de um ergonomista. Caso não haja esses recursos de pessoal qualificado estritamente para a ergonomia, o profissional de ginástica laboral deve fazer as suas observações in loco, considerando as queixas relatadas pelos trabalhadores e as observações dos gestores ou responsáveis para poder traçar um perfil da exigência de cada posto de trabalho. Com experiência, o profissional poderá perceber e deve anotar posições forçadas, repetições, ângulos excessivos, tensões presentes nas ações e, principalmente, encontrar soluções para os problemas constatados. Para iniciar o contato prático do profissional de ginástica laboral com a avaliação da ergonomia no trabalho, pode-se utilizar a proposta da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em colaboração com a International Ergonomics Association (IEA), que resultou na publicação Pontos de Verificação Ergonômica (OIT, 2018). De uma forma simplificada, o documento estimula empresas e gestores interessados a melhorar as condições ergonômicas do trabalho cumprindo uma rotina de verificação e intervenções em prol da discussão de melhorias viáveis para diminuir acidentes de trabalho relativos à ergonomia, particularmente em pequenas e médias empresas. Para tal, avaliam-se as necessidades reais encontradas pela OIT em diversos locais do mundo. Esse manual tem 132 questões para as situações de trabalho mais diversas, e propõe que a implementação de melhorias siga uma filosofia, incluindo: As soluções imediatas precisam ser desenvolvidas com a participação ativa dos empregados e trabalhadores. O trabalho em grupo é uma vantagem para planificar e aplicar melhorias práticas. O uso do material e dos peritos locais disponíveis resulta em muitas vantagens. Uma atuação em muitas direções pode assegurar que as melhorias permaneçam com o tempo. Para elaborar melhorias ajustadas localmente, são necessários programas de ação contínua (OIT, 2018, p. 13). Um ponto interessante na proposta de verificação e nas sugestões resultantes é o incentivo ao trabalho em grupo na análise e solução dos problemas ergonômicos, como se pode verificar no quadro de proposição de trabalho a seguir: 62 Unidade I Quadro 4 – Processo de trabalho em grupo para concepção de uma lista de verificação localmente adaptada Concordar sobre as áreas principais que exigem melhorias imediatas (aprendizagem de boas práticas locais) Selecionar um número limitado (30-50) de títulos de pontos de verificação (vários por área) Testar um rascunho de lista de verificação e formulara lista de verificação localmente ajustada (foco nas melhorias de baixo custo) Complementar com uma brochura de páginas correspondentes (como material de referência para usuários) Usar o conjunto (lista de verificação e brochura) para o trabalho em grupo de gerentes e trabalhadores Fonte: OIT (2018, p. 15). Uma lista de pontos de verificação é então proposta e pode ser seguida de modo bastante didático, nas seguintes áreas de atenção: • manipulação e armazenagem de materiais; • ferramentas manuais; • segurança do maquinário; • design do posto de trabalho; • iluminação e ventilação; • substâncias e agentes perigosos; • instalações de bem-estar; • organização do trabalho. Para o profissional de ginástica laboral sem especialização em ergonomia, propostas simples devem ser consideradas para entender as situações de exigências em que os trabalhadores se encontram em comparação a um quadro ideal, e assim poder implementar ações para tornar as atividades do programa em soluções para as necessidades dos trabalhadores. À medida que os profissionais de ginástica laboral se tornam experientes e buscam formação complementar em ergonomia, mais recursos podem ser utilizados para projetos, sugestões e adequações, sempre com a participação do corpo gestor da empresa, para que não haja qualquer modificação do ambiente, das tarefas ou dos procedimentos da empresa sem que tenham sido discutidos os parâmetros para tais decisões. 63 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Para ilustração dos questionamentos referentes aos pontos de verificação ergonômica, veja o quadro a seguir: Quadro 5 106. Resolver os problemas do trabalho envolvendo os trabalhadores em grupos. Propõe alguma ação? NÃO SIM PRIORITÁRIO Observações___________________________________________________ 107. Consultar os trabalhadores sobre como melhorar a organização do tempo de trabalho. Propõe alguma ação? NÃO SIM PRIORITÁRIO Observações___________________________________________________ 108. Envolver os trabalhadores no design melhorado dos seus próprios postos de trabalho. Propõe alguma ação? NÃO SIM PRIORITÁRIO Observações___________________________________________________ 109. Consultar os trabalhadores sobre as mudanças a serem feitas na produção e sobre as melhorias necessárias para tornar o trabalho mais seguro, fácil e eficiente. Propõe alguma ação? NÃO SIM PRIORITÁRIO Observações___________________________________________________ 110. Informar e premiar os trabalhadores sobre os resultados de seu trabalho. Propõe alguma ação? NÃO SIM PRIORITÁRIO Observações___________________________________________________ 111. Dar treinamento aos trabalhadores para que assumam responsabilidades e fornecer-lhes os meios para que tragam melhorias nas suas tarefas. Propõe alguma ação? NÃO SIM PRIORITÁRIO Observações___________________________________________________ 112. Dar treinamento aos trabalhadores para operação segura e eficiente. Propõe alguma ação? NÃO SIM PRIORITÁRIO Observações___________________________________________________ Fonte: OIT (2018, p. 38). 64 Unidade I Com as imagens a seguir, é possível analisar as orientações para a aplicação da verificação ergonômica. Uma cábrea móvel é confiável, segura e fácil de manejar para o transporte de carga pesada a uma distância curta com mínima elevação Uma grua hidráulica de solo com braço telescópico Um dispositivo mecânico acionado manualmente para levantar peças de fundição até a altura de trabalho Certifique-se de que a máxima carga segura esteja claramente marcada A) C) D) B) Figura 42 Fonte: OIT (2018, p. 60). 4 LER/DORT: LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS/DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO 4.1 Definições Bernardino Ramazzini, médico italiano (1633-1714), publicou De Morbis Artificum Diatriba [Doenças do Trabalho], relacionando as afecções que na sua época atingiam os trabalhadores. Os casos mais notáveis foram designados como “doença dos escribas e notários”, que eram aqueles que tinham a função de tomar notas e escrever diversos documentos, e “doença dos mineiros”, devido a posturas forçadas. 65 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Historicamente, o primeiro termo usado no Brasil para designar os problemas ocasionados pelo acúmulo de repetições foi LER (lesões por esforços repetitivos), sendo uma tradução de repetition strain injuries, definida por Couto et al. (1998, p. 17) como: doenças musculotendinosas dos membros superiores, ombros e pescoço, causadas pela sobrecarga de um grupo muscular particular, devido ao uso repetitivo ou pela manutenção de posturas contraídas, que resultam em dor, fadiga e declínio do desempenho profissional. Entretanto, esse conceito evoluiu em diversas vertentes. Em primeiro lugar, apesar de a maioria dos quadros existentes e estudos realizados serem nos membros superiores, a repetição de movimentos também pode desencadear processos semelhantes nos membros inferiores, como em motoristas profissionais, por exemplo. Pode-se, ainda, citar quadros importantes que não acometem diretamente um grupo muscular, como as bursites, os desgastes de discos intervertebrais etc. Outra análise pode ser realizada, pois o prejuízo não é apenas o declínio profissional, mas também o da vida familiar e social do trabalhador. Ademais, nem sempre a configuração como doença será apropriada. A origem de quadros semelhantes nem sempre é de natureza profissional. Uma criança jogando video game ou uma pessoa fazendo tricô também podem apresentar sintomas devido aos movimentos repetitivos, não ligados a qualquer atuação profissional. Há referência na literatura internacional como CTD (cumulative trauma disorders), havendo tradução para o português como lesões por traumas cumulativos. Note que se usou uma tradução inapropriada de disorders, “lesões” em vez de “desordens”, que não têm o mesmo significado. Outros termos utilizados são síndrome ocupacional por overuse, síndrome da sobrecarga ocupacional e distúrbios cervicobraquiais ocupacionais (um quadro mais específico). Assim, a terminologia foi evoluindo com o tempo e com a realidade encontrada em pesquisas sobre o assunto. De qualquer modo, o nome LER (lesões por esforços repetitivos) tornou-se insuficiente para abranger o problema, sendo hoje unido ao termo Dort (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho), como LER/Dort. Essa denominação é mais apropriada, pois nem sempre um quadro apresenta uma lesão clara – às vezes, pode ser uma dor, ou incapacitação. Assim, um quadro incapacitante sem lesão que ocorra com um trabalhador não deixa de ser considerado em um processo trabalhista, por exemplo, por não ter como comprovar uma lesão. Ao declarar um quadro de LER/Dort e o respectivo CID do acometimento específico, o médico atestará o nexo com a função exercida, caso tenha como definir essa comprovação. Os termos LER e Dort não são considerados o quadro clínico em si, mas a ocorrência específica identificada como adquirida nessas condições. As LER/Dort têm sido as mais frequentes entre as doenças ocupacionais na população trabalhadora segurada. Em 2013, 3.568.095 trabalhadores disseram ter sido diagnosticados com LER/Dort, cerca de 2,29% da população pesquisada pelo IBGE na PNS – Pesquisa Nacional da Saúde (Fundacentro, 2013). 66 Unidade I Dos indivíduos afetados pelas LER/Dort, ainda segundo a PNS, cerca de 25% realizavam exercícios/fisioterapia para minimizar os efeitos delas, e 35% recorriam a recursos medicamentosos. Segundo Barbosa et al. (2014), em 2006 foram registrados 26.645 casos de doenças ocupacionais na Previdência Social, com uma estimativa de 45% de ocorrência de LER/Dort, o que mostra quanto é grande seu potencial de prejuízo econômico e social. Em dados do INSS de 2003 (Barbosa et al., 2014), as LER/Dort são consideradas como um dos principais problemas de saúde pública, responsável por quase 90% dos afastamentos de trabalho.As limitações sofridas pelos trabalhadores afetados por LER/Dort podem ser discretas ou muito significativas, não só nas tarefas do trabalho, mas também na vida diária, como destacado a seguir: Tabela 4 – Grau de limitação de atividades diárias devido a LER/Dort Respostas Pessoas % Não limita 1.492.716 41,84 Um pouco 993.812 27,85 Moderadamente 520.404 14,58 Intensamente 468.184 13,12 Muito intensamente 92.979 2,61 Fonte: Fundacentro (2013, p. 8). Como ilustração dos quadros de LER/Dort devidos a alguns agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional, é esclarecedora a análise do quadro a seguir, que destaca os acometimentos específicos e seus prováveis agentes. Quadro 6 Doenças Agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional Grupo VI da CID-10 VIII – Transtornos do plexo braquial (síndrome da saída do tórax, síndrome do desfiladeiro torácico) (G54.0) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) IX – Mononeuropatias dos membros superiores (G56.-): síndrome do túnel do carpo (G56.0). Outras lesões do nervo mediano: síndrome do pronador redondo (G56.1); síndrome do canal de Guyon (G56.2); lesão do nervo cubital (ulnar): síndrome do túnel cubital (G56.2); lesão do nervo radial (G56.3). Outras mononeuropatias dos membros superiores: compressão do nervo supraescapular (G56.8); posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) X – Mononeuropatias do membro inferior (G57.-): lesão do nervo poplíteo lateral (G57.3) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) 67 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Doenças Agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional Grupo XIII da CID-10 III – Outras artroses (M19.-) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) IV – Outros transtornos articulares não classificados em outra parte: dor articular (M25.5) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII) V – Síndrome cervicobraquial (M53.1) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII) VI – Dorsalgia (M54.-): cervicalgia (M54.2); ciática (M54.3); lumbago com ciática (M54.4) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Ritmo de trabalho penoso (Z56.3) Condições difíceis de trabalho (Z56.5) VII – Sinovites e tenossinovites (M65.-): dedo em gatilho (M65.3); tenossinovite do estiloide radial (De Quervain) (M65.4); outras sinovites e tenossinovites (M65.8); sinovites e tenossinovites, não especificadas (M65.9) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Ritmo de trabalho penoso (Z56.3) Condições difíceis de trabalho (Z56.5) VIII – Transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso, o uso excessivo e a pressão, de origem ocupacional (M70.-): sinovite crepitante crônica da mão e do punho (M70.0); bursite da mão (M70.1); bursite do olécrano (M70.2); outras bursites do cotovelo (M70.3); outras bursites pré-rotulianas (M70.4); outras bursites do joelho (M70.5); outros transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso, o uso excessivo e a pressão (M70.8); transtorno não especificado dos tecidos moles, relacionado com o uso, o uso excessivo e a pressão (M70.9) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Ritmo de trabalho penoso (Z56.3) Condições difíceis de trabalho (Z56.5) IX – Fibromatose da fáscia palmar: contratura ou moléstia de Dupuytren (M72.0) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII) X – Lesões do ombro (M75.-): capsulite adesiva do ombro (ombro congelado, periartrite do ombro) (M75.0); síndrome do manguito rotatório ou síndrome do supraespinhoso (M75.1); tendinite bicipital (M75.2); tendinite calcificante do ombro (M75.3); bursite do ombro (M75.5); outras lesões do ombro (M75.8); lesões do ombro, não especificadas (M75.9) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Ritmo de trabalho penoso (Z56) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII) XI – Outras entesopatias (M77.-): epicondilite medial (M77.0); epicondilite lateral (“cotovelo de tenista”); mialgia (M79.1) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII) XII – Outros transtornos especificados dos tecidos moles (M79.8) Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII) XVIII – Doença de Kienböck do adulto (osteocondrose do adulto do semilunar do carpo) (M93.1) e outras osteocondropatias especificadas (M93.8) Vibrações localizadas (W43.-; Z57.7) (Quadro XXII) Adaptado de: Brasil (2016, p. 57- 71). 4.2 Prejuízos para as empresas Muitos estudos tentam relatar os prejuízos gerados pelos afastamentos médicos para as empresas. Um deles especifica os quadros de LER/Dort (Couto et al., 1998) e estipula que em apenas uma instituição bancária à época do estudo (1995) houve 152 trabalhadores afastados por LER/Dort em todo o Brasil, gerando um gasto de cerca de R$ 621.952,53 (correspondentes a mais de R$ 3,5 milhões corrigidos pelo IGP-M para julho/2018), o que significa cerca de R$ 23.200,00 por trabalhador afastado, em valores corrigidos. 68 Unidade I Além desse montante, apenas na região de Contagem e Belo Horizonte, em Minas Gerais, foram levantados 650 processos trabalhistas de indenização por dano físico em diversas instituições. Cada processo, na época do estudo, foi estimado em média de R$ 70.000,00 (mais de R$ 396.000,00, corrigidos pelo IGP-M para julho/2018). Esse valor mostra o potencial passivo de prejuízo para empresas que não administram e não implantam prevenção dos casos de LER/Dort. Certamente, nem todos os casos serão julgados favoráveis ao autor da reclamação, mas é possível estimar o montante envolvido na disputa (Couto et al., 1998). Por fim, deve-se considerar um impacto não menos importante, que é a perda de produtividade. Mesmo que um trabalhador não se afaste, quando trabalha sujeito a dor ou desconforto, vai diminuir sua produtividade, ou mesmo faltar ao trabalho para atendimento médico, afetando o custo de produção e a competitividade, ficando a empresa atrás de outras que administram melhor esse fator de custo. “Em algumas empresas, estimou-se que a prevalência de LER atinge cerca de 25% da população trabalhadora”, podendo calcular qual proporção de perda de produção e consequente impacto financeiro devem ser esperados (Brasil, 2000). 4.3 Principais quadros de LER/Dort A ocorrência de LER/Dort está estritamente ligada à natureza e à característica das tarefas e condições de realização do trabalho, além de fatores pessoais, sem a intenção de esgotar a análise das possibilidades dos acometimentos relacionados. Um quadro que é comum em determinada empresa ou função pode não ser usual em outra realidade funcional. O profissional de ginástica laboral deve ter conhecimento dos principais quadros para entender seus mecanismos de instalação, identificar problemas e elaborar programas que visam prevenir ou amenizar as cargas presentes, uma vez que seu papel não é trabalhar no tratamento das afecções. A análise não tem a intenção de indicar tratamento ou acompanhamento da evolução. De maneira geral, alguns quadros são mais frequentes ou típicos, e serão expostos a seguir. Segundo Kroemer e Grandjean (2005), os esforços estáticos excessivos e os esforços repetitivos podem gerar problemas reversíveis ou persistentes, e estão associados a: • inflamação nas articulações; • inflamações nos tendões ou extremidades; • inflamações nas bainhas dos tendões; • processos degenerativos nas articulações; • espasmos musculares (cãibras); • doenças dos discos intervertebrais. 69 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Figura 43 – A adoção de postura forçada é característica de muitas funções especializadas de trabalho e gera uma sobrecarga estática importante no desenvolvimento de quadros de LER/Dort Disponível em: https://bit.ly/3kyagzE. Acesso em: 12 nov. 2021. Couto et al. (1998) enumeramos principais distúrbios dos membros superiores, dos quais pode-se destacar: • Fadiga de qualquer grupamento muscular envolvido em esforços estáticos. • Tendinite e tenossinovite dos músculos do antebraço. • Miosite dos músculos lumbricais (mão), pronador redondo e fascite da mão. • Tendinite do bíceps, supraespinoso, tendões dos flexores dos dedos. • Cisto gangliônico no punho ou flexores dos dedos (dedo em gatilho). • Síndrome do túnel do carpo (compressão do nervo mediano). • Síndrome de De Quervain (abdutor longo e extensor curto do polegar – próximo ao processo estiloide do rádio). • Síndrome do desfiladeiro torácico (compressão do conjunto artéria-veia-nervo do tórax para o braço). • Compressão do nervo ulnar (no cotovelo ou no túnel de Guyon – junto da mão). • Compressão do nervo radial (terço superior do antebraço). • Epicondilite medial e lateral. • Bursite do cotovelo e do ombro. • Síndrome da tensão cervical (dor miofascial na cintura escapular e pescoço). 70 Unidade I 4.3.1 Tendinites Sob solicitação intensa ou repetitiva, os tendões podem se inflamar devido ao seu tracionamento. Couto et al. (1998) consideram que as principais fontes de sobrecarga tendínea são: tensão abrupta, tensão oblíqua, tensão contínua, movimentação repetitiva, falta de pausa, atrito e instabilidade articular. 4.3.2 Tenossinovites Couto et al. (1998) citam o estudo de Hammer (1934), que notou que as funções de empacotar cigarros, repetições de movimentos de dedos com mais de 30 a 40 movimentos por minuto, eram acompanhadas de casos de tenossinovites. Trata-se de inflamações não dos tendões em si, mas das bainhas sinoviais, que os recobrem. Os principais sintomas são: dor, edema, crepitação e perda funcional. De acordo com Mendes (1995), quando há esforços repetitivos, o tendão ou a própria bainha sinovial pode sofrer espessamento, e o líquido sinovial adquire aspecto inflamatório. Outra hipótese é que esse espessamento possa causar uma má nutrição tecidual, a depender da intensidade, frequência ou duração do movimento realizado localmente (Armstrong et al. apud Mendes, 1995). A tenossinovite estenosante ou “dedo em gatilho” é mais frequente em trabalhadores que usam ferramentas manuais, representando uma inflamação e dificuldade do tendão de um dedo passar pela bainha na região da junção com a palma da mão. O nódulo que se forma na região distal da mão dificulta a passagem do tendão, gerando um “travamento do dedo” em flexão, e um ressalto no ato da extensão, que pode ser dificultada ou dolorosa. Pacientes com algumas disfunções hormonais e o sexo feminino apresentam maior incidência (Mattar JR., 2008). A dor pode concentrar-se no trajeto do tendão flexor longo do polegar e dos flexores profundos dos dedos, concentrando-se na cabeça do metacarpo e na palma da mão (Mendes, 1995). Também típica é a ocorrência da enfermidade de De Quervain, ou tenossinovite estilorradial, na região do punho, quando é aumentado o atrito dos tendões do músculo extensor curto do polegar e abdutor longo do polegar, que dividem a mesma bainha sinovial. A dor inicia-se agudamente na região dorsal do polegar e pode irradiar-se para o ombro, causando dificuldade de segurar objetos com a posição em garra (por exemplo, uma xícara). Tipicamente, ocorre em trabalhos com uso de chave de fendas, de alicates, digitação com desvio ulnar ou movimento de torção (por isso, a síndrome era conhecida como síndrome das lavadeiras). 4.3.3 Estrangulamento ou compressão de nervos Os nervos distribuem-se pelo corpo passando por entre músculos, polias, sulcos ósseos e articulações, podendo ser comprimidos e ter diminuída ou alterada a capacidade de transmissão de impulsos. Uma compressão contínua pode levar a edema e alterações locais ou periféricas. Dependendo do local afetado, o nervo atingido irá causar efeitos em regiões diversas, como dor, formigamento, perda de força e dormência. 71 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Na estrutura da coluna cervical, é possível ocorrer a epicondilose, por exemplo, devido ao transporte de cargas na cabeça, podendo causar degeneração local e lesão de uma ou várias raízes nervosas (Waris apud Mendes, 1995). Como exemplo, pode-se citar a compressão do nervo ulnar, na região do cotovelo, causada pelo apoio do cotovelo em superfícies duras (Couto et al., 1998). Chamada de “doença das telefonistas”, acarreta formigamentos como manifestação inicial, podendo ser prevenida por uso de almofada sob o cotovelo. Se a compressão do nervo ulnar ocorrer no canal de Guyon (punho), gerando a síndrome do canal de Guyon, haverá queixas de alteração de sensibilidade no 4º e no 5º dedo, perda de força de preensão e dificuldades de movimentação da mão. Outro caso é a compressão do nervo mediano, que pode ocorrer na base da mão (por uso de ferramentas e vibração) ou no túnel do carpo (devido ao trabalho em extensão ou flexão de punho, ou ainda tenossinovite dos tendões dos flexores). Nessa afecção, o nervo mediano é pressionado pelo engrossamento de algum dos tendões e bainhas sinoviais que passam pela estreita região do túnel do carpo, causando dor, parestesia, adormecimento, fadiga muscular, alterações sensitivas ou motoras, podendo evoluir para fibrose neural, degeneração e atrofia muscular. A dor em queimação na região, geralmente no período noturno, é típica deste quadro (Couto et al., 1998). Também pode ser citada a compressão nos dedos por objetos como cabos de ferramentas, tesouras e alicates. 4.3.4 Bursites As bolsas sinoviais são submetidas a maior tensão na elevação dos braços acima do nível dos ombros (90º), e a inflamação devido a esta sobrecarga, se reincidente, pode gerar calcificação e perpetuação do quadro (Couto et al., 1998). Além dos membros superiores, são citadas a bursite isquiática, adquirida em posição sentada por longos períodos (popularmente chamada de “nádega do tecelão”), e a bursite infra ou pré-patelar, em trabalhadores que assumem a posição ajoelhada com frequência (“joelho da empregada doméstica”) (Zilli, 2002). 4.3.5 Lombalgias e cervicalgias Os problemas de coluna são mais frequentes em trabalhadores que exercem muita atividade física do que em sedentários. Em geral, é o desgaste da coluna o responsável pelas faltas ao trabalho, e não a carga muscular em ofícios pesados (Kroemer; Grandjean, 2005). Na lombalgia aguda os sintomas podem desaparecer em trinta dias mesmo sem tratamento, em 90% dos casos. Mas a recidiva é de cerca de 60% no mesmo ano ou no máximo em dois anos se não houver uma educação preventiva (Kesley; Golden apud Mendes, 1995). São fatores que aumentam a recidiva: idade, posturas não adequadas e fadiga (Bergquist-Ulmann; Larsson apud Mendes, 1995). 72 Unidade I É considerada lombalgia crônica a dor persistente durante três meses no mínimo, o que corresponde a 10% dos pacientes com lombalgia aguda ou recidivante (Mendes, 1995). Este mesmo autor cita que Nachemson (1982) enumerou como fatores de cronicidade das dores de coluna o trabalho pesado e o levantamento de pesos, o baixo nível de escolaridade, a falta de exercícios, o trabalho sentado e fatores psicológicos. Entretanto, as cargas musculares estáticas em musculaturas associadas à manutenção da posição da cabeça e da posição do tronco, sobretudo a musculatura cervical e lombar, são importantes fontes de dores e preocupação de profissionais da ginástica laboral em ações de conscientização, verificação ergonômica, análise de queixas álgicas e ações de prevenção com exercícios e educação postural. Síndrome da tensão cervical e lombalgia estão entre as principais LER/Dort, segundo Zilli (2002). A) B) Figura 44 – Lombalgias e cervicalgias são queixas frequentes de trabalhadores Disponível em: A) https://bit.ly/3Ddhh08; B) https://bit.ly/3c9wDXI. Acesso em: 12 nov. 2021. 4.4 Fatores contribuintes para desenvolvimento de LER/Dort Vejamos a seguir os fatores que aumentam a propensão à ocorrência de LER/Dort: Quadro 7 Fatores biomecânicosMovimentos repetitivos Movimentos manuais com uso da força Postura inadequada Uso de ferramentas manuais Fatores administrativos Ineficácia da empresa em eliminar riscos potenciais Método de trabalho inadequado, uso de ferramentas e equipamentos impróprios Fatores psicossociais Pressões no trabalho Inexistência de autonomia e controle sobre o trabalho Inexistência de ajuda ou apoio de colegas de trabalho Pouca variabilidade no conteúdo da atividade Fonte: Polito (2002, p. 44 apud Poletto, 2002, p. 9). 73 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Para Couto et al. (1998), os principais fatores biomecânicos contribuintes para LER/Dort são: utilização de força, postura incorreta, repetitividade e vibração. Para Santos et al. (2007), acrescenta-se ainda a possibilidade de existência de compressão mecânica nas estruturas musculares. A compressão de estruturas musculotendíneas ocorre quando, por exemplo, executam-se movimentos de digitação com o antebraço apoiado na quina da mesa, provocando restrição adicional a cada movimento de contração muscular. Pode-se notar na tabela seguinte, analisando estudos sobre a relação de fatores biomecânicos com a incidência de LER/Dort, que, dependendo da região corporal, maior evidência da causa já foi estabelecida, e em outras regiões a relação parece ter menor significância. Por exemplo, constata-se um alto número de trabalhos com evidências para a postura como causa relacionada a problemas na região de pescoço e cintura escapular, razoável evidência de que repetitividade está ligada a problemas em todas as regiões, exceto cotovelos, e que a força está associada a disfunções em todas as regiões, exceto ombros. A vibração foi associada a índice razoável de evidência somente para a síndrome do túnel do carpo, e para as regiões de cotovelo e punho/mão são fortes as evidências de que é a combinação entre os fatores que desencadeia os problemas. Tabela 5 Fator de risco Pescoço e cintura escapular Ombro Cotovelo Punho/mão S. túnel carpo Tendinite Repetitividade ++ ++ + / - ++ ++ Força ++ + / - ++ ++ ++ Postura +++ ++ + / - + / - ++ Vibração + / - + / - ++ Combinação +++ +++ +++ +++ evidência forte ++ evidência razoável + / - evidência suficiente Fonte: Niosh (1997 apud Couto et al., 1998, p. 80). Para Mendes (2012), a hipótese biomecânica é que há reações graves do organismo às exigências do trabalho quando estas são maiores que as capacidades funcionais individuais. 4.4.1 Presença de vibração nas atividades realizadas Uma das causas frequentemente relacionadas à incidência de LER/Dort é a presença de vibração na operação. De fato, a vibração requer uma resposta corporal para estabilização, muitas vezes insuficiente e desgastante. A vibração é um alto estímulo para a musculatura agir na busca de manutenção da postura, da posição ou precisão e do posicionamento de membros manuseando ferramentas que vibram, como marteletes, serras elétricas e lixadeiras. 74 Unidade I Figura 45 – A presença de vibração é um dos fatores que podem causar predisposição à ocorrência de LER/Dort Disponível em: https://bit.ly/3FcJtAN. Acesso em: 12 nov. 2021. 4.4.2 Alta repetitividade de movimentos A repetitividade é um dos fatores mais citados entre os desencadeadores de LER/Dort, fazendo parte inclusive da nomenclatura LER (lesões por esforços repetitivos). Couto et al. (1998) acentuam que mais de 25 a 33 movimentos por minuto devem ser evitados para proteger tendões, fixando um limite de 12 mil movimentos de digitação por hora, e que, se o trabalho fosse desenvolvido em parte do dia, não traria lesões, apenas se ocorresse durante todo o dia de trabalho. Estudos mostram que há uma grande relação entre os fatores de realização da tarefa de digitação e a ocorrência de LER/Dort, como podemos observar na tabela a seguir: Tabela 6 – Número de estudos demonstrando problemas relacionados à execução da tarefa comprovando (“Sim”) ou não comprovando (“Não”) a relação com LER/Dort Fator Sim Não Falta de variedade de tarefa 8 1 Trabalho em teclado 6 3 Horas de uso em teclado 11+1- 3 Ausência de pausas 2 Velocidade de trabalho 2 1 Carga de trabalho inapropriada 1 Pressão no trabalho 8 - Falta de autonomia 8 1 Insatisfação com o trabalho 2 2 Insegurança 1 - Fonte: Couto et al. (1998 apud Rodrigues, 2003, p. 47). 75 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Como se pode verificar nos resultados, a grande maioria dos trabalhos relacionou positivamente a falta de variedade, o uso do teclado, o tempo prolongado de trabalho, a velocidade e a ausência de pausas como fatores predisponentes a LER/Dort. Figura 46 – A digitação é uma das formas características de atividades repetitivas, realizada através de milhares de movimentos por hora Disponível em: https://bit.ly/30iagwZ. Acesso em: 12 nov. 2021. 4.4.3 Postura incorreta ou forçada A má postura ou necessidade de permanecer em posição forçada é um fator relevante quando mantida ao longo do dia de trabalho. Assumir uma posição menos neutra durante pouco tempo não deve ser preocupante, mas a necessidade de sua repetição ou da sua manutenção por mais tempo é que deve alertar o profissional de ginástica laboral sobre a necessidade de compensação. Figura 47 – Se o trabalhador assume postura inadequada ou posição forçada, está sujeito a uma maior predisposição em adquirir LER/Dort. Note neste caso que, adicionalmente, há o risco de queda pelo fato de o trabalho ser executado em altura, e o risco de trabalhar com eletricidade, mas estes não fazem parte do escopo da ginástica laboral, sendo pertencentes a outros grupos de NRs Disponível em: https://bit.ly/3wItFD1. Acesso em: 12 nov. 2021. 76 Unidade I A manutenção da postura forçada incorre na necessidade de manter uma contração muscular estática para suportar a quebra da neutralidade, e essa exigência é penosa para o trabalhador. Além da contração muscular, algumas articulações podem estar sendo solicitadas por longos períodos de tempo em amplitudes diversas da neutralidade, o que gera uma sobrecarga em toda a estrutura articular. Figura 48 – Posições forçadas mantidas por muito tempo ou assumidas repetidamente ao longo da jornada de trabalho causam solicitações importantes ao sistema musculoesquelético e articular Disponível em: https://bit.ly/3kt4hfq. Acesso em: 12 nov. 2021. 4.4.4 Necessidade de emprego de força para realizar as tarefas O fator força como determinante para ocorrência de LER/Dort também é bastante difundido na literatura. Nos movimentos da mão, por exemplo, Couto et al. (1998) propõem que baixa aplicação de força manual equivale a menos de 4 kg, e alta força significa valores maiores que 6 kg, aplicados em média ao longo do ciclo de trabalho. Ainda segundo os autores, valores de 10 a 15 kg, se em baixa frequência e por pouco tempo, não precisam ser considerados preocupantes, pois sua incidência dentro do valor médio da jornada não é relevante (considere-se que há variações entre os indivíduos e esses valores não são uma referência única). O trabalho pesado pode ser caracterizado como moderado ou severo. Mendes (1995) considera na primeira categoria critérios como postura fixa por mais de 20% do tempo de trabalho, coluna cervical para cima ou para os lados (menos de 45º), ou em rotação por mais de 2h/dia, trabalho com braços acima do ombro por até 40% do tempo ou acima de 30º por mais de 10% do tempo, e ainda uso de ferramentas pesadas, ou uso de ferramentas com cabo em más condições ou com peso de cerca de 0,6 kg por mão. Já o trabalho pesado considerado como severo por Mendes (1995) envolve elementos de carga como postura fixa por mais de 40% do tempo, coluna cervical em posição de mais de 45º de desvio, braços elevados acima do ombro por mais de 40% do tempo, ou mais de 1/3 do período de trabalho com braços acima de 30º, ou ainda peso de ferramentas de mais de 1,5 kg por mão. Também são sobrecarregadas as estruturas articulares, uma vez que a maior aplicação de força requer esforço de toda71 4.4 Fatores contribuintes para desenvolvimento de LER/Dort .................................................. 72 4.4.1 Presença de vibração nas atividades realizadas ......................................................................... 73 4.4.2 Alta repetitividade de movimentos ................................................................................................. 74 4.4.3 Postura incorreta ou forçada ............................................................................................................. 75 4.4.4 Necessidade de emprego de força para realizar as tarefas ................................................... 76 4.4.5 Fatores coadjuvantes ............................................................................................................................. 77 Unidade II 5 PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL ..................................................................................................... 82 5.1 Definição dos objetivos do programa .......................................................................................... 82 5.2 Avaliação inicial .................................................................................................................................... 84 5.2.1 Reunião com os gestores ..................................................................................................................... 84 5.2.2 Reunião com o médico do trabalho/departamento médico ................................................. 84 5.2.3 Reunião com os membros da Cipa .................................................................................................. 84 5.2.4 Reunião com o setor de RH .............................................................................................................. 85 5.2.5 Contatos com os departamentos interessados .......................................................................... 85 5.2.6 Aplicação de questionários ou entrevistas ................................................................................... 86 5.2.7 Observação in loco ................................................................................................................................. 88 5.3 Duração das sessões de ginástica laboral ................................................................................... 88 5.4 Locais para realização da ginástica laboral................................................................................ 90 5.5 Possibilidades de integração da ginástica laboral com outros programas de incentivo à saúde e qualidade de vida do trabalhador ................................... 91 5.5.1 Programas de ergonomia .................................................................................................................... 93 5.5.2 Academia in loco..................................................................................................................................... 93 5.5.3 Grupos de caminhada, ginástica ou corrida ................................................................................ 94 5.5.4 Programa de nutrição ou combate à obesidade ........................................................................ 94 5.5.5 Possibilidades de integração com outros programas de qualidade de vida e saúde no trabalho .......................................................................................................................... 95 5.6 Planejamento do programa de ginástica laboral .................................................................... 97 6 PLANEJAMENTO DAS SESSÕES DE GINÁSTICA LABORAL .............................................................100 6.1 Característica dos clientes ..............................................................................................................100 6.2 Planejamento do conteúdo da sessão de ginástica laboral ..............................................103 6.3 Classificações da ginástica laboral ..............................................................................................106 6.3.1 Ginástica de aquecimento ou preparatória ...............................................................................106 6.3.2 Ginástica de pausa ...............................................................................................................................107 6.3.3 Ginástica de fim de expediente ......................................................................................................107 7 IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL ............................................................108 7.1 Sensibilização .......................................................................................................................................108 7.2 Condução das sessões de ginástica laboral .............................................................................108 7.2.1 Organização pré-sessão .....................................................................................................................108 7.2.2 Durante a sessão ..................................................................................................................................109 7.3 Avaliação e controle das atividades ...........................................................................................113 7.3.1 Controle de frequência ....................................................................................................................... 113 7.3.2 Adesão ao programa .......................................................................................................................... 114 7.3.3 Questionário de adequação das atividades ...............................................................................116 7.3.4 Verificações periódicas de resultados ........................................................................................... 118 8 EMPREENDEDORISMO ................................................................................................................................120 8.1 Definições de empreendedorismo ...............................................................................................120 8.2 Características do perfil empreendedor ....................................................................................122 8.3 Intraempreendedorismo ..................................................................................................................124 8.4 Plano de negócio ................................................................................................................................124 8.4.1 Sumário executivo ............................................................................................................................. 125 8.4.2 Descrição geral do empreendimento ........................................................................................... 125 8.4.3 Descrição dos produtos e serviços ................................................................................................ 127 8.4.4 Análise de mercado ............................................................................................................................. 127 8.4.5 Plano de marketing ............................................................................................................................. 128 8.4.6 Plano financeiro ................................................................................................................................... 129 9 APRESENTAÇÃO As empresas modernas precisam otimizar seus recursos e produzir com mais eficiência. Desde a Revolução Industrial até hoje, a situação modifica-se, impondo cada vez mais sobrecargas ao trabalhador e gerando uma necessidade de cuidado com o fator humano na empresa, que é primordial para as operações. Assim, a saúde dos trabalhadores torna-se uma preocupação constante. A ergonomia e a ginástica laboral passam a ser ferramentas para amenizar tais sobrecargas, e cabe ao profissionala estrutura. A sobrecarga de força também é transferida aos tendões e às bainhas sinoviais, por exemplo, no punho, para manter uma ferramenta sob controle, podendo desencadear processos inflamatórios não apenas na porção contrátil do músculo. 77 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Figura 49 – Trabalhos que exigem a aplicação de força excessiva também são predisponentes à ocorrência de LER/Dort Disponível em: https://tinyurl.com/2waya863. Acesso em: 21 nov. 2024. 4.4.5 Fatores coadjuvantes Há fatores que podem ser considerados deletérios à condição de saúde no trabalho e com potencial para contribuir para a ocorrência de LER/Dort. Alguns desses fatores são de ordem individual, como disfunções hormonais e psíquicas, problemas já instalados e maior sensibilidade à dor. Outros estão presentes no local de trabalho, como ambiente estressante e más relações com chefia e colegas de trabalho. Figura 50 – Acúmulo de trabalho em atividades cujo ritmo é compassado externamente gera um ambiente estressante, no qual o trabalhador não se sente confortável, pois não tem o controle sobre o ritmo Disponível em: https://bit.ly/30nN7c8. Acesso em: 12 nov. 2021. 78 Unidade I Resumo Nesta unidade, destacamos inicialmente o panorama em que se insere o trabalho moderno. Partindo de caça, pesca e manufaturas simples, o homem inseriu mudanças no processo de produção enquanto passava por grandes transformações sociais, o que levou ao quadro atual de produção em larga escala da economia. Essa necessidade de produzir, vender e entregar causou a especialização dos postos de trabalho em todas as indústrias. Em uma avaliação simplificada, os trabalhadores braçais realizam movimentos corporais significativos em sua jornada, com desgastes físicos e fisiológicos importantes. Por outro lado, os funcionários administrativos representam a forma de trabalho mais sedentária, muitas vezes na posição sentada e em grande parte das funções usando computadores. A ergonomia lida com essa preocupação, estudando as exigências dos ambientes e das tarefas que são impostas ao trabalhador. Uma boa visão da ergonomia ajudará o profissional de ginástica laboral a entender as sobrecargas sofridas pelo trabalhador que deverão ser consideradas em um programa de exercícios. A ginástica laboral surgiu como uma das ferramentas modernas para combater os malefícios causados pelo trabalho. Buscando preservar e melhorar as condições de saúde para o trabalhador através de programas de exercícios e atividades diversas, espera-se diminuir as perdas relacionadas a problemas de saúde, dores, faltas ao trabalho e outras intercorrências negativas ao processo de produção. Por fim, foram analisadas as LER/Dort (lesões por esforços repetitivos/ distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho) e os fatores mais importantes que contribuem para sua ocorrência. Vimos que o profissional de ginástica laboral não trata de lesões durante as sessões, mas precisa ter um entendimento dos quadros principais para, ao analisar as situações de trabalho encontradas, ter um panorama do quadro a ser evitado e de como planejar atividades preventivas por meio do programa de ginástica laboral. 79 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Exercícios Questão 1. (Enade 2010, adaptada) A postura, ou alinhamento corporal, refere-se à posição do corpo, parado ou em movimento, e envolve o estado de equilíbrio das diversas partes corporais sob a ação da gravidade. [...] Bons hábitos posturais conduzem a boa aparência, eficiência mecânica nos movimentos e menor risco de lesões, sendo dependentes da força e da flexibilidade, aliadas à prática consciente e inconsciente que produzem esses hábitos. Nahas, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2001. p. 68-69. Diversos estudos demonstram que o avanço tecnológico decorrente do uso de computadores tem contribuído para o aumento de lombalgias, seja no ambiente de trabalho, seja no ambiente doméstico. Nessa perspectiva, entre as orientações que devem ser transmitidas por profissionais de educação física aos usuários de computador, incluem-se: I – Manter a região lombar apoiada no encosto da cadeira. II – Posicionar os joelhos e o quadril mantendo ângulo de 45º quando sentado. III – Sustentar a cabeça e o pescoço em posição reta e manter ombros e braços relaxados. IV – Ajustar o topo da tela ao nível dos olhos e posicionar-se a um comprimento de braço de distância do teclado do computador. É correto apenas o que se afirma em: A) I e II. B) I e III. C) II e IV. D) I, III e IV. E) I, II, III e IV. Resposta correta: alternativa D. 80 Unidade I Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: manter a região lombar apoiada no encosto da cadeira para aliviar a força de compressão sobre essa região. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: posicionar os joelhos e o quadril mantendo ângulo de 90° a fim de não prejudicar o retorno venoso e manter as articulações em posição neutra. III – Afirmativa correta. Justificativa: sustentar a cabeça e o pescoço em posição reta para não aumentar a pressão intradiscal na cervical e manter ombros e braços relaxados a fim de não tensionar os músculos elevadores dos ombros. IV – Afirmativa correta. Justificativa: ajustar o topo da tela ao nível dos olhos e posicionar-se a um comprimento de braço de distância do teclado do computador, a fim de manter a postura da região cervical e ombros sem tensão exagerada. Questão 2. (Enade 2010, adaptada) Em um ambiente de trabalho em que empregados exercem atividades que provocam dores articulares intensas, o profissional de educação física deve orientar a adoção de posturas corporais adequadas, a prática da ginástica compensatória, o respeito pelas horas estabelecidas na jornada de trabalho de cada um dos trabalhadores e a prática de exercícios físicos regulares. porque As doenças crônico-degenerativas, as doenças psicossomáticas e as psicocinéticas são essencialmente oriundas do trabalho excessivo e repetitivo. Acerca dessas asserções, assinale a alternativa correta. A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa. D) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. E) As duas asserções são proposições falsas. Resposta correta: alternativa C. 81 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Análise da questão A primeira asserção é verdadeira, pois a adoção de uma postura adequada, a prática da ginástica compensatória, o respeito pelas horas estabelecidas na jornada de trabalho de cada um dos trabalhadores e a prática de exercícios físicos regulares podem evitar dores articulares. Já a segunda asserção é falsa, pois as doenças crônico-degenerativas, as doenças psicossomáticas e as psicocinéticas não são essencialmente oriundas do trabalho excessivo e repetitivo. Principalmente as doenças crônico-degenerativas são relacionadas ao estilo de vida, que incluem a falta de atividade física regular, os hábitos alimentares, as horas inadequadas de sono e o estresse emocional. 82 Unidade II Unidade II 5 PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL Será preciso para nortear os esforços frente à realidade de cada empresa. Necessidades serão identificadas, objetivos serão traçados e as estratégias para atingi-los podem ser variadas. A seguir serão analisadas as etapas para planejar um programa de ginástica laboral. 5.1 Definição dos objetivos do programa A primeira necessidade para planejamento de um programa de ginástica laboral será a definição dos objetivos. Parte dos objetivos pode ser conhecida somente após uma avaliação ser realizada pelo profissional, mas em algumas situações a própria empresa define as metasimportantes a serem buscadas com a proposição do programa, devendo estas ser analisadas pelo profissional de ginástica laboral. Para Berté Júnior (2006, p. 6), alguns dos objetivos da ginástica laboral são: Reduzir a fadiga muscular. Promover consciência corporal, saúde e bem-estar. Promover integração entre os trabalhadores. Reduzir o número de acidentes de trabalho. Aumentar a motivação e disposição para o trabalho. Prevenir doenças ocupacionais. Quando os objetivos de implantação da ginástica laboral não são apenas a melhoria da produtividade relacionada aos casos de LER/Dort ou outras questões de saúde, setores internos podem se unir para justificar a contratação de um serviço de ginástica laboral em conjunto com objetivos institucionais diversos. Por exemplo: • melhor entrosamento entre os trabalhadores do mesmo setor; • melhor entrosamento entre trabalhadores de setores diferentes; • melhoria na imagem interna e externa da empresa; 83 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Apesar de alguns desses fatores estarem relacionados com a produtividade, estão fora do escopo dos problemas de saúde. Nesses casos, o profissional de ginástica laboral não tem condições de avaliá-los como necessidades, mas pode levá-los em consideração ao programar as atividades que serão propostas ao longo do programa. Importante ressaltar o critério do profissional quanto à definição dos objetivos e propostas do programa. Tomando como exemplo um trabalhador de descarga de caminhão que falta ao trabalho por dor lombar, certamente seria beneficiado por um treinamento para fortalecimento muscular. Todavia, pela curta duração da sessão de ginástica laboral – poucos minutos –, não é possível obter resultados de fortalecimento em comparação à carga de trabalho já exercida em uma jornada de oito horas, pois não há condição de submetê-lo a cargas ainda maiores em tão pouco tempo de duração. Assim, uma estratégia mais plausível para subtrair o absenteísmo neste caso poderia incluir relaxamento, compensação ou alongamentos para diminuir a sobrecarga e compensá-la em vez de propor mais situações de aumento de carga. Figura 51 – Atividades de ginástica laboral no pátio em frente à empresa podem mostrar à população que passa pelo local que a entidade se preocupa com os trabalhadores, com sua saúde ou com boas práticas Disponível em: https://bit.ly/30iSUzk. Acesso em: 12 nov. 2021. Alguns dos objetivos relacionados à saúde e à produtividade podem estar predefinidos em verificações anteriores da própria empresa, antes mesmo de o profissional de ginástica laboral ter sido contratado, pois relatórios internos podem revelar quais setores estão sofrendo mais com o número de faltas ao trabalho por motivo médico, ou a queda na produtividade por fatores humanos, ou ainda um número elevado de afastamentos do trabalho. Nessa realidade, o profissional de ginástica laboral pode solicitar reuniões com os agentes envolvidos para tomar conhecimento sobre o diagnóstico já realizado, planejar avaliações complementares que sejam importantes em sua proposta e entender as manifestações do problema em questão. 84 Unidade II Observação Se uma empresa tem o objetivo de diminuir o índice de faltas ao trabalho, o profissional de ginástica laboral deve pesquisar quais os principais motivos de faltas, para depois poder traçar os objetivos do programa. 5.2 Avaliação inicial O planejamento de um programa de ginástica laboral deve iniciar-se com uma avaliação para diagnosticar o quadro em que se encontram os trabalhadores. Também será importante levantar informações sobre como o programa poderá ser implantado. Essa avaliação pode ser feita conjugando-se diversas fontes de informação que estiverem disponíveis. A seguir estudaremos algumas delas. 5.2.1 Reunião com os gestores Uma entrevista com os gestores de diversos níveis hierárquicos permite, além dos dados concretos de problemas identificados por eles, descobrir o que os gestores esperam do programa. Contudo, nem sempre essa visão é condizente com a realidade, podendo a entrevista proporcionar um alinhamento de expectativas. Como exemplo de dados a serem obtidos nessa reunião, estão as informações sobre tarefas desenvolvidas pelos trabalhadores, estrutura local, característica do departamento, necessidades especiais, definição de prazos etc. Com os gestores, pode-se avaliar os horários, a frequência, a duração e os locais para a prática da ginástica laboral, o agrupamento de setores, a ponderação sobre as atividades etc. 5.2.2 Reunião com o médico do trabalho/departamento médico O médico do trabalho, quando presente na empresa, pode passar dados importantes sobre os casos mais frequentes de necessidade de atendimento, de condução para tratamento, de acidentes, tipos de problemas que atualmente estão sob sua atenção, dores relatadas mais frequentemente pelos trabalhadores etc. Pode ainda ajudar a entender a dinâmica da incidência de questões de saúde na empresa. A relação com o departamento médico deve persistir, proporcionando ao profissional de ginástica laboral acesso a informações que contribuam com o programa. 5.2.3 Reunião com os membros da Cipa Quando instalada e atuante, a Cipa (NR 5) tem papel vital na prevenção de acidentes, e um olhar crítico dos trabalhadores que integram a Cipa pode proporcionar ao profissional de ginástica laboral um panorama na visão deles, que talvez inclua fatores diferentes da ótica médica. A Cipa também deve estar integrada com o programa, pois é em favor dos trabalhadores que este será executado. 85 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Figura 52 – Reunir-se com os gestores e instâncias internas de uma empresa pode trazer informações importantes para o projeto de ginástica laboral Disponível em: https://bit.ly/3kwCElL. Acesso em: 12 nov. 2021. Lembrete O planejamento de um programa de ginástica laboral deve iniciar-se com uma avaliação para diagnosticar o quadro em que se encontram os trabalhadores. 5.2.4 Reunião com o setor de RH O contato com o setor de gestão de pessoas, benefícios ou departamento pessoal visa obter dados sobre a situação atual da empresa no que se refere a faltas, afastamentos, problemas de saúde, necessidades de acompanhamento, melhorias, relações humanas na empresa etc. Com atribuições variadas, setores que atuam nessa esfera possuem dados que podem ser valiosos para o profissional de ginástica laboral poder planejar o programa a ser implantado. 5.2.5 Contatos com os departamentos interessados Dependendo dos processos internos da empresa, pode haver mais interessados em participar da implantação da ginástica laboral. O responsável pelo contato com o profissional pode ser um elo importante para o levantamento de dados em diferentes setores. Por exemplo, até o departamento jurídico pode ter interesse de que seja executada a ginástica laboral em um setor com muitos litígios ou casos em andamento. O profissional de ginástica laboral deve investigar as melhores possibilidades de obter informações relevantes para que o programa consiga atingir os objetivos propostos. 86 Unidade II 5.2.6 Aplicação de questionários ou entrevistas A verificação de necessidades diretamente com os colaboradores pode ser feita por questionários ou através de entrevistas. Com o consentimento da empresa, é possível realizar conversas informais ou entrevistas estruturadas para obter entendimento das tarefas e sobrecargas sentidas pelos trabalhadores no dia a dia. Alguns questionários que já foram validados em pesquisas podem ser adaptados, ou pode-se criar um questionário próprio. Os questionários permitem avaliar regiões corporais com dor, grau de satisfação com o trabalho, dificuldades encontradas durante o trabalho, relacionamento interpessoal e com a chefia imediata, estresse, entre outros parâmetros. Dependendo do nível educacional dos trabalhadores, alguns questionários podem ser mais simples, usando figuras e espaços para marcar X, enquanto outros podem ser bastantecomplexos, até mesmo para trabalhadores com nível educacional superior preencherem sozinhos, devendo ser entrevistados para que seja possível completá-los. Uma forma simples de identificar desconfortos musculares é o mapa corporal, no qual o próprio trabalhador assinala com um X ou com uma graduação (1 a 5, por exemplo) a região onde sente desconforto. Um dos questionários utilizados em pesquisas sobre queixas de dores é o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO, ou Nordic Musculoskeletal Questionnaire – NMQ), traduzido para o português e apresentado no trabalho de Machado Jr. et al. (2012), que concluiu que as queixas cervicais mostraram resultados positivos através da ginástica laboral, comparando indivíduos praticantes e não praticantes de ginástica laboral em uma instituição financeira. Saiba mais Para saber mais sobre a aplicação do Questionário Nórdico, leia: SANTOS, V. M. dos et al. Aplicação do Questionário Nórdico Musculoesquelético para estimar a prevalência de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em operárias sob pressão temporal. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 35., 2015, Fortaleza. Anais [...] Fortaleza: Abepro, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3kJE3oZ. Acesso em: 24 nov. 2024. Em alguns casos de diagnóstico, que não necessitam de comparação na literatura científica, questionários podem ser criados para investigar situações específicas. Em outros casos, deve-se utilizá-los quando já foram validados em estudos. A seguir, destacamos a reprodução de questionário diagnóstico utilizado para detectar dores e postura usual em trabalhadores para um estudo de Candotti, Stroschein e Noll (2011): 87 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Quadro 8 NOME:____________________________________________________________________ IDADE:_____________________________ MASSA CORPORAL:____________________ ESTATURA:_________________________________________________________________ SETOR:________________________________________________________________ TEMPO NESTE CARGO:________________________________________________________ 1) Você sente dor? ( ) sim ( ) não 2) Em que horário esta dor se manifesta? a) antes do trabalho ( ) b) durante o trabalho ( ) c) após o trabalho ( ) 3) Qual a frequência em que você sente esta dor? a) 1 vez por semana ( ) b) 2 vezes por semana ( ) c) todos os dias ( ) 4) Esta dor interfere em suas atividades diárias (lazer, afazeres domésticos, estudos, trabalho)? ( ) sim ( ) não ( ) às vezes 5) Circule nas escalas abaixo a intensidade da sua dor, referente a cada segmento do corpo: e) referente ao braço: 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10. f) referente a punho/mão: 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10. g) referente ao pescoço: 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10. h) referente às costas: 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10. i) referente às pernas: 0 – 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10. 6) Você pratica atividade física regularmente, além da ginástica laboral? ( ) sim ( ) não 7) Marque a figura abaixo que melhor representa sua postura durante o trabalho: A) C) B) D) Figura 53 Fonte: Candotti, Stroschein e Noll (2011, p. 713-714). 88 Unidade II Realizando pesquisas mais aprofundadas, encontram-se na literatura diversos instrumentos aplicáveis que podem suprir a necessidade de conhecimento do problema nos trabalhadores que se quer avaliar.Por exemplo, é possível citar a avaliação simplificada do risco de lombalgia de Silva Jr., Buzzoni e Morrone (2016), composta de 13 perguntas com resposta dicotômica (sim/não), e ainda a avaliação simplificada do risco de ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos de membros superiores relacionados ao trabalho, com 26 perguntas com resposta dicotômica (sim/não). Lembrete O profissional de ginástica laboral deve investigar as melhores possibilidades de obter informações relevantes para que o programa consiga atingir os objetivos propostos. 5.2.7 Observação in loco Aliada às formas anteriores de obtenção de dados e informações, a observação in loco possibilitará ao profissional de ginástica laboral conhecer: dinâmica do trabalho, fontes estressoras do ambiente, condições ambientais, questões ergonômicas, efetividade das pausas existentes, setores com dificuldades de quaisquer naturezas etc. Além das características da realização das tarefas e do reconhecimento dos ambientes, a observação in loco permitirá uma análise para o planejamento da proposição das atividades de ginástica laboral, identificando a quantidade de trabalhadores em cada setor, a proximidade entre os setores, a existência de local adequado e com espaço suficiente próximo ao posto de trabalho em que se possa reunir os indivíduos, a área no próprio departamento no caso de realização da ginástica laboral lá, a existência de risco (máquinas funcionando, áreas perigosas, ruído excessivo), a impossibilidade técnica para aplicação (atividades que exigem silêncio ou que são perigosas) etc. 5.3 Duração das sessões de ginástica laboral O conceito de pausas durante o trabalho é bem estudado e, dependendo da natureza das tarefas, existem propostas de pausas que tornam mais produtivo o período de trabalho como um todo. Tabela 7 – Indicação de pausas de acordo com a situação de trabalho Situação de trabalho Indicação de pausas Trabalho com movimentos repetitivos Pausas curtas de 3 a 5 minutos por hora trabalhada, reduzindo a fadiga e aumentando o potencial de atenção prolongada Trabalho pesado ou em ambientes quentes ou frios Pausas dosadas pare que a carga horária máxima suportável não seja ultrapassada 89 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Situação de trabalho Indicação de pausas Trabalho físico ou mental médio Pausa de 10 a 15 minutos durante a manhã e outra à tarde Trabalhos corn elevada exigência mental Além das pausas maiores de 10 a 15 minutos, prever uma a duas pausas curtas por turno, de 3 a 5 minutos No aprendizado de habilidades ou trabalho de aprendizes Dosar as pausas conforme a dificuldade das habilidades a serem aprendidas Fonte: Grandjean (1998, p. 176). A pausa, em si, já é um alívio à sobrecarga das tarefas cumpridas pelo trabalhador. Uma justificativa à implantação da ginástica laboral passa a ter sentido, pois tornará a pausa simples em uma atividade especificamente benéfica ao organismo. Tabela 8 – Tempo de pausa por hora trabalhada de acordo com a situação de trabalho Pausa por hora trabalhada Situação de trabalho 5 minutos Repetitividade, sem possibilidade de rodízio 10 minutos Repetitividade e alta intensidade de força ou desvios posturais 15 minutos Repetitividade, alta intensidade de força e desvios posturais Fonte: Couto et al. (1998, p. 334). Pode-se, nesse momento de quantificação e análise das pausas, fazer menção aos estudos de Kroemer e Grandjean (2005) sobre a natureza das pausas do trabalho, classificadas como: pausas voluntárias – decisão do trabalhador para recuperação rápida; pausas mascaradas – trabalhos colaterais que desviam a atuação da repetitividade, embora se continue trabalhando: limpeza da mesa, buscar um papel na impressora; pausas necessárias – induzidas pela dinâmica externa, como aguardar o término de uma impressão, tempo de espera na linha telefônica; e pausas obrigatórias – determinadas pela legislação ou pela empresa. Autores acentuam diversas possibilidades de duração da sessão de ginástica laboral, muitas vezes definida pela disponibilidade de tempo frente à rotina do trabalho exercido. A diferença de abordagens tem sido relatada como um desafio para comparação da efetividade de programas. Grande, Silva e Parra (2014, p. 56) ilustram diferenças entre os programas por eles analisados: • Japão: 10-15 minutos, antes da jornada. • EUA: em média 30 minutos de duração. • Brasil: 10 a 15 minutos, no início, no meio ou no fim da jornada. 90 Unidade II Em significativa incidência nos programas de ginástica laboral, as sessões variam entre 10 e 15minutos, chegando em alguns casos a 20 minutos. Muitas vezes, as empresas desejam limitar o tempo de sessão a poucos minutos, visando despender menor tempo a esta atividade, o que nem sempre é positivo. Há também o problema de que a dinâmica do trabalho sendo executado não permite um intervalo suficiente para realização de uma sessão com uma duração adequada, possibilitando apenas uma pequena pausa, que pode caracterizar-se como pouco produtiva para provocar resultados através da ginástica laboral. As sessões de ginástica laboral muito curtas têm uma efetividade limitada devido ao baixo número de repetições, à pouca quantidade de exercícios e ao menor tempo para correções ou orientações. Assim, deve-se esperar uma menor eficiência no programa que tenha uma limitação importante no seu tempo de execução, embora parte dessa desvantagem possa ser amenizada pela frequência diária de aplicação da ginástica laboral. Deve-se estar atento, pois o gasto de tempo para mobilização dos trabalhadores para uma sessão curta é o mesmo do que em uma sessão mais longa, ou seja, o tempo investido menos aproveitado é proporcional. Por outro lado, as sessões de ginástica laboral muito longas tendem a influenciar negativamente na adesão. Um tempo muito longo de sessão pode confrontar o trabalhador com a decisão entre participar da sessão e atrasar seus afazeres, ou simplesmente não participar. Assim, o evento passa a ter menor efetividade para o programa, pois não vai garantir participação significativa dos trabalhadores. O efeito prático que se poderia esperar seria de bons resultados para os trabalhadores que participam de uma sessão longa, mas pouca influência na produtividade total, pela baixa adesão. Em sua pesquisa, Dishman (1988) destaca trabalhadores que iniciavam programas de atividades físicas com durações diferentes. Os grupos foram avaliados quanto à permanência do indivíduo na atividade, comparando-se as diferentes durações de sessões. Notou-se que durações longas de sessão tendem a ter maior evasão, provavelmente porque os funcionários passavam a se preocupar com as tarefas de seu trabalho que não estavam sendo cumpridas. O profissional de ginástica laboral deverá conhecer o comportamento dos colaboradores e a dinâmica da empresa para buscar o melhor equilíbrio possível entre o tempo disponibilizado e a efetividade do programa. 5.4 Locais para realização da ginástica laboral As áreas onde ocorrerão as sessões de ginástica laboral devem ser definidas com antecedência, na fase de avaliação inicial. Esses espaços podem ser sugeridos pela empresa, visando fluxo dos trabalhadores, segurança, menor interferência naqueles que continuarão trabalhando etc. Também é importante o profissional de ginástica laboral fazer sugestões sobre o local para a prática, para verificar se há objeções da entidade. Normalmente, procura-se optar por um local de fácil acesso, muitas vezes no posto de trabalho, na própria sala ou ambiente por falta de área próxima em condições superiores. Quando possível, 91 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL pode-se planejar usar um ambiente aberto, permitindo ao indivíduo respirar ar puro, ou isolar-se um pouco mais de onde trabalha. Nesse contexto, avalia-se o percurso a realizar dentro da empresa, levando em conta os locais a serem atendidos, os horários e o número de colaboradores em cada espaço, para traçar a melhor opção de rota para atendimentos sucessivos. Depois, define-se junto com a organização onde cada tarefa pode ser mais bem realizada. Em alguns casos, repetições de sessão no mesmo lugar, revezando os colaboradores; em outros casos, uma sequência de locais diferentes escolhidos apropriadamente. 5.5 Possibilidades de integração da ginástica laboral com outros programas de incentivo à saúde e qualidade de vida do trabalhador No planejamento de um programa de ginástica laboral, deve-se levar em conta outras ações concomitantes, que já ocorreram ou que possam vir a ser executadas, dentro de um contexto geral de incentivo à saúde e qualidade de vida do trabalhador. Estudos mostram que a qualidade de vida tem importante relação com o domínio físico (Silva et al., 2010). Por conta dessa possibilidade de atuação em conjunto com outras ações, em muitas empresas podem ser formadas equipes multidisciplinares, com professores de educação física, fisioterapeutas, ergonomistas, nutricionistas, psicólogos, médicos, engenheiros do trabalho etc. Qualidade de vida geral, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1995 apud Fernandes et al., 2011, p. 1), envolve a “autopercepção do indivíduo no contexto da cultura e nos sistemas de valores em que ele vive, relacionando com seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Lipp (2004) identifica os seguintes tópicos para determinação da qualidade de vida geral: • trabalho/condições de trabalho; • recursos econômicos; • escolaridade; • saúde/acesso aos serviços de saúde; • relações familiares; • habitação; • nutrição; • lazer. Uma área específica de interesse é a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), em inglês Health-Related Quality of Life (HRQOL-QVS-80), que é menos direcionada aos fatores sociológicos 92 Unidade II e diretamente ligada a saúde, sintomas físicos, toxicidade, funções físicas, emocionais, cognitivas e sexuais, aspectos sociais, estado funcional e possíveis consequências desses fatores (Diniz, 2013). Saiba mais O QVS-80 é um instrumento que permite avaliar parâmetros da qualidade de vida no trabalho (QVT) segundo quatro domínios: saúde, atividade física, ambiente ocupacional e percepção da qualidade de vida.Leia sobre o QVS-80 e os fatores envolvidos com a saúde e a qualidade de vida no ambiente corporativo: VILARTA, R.; GUTIERREZ, G. L. (Org.). Qualidade de vida no ambiente corporativo. Campinas: Ipes, 2008. Disponível em: https://bit.ly/3HntMJ3. Acesso em: 24 nov. 2024. A qualidade de vida no trabalho é um tema cada vez mais importante quando gestores e empresas se preocupam com produtividade. E a saúde do funcionário pode ser incrementada por meio de ações que atendam a necessidades de sua vida também fora da organização, pois um indivíduo com hábito de praticar atividades físicas regulares fora da empresa terá, também em sua vida profissional, os efeitos benéficos de uma saúde melhor. Saúde corporativa, segundo Silva e De Marchi (1997), é a “soma das áreas assistencial, ocupacional, preventiva e de promoção da saúde”, buscando por meios educativos a conscientização dos indivíduos para gerenciar “seu estilo de vida, tornando-o mais saudável, feliz e produtivo”. Para os autores, um programa de qualidade de vida e promoção da saúde deve melhorar saúde e estilo de vida, disposição geral, nutrição e diminuir os riscos cardíacos. Assim, ilustraremos a seguir algumas iniciativas que podem ser realizadas com alguma proximidade ao programa de ginástica laboral de forma a enriquecer o resultado final, em comum, que é a boa condição de saúde do trabalhador. Saiba mais O texto a seguir destaca valiosas informações a respeito dos participantes do programa de ginástica laboral. BRITO, E. C. O.; MARTINS, C. O. Percepções dos participantes de programa de ginástica laboral sobre flexibilidade e fatores relacionados a um estilo de vida saudável. Revista Brasileira de Promoção da Saúde, v. 25, n. 4, p. 445-454, 2012. 93 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 5.5.1 Programas de ergonomia Programas de ergonomia e de ginástica laboral se complementam claramente em busca de um ambiente de trabalho e uma execução de tarefas que não agridam o indivíduo. Muitas vezes, a empresa implantará os dois programas ao mesmo tempo, e os profissionais envolvidos devem estabelecer um canal de comunicação facilitador de resultados positivos. Pode-se atuar em conjunto na análise das tarefas, na correção de posturas, na definição de pausas e atividades etc. Para Martins e Duarte (2000, p. 12), o programa ergonômico é absolutamente necessário, poissem ele as sessões de ginástica laboral seriam apenas um paliativo momentâneo, já que alguns minutos de alongamento e relaxamento não seriam capazes de atuar com eficácia sobre a má postura ocasionada por um mobiliário antiergonômico ou tarefas deficientemente prescritas, realizadas durante seis ou oito horas. Os profissionais de ginástica laboral devem, ainda, ter precaução para não interferir negativamente no trabalho do profissional de ergonomia, pois nem sempre as ações podem ter o mesmo ritmo de implantação. Por exemplo, ele não deve criticar a não existência ou cobrar a aquisição de apoios para os punhos dos digitadores, pois a ênfase do programa de ergonomia pode ser outra naquele momento. 5.5.2 Academia in loco Algumas organizações ou centros empresariais conjugados oferecem um serviço de academia, implantado no próprio local, podendo ser utilizado por trabalhadores antes ou após o expediente. Os custos podem ser cobertos pela empresa, mas muitas vezes podem ser compartilhados com o trabalhador, que paga parte da mensalidade, enquanto a empresa paga o restante, gerando uma percepção de benefício e responsabilidade. O profissional de ginástica laboral deve tomar conhecimento sobre tal iniciativa, assimilando as indicações e limitações de seu uso, podendo recomendar sempre que necessário a participação complementar em casos como obesidade, limitações físicas e necessidades particulares não atendidas pela ginástica laboral. Do mesmo modo, ao buscar integração, o profissional da academia pode passar a recomendar aos seus matriculados a participação na ginástica laboral, de modo a aumentar a adesão ao programa. 94 Unidade II Figura 54 – Uma academia in loco pode ser forte aliada de um programa de ginástica laboral, embora tenha diferentes objetivos Disponível em: https://bit.ly/3HleZOP. Acesso em: 12 nov. 2021. 5.5.3 Grupos de caminhada, ginástica ou corrida Algumas empresas executam diversas práticas de atividades físicas e de lazer também com o objetivo de proporcionar boas condições de saúde a seus trabalhadores. O programa de ginástica laboral pode incentivar a adesão a esses programas, que, por sua vez, podem aumentar a conscientização para participação dos trabalhadores na ginástica laboral. 5.5.4 Programa de nutrição ou combate à obesidade De modo similar ao caso anterior, é possível integrar ações como educação nutricional ou combate à obesidade em busca do objetivo da saúde integrada. A ginástica laboral não provoca perda calórica suficiente para redução de peso, mas seu caráter educacional pode contribuir para que o indivíduo se conscientize da importância de cuidar de sua saúde, e haja maior adesão ao programa nutricional ou de perda de peso. Por outro lado, ao buscar uma convergência de atuações, o programa de combate à obesidade ou de educação nutricional pode contribuir para a conscientização do trabalhador em participar de outras ações de saúde, como a ginástica laboral. 95 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Figura 55 – A qualidade (e a quantidade) dos alimentos nas refeições realizadas na empresa e os hábitos alimentares em casa são alvo de campanhas de conscientização nutricional e combate à obesidade, em busca da saúde dos trabalhadores. A integração dos programas pode ser benéfica para os resultados de ambos Disponível em: https://bit.ly/3kt4ZcA. Acesso em: 12 nov. 2021. 5.5.5 Possibilidades de integração com outros programas de qualidade de vida e saúde no trabalho Programas de promoção de saúde e qualidade de vida abrangentes ou específicos estão sendo utilizados nas empresas para preservar o capital humano. A ginástica laboral comumente faz parte dessa estrutura, embora às vezes seja aplicada separadamente. Há uma grande diversidade de iniciativas que podem ser implementadas nas organizações, muitas vezes sendo escolhidas devido a área de atuação da empresa, faixa etária ou interesses dos trabalhadores, objetivos estratégicos ou outras decisões. Algumas das ações podem visar sobretudo o relaxamento, como salas de descompressão com TV ou video games, redes de descanso ou almofadas para leitura, jardim ou espaço zen. Em uma empresa de tecnologia de São Paulo, foi instalado um local para pequenos cochilos, com privacidade e iluminação controlada. Algumas iniciativas podem, por exemplo, premiar os mais assíduos participantes da ginástica laboral com uma sessão de quick massage (massagem expressa na qual não é necessário retirar a roupa ou deitar-se na maca). Sobre essa atribuição de espaço durante uma pausa, a OIT (2018) propõe que o local seja separado, longe do barulho ou de perturbações, para que o trabalhador possa se recuperar, não somente descansando, mas se preparando para em seguida voltar a produzir em melhores condições. Outras sugestões são que haja mobília confortável e atmosfera relaxante, utilização de plantas e boa ventilação, água e instalações sanitárias adequadas e soluções de baixo custo, como um toldo permitindo acesso à área externa e sombra. 96 Unidade II Quando além do relaxamento a empresa deseja provocar alguma movimentação ou até mesmo o combate ao sedentarismo, pode-se instalar bicicletas para empréstimo, jogo de dardos, bicicleta ergométrica, cesta de basquete (bolas de espuma), máquina de remada ou até bonecos próprios para golpear com socos. Figura 56 – Para extravasar a tensão, algumas empresas possuem salas de descompressão, possibilitando um local para sentar-se e ouvir música, ou mesmo para praticar dardos ou golpear um objeto Disponível em: https://bit.ly/3wEqex3. Acesso em: 12 nov. 2021. Se houver integração dentro de uma filosofia convidativa, todas essas ações vão gerar diferentes estímulos à saúde física e psicossocial dos indivíduos no trabalho, podendo ser valorizadas pelo programa de ginástica laboral, aumentando sua adesão. A integração mostra-se importante, pois muitos dos gastos das empresas podem vir de situações não diretamente impactadas pela ginástica laboral, mas de relevância coadjuvante ao programa. Silva e De Marchi (1997) sintetizam um exemplo dos gastos com saúde dependendo do estilo de vida do trabalhador: Tabela 9 – Aumento de despesas em grupos específicos relacionado a hábitos e condições de saúde Sedentários 36% Maiores as despesas com saúde 54% Maior o tempo de internação Obesos 8% Maiores as despesas com saúde 85% Maior o tempo de internação Fumantes 40% Maior a taxa de absenteísmo 25% Maiores as despesas de saúde 114% Maior o tempo de internação Fonte: Silva e De Marchi (1997, p. 138). 97 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 5.6 Planejamento do programa de ginástica laboral Não há uma única forma de planejar o programa de ginástica laboral para obter sucesso. As diversas realidades nas empresas vão determinar quais os fatores mais críticos em cada caso, cabendo ao profissional de ginástica laboral entender as necessidades e a melhor forma de atuação naquele caso. É importante haver um processo de abordagem que permita orquestrar todas essas variáveis. Cañete (2001) propõe uma divisão em cinco fases: levantamento de necessidades (diagnóstico), informação (sensibilização), implementação (projeto piloto), desenvolvimento e consolidação (todos os setores), e comprometimento (interiorização). Mendes e Leite (2012) fazem uma proposta de quatro fases do projeto de ginástica laboral: • Fase 1 – estruturação: engloba a composição do grupo de trabalho e a obtenção de levantamentos, com dados de cada setor, traçando-se um perfil do público-alvo, das tarefas realizadas no trabalho (espaço físico). • Fase 2 – planejamento: envolve o planejamento em si, quando é feita a seleção das atividades, a escolha dos exercícios, a determinação de horários e a tarefa de sensibilização e divulgação. • Fase 3 – execução: refere-se à implantação do programa de exercícios, cabendo ao profissional de ginástica laboral não apenas ministrar os exercícios, mas também trabalhar continuamente para a motivação. Deve-se preverum período para aplicar o projeto piloto no grupo escolhido, em geral com a duração de 3 a 6 meses. • Fase 4 – avaliação do programa: realizada após a implantação do projeto piloto ou em continuidade a cada 3 ou 6 meses, mensura os parâmetros conquistados e não conquistados para estudar as alterações necessárias no programa. O planejamento tem a seguinte proposta de divisão: geral, mensal (segmentação em períodos), semanal e da sessão. Os três primeiros níveis são realizados como planejamento de longo prazo, prevendo e estudando o que ocorrerá no andamento do projeto, enquanto o último passo é o planejamento da sessão em si, que também deve ser avaliado com antecedência e ser integrado ao restante do programa, como veremos adiante. Planejamento geral É uma visão do programa como um todo. Nele estarão contidas as ideias gerais, considerando as necessidades da empresa. Deve prever a aplicação de uma avaliação inicial e a determinação dos objetivos para cada setor. 98 Unidade II O planejamento geral pode prever no início da implantação a possibilidade de um projeto piloto, que é a execução de maneira controlada em uma parte do escopo, por exemplo, em apenas um turno, ou alguns departamentos menos conturbados, ou mais participativos etc. Assim, conhecendo as consequências da introdução, as demandas geradas, as repercussões perante os trabalhadores e qualquer interferência na dinâmica diária daquele setor, em seguida é possível estabelecer o projeto nos demais departamentos ou no restante da empresa, já prevendo as ações testadas para facilitar o processo. Vejamos um exemplo de um projeto piloto. Considere que uma empresa queira implantar um grande projeto de ginástica laboral em diversas cidades. Ao programar um projeto piloto em uma unidade que se deseja testar como modelo, pode-se entender as variáveis não previstas, como o tempo de deslocamento entre dois setores, a demora entre a chegada do profissional e o início da atividade em si, a necessidade de alguma adaptação de abordagem etc. Se o responsável pela ginástica laboral e o(s) seu(s) interlocutor(es) na empresa puderem avaliar a experiência da implantação do projeto piloto, a sequência com a introdução nas demais cidades será feita já abrangendo os ajustes necessários, minimizando as ocorrências indesejáveis nessa fase final. Planejamento mensal Em um segundo nível, o planejamento seguirá prevendo a segmentação do período total em partes ou ciclos. Pode variar dependendo da exigência do projeto. Assim, é possível usar essa divisão em planejamento mensal, semestral ou trimestral – ou mesmo uma combinação entre estes. Exemplificando em ciclos mensais, um planejamento pode determinar que o primeiro mês deve ter como objetivo adicional a melhor integração entre os trabalhadores, e o ciclo seguinte pode ter intenção de desenvolver uma melhor consciência corporal, com objetivos definidos para tais ciclos. Isso permitirá que nos ciclos subsequentes possam ser aproveitados ao máximo os esforços do programa com as preocupações iniciais de integração e consciência corporal. Sem se afastar dos objetivos gerais fixados pelo programa, os ciclos podem incluir algumas metas momentâneas, ou somente usar estratégias diferenciadas para a sua realização. Poderia, no exemplo citado, usar atividades em duplas e trios no início do programa, promovendo interação social, enquanto trabalha os movimentos necessários para alcançar os objetivos físicos já definidos como importantes. Pensando em diversos setores ao mesmo tempo, um planejamento diferenciado pode prever um ciclo do programa no qual haverá mais frequência de atuação em um departamento crítico, em que se deseja diminuir emergencialmente o número de ocorrências de dor, do que em outro setor, já deixando estipulado que no ciclo seguinte, quando já se tiver conseguido alguma estabilização no quadro, poder-se-á adotar uma frequência menor, permitindo o deslocamento do profissional de ginástica laboral para um setor que até então não havia sido atendido por ser menos emergencial. 99 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Planejamento semanal O terceiro nível de planejamento segue também a possibilidade de flexibilidade. Aqui servirá como referência para a variabilidade do programa, não pela exata frequência necessária ser semanal, mas como base de comparação. Alguns planejamentos usam como referência um mês; outros, cada sessão separadamente. Um programa de ginástica laboral deve perseguir seus objetivos principais constantemente, mas não deve propor atividades repetitivas, com o risco de tornar-se desmotivador. Ao propor a base semanal como referência, espera-se que o profissional de ginástica laboral implemente alterações em suas rotinas de exercícios com certa frequência – a elaboração de cada sessão será estudada depois. O profissional de ginástica laboral que usar a referência semanal pode prever um mesmo exercício em todas as sessões daquela semana – ou então definir que seja vital realizar sempre exercícios diferentes. O que mais importa é ter controle sobre a dinâmica, perseguindo os objetivos e estipulando uma rotina de variações que o grupo aceite como motivadora. A decisão de repetir o mesmo exercício ao longo de uma semana pode ser justificada alegando-se que o trabalhador pode assimilar melhor a sua execução, perceber a posição do corpo e as sensações da realização, dominando algum movimento específico, o que não ocorreria sem a possibilidade de repetição. Não há necessidade, entretanto, que todos os exercícios da sessão sejam repetidos. Pode-se decidir repetir um exercício complexo ao longo de todas as sessões da semana, enquanto outro exercício pode ser alterado. O profissional de ginástica laboral vai encontrar a melhor organização do programa conforme as necessidades locais. Tomando como exemplo a importância da flexibilidade da região lombar para diminuir as queixas de dores como um dos objetivos principais do programa de ginástica laboral, se a decisão é pela maior variedade de exercícios, o plano da semana deve prever, por exemplo, três diferentes realizações de flexão da coluna lombar. O primeiro exercício poderia ser na posição em pé, com os pés juntos e os joelhos estendidos, flexionando o tronco à frente até onde for confortável para cada trabalhador. Na sessão seguinte, a flexão do tronco à frente com as pernas afastadas lateralmente uma da outra, e como terceira opção de variação do exercício em outra sessão, a realização da flexão do tronco à frente a partir da posição sentada, na própria cadeira de trabalho. Desse modo, o objetivo estaria sempre sendo buscado, mas com o planejamento semanal prevendo a variabilidade de exercícios para a região corporal trabalhada. 100 Unidade II Planejamento da sessão É o quarto nível do planejamento dessa abordagem, descrevendo cada sessão de ginástica laboral quanto a objetivos específicos, exercícios a serem realizados e sua respectiva quantificação (amplitude, número de repetições, tempo de execução, tempo de permanência em posição estática etc.), possibilitando a planificação do tempo de sessão, como será visto no tópico a seguir. Lembrete Apesar de a monotonia não ser desejável, pode ser que em algumas situações a possibilidade de repetição de um movimento seja proveitosa. Cabe ao profissional de ginástica laboral decidir conforme cada realidade. 6 PLANEJAMENTO DAS SESSÕES DE GINÁSTICA LABORAL As sessões de ginástica laboral são a menor unidade desse programa de implementação, e são a instrumentalização para o alcance dos objetivos. O planejamento das sessões deve prever as características dos clientes e os conteúdos a abranger, de acordo com os objetivos propostos e as estratégias a serem utilizadas. 6.1 Característica dos clientes Os trabalhadores de uma empresa nem sempre realizam atividades físicas regulares ou diversificadas. Por isso, o profissional de ginástica laboral deve avaliar com cuidado a vivência dos seus clientes e aspossibilidades de realização de movimentos por eles, de forma a preservar os participantes, evitando que se machuquem e utilizando movimentos que sejam compreensíveis e executáveis inicialmente dentro de seu repertório motor, e ao longo do programa aumentar gradativamente as possibilidades. A fim de dar meios de análise ao profissional de ginástica laboral sobre a realidade do cliente, pode-se analisar alguns gráficos elaborados pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em sua publicação sobre atividades físicas e esportivas para todas as pessoas (PNUD, 2017). No primeiro gráfico a seguir, quando analisada a prática de atividades físicas e esportivas por faixa etária e sexo, nota-se em primeiro lugar a grande diferença entre o sexo masculino e o feminino nos primeiros 40 anos, com gradativo declínio do percentual de prática do sexo masculino até ambos igualarem-se (em níveis baixos) de 50 anos em diante. Ao planejar atividades de ginástica laboral, o profissional deve estar ciente dessa característica populacional, levando em conta, logicamente, a atividade física exercida em alguns tipos de funções laborais. 101 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 80 70 60 50 40 30 20 % 15 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos 60 anos ou + Homens Mulheres Figura 57 – Proporção de praticantes de atividades físicas e esportivas no Brasil segundo faixa etária e sexo Fonte: PNUD (2017, p. 102). Em seguida, ainda avaliando a clientela populacional, pode-se verificar como ocorre a prática de atividades físicas e esportivas segundo a renda domiciliar, comparando-se as realidades encontradas entre as pessoas com baixa renda e sem renda e as que estão na faixa de cinco salários mínimos ou mais, o que sugere uma graduação desse comportamento segundo a faixa salarial. Essa visão pode auxiliar o profissional de ginástica laboral a entender os hábitos e necessidades de diferentes setores nas empresas: 80 70 60 50 40 30 20 10 % 15 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos 60 anos ou + Sem rendimentos a menos de ½ salário mínimo 5 salários mínimos ou mais Figura 58 – Proporção de praticantes de atividades físicas e esportivas no Brasil segundo as faixas de rendimento mensal domiciliar per capita e a idade Fonte: PNUD (2017, p. 103). Outra análise que pode ser realizada é quanto aos motivos da busca da prática de atividades físicas e esportes pela população, dividindo essa procura em faixas etárias. O profissional de ginástica laboral pode examinar na tabela a seguir as características dessa procura diferenciada e tentar entender em relação a seu público local os gostos ou as necessidades de adequação a faixa etária e interesses específicos. 102 Unidade II Tabela 10 – Percentual da população segundo o motivo para prática de atividades físicas e esportivas, por idade, no Brasil Motivo 15 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos 60 anos ou mais Total Para melhorar a qualidade de vida ou o bem-estar 14,2 23,9 34,0 39,7 38,9 32,7 Para relaxar ou se divertir 40,8 31,4 23,0 15,5 10,0 22,2 Para melhorar ou manter o desempenho físico 17,2 26,7 26,9 19,5 13,1 22,0 Por indicação médica 2,3 3,0 6,6 19,6 34,8 13,0 Por gostar de competir 16,5 9,9 5,7 3,0 1,5 6,1 Para socializar, encontrando com amigos ou fazendo novas amizades 7,3 4,4 2,9 2,0 1,3 3,1 Outro 1,7 0,8 0,8 0,8 0,4 0,8 Fonte: PNUD (2017, p. 121). Não se pode deixar de analisar a vestimenta dos clientes que participam de programas de ginástica laboral. Diferentemente do que ocorre em uma academia ou um programa de ginástica ou corridas, os participantes de um programa de ginástica laboral utilizam sua própria roupa de trabalho para realizar os exercícios. Os calçados usados também são um fator a ser levado em conta no planejamento das atividades, e eventualmente equipamentos de proteção individual (EPIs) que sejam obrigatórios em determinado local, inclusive para o profissional de ginástica laboral. Figura 59 – Vestimentas pesadas, como as de operários da construção, podem causar restrições de movimentos em alguns exercícios. Também é importante considerar a troca de calor corporal em relação ao clima, aos calçados e aos EPIs usados pelos trabalhadores Disponível em: https://bit.ly/3qwmJHM. Acesso em: 12 nov. 2021. Não há necessidade de roupa especial para a prática da ginástica laboral, mas para evitar que os trabalhadores não consigam realizar movimentos planejados, o profissional deverá considerar as limitações de cada vestimenta (Tuloni; Moro, 2010). 103 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Concebendo que a ginástica laboral não deve provocar sudorese, no estudo de Sjögren et al. (apud Tuloni; Moro, 2010), os autores concordam que treinamentos físicos realizados por trabalhadores com baixa intensidade (30% de 1RM) não causariam suor e por isso não necessitariam de vestimenta própria nem de banho após a sessão. Nesse mesmo estudo, foi executado um teste com sete exercícios físicos predeterminados, e verificou-se que em 78% dos movimentos dos trabalhadores avaliados a amplitude de movimento foi menor com o uniforme oficial de trabalho da empresa do que com um agasalho próprio para realizar atividades físicas em alguns dos exercícios, enquanto em outros a amplitude alcançada foi equivalente nas duas vestimentas. Treze dos vinte indivíduos descreveram sentir limitação de movimento com o uniforme da empresa, embora não tenha havido objeção em participar ou insatisfação com o programa no grupo designado quanto ao uso do uniforme da empresa durante o estudo. Considerando não ser razoável a exigência de troca de roupa para realização da ginástica laboral, tampouco a confecção de uniformes para trabalhar que sejam necessariamente adequados à ginástica laboral em todas as entidades, caberá ao profissional que ministra os exercícios ter a precaução de planejá-los para que possam ser feitos com a roupa usual de trabalho de cada departamento. Em locais com condições rústicas, uniformes grossos de proteção, muitas vezes com calçados reforçados, como botas de segurança, podem exigir uma adequação vital das atividades, em especial por limitarem a amplitude de alguns dos movimentos. Em ambientes formais administrativos, trajes típicos de trabalho, como calça social, gravata, vestidos e blazers, podem requerer atenção da mesma forma. Além de algumas roupas limitarem os movimentos, é necessário atenção para que não haja desestruturação das roupas utilizadas nem exposição corporal indesejada, o que, certamente, terá o efeito de diminuição da frequência de participação dos trabalhadores que se ressentirem mais desses aspectos. Nesse ambiente, o salto alto para as mulheres também pode ser um fator limitante em algumas atividades. Em locais com um piso adequado, como carpete, possibilita-se a retirada dos sapatos para execução de exercícios. Todavia, essa opção deve ser do trabalhador, e não uma imposição do programa, para evitar constrangimentos desnecessários. Portanto, para a questão da análise dos clientes, o profissional de ginástica laboral terá que adequar as atividades para seus diferentes públicos. Sua experiência facilitará a análise e sugestões ao grupo de participantes, tanto no planejamento como na condução da sessão visando a adequação necessária. 6.2 Planejamento do conteúdo da sessão de ginástica laboral Uma vez identificados os objetivos pretendidos com o programa e os fatores característicos dos clientes e das sessões, pode-se iniciar a definição das atividades a serem realizadas. De modo geral, as atividades possíveis de envolver conteúdos no programa de ginástica laboral são citadas por Brasil (2000), que afirma que uma equipe multidisciplinar pode trazer benefícios na prevenção aos quadros de LER/Dort. Para tal, Brasil (2000, p. 13-14) destaca alguns exemplos de atividades a serem desenvolvidas: 104 Unidade II • Núcleo informativo acoplado ao trabalho corporal, informações sobre anatomia e fisiologia, fisiopatologiade LER/Dort, atividades da vida diária, noções de limite. • Abordagem de aspectos psicossociais, instrumentalizando o paciente a superar dificuldades rotineiras. • Técnicas variadas de alongamento, automassagem, relaxamento, fortalecimento muscular e correção de postura. • Cinesioterapia, massoterapia. • Estímulo a atividades lúdico-sociais. • Condicionamento físico. Quanto ao proposto como núcleo informativo de um programa de ginástica laboral, Brito e Martins (2012, p. 448) complementam com informações a respeito da ergonomia, dizendo que “tais atitudes devem ser frequentemente salientadas durante a ginástica laboral, perpetuando e solidificando o bem-estar que essas aulas podem gerar”. Continuam as autoras: A abrangência da ginástica laboral pode ir além dos minutos que ela compreende, pois, dependendo do que o professor repassa, seja sob forma de exercício físico ou de informação sobre saúde, os trabalhadores podem apropriar-se de tais conhecimentos e aplicá-los em qualquer momento do dia, dentro ou fora da jornada de trabalho (Brito; Martins, 2012, p. 448). De fato, Kallas e Batista (2009) defendem uma metodologia de inserção do conhecimento nas sessões de ginástica laboral para que, em vez de serem somente de caráter procedimental, também gerem benefícios conceituais e atitudinais, por exemplo, ao reconhecer os benefícios de uma determinada prática física ou a adoção de hábitos de atividade física como modificação de sua atitude. Figura 60 – A ginástica laboral pode ser planejada para fornecer informação para o trabalhador sobre hábitos audáveis e prática de atividade física regular, trazendo benefícios para sua saúde Disponível em: https://bit.ly/3c59l4X. Acesso em: 12 nov. 2021. Achour Junior (apud Lima, 2008), por exemplo, propõe que um trabalhador “simplesmente alongue-se, independentemente do horário”. Para isso, é preciso haver o reconhecimento da região corporal e da tensão muscular, a identificação da necessidade de distensionamento ou aquecimento local, e o conhecimento de 105 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL uma técnica de alongamento para a qual tenha sido instruído e que passou a fazer parte de seu repertório de defesa contra a tensão, ações que devem ter sido desenvolvidas pelo profissional no programa de ginástica laboral, empoderando o trabalhador na manutenção de suas condições de conforto e saúde. Couto et al. (1998) sugerem que profissionais de fisioterapia e educação física atuem em atividades de aquecimento, de distensionamento e compensatórias. As primeiras são indicadas quando o trabalhador realizará ação repetitiva ou vigorosa, permitindo o aumento da temperatura muscular. O distensionamento sugerido pelo autor é executado através de alongamentos, de acordo com a musculatura mais utilizada, enquanto a atividade compensatória visa combater as posturas forçadas durante a jornada de trabalho. Seguindo essa linha de pensamento, atividades com potencial benéfico ao quadro de necessidades encontrado e objetivos propostos devem ser escalonados dentro do programa permanentemente para seu sucesso. Quando os objetivos do programa enumeram, por exemplo, diminuição da fadiga dos flexores do punho e dedos (digitação) e diminuição no absenteísmo por dor lombar (postura), os grupos das atividades a serem propostas devem ser elencados entre as necessidades levantadas (relaxamento, fortalecimento, alongamento, massageamento etc.). Então, na etapa do planejamento das sessões, os exercícios serão escolhidos. Uma sessão de ginástica laboral irá respeitar o planejamento realizado, e seu conteúdo deverá estar de acordo com a proposta para aquela data. Ao planejar determinada sessão, o profissional irá consultar o programa para aquele período e verificar os conteúdos a serem executados nas sessões e as regiões corporais a serem trabalhadas. A variabilidade deve ser assegurada, devendo o profissional consultar as sessões anteriores para propor exercícios diferentes com uma periodicidade de variação, considerando o planejamento semanal analisado previamente. Assim, além de variar em certo grau as exigências para determinada região corporal, como amplitude, intensidade, repetições etc., irá provocar uma variação motivacional e elevar a conscientização corporal através da aquisição de maior repertório motor. Há várias possibilidades para trabalhar o alongamento dos flexores dos dedos e do carpo. Em uma sessão, o profissional pode fazer uma extensão de punho com a palma da mão virada para a frente; na sessão seguinte, apoiando a palma da mão sobre a mesa; depois, pode realizar o exercício em duplas; a seguir, apoiando a mão na parede, e assim por diante. Pode-se cumprir o objetivo, sessão após sessão, sem ser repetitivo. Isso valoriza o profissional, dinamiza o programa e aumenta o repertório motor dos clientes e a adesão ao programa. O ordenamento e adequação do conteúdo também se torna vital. Atividades um pouco mais vigorosas ou exigentes podem ser deixadas para a segunda metade da sessão, após a realização de alguns movimentos que prepararem o trabalhador para o gesto mais vigoroso a seguir. Por exemplo, se o objetivo planejado é a mobilização de punho, pode-se fazer primeiramente no sentido anteroposterior (flexão e extensão), preparando a região com movimentos simples antes de um movimento mais complexo, como a circundução. 106 Unidade II 6.3 Classificações da ginástica laboral Muitas são as possibilidades de classificação da ginástica laboral conforme os objetivos e as propostas. Neste livro-texto, vamos usar uma classificação simples, de acordo com o horário de aplicação da sessão. 6.3.1 Ginástica de aquecimento ou preparatória Conforme proposto por Couto et al. (1998), exercícios de aquecimento são indicados quando houver alta repetitividade, como no computador, ou em atividades fisicamente pesadas. Nos dois casos, a ginástica laboral, se realizada antes do expediente, pode colaborar na preparação do organismo para as solicitações da jornada de trabalho, através de adaptações físicas e fisiológicas, como preparação postural, aquecimento muscular, aumento da irrigação sanguínea e frequência cardíaca, bem como de preparo psicoemocional para iniciar as funções de trabalho. A literatura concorda em atribuir à ginástica laboral preparatória benefícios e consequente melhor preparação para enfrentar a carga de trabalho, em especial em atividades pesadas. No entanto, Lafetá et al. (2012) pesquisaram a repercussão de uma sessão de ginástica laboral preparatória contendo exercícios de aquecimento, massagem e alongamento balístico. Contrariando o senso comum e estudos consolidados sobre os benefícios da ginástica laboral preparatória, os autores não observaram alterações na avaliação eletromiográfica na porção anterior dos deltoides direito e esquerdo na avaliação de exercício isométrico de força máxima logo após a ginástica laboral. Ademais, o grupo experimental (que realizou a ginástica laboral preparatória) teve uma diminuição de torque no teste de força isométrica no protocolo do teste para o membro superior direito, que não se repetiu no membro superior esquerdo. No grupo de controle (não fez a ginástica laboral preparatória), não houve alterações significativas. Tabela 11 Análise da RMS normalizada (%CIVM) e torque máximo (kgf) no pré e pós-teste do grupo experimental Variável n Pré-teste / DP Pós-teste / DP RMS dir. 10 29.27+/-4.48 29.29+/-6.09 RMS esq. 10 31.65+/-3.37 31.81+/-5.07 Torque máx. dir. 10 5.01+/-3.29 3.94+/-2.67 Torque máx. esq. 10 4.17+/-2.79 3.87+/-1.27 Análise da RMS normalizada (%CIVM) e torque máximo (kgf) no pré e pós-teste do grupo de controle Variável n Pré-teste / DP Pós-teste / DP RMS dir. 9 29.97+/-4.33 28.48+/-6.83 RMS esq. 9 29.49+/-4.32 30.7+/-6.47 Torque máx. dir. 9 5.18+/-1.64 4.97+/-1.76 Torque máx. esq. 9 4.19+/-9.52 4.28+/-1.48 Fonte: Lafetá et al. (2012, p. 326). 107 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL A tabela apresenta os valores de pré-teste e pós-testeda eletromiografia do deltoide anterior e de torque máximo para o grupo experimental (GE – parte superior da tabela) e o grupo de controle (GC – parte inferior da tabela). Note no torque máximo D (direito) do GE que se apresentou um decréscimo do valor no pós-teste (Lafetá et al., 2012). Tal fato pode indicar que a sessão de ginástica laboral preparatória realizada, não sendo específica para aumento de força, logicamente não causa repercussão neuromuscular e incremento da força. Mais pesquisas são necessárias para demonstrar a diferença entre protocolos de ginástica laboral preparatória e suas exatas repercussões musculares, o que não invalida todas as pesquisas feitas sobre os benefícios do caráter de aquecimento ou proteção da ginástica laboral preparatória. 6.3.2 Ginástica de pausa Ocorre com o intuito de provocar uma interrupção no ritmo de trabalho e, mais do que permitir o descanso, executar uma sessão de ginástica laboral no meio do expediente, retornando logo a seguir ao trabalho. Couto et al. (1998) indicam para essa categoria uma ginástica de distensionamento, devendo o profissional analisar os movimentos mais realizados no trabalho e propor exercícios compensatórios adequados àqueles grupos musculares ou estruturas corporais. A ginástica de pausa é chamada de ginástica compensatória por alguns autores. Para fins didáticos, aqui será aplicado o termo ginástica de pausa, pois a compensação das estruturas solicitadas ao longo da jornada pode estar incluída também nos objetivos da ginástica praticada no fim do expediente, não sendo exclusiva sua busca apenas durante a pausa. 6.3.3 Ginástica de fim de expediente Tem como característica principal o objetivo de fazer uma finalização da jornada, provocando um relaxamento do trabalho realizado, preparando o indivíduo para terminar seu turno e retornar a sua casa em condições confortáveis. Segundo Lima (2008), um dos objetivos da ginástica de fim de expediente é propor atividades para que o trabalhador possa relaxar, meditando e fazendo uma autoavaliação, através de exercícios de alongamento e consciência corporal. Essa aplicação ao fim do expediente é chamada de ginástica de relaxamento por alguns autores, mas como alguma forma de relaxamento também pode fazer parte dos objetivos da categoria anterior, preferimos o termo ginástica de fim de expediente. Essa ginástica de fim de expediente pode prevalecer como relaxante na maioria de suas propostas, mas não de forma exclusiva, pois em outros momentos da jornada de trabalho podem ser usados exercícios de relaxamento de determinados segmentos ou grupos musculares, mesmo que em proporção menor. 108 Unidade II 7 IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL A implantação deve ser planejada de modo a aumentar sua aceitação, sua adesão e seus resultados. Considerando a diversidade de condições, culturas organizacionais e outros parâmetros, não existe um único modo de introdução que seja ideal para todas as realidades empresariais. 7.1 Sensibilização Parte essencial do programa de ginástica laboral é a sensibilização dos trabalhadores e gestores. Inicialmente, em grandes empresas, os gestores serão um importante elemento de ligação e alavancagem do programa. Líderes que não acreditam no processo chegam a fazer campanha contrária entre os trabalhadores para que não interrompam o serviço e não participem da atividade. Para superar essa dificuldade, o profissional de ginástica laboral deve traçar estratégias a fim de combater a indiferença e aumentar a sensibilização. Pode ser necessária uma reunião com a equipe de gestores para dar credibilidade à execução do projeto – se preciso, requisitando a participação da diretoria. Em algumas empresas, o próprio presidente faz questão de participar das atividades para estimular e dar o exemplo aos colaboradores. Reuniões, palestras, boletins e outros meios podem ser usados para elevar o conhecimento e a sensibilização sobre o programa. Palestras são elementos vitais, esclarecendo dúvidas e elucidando conceitos e objetivos específicos (Martins, 2011 apud Figueiredo; Mont’Alvão, 2008). Cañete (2001) sugere que o aumento da produtividade não seja o maior motivo de incentivo ao programa. Essa percepção poderia levar à impressão de ser a empresa a única favorecida pela iniciativa. Certamente, os benefícios de saúde individuais devem ser evidenciados para que os trabalhadores possam assimilar os ganhos individuais antes de pensarem que a ginástica laboral é boa apenas para o patrão. 7.2 Condução das sessões de ginástica laboral 7.2.1 Organização pré-sessão Uma vez definida a duração e o horário de início da ginástica laboral, deve-se cumpri-los para que a ação atinja sua finalidade. Algumas vezes, em trocas de turno, o horário da sessão é planejado para poder atender a alguns trabalhadores que irão sair do serviço logo em seguida, ao mesmo tempo que serão atendidos aqueles que acabaram de iniciar seu turno. Outro exemplo de como o horário é crítico é quando se estabelece uma pausa para a ginástica laboral dentro de sistemas de teleatendimento, intercalando com as pausas previstas na NR 17 até mesmo em outras localidades unificadas sob a mesma central. O tempo também é essencial nos intervalos com parada de máquinas ou deslocamento dos trabalhadores. 109 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Por isso, é importante que o horário estipulado seja cumprido pelo profissional de ginástica laboral, tanto o horário de início como a duração da aula prevista, não interferindo no retorno imediato dos trabalhadores aos seus postos. Portanto, deve-se organizar conteúdos, repetições, tempo de permanência em alongamentos etc. de forma cuidadosa, acompanhando a sessão, e fazer as devidas adaptações necessárias em cenários mais críticos de controle de tempo. Analisando a atuação em um setor, normalmente a sessão de ginástica laboral é realizada com horário determinado, ou seja, os colaboradores não são surpreendidos por uma atividade inesperada. Ao chegar ao departamento onde ocorrerá a sessão, em geral o profissional pede licença para entrar e gentilmente se mostra presente, com cuidado para não interromper reuniões, conversas de trabalho ou telefonemas em andamento. Então, convida os trabalhadores a participar. Em alguns departamentos, pode ocorrer de o responsável local solicitar que o profissional de ginástica laboral aguarde até que o chamado seja feito e a interrupção seja permitida oficialmente – por exemplo, pelo supervisor. Quando a atividade é feita na própria área de trabalho, basta se posicionar no ponto já predeterminado e incentivar a vinda ou aguardar a aproximação dos participantes, permitindo algum tempo de mobilização, até que cada trabalhador possa terminar a tarefa que estava executando ou se organizar para retomá-la assim que retornar, minimizando os efeitos da interrupção. Durante a espera pelos participantes, pode-se preparar o local com música em volume baixo (quando permitido), recepcionando-se os primeiros a se apresentarem, podendo, inclusive, passar atividade preliminar, como espreguiçar-se ou movimentar alguma região corporal para aproveitar o tempo de espera de modo ativo, enquanto os demais trabalhadores estão se dirigindo ao encontro. Quando a sessão é realizada em um espaço que reúne os trabalhadores fora do departamento, o profissional irá ao local determinado verificar se está pronto a ser utilizado. Caso necessário, fará ajustes, e depois vai contatar os setores na ordem que tiver sido definida. Lembrete A implantação de um programa de ginástica laboral deve ser planejada de modo a aumentar sua aceitação, sua adesão e seus resultados. Considerando a diversidade de condições, culturas organizacionais e outros parâmetros, não existe um único modo de introdução que seja ideal para todas as realidades empresariais. 7.2.2 Durante a sessão Os procedimentos de condução da sessão de ginástica laboral podem variar de uma realidade empresarial para outra, masem geral se deve adotar uma condução tranquila, às vezes mais intensa, dependendo das características da empresa, do setor e dos objetivos. 110 Unidade II Em grande parte das sessões, pode-se esperar que haja trabalhadores que continuem suas tarefas enquanto a atividade estiver sendo ministrada. Às vezes, é necessário dividir o grupo para que o serviço não seja interrompido, não sendo possível que todos os colaboradores executem a sessão no mesmo momento. Em outras situações, embora conseguindo, é possível que alguns prefiram continuar trabalhando e optem por não participar. Assim, a proposição dos exercícios e as interações devem ser cuidadosas quanto ao ruído gerado, para que clientes em atendimento telefônico, por exemplo, não fiquem com a percepção de que a empresa tem um ambiente bagunçado ou com barulho indevido. A explicação dos exercícios escolhidos deve ser realizada com clareza e simplicidade. No início do programa, é comum os participantes não terem conhecimento sobre a prática de atividades físicas, e o profissional de ginástica laboral deve estar atento a dúvidas, que, usualmente, são percebidas pela não execução ou demora na execução dos exercícios. Outro problema comum é a pouca consciência corporal de parte dos trabalhadores, que pode até ter entendido a proposta do exercício, mas não consegue repetir o gesto por não ter vivência corporal à altura do que foi proposto. Nesse caso, o agente deve perceber a falta de coordenação ou o mal posicionamento corporal, por exemplo, e proceder adequadamente. A explicação verbal é muito beneficiada pela demonstração clara. Em geral, explica-se e demonstra-se o exercício para que a execução seja feita dentro da proposta idealizada. Deve-se lembrar, sempre que possível, de indicar como se fosse uma imagem em um espelho, ou seja, ao pedir que um movimento seja feito com o braço direito levantado, o profissional irá elevar seu braço esquerdo; se estiver de frente para os trabalhadores, estes o enxergarão como se estivessem olhando um espelho, o que facilita a execução do gesto. Essa técnica organiza o movimento em espaços menores e melhora a visualização do profissional. Observação A demonstração espelhada requer treinamento do profissional de ginástica laboral. Ao pedir para executar um movimento como uma flexão do tronco para a direita, ele deve flexionar-se à esquerda se estiver de frente para o grupo, ou seja, passará o efeito de estar inclinando-se para o mesmo lado deles. Se houver dificuldade no início, o agente poderá usar uma referência externa – por exemplo, dizendo “inclinem-se para o lado da janela”, e assim todos irão fazer o exercício como o profissional, para o mesmo lado. A utilização de termos técnicos na explicação deve ser cuidadosa, para que os trabalhadores aos poucos possam entendê-los, evitando que o uso de termos muito difíceis comprometa a assimilação dos exercícios, provocando menor eficiência do movimento ou perda de tempo. Uma boa orientação é utilizar nomenclatura correta, desde que os trabalhadores entendam. 111 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Por exemplo, em um alongamento de tríceps braquial, o agente deve explicar, além da posição desejada com o ombro em flexão e o cotovelo acima da cabeça, que a mão do lado oposto ao do cotovelo elevado deve tracioná-lo no sentido medial. Se a instrução for apenas “segure o cotovelo e faça força”, vários movimentos errôneos podem ser tentados, como forçar o cotovelo através do retorno do braço para baixo (extensão do ombro). Objeções e dificuldades na realização de exercícios Alguns trabalhadores podem apresentar limitações na execução, dificuldades motoras, dores ou até mesmo questões médicas ou pessoais na realização de alguns movimentos. O planejamento e a escolha dos exercícios devem ser cuidadosos para que estes sejam executáveis, e não gerem desânimo ou dores. Estimular e educar os trabalhadores para que cada um conheça melhor seus próprios limites traz benefícios ao programa. Exercícios em duplas são interessantes, mas alguns indivíduos, ou mesmo grupos, não gostam de tocar e serem tocados por colegas, podendo evitar a ginástica laboral por esse motivo. Manter a atenção quando se propuserem exercícios em duplas pode ajudar o profissional de ginástica laboral a ter uma medida mais real do comportamento daquele grupo. Em linhas gerais, recomenda-se limitar o toque no colega a um apoio de equilíbrio ou ao toque das mãos em atividades em duplas, verificando com cuidado a adequação ou não de propor ações em que o toque das mãos de um colega de trabalho possa ser considerado indesejável pela falta de intimidade ou pelo excesso de força. À medida que se construa confiança no grupo, no profissional e no programa, pode-se propor atividades com maior interação, mas sempre com o cuidado de não possibilitar a rejeição de participação devido à insistência constante do trabalho em duplas ou grupos. Postura do profissional de ginástica laboral A intervenção deverá ser pautada no profissionalismo. A demonstração, a explicação e a estimulação à prática devem ocorrer de forma natural, alegre e participativa, sem que os trabalhadores se sintam pressionados ou menosprezados por optarem em não participar. A motivação é um fator importante. Além da programação variada de exercícios vista no planejamento das sessões, a postura motivadora do profissional deve estar sempre presente, de modo que os participantes possam se informar e perceber os benefícios da prática, convidando os colegas a experimentar o programa. O profissional deve estar atento aos participantes, orientando sobre execução do exercício, posição inicial, postura recomendada, velocidade de execução, força a ser aplicada, amplitude, musculatura trabalhada, tempo de permanência, número de repetições etc. Quando atuando em grupos pequenos, é possível fazer considerações e correções no momento da execução. Se o grupo que está realizando a 112 Unidade II sessão for muito numeroso, cuidado extra deve ser tomado na explicação e na demonstração, para que eventuais movimentos prejudiciais possam ser evitados. Como em outras áreas de atuação profissional, o agente deve ter muita cautela na utilização de brincadeiras para animar a sessão. As brincadeiras nunca devem ter cunho sexual, racista, discriminatório, machista, homofóbico etc. Sendo o ambiente de trabalho um local onde a diversidade deve ser respeitada, assim também deve agir o profissional de ginástica laboral. O conhecimento dos valores e do código de ética ou conduta da empresa em que está agindo pode auxiliar o profissional a ter amplo entendimento das premissas para sua atuação. Figueiredo e Mont’Alvão (2008) lamentam que os cursos superiores no Brasil não abordem a ginástica laboral como parte da possibilidade de atuação profissional. Certamente, quem possui tal formação terá um diferencial competitivo, uma vantagem interessante para ser protagonista em um mercado crescente. Correção de execução de exercícios Há uma diferença significativa entre sessões em que participa um pequeno número de trabalhadores e quando a ginástica laboral é ministrada para grandes grupos. Quando poucos trabalhadores realizam uma sessão, o agente pode fazer correções verbais e até cinestésicas, posicionando o corpo ou tocando o segmento a ser corrigido para mostrar um problema postural, por exemplo. Essa interação enriquece a qualidade da atividade e a eficácia dos exercícios. Por outro lado, quando a turma realizando a sessão é muito numerosa, fica impossível para o profissional corrigir o movimento individualmente, por não ter acesso a todos os executantes nem tempo para fazer muitas intervenções. Nesse caso, é importante escolher movimentos que sejam de fácil compreensão pelos participantes, realizar uma explicação clara e ao longo do tempo de execução visualizar os principais erros que estão sendo cometidos, para fazer uma instrução corretiva a tempo de que a execução seja retificada. A verificaçãohabilitado a atuar nessas áreas abrir portas para o exercício e o crescimento profissional por meio do domínio técnico e do comportamento empreendedor. INTRODUÇÃO Com a modernização da sociedade e das condições de trabalho, aumentou a necessidade de intervenções que amenizassem a alta exigência laboral e ajudassem na diminuição dos malefícios causados pelo trabalho. Como resposta a tal premência, inúmeras ações estão sendo tomadas, entre elas a aplicação dos conceitos da ergonomia e da ginástica laboral. Essas iniciativas tornam mais aceitáveis as exigências provenientes do trabalho, uma vez que buscam equilibrá-las e amenizá-las. Para Silva e De Marchi (1997, p. 11): o novo modelo empresarial do século XXI está baseado em indivíduos saudáveis, dentro de organizações saudáveis, que respeitam e contribuem para uma comunidade e meio ambiente saudáveis [...] representando negócios saudáveis, com melhores lucros e maior retorno do investimento. O grande capital da empresa é representado por pessoas capazes, aptas, sadias, equilibradas, criativas, íntegras e motivadas. Os profissionais da área da saúde habilitados para trabalhar com esses clientes têm a responsabilidade de preparar-se para cumprir esse papel. Serão estudados nesta disciplina os principais pontos que vão permitir o desenvolvimento profissional: o conhecimento sobre as características das diversas condições de trabalho, os processos deletérios advindos dessa necessidade humana e as possíveis intervenções profissionais para beneficiar os trabalhadores. Segundo Zilli (2002, p. 27): a ginástica laboral, aliada à ergonomia, vem se apresentando como a solução encontrada pelas empresas para lidar com as graves consequências desse contexto, pois elas perceberam que a melhor saída para evitar doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, gastos com licenças e baixa 10 produtividade decorrentes de fadiga e desmotivação dos trabalhadores é a prevenção [...] mediante a educação no trabalho, que envolve a segurança e a boa qualidade de vida, associadas aos objetivos da empresa, bem como a atividade física orientada por profissionais qualificados. Ao fim da disciplina, além do conhecimento adquirido, o aluno será confrontado com um desafio maior: o desenvolvimento de projetos e de uma visão empreendedora, características desejadas pelo mercado de trabalho, com as quais poderá aprender a diferenciar-se. 11 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Unidade I 1 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO TRABALHO, DAS ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS E DA GINÁSTICA LABORAL A história revela as necessidades do passado que moldaram o panorama atual do trabalho e de suas repercussões na saúde. É importante conhecer a evolução desse processo para entender a realidade do presente e as carências e possibilidades do futuro. 1.1 História e evolução do trabalho e das organizações empresariais O trabalho é uma necessidade humana. Mas a organização do trabalho nem sempre foi da forma como é conhecida hoje. Pessoa, Cárdia e Santos, citados por Candotti, Stroschein e Noll (2011, p. 700), enfatizam que as “mudanças e atualizações exigidas aos trabalhadores ocorrem em um ritmo muito elevado, geralmente maior que a própria capacidade humana pode suportar”. O sucesso na busca de alimentação e proteção era proporcional às melhores condições de sobrevivência humana na Pré-História. Aqueles que conseguiam proteção das ameaças e meios de obtenção da alimentação através da coleta e da caça eram mais bem-sucedidos. Os indivíduos preparados fisicamente e com competência intelectual para resolver as questões que se impunham conseguiam sobreviver. Os demais, nem sempre. A boa condição física já era um dos determinantes nessa conjuntura. Figura 1 – A evolução das habilidades humanas foi um processo de especialização que culminou no panorama atual do trabalho em uma sociedade evoluída Disponível em: https://bit.ly/3F2NdES. Acesso em: 11 nov. 2021. Com a evolução da espécie humana e de seus relacionamentos sociais, suas técnicas de cultivo e criação de animais, foi possível assentar comunidades em locais férteis, e o aumento populacional gerou novas demandas. 12 Unidade I A especialização tornou-se uma forma de aumentar a eficiência do esforço de cada indivíduo em busca do bem comum. Indivíduos mais aptos a lutar e defender a comunidade responsabilizavam-se por essa tarefa, enquanto aqueles com maior sensibilidade para o cultivo de alimentos, ou para a confecção de mantas para o frio, por exemplo, especializavam-se, cada um na sua melhor função. A manufatura de alguns itens tornar-se-ia importante de diversas formas. Em uma comunidade isolada de pescadores, por exemplo, um membro que fosse capaz de fazer uma canoa a partir de um tronco de árvore era encarregado de buscar a árvore correta, na época do ano em que a madeira estivesse pronta, para então cortar a árvore, transportá-la e preparar o tronco. Somente depois fazia a escavação com ferramentas apropriadas, por meio da técnica ensinada por seus antepassados. Assim, sua comunidade, que vivia isolada, seria capaz de ter um meio de transporte que lhe possibilitaria buscar a sobrevivência pela pesca. Uma maior população local precisaria de mais alimentos, portanto, de mais canoas. Aquele indivíduo, que antes era responsável por todo o longo processo, agora precisará produzir diversas canoas para a população aumentada. Ele não terá mais o ano inteiro para fazer apenas uma canoa em todas as suas etapas, mas vai se aperfeiçoar no conhecimento que apenas ele detém, e deverá então designar a outras pessoas a tarefa de procurar árvores apropriadas, cortá-las e carregá-las pela mata. Assim, o indivíduo qualificado vai receber vários troncos ao longo do ano e poderá fazer várias canoas. Figura 2 – Canoa rudimentar. Algum membro dessa comunidade detém a técnica ancestral e é capaz de confeccioná-la a partir de um tronco Disponível em: https://bit.ly/3DbqFkJ. Acesso em: 12 nov. 2021. Portanto, apesar de não precisar mais fazer todo o trabalho sozinho (deixando de executar boa parte do trabalho pesado), um indivíduo especializado vai realizar mais vezes a mesma tarefa (no exemplo anterior, escavar o tronco para virar uma canoa). Ao fazer apenas o que domina melhor, vai repetir os mesmos gestos com uma frequência elevada. O uso de ferramentas apropriadas à tarefa também direciona o gesto (e suas repetições) de forma a buscar a eficiência, gerando, por sua vez, desgaste muscular, articular e fisiológico repetidos. 13 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Figura 3 – Cada função a ser executada possui uma característica que exigirá do corpo determinada força, resistência, flexibilidade, potência etc. A chave da ginástica laboral é identificar as solicitações mais importantes e agir para preparar o organismo e amenizar as sobrecargas Disponível em: https://bit.ly/3FdeKU6. Acesso em: 12 nov. 2021. O uso de inovações tecnológicas também faz parte desse processo de especialização e evolução do trabalho. Por exemplo, se um escravo precisava moer cana-de-açúcar em um engenho manual, que usava força humana para prensar a cana, ao passar a utilizar uma moenda com tração animal, será possível moer a cana em um tempo menor. Entretanto, certamente não será permitido que descanse durante o tempo economizado. Ele irá, sim, moer uma quantidade de cana muitas vezes maior, multiplicando o carregamento de fardos pesados em busca de uma maior produtividade. Figura 4 – Nessa máquina de moer cana com tração animal, espera-se maior produtividade do que no engenho manual, pois o ser humano não precisará fazer força para rodar a máquina, mas passará a carregar muitos fardos de cana por dia, mais tonéis com o caldo da cana, e haverá maior quantidade de bagaço a ser descartada etc. Disponível em: https://bit.ly/3DiWoAQ. Acesso em: 12 nov. 2021. A escravatura termina com a Lei Áurea (1888) e a industrialização prospera, com o advento da máquina a vapor. Surgem as grandes indústrias,pelo profissional de que algum praticante esteja se desviando da proposição do exercício deve ensejar prontamente uma nova informação na explicação, corretivamente, visando prevenir a má execução não só desse trabalhador, mas também eventualmente daqueles que estão experimentando a mesma dificuldade. Deve-se evitar, quando não for possível ter assistentes entre os praticantes, a realização de movimentos que causem dor, desequilíbrio ou lesão por mau posicionamento, que requeiram uma correção pessoal durante a execução do exercício, prevenindo assim qualquer malefício da prática. 113 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 7.3 Avaliação e controle das atividades 7.3.1 Controle de frequência É uma ferramenta para o profissional de ginástica laboral verificar e documentar a presença, a não participação ou a ausência dos trabalhadores. Também é usada para constatar a adesão dos trabalhadores ao programa e as alterações na adesão com mudanças implementadas. Podem ser utilizadas listas de chamada ou controle numérico dos participantes. Alto índice de trabalhadores participantes significa que estes estão sendo influenciados pelas atividades do programa. Assim, pode-se esperar obter os resultados benéficos projetados nos objetivos com uma boa abrangência. A baixa frequência pode indicar falta de motivação ou falta de possibilidade de participar. Então, pode-se inferir que haverá pouca modificação no quadro atual e que provavelmente será preciso fazer ajustes no programa. Esse índice, embora simples, pode auxiliar a comparação entre a participação esperada no planejamento antes da implantação e a participação real; ou entre a participação antes de uma ação de sensibilização e após; ou a comparação dos diferentes índices de participação entre os setores mesma empresa. Desse modo, é possível analisar a necessidade de alterações no programa. Em programas de ginástica laboral com muitos participantes em que o controle individual seja dificultado, pode-se fazer o controle por número de presentes na sessão para cada setor. Índice de participação = Número de trabalhadores participantes da sessão Número total de trabalhadores do setor Por exemplo, em um setor com 45 trabalhadores fixos, dos quais 30 fizeram a sessão de ginástica laboral, o índice de participação será calculado assim: Índice de participação = 30/45 = 0,66 (66%) O número de trabalhadores do setor é um número total, considerando os presentes e os ausentes. O índice obtido neste caso é impactado por faltas, sobretudo em setores com poucos trabalhadores, em que haverá grande influência no resultado. Se vários estiverem ausentes por motivo de reunião, treinamento etc., o índice de participação averiguado vai sofrer uma diminuição anormal. Em setores menores, ou quando for possível fazer um controle de chamada dos participantes e saber o número de trabalhadores presentes em cada setor, pode-se obter o índice de participação apenas contando os trabalhadores presentes: Índice de participação = Número de trabalhadores participantes da sessão Número de trabalhadores presentes no setor 114 Unidade II Essa forma de cálculo, avaliando a razão entre o número de participantes e o de trabalhadores presentes, mostrará o índice de participação do setor, deixando de considerar como perda de adesão a parcela de trabalhadores ausentes. No exemplo anterior, do setor com 30 trabalhadores participantes na sessão de ginástica laboral, caso houvesse 5 ausências do total de 45 trabalhadores, o novo cálculo seria: Índice de participação = 30/40 = 0,75 (75%) O uso dessa segunda forma de cálculo do índice possibilita saber a adesão dos presentes naquele dia, sem considerar os faltantes como trabalhadores que não querem participar da sessão de ginástica laboral. 7.3.2 Adesão ao programa A não participação de um trabalhador na sessão de ginástica laboral pode ser uma opção voluntária ou involuntária. O primeiro caso ocorre quando o indivíduo decide não participar da atividade. Essa decisão pode ser por motivos pessoais (falta de motivação ou sensibilização) ou por questões do trabalho (necessidade de entrega de um relatório em prazo específico). A não participação involuntária ocorre quando algum motivo alheio à vontade do trabalhador o impediu de estar presente no horário da sessão. A alteração da rotina de parada de uma máquina, o acúmulo inesperado de ligações no horário definido para a ginástica laboral, ou um contato telefônico com cliente que não pode ser interrompido podem impossibilitar sua participação naquele dia. Ressalva deve ser anotada quando um trabalhador que não tem interesse em participar da ginástica laboral usa o argumento da impossibilidade de deixar sua tarefa para justificar sua ausência. Seria interessante ao profissional de ginástica laboral ter ferramentas para analisar a não participação dos trabalhadores, como diálogos com os chefes dos setores e com aqueles que não participam ou anotações pessoais sobre a rotina de trabalho que impede a participação deles. Caso encontre causas frequentes que podem ser administradas para melhorar a adesão, é preciso tratá-las em reuniões para o avanço do programa. A utilização de música durante a sessão, tão útil por ajudar a relaxar e animar os trabalhadores, pode em alguns casos, em vez de atrair, causar a evasão do programa por motivos religiosos ou mesmo pelo não compartilhamento do mesmo gosto musical. O profissional de ginástica laboral deve ser cuidadoso na escolha da música, e ter aprovação previamente, para que o choque cultural não seja um motivo de diminuição de frequência nas sessões. O exagero de brincadeiras entre os membros participantes também podem ser um fator de afastamento do programa. Não devem ser estimuladas brincadeiras sobre a limitação de algum colega. Outro fator vital sobre o grupo é planejar os exercícios de modo a não expor regiões corporais como 115 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL seios, nádegas, púbis etc. Os trabalhadores não possuem a mesma cultura corporal dos esportistas ou frequentadores de academias, e o ambiente é muito mais formal. Em sua obra, Dishman (1988) demonstra uma série de razões acentuadas por trabalhadores para não participarem do programa de atividades físicas. Pode-se analisar as respostas e os dados de sua pesquisa sob diversos prismas. Em primeiro lugar, nem sempre o motivo justificado é a real causa da não participação, pois às vezes o próprio trabalhador pode ter uma percepção errônea de seu sentimento ou limitação. Mas todas as respostas são de importância para o profissional de ginástica laboral avaliar e verificar quais ações podem ser tomadas para aumentar a adesão ao programa. As razões físicas apresentadas (cansaço, problemas de saúde) talvez indiquem que o trabalhador possui uma carga de trabalho extenuante. O indivíduo pode alegar alguma questão que julgue (ou tenha tido indicação médica) que seja limitante. Se o cansaço é acentuado como empecilho, um programa de ginástica laboral pode ser difundido como uma pausa no trabalho, aliviando a rotina atual. Quanto à apresentação de problemas de saúde como razão para a ausência no programa, é importante considerar no roteiro que alguns movimentos podem ter restrições de execução por indivíduos que possuem alguma condição física. Assim, deve fazer parte das instruções diárias a execução cuidadosa e dentro dos limites próprios conhecidos individualmente pelo participante, a fim de não provocar desconforto, dor ou lesão. Algumas questões, como a gestação, requerem cuidados especiais em certos movimentos, devendo ser consideradas no planejamento das atividades, uma vez que nem sempre há aviso prévio da condição de gestante para o profissional de ginástica laboral. As características físicas de idade avançada, suas limitações e os cuidados associados também requerem atenção no cronograma para não afastar os trabalhadores por proposições inapropriadas de atividades ou pela chance de colocá-losem risco. Ainda analisando a pesquisa de Dishman (1988), os motivos alegados relacionados ao trabalho para não participar de um programa (sem tempo, muito trabalho, muito exercício em casa/trabalho) podem ser considerados importantes, pois a sobrecarga de trabalho parece embutir a percepção de que o programa é uma obrigação a mais a ser realizada. O profissional de ginástica laboral deve examinar as formas possíveis de sensibilizar os trabalhadores para que a percepção seja de que o programa tem a intenção de aliviar, diminuir a sobrecarga e elevar a sua busca individual pela saúde por meio dos exercícios propostos. Saiba mais Para obter mais informações sobre a obra em questão, leia: DISHMAN, R. K. (org.) Exercise adherence: its impact on public health. Champaign (USA): Human Kinetics, 1988. 116 Unidade II Por outro lado, busca-se saber as maneiras de aumentar a adesão a um programa de ginástica laboral. Incentivos, apoio da chefia imediata e da diretoria, capacidade do profissional de ginástica laboral (Figueiredo; Mont’Alvão, 2008), recursos do programa, perfil do trabalhador, carga de trabalho, entre outros fatores, devem ser avaliados de modo a buscar maior participação. Martins (2011) enfatiza que, quando os chefes participam da ginástica laboral, a aderência dos trabalhadores é ampliada. Em um estudo de Rongen, Robroek e Burdorf (2014), verificou-se a aderência a programas de promoção à saúde e um fator intrínseco ao indivíduo, o locus de controle da saúde (health locus of control – HLOC), que significa o quanto o indivíduo sente-se dono das decisões que afetam sua própria saúde. Acentuou-se maior aderência ao programa daqueles cuja internalidade do sentimento de controle da saúde era mais elevada, sugerindo que esta abordagem devia ser integrada aos programas para aumentar os índices de participação. Em outra pesquisa sobre uma central de teleatendimento, Soares, Assunção e Lima (2006) quiseram avaliar o motivo da baixa adesão dos trabalhadores ao programa de ginástica laboral. Então, propuseram um questionário às pessoas para levantar possibilidades sobre o problema. Assim, verificou-se que a grande demanda dos atendimentos telefônicos estava diminuindo a participação dos trabalhadores no programa, pois a meta em vigor visava melhorar o critério “tempo de atendimento”, preenchendo todos os horários possíveis com as ligações telefônicas, “tornando meramente formal o incentivo para se fazer ginástica” (Soares; Assunção; Lima, 2006, p. 159). A sugestão final a que chegou o trabalho foi de encaminhar a última chamada ao atendente em tempo não menor do que 3 minutos antes do início da sessão de ginástica laboral, pois com esse tempo médio era esperado que a última ligação se encerrasse a tempo de poder participar da atividade. Por fim, alguns motivos para a não participação em um programa de atividade física são de ordem psíquica, cognitiva ou motivacional, como a preguiça, a falta de interesse, o uso da idade como desculpa e a negação da importância do exercício físico para a saúde. Essa classe de negativa muitas vezes não é assumida pelo trabalhador e fica disfarçada em uma alegação de motivos físicos ou associados a sua função. Todavia, o profissional de ginástica laboral deve reconhecê-los como razões relevantes para a ausência e usar estratégias para sensibilização quanto ao valor do exercício para a saúde não somente no trabalho, mas também em sua vida social. Assim, eleva-se a percepção da importância de cada um apoderar-se de conhecimentos e ações para manter sua saúde. 7.3.3 Questionário de adequação das atividades As observações anteriores sobre adesão e frequência podem fornecer uma perspectiva quantitativa sobre a participação dos trabalhadores na ginástica laboral, mas é vital determinar os motivos pelos quais a adesão é afetada. Um questionário pode ser elaborado para ter uma avaliação qualitativa da situação e verificar quais os pontos do programa podem ser aprimorados na visão dos respondentes. Deve-se lembrar que nem todas as sugestões constatadas em uma pesquisa dessa natureza podem ou devem ser seguidas, pois corre-se o risco de algumas delas afastarem o programa de seus objetivos principais. 117 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Portanto, uma pesquisa pode ser realizada com os gestores para tentar obter dados quanto à adequação durante o andamento do programa em relação aos seguintes itens: • Duração das sessões. • Frequência das sessões. • Linguagem do profissional/compreensão dos exercícios. • Grau de dificuldade dos exercícios (motor/coordenação). • Grau de intensidade dos exercícios (fisiológico/cansaço). • Local onde se realiza a prática (tranquilidade/exposição). • Horário de execução da atividade. • Compreensão dos objetivos e benefícios do programa pelos trabalhadores. O questionário a seguir, usado para o levantamento pela empresa de ginástica laboral contratada e analisada no estudo de Soares, Assunção e Lima (2006), tenta verificar alguns parâmetros que podem ser tratados em alterações do programa: Quadro 9 – Questionário de avaliação da ginástica laboral utilizado pela empresa responsável Avaliação do Programa Ginástica na Empresa Questões: 1. Você participa da ginástica? ( ) sim ( ) não 2. A ginástica para você é: ( ) necessária ( ) desnecessária 3. Você pratica alguma atividade física regulamente? ( ) sim ( ) não 4. Você acredita que o Programa pode proporcionar benefícios? ( ) sim ( ) não 5. A ginástica significa para você: ( ) lazer ( ) relaxamento ( ) prazer ( ) tarefa ( ) união com colegas ( ) obrigação ( ) estímulo ( ) prevenção Sugestões: Fonte: Soares, Assunção e Lima (2006, p. 156). 118 Unidade II 7.3.4 Verificações periódicas de resultados Para avaliar o processo, são vitais algumas questões: Os objetivos do programa de ginástica laboral estão sendo alcançados? Sua determinação foi adequada à necessidade do programa? Como traçar novos objetivos? Deve haver uma definição no planejamento sobre qual a frequência de apuração dos resultados do programa, visando ajustes das atividades, do investimento, das expectativas e do programa como um todo. Isso é essencial para justificar o investimento, consolidar os benefícios e propor novas metas. O tempo de uma verificação de resultados não pode ser muito curto, pois um programa de ginástica laboral não entrega resultados mensuráveis no curto prazo. Contudo, não pode ser muito demorado, pois a contratação do programa na base de contratos renováveis, muitas vezes semestrais ou anuais, precisa de alimentação de resultados positivos para ser justificada, o que também pode ser uma das funções da avaliação. O exame de resultados não é uma tarefa simples. Assim como na avaliação diagnóstica, uma série de fatores devem ser ponderados para definir os objetivos, e diversos fatores interligados vão possibilitar considerações para eventuais necessidades de ajustes no programa. É essencial notar que os resultados devem ser esperados na parcela de trabalhadores que aderiu ao programa. Portanto, o controle da frequência é importante, e as medidas para aumentá-la devem ser permanentes. Entre os participantes do programa de ginástica laboral, os parâmetros já avaliados inicialmente podem ser novamente testados, como investigação do quadro de dores, faltas ao trabalho, acidentes, afastamentos e consultas realizadas em serviços médicos. À medida que o programa se consolida, os índices mais relevantes devem ser analisados com a tranquilidade do enfoque em ajustes, tentando afastar qualquer sensação de alarmismo quando os resultados esperados não forem alcançados. Ilustrando alguns casos de resultados obtidos, pode-se citar Figueiredo e Mont’Alvão (2008, p. 78-79), que relatam um acompanhamento a um projeto de ginástica laboral implantado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Destacam que 100% dos trabalhadores respondentes disseram que o programa os ajudou a aumentar o bem-estar diário e o relacionamentopessoal; 88,5% relataram que puderam melhorar seu estilo de vida, dos quais 34,6% passaram a exercitar-se com mais frequência; 38,5% realizavam exercícios mesmo quando não havia sessão programada; 61,5% passaram a se alongar fora do trabalho; 46,2% utilizavam as dicas de saúde ensinadas para melhorar sua qualidade de vida; 11,5% acharam que o programa os auxiliou de outras maneiras. Outro estudo, feito em indústrias de Marechal Cândido Rondon (PR), indicou respostas dos trabalhadores sobre os programas. Veja a tabela a seguir: 119 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Tabela 12 Perguntas Respostas (%) Você acha que a ginástica laboral: Sim Não 01 Melhora sua disposição no trabalho 92 8 02 Melhora sua postura no trabalho 89 11 03 Reduz a ansiedade 67 33 04 Aumenta a concentração no trabalho 74 26 05 Ajuda a diminuir as dores no corpo 87 13 06 Ajuda a melhorar o entusiasmo no trabalho 86 14 07 Traz benefícios ao seu dia de trabalho 87 13 08 Melhora seu relacionamento com colegas 80 20 09 Diminui as tensões acumuladas durante o dia 86 14 10 Ajuda a prevenir doenças relacionadas ao trabalho 83 17 Fonte: Figueiredo e Mont’Alvão (2008, p. 50). Pode-se verificar que na opinião dos participantes a percepção de melhoria é prevalente. Certamente, se a pesquisa pudesse também analisar os motivos da não adesão dos trabalhadores ausentes no programa, seria possível fornecer um panorama das opiniões de natureza contrária ao programa. Os resultados devem ser tabulados e apresentados ao contratante periodicamente para acompanhamento e prestação de informações. Zilli (2002) sugere uma periodicidade mensal, bimestral ou trimestral, podendo o profissional acrescentar sugestões de melhoria e revisões de objetivos. Tabela 13 Empresa Principais resultados obtidos Embaré Número de afastamentos por acidentes de trabalho em 2002 foi 40% inferior ao de 1999 Cervejaria Coors Estimativa de retorno de USD $6,15 para cada USD $1,00 investido no bem-estar dos trabalhadores Tintas Renner Diminuição da procura ambulatorial, do índice de absenteísmo, dos problemas com o sindicato decorrentes de reclamações sobre doenças profissionais, aumento da disposição para o trabalho, melhoria das dores articulares/musculares e do relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho Xerox Aumento de 39% nos índices médios de produtividade, melhoria na saúde dos funcionários, redução da procura do ambulatório médico por problemas de hipertensão e dores nas costas Siemens do Brasil As reclamações de dores foram reduzidas Dana-Albarus Diminuição de 46% dos acidentes ocorridos no primeiro turno do setor de forjaria, diminuição de 54% da procura ambulatorial traumato-ortopédica Selenium O índice de absenteísmo diminuiu em 38% e os acidentes em 86,67%, as dores de 64% dos trabalhadores diminuíram, 57% afirmaram que o relacionamento melhorou entre os colegas Univ. Fed. de Santa Catarina Queda nos índices de afastamentos por doenças ocupacionais, aumento do bem-estar diário e melhoria do relacionamento interpessoal, 34,6% dos trabalhadores afirmaram que passaram a exercitar-se com mais frequência, alterações no estilo de vida dos funcionários, 46,2% dos funcionários passaram a vivenciar os ensinamentos difundidos nas palestras e aplicar as “dicas semanais” para melhorar a qualidade de vida Fonte: Figueiredo e Mont’Alvão (2008, p. 80). 120 Unidade II 8 EMPREENDEDORISMO Ademais da atuação na implantação e condução dos programas, há possibilidades de atuação além das sessões de ginástica laboral. A elaboração de projetos requer conhecimentos avançados e um senso de organização superiores. Para um profissional que esteja perseguindo um objetivo além de colocação na área, o empreendedorismo permite chances de realizar um voo solo. Antes de uma empreitada, é desejável conhecer a área, as dificuldades e oportunidades, podendo desenvolver uma boa noção das questões envolvidas. Outra importante ação a considerar é o desenvolvimento de uma postura empreendedora, iniciando-se, muitas vezes, com a possibilidade de intraempreendedorismo. Como inúmeras outras áreas, a ginástica laboral permite que um profissional devidamente preparado possa enveredar para o ramo de empreendedorismo. Para tal, é preciso conhecer os conceitos e planejamentos necessários para, inicialmente, avaliar as chances de tornar uma ideia em um plano concreto. Desse modo, será feita uma análise dos principais pontos para que se produza um projeto de ginástica laboral que crie uma visão de referência a um profissional. Além da realização das sessões de ginástica laboral, será vital conhecer os principais pontos sobre a opção de empreender na área. Lembrete Diferentemente do absenteísmo (falta ao trabalho), o presenteísmo ocorre quando o trabalhador está presente, mas seu pensamento não está focado na atividade requerida. Ao contrário, ele pode estar pensando em problemas financeiros, jogos de futebol, discussões conjugais etc. Assim, propõe-se um exercício de presenteísmo consciente: serão utilizados exemplos da ginástica laboral para construir os conceitos de projetos e empreendedorismo, convidando paralelamente o leitor a deixar seu pensamento viajar por outras oportunidades que possa enxergar para empreender. 8.1 Definições de empreendedorismo É uma palavra derivada do termo empreendedor (do francês entrepreneur), que significa “assumir riscos”. Para Schumpeter (apud Degen, 1989, p. 1), o empreendedor é o impulso fundamental que aciona e mantém a marcha do motor capitalista, constantemente criando novos produtos, novos métodos de produção, novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se aos antigos métodos menos eficientes e mais caros. 121 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Tabela 14 – Conceitos da evolução histórica do empreendedorismo Ano Principal conceito Autor 1725 Disposição para assumir riscos Richard Cantillon 1814 Transferência de recursos para alta produtividade Jean-Baptiste Say 1871 Aquele que antecipa necessidades futuras Carl Menger 1949 Tomador de decisões Ludwig von Mises 1959 Processo de descoberta de oportunidades e risco Friedrich von Hayek Adaptado de: Chiavenato (2012). Criar negócios a partir de ideias ou inovar, revitalizar ou reinventar negócios já existentes são desafios do empreendedorismo. A criação de um novo negócio, segundo Degen (1989), passa por diversas fases. Vejamos: (2) coletar informações (9) elaborar plano do negócio (3) desenvolver conceito (8) definir estratégia competitiva (4) identificar riscos (7) avaliar potencial de lucro e crescimento (1) identificar a oportunidade (10) operacionalizar o negócio (5) procurar experiências similares (6) reduzir riscos I. Identificar a oportunidade de negócio III. Implementar o empreendimento II. Desenvolver o conceito do negócio Curto-circuito criativo Figura 61 – Três etapas da criação de um negócio próprio Adaptada de: Degen (1989). 122 Unidade II O empreendedorismo busca soluções para problemas ou lacunas no atendimento das necessidades de empresas, pessoas e governos, encontrando áreas de atuação inexploradas e melhores soluções para problemas que ainda não foram implementadas, organizando melhor os recursos humanos, tecnológicos, financeiros, naturais etc., de modo a otimizar e dinamizar as questões existentes. O empreendedor não precisa necessariamente ser dono do capital para empreender. Descobrir a melhor forma de obter os recursos financeiros faz parte de sua jornada. Também não importa se ele ainda não é um profissional formado, pois saberá que precisa contratar alguém para se responsabilizar legalmente pelas atividades. Basta selecionar um bom profissional. 8.2 Características do perfil empreendedor O empreendedorismo é movido por um espírito próprio, personificado pelo seu protagonista, o empreendedor. A literatura costuma destacar os aspectos da personalidade ou o modo de agir do empreendedor como fatores de sucesso. Segundo Chiavenato (2012, p. 6), as principaiscaracterísticas do empreendedor são: • autoconfiança; • disposição para assumir riscos; • necessidade de realização. Outras características notadas em empreendedores de sucesso são: • Sensibilidade para enxergar oportunidades. • Criatividade, que possibilita ver soluções ainda não encontradas. • Perseverança na busca de respostas. • Espírito de inovação e liderança. • Energia e entusiasmo, orgulho do que realiza. • Disposição para lidar com incertezas e desafios. • Assunção de responsabilidades. • Iniciativa e comprometimento. • Busca de conhecimento e capacitação. • Definição de metas e tomada de decisões. 123 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL • Planejamento e controle de tarefas, eficiência. • Capacidade de comunicação e persuasão. Exemplo de aplicação 1. Com base no que foi apresentado, cite ao menos duas características diferenciadas de um empreendedor e explique sucintamente sua resposta. Além dos atributos acentuados, deve-se fazer uma autoavaliação dos aspectos pessoais que também podem colaborar no desenvolvimento do espírito empreendedor, o que permitirá ao indivíduo entender onde se pode melhor confiar nas habilidades existentes e onde se deve buscar fortalecimento. 2. Como está sua habilidade para resolver problemas de forma criativa? Inúmeros obstáculos se apresentarão ao empreendedor, e este deverá encontrar uma maneira de resolvê-los criativa e economicamente, tornando sua ideia competitiva e vencedora. Tente resolver um problema simples e verifique suas ações em busca da solução. Você tem somente dois baldes: um com capacidade para 5 litros, e outro para 3 litros, além de suprimento infinito de água. É possível separar exatamente 4 litros para um cliente? Como? Resolução A resposta de problemas de forma criativa remonta à Antiguidade. Charadas e desafios são importante fonte de estímulo e podem ampliar sua visão na resolução de incógnitas. Poundstone (2005) compilou uma série de problemas, charadas e perguntas utilizadas por entrevistadores da Microsoft para tentar encontrar “mentes brilhantes” e os explicou em um interessante livro chamado Como Mover o Monte Fuji? (2005), cujo título inclusive é um dos exercícios propostos. Há diferentes modos de solução para a questão em foco. O mais simples: encha o balde de 5 litros (o grande), despeje-o cuidadosamente no de 3 litros (o pequeno). Quando completar o pequeno, sobrarão 2 litros no balde grande. Jogue fora a água do balde pequeno e transporte para ele aqueles 2 litros separados anteriormente. Agora, encha de novo o balde de 5 litros e despeje lentamente no balde de 3 litros até preenchê-lo. Caberá apenas 1 litro a mais no balde pequeno. Portanto, sobrarão 4 litros no balde grande. Você conseguiu achar a resposta em menos de 5 minutos? Observou outras formas de chegar ao resultado? Qual das soluções desperdiçaria menos água? Você tentou resolver o problema ou procurou a resposta imediatamente? 124 Unidade II Saiba mais Leia a obra em questão: POUNDSTONE, W. Como mover o Monte Fuji? São Paulo: Ediouro, 2005. 8.3 Intraempreendedorismo O empreendedor é uma figura tão valorizada que até mesmo uma empresa estabelecida reconhece sua importância internamente, inclusive estimulando o desenvolvimento de suas características. O intraempreendedorismo é a ação de empreender dentro de um emprego formal. A empresa tem muito a ganhar, cultivando entre seus talentos ninhos de empreendedorismo interno. O intraempreendedor é aquele trabalhador que age além da característica de cumprimento de obrigações preestabelecidas e acomodadas, pois está em busca de novas soluções, negócios e possibilidades para a entidade em que trabalha. Uma boa forma de treinar as capacidades empreendedoras é encontrar espaço para empreender na organização em que se trabalha. Muitas instituições não oferecem essa possibilidade, por não fazer parte de sua cultura ou por não ter características estruturais ou gerenciais que permitam tal ação. Ao procurar soluções para a empresa, o intraempreendedor pode encontrar barreiras internas e tentar ultrapassá-las, o que não é visto como chance de desenvolvimento em muitas culturas organizacionais. Todavia, nas empresas que conseguem criar um ambiente facilitador ao intraempreendedorismo, pode-se esperar uma ebulição de ideias e projetos que, se devidamente ordenados, filtrados e acompanhados, podem ser a diferenciação para a sobrevivência nos negócios e no crescimento. Como exemplo, podemos citar o profissional de uma academia de ginástica. Este, para aproveitar horários ociosos de sua equipe, e levando em conta a existência de grandes concorrentes em seu bairro, tem a ideia de treinar os funcionários mais interessados para investir na ginástica laboral em sua região de influência, gerando renda e lucro. 8.4 Plano de negócio Para conseguir transformar uma visão de ideia de negócio em um empreendimento real, é vital organizar todos os elementos em torno de um eixo norteador para verificar se temos os elementos necessários para o sucesso. Essa organização e formalização da ideia pode ser chamada de plano de negócio. De fato, há uma grande variedade de proposições para montá-lo, e serão analisadas a seguir algumas das principais características pautando-se em diferentes autores, sem a necessidade de aderir a apenas uma proposta, para não ter que desconsiderar elementos das demais ideias. 125 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Para Biagio e Batocchio (2012, p. 4), o plano de negócios permite, entre outras atribuições: avaliar os riscos e identificar soluções; definir os pontos fracos e fortes da empresa em relação aos concorrentes; conhecer as vantagens competitivas; identificar o que agrega valor para o cliente; planejar uma estratégia de marketing; estabelecer metas de desempenho; avaliar investimentos; identificar as necessidades de absorção de novas tecnologias; calcular o retorno, a lucratividade e a produtividade. O plano de negócios não garante o sucesso. Ele tentará otimizar os recursos, prever obstáculos, antever possibilidades e preparar as ações para que, quando colocadas em prática, tenham maior chance de se aproximarem do cenário real. Quanto melhor elaborado e mais completo ele puder ser, maior a possibilidade de que o que foi programado em teoria possa ser realizado na prática com maior chance de acerto. Não há uma receita pronta para elaborar um plano de negócio. Dependendo da área, do objetivo, da magnitude e de outros fatores, ele pode ter variações em sua base e em seu conteúdo. Uma estrutura mínima para um plano de negócio deve conter: • sumário executivo; • descrição da empresa; • produtos e serviços; • análise de mercado; • plano de marketing; • plano operacional; • plano financeiro. 8.4.1 Sumário executivo Deve-se deixar para escrever essa parte por último, pois ela será um resumo de toda a pesquisa e proposta. Sugere-se que contenha duas páginas no máximo, incluindo, como referência de conteúdo: quais os produtos/serviços, quem é o cliente, o que o empreendimento pretende tornar-se no futuro etc. Se estiver em busca de fundos, deve especificar quanto, como será utilizado e como o dinheiro irá fazer do empreendimento um negócio viável, portanto, creditável, que vale o investimento pleiteado e que este terá retorno. 8.4.2 Descrição geral do empreendimento Nessa parte, deve-se pesquisar e encontrar respostas para descrever o que é o empreendimento, como irá funcionar, quais as necessidades de instalações, mão de obra, tecnologia etc. 126 Unidade II Muitas informações ajudarão a descrevê-lo. Qual o tamanho do espaço físico necessário? Qual o número de trabalhadores? Qual a melhor estrutura legal? Sua localização é importante? Quais os fatores de localização a considerar? É necessário ter acesso público facilitado ou meios de transporte próximos? Definições de missão, visão e valores do empreendimento devem ser realizadas o mais claramente possível, pois essas premissas orientam o direcionamentodos esforços. Qual a imagem desejada para o negócio? A missão de uma empresa é a definição do seu propósito, ou seja, para que ela existe. Deve ser definida de maneira concisa, interessante e verdadeira. O conhecimento da missão de uma entidade por todos os seus trabalhadores, por exemplo, pode colaborar para a sinergia dos esforços em um mesmo sentido. Saiba mais Um exemplo de como uma empresa pode destacar sua missão, acesse: DANONE. Nossa missão. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3kI6hAF. Acesso em: 21 nov. 2024. A definição de visão de uma empresa pode variar bastante, mas em geral reflete o panorama desejado em seu planejamento estratégico para médio e longo prazos. Tal atitude fará que os esforços dos trabalhadores e dos departamentos sejam realizados com afinco. No tocante a valores, esse é um quesito que uma organização bem estruturada precisa definir, destacando o que está em seu DNA. Considerando a missão da empresa, o ramo do negócio, o ambiente e o mercado, os clientes, os colaboradores, os desejos refletidos na visão e outros fatores, quais valores não poderiam deixar de estar no centro da personalidade de atuação do negócio pretendido? Exemplo de aplicação Avalie as definições a seguir para uma empresa de ginástica laboral: • Missão: aumentar a produtividade dos clientes, pela melhoria da saúde de seus colaboradores. • Visão: tornar-se referência no mercado de saúde do trabalhador, oferecendo os mais completos serviços de ginástica laboral. • Valores: produtividade, saúde e espírito de equipe vencedora. A partir desses conceitos, como eles poderiam ser modificados para que um empreendimento nessa área tivesse melhores definições de missão, visão e valores? 127 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Nessa parte do plano de negócio, pode-se optar também por descrever o plano operacional, com o funcionamento da ideia do negócio em todas as suas fases até chegar à aquisição pelo cliente e aspectos pós-venda, como assistência técnica, garantias ou avaliações. Quanto ao seu funcionamento, algumas questões devem ser respondidas: Quem estará à frente das operações? Quais seus papéis principais e atribuições? Como funciona todo o procedimento, desde a aquisição/contratação até a entrega e satisfação do cliente? Qual o perfil desejado daqueles a serem escolhidos como trabalhadores? Qual faixa etária, competências, faixa salarial? Quantos funcionários serão necessários? Quantas horas cada um vai trabalhar e qual o custo associado, com impostos? Quais os cargos a serem preenchidos? Deve-se descrever com detalhes as funções de cada cargo que fará parte da estrutura do empreendimento. 8.4.3 Descrição dos produtos e serviços Deve-se destacar em detalhes qual é a ideia dos produtos ou serviços a serem oferecidos, comparando-os com os que atualmente estão disponíveis no mercado. Quais suas vantagens competitivas? Quais suas desvantagens? Quais os principais benefícios e características? No caso da ginástica laboral, o empreendedor irá oferecer um serviço. Serviço é considerado como atividade cuja realização, aquisição ou contratação objetiva a satisfação de uma necessidade, pessoal ou empresarial. Em geral, por não precisar adquirir ou alugar instalações para produção (fábricas) ou manutenção de estoque, oportunidades de prestação de serviços como a ginástica laboral requerem, proporcionalmente, menor investimento inicial. Parte do serviço a ser ofertado pode ser a avaliação inicial, que vai auxiliar a diagnosticar as necessidades que não estavam especificadas pela empresa ou não eram conhecidas. Uma avaliação pelo profissional deve ser incluída sempre que possível na prestação do serviço de ginástica laboral. Um profissional ou empresa de ginástica laboral pode trazer diferentes opções de serviço. Abrangência da atenção a aspectos de ergonomia, incentivo à prática de atividades físicas ou outros itens podem criar possibilidade de escolha pelo cliente e agregar valor aos serviços acentuados. 8.4.4 Análise de mercado Nessa etapa, tenta-se pesquisar e entender: contexto da economia local, economia global (se aplicável), tamanho da indústria, amplitude do mercado, concorrência, barreiras de custos, exposição a mudanças de tecnologia, políticas existentes, decisões de governos, comportamentos dos clientes etc. Hoje, citando um conceito ainda pouco explorado na literatura acadêmica, mas muito cogitado nas incubadoras de negócios, pode-se perguntar: O negócio é escalável? Ou seja, com o uso da tecnologia, consegue ganhar uma larga escala de abrangência? 128 Unidade II Para a ginástica laboral, é importante entender como o mercado se comporta, desde as regiões da cidade onde existe um maior número de empresas potenciais até alguma área específica de negócio em que a ginástica laboral possa ter maior procura. Figura 62 – Tomando como exemplo esta região da cidade, qual o número de clientes potenciais para um profissional de ginástica laboral? Como entrar em contato com eles? Disponível em: https://bit.ly/3CbnMPC. Acesso em: 12 nov. 2021. 8.4.5 Plano de marketing No plano de negócio, será necessário elaborar um plano de marketing, sobre como serão feitas as relações com o mercado. Pode ser analisado sob diversos aspectos, conforme os especialistas e estudiosos do assunto. Simplificando a abordagem para o universo de experiências do profissional de ginástica laboral, pode-se usar a visão de Kotler e Keller (2013), um perito em marketing. Segundo os autores, o marketing pode ter sua atuação classificada em quatro diferentes áreas, o chamado mix de marketing, ou seja, as decisões que precisam ser tomadas para posicionar seu produto ou serviço no mercado. 129 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Mercado-alvo Produto Variedade de produtos Qualidade Design Características Nome de marcas Embalagem Tamanhos Serviços Garantias Devoluções Promoção Propaganda Promoção de vendas Publicidade Força de vendas Relações públicas Marketing direto Preço Preço de tabela Descontos Concessões Prazo de pagamento Condições de financiamento Praça Canais Cobertura Variedades Locais Estoque Transporte Mix de marketing Figura 63 – O mix de marketing é uma abordagem bastante ilustrativa para o profissional de ginástica laboral entender as variáveis em cada decisão do marketing Fonte: Kotler (2005, p. 18). 8.4.6 Plano financeiro Um plano financeiro bem elaborado é vital para uma perspectiva de sobrevivência do empreendimento. Nessa etapa, o empreendedor irá estudar e descrever qual deve ser o comportamento esperado do dia a dia financeiro do negócio, desde a sua concepção e os investimentos iniciais até o pleno funcionamento. Assim, será possível verificar se os aportes estão planejados corretamente e qual o montante total de investimento necessário, bem como planejar os custos financeiros de empréstimos ou outras despesas e as receitas estipuladas para examinar a viabilidade do negócio e possibilitar a identificação de qualquer adaptação que precise ser feita para que haja condições de crescimento. Necessidades de ajustes podem ser constatadas ainda durante o planejamento, o que minimizará a ocorrência de surpresas após a implantação do negócio e certamente aumentará a chance de sucesso, pois os fatores já foram previstos. 130 Unidade II Figura 64 – Reformar o veículo e comprar o estoque inicial não é o suficiente para a sobrevivência de um empreendimento. É vital ter reservas para manter o negócio funcionando mesmo enquanto ainda não há lucro Disponível em: https://bit.ly/30fSTfG. Acesso em: 12 nov. 2021. 131 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Resumo Nesta unidade foram avaliadas as etapas para o planejamento de um programa de ginástica laboral. Destacamos ao aluno as necessidades de antecipação para que o programa atenda às necessidades diagnosticadas, fator vital para sua execução. Assim, foi possível verificar a estruturação de uma sessão de ginástica laboral, suas variações e como nortear as atividades comfoco nos objetivos. Vimos que o profissional de ginástica laboral pode analisar os motivos da busca da prática de atividades físicas e esportes pela população, dividindo essa procura em faixas etárias. Desse modo, poderá entender em relação a seu público local os gostos ou as exigências de adequação a faixa etária e interesses específicos. Também foram abordados os tópicos inerentes à implantação de um programa de ginástica laboral, desde o trabalho de sensibilização e convencimento até a postura durante a aplicação das sessões. Vital para o processo, a avaliação da adesão e das atividades realizadas auxilia a verificar o sucesso do programa ou a necessidade de ajustes para atingir os objetivos. Em seguida, foram analisadas as possibilidades de utilizar a capacidade do profissional de ginástica laboral em tarefas além do planejamento e aplicação das sessões. A elaboração de projetos é um passo adiante no desenvolvimento profissional, exigindo maior dedicação a pontos até então inexplorados. Por fim, destacamos o empreendedorismo, com toda a amplitude que o tema merece, pois, ao alçar o pensamento a novas propostas de atendimento a problemas existentes na sociedade, o profissional de ginástica laboral pode realmente “pensar grande”, usando as técnicas discutidas e se aprofundando em conhecimentos que irão capacitá-lo tanto no empreendedorismo como no intraempreendedorismo. Assim, atinge-se o objetivo deste livro-texto, de preparar profissionais com visão para trabalhar na área de ginástica laboral com o cuidado que a atividade com seres humanos requer e com a eficiência que o mercado exige. A ginástica laboral poderá cumprir o seu papel, aumentando a produtividade das empresas por meio da melhoria das condições para o homem no trabalho. 132 Unidade II Exercícios Questão 1. No planejamento de um programa de ginástica laboral, deve-se levar em conta outras ações concomitantes, que já ocorreram ou que possam vir a ser implementadas futuramente, dentro de um contexto geral de incentivo à saúde e qualidade de vida do trabalhador. porque As empresas podem ter outras ações, que podem ser realizadas por equipes multidisciplinares, com professores de educação física, fisioterapeutas, ergonomistas, nutricionistas, psicólogos, médicos, engenheiros do trabalho etc. Acerca dessas asserções, assinale a alternativa correta: A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é uma proposição falsa. D) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é uma proposição verdadeira. E) As duas asserções são proposições falsas. Resposta correta: alternativa A. Análise da questão Ambas as asserções são verdadeiras, pois a adoção de ações concomitantes mostra organização e engajamento da equipe multiprofissional, atingindo o trabalhador da melhor maneira possível. A segunda asserção justifica a primeira, pois as empresas podem possuir outras ações e outros profissionais. 133 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Questão 2. (Enade 2010, adaptada) Um profissional de educação física é coordenador técnico de um centro de atividades físicas em uma empresa industrial de pequeno porte. Segundo os resultados das avaliações físico-funcionais, 40% dos empregados apresentam queixas relacionadas a lombalgias e cansaço nos membros inferiores. Esses resultados demonstram, ainda, que os referidos empregados atuam na área administrativa e trabalham, na maior parte do tempo, sentados, além de serem sedentários. Incumbido de elaborar, para a área de medicina do trabalho, uma síntese dos resultados dessas avaliações e propostas de ações preventivas, o profissional precisa: I – Apresentar detalhadamente os resultados das avaliações de cada empregado da empresa. II – Apresentar os resultados globais das avaliações com um tratamento estatístico adequado. III – Buscar referências na literatura científica sobre o problema em empresas do mesmo segmento. IV – Propor obrigatoriedade para todos os empregados frequentarem o estúdio regularmente. V – Buscar dados atualizados sobre os custos desses acometimentos em empresas semelhantes. Tomando como base essa situação hipotética, assinale a alternativa que congrega as decisões que aumentariam a credibilidade das informações apresentadas pelo profissional. É correto apenas o que se afirma em: A) I, II e III. B) I, II e IV. C) I, IV e V. D) II, III e V. E) III, IV e V. Resposta correta: alternativa D. 134 Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: essa afirmação refere-se ao detalhamento dos resultados envolvendo cada empregado individualmente. Entretanto, a questão afirma que deve ser apresentada uma síntese dos resultados. II – Afirmativa correta. Justificativa: o importante é conhecermos o padrão do grupo, e não a realidade de cada um. III – Afirmativa correta. Justificativa: é importante o aprofundamento dos aspectos pertinentes ao estudo em questão baseando-se na literatura. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: a obrigatoriedade da participação nas atividades fere o estatuto do trabalho, que não prevê em nenhuma lei a obrigatoriedade de ações que não fazem parte das atividades de trabalho. V – Afirmativa correta. Justificativa: essa ação pode ser encaixada nas referências ou até mesmo nas discussões dos resultados. 135 REFERÊNCIAS Audiovisuais TEMPOS modernos. Dir. Charlie Chaplin. EUA: United Artists, 1936. 87 minutos. Textuais AVILA NETO, C. A. et al. Aplicação do 5W2H para criação do manual interno de segurança do trabalho. Espacios, v. 37, n. 20, p. 19-30, 2016. BARBOSA, P. H. et al. Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho e a ginástica laboral como estratégia de enfrentamento. Archives of Health Investigation., v. 3, n. 5, p. 57-65, 2014. BARROS, E. N. C.; ALEXANDRE, N. M. C. Cross-cultural adaptation of the Nordic musculoskeletal questionnaire. International Nursing Review (INR), v. 50, n. 2, p. 101-108, 2003. BERTÉ JÚNIOR, D. Benefícios e efeitos percebidos por trabalhadores logo após a prática da ginástica laboral. 2006. 46 f. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Educação Física Geral para a Qualidade de Vida) – Isepe/Famacar, 2006. BIAGIO, L. A.; BATOCCHIO, A. Plano de negócios: estratégia para micro e pequenas empresas. Barueri: Manole, 2012. BRASIL. Ministério da Saúde. 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Pode-se ainda modificar exercícios que pertençam às categorias citadas, realizando-os em duplas, com materiais (fitas, bexigas, bastões, bolinhas de tênis), em grupos ou em outra forma de organização. Vamos destacar a seguir exemplos e variações de atividades. Mobilizações Podem ser usadas preferencialmente sempre antes dos alongamentos, para aquecer uma região que estava sendo pouco utilizada ou para relaxar um ponto que estava submetido à carga estática ou dinâmica. Também é recomendado, quando possível, fazer mobilização em um dos eixos (flexão e extensão, por exemplo) antes da mobilização em vários eixos (circundução). • Mobilização cervical: lentamente, realizar cinco movimentos de rotação da cabeça para a esquerda e para a direita (movimento de “não”), cinco de flexão e extensão cervical (“sim”), cinco de flexões laterais (orelha em direção ao ombro), e em seguida efetuar cinco circunduções para cada lado, que são mais complexas (giros para a esquerda, depois para a direita). Figura 65 – Mobilizações cervicais são importantes para distensionar a musculatura e também são usadas como exercícios preparatórios antes dos alongamentos 142 • Mobilização de ombros e membros superiores: circundução alternada dos braços à frente (como se estivesse nadando crawl), para trás (nadando costas) e, finalmente, um braço girando para a frente e outro para trás (como desafio). Durará 20 segundos cada variação. Antes das circunduções, pode-se pedir para fazer flexões e extensões de ombro como ação preparatória. • Mobilização de membros inferiores: andar sem sair do lugar, primeiramente em amplitude normal, depois elevando os joelhos, e uma última variação subindo os calcanhares alternadamente e próximos aos glúteos. Tempo aproximado de 15 ou 30 segundos para cada variação, podendo repetir a série se houver disponibilidade. Figura 66 – Caminhadas sem sair do lugar ou quando possível caminhadas pelos corredores ou área externa são uma boa maneira de mobilizar membros inferiores quando se trabalha sentado. O profissional de ginástica laboral pode estimular a prática frequente deste exercício Alongamentos Podem ser realizados entre 15 e 30 segundos, devendo o profissional orientar sempre para que os trabalhadores façam até o seu limite confortável (sentir alongar, mas não sentir dor). Como geralmente os indivíduos possuem baixa consciência corporal, sobretudo no início do programa, evitar exercícios que usem o peso do corpo para alongamento previne lesões ou dores. • Alongamento de flexores do carpo e dos dedos: “rezar” – em pé ou sentado, unir as palmas das mãos em frente ao rosto, abaixando-as até que se sinta a musculatura flexora alongada. Não separar as palmas das mãos. 143 Figura 67 – O alongamento dos flexores dos punhos pode ser executado de muitas maneiras para variações no programa. É possível fazê-lo na parede, na mesa, em duplas, unilateralmente etc. Fortalecimentos • Fortalecimento da musculatura flexora e extensora de punhos e dedos: em posição de garra, efetuar contração isométrica de flexores e extensores de punho e dedos por 10 segundos. Figura 68 – Isometria pode ser utilizada para alguns exercícios de fortalecimento • Fortalecimento de musculatura extensora do quadril: em pé, mãos apoiadas na parede na largura dos ombros, tronco ereto, um dos pés apoiado no chão a cerca de 40-50 cm da parede. O outro pé será levado para trás e para cima, com o joelho em extensão até a amplitude possível e trazido para a frente novamente, até chegar próximo à parede. Haverá dez repetições de cada lado. 144 Figura 69 – O uso da parede como apoio pode auxiliar no equilíbrio e posicionamento. Deve-se evitar exercícios nos quais o pé tenha que ser apoiado para não danificar a pintura e limpeza do local Terapias manuais • Automassagem no braço e antebraço: em pé ou sentado, um dos braços com cotovelo flexionado à frente do corpo, usar a mão oposta para massagear com os dedos a musculatura do braço e do antebraço, em movimentos dos dedos pressionando e soltando, iniciando do deltoide em direção ao punho e finalizando do punho em direção ao deltoide. Realizar também para o outro lado, com 20 segundos cada lado. Figura 70 – Automassagem é uma possibilidade para regiões corporais acessíveis 145 • Automassagem cervical e trapézio: em pé ou sentado, entrelaçar os dedos das mãos em frente ao tronco. Sem soltar as mãos, levá-las para a região dorsal da cervical, realizando movimentos circulares e lentos com os polegares na região cervical, descendo para a parte superior do trapézio. Fazer o movimento por 15 segundos. Figura 71 – Exercícios de automassagem podem ser utilizados, aumentando a consciência corporal e o conhecimento das regiões sensíveis à dor Ginástica sentada • Alongamento de região lombar: sentado, em uma cadeira, com os pés na largura dos quadris, os joelhos levemente flexionados, deixar a coluna curvar-se à frente, enfatizando a curvatura na região lombar (manter por 20 segundos). Deve-se tomar cuidado em cadeiras de rodízio para não correr risco de queda. Figura 72 – Exercícios sentados podem ser executados para quase todas as regiões corporais. Entretanto, deve-se ter cuidado quando usar cadeiras com rodízios, que podem desequilibrar as pessoas em alguns exercícios 146 • Relaxamento e compensação da musculatura dorsal: sentado em um colchonete, deitar-se em decúbito dorsal flexionando o quadril, de modo a trazer os joelhos para cima do tronco. Pode-se abraçar os joelhos caso o trabalhador consiga e permanecer na posição por 20 segundos. Figura 73 – Quando a roupa não é formal – por exemplo, emtrabalhadores da limpeza e chão de fábrica –, pode-se aplicar exercícios em colchonetes no chão, sobretudo para relaxamento e distensionamento de coluna e membros inferiores Respiração Alguns exercícios podem incluir respiração como parte da proposta, como exercícios de espreguiçar-se ou circundução de braços, enquanto se faz inspirações amplas e profundas. Outros exercícios podem buscar consciência respiratória. Vejamos um exemplo: • Na posição sentada, de olhos fechados, inspirar lentamente, contando até 3, depois fazer uma pausa, contando até 3, finalmente expirar ainda mais lentamente, contando até 6. Realizar quatro ciclos de respiração. Exercícios com materiais Materiais são ótimos recursos para manter as sessões variadas. O uso equilibrado de artigos torna o programa interessante, além de oferecer recursos diversificados para atingir os objetivos. Entretanto, o profissional de ginástica laboral deve conter a tentação de usá-los excessivamente, o que poderia tornar a explicação confusa, o uso incorreto e a eficácia da sessão menor. 147 Figura 74 – Elementos diversos, como bolinhas, podem trazer variação aos exercícios Materiais facilmente transportados entre os locais das sessões podem incluir: bolinhas de tênis, cordas, faixas elásticas, bexigas infantis, rolos de espuma. Ainda, é possível usar itens encontrados em artigos de escritório, como elásticos de borracha, canetas, bolas de papel amassado e copos plásticos. Deve-se evitar desperdício de itens de papelaria. • Segurando uma bexiga com os braços em extensão em frente aos ombros, pressioná-la com as mãos dez vezes. Figura 75 – Exemplo de exercício usando bexigas de festa • Segurando uma bola de borracha na mão, apertá-la por 10 segundos e depois relaxar, para fortalecimento da musculatura flexora do carpo. Executar duas séries para cada lado. Depois, pressionando com a mão a bola contra o antebraço do lado oposto, fazer movimentos circulares para massageamento dos músculos do antebraço por 30 segundos de cada lado. 148 Figura 76 – Massageamento da musculatura do antebraço com uso de uma bolinha de borracha • Com as pernas em extensão e afastadas, flexionar o tronco à frente e manusear uma bexiga fazendo um movimento circular em formato de “oito”, passando a bexiga por entre as pernas, e depois pela lateral externa da perna de um dos lados, retornando por entre as pernas e assim sucessivamente. • Segurando uma fita elástica nas mãos à frente do corpo, com os cotovelos estendidos, afastar as mãos uma da outra até sentir a resistência do elástico e aproximá-las novamente (abdução e adução). Fazer dez repetições com os dois braços simultaneamente e depois mais dez com um braço de cada vez, mantendo o outro à frente do ombro. Para dar uma visão mais completa da ampla possibilidade de utilização de diversos exercícios, pode-se analisar alguns exercícios de diferentes autores. Schantz (1992 apud Silva, 2010, p. 37-38) propõe uma rotina de exercícios para realizar sentado: Primeiro, tenha certeza de que a cadeira suporta seu peso quando você se apoia para trás. Depois, empurre-se para longe da escrivaninha e apoie suas costas no encosto da cadeira. Estenda seus cotovelos, levando os braços acima da cabeça. Junte suas pernas estendidas e erga seus pés acima do chão, apontando para a frente com os dedos dos pés. Arqueie a região lombar. Feche então seus olhos e inspire profundamente três vezes, relaxadamente. 149 Vejamos a sequência proposta por Couto (1998) com o objetivo de distensionamento: Figura 77 – Empurre o cotovelo levemente para trás, de forma a alongar a musculatura da parte posterior dos ombros e parte superior das costas Fonte: Couto (1998, p. 332-333). Figura 78 – Apoie o braço sobre a cabeça e incline lentamente o tronco para o lado, sentindo o alongamento da parte lateral do tronco Fonte: Couto (1998, p. 332-333). Figura 79 – Afaste as mãos por trás do tronco, de forma a alongar a região peitoral Fonte: Couto (1998, p. 332-333). 150 Figura 80 – Incline a cabeça lentamente para o lado e, ao mesmo tempo, puxe o braço na mesma direção a fim de sentir o alongamento da parte lateral do pescoço e do alto dos ombros Fonte: Couto (1998, p. 332-333). Fonte: Couto (1998, p. 332-333). Figura 81 – Lentamente, incline o tronco à frente, sentindo o alongamento da região posterior das coxas. Vá estendendo os joelhos de forma gradual Fonte: Couto (1998, p. 332-333). Figura 82 – Gire lentamente o pescoço e, caso sinta tensão maior em alguma região, mantenha-a por 15 segundos Fonte: Couto (1998, p. 332-333). 151 Figura 83 – Sentado, apoie a palma da mão no assento da cadeira, com o polegar voltado para fora, e incline o braço para trás, sentindo o alongamento da região anterior do antebraço Fonte: Couto (1998, p. 332-333). Figura 84 – Flexione o tronco à frente a fim de alongar a musculatura das costas. Retorne lentamente à posição inicial Fonte: Couto (1998, p. 332-333). Zilli (2002) acentua o que é possível fazer em uma aula usando bexigas de festa: Figura 85 – Em pé, com o quadril encaixado, joelhos semiflexionados e pernas afastadas. Apertar o balão vinte vezes em frente ao peito com os braços estendidos Fonte: Zilli (2002, p. 72-73). Figura 86 – Mesma posição anterior. Apertar o balão vinte vezes com os cotovelos flexionados a 90º em frente ao peito Fonte: Zilli (2002, p. 72-73). 152 Figura 87 – Mesma posição inicial. Apertar o balão vinte vezes acima da cabeça com os braços estendidos Fonte: Zilli (2002, p. 72-73). Figura 88 – Manter a posição inicial e apertar o balão vinte vezes atrás (nas costas) com os braços estendidos Fonte: Zilli (2002, p. 72-73) Figura 89 – Mesma posição inicial, com as palmas das mãos bem coladas ao balão. Girá-lo ao redor da cabeça dez vezes para cada lado Fonte: Zilli (2002, p. 72-73) 153 Martins (2011) destaca uma sequência de exercícios de alongamento dos flexores do carpo e glúteos/lombar: Exercício 5c. Antebraço. Sequência de alongamento na cadeira. Exercício 6a. Glúteos e costas (região lombar). Sequência de alongamento na cadeira. Exercício 6b. Glúteos e costas (região lombar). Sequência de alongamento na cadeira. Exercício 5a. Antebraço. Sequência de alongamento na cadeira. Exercício 5b. Antebraço. Sequência de alongamento na cadeira. Figura 90 Fonte: Martins (2011, p. 126-127). 154 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000necessitando de mais mão de obra, porque a velocidade de produção aumenta cada vez mais. A Revolução Industrial mudou para sempre a organização do trabalho, tornando a produção em larga escala uma forma predominante de beneficiamento. 14 Unidade I A Revolução Industrial iniciou-se na Inglaterra no fim do século XVIII e concentrou o poder da industrialização nas mãos dos detentores de capital, uma vez que o investimento nessa nova tecnologia era alto e não disponível a pequenos produtores. Essa concentração gerou o adensamento das vilas urbanas, caracterizando a mudança do modo de produção artesanal para o trabalho assalariado, inclusive nos demais países da Europa e depois no Brasil. Ainda hoje é possível reconhecer algumas indústrias que nasceram nessa época em diversas regiões de nosso país. Figura 5 – Ainda utilizando o exemplo da cana-de-açúcar, observa-se que a prensa manual ou por animais foi substituída pela máquina a vapor, e posteriormente pelo diesel e pela eletricidade. Com isso, apesar da diminuição do esforço nessa tarefa, a sobrecarga humana passa a ocorrer nas fases de colheita, carregamento, manejo dos tonéis, retirada dos bagaços etc., tornando-se muito mais volumosa e repetitiva Disponível em: https://bit.ly/31YjPBB. Acesso em: 12 nov. 2021. Figura 6 – Maquinário a vapor, utilizado a partir da Revolução Industrial em indústrias têxteis, adaptado depois ao transporte (trens a vapor e automóveis) e a muitas outras aplicações Disponível em: https://bit.ly/3D6RoyZ. Acesso em: 12 nov. 2021. 15 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL As diversas fases da Revolução Industrial compreenderam o início do uso da máquina a vapor, os motores elétricos e à combustão interna, a indústria química fina e, por fim, a robotização e a informatização, junto com os avanços aeroespaciais. Sempre progredindo com as tecnologias de transporte, de comunicação e bélica, a Revolução Industrial transformou a vida das populações e sua relação de consumo e de trabalho. Saiba mais O inigualável Charles Chaplin registrou em um de seus trabalhos a questão da opressão do trabalho e da repetitividade das tarefas sobre a saúde do trabalhador em um filme da época do cinema preto e branco que vale ser assistido: TEMPOS modernos. Dir. Charlie Chaplin. EUA: United Artists, 1936. 87 minutos. Figura 7 – A tecnologia está presente na vida diária das pessoas e no ambiente de trabalho, às vezes com grande carga de repetição Disponível em: https://bit.ly/3naBCh9. Acesso em: 12 nov. 2021. 1.2 Evolução da administração moderna Como consequência da maior e mais complexa organização da produção, evoluíram também as ciências para torná-la mais produtiva. Os princípios da administração e economia modernas foram em grande parte desenvolvidos juntamente com a nova organização da produção. Em um conceito simplificado, podemos dividir a administração em quatro grandes funções: planejamento, organização, direção e controle. Cada uma dessas funções terá como visão norteadora o melhor funcionamento da empresa. Em tempos de pequenas produções, organizações familiares rudimentares e trabalho pouco ordenado, o hábito gerencial de cumprir as necessidades era suficiente para manter o funcionamento da empresa, mas com o maior porte das grandes empresas que foram surgindo, a profissionalização da administração foi vital para garantir a sobrevivência frente à concorrência que se estabeleceu. 16 Unidade I Estudar a evolução do pensamento administrativo vai ajudar o profissional de ginástica laboral a entender as imposições de solicitações existentes na organização e as possibilidades de resolução que se encontram ao alcance dessa atividade de cuidado com a saúde. Limitaremos a nossa análise a alguns aspectos, apenas para promover uma visão inicial sobre o assunto. Na evolução da administração, podemos citar autores importantes, como: Jules Henri Fayol (teoria clássica da administração), Frederick Winslow Taylor (administração científica), Henry Ford (fordismo) e Elton Mayo (relações humanas no trabalho). Fayol (1841-1925), um engenheiro francês, foi um dos pioneiros em definir a administração como forma de condução dos processos na empresa. Ele formulou os 14 princípios conhecidos como a base da administração clássica: • Divisão do trabalho em tarefas específicas para cada indivíduo. • Princípio da autoridade e da responsabilidade devem estar bem definidas. • Disciplina como forma de conduzir os objetivos. • Na unidade de comando cada indivíduo responde a apenas um superior direto. • Na unidade de direção as ações devem buscar um objetivo comum. • Subordinação do interesse particular em favor do interesse comum. • Princípio de remuneração do pessoal. • Centralização. • Hierarquia é uma sequência determinada de autoridades, do primeiro nível até o nível mais inferior. • Princípio da ordem. • Equidade é tratar pessoas com benevolência e justiça no trabalho, mas usar o rigor e a disciplina quando necessários. • Estabilidade pessoal. • Princípio de iniciativa. • Princípio de união do pessoal com espírito de equipe. Para Couto et al. (1998), o fordismo, implementado na década de 1920 e persistindo como modo característico de trabalho por cerca de seis décadas, reuniu fatores que caracterizam sobrecarga ao trabalhador: 17 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL (i) esteira de produção, eliminando a movimentação ativa do trabalhador; (ii) ritmo do trabalho ditado pelo ritmo da esteira, com o tempo para realização da tarefa alocado pelo engenheiro de tempos e métodos; (iii) superespecialização do trabalhador naquela tarefa. Figueiredo e Mont’Alvão (2008) sugerem um quadro-resumo dos principais movimentos históricos da administração, adaptado a seguir com foco nos pontos que podem interessar ao profissional de ginástica laboral: Quadro 1 Período Movimento/autor Principais características Início do século XX Henri Fayol (administração clássica) 14 princípios da administração Disciplina e ordem Administração como planejamento, organização, direção e controle Início do século XX Frederick Taylor (taylorismo) Automatização do homem Tempo ótimo: o ritmo é determinado pela gerência para completar cada tarefa Mecanização na realização do trabalho humano Início do século XX Henry Ford (fordismo) Conceito linha de montagem Ritmo determinado pela esteira O trabalhador não se desloca, as peças são trazidas a ele Basta repetir movimentos determinados e especializados para seu posto de trabalho Fim da década 1920 Elton Mayo (relações humanas no trabalho) Valorização dos fatores psicológicos para a produtividade Necessidades sociais a serem satisfeitas Necessidade de trabalho em grupo Década de 1940 Abraham Maslow (teoria das necessidades) Hierarquia de necessidades Sentido do trabalho relacionado à satisfação das necessidades pessoais Década de 1950 Dr. Armand V. Feigenbaum (controle de qualidade total) Qualidade como percepção do cliente Atingir padrões de qualidade é responsabilidade de todos Década de 1990 Administração participativa Consideração com pessoas e equipamentos Satisfação e necessidades dos envolvidos no trabalho Adaptado de: Figueiredo e Mont’Alvão (2008, p. 34-35). 18 Unidade I Lembrete Estudar a evolução do pensamento administrativo vai ajudar o profissional de ginástica laboral a entender as imposições de solicitações existentes na organização e as possibilidades de resolução que se encontram ao alcance dessa atividade de cuidado com a saúde. 1.3 História da ginástica laboral A ginástica laboral tem seu início relacionado às alterações das condições de trabalho advindas da Revolução Industrial. Uma de suas referências mais antigas é sua realização na Polônia em 1925 (Carvalho, 2007), como uma pausa no trabalho para a execução de exercícios. Há relatos da ginástica laboral no Japão em 1928 (Sampaio; Oliveira, 2008), como forma de ginástica preparatória para diminuir o estresse dos trabalhadores dos correiose promover qualidade de vida a eles (Rimoli apud Ferreira; Santos, 2013). Após alguns anos, há registros na Rússia e na Holanda, que usam exercícios diferenciados para cada necessidade dos trabalhadores (Lima, 2008 apud Ferreira; Santos, 2013). A Rádio Taissô foi uma das manifestações de ginástica coletiva praticada desde o início do século passado no Japão, não só nas empresas, mas também nas escolas e pela população. Havia música tocada em alto-falantes enquanto se repetiam exercícios básicos, movimentando-se todos os segmentos corporais. Pode-se observar em algumas sequências gravadas que há um crescente de mobilização corporal até culminar em algumas repetições de polichinelos, e em seguida exercícios mais calmos para relaxar. No Brasil, a prática foi trazida pelos imigrantes japoneses (Lima, 2008 apud Ferreira; Santos, 2013). Na cidade e no estado de São Paulo, instituiu-se o dia 18 de junho como o Dia da Rádio Taissô para preservar essa cultura. Observação A Rádio Taissô é uma prática instituída em comemoração à posse do Imperador Hirohito, em 1º de novembro de 1928. Hoje conta com 30 milhões de praticantes, e são atribuídos à pratica expansão de produtividade, redução de acidentes e doenças profissionais, aumento de aprovação nas escolas e diminuição de acidentes de trânsito (Ferreira; Santos, 2013). No Brasil, os primeiros relatos de prática da ginástica laboral são em indústrias e no Banco do Brasil, e registra-se no ano de 1969 a realização da ginástica laboral na indústria japonesa Ishikawajima, de construção naval, no Rio de Janeiro (Deutsch apud Ferreira, Santos, 2013). A primeira publicação acadêmica do tema no Brasil foi realizada pela Feevale, em 1978 (Carvalho, 2007). 19 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Hoje a ginástica laboral é um mercado em crescimento, mostrando que as empresas estão tentando melhorar a produtividade e diminuir os problemas de saúde associados ao trabalho. No Brasil, os conselhos federais de Educação Física e de Fisioterapia advogam desenvolvimento da capacitação para que seus profissionais ministrem a ginástica laboral. Antigamente era comum que um trabalhador de uma empresa ficasse responsável por conduzi-la, mas a prática caiu em desuso e ilegalidade com a regulamentação das profissões, caracterizando, atualmente, desvio de função e exercício ilegal da profissão. Paralelamente, a área de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) evolui, e as empresas buscam outras ações complementares à ginástica laboral, com a finalidade de diminuir o estresse físico e psicológico do trabalho. Ações como quick massage, salas de descompressão, sala de jogos, ioga empresarial, academia in company, meditação e outras iniciativas são encontradas, dependendo das necessidades diagnosticadas. Figura 8 – Além da ginástica laboral, as empresas buscam outras estratégias para melhorar a condição física do trabalhador em favor da produtividade – por exemplo, montar uma academia dentro da própria empresa Disponível em: https://bit.ly/3kvK7Bs. Acesso em: 12 nov. 2021. 1.4 Definições e benefícios da ginástica laboral A ginástica laboral é a atividade física específica realizada no horário de trabalho, proporcionada pelo empregador e de prática facultada aos colaboradores, visando melhorias em sua condição física e psicossocial (benefícios individuais), geralmente planejadas para que provoquem benefícios empresariais. Para Lima (2008 apud Figueiredo; Mont’Alvão, 2008), a ginástica laboral é um conjunto de práticas físicas elaboradas a partir da atividade profissional, visando compensar as estruturas mais usadas durante o trabalho e ativar as que não são requeridas. Na visão de Martins (2011, p. 57), a ginástica laboral pode ser considerada uma pausa ativa realizada no ambiente de trabalho, composta de atividades específicas como alongamentos, massagens, atividades lúdicas e exercícios respiratórios, primariamente direcionada para as exigências psicofisiológicas do trabalhador e passível de implantação em qualquer local de trabalho. 20 Unidade I Para realizar uma sessão, pode-se utilizar o próprio espaço de trabalho dos funcionários quando possível, ou fazer um deslocamento pequeno para usar uma área mais apropriada à prática, sem, contudo, necessitar de instalação especializada, como uma quadra ou uma sala de ginástica. Ginástica laboral não é o mesmo que ginástica em academia ou sessão de fisioterapia. Os objetivos são mais específicos, voltados aos trabalhadores e a aspectos de prevenção, e a estratégia deve preservar a possibilidade de retornar à rotina do trabalho logo após a sessão. Para Dishman, O’Neal e Shephard (apud Grande; Silva; Parra, 2014, p. 55), a ginástica laboral é uma intervenção com exercícios físicos específicos para trabalhadores desenvolvida no local de trabalho e que visa melhorar desfechos gerais, como qualidade de vida e ambiente ocupacional, e desfechos específicos, como força muscular e flexibilidade. Normalmente, a procura e a oferta da ginástica laboral visam suprir alguma necessidade identificada pela empresa, que seja alcançável através da diminuição de problemas relacionados às sobrecargas impostas ao trabalhador. A ginástica laboral não pode ter caráter obrigatório. Portanto, os colaboradores da empresa devem ser constantemente conscientizados sobre os benefícios que pode trazer a eles individualmente, para que tenham sua percepção e sua participação incentivadas. Não pode ser oferecida fora do horário de trabalho, para que não configure legalmente que o funcionário está à disposição da empresa, tampouco subtrair o tempo de suas pausas estabelecidas. Pode-se dividir os benefícios da prática da ginástica laboral em dois grupos: os benefícios aos colaboradores (trabalhadores) e à empresa. Lembrete A ginástica laboral tem seu início relacionado às alterações das condições de trabalho advindas da Revolução Industrial. Uma de suas referências mais antigas é sua realização na Polônia em 1925, como uma pausa no trabalho para a realização de exercícios. 1.4.1 Benefícios da ginástica laboral para os colaboradores A ginástica laboral tem sido utilizada para atingir objetivos diversos, em geral atuando em processos fisiológicos ou psicossociais, que beneficiem a saúde do trabalhador. Pode-se compor um quadro com os benefícios mais procurados: 21 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Quadro 2 – Benefícios da ginástica laboral ao trabalhador - Diminuição de dores - Melhor saúde geral - Melhor postura - Melhor qualidade de vida - Melhora na resistência - Menor fadiga - Melhor relacionamento interpessoal - Melhor flexibilidade - Maior felicidade - Diminuição do sedentarismo - Aumento do bem-estar - Melhora na força - Melhor disposição - Melhor condicionamento físico - Diminuição de lesões - Mais ânimo - Melhora da autoestima - Maior satisfação - Melhora no humor - Maior reconhecimento - Diminuição do estresse - Diminuição da ansiedade - Aumento da motivação Pode-se agrupar os benefícios aos trabalhadores listados como benefícios físicos gerais, específicos (ligados ao trabalho) e benefícios psicológicos e sociais. Geralmente, cada um deles está relacionado a condições que acabarão por auxiliar o rendimento do trabalhador e, consequentemente, trazer vantagens às empresas. Os benefícios físicos gerais estão associados à condição de saúde do trabalhador. Entre eles, pode-se citar a sensação de melhor saúde geral e a possibilidade de melhor condicionamento físico, muitas vezes aliada à mudança do comportamento sedentário para uma preocupação maior com atividade física regular e aspectos de saúde. O combate ao sedentarismo não é o foco da ginástica laboral na maioria dos programas, pois não depende de exercícios específicos relacionados ao trabalho, mas sim de uma mudança no comportamento também no tempo fora do trabalho e da empresa, e uma simples sessão de ginástica laboral não é capaz de alterar esse quadro. Dependendo do programa, parte da comunicação pode ser dedicada àsensibilização, orientação e compreensão das mudanças de comportamento benéficas à saúde geral. Os benefícios físicos específicos (ligados à execução do trabalho) são possibilitados conforme as características de cada função, a partir de seu entendimento e verificação das exigências físicas utilizadas. Observação A diminuição de dores nas costas em trabalhadores que possuem sobrecarga notável na região dorsal será buscada através de exercícios de relaxamento, alongamento e às vezes até massageamento. Dessa forma, o efeito da sobrecarga será combatido ou amenizado e haverá menor chance de desconforto, dor, falta ao trabalho ou até afastamento por esse motivo. 22 Unidade I 10% 10% 29% 41% 57% 25% 19% 13% 50% 47% 60% 47% 25% 25% 44% 69% 54% 25% 7% 7% Pescoço Ombros Cotovelos Punhos e mãos Coluna dorsal Coluna lombar Coxas e quadris Joelhos Pernas Tornozelos e pés Se gm en to co rp or al Porcentagem 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% Funcionárias que relataram dor antes da GL Funcionárias que relataram melhora da dor após a GL Figura 9 – Incidência de queixas de dor e desconforto físico em trabalhadores por regiões corporais antes e após a implantação da ginástica laboral, segundo uma pesquisa de Santos et al. (2007) Fonte: Santos et al. (2007, p. 103). Outro exemplo interessante é a postura, que é uma característica de conhecimento e comportamento. Um programa de ginástica laboral pode ser esclarecedor ao trabalhador para conscientizá-lo da importância em assumir uma postura correta ao longo da jornada de trabalho, promovendo menor fadiga pela adequação do uso da musculatura e melhoria ergonômica da posição assumida, diminuindo a chance de dor, as faltas ao trabalho e a frequência ou duração de afastamentos. O aumento de força também é um parâmetro a ser compreendido. O desenvolvimento de força em musculatura muito utilizada é desejável – por exemplo, o fortalecimento dos flexores e extensores do punho e dos dedos em usuários de computadores. Como a musculatura é muito usada em alta repetição e baixa carga, é possível trabalhar o fortalecimento ao longo das sessões de ginástica laboral. 23 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Figura 10 – Altas taxas de repetitividade na digitação expõem os trabalhadores a sobrecargas que devem ser amenizadas e problemas que devem ser prevenidos Disponível em: https://bit.ly/3ks9vYX. Acesso em: 12 nov. 2021. Por outro lado, poder-se-ia presumir que a ginástica laboral contribui para aumento de força em um operário que precisa carregar sacos de 50 kg de cimento em sua jornada de trabalho, mas devido ao grande volume (intensidade e duração) já suportado, o trabalhador terá melhor aproveitamento do tempo de pausa com exercícios de alongamento, compensação e relaxamento. Adicionar mais sobrecarga é indesejável, pois a ginástica laboral não conseguirá produzir aumento de força devido à sua curta duração. Flexibilidade e resistência também contribuem com benefícios físicos específicos ao possibilitar ao organismo uma maior proteção na execução do trabalho durante o dia. Musculaturas utilizadas por longo tempo em contração estática tendem a ser uma grande causa de queixa de dores – por exemplo, a musculatura lombar, que é uma das maiores causas de afastamento do trabalho. Deve-se notar que os benefícios não são automáticos nem estão sempre todos presentes. Dependendo da característica do programa, dos objetivos, das estratégias de trabalho e do comportamento e comprometimento dos próprios participantes, o programa pode apresentar variações nos resultados. Os benefícios psicossociais advindos da prática da ginástica laboral podem ser associados aos benefícios da prática de uma atividade física em grupo e à diminuição do desconforto provocado por dores. Muito citados na literatura e ligados à prática de atividade física regular, podem estar presentes em maior ou menor grau dependendo dos objetivos, da configuração do programa de ginástica laboral, da interação do grupo e de outros fatores. Assim, podemos mencionar: melhor disposição, diminuição do estresse, mais ânimo, maior satisfação, melhora do humor, aumento da autoestima, felicidade, bem-estar e motivação e diminuição da ansiedade. Tabela 1 – Nível de satisfação antes e após o programa de ginástica laboral Nível de satisfação Antes Após Motivação 65% 97% Disposição 58% 95% Humor 72% 95% Fonte: Santos et al. (2007, p. 111). 24 Unidade I Os agentes estressores nas empresas podem ser externos (pressões conjunturais ou diretamente relacionadas ao exercício da função) ou internos (como cobranças internas, competições ou frustrações relacionadas ao trabalho ou colegas etc.), resultando no estresse ocupacional, como insatisfação, desajuste ao trabalho e problemas de relacionamento (com colegas, clientes, chefias e subordinados). Parte dessa carga estressora pode ser aliviada através de atividades do programa de ginástica laboral planejadas para esse objetivo. 1.4.2 Benefícios da ginástica laboral para as empresas Paralelamente aos benefícios gerados ao trabalhador, pode-se ainda enumerar os benefícios para a empresa: Quadro 3 – Possibilidades de benefícios empresariais mediante a ginástica laboral e outros programas de produção de saúde - Diminuição de gastos com saúde - Maior satisfação com o emprego - Diminuição de LER/Dort - Diminuição de afastamentos - Diminuição do tempo de afastamento - Diminuição de estresse no trabalho - Melhor trabalho em equipe - Melhor imagem externa - Aumento da produtividade - Diminuição do absenteísmo - Diminuição do presenteísmo - Menos acidentes - Aumento do lucro - Maior qualidade - Melhor imagem interna - Diminuição de turnover - Diminuição de processos trabalhistas Todas as implicações da prática de ginástica laboral relatadas podem ter impacto positivo na produtividade e lucratividade. Os benefícios às empresas podem ser analisados sob alguns parâmetros. O primeiro poderia ser a produtividade gerada por diminuição do absenteísmo (faltas ao trabalho), diminuição nos afastamentos do trabalho e na duração dos afastamentos, menos acidentes de trabalho, diminuição de ocorrência de LER/Dort (lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho). O próximo fator que se pode analisar é um grupo de benefícios que tem a característica comportamental de melhorar a produtividade e a qualidade, como diminuição do presenteísmo (quando o trabalhador está presente, mas não se concentra no trabalho por estar com algo tirando sua atenção – baixa concentração), melhoria do trabalho em equipe (melhor entrosamento, promovendo melhor resultado), maior satisfação no trabalho, diminuição do turnover (taxa de saída e reposição de funcionários e custos associados de treinamento) por estarem mais satisfeitos no trabalho. A taxa de turnover alta significa altos custos de reposição de mão de obra, assim como uma diminuição do tempo médio de experiência profissional do grupo, repercutindo na qualidade de atendimento ou realização do serviço. Segundo Silva e De Marchi (1997), a instituição de programas de promoção de saúde nas empresas contribui para que os indivíduos passem “a gostar do trabalho [...] e a vestir a camisa da empresa”. 25 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Algumas empresas se beneficiam ainda da imagem interna ou externa com seu investimento em ginástica laboral. Trabalhadores percebem que a entidade cuida da sua saúde, e isso gera uma imagem favorável para instituições que mostram respeito e preocupação (Jonash; Sommerlatte apud Figueiredo; Mont’Alvão, 2008). Já os concorrentes, fornecedores, clientes, público externo em geral (população), profissionais da área, entre outros, irão enxergar a empresa que investe na saúde dos trabalhadores como uma organização diferenciada do ponto de vista social e de qualidade. Assim, essa visão externa torna-se um capital intangível de boas práticas adotadas no mercado. Outra categoria que se pode analisaré a de menor gasto financeiro. Os motivos? Despesas associadas a remuneração dos dias parados (afastamentos), gastos médicos, honorários advocatícios, acordos e indenizações em processos trabalhistas etc. Caso seja alvo de uma ação trabalhista, a empresa poderá alegar que, apesar de ter havido um dano, investe na prevenção através da ginástica laboral, na tentativa de que sua atuação para proporcionar atividades preventivas possa de alguma forma amenizar a gravidade de um caso tão delicado. Ryan et al. (2018) estudaram a economia gerada por um programa de cuidado com a saúde realizado em um hospital com 1.400 trabalhadores na Austrália. Nele, a ação principal era uma sessão diária de 6 minutos no início do turno de trabalho, permitindo que cada trabalhador tivesse um tempo para si, realizando exercícios de alongamento, equilíbrio, fortalecimento, relaxamento, trabalho postural e educação para a saúde, em um ambiente de interação social com outros trabalhadores. Prevenção Trabalhadores sentem-se valorizados pela organização e melhoram sua saúde e sua aptidão física Suporte à saúde na empresa Atividades diárias em grupo durante o período do trabalho Intervenção precoce Alterações identificadas e manejo proativo Reabilitação No local de trabalho, mantém relações pessoais e identifica funções adequadas Figura 11 – Plano conceitual do programa estudado por Ryan et al. (2018). Em torno do triângulo central, representando o programa diário de exercícios e educação, acoplam-se a prevenção e a valorização da saúde, as melhoras no reconhecimento precoce e no manejo do problema e um trabalho de reabilitação mantendo as relações no próprio ambiente Fonte: Ryan et al. (2018, p. 58). 26 Unidade I Os principais resultados do estudo foram a diminuição de 30% em reivindicações por lesões, 57,5% de diminuição em gastos e tratamentos médicos e 68% de redução nos dias perdidos até o retorno ao trabalho, sendo o tratamento realizado com equipe e em ambiente conhecido um fator adicional de acolhimento e manutenção das relações sociais durante esse período. 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Período Pré 3 Pré 2 Pré 1 Pós 1 Pós 2 Pós 3 Nú m er o de re ivi nd ica çõ es Figura 12 – Número total de reivindicações de compensação por problemas de saúde relacionados ao trabalho nos períodos pré e pós-implantação do programa de cuidado com a saúde Fonte: Ryan et al. (2018, p. 59). Ainda no estudo de Ryan et al. (2018), notou-se que o desenvolvimento do conhecimento corporal, a sensibilização dos trabalhadores e a identificação precoce de problemas possibilitada por esses fatores fizeram crescer 45% o número de incidentes reportados ou indicadores de problemas de saúde, mas foi totalizada uma queda real de 46% nos custos de gastos com saúde considerados. 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Período Pré 3 Pré 2 Pré 1 Pós 1 Pós 2 Di as d e tra ba lh o pe rd id os Figura 13 – Total anual de dias de trabalho perdidos por problemas de saúde no período pré e pós-implantação do programa de cuidado com a saúde Fonte: Ryan et al. (2018, p. 60). 27 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL A ginástica laboral torna-se, como parte do esforço para a saúde no trabalho e quando bem implementada, um investimento, e não apenas um gasto. De fato, pode reverter o capital investido em ganhos para as empresas, em um círculo virtuoso, através da geração de benefícios de saúde a seus trabalhadores. Conforme Figueiredo e Mont’Alvão (2008), um programa de qualidade de vida instituído por uma empresa de Washington (EUA) forneceu prêmios a 52% dos 2.700 trabalhadores participantes, de US$ 250 a US$ 300 por ano. Então, obteve o retorno de US$ 3.00 para cada US$ 1.00 investido nos nove anos do levantamento. Alguns estudos mostram que o impacto financeiro da ginástica laboral pode ser medido, como o que destacamos, no qual a empresa verificou uma economia de US$ 6.00 para cada dólar investido, em redução de gastos com saúde e de afastamentos por doenças e em aumento de produtividade (Carvalho, 2007). Para Kallas e Batista (2009), as sessões de ginástica laboral podem ser uma ferramenta para propagar importantes conceitos sobre saúde, assumindo um papel não só compensatório, mas de contribuição para mudança de comportamentos e melhoria da qualidade de vida. 2 CARACTERÍSTICAS E EXIGÊNCIAS TÍPICAS DO TRABALHO O processo de evolução pelo qual passou (e passa) a relação homem versus trabalho gera novas situações, exigindo adaptações e soluções. No entanto, muitas das antigas solicitações do trabalho não deixaram de existir, apenas se tornaram menos frequentes. Para analisar as exigências típicas envolvidas nesses casos, faz-se uma divisão didática, categorizando-se os sujeitos como trabalhadores típicos de produção, por um lado, e, no outro extremo, típicos administrativos. Deve-se lembrar que as diferentes funções exercidas pelos indivíduos não estão necessariamente nos dois extremos distintos, mas sim em uma gradual mescla entre esses extremos, que são os funcionários administrativos e os da produção. O profissional de ginástica laboral deve ter essa visão clara e, a partir dela, assimilar as reais solicitações encontradas em cada ambiente para entender as sobrecargas sofridas e programar as atividades a serem propostas. 2.1 Tipificação do trabalho braçal, suas características e demandas O trabalhador braçal também é conhecido como trabalhador de chão de fábrica, ou seja, geralmente envolvido em situação de produção, manejo, transporte e beneficiamento físico. A principal característica desse ofício é o desgaste físico envolvido em sua realização. Tipicamente, essa categoria de trabalho requer o uso de grandes grupos musculares para fazer as tarefas. Movimentos que envolvem múltiplas articulações, com grande dispêndio de energia, são frequentes. São amplas as possibilidades de qualificação dessa realidade. Serão discutidas a seguir algumas das situações de trabalho do ponto de vista das exigências físicas e cognitivas/psicológicas. 28 Unidade I 2.1.1 Atividades que requerem grande aplicação de força Força muscular é necessária em muitas funções laborais, e é definida como a capacidade de um músculo ou grupo muscular gerar torque em uma articulação específica (Haeffner et al. apud Eichinger et al., 2016). Segundo os autores, a dor lombar afeta de 70 a 85% dos adultos em algum momento da vida, e pode ocorrer devido às atividades laborais, com sobrecarga de força, além de por outros fatores, como a permanência em posição estática e a repetição de movimentos. A função de um pedreiro pode ser muito ilustrativa nessa análise. É grande o envolvimento físico nas tarefas a serem cumpridas: carregar sacos de areia e cimento, preparar a massa, transportar a massa até o local etc. A maior parte dessas ações motoras exige alta mobilização muscular, o que fisiologicamente irá requerer compensações, que poderão ser atendidas por pausas e pelo programa de ginástica laboral. Funções típicas com essa característica podem ser citadas, como carregadores, estivadores, trabalhadores em indústrias etc. Uma subdivisão dessa análise pode ser feita quando, além de grande intensidade, a força é aplicada subitamente, muitas vezes em situações de necessidade imediata. Por exemplo, uma peça grande de construção sendo içada por um guindaste, ao ser colocada no solo, sofre uma movimentação pendular, que precisa ser desacelerada pelos homens encarregados de auxiliar a colocação da carga no chão, sob o risco de lesões caso haja problemas na operação. Segundo Dul e Weerdmeester (2012), movimentos bruscos geram picos de tensão, que podem produzir dores, e pausas são necessárias para recuperação quando a tarefa exceder 250 W de energia gasta (o metabolismo basal equivale a cerca de 80 W (1 W = 0,06 Kj/min = 0,0143 kcal/min). Para os autores, o peso máximo para alguém levantar deveria ser de 23 kg, em condições ideais, que seriam a carga próximado corpo, com as duas mãos por meio de alças ou furos laterais, sem torcer o tronco, permitindo escolher uma boa postura e sem exceder um levantamento por minuto e no máximo uma hora de duração, ofertando em seguida 120% de tempo de repouso em relação ao tempo gasto no levantamento. Figura 14 – Movimentos pendulares da carga no guindaste exigem dos trabalhadores não apenas a aplicação de força, mas que tais ações sejam realizadas em um curto espaço de tempo (alta potência) para estabilizar a colocação da carga no solo. Essa característica é importante para o andamento da tarefa do trabalhador braçal e até para a segurança dele Disponível em: https://bit.ly/3DbBnbb. Acesso em: 12 nov. 2021. 29 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 2.1.2 Movimentos repetitivos no trabalho braçal Utilizando-se novamente o ofício de um pedreiro, o trabalho braçal pode ser caracterizado quando este profissional lida com cargas menores, mas repetidamente, executando movimentos. Assentar a massa em uma parede pode ser um bom exemplo de repetição e força. Vejamos a tarefa de um dos braços: pegar a massa com a colher, elevando-a sempre com o mesmo braço, e fazendo movimentos de vaivém na parede, com ajustes no ombro, cotovelo e punho, além da força de preensão da mão, para que o peso não seja derrubado. Essa tarefa requer certos movimentos repetidos de flexão e abdução do ombro, flexão e extensão do cotovelo, pronação e supinação do antebraço, flexão e extensão do punho, sempre exercendo força na musculatura flexora dos dedos para manter o peso da massa em sua mão. Outro caso típico nessa categoria de solicitação é o de um montador de móveis. Em uma conta simples, se um armário a ser montado utilizar 50 parafusos, entre a montagem das suas paredes, prateleiras, gavetas, portas etc., e se cada parafuso exigir cerca de 15 movimentos de supinação e pronação do antebraço, enquanto o montador ainda realiza força de preensão na mão, para que a chave de fendas não “escorregue” entre seus dedos, são necessários cerca de 750 movimentos repetidos de supinação e pronação do antebraço para montá-lo, sem contar as demais solicitações, como carregar as partes, encaixá-las e parafusá-las. Mesmo com o uso de parafusadeiras automáticas, haverá exigências musculares e articulares significativas, pela ferramenta ter um peso considerável, por ter que ser segurada firmemente, por passar a existir algum nível de vibração, ou mesmo pelo fato de que, ao usar um artefato que facilita o trabalho ao diminuir o tempo de montagem de um móvel, é muito possível que se passe a exigir do trabalhador a montagem de dois ou mais móveis no tempo que for economizado pelo uso da ferramenta. Ao longo de muitas horas de trabalho, essas solicitações de repetição de movimentos com alguma aplicação de força vão causar desgaste muscular e articular significativo. Muitos outros exemplos podem ser citados, como trabalhadores em linha de produção, auxiliares de limpeza e padeiros. Figura 15 – Muitas profissões exigem o emprego de força moderada em repetições durante muitas horas de trabalho. Essa disposição é um dos alvos de programas de ginástica laboral Disponível em: https://bit.ly/3CdiIds. Acesso em: 12 nov. 2021. 30 Unidade I 2.1.3 Desproporção entre exigências unilaterais Essa característica do trabalho braçal diz respeito ao desequilíbrio entre os lados do corpo. Muitas funções são executadas predominantemente apenas de um lado, devido à posição assumida, tipo de ferramenta, destreza do trabalhador, segurança etc. Não se deve abordar nessa análise apenas o uso de um dos lados do corpo, que ficará mais forte ou mais fatigado, fato já tratado nos itens anteriores, mas também o desequilíbrio que pode ser gerado no corpo humano. Quando o desequilíbrio de utilização é grande, poderá causar dores que a médio prazo irão comprometer o rendimento no trabalho e a vida social. Com essa solicitação permanente, ao usar sempre os mesmos grupos musculares unilateralmente, estes serão exigidos desproporcionalmente, afetando muitas vezes o alinhamento da coluna vertebral. Figura 16 – Quando o esforço físico é repetidamente muito maior de um lado do que do outro, gera um desequilíbrio muscular com o passar do tempo de trabalho, que pode ocasionar comprometimento muscular e até desvios posturais Disponível em: https://bit.ly/3wIezNu. Acesso em: 12 nov. 2021. Ainda considerando o exemplo do pedreiro, os gestos citados de assentamento da massa na parede em geral são unilaterais, usando o braço dominante, seja na característica de força, para que suporte a necessidade de sustentar o peso, seja no aspecto da habilidade e destreza, quando se exige um acabamento uniforme. Entre esportistas profissionais, é possível encontrar tais desequilíbrios, e o seu treinamento é planejado para que malefícios não sejam sentidos. É notável a carga diferenciada de trabalho entre o braço dominante e o outro braço de um tenista. Modernamente, a ciência já mostrou o valor de um trabalho equilibrado. 31 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Analisando novamente o trabalhador braçal comum, pode-se citar outras funções que possuem a característica de força unilateral importante, como um caixa de supermercado, que transpõe os produtos de um lado para o outro, um trabalhador de limpeza, ao limpar as janelas ou varrer o piso, e um repositor de estoques, que usa uma das mãos para retirar o produto da caixa e a outra mão para erguer o produto até a prateleira. A) B) Figura 17 – Muitos equipamentos são utilizados forçando um lado do corpo, seja pelo posicionamento mais favorável (painel lateral), seja pelo manuseio unilateral (materiais de limpeza) 2.1.4 Muito tempo na posição em pé Trabalhadores de produção muitas vezes realizam funções nas quais o deslocamento é importante, como carregadores, varredores e entregadores, ao passo que outras funções são executadas na posição em pé com membros inferiores estáticos, enquanto os membros superiores fazem alguma tarefa ou há pequenos deslocamentos para pegar uma peça ou ajustar a posição do corpo frente a uma peça. Essa necessidade pode ter desdobramentos diversos: no caso de se trabalhar em pé parado, haverá uma sobrecarga na musculatura dorsal, especialmente lombar, e uma possível diminuição de retorno venoso dos membros inferiores, pela falta de ação muscular na posição parada. Se o trabalho for realizado em pé e em movimento, haverá grande demanda energética e fadiga na musculatura de membros inferiores devido à grande distância percorrida. Para Dul e Weerdmeester (2012), é essencial intercalar a posição em pé com a posição sentada ou andando para aliviar a sobrecarga. 32 Unidade I 2.1.5 Trabalho em posições forçadas Outra característica presente em diversas funções consideradas como trabalho braçal é a possibilidade de o trabalho ser realizado em posição não anatômica. Figura 18 – O trabalho em posição forçada, mesmo aquele em que não seja necessário executar força, causará uma demanda estática importante para ser compensada por um programa de ginástica laboral Disponível em: https://bit.ly/3c4W0K2. Acesso em: 12 nov. 2021. Certas tarefas obrigam o trabalhador a assumir uma posição forçada, muitas vezes necessária para conseguir alcançar uma peça, ou encontrar uma posição em que seja possível aplicar força etc. Quando se necessita assumir uma posição pouco natural, a musculatura precisa sustentar o peso corporal, ao contrário de uma postura equilibrada. Dessa forma, haverá um desgaste por conta da força empregada para assumir essa posição e, se for preciso manter tal postura por muito tempo, haverá uma fadiga por causa dessa solicitação. É importante considerar a variação de posturas, e o estresse de permanecer com o tronco inclinado pode gerar dores no pescoço e nas costas (Dul; Weerdmeester, 2012). O programa de ginástica laboral deve considerar esse aspecto e providenciar a devida compensação ou relaxamento das estruturas envolvidas. Figura 19 – Parececômodo trabalhar deitado, mas essa posição de abdução dos braços forçará o mecânico a realizar trabalho muscular para adução dos braços por tempo prolongado, fatigando a musculatura peitoral, tríceps e deltoides. Se houver necessidade de elevar a cabeça do chão, para poder enxergar o acesso às peças, ainda mais desgastante será a posição Disponível em: https://bit.ly/3wH70H4. Acesso em: 12 nov. 2021. 33 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL 2.1.6 Outras características do trabalho braçal Além das características citadas, é possível identificar outros fatores típicos de trabalhadores braçais. Assim, o profissional de ginástica laboral deve estar atento a quais aspectos são os mais importantes para aquele grupo para o qual pretende montar o programa, e então será possível atender às suas necessidades. Deve-se, ainda, estar preparado para verificar as exceções. Alguns trabalhos, apesar de serem realizados na linha de produção, em vez de requererem força, podem se assemelhar a trabalhos de controle, portanto, em muito se aproximando das características do trabalho administrativo, que serão analisadas a seguir. Figura 20 – Apesar de estar na linha de produção, este operário tem característica de trabalhador administrativo, observando um painel e pressionando os controles. É importante considerar, ainda, a posição do trabalho em pé e a presença de ruídos e vibrações Disponível em: https://bit.ly/30cdQIp. Acesso em: 12 nov. 2021. 2.2 Tipificação do trabalho administrativo, suas características e demandas No outro extremo dos aspectos típicos de trabalho está o chamado trabalho administrativo. Também há uma série de fatores que o destacam para poder identificar quais solicitações são as mais comuns nesse tipo de função. O trabalhador administrativo é definido como aquele que cumpre tarefas ligadas a decisões ou procedimentos diversos com mais atuação cognitiva do que uso de grandes grupos musculares. Logicamente, ele utilizará movimentos sempre que necessário, pois muitas tarefas exigem algum tipo de interação, como falar ao telefone, escrever, digitar, bem como pequenos deslocamentos, às vezes apresentações em reuniões ou atividades em grupo. Entretanto, esses movimentos são pouco significativos em relação ao dispêndio energético, sendo que muitos trabalhadores administrativos passam a maior parte do tempo sentados. 34 Unidade I Figura 21 – O trabalho administrativo é marcado pelo intenso envolvimento cognitivo, com pouca ação muscular. Escrita, digitação, comunicação e discussões são algumas das principais atividades exercidas Disponível em: https://bit.ly/31YsJPx. Acesso em: 12 nov. 2021. Acentuaremos agora alguns dos atributos típicos do trabalho administrativo. 2.2.1 Trabalho sentado e sedentarismo Muitas das funções do trabalho administrativo podem ser realizadas na posição sentada, o que, de certo modo, é interessante para evitar o cansaço provocado pela posição em pé, típica do grupo de trabalhadores anteriormente estudado. Todavia, muitas horas por dia de jornada de trabalho na posição sentada também não trazem benefícios ao organismo, podendo gerar, além da condição sistêmica de sedentarismo, problemas relacionados à posição assumida. Um traço importante do trabalho sentado é a diminuição da circulação sanguínea nos membros inferiores. Outra influência da posição sentada é a sobrecarga da coluna, especialmente na região lombar, e muitas vezes na região cervical, podendo ser associada a problemas ergonômicos, que serão analisados adiante. Um programa de ginástica laboral pode abordar essas objeções, ao realizar atividades para membros inferiores e coluna. Adicionalmente aos prejuízos à saúde causados por muito tempo na posição sentada, não se pode deixar de considerar que muitos trabalhadores não se sentam corretamente, acarretando problemas ainda maiores. Assim, a integração da ginástica laboral com a ergonomia poderá trazer resultados favoráveis para os trabalhadores. 35 ERGONOMIA E GINÁSTICA LABORAL Figura 22 – Trabalhar sentado também gera sobrecarga física na coluna e nos membros inferiores, e isso deve ser compensado para não causar prejuízos físicos permanentes Disponível em: https://bit.ly/3oiXxBY. Acesso em: 12 nov. 2021. O sedentarismo não pode ser totalmente combatido em uma sessão de ginástica laboral do ponto de vista fisiológico, pois, pela duração curta que a sessão possui, não será capaz de reverter o quadro. Por isso, será visto mais adiante que um dos componentes do programa pode ser educacional, complementando o pouco tempo de sessão com o incentivo à mudança de hábitos em outros horários do dia. 2.2.2 Movimentos repetitivos Uma das características mais presentes e típicas do trabalhador administrativo é a realização de movimentos repetitivos de pequenos grupos musculares, como na escrita ou na digitação. Movimentos repetitivos diversos, como escrita manual, uso constante de carimbos, mouse, calculadora, manuseio de botões ou painéis, são a demonstração da presença de repetições na rotina. Sem dúvida, são pontos de atenção no estudo das funções executadas pelo trabalhador, mesmo com baixa força envolvida. A repetição deve ser considerada, e o profissional de ginástica laboral deve observar em quais condições o trabalhador realiza os movimentos, bem como sua intensidade e frequência. Assim, terá a informação da relevância do movimento em relação ao desgaste do trabalhador, bem como das necessidades a serem consideradas para o planejamento do programa de ginástica laboral. A digitação, em especial, tornou-se uma grande preocupação das empresas, pela sobrecarga na musculatura flexora e extensora dos dedos e estruturas anatômicas envolvidas. Trata-se de uma demanda muito importante, típica de trabalhadores administrativos, e sua relevância será verificada na Norma Regulamentadora 17 (NR 17), que dispõe especificamente sobre este tópico. Mobile User 36 Unidade I 2.2.3 Estresse e sobrecargas diversas O setor administrativo possui uma dinâmica que, muitas vezes, pode ser considerada demasiadamente estressora. Realização de muitas atividades ao mesmo tempo, cobrança por prazos, hierarquia rígida, relações interpessoais não favoráveis, entre outras causas, podem fazer com que o indivíduo trabalhe em condição de estresse emocional constante. O estresse ocasional faz parte de diversas funções administrativas, mas quando os agentes estressores são permanentes os prejuízos aos trabalhadores são consideráveis. Em geral, as empresas reconhecem tal carga negativa e adotam a ginástica laboral como forma de combater parte das causas de estresse. A responsabilidade assumida no trabalho administrativo pode ser muito estressora, e a concentração de responsabilidades também se torna um fator estressante muito grave, chegando a prejudicar as relações interpessoais no trabalho. Figura 23 – Trabalhadores do setor administrativo lidam com uma série de fatores estressores típicos da sua atuação Disponível em: https://bit.ly/3DdFvHF. Acesso em: 12 nov. 2021. Ao finalizar a análise das características dos trabalhadores da produção e da administração, deve-se lembrar que esses mundos extremos não são isolados. Muitos trabalhadores administrativos, por exemplo, deparam-se com a tarefa de ter que “transportar” os documentos burocráticos. Carregar os documentos remete a um traço do trabalhador braçal, apesar de estar em um ambiente administrativo. Da mesma forma, um operário de uma linha de produção pode passar parte do tempo conduzindo uma máquina ou computador que controla o processo. Ele está exercendo uma função tipicamente administrativa, embora trabalhe diretamente no chão de fábrica. Assim, o profissional de ginástica laboral deve ter a clareza para analisar as funções desempenhadas em cada departamento, para poder conhecer as principais demandas do trabalho e programar a melhor forma de ação. 3 ERGONOMIA A ergonomia é uma valiosa ferramenta para o profissional de ginástica