Prévia do material em texto
Bioquímica renal Generalidades - Insuficiência renal só aparece laboratorialmente com lesão em 75% dos néfrons - Pode ser aguda ou crônica - Importante identificar o segmento em que ocorre - O melhor método é o TGF + histórico, bioquímico, urinálise, exame de imagem… - Caso os néfrons remanescentes não compensem o dano = evidências laboratoriais - EX: na glomerulonefrite, pode-se evidenciar perda de albumina no ultrafiltrado, indicando que o glomérulo não está funcional Metabólito Normal Falha Uréia e creatinina Excreção Acúmulo - Azotemia Água Equilíbrio Poliúria, anúria ou oligúria Fósforo Excreção Hiperfosfatemia NaCl Conservação Hiponatremia e hipocloremia Potássio Excreção Hipercalemia Cálcio Conservação Hipocalcemia Ácido-base Equilíbrio Acidose ou alcalose Albumina Conservação Proteinúria, hipoalbuminemia e ascite Isostenúria (urina diluída): ocorre com 66% dos néfrons comprometidos Azotemia: ocorre com 75% dos néfrons comprometidos Introdução: - TGF pode ser estimada pela depuração de creatinina endógena, visto que é 100% excretada no rim - Não se mede TGF diretamente No lugar se dosa: uréia, creatinina, fósforo e cálcio + faz urinálise - TGF baixa = insuficiência renal, aumento de UR e CR - Não é possível prever reversibilidade - Túbulos fazem hipertrofia para fazer compensação EX: creatinina normal é 0,5, caso suba para 1,0 pode-se pensar que 50% dos néfrons estão comprometidos - Porém, esse aumento não seria detectado se os valores de CR estão na referência Caso CR aumente superior à referência, por exemplo dobrando seu valor, infere-se uma perda de 50% da massa renal remanescente Creatinina é mais confiável para TGF que a uréia: velocidade de produção e excreção constantes, metabolização única no rim Uréia: influência de fatores extrarrenais e é reabsorvida no filtrado glomerular, a absorção varia com a hidratação - Aumenta no animal desidratado - Depuração de CR: quando se suspeita de doença renal sem aumento da CR e UR Depuração de CR baixa: após lesão renal aguda, CR normal mas lesões como a fibrose persistem - Investigar em pacientes não azotêmicos, mas que tenham poliúria, polidipsia e urina diluída Uréia e creatinina Sistema urinário precisa excretar ureia e creatinina Uremia: aumento no nível de ureia e creatinina + sinais clínicos Azotemia: aumento no nível de uréia e creatinina - Pré-renal: hipovolemia por desidratação, choque… - Renal: lesões no néfron, interstício, pelve renal ou vasos - Pós-renal: obstrução em qualquer lugar após o néfron ou ruptura de estruturas Correlacionar com densidade específica urinária: anúria, oligúria ou poliúria - Azotemia + urina concentrada = pré-renal - Azotemia + urina não concentrada = renal - Pós-renal: concentração depende da causa Estadiamento de azotemia: - Leve: 1,5 a 2,0 em cães e 1,6 a 3,0 em gatos - Moderada: 2,0 a 5,0 em cães e 3,0 a 5,0 em gatos - Grave: superior a 5,0 em ambos Sobre a ureia: Ureia = amônia + bicarbonato no fígado - Diminui na insuficiência hepática ou shunt portossistêmico 40% excretado - Menos fluxo = mais reabsorção EX: desidratação - Aumenta desproporcional à creatinina - Em ruminantes: estase ruminal e sangramento gastrointestinal Sobre a creatinina: - Creatinina = creatina e fosfato de creatina - Falha no suprimento sanguíneo renal, falha dos rins ou na eliminação da urina aumentam CR e UR Fatores não renais que afetam CR e UR - Desidratação (hipovolemia): a uréia aumenta antes! - Hemorragia gastrointestinal: ureia aumenta sem aumento de creatinina - Cetose: creatinina aumenta - Refeições com alta carga de proteína: aumento de ureia pós-prandial sem levar a azotemia - princípio das dietas renais - Excesso de catabolismo muscular (febre, inanição): aumento de ureia sem azotemia Azotemia pré-renal - Desidratação é a causa mais comum: aumento de UR e CR (primeiro UR) e urina concentrada - Ademais o volume urinário diminui, o VG e concentração de albumina aumentam Diminui a produção urinária (oligúria, anúria) para conservar o volume plasmático - DEU aumenta - Exceções que impedem a concentração da urina: diabetes insípido primário e secundário, hipercalcemia, hipoadrenocorticismo, piometra e perda da tonicidade medular, interferência na ação do ADH (cálcio) Azotemia renal - Qualquer doença que gere dano maior que 75% nos néfrons, reduzindo a TGF a 25% - Redução na excreção de UR e CR Lesão em uma parte do néfron compromete as demais - Proteínas perdidas em doença glomerular causam lesões tubulares por toxicidade direta Insuficiência renal aguda (IRA): tende a oligúria ou anúria Insuficiência renal crônica (IRC): tende a poliúria Ambos com urina isostenúrica ou hipostenúrica - IRA é reversível e IRC é irreversível - IRA: animal com bom escore corporal, depressão, letargia, queda ou ausência no volume urinário, albumina normal, potássio alta Causa mais comum é nefrose (necrose tubular) por nefrotoxinas: isostenúria, produção de cilíndros, proteinúria e glicosúria - IRC: resulta de lesão glomerular, nefrite intersticial crônica, pielonefrite, nefropatia familiar progressiva, cálculos bilaterais Observa-se perda de peso, letargia, poliúria e polidipsia, anemia arregenerativa, hipoalbuminemia, hipocalcemia e hipocalemia Azotemia pós-renal - Causada por qualquer obstrução ou ruptura no sistema urinário inferior - Azotemia por não conseguir excretar UR e CR enquanto há produção ou reabsorção pelo abdome em caso de ruptura, também a hipercalemia Mais comum em machos pela anatomia da uretra - Urinálise: avermelhada, com eritrócitos Concentração urinária - Urina concentrada indica reabsorção de água, enquanto diluída indica perda de água - Ideal: um terço da massa renal funcionante, ADH funcionante, hidratação adequada - Fatores para alterações: lesão em dois terços dos rins, queda na produção do ADH, excesso de glicocorticóides… Interpretada associada à hidratação do paciente. EX: urina diluída é normal em pacientes com hiper-hidratação Isostenúria não é normal em animais desidratados sugere lesão se acompanhada de azotemia Mecanismo: reabsorção de solutos e água OBS: filtrado = plasma - albumina Concentrações: - Cão: 1,020 a 1,045 - Gato: 1,020 a 1,050 Isostenúria: 1,007 a 1,013 em ambos Doenças glomerulares são associadas a urina diluída, uma vez que 90% do suprimento vascular dos túbulos passam pelos capilares, logo doença glomerular avançada pode comprometer função tubular - Doenças intersticiais também são associadas a baixa DEU por adjacência Não se usa fita reagente para avaliar DEU - Uso do refratômetro - Partículas como muco, cristais e células não afetam DEU por não se dissolverem Urinálise Detecção precoce de doenças: - Doença glomerular: proteinúria relacionada com hipoalbuminemia - Doença renal geriátrica: incapacidade de concentrar urina - Hematúria: carcinoma de células transicionais Métodos para coleta: - Micção espontânea: contaminação por células como epiteliais e leucócitos e bactérias pelo trato inferior - Cateterização: pode induzir pequenas hemorragias e raspar células epiteliais da uretra - Cistocentese: boa para cultura, induz leve hemorragia Armazenamento: ideal com menos de meia hora, pode refrigerar e depois reaquecer Volume esperado: - Cães: 20 a 40 ml por kg em um dia - Gatos: 10 a 20 ml por kg em um dia Parâmetros avaliados Cor e turbidez: - Normal: amarela e límpida - Concentrada fica âmbar e diluída fica amarelo-claro - Vermelha e marrom: hematúria, hemoglobinúria e mioglobinúria - Turbidez: causada por sólidos em suspensão como cristais, muco, cilindros… Hemoglobinemia e mioglobinemia são pré-glomerulares, pós-glomerular é hematúria Tiras reagentes medem: - Glicose, cetonas, sangue, bilirrubina, urobilinogênio, pH, leucócitos, nitritos e proteína pH: - Em cães e gatos varia deneutro a ácido, em herbívoros tende a alcalino - É reflexo do pH plasmático e gases sanguíneos, podendo também ser comparado ao bicarbonato - Em cães, acidose associada a urina alcalina indica que o rim está incapaz de acidificar a urina e aumentar o pH do sangue - Bactérias produtoras de urease podem alcalinizar a urina Proteína: - Detectam melhor albumina, mioglobina e hemoglobina - Hemorragia com ou sem processo inflamatório, a hemoglobina reage com hemácias de proteína (como ocorre na cistite) - Observar e correlacionar com a presença de sangue - Urina rosa ou vermelha = positividade na proteína pela presença de eritrócitos - Hematúria só por microscopia = proteinúria verdadeira Sangue oculto: - Oxidação da enzima como ferro prova presença de sangue, entretanto isso também ocorre com hemoglobina livre e mioglobina - Detecta grupo heme Glicose: - Não deve existir na urina - Correlacionar com glicemia, pois altos níveis de glicose podem exceder a capacidade do TCP - Hiperglicemia transitória = estresse, hiperadrenocorticismo, uso de corticosteróides - Caso não haja hiperglicemia sérica = falha na absorção pelos túbulos (nefrose, lesão tubular…) Cetonas: - Não devem estar presente na urina - Muitas vezes secundária a cetonemia (detectam o acetoacetato) - Catabolismo lipídico, pouco carboidrato na dieta, caquexia, inanição, toxemia da prenhez, diabetes melito, vacas de alta produção leiteira Bilirrubina: - Normal em cães quando em pouca quantidade - Indica doença hepática (colestase) e hemólise - Sensível à luz! - Detecta a bilirrubina CONJUGADA! Leucócitos: análise generalista, melhor avaliação na microscopia Microscopia: leitura em campo de pequeno aumento Eritrócitos: mais de 5 no CGA já indica hematúria - Baixa densidade pode levar a lise e alta a crenação - Cistocentese, cateterização, cálculo, atropelamento, obstrução, câncer, biópsia renal ou de bexiga, infecções, estro, nefrose, parasitismo e coagulopatias - Cilindros indicam hemorragia tubular renal Leucócitos: mais de 5 no CGA é anormal e indica piúria - Lise pode ocorrer em urinas hipotônicas e alcalinas - Micção espontânea: inflamação em qualquer local do sistema urogenital - Cistocentese: inflamação na bexiga ou rins (há refluxo em cães com prostatite) - Cilindros leucocitários: pielonefrite Células epiteliais: - Células escamosas (uretra, genitália e pele), transicionais (bexiga), renais (túbulos) ou neoplásicas Outros achados: bactérias (a partir da uretra, confirmar por cultura), leveduras e fungos, parasitas, debris (espermatozóides), gotas de lipídios (gatos) Cilindros: - Moldes do lúmen dos túbulos formados por mucoproteína secretada pelas células tubulares, pode conter células, lipídios e debris - Alta quantidade indica doença tubular - Formatos na alça de henle, túbulos distal e coletor Classificações: - Hialinos: indicam doenças glomerulares ou proteinúria pré-glomerular (albumina) - Granulosos: células epiteliais e mucoproteína, necrose, pielonefrite, infarto… - Céreos: indicam cronicidade e doença em progresso - Celulares: hemorragia ou pielonefrite - Gordurosos: degeneração tubular, diabetes mellitus, vistos em gatos - Hemoglobina e mioglobina: hemólise ou rabdomiólise Cristais - tipos e causas: No geral, se formam quando a urina está supersaturada ou com pH alterado, podem gerar obstrução - Biurato de amônio: insuficiência hepática, shunts, urina ácida - Bilirrubina: bilirrubinemia e bilirrubinuria - Carbonato de cálcio: oxalato de cálcio mono-hidratado - Oxalato de cálcio di-hidratado: hipercalcemia e hipercalciúria, hiperparatireoidismo e hipercalcemia idiopática - Oxalato de cálcio não hidratado: intoxicação por etilenoglicol e hipercalcemia, intoxicação por plantas - Fosfato de cálcio: urina alcalina - Fosfato triplo ou estruvita: urina alcalina, bactérias produtoras de ureases Bioquímica hepática Doença hepática ou insuficiência hepática: - Doença hepática: qualquer lesão nos hepatócitos ou colestase. EX: hipóxia, intoxicação, inflamação, traumatismo mecânico, obstrução biliar… - Insuficiência hepática: insuficiência em depurar o sangue das substâncias normalmente excretadas pelo fígado e falha na produção hepática Doença hepática pode levar à insuficiência quando há perda de 70 a 80% da massa funcional Enzimologia Enzimas de extravasamento: lesões celulares alteram a membrana das células permitindo a passagem de enzimas para o meio extracelular e sangue - Aumento detectado nas primeiras horas pós-lesão Enzimas de indução: aumento da produção de uma enzima além do normal, resultando em maior liberação e atividade sérica - Demoram mais para serem detectadas - Lesões de membrana menos agudas levam a liberação de enzimas de indução, é o que ocorre com FA e GGT na colestase Meia-vida: atividade, degradação e excreção determinam o tempo durante o qual a atividade da enzima pode ser detectada Especificidade tecidual: importante para se pensar em locais de lesão, deve-se considerar tecidos de predileção e de origem Lesão em hepatócitos Alanina aminotransferase (ALT): - Enzima de extravasamento, presente nos hepatócitos de cães e gatos - Não é 100% hepato específica: lesão muscular pode aumentar, visto que a massa muscular é maior que a massa hepática. EX: necrose ou lesão Importante pedir a creatinoquinase (CK) - Aumento não indica causa nem o tipo da lesão Equinos e ruminantes: concentração baixa nos hepatócitos, não é tão confiável Aumento de ALT em cães e gatos pode ser: - Doença hepática, hipóxia, alterações metabólicas que levam a acúmulo de lipídios nos hepatócitos, toxinas bacterianas, inflamação, neoplasia, medicamentos… Após a lesão aguda, ALT aumenta em 1 ou 2 dias e caso não haja progressão, sua atividade diminui ao longo de semanas, podendo aumentar na fase de recuperação hepática - Doenças hepáticas inflamatórias podem gerar picos de ALT Em lesões graves com diminuição importante da massa tecidual, podem haver poucos hepatócitos para causar aumento significativo de ALT Corticosteróides e cortisol podem aumentar a ALT de forma discreta, assim como anticonvulsivantes barbitúricos Aspartato aminotransferase (AST): - Maior em hepatócitos e células musculares de todas as espécies - Enzima de extravasamento - Aumento gerado pelas mesmas causas que aumentam ALT, mas a magnitude do aumento pode ser maior, pois AST demora mais para retornar Equinos e ruminantes: usa de rotina para detectar lesão de hepatócito Caso AST esteja alta com CK normal = problema no fígado - OBS: CK tem meia-vida menor! Sorbitol desidrogenase (SDH): - Enzima de extravasamento - Concentração em outros tecidos é baixa em todas as espécies - Aumento sugere necrose ou lesão subletal de hepatócitos Em cães e gatos a ALT ainda é melhor! Tem uma meia-vida breve e é pouco estável in vitro Glutamato desidrogenase (GLDH): - Enzima de extravasamento na região periportal - Aumento concomitante com a ALT - Sensível para cães Avaliação de colestase Comprometimento do fluxo biliar leva a colestase que pode induzir o aumento da produção de enzimas Fosfatase alcalina (FA): - Enzima de indução presente no fígado, ossos, rins, intestinos, pâncreas e placenta - Maior parte da atividade sérica é oriunda do fígado - Meia-vida em gatos dura 2 minutos! - Aumento: colestase, atividade osteoblástica, indução medicamentosa em cães, doenças crônicas… Aumentos da fosfatase alcalina (FA): Doença hepatobiliar - Maior produção, solubilização de membranas por ácidos biliares e extravasamento de vesículas nas membranas após lesão celular - Pode aumentar em até 10x - FA induzida por colestase tem meia-vida de 6 horas em gato, um aumento discreto pode ser significativo - Para equinos e ruminantes, se analisa a GGT - Bilirrubina total e ácidos biliares podemestar aumentadas simultaneamente Além de colestase, doenças que ocasionam tumefação de hepatócitos como lipidose ou inflamação, podem obstruir canalículos e aumentar FA - Em gatos, lesões pancreáticas e intestinais podem levar à colestase Atividade osteoblástica - Normal estar alta em animais jovens, em fase de crescimento - Em adultos: osteossarcoma e outras neoplasias ósseas, cicatrização de fratura óssea, hiperparatiroidismo… Indução medicamentosa (cães) - Indução por corticosteróides (exógenos e endógenos) e anticonvulsivantes - Corticosteróides induzem a isoforma única CALP, por isso pode ser diferenciado quando for essa a causa Ademais, teores de bilirrubina e ácidos biliares são úteis na diferenciação Outras causas para aumento da FA - Ingestão do colostro em neonatos - Hiperadrenocorticismo e estresse associado a doença crônica (EX: diabetes melito, hipotireoidismo, hiperparatireoidismo em cães e hipertireoidismo em gatos) - Neoplasia hepática, óssea ou de glândula mamária com metástase para ossos e fígado - Bovinos: prenhez e início da lactação - Raças: husky siberiano e scottish terrier Y-Glutamiltransferase (GGT): - Enzima de indução, mas pode aumentar por lesão hepática aguda - Sintetizada em vários tecidos, maior concentração nos rins e pâncreas - Baixa concentração nos hepatócitos e ductos biliares, entretanto a maior parte presente no soro é oriunda do fígado EX: se aumentar no rim, o resultado é na urina, se for no pâncreas, ela é excretada pelos ductos pancreáticos Aumento em colestase e hiperplasia biliar, pois há solubilização da GGT aderida à membrana celular - Em cães ocorre aumento medicamentoso (hepatopatia tóxica) - Pode aumentar 50x em duas semanas, gatos em 16x - Em gatos, se prefere usar a GGT do que FA - Lipidose em gatos: FA aumenta mais OBS: se a causa primária for uma doença necrosante ou inflamatória, a GGT pode estar mais aumentada - Equinos e bovinos: GGT mais sensível que FA - Intoxicação por pirrolizidina (hiperplasia biliar), lipidose hepática… - Enzima pode passar pelo colostro! Avaliação da função hepática Mensuração de substâncias que normalmente são removidas e metabolizadas pelo fígado para que possam ser excretadas ou de substâncias que são produzidas no fígado Bilirrubina Metabolismo normal da bilirrubina - Origem: degradação da hemoglobina - Eritrócitos senescentes são fagocitados e a hemoglobina é fagocitada Globina vira aminoácido, heme vira ferro e protoporfirina Protoporfirina é convertida em biliverdina e depois em bilirrubina NÃO conjugada - A bilirrubina indireta é liberada dos macrófagos e é levada pela albumina até os sinusóides hepáticos - Penetra nos hepatócitos via carreador e é convertida em bilirrubina conjugada através do ácido glicurônico - Bilirrubina conjugada é hidrossolúvel e é excretada na bile Parte pequena pode retornar ao sangue e ser excretada pelos rins ou se ligar à albumina (bilirrubina delta) - No intestino delgado: transformada em urobilinogênio, parte é absorvida e removida pelos hepatócitos ou excretada na urina, parte é transformada em estercobilinogênio Disfunções envolvendo bilirrubina Hiperbilirrubinemia pode ser: destruição acelerada de hepatócitos, menor absorção ou conjugação de bilirrubina indireta ou menor excreção de bilirrubina (colestase) - Doença hemolítica gera maior produção de bilirrubina, bem como hemorragia interna Supera a capacidade do fígado de conjugar e excretar Hiperbilirrubinemia pré-hepática - Colestase intra-hepática, hepatopatia aguda ou crônica geram menor absorção e conjugação de bilirrubina, havendo aumento da bilirrubina - Colestase pode ser hepática ou pós-hepática por impedimento da excreção de bilirrubina Qualquer obstrução, total ou parcial, que leve à acúmulo de bile, como parasitismo, cálculos, neoplasias, doenças que levam à tumefação dos hepatócitos OBS: atentar para tríade felina ao buscar causa base! Menos usual: extravasamento de bile na cavidade abdominal por ruptura de vesícula ou ducto biliar - Aumento de bilirrubina conjugada pode cursar com aumento da bilirrubina delta - Causas hepáticas ou pós-hepáticas levam a aumento da bilirrubina conjugada e em parte da não-conjugada, quando os hepatócitos estão sobrecarregados para conjugar o fluxo normal de bilirrubina advinda do sangue - Em equinos a concentração normal de bilirrubina pode ser maior Anorexia ou inanição podem levar a aumento - Ruminantes: doenças do trato biliar e vesícula são menos comuns, observa-se mais causa por hemólise ou hepatopatias difusas Ácidos biliares - Avaliar função hepática, colestase e anormalidades da circulação porta - Útil para animais suspeitos, mas não comprovados pela bioquímica de rotina - Sintetizados a partir do colesterol e são conjugados com aminoácido antes de serem armazenados e concentrados na vesícula biliar - Após a secreção da bile, são absorvidos e retornam ao fígado através dela circulação porta, embora possa se notar discreto aumento pós-prandial Aumento da concentração dos ácidos biliares - Anormalidades circulatórias, como shunt portossistêmico - Redução da massa hepática funcional a modo de prejudicar a absorção - Menor excreção de ácidos biliares por colestase, por exemplo Ácidos biliares NÃO competem com bilirrubina por hepatócitos, por isso pode-se observar hiperbilirrubinemia sem aumento de ácidos biliares - Amostras devem ser coletadas em jejum e após alimentação Pode haver pequena concentração na urina, de forma fisiológica, mas pode aumentar caso haja aumento sérico Amônia - Produzida no TGI durante a digestão normal, alcança a corrente e é removida e processada em uréia e proteínas pelo fígado - Aumento em casos de lesão hepática ou alteração no fluxo do fígado - Alta concentração é evidência de encefalopatia hepática - Não é sensível para detecção de doença hepática, melhor usada para detectar shunt portossistêmico, congênito ou secundário a cirrose - Bovinos: aumento causado por intoxicação por uréia Albumina - Só se detecta hipoalbuminemia com 60 a 80% de massa hepática perdida - Queda é comum em cães com hepatopatia crônica, mas não em equinos Globulinas - Fígado sintetiza a maioria, exceto as imunoglobulinas - Podem estar reduzidas na insuficiência hepática, mas diminuem menos que a albumina Glicose - Absorvida no intestino delgado e chega ao fígado pela circulação porta - Transformada em glicogênio - Fígado sintetiza glicose pela gliconeogênese e pode fazer glicogenólise (levando aumento da glicose sérica) - Aumento da glicemia: menor absorção hepática de glicose (pós-prandial prolongada) - Diminuição da glicemia: menor gliconeogênese e glicogenólise Uréia - Síntese a partir da amônia, tende a diminuir quando há perda da massa hepática funcional Colesterol - Excreção pela bile - Anormalidades no fluxo biliar levam a aumento de colesterol - Síntese ocorre no fígado, logo insuficiência hepática pode reduzir o teor Fatores de coagulação - Fígado sintetiza os fatores de coagulação e também substâncias anticoagulantes - Obstrução do fluxo biliar pode reduzir a absorção de vitamina K Hemogasometria pH sanguíneo ideal = pH tecidual ideal - Equilíbrio feito por sistemas tamponantes do organismo Sistemas tamponantes 1. Proteínas plasmáticas: tampão intracelular, os aminoácidos podem associar ou dissociar H+ de acordo com a necessidade do sangu 2. Hemoglobina: aumenta ou diminui afinidade por CO2, permitindo sua maior liberação (na acidose) ou retenção (na alcalose) - Função associada ao ferro e grupos tamponantes (imidazol) - Aumento da acidez = liberação de O2 - Redução da acidez = fixação de O2 Desoxigenação libera H+ - CO2 nos eritrócitos: forma ácido carbônico, que ionizado forma H+ e bicarbonato - Hemoglobina tampona H+ e bicarbonato vai pro plasma3. Sistema fosfato-ácido fosfórico: presente nos líquidos tubulares, atua no transporte de H+ e sódio, aumento as trocas renais 4. Sistema bicarbonato-ácido carbônico: menor poder de tamponamento, mais abundante no plasma e mais fácil de medir. Ação dos rins no tamponamento - Túbulos excretam H+ na urina e para cada mol secretado, um mol de bicarbonato aparece no sangue - Relação com secreção de K+: se há deficiência de potássio, a secreção dele reduz e a de H+ aumenta Distúrbios ácidos-básicos - Análise de parâmetros respiratórios (CO2) ou metabólicos (HCO3) Causas da acidose metabólica: - Cetoacidose diabética, uso de inibidores da anidrase carbônica, insuficiência renal, acidose láctica (choque), hipoxemia, exercício, intoxicação por etilenoglicol, ácido salicílico, acidificantes urinários e diarreia Causas da acidose respiratória: Elevação da PCO2 = hipercapnia - Depressão do centro respiratório: anestesia geral, opióides, traumas de SNC - Afecções respiratórias: pneumonia, edema pulmonar, pneumotórax - Movimento do tórax reduzido: obesidade, dor… Aumento da PCO2 gera: - Vasodilatação e aumento do fluxo cerebral, agravando os sinais neurológicos - Narcose - Estímulo do simpático: taquicardia, arritmia, vasodilatação periférica Causas da alcalose metabólica: - Vômito gástrico puro, overdose de bicarbonato de sódio, diminuição do LEC, desidratação e intoxicação por uréia em bovinos Compensação: excreção de HCO3 Causas da alcalose respiratória: Marcante hiperventilação - Calor, ansiedade, medo, dor, lesões no SNC, anemia pronunciada Duas ou mais patologias causando distúrbios diferentes = pH tende para o distúrbio primário Hemogasometria - Coleta venosa ou arterial, se for venosa desconsidera-se dados da pO2 - Tubo com heparina, pois o EDTA é ácido - Amostras processadas em 10-20 min - Não pode conter bolhas ou coágulos - Homogeneizar e aferir temperatura antes Informações no laudo - pH, pO2, pCO2, HCO3, hemoglobina, anion gap, excesso de base E.B - pH = 7,35 a 7,45 - pCO2: 35-45 mmhg - HCO3: 22-26 mEq por litro Excesso de base - Negativo = acidose - Positivo = alcalose - Valores em cães: 1 a -3 Em gatos: 1 a -5 Citologia Aplicação: - Estudo das células componentes dos tecido animais - Diagnóstico e prognóstico Lesões identificáveis: - Normal, hiperplásico, massa cística, infiltração ou inflamação celular, neoplasia, reação a lesão do tecido ou amostra não diagnóstica Obtenção das amostras: - Materiais: seringa de 10-16 ml, agulha hipodérmica (calibre variável), lâminas de ponta fosca, lâminas de bisturi, escalpe… - Sucessivas punções de 1 cm em áreas diferentes da lesão - Pressionar embolo para criar pressão negativa - Punção aspirativa x agulha fina: agulha fina evita contaminação sanguínea da lesão, pois não há vácuo como na aspirativa Não aspirativa: lesões superficiais e nodulares - Evitar áreas centrais, pois é onde tem mais necrose - Lesões císticas: tubo de tampa vermelha e tampa roxa para parte líquida, punção comum para sólida - Raspagem por bisturi pode ser feita, observar profundidade - Não descarta histopatológico Métodos de coleta: - Punção por agulha fina (PAF): massas internas ou externas, linfonodos, órgãos internos e coletas de fluidos - Punção aspirativa por agulha fina (PAAF): mesmos casos - Escarificação (bisturi): lesões cutâneas planas e secas, citologia vaginal, fístulas - Imprint direta: lesões cutâneas exsudativas, lesões planas, coleta de material de órgãos para histopatológico, - Imprint indireta: trato vaginal e ouvido externo Confecção do esfregaço - Squash: amostras semi sólidas, mucosas ou peletizadas por centrifugação Distribuir igualmente o material - Esfregaço interrompido: material pouco celular, concentrar celularidade Corantes: - Papanicolau - Novo azul de metileno - Tipo romanowsky Tecido normal ou hiperplásico: - Normal: células avaliadas por uniformidade, tamanho e forma (núcleo e nucléolo) - São semelhantes, difícil de diferenciar, observar núcleo - Células maduras com aumento não neoplásico do tecido Lesão cística: - Líquido de baixa proteína e baixa celularidade - Semissólido: proliferação de células de revestimento - Contém líquido Infiltrado ou inflamação celular: - Purulento: 80% de neutrófilos, pode ser séptico (neutrófilos degenerados) ou não séptico (neutrófilos não degenerados) - Histiocíticos: presença de macrófagos, infecções fúngicas, neoplasias, doenças autoimunes e inflamações crônicas - Piogranulomatosos: presença de neutrófilos e macrófagos, processos inflamatórios crônicos, fungos, infecções - Plasmocítica ou linfocítica Reação a lesão no tecido: - Hemorragia, fragmentos proteicos, cristais de colesterol e necrose ou fibrose - Eritrofagocitose, hemossiderina, hematoidina - Muco, corpos linfoglandulares, necrose, alinhamentos nucleares, cristais de colesterol e fibrose Neoplasias: - Células monomórficas, menos inflamação - Critérios de malignidade: Pleomorfismo, relação núcleo citoplasma, anisocariose ou anisocitose Cromatina grosseira, nucléolos múltiplos angulares e evidentes, moldagem nuclear, multinucleação e figuras de mitose atípicas, macrocitose, macrocariose Categorias citomorfológicas: - Epiteliais: células justapostas e aglutinadas - Podem apresentar junções (desmossomos) - Núcleos arredondados e ovais, bordas bem definidas - Muito esfoliativa. EX: CCT, CEC - Mesenquimal: células individualizadas, formatos fusiformes a ovais, estrelados - Núcleo ovalado, bordas citoplasmáticas indistintas, separadas e menores - Pouco esfoliativas EX: hemangiossarcoma, osteossarcoma - Redonda: células individualizadas, redondas (núcleo), distintas, bordas bem definidas - Amostras de moderada celularidade EX: linfoma, TVT, leucemias - Núcleos nus: células frouxamente aderentes, núcleos e células redondas, frouxamente coesas, núcleos livres e bordas distintas, alta celularidade com ocasionai aglomerados EX: tumores da tireoide, paragangliomas… Efusões Cavitárias Líquido cavitário entre os folhetos viscerais e parietais Efusões: se formam a partir de alterações fisiológicas das forças de Starling - Obstrução linfática - Aumento da permeabilidade vascular (inflamação) - Aumento da pressão hidrostática (hipertensão, congestão) - Redução da pressão oncótica (parasitismo, hipoproteinemia) Fase pré-analítica Coleta: - Tricotomia e assepsia - Agulhas e seringas com calibre variado - Outros: torneira de 3 vias - Técnicas: abdominocentese, toracocentese… - Monitorar e guiar coleta de pericárdio com ecocardiograma Armazenamento: tubo com anticoagulante (quantificar celularidade e estudar morfologia, fazer PCR para PIF) + tubo sem anticoagulante (análise física, bioquímica, microbiológica) - Não ultrapassar 24 horas da coleta até a análise Fase analítica 4 ou 5 etapas: análise física, química, quantitativos celulares, sedimentoscopia e análise bioquímica Análise física: - Cor e aspecto, turbidez - Material, volume, presença de coágulos - Local de coleta Normal: claro, translúcido, sem turbidez Análise química: - Proteína* - Densidade (refratometria)8 - Sangue oculto (hemácias, hemoglobina e mioglobina) - Gradua em cruzes - pH (5 a 9) - Prova de Rivalta: usada na PIF, não confirmatório Usa as tiras reagentes da urinálise para pH e sangue oculto pH alcalino: processos transudativos Quantitativos celulares: - Contagem total de células nucleadas (leucócitos)* - Predomínio* - Hemácias - Com aparelhos automatizados ou hemocitômetro - Classificação em transudato, transudato modificado e exsudato Classificação - Transudato (pobres em proteína): incolores, amarelo claro, pouca celularidade, pouca proteína Redução da pressão oncótica, aumento da pressão hidrostática (em capilares) e redução da drenagem linfática,causas passivas - Transudado modificado: cor variada, rico em proteína, celularidade moderada Aumento da pressão venosa hidrostática (ICC, hipertensão portal), causas passivas - Exsudato (mais alterações): cores variadas, muita celularidade, mais turbidez Origem inflamatória, aumento da permeabilidade vascular (infecções, neoplasias, pancreatite, irritações químicas) Condições específicas e Análise Bioquímica - Efusão neoplásica: microscopia com celularidade neoplásica (mitoses, alterações nucleares) - Efusão hemorrágica: hematócrito (3% para torácica e 5% para abdominal), presença de hemácias, eritrofagocitose (indica temporalidade) - Efusão biliar: comparar com sérica, ruptura biliar, coloração verde acastanhada, dosar bilirrubina - Uroperitônio: comparar com sérica, ruptura de bexiga, dosar creatinina - Efusão quilosa: comparar com sérica, coloração branca leitosa, presença de quilomícrons (triglicéridios obtidos da alimentação), dosar triglicerídios - Efusão pseudoquilosa: comparar com sérica, aspecto leitoso, sem quilomícrons, dosar colesterol Positivo: [efusão] maior que [sérica] - Biliar e uroperitônio são 2x maior Glicose no líquido cavitário tem concentração semelhante à sérica - Processos sépticos e com altas taxas celulares: diminuição da glicose por consumo Lactato: relacionado à cólica em equinos (coletar no tubo cinza), tende para exsudato LDH (lactato desidrogenase): da efusão é 2x maior que a célula, mais usada em humanos