Prévia do material em texto
W BA 15 30 _V 1. 0 FARMACOLOGIA EM TERAPIA INTENSIVA 2 Danieli Juliani Garbuio Tomedi Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2024 FARMACOLOGIA EM TERAPIA INTENSIVA 1ª edição 3 2024 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Juliana Schiavetto Dauricio Juliane Raniro Hehl Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Michele Nakahara Melo Editorial Beatriz Meloni Montefusco Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Rosana Silverio Siqueira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Tomedi, Danieli Juliani Garbuio Farmacologia em terapia intensiva/Danieli Juliani Garbuio Tomedi, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2024. 32 p. ISBN 978-65-5903-593-9 1. Farmacologia. 2. Terapia intensiva. 3. Medicamentos. 4. Interações medicamentosas. I. Título. CDD 615.2 _________________________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 T656f © 2024 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Introdução à Farmacologia em UTI __________________________ 07 Sedação, analgesia e controle da dor em UTI ________________ 24 Terapia cardiovascular em UTI ______________________________ 41 Antibioticoterapia em UTI ___________________________________ 58 FARMACOLOGIA EM TERAPIA INTENSIVA 5 Apresentação da disciplina É com grande satisfação que damos as boas-vindas à disciplina de Farmacologia em Terapia Intensiva! A farmacologia, por meio do uso de fármacos, desempenha um papel crucial no ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), na qual a administração de medicamentos requer conhecimentos, competências e habilidades para além dos conceitos, como farmacocinética e farmacodinâmica. Sendo assim, abordaremos os princípios fundamentais que regem a utilização de fármacos em pacientes críticos, destacando a importância da monitorização terapêutica para garantir a eficácia e a segurança dos tratamentos, além da gestão adequada da sedação e analgesia, processo essencial para o conforto e a recuperação dos pacientes na UTI. Neste tema, abordaremos a fisiopatologia da dor em pacientes, os principais agentes sedativos e analgésicos utilizados, como benzodiazepínicos, opioides e anti-inflamatórios não esteroidais, com o enfoque nas estratégias de titulação, desmame e, principalmente, o controle da dor e a importância da implementação das abordagens multimodais para seu controle eficaz. Veremos sobre a terapia farmacológica para as demandas cardiovasculares, uma vez que desempenha um papel importante na estabilização e recuperação de pacientes críticos na UTI. Dentro desse tema, examinaremos o uso de inotrópicos, vasopressores, antiarrítmicos, anticoagulantes, antiagregantes plaquetários e diuréticos. Também, discutiremos a abordagem a pacientes com eventos trombóticos, enfatizando a segurança e a eficácia dos tratamentos farmacológicos. 6 Por fim, não poderia faltar o uso racional de antibióticos, pois é essencial para o tratamento eficaz de infecções na UTI e a prevenção da resistência bacteriana. Portanto, exploraremos o emprego de antibióticos de espectro amplo e específicos, bem como estratégias para monitorar níveis séricos e ajustar doses de acordo com as particularidades e necessidades dos pacientes críticos. Além disso, discutiremos as políticas de uso responsável de antibióticos e a importância do combate às práticas que fomentam a resistência bacteriana. Esperamos que você aproveite ao máximo essa disciplina e que se sinta motivado a compreender mais sobre esses temas tão importantes na assistência de enfermagem em terapia intensiva. Estamos à disposição para contribuir com sua jornada de aprendizado! Bons estudos! 7 Introdução à Farmacologia em UTI Autoria: Danieli Juliani Garbuio Tomedi Leitura crítica: Michele Nakahara-Melo Objetivos • Apresentar os conceitos básicos sobre farmacocinética e farmacodinâmica. • Relacionar os conceitos da farmacocinética e farmacodinâmica com as especificidades das vias de administração utilizadas no paciente crítico. • Descrever o processo da monitorização terapêutica de medicamentos, suas características e sua aplicabilidade. • Apresentar os princípios da administração segura dos medicamentos. 8 1. Farmacocinética e farmacodinâmica no paciente crítico A farmacocinética e a farmacodinâmica são áreas da farmacologia que visam compreender a ação dos medicamentos no organismo, desempenhando um papel importante na análise dos efeitos dos medicamentos e no desenvolvimento de terapias mais eficazes e seguras. A farmacocinética descreve os processos que um fármaco sofre no organismo, desde sua absorção até sua eliminação (Brum; Rockenbach; Bellicanta, 2018). A farmacodinâmica, por sua vez, compreende os efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação no organismo. Em pacientes em estado crítico que requerem cuidados intensivos, o conhecimento sobre a farmacocinética e a farmacodinâmica dos medicamentos é essencial para garantir a eficácia do tratamento e evitar efeitos adversos. Dessa forma, abordaremos, primeiramente, as etapas da farmacocinética e, na sequência, descreveremos as especificidades da farmacodinâmica no contexto da assistência ao paciente crítico (Brum; Rockenbach; Bellicanta, 2018). As etapas da farmacocinética envolvem a absorção, a distribuição, a biotransformação e a eliminação do medicamento. A absorção é a passagem do medicamento do local de administração para a corrente sanguínea, sendo a velocidade e a eficácia da absorção dependentes de fatores, como o local no qual o fármaco é absorvido, as propriedades químicas e a forma de administração. A forma de administração é importante, pois afeta a biodisponibilidade do medicamento, ou seja, a quantidade e a velocidade com que esse fármaco alcança a corrente sanguínea. Com exceção da via intravenosa, na qual o medicamento é introduzido diretamente na circulação sistêmica, nas outras vias pode ocorrer absorção parcial e com menor biodisponibilidade, por isso é 9 importante compreender as particularidades de cada uma delas (Brum; Rockenbach; Bellicanta, 2018). A seguir, são apresentadas as particularidades de cada via de administração. Via oral: a administração de medicamentos por via oral é uma prática comum, que pode incluir a administração por sonda nasogástrica, enteral, nasojejunal e ostomias. No entanto, essa forma de administração pode apresentar absorção irregular devido ao tempo entre a ingestão e a sua absorção. Além disso, ao passar pelo trato gastrointestinal, os medicamentos são metabolizados pelo fígado e intestino antes de alcançarem a circulação sistêmica, o que pode reduzir a quantidade disponível para produzir efeito terapêutico (Ramalho Filho et al., 2022). Em pacientes críticos, é comum encontrar disfunção gastrointestinal, seja devido à redução da motilidade intestinal ou à hipoperfusão esplâncnica para priorizar a perfusãoreceptores incluem aumento da contratilidade cardíaca por sua forte atuação em β1 e vasodilatação pela atuação moderada a leve em β2, aspectos que resultam na elevação do débito cardíaco. Por esse motivo, a dobutamina é indicada para pacientes com baixo débito cardíaco e disfunção miocárdica, como em pessoas com insuficiência cardíaca descompensada e com choque cardiogênico (Murakami; Santos, 2017). No entanto, pode levar ao desenvolvimento de arritmias, hipotensão e angina, sendo potencialmente prejudicial em pacientes com estenose aórtica, fibrilação atrial e hipovolemia. Apresenta início de ação entre um 48 e cinco minutos, com metabolismo hepático e excreção renal. Também, deve ser administrada em infusão contínua, preferencialmente por cateter central (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). 1.6 Nitroglicerina A nitroglicerina é um fármaco que atua nos músculos lisos dos vasos sanguíneos, promovendo a vasodilatação venosa e coronariana em doses moderadas e arterial em doses mais elevadas. No contexto clínico, a nitroglicerina é prescrita para tratar congestão pulmonar associada à insuficiência cardíaca e em casos de síndrome coronariana aguda acompanhada de dor, hipotensão e/ou congestão (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). Os efeitos colaterais incluem cefaleia, hipotensão (especialmente em pacientes com hipovolemia) e taquicardia. Pode ser diluída em soro fisiológico ou glicosado e administrada tanto por acesso central quanto periférico. Apresenta início de ação entre um e três minutos após a infusão, mantendo seus efeitos por até 10 minutos após a interrupção (Viana; Zanei, 2020). 1.7 Nitroprussiato de sódio É um medicamento que atua diretamente na musculatura arteriolar e venosa, resultando em rápida redução da pré e da pós-carga, com início em poucos segundos após o início da infusão. Devido a essas características, é muito utilizada no tratamento de emergências hipertensivas. Os efeitos colaterais mais comuns incluem hipotensão severa, cefaleia, palpitação, confusão mental e náuseas. Recomenda-se diluir esse medicamento em solução glicosada e protegê-lo contra a exposição à luz pelo risco de formação de cianeto. Ainda, alguns fabricantes orientam a troca da solução a cada quatro horas (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). 49 Conectando à Realidade: Exemplos Práticos As drogas vasoativas são substâncias utilizadas para alcançar a estabilidade hemodinâmica em pacientes criticamente enfermos. Nesse contexto, o enfermeiro desempenha um papel importante na administração dessas drogas, garantindo que sejam administradas de forma segura e eficaz. Imagine um enfermeiro em uma UTI que está cuidando de um paciente em estado grave com choque séptico. O médico prescreve a administração de noradrenalina, uma droga vasoativa, para ajudar a aumentar a pressão arterial do paciente e melhorar o fluxo sanguíneo. O enfermeiro, seguindo as diretrizes de segurança e protocolos de administração, prepara a noradrenalina, verifica os nove acertos recomendados para a prática segura da administração de medicamentos e inicia a infusão intravenosa. Ele monitora de perto os sinais vitais do paciente, como pressão arterial, frequência cardíaca e saturação de oxigênio, enquanto a droga está sendo administrada. É imprescindível que o enfermeiro compreenda os efeitos da noradrenalina no organismo do paciente, como a vasoconstrição periférica e a estimulação cardíaca, para garantir que a droga esteja produzindo os efeitos desejados. Além disso, o enfermeiro deve estar atento a possíveis efeitos colaterais, como arritmias cardíacas e redução do débito urinário, e estar preparado para intervir rapidamente, se necessário. Nesse exemplo, a administração adequada de noradrenalina pelo enfermeiro pode ter um impacto significativo na estabilização do paciente em choque séptico, melhorando sua perfusão tecidual e aumentando suas chances de recuperação. O monitoramento constante e a compreensão dos efeitos da droga são essenciais para garantir a segurança e eficácia do tratamento, contribuindo diretamente para a recuperação do paciente. 50 2. Medicamentos antiarrítmicos Os medicamentos antiarrítmicos desempenham um papel crucial no tratamento de arritmias cardíacas em pacientes internados em unidades de terapia intensiva, uma vez que as arritmias cardíacas representam uma das principais complicações cardíacas que podem surgir em pacientes críticos, podendo resultar em descompensação hemodinâmica e comprometimento da função cardíaca. Portanto, torna-se fundamental compreender os principais tipos de medicamentos antiarrítmicos disponíveis, dentre eles, a amiodarona e a lidocaína (Falcão; Macedo, 2011). A seguir, apresentaremos os principais medicamentos dessa classe. 2.1 Amiodarona A amiodarona é um medicamento que apresenta uma complexa farmacocinética, sendo capaz de inibir diversos canais iônicos, de sódio, cálcio e potássio, além de bloquear receptores adrenérgicos alfa, beta, entre outros. É um medicamento que prolonga a duração do potencial de ação nos átrios e ventrículos, reduzindo, assim, o automatismo sinusal e prolongando os períodos pós-despolarização do nó atrioventricular, resultando em uma diminuição na frequência cardíaca (Falcão; Macedo, 2011). Devido à sua forte ligação aos tecidos, a amiodarona é eliminada tardiamente do organismo, com uma meia-vida de 30 a 50 dias. Sua metabolização é lenta e ocorre no fígado, sendo eliminada, principalmente, pelas fezes. Seus metabólitos são altamente lipofílicos e tendem a se acumular nos tecidos adiposos. Dessa forma, apesar de sua eficácia no tratamento de diversos distúrbios do ritmo cardíaco, os aspectos farmacocinéticos e os efeitos colaterais associados ao seu uso prolongado têm motivado a busca por agentes terapêuticos tão eficazes 51 quanto a amiodarona, porém sem os mesmos problemas de toxicidade (Falcão; Macedo, 2011). No entanto, a administração de amiodarona por via periférica pode estar associada à alta ocorrência de flebite, especialmente devido à irritação química da parede venosa por esse medicamento. Para minimizar o risco de flebite ao administrar amiodarona por via periférica, é importante utilizar acessos venosos de calibre apropriado, monitorar cuidadosamente o local da punção e realizar rodízio dos locais de punção (Falcão; Macedo, 2011). Para atingir o efeito terapêutico desejado em determinados casos de arritmia, é necessário administrar uma dose de ataque em 10 a 30 minutos. Posteriormente, uma infusão contínua pode ser utilizada para manter a concentração terapêutica, utilizando 1 mg/min nas primeiras 6 horas e 0,5 mg/min durante as próximas 18 horas, dependendo da necessidade de manutenção terapêutica via oral. Deve ser diluída em soro glicosado (Falcão; Macedo, 2011). A amiodarona também pode ser utilizada durante o atendimento à PCR em ritmos, como taquicardia ventricular sem pulso (TVSP) e fibrilação ventricular (FV). Nesses casos, deve ser administrada em duas doses em bolus de 300 mg e 150 mg, respectivamente. Essas doses devem obedecer a um intervalo de três a cinco minutos, sendo intercaladas com a adrenalina. Após a reversão da PCR, a dose de manutenção da amiodarona deve ser administrada em infusão contínua 24 horas subsequentes, conforme o esquema apresentado no parágrafo anterior (SBC, 2019). 2.2 Lidocaína A lidocaína é utilizada tradicionalmente como um anestésico local. Entretanto, possui também ação antiarrítmica, que ocorre pelo 52 bloqueio de canais de sódio, aumentando o limiar de excitabilidade e desacelerando a condução dos impulsos pelos ventrículos, especialmente nas fibras de Purkinje. A dosagem inicial deve ser administrada em um período de três minutos. Essa dose pode ser repetida após cinco minutos, seguida por uma infusão contínua. Apenas cerca de 10% da substância é eliminada sem sofrer alterações através da urina, sendo o restante metabolizado pelo organismo.A meia-vida da lidocaína é de, aproximadamente, duas horas, podendo se prolongar com a infusão contínua por mais de 24 horas (Falcão; Macedo, 2011). Assim como a amiodarona, a lidocaína também pode ser utilizada durante o atendimento à PCR em ritmos, como TVSP e FV. Sua administração deve ser realizada com duas doses em bolus, sendo a primeira com 1,0 a 1,5 mg/kg, e a segunda com 0,5 a 0,75 mg/kg. Essas doses também devem obedecer a um intervalo de três a cinco minutos, sendo intercaladas com a adrenalina. Após a reversão da PCR, a lidocaína deve ser administrada em infusão contínua 24 horas subsequentes para a manutenção da dose terapêutica a 0,02 a 0,05 mg/ kg/min (SBC, 2019). No que diz respeito aos efeitos colaterais, a neurotoxicidade decorrente de doses excessivas pode desencadear uma série de sintomas, embora isso seja considerado raro na prática clínica. Entre esses efeitos adversos, estão sonolência, visão embaçada, zumbido nos ouvidos, tonturas, convulsões e depressão respiratória (Falcão; Macedo, 2011). 3. Diuréticos Os diuréticos são frequentemente utilizados em UTI para o tratamento de pacientes com distúrbios renais e cardiovasculares. Esses 53 medicamentos atuam aumentando a produção de urina, promovendo a eliminação de líquidos e reduzindo a sobrecarga hídrica no organismo. No entanto, é fundamental ressaltar que o uso de diuréticos em UTI deve ser monitorado devido aos potenciais efeitos colaterais, como desequilíbrios eletrolíticos e insuficiência renal aguda (Almeida et al., 2017). A seguir, abordaremos os dois diuréticos mais utilizados: a furosemida e a espironolactona. 3.1 Furosemida A furosemida é classificada como um diurético de alça, e sua ação consiste em bloquear a reabsorção de sódio no segmento ascendente da alça de Henle, o que resulta em um aumento acentuado na excreção de sódio, cloro, cálcio e magnésio, que, por sua vez, diminuem a reabsorção de água no túbulo coletor, aumentando sua eliminação. Devido ao aumento na excreção de íons e água, há um aumento no volume urinário. Portanto, esses diuréticos são considerados os mais eficazes devido à sua ação no principal local de absorção de sódio nos túbulos renais, sendo efetivos até mesmo em pacientes com comprometimento grave da função renal (Almeida et al., 2017). Uma única dose desses diuréticos pode causar um aumento significativo na diurese por algumas horas, levando o organismo a acionar mecanismos de compensação para restaurar o equilíbrio hemodinâmico. Por esse motivo, eles são especialmente úteis em pacientes com insuficiência renal ou cardíaca simultânea. No entanto, o aumento na excreção de potássio pode levar à hipocalemia, um efeito adverso comum entre os diuréticos que aumentam a excreção de sódio. Além disso, podem resultar em ototoxicidade e hipomagnesemia (Almeida et al., 2017). 54 3.2 Espironolactona A espironolactona é um diurético poupador de potássio antagonista da aldosterona. Esse medicamento compete com a aldosterona pelos receptores nas células do túbulo coletor cortical, resultando na diminuição da absorção de sódio nesse segmento tubular. Por interferir nos efeitos da aldosterona, a espironolactona evita a perda de potássio nesses túbulos (Almeida et al., 2017). Os diuréticos poupadores de potássio pertencem a uma classe de medicamentos que atuam de forma a preservar os níveis adequados de potássio no organismo, o que justifica sua classificação como poupadora de potássio. No entanto, é importante ressaltar que esse medicamento apresenta efeitos adversos, como a hiperpotassemia e a possibilidade de desenvolvimento de acidose metabólica devido à diminuição da secreção de íons H+. Além disso, são contraindicados em casos de insuficiência renal avançada (Almeida et al., 2017). 4. Anticoagulantes Os medicamentos anticoagulantes são recomendados para prevenir a formação de coágulos em situações, como imobilização prolongada, hemodiálise, cirurgias, uso de próteses mecânicas, trombose venosa profunda, embolia pulmonar, fibrilação atrial, angina instável, entre outras condições. Dentre os anticoagulantes mais utilizados, a varfarina é o anticoagulante oral mais importante e comum, enquanto as heparinas não fracionadas (HNF) e de baixo peso molecular (HBPM) são exemplos de anticoagulantes injetáveis, utilizados, principalmente, durante internações hospitalares (Falcão; Macedo, 2011). A HNF é um fármaco que atua ativando a antitrombina III, responsável por inibir os fatores IIa, IXa, Xa, XIa e XIIa, pertencentes à via 55 intrínseca da coagulação, sendo necessária sua administração por via subcutânea ou intravenosa contínua, por não ser absorvida pelo trato gastrointestinal. Alguns efeitos colaterais da HNF incluem flebite na administração venosa, trombocitopenia e hemorragias, sendo esta última associada à dose e ao uso concomitante de trombolíticos. Sua meia-vida de eliminação é de, aproximadamente, 40 a 90 minutos, podendo ser revertida rapidamente com o uso de Protamina. O monitoramento do tratamento anticoagulante com HNF é realizado através do exame laboratorial de tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa), um teste sensível aos níveis dos fatores da via intrínseca e comum da coagulação. Embora tradicionalmente a HNF seja o anticoagulante injetável mais comumente utilizado, devido à variabilidade frequente das doses e à estreita faixa terapêutica, tem sido cada vez mais substituída pelas HBPMs (Falcão; Macedo, 2011). As heparinas de baixo peso molecular (HBPM), como a enoxaparina, possuem um terço do peso molecular da HNF e atuam ativando a antitrombina III. As HBPM são inibidores mais potentes e seletivos do fator Xa, com meia-vida mais longa que a HNF. Elas são eliminadas principalmente pelos rins, o que prolonga sua ação em pacientes com insuficiência renal, tornando a HNF mais adequada como anticoagulante nesses casos. Além disso, as HBPM não afetam o TTPa, e o efeito de uma dose padrão é previsível o suficiente para não necessitar de monitoramento ou ajuste de dose, exceto em casos como gestantes, obesos mórbidos e pacientes com doença renal crônica (Falcão; Macedo, 2011). Nesses casos, a monitorização é recomendada para ajuste da dose de HBPM de acordo com a atividade anti-Xa, medida quatro horas após a administração. Devido à possibilidade de procedimentos invasivos em pacientes críticos, como punções e cateterismos de veias centrais, o uso de heparinas é preferível pela rápida reversão de sua ação com protamina ou pela rápida diminuição do efeito terapêutico em um 56 período relativamente curto, reduzindo o risco de sangramentos e hematomas nos locais das punções (Falcão; Macedo, 2011). 5. Antiagregantes plaquetários Os medicamentos antiagregantes plaquetários são uma classe de agentes farmacológicos que possuem a capacidade de inibir a formação de coágulos sanguíneos, principalmente aqueles desencadeados pelas plaquetas, sem afetar de maneira significativa os outros processos de coagulação. Dentre os antiagregantes plaquetários, temos o Ácido Acetil Salicílico (AAS), que é um dos medicamentos mais conhecidos e utilizados. Sua ação se dá pela inibição da enzima ciclo-oxigenase, resultando na diminuição da produção de tromboxano A2 e, consequentemente, da agregação das plaquetas. Essa ação inibitória também contribui para reduzir a inflamação em locais de placas ateroscleróticas, diminuindo a infiltração de células inflamatórias nesses tecidos (Falcão; Macedo, 2011). O AAS exerce um efeito irreversível sobre as plaquetas devido à sua ação na síntese de mediadores lipídicos. Esse efeito perdura por cerca de 10 dias, tempo correspondente à meia-vida das plaquetas, e não interfere na adesão das plaquetas aos tecidos vasculares. Após a sua administração oral, o AAS é absorvido rapidamente pelo trato gastrointestinal e convertido em seu metabólito ativo, o ácido salicílico, que é amplamente distribuído pelo organismo e eliminado principalmentepelo fígado por meio de diversos metabólitos (Falcão; Macedo, 2011). Em conclusão, as drogas vasoativas, antiarrítmicas, diuréticas e anticoagulantes desempenham papéis fundamentais no tratamento de pacientes críticos. Cada classe de medicamentos atua de maneira 57 específica para controlar a pressão sanguínea, regular o ritmo cardíaco e a volemia e prevenir a formação de coágulos. É essencial que essas drogas sejam prescritas e administradas com cuidado e monitoramento adequados, levando em consideração as necessidades individuais de cada paciente. O conhecimento sobre esses medicamentos e suas interações é importante para garantir a eficácia do tratamento e evitar potenciais complicações. Portanto, o uso adequado e responsável dessas drogas pode contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida e o prognóstico dos pacientes com doenças cardiovasculares horas (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). Referências ALMEIDA, L. M. et al. Diuréticos: um artigo de revisão. Revista Científica Fagoc Saúde, v. II, 2017. Disponível em: https://acesse.dev/Yzg9r. Acesso em: 27 mar. 2024. FALCÃO, L. F. R.; MACEDO, G. L. Farmacologia Aplicada em Medicina Intensiva. São Paulo: Roca, 2011. 536 p. MURAKAMI, B. M.; SANTOS, E. R. dos. Enfermagem em terapia intensiva. 2. ed. Barueri: Manole, 2017. 376 p. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq Bras Cardiol., n. 113, v. 4 p. 787-891, 2019. Disponível em: https://go.aws/343U5k0. Acesso em: 29 mar. 2024. VIANA, I. Y. W.; ZANEI, S. S. V. Enfermagem em terapia intensiva: práticas e vivências. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2020. 564 p. https://acesse.dev/Yzg9r https://go.aws/343U5k0 58 Antibioticoterapia em UTI Autoria: Danieli Juliani Garbuio Tomedi Leitura crítica: Michele Nakahara-Melo Objetivos • Descrever todas as etapas envolvidas no processo de nocicepção, incluindo os neurotransmissores. • Apresentar os principais medicamentos analgésicos utilizados em terapia intensiva. • Apresentar os principais medicamentos sedativos utilizados em terapia intensiva. • Apresentar as escalas de avaliação de dor e sedação do paciente crítico e as estratégias multimodais de controle da dor. 59 1. Introdução As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são categorizadas como infecções que afetam o organismo de forma sistêmica ou local e podem se manifestar no intervalo de 48 horas após a admissão hospitalar e até 48 horas após a alta hospitalar. Além disso, podem ocorrer até 30 dias após uma cirurgia sem a inserção de prótese ou até um ano após a colocação de uma prótese. O impacto das IRAS abrange uma série de consequências negativas, tais como prolongamento do tempo de internação e aumento da taxa de mortalidade, especialmente quando as infecções estão relacionadas à resistência aos antimicrobianos. Nas unidades de terapia intensiva (UTI), as IRAS mais frequentes incluem a pneumonia associada à ventilação mecânica, a infecção do trato urinário relacionada ao uso de cateter vesical de demora, a bacteremia associada a um cateter venoso central e as infecções de sítio cirúrgico em pacientes submetidos a procedimentos invasivos. Além disso, os principais microrganismos responsáveis pelas IRAS incluem: Staphylococcus aureus; Staphylococcus epidermidis; Staphylococcus coagulase negativa; Escherichia coli; Pseudomonas aeruginosa; Klebsiella pneumoniae; Acinetobacter baumannii; Enterobacter spp. Na UTI, há um risco significativamente maior de desenvolvimento de infecções e proliferação de microrganismos resistentes, e isso se deve, principalmente, à exposição frequente aos profissionais de saúde, ao uso de equipamentos e dispositivos invasivos, ao uso de medicamentos imunossupressores, à permanência prolongada no hospital, à administração indiscriminada de antibióticos e à maior probabilidade de contaminação do ambiente de cuidado. Nesse sentido, para a prevenção de IRAS no contexto da UTI, é essencial adotar medidas rigorosas de controle de infecção, como a higienização 60 das mãos, a manipulação e os cuidados adequados dos dispositivos invasivos, a limpeza e desinfecção dos ambientes e a prática de técnicas assépticas durante procedimentos. Além disso, a educação contínua dos profissionais de saúde baseada em evidências científicas e a implementação de programas de vigilância epidemiológica são cruciais para identificar precocemente casos de infecção e interromper a cadeia de transmissão. Com base na importância dessa temática, ao longo deste material, abordaremos as particularidades da resistência bacteriana, os principais antimicrobianos utilizados em UTI e os aspectos gerais do uso racional de antibióticos. 2. Resistência bacteriana A resistência bacteriana é um desafio global que desperta grande preocupação, principalmente devido ao uso indiscriminado dos antimicrobianos. Enquanto a resistência aos antibióticos continua a aumentar, a descoberta de novos agentes antibióticos não avança na mesma proporção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a Resistência Antimicrobiana (RAM) como um desafio de saúde pública em nível global, caracterizado pela falta de resposta do microrganismo a um determinado fármaco ao qual anteriormente era sensível (Lima et al., 2022; Souza; Dias; Alvim, 2022). As bactérias não possuem resistência inata, mas, sim, uma certa sensibilidade que pode evoluir para resistência, que é um processo desencadeado devido à vulnerabilidade ou à suscetibilidade da cepa ou linhagem em questão. As cepas mais vulneráveis e frágeis são eliminadas quando expostas a um antibiótico, enquanto as mais resistentes persistem e têm a capacidade de disseminar seus 61 genes quando em contato com certos compostos químicos, como os antibióticos. Dessa forma, a resistência pode ser definida como a capacidade de um microrganismo de se adaptar e sobreviver aos tratamentos medicamentosos aos quais é submetido, sendo assim, resistentes a eles (Lima et al., 2022; Souza; Dias; Alvim, 2022). Além disso, o surgimento e a propagação de diversos microrganismos resistentes resultam da combinação de vários fatores, tais como: mutações em genes de resistência que ampliam sua capacidade de sobrevivência; transmissão de informações genéticas que passam genes de resistência para novos microrganismos; pressão seletiva do ambiente que favorece o surgimento e disseminação de microrganismos resistentes. No que tange à resistência antimicrobiana, as bactérias podem apresentar (Lima et al., 2022): • Produção de enzimas que degradam ou modificam os antibióticos. • Redução da permeabilidade da membrana externa. • Sistemas de efluxo. • Alteração do sítio de ligação do antibiótico. • Bloqueio ou proteção do sítio de ligação do antibiótico. A seguir, abordaremos tais mecanismos com mais detalhes: Enzimas responsáveis pela degradação de antibióticos: as enzimas que degradam antibióticos atuam na inativação desses agentes antimicrobianos. Os grupos principais de enzimas responsáveis são as beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) e carbapenemases. As ESBLs são enzimas com potencial de degradação de cefalosporinas 62 de 3ª e 4ª geração. Já as carbapenemases são as beta-lactamases com amplo espectro de degradação, sendo assim denominadas devido à capacidade de degradar carbapenêmicos. Um exemplo significativo é o KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase), identificado em várias espécies de bacilos gram-negativos, e não exclusivamente em Klebsiella pneumoniae, como o nome pode sugerir (Lima et al., 2022). Ainda, existem enzimas que realizam modificações nos antibióticos através da transferência de grupos químicos para a molécula do medicamento, o que resulta na inativação de aminoglicosídeos (como amicacina e gentamicina) e macrolídeos (como eritromicina, azitromicina e claritromicina). As principais enzimas responsáveis por essasmodificações em antibióticos são as enzimas modificadoras de aminoglicosídeos (AME), que alteram a estrutura química desses medicamentos (Lima et al., 2022). Redução da permeabilidade da membrana externa: mecanismo de resistência exclusivo das bactérias gram-negativas devido à presença da membrana externa na parede celular, uma característica ausente nas bactérias gram-positivas. Para que os antibióticos atinjam seu alvo no meio intracelular, é necessário que ultrapassem a membrana externa ou toda a parede celular. Dessa forma, a redução da permeabilidade pode ocorrer por mudanças na estrutura das porinas, que são proteínas de transporte, ou até mesmo pela perda delas, dificultando ou mesmo impossibilitando a passagem dos antibióticos (Lima et al., 2022). Esse mecanismo afeta, principalmente, a entrada de antibióticos beta-lactâmicos e fluoroquinolonas. Essas alterações são comuns em bactérias, como E. coli, K. pneumoniae, Enterobacter e P. aeruginosa. A perda de algumas porinas pode reduzir significativamente a sensibilidade à cefotaxima e ao cefepime, mas tem pouco impacto na sensibilidade aos carbapenêmicos (Lima et al., 2022). 63 Mecanismos de efluxo: processos naturais de eliminação de substâncias tóxicas produzidas pelo metabolismo bacteriano, os quais estão presentes na parede celular das bactérias e, em geral, são controlados por genes localizados nos cromossomos. No âmbito clínico, surge um problema quando esses mecanismos de efluxo têm sua atividade aumentada (hiperexpressão), seja devido à maior quantidade desses sistemas na bactéria e/ou a uma maior eficiência na excreção de substâncias tóxicas (sistemas hiperativos). A atividade dos sistemas de efluxo pode ser ampla, excretando diversos tipos de antibióticos de diferentes classes e subclasses, ou específica para um determinado fármaco, classe ou subclasse de antibiótico (Lima et al., 2022). Alteração do sítio de ligação do antibiótico: as mudanças estruturais nos alvos dos antibióticos podem resultar em impedimentos na ligação eficaz do medicamento ou na redução da afinidade da interação, impedindo a ligação dos antimicrobianos aos seus alvos. Alguns exemplos significativos desse fenômeno incluem o S. aureus resistente à meticilina (MRSA), Enterococcus resistentes à vancomicina (VRE), bem como a resistência às quinolonas e penicilina em diversas espécies bacterianas, como S. aureus, S. pneumoniae, S. mitis e N. gonorrhoeae (Lima et al., 2022). Em face da resistência induzida por essas alterações nos sítios-alvo, é essencial considerar opções terapêuticas alternativas. Por exemplo, se a resistência à oxacilina for detectada, isso indica que haverá resistência a todos os antibióticos beta-lactâmicos disponíveis, sendo necessário recorrer a drogas, como glicopeptídeos (vancomicina e teicoplanina), ou a outras opções de antibióticos sensíveis à bactéria, conforme indicado pelos resultados do antibiograma (Lima et al., 2022). Bloqueio ou proteção do sítio de ligação do antibiótico: pode ocorrer pelo espessamento da parede celular em S. aureus, que atua como uma barreira que impede o acesso dos glicopeptídeos (vancomicina e 64 teicoplanina) ao seu alvo, conferindo, assim, resistência intermediária a essas drogas nos chamados S. aureus intermediários à vancomicina ou glicopeptídeos (VISA/GISA), ou resistência total nos S. aureus resistentes à vancomicina (VRSA/GRSA) (Lima et al., 2022). 3. Antibióticos de amplo espectro Os antibióticos de amplo espectro são medicamentos que têm a capacidade de combater uma grande variedade de bactérias, sendo úteis no tratamento de infeções causadas por diferentes tipos de microrganismos. Em nosso material, abordaremos as cefalosporinas, os carbapenêmicos e as fluoroquinolonas como antibióticos de amplo espectro. 3.1 Cefalosporinas As cefalosporinas são um grupo de antibióticos beta-lactâmicos derivados de fungos, que possuem atividade bactericida ao inibir a transpeptidase, responsável pela síntese da parede celular bacteriana. Representam uma classe de antibióticos com uma série de vantagens, sendo notável o seu amplo espectro de ação que abrange tanto bactérias gram-positivas quanto gram-negativas. Por essa razão, esses medicamentos são amplamente utilizados na prática médica diária (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). Muitas cefalosporinas têm baixa absorção e, portanto, são administradas, geralmente, por via parenteral, sendo comumente utilizadas em ambientes hospitalares. No entanto, algumas, como a cefalexina, podem ser administradas por via oral. São considerados antibióticos de amplo espectro com novos derivados, como cefotaxima, ceftriaxona, ceftazidima e ceftarolina, mostrando eficácia contra 65 patógenos resistentes a outros antibióticos. Em geral, as cefalosporinas são bem toleradas, embora possam causar reações alérgicas, lesão renal, intolerância ao álcool e sangramentos devido ao antagonismo da vitamina K (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). Além disso, a subclasse das cefalosporinas é dividida em diferentes “gerações”, cada uma apresentando características específicas em termos de espectro antimicrobiano, potência, bem como propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas distintas. À medida que a geração das cefalosporinas avança, é possível notar um aumento da eficácia contra bactérias gram-negativas, ao mesmo tempo em que a potência contra bactérias gram-positivas diminui (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). 3.2 Carbapenêmicos Os carbapenêmicos são um grupo de antibióticos amplamente utilizados em ambientes hospitalares, sendo compostos por quatro principais tipos: imipenem, meropenem, ertapenem e doripenem (Ramalho Filho et al., 2022). O imipenem demonstra eficácia no combate a certas bactérias gram- negativas, incluindo ação contra pseudomonas, e apresenta atividade contra bactérias gram-positivas e anaeróbias. No entanto, não é eficaz contra Staphylococcus Aureus resistente à meticilina (MRSA). Para potencializar seus efeitos, é administrado com cilastatina, que inibe a enzima DHI-1 responsável pela degradação do medicamento nos rins, aumentando sua meia-vida e reduzindo a toxicidade renal (Ramalho Filho et al., 2022). Efeitos colaterais, como rash, febre e convulsões, são associados ao uso de imipenem, sendo o risco de convulsões reduzido com ajustes de dose 66 em pacientes com disfunção renal e em idosos. Indivíduos com histórico de convulsões ou lesões no sistema nervoso central devem evitar o uso desse medicamento (Ramalho Filho et al., 2022). Tanto o meropenem quanto o ertapenem possuem propriedades antibacterianas semelhantes ao imipenem, com o primeiro sendo mais eficaz contra bactérias gram-negativas e o segundo apresentando boa ação contra Beta-Lactamase de Espectro Estendido (ESBL); são enzimas que conferem resistência à maioria dos antibióticos beta-lactâmicos, sendo uma opção viável para infecções por enterobactérias produtoras deste tipo de enzima (Ramalho Filho et al., 2022). O doripenem, o mais recente da classe dos carbapenêmicos, demonstra atividade contra uma variedade de bactérias gram-negativas, gram-positivas e anaeróbias, incluindo Pseudomonas aeruginosa, Enterobacteriaceae, Acinetobacter spp e B. fragilis. Sua relação com convulsões como efeito adverso é menor se comparada com outros carbapenêmicos, tornando-o uma opção interessante para o tratamento de certas infecções (Ramalho Filho et al., 2022). 3.3 Fluoroquinolonas As fluoroquinolonas são medicamentos de amplo espectro que atuam inibindo a síntese de DNA bacteriano ao se ligarem às enzimas DNA girase bacteriana e topoisomerase IV. Alguns dos exemplos mais conhecidos desses medicamentos são a ciprofloxacina, a levofloxacina e a moxifloxacina (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). Esses medicamentos são eficazes contra certas bactérias gram- negativas aeróbias, como Salmonella spp, Shigellaspp e Haemophilus Influenzae, sendo menos eficazes no tratamento de infecções por MRSA. 67 A resistência a esse tipo de medicamento tem aumentado em algumas bactérias, como P. aeruginosa, Acinetobacter spp e Aeromonas hydrophila, devido ao seu uso indiscriminado (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). Entre as quinolonas, a ciprofloxacina é especialmente potente contra P. aeruginosa. Novas quinolonas, como levofloxacina e moxifloxacina, são eficazes contra Mycoplasma spp, Chlamydophila trachomatis, Ureaplasma urealyticum e Streptococcus (principalmente, pneumoniae e pyogenes), sendo úteis no tratamento da pneumonia pneumocócica. As quinolonas também são eficazes contra algumas micobactérias, como Mycobacterium tuberculosis, Mycobacterium kansasii e Mycobacterium fortuitum (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). Em relação às reações adversas, as fluoroquinolonas, geralmente, são seguras e bem toleradas, mas podem causar efeitos colaterais, como sintomas gastrointestinais (náuseas, dor abdominal, vômitos e diarreia), sintomas do sistema nervoso central (dores de cabeça, confusão mental, insônia), ruptura de tendão e reações de hipersensibilidade (erupções cutâneas e coceira) (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). As indicações para o uso de fluoroquinolonas incluem infecções do trato urinário (ITU, prostatite, pielonefrite), pneumonias, diarreias invasivas, infecções intra-abdominais e intrapélvicas, além de outras condições específicas determinadas por antibiograma (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). 4. Antibióticos para infecções específicas Diferentemente dos antibióticos de amplo espectro, os antibióticos específicos são direcionados para combater um grupo mais restrito de bactérias, sendo prescritos com base em testes de sensibilidade para 68 identificar o agente infeccioso específico. Esses antibióticos específicos são mais direcionados e têm um espectro de ação mais limitado em comparação com os de amplo espectro. A seguir, abordaremos em detalhes os antibióticos de espectro específico vancomicina, linezolida e anfotericina B. 4.1 Vancomicina A vancomicina é um antibiótico que atua inibindo a síntese da parede celular de certas bactérias. Em concentrações baixas, demonstra eficácia bactericida contra cocos e bacilos gram-positivos, como S. aureus (incluindo MRSA), estafilococos coagulase-negativos, S. pneumoniae, grupo viridans, Streptococcus spp, Streptococcus bovis, Clostridium sp e Diphtheria spp; e é bacteriostático para enterococos, necessitando da adição de um aminoglicosídeo (gentamicina ou estreptomicina) para ação bactericida. A administração intramuscular da vancomicina não é recomendada devido à sua alta irritabilidade nos tecidos, sendo preferencialmente administrada por via intravenosa. A forma oral do medicamento é reservada para pacientes com colite associada a antibióticos causada por Clostridium difficile (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). A eliminação da vancomicina ocorre, principalmente, pela urina, portanto é crucial monitorar pacientes com disfunção renal, ajustando a dosagem e realizando dosagens regulares para verificar os níveis da substância no sangue e da função renal. Para adultos sem comprometimento renal, a dose recomendada é de 2 a 3 gramas por dia, divididas em intervalos de 8 a 12 horas. A administração da medicação deve ser feita de forma lenta para minimizar possíveis efeitos colaterais. Em casos de infecções graves, uma dose inicial mais elevada (25-30 mg/kg) seguida por doses ajustadas de 15-20 mg/kg a cada 12 horas, conforme os níveis sanguíneos de vancomicina. A faixa ideal de 69 concentração de vancomicina no sangue para a maioria dos pacientes é entre 15-20 mcg/mL, podendo ser um pouco mais alta em casos de disfunção hemodinâmica grave e síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). Quanto às reações adversas, a vancomicina é a opção recomendada para pacientes alérgicos a penicilinas e cefalosporinas com infecções graves por bactérias gram-positivas. Embora raramente associada a reações de hipersensibilidade, como erupções cutâneas e febre, a administração rápida por via intravenosa pode causar rubor, formigamento, coceira, taquicardia, hipotensão e erupção cutânea vermelha no tronco e na face (síndrome do “pessoa vermelha”). Essa síndrome não é uma verdadeira reação alérgica, mas, sim, um fenômeno de liberação de histamina, podendo ser evitada com infusões lentas de vancomicina (não excedendo 15 mg por minuto ou 0,5 g em 60 minutos e 1 g em 60 a 90 minutos) ou com a administração prévia de um anti-histamínico. A ototoxicidade e nefrotoxicidade são efeitos adversos possíveis, porém pouco comuns (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). 4.2 Linezolida A linezolida é o primeiro medicamento da classe das oxazolidinonas disponível no mercado, atuando ao inibir o início da síntese de proteínas. Demonstrou ser eficaz contra bactérias, como MRSA, VRSA e VRE, sendo também capaz de eliminar S. pneumoniae resistente à penicilina. É recomendado para o tratamento de pneumonia adquirida no hospital e infecções complicadas na pele causadas por S. aureus (incluindo MRSA). A dose indicada é de 600 mg a cada 12 horas, podendo ser administrada por via intravenosa ou oral, com excelente absorção no organismo (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). 70 As reações adversas estão relacionadas à interação com inibidores da monoamina oxidase, inibidores seletivos da recaptação de serotonina e alimentos ricos em tiramina, podendo desencadear a síndrome da serotonina. Essa síndrome pode manifestar-se por sintomas, como confusão, agitação, coma, instabilidade autonômica, rubor, febre baixa, náusea, diarreia, diaforese, mioclonia, rigidez e, raramente, morte. O uso prolongado do medicamento pode levar à plaquetopenia, que é reversível (Ramalho Filho et al., 2022; Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). 4.3 Anfotericina B A anfotericina B (AmB) é considerada um dos antifúngicos mais eficazes, embora seu uso esteja associado a reações adversas, tais como respostas inflamatórias decorrentes das infusões e toxicidade renal, que pode evoluir para insuficiência renal aguda, necessitando de hemodiálise. Por essa razão, a AmB é utilizada, geralmente, como opção terapêutica de suporte em pacientes que não toleram ou não respondem adequadamente a outros agentes antifúngicos menos tóxicos (Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). Durante as infusões de AmB, é comum a ocorrência de sintomas, como febre, calafrios, náuseas, vômitos e tremores. Essas reações adversas costumam ser mais intensas na primeira infusão e tendem a diminuir em gravidade com infusões subsequentes. Para reduzir a intensidade desses sintomas, algumas medidas são adotadas, tais como a administração de paracetamol e difenidramina antes da infusão, e meperidina em casos de tremores persistentes. Caso a pré-medicação não seja suficiente, a adição de hidrocortisona à infusão de AmB pode ser considerada (Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). É preferível realizar as infusões de AmB por meio de um acesso venoso central, a fim de minimizar o risco de flebite associado à administração 71 do medicamento por veias periféricas. Além disso, a AmB tem afinidade pelo colesterol presente na superfície das células epiteliais renais, podendo causar lesões nos túbulos renais, resultando em aumento da excreção urinária de potássio e magnésio, com risco de hipocalemia e hipomagnesemia (Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). Para reduzir o risco de lesão renal, foram desenvolvidas formulações especializadas de AmB que aumentam a ligação do medicamento às membranas celulares fúngicas e reduzem a interação celular. Essas formulações, como a anfotericina lipossomal e o complexo lipídico de anfotericina B, demonstraram ser eficazes na redução daincidência de reações nefrotóxicas, sendo que a preparação lipossomal apresenta uma maior redução nesse tipo de efeito adverso. No entanto, é importante ressaltar que ambas as formulações possuem um custo elevado (Lüllmann; Mohr; Hein, 2017). 5. Uso racional de antibióticos A otimização do uso dos antimicrobianos pode controlar a disseminação da resistência microbiana, reduzir os efeitos adversos desses medicamentos, melhorar as taxas de cura de infecções e resultar em economia nos custos para os serviços de saúde, além de promover a segurança do paciente. O desenvolvimento da resistência microbiana é uma inevitabilidade evolutiva, mesmo com o uso adequado e moderado de antimicrobianos. No entanto, é crucial fazer todos os esforços para retardar sua propagação e mitigar seus impactos. Portanto, torna-se imperativo implementar o gerenciamento do uso de antimicrobianos e adotar medidas de prevenção e controle das IRAS para reduzir efetivamente a disseminação da resistência microbiana nos serviços de saúde (Brasil, 2023). 72 Por isso, é altamente recomendável que os hospitais, especialmente os de maior complexidade e que possuam leitos de UTI, implementem Programas de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos (PGA). A Organização Mundial da Saúde define o Programa de Gerenciamento de Antimicrobianos (PGA) como um conjunto integrado de intervenções baseadas em evidências que visam promover o uso consciente e adequado de antimicrobianos (Brasil, 2023). Para atingir esse objetivo, é essencial que a prescrição seja feita somente quando necessária, que haja otimização na escolha, dosagem, via de administração e duração do tratamento. Além disso, é importante estabelecer um diagnóstico preciso para maximizar a eficácia terapêutica e minimizar as consequências indesejáveis, como efeitos adversos, toxicidades e o desenvolvimento de microrganismos multirresistentes. Essas ações são complementadas pelo acesso a antimicrobianos de qualidade e acessíveis, bem como por intervenções que previnem IRAS e infecções adquiridas na comunidade, incluindo a implementação de componentes essenciais de prevenção e controle de infecções (Brasil, 2023). A implementação do PGA tem como objetivo principal aprimorar a segurança do paciente e garantir resultados clínicos positivos no uso de antimicrobianos, minimizando efeitos colaterais indesejados e resistência microbiana. Além disso, essa abordagem pode resultar na redução de custos significativos para os serviços de saúde. De acordo com a Nota Técnica GVIMS/GGTES/ANVISA nº 06/2021, a implementação do Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em hospitais requer elementos cruciais, tais como o apoio da alta administração hospitalar, a definição de responsabilidades de todos os profissionais envolvidos, a promoção de atividades educativas, a implementação de ações para aprimorar a prescrição de antimicrobianos, o monitoramento do programa e a divulgação dos resultados obtidos (Brasil, 2023). 73 Com o intuito de auxiliar e orientar os serviços de saúde na elaboração e implementação do PGA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, em 2017, a Diretriz Nacional para Elaboração de Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Serviços de Saúde. Portanto, é imprescindível que os hospitais no país adotem seus próprios PGAs, adaptando a execução dos elementos essenciais conforme sua realidade, necessidades locais, perfil epidemiológico e microbiológico, bem como as barreiras e os recursos disponíveis, visando à utilização otimizada de antimicrobianos nos ambientes institucionais (Brasil, 2023). Referências BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretriz Nacional para Elaboração de Programa de Gerenciamento de Antimicrobianos em Serviços de Saúde. Brasília: Anvisa, 2023. Disponível em: https://l1nk.dev/u4DuX. Acesso em: 1º abr. 2024. LIMA, V. C. C. A. et al. Importância do controle das infecções hospitalares para minimizar a resistência bacteriana. In: LIMA, V. C. C. A. et al. Caminhos das investigações sociais e de saúde na contemporaneidade. Rio de Janeiro: Epitaya, 2022. Disponível em: https://l1nq.com/pubFj. Acesso em: 30 mar. 2024. LÜLLMANN, H.; MOHR K.; HEIN, L. Farmacologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. RAMALHO FILHO, M. H. N. et al. Manual de farmacologia em medicina intensiva. Fortaleza: EdUnichristus, 2022. 553 p. Disponível em: https://bit.ly/48YeIxU. Acesso em: 8 mar. 2024. SOUZA, J.; DIAS, F. R.; ALVIM, H. G. de O. Resistência bacteriana aos antibióticos. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, São Paulo, v. 5, n. 10, p. 281-293, 2022. Disponível em: https://l1nq.com/XvKiw. Acesso em: 1º abr. 2024. https://l1nk.dev/u4DuX https://l1nq.com/pubFj https://bit.ly/48YeIxU https://l1nq.com/XvKiw 74 Sumário Apresentação da disciplina Introdução à Farmacologia em UTI Objetivos 1. Farmacocinética e farmacodinâmica no paciente crítico 2. Monitorização terapêutica de medicamentos 3. Administração segura de medicamentos Referências Sedação, analgesia e controle da dor em UTI Objetivos 1. Fisiologia da dor 2. Medicamentos analgésicos 3. Medicamentos sedativos 4. Avaliação da dor 5. Avaliação da sedação 6. Estratégias multimodais de controle da dor em UTI Referências Terapia cardiovascular em UTI Objetivos 1. Drogas vasoativas 2. Medicamentos antiarrítmicos 3. Diuréticos 4. Anticoagulantes 5. Antiagregantes plaquetários Referências Antibioticoterapia em UTI Objetivos 1. Introdução 2. Resistência bacteriana 3. Antibióticos de amplo espectro 4. Antibióticos para infecções específicas 5. Uso racional de antibióticos Referênciasde órgãos vitais durante períodos de instabilidade hemodinâmica ou no uso de medicamentos vasoativos. Portanto, a administração de medicamentos por via oral pode ser menos confiável e menos indicada para esses pacientes, devido às alterações fisiológicas que podem afetar a absorção e a metabolização dos medicamentos (Ramalho Filho et al., 2022). Via sublingual: os comprimidos são colocados sob a língua para uma absorção mais rápida e eficaz, evitando a passagem pelo trato gastrointestinal e a metabolização hepática, uma vez que a irrigação sanguínea da mucosa oral alcança diretamente a veia cava superior. Embora possa ser utilizada em terapia intensiva, não é comum (Ramalho Filho et al., 2022). Via retal: pouco utilizada em terapia intensiva, sendo mais comum no tratamento da obstipação intestinal em pacientes críticos através 10 de enemas ou clister. Cerca de 50% do fluxo venoso retal chega diretamente à circulação porta, sendo essa via indicada para os fármacos suscetíveis à inativação gastrointestinal e hepática. É indicada para pacientes em estados de coma, inconsciência, náuseas e vômitos, sendo contraindicada para pacientes com motilidade intestinal aumentada, além do risco de irritação da mucosa. No entanto, devido à absorção imprevisível e à necessidade de metabolismo de primeira passagem, também não é uma via rotineira de administração em terapia intensiva (Ramalho Filho et al., 2022). Via transdérmica: apresenta vantagens, como evitar o trato gastrointestinal e o efeito de primeira passagem hepática, porém pode causar irritações e alergias na pele, além de ter limitações de doses (0,1 a 0,5 mililitros). No Brasil, poucos medicamentos estão disponíveis nessa forma de administração, sendo pouco utilizada em unidades de terapia intensiva. O fentanil é uma das medicações mais comuns administradas via transdérmica para o controle da dor em pacientes (Ramalho Filho et al., 2022). Via subcutânea: os medicamentos são administrados abaixo das camadas superficiais da pele, no tecido subcutâneo. A absorção acontece por meio de difusão simples e é mais lenta do que quando administrada por via intravenosa, porém possui um certo nível de previsibilidade. Pode ocasionar efeitos gradualmente lentos e prolongados, como é o caso da insulina, sendo uma escolha relevante para pacientes em cuidados paliativos ou que não apresentam rede venosa viável para a inserção de acessos intravenosos, sendo indicada a realização de administração de medicamentos por hipodermóclise. É importante notar que a utilização de substâncias vasoativas pode afetar a absorção dos medicamentos pela via subcutânea, especialmente no caso do uso de heparina de baixo peso molecular, uma das terapias mais comuns em ambientes de terapia intensiva para prevenção de tromboembolismo venoso (Ramalho Filho et al., 2022). 11 Via intravenosa: a via de administração mais utilizada nas unidades de terapia intensiva, pois proporciona uma biodisponibilidade completa do medicamento, uma vez que este é administrado diretamente na corrente sanguínea, o que permite a liberação da dose de forma precisa e rápida, podendo ser administrada tanto de forma rápida quanto lenta por meio da utilização de bombas de infusão ou controle de gotejamento convencional. É a via de administração mais comumente utilizada entre pacientes internados, sendo possível infundir medicamentos através de veias periféricas ou por meio de vasos profundos centrais (Ramalho Filho et al., 2022). Via intramuscular: consiste na administração de medicamentos nos músculos esqueléticos, principalmente no glúteo máximo, no deltoide e no vasto lateral. Por meio da administração na forma de injeção, forma-se um depósito do fármaco no músculo, prolongando, assim, sua absorção; se forem utilizadas substâncias oleosas e suspensões, o tempo de absorção será mais lento. Contudo, em pacientes em estado crítico, essa via não é tão confiável devido às condições clínicas dos pacientes, como distúrbios de coagulação, baixa massa muscular e instabilidade hemodinâmica. O uso da via intramuscular é restrito a algumas situações, sendo a anafilaxia a principal delas (Ramalho Filho et al., 2022). Vias intratecal/peridural/epidural: essas vias são comumente empregadas para controle da dor no pós-operatório através de cateteres, com o objetivo de promover alívio da dor de forma prolongada e efetiva. A presença desses dispositivos é relativamente comum em unidades de terapia intensiva (Ramalho Filho et al., 2022). Via inalatória: promove uma absorção eficaz e rápida, além de evitar o metabolismo de passagem inicial no fígado. É muito utilizada para a administração de medicamentos em casos de doenças pulmonares. 12 O efeito do medicamento é rápido e com baixa absorção sistêmica, atuando de forma mais localizada (Ramalho Filho et al., 2022). Após a absorção, o fármaco passa pelo processo de distribuição, passando do plasma sanguíneo para o interstício e, depois, para as células dos órgãos e tecidos. Para os medicamentos administrados por via intravenosa, não há fase de absorção de primeira passagem hepática, e o primeiro processo será a distribuição, com rápida circulação e penetração nos tecidos, resultando em um efeito mais rápido quando comparado com as outras vias (Ramalho Filho et al., 2022). No que tange à distribuição do fármaco, esse processo é influenciado por fatores fisiológicos, como a idade, o fluxo sanguíneo nos diferentes órgãos, a permeabilidade dos vasos sanguíneos e o volume dos tecidos. Além disso, características físico-químicas do medicamento, como sua lipossolubilidade e afinidade por proteínas, também afetam sua distribuição nos tecidos. Dessa forma, medicamentos com alta lipossolubilidade atravessam mais facilmente as membranas celulares, pois se dissolvem em sua superfície, que também é lipídica. Já medicamentos hidrossolúveis apresentam mais dificuldade, pois conseguem passar somente através de proteínas de canal (Ramalho Filho et al., 2022). Ainda, alguns medicamentos circulam no sangue ligados às proteínas plasmáticas, como a albumina, a glicoproteína ácida α-1 e as globulinas. Essas proteínas funcionam como reservatórios, com a finalidade principal de prolongar a liberação do medicamento no organismo. Apenas a parte do medicamento que não está ligada às proteínas fica disponível entre os fluidos intra e extracelular. Conforme a concentração do medicamento livre diminui, devido à sua liberação nos tecidos e à sua metabolização e consequente eliminação, o medicamento ligado se desprende da proteína para se tornar disponível, mantendo a concentração constante e de forma prolongada no organismo (Ramalho Filho et al., 2022). 13 Quanto ao fluxo sanguíneo regional, os órgãos mais irrigados são o fígado, os rins e o cérebro, que recebem a maior parte dos medicamentos, enquanto a disseminação para outros tecidos é mais lenta. No contexto de pacientes críticos, diversas situações podem afetar a distribuição de um medicamento no organismo, tais como: a reposição volêmica, o edema, as mudanças na ligação a proteínas e a disfunção hemodinâmica (má circulação regional e sistêmica) (Ramalho Filho et al., 2022). A exemplo da reposição volêmica, pode resultar em um aumento no volume total de volume no corpo, levando a uma diminuição na concentração (hemodiluição) de medicamentos na corrente sanguínea e, consequentemente, a uma possível ineficácia por conta da subdosagem (redução da dose), podendo ocasionar resistência bacteriana, como no caso de antibióticos, uma vez que a disponibilidade do fármaco estará aquém da dose-resposta necessária. Outro fator importante é a perfusão tecidual, em situações de choque ou outras condições que comprometam o fluxo sanguíneo para os tecidos, a distribuição dos fármacos pode ser prejudicada, resultando em níveis subterapêuticos (Ramalho Filho et al., 2022). Quanto à ligação às proteínas, a glicoproteína ácida α-1 tende a se elevardiante de quadros de inflamação, o que resulta em menor quantidade de medicamentos disponíveis na corrente sanguínea, como no caso dos opioides. Já os níveis de albumina tendem a reduzir em pacientes críticos, resultando em uma maior concentração de alguns medicamentos na corrente sanguínea, como no caso dos antiepilépticos (Ramalho Filho et al., 2022). Adicionalmente, as interações medicamentosas desempenham um papel crucial na fase de distribuição da farmacocinética em pacientes críticos. A administração simultânea de determinados medicamentos pode alterar a ligação do fármaco às proteínas plasmáticas, influenciando sua distribuição nos tecidos (Ramalho Filho et al., 2022). 14 Após a administração, a absorção, a distribuição e a ação farmacológica do fármaco, é essencial que ele passe por um processo de metabolização para ser inativado e excretado adequadamente pelo corpo. Esse processo é essencial, especialmente porque a maioria dos medicamentos utilizados na UTI são lipofílicos, o que torna a excreção renal e biliar pouco eficaz, sendo necessário transformá-los em formas inativas e hidrofílicas. Para isso, os medicamentos podem passar por até duas fases de metabolização, denominadas de Fase I e Fase II (Ramalho Filho et al., 2022). A Fase I compreende a oxidação, a redução e a hidrólise do medicamento, o que o torna mais solúvel em água e mais facilmente eliminado pelo corpo. Neste estágio, enzimas, como o citocromo P450, realizam a conversão do composto original em um metabólito mais reativo. Já a Fase II é responsável pela conjugação do metabólito formado na Fase I com moléculas, como glicina, sulfato ou glutationa, com o objetivo de tornar o composto mais polar e facilitar sua excreção pelos rins (Ramalho Filho et al., 2022). Diversos órgãos, como o trato gastrointestinal, os rins e os pulmões, estão envolvidos nesse processo, dependendo da vida média e das características bioquímicas do medicamento, sendo o fígado o principal órgão responsável por essa função. Cabe destacar que a eliminação dos medicamentos pelo fígado está relacionada ao fluxo sanguíneo hepático, o qual pode estar alterado em pacientes com disfunção hemodinâmica. Além disso, diversas condições clínicas e interações medicamentosas podem prejudicar a biotransformação, seja através da indução de enzimas ou da inibição dessas vias. Essas alterações podem levar a uma diminuição da depuração dos fármacos, diminuindo sua excreção e aumentando o risco de toxicidade (Ramalho Filho et al., 2022). Por fim, como mencionado anteriormente, a excreção dos medicamentos é realizada, principalmente, pelos rins, através do 15 processo de filtração glomerular. Portanto, pacientes com disfunção renal aguda ou crônica devem ser monitorados constantemente, ajustando a dose de determinados medicamentos de acordo com a função renal. Além da eliminação renal, a excreção dos fármacos e seus metabólitos também pode ocorrer através da bile e das fezes. Já a excreção através do suor, da saliva e das lágrimas pode ser considerada insignificante, enquanto a excreção pulmonar é relevante apenas para fármacos inalatórios de ação anestésica, sendo desprezível para outras tipologias (Ramalho Filho et al., 2022). Quanto à farmacodinâmica em terapia intensiva, um dos conceitos mais relevantes é a relação dose-resposta, que descreve a relação entre a quantidade de medicamento administrada e a intensidade do efeito produzido. Isso inclui a compreensão dos mecanismos de ação dos medicamentos, suas interações com os receptores celulares e os processos bioquímicos que ocorrem como resultado da administração do fármaco. Além disso, a farmacodinâmica engloba também a variabilidade na resposta aos medicamentos entre os pacientes, a ocorrência de resistência aos fármacos e as interações medicamentosas (Brum; Rockenbach; Bellicanta, 2018). Para garantir a segurança e a eficácia da terapia farmacológica no contexto da terapia intensiva, é essencial considerar as características individuais de cada paciente, como idade, peso, função renal e hepática, além de monitorar de perto os parâmetros clínicos e laboratoriais para avaliar a eficácia ao tratamento. Diversos estudos têm sido realizados para investigar a farmacodinâmica dos medicamentos utilizados no contexto da terapia intensiva e identificar estratégias para otimizar o seu uso. A exemplo da Monitorização Terapêutica de Medicamentos (MTM), que tem sido amplamente empregada para ajustar as doses de medicamentos com estreita margem terapêutica, como antibióticos e anticoagulantes, com base nos níveis séricos (Brum; Rockenbach; Bellicanta, 2018). 16 Um dos principais desafios da farmacodinâmica em terapia intensiva é a necessidade de ajustar as doses dos medicamentos de acordo com as características individuais de cada paciente, como idade, peso, função renal e hepática, além de considerar as condições clínicas específicas de cada caso. Isso é crucial para garantir a eficácia do tratamento e minimizar o risco de toxicidade (Ramalho Filho et al., 2022). Dessa forma, é evidente que as alterações nas etapas da farmacocinética e da farmacodinâmica em pacientes críticos ainda são um desafio importante na prática clínica, exigindo uma abordagem individualizada e um monitoramento minucioso contínuo para garantir a eficácia e a segurança do tratamento farmacológico. É essencial que os profissionais de saúde, especialmente o enfermeiro, estejam cientes dessas alterações e ajustem as doses e os intervalos de administração dos medicamentos de acordo com as necessidades de cada paciente, a fim de otimizar os resultados terapêuticos e minimizar os riscos de eventos adversos e iatrogenias relacionadas aos fármacos (Brum; Rockenbach; Bellicanta, 2018). 2. Monitorização terapêutica de medicamentos A Monitorização Terapêutica de Medicamentos (MTM) é uma atividade de responsabilidade do farmacêutico clínico, que tem com finalidade garantir que a dose administrada ao paciente seja segura e eficaz. Uma das principais indicações para o uso da MTM são os medicamentos que apresentam uma margem estreita entre a dose terapêutica e a dose tóxica, aumentando o risco de efeitos indesejados. Além disso, situações, como suspeita de resposta inadequada ao tratamento, detecção de eventos adversos, monitoramento de interações medicamentosas, avaliação da adesão ao tratamento e descontinuação de um medicamento, também 17 podem ser incluídas como critérios para a MTM. Sua realização é operacionalizada através de medições regulares das concentrações de um medicamento em amostras de sangue. Entretanto, sua aplicação na prática clínica não deve ser generalizada, uma vez que as dosagens de medicamentos já previamente estabelecidas devem levar em conta os resultados de estudos pré-clínicos e clínicos. Soma-se a isso o alto custo associado à realização desse procedimento (CFF, 2022). Embora os regimes de dosagem sejam derivados de estudos criteriosos, como mencionado anteriormente, há populações que não são contempladas ou simplesmente não se encaixam nessa generalização, como: pacientes criticamente enfermos; pacientes com diagnóstico de câncer; vítimas de múltiplos traumas; pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos complexos; grandes queimados; quadros de insuficiência cardíaca, hepática ou renal. Além disso, fatores, como o comportamento do paciente e o uso de outros medicamentos, podem influenciar a eficácia na prática. Nesse sentido, a MTM surge como uma ferramenta valiosa para otimizar os resultados clínicos, especialmente diante da variabilidade não detectada nos estudos convencionais, o que pode aumentar o risco de eventos adversos (CFF, 2022). Vale a pena destacar que a MTM é utilizada em um grupo limitado e restrito de medicamentos, como antibióticos, anticonvulsivantes de primeira geração, estabilizadores de humor, antipsicóticos, imunossupressores, agentes antineoplásicos, junto a fármacos mais antigos, comodigoxina e teofilina (CFF, 2022). Para uma MTM ser eficaz, deve levar em conta as necessidades do paciente por meio de anamnese, revisão de prontuário, avaliação de parâmetros clínicos, características físicas, hábitos de vida, dados bioquímicos, histórico clínico e tratamento farmacoterapêutico. Também, deve incluir a avaliação da concentração do medicamento em fluidos biológicos. A partir disso, o farmacêutico responsável desenvolve 18 diretrizes específicas, as quais devem abordar as faixas de concentração esperadas e o raciocínio clínico para ajustar a dose ou trocar o medicamento (CFF, 2022). A coleta de amostras de sangue deve ser feita levando em consideração a situação clínica do paciente e os princípios farmacocinéticos. Fatores, como o estado de equilíbrio do medicamento, os horários de administração e a via de uso, são imprescindíveis para determinar o momento adequado da coleta. Ignorar esses aspectos pode comprometer o ajuste da dose e a interpretação dos níveis plasmáticos. Geralmente, orienta-se a coleta em até 30 minutos antes da próxima dose (CFF, 2022). 3. Administração segura de medicamentos A administração de medicamentos requer um amplo conhecimento técnico-científico, abrangendo áreas, como farmacologia, anatomia, fisiologia, microbiologia e bioquímica, entre outras disciplinas relevantes. É imprescindível familiarizar-se não apenas com o medicamento em si mas também com suas indicações terapêuticas, contraindicações e possíveis efeitos colaterais, a fim de prevenir equívocos que possam comprometer a segurança do paciente. Para facilitar essa tarefa, é recomendável sempre recorrer a fontes confiáveis de informação, tais como manuais de bolso, farmacopeias e softwares especializados em saúde nessa temática, que podem fornecer orientações precisas de forma ágil e eficiente (Coren-SP, 2022). Embora a etapa de administração de medicamentos seja uma das últimas fases do processo de cuidados nesse contexto, ela está associada a uma proporção significativa de eventos adversos. Os erros nesse estágio são frequentemente resultantes de múltiplos fatores, 19 exigindo uma análise criteriosa e constante vigilância para identificar suas principais causas e preveni-las. Estabelecer protocolos específicos para o preparo e a administração de medicamentos é essencial, especialmente em ambiente de terapia intensiva, que conta com uma ampla variedade de fármacos, incluindo drogas vasoativas, sedativos e antibióticos (Coren-SP, 2022). Nesse sentido, a prática da verificação sistemática se mostra fundamental, mesmo diante da adoção de sistemas de prescrição informatizados, os quais não eliminam a responsabilidade do profissional de saúde. Historicamente, a equipe de enfermagem tem seguido os princípios dos “cinco certos” na administração de medicamentos. No entanto, ao longo do tempo, foram incorporados novos elementos de verificação, resultando na configuração dos “nove certos na administração de medicamentos”, uma estratégia eficaz que contribui para a redução de eventos adversos. De acordo com o Coren-SP (2022), os nove certos recomendados para a prática segura da administração de medicamentos e como implementá-los são: 1. Paciente certo: perguntar ao paciente seu nome completo e realizar a dupla checagem para confirmar a identidade dele, verificando a correspondência com a pulseira de identificação, o nome no leito e no prontuário. Em casos de baixo nível de consciência, utilizar pelo menos três identificadores diferentes, incluindo a pulseira de identificação. 2. Medicamento certo: confirmar se o nome do medicamento coincide com a prescrição. Conhecer o paciente, suas alergias e garantir que não seja alérgico ao medicamento prescrito também é de extrema importância. Pacientes alérgicos devem ser identificados de forma diferenciada, com pulseira e aviso no prontuário, a fim de alertar toda a equipe. Todos os procedimentos devem ser devidamente registrados no prontuário e notificados. 20 3. Via certa: identificar a via de administração prescrita, verificando se é a mais adequada para o medicamento em questão. Verificar se o diluente e a velocidade de infusão estão corretos, bem como a compatibilidade com os produtos utilizados. Em casos de administração por sonda nasogástrica, nasoentérica ou via parenteral, identificar e conferir a conexão correta. A antissepsia do local de aplicação para administração por via parenteral também é indispensável, assim como a higienização das mãos antes do preparo e da administração do medicamento. Esclarecer qualquer dúvida com a supervisão de enfermagem, prescritor ou farmacêutico antes da administração. 4. Hora certa: a administração do medicamento no horário correto é essencial para garantir uma resposta terapêutica adequada. O preparo do medicamento deve ser feito de acordo com as recomendações do fabricante, assegurando sua estabilidade. Qualquer antecipação ou atraso deve ser feito somente com o consentimento do enfermeiro e do prescritor, garantindo a segurança do paciente. 5. Dose certa: verificar com precisão a dosagem prescrita para o medicamento. Doses que contenham “zero”, “vírgula” e “ponto” devem ser analisadas com atenção redobrada, esclarecendo eventuais dúvidas com o médico sobre a quantidade desejada, uma vez que erros podem resultar em doses até 100 vezes maiores do que o necessário. Certificar-se de que a infusão programada corresponde à prescrição específica para o paciente em questão. Além disso, é importante conferir a unidade de medida utilizada na prescrição, solicitando esclarecimentos ao médico em caso de medidas imprecisas, como colher de chá, colher de sopa ou ampola, a fim de obter uma prescrição com unidades de medida do sistema métrico. 21 No caso de medicamentos administrados por infusão contínua, é essencial verificar a velocidade de gotejamento, a programação e o funcionamento das bombas de infusão. Para medicamentos potencialmente perigosos ou de alta vigilância, é recomendável realizar uma dupla checagem dos cálculos para o preparo e a programação da bomba. Medicações de uso “se necessário” devem vir acompanhadas da dose, da posologia e das condições de uso. Caso haja orientações vagas, como “fazer se necessário” ou “conforme ordem médica”, é imprescindível solicitar esclarecimentos adicionais ao prescritor para garantir uma administração segura. É importante ressaltar que medicamentos não devem ser administrados em casos de prescrições vagas, como “a critério médico”. 6. Registro certo da administração: registrar o horário da administração do medicamento na prescrição. Além disso, verificar o horário de administração a cada dose. Todas as ocorrências relacionadas aos medicamentos, como adiamentos, cancelamentos, falta de estoque, recusa do paciente e eventos adversos, devem ser registradas de forma detalhada. 7. Orientação correta: antes de administrar um medicamento ao paciente, é fundamental esclarecer eventuais dúvidas sobre a indicação, a posologia ou qualquer outra informação com o prescritor. Também, orientar e instruir o paciente sobre o medicamento que está sendo administrado (nome), a justificativa da prescrição, os efeitos esperados, bem como os efeitos que requerem acompanhamento e monitorização. O paciente deve ter o direito de conhecer a aparência (cor e formato) dos medicamentos que está recebendo, a frequência de administração e a indicação, o que pode ajudar a prevenir erros de medicação. 8. Forma certa: verificar se a forma farmacêutica e a via de administração prescritas estão corretas, garantindo que elas são 22 adequadas à condição clínica do paciente. Em caso de dúvidas, é recomendável consultar o enfermeiro, farmacêutico ou prescritor. A farmácia deve disponibilizar o medicamento em dose unitária ou fornecer um manual de diluição, preparo e administração, caso seja necessário triturar e suspender o medicamento para administração por sonda nasogástricaou nasoentérica. 9. Resposta certa: observar atentamente o paciente para identificar se o medicamento teve o efeito desejado. Todos os efeitos diferentes do esperado devem ser registrados no prontuário e comunicados ao prescritor. É essencial manter uma comunicação clara com o paciente e/ou cuidador. Os relatos do paciente e/ ou cuidador sobre os efeitos dos medicamentos administrados, incluindo respostas atípicas, devem ser considerados. Todos os parâmetros de monitorização adequados, como sinais vitais e glicemia capilar, devem ser registrados de forma precisa. Conectando à Realidade: Exemplos Práticos A administração segura de medicamentos é um processo fundamental na prática de enfermagem, visando garantir a correta administração de medicamentos, prevenir erros e promover a segurança do paciente. Imagine que, em um hospital, um enfermeiro está responsável por administrar o medicamento prescrito a um paciente. Antes de iniciar a administração, ele verifica a prescrição, confere a identidade do paciente, checa alergias conhecidas e avalia a necessidade de ajustes na dosagem conforme o quadro clínico. O enfermeiro prepara o medicamento de acordo com as orientações, verificando a compatibilidade dos medicamentos a serem administrados simultaneamente. Durante a administração, ele confere a via correta, a dosagem exata e fornece orientações claras ao paciente sobre os efeitos esperados e as possíveis reações adversas. 23 Ao seguir rigorosamente os protocolos de administração segura de medicamentos, o enfermeiro assegura que o paciente receba o tratamento de forma adequada, minimizando riscos de erros. Essa prática resulta em um cuidado eficaz, promovendo a segurança e o bem- estar do paciente durante o processo de tratamento. Neste exemplo, destaca-se a importância do enfermeiro na administração segura de medicamentos, garantindo que o tratamento seja realizado de forma correta e segura. Ao seguir os protocolos e procedimentos estabelecidos, o enfermeiro demonstra seu compromisso com a segurança do paciente, evitando erros que poderiam prejudicar a eficácia do tratamento. A atenção aos detalhes e a prática cuidadosa resultam em um cuidado de qualidade e confiabilidade para o paciente. Referências BRUM, L. F. S.; ROCKENBACH, L.; BELLICANTA, P. L. Farmacologia básica. Porto Alegre: SAGAH, 2018. 349 p. CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Monitorização terapêutica de medicamentos: contextualização e arcabouço conceitual. Brasília: CFF, 2022. Disponível em: https://bit.ly/43j9Li1. Acesso em: 8 mar. 2024. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO. Segurança do paciente: guia para a prática. São Paulo: COREN-SP, 2022. Disponível em: https://bit. ly/3Txq8Ev. Acesso em: 13 mar. 2024. RAMALHO FILHO, M. H. N. et al. Manual de farmacologia em medicina intensiva. Fortaleza: EdUnichristus, 2022. 553 p. Disponível em: https://bit.ly/48YeIxU. Acesso em: 8 mar. 2024. https://bit.ly/43j9Li1 https://bit.ly/3Txq8Ev https://bit.ly/3Txq8Ev https://bit.ly/48YeIxU 24 Sedação, analgesia e controle da dor em UTI Autoria: Danieli Juliani Garbuio Tomedi Leitura crítica: Michele Nakahara-Melo Objetivos • Descrever todas as etapas envolvidas no processo de nocicepção, incluindo os neurotransmissores. • Apresentar os principais medicamentos analgésicos utilizados em terapia intensiva. • Apresentar os principais medicamentos sedativos utilizados em terapia intensiva. • Apresentar as escalas de avaliação de dor e de sedação do paciente crítico e as estratégias multimodais de controle da dor. 25 1. Fisiologia da dor Ansiedade, depressão e dor são sintomas comuns em unidades de terapia intensiva (UTI), estando relacionados a um sofrimento intenso e a resultados desfavoráveis para os pacientes. Diversos fatores podem desencadear esse desconforto, tais como aspiração traqueal, mudança de decúbito, curativos, presença de tubo traqueal, traumas, lesões cirúrgicas, queimaduras, sondas nasogástricas, cateteres centrais e arteriais, drenos, escaras, punções venosas ou arteriais e uso de faixas para restrição dos membros. Isso ressalta a importância do uso de medicamentos para aliviar o desconforto decorrente de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos. Portanto, é essencial que a equipe de saúde esteja atenta a essas causas e adote medidas para garantir o controle da dor e o bem-estar dos pacientes, evitando, assim, possíveis complicações e promovendo uma recuperação mais eficaz e, consequentemente, qualificando a assistência prestada. Nesse contexto, compreender a fisiologia da dor se torna fundamental para assegurar um controle eficaz e um tratamento adequado no contexto dos pacientes assistidos na UTI. Portanto, iniciaremos nosso texto abordando o processo complexo que envolve a transdução, a transmissão, a percepção e a modulação de sinais neurais em resposta a estímulos nocivos, ilustrado na Figura 1. 26 Figura 1 – Etapas da nocicepção Fonte: Hinkle e Cheever (2020, p. 237). 27 O estímulo doloroso se inicia na transdução, que envolve a ativação dos nociceptores distribuídos na pele, no tecido subcutâneo e em estruturas orgânicas e musculoesqueléticas. Eles reagem seletivamente após danos nos tecidos causados por forças mecânicas, temperaturas extremas, substâncias químicas e agentes infecciosos. Após esses estímulos, substâncias excitatórias, como serotonina, bradicinina, histamina, substância P e prostaglandinas, são liberadas, transmitindo a sensação de dor ao longo da via nervosa (Hinkle; Cheever, 2020). As prostaglandinas iniciam as respostas inflamatórias, aumentando o edema e a dor no local da lesão. Para que ocorra a liberação das prostaglandinas, a enzima fosfolipase quebra os fosfolipídios em ácido araquidônico, que é transformado em prostaglandinas pela enzima ciclo- oxigenase (COX) (Hinkle; Cheever, 2020). A transmissão da dor é a segunda etapa do processo de percepção da dor. A transdução eficaz gera um potencial de ação que é transmitido pelas fibras A-delta (A-δ) e C. As fibras A-δ são levemente mielinizadas e conduzem os impulsos mais rapidamente do que as fibras C não mielinizadas, detectando lesões térmicas e mecânicas e permitindo uma localização rápida da dor. Por outro lado, as fibras C desmielinizadas conduzem impulsos mais lentos e respondem a diversos estímulos, resultando em dor difusa e sensação de queimação (Hinkle; Cheever, 2020). As informações nocivas são transmitidas pelos neurônios sensitivos primários para a medula espinhal, local no qual ocorre uma sinapse no corno dorsal. Esse processo envolve a liberação de neurotransmissores, como glutamato, neurocininas e substância P. O glutamato é crucial, pois se liga ao receptor NMDA, facilitando a transmissão da dor (Hinkle; Cheever, 2020). A percepção da dor envolve processos complexos, com participação da atividade neural associada à transmissão de estímulos nocivos. Para 28 isso, estruturas cerebrais superiores do tálamo e do sistema límbico são ativadas para que a consciência, as emoções e os impulsos relacionados à dor sejam experimentados. Apesar de diversos estudos nessa área, ainda há muito a ser estudado sobre a fisiologia da percepção da dor. Entretanto, devido à sua relevância, há uma extensa produção científica que sugere que as práticas mente-corpo, como distração e visualização, e meditação do tipo mindfulness podem ter um impacto significativo na maneira como a dor é percebida e sentida (Hinkle; Cheever, 2020). A modulação é a fase final da nocicepção, responsável por regular as informações provenientes de estímulos nocivos em diferentes níveis do corpo, desde a periferia até o córtex, mediada por substâncias neuroquímicas. Por exemplo, a serotonina e a norepinefrina atuam como neurotransmissores inibitórios liberados na medula espinhal e no tronco encefálico pelas fibras descendentes do sistema modulador (Hinkle; Cheever, 2020). Todas essas etapas da nocicepção destacam a complexidade de tal processo, enfatizandoa importância de terapias que considerem não apenas a percepção, mas também o controle da dor. A compreensão desses mecanismos pode auxiliar os profissionais de saúde no manejo adequado da dor em pacientes críticos, garantindo um cuidado mais humanizado e centrado nas demandas individuais de cada pessoa, o que contribui para a recuperação e bem-estar (Hinkle; Cheever, 2020). Diante da compressão do processo de fisiopatológico da dor, a seguir, apresentaremos os principais medicamentos para o manejo da dor na UTI. 2. Medicamentos analgésicos Os analgésicos são essenciais para aliviar o desconforto e reduzir o estresse fisiológico, a resposta inflamatória e o risco de complicações associadas 29 à dor não controlada. Além disso, seu uso adequado pode minimizar a necessidade de sedativos em excesso, prevenindo efeitos adversos, como delirium e dependência de ventilação mecânica (Viana; Zanei, 2020). A terapia farmacológica analgésica atua na redução da percepção da dor por meio da inibição da produção de mediadores da dor, no bloqueio do impulso nervoso até a medula espinhal e na alteração da percepção da dor no sistema nervoso central. Os opioides e os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) são os medicamentos mais comumente utilizados, e a cetamina e a lidocaína estão cada vem mais sendo utilizados na terapia intensiva para um controle mais eficaz da dor em pacientes críticos. Cada um desses medicamentos será abordado a seguir (Viana; Zanei, 2020; Ramalho Filho et al., 2022). 2.1 Opioides Os opioides são a base da analgesia em pacientes na UTI, principalmente pela sua capacidade de proporcionar analgesia e sedação de maneira eficaz. Seu mecanismo de ação para alívio da dor ocorre pela redução do fluxo de informações nociceptivas no corno dorsal da medula espinhal. Entre os opioides mais amplamente utilizados, temos a morfina e o fentanil, principalmente devido à segurança e à eficácia na administração parenteral contínua. Na sequência, abordaremos esses dois medicamentos (Ramalho Filho et al., 2022). A morfina, com doses iniciais variando entre 5 e 10 mg, meia-vida de três horas aproximadamente e início de ação lento, é a principal representante dos opioides. Por ser hidrossolúvel e metabolizada no fígado, ela pode gerar diversos metabólitos, os quais, inclusive, podem apresentar cerca de 20 vezes mais potencial analgésico antes de ser excretado pelos rins. Isso ressalta a importância do ajuste da dose em pacientes com disfunção renal (Ramalho Filho et al., 2022). 30 O fentanil, por sua vez, é altamente lipossolúvel, apresentando um início de ação rápido, em torno de dois a três minutos e uma meia- vida de três a seis horas, sendo administrado, geralmente, em doses de 2 a 10 μg/kg. Ele também é metabolizado no fígado e excretado pelos rins, mas, ao contrário da morfina, não possui metabólitos ativos, o que elimina a necessidade de ajuste de dose em pacientes com lesão renal. Em terapia intensiva, é o opioide mais indicado quando se busca um início rápido de ação, sendo o fármaco de escolha no esquema de sedação de pacientes em ventilação mecânica (Ramalho Filho et al., 2022). Embora eficazes no controle da dor, os opioides apresentam efeitos adversos, como tolerância, dependência e síndrome de abstinência, fazendo com que a escolha do opioide e sua dosagem sejam individualizadas conforme as características do paciente. Além de efeitos colaterais, como íleo paralítico e hipotensão, o uso de opioides pode causar delírios, supressão do sistema imunológico e outros problemas em pacientes críticos, especialmente aqueles com disfunções renais e hepáticas. A exposição prolongada a opioides pode levar à dessensibilização dos receptores nervosos, exigindo doses cada vez maiores para o mesmo efeito analgésico, contribuindo para o desenvolvimento de hiperalgesia em pacientes críticos (Vieira Junior; Prinz, 2022; Ramalho Filho et al., 2022). Diante desses desafios, há um movimento em direção ao uso estratégico de medidas analgésicas que reduzam a dependência de opioides, recomendando sua administração na menor dose eficaz e pelo menor tempo possível, combinada com outras opções analgésicas, como é o caso da abordagem multimodal, conforme discutiremos adiante (Vieira Junior; Prinz, 2022; Ramalho Filho et al., 2022). 31 2.2 Medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) atuam aliviando a dor ao inibir a produção de prostaglandinas pela enzima cicloxigenase, essencial no processo inflamatório. Desta forma, combatem a inflamação e reduzem a dor. Em pacientes críticos, os AINE podem ser uma opção viável, potencializando os efeitos analgésicos dos opioides e reduzindo seu consumo em até 30% a 50%. Além disso, não afetam o sistema nervoso, cardiovascular ou respiratório, agindo nos receptores periféricos de dor (Ramalho Filho et al., 2022). Dentro dessa classe, destacam-se o acetaminofeno (paracetamol) e o cetoprofeno. O acetaminofeno possui propriedades analgésicas e antipiréticas, podendo ser administrado oralmente ou por via parenteral. Todavia, seu uso requer cautela em idosos e pacientes com histórico de sangramento gastrointestinal. A hepatotoxicidade é debatida, mas estudos sugerem riscos apenas em doses acima de sete gramas diárias e em pacientes etilistas acima de quatro gramas diárias de álcool (Ramalho Filho et al., 2022). O Cetoprofeno pode ser uma opção para dores leves quando administrado por via parenteral em ampolas de 100 mg. Assim como outros AINEs, não deprime o sistema nervoso central, cardiovascular ou respiratório. Contudo, seu uso deve ser limitado em pacientes com risco de sangramentos, especialmente aqueles com lesões gástricas e em uso de anticoagulantes. Em asmáticos, há risco de broncoespasmo, e em pacientes com problemas renais, a indicação deve ser cuidadosa (Ramalho Filho et al., 2022). 2.3 Cetamina A cetamina é um medicamento utilizado para sedação e alívio da dor, agindo nos receptores NMDA e opioides. Recomenda-se seu uso como 32 complemento aos opioides no tratamento da dor pós-operatória em pacientes críticos, com doses de 0,05 a 0,15 μg/kg/h, para analgesia, e 1 a 2 μg/kg em bolus, para sedação. A cetamina é metabolizada, principalmente, no fígado, com menor ocorrência nos rins, no intestino e nos pulmões, resultando em três metabólitos ativos excretados na urina. Seus efeitos adversos incluem estimulação do músculo cardíaco, levando ao aumento da pressão sanguínea quando administrada em bolus, sendo útil em pacientes hemodinamicamente instáveis. Devido à ausência de efeitos no centro respiratório quando em doses baixas, é amplamente utilizado em procedimentos em pacientes extubados (Ramalho Filho et al., 2022). 2.4 Lidocaína A lidocaína é um medicamento antiarrítmico com efeito anestésico que vem sendo utilizado via intravenosa para o controle da dor pós- operatória, além de ser empregada em pacientes oncológicos e com dor neuropática. Em concentrações terapêuticas, a lidocaína bloqueia os canais de sódio, suprime os potenciais de ação em fibras nervosas lesionadas e possui efeito anti-inflamatório; no entanto, em doses mais elevadas, pode causar bloqueio em uma ampla gama de receptores, resultando em alto risco de efeitos cardiovasculares e neurotóxicos. Segundo um consenso internacional recente sobre o uso de analgésicos pós-operatórios, a lidocaína deve ser administrada em infusão contínua de até 1,5 mg/kg/h por, no máximo, 24 horas (Ramalho Filho et al., 2022). 3. Medicamentos sedativos A sedação é um dos fatores essenciais no cuidado aos pacientes críticos. Além de reduzir o desconforto e a ansiedade, a sedação é essencial para promover a amnésia de eventos desagradáveis e melhorar a tolerância 33 ao suporte ventilatório. Em situações que exigem períodos prolongados, como o uso de ventiladores mecânicos para auxiliar na respiração, a sedação intravenosa com infusão contínua é aopção mais adequada. Isso é importante, pois a administração contínua desses medicamentos permite obter concentrações plasmáticas mais estáveis e seguras. Os medicamentos mais utilizados para esse fim são benzodiazepínicos, propofol e dexmedetomidina, conforme descreveremos a seguir (Viana; Zanei, 2020; Ramalho Filho et al., 2022): 3.1 Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos, como o Diazepam e o Midazolam, são comumente usados para sedação em ambientes hospitalares, agindo no receptor benzodiazepínico para modular a ação do ácido gama- aminobutírico (GABA-A), um neurotransmissor inibitório central. Possuem alto índice terapêutico, com efeitos sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e relaxantes musculares (Viana; Zanei, 2020; Ramalho Filho et al., 2022). O Diazepam vem sendo menos utilizado devido ao risco de sedação excessiva e prolongada, enquanto o Midazolam é preferido em UTI, agindo rapidamente após administração intravenosa. Após administração intravenosa, observa-se rápida captação no cérebro e em outros órgãos bem perfundidos, com início da ação em cerca de 30 a 60 segundos após a administração. A dose recomendada é de 1 a 5 mg em bolus e administração contínua de 1 a 5 mg/h (Ramalho Filho et al., 2022). Apesar de seu uso frequente, o Midazolam está associado a resultados piores quando comparado a sedativos mais leves, como a dexmedetomidina e o propofol. Pode causar instabilidade hemodinâmica, e sua administração prolongada está relacionada a um despertar mais lento dos pacientes, devido ao acúmulo do 34 medicamento. Além disso, alguns medicamentos que usam a mesma enzima para metabolismo, como o Fentanil e o Propofol, aumentam sua duração (Ramalho Filho et al., 2022). 3.2 Propofol O Propofol é um sedativo hipnótico que atua como agonista do receptor GABA-A. Suas principais vantagens incluem início rápido de ação e despertar rápido, mesmo em administrações prolongadas, facilitando a titulação. O medicamento é rapidamente distribuído e eliminado pelo organismo, principalmente pelo fígado e pela urina. Esse medicamento apresenta efeitos depressores no sistema nervoso central e no músculo cardíaco, podendo causar instabilidade hemodinâmica devido à vasodilatação por bloqueio dos canais de cálcio. A dose recomendada varia entre 1 e 3 mg/kg/h, para garantir segurança e eficácia (Ramalho Filho et al., 2022). É importante destacar que a administração contínua de altas doses de propofol pode levar à síndrome da infusão de propofol, associada a eventos adversos graves, como insuficiência cardíaca, arritmias, acidose metabólica, hipertrigliceridemia, rabdomiólise e insuficiência renal. O tratamento envolve suspensão do fármaco, suporte e diálise, para evitar desfechos negativos, como óbito (Ramalho Filho et al., 2022). 3.3 Dexmedetomidina A dexmedetomidina, conhecida comercialmente como Precedex, é um fármaco usado para sedação, agindo no receptor α2 adrenérgico. Suas propriedades incluem efeitos sedativos, hipnóticos, ansiolíticos e analgésicos, reduzindo a atividade do sistema nervoso simpático. A analgesia ocorre pela redução da atividade dos neurônios nociceptivos e pela inibição da liberação de neurotransmissores, proporcionando 35 sedação superficial, com efeito sedativo em cerca de seis minutos após a administração e com duração inferior a dez minutos e meia-vida de, aproximadamente, duas horas, sendo metabolizada no fígado e eliminada, principalmente, pelos rins (Ramalho Filho et al., 2022). Além de não provocar instabilidade hemodinâmica, reduz o uso de anestésicos, especialmente opioides, e não causa depressão respiratória, mesmo em doses elevadas e em combinação com opioides. No entanto, a administração rápida está relacionada a efeitos vasoconstritores, resultando em bradicardia e hipertensão, enquanto a administração contínua está associada a efeitos vasodilatadores, podendo levar à hipotensão (Ramalho Filho et al., 2022). A dose recomendada varia de 0,2 a 1,4 μg/kg/h, sendo essencial seguir essas orientações para garantir a eficácia e a segurança do tratamento. A complexidade das interações farmacológicas destaca a importância de uma abordagem individualizada, considerando as características de cada paciente e monitorando possíveis efeitos adversos (Ramalho Filho et al., 2022). 4. Avaliação da dor A avaliação da dor em pacientes hospitalizados, especialmente em terapia intensiva, representa desafios significativos. Por isso, é fundamental adotar de forma sistemática o uso de protocolos de analgesia, com avaliação constante e monitoramento dos efeitos dos medicamentos analgésicos. O objetivo é não apenas aliviar a dor, mas também melhorar a qualidade do tratamento do paciente e reduzir as complicações (Viana; Zanei, 2020). Existem diversas formas de avaliar a dor em pacientes críticos, sendo as medidas unidimensionais e multidimensionais as mais comuns. As 36 medidas unidimensionais focam na intensidade da dor, considerando apenas um aspecto do sintoma. Já as medidas multidimensionais levam em conta não só a intensidade da dor, mas também outros aspectos, como o impacto da dor na qualidade de vida do paciente, suas emoções e suas alterações fisiológicas e comportamentais (Viana; Zanei, 2020). Entre as medidas unidimensionais mais utilizadas na avaliação da dor em pacientes críticos, estão a Escala Visual Analógica (EVA), a Escala Numérica (EN) e a Escala Verbal Descritiva (EVD). A EVA consiste em o paciente marcar em uma linha reta a intensidade da sua dor, variando de 0 a 10. A EN envolve o paciente atribuir um valor numérico de 0 a 10 para a intensidade da dor. Já a EVD é uma escala em que o paciente descreve a intensidade da dor utilizando palavras como leve, moderada e intensa (Viana; Zanei, 2020). Embora as medidas unidimensionais sejam úteis na avaliação da dor em pacientes críticos por serem simples e fornecerem uma avaliação rápida da intensidade da dor, é importante ressaltar que elas possuem limitações por não considerarem outros aspectos da dor, como sua natureza, sua localização e seu impacto na qualidade de vida do paciente. Além disso, lidar com pacientes críticos que têm dificuldades em expressar sua dor é um desafio (Viana; Zanei, 2020). Por isso, diversas escalas de avaliação multidimensional têm sido desenvolvidas para auxiliar os profissionais de saúde na identificação e no manejo adequado da dor em pacientes críticos, como a Escala Comportamental de Dor (BPS) e a Escala de Observação da Dor em Paciente Crítico (CCPOT). A BPS é útil para avaliar pacientes críticos incapazes de se comunicar verbalmente, como os sedados ou comatosos, por meio de indicadores comportamentais de dor. Já a CCPOT avalia indicadores fisiológicos e comportamentais para fornecer uma avaliação abrangente da dor em pacientes críticos com alterações fisiológicas. Essas escalas permitem uma avaliação mais precisa e objetiva da dor nesse contexto clínico desafiador (Viana; Zanei, 2020). 37 5. Avaliação da sedação A avaliação da sedação de pacientes na UTI é crucial para personalizar o uso de medicamentos de acordo com as necessidades individuais de cada um. Escalas, como RASS (Richmond Agitation-Sedation Scale) e Ramsay, consideram consciência, agitação, dor e sincronização com o ventilador, permitindo avaliar os níveis de sedação que variam de falta de resposta a estímulos externos até estado desperto e cooperativo. O uso dessas escalas, junto a protocolos de sedação e medicamentos não benzodiazepínicos, pode resultar em desfechos favoráveis, como redução do tempo de ventilação mecânica, internação, ocorrência de delirium e disfunção cognitiva a longo prazo (Viana; Zanei, 2020; Ramalho Filho et al., 2022). Uma vantagem da escala RASS em comparação com a escala de Ramsay é a capacidade de graduar o nível de agitação e ansiedade, o que a torna uma ferramenta mais abrangente e sensível na avaliação do estado do paciente. Portanto, é amplamente empregadapara avaliar sedação e agitação, com categorias de +4 (agitação extrema) a -5 (coma profundo). A observação do comportamento do paciente e a interação com ele permitem pontuar na escala RASS, o que facilita a avaliação objetiva do estado de sedação (Viana; Zanei, 2020). Por outro lado, a escala Ramsay, mais simples, avalia a sedação em seis níveis, de paciente ansioso e agitado a coma profundo, sendo útil em ambientes de cuidados intensivos para rápida avaliação do nível de sedação, visando à segurança e ao conforto. Dessa forma, a escolha da escala adequada depende do contexto clínico, da experiência do profissional e das características do paciente. Enquanto a escala RASS é mais abrangente e sensível a variações na sedação, a escala Ramsay é mais prática e fácil de interpretar em ambientes intensivos. Ambas possuem vantagens e limitações, devendo ser selecionadas cuidadosamente para cada situação (Viana; Zanei, 2020). 38 6. Estratégias multimodais de controle da dor em UTI Nos últimos tempos, tem havido uma evolução significativa no conceito de tratamento da dor aguda e terapêutica multimodal. Uma das inovações mais importantes é a introdução da analgosedação, que tem como objetivo principal proporcionar alívio da dor em pacientes críticos agudos, priorizando a analgesia em detrimento da sedação. Essa abordagem permite a utilização de sedativos em quantidades mínimas ou até mesmo sua ausência, inclusive durante a ventilação mecânica, o que tem demonstrado resultados mais positivos, como a redução do tempo de internação na UTI. Além disso, essa estratégia tem contribuído significativamente para minimizar os efeitos adversos dos sedativos, especialmente dos benzodiazepínicos (Vieira Junior; Prinz, 2022). Outro ponto importante a ser destacado é a abordagem da analgesia multimodal, que consiste no controle da dor por meio da combinação de diferentes medicamentos com mecanismos variados de bloqueio da dor. Essa prática deve ser valorizada devido à sua alta eficácia no tratamento da dor em comparação com o uso de um único analgésico em doses elevadas, o que facilita a redução do uso de opioides. A terapêutica multimodal envolve o uso conjunto de analgésicos comuns, como dipirona e paracetamol, doses controladas de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). Também, conta com o uso adjuvante de outros medicamentos, como dexmedetomidina, cetamina e lidocaína, em combinações personalizadas de acordo com o perfil do paciente e a necessidade de analgesia (Vieira Junior; Prinz, 2022). Além do tratamento farmacológico, é recomendável a ampliação do uso de terapias não farmacológicas e acompanhamento psicoterapêutico no manejo da dor, especialmente em pacientes oncológicos. Terapias, como musicoterapia, acupuntura e crioterapia, têm se mostrado eficazes 39 nesse contexto. É fundamental que a equipe multiprofissional esteja familiarizada com essas terapias e que cada abordagem terapêutica seja adaptada individualmente a cada paciente. Portanto, é essencial realizar reavaliações frequentes e ajustar as terapias conforme necessário, buscando sempre encontrar o equilíbrio entre o conforto do paciente e a minimização dos efeitos adversos (Vieira Junior; Prinz, 2022). Conectando à Realidade: Exemplos Práticos As estratégias multimodais de controle da dor em UTI envolvem a combinação de diferentes abordagens terapêuticas eficazes para gerenciar o desconforto dos pacientes, levando em consideração os diversos aspectos da fisiologia da dor. Veja o exemplo a seguir: Imagine um paciente internado em uma UTI após uma cirurgia de grande porte, apresentando dor intensa e dificuldade de comunicação devido ao uso de sedativos para o uso da ventilação mecânica. Nessa situação, o enfermeiro deve participar da implementação da estratégia multimodal de controle da dor, monitorando continuamente a dor do paciente, administrando os analgésicos, avaliando a eficácia das medidas e discutindo outras estratégias de tratamento com a equipe. O enfermeiro é responsável por avaliar, planejar e executar as intervenções necessárias, para garantir um controle eficaz da dor, utilizando sua expertise clínica para identificar as necessidades individuais do paciente e adaptar as estratégias de manejo da dor de acordo com a demanda e a resposta terapêutica observada. Sua atuação deve ser diligente e empática, de forma a contribuir para a redução do desconforto, o aumento do conforto e a promoção de um ambiente terapêutico favorável à recuperação. O cuidado individualizado centrado na pessoa e a comunicação eficaz do enfermeiro são essenciais para garantir que o paciente receba um tratamento direcionado e humanizado, considerando não apenas a intensidade da dor, mas 40 também os fatores emocionais e psicológicos envolvidos. Essa estratégia visa garantir um alívio eficaz do desconforto e promover o bem-estar global dos pacientes durante a internação na UTI. Referências HINKLE, J. L.; CHEEVER, K. H. Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem médico- cirúrgica. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. 2269 p. RAMALHO FILHO, M. H. N. et al. Manual de farmacologia em medicina intensiva. Fortaleza: EdUnichristus, 2022. 553 p. Disponível em: https://bit.ly/48YeIxU. Acesso em: 8 mar. 2024. VIANA, I. Y. W.; ZANEI, S. S. V. Enfermagem em terapia intensiva: práticas e vivências. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2020. 564 p. VIEIRA JUNIOR, J. M.; PRINZ, L. H. Dor aguda no paciente crítico: revisitando a literatura. Brazilian Journal of Pain, São Paulo, n. 5, v. 2, p. 147-53, 2022. Disponível em: https://bit.ly/3PyDkX7. Acesso em: 22 mar. 2024. https://bit.ly/48YeIxU https://bit.ly/3PyDkX7 41 Terapia cardiovascular em UTI Autoria: Danieli Juliani Garbuio Tomedi Leitura crítica: Michele Nakahara-Melo Objetivos • Apresentar mecanismos de ação das drogas vasoativas, vasopressoras e vasodilatadoras. • Apresentar a ação dos medicamentos antiarrítmicos e as especificidades de administração de cada um. • Apresentar a ação dos medicamentos diuréticos mais utilizados em terapia intensiva. • Apresentar a ação dos medicamentos anticoagulantes e as formas de monitoramento do tratamento. 42 1. Drogas vasoativas Os pacientes críticos comumente apresentam algum tipo de alteração hemodinâmica, com a combinação de um débito cardíaco inadequado e uma distribuição irregular do fluxo sanguíneo. Esses fatores levam à hipoperfusão de órgãos e tecidos, além de disfunções celulares, resultando em estado de choque, o qual faz com que o organismo altere sua fisiologia para manter a regulação hemodinâmica, sendo um deles a atuação do sistema nervoso autônomo. Esse sistema é responsável pelo controle de todas as funções viscerais do corpo e, quando ativado, ocorre principalmente em centros localizados na medula espinhal, no hipotálamo e no tronco cerebral. A medula espinhal atua como um centro de integração para os impulsos nervosos que regulam as respostas automáticas do organismo. Dessa forma, recebe informações sensoriais, processa-as e envia sinais motores para os órgãos efetores (Murakami; Santos, 2017). Esses sinais são transmitidos através de duas vias principais do sistema nervoso autônomo: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. O sistema nervoso simpático prepara o corpo para situações de estresse ou emergência, enquanto o sistema nervoso parassimpático promove o relaxamento e a restauração das funções corporais. Esses sinais autonômicos são transmitidos para o corpo através das vias do sistema nervoso simpático e parassimpático (Murakami; Santos, 2017). De uma forma geral, as fibras do sistema nervoso parassimpático colinérgicas produzem e liberam acetilcolina como neurotransmissor, enquanto as ligadas ao sistema nervoso simpático são conhecidas como adrenérgicas ou noradrenérgicas, pois liberam noradrenalina. A acetilcolina se conecta aos receptores dopaminérgicos, e a noradrenalina se liga aos receptores alfae beta. Ao se ligarem aos receptores em diferentes órgãos, esses hormônios desencadeiam os efeitos simpáticos e parassimpáticos, 43 conforme apresentado no quadro a seguir, com destaque para os sistemas cardiovascular e respiratório (Murakami; Santos, 2017). Quadro 1 – Efeitos da estimulação simpática e parassimpática nos diversos órgãos Órgão Efeitos da estimulação simpática Efeitos da estimulação parassimpática Coração Aumento da frequência Redução da frequência Aumento do inotropismo Redução do inotropismo Coronárias Vasodilatação (beta-2) Vasodilatação Vasoconstrição (alfa) Vasos periféricos abdominais Vasodilatação Nenhum Vasos periféricos musculares Vasoconstrição (alfa) Nenhum Vasodilatação (beta-2) Vasodilatação (colinérgicas) Pulmões Broncodilatação Broncoconstrição Fonte: Murakami e Santos (2017, p. 58). Os indivíduos internados em unidades de terapia intensiva (UTI) recebem diferentes tipos de medicamentos, dentre eles, as drogas vasoativas (DVA), que desempenham um papel importante na regulação da função hemodinâmica, uma vez que afetam diretamente e indiretamente o sistema nervoso autônomo vascular, pulmonar e cardíaco. Esses medicamentos possuem efeitos que variam de acordo com a dose, sendo geralmente de ação rápida e com meia-vida curta. Devem ser administradas, preferencialmente, por acesso venoso central exclusivo e com bomba de infusão contínua (Murakami; Santos, 2017). As DVA abarcam os efeitos inotrópicos, atuando na frequência cardíaca; cronotrópicos, alterando a força de contratilidade cardíaca; vasopressores, aumentando o tônus vascular; vasodilatadores, reduzindo o tônus vascular, 44 o que resulta no aumento da pressão arterial média (PAM). Além disso, são classificadas como catecolaminas, que são substâncias que mimetizam os efeitos dos neurotransmissores do sistema nervoso simpático ao interagir com receptores adrenérgicos alfa, beta e dopaminérgicos. Os efeitos hemodinâmicos das catecolaminas variam de acordo com o tipo de medicamento, a dose utilizada e a afinidade pelos receptores (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). A seguir, abordaremos as DVA mais utilizadas em UTI e a sua classificação. 1.1 Noradrenalina A noradrenalina é uma substância do grupo das catecolaminas que atua primariamente nos receptores alfa, resultando em uma significativa constrição dos vasos sanguíneos, com aumento da pressão arterial e uma leve aceleração do ritmo cardíaco. A vasoconstrição ocorre especialmente na periferia e em órgãos, como rins, intestinos, baço e fígado. No entanto, o fluxo sanguíneo coronariano aumenta, muito provavelmente devido à elevação pressão arterial e à ação nos receptores beta-2 (Murakami; Santos, 2017). Seu uso é indicado no tratamento do choque, especialmente o choque séptico, que não responde adequadamente ao aumento do volume sanguíneo. Também, pode ser combinada com medicamentos inotrópicos em pacientes com insuficiência cardíaca e hipotensão severa. A administração em pacientes com baixa volemia e que sofrem de miocardiopatia isquêmica, trombose arterial, hipóxia grave e/ou hipercapnia deve ser realizada com cautela (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). Alguns cuidados incluem diluir a noradrenalina em soro glicosado, sob infusão contínua, aumentando a dose gradualmente até alcançar o efeito desejado sobre a pressão arterial. Além disso, inibidores da 45 monoamina oxidase (MAO) e clorpromazina podem potencializar os efeitos da noradrenalina, enquanto antidepressivos tricíclicos podem reduzir sua ação. Por fim, é um medicamento que apresenta um início de ação imediato, sendo metabolizada no fígado e excretada pelos rins, com uma meia-vida de 2 a 2,5 minutos, e pode ocasionar hiperglicamia como efeito colateral (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). 1.2 Dopamina A dopamina é uma catecolamina endógena que desempenha um papel fundamental na síntese da noradrenalina e da adrenalina. É um medicamento que interage com receptores dopaminérgicos e adrenérgicos (α e β), com efeitos dependentes da dose administrada. Em doses baixas, a dopamina promove vasodilatação mesentérica e renal, aumentando a diurese. Em doses moderadas, são observados efeitos inotrópicos e cronotrópicos positivos, enquanto, em doses elevadas, ocorre um efeito vasopressor, resultando em aumento da resistência vascular sistêmica (Murakami; Santos, 2017). Seu uso é recomendado na estabilização da pressão arterial pós- parada cardiorrespiratória (PCR), tratamento do choque e disfunção cardíaca com bradicardia. No entanto, é um medicamento que presenta efeitos adversos, como arritmias cardíacas, angina, náuseas, vômitos, cefaleia e hipertensão acentuada com vasoconstrição periférica. Apresenta início de ação rápido, com metabolismo hepático e excreção principalmente renal, e meia-vida de dois minutos aproximadamente. Pode ser diluída em solução fisiológica ou glicosada e administrada em administração contínua. O desmame da dopamina deve ser realizado de forma gradual, a fim de evitar complicações como hipotensão (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). 46 1.3 Adrenalina A adrenalina é uma catecolamina endógena que atua nos receptores α1, β1 e β2 presentes na musculatura lisa dos vasos sanguíneos, coração e pulmões. Essa ampla distribuição de receptores permite que a adrenalina exerça uma variedade de ações hemodinâmicas e metabólicas, tornando-a uma substância extremamente versátil e útil em diversas condições clínicas. Devido às suas propriedades farmacológicas, a adrenalina pode ser administrada de diferentes formas, de acordo com a necessidade de cada situação clínica (Murakami; Santos, 2017). Por exemplo, em casos de PCR, a administração em bolus endovenoso é indicada para promover a estimulação cardíaca e a vasoconstrição periférica, ajudando a restabelecer a circulação sanguínea. Já em casos de broncoespasmos, a administração subcutânea ou inalatória de adrenalina pode ser eficaz na dilatação dos brônquios e melhora da função respiratória (Murakami; Santos, 2017). Além disso, a adrenalina também é utilizada no tratamento de reações anafiláticas, sendo administrada por via intramuscular para controlar rapidamente os sintomas alérgicos graves. Em situações de distúrbios hemodinâmicos, como hipotensão severa refratária a outras medidas ou bradicardia irresponsiva à atropina, a adrenalina pode ser administrada por via endovenosa em bomba de infusão contínua, permitindo o controle de distúrbios hemodinâmicos (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). No entanto, a adrenalina apresenta efeitos adversos, como vasoconstrição intensa, arritmias cardíacas, aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio, angina, ansiedade, hiperglicemia e redução do fluxo esplênico e da taxa de filtração glomerular em indivíduos hipovolêmicos. É um medicamento que apresenta rápida inativação pelas enzimas hepáticas, com meia-vida curta. Pode ser diluída em 47 solução fisiológica ou glicosada e administrada em infusão contínua, preferencialmente por cateter venoso central (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). 1.4 Vasopressina A vasopressina é uma catecolamina sintética com propriedades vasoconstritoras, utilizada como complemento no tratamento de pacientes em choque séptico que não respondem adequadamente às catecolaminas convencionais. Os principais efeitos da vasopressina incluem o aumento da pressão arterial e a redução da produção de urina, conferindo-lhe o nome de hormônio antidiurético. Sua administração deve ser feita, preferencialmente, por via central, uma vez que extravasamentos podem levar à necrose. Apresenta início de ação imediato, com meia-vida de 10 a 20 minutos, sendo metabolizada no fígado e excretada pelos rins (Murakami; Santos, 2017; Viana; Zanei, 2020). 1.5 Dobutamina A dobutamina é uma catecolamina sintética que atua predominantemente nos receptores β1 e β2. Os efeitos decorrentes da interação com esses