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110 Unidade III Unidade III 5 DESENVOLVIMENTO E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E USO DA ENERGIA Em meados da década de 1980, os impactos da agricultura moderna, com a destruição das florestas tropicais, as chuvas ácidas, a destruição da camada atmosférica de ozônio, o aquecimento global e o chamado “efeito estufa” tornavam‑se temas conhecidos para grande parte da opinião pública. Na época, questionava‑se até que ponto os recursos naturais suportariam o ritmo de crescimento econômico imprimido pela industrialização ou mesmo se a própria humanidade resistiria ao chamado “desenvolvimento”. O primeiro uso da expressão “desenvolvimento sustentável” é de 1987, no relatório Brundtland, feito pela ONU. Neste documento, o desenvolvimento sustentável é concebido como: A humanidade tem a capacidade de tornar o desenvolvimento sustentável para garantir que ele atenda a necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras [de] satisfazerem as suas próprias necessidades (WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT OF THE ONU, [s.d.], tradução nossa). A ideia começou em 1988 na Toronto Conference on the Changing Atmosphere (em português, Conferência de Toronto para a Mudança da Atmosfera) e, desde então, houve várias outras conferências sobre meio ambiente e clima, até que foi discutida e negociada a criação do Protocolo de Quioto. A Rio‑92, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992, é também conhecida como Cúpula da Terra. A conferência reuniu mais de cem chefes de Estado para debater formas de desenvolvimento sustentável, um conceito relativamente novo à época. Esse documento norteou as discussões sobre um modelo de crescimento econômico menos consumista e mais preocupado com questões ambientais. Em 1995, o segundo informe de cientistas do Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC – (em português, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) informa que os primeiros sinais de mudança climática são evidentes, pois a análise das evidências sugere um impacto significativo de origem humana sobre o clima global. 111 ENERGIA NA AGRICULTURA Em 16 de março de 1998, é assinado o Protocolo de Quioto, um instrumento internacional, ratificado, que visa reduzir as emissões de gases poluentes (os gases citados no acordo são: dióxido de carbono, gás metano, óxido nitroso, hidrocarbonetos fluorados, hidrocarbonetos perfluorados e hexafluoreto de enxofre), pois são os responsáveis pelo efeito estufa e pelo aquecimento global. Observação O efeito estufa é um processo físico que ocorre quando uma parte da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre é absorvida por determinados gases presentes na atmosfera: os gases estufa. O Protocolo de Quioto entrou oficialmente em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, após ter sido discutido e negociado em dezembro de 1997, na cidade de Quioto, no Japão. Esse protocolo reza que os países industrializados reduziriam suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012. O protocolo evidenciou o interesse de países em utilizar o carbono como moeda. Os EUA, o segundo país que mais emite carbono no mundo, negaram‑se a ratificar o protocolo com a alegação de que aceitá‑lo seria ruim para a economia americana. A falta de vontade dos países mais ricos e poluidores é um grande empecilho para que algo seja feito efetivamente contra o aquecimento global. Em 2015, completou dez anos da entrada em vigor do acordo mundial que visa reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Porém, dados divulgados em fevereiro de 2015 apontam que o acordo não atingiu seus objetivos iniciais, pois entre os anos de 2005 e 2012, houve um aumento da emissão mundial destes gases em 16,2%. Por outro lado, especialistas em clima afirmam que o pacto gerou alguns benefícios. Dizem eles que, se não houvesse o Protocolo de Quioto, as emissões de gases do efeito estufa teriam sido muito maiores, aumentando os efeitos nocivos do aquecimento global no planeta. Saiba mais O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe – e o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC – disponibilizam vários vídeos educacionais sobre mudanças climáticas e efeito estufa. Acesse o site: . O protocolo também foi benéfico para incentivar a adoção de medidas práticas com o objetivo de diminuir os impactos climáticos negativos. Também foi positivo, pois alertou a população mundial para o problema das mudanças climáticas, além de encorajar ao uso de fontes de energia limpa (eólica e solar). 112 Unidade III Observação O efeito estufa é um processo físico que ocorre quando uma parte da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre é absorvida por determinados gases presentes na atmosfera: os gases estufa. Vale lembrar que o Protocolo de Quioto ainda está em vigor, pois houve o estabelecimento de novas metas que deverão ser alcançadas até o ano de 2020. O grande problema é que, até o começo de 2015, apenas 23 países tinham aderido aos novos objetivos do acordo. A partir dos anos 2000, entrou em cena um mercado voltado para a criação de projetos de redução da emissão dos gases que aceleram o processo de aquecimento do planeta. 5.1 Mercado de créditos de carbono Segundo o site Portal Brasil: Trata‑se do mercado de créditos de carbono, que surgiu a partir do Protocolo de Quioto, acordo internacional que estabeleceu que os países desenvolvidos deveriam reduzir, entre 2008 e 2012, suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) 5,2% em média, em relação aos níveis medidos em 1990. O Protocolo de Quioto criou o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que prevê a redução certificada das emissões. Uma vez conquistada essa certificação, quem promove a redução da emissão de gases poluentes tem direito a créditos de carbono e pode comercializá‑los com os países que têm metas a cumprir [...]. Durante a última Conferência do Clima (COP 17), realizada em 2011, na África do Sul, as metas de Quioto foram atualizadas e ampliadas para cortes de 25% a 40% nas emissões, em 2020, sobre os níveis de 1990 para os países desenvolvidos. O Brasil ocupa a terceira posição mundial entre os países que participam desse mercado, com cerca de 5% do total mundial e 268 projetos. A expectativa inicial era absorver 20%. O mecanismo incentivou a criação de novas tecnologias para a redução das emissões de gases poluentes no Brasil. Cálculo A redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) é medida em toneladas de dióxido de carbono equivalente – t CO2e (equivalente). 113 ENERGIA NA AGRICULTURA Cada tonelada de CO2e reduzida ou removida da atmosfera corresponde a uma unidade emitida pelo Conselho Executivo do MDL, denominada de Redução Certificada de Emissão (RCE). Cada tonelada de CO2e equivale a 1 crédito de carbono. A ideia do MDL é que cada tonelada de CO2e não emitida ou retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento possa ser negociada no mercado mundial por meio de Certificados de Emissões Reduzidas (CER). As nações que não conseguirem (ou não desejarem) reduzir suas emissões poderão comprar os CER em países em desenvolvimento e usá‑los para cumprir suas obrigações (BRASIL, 2012c). Segundo o site Sustentável: É preciso ser paciente para que um projeto possa ser certificado e passe a oferecer carbono no mercado. O processo de certificação pode chegar a um ano e segue [este] caminho: • É desenvolvido um documento de concepção do projeto, que deve conter informações de caráter técnico, financeiras e, é claro, ambientais. O documento deve informar detalhes da metodologia de cálculo para se quantificar o real resultado a ser alcançado pelo projeto quando estiver em andamento, além de estabelecer as metas propostas. O documento deve ser enviado e validado pela Entidade Operacional designada – EODálcool trivalentes com ácidos graxos. O objetivo da transesterificação é separar a molécula de glicerina dos ácidos graxos e substituí‑la por três moléculas de metanol. Consequentemente, este processo produz aproximadamente 90% de biodiesel e 10% de glicerina, e está pronto o biodiesel. O subproduto glicerina pode ser usado para fazer sabão e em vários outros processos químicos para diferentes indústrias. Isso torna a produção de biodiesel 100% aproveitável, sem eliminação de resíduos no meio ambiente. É possível ainda fazer biodiesel com óleo vegetal usado, como aqueles que são jogados fora pelos restaurantes ou pelas donas de casa. Assim, além de ser uma matéria‑prima relativamente barata, não se poluem aterros sanitários ou a água dos rios. No Brasil, a produção de biodiesel vem evoluindo sistematicamente. Veja, no gráfico a seguir, a evolução da produção brasileira deste combustível, de acordo com o Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2014 (BRASIL, 2015a): 142 Unidade III 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 3.500.000 4.000.000 2005 73 6 69 .0 02 40 4. 32 9 1. 16 7. 12 8 1. 60 8. 44 8 2. 38 6. 39 9 2. 67 2. 76 0 2. 71 7. 48 3 2. 91 7. 48 8 3. 41 9. 83 8 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Nota: em metros cúbicos (m3). Figura 59 – Evolução da produção brasileira de biodiesel 2005/2014 O mundo produz hoje muito menos biodiesel do que etanol, mas ao contrário do álcool, cuja produção está concentrada no Brasil e nos EUA, a fabricação de biodiesel está distribuída por diversos países pelo mundo, com legislação própria e estratégia comercial definida em cada um deles. Essa proliferação pelos continentes facilita a entrada do produto na lista de commodities mundiais, favorecendo o desenvolvimento de seu mercado em uma escala global. Com a rápida evolução do seu programa de biodiesel, o Brasil está bem‑ posicionado no cenário mundial. O País obrigou por lei o uso de 2% do produto no diesel em 2008, e sempre elevou os percentuais mínimos antes do que se imaginava, alcançando o posto de quarto maior produtor do mundo ao final do primeiro ano de obrigatoriedade. Mas o País ainda está atrás de três potências econômicas – Alemanha, EUA e França –, que começaram a desenvolver o biocombustível mais cedo. O bloco econômico com o maior parque industrial e tecnológico desse combustível verde é justamente a União Europeia, onde se encontram alguns dos maiores programas de biodiesel do mundo. Lá, a adição de 5,75% de biodiesel será obrigatória a partir do ano que vem. Só isso significa uma demanda de mais de 50 milhões de litros de biodiesel por dia. Além da obrigatoriedade de uso (que alguns países elevaram para porcentuais ainda maiores), há ainda uma política fiscal agressiva, com incentivos fiscais e taxação pesada dos derivados de petróleo. 143 ENERGIA NA AGRICULTURA A Alemanha é quem mais se destaca. Maior produtor mundial de biodiesel, com 3,1 bilhões de litros em 2008, o país também é grande consumidor. Com a obrigatoriedade de 5% de adição já em vigor, os alemães consomem 8,8 milhões de litros de biodiesel por dia. Para dar conta dessa demanda, utilizam canola ou colza, plantadas em grande escala para nitrogenar o solo para a agricultura. Depois de colhido, o material vira farelo para alimentação animal e seu óleo é destinado à produção de diesel vegetal. Com 1,1 milhão de hectares destinados à plantação de oleaginosas, os alemães precisam importar combustível dos países vizinhos. Recentemente, a maior mudança no programa foi a redução dos subsídios agrícolas. O programa já teve taxação zero, mas gradualmente os incentivos estão sendo reduzidos, o que vem tornando o combustível um pouco menos popular. Outro país com grande produção de biodiesel é a França. De acordo com o Comitê Europeu de Biodiesel (European Biodiesel Board), em 2008 o país produziu 2 bilhões de litros do combustível, ficando em terceiro lugar no ranking mundial. Assim como na Alemanha, a obrigatoriedade é de 5% para a maioria dos casos, mas os franceses também têm uma regulamentação de 30% mínimos para ônibus urbanos. Os produtores franceses também contam com incentivos fiscais, que vêm sendo reduzidos. Atualmente, 900 mil hectares de solo francês são destinados ao girassol e à colza, as matérias‑primas mais usadas no país para a produção de biodiesel. O terceiro produtor europeu é a Itália, com 676 milhões de litros em 2008. Mas o país, um dos pioneiros da introdução do biodiesel no continente, tem tido problemas para acompanhar o crescimento da produção alemã e francesa. Nos Estados Unidos, que há anos buscam a redução de sua dependência de importação de petróleo e derivados, o biodiesel surge como uma alternativa importante. Apesar disso, o país nunca estabeleceu um porcentual mínimo de mistura ao diesel (alguns Estados adotaram leis que obrigam o uso do biodiesel em porcentuais ainda reduzidos). O país, que concede crédito tributário de US$ 0,50 por galão (3,7 litros) de biodiesel consumido, tem hoje 173 empresas produzindo o combustível e outras 29 usinas em construção. A capacidade anual de produção é de 10,2 bilhões de litros. Mas o Comitê Nacional de Biodiesel (National Biodiesel Board) admite que a produção das usinas não reflete nem de perto sua capacidade total, em parte devido à crise econômica mundial iniciada em 2008 e que se estendeu por 2009. Na América do Sul, além do Brasil, Argentina e Colômbia também estabeleceram porcentuais mínimos de adição de biodiesel. Na Colômbia, o plano é plantar 2 milhões de hectares de dendê até 2020. Na Argentina, os investimentos recentes aumentaram rapidamente a capacidade de produção que, em 2010, estima‑se, pode chegar a 3,4 bilhões de litros, extraídos principalmente da soja. Mas o mercado interno ainda não é o alvo do 144 Unidade III país, que se concentra em exportar o combustível produzido. Somente a partir de 2010 haverá obrigatoriedade do uso do B5. Na Ásia, destacam‑se os programas de biodiesel da Malásia e da Índia: ambos exigem 5% de adição de combustível orgânico ao diesel mineral. Fonte: Biodieselbr (2015). A principal vantagem do biodiesel, além dos benefícios ao meio ambiente, é que propicia renda do mercado para agricultores, o que é muito importante. Segundo o Journal USA: A soja, o principal produto agrícola para o biodiesel, também é cultivada de forma abundante nos Estados Unidos. O país é o maior produtor e exportador de soja do mundo, com quase 400 mil agricultores em 29 estados dedicados a seu cultivo. As vendas americanas referentes a combustíveis de biodiesel, misturado ou usado em sua forma pura, totalizaram 1,7 milhão de quilolitros em 2009. Como um alqueire (um alqueire geométrico corresponde a 4,84 hectares) de soja pode produzir 5,3 litros de biodiesel derivado da soja, os agricultores forneceram quase 328 milhões de alqueires de soja para o biodiesel renovável apenas em 2009 (WOOD, 2015). O crescimento do setor de biocombustíveis também ocorre em vários países sul‑americanos, mas os Estados Unidos e o Brasil são os líderes, e estima‑se que continuem assim. Os dois países produzem 70% da bioenergia mundial. Enquanto os Estados Unidos produzem mais etanol (derivado do milho), o Brasil é descrito como a primeira economia mundial em biocombustível. Embora a bioenergia possa dar uma base para novas indústrias agrícolas em áreas rurais, continuam a existir desafios reais. É preciso um governo estável para atrair os investidores e o capital para construir a infraestrutura necessária. A produção de biocombustíveis exige refinarias para o combustível, carros que possam usá‑lo e estrutura para transportá‑lo ao mercado. 6.4 Alimentos versus combustíveis O crescente interesse mundial pelos biocombustíveis, notadamente, o etanol, tem provocado em vários países discussões sobre a competição do uso da terra entre a produção de alimentos e a de energia. Essadiscussão não é nova, pois, já na década de 1970, no início do Proálcool, dizia‑se que a expansão da cana‑de‑açúcar poderia destruir o meio ambiente e intensificar a fome no país. Passados 30 anos, essa tese se mostrou sem fundamento. Enquanto a indústria da cana‑de‑açúcar cresceu significativamente e trouxe desenvolvimento econômico e social para diversas regiões, particularmente no Centro‑Sul, o Brasil tornou‑se um importante produtor e exportador de alimentos (grãos, carne, açúcar etc.). 145 ENERGIA NA AGRICULTURA No entanto, caso haja uma nova crise no abastecimento do petróleo, a principal matriz energética mundial se instala, já que as reservas mundiais de petróleo se esgotarão por volta de 2046, sem considerar a tendência de crescimento do consumo. Não há ainda como prever a reação da agricultura, se vai substituir a produção de alimentos por energia, pois tudo dependerá do preço pago pelo consumidor. 6.5 Energia solar para captação de água Com pouca água disponível para uso e com risco iminente de racionamento, agricultores têm recorrido à captação de água subterrânea com preceitos sustentáveis. A tecnologia consiste em uma bomba submersa que capta água dos lençóis freáticos, utilizando exclusivamente energia solar em seu funcionamento. O usuário tem garantia de água, constantemente, sem gasto de energia elétrica. Para o agricultor, é uma saída válida, que deve ser utilizada mesmo que a crise hídrica seja amenizada. 6.6 Energia solar para irrigar plantações Considerando que os produtores não têm margens para reduzir o consumo energético na irrigação, por ser uma atividade sazonal; o que determina o uso de mais ou menos água são questões agronômicas. Quando a planta necessita, é preciso irrigá‑la. A energia solar pode ajudar pequenos agricultores a baratear os custos de sua produção, implantando um sistema de irrigação, acionado por energia produzida pela luz do Sol, em substituição à energia elétrica convencional. O sistema converte a energia solar, captada por meio de placas fotovoltaicas de silício, em eletricidade, que alimenta os motores e aciona as bombas d’água para irrigação. A energia solar pode diminuir significativamente os custos da produção, já que a economia proporcionada pelo uso da energia solar pode aumentar os lucros dos pequenos e médios agricultores, que gastam atualmente em torno de 600 reais em energia por hectare. Para garantir o bom funcionamento do sistema, são necessários cinco painéis solares por hectare, que representam um gasto de cerca de 10 mil reais. Um alto custo inicial, mas pode ficar mais barato com o aumento da demanda. O investimento inicial seria amortizado ao longo do tempo, já que as placas fotovoltaicas têm vida útil de aproximadamente 25 anos. Para implantar um projeto desse porte, é necessário estudar três métodos diferentes de irrigação a fim de avaliar qual é o mais eficiente. Entre os sistemas existentes, está o gotejamento, que emprega uma vazão lenta e constante próxima à raiz; o gotejamento enterrado, no qual a água é lançada diretamente no subsolo; e a microaspersão, que consiste em jatos de água lançados para o alto e que caem de forma similar à chuva. 146 Unidade III 6.7 Carneiro hidráulico O carneiro hidráulico, um dispositivo automático elevador de água, é um dos dispositivos mais práticos e baratos usados para bombear água. É de simples manejo e de pouca manutenção. Para o carneiro hidráulico funcionar, não há necessidade de energia elétrica ou de combustível. É uma máquina de funcionamento automático capaz de aproveitar o efeito do “golpe de aríete” para bombear água. Usa a força do desnível da água de um córrego a fim de gerar energia para bombear a água. Existem muitos modelos no mercado e com preços variados, mas ele pode ser confeccionado de forma caseira com materiais alternativos, como conexões hidráulicas de ferro galvanizado, PVC, parafusos, porcas e molas. Apesar de ser uma tecnologia simples, é necessária a assistência de um técnico com noções em hidráulica para avaliar se a propriedade tem os parâmetros mínimos, além do dimensionamento correto do equipamento para instalação. São exigidos parâmetros mínimos a serem avaliados, como a necessidade da existência de queda d’água, sendo a altura ideal entre 1,5 metros a 9 metros, e água da fonte limpa. 6.8 A energia eólica na agricultura Defendida como uma fonte de energia limpa e renovável, a energia eólica é comumente obtida em parques eólicos com a utilização de grandes aerogeradores. Para a implementação desses parques, é preciso a realização do Estudo e do Relatório de Impacto Ambiental – Eia/Rima, em que o principal fator avaliado é a sua localização, sua consequente influência na poluição sonora e a possibilidade de morte de aves. Em estudo recente, contudo, constatou‑se que os aerogeradores geram uma turbulência que pode afetar a temperatura do ar próxima ao chão. Essa turbulência leva a um aquecimento perto da superfície durante a noite e esfriamento durante o dia. Essa variação na temperatura pode influenciar índices produtivos de culturas na região, pois a temperatura é um fator essencial para o rendimento de plantações. Essa conclusão foi obtida após a análise dos valores amostrados e simulados – utilizando um modelo climático chamado “Regional Atmospheric Modeling System – Rams”. Duas sugestões foram feitas para reduzir esse impacto da temperatura no solo: reprojetar os rotores dos aerogeradores ou construir o parque em regiões com turbulência natural já elevada. Enfim, avaliar as variações de temperatura ocorridas pode favorecer o plantio de novas culturas mais aptas a essa nova gama de temperatura. 147 ENERGIA NA AGRICULTURA 6.9 Secador solar de grãos Obter grãos de ótima qualidade, a baixo custo, utilizando uma fonte de energia limpa e renovável. Tudo isso sem precisar sair da propriedade. Essas são as vantagens do secador solar de grãos. Utilizando como fonte de aquecimento do ar um coletor solar armazenador de energia, qualquer tipo de grão pode ser utilizado no secador solar. O tempo de secagem varia conforme a temperatura, o tipo de grão e a umidade do produto. Com o secador solar, o produtor gasta, em média, 20 centavos em energia elétrica por saco, já que a estrutura necessita de um exaustor para que o calor coletado seja insuflado através da massa de grãos. O investimento para se construir o secador solar de grãos é pago em três anos e custa 1/3 do que seria necessário para se construir um silo metálico. 6.10 Fertilizantes Os fertilizantes são essenciais na produtividade da lavoura, no entanto esses compostos químicos contribuem para o agravamento de diversos problemas ambientais. Os compostos químicos são utilizados na agricultura para aumentar a quantidade de nutrientes do solo e, consequentemente, conseguir um ganho de produtividade. No entanto, a utilização gera vários problemas e, dentre eles, a degradação da qualidade do solo, a poluição das fontes de água e da atmosfera e o aumento da resistência de pragas. As plantas, para um desenvolvimento adequado, necessitam dispor de uma série de nutrientes essenciais. Os fertilizantes são substâncias aplicadas pelo homem com função de fornecer às plantas pelo menos um desses nutrientes. Os fertilizantes podem ter duas origens: a orgânica e a mineral; esta, por permitir uma adequação melhor da quantidade dos nutrientes a ser aplicada e garantir uma melhor disponibilidade de nutrientes para as plantas, é empregada em larga escala. No que se refere à quantidade requerida pelas plantas, os nutrientes podem ser divididos em dois grupos: os macronutrientes e os micronutrientes, que são demandados em maiores ou menores quantidades pelas plantas. Do ponto de vista do processo produtivo, o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K) são os mais importantes. Assim, os fertilizantes são comercializados em formulações NPK, expressando as quantidades apresentadas desses três nutrientes. Os fertilizantes são comumenteaplicados diretamente no solo, visto que essa é a principal forma de absorção pelas plantas. A sua aplicação tem por finalidade a reposição dos nutrientes extraídos pela colheita ou dos nutrientes perdidos naturalmente, de forma a manter, ou até mesmo ampliar, o potencial produtivo da área. Vale salientar que a aplicação deve ser feita sempre obedecendo às exigências da lavoura, às condições químicas do solo e à expectativa de produção. 148 Unidade III Os fertilizantes podem ser empregados na agricultura de diversas formas, dentre as quais estão a granulada e a em pó. Geralmente, procura‑se aplicar mais de um nutriente por operação, através do uso de fertilizantes mistos, que são originados da mistura de um ou mais fertilizantes formados apenas por um composto químico. A mistura geralmente consiste em reunir diversos ingredientes para atender às necessidades de N, P e K na formulação desejada. Dessa forma, o produto final será constituído de uma mistura de grânulos, cada um formado por um dos compostos químicos que contém pelo menos esses nutrientes. Existe ainda outro tipo de fertilizantes chamados “complexos”, que são resultado da mistura dos três macros primários (NPK) em somente um grânulo, adicionados de micronutrientes, sendo os mais utilizados: Magnésio (Mg); Fósforo (P); Enxofre (S); Cloro (Cl); Ferro (Fe); Boro (B); Manganês (Mn); Zinco (Zn); Cobre (Cu); e Molibidênio (Mo). A concentração dos elementos essenciais para as plantas pode exceder a concentração mínima necessária para o crescimento delas, e pode haver alguma variação de uma espécie para outra. A deficiência de nutrientes nas plantas causa vários sintomas observáveis, independentemente da espécie da planta. O sintoma de deficiência mais comum é a redução do crescimento, que é o mais difícil de detectar e diagnosticar à primeira vista. O Brasil, com 6% do consumo mundial de fertilizantes, é considerado o quarto maior consumidor do mundo, superado por China, com 28% do consumo mundial, Índia, com 16%, e EUA, com 12%. A União Europeia consome mais que o Brasil, em torno de 10% do consumo mundial, mas apenas o conjunto de todos os países. A tabela a seguir demonstra a produção e a importação de fertilizantes pelo Brasil, de acordo com as estatísticas disponibilizadas pela Associação Nacional para Difusão de Adubos – Anda: Tabela 21 – Produção e importação de fertilizantes – Brasil (1998-2014) Ano Produção Nacional de Fertilizantes (em mt) Importação de Fertilizantes Intermediários (em mt) 1998 7.407.034 7.426.013 1999 7.536.985 7.059.457 2000 7.985.131 10.300.648 2001 7.597.279 9.772.638 2002 8.071.156 10.491.293 2003 9.353.177 14.683.123 2004 9.733.609 15.424.325 2005 8.903.640 11.723.197 2006 8.771.634 12.101.976 2007 9.815.709 17.529.854 2008 8.878.216 15.387.011 2009 8.372.565 11.020.805 149 ENERGIA NA AGRICULTURA 2010 9.339.867 15.282.499 2011 9.860.779 19.851.069 2012 9.722.259 19.545.234 2013 9.304.713 21.618.822 2014 8.817.680 24.035.600 Adaptado de: Associação Nacional para Difusão de Adubos – ANDA ([s.d.]a, b). 6.10.1 Tipos de fertilizantes Existem dois grandes grupos de fertilizantes: os inorgânicos e os orgânicos. O primeiro é formado por compostos químicos não naturais, feitos a partir de nutrientes específicos, necessários ao crescimento das plantas. Os mais comuns levam nitrogênio (fertilizantes nitrogenados – N), fosfatos (fertilizantes fosfatados – P2O5), potássio (fertilizantes potássicos – K2O) e magnésio ou enxofre. A maior vantagem desse tipo de fertilizante está no fato de conter grandes concentrações de nutrientes, que podem ser absorvidos quase instantaneamente pelas plantas. Os fertilizantes nitrogenados, além de estar entre os mais utilizados, são os que causam maior impacto ambiental. A produção desses compostos é responsável por 94% do consumo de energia de toda a produção de fertilizantes. O nitrogênio é extremamente importante para o crescimento e o desenvolvimento das plantas, causando a atrofia quando ausente. Os principais fertilizantes de nitrogênio são a amônia e seus derivados, como a ureia e o ácido nítrico, que proporcionam um nitrogênio de forma assimilável, e apenas 20% da amônia produzida no mundo não é utilizada na agricultura. O esquema a seguir, do Informe Setorial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (BRASIL, [s.d.]d), sintetiza a cadeia produtiva dos fertilizantes: 150 Unidade III Recursos naturais Resíduo asfáltico Gás residual de refinaria Gás natural Granulados e misturas de formulações NPK Rocha fosfática Enxofre Minerais potássicos Cloreto de potássio Superfosfato simples (SSP) Superfosfato triplo (TSP) Fosfato de diamônio (DAP) Fosfato de monomônio (MAP) Ureia Nitrato de amônio NitrocálcioÁcido nitrico Rocha fosfática Concentrado fosfático Enxofre Ácido sulfúrico Ácido fosfórico Matérias‑primas básicas Produtos intermediários Fertilizantes básicos Fertilizantes finais Figura 60 – Cadeia produtiva dos fertilizantes A amônia é um produto básico na indústria química e tem aplicações domésticas e industriais. Na indústria, a amônia é usada no refino de petróleo, como insumo na fabricação de produtos farmacêuticos e como gás refrigerante nos processos de resfriamento de câmaras frigoríficas e ar‑condicionado industrial. De maneira geral, o uso de fertilizantes inorgânicos acarreta outros problemas para o meio ambiente, dentre eles a contaminação de lençóis freáticos, rios e lagos. A contaminação da água também pode levar a sua eutrofização. Esse é um processo em que os compostos nitrogenados ou fosfatados, ao chegarem a rios, lagos e zonas costeiras, favorecem o crescimento e o aumento de número de algas que, por sua vez, levam à diminuição do oxigênio e à morte de peixes e de outros organismos. Processo similar ocorre com o uso intensivo de sabão, que contém fosfato em sua composição e acaba por ser despejado nos rios e mares Lembrete Eutrofização é um fenômeno causado pelo excesso de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio) numa massa de água, provocando um aumento excessivo de algas. 151 ENERGIA NA AGRICULTURA Já os fertilizantes orgânicos são feitos a partir de produtos naturais, como húmus, farinha de osso, torta de mamona, algas e esterco (fezes de animais). Estudos mostram que o uso desse tipo de fertilizante aumenta a biodiversidade do solo, com o surgimento de micro‑organismos e fungos que contribuem para o crescimento das plantas. Aliado a isso, a longo prazo, há um aumento da produtividade do solo. No entanto, a quantidade de nutrientes presentes nos fertilizantes orgânicos não é exata e, diferentemente do que ocorre com os fertilizantes inorgânicos, tais nutrientes podem não estar à disposição no momento correto do crescimento da planta. Isso faz que não haja utilização desse tipo de fertilizante na produção agrícola intensiva. Ainda que em escala muito menor, esse tipo de fertilizante, assim como os inorgânicos, causa acidificação do solo e pode liberar óxido nitroso na atmosfera. 6.11 Agrotóxicos Em 2008, o Brasil passou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos. A posição alçada pelo Brasil está inserida no contexto de ajuste produtivo do agronegócio, de exercer (no plano das expectativas) o papel de maior produtor de commodities para o mercado mundial. Nos últimos dez anos, o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, enquanto o mercado brasileiro cresceu 190%. Em 2010, o mercado nacional movimentou cerca de US$ 7,3 bilhões e representou 19% do mercado global de agrotóxicos. Já os Estados Unidos foram responsáveis por 17% do mercado mundial, que movimentou um total de 38,3 bilhões de dólares. Brasil: 19% EUA: 17% Mundo: 64% Figura 61 – Divisão do mercado mundial de agrotóxicos em 2010 152 Unidade III Tabela 22 – Países ou áreas: importação de agrotóxicos em 2013 Países Valor (em milhões de US$) Brasil 2.999,8França 2.467,1 Alemanha 1.840,1 Canadá 1.546,2 USA 998,3 Bélgica 979,5 Reino Unido 948,6 Espanha 904,7 Itália 884,7 Holanda 822,3 Tailândia 799,2 Índia 792,6 Vietnã 786,2 Polônia 778,0 Ucrânia 769,5 Mundo 33.879,2 Adaptado de: International Merchandise Trade Statistics ([s.d.]). Segundo estatísticas disponibilizadas pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal – Sindiveg (2015), as vendas de defensivos agrícolas estão demonstradas no gráfico a seguir: 6.626 7.304 8.488 9.710 11.414 2009 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 Va lo r ‑ U S$ m ilh õe s 2010 2011 2012 2013 Figura 62 – Vendas de defensivos agrícolas Brasil (2009‑2013) 153 ENERGIA NA AGRICULTURA Tabela 23 – Vendas de defensivos agrícolas por Estado (2012-2014) Estados Valor (US$) 1.000 2012 2013 2014 AC 6.400 4.057 7.620 AL 54.188 62.518 44.707 AM 935 1.000 1.323 AP 450 632 896 BA 769.197 852.768 731.710 CE 25.834 45.946 17.517 DF 35.932 25.783 19.698 ES 67.814 78.023 90.324 GO 1.001.025 1.158.940 1.264.482 MA 166.616 201.652 229.487 MG 812.455 975.339 1.015.414 MS 472.000 572.862 698.144 MT 2.077.814 2.507.964 2.566.717 PA 62.329 84.413 111.344 PB 11.933 17.598 9.761 PE 77.049 101.343 72.447 PI 118.891 131.040 141.155 PR 1.136.010 1.355.133 1.573.759 RJ 15.608 17.141 17.569 RN 14.916 16.923 13.839 RO 77.801 91.568 96.929 RR 1.943 13.298 3.910 RS 941.769 1.181.841 1.582.228 SC 185.295 221.787 273.845 SE 15.946 6.112 30.540 SP 1.438.900 1.612.631 1.478.499 TO 101.698 115.975 154.681 Total 9.690.748 11.454.284 12.248.546 Adaptado de: Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal – Sindiveg (2015). Tabela 24 – Vendas de defensivos agrícolas por cultura (2012-2014) Culturas Valor US$ 1.000 2012 2013 2014 Algodão 900.811 1.040.506 923.779 Alho 1.839 1.950 1.936 Amendoim 41.024 45.167 42.563 154 Unidade III Arroz irrigado 163.274 189.890 215.775 Arroz sequeiro 20.619 34.306 31.615 Banana 9.864 16.654 13.917 Batata‑inglesa 140.587 163.933 158.504 Café 339.788 292.926 309.809 Cana‑de‑açúcar 1.244.039 1.158.865 1.031.050 Cebola 15.330 17.892 4.613 Citros 221.274 190.786 182.733 Feijão 269.340 290.196 271.322 Floricultura 2.782 1.240 2.081 Fruticultura (outras) 43.364 32.719 26.812 Fumo 39.427 49.009 41.159 Horticultura (outras) 74.991 99.670 121.704 Maçã 42.373 54.663 48.354 Melão/melancia 6.422 11.386 10.956 Milho safra 479.010 504.538 431.369 Milho safrinha 435.625 594.559 645.881 Pastagem 189.011 258.433 298.180 Reflorestamento 33.452 7.752 7.959 Soja 4.566.265 5.866.403 6.804.513 Tomate envarado 65.593 67.243 122.440 Tomate rasteiro 69.638 101.486 68.217 Trigo/aveia/centeio/cevada 200.630 243.851 338.359 Uva 31.721 38.967 34.804 Áreas não cultivadas 0 0 6.736 Grãos armazenados 12.010 35.495 14.378 Outras 30.645 43.800 37.028 Total 9.690.748 11.454.284 12.248.546 Adaptado de: Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal – Sindiveg (2015). As maiores empresas que controlam o mercado nacional de agrotóxicos são multinacionais instaladas no Brasil, como Basf, Bayer, Dupont, Monsanto, Syngenta e Dow. Além disso, 24% das empresas de agrotóxicos instaladas no Brasil não produziram, nem comercializaram, nenhum produto durante a última safra, o que revela certa estratégia de reserva de mercado, além de representar uma perda para os agricultores, que são privados de ter acesso aos produtos registrados. Outro ponto a ser destacado é que 53% das empresas de agrotóxicos instaladas no Brasil não possuem fábrica, são empresas que atuam como verdadeiros escritórios de registro, sem agregar nenhum benefício para a sociedade. 155 ENERGIA NA AGRICULTURA De acordo com a pesquisa, existe uma concentração do mercado de agrotóxicos em determinadas categorias de produtos; os mais intensamente aplicados no país são os herbicidas (mais de 50% do total), usados no controle de ervas daninhas, seguidos por fungicidas (14%), inseticidas (12%) e os demais (29%). O amplo uso de herbicidas está associado às práticas de cultivo mínimo e de plantio direto no Brasil, técnicas agrícolas que usam mais intensamente o controle químico de ervas daninhas. Nas safras de 2010‑2011, o mercado nacional de venda de agrotóxicos movimentou 936 mil toneladas de produtos, e a produção gerou 833 mil toneladas de agrotóxicos, enquanto a importação foi de 246 mil toneladas de produtos. Essa situação se torna mais preocupante quando se analisam as condições do produtor e do modo de produção. De acordo com o último Censo Agropecuário (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, 2006), dos responsáveis pelos estabelecimentos agropecuários, 77,6% tinham apenas o Ensino Fundamental incompleto, o que revela um grau de escolaridade baixo daqueles que utilizam os insumos químicos, e isso é um agravante, pois a maioria dos usuários apresentou dificuldades em compreender as especificações de uso determinadas para cada produto (analfabetismo funcional). Outras situações sobre produção também se destacaram neste Censo, como o baixo percentual de adoção de práticas alternativas de controle de pragas e doenças (por exemplo, rotação de culturas, controle biológico etc.); o elevado número de estabelecimentos que não utilizaram nenhum equipamento de proteção individual durante a aplicação (21,3%); e o expressivo número de estabelecimentos (70,7%) que utilizaram o pulverizador costal, equipamento que apresenta o maior potencial de exposição aos agrotóxicos. Foi constatado ainda que, entre os estabelecimentos que utilizaram agrotóxicos, é bastante limitado (21,1%) o número dos que receberam regularmente orientação técnica e extensão rural. Outro agravante é a utilização de agrotóxicos (inseticidas e herbicidas), que contaminam o solo, o lençol freático e os rios. Esses produtos, destinados à eliminação de insetos nas plantações, infiltram‑se no solo e atingem as águas subterrâneas. As águas das chuvas, ao escoarem nessas plantações, podem transportar os agrotóxicos para os rios, causando a contaminação da água. O relatório Panorama Global de Químicos, lançado em setembro de 2012 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Pnuma (UNEP, 2012), chama a atenção para os custos bilionários oriundos da má gestão de produtos químicos e os riscos para a saúde humana e para o meio ambiente. A publicação cita prejuízos de quase 240 bilhões de dólares em todo o mundo, por conta do manejo inadequado de Compostos Orgânicos Voláteis – COV, substâncias derivadas de reações químicas. O estudo da Organização das Nações Unidas denominado Global Chemicals Outlook (UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME, 2013), projetando tendências para 2050, prevê que as vendas globais de químicos vão crescer cerca de 3% ao ano para 2050. A produção química, o comércio, a utilização e a 156 Unidade III eliminação de agrotóxicos vão continuar a expandir‑se mundialmente, mas essa expansão não estará bem‑distribuída geograficamente, podendo ocorrer expansão ou retração, dependendo da região. As atividades de fabricação e processamento químico, uma vez que grande parte da produção está localizada nos países altamente industrializados, estão agora em constante expansão em países em desenvolvimento e em países com economias em transição. O uso de produtos químicos nos países em desenvolvimento é influenciado tanto pela necessidade dos países para a produção adicional no mercado interno quanto pela produção relacionada ao comércio externo. Fatores de influência incluem proximidade com regiões de produção de matérias‑primas e proximidade com o mercado consumidor final. 6.12 Reaproveitamento e compostagem Sem comida, não podemos viver, mas é preciso prestar atenção em cada etapa (desde a aquisição até o descarte), para evitar acúmulo desnecessário de resíduo, tanto em casa como nos aterros, ou a contaminação de rios pelos esgotos. O problema é que o descarte de produtos, como óleos vegetais usadosnas frituras e restos de comida, pode elevar a poluição dos corpos d’água ao aumentar muito a carga orgânica nos lançamentos de esgotos não tratados, como é o caso de boa parte dos municípios do país. Isso elevaria o gasto energético da empresa de tratamento para limpar a água. No exterior, as companhias que tratam o esgoto compostam esses resíduos, o que não acontece no Brasil. O lixo é um problema mundial, e com o gradativo aumento da população no planeta, é preciso achar soluções cada vez mais capilarizadas (fazer algo ser mais bem‑distribuído) para ele. Separar e reciclar o que é possível e reutilizar aquilo que consumimos viraram questões básicas e fazem parte da melhor solução individual para reduzir os impactos humanos no meio ambiente. A partir do momento em que você já tiver uma composteira, deverá ficar atento ao que pode e ao que não pode ser compostado. Veja a seguir o que pode seguir para compostagem e o que não pode seguir. O que deve ir: • Restos de alimentos, como verduras, cascas e talos, podem se converter em excelentes fontes de nitrogênio. • Resíduos frescos, como podas de grama e folhas, apresentam alta concentração de nitrogênio. • Serragem (não tratada – sem verniz) e folhas secas ajudam no equilíbrio, são ricas em carbono e evitam o aparecimento de animais indesejados e do mau cheiro. 157 ENERGIA NA AGRICULTURA • Alimentos cozidos ou assados podem ser usados, desde que em pequenas quantidades. É preciso evitar o excesso de sal e conservantes dos alimentos processados. Esse tipo de material não pode estar úmido; por isso, deve‑se adicionar bastante pó de serra em cima dos restos. • Estercos de boi, de porco e de galinha (apenas se tiverem sido curtidos). Utilizando 70% de resíduos ricos em carbono e apenas 30% dos ricos em nitrogênio, temos uma fórmula equilibrada. Uma boa solução é separar um espaço em que os resíduos frescos possam secar antes de serem usados, gerando uma boa economia, pois, se não houver serragem, os resíduos secos serão excelentes substitutos. Outra dica tem a ver com a borra de café. Ela é uma grande aliada, pois inibe o aparecimento das formigas e é um excelente complemento nutricional para as minhocas. O que não deve ir: • Frutas cítricas precisam de cuidado redobrado, pois tanto a polpa quanto as cascas podem alterar o pH da terra. • Alho e cebola também causam alterações no minhocário. • Fezes de gatos e cachorros. • Carnes, gorduras e laticínios (a decomposição é muito lenta, e tais alimentos atraem animais indesejáveis). • Nozes‑pretas, por possuir um composto orgânico que é tóxico para alguns tipos de plantas. • Derivados de trigo, como massa, bolo, pão (pois têm decomposição lenta e atraem animais). • A maioria dos tipos de papel, como revistas, jornais, papéis de impressão, envelopes, catálogos, por serem tratados com químicos que prejudicam o composto. • Arroz (depois de cozido, é um ótimo local para bactérias). • Serragem de madeira tratada (a serragem é boa para remover a unidade, mas se for de madeira envernizada ou quimicamente tratada prejudicará as minhocas). • Carvão vegetal (possui enxofre e ferro). • Plantas doentes (não coloque plantas com fungos ou outra doença, pois podem transferir‑se para as plantas saudáveis). 158 Unidade III Resumo Nesta unidade, verificamos como o desenvolvimento sustentável e o uso da energia pela agricultura ocorrem no Brasil e em alguns locais do planeta. Também pudemos verificar como o clima está se comportando e quanto a agropecuária impacta esse fenômeno. Averiguamos o impacto no meio ambiente, devido à utilização de fertilizantes e agrotóxicos e toda a sua cadeia produtiva, pelo desmatamento em virtude da expansão da lavoura e da pecuária. Também vimos o grande impacto que o uso da água causa ao meio ambiente e as possibilidades de redução do consumo desse precioso recurso natural. A agricultura também está ajudando o planeta na redução da emissão de gases de efeito estufa, com o cultivo de matérias‑primas para a produção do álcool e do biodiesel, que são chamadas de Energia do Século XXI. Apresentamos algumas das possibilidades de redução de consumo de energia pela agricultura, como a utilização das energias eólica e solar. Por fim, abordamos algumas das mais modernas técnicas da agricultura, como o plantio direto. Exercícios Questão 1. (Enade 2013) O sistema agroflorestal (SAF) é aquele em que espécies perenes lenhosas (árvores, arbustos, palmeiras e bambus) são intencionalmente utilizadas e manejadas em associação com cultivos agrícolas e/ou animais. O objetivo desse sistema é a produção de alimentos de forma sustentável, sem o uso de adubação química ou de agrotóxicos. Os sistemas agroflorestais devem tentar reproduzir ao máximo a arquitetura e a distribuição espacial das formações naturais, para melhor aproveitamento da radiação, da umidade e dos nutrientes. Sobre o sistema agroflorestal, avalie as afirmações a seguir. I – O custo é maior com insumos externos que com os internos. II – O SAF ajuda no combate à erosão. III – As espécies perenes podem ser geradoras de renda no final do ciclo de um SAF. IV – O manejo das culturas que compõem o SAF é mais simples do que o de uma plantação tradicional. 159 ENERGIA NA AGRICULTURA É correto apenas o que se afirma em: A) I. B) III. C) I e IV. D) II e III. E) II e IV. Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Os sistemas agroflorestais são considerados sistemas sustentáveis, em que há diminuição do custo da produção com redução de insumos externos. II – Afirmativa correta. Nos sistemas agroflorestais, há rotação de culturas e uma diversidade biológica muito maior que a das culturas convencionais. Essa prática garante a melhoria das condições do solo, prevenindo a erosão e aumentando a produção. III – Afirmativa correta. Os sistemas agroflorestais seguem princípios de rendimentos sustentados, segundo os quais pelo menos um dos componentes envolvidos deve ser lenhoso e o outro deve ser perene (árvores, arbustos, palmeiras ou bambus). IV – Afirmativa incorreta. O manejo das culturas nos sistemas agroflorestais é mais complexo que o das culturas convencionais, pois une componentes variados (arbóreos, arbustivos, pastagens, animais) conforme o que se pretende cultivar. Questão 2. (Enade 2013) Os solos brasileiros, em sua maioria, são ácidos. Essa acidez tem origem na intensa lavagem e lixiviação dos nutrientes do solo, na retirada dos nutrientes pelas culturas sem a devida reposição e, também, na utilização de fertilizantes de características ácidas. 160 Unidade III A prática agronômica que tem como finalidades corrigir a acidez do solo, aumentando os teores de cálcio e magnésio, e eliminar prováveis efeitos tóxicos dos elementos que podem ser prejudiciais às plantas, tais como alumínio e manganês, recebe a denominação de: A) Aração. B) Calagem. C) Gradagem. D) Sulcamento. E) Indexagem. Resolução desta questão na plataforma.–, que tem como função avaliar se o projeto se enquadra nas regras do Mecanismo de Desenvolvimento limpo – MDL. • Esse projeto é encaminhado para a Autoridade Nacional Designada – AND – que, em nosso país, é representada pela Comissão Interministerial de Mudanças Globais do Clima. Vale ressaltar que cada país define a sua autoridade nacional. No caso do Brasil, ela é composta por representantes dos seguintes ministérios: Ciência e Tecnologia; Relações Exteriores; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Transportes; Minas e Energia; Planejamento, Orçamento e Gestão; Meio Ambiente; Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Cidades; Fazenda; e Casa Civil. • Após aprovação da AND, se faz necessário que seja feita a submissão do projeto para a solicitação de um registro junto ao próprio MDL, de uma forma mais precisa, ao seu Comitê Executivo. Só com esse documento é que o projeto passa necessariamente a ser desenvolvido com o propósito de comercialização de carbono. 114 Unidade III • Depois de registrados, ações mais diretas são executadas. Nesse processo, é realizada a elaboração de um plano geral para que o projeto seja monitorado. Com isso, é emitido um relatório que deve conter, dentre as suas informações, o cálculo da redução de emissão. Com o projeto em andamento, o EOD faz a verificação para comprovar que as metas determinadas, por um período preestabelecido, foram cumpridas de forma correta. Esse monitoramento pode ser realizado quantas vezes o mantenedor do projeto achar necessário, trata‑se de uma forma de saber se o resultado está no caminho correto. • Após isso, é realizada uma auditoria no projeto para que seja certificado. O EOD então determina a quantidade de RCEs – Redução Certificada de Emissão – que serão concedidos ao projeto e encaminha a solicitação ao MDL, que emite esses certificados que poderão ser negociados com países e empresas dos países desenvolvidos. Conforme previsões feitas pela Bloomberg New Energy Finance –BNEF –, que acompanha o mercado de carbono ao redor do mundo, a expectativa do mercado é que o valor de cada crédito de carbono possa chegar a $ 7,5. É possível que o mercado movimente $ 46 bilhões (R$ 148 bilhões) ao redor do mundo (COMO..., [s.d.]). Em janeiro de 2015, um estudo da Agência Espacial dos Estados Unidos (Nasa) e da Universidade Irvine da Califórnia, utilizando um satélite de observação da Agência Espacial da Europa, o CyroSat 2, confirmou que a Antártida está derretendo mais rápido a cada ano, e que a perda de gelo nessa região, que era em média de 83 bilhões de toneladas por ano, com base em dados de 1992 a 2013, está chegando a 159 bilhões de toneladas de gelo por ano. Apenas na Região Oeste, cerca de 134 bilhões de toneladas de gelo derretem anualmente. Para ter ideia, imagine um bloco de gelo com um quilômetro de largura, um quilômetro de altura e um quilômetro de comprimento – esse bloco teria menos de um bilhão de toneladas de gelo. Lembrete Os Estados Unidos são considerados como o país com o maior índice de emissão de poluentes no mundo. O que antes era um aumento de seis bilhões de toneladas por ano, hoje é mais que o dobro, chegando a 16 bilhões de toneladas a cada ano, acelerando cada vez mais até chegar ao colapso. Esse degelo, de acordo com o estudo, vem sendo causado pelo aumento das temperaturas globais e principalmente pelo lançamento de gases do efeito estufa, como resultado das ações humanas. 115 ENERGIA NA AGRICULTURA Figura 53 – Derretimento da Antártida vem aumentando a cada ano O permafrost é o tipo de solo encontrado na região do Ártico e é constituído por terra, gelo e rochas permanentemente congeladas e cobertas por uma camada de gelo e neve, que tem grandes quantidades de carbono e gases do efeito estufa armazenados e congelados em sua composição e, com o aumento das temperaturas, o Ártico, que era considerado um sumidouro de carbono, pode se tornar uma grande fonte emissora de gases do efeito estufa, fazendo o metano das reservas de hidrato de metano existentes nos polos e no fundo dos oceanos ser liberado, causando um novo episódio de aumento de temperatura global, com todas as suas implicações à vida no planeta. Segundo o site eCycle, no artigo intitulado “190 gigatoneladas de carbono podem ser liberadas no Ártico, segundo estudo”: Um estudo da Universidade do Alasca indica que a quantidade de carbono que pode ser liberada em todo o permafrost é equivalente à metade de todas as emissões a partir da Revolução Industrial até os dias atuais, o que levaria [a] um aumento de três a seis graus da temperatura global num período de cem anos. Seriam 190 gigatoneladas (190 milhões de toneladas) de carbono liberadas na atmosfera, provocando uma reação em cadeia devido ao aumento da temperatura do globo (ECYCLE, 2014). Saiba mais Para entender um pouco mais sobre as mudanças climáticas no planeta, sugerimos que você assista ao filme Chasing Ice (Perseguindo o Gelo), de James Balog, um premiado fotógrafo que, em 2005, recebeu a missão da publicação National Geographic de ir ao Ártico para fotografar provas das mudanças climáticas no planeta: PERSEGUINDO o gelo. Dir. Jeff Orlowski. Estados Unidos. 2012, 75 minutos. 116 Unidade III Segundo Cunha et al. (1994), dentro do conceito de desenvolvimento sustentável, quatro aspectos estão relacionados entre si: a eficiência técnica, a sustentabilidade econômica, a estabilidade social e a coerência ecológica. A dimensão técnica relaciona‑se com o incremento da produtividade dos recursos naturais, indispensável para compatibilizar a conservação da natureza com o aumento da produção. Uma avaliação da sustentabilidade da agricultura requer a análise de alguns problemas: o comportamento dos rendimentos físicos da terra, as possibilidades da produtividade da terra, as possibilidades oferecidas pela tecnologia para reparar danos e a capacidade das instituições de pesquisa de responder aos desafios da sustentabilidade. A estabilidade social é outra dimensão da sustentabilidade do desenvolvimento, aspecto importante quando se analisa uma região de expansão da fronteira agrícola, como é o caso dos Cerrados. É preciso reconhecer o processo de ocupação do Cerrado, verificar como a agricultura tem‑se estruturado na região e até que ponto ela já se encontra consolidada. A coerência ecológica é a intensidade em que a exploração é compatível com a capacidade de suporte do meio ambiente. A intensidade da exploração também varia com o uso dos recursos naturais, exercendo menor pressão (ex.: extrativismo vegetal, florestas cultivadas, pastagens naturais) ou sendo mais agressoras ao meio ambiente (ex.: lavouras intensamente mecanizadas). Diante da disponibilidade de terras aptas para o cultivo e da pressão da demanda por alimentos, é inevitável a continuidade da expansão da agricultura. 5.2 Agricultura de baixa emissão de carbono O Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (BRASIL, 2012b), também denominado Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem uma nova ferramenta de consulta e monitoramento. Trata‑se de um sistema de geoprocessamento que vai auxiliar na espacialização da informação, mostrando em tempo real onde estão sendo aplicados os recursos do programa. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na publicação Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (BRASIL, 2012b), houve detalhamento e modificações dos compromissos originais da agricultura, que passaram a ser compostos por meio da adoção das seguintes ações: • Recuperar uma área de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas por meio do manejo adequado e adubação. • Aumentar a adoção de sistemas de Integração Lavoura‑Pecuária‑‑Floresta (iLPF) e de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em 4 milhões de hectares. 117 ENERGIA NA AGRICULTURA • Ampliar a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) em 8 milhões de hectares. • Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): ampliar o uso da fixação biológica em 5,5 milhões de hectares. • Promover as ações de reflorestamento no país, expandindo a área com Florestas Plantadas, atualmente, destinada à produção de fibras, madeira e celulose em 3,0 milhões de hectares, passando de 6,0 milhões de hectares para 9,0 milhões de hectares. • Ampliar o uso de tecnologias para tratamento de 4,4 milhões de m3 de dejetos de animais para geração de energia e produção de composto orgânico (BRASIL, 2012b, p. 19). O programa é dividido em sete eixos – seis de adaptação ao processo de mudança climática e um de mitigação. Observação A mitigação do risco é a redução do risco a valores aceitáveis; o que se deseja evitar não é a ocorrência do fator gerador de risco, mas sua consequência. O planejamento e a adoção de tecnologias de produção sustentáveis envolvem a recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura‑pecuária‑floresta (iLPF), sistemas agroflorestais (SAFs), sistema plantio direto (SPD), fixação biológica de nitrogênio (FBN), florestas plantadas, tratamento de dejetos animais e adaptação às mudanças climáticas. O sistema permite visualizar, por meio de mapas, as áreas onde a Agricultura de Baixa Emissão de Carbono está sendo implantada. O geoprocessamento agiliza o acompanhamento da evolução do ABC, permitindo que o usuário tabule os dados por Estado ou por linha do programa, além de geração de mapas que indicam como as diferentes regiões estão aplicando os recursos. 5.3 Sistemas de preparo convencional do solo O que se pretende com o preparo do solo é obter as condições favoráveis ao crescimento e estabelecimento das plantas de tal maneira que se assegurem altos rendimentos e retorno aos investimentos realizados. 118 Unidade III O desenvolvimento da má estrutura do solo é um fenômeno associado com operações frequentes de preparo de solo. As causas mais comuns da má estrutura incluem: • Drenagem inadequada. • Preparo excessivo do solo, definido como a manipulação física, química ou biológica, que tem por objetivo básico otimizar as condições de germinação, emergência e estabelecimento das plantas. • Sistema intensivo de exploração de cultura. • Operações impróprias no campo. • Tipo dos implementos agrícolas utilizados. Especialmente sob condições de manejo intensivo do solo, deve‑se ter em mente o alto risco à degradação dele como resultado do manejo não pensado adequadamente. Em razão disso, deve‑se buscar um sistema que não o revolva demais, como forma de minimizar as alterações físicas, que, por sua vez, irão causar menor impacto negativo sobre as taxas de escoamento superficial e de infiltração da água no solo. 5.4 Plantio direto Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa: O plantio direto é uma técnica de cultivo conservacionista em que o plantio é efetuado sem as etapas do preparo convencional da aração e da gradagem. Nessa técnica, é necessário manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais. Essa cobertura tem por finalidade proteger o solo do impacto direto das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica. O plantio direto pode ser considerado como uma modalidade do cultivo mínimo, visto que o preparo do solo limita‑se ao sulco de semeadura, procedendo‑se à semeadura, à adubação e, eventualmente, à aplicação de herbicidas em uma única operação. O plantio direto, definido como o processo de semeadura em solo não revolvido, no qual a semente é colocada em sulcos ou covas, com largura e profundidade suficientes para a adequada cobertura e contato das sementes com a terra, é entendido como um sistema com os seguintes fundamentos: • Eliminação/redução das operações de preparo do solo. • Uso de herbicidas para o controle de plantas daninhas. 119 ENERGIA NA AGRICULTURA • Formação e manutenção da cobertura morta. • Rotação de culturas. • Uso de semeadoras específicas (AGÊNCIA EMBRAPA DE INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA – AGEITEC, [s.d.]). Observação Gradagem é a etapa de preparação do solo para cultivo agrícola posterior à aração, quando o solo ainda contém muitos torrões, o que dificultaria a emergência das sementes. 5.5 Como a agricultura pode ajudar na preservação do clima A agricultura pode ajudar na preservação do clima no planeta de diversas formas, mas também pode piorar esta situação. A produção de alimentos, a geração de energia e a preservação do clima do planeta são temas que entram em conflito quando o assunto é o uso da terra. O problema se apresenta em uma cadeia: o crescimento populacional aumenta o consumo de grãos, que também são fonte para a geração de bicombustíveis. A necessidade cada vez maior de plantio força a expansão das barreiras agrícolas, que avançam em direção às áreas de proteção ambiental, como a Amazônia. Com o desmatamento, crescem as emissões de gases do efeito estufa, acelerando o processo de aquecimento global. O desafio de atender a demanda se resume em produzir mais e melhor, levando em consideração a conservação dos recursos hídricos, dos solos e da biodiversidade. Um dos problemas, no Brasil, é que a terra ainda é utilizada de forma ineficiente, com 75% da área destinados à pecuária bovina. Se aumentarmos em 20% a produtividade da pecuária no Brasil, e isso pode ser feito através de criação em confinamento, por exemplo, teremos um excedente de 40 milhões de hectares. Outra possibilidade é a rotação das áreas de pastagem com lavouras, na qual se intercala o período de uso das pastagens plantadas com um ciclo de três a cinco anos de lavouras intensivas. Com esta proposta, consegue‑se uma produção de grãos muito maior, como a soja, que é particularmente interessante para uma região degradada, porque ela fixa nitrogênio do ar, dispensando a necessidade de adubar a terra com esse elemento. Já a produtividade do milho e do sorgo sozinhos vem deixando a desejar, mas elas são interessantes porque servem de alimentação para o gado. No entanto, cabe lembrar que: Para produzir 1 kg de carne bovina são necessários 7 kg de grãos para a ração animal e 15.000 litros de água. Para a produção de 1 kg de cereal, 120 Unidade III são gastos somente 1.300 litros de água. A terra e [a] água necessárias para produzir 1 kg de carne são suficientes para 200 kg de tomates ou 160 de batatas. [...] Além disso, pelo menos 3.500 litros de água são necessários para produzir um quilo de carne de frango e 6.000 litros para um quilo de carne de porco (HIATH, 2009). Assim, além de aumentar a produtividade tanto do gado quanto dos grãos, tornando desnecessária a abertura de novas áreas por desmatamento, a integração traz mais duas vantagens no combate ao aquecimento global: • A primeira é que uma pastagem de melhor qualidade resulta em menos emissão de metano para cada quilo de carne produzida. • A segunda é que nas pastagens bem‑manejadas ocorre um aumento da matéria orgânica no solo, o que eleva o potencial de sequestro de carbono. Outra medida eficiente para a mitigação das mudanças climáticas é a adoção de sistemas florestais para aumentar o sequestro de carbono. Isso inclui o plantio de árvores – eucaliptos e pinus, por exemplo – para o reflorestamento de áreas degradadas, com outras culturas ou também com pasto. No entanto, vários problemas ambientais são desencadeados em virtude da expansão da agropecuária e da utilização de métodos para o cultivo e para a criação de animais. 5.6 Desmatamento O desmatamento, uma das piores consequências da expansão agropecuária, no Brasil, é uma prática muito comum. A retirada da cobertura vegetal provoca redução da biodiversidade, extinção de espécies animais e vegetais, desertificação, erosão, redução dos nutrientes do solo e, entre outros danos,contribui para o aquecimento global. Um dos métodos muito utilizados para a retirada da vegetação original são as queimadas, que intensificam a poluição atmosférica, além de reduzirem os nutrientes do solo, sendo necessário usar uma quantidade maior de produtos químicos (fertilizantes) durante o cultivo de determinados alimentos, fato que provoca a poluição do solo. Observação No Estado de São Paulo, a Lei nº 11.241, de 2002, proíbe a queima de cana‑de‑açúcar pré‑colheita, pelo alto impacto que a fumaça causa na saúde coletiva e no meio ambiente. 121 ENERGIA NA AGRICULTURA Figura 54 – Queimada e desmatamento Tabela 14 – Comparação do total de focos ativos detectados pelo satélite de referência em cada mês, no período de 1998 até 25/05/2015 Ano/ Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Total 1998 ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ 3.551 8.067 35.551 41.974 23.498 6.804 4.449 123.894 1999 1.081 1.284 667 717 1.812 3.632 8.758 39.487 36.914 27.014 8.861 4.376 134.603 2000 778 562 849 538 2.097 6.275 4.740 22.204 23.293 27.337 8.399 4.465 101.537 2001 547 1.059 1.268 1.081 2.090 8.433 6.490 31.887 39.834 31.038 15.639 6.201 145.567 2002 1.654 1.570 1.679 1.682 3.818 10.839 10.769 47.266 61.012 52.073 30.356 11.649 234.367 2003 3.603 2.353 3.181 1.902 3.871 10.549 19.391 27.666 57.249 43.058 23.010 15.061 210.894 2004 2.330 1.210 1.523 1.057 4.339 13.655 17.960 37.354 66.970 39.161 29.557 17.505 232.621 2005 4.047 1.349 1.444 1.211 3.027 4.594 13.988 52.504 63.932 48.879 25.589 5.046 225.610 2006 1.885 1.350 902 841 1.765 3.137 6.947 25.682 37.144 16.833 12.805 8.024 117.315 2007 1.513 1.179 2.289 850 2.184 4.891 7.031 65.382 94.526 32.312 13.095 4.075 229.327 2008 2.125 1.275 1.239 1.253 553 1.287 4.507 14.528 39.445 39.264 12.778 4.995 123.249 2009 2.848 1.140 1.392 1.078 2.593 2.962 6.599 17.559 29.430 24.202 23.914 9.494 123.211 2010 2.851 2.386 2.417 2.200 3.497 3.642 16.646 75.305 85.415 31.489 16.587 6.856 249.291 2011 1.416 973 937 1.152 1.985 4.578 8.524 22.477 50.302 18.691 12.222 9.830 133.087 2012 2.491 1.436 2.058 2.194 3.240 5.891 13.508 46.289 62.099 34.221 13.587 6.824 193.838 2013 2.049 1.591 1.969 1.374 2.166 3.898 7.313 17.789 31.588 21.325 12.152 12.006 115.220 2014 2.634 1.548 2.225 2.360 3.190 6.484 10.803 43.023 43.174 39.323 17.990 10.939 183.693 2015 4.637 2.311 2.200 2.574 1.468 0 0 0 0 0 0 0 13.190 Adaptado de: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe (2011). 122 Unidade III Saiba mais O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe –, portal do Monitoramento de Queimadas e Incêndios, disponibiliza informações atualizadas dia a dia sobre as queimadas no Brasil. Acesse: INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS – INPE. Monitoramento de queimadas e incêndios. [s.d.]. Disponível em: . Acesso em: 7 out. 2015. Na pecuária, além da substituição da vegetação pelas pastagens, outro problema ambiental é a compactação do solo gerada pela transumância (deslocamento de rebanhos). Quanto mais o solo fica compactado, mais se dificulta a infiltração da água e aumenta o escoamento sobre a superfície, podendo gerar erosões. Esses animais, através da liberação de gás metano, também contribuem para a intensificação do aquecimento global. Observação Gradagem é a etapa de preparação do solo para cultivo agrícola posterior à aração, quando o solo ainda contém muitos torrões, o que dificultaria a emergência das sementes. Portanto, diante da necessidade de produzir alimentos para atender a demanda global e ao mesmo tempo preservar a natureza, é necessário que métodos mais sustentáveis sejam implantados na agropecuária, de forma a reduzir os problemas ambientais provocados pela atividade. O pousio, período geralmente de um ano, em que as terras são deixadas sem semeadura, para repousarem, por exemplo, é uma técnica que visa ao descanso do solo até que haja a recuperação da sua fertilidade. 5.6.1 Desmatamento na Amazônia Legal Desde 1988, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) analisa o desmatamento na Amazônia Legal por meio de imagens de satélite. Os dados consolidados são divulgados no primeiro semestre do ano seguinte. No caso do Brasil, a principal fonte de emissão de CO2 é a destruição da vegetação natural, com destaque para o desmatamento na Amazônia e as queimadas no Cerrado, englobadas na atividade “mudança no uso da terra e florestas”. Esta atividade responde por mais de 75% das emissões brasileiras de CO2, sendo a responsável por colocar o Brasil entre os dez maiores emissores de gases de efeito estufa para a atmosfera. 123 ENERGIA NA AGRICULTURA Segundo ranking do site Planeta Sustentável feito pela revista Exame (2011), os dez países que mais emitem gases de efeito estufa são: 1 – China 2 – Estados Unidos 3 – Índia 4 – Rússia 5 – Japão 6 – Brasil 7 – Alemanha 8 – Canadá 9 – México 10 – Irã Comparado ao período de 1990 a 1994, o de 2000 a 2005 apresentou um crescimento mais lento da emissão de gases de efeito estufa no Brasil, embora no total as emissões associadas à mudança no uso da terra e florestas continuem prevalecendo amplamente, com mais de 50%, com 1.144 megatoneladas de CO2 equivalente. A maior parte dessa emissão tem origem na agropecuária, que gera grandes quantidades de metano e óxido nitroso. Lembrete O plantio direto pode ser considerado como uma modalidade do cultivo mínimo, pois o preparo do solo para a plantação limita‑se ao sulco de semeadura. Com uma matriz energética com forte participação de geração hidráulica (hidrelétricas) e com uso de biomassa (lenha, biocombustíveis), o setor de produção de energia no Brasil contribui pouco para as emissões de gases de efeito estufa do País – o oposto do que ocorre no resto do mundo, especialmente nos países mais industrializados. 124 Unidade III 88(a) 89 90 91 92 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14(d)93(b) 94(b) 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 Figura 55 – Série histórica do desmatamento 1988 a 2014 (km2/ano) 5.7 Eficiência no uso de água e energia na agropecuária A produção de alimentos é uma demanda crescente no mundo. Mas como produzir e lucrar cada vez mais sem agredir o meio ambiente, utilizando a água e os recursos naturais de forma racional e sustentável? Isso pode ser feito, por exemplo, com o aproveitamento de água das chuvas. A água das chuvas é captada nos telhados dos galpões de criação e pode ser direcionada por meio de canos hidráulicos para uma ou mais lagoas de armazenamento, ou para cisternas (depósito, abaixo do nível da terra, para receber e conservar as águas pluviais). Essa água estocada pode substituir a água de poços artesianos para “matar a sede” animal, bem como para servir na limpeza das granjas e também na irrigação. Por exemplo, considere um telhado de galpão de aproximadamente 1.200 metros quadrados. Em uma única chuva de 50 mm (50 litros por metro quadrado), esse telhado seria capaz de captar em torno de 60 mil litros de água. Se admitirmos, durante um ano, um baixo volume acumulado de chuvas de 1.000 mm, por exemplo, com um único galpão, poderemos armazenar e usar 1 milhão e 200 mil litros de água de chuva por ano, em vez de retirar das reservas dos aquíferos. O investimento no sistema de captação e armazenamento vale como uma “poupança” de água que pode ser usada em períodos mais secos. É extremamente simples a construção desse tipo de reservatório: basta ter uma cisterna e, através de calhas de captação no telhado, dirigir a água para a cisterna onde ficará armazenada. Tubulações de PVC (o mesmo material utilizado em encanamento de esgotos) podem ser utilizadas para este tipo de construção. Uma motobomba pode depois retirar a água da cisterna para irrigação ou para colocá‑la em caixas d’água elevadas de onde, por gravidade, pode ter pressão suficiente para ser utilizada na limpeza de currais. 5.8 A agricultura é a atividade que mais gasta água A água está intrinsecamente ligada ao desenvolvimentode todas as sociedades e culturas. Ao mesmo tempo, esse desenvolvimento coloca uma pressão considerável sobre os recursos hídricos, pois 125 ENERGIA NA AGRICULTURA a agricultura, a energia e a indústria causam impactos consideráveis sobre o uso da água. Além disso, muitos países continuam a enfrentar os desafios de eliminar a pobreza e promover o crescimento econômico, garantindo saúde e saneamento, evitando a degradação do solo e a poluição e assegurando o desenvolvimento rural e urbano. Isso envolve não só a água de bebida dos animais, mas também a água para atender os aspectos de limpeza e higienização dos animais, dos equipamentos e das instalações. Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas – ONU, denominado Water for a Sustainable World – 2015 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA – UNESCO, 2015), cerca de 748 milhões de pessoas ainda hoje não têm acesso a uma fonte de água potável, e o aumento da demanda de água é calculado em 400%, entre 2000 e 2050, no contexto mundial. Em 2050, a agricultura terá de produzir 60% a mais de alimentos no mundo todo e 100% a mais de alimentos nos países em desenvolvimento. Como as taxas de crescimento atuais de demanda de água agrícola mundial são insustentáveis, o setor agropecuário terá de aumentar a sua eficiência do uso da água pela redução de perdas e, o mais importante, aumentar a produtividade das culturas em relação ao uso da água. A poluição d’água na agricultura, que pode piorar com o aumento da agricultura intensiva, pode ser reduzida através de uma combinação de instrumentos, incluindo regulação e fiscalização mais rigorosas. Os riscos e vários problemas de segurança relacionados com a água também podem ser reduzidos em abordagens técnicas. Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas – ONU, denominado Water for a Sustainable World – 2015 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA – UNESCO, 2015), o setor agrícola é o maior utilizador de água na maior parte do mundo, sendo responsável pelo uso de aproximadamente 70% de toda a água doce mundialmente, e mais de 90% em países menos desenvolvidos. No Brasil, esse índice chega a 72%. Práticas como técnicas de irrigação eficiente podem ter um impacto dramático sobre a redução da demanda d’água, especialmente nas áreas rurais. Esse precioso bem é usado para várias finalidades, gerando águas residuais (esgoto) como um resultado de processos de produção. Mas não é só. Também se usa a água para lazer, navegação, turismo, pesca e outros objetivos que dependem da presença física de água. Pelas análises do relatório Water for a Sustainable World – 2015 (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA – UNESCO, 2015), divulgado pela ONU, o uso da água tem aumentado a uma taxa duas vezes maior do que o crescimento da população ao longo do último século. A tendência é que o gasto seja elevado em até 50% até 2025 nos países em desenvolvimento, e em 18% nos países desenvolvidos. Segundo esse mesmo relatório, hoje, 780 milhões de pessoas ainda vivem sem acesso à água potável para beber, e muitas outras, sem saneamento básico. Outro dado sobre o desperdício de água ressalta a necessidade de economia. Até 2025, cerca de 2 milhões de pessoas viverão em regiões com absoluta escassez. 126 Unidade III De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (apud WALBERT, 2015), cerca de 60% da água utilizada em projetos de irrigação são perdidos por fenômenos como a evaporação. Ainda segundo o órgão, uma redução de 10% no desperdício poderia abastecer o dobro da população mundial dos dias atuais. A mesma fonte da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura nos dá as seguintes informações sobre a área irrigada no Brasil: Tabela 15 – Área irrigada no Brasil Áreas de irrigação Valor Área equipada para irrigação – Irrigação controle total (ano 2010) – Irrigação localizada (em 1.000 ha) 2.619 Irrigação por aspersão (em 1.000 ha) 2.446 Irrigação de superfície (em 1.000 ha) 334.8 Área total equipada para irrigação – Áreas efetivamente irrigadas (em %) 6,783 Área equipada para irrigação (ano 2006 – em %) 4.454 Área cultivada (ano 2006 – em %) 96,81 Adaptado de: Food and Agriculture Organization of United Nations – FAO (2015c). Conforme a publicação Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil: 2013, emitida pela Agência Nacional de Águas – ANA (BRASIL, 2013), a utilização de água no Brasil apresenta os seguintes percentuais: Rural 1%Urbano 9% Industrial 7% Animal 11% Irrigação 72% Figura 56 – Vazão de consumo total (em m3/s) 127 ENERGIA NA AGRICULTURA Os percentuais constantes no gráfico anterior não se referem a toda a água presente no Brasil, mas sim à quantidade de água doce captada para o desenvolvimento das atividades econômicas a partir de fontes disponíveis em rios, lagos, umidade do solo e aquíferos subterrâneos. As atividades rurais de pecuária e irrigação agrícola, juntas, consomem 84% dos recursos hídricos no país. Apesar de a agricultura irrigada ser a principal usuária da água disponível e, por isso, requerer maior atenção das autoridades e de todos os envolvidos, ela resulta em aumento da oferta de alimentos e preços menores em relação àqueles produzidos em áreas não irrigadas, devido ao aumento substancial da produtividade. Em 20 de agosto de 2012, a presidenta Dilma Rousseff publicou o Decreto nº 7.794 (BRASIL, 2012a), que instituiu a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e tem o objetivo de: [...] integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis (BRASIL, 2012a). Saiba mais Leia a íntegra do Decreto nº 7.794, de 20 de agosto de 2012: BRASIL. Decreto nº 7.794, de 20 de agosto de 2012. Institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Brasília, 2012a. Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2015. Uso da água no mundo • Irrigação: 70%. • Industrial: 22%. • Doméstico: 8%. • Porcentagem de aumento no gasto da água até 2025 em países em desenvolvimento: 50%. • Porcentagem de cidades europeias que utilizam água do subsolo em velocidade maior do que ela pode ser reposta: 60%. • Número aproximado de pessoas que viverão em regiões de absoluta escassez de água até 2025: 2 milhões. 128 Unidade III Há um crescente número de exemplos de águas residuais recuperadas para serem utilizadas na agricultura, para irrigar parques municipais, em sistemas de arrefecimento industriais e, em alguns casos, de forma segura, misturada com água potável ou não. Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp: A água de reúso é obtida através do tratamento avançado dos esgotos gerados pelos imóveis conectados à rede coletora de esgotos. Pode ser utilizada em processos que não requerem água que seja potável, mas sanitariamente segura, gerando a redução de custos e garantindo o uso racional da água (SÃO PAULO, [s.d.]). O reúso reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à substituição da água potável por uma de qualidade inferior, além de liberar as fontes de água potável para abastecimento público. Essa prática, já utilizada em alguns países, é baseada no conceito de substituição de mananciais. Tal substituição é possível em função da qualidade da água para um uso específico. Grandes volumes de água potável podem ser poupados quando se utiliza água de reúso (geralmente efluentes pós‑tratados) para atendimento de finalidades que podem ser: aplicações em irrigação; usos industriais, como refrigeração; alimentação de caldeiras; usos urbanos não potáveis, como combate ao fogo; descarga de vasossanitários; lavagem de veículos; lavagem de ruas e usos diversos, como na construção civil. Outra forma de a agricultura economizar água é a chamada hidroponia. Os cultivos sem terra, ou cultivos hidropônicos, são uma forma de produção de verduras frescas e sadias em situações nas quais não é possível desenvolver a agricultura tradicional. O termo hidroponia é de origem grega (hidro – água e ponia – trabalho). Consiste em uma técnica em que a nutrição da planta é feita por meio de uma solução de água que contém todos os elementos essenciais ao crescimento e à produção da planta, em proporções e quantidades previamente definidas. Saliente‑se que a hidroponia pode reduzir o consumo de água, mas não tem aplicação em lavouras de grande extensão, como soja, milho, café e outras, sendo mais adequada para verduras e legumes. As plantas criadas pela técnica hidropônica exigem menos espaço para seu desenvolvimento do que se crescessem no solo, porque o seu sistema de raízes, que são órgãos da planta especializados em fixá‑la, e absorção dos nutrientes são mais compactos, e o suprimento de nutrientes é prontamente disponível para ser absorvido pelas plantas. Esta é a razão de, na técnica hidropônica, ser possível produzir três ou quatro vezes mais por unidade de área do que com o cultivo tradicional. O cultivo hidropônico tem na sustentabilidade uma de suas principais bandeiras, pois a economia de água e de espaço é muito grande. O manejo adequado da irrigação é importante não apenas para suprir 129 ENERGIA NA AGRICULTURA as necessidades hídricas das plantas, mas também minimizar problemas com doenças e lixiviação (que é o processo de extração de uma substância presente em componentes sólidos através da sua dissolução num líquido) de nutrientes, bem como diminuir gastos desnecessários com água e energia. Os maiores problemas encontrados hoje na hidroponia são: • os custos de energia para manutenção da irrigação e da temperatura nas estufas; • o custo de construção e manutenção da estufa; • a mão de obra necessária para acompanhamento frequente das plantas. No entanto, a economia de água proporcionada pelo método é sua principal vantagem. Figura 57 – Hidroponia 5.9 A utilização de biodigestores Biodigestores são equipamentos de processamento de matéria orgânica (fezes, urina, ração e outros) como aproveitamento de dejetos de suínos, bovinos e aves que têm acelerada sua decomposição em um sistema anaeróbio (sem a presença de oxigênio), obtendo resíduos que, dependendo do processamento, podem ser usados como biofertilizantes e também como biogás, que pode ser usado em motores a combustão para a geração de energia térmica ou elétrica. A tecnologia deve ser escolhida em função da matéria‑prima que se vai utilizar, resíduo orgânico ou plantas energéticas. Os dejetos dos animais, que antes eram despejados no meio ambiente, hoje podem ser biodigeridos. 130 Unidade III A utilização de biodigestores no meio rural tem merecido especial atenção devido aos aspectos de saneamento e geração de energia, além de estimular a reciclagem orgânica e de nutrientes. Segundo a apresentação denominada Análise da Implantação de Biodigestores em Pequenas Propriedades Rurais, dentro do Contexto da Produção Limpa, feita no XIII Simpósio de Engenharia de Produção – Simpep, da Universidade Estadual Paulista – Unesp, a produção de biogás em função do tipo de esterco (fezes de animais) tem o seguinte rendimento: Tabela 16 – Produção de biogás em função do tipo de esterco Material Rendimento (m3) de biogás por kg de material orgânico Esterco fresco de bovino 0,04 Esterco seco de galinha 0,43 Esterco seco de suíno 0,35 Fonte: Tarrento; Martinez (2006, p. 3). Conforme essa mesma apresentação: [...] para uma produção diária de 23,4 m3 de biogás, o estudo propõe uma mistura de 60 kg de esterco bovino, 60 kg de esterco suíno e 150 litros de água não clorada. Após cerca de 60 dias, ocorre a produção de biogás e de biofertilizante, resultantes da reação entre material orgânico e bactérias anaeróbias (TARRENTO; MARTINEZ, 2006, p. 6). O processo de fermentação dentro dos biodigestores produz gás metano, que pode ser usado em motogeradores, substituindo o óleo diesel na geração de energia elétrica. O resíduo líquido pode ser disperso nas culturas através da fertirrigação, que pode substituir em grande medida a adubação mineral. Dessa forma, os resíduos biodigeridos funcionam como fertilizantes nobres, com ganhos de produtividade e redução de externalidades ambientais. Observação Externalidades são os efeitos sociais, econômicos e ambientais indiretamente causados pela venda de um produto ou serviço, o impacto das ações de alguém sobre o bem‑estar dos que estão em torno. 6 ENERGIA DO SÉCULO XXI A preocupação com os efeitos das mudanças climáticas tem forçado os países a procurarem soluções para a redução do consumo de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão. Os candidatos naturais e 131 ENERGIA NA AGRICULTURA renováveis para a gasolina e o diesel são o bioetanol e o biodiesel, que são fontes de energia renováveis extraídas a partir da atividade conhecida como agroenergia. Assim, a solução para os problemas energéticos não está nos campos de petróleo, mas na agricultura, à medida que os países cada vez mais substituem uma parte das necessidades de petróleo por bioenergia, um combustível de origem vegetal. 6.1 Biocombustíveis A bioenergia não contribui para a mudança climática porque o dióxido de carbono (CO2) que produz provém do carbono existente na atmosfera na forma de derivados recentes de organismos vivos. Combustíveis fósseis, por sua vez, liberam na atmosfera gases de efeito estufa que estavam anteriormente entranhados na Terra. A crise de alimentos, com seus preços inflacionados, por exemplo, tem sido compreendida como resultante do desvio da produção de grãos destinados à alimentação, para a fabricação de biocombustível. O que está em jogo é muito crítico, pois dezenas de milhares de hectares a serem desmatados para biocombustíveis representam um desastre ambiental em termos de biodiversidade e emissões de carbono para a atmosfera. Biocombustíveis são derivados de biomassa renovável que podem substituir, parcial ou totalmente, combustíveis derivados de petróleo e gás natural em motores a combustão ou em outro tipo de geração de energia. Os dois principais biocombustíveis líquidos usados no Brasil são o etanol extraído da cana‑de‑açúcar e, em escala crescente, o biodiesel, que é produzido a partir de óleos vegetais ou de gorduras animais e adicionado ao diesel de petróleo em proporções variáveis. 6.2 Álcool Etanol, álcool hidratado ou álcool etílico são palavras que se referem à mesma substância. Tanto o álcool combustível como o contido em bebidas alcoólicas, produtos de limpeza, tintas e qualquer outro produto que o contenha utiliza o mesmo álcool, obtido por fermentação do açúcar ou síntese em laboratório. As diferenças ocorrem na destilação, utilizada em algumas aplicações do álcool e nos processos de pós‑produção. Apesar de estar presente em diversos produtos do cotidiano, o etanol é mais utilizado, atualmente, como combustível. Para se ter uma ideia, na safra 2012‑2013, foram produzidos mais de 21 bilhões de litros do biocombustível, o que equivale a 8.400 piscinas olímpicas. Deste volume, foram consumidos aproximadamente 18 bilhões de litros, e pouco mais de 3 bilhões de litros foram exportados. O etanol pode ser utilizado de diversas maneiras. Em sua forma pura (álcool anidro), ele é muito utilizado na indústria como matéria‑prima de tintas, solventes, aerossóis etc. Além disso, é utilizado como combustível misturado à gasolina, em proporção obrigatória, no Brasil, de 20%, ou ainda no diesel, de forma opcional, e chegando a aproximadamente 8%. Já o etanol hidratado (etanol com cerca de 5% 132 Unidade III de água) é utilizado na produção de bebidas, alimentos, cosméticos, aromatizantes, produtos de limpeza, remédios,vacinas e como combustível de veículos. Esse tipo de álcool é o etanol comum vendido nos postos, sendo o Brasil até hoje o único país que utiliza 100% de álcool hidratado nos tanques. Em sua aplicação como combustível, o etanol está presente de forma pura ou misturado à gasolina. O etanol comum vendido nos postos é o álcool etílico hidratado, uma mistura com cerca de 96% de etanol e o restante de água. Já o etanol misturado à gasolina é o álcool anidro, um tipo de etanol que tem pelo menos 99,6% de álcool puro. Na gasolina brasileira, a proporção de etanol misturado ao combustível varia de 20% a 25%, de acordo com determinação do governo. Entre os motores de veículos (motores de combustão interna), o etanol é utilizado principalmente em motores de ignição por centelha (ciclo Otto). Esses motores utilizam a vela de ignição para lançar uma faísca elétrica que queima o combustível, gerando energia para o veículo se movimentar. Normalmente, esses tipos de motores são movidos a etanol ou gasolina, estando presentes nos veículos leves, como automóveis e motocicletas. Outro tipo de motor veicular é o de combustão por compressão (ciclo diesel). Embora o diesel seja o combustível mais bem‑adaptado a motores de combustão por compressão (por queimar mais facilmente devido a sua baixa temperatura de autoignição), o etanol anidro tem sido cada vez mais utilizado também nesses tipos de motores, principalmente por causar menos impactos ambientais e ser mais barato. Em aviões comerciais, um tipo de biocombustível derivado da cana‑de‑açúcar já foi utilizado em um voo‑teste da empresa Azul com o jato E195, produzido pela Embraer que, em junho de 2012, decolou de Campinas ao Rio de Janeiro, para a Conferência Rio+20. Apesar desses exemplos, o álcool não é o biocombustível mais recomendado para uso na aviação. O mais promissor dos biocombustíveis tem sido o bioquerosene (querosene obtido de óleos vegetais). Por ser obtido de vegetais, o etanol é considerado um combustível renovável, ou seja, não se esgota. É também um combustível sustentável, pois grande parte do gás carbônico lançado na atmosfera em sua produção é absorvida pela própria cana‑de‑açúcar durante a fotossíntese. É calculado que o etanol reduz em 89% a emissão de gases de efeito estufa se comparado à gasolina. Além disso, ele lança menos gases poluentes em comparação com os combustíveis derivados do petróleo, o que o torna um dos mais viáveis ecologicamente. Embora seja orgânico, o etanol não é encontrado puro na natureza e precisa ser fabricado. Há processos complexos para a obtenção da substância, porém o mais difundido é a fermentação de açúcares de plantas ricas em açúcar ou amido, como cana‑de‑açúcar, milho, beterraba e sorgo, sendo a cana‑de‑açúcar a mais simples e produtiva. Isso dá ao Brasil uma grande vantagem, visto ser esse o principal produto de extração de etanol no país. A produtividade média de geração de etanol por hectare de cana, por exemplo, é de 7.500 litros, enquanto a mesma área de milho, principal matéria‑prima do álcool produzido por fermentação nos Estados Unidos, produz 3 mil litros do combustível. 133 ENERGIA NA AGRICULTURA O Programa Nacional do Álcool – Proálcool – foi instituído através do Decreto nº 76.593, de 14 de novembro de 1975 (BRASIL, 1975) pelo presidente Ernesto Geisel, com o objetivo de estimular a produção do álcool, visando ao atendimento das necessidades do mercado interno e do externo, bem como da política de combustíveis automotivos. Com a decisão de produção de etanol a partir de cana‑de‑açúcar, o Governo Federal decidiu encorajar a produção do álcool para substituir a gasolina pura, tendo como principal objetivo a redução das importações de petróleo, que tinha um grande peso na balança comercial brasileira. Como, nessa época, o preço do açúcar no mercado internacional vinha decaindo rapidamente, tornou‑se conveniente para os produtores a mudança de produção de açúcar para álcool. O Proálcool foi estabelecido em duas fases distintas: a primeira, implantada em 1975, utilizava o bioetanol como aditivo à gasolina, e a segunda fase, iniciada em 1979, utilizou bioetanol puro em substituição à gasolina. Mas como se fabrica o álcool? A cana‑de‑açúcar é a matéria‑prima para a produção do álcool no Brasil. Após a colheita da cana, ela é transportada até uma usina onde é realizado um processo de pesagem. 6.2.1 Produção de álcool Nas usinas, a planta é esmagada para se obter o caldo, no qual são jogadas leveduras (fungos) que realizam a fermentação. A forma mais simples e antiga, descoberta pela humanidade há milhares de anos antes de Cristo, é a fermentação. Através dela, é produzido o álcool utilizado para todos os fins, inclusive como combustível. Essa técnica consiste em, basicamente, adicionar ao caldo da cana‑de‑açúcar micro‑organismos que quebram moléculas de açúcar (C6H12O6), transformando‑as em duas moléculas de etanol (C2H5OH) e duas moléculas de gás carbônico (CO2). O etanol não é um produto encontrado de forma pura na natureza. Para produzi‑lo, é necessário extrair o álcool de outras substâncias. A forma mais simples e comum de obtê‑lo é através das moléculas de açúcar, encontradas em vegetais como cana‑de‑açúcar, milho, beterraba, batata, trigo e mandioca. O processo que utiliza essas matérias‑primas é chamado de fermentação, porém há mais duas maneiras de fazer álcool, que consiste em reações químicas controladas em laboratório. Dentre todas as matérias‑primas do etanol presentes na natureza, a cana‑de‑açúcar é a mais simples e produtiva, o que dá ao Brasil uma grande vantagem, visto ser esse o principal produto de extração de etanol no país. A produtividade média de geração de etanol por hectare de cana, por exemplo, é de 7.500 litros, enquanto a mesma área de milho, principal matéria‑prima do álcool produzido por fermentação nos Estados Unidos, produz 3 mil litros do combustível. Fermentação: principal método A forma mais simples e antiga, descoberta pela humanidade há milhares de anos antes de Cristo, é a fermentação. Através dela, é produzido o álcool utilizado para todos 134 Unidade III os fins, inclusive como combustível. Essa técnica consiste em, basicamente, adicionar ao caldo da cana‑de‑açúcar micro‑organismos que quebram moléculas de açúcar (C6H12O6), transformando‑as em duas moléculas de etanol (2 C2H5OH) mais duas moléculas de gás carbônico (2 CO2). Nas usinas produtoras de etanol, a cana‑de‑açúcar passa por diversos processos, até se obter delas os alcoóis anidros e hidratados. Processo de fermentação Lavagem: a cana‑de‑açúcar, chegando às usinas em sua forma pura, é colocada em uma esteira rolante. Lá, ela é submetida a uma lavagem que retira sua poeira, areia, terra e outros tipos de impurezas. Na sequência, a cana é picada e passa por um eletroímã, que retira materiais metálicos do produto. Moagem: nesse processo, a cana é moída por rolos trituradores, produzindo um líquido chamado melado. Cerca de 70% do produto original viram esse caldo, enquanto os 30% da parte sólida se transformam em bagaço. Do melado, continua‑se o processo de fabricação do etanol, enquanto o bagaço pode ser utilizado [para a] geração de energia na usina. Eliminação de impurezas: para eliminar os resíduos presentes no melado (restos de bagaço, areia etc.), o líquido passa por uma peneira. Em seguida, ele segue a um tanque para repousar, fazendo que as impurezas se depositem ao fundo – processo chamado decantação. Depois de decantar, o melado puro é extraído e recebe o nome de caldo clarificado. O último processo de extração de impurezas é a esterilização, em que o caldo é aquecido para eliminar os micro‑organismos presentes. Fermentação: após estar completamente puro, o caldo é levado a dornas (tanques) [em que] é misturado e eles um fermento com leveduras (fungos, sendo mais comum a levedura de Saccharomyces cerevisiae). Esses micro‑organismos se alimentam do açúcar presente no caldo. Nesse processo, as levedurasquebram as moléculas de glicose, produzindo etanol e gás carbônico. O processo de fermentação dura diversas horas, e como resultado produz o vinho, chamado também de vinho fermentado, que possui leveduras, açúcar não fermentado e cerca de 10% de etanol. Destilação: estando o etanol misturado ao vinho fermentado, o próximo passo é separá‑lo da mistura. Nesse processo, o líquido é colocado em colunas de destilação, nas quais ele é aquecido até se evaporar. Na evaporação, seguida da condensação (transformação em líquido), é separado o vinho do etanol. Com isso, fica pronto o álcool hidratado, usado como etanol combustível, com grau alcoólico em cerca de 96%. Desidratação: com o álcool hidratado preparado, basta retirar o restante de água contido nele para fazer o álcool anidro. Essa é a etapa da desidratação, no qual podem ser utilizadas diversas técnicas. Uma delas é a desidratação, em que um solvente colocado ao álcool hidratado mistura‑se apenas com a água, com os dois sendo evaporados juntos. Outros sistemas, chamados peneiração molecular e pervaporação, utilizam tipos especiais de peneiras que retêm apenas as moléculas da 135 ENERGIA NA AGRICULTURA água. Após ser desidratado, surge o álcool anidro, com graduação alcoólica em cerca de 99,5%, utilizado misturado à gasolina como combustível. Armazenamento: nesta etapa, o etanol anidro e hidratado são armazenados em enormes tanques, até serem levados por caminhões que transportam até as distribuidoras. Os resíduos produzidos durante toda a fabricação do etanol também podem ser aproveitados pelas indústrias. Os resíduos sólidos, como bagaço, podem ser reutilizados energeticamente como biomassa. Já o dióxido de Carbono (CO2), derivado do processo de fermentação, pode ser utilizado à produção de refrigerantes. O álcool utilizado para outros produtos, como bebidas, cosméticos, solventes, produtos de limpeza etc. são obtidos da mesma maneira, passando posteriormente por outros processos que o transformam no produto final. Fonte: Processos... (2015). O que sobra da cana resultante deste ciclo é denominado “bagaço”, que tem várias utilidades. Uma das aplicações do bagaço é a queima em caldeiras, gerando vapor que aciona geradores, produzindo energia elétrica utilizada nas próprias usinas para o funcionamento das máquinas. A energia que sobra da queima do bagaço é muitas vezes vendida para abastecer o mercado de energia. O bagaço pode também retornar ao campo como cobertura do solo ou servir para alimentação animal. A produção mundial de etanol está na tabela a seguir: Tabela 17 – Produção mundial de etanol – por país ou região (em milhões de litros) País ou região 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Estados Unidos 35.238,4 41.404,8 50.338,4 52.798,9 50.346,0 50.346,0 Brasil 24.499,9 24.900,4 26.200,9 21.097,0 21.111,2 23.723,2 Europa 2.777,0 3.936,8 4.575,0 4.420,0 4.463,0 5.189,8 China 1.899,9 2.051,7 2.050,0 2.100,0 2.100,9 2.634,6 Canadá 899,8 1.101,6 1.350,0 1.750,0 1.699,6 1.979,8 Ásia (China) 589,8 1.994,9 925,0 1.267,9 1.502,8 na América do Sul (Brasil) 299,8 314,2 757,9 752,0 844,1 na México e América Central na na 1.379,3 147,8 71,9 na Austrália 99,9 215,8 250,0 330,1 268,8 na África na na 165,0 145,0 159,0 na Outros 484,5 935,0 250,0 na na na Resto do mundo 1.474,0 3.459,9 3.727,2 2.642,8 2.846,6 4.815,0 Mundo 66.789,0 76.855,2 88.241,4 84.808,7 82.567,4 88.688,4 Adaptado de: U.S. Department of Energy (2014). 136 Unidade III Quanto à produção brasileira de etanol, veja a tabela a seguir: Tabela 18 – Produção brasileira de etanol – Por Estado e região Produção de etanol anidro e hidratado, segundo grandes regiões e unidades da Federação – 2008‑2013 Grandes regiões e unidades da Federação Produção de etanol anidro e hidratado (mil m3) 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Brasil 27.133,19 26.103,09 28.203,42 22.892,50 23.540,06 27.808,59 Região Norte 55,67 51,73 59,71 169,86 209,35 253,61 Acre ‑ ‑ 1,49 2,68 4,10 5,01 Rondônia ‑ 8,55 10,76 12,42 8,64 10,62 Amazonas 7,96 4,74 7,14 6,43 4,05 4,87 Pará 44,91 36,02 23,81 39,14 33,50 36,99 Tocantins 2,80 2,42 16,51 109,19 159,06 196,12 Região Nordeste 2.371,62 2.210,50 1.822,89 1.938,53 1.854,79 1.703,67 Maranhão 181,56 168,50 180,62 178,37 158,92 305,49 Piauí 44,55 40,95 35,50 36,64 33,68 31,92 Ceará 7,52 10,76 4,04 8,78 3,98 9,00 Rio Grande do Norte 87,40 117,30 102,03 95,92 89,81 55,55 Paraíba 401,48 395,30 318,08 327,96 333,82 285,45 Pernambuco 558,92 469,03 396,01 366,88 318,40 257,84 Alagoas 892,64 790,99 575,53 721,70 600,64 478,51 Sergipe 57,56 101,12 80,91 97,89 146,43 104,56 Bahia 139,98 116,56 130,17 104,40 169,11 175,34 Região Sudeste 19.212,33 17.676,39 18.860,06 14.208,83 14.116,98 17.167,74 Minas Gerais 2.200,92 2.284,23 2.680,51 2.105,65 2.040,34 2.627,35 Espírito Santo 250,32 238,35 208,62 197,00 180,80 180,68 Rio de Janeiro 125,98 112,82 69,87 81,26 68,10 82,16 São Paulo 16.635,12 15.041,00 15.901,06 11.824,93 11.827,75 14.277,55 Região Sul 1.906,00 1.901,26 1.746,03 1.405,64 1.313,30 1.475,83 Paraná 1.899,68 1.898,80 1.740,23 1.399,06 1.311,64 1.471,32 Rio Grande do Sul 6,32 2,46 5,81 6,58 1,67 4,51 Região Centro‑Oeste 3.587,57 4.263,22 5.714,73 5.169,65 6.045,64 7.207,75 Mato Grande do Sul 945,27 1.331,48 1.881,51 1.630,29 1.938,16 2.248,37 Mato Grosso 898,52 809,92 853,53 862,11 977,58 1.087,45 Goiás 1.743,78 2.121,83 2.979,69 2.677,25 3.129,90 3.871,93 Nota: m3 equivale a 1.000 litros. Adaptado de: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP ([s.d.]a). 137 ENERGIA NA AGRICULTURA Figura 58 – Localização das usinas de álcool no Brasil Além das usinas do mapa anterior, havia mais 35 usinas em construção em 2013. Em julho de 1979, a Fiat lançou no mercado nacional o primeiro carro movido a álcool combustível. O Fiat 147 chegou às concessionárias quatro meses depois que os 16 primeiros postos de combustível começaram a receber o álcool combustível. Depois de anos de crescimento regular, a primeira fase da produção do álcool combustível no Brasil atingiu o ápice em 1986, quando mais de 90% dos carros de passeio fabricados no país eram movidos a álcool, já que o preço da gasolina chegava a ser proibitivo. Logo depois, o preço do petróleo caiu, e o do açúcar no mercado mundial subiu, desequilibrando a produção, e o país, com uma extensa frota a álcool, enfrentou desabastecimento do combustível, prejudicando a credibilidade do produto. Durante os anos 1990, o índice de carros a álcool saindo das fábricas caiu para cerca de 1%, e a demanda por etanol no país passou a se resumir à frota antiga movida a álcool e ao combustível anidro, misturado à gasolina. 138 Unidade III No dia 24 de março de 2003, na festa comemorativa dos 50 anos da Volkswagen no Brasil, foi lançado o Gol Total Flex 1.6, primeiro veículo nacional equipado com a tecnologia flex. Assim, desde 2003, com o advento do carro flex fuel – que pode circular com qualquer mistura de álcool e gasolina –, o mercado de etanol viu seu espaço crescer muito. A regra usual é de que é vantajoso abastecer o veículo flex com etanol quando seu preço é inferior a 70% do preço da gasolina. Em 2013, a indústria automobilística brasileira completou a produção de 20 milhões de veículos equipados com motores flex no país, e a frota circulante de veículos leves equipados com este tipo de motorização corresponde a quase 60% do total e pode chegar a 80% em menos de cinco anos. Em 2014, foram licenciados no país 2.940.508 veículos flex, contra 3.169.114 veículos licenciados em 2013. Além da possibilidade de utilização do álcool puro como combustível, o álcool também passou a ser misturado à gasolina. O governo brasileiro assinou a Resolução do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool – Cima – (BRASIL, 2015b), que amplia o percentual obrigatório de adição de etanol anidro combustível de 25% para 27% à gasolina comum, e, no caso da gasolina premium, permanecem os 25% hoje vigentes. Esta Resolução entrou em vigorem 16 de março de 2015. 6.2.1.1 Os benefícios ao meio ambiente Em todo o ciclo do combustível, o etanol lança menos C02 à atmosfera pelo fato de ser extraído da cana‑de‑açúcar. Durante a fotossíntese, as plantas absorvem o gás carbônico da atmosfera, acarretando que quase todo o gás seja absorvido pela própria cana. A utilização de etanol produzido através da cana‑de‑açúcar reduz em média 89% a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa – como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (NO2) – se comparado com a gasolina. 6.2.1.2 Os malefícios ao meio ambiente Embora o álcool como fonte de energia seja muito considerado em todo o mundo, acredita‑se que, como o produto cana‑de‑açúcar vem da agricultura, haja um grande consumo de água na sua produção, nos seguintes estágios principais: • Crescimento da planta de sequeiro ou de irrigação: a produtividade de cana é da ordem de 75 toneladas por hectare. Desta forma, para produção de uma tonelada de cana, seriam necessários na irrigação (5.000 m3/ha/ano) 67 litros de água por tonelada. • Produção industrial do álcool: há um grande consumo de água nos principais processos produtivos: (lavagem de cana, condensadores/multijatos na evaporação e nos vácuos, resfriamento de dornas e condensadores de álcool). No consumo, o valor médio estimado no setor é de 1,8 m3 de água por tonelada de cana, considerando que 1 tonelada de cana produz de 60 a 90 litros de álcool. Com um valor médio estimado em 80 litros, resulta que, para produzir um litro de álcool, seriam necessários 139 ENERGIA NA AGRICULTURA 22,5 litros de água na parte industrial. Existe água na cana (uma tonelada possui 700 kg de água), mas representa uma parcela muito pequena se relacionado com estes volumes. 6.3 Biodiesel O biodiesel é um combustível biodegradável feito a partir de fontes renováveis, como óleos vegetais; entre eles, temos o óleo de mamona (também conhecido como óleo de rícino); o óleo de palma, que produz o óleo de dendê; o amendoim; a soja e o babaçu; além de gorduras animais, como o sebo bovino e a gordura suína. Foi criado e desenvolvido para substituir parcial ou totalmente o óleo diesel derivado do petróleo, em motores de automóveis, caminhões, tratores etc. e ainda em motores estacionários, como geradores de energia elétrica, motobombas, entre outros. O consumo de combustíveis fósseis derivados do petróleo apresenta um impacto significativo no meio ambiente. A poluição do ar, as mudanças climáticas, os derramamentos de óleo e a geração de resíduos tóxicos são resultados do uso e da produção desses combustíveis. A queima desse tipo de combustível tem aumentado cerca de 0,4% anualmente a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, além do perigo do fim de suas reservas e a necessidade de nos tornarmos menos dependentes desse tipo de combustível. O biodiesel, além de ser fruto de fontes renováveis, contribui para a redução de gases de efeito estufa na atmosfera, que são os principais causadores do aquecimento global. Dentre as inúmeras vantagens do uso do biodiesel em relação ao diesel, podemos citar: • a redução da emissão de material particulado, hidrocarbonetos, compostos de óxidos de enxofre (SOx), monóxido e dióxido de carbono – CO e CO2; • redução dos gastos de petróleo destinados à produção de diesel e da dependência do diesel importado, além da possibilidade do seu uso diretamente em motores ou misturado com o diesel do petróleo. Estimulados por um catalisador, os componentes reagem quimicamente com álcool. Existem diferentes espécies de oleaginosas no Brasil que podem ser usadas para produzir o biodiesel. No Brasil, devido à grande diversidade vegetal, é possível utilizar muitas plantas como matéria‑prima para a produção do biodiesel, o que se traduz em uma grande vantagem competitiva do Brasil em relação aos outros países que também estão apostando neste combustível, pois há poucas possibilidades de falta de matéria‑prima para a produção. Assim, o Brasil poderá facilmente ser um dos grandes produtores e exportadores de biodiesel do planeta. Esta atividade poderá representar para o país um significativo aumento de receita, geração de empregos, incremento na arrecadação de impostos e destaque no comércio exterior mundial. A Alemanha (que é a maior produtora de biodiesel da Europa), por exemplo, utiliza‑se basicamente de apenas uma planta, a colza, para a produção deste combustível (também chamado de óleo de canola). Isto confere certa fragilidade à cadeia produtiva, pois, se houver uma quebra na produção desse vegetal, toda a produção do biodiesel alemão poderá ser afetada. 140 Unidade III Para os produtores rurais brasileiros, o crescimento do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel – PNPB – do Governo Federal, através do Ministério de Minas e Energia, é uma possibilidade real para o aumento da produção e de ganhos com as atividades agrícolas, pois representa o crescimento da demanda por óleos vegetais, que serão produzidos a partir de diferentes espécies vegetais. Por essa razão, além do potencial econômico muito grande, o fator ecológico torna‑se ponto vital para a continuidade das pesquisas, o desenvolvimento e a utilização desse combustível, que pode trazer grandes benefícios econômicos para o Brasil e tornar‑se um importante produto para exportação. Tabela 19 – Produção de biodiesel: Brasil (2005-2012) Total Brasil Ano Produção (m3) 2005 736 2006 69.002 2007 404.329 2008 1.167.128 2009 1.608.448 2010 2.386.399 2011 2.672.760 2012 2.717.483 Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP (2015). Tabela 20 – Matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel (2008-2013) Matérias‑primas Quantidade utilizada na produção de biodiesel (m3) 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total 1.177.638 1.614.834 2.387.639 2.672.771 2.719.897 2.921.006 Óleo de soja 967.326 1.250.590 1.980.346 2.171.113 2.105.334 2.231.464 Óleo de algodão 24.109 70.616 57.054 98.230 116.736 64.359 Gordura animal* 154.548 255.766 302.459 358.686 458.022 578.427 Outros materiais graxos** 31.655 37.863 47.781 44.742 39.805 46.756 Notas: *Inclui gordura bovina, gordura de frango e gordura de porco. **Inclui óleo de palma, óleo de amendoim, óleo de nabo‑forrageiro, óleo de girassol, óleo de mamona, óleo de sésamo, óleo de fritura usado e outros. Adaptado de: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP (2015). O biodiesel é considerado um substituto limpo do diesel, normalmente usado em veículos utilitários no Brasil, como caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. O biodiesel pode ser feito de qualquer óleo vegetal, usado ou limpo, e também de gordura animal, como o sebo bovino. 141 ENERGIA NA AGRICULTURA A maioria dos motores mais modernos a diesel aceita biodiesel sem nenhuma modificação. É por este e por mais uma série de motivos que esse combustível está se tornando cada vez mais popular. Mas, afinal, como é que se faz biodiesel? Devem‑se escolher primeiro as matérias‑primas. Os materiais necessários para a produção de biodiesel são uma pequena quantidade de metanol, soda cáustica e óleo vegetal. Um dos vegetais mais comuns utilizados na produção de biodiesel no Brasil é a soja, embora, dependendo da localização geográfica, outras plantas também sejam utilizadas (milho, mamona, linhaça etc.). O processo de conversão de óleo vegetal em biodiesel é chamado de transesterificação. O óleo vegetal tem de ser combinado com uma pequena quantidade de metanol e, em seguida, misturado com outra pequena quantidade de um catalisador alcalino, por exemplo, o hidróxido de sódio (conhecido também por soda cáustica). Observação O metanol, ou álcool metílico, é um biocombustível altamente inflamável, obtido da destilação destrutiva de madeiras e do processamento da cana‑de‑açúcar, com propriedades químicas semelhantes às do etanol, mas a toxicidade é superior. O óleo contém os famosos triglicéridos, que são compostos de glicerina de