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Direito das Coisas Noções Introdutórias Locus Regulatório do Direito das Coisas Direitos patrimoniais de natureza pessoal: Direito das Obrigações (arts. 233 a 420 e arts. 854 a 965) Direito Contratual (arts. 421 a 853-A) Direito de Empresa (arts. 966 a 1.195) Direitos patrimoniais de natureza real: Direito das Coisas (Livro III – arts. 1.196 a 1.510) Conceituação • Ramo do Direito Civil que tem como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou determináveis. Coisas: aquilo que não é humano. Bens corpóreos ou tangíveis. (Flávio Tartuce) • Complexo de normas que regulamenta as relações dominiais existentes entre a pessoa e as coisas apropriáveis (Carlos Roberto Gonçalves) • Direito das coisas é o subsistema jurídico no qual há uma relação de domínio exercida pela pessoa (sujeito ativo) sobre a coisa, não havendo um sujeito passivo determinado, sendo este toda a coletividade (sujeito passivo universal) Objeto do Direito das Coisas • Bens corpóreos não sujeitos à regulação dos direitos de propriedade intelectual (Direitos de personalidade) • Bens imóveis, bens móveis. E o que são bens? • São coisas com interesse jurídico ou econômicos, apreciáveis economicamente e dotados de valor intrínseco em virtude de sua relativa escassez Direito das Coisas x Direitos Reais • Direitos reais: Caio Mário da Silva Pereira, Orlando Gomes, Sílvio de Salvo Venosa, Marco Aurélio S. Viana, Cristiano Chaves de Farias, Nelson Rosenvalt, Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona. • Direito das coisas: Laffayette Rodrigues Pereira, Clóvis Bevilacqua, Silvio Rodrigues, Washington de Barros Monteiro, Arnaldo Rizzardo, Maria Helena Diniz, Carlos Roberto Gonçalves, Paulo Lobo, Arnaldo Villaça Um conceito para o Direito das Coisas • Conjunto das normas reguladoras das relações jurídicas de caráter econômico entre pessoas relativamente a coisas corpóreas capazes de satisfazer as suas necessidades e susceptíveis de apropriação dentro do critério da utilidade e da raridade (Álvaro Villaça Azevedo) Teorias Justificadoras dos Direitos Reais Para início de conversa: conceito de Direito das Coisas tem como fundamento principal o conceito de propriedade. A propriedade é o centro gravitacional do Direito das Coisas Enquanto o direito das coisas constitui o ramo do Direito Civil enquanto campo metodológico, os Direitos Reais constituem as relações jurídicas em si, de natureza subjetiva, ou melhor, é o gripo de categorias jurídicas relacionadas à propriedade. Teorias Justificadoras dos Direitos Reais Classificação das teorias justificadoras dos Direitos Reais: Teoria Personalista – Direitos reais são relações jurídicas estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. Existência de uma obrigação passiva universal dos não proprietários em relação à propriedade titularizada pelo proprietário. Teoria Realista ou Clássica – Direito real constitui um poder que a pessoa exerce sobre a coisa, com eficácia contra todos (erga omnes). O direito real opõe-se ao direito pessoal, pois o último traz uma relação pessoa-pessoa, exigindo-se determinados comportamentos. (É a teoria mais amplamente aceita entre os doutrinadores Características dos Direitos Reais • Oponibilidade erga omnes – Os direitos reais exercem eficácia contra todos os não titulares; • Existência de um direito de sequela – Os direitos reais aderem à coisa e têm a eficácia de estabelecer a relação jurídica entre o titular e a coisa, esteja esta coisa com quem quer que seja; • Previsão de um direito de preferência em favor do titular de um direito real, como é comum nos direitos reais de garantia sobre coisa alheia (penhor e hipoteca); • Possibilidade de abandono dos direitos reais (direito a renunciar os direitos reais; Características dos Direitos Reais • Viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse, de um domínio fático; • Previsão de usucapião como um dos meios de sua aquisição, podendo a usucapião atingir não somente a propriedade, mas também os outros direitos reais (servidões, art. 1379 CCB) • Obediência de um rol taxativo (numerus clausus) de institutos, previstos em lei, o que consagra o princípio da taxatividade ou tipicidade dos direitos reais (não necessariamente, veremos); • Regência pelo princípio da publicidade dos atos, o que se dá pela entrega da coisa ou tradição (bens móveis) e pelo registro (imóveis) Os Direitos Reais São Absolutos? • Nas suas origens, os direitos reais eram tratados como direitos absoluto, conferindo prerrogativas extravagantes ao titular desses direitos, sobretudo da propriedade. • A evolução do Direito Civil, sobretudo pela perspectiva do Direito Civil-Constitucional (Gustavo Tepedino) os Direitos Reais passaram a ser considerados com direitos submetidos à ponderação (R. Alexy) em face de outros direitos e princípios jurídicos condicionantes, de modo a conforma-los à, por exemplo, função socioambiental, eticidade, socialidade, etc. Eu os apresento: Os direitos reais! Art. 1.225 CCB I – a propriedade II – a superfície III – as servidões IV – o usufruto V – o uso VI – a habitação VII – o direito do promitente comprador do imóvel Eu os apresento: Os direitos reais! Art. 1.225 CCB VIII – o penhor IX – a hipoteca X – a anticrese XI – a concessão de uso especial para fins de moradia XII – a concessão de direito real de uso XIII – a laje (introduzido pela Lei 13.465/2017) – regularização de favelas XIV – os direitos oriundos da imissão provisória na posse, quando concedido à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas e respectiva cessão e promessa de cessão (MCMV) Reflexão: Os direitos reais são numerus clausus? A resposta é NÃO Não é numerus clausus e nem todos os direitos reais estão dispostos no art. 1.225 do Código Civil Ex: • Direito do crédito por alienação fiduciária em garantia (Lei 9.514/1997); • Time Sharing ou Multipropriedade (1.358-B a 1.358-U do CCB) Veja-se o Resp 1.546.165/SP João Otávio Noronha; • Legitimação da Posse de Terras Rurais (Lei 6.393/1976) • Legitimação de Posse de Terra Urbana (Lei 13.465/2017) Diferenças entre Direitos Reais e Direitos Pessoais Patrimoniais • Os Direitos Reais têm como conteúdo as relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas, relações que podem ser diretas, em qualquer intermediações, por outra pessoa (formas originárias de aquisição de propriedade, ex: usucapião, arrematação) • Direitos pessoais de natureza patrimonial há relações jurídicas estabelecidas entre duas ou mais pessoas, sendo o objeto ou conteúdo imediato uma prestação. Diferenças entre Direitos Reais e Direitos Pessoais Patrimoniais • Direitos Reais – Apenas um sujeito ativo determinado e o sujeito passivo é toda a coletividade • Direitos Pessoais – Um sujeito ativo (credor) e um sujeito passivo (devedor) Diferenças entre Direitos Reais e Direitos Pessoais Patrimoniais Direitos Reais Direitos Pessoais de Natureza Patrimonial Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativo) e uma coisa. O sujeito passivo não é determinado mas toda a coletividade Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativo – credor) e outra (sujeito passivo – devedor) Princípio da publicidade (tradição e registro) Princípio da autonomia privada (liberdade) Efeitos erga omnes, que podem ser restringidos Efeitos interpartes, que podem ser apliados Rol taxativo (numerus clausulus), segundo a visão clássica, que ainda prevalece – art. 1.225 CC Rol exemplificativo (numerus apertus) – art. 425 CC – possibilidade de contratos atípicos Direitos Quase Reais ou Híbridos • Posse: Exteriorização do domínio. • Direitos propter rem: direitos obrigacionais que se iniciam como pessoais, mas se aderem à coisa Direito das Coisas e a Constituição• Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes Direito das Coisas e a Constituição Art. 5º (...) XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Hipoteca Social ADI 2.213-MC. Rel. Min. Celso de Mello XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; Direito das Coisas e a Constituição Art. 6º, caput - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Direito das Coisas e a Constituição Ordem Econômica Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; Direito das Coisas e a Constituição Função Socioambiental da propriedade – art. 225 Exploração dos recursos naturais limita o exercício do domínio da propriedade; Estabelecimento de obrigação de reparar os danos ao meio ambiente (225, parágrafo 3º) – Poluidor-Pagador; Responsabilidade objetiva Direito das Coisas e a Constituição Politica Urbana (art. 182 CF) Ordenamento dos espaços urbanos com o objetivo de desenvolver as funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Definição das funções e usos no Plano Diretor Parcelamento ou edificação compulsórios IPTU progressivo no tempo Desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública Usucapião especial urbano Direito das Coisas e a Constituição Política Rural Art. 184 - Desapropriação para fins de reforma agrária de imóvel que não esteja cumprindo a sua função social Art. 186 – Requisitos para cumprimento da função social: A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - Aproveitamento racional e adequado; II - Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Art. 185 – Proteção de bens insuscetíveis de desapropriação • I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; • II - a propriedade produtiva.