Prévia do material em texto
PANCREOPATIAS: ENFERMIDADES, FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA DAS DOENÇAS DO PÂNCREAS Mecanismos fisiopatológicos das doenças pancreáticas O pâncreas é uma glândula retroperitoneal dividida anatomicamente em três partes: Cabeça (proximal) Corpo Cauda (distal) CÂNCER, DIABETESS, PANCREATITES Funções do pâncreas: O pâncreas de um adulto pode pesar cerca de 100 gramas e medir entre 15 e 25 centímetros. Localizado atrás do estômago e entre o baço e o duodeno, na região do abdômen. RESPONSÁVEL pela produção de hormônios e enzimas digestivas. Por produzir enzimas e hormônios, o pâncreas é considerado um exemplo de glândula mista, ou seja, apresenta funções exócrinas e endócrinas. Funções do pâncreas ÓRGÃO GLÂNDULA MISTA FUNÇÃO EXÓCRINA FUNÇÃO ENDÓCRINA Libera enzimas para fora da corrente sanguínea Direto para o intestino Libera hormônios para dentro da corrente sanguínea Participa do sistema endócrino e sistema digestório (exócrino) Funções do pâncreas: FUNÇÃO EXÓCRINA produção do suco pancreático, um produto rico em bicarbonato e que apresenta pH entre 7,8 e 8,2. São encontradas várias enzimas: • a tripsina e a quimotripsina, que atuam em proteínas; • a amilase, que atua nos polissacarídeos e dissacarídeos; • as lipases, que quebram gorduras; • Nucleases, que quebram nucleotídeos - ácidos nucleicos Funções do pâncreas: FUNÇÃO EXÓCRINA alimentação Impulso nervoso Promovem funcionamento do pâncreas Fatores antecipatórios (fase cefálica) + Chegada do bolo alimentar no estômago (fase gástrica) Quando quimo chega no intestino (Fase intestinal) Atuação de 2 hormônios: Secretina Colecistoquinina (Duodeno) Produção do suco pancreático Funções do pâncreas: FUNÇÃO ENDÓCRINA Capacidade de produzir insulina, glucagon e somastatina São produzidos nas ilhotas de Langerhans. IN S U LI N A reduz o nível de açúcar (glicose) no sangue ao transportar açúcar para dentro das células. G LU C A G O N aumenta o nível de açúcar no sangue ao estimular o fígado a liberar seu conteúdo S O M A TO S TA TI N A inibe a liberação de insulina e de glucagon, dependendo das necessidades do organismo Existem quatro tipos principais de células nas ilhotas pancreáticas: •Células B (beta) - estas células secretam insulina e 70% das células das ilhotas. •Células A (alfa) - estas células secretam glucagon e 15-20% das células das ilhotas. •Células D (delta) - estas células secretam somatostatina 5-10% das células das ilhotas.-> inibi parte endocrina •Células PP (produtoras de polipeptídeo pancreático) - enzimas <5% das células das ilhotas -> inibe parte exócrina Mecanismos fisiopatológicos das doenças pancreáticas • Pancreatite: inflamação do pâncreas, varia de moderada a grave, com autodigestão, necrose e hemorragia do tecido. • Etiologias principais: consumo crônico de álcool e doença biliar associada à formação de cálculos (colelitíase). • Sintomas: dor abdominal, náusea, vômito, distensão abdominal e esteatorreia. Pancreatite substâncias tóxicas, como álcool, tabagismo, hipocalcemia e doença renal crônica (DRC), fatores genéticos, pancreatite autoimune, e presença de etiologias extrapancreáticas que podem obstruir o ducto, variando entre causas anatômicas e presença de tumores, além de outras patologias Etiologia: Consumo de álcool e cálculo biliar, representando cerca de 60 a 80% de todos os casos de pancreatite • Países desenvolvidos tendem a ter como causa principal a etiologia biliar: consumo de álcool e cálculo biliar, • a hipertrigliceridemia, principalmente em mulheres grávidas, • que possuem chance aumentada de desencadear pancreatite induzida por trigliceridemia. • Causas genéticas, trauma cirúrgico e doenças autoimunes. • A hipótese de que o Coronavírus também poderá ser considerado uma nova causa • de PAguda grave Questões socioeconômicas e fisiológica: Pancreatite refere-se à autodigestão do pâncreas, patologia na qual as enzimas pancreáticas lesam o tecido desse órgão e, consequentemente, ocorre a disfunção do mesmo (PETROV; YADAV,2018). As células acinares pancreáticas secretam proteases digestivas em formas inativas. Essas são liberadas do sistema ductal em um material fluido rico em bicarbonato de sódio. As causas da pancreatite aguda, não são completamente compreendidas. A causa mais comum são os cálculos biliares. Os cálculos podem bloquear o fluxo das enzimas digestivas para o intestino. Quando as enzimas permanecem bloqueadas no pâncreas, elas causam inflamação. Pancreatite SINTOMAS O principal sintoma é a dor no meio do seu abdômen superior → 12 a 24 horas depois de uma grande refeição ou beber pesado se espalha para as costas e peito; é constante e acentuada •febre •inchaço •vômitos OS SINTOMAS AUMENTAM COM A GRAVIDADE: pressão baixa •batimento cardíaco rápido •confusão mental •suor frio •diminuição do volume de urina Impacto nutricional causado pelas doenças pancreáticas Pacientes com pancreatite aguda apresentam resposta inflamatória sistêmica, com aumento inicial de citocinas pró- inflamatórias, seguida de uma resposta anti- inflamatória. O estresse oxidativo e o catabolismo na resposta inflamatória sistêmica causam mobilização das reservas energéticas, levando à perda significativa de massa magra e nitrogênio. Na pancreatite crônica, a desnutrição ocorre devido à deterioração progressiva do estado nutricional, associada à evolução da doença e à ingestão contínua de álcool. Pancreatite crônica O consumo intensivo de álcool e o fumo intensivo de cigarros são as duas das principais causas de pancreatite crônica. Pancreatite crônica Causas menos comuns de pancreatite crônica: • Doenças genéticas: fibrose cística, pancreatite hereditária ou pancreatite autoimune. • Em casos raros, uma crise grave de pancreatite aguda causa a formação de tecido cicatricial (fibrose) permanente no pâncreas, que dá origem à pancreatite crônica. • Em algumas pessoas, a pancreatite crônica surge quando o duto pancreático fica bloqueado (obstruído) por cálculos ou um tumor. • Alguns casos de pancreatite crônica não têm uma causa óbvia (eles são idiopáticos https://www.msdmanuals.com/pt/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/fibrose-c%C3%ADstica/fibrose-c%C3%ADstica-fc https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/pancreatite/pancreatite-aguda Sintomas Dor abdominal é o principal sintoma da pancreatite crônica. A intensidade da dor na parte superior do abdômen pode variar - podem durar muitas horas ou vários dias. Nos estágios finais da doença, a dor tende a ser constante. A dor costuma piorar após as refeições e melhorar quando a pessoa se senta ereta ou se inclina para frente. Conforme a pancreatite crônica avança e as células que secretam as enzimas digestivas são destruídas, a dor abdominal pode parar. Insuficiência pâncreatica produzir fezes volumosas, de odor desagradável e gordurosas (esteatorreia). As fezes são de cor clara e podem até conter pequenas gotas de gordura. A absorção inadequada dos alimentos também causa desnutrição, deficiência de vitaminas e perda de peso. enzimas digestivas diminui a decomposição dos alimentos não ocorre adequadamente. não são corretamente absorvidos (má absorção) É outro sintoma importante da pancreatite crônica. A insuficiência pancreática é uma redução na quantidade de enzimas digestivas no suco pancreático. https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-nutricionais/desnutri%C3%A7%C3%A3o/desnutri%C3%A7%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-nutricionais/vitaminas/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-vitaminas https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/m%C3%A1-absor%C3%A7%C3%A3o/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-a-m%C3%A1-absor%C3%A7%C3%A3o Impacto nutricional causado pelas doençaspancreáticas • Desnutrição frequente em pancreatite aguda ou crônica. • Avaliação nutricional abrange dados antropométricos, bioquímicos e imunológicos. • Além de avaliação metabólica, sugere-se: Antropometria Dados bioquímicos Dados imunológicos Avaliação metabólica Impacto nutricional causado pelas doenças pancreáticas Avaliação metabólica A avaliação metabólica é um conjunto de exames e análises que avalia o funcionamento do metabolismo do corpo. O que é avaliado •Como o corpo utiliza os nutrientes, como carboidratos, proteínas e gorduras •A função de órgãos como fígado, rins e tireóide •Desequilíbrios hormonais •Deficiências nutricionais Como é feita •Análise de sangue e urina •Coleta de urina de 24 horas •Bioimpedância, um exame que avalia a composição corporal através de corrente eletromagnética Terapia nutricional nas doenças pancreáticas FASE AGUDA O objetivo primário da Terapia Nutricional na pancreatite aguda é minimizar o catabolismo, evitando assim a instalação da desnutrição proteica energética ou o seu agravo. Dentre os objetivos da TN incluem-se também a imunomodulação Terapia nutricional nas doenças pancreáticas FASE AGUDA O tratamento nutricional da pancreatite aguda é centrado principalmente na terapia nutricional. Fase de jejum – somente para estabilizar o quadro Nesse sentido, a alimentação por via oral deve ser priorizada nas primeiras 24 a 72 horas. Entretanto, alguns pacientes podem não tolerar essa via, portanto, a nutrição enteral está indicada. NE nasogástrica é a primeira opção, mas, no caso de gastroparesia ou obstrução gástrica ou duodenal, recomenda-se a NE nasojejunal. Quando a TNParenteral está indicada, a suplementação de glutamina deve ser feita na dosagem superior a 0,3 g/kg de peso. Recomenda-se fórmula com alto teor de TCM para a TN jejunal na pancreatite aguda grave. Fase aguda grave https://nutritotal.com.br/pro/material/nutricao-enteral-indicacoes/ Terapia nutricional nas doenças pancreáticas FASE AGUDA Recomendação: A TN artificial não está indicada na pancreatite aguda leve, se o paciente consegue ingerir alimentos por via oral até 5-7 dias após o início do quadro. Após esse período, pode ser iniciada alimentação com oferta de dieta com líquidos claros e restrita em lipídeos. Tolerância do paiciente -> (menos de 30% da ingestão energética), porém deve ser rica em carboidratos e proteínas. Tolerância melhor - seis pequenas refeições. Na pancreatite aguda grave seu uso é indicado. Na pancreatite aguda grave, a via de preferência deve ser a enteral – não deixar passar 7 dias em jejum. Na impossibilidade de uso da via enteral ou quando esta for insuficiente, a via parenteral está indicada. TNE - no estômago ou no jejuno e deverá ser prescrita de acordo com as seguintes características: 25 a 30 Kcal/kg peso/dia; (normocalórica) 1,5g a 2,0g proteína/kg/dia (hiperproteica) e 1,0g a 1,5 g lipídios/kg peso/dia (hipolipídica). SOBRE O JEJUM Estudos recentes evidenciaram que a alimentação precoce não exacerba a inflamação do parênquima pancreático e é realmente benéfica no manejo da PA (James et al. 2018), A nutrição enteral precoce, provavelmente serve para proteger a barreira mucosa do intestino e reduzir a chance de translocação bacteriana. O atraso na alimentação (geralmente definido como > 24 horas) está associado a taxas mais altas de necrose, falência de múltiplos órgãos e pancreatite necrosante total (JAMES; CROCKETT, 2018). Terapia nutricional nas doenças pancreáticas FASE CRÔNICA Assim como na pancreatite aguda, pacientes com pancreatite crônica necessitam de um maior requisito energético, a fim de equilibrar a potencial má absorção e a baixa ingestão calórica. Da mesma forma, orienta-se uma ingestão proteica adequada, de 1 a 1.5 g/kg/d, prevenindo a desnutrição. Dieta low-fat é recomendada apenas a curto prazo, para pacientes com dor abdominal e nas costas ->gordura (30 a 50 g/dia). -> Colabora para desnutrição. A dieta deve ser hipercalórica (35 kcal/kg/dia) Hiperproteica (1,0 a 1,5 g/kg/dia) Hiperglicidica Gordura (0,7 a 1,0 g/kg/dia) – Hipo a normolipidica - máximo de 20% do VET com preferência para gordura vegetal, que é mais bem tolerada.HIPERCALÓRIA – HIPERPROTÉICA HIPERGLICIDICA – HIPO/NORMOLIPIDICA Ver tolerância do paciente/ver uso de enzimas Ingestão baixa a moderada de fibras irá prevenir que as fibras reduzam a eficácia do tratamento com enzimas e piorem a má absorção. DEFICIÊNCIA de vitaminas lipossolúveis (vitamina A, D, E e K). Acompanhamento através de exames – sinais e sintomas. A suplementação de vitamina D deve ser considerada em pacientes com osteopatia (osteopenia e osteoporose), especialmente se houver história de fraturas ósseas. Polifenóis -> papel antioxidante -> a evidência sobre polifenóis nas doenças pancreáticas ainda é limitada. https://nutritotal.com.br/pro/material/deficiencia-vitamina-d/ https://nutritotal.com.br/pro/excrecao-urinaria-de-polifenois-pode-indicar-que-a-dieta-e-anti-inflamatoria/ Terapia nutricional nas doenças pancreáticas • Terapia nutricional enteral ou parenteral deve começar com estabilidade hemodinâmica, evitando jejum prolongado além de 7 dias. • Ao optar pela terapia nutricional enteral, o posicionamento do cateter no jejuno ou estômago é seguro; estudos sugerem início mais precoce quando no estômago. • Terapia nutricional parenteral é recomendada apenas quando a enteral não é viável ou para atender requerimentos calóricos insuficientes. Terapia nutricional nas doenças pancreáticas • Preferir fórmulas com triglicerídeos de cadeia média; interromper lipídio se hipertrigliceridemia >1000 mg/dL. • Na pancreatite crônica, dieta oral normal com enzimas, se necessário; aconselhamento nutricional fracionado. • Com a progressão, funções endócrinas podem falhar, levando ao diabetes; ajustar dieta para controle glicêmico adequado.