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Direito de Defesa do Consumidor 
 
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Apresentação do Curso 
 
1. Objetivo: proporcionar ao discente: 
 O amplo domínio das normas de direito do consumidor brasileiro, visando habilitá-lo 
a prevenir e a solucionar conflitos de consumo nas esferas civil, penal e 
administrativa; 
 O entendimento acerca da importância do sistema de consumo na atualidade; 
 A habilidade para identificar a correspondência entre o Direito Consumidor e os 
demais ramos do ordenamento jurídico; 
 A clara identificação da relação de consumo, de seus principais sujeitos e de seu 
objeto, visando capacitá-lo para lidar com problemas e elaborar argumentações 
jurídicas e estratégias de ação compatíveis com as posições de consumidor, 
fornecedor e agente publico. 
2. Material: CDC – Lei nº 8.078/90 e Constituição Federal. 
3. Obra recomendada: Manual de Direito do Consumidor, Rizatto Nunes. 
4. Aulas e avaliações: o curso de Direito do Consumidor tem carga horária semestral, com 
duas aulas semanais, atividades e uma prova semestral. 
 
Direito do Consumidor 
Aspectos gerais 
1. Conceito: é um ramo do direito que disciplina as relações de consumo, visando proteger 
o consumidor frente ao fornecedor. Trata-se de um microssistema jurídico, com o objetivo de 
regular relações entre fornecedor e consumidor, considerado vulnerável, a partir das 
necessidades sociais e da distribuição de bens e serviços. 
2. Estrutura: o direito do consumidor é formado por normas próprias – previstas na 
Constituição Federal e no CDC, bem como outras leis esparsas – com princípios específicos 
formadores de microssistema jurídico autônomo. 
O CDC se estrutura, ao seu turno, por uma parte introdutória, contendo elementos 
objetivos e subjetivos da relação jurídica de consumo, e esclarecendo no que consiste a 
Política Nacional de Relações de Consumo (princípios, instrumentos e direitos básicos dos 
consumidores em geral), e de uma parte complementar, contendo explicação da relação de 
consumo, a contratação, as proteções contratuais, através de instrumentos de proteção 
processual, penal e administrativa dos consumidores. 
3. CDC: Lei ordinária (não complementar). Motivo - a lei consumerista teve de ser aprovada 
com o trâmite de lei ordinária para evitar maiores demoras. De qualquer modo, trata-se de 
um verdadeiro código, em razão de seu mandamento constitucional e seu caráter 
sistemático. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
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4. Competência Legislativa: União estabelece as normas gerais sobre a proteção ao 
consumidor. Aos Estados e Distrito Federal compete a edição das normas específicas, de 
forma suplementar. Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a 
competência legislativa plena, para atender as suas peculiaridades, mas a superveniência de 
lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário 
(art. 24, VIII, e §§ 1º, 2º e 3º da CF). 
5. Importância da Codificação: todos os princípios e regras estão condensados em um 
diploma, elaborado através de um estudo sistemático. No caso do Brasil, o anteprojeto foi 
fruto de estudo efetuado por juristas brasileiros de renome (Antônio Herman Benjamin, 
Kazuo Watanabe, Ada Pelegrini Grinover etc), através da comparação com a normatização 
de outros países. 
6. Objetivo do CDC: caracterizar os elementos subjetivos da relação consumerista 
(partes – fornecedor de um lado, e do outro, a classe consumidora), os elementos 
objetivos (bens de consumo – produtos e serviços), a relação jurídica consumerista 
(delimitar o seu próprio alcance), com inegável interesse social, visa diminuir as 
desigualdades naturais existentes entre consumidores e fornecedores na relação jurídica 
estabelecida entre eles. 
 
Base constitucional do Direito do Consumidor 
 Artigo 1º - a República Federativa do Brasil é um Estado Democrático de Direito que 
tem como fundamentos “a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os 
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político”. 
 Artigo 5º, inciso XXXII – “O Estado promoverá na forma da lei (...) a defesa do 
consumidor.” - garantia fundamental. A proteção jurídica do consumidor consiste 
em equilibrar a relação, com a proteção do Estado em favor do mais fraco, do 
hipossuficiente, da parte vulnerável. A defesa do consumidor é garantia 
constitucional. 
 Artigo 170, inciso V – princípio da ordem econômica - a ordem econômica é 
fundada na valorização do trabalho humano e livre iniciativa e tem por fim assegurar 
a todos “uma existência digna conforme os ditames da justiça social”, mas desde que 
observados nove princípios específicos, dentre os quais, “a defesa do consumidor”. 
 A ordem econômica é de natureza capitalista, e a livre iniciativa se traduz no sentido 
de que a exploração do mercado de consumo está nas mãos da iniciativa privada. Porém, o 
capitalismo no Brasil não é absoluto, estando sujeita a vários princípios, entre eles a defesa 
do consumidor. 
 Artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - prazo de 120 
dias para o Congresso Nacional elaborar e implementar em nosso sistema normativo 
um CDC. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
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Conclusão 
Concluindo – CF – elencou o direito do consumidor como fundamental, e 
embora eleja e proteja a livre iniciativa, ela o limita através de vários princípios, 
entre elas a defesa do consumidor. 
A defesa do consumidor é um princípio da ordem econômica nacional (artigo 170, 
inciso V, Constituição Federal), uma garantia fundamental de todo cidadão, cuja proteção é 
uma obrigação seria assumida pelo Estado na forma da lei (artigo 5º, inciso XXXII, 
Constituição Federal). 
Características do CDC 
1) Microssistema jurídico: Tutela nos campos civil + administrativo + penal + tutela 
coletiva + processo civil. 
2) Lei ordinária e não complementar. 
3) Normas de ordem pública: são cogentes e inderrogáveis pela vontade das partes. 
4) Norma de interesse social: as normas de proteção ao consumidor são relevantes para 
toda a sociedade, não apenas para as partes. São “leis de função social”. Diante disto, há a 
possibilidade de o MP poder atuar em todas as lides coletivas de consumo, inclusive as que 
tratam sobre os direitos individuais homogêneos. 
 
Regra Geral Exceção 
O juiz pode atuar de ofício nas relações de 
consumo, reconhecendo nulidades de 
cláusulas abusivas, mesmo que não 
alegadas pelas partes. 
Nos contratos bancários, conforme súmula 
297 do STJ, é vedado ao julgador 
reconhecer, de ofício, a abusividade das 
cláusulas. 
 
5) Forte dirigismo contratual, visando impor um equilíbrio no contrato entre 
consumidores e fornecedores. 
6) Forte interesse social, com proteção da classe consumidora, considerada 
hipossuficiente. 
Diferenças entre o CDC e CC 
 Estas características trazem a diferença entre o CDC e o CC. 
 Código Civil – possui normas de direito material, tendo como base a igualdade 
entre as partes, criando os tipos dos vários contratos, com normas de ordem 
privada. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
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 CDC – tutela os indivíduos, a coletividade e os interesses difusos, com normas de 
caráter civil, criminal, administrativa e processual; suas normas não podem ser 
derrogadas pelas partes; tem como prerrogativa a vulnerabilidade do consumidor 
diante do fornecedor e não tipifica contratos. 
Diálogo Das Fontes 
É o CDC que dispõe sobre as relações de consumo. Entretanto, nada obsta aplicação 
simultânea de mais de uma lei, no mesmo caso concreto. É o que se chama de diálogo das 
fontes. EX: o STF reconheceu a aplicação do CDC nas atividades bancárias, podendo ser 
aplicadas também, de forma simultânea, as leis que regem o sistema financeiro. 
O objetivo é conciliar as normas jurídicas de diplomas diversos, aplicando-as 
simultaneamente de modo a melhor atender o espírito da CF e do ordenamento jurídico 
como um todo.de 
consumo, ou seja, do produto ou serviço disponibilizado pelo fornecedor; 
 O dano que ultrapassa a esfera do próprio produto ou serviço e atinge o consumidor em 
seus bens e valores pessoais (não considerado o prejuízo relacionado ao valor pago 
simplesmente); 
 O nexo causal entre esse “defeito” e o dano. 
Essa lesão ao consumidor, decorrente de um defeito, atinge o destinatário do 
produto ou serviço causando-lhe danos que ultrapassam o conteúdo econômico do contrato, 
pois acarretam de forma anômala um acidente de consumo, atingindo o consumidor em seu 
patrimônio jurídico pessoal material, moral, estético ou de imagem. 
9. Pontos a serem considerados: visando a apuração do dano, deve-se levar em 
consideração os seguintes fatores: 
9.1 Sua apresentação: deve ser considerado a forma como o produto é disponibilizado no 
mercado de consumo e o seu conteúdo informacional através da publicidade, embalagem, 
rótulos e bulas; 
9.2. Sua utilização: diante do conceito de periculosidade inerente, deve-se verificar se a 
utilização do produto ou serviço foi a adequada, para que após seja analisado o grau de 
insegurança do produto além do normalmente esperado; 
9.3. O tempo em que o acidente ocorreu: deve se verificar como o dano ocorreu em 
correspondência com o que já se conhecia sobre esses riscos ao tempo em que o produto foi 
colocado no mercado. No caso de periculosidade futura, tem-se que eventuais avanços 
tecnológicos não caracterizam defeitos nos produtos fabricados antes daquele salto 
tecnológico se tornar conhecido, conforme dispõe o CDC: “o produto não é considerado 
defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado” (artigo 12, 
§ 2º). Regra em sentido contrário atrapalhaira o processo de desenvolvimento tecnológico. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
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Ex: A morte teria sido evitada se houvesse “air bags”, o fornecedor do veículo não tem 
qualquer responsabilidade civil. 
10. Prazo para a ação: prescreve em 05 anos a ação da reparação pelos danos causados 
por “acidente de consumo”, iniciando-se a contagem a partir do conhecimento do dano e de 
sua autoria (art.27). Trata-se de prazo prescricional, pois é nítido o caráter condenatório 
da pretensão à reparação do dano. 
Com relação a outras ações, que não causam riscos à saúde ou segurança do 
consumidor, mas que eventualmente o consumidor pode mover, paira discussão acerca do 
prazo. A corrente majoritária é de que o art. 27 do CDC refere-se só à ação de 
responsabilidade pelo fato do produto ou serviço (acidentes de consumo), aplicando-se para 
outras situações, os prazos prescricionais previstos no Código Civil e em Leis Especiais. 
 
Vício 
Elementos de estudo: o vício do produto ou serviço; o dano, o nexo de causalidade e o de 
imputação. 
1. Vício: decorre de uma obrigação ex lege (independe de termo expresso) de garantia de 
qualidade, abrangendo inclusive aspectos referentes à informação sobre características, 
composição e uso do produto e do serviço. Ela não pode ser nem afastada e nem diminuída 
pelo fornecedor (art. 24 e 25 do CDC). Trata-se de inadequações, ocultas ou aparentes, que 
atingem o produto ou serviço, na sua qualidade, quantidade ou nas informações, tornando-
os impróprios ou inconvenientes ao consumo a que se destinam ou diminuindo o seu valor 
(art.18 do CDC). 
1.1. Fundamentos: Teoria da qualidade - bom desempenho dos produtos e serviços, de 
acordo com as legítimas expectativas do consumidor. Princípio da garantia - o fornecedor 
deve assegurar o perfeito estado do produto ou serviço 
1.2 Manifestação: a esfera patrimonial do consumidor é atingida, acarretando a perda da 
utilidade e/ou valor do produto ou serviço. Assim, ele se concretiza por: impropriedade, 
diminuição do valor, inadequação, diferenças de quantidade e ausência ou 
desconformidade de informação. 
1.2.1. Impropriedade: são impróprios ao uso e consumo os produtos (art. 18, § 6º, I e II 
do CDC), com as seguintes características: prazo de validade vencido, deteriorados, 
alterados; adulterados, avariados, falsificados, fraudados, nocivos à saúde, perigosos, 
contrários as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação. 
1.2.2. Serviços impróprios (art. 20, §2°, do CDC): são os inadequados para os fins que 
razoavelmente deles se espera e os que não atendem as normas regulamentares de 
prestação. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
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1.2.3. Diminuição do seu valor: pode se dar tanto em relação à necessidade de 
substituição de partes do produto ou em relação ao descumprimento do dever de informar. 
1.2.4. Inadequação (art. 18, § 6º, III, do CDC): a ausência de correspondência entre a 
finalidade do uso e as características do produto ou serviço. Para a caracterização da 
inadequação são analisados diversos fatores, dentre eles: natureza do produto; estado da 
técnica; informações prestadas pelo fornecedor; finalidade a que esse destina. Nota-se que 
 “A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e 
serviços não o exime de responsabilidade” (art.23). Além disso, tanto os produtos e serviços 
serão considerados inadequados se não possuírem a durabilidade legitimamente esperada 
pelo consumidor (Art. 4º, II, d, do CDC). 
1.2.5. Diferença de quantidade (art. 19 do CDC): Exclusivamente para os produtos há o 
vício de quantidade, sempre que houver disparidade entre o anunciado e o conteúdo efetivo. 
1.2.6. Disparidade ou ausência de informação (art. 18, caput): pode ser dar tanto em 
relação à disparidade entre o anunciado e o conteúdo efetivo, quanto a outras situações que 
induzam o consumidor em erro, quanto é o caso dos produtos “maquiados”. 
2. Dano: é a impossibilidade de usufruir do produto ou do serviço de acordo com as 
legítimas expectativas do consumidor. 
3. Nexo de imputação: é o vínculo que se estabelece entre o vício e a atividade 
desenvolvida pelo fornecedor para a atribuição do dever de indenizar. 
4. Nexo de causalidade: é a relação de causa e efeito entre o dano produzido e o vício. 
 
Alternativas ao Consumidor 
Abrangência: em relação ao vício do produto e do serviço somente o consumidor em 
sentido estrito (art. 2º, caput, do CDC) possui proteção. No entanto, em nome da facilitação 
dos direitos do consumidor a responsabilidade é atribuída solidariamente a todos os 
fornecedores da cadeia produtiva. (arts. 18, 19 e 20 do CDC). 
Opções: conforme o art. 18 do CDC são elas: 
 O abatimento proporcional do preço (Ação quanti minoris); 
 A substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os 
aludidos vícios; 
 A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de 
eventuais perdas e danos (ação redibitória). 
Caso especial 
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Vícios de quantidade: o consumidor possui estas alternativas e, ainda, a complementação 
do peso ou medida (art. 19, II, do CDC). 
 
Vício do serviço 
Previsto no artigo 20, do CDC, que dispõe: 
“O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem 
impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem 
publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: 
 A reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível. A reexecução dos 
serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do 
fornecedor” (§1º do art.20); 
 A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de 
eventuais perdas e danos (ação redibitória); 
 O abatimento proporcional do preço (Ação quanti minoris). 
Tratando-se de obrigações personalíssimas, o inciso primeiro fica prejudicado, 
restando somente as demais possibilidades. 
 
Garantias 
O CDC prevê dois tipos de garantia: 1) a legal e 2) a contratual.1. Garantia Legal: é prevista no CDC, tratando-se de um dever jurídico que independe de 
termo expresso. Todos os produtos vendidos têm garantia legal, independentemente de o 
fornecedor ou fabricante informarem, sendo imperativa, obrigatória, total, incondicional 
e inegociável. Por ser uma disposição de ordem pública, seu descumprimento gera 
nulidade das cláusulas eventualmente pactuadas. 
 A garantia legal é uma obrigação imposta pela lei ao fornecedor na relação de 
consumo, não podendo ser contratualmente dispensada de forma válida. 
1.1. Prazos: Vícios aparentes e de fácil constatação: a) 30 dias - produtos não 
duráveis (exs: produtos não duráveis - alimentos; serviços não duráveis - decoração de 
festas) e b) 90 dias para duráveis (exs: produtos duráveis - livro, automóvel; serviços 
duráveis - construção civil, reparos em produtos), respectivamente, sob pena de decaírem 
(art.26 do CDC), iniciando-se o prazo de decadência na data do fornecimento final que se dá 
pela entrega efetiva do produto ou prestação efetiva do serviço 
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 Vícios ocultos (vícios que por sua natureza somente podem ser conhecidos mais 
tarde, com certo tempo ou uso, e que não emergem claramente das primeiras 
experimentações): os prazos de exercício do direito do consumidor à reparação são os 
mesmos prazos para produtos ou serviços não duráveis e duráveis (respectivamente, trinta e 
noventa dias), iniciando-se a contagem no momento em que o vício se evidenciar. 
 Estes prazos são decadenciais. 
 
Prazos suspensivos da decadência 
 A lei prevê a suspensão desses prazos em duas hipóteses: 
 Instauração do inquérito civil: nesse caso, o prazo permanece suspenso até o 
Ministério Público encerrar o referido inquérito. O encerramento do inquérito civil pode se 
dar: a) com o seu arquivamento; b) com a propositura da ação civil pública; c) com o termo 
de ajustamento de conduta. 
 Reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o 
fornecedor, até a resposta negativa correspondente, que deve ser formalmente 
transmitida: em tal situação, a suspensão perdura até a resposta por escrito do fornecedor. 
O consumidor tem o ônus da prova de que fez a reclamação, por escrito ou verbalmente, ao 
fornecedor. 
 1.2. Características: O art. 24 dispõe que “a garantia legal de adequação do produto ou 
serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do 
fornecedor”. A norma tem como escopo a proteção da legítima confiança depositada pelo 
consumidor na adequação do produto ou serviço. É uma garantia que nasce com o produto 
ou serviço e só pode ser reclamada após a efetivação da relação de consumo. É total. 
Todos devem garantir que o produto ou serviço seja adequado ao seu uso. Isso explica a 
solidariedade de todos os fornecedores da cadeia produtiva e não só daquele fornecedor que 
contrata com o consumidor. 
1.3. Obrigações do fornecedor: o CDC obriga o fornecedor a reparar o problema 
apresentado no prazo máximo de 30 dias. O prazo é concedido ao fornecedor para substituir 
a parte viciada do produto, se o vício assim o permitir sem maiores prejuízos ao consumidor. 
 Caso não repare o vício no prazo de 30 dias, é possível o ajuizamento de ação 
judicial. No vício de quantidade não há falar-se em prazo de 30 dias para sanar a 
irregularidade, podendo o consumidor ajuizar uma das quatro ações judiciais mencionadas. 
O CDC só prevê o vício de quantidade do produto, mas por analogia aplica-se também aos 
vícios de quantidade do serviço. 
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2. Garantia contratual: é prevista no art.50 do CDC, sendo aquela dada por escrito pelo 
próprio fornecedor, sendo denominada de termo de garantia e pode surgir com a celebração 
do contrato ou advir de um adendo contratual. 
2.1 Características: é complementar à garantia legal, todavia, não é obrigatória. O 
fornecedor pode concedê-la ou não, mas, ao concedê-la, a garantia passa a integrar a oferta, 
obrigando-se a honrá-la. A garantia contratual pode ser parcial, admitindo a exclusão de 
certos componentes. De modo geral, a garantia contratual também é condicionada às 
instruções de uso. 
2.2. Início: Divergência na doutrina – 1) considera que os prazos da garantia contratual e 
da garantia legal são independentes, começando a correm juntos. O termo inicial da garantia 
contratual seria a data do contrato ou do adendo contratual e o da garantia legal seria a data 
da efetiva entrega do produto ou do término da execução dos serviços em caso de vícios 
aparentes. Já em se tratando de vícios ocultos, o prazo se iniciará quando se evidenciar o 
defeito. 2) O prazo legal só começa a contar, após expirado o prazo contratual. 
 
GARANTIA LEGAL 
 
 
GARANTIA CONTRATUAL 
Prevista em lei, obrigação ex legis 
Art. 24, CDC 
Prevista em contrato – termo de garantia 
Art. 50, CDC 
Garantia obrigatória e inegociável Garantia facultativa e negociada 
Garantia é total do produto ou serviço Garantia pode ser parcial 
É incondicionada É condicionada às instruções de uso 
Prazos: art. 26, CDC 
Produtos/serviços não duráveis: 30 dias 
Produtos/serviços duráveis: 90 dias 
Prazo: art. 50 e parágrafo único do CPC 
O prazo de garantia será convencionado 
entre as partes contratantes. 
 
Serviços de reparos e consertos (artigo 21, CDC): para o serviço de reparos ou 
consertos, o fornecedor deverá utilizar peças originais adequadas e novas, ou que 
mantenham as especificações técnicas do fabricante. Caso não o faça responde por crime – 
Art. 70 CDC). 
Observações 
 Ignorância do fornecedor sobre os vícios do produto e do serviço e casos 
fortuitos e força maior: O fornecedor responde pelos vícios existentes ao tempo da 
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alienação, ainda que estes emanem de caso fortuito ou força maior. De fato, a ignorância do 
fornecedor sobre os vícios de qualidade, quantidade ou de informação não o exime de 
responsabilidade (art.23). 
 Garantia legal de adequação - Inderrogabilidade (É nula a cláusula que isenta o 
fornecedor de responder pelos vícios do produto ou serviço ou que atenue a sua 
responsabilidade (art.25). 
 Espécie de responsabilidade: a responsabilidade civil dos fornecedores, pelos vícios do 
produto ou serviço, é objetiva, inclusive para os profissionais liberais, pois a exceção 
prevista no §1º do art.14 é restrita aos “acidentes de consumo”. 
 Solidariedade: havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos 
responderão solidariamente pela reparação (§1º do art.25). Assim, por exemplo, o 
consumidor que comprou o veículo na concessionária, poderá acioná-la judicialmente, e 
também o fabricante, se o produto apresentar algum vício. Sendo o dano causado por 
componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, serão responsáveis solidários seu 
fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação (§2º do art.25). 
 Produtos in natura: no caso de fornecimento de produtos in natura, dispõe o §5º do 
art.18, “será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando 
identificado claramente seu produtor”. Produto in natura é o que não é industrializado 
embora possa ser embalado. 
 
Responsabilidade do comerciante no CDC 
 
 Regra Geral: é subsidiária, advindo do fato de o fabricante e o produtor serem os 
verdadeiros introdutores do risco no mercado ao inserirem produtos defeituosos em 
circulação, cabendo ao comerciante apenas avaliar a qualidade dos bens que coloca à venda 
em seu estabelecimento. Há casos, entretanto, que ele responderá de forma direta. 
 
 Responsabilidade pelo fato do produto/Acidente de consumo: o comerciante será 
responsável subsidiário, respondendo em segundo plano, cabendo, em primeiro lugar, 
responsabilidade ao fabricante, ao produtor, ao construtor e ao importador. Caso o 
comerciante seja obrigado a responder, ele terá direito de regresso. A razão é queo 
comerciante, em geral, não é o fabricante do produto comercializado. Assim, embora se 
responsabilize de forma objetiva nas relações de consumo, não poderá ser responsabilizado, 
em regra, sozinho. 
De acordo com o artigo 13 do CDC, o comerciante será subsidiariamente 
responsável: 1) quando o fornecedor não puder ser identificado, 2) quando o produto for 
fornecido sem a clara identificação do fornecedor. Será responsável. 
Entretanto, ele responderá de forma direta quando o produto perecível não for 
adequadamente conservado. Eventualmente responderá de forma solidária com o fabricante, 
quando for impossível a identificação do causador do defeito pelo consumidor. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
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Responsabilidade pelo vício do produto: neste caso o CDC impõe ao comerciante a 
responsabilidade solidária, conjunta com todos os envolvidos na cadeia produtiva e 
distributiva de consumo, sem qualquer ordem de preferência. A responsabilidade solidária 
pelo vício do produto se configura como uma opção do consumidor que, poderá escolher 
qualquer fornecedor ou fornecedores para demandar e exigir o respeito de seus direitos. 
 
Responsabilidade dos profissionais liberais no CDC 
 
 Espécies de obrigações dos profissionais liberais: 02 espécies: a) obrigação de 
meio e b) obrigação de resultado. Nesse sentido se a obrigação assumida for de meio 
representará a Responsabilidade Civil será subjetiva, ou seja, necessidade de provar a culpa, 
ou na segunda hipótese, quando assumida obrigação de resultado, estar-se-á diante de 
Responsabilidade Civil objetiva, onde como referido é dispensada a prova da existência de 
culpa. 
 Regra geral: o art.14 § 4º do Código de Defesa do Consumidor estabelece que “a 
responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de 
culpa”. Esta disposição se refere a obrigação de meio – os profissionais liberais serão 
responsabilizados por danos quando ficar demonstrada a ocorrência de culpa subjetiva: 
negligência, imprudência ou imperícia. 
 Fundamento: o tratamento diferenciado ocorre em razão da natureza intuitu 
personae dos serviços prestados. Profissionais liberais são contratados com base na 
confiança que inspiram e no trabalho a ser realizado. A responsabilidade é então subjetiva. 
 Responsabilidade objetiva: a obrigação de resultado, para alguns doutrinadoresm gera 
esta responsabilidade. Caso o resultado não tenha sido alcançado, caberá ao credor apenas 
demonstrar que não foi alcançado tal objetivo para que o devedor seja responsabilizado. 
Neste sentido, Nelson Nery Júnior “Quando a obrigação do profissional liberal, ainda 
que escolhido intuitu personae pelo consumidor, for de resultado, sua 
responsabilidade pelo acidente de consumo ou vício de serviço é objetiva. 
 
Responsabilidade civil dos órgãos públicos no CDC 
 Pressupostos: as pessoas jurídicas de direito público foram incluídas como fornecedores 
pelo artigo 3.º: “fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou 
estrangeira, bem como os entes despersonalizados....” 
 O artigo 22 estabelece: “Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, 
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer 
serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único 
– Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, 
serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma 
revista neste código”. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
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 Consequência: os contratos firmados entre os consumidores (destinatários finais) e os 
órgãos públicos e suas empresas também podem ser considerados de consumo. 
 Ressalva: somente os serviços fornecidos pelo ente estatal e pagos (mediante 
remuneração) estarão incluídos na aplicação da norma do CDC (artigo 3.º, § 2.º). Quanto 
aos outros serviços, prestados de uma maneira geral a todos os cidadãos e decorrentes da 
aplicação de impostos e taxas deles arrecadados, não tem aplicação a norma do CDC. 
Prescrição e Decadência no CDC 
 Tratamento: a decadência - vícios (art. 26 do CDC). Prescrição - responsabilidade 
pelo fato do produto ou serviço (art.27). 
 Decadência: “o direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca 
em trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis” e em 
“noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis”. O termo 
inicial deste prazo se dá com a efetiva entrega do produto ou como o término da execução 
dos serviços. Porém, caso seja o vício oculto o termo inicial será o “momento em que ficar 
evidenciado o defeito” (art. 26, CDC). 
O CDC, no seu art. 26, estipula que os prazos decadenciais obstam com a 
“reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos 
e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma 
inequívoca” e pela ”instauração de inquérito civil, até seu encerramento”. 
 Prescrição: “prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por 
fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do 
dano e de sua autoria” (art.27, CDC). 
 
 
PRESCRIÇÃO – CDC 
 
 
DECADÊNCIA – CDC 
Fato do produto ou do serviço 
Acidente de consumo 
Vício do produto ou 
Vício do serviço 
Prazo para exercer a pretensão à 
reparação de danos causados ao 
consumidor é de 5 anos 
Prazos para reclamar: 
Bens não duráveis - 30 dias 
Bens duráveis - 90 dias 
Termo inicial do prazo a partir do 
conhecimento do dano e de sua autoria. 
O termo inicial do prazo: 
Vício aparente: da efetiva entrega do produto ou 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
37 
 do término da execução dos serviços. 
Vício oculto: do momento em que ficar 
evidenciado o defeito. 
 
Da Desconsideração da Personalidade Jurídica 
1. Introdução: em regra, as obrigações da pessoa jurídica não alcançam o patrimônio 
particular dos sócios, restringindo-se ao patrimônio particular da própria pessoa jurídica. 
Assim, considera-se a personalidade jurídica da empresa como dissociada da dos sócios. 
Entretanto, esta regra pode ser quebrada, com a aplicação da teoria da desconsideração 
da personalidade jurídica. 
 O CDC foi a primeira lei, no Brasil, a prever explicitamente esta teoria no seu art. 
28. Por ela quebra-se o princípio da autonomia da pessoa jurídica, pela qual ela não se 
confunde com a personalidade e patrimônio dos seus sócios. 
2. Objetivo: a teoria da desconsideração da pessoa jurídica tem por escopo, nos casos 
expressos em lei, que o credor da sociedade possa acionar diretamente os sócios, 
executando lhe o patrimônio individual. Por ela, afasta-se, no caso concreto, a autonomia da 
pessoa jurídica no que se refere a personalidade e patrimônio, para que os sócios possam 
responder diretamente pelos débitos da sociedade. 
3. Teorias: duas teorias acerca da desconsideração da pessoa jurídica: 
 Teoria maior: prevista no Código Civil (art.50). Exige, para o afastamento da 
personalidade jurídica, a insolvência e o uso fraudulento da personalidade jurídica, 
com desvio de finalidade ou a confusão patrimonial. O desvio de finalidade ocorre 
quando a pessoa jurídica pratica algum ato ilícito ou fraudulento. A confusão 
patrimonial se dá quando o sócio, para ocultar sua participação em negócio cuja 
prática estava proibida, constitui uma pessoa jurídica, celebrando o contrato em 
nome dela. 
 Teoria menor: é a adotada no CDC (art.28). Por ela, se exige para o afastamento 
da personalidade jurídica apenas a insolvência da pessoa jurídica para pagamento de 
suas obrigações, dispensando-se a prova do uso abusivo de sua personalidade 
jurídica. 
 
4. Hipóteses: O art.28 do CDC enumera 10 hipóteses em que é possível ao juiz 
desconsiderara personalidade da pessoa jurídica: 
 Houver abuso de direito; 
 Excesso de poder; 
 Infração da lei; 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
38 
 Fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social; 
 Quando houver falência; 
 Estado de insolvência; 
 Encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. 
 Sempre que sua personalidade da pessoa jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao 
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. 
O STJ já decidiu que a aplicação da teoria da desconsideração não significa extinção da 
pessoa jurídica. A suspensão da personalidade seria episódica (STJ, REsp 86.502). Assim, 
caracterizada a insolvência da pessoa jurídica, pelo fato de reunir bens insuficientes para o 
pagamento de suas dívidas, abre-se ao consumidor a possibilidade de exigir dos sócios o 
adimplemento. 
5. Procedimento: a despersonalização da pessoa jurídica é promovida no processo de 
conhecimento, por ato do juiz sentenciante, ou no processo de execução, ou na fase de 
cumprimento da sentença. 
6. Legitimidade: pelo caput, uma vez desconsiderada a personalidade jurídica, os efeitos 
recaem sobre os sócios. Já os §§ do art.28 apontam sobre quem recairá a responsabilidade 
no caso de sociedades coligadas, prevendo a responsabilidade de algumas sociedades por 
dívidas contraídas por outra sociedade, dispondo: 
a) agrupamentos societários (§ 2º): se o fornecedor de produto ou serviço que tenha 
acarretado danos ao consumidor, estiver incluído em um grupo de empresas (na qual há a 
figura da empresa controladora e das empresas controladas), e o consumidor se deparar 
com alguma insolvência da empresa componente do agrupamento diretamente responsável, 
poderá o lesado invocar, subsidiariamente, a responsabilidade do grupo ou das demais 
empresas que o compõem. 
 b) sociedades consorciadas (§ 3º): o consórcio de empresas implica em uma simples 
reunião de empresas, desprovidas de qualquer vínculo jurídico de solidariedade, para 
executar algum empreendimento, e as empresas consorciadas não assumem uma outra 
personalidade jurídica após o consórcio, representando apenas, uma aproximação episódica. 
Mas o CDC firmou solidariedade entre as consorciadas por eventuais danos ao consumidor. 
 c) regime de responsabilidade das coligadas (§ 4º): as sociedades que se associam a 
outras, responderão por danos a consumidores, mas apenas se presente e identificado o 
pressuposto culpa, contribuindo decisivamente para o evento danoso, ao menos, com 
imprudência ou negligência.Diálogo das fontes: tentativa de expressar a necessidade de aplicação coerente das leis de 
direito privado, coexistentes no sistema. O Código Civil e o CDC coexistem, assim, a regra 
geral seria que: sendo a relação entre sujeitos paritários (em situação de igualdade) aplica-
se o Código Civil. Já nas relações jurídicas em que as partes são o consumidor e o 
fornecedor, o primeiro considerado vulnerável, aplica-se o CDC. 
Antinomias: conflito no Código Civil e no CDC, aplica-se a norma mais favorável ao 
consumidor, sujeito de direito vulnerável e merecedor de proteção do ordenamento jurídico. 
Previsão expressão de aplicação: Art. 7º, do CDC: Os direitos previstos neste código 
não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o 
Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos 
pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos 
princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade 
 
Evolução Histórica das Relações de Consumo 
Período pré-revolução francesa 
. 
Revolução Francesa - séculos XIV e XX - princípios liberais - Estado absteve-se de intervir 
nas relações privadas. Partes livres - Regras do mercado - Princípio da autonomia da 
vontade das partes e da força vinculante das obrigações (pacta sunt servanda). 
 
Revolução Industrial e do aço – urbanização – incremento do consumo – aumento da 
demanda – aumento da produção – substituição da bilateralidade das negociações. 
Desequilíbrio – vulnerabilidade do consumidor (adesão ou aquisição de produto 
desconhecendo a sua qualidade) – problemas decorrentes do desequilíbrio. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
5 
Revolução Tecnológica (pós guerra) – aumento maior da produção – novos problemas 
surgidos e não resolvidos pelo direito civil – necessidade de intervenção estatal (legislações 
específicas e políticas públicas de defesa ao consumidor, bem como jurisdição especializada). 
Quebra dos paradigmas do direito civil (igualdade entre as partes, autonomia de vontade, 
pacta sunt servanda e responsabilidade fundada na culpa). Novos paradigmas (consumidor 
vulnerável, normas de ordem pública e interesse social e responsabilidade objetiva). 
Necessidade do Estado participar de forma mais ativa, principalmente nas questões 
sociais, intervindo com vistas a equalizar relações desiguais 
 Nova era – Revolução da Informática e Globalização – novas regulamentações 
 
Momentos históricos 
Discurso do presidente John Kennedy ao Congresso Nacional em 15 de março de 
1962. Frase célebre: “consumer by definition, include us all” – Reconhecimento de 04 
direitos básicos ao consumidor: ser ouvido e consultado, segurança; informação e escolha. 
Tais direitos estão incluídos no art. 6º do CDC. 
Proteção ao consumidor garantido nas constituições - Entre os anos 1974 e 1990, 
cerca de trinta países passaram por uma transição rumo à democracia. Novos textos 
constitucionais que passam a conter a proteção ao consumidor e a tutela dos interesses 
difusos. O Brasil também o faz. 
Conferência Mundial do Consumidor 1972 em Estocolmo – no ano seguinte, a 
Comissão das Nações Unidas sobre o Direito do Homem delibera que o ser humano, 
enquanto consumidor, deve gozar dos direitos a ser ouvido e consultado, segurança; 
informação e escolha. 
Organização das Nações Unidas – 1973 - enuncia e reconhece os direitos fundamentais 
do consumidor. 
1985 - Resolução 39/248 - estabelece normas sobre a proteção do consumidor, 
reconhecendo expressamente “que os consumidores se deparam com desequilíbrios em 
termos econômicos, níveis educacionais e poder aquisitivo”. 
Brasil – Ordenações e CC de 1917 – liberalismo econômico – contratos regidos baseados 
na igualdade das partes. 
Décadas de 40 e 60 – leis citando preocupação com o consumidor (Ex. Lei n.º 1221/51 - 
lei de economia popular). Movimentos de defesa do consumidor influenciando a CF de 1988. 
Princípios elencados no texto constitucional – Estado assume a obrigação de defesa do 
consumidor. 
Promulgação da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, consolida o direito do consumidor 
como ramo jurídico autônomo. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
6 
Modelo legislativo do microssistema - caráter multidisciplinar - trata de questões 
múltiplas - Direitos Constitucional, Civil, Penal, Administrativo, Processual Civil, Processual 
Penal, tendo como pedra de toque a vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor, 
assim como a sua condição de destinatário final de produtos e serviços. 
Objetivo: constatação de forte desequilíbrio da relação contratual entre fornecedor e 
consumidor – Correção através da tutela legal nos aspectos, civil, comercial, processual, 
penal abarcando a tutela individual, homogênea, coletiva e difusa. Maneiras alternativas de 
resolução de conflitos (PROCON, JEC, arbitragem, compromisso de ajustamento, convenção 
coletiva de consumo). 
 
Relação jurídica de Consumo 
Conceito: é a relação firmada entre consumidor e fornecedor (elementos subjetivos), que 
tem como objeto a aquisição de um produto ou a utilização de um serviço (elementos 
objetivos), visando à satisfação final e privada do adquirente ou terceiro (elemento 
teleológico). 
Os elementos da relação jurídica de consumo são: 
 As partes (elemento subjetivo): consumidor e fornecedor, considerando o primeiro 
como vulnerável. 
 O objeto (elemento material ou objetivo): é o produto ou serviço. 
 O finalístico ou teleológico: o consumidor deve ser o destinatário final do produto ou 
serviço. Esse elemento não é exigido nas hipóteses de consumidor por equiparação. 
 
Difere da fórmula prevista no Direito das Obrigações e dos Contratos (igualdade 
entre os contratantes). 
Direito do Consumidor – Consumidor (vulnerável, carecedor de proteção estatal) e 
Fornecedor. Considera-se vulnerável porque o consumidor, por ser incapaz de influir na 
cadeia produtiva daquele produto, vê-se obrigado a submeter-se ao poder econômico de sua 
produção, criando desigualdade na relação jurídica. 
O CDC define quem são sujeitos e o objeto da relação consumerista. 
RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO 
É o negócio jurídico no qual o vínculo entre as partes se estabelece pela aquisição ou 
utilização de um produto ou serviço, sendo o consumidor como adquirente na qualidade de 
destinatário final e o fornecedor na qualidade de vendedor. 
 
Consumidor 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
7 
“Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou 
serviço como destinatário final” (artigo 2º, caput, CDC). 
Elementos: 1) Pessoas naturais ou jurídicas 2) Que adquire produto ou contrata 
serviço 3) Destinatário final (vulnerabilidade). Consumidor é tanto o adquirente (adquire) 
como o usuário (o que consome ou se beneficia de produto ou serviço). Embora possa haver 
confusão entre ambos, há hipóteses em que o adquirente e o usuário são sujeitos diferentes. 
Ao reconhecer a categoria de usuário, o CDC rompe com o princípio da relatividade dos 
contratos. 
O que é ser o destinatário final? 
Correntes doutrinárias 
Em regra, o consumidor pessoa física, tem presumida a sua vulnerabilidade 
técnica (não possui conhecimentos sobre o objeto que está adquirindo e, por isso, precisa 
de proteção); a sua vulnerabilidade jurídica ou científica (falta de conhecimentos 
quanto a direitos, instrumentos contratuais e remédios jurídicos para solucionar eventuais 
problemas, de contabilidade ou de economia); a sua vulnerabilidade econômica ( 
considerando o fornecedor como parte economicamente mais forte da relação, pois detém o 
poder de produção), e a sua vulnerabilidade informacional (não tem como conferir se as 
informações passadas acerca do bem\serviço são verdadeiras). 
Já o consumidor profissional e a pessoa jurídica podem demonstrar as suas 
vulnerabilidades técnica, jurídica ou econômica, que, em regra, não serão presumidas. 
Demonstrando,há aplicação do CDC, desde que não utilizem o bem como intermediário, 
devendo o produto ou serviço objeto da relação jurídica esgotarem-se na própria relação, 
jamais ingressando de qualquer forma na cadeia de produção da pessoa jurídica. A ideia é de 
que o bem é comercializado não para integrar uma cadeia produtiva, mas sim para atender o 
seu consumidor final, não importando a destinação. 
Para essa teoria, o consumidor é, em regra, o não profissional comportando as 
seguintes exceções: o profissional de pequeno porte; regimes de monopólio, já que nesse o 
profissional se submete as regras de quem detém o monopólio; e o profissional que está 
agindo fora de sua atividade, como exemplo, uma empresa concessionária de veículos que 
adquire cestas de natal para presentear seus colaboradores. 
O STJ ADOTA A TEORIA FINALISTA, MAS ADMITE A APLICAÇÃO DO CDC, 
EXCEPCIONALMENTE, QUANDO DEMONSTRADA A VULNERABILIDADE OU 
HIPOSSUFICIÊNCIA NO CASO CONCRETO (REsp 476428). O consumidor intermediário, ou 
seja, aquele que adquiriu o produto ou o serviço para utilizá-lo em sua atividade 
empresarial, poderá ser beneficiado com a aplicação do CDC quando demonstrada sua 
vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica frente à outra parte (STJ, AgRg no Ag 
1316667). A vulnerabilidade não é presumida para o consumidor intermediário, mas apenas 
para a pessoa física. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
8 
Conclusão 
 Aquele que adquire o produto ou serviço com o intuito de comercializá-lo, não é 
destinatário final, logo não é consumidor. 
 Regra Geral: não é consumidor quem adquire o serviço ou produto para uso profissional 
(pessoas jurídicas e profissionais liberais,) porquanto embora seja destinatário fático (não 
revenderá o bem), falta-lhe a destinação final econômica, pois o produto ou serviço, ainda 
que indiretamente, será reintroduzido no mercado de consumo, embutindo-se o seu valor no 
preço. 
 Exceção: excepcionalmente, desde que comprovada a vulnerabilidade, embora possa 
haver uso profissional, aplica-se o CDC aos profissionais liberais e pessoas jurídicas que 
adquirem o produto ou serviço para uso profissional. Ex: o dentista que compra uma cadeira 
própria para empregá-la em sua profissão. 
 
 Consumidor por equiparação 
O CDC, além da definição de consumidor, estendeu a três outras situações o alcance 
de sua proteção. 
1) A “coletividade de consumidores”, prevista no CDC, que dispõe: “Equipara-se a 
consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas 
relações de consumo” (artigo 2º, parágrafo único, CDC). – Reconhecimento de direitos ou 
interesses difusos na categoria dos consumidores. 
2) “Vítimas de acidente de consumo”, prevista no artigo 17, do CDC, pela qual se 
estende o alcance deste diploma, na hipótese de responsabilidade pelo fato do produto ou 
serviço para eventuais vítimas de algum acidente de consumo não propriamente 
consumidoras diretas. É o caso, por exemplo, de alguém atropelado por um automóvel com 
defeito de fabricação. São conhecidos como bystanders, pessoas estranhas à relação 
original, mas que foram prejudicadas, de alguma maneira, por ela. Os equiparados a 
consumidor por serem vitimados são os que não tendo participado da relação de consumo 
sofrem apenas suas consequências danosas. No entanto, as vítimas de acidentes de 
consumo só têm a possibilidade de fazer uso de normas indicadas pelo Código, 
especialmente os artigos 12 a 17 e o art. 101, e não de todas. Este último facilita o acesso à 
justiça, determinando que a ação pode ser proposta no domicílio do autor, como é a regra 
geral para as ações envolvendo consumidores. 
3) “pessoas expostas às práticas comerciais”, prevista no artigo 29, da Lei nº 8.078/90, 
que amplia a incidência do CDC ao tratar da oferta para “todas as pessoas, determináveis ou 
não, expostas às práticas comerciais”. As práticas comerciais previstas aqui incluem a oferta 
de produtos, a publicidade, as práticas abusivas, a cobrança de dívidas, banco de dados e as 
cláusulas abusivas. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
9 
Todas as pessoas expostas a essas práticas, sejam consumidores strictu sensu ou 
não, sejam determináveis ou não, são equiparadas a consumidor Ex: pessoas sujeitas a 
propaganda abusiva/enganosa. 
 Em todos os casos o conceito de consumidor está calcado na vulnerabilidade. O 
CDC ao admitir a figura do Consumidor por equiparação rompe com a idéia de que os 
contratos só produzem efeitos para as partes que dele participam. 
Fornecedor (art.3º do CDC) 
“Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou 
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de 
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, 
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviço”. 
Conceito: é quem “desenvolve atividade”, exigi-lhe a habitualidade e o profissionalismo 
na atividade fim, excluindo da legislação consumerista os contratos celebrados entre 
consumidores ou entre o consumidor e o comerciante que age fora da sua atividade-fim. 
Pessoa física 
 Profissional liberal 
 Pessoa que atua de forma habitual – profissionalismo. 
 Pessoa que ainda atuando de forma eventual, o faça com fins lucrativos. 
 Prestador de serviço. 
Pessoa jurídica 
 Pessoa jurídica privada 
 Pessoa jurídica pública - empresas públicas, concessionárias de serviço público, e em 
ambos os casos, que operem não por impostos ou taxas, mas por preços públicos ou tarifas. 
 Pessoa Jurídica Nacional 
 Pessoa Jurídica Estrangeira – a responsabilidade recai sobre o importador, sem prejuízo 
do direito de regresso. 
 Entes despersonalizados (massa falida, pessoas jurídicas de fato, camelôs por ex.). 
 Entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática 
desportiva detentora do mando de jogo (art.3º, da Lei 10.671/03 – Estatuto do Torcedor). 
Observações: 
 Sociedades civis sem fins lucrativos de caráter beneficente e filantrópico: serão 
consideradas fornecedoras quando, por exemplo, prestarem serviços médicos, hospitalares, 
odontológicos e jurídicos a seus associados. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
10 
 Poder Público: será enquadrado como fornecedor de serviço toda vez que, por si ou por 
seus concessionários, atuar no mercado de consumo, prestando serviço mediante a cobrança 
de preço. O mesmo ocorre com concessionários. Ex: Concessionários de serviços públicos de 
telefonia, prestador de serviço de água. 
Bens de consumo e bens de produção 
Produto - é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial” (artigo 3º, 
parágrafo 1º, CDC). Trata-se de qualquer objeto de interesse em dada relação de consumo, 
e destinado a satisfazer uma necessidade do adquirente, como destinatário final. O termo é 
amplo, abrangendo os bens móveis (exemplos: carros, motos, sofás etc.), os bens imóveis 
(exemplos: apartamentos, terrenos etc.), os bens materiais, isto é, corpóreos, de existência 
física, e os bens imateriais, incorpóreos, isto é, os direitos (exemplo: programas de 
computador). 
Serviço - é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante 
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as 
decorrentes das relações de caráter trabalhista (§2º do art.3º). Exclui-se expressamente: a) 
os serviços gratuitos; b) as relações trabalhistas. Estas são regidas pela CLT. O STJ 
pacificou a questão no que se refere às relações bancárias - Súmula 297: “O CDC é 
aplicável às instituições financeiras”. 
Observações: 
1) Embora a definição legal de produto seja reduzida, doutrinariamente, dado ao seu 
conceito amplo, ela é estendida além de bens móveis e imóveis; materiais e imateriais, 
abrangendo os consumíveis e inconsumíveis; fungíveis e infungíveis; principais e acessórios;novos e usados; duráveis e não duráveis, e amostras grátis quanto aos vícios, defeitos, 
prazos de garantia, etc. 
2) Quanto aos serviços gratuitos, só são excluídos se forem pura ou inteiramente gratuitos. 
Se houver uma remuneração indireta (serviços aparentemente gratuitos), impõe-se a 
incidência do CDC. Ex: transporte coletivo para maiores de 65 anos, estacionamentos 
gratuitos em estabelecimentos comerciais, etc. 
3) A menção da aquisição ou utilização de produtos e serviços de forma puramente 
objetiva, não se fazendo ressalva para a destinação produtiva ou de consumo. Deste modo, 
o produto ou serviço destinado ao consumo final ou a produção do consumidor, desde que 
adquirida como “comprador final”, estará compreendida na relação de consumo. 
 
A Política Nacional de Relações de Consumo 
 Introdução: Mandamento constitucional previsto no artigo 5º, inciso XXXII, da 
Constituição Federal. A Política Nacional das Relações de consumo tem por a prestação 
adequada de serviços ao consumidor. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
11 
 Concretização: Capítulo denominado “Política Nacional de Relações de Consumo”, 
prevendo 10 princípios e 07 instrumentos com o escopo de garantir a efetiva execução desse 
programa nacional. A ideia é estabelecer parâmetros que norteiem os atos do Poder Público 
(legislativo, executivo e judiciário), quando do tratamento das relações de consumo. 
 Importância: os princípios se aplicam a todo o sistema dentro do qual se inserem, sendo 
próprios do sistema consumerista a vulnerabilidade, a transparência, a boa-fé, o equilíbrio e 
a confiança. 
 Finalidade: criar uma harmonia das relações de consumo, prevendo direitos aos 
consumidores (respeito à dignidade, saúde, segurança, interesses econômicos) e também 
direitos aos fornecedores (proteção à livre iniciativa, concorrência leal, respeito às marcas 
e patentes, etc.). Nos termos do art. 4º, o objetivo é atendimento das necessidades dos 
consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de sua qualidade 
de vida, bem como a transparência e harmonia nas relações de consumo. Há assim a criação 
de princípios a serem observados. 
 
Princípios da Política Nacional das Relações de Consumo 
1) Princípio da Informação (artigo 4º, “caput”, CDC) também denominado como 
Princípio da Transparência: o consumidor tem direito ao pleno conhecimento de todas as 
circunstâncias necessárias ao consumo seguro e sadio dos produtos e serviços. Tal princípio 
espraia por diversos dispositivos do CDC (artigos 6º, inciso III, 8º, 31, 37, parágrafo 3º, 46, 
54, parágrafos 3º, e 4º), ficando claro que o consumidor tem direito a informação do uso e 
características dos bens de consumo, mormente diante da sua situação de vulnerabilidade. A 
contratação livre feita pelo consumidor passa necessariamente pelo conhecimento acerca do 
objeto a ser contratado. 
2) Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor (artigo 4º, inciso I, CDC): o 
consumidor é considerado a parte mais frágil da relação por não deter os meios de produção 
na maior parte das relações jurídicas de consumo. O reconhecimento da vulnerabilidade faz 
com as disposições e interpretações tenham por objetivo assegurar a igualdade material. 
Trata-se do princípio mais importante, pois fundamenta a existência da legislação 
consumerista, regendo a interpretação das normas de consumo. 
Espécies de vulnerabilidade: 
 Técnica: é a falta de conhecimentos específicos sobre o bem ou serviço adquirido 
 Jurídica: é a falta de conhecimento jurídico acerca da relação de consumo. 
 Fática: é a supremacia do fornecedor decorrente do seu poder econômico ou do fato de 
ser o titular da prestação de um serviço essencial. 
 Informacional: é a falta de informações necessárias sobre o conteúdo do produto ou 
serviço. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
12 
 
2.1. Pessoas físicas – vulnerabilidade presumida. 
2.2. Pessoas jurídicas ou profissionais – para gozarem das disposições do CDC devem 
comprovar a vulnerabilidade. 
 
Vulnerabilidade ≠ hipossuficiência 
Vulnerabilidade = a presunção jurídica referente a estar o consumidor em posição de 
desequilíbrio na relação material de consumo. 
Hipossuficiência = presunção relativa relacionada a direito processual. Provada a 
hipossuficiência, é possível a inversão do ônus da prova. 
3. Princípio do dever ou da Ação Governamental (artigo 4º, incisos II e VI, CDC): O 
Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário) deve intervir no mercado com o objetivo de 
defender a parte mais fraca (o consumidor). Essa proteção do Estado ao consumidor pode se 
dar: 
3.1. Por iniciativa direta – edição de normas cogentes, instituição de órgãos de proteção 
ao consumidor, como, por ex., os PROCONS, que são órgãos públicos destinados à proteção 
do consumidor; 
3.2. Pelo incentivo à criação e desenvolvimento de associações civis 
representativas dos interesses dos consumidores, ADECON, IDEC, BRASILCON. Outro 
exemplo – art. 87 do CDC; 
3.3. Pela presença do Estado no mercado de consumo, regulando a ordem econômica, 
de forma que a defesa do consumidor seja resguardada de todo e qualquer abuso do poder 
econômico - criações da Secretaria Nacional de Direito Econômico e seus respectivos 
Departamentos de Defesa ao Consumidor e de Defesa da Ordem Econômica, do CADE 
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão regulador do controle e combate aos 
abusos do poder econômico no mercado, conforme regulamenta a Lei no. 8.884/94; 
3.4. Pela intervenção estatal pela garantia dos produtos e serviços com padrões 
adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho: para a 
concretização deste princípio destaca-se que SINMETRO, o CONMETRO e INMETRO, órgãos 
relacionados ao Programa Nacional de Qualidade e Produtividade Industrial lançado pelo 
Governo Federal estimulando a adoção de padrões mundiais de qualidade - Padrão ISO). 
3.5. Intervenção estatal por meio do estudo constante das modificações do 
mercado de consumo (art. 4º, inc. VIII): O CDC é de 1990, tendo várias questões 
surgidos após a sua publicação e que não foram disciplinadas à época. Vide, por ex., o caso 
do comércio eletrônico. Assim, há uma imposição de constante estudo por parte do Poder 
Público para que aprimore a proteção dispendida ao consumidor, nas novas relações jurídicas 
surgidas. Por exemplo, a criação do Banco de Dados Positivo – Lei nº 12.414/11. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
13 
4. Princípio da Harmonização (artigo 4º, incisos III e V, CDC): a Política Nacional de 
Relações de Consumo tem também como um de seus objetivos a harmonização entre 
consumidores e fornecedores, possibilitando o desenvolvimento tecnológico e econômico 
dos meios de produção e economia em compatibilidade permanente com a defesa do 
consumidor. Não podem ser colocados no mercado novos produtos que ofereçam perigo ao 
consumidor ou que sejam ineficientes. 
 Os fornecedores devem criar meios eficientes de contrato de qualidade e segurança 
dos produtos e serviços. 
 Visando estreitar a relação entre ambos e prevenir litígios, pode-se citar 03 
instrumentos: 
 SAC’S (Serviço de Atendimento ao Consumidor), 
 As Convenções Coletivas de Consumo (os pactos estabelecidos entre as entidades 
civis de defesa dos consumidores e os sindicatos ou associações comerciais ou industriais 
representando setores de fornecedores, que têm por meta definir condições de preço, 
qualidade, garantia, e composição preventiva de conflitos acerca do consumo de 
determinado produto, através de documento escrito levado a registro público em Cartório de 
Títulos e Documentos, conforme trata o Art. 107, do CDC), 
 Recalls (convocações efetuadas pela indústria para a efetivação de reparos de defeitos 
em bens produzidos em série decorrentes de equívocos da linha de produção, evitando o 
surgimento de lides). Núcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento 
5. Princípio da Boa-Fé Objetiva (artigo 4º, inciso III, CDC): traduzida no dever das 
partes agirem conforme parâmetros de honestidade e lealdade, estabelecendo equilíbrio nas 
relações de consumo. A boa-fé objetiva contratual, agrega-se aos elementos do contrato 
(partes capazes, objeto lícito, forma prescrita ou não defesa em lei), surgindo entre as 
partes os deveres de confidencialidade, assistência, informação, lealdade e confiança 
recíprocas. 
6. Princípio do Equilíbrio Contratual (artigo 4º, inciso III, CDC): o contrato não pode 
acentuar as diferenças entre fornecedores e consumidores, mas sim buscar o equilíbrio entre 
as partes, diminuindo a vulnerabilidade destes. O CDC imporá pena de nulidade para as 
cláusulas contratuais que prevejam vantagens manifestamente excessivas ou 
unilateralmente desproporcionais em benefício exclusivo do fornecedor. Vide art. 51 do CDC. 
7. Princípio da Educação e Informação, com atenção a educação financeira e 
ambiental (artigo 4º, incisos IV e IX, CDC): a população deve ser constante educada e 
informada acerca de seus direitos enquanto consumidores e quais são os seus instrumentos 
de proteção. Já os fornecedores devem também ser orientados e advertidos para que 
prestem vassalagem aos direitos dos consumidores. Ademais, uma preocupação hoje 
existente é com o superendividamento, ou seja, aquela situação em que não seja preservado 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
14 
o mínimo existencial, ou seja, um "mínimo vital" de qualidade vida, a lhe permitir viver 
com dignidade, tendo a oportunidade de exercer a sua liberdade no meio social em que vive 
(situação diretamente ligada ao princípio da dignidade). 
8. Princípio do Incentivo ao Autocontrole (artigo 4º, inciso VI, do CDC): 
necessidade de o Estado incentivar os próprios fornecedores a tomarem medidas e 
providências tendentes a solucionar eventuais conflitos. Exemplos: o autocontrole dos 
fornecedores pode se dar com o controle da qualidade e segurança dos produtos defeituosos, 
com a criação de departamentos de atendimento ao consumidor etc. 
VI - Coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de 
consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e 
criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que 
possam causar prejuízos aos consumidores; 
9. Princípio da racionalização e melhoria dos serviços públicos (artigo 4º, inciso 
VII, CDC): o Poder Público, assim como a iniciativa privada, deve velar pela qualidade do 
produto ou do serviço prestado, de modo a atender satisfatoriamente os consumidores. 
Desta feita, quando o Poder Público presta ou concede a terceiro determinado serviço, ele 
deve velar pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, 
segurança, durabilidade e desempenho. 
10. Princípio do mínimo existencial e prevenção e tratamento ao 
superendividamento (art. 4º, inciso X, do CDC): por este tenta-se garantir o mínimo 
existencial, o qual, adotando como parâmetro o artigo 25 da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos, é padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-
estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais 
indispensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, 
velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu 
controle. Assim, foram criados e estão hoje previstos no CDC mecanismos para se evitar o 
superendividamento (como a educação financeira, por ex.) ou então para tentar solucionar o 
superendividamento, como o da conciliação extrajudicial/judicial e recuperação judicial do 
consumidor superendividado. 
Instrumentos 
Previstos no artigo 5º do CDC, se tratam dos meios utilizados para efetivar os princípios 
mencionados. São eles: 
1) Assistência jurídica integral e gratuita (artigo 5º, inciso I, CDC): tem por objeto de 
tutela o consumidor carente, sendo que se manifesta nas Defensorias Públicas. No Estado de 
São Paulo, em comarcas onde elas inexistem, a assistência jurídica é prestada através de 
convênio entre a Defensoria Pública Estadual e a OAB/SP. 
2) Promotorias de Justiça de defesa do consumidor (artigo 5º, inciso II, CDC): o 
Ministério Público é legitimado para a proteção coletiva dos consumidores, desempenhando 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
15 
tal mister através de Promotorias de Justiça Especializadas, mediante a instauração de 
inquérito civil e respectiva ação civil pública. O Ministério Público não tem legitimidade 
para mover a ação individual em favor de determinado consumidor, embora possa servir de 
ombudsman, recebendo reclamações e prestando orientações aos particulares em geral. 
3) Delegacias de Polícia especializadas (artigo 5º, inciso III, CDC): o CDC prevê a 
especialização da Polícia Judiciária com a criação de um Delegacia própria para a apuração 
de crimes contra a economia popular e na apuração de delitos contra as relações de 
consumo. 
4) Juizados Especiais Cíveis (artigo 5º, inciso IV, CDC): com a Lei 9.099/95, houve 
uma enorme ampliação do tão reclamado acesso ao Poder Judiciário, com a multiplicação das 
pequenas demandas, sendo que destas, boa parte decorre de relações de consumo. 
5) Associações de consumidores (artigo 5º, inciso V, CDC): que atuam na defesa de 
seus associados, ou mesmo na defesa coletiva dos consumidores e desempenham 
importante papel, tendo o CDC atribuído legitimação ativa para a propositura de ações civis 
públicas, observados certos requisitos legais. Exemplo: IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa 
do Consumidor. 
6) núcleos de conciliação e mediação de conflitos oriundos de superendividamento 
(artigo 5º, inciso VII, do CDC): previstos no artigo 104-C, se trata de órgãos públicos 
integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, que fazem a fase conciliatória e 
preventiva do processo de repactuação de dívidas, no que couber, com possibilidade de o 
processo ser regulado por convênios específicos celebrados entre os referidos órgãos e as 
instituições credoras ou suas associações. 
 
DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 
CONCEITO: são os direitos essenciais do consumidor e estão previstos no art. 6° do CDC. 
Podemos enumerá-los à seguinte forma: 
 Proteção da vida, saúde e segurança; 
 Educação para o consumo; 
 Informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, inclusive quanto 
aos preços dos produtos por unidade de medida, tal como por quilo, por litro, por metro ou 
por outra unidade, conforme o caso; 
 Proteção contra publicidade enganosa e abusiva; 
 Proteção contratual; 
 Efetiva indenização; 
 Facilitação no acesso à Justiça; 
 Facilitação de defesa de seus direitos; 
 Qualidade dos serviços públicos 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
16 
 Direito a práticas de crédito responsável, de educação financeira e de prevenção e 
tratamento de situações de superendividamento. 
 Direito ao mínimo existencial. 
 
Esse rol de direitos não é taxativo. Trata-se de direitos básicos, que não excluem 
outros direitos, previstos no próprio CDC ou em qualquer outra lei ou tratado internacional. 
 
1. PROTEÇÃO DA VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA (ART. 6°, I, DO CDC): a segurança deve 
ser entendida de forma mais ampla possível, abrangendo a pessoa e o patrimônio do 
consumidor. Com base neste direito, são previstas várias regras estabelecendo deveres dos 
fornecedores de produtos ou serviços perigosos, entre os quais, a obrigação legal de 
informar na embalagem os riscos que o produto apresenta, ou de não colocá-lo no mercado 
se tais riscos surgirem como superiores ao normalmente esperado; a obrigação legal de 
retirar do mercado produtos que ofereçam riscos à incolumidade dos consumidores ou 
terceiros e de informar autoridades competentessobre tais riscos; e a obrigação legal de 
indenizar na hipótese de danos causados pelo fato do próprio produto. 
2. EDUCAÇÃO e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, 
asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações, além da 
educação financeira, como forma de prevenir e tratar situações de 
superndividamento (ART 6º, II e XI, DO CDC): a educação visa dotar o consumidor de 
espírito crítico para enfrentar as técnicas de venda e as práticas de mercado. O consumidor é 
detentor do direito de ser educado sobre o consumo, razão pela qual recomenda-se a 
formação do público consumidor, colocando à disposição de todos, conhecimentos sobre 
princípios básicos do CDC, de modo a possibilitar uma escolha adequada de bens e serviços. 
A liberdade de escolha é consequência da educação, sendo pode ser vista também como um 
direito contra a formação de cartéis. Já o direito de igualdade nas contratações visa impedir 
qualquer discriminação pessoal na oferta, publicidade ou restrições ao ato de contratação. 
 A educação financeira quanto ao crédito responsável é de suma importância na 
prevenção e tratamento de situações de superendividamento. 
3. INFORMAÇÃO (ART. 6º, III e XIII DO CDC): o consumidor deve sempre ser 
informado sobre os produtos e serviço que deseja contratar. Essa informação só será efetiva 
quando for clara e adequada em rótulos, embalagens e publicidade, alcançando 
características, composição, qualidade, riscos do produto. O direito à informação se estende 
ao momento anterior a contratação e prolonga-se até depois dela. Esta informação origina-
se do Estado, das associações dos consumidores e dos próprios fornecedores, permitindo 
uma comparação entre produtos e serviços concorrentes. Além deste direito proclamado no 
art. 6º, o CDC regula a informação como oferta (arts. 30 e 31 do CDC); institui deveres de 
informação para depois da contratação (art. 10 do CDC). 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
17 
 Este direito à informação correta traz a proibição da publicidade enganosa e abusiva. 
A informação, ainda, deve ser acessível à pessoa com deficiência. 
Abusiva: é a publicidade que incite à violência, explore o medo e a superstição, se aproveite 
da deficiência de julgamento e inexperiência da criança, desrespeite os valores ambientais e 
que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à 
sua saúde ou segurança. 
Enganosa: é a publicidade inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, 
mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, 
características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados 
sobre produtos e serviços. 
 Ademais, a informação acerca dos preços deve ser clara, abrangendo os dos 
produtos por unidade de medida, tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra 
unidade, conforme o caso. 
 
4. PROTEÇÃO CONTRA PRÁTICAS E CLÁUSULAS ABUSIVAS (ART. 6 º, IV E V, DO 
CDC): A proteção contra práticas e cláusulas abusivas é concretizada através da proteção 
especial prevista em dois artigos: art. 39 (práticas abusivas) e as art. 51 (cláusulas 
abusivas). 
5. POSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS QUE 
ESTABELEÇAM PRESTAÇÕES DESPROPORCIONAIS OU SUA REVISÃO EM RAZÃO DE 
FATOS SUPERVENIENTES QUE AS TORNEM EXCESSIVAMENTE ONEROSAS (artigo 6º, 
V, CDC): a Teoria da Base Objetiva do Negócio Jurídico no CDC. A norma não pode ser 
invocada pelo fornecedor para justificar a imposição de modificação no contrato que gere 
maiores prejuízos ao consumidor (STJ, REsp 1269632). 
- MODIFICAÇÃO - a lesão possibilita “a modificação das cláusulas contratuais que 
estabeleçam prestações desproporcionais” (primeira parte do inciso V). 
- Lesão consumeirista ≠ lesão civil - no art. 157 do CC, ocorre lesão quando uma pessoa, 
sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente 
desproporcional ao valor da prestação aposta. No CDC, BASTA PROVAR A 
DESPROPORCIONALIDADE DAS PRESTAÇÕES, NÃO SENDO NECESSÁRIA A DEMONSTRAÇÃO 
DA NECESSIDADE OU INEXPERIÊNCIA DO CONSUMIDOR (elementos subjetivos). 
- O STJ entende que o art. 6º, V, segunda parte, tratou da TEORIA DA BASE OBJETIVA DO 
NEGÓCIO JURÍDICO: NÃO EXIGE A IMPREVISIBILIDADE DO FATO SUPERVENIENTE, 
BASTANDO A DEMONSTRAÇÃO OBJETIVA DA EXCESSIVA ONEROSIDADE ADVINDA PARA O 
CONSUMIDOR (REsp 370598). 
 
6. PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS (ART. 6 º, VI, DO CDC): o objetivo principal é 
a prevenção do dano, visando evitar que o dano ocorra. Pela prevenção tem-se que as 
empresas fornecedoras de produtos e serviços devem pesquisar e certificar-se da qualidade 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
18 
e características do produto ou serviço antes de colocá-los no mercado. Ademais, ocorrendo 
danos, os fornecedores devem repará-los, de forma mais ampla possível, abrangendo os 
danos materiais e morais. Ex: SACs (serviços de atendimento aos consumidores) e Recall; 
sanções administrativas, punições penais e civis. 
7. ACESSO À JUSTIÇA (ART. 6 º, VII, DO CDC): abrange o direito de representação e o 
direito de assessoramento e assistência. O CDC facilita o acesso à justiça. Consequência - 
colocar à disposição do público um serviço ágil para responder objetiva e rapidamente às 
consultas populares sobre todos os aspectos relativos ao consumo, especialmente os 
negociais. Já o direito de representação em juízo pode ocorrer através de advogado e das 
defensorias públicas. 
Além da defesa individual, tem-se a defesa no plano coletivo. Quando se tratar da 
defesa coletiva de direitos inclui também as associações de consumidores e o Ministério 
Público. 
8. FACILITAÇÃO DA DEFESA DE DIREITOS (ART. 6 º, VIII, DO CDC): ocorre 
principalmente através de dois mecanismos: da possibilidade de ingresso da ação no local de 
seu domicílio e da possibilidade de inversão do ônus da prova no processo civil, havendo 
verossimilhança das alegações ou hipossuficiência do consumidor. 
9. ADEQUADA E EFICAZ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO (ART. 6 º, X, DO CDC): O poder 
público quando prestador de serviços de consumo, deve oferecer serviços adequados e 
eficazes. Além disso, o art. 22 refere que os serviços públicos essenciais devem ser 
contínuos. Poder Público – prestação de serviços de duas formas: serviços ut singuli - 
reputados como individuais (fornecimento de água, energia elétrica, telefonia), e operando 
com preços públicos, nas quais incide o CDC. Serviços coletivos gratuitos ut universi 
(educação, saúde, segurança pública), em que não há fornecimento propriamente dito, nem 
tampouco relação de consumo. 
10. PROTEÇÃO AO SUPERENDIVIDAMENTO E A PRESERVAÇÃO DO MÍNIMO 
EXISTENCIAL (ART. 6º, XI E XII, DO CDC): inovação trazida pela Lei nº 14.181/21. 
Mínimo existencial refere-se a qualidade de vida, o mínimo que se permita viver com 
dignidade, estando, pois, ligado ao princípio do Estado Democrático de Direito, gerando um 
dever do Estado de proteção. Assim, tem-se previsto e regulamentado no Código, o processo 
de recuperação judicial dos superendividados, núcleos de conciliação, etc. 
 
REGRAS DE EXTENSÃO E SOLIDARIEDADE 
Artigo 7º: Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de 
tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação 
interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas 
competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, 
costumes e equidade. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
19 
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão 
solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo” 
“Caput” - Havendo regra mais benéfica ao consumidor que não prevista no CDC, ela terá 
plena aplicação. Caso surja aparente conflito de normas, prevalecerá sempre e em qualquer 
hipótese aquela que oferecer maiores vantagensao consumidor. O CDC não exclui as demais 
normas protetoras dos interesses do consumidor, ao contrário, recebe-as como normas 
importantes à consecução de seus objetivos, possibilitando uma abertura do sistema para 
outros direitos constantes de leis, tratados e regras administrativas, no intuito de aplicarem 
as normas mais favoráveis ao consumidor. 
Parágrafo único - haverá solidariedade passiva na cadeia de fornecimento, em caso de danos 
ao consumidor se mais de um fornecedor contribuir para o surgimento da ofensa em 
qualquer grau. Deste modo, independentemente dos graus de contribuição particular de cada 
fornecedor para a origem do dano ao consumidor, todos os responsáveis em qualquer grau 
pelo dano responderão pelo todo da reparação. 
QUALIDADE E SEGURANÇA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
Objetivo: proteção a vida e a saúde do consumidor. 
Consequência: os artigos 8º, 9º, e 10º normatizam as situações de nocividade e 
periculosidade possíveis na relação de consumo. 
 O CDC: 
 Estabelece regras sobre a mínima qualidade e segurança dos produtos e serviços. 
 Prevê mecanismos de proteção para a atenuação dos riscos com a atividade de consumo. 
 Tutela a vida, a saúde e a segurança dos consumidores, considerados bens jurídicos 
primordiais. 
 
Da proteção da Saúde e da Segurança 
Da previsão periculosidade 
 Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão 
riscos à saúde ou segurança dos consumidores (regra), exceto os considerados 
normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição (exceção), obrigando-se 
os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e 
adequadas a seu respeito (obrigação genérica). 1º Em se tratando de produto 
industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de 
impressos apropriados que devam acompanhar o produto. (Redação dada pela Lei nº 
13.486, de 2017). § 2º O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e utensílios 
utilizados no fornecimento de produtos ou serviços, ou colocados à disposição do 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
20 
consumidor, e informar, de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, sobre o risco 
de contaminação. (Incluído pela Lei nº 13.486, de 2017) (obrigações específicas) 
Explicação 
 
1) Regra: produtos e serviços não podem acarretar riscos. 
2) Exceção: riscos normais e previsíveis inerentes a alguns produtos (ferramentas, 
alguns produtos de limpeza, inseticidas, armas etc.). Tem-se aqui a chamada 
periculosidade inerente. 
 
Consequências 
 
1) Obrigação genérica aos fornecedores: dever de informar em qualquer hipótese, por 
mais conhecido que seja o risco de um produto (Princípio da Transparência ou Informação) 
2) Obrigação específica ao fabricante de produtos industrializados: informação por 
impresso explicativo acompanhando o produto. Ademais, o fornecedor deverá higienizar os 
equipamentos e utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou serviços, ou colocados à 
disposição do consumidor, e informar, de maneira ostensiva e adequada, quando for o caso, 
sobre o risco de contaminação. 
 
Interpretação do dispositivo 
 
 O CDC, embora proíba produtos e serviços causem riscos à saúde e segurança do 
consumidor, aceita a existência daqueles que geram riscos normais e previsíveis, em razão 
de sua própria natureza. Neste caso, o fornecedor ou, então, o fabricante (no caso de 
produto industrializado), devem proceder informações acerca da periculosidade do produto. 
 
 Discussão doutrinária 
 
 Alguns defendem que a regra deve ser interpretada de forma cautelosa, para não a 
estender ao absurdo, sendo a obrigação de informação voltada aos riscos anormais e 
imprevisíveis em razão da utilização de produtos e serviços. 
 
 Outros entendem que “em qualquer hipótese”, deve ser dada informações sobre a 
periculosidade e nocividade diante da fixação desse direito como básico e indisponível (artigo 
6º, inciso I, CDC). 
 
Periculosidade potencial (artigo 9º, CDC) 
 
 Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos 
à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
21 
respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras 
medidas cabíveis em cada caso concreto. 
 
 Previsão da periculosidade potencial: além da periculosidade inerente, há produtos e 
serviços que revelam um perigo que pode se materializar apenas eventualmente, se 
observadas situações específicas (ex. embalagens de produtos que podem, em determinadas 
situações, explodirem). 
 Obrigação do fornecedor: informar, de forma ostensiva e adequada, a nocividade e 
periculosidade potenciais, sem prejuízo de outras medidas práticas. 
 
Periculosidade excessiva (artigo 10 do CDC) 
 
 Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou 
serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou 
periculosidade à saúde ou segurança. 
 Impedimento: regra proibindo a colocação no mercado de produto ou serviços com alto 
grau de nocividade ou periculosidade. 
 Elemento subjetivo: sabe ou deve saber. Criação de uma presunção jurídica, sendo que 
mesmo desconhecendo sobre a periculosidade/nocividade, o fornecedor pode sofrer 
consequências (responsabilidade administrativa, civil e penal), se for considerado que ele 
deva conhecer os perigos que seu produto possa vir a causar ao consumidor. 
 Resumindo: o CDC aceita produtos e serviços sem perigo, com periculosidade inerente e 
até com periculosidade potencial, porém não se pode colocar no mercado aqueles que 
possuem periculosidade excessiva (aplicação do art. 6º, I c.c. o art.10, “caput”, do CDC). 
 
Periculosidade futura (artigo 10, § 1º, CDC) 
 
§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no 
mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, 
deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos 
consumidores, mediante anúncios publicitários. 
 Regra: o produto ou serviço com alto grau de periculosidade ou de nocividade, não pode 
ser colocado no mercado. 
 Situação: e se o perigo ou nocividade não for conhecido ao tempo em que o produto foi 
disponibilizado ao mercado de consumo pela ciência posta? 
 Resposta: o fornecedor deverá cumprir duas obrigações: 1) informar as autoridades 
competentes, e 2) informar os consumidores mediante anúncios publicitários (artigo 10, § 
1º, CDC). 
 
Consequências: 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
22 
1) Produtos sujeitos à fiscalização ou controle rotineiro: se o produto sujeitar-se a 
controle e fiscalização governamentais, deverá ser retirado de mercado por iniciativa do 
Poder Público. 
2) Recall: se não houver esse controle governamental sobre o produto ou serviço, a 
providência ficará a cargo do próprio fornecedor, que deverá retirar o produto ou serviço 
colocado no mercado. No caso se já terem sido colocados no mercado, os consumidores 
deverão ser convocados para substituição ou reparo do produto ou serviço. Tais providências 
não impedem a responsabilidade caso algum dano venha a ocorrer antes ou depois da 
retirada do produto pela Administração, pelo fabricante, ou do recall, sendo que o fornecedor 
responde pelas despesas. 
 
 O Poder Público também assume o dever jurídico de informar o público consumidor 
sobre a futura periculosidade e nocividade 
 § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços 
à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e 
os Municípios deverão informá-los a respeito”. 
 
Conclusão/Resumo 
1. Art. 6º, inciso I, CDC - direito básico de “proteção da vida, da saúde e da segurança 
contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços 
considerados perigosos ounocivos”. 
2. Regra: não se pode comercializar produto/serviço que causem periculosidade ou 
nocividade ao consumidor. 
2.1. Exceções: no caso de periculosidades inerente e potencial dos produtos e serviços há o 
dever de informação necessária e adequada (artigos 8º e 9º, CDC). 
3. Periculosidade excessiva: perigos maiores do que vantagens. Os produtos/serviços não 
podem ser colocados no mercado. 
3. Periculosidades ou nocividades futuras: ocorre quando as periculosidades ou 
nocividades são descobertas somente após a colocação do produto ou disponibilização do 
serviço ao mercado de consumo. O Fornecedor é obrigado: a) retirar os produtos para 
adequação das informações; b) informação ao Poder Público sobre a descoberta da 
periculosidade; c) informação ao público consumidor à custa do fornecedor. Isto se se tratar 
de periculosidades inerente ou potencial. Se for excessiva, deve o produto ser retirado do 
mercado. 
Responsabilidade Civil no CDC 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
23 
Introdução: é a obrigação de indenizar o dano causado a outra pessoa. A responsabilidade 
civil pode ser: 
 Subjetiva: é a derivada de dolo ou culpa. A obrigação somente de indenizar surge se o 
dano houver sido causado de forma dolosa ou culposa. 
 Objetiva: é aquela em que a obrigação de indenizar é independente de dolo ou culpa, 
bastando o nexo causal entre a conduta e o dano experimentado pela vítima. 
 No CDC, a responsabilidade do fornecedor é objetiva, à exceção dos profissionais 
liberais que, no tocante aos serviços prestados, só respondem a título de dolo ou culpa (§4º 
do art.14). 
 
Pressupostos: 1) Objeto (produtos e serviços produzidos em série, sem possibilidade de 
intervenção do consumidor) + 2) Consequência (ocorrência de defeitos) = 3) 
Necessidade de maior proteção. 
“Teoria do Risco do Negócio”: é a adotada pelo CDC. Surge diante da possibilidade do 
consumidor adquirir produto ou serviço com problemas, sem que tenha ocorrido dolo ou 
culpa do fornecedor + complementação do direito básico a efetiva prevenção e reparação de 
danos patrimoniais e morais suportados em razão da relação de consumo (artigo 6º, inciso 
VI, CDC). Por esta teoria, a responsabilidade do fornecedor prescinde do requisito 
culpa. 
Fundamento: ao explorar a economia de consumo, o fornecedor assume o risco de que 
produção em série poderá colocar no mercado produtos com problemas, devendo 
responsabilizar-se pelos mesmos, diante do lucro por ele auferido. O conceito de 
responsabilidade objetiva em sede de direito do consumidor foi construído e fundamentado 
na dificuldade de efetivar a reparação de danos às vítimas dos acidentes de consumo. Na 
prática, sem a adoção desta responsabilidade, não há como provar que o produto/serviço 
estava com defeito. 
 O desempenho de atividade econômica, por si só, cria o risco de dano ao 
consumidor, de forma que, se concretizado, surge o dever de repará-lo, independentemente 
da comprovação de dolo ou culpa do fornecedor. 
Consequência: o fornecedor se obriga a reparar quaisquer danos sofridos pelo consumidor 
em razão do próprio produto ou serviço, ou seja, pelo fato do produto ou do serviço. O dever 
de reparação surge com o surgimento do dano diante de defeito oriundo de projeto, 
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou 
acondicionamento do produto, ou aparece com o acontecimento do dano resultante de 
informações insuficientes ou inadequadas sobre a utilização e riscos do produto. 
Base: o conceito de responsabilidade objetiva apoia-se em três bases: 
 A existência de um defeito no produto; 
 O efetivo dano sofrido (moral ou material); 
 O nexo de causalidade que liga o defeito do produto à lesão sofrida. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
24 
 
Disposição legal: o CDC dispõe a responsabilidade civil do fornecedor da seguinte 
maneira: 
 Responsabilidade pelo fato do produto (art.12). 
 Responsabilidade pelo fato do serviço (art.14). 
 Responsabilidade pelo vício do produto (arts.18 e 19). 
 Responsabilidade pelo vício do serviço (art.20). 
 
Responsabilidade pelo fato do produto (defeito) e responsabilidade pelo vício do 
produto - Diferenças 
 
Espécies de responsabilização: o regime de responsabilização adotado para as relações 
de consumo rompe com o binômio contratual e extracontratual. Ao invés de classificar a 
responsabilidade de acordo com a natureza do vínculo, o CDC adota a lógica dos bens 
jurídicos tutelados. A responsabilidade pelo fato do produto deve ser considerada como 
responsabilidade pelos acidentes de consumo (defeito). Assim, a responsabilidade civil nas 
relações de consumo divide-se em responsabilidade por defeito e por vício. 
Diferenças: Será considerada por defeito se houver problemas referentes à insegurança 
(art. 6º, I, do CDC) e responsabilidade pelo vício, se o dano for ao patrimônio (art. 
6º, VI, do CDC). 
A responsabilidade pelo fato é associada à noção de defeito no produto, a 
ocorrência de falha no produto que gera o acidente de consumo e, em consequência, danos 
ao consumidor. Doutra parte, a responsabilidade pelo vício está ligada à ocorrência de falha 
no produto, capaz apenas de lhe diminuir o valor ou funcionalidade, sem afetar a integridade 
física, moral e patrimonial do consumidor. O defeito está associado à segurança do 
consumidor. Já o vício se liga a qualidade do produto. 
 
Defeito: atinge o consumidor em seu patrimônio jurídico pessoal material, moral, estético 
ou de imagem. A responsabilidade pelos fatos do produto ou serviços se apresenta ao 
comerciante como subsidiária, eis que, os obrigados principais são o fabricante, o produtor, o 
construtor e o importador. O comerciante só será responsabilizado quando aqueles não 
puderem ser identificados, quando o produto fornecido não for devidamente identificado, ou 
ainda, quando não conservar os produtos perecíveis adequadamente. 
Vício: recai sobre o próprio produto ou serviço, diminuindo-lhe o valor, ou apresentando-se 
de forma diversa das informações que carrega, ou ainda tornando-o imprestável ao fim a 
que se destina. É uma característica própria e intrínseca do produto ou serviço em si (dano 
in re ipsa, ou seja, inerente a própria coisa). Na responsabilidade pelos vícios do produto o 
comerciante responde solidariamente, juntamente com todos os envolvidos na cadeia 
produtiva e distributiva. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
25 
 
VÍCIO ≠ DEFEITO 
Vício: é a mera inadequação do produto ou do serviço para os fins a que se destina. Ex.: o 
consumidor comprou um eletrodoméstico que não funciona. 
Defeito: diz respeito à insegurança do produto ou do serviço. Ex.: a televisão comprada 
explode e causa danos à integridade do consumidor. 
 Espécies de defeitos: de fabricação, de concepção e de comercialização. 
 
Dupla ocorrência: às vezes um mesmo problema pode caracterizar o vício, ou causar um 
acidente de consumo, transformando-se em defeito, tudo dependendo das consequências 
decorrentes desse problema do produto ou serviço na vida do consumidor. 
Responsabilidade pelo fato do produto/defeito = direito à indenização 
 
Responsabilidade pelo vício do produto = direito ao conserto, à troca do produto ou ao 
recebimento do dinheiro pago. 
 
Responsabilidade pelo Fato do Produto ou do Serviço 
1. Conceito: é a responsabilidade atribuída ao fornecedor ante a ocorrência de um acidente 
de consumo derivado de um defeito. Trata-se de responsabilidade por acidentes de consumo, 
com previsão nos artigos 12 a 17 do CDC. 
2. Acidente de Consumo: é aquele que atinge o consumidor causando-lhe danos em razão 
da utilização do produto ou do serviço, que podem ser materiais ou morais, em razão de sua 
insegurança, quase sempre surgindo em uma fase intermediária do consumo e de forma 
oculta. O “acidente de consumo” lesa a vida, a saúde, a integridade física ou a segurança de 
uma ou mais pessoas.Gera, pois, um dano pessoal, e não meramente patrimonial. 
3. Defeito: produtos e serviços defeituosos são os que não apresentam a segurança 
legitimamente esperada, causando danos à vida, saúde ou segurança ocasionado por 
produto ou serviço. Igualmente é considerado defeito as situações das quais decorrem 
prejuízo lateral (a pessoa, embora não seja consumidora direta, é atingida pelo acidente de 
consumo). 
4. Ausência de Segurança: inicialmente recorde-se os 02 tipos de periculosidade: a 
inerente (risco intrínseco do produto ou serviço, referente à sua própria qualidade ou modo 
de funcionamento) e a adquirida (que se tornam perigosos em razão de um defeito com 
origem na fabricação, concepção ou comercialização) 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
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No caso da periculosidade inerente, a princípio a responsabilidade é excluída. 
Porém, o fornecedor poderá responder se não informar adequadamente sobre sua 
utilização e riscos (Art. 8º do CDC). 
A periculosidade adquirida gera responsabilização objetiva, ou seja, 
independentemente de culpa. Além disso, os fornecedores são proibidos de introduzir 
no mercado tais produtos e serviços. Em caso de impossibilidade de prevenir o risco 
antes de sua inserção no mercado, o fornecedor deverá informar as autoridades, os 
consumidores e proceder ao recall. 
5. Espécies de defeitos: 
Defeito do Produto: conforme a sua origem divide-se em: concepção, fabricação e 
comercialização. 
5.1. Defeito de concepção: é decorrente da falha de projetos ou fórmulas, geralmente 
manifestando-se diante de erro em relação às características finais dos produtos ou serviços 
de toda uma série. Podem ocorrer no planejamento, no desenvolvimento, na escolha do 
material utilizado, em relação às técnicas de fabricação bem como ao modo de utilização ou 
montagem dos componentes. Recai sobre todos os produtos de uma determinada série na 
cadeia produtiva, sendo que a forma de solução é determinar o recolhimento do produto 
através de recall (comumente envolvem os defeitos de projeto, formulação e design). 
5.2. Defeitos de fabricação: estes recaem apenas em alguns produtos, por falhas no 
processo produtivo. Eles se se caracterizam por apresentarem imperfeições inadvertidas em 
relação a alguns produtos de uma série ou produção. Envolvem os defeitos de fabricação, 
construção, montagem, manipulação e acondicionamento. 
5.3. Defeitos de comercialização: abrangem os deveres de informar, acondicionar e 
embalar o uso correto do produto ou fruição do serviço. Geralmente, decorrem em razão de 
informações incompletas, obscuras, ausentes, imprecisas, que causam acidentes de consumo 
motivados por insegurança do produto ou serviço. Trata-se de defeito extrínseco, sendo que 
para a sua ocorrência, deve gerar um dano, seja este material, moral, individual, coletivo ou 
difuso. A mera potencialidade do dano não torna o produto defeituoso, mas tão somente 
viciado (vício de qualidade por inadequação). 
Defeitos do Serviço: o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o 
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, 
entre as quais o modo de seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele 
se esperam, e a época em que foi fornecido (§1º do art.10). O serviço não é considerado 
defeituoso pela adoção de novas técnicas (§2º do art.14). 
6. Sujeitos: em se tratando de acidentes de consumo, o CDC amplia a proteção para 
proteger qualquer pessoa vitimada (art. 17 do CDC), independentemente desta ter adquirido 
pessoalmente o produto ou serviço. Tanto o consumidor que adquire o produto, como 
terceiro que vem a sofrer em decorrência deste defeito, são protegidos. 
Direito de Defesa do Consumidor 
 
27 
6.1 Responsáveis: são responsáveis alternativamente: o fabricante (fornecedor que 
fabrica e coloca no mercado produtos industrializados); o construtor (introduz produtos 
imobiliários no mercado, através do fornecimento de bens ou serviços); importador 
(fornecedor presumido, que responde por eventuais danos causados por defeitos de 
fabricação ou produção de produtos importado) ou o produtor (coloca no mercado produtos 
não industrializados, de origem natural). Concentra-se a responsabilidade, diante da 
presunção de terem eles maior capacidade econômica em suportarem a responsabilização e 
por disporem de maiores condições de influenciar o processo de produção dos produtos 
O comerciante é responsável solidário (e subsidiário) somente nos casos 
previstos no art. 13 do CDC. Ele será responsabilizado quando o fabricante, o construtor, o 
produtor ou o importador não puderem ser identificados (produto colocado sem qualquer 
informação); quando o produto fornecido não for devidamente identificado (mercadoria 
vendida sem rótulo), ou ainda, quando não conservar os produtos perecíveis adequadamente 
(a responsabilidade é exclusiva do comerciante, excluindo a responsabilidade dos demais 
fornecedores). 
Responsabilidade solidária: aquele que efetivar o pagamento ao consumidor prejudicado 
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua 
participação na causação do evento danoso (parágrafo único do art.13 do CDC). É cabível 
para o comerciante (salvo na hipótese do art.13, III) e para os demais fornecedores 
(fabricante, produtor, construtor e importador), devendo ser exercitada em ação autônoma 
diante da vedação da denunciação da lide (art.88 do CDC). 
6.1.1 Responsáveis por serviços - o art. 14 do CDC menciona genericamente o 
fornecedor de serviços. Assim, caso haja mais de um fornecedor de serviços envolvido, todos 
poderão ser acionados, sozinhos ou em conjunto. Isso porque a legislação prevê 
expressamente a solidariedade entre os fornecedores responsáveis, conforme disposto no 
art. 25, §1º, do CDC: 
7. Excludentes de Responsabilidade: a responsabilidade é objetiva, mas pode ser 
afastada de acordo com previsões do CDC (arts. 12, §3º e 14, §3º, do CDC). São elas: 1) 
Não colocação do produto do mercado (produto falsificado, roubado, furtado, etc.); 
2) Inexistência de defeito (prova deve ser realmente de ausência de defeito, sendo que a 
mera ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e 
serviços não o exime da responsabilidade -art. 23 do CDC; 3) Culpa exclusiva do 
consumidor, e 4) Culpa exclusiva de terceiro. 
7.1. Excludente doutrinárias: discute-se a possibilidade de exclusão da responsabilidade 
em caso de: caso fortuito e força maior (devem ser causa direta do dano, não se 
relacionando com a atividade do fornecedor e, além disso, ser excepcional e inevitável), a 
observância de normas imperativas (havendo norma jurídica, vinculante imperativa e 
detalhada sua observância pode acarretar a exclusão de responsabilidade do fornecedor. 
Para isso, é preciso que o defeito seja decorrente da observância da lei), e os riscos de 
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desenvolvimento (para alguns doutrinadores – posição minoritária – o risco do produto 
identificado após algum tempo, em razão dos avanços da ciência, deveria excluir a obrigação 
de indenizar, pois, na interpretação do significado do produto defeituoso, deve se levar em 
conta a época em que foi colocado em circulação. Todavia, a posição dominante na doutrina 
é que o fornecedor é sempre o responsável pelos defeitos do produto, ainda que estivesse 
de acordo com a legislação vigente à época da fabricação). 
Em todos os casos de excludente de responsabilidade, o ônus da prova é do 
fornecedor (art. 12, §3º, do CDC). Além das excludentes acima descritas, o fornecedor 
pode alegar em sua defesa a prescrição. 
8. Elementos: por ser considerada responsabilidade objetiva, os requisitos para a 
configuração são: 
 A existência de um problema, que causa danos ao patrimônio jurídico pessoal do 
consumidor e que é considerado “defeito” extraído do elemento objetivo da relação

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